Revista GAIA

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Meio ambiente Sustentabilidade Natureza Santa Genebra Mata Edição 1 Julho 2015 R$ 12,90 pulmão verde de Campinas Foto: Raíssa Zogbi

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Na mitologia grega, GAIA significa Mãe Terra, aquela que carrega dentro de si o elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora incrível. Para nós, GAIA é a esperança de um mundo melhor. Esta é a proposta da revista que acaba de nascer a partir de discussões de uma turma de quartoanistas da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, na disciplina Edição e Produção Editorial. A partir do esforço de 30 idealistas e futuros jornalistas, a revista nasce com a proposta de conectá-lo à iniciativas de sucesso na Região Metropolitana de Campinas, que promovam o bem-estar social e ambiental. A revista GAIA é, acima de tudo, uma publicação direcionada no sentido de possibilidades, alternativas e iniciativas positivas na harmonização do homem com a natureza, sempre tendo como referência o embasamento científico. Nossa proposta é ser a intersecção da ciência e da ação, um chamado para a consciência que integra um olhar otimista em relação ao futuro.

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Page 1: Revista GAIA

Meio ambiente SustentabilidadeNatureza

Santa GenebraMata

Edição 1Julho 2015

R$ 12,90

pulmão verde de Campinas

Foto: Raíssa Zogbi

Page 2: Revista GAIA

sumário6

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3037

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Estilo de vida

Vida Rural Ensaio

Pesquisa

Alimentação

Especial

Opinião

Impactos

Na mitologia grega, GAIA significa Mãe Ter-ra, aquela que carrega dentro de si o el-emento primordial e latente de uma po-

tencialidade geradora incrível. Para nós, GAIA é a esperança de um mundo melhor. Esta é a proposta da revista que acaba de nascer a par-tir de discussões de uma turma de quartoanistas da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, na disciplina Edição e Produção Editorial. A partir do esforço de 30 idealistas e futuros jornalistas, a revista nasce com a proposta de conectá-lo à ini-ciativas de sucesso na Região Metropolitana de Campinas, que promovam o bem-estar social e ambiental. Nós, da GAIA, acreditamos no potencial individual que cada um possui de construir, den-tro de sua própria história, perspectivas alinhadas à prosperidade sustentável do mundo. Queremos que a publicação seja o fio condutor de ideias que ispirem a criação de estratégias inteligentes e que ajudem na manutenção e cuidado com o nosso planeta. A revista GAIA é, acima de tudo, uma pub-licação direcionada no sentido de possibilidades, alternativas e iniciativas positivas na harmoni-zação do homem com a natureza, sempre ten-do como referência o embasamento científico. Nossa proposta é ser a intersecção da ciência e da ação, um chamado para a consciência que integra um olhar otimista em relação ao futuro. Sejam bem-vindo(a)s!

Fernando Corrilow Victoria Monti

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Mata

Da Redação

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PROFESSORA Cecília Helena Toledo EDITORES Fernando Corilow • Victoria Monti EDITORES DE ARTE Amanda Bruschi • Raíssa Zogbi •Vinicius Tavares EDITOR DE WEB Vinícius Oliveira REPORTAGEM Ananda Porto • Bárbara Garcia • Betina Cremasco • Bruna Gomes • Fernanda Flore • Flávia Coelho • Gabriela Soligo • Gabrielle Mazzetti • Igor Calil • João Damasceno • Juliana Scheridon • Karina Danielle • Nicole Dariolli • Nina Ferrari •Ricardo Magatti • Sérgio Moreira • Vinícius Bognone. A Revista GAIA é uma produção laboratorial dos estudantes do 4ª ano de Jornalismo da PUC-Campinas para a disciplina Edição e Produção e Editorial, ministrada pela profª Cecilia Helena Toledo Vieira

E X P E D I E N T E

Ciça Toledo, João Damasceno, Flávia Coelho, Sérgio Moreira Jr, Vinicius Tavares, Vinícius Oliveira, Rafaela Piai, Victoria MontiFernando Corilow, Raíssa Zogbi, Amanda Bruschi, Karina Danielle, Fernanda Flores, Nicole Darioli, Betina Cremasco, Ananda Porto

Nina Ferrari, Igor Calil, Vinícius Bognone, Bruna Gomes, Juliana Scheridon, Gabrielle Mazzetti

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Vida simples ECOVIDAe sustentável

Água natural, árvores, hortas, cozinhas co-letivas, casas susten-

táveis e sem poluição, equi-líbrio e meditação… não é preciso ir tão longe para viver em harmonia com a natureza. Este modo de vida é característico de quem es-colhe viver nas chamadas Ecovilas. O Brasil possui cerca de 70 espalhadas pelo país – só no estado de São Paulo, existem duas a menos

de 100 km da capital: a Ecovila Clareando, em Piracaia, e a Ecovila Santa Margarida, ins-talada em Campinas. A de Santa Margarida é a primeira ecovila urba-na da América Latina, cujo projeto foi elabo-rado por Flávio Janu-ário José, doutor pelo Programa de Pós-Gra-duação em Arquitetura e Urbanismo da EESC – USP São Carlos.

Em 1998, esse estilo de vida sustentável foi nomeado oficialmente pela ONU como uma entre as 100 melhores práticas para o desen-volvimento sustentável. As ecovilas são, de fato, baseadas na sustentabi-lidade e fundamenta-das em três pilares: as dimensões econômi-ca, social e ambiental. O objetivo é buscar o equilíbrio entre elas, sem deixar que ne-nhuma se sobreponha, abordando a sustenta-bilidade em todo o sis-tema de planejamento.

Conceito

não é somente montar uma

ecovila, colocar as pessoas e pronto

“”

“Não se trata apenas do âmbito físi-co da ecovila; não é somente mon-tar uma, coloca as pessoas e pronto. Depende das ações comunitárias e principalmente das relações que nela acontecem”, analisa Januário. O ar-quiteto ainda acrescenta que hoje a questão econômica se sobressai so-bre as dimensões social e ambiental. No Brasil, há 38 anos é realizado o Encontro Nacional das Comuni-dades Alternativas, difundo pela Associação Brasileira de Com-panhias Abertas (ABRASCA). O evento acontece em uma comuni-dade em potencial e reúne grupos, pessoas e organizações vinculadas às comunidades alternativas. O ob-jetivo é que, durante uma semana, todos os participantes possam co-nhecer a vida em um outro grupo. “Lá se trocam informações, resulta-dos e é feita divulgação de eventos.”

Urbanas X Rurais

Na essência, a ecovila nasceu para ser desenvolvida em espaço rural, para que haja mais contato com a nature-za e se aplique os fundamentos sus-tentáveis básicos desse estilo de vida. Porém, existem também as ecovilas urbanas. Segundo Flávio Januário, uma das diferenças encontradas en-tre os dois tipos é que a ecovila rural não demanda aprovação na prefeitu-ra para os sistemas de infraestrutura, além de ter que ser pago somente o Imposto Sobre a Propriedade Terri-torial Rural (ITR). Já as ecovilas urba-nas necessitam receber aprovação da prefeitura para a instalação, por con-ta da lei de Uso e Ocupação do Solo.Outra característica é a do plantio. Para uma ecovila ser denominada rural, ela tem que necessariamente estar fora da área urbana e, principal-mente, ter em seu espaço e cultura a plantação sustentável. Esse sistema também é chamado de permacultura.

As comunidades se tornaram e estão se tornando ecovilas“ ”

Casa de ferramenta Ecovila São Luiz

Cisternas Ecovila Santa Margarida

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A Eco Vila Santa Margarida nasceu da pesquisa intitulada “Diretrizes Para o De-senvolvimento de Ecovilas Urbanas” de Flávio Januário, realizada para conclusão de seu doutorado na USP. Por meio de es-tudo, o local escolhido pelo arquiteto para criar a primeira ecovila urbana da Améri-ca Latina foi a Chácara Santa Margarida,

Eco Vila Santa Margarida que ocupa uma área de 86 mil m².O projeto foi iniciado em 2011, quando 42 famílias se juntaram para iniciar a Ecovila em Barão Geraldo. Hoje, moram apenas qua-tro famílias, pois está parcialmen-te aprovado pela prefeitura. Hoje, a infraestrutura conta com um antigo casarão que foi restaurado e funcio-

na como sede, algumas casas, inícios de plantações cisterna para coleta de água da chuva, banheiro coletivo e sistema de tratamento de esgoto.Lá, todas as árvores da área rece-beram registro e foram catalogadas para minimizar o impacto quando fosse realizado o traçado das vias de trânsito. Além disso, uma deci-

são comum dos futuros moradores é que tanto calçadas como a cons-trução das casas deverão ser feitas de acordo com as regras de susten-tabilidade. Segundo Januário, para o projeto ser totalmente concebido, ainda falta, além do documento de aprovação da prefeitura, a insta-lação de boa parte da estrutura.

Futura Sauna da Ecovila Santa Margarida

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Januário está desenvol-vendo, junto com seu co-letivo, uma ecovila rural em Campinas, no bair-ro Tijuco das Telhas. A Ecovila São Luiz ocupa 43 mil m² e possui uma parte da infraestrutura em construção. “Lá, nós já temos cabeamento de energia subterrânea; re-centemente começamos a plantar árvores e estamos fazendo uma sede toda de bambu com telhado reci-clado de tubo de pasta de dente”, conta o arquiteto.

Ecovila São Luiz

Guilherme Ferreira de Araújo, dentista pela USP, 45 anos, tem planos para viver na Eco-vila Rural São Luiz, em Campinas. Ele conta que seu filho está no Canadá e se separou da mulher, e sempre teve vontade de viver de uma forma mais sustentável: “Antes de ser dentista, pensei em ser arquiteto ou agrô-nomo para me inserir nesta área. Agora vou me mudar. Estamos trabalhando bastan-te para conseguirmos montar toda a infra-estrutura e colocar minha casa lá”, relata.

Nova vida

Karina Danielle

Fotos: Karina D

anielle

Sede da Ecovila Santa Margarida

Chuveiro coletivo Ecovila Santa Margarida

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CIÊNCIAmais e melhor

Antes mesmo de os recursos

hídricos darem sinais de escassez e a socie-

dade perceber que eles têm fim, a pesquisa,

o desenvolvimento e a aplicação do melho-

ramento genético na agricultura já acon-

teciam para que no futuro, agora presente,

a cadeia produtiva se moldasse e o consu-

midor final, na prática, não ficasse sem o

alimento na mesa. Assim, os institutos de

pesquisas trabalham cotidianamente ten-

tando prever as próximas condições climá-

ticas a fim de amenizar as consequências

no campo, de onde, por enquanto, sai toda

alimentação mundial.

a favor da alimentação

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Imagine um arroz branco, de grãos longos e bem soltos na pa-nela, um café de sabor e aroma

agradáveis e bem equilibrados, um feijão com caldo encorpado e cozido rapidamente e aquela alface que está há uma semana na geladeira e con-tinua bonita. Nada disso seria pos-sível se a ciência não estivesse pre-sente e se o melhoramento genético não contribuísse para tais melhorias. Com vistas na garantia de alimento no futuro, a pesquisa nos mais di-versos e importantes laboratórios de melhoramento genético de plantas espalhados pelo Brasil começou em 1903, quando o eucalipto chegou por

aqui. De lá pra cá, essa técnica não só permitiu a melhor adaptação das plantas ao clima tupiniquim, como possibilitou consideráveis aumentos produtivos das espécies estudadas. Feijão, café, cana-de-açúcar, cacau, soja, arroz e tantas outras cultivares simplesmente não sobreviveriam ou produziriam em uma quantidade in-suficiente para alimentar a população nos dias de hoje. Sem os avanços cien-tíficos, estaríamos “todos brigando como leões por comida”, afirma Júlio César Mistro, pesquisador de café do Instituto Agronômico de Campinas.E por falar no IAC, o Instituto tem considerável contribuição na pro-

Segundo a ONU, em 2050 o mundo terá mais de 9 bilhões de pessoas, com expectati-va média de vida de 76 anos. Adriano Castro, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesqui-sa Agropecuária, Embrapa, diz que a produção de alimentos no planeta hoje não seria capaz de abastecer essa população.Entretanto, ele explica que, como aconteceu no passado, a função do melhoramento genético é tentar prever as futuras deman-das da sociedade e, de manei-ra controlada, provocar situa-ções nas plantas antes que elas aconteçam de fato. “A gente não pode contar com a sorte”, diz.

9 bilhões de pessoasdução de café nacional e internacio-nal. É provável que o cafezinho que você prepara em casa tenha vindo de uma plantação cuja origem são os laboratórios que já lançaram 68 cultivares desde 1932, represen-tando 90% da plantação brasilei-ra e 70% dos cafezais no mundo.Mas o desenvolvimento de uma pesquisa até a sua aplicação na agri-cultura não acontece do dia para a noite. Em média, do início de um programa de melhoramento até o alimento chegar à mesa do almoço, podem se passar 12 anos, explica o professor e pesquisador da Uni-versidade Federal de Lavras, Mag-no Ramalho. Já o prazo de valida-de é indefinido. “Quando aparece algo melhor, a gente troca”, observa.

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Melhoramento genético é um dos responsáveis pela diversidade de

oferta de alimentos

Semente de milho melhorada em laboratório é menos suscetível à pragas, o que demanda menos defensivos

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Em essência, um alimento genetica-mente melhorado é um transgênico. O pesquisador da Embrapa, Leo-nardo Melo, explica que o consumo desses alimentos, entretanto, é se-guro. “O que nós fazemos é desen-volver novas formas genéticas por meio de combinações diferentes”, explica. Na prática, “é como pegar vários carrinhos, desmontá-los e tentar construir outro melhor com as peças”, explica Júlio César Mis-tro, do IAC. Magno Ramalho, da UFLA, também defende a segurança desses alimentos e vai além: “atra-vessar a rua é muito mais arrisca-do do que consumir transgênicos”.As plantas geneticamente melhora-das não visam apenas a maior produ-ção. Pesquisadores e estudiosos estão preocupados também em oferecer alimentos mais ricos em nutrientes. A nutricionista Joseane Gomes explica, porém, que os transgênicos precisam ser consumidos com moderação.

“Alguns alimentos transgênicos podem conter nutrientes acima das necessidades nutricionais dos indivíduos. Isso pode prejudicar o organismo, uma vez que o ex-cesso de alguns nutrientes pode prejudicar a absorção de outros”.Ela ressalta, ainda, que, em geral, as pessoas buscam, em primeiro lugar, saciar a fome. O sabor, o aroma e a qualidade final dos alimentos, mes-mo que muito importantes, ainda não são prioridades da maioria. “A maior preocupação é comer e manter a saciedade, [as pessoas] priorizam o que é prático e, em várias situações, o mais barato”, conta a nutricionista.Então, da próxima vez que for ao su-permercado, lembre-se que não es-tará comprando apenas o alimento. Junto, levará para casa tecnologia e anos de testes e pesquisas em labora-tórios. E se o arroz estiver bem cozido e soltinho, o mérito, certamente, não deve ser somente de quem cozinhou.

Igor Calil

Nova cultivar de feijão, desenvolvida pelo IAC, é mais resistente a seca

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NA CONTRAMÃO DO ENVENENAMENTO

Produção orgânica e filosofia japonesa

aparecem como solução para evitar insumos artificiais

nas plantações

Quem vê o Romeu de Mattos Leite chegar pedalan-

do a antiga bicicleta por entre os caminhos de terra, margeado por ár-vores centenárias e plan-tações de milho, banana, morango e outros tipos de verduras, legumes e frutas não imagina que o simpático senhor de cabelos brancos é um dos idealizadores de uma ideia de sucesso na região de Campinas: a Vila Yamaguishi ou Vila da Felicidade, localiza-da em Jaguariúna, a dez quilômetros do centro da cidade.Simplicidade marca os

passos, gestos e palavras do veterinário de diplo-ma e idealista nato pela filosofia da comunidade Yamaguishi, que ele fun-dou em 1988 com mais quatro amigos. “Nós sempre buscamos cons-truir um mundo confor-tável para todos vivendo em harmonia com a na-tureza”, explica. Os fundadores conhece-ram a filosofia japonesa de Myoso Yamaguishi quando visitaram o país, nos anos 80. Ao retornar ao Brasil, começaram a planejar uma comunida-de com um processo da agricultura que utilizas-se apenas sistemas natu-

rais para combater pra-gas e fertilizar o solo. Os membros da Vila Yama-guishi encontraram na produção orgânica e na preservação do meio ambiente a fórmula para começar a estruturar uma sociedade que se preocupa com a susten-tabilidade e as próximas gerações.

A Vila tem plantações de frutas, legumes e verdu-ras, além da criação de galinhas. Tudo é pro-duzido sem a utilização de insumos artificiais – agrotóxicos, adubos químicos e substâncias sintéticas. Com isso, as

Nicole DariolliGabriela Soligo

Foto: Nicole Dariolli

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plantações estão livres de hormônios, antibi-óticos e de organismos geneticamente modifi-cados.

O veterinário lamenta a burocracia imposta pelo Ministério da Agricultu-ra para as plantações que não utilizam agrotóxicos e o consequente pouco incentivo do governo. Apesar das dificuldades, ele é um dos agriculto-res e produtores brasi-leiros que enxergou na produção orgânica uma forma de banir os insu-mos artificiais da lista

de soluções no merca-do agrícola em um país onde os agrotóxicos são amplamente utilizados sem a devida fiscalização

Atualmente, Leite mora com aproximadamente mais 50 pessoas na Vila Yamaguishi. Todos se dedicam à produção or-gânica e à preservação do meio ambiente. “Ali-mentos orgânicos ofere-cem vantagens: são mais saudáveis e saborosos, além de sua forma de cultivo preservar a natu-reza”, explica.Consumo de agrotóxi-

cosSegundo relatório divul-gado no mês de abril de 2015 pelo Instituto Na-cional do Câncer (Inca), o Brasil aparece como lí-der no ranking mundial de consumo de agrotó-xicos. O país ocupa a primeira posição desde 2009, com uma média de um milhão de tone-ladas de pesticida por ano. Além disso, o do-cumento também alerta para outros problemas causados à saúde, que podem ser gerados pelo contato com esse tipo de substância.

Entretanto, a busca para mudar essa realida-de tem progredido. De acordo com o Ministério da Agricultura, a produ-ção orgânica no Brasil cresceu, aproximada-mente, 52% em janeiro de 2015, quando compa-rada ao mesmo período de 2014. Hoje, são 10.194 agricultores registrados que aderiram ao modelo produtivo sustentável, os quais fazem o país ocu-par posição de destaque na produção mundial de orgânicos. Esse aumento justifica-se pela busca constante da população por uma alimentação

mais saudável e torna comum a prática do consumo desse tipo de alimento.

A bióloga Adriana Cas-tello é um dos exemplos de quem vê na comida orgânica a possibilidade de melhorar a qualidade de vida. “Tive que come-çar a cuidar da minha alimentação devido a um problema de saúde”, conta. “Vi nos alimentos orgânicos uma boa con-tribuição para um dia a dia mais saudável”.Além de todos os bene-fícios para saúde, Adria-na também pontua

PRODUÇÃO ORGÂNICA

Livre de agrotóxicos, os alimentos produzi-dos na Vila Yamaguishi preservam o sabor, o aroma e os nutrientes, além do solo e da água. Para alcançar este objeti-vo a comunidade inves-tiu anos de estudos em agronomia, ecologia e economia, inclusive em aspectos filosóficos e so-ciológicos relacionados à vida rural.A alimentação orgânica é vista para os produto-res da Vila Yamaguishi

1918

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Do lixo ao céu: os urubus e a aviação

produtos da Vila Yama-guishi, Leite conta que é necessário seguir as leis regulamentadas e apli-cadas pelo Ministério da Agricultura através da Coordenação de Agro-ecologia (Coagre). “Nós seguimos a legislação brasileira de produção orgânica, que estabele-ce o não uso de agrotó-xicos, além do respeito às questões sociais dos

O que nós seguimos na Vila é a proposta de um modelo de produção de alimentos sem contaminação e em harmonia

com a natureza e as ações humanas. Consideramos isso como a maneira que temos em nosso alcance de produzir alimentos

e deixar um planeta saudável para as próximas gerações explica Romeu.

como o resultado de um processo que, mais do que ser isento de insumos arti-ficiais, também conta com o equilíbrio entre solo, recursos naturais, como água, plantas, animais, e seres humanos. Produzir e comerciali-zar alimentos orgânicos exige adequação a inú-meras normas inscritas na legislação brasileira. Para comercialização dos

moradores, porque tem que ter moradia digna, alimentação saudável, acesso à educação e a cultura, e também temos que respeitar a ques-tão da preservação dos recursos naturais, sem causar erosão do solo, contaminação da água”, explica. A Lei foi aprova-da em 2003, mas entrou em vigor apenas em de-zembro de 2007.

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Campinas é ponto de referência como uma cidade do interior que

cresce cada vez mais, uma ci-dade rica que comporta mais de um milhão de habitantes. Mas como toda cidade rica, Campinas também tem seus grandes problemas nas ques-tões básicas como: mobilida-de urbana, transporte, polui-ção, lixo produzido e seu ciclo final.Lixo produzido, esse é o pon-to que a revista Gaia aborda em seu ensaio fotográfico. Localizado no bairro Satélite Iris, o antigo lixão da Rhodia, hoje administrado pela em-presa Renova terceirizada da prefeitura para captação de

todo lixo da cidade, aproxi-ma dois pontos cruciais para a região: finalização do reco-lhimento do lixo e um dos maiores aeroportos do país, Viracopos. O aeroporto está próximo do lixão e isso se torna um problema. Em 2012 a presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei que proí-be descarte de lixo próximo a áreas aeroportuárias pois os riscos de choques entre as aeronaves com as aves é enor-me, só em 2011 foram 1.470 ocorrências. A lei prevê mul-ta de R$250 a R$ 1,2 milhão para qualquer tipo de incenti-vo de fauna, abatedouro e ma-nejo de material de zoológico próximos ao campo aéreo.

Gabrielle Mazzetti

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Hoje, o grande problema atual além do próprio li-xão da Renova, que não enterra o material mas sim o compacta (aterro se localiza em Paulínia),

atraindo dessa forma ainda mais os animais, como os urubus, são os avanços das favelas próximas ao aeropor-to que não descartam de forma correta o seu lixo e cola-boram para atrair mais e mais aves. Como cita o tenente coronel aviador Flávio Antônio Coimbra ‘’ o governo não pode multar o morador da favela, isso e nada é a mesma coisa.’’

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O governo não pode multar o morador da favela, isso e nada é a mesma coisa.

Flávio Antônio Coimbra

“ ”

Page 15: Revista GAIA

Do velho

Vidro, alumínio e plástico são os materiais

que mais demoram a se decompor no meio ambiente. Descartados indiscriminadamente como material orgânico em lixões e depósitos, eles colocam em risco o solo e, consequentemen-te, a saúde da população. Assim como eles, caixas de madeira, pallets e ou-tros materiais também costumam ser descarta-dos sem a preocupação com o meio ambiente. O que muita gente não sabe é que essas peças, quando reformadas, po-dem se transformar em elementos de decoração. Segundo pesquisa reali-zada pelo Instituto Ipea em 2010, os benefícios econômicos relaciona-dos à reciclagem são muitos, inclusive eco-nomicamente, já que os custos de produção de matéria-prima virgem são muito maiores do que a produção de mate-rial reciclável. Em outras palavras: quem trabalha com material reciclado economiza dinheiro e protege a natureza.

Peças de madeira e pallets reformados po-dem se transformar em elementos de decora-ção. A fotógrafa Vivia-ne Casonato Madeiro costuma olhar atenta para caçambas de lixos em busca desse tipo de material. Para ela, o pro-cesso de inovar o que já não serve mais começa na restauração da peça. O primeiro passo é lim-par bem o material des-cartado; depois, vem a etapa da pintura. O objetivo é dar uma cara nova ao que era velho. “O segredo é repartir o que aparenta não ser-vir mais para aumentar as possibilidades de ser reciclado, produzindo um móvel novo”, explica Viviane, que se casou há pouco tempo e decorou parte de sua casa com várias peças recicladas. Para ela, quem costu-ma recuperar materiais pensa duas vezes antes de comprar uma peça nova. “É um caminho sem volta. Depois do resultado, você começa a enxergar o lixo de ou-tro jeito”, conta Viviane. Desde que começou a

restaurar peças jogadas em depósitos de recicla-dos, Viviane passou a in-vestir suas horas de lazer nesse hobbie. “Se não es-tou fotografando, estou restaurando peças”, con-ta. Em sua casa, muitos objetos já ganharam ou-tra utilidade pelas mãos da fotógrafa: a geladeira transformou-se em ar-mário; cadeiras de fer-ro foram modernizadas com pinturas e estofados e estrados de camas ga-nharam nova utilidade como jardim vertical.

para o

Quanto eu gasto para começar a reciclar um móvel?Nenhum centavo, se você quiser. Separar os mate-riais é uma questão de hábito, e não é preciso ter lixeiras novas e coloridas para isso. Comece aos poucos – divida os resídu-os de sua casa em apenas duas partes: Recicláveis e não recicláveis. Pincéis e tintas também têm um preço barato, é só usar a criatividade.

NOVO

Como faço isso na minha casa?O compromisso está nas suas mãos: desde a ini-ciativa até o transporte do material até sua casa. Como o material, além de separado, deve estar seco e limpo, a coleta exige al-gumas mudanças na roti-na doméstica. Por isso, to-dos precisam se envolver. Viviane explica como fez isso em sua própria casa: “Conforme uso os enlata-dos vou colocando as em-balagens na pia. Na hora de lavar a louça, aprovei-to para tirar os restinhos de comida das latas, que vão limpas para o lixo. Reciclar é fácil, basta você ter ca-pricho”.

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Luana Freire

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Mata Santa Genebra

No domingo, 26 de abril, o dia amanheceu cla-

ro em Campinas. Os raios de sol, ainda fra-cos, não eram suficien-tes para esquentar aque-la manhã de outono. O relógio marcava 08h45 e cerca de 30 pessoas já se aglomeravam em frente ao principal portão de entrada da Fundação José Pedro de Oliveira, responsável pela Mata

Santa Genebra. A área, localizada no distrito de Barão Geraldo, às margens da Rodovia Campinas – Mogi, é hoje a maior mata da Região Metropolitana de Campinas, que re-úne uma fauna e flora típicas da floresta tro-pical. A Mata Santa Genebra não está isola-da em uma área rural: ela pertence ao bairro Bosque de Barão, que

é formado por diversas residências.

As visitas à Mata San-ta Genebra acontecem sempre no último do-mingo do mês. Nes-se dia, os portões se abrem pontualmente quinze minutos antes do horário da visita, que é às 9 horas. Quan-do o dia está com céu limpo e sem presença de nuvens, é comum a formação de fila. Os

pulmão verde de

visitantes vão se aconchegando e são recepcionados por três membros da equipe da Fundação, que os dire-cionaram ao auditório da sede, para a exibição de breves vídeos sobre a mata.

Após a exibição dos vídeos, crian-ças, adultos e idosos são encaminha-dos à área externa. O biólogo Cris-tiano Krepsky é quem costuma falar sobre o percurso da trilha que é feita dentro e nos arredores da mata. Ao todo, são cinco quilômetros de ca-minhada. O percurso é dividido em duas etapas: uma no interior da mata, atravessando-a de leste a oeste; e a outra pelo arredores, sendo possível

Campinas

avistar até mesmo a Rodovia Cam-pinas-Mogi. Para os pequenos, há a possibilidade de caminhar apenas 300 metros, chegando até o borbole-tário, que tem uma casa de criação de borboletas, um jardim e um pequeno viveiro de plantas para alimentação das lagartas. Quem faz esse passeio tem a oportunidade de conviver, por alguns minutos, com diversas espé-cies de borboletas, de tamanhos e cores variadas, que vivem no local. Pela manhã, algumas não sobrevoam em função da falta de sol, e por isso, enquanto umas escolhiam sobrevoar entre os visitantes, outras buscavam o aconchego em uma flor.

Família s caminham na trilha da Mata de Santa Genebra

Crianças interagem com as atrações da Mata Santa Genebra

3130

Page 17: Revista GAIA

A tranquilidade do borboletário, no enan-to, está ameaçada na parte externa pelos seus predadores: os macacos-prego e bugiu, que vivem na mata. Por causa disso, o ambiente vai precisar passar por

da mata, funcionários distribuem proteções para serem colocadas nas pernas. São per-meiras, uma espécie de caneleira que prote-ge os joelhos e canelas de tombos e picadas de insetos. O biólogo Krepsky acompanha os visitantes na trilha. À frente do grupo, ele indica o caminho, tira dúvidas e faz um traba-lho de conscientização sobre a área pela qual andamos. Jatobá e mais 14 espécies de árvo-res margeiam a trilha, que é cortada por três mananciais. O conta-to com a natureza era cada vez mais próximo. Já era possível sentir o cheiro úmido das plan-tas. A cada passo dado sentíamos também o barro enquanto a po-eira ia pintando nossos sapatos e perneiras.

Fizemos uma rápida parada e em seguida entramos na trilha fe-chada. Desta vez éra-mos rodeadas pelo verde da natureza. Dos passos fundos de barro à caminhada com tri-lha sonora das folhas secas e galhos que eram pisoteados. As árvo-res e galhos que nos

uma reforma, conta Krepsky. “Os macacos furaram a tela de prote-ção do viveiro e vamos ter que fazer a troca dessas telas nos próxi-mos dias”, explica.

Antes de começar a caminhada pela trilha

impediam de ver o céu formam uma espécie de túnel natural. Todo cui-dado era necessá-rio, com orientação dos nossos guias precisávamos man-ter os olhos fixos no caminho e ain-da evitar esbarrar na vegetação, isto porque havia a pre-dominância de ur-tigas. Durante uma hora e meia, é pos-sível conhecer a maior parte da mata, que é formada por 251,77 hectares, equivalente a 250 campos de futebol.

História:A atual Mata de Santa

Genebra, originalmen-te fazia parte da Fazen-da Santa Genebra. O

primeiro proprie-tário da fazenda foi o Barão Geraldo de Resende. Após seu falecimento, suas terras foram leiloadas à família de José Pedro de Oliveira. Foi uma das principais pro-dutoras de cana de açúcar e café na região, por ter um solo muito favorá-vel para a produ-ção agrícola. Com

o passar do tempo, na década de 70, começa-ram movimentos para a preservação desse local, e em 1981, a esposa

“A mata está bem protegi-

da legalmente falando, mas

o entorno dela é bastante vul-

nerável

Macaco-prego é visto dentro da Mata

3332

Page 18: Revista GAIA

de José Pedro, Jandira Pamplona de Oliveira, doou a mata à Prefeitu-ra Municipal de Cam-pinas. Na escritura de doação está o registro de que apenas a Mata de Santa Genebra foi doada, e não o terreno em que ela está locali-zada. Segundo Cynira Any Gabriel, direto-ra do Departamento Técnico Científico da Mata de Santa Gene-bra, isso significa que se a Prefeitura de Cam-pinas converter essa área em loteamento ou estrada, a Mata vol-ta a família doadora. “Esse é um dispositi-vo importante para a preservação da Mata”, afirmou a diretora. Ao som da Orquestra Sin-fônica de Campinas, autoridades e curio-sos compareceram no evento de doação dessa Mata. Desde então, o local tornou-se um dos principais redutos ver-des da região e é con-siderado pelos especia-listas como o ‘pulmão verde’ da RMC.

Ameaças:A Mata de Santa Ge-

nebra, administrada pela Fundação José

Pedro de Oliveira, embora seja conside-rado o ‘pulmão verde’ de Campinas e região, esta área sofre ameaças internas. O fato de fi-car às margens das ro-dovias e ser uma mata isolada faz com que a sua fauna não se pro-pague, da mesma que outros animais não conseguem entrar no local. Segundo o Biólo-go Cristiano Krepsky, a solução, neste caso, seria a criação de cor-redores ecológicos;

porém, isso demanda um alto investimento e negociação com gran-des proprietários de terras. “Muitos desses proprietários não têm interesse nesta ques-tão, pois preferem in-vestir em loteamentos”, lamenta o biólogo.

Além disso, existe uma guerra interna com outras espécies presentes na mata: os cipós. Esta espécie se expande rapidamen-te sob outras árvores, gerando um desequi-

líbrio. Outro vilão é o fogo, principalmente nas épocas de seca, as quais aumentam o nú-mero de incêndios por causas naturais. Para tratar desta questão, a Fundação tem uma brigada de combate ao

incêndio. Os próprios funcionários realizam as operações por meio do uso de um cami-nhão e materiais da brigada interna. Por outro lado, a Mata de Santa Genebra é pro-tegida por leis, como

Ananda Porto e Betina Cremasco

Borboletário

Visitantes recebem instruçãopara iniciar trilha

35

a do tombamento do Conselho da Cultu-ra do Município, do Estado e Federal. “A mata está bem prote-gida legalmente falan-do, mas o entorno dela é bastante vulnerável”, lamentou Krepsky.

Fotos: Ananda Porto

Arte: Vinicius Tavares

34

Page 19: Revista GAIA

SAÚDE Coma bem,você também

Você já parou para pensar na quantidade

de frutas, legumes e verduras que você in-gere por dia? Mesmo um país onde a varie-dade desses alimentos é enorme, ainda falta espaço para eles na ge-ladeira do brasileiro. Com a combinação de uma rotina agitada e tantas opções de pro-dutos industrializados que são encontrados nos supermercados, as pessoas se preocupam cada vez menos com o que estão ingerindo.

Em contraponto à esse movimento, hou-ve um crescimento no número de vegetaria-nos no país, de acor-do com o IBGE. Em Campinas, por exem-plo, 10% da população é adepta a esse esti-lo de vida. Números que impressionam, já que essa média, nor-malmente, apenas é encontrada em gran-des centros urbanos, que possuem mais opções de restauran-tes, casas especializa-das, cursos de culiná-ria e feiras orgânicas.

Há diversos mo-tivos que levam uma pessoa a se tornar ve-getariana; por exem-plo a religião, a saúde ou a preocupação com os animais. Este fenô-meno, apesar de estar crescendo atualmen-te, porém, é bastan-te antigo. O filósofo e matemático grego Pitágoras, que viveu por volta dos anos 500 a.C., já encorajava o vegetarianismo: ele acreditava que uma dieta a base de vegetais aju-dava no convívio pacífico entre os seres humanos.

A nutricionis-ta e especialista em dieta vegeta-riana Ana Cegatti também compar-tilha dessa opi-nião. Para ela, “as pessoas vegetarianas se tornam mais cons-cientes com o mundo ao seu redor, ou seja, possuem um senso de comunidade maior”.

O professor de yoga Tiago Bastos conta que o fato de se tornar ve-getariano fez com que ele não só mudasse seus hábitos alimenta-res, mas também seu

estilo de vida: “Quan-do eu apenas praticava a yoga e não era vege-tariano, sentia uma di-ficuldade em executar as posturas”. Este fenô-meno é comum por-que a carne é um ali-mento que demora a ser digerido, deixando o corpo mais pesado, como explica o pre-parador físico Lucas Azevedo. Por esse mo-tivo, Caio decidiu mu-

dar. Há dez anos, ele aderiu ao vegetarianis-mo e como resultado melhorou seu desem-penho - anos depois, se tornou até profes-sor da modalidade.

Um fator impor-tante para que as pessoas tomem essa decisão de mudança está associado à não-violência e ao respeito

“As pessoas vegetarianas

se tornam mais conscientes

com o mundo ao seu redor”

pelos animais. O não consumo de carne e de produtos deriva-dos de proteína animal vem motivando ações de inúmeras organi-zações de defesa dos direitos dos animais para promover o vege-tarianismo/veganismo ao redor do planeta.

Foi o que aconteceu com a estudante He-lena Gonçalves, após ver um vídeo na inter-

net que mostrava a crueldade nos frigoríficos, ela se sensibilizou com a situação desses animais e decidiu, como forma de protesto, parar de comer carne. Para isso, procurou uma profissional que a orientou nessa transição.

Segundo Ana Cegatti, é primordial ter o acompanhamento de um profissional nes-ta mudança, já que é necessário que o novo cardápio contenha ali-mentos que substituam o valor nutricional da carne. Algumas pesso-as precisam até mesmo de cápsulas de vitami-nas para haver uma reposição adequada.

Foto

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Page 20: Revista GAIA

Um dos grandes pre-conceitos sobre a dieta dos vegetarianos é pen-sar que eles não podem comer nada. Mas a verdade é que eles têm uma alimentação ainda mais variada. Em visita ao restaurante Raízes Zen, a chefe de cozi-nha Bia Zen conta que há oito anos, o distrito de Barão Geraldo, na região de Campinas, não tinha nenhum res-taurante desse segmen-to. Foi aí que ela viu a possibilidade do esti-lo de vida de toda sua família se tornar um negócio rentável. Além disso, ela tem a possibi-lidade de mostrar para as pessoas que pratos comuns da culinária mundial, podem ter a sua versão vegetariana. Ou seja, tudo é uma questão de adaptação.

O que comem?

Vantagens- Estrutura corporal mais magra- Menos chance de desenvolver diabetes e obesidade- Diminui a probabilidade de câncer de intestino, doenças vasculares e pedra na vesícula- Colesterol mais baixo e equilibrado

Espaguete- 300g de palmito pupunha ‘in natura’Molho- 1 limão espremido (suco)- 2 dentes de alho- 1 colher (sopa) de manteiga- Molho shoyu a gostoMode de preparo:Se for o palmito ‘in natura’ (selvagem), limpe o talo, rale com um ralador grosso e co-zinhe por cerca de 5 minutos em água fervente.Molho: Coloque a manteiga e o alho em uma frigideira. Leve ao fogo médio e deixe dourar. Em seguida, acres-cente o cogumelo já limpo e picado. Cozinhe por cerca de 3 minutos. Junte o limão espremido. Desligue o fogo. Coloque os fios de palmito em pratos ou em um refra-tário. Espalhe o molho por cima e sirva ainda quente.

ReceitaAlimentosdobem

Leguminosas – Tem elevado teor de proteína vegetal

Tofu - É rico em pro-teínas, fósforo, cál-

cio e magnésio.

Leite de soja - Substi-tuto do leite quando acrescido de cálcio.

Folhas verdes - Os nutrientes desses ali-mentos ajudam na

absorção das proteínas advindas de outros

alimentos.

Cereais integrais – Pos-suem proteína vegetal, são ricos em ferro, vita-minas do complexo B e

fibras, Cogumelos - Têm uma grande quantidade de

proteínas.

Sementes – Fontes de vitaminas C, E, complexo

B e sais minerais como potássio, ferro, cálcio, zin-co e magnésio, além de excelentes antioxidantes que combatem os radi-cais livres. Ricas também

em Omega 3. Para ver o vídeo da receita, acesse:revistagaia.wix.com/gaia

Foto

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Fernanda Flores e Rafaela Piai3938

Page 21: Revista GAIA

4140

Em meio ao caos urbano que im-pera nas grandes

cidades - e até mesmo nas pequenas -, uma alternativa para driblar os extensos conges-tionamentos e, ainda, contribuir para o meio ambiente e para a pró-pria saúde, é a bicicleta. O cidadão que adere às bikes em vez do carro deixa de emitir gases poluentes, perde muito menos tempo no trânsi-to, deixando de acumu-lar estresse e ganhando tempo, e, com isso, tem

um ganho físico, psico-lógico e também finan-ceiro, já que não gasta com combustível.Andando por Campi-nas, é possível ver que o número de pessoas que aderiram à “magrela”, in-dependente do motivo, vem crescendo cada vez mais. Apesar de haver mais ciclistas, porém, a cidade não melhorou a infraestrutura ciclovi-ária. A cidade, que tem 1.154.617 habitantes, se-gundo o Instituto Brasi-leiro de Geografia e Es-tatística (IBGE), possui

Ricardo MagattiVinícius Bognone

GANHA VIDA QUEM PEDALA

apenas cerca de 27 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclofaixas de lazer. Os ciclistas de Campinas aguardam a implantação de um novo plano ciclo-viário, que compreende a construção de 100 km de ciclovias até 2016. O projeto foi apresentado pela Empresa de Desen-volvimento de Campi-nas (Emdec) aos ciclistas em um encontro em ja-neiro deste ano. Porém, ainda não há um prazo para o início das obras.“Foi feito um workshop para apresentar o plano

Arte: Vinicius Tavares

Foto: Amanda Bruschi

Page 22: Revista GAIA

Ricardo Magatti e Vinícius Bognone4342

LAZER E SAÚDE

COMPETIÇÃO

TRANSPORTE

João Barbosa, de 20 anos, estuda Direito na PUC-Campinas e anda de bici-cleta desde os 8 anos. Foi incentivado pelos pais a usá-la e começou a carreira de competidor com provas de pequeno porte, aumen-tando o desafio gradativa-mente. “O mundo das duas rodas

é onde eu me realizo, meu sonho era viver disso! En-tão sempre que estou com a bicicleta do lado”, conta.Hoje ele disputa provas de longa distância e resistên-cia. Sua rotina é dividida entre os estudos, a acade-mia e os treinamentos, que acontecem duas vezes por semana.

Udinei Fonseca e An-dressa Dias são um exemplo de casal que busca a qualidade de vida por meio do ciclismo. Ambos começaram pela saúde, e hoje pedalam por prazer.O rapaz, que só não usa a bicicleta como meio de transporte para ir ao tra-

balho e pedala de duas a três vezes por semana, diz que sentiu os benefícios da atividade em pouco tem-po: “Perdi peso, ganhei condicionamento físico, não sinto mais o cansaço e dificilmente tenho lesões. Definitivamente, foi uma das melhores escolhas que já fiz”, revela Udinei.

Ao circular por Campi-nas, é fácil notar diferen-tes perfis de ciclistas na

cidade. Desde quem usa como forma de lazer até quem ganha a vida em competições, a bike é parte essencial da vida de mui-tos campineiros.

Vitor Presutti, de 21 anos, estuda engenharia de pro-dução na Esamc e anda de bicicleta há 10 anos. Aos dez anos, Vitor começou a utilizar a bicicleta para ir à escola. Desde então, ele utiliza a bike como meio de locomoção, especial-mente para ir à academia e ao estágio, que fica a 10

minutos de sua casa.Vitor também critica a falta de apoio ao ciclis-ta no município. "Não adianta ciclovia só aos feriados e domingos. Não dá pra uma cidade com o tanto de gente que Campinas tem, não ter uma ciclofaixa ou uma ciclovia permanente".

BIKERS

Foto: Amanda Bruschi

Foto: Amanda Bruschi

cicloviário há mais de um mês, mas só isso. Até agora, o Poder Público só enrola e não faz nada. Na minha concepção de cicloativista, falta von-tade política para que existam ciclovias aqui em Campinas”, criticou Eduardo Gomez, ban-cário e cicloativista, que faz uso da bicicleta tan-to para transporte como para lazer há 16 anos. A pequena extensão quilométrica de ciclo-vias em Campinas fica

ainda mais explícita quando comparada às duas principais cidades do país. Atualmente, existem 1118 km de ci-clovias em todas as 26 capitais do Brasil. O Rio de Janeiro encabeça a lista, com 361 km de ci-clovias. Logo em seguida vem São Paulo: a cidade com maior número de habitantes do país tem 202 km à disposição dos ciclistas. Na Europa, os números são muito maiores. Para se ter uma

ideia, será construída uma megaciclovia com 70.000 km de extensão até 2020 no continente europeu: a “EuroVelo”, que ligará cerca de 43 países do continente.Além disso, quem anda de bicicleta pela cidade sofre com a falta de se-gurança. “Se você não se sente seguro no conforto da sua casa, imagina os ciclistas no trânsito? Sa-ímos de casa sem saber o que pode acontecer”, reclama Gomez.

43

Page 23: Revista GAIA

CRISEhídrica

A meteorologista do Centro de Pesquisas Mete-orológicas e Aplicadas à Agricultura (Cepa-gri- Unicamp) Ana Maria Ávila afirmou em

entrevista à Gaia que o período de estiagem esse ano tem previsão de ser mais severo, já que, segundo a média histórica de chuvas feita desde o ano de 1899, os últimos três anos (2012, 2013 e 2014) ficaram com chuvas abaixo da média, fixada nos 1479 milímetros. Só em 2014, o balanço hídrico do (Cepagri) demonstrou uma deficiência de 400 mm de chuva na Região Metro-politana de Campinas (RMC) Este número equivale a 400 litros de água por metro quadrado. Sabendo que a região tem 3.647 km², o volume de água desse déficit é igual a aproximadamente 14588 x 10 litros de água.Segundo site do Serviço Autônomo de Água e Esgo-to (SAAE), um brasileiro gasta cerca de 73 mil litros de água por ano para necessidades básicas de con-sumo e higiene. Sabendo que RMC tem cerca de três milhões de habitantes, pode-se dizer que o volume de água que faltou chover em 2014 daria para suprir 66% da necessidade da população da RMC em um ano.

8

4544

Page 24: Revista GAIA

que existe diferença entre o banho toma-do em casa e em apartamento? Em média, gasta-se mais no caso de residências tér-reas um banho de ducha por 15 minutos com o registro meio aberto gasta 135 li-tros, no caso do chuveiro elétrico, 45 li-tros em casa e 144 litros em apartamento.

Você sabia...Quem fecha o registro enquanto se ensa-boa e diminui o tempo de banho para cin-co minutos consome 45 litros (casa) e 81 li-tros (apartamento) ou 15 litros (casa) e 48 litros (apartamento), para chuveiros elétricos.

O que você pode fazer para economizar água?

Entretanto, a falta de precipita-ção é somente um dos desafios que teremos que enfrentar durante a es-tiagem. O engenheiro sanitarista Ro-lando Piaia Júnior também conside-ra o crescimento descontrolado das cidades e a falta de gestão por parte dos governos estadual e federal como causas da crise. “A ANA (Agência Nacional de Águas), agência que controla a gestão da água no país, cometeu uma falha muito impor-tante. O último grande investimen-to em São Paulo foi em 1992 com a construção do sistema do Alto Tietê. Desde então, nenhuma obra estru-turante desse porte foi feita”, critica. Campinas tem cerca de um milhão e 200 mil, quase metade dos três milhões da RMC. Devido ao gran-de volume populacional, São Paulo e a RMC têm sérios riscos de te-rem suas atividades comprometidas uma vez que cerca de 90% do abas-tecimento da RMC e 95% do abas-tecimento da cidade de Campinas vem do Rio Atibaia, que é formado pela junção dos Rios Atibainha e Cachoeira, ambos com suas nas-centes represadas no Sistema Can-tareira - complexo de reservatórios que está situado nas cabeceiras das

Bacias Piracicaba-Campinas-Jun-diaí (PCJ) e abastecem 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo e outras 5,5 milhões nas Bacias PCJ. Segundo o DNA (Departamento Nacional de água e Energia Elétri-ca) o Cantareira está com seu vo-lume em 20%. Já o rio Atibaia é alimentado por baixo da terra, ou seja, a água da chuva penetra nas partículas do solo, drenando a re-gião e aflora no local mais baixo.

A Região Metropolitana de São Paulo possui cerca de 21 milhões de habitantes e é a 7ª maior do mundo, com quase 40 municípios. “Desse modo São Paulo sofre mais porque é muito grande e não tem recebido in-vestimentos”, aponta Piaia. Ele tam-bém acrescenta que existe uma falha na gestão da água na região sudeste como um todo e, por isso, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) também sofre com estes problemas. Segundo ele, pode-se dizer que a crise é generalizada, pois o Rio de Janeiro e Belo Horizonte também apresentam problemas. “Houve um atraso no investimento para com-pensar o crescimento da cidade de São Paulo, agravado por uma condi-ção climática desfavorável”, afirma.

Engenheiro sanitarista Rolando Piaia

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Page 25: Revista GAIA

Segundo o Coordenador de Pro-jetos do Consórcio PCJ José Cezar Saad, a relação dos dois órgãos res-ponsáveis pela gestão da água em Campinas e RMC (Sanasa e Consór-cio PCJ) deve ser uma ação conjun-ta, discutindo e sugerindo ações para redução de perdas, negociando com os órgãos gestores do Sistema Can-tareira e solicitando mais água para a região. “A falta de investimento é diretamente ligada à não realização de novas ações, bem como das ante-riormente previstas. Não faltou pla-nejamento, faltaram recursos finan-ceiros para executar o planejamento previsto com ações para a sustenta-bilidade hídrica futura”, diz Saad.

Saad afirma que a Sanasa já divul-gou seu plano de rodízio no abaste-cimento quanto à vazão no rio Ati-baia, que deve ficar abaixo de quatro m3/s. “O racionamento será inevi-tável caso as chuvas fiquem abaixo do esperado e o consumo e as per-das não diminuam”, completa Saad.

Segundo o Consórcio PCJ, como a cidade de Campinas não possui represas próprias, e por se tratar de uma iniciativa de construção que está sendo estudada pela Sanasa, somente a empresa pode fornecer detalhes so-bre o plano. A mesma está investin-do em tratamento de esgoto, no qual a água tratada é reutilizada em in-dústrias, por meio de reuso indireto.

O Estado de São Paulo possui oito sistemas de captação de água: Cantareira, responsá-vel por 45% do abastecimento da região; Sistema Alto Tie-tê; Sistema Rio Grande que abastece a região do ABC), Sistema Rio Claro, Sistema Alto Cotia, Sistema Guara-piranga, Sistema Baixo Cotia e Sistema Ribeirão Evasiva. A respeito de possíveis soluções, o também engenheiro sani-

tarista Eduardo Pacheco, proprietário do site “ Tratamento de água”, considera que não é possível realizar projetos a

curto prazo. “Apenas projetos maiores, que precisam de segunda a três anos para serem construídos, como o tratamento do esgoto para reuso das indústrias. É muito inteligente esse tipo de inicia-tiva, já que cerca de 80% da água consumida volta para as cidades como esgoto. Isso reduz o custo operacional do investimento, uma vez que mesma água retorna para as cidades, não acarretando gas-tos com o transporte. Já está pronta a licitação para fazer o reuso da água no Rio Capivari em Campinas”, afirma. Segundo ele, ou-tra proposta é o rebaixamento do ponto de captação do Rio Ati-baia, assim será possível coletar água mesmo com níveis muito baixos. “Existe também uma proposta de interligação do Rio Ati-bainha com a represa Paraibuina, que também demanda um tempo de dois a três anos.” Ainda segundo Pacheco, na capital existe um projeto de reabilitação da represa Billings, um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da Região Metropolitana de São Paulo, que está muito poluída por conta das 15 mil toneladas de lixo que são produzidas diariamente na metrópole. “Porém, essa obra tem custo muito elevado, e o que os especialistas criticam é que ela deveria ter sido pensada muito antes”, aponta o engenheiro.

Rolando Piaia completa que essas iniciativas significam mui-to para o país, mas não são as únicas propostas para melhoria das problemáticas hídricas. “A crise coloca em risco a economia e a vida das pessoas, um problema insolúvel em 2015. Na minha opinião, não há como evitar o racionamento esse ano”, acrescenta.

Possíveis soluções

Bárbara Garcia e Nina Ferrari

Meteorologista do Cepagri Ana Maria Ávila

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Page 26: Revista GAIA

Revista Gaia: De onde surgiu o inte-resse para aprofun-dar o conhecimento sobre eucaliptos?Jorge Lepikson -Du-rante o último ano de graduação comecei a

estagiar no Laborató-rio de Genômica e Ex-pressão da Unicamp, com a orientação do prof. Gonçalo Pereira. Foi ele que me sugeriu o tema como fonte de mestrado.

RG: Os eucaliptos transgênicos aju-dam ou prejudicam o meio-ambiente?JL - Ajudam. As prin-cipais características que os especialistas buscam inserir na es

Após a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovar no dia 09 de abril de 2015 a liberação comercial de eucalipto transgêni-co, uma pergunta que não quer calar entre os principais pesquisadores de biologia e meio ambiente do Brasil é: a liberação foi correta? O país terá prós ou contras com essa plantação? De acordo com Jorge Lepikson Neto, pesquisador e pós-doutor no Laboratório de Genômica da Uni-versidade Estadual de Campinas (Unicamp), a chegada será muito bem vinda no país. Nascido em Salvador (BA), no dia 29 de outubro de 1980, Jorge mora atualmente em Campinas (SP) e é especialista no assunto. No momento, faz estudos sobre o eucalipto como fonte de açúcar para a pro-dução de etanol, entre várias pesquisas que já fez sobre a planta.

Competição e lucro

EUCALIPTO:

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Page 27: Revista GAIA

João Augusto Damasceno

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pécie, como maior re-sistência a déficit hí-drico, produtividade, teor de celulose, menor teor de lignina e resis-tência a pragas, entre outros, são benéficas para o meio ambiente. Você vai obter plantas que consomem menos água, que necessitam de menor manejo de pesti-cidas, e que vão ser mais facilmente convertidas em celulose ou papel na indústria. Isso tam-bém economiza água e reduz a necessidade de etapas químicas no processo; logo, poluem

menos para a produção de biocombustíveis de segunda geração. Tudo isso com um menor custo energético. E sem contar que o eucalipto é uma das espécies que mais capta carbono at-mosférico, podendo as-sim ser usado contra o aquecimento global.RG: Você acha que o rio São Francisco será muito afetado pela plantação de eucalip-tos transgênicos?JL- Não vejo porque se-ria. Na verdade, produ-zindo eucaliptos mais resistentes ao déficit hí-

drico e que atinjam ida-de de corte mais cedo, portanto, usando me-nos recursos, vejo in-clusive uma economia no consumo de água em relação às espécies não transgênicas, além de que estes podem ser utilizados, por exem-plo, para a proteção de mananciais e cursos d’agua onde antes espé-cies desse porte não se adaptariam.RG: Qual a sua opi-nião sobre a aprovação do plantio de eucalip-tos transgênicos no Brasil?

JL - Acho extrema-mente importante, porque está colocando o Brasil na vanguarda da pesquisa de euca-lipto mundial. Tive a oportunidade de estar recentemente no exte-rior realizando pesqui-sa como pós-doutor e em qualquer reunião cien-tífica em que d e s c o b r i a m minha nacio-nalidade vinha a pergunta de se os eucalip-tos transgê-nicos seriam liberados no Brasil ou não. A cultura de eucalipto no Brasil é ex-t re m am e nt e desenvolvida e competitiva, gerando grande recei-ta ao PIB nacional. O Brasil hoje é o maior produtor de celulose de fibra curta do mundo, e temos também a maior produtividade por hec-tare e a mais baixa ida-de de corte. Esse é um setor em que o país pode ser referência.RG: É possível estimar em que regiões do país serão plantados os eu-

caliptos transgênicos?JL - Nas principais regi-ões em que o eucalipto já é plantando, que são o Sul da Bahia, São Pau-lo e agora se expandin-do para o Mato Grosso, com a vantagem que a transgênia cria mais uma possibilidade de

adaptação a regiões an-tes não muito plantadas devido a problemas cli-máticos.RG: Quais são os im-pactos ambientais cau-sado pelas plantações de eucalipto?JL - As plantações de eucalipto não causam impacto ambiental, transgênicas ou não. No Brasil todo eucalip-to derrubado vem de

reflorestamento, sendo que áreas de floresta não podem e não são em hipótese alguma usadas para o plantio de eucalipto. O euca-lipto então participa da recuperação do solo e de recursos hídricos que outras monocultu-

ras desgastaram, resultando então na constituição de ambientes no-vamente favorá-veis à biodiversi-dade e a provisão de outros servi-ços ambientais. Além disso, as empresas flo-restais mantêm e conservam as maiores áreas de reserva de mata nativa do país. É uma indústria ex t remamente

consciente. Os impac-tos não aumentariam com a aprovação do eu-calipto transgênico.RG: Para você, foi cor-reta a aprovação?JL - Sem dúvida. Ela coloca o Brasil na ponta da pesquisa na área flo-restal, um setor extre-mamente importante e em que podemos ser facilmente líderes mun-diais.

Laboratório de Genômica e Expressão, local de pesquisa da Unicamp

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“A cultura de eucalipto no Brasil é extremamente desenvolvida e

competitiva, gerando grande

receita ao PIB nacional

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Page 28: Revista GAIA

EucaliptosVilão ou mocinho?

Horto florestal de Limeira

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Originário da Austrália e da Indonésia, o eucalipto é hoje uma das principais fontes de matéria-prima para produzir papel. Pertence ao gênero Eucalyptus, que reúne mais de 600 dife-

rentes espécies. Em território brasileiro, o eucalipto encontrou óti-mas condições de clima e solo para se desenvolver, com crescimen-to mais rápido que nos demais países e alto índice de produtividade.

54

Page 29: Revista GAIA

Hoje, as florestas plantadas de eucalipto cobrem 4,8 milhões de hectares no Brasil segundo dados da Associação Brasilei-ra de Produtores de Florestas Plantadas (ABRAF). Desse to-tal, 1,8 milhão é cultivado pela indústria de celulose e papel, o que corresponde a 81,2% das florestas plantadas desse setor.

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Page 30: Revista GAIA

Nas áreas manejadas, a espécie não causa impactos

para a água do solo, pois suas raízes permanecem

distantes do lençol freático

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Page 31: Revista GAIA

Nas florestas plantadas de eucalipto, a água da chuva chega com mais intensidade ao solo do que nas matas tropicais. Essas são mais densas e retêm maior volume de água nas copas das

árvores, aumentando a perda de água pela evaporação, antes de a chuva atingir o solo.

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Page 32: Revista GAIA

Sérgio Moreira Jr.Fonte: BRACELPA - Associação brasileira de celulose e papel

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Page 33: Revista GAIA

É muito comum andar em gran-des metrópoles e notar que algo está errado. Não é a poluição, a agitação constante de carros e pessoas e nem a falta de tolerância no trânsito. São os animais silvestres que deixam seu habitat para viver na cidade. Capiva-ras, gambás, lobos guará, onças, tu-canos e veados já foram encontrados rondando pelas ruas de Campinas, enquanto maritacas e tucanos po-dem ser vistos pelos céus da cidade. Segundo o diretor do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal da Prefeitura Municipal de Campinas, Paulo Anselmo, o desmatamento das matas ciliares é o principal vilão dos animais silvestres, que, sem teto, são obrigados a fugir para a área urba-na em busca de alimentos. “Muitos animais, ao tentarem passar de uma parte da mata para a outra, acabam adentrando aos limites municipais”, explica.

Para a arquiteta Maria Conceição Silvério Pires, da Secretaria de Pla-nejamento e Desenvolvimento Ur-bano, um dos motivos para o cresci-mento de animais dentro da cidade

a casa?De quem será

Foto: Rogério Capela

Arara é alimentada no Bosque dos Jequitibás

65

Page 34: Revista GAIA

Foto: Carlos Bassan

Anta não se acanha com os visitantes do Bosque

6766

é o grande crescimento imobiliário. Para ela, o programa do governo fe-deral “Minha Casa, Minha Vida” é um dos responsáveis por esse cresci-mento, além de diversas edificações e condomínios que surgem na cidade todos os dias, transformando espa-ços de matas e fazendas em negócios imobiliários.

Conceição explica que a cidade de Campinas possui o mesmo períme-tro desde 1994, e que ainda existem

em média 55 milhões de m² de áre-as sem uso e sem edificações, já ex-cluindo as consideradas de proteção ambiental e de áreas verdes. No con-ceito de áreas verdes, há também a diferença de áreas verdes ecológicas e áreas verdes sociais. As áreas ver-des ecológicas são as que os animais podem fazer parte de seu habitat, como a Mata Santa Genebra. Já as sociais são as áreas de reflorestamen-to exigidas por lei ambiental, para o

aumento de verde na cidade, como é o caso do Bosque dos Jequitibás.

Uma das medidas propostas pela Secretaria do Verde, Meio Ambien-te e Desenvolvimento Sustentável é a criação de corredores ecológicos no município, que têm o objetivo de au-mentar a segurança dos animais sil-vestres. Esses caminhos pretendem ser uma parte da mata reflorestada, onde os animais poderão andar de um lado para o outro na mata ciliar,

sem invadir a cidade. Paulo Anselmo diz que existe um projeto de cons-trução de dois caminhos: o primeiro ligará a cidade de Campinas à Mata Santa Genebra e o outro a mata ciliar, com divisa no município de Paulínia à Fazenda Argentina, adquirida pela Unicamp, no ano passado.

Outra medida que já está sendo co-locada em prática é a de ‘travessia de fauna’, em que são criadas passagens para os animais silvestres vencerem obstáculos sem invadirem as cidades e avenidas. A primeira experiência foi feita no prolongamento da ave-nida Mackenzie, que foi inaugurada em junho deste ano. Neste projeto, foram implantadas cinco travessias de fauna. O diretor do Departamen-to de Proteção e Bem-Estar Animal diz que é difícil fazer a extinção des-ses animais na cidade, já que a capa-cidade de reprodução desses animais é mais rápida do que o departamento em sacrificá-las, o que já foi feito em 2011 com as capivaras que ficavam no Lago do Café.

Para o diretor do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal Paulo Anselmo, a vinda dos animais silvestres para a cidade pode causar problemas à saúde tanto para os hu-manos, causando diversas doenças emergentes dos últimos vinte anos, como também para os próprios ani-mais, que podem ser atropelados nas grandes avenidas. “O contato distan-te desses animais não traz proble-mas, mas quem tem contato físico pode adquirir doenças”, alerta. Se-gundo ele, várias doenças emergen-tes - aquelas em que a incidência au-

Page 35: Revista GAIA

Foto: Rogério Capela

Alimentação das araras consite em milho,, frutas e verduras.

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Page 36: Revista GAIA

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Foto: Fernanda Sunega

Foto: Fernanda Sunega

Flávia Coelho

Tucano é uma das atraçõespreferidas do Bosque dos Jequitibás

Macaco observa o movimento

Leoa descansa nasombra após alimentação

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mentou durante as últimas décadas ou poderão ameaçar a humanidade em um futuro próximo - vieram, pri-meiramente, de animais silvestres, como a Aids, dengue, febre amarela, MERS, entre outras. “Essas doen-ças acabam atingindo os humanos quando um animal se adapta ao meio humano, ou quando o humano fica muito tempo no habitat desses animais”, explica.

Os animais silvestres tam-bém correm perigo na cidade ou es-

tradas e o atropelamento é a principal causa de morte. Segundo o diretor do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal, como não é possível quantificar e tipificar os animais que deixam seu habitat para tentar entrar na cidade, a Prefeitura encontrou uma medida para dificultar a saída dos animais, nas matas. “Ao sermos informados de um atropelamento, vamos até o local e criamos barreiras para que outros animais não saiam da mata”, diz Anselmo.

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Voce sabia?Considerado como um dos cinco crimes mais re-levantes do mundo, estima-se que o comércio ile-gal de animais silvestres movimenta, por ano, de 5 a 20 bilhões de dólares e configura, junto com a perda e degradação de habitats, a maior ameaça à biodiversidade global. Uma das categorias que sus-tenta o tráfico silvestre é a demanda de coleciona-dores e zoológicos desonestos por animais raros, caros e de espécies ameaçadas, as quais são as mais caras no mercado de contrabando animal. Estima-se que, entre todas as espécies comercializadas ile-galmente no Brasil, mais de 80% são aves. Devido à suas penas e plumagem coloridas, os tucanos e o papagaio-verdadeiro são os principais alvos.

Existe uma máquina chamada Wateair que é capaz de produzir água. O engenheiro brasileiro Pedro Ricardo Paulino usa uma técnica que reproduz o processo natural ao sugar o ar e provocar um choque de temperatura para condensar água em estado gaso-

Tráfico da vida silvestre

Água feita em casa

so para o líquido. A máquina está no mercado desde 2009 e os preços variam entre 7 mil (de uso doméstico) e 350 mil reais (industrial).

Uma pesquisa feita em São Paulo sobre abrir mão do conforto para salvar o meio ambiente mostrou que 85% dos paulistanos preferem usar as sacolas plásticas, consideradas mais práticas, do que levar sacolas reutilizáveis de casa. 61% dos entrevista-dos tomam dois banhos por dia, sendo que 65% dessas pessoas gastam de 6 a 15 minutos. Tam-bém na hora da higiene pessoal, a maioria fica 5 minutos com a torneira aberta. E, ainda, 46% das mulheres entrevistadas levam mais de 15 minutos com o secador de cabelo ligado.

Conforto ou meio ambiente?

Os carros 100% elétricos podem causar poluição se a produção de energia for suja, o que ocorre, por exem-plo, quanto utiliza o petróleo, o carvão mineral e o gás natural, prejudicando o meio-ambiente e a saúde das pessoas. O Carro a gasolina pode ser mais limpo se o país onde ele se localiza recorra a combustíveis fósseis (substâncias de origem mineral) para gerar energia. Na França, o carro elétrico teve bom desempenho, pois a energia usada é a energia nuclear, considerada limpa na produção de CO2. Já a Costa Rica produz toda sua energia elétrica de forma renovável através de fontes geotérmica, eólica, solar e biomassa. Se mais de 90% da frota do Brasil fosse de carros elétricos, o consumo energético aumentaria em 40%.

Nem tão sustentável assim

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Por incrível que pareça, existem agrotóxicos que são do bem: os chamados agroquímicos (que são uma geração de molécula). Esses agroquímicos atuam exclusivamente sobre o metabolismo dos insetos-praga, nas plantações, bloqueando os si-nais vitais e sem aniquilar os predadores naturais nem afetar insetos benéficos. No sentido ambien-tal, essa geração de moléculas configura-se como pesticidas não venenosos, deixando de ser “agro-tóxicos”. Os agroquímicos são menos agressivos ao meio ambiente e trazem menores riscos de aplica-ção aos trabalhadores rurais.

Achar formas de reaproveitar alimentos pode fa-zer uma grande diferença. Por ano, 1,3 bilhão de toneladas dos alimentos são desperdiçados - seja na produção, manuseio ou na distribuição. Esta comida perdida poderia acabar com a fome de dois bilhões de pessoas, ou seja, 28,5% da huma-nidade. Isso é equivalente a 750 bilhões de dólares. Os países desenvolvidos desperdiçam mais do que os países em desenvolvimento: cerca de 56%. Uma maneira de criar e reaproveitar alimentos é usar cascas de frutas para fazer sucos e chás, incremen-tar cascas de verduras e legumes em receitas novas e utilizar sobras de alimentos, como arroz, carne e feijão, para criar novos pratos.

Desperdício de comida

Agrotóxicos do bem

Juliana Scheridon74

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Liana John

Revista Gaia: Por que você se inte-ressou há muitos anos pela ques-tão ambiental?

Liana John: Já tinha ideia de me especializar em jornalismo ambien-tal quando estava na faculdade, nos anos 1970. Naquela época não exis-tia nenhum curso de especialização em jornalismo ambiental e mesmo entre os profissionais de imprensa eram poucos os que optavam pelos temas ambientais. Lembro de gos-tar das reportagens da Célia Roma-no e da Eliana Lucena, do Estadão, por exemplo. Na minha classe, era a única a falar nisso e muitos dos meus colegas achavam estranho, ironizavam diziam que era coisa de

poeta, porque a época era de movi-mento estudantil contra a ditadura e todo mundo só queria fazer jor-nalismo político. Meu interesse veio da convivência com meu avô mater-no, Carlos Smith, que era dinamar-quês muito culto. Ele veio para o Brasil com pouco mais de vinte anos de idade e se estabeleceu como co-merciante de roupas masculinas (ou “artigos para cavalheiros”, como ele preferia). Ele tinha um sitio à beira da represa de Guarapiranga e uma casa em Campos do Jordão, onde íamos sempre e fazíamos longas caminhadas e cavalgadas com ele (minhas irmãs, meus primos e eu). Nesses passeios ele chamava nossa atenção para a riqueza da na

A jornalista Liana John se interessou por ques-tões ligadas ao meio ambiente ainda criança, quando fazia longas caminhadas e cavalga-

das com seu avô Carlos Smith, em Campos do Jor-dão. Na época, o avô chamava sua atenção para a riqueza da natureza brasileira da região das mon-tanhas. Liana cresceu apreciando a fauna e flora do País e hoje é uma das jornalistas mais respeitadas na área. Colaborada do site Planeta Sustentável, onde hospeda o blog Biodiversa e com uma carreira reple-ta de reconhecimento, Liana John concedeu uma entrevista à revista GAIA, onde avalia a atuação das pesquisas feitas no Brasil na área ambiental e a postu-ra da sociedade em relação à sustentabilidade.

a jornalista do verde

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tureza brasileira e comparava com a Dinamarca, que tem muito menos biodiversidade e menos recursos naturais. Então cresci valorizando o que tinha à minha volta.

RG: O que te levou a se tornar uma repórter especialista nesse setor?LJ: A escassez de reportagens sobre fauna, flora, água, atmosfera. A mí-dia impressa e o rá-dio só dedicavam es-paço, naquela época, aos desastres. Na TV não saía pra-ticamente nada so-bre meio ambiente. Nas poucas maté-rias impressas não se evidenciavam as relações entre os desastres – seca, en-chentes, derrama-mentos de petróleo, poluição – e o antes e o depois. Era sempre aquele clima de fatalidade, como se as atividades humanas não tivessem nada a ver com os desastres. Minha intenção era transmitir para o pú-blico o teor das conversas que tinha com meu avô. RG: Você começou trabalhando em jornal? Conte um pouco da sua experiência profissional até chegar ao seu blog.LJ: Comecei a trabalhar como re-pórter estagiária de TV, na extinta TV Tupi, quando estava no segun-do ano de faculdade. Fiquei pouco mais do que um ano, mas logo per-

cebi que TV não era a minha praia. Eu queria mídia impressa. Trabalhei um pouco como freela para diversas publicações, depois fui cobrir uma licença maternidade na Isto É, na geral, e dali fui para a Veja, já como repórter ambiental. Depois fiz parte da equipe que fez os dois anuários de agricultura e meio ambiente, o Guia Rural Abril, depois transformado em

revista mensal. Em 1988 fui para a Agência Estado, onde fiquei 15 anos como repórter especial e edito-ra de Ciência e Meio Ambien-te. Saí para ter-minar de mon-tar o projeto da revista Terra da Gente, na EPTV Campi-nas. Colocamos

a Terra da Gente nas bancas em maio de 2004 e eu permaneci como editora executiva até 2010, quando fui para o Planeta Sustentável, na Abril, onde estou até hoje, eventualmente cola-borando também para a National Geographic Brasil, que é do mesmo time. Como jornalista convidada, fiz algumas incursões na TV Cultura e na produção de documentários e hoje faço um jornalismo multimídia no Planeta Sustentável, mas conti-nuo me considerando uma jornalista ambiental de mídia impressa.RG: Você acha que as pesquisas fei-tas têm dado resultados ? A socie-

dade e o governo estão mudando algumas condutas diante das de-núncias feitas pelos pesquisadores?LJ: A pesquisa brasileira tem resul-tados muito bons e muitos de nossos laboratórios são centros mundiais de excelência. O nosso maior problema é transferir os bons resultados da pesquisa para o setor produtivo. Ou seja: transformar os compostos com bom potencial e as patentes tecnológicas obtidas pelos pesquisadores em produtos e tecnologias acessíveis à sociedade bra-sileira. Muitas vezes isso não ocorre porque falta difusão das tecnolo-gias, quer di-zer, porque o setor produ-tivo não fica sabendo dos resultados de pesquisas brasileiras e acaba comprando soluções do ex-terior. Mas também acontece de as indústrias optarem por comprar tecnologia do exterior para evitar a nossa burocracia, que é imensa. Se os governos investissem menos em for-mas de controlar a produção científi-ca e mais em maneiras de incentivar a produtividade, o mérito, com cer-teza teríamos mais resultados prá-ticos. Muitas universidades já tem incubadoras e incentivo ao patente-

amento de resultados de pesquisas, o que é bom. Mas precisamos de muito mais do que isso. Precisamos de mais pesquisadores empreendedores, de mais incentivo ao empreendedoris-mo e menos papelada. RG: Você acha que a sociedade está mais conscientizada sobre os problemas ambientais que atingem

o mundo todo?LJ: Sim e não. Sim, porque hoje circulam muito mais in-formações so-bre as questões ambientais e há uma demanda real por susten-tabilidade na produção, na arquitetura, na agricultura, nos bens e serviços acessados pela sociedade. E não, porque a leitura é mais superfi-

cial, o processamento da informa-ção nem sempre se completa. Muitas pessoas sabem que precisam ter uma vida mais sustentável e se declaram preocupadas com as questões am-bientais, porém não transformam essa consciência em realidade, não agem de acordo com o que declaram. Sem contar que ainda há uma grande parcela da sociedade alheia ao tema, preocupada em acessar o consumo básico, não importa a que custo para o Planeta.

“O nosso maior problema é transferir os

bons resultados da pesquisa para o setor

produtivo

“há uma grande parcela da sociedade

preocupada em acessar o

consumo básico, não importa a

que custo para o Planeta

Juliana Scheridon

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O tempo voa, é irrecuperável e impossível de controlar. Para o planeta Terra, que

sofre com o descaso do homem, cada minuto é essencial. Mas dona Josefa não sabe disso. Ela, no alto de seus 76 anos, não separa o lixo reciclável do orgânico, não fecha a torneira enquanto ensaboa a louça, demora muito no banho, não fecha a torneira enquanto escova os den-tes e lava a calçada com a manguei-ra, como se não houvesse amanhã. Para dona Josefa, o dia de amanhã pode não tardar a desaparecer. Já Fernanda é uma jovem garota de 18 anos. Desde os quatro, na escoli-nha, a menina aprendeu que é pos-sível reciclar algumas embalagens, que para escovar os dentes basta um copo de água; aprendeu que o banho deve ser rápido e que seus pais limpam a calçada com apenas uma vassoura e um balde de água. São duas pessoas, que habitam o mesmo quarteirão, o mesmo bairro e o mesmo país. Para a se-nhora Josefa, professora formada

pelo magistério, o mundo mudou muito desde que era jovem. Para Fernanda, que está prestando ves-tibular para se inscrever em Psi-cologia, poucas coisas mudaram; a internet ficou mais rápida, a TV continua a mesma, mas o calor continua aumentando, justamente por culpa do aquecimento global. Embora ocupem espaços próxi-mos no bairro, Fernanda simples-mente não consegue fazer a idosa entender que a crise da água está chegando às suas vidas. Mesmo que tente explicar à vizinha, Jose-fa não consegue entender porque, cargas d’água, ela precisa econo-mizar e cuidar do planeta se já está no fim de sua vida. A cabeça jovem contrasta de maneira gri-tante com os pensamentos e ideias da senhora, que não que nunca teve que se preocupar com esse bicho chamado meio ambiente.Até o dia que a senhorinha resolveu tomar um banho, abriu a torneira e nada, além de um mísero pingo, saiu de lá. Sem entender o que es-

Consciência atemporal

tava havendo, mudou de ideia e resolveu lavar a louça acumulada na pia. Nada de água saindo da torneira. Então, foi à feira comprar as frutas da semana. O resultado? Frutas feias, pequenas e muito ca-ras. Para o feirante, a falta d’água era a principal culpada daquilo.Josefa estava confusa e irritada, mas engoliu o orgulho e chamou Fernanda para uma conversa sé-ria. A garota, por sua vez, explicou novamente e de maneira calma, o que estava havendo. Após a garota deixar a casa com aquela saborosa sensação (e muito triste também) de “Eu avisei”, dona Josefa teve que escovar os dentes com meio copo de água e não pode tomar seu tão desejado banho. Mas agora estava tudo mais claro para ela, pois Fer-nanda podia ter razão na sua insis-tência. A crise já estava lá e mesmo que ainda lhe restasse poucos anos de vida, deveria fazer sua parte e pa-rar de ferir o planeta Terra com seus hábitos ultrapassados. Antes de fe-char os olhos e dormir, dona Josefa pensou: “Antes tarde do que nunca”.

Bruna Gomes Foto

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