Revista do Meio Ambiente 55

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AMBIENTE revista do meio Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental Acesse: www.revistadomeioambiente.org.br ano VII • janeiro 2013 55 9772236101004 ISSN 2236-1014 Água: a boa utilização desse recurso As cores do planeta vistas do espaço Desastres naturais: desafio na prevenção e na emergência Passamos frio e fome juntos. Nunca abandonam a gente na costa brasileira O gaivotão

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Edição 55 da Revista do Meio Ambiente

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AMBIENTErevista do meioRebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Acesse: www.revistadomeioambiente.org.br

ano

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2013

55

9772236101004

ISSN 2236-1014

Água: a boa utilização desse recurso

As cores do planeta vistas do espaçoDesastres naturais: desafi o na prevenção e na emergência

Passamos frio e fome juntos. Nunca abandonam a gente

na costa brasileiraO gaivotão

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nesta edição

capa16 O gaivotão na costa brasileira por Daniela Almeida de Souza, Marcelo Tardelli Rodrigues e Thiago Alonso Merici

destaque5 As cores do planeta vistas do espaço por Paulo André Vieira

água21 Água: a boa utilização desse recurso por Marcelo Szpilman

mudanças climáticas25 Desastres naturais: o desafi o na prevenção e na emergência no Sul e Sudeste por Sucena Shkrada Resk

animais30 Passamos frio e fome juntos. Nunca abandonam a gente por Marcelo Pereira

• A natureza cria os prazeres e nós os excessos• O que bombou• Mensagens compartilhadas• Estudos indicam que 2012 foi um dos dez anos mais quentes• Escritórios doentes• Interdição por falta de licença• Balanço anual do macro: estamos indo de mal a pior• Democracia e desenvolvimento• Pousada Verbicaro recebe certifi cações• Itaipu se torna referência na gestão de projetos sustentáveis• A nova linguagem da felicidade pública• Plataforma por um novo marco regulatório das OSC• Projeto Reciclando• Sistema elétrico brasileiro dependente das condições climáticas• Seca faz até ponte ressurgir em Furnas• A mudança climática chegou e é pior do que se pensava• Lições de ecologia de um ilustre gaúcho• Projeto contemplado pela Caixa recebe prêmio em Dubai• Direitos dos cidadãos• Guia do Meio Ambiente

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Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

• Saiba mais sobre a Rebia: www.portaldomeioambiente.org.br/pma/rebia-OSC/o-que-e-a-rebia.html• Participe do Fórum dos leitores e voluntários da Rebia: http://br.groups.yahoo.com/group/rebia/• Acompanhe a Rebia no Twitter: https://twitter.com/#!/pmeioambiente• Participe da Rebia no Facebook: www.facebook.com/groups/311542508874299/378356505526232/• Participe da Rebia no Orkut: www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=800116• Blog dos moderadores da Rebia: http://blog-rebia.blogspot.com/Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental: organização da sociedade civil, sem fi ns lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e mobilização da Cidadania Ambiental planetária através da democratização da informação ambiental e da educação ambiental com atuação em todo o território nacional, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. CNPJ: 05.291.019/0001-58. Sede: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ - 24370-290 – Site: www.rebia.org.brConselho Consultivo e EditorialAdalberto Marcondes, Ademar Leal Soares, Aristides Arthur Soffi ati, Bernardo Niskier, Carlos A. Muniz, David Man Wai Zee, Flávio L. de Souza, Keylah Tavares, Luiz A. Prado, Maurício Cabral, Paulo Braga, Raul Mazzei, Ricardo Harduim, Rogério Álvaro S. de Castro, Rogério RuschelDiretoria ExecutivaPresidente: Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista Moderadores dos Fóruns RebiaRebia Nacional ([email protected]): Ivan Ruela – gestor ambiental (Aimorés, MG)Rebia Norte ([email protected]) – Rebia Acre: Evandro J. L. Ferreira, pesquisador do INPA/UFAC • Rebia Manaus: Demis Lima, gestor ambiental • Rebia Pará: José Varella, escritorRebia Nordeste ([email protected]) – Coordenador: Efraim Neto, jornalista ambiental • Rebia Bahia: Liliana Peixinho, jornalista ambiental e educadora ambiental • Rebia Alagoas: Carlos Roberto, jornalista ambiental • Rebia Ceará: Zacharias B. de Oliveira, jornalista, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente • Rebia Piauí: Dionísio Carvalho, jornalista ambiental • Rebia Paraíba: Ronilson José da Paz, mestre em Biologia • Rebia Natal: Luciana Maia Xavier, jornalista ambientalRebia Centro-Oeste ([email protected]): Eric Fischer Rempe, consultor técnico (Brasília) e Fabrício Fonseca Ângelo, jornalista ambiental Rebia Sudeste ([email protected]) - Rebia Espírito Santo: Sebastião Francisco Alves, biólogo Rebia Sul ([email protected]) - Coordenador regional: Paulo Pizzi, biólogo • Rebia Paraná: Juliano Raramilho, biólogo • Rebia Santa Catarina: Germano Woehl Junior, mestre e doutor em Física. Rio Grande do Sul: Julio Wandam - Os Verdes de Tapes/RS e GT de Comunicação da Rede Bioma Pampa, fi liada a APEDeMA/RSPessoa JurídicaA Rebia mantém parceria com uma rede solidária de OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que respondem juridicamente pela fi nanças dos veículos de comunicação e projetos da Rebia:• Associação Ecológica PiratingaúnaCNPJ: 03.744.280/0001-30 • Sede: R. Maria Luiza Gonzaga, nº 217, Ano Bom - Barra Mansa, RJ • CEP: 27323-300 • Utilidade Pública Municipal e isenta das inscrições estadual e municipal • Prima – Mata Atlântica e Sustentabilidade(Ministério da Justiça - registro nº 08015.011781/2003-61) – CNPJ: 06.034.803/0001-43 • Sede: R. Fagundes Varela, nº 305/1032, Ingá, Niterói, RJ - CEP: 24210-520 • Inscrição estadual: Isenta e inscrição Municipal: 131974-0www.prima.org.br

Redação: Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ - 24370-290 • Tel.: (21) 2610-2272Editor e Redator-chefe (voluntário): Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista. Em 1999 recebeu o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas • escritorvilmarberna.com.br • escritorvilmarberna.blogspot.com • [email protected] • Cel (21) 9994-7634Diretor Técnico (voluntário): Gustavo Berna, biólogo marinho, pós-graduado em gestão ambiental • (21) 8751-9301 • [email protected]órter-fotográfi co (voluntário): Leonardo da Silva Demamam Berna • (21) 7857-1573 ID 55*8*3824 • [email protected] de Atendimento (voluntária): Inês de Oliveira Berna, professora e bióloga Pós-graduada em Meio Ambiente • (21) 8711-3122 • [email protected] Editor Científi co (voluntário): Fabrício Fonseca Ângelo, jornalista, mestre em Ciência Ambiental, especialista em Informação Científi ca e Tecnológica em Saúde Pública • (21) 2710-5798 / 9509-3960 • MSN: [email protected] • Skype: fabricioangelo •midiaemeioambiente.blogspot.comWebmaster da Rebia: Marcellus B. Cardoso • [email protected]ção gráfi ca: Projeto gráfi co e diagramação: Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 Skype: estudio.mutum • www.estudiomutum.com.brImpressão: Flama Ramos Acab. e Man. Gráfi co Ltda. • (21) 3977-2666Comercial:Representação em Brasília: Minas de Ideias Comunicação Integrada (Emília Rabello e Agatha Carnielli • Brasília (61) 3408-4361 / 9556-4242Rio de Janeiro: (21) 2558-3751 / 9114-7707 • [email protected]: agatha.cn •minasdeideias.com.br Equipe de voluntários ambientais “Amigos do Planeta” da Rebia: Lucas Freire Berna, Iris Freire Berna, Daniel Santos de Oliveira ‘Berna’

Revista ‘Neutra em Carbono’

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os excessos

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A natureza cria os prazeres e nós

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Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o

para ser feliz. Assim ele saberá o valor das coisas

e não o seu preço

Consumir é a nossa natureza. Fazemos isso do berço ao túmulo. E também não há nada de errado em querer prosperar, melhorar de vida, mais energia para ter mais conforto e qualidade de vida. Mais que um direito, é um dever lutar por isso, por nós, pelos que dependem de nós, pelos que virão depois de nós.

Como sempre, o problema não está em usar, está em abusar. O pro-blema está no desequilíbrio, no desperdício, na obsolescência plane-jada, sinais de uma sociedade que anda muito doente. A diabetes, a obesidade mórbida, a hipertensão, o estresse, a depressão tomaram dimensão de epidemia.

Entre as causas de nossa crise civilizatória, está o consumismo, que tem nos levado a comer demais, viver depressa demais, acumular de-mais, tudo muito, tudo rápido, aqui, agora, embalados por uma má-quina de propaganda que estimula o consumismo desde a mais tenra infância, e pelo crédito fácil, que empenha hoje o salário de amanhã, como se amanhã ou fôssemos ganhar aumento, ou não teríamos neces-sidades como as de hoje. Entre os efeitos desta lógica irracional e irres-ponsável está a escravização ao trabalho para pagar dívidas crescentes, e sobra cada vez menos tempo para cultivar uma amizade, um amor, uma arte, ou ficar à toa mesmo, por que o ócio também faz parte da vida, passear com a família, praticar um hobby ou esporte, dedicar-se à cidadania e ao voluntariado nas causas em que acreditamos.

A educação de nossas crianças, por sua vez, acaba negligenciada por pais que precisam sair cedo para trabalhar muito e voltar tarde. Quem de fato acaba responsável pela educação das novas gerações, ou são avós, da geração passada, ou empregadas domésticas sem qualifica-ção, ou pior, deixadas sozinhas aos cuidados da babá-televisão ou babá- videogame. Para aliviar a culpa dos pais, mais consumo. Na impossibili-

dade de falta de tempo para abrir os cora-ções, abrem as carteiras. O afeto é medido pelo tamanho e preço dos presentes, ensi-nando uma nova geração de consumido-res compulsivos e irresponsáveis, que ima-ginam ser possível trocar afeto, amor, feli-cidade por bens materiais.

A boa notícia é que parece que a socieda-de já reconheceu a doença, e a má, é que em vez de atacar as causas, podemos estar perdendo tempo com os efeitos. Não que não seja importante atuar também sobre os efeitos, mas se não combatermos as causas, os efeitos tenderão a continuar vol-tando e até piorando a doença.

Precisamos atentar para o fato de que o pla-neta é um só e é finito. Tudo o que pudermos fazer terá de ser aqui, de preferência agora, e por nós, já que não existe salvador da pátria capaz de nos salvar de nós mesmos. * Vilmar é escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

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espaçoAs cores do planeta vistas do

Vista através dos “olhos” dos satélites artificiais que a orbitam, a Terra se revela em uma paleta de cores que vai do verde ao azul, do vermelho ao amarelo, formando imagens impressionantes que poderiam ter saído da imaginação dos maiores gênios da pintura. Aprecie algumas lindas imagens, divulgadas pelo Observatório da Terra da Nasa.

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Nosso planeta não é apenas uma bolinha azul flutuando no espaço

Arquipélago de Mergui, situado ao extremo sul de Myanmar, na Ásia. É composto por mais de 800 ilhas

Numerosos vulcões contribuir para a massa de terra da ilha de Nova Bretanha, a maior do arquipélago de Bismarck, de Papua-Nova Guiné

Nuvens de poeira múltiplas ao largo das costas do Irã e do Paquistão, em 29 de novembro de 2012

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Alguns dos assuntos mais vistos e compartilhados este mês na página da Rebia no Facebook

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a rebia no facebook

Colaborações compartilhadas pelos membros e voluntários na página da Rebia no Facebookcompartilhadas

Mensagens

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Estudos indicam que 2012 foi um dos dez anos mais

O ano passado foi o 10º mais quente desde que registros começaram a ser realizados, em 1880, com temperaturas médias glo-bais 0,57º C acima daquelas registradas no século 20, informaram cientistas america-nos da Administração Oceânica e Atmosféri-ca Nacional (NOAA, na sigla em inglês) no dia 15 de janeiro. A agência espacial Nasa também apresentou dados no mesmo dia que mostram que 2012 está entre os dez anos com maiores temperaturas desde o início das medições.

O relatório divulgado pela NOAA aponta que as temperaturas mundiais estiveram acima da média pelo 36º ano seguido em 2012, com regiões do Hemisfério Norte registrando seu ano mais quente. Eventos climáticos extremos e a temperatura do planeta podem aumentar ainda mais devido às emissões industriais de carbono e outros gases causadores do efeito estufa, que aprisionam o calor na atmosfera.

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quentesNasa e NOAA divulgaram dados de temperatura global. Segundo instituições, calor deve aumentar ainda mais nos próximos anos

21 e 22/05/2013Brasília DF - Brasil

Os participantes receberão certificado com carga horária

Participação gratuita com inscrição prévia via site:

www.greenmeeting.org

Um ano após a Rio + 20, acontecerá em Brasília nos dias 21 e 22 de maio de 2013, o XIII Encontro Verde das Américas, o “Greenmeeting”, que, se projeta para ser um importante observatório, sobre a ótica positivista, referente ao alcance do resultado final da Conferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro em 2012. As discussões são importantes e fundamentais para se chegar a uma plataforma ambiental global, que coloque no mesmo plano, o desenvolvimento econômico, ambiental e social, no sentido de erradicar a pobreza. É chegado o momento de começar a implementar tais ações, em prol da segurança humana e da sustentabilidade planetária.

As escolhas do desenvolvimento significam a forma particular como cada povo se apresenta para a história e para o país. Assim, automatismos econômicos são superados por decisões políticas que definem prioridades, ampliam caminhos, permitem parcerias e encorajam projetos sustentáveis, compartilhando horizontes com outros povos e nações.

Somente grandes nomes nas áreas propostas estarão presentes neste Encontro como palestrantes e debatedores. O evento conta com o apoio da Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental.

XIII Encontro Verde das Américas* GreenMeetinG 2013 *

Na última semana, a NOAA havia divulgado que a área continental dos Estados Unidos registrou em 2012 o ano mais quente da história. No en-tanto, em algumas regiões, incluindo partes do Alasca, o oeste do Canadá, o centro da Ásia e a Antártica ficaram mais frias. Ainda assim, a tempera-tura média global nos primeiros anos do século 21 já supera a média glo-bal registrada em quase todo século 20 (exceto 1998).

Nasa também divulga resultadosDe acordo com a agência espacial americana Nasa, 2012 foi o nono mais

quente desde 1880, com temperatura média de 14,6 ºC – 0,6 ºC mais quente do que a média do século passado. Os cientistas também enfatizam que, ape-sar das flutuações meteorológicas que podem ocorrer ao longo dos anos, o contínuo incremento da concentração de gases-estufa na atmosfera deverá “assegurar” um aumento ao longo prazo da temperatura global. “Cada ano que passará não necessariamente será mais quente que o anterior, no en-tanto, a década sucessiva deverá ser mais quente que a anterior”, explica a agência em um comunicado. Segundo a Nasa, o nível de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera em 1880 era de 285 partes por milhão (ppm) – durante o segundo período da Revolução Industrial. Em 1960, a concentração de CO2 atmosférico era de 315 ppm. Já em 2012, a medição apontou 390 ppm.

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Cultura e comunicação para a sustentabilidade

EsCritor vilmar bErnao escritor e jornalista vilmar berna está à disposição para contratação para palestras e consultorias, organização de eventos e projetos de comunicação e educação ambiental. Conheça e adote os livros do autor, na Paulus e Paulinas, e seus cursos à distância na UFF.

Vilmar foi reconhecido, em 1999, pelas Organizações das Nações Unidas com o Prêmio Global 500 da onU para o meio ambiente e, em 2003, recebeu o Prêmio verde das américas. É fundador da rebia (rede brasileira de informação ambiental) e editor (voluntário) da revista do meio ambiente.

Como Contratar Para PalEstras (Pró-laborE E loGístiCa):www.escritorvilmarberna.com.br | [email protected] | (21) 2610-2272

“vilmar tem o espírito do construtor de catedrais da idade média: começar, mesmo sabendo que a obra final outro é que vai ver”. [ roberto messias ]

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artigos disponíveis para download: http://escritorvilmarberna.com.br/artigos.html

Construção da Pessoa, Ética e Felicidade

Educação e Cidadania socioambiental

meio ambiente e sustentabilidade

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iNterdiçãopor falta de licença

Prefeitura do Rio ordena interdição da CSA

A prefeitura do Rio de Janeiro interditou no começo de janeiro a Com-panhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), controlada pelo grupo alemão ThyssenKrupp em parceria com a Vale, por falta de licença de fun-cionamento. A decisão foi publicada no Diário Oficial da cidade no dia 07/01. A diretoria de fiscalização do município afirmou no edital de inter-dição que “neste local está sendo exercida a atividade de siderurgia, sem a competente licença para funcionamento de estabelecimento”.

A assessoria de imprensa da Secretaria Especial de Ordem Pública do Rio de Janeiro (Seop) afirmou que a decisão está em vigor desde o dia 07/01.

A secretaria disse ainda que a CSA estava operando com um alvará provisório de funcionamento, válido por seis meses e que poderia ser renovado pelo mesmo período. Porém, o órgão afirmou que decidiu não renovar a autorização porque a empresa não apresentou certidão de “Habite-se”, que autoriza a ocupação de um imóvel.

Procurada, a CSA informou que um problema de comunicação im-pediu a empresa de ser notificada em outubro sobre a necessidade de apresentação dos documentos à secretaria e que “vem atendendo a to-das as exigências dos órgãos competentes”. A empresa afirmou ainda que os documentos necessários já haviam sido entregues.

A Seop abriu um processo de análise dos documentos apresentados pela CSA para averiguar se a empresa está cumprindo a legislação. A CSA não confirmou se deixou de operar em função da interdição.

Segundo o edital, o descumprimento da decisão acarretará mul-ta de 570,65 reais. O caso pode ser remetido ao Ministério Público do Estado “para devidas providências relativas à ocorrência de crime de desobediência”.

ProblemasA interdição da usina com capacidade para produzir 5 milhões de tonela-

das de placas de aço por ano acontece em um momento em que a Thyssen- Krupp recebe ofertas pela unidade, colocada à venda em maio de 2012 junto com uma laminadora do grupo alemão nos Estados Unidos.

A CSA, projetada em 2005 quando o mercado de aço mundial não atravessava uma crise de sobreoferta e forte alta nos custos de insumos como carvão e minério de ferro, começou a operar em setembro de 2010. A usina sofreu uma série de atrasos e estouros de orçamento que atingi-ram os resultados da ThyssenKrupp.

Em dezembro, o grupo alemão divulgou prejuízo de 4,7 bilhões de euros e decidiu não pagar dividendos pela primeira vez em sua história. O resultado foi causado principalmente por uma baixa contábil de 3,6 bilhões de euros em suas usinas nos EUA e no Brasil.

Além dos problemas com a prefeitura do Rio, a CSA foi multada em novembro passado em 10,5 milhões de reais pela Secretaria de Estado do Ambiente fluminense.

Segundo a secretaria, a usina causou o fenômeno conhecido como “chuva de prata”, em que resíduos de produção de aço que trazem pro-blemas respiratórios vazaram da usina, localizada no distrito industrial de Santa Cruz, na zona oeste da capital fluminense. A multa foi a tercei-ra aplicada contra a CSA desde 2010. Fonte: extra.globo.com

política ambiental

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O que são os escritórios doentes? São espa-ços corporativos que prejudicam a saúde e a produtividade das pessoas que ali traba-lham. Em geral, quando falamos em escri-tórios doentes a imagem que vem imedia-tamente à cabeça é de ambientes feios, an-tigos, cheios de problemas visíveis. É claro que existem espaços assim funcionando até hoje.

Porém, a própria situação explícita de des-cuido permite detectar os problemas. As pessoas que trabalham ali, mesmo que lei-gas, percebem claramente que estão em um local impróprio para o cumprimento de suas tarefas diárias.

No entanto, encontramos escritórios doen-tes em várias empresas onde nem se ima-gina que o problema esteja instalado. Am-bientes bonitos e bem decorados escondem riscos graves à saúde, que podem acarretar prejuízos físicos e baixa produtividade.

Em muitas situações avalia-se o trabalho do um arquiteto antes da contratação do escri-tório, pela beleza da planta ou pela apresen-tação do projeto. Trabalhos de arquitetura de interiores realizados de forma quase que in-dustrial e sem grande profundidade escon-dem erros que só serão percebidos depois que a obra já está concluída e as reclamações co-meçarem a chegar ao RH das empresas.

Escritórios doentes em geral nascem de projetos doentes. Muitos deles encobertos por belas apresentações. A rapidez que en-canta o cliente na produção do projeto tende a ser a mais perversa das armadilhas. Afinal, depois que o problema é detectado já é tar-de demais.

Correções custam muito dinheiro e o tem-po ganho (poucos dias, diga-se de passagem) no início do processo pode se transformar em um problema permanente. * Edo é arquiteto, urbanista e artista plástico. Formado pela FAU-USP, é diretor-presidente da Edo Rocha Arquiteturas. Autor dos projetos da nova sede da Petrobras (RJ), estádio do Palmeiras (SP), sede da Vivo (SP e RJ), Rede Globo (SP)Unilever (SP), entre outros.

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A rapidez que encanta o cliente na produção do projeto tende a ser a mais perversa das armadilhas

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análise da conjunturate

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Vejo duas razões para esta conclusão realista que parece pessimista. Diria com José Saramago: ”não sou pessimista; a realidade é que é pés-sima; eu sou é realista”. A primeira razão tem a ver com a premissa falsa que sustenta e alimenta a crise: o objetivo é o crescimento material ilimi-tado (aumento do PIB), realizado na base de energia fóssil e com o fluxo totalmente liberado dos capitais, especialmente especulativos.

Essa premissa está presente em todos os planejamentos dos países, in-clusive no brasileiro. A falsidade desta premissa reside na desconsideração completa dos limites do sistema-Terra. Um planeta limitado não aquen-ta um projeto ilimitado. Ele não possui sustentabilidade. Aliás, evita-se a palavra sustentabilidade que vem das ciências da vida; ela é não-linear, se organiza em redes de interdependências de todos com todos que man-tem funcionando os fatores que garantem a perpetuação da vida e de nos-sa civilização. Prefere-se falar em desenvolvimento sustentável, sem se dar conta de que se trata de um conceito contraditório porque é linear, sempre crescente, supondo a dominação da natureza e a quebra do equilíbrio ecos-sistêmico. Nunca se chega a nenhum acordo sobre o clima porque os pode-rosos conglomerados do petróleo influenciam politicamente os governos e boicotam qualquer medida que lhes diminua os lucros e não apoiam por isso as energias alternativas. Só buscam o crescimento anual do PIB.

Este modelo está sendo refutado pelos fatos: não funciona mais nem nos países centrais, como o mostra a crise atual, nem nos periféricos. Ou se busca um outro tipo de crescimento que é essencial para o sistema-vida, mas que por nós deve ser feito respeitando a capacidade da Terra e os ritmos da natureza, ou então encontraremos o inominável.

A segunda razão é mais de ordem filosófica e pela qual me tenho ba-tido há mais de trinta anos. Ela implica consequências paradigmáticas: o resgate da inteligência cordial ou emocional para equilibrar o poderio destruidor da razão instrumental, sequestrada já a séculos pelo proces-so produtivo acumulador. Como nos diz o filósofo francês Patrick Viveret “a razão instrumental sem a inteligência emocional pode perfeitamente nos levar a pior das barbáries”(Por uma sobriedade feliz, Quarteto 2012, 41); haja vista o redesenho da humanidade, projetado por Himmler e que cul-minou com a shoah, a liquidação dos ciganos e dos deficientes.

Se não incorporarmos a inteligência emocional à razão instrumental-ana-lítica, nunca vamos sentir os gritos dos famintos, o gemido da Mãe Terra, a dor das florestas abatidas e a devastação atual da biodiversidade, na ordem de quase cem mil espécies por ano (E.Wilson). Junto com a sustentabilidade deve vir o cuidado, o respeito e o amor por tudo o que existe e vive. Sem essa revolução da mente e do coração iremos, sim, de mal a pior. * Leonardo Boff é autor do livro Proteger a Terra - cuidar da vida: como escapar do fim do mundo, Record 2010.

A realidade mundial é complexa. É impossí-vel fazer um balanço unitário. Tentarei fa-zer um atinente à macro-realidade e outro à micro. Se considerarmos a forma como os donos do poder estão enfrentando a crise sis-têmica de nosso tipo de civilização, organizada na exploração ilimitada da natureza, na acu-mulação também ilimitada e na consequente criação de uma dupla injustiça: a social com as perversas desigualdades em nível mundial e a ecológica com a desestruturação da rede da vida que garante a nossa subsistência e se, ain-da tomarmos como ponto de aferição, a COP 18 realizada neste final de ano em Doha no Qa-tar sobre o aquecimento global, podemos, sem exagero dizer: estamos indo de mal a pior. A se-guir este caminho encontraremos lá na frente e, não demorará muito, um “abismo ecológico”.

Até agora não se tomaram as medidas ne-cessárias para mudar o curso das coisas. A eco-nomia especulativa continua a florescer, os mercados cada vez mais competitivos –o que equivale dizer – cada vez menos regulados e o alarme ecológico corporificado no aquecimen-to global posto praticamente de lado. Em Doha só faltou dar a extrema-unção ao Tratado de Kyoto. E por ironia se diz na primeira página do documento final que nada resolveu, pois protelou tudo para 2015:”a mudança climática representa uma ameaça urgente e potencial-mente irreversível para as sociedades huma-nas e para o planeta e esse problema precisa ser urgentemente enfrentado por todos os paí-ses”. E não está sendo enfrentado. Como nos tempos de Noé, continuamos a comer, a beber e a arrumar as mesas do Titanic afundando, ouvindo ainda música. A casa está pegando fogo e mentimos aos outros que não é nada.

de mal a piorBalanço anual do macro: estamos indoJunto com a sustentabilidade deve vir o cuidado, o respeito e o amor por tudo o que existe e vive

Nunca se chega a nenhum acordo sobre o clima porque os poderosos

conglomerados do petróleo influenciam politicamente os governos

e boicotam qualquer medida que lhes diminua os lucros e não apoiam por

isso as energias alternativas. Só buscam o crescimento anual do PIB

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nômico. Propostas tecnicamente bem elaboradas sobre a infraestrutura viária e alternativas energéticas são urgentes e fundamentais.

Proteção das florestas e expansão da fronteira agrícolaO desempenho do governo na área ambiental é julgado pelo comporta-

mento da taxa de desmatamento. Prova disso é que a gestão ambiental é uma das mais bem avaliadas no governo pela população, fruto da queda do desmatamento na Amazônia. Mas, a força do agronegócio cresce cada vez mais. A mudança do Código Florestal foi feita para resolver o passivo dos agricultores que desmataram e não cumpriram com a obrigação de recuperar as áreas que degradaram. Agora, com a nova lei, se inicia outra discussão, que é a de permitir a expansão da fronteira agrícola sobre a flo-resta amazônica. Aqui, o ingresso no debate tem que ser feito para demons-trar que o Brasil dispõe de áreas desmatadas e abandonadas mais do que suficientes para garantir a expansão da agricultura, à luz de uma política de desmatamento zero.

Demografia e desenvolvimentoPara o Banco Mundial, nos próximos oito anos o país contará com o bônus

demográfico, que ocorre quando há mais pessoas trabalhando do que apo-sentadas. A partir de 2020, essa relação se inverte, sendo necessário, até lá, impulsionar o desenvolvimento para dispormos de recursos para o atendi-mento da crescente população na terceira idade e das novas gerações.

Portanto, o impacto do fator demográfico sobre a economia do país será um dos novos motes para justificar a aceleração das políticas de cresci-mento que, muitas vezes, servem de pretexto para minimizar as exigên-cias da nossa legislação ambiental. O debate sobre esse tema nos dá a oportunidade de projetarmos o modelo que queremos para a economia, para além da dependência absoluta da exploração de recursos naturais e negociação de commodities agrícolas. * Sergio Leitão é diretor de Políticas Públicas, do Greenpeace Brasil

A sociedade precisa ampliar o campo da participação democrática em relação ao de-bate e análise dos projetos de desenvolvi-mento pensados para o país nos próximos anos, em razão das suas profundas implica-ções sobre a agenda ambiental.

A seguir, apresento três temas, entre tantos outros, que exigem um olhar atento para que possamos dimensionar o impacto em relação à proteção do meio ambiente, preparando-nos para uma intervenção qualificada que leve o governo e a iniciativa privada não só a simplesmente nos escutar, mas efetivamente considerar nossas propostas quando da ela-boração de planos. A compreensão do que é realmente necessário para o desenvolvimen-to do país e das alternativas para que isso seja feito de forma sustentável, colocando o Brasil no eixo de uma economia alinhada com as exigências do século XXI, nos permitirá al-cançar esse objetivo.

Infraestrutura e legislação ambientalA percepção no governo Dilma é de que as

leis ambientais travam a necessária expansão da infraestrutura. O governo vai investir R$ 133 bilhões na construção de estradas e ferrovias. Irá investir também em novas hidrelétricas na Amazônia, que vão aumentar a pressão sobre o desmatamento e ressuscitar o conflito entre licenciamento ambiental e crescimento eco-

democraciae desenvolvimento

Propostas tecnicamente bem elaboradas sobre a infraestrutura viária e alternativas energéticas são urgentes e fundamentais

Paulo Adario, do Greenpeace, participa da divulgação dos dados que indicam que a área de

soja plantada em terras de desmatamentos na Amazônia aumentou 57% na safra 2011/12, em

relação à safra 2010/11. Dados: Moratória da Soja

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Pousada Verbicaro recebe os certifi cados de Neutra em Carbono e de Empresa Amiga do Planeta

Pousada Verbicaro recebe

destaque ambiental

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A Pousada Verbicaro (www.pousadaverbicaro.com.br), localizada no município fl uminense de Santa Maria Madalena, recebeu em 8 de de-zembro de 2012 o selo Prima (www.prima.org.br) por compensar as emis-sões de carbono de suas operações no ano de 2012. Na ocasião, foram plan-tadas 60 mudas de espécies da mata atlântica na RPPN da propriedade. A proposta é contribuir para a redução das emissões a cada ano, gradual e proporcionalmente, focando na educação ambiental e indo além da compensação ambiental, com o plantio de mais árvores que o necessá-rio para a neutralização das emissões daquele ano. A Pousada Verbicaro é uma referência em sustentabilidade e um exemplo a ser seguido pelo setor de hotelaria.

Na ocasião, a Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental) tam-bém outorgou o certificado à Pousada Verbicaro de Empresa Amiga do Planeta, passando o certificado às mãos do proprietário, Mário Vahia, em reconhecimento ao trabalho desenvolvido, que vai além do simples cumprimento da legislação ambiental, adotando técnicas e cuidados ambientais, como a criação da RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural, entre outras ações.

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Mais informações e reservas: Mário Verbicario Vahia – Gerente (22) 2561-1515 / 9825-8647 www.pousadaverbicaro.com.br

Mário Verbicario Vahia, gerente da Pousada, recebe a certifi cação de

empresa Neutra em Carbono, das mãos de Ricardo Harduim, da Prima.

No alto, certifi cado de empresa Amiga do Planeta, outorgado a

Verbicaro por Vilmar Berna, da Rebia

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Pousada Verbicaro recebe

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O gaivotão (Larus dominicanus) é uma ave marinha cosmopolita e gregária, que se ali-menta, se reproduz e migra em grupos, ocor-rendo em todo o hemisfério sul. A espécie se reproduz na América do Sul, sul da África, Aus-trália, Nova Zelândia, ilhas subantárticas e na península antártica. Há também diversos re-gistros de ocorrência da espécie no Caribe e na América do Norte. No Brasil, o gaivotão é encontrado desde o Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, sendo este último estado o li-mite setentrional de ocorrência da espécie. Há também registros excepcionais no norte da Bahia, em Mangue Seco, no município de Jan-daíra, na Baía de Todos os Santos, no município de São Francisco do Conde e no Arquipélago de Fernando de Noronha. Na costa brasileira, Larus dominicanus é encontrada em ambientes cos-teiros, como praias, ilhas, manguezais, dunas e restingas, nidificando no inverno, em ilhas costeiras entre os Estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina, entre as latitudes 21-29ºS. Após a reprodução, as aves dispersam-se pela costa.

Única gaivota de porte na costa brasileira (comprimento – 63cm, envergadura – 1,4m e massa corporal – 1,3kg), o gaivotão apresen-ta coloração branca na maior parte do corpo, dorso negro e face superior das asas também negra (na plumagem adulta, adquirida apenas durante o quarto ano de vida). Apresenta ain-da bico amarelo com uma mancha vermelha na ponta da maxila e da mandíbula. É uma espécie onívora, que apresenta dieta variada, assumindo muitas vezes características de comensalismo ou até pirataria. Alimenta-se basicamente de peixes frescos, capturados du-rante a atividade de alimentação, e de peixes

na costa brasileira

No Brasil, o gaivotão é encontrado desde o Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, sendo este último estado o limite setentrional de ocorrência da espécie

mortos, atirados na praia ou na água, como descartes de atividades pes-queiras. Além disso, pode se alimentar do lixo proveniente de atividades antrópicas. Sua dieta inclui peixes, filhotes de outras aves, crustáceos, mo-luscos, mamíferos marinhos mortos na praia, pequenos roedores, répteis, anfíbios, restos de lixo e até mesmo frutos e sementes.

A espécie no costa do Rio de JaneiroO grande número de gaivotões, tanto jovens quanto adultos, na costa do Rio

de Janeiro, está relacionado com a atividade alimentar e com o comportamen-to reprodutivo da espécie, pois L. dominicanus é facilmente encontrado em am-bientes costeiros, como praias, manguezais, dunas e restingas, onde se alimen-ta, e em ilhas próximas à costa, onde se reproduz nos meses de inverno.

O fenômeno da ressurgência também influencia definitivamente na ocor-rência da espécie na região em questão, principalmente nos meses de verão, devido à grande produtividade primária das águas, proveniente da subida das águas frias e profundas ricas em nutrientes, que fazem da costa do Esta-do do Rio de Janeiro um excelente local de alimentação ou de ocupação sa-zonal (em função da disponibilidade de presas), não só para espécies de aves marinhas, mas também para diversas espécies de peixes, moluscos, crustá-ceos e mamíferos marinhos que sazonalmente ocorrem ao longo do litoral.

Acredita-se que o número elevado da população da espécie durante o verão, ao longo de todo o litoral do Rio, também possa estar relacionado com o au-mento do descarte da pesca, tanto artesanal quanto industrial, e com o aumen-to do número de pessoas presentes no litoral nessa época do ano, pois como abordado anteriormente, sabe-se que a espécie se alimenta de peixes mortos, atirados diretamente na água ou na praia, como descartes da atividade pes-queira, e pode se beneficiar com o lixo de origem humana, podendo se apro-veitar de restos de alimentos descartados pelas pessoas ao longo da costa.

Sugestões de leitura• Ornitologia Brasileira. Helmut Sick, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 912 páginas, 1997.• Aves marinhas costeiras do Brasil: identificação e biologia. Ronaldo Novelli, Cinco Continentes, Porto Alegre, 90 páginas, 1997.• Aves Marinhas na Bacia de Campos. Jorge Bruno Nacinovic, Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro, 60 páginas, 2005.

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Fazem sucesso 20 programas para recompor o que foi destruído

se torna referência na gestão de projetos sustentáveisUsiNa de itaipU

Quando foi construído, em 1982, o lago da usina de Itaipu era um orgulho da enge-nharia nacional e uma dor de cabeça para ambientalistas. Hoje, fazem sucesso os 20 programas implantados pela hidrelétrica para recompor o que foi destruído.

Quase 30 anos depois da inauguração da hi-drelétrica, Itaipu é hoje referência na gestão de projetos sustentáveis em parte da bacia do rio Paraná, onde vivem aproximadamente 1 milhão de pessoas.

A reportagem sobrevoou a região para ver algumas intervenções que mudaram a pai-sagem e a rotina de quem vive no local. Des-de a construção de Itaipu, foram plantadas 43 milhões de árvores.

O Corredor Ecológico de Itaipu tem 27 qui-lômetros de extensão e aproximadamente 70 metros de largura. A faixa verde interliga o Parque Nacional de Iguaçu à faixa de pro-teção da hidrelétrica. A função do corredor ecológico é permitir a melhoria genética e o intercâmbio das espécies, que circulam livre-mente e aumentam a longevidade, a saúde e a resistência no ambiente.

Outro desafio é recompor as matas ciliares dos rios que deságuam no reservatório. Um trabalho que já dá resultado. Em linha reta, a faixa verde de proteção dessas matas equiva-le à distância que separa Foz do Iguaçu do Rio de Janeiro (1.321 km).

Nada disso seria possível sem a ajuda dos produtores rurais, que foram estimulados a diversificar a produção, sem agravar a destrui-ção da terra e a poluição das águas.

É o caso da agricultora Guiomar Neves, que descobriu no cultivo de plantas medicinais uma fonte de renda extra cada vez mais importante no orçamento. “Todos que a gente produz são vendidos. Não fica estocado não, tudo sai”, diz.

Todas as plantas são cultivadas, colhidas, se-cadas e processadas ali mesmo. Um dos desti-nos mais importantes são os postos de saúde da região. “A gente tem utilizado o cítrus, tem utilizado a alfavaca, tem utilizado graviola, o guaco, e os pacientes têm retornado com mui-ta satisfação”, diz Jaqueline Marinho, médica do programa de Saúde da Família.

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Inês e Vilmar Berna visitam a parte mais profunda da Usina, no leito do rio original, acompanhados pelo jornalista Romeu Bruns. A equipe da Rebia conheceu alguns projetos, como o canal da Piracema e as instalações do Refúgio Biológico Bela Vista

A terra que produz remédios também abre espaços generosos para o culti-vo de alimentos orgânicos. Mais de 800 agricultores receberam treinamen-to para produzir sem agrotóxicos ou transgênicos. Há alimentos saudáveis que vêm direto das águas do reservatório. Setenta e um pescadores apren-deram a fazer o manejo sustentável do pacu, um dos peixes típicos da re-gião, em tanques-rede. São, ao todo, 600. Cada tanque tem capacidade para produzir até 300 quilos de peixe. “Hoje, em um espaço de um hectare, eu consigo produzir até uma tonelada de peixe, isso em um ciclo, em um perí-odo de oito meses”, afirma o produtor de peixe Estevam Martins de Souza.

Como assegurar a boa qualidade da água sem dar destinação inteligente aos dejetos de animais como bois e porcos? A solução foi canalizar o esterco para grandes biodigestores, onde o gás metano se transforma em energia. A renda extra é apenas uma das vantagens.

O único gasoduto do Brasil para biogás a partir de esterco animal interliga 33 proprietários rurais. O metano é bombeado até uma pequena termelétrica.

A cada dia, são canalizados para essa central termelétrica 80m³ de gás metano, que estão do lado de dentro de uma bolsa de lona. “Essa quanti-dade de gás, de biogás, é capaz de gerar uma renda para a cooperativa de R$ 5 mil por mês somente em geração de energia elétrica. Essa energia é capaz de, comparativamente, sustentar 170 residências”, diz Cícero Bley Jr., superintendente de energia renovável da usina de Itaipu.

São 20 programas diferentes realizados em uma área equivalente à meta-de da Bélgica. Todas as ações são coordenadas por Itaipu dentro do projeto Cultivando Água Boa. “Esse é um laboratório a céu aberto, com 29 municí-pios, um milhão de habitantes, e as coisas estão acontecendo. Nós temos mais de 860 pescadores, nós estamos falando de mais de 1.200 produto-res de orgânicos na pequena agricultura. Nós estamos falando, portanto, de toda uma rede de mais de 40 arranjos produtivos que surgiram em função dessas ações. Isso fala por si”, diz Nelton Miguel Friedrich, diretor de Coor-denação e Meio Ambiente da Itaipu Binacional. Fonte: g1.com.br

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“O que te digo três vezes é verdade.” (Bellman, Relojoeiro, Alice no País das Maravilhas)

I - Li recentemente um artigo do economista italiano Luigino Bruni que defendia que pre-cisamos urgentemente de felicidade pública.

Expressão com tradição na economia ita-liana da segunda metade do século XVII, foi descrita como integrando três elementos: de-senvolvimento econômico, virtuosidade e co-munhão de bens sociais. Este posicionamen-to dos economistas daquela época defen-dia que sem desenvolvimento econômico as pessoas não poderão ser verdadeiramente fe-lizes, já que nunca sairão da condição de escra-vos. Advogava também que este aspecto sozi-nho não basta, pois a felicidade pública – e a privada – emerge da virtude, e só acontece se a virtuosidade for cultivada. Finalmente, con-siderava que a felicidade é em si mesma um bem comum. Podemos ser ricos materialmen-te no privado, mas para conseguirmos a feli-cidade carecemos também de relações ou de bens relacionais. E se um de nós for infeliz, a felicidade coletiva está mutilada.

Falar hoje em felicidade, aberta e determi-nadamente, pela voz de economistas críticos e construtores de políticas públicas com vi-

felicidade públicaA nova linguagem da

são de futuro, e estudar a felicidade nas academias, rigorosa e planetaria-mente, permitiu (re)abrir uma nova janela e uma gramática que mudou a nossa consciência. Ao descerrar conversas e métricas diferentes, plantou um terreno fértil (a etimologia latina de felicidade é fe, felicitas, fecundo, em divergência com o anglo-saxônico happiness que se refere a acontecer/to happen) e deixou-nos o grande desafio de passar da concepção de uma felicidade privada – que penetrou as nossas vidas de forma aditiva durante décadas, nos colou inconscientemente ao projecto econômico aumentando a desigualdade e diminuindo a sustentabilidade, e em consequência impe-diu que muitos saíssem da condição de escravos – para uma imprescindível visão de que essa felicidade tem que ser pública, e não menosprezar, mas sim ir além das questões econômicas.

II - Paulo Freire, o criador brasileiro da palavra e prática da Conscientiza-ção dizia, em 1991, que nunca tinha podido entender a leitura e a escrita da palavra sem a acompanhar de uma ‘leitura’ do mundo que o empur-rasse à sua transformação.

Em tempos de hegemonias múltiplas, de domínios e imposições de for-mas de viver e de reducionismo das escolhas próprias, podemos dizer que a linguagem foi (tristemente) ocupada. No espaço público tem-se mais poder quando se controla o que é dizível e o que é discutível, quando se silenciam e proíbem palavras e modos de vida, e quando se consolidam ideias – infiltrando-as até à exaustão – sobre o que é possível.

As estratégias discursivas, controladas por poucos e a consequente cria-ção e propagação de determinadas palavras e conceitos, mapeiam a nos-sa vida pública e as nossas representações coletivas. Colonizados por uma linguagem determinista, repetida e entediante, de aparência não ideoló-gica, mas na prática definidora das relações actuais e dos futuros coleti-vos, damos por nós tantas vezes letárgicos, acríticos e incapazes de acre-ditar e confiar nos seres humanos, no poder democrático, na mobilização civil, na força para nos reinventarmos, potenciarmos formas dialogantes ou regenerar a vida pública.

No texto Desfraldando sonhos desfeitos Heshusius dizia, em 1996, que pre-cisamos de uma consciência participativa, em que quando o eu e o outro so-mos vistos como pertencentes à mesma consciência, todo o viver é um viver moral. E continuava, defendendo que viver moralmente requere não apenas um discurso moral, mas uma consciência inquieta de nós mesmos em cada momento desse viver. É aí que entra a vivência e prática das virtudes.

III - Para mim, hoje, um viver moral acarreta por isso provocar inten-cionalmente novas consciências e esse sentimento inquietante oriundo noutras linguagens e noutra possível forma de existência, luminosa-mente mais justa e relacionalmente mais virtuosa.

A introdução do conceito de felicidade nos discursos e práticas das socie-dades desenvolvidas é uma contribuição humilde, mas ainda assim prós-pera, para encarnar novas e mais esperançadas formas de vida pública. Vamos dizê-la e defendê-la duas, três, muitas vezes – para poder passar a ser verdade. Ocupemos (eticamente) as palavras! Fonte: org-www.publico.pt

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No médio e longo prazo, ao não assegurar a participação organizada da cidadania, estará se caminhando para o enfraquecimento da democracia brasileira

plataformapor um novo marco regulatório das OSC

No PL, questões como contrapartida, custos ad-ministrativos, regras exageradas de prestação de contas não estão suficientemente claras e po-dem dar ensejo a proliferação de regulamenta-ção infra-legal (contribuindo novamente para a insegurança jurídica). Nesta conjuntura, o papel do CF da Plataforma tem sido pouco reivindica-tivo e menos ativo do que necessário. No geral a maioria do grupo tem tido pouca participação efetiva e está sendo aceito, quase que a-critica-mente, equívocos ou omissões do PL ou – de for-ma geral – do conjunto do processo.

E, apesar disto o CF se desmobilizou. Desde agosto 2012 só foi possível agendar uma reu-nião política operativa para nos organizar e pla-nejar o curso de ações necessárias após a divul-gação do PL, para o 22 de janeiro: 6 meses após! Temos pela frente, além da discussão do PL, a busca de soluções e propostas para as questões de acesso a recursos públicos, incentivos fiscais e o regime simplificado e favorecido de tributa-ção. Precisamos de todas as OSCs juntas. Fonte: www.vitaecivilis.org.br/images/stories/Anexos/jornal_fboms_112012_versao_digital.pdf* Silvio Rocha Sant’Ana, da Fundação Grupo Esquel Brasil, é membro do Comitê Facilitador da Plataforma e da coordenação do FBOMS

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Nos últimos 10 anos percebe-se a degradação contínua das condições po-líticas, institucionais, operacionais e financeiras das OSCs. Vive-se uma “crise de identidade”. Por outro lado, um contínuo e significativo aumento das despesas administrativas e, para piorar, um ambiente de insegurança jurídica e de perdas significativas de quadros. Sem contar com a prática da “criminalização” do segmento. Adicionalmente, opções de contratações de OSCs diretamente com estados e municípios, têm tido efeito negativo. Esta situação praticamente impede o exercício organizado do controle social.

Por fim, o setor privado ampliou a implantação de instâncias de Respon-sabilidade Social Empresarial e de Investimento Social Privado, une-se a tendência de “criação” de “empresas sociais” que operam com finalidade lucrativa mas se apresentam como tendo finalidades sociais. O impacto desta realidade é muito negativa e muitas organizações deixam de fun-cionar ou reduzem suas atividades. No médio e longo prazo, ao não asse-gurar a participação organizada da cidadania, estará se caminhando para o enfraquecimento da democracia brasileira.

Apesar da Plataforma ter conseguido obter compromisso eleitoral de nos-sa Presidenta e uma interlocução qualificada e construtiva com a Secreta-ria Geral da Presidência da República (SGPR). Do ponto de vista prático, os ganhos reais foram mínimos, quase inexistentes. Dentro do Governo per-manece a tendência à ampliar as dificuldades, a repressão, a criminalização das OSCs. Ao lado, assistimos a expansão de facilidades e benefícios ao se-tor privado de fins lucrativos.

Os produtos do Grupo de Trabalho do Marco Regulatório (GTMR) tiveram in-discutíveis méritos e avanços. No entanto o Projeto de Lei (PL) que versa sobre o novo instrumento de contratualização (resultado mais importante) é ainda incompleto, insuficiente e, tal como está, representa um perigo iminente.

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A sala verde é um espaço que proporciona, à população em geral, o aces-so a informações e materiais de educação ambiental através de cursos, palestras, ofi cinas, vivências, e outros. Em Divinópolis – MG, a sala verde Frei Paulino desenvolve um trabalho de educação ambiental que objetiva informar e sensibilizar, a comunidade, alunos e professores do ensino fun-damental das escolas municipais, sobre a questão do lixo urbano. As ações educativas foram desenvolvidas utilizando a estrutura de um viveiro fl o-restal permitindo um trabalho sistemático de informações a respeito do desmatamento, consumismo desnecessário, manejo correto do lixo urbano, e recolhimento da sucata ferrosa. No período decorrente desta avaliação foram atendidas 148 escolas com 8.263 participantes, entre alunos e profes-sores, tendo sido retirado do meio ambiente 35.717,9 Kg de sucata ferrosa. Os resultados confi rmam que o viveiro educador é, sem dúvida, uma boa estratégia para se fazer educação ambiental.

Divinópolis é um município do Estado de Minas Gerais distante a 121 km da capital Belo Horizonte, ocupando uma área de 708.909 Km2 com, 213.016 habitantes (IBGE, 2012), gerando em média 180 toneladas de resíduos sóli-dos urbanos por dia. Este volume de lixo produzido justifi ca a implantação de projetos com ações pedagógicas que enfoque a problemática dos resí-duos sólidos e auxilie aos envolvidos a construírem conhecimentos, habi-lidades e valores necessários para tomar decisões responsáveis em relação ao problema do lixo, bem como a implantação da coleta seletiva do lixo domiciliar, uma vez que ensinar sem dar subsídios para desenvolvimento das ações torna inviável qualquer projeto. Neste contexto, a Sala Verde Frei Paulino, localizado em Divinópolis – MG, criou o Projeto Reciclando que con-ta com a participação da empresa privada Gerdau – Aços Longo Divinópolis S/A, alguns órgãos públicos (Ief, Emater, Cefet-MG) e apoio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Semmapu) e Secretaria de Esporte e Lazer (Sel).

As atividades no viveiro educador contam com a participação de uma equipe pedagógica que trabalha com alunos e professores de esco-las municipais locais, enfatizando a importância do correto manuseio, reaproveitamento e acondicionamento do lixo, o processo biológico da compostagem e a influência do avanço tecnológico e do consumismo na produção do lixo urbano.

Trabalhar a educação ambiental, no contexto CTS, é desenvolver nos alu-nos uma sensibilidade crítica acerca dos impactos ambientais e sociais derivados do avanço tecnológico utilizando de ações pedagógicas que levem à discussão, formação de opinião, busca de soluções e, principal-mente, que permita tornarem cidadãos conscientes e ativos na sociedade a qual pertencem. Neste contexto, torna-se necessária a qualifi cação de professores e mudanças no processo de ensino e aprendizagem para trabalhar com a abordagem CTS.

O projeto reciclando vêm cumprindo seu papel socioambiental e apre-sentando um crescimento vertiginoso no recolhimento de sucata ferrosa, por parte da população, ao ser trocado por mudas de árvores frutíferas e/ou ornamentais. Em 2009, após a implantação do projeto, foram entre-gues 1382 mudas, em troca de sucata ferrosa, no período de abril a de-

zembro do referido ano, tendo maior prefe-rência por mudas de árvores frutíferas (83%). A pesagem total do material entregue foi de 8.600 Kg. A venda do material recolhido, para a empresa participante do Projeto, contribui para a manutenção do viveiro.

As ações desenvolvidas pela sala verde Frei Paulino, no município de Divinópolis-MG, atra-vés do Projeto Reciclando, cumpre os objetivos propostos pelo projeto Viveiro Educador, assim como, ao possibilitar a troca de material ferroso por mudas de árvores, promove uma ação am-biental que contribui signifi cativamente para a retirada da sucata ferrosa do meio ambiente, muita das vezes jogado em áreas comprome-tedoras. Com certeza o trabalho realizado atra-vés do projeto reciclando não é sufi ciente para reverter o quadro atual do lixo urbano no mu-nicípio, porém, torna-se necessário acreditar que, com as ações pedagógicas realizadas, seja possível transformar o comportamento, pois segundo TOMAZELLO (2012), os resultados de um processo educativo são consequências de uma ação prolongada por anos.

Os problemas ambientais são complexos, en-volvem questões sociais, políticas, econômicas e culturais, e devem ser encarados de forma ampla, com a participação de todos os segui-mentos sociais, para que as transformações al-mejadas tornem-se realidade. Cabe ressaltar que é possível ampliar as ações educadoras do ambiente escolar utilizando de estruturas sim-ples como uma horta, um jardim, a vegetação nativa no entorno da escola, permitindo que os alunos refl itam expressem suas potencialida-des individuais. Cabe a cada educador o desa-fi o de extrapolar as fronteiras de uma sala de aula e atuar em outras frentes de trabalho que favoreça o trabalho coletivo, o diálogo, o apren-dizado vivenciado. Creio que a divulgação des-te trabalho venha servir de incentivo para o surgimento de novos projetos de Viveiro Educador em escolas públicas de ensino. * Doutorando em Ensino de Ciências e Matemática pela UnicSul (SP). Mestre e especialista em Zoologia dos Vertebrados (PUC-MG), graduado em Ciências Biológicas (PUC-MG). Docente efetivo e pesquisador do Departamento de Formação Geral do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) no Campus V (Divinópolis-MG).**Rita de Cássia Frenedozo, Doutora em Geociências e Meio Ambiente – UNESP Júlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro (SP). Docente do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, UnicSul (SP).

Utilizando um viveiro fl orestal como viveiro educador

Leia o texto integral: portaldomeioambiente.org.br

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a boa utilização desse recurso Depois do oxigênio, a disponibilidade de água doce (e potável) é a condição mais es-sencial à manutenção da vida terrestre em nosso planeta. Sua escassez, que já é uma realidade para 20% da população mundial, vem sendo acentuada nos últimos 40 anos pela poluição dos rios, desmatamento das flo-restas, degradação do solo, má gestão dos re-cursos hídricos e pelo grande desperdício, na agricultura, na indústria e no nosso dia a dia.

Nos últimos 100 anos, o consumo de água aumentou oito vezes, enquanto a população mundial cresceu quatro vezes. Ou seja, o con-sumo médio individual dobrou. Porém, nesse mesmo período, poluímos 50% da água doce disponível para o nosso uso. Significa dizer que hoje estamos gastando o dobro de uma fonte que está com sua capacidade reduzida à metade. Não é por outra razão que em 2020, 60% da população mundial sofrerão carência de água de boa qualidade para consumo. E presenciaremos a intensificação das guerras e disputas territoriais pela água.

Pode parecer incrível, mas mesmo sabendo da clássica distribuição das águas no planeta e o quanto a disponibilidade de água doce é restri-ta – 97% são salgadas, 2% formam as geleiras e apenas 1% é doce, e dessa água doce somen-te um terço está disponível –, nós continuamos desperdiçando esse precioso líquido, especial-mente no Brasil que detém 10% de toda a água doce do mundo. E, se recebemos tal dádiva da Natureza, esse privilégio torna-se acachapante quando confrontado pela triste estatística da ONU que revela que 80% das internações hos-pitalares no mundo atual são motivadas pela simples falta de acesso à água potável.

É bem verdade também que o fato de termos água em abundância, e por isso barata, pode ter nos tornado grandes esbanjadores. Nós nos acostumamos a utilizar a água de forma livre e despreocupada, sem nos darmos conta de que seu uso responsável no nosso cotidiano pode proporcionar considerável redução no desper-dício. E exemplos não faltam. Tomar banho fe-chando a torneira ao ensaboar o corpo e os ca-belos pode representar uma economia de até 90 litros de água por banho. Da mesma forma que barbear-se fechando a torneira, quando

a água não estiver sendo utilizada, pode produzir uma economia de até 10 litros. Sem falar na habitual e dispensável “vassoura hidráulica” utilizada pelos faxineiros dos prédios para varrer e lavar as calçadas, onde o uso de uma vassoura normal economizaria até 250 litros de água por dia.

Infelizmente, nessa questão da boa utilização da água, não se trata só de ter ou não educação e boa vontade para adotar seu consumo consciente. Para boa parte da população, o uso responsável só virá com mecanismos de punição, como uma conta salgada no final do mês. Diferente da energia e do gás, cujos consumos individuais vêm quantificados na conta mensal da concessionária, permitindo que o cidadão sinta no bolso o uso exagera-do e o desperdício, a água, na maioria dos prédios residenciais, é cobrada do condomínio numa única conta coletiva. Assim, o uso correto desse recurso só será possível quando todas as residências tiverem seu consumo de água medido por hidrômetros individuais e cobrado em contas separadas.

Um grande exemplo vem da Alemanha, onde o custo da água é bem alto e a cobrança individual. Lá, só se costuma puxar a descarga do vaso no banheiro após quatro ou cinco xixis. Substâncias para eliminar o cheiro desagradável da ureia são utilizadas, sem dúvida, e é claro que está se fa-lando de uma atitude extrema, que espero não tenhamos que copiar, mas esse comportamento nos dá a exata dimensão do quão sensível pode ser o bolso do consumidor e o quanto esse mecanismo de punição financeira é eficiente na redução do consumo e do desperdício de água. * Marcelo é biólogo marinho formado pela UFRJ, com pós-graduação executiva em Meio Ambiente (MBE) pela Coppe/UFRJ, é autor dos livros Guia Aqualung de Peixes e de sua versão ampliada em inglês Aqualung Guide to Fishes, Seres Marinhos Perigosos, Peixes Marinhos do Brasil e Tubarões no Brasil. Além de palestrante e consultor, Marcelo é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, diretor do Projeto Tubarões no Brasil, membro do Conselho da Cidade do Rio de Janeiro (área de Meio Ambiente e Sustentabilidade), membro e diretor do Sub Comitê do Sistema Lagunar da Lagoa Rodrigo de Freitas e colunista da Rádio SulAmérica Paradiso FM 95,7 com o boletim Eco Paradiso.

Reflita sobre esse assunto. Seja consciente e responsável no consumo de água, na sua residência ou no seu trabalho, para que não falte no futuro

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depende cada vez mais das condições climáticas

O traumático racionamento ocorrido em 2001 ensinou algumas lições importantes para o Brasil. De lá pra cá, a capacidade do parque gerador brasileiro – que vivia sob intensa pa-ralisia – cresceu 56%, e o sistema de transmis-são, um dos principais vilões do contingen-ciamento ocorrido naquele ano, avançou 54%. Mas, apesar dos investimentos feitos e do in-cremento de novas fontes de energia na matriz elétrica, o sistema nacional está cada dia mais vulnerável e sujeito ao humor de São Pedro.

No ano passado, embora o crescimento da eco-nomia tenha decepcionado e a seca que atingiu o País não esteja entre as piores da história, o ní-vel dos reservatórios caiu mais rápido que o pre-visto. Com as represas em baixa e chuvas ainda escassas, o risco de um novo racionamento vol-tou a rondar a vida dos brasileiros, apesar de o governo federal afirmar que vai garantir o abas-tecimento com a operação das térmicas – em 2001, essas usinas praticamente não existiam.

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Desde 2001, novas usinas e linhas de transmissão foram construídas, mas País perdeu capacidade de armazenamento de água

Um dos principais motivos da maior fragilidade do sistema nacional está nas restrições para construir hidrelétricas com reservatório. Por questões ambientais, as grandes usinas que estão sendo construídas Brasil afora são a fio d’água e não têm represa para guardar água, a exemplo das Hidrelé-tricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio. Isso significa que o País está perdendo capacidade de poupança para suportar períodos com hidrologia desfavorável, como agora. “Temos de contar com a natureza”, diz o diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa.

LimitesDados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que em

2001 a capacidade dos reservatórios era suficiente para seis meses de carga de energia de todo o sistema interligado nacional. Em 2009, o volume tinha caído para cinco meses. E, em 2019, será suficiente para apenas três meses.

Portanto, o fato de o País escapar de um racionamento agora não elimina os riscos no próximo ano. Se não chover bastante até o fim do período úmi-do, os reservatórios vão terminar 2013 piores do que em 2012. Foi assim que ocorreu o racionamento de 2001. No fim de 1999, choveu pouco e os reserva-tórios caíram bastante. No início de 2000, as chuvas conseguiram recuperar o volume de armazenamento, mas não foi o suficiente para evitar o contin-genciamento no ano seguinte, quando as chuvas minguaram novamente.

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sistema elétrico brasileiroAs usinas a fio d’água tendem a agravar a dependência climática. Além

da falta de reservatório, as hidrelétricas do Norte ainda sofrem de outro mal: a forte variação do volume de água no período seco e no período úmido. No Rio Xingu, por exemplo, onde está sendo construída Belo Mon-te, a diferença é de 25 vezes. Em Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, é de 11 vezes. No Sudeste, de apenas 5 vezes.

“Com a entrada em operação das novas hidrelétricas, a operação do sis-tema vai virar um inferno”, diz o consultor Mario Veiga, presidente da PSR Consultoria. Segundo ele, os prejuízos desse modelo são enormes, já que afetam outras fontes de energia, como a viabilidade das eólicas. Um reser-vatório tem capacidade de armazenar tanto água como vento. Se num de-terminado período está ventando muito, o operador pode diminuir a pro-dução da hidrelétrica, guardar água e atender à demanda com as eólicas.

Sem represa, no entanto, o operador precisa de outras garantias, já que as eólicas também são dependentes das condições climáticas. “Pior: quando não venta o calor aumenta. Por um lado a geração de energia diminui e, por outro, o consumo sobe”, destaca a coordenadora do Núcleo de Energia do FGV in company, Gorete Pereira Paulo.

EquilíbrioNa opinião dela, o País precisa apostar mais na energia térmica para dar

segurança ao sistema. Quanto mais usinas a fio d’água forem construí-das, maior a necessidade de termoelétricas para garantir o abastecimento em momentos de instabilidade climática. Dois outros especialistas tam-bém defendem maior participação das usinas na matriz brasileira.

Roberto Pereira D’Araújo e Luiz Pinguelli Rosa acreditam que a situação atual poderia ter sido evitada se as térmicas tivessem entrado em ope-

ração mais cedo. “Hoje 70% da capacidade de geração é hidráulica, mas as usinas geram 90% da energia do País. As térmicas repre-sentam mais de 20% do parque gerador, mas produzem apenas 10%. Isso precisa mudar”, diz D’Araújo.

O professor da Coppead, Nivalde Castro, vai além: algumas térmicas precisariam gerar na base, sem parar. Hoje as usinas são contra-tadas por disponibilidades. Ficam paradas à espera de um chamado do ONS. “A quantida-de de água nos reservatórios não é mais sufi-ciente para atender ao período seco. O gover-no terá de fazer leilões por fonte, por região e numa forma de contrato diferente da atual.”

Apesar dos prejuízos e dos transtornos que virão, poucos acreditam numa reversão do atual modelo das hidrelétricas por causa da pressão ambiental. Foi uma escolha que dimi-nui os impactos ambientais, especialmente na Região Norte, mas aumenta a instabilidade do sistema e também pode aumentar o custo da energia, com a necessidade de mais térmicas. “Ninguém quer construir hidrelétricas a qual-quer custo. Mas também não podem proibir a qualquer custo”, diz Mario Veiga. Fonte: O Estado de S. Paulo

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faz até ponte ressurgir em Furnas

As oito turbinas da hidrelétrica de Furnas, a mãe dos reservatórios de energia no Brasil, que alimenta 11 usinas importantes do país até che-gar a Itaipu, na fronteira do território nacional com o Paraguai, estão permanecendo desligadas da meia-noite às 6h. Durante o dia, a usina está gerando energia, mas em quantidade bem menor do que deveria. Ontem, o nível de água do reservatório, situado 220 metros acima do nível do mar, estava em 153,3 metros. Se baixar para 150 metros, a usina atingirá seu “nível do morto”, ou seja, deixará de operar.

O volume de água é tão baixo que o cemitério da velha São José da Barra, primeiro municípo inundado pelo lago da represa de Furnas, reapareceu. Em Três Pontas, duas pontes que ligam o município às cidades de Paragua-çu e Elói Mendes, reapareceram e estão sendo usadas, inclusive por cami-nhões pesados, depois de 11 anos submersas.

A última vez que elas emergiram foi em 2001, ano do racionamento de energia no Brasil. As pontes ficaram debaixo d’água em 1962, quando o lago de Furnas foi formado. Em Guapé, as ruínas da igreja da cidade velha, que está no fundo da represa há 50 anos, também ressurgiram.

O turismo, a pesca e a agricultura na região dos 34 municípios banhados pela represa de Furnas estão prejudicados e, segundo a Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago), os prejuízos chegam a R$ 100 mi-lhões. As perdas vão desde a queda na demanda nos postos de gasolina, que esperavam um bom movimento para este início do ano, até a redu-ção no movimento nos supermercados, restaurantes, pousadas e hotéis, marinas. Sem contar os desfalques apurados na pecuária, na agricultura irrigada e na piscicultura. “São 3,5 mil quilômetros de área alagada. A últi-ma vez que o nível da represa caiu como agora foi em 2001”, diz o secretá-rio-executivo da Alago e presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Lago de Furnas, Fausto Costa.

Há nove meses, Aluísio Vicente da Silva investiu R$ 10 mil na monta-gem de um bar com quiosques às margens da represa, na nova São José da Barra. Ele esperava obter o retorno do seu investimento em seis meses, mas não foi isso o que ocorreu. Com a seca, a água, que fica a 150 metros do estabelecimento dele, virou barro e ninguém pode mais nadar. “Ago-ra, nem sei quando vou conseguir recuperar o dinheiro que investi. Antes de a água secar, a gente recebia cerca de 70 pessoas nos fins de semana. Agora, não aparecem nem 30”, sustenta, diante de um cenário desolador.

Sem vizinhosO padre Eduardo Pádua de Carvalho é pároco em Passos, município vi-

zinho a São José da Barra. Ele tem um rancho às margens do lago, onde passa férias todos os anos. Ao todo, o pároco tem oito vizinhos. Neste ja-neiro, no entanto, a única casa aberta é a dele. “Quem veio passar o fim de ano se assustou porque a represa ficou muito longe do rancho e não dava para puxar água. Cisternas de 22 metros secaram. Quem aparece

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está indo buscar água na minha casa, a úni-ca onde tem água”, afirma.

Padre Eduardo aproveitou que a represa está baixa para levar amigos para visitar o cemi-tério da velha São José da Barra, que emergiu das águas. Um a um, os visitantes vão levando as pedras do antigo mortuário. De acordo com Aluíso Vicente, é o que vem acontecendo com a maioria das pessoas que vai conhecer o lo-cal. Só no grupo de padre Eduardo foram duas pedras grandes. “Estamos levando como lem-brança”, explicou.

O prefeito de Três Pontas, Paulo Luiz Rabelo, diz que próximo às pontes que reapareceram no meio da várzea em que se transformou a represa há pousadas e vários restaurantes que estão secos. Antônio Sérgio Araújo, supervisor de operações de Furnas, explica que a usina cumpre um papel regulador da vazão de água para a alimentação da região e de outras usi-nas. “Estamos gastando nossa caixa-d’água. Agora era o período de encher”, afirma.

Reflexo na produçãoO impacto de um racionamento de energia,

embora por enquanto fora do cenário traça-do pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), será forte nas fábricas mi-neiras num ano que o setor correrá atrás da recuperação. As perdas podem chegar, com facilidade, a 1% do PIB industrial do estado, estima Lincoln Gonçalves Fernandes, presi-dente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg. A produção da indústria mineira voltou a amargar queda em novem-bro, de 0,7%, de acordo com o Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, o estado mantém taxas positivas, de 1,3% e 0,9% respectivamente, desempenho supe-rior ao da média nacional. A diferença frente ao Brasil está na contribuição importante da indústria automotiva no estado. Fonte: www.em.com.br

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Nível da represa se aproxima do mínimo operacional da hidrelétrica, que está parada da 0h às 6h. Municípios banhados por ela já contabilizam prejuízos superiores a R$ 100 milhões

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o desafio na prevenção e na emergência no Sul e SudesteA incidência dos altos índices pluviométri-cos nas regiões Sul e Sudeste, neste verão, com estimativas acumuladas até fevereiro do ano que vem, de chegar a 1400 mm já si-nalizam as dificuldades contínuas identifi-cadas anteriormente na série histórica em ambas as regiões. O que está mudando aos poucos é a cultura de mitigação (redução de danos) e adaptação aos eventos extremos e aos desastres naturais no país.

Sem sombra de dúvidas, a tragédia na Serra Fluminense, em 2011, com mais de 900 mor-tos, foi um divisor, que impôs ao poder público, atitudes efetivas, partindo do básico: o diag-nóstico. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) divulgou recentemente a existência de áreas de maior risco de deslizamentos e inundações em 286 municípios nas regiões.

Não é mais possível falar do efeito surpre-sa das águas. A Agência Nacional das Águas (ANA) em parceria com gestores hídricos dos estados do Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Pará, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia e Sergi-pe, criaram 13 “salas de acompanhamento de tendências hidrológicas. No ano que vem, a expectativa é que exista essa retaguarda nos demais estados. O mapeamento de risco das bacias hidrográficas também foi mais um sub-sídio à prevenção anunciado recentemente.

Do total de 286 municípios levantados, em 195 ocorreram o maior número de mortes, nas últimas duas décadas. Segundo o Ministério da Integração Regional, 97% dos óbitos devido às chuvas no Sul e 87% no Sudeste. De acordo com o Plano de Ação do Governo Federal para o período de chuvas – Sul e Sudeste, até 30 de janeiro, as áreas mais vulneráveis estão con-centradas nas regiões da Serra do Mar, nos es-tados de SP, RJ e ES; Serra da Mantiqueira, Cen-tro-Sul de MG e região serrana do RJ.

Agostinho Ogura, diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Natu-rais (Cemaden), explica que não é possível asso-ciar previamente os eventos climáticos a deter-minados fenômenos. O que se sabe, por exem-plo, é que em janeiro de 2011, houve a associação de La Niña, na região de Nova Friburgo. No ano anterior, em Niterói, no Morro do Bumba, do El Niño. Já no Vale do Itajaí, em SC, em novembro de 2008, o fenômeno hidrometereológico extre-mo foi classificado como normal.

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Agora também será o momento de provar se as capacitações de cerca de 4,5 mil integran-tes de Defesas Civis em 227 municípios terão resultados no atendimento de alerta e às víti-mas em potencial. Até 15 de fevereiro, está pre-vista também a manutenção da Força Nacio-nal de Emergência, técnicos de diferentes áre-as da estrutura do governo. Já a Força Nacional do SUS tem hoje 329 profissionais, de médicos a técnicos de enfermagem, conforme anuncia-do na semana passada. Para completar a reta-guarda, as Forças Armadas foram equipadas para atuar nas regiões Sul e Sudeste.

A cifra empenhada, segundo o Ministério da Integração Nacional, é de R$ 4,9 bilhões, in-cluindo em grande parte, obras de infraestru-tura de drenagem e em encostas, entre outras.

Agora, o que qualquer um de nós espera, é que o que já estamos vendo em diversas lo-calidades em várzeas, encostas, em áreas im-permeabilizadas nos grandes centros urbanos adensados não se intensifique. Sem planeja-mento urbano e gestão ética dos recursos nas cidades, o enfrentamento dos desastres natu-rais sempre será frágil.

A questão habitacional e do modelo constru-tivo e de planejamento viário associado à edu-cação ambiental é mais um ponto. Quantos re-síduos vão parar nos córregos e rios continua-mente todos os anos? Isso é a realidade diária com a qual convivemos. É um ciclo vicioso e cruel, porque não afeta só o bolso, com perdas materiais, mas a saúde e significa a fronteira entre a vida e a morte. Fonte: www.cidadaodomundo.blog-se.com.br

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A mudança climática chegou e

Em declaração perante o Senado naquele caloroso verão de 1988, adver- ti aos senadores sobre o tipo de futuro que as mudanças climáticas trariam para nós e nosso planeta. Apresentei um cenário sombrio das consequências no aumento progressivo da temperatura impulsionado pela dependência da raça humana dos combustíveis fósseis. Mas preciso confessar: fui bastante otimista.

Minhas projeções sobre o aumento global da temperatura se confirma-ram. Mas falhei quando não percebi que a velocidade do aumento na mé-dia da temperatura poderia influir na ampliação da ocorrência de eventos climáticos extremos.

Numa nova análise sobre as variações de temperatura das últimas seis décadas (publicada em 29 de Março), meus colegas e eu revelamos um au-mento impressionante na frequência de verões extremamente quentes, gerando consequências profundas e preocupantes para nosso futuro, mas também para nosso presente.

Não se trata de um modelo climático ou de uma previsão, mas sim de ob-servações das ocorrências climáticas que já ocorreram. Nossa análise mostra que não é mais razoável dizer que o aquecimento global aumentará as pos-sibilidades de haver climas extremos, nem repetir o aviso de que qualquer evento particular possa ser diretamente associado às mudanças climáticas. Ao contrário, nosso estudo aponta que, em relação aos eventos extremos de um passado bem recente, não há outra razão se não a mudança climática.

A onda de calor mortal que castigou a Europa em 2003, a feroz canícula russa em 2010 e a seca catastrófica no Texas e em Oklahoma ano passado, cada um desses eventos pode ser atribuído às mudanças climáticas. E as-sim que os dados forem reunidos ainda essa semana, o mesmo acontece em relação a esse verão extremamente quente o qual os EUA sofrem agora. Esses eventos climáticos não são apenas simples exemplos do que poderá ocorrer. Eles são causados pelas mudanças climáticas. As chances de que uma variação natural foi responsável por esses extremos são minúsculas, praticamente inexistentes. Contar com essa chance é como pedir demissão do seu trabalho e jogar na loteria todos os dias para pagar as contas.

Há vinte quatro anos introduzi o conceito de “dado climático” para tentar distinguir o desenvolvimento das mudanças climáticas em longo prazo das variações diárias do clima. Alguns verões são quentes, outros frios. Alguns invernos brutais, outros temperados. Essa é a variação natural. Porém en-quanto o clima esquenta, a variação natural se altera. Num clima normal sem o aquecimento global, dois lados da figura de um dado representariam um clima mais frio do que o normal; dois lados seriam um clima normal e os dois lados restantes representariam um clima mais quente que o normal. Ao jogar o dado repetidamente, estação após estação, os resultados apresen-tariam certa proporcionalidade na variação climática ao longo do tempo.

Mas quando se insere a variável do aquecimento global, as probabilidades mudam. Terminaria com apenas um lado mais frio do que o normal, um lado normal, e quatro lados com o clima mais quente do que o normal. Mesmo com as mudanças climáticas, ocasionalmente haverá verões com clima mais frio que o normal ou um inverno tipicamente frio. Mas não deixe que isso te engane.

Nosso novo estudo revisado por colegas pesquisadores, publicado pela National Academy of Sciences, mostra claramente que enquanto a tempe-ratura média do planeta aumenta progressivamente devido ao aquecimen-

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to global (acima de 1,5° Fahrenheit no século passado), temperaturas extremas vêm ocor-rendo com muito mais frequência e intensi-dade no mundo todo. Quando expusemos as informações num gráfico, temperaturas frias extremas, e mais, os extremos de calor inco-mum estão se alterando de modo que ambas tornaram-se mais comuns e severas.

A mudança é tão dramática que agora uma das faces do dado representa um clima onde há maior frequência das altas temperaturas extremas. Tais eventos costumavam ser ex-tremamente raros. Medidas elevadas da tem-peratura cobriam aproximadamente de 0.1% a 0.2% do globo no período base de nosso es-tudo, de 1951 a 1980. Nas últimas três décadas, enquanto a temperatura média cresceu lenta-mente, as temperaturas extremas se agudiza-ram e agora representam 10% das ocorrências no planeta.

Esse é o mundo que modificamos e agora te-mos que viver nele; um mundo no qual as on-das de calor como a de 2003, na Europa, que mataram 50 mil pessoas e secas, como a de 2011 no Texas, que causaram mais de 5 bilhões de dólares em prejuízos. Tais eventos, como apontam nossos estudos, ocorrerão com fre-quência e intensidade cada vez maiores. Ain-da há tempo para agir e evitar o pior, mas esta-mos desperdiçando um tempo precioso. Pode-mos enfrentar o desafio das mudanças climá-ticas com uma taxa gradativamente crescente sobre a captura de carbono derivada das em-presas de combustíveis fósseis, com 100% desse dinheiro sendo restituído a todos os residentes legais baseado na renda per capi-ta. Este processo estimularia inovações e cria-ria uma robusta economia com energias lim-pas e milhões de novos empregos. Esta é uma simples, honesta e efetiva solução.

O futuro é agora. E ele é quente! * James Hansen é diretor do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa

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O artigo a seguir foi escrito pelo diretor do Instituto para Estudos Espaciais da Nasa, e é taxativo em relação ao aquecimento global e às mudanças climáticas

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Intenso, curioso, muitas vezes agressivo e tachado de fanático, José Antonio Lutzenberger antecipou a partir dos anos 70 conceitos disseminados pela sustentabilidade. Apesar da ausência física, que hoje completa uma década, o legado do gaúcho que girou mundo em defesa da natureza se perpetua na atualidade do seu discurso.

“Por que eu sempre nado contra a corrente? Porque só assim se chega às nascentes”. A frase de Lutz escancara seu modo de ser, sensível com a vida e avesso ao senso comum. Progresso contínuo, a qualquer custo? Ele criticou. Lavouras com agrotóxicos? Abominou. Desmatamento na Amazônia? Combateu. Excesso de carros nas ruas? Contrariou. Usinas nucleares? Sempre se opôs. “É difícil encontrar um tema em que suas ideias não continuem atuais. Ele foi um visionário, tinha uma visão de que a Terra é um sistema integrado, de que o homem deveria aprender com a natureza, e não combatê-la”, destaca Lilian Dreyer, autora de Sin-fonia Inacabada, biografia do ambientalista.

Porto-alegrense de origem germânica, Lutz nasceu em 17 de dezembro de 1926. Vítima de problemas pulmonares e cardíacos, morreu na manhã de 14 de maio de 2002. Dos seus 75 anos, dedicou mais de 30 ao ativismo ecológico, numa guinada que poucos teriam coragem de empreender.

A figura longilínea com cabelos lisos e desgrenhados, de olhos claros protegidos pelos óculos, tornou-se ícone do ambientalismo no Brasil e no mundo. Mas até 1970, remetia a um executivo da indústria química. Pela Basf, viveu na Alemanha, Venezuela e Marrocos. Quando a empre-sa passou a produzir agrotóxicos, renunciou à segurança do cargo e aos altos salários. Aos 44 anos, casado com a eurasiana Annemarie, e com as filhas Lilly e Lara pequenas, Lutz voltou a Porto Alegre como ecólogo. Em seguida, aflorou sua veia de ecologista.

Agrônomo pós-graduado em química, via a queda de uma árvore ou o es-migalhar de uma formiga como agressão a seu próprio corpo. Militou por respeito a Gaia, nome dado pelos gregos à deusa da Terra. Assim, em abril de 1971 inspirou a criação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), entidade que puxou lutas contra podas de árvores, agro-tóxicos, desmatamento. Em 1973, forçou o fechamento da Borregaard, in-

lições de ecologiade um ilustre gaúchoHá 10 anos a voz do maior ambientalista brasileiro silenciava. Caminho contrário ao dos seus pensamentos

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dústria de celulose que poluía o Guaíba. Todos feitos embalados pelo magnetismo da fala e da presença de Lutz. Fluente em cinco idiomas (por-tuguês, inglês, alemão, francês e espanhol), leitor voraz, virou um exímio palestrante – sem medo de embates com executivos, governadores, pre-sidentes ou ministros. A linha de raciocínio, a intensidade, os argumentos conquistaram pla-teias de qualquer gênero ou renda. De colonos do interior de Montenegro a engravatados em reuniões de cúpula da ONU. “Meu pai se expres-sava de forma espontânea, sem preocupar-se com o julgamento alheio ou fixar-se a conven-ções sociais. Nisso se tornava muitas vezes cari-cato e assumia uma figura quixotesca na defe-sa de suas ideias”, recorda a filha Lara.

A entrega à natureza rendeu a Lutz, em 1988, o prêmio sueco The Right Livelihood Award, o Nobel Alternativo. De 1990 a 1992, foi secretá-rio do Meio Ambiente do governo Collor e ten-tou mudar o conceito de administração do país, mas fracassou. Ainda concebeu o Parque da Guarita, em Torres, fez projetos ecológicos, criou uma empresa de consultoria ambiental e a Fun-dação Gaia. Em Pantano Grande, transformou uma antiga pedreira em seu santuário, o Rincão Gaia. É onde seu corpo repousa na terra, entre árvores, há uma década. Um sepulcro da carne, que simboliza um dos seus preceitos: homem e natureza estão unidos no mesmo sistema.

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Uma perspectiva parcial do Parque da Guarita, em Torres (RS), cuja criação muito se deve a Lutzenberger (na foto, em seu escritório), e cuja área de uso público teve projeto paisagístico assinado por ele e Burle Marx

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projeto ambiental

Controverso à época, o legado de Lutz anteci-pou alguns dos conceitos sobre sustentabilidade. Confira as ideias defendidas pelo ambientalista: • Estilo de vida: Lutz pregava uma revolução no estilo de vida, numa relação mais alinhada à natureza. Questionava a necessidade de cres-cimento contínuo, já que o homem habita um planeta com recursos finitos. Para ele, era ur-gente sustar a cultura de consumir sem freio, que aquece a economia, mas cobra em recur-sos naturais. Entendia que o mercado conside-rar as necessidades das gerações futuras.• Agricultura: Lutz empreendeu uma cruza-da contra os agrotóxicos. A partir dos anos 70, passou a palestrar pelo mundo e a assinar ma-nifestos alertando os riscos que os pesticidas podem trazer à saúde. Liderou uma militân-cia que resultou em leis para restringir o co-mércio dos produtos. Também confiava numa agricultura de viés ecológico, inspirado na cul-tura camponesa. Incentivou a produção de alimentos saudáveis com insumos naturais, cultivados em pequenas comunidades.• Clima: Já nos anos 70, Lutz tinha certeza de que a devastação das florestas, a poluição, a construção desenfreada nas cidades provoca-riam mudanças climáticas. Tinha ciência de que a Terra é um organismo único. Dentro da ideia, enalteceu a importância da Amazônia no equilíbrio do planeta. Defendeu o fim do desmatamento, contrariou planos para incen-tivar grandes plantações ou assentamentos na região, e demarcou reservas de tribos indí-genas, como os ianomâmis.• Resíduos: A natureza não gera lixo. Os resídu-os são reaproveitados, fechando um ciclo que preserva o ecossistema. O exemplo tirado do am-biente embasava as ideias de Lutz para o desti-no do lixo gerado pelo homem, tanto na cidade quanto nas indústrias. Como consultor ambien-tal, elaborou projetos com tal finalidade. Já na dé-cada de 80 usou a compostagem para criar ferti-lizantes naturais. O princípio de criar sistemas ca-pazes de reaproveitar detritos se disseminou.• Economia: Chamado ainda de Produto Na-cional Bruto (PNB), o PIB não poderia medir o desenvolvimento de uma nação. Lutz questio-nava o índice por levar em conta a soma das riquezas, deixando de lado saúde, segurança e cultura. O cálculo também esquece de recur-sos naturais consumidos, como petróleo, água e biodiversidade. Rever o PIB e o modelo eco-nômico era um desejo do ambientalista para a Eco 92. Passados 20 anos, a Rio+20 discutirá o caminho para uma economia verde. Fonte: Zero Hora

Projeto contemplado pela Caixa recebe

A iniciativa brasileira vencedora do Prêmio Internacional de Dubai, deste ano, já tinha havia sido premiada pelo Programa Caixa Melho-res Práticas em Gestão Local. O projeto contemplado foi o Conservador das Águas, realizado no município de Extrema (MG), que tem como com-promisso o cuidado com a água e o zelo com o meio ambiente. A prática recebeu a premiação da Caixa na edição de 2011/2012, que valorizou ações inclusivas, inovadoras e sustentáveis no Brasil, das quais o banco partici-pa como entidade financiadora, de repasse de recursos e/ou como parcei-ra para apoio técnico.

O Prêmio Internacional de Dubai é reconhecido mundialmente por esti-mular experiências para melhoria das condições de vida nos assentamen-tos humanos. Este ano, o concurso recebeu cerca de 360 projetos, inscri-tos por diversos países, sendo 30 pelo Brasil. A Caixa inscreveu os 20 pro-jetos consagrados pelo Prêmio Caixa Melhores Práticas de Gestão Local 2011/2012, e sete deles ficaram entre as 48 melhores práticas no mundo.

As práticas finalistas foram avaliadas por um júri final, no qual foram ob-servados critérios de impacto, sustentabilidade e parceria, potencial de ino-vação, replicação e contribuição para a promoção da igualdade de gênero e inclusão social. A premiação contemplou 12 projetos, que receberão troféu, certificado e US$ 30 mil no início de 2013.

Conservador das Águas e Programa Caixa Melhores Práticas

Em agosto de 2007, o município de Extrema (MG), localizado a 100 km de São Paulo, lançou, oficialmente, o projeto Conservador das Águas, com o objetivo de fomentar a preservação de mananciais e nascentes, naquela cidade.

A iniciativa, pioneira no Brasil, e que faz parte do Programa “Produtor de Água” da Agência Nacional de Águas (ANA), se baseia no princípio do “Pagamento por Serviços Ambientais” (PSA) e, nesse caso, o proprietário de terras, onde se localizam mananciais de abastecimento, recebe um paga-mento pela preservação do local, passando a ser um “produtor de água”.

O pagamento é feito mediante a recuperação e proteção das áreas pró-ximas a nascentes e cursos d’água (matas ciliares), de acordo com a ex-tensão da área preservada, e com valores pré-fixados, para recuperação do solo (controle de erosão), cobertura vegetal e saneamento ambiental. Os re-cursos para estes pagamentos são provenientes da “cobrança pelo uso da água”, de convênios com entidades públicas e outras instituições, e do pla-no plurianual do município.

Já o Programa Caixa Melhores Práticas em Gestão Local é inspirado no “Best Practices and Local Leadership Programme”, da Organização das Nações Uni-das (ONU), e visa identificar, documentar, selecionar, premiar e divulgar as melhores experiências de gestão local do país, em categorias diversas como: habitação, saneamento, meio ambiente, gestão urbana e desenvolvimento social, e inclusão social, entre outras. Criado em 1999, o programa é voltado para todos os agentes sociais com potencial de influir no processo de mudan-ça da sociedade, induzindo à melhoria da qualidade de vida da população: poder público, nas esferas municipal, estadual e federal; setor privado; orga-nizações não-governamentais; associações; movimentos sociais; entidades acadêmicas; técnicos e gestores do próprio banco, e outros.

prêmio iNterNacioNal de dUbaiIniciativa para preservação da água foi vencedora no Programa Caixa Melhores Práticas em Gestão Local 2011/2012

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NUNca abaNdoNam a geNtePassamos frio e fome juntos.

No Brasil temos um elevado número de “moradores de rua”, que em sua maioria são homens e mulheres que pernoitam ao relento e vivem de sobras do consumo alheio, deixadas pelas ruas. A grande maioria é desprovida de vínculos familiares e estão sobrevivendo nas ruas em uma situação de extrema vulnerabilidade, sofrendo preconceitos, humilhações e muitos sem ao menos um documento de identidade.

Muitos desses “moradores de rua” vivem acompanhados de seus cães. Esse vínculo com os animais ocorre, muitas vezes, pela falta de vínculo com outros humanos. Podemos observar esse vínculo através de frases ditas por esses moradores, como por exemplo: “O Animal é como se fosse minha família”, “Gosto mais de cachorro do que de gente“, “O Cão não tem falsida-de“ e “Passamos frio e fome juntos. Nunca abandonam a gente”.

Os amigos de 4 (quatro) patas não proporcionam apenas afeto e lealdade aos seus donos. Por viverem nas ruas, essas pessoas necessitam de uma se-gurança, especialmente à noite, e os cães alertam a aproximação de estra-nhos, delimitando um território seguro para eles.

Para o cão, não importa o tamanho do lugar onde você mora, pois é per-to do dono que prefere estar. Os cães não se importam com nossos bens. Comem a ração super hiper mega premium que compramos, com a mes-ma alegria que o restinho de comida de um restaurante que dividiriam com um “morador de rua”, desde que estejamos juntos e fornecendo a companhia que ele aprecia.

Hoje podemos observar um aspecto muito presente nessa relação, a ques-tão da mediação entre os “moradores de rua” e transeuntes, na medida em que despertam a simpatia e a compaixão das pessoas que gostam de animais. Essa relação por intermédio dos cães “humanizam” essas pessoas, elas ganham visibilidade e algum respeito, estabelecendo diálogo e recebendo alguma atenção das pessoas que transitam pelas ruas.

O meu alerta é para que as ações que são destinadas a atender esses “mo-radores de rua” não os separem de seus cães, seja nos albergues ou em qual-

quer outra iniciativa de acolhimento, pois, a existência de laços familiares entre esses cães e seus donos é fortemente constituída.

Quem não se lembra da história do cão Neguinho e seu tutor Renato, “morador de rua”, no ano de 2011, em Ipanema, Rio de Janeiro? Ne-guinho foi “retirado” de seu dono por uma ação de recolhimento de “moradores de rua”. Renato não se negou a ir “com os homens”, mas pe-diu e o fez encarecidamente, que queria levar, também, o Neguinho, o cachorro dele. A única “propriedade” que tinha, pois bem, disse a “au-toridade”: o cachorro, não! Ele, mesmo assim, conseguiu amarrar o cachorro a uma grade e aos gritos, enquanto era conduzido, dizia para o cão: eu volto pra te apanhar. Me espera. Quan-do voltou não mais encontrou o Neguinho. De-pois de alguns dias, cartazes espalhados pela cidade e apelos em jornais o cão Neguinho foi encontrado e entregue a Renato novamente.

O ideal seria se não existissem “moradores de ruas” e que todos os cães tivessem um lu-gar confortável junto de seus donos, porém o mundo é desigual e no meio do sofrimen-to aparecem pequenas coisas que propor-cionam alegrias e esperanças. Pode ser que a felicidade dos “moradores de rua” com seus cães indiquem o caminho da busca de nossa felicidade, provavelmente muito mais sim-ples do que parece.

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NUNca abaNdoNam a geNte direitos Passamos frio e fome juntos.

dos cidadãosLei seca mais rigorosa

A Lei Seca entrou em vigor no ano passado, mas os motoristas terão que se acostumar e se adaptar a ela este ano, já que a lei passou a valer apenas no fim de dezembro de 2012. Agora, o motorista que for flagrado bêbado terá de pagar uma multa de R$ 1.915,40 (antes a multa era de R$ 957,50). O valor ainda é dobrado caso ele seja reincidente nos últimos 12 meses. E o bafômetro não é mais a única prova aceita para que o motorista seja incriminado. Multa mais alta e provas simplificadas tornam conjunto de regras mais rígido. Assim, o motorista que pegar a estrada para as festas de final de ano, ou que dirigir pela cidade embriagado, já está sujeito a multas maiores e punições mesmo sem bafômetro.

Pacientes com câncer no SUSA partir de maio os pacientes que forem diagnosticados com câncer

no SUS (Sistema Único de Saúde), por lei, terão de receber tratamento (cirurgia, radioterapia ou quimioterapia) em até 60 dias. Dependendo do caso, o prazo pode ser ainda menor. O prazo foi determinado pela lei 12.732, sancionada e publicada no Diário Oficial da União. Para médicos e entidades ligadas a pacientes, é como a regra, que entrará em vigor da-qui a 180 dias, será posta em prática.

Vale-culturaA partir de julho, os trabalhadores contratados em regime CLT e que rece-

bam menos do que 5 salários mínimos (R$ 3,3 mil) terão direito a 50 reais por mês para gastar com cultura, mas apenas se a sua empresa aderir ao projeto. Os 50 reais poderão ser gastos em espetáculos, shows, livros, DVDs e CDs. As empresas que aderirem ao programa terão isenção de impostos de R$ 45,00 por vale doado e o trabalhador contribuirá com R$ 5,00. O Vale-Cultura é cumulativo e poderá ser usado para comprar livros, ingressos de teatro, de cinema, de espetáculos de dança. As empresas que aderirem ao programa terão isenção de impostos de R$ 45,00 por vale doado e o traba-lhador contribuirá com R$ 5,00. O Vale-Cultura não é obrigatório nem para as empresas nem para os trabalhadores. As empresas poderão usar até 1% do rendimento bruto para a concessão do benefício. Dilma vetou o artigo que estendia este benefício aos aposentados e pensionistas.

Salário mínimoO salário mínimo também sofreu reajuste

em 2013, válido para pagamentos a partir de fevereiro. De R$ 622, ele passa a ser R$ 678 – um aumento de 9%. Valor é 9% mais alto que o anterior, mas ainda longe do ideal, segundo cálculos do Dieese O salário mínimo recebeu uma alta de 9% em relação ao valor de 2012 e passará para 678 reais a partir de 1º de janeiro de 2013. O valor anterior, vigente durante 2012, era de 622 reais. Apesar do montante previsto para este ano apresentar alta, ainda está longe do ideal, segundo o Departamento Intersindi-cal de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De acordo com cálculos divulgados pelo departamento no início de dezembro, o valor deveria ser de 2.514,09 reais para cobrir as necessidades básicas. Esse salário mínimo teó-rico foi calculado com base nos preços da cesta básica durante o mês de novembro de 2012.

Seguem algumas leis que entraram em vigor neste ano de 2013, leis que podem alterar nosso cotidiano

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Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes

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CUPOM DO ASSINANTESIM, quero ser assinante-colaborador da Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental, uma organização sem fins lucrativos, assegurando meu livre acesso ao conteúdo do PORTAL DO MEIO AMBIENTE (www.portaldomeioambiente.org.br) e o recebimento da versão impressa e gratuita da REVISTA DO MEIO AMBIENTE sempre que for editada. Declaro concordar com o pagamento de R$ 100,00 (cem reais) referentes às despesas de manuseio e de postagem de 12 (doze) edições impressas, que receberei uma a uma, independente do tempo que dure. Farei o pagamento através de depósito bancário na Caixa Econômica Federal, Agência 3092 OP 003, C/C 627-5, em favor da PRIMA – MATA ATLÂNTICA E SUSTENTABILIDADE – CNPJ nº 06.034.803/0001-43, parceira da Rebia neste projeto pela democratização da informação socioambiental no Brasil. Após o pagamento, informarei pelo e-mail [email protected] a data, hora e valor do depósito e os dados completos (nome completo, endereço completo) a fim de receber meus exemplares.

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Revista do Meio AmbienteRedação: Trav. Gonçalo

Ferreira, 777 Casarão da Ponta da Ilha,

Jurujuba, Niterói, RJCEP 24370-290

Telefax: (21) 2610-2272ano VII • ed 55 • janeiro 2013 ISSN 2236-1014