Revista Estilo 36

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1 0 PRÊMIO GAÚCHO DE EXCELÊNCIA GRÁFICA ABIGRAF 2005 Ano 8 N 0 36 R$ 4,50 Delícia! 4 VIAGEM: ASPEN FERVE ABAIXO DE ZERO DESIGNERS GAÚCHOS: UM TIME DE PRIMEIRA CHEFS GAÚCHOS E SUAS RECEITAS PREDILETAS

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Edição de fevereiro de 2006

Transcript of Revista Estilo 36

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P R Ê M I O G A Ú C H O

D E E X C E L Ê N C I A G R Á F I C A

A B I G R A F 2 0 0 5

Ano 8 N0

36 R$ 4,50

Delícia!

4

VIAGEM:

ASPEN FERVE

ABAIXO

DE ZERO

DESIGNERS

GAÚCHOS:

UM TIME

DE PRIMEIRA

CHEFS GAÚCHOS

E SUAS RECEITAS

PREDILETAS

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N O T A D O E D I T O R

A gente roda o mundo inteiro, vai pra lá e pra cá, aprecia lugares, paisagens e pessoas do Ocidente e do Oriente,

do Sul e do Norte. Viajar é uma delícia, conhecer culturas diferentes é fascinante. Quem não gosta de sair de casa e

bater perna mundo afora?

Aqui na Estilo Zaffari não é diferente. O tempo inteiro, estamos de olho no que acontece fora das nossas

fronteiras, viajando ou mesmo registrando a distância as tantas maravilhas do Brasil e do mundo. Mas o engraçado é

que o Rio Grande do Sul não sai do nosso coração e das nossas cabeças.

Na verdade, quase todo gaúcho é assim, tem um amor meio incondicional pela sua terra. Por isso resolvemos

fazer desta primeira edição de 2006 uma revista bem gaúcha. E ela ficou uma beleza...

Pra começar, convidamos quatro chefs locais, gente que nasceu e trabalha aqui no Rio Grande, para mostrar a

nossos leitores suas receitas prediletas. Os pratos são lindos e deliciosos, mas as histórias de vida desses personagens

são ainda mais saborosas. Não perca.

Depois, selecionamos um time de designers gaúchos e montamos uma grande matéria, mostrando trabalhos

recentes de cada um deles e contando um pouco de suas trajetórias profissionais. Você verá que temos um plantel de

primeiríssima, que faz sucesso por aqui – ainda bem que sabemos reconhecer nossos talentos! – mas também arrasa

fora do Rio Grande do Sul e mesmo fora do país.

Até na seção Lugar apresentamos um ambiente da terra. Fomos a São Francisco de Paula conhecer a Pousada

do Engenho, que tem charme, natureza, personalidade e, sobretudo, o mérito de ter criado um dos mais interessantes

projetos culturais do Estado: o Mesa de Cinema. Se você ainda não conhece, leia a matéria de Daniel Martins e já se

agende para participar dos eventos de 2006. É um programa e tanto.

A revista finaliza com dois gaúchos geniais que divertem as nossas mentes e habitam o nosso coração. Como

não ter um sentimento de intenso carinho por Klaunus e Pletskaia, ou Hique e Nico, ou Tangos e Tragédias? Hique

Gomes e Nico Nicolaiewsky são parte da história porto-alegrense. Já não podemos viver sem eles. E é por isso que a

cada janeiro começa uma nova temporada do espetáculo que está em cartaz há mais de 20 anos. Coisa de gaúcho.

Mas, pra não sermos acusados de bairristas, e também porque o lugar é maravilhoso, lindo, cheio de glamour

(e glamour anda na moda aqui pelos pampas...), colocamos nesta edição uma extensa e completa matéria sobre

Aspen, a mais famosa estação de esqui das Américas. Se por aqui estamos derretendo a 40 graus, por lá faz um frio

de congelar os miolos. Mas é alta temporada, e Aspen nesta época ferve. Então, tem tudo a ver conosco! Boa leitura!

Gauchismos

OS EDITORES

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Page 4: Revista Estilo 36

Correio

PAULISTA QUASE GAÚCHA

Olá, Izabella.

Sou paulistana e estou vivendo na ponte aé-

rea (São Paulo–Porto Alegre), pois meu marido

foi transferido para Porto Alegre para um projeto

de dois anos. Estou te escrevendo para

parabenizá-la por seu excelente trabalho nas re-

vistas Zaffari. Tem sido prazeroso conhecer as

cafeterias aconchegantes de Porto Alegre e rela-

xar lendo as revistas Zaffari, pela boa culinária

gaúcha, pelas dicas de viagem, pela paisagem e

qualidade das revistas. Me diverti muito ao ler e

entender na pele as diferenças das paulistanas e

das gaúchas no artigo “Estrangeirismos” da pu-

blicitária Tetê Pacheco. Obrigada por proporcio-

nar através das revistas momentos agradáveis.

Sinto que vocês estão conseguindo passar para o

leitor o que queriam. Well done! Abraços, bom

trabalho.

P.S.: Particularmente gostei das revistas

que vi do ano de 2003, se você puder conse-

guir os exemplares dos números 18, 19, 20 e 21

do ano de 2003 eu ficarei muito grata. Desde

já agradeço.

LUCIANA FERNANDES SORIA – SÃO PAULO

Se estamos proporcionando momentosagradáveis aos leitores de nossa revista,então estamos concretizando nosso objeti-vo. E saber disso pelo testemunho dos pró-prios leitores é ótimo, Luciana! Muitíssi-mo obrigada pelos elogios. Continue nosprestigiando, seja em Porto Alegre ou emSão Paulo, ok? Quanto às revistas maisantigas, vamos ver se é possível consegui-las pra você, pois muitas dessas edições jáestão esgotadas. Mas aguarde o contatoda nossa equipe de atendimento, ok? Pelomenos algum dos exemplares deve ser pos-sível enviar a você. Um grande abraço eobrigada novamente!

ENCANTADORA NINA

Prezados:

Somos leitores assíduos, eu e minha esposa

Nêmora, dessa maravilhosa revista. Falar sobre

ela e tecer elogios consideramos uma redundân-

cia. Tanto a qualidade das matérias quanto a qua-

lidade gráfica são impressionantes. É uma leitura

agradável, leve, que apenas soma ao nosso dia-a-

dia. Na edição nº 34, porém, vocês se superaram.

A capa, com a magnífica Nina, está indescritível,

tamanha beleza de cores, formas e, em especial,

a expressão cândida da “modelo”. Parabéns, pa-

rabéns e parabéns a vocês e, em especial, à fotó-

grafa Letícia Remião!!!

ROGÉRIO CÓCARO E NÊMORA MENDES

A Nina encantou todos nós também.E o trabalho da fotógrafa Letícia Remiãosem dúvida foi determinante para o resul-tado final daquela edição que, por sinal, jáficou na História: nunca recebemos tan-tos elogios por uma capa da Estilo! Obri-gado pelo carinho e abraços para o casal.

SATISFAZENDO DESEJOS

Olá, estou escrevendo pra vocês com o obje-

tivo de lhes dizer o quanto admiro o trabalho

maravilhoso dessa equipe de profissionais, que

sem dúvida deu muito certo. A revista é linda,

sempre com matérias interessantes, fotos e recei-

tas... de vida e de culinária; todas feitas ao al-

cance de nossos desejos...

Sucesso pra vocês. Abraços.

LINA – THEATRO SÃO PEDRO

PORTO ALEGRE

Obrigada, Lina! Que bom saber queestamos correspondendo aos desejos dosnossos leitores. Um superabraço pra você!

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COLECIONADORA

Olá, sou leitora fascinada pela revista Estilo

Zaffari, desde o primeiro número. Mas falta-me

uma edição para completar a minha coleção: a

de número 22! Agradeceria se pudessem enviar-

me. Agradeço novamente a atenção.

MARIA ANGELA DA ROCHA – PORTO ALEGRE

Maria Angela, não podemos deixar umaleitora tão querida com lacunas em sua co-leção da Estilo! Assim, aguarde contato danossa equipe, pois vamos verificar se aindahá exemplares desta edição em estoque eentão enviaremos a revista ao seu endere-ço, ok? Um grande abraço e obrigado!

Prezada Márcia, a edição 18 circulouem 2002 e praticamente já não temos es-toque desses números mais antigos. Masaguarde contato da nossa equipe de aten-dimento, pois vamos tentar localizar umexemplar para você, ok? Um abração!

Cristina, nenhum elogio pode ser me-lhor para um repórter do que esse que vocêacaba de fazer à Cris Berger. E nós, daEstilo Zaffari, também nos sentimos ex-tremamente orgulhosos das suas palavras.Afinal, somos os “descobridores” da Cris:ela começou aqui nas nossas páginas estamaravilhosa carreira de repórter de via-gens. E agora anda circulando mundoafora, sem fronteiras, trazendo na baga-gem lindas matérias. Parabéns pra ela eobrigado por este seu e-mail tão gentil.Abraços!

PARABÉNS PARA A CRIS

Oi, Cris.

Sinceramente, mesmo que não quisesse, te-

nho que te falar. Nunca ouvi nem ouvi, nesses 14

anos de existência da Ilha do Papagaio, qualquer

repórter que soubesse escrever e descrever o espí-

rito de nossa pousada tão profundamente como

você na matéria da revista Estilo Zaffari. Fico muito

feliz, pois agora tenho certeza de que soubeste

desfrutar bem como sentiste a verdadeira magia

deste lugar. Teu texto nos chegou como poesia

descrevendo com exatidão nosso paraíso.

Beijos,

BETY E RENATO – ILHA DO PAPAGAIO/SC

Bety e Renato, é uma honra receber umamensagem como essa de vocês. A CrisBerger e nós, da Estilo Zaffari, ficamosmuito felizes com a enorme repercussãoque a matéria obteve, mas nada mais gra-tificante do que receber elogios assim vin-dos de quem foi o assunto da reportagem,não é? Parabéns a vocês por terem criadoum lugar tão especial, que tornou lindas aspáginas da Estilo. Um grande abraço!

NÚMEROS ANTIGOS

Bom dia!

Gostaria de saber se é possível conseguir a

revista Estilo Zaffari Ano 5 n º 18. Como devo

proceder? Obrigada.

MÁRCIA BERGALLO AYDOS

DICAS DA CRIS APROVADAS

Acompanho as reportagens de Cris Berger

há muito tempo e fico encantada com a riqueza

de detalhes com que descreve cada lugar por onde

passa. Adoro viajar e estive recentemente em

Fernando de Noronha. Porém, quando amigos

pedirem dicas de lá, apenas direi: leiam a reporta-

gem da Cris. Parabéns!

CRISTINA CORSETTI – FLORIANÓPOLIS/SC

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Page 6: Revista Estilo 36

Coluna: Cotidiano

Cesta Básica

O Sabor e o Saber

Lugar: Pousada do Engenho

Perfil: Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky

Coluna: Gauchismos

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11

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Í N D I C E

neve

Férias na

Aspen está abaixo de zero

e mesmo assim ferve. É a

alta temporada de esqui! 26

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Page 7: Revista Estilo 36

JOVENS CHEFS GAÚCHOS

E SUAS RECEITAS PREDILETAS

18

4 Caroline Heckmann, Ricardo Teruchkin, Cristina

Strassburger e Marcelo Gonçalves revelam receitas

deliciosas e grandes planos para 2006

designMADE IN RS

Tuti Giorgi e Beto Salvi, Ilse Lang,

Heloísa Crocco, Ana Vazquez e Renato

Sólio, Débora Eichemberg, Tina e Lui

exportam design do Rio Grande do Sul

para o mundo. Conheça o brilhante

trabalho desses gaúchos

46

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Page 8: Revista Estilo 36

Cotidiano

Pedido ao gênio da lâmpada: dois dias de férias para o cérebro

PARAR DE PENSAR

Você encontra uma lâmpada mágica no meio do deser-

to, dá uma esfregadinha, de dentro sai um gênio meio afeta-

do e ele concede a você a realização de um desejo. Humm...

Você pediria um segundinho pra pensar? Eu não pensaria

um segundo. Aliás, o meu desejo seria justamente este: por

bem mais que um segundo, digamos por dois dias, queria

parar de pensar. Parar totalmente de pensar. Ué, Saramago

escreveu sobre um lugar em que as pessoas paravam de mor-

rer. Salve a ficção, a casa de todos os delírios. Que tal, tem-

porariamente, parar de pensar?

Eu acordaria e não pensaria em nada. Sendo assim,

fatalmente voltaria a dormir, sem mais despertar às seis da

manhã pensando em mil tranqueiras e coisas a providen-

ciar. Mas parar de pensar não impede a fome, então uma

hora eu teria que levantar da cama e ir pra mesa – quem

decidiu o cardápio? Aleluia, eu é que não fui. Não penso

mais nessas coisas.

Abro o jornal, leio todas as matérias e não me ocor-

re nenhum pensamento tipo: “é pro bolso destes malan-

dros que vai meu imposto”, “não acredito que fizeram

isso com uma criança” ou “putz, como fui perder este

show?”. Eu não penso, portanto, não sofro.

Passo por um espelho e não dou a mínima para o que

vejo. Espinhas, olheiras, cabelo fora de moda, danem-se.

Moda, falei em moda? Era só o que me faltava ocupar

meu cérebro com essas trivialidades.

Tudo vazio lá dentro, um descampado, um silêncio,

o paraíso.

Você não pensa mais em como aumentar sua renda

mensal, em como fazer seus filhos comerem, em como ar-

ranjar tempo para deixar o carro na revisão, em como en-

contrar um lugar barato para passar as férias, em como

ajudar seus pais a atravessarem a velhice, em como não

ser indelicada ao recusar um convite, em como ter cora-

gem pra chutar o balde, em como responder a um e-mail

irritante, em como esconder dos outros suas dores de ca-

beça, em como arranjar tempo para ir ao médico, em como

você tem medo de que as coisas nunca mudem, e se mu-

darem, como enfrentar? Você não precisa pensar em mais

nada, você pediu ao gênio e ele, camarada, atendeu. Apro-

veite, são apenas dois dias.

Não precisa ter opinião sobre o José Dirceu, sobre a

crônica do Diogo Mainardi, sobre a reviravolta do clima

no planeta, sobre o último disco do Paul McCartney. Você

está de férias de você. Não tem motivo pra chorar. Seu

amor se foi, e você não pensa nada. Não precisa tomar

antidepressivo, não precisa passar creme anti-rugas. Por

dois dias, seu humor está neutro e suas rugas se foram.

Este seu olhar sereno, esta sua fala pausada... Nossa, como

você está sexy.

Tudo isso é uma viagem sem sentido. Concordo. Mas

algumas mulheres me entendem.

M A R T H A M E D E I R O S

MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA

10 Estilo Zaffari

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Page 9: Revista Estilo 36

Cesta básica

O cinqüentenário do mais importante museu de

arte do Rio Grande do Sul certamente merece uma

grande comemoração. E com a data veio um belo

presente: o livro “MARGS 50 Anos” é uma

publicação em três volumes, que apresenta ao

público a história da instituição e sua produção

intelectual. O primeiro volume, intitulado

“Memórias do Museu”, retoma a trajetória do

MARGS por meio de histórias, testemunhos e

fotografias, com o depoimento de artistas,

intelectuais e ex-funcionários. No segundo livro –

“Selecta do Museu” –, o leitor encontra uma série

de entrevistas, críticas e ensaios publicados nos

veículos de comunicação do MARGS entre 1976 e

2003, uma verdadeira documentação do patrimônio

intelectual gerado pela casa. O último volume tem o

sugestivo título de “Memorias del Museo/Memories

of the Museum”, trazendo a tradução para o inglês

e o espanhol de sete artigos selecionados do

primeiro volume, que melhor representam o

trabalho desenvolvido pela instituição em prol da

cultura. Sem dúvida alguma, um grande

lançamento, para enobrecer qualquer biblioteca.

RAFAEL BECK, JORNALISTA

Presente à

altura da data

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS

E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA

E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA,

LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS,

PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

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Nada mais justo que desfilar pela Calçada da Fama

e encontrar um restaurante chique até no nome.

Esse é o caso do Riverside’s Shikki Cafe, a nova

opção de gastronomia e lazer da capital. Instalado

na badalada Padre Chagas, o Shikki Cafe é dividido

em três ambientes internos e um deck, espalhados

ao longo de 600 metros quadrados. Com uma

cozinha “fusion” sofisticada, a casa oferece um

completo buffet de sushis especiais e pratos

diferenciados “à la carte”. Perfeito para

comemorações como formaturas e aniversários, o

Riverside’s Shikki Cafe conta ainda com Bistrô &

Lounge e com a presença de um DJ residente, que

agita os convidados nas noites de quinta, sexta e

sábado. O restaurante abre de terças a domingos

das 11h30 às 24h, e nas segundas-feiras, das 11h30

às 15h. Fica na Padre Chagas, 44, no bairro

Moinhos de Vento, fone (51) 3395.3885.

RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA

Mais uma opção

com estilo

Cesta básica

IDÉIAS, DETALHES, MIMOS,

ENCANTADORAS FIRULAS

As amigas Luciana Chwartzmann e Greice Antes se

inspiraram no universo da cozinha e criaram uma linha de

acessórios e objetos superoriginais. A Firula, nome da

empresa das gurias, cria pulseiras, colares, carteiras, bolsas,

porta-guardanapos e jogos americanos, sempre utilizando

materiais que fazem a gente lembrar da cozinha da vovó:

oleado com estampa de frutas e verduras, telas (como as das

sacolas de feira), crochê. “A idéia é levar a cozinha para a

rua”, diz Lu. Ela é publicitária e fez vários cursos para

dominar a modelagem de bolsas e acessórios. E a sócia Greice

tem formação em estilismo. As duas já estão comercializando

suas peças em várias lojas bárbaras de Porto Alegre, em São

Paulo e em Santa Catarina. Para saber mais, entre em contato

com [email protected]

MILENE LEAL, JORNALISTA

FOTO: ANDRÉ NERY

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Hehehe, só de pensar nesse livro já fico sorrindo à

toa. Que sensacional idéia teve a autora Mônica

Varella (que é fotógrafa e escritora). Ela criou um

guia para quem gosta de receber amigos em casa, mas

não conta com uma superinfra de empregados,

objetos, cozinheiros, espaço, utensílios, grana.

Preencheu páginas e páginas com idéias simples e

bonitas, capazes de transformar qualquer

reuniãozinha em um evento único e inesquecível.

Tem dicas pra tudo: arrumação da casa, decoração da

mesa, acomodação das bebidas, o que servir, como

servir... Conselhos superpráticos e outros

superlúdicos, especiais pra quem gosta de receber

com criatividade, pra fazer a diferença e ser lembrado,

sabe como é? Se tudo isso já não fosse ótimo, o livro

ainda é lindo, bem editado, com belas fotos. Eu já

adotei como bíblia lá em casa.

Editora Mille FEditora Mille FEditora Mille FEditora Mille FEditora Mille Foglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.

MILENE LEAL, JORNALISTA

Curtas para curtir

RECEBENDO SEM STRESS:

A BÍBLIA DOS ANFITRIÕES

Sabe aquele curta do Jorge Furtado que você viu uma

vez e queria ver de novo? E aquele do Carlos Gerbase

que você ouviu falar, mas nunca teve oportunidade de

assistir? Ou ainda aquele da Ana Luiza Azevedo que

você leu a respeito? Pois agora chegou a hora de ver e

rever todos “aqueles” e muitos outros curtas dirigidos

pelos nossos célebres cineastas. A Casa de Cinema de

Porto Alegre lançou uma caixa com quatro DVDs que

somam 38 curtas de ficção, documentários e especiais

para a TV. A coleção traz os trabalhos de Furtado,

Gerbase e Ana Luiza, além de outros diretores

gaúchos convidados. As primeiras 1.000 unidades

vêm com um DVD extra com Anchietanos, episódio

da série Comédias da Vida Privada, e Meia Encarnada

Dura de Sangue, episódio da série Brava Gente.

Curtas da Casa, como é chamada a caixa, é pra ter na

estante como um livro de arte. Prepare as almofadas,

convide os amigos e dê play na sessão nostalgia.

Porque rever O Dia em que Dorival Encarou a

Guarda, Deus-Ex-Machina e Barbosa já é um

programa e tanto.

PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA

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Page 12: Revista Estilo 36

Dizem as más línguas que, se examinarmos com

cuidado o DNA de um gaúcho, é possível perceber

pequenas partículas de picanha e erva-mate. Pura

maldade, óbvio. Afinal, nem só de churrasco e

chimarrão vive um habitante dos pampas. Pois agora

os porto-alegrenses podem se deliciar com uma iguaria

típica do Nordeste brasileiro. Tudo graças ao Tapioca

do Brasil, inaugurado recentemente no Bourbon

Country. O diferencial do restaurante fica por conta da

adaptação da iguaria aos padrões do paladar gaúcho,

seguindo as características da “fusion cuisine”.

Tradicionalmente servido apenas com coco e leite

condensado, na Tapioca do Brasil o prato foi

“incrementado”, ganhando recheios doces e salgados.

Ao todo, são 22 opções, como frango, calabresa,

tomates secos e até mesmo “negrinho” com morango.

Para o almoço, a dica é a tapioca acompanhada de uma

salada da estação, e para a sobremesa, as deliciosas

tapiocas servidas com sorvetes e calda de frutas.

O cardápio ainda oferece 18 sabores de sucos naturais,

típicos da região Nordeste, como cupuaçu e pitanga.

O Tapioca do Brasil fica no 2º andar do Bourbon

Country e o telefone é (51) 3338.5010.

RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA

YES, NÓS TEMOS TAPIOCA!

Luiz Cintra tem uma longa experiência como chef,

apresentador de TV, dono de restaurante e consultor de

gastronomia nos seus 20 anos de trabalho em cozinha.

A originalidade de Um chef sem segredos está nas

receitas explicadas de forma acessível e didática, além

de sempre fazer referência à história de certos pratos,

aos hábitos alimentares dos brasileiros e de outros

povos. Para Luiz Cintra, a simplicidade e o prazer em

cozinhar são os ingredientes indispensáveis: “Não são

necessárias receitas sofisticadas para obter aplausos e

elogios, basta prepará-las com prazer e muito carinho,

na ocasião certa e para as pessoas certas”, afirma.

Um chef sem segredos também dá dicas sobre equipa-

mentos de cozinha, como escolher os melhores ingredi-

entes, além de explicar os vários métodos e técnicas de

cozimento, como saltear, deglaçar, flambar, etc.

Há também uma seção de curiosidades sobre vários

pratos e ingredientes, como esta, sobre o bolo de

aniversário: “Antigamente os povos rezavam ao redor

das chamas das fogueiras. Acreditavam que a fumaça

levasse seus pedidos e pensamentos até Deus, o que

deu origem à tradição da vela acesa e, no caso dos

aniversários, ao costume de tentar apagar as velinhas

do bolo com um sopro só, para que os desejos do

aniversariante sejam atendidos. Esta tradição

existe em quase todas as culturas”.

BEATRIZ GUIMARAES, JORNALISTA

Desvendando os

segredos do chef

UM CHEF SEM SEGREDOS,

DE LUIZ CINTRA,

ARTEMEIOS, SP, 2005.

À VENDA NA

LIVRARIA CULTURA

Cesta básica

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Page 13: Revista Estilo 36

Consumo

Por um Natal mais alegre, leve e familiar

EMPREGO NOVO PARA O PAPAI NOEL

Hoje é 8 de janeiro e, há cerca de meia hora, eu

estava num shopping center paulista onde dezenas de

pessoas ainda faziam fila para visitar aquela decoração

temática que inventam no Natal. Repito. 8 de janeiro.

Decoração de Natal. Fila de gente.

Já acho estranho ter que explicar pras crianças por

que o Papai Noel do shopping chega dois meses antes

daquele outro que vai em casa deixar os presentes. Mas

explicar que já é 2006 e o Papai Noel continua batendo

ponto na frente das lojas, é meio demais.

Além disso, não é muito cinismo fazer o consumi-

dor gastar todo seu 13º em presentes de Natal para, logo

a seguir, ver os mesmos presentes custando a metade do

preço nas liquidações? No shopping que mencionei lá

em cima, quase todas as lojas já estão em liquidação. Com

descontos de até 70%!

Definitivamente, está na hora de deixarmos de ser

reféns do calendário promocional dos shoppings e do

varejo em geral. Eu pensei num como.

Em primeiro lugar, deixemos Jesus Cristo fora des-

sa fobia que se estabelece embaixo dos pinheirinhos en-

feitados.

No dia 25, poderíamos nos reunir apenas para ce-

lebrar. Comer, beber, reencontrar os amigos e os famili-

ares, sem stress de quem deu o quê para quem.

Descompromissadamente. Com a leveza e a alegria que

só são possíveis para quem não se matou na fila do

shopping horas antes da ceia. A tradição de comemorar

o nascimento de Jesus, esse profeta do bem, não faz sen-

tido com troca de pacotes, faz? Peraí. Mas ninguém ga-

nharia presentes???????

No meu plano, é aí que entram os Reis Magos – que

são uns presenteadores fantásticos e já têm até sua pró-

pria data: 6 de janeiro. Não faz todo sentido? No dia 6

tudo já está em liquidação, podemos comprar presentes

e mais presentes lindos pela metade do preço que eles

custam antes do dia 24.

Assim deixamos de lado esse cinismo maluco para

assumir nosso consumismo sem culpa nem disfarces. Dar

presentes no Dia de Reis, como forma de lembrar a tra-

dição que eles começaram levando mirra, ouro e incenso

para Jesus, nos redime.

Em alguns lugares já é assim. No Uruguai, por exem-

plo. No dia 6 de janeiro as portas das casas amanhecem

com feno e água. Presente das crianças para os camelos

dos Reis, que viajaram muito e estão cansados.

Uma tradição supersimpática e sem falsos

moralismos. Essa idéia só tem um furo. Onde enfiar a

figura mitológica de Papai Noel? Já sei. Como ele tem

sido um bom velhinho e trabalhado impecavelmente,

quem sabe não arranja um bom emprego de gerente de

marketing num shopping qualquer?

T E T Ê P A C H E C O

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA

Estilo Zaffari 15

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Page 14: Revista Estilo 36

Sabor

4

Sabor

P O R M I L E N E L E A L

F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O

JOVENS CHEFS GAÚCHOS E S

18 Estilo Zaffari

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Page 15: Revista Estilo 36

E SUAS RECEITAS PREDILETAS

Estilo Zaffari 19

84640_chefsgauchos.p65 1/25/06, 5:20 PM19

Page 16: Revista Estilo 36

Sabor

Risoto de Filé de

Cordeiro com Alho

e Alecrim

ELES JUNTARAM AS CAÇAROLAS HÁ TRÊS ANOS. DESDE ENTÃO, TÊM

SIDO RESPONSÁVEIS POR JANTARES, ALMOÇOS E EVENTOS GASTRO-

NÔMICOS INESQUECÍVEIS. CRISTINA STRASSBURGER, 30 ANOS, E RI-

CARDO TERUCHKIN, TAMBÉM 30, SE CONHECERAM EM ATLÂNTIDA E LÁ

COMEÇARAM UMA PARCERIA QUE SÓ TEM RECEBIDO APLAUSOS. ATÉ O

FINAL DE 2005 ELES MANTIVERAM O RESTAURANTE ATELIER DO SA-

BOR FUNCIONANDO EM GRAMADO. AGORA, DURANTE A TEMPORADA

DE VERÃO, SE TRANSFERIRAM PARA A PRAIA, COMO VÊM FAZENDO

DESDE 2004. ALÉM DO RESTAURANTE, CRIS E RICARDO ORGANIZAM

EVENTOS DOS MAIS VARIADOS PORTES, SEMPRE COM UM DIFERENCI-

AL: ELES MESMOS COZINHAM, DE PREFERÊNCIA NA FRENTE DOS CLI-

ENTES, FAZEM QUESTÃO DE INTERAGIR COM OS COMENSAIS E ABSO-

LUTA QUESTÃO DE TORNAR REAIS OS DESEJOS GASTRONÔMICOS DOS

CONVIDADOS. “SOMOS MEIO GÊNIOS DA LÂMPADA”, DIZ RICARDO. A

ORDEM É DESCOBRIR RECEITAS, MUDAR A COMPOSIÇÃO DE PRATOS,

ALTERAR COMPLEMENTOS, INVENTAR TEMPEROS, TUDO PARA SATIS-

FAZER O PALADAR DO CLIENTE. CRIS ESTUDOU LETRAS, RICARDO É

PUBLICITÁRIO. MAS AMBOS AMAVAM COZINHAR E ACABARAM TRANS-

FORMANDO EM PROFISSÃO O HOBBY QUE LHES DAVA TANTO PRAZER.

SEMPRE QUE PODEM, ELES VIAJAM PRA SE ATUALIZAR. A CRIS É UMA

AFICIONADA DA CULINÁRIA EXÓTICA DE LUGARES COMO A ÍNDIA. PES-

QUISA TEMPEROS, DESCOBRE INGREDIENTES E SABORES DIFERENCI-

ADOS. O RICARDO É UM AMANTE DAS CARNES, TROUXE DE UMA ESTA-

DA NA ESPANHA DIVERSOS SEGREDOS CULINÁRIOS. PARA 2006, ELES

PLANEJAM DEDICAR-SE AOS EVENTOS, MONTANDO UMA BASE DE TRA-

BALHO EM PORTO ALEGRE. A IDÉIA É OFERECER PACOTES COMPLE-

TOS, QUE PODEM INCLUIR ATÉ GARÇONS, BEBIDAS E A DECORAÇÃO DO

AMBIENTE. “SE A PESSOA QUISER CHEGAR EM CASA SÓ NA HORA DA

FESTA, TUDO BEM!”, EXPLICA RICARDO. A PROPOSTA DOS DOIS REAL-

MENTE PARECE MÁGICA. MAS O MAIS BACANA É O ESPÍRITO COM QUE

CRIS E RICARDO TRABALHAM: “QUEREMOS TRANSMITIR ENERGIAS PO-

SITIVAS ATRAVÉS DA COMIDA”, CONTA CRIS. NÃO É UMA DELÍCIA?

C R I S T I N A S T R A S S B U R G E R

20 Estilo Zaffari

MARINADA DO FILÉ DE CORDEIRO

60 ML DE AZEITE DE OLIVA; 100 ML DE SHOYO (MOLHO DE SOJA);

2 COLHERES DE MEL; 6 DENTES DE ALHO; 1 RAMO DE ALECRIM

SEM O GALHO

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Toste o alecrim numa panela com 1 colher (sopa) de azeite, até

ele escurecer. Depois, junte com os outros ingredientes e bata

tudo no liquidificador. Reserve com o cordeiro mergulhado na

marinada para pegar bem o sabor, por 12h, na geladeira.

CALDO DE CORDEIRO

1KG DE OSSOS DE CORDEIRO; 1KG DE CENOURA;

1 AIPO; 1KG DE CEBOLA; 3L DE ÁGUA; 1 RAMO DE TOMILHO;

1 RAMO DE ALECRIM; 6 FOLHAS DE ALHO-PORÓ

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Refogue os ossos até dourarem. Acrescente as verduras e

ervas e refogue até começarem a liberar os aromas. Com-

plete com água fria. Cozinhe por 2 horas em fogo baixo.

Coe e reserve.

PREPARANDO O RISOTO

400 G DE ARROZ CARNAROLI TIO JOÃO; 200 G DE FILÉ DE CORDEI-

RO CORTADO EM PEDAÇOS DE 2 CM; 50 ML DE AZEITE DE OLIVA;

½ CEBOLA PICADA; 150 ML DE VINHO BRANCO SECO;

2 L DE CALDO DE CORDEIRO; 1 CABEÇA DE ALHO; 2 RAMOS DE

ALECRIM; 100 G DE MANTEIGA SEM SAL; SAL E PIMENTA A GOSTO.

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Refogue a cebola no azeite de oliva até dourar. Acrescente o

cordeiro e refogue-o até dourar. Acrescente o arroz e refogue

rapidamente. Adicione o vinho branco e mexa até secar. Adi-

cione concha por concha o caldo, até cozinhar o risoto. Quando

secar uma concha, coloque a outra, e assim sucessivamente

até o arroz estar no ponto certo, al dente. Jogue a manteiga, o

alecrim sem o galho, espere um minuto e mexa bem. Sirva e

voe pra mesa antes que esfrie. Bom proveito!

DECORAÇÃO DO PRATO

½ CABEÇA DE ALHO; 2 COLHERES (SOPA) DE MANTEIGA;

1 COLHER (SOPA) DE AÇÚCAR MASCAVO; 1 RAMO DE ALECRIM

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Corte uma cabeça de alho ao meio e doure na manteiga

com o açúcar mascavo. Coloque sobre o risoto com um

ramo de alecrim fresco e sirva.

E R I C A R D O T E R U C H K I N

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Page 17: Revista Estilo 36

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Page 18: Revista Estilo 36

Sabor

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Page 19: Revista Estilo 36

Torta de Morango

INGREDIENTES DA MASSA

300 G DE FARINHA DE TRIGO; 160 G DE MANTEIGA

DE BOA QUALIDADE; 2 GEMAS; 60 G DE AÇÚCAR REFINADO;

40 ML DE ÁGUA GELADA

INGREDIENTES DO CREME DE AMÊNDOAS

100 G DE MANTEIGA; 100 G DE AÇÚCAR CONFEITEIRO;

100 G DE FARINHA DE AMÊNDOAS; 2 OVOS;

1/2 COLHER (CHÁ) DE FARINHA DE TRIGO

INGREDIENTES DA COBERTURA

TRÊS DÚZIAS DE MORANGOS; AÇÚCAR;

GELÉIA DE MORANGOS PARA PINCELAR

Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:

Misture a farinha, a manteiga e o açúcar. Isso pode ser feito

à mão ou em processador, mas é importante misturar muito

bem a manteiga e a farinha, para que a massa fique crocante.

Acrescente as gemas e a água gelada. Depois de pronta a

massa, envolva-a em filme plástico e deixe na geladeira por

ao menos 30 minutos, para que fique manuseável. Dispo-

nha a massa no fundo de uma fôrma de 20 cm de diâmetro.

Em cima da camada de massa, coloque papel-manteiga e

encha o espaço com feijões crus (eles ajudam a assar a mas-

sa sem deformar). Pré-asse até que a massa fique firme, sem

dourar. Depois, retire os feijões e asse até a massa ficar ligei-

ramente dourada.

Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:

Com a manteiga em textura cremosa (tipo pomada), mistu-

re o açúcar de confeiteiro. Junte a farinha de amêndoas

(amêndoas processadas, moídas), a farinha de trigo e os ovos.

Misture tudo muito bem, à mão ou em processador.

Montagem:Montagem:Montagem:Montagem:Montagem:

Sobre a massa pré-assada, coloque uma camada de cerca de

um dedo do creme de amêndoas. Leve ao forno para terminar

o cozimento, até que o creme fique fofo e firme. Em separado,

pegue cerca de meia dúzia de morangos e esmague-os na pe-

neira com um pouco de açúcar, fazendo uma espécie de calda

crua de morangos. Faça furos com um garfo no creme de amên-

doas e coloque a calda de morangos, embebendo e perfuman-

do o creme. Sobre essa camada, encaixe os morangos inteiros

e limpos, bem próximos uns dos outros. Finalize pincelando

com uma geléia de morangos.

DEPOIS DE TRABALHAR POR VÁRIOS ANOS MEIO ESCONDIDINHO – E

FAZENDO MUITO SUCESSO –, O CHEF MARCELO GONÇALVES RESOLVEU

COLOCAR SUAS DELÍCIAS NA VITRINE, LITERALMENTE. EM 2005 ELE ABRIU

A PÂTISSIER, UM MISTO DE CONFEITARIA E CAFÉ, NA RUA MARQUÊS DO

POMBAL, EM PORTO ALEGRE. ÀS VÉSPERAS DE COMPLETAR UM ANO DE

PORTAS ABERTAS, MARCELO PRETENDE EM BREVE FAZER UMA

INAUGURAÇÃO OFICIAL. ISSO PORQUE AGORA ELE CONSIDERA QUE A

OPERAÇÃO ESTÁ AZEITADA, O LOCAL OFERECE O CONFORTO QUE SEUS

CLIENTES MERECEM E O MIX DE OPÇÕES GASTRONÔMICAS FICOU MAIS

EQUILIBRADO E VARIADO. ATÉ ABRIR A CHARMOSA (E CHEIROSA!)

PÂTISSIER, MARCELO ATENDIA SUA VASTA CLIENTELA PELO SISTEMA DE

ENCOMENDAS. NÃO HAVIA PRODUÇÃO PARA PRONTA ENTREGA. “NESTE

ANO NÓS APRENDEMOS A ATENDER À DEMANDA DIÁRIA, A ESTAR NA

VITRINE E A RECEBER PESSOAS QUE NÃO CONHECIAM O NOSSO TRABALHO.

FOI UM GRANDE APRENDIZADO”, DIZ. O SONHO DESTE PERFECCIONSTA É

DAR ORIGEM A UMA GERAÇÃO DE PÂTISSIERS, COMO É TRADIÇÃO NA

EUROPA. POR ISSO, RELATA COM ENTUSIASMO O FASCÍNIO DA FILHA

MARTINA, DE CINCO ANOS, PELA CULINÁRIA. “ELA CURTE ISSO

ENLOUQUECIDAMENTE E ALIMENTA A MINHA FANTASIA DE VER ESSE

NEGÓCIO SE PERPETUAR”, REVELA. FOI NA EUROPA QUE MARCELO

APRENDEU E TOMOU GOSTO PELA PÂTISSERIE FRANCESA. E HÁ CERCA DE

DEZ ANOS ELE ESCOLHEU ESSA ESCOLA GASTRONÔMICA COMO PROFISSÃO

E ESTILO DE VIDA. A ESPOSA LALA, CRÍTICA FERRENHA E SUPER-

CRITERIOSA, É UMA GRANDE PARCEIRA: “SE A LALA GOSTA MUITO DE ALGO

QUE EU FAÇO, JÁ FICO ACHANDO QUE POSSO VENDER ATÉ NO PÓLO NORTE”,

CONTA, SORRINDO, MARCELO. NO DIA-A-DIA DA PÂTISSIER, OUTRA

PRESENÇA FEMININA FUNDAMENTAL: ALINE MATTOS, QUE TRABALHA COM

MARCELO HÁ MUITOS ANOS, É CRIA DA CASA E TAMBÉM TEM MÃOS DE

FADA PARA A PÂTISSERIE.

M A R C E L O G O N Ç A L V E S

Estilo Zaffari 23

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Page 20: Revista Estilo 36

Sabor

Cesto Crocante

com Parfait de

Avelãs e Damasco

A CHEF CAROLINE HECKMANN, 30 ANOS, TEM UMA ÓTIMA FORMA DE

DEFINIR O ESTILO DA GASTRONOMIA QUE ELA FAZ: “NA MODA EXISTE

O VISUAL HIPPIE-CHIC. EU FAÇO UMA GASTRONOMIA HIPPIE-CHIC”, RE-

SUME CAROL, QUE DESENVOLVEU AO LONGO DE DEZ ANOS UM JEITO

MUITO PRÓPRIO DE COZINHAR. CAROLINE DIZ QUE A BASE DE TUDO É

TRABALHAR COM INGREDIENTES SIMPLES, DE FÁCIL ACESSO (TANTO

DO PONTO DE VISTA DO CUSTO COMO DA LOCALIZAÇÃO) E TRANSFOR-

MÁ-LOS EM PRATOS BONITOS E DE SABORES INCOMPARÁVEIS. PARA

ISSO, É FUNDAMENTAL UM TANTO DE CRIATIVIDADE E DE EXPERIMEN-

TAÇÃO, ALGO QUE JÁ ATRAÍA A CHEF QUANDO ERA AINDA UMA MENINA,

AOS 14, 15 ANOS, E OCUPAVA A COZINHA DE CASA TENTANDO EXECU-

TAR AS RECEITAS MAIS DIFÍCEIS E DIFERENTES. DEPOIS DE ESTAR À

FRENTE DO VITORIOSO RESTAURANTE ALLSPICE, EM CANELA, POR

QUATRO ANOS, CAROLINE ESTÁ TRABALHANDO AGORA EM OUTRO PRO-

JETO, QUE CONTA COM TODO O ENTUSIASMO DA JOVEM CHEF: EM ABRIL

ELA INAUGURA SEU NOVO RESTAURANTE, EM GRAMADO, DENTRO DO

CONDOMÍNIO “O BOSQUE”, DA IVO RIZZO. O ESPAÇO VAI SE CHAMAR

“O LUGAR” E SERÁ, SEGUNDO CAROL, MUITO CHARMOSO, AMPLO E

CONFORTÁVEL. AFORA A QUALIDADE DAS INSTALAÇÕES DO RESTAU-

RANTE – QUE CAROL VEM CONDUZINDO COM TODO O CAPRICHO –, O

LUGAR TERÁ COMO PRINCIPAL ATRATIVO A GASTRONOMIA QUE CONSA-

GROU O ALLSPICE E OS JANTARES REALIZADOS PARA DIVERSOS CLIEN-

TES NESSES ÚLTIMOS ANOS. EM SUA NOVA FASE, A CHEF CAROLINE

HECKMANN PROMETE QUE VAI MANTER A CARACTERÍSTICA QUE A DIS-

TINGUE E PERSONALIZA: A COMIDA DELICIOSA, DIFERENTE, CRIATIVA,

BEM MONTADA E BEM APRESENTADA. PALMAS PRA ELA.

C A R O L I N E H E C K M A N N

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Faça uma calda com o açúcar e a água. Bata as gemas e

acrescente a calda em fio devagar até que esfrie e engrosse.

Derreta o chocolate e acrescente a mistura juntamente com

as avelãs e os damascos. Bata levemente o creme de leite e

junte, formando uma mistura homogênea. Use forminhas

de alumínio para colocar no freezer. Forre ramequins com

a massa filo e leve ao forno para dourar. Tire do forno e

ainda quente coloque o parfait enformado dentro, deco-

rando com folhas de hortelã. Obs.: poderá ser acrescenta-

do um licor de sua preferência antes de bater o creme de

leite. Rendimento: Porção para oito pessoas.

8 FOLHAS DE MASSA PHYLO; 8 RAMEQUINS;

100 G DE AÇÚCAR; 50 ML DE ÁGUA;

3 GEMAS; 500 ML DE CREME DE LEITE;

150 G DE CHOCOLATE MEIO-AMARGO;

100 G DE AVELÃS TORRADAS E MOÍDAS;

50 G DE DAMASCOS PICADOS;

FOLHAS DE HORTELÃ PARA DECORAR;

1 COLHER (SOPA) DE LICOR DE SUA PREFERÊNCIA

24 Estilo Zaffari

MASSA PHYLLO: ORIGINÁRIA DA GRÉCIA, É UMA MASSA FINÍSSI-

MA DE FARINHA DE TRIGO, OVO, POUCA GORDURA E ÁGUA. DE-

POIS DE ASSADA FICA COM VÁRIAS CAMADAS DE TEXTURA QUE-

BRADIÇA. PODE SER ENCONTRADA FRESCA OU CONGELADA. UMA

VEZ ABERTA DEVE SER UTILIZADA EM POUCOS DIAS.

RAMEQUINS: PEQUENOS PRATOS REFRATÁRIOS, DE CERÂMICA OU

PORCELANA, COM LATERAIS RETAS, QUE SERVEM PARA ASSAR

SUFLÊS OU OUTRO PRATO SALGADO NO FORNO, PARA SERVIR DE

FORMA INDIVIDUAL.

PARFAIT: SOBREMESA DE CONSISTÊNCIA SEMELHANTE À DA MOUSSE,

FEITA COM CALDA DE AÇÚCAR E OVOS BATIDOS E COZIDOS, ACRESCIDOS,

DEPOIS DE FRIOS, DE CREME CHANTILLY, PURÊ DE FRUTAS E NOZES.

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Page 22: Revista Estilo 36

Viagem

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Page 23: Revista Estilo 36

neveT E X T O S E F O T O S C R I S B E R G E R

Férias na

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Page 24: Revista Estilo 36

Viagem

ASPEN É UM DAQUELES LUGARES ONDE PARECE

SER NATAL DE NOVEMBRO A ABRIL. ELA É RE-

PLETA DE LUZINHAS POR TODOS OS LADOS. FICA

NO ESTADO AMERICANO DO COLORADO E É VE-

NERADA POR QUEM GOSTA DOS ESPORTES DE

NEVE. CONSIDERADA A MELHOR ESTAÇÃO DE

ESQUI DA AMÉRICA DO NORTE, FAZ DO FRIO UM

COADJUVANTE DE SEU REQUINTE E GLAMOUR.

EXISTE UMA FRASE MUITO FAMOSA QUE DIZ: “AS

PESSOAS VÃO PARA ASPEN PELO INVERNO E FI-

CAM PELO VERÃO”. EU AINDA NÃO TIVE A OPOR-

TUNIDADE DE CONHECER A TEMPORADA DE CA-

LOR EM ASPEN, MAS POSSO AFIRMAR QUE AS

BAIXAS TEMPERATURAS JÁ ME FAZEM DESEJAR

VOLTAR LÁ MUITAS VEZES.

28 Estilo Zaffari

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Page 25: Revista Estilo 36

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Page 26: Revista Estilo 36

Viagem

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Page 27: Revista Estilo 36

Eu tinha plena consciência das delícias que uma

estação de esqui do nível de Aspen poderia me reservar,

mas torcia o nariz para aquela fama de ser um lugar re-

servado aos ricos e famosos. Fiquei feliz ao descobrir que

eu estava enganada. Sem dúvida trata-se de um destino

que requer um certo investimento financeiro, mas está

longe de selecionar assim seus freqüentadores.

O clima de Aspen é de total descontração. Colori-

da, bonita e atraente, ela é um delicioso convite para

quem quer aproveitar a temporada de neve da América

do Norte e dar uma trégua no calor de 40 graus do he-

misfério sul do planeta.

Vilarejo com as montanhas como inspiração

Aspen nasceu como um pequeno vilarejo no fim

do século XIX, época em que sua economia era voltada

para as minas de prata. Em 1893 ela teve seu declínio

acentuado com a desvalorização da prata. Apenas em

1940 voltou a crescer, quando um grupo de investidores

a elegeu para a construção de um centro de esportes de

neve. Hoje exibe casas vitorianas restauradas, lojas de

grife como Prada, Ralph Lauren, Louis Vuitton, Gucci e

Dior, elegantes cafés, sofisticados restaurantes, ótimos

hotéis, cinemas e galerias de arte.

O Colorado tem tanta personalidade que ele pare-

ce um lugar à parte dentro dos Estados Unidos – e As-

pen é seu lado mais quente. Realmente a estação ferve

de energia, seja dos esquiadores com suas manobras ar-

rojadas, da noite movida a música lounge em boates ani-

madíssimas, da excelente gastronomia e de todos aque-

les sorrisos de bem-estar. Afinal, Aspen é sinônimo de

esporte, bom gosto e romance, com as montanhas por

ali emprestando uma dose extra de inspiração.

Viajei acompanhada de três jornalistas paulistas. Éra-

mos quatro mulheres em um lugar onde a presença mascu-

lina sempre se destaca. Olha, de todas as minhas viagens

como repórter esta foi uma daquelas em que mais tive

que me concentrar para não esquecer que eu estava lá a

ASPEN FERVE DE ENER G IA . É S INÔN IMO DE ESPORTE , REQU INTE , BOM GOSTO E R OMANCE

Estilo Zaffari 31

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Page 28: Revista Estilo 36

Viagem

tra-ba-lho. Não há dúvidas: Aspen é o paraíso para quem

gosta de duas coisas: dia e noite. Dia para deslizar nas

montanhas e noite para se esbaldar nas pistas de dança.

A vida cinco estrelas

Fiquei hospedada em um lugar encantador, o As-

pen Meadows Resort. De tão amplo, meu quarto mais

parecia um apartamento. Todo decorado em tons pastel,

com uma vista bárbara das montanhas nevadas. Tudo

muito acolhedor. Na recepção, uma máquina de café e

chocolate quente e copos descartáveis de isopor, destes

para servir e sair bebendo. Um hábito americano que logo

tratei de absorver. O Meadows tem também um comple-

xo de esportes que oferece aulas de yoga e pilates. Um

espaço com aparelhos de musculação, uma piscina ao ar

livre climatizada e o melhor: uma hot tub! Acho que essa

foi minha primeira pergunta: tem hot tub? Vibrei quando

a resposta foi sim. Para quem não sabe, hot tub é uma

pequena piscina, como uma jaccuzi, superaquecida ao ar

livre. Se lá fora a temperatura vai a 6 graus negativos,

dentro da piscina chega a 40 graus. Uma combinação

magnífica. Hot tub no fim do dia equivale a conhecer no-

vos amigos. E foi assim que fizemos amizade com o Tim

Struby, repórter do canal ESPN. Naquela noite acabamos

jantando com toda a equipe de trabalho do Tim e mais

parecíamos parte dela. Um belo começo, eu diria.

NOS HOTÉ IS, O CONFORTO É EXTREMO. TÊM ATRAÇÕES ATÉ PARA Q UEM NÃO ESQU IA

32 Estilo Zaffari

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Page 29: Revista Estilo 36

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Page 30: Revista Estilo 36

Viagem

A língua inglesa está cheia de expres-

sões interessantes. Tem uma de que eu gos-

to muito e traduz com perfeição o delicioso

Remède Spa do luxuoso Hotel St. Regis:

“Spoil yourself”. Em português: mime-se! E

os mimos vão de tratamentos para pele, mas-

sagens, piscina de hidromassagem e hot tub

à sala de ginástica.

Imagine que eu ganhei uma massagem

de 105 minutos no spa para que eu pudesse

com fidelidade contar como é boa a vida cin-

co estrelas. A magia começa logo ao chegar.

Roupão, chinelinhos, champagne e trufas. Al-

guns minutos em uma sala de relaxamento

com uma música suave e uma lareira. Velas

aromatizadas e um ambiente clássico, acon-

chegante, adorável. A vontade que eu tinha

era fazer o tempo parar, e acho que parou de

verdade. “Srta. Cris Berger, o massagista está

esperando”, escutei, e desta forma fui condu-

zida a uma das 15 salas de massagem, onde

um atencioso massagista dividiu minha vida

entre antes e depois do St. Regis.

Diversão na neve

O complexo Aspen Snowmass engloba

quatro imponentes montanhas: Snowmass,

Aspen Highlands, Aspen Mountain e Butter-

milk. Ao todo são 40 skilifts (meios de eleva-

ção), 193 quilômetros de área de esqui e 300

pistas. Com um único passe você pode circu-

lar nas quatro montanhas e contar com trans-

34 Estilo Zaffari

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Page 31: Revista Estilo 36

O COMPLEXO ASPEN SNOWMASS ENGLOBA QUATR O GRANDES MONTANHAS

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Page 32: Revista Estilo 36

Viagem

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Page 33: Revista Estilo 36

NA NEVE APRENDEMOS MUITO SOBRE NÓS MESMOS. ESQUIAR DÁ UMA SENSAÇÃO DE LIBERDADE SEM IGUAL

porte de ônibus gratuito. A temporada 2005/2006 co-

meçou em 24 de novembro e vai até 16 de abril. Na

temporada passada os brasileiros foram os maiores visi-

tantes da estação, segundo o Aspen Skiing Company.

Além do esqui e do snowboard, Aspen oferece in-

teressantes diversões na neve, como o snowmobiling

(moto da neve), o lead dogs (trenó puxado por cães) e o

cross country (trekking na neve com esquis).

Apesar de esta ter sido minha terceira vez na neve,

foi meu début como esquiadora. Foi em Aspen que

aprendi a gostar de esquiar e entendi que a habilidade

no esporte está diretamente ligada a ter aulas com um

bom professor – no seu idioma. Em três dias eu já esta-

va descendo algumas pistas. E a sensação não pode ser

melhor. O segredo é começar devagar, cada um dentro

do seu limite, mas sempre colocando uma pitada de

ousadia. Na neve aprendemos muito sobre nós mes-

mos. Eu caí pouquíssimas vezes, não por ser um prodí-

gio nos esquis, mas por tentar manter o controle 100%

do tempo. O que é um erro. Jamais esquecerei meu

instrutor dizendo: Less control, Cris! – Menos controle,

Cris. – Já minha parceira, a Adriana Moreira, do Esta-

dão, caía a cada dois minutos simplesmente por se ati-

rar o tempo todo, o que rendeu ótimas risadas. Inacre-

ditável mesmo foi quando conseguimos bater de fren-

te, mas ninguém se machucou.

Estilo Zaffari 37

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Page 34: Revista Estilo 36

Viagem

NA ALTA TEMPORADA , ASPEN TEM INTENSO MOV IMENTO E SED IA D IVERSOS EVENTOS IMPORTANTES

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Page 35: Revista Estilo 36

Quem está mais acostumado esquia ouvin-

do música, mas no meu caso toda a concentra-

ção era pouca, por isso, deixei o som do vento

me guiar e provei uma paz de espírito e liberda-

de sem igual.

No meio de um dia deslizando pela

neve, vale a pena dar uma parada em um

dos restaurantes que ficam no alto das mon-

tanhas para recarregar as baterias, fazer um

lanche, desfrutar daquela incrível atmosfe-

ra e de música ao vivo.

As famosas Montanhas de Maroon Bells

Passear de snowmobile (moto da neve)

é divertido e um presente aos olhos. Picos

nevados emolduram a paisagem e tiram o

fôlego. Quem oferece este passeio é o pes-

soal do T Lazy 7, um dos mais antigos ran-

chos do Colorado, construído em 1938. Pra-

ticantes de cross country cruzam o caminho

acompanhados de seus cães. Em uma sim-

pática confraternização, todos se cumpri-

mentam. O trajeto leva os aventureiros a

estarem frente a frente com o expressivo

conjunto de montanhas chamado Maroon

Bells. Nos contaram que elas são as monta-

nhas mais fotografadas dos Estados Unidos.

Aos seus pés tem um lago: no inverno ele

fica congelado, no verão reflete a imponên-

cia das imensas formações rochosas. Um

chocolate quente, servido em uma casinha

estrategicamente bem localizada, trata de

devolver calor ao corpo.

Estilo Zaffari 39

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Page 36: Revista Estilo 36

Viagem

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Page 37: Revista Estilo 36

ESTE PEQUENO V ILARE JO ESBANJA CHARME E CONQ U ISTA SEUS V IS I TANTES

Depois de uma manhã ao sabor do vento e alimen-

tando a alma com a força da natureza, é chegada a hora do

almoço. Rumamos para uma encantadora cabana de ma-

deira no meio de uma floresta, linda, coberta de neve. Nos-

so guia preparou churrasco de hambúrgueres, inclusive

vegetarianos, ao estilo americano, enquanto tomávamos

uma Heineken em uma tarde deliciosamente ensolara-

da. Este passeio me fez dar mais pontos ainda a Aspen.

Esquiar é bom? Sim, maravilhoso. Mas programas alterna-

tivos são muito bem-vindos. No final da tarde apostamos

corridas na pista de alta velocidade do rancho e acabamos

o dia felizes e prontas para mais uma sessão de hot tub.

Assim é este pedacinho do Colorado, clima inver-

nal em seu melhor estilo. Uma paisagem estonteante

composta por uma majestosa cadeia de montanhas. Um

pequeno vilarejo que esbanja charme e conquista seus

visitantes como os bons vinhos fazem com os paladares

mais requintados: com tradição, sabedoria e elaborada

estrutura. Cheers a Aspen!

Estilo Zaffari 41

SERVIÇO

QUEM VOA:

AMERICAN AIRLINES

03007897778 – WWW.AA.COM.BR

QUEM LEVA:

INTERPOINT VIAGENS E TURISMO

0800-771-9400

WWW.INTERPOINT.COM.BR

POINT DA NEVE

(51) 33287171

WWW.POINTDANEVE.COM.BR

MASSAGEM:

REMÈDE SPA ––––– ST. REGIS RESORT

WWW.REMEDE.COM

CRIS BERGER VIAJOU A CONVITE DA AMERICAN AIRLINES E ASPEN

SNOWMASS – WWW.ASPENSNOWMASS.COM

84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 11:18 PM41

Page 38: Revista Estilo 36

O sabor e o saber

F E R N A N D O L O K S C H I N

A galinha chegou ao Brasil na comitiva de Cabral.

Capaz de crescer e se multiplicar rapidamente e, ao mesmo

tempo, fornecer ovos e carne, a ave participou das grandes

navegações e descobrimentos europeus. Registra a carta de

Caminha: os nativos que subiram a bordo ignoraram sole-

nemente a presença de um carneiro, mas ficaram terrivel-

mente espantados ao se depararem com uma galinha.

Aqui a galinha se aclimatou. O Cozinheiro Nacio-

nal, nosso primeiro texto culinário (séc. XIX), junto a

pratos de onça, macaco, gambá e cobra, com humor bem

brasileiro traz uma ‘Sopa de Leite de Galinha’.

Natural das florestas indianas, a galinha foi dos

últimos animais domesticados, primeiro para sacrifício

religioso, depois para rinha e ornamentação e só depois

como recurso alimentar.

Quando as crianças disputam o ‘osso da sorte’ à

mesa, repetem uma prática milenar. Na Ásia, ossos e

sangue de galinha são usados em adivinhação e as reli-

giões africanas têm na galinha a vítima sacrificial prefe-

rencial. A canja de galinha servida ao doente – a ‘peni-

cilina judaica’, um tratamento universal – conserva a

aura mágica da ave. “Com canja tudo se arranja’’, diz o

ditado. Especial para o enfermo, o ‘frango de botica’ era

vendido no balcão da farmácia, e seu seu caldo, receita-

do pelo doutor, era cozido pelo próprio farmacêutico.

No Brasil Império, a galinha era a dieta ideal para a gra-

videz, puerpério e aleitamento.

Os romanos faziam futurologia a partir do modo de

a galinha ciscar o alimento. Nas Guerras Púnicas, quan-

do as galinhas sagradas se recusaram a comer, o general

Cláudio Marcelo disse: “Pois então vão beber”, jogando-

as ao mar. O General foi derrotado e morto por Aníbal.

Ainda no séc. XIX, as raças eram selecionadas mais

pela plumagem do que pelo potencial alimentar. A ve-

lha questão, “o que veio primeiro, o ovo ou a galinha?”

tem uma resposta clara: o ovo. Não é à toa que a gali-

nha bota ovos de ouro; a carne – o inevitável frango

novo (pré-púbere) e a galinha velha (post-menopausa)

– era mero subproduto da produção de ovos.

Do ponto de vista religioso, o ovo era considerado

carne e interditado na Semana Santa. Os ovos colhidos

nesses dias só eram consumidos no Domingo de Páscoa,

não antes de pintados e decorados para cobrir os vestí-

gios da sua conservação em banha, daí a tradição.

Para nos dar tanto ovo e carne, a galinha teve de

sacrificar uma característica básica da ave: o vôo. A

maioria das aves voa, mas não põe mais do que alguns

ovos a cada primavera, mas a galinha é diferente: tem

asas atrofiadas e o peito e coxas carnudas, deitando um

enorme ovo a cada ciclo solar.

Como usual, as fêmeas são menos pontuais que os

machos: se o galo canta ao nascer do sol, a galinha deita

um ovo, duas belas formas de saudar o futuro, o dia que

se inicia.

A rotina do frango à mesa é recente. “Quando

pobre come galinha, um dos dois está doente”, dizia o

Barão de Itararé. No conto medieval, o sonho campo-

nês era comer “aquilo que o patrão chama de frango

assado”. A galinha era alimento dos poderosos. As ‘Me-

mórias Gastronômicas’ de Alexandre Dumas registram

que Cussy, mordomo de Luís XVIII, teria criado 366

pratos diferentes de galinha, um para cada dia do ano,

incluindo os bissextos! Conta também que Luiz XVI,

antes de subir a guilhotina, ceou galinha “comida com

as mãos em sofreguidão, até que não restasse fiapo de

frango, migalha de pão”.

GALINHA DE POUCO CURRY

Ela já foi o alimento dos poderosos. Depois, tornou-se a carne do povo

42 Estilo Zaffari FOTO: ANDRÉ NERY

84640_sabor e o saber.p65 1/25/06, 6:36 PM42

Page 39: Revista Estilo 36

CORTAR OS PEITOS EM PEQUENOS CUBOS. DEIXAR HORAS EM SUCO DE LARANJA. SECAR E TEMPERAR

COM SAL. PASSAR NA FARINHA DE TRIGO. BORRIFAR UM MÍNIMO DE AÇÚCAR. DOURAR NA MANTEIGA OU

ÓLEO. REFOGAR EM CEBOLA, ALHO, TOMATE E PIMENTÃO (POUCO, SEM CASCA E SEMENTES). ADICIO-

NAR PASSAS E DAMASCOS PICADOS. COZINHAR LEVEMENTE. ADICIONAR AMÊNDOAS TOSTADAS. DAR

VOLUME E CONSISTÊNCIA AO MOLHO COM CALDO DE GALINHA, VINHO BRANCO E FARINHA DOURADA.

BORRIFAR PIMENTA PRETA. COLOCAR UM POUCO DE CURRY. SERVIR COM ARROZ.

84640_sabor e o saber.p65 1/25/06, 7:31 PM43

Page 40: Revista Estilo 36

O sabor e o saber

F E R N A N D O L O K S C H I N

Segundo a tradição, o cozinheiro de Napoleão pu-

nha um frango a assar a cada 20 minutos: o imperador

não tinha hora para comer e detestava comida requen-

tada. D. João VI, nosso rei glutão, era famoso por devo-

rar muitas galinhas numa única refeição, e seu neto, D.

Pedro II, degustava uma canja nos intervalos das apre-

sentações teatrais. O novo ato só se iniciava após a ceia

do camarote imperial.

‘Galinha na panela é visita ou festa’; durante sécu-

los, a galinha era o ‘luxo ocasional’ da mesa do traba-

lhador, o prato das festas e domingos. Na França, o rei

Henrique IV sonhava com um frango na panela domi-

nical de cada súdito. Nos Estados Unidos, na ressaca da

Grande Depressão, Hoover foi eleito presidente com o

lema: “Um frango em cada mesa”.

Ainda há pouco, as casas, como as caravelas, ti-

nham um galinheiro, onde ovos eram colhidos e, em

dias especiais, uma ave era abatida, assada e consumida

pela família reunida. O frango, destrinchado pelo chefe

de família numa distribuição de pedaços a expressar a

hierarquia e o gosto de cada um, é uma versão atual de

ritos e festins de caça que remontam à Pré-História.

Haute cuisine ou mesa camponesa, disponibilidade

e preço dão o destino do alimento. O frango se tornou a

carne do povo, trilhou o caminho inverso do caviar, sal-

mão, ostras, trufas e bacalhau, que migraram da boca

plebéia à abonada. Hoje a galinha é a principal fonte de

proteína animal, a forma mais barata de produzi-la.

Hábitos sexuais considerados promíscuos fizeram

da galinha um tabu para muitos hindus. Símbolo da

curiosidade frívola e pouca inteligência, nossa cultura

cultiva o preconceito: galo é elogio, galinha é ofensa. Ar-

rastar a asa é seduzir, franga, galeto ou cocota é a jovem

desejada, mas galinha é a mulher promíscua. Coquete,

que descrevia os hábitos do galo (F. coq) excursionando

por todas as galinhas do galinheiro, se transfigurou num

termo pejorativo reservado ao feminino.

A imagem das galinhas empoleiradas, uma defe-

cando na cabeça da outra, ganhou notoriedade em co-

nhecida figura de linguagem.

Curiosamente, uma das raras alusões positivas à

galinha foi feita por Jesus ao pregar em Jerusalém: “Quan-

tas vezes quis reunir teus filhos como a galinha que reú-

ne seus pintinhos sob as asas” (Mt 23:27).

A cruel passarinhada e a pedofilia gastronômica

do galeto ao primo canto dos imigrantes italianos são

heranças alimentares de Roma Imperial a atestar que a

ave era tão importante como pão e circo. ‘Gália/gaulês/

galo’, a sonoridade, criou afinidade, e a França, Gália

romana, se representa como um galo e entende de gali-

nha. O melhor frango francês, tal o queijo e vinho, tem

sua procedência e criação bem explicitados: oposto do

monstruoso Frangstein – o pseudofrango industrial –, há

a bênção artesanal do poulet de Bresse, criado ao ar livre,

embalado em imaculado tecido branco e ostentando o

selo de ‘Appellation d’Origine Contrôlée’.

Na natureza tudo se transforma. A galinha é uma

grande recicladora biológica, capaz de transformar inse-

tos, vermes e sobras em carne de qualidade. A ave não

mastiga com o bico, tem a moela como dente. Quando

um grão é muito duro, a ave ingere pedrinhas para auxi-

liar a triturar o alimento.

Na fazenda tradicional, a vaca comia o milho, o

porco comia sobras do milho no esterco da vaca e de-

pois a galinha não deixava qualquer sobra no esterco do

porco. O ciclo se fechava com o esterco da galinha adu-

bando o plantio do milho.

A manipulação hormonal e genética e a criação

intensiva transformaram de tal forma a carne de frango

que se prepararmos uma receita do séc. XVIII com a

gordura e o tempo de cozimento recomendados obtere-

mos um patê.

Assim como certos povos orientais têm menos cal-

vície, barba, câncer de próstata e tamanho de pênis de-

vido à ingestão de soja (rica em isoflavona, hormônio

feminino), o maior consumo de frango (rico em hormô-

44 Estilo Zaffari

84640_sabor e o saber.p65 1/25/06, 6:37 PM44

Page 41: Revista Estilo 36

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET

[email protected]

nio do crescimento) pode ter causado o aumento de

estatura das novas gerações em todo o planeta.

Durante séculos, a porção mais nobre da galinha

foi a sambiqueira, então chamada de uropígio. As ex-

pressões ‘carne branca’ e ‘carne vermelha’ antecedem

a moda do colesterol e se criaram no moralismo vito-

riano inglês. Como não era de bom-tom pronunciar à

mesa as palavras ‘peito’ (breasts) e ‘coxas’ (legs), surgi-

ram os eufemismos ‘carne branca’ (white meat, o pei-

to) e ‘carne vermelha’ (read meat, as coxas). É linda a

história de Churchill, que, repreendido por uma dama

ao solicitar um pedaço de galinha pelo termo ‘breasts’,

desculpou-se enviando-lhe um colar e um cartão su-

gerindo que usasse a jóia junto à sua ‘white meat’. Os

franceses também recorrem à metáfora sensual quan-

do chamam o peito de frango pelo adjetivo supréme...

Carne branca ou vermelha na quantidade apro-

priada só é questão de gosto; a única carne imprópria

ao consumo humano é a azul-esverdeada.

Banhada a ouro, a carne branca e suave da gali-

nha é perfeita para receber o amarelo do curry, forte em

cor, odor e sabor. O pássaro tem um encontro com o

tempero. A mesma geografia produziu alimento e con-

dimento, acasalou contrastes. A Galinha de Pouco Cur-

ry não é canja, mas é fácil de preparar, mais ainda de

apreciar.

O puritanismo é inimigo do prazer. Em relação à

cozinha exótica, que se divulgue a verdade ímpia: quan-

to menos autêntica e mais promíscua, mais gostosa.

Oferenda ao futuro. Se a ave dedica o canto ao dia

que se inicia, ela cede o corpo à boca da noite: magia e

religião, a sorte no prato, jóia de ‘luxo à mesa’. Um jan-

tar memorável, para tais coxas e peitos, só um adjetivo,

supréme! Que bela forma de saudar a natureza.

A CARNE BRANCA

E SUAVE DA GALINHA

É PERFEITA PARA

RECEBER O AMARELO

DO CURRY, FORTE EM

COR, ODOR E SABOR

Estilo Zaffari 45

FO

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Page 42: Revista Estilo 36

Casa

RSMadeP O R I R E N E M A R C O N D E S F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O

in

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Page 43: Revista Estilo 36

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Page 44: Revista Estilo 36

Casa

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Page 45: Revista Estilo 36

designSIM. VOCÊ VIVENCIA ESTA PALAVRA DIARIAMENTE NO SEU TRABALHO, NA SUA CASA, NA RUA, NO SUPERMERCADO, NO

AEROPORTO... DÊ UMA RÁPIDA OLHADA AO SEU REDOR E ESCOLHA ALGUNS OBJETOS DOS QUAIS VOCÊ NÃO ABRIRIA MÃO

NEM POR UM DECRETO. PODE SER AQUELA LUMINÁRIA BIARTICULADA QUE LEVA O FOCO DE LUZ PARA O PONTO QUE VOCÊ

DESEJA, OU QUEM SABE AQUELE TECLADO ERGONÔMICO DO SEU COMPUTADOR... UMA SIMPLES GARRAFA TÉRMICA QUE

CONSERVA A ÁGUA DO CHIMARRÃO EXIBE FORMAS E SISTEMAS CADA VEZ MAIS EFICIENTES. A ESTÉTICA DESSES PRODUTOS

É OUTRO PONTO VITAL – UMA BUSCA CONSTANTE DE TRAÇOS QUE PERMEIAM A BELEZA E O EQUILÍBRIO. DESIGN É ASSIM.

PURO. ESSENCIAL. SIMBIÓTICO. EMBORA O HOMEM SEMPRE TENHA PRODUZIDO ARTESANALMENTE PRODUTOS PARA SEU

USO E COMUNICAÇÃO, ASSOCIAMOS AS ORIGENS DO DESIGN COM O APOGEU DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, NO SÉCULO XIX.

A FABRICAÇÃO DE PRODUTOS PARA AS MASSAS EXIGIU UMA RACIONALIZAÇÃO DOS PROJETOS E O DESENVOLVIMENTO DE

UM RACIOCÍNIO ATÉ ENTÃO INEXPLORADO. NA FILOSOFIA, O SUBSTANTIVO ABSTRATO – DESIGN – REFERE-SE A OBJETIVIDA-

DE OU PROPÓSITO. O DESIGN É O OPOSTO DA CRIAÇÃO ALEATÓRIA. NA VISÃO TRADICIONAL, CONCLUI-SE, PORTANTO, QUE

O DESIGN SÓ PODE SURGIR POR INTERMÉDIO DE UM DESIGNER CONSCIENTE. AQUI NO RIO GRANDE DO SUL EXISTE UM

TIME DESTES PROFISSIONAIS, E NÓS CONVIDAMOS ALGUNS DELES, ESPECIALISTAS NA CRIAÇÃO DO MOBILIÁRIO, PARA

REVELAR AS MINÚCIAS DESTE COMPLEXO PROCESSO. OS MÓVEIS QUE VOCÊ VERÁ A SEGUIR JÁ CONQUISTARAM CONSUMI-

DORES DAQUI E DE FORA, COMPROVANDO QUE O DESIGN É MESMO UMA PALAVRA SEM FRONTEIRAS.

Estilo Zaffari 49

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Page 46: Revista Estilo 36

Beto Salvi

Tuti GiorgiEm 1990, quando aceitaram o primeiro e grande

projeto de suas carreiras, Tuti e Beto não imaginavam o

tamanho do desafio que teriam pela frente. A dupla pro-

jetou a primeira loja de CDs do Rio Grande do Sul. “Não

só desenvolvemos o layout do espaço como desenhamos

todos os móveis e displays, já que não havia no mercado

nada adaptado para acomodar os CDs”, conta Tuti. “Apos-

tamos também no uso dos materiais primários, evidencian-

do seu estado bruto”, ressalta Beto. Soluções irreverentes,

como a utilização de canos de cobre como suporte de ilu-

minação e chapas metálicas como prateleiras, agradaram

à nova geração de consumidores dos disc lasers. “Curio-

samente, nos projetos seguintes também sentimos a ne-

cessidade de desenhar móveis para solucionar problemas

específicos dos nossos clientes”, conta Tuti. “Percebemos

que estas peças preenchem lacunas do mercado e por isso

buscamos a produção em série para cada uma delas”, com-

plementa Beto. A dupla projetou, por exemplo, umas das

primeiras soluções de estantes e de prateleiras componí-

veis no Brasil. O sofá Vasarely e o revisteiro horizontal,

ambos modulares, reforçam o lado prático e ao mesmo

tempo lúdico destes designers. “Cada um pode montar o

seu ambiente como imaginar. Essa liberdade é fantásti-

ca”, afirma Tuti. Algumas diretrizes básicas norteiam o

trabalho desses arquitetos: utilização de materiais ecolo-

gicamente corretos, racionalização no uso dessas maté-

rias-primas e simplificação da logística. “Pensamos no mer-

cado globalizado sempre que desenhamos um produto.

Por isso, ele tem que ser fácil de transportar e de montar e

deve atender às necessidades mundiais de consumo”, conta

Tuti. Trabalhar com a tecnologia disponível nas indústrias

nacionais não é um limitador para a dupla. Pelo contrá-

rio, é um desafio. “Quem disse que somos obrigados a

ficar restritos ao que existe nas fábricas? Somos grandes

incentivadores para que elas aprimorem seu parque in-

dustrial. Muitas vezes dizemos para o fabricante: você

precisa modernizar sua estrutura, precisa adequá-la às

novas exigências do mercado. Fazemos pesquisas cons-

tantes. Afinal, nosso assunto é design, e não artesanato”,

afirmam.

Casa

50 Estilo Zaffari

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Page 47: Revista Estilo 36

TUTI (À ESQUERDA) E BETO (À DIREITA) APOSTAM NAS SOLUÇÕES MODULARES, COMO ESTE REVISTEIRO QUE ACABAM DE LANÇAR

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Page 48: Revista Estilo 36

Casa

ILSE LANG APRESENTA

A CADEIRA ONDA,

INSPIRADA NO DESIGNER

JAPONÊS SORI YANAGI

84640_casadesigners.p65 1/24/06, 10:57 PM52

Page 49: Revista Estilo 36

Liberdade de criação, produção em larga escala e

conquista de mercados nacionais e internacionais são

os três grandes motivos que levaram a arquiteta gaúcha

Ilse Lang a mergulhar no universo irrestrito do design.

“Por trás do trabalho existe a convicção de que dese-

nhar artefatos utilitários com coerência e rigor é trans-

por a barreira das soluções técnicas e funcionais, evo-

cando emoção, poesia, curiosidade e senso de identida-

de”, explica. Logo que começou a desenhar, em 1986,

Ilse lançou uma cama de casal que conquistou não só o

mercado como também o Prêmio Movesp, de 1988. “Ela

está até hoje na minha casa e faz parte de um projeto

que visa a relançá-la. É ótimo perceber que o design

permanece atual. Isto só foi possível porque sempre bus-

quei o essencial, o estritamente necessário”, conta. Os

traços de Ilse denunciam uma forte influência do mo-

dernismo e de suas concepções racionais, mas a presen-

ça de soluções de cunho popular regionalista estabelece

um contraponto marcante. Bom exemplo é o banqui-

nho Tribo, que tem sua raiz no popular banco de madei-

ra presente nos galpões campeiros. Usado pelos gaúchos

para tomar o mate ao redor da fogueira, o rústico assen-

to logo inspirou a designer. A busca pelo mobiliário lú-

dico é outra temática constante. “A minha formação

como arquiteta transparece na estrutura formal dos meus

trabalhos. Gosto de explorar a versatilidade das ferra-

gens, colocando-as nas gavetas e nas mesas extensoras.

Elas possibilitam a mudança na forma dos móveis de

acordo com o seu uso. Os consumidores interagem com

as peças, adaptando-as às suas necessidades”, explica a

arquiteta. Rabiscar, prototipar e rabiscar novamente são

etapas que Ilse percorre sempre que desenvolve novos

produtos. “Quando a peça está tridimensional consigo

concretizar ainda melhor a sua forma. O design não é

estanque. Mexo no produto diversas vezes antes de co-

locá-lo em linha”, revela. A loja Faro Design, em Porto

Alegre, reúne a coleção completa da arquiteta. O nome

não poderia ser mais aguçado: traça um paralelo entre o

instinto animal e o comportamento humano de “encon-

trar algo sem uma procura racional”.

IlseLang

Estilo Zaffari 53

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Page 50: Revista Estilo 36

Casa

Esta dupla tem mais de 200 produtos comercializa-

dos atualmente no Brasil e no exterior, já recebeu seis im-

portantes premiações e em 2004 participou da mostra “Bra-

sil Faz Design”, em Milão, com a poltrona Santa Bárbara,

produzida pela Saccaro. À primeira vista essas informa-

ções parecem objetivas demais. Mas a questão é que elas

sintetizam a essência do design: móveis que reúnem viabi-

lidade industrial, matérias-primas inovadoras e ecológicas

e desenhos que atendem aos anseios do mercado. “Eu cos-

tumo dizer que pesquisas, domínio das tecnologias e das

matérias-primas representam 80% do esforço no desenvol-

vimento de um produto. Apenas a porcentagem restante é

de pura inspiração”, conta Renato Sólio, arquiteto gaú-

cho, que projeta peças do mobiliário desde 1984 em parce-

ria com a arquiteta uruguaia Ana Vazquez. “Como desig-

ner, pretendo passar para o mundo alguns conceitos, solu-

ções e inovações. Mas isso só é possível se não perdermos o

foco no mercado. Caso contrário, não vamos conseguir

passar nada”, conclui Ana, uma apaixonada confessa pelo

Brasil. O desafio constante desses arquitetos é trabalhar

com novas matérias-primas, principalmente as provenien-

tes da natureza. “Ainda temos muito para descobrir. Não se

trata apenas de revelar materiais inéditos, mas principal-

mente de aproveitar o que já existe de forma diferente e

mais ampla, sempre atentos à preservação do meio ambi-

ente”, diz. Ela sugere, como exemplo, o bambu: tantas ve-

zes empregado para estruturar o móvel, agora começa a ser

usado nos tampos. “Na Bahia, os artesãos extraíram a fibra

do coco e passaram a criar objetos com ela. Eles enxerga-

ram algo além do simples fruto. Essa é a fronteira que te-

mos que ultrapassar”, comenta. Deixando a parte técnica

um pouco de lado, eles revelam de onde vêm aqueles 20%

de pura inspiração. “Temos um olhar aguçado o tempo in-

teiro. Quando viajamos, trazemos novas referências não

só do mobiliário, mas principalmente das ruas, dos metrôs,

da moda e da gastronomia. Tudo isso serve de back ground

para nossas discussões”, comenta Renato. A arquiteta fi-

naliza: “Gosto de um pensamento de Philippe Starck que

diz que é preciso ignorância no ato de criar. Sua mente tem

que estar livre de todas as referências na hora de conceber

uma nova idéia. A verdadeira criação irá surgir de um mi-

lhão de informações que você guarda dentro de si”.

Renato Sólio

Ana Vazquez

54 Estilo Zaffari

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Page 51: Revista Estilo 36

RENATO SÓLIO E ANA VAZQUEZ ASSINAM A MESA DE

CENTRO VITÓRIA RÉGIA, PRODUZIDA PELA SACCARO

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Page 52: Revista Estilo 36

Casa

HELOÍSA CROCCO POSA AO LADO DE ALGUNS

DOS PAINÉIS DE PINUS QUE FICARAM

EXPOSTOS NA MOSTRA “BRASIL NA FRANÇA”

84640_casadesigners.p65 1/25/06, 4:49 PM56

Page 53: Revista Estilo 36

Heloísa CroccoA “Nova Ordem no Planeta” é um dos movimen-

tos mais fortes hoje na Europa e significa, em outras pa-

lavras, a luta pelo reaproveitamento dos recursos natu-

rais no mundo. A designer e artista plástica Heloísa Croc-

co tem seu trabalho intimamente ligado ao reaproveita-

mento da madeira. Por isso, no ano passado, uma co-

missão formada por brasileiros e franceses convidou

Heloísa a expor seus painéis de pinus na mostra “Brasil

na França”, durante os dias 10 de setembro e 31 de ou-

tubro de 2005. “Como parte da programação oficial,

acabo de apresentar os trabalhos da minha pesquisa To-

pomorfose na galeria BOA. BOA, em Hossegor, no su-

deste da França. Ali está localizada a maior floresta de

pinus da Europa, plantada por Napoleão há 200 anos”,

conta Heloísa. A mostra reuniu cinqüenta painéis mo-

dulados, medindo 50 cm x 50 cm cada um e executados

com pequenos volumes de pinus reflorestado e pintura,

numa geometria de efeito óptico e lúdico. Produzida em

2005, a série possibilita uma infinidade de montagens,

onde predominam os brancos, os vermelhos e um con-

junto multicolorido. “O resultado foi impressionante. O

europeu tem muita consciência da importância da pre-

servação ambiental, e meu trabalho envereda nessa te-

mática”, conta a designer. “O povo francês, em particu-

lar, vê muita alegria e muito frescor na cultura brasilei-

ra. O comentário geral sobre o meu trabalho destacava

a originalidade da montagem”, lembra Heloísa, que há

pouco desembarcou da França. Ela conta que a sua liga-

ção com o meio ambiente começou desde criança. “A

natureza sempre me seduziu, sempre me impressionou,

me contagiou. Aprendi não só a olhá-la, como a escutá-

la e a senti-la, em sua força, exuberância, cheiro, cor e

magia. Esta é a nossa grande mestra”, diz. Depois de um

longo convívio com diferentes materiais da natureza,

Heloísa elegeu como foco de pesquisa o veio da árvore

com seus anéis de crescimento. Do seu corte em topo

resultam grafismos, padrões e texturas que começou a

explorar na pesquisa denominada Topomorfose. “Para mim,

o design não é simplesmente um símbolo de status ou de

poder aquisitivo. Ele é espaço de sonhos, de emoções, de

sobrevivência e de filosofia do ser. Atrás de um projeto

estético há sempre a busca de um homem novo”, conclui.

Estilo Zaffari 57

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Page 54: Revista Estilo 36

Tina e Lui

Débora,

A cultura tradicionalista do Rio Grande do Sul

ganhou o mundo a partir do design de móveis das irmãs

Tina e Lui. Com uma galeria de prêmios nacionais e

internacionais de causar inveja, elas sempre buscaram

valorizar e evidenciar o artesanato gaúcho. “Sem aque-

les ranços de regionalismo, é claro”, afirma Tina, no seu

escritório, em Porto Alegre. Gêmeas, elas garantem que

a parceria na arquitetura e no design é eterna. “Somos

sócias desde o útero de nossa mãe”, brinca Tina. Uma

das coleções que consagraram o trabalho da dupla foi a

linha de mobiliário Imigrantes, que resgata os traços dos

móveis coloniais italianos e alemães, desta vez apresen-

tados com uma linguagem mais contemporânea. É tam-

bém no interior do estado que essas arquitetas buscam

inspiração: artesãs gaúchas são muitas vezes co-autoras

dos trabalhos desenvolvidos aqui.

A poltrona Mantô, por exemplo, produzida pela

Saccaro, valoriza as tramas de tear, que podem ser de

couro com fios de algodão ou de fibra de bananeira.

“O artesanato do terceiro setor, como costumamos

chamar, pode enriquecer de forma substancial o de-

sign do mobiliário e ainda não é explorado suficien-

temente”, ressalta. Desde 2000, a irmãs Tina e Lui

contam com um reforço na sua equipe de criação: a

recém-formada arquiteta e designer Débora Eichem-

berg. “Ela chegou trazendo um sopro de renovação.

A nossa troca é muito produtiva, e a afinidade e a

sintonia são visíveis”, afirma Tina. Entre os ideais

compartilhados pelo trio, evidencia-se a preocupação

com a natureza. “Fomos as primeiras designers a re-

ceber o Prêmio Ibama, em 1990, com a peça Sofá-

Berço, de madeira Tauari e Marupá, provenientes do

manejo sustentado”, lembra Tina. Desde então, elas

só desenvolvem projetos com as espécies autorizadas

pelo Instituto. Atualmente o trio faz parte do Labo-

ratório Piracema de Design – uma iniciativa que en-

volve arquitetos, designers, entidades e artesãos que

pesquisam e apontam novos caminhos para o artesa-

nato gaúcho. “Este laboratório é uma fonte inesgotá-

vel de aprendizado e de inspiração”, conclui Tina.

Casa

58 Estilo Zaffari

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Page 55: Revista Estilo 36

TINA (DE PÉ), DÉBORA (SENTADA)

E LUI (APOIADA NA POLTRONA)

VALORIZAM O ARTESANATO NESTAS

PEÇAS PRODUZIDAS PELA SACCARO

84640_casadesigners.p65 1/24/06, 10:59 PM59

Page 56: Revista Estilo 36

Bom conselho

P O R M A L U C O E L H O

TRADIÇÃO NO

VERÃO GAÚCHO

O ano novo começa e as nossas expectativas de que pode ser melhor

e diferente também. Ah! Parece fácil falar que as mudanças dependem de

nós... Mas dependem... A vida é uma aventura extraordinária e existem

milhares de caminhos possíveis. Com ousadia, coragem e fé chegamos lá...

As mudanças em nossas mãos. Desde se livrar de antigos hábitos, até

cuidar mais dos detalhes do seu dia-a-dia, acompanhe algumas dicas para

começar o ano com energia positiva e muito bom humor. Veja como:

1. LIMPE O SEU CORAÇÃO: NÃO GUARDE RESSENTIMENTOS, MÁGOAS E CIÚMES. 2. FAÇA AS PAZES COM O SEU CORPO: CURTA-SE DIANTE DO ESPELHO. 3. NÃO TOME DECISÕES IMPOSSÍVEIS DE REALIZAR. 4. RECLAME MENOS DA VIDA E VALORIZE OS MOMENTOS BONS. 5. CUIDE DO PLANETA, FAÇA A SUA PARTE, ECONOMIZE ÁGUA, SEPARE O LIXO, PLANTE FLORES E

ÁRVORES. 6. DIGA A SEUS AMIGOS O QUANTO ELES SÃO IMPORTANTES PARA VOCÊ. 7. LIVRE-SE DOS ENTULHOS (TUDO QUE INCOMODA VOCÊ). É HORA DE RECICLAR A VIDA. 8. LEIA MAIS. VALORIZE A NOSSA LITERATURA. TEMOS EXCELENTES ESCRITORES.

Fala sério.... O verão tá aí!

E como é tradição de todo gaúcho, aquela mudança para a praia na

temporada sempre acontece. No roteiro não falta aquela passada pelo su-

permercado para abastecer a casa de praia, nem a rede para os cochilos de

depois do almoço. No kit básico do verão, roupas novas e leves, protetores

solares, cremes e muita vontade de curtir as novidades do litoral gaúcho.

Afinal, a gente praticamente fica morando na praia, não é? Neste momen-

to, vale seguir novamente a tradição: um bom churrasco, chimarrão curtin-

do o fim de tarde, conversa com amigos, leitura, muita leitura.

UFA! E VIVA O VERÃO!

60 Estilo Zaffari

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Lugar

pousadaT E X T O S E F O T O S

D A N I E L M A R T I N S

Os engenhos

de uma

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Lugar

ALGUNS VÃO PASSAR LÁ O FIM DE SEMANA,

MAS NÃO CONSEGUEM IR EMBORA NO DOMINGO

64 Estilo Zaffari

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Page 61: Revista Estilo 36

Os engenhos de uma pousada

Alguns quilômetros e uma história curiosa sepa-

ram a praia da Ferrugem, em Santa Catarina, e São Fran-

cisco de Paula, na Serra gaúcha. Conta um dos proprie-

tários da Pousada do Engenho, Ananta Alano, que o

final da década de 70 trouxe grandes mudanças à pe-

quena praia catarinense. Da noite para o dia, os nativos

deixaram de se interessar pela pesca e pelo trabalho nos

engenhos de farinha. A luz elétrica anunciava o pro-

gresso e a nova onda passou a ser carros, terrenos e tudo

o mais que pudesse trazer lucro imediato. “Daria um bom

material para uma tese de sociologia”, brinca.

Ananta, que na época passava uma temporada por

lá, decidiu salvar um pouco do que restava da vida mais

agrária e artesanal, que estava ficando para trás num

piscar de olhos. Ele percorreu a região em busca de en-

genhos que estivessem em boas condições. Visitou mais

de 50, até que finalmente encontrou um que lhe agra-

dasse e o comprou por um preço irrisório, já que esse

não era mais o negócio por ali. Transportou-o com cer-

ta dificuldade para terras gaúchas, colocando o enorme

engenho no terreno onde hoje é a pousada, mas que na

época era simplesmente o lugar onde ele e o irmão pas-

savam as férias com a família e também faziam as me-

lhores festas juninas da região. “O astral aqui foi sempre

muito bom. Por sorte, só atraía gente com boa energia”,

contam os donos.

A máquina ficou por lá até o dia em que Ananta

foi morar no Chile e resolveu doar o engenho para al-

guém que pudesse realmente tirar proveito dele. Entrou

em contato com a prefeitura de Novo Hamburgo e fez

uma doação, legitimada e reconhecida em cartório. Para

a sua surpresa, ao regressar do Chile anos mais tarde, o

engenho estava completamente em desuso, num estado

deplorável. “Deu pena de ver. A vontade que eu tive foi

de chorar”, lembra. A única peça resgatada adorna hoje

a fachada da pousada: uma enorme prensa de madeira,

que no engenho servia para amassar a mandioca. Nessa

época começaram os movimentos para transformar a

casa de veraneio da família numa grande cabana para

alugar. A construção original foi preservada com toras

de araucária trazidas do Paraná, num tempo em que a

laminação desse tipo de madeira ainda era permitida.

“O frete foi mais caro que a própria madeira”, lembra

Ananta. Mais tarde, a casa do caseiro também virou

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Page 62: Revista Estilo 36

cabana e passou a receber hóspedes. Hoje são 10 caba-

nas, mas o projeto é não ter mais do que 13, afirmam os

donos.

Luxo no meio do mato

Quem está dentro do quarto vê a janela como mol-

dura de um lindo quadro, preenchido por mata nativa,

de um verde vivo. Se fixarmos o olho, a impressão que

temos é de que não existe interferência do homem nes-

sa paisagem. E, de fato, essa é a grande preocupação por

ali: manter esses dois hectares o mais preservados possí-

vel. Uma caminhada revela pequenas “ilhas” de bosques

mantidos ao longo do terreno. As cabanas, estilo

loghouses canadenses – você vai lembrar do Daniel Boon

–, respeitam uma distância entre si, o que privilegia o

silêncio. Nem mesmo o Pavarotti hospedado na cabana

ao lado vai conseguir quebrar o seu sossego.

Aliás, o que não falta por ali são cuidados para

que os hóspedes passem bem. Imagine só: pantufas ao

lado da cama, uma seleção musical escolhida a dedo,

A POUSADA CONTA COM UMA MARCENARIA PRÓPRIA.

Lugar

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Page 63: Revista Estilo 36

hidromassagem tamanho família, lareira no centro do

quarto e um skylight para os dias ensolarados. Mas an-

tes de pensar em ficar o final de semana inteiro entocado,

saiba que é só botar o pé fora da cabana para ter o que

fazer: quadra de tênis, piscina aquecida sem cloro – com

sistema de salinização –, um lounge com música e

cafeteria, salão de jogos, ofurô, sala de fitness e sauna.

Outra atração exclusiva da pousada é o Lareiral,

uma espécie de luau em torno da lareira, com músicos

especialmente convidados. Além de tudo isso, a pousa-

da ainda oferece um pacote exclusivo de lua-de-mel para

os apaixonados.

Gastronomia e cinefilia

Na desolada costa da Dinamarca vivem Martina e

Philippa, as belas filhas de um devoto pastor protestante

que prega a salvação por meio da renúncia. As irmãs sa-

crificam suas paixões da juventude em nome da fé e das

obrigações, e mesmo muitos anos depois da morte do pai

elas mantêm vivos seus ensinamentos entre os habitantes

da cidade. Até que a chegada misteriosa de uma refugia-

da da guerra civil da França mexe com o pequeno povo-

ado, e a vida das irmãs começa a mudar. A forasteira as

convence a tentar algo realmente ousado: um delicioso

banquete francês. A essas alturas, você já deve estar se

perguntando o que o enredo do filme sueco “Festa de

Babette” tem a ver com uma pousada em São Francisco

de Paula. Pois foi justamente inspirado em filmes como

esse que o inventivo projeto Mesa de Cinema nasceu. Uma

vez por mês, em um final de semana, é promovido um

encontro entre a sétima arte e a culinária. Tudo começa

com a apresentação de um filme, seguido de um debate

comandado por especialistas nas respectivas áreas. Logo

após o bate-papo, quando todos já estão com mais água

do que palavras na boca, acontece o tão esperado jantar.

Para cada exibição, há um chef especialmente convidado

para comandar as caçarolas e performances exclusivas,

de acordo com o tema do filme. No dia de “A Grande

Noite”, que conta a história de dois irmãos italianos do-

nos de um restaurante na Nova Jersey de 1950, os termô-

QUASE TODOS OS MÓVEIS SÃO FEITOS LÁ MESMO

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Page 64: Revista Estilo 36

Lugar

metros estavam marcando temperaturas baixíssimas. “Era

um frio de rachar”, lembra Alex. Terminado o filme, os

convidados tiveram que encarar uma caminhada da sala

de exibição até o restaurante, mais ou menos 200 metros.

O jeito foi se aquecer com pequenos goles de grapa. Sem

que se dessem conta, as pessoas foram entrando no espí-

rito da noite que as aguardava.

Chegando no restaurante Casa de Babette, perce-

beram que o clima de “A Grande Noite” estava por to-

dos os cantos. As mesas, a música, a iluminação e o aten-

dimento feito por todos que estavam trabalhando ali lem-

bravam com criatividade cenas do filme. Embalados pelo

mambo italiano extraído da trilha sonora do filme, os

convidados arriscaram passos e mostraram que, àquela

altura, não era só a música que os fazia dançar. O aroma

vindo da cozinha anunciava o cardápio comandado por

Mario Gradella, composto de um risoto tricolor e um

delicioso tímpano, recriando com maestria as maravi-

lhas gastronômicas do filme. Jantares assim já acontece-

ram inspirados pelos filmes Festa de Babette, Simples-

mente Marta, Como Água para Chocolate, Vatel,

Tampopo, O Cheiro de Papaya Verde, O Amor está na

Mesa e Comer, Beber e Viver.

Um engenho movido a paixão

Conversando com os donos, aos poucos vai-se des-

cobrindo como nasceu cada um dos atrativos, o porquê

disso ou daquilo. Descobrimos, também, que todos os

móveis, com raras exceções, são feitos por eles na mar-

cenaria da pousada.

À medida que vamos conhecendo melhor o lugar, a

palavra engenho vai assumindo mais de um significado.

Não apenas o da máquina de moer que deu origem ao seu

nome, mas também o da capacidade de inventar, de criar

com técnica e arte. Das espreguiçadeiras estendidas no deck

da piscina ao Vatapá Oriental, delicioso prato feito com

camarão, grão de bico, leite de coco, curry e especiarias,

tudo tem o toque dos donos. E se for pela paixão que eles

dedicam a cada dia de trabalho, esse engenho vai conti-

nuar funcionando bem por muitos e muitos anos.

SÃO 10 CABANAS EM 2 HECTARES DE MATA NATIVA.

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Page 65: Revista Estilo 36

TUDO TEM O TOQUE APAIXONADO DOS DONOS

SERVIÇO

A POUSADA TRABALHA EM PARCERIA

COM AGÊNCIAS QUE REALIZAM PASSEIOS

PARA OS PRINCIPAIS PONTOS TURÍSTICOS

DA REGIÃO. MAIS INFORMAÇÕES

PELO FONE (54) 3244.1270 OU PELO E-MAIL

[email protected]

Estilo Zaffari 69

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Page 66: Revista Estilo 36

(con)vivências

Férias para o relógio e para os lenços de papel

FEVEREIRO

Fevereiro é o mês em que os psicoterapeutas tiram

férias. Não bastasse estarem de recesso, a grande maioria

viaja para lugares remotos, deixando o celular em casa.

Portanto, pacientes das mais diversas linhas terapêuticas,

sejam compreensivos e não se metam em encrencas. Cri-

ses, pedidos de divórcio, pedidos de demissão, depres-

sões, dietas severas – por favor – deixem pra março. Dêem

férias para os problemas, ou então segurem a barra sozi-

nhos, fazendo valer o investimento que foi feito durante

o ano. Pensem positivo: por um mês estaremos livres dos

dois equipamentos fundamentais da sala de terapia: o re-

lógio que só é visto pelo terapeuta e a caixa de lenços de

papel, aquela que está na mesinha ao nosso lado. É isso

mesmo, o relógio é sempre posicionado na linha do olhar

dele, para que a verificação das horas seja discreta. Con-

sultar o relógio de pulso estaria fora de questão. Seria um

gesto agressivo, de quem tem pressa ou de quem está com

o pensamento em outro lugar. Palestrantes também têm

esse cuidado retirando o relógio do pulso e colocando-o

sobre a mesa. Mas os terapeutas não estão preocupados

com a etiqueta, e sim como os nossos sentimentos. Ca-

muflam os relógios para evitar olhares enviesados e trai-

çoeiros em busca dos ponteiros, o que macularia, com

algum tipo de interpretação negativa, os nossos 45 minu-

tos de lama. Haveria no mundo algum assunto mais ur-

gente do que nossa crise existencial semanal? Estaria o

terapeuta entediado com o relato do sonho que tivemos

na noite anterior? Teria o próximo paciente um caso mais

interessante ou mais patológico? Não, nossos terapeutas

não querem aumentar o nosso repertório de angústias. E

quanto aos lenços de papel, não se enganem. Eles não

estão ali para o caso de estarmos gripados. Tampouco ser-

vem para se tirar a maquiagem enquanto reclamamos so-

bre nossos chefes e nossos pais. Eles foram plantados ali

para enxugarem nossas lágrimas. Sim, em algum momen-

to, no meio da tarde de um dia de semana, vamos chorar

diante daquele estranho. (Ao menos esta é a fantasia dele.)

E podem apostar que efetivamente vamos chorar, nem

que seja na hora de fazer o cheque mensal de seus hono-

rários. E você nem tinha reparado na caixinha de lenços?

Ou pior: seu terapeuta ainda não tomou esta providên-

cia? Pois em março, solicite a sua. Em contraposição ao

relógio, ela é a parte que lhe favorece. Quanto aos

lencinhos usados, seja educado e lembre do que apren-

demos com Celia Ribeiro: não havendo cestinha de lixo,

leve-os com você. Assim estará retribuindo a etiqueta do

relógio, e se não for por esta razão, tenho argumentos

mais fortes: deixá-los será um ato falho, passivo de inter-

pretação. E se bobear, lá se vão mais dois anos de análise

para cada lencinho deixado para trás.

R U Z A A M O N

RUZA AMON É JORNALISTA

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Perfil

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Page 69: Revista Estilo 36

TANGOS,

TRAGÉDIAS

E OUTRAS

HISTÓRIAS

HIPERBÓLICOS, HISTRIÔNICOS, ROCAMBOLESCOS, LÉPIDOS E FA-

CEIROS. ASSIM SÃO O MAESTRO PLETSKAIA E O VIOLINISTA KRAU-

NUS SANG, PERSONAGENS – OU SERIAM ALTEREGOS? – DE NICO

NICOLAIEWSKY E HIQUE GOMEZ. VALE DIZER QUE NICO E HIQUE

SÃO MAIS CONTIDOS E MENOS CARETEIROS DO QUE OS PERSO-

NAGENS QUE ASSUMEM NO ESPETÁCULO TANGOS E TRAGÉDIAS,

MAS NÃO MENOS CARISMÁTICOS DO QUE ELES. HÁ MAIS DE VIN-

TE ANOS, OS DOIS LOTAM AS PLATÉIAS DE PORTO ALEGRE E

LEVAM O PESSOAL AO TRANSE COM SUAS MÚSICAS CARREGA-

DAS DE DRAMATICIDADE CÔMICA. NO APARTAMENTO DE NICO,

EM UM AMBIENTE QUE PARECE QUERER CONTRASTAR COM O

FIGURINO MONOCROMÁTICO DO TANGOS E TRAGÉDIAS, CONVER-

SEI COM A DUPLA DE ARTISTAS QUE, COM O PERDÃO DO TROCA-

DILHO QUE ELES MESMOS CRIARAM, SÃO MAIS DO QUE ÍCONE:

SÃO NÍCONE E HÍQUEONE.

P O R P A U L A T A I T E L B A U M

F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O

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Perfil

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QUANDO O HIQUE COMEÇOU A AFINAR MUITO,

NA VERDADE EU COMECEI A ESTRANHAR

NICO E HIQUE SÃO APELIDOS. QUAIS OS NOMES DE VOCÊS?

NICO: Meu nome de batismo é Nelson, e o Nico é umapelido da adolescência vindo do Nicolaiewsky.

HIQUE: Luiz Henrique Gomes. Meu apelido de infânciaera Ike, mas eu mudei para Hique porque eu queria ser maisbrasileiro. Depois do Tangos e Tragédias eu me descobri muitoespanhol dentro do Brasil, e o z no Gomez fica mais diferente.Eu adorava o Gomez da família Adams, minha mulher é meioMortícia, morena de cabelos compridos, e adora humor ne-gro. Eu acho que fiz o Kraunus Sang para conquistá-la, sabe...depois eu adoro o Zorro... e o meu herói musical é o Zappa.

QUANDO VOCÊS SE CONHECERAM?

NICO: Em 80, 80 e poucos... eu tava com o Saracura...(aqui eles discordam, Hique diz que foi no fim da década de70, Nico diz que não... eu digo que não importa e Nicocontinua...).

Nessa época, cada um tocava na sua banda, mas semnenhum contato tête-à-tête. Aí, dentro da minha memó-ria, nos encontramos uma vez numa praia em Santa Cata-rina e nós passamos a noite tocando. Só anos depois é quenos encontramos de novo, por acaso, eu tava a fim de fazercoisas novas, tava saindo do Saracura, conversamos e re-solvemos fazer alguma coisa juntos, o Hique tava come-çando a estudar violino. E aí começamos a nos encontrarpra estudar.

MAS O QUE MAIS UNIU VOCÊS? AS DIFERENÇAS OU AS SEME-

LHANÇAS?

NICO: Primeiro as semelhanças, os dois estavam preci-sando de trabalho. Segundo, tinha uma oportunidade detocar num bar e o Hique tocava um instrumento, eu toca-va outro, a coisa somava.

HIQUE: E a gente se divertiu, começamos descompro-missadamente. Eu ficava meio inseguro: “Ah, esse violinoque eu tô tocando não tá muito afinado, aí eu digo pô, mastá bom isso aqui, tá bacana”. O Nico já tocava O Ébrio noSaracura e aí a gente começou a tocar... Eu jamais tocariaO Ébrio... Eu achava interessante porque sempre tive inte-resse por história da música, meu pai era percussionista,então ele promovia muitos saraus em casa, sempre trazia

muita música antiga. Mas O Ébrio não era um tipo de mú-sica que meu pai tocava, era mais samba e tal, e aí o Nicocomeçou a tocar O Ébrio e vamos lá...

E OS PERSONAGENS FORAM NASCENDO NATURALMENTE?

HIQUE: Pois então, a gente tocava O Ébrio, e o Nicotinha mais umas músicas do Vicente Celestino. Daí come-çamos a procurar um jeito de interpretar essas músicas evieram os personagens.

NICO: E sendo personagens podia desafinar, não tinhaproblema. Tanto que, anos depois, quando o Hique come-çou a afinar muito, na verdade eu comecei a estranhar. É amesma coisa, por exemplo, quando tu escuta o Vander(Wildner) cantando. Daqui a pouco o Vander aparece su-perafinado com uma voz bonitinha, tu diz: “Epa, tem umlance aqui que não tá...”.

HIQUE: E tinha um negócio integrado...

OS DOIS SÃO MEIO ATORES, NÉ?

NICO: Eu gostava de teatro, sempre gostei, mas nuncatinha atuado. Quando a gente começou o Tangos e Tragé-dias, nenhum dos dois tinha feito nada. Eu me lembro queàs vezes eu sugeria uma atuação e o pessoal dizia: “Nãoenche o saco com esse lance de teatro”. E o Hique embar-cou na história, entrou na brincadeira.

HIQUE: No nosso caso, veio muito naturalmente essacoisa dos personagens, começou a fechar, fechar, fechar... epum, fechou. Logo que nós começamos o Tangos e Tragé-dias, o Dilmar Messias me convidou pra fazer uma peçacom ele, o que, para mim, foi a minha formação de ator.

E A HISTÓRIA TODA DOS PERSONAGENS. DA SBÓRNIA E TAL,

VEIO DEPOIS?

NICO: Foi ao longo dos anos. Primeiro nasceram os per-sonagens e depois veio a história. Os próprios personagens,no início, não tinham uma definição. Tinham uma roupa.O nome, na verdade, foi na estréia.

AH É?

NICO: É. O Hique diz que foi antes, mas na verdadenão foi.

Estilo Zaffari 75

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COM DEZOITO ANOS, EU RESOLVI QUE NÃO IRIA

FAZER FACULDADE, QUE EU IRIA SER MÚSICO

Perfil

HIQUE: É que nós temos duas memórias, entendeu? Ea gente respeita isso.

NICO: Pra mim, o nome foi dado nos corredores do IAB,onde a gente tava. Não tinha camarim, a gente tava nocorredor, sentados na escada, esperando pra entrar, quan-do se deu conta de que podiam ser os nomes aqueles. Mas oHique tem uma outra história.

HIQUE: Eu acho que foi na casa da mãe do Nico, nacozinha. Eu me lembro claramente que a gente tava ensai-ando e ensaiando uma música do Chaplin que eu trouxepra gente colocar uma letra. E daí eu disse: “Pô, vamos can-tar aquela música, vamos inventar uma letra”. E começa-mos a inventar, daí eu inventei uma parte da música, eleinventou a outra e tinha uma parte que era assim: “Pletskayae Kraunus Sangue, Desesperovna Schissell, Pobrovna mãematerna, Klicson Wander Boi Tatá...”. Que não quer dizernada, mas quer dizer tudo, contém uma sinopse...

NICO: É pela sonoridade, uma sonoridade meio iídiche...HIQUE: Pobrovna mãe materna é a história do coração

materno, que era capa do CD, então tinha aquela expres-são ali, Pletskaia e Kraunus Sang...

NICO: A gente criou a capa do CD cinco anos depois,ele inverteu um pouco o tempo...

HIQUE: O que eu tô dizendo é que essa imagem é tãoimportante... bom, mas o que eu tava falando? Ah, daí nacasa da mãe dele pintou essa coisa: “Vamos fazer persona-gens, cara!”. Eu sou o Kraunus Sang. Daí o Nico falou (Hi-que fala meio contido, sem ânimo): “Tá, eu sou o Pletskaia”(risos). Mas ele diz que foi depois lá no IAB.

NICO: Foi o que aconteceu... Mas a gente nunca sabe oque é real e o que é imaginário...

HIQUE: A estréia no IAB é que foi superlegal, a gente sedivertiu muito, tinha bastante gente...

NICO: Lotou!HIQUE: Vieram parabenizar com muita ênfase. Eu não

tinha a menor noção da qualidade, porque a gente tavamais se divertindo... Não quero dizer que eu tava totalmentedescompromissado, porque depois a gente decidiu que iaser assim, um tipo de performance... toda essa estética dopreto-e-branco que a gente assumiu vem de uma memóriado Vicente Celestino. E tudo ligado ao cinema preto-e-bran-

co, a obra do Chaplin, que pra mim é uma referência dearte muito forte.

TU ESTÁS CADA VEZ MAIS ENVOLVIDO COM CINEMA... INCLUSI-

VE FIZESTE UM FILME EM QUE A NETA DO CHAPLIN É A PRO-

DUTORA...

HIQUE: Na verdade, ela assinou como produtora pro fil-me entrar no pacote da família. “A Festa de Margareth” é otítulo. É um tributo ao Chaplin.

TÁ NO CIRCUITO COMERCIAL?

HIQUE: Já foi lançado em DVD nos Estados Unidos eele entrou no MoMA... Aqui, já passou, mas passa assim,uma semana, duas semanas.

HOJE, COMO É QUE VOCÊS SE DEFINEM? ARTISTAS?

NICO: Eu me considero uma personalidade. (risos)

FALA MAIS SOBRE ISSO.

NICO: É brincadeira... Na verdade eu me considero umNícone mesmo...

HIQUE: É o Nícone e o Híqueone...

VOCÊS PENSAVAM ISSO? QUE CHEGARIAM ONDE CHEGARAM?

NICO: Com dezoito anos, quando eu resolvi que eu nãoia fazer faculdade, que eu ia ser músico, eu pensei: querofazer uma banda e quero fazer desenho animado. Duas coi-sas que eu pensava que eu queria fazer. Ou seja, eu já tinhaa idéia de não ser uma coisa só. Na verdade, eu tô longe deser um músico com as características de um músico. Eu te-nho uma visão, eu vejo a música como uma forma de...

HIQUE: Expressão...NICO: Eu ia dizer de expressão, mas isso não define... é

algo muito mais aberto... uma tentativa com a música deexprimir uma coisa que eu já sei que é maior do que a mú-sica... Eu estudava piano clássico, eu era músico, mas issonão me fazia a cabeça totalmente...

QUAIS SÃO OS SIGNOS DE VOCÊS?

HIQUE: Eu sou Áries, com ascendente em Touro e luaem Sagitário.

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Perfil

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AQUELA CARGA PERFORMÁTICA DOS ANOS 70

É A MAIOR ESCOLA. MUTANTES, POR EXEMPLO

NICO: Eu sou Gêmeos, ascendente em Gêmeos, lua emEscorpião.

TÁ, E TU, HIQUE, IMAGINAVAS QUE UM DIA SERIAS ATOR?

HIQUE: Não... Quando eu nasci, o meu pai era jogadordo Grêmio, já tinha jogado no Renner. Então, quando eutinha onze anos, eu queria ser jogador de futebol. Mas daímeu pai falou: “Hoje vai vir um professor de violão aqui e tuvais começar a ter aula”. E eu: “Pô! Aula, cara, de violão? Eusou jogador!”. Daí começou a ir o professor lá e eu na pri-meira aula fiquei desbundado com a música. O professor eradelegado de polícia e meu pai chegava depois da aula. E daíeles ficavam até uma parte da noite tocando, os dois ali, meupai na percussão. Depois meu pai foi trabalhar na Caixa Eco-nômica Federal e a gente se mudou pra Soledade. Lá, quan-do eu tinha quinze anos, virei profissional, porque eu entreinuma banda de baile, tinha que ter carteirinha profissional,meu pai teve que assinar autorização...

MAS SEM NENHUMA INTERPRETAÇÃO, EXPRESSÃO?

HIQUE: Não, não, completamente tocado pela música esó... Pra mim, aquela carga performática dos anos 70 é amaior escola. Mutantes, por exemplo. Rita Lee... O primei-ro show de rock que eu vi na minha vida foi da Rita Lee. Eufugi de Soledade, meus pais não queriam que eu viesse, aíeu fui pra estrada, peguei carona.

QUANTOS ANOS TU TINHAS?

HIQUE: Antes de ser profissional... Uns 14, eu acho...Vim ver o show da Rita Lee. Fiquei enlouquecido... Era in-crível o show, era incrível.

JÁ FALOU ISSO PRA ELA?

HIQUE: Já, já... Ela pra mim é uma referência de arte, per-formance e anarquia. E isso tinha na minha casa também,anarquia e música, brincadeiras... Depois que eu encontrei oNico, a gente começou a tocar e eu me expus pelo lado doviolino. O que eu queria ser, antes de encontrar o Nico, eramúsico arranjador de orquestra. Tava começando a escreverarranjos. E aí, quando eu encontrei o Nico, isso tudo desan-dou, totalmente... Mas agora, nos últimos tempos, eu tenho

feito concertos em orquestras e tenho misturado essas duascoisas, os personagens com os arranjos.

O QUE VOCÊS GOSTARIAM DE FAZER QUE NÃO FIZERAM AINDA?

PROFISSIONALMENTE.

HIQUE: Pra mim é muito claro que o desenvolvimentodo Tangos e Tragédias trouxe um desenvolvimento pessoale profissional muito grande. Aquele lado de compositoresficou em segundo plano, porque o palco passou a ser o nos-so ganha-pão, subsistência. Então a gente passou a investirmuito no palco, nas performances do Tangos e Tragédias edeixamos de gravar e de compor as nossas próprias músi-cas. Pra mim, pelo menos, começou a ficar um problemater que abrir mão da criatividade e ter que negociar contra-tos com gravadoras. Porque a gente não depende de abso-lutamente nada, não depende de lançar disco, inclusive nãodependemos de patrocinador. A gente conseguiu públicosuficiente pra nossa caminhada independente... Então, gos-taria de lançar mais discos, compor mais...

NICO: Eu tenho muitas vontades, vontades demais,idéias demais, na verdade, e aí vão sendo selecionadas essasidéias e vai acontecendo. Mas realmente não sei o que euvou acabar fazendo na vida. Muitas coisas estão aconte-cendo, várias coisas bacanas, inclusive esse show que eu tôfazendo agora, de canções, num bar, que era uma idéia, umprojeto que eu queria tocar mais próximo das pessoas. Masessa mistura de animação e música é uma coisa que eu gos-taria de fazer. Adoraria participar do próximo “A noiva ca-dáver” (filme de Tim Burton).

HIQUE: Uma coisa que eu tenho muita vontade de fazeré produzir outros artistas. Porque quando eu entro em con-tato com o trabalho de um artista, eu sei do potencial dele,eu sinto e sei que eu posso fazer alguma coisa, formataralgo e botar ele na estrada.

VOCÊS TÊM ALGUMA IDÉIA TIPO “VAMOS FAZER O TANGOS MAIS

CINCO ANOS E VAMOS PARAR”?

NICO: Tem uma coisa que é o tônus da idade. Por exemplo,eu fui ver um espetáculo do Marcel Marceau, grande mímico,maravilhoso, a turnê de despedida, ele tava com 70 e poucosanos, sei lá... Na verdade, achei muito triste, porque ele já não

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O NICO NÃO GOSTA DE COMER NADA ANTES DO

SHOW, MAS EU GOSTO DE COMER SANDUÍCHE

Perfil

tinha a energia necessária pra fazer, não tinha o tônus muscu-

lar. E daí eu disse: “Eu não quero fazer o Tangos e Tragédias até

isso”. Enquanto tiver fazendo e tiver uma energia, não for aque-

la “coisa antiguinha que se repete”, vamos fazendo...

VOCÊS JÁ PENSARAM EM MORAR FORA?

NICO: Eu morei dez anos no Rio e tenho muita vontade

de morar em Barcelona ou Madri, morar na Espanha, ficar

um tempo lá estudando e fazendo coisas...

HIQUE: Depois dessa experiência do filme Festa de Mar-

gareth lá em Nova Yorque, com uma aceitação absurda,

chegar lá com expectativa zero e ter um retorno tão fantás-

tico das pessoas, pô, entrou no acervo do MoMA, Museu

de Arte Moderna, fez uma excursão pelos Estados Unidos,

foi o único filme da América do Sul no Tridex Film Festi-

val, que o De Niro e o Scorcese organizaram, depois foi pra

Paris... Então, depois de conhecer pessoas lá e ver possibili-

dades de trabalho, ver que não é um mundo tão alienígena,

eu penso, em algum momento, em morar por um tempo

nos Estados Unidos.

VOCÊS JÁ APRESENTARAM O TANGOS FORA DO BRASIL...

NICO: Nós temos ele todo em espanhol. A gente apre-

sentou em Buenos Aires, Colômbia, Equador, Espanha...

ALGUMA DIFERENÇA?

NICO: Igual. Em espanhol ele fica muito bem. Têm coi-

sas que ficam melhores do que em português. Aquele dra-

malhão...

O QUE NUNCA FALTA NA GELADEIRA DE VOCÊS? O HIQUE É

VEGETARIANO. E O NICO, É CARNÍVORO?

NICO: Sou! Sou supercarnívoro. Sou carnívoro, assim,

de carteirinha. Me faz muito bem. Quando eu tô meio mal

do estômago eu preciso de um bifão mal passado e aí ajei-

ta... E faço churrasco. Churrasco de forno, né? Sou gaúcho

de apartamento... Faço uma picanha do forno bárbara.

Agora o que nunca falta na minha geladeira é Manteiga

Aviação.

HIQUE: Eu sou vegetariano e quando eu tô na estrada eu

sofro um pouco... E na minha geladeira nunca falta rúcula.

VOCÊ NÃO COME NEM PEIXE?

HIQUE: Eu passei muitos anos sem comer peixe. Faz uns

três anos que eu voltei e agora como uma vez por mês. Na

estrada eu me adapto, mas em casa, pô, em casa é excepci-

onal, a comida é feita pela minha mulher, que também é

vegetariana...

E O QUE NUNCA FALTA NO CAMARIM DE VOCÊS?

NICO: O que nunca falta no camarim é água, conha-

que...

HIQUE: No do Pletskaia!

NICO: Sim, eu tô falando do meu camarim. Água, co-

nhaque e espelho.

HIQUE: Pra mim, nos últimos anos, não falta spray for-

te. Nosso camarim é muito simples... E sanduíche integral.

Eu gosto de comer antes do show. O Nico não gosta de

comer nada antes do show, mas eu gosto de comer sanduí-

che.

E SE VOCÊS PUDESSEM FAZER QUALQUER EXIGÊNCIA DO MUN-

DO NO CAMARIM?

HIQUE: A gente poderia fazer algumas exigências... Ter

champanhe. De vez em quando tem, mas não é uma coisa

que a gente exija.

NICO: Chimarrão de vez em quando tem, é uma coisa

de que eu gosto...

UM PEDIDO PARA 2006. PODE PEDIR QUALQUER COISA. SEU

DESEJO SE REALIZARÁ...

HIQUE: Eu queria pedir para que aquelas pessoas que

têm responsabilidade sobre o meio ambiente, as grandes

indústrias, que pensem e pensem muitas vezes sobre qual é

o impacto que isso vai ter sobre o nosso futuro. Acho que

não importa o nível de sucesso que a pessoa tenha, sempre

tem um negócio muito profundo sobre o estar vivo. Qual-

quer ação, pequena que seja, de qualquer pessoa, separar o

lixo em casa, uma coisinha pequenina... mas de coisinha

pequenina em coisinha pequenina a gente consegue muita

coisa.

NICO: Pra 2006, eu queria o fim da miséria, o fim da

pobreza.

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Assim, ó...

O glamour é quase um caso de educação pública

Não faz muito veio a público um debate interessante, pro-

tagonizado pelo publicitário Miltinho Talaveira e potencializa-

do pela Martha Medeiros. Apareceu quase em forma de pala-

vra de ordem: “É preciso glamorizar nosso litoral”, bradou o

Miltinho; e a Martha, apoiando a idéia, deu seu depoimento,

evocando o exemplo de Punta del Este como modelo de praia

que valoriza as coisas bonitas. (Estou grafando “glamorizar”, que

é a forma registrada no melhor dicionário do português brasilei-

ro de nossos dias, o Houaiss.) Claro que, como toda conversa

pública, também esta correu o risco da incompreensão. Teve

gente que tomou como uma ofensa pessoal a restrição às nossas

praias; mas também teve gente, como eu, que vibrou com a

possibilidade de ver um atrito intelectual produzir luz.

É evidente que há vários fatores a ponderar, como bem

sabem o Miltinho e a Martha. Tem o problema puro e simples da

renda média das pessoas que vão a Punta ou a uma das praias

próximas das grandes cidades gaúchas. Tem também o problema

da educação, que não tem relação tão direta assim com a renda,

porque muita gente que faz todas as refeições com a melhor co-

mida e estuda em colégios muito bem pagos acaba praticando

indelicadezas de todo tamanho, a começar pelo barulho que não

deixa a vizinhança dormir e a terminar, talvez, pelos cachorros

perigosos que andam sem a devida proteção. Tem também o as-

pecto físico das praias gaúchas, que em média dispõem de uma

linha reta, sem outra atração na beira-mar, em contraste com o

litoral recortado, sinuoso e acolhedor de Santa Catarina e tam-

bém de Punta. (Mas tem também o fato de que nós aproveitamos

muitíssimo mal outras maravilhas locais, como as lagoas.)

Outros lados do problema poderiam vir à tona, na mesma

conversa. Um deles é o seguinte: estamos falando do destino dos

espaços públicos, espaços que compartilhamos com todo mun-

do. Que um sujeito queira pintar o interior de sua casa com cores

horríveis e deixá-lo sujo, problema dele, em princípio; mas que

ele deixe a calçada dele suja ou pintada de cor insuportável, pro-

blema de todo mundo. O que diremos, então, de espaços como

prédios públicos, ou aquilo que os urbanistas chamam de mobili-

ário urbano (postes, hidrantes, bancos, sei lá mais o quê), ou as

praças? O Miltinho e a Martha, como eu e creio que todo mundo

de bem, estão clamando por beleza. Beleza para todos.

O que talvez o leitor não saiba é que glamour (ou glamor,

na escrita norte-americana) veio de grammar, que é “gramáti-

ca” em inglês. No século 18, os escoceses adotaram a palavra,

grafando glamer. Ou por ser a gramática uma ciência erudita e

misteriosa para o povo, ou por haver uma associação entre apren-

dizado em geral e o aprendizado da feitiçaria, a palavra glamer

passou a significar “feitiçaria”. Daí teria vindo o sentido do gla-

mour como feitiçaria, só que ligada ao apelo sexual, ou ao en-

canto, ao magnetismo pessoal, charme, sensualidade. Para nós,

no Brasil, o termo teve uma escala na França, onde se diz “gla-

MURR”, com “r” na garganta e acento na última sílaba, ao pas-

so que em inglês se diz “GLÉ-mâr”, tônica na primeira.

Por mim, então, glamorizar é civilizar, retomando um sig-

nificado que ficou lá atrás, ligado à gramática, no sentido de um

código de regras com validade geral. É um caso, daria pra dizer,

de educação pública, a mesma que eu sinceramente gostaria

que fosse universal e de qualidade para todos, de tal forma que

a glamorização fosse acompanhada do fim dos feios e incom-

preensíveis grafitos, aquela sujeira pintada em público mas para

ser compreendida apenas por uns poucos, numa contradição

irritante.

L U Í S A U G U S T O F I S C H E R

LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR

GLAMORIZAR É CIVILIZAR

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