Revista Doctor Plinio -201_201412

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Publicação Mensal Ano XVII - Nº 201 Dezembro de 2014 Uma luz brilha nas trevas

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Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 201 Dezembro de 2014

Uma luz brilha nas trevas

E

Crescer na confianccedilais uma linda cena da vida de Satildeo

Francisco Xavier

Era noite Dentro de um barquinho em

mar revolto todos estavam aflitos e Satildeo

Francisco rezando Enquanto a nau era sa-

cudida de todos os lados o Santo ia percor-

rendo em espiacuterito os nove Coros de Anjos re-

verenciando os Patriarcas recomendando-se

aos Profetas numa visita serena calma pe-

dindo ajuda a cada um As pessoas atocircni-

tas olhando para aquela tranquilidade en-

contravam nela os meios de resistecircncia

Eacute a atitude de um grande Santo que por

ter em abundacircncia o espiacuterito da Igreja en-

frenta os perigos da existecircncia como um ca-

valeiro medieval enfrentava os riscos da

guerra O cavaleiro era aacutevido de perigos e

de aventuras porque sabia defender assim a

causa para a qual fora suscitado

Esta eacute a posiccedilatildeo do varatildeo catoacutelico quan-

do se encontra em perigo natildeo eacute apavorar-

-se mas crescer na confianccedila

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2191973)Satildeo Francisco Xavier - Igreja Saint-Pierre-egraves-Liens de Sorigny Franccedila

Hav

ang

(CC

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)

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 201 Dezembro de 2014

Uma luz brilha nas trevas

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Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

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Na capa Adoraccedilatildeo dos Magos - Museu do Prado Madri Espanha Foto Enrique Cordero (CC 30)

Editorial

4 Uma luz brilhou para noacutes

dona lucilia

6 Respeitabilidade afeto e charme

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 O olhar sereno e penetrante de Jesus

PErSPEctiva Pliniana da hiStoacuteria

12 Seriedade charme e grandeza

dr Plinio comEnta

18 Majestade e sofrimento

a SociEdadE analiSada Por dr Plinio

22 Desejo do sublime

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Dezembro

hagiografia

28 Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

aPoacuteStolo do Pulchrum

32 Stella Clarissima

Uacuteltima Paacutegina

36 A Paz de Cristo no Reino de Maria

Editorial

Uma luz brilhou para noacutes

E

4

m dezembro de 1953 a propoacutesito do Santo Natal Dr Plinio tecia consideraccedilotildees muito aplicaacuteveis aos nossos dias1

Lux in tenebris lucet2 Com estas palavras o disciacutepulo amado anunciou para seu tempo e pa-ra os seacuteculos vindouros o grande acontecimento que celebramos neste mecircs Foacutermula sinteacutetica que ex-prime o conteuacutedo inexaurivelmente rico do grande fato havia trevas por toda a parte e na obscuri-dade delas se acendeu a Luz Por isso a Santa Igreja afirma com estas palavras profeacuteticas de Isaiacuteas o seu juacutebilo na noite do Natal ldquoHoje surgiu a luz para a mundo o Senhor nasceu para noacutes Ele seraacute chamado Admiraacutevel Deus Priacutencipe da Paz Pai do seacuteculo futuro e o seu reino natildeo teraacute fimrdquo3

Qual eacute a razatildeo destas metaacuteforas Por que luz Por que trevasOs comentadores satildeo unacircnimes em afirmar que as trevas que cobriam a Terra quando o Salvador

nasceu eram a idolatria dos gentios o ceticismo dos filoacutesofos a cegueira dos judeus a dureza dos ri-cos a rebeldia e o oacutecio dos pobres a crueldade dos soberanos a ganacircncia dos homens de negoacutecio a injusticcedila das leis a conformaccedilatildeo defeituosa do Estado e da sociedade Foi na mais profunda escuri-datildeo dessas trevas que Jesus Cristo apareceu como uma luz

Qual a missatildeo da luz Evidentemente dissipar as trevas De fato aos poucos foram elas cedendo E na ordem das realidades visiacuteveis a vitoacuteria da luz consistiu na instauraccedilatildeo da civilizaccedilatildeo cristatilde que embora com as falhas inerentes ao que eacute humano foi o autecircntico Reino de Cristo na Terra

Natildeo eacute o caso de fazermos aqui o histoacuterico do crepuacutesculo da Cristandade ocidental Basta lembrar que do seacuteculo de Satildeo Tomaacutes e Satildeo Luiacutes IX deslizamos para esta nossa era de laicismo e de ateiacutesmo militante

O quadro que traccedilamos do mundo antigo poderia aplicar-se facilmente ao de hoje em cujas trevas do erro e do pecado os homens satildeo retidos em essecircncia por trecircs fatores o democircnio com suas tenta-ccedilotildees o mundo com suas seduccedilotildees e a carne com seu aguilhatildeo

De fato entregue agraves voluacutepias da carne o ser humano tende a atirar-se com todo o peso de sua mi-seacuteria agraves deliacutecias do mundo e sua alma cheia de tanto lodo estaacute preparada para receber a accedilatildeo do de-mocircnio Cada um desses fatores abre pois o campo para o outro E por isso instaurado numa alma o jugo do democircnio ela se torna mais escrava do mundo e da carne

A capitulaccedilatildeo diante de qualquer deles por mais incipiente que seja daacute imediato vigor aos outros A accedilatildeo do democircnio cresce na alma com o pecado e por sua vez agrava as devastaccedilotildees dos viacutecios na alma

Mas no que consiste precisamente a accedilatildeo do democircnio Em dar aos impulsos de desordem que o pecado original instalou em noacutes uma vivacidade uma energia ainda maior em nos arrastar a uma es-fera de degradaccedilatildeo de sensualidade e de impiedade pior ainda que a da simples maliacutecia humana Ar-rastando pois para baixo os pecadores procurando dar coesatildeo em toda a Terra agraves energias caoacuteticas e por si mesmas anaacuterquicas da corrupccedilatildeo soprando-as e estimulando-as o democircnio eacute o verdadeiro chefe do reino das trevas no mundo

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

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Contudo para certos tipos de mentalidade o papel do democircnio do mundo e da carne na difusatildeo das trevas natildeo deve ser levado tatildeo a seacuterio O homem contemporacircneo natildeo eacute senatildeo um meninatildeo tra-vesso mas bom no fundo que soacute tem um ponto difiacutecil eacute irritaacutevel Por certo ele estaacute algum tanto lon-ge de praticar todos os Mandamentos A culpa entretanto natildeo eacute principalmente sua mas dos que natildeo o souberam compreender Em lugar de irritaacute-lo com dogmas preceitos penas dever-se-ia tecirc--lo nutrido com o mel suave das concessotildees tratado com sorrisos Natildeo se compreendeu isto e como ele eacute irritaacutevel mdash e algum tanto traquinas mdash ei-lo que quebra igrejas desencadeia guerras multi-plica revoluccedilotildees

A soluccedilatildeo consistiraacute em abrandaacute-lo Antes de tudo natildeo dizer as coisas claramente porque ldquopo-de irritarrdquo

Castidade sim Mas pronuncie a palavra bem baixinho soacute quando for indispensaacutevel ou melhor renuncie a fazer uso dela por muito tempo

Obediecircncia ao Magisteacuterio da Igreja Sim sem duacutevida Mas natildeo fale propriamente em obediecircn-cia nem em Magisteacuterio poderiacuteamos irritar o meninatildeo Melhor seria falar vagamente em feacute

Pecado Natildeo eacute termo conveniente fale-se antes em fraqueza lapso deslize E cuidado Fale-se sobre isto sorrindo

Inferno para quecirc Se nosso meninatildeo percebe que pode ir ter laacute acabaraacute por sentir um terriacutevel oacutedio contra Deus Haacute no Evangelho algumas referecircncias a este assunto mas eacute que os publicanos ou-viam falar nisso e lhes fazia bem Nosso meninatildeo pelo contraacuterio eacute emancipado e se revoltaria Dei-xemos o assunto para mais tarde seraacute mais prudente

Tudo isso quanto ao modo de enunciar a doutrina Quanto ao modo de aplicaacute-la as concessotildees vatildeo ainda mais longe

O que nos ensina a este respeito Aquele que eacute por excelecircncia a Luz brilhando nas trevasPor seu exemplo e por suas palavras Nosso Senhor nos ensina antes de tudo que eacute preciso nun-

ca silenciar a verdade que cumpre proclamaacute-la inteira ainda que nossos ouvintes natildeo nos aplau-dam ainda mesmo que nos queiram lapidar ou crucificar

Eacute preciso anunciaacute-la com palavras de ameaccedila ou com um semblante de indulgecircncia e de bonda-de Nosso Senhor fez uma e outra coisa conforme o estado de alma daqueles a quem Se dirigia

Tambeacutem noacutes para sermos luz neste mundo de trevas natildeo havemos de renunciar agraves apostrofes candentes e ao tom polecircmico nem agraves palavras de doccedilura e incitamento Devemos pedir a Nosso Senhor que nos decirc o discernimento necessaacuterio para fazer uma e outra coisa no momento opor-tuno

Santos houve que fizeram principalmente uma ou outra coisa Natildeo houve um soacute Santo que jamais desse prova de severidade ou jamais desse prova de suavidade Cada qual agiu segundo nele sopra-va o Espiacuterito Santo e por foram canonizados pela Igreja

Cada um de noacutes proceda segundo o espiacuterito que tem com uma ressalva poreacutem e esta muito im-portante na aplicaccedilatildeo dos princiacutepios jamais se pode ceder Sorrindo ou increpando diga que o mal eacute mal e o bem eacute bem E natildeo deixe de estimular incentivar pregar o bem em todos os seus aspectos Agir de outro modo natildeo eacute trabalhar para propagar a luz eacute velaacute-la eacute querer extingui-la

Esta eacute a liccedilatildeo que nos deixou Aquele cujo nascimento neste mecircs celebramos genuflexos

1) Cf Catolicismo n 362) Jo 1 53) Introito da Missa da Aurora (Is 9 2 6 Lc 133)

H

Respeitabilidade afeto e charme

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Dona LuciLia

Dr Plinio dava enorme importacircncia agrave formaccedilatildeo do tipo humano verdadeiramente catoacutelico Desde menino ele observava detida e

amorosamente as altas qualidades morais de Dona Lucilia e atraveacutes dessa admiraccedilatildeo enlevada foi destilando o tipo humano ideal

aacute um ponto central que estava no meu espiacuterito desde muito menino e que foi cobrindo suces-sivos campos ateacute o momento presente O curio-

so eacute que esse ponto sendo sempre o mesmo ilumina com sua luz temas diversos Mas isso natildeo quer dizer de nenhum modo que havendo a migraccedilatildeo da luz de um tema para ou-tro o tema anterior foi abandonado esquecido ou passado para segundo plano Mas as coisas se somam como os an-dares de um preacutedio

Um princiacutepio de justiccedila

Em menino houve um primeiro periacuteodo em que eu estava todo voltado a admi-rar certas disposiccedilotildees quali-dades de alma em determi-nadas pessoas nas quais no-tava uma luz sobrenatural

Quando falo disso lem-bro-me principalmente de mamatildee do seu afeto enfim de tudo quanto tenho expli-cado mas tambeacutem de certa respeitabilidade que ela pos-suiacutea e agrave qual eu queria tanto quanto o proacuteprio afeto

Para a minha oacutetica Do-na Lucilia tinha essa alta res-peitabilidade natildeo soacute enquan-

to minha matildee e por isso com todo o respeito que natu-ralmente o filho tem por sua matildee poreacutem mais do que is-so notava-se como ela sabia se fazer respeitar em rela-ccedilatildeo a terceiros Natildeo com o respeito que tem como inten-ccedilatildeo o domiacutenio nem propriamente uma determinada pre-cedecircncia que deveria fazer-se sentir sobre os outros mas era uma disposiccedilatildeo de alma de quem se olhava com res-

peito a si mesma e por uma disposiccedilatildeo natural esperava o reconhecimento dessa respei-tabilidade da parte de outros E se esta respeitabilidade fal-tasse seria capaz de fazer ces-sar uma relaccedilatildeo um afeto ou qualquer outra coisa

Era uma respeitabilidade por um princiacutepio de justiccedila proveniente do sentir em sua pessoa essa respeitabilidade e querer que os outros a reco-nhecessem por justiccedila Natildeo era portanto uma questatildeo de faceirice de preeminecircncia

Antiacuteteses harmocircnicas formando um todo moral

Isso pode ser compreen-dido facilmente sem tantas digressotildees se considerarmos a fotografia dela em Paris

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Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

9

Gus

tavo

Kra

lj

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Rep

rodu

ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

11

Ser

gio

Hol

lman

n

Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

12

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

13

Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

Rep

rodu

ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

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30

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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Majestade e sofrimento

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

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o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

uillo

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CC

30

)

Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

gio

Hol

lman

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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32

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

34

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30

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 2: Revista Doctor Plinio -201_201412

E

Crescer na confianccedilais uma linda cena da vida de Satildeo

Francisco Xavier

Era noite Dentro de um barquinho em

mar revolto todos estavam aflitos e Satildeo

Francisco rezando Enquanto a nau era sa-

cudida de todos os lados o Santo ia percor-

rendo em espiacuterito os nove Coros de Anjos re-

verenciando os Patriarcas recomendando-se

aos Profetas numa visita serena calma pe-

dindo ajuda a cada um As pessoas atocircni-

tas olhando para aquela tranquilidade en-

contravam nela os meios de resistecircncia

Eacute a atitude de um grande Santo que por

ter em abundacircncia o espiacuterito da Igreja en-

frenta os perigos da existecircncia como um ca-

valeiro medieval enfrentava os riscos da

guerra O cavaleiro era aacutevido de perigos e

de aventuras porque sabia defender assim a

causa para a qual fora suscitado

Esta eacute a posiccedilatildeo do varatildeo catoacutelico quan-

do se encontra em perigo natildeo eacute apavorar-

-se mas crescer na confianccedila

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2191973)Satildeo Francisco Xavier - Igreja Saint-Pierre-egraves-Liens de Sorigny Franccedila

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)

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 201 Dezembro de 2014

Uma luz brilha nas trevas

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

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SumaacuterioSumaacuterioAno XVII - Nordm 201 Dezembro de 2014

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Na capa Adoraccedilatildeo dos Magos - Museu do Prado Madri Espanha Foto Enrique Cordero (CC 30)

Editorial

4 Uma luz brilhou para noacutes

dona lucilia

6 Respeitabilidade afeto e charme

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 O olhar sereno e penetrante de Jesus

PErSPEctiva Pliniana da hiStoacuteria

12 Seriedade charme e grandeza

dr Plinio comEnta

18 Majestade e sofrimento

a SociEdadE analiSada Por dr Plinio

22 Desejo do sublime

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Dezembro

hagiografia

28 Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

aPoacuteStolo do Pulchrum

32 Stella Clarissima

Uacuteltima Paacutegina

36 A Paz de Cristo no Reino de Maria

Editorial

Uma luz brilhou para noacutes

E

4

m dezembro de 1953 a propoacutesito do Santo Natal Dr Plinio tecia consideraccedilotildees muito aplicaacuteveis aos nossos dias1

Lux in tenebris lucet2 Com estas palavras o disciacutepulo amado anunciou para seu tempo e pa-ra os seacuteculos vindouros o grande acontecimento que celebramos neste mecircs Foacutermula sinteacutetica que ex-prime o conteuacutedo inexaurivelmente rico do grande fato havia trevas por toda a parte e na obscuri-dade delas se acendeu a Luz Por isso a Santa Igreja afirma com estas palavras profeacuteticas de Isaiacuteas o seu juacutebilo na noite do Natal ldquoHoje surgiu a luz para a mundo o Senhor nasceu para noacutes Ele seraacute chamado Admiraacutevel Deus Priacutencipe da Paz Pai do seacuteculo futuro e o seu reino natildeo teraacute fimrdquo3

Qual eacute a razatildeo destas metaacuteforas Por que luz Por que trevasOs comentadores satildeo unacircnimes em afirmar que as trevas que cobriam a Terra quando o Salvador

nasceu eram a idolatria dos gentios o ceticismo dos filoacutesofos a cegueira dos judeus a dureza dos ri-cos a rebeldia e o oacutecio dos pobres a crueldade dos soberanos a ganacircncia dos homens de negoacutecio a injusticcedila das leis a conformaccedilatildeo defeituosa do Estado e da sociedade Foi na mais profunda escuri-datildeo dessas trevas que Jesus Cristo apareceu como uma luz

Qual a missatildeo da luz Evidentemente dissipar as trevas De fato aos poucos foram elas cedendo E na ordem das realidades visiacuteveis a vitoacuteria da luz consistiu na instauraccedilatildeo da civilizaccedilatildeo cristatilde que embora com as falhas inerentes ao que eacute humano foi o autecircntico Reino de Cristo na Terra

Natildeo eacute o caso de fazermos aqui o histoacuterico do crepuacutesculo da Cristandade ocidental Basta lembrar que do seacuteculo de Satildeo Tomaacutes e Satildeo Luiacutes IX deslizamos para esta nossa era de laicismo e de ateiacutesmo militante

O quadro que traccedilamos do mundo antigo poderia aplicar-se facilmente ao de hoje em cujas trevas do erro e do pecado os homens satildeo retidos em essecircncia por trecircs fatores o democircnio com suas tenta-ccedilotildees o mundo com suas seduccedilotildees e a carne com seu aguilhatildeo

De fato entregue agraves voluacutepias da carne o ser humano tende a atirar-se com todo o peso de sua mi-seacuteria agraves deliacutecias do mundo e sua alma cheia de tanto lodo estaacute preparada para receber a accedilatildeo do de-mocircnio Cada um desses fatores abre pois o campo para o outro E por isso instaurado numa alma o jugo do democircnio ela se torna mais escrava do mundo e da carne

A capitulaccedilatildeo diante de qualquer deles por mais incipiente que seja daacute imediato vigor aos outros A accedilatildeo do democircnio cresce na alma com o pecado e por sua vez agrava as devastaccedilotildees dos viacutecios na alma

Mas no que consiste precisamente a accedilatildeo do democircnio Em dar aos impulsos de desordem que o pecado original instalou em noacutes uma vivacidade uma energia ainda maior em nos arrastar a uma es-fera de degradaccedilatildeo de sensualidade e de impiedade pior ainda que a da simples maliacutecia humana Ar-rastando pois para baixo os pecadores procurando dar coesatildeo em toda a Terra agraves energias caoacuteticas e por si mesmas anaacuterquicas da corrupccedilatildeo soprando-as e estimulando-as o democircnio eacute o verdadeiro chefe do reino das trevas no mundo

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Contudo para certos tipos de mentalidade o papel do democircnio do mundo e da carne na difusatildeo das trevas natildeo deve ser levado tatildeo a seacuterio O homem contemporacircneo natildeo eacute senatildeo um meninatildeo tra-vesso mas bom no fundo que soacute tem um ponto difiacutecil eacute irritaacutevel Por certo ele estaacute algum tanto lon-ge de praticar todos os Mandamentos A culpa entretanto natildeo eacute principalmente sua mas dos que natildeo o souberam compreender Em lugar de irritaacute-lo com dogmas preceitos penas dever-se-ia tecirc--lo nutrido com o mel suave das concessotildees tratado com sorrisos Natildeo se compreendeu isto e como ele eacute irritaacutevel mdash e algum tanto traquinas mdash ei-lo que quebra igrejas desencadeia guerras multi-plica revoluccedilotildees

A soluccedilatildeo consistiraacute em abrandaacute-lo Antes de tudo natildeo dizer as coisas claramente porque ldquopo-de irritarrdquo

Castidade sim Mas pronuncie a palavra bem baixinho soacute quando for indispensaacutevel ou melhor renuncie a fazer uso dela por muito tempo

Obediecircncia ao Magisteacuterio da Igreja Sim sem duacutevida Mas natildeo fale propriamente em obediecircn-cia nem em Magisteacuterio poderiacuteamos irritar o meninatildeo Melhor seria falar vagamente em feacute

Pecado Natildeo eacute termo conveniente fale-se antes em fraqueza lapso deslize E cuidado Fale-se sobre isto sorrindo

Inferno para quecirc Se nosso meninatildeo percebe que pode ir ter laacute acabaraacute por sentir um terriacutevel oacutedio contra Deus Haacute no Evangelho algumas referecircncias a este assunto mas eacute que os publicanos ou-viam falar nisso e lhes fazia bem Nosso meninatildeo pelo contraacuterio eacute emancipado e se revoltaria Dei-xemos o assunto para mais tarde seraacute mais prudente

Tudo isso quanto ao modo de enunciar a doutrina Quanto ao modo de aplicaacute-la as concessotildees vatildeo ainda mais longe

O que nos ensina a este respeito Aquele que eacute por excelecircncia a Luz brilhando nas trevasPor seu exemplo e por suas palavras Nosso Senhor nos ensina antes de tudo que eacute preciso nun-

ca silenciar a verdade que cumpre proclamaacute-la inteira ainda que nossos ouvintes natildeo nos aplau-dam ainda mesmo que nos queiram lapidar ou crucificar

Eacute preciso anunciaacute-la com palavras de ameaccedila ou com um semblante de indulgecircncia e de bonda-de Nosso Senhor fez uma e outra coisa conforme o estado de alma daqueles a quem Se dirigia

Tambeacutem noacutes para sermos luz neste mundo de trevas natildeo havemos de renunciar agraves apostrofes candentes e ao tom polecircmico nem agraves palavras de doccedilura e incitamento Devemos pedir a Nosso Senhor que nos decirc o discernimento necessaacuterio para fazer uma e outra coisa no momento opor-tuno

Santos houve que fizeram principalmente uma ou outra coisa Natildeo houve um soacute Santo que jamais desse prova de severidade ou jamais desse prova de suavidade Cada qual agiu segundo nele sopra-va o Espiacuterito Santo e por foram canonizados pela Igreja

Cada um de noacutes proceda segundo o espiacuterito que tem com uma ressalva poreacutem e esta muito im-portante na aplicaccedilatildeo dos princiacutepios jamais se pode ceder Sorrindo ou increpando diga que o mal eacute mal e o bem eacute bem E natildeo deixe de estimular incentivar pregar o bem em todos os seus aspectos Agir de outro modo natildeo eacute trabalhar para propagar a luz eacute velaacute-la eacute querer extingui-la

Esta eacute a liccedilatildeo que nos deixou Aquele cujo nascimento neste mecircs celebramos genuflexos

1) Cf Catolicismo n 362) Jo 1 53) Introito da Missa da Aurora (Is 9 2 6 Lc 133)

H

Respeitabilidade afeto e charme

6

Dona LuciLia

Dr Plinio dava enorme importacircncia agrave formaccedilatildeo do tipo humano verdadeiramente catoacutelico Desde menino ele observava detida e

amorosamente as altas qualidades morais de Dona Lucilia e atraveacutes dessa admiraccedilatildeo enlevada foi destilando o tipo humano ideal

aacute um ponto central que estava no meu espiacuterito desde muito menino e que foi cobrindo suces-sivos campos ateacute o momento presente O curio-

so eacute que esse ponto sendo sempre o mesmo ilumina com sua luz temas diversos Mas isso natildeo quer dizer de nenhum modo que havendo a migraccedilatildeo da luz de um tema para ou-tro o tema anterior foi abandonado esquecido ou passado para segundo plano Mas as coisas se somam como os an-dares de um preacutedio

Um princiacutepio de justiccedila

Em menino houve um primeiro periacuteodo em que eu estava todo voltado a admi-rar certas disposiccedilotildees quali-dades de alma em determi-nadas pessoas nas quais no-tava uma luz sobrenatural

Quando falo disso lem-bro-me principalmente de mamatildee do seu afeto enfim de tudo quanto tenho expli-cado mas tambeacutem de certa respeitabilidade que ela pos-suiacutea e agrave qual eu queria tanto quanto o proacuteprio afeto

Para a minha oacutetica Do-na Lucilia tinha essa alta res-peitabilidade natildeo soacute enquan-

to minha matildee e por isso com todo o respeito que natu-ralmente o filho tem por sua matildee poreacutem mais do que is-so notava-se como ela sabia se fazer respeitar em rela-ccedilatildeo a terceiros Natildeo com o respeito que tem como inten-ccedilatildeo o domiacutenio nem propriamente uma determinada pre-cedecircncia que deveria fazer-se sentir sobre os outros mas era uma disposiccedilatildeo de alma de quem se olhava com res-

peito a si mesma e por uma disposiccedilatildeo natural esperava o reconhecimento dessa respei-tabilidade da parte de outros E se esta respeitabilidade fal-tasse seria capaz de fazer ces-sar uma relaccedilatildeo um afeto ou qualquer outra coisa

Era uma respeitabilidade por um princiacutepio de justiccedila proveniente do sentir em sua pessoa essa respeitabilidade e querer que os outros a reco-nhecessem por justiccedila Natildeo era portanto uma questatildeo de faceirice de preeminecircncia

Antiacuteteses harmocircnicas formando um todo moral

Isso pode ser compreen-dido facilmente sem tantas digressotildees se considerarmos a fotografia dela em Paris

7

Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

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Gus

tavo

Kra

lj

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Rep

rodu

ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Ser

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n

Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

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ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

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Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Gus

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

26

Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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CC

30

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

35

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CC

30

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 3: Revista Doctor Plinio -201_201412

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVII - Nordm 201 Dezembro de 2014

Uma luz brilha nas trevas

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

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SumaacuterioSumaacuterioAno XVII - Nordm 201 Dezembro de 2014

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Na capa Adoraccedilatildeo dos Magos - Museu do Prado Madri Espanha Foto Enrique Cordero (CC 30)

Editorial

4 Uma luz brilhou para noacutes

dona lucilia

6 Respeitabilidade afeto e charme

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 O olhar sereno e penetrante de Jesus

PErSPEctiva Pliniana da hiStoacuteria

12 Seriedade charme e grandeza

dr Plinio comEnta

18 Majestade e sofrimento

a SociEdadE analiSada Por dr Plinio

22 Desejo do sublime

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Dezembro

hagiografia

28 Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

aPoacuteStolo do Pulchrum

32 Stella Clarissima

Uacuteltima Paacutegina

36 A Paz de Cristo no Reino de Maria

Editorial

Uma luz brilhou para noacutes

E

4

m dezembro de 1953 a propoacutesito do Santo Natal Dr Plinio tecia consideraccedilotildees muito aplicaacuteveis aos nossos dias1

Lux in tenebris lucet2 Com estas palavras o disciacutepulo amado anunciou para seu tempo e pa-ra os seacuteculos vindouros o grande acontecimento que celebramos neste mecircs Foacutermula sinteacutetica que ex-prime o conteuacutedo inexaurivelmente rico do grande fato havia trevas por toda a parte e na obscuri-dade delas se acendeu a Luz Por isso a Santa Igreja afirma com estas palavras profeacuteticas de Isaiacuteas o seu juacutebilo na noite do Natal ldquoHoje surgiu a luz para a mundo o Senhor nasceu para noacutes Ele seraacute chamado Admiraacutevel Deus Priacutencipe da Paz Pai do seacuteculo futuro e o seu reino natildeo teraacute fimrdquo3

Qual eacute a razatildeo destas metaacuteforas Por que luz Por que trevasOs comentadores satildeo unacircnimes em afirmar que as trevas que cobriam a Terra quando o Salvador

nasceu eram a idolatria dos gentios o ceticismo dos filoacutesofos a cegueira dos judeus a dureza dos ri-cos a rebeldia e o oacutecio dos pobres a crueldade dos soberanos a ganacircncia dos homens de negoacutecio a injusticcedila das leis a conformaccedilatildeo defeituosa do Estado e da sociedade Foi na mais profunda escuri-datildeo dessas trevas que Jesus Cristo apareceu como uma luz

Qual a missatildeo da luz Evidentemente dissipar as trevas De fato aos poucos foram elas cedendo E na ordem das realidades visiacuteveis a vitoacuteria da luz consistiu na instauraccedilatildeo da civilizaccedilatildeo cristatilde que embora com as falhas inerentes ao que eacute humano foi o autecircntico Reino de Cristo na Terra

Natildeo eacute o caso de fazermos aqui o histoacuterico do crepuacutesculo da Cristandade ocidental Basta lembrar que do seacuteculo de Satildeo Tomaacutes e Satildeo Luiacutes IX deslizamos para esta nossa era de laicismo e de ateiacutesmo militante

O quadro que traccedilamos do mundo antigo poderia aplicar-se facilmente ao de hoje em cujas trevas do erro e do pecado os homens satildeo retidos em essecircncia por trecircs fatores o democircnio com suas tenta-ccedilotildees o mundo com suas seduccedilotildees e a carne com seu aguilhatildeo

De fato entregue agraves voluacutepias da carne o ser humano tende a atirar-se com todo o peso de sua mi-seacuteria agraves deliacutecias do mundo e sua alma cheia de tanto lodo estaacute preparada para receber a accedilatildeo do de-mocircnio Cada um desses fatores abre pois o campo para o outro E por isso instaurado numa alma o jugo do democircnio ela se torna mais escrava do mundo e da carne

A capitulaccedilatildeo diante de qualquer deles por mais incipiente que seja daacute imediato vigor aos outros A accedilatildeo do democircnio cresce na alma com o pecado e por sua vez agrava as devastaccedilotildees dos viacutecios na alma

Mas no que consiste precisamente a accedilatildeo do democircnio Em dar aos impulsos de desordem que o pecado original instalou em noacutes uma vivacidade uma energia ainda maior em nos arrastar a uma es-fera de degradaccedilatildeo de sensualidade e de impiedade pior ainda que a da simples maliacutecia humana Ar-rastando pois para baixo os pecadores procurando dar coesatildeo em toda a Terra agraves energias caoacuteticas e por si mesmas anaacuterquicas da corrupccedilatildeo soprando-as e estimulando-as o democircnio eacute o verdadeiro chefe do reino das trevas no mundo

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Contudo para certos tipos de mentalidade o papel do democircnio do mundo e da carne na difusatildeo das trevas natildeo deve ser levado tatildeo a seacuterio O homem contemporacircneo natildeo eacute senatildeo um meninatildeo tra-vesso mas bom no fundo que soacute tem um ponto difiacutecil eacute irritaacutevel Por certo ele estaacute algum tanto lon-ge de praticar todos os Mandamentos A culpa entretanto natildeo eacute principalmente sua mas dos que natildeo o souberam compreender Em lugar de irritaacute-lo com dogmas preceitos penas dever-se-ia tecirc--lo nutrido com o mel suave das concessotildees tratado com sorrisos Natildeo se compreendeu isto e como ele eacute irritaacutevel mdash e algum tanto traquinas mdash ei-lo que quebra igrejas desencadeia guerras multi-plica revoluccedilotildees

A soluccedilatildeo consistiraacute em abrandaacute-lo Antes de tudo natildeo dizer as coisas claramente porque ldquopo-de irritarrdquo

Castidade sim Mas pronuncie a palavra bem baixinho soacute quando for indispensaacutevel ou melhor renuncie a fazer uso dela por muito tempo

Obediecircncia ao Magisteacuterio da Igreja Sim sem duacutevida Mas natildeo fale propriamente em obediecircn-cia nem em Magisteacuterio poderiacuteamos irritar o meninatildeo Melhor seria falar vagamente em feacute

Pecado Natildeo eacute termo conveniente fale-se antes em fraqueza lapso deslize E cuidado Fale-se sobre isto sorrindo

Inferno para quecirc Se nosso meninatildeo percebe que pode ir ter laacute acabaraacute por sentir um terriacutevel oacutedio contra Deus Haacute no Evangelho algumas referecircncias a este assunto mas eacute que os publicanos ou-viam falar nisso e lhes fazia bem Nosso meninatildeo pelo contraacuterio eacute emancipado e se revoltaria Dei-xemos o assunto para mais tarde seraacute mais prudente

Tudo isso quanto ao modo de enunciar a doutrina Quanto ao modo de aplicaacute-la as concessotildees vatildeo ainda mais longe

O que nos ensina a este respeito Aquele que eacute por excelecircncia a Luz brilhando nas trevasPor seu exemplo e por suas palavras Nosso Senhor nos ensina antes de tudo que eacute preciso nun-

ca silenciar a verdade que cumpre proclamaacute-la inteira ainda que nossos ouvintes natildeo nos aplau-dam ainda mesmo que nos queiram lapidar ou crucificar

Eacute preciso anunciaacute-la com palavras de ameaccedila ou com um semblante de indulgecircncia e de bonda-de Nosso Senhor fez uma e outra coisa conforme o estado de alma daqueles a quem Se dirigia

Tambeacutem noacutes para sermos luz neste mundo de trevas natildeo havemos de renunciar agraves apostrofes candentes e ao tom polecircmico nem agraves palavras de doccedilura e incitamento Devemos pedir a Nosso Senhor que nos decirc o discernimento necessaacuterio para fazer uma e outra coisa no momento opor-tuno

Santos houve que fizeram principalmente uma ou outra coisa Natildeo houve um soacute Santo que jamais desse prova de severidade ou jamais desse prova de suavidade Cada qual agiu segundo nele sopra-va o Espiacuterito Santo e por foram canonizados pela Igreja

Cada um de noacutes proceda segundo o espiacuterito que tem com uma ressalva poreacutem e esta muito im-portante na aplicaccedilatildeo dos princiacutepios jamais se pode ceder Sorrindo ou increpando diga que o mal eacute mal e o bem eacute bem E natildeo deixe de estimular incentivar pregar o bem em todos os seus aspectos Agir de outro modo natildeo eacute trabalhar para propagar a luz eacute velaacute-la eacute querer extingui-la

Esta eacute a liccedilatildeo que nos deixou Aquele cujo nascimento neste mecircs celebramos genuflexos

1) Cf Catolicismo n 362) Jo 1 53) Introito da Missa da Aurora (Is 9 2 6 Lc 133)

H

Respeitabilidade afeto e charme

6

Dona LuciLia

Dr Plinio dava enorme importacircncia agrave formaccedilatildeo do tipo humano verdadeiramente catoacutelico Desde menino ele observava detida e

amorosamente as altas qualidades morais de Dona Lucilia e atraveacutes dessa admiraccedilatildeo enlevada foi destilando o tipo humano ideal

aacute um ponto central que estava no meu espiacuterito desde muito menino e que foi cobrindo suces-sivos campos ateacute o momento presente O curio-

so eacute que esse ponto sendo sempre o mesmo ilumina com sua luz temas diversos Mas isso natildeo quer dizer de nenhum modo que havendo a migraccedilatildeo da luz de um tema para ou-tro o tema anterior foi abandonado esquecido ou passado para segundo plano Mas as coisas se somam como os an-dares de um preacutedio

Um princiacutepio de justiccedila

Em menino houve um primeiro periacuteodo em que eu estava todo voltado a admi-rar certas disposiccedilotildees quali-dades de alma em determi-nadas pessoas nas quais no-tava uma luz sobrenatural

Quando falo disso lem-bro-me principalmente de mamatildee do seu afeto enfim de tudo quanto tenho expli-cado mas tambeacutem de certa respeitabilidade que ela pos-suiacutea e agrave qual eu queria tanto quanto o proacuteprio afeto

Para a minha oacutetica Do-na Lucilia tinha essa alta res-peitabilidade natildeo soacute enquan-

to minha matildee e por isso com todo o respeito que natu-ralmente o filho tem por sua matildee poreacutem mais do que is-so notava-se como ela sabia se fazer respeitar em rela-ccedilatildeo a terceiros Natildeo com o respeito que tem como inten-ccedilatildeo o domiacutenio nem propriamente uma determinada pre-cedecircncia que deveria fazer-se sentir sobre os outros mas era uma disposiccedilatildeo de alma de quem se olhava com res-

peito a si mesma e por uma disposiccedilatildeo natural esperava o reconhecimento dessa respei-tabilidade da parte de outros E se esta respeitabilidade fal-tasse seria capaz de fazer ces-sar uma relaccedilatildeo um afeto ou qualquer outra coisa

Era uma respeitabilidade por um princiacutepio de justiccedila proveniente do sentir em sua pessoa essa respeitabilidade e querer que os outros a reco-nhecessem por justiccedila Natildeo era portanto uma questatildeo de faceirice de preeminecircncia

Antiacuteteses harmocircnicas formando um todo moral

Isso pode ser compreen-dido facilmente sem tantas digressotildees se considerarmos a fotografia dela em Paris

7

Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

9

Gus

tavo

Kra

lj

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Rep

rodu

ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

11

Ser

gio

Hol

lman

n

Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

12

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

Rep

rodu

ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

Phi

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30

)

ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

oni

Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Gus

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

21

A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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tis (

CC

30

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 4: Revista Doctor Plinio -201_201412

Editorial

Uma luz brilhou para noacutes

E

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m dezembro de 1953 a propoacutesito do Santo Natal Dr Plinio tecia consideraccedilotildees muito aplicaacuteveis aos nossos dias1

Lux in tenebris lucet2 Com estas palavras o disciacutepulo amado anunciou para seu tempo e pa-ra os seacuteculos vindouros o grande acontecimento que celebramos neste mecircs Foacutermula sinteacutetica que ex-prime o conteuacutedo inexaurivelmente rico do grande fato havia trevas por toda a parte e na obscuri-dade delas se acendeu a Luz Por isso a Santa Igreja afirma com estas palavras profeacuteticas de Isaiacuteas o seu juacutebilo na noite do Natal ldquoHoje surgiu a luz para a mundo o Senhor nasceu para noacutes Ele seraacute chamado Admiraacutevel Deus Priacutencipe da Paz Pai do seacuteculo futuro e o seu reino natildeo teraacute fimrdquo3

Qual eacute a razatildeo destas metaacuteforas Por que luz Por que trevasOs comentadores satildeo unacircnimes em afirmar que as trevas que cobriam a Terra quando o Salvador

nasceu eram a idolatria dos gentios o ceticismo dos filoacutesofos a cegueira dos judeus a dureza dos ri-cos a rebeldia e o oacutecio dos pobres a crueldade dos soberanos a ganacircncia dos homens de negoacutecio a injusticcedila das leis a conformaccedilatildeo defeituosa do Estado e da sociedade Foi na mais profunda escuri-datildeo dessas trevas que Jesus Cristo apareceu como uma luz

Qual a missatildeo da luz Evidentemente dissipar as trevas De fato aos poucos foram elas cedendo E na ordem das realidades visiacuteveis a vitoacuteria da luz consistiu na instauraccedilatildeo da civilizaccedilatildeo cristatilde que embora com as falhas inerentes ao que eacute humano foi o autecircntico Reino de Cristo na Terra

Natildeo eacute o caso de fazermos aqui o histoacuterico do crepuacutesculo da Cristandade ocidental Basta lembrar que do seacuteculo de Satildeo Tomaacutes e Satildeo Luiacutes IX deslizamos para esta nossa era de laicismo e de ateiacutesmo militante

O quadro que traccedilamos do mundo antigo poderia aplicar-se facilmente ao de hoje em cujas trevas do erro e do pecado os homens satildeo retidos em essecircncia por trecircs fatores o democircnio com suas tenta-ccedilotildees o mundo com suas seduccedilotildees e a carne com seu aguilhatildeo

De fato entregue agraves voluacutepias da carne o ser humano tende a atirar-se com todo o peso de sua mi-seacuteria agraves deliacutecias do mundo e sua alma cheia de tanto lodo estaacute preparada para receber a accedilatildeo do de-mocircnio Cada um desses fatores abre pois o campo para o outro E por isso instaurado numa alma o jugo do democircnio ela se torna mais escrava do mundo e da carne

A capitulaccedilatildeo diante de qualquer deles por mais incipiente que seja daacute imediato vigor aos outros A accedilatildeo do democircnio cresce na alma com o pecado e por sua vez agrava as devastaccedilotildees dos viacutecios na alma

Mas no que consiste precisamente a accedilatildeo do democircnio Em dar aos impulsos de desordem que o pecado original instalou em noacutes uma vivacidade uma energia ainda maior em nos arrastar a uma es-fera de degradaccedilatildeo de sensualidade e de impiedade pior ainda que a da simples maliacutecia humana Ar-rastando pois para baixo os pecadores procurando dar coesatildeo em toda a Terra agraves energias caoacuteticas e por si mesmas anaacuterquicas da corrupccedilatildeo soprando-as e estimulando-as o democircnio eacute o verdadeiro chefe do reino das trevas no mundo

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

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Contudo para certos tipos de mentalidade o papel do democircnio do mundo e da carne na difusatildeo das trevas natildeo deve ser levado tatildeo a seacuterio O homem contemporacircneo natildeo eacute senatildeo um meninatildeo tra-vesso mas bom no fundo que soacute tem um ponto difiacutecil eacute irritaacutevel Por certo ele estaacute algum tanto lon-ge de praticar todos os Mandamentos A culpa entretanto natildeo eacute principalmente sua mas dos que natildeo o souberam compreender Em lugar de irritaacute-lo com dogmas preceitos penas dever-se-ia tecirc--lo nutrido com o mel suave das concessotildees tratado com sorrisos Natildeo se compreendeu isto e como ele eacute irritaacutevel mdash e algum tanto traquinas mdash ei-lo que quebra igrejas desencadeia guerras multi-plica revoluccedilotildees

A soluccedilatildeo consistiraacute em abrandaacute-lo Antes de tudo natildeo dizer as coisas claramente porque ldquopo-de irritarrdquo

Castidade sim Mas pronuncie a palavra bem baixinho soacute quando for indispensaacutevel ou melhor renuncie a fazer uso dela por muito tempo

Obediecircncia ao Magisteacuterio da Igreja Sim sem duacutevida Mas natildeo fale propriamente em obediecircn-cia nem em Magisteacuterio poderiacuteamos irritar o meninatildeo Melhor seria falar vagamente em feacute

Pecado Natildeo eacute termo conveniente fale-se antes em fraqueza lapso deslize E cuidado Fale-se sobre isto sorrindo

Inferno para quecirc Se nosso meninatildeo percebe que pode ir ter laacute acabaraacute por sentir um terriacutevel oacutedio contra Deus Haacute no Evangelho algumas referecircncias a este assunto mas eacute que os publicanos ou-viam falar nisso e lhes fazia bem Nosso meninatildeo pelo contraacuterio eacute emancipado e se revoltaria Dei-xemos o assunto para mais tarde seraacute mais prudente

Tudo isso quanto ao modo de enunciar a doutrina Quanto ao modo de aplicaacute-la as concessotildees vatildeo ainda mais longe

O que nos ensina a este respeito Aquele que eacute por excelecircncia a Luz brilhando nas trevasPor seu exemplo e por suas palavras Nosso Senhor nos ensina antes de tudo que eacute preciso nun-

ca silenciar a verdade que cumpre proclamaacute-la inteira ainda que nossos ouvintes natildeo nos aplau-dam ainda mesmo que nos queiram lapidar ou crucificar

Eacute preciso anunciaacute-la com palavras de ameaccedila ou com um semblante de indulgecircncia e de bonda-de Nosso Senhor fez uma e outra coisa conforme o estado de alma daqueles a quem Se dirigia

Tambeacutem noacutes para sermos luz neste mundo de trevas natildeo havemos de renunciar agraves apostrofes candentes e ao tom polecircmico nem agraves palavras de doccedilura e incitamento Devemos pedir a Nosso Senhor que nos decirc o discernimento necessaacuterio para fazer uma e outra coisa no momento opor-tuno

Santos houve que fizeram principalmente uma ou outra coisa Natildeo houve um soacute Santo que jamais desse prova de severidade ou jamais desse prova de suavidade Cada qual agiu segundo nele sopra-va o Espiacuterito Santo e por foram canonizados pela Igreja

Cada um de noacutes proceda segundo o espiacuterito que tem com uma ressalva poreacutem e esta muito im-portante na aplicaccedilatildeo dos princiacutepios jamais se pode ceder Sorrindo ou increpando diga que o mal eacute mal e o bem eacute bem E natildeo deixe de estimular incentivar pregar o bem em todos os seus aspectos Agir de outro modo natildeo eacute trabalhar para propagar a luz eacute velaacute-la eacute querer extingui-la

Esta eacute a liccedilatildeo que nos deixou Aquele cujo nascimento neste mecircs celebramos genuflexos

1) Cf Catolicismo n 362) Jo 1 53) Introito da Missa da Aurora (Is 9 2 6 Lc 133)

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Respeitabilidade afeto e charme

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Dona LuciLia

Dr Plinio dava enorme importacircncia agrave formaccedilatildeo do tipo humano verdadeiramente catoacutelico Desde menino ele observava detida e

amorosamente as altas qualidades morais de Dona Lucilia e atraveacutes dessa admiraccedilatildeo enlevada foi destilando o tipo humano ideal

aacute um ponto central que estava no meu espiacuterito desde muito menino e que foi cobrindo suces-sivos campos ateacute o momento presente O curio-

so eacute que esse ponto sendo sempre o mesmo ilumina com sua luz temas diversos Mas isso natildeo quer dizer de nenhum modo que havendo a migraccedilatildeo da luz de um tema para ou-tro o tema anterior foi abandonado esquecido ou passado para segundo plano Mas as coisas se somam como os an-dares de um preacutedio

Um princiacutepio de justiccedila

Em menino houve um primeiro periacuteodo em que eu estava todo voltado a admi-rar certas disposiccedilotildees quali-dades de alma em determi-nadas pessoas nas quais no-tava uma luz sobrenatural

Quando falo disso lem-bro-me principalmente de mamatildee do seu afeto enfim de tudo quanto tenho expli-cado mas tambeacutem de certa respeitabilidade que ela pos-suiacutea e agrave qual eu queria tanto quanto o proacuteprio afeto

Para a minha oacutetica Do-na Lucilia tinha essa alta res-peitabilidade natildeo soacute enquan-

to minha matildee e por isso com todo o respeito que natu-ralmente o filho tem por sua matildee poreacutem mais do que is-so notava-se como ela sabia se fazer respeitar em rela-ccedilatildeo a terceiros Natildeo com o respeito que tem como inten-ccedilatildeo o domiacutenio nem propriamente uma determinada pre-cedecircncia que deveria fazer-se sentir sobre os outros mas era uma disposiccedilatildeo de alma de quem se olhava com res-

peito a si mesma e por uma disposiccedilatildeo natural esperava o reconhecimento dessa respei-tabilidade da parte de outros E se esta respeitabilidade fal-tasse seria capaz de fazer ces-sar uma relaccedilatildeo um afeto ou qualquer outra coisa

Era uma respeitabilidade por um princiacutepio de justiccedila proveniente do sentir em sua pessoa essa respeitabilidade e querer que os outros a reco-nhecessem por justiccedila Natildeo era portanto uma questatildeo de faceirice de preeminecircncia

Antiacuteteses harmocircnicas formando um todo moral

Isso pode ser compreen-dido facilmente sem tantas digressotildees se considerarmos a fotografia dela em Paris

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Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

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Gus

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Ser

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

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ccedilatildeo

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ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

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Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

26

Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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)

lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

tt (C

C 3

0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 5: Revista Doctor Plinio -201_201412

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

5

Contudo para certos tipos de mentalidade o papel do democircnio do mundo e da carne na difusatildeo das trevas natildeo deve ser levado tatildeo a seacuterio O homem contemporacircneo natildeo eacute senatildeo um meninatildeo tra-vesso mas bom no fundo que soacute tem um ponto difiacutecil eacute irritaacutevel Por certo ele estaacute algum tanto lon-ge de praticar todos os Mandamentos A culpa entretanto natildeo eacute principalmente sua mas dos que natildeo o souberam compreender Em lugar de irritaacute-lo com dogmas preceitos penas dever-se-ia tecirc--lo nutrido com o mel suave das concessotildees tratado com sorrisos Natildeo se compreendeu isto e como ele eacute irritaacutevel mdash e algum tanto traquinas mdash ei-lo que quebra igrejas desencadeia guerras multi-plica revoluccedilotildees

A soluccedilatildeo consistiraacute em abrandaacute-lo Antes de tudo natildeo dizer as coisas claramente porque ldquopo-de irritarrdquo

Castidade sim Mas pronuncie a palavra bem baixinho soacute quando for indispensaacutevel ou melhor renuncie a fazer uso dela por muito tempo

Obediecircncia ao Magisteacuterio da Igreja Sim sem duacutevida Mas natildeo fale propriamente em obediecircn-cia nem em Magisteacuterio poderiacuteamos irritar o meninatildeo Melhor seria falar vagamente em feacute

Pecado Natildeo eacute termo conveniente fale-se antes em fraqueza lapso deslize E cuidado Fale-se sobre isto sorrindo

Inferno para quecirc Se nosso meninatildeo percebe que pode ir ter laacute acabaraacute por sentir um terriacutevel oacutedio contra Deus Haacute no Evangelho algumas referecircncias a este assunto mas eacute que os publicanos ou-viam falar nisso e lhes fazia bem Nosso meninatildeo pelo contraacuterio eacute emancipado e se revoltaria Dei-xemos o assunto para mais tarde seraacute mais prudente

Tudo isso quanto ao modo de enunciar a doutrina Quanto ao modo de aplicaacute-la as concessotildees vatildeo ainda mais longe

O que nos ensina a este respeito Aquele que eacute por excelecircncia a Luz brilhando nas trevasPor seu exemplo e por suas palavras Nosso Senhor nos ensina antes de tudo que eacute preciso nun-

ca silenciar a verdade que cumpre proclamaacute-la inteira ainda que nossos ouvintes natildeo nos aplau-dam ainda mesmo que nos queiram lapidar ou crucificar

Eacute preciso anunciaacute-la com palavras de ameaccedila ou com um semblante de indulgecircncia e de bonda-de Nosso Senhor fez uma e outra coisa conforme o estado de alma daqueles a quem Se dirigia

Tambeacutem noacutes para sermos luz neste mundo de trevas natildeo havemos de renunciar agraves apostrofes candentes e ao tom polecircmico nem agraves palavras de doccedilura e incitamento Devemos pedir a Nosso Senhor que nos decirc o discernimento necessaacuterio para fazer uma e outra coisa no momento opor-tuno

Santos houve que fizeram principalmente uma ou outra coisa Natildeo houve um soacute Santo que jamais desse prova de severidade ou jamais desse prova de suavidade Cada qual agiu segundo nele sopra-va o Espiacuterito Santo e por foram canonizados pela Igreja

Cada um de noacutes proceda segundo o espiacuterito que tem com uma ressalva poreacutem e esta muito im-portante na aplicaccedilatildeo dos princiacutepios jamais se pode ceder Sorrindo ou increpando diga que o mal eacute mal e o bem eacute bem E natildeo deixe de estimular incentivar pregar o bem em todos os seus aspectos Agir de outro modo natildeo eacute trabalhar para propagar a luz eacute velaacute-la eacute querer extingui-la

Esta eacute a liccedilatildeo que nos deixou Aquele cujo nascimento neste mecircs celebramos genuflexos

1) Cf Catolicismo n 362) Jo 1 53) Introito da Missa da Aurora (Is 9 2 6 Lc 133)

H

Respeitabilidade afeto e charme

6

Dona LuciLia

Dr Plinio dava enorme importacircncia agrave formaccedilatildeo do tipo humano verdadeiramente catoacutelico Desde menino ele observava detida e

amorosamente as altas qualidades morais de Dona Lucilia e atraveacutes dessa admiraccedilatildeo enlevada foi destilando o tipo humano ideal

aacute um ponto central que estava no meu espiacuterito desde muito menino e que foi cobrindo suces-sivos campos ateacute o momento presente O curio-

so eacute que esse ponto sendo sempre o mesmo ilumina com sua luz temas diversos Mas isso natildeo quer dizer de nenhum modo que havendo a migraccedilatildeo da luz de um tema para ou-tro o tema anterior foi abandonado esquecido ou passado para segundo plano Mas as coisas se somam como os an-dares de um preacutedio

Um princiacutepio de justiccedila

Em menino houve um primeiro periacuteodo em que eu estava todo voltado a admi-rar certas disposiccedilotildees quali-dades de alma em determi-nadas pessoas nas quais no-tava uma luz sobrenatural

Quando falo disso lem-bro-me principalmente de mamatildee do seu afeto enfim de tudo quanto tenho expli-cado mas tambeacutem de certa respeitabilidade que ela pos-suiacutea e agrave qual eu queria tanto quanto o proacuteprio afeto

Para a minha oacutetica Do-na Lucilia tinha essa alta res-peitabilidade natildeo soacute enquan-

to minha matildee e por isso com todo o respeito que natu-ralmente o filho tem por sua matildee poreacutem mais do que is-so notava-se como ela sabia se fazer respeitar em rela-ccedilatildeo a terceiros Natildeo com o respeito que tem como inten-ccedilatildeo o domiacutenio nem propriamente uma determinada pre-cedecircncia que deveria fazer-se sentir sobre os outros mas era uma disposiccedilatildeo de alma de quem se olhava com res-

peito a si mesma e por uma disposiccedilatildeo natural esperava o reconhecimento dessa respei-tabilidade da parte de outros E se esta respeitabilidade fal-tasse seria capaz de fazer ces-sar uma relaccedilatildeo um afeto ou qualquer outra coisa

Era uma respeitabilidade por um princiacutepio de justiccedila proveniente do sentir em sua pessoa essa respeitabilidade e querer que os outros a reco-nhecessem por justiccedila Natildeo era portanto uma questatildeo de faceirice de preeminecircncia

Antiacuteteses harmocircnicas formando um todo moral

Isso pode ser compreen-dido facilmente sem tantas digressotildees se considerarmos a fotografia dela em Paris

7

Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

9

Gus

tavo

Kra

lj

Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Rep

rodu

ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

11

Ser

gio

Hol

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n

Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

12

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

Rep

rodu

ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

14

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

Phi

llip

Cap

per

(CC

30

)

ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

17

ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

oni

Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

19

Gus

tavo

Kra

lj

Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

Ism

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uent

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a

Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

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hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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CC

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

34

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 6: Revista Doctor Plinio -201_201412

H

Respeitabilidade afeto e charme

6

Dona LuciLia

Dr Plinio dava enorme importacircncia agrave formaccedilatildeo do tipo humano verdadeiramente catoacutelico Desde menino ele observava detida e

amorosamente as altas qualidades morais de Dona Lucilia e atraveacutes dessa admiraccedilatildeo enlevada foi destilando o tipo humano ideal

aacute um ponto central que estava no meu espiacuterito desde muito menino e que foi cobrindo suces-sivos campos ateacute o momento presente O curio-

so eacute que esse ponto sendo sempre o mesmo ilumina com sua luz temas diversos Mas isso natildeo quer dizer de nenhum modo que havendo a migraccedilatildeo da luz de um tema para ou-tro o tema anterior foi abandonado esquecido ou passado para segundo plano Mas as coisas se somam como os an-dares de um preacutedio

Um princiacutepio de justiccedila

Em menino houve um primeiro periacuteodo em que eu estava todo voltado a admi-rar certas disposiccedilotildees quali-dades de alma em determi-nadas pessoas nas quais no-tava uma luz sobrenatural

Quando falo disso lem-bro-me principalmente de mamatildee do seu afeto enfim de tudo quanto tenho expli-cado mas tambeacutem de certa respeitabilidade que ela pos-suiacutea e agrave qual eu queria tanto quanto o proacuteprio afeto

Para a minha oacutetica Do-na Lucilia tinha essa alta res-peitabilidade natildeo soacute enquan-

to minha matildee e por isso com todo o respeito que natu-ralmente o filho tem por sua matildee poreacutem mais do que is-so notava-se como ela sabia se fazer respeitar em rela-ccedilatildeo a terceiros Natildeo com o respeito que tem como inten-ccedilatildeo o domiacutenio nem propriamente uma determinada pre-cedecircncia que deveria fazer-se sentir sobre os outros mas era uma disposiccedilatildeo de alma de quem se olhava com res-

peito a si mesma e por uma disposiccedilatildeo natural esperava o reconhecimento dessa respei-tabilidade da parte de outros E se esta respeitabilidade fal-tasse seria capaz de fazer ces-sar uma relaccedilatildeo um afeto ou qualquer outra coisa

Era uma respeitabilidade por um princiacutepio de justiccedila proveniente do sentir em sua pessoa essa respeitabilidade e querer que os outros a reco-nhecessem por justiccedila Natildeo era portanto uma questatildeo de faceirice de preeminecircncia

Antiacuteteses harmocircnicas formando um todo moral

Isso pode ser compreen-dido facilmente sem tantas digressotildees se considerarmos a fotografia dela em Paris

7

Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Ser

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

13

Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

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ccedilatildeo

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ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

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30

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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Majestade e sofrimento

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

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o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 7: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Pelo menos para meus olhos de filho haacute ali uma alta respeitabilidade mui-to mais moral do que social mas on-de a respeitabilidade social eacute um ele-mento atraveacutes do qual essa respeita-bilidade moral se mostra e que natildeo exclui de nenhum modo a manifes-taccedilatildeo de um grande afeto e de tudo aquilo que eu quero nela

Esses vaacuterios predicados se so-mando constituiacuteam uma espeacutecie de antiacuteteses harmocircnicas que faziam um todo moral exquis1 para se con-templar

Ao lado e como complemento disso havia nela um senso das con-tas pesos e medidas muito apura-do sem nada de caacutelculos Por isso eu emprego a palavra ldquosensordquo

No modo de tratar as pessoas ela dava tudo aquilo que a pessoa merecia com uma espeacutecie de boa vontade de ver o meacuterito do outro ateacute onde esse meacuterito existia Natildeo era portanto uma coisa assim diante de al-gueacutem comeccedila a analisar se mereceu ou natildeo a gentileza dispensada na entrada quando se cumprimentaram Ou entatildeo pensar ldquoEle tem tal qualidade essa qualidade eacute maior ou menor do que a minha Mas tambeacutem tem tal defeito e esse defeito eu natildeo tenhordquo

Natildeo eacute isso Eacute um modo de se relacionar que corre co-mo um rio largo generoso sem contas de tostotildees

Destilando o tipo humano ideal

Lembro-me por exemplo de que nossa preceptora a Fraumlulein2 Mathilde era uma mulher muito inteligen-te e muito viajada tendo sido governanta numa seacuterie de casas da nobreza europeia Sabia portanto muito mais coisas do que mamatildee poderia conhecer a partir da pe-quena Satildeo Paulo daquele tempo

Vaacuterias vezes as vi conversando nunca como duas iguais mas muito amistosamente No total ficava claro que mamatildee era patroa pertencente a uma tradicional famiacutelia paulista e ela uma alematilde instruiacuteda viajada cul-ta mas natildeo mais do que isso

Como Dona Lucilia fazia sentir essa diferenccedila Ela natildeo fazia sentir desprendia-se dela Mamatildee natildeo tinha isso como um desses faroletes de cinema para indicar o lugar ldquoOlha tenho isto tenho aquilordquo Natildeo Como o curso do Rio Ama-zonas assim eu imagino o fluir das qualidades dela

A Fraumlulein Mathilde natildeo tinha nenhuma vontade de transpor esse limite e conversava com ela muito normal-

mente com o respeito devido mas tambeacutem natildeo deixando de fazer va-ler o que ela tinha aprendido pelos lugares onde estivera

Esta respeitabilidade de Dona Lucilia natildeo provinha do dinheiro Aliaacutes o dinheiro natildeo proporcio-na isso Pode ateacute levar as pessoas a fingirem um respeito mas que natildeo seraacute autecircntico

Eu apreciava altamente essa res-peitabilidade e a considerava co-mo fazendo parte do conjunto de predicados que uma pessoa deveria ter Assim ia se destilando aos pou-cos na minha mente de menino o tipo humano ideal

Descendo com charme a rampa da velhice

Por uma questatildeo de oacutetica toda crianccedila quando eacute muito pequenininha julga seus pais enormes maduros provectos inteiramente formados e com um domiacutenio sobre todas as situaccedilotildees uma coisa ex-traordinaacuteria

Mamatildee era muito madura de espiacuterito como se nota por exemplo por aquela fotografia agrave qual me referi Ela me parecia a proacutepria manifestaccedilatildeo da maturidade plena Por causa disso um juiacutezo emitido por ela era para mim uma coisa definitiva Estava liquidado o caso natildeo tinha mais nada a acrescentar

Agrave medida que fui tomando corpo ficando maduro ela descia com nobreza com charme a rampa da velhi-ce e em certo momento comecei a achaacute-la miuacuteda E eu que toda a vida chamei-a de matildeezinha comecei a notar o quanto ela era pequenininha e ateacute a brincar com ela a esse respeito o que eu fazia tatildeo naturalmente que nem me passou pela mente se ela gostava ou natildeo

Revendo agora noto que natildeo sei se ela chegou a to-mar consciecircncia dessa mudanccedila de clave de tal maneira isso correu com naturalidade entre noacutes

Achava-a graciosa nas suas dimensotildees com qualquer coisa de fraacutegil que a velhice ia pondo nela mas que natildeo tirava nada do que ela possuiacutea de augusto de seacuterio de respeitaacutevel Pelo contraacuterio acentuava   v

(Extraiacutedo de conferecircncias de 1381983 e 2281992)

1) Do francecircs requintado2) Do alematildeo Senhorita

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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ccedilatildeo

acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Ser

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

Rep

rodu

ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

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30

)

ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

oni

Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Gus

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

21

A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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de

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tis (

CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 8: Revista Doctor Plinio -201_201412

O olhar sereno e penetrante de Jesus

O

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Haacute certas descriccedilotildees que superam a proacutepria fotografia Um exemplo caracteriacutestico eacute a conferecircncia na qual Dr Plinio entre outras coisas descreve o quadro de Giotto

representando o beijo de Judas E interpreta a repercussatildeo na alma do traidor da pergunta de Nosso Senhor ldquoJudas com

um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

perfeito conviacutevio entre o liacuteder e os liderados su-potildee algo que seja o mais possiacutevel parecido com a autoridade entre o pai e os filhos Mas de um

pai que conheccedila perfeitamente o seu meacutetier de pai mdash sua funccedilatildeo sua missatildeo mdash e compreende que faz parte des-sa missatildeo algo que eacute insubstituiacutevel o querer bem Natildeo se reduz a isto mas eacute uma coisa indispensaacutevel

Censura e perdatildeo

Ora para querer bem eacute preciso ter entendido aque-le a quem se quer Os homens satildeo desta maneira para conseguir querer bem depois de ter entendido eacute preciso uma forma de perdatildeo de suavidade de mansidatildeo que fa-ccedila com que se consiga querer bem

Quem eacute objeto desse sentimento se for uma pessoa reta natildeo pode deixar de se sentir profundamente tocada Essa eacute a escola que se aprende no Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus no Coraccedilatildeo Imaculado de Maria

Por exemplo na frase de Nosso Senhor a Santa Mar-garida Maria Alacoque ldquoEste eacute o Coraccedilatildeo que tanto amou os homens e por eles foi tatildeo pouco amadordquo per-cebe-se pela redaccedilatildeo que haacute um reproche uma censura mas haacute ao mesmo tempo um perdatildeo

Nela estaacute contido o pensamento de que mdash apesar de quererem pouco a Nosso Senhor e Ele fazer uma censura mostrando aos homens que essa atitude natildeo estaacute bem mdash isso eacute feito com tal amor pelo lado bom deles e com tan-

ta esperanccedila de que se deixem tocar que haacute qualquer coi-sa no homem que o seu lado duro rebarbativo pode pe-la accedilatildeo da graccedila amolecer de repente e a pessoa ficar ou-tra agradecida compreendendo que a montanha das suas imperfeiccedilotildees natildeo levantou contra si um inimigo na Pessoa drsquoAquele contra Quem as imperfeiccedilotildees foram levantadas

A ovelha rebarbativa no meio do carrascal

Existe portanto um perdatildeo suave largo enorme infati-gaacutevel e que antes mesmo de a falta ser cometida como que jaacute foi esquecida E o ofendido age como o bom pastor com a ovelha rebarbativa que se meteu pelo carrascal eacute preciso ir pelo meio dos espinhos para pegaacute-la com jeito porque a ovelha que deveria ser jeitosa natildeo balir agrave toa e compreen-der o esforccedilo daquele que jaacute estaacute metido no carrascal por causa dela e natildeo aumentar seu trabalho pelo contraacuterio eacute caprichosa cheia de gemidos natildeo suporta nada Entatildeo qualquer coisa que se faccedila ela esperneia bale de um modo dolorido como quem diz ldquoEstaacute doendo estaacute doendo Vocecirc estaacute querendo me tirar daqui Tire mesmo mas natildeo deixe doer Onde eacute que jaacute se viu infligir-me essa dorrdquo Reclaman-do assim contra aquele que a estaacute salvando

Noacutes todos somos homens e sabemos que reaccedilotildees co-mo essas podem nos vir ao espiacuterito e quanto nos toca mdash tendo feito coisas dessas em tal quantidade que fica-mos cegos e perdemos a noccedilatildeo de quanto fizemos mdash per-cebermos em determinado momento que nem aquele

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

12

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

13

Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

Rep

rodu

ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

14

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

Phi

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30

)

ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

16

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

17

ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

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Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

19

Gus

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

21

A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

22

a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 9: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

Santuaacuterio de Nossa Senhora

de Czestochowa Polocircnia

montatildeo de ingratidotildees foi capaz de vencer aquela misericoacuterdia E que haacute a mesma doccedilura a mesma bondade o mesmo perdatildeo o mesmo desejo de aju-dar absolutamente imutaacutevel

Quando a alma sente isto e eacute tocada por uma graccedila especial chegou a hora da vitoacuteria do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus ou do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Nosso Senhor Jesus Cristo eacute supremo em todos os sentidos da palavra e abaixo drsquoEle Nossa Senhora eacute su-prema Sendo Eles exemplos supremos devemos imitaacute--Los nas ocasiotildees da vida particular mdash nas coisas peque-nas meacutedias e grandes mdash em que recebemos ingratidotildees brutais agraves vezes estuacutepidas subestimas baacuterbaras e natildeo nos incomodarmos

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio e a hora da puniccedilatildeo natildeo chegardquo

Eu respondo ldquoChega ateacute para o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesusrdquo

Haacute certos graus de recalcitracircncia tatildeo tremendos que natildeo se compreende como a maldade do homem chega a esse ponto

Oacutesculo da traiccedilatildeo

Sempre me causou repulsa maacutexima e furiosa a indiferenccedila de Judas naquele episoacutedio em que ele trai Nosso Senhor Os algozes natildeo sabiam quem era Jesus e portanto a quem deveriam prender Judas entatildeo diz ldquoAquele a quem eu oscular a este prendeirdquo

Quer dizer a infacircmia chega a esse pon-to de ele para indicar a sua viacutetima a os-cula sabendo que recebe um oacutesculo de volta e portanto fazendo da troca dessa bondade dessa amizade o preccedilo da traiccedilatildeo

Aiacute naturalmente haacute os limi-tes que tudo tem e se prepara a descarga da vindita de Deus no que ela tem de mais terriacutevel Nosso Senhor ainda eacute suave com ele mas de uma suavi-dade com qualquer coi-sa da doccedilura de um

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

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Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

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Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

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que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

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Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

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o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

tiebe

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

34

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 10: Revista Doctor Plinio -201_201412

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SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

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acento materno e do estreacutepito de um trovatildeo quando ele diz ldquoJudas com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo1

O famoso Giotto pintou um quadro figurando o oacutescu-lo de Judas a Nosso Senhor Judas eacute apresentado mais baixo do que Jesus e beijando-O de baixo para cima com uma beiccedilorra que parece estalar de carnes um beiccedilo sujo e molhado que ele cola com a sua saliva imunda no rosto divino do Redentor Testa pequena cabelo que desce ateacute bem embaixo e jaacute saindo desgrenhado da raiz da pele e um jeito subserviente diante de Nosso Senhor ou seja traindo e ao mesmo tempo bajulando

E Jesus com um olhar sereno como quem penetra no fundo daquele lodaccedilal de infacircmia ainda para ser bom porque Ele eacute justo Quer dizer Ele quer fazer com que Judas tenha medo pelo menos jaacute que natildeo foi tocaacutevel pe-la bondade Se a contriccedilatildeo natildeo o tocou que ele se salve ao menos pela atriccedilatildeo Entatildeo vem aquela pergunta ldquoJu-das com um oacutesculo trais o Filho do homemrdquo

Mas nesse ldquoJudasrdquo tem uma pergunta como quem diz ldquoMeu iacutentimo meu filho aquele que estaacute sempre co-migo Logo vocecircrdquo

Se Judas procurasse Nossa Senhora obteria o perdatildeo

Judas natildeo daacute resposta mas vecirc a reaccedilatildeo de Nosso Senhor e percebe-se que ele sai levando impresso na alma o castigo do pecado cometido Ele natildeo conse-gue mais desamarrar-se daquela pergunta e aquilo re-percute nele ainda que natildeo queira ldquoCom um oacutesculo com um oacutesculo com um oacutesculo Judas Judas Ju-das Tu trais tu traisrdquo Trais quem ldquoO Filho do ho-memrdquo

Todas as perfeiccedilotildees de Nosso Senhor vecircm ao espiacuterito de Judas e ele imundo levando a sua sacola de dinhei-ro raciocina ldquoTraiacute por causa dissordquo

O beijo de Judas (por Giotto) - Capela Scrovegni Paacutedua Itaacutelia

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

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Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

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Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

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que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

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avel

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Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Gus

tavo

Kra

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

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o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

25

De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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CC

30

)

Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 11: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Vemos entatildeo as vias de Deus infinitas perfeitas mo-delo da conduta de todo aquele que exerce uma autori-dade espiritual ou temporal   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2811993)

1) Lc 22 48

E pela primeira vez aquela alma adoradora do di-nheiro vecirc quanto este eacute pouco ainda quando seja muito dinheiro Eacute tal o horror diante do que fez que ele vai ao Templo e joga aquelas moedas no chatildeo Pensa libertar-se daquela figura daquela pergunta e do afeto envolvente daquela censura Mas ele nem quer libertar-se da censura nem deixar-se envolver pelo afeto Se ele se deixasse envolver pelo afeto iria procurar Nossa Senhora prostrar-se-ia diante drsquoEla e diria

ldquoSenhora eu sou tatildeo infame que pela primeira vez Vos chamarei de Matildee apelando para esse extremo de bondade porque Vos pedirei um perdatildeo que soacute uma matildee concede ao seu filho e mais nin-gueacutem Minha Matildee Matildee virginal e imacu-lada que apesar disso tambeacutem sois Matildee deste asqueroso nojento traidor ga-nancioso desleal imundo que sou eu aqui estou pior do que qualquer le-proso Mas para Voacutes continua ver-dade que sou filho e vos peccedilo curai-merdquo

Todos os caminhos estariam abertos para ele Mas ele natildeo queria que o afeto o envolvesse natildeo queria voltar e pedir perdatildeo

Mas ele tambeacutem natildeo podia vi-ver sem pedir perdatildeo porque o remorso era tremendo Entatildeo natildeo podendo viver com natildeo po-dendo viver sem a ldquosoluccedilatildeordquo por ele encontrada foi de natildeo viver Resolveu se matar Foi a uma figueira pendurou-se ali e morreu

Pode-se imaginar aquele cor-po asqueroso pendente mal-cheiroso os urubus jaacute esvoaccedilan-do em torno dele as garras do Inferno jaacute o segurando e dando risada e pelos dedos do vento balanccedilando em vaacuterias direccedilotildees quebrando de encontro agrave aacutervo-re e ele se deixando fazer Ateacute o momento em que ele por assim dizer fechou as portas do Ceacuteu Ateacute o uacuteltimo instante ele natildeo pediu perdatildeo

Virgem Pastora Igreja de SantrsquoAna

Sevilha Espanha

Q

Seriedade charme e grandeza

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

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ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

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ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

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ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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avel

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Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 12: Revista Doctor Plinio -201_201412

Q

Seriedade charme e grandeza

12

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Agrave esquerda a quinta praga do Egito - Museu Indianoacutepolis de Arte EUA agrave direita a primeira praga do Egito - Museu de Artes Decorativas Berlim Alemanha

Respondendo a uma pergunta sobre a formaccedilatildeo do Reino de Maria e as qualidades de alma necessaacuterias para dele se fazer parte Dr Plinio apresenta algumas reflexotildees a respeito da complementaridade existente

entre paternidade e primogenitura seu papel na constituiccedilatildeo das eras histoacutericas e as relaccedilotildees entre

seriedade charme e grandeza

uando chegar minha vez de ler o Corneacutelio1 es-pero encontrar em sua obra o comentaacuterio a dois verbetes que satildeo complementares paternidade e

primogenitura

Rep

rodu

ccedilatildeo

Reproduccedilatildeo

Ateacute a Revoluccedilatildeo Francesa ainda se encontravam restos do patriarcado

O que haacute na paternidade para que a primogenitura

13

Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

Rep

rodu

ccedilatildeo

Rep

rodu

ccedilatildeo

que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

14

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

15

Phi

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Cap

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(CC

30

)

ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

16

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

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Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

19

Gus

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

21

A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

22

a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

Kris

de

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tis (

CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 13: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Acima ldquoGlorificaccedilatildeo de Satildeo Luiacutesrdquo Museu Fabre Montpellier Franccedila ao lado

Francisco I e Maria Teresa drsquoAacuteustria com seus filhos - Palaacutecio Dorotheum Viena Aacuteustria

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que eacute apenas a primeira flor da paternidade tenha tal valor que por exemplo quando Deus castigou os egiacutep-cios com aquelas dez pragas a uacuteltima e a maior delas foi a morte de todos os primogecircnitos ateacute mesmo dos animais2

Do acircngulo que estou considerando quase me impres-siona mais a morte dos primogecircnitos dos animais do que dos homens

Os antigos tinham o senso da famiacutelia muito bem cons-tituiacutedo e desenvolvido patriarcalmente isto eacute com algu-mas tradiccedilotildees e qualidades peculiares ao periacuteodo do pa-triarcado E as aacuteguas do patriarcado fluiacuteram longe den-tro do leito do rio da Histoacuteria Ateacute agrave Revoluccedilatildeo Francesa e a generalizaccedilatildeo dela no mundo encontramos restos do patriarcado nesta e naquela instituiccedilatildeo

Compreende-se portanto que seja particularmente duro para o patriarca perder aquele que eacute o seu primogecirc-nito Eacute algo como que fulminando o resto todo que veio porque quebra o elo natural entre o patriarca e o restan-te de sua progecircnie Por causa disso a morte do primogecirc-nito causa uma dor para o patriarca para o chefe de fa-miacutelia patriarcal especialmente

Em nossos dias o senso da primogenitura parece mui-to apagado quase reduzido a zero Mas para Deus natildeo Porque o requinte do castigo natildeo consistiu em matar um filho qualquer mas o primogecircnito E para se compreen-der a ligaccedilatildeo do castigo com a primogenitura quer dizer o que vale o primogecircnito natildeo como pessoa mas enquan-

to primogecircnito vem entatildeo o castigo ateacute sobre os primo-gecircnitos dos animais

Misteacuterios da paternidade

Eu precisava ver no Corneacutelio mas parece que isto daacute a entender o seguinte que uma estirpe animal com a mor-te dos seus primogecircnitos fica degradada e que haacute um dom de perpetuaccedilatildeo no primogecircnito que os outros natildeo tecircm por onde o primogecircnito do primogecircnito do primogecircni-to possui uma representatividade de toda a estirpe que os outros natildeo tecircm Para isso atingir assim os animais tem al-gum suporte na proacutepria biologia Eacute misterioso mas me pa-rece enormemente sensato e explicaacutevel que seja assim

Essas consideraccedilotildees nos introduzem no conhecimento dos misteacuterios da paternidade no que ela tem de bioloacutegico Eacute uma coisa tatildeo ampla que Deus quis que houvesse homem e mulher para que essa ideia da autoria mdash um ser que gera ou-tro mdash se exprimisse pela severidade e grandeza do homem e pela doccedilura da mulher a fim de dar um complemento como se um ser humano soacute natildeo fosse suficiente para abarcar em si toda a causalidade de outro ser tatildeo grande eacute a paternidade tatildeo grande eacute a causalidade tantos misteacuterios haacute dentro disso

Entatildeo se compreende o papel da paternidade Estou falando aqui da paternidade no sentido literal da pala-vra mas tambeacutem de outra forma de paternidade que eacute a constituiccedilatildeo das famiacutelias de alma

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

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avel

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Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

19

Gus

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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30

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

uillo

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CC

30

)

Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 14: Revista Doctor Plinio -201_201412

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

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Famiacutelias de almaGeralmente os reinos os paiacuteses as naccedilotildees vivem ten-

do como arcabouccedilo as famiacutelias de alma E quando as fa-miacutelias de alma desse reino decaem o reino decai irreme-diavelmente

Essas famiacutelias de alma em geral satildeo fundadas por um indiviacuteduo segundo o qual as outras almas satildeo suscitadas ele eacute uma espeacutecie de molde conforme o qual Deus mo-dela todas as outras vocaccedilotildees

Em geral vemos na Histoacuteria que na raiz de toda gran-de eacutepoca das naccedilotildees catoacutelicas existem algumas grandes almas que suscitam ou ressuscitam uma grande famiacutelia religiosa e depois como uma espeacutecie de exalaccedilatildeo per-fumada disso nascem os grandes liacutederes temporais pa-ra servir a Igreja

Entatildeo por exemplo Santa Teresa Santo Inaacutecio Satildeo Francisco de Borja Satildeo Francisco Xavier Satildeo Joatildeo da Cruz etc Pode-se imaginar um tecido de al-mas um conjunto de focos luminosos de cujo encon-tro nasce um Filipe II que para a Espanha foi um pa-triarca menor do que o proacuteprio mito mas que fez uma grande coisa deixar um mito no qual a posteridade creu de maneira que o bem que ele natildeo realizou o mito fez depois dele

Entatildeo eu me ponho a perguntar ldquoCom o Grand Re-tour3 para noacutes aqui na Terra o que haveraacute no Reino de Maria Com que graccedilas especiais com que reluzimen-tos especiais o Divino Espiacuterito Santo se faraacute sentir quan-

do chegar a hora de Ele insuflar a graccedila decisiva do Rei-no de Mariardquo Isso nos deve modelar

Todos noacutes conhecemos o fenocircmeno do heliotropis-mo a tendecircncia das plantas a se voltarem para o Sol O ldquosolrdquo no caso eacute o Divino Espiacuterito Santo E eacute necessaacuterio que Ele nos encontre aacutevidos drsquoEle De maneira tal que o Espiacuterito Santo se manifestando noacutes nos voltemos e nos abramos imediatamente

Noccedilatildeo de seriedade

Contribuiria para isso passarmos a analisar agora ou-tra noccedilatildeo a de seriedade

No seu primeiro aspecto na sua definiccedilatildeo mais elemen-tar a seriedade eacute a disposiccedilatildeo de alma pela qual se quer

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz do ver

ou do julgar algo para se deleitar Ele quer a verdade

ainda que natildeo o deleite quer julgar com justiccedila ainda que

natildeo lhe seja agradaacutevel

ldquoDeclaraccedilatildeo de Feacute de Filipe IIrdquo - Universidade de Barcelona Espanha Brasatildeo de Armas de Filipe II

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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Majestade e sofrimento

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

21

A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

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o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

22

a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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de

Cur

tis (

CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 15: Revista Doctor Plinio -201_201412

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ver a realidade absolutamente como ela eacute e tirando-se to-das as consequecircncias que logicamente se devem tirar

A seriedade comporta dois elementos a observaccedilatildeo inteiramente objetiva do objeto visto e a legiacutetima extra-ccedilatildeo de conhecimentos de dentro daquilo que foi visto

Entatildeo a seriedade eacute a perfeiccedilatildeo na objetividade e a plena fecundidade no suscitar consequecircncias a plena abundacircncia das conclusotildees tanto quanto agravequela alma foi dado ter Eacute seacuterio quem vecirc tudo como deve ser visto e conclui ateacute onde ele pode concluir

O homem que tem apetecircncia de seriedade natildeo faz portanto do ver ou do julgar algo para se deleitar a si mesmo Ele quer ver a verdade ainda que natildeo o deleite quer julgar ainda que natildeo lhe seja grato julgar daquele modo Ele quer julgar com justiccedila

Portanto ele estaacute numa atitude de combate habitual contra si mesmo Porque noacutes todos temos uma tendecircn-cia agrave falta de seriedade quer dizer a ver as coisas como natildeo satildeo e a julgaacute-las como nos conveacutem Assim como por exemplo nenhum homem escapa agrave tentaccedilatildeo contra a pu-reza nenhum homem escapa da tentaccedilatildeo contra a serie-dade

A seriedade plena visa constantemente os cumes

Mas a seriedade tem mais

Aquilo que o homem seacuterio vecirc natildeo basta que ele ve-ja numa superfiacutecie plana Por exemplo um indiviacuteduo que fosse voar muito alto e fotografasse um sistema monta-nhoso muito de cima Aquelas montanhas pareceriam meio achatadas na fotografia e quem a visse natildeo teria a impressatildeo de toda a altura das montanhas porque o ponto de vista de onde foram fotografadas foi muito alto

O homem natildeo pode ter uma visatildeo achatada da reali-dade porque a realidade natildeo eacute chata A realidade eacute hie-raacuterquica toda feita portanto de ascensotildees de serranias A realidade eacute uma imensa serrania e eacute preciso vecirc-la as-sim saber situar-se no lugar que dentro dela nos compe-te e natildeo onde nossa fantasia quereria nos colocar

Eacute tatildeo faacutecil pecar contra esse dever O homem tem uma tendecircncia quase contiacutenua para faltar contra essa obrigaccedilatildeo quase como a tendecircncia para respirar

E a seriedade plena porque eacute altamente hieraacuterquica visa constantemente os cumes aquilo que constitua um piacutencaro de tudo

Por exemplo se um homem seacuterio considerar uma pe-dra como a aacutegua-marinha regala-se com o luminoso de-la fazendo uma comparaccedilatildeo mais ou menos subcons-ciente com pedras que ele viu Haacute portanto uma com-paraccedilatildeo com as outras coisas jaacute consideradas por ele E no fundo de sua cabeccedila talvez sem que ele se decirc conta haacute uma espeacutecie de desejo da pedra ideal que natildeo existe na Terra de pedra do Paraiacuteso Terrestre do Ceacuteu Empiacute-

Alpes do Sul Nova Zelacircndia

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

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ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

26

Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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)

lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

tt (C

C 3

0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 16: Revista Doctor Plinio -201_201412

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PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

reo que possa regalar plenamente o ser humano na sua inteligecircncia na sua vontade nos seus sentidos

Desejo contiacutenuo de perfeiccedilatildeo

O homem seacuterio volta-se continuamente para essas matrizes primeiras tratando de explicitaacute-las E quando analisamos sua vida notamos ter sido uma longa peregri-naccedilatildeo agrave procura da perfeiccedilatildeo de todas as coisas

Mas ele natildeo tarda em perceber que nada eacute perfeito a natildeo ser Aquele que eacute a Perfeiccedilatildeo e o seu desejo de per-feiccedilatildeo em uacuteltima anaacutelise se volta para Deus E que sem Deus Nosso Senhor tudo se pulveriza perde o sentido soacute Ele eacute absoluto Sem o Absoluto tudo afunda no rela-tivo no nada

A pessoa seacuteria compreende que esse seu desejo con-tiacutenuo de perfeiccedilatildeo que eacute por assim dizer o bater de co-raccedilatildeo de sua seriedade a alma de sua intransigecircncia o impulso de sua combatividade a fonte inspiradora de seu carinho de seu afeto eacute o amor de Deus pois soacute Deus eacute perfeito Isso deve animar continuamente o ho-mem seacuterio

Charme deslumbrantePelo exposto ateacute aqui vemos como o conceito de char-

me e de grandeza instalam-se com naturalidade nesse pa-norama

Segundo um conceito corrente de charme este se opotildee agrave seriedade pois eacute aplicado a seres que em geral nos fazem sorrir Satildeo mais miuacutedos engraccediladinhos e tecircm uma forma pequena de perfeiccedilatildeo que desperta um pouco de compaixatildeo de ternura de vontade de proteger e de outro lado embevece

Tomando a palavra charme nesse sentido Deus eacute char-mant4

O charme eacute uma qualidade Logo em Deus deve ha-ver charme poreacutem natildeo com essa conotaccedilatildeo que sugere limitaccedilatildeo

Como podemos imaginar que o Criador faccedila sorrir Deus ateacute deseja que o homem sorria Quando criou por exemplo o colibri os miosoacutetis Ele quis que o homem sorrisse Desejou assim mostrar algo que eacute uma forma de perfeiccedilatildeo charmante que nrsquoEle existe de um modo gran-dioso majestoso produzindo de modo deslumbrante aquele efeito O que poderiacuteamos chamar sem violentar a

Arq

uivo

Rev

ista

17

ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

Mar

io B

avel

oni

Majestade e sofrimento

E

18

Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

Gus

tavo

Kra

lj

ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

19

Gus

tavo

Kra

lj

Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

20

Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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30

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

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hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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CC

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)

Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

34

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 17: Revista Doctor Plinio -201_201412

17

ldquoLa Virgen Blancardquo - Catedral de Toledo Espanha

palavra de charme deslumbrante que sai da categoria do pequeno e voa para uma alta categoria

Um charme deslumbrante seria o charme por exce-lecircncia do qual esses pequenos charmes da Terra satildeo apenas reflexos

Deus eacute infinito Portanto algo agrave maneira daquilo que nas criaturas chamamos charme nrsquoEle existe in-finitamente

Menino Jesus charme e grandeza

O Altiacutessimo eacute eterno natildeo muda nunca Mas como somos seres limitados gostamos de certas mudanccedilas Deus vai nos fazendo ver aspectos sucessivamente di-versos drsquoEle que mudam para noacutes natildeo nrsquoEle Como Ele eacute infinito podemos passar milhotildees e milhotildees de anos sem nunca esgotar esses diversos aspectos E na sucessatildeo desses vaacuterios ldquoquadrosrdquo vaacuterios ldquopaineacuteisrdquo de Deus mdash toda linguagem se torna vacilante para falar de uma coisa tatildeo alta mdash pode haver mudanccedilas que expliquem ao homem o que ele sente quando vecirc por exemplo o furta-cor de uma borboleta a agilidade ou o colorido das asas de um colibri

E tudo quanto na natureza eacute irisado opalescen-te nacarado natildeo seraacute algo que diz respeito agrave suces-satildeo com que em Deus vatildeo se manifestando os charmes grandiosos e as grandezas que de algum modo satildeo charmantes Natildeo seraacute essa aboacutebada entre o charme e a grandeza que constituiraacute um encanto no Ceacuteu Pode--se pensar isso

Se isso eacute assim tem que ser salientiacutessimo em Nossa Senhora mais do que em toda a Criaccedilatildeo reunida Pode-mos compreender por aiacute como seraacute nossa contemplaccedilatildeo da Matildee de Deus no Ceacuteu

Maria Santiacutessima teve alguma coisa assim na Terra Teve Ela reuniu de um modo terreno o charme e a gran-deza quando contemplou o Menino Jesus Porque ali re-almente eacute o pequeno com todo o encanto da fragilidade mas com a majestade de Deus

Como teraacute sido realmente o Menino Jesus Quem eacute capaz de excogitar isso Menino Jesus diante do qual os reis magos se aproximaram reverentes trazendo o que ti-nham de melhor e que entretanto era uma criancinha que se amamentava do leite puriacutessimo de Nossa Senho-ra que dependia drsquoEla ateacute para espantar um mosquito

Podemos imaginar Maria Santiacutessima olhando para o Menino Jesus e por exemplo vendo que a natureza hu-mana drsquoEle queria ser mimada mimando o Menino Je-sus e pensando ldquoDeus quer ser mimado por Mimrdquo

Eacute de natildeo se saber o que dizer Satildeo temas nos quais eu gostaria de me aprofundar an-

tes de morrer para me apresentar diante de Deus com

isso estudado e com meu espiacuterito formado para isso e por isso   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1381983)

1) Jesuiacuteta e exegeta flamengo ( 1567 - dagger 1637)2) Ex 113) Do francecircs Grande retorno No iniacutecio da deacutecada de 1940

houve na Franccedila extraordinaacuterio incremento do espiacuterito reli-gioso quando das peregrinaccedilotildees de quatro imagens de Nos-sa Senhora de Boulogne Tal movimento espiritual foi deno-minado de ldquogrand retourrdquo para indicar o imenso retorno da-quele paiacutes a seu antigo e autecircntico fervor entatildeo esmaecido Ao tomar conhecimento desses fatos Dr Plinio comeccedilou a empregar a expressatildeo ldquogrand retourrdquo no sentido natildeo soacute de ldquogrande retornordquo mas de uma torrente avassaladora de gra-ccedilas que atraveacutes da Virgem Santiacutessima Deus concederaacute ao mundo para a implantaccedilatildeo do Reino de Maria

4) Do francecircs charmoso

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Majestade e sofrimento

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

22

a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 18: Revista Doctor Plinio -201_201412

Majestade e sofrimento

E

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Dr PLinio comenta

Com a alma pervadida de enlevo veneraccedilatildeo e ternura Dr Plinio imagina como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia abordando desde os

assuntos mais comezinhos ateacute os mais sublimes E compotildee uma oraccedilatildeo proacutepria de uma pessoa que

natildeo foi maculada pela Revoluccedilatildeo

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ncontramos diversas estampas pi-torescas vaacuterias delas muito res-peitaacuteveis decorosas apropriadas

e dignas representando a santa casa onde residiu a Sagrada Famiacutelia

Simplicidade sublime

Em geral essas ilustraccedilotildees se em-penham em representar a casa de

Nazareacute com uma pureza diaacutefa-na uma luz que natildeo era apenas a de um dia lindamente lumino-so mas uma luminosidade per-sistentemente matinal ao lado de uma grande simplicidade e uma limpeza absoluta

O que dizer da limpeza des-sa casa

Eacute difiacutecil imaginar porque tal-vez nem sequer os Anjos tinham o privileacutegio de limpaacute-la Era Nos-sa Senhora a Rainha dos An-jos Satildeo Joseacute o castiacutessimo esposo drsquoEla e agraves vezes quando estavam cansados o proacuteprio Menino que diante de todos os coros angeacutelicos extasiados limpava a casa para que seus pais descansassem

Sagrada Famiacutelia - Igreja de Satildeo Roque Sevilha Espanha

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

Kris

de

Cur

tis (

CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

23

tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

tiebe

atii

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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akty

s (C

C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

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hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 19: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Sagrada Famiacutelia durante uma ceia Museu de Lima Peru

Num canto um jarro simples do qual se levanta uma accedilucena muito ereta como a virgindade como a pu-reza perpendicular da qual brota o caacutelice de uma flor maravilhosa eacute a uacutenica coisa que fala de arte de gosto o resto eacute muito simples

Mas olhando para qualquer madeira tosca para o ponto em que um peacute de cadeira encosta no chatildeo o pon-to em que uma prateleira suporta trecircs ou quatro peque-nos objetos indispensaacuteveis para viver fica-se extasiado sem saber o que dizer diante dessas sublimes bagatelas tatildeo comuns na vida de qualquer um mas que por esta-rem postas naquela luz tomam um caraacuteter maravilhoso

E para muito adequadamente realccedilar a humildade de personagens tatildeo puros apresentam dentro deste deacutecor a Sagrada Famiacutelia Satildeo Joseacute que sentado estaacute torneando algum moacutevel Nossa Senhora fazendo uma costurinha o Menino em peacute tatildeo pequeno ainda que se apoia natildeo na mesa mas em uma cadeira vazia sobre a qual brinca com dois ou trecircs objetos como se aquilo fosse uma mesa

Atentos aos gestos agrave voz ao olhar do Menino Jesus

Um silecircncio no qual ningueacutem diz nada mas todos se entendem superlativamente Ao mesmo tempo juntan-do a vidinha de todos os dias de uma pobre famiacutelia ope-raacuteria e o encanto de consideraccedilotildees metafiacutesicas sobrena-turais de Nossa Senhora e de Satildeo Joseacute que viviam inun-dados pela presenccedila do Menino com tudo quanto essa presenccedila significava e era

O Menino nascido da Virgem-Matildee da raccedila de Davi e portanto da mesma estirpe de Satildeo Joseacute mdash que possuiacutea sobre Ele um autecircntico direito de pai por ser a crianccedila o fruto das entranhas de sua esposa mdash mas que era o Fi-lho gerado pelo Espiacuterito Santo no seio virginal de Maria

O que dizer disso Natildeo haacute palavras que bastemA Santiacutessima Trindade por assim dizer ldquoSe moviardquo ao

menor movimento do Menino brincando com algumas pedrinhas ou mexendo com uma coisa qualquer enquan-to sua infacircncia ia se desenvolvendo segundo a ordenaccedilatildeo posta por Deus na natureza humana mesmo sendo esta tatildeo elevada e tatildeo distante do pecado original como era a do Menino-Deus Filho de Maria Virgem concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu ser

Poderiacuteamos assim imaginar as cenas mais comuns na vi-da de uma crianccedila como procurar algum objeto hesitando sobre se estaria aqui ou laacute e natildeo encontrando onde procu-rou para depois buscar no lugar certo porque Nossa Senhora ou Satildeo Joseacute tinha mudado de lugar o objeto ou o vento so-prou e tocou para longe o paninho que Ele tinha separadohellip

Que repercussatildeo episoacutedios tatildeo simples teriam nas re-laccedilotildees das trecircs Pessoas da Santiacutessima Trindade

Por outro lado Satildeo Joseacute e Maria Santiacutessima tam-beacutem cuidando dos afazeres domeacutesticos mas tanto quanto possiacutevel procurando natildeo perder um gesto um movimento atentos agrave miacutenima emissatildeo de voz drsquoEle como a uma muacutesica inefaacutevel O menor olhar drsquoEle era um tesouro sem conta o menor movimento tinha uma majestade e uma graccedila inexprimiacuteveis E eles sabiam que era o Homem-Deus que estava ali hesitava Se movia falava Podemos imaginar o enlevo sem fim que os inundava

Como seria o conviacutevio diaacuterio na Sagrada Famiacutelia

Deveria acontecer tambeacutem que pelas contingecircncias da vida concreta pela necessidade de prestar atenccedilatildeo nos afazeres agraves vezes eles desviavam a atenccedilatildeo do Meni-no De repente tinham uma surpresa com alguma atitu-de e comentavam-na entre si cochichando baixinho

Em outras ocasiotildees um dos dois esposos tinha estado fo-ra e quando voltava recebia encantado o ldquojornal faladordquo

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

Fran

cisc

o Le

caro

s

Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

Kris

de

Cur

tis (

CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

tiebe

atii

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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akty

s (C

C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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29

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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30

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

34

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 20: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Dr PLinio comenta

Trabalhos na Casa de Nazareacute - Igreja da Santa Cruz Palecircncia Espanha

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Outras vezes era o proacuteprio Menino Jesus que tinha sa-iacutedo para brincar com outra crianccedila no jardim enquanto Satildeo Joseacute e Nossa Senhora ficavam dentro de casa con-fabulando ldquoO que estaraacute fazendo Elerdquo sabendo natildeo se tratar apenas da satisfaccedilatildeo de um desejo infantil de ter um companheiro mas considerando como tudo quanto Ele fazia tinha um significado muito profundo

Como seria o relacionamento entre os trecircs na casa de Nazareacute Teriam entre Si um contato uma interlocuccedilatildeo tal que a todo o momento fizessem referecircncia agrave natureza divi-na de Jesus E o Menino agrave virgindade fecunda de sua Matildee e agrave virgindade milagrosa florindo num casamento casto de Satildeo Joseacute Ou esses eram temas que eles sabiam venera-vam mas sobre os quais falavam pouco deixando-os impliacute-citos e conversando sobre eles apenas nas grandes ocasiotildees quando baixavam do Ceacuteu luzes extraordinaacuterias e contem-plando o Menino o santo casal tinha ecircxtases miacutesticos

Com exceccedilatildeo desses momentos talvez o resto do tem-po transcorresse em uma vida comum com os assuntos cotidianos

mdash Joseacute meu esposo fostes voacutes que abristes aquela porta Quereis porventura sair levando um banco que acabastes de fazer ou quereis ainda ficar aqui

mdash Senhora eu ainda preciso ficar aqui exceto se vos-sa vontade for outra

Algum tempo depois diria Satildeo Joseacutemdash Senhora Voacutes vos distraiacutestes mdash ele bem sabia que

Ela tinha estado conversando com os Anjos mdash e o almo-ccedilo jaacute vai longe no nosso peque-no fogareiro vede um pouco co-mo estaacutehellip

Enfim poder-se-ia imaginar tudo

Refulgindo como no Tabor

Eu seria propenso a achar que na maravilha desse con-viacutevio interno as coisas mais di-ferentes se davam simultanea-mente Entretanto tudo se jun-tava em uma foacutermula maravi-lhosa que natildeo sabemos qual eacute mas podemos intuir

Seria uma foacutermula que com-portaria momentos de uma se-riedade extraordinaacuteria de uma gravidade maravilhosa em que a Santiacutessima Trindade se mani-festasse ao santo casal Ou que o Menino mdash que quando adul-

to reluziu no Tabor entre Moiseacutes e Elias de um modo tatildeo esplendoroso mdash de repente aparecesse a eles com um brilho cada vez mais intenso num momento inopinado em que Ele viesse pedir licenccedila para brincar um pouco no jardim E ambos passassem um tempo sem consegui-rem responder ao Menino que entretanto esperava re-luzente a resposta e eles completamente transportados para outra esfera pois estavam diante de Deus

Poderia ser que depois de terem visto esse esplendor natildeo comentassem E Maria dissesse a Joseacute

mdash Estaacute ficando tarde natildeo eacute Vou recolher a roupa que estaacute laacute fora

E ele diriamdash Senhora preciso acabar este objeto que me enco-

mendaram para hoje agrave tardeEnquanto Ela ia pegar a roupa e ele trabalhava no ob-

jeto este tomava rapidamente a forma que ele queria Nossa Senhora entrava via o objeto pronto e dizia

mdash Senhor jaacute estaacute pronto o objeto mdash suspeitando ter sido concluiacutedo pelos Anjos

E ele discreto responderiamdash Senhora agraves vezes as coisas correm depressaHaacute um matiz nesse conviacutevio da Sagrada Famiacutelia que

eu natildeo vejo reproduzido na iconografia e compreen-do porque natildeo eacute faacutecil reproduzir Isso tudo estava im-pregnado de uma respeitabilidade de uma majestade de uma seriedade augusta de uma determinaccedilatildeo forte pa-ra dizer tudo em uma palavra soacute de uma seriedade e de

uma dor desconcertantes

Prefiguras da Agonia no Horto do levar a Cruz ou da coroaccedilatildeo como Rei

Em certos momentos o santo casal deveria ver que o Menino brincava e Lhes aparecia de re-pente chagado dos peacutes agrave cabe-ccedila esmagado de dor e brincan-do com dois pauzinhos que Ele carregava agraves costas E era o pre-cocircnio da Cruz

Eles ficavam com o coraccedilatildeo partido e viam o Menino andar de um lado para outro determi-nadamente fazendo um gesto ao Padre Eterno E era um pri-meiro um segundo um quin-to lance prefigurativos da Ago-nia no Horto Que dor que no-breza que grandeza que majes-tade

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

T

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

Kris

de

Cur

tis (

CC

30

)

falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

23

tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

tiebe

atii

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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akty

s (C

C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 21: Revista Doctor Plinio -201_201412

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A Sagrada Famiacutelia em seus afazeres Castelo de Javier Navarra Espanha

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Outros dias Ele aparecia como Rei em comparaccedilatildeo com o qual os Ceacutesares natildeo eram senatildeo moleques

Poderiacuteamos assim imaginar formas de venerabilida-de as mais augustas

Acredito que os que quisessem habitar na dor seriam pouco numerosos Mais raros ainda seriam os que natildeo se cansassem da majestade

Escudo e espada para defender o Menino-Deus

Contudo quem considerando a grandeza dessas ce-nas natildeo tivesse nenhuma noacutedoa de Revoluccedilatildeo na alma diante dessa majestade se ajoelharia e diria

ldquoOacute Majestade divina dentro desse mar imundo de vulgaridade que eacute hoje a Terra dominada pela Revolu-ccedilatildeo quanto Vos procurei sem saber que era a Voacutes que eu procurava Quanto Vos desejei quanto me comprou-ve em pegar os menores fiapos de majestade que encon-trei pelo meu caminho e me deter diante deles conscien-temente pensando em Voacutes que eu natildeo conhecia

ldquoMas afinal oacute Majestade eu Vos encontro Majesta-de eu Vos compreendo Voacutes tendes todo o impeacuterio dos Anjos sois tudo quanto haacute de grande

ldquoQuando apareceis a mim oacute Majestade penso no es-trondo das cataratas mais caudalosas que entretanto satildeo minuacutesculas torneiras abertas diante de Voacutes O oceano pa-rece um dedal de aacutegua em vossa presenccedila e todas as gran-dezas da Terra natildeo satildeo nada em comparaccedilatildeo convosco

ldquoOacute Majestade quanto eu Vos procurei oacute paacutetria de mi-nha alma Afinal Vos encontro

ldquoQuando eu fitava a Igreja e renovava enlevado o meu ato de Feacute natildeo sabia que um dos nomes dela era ldquoMa-

jestaderdquo Agora compreendo A Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana receptaacuteculo da Majestade vaso de honorificecircncia

ldquoSe eu visse Maria que majestade Se eu visse Jo-seacute o modesto carpinteiro que majestade Se eu vis-se o Menino minha alma procuraria rimas para cele-brar-vos oacute Majestade

ldquoMeus braccedilos ansiariam por um escudo e por uma espada para Vos defender Meu corpo inteiro se rete-saria diante da possibilidade de Vos proclamar diante dos homens oacute Majestade

ldquoE precisamente porque Vos compreendo oacute Ma-jestade compreendo tambeacutem que na vossa imensida-de cabem todas as outras coisas natildeo haacute amor pater-no nem materno nem carinho fraterno nem amiza-de nem socorro nem proteccedilatildeo nem nada do que o coraccedilatildeo humano possa produzir de mais suave e de mais terno que natildeo more em Voacutes oacute Majestade Voacutes sois todas as grandezas todas as magnificecircncias ateacute

mesmo das coisas pequenasldquoVoacutes sois o meu repouso quando estou cansado a

tranquilidade e a harmonia do meu sono a alegria do meu despertarrdquo

Morar no santuaacuterio da majestade

Quem compreende que no santuaacuterio incomensuraacutevel da majestade haacute um altar bem no centro colocado para o sofrimento Portanto tambeacutem para esta forma de dor de espiacuterito que eacute a ascese por onde o homem abandona o que eacute friacutevolo superficial fuacutetil e se volta para o que eacute pro-fundo seacuterio para o esforccedilo da mente na procura da ver-dade para o esforccedilo do corpo inteiro na procura do bem e do belo holocausto mil vezes feito de todos os modos pela alma agrave procura da verdade do bem e da beleza

Sem essa dor para noacutes concebidos no pecado origi-nal natildeo teria sentido o santuaacuterio infinito da majestade Essa eacute a verdade

Haacute a dor haacute a cruz A Cruz sacrossanta de Nosso Se-nhor Jesus Cristo

Quem ama a dor Quem ama a cruz Eacute tal a ligaccedilatildeo entre a cruz e a majestade que a partir de certo momen-to da Histoacuteria cristatilde nenhuma coroa houve que natildeo fos-se encimada pela cruz O piacutencaro da majestade a cruz pequena sobre a coroa como se a cruz estivesse numa al-tura tal que mesmo sobre a coroa ela fosse difiacutecil de ver Tal eacute a majestade da cruz

Quem amaraacute esses pensamentos Quem se habituaraacute a conviver com eles Quem quereraacute morar no santuaacuterio da majestade ajoelhado aos peacutes da cruz   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 20111982)

Desejo do sublime

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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C 3

0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 22: Revista Doctor Plinio -201_201412

Desejo do sublime

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

odo regionalismo vive em torno de uma tradi-ccedilatildeo que se aprofunda Ao inveacutes de o progresso se dar no sentido de adquirir elementos novos re-

aliza-se na aquisiccedilatildeo de aprofundamentos novos e en-tatildeo ocorre uma espeacutecie de enclausuramento nos tradicio-nalismos ou nos regionalismos por onde os regionalis-tas satildeo tradicionais e os tradicionalistas satildeo regionais Is-so proveacutem da iacutentima ligaccedilatildeo do espiacuterito tradicional com as profundidades inesgotaacuteveis que jazem numa determi-nada regiatildeo

Um palaacutecio de antigos reis transformado em Palaacutecio de Justiccedila

Entatildeo destruir uma regiatildeo eacute desviar a atenccedilatildeo de su-as profundidades para novidades que ficam borboletean-do no noticiaacuterio E pelo contraacuterio vivificar uma regiatildeo eacute fazecirc-la viver das novas conquistas que o aprofundamen-to proporciona Esse dado me parece indispensaacutevel pa-ra formarmos uma noccedilatildeo exata de um verdadeiro regio-nalismo

Eacute importante notar o seguinte por vezes o tradicio-nalismo chega a um ponto de estancamento em que por

Maddaloni Itaacutelia

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falta de novos aprofundamentos ele natildeo anda mais fi-ca estagnado sem fecundidade pitoresco mas embolo-rado e malcheiroso como pode suceder com certos arqui-vos Entretanto isso nunca acontece ao verdadeiro tradi-cionalismo

O que ocorre quando um tradicionalismo estagnaSenti muito esse problema vendo uma fotografia de

um pequeno palaacutecio com as proporccedilotildees de uma casa de famiacutelia muito confortaacutevel provido de certa serieda-de certo donaire A legenda da foto indicava tratar-se do palaacutecio dos antigos reis de um daqueles pequenos reinos mdash menores do que Aragatildeo Castela etc que a Espanha teve em certo momento mdash hoje transformado em Palaacute-cio da Justiccedila E refleti sobre o caso

Por um lado para o preacutedio natildeo ficar abandonado ou tornar-se um museu eacute melhor que ali figure o Palaacutecio da Justiccedila Mas constitui certa decadecircncia uma construccedilatildeo outrora habitaccedilatildeo de reis ser transformada em Palaacutecio da Justiccedila com o cotidiano proacuteprio a uma reparticcedilatildeo como essa Por exemplo as partes que entram para se querelar sobre as causazinhas locais um pato que fugiu do quintal de um e entrou para o do outro entatildeo a quem pertence o pato Os dez ou quinze metros de profundidade existen-

Continuando suas clarividentes explicitaccedilotildees sobre a sociedade orgacircnica Dr Plinio mostra que os habitantes de uma cidade animados pelo espiacuterito catoacutelico devem sempre procurar as coisas mais elevadas

o maravilhoso o sublime Do contraacuterio a cidade vai decaindo e acaba chegando agrave estagnaccedilatildeo

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

25

De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

uillo

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CC

30

)

Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 23: Revista Doctor Plinio -201_201412

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tes no quintal satildeo propriedade de quem E o galinheiro que ali estaacute a quem pertence entatildeo Assuntos como es-ses satildeo discutidos nas salas onde viveu uma pequena cor-te e reinaram os pequenos reis daquele lugar

Causa certa tristeza imaginar os primeiros dias da eacutepo-ca em que essa cidadezinha natildeo foi mais habitada pelos seus antigos reis porque ela deixou de ser a capital do rei-no Entatildeo houve a alegria dos mediacuteocres pois tendo ido embora o rei a vida se tornou mais acomodada e banal

Depois aquela vida banal se perpetuou e a tradiccedilatildeo transformou-se em paralisia

A estagnaccedilatildeo abriu as portas ao progresso descontrolado

Em seguida entra o progressohellip Por exemplo em frente daqueles antigos palaacutecios transformados em re-particcedilotildees puacuteblicas instalam-se um ponto de ocircnibus uma bomba de gasolina e um bar com anuacutencio iluminado a gaacutes neon

O palaacutecio dos reis continua e nele todo mundo vai dis-cutir os frangos os patos e os fundos de quintal Entre-tanto alguma coisa correu errada alihellip

O fenocircmeno da estagnaccedilatildeo eacute o mesmo em diversas manifestaccedilotildees da vida Mas o que vem a ser a estagna-ccedilatildeo Do que ela decorre A que males ela conduz Ateacute que ponto ela eacute o grande argumento dos inimigos da tra-diccedilatildeo

Parece-me ser esse um ponto muito importante den-tro do assunto da sociedade orgacircnica pois mais ou me-nos por toda parte o progresso descontrolado entrou porque a estagnaccedilatildeo lhe abriu as portas

Quando se estuda o seacuteculo XIX mdash por excelecircncia o periacuteodo em que os progressos entraram eletricidade bonde ocircnibus trem enfim todas as novidades foram muito mais do seacuteculo XIX do que do XX mdash nota-se uma estagnaccedilatildeo em diversas aacutereas e os povos se voltam des-lumbrados para essas novidades pois a estagnaccedilatildeo lhes tinha fechado todos os horizontes

Entatildeo os partidaacuterios da tradiccedilatildeo comeccedilam a escrever revistinhas lembrando como tal coisa era pitoresca tal outra era bonita Ou fazendo uma polecircmica como se de-ve escrever tal palavra tiacutepica da regiatildeo com K ou com C Nascem entatildeo os pequenos eruditos locais que satildeo ver-dadeiros vermes devoradores de papel ldquoO Rei tal escre-veu em sua carta de tanto tal coisa assim mas tal Juiz que era um luminar e redigiu um livro de Direito tradu-zido na Universidade de Compostela refutou de tal jei-tordquo E faz-se uma erudiccedilatildeozinha local que ainda agrava o peso da estagnaccedilatildeo Uma espeacutecie de necrologia

Em geral quando vem ao espiacuterito esse problema da estagnaccedilatildeo ele se associa agrave ideia de um lugar pequeno

no qual tudo ficou imoacutevel Natildeo obstante essa situaccedilatildeo pode exercer um poder de atraccedilatildeo extraordinaacuterio

Precircmio Nobel para um indiviacuteduo de uma cidadezinha

Li certa vez em uma revista francesa o caso de uma famiacutelia que vivia numa cidade bem pequena da Franccedila Todas as noites terminado o jantar o pai a matildee e o filho iam a uma confeitaria em frente agrave casa deles Embora o filho jaacute fosse homem feito e os pais bem idosos ainda sa-iacuteam juntos como no tempo em que ele era menino O fi-lho era um solteiratildeo que passava o dia estudando natildeo fa-zia outra coisa

Nessa confeitaria tomavam sempre as mesmas bebi-das puxavam um jogo de dominoacutes que ficava junto agrave mesa desde tempos imemoriais

Certo dia estoura a notiacutecia que deixou todo mundo da cidadezinha pasmo e entusiasmado

Esse homem que jogava dominoacute com os pais passara a vida inteira estudando sem que ningueacutem lhe perguntasse qual o tema dos estudos De repente ele recebe uma car-ta da comissatildeo Nobel comunicando-lhe que devido a um trabalho fantaacutestico por ele realizado receberia o Precircmio Nobel Nessa ocasiatildeo ele seria convidado pelo Rei para um jantar de gala no palaacutecio junto com sua famiacutelia

Aquilo produziu um movimento extraordinaacuterio na ci-dadezinha O homem viajou para a Sueacutecia e no mesmo dia em que voltou para o lugarejo onde morava foi com seus pais jogar dominoacute na confeitaria

Eacute um sintoma caracteriacutestico de estagnaccedilatildeo com aqui-lo que ela tem de simpaacutetico pois satildeo costumes preserva-dos nos quais se nota certa candura apraziacutevel Isso tam-beacutem revela uma seriedade de afeto entre ele e seus pais uma serenidade de vida um desapego de uma porccedilatildeo de coisas que o mundanismo oferece

Mas de outro lado eacute de assustar Toda noite duran-te uma vida inteira jogar dominoacute com o pai e a matildee sem ningueacutem de fora na roda

Natildeo se pode afirmar que neste caso a estagnaccedilatildeo conservou alguma fecundidade que permitiu ao homem aquela invenccedilatildeo O Precircmio Nobel foi proporcionado pe-la cidade na medida em que esta evitava uma seacuterie de obstaacuteculos que a vida moderna potildee para a produccedilatildeo mas a descoberta natildeo foi nem um pouco inspirada pela vida local nem trazia benefiacutecios para esta A cidade continua-va inteiramente estagnada

A vida popular na Idade Meacutedia

Devem existir centenas de coisas dessas mais ou me-nos em todos os paiacuteses da Europa

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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ccedilatildeo

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 24: Revista Doctor Plinio -201_201412

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a SocieDaDe anaLiSaDa Por Dr PLinio

Contudo sempre levados pela ideia de a estagnaccedilatildeo ser um fenocircmeno de pequenos lugares nosso espiacuterito se volta para a Aacutesia Aacutefrica Austraacutelia para ver se encontra alguma coisa parecida com essa estagnaccedilatildeo

Eacute evidente que nesses continentes haacute um mundo de aldeias Poreacutem natildeo se ouve falar de um lugar pequeno que seja ceacutelebre pelo seu pitoresco e a respeito do qual se poderia fazer um conjunto como por exemplo a ldquoEx-posiccedilatildeo do pueblo espantildeolrdquo em Barcelona

Por quecirc Pela simples razatildeo de que natildeo se constituiacute-ram aldeias nas quais houvesse um regionalismo no sen-tido do existente na Europa ou seja um local com su-as caracteriacutesticas proacuteprias vivas e que em determinado momento progrediu e formou um ambiente de vida dis-tinto dos outros quase se diria uma civilizaccedilatildeozinha

Entatildeo chegamos agrave conclusatildeo de que a Europa em de-terminado momento teve um enorme florescimento de pequenas unidades que vicejaram extraordinariamente e isso natildeo se encontra em nenhuma outra zona do mun-do sendo um fenocircmeno de vitalidade europeia medie-val e com a caracteriacutestica curiosa de ser natildeo exclusiva mas preponderantemente popular

Portanto mais do que todas as declamaccedilotildees do enci-clopedismo do iluminismo sobre os direitos dos pobres o que comunicou agrave vida popular uma chama por onde cada local poderia ser uma lamparina acesa foi a Idade Meacutedia Natildeo se poderia fazer coisa mais importante pa-ra o povo do que dar-lhe elementos pelos quais ele fosse capaz de gerar isso Em vez de viver obscuramente e sem originalidade agrave sombra dos ricos fazer ele mesmo seu mundinho e sua civilizaccedilatildeo

Em Roma e na Greacutecia o povo era considerado uma raleacute

Uma vez mais os incito a pensarem nesse assunto Is-so natildeo existiu nem sequer entre os romanos ou gregos Quem ouviu falar de uma aldeia claacutessica grega do mun-do helecircnico ou do mundo romano Na cultura claacutessica algueacutem se ocupou de aldeias da arte popular O povo era uma raleacute anocircnima no pior sentido da palavra por-que natildeo tinha personalidade Roma era Roma por cau-sa de uma elite de patriacutecios no comeccedilo e de aventurei-ros depois no tempo do Impeacuterio com certas caracteriacutesti-cas Mas o povo natildeo tinha nada

Trata-se de saber qual a origem desse fenocircmeno na Idade Meacutedia e tendo-a localizado procurar estudar a estagnaccedilatildeo

A uacutenica forccedila atuante no mundo no periacuteodo originaacute-rio da Idade Meacutedia era a Igreja porque todas as outras forccedilas do antigo Impeacuterio Romano ruiacuteram dando lugar agrave barbaacuterie em luta contra a Igreja Catoacutelica A barbaacuterie de si mesma natildeo tinha a intenccedilatildeo de combater a Igreja mas era completamente plasmada e formada de um mo-

do oposto ao da Igreja E portanto formavam-se entre-choques a Igreja era obrigada a dizer para tal guerreiro tal rei ou rainha baacuterbara quais eram os deveres de cada um e por vezes eles natildeo gostavam de cumprir

Como surgiu o feudalismo

Tomemos a origem do feudalismo como eacute narrada pe-la maioria dos historiadores Em propriedades agriacutecolas os habitantes atacados por hordas de invasores recor-rem ao proprietaacuterio da regiatildeo que eacute o chefe natural pa-ra se defenderem Esse proprietaacuterio se dispotildee a acolhecirc--los nas suas proacuteprias terras e se defender junto com eles Entatildeo eles mesmos pensam em construir uma muralha e com o tempo sofisticam as suas formas para resistir me-lhor agrave agressatildeo Depois edificam no recinto da muralha a torre de meacutenage para poder ver mais longe o inimigo e posteriormente residecircncias de refuacutegio para a popula-ccedilatildeo quando o agressor ataca

Torna-se um sistema pelo qual o proprietaacuterio se transfor-ma em autoridade Todos dependem dele e um direito puacute-blico se constitui O mesmo se passa em inuacutemeras proprie-dades sob a pressatildeo das mesmas circunstacircncias Surgem os castelos nasce o feudalismo Tudo parece tatildeo loacutegico

Mas eu pergunto se os proprietaacuterios de hoje queren-do se opor a eventuais invasotildees fariam uma resistecircncia da qual surgiria o feudalismo Creio que natildeo por faltar aquele espiacuterito catoacutelico que caracterizava os medievais Estes eram tatildeo catoacutelicos que punham sempre uma cape-la na praccedila central do castelo rezavam quando o inimigo chegava enquanto este os sitiava e davam graccedilas quan-do o expulsava Com isso o espiacuterito religioso ia crescen-do a virtude aumentando tambeacutem resultando daiacute uma expansatildeo religiosa

Procurar sempre o mais elevado

Resta entatildeo uma pergunta como do espiacuterito catoacutelico pode dimanar o regionalismo e o feudalismo

Por meio de sua doutrina evidentemente baseada na Revelaccedilatildeo a Igreja potildee diante de nossos olhos ideais imensos uma noccedilatildeo do Ceacuteu que nos daacute o desejo de uma perfeiccedilatildeo e de um tipo de vida verdadeiramente maravi-lhosos extraordinaacuterios E que faz a alma ter o anseio do admiraacutevel do magniacutefico e ateacute do sobrenatural

Ora o normal eacute que esse desejo da sublimidade e do maravilhoso repercuta na vida terrena levando as pes-soas a espelhaacute-lo no seu cotidiano natildeo se conformando com a banalidade e a vulgaridade

Disso natildeo decorre o desejo de cada um fazer um palaacute-cio mas sim de ornar com verdadeira arte beleza e bom gosto o pequeno mundo em que estaacute

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De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

San

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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0)

de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

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ccedilatildeo

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Rep

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

uillo

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CC

30

)

Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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32

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 25: Revista Doctor Plinio -201_201412

25

De onde decorre algo que o mundo preacute-medieval natildeo conheceu a necessidade de ir sempre mais alto na or-dem espiritual e consequentemente tambeacutem na tempo-ral Um desejo de altura mais ou menos incomensuraacute-vel que fazia darem-se por exemplo coisas como esta camponeses suiacuteccedilos para ocupar suas noites de inverno passavam longas horas conversando e ao mesmo tempo trabalhando a tiacutetulo de distraccedilatildeo Produziam assim es-culturas de madeira para ornar a proacutepria matriz Por is-so encontra-se em certas igrejas da Suiacuteccedila uma magniacute-fica exuberacircncia de ornamentaccedilatildeo oriunda do trabalho popular artesanal

Haacute nisso uma espeacutecie de desejo de subir de melho-rar sem sair necessariamente de sua classe mas ornan-do e aprimorando as suas proacuteprias condiccedilotildees de existecircn-cia que eacute muito expressiva de uma vida local original profundamente modelada de acordo com as circunstacircn-cias e que forma propriamente o que se chama ldquopovordquo numa sociedade orgacircnica que a meu ver eacute muito dife-rente do que se denomina ldquopovordquo por exemplo em qual-quer grande cidade moderna O povo assim movido por esse desejo da perfeiccedilatildeo do maravilhoso do sublime era a expressatildeo mais direta da vida espiritual fervorosa

Febricitaccedilatildeo das grandes cidades

Nota-se nisso uma forma de vitalidade religiosa um desejo ainda que subconsciente do Ceacuteu Empiacutereo o qual tem como consequecircncia que a alma natildeo se contenta em jogar dominoacute toda noite natildeo se satisfaz com a estagna-ccedilatildeo mas quer subir tende de um jeito ou de outro para a santidade e vive na grande admiraccedilatildeo dos Santos

Agrave medida que as geraccedilotildees foram passando o culto aos Santos continuou mas a admiraccedilatildeo por eles foi parado-xalmente diminuindo O Santo deixou de ser um perso-nagem da famiacutelia para se tornar uma pessoa na qual se pensa quando se vai agrave igreja e com a qual temos relaccedilotildees quando precisamos de favores Jaacute natildeo eacute mais o que era o Santo antigamente diante de cuja imagem a famiacutelia re-zava unida em casa e cujo nome era dado a vaacuterios filhos e sua vida era conhecida por todos os membros da famiacute-lia servindo de ponto de referecircncia O Santo era um per-sonagem da famiacutelia

Compreende-se assim o processo de estagnaccedilatildeo Acaba a Idade Meacutedia o impulso de ascensatildeo diminui e termina dando lugar a um esforccedilo penoso para evitar a decadecircncia Torna-se um sacrifiacutecio meditar em Deus nos seus Anjos nos seus Santos O Ceacuteu natildeo eacute mais um atrati-vo Com isso o progresso verdadeiro fica cortado no seu uacutenico nervo vital

Notamos essa estagnaccedilatildeo nas aldeiazinhas poreacutem natildeo nas grandes cidades porque estas foram invadidas pelo

progresso promotor de uma vitalidade falsa em que a es-tagnaccedilatildeo foi substituiacuteda pela febricitaccedilatildeo pelas neuro-ses pelas psicoses Por isso a estagnaccedilatildeo vista de dentro da cidade moderna fica ateacute simpaacutetica

Entretanto a cidadezinha do interior que vai se mo-dernizando acaba tornando-se uma gota sem graccedila da grande cidade ou uma pequena aldeia estagnada sem vida mantendo ainda algumas virtudes do passado mas tambeacutem estas sem vitalidade Em certo momento uma parte das geraccedilotildees novas rompe com aquilo E natildeo adianta o bom vigaacuterio pregar contra isso porque natildeo haacute o que segure esse resultado da estagnaccedilatildeo que devora o lugar abrindo as portas a um progresso sem tradiccedilatildeo sem passado

A piedade natildeo eacute um meio mas um fim

Temos entatildeo dois pontos extremos e opostos de um lado esse progresso que rompe com a tradiccedilatildeo de outro o aprofundamento tranquilo das proacuteprias originalidades e regionalidades movido pelo desejo do sublime

Creio que aqui tocamos o fundo da vida da socieda-de orgacircnica

A meu ver as pessoas que constituiacuteram uma socieda-de orgacircnica natildeo quiseram explicitamente fazer isso Eacute al-go muito mais profundo como em geral eacute o fervor re-ligioso que vem de um efervescer interior de amor de dedicaccedilatildeo que natildeo passa pelos alambiques de um ra-ciociacutenio mas explode diretamente como uma garrafa de champanhe

Como esse fervor morreu somos obrigados a acen-tuar muito o lado racional mas em condiccedilotildees normais em que toda a sociedade eacute movida pelo mesmo impul-so rumo agrave perfeiccedilatildeo essas coisas nascem subconscien-temente

O amor de Deus a uniatildeo com Ele com seus Anjos seus Santos na vida espiritual a piedade podem pela graccedila divina obtida por meio de Nossa Senhora se tor-nar tatildeo extraordinaacuterios que deem na era descrita por Satildeo Luiacutes Grignion de Montfort o Reino de Maria e cuja grande caracteriacutestica eacute um impulso para o sublime essen-cialmente sobrenatural

Um indiviacuteduo que quisesse ser piedoso para ter uma sociedade orgacircnica natildeo seria piedoso e natildeo faria a socie-dade orgacircnica A piedade natildeo eacute um meio mas um fim Se ela deixa de ser o fim da sociedade orgacircnica esta mor-re Eacute preciso nascer do desinteressado amor a Deus a seus Anjos e Santos agrave sua Igreja portanto agrave Feacute e agrave Mo-ral da Igreja A partir disso o resto floresce   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 2081991)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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ccedilatildeo

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ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 26: Revista Doctor Plinio -201_201412

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Domingos de Silos

9 Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoat-zin (dagger1548)

Satildeo Pedro Fourier presbiacutetero (dagger1640) Escolheu para exercer seu ministeacuterio a paupeacuterrima paroacutequia de Mattaincourt Franccedila e fundou o Instituto das Cocircnegas Regulares de Nossa Senhora

10 Beato Marco Antocircnio Du-rando presbiacutetero (dagger1880) Religio-so da Congregaccedilatildeo das Missotildees e fundador da Congregaccedilatildeo das Ir-matildes de Jesus Nazareno em Turim Itaacutelia

11 Satildeo Dacircmaso I Papa (dagger384)Satildeo Daniel Estilita presbiacutetero

(dagger493) Apoacutes viver em um mosteiro seguiu o exemplo de Satildeo Simeatildeo e permaneceu durante 33 anos no al-to de uma coluna ateacute sua morte em Constantinopla Turquia

12 Nossa Senhora de Guadalu-pe padroeira da Ameacuterica Latina

Beato Bartolo Buonpedoni pres-biacutetero (dagger1300) Atingido pelo mal de Hansen aos 60 anos retirou-se a

um leprosaacuterio em Cellole Itaacutelia onde deu assistecircncia aos doentes ali encerrados

13 Santa Luzia virgem e maacutertir (daggerc 304305)Beata Maria Madalena da Paixatildeo virgem (dagger1921) Fun-

dadora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Compassionistas Servas de Maria em Castellamare di Stabia Itaacutelia

14 III Domingo do AdventoSatildeo Joatildeo da Cruz presbiacutetero e Doutor da Igreja

(dagger1591)

15 Santa Virgiacutenia Centurione Bracelli viuacuteva (dagger1651) Dedicando-se ao serviccedilo de Deus socorreu os pobres aju-dou as igrejas rurais e fundou e dirigiu a Obra das Irmatildes de Nossa Senhora do Refuacutegio do Monte Calvaacuterio em Gecircno-va Itaacutelia

16 Santo Everardo confessor (dagger867) Duque de Friuli e importante figura do Sacro Impeacuterio fundou o mosteiro

1 Beata Maria Clara do Meni-no Jesus virgem (dagger1899) Desejosa de evangelizar fundou a Congrega-ccedilatildeo das Irmatildes Hospitaleiras da Ima-culada Conceiccedilatildeo em Lisboa Por-tugal

2 Satildeo Silveacuterio Papa e maacutertir (dagger537) Por natildeo querer restabele-cer o bispo hereacutetico Antimo na se-de de Constantinopla foi enviado pela Imperatriz Teodora para a ilha de Palmarola Itaacutelia onde veio a fa-lecer

3 Satildeo Francisco Xavier presbiacute-tero (dagger1552) Ver paacutegina 2

4 Satildeo Joatildeo Damasceno presbiacute-tero e Doutor da Igreja (daggerc 749)

Satildeo Bernardo de Parma bispo (dagger1133) Como monge procurou a perfeiccedilatildeo de vida como Cardeal o bem da Igreja e como Bispo a sal-vaccedilatildeo das almas de sua diocese de Parma Itaacutelia

5 Beato Nicolau Stensen bispo (dagger1683) Poliacutemata meacutedico e anato-mista dinamarquecircs de origem luterana converteu-se ao catolicismo Morreu em Schwein Alemanha sendo Vigaacute-rio Apostoacutelico para o norte da Europa

6 Satildeo Nicolau bispo (daggerseacutec IV)Satildeo Joseacute Nguyen Duy Khang maacutertir (dagger1861) Catequis-

ta capturado na perseguiccedilatildeo do imperador Tu Duc Foi fla-gelado encarcerado e degolado em Hai Duong Vietnatilde

7 II Domingo do AdventoSanto Ambroacutesio bispo e Doutor da Igreja (dagger397)Santa Maria Josefa Rosello virgem (dagger1880) Fundado-

ra do Instituto das Filhas de Nossa Senhora da Misericoacuter-dia em Savona Itaacutelia

8 Imaculada Conceiccedilatildeo da Bem-Aventurada Virgem Maria

Satildeo Teobaldo de Marliaco abade (dagger1247) Abade do Mosteiro Cisterciense de Vaux-de-Cernay Franccedila alcan-ccedilou a fama de santidade ainda em vida

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Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

30

hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 27: Revista Doctor Plinio -201_201412

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash dezembro ndashndashndashndash

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Satildeo Joatildeo Diego Cuauhtlatoatzin

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de Cocircnegos Regulares de Satildeo Calixto em Cysoing Franccedila onde foi sepultado apoacutes sua morte

17 Beata Matilde do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus virgem (dagger1902) Vendo a imagem de Cristo no proacuteximo fundou a Congregaccedilatildeo das Filhas de Maria Matildee da Igreja em Don Benito Espanha

18 Satildeo Graciano de Tours bispo (daggerseacutec III) Primei-ro Bispo de Tours Franccedila que segundo a tradiccedilatildeo foi enviado de Roma a esta cidade onde se encontra sepul-tado

19 Beatas Maria Eva da Providecircncia e Maria Mar-ta de Jesus virgens e maacutertires (dagger1942) Religiosas da Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Imaculada Conceiccedilatildeo que durante a guerra na Polocircnia foram fuziladas em Slo-nim

20 Satildeo Domingos de Silos abade (dagger1073) Apoacutes ter si-do eremita restaurou o mosteiro de Silos Espanha que se encontrava quase em ruiacutenas restabelecendo nele a observacircn-cia e praacutetica do louvor divino

21 IV Domingo do AdventoSatildeo Pedro Caniacutesio presbiacutete-

ro e Doutor da Igreja (dagger1597)

22 Santo Isquiriatildeo maacutertir (daggerc 250) Apesar dos oproacutebrios e injuacuterias recusou sacrificar aos iacutedolos e morreu no Egito atra-vessado por uma estaca pontia-guda

23 Satildeo Joatildeo Cacircncio presbiacute-tero (dagger1473)

Santo Ivo bispo (dagger1116) Restabeleceu a ordem entre os cocircnegos e muito agiu e escreveu a fim de promover a concoacuterdia entre o clero e os poderes civis para bem da Igreja em Char-tres Franccedila

24 Santa Irmina abadessa (daggerc 710) Apoacutes ficar viuacuteva con-sagrou-se a Deus e tornou-se

benfeitora de Satildeo Wilibrordo Fundou e dirigiu o mosteiro de Oumlhren Alemanha

25 Natal de Nosso Senhor Jesus CristoBeato Miguel Nakashima religioso e maacutertir (dagger1628)

Catequista jesuiacuteta que por sua feacute em Cristo foi mergulha-do em aacutegua fervente em Unzen Japatildeo

26 Santo Estecircvatildeo diaacutecono e protomaacutertirSatildeo Dioniacutesio Papa (dagger268) Depois da perseguiccedilatildeo do

imperador Valeriano consolou com suas cartas e sua pre-senccedila os irmatildeos aflitos resgatou os cativos dos supliacutecios e ensinou aos ignorantes os fundamentos da Feacute

27 Satildeo Joatildeo Apoacutestolo e EvangelistaBeato Francisco Spoto presbiacutetero (dagger1964) Sacerdote

da Congregaccedilatildeo dos Missionaacuterios Servos dos Pobres as-sassinado por guerrilheiros Simba quando era missionaacuterio em Biringi Congo

28 Domingo Festa da Sagrada Famiacutelia Jesus Maria e Joseacute

Santos Inocentes maacutertiresBeato Gregoacuterio Khomysyn

bispo e maacutertir (dagger1945) Bispo de Ivano-Frankivsk que no tempo de perseguiccedilatildeo foi martirizado em Kiev Ucracircnia

29 Satildeo Tomaacutes Becket bispo e maacutertir (dagger1170)

Satildeo Gerardo Cagnoli religio-so (dagger1342) Franciscano dotado de dons taumatuacutergicos que ma-nifestou curando os enfermos em Palermo Itaacutelia

30 Satildeo Lourenccedilo de Fra-zzanograve monge (daggerc 1162) Monge segundo a observacircncia dos Pa-dres orientais insigne pela aus-teridade de vida e incansaacutevel pregaccedilatildeo em Frazzanograve na ilha da Siciacutelia

31 Satildeo Silvestre Papa (dagger335)

Santa Melacircnia a jovem monja (dagger439) Ver paacutegina 28

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

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hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

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quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 28: Revista Doctor Plinio -201_201412

S

Santa Melacircnia Invenciacutevel e heroacuteica

28

hagiografia

Filha de uma famiacutelia romana nobiliacutessima e fabulosamente rica Santa Melacircnia vendeu judiciosamente todos os seus bens fez doaccedilotildees agraves igrejas aos pobres resgatou cativos e construiu mosteiros Tornou-se religiosa e praticou as virtudes de forma vigorosa autecircntica genuiacutena coerente levando ateacute as uacuteltimas

consequecircncias os princiacutepios que adotara

senado romano levantou objeccedilotildees ao que ele considerou es-banjamento Mas a Santa persistiu em seu intento tendo-o levado a cabo apoacutes anos e anos de luta

Agrave medida que ia vendendo seus bens erguia mosteiros protegia os pobres fazia doaccedilotildees agraves igrejas e resgatava prisio-neiros Ao mesmo tempo esses negoacutecios obrigavam a San-ta a viajar muito sendo interessante notar que ela procurava fixar residecircncia em lugares onde o bispo era homem de vida santa e conhecedor das Escrituras Assim teve contato com grandes santos de sua eacutepoca como Santo Agostinho

Depois de ter conseguido completar a ldquoobra de Martardquo como chamava a preocupaccedilatildeo com seus bens terrenos dedi-cou-se ldquoagrave de Mariardquo como sempre desejava Retirou-se pa-ra um mosteiro em Jerusaleacutem Vestiu-se com um saco de pe-nitecircncia entregando-se agrave oraccedilatildeo ao jejum e aos estudos das Escrituras Escreveu muito e tatildeo bem que realizou notaacutevel trabalho de copista dado seu grande conhecimento de latim e grego Incentivou a reza do Ofiacutecio Divino durante a noi-te e foi orientadora espiritual de muitos mosteiros femininos

Santa Melacircnia que morreu em 31 de dezembro de 439 teve sua vida minuciosamente relatada por seu filho adoti-vo e disciacutepulo espiritual Considerada uma das grandes fi-guras de sua eacutepoca mereceu grande elogio de Satildeo Jerocircnimo que a citava como exemplo para suas dirigidas1

anta Melacircnia nasceu em 383 filha de nobiliacutessi-ma famiacutelia senatorial romana Aos 14 anos quis se consagrar a Deus mas seus pais fizeram-na

casar com Valeacuterio Piniano somente trecircs anos mais ve-lho que ela

Possuidora de grande fortuna

Com esse casamento reuniam-se dois ramos de uma das maiores famiacutelias do Impeacuterio conservando-se tambeacutem o patrimocircnio mais rico existente na aristocracia romana

Depois de ter dois filhos que morreram em tenra ida-de os dois esposos decidiram adotar vida de castida-de Resolveu entatildeo Melacircnia desfazer-se de seus bens e se dedicar inteiramente agrave oraccedilatildeo e ao estudo dos li-vros santos

Mas foram necessaacuterios anos para que a Santa conseguis-se doar sua fortuna definida por um autor como ldquomun-dialrdquo De fato aleacutem de joias pratarias e preciosidades artiacutes-ticas Melacircnia possuiacutea latifuacutendios na Itaacutelia Siciacutelia Gaacutelia Espanha Aacutefrica Proconsular Numiacutedia Mauritacircnia Meso-potacircmia Siacuteria Palestina e Egito Essa fortuna era tatildeo gran-de que um palaacutecio em Roma ficou sem comprador por natildeo se achar quem tivesse dinheiro para adquiri-lo O proacuteprio

Rep

rodu

ccedilatildeo

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Hol

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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And

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CC

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)

lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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C 3

0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 29: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Rep

rodu

ccedilatildeo

quis doaacute-la para praticar a pobrezaEssa resenha biograacutefica sobre Santa Melacircnia soacute pode ser

devidamente compreendida tomando-se em consideraccedilatildeo o modo pelo qual as riquezas estavam distribuiacutedas tanto no Impeacuterio Romano do Ocidente como no do Oriente

De um modo geral em tudo quanto se publica a respei-to dos povos pagatildeos a historiografia oficial eacute cheia de elo-gios aos romanos aos gregos agrave civilizaccedilatildeo egiacutepcia agrave Iacutendia agrave China ao Japatildeo Entretanto natildeo encontramos referecircncias elogiosas por exemplo agrave classe meacutedia indiana Nem sobre o bem-estar dos trabalhadores manuais entre os romanos A maior parte dos habitantes da cidade de Roma e do Im-peacuterio Romano era constituiacuteda de escravos A lei o senso juriacutedico dos romanos era fabuloso Contudo a maior parte da populaccedilatildeo estava colocada agrave margem da lei

No mundo pagatildeo vemos se acumularem riquezas fabulo-sas sem qualquer proporccedilatildeo com a capacidade de fruir mdash ou mesmo de se ornamentar mdash do homem O luxo ordenado natildeo eacute censuraacutevel Portanto eacute compreensiacutevel que um poten-tado tenha grandes palaacutecios Mas que ele possua tantos pa-laacutecios que natildeo tenha tempo para conhececirc-los nem para deles usar tantas terras que natildeo disponha de tempo para geri-las evidentemente haacute uma desproporccedilatildeo entre ele e esses bens E existe portanto um fenocircmeno de maacute distribuiccedilatildeo

Entre os antigos romanos encontramos homens tidos como possuidores de uma riqueza meacutedia por exemplo Ciacutecero cujo inventaacuterio de bens era considerado como de uma fortuna mediana En-tretanto era um nababo Ele mesmo reconhece em cartas e outros documentos natildeo sa-ber no que consistia a maior parte de seu patrimocircnio

Santa Melacircnia era herdei-ra de uma dessas famiacutelias fa-bulosamente ricas que ti-nham patrimocircnio por todo o Impeacuterio Romano do Ociden-te E ela entatildeo realiza uma dessas verdadeiras belezas de sabedoria da Igreja que eacute a seguinte uma nobre que quer natildeo soacute reduzir a sua for-tuna a proporccedilotildees humanas mas doaacute-la inteiramente para praticar a pobreza

Sabedoria para gerir os bens terrenos

E ela natildeo estaacute nas con-diccedilotildees de Satildeo Francisco de ldquoEmbarque de Ulissesrdquo (por Claude Lorrain) - Museu do Louvre Paris Franccedila

Assis que simplesmente tirou a tuacutenica jogou-a para o pai dele Pietro di Bernardone e disse ldquoAgora eu posso dizer meu Pai que estais no Ceacuteurdquo entregou--se ao bispo que lhe impocircs um haacutebito e estava liqui-dada a questatildeo Deserdado pelo pai ele soacute tinha uma tuacutenica para dar de maneira que era um ato raacutepido de executar-se

Santa Melacircnia natildeo ela possuiacutea um patrimocircnio fabu-loso como vimos preciosidades artiacutesticas palaacutecios ri-quezas de toda ordem terras latifuacutendios etc E natildeo po-dia dilapidar essa fortuna de um modo estuacutepido Porque por mais que quisesse ser religiosa e portanto pobre ela era responsaacutevel perante Deus por essa fortuna E por-tanto deveria vendecirc-la e aplicaacute-la ordenadamente Soacute depois de tudo vendido e bem aplicado ela em consci-ecircncia podia entrar para o convento

Vemos entatildeo este fato que nas histoacuterias dos povos pagatildeos absolutamente natildeo se encontra uma grande da-ma de uma grande famiacutelia trabalhando para ser pobre Mas ao mesmo tempo esse iacutempeto radical de uma po-breza completa se conjuga com a sabedoria de uma boa gestatildeo dos bens desta Terra e a noccedilatildeo de que essa aplica-ccedilatildeo deve ser criteriosa

De outro lado vecirc-se a perseveranccedila do propoacutesito dela Um propoacutesito mais deacutebil ao longo desses anos e anos de despojamento em certo momento teria se rompido ldquoAh natildeo Essa peacuterola eu deixo para dar no fim aquela outra

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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CC

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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C 3

0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

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hagiografia

joia vai ser a uacuteltima coisa que venderei essa tal coisinha eu guardo para mimrdquo

Essa Santa natildeo agiu assim Invenciacutevel e heroica perse-verou durante todos os anos vendendo aplicando venden-do aplicando E enfrentando mdash a ficha deixa entrever isto mdash alguma dificuldade porque a venda dos seus bens pro-duziu um certo regurgitamento no mercado a tal ponto que um palaacutecio dela valia tanto que natildeo houve comprador Pois bem ela acaba liquidando tudo e vai para o mosteiro

Conversou com Santo Agostinho foi elogiada por Satildeo Jerocircnimo

Entatildeo se manifesta outro aspecto de sua alma Depois desse despojamento ela eacute constituiacuteda em dignidade e se torna uma excelente superiora do mosteiro passa a diri-gir almas E apoacutes ter dirigido a destruiccedilatildeo de seu patri-mocircnio ela constroacutei o patrimocircnio espiritual de outras al-mas Ela aconselha numerosos conventos orienta toda uma vasta famiacutelia de almas em vaacuterios lugares E depois de anos e anos da praacutetica efetiva de uma pobreza com-pleta ela entrega sua alma a Deus

Durante esse tempo dispersando tesouros que todos recolhem e recolhendo tesouros que muitos dispersam Ela natildeo tem sede de posiccedilatildeo social de dinheiro de con-

forto mas tem sede de almas Quer ser pobre sacrificar--se pelas almas dos outros para daacute-las a Nosso Senhor Je-sus Cristo por meio de Nossa Senhora

Ademais procurava o conviacutevio das pessoas virtuosas indo morar mdash antes de ser religiosa mdash em dioceses onde havia homens santos com quem ela pudesse se aconse-lhar Teve assim a graccedila e o privileacutegio extraordinaacuterios de conhecer Santo Agostinho e conversar com ele

Uma virtude assim severa vigorosa autecircntica genu-iacutena coerente igual a si mesma ateacute os uacuteltimos desdobra-mentos das uacuteltimas consequecircncias dos princiacutepios que aceitou mereceria bem o panegiacuterico que teve Ser louva-da por um Santo eacute uma grande coisa mas por Satildeo Jerocirc-nimo eacute uma coisa grandiacutessima Porque Satildeo Jerocircnimo ti-nha o gecircnio o fogo da descompostura Para arrasar al-gueacutem com palavras candentes e merecidas para dizer--lhe verdades ao peacute da letra natildeo havia como Satildeo Jerocirc-nimo Ateacute a Santo Agostinho ele escreveu uma carta di-zendo coisas duras a tal ponto que Santo Agostinho es-creveu-lhe depois uma carta gracejando brincando afir-mando que afinal natildeo precisava tanto furor que ele se convenceria com menos zanga etc Natildeo era uma intem-peranccedila de Satildeo Jerocircnimo era o feitio do seu espiacuterito a apreciabiliacutessima forma de santidade dele

Coube-lhe ter como comentador da vida dela Satildeo Jerocirc-nimo o homem implacaacutevel arguto que via os defeitos ateacute o fim e que a julgou como um ouro perfeito no qual natildeo havia nenhuma liga e nenhuma impureza E ela morreu tendo esta glorificaccedilatildeo suprema foi a dama elogiada por Satildeo Jerocircnimo O Santo da apoacutestrofe vigorosa e inflexiacutevel o Santo da severidade completa analisou-a e achou-a boa Ela estava inteiramente pronta para ser entregue a Deus

Grandeza e verdadeira imortalidade dos Santos

O que devemos dizer em nossa eacutepoca a respeito da biografia de uma Santa como esta Sem duacutevida edifica muito mas pede de outro lado um comentaacuterio

Natildeo podemos julgar que ser uma grande dama senho-ra de muitos bens eacute contraacuterio agrave santidade e que Santa Melacircnia deixou seu estado anterior por ser incompatiacutevel com a santidade Isto eacute falso

Uma grande dama dotada de grandes bens deve isto sim fazer grandes esmolas Ela pode manter largamente sua posiccedilatildeo social e a dignidade de sua categoria gozan-do de todos esses bens mas doando na medida do neces-saacuterio uma parte do supeacuterfluo Agindo assim ela pode ser uma grande dama e santificar-se Natildeo devemos portanto nos iludir com o alcance do gesto de Santa Melacircnia

Esse gesto foi belo porque constituiu a renuacutencia de uma situaccedilatildeo terrena boa agradaacutevel na qual ela pode-G

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Satildeo Jerocircnimo - Igreja da Natividade Beleacutem Palestina

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ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

gio

Hol

lman

n

Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

A

32

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

Mat

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Kru

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NA

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A J

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ter

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A L

oll (

Ariz

ona

Sta

te U

nive

rsity

) (C

C 3

0)

A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

34

Am

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jm (

CC

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)

ES

OG

Bec

cari

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)

Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

35

And

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F B

orch

ert (

CC

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)

lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

tt (C

C 3

0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 31: Revista Doctor Plinio -201_201412

31

ria se santificar Para se santificar ela deveria ter o desa-pego necessaacuterio das coisas da Terra mas isto ela poderia conseguir mesmo no gozo de uma grande fortuna

Por causa disso houve na Histoacuteria numerosas rainhas santas numerosos reis santos pessoas que do ponto de vista social eram muito mais do que Santa Melacircnia e dis-punham tambeacutem de grande quantidade de dinheiro

Ela entretanto foi chamada pela graccedila para outra forma de vida e soube obedecer a esse chamado seguiu--o e santificou-se E nisto ela andou perfeitamente bem porque se deve fazer a vontade de Deus E para com ela a vontade de Deus foi muito generosa porque a chamou para o estado religioso que eacute mais perfeito Ela entatildeo se santificou nesse estado com edificaccedilatildeo para todos noacutes e ateacute para a posteridade Esta eacute a gloacuteria de um Santo

Certa vez tendo Vitor Hugo sido eleito para a Acade-mia Francesa de Letras algueacutem comentava que ele se ti-nha tornado imortal mas natildeo era necessaacuteria a glorifica-ccedilatildeo da Academia de Letras porque o nome dele jaacute era imortal para todos os seacuteculos Vitor Hugo que conhecia Dom Bosco disse ldquoImortal eacute Dom Bosco porque ele vai ser canonizado E muito tempo depois de que ningueacutem mais leia meus romances e soacute alguns eruditos conheccedilam

meu nome ainda a Igreja vai ter no mundo inteiro fes-tas lituacutergicas em louvor de Dom Bosco Natildeo haacute senatildeo uma verdadeira forma de imortalidade eacute a dos Santos da Igreja Catoacutelicardquo Perfeitamente bem apanhado

Haacute uns dez anos li a notiacutecia de que os livros de Vitor Hugo que restaram nos estoques das livrarias por falta de leitores eram vendidos em carrocinhas a peso nas ru-as de Paris

Santa Melacircnia viveu haacute quantos seacuteculos O que eram as nossas respectivas paacutetrias no tempo em que Santa Me-lacircnia floresceu Nunca se tinha ouvido falar dessas terras da Ameacuterica Ela morreu seu corpo se desfez natildeo resta nem o poacute mas num lugar onde naquele tempo talvez houvesse uma taba de iacutendios haacute gente de vaacuterias naccedilotildees glorificando o nome dela Isto aconteceraacute assim indefini-damente Tal eacute a grandeza e a imortalidade dos Santos da Igreja Catoacutelica   v

(Extraiacutedo de conferecircncia

de 1521972)

1) Natildeo dispomos dos dados bibliograacuteficos desta citaccedilatildeo

Ser

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Imagens de Santos em um detalhe do Retaacutebulo da Crucifixatildeo - Museu de Dijon Franccedila

Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

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Stella Clarissima

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A o contemplarmos um ceacuteu estrelado temos ao mesmo tempo uma impressatildeo de beleza e de uma pontinha de desordem As estrelas estatildeo

aparentemente meio jogadas de caacute e de acolaacute Dir-se--ia que elas foram atiradas no azul profundo da noite por uma matildeo distraiacutedahellip

Todos os seres tecircm seu papel

Entatildeo impressionam pelas distacircncias pela beleza de cada uma delas pela grandeza do conjunto mas natildeo no-tamos certa ordenaccedilatildeo a qual gostariacuteamos que existisse

Parece-me haver nisso um sentido mais bonito e pro-fundo do que nos seria proporcionado por uma ordena-ccedilatildeo evidente Talvez Deus queira nos dar a entender que Ele natildeo faria essas maravilhas em meio a uma espeacutecie de desordem e que quando conhecermos bem como se compotildeem as constelaccedilotildees perceberemos realidades que

ainda natildeo vemos as quais indicaratildeo uma ordem magniacutefi-ca dentro disso

Nos corpos celestes acontece de tudo vulcotildees que en-tram em erupccedilatildeo dentro de alguns deles estrelas caden-tes outras explodem de repente

Havendo entatildeo uma cataacutestrofe qualquer numa estre-la noacutes pensamos ldquoDeus nem toma conhecimento por-que natildeo tem tempo de prestar atenccedilatildeo nisso Essas estre-las satildeo como um farelo luminoso que numa hora de ge-nerosidade Ele jogou por aiacute e depois nem olhou mais deixou isso completamente de lado natildeo Se preocupardquo

Essa impressatildeo natildeo eacute verdadeira e corresponde a uma ideia absolutamente deformada da grandeza do Criador Tais satildeo a ciecircncia e o poder divinos que para Ele tanto faz tomar conhecimento do que acontece em todas as es-trelas ao mesmo tempo como o ocorrido em uma estre-la soacute Deus sabe de cada estrela como se somente esta es-tivesse diante drsquoEle

A aparente desordem dos corpos celestes constitui na realidade uma ordem dirigida pela sabedoria divina

Entretanto Deus presta mais atenccedilatildeo a uma Ave-Maria que rezamos do que ao movimento de todos os astros

33

Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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)

lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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C 3

0)

ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

Page 33: Revista Doctor Plinio -201_201412

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Ademais natildeo haacute estrelas inuacuteteis nem repetidas Deus natildeo gagueja ou seja natildeo faz criaturas supeacuterfluas como um gago pronunciaria determinadas siacutelabas Na Criaccedilatildeo todos os seres tecircm seu papel para a realizaccedilatildeo dos pla-nos divinos e estaria fora da sabedoria e abaixo do poder drsquoEle criar entes inuacuteteis

Portanto todos os acontecimentos mdash mesmo as ex-plosotildees estrelas cadentes etc mdash tecircm sua razatildeo de ser e obedecem a um plano por Ele traccedilado E aquilo que para noacutes eacute um desastre como o desaparecimento de uma es-trela Deus assim o quis e calculou para fazer parte da or-dem universal instituiacuteda por Ele

Tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus

Eacute como um muacutesico que ao executar uma peccedila num piano ou num oacutergatildeo interrompe uma nota que vinha

sendo tocada Isso natildeo eacute um desastre mas estaacute calculado para dar continuidade agrave harmonia

Tambeacutem na ordem do universo tudo estaacute calculado para a gloacuteria de Deus E faz parte dessa gloacuteria que con-templemos as estrelas para melhor entendermos a Ele E se o Altiacutessimo estaacute de tal maneira atento ao que se pas-sa com as estrelas quanto mais prestaraacute atenccedilatildeo em noacutes que somos uma razatildeo para Ele as ter criado

De maneira que tudo quanto acabo de dizer a respei-to das estrelas eacute particularmente verdadeiro em relaccedilatildeo aos homens

Deus tem a alma de cada um de noacutes mais em vista e por assim dizer presta mais atenccedilatildeo numa oraccedilatildeo mdash uma Ave-Maria ou a fortiori uma Comunhatildeo mdash que fa-ccedilamos do que na rotaccedilatildeo geral de todo o universo

Por exemplo a Santiacutessima Trindade estaacute contemplan-do esta reuniatildeo e a disposiccedilatildeo das almas de todos noacutes

aPoacuteStoLo Do PuLchrum

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)

Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

Os Magos seguem a estrela - Catedral de Santo Andreacute Sydney Austraacutelia

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

Adi

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

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Compreendemos bem dessa maneira quanto Deus eacute atento agraves oraccedilotildees quanto Ele se inclina para ouvir aqui-lo que temos a Lhe dizer e como podemos portanto ter a confianccedila de que natildeo nos perdemos no vaacutecuo nem no caos

O heroacutei da Feacute que morre no campo de batalha

A humanidade natildeo eacute um vaacutecuo Seraacute talvez um ca-os por culpa dos homens Mas quanto Deus ama aque-les que satildeo as ldquoestrelasrdquo fieacuteis que continuam a brilhar E quanto a bondade drsquoEle estaacute pronta a amparar as ldquoes-trelasrdquo natildeo fieacuteis que comeccedilam a cair e soliacutecito a tirar do fundo dos abismos as que caiacuteram para repocirc-las em seu devido lugar e continuarem assim a executar as ordens drsquoEle

Consideremos por exemplo que quando Deus criou as estrelas pensou em cada um dos homens que have-ria de criar E ao fazecirc-las cintilar nos espaccedilos vazios uma das intenccedilotildees drsquoEle era que elas iluminassem a morte dos que morressem com heroiacutesmo por amor a Ele e na ho-

ra de criar as estrelas Deus mdash que conhece o presente o passado e o futuro perfeitamente ateacute nos seus uacuteltimos pormenores mdash viu essas estrelas brilharem e pensou nos heroacuteis da Feacute que haveriam de um dia morrer debaixo da cintilaccedilatildeo delas aceitando voluntariamente aqueles pa-decimentos e dizendo

ldquoVim aqui e estou morrendo assim porque eu quis Deus quando olhou para sua Criaccedilatildeo viu-me no cam-po de batalha E como todos os que morrem combaten-do por amor agrave Feacute cintilei aos olhos drsquoEle como essas es-trelas do ceacuteurdquo

A mais brilhante de todas as criaturas

Haacute um hino a Nossa Senhora que A invoca como Stella Clarissima Estrela Luminosiacutessima Esse tiacutetulo vem muito a propoacutesito porque no firmamento haacute muitos as-tros mas Ela eacute o mais luminoso dentre todos eles ou se-ja a mais brilhante das criaturas

Por que se fala de estrela Porque a estrela brilha na escuridatildeo noturna e eacute uma consolaccedilatildeo para quem de noite estaacute olhando para o ceacuteu Esta vida eacute para o catoacute-

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

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lico uma noite um vale de laacutegrimas uma eacutepoca de pro-vaccedilatildeo de perigo de apreensatildeo Na eternidade vamos ter o dia esta vida terrena eacute noite para noacutes mas temos uma Estrela que nos guia e constitui nossa consolaccedilatildeo em meio agraves trevas

Sem duacutevida existem algumas relaccedilotildees entre a estrela que guia um navegante no mar ou um viandante pelo de-serto e o destino para onde se dirigem Uma delas estaacute em que a rota da estrela eacute indicativa da chegada Outra relaccedilatildeo muito bonita eacute o modo pelo qual a estrela jaacute faz prever como seraacute o destino

Estaacute no senso popular da Feacute que a estrela de Beleacutem seja representada de tal modo que ela decirc uma ideia da coruscaccedilatildeo incomparaacutevel que os Reis Magos vatildeo con-templar ao encontrarem a Sagrada Famiacutelia De ma-neira que a estrela indicava o caminho mas tambeacutem simbolizava de algum modo Aquele que seria encon-trado

Por essa razatildeo analogamente Nossa Senhora eacute acla-mada pela Igreja como a Estrela da Manhatilde A estrela drsquoalva se manifesta quando em plena noite de repente o ceacuteu comeccedila a ficar um pouco paacutelido Entatildeo ela brilha

Maria Santiacutessima eacute pois em meio agraves trevas deste mundo o sinal de que o Sol de Justiccedila estaacute por nascer1  v

1) Cf conferecircncias de 2481965 1611978 2841981 2511982 21121988 1121991 e 1541994

Maria Estrela do Mar Igreja de Satildeo Patriacutecio County Cork Irlanda

NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)

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NA Paz de Cristo no Reino de Maria

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ldquoAdoraccedilatildeo dos Magosrdquo Catedral de Satildeo Miguel Toronto Canadaacute

a Sagrada Famiacutelia o menor de todos era o chefe Satildeo Joseacute Em seguida vinha a

Matildee enormemente superior ao esposo e depois o Filho infinitamente maior do que os dois

Em torno dessa Famiacutelia se reuacutenem desde os primeiros dias os grandes e os pequenos da Ter-ra expressatildeo significativa de que Cristo Nosso Se-nhor veio trazer a paz como caracteriacutestica das re-laccedilotildees entre as classes sociais

Satildeo Joseacute nobre como um priacutencipe e humil-de como um carpinteiro os Magos dignos como

reis e suacuteplices como mendigos o jovem pastor um casto adolescente que parece trazer no cordeiro o siacutembolo de sua pureza e ver no Menino-Deus a fonte de toda castidade

Queira a Sagrada Famiacutelia obter para noacutes pa-ra nossas famiacutelias para nossa querida naccedilatildeo que se afastem tantos fatores de preocupaccedilatildeo e de tensatildeo por efeito da uacutenica soluccedilatildeo que uns e ou-tros podem ter validamente a Paz de Cristo no Reino de Maria

(Extraiacutedo de conferecircncias de 3081977 e 16121991)