Revista Experimental EM BELEM 03

52
DIREITOS BÁSICOS você olha, mas você não vê. Jornal Laboratório da Disciplina de Projetos Gráficos - 4JLM1 - UNAMA - no 3

description

Projeto experimental da turma 4JLM de jornalismo da Unama 2012

Transcript of Revista Experimental EM BELEM 03

Page 1: Revista Experimental EM BELEM 03

DIREITOS BÁSICOSvocê olha, mas você não vê.

Jornal Laboratório da Disciplina de Projetos Gráfi cos - 4JLM1 - UNAMA - no 3

Page 2: Revista Experimental EM BELEM 03

2EMEMBELÉM - No 03. Projeto experimental realizado pela turma 4JLM1 - Unama - para a disciplina de Pranejamento Gráfi co sob a orientação do professor Marcus Dickson. Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Unama - Belém Novembro de 2012. Foto de Capa desta edição: Lariza Souza

Ter o direito a ter direito, não é de forma alguma um jogo retórico de pa-lavras, ou antes um mal-estar de nossa própria inconveniência e apatia. Mas estamos sempre muito apressados ou temos informação demais pra se preo-cupar com tanta trivialidade dessa coi-sa chamada Direito e nos achamos em questões patéticas do tipo: Tenho que me importar com isso? Não é coisa do governo? Pare de me encher o saco por-que quero ir ao shopping!

Mas no fundo são os nossos direitos a fazer e a ser que nos levam a ter... e taí uma coisa que não temos dado a míni-ma. Afi nal, a afi rmação de que “somos iguais perante a lei” está mais perto de algo a ser construído do que de algo já dado.

Mais inquieta do que nunca, a edi-ção desta semana foi ver que Direitos fundamentais então são esses que tanto se olha mas não vemos na prática!

Em todo caso, você tem o direito de não ler nada disso!

Professor Marcus Dickson

Coordenador e editor

Page 3: Revista Experimental EM BELEM 03

EXPOSIÇÃO Olhai por nósPág 04

SOBRE O SEU DIREITO BÁSICO

Pág 36

Tem PARÁ na telaPág 08

O DESEJO de ser cidadePág 24

COISAS do ParáPág 12

É muito LIXO!Pág 32

A ARTE de fazer o bemPág 48

Page 4: Revista Experimental EM BELEM 03

4

Page 5: Revista Experimental EM BELEM 03

Nesse mês de outubro em que se celebra a mais importante e tradicional festa cultural de cunho religioso do nosso Estado o Círio de Naz-aré, a UNAMA, por meio da Casa da Memória traz a mostra expositiva “Olhai por Nós”. Organizada pela Casa da Memória, a exposição é uma proposta expositiva que nasce da leitura iconográfi ca de imagens e simbologias de diversas naturezas e dimensões sociais, éticas e estéticas presentes na produção de artistas paraenses. Essa mediação vai amolgar e criar sentidos entre elas, buscando contribuir para “um olhar a mais” sob a realidade sócio-cultural do Estado do Pará, que a cada instante subtrai ou soma novas formas e con-tornos, mas que ainda mantém uma identifi cação cultural que marca presença por particularidades e

autencididades de sua gente, seu ambiente natural e costumes tradicionais, como o Círio de Nazaré. Trazendo representações artísticas de técnicas variadas, sob a leitura curatorial de seu conjunto, a exposição “Olhai por Nós” propõe a apreciação não só para o olhar da religião, mas também para o multiculturalismo da região: identidades, memóri-as, religiosidades, realidades e imaginários, redi-mensionados como unidades artísticas impregna-das nas obras apresentadas. A aproximação entre obra e espectador para a observação das tramas e teias culturais que transitam nos territórios cria-tivos destes artistas busca favorecer o diálogo en-tre os sentidos e a consciência, ampliando as pos-sibilidades da compreensão da arte e da cultura como identidade, expressão, educação e cidadania. O Núcleo Cultural da UNAMA, através da Casa da Memória, realizam no mês de outubro mais uma de suas mostras expositivas. “Olhai por Nós” é a mostra organizada com obras do acervo de Artes Visuais da UNAMA, cuja coleção vem se formando desde o ano de 1993, com a criação da Galeria de Arte “Graça Landeira”, passando em 1998 a guarda, manutenção e divulgação das coleções artísticas e documentais à Casa da Memória. A reserva téc

Exposição “Olhai

por nós”

5

Page 6: Revista Experimental EM BELEM 03

6

nica desse espaço conta hoje com mais de mil e quinhentas produções realizadas em pinturas, es-culturas, gravuras, fotografi as, instalações, obje-tos, vídeo-arte, perfazendo um repertório rico em imagens do registro da cena e da produção artís-tica contemporânea regional e nacional. Com a realização de mostras expositivas temporárias de seu acervo, a Casa da Memória objetiva contribuir para o conhecimento da importância da cultura e da arte objetivando a manutenção das identidades e da memória cultural, as quais correm sérios riscos de extinção com os modos de vida atuais. Organizada pela Casa da Memória, a exposição é uma proposta expositiva que nasce da leitura iconográfi ca de imagens e simbologias de diversas naturezas e dimensões sociais, éticas e estéticas presentes na produção de artistas paraenses. Essa mediação vai amolgar e criar sentidos entre elas, buscando contribuir para “um olhar a mais” sob a realidade sócio-cultural do Estado do Pará, que a cada instante subtrai ou soma novas formas e con-tornos, mas que ainda mantém uma identifi cação cultural que marca presença por particularidades e autenticidades de sua gente, seu ambiente natural e costumes tradicionais, como o Círio de Nazaré.

Trazendo representações artísticas de técnicas variadas, sob a leitura curatorial de seu conjunto, a exposição “Olhai por nós” propõe a apreciação não só para o olhar da religião, mas também para o multiculturalismo da região: identidades, memóri-as, religiosidades, realidades e imaginários, redi-mensionados como unidades artísticas impregna-das nas obras apresentadas. A aproximação entre obra e espectador para a observação das tramas e teias culturais que transitam nos territórios cria-tivos destes artistas busca favorecer o diálogo en-tre os sentidos e a consciência, ampliando as pos-sibilidades da compreensão da arte e da cultura como identidade, expressão, educação e cidadania.Fazem parte da Mostra os artistas visuais Alberto Bitar, Alan Soares, Danielle Oliveira, Danielle Va-lente, Emanuel Franco, Erinaldo Cirino, Euzeny Bayma, Izer Campos, Jair Júnior, Lila Bermeguy, Nailana Thiely, Nando Lima, Roberto Menezes, Reginaldo Ramos, Ronaldo Lopes, Rosângela Britto

TEXTOS: LARYSSA SIMÕES E TÂMELLA ALMEIDAFOTOS: HELDER LEITE

Page 7: Revista Experimental EM BELEM 03

7

Page 8: Revista Experimental EM BELEM 03

8

CIN

EMA

TEM PARÁ NA TELA

Aline Farias.

Ana Mesquita.

Priscila Bentes.

Page 9: Revista Experimental EM BELEM 03

9

Cineastra - Jorane Castro

Jorane Castro é mestre em Ethnometodologia pela Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot, U.P. VII, França, com ênfase em Sociologia aplicada ao Cinema. Possui formação em Cinema pela Universidade de Paris 8 e em Comunicação Social/ Jornalismo pela Universidade Fed-eral do Pará. Atualmente é também professora do Curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual da UFPA. Depois de trabalhar em fotografi a, vídeo e cinema em Belém, Jorane mudou-se para Paris em 1992. Lá se formou e desde então trabalha como independente em cinema e televisão. Jorane é uma das expoentes do cinema produzido na Amazônia. Há doze anos criou a “Cabocla Filmes”, que de-senvolve projetos audiovisuais buscando sempre um novo olhar sobre a região, longe dos estereótipos. Sua mais re-cente produção, ‘Ribeirinhos do Asfalto’, será lançada ofi cial-mente no Combu, no próximo dia 20, dentro de uma ação do Arte Pará. ‘O fi lme retrata um pouco da vida do ribeirinho que está em trânsito entre o rio e a cidade. Em seus muitos trabalhos, destacam - se também o documentário “Invisíveis Prazeres Cotidianos” que faz retra-tos de Belém do Pará pelo ponto de vista dos blogueiros. E a fi cção “As mulheres choradeiras” que foi lançado em 2000, e ganhou repercussão internacional sendo exibido no festival de Cannes, na França e vencedor do Prêmio do Júri Canal + (Créteil 2001 / França). Jorane Castro começou a dirigir em 1995 e já produziu mais de dez fi lmes. Este ano, o cinema de Jorane é uma das atrações do 31º Arte Pará, que ocorre no Museu Histórico do Estado do Pará.

Foto: Arquivo Pessoal Foto:Arquivo pessoal

Page 10: Revista Experimental EM BELEM 03

CINEMA

Ribeirinhos do Asfalto

O curta metragem “Ribeirinhos do Asfalto” teve o iní-cio de suas gravações no fi nal do segundo tempo de 2009, em dezembro. Direção de Jorane Castro, o elenco que a cineasta conduzia era formado por Dira Paes (Dália) Ana Letícia Cardoso ( Deisi) Adriano Barroso ( Everaldo). Em ap-enas em sete dias, foi rodado o curta. Os sets eram típico paraense, cenário de uma casa na Ilha do Combú, com ima-gens bem fechadas e rápidas do Ver-o-Peso, Ananindeua, a história estendeu até Marituba. O trabalho de Jorane Castro é um olhar que desperta, porque uma vez obcecados em viver a nossa vida “fantásti-ca” urbana não temos a mínima noção de como vive os nos-sos vizinhos, ribeirinhos, o que temos de conhecimentos são apenas opiniões formadas. Apesar de toda essa diferença, tantos os ribeirinhos quantos urbanos têm algo em comum. O que aparentemente os urbanos têm em comum com os ribeirinhos? Urbano tem a concepção do que é um ribeirinho, assim como, um ribeirinho tem a concepção de que é urbano. Tanto prova essa delimitação de ambas, na cena, em que a Dália, mãe de Deisi, conversando com o marido, Everaldo, fala da sua pretensão em mandar a fi lha para estudar em Belém, por sua vez, o marido usa de argu-mentos negativos em relação à cidade. Podemos viver de forma totalmente diferente, mas querendo ou não, nossos pensamentos estão entrelaçados aos dos nossos vizinhos, com desejos universais, em es-tudar para um futuro melhor, com conceitos universais de um lugar que já tachamos sem ao menos conhecê-lo, com os medos universais dos pais, em deixar um fi lho ir morar em outro lugar longe dos seus olhos vigiadores. O curta veio para mostrar o quanto somos diferentes, mas o quanto somos iguais. E para chamar nossa atenção, de que os ribeirinhos não são os ribeirinhos que ouvimos dos outros, para entendê-los não precisamos de opiniões secundárias, bastas nós pegarmos um barco e conhecer as 39 ilhas fl uviais que fazem parte da nossa cidade. As-sim como, os ribeirinhos nos conhecerão, de fato, quando desembarcarem em Belém. Dois mundos distintos, com as mesmas dúvidas. Ribeirinhos do Asfalto rendeu vários prêmios, o de Melhor Atriz para Dira Paes, Melhor Direção em Arte para Rui Santana, em 2011, no Festival de Gramado. Ganhou como Melhor Produção do Curta Amazônia. Em São Luiz, no Guarnicê de Cinema, conseguiu a Melhor Trilha Sonora Original e, por último, Melhor Filme na Mostra Amazônica de Filme Etnogrfáfi co.

Foto: Facebook Ribeirinhos-do-Asfalto

Page 11: Revista Experimental EM BELEM 03

Invisivéis Prazeres Cotidianos

Na pauliceia me desvairo em devaneios, e me encon-tro desencontrada descobrindo a mim mesma, fi el a mim. Postado por: Jorane Castro 8:30 PM Belém é uma metrópole caótica, conturbada, mod-erna e arcaica ao mesmo tempo, dicotomia essa que dá um charme singular para a cidade das mangueiras. Pessoas vêm e vão em um ritmo frenético onde suas mentes contur-badas, na função de uma bússola que aponta para o norte, aponta o caminho, o destino, o fi m. Como um interlúdio, In-visíveis prazeres cotidianos (2004) da cineasta paraense Jorane Castro conta a história da cidade de cada um, uma visão de cada um dos bloggers que retratam o cenário de Belém. Estes jovens são como o fl enuer , segundo o fi lóso-fo Walter Benjamin, um sujeito que caminha pelas ruas em busca do desconhecido, do ignorado com a fi nalidade de re-tratá-lo para a sociedade no sentido de compreender que o ignorado, o marginalizado também faz parte do lugar no qual se habita. Um dos jovens fala da manga que cai das árvores, esta não é uma simples manga, a sua queda afeta a vida de quem passa por ali, ela pode ser um lanche improvisado ou ser uma bomba que cai no vidro do carro, pode ser que a reação seja a mesma todos os dias, pegar e levar para casa ou tirar o carro e ir para a ofi cina, mas a vida que ela atingiu não é a mesma, são pessoas, são histórias, são essências diferentes. Um jovem falam da chuva, para ele, a chuva é o as-sunto mais recorrente, pois todo o dia chove e todo o dia se fala de chuva no blog, para outro jovem, a chuva é como uma inspiração poética, são gotas de água que animam e frutifi cam o seu lado mais sensível para retratá-la, ela é como uma mulher bem ornada a passear nas ruas agradan-do a uns e aborrecendo a outros, para um terceiro jovem ela é uma oportunidade de fazer as fotos mais belas que se tem oportunidade. Jorane acertou em cheio ao ver a(s) Belém(s), pois cada um que caminha nas ruas da cidade possui uma relação singular, as ruas podem ser cenários de inspiração poética, ou simplesmente, o caminho de volta para casa, o ritmo ensurdecedor da buzina pode ser uma irritação para uns, mas o sonífero e o refúgio de outros, e qual é a sua Belém? A minha é invisível, que me transpassa prazer pre-sente no meu cotidiano.

CINEMA

Foto: www.abdecpara.blospot.com

Foto: diarioonline.com.br

Page 12: Revista Experimental EM BELEM 03
Page 13: Revista Experimental EM BELEM 03
Page 14: Revista Experimental EM BELEM 03

14

Page 15: Revista Experimental EM BELEM 03

15

Page 16: Revista Experimental EM BELEM 03
Page 17: Revista Experimental EM BELEM 03
Page 18: Revista Experimental EM BELEM 03

18

Page 19: Revista Experimental EM BELEM 03

19

Tic-tas de cabelo, em formato de borboleta e fl ores, feitas com couro e sementes de açaí.

POR: LUCILA PEREIRA

Page 20: Revista Experimental EM BELEM 03

20

Page 21: Revista Experimental EM BELEM 03

21

Page 22: Revista Experimental EM BELEM 03

22

Page 23: Revista Experimental EM BELEM 03

23

Page 24: Revista Experimental EM BELEM 03

24

LUANA LIMA

IGOR SOUZA

LUANA LIMA/TATIANE MONTEIRO

O desejo de ser cidade

Page 25: Revista Experimental EM BELEM 03

25

Segundo a escri-tora Ana Maria Daou, no livro “A Belle Époque A m a z ô n i c a ” ,

2004, foi o período mais vigoroso do ciclo da bor-racha que proporcionou o enriquecimento de diversos setores produtivos da socie-dade paraense. O que levou a cidade de Belém a experi-mentar um grande processo de urbanização, moderni-zação e embelezamento vis-ual, além de uma profunda mudança socioeconômica. O espaço público e a paisagem urbana da capital foram transformados nos moldes europeus, tendo como in-spiração principal a França. Com a construção de palacetes residenciais, praças, quiosques, cafés, bosques, casas comer-ciais, aberturas de aveni-das, calçamento de ruas, arborização, instalações de bondes, saneamento, luz elétrica. Tudo estrategica-mente idealizado pelo in-tendente Antônio Lemos e pelas famílias abastadas da região, no intuito de convert-er Belém em uma cidade eu-ropeia em plena Amazônia. Período este que fi cou con-hecido com Belle Époque. O Theatro da Paz in-augurado em 15 de fevereiro de 1878 é fruto dessa época. Foi criado exatamente para receber espetáculos do gênero lírico e satisfazer o anseio de aprimoramento cultural de uma elite emer-gente da sociedade belen-ense que enriqueceu com a comercialização do látex. Segundo a pesquisa-dora Roseane Silveira Sou-za, seu projeto arquitetônico e construção, nos moldes neoclássicos, tem início em 1869, sob a organização do

engenheiro José Tibúrcio de Magalhães, inspirado no Teatro Scalla de Milão, na Itália, e decorado com ma-teriais nobres importados de vários países da Europa. A primeira e mais sig-nifi cativa reforma ocorre em 1905, no qual o Theatro ad-quire as características atuais. No início de 2011 foi necessária nova inter-venção, fi cando o Theatro fechado por oito meses. A Secretaria de Estado de Cultura (Secult) organizou a reabertura do espaço ao público com o X Festival de Ópera do Theatro da Paz em novembro. Para sua estreia foi escolhida a peça “Tosca”, escrita por Giacomo Puccini, exatamente pelo fato de que fora encenada pela primeira vez, no palco do Theatro, após a reforma de 1905. Segundo o jornal Diário do Pará, seu elenco e demais pessoas envolvi-das, contaram com mais de 400 profi ssionais, sen-do 90% deles paraenses. De acordo com o col-unista de música clássica do jornal O Estado de São Paulo, João Luiz Sampaio, a maior participação dos ar-tistas do Pará está ligada a tradição musical do con-servatório Carlos Gomes criado em 1896. O jornalista declara que, no discurso ofi -cial para o relançamento do festival de ópera, seus ide-alizadores se reportavam a mais um recomeço e a preo-cupação de fazer do evento uma manifestação cultural lo-cal com a maior participação de profi ssionais da região. O evento está em sua XI edição, entre 17 de outubro a 1 de dezembro desse ano. A peça escolhida para abrir o festival foi “A Cavalleria Rus-ticana”, de Pietro Mascagni.

Belém da Belle Époque

e o Theatro da

Paz

Cultura

Page 26: Revista Experimental EM BELEM 03

26

Como uma forma de recuperar o or-gulho cosmopolita vivido em Belém no

período da borracha, oblit-erado com seu declínio, as-sim como, tornar a capital turisticamente mais atraente, desde a década de 90 a cidade vem sofrendo um processo de restauração, transformação, adaptação e modernização arquitetôni-ca, gastronômica, muse-ológica e cultural, direcion-ando a face da cidade para a orla da baía do Guajará. Na mescla exótica da cultura indígena com o feitio das construções antigas de estilo europeu, Belém tenta se aproximar da identidade internacional e cultural de Paris da Amazônia, título que ostentava no fi nal de século XIX e início do século XX. Para o antropólogo colombiano Martin-Barbero, é através da identidade que o homem encontra valor e sentido na sua própria vida. A escritora e professora da Universidade de Barcelona, Celia Romea Castro, revela que a identidade cultural é uma forma de existir e essa existência pode ser obser-vada numa conscientização das diferenças inerentes en-tre a cultura local e as demais

culturas, além da manifestação da cultura na forma de bens culturais que modelam à sua identidade e seu patrimônio cultural. De acordo com Martin-Barbero “a identidade local é assim conduzida para se transformar em uma representação da diferença que a faça comercializável, isto é, submetida a maquiagens que reforçam seu exotismo e a hibridação que neutralizem suas classes mais confl itivas”. Por isso, a proteção, preservação e recuperação do patrimônio cultural, material e imaterial de Belém, signifi ca um desejo de resgatar a própria memória e assim, “criar um universo simbólico compartilhado que sirva como base de coexistência de seus habitantes. Esse mosaico é o funda-mento da identidade de um povo”, afi rma Castro. O que, se-gundo a pesquisadora, esse modo de identidade e as pos-sibilidades mercantis de seu uso, constituem-se na imagem de marca de uma cidade, que por sua vez, torna possível

seu desenvolvimento sus-tentável. Para a colunista da revista Época Ruth de Aqui-no “as cidades que respei-tam sua história e sua ar-quitetura se tornam donas de uma força misteriosa que faz com que os moradores, até os mais cosmopolitas, re-lutem em se afastar, apega-dos aos bairros onde vivem, às paisagens conhecidas, aos prédios e monumentos e também as praças, ruas, travessa, becos, repletos de signifi cados”.

A identidade e o desejo de ser cidade na contemporaneidadeConheça o Festival de Ópera do Theatro da Paz

Cultura

Page 27: Revista Experimental EM BELEM 03

27

“as cidades que respeitam sua história e sua arquitetura se tornam do-nas de uma força misteriosa que faz com que os moradores, até os mais cosmopolitas, relutem em se afastar, apegados aos bairros onde vivem,

às paisagens conhecidas, aos prédios e monumentos e também as praças, ruas, travessa, becos, repletos de signifi cados”. Ruth de Aquino

Page 28: Revista Experimental EM BELEM 03

28

Logo, a cidade contemporânea tem a seu alcance a opção de voltar o seu olhar para o passado e tornar-se uma caricatura de uma época pretérita revestida de nostalgia, im-pondo uma ideia de revitalização e resgate cultural. A esse respeito, Martin-Barbero assegura que existe uma “explosão da memória” uma febre da memória (restauração de casa-rios antigos, expansão dos museus, à moda retro, os tea-tros...), como pretexto identitários que, por conseguinte ger-am um incontrolável desejo de passado – resgatar, mesmo que de forma imaginária, o prestígio e a infl uência cultural que Belém exercia no período da Belle Époque - Destarte, o autor ainda esclarece que a urgência de memória é mol-dada pelas mãos dos interesses comerciais e deve ser en-tendida como um sintoma de um profundo mal-estar cultural provocado ora pela ânsia de memória, ora pela amnésia que transformam de maneira assaz a temporalidade moderna tornando possível o diálogo entre gerações e identidades. O que leva a refl exão sobre o desejo de cidade (de ser cidade) proposto pelo pesquisador Eduardo Duarte, no qual a memória geográfi ca de um dado local, composta pelos prédios antigos, engloba e amontoa diferentes traços de tem-poralidade, nos diferentes espaços da cidade, que acabam por expressar-se no deslocamento do desejo de cidade na constante reconstrução, modernização, restauração, con-strução da urbe. Esvaziando, abandonando alguns espaços em detrimentos de outros que vão se alargando, se multipli-cando, povoando, na procura do fl uxo de capital, dos diverti-mentos, das emoções, um desejo sustentado nos sonhos e frustrações que refaz a urbanidade com fases de evolução e destruição. “Algumas antigas construções se misturam com as novas, bairros antigos restaurados dão sinal de uma temporalidade, marcando a existência daquele tempo no acúmulo de múltiplos tempos do crescimento das grandes cidades”, afi rma Duarte. O desejo de ser cidade também en-volve um desejo de construção, afi rmação, resgate da identi-

Cultura

“a memória geográfi ca de um dado locagloba e amontoa diferentes traços de tem

cidade” Edu

Page 29: Revista Experimental EM BELEM 03

29

dade urbana. Ana Maria Daou relata que a identidade que o ciclo da borracha proporcionou a elite belenense foi a de cidadã inter-nacional, educada e politizada nos moldes europeus. O con-tato dos citadinos com a cultura europeia, principalmente a francesa, trouxe novos comportamentos, pensamentos, gos-tos, vestimentas, conceitos e hábitos de vida considerados civilizados. Um desses hábitos era prestigiar as peças teat-rais apresentadas no Theatro da Paz. Doravante, a reforma do teatro e o circuito anual do festival de ópera surgem como uma espécie de consolo utópico com o objetivo de aproximar o público do gênero musical da ópera ou como um modo de escapismo ao duro cotidiano da realidade urbana, além de fomentar o turismo. Celia Romea Castro esclarece que as cidades criati-vas na busca de sua imagem de marca, se animam no es-forço de protagonizar acontecimentos que suscitem o fl uxo turístico. O Festival de Ópera do Theatro da Paz se encaixa nessa ordem e , segundo Castro, “permite manter e mostrar a personalidade de uma cidade”. De acordo com os jornalistas da revista Época Rafael de Pino e Marcelo Osakabe, “os festivais alteram a vida cul-tural e a própria vocação econômica de vários municípios brasileiros”. Entre outros exemplos, os repórteres destacam como caso de sucesso a cidade de Paraty, situada no litoral sul do Rio de Janeiro, que se transformou em sinônimo de literatura com a organização da Flip (Festival de literatura de Paraty) e a cidade serrana de Gramado, no Rio Grande do Sul, que desde 1973 apresenta o festival de cinema que, segundo eles, é o mais importante do país. “Hoje são cente-nas as cidades brasileiras que buscam a transformação por meio da cultura. Quando organiza um festival, uma cidade busca também se tornar referência na área”, afi rmam Pino e Osakabe.

al, composta pelos prédios antigos, en-mporalidade, nos diferentes espaços da ardo Duarte

Cultura

Page 30: Revista Experimental EM BELEM 03

30

Page 31: Revista Experimental EM BELEM 03

31

Page 32: Revista Experimental EM BELEM 03

32

É MU

Page 33: Revista Experimental EM BELEM 03

33

Matheus Rocha

Matheus Rocha/ Th omas Tavares

Matheus Rocha/ Ada Bastos

O problema do lixo parece estar per-manentemente enraizado nos há-bitos paraenses. A cidade de Be-lém tem sua beleza camufl ada por

trás de amontoados de detritos que são dei-xados em esquinas e canais. Falta de limpe-za por parte da prefeitura? Não! Na verdade, não somente. Percebe-se que a população que reclama, é a mesma que suja a cidade. Papelão, garrafas pet e, até mesmo,

móveis velhos, basta dar uma volta pela cidade para que se percebam pontos

em que o lixo é depositado. Situ-ações paradoxais em que a

placa onde se pede para não sujar a área é coberta

por montes de sujeira. A po-pulação parece ter se acostu-

mado com tal situação. O trabalho é deixado todo por conta da prefei-tura, mas ninguém assume o pa-pel que lhe cabe como cidadão, de limpar e zelar pela cidade. Os transtornos gerados pelo

acúmulo de lixo vão além dos aspectos visuais e olfativos. Tal prática

UITO LIXO!

Page 34: Revista Experimental EM BELEM 03

34

acarreta no alastramento de doenças. O maior exemplo disso é a dengue, doença que anual-mente, em períodos de chuva, atinge determi-nado número de pessoas. O mosquito que transmite a doença, Aedes Aegypti, se reproduz em locais onde a água fica parada. Amontoados de lixo são locais que facilitam o acúmulo de água, consequentemente, a reprodução do transmissor.Além dos problemas de saúde, o lixo acumu-lado acaba por impedir o escoamento de água nos períodos de chuva, frequentes em Belém.

Devido a isso, em muitos locais, a chuva cau-sa alagamentos, gerando transtornos e perdas. É inegável o fato de que o despejo de lixo

nas ruas é algo culturalmente errado, visualmente desagradável e so-

cialmente danoso para todos os que convivem com

tal realidade. É necessário que prefeitu-

ra e população hajam juntos para que possamos vi-

ver em uma cidade limpa, onde as bele-zas naturais e arquitetônicas não fiquem escondidas atrás de amontoados de lixo.

Page 35: Revista Experimental EM BELEM 03

35

Em Belém, o Ver-o-Peso é o ponto turístico mais conhecido e visitado pelos turistas, que logo se encantam com a quantidade de componentes e cores presentes em um só espaço. Nele, é possível encontrar uma grande diversidade de produtos, elementos culturais e personagens inigualáveis; Contudo, nos últimos anos as belezas oferecidas pelo local tem perdido espaço para a quantidade de lixo depositado no ponto turístico e ao redor do mesmo, causando um mal estar tanto para os visi-tantes, quanto para as pessoas que ali trabalham.Restos de alimentos, papéis e caixotes são al-guns dos entulhos depositados frequentemen-te na feira, que conta com uma limpeza di-

ária oferecida pela prefeitura. Entretanto, a situação está longe de ser resolvida. A deman-da de lixo depositada no local é grande e o mal cheiro tornou-se uma característica da feira.O mais paradoxal da situação, é que a maio-ria do lixo depositado no Ver-o-Peso é joga-do pelos próprios feirantes, que não se aten-tam para os riscos que estão causando para sua saúde. Por fi m, se faz necessária uma cam-panha séria de conscientização dos feirantes e da população em geral para tentar ameni-zar a quantidade de lixo, mostrando as maze-las e problemas que isso pode ocasionar para os cidadãos e para o embelezamento da cidade.

O lixo também se acumula no principal cartão postal da cidade.

Page 36: Revista Experimental EM BELEM 03

36

Page 37: Revista Experimental EM BELEM 03

37

FOTO: LARIZA SOUSA

FOTO: LARIZA SOUSA

Sobre o seu direito básico

Page 38: Revista Experimental EM BELEM 03

38

FOTO

:SH

EILA

FER

NA

ND

ES

Texto: SHEILA MORAES FERNANDESRevisão de texto: INGRID ALBUQUERQUE Diagramação: SHEILA FERNANDES E WALDEIR PAIVA

ATÉ ONDE VOCÊ SABE?ARTIGO XXI “ TODO HOMEM TEM IGUAL DIREITO DE ACESSO AO SERVIÇO PÚBLICO DO SEU PAÍS.”

ARTIGO XXV “TODO HOMEM TEM DIREITO A UM PADRÃO DE VIDA CAPAZ DE ASSEGURAR A SI E À SUA FAMÍLIA SAÚDE, BEM-ESTAR, INCLUSIVE ALIMENTAÇÃO, VESTUÁRIO, HABITAÇÃO, CUIDADOS MÉDICOS E OS SERVIÇOS SOCIAIS INDISPENSÁVEIS E DIREITO À SEGURANÇA EM CASO DE DESEMPREGO, DOEN-ÇA INVALIDEZ, VIUVEZ, VELHICE OU OUTROS CA-SOS DE PERDA DOS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA EM CIRCUNSTÂNCIAS FORA DE SEU CONTROLE.”

Seu direito básico

Page 39: Revista Experimental EM BELEM 03

39

Seu direito básico

Page 40: Revista Experimental EM BELEM 03

40

FOTO

: LA

RIZ

A SO

USA

Inicio este texto citando dois artigos que fazem parte da declaração universal dos direitos humanos me refi ro a este documen-to não por um simples acaso ou por achar que este possui belas palavras, mas sim para chamar atenção para o que este representa. A valorização do homem e consequentemente o respeito à dignidade que este merece. Desta-co dois parágrafos entre tantos outros de igual importância para o conhecimento humano, pelo fato destes enfatizarem um os direitos básicos do homem, direitos que servem para garantir que este viva com dignidade. Falaremos então do saneamento bási-co e como o próprio nome já diz é apenas o básico o mínimo e nada mais. A questão é de que forma estamos vendo essa realidade? Será realmente que estamos vendo essa realidade, ou simplesmente estamos cegos ou entorpeci-dos de tanta informação? Como será possível então está cego diante de tantas informações. Posso explicar tamanho absurdo, em uma crítica humilde, porém sincera. Paremos um pouco para refl etir quantas vezes vimos nos noticiários da TV, nos jornais impressos, notí-cias que relatam a falta de saneamento básico em determinada área. As notícias parecem se repetir mudan-do apenas o local e os personagens, mas o roteiro segue sempre o mesmo padrão. As comunidades que, mas sofrem com o pro-blema são as localizadas nas periferias da cidade bairros que surgem sem planejamento invasões que acolhem famílias inteiras que recorrem aos meios de comunicação na busca de terem seu problema solucionado. Minha crítica os meios de comunicação não diz res-

Seu direito básico

Page 41: Revista Experimental EM BELEM 03

41

FOTO: LARIZA SOUSA

peito às inúmeras vezes que estes re-tratam este problema, pois os meios cumprem o seu papel à medida que levam este tema para discussão na esfera pública. O que incomoda é a manei-ra como este problema vem sendo exposto, virou rotina caiu em casos comuns à imprensa retrata, mas não informa, não instrui o individuo so-bre o seu direito. Por isso iniciei este texto com dois parágrafos da decla-ração universal dos direitos huma-nos, um documento tão importante e que poucos tem conhecimento sobre seu conteúdo. A informa-ção tem que ir além de relatar fatos e torná-los banais ela tem que escla-recer instruir e educar o seu leitor. Pois é isso que uma comunidade que procura estes meios merece, pois se as pessoas procuram os meios de comunicação e porque depositam neste sua confi ança, e de certa forma todos acabamos por legitimar estes meios, principalmente os jornais, como uma força capaz de nos dar

voz. Sejamos então realistas, a nossa voz está fraca e necessita de um novo fôlego. Está fraca por que nos informa, mas não nos instrui e acaba por nos cegar oferecendo um vasto campo de informações que acabam não dizendo nada.

Você olha, mas você não vê

A realidade é essa muitas vezes olhamos, mas não vemos, temos informação, mas não con-seguimos compreender o que ela nos diz. Olhar pra uma realidade e compreendê-la em seu sentido am-plo. Este é o desafi o que um cidadão ciente de suas responsabilidades

deve lhe fazer todos os dias quando se vir diante de notícias que expli-citem a sua realidade, ou mesmo de situações que agridam o seu direto de viver com dignidade. Quantas vezes durante a sua rotina diária você já não se deparou como cenas como estas? E quantas vezes você parou e refl etiu sobre elas, a verdade e que bem poucas es-tamos todos absorvidos pelo nosso “mundinho”, criamos barreiras pra nos isolar da realidade uma barreira de egoísmo onde todos pensamos “não é comigo, eu não posso fazer nada sobre isso”. Ou simplesmente decidimos olhar e não ver. Olhamos e sabemos que existem comunidades

“...O nosso papel como líder comunitário e tentar repassar para essas famílias conhecimentos simples, mas, que ajudam a salvar vidas”. Crisitina Bahia, coordenadoa e líder da pastoral da criança em Outeiro

Seu direito básico

Page 42: Revista Experimental EM BELEM 03

42

como estas retratadas nas fotografi as que vivem em meio à sujeira e detritos, sem condições ne-nhuma de dignidade sim, pois como um homem pode viver com dignidade se os seus direitos básicos não são saciados pelo poder público, mas até que ponto devemos cobrar somente do poder público. Temos nós mesmo que nos conscienti-zar sair do nosso “mundo de egoísmo” e ver essa

realidade, entender que a maioria dessas pessoas que moram nessas comunidades sofrem com o que talvez o que seja o mais grave de todos os problemas, a falta de conhecimento e não me re-fi ro aqui ao conhecimento específi co que necessi-ta de anos de estudos, refi ro-me ao conhecimento que deveria ser básico a todo o indivíduo, a que ele tem direito como cidadão e acima de tudo

Seu direito básico

Page 43: Revista Experimental EM BELEM 03

43

FOTO

: LA

RIZ

A SO

USA

como ser humano. Tomo para os meios de comunicação e para mim como cidadã em minha humilde ignorância a responsabilidade de repassar e não apenas infor-mar, mas acima de tudo instruir essas pessoas para muni-las da maior arma que há o conhecimento. Para que assim essas busquem com, mas avidez o cumprimento de seus direitos.

Agir é a solução Falamos da falta de instrução e do papel dos meios de comunicação na ins-trução do seu púbico e de como estamos cegos diante de tristes realidades como a do saneamento básico. Mostrar a outra face da moeda agora se torna essencial, não para desencargo de consciência, mas para mostrar um dentre os muitos bons exemplos que felizmente ainda encontra-mos em nossa sociedade. Exemplos que quem sabe não vai motivar você a ser um cidadão melhor. Não que você possa mudar o mundo sozinho, mas por que não fazer a diferença em sua comunidade? A Comunidade do Bairro da Brasí-lia no estrito de Outeiro apresenta como tantas outras da periferia deste grande centro urbano que Belém está se tornando problemas graves, ocasionados pela falta se saneamentos básico. Porém as famílias que moram nesta comunidade encontram suporte nos lideres comunitários da Pas-toral da Criança, que agem acima de tudo na instrução e orientação dessas famílias, para que estas se previnam e saibam como amenizar esta realidade e as implicações, doenças que a ausência deste direito bási-co acarreta. Uma pessoa de expressão calma, de pouca escolaridade, mas de muita sabedoria e que exerce com maestria o seu papel de cidadã este é Cristina Bahia, coordenadora e líder da Pastoral da Crian-ça do bairro da Brasília em Outeiro, já tem seis anos que ela atua como líder e coordenadora da pastoral da criança nesta comunidade, ela diz saber das difi culda-des de cada família a qual faz o acompa-nhamento. “A nossa maior difi culdade são com as famílias realmente carentes elas esperam de nós algo que não está ao nos-so alcance, eu sei que isso vem da falta de conhecimento dessas famílias sobre o nosso trabalho. O nosso papel como

Seu direito básico

Page 44: Revista Experimental EM BELEM 03

44

FOTO:SHEILA FERNANDES

4

Seu direito básico

Page 45: Revista Experimental EM BELEM 03

45

FOTO:SHEILA FERNANDES

“ Nós não escolhemos este trabalho, foi Deus quem nos escolheu para fazê-lo” Crisitina Bahia, coordenadoa e líder da Pastoral da Criança em Outeiro

5

Seu direito básico

Page 46: Revista Experimental EM BELEM 03

46

Cristina Bahia líder e coordenadora da Pastoral da Criança, no bairro da Brasília em Outeiro

FOTO

:SH

EILA

FER

NA

ND

ES

líder comunitário e tentar repassar para essas famílias conhecimentos simples, mas, que ajudam a salvar vidas”. Segundo Cristina, os índices de doenças como a diarreia, a qual pode ser causada pela falta de sanea-mento básico, que afeta a qualidade da água, tem caído bastante nesta comunidade o que ela afi rma ser uma grande vitória, mas a coorde-nadora diz que, casos isolados ainda continuam ocorrendo. “Todos sabemos que água que chega ás nossas casas não está pró-pria para o consumo, muitas vezes, ela passa por tubulações expostas que acumulam até resíduos fecais já que muitas dessas famílias moram em lugares sem nenhum esgoto”. Cristina afi rma ainda que o saneamento básico é um dos princi-pais desafi os da Pastoral da Criança tendo em vista que, este atinge de forma direta essas comunidades, “no momento de cadastro de uma comu-nidade junto à coordenação nacional da Pastoral da Criança, preenche-mos um formulário onde dizemos se a comunidade é urbana, ou urbana precária”. A coordenadora expli-ca que a comunidade da Brasília é considerada urbana precária, urbana por possuir energia elétrica e água encanada, é precária por não possuir nenhum tipo de tratamento de esgo-to o que compromete a qualidade da água. Cristina em sua rotina de líder faz o acompanhamento de dez famílias, sendo que as crianças que fazem parte da pastoral tem idade de zero a seis anos. A líder faz visita a essas dez famílias uma vez no mês e a cada visita ela diz procurar orientar, a respeito da importância de se tratar a água antes de consumi--la isso com técnicas simples afi rma ela, “ensino a elas até como fazer fi ltros caseiros, além de oferecer o hipoclorito, que auxilia a purifi cação

Seu direito básico

Cristina Bahia líder e coordenadora da Pastoral da Criança, no bairro da Brasília em Outeiro

Page 47: Revista Experimental EM BELEM 03

47

FOTO

:SH

EILA

FER

NA

ND

ES

da água. Eu converso com as mi-nhas ‘mãezinhas’, e puxo as orelhas delas quando vejo que algo poderia ter sido evitado”, afi rmou a líder se referindo as muitas doenças que podem ser evitadas com esses cuida-dos. Além do acompanhamento que os líderes fazem com as famílias é escolhido um dia no mês, a qual estes se reúnem no centro da comu-nidade para realizar o que eles cha-mam de celebração da vida. “Nesta celebração, pesamos as nossas crianças oferecemos a oportunidade para confraternização de todas as famílias assim fortalecemos os laços da nossa comunidade”, disse a coor-denadora. No momento da celebração falam na palavra de Deus e sem-pre ressaltando a importância de se seguir as orientações dos líderes. Durante a celebração as crianças são envolvidas em brincadeiras e dão um toque de alegria e vida a tudo que está em volta.“Sinto-me feliz, pelo simples fato delas estarem aqui e estarem bem. Estão correndo e brincando por riso a importância deste momento, onde celebramos a vida. Que vence e su-pera todas as difi culdades.” Esse é o exemplo de pessoa, a qual todos deveríamos tentar ser. Dedicar um pouco do seu tempo para ajudar em sua comunidade de qualquer forma. Você é um profes-sor eduque, nas horas vagas, se é médico consulte de apoio a quem necessita. Seja qual for a sua profi s-são ou seu grau de conhecimento, faça diferença na vida de alguém, seja um cidadão na pratica. Pode ser na luta por melhores condições de saneamento básico, mas pode ser em milhares de outras coisas procure ver ás realidades e agir sobre elas. Fica a dica e o belo exemplo.

Seu direito básico

Dona Maria do Socorro líder da Pastoral da Criança à 22 anos

Page 48: Revista Experimental EM BELEM 03

48

Belém é uma cidade tão di-versa que dialoga vivências e re-alidades completamente opostas. Enquanto alguns cidadãos têm plena consciência dos direitos que possuem e o conforto garantido de usufruir de serviços que pagam para aproveitar, outros cidadãos são lei-gos nesse assunto. Muitas vezes não têm ideia de que algumas opor-tunidades podem estar mais aces-síveis do que imaginam. Os centros comunitários presentes em vários bairros da cidade, apresentam mais do que oportunidades, são espaços de propagação da cidadania. No bairro do Jurunas, a As-sociação da Comunidade do Bairro do Jurunas, (Cobajur), é um espaço quase esquecido no meio de um dos Bairros mais populosos da cidade. Mesmo assim, atende cerca de 200 pessoas por semana, segundo

afi rma o presidente da Associação, José Maria Silva da Costa. A sensação de abandono aumenta quando você visita o lo-cal à tarde. O lugar transmite uma sensação tão vazia quanto o salão escuro onde ecoa o barulho dos ventiladores de teto. Andando, você vê uma luz saindo da fresta de uma porta que inicia um corredor. Quem diria... Há luz no começo do túnel. Lá você encontra pessoas, e mel-hor, encontra produção de con-hecimento: uma aula de informática básica. Isso pode parecer algo mui-to comum, normal ou banal, mas faz diferença para cada um daqueles habitantes da caverna iluminada. A monitora de informática Lady Santos, 25 anos, deixa a bici-cleta próxima da porta e espera cada um dos alunos entrarem na sala para começar o trabalho. Cursan-

FOTO

: AR

NO

N H

EN

RIQ

UE

A arte de fazer o Bem A arte de fazer o Bem Centro Comunitário auxilia no aprendizado e inclusão social e

digital de pessoas de baixa renda

Page 49: Revista Experimental EM BELEM 03

49

A arte de fazer o Bem

do pedagogia, ela utiliza a paciência para preparar os alunos para o mundo veloz dos computadores. “Minha con-tribuição aqui dentro de sala é de ter paciência e incentivar eles a aprender. Toda vez que estou em sala sempre falo é que aqui não é um cyber, é pare-cido com um, mas não é. Meu objetivo aqui é vê-los entrar no mercado de tra-balho, fazer uma faculdade pela inter-net, fazer cursos gratuitos”, afi rma. A voz pausada e leve da instru-tora transmite a calma no ensinar e o controle que ela tem sobre os alunos. Ela revela seu segredo: “Primeiro, eu acho que a pessoa tem que gostar do que faz, porque é só uma bolsa que a gente recebe do governo do Pará (de menos de um salário mínimo), é pou-co. Para que a pessoa tenha que se fo-car nesse trabalho, ela tem que gostar realmente do que faz porque está aqui não pelo dinheiro, mas pela forma de pensar em ajudar”. Guiando-se pela vontade de ajudar, Lady ajuda a transformar a história de muitos alunos. Um caso especial é de Patrícia Pantoja, de 28 anos que teve o primeiro contato com o

computador há duas semanas, quando começou o curso. Ela morava com a família em um sítio em Portel, na Mes-orregião do Marajó, e mora em Belém há cinco anos com o Marido e o fi lho Ramon, de sete anos. “Pra lá é difícil, o trabalho que tinha antes era madei-ra, só que agora não pode mexer com isso. Pra viver aqui eu encontrei mais facilidades. Uma vez, antes de vir de lá, eu trabalhei e me pagavam 25 reais por semana. Aqui a gente encontra, mas não é todo mundo que aceita tra-balhar por esse preço. Em Portel, até pra ser babá a pessoa recebe por mês R$120, 00, aqui, uma menina recebe um salário. Em questão de emprego aqui é muito bom. Salário não tem nem comparação”, disse. Ela não sabia nem ligar o com-putador. O marido queria até pagar um curso de informática pra ela, mas a mesma não se sentia preparada. “Eu não usava. Hoje eu sei mexer de leve no mouse, aprendi a usar a internet, sei mandar mensagem. Para quem não sabia nem ligar o computador, já é um avanço”. “hoje em dia pra con-seguir um emprego aqui, se não tiver

FOTO: ARNON HENRIQUE

Page 50: Revista Experimental EM BELEM 03

50

conhecimento de computadores, não adianta nem ten-tar”, afi rma. “Pretendo, quando terminar aqui, iniciar o curso avançado. Estou preparada agora (risos)”. O centro comunitário enfrenta problemas sérios. Um deles é o ano não-completo. O primeiro semestre começa em março e termina em outubro, e, no perío-do sem funcionamento, a entidade deixa de atender cerca de 250 crianças. “essa meninada fi ca ansiosa aí fora, querendo saber quando começam os cursos. In-felizmente é assim que funciona. Nesse tempo há uma carência de ocupação tanto para a entidade como para a comunidade, então a nossa proposta é manter a enti-dade funcionando com pelo menos 50% da capacidade”, afi rma o presidente da Cobajur, José Maria. A maioria dos professores é voluntária, praticamente nenhum deles re-cebe salário porque o centro é uma entidade sem fi ns lucrativos. “A nossa entidade a gente leva no braço. Re-curso do governo estadual, federal, isso aqui não existe. Quando vem é a gente oferecendo o espaço e eles, o projeto”, contou. Hoje o lugar tem cursos de informática, tanto do governo estadual como do federal, teatro, judô, dança de salão e aeróbica para a melhor idade, futsal, vôlei, ambos com faixa etária de 8 a 18 anos. “Sempre falo pra eles que o nosso objetivo não é formar atletas, é formar ci-dadãos”, afi rma José Maria. “Temos parceria com a igreja católica e com a igreja evangélica porque nós temos que abrir espaço enquanto entidade. Religião não interessa, enquanto estiver falando de Deus, é bem vindo”, acres-centa. Com o olhar cansado, mas com uma expressão satisfeita, o presidente da Cobajur afi rmou: “Nós trabal-hamos direto com a comunidade. É aqui que ela busca abrigo. Como nós fazemos isso? Pegamos esse pessoal que precisa fazer uma ginástica, um curso de informática, uma capacitação qualquer e é aqui que eles vêm buscar. A entidade em si é uma base da comunidade porque é aqui que ela vem buscar ajuda. Por exemplo: ‘eu preciso levar o meu fi lho, de madrugada, para o hospital e não tenho dinheiro pra fazer isso’. ‘– bate na porta da casa do Zé Maria que ele resolve nossa situação”. Quando morre algum vizinho e a família não tem como mandar enterrar

FOTO: ARNON HENRIQUE

Page 51: Revista Experimental EM BELEM 03

51

o corpo, o centro comunitário se disponibiliza a entrar em conjunto com o governo municipal para pedir a doação de um veículo para buscar o corpo, velar no salão do lugar e conseguir um ônibus doado para levar ao enterro. Seu Zé Maria afi rmou que já encontraram muitos problemas com alguns alunos. Assaltantes, meninin-hos arrombadores, homicidas e garotos envolvidos com drogas foram os tipos listados. O presidente do centro comunitário contou o caso de um professor que, após repreender um aluno, foi ameaçado pelo mesmo. De-sesperado, o professor ligou imediatamente para seu Zé Maria para poder sair do local com segurança, já que o aluno afi rmara esperar o instrutor na rua para lhe dar “um monte de facadas”. Quanto a isso, o presidente afi rmou que o objetivo não é exclusão, é inclusão social. “Sabia que ele era ladrão, mas se o cara está dentro da faixa etária que o curso amplifi ca, tu estás com uma vaga, tu não vais dar uma chance pro cara?”, e completou “Você é errado até o dia que quiser. Hoje ele está na igreja, de paletó e gravata. Virou outra pessoa.” O presidente do centro ressalva a importância da informação para a garantia de direitos dos cidadãos: “A pessoa carente que não tem uma informação fi ca meio ‘pregada’, não sabe para onde recorrer quando precisa emitir um documento, marcar uma consulta para o ocu-lista... É aqui que está a base da comunidade. É aqui que ela vem buscar o trabalho que muitas vezes o governo não faz. Principalmente a informação”. A luta diária é buscar um bem estar para a comu-nidade. “A luta é muito difícil Eu entro aqui 8h, fi co até 8:30h, vou trabalhar em Ananindeua e volto à noite para checar a minha agenda, ver o que tem nela, se tiver de ligar pra alguém, ligo, chamo para cá para resolver os problemas, se tiver que ‘encanetar’, ‘encaneta’. É assim que resolve”, afi rma José Maria. O presidente do centro comunitário prega a mes-ma ideia que a instrutora Lady Santos: “Mete-se nisso quem gosta. É a mesma coisa pra mim, que estou sen-tado nessa cadeira. É dizer assim: o seu Zé Maria está lá não porque ganha dinheiro, mas porque ele gosta”. E conclui: “A luta é compensadora porque tu sentes no agrado das pessoas que estás fazendo o bem”.

FOTO: ARNON HENRIQUE

Page 52: Revista Experimental EM BELEM 03

52