Revista Doctor Plinio -210_201509

36
Publicação Mensal Ano XVIII - Nº 210 Setembro de 2015 Combatividade, virtude cristã

description

Revista Doctor Plinio DrPlinio-210_201509

Transcript of Revista Doctor Plinio -210_201509

Page 1: Revista Doctor Plinio -210_201509

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Combatividade virtude cristatilde

S

Escudo e glaacutedio da Santa Igreja

2

Imagem de Satildeo Miguel (acervo particular)

Toronto Canadaacute

atildeo Miguel comandou a luta contra os democircnios e os precipitou no Inferno

Ele eacute pois o chefe dos Anjos da Guarda dos indiviacuteduos e das instituiccedilotildees E eacute ele mesmo o Anjo da Guarda da Instituiccedilatildeo por excelecircncia a Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana

Nele portanto duas missotildees se concatenam Deus quis servir-Se dele como seu escudo contra o democircnio e quer que ele seja tambeacutem o escudo dos homens e da Santa Igreja Mas o Priacutencipe da Miliacutecia Celeste natildeo eacute meramente escudo eacute tambeacutem glaacutedio Natildeo se limita a defender mas ele derrota e precipita no Inferno Eis a dupla missatildeo de Satildeo Miguel Arcanjo

Por causa disso ele era considerado na Idade Meacutedia o primeiro dos cavaleiros o cavaleiro celeste leal forte puro vitorioso como deve ser o cavaleiro que potildee toda a sua confianccedila em Deus e em Nossa Senhora

Esta eacute a figura admiraacutevel de Satildeo Miguel que noacutes devemos considerar nosso aliado nas lutas

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891966)

Gus

tavo

Kra

lj

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Combatividade virtude cristatilde

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

propriedade da Editora Retornarei Ltda CNPJ - 023893790001-07

INSC - 115227674110

Diretor

Gilberto de Oliveira

Conselho Consultivo Antonio Rodrigues Ferreira Carlos Augusto G Picanccedilo

Jorge Eduardo G Koury

Redaccedilatildeo e Administraccedilatildeo Rua Santo Egiacutedio 418

02461-010 S Paulo - SP Tel (11) 2236-1027

E-mail editora_retornareiyahoocombr

Impressatildeo e acabamento Graacutefica Print Induacutestria e Editora Ltda

Av Joatildeo Eugecircnio Gonccedilalves Pinheiro 350 78010-308 - Cuiabaacute - MT

Tel (65) 3617-7600

SumaacuterioSumaacuterioAno XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Preccedilos da assinatura anual

Comum R$ 13000Colaborador R$ 18000Propulsor R$ 41500Grande Propulsor R$ 65500Exemplar avulso R$ 1800

Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

TelFax (11) 2236-1027

Na capa Cristo do Apocalipse Sainte-Chapelle Paris Franccedila Foto Reproduccedilatildeo

Editorial

4 Combatividade uma fascinante caracteriacutestica da Igreja

dona lucilia

6 Eixo e modelo de todo verdadeiro afeto

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

dr Plinio comEnta

12 Um grande ato de Feacute

rEflExotildeES tEoloacutegicaS

16 A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

PErSPEctiva Pliniana da hiStoacuteria

20 Dom Joatildeo VI no Brasil - I

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Setembro

hagiografia

28 Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

luzES da civilizaccedilatildeo criStatilde

32 A beleza da luta - I

Uacuteltima Paacutegina

36 Nascimento da criatura perfeita

Editorial

Q

Combatividade uma fascinante caracteriacutestica

da Igreja

4

uando ainda muito jovem encontrava-se Dr Plinio certa vez junto com sua famiacutelia na Es-taccedilatildeo da Luz agrave espera do trem que os levaria a Aacuteguas da Prata cidade termal do interior do Estado de Satildeo Paulo Em determinado momento deparou-se numa pequena banca com uma publicaccedilatildeo cuja capa estampava o desenho de um imperador majestosamente sentado

rodeado de vassalos O conjunto da cena despertou em Dr Plinio vivo interesse pois sobressaiacutea ali um misto de forccedila bondade e heroiacutesmo O tiacutetulo da publicaccedilatildeo era ldquoHistoacuteria de Carlos Magno e os Doze Pares de Franccedilardquo

ldquoFiquei encantado mdash comentou deacutecadas mais tarde Dr Plinio mdash tocado ateacute o fundo da alma e entusiasmado sem saber por quecirc Ignorava o que eram os doze Pares de Franccedila e nunca tinha ouvi-do falar de Carlos Magno ou talvez tivesse uma ideia vaguiacutessima sobre ele Nem sabia que a pala-vra lsquomagnorsquo significa grande mas li aquele tiacutetulo e tive um choque achando aquele homem fantaacutesti-co como se fosse uma virtude personificada Entendi que ele representava uma personalidade cujo olhar englobava e dominava tudo num julgamento luacutecido das coisas e numa espeacutecie de poder uni-versal porque tinha as vistas voltadas para Deus e para as mais altas causas com um equiliacutebrio de forccedila de calma e de entrainrdquo1

Em seu primeiro encontro com o Imperador ldquoda barba floridardquo Dr Plinio percebeu que ldquono fun-do aquela figura de Carlos Magno representava a ideia que eu estava pronto para fazer a respeito de Deusrdquo2

Carlos Magno foi por assim dizer o pretexto utilizado pela Providecircncia para despertar na alma de Dr Plinio o amor agrave combatividade e por conseguinte a adoraccedilatildeo a Deus por meio desse atributo divi-no compreendendo que o Pai misericordioso eacute tambeacutem o ldquoSenhor dos Exeacutercitosrdquo3

A combatividade um dos mais fascinantes aspectos da Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana eacute muitas vezes silenciada Esquece-se com frequecircncia de considerar o caraacuteter militante da Igreja e da proacutepria vida do homem sobre a Terra Uma das causas desse silecircncio eacute o medo de proclamar a verdade indo contra a opiniatildeo imposta por um mundo ateu e sincretista

Com razatildeo denunciava Pio XII na Enciacuteclica Humani Generis ldquoExiste tambeacutem outro perigo que eacute tanto mais grave quanto se oculta sob a capa de virtude Muitos deplorando a discoacuterdia do gecircnero hu-mano e a confusatildeo reinante nas inteligecircncias dos homens e guiados por imprudente zelo das almas sen-tem-se levados por interno impulso e ardente desejo a romper as barreiras que separam entre si as pes-soas boas e honradas e propugnam uma espeacutecie de lsquoirenismorsquo que passando por alto as questotildees que dividem os homens se propotildee natildeo somente a combater em uniatildeo de forccedilas contra o ateiacutesmo avassala-dor senatildeo tambeacutem a reconciliar opiniotildees contraacuterias mesmo no campo dogmaacutetico rdquo4

Reconciliar opiniotildees contraacuterias no campo dogmaacutetico como adverte Pio XII eacute anestesiar a espinha dorsal da Igreja negando-lhe parte de sua vida mdash que eacute ser depoacutesito da Revelaccedilatildeo Divina mdash e de sua missatildeo de Matildee e Mestra da verdade ldquoCom efeito mdash dizia Dr Plinio mdash velar pela salvaccedilatildeo do proacuteximo

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

implica natildeo soacute favorecer tudo quanto possa concorrer para levaacute-lo ao bem como ainda em contra-riar e combater todas as influecircncias que o podem arrastar para o malrdquo5

Nessa perspectiva continuando diz o Pontiacutefice acima citado ldquoSe tais propugnadores natildeo preten-dessem mais do que acomodar com alguma renovaccedilatildeo o ensino eclesiaacutestico e seus meacutetodos agraves condi-ccedilotildees e necessidades atuais natildeo haveria quase nada que temer contudo alguns deles arrebatados por imprudente lsquoirenismorsquo parecem considerar como oacutebice para restabelecer a unidade fraterna justamen-te aquilo que se fundamenta nas proacuteprias leis e princiacutepios legados por Cristo e nas instituiccedilotildees por ele fundadas ou o que constitui a defesa e o sustentaacuteculo da integridade da feacute com a queda do qual se uniriam todas as coisas sim mas somente na comum ruiacutenardquo6

Eis o perigo da falta de combatividade reinante no espiacuterito moderno sobretudo em relaccedilatildeo aos as-suntos inerentes agrave salvaccedilatildeo das almas Esse pernicioso fenocircmeno tambeacutem natildeo passou despercebido por Paulo VI ldquoa espada do espiacuterito parece repousar na bainha da duacutevida e do irenismo Mas eacute precisa-mente por isto que a mensagem da verdade religiosa deve ressoar com maior vigor Os homens tecircm ne-cessidade de crer em quem se mostra seguro daquilo que ensinardquo7

Eacute esta uma das razotildees pelas quais afirmava Dr Plinio ldquoEacute muito importante que os contrarrevo-lucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio compreendam seriamen-te a beleza da lutardquo8

Se hoje eacute pouco considerado o caraacuteter militante da Igreja eacute porque muitas vezes no passado faltou consideraacute-lo associado agrave virtude da caridade criando-se o mito de que a combatividade e a bondade satildeo antagocircnicas e por isso natildeo podem coexistir em harmonia

Foi aliaacutes a conjugaccedilatildeo perfeita dessas virtudes o que Dr Plinio discerniu em Carlos Magno ldquoEn-contrarei ali o equiliacutebrio entre a forccedila e a bondade que eu tanto procuravardquo9

Nesta ediccedilatildeo Dr Plinio nos aponta outro possante exemplo de guerreiro cheio de bondade10 aleacutem de variados aspectos da beleza da luta11 convidando-nos a ter como aliado Satildeo Miguel ldquoescudo e glaacute-dio da Santa Igrejardquo12

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Notas Autobiograacuteficas Vol II Satildeo Paulo Editora Retornarei 2010 p 450

2) Idem3) 1Sm 1 34) AAS 42 (1950) p 5645) Cf ldquoO caraacuteter militante da Igrejardquo in Dr Plinio n 53 p 236) PIO XII Op cit p 564-565 7) ldquoAlocuccedilatildeo aos paacuterocos e pregadores quaresmais de Roma 1221964rdquo

in Osservatore Romano 21219648) Ver nesta ediccedilatildeo ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-359) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Op cit p 45110) ldquoBeato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreirosrdquo p 28-3111) ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-3512) Paacutegina 2

Eixo e modelo de todo

verdadeiro afeto

N

6

Dona LuciLia

O afeto de Dona Lucilia para com os outros tinha como

modelo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o corolaacuterio desse afeto

era a abnegaccedilatildeo Bem o contraacuterio da mentalidade hollywoodiana

que se caracteriza pelo otimismo egoiacutestico

a concepccedilatildeo de Dona Lucilia sobre as relaccedilotildees psicoloacutegicas humanas o termo final do rela-cionamento era o afeto E o afeto tinha uma

importacircncia enorme no modo dela conceber a vida

Afeto cheio de admiraccedilatildeo renuacutencia de si mesmo

Mamatildee considerava que quando as pessoas se conhe-cem e encontram uma verdadeira e seacuteria afinidade isso desfecha num afeto muacutetuo E portanto para o proces-so mental de uma criatura humana em face da outra se-ja qual for a natureza das relaccedilotildees mdash pai filho marido mulher irmatildeo irmatilde amigo mdash o desfecho eacute se contem-

Arq

uivo

Rev

ista

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 2: Revista Doctor Plinio -210_201509

S

Escudo e glaacutedio da Santa Igreja

2

Imagem de Satildeo Miguel (acervo particular)

Toronto Canadaacute

atildeo Miguel comandou a luta contra os democircnios e os precipitou no Inferno

Ele eacute pois o chefe dos Anjos da Guarda dos indiviacuteduos e das instituiccedilotildees E eacute ele mesmo o Anjo da Guarda da Instituiccedilatildeo por excelecircncia a Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana

Nele portanto duas missotildees se concatenam Deus quis servir-Se dele como seu escudo contra o democircnio e quer que ele seja tambeacutem o escudo dos homens e da Santa Igreja Mas o Priacutencipe da Miliacutecia Celeste natildeo eacute meramente escudo eacute tambeacutem glaacutedio Natildeo se limita a defender mas ele derrota e precipita no Inferno Eis a dupla missatildeo de Satildeo Miguel Arcanjo

Por causa disso ele era considerado na Idade Meacutedia o primeiro dos cavaleiros o cavaleiro celeste leal forte puro vitorioso como deve ser o cavaleiro que potildee toda a sua confianccedila em Deus e em Nossa Senhora

Esta eacute a figura admiraacutevel de Satildeo Miguel que noacutes devemos considerar nosso aliado nas lutas

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891966)

Gus

tavo

Kra

lj

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Combatividade virtude cristatilde

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

propriedade da Editora Retornarei Ltda CNPJ - 023893790001-07

INSC - 115227674110

Diretor

Gilberto de Oliveira

Conselho Consultivo Antonio Rodrigues Ferreira Carlos Augusto G Picanccedilo

Jorge Eduardo G Koury

Redaccedilatildeo e Administraccedilatildeo Rua Santo Egiacutedio 418

02461-010 S Paulo - SP Tel (11) 2236-1027

E-mail editora_retornareiyahoocombr

Impressatildeo e acabamento Graacutefica Print Induacutestria e Editora Ltda

Av Joatildeo Eugecircnio Gonccedilalves Pinheiro 350 78010-308 - Cuiabaacute - MT

Tel (65) 3617-7600

SumaacuterioSumaacuterioAno XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Preccedilos da assinatura anual

Comum R$ 13000Colaborador R$ 18000Propulsor R$ 41500Grande Propulsor R$ 65500Exemplar avulso R$ 1800

Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

TelFax (11) 2236-1027

Na capa Cristo do Apocalipse Sainte-Chapelle Paris Franccedila Foto Reproduccedilatildeo

Editorial

4 Combatividade uma fascinante caracteriacutestica da Igreja

dona lucilia

6 Eixo e modelo de todo verdadeiro afeto

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

dr Plinio comEnta

12 Um grande ato de Feacute

rEflExotildeES tEoloacutegicaS

16 A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

PErSPEctiva Pliniana da hiStoacuteria

20 Dom Joatildeo VI no Brasil - I

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Setembro

hagiografia

28 Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

luzES da civilizaccedilatildeo criStatilde

32 A beleza da luta - I

Uacuteltima Paacutegina

36 Nascimento da criatura perfeita

Editorial

Q

Combatividade uma fascinante caracteriacutestica

da Igreja

4

uando ainda muito jovem encontrava-se Dr Plinio certa vez junto com sua famiacutelia na Es-taccedilatildeo da Luz agrave espera do trem que os levaria a Aacuteguas da Prata cidade termal do interior do Estado de Satildeo Paulo Em determinado momento deparou-se numa pequena banca com uma publicaccedilatildeo cuja capa estampava o desenho de um imperador majestosamente sentado

rodeado de vassalos O conjunto da cena despertou em Dr Plinio vivo interesse pois sobressaiacutea ali um misto de forccedila bondade e heroiacutesmo O tiacutetulo da publicaccedilatildeo era ldquoHistoacuteria de Carlos Magno e os Doze Pares de Franccedilardquo

ldquoFiquei encantado mdash comentou deacutecadas mais tarde Dr Plinio mdash tocado ateacute o fundo da alma e entusiasmado sem saber por quecirc Ignorava o que eram os doze Pares de Franccedila e nunca tinha ouvi-do falar de Carlos Magno ou talvez tivesse uma ideia vaguiacutessima sobre ele Nem sabia que a pala-vra lsquomagnorsquo significa grande mas li aquele tiacutetulo e tive um choque achando aquele homem fantaacutesti-co como se fosse uma virtude personificada Entendi que ele representava uma personalidade cujo olhar englobava e dominava tudo num julgamento luacutecido das coisas e numa espeacutecie de poder uni-versal porque tinha as vistas voltadas para Deus e para as mais altas causas com um equiliacutebrio de forccedila de calma e de entrainrdquo1

Em seu primeiro encontro com o Imperador ldquoda barba floridardquo Dr Plinio percebeu que ldquono fun-do aquela figura de Carlos Magno representava a ideia que eu estava pronto para fazer a respeito de Deusrdquo2

Carlos Magno foi por assim dizer o pretexto utilizado pela Providecircncia para despertar na alma de Dr Plinio o amor agrave combatividade e por conseguinte a adoraccedilatildeo a Deus por meio desse atributo divi-no compreendendo que o Pai misericordioso eacute tambeacutem o ldquoSenhor dos Exeacutercitosrdquo3

A combatividade um dos mais fascinantes aspectos da Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana eacute muitas vezes silenciada Esquece-se com frequecircncia de considerar o caraacuteter militante da Igreja e da proacutepria vida do homem sobre a Terra Uma das causas desse silecircncio eacute o medo de proclamar a verdade indo contra a opiniatildeo imposta por um mundo ateu e sincretista

Com razatildeo denunciava Pio XII na Enciacuteclica Humani Generis ldquoExiste tambeacutem outro perigo que eacute tanto mais grave quanto se oculta sob a capa de virtude Muitos deplorando a discoacuterdia do gecircnero hu-mano e a confusatildeo reinante nas inteligecircncias dos homens e guiados por imprudente zelo das almas sen-tem-se levados por interno impulso e ardente desejo a romper as barreiras que separam entre si as pes-soas boas e honradas e propugnam uma espeacutecie de lsquoirenismorsquo que passando por alto as questotildees que dividem os homens se propotildee natildeo somente a combater em uniatildeo de forccedilas contra o ateiacutesmo avassala-dor senatildeo tambeacutem a reconciliar opiniotildees contraacuterias mesmo no campo dogmaacutetico rdquo4

Reconciliar opiniotildees contraacuterias no campo dogmaacutetico como adverte Pio XII eacute anestesiar a espinha dorsal da Igreja negando-lhe parte de sua vida mdash que eacute ser depoacutesito da Revelaccedilatildeo Divina mdash e de sua missatildeo de Matildee e Mestra da verdade ldquoCom efeito mdash dizia Dr Plinio mdash velar pela salvaccedilatildeo do proacuteximo

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

implica natildeo soacute favorecer tudo quanto possa concorrer para levaacute-lo ao bem como ainda em contra-riar e combater todas as influecircncias que o podem arrastar para o malrdquo5

Nessa perspectiva continuando diz o Pontiacutefice acima citado ldquoSe tais propugnadores natildeo preten-dessem mais do que acomodar com alguma renovaccedilatildeo o ensino eclesiaacutestico e seus meacutetodos agraves condi-ccedilotildees e necessidades atuais natildeo haveria quase nada que temer contudo alguns deles arrebatados por imprudente lsquoirenismorsquo parecem considerar como oacutebice para restabelecer a unidade fraterna justamen-te aquilo que se fundamenta nas proacuteprias leis e princiacutepios legados por Cristo e nas instituiccedilotildees por ele fundadas ou o que constitui a defesa e o sustentaacuteculo da integridade da feacute com a queda do qual se uniriam todas as coisas sim mas somente na comum ruiacutenardquo6

Eis o perigo da falta de combatividade reinante no espiacuterito moderno sobretudo em relaccedilatildeo aos as-suntos inerentes agrave salvaccedilatildeo das almas Esse pernicioso fenocircmeno tambeacutem natildeo passou despercebido por Paulo VI ldquoa espada do espiacuterito parece repousar na bainha da duacutevida e do irenismo Mas eacute precisa-mente por isto que a mensagem da verdade religiosa deve ressoar com maior vigor Os homens tecircm ne-cessidade de crer em quem se mostra seguro daquilo que ensinardquo7

Eacute esta uma das razotildees pelas quais afirmava Dr Plinio ldquoEacute muito importante que os contrarrevo-lucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio compreendam seriamen-te a beleza da lutardquo8

Se hoje eacute pouco considerado o caraacuteter militante da Igreja eacute porque muitas vezes no passado faltou consideraacute-lo associado agrave virtude da caridade criando-se o mito de que a combatividade e a bondade satildeo antagocircnicas e por isso natildeo podem coexistir em harmonia

Foi aliaacutes a conjugaccedilatildeo perfeita dessas virtudes o que Dr Plinio discerniu em Carlos Magno ldquoEn-contrarei ali o equiliacutebrio entre a forccedila e a bondade que eu tanto procuravardquo9

Nesta ediccedilatildeo Dr Plinio nos aponta outro possante exemplo de guerreiro cheio de bondade10 aleacutem de variados aspectos da beleza da luta11 convidando-nos a ter como aliado Satildeo Miguel ldquoescudo e glaacute-dio da Santa Igrejardquo12

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Notas Autobiograacuteficas Vol II Satildeo Paulo Editora Retornarei 2010 p 450

2) Idem3) 1Sm 1 34) AAS 42 (1950) p 5645) Cf ldquoO caraacuteter militante da Igrejardquo in Dr Plinio n 53 p 236) PIO XII Op cit p 564-565 7) ldquoAlocuccedilatildeo aos paacuterocos e pregadores quaresmais de Roma 1221964rdquo

in Osservatore Romano 21219648) Ver nesta ediccedilatildeo ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-359) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Op cit p 45110) ldquoBeato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreirosrdquo p 28-3111) ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-3512) Paacutegina 2

Eixo e modelo de todo

verdadeiro afeto

N

6

Dona LuciLia

O afeto de Dona Lucilia para com os outros tinha como

modelo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o corolaacuterio desse afeto

era a abnegaccedilatildeo Bem o contraacuterio da mentalidade hollywoodiana

que se caracteriza pelo otimismo egoiacutestico

a concepccedilatildeo de Dona Lucilia sobre as relaccedilotildees psicoloacutegicas humanas o termo final do rela-cionamento era o afeto E o afeto tinha uma

importacircncia enorme no modo dela conceber a vida

Afeto cheio de admiraccedilatildeo renuacutencia de si mesmo

Mamatildee considerava que quando as pessoas se conhe-cem e encontram uma verdadeira e seacuteria afinidade isso desfecha num afeto muacutetuo E portanto para o proces-so mental de uma criatura humana em face da outra se-ja qual for a natureza das relaccedilotildees mdash pai filho marido mulher irmatildeo irmatilde amigo mdash o desfecho eacute se contem-

Arq

uivo

Rev

ista

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 3: Revista Doctor Plinio -210_201509

As mateacuterias extraiacutedas de exposiccedilotildees verbais de Dr Plinio

mdash designadas por ldquoconferecircnciasrdquo mdash satildeo adaptadas para a linguagem

escrita sem revisatildeo do autor

Publicaccedilatildeo Mensal Ano XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Combatividade virtude cristatilde

3

Dr PlinioDr PlinioRevista mensal de cultura catoacutelica de

propriedade da Editora Retornarei Ltda CNPJ - 023893790001-07

INSC - 115227674110

Diretor

Gilberto de Oliveira

Conselho Consultivo Antonio Rodrigues Ferreira Carlos Augusto G Picanccedilo

Jorge Eduardo G Koury

Redaccedilatildeo e Administraccedilatildeo Rua Santo Egiacutedio 418

02461-010 S Paulo - SP Tel (11) 2236-1027

E-mail editora_retornareiyahoocombr

Impressatildeo e acabamento Graacutefica Print Induacutestria e Editora Ltda

Av Joatildeo Eugecircnio Gonccedilalves Pinheiro 350 78010-308 - Cuiabaacute - MT

Tel (65) 3617-7600

SumaacuterioSumaacuterioAno XVIII - Nordm 210 Setembro de 2015

Preccedilos da assinatura anual

Comum R$ 13000Colaborador R$ 18000Propulsor R$ 41500Grande Propulsor R$ 65500Exemplar avulso R$ 1800

Serviccedilo de Atendimento ao Assinante

TelFax (11) 2236-1027

Na capa Cristo do Apocalipse Sainte-Chapelle Paris Franccedila Foto Reproduccedilatildeo

Editorial

4 Combatividade uma fascinante caracteriacutestica da Igreja

dona lucilia

6 Eixo e modelo de todo verdadeiro afeto

Sagrado coraccedilatildeo dE JESuS

8 Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

dr Plinio comEnta

12 Um grande ato de Feacute

rEflExotildeES tEoloacutegicaS

16 A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

PErSPEctiva Pliniana da hiStoacuteria

20 Dom Joatildeo VI no Brasil - I

calEndaacuterio doS SantoS

26 Santos de Setembro

hagiografia

28 Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

luzES da civilizaccedilatildeo criStatilde

32 A beleza da luta - I

Uacuteltima Paacutegina

36 Nascimento da criatura perfeita

Editorial

Q

Combatividade uma fascinante caracteriacutestica

da Igreja

4

uando ainda muito jovem encontrava-se Dr Plinio certa vez junto com sua famiacutelia na Es-taccedilatildeo da Luz agrave espera do trem que os levaria a Aacuteguas da Prata cidade termal do interior do Estado de Satildeo Paulo Em determinado momento deparou-se numa pequena banca com uma publicaccedilatildeo cuja capa estampava o desenho de um imperador majestosamente sentado

rodeado de vassalos O conjunto da cena despertou em Dr Plinio vivo interesse pois sobressaiacutea ali um misto de forccedila bondade e heroiacutesmo O tiacutetulo da publicaccedilatildeo era ldquoHistoacuteria de Carlos Magno e os Doze Pares de Franccedilardquo

ldquoFiquei encantado mdash comentou deacutecadas mais tarde Dr Plinio mdash tocado ateacute o fundo da alma e entusiasmado sem saber por quecirc Ignorava o que eram os doze Pares de Franccedila e nunca tinha ouvi-do falar de Carlos Magno ou talvez tivesse uma ideia vaguiacutessima sobre ele Nem sabia que a pala-vra lsquomagnorsquo significa grande mas li aquele tiacutetulo e tive um choque achando aquele homem fantaacutesti-co como se fosse uma virtude personificada Entendi que ele representava uma personalidade cujo olhar englobava e dominava tudo num julgamento luacutecido das coisas e numa espeacutecie de poder uni-versal porque tinha as vistas voltadas para Deus e para as mais altas causas com um equiliacutebrio de forccedila de calma e de entrainrdquo1

Em seu primeiro encontro com o Imperador ldquoda barba floridardquo Dr Plinio percebeu que ldquono fun-do aquela figura de Carlos Magno representava a ideia que eu estava pronto para fazer a respeito de Deusrdquo2

Carlos Magno foi por assim dizer o pretexto utilizado pela Providecircncia para despertar na alma de Dr Plinio o amor agrave combatividade e por conseguinte a adoraccedilatildeo a Deus por meio desse atributo divi-no compreendendo que o Pai misericordioso eacute tambeacutem o ldquoSenhor dos Exeacutercitosrdquo3

A combatividade um dos mais fascinantes aspectos da Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana eacute muitas vezes silenciada Esquece-se com frequecircncia de considerar o caraacuteter militante da Igreja e da proacutepria vida do homem sobre a Terra Uma das causas desse silecircncio eacute o medo de proclamar a verdade indo contra a opiniatildeo imposta por um mundo ateu e sincretista

Com razatildeo denunciava Pio XII na Enciacuteclica Humani Generis ldquoExiste tambeacutem outro perigo que eacute tanto mais grave quanto se oculta sob a capa de virtude Muitos deplorando a discoacuterdia do gecircnero hu-mano e a confusatildeo reinante nas inteligecircncias dos homens e guiados por imprudente zelo das almas sen-tem-se levados por interno impulso e ardente desejo a romper as barreiras que separam entre si as pes-soas boas e honradas e propugnam uma espeacutecie de lsquoirenismorsquo que passando por alto as questotildees que dividem os homens se propotildee natildeo somente a combater em uniatildeo de forccedilas contra o ateiacutesmo avassala-dor senatildeo tambeacutem a reconciliar opiniotildees contraacuterias mesmo no campo dogmaacutetico rdquo4

Reconciliar opiniotildees contraacuterias no campo dogmaacutetico como adverte Pio XII eacute anestesiar a espinha dorsal da Igreja negando-lhe parte de sua vida mdash que eacute ser depoacutesito da Revelaccedilatildeo Divina mdash e de sua missatildeo de Matildee e Mestra da verdade ldquoCom efeito mdash dizia Dr Plinio mdash velar pela salvaccedilatildeo do proacuteximo

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

implica natildeo soacute favorecer tudo quanto possa concorrer para levaacute-lo ao bem como ainda em contra-riar e combater todas as influecircncias que o podem arrastar para o malrdquo5

Nessa perspectiva continuando diz o Pontiacutefice acima citado ldquoSe tais propugnadores natildeo preten-dessem mais do que acomodar com alguma renovaccedilatildeo o ensino eclesiaacutestico e seus meacutetodos agraves condi-ccedilotildees e necessidades atuais natildeo haveria quase nada que temer contudo alguns deles arrebatados por imprudente lsquoirenismorsquo parecem considerar como oacutebice para restabelecer a unidade fraterna justamen-te aquilo que se fundamenta nas proacuteprias leis e princiacutepios legados por Cristo e nas instituiccedilotildees por ele fundadas ou o que constitui a defesa e o sustentaacuteculo da integridade da feacute com a queda do qual se uniriam todas as coisas sim mas somente na comum ruiacutenardquo6

Eis o perigo da falta de combatividade reinante no espiacuterito moderno sobretudo em relaccedilatildeo aos as-suntos inerentes agrave salvaccedilatildeo das almas Esse pernicioso fenocircmeno tambeacutem natildeo passou despercebido por Paulo VI ldquoa espada do espiacuterito parece repousar na bainha da duacutevida e do irenismo Mas eacute precisa-mente por isto que a mensagem da verdade religiosa deve ressoar com maior vigor Os homens tecircm ne-cessidade de crer em quem se mostra seguro daquilo que ensinardquo7

Eacute esta uma das razotildees pelas quais afirmava Dr Plinio ldquoEacute muito importante que os contrarrevo-lucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio compreendam seriamen-te a beleza da lutardquo8

Se hoje eacute pouco considerado o caraacuteter militante da Igreja eacute porque muitas vezes no passado faltou consideraacute-lo associado agrave virtude da caridade criando-se o mito de que a combatividade e a bondade satildeo antagocircnicas e por isso natildeo podem coexistir em harmonia

Foi aliaacutes a conjugaccedilatildeo perfeita dessas virtudes o que Dr Plinio discerniu em Carlos Magno ldquoEn-contrarei ali o equiliacutebrio entre a forccedila e a bondade que eu tanto procuravardquo9

Nesta ediccedilatildeo Dr Plinio nos aponta outro possante exemplo de guerreiro cheio de bondade10 aleacutem de variados aspectos da beleza da luta11 convidando-nos a ter como aliado Satildeo Miguel ldquoescudo e glaacute-dio da Santa Igrejardquo12

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Notas Autobiograacuteficas Vol II Satildeo Paulo Editora Retornarei 2010 p 450

2) Idem3) 1Sm 1 34) AAS 42 (1950) p 5645) Cf ldquoO caraacuteter militante da Igrejardquo in Dr Plinio n 53 p 236) PIO XII Op cit p 564-565 7) ldquoAlocuccedilatildeo aos paacuterocos e pregadores quaresmais de Roma 1221964rdquo

in Osservatore Romano 21219648) Ver nesta ediccedilatildeo ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-359) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Op cit p 45110) ldquoBeato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreirosrdquo p 28-3111) ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-3512) Paacutegina 2

Eixo e modelo de todo

verdadeiro afeto

N

6

Dona LuciLia

O afeto de Dona Lucilia para com os outros tinha como

modelo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o corolaacuterio desse afeto

era a abnegaccedilatildeo Bem o contraacuterio da mentalidade hollywoodiana

que se caracteriza pelo otimismo egoiacutestico

a concepccedilatildeo de Dona Lucilia sobre as relaccedilotildees psicoloacutegicas humanas o termo final do rela-cionamento era o afeto E o afeto tinha uma

importacircncia enorme no modo dela conceber a vida

Afeto cheio de admiraccedilatildeo renuacutencia de si mesmo

Mamatildee considerava que quando as pessoas se conhe-cem e encontram uma verdadeira e seacuteria afinidade isso desfecha num afeto muacutetuo E portanto para o proces-so mental de uma criatura humana em face da outra se-ja qual for a natureza das relaccedilotildees mdash pai filho marido mulher irmatildeo irmatilde amigo mdash o desfecho eacute se contem-

Arq

uivo

Rev

ista

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 4: Revista Doctor Plinio -210_201509

Editorial

Q

Combatividade uma fascinante caracteriacutestica

da Igreja

4

uando ainda muito jovem encontrava-se Dr Plinio certa vez junto com sua famiacutelia na Es-taccedilatildeo da Luz agrave espera do trem que os levaria a Aacuteguas da Prata cidade termal do interior do Estado de Satildeo Paulo Em determinado momento deparou-se numa pequena banca com uma publicaccedilatildeo cuja capa estampava o desenho de um imperador majestosamente sentado

rodeado de vassalos O conjunto da cena despertou em Dr Plinio vivo interesse pois sobressaiacutea ali um misto de forccedila bondade e heroiacutesmo O tiacutetulo da publicaccedilatildeo era ldquoHistoacuteria de Carlos Magno e os Doze Pares de Franccedilardquo

ldquoFiquei encantado mdash comentou deacutecadas mais tarde Dr Plinio mdash tocado ateacute o fundo da alma e entusiasmado sem saber por quecirc Ignorava o que eram os doze Pares de Franccedila e nunca tinha ouvi-do falar de Carlos Magno ou talvez tivesse uma ideia vaguiacutessima sobre ele Nem sabia que a pala-vra lsquomagnorsquo significa grande mas li aquele tiacutetulo e tive um choque achando aquele homem fantaacutesti-co como se fosse uma virtude personificada Entendi que ele representava uma personalidade cujo olhar englobava e dominava tudo num julgamento luacutecido das coisas e numa espeacutecie de poder uni-versal porque tinha as vistas voltadas para Deus e para as mais altas causas com um equiliacutebrio de forccedila de calma e de entrainrdquo1

Em seu primeiro encontro com o Imperador ldquoda barba floridardquo Dr Plinio percebeu que ldquono fun-do aquela figura de Carlos Magno representava a ideia que eu estava pronto para fazer a respeito de Deusrdquo2

Carlos Magno foi por assim dizer o pretexto utilizado pela Providecircncia para despertar na alma de Dr Plinio o amor agrave combatividade e por conseguinte a adoraccedilatildeo a Deus por meio desse atributo divi-no compreendendo que o Pai misericordioso eacute tambeacutem o ldquoSenhor dos Exeacutercitosrdquo3

A combatividade um dos mais fascinantes aspectos da Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana eacute muitas vezes silenciada Esquece-se com frequecircncia de considerar o caraacuteter militante da Igreja e da proacutepria vida do homem sobre a Terra Uma das causas desse silecircncio eacute o medo de proclamar a verdade indo contra a opiniatildeo imposta por um mundo ateu e sincretista

Com razatildeo denunciava Pio XII na Enciacuteclica Humani Generis ldquoExiste tambeacutem outro perigo que eacute tanto mais grave quanto se oculta sob a capa de virtude Muitos deplorando a discoacuterdia do gecircnero hu-mano e a confusatildeo reinante nas inteligecircncias dos homens e guiados por imprudente zelo das almas sen-tem-se levados por interno impulso e ardente desejo a romper as barreiras que separam entre si as pes-soas boas e honradas e propugnam uma espeacutecie de lsquoirenismorsquo que passando por alto as questotildees que dividem os homens se propotildee natildeo somente a combater em uniatildeo de forccedilas contra o ateiacutesmo avassala-dor senatildeo tambeacutem a reconciliar opiniotildees contraacuterias mesmo no campo dogmaacutetico rdquo4

Reconciliar opiniotildees contraacuterias no campo dogmaacutetico como adverte Pio XII eacute anestesiar a espinha dorsal da Igreja negando-lhe parte de sua vida mdash que eacute ser depoacutesito da Revelaccedilatildeo Divina mdash e de sua missatildeo de Matildee e Mestra da verdade ldquoCom efeito mdash dizia Dr Plinio mdash velar pela salvaccedilatildeo do proacuteximo

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

implica natildeo soacute favorecer tudo quanto possa concorrer para levaacute-lo ao bem como ainda em contra-riar e combater todas as influecircncias que o podem arrastar para o malrdquo5

Nessa perspectiva continuando diz o Pontiacutefice acima citado ldquoSe tais propugnadores natildeo preten-dessem mais do que acomodar com alguma renovaccedilatildeo o ensino eclesiaacutestico e seus meacutetodos agraves condi-ccedilotildees e necessidades atuais natildeo haveria quase nada que temer contudo alguns deles arrebatados por imprudente lsquoirenismorsquo parecem considerar como oacutebice para restabelecer a unidade fraterna justamen-te aquilo que se fundamenta nas proacuteprias leis e princiacutepios legados por Cristo e nas instituiccedilotildees por ele fundadas ou o que constitui a defesa e o sustentaacuteculo da integridade da feacute com a queda do qual se uniriam todas as coisas sim mas somente na comum ruiacutenardquo6

Eis o perigo da falta de combatividade reinante no espiacuterito moderno sobretudo em relaccedilatildeo aos as-suntos inerentes agrave salvaccedilatildeo das almas Esse pernicioso fenocircmeno tambeacutem natildeo passou despercebido por Paulo VI ldquoa espada do espiacuterito parece repousar na bainha da duacutevida e do irenismo Mas eacute precisa-mente por isto que a mensagem da verdade religiosa deve ressoar com maior vigor Os homens tecircm ne-cessidade de crer em quem se mostra seguro daquilo que ensinardquo7

Eacute esta uma das razotildees pelas quais afirmava Dr Plinio ldquoEacute muito importante que os contrarrevo-lucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio compreendam seriamen-te a beleza da lutardquo8

Se hoje eacute pouco considerado o caraacuteter militante da Igreja eacute porque muitas vezes no passado faltou consideraacute-lo associado agrave virtude da caridade criando-se o mito de que a combatividade e a bondade satildeo antagocircnicas e por isso natildeo podem coexistir em harmonia

Foi aliaacutes a conjugaccedilatildeo perfeita dessas virtudes o que Dr Plinio discerniu em Carlos Magno ldquoEn-contrarei ali o equiliacutebrio entre a forccedila e a bondade que eu tanto procuravardquo9

Nesta ediccedilatildeo Dr Plinio nos aponta outro possante exemplo de guerreiro cheio de bondade10 aleacutem de variados aspectos da beleza da luta11 convidando-nos a ter como aliado Satildeo Miguel ldquoescudo e glaacute-dio da Santa Igrejardquo12

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Notas Autobiograacuteficas Vol II Satildeo Paulo Editora Retornarei 2010 p 450

2) Idem3) 1Sm 1 34) AAS 42 (1950) p 5645) Cf ldquoO caraacuteter militante da Igrejardquo in Dr Plinio n 53 p 236) PIO XII Op cit p 564-565 7) ldquoAlocuccedilatildeo aos paacuterocos e pregadores quaresmais de Roma 1221964rdquo

in Osservatore Romano 21219648) Ver nesta ediccedilatildeo ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-359) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Op cit p 45110) ldquoBeato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreirosrdquo p 28-3111) ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-3512) Paacutegina 2

Eixo e modelo de todo

verdadeiro afeto

N

6

Dona LuciLia

O afeto de Dona Lucilia para com os outros tinha como

modelo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o corolaacuterio desse afeto

era a abnegaccedilatildeo Bem o contraacuterio da mentalidade hollywoodiana

que se caracteriza pelo otimismo egoiacutestico

a concepccedilatildeo de Dona Lucilia sobre as relaccedilotildees psicoloacutegicas humanas o termo final do rela-cionamento era o afeto E o afeto tinha uma

importacircncia enorme no modo dela conceber a vida

Afeto cheio de admiraccedilatildeo renuacutencia de si mesmo

Mamatildee considerava que quando as pessoas se conhe-cem e encontram uma verdadeira e seacuteria afinidade isso desfecha num afeto muacutetuo E portanto para o proces-so mental de uma criatura humana em face da outra se-ja qual for a natureza das relaccedilotildees mdash pai filho marido mulher irmatildeo irmatilde amigo mdash o desfecho eacute se contem-

Arq

uivo

Rev

ista

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 5: Revista Doctor Plinio -210_201509

5

Declaraccedilatildeo Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontiacutefice Urbano VIII de 13 de marccedilo de 1625 e de 5 de junho de 1631 declaramos natildeo querer antecipar o juiacutezo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciaccedilatildeo dos fatos edificantes publicados nesta revista Em nossa intenccedilatildeo os tiacutetulos elogiosos natildeo tecircm outro sentido senatildeo o ordinaacuterio e em tudo nos submetemos com filial amor agraves decisotildees da Santa Igreja

implica natildeo soacute favorecer tudo quanto possa concorrer para levaacute-lo ao bem como ainda em contra-riar e combater todas as influecircncias que o podem arrastar para o malrdquo5

Nessa perspectiva continuando diz o Pontiacutefice acima citado ldquoSe tais propugnadores natildeo preten-dessem mais do que acomodar com alguma renovaccedilatildeo o ensino eclesiaacutestico e seus meacutetodos agraves condi-ccedilotildees e necessidades atuais natildeo haveria quase nada que temer contudo alguns deles arrebatados por imprudente lsquoirenismorsquo parecem considerar como oacutebice para restabelecer a unidade fraterna justamen-te aquilo que se fundamenta nas proacuteprias leis e princiacutepios legados por Cristo e nas instituiccedilotildees por ele fundadas ou o que constitui a defesa e o sustentaacuteculo da integridade da feacute com a queda do qual se uniriam todas as coisas sim mas somente na comum ruiacutenardquo6

Eis o perigo da falta de combatividade reinante no espiacuterito moderno sobretudo em relaccedilatildeo aos as-suntos inerentes agrave salvaccedilatildeo das almas Esse pernicioso fenocircmeno tambeacutem natildeo passou despercebido por Paulo VI ldquoa espada do espiacuterito parece repousar na bainha da duacutevida e do irenismo Mas eacute precisa-mente por isto que a mensagem da verdade religiosa deve ressoar com maior vigor Os homens tecircm ne-cessidade de crer em quem se mostra seguro daquilo que ensinardquo7

Eacute esta uma das razotildees pelas quais afirmava Dr Plinio ldquoEacute muito importante que os contrarrevo-lucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio compreendam seriamen-te a beleza da lutardquo8

Se hoje eacute pouco considerado o caraacuteter militante da Igreja eacute porque muitas vezes no passado faltou consideraacute-lo associado agrave virtude da caridade criando-se o mito de que a combatividade e a bondade satildeo antagocircnicas e por isso natildeo podem coexistir em harmonia

Foi aliaacutes a conjugaccedilatildeo perfeita dessas virtudes o que Dr Plinio discerniu em Carlos Magno ldquoEn-contrarei ali o equiliacutebrio entre a forccedila e a bondade que eu tanto procuravardquo9

Nesta ediccedilatildeo Dr Plinio nos aponta outro possante exemplo de guerreiro cheio de bondade10 aleacutem de variados aspectos da beleza da luta11 convidando-nos a ter como aliado Satildeo Miguel ldquoescudo e glaacute-dio da Santa Igrejardquo12

1) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Notas Autobiograacuteficas Vol II Satildeo Paulo Editora Retornarei 2010 p 450

2) Idem3) 1Sm 1 34) AAS 42 (1950) p 5645) Cf ldquoO caraacuteter militante da Igrejardquo in Dr Plinio n 53 p 236) PIO XII Op cit p 564-565 7) ldquoAlocuccedilatildeo aos paacuterocos e pregadores quaresmais de Roma 1221964rdquo

in Osservatore Romano 21219648) Ver nesta ediccedilatildeo ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-359) CORREcircA DE OLIVEIRA Plinio Op cit p 45110) ldquoBeato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreirosrdquo p 28-3111) ldquoA beleza da luta - Irdquo p 32-3512) Paacutegina 2

Eixo e modelo de todo

verdadeiro afeto

N

6

Dona LuciLia

O afeto de Dona Lucilia para com os outros tinha como

modelo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o corolaacuterio desse afeto

era a abnegaccedilatildeo Bem o contraacuterio da mentalidade hollywoodiana

que se caracteriza pelo otimismo egoiacutestico

a concepccedilatildeo de Dona Lucilia sobre as relaccedilotildees psicoloacutegicas humanas o termo final do rela-cionamento era o afeto E o afeto tinha uma

importacircncia enorme no modo dela conceber a vida

Afeto cheio de admiraccedilatildeo renuacutencia de si mesmo

Mamatildee considerava que quando as pessoas se conhe-cem e encontram uma verdadeira e seacuteria afinidade isso desfecha num afeto muacutetuo E portanto para o proces-so mental de uma criatura humana em face da outra se-ja qual for a natureza das relaccedilotildees mdash pai filho marido mulher irmatildeo irmatilde amigo mdash o desfecho eacute se contem-

Arq

uivo

Rev

ista

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 6: Revista Doctor Plinio -210_201509

Eixo e modelo de todo

verdadeiro afeto

N

6

Dona LuciLia

O afeto de Dona Lucilia para com os outros tinha como

modelo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o corolaacuterio desse afeto

era a abnegaccedilatildeo Bem o contraacuterio da mentalidade hollywoodiana

que se caracteriza pelo otimismo egoiacutestico

a concepccedilatildeo de Dona Lucilia sobre as relaccedilotildees psicoloacutegicas humanas o termo final do rela-cionamento era o afeto E o afeto tinha uma

importacircncia enorme no modo dela conceber a vida

Afeto cheio de admiraccedilatildeo renuacutencia de si mesmo

Mamatildee considerava que quando as pessoas se conhe-cem e encontram uma verdadeira e seacuteria afinidade isso desfecha num afeto muacutetuo E portanto para o proces-so mental de uma criatura humana em face da outra se-ja qual for a natureza das relaccedilotildees mdash pai filho marido mulher irmatildeo irmatilde amigo mdash o desfecho eacute se contem-

Arq

uivo

Rev

ista

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 7: Revista Doctor Plinio -210_201509

7

plarem e na consideraccedilatildeo da semelhanccedila ou da afinida-de terem um afeto

E esse afeto representava algo que dava substacircncia e calor agrave vida e se simbolizava no coraccedilatildeo Donde a devo-ccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus era o afeto de Deus pe-los homens e convidava ao afeto dos homens para com Deus

Mas natildeo era um afeto boboca de querer bem sem consequecircncia era um afeto cheio de admiraccedilatildeo com en-tusiasmo analiacutetico que examina o que quer e se trans-forma em dedicaccedilatildeo em abnegaccedilatildeo

Mamatildee era muitiacutessimo abnegada O corolaacuterio do afe-to era a abnegaccedilatildeo a renuacutencia de si mesmo a favor da pessoa a quem se quer bem

E muito razoavelmente muito catolicamente ela via na devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus Rei e centro de todos os coraccedilotildees o proacuteprio eixo e o modelo perfei-to de todo afeto

Ou seja querer bem eacute como o Coraccedilatildeo de Jesus ama cada um de noacutes querecirc-Lo bem eacute amaacute-Lo com um amor que eacute o siacutemile mdash guardadas as proporccedilotildees mdash do amor que Ele tem a noacutes E nisso estaacute a devoccedilatildeo ao Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus a qual realiza assim o processo o peacute-riplo o circuito inteiro da alma humana

Mentalidade hollywoodiana busca do interesse e do prazer

Eacute exatamente o que comeccedilou a ser contestado no mundo logo depois de eu ter iniciado a conhececirc-la natildeo com aquele conhecimento instintivo que uma crianccedila tem de sua matildee mas quando como filho comecei a ana-lisar a admirar e a querecirc-la bem

O sistema hollywoodiano1 de viver eacute a negaccedilatildeo de tu-do isso porque ele importa em uma vida apressada de corre-corre atraacutes do interesse e do prazer onde natildeo haacute tempo nem desejo de deter a atenccedilatildeo em valores dessa ordem e uma vida que se deteacutem nesses valores parece fracassada e balofa A alegria saracoteante deve domi-nar toda a existecircncia e o homem precisa ter um otimis-mo egoiacutestico na contiacutenua esperanccedila de que vai conseguir tudo aquilo que ele deseja para si

A outra pessoa com que o indiviacuteduo se relaciona de-sempenha um magro papel dentro disso Ele quer ter um automoacutevel uma casa um aviatildeo quer fazer viagens en-fim divertir-se e todo esse afeto fica agrave margem nas fran-jas da vida importando cada vez menos enquanto o ego-iacutesmo vai tomando conta da existecircncia

E o verdadeiro afeto tem qualquer coisa de tristonho porque as condiccedilotildees desta vida levam a compreender que devemos uns aos outros uma estima a qual enten-de bem que o outro sofre e noacutes sofremos tambeacutem e que

temos de nos ajudar a carregar o peso da vida O saraco-teio hollywoodiano natildeo comporta isso

Quando analisamos a imagem do Coraccedilatildeo de Jesus vemos uma postura muito digna em que Nosso Senhor Se daacute inteiro e mostra seu Coraccedilatildeo E notamos qualquer coisa de triste nrsquoEle como quem prevecirc a hipoacutetese de natildeo ser correspondido de receber uma ingratidatildeo ou tem em conta uma ingratidatildeo que recebeu mas perdoa e con-vida para um novo ato de bondade de confianccedila Eacute o que estaacute expresso

Comparemos isso com o perpeacutetuo saracoteio o pula-pu-la e a alegria contiacutenua de Hollywood e compreenderemos que haacute um abismo de diferenccedila entre as duas mentalidades

E Dona Lucilia pegou o fim dessa escola do afeto da qual era disciacutepula ardentiacutessima Logo depois dela veio a escola do contraacuterio

Esteio temperamental e afetivo de nossas almas

Toda criatura humana que tem um pouco de bom sen-so compreende natildeo haver afeto humano que natildeo decep-cione Mas nem por isso se vinga fica amarga agressiva deprimida porque se eacute verdade que noacutes ao fazer bem aos outros natildeo somos pagos como teriacuteamos direito eacute certo que Nosso Senhor paga Porque o bem que noacutes fa-zemos aos outros eacute feito a Ele e principalmente por Ele De maneira que Jesus toma em todo devido valor o nos-so afeto recompensa um milhatildeo por um nos cumula tor-rencialmente do afeto drsquoEle e o que os outros tenham ou natildeo tenham feito de nossa bondade eacute secundaacuterio

Isso eacute o que cura de todo calvinismo fica-se outro quando se toma isso em consideraccedilatildeo Sobretudo quan-do se concebe ao lado ou abaixo do Coraccedilatildeo de Jesus o Coraccedilatildeo Imaculado de Maria Nosso Senhor eacute Pai Nos-sa Senhora eacute Matildee e tem essas ternuras essas condescen-decircncias esse superaacutevit de bondade que o coraccedilatildeo mater-no possui

Ningueacutem pode nos amar mais do que Nosso Senhor Maria Santiacutessima portanto natildeo nos ama mais do que Nosso Senhor Mas certas formas de amor que satildeo proacute-prias da matildee Ele quis mostrar que tem dando-nos a Matildee drsquoEle para que nrsquoEla noacutes viacutessemos o que haacute a mais nrsquoEle que natildeo se pode ver

Entatildeo os Sagrados Coraccedilotildees de Jesus e Maria satildeo o esteio temperamental e afetivo de nossas almas   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 12121984)

1) Referente agrave mentalidade difundida pelos filmes do cinema de Hollywood Ver Revista Dr Plinio n 199 p 14-15

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 8: Revista Doctor Plinio -210_201509

Q

8

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Patildeo de Accediluacutecar Rio de Janeiro Brasil

May

ra P

avan

ello

Mun

erat

o (C

C 3

0)

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

A perfeiccedilatildeo da sociedade temporal se adquire quando as almas moldam sua proacutepria iacutendole segundo o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus

E a uniatildeo com Jesus se adquire com maior eficaacutecia quando o caminho escolhido passa pelo Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

Quanto agrave devoccedilatildeo a Nossa Senhora natildeo eacute bom haver fronteiras

Sendo moccedilo quando li o Tratado da Verdadeira Devo-ccedilatildeo de Satildeo Luiacutes Maria Grignion de Montfort tive uma surpresa ldquoComo essa devoccedilatildeo natildeo eacute conhecida e prati-cada no mundo inteiro Porque esta eacute a posiccedilatildeo natural do catoacutelico perante Nossa Senhora e essas satildeo as uacuteltimas consequecircncias da Feacute a respeito drsquoElardquo

Ele cita se natildeo me engano aquela frase de Satildeo Ber-nardo ldquoDe Maria nunquam satis mdash De Maria natildeo haacute o que basterdquo E refleti

ldquoCom certeza ainda viratildeo outros santos que tiraratildeo mais consequecircncias daquilo que Satildeo Luiacutes Grignion dizrdquo Neste caso natildeo eacute bom haver fronteiras

Percebi bem que geralmente essa devoccedilatildeo natildeo era difundida porque haacute uma inimica vis1 pela qual estaacute na tendecircncia do homem levar o mal agraves uacuteltimas consequecircn-

uando eu era pequeno ao ver pela primeira vez o Patildeo de Accediluacutecar extasiei-me E este impacto natildeo desapareceu Ateacute hoje tenho entusiasmo pelo

Patildeo de Accediluacutecar e pela vista que se tem dele

Delimitando terrenos

Mas tive ali naquela eacutepoca uma duacutevida que seria hoje completamente obsoleta

Na parte alta do Patildeo de Accediluacutecar haacute uma construccedilatildeozi-nha qualquer e eu tinha um ericcedilamento que estaacute muito no meu modo de ser ldquoNatildeo pode algueacutem escorregar da-qui para baixo e cair nesse precipiacutecio Natildeo seria melhor fazer algo que cercasse as pessoas que estatildeo alirdquo

Entatildeo pensei naturalmente numa muralha medieval que protegesse contra a derrapagem sempre possiacutevel laacute Notem que eu nunca ouvi dizer que algueacutem tivesse caiacutedo do alto do Patildeo de Accediluacutecar mas foi o meu primeiro impulso

Lembro-me tambeacutem que passando atraveacutes de fazen-das de parentes ou contraparentes um deles me disse

mdash Aqui acaba minha fazenda e comeccedila a do fulanomdash Como Natildeo tem cercaEle me olhou um pouco espantadomdash Cerca natildeo Noacutes somos irmatildeosmdash Mas como eacute que o senhor sabe que a sua fazenda

chega ateacute aqui e a dele vai ateacute laacutemdash Estaacute combinado entre noacutesEu pensei ldquoNatildeo eacute comigo Pode ser meu irmatildeo o que

for Onde tem divisa eacute preciso pocircr uma cerca Natildeo com-preendo de outro jeitordquo Gosto das divisas porque apre-cio as medidas acautelatoacuterias e de prudecircncia Se pres-tarem atenccedilatildeo no meu proceder veratildeo que muita coisa que faccedilo tem psy-cercas e psy-cautelas

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 9: Revista Doctor Plinio -210_201509

9

Almas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria

cias mas natildeo fazer o mesmo com o bem Eacute uma preguiccedila de ser oacutetimo de ser santo que todos noacutes carregamos nas costas como resultado do pecado original

Por onde quando nos apresentam um horizonte como este de Nossa Senhora que por assim dizer toca em Nos-so Senhor Jesus Cristo nossa tendecircncia eacute de entender Satildeo Luiacutes Grignion de modo limitado e natildeo como quem gosta-ria que esse santo ou outra pessoa levasse ainda a outras consequecircncias a doutrina que ele proacuteprio deu

Entatildeo por causa desta tendecircncia do homem a natildeo le-var o bem ateacute as suas uacuteltimas consequecircncias na linha de acentuar o bem eu natildeo quero divisas Quer dizer em re-laccedilatildeo a Deus natildeo haacute divisas como tambeacutem natildeo as haacute em relaccedilatildeo a Ela que eacute nossa Medianeira Universal Todos os pedidos sobem por Ela todas as graccedilas descem por meio drsquoEla

Portanto pocircr limites a Ela eacute pocircr limites a Ele

Quem sempre considera Maria Santiacutessima natildeo corre o risco de esquecer-se de Jesus

Entatildeo perguntei-me ldquoComo acontece que tanta gen-te acabe natildeo tendo esta devoccedilatildeo a Elardquo

E pensei ldquoMuita gente lecirc o Tratado da Verdadeira De-voccedilatildeo agrave Santiacutessima Virgem e forma o propoacutesito de levar esta devoccedilatildeo a Nossa Senhora agraves uacuteltimas consequecircn-cias mas depois comeccedila a relaxar Ela fica esquecida e por preguiccedila por mil coisas a pessoa vai permitindo que aquela devoccedilatildeo a Ela vaacute murchandordquo

Entatildeo eu formei um propoacutesito ldquoNunca rezar a Ele a natildeo ser por meio drsquoElardquo

Por meio drsquoEla quer dizer em uniatildeo com Ela Natildeo sig-nifica que eu natildeo me dirija a Ele Mas eacute por meio drsquoEla em uniatildeo com Ela Apoiado respaldado pela intercessatildeo drsquoEla coberto pela misericoacuterdia drsquoEla na condiccedilatildeo de fi-lho drsquoEla eacute que eu me apresento a Ele

Isto ateacute mesmo na hora da Comunhatildeo ao presenciar a Consagraccedilatildeo quando o Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio se renova eu me apresento e trato com Nosso Senhor nes-ta qualidade

Por causa disso quando falo drsquoEle pouco antes ou pouco depois refiro-me a Ela E soacute mesmo se ficasse mui-to forccedilado muito artificial eacute que natildeo me referiria Mas em geral arranjo uma maneira de natildeo ficar forccedilado

Assim mesmo nas exposiccedilotildees que tenho feito acerca do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus procuro sempre falar drsquoEla

A devoccedilatildeo a Ela eacute um Patildeo de Accediluacutecar do alto do qual se vecirc muito melhor a Terra e nos sentimos mais perto do Ceacuteu

Algueacutem poderia me perguntar pontudamente ldquoMas o senhor aplica a reciacuteproca sempre que fala drsquoEla falar drsquoEle Entatildeo quero ver a loacutegica do senhorrdquo

Eacute tal a torrente de graccedilas que Ele distribui por meio drsquoEla que quem natildeo A esquece falando sempre drsquoEla natildeo tem perigo de esquececirc-Lo Quem fala sempre drsquoEle mas natildeo se reporta a Ela corre o risco de esquececirc-La Se natildeo se pede a graccedila por meio do conduto necessaacuterio que eacute Ela pode-se acabar esquecendo a Ele e a Ela

O Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal Um exemplo Brasil um paiacutes muito cordato e homogecircneo

Isto posto a respeito do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e a ordem temporal eu deveria dizer o seguinte

Existe uma seacuterie de socioacutelogos e de outros estudiosos que escrevem sobre a organizaccedilatildeo poliacutetica e social dos povos dando princiacutepios inegavelmente bons No entan-to eles negligenciam a parte absolutamente essencial do assunto

A boa ordenaccedilatildeo temporal natildeo pode ser escolhida nas nuvens Por exemplo ldquoO Brasil eacute um paiacutes muito extenso logo precisa ter um governo central muito forterdquo O que quer dizer ldquoum governo central muito forterdquo

O Brasil eacute um paiacutes muito cordato muito homogecircneo Por vezes daacute a impressatildeo de uma crianccedila pequena para a roupa que veste quer dizer o territoacuterio eacute grande demais para seus habitantes Mesmo nos Estados mais populo-sos os territoacuterios satildeo tatildeo amplos que comportam uma expansatildeo demograacutefica ao interior

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 10: Revista Doctor Plinio -210_201509

10

SagraDo coraccedilatildeo De JeSuS

Por que razatildeo haveremos de brigar Natildeo brigamos dentro dos nossos Estados natildeo briga-mos uns com os outros tambeacutem

Por exemplo eacute perfeitamen-te possiacutevel que os limites entre dois Estados sejam meio indefi-nidos Se haacute uma coisa que natildeo vai sair daiacute eacute briga Um golpe de matildeo uma velhacaria de vez em quando sai um tira um pe-daccedilo o outro deixa passar e pe-ga noutra ocasiatildeohellip

O que vem a ser portanto um governo central e forte pa-ra tal povo com estas vastidotildees esta bondade e esta tranquili-dade

Discernir o temperamento a mentalidade a psicologia de um povo

A forma de governo de or-ganizaccedilatildeo interna o modo de ser de um paiacutes depende muitiacutes-simo da alma de seus habitantes Natildeo eacute soacute do grau mas tambeacutem do gecircnero de virtude Conforme o feitio do tem-peramento da mentalidade da psicologia etc as condi-ccedilotildees de governo de um paiacutes mudam E quem natildeo for ca-paz de discernir isto natildeo seraacute capaz de governaacute-lo

Mas discernir e governar em funccedilatildeo de uma coisa eacute governaacute-la Saber como o outro eacute e agir em funccedilatildeo dis-to eacute governaacute-lo Ou governaacute-lo eacute conhececirc-lo e dar-lhe uma orientaccedilatildeo

Eacute preciso saber orientar a psicologia a alma de um paiacutes

Entatildeo quem compreenda as profundidades da alma de um paiacutes este o governa

Dependendo de nosso consentimento o Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e o Imaculado Coraccedilatildeo de Maria atuam na profundidade de nossas almas

Haacute alguma coisa aliaacutes legiacutetima em noacutes seres huma-nos por onde podemos nos dar mas somos noacutes quem nos damos Podemos por um ato de liberdade aceitar uma limitaccedilatildeo de nossa liberdade Mas esse ato tem que ser interno Se for imposto e natildeo partir do fundo da al-ma natildeo tem significado

Dependendo deste nosso consentimento Deus o Sa-grado Coraccedilatildeo de Jesus o Imaculado Coraccedilatildeo de Ma-

ria mexem as profundidades de nossas almas as tocam desper-tando nelas os bons impulsos os bons movimentos as boas re-flexotildees enfim o surto para ci-ma Assim como o democircnio o pode fazer em sentido oposto

Quando julgamos que pode-mos mover por noacutes mesmos essas profundidades das almas dos outros fazemos papel de idiotas Ou trabalhamos para que todas as almas se acerquem do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus e recebam drsquoEle por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria as graccedilas de que Ele eacute a fonte infinita ou natildeo estaremos diri-gindo nada

Entatildeo o fundamento da so-ciedade temporal aquilo que daacute a fisionomia o modelo da sociedade temporal que faz com que ela seja como deve ser eacute a alma do povo E a alma a psicologia a mentalidade do

povo eacute resultante de circunstacircncias naturais eacutetnicas ge-ograacuteficas etc e da accedilatildeo em profundidade da graccedila na al-ma de cada indiviacuteduo

Mas bem entendido a accedilatildeo em profundidade da gra-ccedila eacute muito mais importante do que qualquer outra coisa

As pessoas que se unem a Nosso Senhor por meio de Maria fazem maravilhas

Outro dia conversando com um membro de nosso Movimento falaacutevamos a respeito das profecias segundo as quais por ocasiatildeo de um grande castigo para a huma-nidade vaacuterias naccedilotildees seriam aniquiladas o que leva a su-por que muitos paiacuteses civilizados desapareceriam

Meu interlocutor levantou a seguinte questatildeomdash Mas tantos tesouros da Feacute da arte da cultura nun-

ca mais seratildeo reconstituiacutedosEu dissemdash Desde que haja o sacerdoacutecio para continuar os sa-

crifiacutecios absolver os pecados e manter a hierarquia ecle-siaacutestica desde que haja Nosso Senhor no Santiacutessimo Sa-cramento e uma imagem de Nossa Senhora tudo se po-de reconstruir A beleza vem toda drsquoEles

Da Civilizaccedilatildeo Cristatilde se pode dizer o mesmo que a Igreja aplica a Nossa Senhora ldquoToda a gloacuteria da filha do Rei lhe vem do seu interiorrdquo2 Quer dizer natildeo procede

Arq

uivo

Rev

ista

Estampa do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria pertencente a Dr Plinio

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 11: Revista Doctor Plinio -210_201509

11

Havan

g (CC 3

0)

das honrarias que recebe dos tiacutetulos que tem das joias que usa nem de sua boa educaccedilatildeo de suas boas manei-ras nem de nada Vem essencialmente de Nosso Se-nhor Jesus Cristo por meio de Nossa Senhora E bem entendido no seio da Santa Igreja Catoacutelica Apostoacutelica Romana fora da qual natildeo haacute salvaccedilatildeo

Os meios naturais e humanos nos foram dados pela Providecircncia para serem usados por noacutes dentro do espiacuteri-to que Deus nos concede e para a finalidade que a Provi-decircncia tem em vista Portanto o efeito das influecircncias da accedilatildeo da graccedila do Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus atraveacutes do Coraccedilatildeo Imaculado de Maria nas nossas almas consiste em dar a toda criatura um uso excelente

Digamos que num paiacutes haja uma serrania com muitos cristais e o povo comece a trabalhar naquilo Se eles ti-verem almas profundamente influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Jesus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria acaba acontecendo que o trabalho deles vai dar em cristaleiras excelentes

Eles natildeo copiaratildeo necessariamente os cristais de ou-tros seacuteculos Poderatildeo se inspirar neles ou natildeo se inspi-rar conforme os movimentos da graccedila mas sairatildeo ma-ravilhas

Uma coisa eacute positiva basta haver almas que se unam bem a Nosso Senhor por meio de Nossa Senhora que elas acabam fazendo maravilhas Grandes ou modestas maravilhas pois saber fazer tambeacutem pequenas maravi-lhas amaacute-las e extasiar-se com elas eacute proacuteprio da alma verdadeiramente catoacutelica

Seria mais ou menos como um pai que tem um filho de quatro ou cinco anos e no seu aniversaacuterio o filho ver-boso lhe escreve uma cartinha com pretensotildees literaacuterias Pode ser uma pequena maravilha mas o pai fi-ca tatildeo comovido mdash e eventualmente ateacute mais mdash como se tivesse um filho que escrevesse um artigo sobre ele num jornal Satildeo as pe-quenas maravilhas de que Deus encheu a Criaccedilatildeo

Populaccedilotildees profundamente catoacutelicas influenciadas por Jesus e Maria

Folheando uma revista sobre o estuaacuterio da Gironda vi algumas fotografias encanta-doras Por exemplo os barcos Satildeo canoas grandes mais do que pro-

priamente embarcaccedilotildees de meacutedio porte com redes de pescar suspensas porque esse estuaacuterio eacute muito piscoso

A revista publica fotografias dessas embarcaccedilotildees en-costadas aqui laacute e acolaacute E pensei com meus bototildees ldquoMas onde haacute um porto para ancorar todos esses bar-cos Essa entrada do estuaacuterio me parece tatildeo estreita natildeo vejo falar de um grande cais nem nada dissohelliprdquo

Vejo entatildeo uma notinha ldquoO estuaacuterio da Gironda tem um grande nuacutemero de pequenos portos naturais aproveitados pelos pescadores para amarrar seus barcos no periacuteodo em que natildeo estatildeo pescandordquo

Deixa entender que o grande porto o grande cais mo-delo natildeo existe nem eacute necessaacuterio O terreno jaacute eacute dese-nhado de maneira a ter uma seacuterie de portozinhos nos quais os barcos podem se instalar agrave vontade

Pensei ldquoVejam o que satildeo mil anos de Civilizaccedilatildeo Cris-tatilde Eacute uma natureza visivelmente mais pobre do que a nossa mas mil anos de Civilizaccedilatildeo Cristatilde ensinaram um aproveitamento inteligente dessa natureza Ensinaram a arte de pegar cada pequena coisa e fazer dela uma ma-ravilhardquo

Mas o que eacute o estuaacuterio da Gironda em comparaccedilatildeo com o do Amazonas

E no Brasil por que isso natildeo foi feito Seria preci-so pocircr agrave margem desses rios populaccedilotildees profundamen-te catoacutelicas influenciadas pelo Sagrado Coraccedilatildeo de Je-sus por meio do Imaculado Coraccedilatildeo de Maria impreg-nadas da sabedoria da Igreja e deixaacute-las segundo sua proacutepria iacutendole irem fazendo as coisas a fim de perce-ber para onde eacute que rumam os temperamentos os mo-dos de ser etc A partir disto ajudaacute-las a explicitarem o caminho a seguir

Em geral satildeo poucos os que tecircm a compreen-satildeo de que governar eacute isto Surgem en-

tatildeo as discussotildees eacute melhor a liber-dade ou a planificaccedilatildeo

Tanto quanto possiacutevel deve haver a santa liberdade dos

filhos de Deus Eacute a liber-dade da sociedade orgacirc-nica que possui seus li-mites naturais mas pre-cisa ter um governo for-te para orientar guiar

estimular   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 19121985)

1) Do latim forccedila inimiga2) Cf Sl 44 14 (Vulgata)Porto de Plassac Gironda Franccedila

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 12: Revista Doctor Plinio -210_201509

Dr PLinio comenta

Um grande ato de Feacute

D

12

Estaacutetua do Imperador Carlos IV Praga Repuacuteblica Checa A

com

a (C

C 3

0)

Ao comentar a cerimocircnia de coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo realizada na Basiacutelica de Satildeo Pedro e narrada em tom declamatoacuterio Dr Plinio faz reviver um passado tatildeo amado por ele

com uma saudade cheia de apetecircncia as cerimocircnias das repuacuteblicas aristocraacuteticas ou burguesas e corporativas da Idade Meacutedia pensei ldquoO passado natildeo dorme natildeo morre Ele eacute como um rio que agraves vezes afunda na terra como se desaparecesse mas renasce mais adianterdquo

Todas essas recordaccedilotildees reaparecem natildeo eacute possiacutevel estancaacute-las pela graccedila de Deus Uma das riquezas do passado estaacute nisto a declamaccedilatildeo Paulo VI disse que es-taacutevamos na civilizaccedilatildeo da imagem e para tal civilizaccedilatildeo esta declamaccedilatildeo poderia parecer uma coisa envelhecida pois todo mundo quer ver ningueacutem deseja ouvir

Entretanto eacute feita aqui a declamaccedilatildeo segundo os cacirc-nones antigos para descrever uma cerimocircnia antiga e todos prestam mais atenccedilatildeo do que se presenciassem um espetaacuteculo de televisatildeo Quem ousa dizer que todo o passado morre que para tudo foge o tempo e que natildeo haacute valores perenes na Histoacuteria dos homens Oacute ilusatildeo Non fugit irreparabile tempus

Feitas essas consideraccedilotildees passo ao comentaacuterio que me pediram

Vivacidade do povo italiano

Roma a cidade dos Papas gozava de certa autonomia municipal em relaccedilatildeo ao Sumo Pontiacutefice Por isso sob cer-to ponto de vista poderia ser comparada a uma repuacutebli-ca municipal Iam portanto de encontro ao Imperador do Sacro Impeacuterio os dignataacuterios do que poderiacuteamos chamar para simplificar de repuacuteblica municipal romana

Consideremos os pormenores do cerimonial

iz-se que o tempo irreparaacutevel foge e eacute verda-de Mas nas paacuteginas da Histoacuteria debaixo de certo ponto de vista ele para

O passado natildeo morre

Embora na aparecircncia o passado seja objeto dos es-quecimentos mais monumentais ainda que ele possa pa-recer morto enterrado e sepultado completamente pela avalanche dos fatos novos que vecircm haacute em certos aspec-tos do passado qualquer coisa que lhe assegura a pereni-dade e faz com que por exemplo no tempo em que a ce-rimocircnia aqui descrita se realizava neste lugar onde nos encontramos mdash talvez sede de uma taba de iacutendios ou um matagal natildeo se sabe que espeacutecies de onccedilas tatus inse-tos serpentes rondavam e rastejavam por aqui mdash nin-gueacutem haveria de imaginar que passados tantos episoacute-dios ocorridas tantas revoluccedilotildees de tal maneira convul-sionado o curso da Histoacuteria no ano de 1984 a cerimocirc-nia renasceria lindamente declamada para uma juventu-de que ouve entusiasmada

Passou o tempo para esta cerimocircnia Sim e natildeo Ela natildeo se realiza mais estaacute nos arquivos e de algum modo misturada com a poeira do passado Sobre ela poder-se--ia dizer meneando a cabeccedila fugit irreparabile tempus Mas de outro lado non fugit Ficou uma nostalgia uma saudade a afirmaccedilatildeo de algo de perene que existe nes-ta cerimocircnia

Assim quando ouvi narrado haacute pouco o cerimonial da coroaccedilatildeo do Imperador do Sacro Impeacuterio e evocadas

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 13: Revista Doctor Plinio -210_201509

13

Coroaccedilatildeo do Imperador Henrique II

Jan

Ark

este

ijn (

CC

30

)

dor deve prestar antes de transpor os umbrais das por-tas de Romardquo

Eacute o juramento de respeitar as liberdades da cidade de Roma ou seja natildeo empregar a forccedila e permitir que Ro-ma continue a se reger de acordo com os seus privileacutegios

O Imperador sabe que isso eacute uma formalidade pois ele entra em Roma sem qualquer intenccedilatildeo de atacaacute-la Durante seacuteculos seus antecessores foram obrigados a prestar este juramento no tempo em que ele era indis-pensaacutevel Criou-se assim um haacutebito e pela forccedila do cos-tume com o passar do tempo os imperadores jaacute natildeo po-diam sequer pensar em violar esses privileacutegios A tradi-ccedilatildeo amarrava o braccedilo forte do maior monarca da Terra

Vamos supor que ele natildeo jurasse O cortejo voltaria e as portas de Roma se fechariam E era preciso come-ccedilar a guerra Mas se houvesse guerra natildeo haveria coro-accedilatildeo E se natildeo houvesse coroaccedilatildeo os seus vassalos natildeo lhe prestariam obediecircncia Ele tinha portanto interesse fundamental em prestar o juramento

O Imperador transpunha aquelas portas e provavelmen-te a cidade inteira o recebia cantando ldquoviva o Imperadorrdquo etc ateacute chegarem agrave ponte do Castelo de SantrsquoAngelo an-tigo sepulcro do Imperador Adriano Atraacutes daquela forta-leza o Papa recebia o Imperador que de joelhos prestava outro juramento de fidelidade

O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de subdiaacutecono

Depois o cortejo seguia para a Basiacutelica de Satildeo Pedro e comeccedilava a cerimocircnia que tinha por eixo o Santo Sa-

ldquoEm breve o longo e lento cortejo cruzaraacute as mura-lhas da cidade de Roma Cerca de duas ou trecircs horas an-tes do momento marcado para o encontro com o Impe-rador jaacute o cortejo estaacute organizado dentro da cidaderdquo

A Itaacutelia sempre vivaz alegre e cheia de meninos dis-postos a exclamar a bater palmas a vaiar enfim a se manifestar No meu modo de sentir as velhas loquazes e os meninos manifestativos marcam especialmente a viva-cidade italiana

E enquanto tudo se organiza dentro da seriedade com as pessoas vestidas em trajes proacuteprios agraves suas fun-ccedilotildees perfilando-se e alinhando-se podemos imaginar no meio disso o pitoresco da vivacidade romana

Uma menina que grita para o paimdash Natildeo deixe de pedir ao Papa tal coisaEle solene faz um sinal para natildeo perturbar a cerimocircniahellipEla correndo leva uma florinha a um senhor e dizmdash Leve para o Imperador de minha parteO homem sorri e guarda a flor no bolsoMais adiante um indiviacuteduo cobra uma diacutevida de outro

que estaacute montado a cavalo Pouco mais agrave frente antes de iniciar-se o cortejo estaacute um por via das duacutevidas acaban-do de comer um pedaccedilo de patildeo com queijo

Afinal os sinos comeccedilam a tocar e o cortejo lenta-mente se potildee em marcha atraveacutes da cidade As velhas portas se abrem mdash seacuterias solenes veneraacuteveis mdash e o cor-tejo penetra no campo

Juramentos prestados pelo Imperador

ldquoDo Monte Maacuterio partiu o Imperador acompanhado dos seus guerreiros germanos bem como seus prelados abades e bispos Os dois cortejos se encontram a certa al-tura do trajeto Do lado da municipalidade de Roma to-dos apeiam O proacuteprio Imperador desce do cavalo para saudar o povo romano que veio a seu encontrordquo

Satildeo gentilezas o Imperador natildeo apeia do cavalo para saudar algumas pessoas mas para saudar o povo romano que vai hospedaacute-lo

Os representantes da cidade de Roma tiram seus gran-des chapeacuteus de veludo bordados a ouro com pedras pre-ciosas e fazem uma profunda reverecircncia O Imperador os recebe com uma bondade monumental

Na continuaccedilatildeo da cerimocircnia o Imperador deveraacute en-trar com suas tropas na cidade de Roma Ora nem sem-pre a recordaccedilatildeo das tropas imperiais eacute muito paciacutefica A naccedilatildeo alematilde eacute valente intreacutepida e muito empreende-dora Tropas armadas numa cidade desarmada podem levantar interrogaccedilotildees

ldquoA municipalidade na pessoa de seus representan-tes avanccedila com uma linda almofada sobre a qual estaacute um belo ritual contendo um juramento que o Impera-

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 14: Revista Doctor Plinio -210_201509

A uniatildeo entre a Igreja e o Estado eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Padre fragmenta a Hoacutestia

em duas partes iguais comunga uma e daacute a outra ao Imperador

Estaacutetua equestre de Oto I - Magdeburgo Alemanha abaixo gravura representando a antiga

Basiacutelica de Satildeo Pedro no Vaticano

Dr PLinio comenta

14

Foto

s L

ewen

stei

n (C

C 3

0)

C

risco

(C

C 3

0)

crifiacutecio da Missa Nada eacute mais razoaacutevel nada estaacute mais de acordo com a Doutrina Catoacutelica do que isto Por oca-siatildeo da posse da investidura do Imperador como em to-das as grandes ocasiotildees da vida uma Missa

Daiacute o costume de por exemplo celebrar-se o Matri-mocircnio durante uma Missa Missa para Bodas de Prata Bodas de Ouro para solenidades como uma formatu-ra e outras semelhantes Algo desta tradiccedilatildeo permanece ateacute hoje alguma coisa eacute grande liga-se agrave Missa Porque a Missa sendo a renovaccedilatildeo incruenta do Santo Sacrifiacutecio do Calvaacuterio tem papel central eacute o ato mais importante em todo o culto catoacutelico

Entatildeo a Missa eacute celebrada mas natildeo sem algumas ceri-mocircnias iniciais Em certo momento daacute-se um fato muito importante O Imperador eacute elevado agrave condiccedilatildeo de cleacuterigo

Quer dizer tinha-se em tatildeo alta consideraccedilatildeo o clero que para honrar o Imperador e lhe assegurar a invulnera-bilidade ele mdash o maior hierarca da sociedade temporal mdash era honrado ao receber um lugarzinho nos degraus da hie-rarquia eclesiaacutestica ocupando o posto de subdiaacutecono Eacute uma pequena participaccedilatildeo mas honra o Imperador Ves-tido de cleacuterigo ele entra na Basiacutelica para entatildeo ser coro-ado Imperador Vemos como o clero eacute colocado num piacuten-caro que indica bem o caraacuteter sacral dessa civilizaccedilatildeo

Solenidade e grandezaUm indiviacuteduo ldquomodernizadordquo poderia objetar ldquoPor que

isso natildeo se fez depressa Por que natildeo se ganhou tempo Natildeo se poderia fazer com que ele ao mesmo tempo em que recebesse a condiccedilatildeo de cleacuterigo fosse coroado ato con-tiacutenuo Dispensasse os cacircnticos a entrada lenta em cortejo a capela onde ele punha aquela roupa pomposiacutessimardquo

A resposta eacute muito simples Essas diversas fases da ce-rimocircnia devem se realizar em atos separados lentamen-te e com solenidade

A solenidade eacute um modo de fazer as coisas por on-de a grandeza delas aparece por inteiro Por exemplo uma Missa solene eacute um modo de cantar ou de rezaacute-la pe-lo qual a grandeza intriacutenseca dela transparece de modo sensiacutevel A posse solene de um chefe de Estado a coro-accedilatildeo de um rei ou de um imperador eacute solene porque faz aparecer aos olhos do povo a grandeza da condiccedilatildeo que aquele homem vai assumir naquele momento

Poderia nascer outra pergunta Para que revelar a grandeza intriacutenseca das coisas

A resposta ainda mais uma vez eacute muito simples Deus quis que sua gloacuteria fosse revelada aos homens de inuacuteme-ros modos sensiacuteveis ldquoOs ceacuteus narram a gloacuteria de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas matildeosrdquo diz a Escri-

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 15: Revista Doctor Plinio -210_201509

15

tura1 Portanto o Criador quer que suas criaturas conhe-ccedilam a grandeza drsquoEle e para que esta grandeza seja co-nhecida eacute preciso que ela se manifeste

A solenidade por sua vez tem que ser seacuteria compe-netrada vivida por almas aacutevidas de grandeza e contentes por ver a grandeza reluzir em quem eacute mais do que elas e vecirc-la reluzir participativamente nos menores

Natildeo haacute o que natildeo tenha grandeza em grau maior ou menor Um lixeiro um sapateiro suas tarefas tecircm gran-deza E eacute preciso que essa grandeza reluza aos olhos dos homens Entatildeo daiacute a solenidade

Por que a lentidatildeo Porque nada que se faccedila com grandeza pode ser executado depressa A pressa eacute inimi-ga da grandeza

Assim eacute preciso que os vaacuterios atos de que consta a co-roaccedilatildeo sejam separados uns dos outros e que se sinta se manifeste a grandeza proacutepria do fato de o Imperador tornar-se cleacuterigo O impeacuterio cresce e a Igreja manifesta o seu esplendor Por isso eacute mister haver uma cerimocircnia es-peciacutefica para esse ato

Uniatildeo entre a Feacute e o poder

Eacute necessaacuteria outra cerimocircnia para o momento em que o Imperador se reveste das suas insiacutegnias quando se ma-nifesta a beleza da ordem temporal e natildeo mais a da or-dem espiritual Pulcritude menor em relaccedilatildeo agrave beleza es-piritual mas uma grande beleza pois Deus eacute Autor tam-beacutem da ordem temporal

Depois o hierarca temporal em solene cortejo den-tro da Basiacutelica vai ateacute o trono do Papa A grandeza das grandezas estaacute laacute ldquoTu eacutes Pedro e sobre esta pedra edifi-carei a minha Igreja e as portas do Inferno natildeo prevale-ceratildeo contra elardquo2 Magniacutefico

Assim o povo vai olhando e compreendendo cerimocirc-nia por cerimocircnia O canto o oacutergatildeo espalham suas har-monias pela Basiacutelica as velas brilham o incenso se faz sentir os sinos tocam eacute um mundo de harmonias dentro do qual o povo contempla a grandeza do Papado a gran-deza da Igreja a grandeza do Impeacuterio

O Imperador avanccedila e chega junto ao trono do Papa Primeira coisa ajoelha-se Aquele Ceacutesar cercado de tro-pas se curva reverente

O Papa lhe daacute um anel siacutembolo da Feacute e do poder Que linda conjugaccedilatildeo a Feacute e o poder Como fica bonito o po-der a serviccedilo da Feacute Como fica faltando alguma coisa a todo o bem-estar da Feacute quando o poder natildeo estaacute a servi-ccedilo dela Que coisa bruta e ameaccediladora o poder nas matildeos do homem que natildeo tem Feacute A Feacute e o poder se unem co-meccedila a Missa

O Rei da Franccedila canta a Epiacutestola o Rei da Alemanha canta o Evangelho Franccedila e Alemanha junto ao altar de

Satildeo Pedro unidas pela participaccedilatildeo comum dos respecti-vos chefes de Estado numa cerimocircnia incomparaacutevel

Esta cerimocircnia aacutepice de todas as cerimocircnias eacute a San-ta Missa Se esse siacutembolo tivesse sido tomado a seacuterio e se os dois monarcas depois se amassem como deveriam se amar se ao longo da Histoacuteria a Franccedila tivesse sabido ser sempre a irmatilde da Alemanha e a Alemanha a irmatilde da Franccedila como o curso da Histoacuteria teria sido diferente E como a civilizaccedilatildeo humana estaria mais alta

Magniacutefica afirmaccedilatildeo da solidariedade da complemen-taridade destas duas naccedilotildees que em determinado momen-to histoacuterico representavam o verso e o reverso da medalha o lado direito e o lado esquerdo da fisionomia humana

Eloquente sinal de unidade

Mas algo de muito mais augusto estava para se passar ainda nessa cerimocircnia Era a uniatildeo entre a Igreja e o Esta-do que eacute simbolizada deste modo estupendo o Santo Pa-dre fragmenta a Hoacutestia em duas partes iguais Comunga uma e daacute a outra ao Imperador para comungar Eu natildeo conheccedilo um sinal mais tocante de unidade do que este

A cerimocircnia chegou ao auge e tudo quanto chega ao auge termina Eacute a tristeza das coisas desta vida Os si-nos da Cidade Eterna comeccedilam a tocar o Papa retira-se antes carregado na sua Sede Gestatoacuteria porque ele va-le mais do que o Imperador acompanhado pelo amor de todos os que ali se encontram deixando no meio do povo os maiores potentados da Terra o Rei da Franccedila e o Im-perador do Sacro Impeacuterio fecha-se com Deus em seus aposentos e se entrega a seus trabalhos e a suas cogita-ccedilotildees para governar a Santa Igreja

Os seacutequitos dos dois monarcas por sua vez saem da Basiacutelica separam-se e se dirigem pomposamente para as residecircncias deles na cidade de Roma Aos poucos o po-vo escoa Na Basiacutelica fica apenas uma ou outra luz acesa uma ou outra pessoa rezando mdash alguma matildee de famiacutelia algum oficial algum cleacuterigo alguma freira mdash com a al-ma cheia daquilo que viu

Aos poucos esses tambeacutem saem e se fecham as portas da Basiacutelica Eacute noite sobre a cidade de Roma Nos con-ventos de oraccedilatildeo perpeacutetua ainda se reza nos outros to-dos dormem Sobre a urbe vela apenas o Anjo de Roma

Mas nas almas de todos reluzem mil policromias can-tam mil polifonias mil harmonias sobretudo canta um grande ato de Feacute Estaacute coroado o Imperador do Sacro Impeacuterio Romano Alematildeo   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 24111984)

1) Sl 19 12) Mt 16 18

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 16: Revista Doctor Plinio -210_201509

E

16

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Reloacutegio astronocircmico de Praga

Repuacuteblica Checa

Car

mel

obay

arca

l (C

C 3

0)

A Lei de Deus e a boa ordenaccedilatildeo da sociedade - II

A vida verdadeiramente cristatilde deve girar em torno dos Mandamentos Eacute a partir deles que uma pessoa poderaacute conceituar algo como bom ou mau analisar a ruiacutena ou o progresso de uma

sociedade e livrar-se dos problemas nervosos tatildeo comuns em nossos dias

natildeo toma atitudes agradaacuteveis ou benfazejas para com os outros Em geral natildeo vai aleacutem disso a consideraccedilatildeo des-ses predicados

O conceito de ldquobomrdquo e de ldquomaurdquo analisado segundo os Mandamentos

Consequentemente eacute considerado bom quem tem certa ternura e sensibilidade Quem natildeo as tem eacute mau

m nosso seacuteculo as palavras ldquobomrdquo e ldquoruimrdquo es-tatildeo conspurcadas na linguagem corrente Enten-de-se que boa eacute uma pessoa acessiacutevel agrave comisera-

ccedilatildeo que tem pena de algueacutem e por isso faz-lhe algum benefiacutecio Ruim eacute quem eacute pouco aberto agrave compaixatildeo e

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 17: Revista Doctor Plinio -210_201509

17

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Aplicaccedilatildeo de clorofoacutermio

Fae

(CC

30

)

Deduz-se daiacute a impostaccedilatildeo completamente superficial que as pessoas tomam diante da vida Por exemplo en-tra-se num ocircnibus num metrocirc ou em outro lugar coleti-vo qualquer passeia-se o olhar e veem-se algumas pesso-as com uma tendecircncia natural a tomar uma posiccedilatildeo be-nevolente Olham para os outros com simpatia e perce-be-se que se lhes fosse pedido um pequeno favor faacute-lo--iam de bom grado e ateacute responderiam sorrindo Con-clusatildeo essas pessoas satildeo boas

A respeito de outro que tem uma fisionomia mais car-rancuda olha-se e se diz ldquoAquele eacute ruimrdquo Este jaacute era o criteacuterio comum de anaacutelise em minha juventude quanto mais agora

Acontece entretanto que muitas vezes essas impres-sotildees enganam Natildeo podemos reduzir tudo a uma simples aparecircncia de trato afaacutevel O conceito de bem e de mal vai muito mais fundo do que um mero modo de ser

Haacute pouco vi a notiacutecia de um pobre homem que se jo-gou de um andar de um preacutedio numa segunda tentati-va de suiciacutedio e conseguiu matar-se Pela fisionomia de-le via-se ser uma pessoa comunicativa que causava na-queles com quem convivia a sensaccedilatildeo de benevolecircncia da parte dele Entretanto esse homem era incapaz de fazer esta coisa fundamental carregar o peso da vida quais-quer que fossem as circunstacircncias e natildeo atentar contra sua proacutepria vida

Algueacutem diraacute ldquoMas Dr Plinio ele natildeo tinha o direito de se matarrdquo

Se ele tivesse esse direito por que natildeo teria tambeacutem o de matar outrem

Ora eu natildeo tenho o direito de matar outro homem porque ele foi criado por Deus existe para Deus e soacute Deus que lhe deu a vida pode tiraacute-la

Este mesmo argumento va-le para mim natildeo posso arran-car de mim a vida que Deus me deu Soacute Ele pode tiraacute-la

O suicida portanto eacute um assassino de si proacuteprio E se um homicida eacute mau por tirar a vida de seu proacuteximo o eacute tam-beacutem quem pratica o pior dos assassinatos que eacute matar-se a si mesmo pois quanto mais proacuteximo o homem mais culpaacute-vel eacute o crime

Assim como um homem que pela afabilidade de suas

maneiras e de seu trato daacute a impressatildeo de ser bom pode secirc-lo de fato se estaacute planejando em seu iacutentimo tal accedilatildeo criminosa Por mais que tenha aparecircncia de ser uma boa pessoa ele cedeu ao mal quando tomou a delibera-ccedilatildeo de suicidar-se

Portanto o criteacuterio para sabermos se uma pessoa eacute boa ou maacute natildeo se baseia nesta noccedilatildeo corrente de bonda-de De fato bom eacute quem cumpre os Mandamentos divi-nos e mau eacute quem os viola gravemente

Eis o coacutedigo de toda bondade humana este eacute o padratildeo

O caos eacute fruto de uma humanidade que natildeo pratica a Lei de Deus

Donde decorre que as naccedilotildees estatildeo tanto mais em or-dem quanto mais os homens cumprem os Dez Manda-mentos E se ao visitarmos uma naccedilatildeo percebemos que ali se viola com frequecircncia a Lei divina a conclusatildeo que podemos tirar eacute que aquela naccedilatildeo estaacute em decadecircncia porque as peccedilas da engrenagem mdash para retomar a me-taacutefora do reloacutegio mdash estatildeo cada vez mais em desordem umas em relaccedilatildeo agraves outras porque se peca muito ali

Pois bem se cada peccedila do reloacutegio estaacute sujeita mdash por condiccedilotildees climaacuteticas poluiccedilatildeo ou qualquer outra cir-cunstacircncia mdash a um processo de deterioraccedilatildeo haacute de che-gar um ponto em que o reloacutegio natildeo funciona mais Pode

ser o melhor reloacutegio do mun-do o mais fino delicado ou o maior o mais vigoroso e soacute-lido se algo haacute no ar que vai enchendo de ferrugem as pe-ccedilas de um modo progressivo em determinado momento o reloacutegio todo estaacute tatildeo deterio-rado que para

Ora isto mesmo se daacute com as naccedilotildees se os homens que as constituem afastam-se pro-gressivamente dos Dez Man-damentos ou seja deixam de ser bons e vatildeo ficando cada vez piores acabaraacute por che-gar um momento em que es-sas naccedilotildees entram em caos

Temos assim numa pon-ta a Civilizaccedilatildeo Cristatilde que eacute a ordem das coisas na qual to-dos cumprem os Mandamen-tos Na outra ponta temos o caos que eacute a situaccedilatildeo em que ningueacutem cumpre o Decaacutelogo em que todos pecam todos

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 18: Revista Doctor Plinio -210_201509

18

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

satildeo egoiacutestas Uma eacute a cidade de Deus outra eacute a cidade do democircnio

Santo Agostinho mdash o grande Bispo de Hipona um dos maiores luminares que a Providecircncia tenha suscita-do dentro da Igreja mdash diz que haacute dois amores que expli-cam as duas cidades Uma eacute a cidade da ordem onde to-dos tecircm o amor de Deus a ponto de se esquecerem de si mesmos Na outra cidade todos tecircm o amor de si mes-mos levado ao ponto de se esquecerem de Deus Eacute a ci-dade do democircnio

Do progresso sem a praacutetica da virtude resulta uma sociedade cheia de neuroses

Eacute forccediloso que quanto mais um povo vai se paganizan-do abandonando a Lei de Deus tanto mais vai decaindo

Isto noacutes observamos de modo impressionante neste nosso seacuteculo Se compararmos o mundo de hoje com o de oitenta anos atraacutes veremos quanta coisa melhorou na vi-da humana Basta pensar nos progressos assombrosos da Medicina Quanto ela tem aliviado dores curado doen-ccedilas prolongado vidas enfim espalhado bem pela Terra

Consideremos por exemplo que no iniacutecio deste seacute-culo a anestesia em cirurgias se fazia por meio de cloro-foacutermio Era um meacutetodo complicado lento e nem sem-

pre eficaz O paciente dormia e quando acordava sen-tia naacuteuseas horriacuteveis que por uma reaccedilatildeo do organis-mo podiam levar ao rompimento da sutura Entatildeo era preciso operar de novo ou seja dar outra dose de clo-rofoacutermio

Comparemos isto com as injeccedilotildees de hoje e compre-enderemos quanto bem a Medicina fez

Natildeo obstante as desordens morais econocircmicas e so-ciais criaram uma vida tatildeo agitada e de tal excitaccedilatildeo que se estabeleceu uma neurose no mundo inteiro E hoje eacute frequente andarmos pelas ruas e vermos pessoas que no-toriamente sofrem de problemas nervosos

Haacute lugares onde os criminosos natildeo satildeo presos porque natildeo haacute cadeia que comporte todos os delinquentes que aparecem Nota-se a sociedade inteira de hoje se contor-cendo num mal-estar numa afliccedilatildeo numa anguacutestia que leva os homens a fazerem verdadeiras aberraccedilotildees

Por exemplo pode haver maior aberraccedilatildeo do que o aborto em que a matildee concorda em interromper a ges-taccedilatildeo e expelir de si o filho que estava sendo gerado Quer dizer eacute um pecado contra a natureza eacute um pe-cado de homiciacutedio um pecado horroroso que brada aos Ceacuteus e clama a Deus por vinganccedila Entretanto ve-mos a quantidade enorme de abortos praticados em nossos dias

Poacutertico do Juiacutezo Final (detalhe) - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

Dav

id M

cspa

dden

(C

C 3

0)

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 19: Revista Doctor Plinio -210_201509

19

refLexotildeeS teoLoacutegicaS

Rep

rodu

ccedilatildeo

ldquoNatildeo pecaraacutes contra a castidaderdquo preceitua o Sexto Mandamento Infelizmente quatildeo raras vatildeo se tornando as pessoas que praticam a castidade

E o que dizer sobre o adulteacuterio no mundo de hoje Um dos argumentos alegados pelos defensores do divoacuter-cio eacute que natildeo se suporta a indissolubilidade do viacutenculo conjugal Ora Deus manda que marido e mulher sejam fieacuteis um ao outro a vida inteira

O que pensar de um paiacutes que natildeo aguenta mais a in-dissolubilidade do matrimocircnio e portanto natildeo tole-ra mais a boa ordem em um ponto tatildeo grave Os resul-tados satildeo as desordens e o arrebentamento de todas as coisas

Natildeo tenhamos ilusatildeo o mundo de hoje progrediu ma-ravilhosamente debaixo de muitos pontos de vista con-tudo a falta de observacircncia dos Mandamentos natildeo soacute o encaminha para o precipiacutecio mas faz com que todos os progressos se revertam para ele em ruiacutena Progressos de si maravilhosos mas que postos a serviccedilo de uma civili-zaccedilatildeo nevropata tudo comeccedila a vacilar

Daiacute o aviso de Nossa Senhora em Faacutetima em 1917 Ela apareceu para os pastorinhos e declarou na Cova da Iria que o mundo vivia na imoralidade e que com isso a coacutelera de Deus estava com a medida cheia e que se o mundo natildeo se emendasse e natildeo se consagrasse ao Ima-culado Coraccedilatildeo de Maria viria o castigo em que ha-veria muitas desgraccedilas e soacute depois disso o mundo voltaria aos seus gonzos

Nossa Senhora disse uma coisa brutal cruel errada Natildeo Ela constatou um fato O mundo estava em estado permanente de grave ofensa a Deus e cada vez mais con-tinuou nisso

Alguns criteacuterios para levar uma vida verdadeiramente cristatilde

Em vista destas razotildees profundas podemos tirar conclusotildees praacuteticas para nossa vida

Natildeo considerarmos su-perficialmente as pessoas A pergunta para saber se algueacutem eacute bom ou mau deve

ser Ele ama a Deus a ponto de cumprir os Mandamen-tos Se ele ama a Deus seja seu irmatildeo se ele natildeo ama a Deus reze para que ele passe a amaacute-Lo trabalhe para que ele se converta mas cuidado com ele

Porque quem natildeo ama a Deus natildeo eacute capaz de amar sinceramente outra pessoa O carinho do pecador eacute uma mentira O afeto do homem ou da mulher que estaacute em pecado soacute vai ateacute o limite de sua proacutepria sensibilidade Em determinado momento ponto final acabou

Quem natildeo ama a Deus acima de todas as coisas natildeo imaginemos que vaacute amar algueacutem mais do que a si mes-mo porque ama a si proacuteprio acima de todas as coisas Pode querer outrem apenas enquanto eacute um instrumen-to de prazer mais nada Natildeo eacute absolutamente aquele amor pelo qual fazemos o bem aos outros ainda que natildeo nos retribuam e soacute porque amamos a Deus Este eacute o amor desinteressado ao proacuteximo esta eacute a verdadei-ra seriedade

Entatildeo uma reflexatildeo mais aprofundada nos conduz a este resultado inapreciaacutevel uma convicccedilatildeo loacutegica e seacuteria que resiste a qualquer anaacutelise a respeito de nossa impos-taccedilatildeo na vida

Devemos saber governar as nossas simpatias e antipa-tias que muitas vezes natildeo satildeo senatildeo caprichos Des-confiar portanto da nos-sa simpatia e nos pergun-tarmos Aquela pessoa com quem simpatizo ama a Deus e vive na sua graccedila Se assim for a minha sim-patia tem uma razatildeo de ser

Tomemos cuidado tam-beacutem com as antipatias Agraves vezes temos antipatias in-teiramente gratuitas e para com pessoas que merecem nosso afeto Analisemos as nossas antipatias de tal ma-neira que as julguemos ade-quadamente e saibamos tra-tar bem as pessoas para com as quais temos aversatildeo por razotildees estuacutepidas

Eacute um modo de evitar muita injusticcedila e de levar uma vida verdadeiramente cristatilde onde tudo eacute regulado pela Feacute e pela Moral   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de

8121984)

Iluminura do seacutec XV ilustrando uma traduccedilatildeo da obra ldquoA cidade de Deusrdquo de Santo Agostinho

Biblioteca Nacional da Holanda

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 20: Revista Doctor Plinio -210_201509

Dom Joatildeo VI no Brasil - I

T

20

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Cais do Mercado em 1885 (por Benedito Calixto) - Museu de

Arte de Satildeo Paulo Brasil

Ao discorrer sobre personagens costumes e ambientes do seacuteculo XIX Dr Plinio analisa a

monarquia no Brasil atraveacutes de pitorescos fatos que datildeo extraordinaacuterio sabor ao estudo da Histoacuteria

odos devem ter visto em aacutelbuns e revistas foto-grafias de gente vestida com as modas de outrora Modas muito diferentes desde as da Idade Meacute-

dia ateacute as do seacuteculo XIX ou mesmo as de nosso seacuteculo As modas variaram enormemente

Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo

Com as modas diversificaram tambeacutem as casas o ar-ranjo a apresentaccedilatildeo externa e interna das residecircncias os moacuteveis e outros objetos Tudo variou

Mas o elemento principal que variou natildeo foi nada dis-so foi o ser humano Os homens se foram modificando ao sabor da Revoluccedilatildeo muito mais do que da Contra-Re-voluccedilatildeo porque esta se apresentava muitas vezes indeci-sa e sem conhecer ainda as manhas da Revoluccedilatildeo e por causa disso sempre recuando um tanto Mas enfim ofe-

recia certa resistecircncia e em alguns casos concretos ad-miraacutevel resistecircncia E isso segurava um pouco a onda

Em cada geraccedilatildeo que vinha a Revoluccedilatildeo avanccedilava mais a Contra-Revoluccedilatildeo segurava um pouco a Revolu-ccedilatildeo mas ia recuando E assim cada geraccedilatildeo foi ficando mais revolucionaacuteria

Entatildeo podemos imaginar por exemplo cem anos atraacutes mdash portanto em 1885 mdash como eram os homens co-mo se vestiam se alimentavam quais eram as ideias que eles tinham como conversavam no Brasil em concreto

Como era o Brasil de 1885Natildeo tive tempo de consultar livros que dessem os por-

menores Eacute possiacutevel que algum lapso histoacuterico ocorra Mas de um modo geral era assim

No Brasil de 1885 havia duas instituiccedilotildees que mor-reram Duas instituiccedilotildees muito diversas uma das quais quase morreu por ter matado a outra Eram elas a mo-narquia e a escravatura

Dor

nick

e (C

C 3

0)

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 21: Revista Doctor Plinio -210_201509

21

Retrato equestre de Dom Joatildeo VI (coleccedilatildeo particular)

O que dizer a respeito dos escravos dos senhores de engenho do monarca e de sua corte Como tudo isso vi-veu no Brasil concretamente em 1885

Natildeo se trata de uma Histoacuteria do Brasil eacute uma histoacuteria dos indiviacuteduos dos particulares dentro deste Paiacutes

Vamos analisar um pouquinho como era a monarquia no Brasil mas atraveacutes de fatinhos

As trecircs formas de governo suas vantagens e desvantagens

Antes poreacutem poderiacuteamos nos perguntar qual seria a melhor forma de governo monarquia aristocracia ou democracia

Com muita sabedoria Satildeo Tomaacutes diz que propria-mente depende do paiacutes Por vezes uma forma de gover-no serve para uma naccedilatildeo e natildeo para outra Cada paiacutes tem as suas exigecircncias suas necessidades

O modo de pilotar um aviatildeo depende da marca da ae-ronave e tambeacutem de quem pilota do seu temperamento do seu feitio Digamos que um paiacutes seja o aviatildeo e o mo-narca o piloto depende da relaccedilatildeo entre o rei e o paiacutes para que este ande bem Entatildeo a monarquia eacute uma forma de governo que quando essa rela-ccedilatildeo se estabelece bem pode dar um grande resul-tado Qual eacute a vantagem Eacute a unidade do coman-do um manda e os outros obedecem

Um exeacutercito com dois generais mandando jun-tos ainda que sejam dois grandes generais natildeo funciona Os dois maiores maestros de orques-tra do mundo regendo juntos a mesma orques-tra fracassam

Percebe-se atraveacutes desses dois pequenos exemplos a vantagem que apresenta a monar-quia

A aristocracia eacute o governo de uma elite Eacute um escol satildeo os mais capazes os que tiveram uma melhor educaccedilatildeo uma melhor instruccedilatildeo pos-suem mais inteligecircncia os que foram formados num ambiente que os elevou mais Esses satildeo mais capazes de governar por vaacuterios aspectos E o go-verno dos melhores mdash esta eacute a aristocracia mdash tem muita vantagem que a monarquia natildeo possui Porque quando um rei desanda o paiacutes vai aacutegua abaixo Eacute muito bonito dizer que o piloto daacute uni-dade ao comando mas quando daacute a louca no pi-loto o que acontece

Entatildeo a aristocracia tem a vantagem de que se der a louca em um os outros compensam aba-fam dirigem Isso eacute muito bom

Mas pode acontecer que os membros de uma aristocracia briguem entre si Seria como um es-

tado-maior de um exeacutercito cujos membros brigassem en-tre si sairia encrenca De maneira que a aristocracia tem vantagens quando ela presta e natildeo apresenta vantagens quando natildeo presta Pelo contraacuterio pode ser uma forma perigosa de governo

A respeito da democracia mdash o mando de todos mdash eu qua-se diria a mesma coisa quando todos prestam daacute certo

Quer dizer com uma mateacuteria-prima ruim com uma farinha ordinaacuteria natildeo se faz um bolo bom por mais que a receita seja oacutetima

Satildeo Tomaacutes de Aquino tomando isso tudo em considera-ccedilatildeo aconselha que cada povo escolha livremente sua forma de governo mas o ideal seria um regime que acumulasse as trecircs formas monarquia aristocracia e democracia

Entatildeo o imperador ou o rei deteacutem uma parcela do po-der outra parcela a aristocracia e outra parte do man-do estaacute com o povo

Esta eacute uma situaccedilatildeo que segundo Satildeo Tomaacutes daacute maio-res possibilidades de um governo se fixar Poreacutem isso natildeo eacute mecacircnico natildeo quer dizer que deve ser para todos os pa-iacuteses Eacute em tese teoricamente Na praacutetica vemos paiacuteses

Lum

asta

n (C

C 3

0)

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 22: Revista Doctor Plinio -210_201509

22

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteriaTh

omas

Gun

(C

C 3

0)

Tetr

akty

s (C

C 3

0)

florescerem e chegarem ao mais alto progresso com uma dessas formas de governo e natildeo com as trecircs compostas

Fugindo de Napoleatildeo Dom Joatildeo VI viaja para o Brasil

Por ocasiatildeo da separaccedilatildeo entre Brasil e Portugal o Rei de Portugal era D Joatildeo VI um homem muito esper-to que viera para caacute fugido de Napoleatildeo I Quando ele soube que as tropas de Napoleatildeo tinham invadido a Es-panha ele achou melhor deixar os espanhoacuteis se defende-rem como fosse possiacutevel o que levava algum tempo En-tatildeo ele organizou a sua vinda para o Brasil que ficava longe das garras de Napoleatildeo completamente

Para essa viagem D Joatildeo VI mandou trazer todos os seus objetos e os de sua famiacutelia arquivos moacuteveis precio-sos quadros roupas constituindo uma esquadra colos-sal Contam os historiadores que ainda na hora da es-quadra partir com o povo assistindo agrave partida do rei vem um homem gritando

mdash Para ParaIsso eacute muito portuguecircs e muito brasileiro uma coisa

que acontece agrave uacuteltima horaPara a esquadra Por quecirc Tinham esquecido no pa-

laacutecio real uma escrivaninha preciosa Entatildeo vinham trazendo o moacutevel para instalar no navio

D Joatildeo VI era louco por sardinhas e tinha ouvido di-zer que no Brasil natildeo havia este tipo de peixe E como ele queria comer sardinhas no Brasil vinha trazendo

num dos navios da esquadra um reservatoacuterio com aacutegua salgada para as sardinhas serem mantidas vivas pois ele queria colocaacute-las no Brasil

E aconteceu com as sardinhas o mesmo que com o rei e com os portugueses quando veem para o Brasil de-ram-se extraordinariamente bem Hoje haacute sardinhas em quantidade pelo litoral brasileiro todas descendentes das sardinhas portuguesas

Afinal a esquadra pocircs-se a caminho veio do Tejo pa-ra caacute

Cenas que se passaram nas bonitas caravelas

Imaginem aqueles navios caravelas bonitas com aquelas velas nas quais estavam pintadas ou a Cruz de

Embarque de D Joatildeo VI (em destaque) para o Brasil - Museu Nacional de Belas Artes Rio de Janeiro Brasil

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 23: Revista Doctor Plinio -210_201509

23

Rep

rodu

ccedilatildeo

Cristo ou as armas do Rei de Portugal Passeando no tombadilho fidalgos e fidalgas de cabeleiras empoa-das vestidos de seda as senhoras com saias balatildeo os homens trajando roupas ornadas com bototildees de bri-lhante de esmeralda usando chapeacuteus de trecircs bicos cheios de plumas

Devia ser muito bonito ver de longe passar a esquadra de D Joatildeo VI Em certo momento percebe-se o Rei que aparece sempre com uma condecoraccedilatildeo e uma faixa de vieacutes trazendo pela matildeo a Rainha e os fidalgos fazem vecirc-nia Soa o Acircngelus por exemplo todos param vem um capelatildeo que reza abenccediloa toda a tripulaccedilatildeo inclusive os marinheiros Satildeo cenas a que todos noacutes gostariacuteamos mui-to de assistir

Entretanto vejam como eram as cenas da vida de ou-trora e como se compunha o lado humano desse proto-colo todo Durante a viagem um dos flagelos era que es-ses navios todos levando mercadorias nos porotildees natildeo ti-nham os desinfetantes de hoje E a mercadoria corria o risco de mofar E desse mofo surgia uma proliferaccedilatildeo de insetos os quais se tornavam tatildeo terriacuteveis que todas as senhoras precisaram raspar o cabelo e ficar calvas du-rante algum tempo para os insetos natildeo atormentarem demais a vida delas

Por fim chegam agraves proximidades da Bahia D Joatildeo VI sempre com aquela ideia de que podiam fazer uma ldquoRevoluccedilatildeo Francesardquo nas terras dele vinha para caacute pre-ocupado o que iria encontrar aqui

Chegada a Salvador e viagem ao Rio de Janeiro

Mal as naus reais entram na baiacutea uma explosatildeo de poacutelvora um tiroteio medonho de todos os lados Ele ficou apavorado Mandou parar os navios e enviou um barquinho com dois ou trecircs fidalgos para saber o que ha-via Encontraram o contraacuterio do que o monarca receava estava preparada uma grande festa Com salvas de ca-nhotildees o Brasil recebia o seu proacuteprio Rei

No cais estava tudo organizado o Governador-Geral as autoridades militares o Bispo da Bahia que era o Pri-maz do Brasil acompanhado de todo o cabido e o res-tante do clero com a reliacutequia do Santo Lenho diante da qual o Rei se ajoelharia logo que chegasse

Assim que o monarca pusesse o peacute em terra firme to-dos os sinos da cidade de Salvador comeccedilariam a repicar e uma procissatildeo mdash meio civil meio militar mdash o acompa-nharia ateacute o seu palaacutecio

Quando o barquinho voltou e os emissaacuterios transmi-tiram estas notiacutecias para o Rei ele ficou muito sossega-do e aportou

Em meio ao repicar dos sinos o monarca pisa em terra ajoelha-se diante do Santo Lenho e recebe a becircnccedilatildeo do Bis-po Canta-se o Te Deum na presenccedila do povo encantado por ver o Rei presente Afinal nunca um rei tinha pisado o solo em nenhuma das trecircs Ameacutericas E o primeiro foi o Rei de Portugal Brasil e Algarves Era uma grande alegria

Chegada da esquadra de D Joatildeo VI ao Rio de Janeiro Museu Histoacuterico Nacional Rio de Janeiro Brasil

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 24: Revista Doctor Plinio -210_201509

24

PerSPectiva PLiniana Da hiStoacuteria

Aclamaccedilatildeo de Dom Joatildeo VI no Rio de Janeiro Biblioteca Maacuterio de Andrade Satildeo Paulo Brasil

Depois de alguns dias de sossego na Bahia D Joatildeo VI retomou a esquadra e veio para o Rio de Janeiro onde estava estabelecida a sede do Governo-Geral do Brasil

No Rio de Janeiro a festa foi ainda maior Ateacute hoje se mostra no cais do Rio o lugar onde o Rei D Joatildeo VI des-ceu Existe ainda o Palaacutecio onde ele morou proacuteximo agrave antiga Catedral

O Brasil era governado por um Vice-Rei o Conde dos Arcos pertencente agrave maior nobreza portuguesa Ele mo-rava num preacutedio enorme transformado apoacutes a Procla-maccedilatildeo da Repuacuteblica em agecircncia central dos correios e teleacutegrafos Havia ali uma espeacutecie de ponte coberta que ligava o palaacutecio do Vice-Rei agrave Catedral Junto ao altar--mor havia um trono para o Rei de onde ele assistia agrave Missa

Banhos de mar siris e caranguejos

D Joatildeo VI era um rei bem ao gosto dos brasileiros pomposo autecircntico legiacutetimo mas ao mesmo tempo com uns lados muito familiares Tratava as pessoas mui-to bem com muita liberalidade bondade e gentileza E ele mesmo simples ou quase simploacuterio no modo de viver

Por exemplo ele tinha uma doenccedila coitado por onde se lhe inchavam as pernas e os meacutedicos aqui da Colocircnia recomendaram-lhe tomar banho de mar

Naquele tempo nem se cogitava na hipoacutetese de um homem da categoria dele banhar-se em puacuteblico abso-lutamente nunca Mas ele precisava tomar o banho de mar A soluccedilatildeo era ir para praias inteiramente desertas o que natildeo era difiacutecil encontrar por exemplo as praias do Flamengo ou do Botafogo que estatildeo no coraccedilatildeo do Rio de hoje eram desabitadas naquela eacutepoca

Arranjavam entatildeo uma barraca onde o rei trocava de roupa vestindo uma espeacutecie de camisolatildeo Interditavam a praia para garantir que ningueacutem passasse por laacute en-quanto o monarca estivesse tomando banho E ele entra-va no mar assim Portanto uma coisa digna e bem arran-jada proacutepria a um homem que tem pudor

Contudo esperto e prudente como era D Joatildeo VI ti-nha um medo enorme de siris e caranguejos Elabora-ram entatildeo um sistema que consistia em estacas de ma-deira das quais pendiam cordas e uma roldana O Rei en-trava numa grande cesta de vime que era pendurada nas cordas e erguida o suficiente para que a aacutegua do mar pu-desse entrar pelos lados mas natildeo por cima Assim tudo quanto era siri e caranguejo ficava de fora e o monarca podia tomar seu banho sossegado

Quando ele estava farto de se banhar dava uma or-dem e levavam-no de novo para a barraca onde o ajuda-vam a secar-se e vestir-se D Joatildeo VI vestia entatildeo sua roupa de gala cabeleira empoada chapeacuteu de trecircs bicos

Pau

lista

01 (

CC

30

)

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 25: Revista Doctor Plinio -210_201509

25

Dona Carlota Joaquina Palaacutecio Nacional de Queluz Portugal

e voltava para o seu palaacutecio dentro de uma carruagem dourada com cristais puxada por dois quatro ou seis ca-valos encimada por lacaios e corneteiro

Havia em tudo isso um misto de aspecto popular e reacutegio muito do agrado do modo de ser dos brasileiros Ningueacutem se lembrava de caccediloar do Rei por causa disso Ao contraacuterio era um pobre doente que tinha o direito de se tratar assim pois uma mordida de siri ou de carangue-jo em suas pernas inchadas poderia complicar a situaccedilatildeo

Suponho que isto decirc certo sabor do mundo de outro-ra o que me leva a contar mais alguns casos

Dona Carlota Joaquina

Quando veio ao Brasil D Joatildeo VI era Priacutencipe Re-gente pois sua matildee Dona Maria I Rainha de Portugal mdash aliaacutes pessoa muito boa e muito catoacutelica mdash ficara lou-ca Ele era casado com uma princesa espanhola Dona Carlota Joaquina senhora de temperamento muito difiacute-cil uma ldquopimenta malaguetardquo

Ela quis ficar rainha de todas as colocircnias espanholas da Ameacuterica do Sul e mandou emissaacuterios para tomarem conta do Uruguai e da Argentina Criou uma diploma-cia paralela agrave do marido porque este natildeo queria saber dessas aventuras D Joatildeo VI queria ficar no Brasil jaacute enorme para ele dominar e natildeo pretendia dominar mais a Ameacuterica espanhola inteira Era uma doidice Ela fazia e entatildeo reclamava com ele

D Joatildeo VI era um homem bonachatildeo e de muito bom temperamento e bom caraacuteter que deixava vir a tempes-tade e depois se adaptava diante dela Era um poliacutetico Entatildeo dizia ldquoDeixe-a fazer porque natildeo daraacute em nadardquo

Ela mexeu e remexeu e natildeo deu em nada mesmoEra a arte do drible ele driblava na perfeiccedilatildeo

rdquoOs becircbados jaacute se casaramrdquo

O monarca era ademais muito sensato Aquela era a eacutepoca das peccedilas de teatro romacircnticas que representa-vam quase sempre histoacuterias de casais em que um moccedilo queria casar com uma moccedila mas natildeo podiam por uma razatildeo qualquer mdash ou a famiacutelia natildeo queria ou eram de religiotildees diferentes ou de classes sociais diversas ou de paiacuteses inimigos mdash e entatildeo ficavam amando-se agrave distacircn-cia No fim do romance em geral ou se suicidavam por-que natildeo podiam se casar ou se casavam

Embora D Joatildeo VI tenha elevado o Brasil agrave condiccedilatildeo de Reino Unido de Portugal o atraso era ainda fenome-nal Assim vinham para caacute umas companhias de teatro muito ordinaacuterias Mas sendo o teatro a distraccedilatildeo que se tinha naquele tempo o Rei possuiacutea uma frisa reservada era a primeira bem em frente do palco no melhor lugar

Ele ia sentava-se laacute e comeccedilava a representaccedilatildeo tea-tral mas ele dormia durante a peccedila

De vez em quando ele acordava e como achava aque-las peccedilas todas malucas sem bom senso nenhum per-guntava para algum ajudante de ordens ou cortesatildeo

mdash Os becircbados jaacute se casaram mdash Natildeo Majestade isso ainda leva tempo ateacute laacuteEle natildeo se incomodava e caiacutea no sono novamente A certa altura havia um intervalo Como ele era mui-

to gastrocircnomo mandava vir do palaacutecio numa bandeja de prata um frango frito com farofa e ele comia

Em geral os professores natildeo contam esses pormeno-res que datildeo extraordinaacuterio sabor agrave Histoacuteria

Quando afinal terminava de dormir acabava o fran-go os becircbedos se casavam etc o monarca voltava para casa Mas sempre muito bondoso muito paternal com um aspecto muito digno envolto em um grande aparato com uma grande corte muito seacuterio e levando as coisas direito Ele sabia administrar bem e natildeo lhe faltava cer-to senso humoriacutestico   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 26101985)

Dor

nick

e (C

C 3

0)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 26: Revista Doctor Plinio -210_201509

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

26

Santa Notburga

1 Satildeo Lupo bispo (daggerc 623) Bispo de Sens Franccedila exi-lado por haver afirmado que o povo deve obedecer mais a Deus do que aos governantes desta Terra

2 Satildeo Justo bispo (daggerd 381) Renunciou a Seacute episcopal de Lyon apoacutes o Conciacutelio de Aquileia e abraccedilou a humilde vida dos monges de um eremiteacuterio no Egito

3 Satildeo Gregoacuterio Magno Papa e Doutor da Igreja (dagger604)

Beata Briacutegida de Jesus Morello viuacuteva (dagger1679) Funda-dora da Congregaccedilatildeo das Irmatildes Ursulinas de Maria Ima-culada em Piacenza Itaacutelia apoacutes ficar viuacuteva

4 Beata Maria de Santa Ceciacutelia Romana (Dina Beacutelan-ger) virgem (dagger1929) Religiosa da Congregaccedilatildeo das Re-ligiosas de Jesus e Maria em Quebec Canadaacute Suportou com paciecircncia durante muitos anos a terriacutevel enfermidade da qual morreu aos 32 anos

5 Satildeo Bertino abade (daggerc 698) Fun-dou com Satildeo Munolino em Saint-Omer Franccedila o mosteiro de Sithieu do qual foi abade durante cerca de 40 anos

6 XXIII Domingo do Tempo Co-mum

Beato Bertrand de Garrigues pres-biacutetero (daggerc 1230) Disciacutepulo de Satildeo Do-mingos foi prior do convento de Tou-louse e depois fundou conventos em Pa-ris Avignon e Montpelier

7 Satildeo Clodoaldo presbiacutetero (dagger560) Nascido de estirpe real foi acolhido por sua avoacute Santa Clotilde apoacutes a morte de seu pai e seus irmatildeos Fez-se sacerdote e morreu em Saint-Cloud Franccedila

8 Natividade de Nossa SenhoraSatildeo Tomaacutes de Villanueva bispo

(dagger1555) Religioso dominicano aceitou por obediecircncia o ministeacuterio episcopal de Valecircncia Espanha

9 Satildeo Pedro Claver presbiacutetero (dagger1654)

Beato Pedro Bonhomme presbiacutetero (dagger1861) Dedicou-se agraves missotildees popula-

res e agrave evangelizaccedilatildeo do mundo rural e fundou a Congre-gaccedilatildeo das Irmatildes de Nossa Senhora do Monte Calvaacuterio em Gramat Franccedila

10 Beato Tiago Gagnot presbiacutetero e maacutertir (dagger1794) Religioso carmelita que durante a Revoluccedilatildeo Francesa foi preso numa soacuterdida embarcaccedilatildeo em Rochefort onde morreu consumido pelas enfermidades

11 Beato Boaventura de Barcelona religioso (dagger1648) Irmatildeo franciscano que fundou em territoacuterio romano vaacute-rios conventos e casas de retiros

12 Santiacutessimo Nome de MariaSatildeo Francisco Chrsquooe Kyong-hwan maacutertir (dagger1839) Ca-

tequista preso em Seul por se recusar abjurar a Feacute dedi-cou-se no caacutercere agrave catequese ateacute morrer extenuado pela atrocidade dos tormentos

13 XXIV Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Joatildeo Crisoacutestomo bispo e Dou-tor da Igreja (dagger407)

Beata Maria de Jesus Loacutepez Rivas virgem (dagger1640) Disciacutepula de Santa Te-resa de Aacutevila e priora do Carmelo de Toledo Recebeu no corpo e na alma a comunicaccedilatildeo das dores da Paixatildeo de Nosso Senhor

14 Exaltaccedilatildeo da Santa CruzSanta Notburga virgem (dagger1313)

Dona de casa da aldeia de Eben Aacuteus-tria serviu a Cristo nos pobres dando aos camponeses um admiraacutevel exem-plo de santidade

15 Nossa Senhora das DoresBeato Paulo Manna presbiacutetero

(dagger1952) Sacerdote do Instituto Pontifiacute-cio para as Missotildees Estrangeiras que deixando a accedilatildeo missionaacuteria na Birmacirc-nia por causa da sua debilitada sauacutede trabalhou na evangelizaccedilatildeo na Itaacutelia

16 Satildeo Corneacutelio Papa (dagger253) e Satildeo Cipriano bispo (dagger258) maacutertires

Satildeo Vital abade (dagger1122) Renunciou aos encargos terrenos e fundou um mos-

Nei

than

90 (

CC

30

)

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 27: Revista Doctor Plinio -210_201509

Calendaacuterio dos santos ndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndashndash setembro ndashndashndashndash

27

Satildeo Jonas

teiro em Savigny Franccedila onde reuniu numerosos disciacutepulos

17 Satildeo Roberto Belarmino bispo e Doutor da Igreja (dagger1621)

Beato Estanislau de Jesus e Maria presbiacutetero (dagger1701) Fundador dos Cleacute-rigos Marianos da Imaculada Concei-ccedilatildeo da Virgem Maria em Gora Kalwaacute-ria Polocircnia

18 Satildeo Joseacute de Cupertino presbiacute-tero (dagger1663) Religioso franciscano do convento de Osimo Itaacutelia Apesar das adversidades que teve de enfrentar du-rante sua vida foi favorecido com gra-ccedilas miacutesticas extraordinaacuterias

19 Satildeo Januaacuterio Bispo e maacutertir (daggerseacutec IV)

Santa Maria de Cervelloacute virgem (dagger1290) Primeira religiosa mercedaacute-ria Pela obra realizada em favor dos pobres e enfermos ficou conhecida co-mo ldquoMaria do Socorrordquo

20 XXV Domingo do Tempo Co-mum

Santos Andreacute Kim Taegon presbiacutetero Paulo Chong Hasang e companheiros maacutertires (dagger1839-1867)

Satildeo Joatildeo Carlos Cornay presbiacutetero e maacutertir (dagger1837) Sacerdote da Sociedade das Missotildees Estrangeiras de Pa-ris que por decreto do imperador Minh Mang foi deca-pitado na fortaleza de Soacuten-Tacircy Vietnatilde depois de sofrer crueacuteis torturas

21 Satildeo Mateus Apoacutestolo e EvangelistaSatildeo Jonas profeta Filho de Amitai enviado por Deus

para pregar em Niacutenive Sua saiacuteda do ventre da baleia eacute evocada no proacuteprio Evangelho como sinal da Ressurrei-ccedilatildeo do Senhor

22 Santo Inaacutecio de Santhiaacute presbiacutetero (dagger1770) Sacer-dote capuchinho de Turim muito assiacuteduo na audiccedilatildeo de Confissotildees e na assistecircncia aos enfermos

23 Satildeo Pio de Pietrelcina presbiacutetero (dagger1968)Satildeo Lino Papa e maacutertir (daggerseacutec I) Primeiro sucessor de

Satildeo Pedro eleito pelos proacuteprios Apoacutestolos Pedro e Paulo

24 Beata Colomba Gabriel aba-dessa (dagger1926) Tendo sido calunia-da parte do mosteiro beneditino de Lviv Ucracircnia do qual era abades-sa em direccedilatildeo a Roma Ali funda a Congregaccedilatildeo das Irmatildes Benediti-nas da Caridade e organiza a obra de apostolado social chamada Casa da Famiacutelia

25 Satildeo Princiacutepio bispo (daggerseacutec VI) Irmatildeo de Satildeo Remiacutegio Bispo de Sois-sons Franccedila

26 Santos Cosme e Damiatildeo maacuterti-res (daggerc seacutec III)

Beato Luiacutes Tezza presbiacutetero (dagger1923) Religioso da Ordem dos Cleacuterigos Re-grantes Ministros dos Enfermos e fun-dador da Congregaccedilatildeo das Filhas de Satildeo Camilo em Roma

27 XXVI Domingo do Tempo Co-mum

Satildeo Vicente de Paulo presbiacutetero (dagger1660)

Beato Lourenccedilo de Ripafratta pres-biacutetero (dagger1456) Religioso dominicano

do mosteiro de Pistoia Itaacutelia que observou durante ses-senta anos a disciplina religiosa e dedicou-se ao Sacra-mento da Reconciliaccedilatildeo

28 Satildeo Venceslau maacutertir (dagger929-935)Satildeo Lourenccedilo Ruiz e companheiros maacutertires (dagger1633-

1637)Beato Bernardino de Feltre presbiacutetero (dagger1494) Reli-

gioso franciscano que para combater a usura praga da eacutepoca promoveu a fundaccedilatildeo de montepios Morreu em Pavia Itaacutelia aos 55 anos

29 Satildeo Miguel Satildeo Gabriel e Satildeo Rafael Arcanjos Ver paacutegina 2

Beato Carlos de Blois leigo (dagger1364) Ver paacutegina 28

30 Satildeo Jerocircnimo presbiacutetero e Doutor da Igreja (dagger420)

Satildeo Simatildeo monge (dagger1082) Sendo conde de Creacutepy re-nunciou agrave paacutetria matrimocircnio e riquezas para levar vida eremiacutetica no maciccedilo do Jura

Vic

tor

Toni

olo

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 28: Revista Doctor Plinio -210_201509

A

Beato Carlos de Blois senhor feudal e patrono dos guerreiros

28

hagiografia

A iacutendole das instituiccedilotildees feudais as quais eram hieraacuterquicas conduzia agrave santidade enquanto as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacuterito da Revoluccedilatildeo

respeito do Beato Carlos de Blois o General Silveira de Mello no livro ldquoOs Santos Milita-resrdquo diz o seguinte

Herda o Ducado da Bretanha

Carlos de Blois era filho do Conde de Blois Guy I e da Princesa Margarida irmatilde de Filipe de Valois

Recebeu educaccedilatildeo esmerada e foi muito adestrado mi-litarmente

Casando-se com Joana filha de Guy de Penthiegravevre e so-brinha de Joatildeo III da Bretanha por morte deste uacuteltimo Carlos de Blois recebeu com sua esposa o ducado como heranccedila no ano de 1341 Assumiu o governo dessa proviacuten-cia com grande entusiasmo dos nobres e dos seus vassalos mais humildes

Imagem do Beato Carlos de Blois - Igreja Notre-Dame de Bulat-Pestivien Franccedila

GO

69 (

CC

30)

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 29: Revista Doctor Plinio -210_201509

29

Entretanto o Conde de Montfort irmatildeo do Duque fale-cido reclamou o direito agrave sucessatildeo e pegou em armas para reivindicaacute-lo Foi apoiado pelos ingleses enquanto a Fran-ccedila tomava o partido de Carlos

O jovem Conde de Blois fez frente ao seu contendor 23 anos durou essa luta que os ingleses sustentavam de fora

Em 1346 no combate de La Roche-Derrien Carlos so-freu um reveacutes e caiu prisioneiro Encerraram-no na Torre de Londres onde permaneceu encarcerado durante nove anos As oraccedilotildees que rezou neste cativeiro foram de molde a assegurar a continuidade do governo da Bretanha

Nunca afrouxou seus exerciacutecios de piedade

A Princesa Joana sua eneacutergica esposa assumiu a dire-ccedilatildeo dos negoacutecios puacuteblicos e da guerra e manteve atitude de energia pela libertaccedilatildeo do marido

Livre Carlos prosseguiu com maior denodo as opera-ccedilotildees militares

Sucederam-se reveses e vantagens de parte a parte ateacute que por fim em 1364 aos 29 de setembro festa do Arcan-jo Satildeo Miguel o santo e bravo duque caiu morto na Bata-lha de Auray Esta jornada heroica uacuteltima de sua vida ini-ciou-a Carlos com a recepccedilatildeo dos Sacramentos da Confis-satildeo e da Eucaristia

Morreu como vivera pois em meio a todas as lutas que enfrentava nunca afrouxou seus exerciacutecios de pieda-de e austeridade assim como nunca deixou de empreender obras de interesse para a Religiatildeo e para seus suacuteditos

Tatildeo evidentes foram as suas virtudes que logo apoacutes sua morte em 1368 deram iniacutecio ao processo de beatificaccedilatildeo

Satildeo Pio X confirmou o seu culto em 14 de dezembro de 1904 Eacute venerado no dia de sua morte 29 de setembro

Luta contra um vassalo infiel e revoltado

Trata-se de um Santo que eacute de um modo especial o patrono dos guerreiros Haacute dois modos de ser patrono dos guerreiros um considerando o guerreiro enquanto guerreiro da Feacute lutador pela Doutrina e pela Igreja Ca-toacutelica Mas neste caso eacute a funccedilatildeo do guerreiro com um acreacutescimo que lhe eacute extriacutenseco e natildeo necessaacuterio agrave condi-ccedilatildeo do guerreiro Quer dizer o guerreiro realiza a maior sublimidade de sua vocaccedilatildeo quando ele luta pela Feacute mas nem todo guerreiro luta necessariamente pela Feacute

O proacuteprio do guerreiro eacute lutar e o normal dele natildeo eacute lutar apenas pela Feacute Mas o guerreiro pura e simplesmen-te que natildeo acrescenta a seu tiacutetulo essa aureacuteola de cruza-do eacute aquele que luta na guerra justa pelo seu paiacutes para defender o bem comum ainda que seja o bem comum temporal daqueles que estatildeo confiados agrave sua direccedilatildeo

Temos aqui o exemplo do Bem-aventurado Carlos de Blois Como vimos ele era Duque da Bretanha em virtu-de de uma heranccedila recebida de sua esposa Mas o tio des-ta contestando a legitimidade desse tiacutetulo revoltou-se e moveu uma guerra contra ele Ele era portanto a legiacutetima autoridade em luta contra um vassalo infiel e revoltado

Aleacutem disso tratava-se da integridade do reino da Franccedila porque o tio da Princesa de Blois era ligado aos ingleses que queriam dominar a Franccedila E ele lutava en-tatildeo pela integridade do territoacuterio francecircs batalhando pe-la independecircncia da Bretanha em relaccedilatildeo agrave Inglaterra

O povo do seu ducado da

Bretanha olhando para ele

pensando nele admirando-o

venerando-o tinha nele um

reflexo de Deus na Terra

Seacutem

hur

(CC

30

)Batalha de La Roche-Derrien Biblioteca Nacional da Franccedila

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 30: Revista Doctor Plinio -210_201509

30

hagiografia

Combate com um remoto significado religiosoEssa luta pela Franccedila por sua vez tinha um remoto

significado religioso mas que ele natildeo podia prever natildeo estava nas suas intenccedilotildees A Franccedila era a naccedilatildeo predileta de Deus a filha primogecircnita da Igreja A Inglaterra era nesse tempo uma naccedilatildeo catoacutelica mas futuramente have-ria de tornar-se protestante E se ela tivesse domiacutenio nu-ma parte do territoacuterio francecircs daiacute a alguns seacuteculos isso seria muito nocivo para a causa catoacutelica

Entretanto esta consideraccedilatildeo de ordem religiosa que nos faz ver o caraacuteter providencial da luta natildeo estava na mente desse Beato Ele tinha em vista como Duque lutar pela integridade do territoacuterio de sua paacutetria proacutexima que era a Bretanha e de sua paacutetria mais geneacuterica que era a Franccedila

Ele levou nesta luta uma vida inteira Foram perto de 30 anos de reveses nove dos quais ele esteve preso Mas o Beato soube comunicar o seu ardor guerreiro agrave sua es-posa que durante os nove anos em que ele ficou encar-cerado na Torre de Londres tambeacutem lutou valentemente para conservar o ducado

Ao beatificaacute-lo a Igreja quis elevar agrave honra dos alta-res o senhor feudal perfeito governador e patriarca de suas terras aristocrata e aleacutem disso batalhador que sa-bia derramar o sangue pelos seus Esta eacute a siacutentese do se-nhor feudal

Para determinados revolucionaacuterios que vivem falando contra o feudalismo e apresentam o cargo e a dignidade de senhor feudal como intrinsecamente maacute o exemplo do Be-ato Carlos de Blois e o gesto da Igreja beatificando-o cons-tituem um desmentido rotundo porque mostram bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

Mostra-nos com mais um exemplo quantas pessoas de alta categoria da hierarquia feudal se tornaram santas

Vemos tambeacutem por este exemplo a iacutendole das insti-tuiccedilotildees As instituiccedilotildees tecircm uma iacutendole uma psicologia uma mentalidade como os indiviacuteduos A iacutendole das insti-tuiccedilotildees feudais levava agrave santidade enquanto que de ou-

tro lado as instituiccedilotildees que pressupotildeem uma igualdade completa levam ao contraacuterio da santidade que eacute o espiacute-rito da Revoluccedilatildeo

Acabando com as desigualdades se elimina a ideia de Deus

Algum tempo atraacutes tive a oportunidade de ler um li-vro de um dos chefes do Partido Comunista Francecircs chamado Roger Garaudy que sustentava a seguinte te-se Eacute ridiacuteculo noacutes querermos fazer suprimir no povo por meio das perseguiccedilotildees a ideia de Deus A ideia de Deus o povo a tem por causa das desigualdades Eacute consideran-do pessoas desiguais que o homem inferior pensa con-cebe a ideia de um Deus o qual eacute a perfeiccedilatildeo daquilo de que o seu superior lhe daacute certa noccedilatildeo Por causa disso mdash diz ele mdash noacutes natildeo devemos primeiro exterminar a Reli-giatildeo para depois acabar com a hierarquia poliacutetica e so-cial Precisamos eliminar as desigualdades poliacuteticas so-ciais e econocircmicas para depois entatildeo exterminarmos a Religiatildeo E afirma ele que implantada por toda parte a igualdade os siacutembolos de Deus desaparecem e a ideia de Deus morre na alma dos povos

O exemplo do Beato Carlos de Blois nos faz pensar nisto O povo do seu ducado da Bretanha olhando para ele pensando nele admirando-o venerando-o tinha ne-

O gesto da Igreja beatificando Carlos de Blois mostra bem que o cargo pode e deve ser exercido digna e santamente

e que atraveacutes dele se pode chegar agrave honra dos altares

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 31: Revista Doctor Plinio -210_201509

31

Satildeo Tomaacutes abenccediloa a desigualdade Garaudy blasfema contra ela

Aliaacutes eacute precisamente o que ensina Satildeo Tomaacutes de Aquino quando trata da desigualdade Ele diz que de-ve haver desiguais para que os maiores faccedilam agraves ve-zes de Deus em relaccedilatildeo aos menores e guiem os meno-res para o Criador Eacute o pensamento do Garaudy a mes-ma concepccedilatildeo a respeito da relaccedilatildeo entre a desigualda-de e a ideia de Deus Entretanto enquanto Satildeo Tomaacutes de Aquino abenccediloa essa desigualdade porque ela con-duz a Deus Garaudy blasfema contra ela por esta mes-ma razatildeo

Assim noacutes vemos bem como a hierarquia feudal enca-minhava as almas para Deus e como este Santo brilhou como a luz colocada no lampadaacuterio iluminando a Franccedila e a Europa do seu tempo com sua santidade

Essas consideraccedilotildees conduzem a uma oraccedilatildeo especial para ele

Noacutes estamos numa profunda orfandade Neste mundo de ateiacutesmo nesta eacutepoca em que o igualitarismo fez por toda parte devastaccedilotildees tatildeo tremendas podemos olhar para o Bem-aventurado Carlos de Blois como verdadei-ros oacuterfatildeos que natildeo tecircm o que ele representou para os ho-mens do seu tempo

Entatildeo podemos pedir a ele que se apiede de noacutes nes-ta situaccedilatildeo em que estamos e que pelas suas oraccedilotildees fa-ccedila suprir em nossas almas essa deficiecircncia Que o amor agrave desigualdade agrave sacralidade agrave autoridade o gosto de ve-nerar a necessidade de alma de obedecer de se dar de ser humilde brilhem em nossas almas de maneira tal que possamos dizer que verdadeiramente eacute a Contra-Revolu-ccedilatildeo que vive em noacutes

Beato Carlos de Blois rogai por noacutes   v

(Extraiacutedo de conferecircncia de 2891968)

le um reflexo de Deus na Terra A duplo tiacutetulo porque o santo eacute um reflexo do Criador na Terra e o general o go-vernador o chefe o mestre eacute um superior que represen-ta a Deus Assim olhando para ele a ideia de Deus se tornava mais clara na mente de seus suacuteditos

XIII

from

Toky

o (C

C3

0)

Die

tmar

Rab

ich

(CC

30)

Beato Carlos de Blois eacute recebido pelo Prior do Convento dos Cordeliers - Igreja Saint-Malo de Dinan Franccedila

Estaacutetuas dos reis de Judaacute - Catedral Notre-Dame Paris Franccedila

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 32: Revista Doctor Plinio -210_201509

A beleza da luta - I

D

32

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Os contrarrevolucionaacuterios que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democircnio

precisam compreender a beleza da luta

evemos fazer algumas consideraccedilotildees agrave vista de ilustraccedilotildees representando cenas de batalhas medievais desenhadas pelo famoso desenhis-

ta francecircs do seacuteculo XIX Gustavo DoreacutePoreacutem antes de fazer o comentaacuterio eu queria apontar

bem do que se trata para podermos apreciar adequada-mente o assunto

A paz eacute a tranquilidade da ordem

Gustavo Doreacute eacute um dos maiores desenhistas do seacuteculo XIX Ele fez desenhos extraordinaacuterios por exemplo ilus-trando a ldquoDivina Comeacutediardquo Quer dizer a passagem de Dante guiado por Virgilio pelo Inferno depois pelo Pur-gatoacuterio e ateacute pelo Ceacuteu E seus desenhos ficaram famosos

Satildeo desenhos da escola romacircntica com os defeitos desta escola mas tambeacutem com algumas qualidades que existem nela Os defeitos consistem em que ele apela de-mais para o sentimento Doreacute procura impressionar a fundo mdash porque afinal causar impressatildeo eacute proacuteprio de

Rep

rodu

ccedilatildeo

uma obra de arte mdash mas a impressatildeo eacute tatildeo viva que che-ga a apagar um pouco o papel da razatildeo A pessoa se dei-xa levar apenas pela impressatildeo

De outro lado entretanto ele tem uma grande serie-dade em seus desenhos e como tal eacute capaz de inspirar elevar as cogitaccedilotildees dos homens a um plano superior Eacute o que acontece com as batalhas medievais

Os combatentes medievais ele sabe exprimir manifes-tando aquilo em que o homem da Idade Meacutedia era muito sensiacutevel que era o pulchrum do combate Como o com-bate eacute belo como em sua beleza se sente a nobreza e o valor moral da luta e portanto o combate como um dos estados de alma do catoacutelico em que a virtude catoacutelica se faz sentir de um modo excelente

Nisso tudo haacute um contraste com a mentalidade con-temporacircnea essencialmente pacifista mas pacifista de um modo exagerado e sobretudo em obediecircncia a um conceito errado de paz

Com efeito Santo Agostinho definiu prodigiosamen-te bem a paz e Satildeo Tomaacutes retoma essa definiccedilatildeo a paz eacute

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 33: Revista Doctor Plinio -210_201509

33

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

a tranquilidade da ordem Quando as coisas estatildeo em or-dem reina entatildeo entre elas uma harmonia Essa harmo-nia eacute a paz

Natildeo eacute portanto qualquer tranquilidade que eacute paz mas a tranquilidade da ordem Se entrarmos por exem-plo numa sala onde se fuma maconha e haacute quinze vin-te pessoas inebriadas e largadas em sofaacutes ningueacutem di-raacute ldquoQue pazrdquo porque aquilo eacute uma desordem E aquela desordem natildeo proporciona a verdadeira paz

A tranquilidade da desordem eacute o contraacuterio da verdadeira paz

Deve-se ser pacifista Sim se se quer esta paz isto eacute a ordem e se se tem a alegria na tranquilidade da ordem Mas a desordem tambeacutem tem tranquilidade E a tranqui-lidade da desordem eacute nojenta porque eacute o contraacuterio da paz verdadeira e incute desprezo

Por exemplo o que se passou no Vietnam em 1975 Na veacutespera da chegada dos comunistas a Saigon os bares dos grandes hoteacuteis dessa cidade estavam cheios de gente bebericando conversando se divertindo Houve festas Um repoacuterter notou que numa loja no dia anterior agrave in-vasatildeo comunista ainda um pintor estava pintando os ba-tentes das portas do estabelecimento para atrair mais os clientes no dia seguinte A ldquopazrdquo inteira reinava em Sai-gon

Quando os comunistas entraram por volta das 10 11 horas da manhatilde tiveram a sagacidade de mandar alguns caminhotildees com o que havia de mais jovem no exeacutercito comunista Eram meninotes Os caminhotildees ficaram pa-rados em alguns pontos da cidade de Saigon esperando ordens superiores

Os vietnamitas do Sul passavam por laacute e davam risa-da ldquoOlha aqui o que vai ser essa ocupaccedilatildeo Ocupaccedilatildeo de meninos Isso eacute uma tirania de brincadeira Nossa vida vai continuar na mesmardquo

Num clube de luxo um sujeito tranquilo numa pisci-na gritou para o barman ldquoTraga-me uma champagnerdquo O garccedilon trouxe ofereceu e um jornalista perguntou a quem bebia a champagne

mdash Mas o senhor estaacute festejando o quecircEle respondeumdash Eu estou festejando minha uacuteltima champagne Os

comunistas vatildeo entrar natildeo vou ter mais champagne Natildeo sei o que vai ser feito de mim Deixe-me pelo menos be-ber minha uacuteltima champagne na paz

Essa eacute a tranquilidade da desordem e causa nojoNoacutes devemos distinguir no mundo de hoje o pacifismo

que visa a tranquilidade da ordem Busca a ordem por amor de Deus porque ela eacute a semelhanccedila com o Criador e por isso tem a paz de tudo quanto eacute de Deus Mas a

paz natildeo eacute o fim supremo eacute um fruto apraziacutevel da ordem que amamos porque amamos o Altiacutessimo

Dou outro exemplo Num preacutedio de apartamentos mora-se embaixo do apartamento de um casal e nunca se ouve barulhos de uma briga Como natildeo haacute encrenca chega-se agrave conclusatildeo de que existe paz De fato marido e mulher estatildeo brigados e nunca se dirigem a palavra En-tatildeo natildeo haacute discussotildees mas isso natildeo eacute paz Eacute uma carica-tura nojenta da paz eacute a cristalizaccedilatildeo a fixaccedilatildeo a conso-lidaccedilatildeo de uma desordem marido e mulher estatildeo briga-dos quando deveriam estar unidos

O verdadeiro heroiacutesmo eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Haacute situaccedilotildees em que a luta por mais que seja perigo-sa e traga frutos tristes eacute preferiacutevel agrave falsa paz E agraves vezes luta-se de modo terriacutevel para conseguir a paz

Por exemplo se estaacute entrando um ladratildeo numa casa que pode quebrar objetos meter fogo na residecircncia ma-tar os chefes da famiacutelia o filho jaacute moccedilo avanccedila e se atraca com o ladratildeo isso eacute uma briga na casa mas em favor da ordem Essa luta eacute meritoacuteria A isso se chama heroiacutesmo

Os medievais tinham alta ideia disso E portanto eles celebravam a beleza da luta Agraves vezes combates entre ca-valeiros em que cada um dos lados luta de boa-feacute embo-ra um esteja errado e outro natildeo

Por exemplo questatildeo de limites entre um feudo e ou-tro depende da interpretaccedilatildeo de tratados que por vezes satildeo muito complicados Pode ser que nos dois lados haja boa-feacute Mas um julga que tem direito a uma terra e o ou-tro natildeo estaacute de acordo Entatildeo se combatem

Haacute um modo nobre de combater de ambos os lados que torna essa luta nobre em si em que toda a bele-za do combate eacute realccedilada pelo muacutetuo respeito daque-les que lutam Aquele que combate admite que o outro esteja de boa-feacute mas nem por isso permitiraacute que rou-be uma terra que ele considera sua Se o invasor avan-ccedila eacute preciso contecirc-lo mas com respeito porque ele es-taacute de boa-feacute

Portanto natildeo eacute como quem avanccedila em cima de um bandido Eacute um cavaleiro que investe contra outro cava-leiro ambos aguerridos Natildeo raras vezes se saudavam antes da luta reconhecendo a boa-feacute do outro lado Mas natildeo tem remeacutedio vatildeo para a guerra

E na luta conduzida nesse espiacuterito para a defesa de um ideal da Religiatildeo Catoacutelica o homem desdobra qualidades de heroiacutesmo de forccedila de corpo e de alma em que no fun-do eacute a varonilidade de um que se choca com a do outro

Mas como do choque de duas pedras muito duras par-te uma centelha assim do choque de dois homens muito duros pode partir uma chama uma labareda que eacute a ma-

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 34: Revista Doctor Plinio -210_201509

34

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

nifestaccedilatildeo do heroiacutesmo de ambos Esse heroiacutesmo desin-teressado nobre eacute um dos garbos da Idade Meacutedia

Gustavo Doreacute soube representar a beleza do heroiacutesmo

Os desenhos de Gustavo Doreacute representam a beleza da luta a beleza da guerra a beleza do heroiacutesmo

Eacute muito importante que os contrarrevolucionaacuterios os que travam a guerra de Nossa Senhora contra o democirc-nio compreendam seriamente a beleza da luta

Nessa perspectiva entatildeo vamos examinar alguns de-senhos de Gustavo Doreacute

Vemos numa ilustraccedilatildeo um exeacutercito pronto para a ba-talha Na primeira fileira se discernem mais facilmente os soldados de infantaria revestidos de couraccedilas capace-tes espadas escudos contendo em geral emblemas reli-giosos que mostrassem por que eles lutavam

Embaixo estatildeo os homens jogados por terra mostran-do bem a que estaacute sujeito quem trava uma batalha Tem--se a impressatildeo de que o guerreiro que estaacute na primeira fila com um escudo quase inteiramente redondo e com uma espada na matildeo acabou de prostrar por terra aque-le combatente e que esse exeacutercito deu um primeiro cho-que reduzindo a primeira linha do adversaacuterio a trapos e estaacute avanccedilando sobre cadaacuteveres

O campo de batalha eacute representando num dia boni-to e de aspecto ateacute risonho Num campo de batalha as-sim uma grande trageacutedia se desenvolve Mas uma trageacute-dia que eacute sobretudo um lance de dedicaccedilatildeo e de cora-gem Daiacute natildeo resulta choradeira e sim a gloacuteria

A batalha na Idade Media tinha dois estaacutegios o pri-meiro eacute o da bataille rangeacutee e depois da bataille mel-leacutee A bataille rangeacutee era em filas Antes de comeccedilar a luta os dois lados se mantinham em filas e muitas ve-zes um arauto ia para a frente e cantava as razotildees pelas quais eles combatiam julgando que estavam com o direi-to Depois o opositor mandava outro arauto refutar E quando os arautos se retiravam iniciava com todo o fu-ror o ataque de cavalaria de lado a lado

Episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados

Em outra ilustraccedilatildeo observamos um ataque de cava-laria e um cavalo que se ergue com grandeza num belo

Foto

s R

epro

duccedilatilde

o

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 35: Revista Doctor Plinio -210_201509

35

LuzeS Da civiLizaccedilatildeo criStatilde

Aqui natildeo Eles se expunham em primeiro lugar E o resultado eacute esse a Santa Seacute ofereceu a Godofredo de Bouillon o tiacutetulo de Rei de Jerusaleacutem E ele declarou que natildeo queria cingir a coroa de rei no lugar onde Nosso Senhor Jesus Cristo tinha cingido uma coroa de espinhos E que a ele bastava ter o tiacutetulo de Baratildeo do Santo Sepulcro Ele usava entatildeo uma coroa de espinhos feita de ouro   v

(Continua no proacuteximo nuacutemero)

(Extraiacutedo de conferecircncia de 1931988)

movimento Ali estaacute um homem que quis atentar contra o cavaleiro e estaacute sendo jogado no chatildeo Outros homens jaacute estatildeo caiacutedos no solo e os cavalos avanccedilam O cavalei-ro com a espada na matildeo mata na defesa de seu ideal

Tem-se pena de quem estaacute no chatildeo mas natildeo eacute o as-pecto principal do quadro O aspecto principal da cena eacute a admiraccedilatildeo portanto a coragem a gloacuteria

Nesta gravura veem-se nuvens de fumaccedila de todos os lados Trata-se de um episoacutedio culminante da tomada de Jerusaleacutem pelos cruzados Os guerreiros cristatildeos aproxi-maram dos muros de Jerusaleacutem torres de madeira sobre estrados com rodas que eles deslocavam de um lado pa-ra outro e em certo momento encostavam na muralha e saltavam para dentro da fortaleza Algumas dessas torres estatildeo pegando fogo e um cruzado na primeira fila de es-pada na matildeo estaacute lutando e descendo magnificamente

No lance aqui representado os maometanos que do-minavam Jerusaleacutem tinham ateado fogo na torre de Go-dofredo de Bouillon e a fumaccedila sufocava os cruzados Mas houve um determinado momento onde por disposi-ccedilatildeo da Providecircncia o vento soprou de outro lado e a fu-maccedila passou a sufocar os maometanos Entatildeo imediata-mente os cruzados aproveitaram a ocasiatildeo e avanccedilaram Este que vemos descer numa atitude magniacutefica eacute Godo-fredo de Bouillon chefiando o ataque avanccedilando em primeiro lugar

Na guerra moderna os generais natildeo avanccedilam Eles fi-cam na retaguarda jogando xadrez com a vida dos ou-tros Quer dizer vai tal corpo para caacute aquele corpo para laacute e eles ficam sentados numa tenda

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui
Page 36: Revista Doctor Plinio -210_201509

PNascimento da criatura perfeita

A Santiacutessima Virgem menina Igreja de Satildeo Pedro

Lima Peru

or que a Igreja festeja especialmente o San-to Natal de Nossa Senhora Porque Ela foi

tatildeo grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na histoacuteria do Antigo Tes-tamento a qual podemos dizer que se divide sob este ponto de vista em duas partes antes e depois da Santiacutessima Virgem

Porque se o Antigo Testamento eacute uma longa espera do Messias esta espera tem dois aspectos os milhares de anos pelos quais a Divina Provi-decircncia permitiu que esta expectativa se espichas-se e depois o momento abenccediloado em que Deus

resolveu fazer nascer Aquela que obteria o ad-vento do Salvador

O nascimento de Maria Santiacutessima eacute a chega-da ao mundo da criatura perfeita que encon-tra plena graccedila diante de Deus da uacutenica pessoa cujas oraccedilotildees tecircm o meacuterito suficiente para aca-bar com a espera e fazer com que afinal os ro-gos os sofrimentos de todos os justos e a fideli-dade de todos aqueles que tinham sido fieacuteis con-seguissem aquilo que sem Nossa Senhora natildeo se teria obtido

(Extraiacutedo de conferecircncia de 891966)

Dar

io Ia

llore

nzi

  • Ateaqui