Revista Doctor Plinio 209_201508

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Publicação Mensal Ano XVIII - Nº 209 Agosto de 2015 Construindo a perfeita civilização

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  • Publicao Mensal Ano XVIII - N 209 Agosto de 2015

    Construindo a perfeita civilizao

  • SAlma de fogo, de sofrimento e de luta

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    So Bernardo de Claraval Museu de Arte, Gerona, Espanha

    o Bernardo era um monge da Ordem religiosa cisterciense, uma rama dos

    beneditinos, reformada por ele e destinada a praticar uma austeridade maior do que a imposta pelas regras monsticas mais duras de seu tempo. Ele tinha a convico de que, por meio do sofrimento, o homem expia os prprios pecados e os dos outros.

    Foi uma alma de fogo, que queria de todos os modos evitar o paganismo o qual ia ressuscitando ignobilmente de dentro de sua prpria sepultura, para dar no neopaganismo moderno: era a Revoluo nascente.

    So Bernardo resolveu ser um homem de sofrimento e de luta, e recolheu-se no claustro, para onde chamou muitas almas generosas.

    A Europa encheu-se de conventos cistercienses, cujos monges comearam a praticar uma regra que at hoje o espanto e a admirao dos homens.

    (Extrado de conferncia de 24/9/1989)

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  • As matrias extradas de exposies verbais de Dr. Plinio

    designadas por conferncias so adaptadas para a linguagem

    escrita, sem reviso do autor

    Publicao Mensal Ano XVIII - N 209 Agosto de 2015

    Construindo a perfeita civilizao

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    Dr. PlinioDr. PlinioRevista mensal de cultura catlica, de

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    SumrioSumrioAno XVIII - N 209 Agosto de 2015

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    Editorial

    4 Os homens, as naes e a Lei de Deus

    dona lucilia

    6 Fundamento da verdadeira amizade

    Sagrado corao dE JESuS

    8 Inter-relacionamento entre o espiritual e o temporal

    rEflExES tEolgicaS

    12 A Lei de Deus e a boa ordenao da sociedade - I

    a SociEdadE analiSada por dr. plinio

    18 O tecido social perfeito

    calEndrio doS SantoS

    24 Santos de Agosto

    Hagiografia

    26 Santo Estvo, Rei Apostlico

    luzES da civilizao criSt

    30 Ornato e simplicidade

    ltima pgina

    36 Espelho fidelssimo de Jesus

    Na capa, iluminura do sculo XV representando a construo de quatro cidades na Idade Mdia Biblioteca Britnica, Londres, Inglaterra Foto: Reproduo

  • Editorial

    A

    Os homens, as naes e a Lei de Deus

    humanidade anda sfrega procura da paz. Em nmero cada vez maior pululam em torno

    de ns movimentos, associaes, campanhas que tentam levar as pessoas a se conscientizar

    da necessidade de um mundo melhor. Os meios propostos para se alcanar esse fim so muito variados, mas traduzem, na sua

    maioria, o mesmo estado de esprito no qual o homem ocupa o centro e Deus nem sequer men-

    cionado.

    Ora, o que so as obras humanas dissociadas de Deus? Nada mais do que vaidade. Tudo se torna

    carente de significado quando no feito em funo do ideal primeiro traado para o homem: amar,

    glorificar e servir a seu Criador.

    Eis a meta que deve nortear a humanidade, como nos ensina o Catecismo da Igreja Catlica:

    Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em Si mesmo, num desgnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada. Por isso, sem-pre e em toda parte, Ele est prximo do homem. Chama-o e ajuda-o a procur-Lo, a conhec-Lo e a am-Lo com todas as suas foras (n. 1).

    A propsito desta fundamental doutrina, comentava certa vez Dr. Plinio1:

    A ordem, a paz, a harmonia, so caractersticas essenciais de toda alma bem formada, de toda sociedade humana bem constituda. Em certo sentido, so valores que se confundem com a pr-pria noo de perfeio.

    Todo ser possui um fim prprio e uma natureza adequada obteno deste fim. Por exemplo, uma pea de relgio tem uma finalidade especfica, e, por sua forma e composio, adequada realizao dessa finalidade.

    A ordem a disposio das coisas segundo sua natureza. Portanto, um relgio est em ordem quando todas as suas peas esto dispostas segundo a natureza e a finalidade que lhes so pr-prias. Assim tambm se diz que h ordem no universo sideral porque todos os corpos celestes es-to ordenados segundo sua natureza e fim.

    A ordem, por sua vez, engendra a tranquilidade, e a tranquilidade da ordem a paz.Quando um ser est inteiramente disposto segundo sua natureza, encontra-se em estado de

    perfeio.Logo, o acerto, a fecundidade e o esplendor das aes humanas quer individuais, quer so-

    ciais tambm esto na dependncia do conhecimento de nossa natureza e fim.Ora, as regras desta perfeio se encontram na Lei de Deus, que Nosso Senhor Jesus Cristo no

    veio abolir, mas completar2, nos preceitos e conselhos evanglicos.

    4

  • A Lei divina, que depois do pecado original tornou-se um jugo muitas vezes difcil de ser carrega-

    do pelos homens, , na verdade, inerente a seu ser e a mais alta expresso da lei natural3, formando,

    por conseguinte, a nica e verdadeira bssola para o reto desenvolvimento da humanidade e do pro-

    gresso da sociedade4.

    O Declogo continua Dr. Plinio no poderia ser contrrio natureza que o prprio Deus criou em ns, pois sendo Ele perfeito, no pode haver contradio em suas obras.

    Por isso, os Dez Mandamentos nos impem aes que a nossa prpria razo nos mostra serem conformes com a natureza.

    Atravs da prtica dos Dez Mandamentos os homens no s reverenciam, amam e glorificam a

    Deus, mas tambm alcanam para a nao a verdadeira paz e ordenao5, como faz notar Santo

    Agostinho:

    Imaginemos um exrcito constitudo de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo; governadores, esposos, pais, filhos, mestres, servos, reis, juzes, contribuintes, cobradores de im-postos como os quer a doutrina crist! E ousem [os pagos] ainda dizer que essa doutrina opos-ta aos interesses do Estado! Pelo contrrio, cumpre-lhes reconhecer sem hesitao que ela uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada.6

    Em outros termos comenta Dr. Plinio , a posse da verdade religiosa a condio essencial da ordem, da harmonia, da paz e da perfeio.

    Foi esta luminosa realidade, feita de uma ordem e uma perfeio antes sobrenatural e celeste, do que natural e terrestre, que se chamou a Civilizao Crist, produto da cultura crist, a qual por sua vez filha da Igreja Catlica.

    Neste sentido, a cultura catlica o cultivo da inteligncia, da vontade e da sensibilidade segundo as normas da Moral ensinada pela Igreja. J vimos que ela se identifica com a pr-pria perfeio da alma. Se ela existir na generalidade dos membros de uma sociedade huma-na embora em graus e modos acomodados condio social e idade de cada qual , ela ser um fato social e coletivo, e constituir o mais importante elemento da prpria perfeio social.

    De onde decorre com evidncia cristalina que no h verdadeira civilizao seno como de-corrncia e fruto da verdadeira Religio.

    1) Excertos adaptados do artigo A Cruzada do sculo XX publicado em Catolicismo n. 1, janeiro de 1951.2) Cf. Mt 5, 17.3) Cf. Catecismo da Igreja Catlica, n. 2070.4) Ver nesta edio A Lei de Deus e a boa ordenao da sociedade - I, p. 12-17.5) Ver nesta edio O tecido social perfeito, p. 18-23.6) Epist. CXXXVIII al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n. 15, in PL 33, 532.

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    Declarao: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontfice Urbano VIII, de 13 de maro de 1625 e de 5 de junho de 1631, declaramos no querer antecipar o juzo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciao dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa inteno, os ttulos elogiosos no tm outro sentido seno o ordinrio, e em tudo nos submetemos, com filial amor, s decises da Santa Igreja.

  • Fundamento da verdadeira amizade

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    Dona LuciLia

    avia uma coisa curiosa na respeitabilidade de Dona Lucilia: era to evidente que, a bem di-zer, saltava aos

    olhos. Porm, de outro la-do, a maior parte das pes-soas via essa qualidade de modo muito diminudo, muito embaado.

    Elevar-se para ver com mais profundidade

    Seria mais ou menos co-mo uma pessoa que sofres-se de uma doena na vista e, olhando para os objetos, visse tudo embaado. Per-ceberia, por exemplo, haver quadros numa sala, mas j no saberia distinguir as fi-guras neles representadas.

    Assim se dava em rela-o a mame: as pessoas, em geral, viam a figura glo-bal dela, nada mais do que isso.

    No a vendo seno as-sim e, nas conversas, tra-

    Dona Lucilia formou seu filho na mentalidade contrarrevolucionria que proporciona a respeitabilidade e o verdadeiro equilbrio no relacionamento com os outros. Bem

    o contrrio da mentalidade igualitria, segundo a qual a amizade consiste em vulgarizar-se.

    tando de temas alheios aos que ela levantaria, tais pes-soas, por assim dizer, empurravam involuntariamente

    muito para dentro o que ela tinha de melhor, habi-tuando-a a no manifestar aquilo diante delas, por-que se Dona Lucilia fosse se afirmar como era, rom-peria as condies de con-vvio com elas.

    Assim como um rei, en-quanto transcende seu rei-no, se assemelha a Deus, tambm uma pessoa, no crculo de suas relaes privadas, pode, neste senti-do da palavra, transcender os demais.

    Ora, o princpio que eu sustento o de que quem transcende verdadeiramen-te, quanto mais se eleva, tanto mais tem profundida-de para querer bem aos ou-tros, para descer at eles, ser um s com eles, afag--los e proteg-los.

    Um exemplo lindo dis-to a gaivota que quanto

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    mais sobe, melhor prepara o mergulho para pegar o peixe. Do alto ela v, no fundo do mar, o peixe que ela quer pescar, numa afirmao de que subindo que se v com profundidade.

    Um simulacro de afeto

    Este o ponto que os conceitos iguali-trios da Revoluo Francesa fizeram es-quecer por comple-to. Trata-se de uma verdade no s ne-gada, mas ignora-da, eliminada do ma-pa humano e tira-da, subtrada do equi-lbrio afetivo do ho-mem. Ora, no reto re-lacionamento entre estes dois aspectos elevao e profundidade que se encontra o equilbrio afetivo.

    A Renascena negou isso a ponto de as pessoas se esquecerem de que se possa ser assim.

    H uma necessidade, at para ter bons nervos, de sentir as coisas dessa maneira. Quando o sujeito no tem isto em vista, ele no encontra o funda-mento, o ponto de apoio verdadeiro no afeto dos outros; um afeto puramente consuetudinrio, o hbito quase animal de conviver com certas pessoas que lhe d um si-mulacro de afeto.

    Resultado: torna-se muito inseguro, sentindo a neces-sidade de viver se afirmando diante dos outros sob pe-na de ser posto de lado, e v-se na contingncia de no poder confiar em ningum. Como consequncia desata--se uma srie de desastres morais que eu nem sei medir!

    Seria preciso considerar isso em Nosso Senhor pa-ra que, ento, as pessoas pudessem encontrar paz pa-ra suas almas.

    Entretanto, criou-se uma to abominvel ignorncia a este respeito, que as pessoas ficam no como um cego, mas como algum de quem se tenha arrancado os olhos de dentro das rbitas.

    O prprio tema do igualitarismo que est no cen-tro do problema da Revoluo e da Contra-Revoluo est relacionado com isso.

    A bondade no consiste em vulgarizar-se

    Embora j explicada do ponto de vista metafsico, a

    questo do igualitarismo no foi ainda devidamen-

    te elucidada em seu as-pecto psicolgico. A meu ver, o modo pe-lo qual a psicologia do anti-igualitarismo se descreve o se-guinte:

    A mentalidade do anti-igualitrio construda na nega-o da gnose, a qual odeia o Deus trans-cendente e quer afir-mar um pan-deus

    imanente em tudo. E esse modo de ser que

    descrevi h pouco afir-ma o Deus transcendente,

    em todo seu fausto e em to-da sua bondade, e nega a ima-

    nncia igualitria de uma divin-dade em todas as coisas.

    Assim, psicologicamente falando, enquanto o indivduo no tiver chegado a

    este ponto de que estou tratando, no saber im-postar-se contrarrevolucionariamente. Porque, se ele tem a ideia de que a bondade, a amizade consiste em vul-garizar-se, est tudo arrasado.

    Quem tem a ideia de que ser transcendente em rela-o a algum no sentido de participar da transcendn-cia de Deus, nico ser verdadeiramente transcenden-te significa desprezar a outrem, desejar no ter par-te com ele, querer afirmar a distncia, esse um revolu-cionrio.

    Pelo contrrio, se ser transcendente ir ao fundo do outro, dar o maior fundamento verdadeira amizade, autntica unio, ao verdadeiro carinho, ento compre-ende-se que a Revoluo maldita e o contrarrevolucio-nrio encontra o equilbrio para sua alma.

    Portanto, muito explicvel, muito belo e muito bom que minha me me tenha formado nessa mentalidade. Qualquer alma catlica s pode achar isso bonito, ade-quado, congruente. v

    (Extrado de conferncia de 20/4/1985)

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  • Inter-relacionamento entre o espiritual e o temporal

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    SagraDo corao De JeSuS

    Entre o Sagrado Corao de Jesus e o ambiente temporal h um relacionamento que est na prpria natureza das coisas. Certas

    formas de msica, como o jazz-band, repelem e so repelidas por Ele. Devemos sempre procurar a harmonia entre as coisas

    temporais e Nosso Senhor Jesus Cristo.

    Tudo se passava numa torcida tremenda pelo xito do Tom Mix ou outro heri do cinema daquele tempo.

    Imaginem que, em certo momento, por algum desar-ranjo na fita, aparecesse, em vez do Tom Mix, uma pe-lcula representando o Sagrado Corao de Jesus. Que efeito produziria no cinema? Uma ducha!

    Isto significa que h entre o Sagrado Corao de Je-sus e o ambiente temporal o cinema um ambiente eminentemente temporal, embora no seja o nico um relacionamento natural, no sentido de que est na prpria natureza das coisas. E, no caso que estou supon-do, posto um em presena do outro, relacionam-se para se excluir. uma forma de relao. A bomba que estou-

    ra numa parede tem relao com a parede; o choque uma forma de relao.

    Tambm o culto pode ser relacionado com coisas temporais. Por exemplo, o jazz-band uma forma de msica e um tipo de orques-tra eminentemente temporal, mas repulsivo ao sacral.

    Se esse tipo de msica tocado duran-te uma cerimnia em que se realiza um ato eminentemente sobrenatural o Sacrifcio da Missa ou a bno do Santssimo Sacra-mento , naturalmente h um entrechoque.

    Portanto, h uma forma de relao do Sa-grado Corao de Jesus por onde Ele repele certas coisas temporais; e h uma forma das coisas temporais por onde elas repelem e so repelidas pelo Sagrado Corao de Jesus.

    Isto d fundamento tese de que deve ha-ver harmonia entre uma coisa e outra. A socie-

    Conjunto de Jazz

    o cinema do meu tempo de menino no ha-via filmes sonoros. Alguns homens, em geral com 60 anos de idade mais ou menos, ganha-

    vam um biscate no fim da tarde, tocando um violino ou martelando o piano no Cine Repblica1, por exemplo, e procuravam ajustar a msica s cenas que se passavam.

    Deve haver harmonia entre a sociedade espiritual e a temporal

    Eu procurava tambm fazer a relao da msica com a cena, e prestava ateno neles pelo gosto de observar a vida, de analisar as pessoas, as fisionomias.

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    dade temporal deve ser harmnica com o Sa-grado Corao de Jesus, assim como a socie-dade espiritual deve ser harmnica com a so-ciedade temporal, construda em funo dela.

    Conhecer as coisas pelo contraste

    Um timo meio de conhecermos as coi-sas pelo contraste, comparando-as com al-go que contrasta fortemente com elas. at um meio antiliberal, que eu gosto muito de usar: pr o contraste com o extremo oposto. Aquilo assusta o liberal e abre os olhos dele sobre a realidade.

    Ento, seria um timo meio de conhecer o Sagrado Corao de Jesus, e de me conhe-cer a mim mesmo, se eu me perguntasse: Se Ele me visse, o que Ele notaria de afim com Ele, no nas horas em que estou rezando, mas nos mo-mentos em que, digamos, tomo uma refeio?

    Por exemplo, o beef tea. So dons que Deus me conce-de: o apetite, a carne, a pessoa que faz essa boa sopa para mim, e quem venha servir-me esse prato com tanta aten-o. Qual a minha atitude diante desses dons?

    Nosso Senhor est me vendo saborear essa refeio. Se Ele me vir sorver isso de modo agitado, inquieto, que-rendo ainda mais de uma maneira intemperante, qual o contraste que Nosso Senhor sentir entre Ele e eu?

    Uma iguaria feita por Nossa Senhora

    Podemos imaginar que Nossa Senhora cozinhava. O que seria um quitute feito por Ela, ajudada pelos Anjos?!

    Suponhamos duas formas de quitutes: ou com uma re-ceita paradisaca, de que os homens perderam a mem-ria; ou os Anjos que trazem para a Santssima Virgem, dos confins do mundo, em poucos instantes, leite, fari-nha, mel e o que mais haja para tornar delicioso um do-ce, e outros Anjos ainda que remexem para Ela a colher de pau a fim de elabor-lo.

    E o perfume do amor materno que teria aquilo, a ter-nura com que Ela oferecia!

    So cogitaes que nos familiarizam com essa inter--relao entre as coisas temporais e as espirituais.

    De que modo Jesus comeria essas iguarias feitas por sua Me Santssima? Depende da idade dEle, das condi-es no momento: se havia uma perseguio anunciada, se So Jos estava muito doente e corria risco de mor-rer, se estavam somente os dois, ou se, pelo contrrio, o santo varo havia melhorado bastante e naquela manh tinha serrado tbuas valentemente; ento ambos faziam um encanto de que So Jos se alimentasse bem.

    Poderamos passar um longo tempo fazendo conjectu-ras que entreteriam nossa piedade.

    E ns, como comeramos esse doce feito por Nossa Senhora para Nosso Senhor, se Ele, com suas mos di-vinas, destacasse um pedao e dissesse: Isto para es-te meu filho...?

    Ser que Jesus no fez isto para algum menino que ia brincar com Ele na casa da Sagrada Famlia?

    Dois tipos de meditao

    Vejam que a propenso da piedade tradicional pro-penso muito boa, muito respeitvel, muito explicvel era de evitar uma meditao destas, para no atiar a gu-la. Preferia-se imaginar uma coisa, to ou mais possvel do que esta: Nosso Senhor comendo algo singelssimo, como antecipao do sacrifcio da Cruz. E Maria Sants-sima, vendo isto, dizer: Meu Filho, fiz tal coisa. E Ele seriamente, profundamente reflexivo, triste e deitando nEla um amor afetuoso, dissesse algo de maneira que Ela sentisse a insinuao Jesus no falaria diretamen-te, porque era ainda Menino: No sabeis que vim pa-ra sofrer? E dos olhos de Nossa Senhora talvez correr a primeira lgrima da Paixo, avidamente recolhida no sei em que leno de seda por um Anjo.

    Qual dos dois tipos de meditao deve-se achar me-lhor?

    Suponhamos outra cena. So Jos apronta umas tbu-as para o Menino Jesus brincar, e sugere a Ele: Fazei o que quiserdes. Jesus diz: Sim, mas quero fazer sozi-nho. Seus pais deixam-No. Quando voltam para v-Lo, est pronta uma cruz, e furados os lugares dos cravos que transfixariam seus ps e suas mos.

    Dr. Plinio tomando beef tea

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    SagraDo corao De JeSuSUm arrepio! No d vontade de se

    ajoelhar? Tambm no uma boa meditao?

    Eu sustento que uma no deve excluir a outra. Pe-lo contrrio, as duas se completam. Conforme a misso e as vias de ca-da alma, Nossa Senho-ra vai dando a graa de pensar ora numa coi-sa, ora noutra, e fazer assim meditaes mui-to originais, muito bo-as, muito prprias a nos conduzir diante da graa de Deus.

    Uma das mais largas portas que conduzem ao Inferno

    Eu gostaria de fazer notar que tan-to quanto eu possa conjecturar como Nosso Senhor Je-sus Cristo, o Sagrado Corao de Jesus o que mais chocaria a Ele ver em ns a falta de seriedade.

    uma espcie de necessidade de alma que ns te-mos uma necessidade que uma tortura, o caminho de toda espcie de sofrimentos de viver no otimismo, embora saibamos no serem verdadeiros os prognsticos que estamos fazendo; de viver na alegria, mesmo perce-bendo que esta alegria se funda em motivos ilusrios; de viver dando risada, como se esta fosse a nica posio possvel entre os homens.

    Eu creio que, das vrias portas que conduzem ao In-ferno, uma das mais largas, pela qual entra mais gente, a mania de rir. Rir constantemente, achar graa em tu-do, divertir-se com tudo.

    O Sagrado Corao de Jesus no nos apresentado, em nenhuma imagem, rindo. No conheo nenhuma imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo dando gargalha-das.

    Suponham uma narrao assim: Jesus, ento, deu uma gargalhada e respondeu... No possvel! Ento, por que vou querer dar gargalhada o tempo inteiro? Sou seguidor dEle, ou o que eu sou?

    Rir alguma vez, est bem; a gargalhada no m em si. Entretanto, Nosso Senhor est situado num plano ex-celso e a gargalhada no se encontra altura dEle, e sim minha altura. Se ela fosse m em si, no estaria altu-ra de nenhum filho dEle. Mas, viver rindo, no est altura de um filho de Nosso Senhor! E, pelo contrrio,

    o filho dEle deve, como Ele, ser s-rio. Porque a seriedade a regra

    da vida.

    Estar voltado para os aspectos ideais das coisas

    O que a serieda-de?

    ver as coisas co-mo elas so. Que ba-nalidade...!

    Como so as coisas?Todos os homens tm

    um arqutipo, uma pos-sibilidade ideal de serem

    de um determinado modo sempre muito elevado, sublime

    , como Deus tinha inteno que eles fossem, quando os criou.

    A pessoa que se conforma com esse modelo possui tambm uma alma mui-

    to aberta para o sublime.Em consequncia, algum nessas condies deve ter

    sua alma sempre voltada para os aspectos ideais e maravi-lhosos das coisas. E, fazendo o menor ato, deve ter o hbi-to mental de se perguntar como seria se fosse perfeito. E tambm vendo qualquer coisa, por mais insignificante que seja, perguntar-se como ela seria se fosse perfeita.

    Por exemplo, mecanicamente todos ns olhamos para este lustre que ilumina a sala. Quem se perguntou o se-guinte: Se este fosse um lustre ideal, embora mantendo o mesmo gnero e desenho, como seria?

    Imaginar coisas dessas deveria nos entreter.No o pensamento banal: Se eu ganhasse dinheiro,

    que lustre poria aqui?Esta no uma reflexo, mas sim uma imaginao,

    uma vagabundagem do esprito. No vale nada. Mas: O lustre perfeito deste estilo, como seria?

    Consideraes a respeito do vinho

    Outro exemplo: a Gironda uma regio da Frana onde se produz o famoso vinho de Bordeaux, capital da Gironda. Li em uma revista a explicao de um colecio-nador francs, que apresenta quatro ou cinco garrafas diferentes, vazias, para vinhos diversos, indicando qual a afinidade existente entre cada garrafa e o respecti-vo vinho.

    So garrafas comuns que ganham uma particular be-leza s por isso. Se eu pudesse, mandaria vir da Frana

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    Sagrada Famlia - Carmelo de Rochefort, Blgica

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    essas garrafas e guardava-as junto com essa explicao para, de vez em quando, rever.

    Nessa mesma revista havia uma fotografia mostrando um copo iluminado luz de vela, com uma legenda que dizia: Feliz o vidro que presta servios ao vinho. Se o vi-dro no fosse transparente, o homem no poderia ver o vinho. E se ele no pudesse ver o vinho, no o saborea-ria inteiramente!

    E vinha uma explicao sobre a funo do copo com formato ideal para certo tipo de vinho, e visto luz de uma vela, acrescentando que o vinho pede ser visto luz de vela.

    Algum diria que falta seriedade a este tema.No verdade. uma considerao sria do vinho, da

    garrafa, criaturas de Deus que devemos amar, para ver como so esplndidas e em que ponto refletem a glria do Criador.

    Eu poderia imaginar os discpulos de Emas bebendo um vinho desses... Como seria o vinho escolhido para a Consagrao, na primeira Missa realizada por Nosso Se-nhor, no Cenculo?

    Estas so consideraes srias a respeito do vinho.

    A sociedade perfeita

    Suponham dois amigos que se sentam junto a uma mesa onde est uma garrafa

    dessas com vinho. Eles bebem e comeam a comentar is-so. Seria uma conversa indigna de se realizar na presen-a de uma imagem do Sagrado Corao de Jesus que ali estivesse sobre uma coluna? Nem um pouco, pois este um assunto srio.

    Quem vive melhor e encontra na vida mais apoio, mais alento para a prtica da virtude: esses dois que con-versam amistosamente, analisam juntos, cada um comu-nica ao outro um pouquinho da sua anlise e saem mais amigos, sem ter dado uma gargalhada? Ou dois patuscos que passam o tempo inteiro contando piadas e, de vez em quando, soltam alguma imoralidade pelo meio, pois de piada em piada, acaba-se caindo em coisas piores?

    Temos, assim, uma ideia de como deve ser a socieda-de temporal.

    O comum da vida pode ser considerado como uma cordilheira: tem algumas situaes mais altas, e outras que legitimamente so menos elevadas.

    Pode-se imaginar um homem que, em determinado mo-mento, esteja com toda a sua ateno posta numa coisa

    menos alta. Por qu? Porque a profis-so dele. Se ele engraxate,

    tem que ver se aquele sapato est bem en-

    graxado. Pode-se imagin-lo, por-tanto, at gra-cejando. No tenho objeo contra isto.

    Mas, no fun-do, deve ser um

    homem que te-nha sempre mesmo

    quando graceje a men-talidade voltada para reali-dades mais nobres. A ns teramos a sociedade per-feita!

    Aqui estaria a chave para responder seguinte per-gunta: Como ser a socieda-de temporal no Reino de Maria? v

    (Extrado de conferncia de 19/12/1985)

    1) Situado, ento, na Praa da Repblica, centro velho de So Paulo.

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    Castelo Guiraud - Sauternes, Frana

  • A Lei de Deus e a boa ordenao da sociedade - I

    A

    refLexeS teoLgicaS

    12

    Contrariamente ao que muitos pensam, os Dez Mandamentos

    so inerentes natureza humana. Difceis de serem

    cumpridos depois do pecado original, so belos e a sua prtica

    traz a verdadeira ordenao da sociedade.

    matria desta conferncia leva-nos a imaginar uma das mais belas e augustas cenas da Hist-ria: no alto do Monte Sinai, no deserto, algum

    reza sozinho. um homem bem-amado de Deus, eleito dentro da nao eleita. o profeta que levou os judeus para fora do Egito, e que guia o povo para a realizao de seus destinos. Fulguraes... Deus Se manifesta e d a Moiss as tbuas da Lei!

    Os Dez Mandamentos: belos, mas difceis de cumprir

    possvel que algum se tenha feito a pergunta que eu mesmo me fiz quando aprendi os Dez Mandamentos.

    Eu era aluno de Catecismo na Igreja de Santa Ceclia juntamente com minha irm e minha prima. medida

    que o vigrio que nos dava as aulas ia lendo os Dez Mandamentos, eles me pareceram muito bonitos, mas tambm muito difceis de cum-prir. Por exemplo, no mentir. Qual a crian-a que no solta uma pequena mentira a pro-psito de uma coisa e outra, ou para tornar mais agradvel uma histria que est con-tando para um companheiro, ou para ocul-tar uma travessura que fez... s vezes no nem uma travessura, uma inabilidade.

    Moiss com as tbuas da Lei Cmara Municipal de Bruges, Blgica

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  • A Lei de Deus e a boa ordenao da sociedade - I

    13

    Eu, por exemplo, desde pequeno, tive as mos meio trmulas e s vezes deixava cair as coisas. Mas no sabia explicar como tinha deixado cair. Vinha a pergunta:

    Foi voc que deixou cair?Minha vontade era de dizer no porque cara o ob-

    jeto sem culpa minha. No mentirs!Ento, aguenta o castigo, quando seria to fcil esca-

    par, por exemplo, escondendo os cacos... Onde foi parar o vaso? Tambm no sei... est acabado. Passar pela geladeira e encontrar alguma coisa apeti-

    tosa dentro... Ningum est olhando... Plinio, voc comeu? No!To simples! Eu sabia bem que ningum ia contar na

    geladeira quantas pores disso e daquilo havia.No mentirs!Assistir Missa aos domingos. Nem sempre eu tinha

    vontade. s vezes eram domingos lindos, amos passear no Parque Antarctica. Saa de casa louco para ir a esse parque, mas precisava passar pela igreja e assistir Mis-sa.

    Eu ainda no entendia bem o significado do Santo Sa-crifcio e ficava sentado durante meia hora, quarenta e cinco minutos, rezando numa hora que, s vezes, no ti-nha vontade de rezar, para s depois poder me dirigir pa-ra o bem-amado parque. Por qu? E me vinha ao esprito esta pergunta, que algumas vezes, ao longo do tempo, se me apresentou de novo:

    Que grande dom fez Deus aos homens, dando-lhes os Dez Mandamentos. Mas que dom difcil! Seria um pou-quinho como quem olhasse uma pista de corrida e disses-se: Vou fazer um benefcio. Porei umas traves e umas porteiras para o cavalo e o cavaleiro terem que pular. Quem percorre a pista adquire mais mritos, os cavalei-ros aprendem a saltar melhor, os cavalos se tornam mais destros, um presente. Mas que complicao! Como se-ria mais agradvel ir trotando por l e no ter aquela amolao!

    Assim, os Dez Mandamentos que, de um lado, so to belos e to sbios que nos entusiasmam, de outro lado tornam a vida to difcil, pois todo homem tem que fazer uma fora permanente sobre si para no infringir algum desses preceitos.

    A sabedoria divina ao promulgar os Dez Mandamentos

    Ento, que vantagem h no fato de serem to difceis os Mandamentos? Deus teria feito isso como exerccio, como uma prova de amor para os homens, cumprindo--os, demonstrarem que de fato O amam? esta a razo, ou haveria outra mais profunda para explicar a sabedoria dos Dez Mandamentos?

    uma questo que vrias vezes me pus, sem angs-tias, porque h uma coisa chamada bom senso que vale

    Esttua de Santo Estvo Brno, Repblica Checa

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  • 14

    refLexeS teoLgicaSmais do que muito raciocnio explcito. Quem l os Dez Mandamentos os ama; e quem os ama tem bom senso para compreender que eles so perfeitos. Tem-se simpa-tia pelo Declogo, independentemente de qualquer an-lise mais detida.

    Eu tinha mais ou menos vinte e um anos quando esta-va lendo um livro que me interessou muito: Tratado de Direito Natural, de Taparelli dAzeglio. Esta obra tra-tava da questo e punha o problema nos seguintes ter-mos:

    H correntes de pensamento que afirmam que Deus poderia ter feito os Mandamentos proibindo exatamente o que eles mandam e mandando exatamente o que pro-bem. E que, portanto, esses preceitos no tm nenhum valor intrnseco. Deus, que onipotente, tem o direito de mandar, e ordenou proceder assim. Mas Ele poderia ter mandado fazer o contrrio que daria igualmente bem. uma tese, de si, monstruosa e completamente condena-da pela Igreja.

    A Doutrina Catlica nos ensina que, embora os Dez Mandamentos nos tenham sido revelados por Deus, de tal maneira eles so a consequncia da prpria natureza do homem, que constituem leis deduzidas da ordem na-

    tural do universo. Portanto, os homens poderiam ter co-nhecido o Declogo se Deus no o tivesse revelado, por-que a razo justifica cada uma dessas normas.

    Entretanto, tendo cado no pecado original e se tor-nado sujeito a erro, ficando exposto a tanta cegueira, fraqueza e maldade, o ser humano perde facilmente a noo de todos os Mandamentos, pois eles contrariam demais os seus defeitos. O homem teria inteligncia pa-ra ver, mas no quer. Ento, para ajud-lo, Deus os re-velou.

    Uma obrigao lgica expressa no Primeiro Mandamento

    Mas esses Mandamentos so deduzidos, antes de tu-do, da natureza divina e, depois, da prpria natureza hu-mana e de tudo aquilo que Deus criou em torno do ho-mem.

    Por exemplo, Amar a Deus sobre todas as coisas. evidente! Sendo Deus Quem , Ser sumamente per-feito, Criador de todas as coisas dos seres visveis e dos invisveis, quer dizer, dos Anjos , deu o ser e a vida a suas criaturas, e por isso tem todo o direito so-

    bre elas. E estas, por sua vez, por terem recebido tudo de Deus, devem amar Aquele que lhes deu o ser.

    Cada um de ns recebeu uma alma imortal que nos coloca to acima dos animais e de todas as ou-tras criaturas inferiores! Cada homem, em compara-o com todos os animais, um rei, de tal maneira grande a sua dignidade. Isso porque recebemos uma alma capaz de pensar, de querer, de amar o bem e de odiar o mal. Que dom maravilhoso! A quem deve-mos este dom?

    Se estou tendo a alegria e a graa de expor uma boa doutrina, e outros a esto ouvindo e procuran-do aproveit-la, porque Deus nos criou capazes de nos exprimir, ouvir e raciocinar. Que maravilha! Se fosse s isto, como deveramos amar a Deus! Con-tudo, quantas outras razes h para am-Lo acima de todas as coisas! Porque se Ele mais do que to-dos, compreensvel que se ame a Ele mais do que todas as coisas. Ento est traado o Primeiro Man-damento.

    O respeito para com o Nome de Deus

    Segundo Mandamento: No tomar seu santo No-me em vo. uma consequncia do anterior. No tomar o Nome de Deus em vo significa proceder, falar a respeito dEle com tal considerao, com tal respeito, que s se fala quando h necessidade ou

    Moiss com os Dez Mandamentos (por Philippe de Champaigne) - Museu Hermitage, So Petersburgo, Rssia

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  • 15

    Esta a ordem das coisas criada por Deus:

    quando agimos de acordo com os Dez Mandamentos,

    fazemo-lo de modo perfeito.

    convenincia, e quando h um motivo srio para isto, e se fala adequadamente. Porque o no-me o smbolo da pessoa.

    Assim, o Nome de Deus po-de ser mencionado frequen-temente, desde que com intei-ro propsito e respeito. Ento no ter sido tomado em vo. Por exemplo, quantas vezes se diz graas a Deus! Est mui-to bem, pois todo dom vem de Deus; e a respeito do menor benefcio que recebamos, po-demos dizer graas a Deus.

    Mas, quantas pessoas dizem graas a Deus, sem nem per-ceber o que esto dizendo. Is-to no direito. Temos que ter noo de que estamos pronun-ciando o Nome santssimo de Deus.

    Esta venerao para com o Nome de Deus vem da natu-reza do Criador, que deve re-ceber todo o respeito de nossa parte.

    Consagrar uma parcela de nosso tempo a Deus

    Guardar domingos e dias de festas o Terceiro Man-damento. O que Deus manda que o homem destine uma parte de seu tempo orao. Porque tendo Ele nos concedido tantos benefcios, tal seria que no Lhe ds-semos uma parte de nosso tempo. preciso isolar, sepa-rar e dar s para Ele uma parcela do nosso tempo. Nos-so tempo um dom de Deus e, por natureza, devemos agradecer esse dom. Portanto, da ordem natural nasce o preceito.

    Honrar os superiores

    Honrar pai e me. Este Mandamento importa, de acordo com os moralistas catlicos, em honrar e amar no s o pai e a me, que so os superiores imediatos de cada um, como tambm todos aqueles que por um ttulo qualquer exercem sobre ns autoridade.

    Ento, o aluno deve honrar seu professor; o militar deve honrar seus superiores; o indivduo que traba-lha numa administrao qualquer, pblica ou privada, deve honrar seus chefes. O que honrar? prestar

    o respeito correspondente superioridade deles. Mas prestar este respeito com amor, com afeto, porque es-t na natureza das coisas que eles tenham essa supe-rioridade. A funo exercida por eles coloca-os acima de ns. Devemos honr-los, pois a hierarquia das coi-sas pede isto.

    E a ttulo particular, mais o pai e a me, porque nos geraram, nos deram a vida. Deus se serviu deles para nos dar a existncia. O corpo foram eles que geraram, a alma foi Deus que infundiu. Portanto, a ao deles, gerando, uma ao sagrada, bela, respeitvel. Logo, devemos to-mar isso em considerao e respeit-los.

    Epitfio de Engelbrecht I de Nassau Breda, Holanda

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    Do cumprimento da Lei divina nasce a ordem perfeita

    E assim ns poderamos percorrer todos os Manda-mentos e veramos que cada um ensina com perfeio aquilo que cada homem deve fazer em relao a Deus e aos outros homens.

    De maneira que tratar com um homem de acordo com os Dez Mandamentos agir de acordo com a natureza. Da nasce a ordem perfeita.

    Tomemos como exemplo um relgio. De onde decor-re o perfeito funcionamento de seu mecanismo? Do fato de que cada pea tendo sua finalidade, em funo da qual possui uma forma apropriada e constituda de um determinado material est adequadamente disposta em relao s outras.

    Uma famlia, uma escola, uma fbrica, uma nao, co-mo qualquer lugar onde estejam homens reunidos, po-dem ser comparados a um relgio. Se todos agirem em relao a todos de acordo com a natureza de cada um e da atividade que esto exercendo juntos ainda que es-ta atividade seja um mero prazer , decorrer da a per-feio das relaes humanas.

    Suponhamos que uma pessoa v a uma reunio social por exemplo, uma festa de aniversrio na famlia , mas percebe que, por sua posio no ambiente familiar, ela exerce um papel-chave. Se ela se divertir, estiver ale-

    gre, satisfeita, a famlia ter uma noite feliz. Se, pe-lo contrrio, ela estiver casmurra, aborrecida, tris-te, preocupada, a famlia ter uma noite infeliz.

    Essa pessoa deveria pensar: Eu vou a uma reu-nio cuja natureza pede que todos estejam alegres. Eu, ali dentro, devo colaborar para essa alegria. Se eu tenho uma preocupao muito grande, devo agir de acordo com a natureza dos outros, com a minha natureza, e com a natureza do que est sen-do feito ali, que a distrao. Devo, portanto, pr o p sobre a minha preocupao, apresentar uma fisionomia prazenteira e ajudar os outros a se dis-trarem. Ainda que o meu corao possa estar san-grando, devo distrair os outros.

    Resultado: saio deixando atrs de mim uma alegria. Vou sozinho pela rua, noite. Entro na mi-nha dor. a minha vez, ali posso estar vontade. Mas deixo atrs de mim um bem realizado. A na-tureza da reunio pedia-me isto; eu fiz!

    Se todo mundo for a uma reunio social com a preocupao de ser agradvel aos outros, podemos imaginar que reunio deliciosa decorreria da! Co-mo a vida social se torna agradvel!

    No tempo em que havia cortesia, gentileza, a antiga doura de viver, quantas e quantas vezes o cora-o de uma dona de casa estava sangrando, mas ela rece-bia exemplarmente seus convidados!

    Um fato ilustrativo desse modo de viver

    Conheo um caso de um senhor que ia festejar as bo-das de ouro. um acontecimento raro, poucos casais vi-vem o tempo necessrio para festejar cinquenta anos de casados. Alguns dias antes da festa, esse senhor sentiu uma perturbao qualquer na vista e foi ao oculista. Vol-tou para casa, festejaram-se dentro de dois ou trs dias as bodas de ouro, e estavam todos muito alegres.

    noite, quando ele se deitou feliz, a esposa lhe disse: Meu caro, o mdico encontrou um cncer num

    dos seus olhos. Voc no sabia, e ns quisemos que vo-c passasse este dia inteiramente alegre. Por isso todos ns ocultamos a nossa dor. Mas amanh cedo parte um avio para os Estados Unidos, e ns estamos com a pas-sagem reservada. Viajaremos os dois a fim de examinar o caso e, conforme for, extrair a sua vista para salvar a sua vida.

    Com sacrifcio, todos riram, conversaram, brincaram, ficaram alegres durante a noite, para proporcionarem a este infeliz um dia satisfeito. S no extremo do fim do dia pela necessidade de avis-lo sobre a manh seguinte, pois ele tinha providncias a tomar antes de partir , que lhe foi dada a notcia.

    Detalhe do campanrio da Igreja Notre-Dame de Joinville - Haute-Marne, Frana

  • 17

    Se os homens que constituem as naes afastam-se

    progressivamente dos Dez Mandamentos, ou seja, deixam

    de ser bons e vo ficando cada vez piores, acabar por chegar um momento em que

    essas naes entram em caos.

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    Todos sangravam, um esta-va alegre... Mas que linda ho-menagem ao pai de famlia! Que lindo reconhecimen-to de que a condio de pai comporta um sacrifcio co-mo este! E para ele, quanta consolao: na hora de rece-ber uma notcia como esta, ver todo o afeto com que ele foi acom-panhado pelos seus!

    ou no verdade que isto pode adoar as amar-guras mais pungentes, mais extremas? Por que esta do-ura assim? Porque se agiu de acordo com a ordem das coisas. Cumpriu-se um Mandamento excelentemente! O honrar pai e me inclui o respeito que a mulher deve ao marido. Todos colaboraram para realizar esplendida-mente este afeto, este respeito. ou no uma bela p-gina da histria de uma famlia?

    Assim, se examinarmos todas as aes bonitas que os homens tenham praticado, encontraremos seu funda-mento nos Mandamentos divinos. Mesmo pagos que no conheceram e que at negaram o Declogo, se eles praticaram belas aes, veremos terem estas seu funda-mento e sua explicao na Lei divina. Porque esta a ordem das coisas criada por Deus: quando agimos de acordo com os Dez Mandamentos, fazemo-lo de modo perfeito.

    Um rei diante do Imperador Alexandre Magno

    H um caso famoso de Alexandre, Imperador da Gr-cia, grande conquistador, que chegou at o fim da Prsia, at a ndia, e venceu ali um rei hindu. O hbito antigo

    era, quando se vencia um pas, o rei vencido era tratado como escravo pe-

    lo rei vencedor, e muitas vezes era morto. Mandaram levar o rei vencido para falar com o

    vencedor, o Imperador Alexandre.O rei vencido se apresentou com toda a dignidade, e o

    Imperador vencedor perguntou-lhe: Como queres ser tratado?Ao que ele respondeu: Como rei, porque sou rei!A natureza das funes que ele exercera marcara a

    sua personalidade e lhe dava direito a isso. Alexandre compreendeu e deu ordem:

    Tratem-no como rei!H outro caso de um rei vencido que foi tratado assim

    pelo rei vencedor. O vencido foi de tal maneira um bom conselheiro do rei vitorioso, que se tornou para ele um auxiliar, um ministro indispensvel, e participou do po-der real.

    Eram pagos que no conheciam os Mandamentos. Mas vai-se analisar, trata-se de um rei respeitando a dig-nidade real de outro e praticando, assim, a reverncia que se deve autoridade. Est a muito bem caracteriza-do o Quarto Mandamento. v

    (Continua no prximo nmero)

    (Extrado de conferncia de 8/12/1984)

    Esttua de Alexandre Magno Khujand, Tajiquisto

    Encontro de Alexandre Magno com o Rei Poro

  • OO tecido social perfeito

    18

    a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr. pLinio

    equilbrio da autoridade do Estado consiste na continuidade do edifcio dos corpos intermedi-rios.

    O rei e os corpos intermedirios

    H um determinado momento em que o rei j no o corpo intermedirio, pois a intermediao acabou. En-to se diria que o rei se torna extrnseco.

    Contudo, ainda que o monarca parea extrnseco, ele no o por causa dos corpos intermedirios mais altos, que so j meio umectados pela neblina dourada da rea-leza. De maneira que os maiores senhores feudais ou os maiores corpos intermedirios, quando chegam pleni-tude de si mesmos, tocam na realeza e ficam meio dou-rados de realeza. E por meio deles que o rei se mantm em contato com o restante do corpo social.

    Eles, por serem muito prximos ao monarca, partici-pam de sua funo legislativa e judiciria, maneira de conselheiros ou de outros modos, mas a funo do rei no se exerce extrinsecamente.

    Os missi dominici1 de Carlos Magno eram um pou-co extrnsecos, mas se compreende, porque a instituio feudal no estava toda constituda.

    O carter extrnseco do rei precisa ser excepcional. No que deva ser exercido bissextamente, mas numas li-nhas de ao muito demarcadas e no muito numerosas.

    Esse procedimento no absolutista.Para se compreender bem este assunto, preciso le-

    var em considerao que um certo absolutismo ineren-te realeza porque, como ela tem o dever de corrigir os corpos intermedirios, precisa ter o poder de, em deter-minados momentos, agir ex auctoritate propria2. Porm,

    So Ladislau apresenta Vladislau II e seus filhos Santssima Virgem Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria

    A famlia autenticamente catlica, como ela existiu largamente na Idade Mdia, e a rede de relaes individuais vivificadas pela observncia dos Dez

    Mandamentos geram o tecido social perfeito.

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  • 19

    a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr. pLinio

    sempre com a inteno, no de quebrar o corpo interme-dirio, mas de corrigi-lo, de coloc-lo na posio exata, para poder depois faz-lo funcionar.

    Seria mais ou menos como um mdico ao tratar de uma perna quebrada: encana a perna do paciente que, por algum tempo, fica sob esta tirania. Entretanto, no para a vida inteira, mas com vistas a que, depois de con-sertada, ele possa andar por si. Esta a tarefa do rei.

    O vnculo familiar

    Por outro lado, a cellula mater do tecido social org-nico a famlia. Ela tem, propriamente, a plenitude da organicidade, e por causa da irradiao do calor, do alento dela que certa organicidade se comunica a todo o resto da sociedade. Alis, essa organicidade da fam-lia e o conjunto do trato de umas pessoas com as outras, de acordo com os Mandamentos da Lei de Deus, ou seja, a caridade recproca, so os elementos que constituem a organicidade da sociedade.

    Ao me referir famlia, evidentemente no suponho a famlia deteriorada como ela hoje, mas a famlia ide-al, a qual no uma quimera, pois existiu largamente na Idade Mdia; com os defeitos inerentes ao ser humano, mas em linhas gerais ela existiu. De maneira que no uma utopia, mas tambm no foi um Cu na Terra. preciso ver as coisas com o equilbrio que elas devem ter.

    O vnculo familiar, numa famlia normal, criado por uma srie de tendncias instintivas que so orgnicas por excelncia, pois derivam at do prprio organismo huma-no, pelo qual existem afinidades entre pais, filhos e irmos,

    que derivam de terem temperamento, modos de ser an-logos, etc., que decorrem em boa parte de circunstncias mais ou menos biolgicas, tnicas, hereditrias. Mas que formam as semelhanas muito preciosas por duas razes: primeiro, porque so intimssimas; em segundo lugar, por-que diferenciam muito aquela unidade familiar das outras. De maneira que cada famlia um pequeno mundo distin-to de outra famlia. Exagerando um pouco, diramos que cada famlia tem uma cultura e uma civilizao prpria.

    Quando criana, visitando as casas de famlias que no eram aparentadas com a minha, eu tinha a impresso de fazer uma viagem a outro mundo, porque notava em al-guns pontos dessemelhanas, minsculas para o olhar do homem adulto, mas que so grandes para o olhar de uma criana. Ela no compreende, mas relaciona instintivamen-te com outras singularidades que nota naquela famlia. E a criana percebe implicitamente que tais caractersticas provm de uma raiz psicolgica comum, que de um jei-to na famlia dela, e de outro jeito em cada uma das demais famlias. Por onde, em todo o casario de uma cidade, cada residncia corresponde a uma famlia e tem um todo pr-prio, de maneira tal que at na culinria isso se faz notar.

    Um menino vai almoar na casa de outra famlia...

    Consideremos duas casas absolutamente de mesmo n-vel social, de famlias que se estimam e tm relaes entre si. Um menino pertencente famlia a vai almoar pela primeira vez na residncia da famlia b. Pode at acon-tecer no necessariamente assim que lhe digam:

    O vnculo familiar, numa famlia normal,

    criado por uma srie de tendncias

    instintivas que so orgnicas por

    excelncia...

    Prece antes da colheita (por Flix de Vigne) - Museu de Belas Artes, Ghent, Blgica

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  • 20

    a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr. pLinioQuando os irmos estive-rem sozinhos entre si, ela diz:

    Vocs no imagi-nam como a casa da-quele! assim, tem tal coisa...

    Mas isso no tem nada responde um ir-mo mais velho.

    Os irmos mais ve-lhos do o parecer que se aproxima um pouco da opinio dos pais, portan-to tm mais abertura. Os irmos mais moos pe-lo contrrio, so funda-mentalistas, e um destes afirma:

    Que horror! Quan-do houver aniversrio l, eu no vou! Deus me li-vre de me meter naquilo!

    Passam-se os meses e comemora-se mais um aniversrio na residncia da fam-lia b. A me da famlia a diz a seus filhos:

    Hoje vocs vo todos para l.Resposta de um dos mais novos: Mame eu no posso, porque hoje tenho que pre-

    parar as lies. Prepare noite, quando voltar para casa. O outro diz: No posso porque estou indisposto. Diga-me o que voc sente, pois lhe dou um rem-

    dio e desaparece a indisposio.E s a muito custo a senhora consegue convencer os

    filhos de irem a residncia daquela famlia.Mas, de repente, a me muda de opinio e todos vo

    para a casa de um parente deles que ainda no conhe-ciam, a qual lhes parece estar em um estgio interme-dirio entre a casa com o peru esquisito e a residncia deles.

    Semelhanas e dessemelhanas

    Chega tambm certa hora na vida em que a criana entra em crise com a prpria famlia e comea a julg--la sem graa, tem vergonha dos pais, acha que a fam-lia do outro prodigiosa, e s vezes toma amizades ful-gurantes por algum da outra famlia, e fica quase co-mo um apstata da prpria famlia metido na casa dos outros.

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    Vejo que voc es-t com apetite, mas se reserve um pouco por-que o melhor ainda no veio: um peru prepa-rado pela dona da casa pessoalmente, e que uma maravilha!

    O menino pensa lo-go num peru idnti-co ao que come em ca-sa. Quando chega o pra-to, completamente di-ferente. Ao provar para ver se uma maravilha, ele no acha que seja, porque no igual ao peru da casa dele.

    Donde decorre uma espcie de rejeio da-quela famlia: Que gente esquisita, olhe como eles entendem que um peru bem feito! Que coisa es-tranha! Peru no assim, prepara-se de outro jeito...

    Vamos supor que, brincando com terra, a criana suje a mo e tenha de lav-la. Junto ao lavatrio est um sa-bonete inteiramente diferente do utilizado na casa dela. Pode at ser um sabonete muito superior, por exemplo, o ingls marca Pears, em forma de uma bola preta. En-tretanto, a criana est habituada a um sabonete brasilei-ro cor-de-rosa ou azul clarinho, e pensa: Puxa, vou lavar a mo com esta bola preta! Que gente esquisita! O peru, o sabonete deles so diferentes... Durante o almoo, es-teve l um primo deles tido como engraado, que con-tou piadas das quais eu no achei graa. Deus me livre de voltar para a casa dessa famlia!

    ...e depois conta suas impresses apenas a seus irmos

    A criana volta para sua casa, e sua me pergunta: Como foi em casa de Fulano?O menino olha para a me e percebe instintivamente

    que ela no vai dar a menor importncia aos traos dife-renciais que ele notou; ento, no lhe conta suas impres-ses, e diz de um modo muito vago:

    Foi muito bem...Como quem dissesse: No me pergunte por que no

    quero contar.A criana vai formando um depsito de impresses

    prprias que ela s vai transmitir s pessoas de sua idade.

  • 21

    a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr. pLinioEssas semelhanas e dessemelhanas provocam ati-

    tudes instintivas, nascidas de apetncias e inapetncias oriundas do profundo do ser.

    Estou descrevendo o fenmeno apenas por alto, por-que ele muito mais profundo; entram em cena muitas outras pessoas, como os professores e at mesmo o pa-dre da parquia.

    um universo todo feito de organicidade que vai se formando, constitudo de dessemelhanas que, quando entram em ordem, so dotadas de originalidades pr-prias, fecundas, ordenadas, interessantes, criativas. Mas tambm com semelhanas ultraunitivas, ultracriadoras de afinidade, que podem fazer com que um conjunto de famlias provenientes de um cl originrio constitua to-do um mundo, e que seja uma fora dentro de uma so-ciedade.

    A organicidade encontra-se, de baixo para cima, antes de tudo nesses impulsos meio hereditrios, meio genti-cos, meio tnicos; mas, depois, est nos fenmenos de al-ma e na luta da graa contra o demnio dentro da pes-soa. A se forma um quadro complexssimo e riqussimo.

    O mundo de relaes baseadas nesses dados constitui o tecido social.

    Analogado primrio de todas as outras relaes

    Que relao tem isso com o resto no familiar da so-ciedade?

    Quando um indivduo vive in-tensamente a vida de famlia, ele compreende de um modo profun-do e instintivo que, ou translada-mos para as outras relaes o car-ter da vida de famlia, ou todas as outras relaes so falsas.

    Tende-se, ento, a estender a vi-da de famlia a todos os outros sen-timentos benvolos, como se pode ter em relao s outras pes soas. E quando se amigo, tende-se a transform-lo num parente, pelo lado favorito, afetivo. Quando se colega por exemplo, dois m-dicos que trabalham juntos por te-rem especialidades complementa-res , tende-se a transformar es-sa colaborao numa amizade, e esta num relacionamento fraterno. E quando se tem um mestre, fica--se propenso a trat-lo como a um pai; e quando se mestre, tende-se

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    a transformar o discpulo em filho tambm. A relao fa-miliar uma espcie de analogado primrio de todas as outras relaes.

    Isso coloca a amizade em situao de muita importn-cia na vida das pessoas, porque ter autnticos amigos ter amigos de vida e de morte; o que s possvel quan-do existe, de fato, verdadeiro afeto. E no possui essa au-tntica afeio quem no tem originariamente na famlia uma fonte de afeto muito grande.

    Da vem o fato de certas associaes outrora se cha-marem fraternidades. E na linguagem interna seus membros chamavam uns aos outros de irmos. Por exem-plo, Irmandade do Santssimo Sacramento. uma tradi-o da penetrao do ambiente de famlia em todos os outros ambientes.

    Donde decorre que as associaes profissionais as-sim organizadas no tm a frieza do sindicato, constitu-do mais em funo de interesses do que da amizade. O pobre miservel que vive apenas atrs do seu interesse fi-nanceiro no compreende que ele perdeu um dos maio-res interesses da vida: o afeto.

    O antigo direito saxnico da Alemanha, no tempo em que os alemes eram brbaros, estabelecia como lei a obrigao de cada saxo ter em relao a outro de sua raa determinadas disposies interiores. O que uma coisa impossvel de se impor como lei, pois no se pode obrigar algum a uma disposio interior. Mas v-se que eles observavam uns nos outros se o procedimento ex-

    Um menino chega da escola chorando (por August Heyn)

  • 22

    a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr. pLinioterior correspondia ao cumprimento dessa prescrio. E quando no correspondia, vinha o castigo.

    Ento, a primeira lei de todas era: amor ao prximo, demonstrado pela lealdade. Quando houvesse qualquer forma de deslealdade, era um crime punido de determi-nada maneira prescrita na lei.

    Naturalmente h um tanto de barbrie e sabedoria as-sociadas nisso, mas corresponde ao fundo religioso da ideia que tenho do tecido social.

    Exemplos de lealdade

    O tecido social se alimenta ou se constitui de deter-minada rede de relaes individuais nas quais o elemen-to vivificante, como o sangue para o organismo, a ob-servncia dos Dez Mandamentos e da Doutrina Catlica. Isso gera o tecido social perfeito.

    No que diz respeito lealdade, por exemplo, ainda no tempo do meu av, no Brasil, havia casos em que ficava deprimente dois homens fazerem negcios entre si por escrito, porque provava que um no confiava no outro.

    Um homem, digamos, comprava a prazo uma fazenda. O proprietrio recebia uma parcela do pagamento, mas ficava obrigado a tratar da fazenda enquanto ainda esti-vesse nas mos dele.

    Como eram feitas as tratativas?Cada um arrancava um fio da prpria barba e dava pa-

    ra o outro. Mais nada.Como a barba era um smbolo da respeitabilidade do

    homem, chegar para um homem e dizer: Olhe, aqui es-

    t o fio de sua barba como prova! era criar uma situao na qual o outro no seria to felo que, diante da prpria barba, no tivesse pudor. E a barba servia, assim, de ga-rantia.

    Suponho que os antigos bispos de So Paulo compra-vam e vendiam sem dar documento. Porque Dom Duar-te, o mais antigo arcebispo que eu conheci, tinha o se-guinte hbito:

    A cria de So Paulo possua muitos imveis, e ora comprava ora vendia algum. Por exigncia dos bancos, Dom Duarte precisava assinar documentos, mas fazia-o colocando apenas uma cruzinha e D. sobre a estampi-lha. Ele dizia que era contra a honra do arcebispo colo-car o nome inteiro. E ele ainda escrevia isto porque os bancos tinham exigido, mas antes ele no escrevia nada, bastava sua palavra de arcebispo.

    Tomem almas persuadidas da sabedoria e da santida-de dos Mandamentos, e que se modelaram inteiramente assim, se conhecem e se entrelaam perfeitamente: elas formam um tecido social perfeito. Como ponto de parti-da estava a famlia, mas a verdadeira vida a vida sobre-natural da graa. De maneira que nem se podia pensar numa coisa dessas numa sociedade entre pagos, s en-tre catlicos.

    Pode haver sociedade orgnica de maus?

    Surge a pergunta: Seria possvel uma sociedade org-nica de maus?

    Durante algum tempo sim, mas seria efmera.

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    rodu

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    Prece em tempo de seca (por Flix de Vigne) - Museu de Belas Artes, Ghent, Blgica

  • 23

    a SocieDaDe anaLiSaDa por Dr. pLinio

    Quer dizer, quando existe a tradio de, sentindo da mesma maneira, criar a amizade, os primeiros bandidos que aparecem se tornam amigos tambm por este jeito. E embora inimigos daqueles que eles querem prejudicar porque almejam pegar-lhes o dinheiro, eles tm hbitos de boa conduta em outros pontos.

    Um exemplo disso foi Franois Villon, poeta francs do sculo XV. Ele frequentava o chamado Ptio dos Mi-lagres, que era o seguinte: os vagabundos que no que-riam trabalhar se faziam de aleijados. Ento fingiam ter perna de pau, e outras deficincias fsicas para obterem esmolas. Chegando a noite, todos eles iam para uma mesma praa, e ali jogavam de lado as pernas de pau e as outras coisas, e andavam normalmente como se tivessem sido miraculados, mas no havia milagre nenhum, era a impostura que cessava. Chamavam Ptio dos Milagres por caoada, evidentemente.

    Franois Villon era frequentador do Ptio dos Mi-lagres e bandido: fingia-se de aleijado, depois roubava, pulava nas casas, matava, etc. Um dia, a polcia conse-guiu deitar a mo nele e a Justia o executou.

    Ora, ele comps uma das mais belas poesias que h para Nossa Senhora: uma famosa balada em louvor da Santssima Virgem. Uma verdadeira beleza!

    So restos do tecido social ainda no totalmente po-dre.

    E entre pagos?

    Levanta-se, agora, outra questo: seria possvel uma sociedade orgnica entre pagos?

    Seria preciso distinguir. Uma sociedade autntica e duravelmente orgnica, eu duvido. Uma sociedade mais ou menos orgnica, talvez chegassem a constituir.

    O regime feudal de certos povos orientais, por exem-plo, era feroz, no como o feudalismo catlico, nem

    de longe. Mas podia ter o esqueleto de uma socieda-de feudal.

    O que me parece fundamental na questo reconhe-cer que isso duraria pouco, porque acabaria dando no as-salto de um contra outro.

    Algum poderia objetar: Mas Dr. Plinio, o senhor parece sustentar a tese de alguns hereges que afirmam no ser o homem capaz seno de fazer o mal. Ora, exis-tem determinadas virtudes naturais que o homem pode praticar sem o auxlio da graa, e o senhor parece negar isso dizendo que fora da Igreja no existe nenhum bem.

    Estamos falando de coisas diferentes. Pode haver um homem excepcional que, sem ter cincia desse tema, pra-tique certo bem. Contudo, praticar o bem integral sem conhecer a Doutrina Catlica e sem a graa de Deus, no possvel. v

    (Extrado de conferncia de 4/2/1992)

    1) Do latim: enviados do senhor. Inspetores institudos por Carlos Magno.

    2) Do latim: por sua prpria autoridade.

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    .0)

    Santo Henrique batiza os finlandeses

    um universo todo feito de organicidade que vai se formando,

    constitudo de dessemelhanas que, quando entram em ordem, so dotadas de originalidades

    fecundas, ordenadas...

  • Calendrio dos santos * agosto *

    24

    Santo Afonso Maria de Ligrio

    Santa Teresa Benedita da Cruz, virgem e mrtir (1942).

    Beato Joo de Salerno, presb-tero (c. 1242). Religioso domi-nicano, fundador do convento de Santa Maria Novella. Lutou con-tra os hereges patarinos em Flo-rena, Itlia.

    10. So Loureno, dicono e mrtir (258).

    Beato Arcngelo de Calatafimi Piacentini, presbtero (1460). Re-ligioso franciscano que fundou o Convento de Santa Maria de Jesus, em Alcamo, Siclia.

    11. Santa Clara de Assis, vir-gem (1253).

    Santo Alexandre, bispo e mrtir (sc. III). Sagrado Bispo de Coma-na, Turquia, por So Gregrio, mor-reu queimado em uma fogueira.

    12. Santa Joana Francisca de Chantal, religiosa (1641).

    Beato Floriano Stepniak, presbtero e mrtir (1942). Franciscano capuchinho, que durante a invaso mi-litar na Polnia, morreu no campo de concentrao de Dachau, Alemanha, envenenado numa cmara de gs.

    13. Santos Ponciano, Papa, e Hiplito, presbteros, mr-tires (c. 236).

    So Benildo, religioso (1862). Religioso da Congrega-o dos Irmos das Escolas Crists, dedicou sua vida for-mao da juventude em Saugues, Frana.

    14. So Maximiliano Maria Kolbe, presbtero e mr-tir (1941).

    So Facanano, bispo e abade (sc. VI). Fundou em Ross, Irlanda, um mosteiro clebre pelo ensino de cincias sagradas e humanas.

    15. Solenidade da Assuno de Nossa Senhora (no Bra-sil, transferida para domingo, dia 16).

    So Tarcsio, mrtir (c. 257). Por defender a Sagrada Eucaristia que estava prestes a ser profanada pelos gen-tios, foi apedrejado at a morte, em Roma.

    1. Santo Afonso Maria de Ligrio, bispo e Doutor da Igreja (1787).

    Beato Aleixo Sobaszek, presbte-ro e mrtir (1942). Sacerdote po-lons deportado para o campo de concentrao de Dachau, Alema-nha, onde morreu aps sofrer atro-zes tormentos.

    2. XVIII Domingo do Tempo Co-mum.

    Santo Eusbio de Vercelli, bispo (371).

    So Pedro Julio Eymard, pres-btero (1868).

    3. Beato Agostinho Kazotic, bispo (1323). Religioso dominicano, que sendo Bispo de Zagreb, na Crocia, foi transferido para Lucera, Itlia, devido hostilidade do rei da Dal-mcia.

    4. So Joo Maria Vianney, pres-btero (1859).

    So Raniero, bispo e mrtir (1180). Eleito Bispo de Cagli, Itlia, sofreu muito por defender os direitos da Igre-ja. Morreu apedrejado em Split, Crocia.

    5. Dedicao da Baslica de Santa Maria Maior.Santo Osvaldo, mrtir (642). Rei da Nortmbria, mor-

    to por dio a Cristo em Maserfield, Inglaterra, enquanto combatia contra os pagos.

    6. Transfigurao do Senhor.Beata Maria Francisca de Jesus Rubatto, virgem (1904).

    Fundou em Loano, Itlia, o Instituto das Irms Tercirias Capuchinhas. Partiu para a Amrica Latina e faleceu em Montevidu, Uruguai.

    7. So Sisto II, Papa, e companheiros, mrtires (258).So Caetano de Tiene, presbtero (1547).

    8. So Domingos de Gusmo, presbtero (1221).Beato Vladimir Laskowski, presbtero e mrtir (1940).

    Sacerdote polons preso e morto no campo de concentra-o de Gusen, Alemanha.

    9. XIX Domingo do Tempo Comum.

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  • Calendrio dos santos * agosto *

    25

    Santa Clara de Assis

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    16. Solenidade da Assuno de Nossa Senhora (trans-ferida do dia 15).

    Santo Estvo da Hungria, rei (1038). Ver pgina 26.

    17. Santo Eusbio, Papa (310). Foi deportado pelo im-perador Maxncio para a Siclia, onde faleceu.

    18. So Macrio, abade (850). Hegmeno do mostei-ro de Pelecete, na Bitnia (atual Turquia), suportou tribu-laes pela defesa das sagradas imagens.

    19. So Joo Eudes, presbtero (1680).So Luis de Anjou, bispo (1297). Sobrinho do rei So

    Luis IX, elevado sede episcopal de Toulouse, Frana, aps abraar a vocao franciscana. Faleceu aos 23 anos de idade.

    20. So Bernardo de Claraval, abade e Doutor da Igre-ja (1153). Ver pgina 2.

    So Samuel, Profeta. Chamado por Deus quando ain-da era criana, foi juiz de Israel. Ungiu Saul como rei, mas este sendo infiel, ungiu Davi, de cuja descendncia nasceu Jesus.

    21. So Pio X, Papa (1914).Beata Vitria Rasoamanarivo, viva, (1894). Quan-

    do os missionrios foram expulsos da ilha de Madagas-car, ajudou os cristos e defendeu-os perante os magis-trados.

    22. Nossa Senhora Rainha.Beato Bernardo Peroni, re-

    ligioso (1694). Franciscano capuchinho no mosteiro de Corinaldo, Itlia, insigne por sua simplicidade de corao, inocncia e caridade para com os pobres.

    23. XXI Domingo do Tempo Comum.

    Santa Rosa de Lima, virgem (1617).

    Santo Eugnio, bispo (sc. VI). Sequestrado quan do era criana e vendi-

    do como escravo. Trabalhou durante anos nas usinas da Gr-Bretanha, moendo gros. Voltando Irlanda, aps os estudos, tornou-se o primeiro Bispo de Ardstraw.

    24. So Bartolomeu, Apstolo.Santa Maria Micaela do Santssimo Sacramento, vir-

    gem (1865). Fundadora da Congregao das Escravas do Santssimo Sacramento e da Caridade, para adorao per-ptua, em Valncia, Espanha.

    25. So Lus, Rei de Frana (1270).So Jos de Calasanz, presbtero (1648).

    26. Beato Tiago Retouret, presbtero e mrtir (1794). Religioso carmelita do mosteiro de Limoges preso duran-te a Revoluo Francesa numa galera, onde morreu de hi-potermia.

    27. Santa Mnica (387).Beata Maria del Pilar Izquierdo, virgem (1945). Aps

    se recuperar de graves doenas, fundou a Obra Mission-ria de Jesus e Maria, em Madri.

    28. Santo Agostinho, bispo e Doutor da Igreja (430).Santo Alexandre, bispo (c. 336). Sua orao apostli-

    ca, como escreve So Gregrio de Nazianzo, venceu o che-fe da impiedade ariana.

    29. Martrio de So Joo Batista.So Sebbo, rei e monge (c. 693). Rei

    dos saxes orientais, abdicou aps go-vernar sabiamente o reino durante 30 anos e se fez monge em Londres.

    30. XXII Domingo do Tempo Co-mum.Beato Eustquio van Lieshout,

    presbtero (1943). Sacerdote holands da Congregao dos Sagrados Cora-

    es de Jesus e Maria, favorecido pelo dom da cura. Faleceu em Belo Horizonte.

    31. Santo Aristides, filsofo (c. 150). Filsofo ateniense con-vertido ao Cristianismo, que de-dicou ao imperador Adriano al-guns de seus livros sobre a Reli-gio Crist.

  • Hagiografia

    S

    26

    Santo Estvo, Rei Apostlico

    Assim como cada indivduo, tambm o Estado deve praticar os Dez Mandamentos. Ele existe, antes de tudo, para servir Igreja e favorecer o Reino de Deus. Esse princpio foi praticado eximiamente por Santo Estevo, e constitui o fundo das concepes polticas de Dr. Plinio.

    anto Henrique, Imperador do Sacro Imprio Ro-mano Alemo, se interessou pela converso do povo hngaro, e destinou para isso a sua irm Gi-

    sela, cujo casamento ele promoveu com o rei pago da-quele povo. Pela ao de Santo Henrique, da Rainha Gi-sela e de pregadores santos que foram para a Hungria, foi possvel converter o rei, e com a converso dele se tornou mais fcil a converso dos hngaros. Este rei foi Santo Estvo.

    O enorme imprio dos maometanos

    A Hungria passou a ser um baluarte da Cristanda-de no Ocidente. Nao de um papel muito importante, porque o que so hoje os comunistas para a Cristanda-de de nossos dias, para a Cristandade at comeo do s-culo XVIII certamente desde o sculo VII at o scu-lo XVIII, portanto, mais de mil anos foram os mao-metanos.

    Estes, que eram na sua maioria rabes, tambm con-seguiram trazer para seus erros os turcos. Os maometa-nos ocupavam a metade do litoral mediterrneo. Alm de todo o Norte da frica, chegaram a conquistar duran-

    Esttua equestre de Santo Estvo - Budapeste, Hungria

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    (CC

    3.0)

  • 27

    te algum tempo quase toda a Espanha, parte da Frana at Poitiers e grande parte de Portugal. Posteriormente, no Oriente Prximo, eles ocuparam os Lugares Santos, tomaram Constantinopla e algumas zonas territoriais ad-jacentes, chegaram at a Albnia, a qual, ainda hoje, mais ou menos maometana. Isso formava, ento, um im-prio enorme.

    O Mediterrneo, considerado naquele tempo o centro do mundo Mediterrneo, no meio da Terra , es-tava dividido, portanto, em dois blocos: um grande blo-co catlico, que tomava todas as naes da Europa, tam-bm a Espanha depois que ela foi reconquistada; e o ma-ometano, que abrangia o Norte da frica, regies da sia e uma parte dos Blcs. Os dois blocos estavam nu-ma contnua guerra de carter religioso, numa constan-te frico.

    E os pontos de ataque mais frequentes foram, nos dois extremos de Europa: a Pennsula Ibrica, onde est a Es-panha e Portugal e, de outro lado, a Hungria. Os mao-metanos subiam em hordas, a partir de Constantinopla, e o intuito deles era de chegar Hungria, depois at a us-tria, tomar Viena e posteriormente descer Itlia para ocupar a S de So Pedro.

    O Imperador Bajazet, que foi talvez o mais famoso dos chefes maometanos, dizia que ele queria fazer o seu cavalo comer no altar de So Pedro, como numa manje-doura. E os povos que aguentavam, do lado do Ociden-te, a invaso maometana eram o espanhol e o portugus, que se tornaram famosos por causa de seu herosmo.

    Um povo-baluarte

    No focalizamos bastante o papel que tinham nes-se ponto os hngaros. Estes, precisamente, suportavam a presso maometana, para defender o Ocidente na Eu-ropa oriental, do outro lado do alicate, ou da tenaz mao-metana. E com batalhas heroicas, guerras, santos lutan-do do lado deles, com milagres, etc., algo que pode legi-timamente ser comparado, nos seus pontos altos, ao he-rosmo dos espanhis e portugueses contra os maometa-nos.

    A conquista desse povo-baluarte, ao qual a Europa deveu em grande parte a sua integridade contra as in-vestidas maometanas, e que tambm soube resistir muito bem ao protestantismo a Hungria era uma nao de fortssima maioria catlica, apenas uma parte dela pas-sou para o protestantismo , a converso dos hngaros teve, portanto, uma srie de consequncias para a Hist-ria do Ocidente, para a Histria da Cristandade.

    Tudo comeou com a converso de Santo Estvo e se consolidou com o reinado de Santo Amrico, filho de Santo Estvo e educado por ele.

    Tudo quanto diz respeito e esses primrdios da Cris-tandade na Hungria nos deve interessar profundamente. Ento, comentarei uma ficha1 que nos fala do modo pe-lo qual Santo Estvo instruiu seu filho, Santo Amrico, na arte de governar.

    Ningum dever aspirar realeza se no for catlico fiel

    Santo Estvo deixou para seu filho, Santo Amrico, uma instruo em dez artigos, sobre a maneira de bem go-vernar.

    Esses dez artigos so como que flores que deviam or-namentar a coroa real. O primeiro desses flores o se-guinte. Diz Santo Estvo:

    Como ningum dever aspirar realeza se no for ca-tlico fiel, demos o primeiro lugar das nossas instrues nossa santa F. Recomendo-vos, antes de tudo, meu que-rido filho, se quiserdes ilustrar a coroa real, professar com tanta firmeza a F catlica que possais servir de modelo aos sditos, e fazer com que todos os filhos e ministros da Igreja vos reconheam como verdadeiro cristo. Pois aque-le que professa uma falsa crena, ou que, professando a verdadeira, no a pratica em suas obras, esse no reina-r com glria nem participar do Reino eterno. Porm, se conservardes o escudo da F, tereis o capacete e o elmo da salvao. Com essas armas podereis combater legitima-mente os inimigos visveis e invisveis, pois disse o Apsto-lo: S ser coroado aquele que combater legitimamente. esta a F a que me refiro relembra o Smbolo de San-to Atansio.

    Se, pois, algum sob o vosso domnio procurar dividir, diminuir ou aumentar essa Trindade Santa, ficai ciente de que filho da heresia e no filho da Santa Igreja. Evitai, pois, seja aliment-lo, seja defend-lo, sob pena de pare-cerdes seu amigo e querer favorec-lo, pois as pessoas des-sa espcie contaminam os filhos da Santa F; sobretudo perderiam e corromperiam miseravelmente esse novo po-vo da Santa Igreja. Velai, acima de tudo, para que tal no acontea.

    Primeira tarefa do rei: ser bom catlico

    Santo Estvo se refere a um Credo chamado Smbo-lo de Santo Atansio, que se conserva at hoje na Igre-ja, contendo as principais verdades da F. Ele, ento, deixa ao filho esse Credo e diz que contm a verdadei-ra F catlica. Se algum quiser acrescentar ou tirar algo desse Credo, seja maldito. Porque o acrscimo no ser feito pela Igreja, mas por uma iniciativa puramente indi-

  • Hagiografia

    28

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    CC

    3.0

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    )

    vidual e contra o esprito da Esposa de Cristo. A sua re-duo uma mutilao da obra da Igreja.

    S quem pertence verdadeiramente Igreja merece apoio do rei. Aquele que no filho da Igreja, que no aceita o Credo catlico, no deve ser apoiado pelo mo-narca; o rei no deve nem aliment-lo, nem ajud-lo em nada, mas sim isol-lo e isolar-se dele, porque o herege contamina aquele que tem F. E seria uma tristeza que esse reino novo, nascido h pouco da F catlica, se con-taminasse com a heresia.

    E Santo Estvo acrescenta que a primeira tarefa do rei ser bom catlico. A finalidade do reino de ser um reino catlico. E por causa disso o monarca, por cima de tudo, h de dar provas de que ele um bom catlico, res-peitar os ministros do Altssimo, amar o povo de Deus; ele deve ser o chefe deste povo de Deus na luta.

    Se for bom catlico, continua Santo Estvo, ento ele ter glria como rei. Se for mau catlico, no ter es-ta glria e vai acabar se perdendo, porque s tem salva-o aquele que adota a verdadeira F catlica.

    Procurar antes de tudo o Reino de Deus e sua justia

    Esse princpio muito verdadeiro. Os pases, como os indivduos, tm obrigao de crer em Deus, servi-Lo e am-Lo sobre todas as coisas. Um pas comparvel a um indivduo, pois constitui o que se chama uma pessoa jurdica. Essa pessoa tem as mesmas obrigaes do indi-vduo. Um pas, coletivamente, o Estado, tem a obriga-

    o de conhecer e professar a F catlica. E assim co-mo cada um de ns tem por principal misso nesta vida praticar a F e propag-la, o Estado tem como primor-dial misso ser instrumento da Igreja para a difuso da F catlica.

    Antes de cuidar de finanas, boa administrao, di-plomacia, exrcitos, ou de qualquer outra coisa, o Esta-do deve tratar de, dentro de suas prprias fronteiras, ser-vir a Igreja Catlica, favorecer a influncia dela por to-dos os meios que estejam ao alcance do poder tempo-ral; e perseguir os inimigos da Igreja, ajudar os amigos dela, fazer com que todos os instrumentos do poder p-blico sejam utilizveis pela Igreja para influenciar o pas.

    Se o Estado fizer isso, alcana-r todas as outras coisas, pois se aplica a ele o mesmo que Nos-so Senhor Jesus Cristo disse aos indivduos: Buscai em primeiro lugar o Rei-no de Deus e sua justi-a e todas estas coisas vos sero dadas por acrscimo.2

    Quer dizer, se em al-gum lugar um rei faz to-do o possvel para servir a Igreja, ele ter reali-zado o resto; possuir bons sditos e ser

    Santo Estvo recebe enviados do Papa que lhe trazem uma coroa - Museu de Belas Artes, Budapeste, Hungria

    Esttua de Santo Estvo - Praa dos Heris, Budapeste, Hungria

  • 29

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    CC

    3.0

    )

    amado por eles. O bom sdito corajoso, leal, bom paga-dor de impostos, ordeiro, trabalhador, tem grandeza de alma, amor ao maravilhoso, idealismo, entusiasmo pelo sublime, produz uma grande cultura, uma grande civili-zao. A questo ser bom catlico.

    Se, pelo contrrio, no bom catlico, no produz na-da que preste.

    A verdadeira felicidade est muito mais nos bens da alma do que nos do corpo. E abaixo da virtude, o primei-ro bem da alma o equilbrio mental. A prosperidade de quem no catlico, com desequilbrios, maluqueiras, crimes, no verdadeira prosperidade. preciso procu-rar o Reino de Deus e sua justia, e todas as coisas sero dadas de acrscimo.

    Santo Estvo e Santo Amrico foram profundamen-te venerados pelos hngaros de todos os tempos que se seguiram a eles.

    Santo Estvo recebeu uma coroa enviada pelo Papa, e que at hoje se venera na Hungria como sendo o sm-bolo do poder. E, com a coroa, foi outorgado pelo Su-mo Pontfice a Santo Estvo o ttulo de Rex Apostoli-cus Rei Apostlico , porque ele tinha feito um to magnfico apostolado, a Hungria estava de tal maneira como uma ponta-de-lana apostlica voltada para as na-es brbaras, a fim de convert-las e jugul-las, que me-receu este ttulo. E com um privilgio que nenhum rei da Terra tinha: em toda parte onde ele fosse, podia ser pre-cedido por um dignatrio que levava diante dele a Cruz de Cristo. E era to elevado esse ttulo de Rei Apost-lico, que os imperadores da ustria, at o ltimo deles, que tambm eram reis da Hungria, se chamavam Vossa Majestade Imperial Apostlica, porque o Rei Apostli-co era o Rei da Hungria.

    O Estado existe para favorecer a Igreja

    O que melhor para um rei: ter esse prestgio ou uma polcia supermoderna, com espias, com escutas, etc.? evidente que esse prestgio vale mais do que to-das as polcias. Significa dominar as almas, influenciar pelos coraes. E quem destri um poder espiritual? Ningum.

    Dou uma prova lindssima disso: houve um rei que, na Bomia, teve o papel de Santo Estvo na Hungria; foi So Venceslau. At hoje a esttua de So Venceslau est no centro de Praga e no houve comunista que ousasse abat-la. Os comunistas acabaram com tudo, fecharam as igrejas, e at prenderam o clero. Na esttua de So Venceslau ningum tocou. E at hoje, quando h movi-mentos de protesto contra o regime comunista, a esttua de So Venceslau amanhece cheia de flores. a marca deixada num povo por um rei que procurou antes de tu-

    do o Reino de Deus e sua justia, e, por isso, todas as coi-sas lhe foram dadas por acrscimo.

    Quem me analisar encontrar no fundo de minhas concepes polticas esta ideia, esta doutrina catlica de que o Estado existe, antes de tudo, para servir a Igreja e favorecer o Reino de Deus; e, quando ele realiza esta misso, torna-se grande em todos os sentidos e debaixo de todos os pontos de vista. v

    (Extrado de conferncia de 17/1/1970)

    1) No possumos referncias bibliogrficas da obra citada.2) Mt 6, 33.

    Esttua equestre de Venceslau I Praga, Repblica Checa

  • Ornato e simplicidade

    A

    30

    LuzeS Da civiLizao criSt

    As igrejas do Brasil colonial eram bonitas, nobres e muito dignas. Manifestavam o contraste entre a intensa ornamentao e a simplicidade, causando

    aos olhos uma impresso agradvel.

    diferena entre York1 e Olin-da manifesta. quase um pouco descon-

    certante! Mas a igreja de Olinda, construda no sculo XVII, tem isso de agrad-vel: sente-se me-lhor a doura e a suavidade do vontade do matagal brasi-leiro. Ela emer-ge toda branqui-nha, muito apra-zvel, desta abun-dncia de verde, que no fundo provavel-mente o mato. A localiza-o, portanto, muito bonita.

    Nesta pgina e na seguinte: Igreja do Carmo - Olinda, Brasil

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    No fcil fazer um comentrio so-bre esta igreja, porque todos ns

    conhecemos uma poro de igrejas parecidas com ela.

    Nunca se copiam, so sempre diferentes,

    mas o mais poss-vel iguais. O que comentar a este respeito?

    Atmosfera de grandezaEla possui du-

    as torres. No cor-po central alguma coi-

    sa vagamente maneira de um tringulo, com trs ja-

    nelas. E, por assim dizer, em cada

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    andar da torre uma janela tambm. A fachada muito cui-dada, mas a parte lateral da igreja meio lambida e sem ne-nhum ornato por fora; em geral, as igrejas deste estilo so muito bonitas por dentro. No tem mais nada para comen-tar, exceto isto: h uma certa cor local, um certo ambien-te de brasilidade, sobre o qual chamo a ateno para dois pontos.

    Quando consideramos este edifcio, temos a impresso de algo que, em comparao com a Catedral de York, muito primitivo; e notamos que a igreja bonitinha. En-tretanto, fica por detrs uma atmosfera de grandeza que talvez no saibamos definir, e que julgo resultar da con-juno muito discreta de dois elementos: todo esse verde dessas rvores d uma ideia da enorme fecundidade do so-lo, e de um pas com uma natureza rica, generosa, dir-se--ia quase agressiva. A produo jorra de dentro do solo!

    Percebe-se que ningum trabalhou muito para que is-so fosse assim... Qualquer gro que se joga na terra j disputa com outros o espao vital, e l vai germinando e crescendo, como uma promessa enorme de uma grande-za vindoura!

    Por outro lado, vemos no fundo o mar imenso, de um colorido lindssimo! Nesse ponto no percebo que esteja picotado por nenhuma ilha, por nenhum recife, por na-da: o mar, o mar, o mar! Duas grandezas juntas: vasti-do e a ideia de grandeza.

    O tempo pode adornar e proporcionar certa dignidade

    A Igreja de Nossa Senhora das Neves, no convento de So Francisco, em Olinda, a construo mais antiga dos franciscanos no Brasil.

    H algo de impondervel aqui, ao menos para meu gosto, e que d muito sabor a isto. Se essas telhas fos-sem todas vermelhinhas e novinhas, isto no perderia al-go? Observem que uma telharia velha e manchada. O que tem isto que, se fosse novinho, perderia? Se esta tor-re tivesse sido recentemente caiada, mas de tal manei-ra que desse iluso de uma torrezinha novazinha em fo-lha, no perderia tambm? O que h de beleza em uma coisa, quando sobre ela passa o tempo, para que, em lti-ma anlise, o tempo a adorne, at mesmo quando ela fi-que estragada?

    Vejam, por exemplo, essas pedras da torre. Em al-guns lugares tem-se impresso que o tempo manchou, as intempries mancharam. Calores de arrebentar, chu-vas violentas, frescor nunca, pedra trabalhada, corro-da, torrada pelo sol, mas ntegra! Percebe-se que o tem-po passou sobre ela e lhe deu uma doura, uma digni-dade, um ar assim pensativo do ancio ou da anci que est na cadeira de balano, pensando e dizendo: Fugi-te irreparabile tempus! Como eu, quando era jovem, no

    Assim so os grandes e os pequenos na Terra: completam-se aos ps

    de Deus. Como o mundo seria rido e sem graa

    se s existissem grandes! Como ele vulgar quando

    s h pequenos!

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    gostava disso! Mas o tempo fugiu mesmo... Tem sua poesia.

    Como poesia tem, a meu ver, esse tufo de palmeira que est embaixo.

    Oraes, sacrifcios, tentaes, vitrias

    As palmeiras so muito bonitas e no impe-dem que se veja esta espcie de portal, de uma linha um pouco fantasiosa, mas elegante e bo-nito, que esta a. No se pode ter uma ideia in-teira dele. Quanto fachada do convento, po-de-se dizer que qualquer casa de fazenda do in-terior tem exatamente isto. uma residncia de fazendeiro antigo, com janela de guilhotina: trs janelas embaixo, trs janelas em cima. Dir--se-ia uma caixa, na qual algum recortou tesoura as ja-nelas, e est feito o plano da casa.

    Algum dir: Apreciao severa!No. Ela feita para que ns compreendamos o que

    o sabor das antigas eras. Como ns sabemos que aqui no residiu uma famlia, mas h bastante tempo mora uma Ordem Religiosa que durante muitos sculos foi uma Ordem recolhida, de pobreza, impregnada pela do-ura do Poverello , podemos imaginar a continuidade, a sucesso de frades que se revezavam ao longo das d-cadas nesse convento, sempre servindo, sempre rezan-do, sempre trabalhando, sempre afastados das coisas da Terra. E comea-se a pensar: Atravs de cada uma des-sas janelas, que mundo de oraes, que mundo de sacrif-cios No nos iludamos: que mundo de tentaes, que mundo de vitrias, que mundo de ao de graas, que provaes, que doenas, que preocupaes!

    A est a expresso que se desprende desse edifcio.

    Convento de So Francisco e Igreja Nossa Senhora das Neves - Olinda, Brasil

    A palmeira aristocrtica e as plantinhas completam-se

    Consideremos a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes. O nome diz tudo! Ns no te-mos que acrescentar nada.

    A fotografia situa num ngulo muito agradvel e mui-to potico a igreja. Mas precisamos reconhecer que ela quase teve mais a preocupao de dar a moldura verde da igreja, do que a igreja propriamente dita. A moldura muito agradvel.

    Eu nunca estive l, mas tenho a impresso que embaixo deve haver um valo e um cursozinho de gua qualquer ali. O elemento indispensvel da paisagem brasileira, e sobre-tudo da paisagem nordestina, est presente: as palmeiras.

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    Igreja Nossa Senhora dos Prazeres - Montes Guararapes, Recife, BrasilBatalha de Guararapes - Museu de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil

    Chamo a ateno particularmente para aquela pal-meira esguia, tendo no alto um mundo de folhas que o vento est sacudindo em todas as direes. Isso nos d um pouquinho a ideia da hierarquia na criao bo-tnica.

    H plantinhas mais comuns do que estas que se ve-em ali? Tenho a impresso de que, desde quando o mun-do foi criado, h plantas destas. Como elas so vulgarezi-nhas, comunzinhas, apagadas em comparao com a pal-meira aristocrtica, esguia que ostenta as suas folhas co-mo se fossem um braso!

    inegvel que, batidas pelo sol, consideradas no seu conjunto, estas plantinhas do uma ideia de pujana, de fertilidade, de variedade, de grandeza, so indispens-veis para o panorama! Se imaginssemos que houves-

    se s palmeiras aqui, como o panorama seria nada! Se no houvesse palmeiras, mas s estas plantinhas, no havia pano-rama!

    Assim so os grandes e os peque-nos na Terra: completam-se aos ps de Deus. Como o mundo seria rido e sem graa se s existissem grandes! Como ele vulgar quando s h pequenos! Peque-nos e grandes conjugados do a ordem que Deus quis.

    Fato concreto este: se algum me sugerisse abater tudo isto, fazer um gra-

    mado lindo nas duas margens desse crre-go, passar asfalto por debaixo do crrego para ficar bo-nito, eu diria: Voc no entendeu nada! Deixe assim, e acabou se!

    Lembrando as batalhas dos Guararapes

    Em frente Igreja de Nossa Senhora dos Guararapes vemos o clssico Cruzeiro. A igreja tem uma nota que no de qualquer igreja do tempo colonial. Nessa po-ca, as igrejas, com certa frequncia, visam ao horizontal, no ao esguio, ao alto. Esta tem isto, que para mim um grande mrito: ela visa ao esguio, ao alto!

    Notem que ela um pouco estreita em comparao com sua altura. As janelas dela tambm so de uma al-tura um pouco maior do que o comum, e um pouco des-proporcionadas, mas no sentido louvvel da palavra, em relao altura de cada janela. E aquele ornato central, tambm todo ele se volta especialmente para o alto. Dir--se-ia que h uma sede do esguio, do asctico, do voltado

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    LuzeS Da civiLizao criStpara o Cu e para as realidades de alm desta Terra, que aposta corrida com as duas palmeiras que se veem do ou-tro lado, e que no conseguem ter a altura da igreja.

    No cho, preciso bem reconhecer que no existe apenas a me natureza, mas existe o pai relaxamento. uma tristeza, mas assim.

    O todo esguio da igreja mais propcio a lembrar as batalhas dos Guararapes, a ascese, os heris, a luta reli-giosa, etc., do que se fosse uma igreja atarracada e mais dada para as comodidades dos grandes domingos tran-quilos.

    Vejam que belo ladrilho reveste as torres! Ladrilho, uma arte dos portugueses dos espanhis tambm. Em Portugal especialmente atingiu uma beleza excepcional, e esses ladrilhos vinham de Portugal. Mas no Brasil tam-bm se co