Revista Desencontro Desmarcado

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DESENCONTRO DESMARCADO São João Del Rei - Inverno Cultural/ UFSJ Ano I - N° 1 I 2013 O último beat 70 anos de nascimento do poeta Paulo Leão

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DESENCONTRO DESMARCADOSão João Del Rei - Inverno Cultural/ UFSJ Ano I - N° 1 I 2013

O último beat70 anos de nascimento do poeta Paulo Leão

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No retrovisor, SÃO JOÃO DEL REI

Os sinos de SJDR não badalam em vão. São irmãos nos acordes e, em romaria, acordam os possíveis pecados e pesadelos que ficaram nos vãos da Rua da Cachaça. Um passarim marrom é fina flauta nas palmeiras de São Francisco de ASsis. O Lenheiro escorre a memória da cidade em seu tênue e fino fio de água. O rei e o santo atravessam, em procisão, a ponte da Cadeia. Bárbara, ainda bela, repousa eterna na alcova inconfidente. “Beija-me com os beijos de sua boca” é o mascate Salomão cantando para a Baronesa, que do alto da sacada, travestida em Sabá, retruca: “Beba-me com a sede de seus rios”. O sino do Rosário fia seu terço, o das Dores chora em cantachão. E os sinos irmanados de SJDR vão acordando os homens que vêm e vão. Ronald Claver

ATÉ O PRÓXIMO DESENCONTRO

Em julho de 2012, fizemos um “Desencontro Desmarcado” com os principais poetas mineiros. Foi uma grande noite, que merecia um registro, o que está sendo possível com está publicação. Ela reúne poetas da cidade e região, acompanhados de autores já consagrados. É bom início para a Revista Desencontro Desmarcado. Esperamos que seja o nascimento de uma importante revista literária.Nesta primeira edição, homenageamos o poeta beat Paulo Leão, que dedicou a vida para poesia. Foi poeta em todos os aspectos, foi mais que alguém que gostava e escrevia poesia. Mesmo sem dinheiro, sem trabalho formal, dedicou sua vida à literatura, de forma libertária.Mais do que um bom escritor sua vida é pura poesia. Foi a Woodstock, depois da morte de seus pais. Voltou para Ouro Preto, em busca da mulher amada, com quem viveria de forma libertária, fazendo da sua casa uma festa continua. Para marcar sua biografia beat, conheceria Janis Joplin, na rua, em Copacabana. Esta, sem saber que estava a frente de um grande poeta, ofereceu bebida a Paulo Leão. Sinal de que as pessoas libertárias e criativas se atraem. Agradecemos a todos os colaboradores. Em especial ao amigo e cartunista Lute, que generosa-mente fez uma maravilhosa caricatura do poeta beat. Até um próximo desencontro...

EXPEDIENTE

REVISTA DESENCONTRO DESMARCADO

INVERNO CULTURALUNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO

DEL REI

Reitora: Valéria Heloísa Kemp

Vice-reitor: Sérgio Augusto Araújo da Gama Cerqueira

Pró-reitor de Extensão: Paulo Henrique Caetano

Coordenador da Área de Literatura do 25 Inverno Cultural: Jairo Faria Mendes

Editor: Jairo Faria Mendes

Design Gráfico: Laércio Ribeiro

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Ana Elisa Ribeiro

ResistirEu não tenho a alma de um corrimão Eu sou mais do elo, da liga e do laço

Respeito para mim é coisa fina Assim como o abraço

Mais do que as transas e os beijos As mãos dadas me parecem mais sinceras

Ruins como as promessas São as esperas

O cãoPor onde anda aquela sua lima de alisar meninas?

Tens mesmo um bico doce, querido.

Delicinhas te acompanham nos eventos

e pagas as contas dos restaurantes.

Pois agora vamos ver quem é mais cão.

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Ser faz malHá quanto tempo que não passo ao passar do tempo? Quantas horas no meu dia eu perco com meus passa-tempos?Ligo e desligo a tevê e dá uma hora e eu trabalho em uma. Despeito meu descaso atrapalho meu relógio e espero o ponteiro que não me espera.Grudo tudo em teia nova, sou aranha esquizofrênica. Teço meu esqueleto e esqueço a seda, me melhoro enquanto imploro. Sou deus e dono do mundo e do arado da aldeia.No escuro não me vejo me encontro cavaleiro.Me peço perdão por o que não fiz, acendo a luz digna de pesadelo. Sou estranho, astuto, mulambeiro.Retorno ao monte, acostumado. Eu sei, já não cuido do meu arado, sou vitima de mim e de mim mesmo.Mas sou você, em noite esquecida, no mar de rimas soluçadas. Sou tu me lendo no teu quarto, olhos caídos, pêlos cortados. Venerando a alegria de não ser.Não sei se posso ou se vou saber. Se me contar, te denuncio. Se és vida, morte, ou estás no cio, não preciso saber.Só quero o ponto, o fim e pronto, já estou apto a me esquecer.

Leo Rigotto

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...............o poema exigente cobra do poetaser pacientepalavra e lutapoesia brutaunhas e dentesexige mais do leitorser diligenteentrar na grutaabrir a urnasauvamentemuito mais exige dele próprio o poema ser delicadocofre trancadoser resistenteo poeta-arcoo poema-flechao leitor a mentetrês pessoas da santíssima linguagemtransubstanciados em gente...o poeta é exigenteele próprio o poemapedra e águachuva e sol

tudo ver igualler diferene..........

João Evangelista Rodrigues

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escr

evo

na te

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sia fe

z meu

par

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prova

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ente

fará

meu

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caso

eu m

orra

caso

eu se

ja en

terra

do

Bisgo

dofu

A crise é bela

Atraem amantes

Cheios de loucura

Transbordando Sangue

O pão pisado

Entregue no quarto

Lavado para quentes corações

A fumaça congela

A risada chora

A água já é soro

O rio já é mar O olho já escapa

O espelho já é água

O choro vai a rio

O olho já transborda em soro

O mar já escapaLuan

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Quem eu amo hoje

Não me julgues louca ou insensívelSe o coração em mim não manda.Calo minha boca ao falar de amor,Suo as mãos ao pensar nessa solidão compartilhada,Que não é triste nem vazia, não é como amor ou compaixão.Se enquadra no amor de uma noite só,Na história efêmera de amar enquanto deve.Um amor fênix, onde o fogo é o álcool e as cinzas a ressaca.Se conseguires entender o que se passaTalvez meu semblante mude.É duro ser culpada por não amar,Quando sei que sou eu quem vive o amor!

Pechinchando a vida

Pra sair de casa devo sempre ter motivos.Às vezes não saio, não costuro,porque não tenho incentivo.

Ser artista é insuportável,seja aquele de revista ou esse da imaginação,porque a arte é imensurável.

Não existe forma de viver de artese você não está disposto a pechinchar a vida.Mostrar que até seu ócio faz parte.

Se ninguém valorizar a obra,ele morre de fome com a ideia.O estômago do artista também cobra.

Deviam ser revertidos o elogios em dinheiro,'parabéns' e 'bela ideia' seriam as moedas,incentivos e abraços tirariam do atoleiro.

Bendito aquele artista que banca suas ideias,que tem amigos e família pra encher galerias,e que faz da sua cabeça uma eterna odisseia.

End que pensa

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CAPITALISMO

O artista será pago com elogios.Quatro mil e quinhentos aplausosPagos em três parcelasSem entrada.

Como FGTS receberáDuas moças apaixonadas que serãoApresentadas e selecionadasPelo departamento de recursos humanos.

Ganhará gritinhos bem agudosE olhares maliciososComo gratificação.

Além disso, 112 abraços eMuitos Parabénsfantásticomaravilhosodocaralhogosteilegaletc.

MEIA HOMENAGEM A DRUMMOND

No meio do cameio tinha uma pedra e meia

Ao meio-dia e meia

No meio do cameio tinha uma pedra e meia

Nunca meio esquecerei desse acontecimeio

Na vida das meias retinas meio fatigadas

N me d cam tin u ped e me

Jairo Faria Mendes

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O poeta Leão

Álvaro MendesEscritor e freqüentador do Maletta

Conheci-o e troquei palavras com ele. Li alguns de seus poemas “sujos”, famintos de audiência, humanidade e insultos aos poderosos. Ele tinha uma fisionomia de impressionar: seu rosto disforme parecia uma cicatriz. Tinha um olho amassado; e o outro,uma belida branca, opaco.Usava uma barba desgrenhada,de cuja boca, quando falava, uma voz possante como um gigante( por sinal, sua força estava na voz e na fome), lhe escorria uma baba. Por fim, era pequeno, de andar torto.Era o nosso Quasimodo, poeta do submundo do Maletta.Possuía uma sensibilidade ímpar,suigeneris, pela vida mambembe que levava.

Paulo Leão o Homero marginal

Marcelo Dolabela Paulo Leão foi a sincronici-dade plena. Nele, não havia um átimo nem um átomo de distância entre vida e obra. Em Leão, o urro foi uno e único. Ele fez poesia como viveu e viveu em ritmo de poesia. Con-heci Leão em fins da década de 1970. Ele me apresentando um livro do – então – descon-hecido – para mim – Sebastião Nunes. E, de lá pra cá, apren-di – com ele – que a poesia é o melhor combustível para a vida. Viva Leão!

Marcelo DolabelaEscritor , Roteirista e amigo do poeta

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Jovino Machado entrevista Paulo Leão

Vamos começar com um breve histórico?Nasci em 1943 no meio da guerra. Sou carioca do signo de escorpião. Nasci no dia 19 de novembro,por isso tenho o direito de dar bandeira à vontade.

Fale da sua infância.

Eu fui criado numa cidade do interior dentro do Rio de janeiro. Fui criado em Jacarepaguá.Foi uma infância de garoto do interior. Eu pulava o muro e estava dentro do sítio do meu tio. Tomei muito leite ao pé da vaca até a juventude e também muita fruta na árvore.

Fale sobre o seu pai. Como ele era e o que fazia?

Meu pai comprava feito. Ele era relações públicas do Vasco da Gama?

Ele era relações públicas de tudo. Teve uns dois empregos e fechava negócios. Sentava na mesa do bar e fechava negócios, conversando.

Essa tradição boêmia você herdou do seu pai?

Sim, meu pai era um grande boêmio. Foi fundador da Associação Carnavalesca Cordão do Bola Preta e foi diretor do Vasco.

Fale sobre a sua mãe.

Minha mãe era da tradicional família carioca e eu nunca entendi como é que ela se entendia com o meu pai.

Na juventude foi sexo, drogas e e rock?

Foi. Foi no princípio do rock com Bill Harley e Elvis Presley. Com quantos anos você começou a pensar na poesia?

Foi em 1972 que eu descobri que podia escrever. Eu descobri escrevendo, mas eu já lia desde os oito anos de idade.

Quem são seus autores preferidos?

Fernando Pessoa, Baudelaire, Rimbaud, Flaubert, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Mário Quintana, Ana Cristina César, Cacaso, Paulo leminski, os irmãos Campos e muitos outros.

Como foi seu encontro com Janis Joplin?

Foi uma casualidade. Nessa época eu era artesão da Feira de Ipanema e trabalhava com couro. Era quase uma hora da tarde e eu tava a fim de tomar uma e não tinha vendido nada. Tava uma feira ruim e apareceu uma mulher louca com uns quadros peruanos feitos de cobre e uma garrafa de creme de ovos na mão. Aí eu pensei, é nessa que eu vou. Ela estava com uma pequena comitiva. Eu disse,dá um gole? Alguém disse: «Ela não fala português». Quando eu cheguei na esquina me perguntaram: «Você sabe quem é essa mulher?» É uma americana louca que está no Brasil, é a Janis Joplin. Aí eu voltei e ela me deu um gole. Mas não deu para conversar. Tinha a barreira da língua e é difícil conversar com americano doidão cheio de gírias.

Como você perdeu um olho num acidente?

No meio do caminho de Drummond tinha uma pedra. No meio do meu caminho tinha um ônibus.

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E as drogas?Eu tomei muitos ácidos. Tomava 3 de uma só vez. Mas eu tinha controle da coisa. Eu também li muita literatura sobre o ácido. Fumei também muita maconha que eu considero um calmante e acho que deveria ser liberada. A minha droga preferida é a bebida.

Como você veio morar em Minas?

Todo ano eu vinha para o Festival de Inverno de Ouro Preto. Me apaixonei por Minas Gerais e por uma menina chamada Olga.Ficamos morando juntos. A nossa casa era uma festa.

Quem diz mais? Um grande pintor? Ou um grande poeta?

É tudo a mesma coisa. Músicos, pintores e poetas são a mesma coisa. Tenho muita vontade de fazer umas coisas com poesia, pintura e música.

Para terminar, fale um poema seu.

TESTAMENTO

quando morrer não deixo nada,mas peço: enterrem-me num daqueles cemitériozinhos setecentistas de ouro preto e escrevam na lápide o seguinte epitáfio: «AQUI JAZZ UM APRENDIZ DE BOÊMIO... MORREU AMANDO»

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eu poeta decadenteentrei no bare tomei todo o século XX

eu poeta decadentesaí do bartomando todo o século XX

enquanto as pessoas gritamVIVA !!!eu vivo

coração vagabundo

astralaustral

realcedo

medose faz a seta

o corpoa cara

vãoa caravanaa caravela

...o resto está no meu coração vagabundo

momento

pairam sobre mimnuvensum pouco escurasmas não ligo nãosão apenas nuvenselas vão se dissiparcom o ventoe o vento já está próximo a chegarjá disseramque em lugares vizinhosjá até passou

antiecológico

os dirigentes da TERRA

são necrófilosgozam em cima da

MORTA

a quem interessar possa

eu não quero ganhar dinheiroeu querofazer poemas

máscaras gregas

a cada hora do diaacordo com uma faceno preciso momentosou poeta

ignorância

pelomenos

as pessoaspoderiam

sabermais

umpouco

queexistem

outraspessoas

loucura

louco é o poetaque amaas musas

os museusas massas

louco é o poetaque amaas letras

ladras de palavrasque a pá não

lavralouco é o poeta

podes crer

podes crerque está tudo errado

podes crer duas vezesque está tudo errado

podes crer três vezesque está tudo errado

podes crer quatro vezesque está tudo errado

podes crer até dez vezesque está tudo errado

é isso aí bichopodes crer

Paulo Leão

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DOmeu jeito bêbado de ser

tenho medo de ser atropelado

com uma lata de cerveja na mão

mas não seria bom

para a minha biografia

ser atropelado

sem uma lata de cerveja na mão

jovino machado

Jairo Faria e Jovino Machadofoto: João Evagelista Rodrigues

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CÍRIO

letreiros anunciam portaiscaminhos são sempre invisíveise os pés não descansam mais

pessoalidade é uma rosaem quantas pétalas vale não se alteraos trilhos, ornados de águasavisam o destino

nisto, o coraçãocravado em sua plenituderecorda o sino, a estrela e o naviotambém alegra uma linda cantoria

move, segue, permanece e perpetuaa poesia está em sua companhia

Poema: Osmir Camilo, do livro “Minas Catarina”

SEIO, CEIA

Serventia de mamãe é dar de mamá

e matar a nossa fomequando a gente é

pequenininho.

Serventia de maçãé matar a fome

do lobo-maubonzinho.

Mamãe é pura...É a pura que pariuo bebê-deuzinho.A maçã é a fruta

que caiu sozinha.

A culpa não é sua,a culpa não é minha,

a culpa é da vovozinha.

Poema: Wagner Vieira, do livro “Árvore da Vida”

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AVENIDA

Inscrevo-me

na avenida que atravesso

Forjo minha loucura

- é tão mais certo enlouquecer...

Ser a fruta

- não a casca pisoteada

nem a flor, roubada e morta.

Bailo na demência

da cidade

que me rumina

Danço na tua língua

enluarada, rua.

- televisores repetem

idílicos dentes nocivos

nas vitrines – noite adentro.

Tenho uma flor um livro um ciso

Danço em teu umbigo, avenida

A minha loucura muda

- que roupa visto?

Desnuda

De resto

visto

a inocência dos doidos

- irreparável lucidez dos doidos.

Daniela Gama

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Exposição Desambientes

Mário Alex Rosa

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QUARTO COM SUÍTE

Salvo tuas mãos do sono, onde agora tudo singra e nada breve é o que se espera. Nenhuma palavra rompe o eterno que se desenha ou o impossível que se desculpa. Rente no assim tão dentro do enlouquecer dos dedos, do caminho que não conseguem. Teu escrito molhado num vício-corpo é qualquer coisa entre ir, sem se levar. Tudo escorre. Tudo migra. A distância não vira poema. Só o olhar de quem morre, de quem pede fim. Solidão coberta por lençóis de linho. Espelho-teto de uma lua amíngua.

Salvo tua boca do silêncio onde agora nada vinga. Socorro tua palavra do corte, da nossa imagem embaçada nesse pedaço de céu espelhado. Gozo incerto que adormece os homens, antes de serem homens. Corpos num eclipse afora, na fase diminuta de seguir, ficando. Teu rastro de quem esquece, tua loucura de quem já se foi. Sono de quem arde ou adormece assim. No instante rompido de não estar, estando. Solidão nua. Sem lençol sem nada. Num banho morno de sarar não-ditos, de curar os escritos pontiagudos da tua língua.

Éder Rodrigues

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A Reflexão da Loucura A Noite chega E com ela chegam os PENSAMENTOS E ALMAGARRA Soletra versos para GAIA: Eu sou toda tristeza e solidão da MUNDO, Porque meus OLHOS Não podem ver o que o minha ALMA sente E que meu CORAÇÃO quer... O que se passa em MIM, Não está no OUTRO. E o assunto MUDA bruscamente: Ah! Lá está ELE! Com aquela cara grande Redonda e amarelada Saindo por detrás das montanhas MINEIRAS Iluminando as pequenas casas de ADOBE do vilarejo. MINAS é assim – Tem gosto de CAFÉ Cheiro de ALECRIM do CAMPO Paz das montanhas ROCHOSAS E me faz PENSAR... E nestes PENSAMENTOS o POEMA costura os PERSONAGENS E do outro LADO da rua estava meu velho amigo HAROLDO Com seus versos POLÊMICOS e FILOSÓFICOS Detonava o sentido das coisas e da VIDA E dizia no meio da NOITE: Cansado de tanto TUDO Descansava de tanto NADA. E com um sorriso MATREIRO nos lábios dizia: Somos LOUCOS somos todos LOUCOS??? E segue a loucura: Seguimos todos NÓS Iguais a teclas direcionadas Ficamos com MEDO Pois somos intimados e seduzidos A rezar uma cartilha contraditória A qual nos coloca em eternos conflitos Diante da comparação Daquilo que é CERTO ou ERRADO O sistema programa isto FORÇA e leva o ser humano a loucura Muitos se perdem neste caminho emblemático Outros aceitam as regras com sofrimento e dúvidas Alguns enlouquecem e até chegam a atos suicidas Outros se drogam Outros rezam, Fazem isto, fazem aquilo E no meio desta loucura cruel A criatividade humana entra em jogo E a ARTE explode em suas variadas fases e expressões E o poeta busca na POESIA O consolo diante das adversidades do mundo moderno Busca um carinho, um afeto E descobre na criança a ESPERANÇA De um sonho de um mundo distante ALMAGARRA sempre levou e leva consigo o poder da dúvida Ele diz que nem as sagradas escrituras E muito menos o que dizem nas escolas e ruas Deve ser levado como verdade absoluta

Toninho Ávila

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