Revista do Meio Ambiente 08

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Edição 08 da Revista do Meio Ambiente

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2007 - JUNHO - EDIÇÃO 008 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 1

Editorial

Por Vilmar SidneiDemamam Berna*

sociedade está cadavez mais consciente daimportância do meioambiente e sobre a gra-

vidade da crise ambiental, graças,em boa parte, ao papel que a mí-dia tem desempenhado em dardivulgação aos problemas ambi-entais, ao trabalho incansável deambientalistas e outras pessoas eorganizações que não desistiramde lutar, falar, protestar, pelo meioambiente. O fato é que a ques-tão ambiental deixou definitiva-mente de ser uma preocupaçãoapenas de ambientalistas. Os ci-entistas são unânimes sobre osimpactos de nossas atividades so-bre o agravamento do efeito es-tufa, um fenômeno natural, sim,que permitiu e permite a vida naTerra, sim, mas que está aquecen-do o Planeta além da conta. Oque foi responsável até agora pornossa existência, se não se fizeralguma coisa, e bem rápido, podeser responsável por nosso desa-parecimento enquanto espécie!

“Não é a terra que é frágil. Nósé que somos frágeis. A naturezatem resistido a catástrofes muitopiores do que as que produzimos.Nada do que fazemos destruirá anatureza. Mas podemos facilmentenos destruir.” James Lovelok

Os próximos anos exigirão denós consciência ambiental e acapacidade de fazer novas esco-lhas e tomar novas atitudes e asescolas terão um papel fundamen-tal nisso.

“A educação deve ajudar ohomem brasileiro a inserir-se cri-ticamente no processo histórico ea libertar-se, pela conscientização,da síndrome do ter e da escravidãodo consumismo.” Paulo Freire

Os nossos alunos devem sercapacitados e sensibilizados parafazer as escolhas corretas desdeagora. A crise pode ser uma opor-tunidade também de setornarem os futuros profissionaise técnicos, os líderes do amanhã,que irão fazer a diferença e aju-dar a humanidade a encontrarnovos caminhos para a crise am-biental.

“Todas as flores do futuro es-tão nas sementes de hoje.”Priovérbio chinês

Que perspectivas e oportuni-dades oferecemos hoje, em nos-

Asas escolas, aos jovens, para mudarde atitude, conhecer novoscaminhos, saber mais sobre a cri-se ambiental? Que medidas aescola pode tomar para ajudar asensibilizar os alunos e a comu-nidade escolar?

“Só existem dois dias doano em que não podemos fa-zer nada. O ontem e o ama-nhã.” Mahatma Ghandi

São Francisco de Assis, o Pa-trono da Ecologia, dá adica: ”Comece fazendo o que é neces-sário, depois o que é possível, e de re-pente você estará fazendo o impossí-vel.”

Veja como a escola podeajudar:

a) NEUTRALIZE A EMIS-SÃO DE CARBONO - o plan-tio - e cuidado - de novas árvorespode retirar carbono da atmosfe-ra, através da fotossíntese. Duranteo crescimento, as árvores fixamcarbono em suas raízes, troncos,galhos, folhas, tornando-se umaespécie de sugadoras do carbo-no. (Para calcular quanto a escolaemite de carbono para a atmos-fera, e quantas árvores precisaplantar para neutralizar suas emis-sões, use uma das calculadoras dowww.portaldomeioambiente.org.br).Cada cidadão libera emmédia 2 (duas) toneladas de gáscarbônico ou dióxido de carbo-no na atmosfera por mês.

b) CRIE NA ESCOLA UMCLUBE DE AMIGOS DOPLANETA - a escola deveoferecer aos alunos mais sensíveise motivados a possibilidade deatuar de forma organizada, assu-mindo, no mínimo, umaação concreta por mês para amelhoria ambiental da comuni-dade. Exemplos de atividades: plantar e cuidar das novas árvores(Campanha ADOTE UMA ÁR-VORE), fazer coletas de semen-tes e produzir novas mudas (Cam-panha ADOTE UMA SEMEN-TE), denunciar agressões às árvo-res e florestas existentes (ao serqueimadas, árvores e florestas liberam carbono para a atmosfe-ra), ajudar a implantar a coleta se-letiva de lixo na escola, etc. A im-portância da criação do Clube deAmigos do Planeta é promover umaeducação ambiental continuada,

além de estimular a mobilizaçãocidadã e despertar vocações pro-fissionais.

Comece com o DIAGNÓS-TICO AMBIENTAL, pois parasabermos onde queremos chegar,precisamos saber onde estamos.Assim, uma das pr imeirastarefas de alunos e professores é levantar o que entra na Escola(energia, papel, água, alimentos,mobiliários, etc.), como estes recursos são processados e des-cartados, para identificar desper-dícios e poluição. Continue como PLANEJAMENTO COO-PERATIVO, em que professo-res, alunos, funcionários, pais, to-mam conhecimento da situação,propõem substituições de mate-riais e comportamentos, estabe-lecem metas quantitativas e perí-odos de tempo para promover asmudanças pretendidas e compar-tilham o propósito de mudar, tantonas ações individuais como nascoletivas. Mês a mês, alunos eprofessores fazem o ACOMPA-NHAMENTO DAS ATIVI-DADES e, no Dia Mundial doMeio Ambiente, em 5 de junhode cada ano, divulgarão os resul-tados à comunidade escolar.

c) ASSINE A REVISTA DOMEIO AMBIENTE - assegurepara o acervo da biblioteca daescola a assinatura de veículos es-pecializados em meio ambiente ede livros com o tema ambiental,que possibilitem o acessoà informação ambiental qualifica-da a professores, alunos e à co-munidade escolar sobre este novo

cenário global e local, permitin-do-lhes fazer escolhas adequadas.A biblioteca da escola poderiaainda promover SEMINÁRIOSE DEBATES AMBIENTAISsobre a crise ambiental e suasconseqüências, contando para issocom a ajuda do grupo de alunosdo Clube.

Meu abraço fraterno e eco-lógico a todos,

Vilmar Sidnei DemamamBerna - Prêmio Global 500 daONU Para o Meio Ambiente

Mais informações:Projeto Clube de Amigos doPlaneta - www.portaldomeioambiente.org.br/ClubedeAmi-gosdoPlaneta/index.asp

Projeto Revista do MeioAmbiente na Escolawww.portaldomeioambiente.org.br/JMA-RevistaMA.asp

Projeto Curso à distância de Edu-cação Ambiental – parceriaREBIA / UFFwww.portaldomeioambiente.org.br/JMA-cursouff.asp

Livros do Vilmar para adoçãona escola - www.portaldomeioambiente.org.br/VilmarBerna/

Em Barra Mansa já existem 47 Ecoclubes nas escolas daRede Municipal, mobilizando mais de 500 novos ‘Amigosdo Planeta’.

Carta aos Professores eCidadãos

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2 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 008 - JUNHO - 2007

FUNDADORVilmar Sidnei Demamam Berna - Prê-mio Global 500 da ONU Para o MeioAmbienteCONSELHO EDITORIALAmyra El Khalili , André Trigueiro, Aris-tides Arthur Soffiati, Carlos AlbertoArikawa, David Man Wai Zee, Flávio Le-mos de Souza. Ricardo Harduim, Rogé-rio RuschellPROGRAMAÇÃO VISUALLeonardo Ciannella - VX STUDIO Solu-ções Criativas - [email protected] Maia Araújo - leandromaiaa-raujo @hotmail.com - Tel.: (021) 9606-2126CORRESPONDENTES• Juliana Radler (Internacional) - (21)2210-2192 - [email protected]

Expediente

• Silvia Pereira - (21) 2253-6682 / 8820-6682 / 9293-1884 - [email protected]• JC Moreira - (24) [email protected]

Fórum de Debates da REBIAREBIA NACIONAL - [email protected] - Mode-radora: Liana Márcia JustenREBIA CENTRO-OESTE - [email protected] -Moderador: Eric FischerREBIA NORDESTE - [email protected] - Mode-radora: Liliana PeixinhoREBIA NORTE - [email protected] ; Mode-rador: Evandro FerreiraREBIA SUDESTE - [email protected] - Mode-

radores: Juliano RaramilhoREBIA SUL - [email protected] Moderadores: Pau-lo Pizzi e Liana Márcia Justen* Os artigos assinados não traduzem ne-cessariamente a opinião da Revista.

ASSINATURASPreencha o cadastro em http://www.rebia.org.br/JMA-Assinar/JMA-Assinar.asp ou o cupom na Revista im-pressa e após fazer o pagamento da anui-dade de R$ 70,00 comunique a data ehora do depósito por email [email protected]

A Revista do Meio Ambiente é uma pu-blicação da REBIA - REDE BRASILEIRADE INFORMAÇÃO AMBIENTAL -WWW.REBIA.ORG.BR - Organização daSociedade Civil - O S C , sem fins lucra-

tivos, CNPJ: 05.291.019/0001-58Inscrição estadual e municipal: isentas- sede à Trav. Gonçalo Ferreira,777 - Casarão da Ponta da Ilha, BairroJurujuba , Niteró , RJ - Brasil - Telefax:(21) 2610-2272 / Presidente do conse-lho diretor: Sérgio Ricardo F e r r e i ra H a r d u i m , b i ó l o g o e EducadorAmbiental editada em parceria com aASSOCIAÇÃO ECOLÓGICA PIRA-TINGAÚNA - Organização da Socie-dade Civil de Interesse Público - OS-CIP, (Proc. nº 08015.000703/2003-31 -Secretaria Nacional de Justiça, 10 demarço de 2003, Diário Oficial da Uniãode 17/ 03/ 2003 / Utilidade PúblicaMunicipal ( LEI 3.283 de 04 de marçode 2002) / CNPJ: 03.744.280/0001-30 /Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - nobairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP:23.323.300

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Matéria de capa

esmo sendo um dostrês países em desen-volvimento que maisemitem gases causa-

dores de mudanças no clima daTerra, o Brasil não desenvolveu –nem dá mostras de que o fará -uma política nacional para supe-rar as suas “vulnerabilidades”, ouseja, as suas fragilidades no enfren-tamento do problema.

E por que não? Afinal, segundo a Convenção

do Clima, da ONU, em 1994 (úl-timo ano pesquisado), o País emi-tiu quase 1,47 bilhões detoneladas de gases causadores doEfeito Estufa. A China, campeãdos poluidores entre os paísesmenos desenvolvidos (aquelesque, pela Convenção, não têmobrigação de reduzir emissões),no mesmo ano emitiu 3,65 bi-lhões de toneladas. A Índia, tam-bém no grupo das duas primei-ras, emitiu 1,23 bilhões de tone-ladas. Os EUA teriam obrigaçãode reduzir emissões porque estãono primeiro time da sujeira – odos países ricos. Sozinhos, poluí-ram a atmosfera com 6,3 bilhõesde toneladas, segundo númerosde 2004.

A omissão do Brasil é particu-larmente grave. O País gera enor-me injustiça social contra o seuenorme contingente de pobres– aqueles que serão os mais vul-neráveis caso se repitam aqui tra-gédias como o furacão Katrina,que devastou Nova Orleães.

Ou seja, ao se omitir, o País aju-da muito a condenar boa partede sua própria população. E, porfavor, não me digam que Katri-nas não acontecem no Brasil.Santa Catarina também não tinharegistros de furacões. Passou a tê-los a partir de 2004.

O Instituto Nacional de Pes-quisas Espaciais (Inpe) aponta queum quadrilátero formado peloleste do Piauí, o sul do Ceará, onorte da Bahia e o oeste de Per-nambuco é a região brasileira quedispõe de menos recursos paraajudar a população local em casode desastres naturais. Aí estão al-gumas das cidades de menor Ín-dice de Desenvolvimento Huma-no no Brasil. De acordo com oInpe, elas podem enfrentar secasde 10 ou mais anos seguidos.

Lá, o Brasil real está muito pou-co preparado para atender a situ-ações de emergência. O Estado

O Brasil sem políticaclimática

M

Por Carlos Tautz*

brasileiro teria condições de, nomáximo, distribuir cestas básicasaos eventuais atingidos. Mas, paraenfrentar tamanha dificuldades, énecessária uma ampla infra-estru-tura de defesa civil - um verda-deiro luxo, se lembrarmos que adistribuição de cestas básicas é omáximo que o governo conseguefazer em termos de política pú-blica para atingidos por desastres(naturais ou não).

O governo sabe da probabili-dade desses desastres climáticos edas fragilidades para enfrentá-los.Mas, faz ouvidos de mercador esequer esboça um debate nacio-nal a respeito das mudanças cli-máticas. O máximo que faz é re-alizar seminários que terminamem conclusões gravíssimas e de-cidem pela realização de novosseminários que também conclu-em pela mesma gravidade da si-tuação.

José Antônio Marengo, cien-tista do Inpe, foi além dos semi-nários. Ele entregou em 26 defevereiro ao Ministério do MeioAmbiente um estudo sobre ce-nários possíveis em 2100 – utili-zando um arsenal técnico seme-lhante aos do Painel Intergover-namental de Mudanças Climáti-cas (o IPCC, da ONU). Em 2005,Marengo já havia despachadopara o Núcleo de Ações Estraté-gicas da Presidência da Repúbli-ca estudo semelhante.

Enquanto faz cara de paisagempara o problema, o Brasil vai semetendo numa saia que fica cadavez mais justa. Principalmente apósa divulgação no dia 04/04 deoutro capítulo do Quarto Rela-tório de Avaliação do IPCC, emBangcoc, na Tailândia.

O IPCC confirmou o que ci-entistas e ambientalistas brasilei-ros apontam há muito tempo: aampla maioria das nossas emissõesprovêem da queima da florestaamazônica. Mas, como é para láque avança o grande negócioagrícola, que garante o superávitprimário que o Banco Centralenxerga como cláusula pétrea daeconomia financeirizada, pratica-mente nada se tem feito para re-verter essa desgraça. (Aliás, é paralá também que aponta a indús-tria do etanol, a mais recente pa-nacéia brasileira.)

No sentido contrário, o IPCCafirma que manter a coberturavegetal original e impedir o des-

matamento são estratégias priori-tárias para “alcançar a estabiliza-ção climática”.

O governo reconhece sua res-ponsabilidade nas emissões, massempre lembra que as alteraçõesna atmosfera atualmente são re-sultado de emissões feitas pelospaíses enriquecidos, principal-mente os EUA e a Inglaterra, des-de a Revolução Industrial.

Esse é um argumento que, noextremo, pode levar ao imobilis-mo, dizem entidades sérias comoo Instituto de Pesquisas Ambien-tais da Amazônia (IPAM), sediadoem Belém (PA). Misto de organi-zação não governamental e centrode pesquisas científicas, o Ipamatribui a pouca importância quegovernantes dão para o tema aofato de as conseqüências das al-terações climáticas só se manifes-tarem em centenas de anos, en-quanto os políticos estão maisinteressados em tomar atitudesque gerem impactos no períodode seus mandatos.

Ou seja, por enquanto, mitigarproblema climático ainda não dávoto e isso explica porque o PACsequer mencionou a questão am-biental – a não ser para anunciaruma medida administrativa paraacelerar a concessão de licenças.

Em sua defesa, o governo nãocansa de repetir que ajudou a ela-borar as premissas do Protocolode Kioto. A primeira delas é anoção de contribuições históri-cas dos países desenvolvidos paraas emissões de gases do EfeitoEstufa, o que nos tiraria a obriga-ção de reduzir nossas emissões nopresente. Se acontecer um fura-cão agora, argumenta o governobrasileiro, o Brasil terá pouca res-ponsabilidade sobre ele, uma vezque só contribuiu com 2% dasemissões históricas totais no pla-neta. Começamos a produzi-las apartir da nossa industrializaçãotardia, há cerca de 50 anos, doisséculos depois que os países ri-cos começaram a despejar na at-mosfera seus gases poluentes.

O governo também lembraque, mesmo sem ter a responsa-bilidade de reduzir emissões, re-gistra 206 projetos de Mecanis-mos de Desenvolvimento Limpono Brasil, que representam 10%dos projetos de MDL em todo omundo. Tais projetos evitam odespejo de mais poluentes no ar.

O mantra das desculpas ofici-

ais justifica a inação criando umafalsa oposição entre setores com-plementares. Diz que não podeinvestir na superação das vulnera-bilidades porque precisa dos re-cursos para saúde, educação, sa-neamento... Garante o governoque as queimadas já teriam dimi-nuído 50% desde 2005.

Em verdade, o governo só foiresponsável por parte dessa me-lhora, ao criar em 2004 e 2005240,000 km2 de novas áreas pro-tegidas na Amazônia. A taxa decrescimento do desmatamento,entretanto, reduziu-se porqueneste período caíram as cotaçõesinternacionais das mercadoriasagrícolas, principalmente da soja,cujo plantio em áreas de florestasderruba e queima de árvores.

Neste cenário rebaixado, seriademais esperar que o governoimaginasse soluções criativas –como, por exemplo, colocar suamáquina de financiamento parainduzir mudanças na matriz ener-gética ou criar instrumentos cre-ditícios que desestimulem adegradação de áreas florestadas.Ao contrário, orienta toda sua atu-ação no sentido do crescimentoeconômico predador.

É o caso da atuação do BancoNacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (Bndes). Aempresa, maior financiador delongo prazo no Brasil para osetor industrial, aportará quasecinco bilhões de dólares paraempresas nacionais e estrangeirasconstruírem, até 2013, 77 usinasde álcool.

Mas, a aparente pujança eco-nômica no fundo significaprenúncio de nova rodada de de-vastação amazônica, devido à des-tinação das melhores terras agri-cultáveis para a cana no sudeste ecentro-oeste. Com terras maiscaras em suas regiões tradicionais,a soja, o gado e outras mercado-rias agrícolas buscariam novasfronteiras na borda da floresta.

O clima, enquanto isso, segueà espera de alguma sensibilidadeoficial.

* Carlos Tautz é jornalista epesquisador do Ibase - InstitutoBrasileiro de Análises Sociais eEconômicas

Fonte: http://oglobo.globo.com/pai s/noblat/post .a sp?cod_post=57487

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estudo que está sen-do elaborado pela Fe-deração das Indústriasdo Estado do Rio de

Janeiro (Firjan), em conjunto coma Fundação Getúlio Vargas (FGV),que avalia o impacto da instala-ção do Complexo Petroquímicodo Rio de Janeiro (Comperj) naeconomia regional irá contribuirpara o relatório final da Comis-são Parlamentar de Inquérito (CPI)que analisa as responsabilidades doestado e da União na instalaçãodos complexos Petroquímico deItaboraí, Gás-químico de Duquede Caxias e Siderúrgico de SantaCruz. Os primeiros resultados dolevantamento serão entregues nofim de agosto. “Estas informaçõesserão fundamentais para estrutu-rar o relatório final e contribuirna elaboração de um plano dire-tor que aborde aspectos como oambiental, a urbanização, transpor-tes, habitação e educação públi-ca”, analisa o presidente da CPI,deputado Luiz Paulo (PSDB), queé autor, junto com o deputadoRodrigo Neves (PT), do projetode lei 419/2007 que dispõe so-bre a elaboração do plano dire-tor metropolitano do Estado doRio de Janeiro.

Segundo o representante daFirjan, Augusto Franco, o objeti-vo do estudo, que será concluídoem outubro, é oferecer às prefei-turas dos municípios na área deinfluência do Comperj e aos in-vestidores privados uma visão defuturo. “A intenção é prepará-lospara aproveitar a onda de desen-volvimento que está por vir. Ain-da será feito um levantamentosobre a necessidade destas empre-sas na questão da infra-estrutura.Queremos evitar competiçõesdesnecessárias entre os municípi-os. Com base na matriz regionalde desenvolvimento produtivo,será possível propor estratégias deespecialização para cada cidade”,explicou Franco.

A Firjan apóia, ainda, um pro-jeto junto com o Serviço Nacio-nal de Aprendizagem Industrial(Senai-RJ) e a Petrobras que for-mará três mil profissionais da áreade construção civil durante o pri-meiro ciclo de capacitação demão-de-obra para a instalação doComperj. “Nesta fase serão trei-

Firjan Contribuirá com CPI daALERJ na Análise do Impactodo Complexo Petroquímico

O

De Olho no COMPERJ

nados apenas profissionais comensino fundamental para exerce-rem atividades de pedreiro, arma-dor, carpinteiro e eletricista”, de-talhou. Para Rodrigo Neves, aFirjan é uma das poucas institui-ções do estado que evidenciou anecessidade do diálogo para fo-mentar o desenvolvimento doestado. “Estamos construindo opapel coletivo na Assembléia Le-gislativa, que é o de discutir osproblemas que venham a surgir eencontrar soluções”, ressaltou.

O gerente administrativo daRio Polímeros SA (Riopol), Ri-cardo Lessa, foi o segundo con-vidado do dia e falou sobre a cri-ação e a situação atual da empre-sa. Com investimentos de US$ 1bilhão, sendo 60% financiado porbancos de investimento e 40%com aporte de acionistas, a em-presa fez inúmeros estudos deimpacto ambiental que mostra-ram que todas as medidas de con-trole foram tomadas durante suainstalação. “Neste ponto, a ajudada prefeitura de Duque de Caxi-as na elaboração do plano diretorpara a cidade foi fundamental”,completou Lessa. O gerente ad-ministrativo também falou sobrea importância da construção doAnel Viário de Campos Elíseos,que será usado para o escoamen-to da produção, pois ligará a Rio-pol ao Porto de Itaguaí e ao ArcoMetropolitano. “O custo podechegar a R$ 80 milhões. Já inves-timos R$ 15 milhões junto coma Associação das Empresas deCampos Elíseos (Assecampe) eesperamos a ajuda do estado e domunicípio de Duque de Caxiaspara finalizá-lo”, explicou Lessa.

Perguntado sobre o número defuncionários da Riopol que mo-ram no entorno da empresa, Les-sa confirmou que somente 5%dos empregados diretos são mo-radores da região, mas que no fu-turo este número tende a aumen-tar. “Realmente a grande parte dosnossos funcionários é compostapor operadores contratados deoutros estados, mas já existem 145operadores júnior, vindos de es-colas técnicas, que substituirão osatuais num futuro próximo”, ga-rantiu Lessa.

O deputado Zito (PSDB), queera prefeito de Caxias na época

da construção da empresa, cobroua construção de uma escola, pro-metida pela Riopol, e informa-ções sobre a situação da água nobairro de Ana Clara. Ricardo Lessaconfirmou que está esperando aliberação do terreno pela prefei-tura para iniciar as obras da escolae que há um projeto de constru-ção de uma estação de tratamen-to de água em Campos Elíseos pararesolver a situação da falta de água.

O secretário de Ciência e Tec-nologia, Alexandre Cardoso, e opresidente da Fundação de Apoioà Escola Técnica (Faetec), Nel-son Massini, serão os próximos

convidados da CPI. O objetivo dosdeputados é debater a questão daqualificação da mão-de-obra, jáque se espera a contratação demais de 30 mil trabalhadores apartir da implantação dos pólos.“Queremos produzir um relató-rio consistente e acredito quecada um dos convidados poderácontribuir para o trabalho da co-missão”, concluiu Luiz Paulo.

Fonte: Departamento deComunicação Social da Alerj- Fernanda Pedrosa (diretora)- (21) 2588-1404 / 2588-1627

O presidente da comissão, deputado Rodrigo Neves (PT), anunciou acriação de uma subcomissão especial para acompanhar a implanta-ção do Comperj, além de incentivar as câmaras municipais dascidades atingidas pelo complexo a também criarem comissões

A Comissão de Asuntos Municipais da Alerj realizou, no dia 27/4,uma audiência pública para discutir o programa de implantação docomplexo pretroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)

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Por Ricardo Rose*

Para que informações sobreo setor de meio ambiente?

P

Comunicação Ambiental

ode parecer novidadepara alguns, mas o se-tor de meio ambientetambém é um merca-

do, ou seja, um espaço virtualonde se compra e vende produ-tos e serviços, onde se faz investi-mentos, e as empresas só sobrevi-vem se puderem pagar suas des-pesas e apresentarem lucro. Atéas próprias ONGs, as Organiza-ções Não-Governamentais, cap-tam recursos e precisam geren-ciá-los, de modo a cumprir suasmetas e não extrapolar os gastos.

Todavia, para decidir como atu-arão no futuro, todos os agentesque operam em um mercado –neste caso o da proteção ambi-ental – precisam de informações.De um lado o setor privado, quebaseado em diversas informaçõescriará uma estratégia para atendera demanda por produtos ou ser-viços. De outro, o setor público,que munido de outros dados faráo planejamento das políticas parao setor. As organizações do ter-ceiro setor, por sua vez, tambémnecessitam de informações paraimplementar seus projetos. Ape-sar da importância do setor demeio ambiente no Brasil, aindanão existem suficientes infor-mações sobre este mercado. Opouco de material disponívelestá pulverizado entre associ-ações, institutos de pesquisa eórgãos públicos, a maior partepouco exato e ultrapas-sado. Ondeencontrar, porexemplo, esta-tísticas confi-áveis sobre o

volume exato de efluentes do-mésticos descarregados sem tra-tamento nos rios brasileiros? Qualé a quantidade de lixo domésti-co gerado pelas cidades brasilei-ras? Qual é a quantidade de resí-duos perigosos gerados anual-mente pelas indústrias? Para to-das estas perguntas podemos apre-sentar estimativas, mas não núme-ros confiáveis.

Podemos dividir o setor demeio ambiente em três grandessegmentos: o meio ambiente na-tural, constituído pelos biomasainda pouco afetados pela ativi-dade humana, como as florestas,o cerrado, os mares; o meio am-biente rural, que engloba as regi-ões de atividade agrícola e pecu-ária; e o meio ambiente urbano,constituído pelas cidades e as áre-as de sua influência. A maior par-te dos problemas ambientais lo-caliza-se nas áreas urbanas, já queaí os desequilíbrios são maiores emais complexos e a população ébem mais numerosa. Na área ur-bana, as questões ambientais usu-almente são tra-tadas como:a) aquelas de

responsabilidade do setor públi-co, onde este deve fazer os inves-timentos e colocar em prática po-líticas que planejou previamente(aqui se inclui o setor de sanea-mento - água potável, esgoto elixo doméstico); e b) as questõesde responsabilidade do setor pri-vado, nas quais as empresas sãoobrigadas pela legislação, a reme-diar os impactos causados por suasatividades ao meio ambiente (osresíduos e a fumaça da produção,a contaminação de água e solos,etc.). Caso fossem disponíveis in-formações sobre todos estes seg-mentos do mercado, seria muitomais simples avaliar impactos, es-tabelecer e quantificar medidascorretivas e planejar melhor asações preventivas a serem adota-das no futuro. O princípio já vemsendo aplicado há décadas porgovernos e empresas em todo omundo: estabelecer parâmetrosbaseados em informações domercado, acompanhar a evoluçãoda situação através de dados ecomparar o real com o estabele-cido, fazendo regularmente as cor-

reções de rumo. Ébasicamente a sis-

temática do

PDCA (Plan, Do, Check, Act –Planejar, Implementar, Checar,Corrigir) dos sistemas de quali-dade, que só podem funcionarcom informação.

O setor ambiental brasileiropoderia ser mais desenvolvido, terpolíticas de proteção mais clarase objetivas, gerando mais empre-gos e riquezas. Fator limitadorcontinua sendo em parte a faltade informações e dados em geralsobre o mercado. Mas, a quemcabe a responsabilidade colherdados, analisá-los e criar políticase estratégias? Aos órgãos públi-cos, quando se trata de serviçosprestados pelo Estado, e ao setorprivado e seus representantes (as-sociações), quando relacionado àatividade privada. Todavia, acimade tudo o Estado tem obrigaçãode disponibilizar informaçõesao cidadão, para que estepossa avaliar como estão sendogeridos os recursos públicos, dosquais o Estado é apenas umadministrador.

E evidentemente, cabe à im-prensa de uma maneira geral, e àsmidias especializadas em meioambiente em particular, o impor-tantíssimo papel de difundir estasinformações produzidas pelo Es-tado, iniciativa privada e demaisatores sociais. Sem a imprensa se-remos sempre um “circuitofechado”.

(*) Ricardo Rose éjornalista e Diretor demeio ambiente da Câmarado Comércio e IndústriaBrasil-Alemanha-SP

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EnergiaPolítica Ambiental

Marina Silva assina cooperaçãotécnica com Carta da Terra

ministra do Meio Am-biente, Marina Silva,assinou em 30/04, emBrasília, um acordo de

cooperação técnica para divulga-ção dos princípios éticos e polí-ticos da Carta da Terra com oConselho de Defesa dos DireitosHumanos do Rio de Janeiro(CDDH-RJ) e com representan-tes da iniciativa da Carta da TerraInternacional.

A Carta da Terra é um docu-mento global que estabelececompromissos dos países com odesenvolvimento sustentável e apreservação do Planeta. O textoda Carta foi produzido com aparticipação de 100 mil pessoasde 46 nações. Sua elaboração teveinício na Eco-92, realizada no Riode Janeiro em 1992. Em 2000, asNações Unidas aprovou o seu con-teúdo e adotou-a como referência.

Há cinco anos o MMA divul-

ga e utiliza a Carta da Terra comoguia do programa Agenda 21 etambém como referência para asconferências nacionais de meioambiente. Desde 2005, já haviauma cooperação técnica estabe-lecida entre o MMA e o CDDH-RJ. A novidade do acordo firma-do na manhã desta segunda-feiraé união formal à Carta da TerraInternacional.

Em discurso durante a cerimô-nia de assinatura da cooperaçãotécnica, a ministra Marina Silvalembrou a importância do acor-do. “Esse documento vai servir dereferência para o governo, que jávem trabalhando para atingir seusobjetivos”, disse. “Temos de pas-sar da gesticulação para os gestose transformá-los em atos dos ges-tores públicos”, completou.

O novo secretário de Articu-lação Institucional e CidadaniaAmbiental, Hamilton Pereira, tam-

bém participou do evento reali-zado na sala Multimídia, doMMA, em Brasília. Em seu pri-meiro ato no cargo, ele defendeua participação popular nas deci-sões. “Sem ela, não há solução paraos problemas do mundo”, disse.

Um dos autores da Carta daTerra, o teólogo Leonardo Boffmarcou presença na assinatura doacordo de cooperação. Ele ressal-tou a importância do compromis-so do MMA com os princípiosda Carta da Terra. “Representa umponto de cristalização do que jávinha acontecendo no Ministériodo Meio Ambiente”, disse Boff.“Esse acordo reforça o compro-metimento”.

Além de Boff, assinaram o acor-do de cooperação Raazena Waigi-et, co-presidenta do ConselhoInternacional da Terra; Mirian Vi-lela, diretora do Centro Carta daTerra de Educação para o Desen-

volvimento Sustentável, e MárciaMonteiro Miranda, do CDDH-RJ.

Mais informações: Ministé-rio do Meio Ambiente - Asses-soria de Comunicação Social - 55-61 - 4009-1165 / 1227 - Fax - 55-61 - 4009-1997

PRINCÍPIOS GERAIS DA CARTA DA TERRArraPreâmbuloEstamos diante de um mo-

mento crítico na história da Ter-ra, numa época em que a huma-nidade deve escolher o seu futu-ro. À medida que o mundo tor-na-se cada vez mais interdepen-dente e frágil, o futuro enfrenta,ao mesmo tempo, grandes peri-gos e grandes promessas. Para se-guir adiante, devemos reconhe-cer que no meio da uma magní-fica diversidade de culturas e for-mas de vida, somos uma famíliahumana e uma comunidade ter-restre com um destino comum.Devemos somar forças para geraruma sociedade sustentável globalbaseada no respeito pela nature-za, nos direitos humanos univer-sais, na justiça econômica e numacultura da paz. Para chegar a estepropósito, é imperativo que, nós,os povos da Terra, declaremosnossa responsabilidade uns paracom os outros, com a grande co-munidade da vida, e com as fu-turas gerações.

Terra, Nosso LarA humanidade é parte de um

vasto universo em evolução. ATerra, nosso lar, está viva comu-ma comunidade de vida única. Asforças da natureza fazem da exis-

tência uma aventura exigente eincerta, mas a Terra providenciouas condições essenciais para a evo-lução da vida. A capacidade derecuperação da comunidade davida e o bem-estar da humanida-de dependem da preservação deuma biosfera saudável com todosseus sistemas ecológicos, uma ricavariedade de plantas e animais,solos férteis, águas puras e ar lim-po. O meio ambiente global comseus recursos finitos é uma preo-cupação comum de todas as pes-soas. A proteção da vitalidade, di-versidade e beleza da Terra, é umdever sagrado.

A Situação GlobalOs padrões dominantes de

produção e consumo estão cau-sando devastação ambiental, re-dução dos recursos e uma massi-va extinção de espécies. Comu-nidades estão sendo arruinadas.Os benefícios do desenvolvimen-to não estão sendo divididoseqüitativamente e o fosso entrericos e pobres está aumentando.A injustiça, a pobreza, a ignorân-cia e os conflitos violentos têmaumentado e é causa de grandesofrimento. O crescimento semprecedentes da população huma-na tem sobrecarregado os siste-

mas ecológico e social. As basesda segurança global estão amea-çadas. Essas tendências são peri-gosas mas não inevitáveis.

Desafios Para o FuturoA escolha é nossa: formar uma

aliança global para cuidar da Ter-ra e uns dos outros, ou arriscar anossa destruição e a da diversida-de da vida. São necessárias mu-danças fundamentais dos nossosvalores, instituições e modos devida. Devemos entender quequando as necessidades básicasforem atingidas, o desenvolvimen-to humano é primariamente sermais, não, ter mais. Temos o co-nhecimento e a tecnologia ne-cessários para abastecer a todos ereduzir nossos impactos ao meioambiente. O surgimento de umasociedade civil global está crian-do novas oportunidades paraconstruir um mundo democráti-co e humano. Nossos desafios,ambientais, econômicos, políticos,sociais e espirituais estão interli-gados, e juntos podemos forjarsoluções includentes.

Responsabilidade UniversalPara realizar estas aspirações

devemos decidir viver com umsentido de responsabilidade

universal, identificando-nos comtoda a comunidade terrestre bemcomo com nossa comunidadelocal. Somos ao mesmo tempocidadãos de nações diferentes ede um mundo no qual, a dimen-são local e global está ligada. Cadaum comparte responsabilidadepelo presente e pelo futuro, pelobem estar da família humana e dogrande mundo dos seres vivos. Oespírito de solidariedade huma-na e de parentesco com toda avida é fortalecido quando vive-mos com reverência o mistério daexistência, com gratidão pelo pre-sente da vida, e com humildadeconsiderando o lugar que ocupao ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência deuma visão de valores básicos paraproporcionar um fundamentoético à emergente comunidademundial. Portanto, juntos na es-perança, afirmamos os seguintesprincípios, todos interdependen-tes, visando um modo de vida sus-tentável como critério comum,através dos quais a conduta detodos os indivíduos, organizações,empresas de negócios, governos,e instituições transnacionais serãoguiada e avaliada.

Foto:Valter Campanato/ABr

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2007 - JUNHO - EDIÇÃO 008 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 9

I. RESPEITAR E CUIDARDA COMUNIDADE DEVIDA

1. Respeitar a Terra e a vidaem toda sua diversidade.

a. Conhecer que todos os se-res são interligados e cada formade vida tem valor, independen-temente do uso humano.

b. Afirmar a fé na dignidadeinerente de todos os seres huma-nos e no potencial intelectual,artístico, ético e espiritual da hu-manidade.

2. Cuidar da comunidade davida com compreensão, compai-xão e amor.

a. Aceitar que com o direitode possuir, administrar e usar osrecursos naturais vem o dever deimpedir o dano causado ao meioambiente e de proteger o direitodas pessoas.

b. Afirmar que, o aumento daliberdade, dos conhecimentos edo poder comporta responsabili-dade na promoção do bem co-mum.

3. Construir sociedades demo-cráticas que sejam justas, partici-pativas, sustentáveis e pacíficas.

a. Assegurar que as comuni-dades em todos níveis garantamos direitos humanos e as liberda-des fundamentais e dar a cada aoportunidade de realizar seu ple-no potencial.

b. Promover a justiça econô-mica propiciando a todos a con-secução de uma subsistência sig-nificativa e segura, que seja eco-logicamente responsável.

4. Garantir a generosidade e abeleza da Terra para as atuais e asfuturas gerações.

a. Reconhecer que a liberda-de de ação de cada geração écondicionada pelas necessidadesdas gerações futuras.

b. Transmitir às futuras geraçõesvalores, tradições e instituições queapóiem, a longo termo, a prospe-ridade das comunidades huma-nas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estesquatro extensos compromissos,é necessário:

II. INTEGRIDADE ECO-LÓGICA

5. Proteger e restaurar a inte-gridade dos sistemas ecológicosda Terra, com especial preocupa-ção pela diversidade biológica epelos processos naturais que sus-tentam a vida.

a. Adotar planos e regulamen-tações de desenvolvimento sus-tentável em todos os níveis quefaçam com que a conservação

ambiental e a reabilitação sejamparte integral de todas as iniciati-vas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as re-servas com uma natureza viável eda biosfera, incluindo terras sel-vagens e áreas marinhas, para pro-teger os sistemas de sustento àvida da Terra, manter a biodiver-sidade e preservar nossa herançanatural.

c. Promover a recuperação deespécies e ecossistemas em peri-go.

d. Controlar e erradicar orga-nismos não-nativos ou modifica-dos geneticamente que causemdano às espécies nativas, ao meioambiente, e prevenir a introdu-ção desses organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursosrenováveis como a água, solo, pro-dutos florestais e a vida marinhacom maneiras que não excedamas taxas de regeneração e que pro-tejam a sanidade dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e uso derecursos não renováveis comominerais e combustíveis fósseis deforma que diminua a exaustão enão cause sério dano ambiental.

6. Prevenir o dano ao ambi-ente como o melhor método deproteção ambiental e quando oconhecimento for limitado, tomaro caminho da prudência.

a. Orientar ações para evitar apossibilidade de sérios ou irrever-síveis danos ambientais mesmoquando a informação científicaseja incompleta ou não conclusi-va.

b. Impor o ônus da prova àque-les que afirmam que a atividadeproposta não causará dano signi-ficativo e fazer com que os gru-pos sejam responsabilizados pelodano ambiental.

c. Garantir que a decisão a sertomada se oriente pelas conse-qüências humanas globais, cumu-lativas, de longo termo, indiretase de longa distância.

d. Impedir a poluição de qual-quer parte do meio ambiente enão permitir o aumento de subs-tâncias radioativas, tóxicas ou ou-tras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades milita-res causem dano ao meio ambi-ente.

7. Adotar padrões de produ-ção, consumo e reprodução queprotejam as capacidades regene-rativas da Terra, os direitos huma-nos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclarmateriais usados nos sistemas deprodução e consumo e garantirque os resíduos possam ser assi-milados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e efici-

ência no uso de energia e recor-rer cada vez mais aos recursosenergéticos renováveis como aenergia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimen-to, a adoção e a transferência eqüi-tativa de tecnologias ambientaissaudáveis.

d. Incluir totalmente os custosambientais e sociais de bens e ser-viços no preço de venda e habi-litar aos consumidores identificarprodutos que satisfaçam as maisaltas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal aocuidado da saúde que fomente asaúde reprodutiva e a reprodu-ção responsável.

f. Adotar estilos de vida queacentuem a qualidade de vida eo suficiente material num mun-do finito.

8. Avançar o estudo da sus-tentabilidade ecológica e promo-ver a troca aberta e uma amplaaplicação do conhecimento ad-quirido.

a. Apoiar a cooperação cientí-fica e técnica internacional rela-cionada a sustentabilidade, comespecial atenção às necessidadesdas nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar osconhecimentos tradicionais e asabedoria espiritual em todas asculturas que contribuem para aproteção ambiental e o bem-es-tar humano.

c. Garantir que informaçõesde vital importância para a saúdehumana e para a proteção ambi-ental, incluindo informação ge-nética, estejam disponíveis aodomínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL EECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza comoum imperativo ético, social, eco-nômico e ambiental.

a. Garantir o direito à água po-tável, ao ar puro, à segurança ali-mentar, aos solos não contamina-dos, ao abrigo e saneamento se-guro, distr ibuindo os recursosnacionais e internacionais reque-ridos.

b. Prover cada ser humano deeducação e recursos para assegu-rar uma subsistência sustentável,e dar seguro social [médico] esegurança coletiva a todos aque-les que não são capazes de man-ter-se a si mesmos.

c. Reconhecer ao ignorado,proteger o vulnerável, servir àque-les que sofrem, e permitir-lhesdesenvolver suas capacidades ealcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividadeseconômicas e instituições em to-dos os níveis promovam o desen-

volvimento humano de formaeqüitativa e sustentável.

a. Promover a distr ibuiçãoeqüitativa da riqueza dentro eentre nações.

b. Incrementar os recursos in-telectuais, financeiros, técnicos esociais das nações em desenvolvi-mento e aliviar as dívidas inter-nacionais onerosas.

c. Garantir que todas as tran-sações comerciais apóiem o usode recursos sustentáveis, a prote-ção ambiental e normas laboraisprogressistas.

d. Exigir que corporaçõesmultinacionais e organizaçõesfinanceiras internacionais atu-em com transparência em be-nefício do bem comum e res-ponsabilizá-las pelas conseqü-ências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e aeqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvi-mento sustentável e assegurar oacesso universal à educação, aocuidado da saúde e às oportu-nidades econômicas.

a. Assegurar os direitos hu-manos das mulheres e das me-ninas e acabar com toda vio-lência contra elas.

b. Promover a participaçãoativa das mulheres em todos osaspectos da vida econômica,política, civil, social e culturalcomo parceiros plenos e pari-tários, tomadores de decisão, lí-deres e beneficiários.

c. Fortalecer as famílias e ga-rantir a segurança e a criaçãoamorosa de todos os membrosda família.

12. Defender, sem discrimi-nação, os direitos de todas aspessoas a um ambiente naturale social, capaz de assegurar a dig-nidade humana, a saúde corpo-ral e o bem-estar espir itual,dando especial atenção aos di-reitos dos povos indígenas e mi-norias.

a. Eliminar a discriminaçãoem todas suas formas, como asbaseadas na raça, cor, gênero,orientação sexual, religião, idi-oma e origem nacional, étnicaou social.

b. Afirmar o direito dos po-vos indígenas à sua espirituali-dade, conhecimentos, terras e re-cursos, assim como às suas práti-cas relacionadas a formas susten-táveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens dasnossas comunidades, habilitando-os para cumprir seu papel essen-cial na criação de sociedades sus-tentáveis.

Mais informações: http://www.cartadaterra.org.br

CARTA DA TERRA

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Consumo Sustentável

Resíduos Hi-tech: umabomba-relógio ambiental

Por Daniela Vianna*

o ano em que o mun-do admitiu que o ho-mem é o principal res-ponsável pelas mudan-

ças climáticas e discute soluçõespara frear o aquecimento global,o Brasil insiste em empurrar parabaixo do tapete a realização de umdebate amplo e aberto sobre aproblemática que envolve os resí-duos tecnológicos, chamados re-síduos hi-tech. Entre eles estãopilhas e baterias, lâmpadas fluores-centes, telefones celulares e equi-pamentos eletroeletrônicos (com-putadores, televisões, rádios e im-pressoras etc.). São toneladas deequipamentos que se tornam ob-soletos em pouco tempo e cujodescarte adequado é desconheci-do por grande parte da popula-ção brasileira.

A maioria destes produtos pos-sui em sua composição metais pe-sados, como chumbo, cádmio emercúrio, entre outros. Se manu-seados de maneira inadequada oudispostos de forma irregular nosolo oferecem riscos à saúde pú-blica e ao meio ambiente, comperigo de contaminação do ar, dosolo e das águas.

O celular do professor de jor-nalismo José de Sá, da Universida-de Metodista de São Paulo, que-brou em abril deste ano. Ele foi auma loja da Vivo, localizada em umshopping próximo da Avenida Pau-lista, para comprar um novo equi-pamento. Preocupado com a ques-tão ambiental, perguntou à funci-onária da operadora de telefoniaonde deveria depositar a bateriado aparelho quebrado. Ela apon-tou para uma lixeira comum docorredor e disse que ele poderiajogar ali mesmo. “Fiquei indigna-do com a falta de preparo da ven-dedora. Ela deveria ser treinadapara dar a resposta correta. Isso éum descaso, uma irresponsabilida-de social”, lamenta o professor. Eleestava disposto a manter o celularna gaveta até encontrar uma solu-ção, mas acabou repassando o equi-pamento para um conhecido quese comprometeu a consertá-lo.

Situações como esta são co-muns em países que não regula-

Equipamentos velhosrepresentam problemanovo no Brasil

mentam a questão dos resíduossólidos de maneira correta. O Bra-sil discute a criação de uma Políti-ca Nacional de Resíduos Sólidoshá 15 anos. O último projeto delei sobre o tema, o PL 203/91, quepossuía mais de 100 apensos, noCongresso Nacional, foi arquiva-do no ano passado, depois queuma manobra política tentou apro-var um substitutivo com a inclu-são, no texto, da autorização paraque o Brasil importasse pneus usa-dos. O projeto foi parar na gaveta,de acordo com informações daassessoria técnica das ComissõesEspeciais da Câmara dos Deputa-dos. A última tentativa de desar-quivar o PL foi feita pelo deputa-do Sandro Matos (PR/RJ) emabril deste ano, mas foi indeferida.Pelas normas da Casa, só os auto-res do projeto poderão requerero desarquivamento. Pelo menos nospróximos três anos, isso será difí-cil. Os deputados que estavam de-bruçados sobre a questão, em suamaioria, não foram reeleitos. É ocaso, por exemplo, de Luciano Zica,do PT/SP, recém-empossado nocargo de secretário de RecursosHídricos e Ambientes Urbanos doMinistério do Meio Ambiente.

“O lobby das empresas atra-palha a elaboração das leis sobreos resíduos. O consumidor tem odireito de saber como dar umadestinação correta para o seu resí-duo tecnológico, seja ele pilhas ebaterias ou eletroeletrônicos. OBrasil precisa urgentemente de umsistema de devolução de resíduosperigosos. Falam tanto em co-res-ponsabilidade, então porque nãose promove um grande debateentre setor produtivo, poder pú-blico e sociedade para resolver aquestão?”, questiona a sociólogaLisa Gunn, gerente de Informa-ções do Idec (Instituto de Defesado Consumidor).

Milhares de brasileiros não fa-zem a menor idéia de que o des-carte inadequado de equipamen-tos eletroeletrônicos e de bateriasde celular pode causar graves da-nos à saúde e ao meio ambiente.Por outro lado, eles têm acesso cadavez mais facilitado a esses tipos deprodutos. O Brasil fechou o mêsde março com 102,1 milhões delinhas de telefonia móvel, segun-do a Anatel – Agência Nacional

de Telecomunicações. O númerode aparelhos é muito maior. Emcada data festiva, as operadoras decelular praticamente dão aparelhosnovos e mais modernos em trocada assinatura de planos de ‘fideliza-ção’ do cliente.

Só em celulares, o Brasil já é oquinto maior mercado do mun-do, atrás da China, Estados Uni-dos, Rússia e Japão. A PesquisaNacional por Amostra de Domi-cílios (PNAD, 2005), realizada peloIBGE, indica que a televisão estápresente em 91,4% dos lares brasi-leiros, seguida de geladeira (88%),rádio (88%) e máquina de lavarroupas (35,8%). Os computadoresjá chegam a 19% dos domicílios,segundo a Abinee (AssociaçãoBrasileira da Indústria Elétrica eEletrônica) e a meta das empresasdo setor é vender 10 milhões decomputadores pessoais no país em2007 – foram 8,3 milhões comer-cializados em 2006.

Se esses equipamentos fossembens de consumo realmente du-ráveis, como eram as geladeiras eos eletrodomésticos nas décadas de1960 e 1970, tais números indica-riam um crescimento positivo dopoder de compra da população. Apesquisadora da UniversidadeMetodista de Piracicaba, AngelaCassia Rodrigues, alerta que, paraatender à lógica de mercado, osprodutos de fato custam menos,mas hoje duram pouco mais doque o prazo de validade e logo setornarão obsoletos. Ela estuda hácinco anos os aspectos políticos,sociais e ambientais dos Resíduosde Equipamentos Elétricos e Ele-trônicos no âmbito internacionale nacional. Ângela chama a aten-ção para o fato de que a reduçãoda vida útil dos produtos obriga oconsumidor a descartá-los mais rá-pido e substituí-los por novos. Otempo médio de vida de um com-putador nos Estados Unidos, porexemplo, caiu de 4,5 anos (em1992) para dois anos em 2006.

“Minha avó tinha uma geladeiraClimax que durou mais de trintaanos. Hoje, por mais que vocêcuide, depois de poucos anos vocêjá pensa em trocar, seja porqueestragou ou porque tem outramelhor”, afirma a pesquisadoraWanda Risso Günther, especialis-ta em resíduos sólidos e professo-

ra doutora da Faculdade de Saú-de Pública da USP. “A nossa cul-tura é a do ter e estamos gerandocada vez mais resíduos tecnológi-cos. Essa lógica precisa ser revista”,defende. Para a pesquisadora, aspartes de equipamentos que con-têm metais pesados devem ser con-sideradas resíduos Classe I – peri-gosos –, de acordo com a classifi-cação da NBR 10004 da ABNT(Associação Brasileira de NormasTécnicas) e precisam de cuidadosespeciais e o gerenciamento ade-quado da armazenagem à disposi-ção final em aterros de resíduosespeciais.

Pilhas e BateriasDos resíduos eletroeletrônicos,

só as pilhas e baterias foram nor-matizadas nacionalmente até ago-ra do ponto de vista ambiental. Issoocorreu por meio da Resolução257/99, do Conama (ConselhoNacional do Meio Ambiente). Aresolução estabelece limites demetais pesados como cádmio,chumbo e mercúrio e determinaque os produtos que estiveremacima destes padrões devem serrecolhidos pelos fabricantes ouimportadores e receberem a des-tinação correta. Três sistemas ele-troquímicos, independentementeda quantidade de metais, têm deser recolhidos pelos revendedores:baterias automotivas e industriaischumbo-ácidas, pilhas e baterias deóxido de mercúrio (usadas em sis-temas de navegação) e de cádmio-chumbo ou níquel-cádmio (indus-triais ou de celulares).

Segundo a Abinee, 98% dasbaterias de veículos já são recolhi-das. Já no caso das baterias de ce-lular, o número é muito menor,inferior a 20%. Isso ocorre princi-palmente porque o consumidornão tem informações sobre ondedepositar o produto. O site doMinistério do Meio Ambientepossui uma lista das fabricantes deaparelhos celulares e os pontos derecolhimento das baterias. O en-dereço eletrônico para consulta éhttp://www.mma.gov.br/port/sqa/prorisc/pilhasba/coletas/celulare/corpo.html

A maior polêmica que envolvea Resolução 257/99, no entanto,se refere à destinação das pilhas ebaterias de uso comum, as alcali-

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Consumo Sustentável

na-manganês e zinco-manganês(usadas para brinquedos, rádios,calculadoras, entre outros). A le-gislação estipula padrões máximosde metais pesados permitidos nacomposição das mesmas. Desdejaneiro de 2001, a fabricação, im-portação e comercialização destestipos de produtos no Brasil de-vem atender aos seguintes limites:até 0,010% em peso de mercúrio;até 0,015% em peso de cádmio eaté 0,200% em peso de chumbo.O artigo 13º dessa Resolução dizque as pilhas e baterias que aten-derem a estes padrões podem serdispostas junto com o lixo domi-ciliar, em aterros sanitários licen-ciados.

“Essa resolução é ruim e equi-vocada, pois parte do pressupostode uma falsa realidade brasileira.Dizer que pilhas com determina-dos limites de metais pesados po-dem ir para o lixo comum numpaís onde o número de aterros éirrisório é um absurdo”, criticaLisa Gunn, do IDEC.

Para ser licenciado, um aterrosanitário deve atender a requisitostécnicos que garantam a minimi-zação dos impactos da disposiçãodos resíduos. Precisa ter, por exem-plo, manta de impermeabilização(para proteger as águas subterrâ-neas do risco de contaminaçãopelo chorume, que é o líquidogerado pela decomposição damatéria orgânica); também precisade um sistema de escoamento etratamento do chorume e de umatubulação para liberar, pelo ar, ogás metano gerado pela decom-posição do lixo, evitando assim ris-cos de explosão.

De fato, cerca de 10% dos 5.562municípios brasileiros possuematerros sanitários. De acordo coma Pesquisa Nacional de Saneamen-to Básico (PNSB), realizada peloIBGE (Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística) e divulgadaem 2000, naquela época 5.471municípios coletavam lixo.

Das 228 mil toneladas que eramrecolhidas diariamente no país,segundo a pesquisa, 146 mil tone-ladas – o suficiente para encher24,3 mil caminhões com capaci-dade para seis toneladas - eramjogadas sem qualquer tratamentoem lixões, vazadouros e áreas ala-gadas todos os dias. Mais de 63%dos municípios declararam quejogam o lixo urbano recolhido emlixões. Só 36% do lixo coletado (82mil toneladas) iam para aterros sa-nitários, muitos deles não licenci-ados. O consumidor, ao jogar aspilhas no lixo comum, pode estar

dentro da legalidade, mas provo-cando riscos à própria saúde e aomeio ambiente. Os metais pesa-dos contidos nas pilhas e baterias,mesmo as comuns, vazam no soloe, com ajuda da água da chuva,penetram no solo, podendo atin-gir as águas profundas, além deoferecer riscos para animais e se-res humanos que entram em con-tato com o solo contaminado.

De acordo com a ATSDR(Agency for Toxic Substances &Disease Registry) – agência nor-te-americana que reúne registrosde substâncias tóxicas e doenças -o cádmio é uma substância can-cerígena para seres humanos e pro-voca vários outros males (confiratabela). Já o chumbo pode che-gar ao homem pela ingestão dealimentos ou água contaminados,ou ainda ser aspirado junto com apoeira. Pode provocar danos ao sis-tema nervoso central, ao sistemaneurológico, e aos sistemas diges-tivo e reprodutor. O mercúrio,presente em pilhas, baterias, lâm-padas fluorescentes, termômetros,medidores de pressão e tambémem fertilizantes e fungicidas, é pe-rigoso por ser cumulativo no or-ganismo. Em casos crônicos, podeocasionar lesões cerebrais. Noscasos de intoxicação aguda, podecausar náuseas, danos aos rins, di-arréia, vômito e até levar à morte.

Alguns municípios criaram le-gislações próprias sobre o recolhi-mento e a disposição de pilhas ebaterias, como Porto Alegre, porexemplo, por meio da Lei Muni-cipal 9851/2005.

“Oito pilhas a um Real”As pilhas e baterias piratas co-

muns comercializadas ilegalmenteno Brasil representam outro graverisco à contaminação ambiental eà saúde pública. Quem circula porgrandes centros de compras po-pulares, como a Rua 25 de Março,em São Paulo, ou pelas ruas doSaara, no centro do Rio de Janei-ro, ouve os gritos dos camelôs queanunciam as “oito pilhas por R$1”. Geralmente fabricadas na Ásia,muitas das pilhas e baterias clan-destinas chegam a confundir, poistêm o nome das fabricantes con-sagradas, ou estão em embalagensque lembram as cores das marcasconhecidas para enganar o con-sumidor.

A semelhança das pilhas piratascom as tradicionais é tão grandeque confunde até o próprio ven-dedor ambulante. “Camelô tam-bém vende coisa boa, dona. Essapilha foi comprada numa loja po-

pular”, disse um vendedor que nãoquis se identificar e vendia quatropilhas a R$ 2, distribuídas sobre umpano no calçadão do Viaduto doChá, no Centro de São Paulo.

A Abinee (Associação Brasileirada Indústria Elétrica e Eletrônica)alerta que não existe milagre: “nãotem como um produto pirata cus-tar tão pouco e ser legal”, afirma odiretor de Meio Ambiente da en-tidade, Jaime Cynamon. Segundoele, as empresas legalizadas produ-zem 800 milhões de pilhas e outras400 milhões vendidas no país sãopiratas, cerca de 33% do total co-mercializado. Para Cynamon, alémdo problema da renúncia fiscal, aspilhas piratas ainda representam“bombas ambientais”. “Uma análi-se da GTZ, órgão do governo ale-mão, identificou que, em média, aspilhas do ilícito aduaneiro possu-em 80 mg de mercúrio por unida-de. Multiplicando isso pelas 400milhões de pilhas clandestinas quechegam ao país atingimos a marcade 32 toneladas de mercúrio dis-postas de modo irregular no meioambiente. Isso é quase a totalidadedas 35 toneladas de mercúrio queo Brasil importa para a produçãoem todo o seu parque industrial”,calcula. Cynamon reclama que “afiscalização destes produtos é ino-perante e ineficiente.”

O professor Julio Afonso con-firma o perigo das pilhas e bateriaspiratas. “Os teores de cádmio,chumbo e mercúrio das contraban-deadas é muito superior aos pre-vistos pela Resolução Conama.Além disso, as pilhas piratas duram10 a 30 vezes menos que as legais.O que aparentemente é vantagemtorna-se um prejuízo para o bolsodo consumidor. Ele joga dinheirofora e ainda polui o meio ambien-te”, diz. Um teste realizado no Ins-tituto de Química da UFRJ, com-parando a durabilidade de um con-junto de pilhas legais com outrode clandestinas em um disk-mancomprovou: as legalizadas duraram180 minutos, e as outras, apenas seis.Outras desvantagens das piratas éque elas vazam, em média, quatromeses após a fabricação devido àblindagem feita com material depior qualidade. Assim, colocam emrisco principalmente as crianças,que costumam usá-las como brin-quedos.

Lisa Gunn, do Idec, não admiteque a pirataria seja justificativa paraque o setor produtivo se isente daresponsabilidade de coletar as pi-lhas e baterias produzidas no país.“O fato de as pilhas clandestinasserem perigosas é mais uma razão

para que todos discutam uma so-lução rapidamente. Usar isso comodesculpa é hipocrisia”, dispara.

Perigo na “telinha”Se as pilhas e baterias, que pos-

suem normatização nacional hásete anos, ainda têm tantas polê-micas, o debate sobre os impac-tos e destinações dos demais resí-duos eletroeletrônicos, então, ain-da tem muito chão pela frente.

Segundo a pesquisadora An-gela Cassia Rodrigues, os televi-sores com tubos de raios catódi-cos, por exemplo, contêm atéquatro quilos de óxido de chum-bo na sua composição. Monito-res de computador idem. Nomomento em que o país passa poruma transição do tipo de trans-missão – de analógica para digital– já se percebe uma corrida pelacompra de televisores e monito-res de LCDs. Contando que amaior parte das televisões que es-tão em 91,4% dos lares brasileirossão de tubos de raios catódicos,podemos imaginar a quantidadede equipamentos que estarãoobsoletos em poucos anos. “Pre-cisamos de políticas públicas quedêem conta de assegurar a reci-clagem e destinação final destesequipamentos”, defende AngelaCassia.

A falta da legislação adequadaprovoca riscos eminentes à saúdee ao meio ambiente. Em São Pau-lo, por exemplo, a falta de capaci-tação faz com que muitas tevês emonitores acabem triturados pe-los caminhões-compactadoresusados pela prefeitura para fazer acoleta seletiva da cidade.

Cerca de 30% do que chega àCentral de Triagem da Mooca, nazona leste da capital, vindo doscompactadores vai para o rejeito- a sobre da coleta seletiva quenão pode ser aproveitada para reu-tilização ou reciclagem e é desti-nada ao Aterro Sanitário Bandei-rantes. “O que chega de equipa-mento eletroeletrônico na maio-ria dos casos não pode ser apro-veitado. Às vezes a gente conse-gue salvar uma placa de compu-tador. Já montamos uns cincoequipamentos assim”, conta Adri-ana Paula de Jesus, secretária daCooperativa Tietê, responsávelpela operação da Central de Tria-gem da Mooca.

Outra forma de realizar a co-leta seletiva na capital paulista épor meio dos caminhões-gaiola,que são operados pelos próprioscooperados. “Neste caso o rejei-to é de apenas 10%, porque a gen-

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Consumo Sustentável

te percorre as ruas e os moradoresjá nos conhecem. Os equipamen-tos eletroeletrônicos que vêm des-sa forma geralmente estão funcio-nando e podem ser aproveitados naprópria cooperativa”, diz Adriana.

A Prefeitura Municipal de SãoPaulo recebe ainda equipamentoseletroeletrônicos por meio daOperação Cata-Bagulho. Todo omês, as subprefeituras cumpremum calendário e passam pelas ruasdos mais variados bairros com ca-minhões que recolhem “bagulhos”que os moradores querem jogarfora. São sofás, tapetes, geladeiras,fogões etc. O objetivo da opera-ção é evitar que esses produtos vãoparar em córregos e rios, provo-cando enchentes. Os materiais queainda têm alguma serventia sãodoados para parceiros, como asCasas André Luiz. Os que não têm,acabam em aterros sanitários. Em2006, foram 444 operações Cata-Bagulhos que coletaram 13,2 miltoneladas de materiais.

Lâmpadas e computadoresAs lâmpadas fluorescentes –

cujo consumo foi estimulado du-rante o período do “apagão”, em2001, e foi incorporado ao hábitodos brasileiros – representam umperigo à saúde e ao meio ambien-te. Quando quebradas, liberamvapor de mercúrio – cada umacontém até 15 mg do metal pesa-do. Existem hoje, no Brasil, algu-mas empresas que fazem a recicla-gem das lâmpadas, retiram o vapore recuperam o mercúrio. Vidro,peças plásticas e soquetes de alu-mínio também são reaproveitados.Estas empresas cobram cerca deR$ 0,40 por lâmpada e têm comoclientes, em sua maioria, grandesusuários, como clubes e prefeitu-ras. Cerca de 70 milhões de lâm-padas são descartadas por ano noBrasil. Destas, apenas 5% são reci-cladas, segundo o Cempre.

Outro potencial perigo ambi-ental está ligado aos circuitos in-ternos de computadores. Umapesquisa desenvolvida pelo Depar-tamento de Engenharia Mecâni-ca da Unicamp apontou que oscomputadores têm sim resíduosperigosos (aqueles que, em fun-ção de suas propriedades quími-cas, físicas ou biológicas, possamapresentar riscos à saúde públicaou à qualidade do meio ambien-te) em sua composição. Os pes-quisadores da Unicamp analisaramas características físico-químicas doprocesso de lixiviação de placas decircuito impresso de computado-res. Os resultados apresentaram

índices de cádmio de 22 mg/litro(o limite é 0,5 mg/l pela normaNBR 10004) e 133 de chumbo (olimite é 5 mg/l). Segundo o pro-fessor Waldir A. Bizzo, um dos co-ordenadores da pesquisa, um com-putador é composto em 40% plás-tico, 37% de metais, 5% de disposi-tivos eletrônicos, 1% de borracha e17% de outros produtos. Deste to-tal, 94% são recuperáveis, com altopotencial de reciclagem. “Creioque, no futuro, a extração dos mi-nérios não será mais feita embaixo,mas em cima da terra. Vamos retiraros minérios na reciclagem, nos ater-ros sanitários”, prevê.

Solução passa por diálo-go amplo

Diante do jogo de interessesque cerca a regulamentação sobreResíduos de Equipamentos Elé-tricos e Eletrônicos (REEE), existeum debate que deverá nortear aforma como o Brasil vai abordar aquestão. Trata-se da escolha domodelo de responsabilidade sobreesses equipamentos após o con-sumo dos mesmos.

De acordo com a pesquisadoraAngela Cassia Rodrigues, que des-de 2002 acompanha o debate in-ternacional sobre o tema, existemhoje dois modelos que norteiamas políticas públicas internacionais:o da Responsabilidade Ampliadado Produtor (RAP) e a da GestãoCompartilhada, que se refere à res-ponsabilidade ampliada do produ-to. A primeira, RAP, responsabilizao produtor pelos resíduos eletro-eletrônicos e está em vigência naComunidade Européia. Já o con-ceito da Gestão Compartilhadanorteia o modelo de responsabili-dade pós-consumo dos EstadosUnidos, com divisão de responsa-bilidades pelos REEE entre pro-dutores, revendedores, consumi-dores e governos. Existe uma cren-ça, naquele país, de que o merca-do seja capaz de regular por si só aabsorção dos REEE no pós-con-sumo.

“Creio que o modelo de Res-ponsabilidade Ampliada do Pro-dutor é mais adequado, pois obri-ga o fabricante a repensar os pro-dutos e o próprio modelo de pro-dução, inclusive no que se refereà ampliação do tempo de vida útile à facilidade de reciclagem dosequipamentos”, afirma AngelaCassia. Para ela, “a gestão compar-tilhada atende aos interesses eco-nômicos dos produtores, no mo-mento em que, ao responsabilizartodo mundo, acaba promovendouma desresponsabilização genera-

lizada”.Ângela destaca ainda que a in-

fra-estrutura de coleta de resídu-os eletroeletrônicos é inexistentehoje no país. “A falta de uma le-gislação brasileira sobre os resídu-os eletroeletrônicos torna o paísfrágil tanto no cenário interno,diante do predomínio dos inte-resses exclusivos do setor produ-tivo, quanto no cenário internaci-onal, que pode ver na ausência deleis brasileiras sobre REEE umaoportunidade de usar o país comodepósito de resíduos pós-consu-mo”, afirma. A pesquisadora acre-dita que o primeiro passo para re-gulamentar a questão no Brasil é acriação de um grupo de trabalhosobre REEE no Conama (Con-selho Nacional do Meio Ambi-ente), seguida da instrumentaliza-ção da sociedade para o debate,por meio da divulgação de infor-mações e de campanhas de cons-cientização sobre o tema.

A Abinee (Associação Brasilei-ra da Indústria Elétrica e Eletrô-nica) defende a implantação dagestão compartilhada, onde as em-presas poderiam assumir a respon-sabilidade exclusivamente sobre oproduto que elas próprias fabri-cam. “A César o que é de César”,diz o vice-diretor de Meio Ambi-ente da Abinee, André Luis Sarai-va. Ele acredita que o conceitotake-back, por exemplo, não vai fun-cionar no Brasil, pelo menos nãocom as pessoas físicas. Ele acreditaque o perfil dos consumidoresbrasileiros é de posse e de apegopelos produtos.

O acesso amplo a informaçõespara que o consumidor possa setornar pró-ativo no debate sobreas questões que envolvem os resí-duos eletroeletrônicos é o quequer a socióloga Lisa Gunn, ge-rente de Informações do Idec (Ins-tituto de Defesa do Consumidor).Ela defende que os consumido-res devem se posicionar, pressio-nar os governos para a elaboraçãode políticas públicas e ao mesmotempo pressionar as empresas, li-gando para os SACs (Serviços deAtendimento ao Cliente), questi-onando como devem agir para darum destino correto aos seus equi-pamentos após o consumo. “Oproblema é gigante. Precisamossentar e conversar sobre as solu-ções”, afirma.

Um estudo realizado pela pes-quisadora Nívea Maria Reidler,professora da USP, sobre pilhas ebaterias, entre 1999 e 2001, apon-tou a total falta de comunicaçãoentre governo, setor produtivo, es-

pecialistas e população em geralsobre o tema. Para ela, a inexistên-cia de fiscalização e a carência deuma estrutura de coleta eficiente,amplamente divulgada e de fácilacesso à população deixam os con-sumidores com dúvidas generali-zadas sobre o que fazer com aspilhas e baterias após o consumo.“Se não há divulgação, não haveráconhecimento nem tampoucoconscientização. O que aconteceé justamente o contrário, as leis sãodiscutidas por grupos restritos eos interesses econômicos atrapa-lham a divulgação”. Ela defendecomo solução o estabelecimentode parcerias entre o poder públi-co e o setor produtivo, com o en-volvimento da população, para arealização de um sistema eficientee economicamente viável de ge-renciamento de resíduos.

Também é isso que defende doCempre (Compromisso Empresa-rial para Reciclagem). “Primeirotemos de criar canais para incen-tivar o empreendedorismo, comincentivos fiscais, para a prática dareciclagem”, defende André Vilhe-na, diretor-executivo do Cempre.“Tem de haver conscientização dapopulação e das prefeituras paraincorporar a reciclagem nos seusprocessos. É preciso ter escala parapoder reciclar. Dar subsídios nãoadianta”, defende. Ele acredita quea gestão compartilhada dos resí-duos entre governo, consumido-res e empresas é a única decisão.“Não dá para ser diferente”, diz.André Vilhena defende a valori-zação das cooperativas de recicla-gem na definição da responsabili-dade compartilhada e destaca quecada material tem suas caracterís-ticas. “Não dá para tratar lâmpadasfluorescentes como garrafas Pet”,exemplifica. Para ele, é preciso ga-rantir um fluxo de reciclagem,agregar valor à matéria-prima queserá gerada após a reciclagem eaumentar a escala deste processono âmbito nacional.

Nota do editor: Esta matériafoi produzida a partir da iniciativaindependente de jornalistas am-bientais membros da Rede Brasi-leira de Jornalistas Ambientais quefinanciaram com seus próprios re-cursos a elaboração de reportagensinvestigativas como esta. A REBIA– Rede Brasileira de InformaçãoAmbiental associou-se a este es-forço e divulga as reportagens naíntegra no www.portaldomeioambiente.org.br e aqui edi-tada para caber no espaço da Re-vista.

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esde a segunda quin-zena de maio, todos os309 quiosques da orlacarioca passaram a co-letar o óleo utilizado

em frituras e cozimentos. A cole-ta será realizada uma vez por se-mana e os quiosqueiros receberãoum valor por cada litro de mate-rial. “A Orla Rio é defensora dodesenvolvimento sustentável e, porisso, investimos em ações que mi-nimizem o impacto ambiental,como a coleta seletiva, a recicla-gem do lixo e, agora, o reuso doóleo”, afirmou o vice-presidenteda Orla Rio, João Marcello Barre-to.

Para realizar o serviço, a Orla Riofirmou uma parceria com a em-presa M.B.R. Comércio de Ma-teriais Recicláveis, que distri-buiu tonéis com capacidades dis-tintas para cada unidade. “A ex-pectativa é que recolhamos, inici-almente, entre 5 e 10 mil litros deóleo por mês”, afirmou o diretorda empresa, Maurício Braga Ro-

cha. Toda a produção será desti-nada à fabricação de sabão.

Alternativa - Os brasileiros uti-lizam, em média, três bilhões delitros de óleo por ano e a maiorparte do resíduo do produto édescartado no sistema de esgoto.O óleo é um dos mais agressivospoluidores do meio ambiente. Umlitro do detrito é capaz de conta-minar um milhão de litros de água.Por falta de campanhas educativasvoltadas para essa finalidade, a mai-oria dos cozinheiros e donas decasa costuma descartar o óleo uti-lizado em frituras nos ralos das piasda cozinha, causando dois gran-des problemas: o entupimento datubulação e a contaminação de riose mares. Uma das principais alter-nativas para reverter o problema éa reutilização do resíduo que, alémde reduzir o impacto ambiental,representa uma boa fonte de ren-da.

Além da produção de sabão,no Rio de Janeiro há empresasque recolhem o óleo utilizadopor bares e restaurantes paratransformá-lo em outros pro-dutos, como massa de vidracei-ro e até biodiesel. “Temos uma

frota de 30 veículos para fazer orecolhimento do óleo”, disse Mau-rício, que conta com o apoio decerca de 85 funcionários para aten-der mais de 1.200 estabelecimen-tos. A empresa possui uma centralem Caxias, onde o óleo recolhidopassa por um processo de decan-tação para, depois, ser vendido. Pormês, são recolhidos, em média, 450mil litros de resíduos pela M.B.R.

“É importante que o quios-queiro tenha alguns cuidados,como não despejar o óleo quentenos recipientes plásticos, e evitarque elementos sólidos sejam des-cartados junto ao óleo”, alertou odiretor. Além de beneficiar o meioambiente, a reutilização do óleode cozinha assegura um sabão demaior qualidade a custos reduzi-dos. A Fábrica de Sabão Neutraltambém faz a coleta do óleo emresidências. A orientação para doaro óleo é que o material seja arma-zenado em garrafas PET de doislitros. Quando três garrafas estive-

rem cheias, basta ligar para o Dis-que Óleo Vegetal para combinarum horário para retirada.

Nos grandes condomínios, tan-to a M.B.R. quanto a Neutral dis-ponibilizam galões para o armaze-namento. O valor arrecadado podeser revertido para as despesas bási-cas do condomínio, barateando ocusto do mesmo. Além de evitarlimpezas constantes em fossas ecaixas de gordura, o que tambémgera economia. Há ainda a possi-bilidade de se aproveitar o óleofazendo sabão caseiro.

Biodiesel – Há seis anos aCoppe/UFRJ desenvolve pesqui-sas para a utilização do óleo decozinha na produção do biodie-sel. Os próprios pesquisadores jáutilizam o combustível em seuscarros. Grande parte da frota deautomóveis da Prefeitura de In-daiatuba (SP) também já utiliza obiodiesel produzido a partir doóleo de cozinha. O combustívelrende 8,5 km por litro.

Educação Ambiental

Além de gerar lucro,medida ajuda a preservaro meio ambiente.

Quiosques coletarão óleo decozinha para reciclagem

Se você quer ajudar a preservar o meioambiente, garanta a reutilização do seu óleo decozinha:M.B.R. Comércio de Materiais Recicláveis(21) 3654-3128Disque Óleo Vegetal (Sabão Neutral)(21) 2260-3326 / 7827-9446 / 7827-9449

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Ecoleitura

O que é meio ambiente?onceituar o termo“meio ambiente” estálonge de ter somenterelevância acadêmica

ou teórica. O entendimento am-plo ou restr ito do conceitode-termina o alcance de políti-cas públicas, de ações empresari-ais e de iniciativas da sociedadecivil. No campo da avaliação deimpacto ambiental, define aabrangência dos estudos ambien-tais, das medidas mitigadoras oucompensatórias, dos planos e pro-gramas de gestão ambiental.

Nesse sentido, a interpretaçãolegal do conceito de “ambiente”é determinante na defi-nição doalcance dos instrumentos de pla-nejamento e gestão ambiental. Emmuitas jurisdições, os estudos deimpacto ambiental não são, naprática, limitados às reper-cussõesfísicas e ecológicas dos projetosde desenvolvimento, mas incluemtambém suas conseqüências nosplanos econômico, social e cul-tural. Tal entendimento faz bas-tante sentido quando se pensa queas repercussões de um projetopodem ir além de suas conseqü-ências ecológicas. Uma barragemque afete os movimentos migra-tórios de peixes poderá causaruma redução no estoque de es-pécies consumidas por popula-ções humanas locais ou captura-das para fims comerciais. Isso cer-tamente terá implicações para ascomunidades humanas, seu modode vida ou sua capacidadede obter renda. Trata-se, claramen-te, de impactos sociais e econô-micos que, de modo algum, de-veriam ser ignorados ou menos-prezados em um estudo ambien-tal dessa barragem. E o que dizerquando agricultores perdem suasterras ou mesmo casas para darlugar a uma represa? Não é ape-nas seu meio de subsistência queé afetado, mas o próprio local emque vivem, onde nasceram mui-tos dos habitantes e onde jazemseus ancestrais. O impacto da hi-potética barragem não inclui umamudança, possivelmente radical,sobre os modos de viver e fazerdessas pessoas? O que pensarquando as águas inundam os pon-tos de encontro da comunidade,

locais de lazer como praias fluvi-ais ou uma determinada curva dorio onde tem início uma procis-são fluvial que ocorre todos osanos? Trata-se, nesse exemplo, deum significativo impacto sobre acultura popular.

Algumas definições de meioambiente no mundo

BRASIL: “o conjunto decondições, leis, influências e in-terações de ordem física, químicae biológica, que permite, abrigae rege a vida em todas as suas for-mas” (Lei Federal n° 6.938, de 31de agosto de 1981, art. 3°, I).

CHILE: “o sistema globalconstituído por ele-mentos na-turais e artifIciais de natureza físi-ca, química ou biológica, socio-culturais e suas interações, empermanente modifIcação pelaação humana ou natural e querege e condiciona a existência edesenvolvimento da vida em suasmúltiplas manifesta-ções” (Ley deBases del Medio Ambiente nO19.300, de 3 de março de 1994,art. 2°, k).

CANADÁ: “significa os com-ponentes da Terra, e inclui (a) ter-ra, água e ar, incluindo todas ascamadas da atmosfera; (b) toda amatéria orgânica e inorgânica eorganismos vivos, e (c) os siste-mas naturais em interação queincluam componentes menciona-dos em (a) e (b)” (Canadian En-vironmental AssessmentAct (2) 1,sancionado em 23 de junho de1992).

HONG KONG: “(a) signifi-ca os componentes da terra; e (b)inclui (i) terra, água, ar e todas asca-madas da atmosfera; (ii) toda amatéria orgânica e inorgânica eorganismos vivos; e (iii) os siste-mas naturais em interação queincluam qualquer uma das coisasreferidas no subparágrafo (i) ou(ii)” (Environmental Impact As-sessment Ordinance, Schedule I,Interpretation, de 5 de fevereirode 1997).

Definições legais muitas vezesacabam por se revelar incomple-

tas, a ponto do termo nem mes-mo ser definido em muitas leis,dei-xando eventuais questiona-mentos para a interpretação dostribunais. O caráter múltiplo doconceito de ambiente não sópermite diferentes interpretações,como se reflete em uma varieda-de de termos correlatos ao demeio ambiente, oriundos de dis-tintas disciplinas e cunhados emdiferentes momentos históricos.O desenvolvimento da ciêncialevou a um conhecimento cadavez mais profundo da natureza,mas também produziu uma gran-de especialização não somentedos cientistas, mas também dosprofissionais formados nas univer-sidades. Por essa razão, o campode trabalho do planejamento egestão ambiental requer equipesmultidisciplinares (além de pro-fissionais capazes de inte-grar ascontribuições dos vários especi-alistas). As contribuições especi-alizadas aos estudos ambientaiscostumam ser divididas em trêsgrandes grupos, referidos comoo meio físico, o meio biótico e omeio antrópico, cada um delesagrupando o conheci-mento dediversas disciplinas afins.

Por um lado, ambiente é omeio de onde a sociedade extraios recursos essenciais à sobrevi-vência e os recursos demandadospelo processo de desenvolvimen-to socio-econômico. Esses recur-sos são geralmente denominadosnaturais. Por outro lado, o ambi-ente é também o meio de vida,de cuja integridade depende amanutenção de funções ecoló-gicas essenciais à vida. Desse modo,emergiu o conceito de recursoambiental, que se refere não maissomente à capacidade da nature-za de fornecer recursos físicos,mas também de prover serviços edesempenhar funções de supor-te à vida.

Até a primeira metade do sé-culo XX era quase universal ouso do termo recurso na-tural.Desenvolveram-se disciplinas es-pecializadas, como a Geografia dosRecursos Naturais e a Economiados Recursos Naturais. Implícitanesse conceito está uma concep-ção da natureza como fornece-dora de bens. No entanto, a

so-bre-explotação dos recursosnaturais desencadeia diversos pro-cessos de de-gradação ambiental,afetando a própria capacidade danatureza de prover os serviços efunções essenciais à vida

É nítido, então, que o concei-to de ambiente oscila entre doispólos - o pólo fornecedor derecursos e o pólo meio de vida,duas faces de uma só realidade.Ambiente não se define “somen-te como um meio a defender, aproteger, ou mesmo a conservarintacto, mas também como po-tencial de recursos que permiterenovar as formas mate-riais e so-ciais do desenvolvimento” (Go-dard, 1980, p. 7).

Assim, sob um ponto de vistaque, idealmente, coadune as vi-sões e contribuições das diversasdisciplinas para o campo do pla-nejamento e gestão ambiental,deve-se buscar entender o am-biente sob múltiplas acepções:não somente como uma coleçãode objetos e de relações entreeles, nem como algo externo aum sistema (a empresa, a cidade,a região, o projeto) e com o qualesse sistema interage, mas tam-bém como um conjunto de con-dições e limites que deve serconhecido, mapeado, interpreta-do -definido coletivamente, en-fim -, e dentro do qual evolui asociedade.

C

Artigo foi extraído em parte dolivro “Avaliação de impactoambiental – Conceitos emédodos”, de Luis EnriqueSánchez, publicado e editadopela Editora Oficina de Textos –[email protected].: (011) 3085-7933

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Entrevista: Alexandrina Saldanha Sobreira de Moura

O Fortalecimentoda ABEMA

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Por Etiene Ramos, paraREBIA*

Presidente da AssociaçãoBrasileira de EntidadesEstaduais de MeioAmbiente (Abema), pordois mandatos, de 2003 a2006, a cientista política eex-secretária executiva deMeio Ambiente dePernambuco, AlexandrinaSobreira, entrega o cargo,por eleição, ao presidentedo Instituto deDesenvolvimentoEconômico e MeioAmbiente do Rio Grandedo Norte (Idema), EugênioCunha. Nesta entrevista àRevista do Meio Ambiente,Alexandrina Sobreira fazum balanço das ações daAbema mostrando que ainstituição esteve presentenas discussões eproposições de diversostemas que envolvem omeio ambiente naperspectiva dodesenvolvimentosustentável. Retomandoseu trabalho comopesquisadora da FundaçãoJoaquim Nabuco, órgão doMinistério da Educação eCultura (MEC) emPernambuco, e comoprofessora daUniversidade Federal dePernambuco (UFPE),Alexandrina Sobreira falaainda dos seus planos,após a reeleição para maisum mandato de quatroanos, à frente do ConselhoNacional da Reserva daBiosfera da Caatinga,integrante do ProgramaMan and Biosphere (Mab),da Unesco.

EBIA: Qual o ba-lanço que você fazda Abema nessesquatro anos?

Alexandrina - Nesse perí-odo, a Abema tornou-se umareferência para o debate ambi-ental brasileiro. Ao desempe-nhar um papel crítico e propo-sitivo, articulou o fortalecimen-to do papel dos Estados, garan-tindo que as suas especificida-des constituíssem um recurso es-tratégico diante da tendênciacentralizadora do governo fe-deral. Escapando de uma lógi-ca linear da gestão pública, emque o passado explica o futuro,a Abema firmou o compromis-so de articular e realçar as ex-periências estaduais. Nesse pe-ríodo, o trabalho da Associaçãose caracterizou por uma inten-sa participação nos fóruns denatureza política e técnica, por-tando o firme posicionamentodos Estados. Por entender quepolíticas estaduais podem em-basar políticas nacionais, foramapresentadas propostas relativasa resíduos sólidos, biodiversida-de, controle de desertificação,aqüicultura, gestão florestal eapoiou, em seis estados os fó-runs de mudanças climáticas.

Além disso, enfatizou, divul-gando em fóruns nacionais e in-ternacionais, o papel dos instru-mentos de gestão adotados pe-los Estados, tais como o ICMSsocioambiental, o zoneamentoecológico e econômico, e os re-latórios de qualidade ambien-tal (até hoje devido pelo Mi-nistério do Meio Ambiente aopaís, apesar de constituir umaobrigação legal), que possibili-tam estabelecer mecanismos demonitoramento das políticasvis-à-vis às pressões exercidassobre os recursos naturais.

A Abema defendeu ainda oequilíbrio das agendas do gover-no federal em relação aos diver-sos biomas, tendo em vista a pre-ponderância de recursos volta-dos para a Amazônia e para aMata Atlântica. Além disso, aAbema, antes pautada pela agen-da normativa do Conama, am-

pliou parcerias com diversosMinistérios, com o setor empre-sarial com vistas à capacitaçãodos Órgãos Estaduais de MeioAmbiente (OEMAs)- com a As-sociação Nacional de ÓrgãosMunicipais de Meio Ambiente(Anamma), com os MinistériosPúblicos estaduais e com orga-nizações não-governamentais.

Essa interlocução, da qualparticiparam mais de 150 re-presentantes dos OEMAs, asse-gurou à Abema credibilidadeno debate político supraparti-dário e na formulação de pro-postas que firmaram a descen-tralização da gestão ambientalno país. No cenário internaci-onal, a Abema participou dediversos eventos na ComissãoEconômica para América La-tina e o Caribe (Cepal), na re-presentação da nrg4SD – Redede Governos Regionais para oDesenvolvimento Sustentável elevou delegações para as FeirasInternacionais de Meio Ambi-ente de Bilbao, em 2004 e 2006.

Participou, também, ativamen-te com o MMA e a ANAMMApara efetivar a CooperaçãoFranco-Brasileira relativa àsáreas protegidas. Some-se a es-sas inserções, a participação nasconvenções da ONU sobre Bi-odiversidade, Mudanças Climá-ticas e Desertificação.

Os Estados estão estru-turados para um projeto dedescentralização da gestãoambiental?

Há uma tendência para queessa descentralização seja efeti-va, embora os Estados não es-tejam estruturados de formamonolítica. Evidente está quehá Estados mais avançados doque outros.É preciso, todavia,fortalecer o federalismo ambi-ental, definindo com clareza arepartição de atribuições dosentes governamentais e que-brando a lógica centralizadorado governo federal. Creio quea governança dos Estados emmatéria ambiental vem se soli-dificando, por meio de instân-

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cias e instrumentos que garan-tem seu fortalecimento institu-cional. A Abema, nesses quatroanos, investiu na cooperaçãohorizontal entre os Estados, pormeio de um intercâmbio téc-nico entre os OEMAs, princi-palmente no contexto do licen-ciamento ambiental que nãopode ser ideologizado. Também,foi estabelecida uma coopera-ção para agilizar as Câmaras deCompensação Ambiental nosEstados. É preciso trabalhar paraque haja uma padronização deprocedimentos no Brasil.

Que outros temas têmsido recorrentes no debaterealizado pelos Estados?

A Abema manifestou pormeio de Cartas, elaboradas emcada encontro regional, o fir-me propósito de avaliar deman-das de interesse dos Estados emrelação ao governo federal. Cri-ticou a interferência das supe-rintendências Estaduais do Iba-ma nos processos de licencia-mento de competência dos Oe-mas, levando à judicializaçãodo licenciamento; a inoperân-

cia do Fundo de CompensaçãoAmbiental (que não chega a serlegalmente um Fundo) do Iba-ma, com apoio da Caixa Eco-nômica; criação de Unidadesde Conservação como instru-mento de intervenção territo-rial nos Estados. Além disso, aAbema registrou, em vár iasocasiões, a pulverização dos re-cursos do programa de Revi-talização do São Francisco e abaixa implementação do Pro-grama Nacional de Combate àDesertificação.

Que aspectos positivos fo-ram registrados pela Abe-ma ?

Em nossa última reunião de2006, foram consideradas comoiniciativas do MMA relevantespara os Estados: a criação daRede Nacional de Fundos So-cioambientais; a cooperaçãofranco-brasileira para áreas pro-tegidas; o início do programade capacitação para gestoresambientais e a continuidade doPNMA II – um dos poucos pro-gramas que incentiva a formu-lação e implementação de po-

líticas públicas, fortalecendo acapacidade operativa dos Esta-dos e dos municípios.

Como fica a Abema di-ante da renovação de maisda metade dos gestores es-taduais?

Este é um momento em quea Abema pode contribuir pararesgatar problemas e sugestõesque ganharam força nesses anos,ajudando os novos gestores a teruma base para os seus posicio-namentos. Principalmente, por-que, hoje, os desafios se apre-sentam numa escala de urgên-cia do governo federal retrata-dos nas mudanças no Ministé-rio do Meio Ambiente e noIbama , que acarretam um mo-mento de paralisia decisória., eno Plano de Aceleração doCrescimento (PAC) que termi-na contrapondo o meio ambi-ente ao desenvolvimento.

Reeleita para a presidên-cia do Conselho Nacionalda Reserva da Biosfera daCaatinga, quais os planospara a próxima gestão?

Essa é uma tarefa que ganha

centralidade quando é registra-da a forte tendência à desertifi-cação do planeta, tanto pelo ter-ceiro relatório do Painel Inter-nacional de Mudanças Climá-ticas (IPCC), quanto pelos es-tudos do Centro Hadley de Pes-quisa Climática do Reino Uni-do. O Conselho, uma vez queestá consolidado, precisa partirpara projetos que repercutamdiretamente nas comunidades.Criar mais postos avançados eampliar projetos que integrembiodiversidade, cultura e a eco-nomia da caatinga. No âmbitointernacional vamos liderar,com o apoio da Unesco, a for-mação da rede Internacional dasReservas das Biosferas das Re-giões Aridas e Semi-Áridas, su-gerida no I Seminário Inter-nacional de Reservas das Re-giões Áridas e Semi-áridas, co-ordenado pelo Conselho, em no-vembro passado, em Petrolina,sertão de Pernambuco.

* Etiene é jornalista - [email protected]

Entrevista

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Energia

Lula já aprovouconstrução de Angra 3

Opresidente Luiz InácioLula da Silva decidiutirar da gaveta o pro-jeto de construção da

Usina Nuclear Angra 3. A deci-são foi tomada há cerca de ummês, numa reunião realizada noPalácio do Planalto com a pre-sença de poucos ministros. Deci-dido a dar prioridade ao projeto,o presidente resolveu participarda reunião do Conselho Nacio-nal de Política Energética (CNPE),órgão deliberativo dos projetos deenergia, que debaterá a retomadada construção de Angra 3.

A reunião do CNPE ainda nãofoi marcada por causa de proble-mas na agenda de Lula, mas a ex-pectativa, segundo informou aoValor o ministro da Ciência e Tec-nologia, Sérgio Rezende, é queela aconteça em meados de ju-nho. O governo Lula vinha de-batendo o assunto desde 2003,mas em 2004 entrou em banho-maria por causa de resistênciaimposta pela então ministra dasMinas e Energia, Dilma Rousseff,hoje titular da Casa Civil.

Dilma resistia à idéia por causado elevado preço da energia nu-clear, mas acabou cedendo depoisde reconhecer que o Brasil pre-cisa ampliar urgentemente suamatriz energética e que, nestemomento, outras fontes alterna-tivas de energia consideradas pelogoverno estão com preços iguaisou superiores ao da energia nu-clear. Em junho de 2004, o presi-dente Lula determinou que ogoverno iniciasse a revisão doPrograma Nuclear Brasileiro, comvistas à retomada ou não dos pro-jetos de construção de usinas.

Essa revisão ficou pronta nofim do primeiro semestre de 2006,às vésperas, portanto, do início doprocesso eleitoral. Nessa ocasião,a ministra Dilma Rousseff já teriamudado de opinião, passando aapoiar a construção de Angra 3.Como se trata de um assuntopolêmico, o presidente Lula de-cidiu adiar a discussão para de-pois das eleições. Em janeiro desteano, o ministro Sérgio Rezende,um entusiasta de Angra 3, con-versou com Lula sobre o assuntoe participou de apresentação de-talhada do projeto à ministra-che-fe da Casa Civil.

Valor Online(21/05/2007 )

Em abril, poucos dias após aconclusão da reforma ministerial,foi a vez de o presidente Lulaconhecer em detalhes, numa reu-nião no Palácio do Planalto, quedurou cerca de três horas, o pro-jeto de Angra 3. O presidenteaprovou a proposta e recomen-dou imediatamente aos ministrosda área que bolassem uma formade se comunicar com a socieda-de sobre a retomada das usinasnucleares.

A preocupação de Lula é jus-tificável. Desde os acidentes dasusinas nucleares de Chernobyl, naantiga União Soviética, e de ThreeMiles Island, nos Estados Unidos,houve uma retração no ritmo deexpansão dessa forma de energia.Os baixos preços do petróleo ve-rificados na primeira metade dosanos 90 também contribuírampara essa retração. No início des-ta década, no entanto, a situaçãoinverteu-se. Preocupações com asmudanças climáticas e a explosãodos preços do petróleo coloca-ram a energia nuclear novamenteem pauta.

Neste momento, segundo aAgência Internacional de Ener-gia Atômica (AIEA), dez paísesestão construindo 24 usinas nu-cleares (ver tabela). A descobertados danos à camada de ozônio, oprotocolo de Kyoto, a mudançade posição de ambientalistas derenome como James Lovelock,autor da Teoria de Gaia, e a dis-parada do preço do petróleomudaram bastante o cenário.Hoje, se fala na Renascença daárea nuclear , diz relatório elabo-rado pela Comissão Nacional deEnergia Nuclear (CNEN), órgãoligado ao Ministério da Ciência eTecnologia.

No governo Lula, a oposiçãoremanescente ao projeto é daministra do Meio Ambiente, Ma-rina Silva. Em janeiro de 2007, emNairóbi, a Organização para aCooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) apresentoua energia nuclear como uma dasfontes que menos contribuempara o efeito estufa. Na geraçãode um megawatt, ao longo de umano, uma termelétrica de carvãolibera na atmosfera cinco mil qui-los de CO2, SO2 (dióxido deenxofre, a origem da chuva áci-

da), cinzas e metais pesados; umausina de óleo produz quatro mile oitocentos quilos e a de gásnatural dois mil e quatrocentosquilos. Os resíduos liberados paraa atmosfera de uma usina nuclearsomam 23 quilos, no mesmo pe-ríodo, sendo que apenas um qui-lo de resíduos de alta atividade.

O projeto de construção dausina Angra 3, orçado em cercade R$ 7,2 bilhões, prevê o iníciode funcionamento no fim de2012. Hoje, a energia nuclear re-presenta apenas 1,5% da matrizenergética brasileira. Com Angra3, pode aumentar para algo entre4% a 5% em 20 anos.

Na reunião do CNPE, o pre-sidente da Eletronuclear, almiran-te Othon Pinheiro Silva, apresen-tará também a proposta de arma-zenamento dos rejeitos nucleares,o principal óbice levantado pe-los ambientalistas na oposição àconstrução de novas usinas nu-cleares. Em linhas gerais, a idéia épromover licitações para que osmunicípios interessados em abri-gar esses armazéns recebam recur-sos federais em troca. A expecta-tiva é que municípios do semi-árido nordestino se disponham areceber contêineres blindadoscom os rejeitos em troca de re-cursos financeiros.

Hoje há mais de 100 depósi-tos em operação no mundo, semque se tenham notícias de pro-blemas de maior gravidade.

O projeto do governo prevêum índice de nacionalização de70% em Angra 3. Os principaiscomponentes já foram compra-dos, ao custo aproximado de US$750 milhões (cerca de R$ 1,5 bi-lhão). Para tentar dobrar a animo-sidade dos ambientalistas, o go-verno está se cercando de cui-dados quanto à segurança. A usi-na terá uma espécie de couraçacapaz de resistir ao choque de umavião grande.

Os defensores da instalaçãode novas usinas nucleares defen-dem a reativação do programacomo uma forma de o país nãoperder o passo tecnológico. OBrasil já domina o ciclo de en-riquecimento do urânio natural- programa desenvolvido pelaMarinha - e tem reservas aferi-das de urânio de 310 mil tone-ladas estocadas e de cerca demais de 800 mil toneladas esti-madas. É a sexta maior reservacomprovada do planeta, masentre os cientistas há convicçãode que pesquisas mais apuradaspodem brasileiro, mas a decisãodo governo é de não exportarurânio natural.

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CÓDIGO DE ÉTICA DOS ÍNDIOS NORTE AMERICANOS

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Unidades de Conservação

Série 70 anos dos Parques Nacionais: arotina dos profissionais que trabalhamnas unidades de conservação

Em junho, o Brasil co-memora os 70 anos deseu primeiro ParqueNacional, o Itatiaia.

Segundo o IBAMA, ao todo, nopaís, existem atualmente 62 uni-dades de conservação desta cate-goria. Insuficiente, do ponto devista ecológico, para garantir aconservação da imensa biodiver-sidade brasileira, mas representantede histórias de dedicação e es-forço pela proteção do maiorpatrimônio ambiental brasileiro,como as dos profissionais que atu-am nos parques nacionais. Em suarotina, estão presentes alguns dosmaiores desafios e também dasmelhores conquistas da conser-vação da natureza.

Cada parque conta com umnúmero diferente de pessoas tra-balhando no local, entre chefe daunidade, guarda-parques e outrosfuncionários ou voluntários. Se-gundo o Ibama, o Parque Nacio-nal do Iguaçu, por exemplo, tem18 profissionais atuando na pre-servação da área de mais de 169mil hectares.

O Parque Nacional do Mon-te Roraima, localizado no extre-mo norte do país, conta com ape-nas um funcionário, em uma áreatotal de mais de 117 mil hectares,sendo que a situação fundiárianão está regularizada. Já o ParqueNacional da Amazônia, com umaárea de 945 mil hectares – maisde oito vezes maior que o Par-que Nacional do Monte Rorai-ma – também tem apenas umfuncionário. Isso reflete a situa-ção dos parques nacionais brasi-

Atualmente, há 62 Parques Nacionais no Brasil. Cuidar deste patrimônio é um grande desafio, ao qual se dedicamcentenas de profissionais cujo trabalho é garantir a integridade das unidades de conservação brasileiras.

leiros e indica o grau de dedica-ção que esses profissionais preci-sam oferecer para garantir que asáreas cumpram minimamente suasfunções de proteção à biodiver-sidade local.

Em 13 anos de atuação comoguarda-parque no Parque Naci-onal da Serra da Capivara, Gasparda Silva Alencar passou por mui-tas dificuldades. No início, em1991, havia apenas quatro pessoaspara tomar conta de toda a área,aproximadamente 100 mil hecta-res. O grupo contou com a ajudade um ex-caçador para treiná-los,aprenderam a “leitura da selva” –como ele mesmo chamou – efaziam a ronda a pé, a cavalo e decarro. Apenas em dezembro de1996, cinco anos depois, com aajuda da Fundação Museu doHomem Americano, foram con-tratados mais guarda-parques, de-vido ao aumento da caça na épocado Natal. Estes novos profissio-nais eram, em grande maioria, ex-caçadores que já conheciam astrilhas e a floresta. Para iniciar otrabalho como guarda-parque,passavam por um treinamentopara entender a necessidade daconservação da natureza. “O fa-tor educacional e cultural de caça,a resistência de assimilar a novaótica de conservação e a falta deapoio das autoridades sempre di-ficultaram muito o trabalho. Po-rém, tenho muito orgulho de vera transformação de ex-caçadoresem conservacionistas, e não ape-nas pelo dinheiro, mas pelo res-peito à natureza”, diz Alencar.

O Parque Nacional das Emas

foi criado por decreto em janei-ro de 1961, mas inaugurado ofi-cialmente apenas em outubro de1966. Antonio Malheiros, que tra-balhou neste parque por mais de30 anos, contou que chegou aolocal em maio de 1961, e encon-trou uma imensidão de Cerradosem propriedade, porém ocupa-do por diversos fazendeiros queutilizavam a área para a explora-ção da pecuária. Em 1962, con-seguiram veículos para iniciar ademarcação da área e tomar pos-se. “Aí, começou a luta!”, lembraMalheiros. Ao longo do tempo,com muita conversa e “política deboa vizinhança”, o grupo conse-guiu o apoio dos fazendeiros lo-cais.

Entretanto, com a evoluçãodas técnicas de agricultura, mui-tas pessoas migraram de diversasregiões do país ao Cerrado, como objetivo de conseguir um pe-daço de terra para plantar milho,arroz e, ao longo dos anos, soja.Malheiros conta que muitas pes-soas visitavam o parque – algunspara conhecer as belezas natu-rais, outros para conhecer as ter-ras com más intenções. “O mai-or problema não é só a planta-ção em si, mas o uso de agrotó-xicos na região, que contaminamtoda a área, inclusive os rios; alémdisso, com a transformação dosolo, muitas espécies acabammorrendo” explica Malheiros.Como não havia muitas pessoastrabalhando na preservação doParque Nacional das Emas, Ma-lheiros – então já chefe do par-que – certo que precisava de mais

ajuda, buscou o apoio de algu-mas universidades, para estimulara visitação de alunos. “Terra va-zia é terra sem dono. Às vezes,eu era chefe de mim mesmo”,comenta.

No Brasil, ainda há muitos de-safios para que um parque naci-onal cumpra sua função princi-pal de preservar os ecossistemasnaturais. Exploração, caça preda-tória, moradias irregulares, garim-po, tráfico de animais, parquesabandonados são alguns deles.Os profissionais que se dedicama essas áreas conhecem essas di-ficuldades e algumas outras,como o isolamento, ameaças, faltade equipe e materiais. No en-tanto, no testemunho dos que jáviveram essa história prevalecemo amor e a saudade. “A vida noparque era muito difícil. A gentetrabalhava sábado, domingo eferiado, não tinha descanso. Se-ria preciso muito mais gente pracuidar do parque, mas já que nãotinha, a gente fazia de tudo, poramor à causa”, relembra Malhei-ros. Em meio a tantas ameaças àproteção da biodiversidade bra-sileira, a atuação dos guarda-par-ques e de todos os outros pro-fissionais que atuam em um par-que nacional se torna fundamen-tal para que a conservação danatureza seja efetivamente cum-prida.

Fonte: Informativo da Funda-ção O Boticário de Proteção àNatureza - http://www.fundacaoboticario.org.br

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onólitos, inselbergs ouserrotes, segundo co-nhecidos geólogos, sãopedras de grandes di-

mensões, enormes blocos escul-pidos pela força da natureza aolongo dos tempos. No Brasil te-mos monólitos internacionalmen-te famosos, como os morros depedra do Corcovado e do Pão deAçúcar, na cidade do Rio de Ja-neiro, e do Dedo de Deus, emTeresópolis. Mas o privilégio des-sas notáveis formações rochosasnão fica apenas com o Estado doRio, pois podem ser encontradostambém no Ceará, nas imediaçõesda cidade de Quixadá, em plenosertão, monólitos igualmente fa-mosos, dentre os quais o maisimportante de todos é o morro

Ecoleitura

Bichos de pedra: um marcoda caatinga cearense

Mdenominado Galinha Choca, quelembra uma galinha chocandoseus ovos.

O escritor, arquiteto, ambien-talista e fotógrafo, Miguel vonBehr oferece, em seu novo livro“Quixadá – Terra dos Monólitos”,um verdadeiro festival de descri-ções e fotos desses arranha-céusde pedra, localizados em plenacaatinga cearense. Segundo o au-tor, “os monólitos são a marca dacidade de Quixadá, blocos rocho-sos sobreviventes ao desgaste doclima de estações marcadas, quan-do os ventos, as chuvas curtas eas secas prolongadas esculpiram asformações rochosas”. Quixadá,com seus 46 mil habitantes na Ci-dade e 23 mil moradores na árearural, tem seu símbolo maior — a

A Pedra da Galinha Choca é a principal atração do conjunto paisagístico dos serrotes de Quixadá. São tantas e variadas as manifestaçõesrochosas dessa área, que Quixadá é conhecida por ‘Vale dos Bichos de Pedra’, pois quase todos os morros de pedra reproduzem as formas deconhecidos animais.

Pedra da Galinha Choca — in-crustado na Praça Dr. Levi, obrado escultor Marcos Marques.

“Quixadá – Terra dos Monó-litos” é o segundo volume do seloeditorial ‘Ecossistemas Brasileiros’,criação de Miguel von Behr. Oprimeiro foi “Jalapão – Sertão dasÁguas”, um lançamento da So-mos Editora, de São José dos Cam-pos. É patrocinado pela Petrobras,com apoio da Prefeitura Munici-pal de Quixadá, Caixa Econômi-ca Federal, Fundo de Amparo aoTrabalhador, Ministério do Traba-lho e Emprego, Ministério daCultura e Ibama.

O autor - Morando atualmen-te em Alto Paraíso de Goiás (GO),Miguel von Behr (50) é arquite-to, escritor, ambientalista e Mes-

tre em Planejamento Urbano. Ex-periente fotógrafo, é o autor dasfotos de todos os seus livros. Atu-almente lotado no Parque Nacio-nal da Chapada dos Veadeiros, tra-balha desde 1982 no Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis(Ibama), com criação e implanta-ção de unidades de conservação,planejamento urbano e meio am-biente, tendo trabalhado tambémcom populações tradicionais, taiscomo, dentre outros, seringueirose pescadores artesanais.

Mais informações:Somos Editorasomos.editora @terra.com.br(12) 3942-2336 e 3922-6694

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governador Sérgio Ca-bral enviou semana pas-sada para a AssembléiaLegislativa do Estado do

Rio de Janeiro, em regime de ur-gência, um projeto de lei (PL) nº383/2007 alterando a Lei Estadual4063/2003.

A lei 4063/2003 determinava arealização de zoneamento ecológi-co-econômico no estado, com aparticipação da sociedade civil, econdicionava a introdução de mo-noculturas em larga escala à elabo-ração prévia do mesmo, sendo queos proponentes dos projetos demonocultura deveriam dividir como poder público os custos de ela-boração do zoneamento nas regi-ões onde objetivassem se instalar.

Condicionava ainda a liberaçãodo plantio das monoculturas ao li-cenciamento ambiental e ao plan-tio de espécies nativas em 30% daárea plantada ou 10% se já houvesse20% de reserva legal na proprieda-de. Estabelecia também regras paraa proteção de nascentes e rios, proi-bindo o plantio em suas margens.A lei, de autoria do então deputa-do Carlos Minc, atual secretário deMeio Ambiente, visava proteger asociedade fluminense dos impactosambientais negativos da monocul-tura, comprovados mundialmenteatravés de inúmeros estudos cientí-ficos que apontam a destruição cau-sada pelas grandes monoculturas so-bre a biodiversidade (eliminação deespécies animais e vegetais), os solos(erosão e perda de fertilidade), osrios e demais cursos d´água (assore-amento, poluição por agrotóxicos,diminuição da vazão e ressecamen-to). A lei representava um grandeavanço em termos de preservaçãoambiental e qualidade de vida para apopulação.

O projeto de Lei enviado pelogovernador Sérgio Cabral altera osprocedimentos relativos à implemen-tação do zoneamento ecológico-econômico, eliminando a obrigato-riedade dos proponentes dos pro-jetos de monocultura de dividir oscustos da realização do mesmo como poder público, passando todo oônus para o Estado. Uma primeirapergunta se impõe aos proponen-

Uma Opinião: Deserto Verde

Cabral e odeserto verde

O

Por Dr. Carlos WalterPorto-Gonçalves – UFFe Dr. Paulo RobertoRaposo Alentejano -UERJ

tes do atual projeto: que segurançapode ter a população do Rio deJaneiro diante de um Legislativo queaprova uma lei envolvendo cultivode espécies que necessariamenteexigem um prazo de cinco a seteanos para crescer, sem que sequeresse tempo tenha transcorrido paraque o projeto tenha sido implemen-tado? Que fatos novos ocorreramde 2003, quando a atual lei foi apro-vada, até hoje para que o Executivoproponha uma nova lei? Que papeltem o atual Secretário de Meio Am-biente, Sr. Carlos Minc, que tanto seempenhou junto à sociedade civilpara aprovar a atual lei, na elabora-ção do projeto ora proposto peloExecutivo, quando se sabe que a atu-al lei sequer teve seus procedimen-tos implementados? Talvez o fatodo atual projeto do governador in-troduzir uma referência exclusivaà silvicultura, como se essa mono-cultura fosse menos danosa queoutras, possa nos esclarecer os ver-dadeiros motivos do pedido de ur-gência na sua tramitação. E mais,por que o PL 383/2007 eliminasomente para a silvicultura a con-trapartida prevista na Lei 4063/2003 que obriga empreendimen-tos de monocultura a plantar oumanter o equivalente a 30% da áreacultivada com mata nativa? Comisso evidencia-se a verdadeira in-tenção do projeto, qual seja, a li-beração acelerada dos grandes pro-jetos de silvicultura no estado, oque ainda fica mais evidente quan-do se observa a incongruênciaentre o Parágrafo Único do Arti-go 7º e seu caput, pois, enquantoo caput estabelece a obrigatorie-dade do zoneamento da regiãopara a liberação da monoculturaem larga escala, o Parágrafo Únicodiz que enquanto o zoneamentonão for realizado valem as regrascontidas no PL 383/2007. Ou seja,na prática elimina-se a necessida-de do zoneamento para os proje-tos de silvicultura. Mas por quetodas essas benesses para o setor dasilvicultura? A resposta para isso tal-vez possa ser encontrada nas nego-ciações em curso, coordenadas peloSecretário Julio Bueno, cuja traje-tória política e empresarial se fezno vizinho estado do Espírito San-to, e que busca viabilizar a entradada empresa Aracruz Celulose no Riode Janeiro.

Antecipando-se ao zoneamentoecológico-econômico, o PL divideo estado em 10 regiões hidrográficas,para as quais, em alguns casos, elimi-

na a necessidade de licenciamentoambiental, mantendo a necessidadede EIA-RIMA (Estudo e Relatóriode Impacto Ambiental) apenas paraas áreas superiores a 250 ha.

Desta forma, o PL, 383/2007 aocontrário do que está escrito namensagem de envio do mesmo, nãorepresentará qualquer melhoria paraa população do estado “preservan-do a Mata Atlântica, a agriculturafamiliar, garantindo o suprimento demadeira, o desenvolvimento regio-nal, combatendo a desertificação ea degradação ambiental”.

Pelo contrário, o que o PL 383/2007 proporciona são facilidadespara a implantação da silvicultura emlarga escala, em consonância com osinteresses das grandes empresas depapel e celulose. Além da evidentepromiscuidade de interesses entreEstado e capital privado, é precisoobservar as falácias contidas no dis-curso do desenvolvimento queacompanha esta iniciativa. Basta ob-servar alguns números para desmon-tar estes argumentos:

1. O eucalipto enquanto opçãoeconômica é uma péssima alterna-tiva, como mostra o quadro abaixo:

2. O fomento florestal, através doqual são firmados contratos de for-necimento entre o produtor e umadeterminada empresa representauma forma de monopolização, poiso agricultor tem apenas uma opçãode comprador. Além disso, nos con-tratos de fomento florestal a em-presa fornece as mudas, o adubo, oformicida e a assistência técnica paradesenvolver as plantações, represen-tando uma forma de “assalariamen-to disfarçado”, com a desvantagemdo produtor rural assumir inteira-mente os riscos da produção agrí-cola e não receber nenhum bene-fício social.

3. A cotação da polpa de celulo-se no mercado mundial alcança hojecerca de US$ 500,00 por tonelada.Estimando-se serem necessários 4metros cúbicos de madeira para pro-duzir 1 (uma) tonelada de celulose,e considerando-se o preço atual-mente pago ao produtor - R$28,00/m3, temos que a indústria de-sembolsa R$ 112,00 para adquirir ma-téria-prima suficiente para produzirR$ 1.800 (1 tonelada de celulose).Ou seja, a agricultura participa comapenas 6% do valor alcançado peloproduto processado, sendo este pre-ço 16 vezes maior que o valor doproduto primário.

4. Enquanto que 1 hectare nafruticultura pode gerar 10 empre-

gos, a monocultura de eucalipto geraum emprego para cada 183 hecta-res e ao custo de R$ 1.200.000,00de investimento. Enquanto isso, nosassentamentos de Reforma Agrária,os maiores lotes do Estado do Riode Janeiro têm cerca de 17 hectarespara o sustento de uma família a umcusto médio, incluindo investimen-tos governamentais, inferior a R$100.000,00.

Podemos imaginar um triste ce-nário de êxodo rural com a ocupa-ção maciça desta monocultura emuma determinada região.

5. O eucalipto é uma das espéci-es de crescimento mais acelerado,para isso, é necessário o consumode grandes quantidades de água enutrientes, tais como o potássio emagnésio. Em áreas já degradadas,plantios homogêneos podem levarà completa exaustão do solo. Omonocultivo pode afetar tambémmananciais de água, além de rebai-xamento de lençol freático. Estudopublicado em 1997 na revista Sci-ence, uma das mais conceituadas domundo, afirma que a monoculturade eucalipto reduz o fluxo fluvialem 52% e que 13% dos rios secamcompletamente em um ano. Mes-mo após a erradicação do monocul-tivo o retorno pleno da descarga flu-vial dura mais de 5 anos. Qual o im-pacto ambiental desse projeto de lei?

6. Os plantios industriais, quan-do se instalam, dependem da apli-cação de grandes quantidades deherbicidas, provocando graves im-pactos no meio hídrico, na fauna enos trabalhadores que os aplicam.

7. Qualquer atividade agrícolatem um nível de perturbação noecossistema. Sabemos que as mo-noculturas causam consideráveisimpactos ambientais. No caso damonocultura de eucalipto, há umaforte limitação à presença da fau-na, uma vez que não existem fru-tos. Também é difícil o consórciocom outras culturas ou outras es-pécies vegetais graças aos efeitostóxicos de substâncias emitidaspela árvore (alelopatia).

Por todas estas razões, alertamosa sociedade que a aprovação doPL 383/2007 representará sériosriscos de formação de um verda-deiro deserto verde no estado doRio de Janeiro, em detrimento daReforma Agrária, da produção dealimentos em sistemas familiaresdiversificados e ecológicos, da re-cuperação dos ecossistemas ame-açados, das águas, das economiasregionais e da vida.

Será que o governadorCabral e seu Secretário deMeio Ambiente queremficar para a história comocriador de desertos no Riode Janeiro?

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Aracruz Celuloseprovocou um desas-tre ecológico e soci-al no Espírito Santo,

transformando áreas de MataAtlântica e de produção de ali-mentos em monoculturas deeucalipto. Este processo gerouforte reação local e nacional queculminou com a criação do mo-vimento contra o “deserto –verde”;

2. No Rio de Janeiro, houvea polêmica, com setores empre-sariais, governamentais (incluin-do algumas prefeituras) comple-tamente favoráveis à vinda daAracruz e eucaliptos sem restri-ções, e os ambientalistas total-mente contrários;

3. Discutindo com todas aspartes, incluindo engenheirosflorestais, contrários à proibição,assim como trabalhadores da in-dústria de móveis e até de as-sentamentos rurais que preten-diam plantar eucalipto comocomplemento de renda e paranão desmatar a Mata Atlânticapara suprir necessidade de ma-deira, elaboramos a Lei 4063 de2003. Até porque o problemanão é a árvore, mas o modo deprodução; ou teremos uma vi-são maniqueísta das espécies;

4. Esta lei não proíbe, cria res-trições, impõe como condiçãoprévia o zoneamento ecológicoeconômico e , entre outras obri-gações, determina que se repo-nha 30% de espécies de MataAtlântica para cada 100 eucalip-tos (ou outra monocultura flo-restal) plantados;

5. Depois da grita nacional,houve mudanças legais e nas prá-ticas econômicas da silviculturaeconômica, incluindo eucalip-tos. Outros estados fizeram leismenos restritivas do que a doRio e houve empreendimentosem Minas e em São Paulo. NoRio praticamente não houveempreendimentos, o que nãoera o intuito da lei;

6. No Conselho de Desen-volvimento Econômico do govSérgio Cabral, os secretários deAgricultura e de Desenvolvi-mento Econômico defenderama total modificação da lei, tor-nando-a idêntica a dos outrosestados, para evitar a desvanta-

gem comparativa;7. Com apoio dos secretários

de Trabalho e de Ciência e Tec-nologia defendemos um enfo-que com o tratamento regiona-lizado, para preservar áreas deMata Atlântica e produção dealimentos e permitir o plantio,com cuidados, nas regiões queestão desertificadas, como osmunicípios do Noroeste flumi-nense;

8. O Rio tem 18 municípiosonde o semi-árido avança, em torno de Itaocara, Santo Anto-nio de Pádua, Carmo, Itaperu-na, mais ao norte em Porciún-cula e em algumas áreas do Valedo Paraíba, entre Quatis e Riodas Flores. Aí temos areais, vo-çorocas, cactos, lagartixas, riossecando, agricultura morrendo,população migrando aumentan-do o congestionamento e a vi-olência na Região Metropolita-na. É o Deserto Cinza. Nestasáreas a plantação de eucaliptos,mesmo com contrapartida de12%, 16% e 20%, é um avançoambiental em relação à situaçãoatual, além de diminuir o êxodoe criar uma alternativa ao usode madeira, preservando os re-manescentes da Mata Atlântica.Cabe também um movimentocontra o Deserto Cinza, ou sejadeserto propriamente dito, quejá é realidade em várias regiões;

9. Formou-se um grupo detrabalho com as cinco secreta-rias, com participação de AndréIlha, de Yara Valverde do IEF, ou-vido Axel Grael, presidente daFeema que também é engenhei-ro florestal. Depois de várias ro-dadas, chegou-se ao PL que ogoverno enviou à Alerj, em quecabem emendas, audiências pú-blicas, discussões nas comissões.Note-se que o Parlamento é oespaço democrático de discus-são e aperfeiçoamento das leis;

10. Este novo PL substitui alei anterior e não é de minhaautoria, mas pactuado por diver-sas forças do governo. É dife-rente das outras leis estaduaisporque introduz o tratamentodiferencial por regiões. Em al-gumas, p.ex. a região da Baía daIlha Grande, Angra, Paraty eMangaratiba, o plantio é veda-do; portanto sendo muito mais

restritiva do que a lei vigente.Em outras, são mantidas restri-ções diferenciadas, segundo ocritério de altitude – regiõesonde a Mata Atlântica é con-centrada em áreas altas, e segun-do o critério de grande ou pe-quena produção; são mantidasnecessidades de reflorestamen-to com espécies nativas (o quecontraria a posição inicial dosque queriam legislação idênticaa de S. Paulo, que não tem estacondicionante), mas em níveisvariáveis de 12% , 16% e 20% -reserva legal;

11. Este novo PL atenua a pré-condição do zoneamento pré-vio, mas assegura que, uma vez existindo o ZEE , ele terá a pri-mazia do que será ou não per-mitido por regiões. A Secretariade Estado do Ambiente criouum grupo de trabalho para rea-lizar o ZEE, garantiu recursos doFecam, articulou apoio da Em-brapa e do IBGE, e pretende-mos realizá-lo no segundo se-mestre de 2007, inclusive sub-metê-lo a audiências públicas,como este novo PL determina.Assim que, eventuais distorçõesneste e em vários outros casos,incluindo a expansão da cana deaçúcar para produção de etanol,áreas para oleaginosas para a pro-dução de biodiesel, terão crité-rios definidos no ZEE. Umaidéia forte é complementar eu-calipto ou outra silvicultura eco-nômica com oleaginosas, segun-

do estudos de solo e de arran-jos produtivos locais;

12. Agrega que a Secretaria doAmbiente tem um grande pro-jeto de corredores florestais,mosaicos de unidades de con-servação e reflorestamento de 20milhões de árvores de espéciesnativas. No dia 2 de fevereiro,dobramos a área protegida doParque Estadual da Ilha Gran-de, com o apoio de ecologistasda região,de 5,5 mil ha para 12mil ha. No dia 22 de março, cri-amos a APA Guandu, ouvido ocomitê de Bacia do Rio Guan-du com 72 mil ha. Aí começaráeste ano a ser implantado o par-que linear do Guandu com oplantio de 1 milhão de árvores.Em torno da Apa Guapimirim,serão plantadas 3,6 milhões deárvores de espécies nativas, fe-chando o corredor até a Serrada Estrela, em Petrópolis, comocompensação do Comperj –Petrobrás. Na Apa do rio Maca-cu, criada por outra lei nossa,serão plantadas 2 milhões de ár-vores, numa compensação deÁguas de Niterói à Cedae. Fe-charemos o Arco do Pan , linhaverde ligando a Floresta da Ti-juca ao Parque da Pedra Branca.Fecharemos o corredor Bocai-na-Tinguá, com RPPNs, APASmunicipais e parques estaduais.

* Secretário do Ambiente doEstado do Rio de Janeiro.

Outra Opinião: Deserto Verde

Eucaliptos, desertos ezoneamento ecológicoe econômico

Por Por Carlos Minc*

A

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26 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 008 - JUNHO - 2007

Água

Transposição, umpresente de grego

Ciro Gomes, em 26 deabril de 2007, de for-ma truculenta e arro-gante, defendeu o

projeto de Transposição das Águasdo Rio São Francisco, em BeloHorizonte, na Assembléia Legis-lativa. O tiro saiu pela culatra. Aimprensa mineira divulgou nosdias seguintes e truculência e odestempero de Ciro Gomes quede forma desrespeitosa atacou obispo dom Luiz Flávio Cappio eo professor João Abner Guima-rães Júnior. Muita gente que as-sistiu ao pronunciamento de CiroGomes pela TV Assembléia ex-clamou: “Nossa, que homem tru-culento e arrogante”.

De 3 a 5 de maio de 2007, JoãoAbner Guimarães -doutor emRecursos Hídricos e professor daUniversidade Federal do RioGrande do Norte- esteve em BeloHorizonte a convite do D.A. deEngenharia da UFMG e da Co-missão Pastoral da Terra. Abner fezpalestras e participou de debatesna Assembléia Legislativa de Mi-nas Gerais (com parcial transmis-são pela TV Assembléia para 350cidades), na UFMG, na PUC Mi-nas, na Faculdade Dom HélderCâmara (manhã e noite), na Es-cola Estadual Helena Guerra, noAuditório da Livraria das IrmãsPaulinas; concedeu entrevistaspara a Rádio Favela, Rádio BandNews, Rádio CBN, Rádio Itati-aia, Rede Abraço de Rádios Co-munitárias, TV Comunitária, TVBand News, Jornal Opinião, OLutador e pequenos jornais.

Por Frei GilvanderMoreira, deBelo Horizonte [email protected]

O professor Abner cativou ummar de gente. Pessoa simples,muito competente, um verdadei-ro intelectual orgânico que estácolocando sua competência téc-nica a serviço da defesa da vidado Rio São Francisco, do povode toda a bacia sanfranciscana edo Nordeste. De forma didáticae pedagógica, Abner demonstraque o projeto de Transposição doRio São Franciscoe -eufemistica-mente chamado de “Projeto deIntegração de bacias”- é um pre-sente de grego, uma farsa, umaenganação, é a sofisticação da in-dústria da seca, é chover no mo-lhado. Ele demonstra que o pro-jeto não é necessário, pois o Nor-deste não precisa de importarágua. Precisa sim é de uma refor-ma hídrica eficiente. Precisa deum projeto de Convivência como semi-árido que passa pelas 530obras defendidas pela AgênciaNacional de Águas (ANA) noAtlas Nordeste. Implica terminarcentenas de obras inacabadas emmais de 100 anos de obras da in-dústria da seca. No Nordeste exis-tem 70 mil açudes, o maior pro-grama de açudagem do mundo.Há 400 grandes barragens. É ur-gente construir adutoras com ca-pilaridade capaz de democratizaro acesso à água existente no Nor-deste. Construir barragens subter-râneas, mandalas, desprivatizar70% dos açudes que estão priva-tizados.

As águas da Transposição, sechegar ao Nordeste Setentrional,cairão em grandes rios já pereni-

zados -Piranhas-açu e Jaguaribe-pelas maiores barragens da região.Dessa forma a transposição quasenão será notada. E, apesar dosgrandes investimentos governa-mentais durante muitos anos, aproblemática da seca deverá seagravar - o orçamento da trans-posição de um R$ 1 bilhão porano deverá concorrer, durantemuitos anos, com todos os pro-gramas governamentais no Nor-deste de cunho verdadeiramentesocial.

O projeto encontra-se na con-tramão da história, desconhece agrande infra-estrutura hídrica daregião suficiente para atender ple-namente as demandas atuais e asfuturas, num cenário de desen-volvimento sustentável. O Cearátem disponibilidade hídrica paraatender suas demandas em atéquatro vezes; o Rio Grande doNorte, 2,5 vezes; a Paraíba, 1,5vezes. Atualmente, existe um con-senso por parte dos movimentossociais, e até mesmo dos organis-mos internacionais de fomento,que recomenda políticas regionaisde inclusão social pela democra-tização do uso da água a partir deexperiências bem sucedidas naregião - adutoras, cisternas, po-ços com dessalinizadores, barra-gens subterrâneas, perenização der ios por pequenas barragenssucessivas.

Os hipotéticos 12 milhões denordestinos que seriam benefici-ados pela Transposição identifica-

dos pelo Governo, onde se in-cluem os moradores das maiorescidades da região receptora e 40%deles fora do semi-árido, na ver-dade serão os maiores prejudica-dos pelo projeto, porque eles, semnecessitar dessa água, deverão simbancar 85% dos custos da águado hidronegócio que será de 5 a7 vezes mais cara do que o preçoatual da água na região.

Essas contradições ressaltambastante os impactos ambientaisda obra no Rio São Francisco.Um mega sistema com capacida-de de bombear 127 m3/s, maisde duas vezes a vazão do consu-mo d’água da Grande São Paulode um rio que se encontra naUTI - em 2003 o rio são Francis-co praticamente secou, castigadopelas inúmeras intervenções noseu leito, assim como na sua ba-cia, nos últimos 50 anos que des-truíram a fauna e flora, e, princi-palmente transformaram um oá-sis num dos maiores bolsões depobreza do País.

João Abner deixou conoscovários power points e muitos tex-tos que demonstram o que foiafirmado acima e comprovam afarsa e a mentira que é o projetode Transposição do Rio São Fran-cisco, mais um da indústria dassecas, pior, com um poder dedestruição muito grande.

Fonte: http://www.jornaldosamigos.com.br/artigo_verde.htm

Nascente do Rio São Francisco

Nascente do Rio São Francisco

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2007 - JUNHO - EDIÇÃO 008 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 27

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Em 10 de maio, nas de-pendências da Faculda-de Dom Bosco em Re-sende RJ, foi eleito os

membros do Conselho de Admi-nistração e do Conselho Fiscal daAGEVAP – Associação Pró-Gestãoda Bacia Hidrográfica do Rio Para-íba do Sul, gestão 2007 a 2011. Oengenheiro Renine César de Oli-veira, Diretor Executivo do SAAE deBarra Mansa é o novo Presidente doConselho de Administração; Direto-ra Eliane Barbosa; Hendrick Man-saur, Coordenador da AdministraçãoFinanceira; Flávio Simões, Coorde-nador Técnico e na Presidência doConselho Fiscal, Marilene Carvalho.

O novo presidente falou à Re-vista do Meio Ambiente, “ O nossogrande objetivo é reverter o dinhei-ro arrecadado pela cobrança da águana melhoria da qualidade da águana bacia, através de obras e projetos;entre elas o tratamento de esgoto,ações de controle de erosão, reflo-restamento, educação ambientalentre outros. Vale salientar, que a pri-meira bacia hidrográfica a ter cobran-ça pelo uso da água implantada, é ado Rio Paraíba do Sul. Que já trou-xe alguns benefícios: O municípiode Jacareí SP, que já teve a obra detratamento da ETE concluída; Mu-riaé MG, está sendo implantada asEstações de Tratamento de Esgoto;no município de Barra Mansa RJ, jáestá em fase de licitação da primeirade três ETEs que serão construídas;nos distritos de Rialto e Floriano jáforam construídas as Estações deTratamento de Esgotos com recur-sos da própria municipalidade. Nostrês estados, SP, MG e RJ está ocor-rendo as campanhas em EducaçãoAmbiental, são programas de cons-cientização de uso racional da água.A REDE ÁGUA, foi elaborada noMédio Vale do Paraíba Fluminense,onde é feito um diagnóstico ambi-ental da sub- bacia hidrográfica ondeestão instaladas as escolas. São os pró-prios alunos nas escolas próximas aosrios e córregos que fazem o diag-nóstico e propõem ações correti-vas, com total envolvimento das co-munidades. É importante que osprefeitos participem das reuniões doCeivap e Câmaras Técnicas, para quepossam se inteirar e apresentar pro-jetos ambientais que melhoram aqualidade de vida em seus municí-pios. Os prefeitos que querem im-

Coluna do JC Moreira

E

Dinheiro arrecadado pela cobrança da água seráaplicado na melhoria da qualidade da água na bacia,tratamento de esgoto, ações de controle de erosão,reflorestamento e educação ambiental

plantar as ETEs, tenham os respec-tivos projetos ou solicitar recursospara a elaboração dos mesmos, casocontrário não terão o respaldo daCeivap”, conclui o presidente Re-nine.

De Olho na MídiaPesquisa aponta que

80% das empresas doSul fluminense têm

pendência com Feemae 40% apresentam

deficiências empreservação ambiental

Reportagem de André Aquino,para o Diário do Vale (27/05) divul-gou os dados de uma pesquisa rea-lizada entre 30 indústrias do Sul Flu-minense onde mostra que 80% (26)possuem problemas de licença am-biental por causa de atrasos da Fee-ma (Fundação Estadual de MeioAmbiente). Mas as empresas aindanão comprovaram que o atraso sedeve ao órgão ambiental. E mais:40% (12 empresas) têm deficiênci-as no monitoramento do lençol fre-ático, no tratamento do esgoto eno sistema de drenagem da indús-tria. Todas as empresas são localiza-das próximas à Bacia Hidrográficado Rio Paraíba do Sul. A operaçãoteve início no último dia 14 e ter-minou no dia 18.

As informações foram divulga-das esta semana pelo Crea (Conse-lho Regional de Engenharia, Arqui-tetura e Agronomia) do Rio. A pes-quisa teve apoio das prefeituras daregião, da OAB (Ordem dos Advo-gados do Brasil) e da Serla (Secreta-ria Estadual de Rio e Lagoa). Só parater uma dimensão da importânciada Bacia do Paraíba do Sul, segun-do o Ceivap (Comitê da Bacia doRio Paraíba do Sul), o rio passa pormais de 180 cidades, em três estados(Rio, Minas e São Paulo). E mais:90% das águas do Rio Guandu(principal rio que abastece a cidadedo Rio de Janeiro) vêm do Paraíbado Sul.

A fiscalização dessa semana foi aprimeira fase de uma operação queserá feita também nas indústrias deSão Paulo e Minas Gerais, que selocalizam próximas ao rio. A segundafase será em junho, em São Paulo, ea terceira, em julho, em Minas Ge-

rais. O resultado geral será apresen-tado na 64ª Semana Oficial de En-genharia, Arquitetura e Agronomia,que acontece no Rio de Janeiro,entre os dias 12 e 18 de agosto.

Severino Sombrarealiza o Iº Fórumsobre MudançasClimáticas das

Regiões Sul e CentroSul Fluminense

Foi realizado na UniversidadeSeverino Sombra - USS o Iº Fórumsobre Mudanças Climáticas das Re-giões Sul e Centro Sul Fluminense,com o objetivo de debater as prin-cipais questões sobre o Aquecimen-to Global. O evento aconteceu nodia 2/6 e colocou em debate temascomo as novas propostas para o se-tor produtivo brasileiro e as novastendências para a produção e utili-zação de energias renováveis, assimcomo as práticas de PML (Produ-ção Mais Limpa) e MDL (Mecanis-mos de Desenvolvimento Limpo),de Gestão e Planejamento Ambi-ental para os Municípios e Empre-sas das Regiões Centro-Sul e Sul Flu-minense.

Estiveram presentes prefeitos, se-cretários Municipais de Agricultu-ra, Meio Ambiente, Planejamento eSaúde, empresários e gerentes deIndústrias da região, professores ealunos de Universidades públicas eprivadas, professores do ensino bá-sico, engenheiros, advogados, médi-cos, administradores, técnicos e de-mais profissionais liberais ligados aosetor ambiental, ONGs e Institutosligados ao meio ambiente.

Mais informações: Pró-Reitoriade Extensão Universitária - (24)2471-8358 http://www.uss.br/web/p a g e / 1 f o r u m m u d a n c a sclimaticas.asp.

VR é a cidade quemais trata esgoto

domésticoO prefeito de Volta Redonda,

Gotardo Netto (sem partido), pre-tende tratar 100% do esgoto que édespejado nos córregos da cidade eno Rio Paraíba do Sul. Segundoinformações do Saae (Serviço Au-tônomo de Água e Esgoto), hoje o

município trata 15% do esgoto. Pa-rece pouco, mas não é. A cidade é aque mais trata esgoto na região. “So-mos a referência na região”, dissePaulo César de Souza, o PC, dire-tor-executivo do Saae. Para chegar aeste patamar, Gotardo pediu R$ 120milhões para saneamento. O proje-to da prefeitura prevê que sejamconstruídas 14 pequenas bacias detratamento de esgoto, espalhadas es-trategicamente pelo município.

Índice de coliformesestá muito acima dopermitido no Paraíba

O projeto “Cura d’água”, doCentro Universitário de BarraMansa (UBM), mostra que os ín-dices de coliformes totais e fecaisestão muito acima do permitidopelo Conama (Conselho Nacio-nal de Meio Ambiente). O UBMe a Associação dos Canoeiros e Pre-servação da Natureza de BarraMansa coletam quatro vezes porano amostra de água para a medi-ção do nível de coliformes noParaíba do Sul.

As duas entidades percorrem20 quilômetros do Paraíba - dobairro Ponte Alta, em Volta Re-donda, até Floriano, distrito deBarra Mansa. Eles dividiram em11 pontos. Pelo último levanta-mento, o trecho mais crítico é noponto 9 (na altura do bairro Es-tamparia, em Barra Mansa), anali-sado em outubro do ano passa-do. Naquele período, o ponto re-gistrou 280 mil coliformes totaise 220 fecais por 100 mililitros deágua, sendo que o recomendadopelo Conama é de cinco mil decoliformes totais e mil de fecaispela mesma quantidade de água.

Fonte: http://www.diarioon.com.br/arquivo/4797/geral/geral-60178.htm

* JC Moreira é corresponden-te da Revista do Meio Ambiente,sediado em Barra Mansa (RJ), épresidente do Conselho Delibe-rativo da REBIA – Rede Brasi-leira de Informação Ambiental epresidente do Sindicato dos Jor-nalistas Profissionais do Sul Flu-minense. Contatos: (024) 9812-2272 [email protected]

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s aspirações de muitosambientalistas, que háuma década procuramuma autarquia para a

gestão das unidades de conser-vação do país, passaram, no lapsode poucos dias, da ilusão à maisbrutal desilusão. Tudo foi rápidodemais. Entre as primeiras infor-mações vazadas na imprensa e adecisão sancionada pela MedidaProvisória N°336 de 26 de abril,muitos mal tiveram tempo dereagir. Assim, somando-me a ou-tras vozes, desejo expressar a mi-nha revolta e protesto por umadecisão que julgo apressada, in-fortunada e prejudicial.

O Instituto Chico Mendesnão é o que nós, os que lutamostanto por proteger o patrimônionatural do Brasil, procurávamos.É quase a antítese de nossos an-seios. É apenas um novo mons-trengo que dificultará ainda maiso esforço de conservação da na-tureza neste país, erro que secomete precisamente quando éevidente que o futuro dos brasi-leiros e da humanidade depen-de de se multiplicar os esforçospara proteger a natureza.

O governo, quebrando todasas suas promessas e demandas departicipação e transparência, fez,na calada da noite, o que bemquis, sem dar a mais mínima opor-tunidade de intervenção da so-ciedade civil. Assim mesmo, des-cartou com um golpe temerário,qualquer contribuição dos queconhecem de perto o problema,inclusive dos funcionários dopróprio IBAMA. Triste exemplode democracia. Mas, na verdade,apenas um a mais nestes longosanos, coroados pelo “domíniobrasileiro” sobre os biocombus-tíveis e os “bagres presidenciais”do rio Madeira.

Extração X ConservaçãoO que não vai funcionar no

“Chico Mendes”? Tudo. Junta-ram nesse saco ovos frescos comporcos vivos, acreditando que asmexidas dos porcos não vão que-brar os ovos. As finalidades, es-sencialmente políticas das reser-vas extrativistas e econômicas dasflorestas nacionais, nada têm emcomum com a finalidade con-servacionista dos parques e re-servas biológicas e de outras ca-tegorias lá reunidas. As técnicasde manejo de reservas extrativis-

Uma Opinião: Medida Provisória N°336 de 26/04/2007

Instituto Chico Mendes

A

Por Maria Tereza JorgePádua (www.oeco.com.br)

tas e florestas nacionais são radi-calmente diferentes das requeri-das nas outras categorias. Sua mis-são é produzir bens para benefi-cio direto das populações quenelas, ou perto delas, moram. Exis-tem para produzir madeira, bor-racha, castanha, pescado e outrasdezenas de produtos que o mer-cado requer, para fazer dinheiroe para melhorar os ingressos daspopulações nelas residentes. As re-servas extrativistas permitem fa-zer agricultura e pecuária e, comobem se sabe essas atividades já sãodominantes nas reservas do Acree de outros estados e são incon-troláveis, pois são mais rentáveisque o extrativismo. As reservasextrativistas podem contribuir,discreta e momentaneamente,para frear o avanço da soja e dosoutros cultivos para matéria pri-ma de biocombustíveis, que ogoverno promove atabalhoada-mente. Mas, até quando? É ób-vio que, a médio e longo prazo,não existirá diferença entre essasreservas e a paisagem agropecuá-ria dominante na região. Na rea-lidade, o valor ambiental das re-servas extrativistas é canto de se-reia para se fazer uma reformaagrária branca. Tudo bem, nadacontra estes objetivos, mas o queisso tem a ver com as unidadesde conservação da natureza?

As florestas nacionais são con-cebidas e estabelecidas com oobjetivo de contribuir para regu-lar o mercado nacional de ma-deira. Foram desenhadas para aexploração florestal com a finali-dade de abastecer mercados. Cla-ro que, em termos de biodiversi-dade, é melhor uma floresta na-cional, inclusive se ela for de eu-calipto ou outras exóticas, queum cultivo de soja ou algodão. Omesmo é verdade para as reservasextrativistas. Mas, não dá motivopara se considerar que sejam uni-dades de conservação da nature-za. Não o são mesmo, menos ain-da quando serão outorgadas con-cessões a empresas privadas, atra-vés do novo serviço florestal. Nadatêm a ver com uma unidade deconservação que são estabeleci-das expressamente para conservara biodiversidade e que, por essemotivo, só podem ser exploradasde forma indireta, como no casodo turismo. O fato de que algumiluminado, no afã de fazer acredi-tar ao mundo que o Brasil prote-

ge muita terra, incluir reservasextrativistas, florestas nacionais eoutras categorias esdrúxulas como“unidades de conservação”, nãomuda a evidência de que elas nãotêm a conservação por finalidadeprincipal e que a cada dia con-tribuem menos para com esteobjetivo.

DúvidasJuntar funções tão díspares em

só uma instituição vai provocarcomo já era o caso no IBAMA,que se favoreçam umas mais queas outras. E, quem pode duvidar?As favorecidas serão as reservasextrativistas, levando-se em con-ta o amor irrestrito que o PT tempor essa sua criatura, por motiva-ções essencialmente políticas.Também terão prioridade as flo-restas nacionais, porque essas po-dem significar muito dinheiro paraos mais diversos bolsos. Assim, oInstituto Chico Mendes, supos-tamente para conservar a biodi-versidade nacional, será, na reali-dade, fonte de negócios basea-dos na exploração “sustentável”dos recursos naturais, algo queninguém conseguiu fazer até opresente, ao invés de proteger abiodiversidade. A pergunta é por-que essas reservas e florestas pre-cisam de dinheiro público se édito que têm por propósito pro-duzir renda a seus usuários? Essesrecursos são indispensáveis para asáreas destinadas à preservaçãopermanente, pois elas, sim, nãotêm possibilidade de produzir ren-da na base do uso direto e, paraobtê-las de fonte indireta, comocom o turismo, precisam de im-portantes investimentos prévios.

A medida provisória deixa inú-meras dúvidas sobre outras tare-fas importantes do IBAMA atual.Por exemplo, aonde vai ficar a res-ponsabilidade pela gestão da fau-na silvestre, pela gestão do entor-no das unidades de conservação,pelos corredores ecológicos, pelapesquisa em recursos biológicosou pelo patrimônio genético nasáreas protegidas? Quem vai sepreocupar pelos aspectos legais decriação, regularização fundiária,usos, etc., posto que aparente-mente o novo Instituto não vá terprocuradoria, que permanece noIBAMA? E como vai ser exerci-do o poder de polícia nas unida-des de conservação se a Direto-ria de Fiscalização continua no

IBAMA? E as superintendências,terão ou não terão mais qualqueringerência nas unidades de con-servação? E as reservas privadas,será que terão o espaço que me-recem no esquerdista InstitutoChico Mendes? É muita pergun-ta importante sem resposta. Apressa por fazer reforma, qualquerque seja, conquanto seja grandee satisfaça o Poder, parece ter fei-to esquecer a responsabilidadecom que assuntos tão sérios de-veriam ter sido tratados.

Finalmente, com prepotênciadigna de ditadura, um instituto na-cional, federal ou brasileiro deunidades de conservação recebeo nome de um discutível heróiambiental, que é quase exclusivoao partido no Governo. Desafioqualquer um a explicar que fezChico Mendes em beneficio dasunidades de conservação ou dabiodiversidade deste país. Que apolítica transformasse um bomlíder sindical em “defensor daAmazônia”, pode até ser engoli-do. Mas, embora respeitandomuito a valente luta de ChicoMendes pelo seu direito e de seuscompanheiros de explorar os se-ringais do Acre, é bem conheci-do que a sua “defesa da nature-za” foi apenas um estratagemabem sucedido, dentre outros queusou, para chamar a atenção so-bre a causa dos seringueiros. Porisso, impor seu nome a uma insti-tuição pública nacional dedicadaa conservar a biodiversidade é umaafronta a cidadãos como o mula-to abolicionista Rebouças quepropôs o primeiro Parque Naci-onal do Brasil, em 1876, ou o avi-ador Santos Dumont que propôso Parque Nacional do Iguaçu em1916 e a muitos outros que de-ram sua vida e seus melhores es-forços a esta tarefa. Mas, na ver-dade, um instituto de conserva-ção da biodiversidade não develevar nenhum nome próprio e éde se esperar que semelhanteaberração seja prontamente reti-ficada. Por enquanto, ficamos àespera que o futuro próximo per-mita remediar este despropósito.

Um instituto que começacomo um sapo feio e ignoto, quetemos de tragar, pode demorar adecolar ou nunca voar. Que nosajude o espírito de Santos Du-mont, ou o de Rebouças, ou ode José Bonifácio.

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2007 - JUNHO - EDIÇÃO 008 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 31

COMO FICA A GESTÃO AMBIENTAL NOIBAMA COM A DIVISÃO PARA CRIAR O

NOVO INSTITUTO CHICO MENDES

Fonte: Associação dos Servidores do Ibama (Asibama) - Assessor deImprensa - André Diniz (61) 8147-9720

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A Campanha Global Para o Plantio deUm Bilhão de Árvores firmou umBilhão de Raízes no Dia Internacionalde Diversidade Biológica

rande suporte de Co-munidades, Cidadãos eCrianças ao Governo ea Corporações Tornam

o Compromisso com a MudançaClimática uma Realidade

A promessa de plantar um bi-lhão de árvores como uma únicaresposta ao desafio global da mu-dança climática foi cumprido, anun-ciou em maio o Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambien-te, (UNEP).

Seguindo a promessa de 20 mi-lhões de árvores pelo Senegal, aCampanha pelo Plantio de um Bi-lhão de Árvores, de cinco meses,ultrapassou sua meta inicial cercade sete meses antes de seu prazooriginal. Os organizadores, que tam-bém incluem o Green Belt Move-mente o World Agroforestry Cen-tre (ICRAF) ficaram surpresos como entusiasmo internacional criadopela campanha, com participaçãode pessoas de 15 a 80 anos, tantode países desenvolvidos quando emdesenvolvimento juntando forçascom comunidades, jardins de in-fância, grupos de escoteiros, esco-las, universidades, conselhos de ci-dades, companhias e países para al-cançar a meta inicial.

A campanha, anunciada na re-cente convensão sobre mudançasclimáticas realizada em Nairobi,Kênia, agora transforma as promes-sas em um bilhão de plantações atéo fim do ano.

Achim Steiner, Sub-SecretárioGeral da ONU e Diretor Executi-vo do PNUMA, disse: “2007 será oano de grandes marcos em respei-to ao debate sobre mudanças cli-máticas. O Painel Intergovernamen-tal sobre Mudanças Climáticas co-locou um ponto final na ciência, a

Gmudança climática está acontecen-do; um ponto final nos impactosambientais, eles estão em andamen-to e terão impacto em todos os can-tos do planeta e um ponto final naeconomia – equipamentos paraeviatr as mudanças climáticas cus-tarão 0.1 do PIB, talvez menos”.

“A outra grande questão temsido se o público está pronto, se époliticamente possível mobilizarindivíduos , comunidades e naçõesem massa para enfrentar o cresci-mento dos gases do efito estufa. ACampanha para o Plantio de umBilhão de Árvores nos dá o últimoponto final neste debate também”,ele disse.

“Países e comunidades assimcomo as corporações e os cidadãosao redor do mundo desenvolvidoe em desenvolvimento têm respon-dido ao desafio com entusiasmo ecompromisso. Isso deveria capaci-tar governso de todos os lugares aterem certeza de que se dedicar aocombate das mudanças climáticasnão é um risco político, mas talvez,a decisão mais popular com o seueleitorado” Acrescentou o Sr. Stei-ner. O tema deste ano é Biodiver-sidade e Mudança Climática e vemapenas algumas semanas após o lan-çamento de uma série de relatóri-os do Painel Intergovernamentalpara Mudança Climática (IPCC)que também realça os desafios dabiodiversidade – e por consequ-ência meios de vida e bem estarhumano – como resultado do cres-cimento do efeito estufa.

O IPCC diz, por exemplo, queo turismo na África, em sua maio-ria baseado na natureza, tem pro-babilidade de ter entre 25 e 40 porcento das espécies animais, como azebra no parques nacionais da Áfri-

ca Subsaariana colocadas em peri-go.

Mais de um terço das crias detartarugas em sítios do Caribe po-dem ser perdidos se o nível do maraumentar até 0.5 metros. Ilhas comflorestas úmidas, como o Havaí,podem esperar uma perda ende-mica de espécies de pássaros.

No Ártico a fina e reduzida co-bertura de gelo no mar pode sofrerefeitos chocantes. Crustáceos, adap-tados para a vida nas extremidadesdo gelo oceânico, são importantesfontes de alimento para focas e ba-calhaus polares. Narvais tambémdependem dos organismos que seinstalam no gelo oceânico.Notas para Organizadores

A Campanha para o Plantio deum Bilhão de Árvores, que operapor meio de um website único einterativo, demonstra que uma ini-ciativa concreta e centrada em pes-soas, pode ser uma iniciativa parauma ação ambiental imediata epositiva. Houveram movimentos emanifestações sem precedentes parao plantio de árvores em comuni-dades e em cidades de Belo Hori-zonte no Brasil a Tóquio no Joa-pão. Fotografias, cartas e uma imensaquantidade de e-mail foram rece-bidos pelo UNEP de milhares departicipantes – dos 5 aos 80 anosde idade – que demosntraram com-prometimento para agir em prol daregeneração ambiental e chamaratenção para mudanças climáticas.

Artistas e criadores de todomundo exibiram sua criatividadepara apoiar a campanha. Quadrosinformativos sobre a campanha apa-receram ao longo de ruas, em ae-roportos e no metrô parisiense.

As promessas sobre o plantiu deárvores feita por governos em paí-

ses como Camarões, China, Cuba,Etiópia, Haiti, Iraque, Israel, Japão,Ilhas Malvinas, Mauritênia, Méxi-co, Mônaco, Marrocos, Mianmá,Senegal, Coréia do Sul, Turquia,Unganda e Venezuela. Eles foramfacilitados pelos representantes Per-manentes do PNUMA, muitos dosquais plantaram árvores ao redor deNairobi.

Muitas empresas do setor pri-vado, agências das Nações Unidase o Banco Mundial se juntaram aoPNUMA para catalizar novos par-veiros para a campanha. Fundações,o movimento de escoteiros, e mi-lhares de ONGs começaram a fa-zer propaganda da campanha, comseus próprios meios, assim catali-zando novos interessados. Milharesde blogs destacaram a campanha oque também auxiliou em sua ex-pansão. Um fórum de misturas ecompetições foi colocado on linehoje para permitir participantes avoluntariar tempo, habilidades, ca-pital, ou proporcionar terra e mu-das representando o projeto daCampanha para o Plantio de umBilhão de Árvores.

Campanha pra o Plantio de umBilhão de Árvores: http://www.unep.org/billiontreecampaign

O Green Belt Movement:www.greenbeltmovement.org

Fundação Prince Albert II ofMonaco: http://www.fondationprincealbertiidemonaco.net

World Agroforestry Centre(ICRAF): www.worldagroforestrycentre.org

Para mais informações, porfavor contate: Nick Nuttall, UNEPSpokesperson, on Tel: +254 207624001, Mobile: +254 733 632755or E-mail: nick.nuttall @unep.orgor Mellab Shiluli

Internacional

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