Revista Estilo 36
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10
P R Ê M I O G A Ú C H O
D E E X C E L Ê N C I A G R Á F I C A
A B I G R A F 2 0 0 5
Ano 8 N0
36 R$ 4,50
Delícia!
4
VIAGEM:
ASPEN FERVE
ABAIXO
DE ZERO
DESIGNERS
GAÚCHOS:
UM TIME
DE PRIMEIRA
CHEFS GAÚCHOS
E SUAS RECEITAS
PREDILETAS
84640_capa36.p65 1/25/06, 8:55 PM2
N O T A D O E D I T O R
A gente roda o mundo inteiro, vai pra lá e pra cá, aprecia lugares, paisagens e pessoas do Ocidente e do Oriente,
do Sul e do Norte. Viajar é uma delícia, conhecer culturas diferentes é fascinante. Quem não gosta de sair de casa e
bater perna mundo afora?
Aqui na Estilo Zaffari não é diferente. O tempo inteiro, estamos de olho no que acontece fora das nossas
fronteiras, viajando ou mesmo registrando a distância as tantas maravilhas do Brasil e do mundo. Mas o engraçado é
que o Rio Grande do Sul não sai do nosso coração e das nossas cabeças.
Na verdade, quase todo gaúcho é assim, tem um amor meio incondicional pela sua terra. Por isso resolvemos
fazer desta primeira edição de 2006 uma revista bem gaúcha. E ela ficou uma beleza...
Pra começar, convidamos quatro chefs locais, gente que nasceu e trabalha aqui no Rio Grande, para mostrar a
nossos leitores suas receitas prediletas. Os pratos são lindos e deliciosos, mas as histórias de vida desses personagens
são ainda mais saborosas. Não perca.
Depois, selecionamos um time de designers gaúchos e montamos uma grande matéria, mostrando trabalhos
recentes de cada um deles e contando um pouco de suas trajetórias profissionais. Você verá que temos um plantel de
primeiríssima, que faz sucesso por aqui – ainda bem que sabemos reconhecer nossos talentos! – mas também arrasa
fora do Rio Grande do Sul e mesmo fora do país.
Até na seção Lugar apresentamos um ambiente da terra. Fomos a São Francisco de Paula conhecer a Pousada
do Engenho, que tem charme, natureza, personalidade e, sobretudo, o mérito de ter criado um dos mais interessantes
projetos culturais do Estado: o Mesa de Cinema. Se você ainda não conhece, leia a matéria de Daniel Martins e já se
agende para participar dos eventos de 2006. É um programa e tanto.
A revista finaliza com dois gaúchos geniais que divertem as nossas mentes e habitam o nosso coração. Como
não ter um sentimento de intenso carinho por Klaunus e Pletskaia, ou Hique e Nico, ou Tangos e Tragédias? Hique
Gomes e Nico Nicolaiewsky são parte da história porto-alegrense. Já não podemos viver sem eles. E é por isso que a
cada janeiro começa uma nova temporada do espetáculo que está em cartaz há mais de 20 anos. Coisa de gaúcho.
Mas, pra não sermos acusados de bairristas, e também porque o lugar é maravilhoso, lindo, cheio de glamour
(e glamour anda na moda aqui pelos pampas...), colocamos nesta edição uma extensa e completa matéria sobre
Aspen, a mais famosa estação de esqui das Américas. Se por aqui estamos derretendo a 40 graus, por lá faz um frio
de congelar os miolos. Mas é alta temporada, e Aspen nesta época ferve. Então, tem tudo a ver conosco! Boa leitura!
Gauchismos
OS EDITORES
84640_nota do editor.p65 1/24/06, 11:54 PM5
Correio
PAULISTA QUASE GAÚCHA
Olá, Izabella.
Sou paulistana e estou vivendo na ponte aé-
rea (São Paulo–Porto Alegre), pois meu marido
foi transferido para Porto Alegre para um projeto
de dois anos. Estou te escrevendo para
parabenizá-la por seu excelente trabalho nas re-
vistas Zaffari. Tem sido prazeroso conhecer as
cafeterias aconchegantes de Porto Alegre e rela-
xar lendo as revistas Zaffari, pela boa culinária
gaúcha, pelas dicas de viagem, pela paisagem e
qualidade das revistas. Me diverti muito ao ler e
entender na pele as diferenças das paulistanas e
das gaúchas no artigo “Estrangeirismos” da pu-
blicitária Tetê Pacheco. Obrigada por proporcio-
nar através das revistas momentos agradáveis.
Sinto que vocês estão conseguindo passar para o
leitor o que queriam. Well done! Abraços, bom
trabalho.
P.S.: Particularmente gostei das revistas
que vi do ano de 2003, se você puder conse-
guir os exemplares dos números 18, 19, 20 e 21
do ano de 2003 eu ficarei muito grata. Desde
já agradeço.
LUCIANA FERNANDES SORIA – SÃO PAULO
Se estamos proporcionando momentosagradáveis aos leitores de nossa revista,então estamos concretizando nosso objeti-vo. E saber disso pelo testemunho dos pró-prios leitores é ótimo, Luciana! Muitíssi-mo obrigada pelos elogios. Continue nosprestigiando, seja em Porto Alegre ou emSão Paulo, ok? Quanto às revistas maisantigas, vamos ver se é possível consegui-las pra você, pois muitas dessas edições jáestão esgotadas. Mas aguarde o contatoda nossa equipe de atendimento, ok? Pelomenos algum dos exemplares deve ser pos-sível enviar a você. Um grande abraço eobrigada novamente!
ENCANTADORA NINA
Prezados:
Somos leitores assíduos, eu e minha esposa
Nêmora, dessa maravilhosa revista. Falar sobre
ela e tecer elogios consideramos uma redundân-
cia. Tanto a qualidade das matérias quanto a qua-
lidade gráfica são impressionantes. É uma leitura
agradável, leve, que apenas soma ao nosso dia-a-
dia. Na edição nº 34, porém, vocês se superaram.
A capa, com a magnífica Nina, está indescritível,
tamanha beleza de cores, formas e, em especial,
a expressão cândida da “modelo”. Parabéns, pa-
rabéns e parabéns a vocês e, em especial, à fotó-
grafa Letícia Remião!!!
ROGÉRIO CÓCARO E NÊMORA MENDES
A Nina encantou todos nós também.E o trabalho da fotógrafa Letícia Remiãosem dúvida foi determinante para o resul-tado final daquela edição que, por sinal, jáficou na História: nunca recebemos tan-tos elogios por uma capa da Estilo! Obri-gado pelo carinho e abraços para o casal.
SATISFAZENDO DESEJOS
Olá, estou escrevendo pra vocês com o obje-
tivo de lhes dizer o quanto admiro o trabalho
maravilhoso dessa equipe de profissionais, que
sem dúvida deu muito certo. A revista é linda,
sempre com matérias interessantes, fotos e recei-
tas... de vida e de culinária; todas feitas ao al-
cance de nossos desejos...
Sucesso pra vocês. Abraços.
LINA – THEATRO SÃO PEDRO
PORTO ALEGRE
Obrigada, Lina! Que bom saber queestamos correspondendo aos desejos dosnossos leitores. Um superabraço pra você!
84640_cartas.p65 1/25/06, 8:16 PM6
COLECIONADORA
Olá, sou leitora fascinada pela revista Estilo
Zaffari, desde o primeiro número. Mas falta-me
uma edição para completar a minha coleção: a
de número 22! Agradeceria se pudessem enviar-
me. Agradeço novamente a atenção.
MARIA ANGELA DA ROCHA – PORTO ALEGRE
Maria Angela, não podemos deixar umaleitora tão querida com lacunas em sua co-leção da Estilo! Assim, aguarde contato danossa equipe, pois vamos verificar se aindahá exemplares desta edição em estoque eentão enviaremos a revista ao seu endere-ço, ok? Um grande abraço e obrigado!
Prezada Márcia, a edição 18 circulouem 2002 e praticamente já não temos es-toque desses números mais antigos. Masaguarde contato da nossa equipe de aten-dimento, pois vamos tentar localizar umexemplar para você, ok? Um abração!
Cristina, nenhum elogio pode ser me-lhor para um repórter do que esse que vocêacaba de fazer à Cris Berger. E nós, daEstilo Zaffari, também nos sentimos ex-tremamente orgulhosos das suas palavras.Afinal, somos os “descobridores” da Cris:ela começou aqui nas nossas páginas estamaravilhosa carreira de repórter de via-gens. E agora anda circulando mundoafora, sem fronteiras, trazendo na baga-gem lindas matérias. Parabéns pra ela eobrigado por este seu e-mail tão gentil.Abraços!
PARABÉNS PARA A CRIS
Oi, Cris.
Sinceramente, mesmo que não quisesse, te-
nho que te falar. Nunca ouvi nem ouvi, nesses 14
anos de existência da Ilha do Papagaio, qualquer
repórter que soubesse escrever e descrever o espí-
rito de nossa pousada tão profundamente como
você na matéria da revista Estilo Zaffari. Fico muito
feliz, pois agora tenho certeza de que soubeste
desfrutar bem como sentiste a verdadeira magia
deste lugar. Teu texto nos chegou como poesia
descrevendo com exatidão nosso paraíso.
Beijos,
BETY E RENATO – ILHA DO PAPAGAIO/SC
Bety e Renato, é uma honra receber umamensagem como essa de vocês. A CrisBerger e nós, da Estilo Zaffari, ficamosmuito felizes com a enorme repercussãoque a matéria obteve, mas nada mais gra-tificante do que receber elogios assim vin-dos de quem foi o assunto da reportagem,não é? Parabéns a vocês por terem criadoum lugar tão especial, que tornou lindas aspáginas da Estilo. Um grande abraço!
NÚMEROS ANTIGOS
Bom dia!
Gostaria de saber se é possível conseguir a
revista Estilo Zaffari Ano 5 n º 18. Como devo
proceder? Obrigada.
MÁRCIA BERGALLO AYDOS
DICAS DA CRIS APROVADAS
Acompanho as reportagens de Cris Berger
há muito tempo e fico encantada com a riqueza
de detalhes com que descreve cada lugar por onde
passa. Adoro viajar e estive recentemente em
Fernando de Noronha. Porém, quando amigos
pedirem dicas de lá, apenas direi: leiam a reporta-
gem da Cris. Parabéns!
CRISTINA CORSETTI – FLORIANÓPOLIS/SC
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Coluna: Cotidiano
Cesta Básica
O Sabor e o Saber
Lugar: Pousada do Engenho
Perfil: Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky
Coluna: Gauchismos
10
11
42
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72
82
Í N D I C E
neve
Férias na
Aspen está abaixo de zero
e mesmo assim ferve. É a
alta temporada de esqui! 26
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JOVENS CHEFS GAÚCHOS
E SUAS RECEITAS PREDILETAS
18
4 Caroline Heckmann, Ricardo Teruchkin, Cristina
Strassburger e Marcelo Gonçalves revelam receitas
deliciosas e grandes planos para 2006
designMADE IN RS
Tuti Giorgi e Beto Salvi, Ilse Lang,
Heloísa Crocco, Ana Vazquez e Renato
Sólio, Débora Eichemberg, Tina e Lui
exportam design do Rio Grande do Sul
para o mundo. Conheça o brilhante
trabalho desses gaúchos
46
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Cotidiano
Pedido ao gênio da lâmpada: dois dias de férias para o cérebro
PARAR DE PENSAR
Você encontra uma lâmpada mágica no meio do deser-
to, dá uma esfregadinha, de dentro sai um gênio meio afeta-
do e ele concede a você a realização de um desejo. Humm...
Você pediria um segundinho pra pensar? Eu não pensaria
um segundo. Aliás, o meu desejo seria justamente este: por
bem mais que um segundo, digamos por dois dias, queria
parar de pensar. Parar totalmente de pensar. Ué, Saramago
escreveu sobre um lugar em que as pessoas paravam de mor-
rer. Salve a ficção, a casa de todos os delírios. Que tal, tem-
porariamente, parar de pensar?
Eu acordaria e não pensaria em nada. Sendo assim,
fatalmente voltaria a dormir, sem mais despertar às seis da
manhã pensando em mil tranqueiras e coisas a providen-
ciar. Mas parar de pensar não impede a fome, então uma
hora eu teria que levantar da cama e ir pra mesa – quem
decidiu o cardápio? Aleluia, eu é que não fui. Não penso
mais nessas coisas.
Abro o jornal, leio todas as matérias e não me ocor-
re nenhum pensamento tipo: “é pro bolso destes malan-
dros que vai meu imposto”, “não acredito que fizeram
isso com uma criança” ou “putz, como fui perder este
show?”. Eu não penso, portanto, não sofro.
Passo por um espelho e não dou a mínima para o que
vejo. Espinhas, olheiras, cabelo fora de moda, danem-se.
Moda, falei em moda? Era só o que me faltava ocupar
meu cérebro com essas trivialidades.
Tudo vazio lá dentro, um descampado, um silêncio,
o paraíso.
Você não pensa mais em como aumentar sua renda
mensal, em como fazer seus filhos comerem, em como ar-
ranjar tempo para deixar o carro na revisão, em como en-
contrar um lugar barato para passar as férias, em como
ajudar seus pais a atravessarem a velhice, em como não
ser indelicada ao recusar um convite, em como ter cora-
gem pra chutar o balde, em como responder a um e-mail
irritante, em como esconder dos outros suas dores de ca-
beça, em como arranjar tempo para ir ao médico, em como
você tem medo de que as coisas nunca mudem, e se mu-
darem, como enfrentar? Você não precisa pensar em mais
nada, você pediu ao gênio e ele, camarada, atendeu. Apro-
veite, são apenas dois dias.
Não precisa ter opinião sobre o José Dirceu, sobre a
crônica do Diogo Mainardi, sobre a reviravolta do clima
no planeta, sobre o último disco do Paul McCartney. Você
está de férias de você. Não tem motivo pra chorar. Seu
amor se foi, e você não pensa nada. Não precisa tomar
antidepressivo, não precisa passar creme anti-rugas. Por
dois dias, seu humor está neutro e suas rugas se foram.
Este seu olhar sereno, esta sua fala pausada... Nossa, como
você está sexy.
Tudo isso é uma viagem sem sentido. Concordo. Mas
algumas mulheres me entendem.
M A R T H A M E D E I R O S
MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA
10 Estilo Zaffari
84640_cotidiano.p65 1/25/06, 8:36 PM12
Cesta básica
O cinqüentenário do mais importante museu de
arte do Rio Grande do Sul certamente merece uma
grande comemoração. E com a data veio um belo
presente: o livro “MARGS 50 Anos” é uma
publicação em três volumes, que apresenta ao
público a história da instituição e sua produção
intelectual. O primeiro volume, intitulado
“Memórias do Museu”, retoma a trajetória do
MARGS por meio de histórias, testemunhos e
fotografias, com o depoimento de artistas,
intelectuais e ex-funcionários. No segundo livro –
“Selecta do Museu” –, o leitor encontra uma série
de entrevistas, críticas e ensaios publicados nos
veículos de comunicação do MARGS entre 1976 e
2003, uma verdadeira documentação do patrimônio
intelectual gerado pela casa. O último volume tem o
sugestivo título de “Memorias del Museo/Memories
of the Museum”, trazendo a tradução para o inglês
e o espanhol de sete artigos selecionados do
primeiro volume, que melhor representam o
trabalho desenvolvido pela instituição em prol da
cultura. Sem dúvida alguma, um grande
lançamento, para enobrecer qualquer biblioteca.
RAFAEL BECK, JORNALISTA
Presente à
altura da data
NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS
E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA
E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA,
LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS,
PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!
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84640_cestabasica.p65 1/25/06, 8:27 PM11
Nada mais justo que desfilar pela Calçada da Fama
e encontrar um restaurante chique até no nome.
Esse é o caso do Riverside’s Shikki Cafe, a nova
opção de gastronomia e lazer da capital. Instalado
na badalada Padre Chagas, o Shikki Cafe é dividido
em três ambientes internos e um deck, espalhados
ao longo de 600 metros quadrados. Com uma
cozinha “fusion” sofisticada, a casa oferece um
completo buffet de sushis especiais e pratos
diferenciados “à la carte”. Perfeito para
comemorações como formaturas e aniversários, o
Riverside’s Shikki Cafe conta ainda com Bistrô &
Lounge e com a presença de um DJ residente, que
agita os convidados nas noites de quinta, sexta e
sábado. O restaurante abre de terças a domingos
das 11h30 às 24h, e nas segundas-feiras, das 11h30
às 15h. Fica na Padre Chagas, 44, no bairro
Moinhos de Vento, fone (51) 3395.3885.
RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA
Mais uma opção
com estilo
Cesta básica
IDÉIAS, DETALHES, MIMOS,
ENCANTADORAS FIRULAS
As amigas Luciana Chwartzmann e Greice Antes se
inspiraram no universo da cozinha e criaram uma linha de
acessórios e objetos superoriginais. A Firula, nome da
empresa das gurias, cria pulseiras, colares, carteiras, bolsas,
porta-guardanapos e jogos americanos, sempre utilizando
materiais que fazem a gente lembrar da cozinha da vovó:
oleado com estampa de frutas e verduras, telas (como as das
sacolas de feira), crochê. “A idéia é levar a cozinha para a
rua”, diz Lu. Ela é publicitária e fez vários cursos para
dominar a modelagem de bolsas e acessórios. E a sócia Greice
tem formação em estilismo. As duas já estão comercializando
suas peças em várias lojas bárbaras de Porto Alegre, em São
Paulo e em Santa Catarina. Para saber mais, entre em contato
MILENE LEAL, JORNALISTA
FOTO: ANDRÉ NERY
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84640_cestabasica.p65 1/25/06, 7:01 PM12
Hehehe, só de pensar nesse livro já fico sorrindo à
toa. Que sensacional idéia teve a autora Mônica
Varella (que é fotógrafa e escritora). Ela criou um
guia para quem gosta de receber amigos em casa, mas
não conta com uma superinfra de empregados,
objetos, cozinheiros, espaço, utensílios, grana.
Preencheu páginas e páginas com idéias simples e
bonitas, capazes de transformar qualquer
reuniãozinha em um evento único e inesquecível.
Tem dicas pra tudo: arrumação da casa, decoração da
mesa, acomodação das bebidas, o que servir, como
servir... Conselhos superpráticos e outros
superlúdicos, especiais pra quem gosta de receber
com criatividade, pra fazer a diferença e ser lembrado,
sabe como é? Se tudo isso já não fosse ótimo, o livro
ainda é lindo, bem editado, com belas fotos. Eu já
adotei como bíblia lá em casa.
Editora Mille FEditora Mille FEditora Mille FEditora Mille FEditora Mille Foglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.oglie, 135 páginas.
MILENE LEAL, JORNALISTA
Curtas para curtir
RECEBENDO SEM STRESS:
A BÍBLIA DOS ANFITRIÕES
Sabe aquele curta do Jorge Furtado que você viu uma
vez e queria ver de novo? E aquele do Carlos Gerbase
que você ouviu falar, mas nunca teve oportunidade de
assistir? Ou ainda aquele da Ana Luiza Azevedo que
você leu a respeito? Pois agora chegou a hora de ver e
rever todos “aqueles” e muitos outros curtas dirigidos
pelos nossos célebres cineastas. A Casa de Cinema de
Porto Alegre lançou uma caixa com quatro DVDs que
somam 38 curtas de ficção, documentários e especiais
para a TV. A coleção traz os trabalhos de Furtado,
Gerbase e Ana Luiza, além de outros diretores
gaúchos convidados. As primeiras 1.000 unidades
vêm com um DVD extra com Anchietanos, episódio
da série Comédias da Vida Privada, e Meia Encarnada
Dura de Sangue, episódio da série Brava Gente.
Curtas da Casa, como é chamada a caixa, é pra ter na
estante como um livro de arte. Prepare as almofadas,
convide os amigos e dê play na sessão nostalgia.
Porque rever O Dia em que Dorival Encarou a
Guarda, Deus-Ex-Machina e Barbosa já é um
programa e tanto.
PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA
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Dizem as más línguas que, se examinarmos com
cuidado o DNA de um gaúcho, é possível perceber
pequenas partículas de picanha e erva-mate. Pura
maldade, óbvio. Afinal, nem só de churrasco e
chimarrão vive um habitante dos pampas. Pois agora
os porto-alegrenses podem se deliciar com uma iguaria
típica do Nordeste brasileiro. Tudo graças ao Tapioca
do Brasil, inaugurado recentemente no Bourbon
Country. O diferencial do restaurante fica por conta da
adaptação da iguaria aos padrões do paladar gaúcho,
seguindo as características da “fusion cuisine”.
Tradicionalmente servido apenas com coco e leite
condensado, na Tapioca do Brasil o prato foi
“incrementado”, ganhando recheios doces e salgados.
Ao todo, são 22 opções, como frango, calabresa,
tomates secos e até mesmo “negrinho” com morango.
Para o almoço, a dica é a tapioca acompanhada de uma
salada da estação, e para a sobremesa, as deliciosas
tapiocas servidas com sorvetes e calda de frutas.
O cardápio ainda oferece 18 sabores de sucos naturais,
típicos da região Nordeste, como cupuaçu e pitanga.
O Tapioca do Brasil fica no 2º andar do Bourbon
Country e o telefone é (51) 3338.5010.
RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA
YES, NÓS TEMOS TAPIOCA!
Luiz Cintra tem uma longa experiência como chef,
apresentador de TV, dono de restaurante e consultor de
gastronomia nos seus 20 anos de trabalho em cozinha.
A originalidade de Um chef sem segredos está nas
receitas explicadas de forma acessível e didática, além
de sempre fazer referência à história de certos pratos,
aos hábitos alimentares dos brasileiros e de outros
povos. Para Luiz Cintra, a simplicidade e o prazer em
cozinhar são os ingredientes indispensáveis: “Não são
necessárias receitas sofisticadas para obter aplausos e
elogios, basta prepará-las com prazer e muito carinho,
na ocasião certa e para as pessoas certas”, afirma.
Um chef sem segredos também dá dicas sobre equipa-
mentos de cozinha, como escolher os melhores ingredi-
entes, além de explicar os vários métodos e técnicas de
cozimento, como saltear, deglaçar, flambar, etc.
Há também uma seção de curiosidades sobre vários
pratos e ingredientes, como esta, sobre o bolo de
aniversário: “Antigamente os povos rezavam ao redor
das chamas das fogueiras. Acreditavam que a fumaça
levasse seus pedidos e pensamentos até Deus, o que
deu origem à tradição da vela acesa e, no caso dos
aniversários, ao costume de tentar apagar as velinhas
do bolo com um sopro só, para que os desejos do
aniversariante sejam atendidos. Esta tradição
existe em quase todas as culturas”.
BEATRIZ GUIMARAES, JORNALISTA
Desvendando os
segredos do chef
UM CHEF SEM SEGREDOS,
DE LUIZ CINTRA,
ARTEMEIOS, SP, 2005.
À VENDA NA
LIVRARIA CULTURA
Cesta básica
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Consumo
Por um Natal mais alegre, leve e familiar
EMPREGO NOVO PARA O PAPAI NOEL
Hoje é 8 de janeiro e, há cerca de meia hora, eu
estava num shopping center paulista onde dezenas de
pessoas ainda faziam fila para visitar aquela decoração
temática que inventam no Natal. Repito. 8 de janeiro.
Decoração de Natal. Fila de gente.
Já acho estranho ter que explicar pras crianças por
que o Papai Noel do shopping chega dois meses antes
daquele outro que vai em casa deixar os presentes. Mas
explicar que já é 2006 e o Papai Noel continua batendo
ponto na frente das lojas, é meio demais.
Além disso, não é muito cinismo fazer o consumi-
dor gastar todo seu 13º em presentes de Natal para, logo
a seguir, ver os mesmos presentes custando a metade do
preço nas liquidações? No shopping que mencionei lá
em cima, quase todas as lojas já estão em liquidação. Com
descontos de até 70%!
Definitivamente, está na hora de deixarmos de ser
reféns do calendário promocional dos shoppings e do
varejo em geral. Eu pensei num como.
Em primeiro lugar, deixemos Jesus Cristo fora des-
sa fobia que se estabelece embaixo dos pinheirinhos en-
feitados.
No dia 25, poderíamos nos reunir apenas para ce-
lebrar. Comer, beber, reencontrar os amigos e os famili-
ares, sem stress de quem deu o quê para quem.
Descompromissadamente. Com a leveza e a alegria que
só são possíveis para quem não se matou na fila do
shopping horas antes da ceia. A tradição de comemorar
o nascimento de Jesus, esse profeta do bem, não faz sen-
tido com troca de pacotes, faz? Peraí. Mas ninguém ga-
nharia presentes???????
No meu plano, é aí que entram os Reis Magos – que
são uns presenteadores fantásticos e já têm até sua pró-
pria data: 6 de janeiro. Não faz todo sentido? No dia 6
tudo já está em liquidação, podemos comprar presentes
e mais presentes lindos pela metade do preço que eles
custam antes do dia 24.
Assim deixamos de lado esse cinismo maluco para
assumir nosso consumismo sem culpa nem disfarces. Dar
presentes no Dia de Reis, como forma de lembrar a tra-
dição que eles começaram levando mirra, ouro e incenso
para Jesus, nos redime.
Em alguns lugares já é assim. No Uruguai, por exem-
plo. No dia 6 de janeiro as portas das casas amanhecem
com feno e água. Presente das crianças para os camelos
dos Reis, que viajaram muito e estão cansados.
Uma tradição supersimpática e sem falsos
moralismos. Essa idéia só tem um furo. Onde enfiar a
figura mitológica de Papai Noel? Já sei. Como ele tem
sido um bom velhinho e trabalhado impecavelmente,
quem sabe não arranja um bom emprego de gerente de
marketing num shopping qualquer?
T E T Ê P A C H E C O
TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
Estilo Zaffari 15
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Sabor
4
Sabor
P O R M I L E N E L E A L
F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O
JOVENS CHEFS GAÚCHOS E S
18 Estilo Zaffari
84640_chefsgauchos.p65 1/25/06, 8:13 PM18
E SUAS RECEITAS PREDILETAS
Estilo Zaffari 19
84640_chefsgauchos.p65 1/25/06, 5:20 PM19
Sabor
Risoto de Filé de
Cordeiro com Alho
e Alecrim
ELES JUNTARAM AS CAÇAROLAS HÁ TRÊS ANOS. DESDE ENTÃO, TÊM
SIDO RESPONSÁVEIS POR JANTARES, ALMOÇOS E EVENTOS GASTRO-
NÔMICOS INESQUECÍVEIS. CRISTINA STRASSBURGER, 30 ANOS, E RI-
CARDO TERUCHKIN, TAMBÉM 30, SE CONHECERAM EM ATLÂNTIDA E LÁ
COMEÇARAM UMA PARCERIA QUE SÓ TEM RECEBIDO APLAUSOS. ATÉ O
FINAL DE 2005 ELES MANTIVERAM O RESTAURANTE ATELIER DO SA-
BOR FUNCIONANDO EM GRAMADO. AGORA, DURANTE A TEMPORADA
DE VERÃO, SE TRANSFERIRAM PARA A PRAIA, COMO VÊM FAZENDO
DESDE 2004. ALÉM DO RESTAURANTE, CRIS E RICARDO ORGANIZAM
EVENTOS DOS MAIS VARIADOS PORTES, SEMPRE COM UM DIFERENCI-
AL: ELES MESMOS COZINHAM, DE PREFERÊNCIA NA FRENTE DOS CLI-
ENTES, FAZEM QUESTÃO DE INTERAGIR COM OS COMENSAIS E ABSO-
LUTA QUESTÃO DE TORNAR REAIS OS DESEJOS GASTRONÔMICOS DOS
CONVIDADOS. “SOMOS MEIO GÊNIOS DA LÂMPADA”, DIZ RICARDO. A
ORDEM É DESCOBRIR RECEITAS, MUDAR A COMPOSIÇÃO DE PRATOS,
ALTERAR COMPLEMENTOS, INVENTAR TEMPEROS, TUDO PARA SATIS-
FAZER O PALADAR DO CLIENTE. CRIS ESTUDOU LETRAS, RICARDO É
PUBLICITÁRIO. MAS AMBOS AMAVAM COZINHAR E ACABARAM TRANS-
FORMANDO EM PROFISSÃO O HOBBY QUE LHES DAVA TANTO PRAZER.
SEMPRE QUE PODEM, ELES VIAJAM PRA SE ATUALIZAR. A CRIS É UMA
AFICIONADA DA CULINÁRIA EXÓTICA DE LUGARES COMO A ÍNDIA. PES-
QUISA TEMPEROS, DESCOBRE INGREDIENTES E SABORES DIFERENCI-
ADOS. O RICARDO É UM AMANTE DAS CARNES, TROUXE DE UMA ESTA-
DA NA ESPANHA DIVERSOS SEGREDOS CULINÁRIOS. PARA 2006, ELES
PLANEJAM DEDICAR-SE AOS EVENTOS, MONTANDO UMA BASE DE TRA-
BALHO EM PORTO ALEGRE. A IDÉIA É OFERECER PACOTES COMPLE-
TOS, QUE PODEM INCLUIR ATÉ GARÇONS, BEBIDAS E A DECORAÇÃO DO
AMBIENTE. “SE A PESSOA QUISER CHEGAR EM CASA SÓ NA HORA DA
FESTA, TUDO BEM!”, EXPLICA RICARDO. A PROPOSTA DOS DOIS REAL-
MENTE PARECE MÁGICA. MAS O MAIS BACANA É O ESPÍRITO COM QUE
CRIS E RICARDO TRABALHAM: “QUEREMOS TRANSMITIR ENERGIAS PO-
SITIVAS ATRAVÉS DA COMIDA”, CONTA CRIS. NÃO É UMA DELÍCIA?
C R I S T I N A S T R A S S B U R G E R
20 Estilo Zaffari
MARINADA DO FILÉ DE CORDEIRO
60 ML DE AZEITE DE OLIVA; 100 ML DE SHOYO (MOLHO DE SOJA);
2 COLHERES DE MEL; 6 DENTES DE ALHO; 1 RAMO DE ALECRIM
SEM O GALHO
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Toste o alecrim numa panela com 1 colher (sopa) de azeite, até
ele escurecer. Depois, junte com os outros ingredientes e bata
tudo no liquidificador. Reserve com o cordeiro mergulhado na
marinada para pegar bem o sabor, por 12h, na geladeira.
CALDO DE CORDEIRO
1KG DE OSSOS DE CORDEIRO; 1KG DE CENOURA;
1 AIPO; 1KG DE CEBOLA; 3L DE ÁGUA; 1 RAMO DE TOMILHO;
1 RAMO DE ALECRIM; 6 FOLHAS DE ALHO-PORÓ
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Refogue os ossos até dourarem. Acrescente as verduras e
ervas e refogue até começarem a liberar os aromas. Com-
plete com água fria. Cozinhe por 2 horas em fogo baixo.
Coe e reserve.
PREPARANDO O RISOTO
400 G DE ARROZ CARNAROLI TIO JOÃO; 200 G DE FILÉ DE CORDEI-
RO CORTADO EM PEDAÇOS DE 2 CM; 50 ML DE AZEITE DE OLIVA;
½ CEBOLA PICADA; 150 ML DE VINHO BRANCO SECO;
2 L DE CALDO DE CORDEIRO; 1 CABEÇA DE ALHO; 2 RAMOS DE
ALECRIM; 100 G DE MANTEIGA SEM SAL; SAL E PIMENTA A GOSTO.
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Refogue a cebola no azeite de oliva até dourar. Acrescente o
cordeiro e refogue-o até dourar. Acrescente o arroz e refogue
rapidamente. Adicione o vinho branco e mexa até secar. Adi-
cione concha por concha o caldo, até cozinhar o risoto. Quando
secar uma concha, coloque a outra, e assim sucessivamente
até o arroz estar no ponto certo, al dente. Jogue a manteiga, o
alecrim sem o galho, espere um minuto e mexa bem. Sirva e
voe pra mesa antes que esfrie. Bom proveito!
DECORAÇÃO DO PRATO
½ CABEÇA DE ALHO; 2 COLHERES (SOPA) DE MANTEIGA;
1 COLHER (SOPA) DE AÇÚCAR MASCAVO; 1 RAMO DE ALECRIM
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Corte uma cabeça de alho ao meio e doure na manteiga
com o açúcar mascavo. Coloque sobre o risoto com um
ramo de alecrim fresco e sirva.
E R I C A R D O T E R U C H K I N
84640_chefsgauchos.p65 1/25/06, 8:14 PM20
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Sabor
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Torta de Morango
INGREDIENTES DA MASSA
300 G DE FARINHA DE TRIGO; 160 G DE MANTEIGA
DE BOA QUALIDADE; 2 GEMAS; 60 G DE AÇÚCAR REFINADO;
40 ML DE ÁGUA GELADA
INGREDIENTES DO CREME DE AMÊNDOAS
100 G DE MANTEIGA; 100 G DE AÇÚCAR CONFEITEIRO;
100 G DE FARINHA DE AMÊNDOAS; 2 OVOS;
1/2 COLHER (CHÁ) DE FARINHA DE TRIGO
INGREDIENTES DA COBERTURA
TRÊS DÚZIAS DE MORANGOS; AÇÚCAR;
GELÉIA DE MORANGOS PARA PINCELAR
Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:
Misture a farinha, a manteiga e o açúcar. Isso pode ser feito
à mão ou em processador, mas é importante misturar muito
bem a manteiga e a farinha, para que a massa fique crocante.
Acrescente as gemas e a água gelada. Depois de pronta a
massa, envolva-a em filme plástico e deixe na geladeira por
ao menos 30 minutos, para que fique manuseável. Dispo-
nha a massa no fundo de uma fôrma de 20 cm de diâmetro.
Em cima da camada de massa, coloque papel-manteiga e
encha o espaço com feijões crus (eles ajudam a assar a mas-
sa sem deformar). Pré-asse até que a massa fique firme, sem
dourar. Depois, retire os feijões e asse até a massa ficar ligei-
ramente dourada.
Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:Modo de fazer o creme de amêndoas:
Com a manteiga em textura cremosa (tipo pomada), mistu-
re o açúcar de confeiteiro. Junte a farinha de amêndoas
(amêndoas processadas, moídas), a farinha de trigo e os ovos.
Misture tudo muito bem, à mão ou em processador.
Montagem:Montagem:Montagem:Montagem:Montagem:
Sobre a massa pré-assada, coloque uma camada de cerca de
um dedo do creme de amêndoas. Leve ao forno para terminar
o cozimento, até que o creme fique fofo e firme. Em separado,
pegue cerca de meia dúzia de morangos e esmague-os na pe-
neira com um pouco de açúcar, fazendo uma espécie de calda
crua de morangos. Faça furos com um garfo no creme de amên-
doas e coloque a calda de morangos, embebendo e perfuman-
do o creme. Sobre essa camada, encaixe os morangos inteiros
e limpos, bem próximos uns dos outros. Finalize pincelando
com uma geléia de morangos.
DEPOIS DE TRABALHAR POR VÁRIOS ANOS MEIO ESCONDIDINHO – E
FAZENDO MUITO SUCESSO –, O CHEF MARCELO GONÇALVES RESOLVEU
COLOCAR SUAS DELÍCIAS NA VITRINE, LITERALMENTE. EM 2005 ELE ABRIU
A PÂTISSIER, UM MISTO DE CONFEITARIA E CAFÉ, NA RUA MARQUÊS DO
POMBAL, EM PORTO ALEGRE. ÀS VÉSPERAS DE COMPLETAR UM ANO DE
PORTAS ABERTAS, MARCELO PRETENDE EM BREVE FAZER UMA
INAUGURAÇÃO OFICIAL. ISSO PORQUE AGORA ELE CONSIDERA QUE A
OPERAÇÃO ESTÁ AZEITADA, O LOCAL OFERECE O CONFORTO QUE SEUS
CLIENTES MERECEM E O MIX DE OPÇÕES GASTRONÔMICAS FICOU MAIS
EQUILIBRADO E VARIADO. ATÉ ABRIR A CHARMOSA (E CHEIROSA!)
PÂTISSIER, MARCELO ATENDIA SUA VASTA CLIENTELA PELO SISTEMA DE
ENCOMENDAS. NÃO HAVIA PRODUÇÃO PARA PRONTA ENTREGA. “NESTE
ANO NÓS APRENDEMOS A ATENDER À DEMANDA DIÁRIA, A ESTAR NA
VITRINE E A RECEBER PESSOAS QUE NÃO CONHECIAM O NOSSO TRABALHO.
FOI UM GRANDE APRENDIZADO”, DIZ. O SONHO DESTE PERFECCIONSTA É
DAR ORIGEM A UMA GERAÇÃO DE PÂTISSIERS, COMO É TRADIÇÃO NA
EUROPA. POR ISSO, RELATA COM ENTUSIASMO O FASCÍNIO DA FILHA
MARTINA, DE CINCO ANOS, PELA CULINÁRIA. “ELA CURTE ISSO
ENLOUQUECIDAMENTE E ALIMENTA A MINHA FANTASIA DE VER ESSE
NEGÓCIO SE PERPETUAR”, REVELA. FOI NA EUROPA QUE MARCELO
APRENDEU E TOMOU GOSTO PELA PÂTISSERIE FRANCESA. E HÁ CERCA DE
DEZ ANOS ELE ESCOLHEU ESSA ESCOLA GASTRONÔMICA COMO PROFISSÃO
E ESTILO DE VIDA. A ESPOSA LALA, CRÍTICA FERRENHA E SUPER-
CRITERIOSA, É UMA GRANDE PARCEIRA: “SE A LALA GOSTA MUITO DE ALGO
QUE EU FAÇO, JÁ FICO ACHANDO QUE POSSO VENDER ATÉ NO PÓLO NORTE”,
CONTA, SORRINDO, MARCELO. NO DIA-A-DIA DA PÂTISSIER, OUTRA
PRESENÇA FEMININA FUNDAMENTAL: ALINE MATTOS, QUE TRABALHA COM
MARCELO HÁ MUITOS ANOS, É CRIA DA CASA E TAMBÉM TEM MÃOS DE
FADA PARA A PÂTISSERIE.
M A R C E L O G O N Ç A L V E S
Estilo Zaffari 23
84640_chefsgauchos.p65 1/25/06, 8:00 PM23
Sabor
Cesto Crocante
com Parfait de
Avelãs e Damasco
A CHEF CAROLINE HECKMANN, 30 ANOS, TEM UMA ÓTIMA FORMA DE
DEFINIR O ESTILO DA GASTRONOMIA QUE ELA FAZ: “NA MODA EXISTE
O VISUAL HIPPIE-CHIC. EU FAÇO UMA GASTRONOMIA HIPPIE-CHIC”, RE-
SUME CAROL, QUE DESENVOLVEU AO LONGO DE DEZ ANOS UM JEITO
MUITO PRÓPRIO DE COZINHAR. CAROLINE DIZ QUE A BASE DE TUDO É
TRABALHAR COM INGREDIENTES SIMPLES, DE FÁCIL ACESSO (TANTO
DO PONTO DE VISTA DO CUSTO COMO DA LOCALIZAÇÃO) E TRANSFOR-
MÁ-LOS EM PRATOS BONITOS E DE SABORES INCOMPARÁVEIS. PARA
ISSO, É FUNDAMENTAL UM TANTO DE CRIATIVIDADE E DE EXPERIMEN-
TAÇÃO, ALGO QUE JÁ ATRAÍA A CHEF QUANDO ERA AINDA UMA MENINA,
AOS 14, 15 ANOS, E OCUPAVA A COZINHA DE CASA TENTANDO EXECU-
TAR AS RECEITAS MAIS DIFÍCEIS E DIFERENTES. DEPOIS DE ESTAR À
FRENTE DO VITORIOSO RESTAURANTE ALLSPICE, EM CANELA, POR
QUATRO ANOS, CAROLINE ESTÁ TRABALHANDO AGORA EM OUTRO PRO-
JETO, QUE CONTA COM TODO O ENTUSIASMO DA JOVEM CHEF: EM ABRIL
ELA INAUGURA SEU NOVO RESTAURANTE, EM GRAMADO, DENTRO DO
CONDOMÍNIO “O BOSQUE”, DA IVO RIZZO. O ESPAÇO VAI SE CHAMAR
“O LUGAR” E SERÁ, SEGUNDO CAROL, MUITO CHARMOSO, AMPLO E
CONFORTÁVEL. AFORA A QUALIDADE DAS INSTALAÇÕES DO RESTAU-
RANTE – QUE CAROL VEM CONDUZINDO COM TODO O CAPRICHO –, O
LUGAR TERÁ COMO PRINCIPAL ATRATIVO A GASTRONOMIA QUE CONSA-
GROU O ALLSPICE E OS JANTARES REALIZADOS PARA DIVERSOS CLIEN-
TES NESSES ÚLTIMOS ANOS. EM SUA NOVA FASE, A CHEF CAROLINE
HECKMANN PROMETE QUE VAI MANTER A CARACTERÍSTICA QUE A DIS-
TINGUE E PERSONALIZA: A COMIDA DELICIOSA, DIFERENTE, CRIATIVA,
BEM MONTADA E BEM APRESENTADA. PALMAS PRA ELA.
C A R O L I N E H E C K M A N N
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Faça uma calda com o açúcar e a água. Bata as gemas e
acrescente a calda em fio devagar até que esfrie e engrosse.
Derreta o chocolate e acrescente a mistura juntamente com
as avelãs e os damascos. Bata levemente o creme de leite e
junte, formando uma mistura homogênea. Use forminhas
de alumínio para colocar no freezer. Forre ramequins com
a massa filo e leve ao forno para dourar. Tire do forno e
ainda quente coloque o parfait enformado dentro, deco-
rando com folhas de hortelã. Obs.: poderá ser acrescenta-
do um licor de sua preferência antes de bater o creme de
leite. Rendimento: Porção para oito pessoas.
8 FOLHAS DE MASSA PHYLO; 8 RAMEQUINS;
100 G DE AÇÚCAR; 50 ML DE ÁGUA;
3 GEMAS; 500 ML DE CREME DE LEITE;
150 G DE CHOCOLATE MEIO-AMARGO;
100 G DE AVELÃS TORRADAS E MOÍDAS;
50 G DE DAMASCOS PICADOS;
FOLHAS DE HORTELÃ PARA DECORAR;
1 COLHER (SOPA) DE LICOR DE SUA PREFERÊNCIA
24 Estilo Zaffari
MASSA PHYLLO: ORIGINÁRIA DA GRÉCIA, É UMA MASSA FINÍSSI-
MA DE FARINHA DE TRIGO, OVO, POUCA GORDURA E ÁGUA. DE-
POIS DE ASSADA FICA COM VÁRIAS CAMADAS DE TEXTURA QUE-
BRADIÇA. PODE SER ENCONTRADA FRESCA OU CONGELADA. UMA
VEZ ABERTA DEVE SER UTILIZADA EM POUCOS DIAS.
RAMEQUINS: PEQUENOS PRATOS REFRATÁRIOS, DE CERÂMICA OU
PORCELANA, COM LATERAIS RETAS, QUE SERVEM PARA ASSAR
SUFLÊS OU OUTRO PRATO SALGADO NO FORNO, PARA SERVIR DE
FORMA INDIVIDUAL.
PARFAIT: SOBREMESA DE CONSISTÊNCIA SEMELHANTE À DA MOUSSE,
FEITA COM CALDA DE AÇÚCAR E OVOS BATIDOS E COZIDOS, ACRESCIDOS,
DEPOIS DE FRIOS, DE CREME CHANTILLY, PURÊ DE FRUTAS E NOZES.
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Viagem
84640_viagem Aspen.p65 1/25/06, 4:56 PM26
neveT E X T O S E F O T O S C R I S B E R G E R
Férias na
84640_viagem Aspen.p65 1/25/06, 4:56 PM27
Viagem
ASPEN É UM DAQUELES LUGARES ONDE PARECE
SER NATAL DE NOVEMBRO A ABRIL. ELA É RE-
PLETA DE LUZINHAS POR TODOS OS LADOS. FICA
NO ESTADO AMERICANO DO COLORADO E É VE-
NERADA POR QUEM GOSTA DOS ESPORTES DE
NEVE. CONSIDERADA A MELHOR ESTAÇÃO DE
ESQUI DA AMÉRICA DO NORTE, FAZ DO FRIO UM
COADJUVANTE DE SEU REQUINTE E GLAMOUR.
EXISTE UMA FRASE MUITO FAMOSA QUE DIZ: “AS
PESSOAS VÃO PARA ASPEN PELO INVERNO E FI-
CAM PELO VERÃO”. EU AINDA NÃO TIVE A OPOR-
TUNIDADE DE CONHECER A TEMPORADA DE CA-
LOR EM ASPEN, MAS POSSO AFIRMAR QUE AS
BAIXAS TEMPERATURAS JÁ ME FAZEM DESEJAR
VOLTAR LÁ MUITAS VEZES.
28 Estilo Zaffari
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 9:50 PM28
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 9:50 PM29
Viagem
84640_viagem Aspen.p65 1/25/06, 4:55 PM30
Eu tinha plena consciência das delícias que uma
estação de esqui do nível de Aspen poderia me reservar,
mas torcia o nariz para aquela fama de ser um lugar re-
servado aos ricos e famosos. Fiquei feliz ao descobrir que
eu estava enganada. Sem dúvida trata-se de um destino
que requer um certo investimento financeiro, mas está
longe de selecionar assim seus freqüentadores.
O clima de Aspen é de total descontração. Colori-
da, bonita e atraente, ela é um delicioso convite para
quem quer aproveitar a temporada de neve da América
do Norte e dar uma trégua no calor de 40 graus do he-
misfério sul do planeta.
Vilarejo com as montanhas como inspiração
Aspen nasceu como um pequeno vilarejo no fim
do século XIX, época em que sua economia era voltada
para as minas de prata. Em 1893 ela teve seu declínio
acentuado com a desvalorização da prata. Apenas em
1940 voltou a crescer, quando um grupo de investidores
a elegeu para a construção de um centro de esportes de
neve. Hoje exibe casas vitorianas restauradas, lojas de
grife como Prada, Ralph Lauren, Louis Vuitton, Gucci e
Dior, elegantes cafés, sofisticados restaurantes, ótimos
hotéis, cinemas e galerias de arte.
O Colorado tem tanta personalidade que ele pare-
ce um lugar à parte dentro dos Estados Unidos – e As-
pen é seu lado mais quente. Realmente a estação ferve
de energia, seja dos esquiadores com suas manobras ar-
rojadas, da noite movida a música lounge em boates ani-
madíssimas, da excelente gastronomia e de todos aque-
les sorrisos de bem-estar. Afinal, Aspen é sinônimo de
esporte, bom gosto e romance, com as montanhas por
ali emprestando uma dose extra de inspiração.
Viajei acompanhada de três jornalistas paulistas. Éra-
mos quatro mulheres em um lugar onde a presença mascu-
lina sempre se destaca. Olha, de todas as minhas viagens
como repórter esta foi uma daquelas em que mais tive
que me concentrar para não esquecer que eu estava lá a
ASPEN FERVE DE ENER G IA . É S INÔN IMO DE ESPORTE , REQU INTE , BOM GOSTO E R OMANCE
Estilo Zaffari 31
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 9:53 PM31
Viagem
tra-ba-lho. Não há dúvidas: Aspen é o paraíso para quem
gosta de duas coisas: dia e noite. Dia para deslizar nas
montanhas e noite para se esbaldar nas pistas de dança.
A vida cinco estrelas
Fiquei hospedada em um lugar encantador, o As-
pen Meadows Resort. De tão amplo, meu quarto mais
parecia um apartamento. Todo decorado em tons pastel,
com uma vista bárbara das montanhas nevadas. Tudo
muito acolhedor. Na recepção, uma máquina de café e
chocolate quente e copos descartáveis de isopor, destes
para servir e sair bebendo. Um hábito americano que logo
tratei de absorver. O Meadows tem também um comple-
xo de esportes que oferece aulas de yoga e pilates. Um
espaço com aparelhos de musculação, uma piscina ao ar
livre climatizada e o melhor: uma hot tub! Acho que essa
foi minha primeira pergunta: tem hot tub? Vibrei quando
a resposta foi sim. Para quem não sabe, hot tub é uma
pequena piscina, como uma jaccuzi, superaquecida ao ar
livre. Se lá fora a temperatura vai a 6 graus negativos,
dentro da piscina chega a 40 graus. Uma combinação
magnífica. Hot tub no fim do dia equivale a conhecer no-
vos amigos. E foi assim que fizemos amizade com o Tim
Struby, repórter do canal ESPN. Naquela noite acabamos
jantando com toda a equipe de trabalho do Tim e mais
parecíamos parte dela. Um belo começo, eu diria.
NOS HOTÉ IS, O CONFORTO É EXTREMO. TÊM ATRAÇÕES ATÉ PARA Q UEM NÃO ESQU IA
32 Estilo Zaffari
84640_viagem Aspen.p65 1/25/06, 4:06 PM32
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 11:19 PM33
Viagem
A língua inglesa está cheia de expres-
sões interessantes. Tem uma de que eu gos-
to muito e traduz com perfeição o delicioso
Remède Spa do luxuoso Hotel St. Regis:
“Spoil yourself”. Em português: mime-se! E
os mimos vão de tratamentos para pele, mas-
sagens, piscina de hidromassagem e hot tub
à sala de ginástica.
Imagine que eu ganhei uma massagem
de 105 minutos no spa para que eu pudesse
com fidelidade contar como é boa a vida cin-
co estrelas. A magia começa logo ao chegar.
Roupão, chinelinhos, champagne e trufas. Al-
guns minutos em uma sala de relaxamento
com uma música suave e uma lareira. Velas
aromatizadas e um ambiente clássico, acon-
chegante, adorável. A vontade que eu tinha
era fazer o tempo parar, e acho que parou de
verdade. “Srta. Cris Berger, o massagista está
esperando”, escutei, e desta forma fui condu-
zida a uma das 15 salas de massagem, onde
um atencioso massagista dividiu minha vida
entre antes e depois do St. Regis.
Diversão na neve
O complexo Aspen Snowmass engloba
quatro imponentes montanhas: Snowmass,
Aspen Highlands, Aspen Mountain e Butter-
milk. Ao todo são 40 skilifts (meios de eleva-
ção), 193 quilômetros de área de esqui e 300
pistas. Com um único passe você pode circu-
lar nas quatro montanhas e contar com trans-
34 Estilo Zaffari
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 9:56 PM34
O COMPLEXO ASPEN SNOWMASS ENGLOBA QUATR O GRANDES MONTANHAS
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 9:56 PM35
Viagem
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 9:59 PM36
NA NEVE APRENDEMOS MUITO SOBRE NÓS MESMOS. ESQUIAR DÁ UMA SENSAÇÃO DE LIBERDADE SEM IGUAL
porte de ônibus gratuito. A temporada 2005/2006 co-
meçou em 24 de novembro e vai até 16 de abril. Na
temporada passada os brasileiros foram os maiores visi-
tantes da estação, segundo o Aspen Skiing Company.
Além do esqui e do snowboard, Aspen oferece in-
teressantes diversões na neve, como o snowmobiling
(moto da neve), o lead dogs (trenó puxado por cães) e o
cross country (trekking na neve com esquis).
Apesar de esta ter sido minha terceira vez na neve,
foi meu début como esquiadora. Foi em Aspen que
aprendi a gostar de esquiar e entendi que a habilidade
no esporte está diretamente ligada a ter aulas com um
bom professor – no seu idioma. Em três dias eu já esta-
va descendo algumas pistas. E a sensação não pode ser
melhor. O segredo é começar devagar, cada um dentro
do seu limite, mas sempre colocando uma pitada de
ousadia. Na neve aprendemos muito sobre nós mes-
mos. Eu caí pouquíssimas vezes, não por ser um prodí-
gio nos esquis, mas por tentar manter o controle 100%
do tempo. O que é um erro. Jamais esquecerei meu
instrutor dizendo: Less control, Cris! – Menos controle,
Cris. – Já minha parceira, a Adriana Moreira, do Esta-
dão, caía a cada dois minutos simplesmente por se ati-
rar o tempo todo, o que rendeu ótimas risadas. Inacre-
ditável mesmo foi quando conseguimos bater de fren-
te, mas ninguém se machucou.
Estilo Zaffari 37
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 10:00 PM37
Viagem
NA ALTA TEMPORADA , ASPEN TEM INTENSO MOV IMENTO E SED IA D IVERSOS EVENTOS IMPORTANTES
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 10:00 PM38
Quem está mais acostumado esquia ouvin-
do música, mas no meu caso toda a concentra-
ção era pouca, por isso, deixei o som do vento
me guiar e provei uma paz de espírito e liberda-
de sem igual.
No meio de um dia deslizando pela
neve, vale a pena dar uma parada em um
dos restaurantes que ficam no alto das mon-
tanhas para recarregar as baterias, fazer um
lanche, desfrutar daquela incrível atmosfe-
ra e de música ao vivo.
As famosas Montanhas de Maroon Bells
Passear de snowmobile (moto da neve)
é divertido e um presente aos olhos. Picos
nevados emolduram a paisagem e tiram o
fôlego. Quem oferece este passeio é o pes-
soal do T Lazy 7, um dos mais antigos ran-
chos do Colorado, construído em 1938. Pra-
ticantes de cross country cruzam o caminho
acompanhados de seus cães. Em uma sim-
pática confraternização, todos se cumpri-
mentam. O trajeto leva os aventureiros a
estarem frente a frente com o expressivo
conjunto de montanhas chamado Maroon
Bells. Nos contaram que elas são as monta-
nhas mais fotografadas dos Estados Unidos.
Aos seus pés tem um lago: no inverno ele
fica congelado, no verão reflete a imponên-
cia das imensas formações rochosas. Um
chocolate quente, servido em uma casinha
estrategicamente bem localizada, trata de
devolver calor ao corpo.
Estilo Zaffari 39
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 10:03 PM39
Viagem
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 11:18 PM40
ESTE PEQUENO V ILARE JO ESBANJA CHARME E CONQ U ISTA SEUS V IS I TANTES
Depois de uma manhã ao sabor do vento e alimen-
tando a alma com a força da natureza, é chegada a hora do
almoço. Rumamos para uma encantadora cabana de ma-
deira no meio de uma floresta, linda, coberta de neve. Nos-
so guia preparou churrasco de hambúrgueres, inclusive
vegetarianos, ao estilo americano, enquanto tomávamos
uma Heineken em uma tarde deliciosamente ensolara-
da. Este passeio me fez dar mais pontos ainda a Aspen.
Esquiar é bom? Sim, maravilhoso. Mas programas alterna-
tivos são muito bem-vindos. No final da tarde apostamos
corridas na pista de alta velocidade do rancho e acabamos
o dia felizes e prontas para mais uma sessão de hot tub.
Assim é este pedacinho do Colorado, clima inver-
nal em seu melhor estilo. Uma paisagem estonteante
composta por uma majestosa cadeia de montanhas. Um
pequeno vilarejo que esbanja charme e conquista seus
visitantes como os bons vinhos fazem com os paladares
mais requintados: com tradição, sabedoria e elaborada
estrutura. Cheers a Aspen!
Estilo Zaffari 41
SERVIÇO
QUEM VOA:
AMERICAN AIRLINES
03007897778 – WWW.AA.COM.BR
QUEM LEVA:
INTERPOINT VIAGENS E TURISMO
0800-771-9400
WWW.INTERPOINT.COM.BR
POINT DA NEVE
(51) 33287171
WWW.POINTDANEVE.COM.BR
MASSAGEM:
REMÈDE SPA ––––– ST. REGIS RESORT
WWW.REMEDE.COM
CRIS BERGER VIAJOU A CONVITE DA AMERICAN AIRLINES E ASPEN
SNOWMASS – WWW.ASPENSNOWMASS.COM
84640_viagem Aspen.p65 1/24/06, 11:18 PM41
O sabor e o saber
F E R N A N D O L O K S C H I N
A galinha chegou ao Brasil na comitiva de Cabral.
Capaz de crescer e se multiplicar rapidamente e, ao mesmo
tempo, fornecer ovos e carne, a ave participou das grandes
navegações e descobrimentos europeus. Registra a carta de
Caminha: os nativos que subiram a bordo ignoraram sole-
nemente a presença de um carneiro, mas ficaram terrivel-
mente espantados ao se depararem com uma galinha.
Aqui a galinha se aclimatou. O Cozinheiro Nacio-
nal, nosso primeiro texto culinário (séc. XIX), junto a
pratos de onça, macaco, gambá e cobra, com humor bem
brasileiro traz uma ‘Sopa de Leite de Galinha’.
Natural das florestas indianas, a galinha foi dos
últimos animais domesticados, primeiro para sacrifício
religioso, depois para rinha e ornamentação e só depois
como recurso alimentar.
Quando as crianças disputam o ‘osso da sorte’ à
mesa, repetem uma prática milenar. Na Ásia, ossos e
sangue de galinha são usados em adivinhação e as reli-
giões africanas têm na galinha a vítima sacrificial prefe-
rencial. A canja de galinha servida ao doente – a ‘peni-
cilina judaica’, um tratamento universal – conserva a
aura mágica da ave. “Com canja tudo se arranja’’, diz o
ditado. Especial para o enfermo, o ‘frango de botica’ era
vendido no balcão da farmácia, e seu seu caldo, receita-
do pelo doutor, era cozido pelo próprio farmacêutico.
No Brasil Império, a galinha era a dieta ideal para a gra-
videz, puerpério e aleitamento.
Os romanos faziam futurologia a partir do modo de
a galinha ciscar o alimento. Nas Guerras Púnicas, quan-
do as galinhas sagradas se recusaram a comer, o general
Cláudio Marcelo disse: “Pois então vão beber”, jogando-
as ao mar. O General foi derrotado e morto por Aníbal.
Ainda no séc. XIX, as raças eram selecionadas mais
pela plumagem do que pelo potencial alimentar. A ve-
lha questão, “o que veio primeiro, o ovo ou a galinha?”
tem uma resposta clara: o ovo. Não é à toa que a gali-
nha bota ovos de ouro; a carne – o inevitável frango
novo (pré-púbere) e a galinha velha (post-menopausa)
– era mero subproduto da produção de ovos.
Do ponto de vista religioso, o ovo era considerado
carne e interditado na Semana Santa. Os ovos colhidos
nesses dias só eram consumidos no Domingo de Páscoa,
não antes de pintados e decorados para cobrir os vestí-
gios da sua conservação em banha, daí a tradição.
Para nos dar tanto ovo e carne, a galinha teve de
sacrificar uma característica básica da ave: o vôo. A
maioria das aves voa, mas não põe mais do que alguns
ovos a cada primavera, mas a galinha é diferente: tem
asas atrofiadas e o peito e coxas carnudas, deitando um
enorme ovo a cada ciclo solar.
Como usual, as fêmeas são menos pontuais que os
machos: se o galo canta ao nascer do sol, a galinha deita
um ovo, duas belas formas de saudar o futuro, o dia que
se inicia.
A rotina do frango à mesa é recente. “Quando
pobre come galinha, um dos dois está doente”, dizia o
Barão de Itararé. No conto medieval, o sonho campo-
nês era comer “aquilo que o patrão chama de frango
assado”. A galinha era alimento dos poderosos. As ‘Me-
mórias Gastronômicas’ de Alexandre Dumas registram
que Cussy, mordomo de Luís XVIII, teria criado 366
pratos diferentes de galinha, um para cada dia do ano,
incluindo os bissextos! Conta também que Luiz XVI,
antes de subir a guilhotina, ceou galinha “comida com
as mãos em sofreguidão, até que não restasse fiapo de
frango, migalha de pão”.
GALINHA DE POUCO CURRY
Ela já foi o alimento dos poderosos. Depois, tornou-se a carne do povo
42 Estilo Zaffari FOTO: ANDRÉ NERY
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CORTAR OS PEITOS EM PEQUENOS CUBOS. DEIXAR HORAS EM SUCO DE LARANJA. SECAR E TEMPERAR
COM SAL. PASSAR NA FARINHA DE TRIGO. BORRIFAR UM MÍNIMO DE AÇÚCAR. DOURAR NA MANTEIGA OU
ÓLEO. REFOGAR EM CEBOLA, ALHO, TOMATE E PIMENTÃO (POUCO, SEM CASCA E SEMENTES). ADICIO-
NAR PASSAS E DAMASCOS PICADOS. COZINHAR LEVEMENTE. ADICIONAR AMÊNDOAS TOSTADAS. DAR
VOLUME E CONSISTÊNCIA AO MOLHO COM CALDO DE GALINHA, VINHO BRANCO E FARINHA DOURADA.
BORRIFAR PIMENTA PRETA. COLOCAR UM POUCO DE CURRY. SERVIR COM ARROZ.
84640_sabor e o saber.p65 1/25/06, 7:31 PM43
O sabor e o saber
F E R N A N D O L O K S C H I N
Segundo a tradição, o cozinheiro de Napoleão pu-
nha um frango a assar a cada 20 minutos: o imperador
não tinha hora para comer e detestava comida requen-
tada. D. João VI, nosso rei glutão, era famoso por devo-
rar muitas galinhas numa única refeição, e seu neto, D.
Pedro II, degustava uma canja nos intervalos das apre-
sentações teatrais. O novo ato só se iniciava após a ceia
do camarote imperial.
‘Galinha na panela é visita ou festa’; durante sécu-
los, a galinha era o ‘luxo ocasional’ da mesa do traba-
lhador, o prato das festas e domingos. Na França, o rei
Henrique IV sonhava com um frango na panela domi-
nical de cada súdito. Nos Estados Unidos, na ressaca da
Grande Depressão, Hoover foi eleito presidente com o
lema: “Um frango em cada mesa”.
Ainda há pouco, as casas, como as caravelas, ti-
nham um galinheiro, onde ovos eram colhidos e, em
dias especiais, uma ave era abatida, assada e consumida
pela família reunida. O frango, destrinchado pelo chefe
de família numa distribuição de pedaços a expressar a
hierarquia e o gosto de cada um, é uma versão atual de
ritos e festins de caça que remontam à Pré-História.
Haute cuisine ou mesa camponesa, disponibilidade
e preço dão o destino do alimento. O frango se tornou a
carne do povo, trilhou o caminho inverso do caviar, sal-
mão, ostras, trufas e bacalhau, que migraram da boca
plebéia à abonada. Hoje a galinha é a principal fonte de
proteína animal, a forma mais barata de produzi-la.
Hábitos sexuais considerados promíscuos fizeram
da galinha um tabu para muitos hindus. Símbolo da
curiosidade frívola e pouca inteligência, nossa cultura
cultiva o preconceito: galo é elogio, galinha é ofensa. Ar-
rastar a asa é seduzir, franga, galeto ou cocota é a jovem
desejada, mas galinha é a mulher promíscua. Coquete,
que descrevia os hábitos do galo (F. coq) excursionando
por todas as galinhas do galinheiro, se transfigurou num
termo pejorativo reservado ao feminino.
A imagem das galinhas empoleiradas, uma defe-
cando na cabeça da outra, ganhou notoriedade em co-
nhecida figura de linguagem.
Curiosamente, uma das raras alusões positivas à
galinha foi feita por Jesus ao pregar em Jerusalém: “Quan-
tas vezes quis reunir teus filhos como a galinha que reú-
ne seus pintinhos sob as asas” (Mt 23:27).
A cruel passarinhada e a pedofilia gastronômica
do galeto ao primo canto dos imigrantes italianos são
heranças alimentares de Roma Imperial a atestar que a
ave era tão importante como pão e circo. ‘Gália/gaulês/
galo’, a sonoridade, criou afinidade, e a França, Gália
romana, se representa como um galo e entende de gali-
nha. O melhor frango francês, tal o queijo e vinho, tem
sua procedência e criação bem explicitados: oposto do
monstruoso Frangstein – o pseudofrango industrial –, há
a bênção artesanal do poulet de Bresse, criado ao ar livre,
embalado em imaculado tecido branco e ostentando o
selo de ‘Appellation d’Origine Contrôlée’.
Na natureza tudo se transforma. A galinha é uma
grande recicladora biológica, capaz de transformar inse-
tos, vermes e sobras em carne de qualidade. A ave não
mastiga com o bico, tem a moela como dente. Quando
um grão é muito duro, a ave ingere pedrinhas para auxi-
liar a triturar o alimento.
Na fazenda tradicional, a vaca comia o milho, o
porco comia sobras do milho no esterco da vaca e de-
pois a galinha não deixava qualquer sobra no esterco do
porco. O ciclo se fechava com o esterco da galinha adu-
bando o plantio do milho.
A manipulação hormonal e genética e a criação
intensiva transformaram de tal forma a carne de frango
que se prepararmos uma receita do séc. XVIII com a
gordura e o tempo de cozimento recomendados obtere-
mos um patê.
Assim como certos povos orientais têm menos cal-
vície, barba, câncer de próstata e tamanho de pênis de-
vido à ingestão de soja (rica em isoflavona, hormônio
feminino), o maior consumo de frango (rico em hormô-
44 Estilo Zaffari
84640_sabor e o saber.p65 1/25/06, 6:37 PM44
FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET
nio do crescimento) pode ter causado o aumento de
estatura das novas gerações em todo o planeta.
Durante séculos, a porção mais nobre da galinha
foi a sambiqueira, então chamada de uropígio. As ex-
pressões ‘carne branca’ e ‘carne vermelha’ antecedem
a moda do colesterol e se criaram no moralismo vito-
riano inglês. Como não era de bom-tom pronunciar à
mesa as palavras ‘peito’ (breasts) e ‘coxas’ (legs), surgi-
ram os eufemismos ‘carne branca’ (white meat, o pei-
to) e ‘carne vermelha’ (read meat, as coxas). É linda a
história de Churchill, que, repreendido por uma dama
ao solicitar um pedaço de galinha pelo termo ‘breasts’,
desculpou-se enviando-lhe um colar e um cartão su-
gerindo que usasse a jóia junto à sua ‘white meat’. Os
franceses também recorrem à metáfora sensual quan-
do chamam o peito de frango pelo adjetivo supréme...
Carne branca ou vermelha na quantidade apro-
priada só é questão de gosto; a única carne imprópria
ao consumo humano é a azul-esverdeada.
Banhada a ouro, a carne branca e suave da gali-
nha é perfeita para receber o amarelo do curry, forte em
cor, odor e sabor. O pássaro tem um encontro com o
tempero. A mesma geografia produziu alimento e con-
dimento, acasalou contrastes. A Galinha de Pouco Cur-
ry não é canja, mas é fácil de preparar, mais ainda de
apreciar.
O puritanismo é inimigo do prazer. Em relação à
cozinha exótica, que se divulgue a verdade ímpia: quan-
to menos autêntica e mais promíscua, mais gostosa.
Oferenda ao futuro. Se a ave dedica o canto ao dia
que se inicia, ela cede o corpo à boca da noite: magia e
religião, a sorte no prato, jóia de ‘luxo à mesa’. Um jan-
tar memorável, para tais coxas e peitos, só um adjetivo,
supréme! Que bela forma de saudar a natureza.
A CARNE BRANCA
E SUAVE DA GALINHA
É PERFEITA PARA
RECEBER O AMARELO
DO CURRY, FORTE EM
COR, ODOR E SABOR
Estilo Zaffari 45
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Casa
RSMadeP O R I R E N E M A R C O N D E S F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O
in
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Casa
84640_casadesigners.p65 1/25/06, 8:29 PM48
designSIM. VOCÊ VIVENCIA ESTA PALAVRA DIARIAMENTE NO SEU TRABALHO, NA SUA CASA, NA RUA, NO SUPERMERCADO, NO
AEROPORTO... DÊ UMA RÁPIDA OLHADA AO SEU REDOR E ESCOLHA ALGUNS OBJETOS DOS QUAIS VOCÊ NÃO ABRIRIA MÃO
NEM POR UM DECRETO. PODE SER AQUELA LUMINÁRIA BIARTICULADA QUE LEVA O FOCO DE LUZ PARA O PONTO QUE VOCÊ
DESEJA, OU QUEM SABE AQUELE TECLADO ERGONÔMICO DO SEU COMPUTADOR... UMA SIMPLES GARRAFA TÉRMICA QUE
CONSERVA A ÁGUA DO CHIMARRÃO EXIBE FORMAS E SISTEMAS CADA VEZ MAIS EFICIENTES. A ESTÉTICA DESSES PRODUTOS
É OUTRO PONTO VITAL – UMA BUSCA CONSTANTE DE TRAÇOS QUE PERMEIAM A BELEZA E O EQUILÍBRIO. DESIGN É ASSIM.
PURO. ESSENCIAL. SIMBIÓTICO. EMBORA O HOMEM SEMPRE TENHA PRODUZIDO ARTESANALMENTE PRODUTOS PARA SEU
USO E COMUNICAÇÃO, ASSOCIAMOS AS ORIGENS DO DESIGN COM O APOGEU DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, NO SÉCULO XIX.
A FABRICAÇÃO DE PRODUTOS PARA AS MASSAS EXIGIU UMA RACIONALIZAÇÃO DOS PROJETOS E O DESENVOLVIMENTO DE
UM RACIOCÍNIO ATÉ ENTÃO INEXPLORADO. NA FILOSOFIA, O SUBSTANTIVO ABSTRATO – DESIGN – REFERE-SE A OBJETIVIDA-
DE OU PROPÓSITO. O DESIGN É O OPOSTO DA CRIAÇÃO ALEATÓRIA. NA VISÃO TRADICIONAL, CONCLUI-SE, PORTANTO, QUE
O DESIGN SÓ PODE SURGIR POR INTERMÉDIO DE UM DESIGNER CONSCIENTE. AQUI NO RIO GRANDE DO SUL EXISTE UM
TIME DESTES PROFISSIONAIS, E NÓS CONVIDAMOS ALGUNS DELES, ESPECIALISTAS NA CRIAÇÃO DO MOBILIÁRIO, PARA
REVELAR AS MINÚCIAS DESTE COMPLEXO PROCESSO. OS MÓVEIS QUE VOCÊ VERÁ A SEGUIR JÁ CONQUISTARAM CONSUMI-
DORES DAQUI E DE FORA, COMPROVANDO QUE O DESIGN É MESMO UMA PALAVRA SEM FRONTEIRAS.
Estilo Zaffari 49
84640_casadesigners.p65 1/24/06, 10:56 PM49
Beto Salvi
Tuti GiorgiEm 1990, quando aceitaram o primeiro e grande
projeto de suas carreiras, Tuti e Beto não imaginavam o
tamanho do desafio que teriam pela frente. A dupla pro-
jetou a primeira loja de CDs do Rio Grande do Sul. “Não
só desenvolvemos o layout do espaço como desenhamos
todos os móveis e displays, já que não havia no mercado
nada adaptado para acomodar os CDs”, conta Tuti. “Apos-
tamos também no uso dos materiais primários, evidencian-
do seu estado bruto”, ressalta Beto. Soluções irreverentes,
como a utilização de canos de cobre como suporte de ilu-
minação e chapas metálicas como prateleiras, agradaram
à nova geração de consumidores dos disc lasers. “Curio-
samente, nos projetos seguintes também sentimos a ne-
cessidade de desenhar móveis para solucionar problemas
específicos dos nossos clientes”, conta Tuti. “Percebemos
que estas peças preenchem lacunas do mercado e por isso
buscamos a produção em série para cada uma delas”, com-
plementa Beto. A dupla projetou, por exemplo, umas das
primeiras soluções de estantes e de prateleiras componí-
veis no Brasil. O sofá Vasarely e o revisteiro horizontal,
ambos modulares, reforçam o lado prático e ao mesmo
tempo lúdico destes designers. “Cada um pode montar o
seu ambiente como imaginar. Essa liberdade é fantásti-
ca”, afirma Tuti. Algumas diretrizes básicas norteiam o
trabalho desses arquitetos: utilização de materiais ecolo-
gicamente corretos, racionalização no uso dessas maté-
rias-primas e simplificação da logística. “Pensamos no mer-
cado globalizado sempre que desenhamos um produto.
Por isso, ele tem que ser fácil de transportar e de montar e
deve atender às necessidades mundiais de consumo”, conta
Tuti. Trabalhar com a tecnologia disponível nas indústrias
nacionais não é um limitador para a dupla. Pelo contrá-
rio, é um desafio. “Quem disse que somos obrigados a
ficar restritos ao que existe nas fábricas? Somos grandes
incentivadores para que elas aprimorem seu parque in-
dustrial. Muitas vezes dizemos para o fabricante: você
precisa modernizar sua estrutura, precisa adequá-la às
novas exigências do mercado. Fazemos pesquisas cons-
tantes. Afinal, nosso assunto é design, e não artesanato”,
afirmam.
Casa
50 Estilo Zaffari
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TUTI (À ESQUERDA) E BETO (À DIREITA) APOSTAM NAS SOLUÇÕES MODULARES, COMO ESTE REVISTEIRO QUE ACABAM DE LANÇAR
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Casa
ILSE LANG APRESENTA
A CADEIRA ONDA,
INSPIRADA NO DESIGNER
JAPONÊS SORI YANAGI
84640_casadesigners.p65 1/24/06, 10:57 PM52
Liberdade de criação, produção em larga escala e
conquista de mercados nacionais e internacionais são
os três grandes motivos que levaram a arquiteta gaúcha
Ilse Lang a mergulhar no universo irrestrito do design.
“Por trás do trabalho existe a convicção de que dese-
nhar artefatos utilitários com coerência e rigor é trans-
por a barreira das soluções técnicas e funcionais, evo-
cando emoção, poesia, curiosidade e senso de identida-
de”, explica. Logo que começou a desenhar, em 1986,
Ilse lançou uma cama de casal que conquistou não só o
mercado como também o Prêmio Movesp, de 1988. “Ela
está até hoje na minha casa e faz parte de um projeto
que visa a relançá-la. É ótimo perceber que o design
permanece atual. Isto só foi possível porque sempre bus-
quei o essencial, o estritamente necessário”, conta. Os
traços de Ilse denunciam uma forte influência do mo-
dernismo e de suas concepções racionais, mas a presen-
ça de soluções de cunho popular regionalista estabelece
um contraponto marcante. Bom exemplo é o banqui-
nho Tribo, que tem sua raiz no popular banco de madei-
ra presente nos galpões campeiros. Usado pelos gaúchos
para tomar o mate ao redor da fogueira, o rústico assen-
to logo inspirou a designer. A busca pelo mobiliário lú-
dico é outra temática constante. “A minha formação
como arquiteta transparece na estrutura formal dos meus
trabalhos. Gosto de explorar a versatilidade das ferra-
gens, colocando-as nas gavetas e nas mesas extensoras.
Elas possibilitam a mudança na forma dos móveis de
acordo com o seu uso. Os consumidores interagem com
as peças, adaptando-as às suas necessidades”, explica a
arquiteta. Rabiscar, prototipar e rabiscar novamente são
etapas que Ilse percorre sempre que desenvolve novos
produtos. “Quando a peça está tridimensional consigo
concretizar ainda melhor a sua forma. O design não é
estanque. Mexo no produto diversas vezes antes de co-
locá-lo em linha”, revela. A loja Faro Design, em Porto
Alegre, reúne a coleção completa da arquiteta. O nome
não poderia ser mais aguçado: traça um paralelo entre o
instinto animal e o comportamento humano de “encon-
trar algo sem uma procura racional”.
IlseLang
Estilo Zaffari 53
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Casa
Esta dupla tem mais de 200 produtos comercializa-
dos atualmente no Brasil e no exterior, já recebeu seis im-
portantes premiações e em 2004 participou da mostra “Bra-
sil Faz Design”, em Milão, com a poltrona Santa Bárbara,
produzida pela Saccaro. À primeira vista essas informa-
ções parecem objetivas demais. Mas a questão é que elas
sintetizam a essência do design: móveis que reúnem viabi-
lidade industrial, matérias-primas inovadoras e ecológicas
e desenhos que atendem aos anseios do mercado. “Eu cos-
tumo dizer que pesquisas, domínio das tecnologias e das
matérias-primas representam 80% do esforço no desenvol-
vimento de um produto. Apenas a porcentagem restante é
de pura inspiração”, conta Renato Sólio, arquiteto gaú-
cho, que projeta peças do mobiliário desde 1984 em parce-
ria com a arquiteta uruguaia Ana Vazquez. “Como desig-
ner, pretendo passar para o mundo alguns conceitos, solu-
ções e inovações. Mas isso só é possível se não perdermos o
foco no mercado. Caso contrário, não vamos conseguir
passar nada”, conclui Ana, uma apaixonada confessa pelo
Brasil. O desafio constante desses arquitetos é trabalhar
com novas matérias-primas, principalmente as provenien-
tes da natureza. “Ainda temos muito para descobrir. Não se
trata apenas de revelar materiais inéditos, mas principal-
mente de aproveitar o que já existe de forma diferente e
mais ampla, sempre atentos à preservação do meio ambi-
ente”, diz. Ela sugere, como exemplo, o bambu: tantas ve-
zes empregado para estruturar o móvel, agora começa a ser
usado nos tampos. “Na Bahia, os artesãos extraíram a fibra
do coco e passaram a criar objetos com ela. Eles enxerga-
ram algo além do simples fruto. Essa é a fronteira que te-
mos que ultrapassar”, comenta. Deixando a parte técnica
um pouco de lado, eles revelam de onde vêm aqueles 20%
de pura inspiração. “Temos um olhar aguçado o tempo in-
teiro. Quando viajamos, trazemos novas referências não
só do mobiliário, mas principalmente das ruas, dos metrôs,
da moda e da gastronomia. Tudo isso serve de back ground
para nossas discussões”, comenta Renato. A arquiteta fi-
naliza: “Gosto de um pensamento de Philippe Starck que
diz que é preciso ignorância no ato de criar. Sua mente tem
que estar livre de todas as referências na hora de conceber
uma nova idéia. A verdadeira criação irá surgir de um mi-
lhão de informações que você guarda dentro de si”.
Renato Sólio
Ana Vazquez
54 Estilo Zaffari
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RENATO SÓLIO E ANA VAZQUEZ ASSINAM A MESA DE
CENTRO VITÓRIA RÉGIA, PRODUZIDA PELA SACCARO
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Casa
HELOÍSA CROCCO POSA AO LADO DE ALGUNS
DOS PAINÉIS DE PINUS QUE FICARAM
EXPOSTOS NA MOSTRA “BRASIL NA FRANÇA”
84640_casadesigners.p65 1/25/06, 4:49 PM56
Heloísa CroccoA “Nova Ordem no Planeta” é um dos movimen-
tos mais fortes hoje na Europa e significa, em outras pa-
lavras, a luta pelo reaproveitamento dos recursos natu-
rais no mundo. A designer e artista plástica Heloísa Croc-
co tem seu trabalho intimamente ligado ao reaproveita-
mento da madeira. Por isso, no ano passado, uma co-
missão formada por brasileiros e franceses convidou
Heloísa a expor seus painéis de pinus na mostra “Brasil
na França”, durante os dias 10 de setembro e 31 de ou-
tubro de 2005. “Como parte da programação oficial,
acabo de apresentar os trabalhos da minha pesquisa To-
pomorfose na galeria BOA. BOA, em Hossegor, no su-
deste da França. Ali está localizada a maior floresta de
pinus da Europa, plantada por Napoleão há 200 anos”,
conta Heloísa. A mostra reuniu cinqüenta painéis mo-
dulados, medindo 50 cm x 50 cm cada um e executados
com pequenos volumes de pinus reflorestado e pintura,
numa geometria de efeito óptico e lúdico. Produzida em
2005, a série possibilita uma infinidade de montagens,
onde predominam os brancos, os vermelhos e um con-
junto multicolorido. “O resultado foi impressionante. O
europeu tem muita consciência da importância da pre-
servação ambiental, e meu trabalho envereda nessa te-
mática”, conta a designer. “O povo francês, em particu-
lar, vê muita alegria e muito frescor na cultura brasilei-
ra. O comentário geral sobre o meu trabalho destacava
a originalidade da montagem”, lembra Heloísa, que há
pouco desembarcou da França. Ela conta que a sua liga-
ção com o meio ambiente começou desde criança. “A
natureza sempre me seduziu, sempre me impressionou,
me contagiou. Aprendi não só a olhá-la, como a escutá-
la e a senti-la, em sua força, exuberância, cheiro, cor e
magia. Esta é a nossa grande mestra”, diz. Depois de um
longo convívio com diferentes materiais da natureza,
Heloísa elegeu como foco de pesquisa o veio da árvore
com seus anéis de crescimento. Do seu corte em topo
resultam grafismos, padrões e texturas que começou a
explorar na pesquisa denominada Topomorfose. “Para mim,
o design não é simplesmente um símbolo de status ou de
poder aquisitivo. Ele é espaço de sonhos, de emoções, de
sobrevivência e de filosofia do ser. Atrás de um projeto
estético há sempre a busca de um homem novo”, conclui.
Estilo Zaffari 57
84640_casadesigners.p65 1/24/06, 10:59 PM57
Tina e Lui
Débora,
A cultura tradicionalista do Rio Grande do Sul
ganhou o mundo a partir do design de móveis das irmãs
Tina e Lui. Com uma galeria de prêmios nacionais e
internacionais de causar inveja, elas sempre buscaram
valorizar e evidenciar o artesanato gaúcho. “Sem aque-
les ranços de regionalismo, é claro”, afirma Tina, no seu
escritório, em Porto Alegre. Gêmeas, elas garantem que
a parceria na arquitetura e no design é eterna. “Somos
sócias desde o útero de nossa mãe”, brinca Tina. Uma
das coleções que consagraram o trabalho da dupla foi a
linha de mobiliário Imigrantes, que resgata os traços dos
móveis coloniais italianos e alemães, desta vez apresen-
tados com uma linguagem mais contemporânea. É tam-
bém no interior do estado que essas arquitetas buscam
inspiração: artesãs gaúchas são muitas vezes co-autoras
dos trabalhos desenvolvidos aqui.
A poltrona Mantô, por exemplo, produzida pela
Saccaro, valoriza as tramas de tear, que podem ser de
couro com fios de algodão ou de fibra de bananeira.
“O artesanato do terceiro setor, como costumamos
chamar, pode enriquecer de forma substancial o de-
sign do mobiliário e ainda não é explorado suficien-
temente”, ressalta. Desde 2000, a irmãs Tina e Lui
contam com um reforço na sua equipe de criação: a
recém-formada arquiteta e designer Débora Eichem-
berg. “Ela chegou trazendo um sopro de renovação.
A nossa troca é muito produtiva, e a afinidade e a
sintonia são visíveis”, afirma Tina. Entre os ideais
compartilhados pelo trio, evidencia-se a preocupação
com a natureza. “Fomos as primeiras designers a re-
ceber o Prêmio Ibama, em 1990, com a peça Sofá-
Berço, de madeira Tauari e Marupá, provenientes do
manejo sustentado”, lembra Tina. Desde então, elas
só desenvolvem projetos com as espécies autorizadas
pelo Instituto. Atualmente o trio faz parte do Labo-
ratório Piracema de Design – uma iniciativa que en-
volve arquitetos, designers, entidades e artesãos que
pesquisam e apontam novos caminhos para o artesa-
nato gaúcho. “Este laboratório é uma fonte inesgotá-
vel de aprendizado e de inspiração”, conclui Tina.
Casa
58 Estilo Zaffari
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TINA (DE PÉ), DÉBORA (SENTADA)
E LUI (APOIADA NA POLTRONA)
VALORIZAM O ARTESANATO NESTAS
PEÇAS PRODUZIDAS PELA SACCARO
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Bom conselho
P O R M A L U C O E L H O
TRADIÇÃO NO
VERÃO GAÚCHO
O ano novo começa e as nossas expectativas de que pode ser melhor
e diferente também. Ah! Parece fácil falar que as mudanças dependem de
nós... Mas dependem... A vida é uma aventura extraordinária e existem
milhares de caminhos possíveis. Com ousadia, coragem e fé chegamos lá...
As mudanças em nossas mãos. Desde se livrar de antigos hábitos, até
cuidar mais dos detalhes do seu dia-a-dia, acompanhe algumas dicas para
começar o ano com energia positiva e muito bom humor. Veja como:
1. LIMPE O SEU CORAÇÃO: NÃO GUARDE RESSENTIMENTOS, MÁGOAS E CIÚMES. 2. FAÇA AS PAZES COM O SEU CORPO: CURTA-SE DIANTE DO ESPELHO. 3. NÃO TOME DECISÕES IMPOSSÍVEIS DE REALIZAR. 4. RECLAME MENOS DA VIDA E VALORIZE OS MOMENTOS BONS. 5. CUIDE DO PLANETA, FAÇA A SUA PARTE, ECONOMIZE ÁGUA, SEPARE O LIXO, PLANTE FLORES E
ÁRVORES. 6. DIGA A SEUS AMIGOS O QUANTO ELES SÃO IMPORTANTES PARA VOCÊ. 7. LIVRE-SE DOS ENTULHOS (TUDO QUE INCOMODA VOCÊ). É HORA DE RECICLAR A VIDA. 8. LEIA MAIS. VALORIZE A NOSSA LITERATURA. TEMOS EXCELENTES ESCRITORES.
Fala sério.... O verão tá aí!
E como é tradição de todo gaúcho, aquela mudança para a praia na
temporada sempre acontece. No roteiro não falta aquela passada pelo su-
permercado para abastecer a casa de praia, nem a rede para os cochilos de
depois do almoço. No kit básico do verão, roupas novas e leves, protetores
solares, cremes e muita vontade de curtir as novidades do litoral gaúcho.
Afinal, a gente praticamente fica morando na praia, não é? Neste momen-
to, vale seguir novamente a tradição: um bom churrasco, chimarrão curtin-
do o fim de tarde, conversa com amigos, leitura, muita leitura.
UFA! E VIVA O VERÃO!
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Lugar
pousadaT E X T O S E F O T O S
D A N I E L M A R T I N S
Os engenhos
de uma
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Lugar
ALGUNS VÃO PASSAR LÁ O FIM DE SEMANA,
MAS NÃO CONSEGUEM IR EMBORA NO DOMINGO
64 Estilo Zaffari
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Os engenhos de uma pousada
Alguns quilômetros e uma história curiosa sepa-
ram a praia da Ferrugem, em Santa Catarina, e São Fran-
cisco de Paula, na Serra gaúcha. Conta um dos proprie-
tários da Pousada do Engenho, Ananta Alano, que o
final da década de 70 trouxe grandes mudanças à pe-
quena praia catarinense. Da noite para o dia, os nativos
deixaram de se interessar pela pesca e pelo trabalho nos
engenhos de farinha. A luz elétrica anunciava o pro-
gresso e a nova onda passou a ser carros, terrenos e tudo
o mais que pudesse trazer lucro imediato. “Daria um bom
material para uma tese de sociologia”, brinca.
Ananta, que na época passava uma temporada por
lá, decidiu salvar um pouco do que restava da vida mais
agrária e artesanal, que estava ficando para trás num
piscar de olhos. Ele percorreu a região em busca de en-
genhos que estivessem em boas condições. Visitou mais
de 50, até que finalmente encontrou um que lhe agra-
dasse e o comprou por um preço irrisório, já que esse
não era mais o negócio por ali. Transportou-o com cer-
ta dificuldade para terras gaúchas, colocando o enorme
engenho no terreno onde hoje é a pousada, mas que na
época era simplesmente o lugar onde ele e o irmão pas-
savam as férias com a família e também faziam as me-
lhores festas juninas da região. “O astral aqui foi sempre
muito bom. Por sorte, só atraía gente com boa energia”,
contam os donos.
A máquina ficou por lá até o dia em que Ananta
foi morar no Chile e resolveu doar o engenho para al-
guém que pudesse realmente tirar proveito dele. Entrou
em contato com a prefeitura de Novo Hamburgo e fez
uma doação, legitimada e reconhecida em cartório. Para
a sua surpresa, ao regressar do Chile anos mais tarde, o
engenho estava completamente em desuso, num estado
deplorável. “Deu pena de ver. A vontade que eu tive foi
de chorar”, lembra. A única peça resgatada adorna hoje
a fachada da pousada: uma enorme prensa de madeira,
que no engenho servia para amassar a mandioca. Nessa
época começaram os movimentos para transformar a
casa de veraneio da família numa grande cabana para
alugar. A construção original foi preservada com toras
de araucária trazidas do Paraná, num tempo em que a
laminação desse tipo de madeira ainda era permitida.
“O frete foi mais caro que a própria madeira”, lembra
Ananta. Mais tarde, a casa do caseiro também virou
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cabana e passou a receber hóspedes. Hoje são 10 caba-
nas, mas o projeto é não ter mais do que 13, afirmam os
donos.
Luxo no meio do mato
Quem está dentro do quarto vê a janela como mol-
dura de um lindo quadro, preenchido por mata nativa,
de um verde vivo. Se fixarmos o olho, a impressão que
temos é de que não existe interferência do homem nes-
sa paisagem. E, de fato, essa é a grande preocupação por
ali: manter esses dois hectares o mais preservados possí-
vel. Uma caminhada revela pequenas “ilhas” de bosques
mantidos ao longo do terreno. As cabanas, estilo
loghouses canadenses – você vai lembrar do Daniel Boon
–, respeitam uma distância entre si, o que privilegia o
silêncio. Nem mesmo o Pavarotti hospedado na cabana
ao lado vai conseguir quebrar o seu sossego.
Aliás, o que não falta por ali são cuidados para
que os hóspedes passem bem. Imagine só: pantufas ao
lado da cama, uma seleção musical escolhida a dedo,
A POUSADA CONTA COM UMA MARCENARIA PRÓPRIA.
Lugar
66 Estilo Zaffari
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hidromassagem tamanho família, lareira no centro do
quarto e um skylight para os dias ensolarados. Mas an-
tes de pensar em ficar o final de semana inteiro entocado,
saiba que é só botar o pé fora da cabana para ter o que
fazer: quadra de tênis, piscina aquecida sem cloro – com
sistema de salinização –, um lounge com música e
cafeteria, salão de jogos, ofurô, sala de fitness e sauna.
Outra atração exclusiva da pousada é o Lareiral,
uma espécie de luau em torno da lareira, com músicos
especialmente convidados. Além de tudo isso, a pousa-
da ainda oferece um pacote exclusivo de lua-de-mel para
os apaixonados.
Gastronomia e cinefilia
Na desolada costa da Dinamarca vivem Martina e
Philippa, as belas filhas de um devoto pastor protestante
que prega a salvação por meio da renúncia. As irmãs sa-
crificam suas paixões da juventude em nome da fé e das
obrigações, e mesmo muitos anos depois da morte do pai
elas mantêm vivos seus ensinamentos entre os habitantes
da cidade. Até que a chegada misteriosa de uma refugia-
da da guerra civil da França mexe com o pequeno povo-
ado, e a vida das irmãs começa a mudar. A forasteira as
convence a tentar algo realmente ousado: um delicioso
banquete francês. A essas alturas, você já deve estar se
perguntando o que o enredo do filme sueco “Festa de
Babette” tem a ver com uma pousada em São Francisco
de Paula. Pois foi justamente inspirado em filmes como
esse que o inventivo projeto Mesa de Cinema nasceu. Uma
vez por mês, em um final de semana, é promovido um
encontro entre a sétima arte e a culinária. Tudo começa
com a apresentação de um filme, seguido de um debate
comandado por especialistas nas respectivas áreas. Logo
após o bate-papo, quando todos já estão com mais água
do que palavras na boca, acontece o tão esperado jantar.
Para cada exibição, há um chef especialmente convidado
para comandar as caçarolas e performances exclusivas,
de acordo com o tema do filme. No dia de “A Grande
Noite”, que conta a história de dois irmãos italianos do-
nos de um restaurante na Nova Jersey de 1950, os termô-
QUASE TODOS OS MÓVEIS SÃO FEITOS LÁ MESMO
Estilo Zaffari 67
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Lugar
metros estavam marcando temperaturas baixíssimas. “Era
um frio de rachar”, lembra Alex. Terminado o filme, os
convidados tiveram que encarar uma caminhada da sala
de exibição até o restaurante, mais ou menos 200 metros.
O jeito foi se aquecer com pequenos goles de grapa. Sem
que se dessem conta, as pessoas foram entrando no espí-
rito da noite que as aguardava.
Chegando no restaurante Casa de Babette, perce-
beram que o clima de “A Grande Noite” estava por to-
dos os cantos. As mesas, a música, a iluminação e o aten-
dimento feito por todos que estavam trabalhando ali lem-
bravam com criatividade cenas do filme. Embalados pelo
mambo italiano extraído da trilha sonora do filme, os
convidados arriscaram passos e mostraram que, àquela
altura, não era só a música que os fazia dançar. O aroma
vindo da cozinha anunciava o cardápio comandado por
Mario Gradella, composto de um risoto tricolor e um
delicioso tímpano, recriando com maestria as maravi-
lhas gastronômicas do filme. Jantares assim já acontece-
ram inspirados pelos filmes Festa de Babette, Simples-
mente Marta, Como Água para Chocolate, Vatel,
Tampopo, O Cheiro de Papaya Verde, O Amor está na
Mesa e Comer, Beber e Viver.
Um engenho movido a paixão
Conversando com os donos, aos poucos vai-se des-
cobrindo como nasceu cada um dos atrativos, o porquê
disso ou daquilo. Descobrimos, também, que todos os
móveis, com raras exceções, são feitos por eles na mar-
cenaria da pousada.
À medida que vamos conhecendo melhor o lugar, a
palavra engenho vai assumindo mais de um significado.
Não apenas o da máquina de moer que deu origem ao seu
nome, mas também o da capacidade de inventar, de criar
com técnica e arte. Das espreguiçadeiras estendidas no deck
da piscina ao Vatapá Oriental, delicioso prato feito com
camarão, grão de bico, leite de coco, curry e especiarias,
tudo tem o toque dos donos. E se for pela paixão que eles
dedicam a cada dia de trabalho, esse engenho vai conti-
nuar funcionando bem por muitos e muitos anos.
SÃO 10 CABANAS EM 2 HECTARES DE MATA NATIVA.
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TUDO TEM O TOQUE APAIXONADO DOS DONOS
SERVIÇO
A POUSADA TRABALHA EM PARCERIA
COM AGÊNCIAS QUE REALIZAM PASSEIOS
PARA OS PRINCIPAIS PONTOS TURÍSTICOS
DA REGIÃO. MAIS INFORMAÇÕES
PELO FONE (54) 3244.1270 OU PELO E-MAIL
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(con)vivências
Férias para o relógio e para os lenços de papel
FEVEREIRO
Fevereiro é o mês em que os psicoterapeutas tiram
férias. Não bastasse estarem de recesso, a grande maioria
viaja para lugares remotos, deixando o celular em casa.
Portanto, pacientes das mais diversas linhas terapêuticas,
sejam compreensivos e não se metam em encrencas. Cri-
ses, pedidos de divórcio, pedidos de demissão, depres-
sões, dietas severas – por favor – deixem pra março. Dêem
férias para os problemas, ou então segurem a barra sozi-
nhos, fazendo valer o investimento que foi feito durante
o ano. Pensem positivo: por um mês estaremos livres dos
dois equipamentos fundamentais da sala de terapia: o re-
lógio que só é visto pelo terapeuta e a caixa de lenços de
papel, aquela que está na mesinha ao nosso lado. É isso
mesmo, o relógio é sempre posicionado na linha do olhar
dele, para que a verificação das horas seja discreta. Con-
sultar o relógio de pulso estaria fora de questão. Seria um
gesto agressivo, de quem tem pressa ou de quem está com
o pensamento em outro lugar. Palestrantes também têm
esse cuidado retirando o relógio do pulso e colocando-o
sobre a mesa. Mas os terapeutas não estão preocupados
com a etiqueta, e sim como os nossos sentimentos. Ca-
muflam os relógios para evitar olhares enviesados e trai-
çoeiros em busca dos ponteiros, o que macularia, com
algum tipo de interpretação negativa, os nossos 45 minu-
tos de lama. Haveria no mundo algum assunto mais ur-
gente do que nossa crise existencial semanal? Estaria o
terapeuta entediado com o relato do sonho que tivemos
na noite anterior? Teria o próximo paciente um caso mais
interessante ou mais patológico? Não, nossos terapeutas
não querem aumentar o nosso repertório de angústias. E
quanto aos lenços de papel, não se enganem. Eles não
estão ali para o caso de estarmos gripados. Tampouco ser-
vem para se tirar a maquiagem enquanto reclamamos so-
bre nossos chefes e nossos pais. Eles foram plantados ali
para enxugarem nossas lágrimas. Sim, em algum momen-
to, no meio da tarde de um dia de semana, vamos chorar
diante daquele estranho. (Ao menos esta é a fantasia dele.)
E podem apostar que efetivamente vamos chorar, nem
que seja na hora de fazer o cheque mensal de seus hono-
rários. E você nem tinha reparado na caixinha de lenços?
Ou pior: seu terapeuta ainda não tomou esta providên-
cia? Pois em março, solicite a sua. Em contraposição ao
relógio, ela é a parte que lhe favorece. Quanto aos
lencinhos usados, seja educado e lembre do que apren-
demos com Celia Ribeiro: não havendo cestinha de lixo,
leve-os com você. Assim estará retribuindo a etiqueta do
relógio, e se não for por esta razão, tenho argumentos
mais fortes: deixá-los será um ato falho, passivo de inter-
pretação. E se bobear, lá se vão mais dois anos de análise
para cada lencinho deixado para trás.
R U Z A A M O N
RUZA AMON É JORNALISTA
70 Estilo Zaffari
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Perfil
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TANGOS,
TRAGÉDIAS
E OUTRAS
HISTÓRIAS
HIPERBÓLICOS, HISTRIÔNICOS, ROCAMBOLESCOS, LÉPIDOS E FA-
CEIROS. ASSIM SÃO O MAESTRO PLETSKAIA E O VIOLINISTA KRAU-
NUS SANG, PERSONAGENS – OU SERIAM ALTEREGOS? – DE NICO
NICOLAIEWSKY E HIQUE GOMEZ. VALE DIZER QUE NICO E HIQUE
SÃO MAIS CONTIDOS E MENOS CARETEIROS DO QUE OS PERSO-
NAGENS QUE ASSUMEM NO ESPETÁCULO TANGOS E TRAGÉDIAS,
MAS NÃO MENOS CARISMÁTICOS DO QUE ELES. HÁ MAIS DE VIN-
TE ANOS, OS DOIS LOTAM AS PLATÉIAS DE PORTO ALEGRE E
LEVAM O PESSOAL AO TRANSE COM SUAS MÚSICAS CARREGA-
DAS DE DRAMATICIDADE CÔMICA. NO APARTAMENTO DE NICO,
EM UM AMBIENTE QUE PARECE QUERER CONTRASTAR COM O
FIGURINO MONOCROMÁTICO DO TANGOS E TRAGÉDIAS, CONVER-
SEI COM A DUPLA DE ARTISTAS QUE, COM O PERDÃO DO TROCA-
DILHO QUE ELES MESMOS CRIARAM, SÃO MAIS DO QUE ÍCONE:
SÃO NÍCONE E HÍQUEONE.
P O R P A U L A T A I T E L B A U M
F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O
Estilo Zaffari 73
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Perfil
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QUANDO O HIQUE COMEÇOU A AFINAR MUITO,
NA VERDADE EU COMECEI A ESTRANHAR
NICO E HIQUE SÃO APELIDOS. QUAIS OS NOMES DE VOCÊS?
NICO: Meu nome de batismo é Nelson, e o Nico é umapelido da adolescência vindo do Nicolaiewsky.
HIQUE: Luiz Henrique Gomes. Meu apelido de infânciaera Ike, mas eu mudei para Hique porque eu queria ser maisbrasileiro. Depois do Tangos e Tragédias eu me descobri muitoespanhol dentro do Brasil, e o z no Gomez fica mais diferente.Eu adorava o Gomez da família Adams, minha mulher é meioMortícia, morena de cabelos compridos, e adora humor ne-gro. Eu acho que fiz o Kraunus Sang para conquistá-la, sabe...depois eu adoro o Zorro... e o meu herói musical é o Zappa.
QUANDO VOCÊS SE CONHECERAM?
NICO: Em 80, 80 e poucos... eu tava com o Saracura...(aqui eles discordam, Hique diz que foi no fim da década de70, Nico diz que não... eu digo que não importa e Nicocontinua...).
Nessa época, cada um tocava na sua banda, mas semnenhum contato tête-à-tête. Aí, dentro da minha memó-ria, nos encontramos uma vez numa praia em Santa Cata-rina e nós passamos a noite tocando. Só anos depois é quenos encontramos de novo, por acaso, eu tava a fim de fazercoisas novas, tava saindo do Saracura, conversamos e re-solvemos fazer alguma coisa juntos, o Hique tava come-çando a estudar violino. E aí começamos a nos encontrarpra estudar.
MAS O QUE MAIS UNIU VOCÊS? AS DIFERENÇAS OU AS SEME-
LHANÇAS?
NICO: Primeiro as semelhanças, os dois estavam preci-sando de trabalho. Segundo, tinha uma oportunidade detocar num bar e o Hique tocava um instrumento, eu toca-va outro, a coisa somava.
HIQUE: E a gente se divertiu, começamos descompro-missadamente. Eu ficava meio inseguro: “Ah, esse violinoque eu tô tocando não tá muito afinado, aí eu digo pô, mastá bom isso aqui, tá bacana”. O Nico já tocava O Ébrio noSaracura e aí a gente começou a tocar... Eu jamais tocariaO Ébrio... Eu achava interessante porque sempre tive inte-resse por história da música, meu pai era percussionista,então ele promovia muitos saraus em casa, sempre trazia
muita música antiga. Mas O Ébrio não era um tipo de mú-sica que meu pai tocava, era mais samba e tal, e aí o Nicocomeçou a tocar O Ébrio e vamos lá...
E OS PERSONAGENS FORAM NASCENDO NATURALMENTE?
HIQUE: Pois então, a gente tocava O Ébrio, e o Nicotinha mais umas músicas do Vicente Celestino. Daí come-çamos a procurar um jeito de interpretar essas músicas evieram os personagens.
NICO: E sendo personagens podia desafinar, não tinhaproblema. Tanto que, anos depois, quando o Hique come-çou a afinar muito, na verdade eu comecei a estranhar. É amesma coisa, por exemplo, quando tu escuta o Vander(Wildner) cantando. Daqui a pouco o Vander aparece su-perafinado com uma voz bonitinha, tu diz: “Epa, tem umlance aqui que não tá...”.
HIQUE: E tinha um negócio integrado...
OS DOIS SÃO MEIO ATORES, NÉ?
NICO: Eu gostava de teatro, sempre gostei, mas nuncatinha atuado. Quando a gente começou o Tangos e Tragé-dias, nenhum dos dois tinha feito nada. Eu me lembro queàs vezes eu sugeria uma atuação e o pessoal dizia: “Nãoenche o saco com esse lance de teatro”. E o Hique embar-cou na história, entrou na brincadeira.
HIQUE: No nosso caso, veio muito naturalmente essacoisa dos personagens, começou a fechar, fechar, fechar... epum, fechou. Logo que nós começamos o Tangos e Tragé-dias, o Dilmar Messias me convidou pra fazer uma peçacom ele, o que, para mim, foi a minha formação de ator.
E A HISTÓRIA TODA DOS PERSONAGENS. DA SBÓRNIA E TAL,
VEIO DEPOIS?
NICO: Foi ao longo dos anos. Primeiro nasceram os per-sonagens e depois veio a história. Os próprios personagens,no início, não tinham uma definição. Tinham uma roupa.O nome, na verdade, foi na estréia.
AH É?
NICO: É. O Hique diz que foi antes, mas na verdadenão foi.
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COM DEZOITO ANOS, EU RESOLVI QUE NÃO IRIA
FAZER FACULDADE, QUE EU IRIA SER MÚSICO
Perfil
HIQUE: É que nós temos duas memórias, entendeu? Ea gente respeita isso.
NICO: Pra mim, o nome foi dado nos corredores do IAB,onde a gente tava. Não tinha camarim, a gente tava nocorredor, sentados na escada, esperando pra entrar, quan-do se deu conta de que podiam ser os nomes aqueles. Mas oHique tem uma outra história.
HIQUE: Eu acho que foi na casa da mãe do Nico, nacozinha. Eu me lembro claramente que a gente tava ensai-ando e ensaiando uma música do Chaplin que eu trouxepra gente colocar uma letra. E daí eu disse: “Pô, vamos can-tar aquela música, vamos inventar uma letra”. E começa-mos a inventar, daí eu inventei uma parte da música, eleinventou a outra e tinha uma parte que era assim: “Pletskayae Kraunus Sangue, Desesperovna Schissell, Pobrovna mãematerna, Klicson Wander Boi Tatá...”. Que não quer dizernada, mas quer dizer tudo, contém uma sinopse...
NICO: É pela sonoridade, uma sonoridade meio iídiche...HIQUE: Pobrovna mãe materna é a história do coração
materno, que era capa do CD, então tinha aquela expres-são ali, Pletskaia e Kraunus Sang...
NICO: A gente criou a capa do CD cinco anos depois,ele inverteu um pouco o tempo...
HIQUE: O que eu tô dizendo é que essa imagem é tãoimportante... bom, mas o que eu tava falando? Ah, daí nacasa da mãe dele pintou essa coisa: “Vamos fazer persona-gens, cara!”. Eu sou o Kraunus Sang. Daí o Nico falou (Hi-que fala meio contido, sem ânimo): “Tá, eu sou o Pletskaia”(risos). Mas ele diz que foi depois lá no IAB.
NICO: Foi o que aconteceu... Mas a gente nunca sabe oque é real e o que é imaginário...
HIQUE: A estréia no IAB é que foi superlegal, a gente sedivertiu muito, tinha bastante gente...
NICO: Lotou!HIQUE: Vieram parabenizar com muita ênfase. Eu não
tinha a menor noção da qualidade, porque a gente tavamais se divertindo... Não quero dizer que eu tava totalmentedescompromissado, porque depois a gente decidiu que iaser assim, um tipo de performance... toda essa estética dopreto-e-branco que a gente assumiu vem de uma memóriado Vicente Celestino. E tudo ligado ao cinema preto-e-bran-
co, a obra do Chaplin, que pra mim é uma referência dearte muito forte.
TU ESTÁS CADA VEZ MAIS ENVOLVIDO COM CINEMA... INCLUSI-
VE FIZESTE UM FILME EM QUE A NETA DO CHAPLIN É A PRO-
DUTORA...
HIQUE: Na verdade, ela assinou como produtora pro fil-me entrar no pacote da família. “A Festa de Margareth” é otítulo. É um tributo ao Chaplin.
TÁ NO CIRCUITO COMERCIAL?
HIQUE: Já foi lançado em DVD nos Estados Unidos eele entrou no MoMA... Aqui, já passou, mas passa assim,uma semana, duas semanas.
HOJE, COMO É QUE VOCÊS SE DEFINEM? ARTISTAS?
NICO: Eu me considero uma personalidade. (risos)
FALA MAIS SOBRE ISSO.
NICO: É brincadeira... Na verdade eu me considero umNícone mesmo...
HIQUE: É o Nícone e o Híqueone...
VOCÊS PENSAVAM ISSO? QUE CHEGARIAM ONDE CHEGARAM?
NICO: Com dezoito anos, quando eu resolvi que eu nãoia fazer faculdade, que eu ia ser músico, eu pensei: querofazer uma banda e quero fazer desenho animado. Duas coi-sas que eu pensava que eu queria fazer. Ou seja, eu já tinhaa idéia de não ser uma coisa só. Na verdade, eu tô longe deser um músico com as características de um músico. Eu te-nho uma visão, eu vejo a música como uma forma de...
HIQUE: Expressão...NICO: Eu ia dizer de expressão, mas isso não define... é
algo muito mais aberto... uma tentativa com a música deexprimir uma coisa que eu já sei que é maior do que a mú-sica... Eu estudava piano clássico, eu era músico, mas issonão me fazia a cabeça totalmente...
QUAIS SÃO OS SIGNOS DE VOCÊS?
HIQUE: Eu sou Áries, com ascendente em Touro e luaem Sagitário.
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Perfil
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AQUELA CARGA PERFORMÁTICA DOS ANOS 70
É A MAIOR ESCOLA. MUTANTES, POR EXEMPLO
NICO: Eu sou Gêmeos, ascendente em Gêmeos, lua emEscorpião.
TÁ, E TU, HIQUE, IMAGINAVAS QUE UM DIA SERIAS ATOR?
HIQUE: Não... Quando eu nasci, o meu pai era jogadordo Grêmio, já tinha jogado no Renner. Então, quando eutinha onze anos, eu queria ser jogador de futebol. Mas daímeu pai falou: “Hoje vai vir um professor de violão aqui e tuvais começar a ter aula”. E eu: “Pô! Aula, cara, de violão? Eusou jogador!”. Daí começou a ir o professor lá e eu na pri-meira aula fiquei desbundado com a música. O professor eradelegado de polícia e meu pai chegava depois da aula. E daíeles ficavam até uma parte da noite tocando, os dois ali, meupai na percussão. Depois meu pai foi trabalhar na Caixa Eco-nômica Federal e a gente se mudou pra Soledade. Lá, quan-do eu tinha quinze anos, virei profissional, porque eu entreinuma banda de baile, tinha que ter carteirinha profissional,meu pai teve que assinar autorização...
MAS SEM NENHUMA INTERPRETAÇÃO, EXPRESSÃO?
HIQUE: Não, não, completamente tocado pela música esó... Pra mim, aquela carga performática dos anos 70 é amaior escola. Mutantes, por exemplo. Rita Lee... O primei-ro show de rock que eu vi na minha vida foi da Rita Lee. Eufugi de Soledade, meus pais não queriam que eu viesse, aíeu fui pra estrada, peguei carona.
QUANTOS ANOS TU TINHAS?
HIQUE: Antes de ser profissional... Uns 14, eu acho...Vim ver o show da Rita Lee. Fiquei enlouquecido... Era in-crível o show, era incrível.
JÁ FALOU ISSO PRA ELA?
HIQUE: Já, já... Ela pra mim é uma referência de arte, per-formance e anarquia. E isso tinha na minha casa também,anarquia e música, brincadeiras... Depois que eu encontrei oNico, a gente começou a tocar e eu me expus pelo lado doviolino. O que eu queria ser, antes de encontrar o Nico, eramúsico arranjador de orquestra. Tava começando a escreverarranjos. E aí, quando eu encontrei o Nico, isso tudo desan-dou, totalmente... Mas agora, nos últimos tempos, eu tenho
feito concertos em orquestras e tenho misturado essas duascoisas, os personagens com os arranjos.
O QUE VOCÊS GOSTARIAM DE FAZER QUE NÃO FIZERAM AINDA?
PROFISSIONALMENTE.
HIQUE: Pra mim é muito claro que o desenvolvimentodo Tangos e Tragédias trouxe um desenvolvimento pessoale profissional muito grande. Aquele lado de compositoresficou em segundo plano, porque o palco passou a ser o nos-so ganha-pão, subsistência. Então a gente passou a investirmuito no palco, nas performances do Tangos e Tragédias edeixamos de gravar e de compor as nossas próprias músi-cas. Pra mim, pelo menos, começou a ficar um problemater que abrir mão da criatividade e ter que negociar contra-tos com gravadoras. Porque a gente não depende de abso-lutamente nada, não depende de lançar disco, inclusive nãodependemos de patrocinador. A gente conseguiu públicosuficiente pra nossa caminhada independente... Então, gos-taria de lançar mais discos, compor mais...
NICO: Eu tenho muitas vontades, vontades demais,idéias demais, na verdade, e aí vão sendo selecionadas essasidéias e vai acontecendo. Mas realmente não sei o que euvou acabar fazendo na vida. Muitas coisas estão aconte-cendo, várias coisas bacanas, inclusive esse show que eu tôfazendo agora, de canções, num bar, que era uma idéia, umprojeto que eu queria tocar mais próximo das pessoas. Masessa mistura de animação e música é uma coisa que eu gos-taria de fazer. Adoraria participar do próximo “A noiva ca-dáver” (filme de Tim Burton).
HIQUE: Uma coisa que eu tenho muita vontade de fazeré produzir outros artistas. Porque quando eu entro em con-tato com o trabalho de um artista, eu sei do potencial dele,eu sinto e sei que eu posso fazer alguma coisa, formataralgo e botar ele na estrada.
VOCÊS TÊM ALGUMA IDÉIA TIPO “VAMOS FAZER O TANGOS MAIS
CINCO ANOS E VAMOS PARAR”?
NICO: Tem uma coisa que é o tônus da idade. Por exemplo,eu fui ver um espetáculo do Marcel Marceau, grande mímico,maravilhoso, a turnê de despedida, ele tava com 70 e poucosanos, sei lá... Na verdade, achei muito triste, porque ele já não
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O NICO NÃO GOSTA DE COMER NADA ANTES DO
SHOW, MAS EU GOSTO DE COMER SANDUÍCHE
Perfil
tinha a energia necessária pra fazer, não tinha o tônus muscu-
lar. E daí eu disse: “Eu não quero fazer o Tangos e Tragédias até
isso”. Enquanto tiver fazendo e tiver uma energia, não for aque-
la “coisa antiguinha que se repete”, vamos fazendo...
VOCÊS JÁ PENSARAM EM MORAR FORA?
NICO: Eu morei dez anos no Rio e tenho muita vontade
de morar em Barcelona ou Madri, morar na Espanha, ficar
um tempo lá estudando e fazendo coisas...
HIQUE: Depois dessa experiência do filme Festa de Mar-
gareth lá em Nova Yorque, com uma aceitação absurda,
chegar lá com expectativa zero e ter um retorno tão fantás-
tico das pessoas, pô, entrou no acervo do MoMA, Museu
de Arte Moderna, fez uma excursão pelos Estados Unidos,
foi o único filme da América do Sul no Tridex Film Festi-
val, que o De Niro e o Scorcese organizaram, depois foi pra
Paris... Então, depois de conhecer pessoas lá e ver possibili-
dades de trabalho, ver que não é um mundo tão alienígena,
eu penso, em algum momento, em morar por um tempo
nos Estados Unidos.
VOCÊS JÁ APRESENTARAM O TANGOS FORA DO BRASIL...
NICO: Nós temos ele todo em espanhol. A gente apre-
sentou em Buenos Aires, Colômbia, Equador, Espanha...
ALGUMA DIFERENÇA?
NICO: Igual. Em espanhol ele fica muito bem. Têm coi-
sas que ficam melhores do que em português. Aquele dra-
malhão...
O QUE NUNCA FALTA NA GELADEIRA DE VOCÊS? O HIQUE É
VEGETARIANO. E O NICO, É CARNÍVORO?
NICO: Sou! Sou supercarnívoro. Sou carnívoro, assim,
de carteirinha. Me faz muito bem. Quando eu tô meio mal
do estômago eu preciso de um bifão mal passado e aí ajei-
ta... E faço churrasco. Churrasco de forno, né? Sou gaúcho
de apartamento... Faço uma picanha do forno bárbara.
Agora o que nunca falta na minha geladeira é Manteiga
Aviação.
HIQUE: Eu sou vegetariano e quando eu tô na estrada eu
sofro um pouco... E na minha geladeira nunca falta rúcula.
VOCÊ NÃO COME NEM PEIXE?
HIQUE: Eu passei muitos anos sem comer peixe. Faz uns
três anos que eu voltei e agora como uma vez por mês. Na
estrada eu me adapto, mas em casa, pô, em casa é excepci-
onal, a comida é feita pela minha mulher, que também é
vegetariana...
E O QUE NUNCA FALTA NO CAMARIM DE VOCÊS?
NICO: O que nunca falta no camarim é água, conha-
que...
HIQUE: No do Pletskaia!
NICO: Sim, eu tô falando do meu camarim. Água, co-
nhaque e espelho.
HIQUE: Pra mim, nos últimos anos, não falta spray for-
te. Nosso camarim é muito simples... E sanduíche integral.
Eu gosto de comer antes do show. O Nico não gosta de
comer nada antes do show, mas eu gosto de comer sanduí-
che.
E SE VOCÊS PUDESSEM FAZER QUALQUER EXIGÊNCIA DO MUN-
DO NO CAMARIM?
HIQUE: A gente poderia fazer algumas exigências... Ter
champanhe. De vez em quando tem, mas não é uma coisa
que a gente exija.
NICO: Chimarrão de vez em quando tem, é uma coisa
de que eu gosto...
UM PEDIDO PARA 2006. PODE PEDIR QUALQUER COISA. SEU
DESEJO SE REALIZARÁ...
HIQUE: Eu queria pedir para que aquelas pessoas que
têm responsabilidade sobre o meio ambiente, as grandes
indústrias, que pensem e pensem muitas vezes sobre qual é
o impacto que isso vai ter sobre o nosso futuro. Acho que
não importa o nível de sucesso que a pessoa tenha, sempre
tem um negócio muito profundo sobre o estar vivo. Qual-
quer ação, pequena que seja, de qualquer pessoa, separar o
lixo em casa, uma coisinha pequenina... mas de coisinha
pequenina em coisinha pequenina a gente consegue muita
coisa.
NICO: Pra 2006, eu queria o fim da miséria, o fim da
pobreza.
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Assim, ó...
O glamour é quase um caso de educação pública
Não faz muito veio a público um debate interessante, pro-
tagonizado pelo publicitário Miltinho Talaveira e potencializa-
do pela Martha Medeiros. Apareceu quase em forma de pala-
vra de ordem: “É preciso glamorizar nosso litoral”, bradou o
Miltinho; e a Martha, apoiando a idéia, deu seu depoimento,
evocando o exemplo de Punta del Este como modelo de praia
que valoriza as coisas bonitas. (Estou grafando “glamorizar”, que
é a forma registrada no melhor dicionário do português brasilei-
ro de nossos dias, o Houaiss.) Claro que, como toda conversa
pública, também esta correu o risco da incompreensão. Teve
gente que tomou como uma ofensa pessoal a restrição às nossas
praias; mas também teve gente, como eu, que vibrou com a
possibilidade de ver um atrito intelectual produzir luz.
É evidente que há vários fatores a ponderar, como bem
sabem o Miltinho e a Martha. Tem o problema puro e simples da
renda média das pessoas que vão a Punta ou a uma das praias
próximas das grandes cidades gaúchas. Tem também o problema
da educação, que não tem relação tão direta assim com a renda,
porque muita gente que faz todas as refeições com a melhor co-
mida e estuda em colégios muito bem pagos acaba praticando
indelicadezas de todo tamanho, a começar pelo barulho que não
deixa a vizinhança dormir e a terminar, talvez, pelos cachorros
perigosos que andam sem a devida proteção. Tem também o as-
pecto físico das praias gaúchas, que em média dispõem de uma
linha reta, sem outra atração na beira-mar, em contraste com o
litoral recortado, sinuoso e acolhedor de Santa Catarina e tam-
bém de Punta. (Mas tem também o fato de que nós aproveitamos
muitíssimo mal outras maravilhas locais, como as lagoas.)
Outros lados do problema poderiam vir à tona, na mesma
conversa. Um deles é o seguinte: estamos falando do destino dos
espaços públicos, espaços que compartilhamos com todo mun-
do. Que um sujeito queira pintar o interior de sua casa com cores
horríveis e deixá-lo sujo, problema dele, em princípio; mas que
ele deixe a calçada dele suja ou pintada de cor insuportável, pro-
blema de todo mundo. O que diremos, então, de espaços como
prédios públicos, ou aquilo que os urbanistas chamam de mobili-
ário urbano (postes, hidrantes, bancos, sei lá mais o quê), ou as
praças? O Miltinho e a Martha, como eu e creio que todo mundo
de bem, estão clamando por beleza. Beleza para todos.
O que talvez o leitor não saiba é que glamour (ou glamor,
na escrita norte-americana) veio de grammar, que é “gramáti-
ca” em inglês. No século 18, os escoceses adotaram a palavra,
grafando glamer. Ou por ser a gramática uma ciência erudita e
misteriosa para o povo, ou por haver uma associação entre apren-
dizado em geral e o aprendizado da feitiçaria, a palavra glamer
passou a significar “feitiçaria”. Daí teria vindo o sentido do gla-
mour como feitiçaria, só que ligada ao apelo sexual, ou ao en-
canto, ao magnetismo pessoal, charme, sensualidade. Para nós,
no Brasil, o termo teve uma escala na França, onde se diz “gla-
MURR”, com “r” na garganta e acento na última sílaba, ao pas-
so que em inglês se diz “GLÉ-mâr”, tônica na primeira.
Por mim, então, glamorizar é civilizar, retomando um sig-
nificado que ficou lá atrás, ligado à gramática, no sentido de um
código de regras com validade geral. É um caso, daria pra dizer,
de educação pública, a mesma que eu sinceramente gostaria
que fosse universal e de qualidade para todos, de tal forma que
a glamorização fosse acompanhada do fim dos feios e incom-
preensíveis grafitos, aquela sujeira pintada em público mas para
ser compreendida apenas por uns poucos, numa contradição
irritante.
L U Í S A U G U S T O F I S C H E R
LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR
GLAMORIZAR É CIVILIZAR
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