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hegamos à última edição de 2015 da Revista de Man-

guinhos. No ano em que a Fiocruz atingiu seu 115º ani-

versário, publicamos reportagens, textos e entrevistas que

expuseram toda a pluralidade desta instituição, que atua

em diversos segmentos, sempre em favor do bem-estar da população

brasileira. A força da Fundação surge de seus servidores e funcionári-

os, imbuídos da missão e dos valores que nos norteiam ao longo das

décadas e que tiveram no patrono Oswaldo Cruz o seu iniciador.

Esta imagem foi novamente ressaltada com os resultados da pes-

quisa desenvolvida pelo Instituto Reputation, ao revelar que a Fiocruz

tem uma reputação de forte a excelente em todos os públicos anali-

sados. Nesta edição, uma reportagem conta com detalhes como foi

feita a pesquisa, quais os públicos entrevistados e as categorias ana-

lisadas. Significa muito, para nós, saber que o trabalho desenvolvido

por esta instituição centenária é reconhecido pela população. E os

resultados, claro, servirão também para nos levar a pensar no que

pode ser aperfeiçoado.

Esta edição publica ainda um texto sobre o biolarvicida desenvol-

vido pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fio-

cruz), que está sendo preconizado pela OMS para combate ao vetor

da dengue, do zika vírus e do chikungunya. O tablete é capaz de

eliminar as larvas do mosquito em menos de 24 horas e sem causar

nenhum risco à saúde humana ou ao meio ambiente. Também nesta

revista, reportagens cobrem o borboletário da Fiocruz, o único do

Rio de Janeiro, os jogos virtuais em saúde, as mudanças climáticas e

outros temas.

Boa leitura e boas festas!

Paulo Gadelha

Presidente da Fundação Oswaldo Cruz

EDITORIAL

C

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Imunização22

Desenvolvimento

institucional

Tecnologia20

8PresidentePaulo Ernani Gadelha Vieira

Vice-presidente de Ambiente,Atenção e Promoção da SaúdeValcler Rangel Fernandes

Vice-presidente de Gestão eDesenvolvimento InstitucionalPedro Ribeiro Barbosa

Vice-presidente de Ensino,Informação e ComunicaçãoNísia Trindade Lima

Vice-presidente de Pesquisae Laboratórios de ReferênciaRodrigo Guerino Stabeli

Vice-presidente de Produçãoe Inovação em SaúdeJorge Bermudez

Chefe de GabineteFernando Carvalho

Coordenadoria de ComunicaçãoSocial / Presidência

REVISTA DE MANGUINHOSNº 33 - DEZEMBRO/2015

Coordenação: Elisa Andries

Edição: Renata Moehlecke e RicardoValverde

Colaboradores: Alessandra Eckstein,Alexandre Matos, Gabriella Pontes, GraçaPortela, Lucas Rocha, Luiza Gomes, MaíraMenezes, Mariana Alcântara, NathaneDovale, Pamela Lang, Paulo Schueler,Renata Fontoura, Renata Moehlecke eRodrigo Costa Pereira

Projeto gráfico e edição de arte:Guto Mesquita e Rodrigo Carvalho

Revisão: Ricardo Valverde

Fotografia: Gutemberg Brito, PeterIlicciev e Arquivo CCS

Administração: Assis Santos

Secretaria: Inês Campos

Autorizada a reprodução deconteúdos desde que citada a fonte

O que você achou desta edição?Mande seus comentários [email protected]

Revista de ManguinhosAvenida Brasil 4.365 - ManguinhosRio de Janeiro - RJ - CEP 21.040-900Telefone: 55 (21) 2270-5343

Agência Fiocruz de Notíciaswww.fiocruz.br/ccs

Impressão: Editora Nova Aliança

ÍNDICE

Fiocruz ParanáR$ 20 milhões em novasinstalações

Detecçãode maláriaFiocruz Amazonas investeem aplicativo de celular

Febre amarelaDescoberta podecontribuir paraaperfeiçoamento da vacina

6 Notas

As mais recentes notíciassobre a Fiocruz

12 Aquecimento global

Encontro da rede internacionalde mudanças climáticas

14 Imunização

Poliomielite: históricode conquistas

17 Inovação

Controle da dengue

18 InovaçãoBiolarvicida combate vetor dedengue, zika vírus e chikungunya

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Divulgação

Tecnologia

Incentivo ao leiteArtigo analisa o esforço emaumentar o consumo doproduto nos anos 30 e 40

Fio da História44

38

Especial28

Reputação ecredibilidadePesquisa revela a Fiocruzcomo forte referêncianas áreas em que atua

40

Jogos virtuaisUnidade lança gamesobre acesso aberto

Borboletárioem ManguinhosFundação reabre únicoespaço do Rio paraobservar os insetos

24 ProduçãoInstituto produzirámedicamento para aesclerose múltipla

25 Gestão da qualidadeMalária será novo alvo dekit de diagnóstico

26 IntercâmbioDuas décadas de contribuiçõespara a malariologia

32 Saúde públicaEstudo aponta aumento de14% no número de casos detuberculose nas prisões

34 Cooperação socialOrganizações se unem paracriar o Observatório do canaldo Cunha

36 PesquisaUnesco concede prêmio apesquisador por estudo sobremalária e leishmaniose

42 Estante e resenhasOs novos lançamentosda Editora Fiocruz

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NOTAS

Os ministros da Comunicação,Educação, Cultura e Saúde assina-ram, em setembro, um acordo paraa instituição do Sistema Público deTelevisão Digital. A iniciativa prevêa entrada no ar de quatro canaispúblicos, entre eles, o Canal Saú-de. O processo de digitalização datelevisão brasileira tem início pre-visto para abril de 2016, podendoestender-se por dois anos até co-brir todo o território nacional. Masa proposta é que, em breve, en-trem no ar o Canal Saúde e o Ca-nal da Educação, ocupando faixasda multiprogramação da TV Brasil,nas cidades do Rio de Janeiro e SãoPaulo. Em Brasília a estreia ocor-reu em 9 de dezembro. Na sequên-cia, a transmissão se estenderá a

Resultado de um investimentopromissor no ensino e na pesquisa noPiauí, o Programa de Pós-graduaçãoStricto Sensu em Medicina Tropicaldo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fio-cruz) apresentou, em setembro, osprimeiros resultados dos estudos rea-lizados pelos alunos de mestrado. Ostemas abordam questões relaciona-das, em especial, aos problemas de

Conquistas do Canal Saúdeoutras cidades com mais de 100 milhabitantes, com o acréscimo doCanal da Cultura.

Em novembro, o programa Ca-nal Saúde na Estrada recebeu o Prê-mio Cândido Jornalistas pela maté-ria veiculada na edição Taboão daSerra e Campinas em 5 de outubro.A reportagem aborda o programade rádio Maluco Beleza, cujos locu-tores e produtores são usuários daRede de Saúde Mental de Campi-nas, assistidos pelo Serviço de Saú-de Dr. Cândido Ferreira, uma enti-dade beneficente integrante doSistema Único de Saúde (SUS). Apremiação é concedida pelo Servi-ço e destaca as melhores matériassobre saúde mental e os principaisparceiros da instituição no ano.

Mais pesquisadores para o Nordestesaúde pública da região: malária,leishmaniose, coqueluche, vermino-ses e co-infecção de doenças empacientes com Aids foram os assun-tos dos projetos desenvolvidos pelaprimeira leva de mestres formados noestado. Enfermeiros, médicos ou pro-fessores, os alunos têm em comum ointeresse em contribuir para mudan-ças na saúde da população.

Preservação egestão dopatrimônio cultural

A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fi-ocruz) obteve a aprovação da Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior (Capes) para dar iní-cio ao mestrado profissional em Preser-vação e Gestão do Patrimônio Culturaldas Ciências e da Saúde, o único daárea no Brasil. Aprovado pelo órgão comnota 4, uma das mais elevadas conce-dida a novos cursos, o programa deveabrir processo seletivo no primeiro se-mestre de 2016. A previsão é de que asaulas comecem em agosto.

Criado a partir do curso de pós-gra-duação lato sensu em preservação egestão do patrimônio cultural das ci-ências e da saúde, que desde 2010 jáformou 112 especialistas, o mestradonasce da experiência acumulada nes-se campo pela COC/Fiocruz. A unida-de tem a guarda de acervos – arquivís-tico, bibliográfico, museológico earquitetônico – de grande relevânciapara o campo das ciências e da saúdee promove ações de valorização e di-vulgação desses bens culturais.

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ErrataAlguns infográficos não fo-

ram creditados na edição anteri-or da Revista de Manguinhos.O autor dos materiais, nas ma-térias Eficácia contra a doençade Chagas (página 10), Selêniocontra a doença de Chagas (pá-gina 12), e A rota do vírus Maya-ro (página 19), é Jefferson Men-des. Ainda na matéria A rota dovírus Mayaro, mas na página 20,o autor da foto dos jacarés é AlexPauvolid-Corrêa.

Prêmio para o projetoConstruindo Esperança

Com o apoio da Fiocruz, o projetoConstruindo Esperança, na Colônia Ju-liano Moreira, em Jacarepaguá, no Riode Janeiro, foi um dos 20 selecionadosna 9ª edição do Prêmio Caixa MelhoresPráticas em Gestão Local. O PrêmioCaixa seleciona, premia e divulga pro-jetos urbanos ou rurais realizados comfinanciamento ou apoio técnico da ins-tituição. Para concorrer, é preciso que oprojeto resulte em melhorias concretasna qualidade de vida e no desenvolvi-mento sustentável de assentamentos.

O projeto Construindo Esperança,em Jacarepaguá, foi escolhido pelaprodução social de moradia por meiode práticas coletivas por autogestão eajuda mútua, abrangendo a constru-ção de 78 moradias. O conjunto habi-tacional foi o primeiro executado comrecursos do Programa Minha Casa Mi-nha Vida Entidades, criado em 2009pelo Governo Federal.

BNDES e Fiocruzcontra doençasnegligenciadas

Em setembro, o Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social(BNDES) aprovou R$ 15 milhões parapesquisas focadas em doenças negligen-ciadas, como o mal de Chagas, as leish-manioses, a hanseníase, a malária e atuberculose. Provenientes do Fundo Tec-nológico do Banco (BNDES Funtec), osrecursos são não-reembolsáveis e co-brem 90% de projeto cujo orçamentoserá complementado pela Fiocruz, querealizará parte das atividades previstas.A iniciativa conta também com a parti-cipação da Drugs for Neglected Disea-ses initiative(DNDi), organização semfins lucrativos fundada pelos MédicosSem Fronteiras para promover o desen-volvimento de tratamentos para doen-ças pouco pesquisadas pelas grandesfarmacêuticas mundiais.

Treinamento para asOlímpiadas

Para agir diante de possíveisameaças de bioterrorismo ao país noperíodo dos jogos Olímpicos de2016, a Secretaria de Vigilância emSaúde (SVS) do Ministério da Saúde(MS), em parceria com a Fiocruz eoutras instituições e órgãos governa-mentais, promoveu um treinamentoem defesa química, biológica, radi-ológica e nuclear (QBRN). As primei-ras turmas se reuniram em outubro,no Rio de Janeiro.

O curso tem o objetivo de capaci-tar profissionais de saúde, Exército,Defesa Civil e Corpo de Bombeiros aatuarem da forma mais rápida possí-vel em resposta a ataques relaciona-dos a agentes biológicos que represen-tem ameaça à saúde pública do país,seja por causas naturais ou pela ativi-dade humana, provocada de formaacidental ou intencional. A capacita-ção enfoca ainda a importância do es-tabelecimento de medidas de preven-ção e de avaliação de risco.

Cooperação técnica para biodiversidadeO Instituto Nacional de Coloni-

zação e Reforma Agrária (Incra) e aFiocruz assinaram, em outubro, umacordo para fomentar pesquisas e odesenvolvimento de tecnologias einovações no uso sustentável da bi-odiversidade, em especial em plan-tas medicinais, nas diversas fases dacadeia produtiva. A iniciativa visatambém estruturar arranjos produti-vos para a promoção da saúde e ageração de emprego e renda dasfamílias beneficiadas pelo ProgramaNacional de Reforma Agrária, de

forma a garantir a sustentabilidadeambiental e a implementação doPrograma Nacional de Redução deAgrotóxicos.

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DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

foto: Itamar Crispim

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utubro de 2015 ficarámarcado pelo avanço ea consolidação da pes-quisa científica em prolda saúde pública na Re-

gião Sul. O Instituto Carlos Chagas(ICC/ Fiocruz Paraná) inaugurou ofici-almente a reforma e ampliação desuas instalações, localizadas no ParqueTecnológico da Saúde (Tecpar), emCuritiba. O moderno e produtivo cen-tro de pesquisa biomédica – que atuanas áreas de bioquímica, biologia mo-lecular e celular, virologia, biotecnolo-gia e caracterização de células-tronco– ganhou novos 1,2 mil m² e apresen-tou oficialmente a reforma em mais 1,8mil m², reafirmando o crescimento re-gistrado nos últimos anos.

OIniciadas em 2013, as obras con-

templaram espaços de apoio ao ensi-no no Instituto, áreas da gestão e paraa consolidação das plataformas tecno-lógicas, para desenvolvimento tecno-lógico e inovação, novas áreas de apoiotécnico à pesquisa e um espaço dedi-cado a receber as Coleções Biológicas,que seguem as diretrizes da Vice-Pre-sidência de Pesquisa e Laboratórios deReferência da Fiocruz. Com atuaçãoexpressiva e uma forte característica deinovação, o ICC conta com sete labo-ratórios para o desenvolvimento depesquisa científica, sete plataformascientífico-tecnológicas e uma força detrabalho que abrange mais de 200 co-laboradores.

“Estamos vivendo um ano emble-mático para o ICC. Comemoramosconquistas importantes na área de pes-quisa, incluindo o isolamento – pelaprimeira vez no país – do vírus da fe-bre chickungunya e confirmação dapresença do zika vírus em amostrashumanas brasileiras. Nos tornamosuma unidade sentinela para a RegiãoSul em vírus emergentes e reemergen-tes, inauguramos o moderno Centrode Microscopia e demos início às ati-vidades do Laboratório de Criação eExperimentação Animal, dotado deequipamentos e instalações de van-guarda”, ressaltou o diretor do ICC,Samuel Goldenberg. “Além disso, con-solidamos nosso Programa de Pós-Gra-duação em Biociências e Biotecnologiae garantimos um melhor ambiente detrabalho aos nossos mais de 200 cola-boradores. Esta inauguração vem co-roar esse momento de avanços”,acrescentou o pesquisador.

“A execução do trabalho chamoua atenção da Presidência da Fiocruz edas instâncias de monitoramento pelaceleridade, pelo cumprimento do cro-nograma estabelecido e pela transpa-rência durante o processo. O site doInstituto disponibiliza um link especialque apresenta mais de 30 relatórios comregistro de imagens de todas as eta-pas das obras além do contrato, ter-mos aditivos e dos valores empenhados

e liquidados com acesso livre para con-sulta por parte do cidadão”, reforçouo vice-diretor de Gestão e Desenvolvi-mento Institucional do ICC, CarlosEduardo de Andrade Lima da Rocha.

A cerimônia de inauguração foirealizada no fim de outubro e contoucom a presença do prefeito de Curiti-ba, Gustavo Fruet, do presidente daFiocruz, Paulo Gadelha, e dos vice-pre-sidentes de Gestão e Desenvolvimen-to Institucional da Fundação, PedroBarbosa, e de Ensino, Informação eComunicação, Nísia Trindade, do se-cretário de Ciência e Tecnologia doMinistério da Saúde, Adriano Massu-da, do secretário de Saúde de Curiti-ba, César Monte Serrat Titton, derepresentantes do Tecpar e das secre-tarias de Saúde e de Ciência e Tecno-logia do Paraná, da PUC Paraná e daFundação Araucária.

Na abertura do evento, SamuelGoldenberg reforçou a importânciado trabalho em conjunto para alcan-çar os resultados. “Hoje completa-mos a etapa de modernização daFiocruz Paraná e reafirmamos nossocrescimento e nossa capacidade derespondermos aos desafios. Nos úl-timos anos, acompanhamos a reali-zação de concurso, a entrada denovos servidores e registramos uminvestimento de mais de R$ 20 mi-lhões em obras de reforma e ampli-ação, construção de novos espaçose aquisição de equipamentos de últimageração”, disse Goldenberg. “Todo esteempreendimento só se tornou possívelgraças ao apoio da Presidência da Fio-cruz. As novas instalações do ICC fa-zem parte de um projeto maior denacionalização da Fundação, de ex-trema importância para o desenvolvi-mento científico e também para aspolíticas públicas de saúde do Minis-tério da Saúde”, afirmou o diretor doInstituto, ressaltando que os investi-mentos foram realizados, em sua to-talidade, pela Fiocruz.

A característica de inovação doICC foi tema do discurso do prefeitode Curitiba, Gustavo Fruet, que asso-

Renata Fontoura

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ciou o perfil da instituição à capaci-dade da cidade em atrair novos ta-lentos e projetos na área. “Apesar domomento desafiador que vivemos, épreciso pensar no plano diretor da ci-dade, pensar no futuro e nas tendên-cias para os próximos anos. Curitibatem uma forte presença de faculda-des e universidades, além de um perfilde prestação de serviços acima damédia brasileira e um índice de ino-vação em diferentes áreas que vaialém da atuação do poder público.Por isso, temos o perfil para receberum projeto dessa natureza, com essamão de obra tão qualificada. É umahonra, para nós curitibanos receberesse investimento e contar com essaconfiança”, agradeceu Fruet, reafir-mando o compromisso da prefeituraem firmar parcerias com o ICC.

O presidente da Fiocruz, Paulo Ga-delha, agradeceu a dedicação da equi-pe da Fiocruz Paraná. “Nos últimos anos,a Fiocruz renovou sua visão nacional ehá um processo bastante intenso parareforçar sua nacionalização. Em Curiti-ba, tivemos nossa primeira extensão sig-nificativa consolidada. Parabenizo toda

equipe pelo excelente trabalho”, desta-cou Gadelha, saudando também os re-presentantes do Tecpar e reforçando aimportância dessa e das demais parceri-as. “Outra dimensão importante é a dodesenvolvimento e produção, que estáassociada à atuação do IBMP. Para nós,a cooperação comprova que a atuaçãodo ICC está presente não só na concep-ção da pesquisa, mas também na ges-tão da ciência e tecnologia. Mesmo nafase inicial, quando visitamos o Instituto,já percebemos o cuidado, a composição,a forma de compartilhamento das plata-formas, as questões de biossegurança edo estímulo de convivência entre os co-laboradores, o que só reforça a excelên-cia da gestão dessa unidade”, declarou.

Gadelha também lembrou o ce-nário delicado vivido pelo país nas es-feras econômica e política, masdemostrou otimismo ao citar as açõesda Fiocruz que contribuem para umfuturo promissor na Saúde. “Apesardos momentos de turbulência, temosa capacidade, em conjunto, de atra-vessar este período, com resiliência,garantindo aquilo que é essencial,não deixando esterilizar projetos de

futuro significativos e voltar a dargrandes saltos. Na Fiocruz, trabalha-mos com iniciativas de prospecçãode futuro como o projeto Brasil Saú-de Amanhã, que atualiza, a cadapasso, a prospecção de cenários paraos próximos 20 anos, analisando ocampo da C&T, seu recortes e desa-fios, apontando os caminhos paraatender as demandas que virão”,concluiu o presidente.

A programação da cerimônia deinauguração contou ainda com a aber-tura da exposição Trabalha dores.Com patrocínio e apoio cultural da As-sociação dos Servidores da FundaçãoOswaldo Cruz (Asfoc), a mostra dofotógrafo e servidor da Fiocruz ItamarCrispim foi aberta traz registros foto-gráficos, em 34 painéis, de um olharartístico do andamento das obras deampliação e reforma do Instituto. Oobjetivo foi o de humanizar o desen-volvimento da construção, exaltandoa esperança ou desesperança dos quecontribuíram para sua realização. Aexposição seguirá, nos próximos me-ses, de forma itinerante, para as de-mais unidades da Fiocruz.

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Atuação dedestaque em prolda saúde pública

Inaugurado em agosto de 2009, oICC teve sua origem em 1999 com acriação do Instituto de Biologia Mole-cular do Paraná (IBMP), resultado deuma parceria da Fiocruz com o gover-no do Paraná. Com uma área de apro-ximadamente 5 mil m², hoje fazpesquisa, desenvolvimento e inovaçãonas áreas nas áreas de bioquímica, debiologia molecular e celular e de bio-tecnologia em seus sete laboratórios.São ao todo 78 doutores que integramos nove grupos divididos em 36 linhasde pesquisas desenvolvidas, sendo 29deles pesquisadores da instituição.

O ICC conta com sete platafor-mas tecnológicas que atendem aosrequisitos de acesso e compartilha-mento estabelecidos pela Fiocruz esão disponibilizadas a grupos de pes-quisadores de universidades e insti-tutos de c iência e tecnologia.Resultado das obras de reforma e

ampliação, o novo Centro de Mi-croscopia foi inaugurado em 2015 edisponibiliza equipamentos de altaperformance oferecendo, além damicroscopia ótica mais básica, mi-croscópios eletrônicos de varredurae de transmissão, passando pelosmicroscópios confocal e de decon-volução. Outro destaque é o Labo-ratório de Criação e ExperimentaçãoAnimal, com 500 m² de instalaçõesmodernas que seguem rigorosamen-te os padrões de biossegurança etêm capacidade para abrigar 2,8 milanimas para a criação e 1,4 mil paraexperimentação.

Na área de inovação e produ-ção, o ICC tem uma unidade de pro-dução dos kits Hantec IgM e HantecIgG para o diagnóstico de infecçõespor hantavírus em amostras de paci-entes. Mais baratos do que os kitscomerciais importados, o produtodesenvolvido pelo Instituto tem avantagem de ser mais preciso, já queas proteínas utilizadas em sua ela-boração têm como base o materialgenético de cepas virais que circu-lam no Brasil.

Referência naárea de virologia

Destaque na mídia nacional em 2015por desenvolver pesquisas que resultaramno isolamento, pela primeira vez no país,do arbovírus causador da febre chikungunyae pela confirmação da presença do zika ví-rus em amostras humanas brasileiras, o La-boratório de Virologia Molecular do ICC éum dos 50 laboratórios de referência da Fio-cruz. Considerado sentinela para vírus zikano Sul do país, oferece um conjunto de ser-viços para diagnóstico de infecções causa-das por esses vírus e também por outros vírusemergentes, como hantavírus, em amostrade pacientes e roedores.

“Dentro da missão institucional da Fi-ocruz, que é voltada para a saúde públi-ca da população, desde nossa instalaçãoprocuramos realizar pesquisas relevantespara os problemas locais como forma deinserção, de contribuir para a melhoriada saúde da população local e desta for-ma atenuar eventuais iniquidades soci-ais”, destacou a vice-diretora de Pesquisa,Referência e Coleções do ICC, CláudiaNunes Duarte dos Santos.

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m 2080, o Rio de Ja-neiro pode enfrentaruma combinação deaumento de 3,4°C natemperatura, com ele-

vação de 82cm no nível do mar e deaté 6% no volume de chuvas. En-quanto isso, São Paulo pode ficar3,9°C mais quente e ter até 13%mais precipitação. O levantamentofaz parte do Segundo Relatório deAvaliação sobre Mudanças Climáti-cas nas Cidades elaborado por 120 ci-entistas da Rede Pesquisas sobreMudanças Climáticas Urbanas (UrbanClimate Change Research Network –UCCRN). O documento teve dados di-vulgados antecipadamente, em outubro,durante o lançamento do Núcleo da UC-CRN na América Latina (UCCRN-AL),que tem como sede o Instituto OswaldoCruz (IOC/Fiocruz).

Liderada por pesquisadores doIOC e do Centro de Estudos Integra-

EMaíra Menezes

dos sobre Meio Ambiente e Mudan-ças Climáticas da Coppe-UFRJ (Cen-tro Clima/Coppe-UFRJ), a iniciativa éa segunda do tipo no mundo. Criadaem 2007, a UCCRN reúne mais de600 cientistas em 150 cidades. Ago-ra, o projeto chega à América Lati-na, com base no Rio de Janeiro.“Esperamos que essa parceria sejafrutífera não apenas para os pesqui-sadores, mas, principalmente, para asnossas cidades. Na América Latina,temos uma densidade populacionalmuito grande e realidades muito dís-pares. Por isso, é importante realizar-mos estudos específicos sobre osimpactos das mudanças climáticasaqui”, disse a pesquisadora do IOCMartha Barata, especialista em im-pactos do clima sobre a saúde. Res-ponsável por coordenar o Núcleo daUCCRN na América Latina, ela lem-bra que a Cidade do México, comcerca de 21 milhões de habitantes, e

São Paulo, com aproximadamente 20milhões, estão entre as maiores me-trópoles do planeta.

A importância da atuação darede na América Latina também foidestacada pela cientista americanaCynthia Rosenzweig, uma das dire-toras globais da UCCRN. Ela afirmouque mais da metade da populaçãomundial já vive em cidades e essenúmero deve chegar a dois terçosnas próximas décadas. Ao mesmotempo, as áreas urbanas são respon-sáveis por 67% das emissões de ga-ses do efeito estufa e devem sofrergraves impactos com o aquecimen-to global.

Foco nas cidadesDa mesma forma que o relatório

do Painel Intergovernamental sobreMudanças Climáticas (IPCC, na siglaem inglês) é a base para as ações

AQUECIMENTO GLOBAL

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dos países no tema, o Relatório deAvaliação sobre Mudanças Climáti-cas nas Cidades reúne conhecimentocientífico com potencial para orien-tar as ações municipais. A primeiraedição do documento foi publicadaem 2011 e a nova versão é resultadode quatro anos de pesquisas. Segun-do Cynthia, o estudo mostra que, até2080, a temperatura deve subir en-tre 1°C e 4°C nas cerca de cem cida-des estudadas em diferentes regiõesdo planeta. Na América Latina, amaior alta é prevista para a Cidadedo México, com elevação de até4,2°C na temperatura. Ao mesmotempo, o volume de chuvas deve so-frer grandes variações no continen-te, com queda de até 41% emSantiago, no Chile, e aumento de até78% em Lima, no Peru.

Além de dados atualizados sobreas previsões de mudanças climáticasnas cidades, o documento aborda te-mas fundamentais para as ações con-tra o problema, incluindo riscos dedesastres, planejamento urbano, es-tratégias de mitigação e adaptação,questões econômicas e de governan-ça. Coordenado pela pesquisadoraMartha Barata, um dos capítulosapresenta as consequências das mu-danças climáticas para a saúde daspopulações. Baseado em diversos es-tudos científicos, o trabalho apontaque o aquecimento global pode pro-vocar mortes se não forem adotadasmedidas de prevenção.

“Doenças renais e doenças car-diorrespiratórias estão muito vincu-ladas a ondas de calor. Já enchentese deslizamentos estão associados ainfecções como hepatite, leptospiro-se, leishmaniose”, relata a pesqui-sadora. Para enfrentar o problema,os cientistas recomendam um con-junto de medidas, desde ações am-bientais para reduzir a ocorrência deeventos climáticos extremos até amelhoria dos serviços de saúde para

atendimento de pa-cientes. “Sobretudo,é importante pensaras políticas de formaintegrada. Uma açãosimples como autori-zar a construção deum condomínio podeacabar com uma áreaverde, criar uma ilhade calor e prejudicar asaúde da população”,reforça Martha.

A importância dasáreas verdes nas cida-des é detalhada emoutro capítulo do re-latório, que trata dosecossistemas urbanos.Uma das autoras dotexto, a paisagistaCecilia Herzog, pro-fessora da PUC-Rio,explica que pesquisasdemonstram a impor-tância de investir nachamada infraestrutu-ra verde. Incluídospela primeira vez nodocumento, os riscosem cidades situadasem áreas costeiras fo-ram discutidos pelaurbanista Maria Fer-nanda Campos Lemos,também professora daPUC-Rio e autora docapítulo dedicado aotema. Ela lembrouque 10% da popula-ção mundial vive emzonas litorâneas debaixa altitude, queestão sujeitas a inun-dações. Além disso, ovalor dos bens em ris-co nas 136 maiores ci-dades portuárias doplaneta ultrapassaUS$ 3 trilhões.

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N

IMUNIZAÇÃO

um histórico de conquistasTrabalho de Bio-Manguinhos é crucial para manter erradicação da doença nas Américas

Poliomielite:

Gabriella Ponte

o Dia Mundial da Pólio, comemorado em 24 de outubro, o Fundo dasNações Unidas para a Infância (Unicef) apresentou, em linhas gerais,como está o cenário atual global da doença. Os resultados são dignosde comemoração. Apenas dois países têm registro do poliovírus selva-gem: Afeganistão e Paquistão. No mundo, registaram-se apenas 51

casos de poliovírus selvagem desde o início de 2015, comparativamente aos 242casos no ano passado. “Ambicionamos conseguir travar globalmente a transmissãodo vírus da pólio nos próximos 12 meses, mas só poderemos fazê-lo se os países combaixas taxas de vacinação redobrarem os seus esforços para chegar a todas as crian-ças” afirmou o responsável da Unidade da Pólio na Unicef, Peter Crowley.

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Nas Américas, a erradicação dosvírus selvagens é um marco notávelda saúde pública. A Fiocruz contribuiude forma decisiva para este resulta-do. Em 1981, foi firmado um acordode cooperação técnica entre os gover-nos do Brasil e do Japão, tendo comoobjetivo a transferência de tecnologiade produção das vacinas sarampo (Bi-ken Institute) e poliomielite (Japan Po-liomyelitis Research Institute) para oInstituto de Tecnologia em Imunobio-lógicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz).Como parte fundamental do proces-so, Bio-Manguinhos recebeu a cola-boração do Departamento de Virolo-gia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), para o estabelecimento e aorganização do Laboratório de Con-trole de Qualidade da vacina oral dapoliomielite.

Vários profissionais de Bio-Mangui-nhos participaram ativamente do pro-cesso, como, por exemplo, o presiden-te do Conselho Político e Estratégicode Bio (CPE), Akira Homma, a vice-diretora de Qualidade, Maria da LuzFernandes Leal, e a gerente da Divi-são de Envase do Pavilhão Rocha Lima,Helena Becho Moura. Nesse contexto,alguns colaboradores de Bio-Mangui-nhos e do IOC estiveram no Japão parafazer treinamentos. Maria da Luz con-ta que Bio-Manguinhos iniciou o de-senvolvimento da formulação da vaci-na a partir de concentrado de vírusimportado. “Analisamos e definimos acomposição de um melhor termo esta-bilizador e aperfeiçoamos uma formu-lação ideal da vacina para o nosso paíse outros, de clima tropical, já que ojaponês era voltado para temperatu-ras mais baixas”, explicou.

Em 1986, houve uma epidemia depoliomielite provocada pelo poliovírustipo 3 no Nordeste e Bio-Manguinhosdisponibilizou, em apenas 40 dias, for-mulações de vacina monovalente tipo3 e trivalente potencializada para osorotipo 3. “Produtores externos solici-taram um período de seis meses paraatender à solicitação do Brasil, mas nósconseguimos realizar esta entrega. Aformulação foi adotada pela Organiza-ção Pan-Americana de Saúde (Opas)nos finais da década de 1980 para to-

dos os países da América La-tina e hoje é adotada pelaOrganização Mundial deSaúde (OMS) para todos ospaíses de clima tropical”,lembrou ela.

Em 1989, ocorreu o últi-mo caso de poliomielite porvírus selvagem no Brasil, emSousa (PB) e, em 1994, opaís obteve o certificado daOpas da eliminação da poli-omielite. O Unicef precisaadquirir quantitativos da va-cina superiores à capacidadeinstalada para o processa-mento final. Assim, tornou-sede suma importância para oPrograma Nacional de Imuni-zações (PNI) que Bio-Mangui-nhos fornecesse o produtopara manter os programasanuais de vacinação em mas-sa. De 1984 a 2014 foramproduzidos e fornecidos aoPNI 701.238.096 de dosesde OPV (vacina oral de ví-rus atenuados).

Bio-Manguinhos tevegrande colaboração na er-radicação da pólio nasAméricas e ainda conti-nua se esforçando tecno-logicamente. A vacinainativada da poliomielite,fruto de um acordo de trans-ferência de tecnologia entre aunidade da Fiocruz e a farmacêuticafrancesa Sanofi Pasteur, foi introduzi-da em agosto de 2012 no Brasil, comduas doses iniciais de IPV (vacina inati-vada contra poliomielite) seguidas detrês doses de OPV.

O processo de substituição da OPVpela IPV será gradativo, segundo o vice-diretor de Produção de Bio-Mangui-nhos, Antônio Barbosa. O sorotipo 2 de-verá ser retirado da vacina até 2016 ea unidade da Fundação já está traba-lhando em cima da mudança da fór-mula. Anualmente são produzidas maisde 8 milhões de doses da IPV e 32 mi-lhões da OPV. “O número de doses daOPV, que no passado chegou a 70 mi-lhões de doses anuais, vem diminuin-do com o tempo”, detalhou Barbosa.

Em 2013 foi assinado umcontrato entre Bio e SanofiPasteur que vai prestar assis-tência técnica para a equipe

brasileira no desenvolvimento davacina heptavalente injetável. O

imunobiológico protegerá contra setedoenças: difteria, tétano, coqueluche,hepatite B, Haemophilus influenzaetipo B, meningite C e poliomielite. Oesforço inclui ainda a Fundação Eze-quiel Dias (Funed) e o Instituto Bu-tantan. O desenvolvimento está pre-visto para 2017.

Para Bio-Manguinhos, o desenvol-vimento tecnológico não para: a uni-dade é movida por desafios. Um dosprincipais enfrentados atualmente é aprodução da vacina heptavalente, quetenta juntar sete antígenos em um úni-co, sem perder a imunogenicidade decada um de seus componentes. “Obalanceamento adequado dessas con-centrações de forma combinada é anossa principal dificuldade a ser supe-rada”, ressaltou Barbosa.

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Nathane Dovale

ma equipe composta portécnicos, uma pesquisa-dora e agentes de saú-de chegou à casa deMaria Santos, moradora

do município de Manacapuru (distan-te 98 km de Manaus). A orientaçãoera que baldes com um pouco de águae inseticida fossem deixados no quin-tal da dona de casa, de 65 anos, parao combate do mosquito Aedes aegyp-ti. Ela aceitou e, logo em seguida, con-tou que é comum os familiares apare-cerem com sintomas de dengue, masque, após a intervenção proposta, afrequência de relatos de casos diminuiu.

A redução foi possível após o pro-jeto inovador de pesquisadores do Ins-tituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazonas) e do Centro dePesquisa René Rachou (Fiocruz Minas),em parceria com o Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia (Inpa), terentrado em ação. O novo método uti-liza os próprios mosquitos vetores dadoença para disseminar inseticida emcriadouros.

A armadilha é feita com baldes,contendo um pouco de água, quetêm suas paredes internas cobertaspor um pano preto de veludo. Nestetecido é aplicado o larvicida pyripro-xyfen, triturado até a consistência deum pó. Essa composição permite queas fêmeas do mosquito sejam atraí-das até o balde. Ao pousarem na ar-

RETRANCA: Inovação

Novo métodopara controle da

Fiocruz Amazonas usavetores da doença paradisseminação de inseticida

U

madilha, os mosquitos ficam impreg-nados com o inseticida que acabasendo levado por esses insetos paraoutros criadouros, auxiliando tambémno combate às larvas.

Pesquisador do projeto, Sérgio Luz,explica que o método é importantepois existem muitos criadouros em lo-cais fechados, escondidos ou inaces-síveis. “Um dos problemas mais im-portantes e difíceis de resolver nocontrole dos mosquitos vetores dadengue e outras doenças (como a fe-bre chikungunya e zika) é que muitosdos criadouros não são tratados du-rante as ações de controle, por contado difícil acesso ou por não consegui-rem ser identificados”, comentou Luz.“Os agentes de controle simplesmen-te não podem tratar esses criadouros,que continuam a produzir mosquitos.O nosso trabalho mostra que os pró-prios mosquitos podem ser usadoscomo ferramentas de combate.”

Antes do projeto, que teve inícioem novembro de 2013, 98% das resi-dências de Manacapuru apresentavamcriadouros com resultado positivo paralarvas de mosquito Aedes aegypti. Emoutubro de 2015, a equipe registrouapenas 2% de casas ainda com focosdo vetor da doença. Segundo o subge-rente de Endemias da Secretaria Mu-nicipal de Saúde (Semsa), Mário Fer-nandes da Silva, em 2015, foramregistradas 79 notificações de doençasde dengue no município. No ano ante-rior, o número chegou a 200.

A atual equipe do projeto é for-mada pelos pesquisadores FernandoAbad-Franch, da Fiocruz Minas, Sér-gio Luz e Elvira Zamora, e os técni-cos de campo Ricardo Mota e Sebas-

tião Dias, os quatro da Fiocruz Ama-zonas. De acordo com o pesquisadorSérgio Luz, após a utilização das ar-madilhas disseminadoras de insetici-da, o trabalho de monitoramento dosmosquitos continua. “Este estudo temindicado as localidades em que apa-recem mosquitos. Assim, é possívelfazer o controle utilizando armadilhasdisseminadoras de inseticida apenasnas áreas positivas, serviço realizadopor agentes de endemias. Tivemosuma baixa populacional de mosqui-tos bem representativa: o númerocaiu de mais de 1,5 mil por mês paramenos de 50. O resultado torna qua-se impossível a transmissão epidêmi-ca do vírus”, explicou.

dengue

ALERTA

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saúde pública já pode con-tar com um importanteinstrumento de combateao Aedes aegypti, mos-quito transmissor de três

das principais doenças virais tropicais daatualidade: dengue, febre chicungunya ezika vírus. Trata-se do DengueTech, bio-larvicida desenvolvido pelo Instituto deTecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), a partir do isolamento da bacté-ria Bacillus thuringiensis (BTi), coletada em

AAlexandre Matos

solo nacional. Com uma ação eficaz, otablete é capaz de eliminar as larvas domosquito em menos de 24 horas e semcausar nenhum risco à saúde humananem ao meio ambiente. Devido à ausên-cia de toxicidade, o que confere seguran-ça aos aplicadores e à população de ummodo geral, a Organização Mundial daSaúde (OMS) preconiza o uso de biolarvi-cidas à base de BTi como o mecanismomais eficaz de ação contra o inseto.

De acordo com a engenheira bio-

química Elizabeth Sanches, que lideroua equipe que desenvolveu o biolarvici-da, dentro de duas a quatro horas apósa ingestão do DengueTech, as larvas doAedes aegypti sofrem uma paralisaçãode seus músculos bucais e não conse-guem mais se alimentar. “Em seguida,já debilitadas, elas sofrem uma infec-ção interna provocada por esporos (for-mas de resistência produzidas pelasbactérias), e finalmente são eliminadas.Outro diferencial do produto é o uso de

INOVAÇÃO

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protetor solar na sua fórmula, para quenão haja degradação em locais expos-tos ao sol”, explica a pesquisadora.

Nesta primeira fase, o registro con-cedido pela Agência Nacional de Vigi-lância Sanitária (Anvisa) é destinado aouso doméstico, sem contemplar águapotável. Porém, a pesquisadora afirmaque o DengueTech é confiável. “Suaformulação é absolutamente sustentá-vel, não contêm produtos químicos, nãoagride o homem, outros animais, nemo meio ambiente. Outro diferencial éque se trata de uma invenção 100%nacional. Foi criado por Farmanguinhos,que é um laboratório público oficial, apartir de uma bactéria do solo brasilei-ro, e será produzido por uma empresanacional qualificada, uma vez que apre-sentou os requisitos exigidos no editalde transferência tecnológica”, afirma.

O biolarvicida foi totalmente desen-volvido por Farmanguinhos. No total, fo-

ram mais de cinco anos de estudo atéchegar ao DengueTech. “Neste perío-do, fizemos todos os testes necessários,inclusive para avaliar se haveria impac-to ambiental”, informa Elizabeth. O pro-duto tem duas formulações diferentes,desenvolvidas para se adequarem aoambiente. Para o uso domiciliar, foramcriados os tabletes. Cada um deles podeser utilizado em até 50 litros de água.Foi desenvolvido ainda na forma de gra-nulados dispersíveis destinados a gran-des reservatórios de água, tais comopiscinas, lagos e outros nos quais po-dem ter altas concentrações das larvasdo inseto. O registro para esses últimostramita na Anvisa, juntamente com osde uso em água potável.

Segundo a Coordenação de GestãoTecnológica da Fiocruz (Gestec), foi pu-blicado um edital de transferência de tec-nologia para que uma empresa pudessefabricar o produto a partir de um licencia-mento voluntário e de exclusividade con-cedido pela Fundação. Em contrapartida,a instituição receberá royalties com a ven-da do larvicida biológico. Dessa forma, oregistro em nome da BR3 S/A quase fe-cha o ciclo do que representa o primeirocaso de transferência de tecnologia entrea Fiocruz e uma empresa privada no qualtodas as etapas de desenvolvimento eprodução foram concluídas.

Para se ter uma ideia da gravidadeda situação, dados do Ministério da Saú-de revelam que, até 10 de outubro, o paísregistrou 1,48 milhão de casos prováveisde dengue. Em relação à febre chikun-gunya, neste mesmo período, foram no-tificados 14,3 mil casos. No total, 5,2 milforam confirmados e outros 7,8 mil conti-nuam em investigação. O MS informa quenão contabiliza o número de casos de zika

vírus porque, segundo a pasta, trata-sede uma doença benigna e que não é denotificação compulsória. No entanto, o MSdiz acompanhar a vigilância para prestarapoio às medidas de prevenção à doença.

Até o momento, 14 estados notifi-caram casos desta doença, que, segun-do o diretor da Fiocruz Mato Grosso doSul, Rivaldo Venâncio da Costa, os epi-demiologistas suspeitam da ocorrênciade complicações neurológicas severas.Em novembro de 2015, o MS decre-tou estado de emergência em saúdepública, após a suspeita de mais de 100casos de microcefalia congênita em trêsestados nordestinos. De acordo com osprimeiros relatos, essas complicaçõesestavam relacionadas ao zika vírus.

O presidente da BR3, Rodrigo Perez,explica que o DengueTech é um produ-to que contempla diversas inovações, oque acabou gerando um novo regula-mento para registro. Segundo ele, ape-sar de ter atendido às solicitações, talprocesso trouxe novas exigências parauso em água potável. “Prontamentecontratamos os estudos adicionais solici-tados. Mas por ser tudo novo, para nóse também para o órgão regulador (An-visa), solicitamos que essa primeira au-torização se desse de forma parcial, pelofato de se tratar de enorme interessepúblico. Mas acreditamos que nos próxi-mos 60 dias (a partir de novembro) tere-mos a totalidade dos novos estudosconcluídos”, assinala Perez.

Segundo Perez, o objetivo agora énegociar com o Ministério da Saúde,bem como com as secretarias de saú-de, a substituição de inseticidas quími-cos pelo DengueTech. Neste caso, aaplicação nos criadouros será feita porprofissionais de vigilância em saúde.

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malária

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TECNOLOGIA

Nanotecnologia contra a

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Nathane Dovale

m parceria com o Institu-to Federal do Amazonas(Ifam) e com o InstitutoSenai de Inovação emMicroeletrônica em Ma-

naus, pesquisadores do Instituto Leôni-das e Maria Deane (ILMD/FiocruzAmazonas) estão desenvolvendo umsistema de detecção eletrônica demalária que tem como base em umaplicativo de celular, inicialmente dis-ponibilizado apenas para a plataformaAndroid. A expectativa é que o proje-to esteja concluído em 2017, quandoo sistema será disponibilizado ao Mi-nistério da Saúde.

De acordo com os pesquisadores,a alta instabilidade térmica dos testesatuais para a doença pode ocasionarproblemas na análise e dificulta otransporte destes para áreas distantes.Para solucionar o problema, os cien-tistas têm apostado no uso de nano-tubos de carbono em fitas imunocro-matográficas (substituindo o ourocoloidal, partícula tradicionalmenteutilizada neste tipo de teste), o quepoderá tornar o teste rápido e resis-tente a temperaturas tropicais. Essesnovos elementos, quando utilizadosem conjunto com o sensor eletrônico(ligado a um aplicativo de celular),poderão tornar o exame para maláriamais sensível e quantificável.

“Esperamos que o aplicativo, alémde gerar resultado qualitativo (positivoou negativo), seja capaz de determi-nar aproximadamente a quantidade deparasitas no paciente, facilitando omonitoramento do tratamento”, expli-cou o coordenador do projeto, LuisAndré Mariúba, do Laboratório de Di-agnóstico e Controle de Doenças In-fecciosas na Amazônia da Fiocruz

Fiocruz Amazonasinveste em aplicativode celular para adetecção rápidada doença

Amazonas. Ele explica que, por en-quanto, o sistema está sendo desen-volvido para identificar apenas a ma-lária causada pelo parasita Plasmodium

vivax, causador do maior número decasos no Brasil.

Outra proposta do projeto é que oaplicativo seja utilizado também inde-pendentemente do sensor eletrônico.“O aplicativo servirá como complemen-to do sensor, trazendo uma ficha decadastro com os dados do paciente,permitindo a inserção de seu diagnós-tico e disponibilizando a informaçãopara o sistema de vigilância”, disse opesquisador. “Mas a ideia é que o appseja utilizado tanto com nosso sistemaeletrônico quanto com os métodos dediagnóstico já utilizados na rotina, comomicroscopia e testes rápidos”, disse opesquisador. Os cientistas esperam ain-da integrar ao aplicativo a um sistemade localização por GPS para identificarpontos de coleta para buscas ativas,facilitando a armazenagem dos locais.

Teste rápidoA utilização de nanotubos de car-

bono em fitas imunocromatográficas,uma partícula semicondutora com

E

ótima resistência a temperatura, foidesenvolvida em 2010 pelos pesqui-sadores Adeyabeba Abera e Jin-WooChoi. O projeto, porém, não tinhasido aplicado à detecção de nenhu-ma doença. A ideia de um teste rá-pido para malária utilizando esse tipode fitas, semelhante a exame paragravidez, surgiu em um projeto dedoutorado defendido na FiocruzAmazonas, orientado pelos pesqui-sadores Paulo Afonso Nogueira ePatrícia Orlandi.

“Encontrei dificuldades na utili-zação das fitas, como, por exemplo,baixa estabilidade em temperaturastropicais, limitação a resultados qua-litativos e baixa sensibilidade. Bus-quei então novas partículas que pos-sibi l i tassem a resolução destesproblemas”, contou Mariúba. Segun-do ele, agora, o projeto busca iralém: o sistema de detecção pode-rá ser aplicado a outras doenças. “Aproposta inicial era simplesmenteaplicar este método na detecção demalária. Contudo, já realizamosmodificações que tornam nossa me-todologia de preparo dos nanotubosúnica. Temos como perspectiva apli-car este sistema para o diagnósticode outras enfermidades”, disse.

Atualmente, o projeto se encon-tra na fase de preparação do hardwa-re de detecção da doença e da inte-ração deste com o aplicativo decelular. A pesquisa é financiada peloConselho Nacional de Desenvolvi-mento Científ ico e Tecnológico(CNPq) e pela Fundação de Amparoà Pesquisa do Estado do Amazonas(Fapeam). Seis alunos participam doprojeto, sob a coordenação de Mari-úba: Laleska Mesquita, Weidson deOliveira, Felipe Santos Araújo, MyllaChristie e Stefani Reis. Os 11 pesqui-sadores que colaboram com o proje-to são Diego Câmara Sales, LizandroManzato, Win Degrave, Paulo Afon-so Nogueira, Patrícia Orlandi, CarlosPereira, José Casarini, Valtemar Car-doso, Marcus Vinicius Lacerda, Thia-go Moura e Luciano Lourenço.

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econhecida pela suaeficácia, a vacina con-tra a febre amarela éproduzida com a mes-ma tecnologia desde

1937: vírus atenuados são inoculadosem embriões de galinha e, após semultiplicarem, são usados no imunizan-te. O processo de replicação viral per-maneceu uma incógnita durantedécadas. Foi investigando essa etapaque um grupo liderado por cientistas doInstituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)descobriu informações que podem aju-dar a aprimorar o imunizante no futuro.Em um estudo publicado na revista ci-entífica internacional Plos NeglectedTropical Diseases, os pesquisadores des-crevem, pela primeira vez, quais teci-dos e células dos embriões de galinhasão responsáveis pela replicação do ví-

RMaíra Menezes

rus. As descobertas podem contribuirpara o aperfeiçoamento do método defabricação da vacina, o que poderiasubstituir o uso de embriões de galinhapor um sistema de cultura de células.Desta forma, a imunização poderia dei-xar de ser contraindicada para as pes-soas com alergia grave a proteínas deovo. Além disso, a mudança tambémrepresentaria um avanço ético no quese refere ao uso de animais, na medidaem que permitiria reduzir o empregode embriões de galinha no processo defabricação do imunizante.

Primeiro autor do artigo, o biólogoPedro Paulo de Abreu Manso, do La-boratório de Patologia do IOC, diz queos resultados são surpreendentes. “Empacientes, o fígado é um dos princi-pais órgãos acometidos nos casos defebre amarela grave. No entanto, nos

IMUNIZAÇÃO

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embriões de galinha, este órgão não éafetado. Por outro lado, neste traba-lho observamos que os vírus são pro-duzidos principalmente nas célulasmusculares esqueléticas, o que nuncatinha sido mostrado antes”, comenta opesquisador. Na medida em que identi-fica os tecidos responsáveis pela repli-cação das partículas virais nos embriõesde galinha, o artigo aponta um possívelcaminho para a produção da vacina emcultura de células. Segundo os cientis-tas, tentativas anteriores neste sentidonão obtiveram sucesso na produção doimunizante. “Ainda são necessáriosmuitos testes, mas utilizar células mus-culares, que são as principais célulasenvolvidas na produção do vírus in vivo,pode aumentar as chances de sucessona produção da vacina em sistema decultura”, avalia Manso.

Refutações econfirmações

Os resultados inesperados da pes-quisa levaram os cientistas a questio-nar alguns mecanismos da doença. Porexemplo, a presença dos vírus nas cé-lulas musculares poderia justificar umdos sintomas iniciais do agravo: a dormuscular, que geralmente é atribuídaà resposta imune do organismo contraa infecção. “Assim como ocorre nosembriões de galinha, os patógenospodem afetar diretamente os múscu-los dos pacientes. Isso nunca foi inves-tigado na febre amarela, mas já foimostrado na infecção por chikungunya,que é causada por um vírus de umafamília próxima”, afirma Manso.

Da mesma forma, a evolução dadoença no fígado pode ter explicaçõesdiferentes das conhecidas até agora.Segundo as teorias atuais, células es-

pecializadas chamadas de células deKupffer exerceriam um papel protetor,retardando a infecção das células maisimportantes do órgão, conhecidascomo hepatócitos. O estudo apontajustamente o contrário. Como no estu-do foi usada uma fase do desenvolvi-mento em que os embriões de galinhaainda não têm células de Kupffer e,mesmo assim, o fígado não foi afeta-do pelo vírus, os pesquisadores suspei-tam que estas células possam atuarcomo um facilitador da propagação dopatógeno no fígado.

Ao mesmo tempo em que algunsconhecimentos atuais foram questio-nados, outros foram reforçados. A pro-dução de imagens inéditas confirmoua localização exata dos vírus da fe-bre amarela nas células dos embri-ões de galinha. Usando uma técnicade microscopia de super-resolução, ospesquisadores mostram que as partí-culas virais são encontradas em umaorganela celular chamada de retícu-lo endoplasmático e em comparti-mentos conhecidos como vesículasde exocitose.

Conhecimentode interessepara o Brasil

O trabalho foi desenvolvido porpesquisadores dos Laboratórios de Pa-tologia e de Biologia Molecular de Fla-vivírus do IOC com a colaboração doInstituto de Tecnologia em Imunobio-lógicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). Paraos autores, encontrar formas de me-lhorar a vacina contra a febre amarelapode ser ainda mais importante no fu-turo. No ano passado, uma tecnologiacriada por cientistas do IOC e de Bio-

Manguinhos que permite usar esteimunizante como base para elaborarvacinas contra diversas doenças rece-beu a patente nos Estados Unidos. Atu-almente, a metodologia é aplicada nabusca de possíveis vacinas contra a Aidse a doença de Chagas.

Uma doençacomplexa

Por ter um ciclo silvestre, a febreamarela é uma doença de difícil elimi-nação. Em áreas de floresta, mosqui-tos Haemogogus contraem o víruscausador da infecção ao sugar o san-gue de macacos doentes e podemtransmitir o patógeno para viajantes epessoas que vivem nas imediações. NoBrasil, a forma urbana do agravo foieliminada em 1942, após epidemiasque deixaram milhares de mortos noséculo 19 e no começo do século 20.No entanto, o risco de reintrodução éuma preocupação constante porquemosquitos do gênero Aedes – que játransmitem dengue, chikungunya ezika – também têm potencial de pro-pagar a febre amarela. Principal for-ma de prevenção, a vacina contra adoença faz parte do calendário nacio-nal de imunizações em todas as áreascom risco de transmissão, o que incluias regiões Norte e Centro-Oeste, alémde trechos do Nordeste, Sul e Sudeste.

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Instituto de Tecnologiaem Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) pro-duzirá a Betainterferona1a subcutânea, biofár-

maco indicado no tratamento da es-clerose múltipla, nas apresentações 22mcg e 44 mcg. A novidade foi possí-vel devido a um acordo de transferên-cia de tecnologia assinado com aMerck, que também envolve a pro-dutora nacional Bionovis, em uma das12 Parcerias para o DesenvolvimentoProdutivo (PDPs) para a incorporaçãode biofármacos da qual Bio-Mangui-nhos participa.

Dessas, três já estão em processo detransferência: o da alfataliglicerase coma israelense Protalix, o do infliximabecom a norte-americana Janssen e, ago-ra, o da betainterferona 1a. Completamo portfólio de cinco biofármacos do Insti-tuto a alfaepoetina e a alfainterferona2b. “Essa PDP representa mais uma con-quista fruto do esforço de Bio-Mangui-

OPaulo Schueler

nhos em fortalecer o Programa de Me-dicamentos Excepcionais do Ministérioda Saúde, por meio de uma parceria coma Secretaria de Ciência, Tecnologia eInsumos Estratégicos”, afirmou o diretorda unidade da Fiocruz, Artur Couto.

De 2010 a 2014, Bio-Manguinhosforneceu 50 milhões de frascos de bio-fármacos para o Sistema Único de Saú-de (SUS). Além de garantir o acessodo medicamento à população, o acor-do traz economia de R$ 27 milhões emsete anos ao Tesouro Nacional e movi-menta a cadeia produtiva. “O impactona economia brasileira é decorrente douso de insumos que usaremos e serãoproduzidos no Brasil, além de gerarempregos”, ressaltou Couto.

A incorporação da tecnologia co-loca a unidade da Fundação um de-grau acima na corrida tecnológica. “Aincorporação não é só do produto,mas da plataforma tecnológica naqual ele é desenvolvido. Ganhamosexpertise e a possibilidade de desen-

volvimento de outros produtos nela,agregando valor para Bio-Mangui-nhos e, assim, para a própria saúdepública no Brasil”, complementou.

Por sua alta tecnologia, os biofárma-cos são uma fonte de receita crescentepara a manutenção das atividades deBio-Manguinhos. A linha de produtos,que em 2016 completará 12 anos, re-presentará 62% do que a unidade daFiocruz arrecadará com o portfólio devacinas, que completará quatro décadas.

A betainterferona 1a é comercializa-da em mais de 80 países pela Merck.No Brasil, cerca de 27% dos 13 mil paci-entes em tratamento de esclerose múlti-pla no SUS faz uso desse biofármaco.Existem cerca de 35 mil pessoas com adoença no Brasil, com o agravante deque é subnotificada. No mundo, de acor-do com a Organização Mundial de Saú-de (OMS), existem cerca de dois milhõesde pessoas com a enfermidade, notada-mente indivíduos entre 20 e 40 anos deidade (75% mulheres).

PRODUÇÃO

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GESTÃO DA QUALIDADE

Rodrigo Costa Pereira

quinta edição da OficinaTécnica Nacional NATreuniu especialistas e co-laboradores do Institutode Tecnologia em Imuno-

biológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) erepresentantes dos 14 hemocentros doBrasil, em outubro, no Rio de Janeiro.Quase um ano após a incorporação dovírus da hepatite B (HBV) como últimoalvo do kit de diagnóstico NAT, o en-contro foi válido para, além de fortale-cer a hemorrede, trocar experiências erelatos sobre o aprimoramento do tes-te. Logo na abertura, o diretor de Bio-Manguinhos, Artur Couto, reforçou essatese. “A Oficina NAT é uma oportuni-dade que temos de ouvir os hemocen-tros e, nesta edição, especificamente,queremos saber das experiências devocês na inclusão do HBV”, afirmou.

Diante das mudanças no Ministé-rio da Saúde, Couto tranquilizou os par-

Malária será novo alvode kit de diagnósticoQuinta edição de oficina nacional reúne representantes de 14 hemocentros brasileiros

ticipantes, afirmando que o serviço NATjá é uma política de Estado, não maisde governos. “Continuaremos traba-lhando para a continuidade do serviçoe o controle do sangue no Brasil. Nãofaltarão esforços pra isso, nosso e doministério”. A responsável pela Asses-soria Técnica em Hemoterapia da Co-ordenação Geral de Sangue e Hemo-derivados, Bárbara Simões, destacou aimportância do encontro. “É uma opor-tunidade de discutirmos o desenvolvi-mento e consolidação do NAT. Ummomento importante que Bio-Mangui-nhos proporciona, de trocarmos expe-riências e relatos com os sítios testado-res”, disse.

Além das trocas de experiências,a oficina permitiu atualização e aces-so a novas informações. Na primeiraapresentação, Marcelo Addas, consul-tor do Ministério da Saúde, abordou agestão de risco como ferramenta demelhoria de processos. Para ele, o ge-renciamento de riscos é uma atividade

que precisa ser contínua, sendo umprocesso cíclico com as seguintes eta-pas: identificar, analisar, avaliar, tratar,monitorar, analisar criticamente. Addastrouxe também a nova versão da nor-ma ISO 9001, publicada em agosto, eas mudanças nos princípios da gestãoda qualidade. “A nova norma dá mai-or ênfase à avaliação dos riscos e mai-or envolvimento da alta direção, alémde solicitar que as organizações levemem consideração o feedback de todasas partes interessadas, e não apenasdos seus clientes”, destacou.

A decisão por incluir a malária comoquarto alvo do kit de diagnóstico NATteve embasamento na apresentação dopesquisador da Fundação de MedicinaTropical, Wuelton Monteiro, que pales-trou sobre a Malária no Brasil e no mun-do e o risco da transmissão transfusio-nal. Para o pesquisador, o risco damalária urbana – característica das pe-riferias dos grandes centros – ameaçapessoas que têm acesso aos bancos desangue, o que aumenta a chance detransmissão. Na Amazônia, a maláriaassintomática, em que os indivíduos nãosentem os sintomas da doença, podealcançar 85% da população. Para agra-var o quadro, a malária transfusional temum alto índice de letalidade. “Há umretardo no diagnóstico da malária trans-fusional, que é muito mais severa doque a contraída por meio vetorial (mos-quitos)”, explicou.

No encerramento, o vice-diretor deProdução, Antonio Barbosa, reforçou aimportância da realização da oficina.“Essa oficina é prioritária para a dire-toria de Bio-Manguinhos. É muito im-portante ter o feedback dos hemocen-tros, saber das suas experiências comesse produto. Isso nos traz insumos paraa melhoria da prestação do serviço, oque é benéfico para todos”, encerrou.

A

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Vinícius Ferreira

evento é único. O cená-rio, exuberante. Realizadoem um ambiente que pro-porciona total imersão nodebate científico, o Semi-

nário Laveran & Deane sobre Malária,promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz(IOC/Fiocruz), chegou em 2015 à mar-ca de 20 anos de contribuições para apesquisa e o ensino de pós-graduaçãoem malária no país. Para celebrar aconquista, a 20ª edição do evento foiseguida de uma comemoração que reu-niu cerca de 140 participantes, entre 17e 19 de setembro, na Ilha de Itacuruçá,na Costa Verde do Estado do Rio de Ja-neiro – local que, há 18 anos, é palcodas discussões do encontro.

A inovação de formato é a princi-pal marca do Seminário Laveran &Deane – ou, simplesmente, ‘o Lave-ran’, como os participantes costumamchamar o evento de forma afetiva.Nele, estudantes do primeiro ano demestrado ou do segundo de doutora-do têm a oportunidade de apresentarsuas dissertações e teses para pesqui-sadores sêniores na área. O resultadoé uma troca intensa, que permite oaperfeiçoamento da qualidade cientí-fica dos estudos.

Certamente não é coincidência queo coordenador e idealizador do Semi-nário, o pesquisador Cláudio Tadeu-Da-niel Ribeiro, nutra a paixão pela pesqui-sa em malária desde o mestrado. “Todosos anos, cientistas brasileiros e estran-geiros saem de seus locais de trabalhopara se dedicarem integralmente aoSeminário. Cada um deles colaboroupara o aprimoramento dos projetos apre-sentados aqui”, ressalta o malariologis-ta, que é chefe do Laboratório de Pes-quisas em Malária do IOC, membro daAcademia Nacional de Medicina e pre-sidente da Federação Internacional deMedicina Tropical.

Ciência na Costa Verde

Ribeiro destaca que, ao longo dasedições, o evento alcançou um novopatamar. “Nosso objetivo inicial era,sim, de cooperar para elevar a quali-dade dos projetos expostos. Mas, como passar do tempo, percebemos que oSeminário vai além disso, sendo capazde impactar e melhorar a qualidade eo nível das pesquisas em malária reali-zadas no país”, pondera.

Nas comemorações do aniversário,um dos destaques foi o anúncio doganhador do ‘Prêmio Laveran & Dea-

Um documentário foi produzidopara celebrar a trajetória doSeminário, que desde 1995recebeu mais de 250 estudantesde mestrado e doutorado dediversas partes do país. Assistano Canal IOC no YouTube (www.youtube.com/user/CanalIOC)

Seminário completa duas décadas de contribuições para a malariologia nacional

ne’. Concedido em reconhecimento àsignificativa contribuição de um ex-alu-no para o estudo da malária, DanielYoussef Bargieri foi o vitorioso. Atual-mente professor na USP, em 2006 eleparticipou do seminário como estudantede doutorado. “Depois do ‘Laveran’meu projeto foi aperfeiçoado e meudoutorado certamente ganhou qualida-de. Sinto-me honrado por receber oprêmio, pois é um reconhecimento re-almente valioso”, comemora.

Além do ‘Prêmio Laveran & Dea-ne’ e da homenagem aos professoresdo Seminário falecidos desde a sua cri-ação (Alexandre Peixoto, HenriqueLenzi, Maurício Rodrigues e PierreAmbroise-Thomas), durante a come-moração de 20 anos o título de profes-sor-emérito dos Seminários Laveran &Deane foi concedido a cinco especia-listas. São os pesquisadores CarlosEduardo Tosta, Maria Anice Sallum,Mariano Zallis, Mércia Arruda e Ricar-do Lourenço, que deram contribuiçõesrelevantes para o ‘Laveran’.

INTERCÂMBIO

O

Cláudio Tadeu-Daniel Ribeiro (agachado) é o idealizador e coordenador do eventohá duas décadas (Foto: Josue Damacena)

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ESPECIAL

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omo o trabalho efe-tuado pela Fiocruz évisto e compreendi-do? Aos olhos de seususuários e parceiros, a

Fundação tem conseguido realizara sua missão de forma positiva econtribuído de forma satisfatóriapara a saúde brasileira? A busca deresposta para essas perguntas fun-damentais foi o que levou a Fiocruza investir em um estudo de análisede sua reputação. A pesquisa, reali-zada durante o ano de 2014 peloInstituto Reputation, revelou que aFundação tem uma reputação de

forte a excelente em todos ospúblicos analisados.

”A Fiocruz apresentouum índice pulse geral, queestá relacionado a empatia,confiança, estima e admi-

ração pelo público, de73,9 a 83,8 pontos, va-

lor semelhante ousuperior ao encontra-do na reputação dasprincipais organiza-ções não governamen-

tais mundiais sem finslucrativos”, explicou um

dos coordenadores dapesquisa no Instituto

Reputation, ThiagoRetori. A empresa

é responsávelpela avaliação

da reputação

CEquipe CCS

de grandes marcas mundiais, comoa Disney, o Google e a BMW. A listadas 100 marcas mais fortes analisa-das pelo Reputation é publicada anu-almente pela revista Forbes.

”Ficamos muito felizes com osresultados da pesquisa. Significamuito para nós saber que o traba-lho desenvolvido por esta institui-ção centenária é reconhecido pelosseus diversos públicos. Mas é im-portante também estarmos aten-tos às oportunidades de melhoriaque surgem a partir de uma leitu-ra mais cautelosa desses resulta-dos”, pontua o presidente daFiocruz, Paulo Gadelha.

Foram selecionados cinco gruposde públicos distintos para a pesqui-sa (população em geral, representesdo Complexo Econômico da Saúde,formadores de opinião, estudantese pacientes) em cinco estados (Riode Janeiro, Amazonas, Pernambu-co, Paraná e São Paulo) e no Distri-to Federal, representantes das cincoregiões do país ou onde a Fiocruztem sedes. Sete foram as dimensõesanalisadas: “produtos”, “serviços epesquisa”, “ciência e inovação”,“ambiente de trabalho”, “gover-nança e responsabilidade”, “con-tribuição social”, “liderança edesempenho”. A análise dessas di-mensões resultou em uma radiogra-fia sobre a avaliação de cada públicocom relação às diferentes atuaçõesda Fundação.

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Os principais drivers de reputaçãoda Fiocruz, ou seja, expressões que sãodiretamente relacionadas à imagem dainstituição, foram “postura ética”;“melhoria da saúde e qualidade devida”; “ciência e inovação para aten-der as necessidades”; “instituição pú-blica eficiente”; e “referência emciência e saúde”. Para os grupos quefizeram parte da pesquisa, a Fundaçãotem postura ética e é vista como umainstituição pública eficiente e referên-cia em saúde e ciência, buscando amelhoria da qualidade de vida e aten-

dendo necessidades por meio da ciên-cia e inovação. “A Fiocruz mostrou tera confiança de seus aliados externos,com postura ética, e é capaz de pro-mover a melhoria da saúde, da quali-dade de vida e o desenvolvimento daciência e inovação de forma a aten-der as necessidades da população. So-bretudo, mostrou ser eficiente e umaforte referência em sua área de atua-ção”, destaca Retori.

De acordo com os resultados ob-servados, quanto mais se conhece aatuação da Fundação maior o índice

de respostas positivas do público so-bre ela: 94% dos formadores de opi-nião (imprensa, governo, academiae controle social) e 86% do Comple-xo Econômico da Saúde (parceiros,financiadores e fornecedores) disse-ram conhecer a Fiocruz. No entanto,a familiaridade com a instituição apre-sentou baixos resultados para a po-pulação em geral. Apenas 35% dosentrevistados deste grupo disseramconhecer a Fundação, número bemabaixo da média observada em ou-tros grupos.

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A partir destes resultados, a co-ordenadora de Comunicação Socialda Fiocruz, Elisa Andries, reforçou aimportância da comunicação para adivulgação dos serviços e atividadesoferecidas na Fundação. “Com essediagnóstico, a ideia é encontrar no-vas estratégias de comunicação paraaproximar ainda mais a população dainstituição e podermos mostrar me-lhor toda a dimensão da instituição ea enorme gama de serviços que pres-tamos”, conclui Elisa.

Sobre a diversidade de atividades fei-tas pela Fundação, a maioria das pesso-as consultadas reconheceu a Fiocruzcomo um “centro de pesquisas” e como

“uma fábrica de produtos de saúde”. Emtodos os públicos, as associações predo-minantes sobre a Fundação foram “pes-quisas”, “vacinas” e “saúde”. Noentanto, a reputação institucional semostrou ainda mais forte dentre aquelesque demonstraram saber que a Funda-ção é bem mais que uma fábrica de pro-dutos de saúde, mas também tem frentesna área de “ensino”, “formulação depolíticas públicas”, “atendimento à saú-de” e “pesquisas”. A qualidade do tra-balho desenvolvido pela Fiocruz tambémfoi reconhecida no âmbito da “ciência etecnologia”; “produtos de saúde (vaci-nas)”; “pesquisa”; “ensino”; “ética ecompetência”; e “gestão eficiente”.

“Foi a primeira vez que re-alizamos uma pesquisa de re-putação desse porte para aFiocruz e, certamente, nãoserá a última. É fundamentalacompanharmos essa reputa-ção ao longo do tempo, nãoapenas pela importância dedarmos continuidade a esseprocesso tão valioso para a ins-tituição, mas também paraconseguimos avaliar e medir aeficácia das ações de melhoriaque serão implementadas apartir desses resultados”, ava-lia o presidente Gadelha.

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SAÚDE PÚBLICA

TuberculoseFiocruz Amazonas apontaaumento de 14% no númerode casos entre encarceradosentre

presidiáriosRM 33 - PARTE GUTO - HELP.pmd 11/12/2015, 16:3632

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UNathane Dovale

m estudo realizado porpesquisadores do Insti-tuto Leônidas e MariaDeane (ILMD/ FiocruzAmazonas) identificou

que no período entre 2007 e 2012houve um aumento de 14,7% de ca-sos de tuberculose entre Pessoas Pri-vadas de Liberdade (PPL) no Brasil.Com 31.794 novos casos, o númeromostra que a doença entre PPL teveuma taxa de incidência de 25,3 a30,1 vezes maior que na populaçãogeral, notificada com 505.287 casosno mesmo período. O aumento dadoença entre PPL, de acordo com apesquisa, traz como possíveis causasa crescente taxa de ocupação prisio-nal brasileira (que aumentou 150%no período analisado) e as condiçõesdas celas.

A taxa de incidência da doença,no período em 2007-2009, foi de882,4 por 100 mil PPL e, em 2010-2012, 1.011,1. O estudo tambémapontou o Rio de Janeiro e o Mara-nhão como os estados com as maio-res taxas de tuberculose entre as PPL.Os casos, segundo o levantamento,ocorreram predominantemente empessoas do sexo masculino, com ida-de entre 20 e 39 anos. O Acre e oEspírito Santo foram os únicos esta-dos que alcançaram a meta de curarecomendada pela Organização Mun-dial de Saúde (OMS), que aconselhaum número de pessoas sem a doen-ça maior que 85%. O Rio de Janeiroe o Rio Grande do Norte alcançaramas menores metas de cura, com55,3% e 47,5%, respectivamente.

Quanto ao abandono do trata-mento, a pesquisa levantou que cer-ca de 88% dos estados registraramtaxa maior que 5%, tanto na popu-lação geral, quanto nas pessoas pri-vadas de liberdade. Entre 2010 e2012, os estados com maiores per-centuais de abandono foram Amazo-nas, com 19,3%, e Roraima, com18,2%. Em relação à mortalidade, apopulação geral registrou percentualde 3,5% de óbitos por tuberculose eos presos 1,6%.

A pesquisa

Resultado de uma disciplina domestrado em Saúde, Sociedade e En-demias da Amazônia, realizada pelaFiocruz Amazonas e pela Universi-dade Federal do Amazonas (Ufam),a pesquisa é voltada para métodosquantitativos em saúde, foi condu-zida pelo mestrando Daniel SouzaSacramento e coordenada pela pes-quisadora da unidade regional daFundação Maria Jacirema Gonçalves.O trabalho foi apresentado em agos-to no 11º Congresso Brasileiro deSaúde Coletiva da Associação Brasi-leira de Saúde Coletiva (Abrasco),realizado na Universidade Federal deGoiás (UFG).

Segundo Jacirema, a gravidade datuberculose no sistema prisional temrelação com fatores ligados a adequa-ção física e de recursos humanos, etambém às condições precárias de hi-giene, ventilação e iluminação solarnas celas. “A interpretação da eleva-da taxa de incidência da tuberculosenas PPL pode ser mais grave se con-siderarmos a possibilidade de subes-timação de tais taxas. Isso porquetanto o diagnóstico quanto o trata-mento dependem do acesso ao ser-viço de saúde que na situação prisi-onal é diferenciado, geralmente,limitado pelas questões de seguran-ça e organização interna dos esta-belecimentos”, explicou.

A pesquisadora destacou aindao investimento do Programa Nacio-nal de Controle da Tuberculose(PNCT) do Ministério da Saúde, quebusca aprimorar o diagnóstico e tra-tamento em pessoas privadas de li-berdade. “Há uma ampliação dosserviços e vários esforços estão sen-do envidados para controlar a doen-ça no sistema prisional”, contou.Desde dezembro de 2006, o Conse-lho Nacional de Política Criminal ePenitenciária reafirma o direito àsaúde das PPL e estabelece diretrizbásica para a detecção de casos detuberculose entre ingressos no siste-ma penitenciário.

Os números levantados foram co-letados em bancos de dados nacio-nais. No período analisado foram co-letados, no Sistema de Informação deAgravos de Notificação (Sinan), da-dos como sexo, faixa etária, tipo deentrada, forma clínica, exames de di-agnósticos realizados e situação deencerramento do tratamento. E noSistema de Informações Penitenciá-rias (Infopen), do Ministério da Justi-ça, foram coletados mais dados ge-rais da PPL. Para análise dos dados,o período foi dividido em triênios(2007-2009 e 2010-2012), com a fi-nalidade de identificar variação tem-poral da taxa de incidência e dos in-dicadores selecionados (taxa de cura,abandono, óbitos por tuberculose etuberculose multidroga-resistente),tanto na população geral como empessoas privadas de liberdade.

“A finalidade do projeto era es-tudar a doença em uma das popu-lações especiais para o ProgramaNacional de Controle da Tuberculo-se. Por meio de um levantamentodas publicações científicas, observa-mos que o problema da doença empopulações privadas de liberdadeainda é pouco estudado”, explicouDaniel Sacramento. “Também veri-ficamos que os dados dos sistemasde informação nos fornecem impor-tante potencial para análise dosnúmeros, em especial, o caso datuberculose em PPL, visto que es-ses dados passaram a ser regular-mente registrados a partir de 2007”.

Além do risco de transmissão dadoença ser alto dentro no sistema pri-sional, segundo a pesquisa, há umagrande dificuldade em acompanharos doentes até o final do tratamen-to e controlar a doença, devido astransferências de unidades prisio-nais, fugas, ou liberdades concedi-das, e também do contato com visi-tantes e funcionários do sistema. “Épor isso que a baixa taxa de cura ealto abandono são fatores que faci-litam a propagação da doença e di-ficultam as atividades do PNCT”,disse o pesquisador.

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Em prol do

Luiza Gomes

unte-se o lixo descartadopelo maior parque indus-trial do Estado do Rio deJaneiro, os dejetos produ-zidos por milhões de mo-

radores dos 16 municípios por onde pas-sam os rios que desaguam na Baía deGuanabara e a ancoragem de centenasde navios. O resultado é trágico: ecossis-temas em grave desequilíbrio na baía epopulações humanas convivendo comníveis alarmantes de insalubridade aolongo de todas as suas sub-bacias.

Para promover uma gestão partici-pativa das águas e com vistas à reduçãodas iniquidades socioambientais dessesterritórios, organizações da sociedade civilestão construindo um Observatório Soci-al da Sub-bacia do Canal do Cunha –uma das mais degradadas da Baía deGuanabara. O objetivo do projeto é reu-nir pesquisadores e sociedade civil or-ganizada, convergindo saber científicoe popular, para transformação do cená-

COOPERAÇÃO SOCIAL

rio de injustiça ambiental na sub-bacia.A Cooperação Social da Presidência daFiocruz e a Vice-Presidência de Ambi-ente, Atenção e Promoção da Saúde(VPPAPS) da Fundação estão entre osapoiadores do projeto.

A sub-bacia do canal do Cunha éentrecortada por 44 favelas – conta-gem datada de 2006, segundo estudodo Instituto de Comunicação e Infor-mação Científica e Tecnológica emSaúde (Icict/Fiocruz). O espaço coletaas águas dos rios que nascem na Serrados Pretos Forros, no Maciço da Tiju-ca, e no maciço da Serra da Misericór-dia, e atravessam áreas densamentepovoadas como Manguinhos, Casca-dura, Piedade, Lins de Vasconcelos,Engenho de Dentro, Inhaúma, Jacaré,entre outros.

Para pensar a construção de polí-ticas públicas ambientais mais partici-pativas e eficientes para esse espaço,o observatório é uma iniciativa do Gru-po de Articulação dos Povos da Sub-bacia do Canal do Cunha, que reuni-

rá atores e movimentos sociais de basecomunitária. A proposta do observa-tório foi anunciada durante o 4° En-contro dos Rios – O Caminho dasÁguas, organizada pelo grupo, emsetembro, no auditório do Museu daVida, na Fiocruz.

O geógrafo e militante Ernesto Im-broisi, um dos responsáveis pela con-cepção e desenvolvimento da iniciati-va, explica que seu desenho conceitualpermite uma maior aproximação de ins-tituições acadêmicas com as demandasreais da população local. “A ideia é quea pesquisa possa ser um instrumento detransformação social na mão das orga-nizações de base sóciocomunitárias”,exemplificou. “Um relatório técnico so-bre qualidade da água de um rio quecorta uma favela da sub-bacia, porexemplo, pode servir como material dedenúncia para o Ministério Público, casofique identificada alguma violação, podeembasar alguma política realmente es-truturante dentro do Comitê de BaciaHidrográfica da Baía de Guanabara”.

J

meio ambienteFiocruz apoia criaçãode Observatório docanal do Cunha

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De acordo com o ambientalistaSérgio Ricardo, membro-fundador doMovimento Baía Viva e um dos apoia-dores do projeto, “a criação do Obser-vatório do Cunha e os outros dois ob-servatórios que estão despontando aomesmo tempo [o Observatório Pesquei-ro da Baía de Guanabara e o Observa-tório Geográfico e Histórico da Uerj deSão Gonçalo], surgem em um contex-to de evidente fracasso do Programade Despoluição da Baía de Guanaba-ra”. Ele aponta que “foram gastos R$10 bilhões dos empréstimos em obrasfaraônicas, importação de usinas eu-ropeias recicladoras de lixo – nenhu-ma delas em funcionamento, a maio-ria desmontada e enferrujando”.

Para Sérgio Ricardo, uma das prin-cipais causas do fracasso do programafoi justamente o fato de centros de pes-quisa não terem sido escutados em suaformulação. “Uma das grandes críticasque se faz ao projeto de despoluiçãofoi, primeiro a falta de planejamento,e a segunda, a ausência de participa-ção popular. Pesquisadores, alguns queestudavam a Baía há décadas, comoElmo Amador, também não foram ou-vidos”, explicou. “Foi um amontoadode projetos sanitaristas de grandesobras feito por gestores em firme par-ceria com as empreiteiras e que nãoolhou para o projeto de recuperaçãoda Baía como um esforço integrado”.

Rejany Ferreira, geógrafa que es-tuda os níveis de toxicidade encontra-dos nos sedimentos da sub-bacia docanal do Cunha, também participou daconstrução do Observatório e reconhe-ce o mesmo problema apontado peloambientalista. “É fundamental que apesquisa reconheça e se relacione coma realidade dos territórios para que te-nha relevância para a população. Gran-de parte das políticas implementadasé construída nos gabinetes”, criticou.“Também é essencial que se amplie ofoco da discussão para além do lixoque chega à Baía – como propõe opoder público com as soluções paliati-vas das ecobarreiras e das Unidadesde Tratamentos de Rio (UTRs) – e seolhe para as populações convivendocom o lixo ao longo de todo o cami-nho das águas, nas sub-bacias, bemantes de desembocar na baía”.

Esta também é a opinião de FloraAlmeida, representante da Rede deEmpreendimentos Sociais para o De-senvolvimento Socialmente Justo, De-mocrático e Sustentável (Rede CCAPde Manguinhos) no Comitê da Baíade Guanabara, que citou o exemplodo caso das atividades de mineraçãona Serra da Misericórdia. Para ela, apesquisa poderia ajudar a mobilizar opoder público para a solução de ma-zelas do campo da saúde pública. “Em2010, no Engenho da Rainha, a per-furação do solo da pedreira gerou ainundação de uma cava – que ficouapelidada de “piscinão do Alemão” –que virou área de lazer. A populaçãotomava banho, mergulhava e não sefez nenhum estudo sobre a procedên-cia e qualidade dessa água. Até hojenão se sabe se estava contaminadacom substâncias tóxicas usadas paradinamitar a pedreira”, contou.

Como funcionao projeto

O Observatório da Sub-Bacia doCanal do Cunha trabalhará em cimade quatro eixos: pesquisa (produção deconhecimento por centros de pesquisae pela academia a partir da constru-ção compartilhada e do método dapesquisa-ação – processo investigativoe interativo entre pesquisadores e po-pulação para gerar possíveis soluçõesaos problemas detectados na realida-de; educação (processos de formaçãoe educação nos territórios, qualifican-do novos atores sociais ligados à te-mática de saúde e ambiente); gestão(potencializar as ações das organiza-ções sociais e das instituições integran-tes do Observatório na gestão dos re-cursos hídricos a partir do Comitê deBacia Hidrográfica da Baía de Guana-bara); e difusão (disseminar o conheci-mento, informações e tecnologias so-ciais produzidos pelos parceirosarticulados no observatório e por ou-tras instituições e organizações sociais).

A partir dessas linhas de atuaçãoserão pensados projetos que possam darsustentação e direção para as açõesdesenvolvidas pelo observatório. Umdeles envolve o mapeamento de nas-

centes da sub-bacia do canal do Cunhapara posterior atividade de recuperaçãoambiental. A ONG Verdejar, uma dasorganizações que participam, já reali-zou a identificação de nascentes e aflu-entes do Rio Faria-Timbó, que pertenceà sub-bacia. Grande parte delas, deacordo com o gestor e coordenador-ge-ral, Edson Gomes, ainda não forammapeadas pelo poder público.

Gomes acredita que a criação doObservatório ajudará a construir diag-nósticos sobre a saúde coletiva e ocu-pacional dos territórios e multiplicarpossibilidades de intervenção. “Com aarticulação e o devido apoio tecnoló-gico, financeiro e institucional, teremosmais condições de desenvolver e difun-dir tecnologias sociais de baixo custoque possam contribuir com a gestãoparticipativa da sub-bacia”, confirmou.

Segundo Ernesto Imbroisi, o Obser-vatório desenvolverá suas ações tendocomo pressuposto metodológico o quechama de caminho das águas. “O queisso significa? Que as iniciativas imple-mentadas procurem percorrer os cami-nhos do rio, de montante para jusan-te, no sentido nascente-foz”,esclareceu. “A escolha por essa abor-dagem é para garantir que qualquermelhoria nas condições ambientais dasub-bacia do canal do Cunha seja con-tínua e permanente, refletindo direta-mente para a redução da despoluiçãoda Baía de Guanabara”.

Sites relacionados:Grupo de Articulação dos Povosda Sub-Bacia do Canal do Cunha:

www.facebook.com/grupodearticulacaodocunha

Subcomitê Oeste da Baía deGuanabara:

www.facebook.com/scobg

Rede CCAP:redeccap.org.br

Fundação Baía Viva:www.fundacaobaiaviva.org.br

ONG Verdejar Socioambiental:www.verdejar.org

Comitê Baía de Guanabara:www.comitebaiadeguanabara.org.br

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ODiretor da Fiocruz

Bahia recebe prêmioda Unesco por

pesquisa sobremalária e

leishmaniose

Mariana Alcântara

conjunto de trabalhosrealizados pelo pesquisa-dor e diretor da FiocruzBahia, Manoel BarralNetto, sobre leishmani-

ose e malária, foram agraciados pelaterceira edição do Prêmio Internacio-nal Unesco-Guiné Equatorial de Pes-quisa em Ciências da Vida 2015, pro-movido pela Organização das Nações

Reconhecimentointernacional

Unidas (ONU). O júri destacou a con-tribuição do médico ao desenvolvi-mento de ferramentas de controle naárea das doenças transmissíveis e re-lacionadas à pobreza. A cerimôniade entrega da honraria estava pro-gramada para ocorrer na sede da Or-ganização para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura (Unesco), em Paris,em 14 de novembro, mas foi cance-lada devido aos ataques terroristasna cidade.

PREMIAÇÃO

Manoel Barral Netto (de gravata) com sua equipe no Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia)

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Eclético, o Castelo da Fiocruzmescla duas ou mais tendências deestilo e ornamentação, sendo um dospoucos edifícios neomouriscos aindaexistentes no Rio de Janeiro. É o prin-cipal componente do Nahm.

O projeto foi encomendado a LuizMoraes Júnior, engenheiro e arquite-to português que imigrou para o Bra-sil em 1900, por Oswaldo Cruz. Eles

se conheceram em uma das muitasviagens que fizeram juntos nos vagõesdos trens do ramal da Leopoldina,quando o arquiteto coordenava obrasde reforma da Igreja da Penha. O tra-ço inicial de Oswaldo Cruz serviu debase para o projeto final do arquiteto.O Castelo foi estrategicamente cons-truído sobre uma das colinas da re-gião, por condições de higienização

obedeceu a uma disposição que per-mite melhor aproveitamento dos ven-tos e do sol.

Sua ornamentação foi inspirada naarquitetura mourisca. Os materiais usa-dos na construção e no acabamentoforam importados da Europa, bem comoa mão-de obra, constituída de operári-os portugueses, espanhóis e italianos.As obras foram concluídas em 1918.

na Universidade Federal da Bahia(Ufba), doutorado em patologia huma-na, também na Ufba, e pós-doutoradoem Imunologia, na Seatle BiomedicalResearch Institute, nos Estados Unidos.Dentre as suas contribuições, o pesqui-sador descobriu o papel da proteína “ci-tocina TGF-beta” no estabelecimentodo parasita da leishmaniose em hos-pedeiros vertebrados (humanos e ca-mundongos).

No que diz respeito à malária, oseu grupo de pesquisas chamou aten-ção da comunidade acadêmica para agravidade da infecção causada peloPlasmodium vivax. “Muito do que sesabe hoje sobre esta doença é basea-do na infecção por Plasmodium falci-parum. No entanto, o Plasmodium vi-vax é responsável pela maioria doscasos registrados no Brasil e em outrospaíses nos últimos anos”, relata.

Neste sentido, os trabalhos de Bar-ral Netto foram desenvolvidos em co-laboração com pesquisadores da Fio-cruz Amazonas, região onde osepisódios de malária são alarmantes.De acordo com a Fundação de Vigi-lância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), foram registrados, em todo o es-

tado, mais de 62 mil casos de maláriano ano de 2014. Em 2013, foram rela-tados cerca de 73 mil casos. Importan-te ressaltar que estes índices vêm de-caindo ao longo dos anos em funçãodos programas de controle da doença.

A inovação das pesquisas relacio-nadas a essa enfermidade está nas di-ferenças entre a resposta inflamatóriados indivíduos que desenvolvem mani-festações e sintomas clínicos. Barralexplica que seu trabalho é para aplica-ções de controle, diagnóstico, trata-mento e vacinação, mas o seu desen-volvimento pode atrasar devido àcomplexidade dos danos causados porpragas e baixo investimento em pes-quisa que leva a ignorar aspectos im-portantes da doença.

“O prêmio é uma chamada sobrea necessidade de aumentar a investi-gação sobre doenças negligenciadas”,disse Barral Netto, em entrevista. Paraele, trata-se também de um reconhe-cimento do trabalho de muitos anos deseus colegas de equipe e estudantes.Ele orientou dezenas de pesquisado-res que agora trabalham na Bahia,Amazônia e diversos outros estadosbrasileiros, bem como no exterior.

Segundo a instituição, a banca querecomendou os vencedores contou comuma comissão heterogênea e interna-cional, composta por especialistas nasáreas em questão. São eles WagidaAnwar, diretor do Ain Shams Universi-ty Center for Molecular Biology, Biote-chnology and Genomics, do Egito; In-drani Karunasagar, diretor do programaUnesco-Mircen for Marine Biotechno-logy, da Índia; Constantinos Phanis, re-presentante do Ministério da Educaçãoe Cultura do Chipre; Vincent Titanji,membro da Academia de Ciências parao Desenvolvimento Mundial (TWAS,sigla em inglês), de Camarões; alémde Pathmanathan Umaharan, da Uni-versidade das Índias Ocidentais, deTrinidad e Tobago.

Os objetivos da condecoração es-tão relacionados com a função essen-cial do programa da Unesco para in-centivar a investigação, a criação e odesenvolvimento de redes de centrosde excelência nas ciências da vida. “Opropósito da láurea é o reconhecimen-to de projetos e atividades de indivídu-os, instituições ou de ONGs para pes-quisas em ciências biológicas com vistasa melhorar a qualidade da vida huma-na”, enfatiza o documento que anun-ciou a premiação.

A instituição premiou também oindiano Balram Bhargava, cardiologis-ta especializado em inovação biomé-dica, saúde pública e saúde médica,e o senegalês Amadou Alpha Sall, che-fe do Centro Colaborador da Organi-zação Mundial da Saúde (OMS) de Ar-bovirus e Febre Hemorrágica, emDakar. Bhargava foi reconhecido pordesenvolver uma ferramenta para tra-tar doenças cardiovasculares comgrande impacto social em entornossem recursos. Sall recebeu a distinçãopor seus estudos sobre controle dedoenças virais como o ebola, o chi-kunguya e a dengue.

Fronteira doconhecimento

Nesse contexto, o brasileiro desta-cou-se pelas pesquisas em leishmanio-se e malária, tendo cursado medicina

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Netto orientou dezenas de pesquisadores que hoje trabalham em outros estados e no exterior

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Jogos virtuais emsaúde

TECNOLOGIA

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Grupo de pesquisado Icict/Fiocruz lançanewsgame sobreacesso aberto

Graça Portela

linhado à Política deAcesso Aberto da Fio-cruz, o Instituto de Co-municação e InformaçãoCientífica e Tecnológica

(Icict/Fiocruz) inovou e criou um pro-duto para atingir o público em geral eincentivar o debate sobre acesso aber-to: o newsgame Jogo do Acesso Aber-to. O jogo virtual foi apresentado du-rante a 6° Conferência Luso-Brasileirasobre Acesso Aberto (Confoa), queocorreu em Salvador em outubro, etambém durante as Semana Nacionalda Ciência e Tecnologia (SNCT 2015)e a Semana Internacional de AcessoAberto, ambas no mesmo mês.

Newsgame, segundo definição doestudioso de games e pesquisador doCentro de Pesquisas de Jogos de Com-putador da Universidade de Copenha-gen (Dinamarca), Miguel Sicart, “sãojogos sérios baseados em eventos atu-ais, produzidos com a intenção de es-timular o debate público”. E é exata-mente esse o objetivo do newsgameidealizado pelos designers Marcelo deVasconcellos, Flávia de Carvalho e JuanPuppin Monteiro, todos do Icict/Fiocruz.

Simples e direto, o Jogo do AcessoAberto já tem versões em espanhol einglês. “O game foi criado de forma adespertar interesse também do públi-co leigo, a fim de que possam conhe-cer mais sobre esta questão tão impor-tante, mas que para grande parte dapopulação não é muito palpável”, ex-plicou Vasconcellos.

A ideia de um jogo virtual que en-focasse a temática do Acesso Abertosurgiu a partir de um artigo intituladoO caso do Ebola na Libéria (Don’t ThinkOpen Access Is Important? It MightHave Prevented Much of The EbolaOutbreak), publicado no site TechDirtem abril. “O acesso aberto é impor-

tante, principalmente no setor da Saú-de, onde literalmente contribui parasalvar vidas. O artigo ilustra a questão”,esclareceu o designer.

Convidada para conversar com aequipe de criação do jogo virtual sobreacesso aberto, a chefe da Seção deInformação do Centro de Tecnologiada Informação e Comunicação emSaúde (CTIC/Icict) e coordenadora doRepositório Institucional da Fiocruz(Arca), Ana Maranhão, contribuiu bas-tante com informações. “Como esta-mos desenvolvendo um jogo mais ela-borado, sentimos que precisávamos dealgo mais imediato: assim propusemosa fazer esse newsgame. A ajuda daAna foi muito importante. Graças àsconversas com ela, pudemos compre-ender melhor o tema Acesso Abertopara desenvolver o jogo”, ressaltou.

O pré-lançamento na 6° Confoanão poderia ter sido mais bem-sucedi-do. Segundo Ana Maranhão, que apre-sentou o novo produto na Conferên-cia, a reação foi a melhor possível. “Opúblico e os pesquisadores ficarammuito empolgados e a Ana falou quejá foi procurada por instituições brasi-leiras e portuguesas que querem divul-gar o newsgame como estratégia deconscientização da causa do acessoaberto”, afirmou Vasconcellos. “Nos-sa expectativa é que aqueles que nãoconhecem muito sobre o assunto pos-sam jogar e ficar curiosos sobre o queé o acesso aberto e o que o tema tema ver com a saúde”.

Gamese saúde

“A princípio, não existem institui-ções de saúde investindo formalmentena pesquisa e produção de jogos digi-tais para a saúde. Temos iniciativas iso-ladas aqui e ali, algumas muito inte-ressantes, mas nada que represente umenvolvimento institucional”, explicouVasconcellos. “No caso do Icict e daFiocruz, este envolvimento já se iniciouno âmbito da pesquisa com a certifica-ção do nosso grupo de pesquisa Jogose Saúde junto ao CNPq, no ano passa-

do (2014). O Jogo do Acesso Aberto,apesar de ser simples, representa umprimeiro passo da unidade da Funda-ção enquanto centro de produção dejogos como ferramentas de comuni-cação em saúde”.

Como bons jogadores, o grupo depesquisa Jogos e Saúde não brinca emserviço. Segundo Vasconcellos, o gru-po representa a Fiocruz junto à comu-nidade brasileira de pesquisa emGame Studies e segue realizando es-tudos na área para desenvolver gamesexclusivos para a saúde. De acordocom o designer, as novidades não pa-ram por aí. O Grupo de Pesquisa Jo-gos e Saúde está desenvolvendo nojogo virtual “algo muito mais ambici-oso”. Vasconcellos aponta que “nele,o jogador poderá encarnar um pesqui-sador e ver efeitos de suas ações nasociedade. Como esse elemento ébem mais complexo, estimamos pelomenos mais um ano de trabalho”.

A equipe também está produzin-do outro jogo, desta vez, sobre intoxi-cação doméstica, feito em parceriacom o Sistema Nacional de Informa-ção Tóxico Farmacológicas (Sinitox), eque terá como público alvo, em espe-cial, crianças e jovens. Um outro jogovirtual em pré-produção tem como te-mática DST e Aids. “Este estamos de-senvolvendo aos poucos”, afirmou Vas-concellos.

Ele também explica que o grupode pesquisa e produção de games nãoé limitado aos profissionais do Icict.Atualmente, há uma parceria com aEscola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio (EPSJV/Fiocruz), por meio daprofessora Cynthia Dias. Ela está apri-morando um jogo de tabuleiro quedesenvolveu com os alunos da EPSJVpara discutir políticas públicas de saú-de, produto também apresentado du-rante a SNCT 2015 na Fiocruz.

Confira oJogo do Acesso Aberto:

www.icict.fiocruz.br/node/2376

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Borboletário daFiocruz, o únicodo Rio de Janeiro,é reaberto

Nas asasda ciência

DIVULGAÇÃO

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LLucas Rocha

uz, sol e mais de cemborboletas voando emum espaço dedicado ànatureza, à vida e à bio-diversidade. Este foi o

cenário na reabertura do BorboletárioFiocruz, único da cidade do Rio de Ja-neiro, localizado no campus de Man-guinhos. Dedicado à divulgação da ci-ência e ornamentado por plantas, oespaço, que tem 84m², é habitado porquatro curiosas espécies de borboletasdo continente Americano: olho-de-co-ruja (Caligo illioneus), ponto-de-laran-ja (Anteos menippe), borboleta-bran-cão (Ascia monuste) e Julia (Dryas julia).A iniciativa é uma parceria entre o Ins-tituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e oMuseu da Vida, da Casa de OswaldoCruz (COC/Fiocruz).

No espaço, o público tem a opor-tunidade de descobrir curiosidades en-volvendo o mundo dos insetos - a dife-rença entre borboleta e mariposa -além de aprender sobre o ciclo de vidadas borboletas, seus hábitos alimenta-res, o segredo por trás de suas varia-das cores, além de suas táticas e es-tratégias de sobrevivência. Pesquisadordo IOC e idealizador da iniciativa, Ri-cardo Lourenço destacou o dinamismodo Borboletário. “Reproduzimos um ce-nário em que os visitantes podem in-teragir em harmonia com as borbole-tas em seu ambiente natural. Em vezde contemplar do lado de fora, aproxi-mamos o indivíduo, apresentando ociclo de vida destes insetos que, maisdo que uma beleza exuberante, sãopeças importantes para a biodiversida-de”, salientou.

Do ovo à fase adulta, a borboletaprecisa de cuidados específicos, comotemperatura e luminosidade adequa-das ao seu desenvolvimento, e o visi-tante também pode acompanhar odesenvolvimento das etapas iniciaisda vida destes insetos. “A Fiocruzdeixou de ser apenas um expositordestes insetos, assumindo o papel decriador científico das borboletas paraa difusão da ciência. Nossa expecta-tiva é de que o sucesso seja aindamais significativo com a reabertura doespaço”, afirmou Lourenço. Os inse-tos que dão cor e vida ao Borboletá-rio Fiocruz passam pelos cuidados dotécnico em saúde do Laboratório deMosquitos Transmissores de Hemato-zoários do IOC Maycon Neves. “Aoportunidade de estar em contatocom uma iniciativa de divulgação epopularização da ciência foi a minhaprincipal motivação para participar doprojeto”, celebrou Neves, orgulhosode ver o espaço recebendo os primei-ros visitantes.

A vice-diretora de Ensino, Informa-ção e Comunicação do IOC, Elisa Cu-polillo, lembrou que o projeto é resul-tado do esforço de uma equipe quetrabalha com entusiasmo para a divul-gação científica. “Espero que tenhamoscada vez mais novos espaços de pro-moção de atividades educacionais ca-pazes de aproximar e despertar em cri-anças, jovens e adultos, o interesse pelaciência”, comentou Elisa. Já o diretorda COC, Paulo Elian, afirmou que aconcretização do projeto foi possíveldevido à colaboração institucional en-tre as unidades da Fiocruz. “O Borbole-tário é uma história de sucesso. O seupleno funcionamento mostra que a co-

operação institucional produz projetosexitosos”, ressaltou.

O Borboletário Fiocruz integra o cir-cuito de visitação do Museu da Vida,que inclui atrações como o Parque daCiência, Ciência em Cena, Espaço Bi-odiversidade e o tradicional Castelo daFiocruz. “Já estamos planejando umaexpansão do espaço de visitação, alémde programas profissionalizantes comjovens das comunidades ao redor docampus de Manguinhos para integrá-los em todas as etapas da atividade:da produção ao atendimento ao públi-co. Dessa forma, o Museu atua na sen-sibilização da população para questõesligadas à biodiversidade e, em particu-lar, da biodiversidade da Mata Atlânti-ca e da importância de sua preserva-ção”, explicou o chefe do Museu daVida, Diego Vaz Bevilaqua. A iniciati-va conta com o apoio da Diretoria daAdministração do Campus (Dirac/Fio-cruz) e do Centro de Criação de Ani-mais de Laboratório (Cecal/Fiocruz), nacriação e manutenção dos insetos.

O Borboletário Fiocruz recebe visi-tantes gratuitamente de terça a sexta-feira, das 9h às 16h30, com agenda-mento prévio pelo telefone (21)2590-6747, e com acesso livre aos sá-bados, das 10h às 16h. O Borboletárioconta ainda com o apoio da Diretoriada Administração do Campus (Dirac/Fiocruz) e do Centro de Criação de Ani-mais de Laboratório (Cecal/Fiocruz), nacriação e manutenção dos insetos.

Mais informações:Acesse o site

www.ioc.fiocruz.br/borboletario

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Dicionário Feminino da In-fâmia: acolhimento e diag-nóstico de mulheres emsituação de violência, orga-nizado pelas pesquisadoras

Elizabeth Fleury e Stela Meneghel, trazum rico panorama dos conceitos recor-rentes na pauta feminista e das mulhe-res e vai além, apresentando temas esignificados em sua dimensão histórica,política e social. O dicionário nasceu como objetivo de permitir tanto ao públicoleigo como às equipes multiprofissionaisde saúde, assistência social, segurançae justiça que atendem mulheres em si-tuação de violência o acesso a informa-ções fundamentais para o acolhimentoe cuidado com as mulheres.

Estão explicados nessa obra de refe-rência fenômenos que envolvem os vári-os aspectos, tipos e cenários dasviolências e também formas de resistên-cia, além de informações sobre análisescientíficas que ampararam a criação deprocedimentos, normas, abordagens etécnicas que hoje estão regulamentadose em funcionamento em diversos seto-res públicos de forma consolidada ou ain-da embrionária. Além disso, houve umapreocupação importante: transmitir aosleitores as mais importantes noções so-bre conceitos de liberdade, direitos hu-manos, justiça, aspectos da educaçãomasculina que levam à prática da vio-

O

RESENHA

42

Alessandra Eckstein

lência e outros temas.Tudo foi pensado para que os profis-

sionais que atendem as mulheres em si-tuação de violência possam se orientarmelhor quanto ao contexto ou cenárioem que as lutas feministas se inseriamquando foram implantadas certas práti-cas ou quando avanços importantes navida social permitiram às mulheres maisliberdade de ir e vir, a garantia de seusdireitos seja na vida privada seja na vidapública. A ideia é prover os profissionaisda área pública e os cidadãos de infor-mações sobre o que tem acontecidodesde que as mulheres começaram aconquistar espaço nos planos social, po-lítico, jurídico e de cidadania.

O Dicionário é o resultado de um tra-balho que reuniu muitas vozes: mais decem colaboradores, pesquisadores e pro-fissionais de universidades, agências go-vernamentais, serviços públicos de saúde,seguridade social, segurança pública,jurídico-policiais e organizações não go-vernamentais trabalharam coletivamen-te na seleção dos temas e elaboraçãodos verbetes. O trabalho de um grupobastante variado trouxe à tona diferen-tes perspectivas para a compreensão dasraízes da violência e para o campo deconstrução de políticas públicas. As or-ganizadoras optaram por preservar os dis-cursos e o tratamento de cada campoespecífico, em respeito “aos diferentes

referenciais utilizados pelos estudiosos eos operadores dos sistemas públicos desaúde, assistência social, segurança pú-blica e sistema jurídico, reproduzindo comfidelidade os modos de pensar o proble-ma das violências nestas diferentes es-feras e o modo como se alinham eorganizam suas pesquisas e trabalho”.

A obra traz registradas histórias delutas que atravessaram séculos, trava-das por pioneiras reconhecidas e ou-tras anônimas, e que permitem quecada vez mais as mulheres transitempor espaços e lugares antes vetados aelas. A ex-ministra da Secretaria dePolíticas para as Mulheres da Presidên-cia da República, que hoje dirige o es-critório da Fundação Ford no Rio deJaneiro, Nilcéia Freire, destaca no pre-fácio do livro: “A realidade desvenda-da pelas conquistas, entretanto, aindanão representa a plenitude de direitose cidadania para as mulheres. Há mui-to caminho pela frente. Os temas sele-cionados pelas organizadoras paraconstituir o Dicionário são a expressãocontextualizada dessa situação”.

Sobre osverbetes

A escolha dos temas para os ver-betes se deu com base em ampla ecuidadosa pesquisa, primeiro com abibliografia de referência e, em segui-da, reunindo atores sociais e políticos,pesquisadores e equipes multiprofissi-onais. Os 187 verbetes que compõema obra são resultado do processo derevisão, sumarização e aferição de si-nonímia em um conjunto de textos ini-ciais sobre quase trezentos temas.

Os verbetes apresentam, em ge-ral, a conceituação do fenômeno, suacontextualização e desenvolvimentohistóricos, os desdobramentos dos mo-vimentos realizados, principalmentepelas mulheres, para a superação derealidades adversas. Alguns verbetestrazem, ao final, a bibliografia consul-tada, medida indispensável para facili-tar o contato dos interessados com aliteratura especializada.

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Loucos pela vida:a trajetória da reformapsiquiátrica no BrasilPaulo Amarante (coordenador)

Publicado pela pri-meira vez em1995, Loucospela vida é oresultado deuma inves-tigação de-senvolv ida

por pesquisa-dores da Escola Na-

cional de Saúde Pública Sergio Arouca(Ensp/Fiocruz). Loucos pela vida é lei-tura obrigatória para quem deseja seaprofundar no complexo processo dareforma psiquiátrica no Brasil, nos âm-bitos conceitual, assistencial, jurídico,político e sociocultural, e quer enten-der a relação da loucura com a socie-dade além do viés médico-psicológico.

136 páginas | R$ 20

Cenas de parto epolíticas do corpoRosamaria Giatti Carneiro | ColeçãoCriança, Mulher e Saúde

A autora deste livro– antropóloga efeminista – pes-quisou um gru-po que optoupor parir damaneira maisnatural possí-vel. Ela convi-

veu, entre 2008 e2010, na cidade de São Paulo, comcerca de 60 mulheres que já tinhamdado à luz e, novamente grávidas, es-peravam não repetir as experiênciasdolorosas anteriores. Rosamaria Car-neiro esteve também com gestantesde “primeira viagem”, que queriamestudar possibilidades para poderemoptar por este ou aquele tipo de par-to. Sem aceitar imposições. “Poucos

casos e muita densidade foram sem-pre meu objetivo. Porém, mais queisso, o conteúdo é fruto de uma pes-quisa etnográfica, eminentementequalitativa, sobre saúde sexual e re-produtiva”, afirma.

328 páginas | R$ 49

Elementos detransposição: diversidade,evolução, aplicações eimpacto nos genomas dosseres vivosClaudia Marcia Aparecida Carareto,Claudia Barros Monteiro-Vitorello eMarie-Anne Van Sluys (orgs.) | Coedi-ção com a Sociedade Brasileira deGenética

A ideia desta publi-cação surgiu emuma reunião de in-tegrantes do gru-po de pesquisaElementos deTransposiçãocomo Agen-tes de Diversi-

dade, do CNPq, queconsideram indispensável disponibilizar apesquisadores e estudantes informaçõesque permitam compreender a dinâmicae a plasticidade dos genomas em decor-rência da presença dos TEs. “O livro nãoesgota as inúmeras informações e impli-cações decorrentes da interação geno-ma-TE, mas propicia aos leitores ocontato atualizado e a compreensão dosprincipais temas relacionados à estrutu-ra e funcionamento dessas sequênciasgenéticas móveis e sua relação com aevolução dos organismos”, afirmam asorganizadoras.

196 páginas | R$ 40

Gênese da saúde global:a Fundação Rockefeller noCaribe e na América LatinaSteven PalmerColeção História e Saúde

O autor, pesquisadorpioneiro no estudoda América Latinacomo laboratóriomédico, partiudos arquivos mé-dicos nacionaisda Costa Ricapara investigar

como seu deu a atuação daFundação Rockefeller, organização de saú-de internacional, em pequenos países daAmérica Central e no Caribe, no início doséculo 20. A edição brasileira de Gêneseda saúde global é uma versão revista eampliada do original Launching GlobalHealth: the Caribbean odyssey of the Ro-ckefeller Foundation, publicado pela Uni-versidade de Michigan, em 2010.

420 páginas | R$ 72

Dengue: teorias e práticasDenise Valle, Denise Nacif Pimenta eRivaldo Venâncio da Cunha (orgs.)

Ciências sociais, me-dicina, comunica-ção, entomologia,epidemiologia eveterinária sãoalgumas dasáreas de co-nhecimentodos 36 autores

do livro. O livrosistematiza o conhecimento disperso na

literatura e traça um panorama históricoda dengue, aborda seus aspectos cientí-ficos, clínicos, sociais e comunicacionaise discute as perspectivas para o futurodo controle da doença no Brasil. O resul-tado é uma obra que reúne diversas vo-zes que falam sobre a dengue para umamplo espectro de leitores.

458 páginas | R$ 159

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FIO DA HISTÓRIA

A política do leite

Artigo analisao esforço dogoverno Vargasem aumentar oconsumo doproduto no país,incentivado pelaciência da nutrição

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ARicardo Valverde

nutrição, ciência intro-duzida no Brasil nosanos 30, difundiu tam-bém a convicção deque o leite de vaca

constituía o mais importante dos ali-mentos básicos. A partir daí, impulsi-onado por profissionais da saúde, ogoverno de Getúlio Vargas promoveuum esforço para melhorar o até en-tão precaríssimo sistema de abaste-cimento do produto no Rio de Janei-ro, na época capital da República. Oepisódio está dissecado em artigo dopesquisador Sören Brinkmann publi-cado na revista História, Ciências,Saúde – Manguinhos, da Casa deOswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Até o início do século 20 o leiteera consumido no Brasil sem nenhumtipo de tratamento, o que poderia cau-sar uma série de doenças. O transpor-te do leite, que antes da Abolição erafeito por escravos, em latão, passou aser feito por vaqueiros que o produzi-am nas periferias das cidades, em ge-ral em condições insatisfatórias de hi-giene e qualidade.

Em 1918, o bioquímico america-no e pioneiro da vitaminologia ElmerVerner McCollum havia declarado oleite de vaca o mais importante dos“alimentos protetores”, que não de-viam faltar na nutrição cotidiana decrianças e adultos. Segundo McCo-llum, devido ao seu extraordinárioconteúdo de sais minerais, vitaminase proteínas de alto valor, não existiaalimento melhor do que o leite paracorrigir as deficiências nutritivas daalimentação.

Ainda segundo McCollum, paraalém dos conselhos nutricionais, o con-sumo de leite revelou-se quase fator“eugênico” na formação de uma na-ção moderna, posto que os distintosníveis do consumo ao longo dos sécu-los pareciam explicar não só o progressocivilizador do mundo ocidental, espe-cialmente dos EUA, mas também osuposto atraso material e cultural de“chineses, japoneses e dos povos dostrópicos em geral”. Seguindo o cami-nho aberto pelo americano, na déca-

da de 1920 as novas hipóteses sobre ovalor sanitário do leite de vaca conquis-taram os círculos médicos e nutricio-nistas de praticamente todos os paísesocidentais, gerando uma verdadeira“ideologia do leite” que, por sua vez,daria nova orientação não só às políti-cas de nutrição, mas também ao fo-mento da agropecuária.

No Brasil, porém, a situação esta-va muito distante desse ideal propostonos EUA e na Europa. A propagandado alimento, no começo dos anos1930, apesar dos esforços do prefeitodo Rio de Janeiro, Pedro Ernesto, emaumentar o consumo do produto, ocul-tava o fato de que a maioria das gran-des cidades, incluindo a capital fede-ral, não dispunha de oferta comercialde leite fresco apropriada para cum-prir a exigência dos nutricionistas deampliar a ingestão diária.

Em 1935, o consumo havia alcan-çado não mais do que 130ml diáriosentre a população carioca, o que fica-va muito aquém dos níveis dos cha-mados países desenvolvidos e das re-comendações da ciência da nutrição.A Comissão Técnica de Nutrição da Or-ganização de Higiene da Sociedade dasNações, que encabeçava a padroniza-ção internacional do que deveria seruma alimentação “racional” e saudá-vel, exigia o consumo mínimo diáriode 500ml por adulto e de 1.000ml porcriança até 14 anos.

O leite consumido na capital fe-deral provinha de duas fontes, se-gundo Brinkmann: cerca de 15% daoferta era do produto cru, produzi-do nos estábulos da cidade sob pre-cárias condições higiênicas, o que háanos vinha provocando violentos pro-testos por parte de médicos e pedi-atras, que consideravam o “leite dovaqueiro” um perigo para a saúdepública e pediam pelo imediato fe-chamento desses estabelecimentos.O restante da oferta comercial com-punha-se de leite pasteurizado vin-do por vias férreas de distintas zo-nas pecuárias dos estados de MinasGerais e Rio de Janeiro, a maior par-te de qualidade deficiente. O ali-mento era transportado em precári-as condições, pois as companhias

ferroviárias não dispunham de va-gões frigoríficos para o adequado ar-mazenamento. Além da baixa qua-lidade, o leite era um produto caropara a maior parte dos cariocas.

Em 1937, o governo criou o Ser-viço de Alimentação da PrevidênciaSocial (Saps). Esse fato coincidiu como estabelecimento do salário-míni-mo, que ampliou o poder de com-pra dos trabalhadores e consequen-temente a possibilidade de adquiriremmais e melhores alimentos. Assim, oleite recebeu mais uma vez umstatus extraordinário ao ser o único ali-mento na lista de gêneros básicos doregulamento designado como “essen-cial e imprescindível”, o que, segun-do o nutricionista Alexandre Mosco-so, citado por Brinkmann, deveriaenfatizar “sua inestimável valia”.

Visando à solução para o “proble-ma do leite” na capital brasileira, ogoverno federal decidiu então moder-nizar o conjunto do sistema de abas-tecimento. Em julho de 1940, poucoantes da criação do Saps, Vargas assi-nou decreto estabelecendo a Comis-são Executiva do Leite (CEL). O novoórgão era constituído por um repre-sentante do Ministério da Agriculturae três delegados dos governos do Riode Janeiro, de Minas Gerais e do Dis-trito Federal. Cabia à Comissão reor-ganizar tecnicamente o sistema deabastecimento para melhorar assim aqualidade higiênica e o sabor do pro-duto e estimular a produção de leitenas zonas de abastecimento para sa-tisfazer a crescente demanda e garan-tir preços acessíveis.

Brinkmann relata que a Comissãoesbarrou em problemas sérios, como abaixa produtividade na maioria das fa-zendas. O leite que vinha de fora nãoera o produto de fazendas especializa-das com rebanho de vacas leiteiras dealto rendimento, mas, em sua quasetotalidade, de agricultores de subsistên-cia com vacas de pouca produção, paraos quais a venda de leite constituíanegócio secundário. Para o consumi-dor urbano, o mais importante, alémdo preço do produto, era a sua melho-ria, o que a Comissão do Leite preten-dia alcançar com a construção de um

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novo entreposto central. Seria umacolossal e moderna usina de pasteuri-zação e engarrafamento, com capaci-dade diária de até 500 mil litros, quedeveria substituir não só os entrepos-tos de leite na cidade, mas também asvelhas usinas de pasteurização nas zo-nas leiteiras.

A Comissão também foi res-ponsável pela abertura de lojas coma marca CEL, diretamente adminis-tradas e cujos desenho moderno eaura de limpeza e higiene estabe-leceram também novo critério paraa comercialização de leite. As an-tigas leiterias da cidade funciona-vam em lojas mal cuidadas em quese vendia todo tipo de alimentos eque, com frequência, nem mesmodispunham de um simples refrige-rador. As leiterias CEL eram novas,com pisos e paredes azulejadas,dotadas de geladeiras elétricas,balcões refrigerados e envidraça-dos e que tinham em oferta não sóleite fresco, como creme de leite,manteiga, queijos, ovos e mel. Osbalconistas vestiam-se de branco,o que também se inspirava na es-tética de laboratório, mais do quena do empório habitual. No entan-to, no início, só existiam nove lo-jas CEL, a maioria no Centro e nosbairros abastados – Catete, Bota-fogo, Copacabana, Ipanema –, en-quanto os bairros dos subúrbios pra-ticamente não eram atendidos.

Quando teve início a construção deum grande entreposto de comerciali-zação de leite, na Zona Norte do Rio,o projeto da CEL já tinha começado aentrar em decadência devido a dificul-dades financeiras. De acordo comBrinkmann, a culpa se devia ao au-mento de preços de maquinaria e ma-terial de construção, decorrentes daSegunda Guerra Mundial, o que ele-vou drasticamente os custos da obra,invalidando o planejamento original. Nofinal de 1945, a Comissão do Leitehavia acumulado enormes dívidas –razão pela qual os trabalhos foram sus-pensos. Os produtores também não sebeneficiaram da política do leite, poisapesar de o preço para o produto cruter sido duplicado, a receita para amaioria dos fazendeiros só melhoroutemporariamente. Situação que foi atri-

buída ao encarecimento provocadopela guerra, que aumentara os custosde produção.

Para a Comissão, foi um retum-bante fracasso o fato de que, em vezde crescer, desde o início de 1943 aprodução de leite diminuiu. Ainda em1942 o consumo na capital aumenta-ra 4% em relação ao ano anterior. Navirada de 1942 para 1943 – em meioà época das chuvas, quando a ofertado leite cru normalmente alcançavao apogeu – o abastecimento de leitesofreu drástica queda, levando a mé-dia anual à redução de 5,5% em re-lação ao ano anterior.

Para Brinkmann, a medida maispolêmica foi o sucessivo aumento do

Ilustração 2: Loja daComissão Executiva doLeite (CEL)

preço do leite ordenado pela CEL, oque batia de frente com as promessasoriginais de abastecer a cidade comleite bom e barato. Embora esse passotivesse sido praticamente inevitável,devido ao drástico aumento dos custosde produção, serviu de “lenha na fo-gueira” para os críticos da política doleite do governo Vargas.

Logo depois da deposição do pre-sidente Vargas, em outubro de 1945,a CEL foi dissolvida e todas as lojas,junto com o esqueleto do futuro entre-posto central, em Triagem, passarampara a Cooperativa Central. Assim aconclusão e inauguração do projetadoentreposto foram adiadas até o finaldos anos 1950.

Loja da Comissão Executiva do Leite (CEL) instalada no Rio de Janeiro

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