Revista do Meio Ambiente 71

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Salve a AMBIENTE revista do meio Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental Acesse: www.revistadomeioambiente.org.br ano IX • maio 2014 71 9772236101004 ISSN 2236-1014 Mata Atlântica Onde estão as baleias e os golfinhos? Desafios para a conservação do mico-leão-dourado 30 motivos para preservar as florestas do Brasil Jornalismo Ambiental: ainda uma profissão de muito risco

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Salve a Mata Atlântica | Onde estão as baleias e os golfinhos? | Desafios para a conservação do mico-leão-dourado | 30 motivos para preservar as florestas do Brasil | Jornalismo Ambiental: ainda uma profissão de muito risco

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Salve a

ambienterevista do meioRebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Acesse: www.revistadomeioambiente.org.br

ano

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9772236101004

ISSN 2236-1014

Mata AtlânticaOnde estão as baleias e os golfi nhos?

Desafi os para a conservação do mico-leão-dourado30 motivos para preservar as fl orestas do Brasil

Jornalismo Ambiental: ainda uma profi ssão de muito risco

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texto Vilmar Sidnei Demamam Berna*(www.escritorvilmarberna.com.br)

A mídiA AmbientAl brAsileirA preci-sA ser incluídA nos plAnos de mídiA e de comunicAção de empresAs e or-gAnizAções que precisAm se comu-nicAr diretAmente com os segmen-tos de público interessAdos em meio Ambiente e sustentAbilidAde.

A luta pela democratização da informação ambiental no Brasil não é uma luta de inte-resse comercial. Existem alternativas bem mais interessantes para quem só pensa em ganhar dinheiro. Os que investem na mídia ambiental esperam ter lucros, claro, pois só assim garantirão a sustentabilidade econô-mica dos veículos, mas não é só isso.

A mídia ambiental tem um propósito, uma missão, que vai além da meramente fi -nanceira: contribuir para o avanço da cons-ciência ambiental da população, e acredita que cumpre sua missão social ao produzir e distribuir informações socioambientais plu-rais, que abordem os diferentes pontos de vista, a fi m de atender os diferentes interes-ses da opinião pública. Informação é poder. E empoderados dessa informação socioam-biental, a sociedade brasileira certamente será capaz de fazer escolhas diferentes das que tem feito até aqui, e que nos conduzi-ram à beira de um colapso.

Por isso a mídia ambiental, às vezes, é ex-cluída de planos de mídia principalmente de organizações e empresas que se sentem questionadas ao adotarem um modelo de crescimento sem compromisso com o meio ambiente e a distribuição das riquezas. Cres-cer por crescer as células do câncer já fazem.

Entretanto, não é só o que está por fora que prejudica a sustentabilidade econômi-ca da mídia ambiental, mas também o que está por dentro.

Talvez, um dos maiores desafi os esteja na construção de parcerias entre os próprios ve-ículos da mídia ambiental, a partir do que

Sede e Redação Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - Jurujuba (Cascarejo, Ponta da Ilha) - Niterói, RJ - 24370-290 • Telfax: (21) 2610-2272 • [email protected] • CNPJ 05.291.019/0001-58

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revista ‘neutra em carbono’

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Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através dos veículos de comunicação da rebia expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da rebia.

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editorial

se apaGue

expediente

não permita que esta ideia

as une, como a necessidade de manutenção econômica, pois sem recursos fi nanceiros, não é possível haver democratização ade-quada da informação socioambiental.

E porque existem caminhos que para se-rem percorridos com sucesso precisa da união com outros, oferecendo e negocian-do descontos em pacote. Por exemplo:1. Para resgatar anunciantes importantes como a Caixa, Fundação Banco do Brasil, Vale do Rio Doce, entre outras empresas, que sempre prestigiaram a mídia ambien-tal e hoje não anunciam mais nelas. São empresas importantes com trabalhos e re-sultados signifi cativos no campo ambien-tal e da sustentabilidade.2. Junto ao próprio Governo Federal, apre-sentar proposta em pacote para campa-nhas importantes como a do combate à dengue e às queimadas, por exemplo.3. Junto a empresas e organizações que organizam prêmios ambientais, feiras e grandes eventos do setor, e que dependem de maior divulgação e visibilidade, partici-par em pacote dos projetos, assegurando um percentual para a divulgação através das mídias ambientais;4. Estabelecer parcerias com governos e or-ganizações que desejam dar transparência à boa aplicação de verbas públicas prin-cipalmente no setor ambiental, de sanea-mento, de medidas compensatórias ou de licenciamento, etc., um projeto do tipo Ob-servatório da Mídia Ambiental: para onde vai o seu dinheiro público.

É possível para a mídia ambiental adqui-rir mais visibilidade e até poder de pressão. Na verdade, é preciso. Diz o ditado popular, quem não cresce não aparece, e quem não é visto não é lembrado. Apostar na união de todos é meio improvável, mas é possível ini-ciar com parcerias menores e ir crescendo à medida que os resultados forem surgindo.

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ApesAr de ter sido desmAtAdA Até que sobrAssem ApenAs cercA de 10% de suA extensão originAl, A mAtA AtlânticA AindA é, literAlmente, o quintAl dA cAsA dA mAioriA dos brAsileiros. Um em cada sete habitantes do país mora em áre-as legalmente definidas como parte desse bio-ma, que margeia o oceano e a borda oriental do território nacional e corta 17 estados, indo do Piauí até o Rio Grande do Sul. A mais atua-lizada e completa radiografia da diversidade de aves que vivem em áreas remanescentes desse jardim litorâneo pressionado pelo crescimento das cidades acaba de ser concluída.

Sob a supervisão de Luís Fábio Silveira, curador da coleção de ornitologia do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), o ornitó-logo Luciano Lima, 29 anos, produziu um levan-tamento de mais de 500 páginas no qual lista todas as espécies de aves conhecidas do bioma, fornece um resumo de suas principais caracte-rísticas e de seus locais de ocorrência e atualiza seu status de conservação (se ameaçadas ou não de extinção). O trabalho consumiu cinco anos de revisão da literatura científica e visitas a quase todos os estados com trechos de mata atlântica. “Só não estive em Sergipe e no Mato Grosso do Sul”, afirma Lima, que mora em Resende (RJ), per-to do Parque Nacional do Itatiaia, em cujas ma-tas observa aves desde os 13 anos de idade.

Os grandes números do mapeamento, que re-forçam a importância desse bioma para o mun-do das aves, são reveladores. A mata atlântica apresenta 891 espécies de aves, cerca de 45% de todas as espécies encontradas em terras na-cionais. A Amazônia tem mais espécies, cerca de 1.300, mas sua área é quatro vezes maior, de

especial – Dia da Mata Atlântica

acordo com os limites geográficos adotados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Aproximadamente um quarto das espécies de aves – 213 em números absolutos ou 24% do total – é endêmico da mata atlântica. No jargão da biologia, endêmicas são as espécies encontradas exclusivamen-te num determinado tipo de formação vegetal e em mais nenhum outro. Ou-tras 17 espécies são quase endêmicas, ou seja, ocorrem fundamentalmente na mata atlântica e apenas marginalmente em outros biomas.

Pouco mais de 25% de todas as espécies – 233 em números absolutos – es-tão ameaçadas de extinção, segundo listagens internacionais e nacionais que elencam as aves mais inclinadas a sumir do planeta. Nem toda espé-cie endêmica está em perigo, nem toda espécie em risco de desaparecer é exclusiva do bioma. No entanto, das aves ameaçadas de extinção, 147 es-pécies são endêmicas ou quase endêmicas da mata atlântica. “Esse dado é realmente preocupante”, diz Lima. De acordo com o levantamento, a mata atlântica apresenta ainda 1.035 subespécies de aves, das quais 351 são en-dêmicas. “É a primeira vez que dados sobre a ocorrência de subespécies de aves nesse bioma são apresentados em um estudo”, diz Silveira. Em orni-tologia, o termo subespécie se refere a populações geograficamente isola-das de uma ave que apresentam algum grau de distinção entre si, mas que não foram consideradas suficientemente distintas para merecer o status de espécie. “Esse conceito foi utilizado de maneira indiscriminada na mata atlântica e muitas espécies válidas de aves estão ‘escondidas’ sob o nome de uma subespécie”, afirma o pesquisador do MZ-USP.

Inflação de espéciesOs dados compilados e produzidos no estudo de Lima diferem de outros

trabalhos publicados nas últimas décadas. Há levantamentos relativamen-te recentes que chegam a apontar a existência de mais de mil espécies de aves na mata atlântica. Em grande medida, as divergências eram esperadas e inevitáveis. “Lima usou critérios mais claros, baseados nas características naturais do bioma e nos aspectos biogeográficos das espécies, para definir o que era uma área de mata atlântica e quais aves efetivamente habitavam esses trechos”, afirma Silveira, orientador dos esforços do jovem ornitólogo, que concluiu o mestrado neste ano com o estudo. “No passado, outros tra-balhos adotaram a definição legal de mata atlântica, que também abrange áreas adjacentes a esse bioma, mas que são, na verdade, segmentos de cer-rado, da caatinga ou dos pampas.”

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A consequência dessa abordagem excessivamente liberal que predominou até pouco tempo atrás foi levar a uma inflação de espécies descritas como sendo da mata atlântica, com a inclusão de aves que, a rigor, vivem nas cer-canias desse tipo de formação vegetal, mais precisamente em segmentos de outros biomas, segundo Silveira e Lima. Para minorar esse problema, as aves que vivem predominantemente numa faixa de 100 quilômetros (km) situada na fronteira com outros biomas – 50 km dentro dos limites legais da mata atlântica e 50 km fora – não foram consideradas como pertencentes a essa formação vegetal no levantamento do jovem ornitólogo.

“O trabalho de Lima coloca ordem na casa e passa a ser a referência em termos de aves da mata atlântica”, afirma José Fernando Pacheco, um dos diretores do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), fó-rum associado à Sociedade Brasileira de Ornitologia que zela pela qua-lidade dos dados referentes à distribuição geográfica das aves do país. “Nunca ninguém dedicou tanto tempo a organizar a lista das espécies desse bioma. É claro que a adoção de qualquer critério de trabalho sem-pre tem algo de arbitrário, mas as escolhas que ele fez são pertinentes e fazem sentido.”

Ordens mais representativasMais da metade das espécies mapeadas da mata atlântica pertence à ordem

dos Passeriformes, os populares passarinhos, grupo que reúne 55% das formas conhecidas de aves do planeta. De acordo com o trabalho de Lima, existem 476 espécies de pássaros no bioma. Nessa ordem, há desde animais banais paras os habitantes urbanos, como os pardais, até bichos pouco conhecidos e amea-çados de extinção, caso do pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa). Essa ave colo-rida, com pouco mais de 10 centímetros de comprimento, é encontrada apenas em trechos de mata atlântica entre o Rio Grande do Norte e Alagoas.

A segunda ordem com mais representantes é a dos Apodiformes, com 53 espécies de beija-flores e andorinhões. Em terceiro lugar aparecem os Charadriiformes, com 50 espécies de gaivotas e maçaricos. Em seguida surgem os Accipitriformes (águias e gaviões, com 37 espécies), Piciformes (pica-paus, tucanos e araçaris, 36), Psittaciformes (araras, papagaios e pe-riquitos, 31) e Gruiformes (galinhas-d’água, 25).

Embora seja o bioma mais estudado pelos ornitólogos, a mata atlântica ain-da reserva surpresas. Às vezes, de onde menos se espera surge uma novida-de. Esse é o caso da primeira espécie de ave endêmica do estado de São Paulo,

a Formicivora paludicola, que ocorre exclusiva-mente em brejos da região de Mogi das Cruzes. O bicudinho-do-brejo-paulista, nome popular da espécie, acaba de ser descrito num trabalho científico. “Quem diria que a 50 quilômetros da minha sala de trabalho haveria uma espécie nova, ainda não identificada?”, diz Silveira, um dos autores da descoberta.

A variedade de formas e tamanhos das aves da mata atlântica é impressionante. Basta ver as imagens publicadas nesta reportagem. O araçari-banana (Pteroglossus bailloni) é mem-bro da ordem dos Piciformes, que conta com 36 espécies. Trata-se de um ruidoso e ainda relati-vamente abundante parente dos tucanos, que é endêmico da mata atlântica e mede cerca de 35 centímetros (cm) de comprimento. Ocorre do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul, incluindo Paraguai e Argentina. Outra foto mostra uma dupla de cuitelões (Jacamaralcyon tridactyla), também endêmicos, mas que correm risco de extinção. Historicamente há registros apenas de populações esparsas dessas aves, de aproxi-madamente 18 cm, entre o sul da Bahia e o nor-te do Paraná. Há ainda um registro do impo-nente jacuaçu (Penelope obscura), ave da ordem dos Galliformes que alcança por volta de 70 cm, encontrada em boa parte da mata atlântica.

ProjetoAves da mata atlântica: riqueza, composi-

ção, endemismos e lacunas de conhecimen-to (nº 2011/17032-7); Modalidade Bolsa de Mestrado; Pesquisador responsável Luís Fábio Silveira; Bolsista Luciano Lima; Investimento R$ 35.723,34 (Fapesp). Fonte: PesquisA FAPesP

Pica-pau-de-cara-canela – Macho(Dryocopus galeatus)Araçari-banana (Pteroglossus bailloni)

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Além de AbrigAr um grAnde número de espécies AnimAis e vegetAis endêmicAs, muitAs delAs AmeAçAdAs de extinção, os remAnescentes florestAis dA ser-rA dA mAntiqueirA gArAntem grAnde pArte dA águA que AbAstece As popu-lAções e As indústriAs dAs cidAdes do vAle do pArAíbA (no leste do estAdo de são pAulo e no sul do estAdo do rio de JAneiro) e dA cApitAl fluminense.

Na avaliação de integrantes do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversi-dade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP), interromper o processo de degradação pelo qual a região passa é, portanto, fundamental para evitar não apenas uma irreparável per-da de biodiversidade como também o agra-vamento, no futuro, de crises hídricas como a que atualmente afeta a região Sudeste.

“Não seria possível, no momento, criar uma área de grande restrição ambiental, como um parque estadual, pois isso requereria desapro-priações de terras e teria um grande custo para o Estado. Mas defendemos o tombamento das regiões acima de 800 metros de altitude, o que regulamentaria as atividades a serem realiza-das sem impedir o desenvolvimento”, afirmou Carlos Alfredo Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordena-dor do Programa BIOTA-FAPESP.

Ao lado do ambientalista Fábio Feldmann, Joly foi um dos organizadores do movimento Mantiqueira Viva, que promove desde março deste ano um abaixo-assinado pedindo o tom-bamento da Serra da Mantiqueira como patri-mônio ambiental com o intuito de aumentar a proteção de um corredor de 45 mil hectares de remanescentes florestais existentes entre o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Esta-dual de Campos do Jordão. A petição já conta com mais de 5 mil assinaturas.

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cientistas mobilizam-se pelo tombamento da

especial – Dia da Mata Atlântica

serra da mantiqueira

Segundo Joly, a proposta de tombamento foi apresentada inicialmente em 2011 e, desde então, vem sendo analisada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) da Secretaria Estadual de Cultura. Um primeiro parecer da equipe técnica da Unidade de Proteção do Patrimônio Histórico (UPPH) foi negativo à abertu-ra do processo. Os defensores da proposta decidiram se mobilizar para evi-tar seu arquivamento definitivo.

Na prática, o tombamento não aumenta o nível de proteção da mata – ape-nas referenda a legislação já existente e representa uma nova barreira para eventuais mudanças, proibindo que o local seja destruído ou descaracteriza-do. Desde 1985, a Mantiqueira é considerada uma Área de Proteção Ambien-tal (APA) federal (categoria de unidade de conservação menos restritiva), mas até hoje não tem plano de manejo.

A região inserida na proposta abrange áreas de florestas contínuas nas encostas mais elevadas, as florestas com araucária da região do planalto e os campos de altitude da Serra da Mantiqueira Paulista que ficam na divisa de Minas Gerais com os municípios de Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Piquete, Cruzeiro, Lavrinhas e Queluz.

Toda essa área está inserida no mapa “Áreas Prioritárias para Incremen-to da Conectividade”, elaborado pelo BIOTA-FAPESP, e foi considerada pe-los cientistas como Área da Mais Alta Relevância Ecológica, prioritária para a conservação da biodiversidade, para a criação de áreas protegidas e para o incremento da conectividade (leia mais em: http://www.biota.org.br/?p=4906).

Além disso, em um estudo internacional publicado em novembro de 2013 na revista Science, a Serra da Mantiqueira foi apontada como um dos 78 lo-

remanescentes da mata Atlântica na região abrigam grande número de espécies endêmicas e nascentes que ajudam a abastecer as cidades do vale do paraíba e o município do rio de Janeiro

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Assim como outras espécies da Mata Atlântica, o bugio (Alouatta guariba) segue ameaçado de extinção por causa da caça

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As imagens estão em alta definição HD-720p (1280x720pixel) e foram registradas por Germano Woehl Junior, na RPPN Corredeiras do Rio Itajai, em Itaiópolis (SC) e na RPPN Santuário Rã-bugio, em Guaramirim (SC). Saiba mais sobre a riqueza da biodiversidade da Mata Atlântica no site do Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade (http://www.ra-bugio.org.br/). Os nomes, informações e outras fotos das aves que estão no vídeo podem ser obtidos na página de aves da Mata Atlântica da região norte de Santa Catarina, no link http://www.ra-bugio.org.br/aves.php

cais mundiais “insubstituíveis” para a preservação da biodiversidade global de mamíferos, aves e anfíbios (outros três pontos brasileiros apontados no artigo foram: a Serra do Mar, também na Mata Atlântica; e o Vale de Javari e o Alto Rio Negro, na Amazônia).

AmeaçasDe acordo com Joly, uma das principais ameaças aos remanescentes de

Mata Atlântica na região da Mantiqueira é a expansão da mineração de bauxita para a produção de alumínio e de outros minerais, principalmente perto da divisa do Rio de Janeiro com os municípios de Lavrinhas e Queluz.

O pesquisador também menciona a extração ilegal de madeira, palmito, bromélias e orquídeas; a caça de espécies ameaçadas de extinção, como o macuco (Tinamus solitarius), a araponga (Procnias nudicollis), o sabiá-ci-ca (Triclaria malachitacea), o muriqui (Brachyteles arachnoides) e o bugio (Alouatta guariba); a especulação imobiliária; e o descarte inadequado de lixo urbano e de resíduos da mineração.

“Diversas espécies associadas às matas de araucárias e aos campos de alti-tude só ocorrem nessas áreas mais altas da Mantiqueira, sendo estas os úni-cos refúgios desta fauna em nosso Estado. Muitas dessas populações são os remanescentes de grupos de animais do sul do Brasil e dos Andes, um res-quício isolado de um passado remoto quando as temperaturas eram mais baixas em toda a América do Sul”, afirmou André Victor Lucci Freitas, pro-fessor da Unicamp e membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP.

Ainda segundo Freitas, 20 das 55 espécies de borboletas do Brasil ameaça-das de extinção encontram refúgio na Serra da Mantiqueira. Muitas dessas espécies possuem populações pequenas e frágeis, sendo facilmente elimi-nadas quando ocorre perturbação antrópica, como queimadas constantes, plantio de pinheiros e eucaliptos e poluição dos corpos d´água.

“Trabalhos recentes na Serra da Mantiqueira têm revelado diversas espé-cies desconhecidas para a ciência, muitas delas já ameaçadas antes mesmo de serem descritas. Em anos recentes, temos observado a extinção local das populações de diversas dessas espécies na região da Mantiqueira. Se não houver um plano para conservação de toda a região, com um bom zonea-mento, uma porção importante da fauna paulista desaparecerá para sem-pre do nosso estado”, disse Freitas.

Na avaliação de Célio Fernando Baptista Haddad, da Universidade Estadu-al Paulista (Unesp) em Rio Claro, os ambientes de encostas e topos de serras e montanhas vêm funcionando, no curso da história evolutiva, como ver-dadeiros berçários de espécies. Essa condição, segundo ele, faz com que os ambientes altitudinais sejam muito frágeis e particularmente suscetíveis às degradações antrópicas – com o agravante de que a recuperação dessas áreas é mais difícil, cara e complexa.

“Os pontos culminantes da Mata Atlântica são encontrados na Serra da Mantiqueira, onde podemos observar uma fauna particular que resulta de um grau de endemismos mais elevado que o das áreas vizinhas, em altitudes menores. Assim, a conservação de remanescentes de Mata Atlântica é urgen-te e, dentre estas áreas, aquelas localizadas nas altitudes mais elevadas, como na Serra da Mantiqueira, devem ser priorizadas”, afirmou Haddad.

O especialista em recursos hídricos José Galizia Tundisi, do Instituto Inter-nacional de Ecologia, lembra que o rico sistema aquático da Serra da Man-tiqueira é um dos poucos ainda bem preservados no Estado de São Paulo e contribui para o abastecimento das bacias hidrográficas do Rio Paraíba do Sul, Rio Tietê e Rio Grande.

“A degradação desses mananciais poderia comprometer tanto a quan-tidade como a qualidade da água para os municípios da região. Sabemos hoje que as nascentes e a floresta têm papel fundamental na qualidade da água”, afirmou Tundisi. Fonte: AgênciA FAPesP

caracará (Caracara plancus), Príncipe (ou Verão, Pyrocephalus rubinus) e Beija-flor-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus)

As mais belas aves da Mata Atlântica pela lente de Germano Woehl Junior

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Rio MadeiraHidrelétricas, crime e tragédia no

Ao mesmo tempo em que felicito A ini-ciAtivA do mpf e mpe de rondôniA em conJunto com oAb-ro, por impetrAr Ação civil públicA solicitAndo A sus-pensão dAs AtividAdes nAs usinAs Hi-drelétricAs de JirAu e sAnto Antônio – Até que se refAçAm os estudos de im-pActos AmbientAis – considero-A insu-ficiente diAnte dA mAgnitude desse crime. Isto é, as obras do complexo madeira iniciadas com as construções das usinas de Sto Antônio e Jirau foram executadas a ferro e fogo, transgrediram acintosamente a Constituição e sua regulamentação no que diz respeito aos procedimentos para licenciamento ambiental.

Existe uma vasta documentação destaca-damente o Parecer Técnico nº 014/2007 – CO-HID/CGENE/DILIC/IBAMA de 21 de março de 2007. Esse documento se tornou mais conhe-cido pelo seu conteúdo e repercussões polí-ticas: demissão do diretor de Licenciamento do Ibama, Luiz Felippe Kunz Jr e desmonte do Ibama a partir daquele momento. Ao analisar o conjunto da documentação “Estudo de Im-pacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (Rima), Audiências Públicas, vis-torias técnicas, reuniões técnicas, documen-tação apensada ao processo” (www.interna-tionalrivers.org/files/attached-files/ibama_parecer_032007.pdf) a equipe técnica do Iba-ma expôs em 220 paginas, as insuficiências e omissões dos mesmos.

De acordo com o Parecer, a área a ser alaga-da poderá ser o dobro daquela projetada nos estudos apresentados. “Em síntese”, conclui o referido Parecer:i) há notória insuficiência dos estudos e com-plementações apresentados, fato atestado pe-las contribuições de demais órgãos e entida-des ao processo, notadamente o Relatório de Análise do Conteúdo dos Estudos de Impacto Ambiental proporcionado pelo Ministerio Pú-blico do Estado de Rondônia;(ii) as áreas diretamente afetadas e as áreas de influencia direta e indireta são maiores do que as diagnosticadas;(iii) as vistorias, Audiências Públicas e reuni-ões realizadas trouxeram maiores subsídios a analise do EIA, demonstrando que os estudos subdimensionam, ou negam, impactos po-tenciais. Mesmo para assumir um impacto, e preciso conhecê-lo, e a sua magnitude;

quem é que vai pagar por isso?

(iv) as análises dos impactos identificados demonstraram a fragilidade dos mecanismos e propostas de mitigações;(v) a extensão dos impactos (diretos e indiretos) abrange outras regiões brasi-leiras e países vizinhos, comprometendo ambiental e economicamente terri-tórios não contemplados no EIA, sendo, desta forma, impossível mensurá-los;(vi) a nova configuração da área de influência dos empreendimentos de-manda do licenciamento, segundo a determinação presente na Resolu-ção no 237/1997, o estudo dos significativos impactos ambientais de âm-bitos regionais. Neste sentido, considerando a real área de abrangência dos projetos e o envolvimento do Peru e da Bolívia, a magnitude desses novos estudos remete a reelaboração do Estudo de Impacto Ambiental e instrumento apropriado a ser definido conjuntamente com esses países impactados. De qualquer forma, e necessária consulta a Procuradoria Ge-ral do Ibama para o adequado procedimento.

Dado o elevado grau de incerteza envolvido no processo; a identificação de áreas afetadas não contempladas no Estudo; o não dimensionamento de vários impactos com ausência de medidas mitigadoras e de controle ambiental necessárias a garantia do bem-estar das populações e uso sus-tentável dos recursos naturais; e a necessária observância do Principio da Precaução, a equipe técnica concluiu não ser possível atestar a viabilidade ambiental dos aproveitamentos Hidrelétricos Santo Antônio e Jirau, sendo imperiosa a realização de novo Estudo de Impacto Ambiental, mais abran-gente, tanto em território nacional como em territórios transfronteiriços, incluindo a realização de novas audiências publicas. Portanto, recomenda-se a não emissão da Licença Prévia (www.internationalrivers.org/files/at-tached-files/ibama_parecer_032007.pdf pg 220-221, grifos nossos).

Essa tragédia poderia ter sido evitadaAo jogar no lixo esse Parecer Técnico e todas as críticas e advertências

emanadas de movimentos sociais como MAB, especialistas e intelectuais comprometidos com a justiça e defesa dos direitos dos povos, o governo Lula praticou conscientemente um duplo crime: de responsabilidade admi-nistrativa e ambiental. Por essa razão, tanto o chefe do executivo na época (Lula) quanto os que tiveram responsabilidades diretas no licenciamento das hidrelétricas do rio Madeira tem que ser processados.

Mais ainda, devemos exigir a suspensão imediata da construção de hidre-létricas, de Belo Monte e daquelas projetadas na bacia do rio Tapajós. Está co-berto de razão o povo Munduruku ao travar uma luta sem tréguas contra as barragens no Tapajós e precisam mais do que nunca contar com todo nosso apoio, especialmente o de “nosotros”, aproximadamente 2 milhões de pessoas atingidas pela tragédia das hidrelétricas do rio Madeira na Amazônia brasi-leira, boliviana e peruana. As hidrelétricas, juntamente com mineração, agro-negócio, exploração florestal madeireira e financeirização da natureza via Pa-gamentos por Serviços Ambientais - PSA, formam o eixo básico desse reper-tório macabro da destruição posta em marcha pelo capital na Amazônia. Ou desobedecemos e lutamos ou seremos tragados por esse “moinho satânico”. Fonte: eDitores recos / Blog Do linDoMAr PADilhA

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denúncia

Até 1957, quAndo o pioneiro sAtélite soviético sputnik foi lAnçAdo Ao es-pAço, As redondezAs orbitAis dA terrA erAm tão limpAs quAnto As águAs de um rio livre dA Ação HumAnA. Cinquen-ta e seis anos e quase 5 mil lançamentos es-paciais depois registra-se em torno do planeta uma quantidade tão grande de aparelhos, de pedaços e de fragmentos deles, que ações ur-gentes já são necessárias, alertam especialis-tas da Agência Espacial Europeia (ESA).

A 6ª Conferência sobre Lixo Espacial, reali-zada em abril em Darmstadt, na Alemanha, anunciou que quase 29 mil objetos de com-primento maior do que dez centímetros – pe-daços de satélites desativados, restos de fo-guetes, ferramentas deixadas por astronau-tas – estão girando ao redor da Terra, a uma velocidade média de 25 mil quilômetros por hora, quase 28 vezes a velocidade de um jato comercial. Já o número de escombros entre dez centímetros e um milímetro superaria 170 milhões, de acordo com a ESA.

Nessas condições, fragmentos pequenos po-dem perfeitamente danificar – e até destruir – espaçonaves e satélites em funcionamento. Para piorar o quadro, a movimentação desses dejetos pode causar impactos em série, multiplicando o número de detritos ao redor da Terra. O prejuí-zo, no fim das contas, é sério: as comunicações e os sistemas de navegação que dependem de sa-télites podem ficar comprometidos. O custo de substituir os atuais mil artefatos ativos em órbi-ta é estimado em cerca de US$ 130 bilhões.

Para consolo dos astronautas, o problema não os afeta muito, pois a maior parte do lixo está situada entre 880 km e 1.000 km de alti-tude, em órbitas polares, as áreas que concen-tram vários satélites de observação. A Estação Espacial Internacional, por exemplo, gira ao redor da Terra a 400 km de altura, e os ônibus espaciais aposentados pelos americanos che-gavam a no máximo 600 km acima da super-fície do planeta. Mesmo assim, a cada ano a Estação Espacial Internacional deve fazer pelo menos uma manobra para evitar o risco de colisão com um desses escombros. De acordo com a ESA, a cada semana uma dúzia de obje-tos se aproxima a menos de dois quilômetros de um satélite.

Crescimento retomadoSe nenhuma ação corretiva for tomada, o lixo espacial tende a voltar para

a Terra, pela ação da gravidade, e ser destruído no atrito com a atmosfera. No entanto, quanto mais alto ele estiver, mais demorado será esse retorno, e a velocidade que de senvolve pode tornar esse tempo ainda maior. Alguns especialistas estimam que vários objetos poderão passar milhares de anos em órbita. Por enquanto, a destruição de lixo pela atmosfera contrabalança a geração de novos escombros. Em 2055, entretanto, mantendo-se o atual ritmo de lançamento de objetos espaciais e de fragmentação dos que estão em órbita, a quantidade de detritos voltaria a aumentar. Com isso, o risco de batidas em órbita poderia ser multiplicado por 25, de acordo com os cál-culos das agências espaciais.

“Dentro de algumas décadas poderá haverá colisões entre grandes obje-tos que criarão fragmentos capazes de fazer estragos posteriores”, afirma Heiner Klinkrad, chefe do Escritório de Escombros Espaciais da ESA. “A úni-ca maneira de evitar isso será subir lá em cima e removêlos. Quanto mais você esperar, será mais difícil e muito mais caro resolver o problema.”

De acordo com a ESA, cerca de dois terços dos pedaços conhecidos de lixo espacial foram criados por explosões em órbita ou colisões. Dois episódios exemplificam essas possibilidades. Em 2007, a China destruiu intencional-mente um de seus velhos satélites meteorológicos, convertido em mais de 2.500 pedaços de lixo espacial. Dois anos depois, um satélite militar Cos-mos, da Rússia, já desativado, e um satélite de comunicações Iridium, dos Estados Unidos, colidiram a mais de 4.200 quilômetros por hora, num aci-dente que despedaçou as duas naves e originou mais de 2 mil destroços, dispersados em diferentes velocidades e trajetórias ao redor da Terra.

Casos como esses mostram aos pesquisadores e operadores de satélites a urgência de se lidar com a sustentabilidade no espaço, mas deve-se reco-nhecer que a preocupação com o tema já existia na década anterior. Ainda em 1995, a Nasa, agência espacial norte-americana, lançou uma série de diretrizes de mitigação do lixo espacial, ampliadas dois anos depois pelo governo dos EUA. Na sequência, a ESA, a Rússia e o Japão, passaram a esta-belecer suas próprias políticas para o assunto.

Em 2002, depois de um esforço que consumiu alguns anos, o Comitê de Coordenação de Escombros Espaciais Inter-Agências definiu por consen-

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um novo relatório da Agência espacial europeia revela que já existem mais de 170 milhões de destroços de objetos na órbita da terra

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so um conjunto de orientações destinadas a mitigar o crescimento da quantidade de lixo espacial em órbita. Com algumas mudanças, elas estão presentes no plano multianual pre-parado em 2007 pelo Subcomitê Científico e Técnico do Comitê das Nações Unidas sobre Usos Pacíficos do Espaço Exterior, endossado pela ONU em janeiro do ano seguinte.

Remoção obrigatóriaA conferência de Darmstadt reiterou a pre-

mência do problema várias oitavas acima, e os especialistas apontaram dois caminhos básicos para lidar com ele. O primeiro é fabricar foguetes que limitem a quantidade de destroços gerada em um lançamento, uma providência que já está sendo tomada pelos principais programas espa-ciais. O outro, bem mais complexo, é dar uma destinação adequada ao que já está lá em cima.

“Medidas de mitigação do lixo especial, se forem implementadas apropriadamente por projetistas de satélites e operadores de missão, poderão restringir a taxa de crescimento da po-pulação de escombros”, afirma Klinkrad. “Mas a remoção ativa de fragmentos tem-se mostrado necessária para reverter o aumento de lixo.” O diretor de voos espaciais humanos e diretor da ESA, Thomas Reiter, reforça a afirmação: “Como uma agência de tecnologia e operações espa-ciais, a ESA já identificou o desenvolvimento das tecnologias de remoção ativas de lixo orbi-tal como um objetivo estratégico.” Os pesquisa-dores consideram que, para estabilizar a situa-ção, é necessário retirar de órbita de cinco a dez fragmentos grandes por ano.

O assunto induz à cooperação entre agências espaciais na pesquisa sobre o lixo espacial. O programa Clean Space, lançado em 2012 pela ESA, é dedicado especificamente a desenvol-ver tecnologia para remover os detritos de for-ma segura. De acordo com Klinkrad, estão sen-do estudados diversos métodos de recolher o lixo, como o uso de redes e arpões, feixes de laser, braços mecânicos, pinças gigantes, paco-tes de propulsão ou explosivos para mudar a trajetória dos destroços.

Mas qualquer decisão a esse respeito, assim como a maneira de pagar a conta (previsivel-mente salgadíssima) pelo método escolhido, só será definida a partir de um grande consenso. “Como essa é uma tarefa global, a remoção ati-va é um desafio que deveria ser assumido por esforços de cooperação com as agências espa-ciais do mundo e a indústria”, ressalta Reiter.

Nessas condições, os especialistas acreditam que a primeira missão de faxina orbital não será realizada antes de 2023. Fonte: reVistAPlAnetA.terrA.coM.Br

A poucos meses do fim do mAndAto, dilmA rousseff cAmi-nHA A pAssos lArgos pArA se tornAr A presidente que me-nos criou unidAdes de conservAção (uc), em compArAção com As gestões de fernAndo Henrique cArdoso (1995-2002) e de luiz inácio lulA dA silvA (2003-2010). Desde 2011, foram apenas três novas UCs, contra 81 de FHC e 77 de Lula. A área protegida por Dilma é pouco maior do que a região que será alagada pela Usina de Belo Mon-te (PA). Além da ínfima ampliação, ambientalistas reclamam da política de redução de unidades e da falta de incentivos para efetivar o desen-volvimento sustentável, um dos objetivos das unidades conservadas.

A comparação com os antecessores é arrasadora. Segundo dados do Ins-tituto Socioambiental (ISA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), em oito anos, FHC criou 21,5 milhões de hectares (ha) de área pre-servada. Em dois mandatos, Lula efetivou a proteção de 26,7 milhões de ha. As três UCs assinadas por Dilma desde 2011, uma no Rio Grande do Norte e duas no Paraná, totalizam somente 44.033 ha. Ainda que se somem às cinco ampliações de áreas protegidas, o período Rousseff chegaria a um incremento de 231 mil ha. Abatidos os 164 mil ha desafetados, isto é, que perderam o caráter de espaços protegidos, o saldo de Dilma é de apenas 66,7 mil novos ha em Unidades de Conservação — pouco mais que os 51,6 mil ha do reservatório de Belo Monte. Quase nada de ganho (0,08%) se comparado aos 75 milhões de hectares de UCs já existentes em 2011.

“Foi o governo que menos olhou para a questão das áreas protegidas. Mesmo pensando em todos os ganhos desde 2004, como uma série de po-lítica públicas para a Amazônia, sentimos que houve uma certa perda. Per-cebemos que a área ambiental não foi tão priorizada”, observa Elis Araú-jo, pesquisadora do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “Houve um decréscimo no ritmo de criação concreta das UCs nos últimos três anos, a despeito do fato de que o ICMBio continuar reali-zando estudos para propor novas unidades”, argumenta Marcelo Cavallini, da coordenação de criação de Unidades de Conservação do ICMBio. Fonte: correio BrAziliense

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nos quase quatro anos de governo, só três unidades de conservação foram criadas e 164 mil hectares acabaram diminuídos de áreas protegidas já existentes. especialistas criticam abandono do setor

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política ambiental

o JApão decidiu nA últimA semAnA mAnter A suA trAdição de cAçAr bAleiAs, desrespeitAndo Assim umA determinAção do tribunAl internAcionAl de JustiçA (icJ), em HAiA, nos pAíses bAixos, que em mArço considerou A AtividAde ilegAl.

Para continuar caçando, os japoneses reformularam seu programa baleei-ro para se aproveitar das ‘brechas’ na decisão do ICJ. O objetivo do Japão é justificar a caça dos mamíferos como sendo uma prática científica. Quatro navios já partiram da cidade de Ishinomaki, na província de Miyagi, ini-ciando uma nova temporada de matança.

A caça japonesa às baleias é intensamente criticada pela comunidade in-ternacional desde 1986, quando a Comissão Baleeira Internacional (IWC) implementou uma proibição global à compra de carne de baleia. Os japone-ses, contudo, alegam que a caça tem propósitos científicos, apesar de pou-cas descobertas na área terem sido publicadas, e declararam que preten-dem manter a caça para estes fins.

“Nosso país seguirá firmemente sua política básica de conduzir a caça às ba-leias para pesquisa, com base na legislação internacional e fundamentação científica, para coletar dados científicos necessários para a regulamentação dos recursos baleeiros, e visando ao recomeço da atividade baleeira comercial”, disse Hayashi Yoshimasa, ministro japonês da Agricultura, Florestas e Pesca.

Como não esperavam pela ação, muitos ambientalistas, que costumam protestar quando os barcos pesqueiros saem, não estavam lá, mas criticaram posteriormente a ação japonesa, afirmando que é um enorme retrocesso.

Japoneses continuarão caçando baleias mesmo após proibição da corte de Haia

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“Há um bom tempo é evidente que a ‘ciência’ tem sido abusada em grande escala para jus-tificar a continuidade da caça comercial de ba-leias protegidas, apesar de o mercado ser cada vez menor para a carne de baleia no Japão”, co-mentou Clare Perry, da Agência de Investigação Ambiental. De fato, o consumo de carne de ba-leia no Japão tem caído muito nos últimos anos, e uma recente pesquisa apontou que apenas 14% dos japoneses realmente comem esse tipo de carne, não fazendo parte regular da dieta da população.

Contudo, muitas das comunidades que depen-dem dessa indústria alegam que, se a caça for proibida, isso custará ao país milhares de em-pregos e ameaçará a subsistência de muitos japoneses. “As pessoas de fora estão dizendo muitas coisas, mas queremos que elas enten-dam nossa perspectiva o tanto quanto possí-vel. Para mim, a caça às baleias é mais atrati-va do que qualquer outro emprego”, comentou Koji Kato, pescador de Ishinomaki. Fonte: instituto cArBono BrAsil

Japão se aproveita de ‘brechas’ em programa baleeiro do icJ para caçar

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A distribuição globAl dA diversidAde e riquezA de espécies tem sido de inte-resse pArA os nAturAlistAs Há séculos e continuA A ser um importAnte temA AtuAl de pesquisA em ecologiA. Mais re-centemente, essa busca tem sido ainda mais motivada por esforços sistemáticos de plane-jamento de conservação, que requerem dados detalhados sobre a distribuição da biodiversi-dade no espaço e no tempo.

O termo ciência cidadã refere-se a voluntários que participam como assistentes de campo em estudos científicos. Colaborações entre pesqui-sadores e voluntários têm o potencial de ampliar o âmbito da investigação e aumentar a capaci-dade de recolher dados. Membros do público in-teressados podem contribuir com informações relevantes. Tipicamente, voluntários não ana-lisam os dados ou escrevem artigos científicos, mas são essenciais para reunir as informações sobre os temas os quais os estudos são baseados.

As baleias, botos e golfinhos são animais com alta mobilidade. Tipicamente se deslocam por extensas áreas e o seu ciclo vital ocorre intei-ramente no mar, especialmente abaixo da su-perfície da água. Esses fatores somados as li-mitações financeiras para as pesquisas e as

os Golfinhos?

dificuldades inerentes para a coleta de dados em campo explicam porque a distribuição geográfica desses animais ainda é pouco conhecida, quando comparada, por exemplo, com os mamíferos terrestres.

O grupo da rede social Facebook “Onde estão as Baleias e os Golfinhos?”, (www.facebook.com/groups/baleiasgolfinhos.rj) criado em outubro de 2013 e atualmente com mais de 1.200 membros, é um convite para a sociedade se engajar nas questões ambientais e conservacionistas colaborando com a pesquisa e manutenção dos cetáceos e seus respectivos habitats.

Dados sobre a ocorrência dos cetáceos ao longo das águas costeiras da cida-de do Rio de Janeiro permanecem pouco conhecidos e uma melhor compre-ensão sobre a diversidade, distribuição e movimentos das espécies poderá ser alcançada com a sua participação no grupo, contribuindo dessa forma para a efetividade da implementação de medidas de conservação.

Os objetivos do grupo incluem: 1) Mobilizar e envolver a sociedade na pes-quisa científica participativa, 2) Recrutar voluntários para comunicarem os registros de avistagens de baleias e golfinhos em águas costeiras da cidade do Rio de Janeiro, 3) Formar um banco de dados com os registros de avista-gens obtidos através do grupo e, 4) Elaborar o mapeamento da diversidade e distribuição de cetáceos na cidade do Rio de Janeiro.

Se você tem fotos e/ou vídeos de cetáceos poste no grupo informando a data, local, hora e número de animais avistados. As imagens são importantes para a positiva identificação das espécies e podem fornecer dados científicos valiosos. O potencial para a ciência cidadã está apenas começando a ser entendido no Brasil. Em todo o mundo contribuições de cientistas cidadãos tem fornecido uma ampla quantidade de dados sobre a ocorrência de espécies e distribuição.

Fica o convite para acompanharem e participarem do grupo do Onde estão as Baleias e os Golfinhos? o qual informações sobre os cetáceos estão disponí-veis de modo claro e fácil para ajudar aos participantes a aprenderem sobre a biologia, ecologia, ameaças e conservação desses animais. *realizado pelo instituto Mar Adentro e patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental

A ciência cidadã, um tipo de ciência que envolve a participação do público em geral, está se tornando em todo o mundo uma importante ferramenta para o monitoramento e avaliação dos ecossistemas

onde estão as baleias e

À esq.: Baleia-de-bryde (Balenoptera edeni) ocorre ao longo do ano em áreas costeiras do rio, em especial na primavera, verão e outono; golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis) ocorre em regiões tropicais, subtropicais e temperadas quentes dos oceanos. Acima: golfinho-flíper (Tursiops truncatus) apresenta ampla distribuição geográfica em águas tropicais, subtropicais e temperadas.

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florestas

30 motivos para preservar

o greenpeAce, umA dAs ongs de defesA AmbientAl mAis fAmosA do mundo, pre-pArou umA listA com 30 rAzões pArA nos incentivAr e AlertAr sobre os cuidAdos que devemos ter com As florestAs brA-sileirAs. Apesar de não ser uma listagem re-cente (ela data de 2011), os pontos apresentados continuam a ser atuais e merecem ainda mais atenção e preocupação.

Veja abaixo algumas razões para as quais pre-cisamos abrir os olhos:

1. O Brasil abriga 20% de todas as espécies do planeta.

2. O mundo perde 27 mil espécies por ano.

3. A Amazônia ocupa metade do Brasil e abriga 2/3 de todo o remanescente florestal brasileiro atual.

4. O Brasil detém 12% das reservas hídricas do planeta.

5. Já perdemos cerca de 20% da Amazônia, o limite estabelecido pela lei.

as florestas do brasilna mata atlântica, por exemplo, bioma de mais longa ocupação no brasil, 93% já foi perdido

6. Na mata atlântica, bioma de mais longa ocupação no Brasil, 93% já foi perdido.

7. Mesmo quase totalmente desmatado, ainda tem gente que ataca a mata atlântica: a taxa média de desmatamento de 2002 a 2008 foi equivalente a 45 mil campos de futebol por ano.

8. Perdemos 48% do cerrado.

8. Perdemos 45% da caatinga.

10. Entre 2002 e 2008, a área destruída no cerrado foi equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol por ano, na caatinga o equivalente chegou a 300 mil campos.

10. Perdemos 53% dos pampas.

10. Entre 2002 a 2008 perdemos o equivalente a 4 mil campos de futebol por ano nos pampas.

10. Perdemos 15% do Pantanal.

10. Por ano, perde-se 713 km2 de Pantanal.

10. Se mantivermos as taxas de desmatamento registradas até 2008 em to-dos os biomas, perderemos o equivalente a três Estados de São Paulo até 2030.

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30 motivos para preservaras florestas do brasil

16. O Brasil é o 4º maior emissor de gases de efei-to estufa, que provocam o aquecimento global, principalmente porque desmatamos muito.

17. 61% das nossas emissões vêm do desmata-mento e queima de florestas nativas.

18. A expansão pecuária na Amazônia é, sozi-nha, responsável por 5% das emissões de ga-ses-estufa em todo o mundo.

19. Mudanças climáticas impactam diretamen-te as cidades brasileiras. Preservar as florestas ajuda a regular o clima e proteger as populações.

20. Mudanças climáticas impactam direta-mente a agricultura. A Embrapa, por exemplo, prevê desertificação do sertão nordestino e im-pacto nas principais commodities brasileiras, como soja e café; os mais pobres sofrem mais.

21. Saltamos de uma taxa de 27 mil km2 de des-matamento na Amazônia em 2004 para menos de sete mil em 2010. É possível zerar essa conta.

22. Empresas que comercializam soja no Brasil são comprometidas, desde 2006, a não com-prar de quem desmata na Amazônia. A produ-ção não foi afetada e o mercado pede por pro-dutos desvinculados da destruição da floresta.

23. Os maiores frigoríficos brasileiros anun-ciaram em 2009 que não compram de quem desmata na Amazônia. O mercado não quer mais desmatamento.

24. O Brasil pode dobrar sua área agrícola sem desmatar, ocupando áreas de pasto ou abandonadas.

25. 60% da vegetação nativa do Brasil está contida nas reservas legais – ins-trumento de preservação do Código Florestal que os ruralistas tentam acabar.

26. A pecuária ocupa cerca de 200 milhões de hectares, quase ¼ de todo o Brasil. Boi ocupa mais espaço que gente. E isso porque a produtividade da pecuária no Brasil é muito baixa: um boi por hectare. Dá para triplicar o rebanho sem desmatar.

27. Um terço de todo o rebanho bovino brasileiro está na Amazônia, onde 80% da área desmatada é ocupada com bois. Ali há 22,4 milhões de hecta-res de pastagens abandonadas e degradadas, ou uma Grã-Bretanha, que poderiam ser reaproveitadas. Só não são porque derrubar é mais barato.

28. Mais de 70% das espécies agrícolas cultivadas dependem de poliniza-dores, que por sua vez dependem da natureza em equilíbrio. A FAO cal-cula que esse serviço prestado pelos insetos é equivalente a € 150 bilhões (R$ 345 bilhões), ou 10% produto agrícola mundial.

29. O Código Florestal é fundamental para manter as florestas em pé.

30. Num cenário de desmatamento zero, a agricultura familiar teria tra-tamento diferenciado. Isso porque, a despeito de ocupar apenas 25% da área agrícola brasileira, é o real responsável por produzir a comida (70% do feijão, 58% do leite e metade do milho brasileiro vem da agricultura familiar) e por gerar emprego no campo (74% da mão de obra). Fonte: cicloViVo e greenPeAce

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Parque nacional das sete cidades, no Piauí – transição entre cerrado e caatinga. À dir., acima: muriqui-do-norte, ou mono-carvoeiro (Brachyteles hypoxanthus), o maior macaco das Américas, é considerado uma das 25 espécies mais ameaçadas de extinção do mundo. encontra-se na Mata Atlântica dos estados brasileiros do rio de Janeiro, espírito santo, Minas gerais e Bahia.À dir, abaixo: Mata Atlântica em Morretes (Pr)

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unidades de conservação

nAs áreAs urbAnAs ocorrem um pouco mAis de 70% dAs emis-sões de dióxido de cArbono do mundo, provocAndo o Aque-cimento globAl, provAvelmente o mAior desAfio AmbientAl que o mundo enfrentA HoJe.

Por outro lado, desde que erguidas em bases sustentáveis, as cidades po-dem ajudar a conter o aquecimento do planeta, Como? Por meio de proje-tos de cidades mais compactas, através do estímulo à ocupação de áreas vazias, reduzindo os trajetos urbanos; reuso de água; maior uso de lumi-nárias com lâmpadas LED na iluminação pública; tratamento de efluentes; aquecimento para poupar energia (mais incentivos à produção de energia solar); transporte público melhor, incitando as pessoas a usarem menos au-tomóveis; obrigar por meio de leis para que os planos diretores das cidades tenham projetos de urbanização e edificações que adotem medidas de uso sustentável de energia; mais ciclovias e áreas de pedestres também redu-zem as emissões de combustíveis fósseis, evitando dessa forma os efeitos mais nocivos do aquecimento global.

As cidades podem ser uma fonte de solução para os problemas climáticos, como no caso do bairro de 5 mil habitantes, Pedra Branca, no município de Palhoça, SC, próximo de Florianópolis. Ele é um dos 16 empreendimentos no mundo – e único no Brasil – já em implantação à alguns anos, escolhidos pela Fundação Bill Clinton, como exemplo de desenvolvimento urbano vol-tado para combater as mudanças climáticas.

É notório que as amplas áreas verdes urbanas – certamente os espaços mais democráticos da cidade – são reconhecidas por trazerem valio-sas contribuições para o meio ambiente e para o bem-estar social no âmbito urbano. Elas são um elemento chave para a sustentabilidade ur-bana. Aqui enfocaremos as grandes áreas verdes urbanas e aquelas muito próximas, praticamen-te limítrofes com a urbe, que são as unidades de conservação (UCs) urbanas.Como exemplos dessa forte interação cidades-unidades de con-servação do ponto de vista da visitação e educa-ção ambiental (além da pesquisa e preservação da biodiversidade), temos o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, o Parque Nacional de Brasília, a Estação Ecológica de Carijós e Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé, em Florianó-polis, dezenas de parques estaduais como Pedra Branca, no Rio de Janeiro, Cantareira e Jaraguá na cidade de São Paulo, Parque Estadual das Du-nas, em Natal, Parque Estadual dos Dois Irmãos, em Recife, além dos Parques Municipais como o

segundo dados recentes da onu, a cada semana, a população urbana mundial aumenta em 1,3 milhão de pessoas, ou quase 186 mil pessoas por dia. no brasil, segundo o ibge (2010), ou seja, à quatro anos, 84% dos brasileiros já viviam nas cidades.

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Parque do Coocó, em Fortaleza, Parque da Mãe Bonifácia em Cuiabá (MT) e ou-tras centenas de UCs urbanas espalhadas pelas cidades brasileiras.

As maiores decisões políticas, se define nas cidades. Portanto, as UCs ur-banas, em especial os parques nacionais, estaduais e municipais desempe-nham um papel pedagógico fundamental no sentido de ter a comunidade aliada na defesa do meio ambiente. Com a tendência de a sociedade ser cada vez mais urbana, as UCs são espaços de conscientização sobre a im-portância de vivermos em um ambiente sadio.

Segundo recém levantamento realizado pela Rede(virtual)Nacional de Uni-dades de Conservação Urbanas-RENUURB, uma oportunidade para conser-vação da biodiverCidade, doze parques nacionais brasileiros(17%), em diver-sos níveis de ocupação nas suas zonas de amortecimento, influenciam e são influenciadas por cidades. Dez por cento das Reservas Biológicas, um quinto das Florestas Nacionais (nove) e Estações Ecológicas, além de um quinto das Reservas Extrativistas Marinhas (nove) também possuem uma relação mui-to estreita com a questão urbana. Isso sem mencionar a metade das APAs Federais (dezoito) cuja influência urbana é mais forte ainda como na APA da Baleia Franca, no litoral sul de Santa Catarina, onde o ICMBio participa de di-versos Grupos de Trabalho integrado com o Ministério Público Federal com o objetivo de compatibilizar entre os diversos atores sociais, o necessário cres-cimento urbano com a imprescindível proteção ambiental.

Apesar de reconhecer e enfocar aqui que a proximidade das cidades com as UCs urbanas é mais uma oportunidade que um problema de im-pacto ambiental, centenas de UCs foram, estão sendo e serão impacta-das pelo crescimento urbano, a curto, médio e longo prazo. Por outro lado, milhares de pessoas em um mundo cada vez mais urbano utiliza-

mudanças climáticas:

À esq.: ocupação das dunas na APA Baleia Franca, em santa catarina – exemplo negativo da questão urbana, em relação às unidades de conservação. Acima: Parque nacional de Brasília, no meio da cidade, é um bom exemplo da presença da ocupação urbana próxima de uma unidade de conservação

rão mais as UCs urbanas como área de lazer e integração com a natureza.

Centenas de cidades brasileiras, grandes, mé-dias e pequenas, mantém uma relação mui-to estreita com as UCs e vice versa. É preciso ir além de trabalhar em conjunto com as Prefei-turas, a questão urbana nas zonas de amorte-cimento das UCs por meio de implantação de programas de alternativas econômicas susten-táveis, que levem em consideração a necessida-de de proteger o entorno da UC. Além da insu-ficiência de recursos para infraestrutura básica e manutenção, as maiores ameaças e pressões – com exceção das APAs – vem de fora e não de dentro. O maior exemplo é a questão urbana, e não o desmatamento, principalmente na re-gião sul-sudeste e zona costeira, onde se con-centra a maior parte da população brasileira.

É imperativo que haja uma conexão entre o processo de elaboração ou revisão Plano de Manejo e do Plano Diretor, principal instru-mento de planejamento participativo das UCs e das cidades, respectivamente.

Portanto, urge uma estratégia diferenciada para conservação da biodiverCidade. Em espe-cial no que tange à política de ocupação do terri-tório que leve em consideração a zona de amor-tecimento das UCs e a integração entre as nor-mas do zoneamento municipal estabelecidas no Plano Diretor e do zoneamento das APAs.

Devemos reconhecer o potencial que as ci-dades e suas UCs desempenham no comba-te às mudanças do clima, em especial quanto às modificações no atual padrão de consumo energético mundial e como atenuantes dos problemas socioambientais, favorecendo a qualidade de vida, pois na medida em que a população da Terra aumenta e nossas cidades crescem precisamos garantir que teremos os modelos para sustentar nosso modo de vida num mundo cada vez mais urbanizado.

Devemos lembrar que as UCs e suas cidades são instrumentos importantes para transfor-mar as relações do homem com a natureza, no sentido de reconhecer nossas interações necessárias não somente à qualidade de vida nas cidades, mas à sobrevivência da humani-dade como um todo. *Miguel von Behr é analista ambiental do icMBio-instituto chico Mendes de conservação da Biodiversidade, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, litoral sul de santa catarina. Arquiteto e urbanista, Mestre em Planejamento urbano e regional pela universidade de Brasília. Desde 1982 trabalha com criação e implantação de unidades de conservação. em 1997 foi coordenador técnico do Projeto “Planejamento urbano e unidades de conservação”, pelo ibama e em 2012 criou a renuurb – rede nacional de unidades de conservação urbanas.

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Dia Mundial do Meio Ambiente

barbados

bArbAdos, ilHA cAribenHA que investe cAdA vez mAis em pro-Jetos contrA A mudAnçA do climA, foi escolHido pelo pro-grAmA dAs nAções unidAs pArA o meio Ambiente (pnumA) como sede dAs celebrAções globAis do diA mundiAl do meio Ambiente (dmmA). A data é comemorada no dia 5 de junho, e as cele-brações acontecerão ao longo de toda a semana.

O tema do DMMA deste ano é “Aumente sua voz, não o nível do mar”, e chama a atenção para os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimen-to e seus desafios relativos às mudanças climáticas.

Barbados, um país de 430 Km² e uma população de 270 mil pessoas, é altamente suscetível aos efeitos da mudança do clima, dos impactos agrí-colas à destruição de seus ecossistemas costeiros. No entanto, a pequena nação tem dado passos largos para reduzir sua pegada de carbono e ofe-recer energia limpa e renovável, bem como oportunidades para um cres-cimento econômico verde.

Dentre outras coisas, Barbados se comprometeu em aumentar para 29% a participação de energias renováveis na matriz energética da ilha até 2029. Isso cortaria cerca de US$ 283,5 milhões do custo total de eletricidade e reduziria as emissões de CO² em 4,5 milhões de toneladas, de acordo com o governo.

“Esse grande evento será uma oportunidade para Barbados mostrar sua cultura para todo o mundo. Nosso objetivo é estar no mapa global do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável. Isso só poderá ser alcança-do se todas as partes – setor público e privado, ONGs e sociedade civil – trabalharem juntas para um Dia Mundial do Meio Ambiente de grande sucesso”, declara o Primeiro Ministro de Barbados, Freundel J. Stuart.

O turismo em Barbados, que contribui com mais de 15% do PIB do país, e sua indústria de açúcar, responsável por aproximadamente 2%, serão seve-ramente afetados pela mudança do clima. Em resposta, Barbados incluiu

a Economia Verde dentre os seis objetivos concretos de seu Plano Estratégico Nacional (2006-2025).

“Os Pequenos Estados Insulares em Desen-volvimento estão enfrentando riscos relacio-nados à mudança do clima, desde o aumen-to de temperatura, que afeta negativamente a agricultura, até o crescimento do nível do mar, que ameaça a existência de algumas na-ções”, declara o subsecretário geral da ONU e diretor executivo do PNUMA, Achim Steiner.

“Barbados colocou a conservação e a tran-sição para uma economia verde inclusiva no centro de sua estratégia nacional. Esse quadro possibilitou um número de medidas proativas e concretas para combater a mudança do clima, incluindo incentivos a um dos setores que cres-cem mais rápido na ilha, o da energia solar.”

“Como sede do DMMA, Barbados terá a opor-tunidade de mostrar suas iniciativas e se tornar um exemplo para Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento que estão enfrentando desafios similares. O país demonstra um gran-de interesse político, provando que a transição para uma economia verde é possível – mesmo em países que enfrentam grandes desafios – quando políticas ambientais robustas são tra-duzidas em ações”, adicionou.

líder em energia solar, o país da América central será sediará o dia mundial do meio Ambiente de 2014

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segundo A definição do ministério do meio Ambiente (mmA), logísticA reversA é um “instrumento de desenvol-vimento econômico e sociAl cArActerizAdo por um con-Junto de Ações, procedimentos e meios destinAdos A viA-bilizAr A coletA e A restituição dos resíduos sólidos Ao setor empresAriAl, pArA reAproveitAmento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outrA destinAção.”

Com a promessa de ajudar na implementação desse conceito, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), em parceria com a BVRio, começou a comercializar os primeiros crédi-tos de logística reversa de embalagens do Brasil.

A intenção desse novo mercado é aproximar os catadores das empresas que precisam cumprir metas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

De acordo com a PNRS, criada em 2010, companhias devem promover a logística reversa de embalagens pós-consumo, envolvendo neste pro-cesso os catadores brasileiros, que hoje são mais de 800 mil pessoas.

O mercado funcionará distribuindo créditos para os catadores depois de uma análise de suas atividades, sendo que a quantidade e o valor de-les variarão conforme o material dos resíduos trabalhados. Em seguida, os créditos podem ser vendidos para as empresas, facilitando assim a relação entre a iniciativa privada e as cooperativas.

“É um modelo que reconhece o serviço ambiental que a gente faz para a sociedade (...) Vai ajudar os catadores a melhorarem sua remunera-ção”, declarou Severino Lima Júnior, presidente do MNRC.

“O sistema é uma forma eficiente e transparente de implementar a logística reversa, além de contribuir de forma não assistencialista ao desenvolvimento das cooperativas de catadores”, afirmou Pedro Moura Costa, presidente-executivo da BVRio.

A primeira empresa interessada no mercado foi o Grupo Boticário, que a partir de hoje e durante os próximos dois meses deverá adquirir o equi-valente em 1.200 toneladas em créditos. “Estamos alavancando o mercado de Créditos de Logística Reversa no país. Esta ação está conectada ao nos-so plano estratégico de longo prazo em sustentabilidade. Nosso objetivo é contribuir, de forma efetiva, com o desenvolvimento da sociedade e a pro-teção do meio ambiente. E acreditamos que uma das etapas importantes para a redução do impacto ambiental é a destinação correta de embala-gens pós-consumo”, disse Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário.

O valor total das transações do Boticário não foi divulgado, mas pelo portal da BVRio é possível ver a cotação dos vários tipos de créditos, que estão atualmente avaliados na faixa de R$ 100 a unidade. Fonte: instituto cArBonoBrAsil/BVrio

primeiro mercado de créditos de logística reversa de embalagens do brasil entra em operação

operaçãologística reversa em

A dependência da ilha sobre combustíveis fósseis se tornou um de seus principais proble-mas ambientais. O Plano Estratégico Nacional foi desenvolvido para diminuir essa dependên-cia e aumentar o fornecimento de energia re-novável, com um foco especial no número de aquecedores solares residenciais.

Aquecedores solares de água são amplamen-te usados na ilha, com instalações em pratica-mente metade das casas. Só em 2002, Barbados deixou de emitir 15 mil toneladas métricas de carbono e mais de US$ 100 milhões foram eco-nomizados devido aos 35 mil sistemas insta-lados. O uso desse tipo de aquecedor no país é o maior em todo o mundo.

Políticas de incentivo do governo de Barbados ajudaram para que isso se tornasse possível. Três empresas do país lideram essas instalações e pro-duções de aquecedores solares de água, e elas já estão expandindo sua atuação para o mercado caribenho em potencial, particularmente as ilhas de Trinidad & Tobago e Santa Lúcia.

A capital Bridgetown recentemente foi desig-nada um dos Patrimônios Mundiais da Huma-nidade. Esses esforços combinam o trabalho do governo para proteger o patrimônio cultural e natural do país e demonstrando oportunidades de mitigação das mudanças climáticas em ilhas.

Em 2012, o PNUMA e o governo de Barbados lançaram a síntese de um estudo sobre Econo-mia Verde em Barbados (Green Economy Scoping Study – Barbados Synthesis Report), que foi criado para identificar os desafios e oportunidades da transição para uma Economia Verde na ilha.

Eventos em Barbados para a celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente acontecerão ao longo de cinco dias. Serão discutidos tecno-logias de adaptação à mudança do clima, ne-gócios, manejo de recursos sustentáveis, áreas protegidas, cultura local, e também falarão de desafios e oportunidades para os estados insu-lares em desenvolvimento do mundo todo. Fonte: PnuMA

lixo & reciclagem

Barbados colocou a conservação e a transição para uma economia verde inclusiva no centro de sua estratégia nacional. Esse quadro possibilitou um número de medidas proativas e concretas para combater a mudança do clima, incluindo incentivos a um dos setores que crescem mais rápido na ilha, o da energia solar.(Achim Steiner, subsecretário geral da ONU e diretor executivo do PNUMA)

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muitAs pessoAs nuncA pArArAm pArA pensAr pArA onde vAi todo o lixo que é produzido pelAs cAsAs, comércios, setores públi-cos e indústriAs. será que ele tem o destino certo? Mais do que isso, será que ele é encaminhado e tratado de maneira correta? São questões como essas que vêm, cada vez mais, reforçando a busca pelo conhecimento no campo de resíduos sólidos. Este é um tema um tanto quanto novo e até então, pouco abordado, mas de extrema importância para todos. Só no Brasil, no ano de 2012 foram produzidas 63 milhões de toneladas de resíduos domi-ciliares, sendo que desse total 40% teve como destino lixões ou aterros.

No Brasil, a lei federal 12.305/2010 institui a Política Nacional de Resídu-os Sólidos (PNRS), conta com instrumentos que visam auxiliar o País a en-frentar problemas ambientais, sociais e econômicos causados pela gestão incorreta dos resíduos sólidos. Essa legislação tem como uma de suas pro-postas prevenir e reduzir a geração de resíduos, incentivando a prática de consumo sustentável e o aumento da reciclagem e da reutilização desses materiais. E segundo a definição em seu artigo nº 3, 10º parágrafo, o geren-ciamento de resíduos sólidos constitui um “conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tra-tamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei”.

Os avanços neste tema dependerão dos esforços para reformular processos tanto do setor privado como do público. As empresas devem repensar seus produtos e serviços, bem como as tecnologias utilizadas no processo pro-dutivo e encontrar as melhores maneiras, seguindo a proposta da PNRS, de não gerar, reduzir, reutilizar, reciclar e tratar dos resíduos sólidos, bem como a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Marcos Badra, as-sociado responsável pelo Departamento de Resíduos na Consultoria de Meio

lixo & reciclagem

merece atençãoresíduos sólidos: um cenário que

Ambiente CGAgeo, explica que “Todo resíduo nada mais é do que matéria prima que não con-seguiu ser aproveitada pelo processo produtivo, o que acaba gerando custo duplo para a empre-sa: um na compra da matéria-prima e outro no momento do gerenciamento dos resíduos.”

Marcos ainda comenta que, além do fato de não cumprirem com as normas ambientais na gestão de resíduos, as empresas podem ter seus lucros comprometidos e sua imagem exposta de uma forma negativa, uma vez que não se ade-quarem as exigências da legislação, o que refor-ça a necessidade de tratar o assunto com a serie-dade e prioridade que ele exige. “A problemática dos resíduos está ocupando cada vez mais espa-ços nas agendas corporativas. Os recursos natu-rais desperdiçados não estão só contaminando, mas também estão diminuindo em um ritmo cada vez mais acelerado e hoje, as empresas e os setores públicos precisam aumentar seus recur-sos para melhorar a gestão de resíduos e a valo-rização dos mesmos, considerando assim, a va-lorização da responsabilidade delas com a socie-dade e com o planeta”, explica.

Além dos municípios brasileiros que deve-rão apresentar seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) de acordo com os critérios estabelecidos pela PNRS, existe tam-bém a responsabilidade dos importadores, fa-bricantes, distribuidores, comerciantes e dos cidadãos. “O marco legal no Brasil em relação ao gerenciamento de resíduos sólidos mu-dou e está obrigando as empresas a mudarem também seus conceitos, adotando novos para-digmas. As companhias não podem mais tra-balhar da maneira como faziam antes e não podem mais improvisar com o tema, é preciso profissionalizar a área, trazendo inovação que beneficie o negócio e produza um impacto po-sitivo nas comunidades e ecossistemas. Ape-nas profissionais com experiência e conheci-mento técnico e legal podem atuar baseados na PNRS e outras legislações vigentes, que se não cumpridas, trazem consequências econô-micas e criminais”, conclui Marcos. Fonte: enVolVerDe

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os resíduos têm aumentado e, por consequência, a contaminação do meio ambiente. Agora o governo exige ações e responsabilidades das empresas

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Dia da Mata Atlântica

A família callitrichidae inclui os gêneros Cebuella, Callithrix, Saguinus e Leontopithecus. o gênero Leontopithecus é representado por quatro espécies: Leontopithecus rosalia (mico-leão-dourado), Leontopithecus chrysomelas (mico-leão-da-cara-dourada), Leontopithecus chrysopygus (mico-leão-preto) e Leontopithecus caissara (mico-leão-da-cara-preta), que fazem parte de listas nacionais e internacionais de espécies ameaçadas de extinção

o mico-leão-dourAdo (LeontopitheCuS roSaLia) é um primA-tA de pequeno porte, com comprimento médio de 587 mm e peso médio de 499 g, endêmico dA mAtA AtlânticA de bAixA-dA costeirA do estAdo do rio de JAneiro. Atualmente, L. rosalia encontra-se restrito a fragmentos de mata de apenas oito municípios do Estado Rio de Janeiro: Silva Jardim, Rios das Ostras, Casimiro de Abreu, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Araruama, Saquarema e Rio Bonito. Costu-ma viver em galhos de árvores e dormir em ocos localizados nas mesmas, geralmente, abandonados por outras espécies.

Na floresta, micos-leões-dourados podem viver até 12 anos. A espécie tem hábitos diurnos e costuma formar grupos de dois a oito animais, com uma média de 6 animais por grupo. O período reprodutivo vai de setem-bro a fevereiro e normalmente há apenas um casal reprodutor por grupo. A gestação dura 4 meses e geralmente nascem dois filhotes, podendo nas-cer até três, em casos mais raros. Sabe-se que em anos com abundância de frutos, algumas fêmeas conseguem gerar uma segunda cria.

O sistema social desses animais é cooperativo. Os indivíduos do grupo ajudam na criação dos filhotes, seja carregando ou fornecendo alimen-to para os mesmos. Micos-leões são considerados animais frugívoros-insetívoros, tendo a morfologia do corpo adaptada para a exploração de micro-habitats na busca de presas. A dieta da espécie é constituída por frutos, néctar, invertebrados e pequenos vertebrados. Os frutos mais consumidos são os doces, carnosos e macios.

Apesar de L. rosalia ser usualmente relacionado a florestas primárias, devido à maior disponibilidade de ocos, que são utilizados como locais de dormida, bromélias e epífitas para forrageio, atualmente, ocorre principal-mente em área de vegetação secundária com diferentes graus de alteração.

Parque Natural Municipal do Mico-Leão-Dourado Localizada às margens do Oceano Atlântico, no Estado do Rio de Janei-

ro, Sudeste do Brasil, na chamada Região dos Lagos, a cidade de Cabo Frio apresenta diversas belezas naturais, estando inserida dentro do bioma Mata Atlântica, área altamente impactada e ameaçada devido à ação do homem, com diversos ecossistemas de grande relevância ecológica, como praias, dunas, restingas e ilhas, entre outros.

desafios para a conservação do

mico-leão-dourado

A ocupação da Mata Atlântica aconteceu de forma desordenada ao longo das últimas déca-das e hoje, cerca de 70% da população brasilei-ra, mais de 100 milhões de pessoas, residem em suas áreas originais, tendo reduzido sua área total em mais de 93%.

O bioma é classificado como um dos HOTS-POTS existentes na Terra, ou seja, como área natural de alta biodiversidade vulnerável à ex-tinção, já que concentra uma grande diversida-de e quantidade de espécies vegetais e animais.

O risco evidente de extinção de espécies da flora e fauna, que só ocorrem na Mata Atlânti-ca, gerou um aumento significativo de esforços direcionados na criação e implantação de áreas protegidas ao longo desse bioma.

Acompanhando essa corrente de pensamen-to conservacionista, a Prefeitura Municipal de Cabo Frio (PMCF), junto com a Secretaria Muni-cipal de Meio Ambiente (SEMA), criou a partir da década de 80, sete Unidades de Conservação denominadas Parques Naturais Municipais.

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À esq., mico-leão-dourado em fragmento de Mata Atlântica no Parque natural Municipal do Mico-leão-Dourado, em tamoios, 2º Distrito de cabo Frio-rJ. nesta foto, pode-se ver àrea desmatada no interior do Parque. À dir: espécime atropelado em uma das ruas que dão acesso à uc

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Uma delas é o Parque Natural Municipal do Mico-Leão-Dourado, uma das únicas Unida-des de Conservação no mundo com uma po-pulação residente da espécie, que é endêmi-ca da Mata Atlântica brasileira e considerada ameaçada de extinção.

O Parque Natural Municipal do Mico-Leão-Dourado, localizado em Tamoios, 2º Distrito de Cabo Frio, possui uma área total de 645 hectares, divididos em seis zonas verdes de vegetação, denominadas glebas. A área é classificada como de preservação integral, com leis específicas que não permitem a ins-talação de comunidades humanas em seu interior. Porém, problemas de origem antró-pica, como invasões e ocupações irregulares de áreas no interior e entorno do Parque, vêm gerando uma urbanização desordenada, im-pulsionando o parcelamento do solo em um complexo de loteamentos e condomínios e, dessa forma, causando a fragmentação e a degradação das áreas remanescentes de Mata Atlântica, onde o Parque está inserido.

Principais ameaçasAtualmente, as principais ameaças enfren-

tadas pelo mico-leão-dourado no Parque Natural Municipal do Mico-Leão-Dourado são: a destruição do habitat, proveniente de queimadas e desmatamentos no interior e no entorno do Parque, que reduzem drasti-camente as áreas remanescentes de Mata Atlântica, o aumento do tráfego de veícu-los de pequeno e grande porte (caminhões) que trafegam em alta velocidade pelas ruas, avenidas e estradas que cortam a área, cons-tituindo uma séria ameaça para a fauna, já que algumas espécies, especialmente de mamíferos, morrem atropeladas, e a caça ilegal, que diminui a população já bastante reduzida da espécie no Parque.

muito risco no brasilJornalismo Ambiental: ainda uma profissão de

A decisão dA JustiçA bAiAnA em condenAr o JornAlistA bAiA-no Aguirre peixoto A seis meses e seis diAs de detenção em re-gime Aberto por crime de difAmAção não é um Ato isolAdo. O Jornalista cumpriu seu ofício, publicando no Jornal A Tarde denúncia do Mi-nistério Público contra uma construtora, por crime ambiental. Um dos acusa-dos, em vez de processar o promotor público, ou o Jornal, escolheu processar o Jornalista, por calúnia e difamação, talvez por ser o lado mais fraco da corda.

Não é a primeira vez, nem será a última. Os jornalistas são o lado mais fraco nessa guerra, especialmente na cobertura e investigação das ações de empresas que avançam inescrupulosa e gananciosamente sobre os re-cursos naturais e os direitos de todos a um meio ambiente ecologicamente protegido como assegurado em nossa Constituição. Pelo menos no papel.

O Jornal A Tarde demitiu o jornalista após esta história, provavelmente pres-sionado pelos patrocinadores (http://bahiadefato.blogspot.com.br/2011/02/empresa-de-socio-de-suarez-acionou.html). Segundo nos informou a jornalis-ta Raíza Tourinho Lima, a demissão de Aguirre motivou greve no jornal na épo-ca, em 2011, o que levou a sua readmissão (http://portal.comunique-se.com.br/.../66296-apos-polemica...). Raiza informou ainda que o Aguirre não é o úni-co do jornal processado pelo mesmo grupo – tem uns seis ou sete na lista.

Aqui na Rebia conhecemos muito bem o que é isso. Sou testemunha do quanto o Jornalismo Ambiental sofre com perseguições e ameaças. Em 2006, em Paris, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou as “repetidas ameaças de morte e intimidações” recebidas por mim em fun-ção de minhas denúncias, na época, contra a poluição das águas, a pesca clandestina e as ameaças à fauna marinha protegida na Baía de Guanaba-ra. A organização, com sede em Paris, publicou um relatório, em que lembra que eu já tinha sofrido outras ameaças antes, o que me levou a ter de sair de Niterói, duas vezes, para escapar da morte, e denuncia o pouco caso com o qual a Justiça Brasileira trata destes assuntos. (Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/07/07/ult1766u16779.jhtm)

O problema é quando a própria “Justiça” é usada como instrumento de censura e agressão a jornalistas, como no Aguirre. Também sofri e ainda sofro com este constrangimento. A alguns anos atrás publiquei denúncia legítima de um colaborador, que por sua vez, apenas divulgava o que o Mi-nistério Público havia denunciado contra uma empresa no sul do Brasil. A empresa me processou e a Juiza me condenou e, como não paguei, por que considerei um absurdo, uma ação política para me constranger e censurar, a dívida contra mim ultrapassa 130 mil reais e continua crescendo.

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jornalismo ambiental

II ENPJA – Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo AmbientalO II Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental será realizado de 29 a 31 de maio em Porto Alegre – RS. Seu principal objetivo é reunir pesquisadores docentes e discentes interessados no diálogo sobre o atual momento de investigação no tema e possibilidades futuras de atuação compartilhada. As inscrições serão aceitas até a data do evento. Os valores são: até 30/04 – R$50,00 para estudantes (graduação e pós-graduação) e R$ 80,00 para o público em geral (professores, pesquisadores, profissionais); após 30/04, – R$ 60,00 para estudantes e R$120,00 para o público em geral. Pesquisadores com apresentação de trabalho são isentos de taxa, devendo apenas enviar os dados solicitados no link: http://jornalismoemeioambiente.com/enpja/

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ecologia interior

“o tempo é curto e o futuro do planeta está em suas mãos, ajude, ajude-o. porque o planeta terra é você! que a indiferença não te vença.”

“HumAnos… que incrível pAlAvrA… somos considerAdos A espécie mAis inteligente do plAnetA. no entAnto, somos A pior. O que fazemos neste mundo? Quem nos trouxe aqui? Qual a nossa missão no planeta? Talvez nunca entenderemos, mesmo quando parece ser que nossa única missão é acabar com ele e suas espécies.

Você já parou pra pensar que talvez este planeta não nos pertence? Mesmo assim, seu cuidado está em nossas mãos. Os animais estavam aqui muito antes que nós. Somos apenas seus convidados. Temos vindo a invadir seu território e estamos destruindo seu lugar. Nos suportaram por séculos, nos perdoaram inúmeras vezes, mas continuamos ignoran-do sua situação. Temos sido seus sequestradores, seus assassinos, e ain-da assim nos aceitam como seus donos.

Somos a única espécie que ataca, destrói, aniquila, contamina e extin-gue por ambição ou só para viver um pouco melhor.

O mundo é teu. É nosso. É de todos nós. Mesmo assim, lembre-se tam-bém que o mundo é deles e temos que entender que não podem fazer nada a respeito para salvarem-se e muito menos para salvar o planeta.

O planeta Terra está morrendo. Estamos o destruindo de forma verti-ginosa e está faminto de amor. Não lhe sobram muitas forças, e apesar de tudo, continua nos dando generosamente os melhores espetáculos desde que chegamos a ele.

O planeta tem sido o melhor anfitrião de nossa espécie, talvez não me-rece um reconhecimento? Se nos foi dada a capacidade de falar, pensar, criar, construir e ajudar, por que apenas calamos, ignoramos, destruí-mos e matamos?

Abra os olhos, você também está morrendo junto com teu planeta. O único planeta em nosso Sistema Solar onde nos foi dado o privilégio de viver. Somos bilhões neste planeta, somos uma raça pensante, racional, dominante, por que não temos nos dado conta disso?

Somos capazes de conquistar países, a Lua e inclusive planetas, mas ainda assim não somos capazes de conquistar nossos próprios corações. Toca o teu coração, sinta o que está dizendo, escuta o que pede a gritos e entendamos que devemos coexistir no mesmo planeta. Comece mudan-do a si mesmo, proponha-te, faz com que teus filhos conheçam e enten-dam e que os mais velhos lembrem-se que no dia em que a humanidade deixar de existir e alguma outra espécie encontrar nosso planeta, vejam que fomos uma espécie que se equivocou, que caiu, porém se levantou e corrigiu seus erros.

O planeta já não é mais o mesmo e já não podemos mais esperar, todos sabemos o que devemos fazer.

O tempo é curto e o futuro do planeta está em suas mãos, ajude, ajude-o. Porque o planeta Terra é você!”. Fonte: enVolVerDe

Os 4 minutos mais bem assistidos dos últimos tempos. Emocionante!

Comentários dos leitores: Os 4:38 minutos mais verdadeiros que já ouvi e assisti!Lorraine Paula É o espírito competitivo, tão difundido em nossa educação, e na sociedade, que leva o ser humano a “emburrecer”, ambientalmente falando, e enquanto este espírito prevalecer, prevalece, também, essa brutal “inteligência” humana.Bere Adams

Lindo, emocionante, conscientizador e sincero... Não quero parecer pessimista, mas cá entre nós, a espécie humana é a espécie racional e inteligente mais ignorante, egocêntrica e atrasada que existe! Eu diria que espécie inteligente e bem instruída são os animais que de fato respeitam a natureza, respeitam um aos outros, agem por instinto justamente por isso não podem ser julgados, mas sabem AMAR, sabem respeitar o espaço de outras especies que os cercam. È triste, mas a realidade é que de onde estamos a tendencia é piorar, espero estar errada, mas o capitalismo, a ambição, a busca por uma vida confortável nos cega, é traiçoeira! O povo é infl uenciado pela ganância, pelo poder aquisitivo, em fi m, triste realidade!Amanda Leonetti

Nós somos tão inteligentes que mesmo comovidos com essa tal realidade, a maioria esquecerá no decorrer das 24 horas seguintes... A ganância, o desprezo, a ignorância, infelizmente, se sobrepujará. Luto comigo mesmo para conseguir buscar um equilíbrio de paz e de amor, aprender a controlar esse mal que, porventura, talvez, seja da nossa própria natureza.João Vitor Martins Santos

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mai 2014 revista do meio ambiente

A crise de fAltA d’águA em são pAulo e outrAs cidAdes do brA-sil deve ser AnAlisAdA com profundidAde. não estAmos diAn-te de um simples problemA de cHuvAs AbAixo dA médiA Histó-ricA. Estamos diante de uma crise estrutural que requer uma reflexão pro-funda e mudanças de rumo na maneira com que lidamos com o recurso mais precioso de que dispomos – a água.

Convém lembrar de alguns fatos importantes: (i) 2/3 do nosso corpo é for-mado de água – 90% no caso dos bebês, (ii) não conseguimos sobreviver sem água, (iii) a água de baixa qualidade é responsável por boa parte dos problemas de saúde da população – especialmente a de baixa renda, (iv) os igarapés, rios e lagos estão sendo poluídos em escala alarmante e não sus-tentável na maior parte dos países e (v) a escassez d’água é um problema que se agrava em quase todo o mundo.

A análise de um tema de tamanha importância e complexidade mere-ce atenção de todos. O pequeno espaço disponível aqui, obriga-me a focar em apenas algumas facetas desse tema. Limitar-me-ei, portanto, a seguin-te questão: o papel da Amazônia como mega bomba d’água nacional está sendo adequadamente considerado no Brasil?

A resposta simples é: não. A maior parte dos formuladores de políticas públicas ainda desconhece o óbvio. A Amazônia tem um papel importan-tíssimo para o regime de chuvas de quase todo o território nacional, es-pecialmente no sul, sudeste e centro-oeste do país. As florestas amazôni-cas processam a chuva que recebem do Oceano Atlântico e retornam va-por d’água para a atmosfera. Essa umidade segue para o sul, na forma de “jatos da baixa altitude” ou, na linguagem mais coloquial, “rios voadores”. O vapor d’água transportado pelos rios voadores para essas regiões preci-pita na forma de chuva quando encontra frentes frias ou outras condições climáticas favoráveis.

Isso é um serviço ambiental prestado pela Amazônia ao resto do Brasil – e países vizinhos. O problema é que esse serviço é grátis e não é devidamente valorizado economicamente.

a crise de são pauloágua da Amazônia e

Vale fazer um exercício mental simples: o que aconteceria se a floresta amazônica fosse des-truída em 30, 50 ou 100%? Uma tragédia. Exis-tem estudos científicos mostrando que a redu-ção das florestas pelo desmatamento alteraria o regime de chuvas de várias regiões do Brasil. Obviamente, isso traria graves prejuízos para o abastecimento d’água de grandes cidades, para a produção agropecuária e a para a produção de energia hidroelétrica. Não seria mais inteligente valorizar economicamente os serviços ambien-tais providos pela floresta? Isso contribuiria tor-nar a floresta mais valiosa em pé do que derru-bada e com isso reduzir o desmatamento – con-ceito que defendo há mais de uma década.

Creio que deveríamos aproveitar a atual crise de abastecimento d’água de São Paulo não ape-nas para conscientizar o restante do Brasil sobre o papel da Amazônia nessa equação. Devería-mos ir além e propor medidas práticas para va-lorizar economicamente a floresta. A primeira e mais estratégica é fortalecer o argumento pela prorrogação da Zona Franca de Manaus (ZFM) por mais 50 anos. Essa prorrogação deveria ser acompanhada por uma estratégia de maior en-volvimento ativo das empresas do Polo Indus-trial de Manaus (PIM) em programas e projetos voltados para a proteção e o uso sustentável da floresta. A segunda e mais ousada é criar um mecanismo direto de pagamento à Amazônia pelos serviços ambientais providos ao restante do Brasil. Uma fórmula simples seria destinar 1% de toda a tarifa de energia e água potável de todo o país para um fundo de pagamento pelos serviços ambientais da Amazônia. Essa propos-ta, formulada pelo Senador Eduardo Braga ao Código Florestal quase conseguiu aprovação no Congresso Nacional.

Necessitamos de uma grande união de parla-mentares, governos estaduais e lideranças da sociedade civil da Amazônia na defesa da valo-rização dos serviços ambientais providos pela Amazônia ao Brasil e ao mundo. A crise d’água em São Paulo e em outras cidades brasileiras cria uma circunstância favorável para isso. Fonte: PuBlicADo originAlMente no Diário Do AmAzonAS (ABril/14) e retirADo Do SiTe merCADo ÉTiCo.*Virgílio Viana é superintendente geral da Fundação Amazonas sustentável (FAs) e coordenador da rede sDsn-Amazônia

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A AssembleiA legislAtivA do estAdo do rio de JAneiro (AlerJ) Aprovou diA 6/5 proJeto de lei do deputAdo cArlos minc que criA A reservA de desenvolvimento sustentável do Aventu-reiro, nA ilHA grAnde, região sul fluminense, com 1910 Hec-tAres de áreA.

O objetivo da lei – que o governador Luiz Fernando Pezão tem 15 dias para sancionar – é garantir que 220 caiçaras que vivem na região há décadas – an-tes mesmo da criação da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul – possam manter suas atividades de pesca.

A preocupação de Minc era garantir que esses caiçaras pudessem continuar com suas atividades mesmo estando dentro de parte mínima de uma reser-va biológica. Com a sanção da lei, a pesca artesanal poderá ser praticada na região – sendo regulamentada por um conselho com participação de repre-sentantes dos caiçaras e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

A nova reserva inclui uma porção terrestre e outra marinha, com o objetivo de conciliar a preservação dos ecossistemas e da cultura caiçara, valorizando assim os modos de vida tradicionais dessa comunidade de pescadores.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro, com 1.910 hec-tares, contará com uma porção terrestre e outra marinha. A área terrestre foi composta por pequena parte (2,7%) excluída dos limites da Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, criada em 1981.

Após a pequena redução dos seus limites, a reserva biológica passará a con-tar com 3.502 hectares. Em contrapartida, os caiçaras terão assegurados seus direitos históricos de moradia e de pesca artesanal sustentável, dentro dos limites da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro.

“Em 2007, duplicamos o Parque Estadual da Ilha Grande, de 6 mil para 12 mil hectares, incluindo 12 praias, como a de Lopes Mendes. E atualmente, estão sendo construídas seis estações de tratamento de esgoto biológico na ilha. Dessa forma, a Ilha Grande será mais protegida, com menos poluição e a garantia de preservação da cultura caiçara”, disse Minc. Fonte: httP://cArlosMinc.worDPress.coM

do aventureiroAlerj aprova criação da reserva de desenvolvimento sustentável

objetivo da lei do deputado carlos minc é garantir a pesca artesanal em área preservada da ilha grande

seu Antônio osório, com mais de 70 anos, nesta foto, entre Vilmar e seu filho leonardo, ainda pequeno, recebia a todos que visitavam a comunidade da Vila do Aventureiro, na ilha grande, em Angra dos reis (rJ), sempre com muito carinho, e gostava de falar com entusiasmo e lágrimas nos olhos sobre as riquezas naturais e a cultura da comunidade. lamentava-se pela criação de uma reserva Biológica onde viveu a vida toda e que, por causa disso, estava proibido de pescar nas lagoas, fazer roça ou construir uma casa para o filho que havia casado recentemente. Morreu pouco tempo depois desta foto, dizem, que de desgosto. com esta iniciativa do carlos Minc, que cria a reserva de Desenvolvimento sustentável do Aventureiro, certamente abriria um largo sorriso. saiba mais sobre esta história em http://escritorvilmarberna.blogspot.com.br/2010/03/povos-tradicionais.html

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O programa Reclamar Adianta é transmitido durante a semana das 10 horas ao meio dia através da Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ), podendo também ser acessado pela internet: www.reclamaradianta.com.br Se desejar, envie a sugestão de um tema para ser abordado. Aqui os ouvintes participam de verdade. Abraços,Equipe do programa Reclamar Adianta

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTARÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes Ao lado do deputado está o fi lho dele, Átila Alexandre Nunes

COM ÁTILA NUNES E ÁTILA ALEXANDRE NUNES

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTARÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia. Com Átila Nunes e Átila Alexandre NunesOuça também pela internet:www.reclamaradianta.com.br

Central telefônica 24h: (021) 3282-5588twitter: @defesaconsumowww.emdefesadoconsumidor.com.br (serviço 100% gratuito)[email protected]@emdefesadoconsumidor.com.br

PROGRAMA PAPO MADURORÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, ao meio dia. Ouça pela internet: www.papomaduro.com.br

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Telefax: (21) 2610-2272ano IX • ed 71 • maio 2014

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