Revista HdF Nº7

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Revista HdF Nº7, Setembro 2008

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Page 1: Revista HdF Nº7

PerfilAna Jorge, Ministra da Saúde

p. 5

Director: Paulo Nunes de Abreu www.hospitaldofuturo.com N.º 7 • Ano III • Quadrimestral • Setembro 2008 • 4,00€

Destaque

Prémios Hospital do Futuro

Edição 2007/2008

Hospital do Futuro

Hospital de Santa Maria,em Lisboa

p. 14

Doença de Parkinson

Uma cirurgia inovadora permite reduzir os sintomas desta doença degenerativa

p. 23

Bancos de Tumores na investigação de cancro Os bancos de tumores poderão vir a ser fundamentais para aumentar o sucesso na luta contra o cancro. Saiba como se constituem em Portugal p. 18

p. 21

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Índice

Page 3: Revista HdF Nº7

EditorialPágina 4

PerfilAna Jorge, Ministra da SaúdePágina 5

Prémios Hospital do Futuro 2007/2008Prémios Hospital do FuturoPágina 7

PremiadosPágina 8

Prémio Centro de Genética Clínica Prémio CGC Prof. Doutor Amândio TavaresPágina 12

Hospital do FuturoHospital de Santa Maria – LisboaPágina 14

EspanhaEntrevista a Vasco Luís de Mello, Grupo Hospitalar Quirón Página 16

Em destaqueBancos de Tumores na Investigação do CancroPágina 18

Notícia Saúde na PraiaPágina 20

Lunch&LearnAcesso à Inovação TerapêuticaPágina 21

A Diabetes em Portugal e no Mundo: repercussões humanas, sociais e económicasPágina 22

Cirurgia InovadoraCirurgia da Doença de Parkinson AvançadaPágina 23

Gestão & Economia da SaúdeA segurança do doente também depende da saúde e segurança de quem presta cuidadosPágina 25

OpiniãoA Medicina Interna e o futuro dos hospitaisPágina 27

As Novas Tecnologias na SaúdeII Jornadas sobre Tecnologia e Saúde Página 29

3 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

FICHA TÉCNICADirector:

Paulo Nunes de Abreu

Redacção:Joana Branco (Edição), Maria João Garcia

Sede da Redacção:GroupVision

Pólo Tecnológico de Lisboa Edifício Empresarial 3

1600-546 LisboaTel: 217 120 547 - Fax: 217 120 549

[email protected]

Colaboradores:Celeste Coelho (Publicidade), José Paulo (fotógrafo),

Engª Zélia Carvalhais, Engª Fernanda Laires,Engº Vasconcelos da Cunha

Conselho Consultivo Editorial:Dr.º Manuel Delgado (APAH - Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares); Eng.º Carlos Tomás

(APEngSaúde – Associação Portuguesa de Engenharia da Saúde); Dr.ª Maria Isabel Saraiva (APIFARMA –

Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica); Prof. Dias Coelho (APDSI – Associação para a Promoção e

Desenvolvimento da Sociedade de Informação)

Entidade Proprietária e Editor:Paulo Nunes de Abreu

Morada: GroupVision

Pólo Tecnológico de LisboaEdifício Empresarial 3

1600-546 Lisboa

Nº Contribuinte:157818209

Tiragem:8.000 exemplares

Periodicidade: Quadrimestral

Nº Registo no ICS:124679

Depósito Legal:230918/05

Paginação, Impressão e Acabamento:Europress, Lda.

Rua João Saraiva, 10 A1700-249 Lisboa

Distribuição: Logista

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Índice

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A Saúde é a mais abrangente área de actividade governativa de um Estado. Pena quando é utilizada como arma de arremesso político na querela par-tidária sem a convergência que é ne-cessária nas questões estratégicas cujo impacto está muito para além do ciclo de uma legislatura. O grande propó-sito do Fórum Hospital do Futuro e das suas iniciativas é o de contribuir para esse consenso e essa convergên-cia em torno de um interesse nacional em Saúde.

Muito graças a um corpo dedicado de profissionais que emprega o Ministé-rio da Saúde nas suas organizações, assim como nas congéneres do sector privado e social, as coisas não estão tão mal quanto isso em Portugal. Que-ro dizer, os portugueses não se podem envergonhar dos seus indicadores de saúde, com a excepção talvez das mortes na estrada. Isto significa que somos capazes de lograr convergên-cias e bons resultados em Saúde. Os Prémios Hospital do Futuro são disso um exemplo e em breve teremos uma base on-line de mais de 300 boas prá-ticas premiadas em saúde de um total de 389 excelentes candidaturas, cada ano superando o ano anterior.

De certo modo, o êxito dos indicado-res de Saúde em Portugal é relativa-mente independente da alternância política no governo e estes apontam para os mesmos objectivos de sem-pre. Foi criado e tem vindo a ser se-guido um Plano Estratégico para a Saúde, construído de forma participa-da e cujo processo de revisão está já em curso. A reforma dos cuidados pri-mários de saúde, a que deverá seguir-se a reforma dos cuidados de saúde mental, a aposta nos cuidados conti-nuados, entre outras, fazem parte de

uma orientação estratégica de fundo que cada partido no governo poderá matizar, mas que no essencial têm fins que são comuns a todos. E os aciden-tes de percurso ocorrem sempre que não existe um prévio consenso na so-ciedade sobre aquilo que é o interesse nacional. Recordo a polémica criação da Entidade Reguladora da Saúde, por insistência do anterior Presidente da República, sem que ninguém pu-desse explicar muito bem o que é que acrescentava de novo à autoridade de organismos reguladores já existentes e como estes não poderiam desem-penhar as mesmas missões. Refiro-me aqui a entidades como a Inspecção- -Geral de Saúde ou a Direcção-Geral de Saúde.

Os erros de percurso de índole parti-dária ficam a dever-se na maior parte das vezes ao desempenho de quem é escolhido para os cargos de liderança governativa. Mas em Saúde é injusto dizer que as coisas estão mal (ou po-diam estar melhor) por culpa dos res-ponsáveis políticos no ministério. Em 33 anos de democracia, Portugal teve 17 governos constitucionais, ou seja, uma média de dois primeiros-minis-tros por cada legislatura. O problema não é o da competência de quem é escolhido para liderar o Ministério da Saúde, na sua maioria pessoas da mais alta craveira profissional. O problema é o da instabilidade de um Povo que, já diziam os romanos, não se governa nem se deixa governar. Para contrariar isto, a intervenção de um Presidente da República pode ser um factor facilitador ou perturba-dor da governação do Estado no seu conjunto, ele pode ser realmente um Chefe de Estado. A maioria dos portu-gueses aprecia o modo como o actual Presidente tem vindo a buscar o inte-

resse nacional no acompanhamento da acção governativa, assente numa maioria absoluta parlamentar. Que o digam quem jurava a pés juntos que a Ota ia ter um aeroporto. Sabemos que na indomável terra lusa uma maio-ria absoluta não é necessariamente um garante de estabilidade. Os par-tidos, o Governo e o Chefe de Estado sabem-no. Todos o sabem. Recordo aqui que falta um ano para eleições e uma grande bandeira da investidura do governo ainda está por cumprir. As medidas para a liberalização do mer-cado do medicamento não repercuti-ram a poupança esperada nos preços dos medicamentos genéricos.

O cidadão eleitor é cada vez mais inquieto e menos domável. Por isso, a melhor forma de obter resultados consiste em encontrar os consensos necessários, para conseguir dar a todo o sector da Saúde em Portugal, aos seus agentes empreendedores (pú-blicos, privados ou sociais), aos pro-fissionais e aos utentes as condições de estabilidade democrática para que prevaleçam o diálogo e a convergên-cia em torno de políticas de Estado em detrimento de políticas “low cost” que brilham como fogo de palha, mas que depois deixam uma cinza negra.

: 4 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

Um interesse nacional

Paulo Nunes de AbreuDirector da Revista Hospital do Futuro

Editorial

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Podia fazer um resumo do seu dia? Levanto-me entre as 6h30 e as 7h. Chego ao Ministério às 8h. Almoço a partir das 13h e saio depois das 20h. O trabalho divide-se entre o Ga-binete, audiências e saídas oficiais. Trabalha quantas horas? Entre 10 a 12 horas.

Como consegue tratar do seu bem-estar e da sua saúde com o cargo que tem? Organizando muito bem o tempo livre.

Como é que lida com o stress? Conheço-me muito bem, logo, giro bem o stress. Dormir é também uma das formas de lidar com o stress.

Pratica desporto?Não.

Tem cuidados com a alimentação? Sim. Evito doces e outros açucara-dos, bem como fritos. Faço refeições repartidas e equilibradas ao longo do dia, com reforço na fruta e nos vegetais.

Fuma? Não.

Costuma fazer rastreios? Sim.

E check-ups? Não. Sempre gozou de boa saúde? Sim.

Quando era mais nova teve algu-ma atitude ou hábito que lhe te-nha trazido problemas de saúde?Não. Qual foi a pior doença que teve? Nunca tive uma doença grave.

Ana Jorge, Ministra da Saúde

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Para inaugurar o espaço Perfil de Saúde da Revista HdF, apresentamos os hábi-tos e estilo de vida de Ana Jorge, Ministra da Saúde.

Licenciada em Medicina, em 1973, pela Universi-dade Clássica de Lisboa. Especialista em Pediatria Médica em 1984. Presi-diu o Conselho de Admi-nistração da Administra-ção Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (1997-2000) e coordenou a Sub-Região de Saúde de Lisboa (1996/1997).

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NOTA BIOGRÁFICA

Perfil de Saúde

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AUTARQUIAS Álvaro Pacheco, ex-Vogal do Conselho de Administração, Hospital de Santa Luzia Ana Manso, Deputada, Assembleia República Duarte Caldeira, Presidente, Escola Nacional de Bombeiros Jorge Pulido Valente, Presidente, Câmara Municipal de Mértola Paula Teixeira da Cruz, Presidente da Assembleia Municipal, Câmara Municipal de Lisboa

EDUCAÇÃO José Nogueira Rocha, Professor, Escola Nacional de Saúde Pública Luís Nunes, Serviço de Genética, Hospital D. Estefânia Paula Lobato Faria, Vice-Presidente do Conselho Científico, Escola Nacional de Saúde Pública Roque Amaro, Professor, ISCTE Vaz Carneiro, Professor, Faculdade de Medicina de Lisboa

e-SAÚDE Caldas de Almeida, Administrador Delegado, Hospital Residencial do Mar Helena Monteiro, Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação Jaime Quesado, Gestor, POS_C João Taron, Country Manager, Oracle José Ricardo, Director, Centro de Saúde de Elvas Vasconcelos da Cunha, Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade de Informação

GESTÃO & ECONOMIA DA SAÚDE Adalberto Campos Fernandes, Presidente do Conselho de Administração, Hospital de Santa Maria Luís Cunha Ribeiro, ex-Presidente do INEM Manuel Delgado, Presidente do Conselho de Administração, Hospital Curry Cabral Miguel Gouveia, Professor, Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais Pita Barros, Professor, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa Roser Vicente, Directora Geral, Gesaworld

INTEGRAÇÃO Fernando César Augusto, Inspector-Geral da Saúde Francisco George, Director-Geral da Saúde Manuel Pedro Magalhães, Administrador, Hospital da Cruz Vermelha Purificação Tavares, Directora, Centro de Genética Clínica Rosa Matos, Presidente, Administração Regional de Saúde do Alentejo Rui Henriques, Administrador, CPC HS

PARCERIAS EM SAÚDE João Wemans, Encarregado de Missão, Parcerias Público-Privadas (Ministério da Saúde) Vasco Reis, Escola Nacional de Saúde Pública Alexandre Diniz, Director de Serviços, Direcção Geral de Saúde

António Nunes, Administrador, Hospital CUF Descobertas Rogério de Carvalho, Vice-Provedor, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa QUALIDADE EM SAÚDE - Acreditação Frias Gomes, Director, Núcleo de Lisboa do CENFIM Leopoldo Cortez, Director, IPAC Miguel Soares, Coordenador Científico Pós-Graduação, Instituto Superior de Economia e Gestão Ramos Pires, Professor, Instituto Politécnico de Setúbal, Escola Superior de Tecnologias de Setúbal QUALIDADE EM SAÚDE - Certificação Fernando Lamares, Director, TUV Rheinland Portugal Figueiredo Soares, Presidente, APQ José Leitão, CEO, APCER Margarida França, Vogal do Conselho de Administração, INEM Marques dos Santos, Presidente, Instituto Português da Qualidade

SERVIÇO PRIVADO Carlos Santos, Director Clínico, British Hospital Lisbon XXI Jorge Mineiro, Director Clínico, Hospital CUF Descobertas Teófilo Leite, Presidente, Associação Portuguesa de Hospitalização Privada

SERVIÇO PÚBLICO Eduardo Castela, Director do Serviço de Cardiologia Pediátrica, Hospital Pediátrico de Coimbra Maria do Céu Machado, Alta Comissária Saúde Pedro Nunes, Bastonário, Ordem dos Médicos Rosa Araújo, Directora, Centro Distrital de Segurança Social de Lisboa

SERVIÇO SOCIAL Alberto Matias, Coordenador Adjunto, Unidade de Missão para os Cuidados Continu-ados (Ministério da Saúde) Ana Cristina Freitas, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge Beatriz Quintella, Presidente, Associação Nariz Vermelho Maria João Quintela, Chefe de Divisão de Saúde no Ciclo de Vida e em Ambientes Específicos, Direcção Geral de Saúde Monsenhor Victor Feytor Pinto, Presidente, Comissão Nacional da Pastoral da Saúde

PRÉMIO TEMÁTICO ANUAL - Prevenção da Obesidade Alberto Galvão-Telles, Presidente, Comissão de Avaliação do Tratamento Cirúrgico da Obesidade Ana Rito, Vice-Presidente, Conselho Científico da Plataforma contra a Obesidade Emília Nunes, Directora de Serviços de Promoção e Protecção da Saúde Direcção Geral da Saúde Isabel do Carmo, Presidente do Conselho Científico, Plataforma contra a Obesidade João Breda, Coordenador, Plataforma Contra a Obesidade

O Fórum Hospital do Futuro expressa publicamente o seu agradecimento aos Membros do Júri

dos Prémios Hospital do Futuro 2007/2008

Organização

Patrocinadores Ouro Apoiantes

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A nova categoria em 2007/2008 foi o Prémio Temático Anual, com destaque para a Prevenção da Obesidade, numa tentativa de alertar a comunidade para a importância de actuar nesta área, em colaboração com a Plataforma Contra a Obesidade, da Direcção-Geral da Saú-de. O projecto vencedor foi “5 ao Dia, Faz crescer com Energia”, da Adminis-tração Regional de Saúde do Alentejo, que procura promover hábitos de ali-mentação saudáveis entre as crianças.

O projecto vencedor da categoria Au-tarquias destacou-se também pelo tra-balho na prevenção da obesidade da Câmara Municipal do Porto e da Fa-culdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação do Porto. Outros projec-tos premiados foram o site do Instituto Português do Sangue, o “Hospital da Bonecada” da Associação de Estudan-tes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e a Rede Digital de Arquivo, Gestão e Dis-tribuição de Imagens da Unidade Local de Saúde de Matosinhos.

O estudo sobre o Síndroma de X Frá-gil no Alandroal/Alentejo, do Centro

de Saúde do Alandroal e do Hospital de Santa Maria, o Rastreio do Cancro da Mama da Administração Regional de Saúde do Algarve, o Estudo e Im-plementação de Cargas Virais (PCR Em Tempo Real) por Tecnologia “In House” do IPO de Lisboa, o Centro de Genética Clínica, as Unidades Móveis de Saúde da Administração Regional de Saúde do Alentejo e o projecto de Acolhimento e Integração de Emi-grantes do Hospital de Santo André completam a lista.

A Cerimónia decorreu na XVI Confe-rência SInASE, em Maio de 2008, e contou com a presença de Ana Jor-ge, Ministra da Saúde, Maria do Céu Machado, Alta Comissária da Saúde, João Breda, Coordenador da Plata-forma Contra a Obesidade da Direc-ção-Geral de Saúde, Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, José Mário Miranda, Director da Sec-ção Regional de Lisboa da Ordem dos Farmacêuticos, para a entrega dos galardões aos vencedores. Estiveram ainda presentes os representantes dos Patrocinadores Ouro desta edição: Rui Henriques, Administrador da CPC HS,

Fernando Braz, Director Comercial da Oracle, e Roser Vicente, Directora- -Geral da Gesaworld.

As 178 candidaturas à quarta edição dos Pré-mios Hospital do Futuro mostram uma iniciativa consolidada, cujo inter-esse por parte da comu-nidade da área da Saúde em Portugal cresce de ano para ano. Com mais de 90 pessoas e orga-nizações candidatas, este ano foram atribuídos 12 prémios no total.

Prémios Hospital do Futuro 2007/2008

João Breda, Coordenador da Plataforma contra a Obesidade da Direcção-Geral da Saúde, entrega o Prémio Anual Temático – Prevenção da Obesidade a Rosa Matos, Presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde do Alentejo.

Pedro Nunes, Bastonário da Ordem dos Médicos, Adriano Pimpão, Vogal da Direcção da Ordem dos Economistas, Ana Jorge, Ministra da Saúde, e Maria do Céu Machado, Alta Comissária da Saúde (da esquerda para a direita)

Fernando Braz, Director Comercial da Oracle, Rui Hen-riques, Administrador da CPC HS, Roser Vicente, Directora-Geral da Gesaworld, e João Breda, Coordenador da Plata-forma contra a Obesidade da Direcção-Geral da Saúde

Prémios HdF 2007/2008

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AUTARQUIASA Autarquia do Porto enquanto Entidade Promotora de SaúdeCâmara Municipal do Porto/Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Uni-versidade do PortoTânia Raquel da Torre Franco

VENCEDORES DA 4ª EDIÇÃO DOS PRÉMIOS HOSPITAL DO FUTURO

O site do Instituto Português do Sangue (www.ipsangue.org) permite obter infor-mação sobre as reservas de componentes sanguíneos no instituto e sobre a calenda-rização das colheitas em unidades móveis (brigadas).A aplicação informática contabiliza de um modo automático, em cada três horas, as existências, por grupo sanguíneo, em cada Centro Regional de Sangue, para além de dar a possibilidade ao dador de conhecer o local e a hora da próxima brigada. Des-te modo, qualquer dador consegue saber, facilmente, onde se encontra uma brigada para poder dar sangue, assim como aceder a informações sobre as suas doações, impri-mir o comprovativo de presença e marcar a próxima doação. O sistema tem vantagens para o dador, mas também para o Instituto Português do Sangue, que monitoriza mais facilmente as doações.

EDUCAÇÃOHospital da BonecadaAssociação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de LisboaRita Rodrigues

A Câmara Municipal do Porto, em colabora-ção com a Faculdade de Ciências da Nutri-ção e Alimentação da Universidade do Porto, tem desde 2003 um conjunto de medidas que visam melhorar as ementas das cantinas e refeitórios do 1º Ciclo do Ensino Básico e Jardins-de-Infância públicos do Porto. Após uma avaliação das ementas escolares, foram introduzidas algumas medidas como a substituição do pão branco por pão de mistura, a eliminação das canjas da lista de sopas autorizadas, substituídas por uma sopa de hortaliças e vegetais diversificados, a inclusão obrigatória de saladas e legumes a acompanhar todas as refeições diariamen-te servidas e o fornecimento diário de fruta como sobremesa. Os doces só fazem parte da ementa em dias festivos. Houve também uma redução dos alimentos fritos, um me-lhor equilíbrio entre carne e peixe e a água é a única bebida autorizada.

e-SAúDEReservas de Sangue e Informação de Activi-dades em Tempo Real: o caso do “website” do IPS, IPInstituto Português do Sangue, IP Gabriel Olim

Na foto: Gonçalves Pereira, Director da SINASE, entrega o Prémio a Vladimiro Feliz, Vereador da Educação da Câmara Municipal do Porto. Paulo Nunes de Abreu, Director do Fórum Hospital do Futuro, à direita.

Na foto: Fernando Braz, Director Comercial da Oracle, entrega o Prémio a Gabriel Olim, Presidente do Instituto Português do Sangue.

O objectivo do projecto é dar a conhecer à criança a realidade hospitalar para que pos-sa ultrapassar os medos que costuma ter quando vai a um hospital. Através do “jogo de faz de conta”, as crianças tornam-se os pais que vão levar o filho (o seu boneco) ao hospital. As crianças “pais” têm, em média, entre três e sete anos e participam neste projecto acompanhadas pelos pais, educa-dores de infância ou professores. No Hospital da Bonecada, as crianças entram em contacto com os vários locais e terapêu-ticas por que passariam se estivessem do-entes. O projecto existe desde 2001 e conta com a associação entre a European Medical Student’s Association e a Associação de Es-tudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. A promoção da Saúde dos mais pequenos também faz parte do Hospital da Bonecada. O projecto tem ainda uma vertente de edu-cação em Saúde Oral, hábitos alimentares saudáveis, protecção solar e importância da vacinação.

Na foto: Rita Rodrigues, Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas, recebe o Prémio de José Mário Miranda, Director da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Farmacêuticos.

PRÉMIOS HdF 2007/2008Jo

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VENCEDORES DA 4ª EDIÇÃO DOS PRÉMIOS HOSPITAL DO FUTURO GESTÃO & ECONOMIA DA SAúDECriação de uma Rede Digital de Arquivo, Gestão e Distribuição de ImagensUnidade Local de Saúde de Matosinhos, EPE João Pires

são menos amigas do ambiente. O PACS, ao permitir a gestão e a distribuição das imagens de diagnóstico vai ao encontro das preocupações do eEurope Action Plan, plano europeu que alerta para a necessidade de se recorrer às novas tecnologias da infor-mação e da comunicação para se facilitar a mobilidade dos cidadãos europeus no sector da Saúde.

INTEGRAÇÃOSíndroma de X Frágil no Alandroal/Alentejo – Articulação entre os Cuidados de Saúde no Apoio à DeficiênciaCentro de Saúde do Alandroal e Serviço de Genética do Hospital de Santa MariaFátima Ferreira e Isabel Cordeiro

Em Maio de 2007 iniciou-se um estudo de investigação sobre o Síndroma de X Frágil que contou com o apoio da Administração Regional de Saúde do Alentejo, Direcção Re-gional de Educação do Alentejo, Serviço de Genética do Hospital de Santa Maria e Servi-ço de Pediatria do Hospital do Espírito Santo de Évora. O objectivo era conhecer melhor esta patologia, melhorando o acompanha-mento multidisciplinar destes doentes e dos seus familiares. No decorrer da investigação foram efectua-dos estudos genealógicos a 23 famílias do Conselho do Alandroal, embora três fossem de concelhos limítrofes. Estes são os princi-pais resultados: – Em 15 crianças, quatro são portadoras

do Sindroma de X Frágil, cinco têm a pré-mutação, quatro aguardam resultado da análise molecular e as restantes não têm o síndroma;

– Foi dado aconselhamento genético a três mulheres portadoras da pré-mutação - uma delas tem um filho com mutação completa e as outras duas são recém-casadas;

– Até Fevereiro de 2008 realizaram-se ac-ções para técnicos de Saúde e Educação em quatro concelhos limítrofes e algumas palestras para famílias;

– A Associação Nacional das Famílias com

Na foto: Nuno Morujão, Presidente do Conse-lho de Administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, com o Prémio; atrás: Paulo Nunes de Abreu, Director do Fórum Hospital do Futuro.

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos criou uma Rede de Arquivo, Gestão e Distri-buição de Imagens (PACS) que melhorou o diagnóstico, gestão e distribuição dos méto-dos de diagnóstico. Com o sistema conse-guiram diminuir o tempo de espera para um exame, assim como a qualidade e a rapidez do diagnóstico. Os custos também reduzi-ram, já que com o novo sistema evita-se a duplicação de exames e o uso de películas de raios- X que, além de serem mais caras,

Na foto: Rui Henriques, Administrador da CPC HS, entrega o Prémio a Fátima Ferreira, Directora do Centro de Saúde do Alandroal, e a Isabel Cordeiro, Directora do Serviço de Genética do Hospital de Santa Maria

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Síndroma de X Frágil foi constituída em Dezembro de 2007.

O Síndrome do X Frágil caracteriza-se por um défice cognitivo moderado a grave, alte-rações de comportamento (hiperactividade, défice de atenção, autismo, alterações da linguagem), face longa, orelhas grandes e descoladas, entre outras.

PARCERIAS EM SAúDE Rastreio do Cancro da Mama do AlgarveAdministração Regional de Saúde do Algarve – Coordenação do Rastreio do Cancro da MamaMariano Ayala

QUALIDADE EM SAúDE – ACREDITAÇÃOEstudo e Implementação de Cargas Virais (PCR em tempo real) por Tecnologia “In House”Laboratório de Virologia – Serviço de Patolo-gia Clínica do Instituto Português de Oncolo-gia de Lisboa Francisco Gentil, EPEMário Cunha

Em 2007, o CGC Centro de Genética Clínica viu renovada a certificação que engloba as consultas de genética médica, exames de biologia molecular, exames de citogenética e exames de rastreio pré-natal. Actualmente, o CGC participa em múltiplas AEQ (Avaliação Externa de Qualidade), pro-movidas por sete organismos independentes, o que o torna num dos laboratórios europeus com um maior número de AEQ. O centro foi, inclusive, o primeiro laboratório português a obter o Clinical Laboratory Improvement Amendments (CLIA) do Department of He-alth and Human Services e obrigatório para todos os laboratórios de análises clínicas a trabalhar para os EUA.

SERVIÇO PúBLICO A Saúde mais perto de si – Unidades Móveis de Saúde do Alentejo Administração Regional de Saúde do Alentejo Rosa Matos

Na foto: Maria do Céu Machado, Alta Comis-sária da Saúde, entrega Prémio a Mariano Ayala, Coordenador do Rastreio do Cancro da Mama da ARS Algarve

O Rastreio do Cancro da Mama do Algar-ve teve início em Setembro de 2005 e tem como público-alvo mulheres residentes na região e com idades entre os 50 e os 65 anos. As mulheres são convocadas por carta personalizada para fazerem uma mamogra-fia (digital) e recebem depois, também por carta, os resultados da prova. O programa é organizado em conjunto com a Administração Regional de Saúde do Al-garve, a Associação Oncológica do Algarve, o Hospital Central de Faro e o Centro Hospita-lar do Barlavento Algarvio e inclui o proces-so completo desde a detecção precoce até à conclusão do tratamento. A parceria entre as instituições conta com o apoio de especialis-tas em cirurgia, anatomia patológica, radio-logia, assim como técnica de diagnóstico e enfermagem. A taxa de adesão ronda os 45%, o que é semelhante a outras iniciativas do género a nível internacional, e a taxa de detecção (quatro cancros diagnosticados por cada 1000 mamografias) está dentro dos valores esperados.

Na foto: Ana Jorge, Ministra da Saúde, en-trega o Prémio a Mário Cunha, Responsável da Qualidade do Laboratório de Virologia do IPO Lisboa

O Instituto Português de Oncologia é acre-ditado desde 24/05/2005, segundo o refe-rencial NP EN ISSO/IEC 17025, pelo Instituto Português de Acreditação. A acreditação permitiu que a estrutura documental ficasse organizada de uma forma mais clara. Outras vantagens são a descrição das funções e a validação das técnicas com recurso a ensaios de intercomparação laboratorial, compara-ção com kits comerciais, estudo de perfor-mance e determinação de incerteza em en-saios quantificados. A acreditação melhorou, assim, a resposta em termos de procedimen-tos escritos, descrição de funções e métodos de ensaio. A monitorização regular permite ainda melhorar a vigilância na área clínica.

QUALIDADE EM SAúDE – CERTIFICAÇÃO & SERVIÇO PRIVADOCGC Centro de Genética ClínicaPurificação Tavares

Na foto: Purificação Tavares, Presidente do Conselho de Administração do CGC, recebe o Prémio de Ana Jorge, Ministra da Saúde

Na foto: Rosa Matos, Presidente do Conselho Directivo da ARS Alentejo.

A Unidade Móvel de Saúde é constituída por uma viatura que dispõe de um gabi-nete de consulta e uma sala de exames e tratamentos. Com tecnologia avançada, tem condições para prestar Cuidados de Saúde Primários, nomeadamente na área clínica e de enfermagem, apoio domiciliário, saúde escolar, vigilância do estado de saúde dos idosos que vivem isolados, rastreios, campa-nhas de vacinação, entre outros. O programa teve início em 2006 e, actual-mente, conta com quatro viaturas, colocadas nos Centros de Saúde de Évora/Montemor-

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-o-Novo, Ourique, Nisa e Borba. A principal vantagem é a proximidade das pessoas que vivem longe de um centro de saúde ou que, por problemas de mobilidade, não se podem deslocar ao centro de saúde. A Unidade Móvel permite ainda reduzir a despesa dos utentes, que já não precisam de perder horas de trabalho para irem a uma consulta.

SERVIÇO SOCIALAcolhimento e Integração de Imigrantes Hospital Santo André, EPEAlexandra Borges

A Administração Regional de Saúde do Alen-tejo assinou, no passado mês de Outubro de 2007, um protocolo de colaboração com o Mercado Abastecedor da Região de Évora e com a Direcção Regional de Educação do Alentejo para implementarem o “5 ao Dia, Faz Crescer com Energia”. O projecto insere-se no Programa de Combate à Obesidade no Alentejo. O objectivo é a promoção da saúde e do consumo diário de, pelo menos, cinco frutas e hortícolas, a fim de prevenir doenças cróni-cas associadas a maus hábitos de alimenta-ção. Além dos bons hábitos de alimentação, promove-se também conceitos de higiene e segurança alimentar. O público-alvo é a faixa etária entre os 7 e os 12 anos, os pais, os professores e a sociedade em geral. Desde o início do projecto, já integraram o programa 330 crianças.

logo intercultural, combate à discriminação, estimular a participação social e cívica dos imigrantes, diminuir as barreiras no acesso e a continuidade dos cuidados.Um dos serviços é a Bolsa de Tradutores Voluntários, que ajuda todos aqueles que não conhecem bem a Língua Portuguesa. A unidade tem também divulgado, entre os profissionais de saúde, o Serviço de Tradução Telefónica, disponibilizado pelo Alto Comis-sariado para a Imigração e Minorias Étnicas. No hospital são ainda distribuídos vários im-pressos em vários idiomas.

PRÉMIO TEMÁTICO ANUAL – PREVENÇÃO DA OBESIDADE5 ao Dia, Faz Crescer com EnergiaAdministração Regional de Saúde do AlentejoRosa Matos

Na foto: Maria do Céu Machado, Alta Comis-sária da Saúde, entrega o Prémio a Alexan-dra Borges, Administradora Hospitalar, Res-ponsável do Serviço de Gestão de Doença do Hospital de Santo André

Na foto: João Breda, Coordenador da Platafor-ma contra a Obesidade, da Direcção Geral da Saúde, entrega o Prémio a Rosa Matos, Presi-dente do Conselho Directivo da ARS Alentejo

O Hospital de Santo André disponibiliza vários serviços para os utentes imigrantes, com o objectivo de promover a igualdade de oportunidades, a coesão social e o diá-

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A segunda edição do Prémio CGC Prof. Doutor Amândio Tavares contou com a presença de Ana Jorge, Ministra da Saúde, para entregar os galar-dões aos representantes dos projectos vencedo-res de um concurso que tem como objectivo des-tacar trabalhos individu-ais ou institucionais que tenham contribuído para a implementação de no-vos testes de Genética Médica na prática clínica.

Prémio CGCProf. Doutor Amândio Tavares

Patrícia Machado, Purificação Tavares, Letícia Ribeiro, Celeste Bento e Susana Maia-Lopes (da esquerda para a direita).

O primeiro prémio foi para o projecto do Laboratório de Anemias Congéni-tas e Hematologia Molecular, Depar-tamento de Hematologia do Centro

Hospitalar de Coimbra, que coloca-ram em prática o primeiro rastreio de alterações na hemoglobina que po-dem afectar a saúde dos seus filhos

– o portador desta alteração genética fica mais resistente perante doenças como a malária (esta alteração incide principalmente em regiões africanas),

Investigação em Genética Aplicada a Doenças Heredi-tárias Degenerativas da Re-tinaCentro de Doenças Hereditárias do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário de Coim-bra e Centro de Oftalmologia do Instituto Biomédico de In-vestigação da Luz e da Imagem (IBILI), Coimbra

Desenvolvimento e Imple-mentação de Um Método Simples e Eficaz de Ras-treio da Primeira Mutação Fundadora Portuguesa no Gene BRCA 2 em Famílias Portuguesas com Síndrome Hereditário do Cancro da MamaGrupo de Cancro da Mama Hereditário do Centro de In-vestigação em Patobiologia Molecular (CIPM), Instituto Por-tuguês de Oncologia de Fran-cisco Gentil (IPOFG), Lisboa

2.º PRÉMIO 3.º PRÉMIO

Metodologia Inovadora para Pesquisa de - Talasse-mia e Variantes de Hemo-globina em Amostras de Sangue Capilar – Um Fac-tor de Sucesso no Rastreio de Hemoglobinopatias na Região Centro de PortugalDepartamento de Hematolo-gia do Centro Hospitalar de Coimbra

Prémio Centro de Genética Clínica

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1.º PRÉMIO

Page 13: Revista HdF Nº7

mas os seus filhos têm 25% de hi-póteses de nascer com uma anemia grave, que exige, até ao fim da vida, receber transfusões sanguíneas. Ou-tra das doenças que se podem mani-festar na criança é a drepanocitose, também provocada por uma altera-ção genética na hemoglobina, e que, em determinadas condições, leva ao desenvolvimento de pequenas obstru-ções nos vasos sanguíneos, provocan-do má circulação, dores violentas e a lesão de órgãos.

O rastreio incidiu sobre a população jovem, em idade reprodutiva, e mu-lheres grávidas até à 18ª semana. Num total de 20650 amostras estudadas, foram identificados 444 portadores (2,15%) destas alterações genéticas e 11 casais em risco de terem filhos com a alteração genética, estando 5 deles à espera de um filho. A metodologia utilizada baseia-se numa picada no dedo, feita no centro de saúde, que pode ser estudada pelas equipas em 4 a 6 dias, facilitando assim o traba-lho de rastreio, ao evitar análises mais demoradas.

O segundo prémio foi atribuído ao Centro de Doenças Hereditárias do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário de Coimbra e o Cen-tro de Oftalmologia do Instituto Bio-médico de Investigação da Luz e da Imagem (IBILI), que em parceria com o Departamento de Genética da Fun-dación Jiménez Díaz, em Madrid, uti-lizaram testes de genética médica em famílias portuguesas afectadas por doenças degenerativas da retina.

Em estudo estiveram a Doença Star-gardt e a Doença de Best (doenças degenerativas da mácula, a zona que fica junto ao centro da retina do olho e que sofre complicações na acuidade visual, como na percepção das cores e dos detalhes) que têm um início mui-to precoce – geralmente nos primei-ros 10 anos de vida – e que causam

uma diminuição drástica da visão cen-tral. Na maioria das vezes, os doentes ficam cegos, o que traz graves con-sequências em termos de saúde e na sua vida pessoal e profissional.

Estas três entidades desenvolveram um estudo de investigação de muta-ções genéticas em 21 famílias com Doença de Stargardt e em 11 famílias com Doença de Best. Com este estudo foi possível fazer o acompanhamento de famílias com estes dois tipos de doença degenerativa da retina ou que já tinham a mutação genética, pro-movendo o aconselhamento genético e melhorando a detecção precoce da doença.

O terceiro galardão premiou uma pes-quisa de alterações a nível do DNA em dois genes específicos: BRCA1 e BRCA2, no âmbito do diagnóstico molecular de cancro da mama heredi-tário (famílias que apresentam vários casos de cancro ou indivíduos com desenvolvimento de cancro em idades muito precoces). No trabalho desen-volvido nos últimos anos pelo grupo de Cancro da Mama Hereditário, do Centro de Investigação em Patobiolo-gia Molecular do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, foi observa-da uma alteração genética muito fre-quente em famílias de alto risco (mu-tação fundadora portuguesa). Dada a elevada incidência desta mutação, os investigadores desenvolveram uma metodologia (a Patente Nacional está pendente) que permite rastrear de uma forma rápida e eficaz a mutação fundadora.

Todas as famílias aconselhadas na Consulta de Risco do Instituto são ini-cialmente rastreadas para esta muta-ção, o que permite o esclarecimento rápido do seu risco. Além disso, já se conseguiram identificar com este mé-todo várias famílias com a mutação fundadora que, submetidas anterior-mente a outros testes habitualmente

utilizados, não tinham sido detecta-dos. Nas famílias positivas, o método permite obter diagnósticos rápidos e menos dispendiosos, sem a necessida-de de esperar o rastreio complexo dos genes BRCA1 e BRCA2 na sua totali-dade.

1 3 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

Ana Jorge, Ministra da Saúde, e Purificação Tavares, Presidente do Conselho de Administração do CGC, en-tregaram os Prémios CGC a Celeste Bento, do Centro Hospitalar de Coimbra (1º Prémio), a Susana Maia-Lo-pes, do Instituto Biomédico de Investigação da Luz e da Imagem de Coimbra (2º Prémio), e a Patrícia Machado, do Instituto Português de Oncologia de Lisboa (3º Pré-mio) – de cima para baixo.

Prémio Centro de Genética Clínica

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Ser um Hospital do Futuro. Este é o objectivo do Hospital de Santa Maria. Várias mudanças têm ocorrido no hos-pital central da capital. As áreas-chave são a logística, recursos humanos, sistemas de informação, gestão dos utentes e farmácia hospitalar. O ob-jectivo é tornar mais eficaz e eficiente o trabalho dos profissionais das várias áreas e melhorar o atendimento e a relação com os utentes. O Hospital de Santa Maria tem uma grande dimensão: são 12 pisos, corre-dores sem fim, vários serviços. Antes da remodelação, o serviço de logística situava-se em oito locais e não havia um sistema de distribuição bem defini-do. Era preciso tomar medidas. Nesse sentido, em Dezembro do ano passa-do foi inaugurado um único armazém onde é feita a distribuição de forma automatizada do material que é ne-cessário ao hospital, exceptuando os medicamentos. Pedro Lima, Director

: 1 4 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

Os sistemas de informa-ção não trouxeram ape-nas Inovação tecnológi-ca ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Num hospital central, que tem inclusive valências únicas a nível nacional, a modernização dos sis-temas permitiu organi-zar melhor todas as in-formações, controlar os processos e diminuir os custos.

Mais Inovação, mais organização

O PDT regista todos os pedidos que são feitos ao ar-mazém.

do Serviço de Logística, fala-nos com orgulho do novo sistema, que tem permitido uma melhoria significativa na distribuição, mais qualidade no ser-viço e uma diminuição nos custos. O seu serviço ganhou, recentemente, o Prémio Boas Práticas no Sector Público. Quando se entra no armazém, princi-palmente na hora em que se está a re-ceber a maioria dos materiais, a agita-ção é enorme. Contudo, com o novo armazém num único sítio e com um sistema automatizado, o trabalho faz-se de forma ágil e sem grandes proble-mas. O material entra, é registado e o processo continua de forma automa-tizada. Os PDT (ver imagem) registam todos os consumos. Foram adquiridos 145 PDT, sendo dez do armazém cen-tral e 135 dos armazéns periféricos. Antes de faltar material, o armazém já está a enviar o que falta para estes armazéns periféricos. Quem retira o material faz um registo no PDT. Desta forma, todo o material que en-tra e sai fica registado. O sistema vai

mesmo ao pormenor, sabendo-se qual foi o doente que recebeu determina-do material. Por exemplo, se sai um pacemaker, fica registado o número do paciente que o recebeu. Com es-tes métodos automatizados, os re-sultados não se fizeram esperar. Os desperdícios foram eliminados com a simplificação de tarefas, reduziram-se as existências, diminuindo os níveis de stocks nos armazéns, baixaram-se os consumos, diminuíram-se os erros, reduziram-se os custos com o pessoal e aumentou a satisfação dos utentes, disse à revista HdF Pedro Lima.A nível da distribuição há ainda a sa-lientar a gestão consignada, ou seja, os materiais são posse do fornecedor e o hospital só paga o que gasta, não sendo inclusive responsável pelo mate-rial que sobra. Pedro Lima afirma que este tipo de gestão tem diminuído os custos.

Os consumíveis estão todos registados e organizados

A Kardex é a máquina que revolucionou a distribuição dos medicamentos no hospital.

Hospital do Futuro

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A Farmácia HospitalarEsta é outra das áreas que tem sofri-do várias alterações. Se antes os seus serviços estavam dispersos por quatro pisos, neste momento há dois pisos, estando um ligado à farmacotecnia, isto é, ao fabrico de medicamentos, e outro à distribuição dos medicamen-tos. No primeiro caso, o serviço estará operacional até ao final do ano, como explicou a directora do serviço, Pie-dade Ferreira. No piso da distribuição de medicamentos encontram-se duas máquinas, as Kardex, e toda uma equipa responsável pela distribuição dos medicamentos. Por um lado, temos um sistema de PYXIS, que permite ter stocks nivela-dos, isto é, só se pode pedir o número máximo estipulado de determinado medicamento e este é reposto quan-do chega ao nível mínimo, para que não haja falhas na distribuição. Com este método, também se consegue controlar melhor o desperdício, o que traz grandes vantagens do ponto vis-ta económico-financeiro. Enquanto o sistema PYXIS se encarrega das gran-des quantidades, a outra máquina en-carrega-se das unidoses, ou seja, das doses mais pequenas. Estas máquinas são únicas no país, melhorando o tra-balho dos profissionais e permitindo grandes poupanças na área que im-plica sempre grandes gastos e que é sempre alvo de críticas por causa do desperdício. Para melhorar o serviço houve inclusi-ve mudanças no horário de trabalho. Neste momento, o serviço funciona 24 horas por dia. Anteriormente, ao sábado à tarde, ao domingo e aos feriados, enviava-se determinado pla-fond para os serviços, que ultrapas-sava, em regra, o que era necessário, por receio de faltar medicamentos enquanto o serviço estava fechado. Deste modo, era mais difícil controlar os desperdícios.

1 5 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

A evolução dos custos directos e do número de efectivos (pessoal) desde a implementação do novo sistema de logística do Hospital de Santa Maria. Fonte: Hospital de Santa Maria

A gestão dos utentesSusana Pombo, responsável pelo am-bulatório, recepção central, contact center e pela unidade de transpor-tes, falou-nos das mudanças que têm ocorrido na gestão dos utentes. Tudo começou em Outubro de 2006 no serviço de Ambulatório. Em vez de se esperar horas a fio na fila, os utentes podem confirmar a sua consulta numa máquina. O próprio médico tem um sistema que permite, no seu compu-tador, marcar a próxima consulta e saber quais são os doentes que es-tão na sala de espera. Os formulários também já são electrónicos nalgumas especialidades, como reumatologia, endocrinologia, oftalmologia, otorri-nolaringologia, urologia e consulta do viajante. As consultas só precisam de ser confirmadas pelo doente no pró-prio dia, através das máquinas. Nesta área das consultas, o hospital foi também o primeiro do país a introdu-zir o sistema de marcação de consul-tas via SMS ou por Internet. O sistema tem permitido também a ligação entre o hospital e alguns centros de saúde. Os profissionais do hospital deslocam-se aos centros de saúde onde dão as suas consultas e no desktop do seu computador podem marcar automa-ticamente uma consulta no hospital, caso seja necessário. Até ao momento, os centros de saúde abrangidos são os de Alvalade, Loures, Odivelas, Lumiar e Pontinha e, até ao final do ano, Ben-fica também fará parte desta rede, de acordo com Susana Pombo. Os sistemas de informação alteraram ainda o dia-a-dia da Urgência Central.

Com o sistema Alert, todo o proces-so das urgências está informatizado. Desde que o doente entra até que sai, é tudo registado no computador. Os próprios exames são pedidos via com-putador. Todos os médicos passaram a ter um computador no consultório, onde registam tudo o que esteja rela-cionado com o doente, seja nas urgên-cias ou no ambulatório. Caso o doente tenha de se deslocar várias vezes ao hospital, o médico acede electronica-mente à sua informação clínica. Para além do bem-estar dos pacien-tes, as novas tecnologias também têm ajudado os profissionais. No caso dos Recursos Humanos, já não é pre-ciso gastar muito tempo e andar por longos corredores para se marcar as férias. Numa plataforma de Intranet, todos os profissionais podem marcar férias, justificar faltas, entre outras ac-ções, através do computador. A pon-tualidade e a assiduidade também são monitorizadas através desta platafor-ma. Para isso, há dispositivos biométri-cos em vários locais do hospital. Tudo em nome da Inovação e de um Hospital do Futuro. MJG

Apesar de exigir muita concentração, o tratamento dos medicamentos por unidose é mais fácil com a nova máquina

Já não é preciso esperar muito tempo na fila de espe-ra para confirmar a consulta. Basta deslocar-se a esta máquina.

Hospital do Futuro

Custos Directos

Novo Sistema e Circuito de Distribuição

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-70%

Número de Efectivos

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O que diferencia as unidades do Grupo Quirón (GHQ) das restantes unidades de saúde de Espanha?Em primeiro lugar, o GHQ dispõe em Espanha de um quadro médico com reconhecimento tanto a nível nacional como internacional, através de inúme-ros prémios. Apostamos em conjunto com os nossos profissionais na aquisi-ção das melhores tecnologias de diag-nóstico e de tratamento, assim como no desenvolvimento das melhores e mais modernas infra-estruturas hospitalares. Abrimos duas novas unidades em 2007 e vamos abrir mais duas em 2009. Por último, temos 30% de clientes sem se-

: 1 6 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

Vasco Luís de Mello é o Administrador Executivo do Grupo Hospitalar Qui-rón, que tem uma parce-ria com a José de Mello Saúde. O responsável, em entrevista à HdF, fala-nos do serviço que prestam em Espanha, da parceria com o gru-po português e de como ambos os países podem aprender um com o ou-tro no sector da Saúde.

Gestão Privada como “catalizador de eficiência”

ou tratamento do HIV em geral.

Que projectos estão a desenvolver na área da I&D (Inovação e Desen-volvimento)?Grande parte dos projectos de I&D que são desenvolvidos nos hospitais são-no em colaboração com outros hospitais públicos e com faculdades de medicina. Nesse sentido, tanto em Madrid como em Barcelona, concretizámos acordos com faculdades de medicina, de forma a poder transformar estes Hospitais Qui-rón em pólos universitários. Em Valência temos um acordo com a Universidade Politécnica de Valência para a investiga-

Hospital Quirón, em Madrid

guro de saúde. O GHQ destaca-se ainda por estar presente nas principais cidades de Espanha (com excepção de Sevilha), o que não é o caso dos principais gru-pos hospitalares de Espanha.

Quais são as especialidades do gru-po em Espanha?Cobrimos a quase totalidade das espe-cialidades médicas e cirúrgicas, sendo que algumas áreas não cobrimos por-que não existe cobertura pelas compa-nhias de seguros, ou porque não existe casuística suficiente para o seu desen-volvimento em ambiente privado, como alguns tipos de transplantes, queimados

Licenciou-se em Engenharia Mecâ-nica pela Universidade Católica de Louvaina, na Bélgica, e tem um MBA. Está no Grupo Mello desde 1994, quando entrou para a área da Enge-nharia Financeira no Banco Mello. Em 2002 assumiu o cargo de Director de Planeamento e Controlo da José de Mello, SGPS, SA e tornou-se Membro do Conselho Executivo da José de Mello Saúde.Actualmente, é Administrador da José de Mello Saúde, SGPS, da José de Mello Saúde España e Administra-dor Executivo do Grupo Hospitalario Quirón.

VASCo LUíS De MeLLo

Espanha

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Data de Fundação: 1950Presidente do Grupo:Pilar Muro NavarroNúmero de unidades em Espanha: 5 hospi-tais gerais (Barcelona, Madrid, São Sebastião, Valência, Saragoça); 1 Hospital de Dia (Sa-ragoça); 1 Centro de Reprodução Assistida (Bilbao)Número de camas: 760 Primeira unidade: Hospital de SaragoçaUnidade mais recente: Centro de Reprodu-ção Assistida (Saragoça)Número de Funcionários: Mais de 1200Especialidades que abrange: Mais de 50 (en-tre elas: Anatomia Patológica; Banco de San-gue, Cardiologia; Cirurgia Plástica, Estética e Reparadora; Cirurgia Cardíaca, Geral Diges-tiva, Oral e Maxilofacial, Pediátrica, Torácica; Angiologia e Cirurgia Vascular; Diagnóstico de Imagem; Medicina Aeronáutica; Medicina Intensiva; Neurologia, Oncologia Médica e Pe-diátrica; Radioterapia; Reprodução Assistida; Centro da Dor)

ção na área do diagnóstico por Resso-nância Magnética, com a utilização de técnicas de espectroscopia que permitem estudar o funcionamento do cérebro.

Quais são os principais projectos da Fundação Quirón? A Fundação Quirón é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 2000, com o intuito de apoiar iniciativas e projectos humanitários na saúde. As principais iniciativas visam a entrega de material e medicamentos em projectos humani-tários desenvolvidos em diversos países, sendo os mais recentes a Bolívia, Gua-temala, Camboja e o Congo. Também em alguns casos disponibilizamos inter-venções de elevada complexidade nos nossos hospitais a pessoas que não têm possibilidades económicas ou onde não existe uma tecnologia adequada para esses tratamentos. Neste momento estamos envolvidos numa campanha médica num hospital da Bolívia que envolve mais de 3.000 crianças e estamos a preparar a entrega de material médico e medicamentos na Guatemala.

Iniciaram em 2006 uma colaboração com o grupo privado português José de Mello Saúde. Como vê esta cola-boração? São duas organizações que têm uma vi-são de médio-longo prazo, que apostam na qualidade como elemento diferen-ciador e que dispõem de uma história de mais de 60 anos e uma marca muito forte nos seus respectivos países. A nível mais operacional, identificámos que em bastantes ocasiões partilhamos os mesmos fornecedores, assim como os mesmos interlocutores, e lançámos por isso alguns concursos ibéricos para compra de material e medicamentos. Mais recentemente lançámos uma ini-ciativa conjunta de contratação de en-fermagem portuguesa para as unidades do GHQ em Espanha. A nível médico, realizaram-se no ano passado as primei-ras jornadas ibéricas.

No seu entender, qual é o papel da Medicina privada em países com um Sistema Nacional de Saúde (SNS)? A “gestão privada” na prestação de cuidados de saúde tem sido um catali-zador importante para introduzir maior rigor e eficiência nos diferentes SNS europeus. Na Alemanha, a gestão dos hospitais públicos é contratualizada a troco de uma garantia de aumento dos níveis de serviço e de um compromisso na renovação da tecnologia e da infra-estrutura. O mesmo se passa em França, onde existe livre escolha por parte dos utentes e concorrência aberta a nível dos prestadores privados e públicos.Penso que é saudável distinguir os di-ferentes papéis que o Estado desempe-nha, nomeadamente o de financiador do sistema e o de prestador de cuidados de saúde. O maior “consumismo” por parte da população, a maior abrangência por parte da medicina e o crescimento das necessidades obrigam a uma gestão do sistema mais ágil, eficiente e inovadora, que combata o crescimento elevado dos custos, garantindo a prestação de cui-dados de saúde. Acredito que a gestão privada está mais habituada a desenvol-ver-se com este tipo de constrangimen-tos e desafios.

O que é que Portugal pode aprender com espanha, e vice-versa, a nível da medicina privada? Não verifico que existam grandes dife-renças entre os dois países no que res-peita a medicina privada. As diferenças mais importantes em Espanha pren-dem-se com uma maior concorrência, mas também com um mercado maior, com uma cadeia de valor bastante mais esmagada pelas companhias de seguros e, em geral, com os mais baixos salários dos profissionais. Acredito que a prazo irá existir uma maior convergência entre estes dois mercados vizinhos. Assistiremos também a uma maior con-solidação em Espanha das companhias de seguro e grupos hospitalares. A ten-dência natural será para uma diminuição

do número de companhias, sobretudo as médias com presença mais dispersa. Por outro lado, penso que em Portugal temos hoje muito claro que o melhor modelo de gestão hospitalar passa pela constituição de serviços próprios, equi-pas médicas dedicadas e uma aborda-gem ao mercado integral e comum. Em Espanha - e varia com as cidades - ainda se assiste a bastantes casos de mode-los de gestão com aluguer de espaço, ou equipas médicas pouco integradas e com uma gestão própria da sua área, mas pouco alinhadas com o hospital onde desenvolvem a sua actividade.

Quais são os próximos projectos do Grupo Quirón?O Grupo Hospitalario Quirón continua com um plano de expansão importante onde destacaria desde logo a abertura de duas novas unidades actualmente em construção.A primeira a abrir será a de Málaga, aproximadamente daqui a um ano, e vai contar com cerca de 110 quartos. A segunda será em Bilbao, com uma dimensão semelhante, e tem abertura prevista para o final de 2009. Em projecto estamos a finalizar o novo hospital de Valência, que pensamos po-der abrir em 2010. Neste caso trata-se de um hospital de maior dimensão com cerca de 170 quartos e que se aproxima das unidades de Madrid e Barcelona.

Futuro Centro Hospitalar Quirón de Málaga (imagem virtual)

Hospital Quirón, em Barcelona

O GRUPO QUIRóN

Espanha

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O cancro continua a ser um dos prin-cipais flagelos da Saúde Global, ape-sar de a Medicina ter avançado e de, em determinados tipos da doença, a taxa de mortalidade ter diminuído. Para que haja cada vez mais casos de sucesso, os biobancos surgem como um meio considerado essencial para a investigação do cancro. Nesse sen-tido, tanto em Portugal como noutros países já existem bancos de tumores, embora no nosso país ainda estejam numa fase muito inicial.Mas o que é um banco de tumores? Trata-se de um tipo de biobanco que serve de repositório organizado de amostras de tumores (as neoplasias), embora também possa criopreservar tecidos saudáveis (não-neoplásicos). O objectivo principal é arquivar mate-rial em condições ideais para investi-

: 1 8 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

A palavra cancro ain-da assusta, apesar dos avanços da Medicina e de haver mais pessoas que vencem a doença. Mas a investigação con-tinua a ser necessária e os bancos de tumores poderão fazer grandes diferenças.

Bancos de Tumores na investigação do Cancro

gação biomédica, nomeadamente na área do diagnóstico, avaliação de fac-tores de prognóstico ou identificação de alvos terapêuticos. Estas unidades podem ser indepen-dentes, mas será sempre mais van-tajoso se pertencerem a uma rede nacional ou internacional. Afinal, a partilha de experiências em Ciência é fundamental. Aliás, um dos objectivos dos biobancos é facilitar a proximida-de entre investigadores e clínicos. Na prática, quando o investigador desco-bre o marcador biológico na superfí-cie de determinada célula tumoral, o clínico pode usar esta descoberta para realizar rastreios, ter diagnósticos mais precoces, utilizar terapêuticas mais adequadas, monitorizar a terapêutica e definir prognósticos. Outros países também têm bancos

Colaboradora do Hospital de São João observa peça cirúrgica.

Colaboradora do Hospital de São João faz colheita de fragmentos para banco de tumores.

Em Destaque

Page 19: Revista HdF Nº7

Em Destaque

1 9 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

de tumores, como Espanha, Croácia, Reino Unido, Holanda, Alemanha e EUA.

A situação portuguesaActualmente, o nosso país tem dez iniciativas de bancos de tumores, em-bora só quatro estejam legalizados. É o caso do Hospital de São João (tumo-res mais frequentes), do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (banco temáti-co), dos Hospitais da Universidade de Coimbra (patologia mamária e gine-cológica) e do Hospital Garcia d’Orta, que obteve recentemente a autoriza-ção da Comissão Nacional de Protec-ção de Dados (CNPD). Face às vantagens que os bancos trazem na investigação, a Comissão Nacional de Doenças Oncológicas (CNDO) pretende criar uma rede na-cional que ligue todas as instituições portuguesas que têm ou pretendem criar um banco de tumores. O objec-tivo é estandardizar as condições de colheita, catalogação e arquivo de material biológico e obter colecções de amostras que podem ser utilizadas em estudos. Esta rede contaria ainda com a criação de uma base de da-dos, acessível a todas as instituições e com um banco virtual com imagens de colheitas. Futuramente, o projecto poderia expandir-se a nível ibérico, estabelecendo ligação com a actual Rede Nacional de Bancos de Tumores Espanhola. O primeiro passo para a criação desta rede nacional já foi dado. Foi criado um documento que inclui os requisi-

tos mínimos a serem preenchidos pe-los hospitais nacionais para poderem ter um banco de tumores. O docu-mento foi elaborado por um grupo de trabalho coordenado por Fátima Car-neiro, Directora do Banco de Tumores do Hospital de São João, e constituído por Carlos Oliveira (Hospitais da Uni-versidade de Coimbra), Glória Isidro (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricar-do Jorge), José Cabeçadas (Instituto Português de Oncologia-Lisboa), José Manuel Lopes (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universida-de do Porto), Luís Costa (Hospital de Santa Maria), Maria José Brito (Hospi-tal Garcia d’Orta), Maria José Proen-ça (Instituto de Medicina Molecular), Rui Henrique (Instituto Português de Oncologia-Porto) e Teresa Martins (Instituto Português de Oncologia-Coimbra). Deste grupo fazem parte as instituições que, de entre as 84 inqui-ridas pela CNDO em Janeiro de 2007 (hospitais, institutos e laboratórios de investigação), afirmaram já ter ou es-tarem a criar um Banco de Tumores.

Requisitos necessários para a cria-ção do bancoOs requisitos mínimos dizem respeito a infra-estruturas, equipamento, pes-soal, aspectos ético-legais e controlo de qualidade. As infra-estruturas de-pendem do volume de amostras e do equipamento e pessoal. A nível de re-cursos humanos tem de se criar uma equipa em que haja um responsável geral, patologistas, técnicos de labora-tório, técnicos superiores responsáveis pela qualidade e gestão do banco e suporte administrativo, como se pode ler no documento divulgado pelo Alto Comissariado da Saúde. Para além de outras questões mais técnicas, os aspectos ético-legais são os que levantam mais questões. As amostras devem proceder de biopsias, peças cirúrgicas, produtos de biopsias aspirativas, sangue periférico e amos-tra de autópsias. Contudo, a recolha deste material biológico jamais deve pôr em causa o diagnóstico da pessoa que está doente e tem de se manter

a confidencialidade e a segurança dos dados, principalmente quando se está a falar de uma rede partilhada de da-dos. As pessoas terão também de dar consentimento, após lhes ser explica-do para que servem as amostras bio-lógicas. A nível supranacional temos a European Organization for Research and Treatment of Cancer, que supervi-siona as questões mais éticas e legais, e a nível nacional a Comissão Nacio-nal de Protecção de Dados. De acordo com um relatório dos Hos-pitais da Universidade de Coimbra de 2006, um banco de tumores “não é um empreendimento difícil nem one-roso”, “é um instrumento indispensá-vel na prática da Medicina Moderna, virada para a investigação científica e interinstitucional” e “está ao serviço dos doentes como complemento de diagnóstico, profilaxia e tratamento”. Com a criação desta rede, Portugal passará a fazer parte da Investigação Transnacional Europeia em Medicina. Os investigadores acreditam que com estes biobancos se contribui para a descoberta de novos medicamentos e até cura dos vários tipos de cancro. MJG

Arquivador de blocos de parafina, onde se conservam os frgamentos de tumor que não são congelados e que são utilizados para diagnóstico e investigação.

Imagens cedidas por Fátima Carneiro, Coordenadora do Projecto da rede Nacional de Bancos de Tumores

Fragmento de um tumor no estômago em imagem de um banco de tumores virtual para visualização online.

Page 20: Revista HdF Nº7

Prevenir em vez de remediar. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem duas unidades móveis onde a preven-ção é a palavra de ordem. O objecti-vo é levar as pessoas voluntariamente às unidades para fazerem rastreios e aprenderem os cuidados que devem ter com a sua saúde. Em época de ca-lor, nada melhor do que ir ter com as pessoas à praia.

As unidades são compostas por dois gabinetes, uma sala de espera, uma casa-de-banho e uma arrecadação e funcionam desde Outubro do ano pas-sado. No Verão, a Santa Casa resolveu ir também até às praias. A iniciativa “Saúde na Praia” é da responsabili-dade da Saúde Proximidade da Santa Casa em conjunto com o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão e o Hospital de Sant’Ana e decorre entre Julho e Setembro. A organiza-ção conta ainda com a colaboração da Câmara Municipal de Cascais e com o Projecto “Os marésinhas”, da Polícia Municipal de Cascais. Neste primeiro ano começou-se pelas praias de Cascais e Oeiras.

A adesão tem sido muito positiva, como disse à HdF a enfermeira-coor-denadora do projecto, Guida Amo-rim. De manhã dão mais atenção às

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A Santa Casa da Mise-ricórdia de Lisboa está a apostar na prevenção em saúde. Para isso tem uma unidade móvel que, este ano, andou pelas praias de Cascais e Oei-ras.

Saúde na Praiacrianças e à tarde aos adultos. As co-lónias de férias têm aderido bastante bem à iniciativa, que conta com vários jogos, para que as crianças possam aprender brincando. Os mais peque-nos têm, assim, à sua disposição vá-rias actividades lúdico-pedagógicas, nomeadamente jogos de alimentação e confecção de refeições, cuidados a ter com o sol, jogos do livro da As-sociação Portuguesa de Cancro Cutâ-neo “Zé Pintas”, contos, actividades sobre segurança balnear, prevenção de acidentes de mergulho e informa-ções sobre a postura corporal.

Na unidade não se realizam apenas sessões de esclarecimento. Também se realizam rastreios cardiovasculares e de obesidade. Os mais velhos tam-bém costumam estar presentes. “Em alguns dias, mal chegamos à praia, já temos entre 20 a 30 adultos à nossa espera”, afirma Guida Amorim.

A iniciativa na praia acaba com a che-gada do Outono, mas continua nou-tras paragens. As campanhas de pro-moção em saúde vão continuar nas escolas, assim como à porta dos bares e discotecas, onde até se tem a pos-sibilidade de fazer o teste de alcoole-mia. O trabalho destes profissionais não fica por aqui. Os imigrantes e as

prostitutas também podem fazer ras-treios e conhecer melhor o que devem fazer para uma melhor saúde e se, ini-cialmente, reagiam com desconfian-ça, neste momento já se aproximam da unidade. Sempre que é necessário resolver algum problema social mais complicado, são accionados os meios necessários para ajudar a pessoa.

Com a saúde não se brinca e a pre-venção é essencial. Afinal, vale mais prevenir do que remediar. MJG

DADOS DO MêS DE jULhO“SAÚDE NA PRAIA”

Fonte: Projecto Saúde de Proximidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Utentes que passaram pelas Unidades Móveis: 1604

Utentes rastreados: 1042 (420 homens e 622 mulheres)

Encaminhamentos realizados: 45

Sessões de educação para a saúde em grupo: 54

Participantes nas sessões de educação para a saúde: 562

Notícia

Font

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CML

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O acesso à Inovação Terapêutica é um tema polémico, que dificilmente gera consensos, e foi tema de debate no Lunch&Learn de 30 de Junho, com a Directora da Direcção Económica e de Produtos de Saúde do Infarmed, Isau-ra Vieira, e o Presidente do Conselho de Administração do Hospital Curry Cabral, Manuel Delgado, como ora-dores da sessão. O Infarmed faz desde 1998 a avaliação da comparticipação em ambulatório: os medicamentos são avaliados para se saber se preenchem uma lacuna te-rapêutica e se demonstram Valor Te-rapêutico Acrescentado (VTA). Neste

Há cerca de um ano que todos os medicamen-tos inovadores têm de ser aceites, em primeira mão, pelo Infarmed. Uma medida que foi tomada para se evitar, segundo os seus responsáveis, a entrada de medicamen-tos nos hospitais que não trazem mais-valias económicas e de saúde.

Acesso à Inovação Terapêutica

2 1 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

Isaura Vieira, Luz Rodrigues e Manuel Delgado (esquerda para direita)

último caso, têm de demonstrar que da acção do medicamento decorrem resultados favoráveis na modificação da morbilidade, mortalidade ou quali-dade de vida do doente, face às alter-nativas existentes. Em termos de avaliação hospitalar, Isaura Vieira referiu que os dados de 2007 mostram uma crescente com-plexidade e especificidade dos novos medicamentos, uma harmonização nas decisões a nível nacional, raciona-lização na utilização dos medicamen-tos e eficiência na gestão dos recursos públicos. Todos os medicamentos ava-liados foram sujeitos a comparações com todas as alternativas terapêuti-cas disponíveis, foi avaliado se tinham uma maior eficácia e/ou segurança comparada, face às alternativas tera-pêuticas disponíveis (VTA), uma maior conveniência posológica e uma me-lhor relação entre custo, efectividade e utilidade face às alternativas tera-pêuticas disponíveis. A avaliação que é exigida tem alguns constrangimentos, segundo a respon-sável. Há dificuldades na obtenção de evidência que comprove a VTA, há dificuldades na avaliação de medica-mentos destinados a doenças raras, na incorporação da informação dis-ponível para estimar o custo-efectivi-dade dos medicamentos, na evidência

de custo-efectividade em subgrupos populacionais, para além de haver dificuldades na obtenção de dados nacionais e o posicionamento do me-dicamento face às alternativas. O Presidente do Conselho de Admi-nistração do Hospital Curry Cabral também considera que há constrangi-mentos, mas que estes não são insu-peráveis. Manuel Delgado considera que os seguintes elementos poderão facilitar a avaliação: contratualização interna, descentralização orçamental, criação e desenvolvimento de gabine-tes de avaliação/de estudos nos hospi-tais, com o apoio à decisão, formação em Economia da Saúde e Gestão de Organizações de Saúde, cultura de re-sultados e incentivos ao desempenho. Tudo em nome do acesso à inovação terapêutica. MJG

Pedidos submetidos para avaliação do Infarmed desde 2007 (Fonte: Infarmed)

Data: 30 de Junho de 2008

Local: Hotel Villa Rica, Lisboa

Oradores: Isaura Vieira, Directora da Direcção de Economia do Medicamento e Produtos de Saúde, InfarmedManuel Delgado, Presidente do Conselho de Administração, Hospital Curry Cabral

Moderador:Luz Rodrigues, Professor, Instituto de Farmacologia e Neurociências da Facul-dade de Medicina de Lisboa e Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa

FIChA TÉCNICA

2007 2008 TotalPedidos submetidos 23 14 37Avaliação concluída 4 14 18Não aplicável 2 5 7Proposta de indeferimento 0 2 2Deferimento 2 7 9Negociação/ Contratualização concluída 2 2 4Em negociação/ Contratualização – 5 5Em avaliação – 19 19

Lunch&Learn

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Lunch&Learn

A Diabetes é um flagelo cada vez maior na sociedade actual, principalmente nos países mais desenvolvidos. Já es-tão a ser tomadas várias medidas, mas ainda é necessário limar muitas ares-tas. A melhor “arma” é a prevenção. A Diabetes Mellitus está a aumentar em Portugal e no mundo e as reper-cussões humanas, sociais e económi-cas já se fazem sentir. No Lunch&Learn sobre esta temática, no passado dia 9 de Julho, no Porto, o Presidente da Associação Protectora de Diabéticos de Portugal (APDP), Luís Gardete, co-meçou a sua intervenção com alguns dados da IDF Diabetes Atlas (3ª Edi-ção de 2006) que revelam bem este aumento: em 2025 deverá haver 380 milhões de diabéticos, mais 55% de pessoas relativamente às previsões para 2007. Em termos de prevalência na União Europeia, na faixa etária dos 20 aos 79 anos, estima-se que haja um aumento superior a 19% de dia-béticos em 2025. Esta realidade acaba por ser também um reflexo das mudanças dos hábi-tos alimentares que têm ocorrido nos últimos anos, segundo Luís Gardete. Exemplo disso é o consumo, em ex-cesso, de comida fast-food e a dimi-nuição do consumo de produtos ve-getais e hortícolas. As consequências na saúde são inevitáveis, salientou o responsável. Neste momento, a diabe-tes é a primeira causa de insuficiência renal, a primeira causa de cegueira, a primeira causa de amputações não traumáticas, para além de aumentar

: 2 2 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

A Diabetes em Portugal e no Mundo: repercussões humanas, sociais e económicas

Data: 5 de Julho de 2008

Local: Hotel Vila Galé, Porto

Oradores:Helena Cardoso, Serviço de endocrino-logia, Diabetes e Metabolismo, Hospital Geral de Santo AntónioLuís Gardete, Presidente da Associação Pro-tectora de Diabéticos de Portugal (APDP)

Moderador:José Luís Medina, Director do Serviço de Endocrinologia do Hospital São João, Presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia

Ano Nº de pessoas com Diabetes 1995 513.000 2007 648.000 2025 808.000

Evolução da Diabetes em Portugal (Fonte: IDF Diabetes Atlas, Brussels, 2006)

as doenças cardiovasculares e os Aci-dentes Vasculares Cerebrais (AVC), as lesões neurológicas e os custos do sis-tema de Saúde. A União Europeia também já definiu algumas medidas prioritárias para se definir estratégias de prevenção na população e nos grupos de alto risco, planos nacionais de saúde, aumento de verbas para investigação, entre outras medidas. Luís Gardete referiu ainda a importância do modelo de prevenção da ONU que abrange vários sectores da sociedade, como as escolas, o Go-verno, as equipas de saúde e a socie-dade civil, para se informar e prevenir a doença que já se tornou numa “pan-demia silenciosa”, no seu entender. A Directora do Serviço de Endocrinolo-gia, Diabetes e Metabolismo do Hos-pital Geral de Santo António, Helena Cardoso, chamou também a atenção para o peso dos mais novos. O ex-cesso de peso e a obesidade são dos principais factores que levam ao apa-recimento da doença, principalmente da diabetes tipo 2, que se deve, em grande parte, a maus hábitos alimen-tares, ao contrário da diabetes tipo 1, que tem causas mais genéticas. A endocrinologista defendeu uma aposta cada vez maior na prevenção da doença, nomeadamente junto das camadas mais jovens, que acabam, de alguma forma, por sensibilizar os mais velhos. Opinião corroborada pelo Di-rector do Serviço de Endocrinologia do Hospital de São João e Presidente da Sociedade Portuguesa de Endocri-

nologia, José Luís Medina, moderador da sessão. Apesar de já haver algumas medidas tomadas, a sociedade preci-sa de continuar a envolver o meio fa-miliar, as escolas e os profissionais de saúde para que se previna o flagelo da diabetes. No entender de Helena Car-doso, é essencial apostar-se no empo-deramento das pessoas, para que te-nham hábitos alimentares e estilos de vida mais saudáveis: ter uma alimen-tação à base de fibras, legumes, frutas e leguminosas, e não tanto de fast-food, e praticar mais exercício físico. Helena Cardoso chamou a atenção para o facto de que a actividade fí-sica não implica necessariamente a ida para um ginásio, bastando a ac-tividade física diária, nomeadamente andar e descer e subir escadas. Em termos de política de saúde, a médi-ca aconselhou a aposta em medidas que permitam a qualquer pessoa ter uma alimentação e um estilo de vida saudáveis. Exemplo disso é a criação de caminhos pedestres, o incentivo ao uso de transportes públicos, a cria-ção de áreas de lazer e de desporto, a melhoria das ementas nas cantinas es-colares e a criação de medidas fiscais que incentivem à compra de alimen-tos mais saudáveis. MJG

FIChA TÉCNICA

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2 3 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa, lenta e progressiva, caracterizada pela per-da de neurónios dopaminérgicos da substância nigra. A clínica clássica é o tremor, a bradicinésia ou extrema lentidão dos movimentos e a rigidez dos membros e/ou do corpo. Também podem existir alterações dos reflexos posturais com desequilíbrios e quedas, alterações cognitivas e demência. A DP inclui-se no grupo de doenças associadas à idade, aumentando a in-cidência nos grupos etários mais ido-sos. Aproximadamente 1% da popu-lação mundial com mais de 65 anos terá DP e prevê-se que a frequência aumente com o envelhecimento geral da população.Actualmente, não existe qualquer medicamento que diminua ou trave a progressão da doença (fármacos neuroprotectores). Os medicamentos comercializados, levodopa e agonis-tas dopaminérgicos, têm como acção o tratamento dos sinais e sintomas da doença (fármacos sintomáticos). A levodopa é o mais eficaz no con-trolo dos sintomas, melhorando sig-nificativamente a gravidade das ma-nifestações clínicas, controlando o grau de incapacidade e aumentando a qualidade de vida. Mas a sua utili-

Cirurgia da Doença de Parkinson Avançada

zação durante 5 a 10 anos desenvolve novos sintomas: graves complicações motoras; alterações do humor, cogni-tivas, da função autonómica e sensi-tivas. Estes sintomas não se verificam em doentes não medicados. Nos primeiros anos da DP, existem sin-tomas ligeiros que interferem mode-radamente nas tarefas da vida diária (tremor de algum membro, alterações da escrita,…) que a medicação con-segue controlar. No entanto, passado este período, observa-se uma perda da sua eficácia, com pior controlo do parkinsonismo, surgindo flutuações motoras e discinésias (movimentos in-voluntários) e dificuldade em engolir ou falar. Mais tarde, surgirá a demên-cia e a psicose, tornando os doentes muito dependentes e incapacitados. A esperança de vida, após o início dos sintomas, é em média, de 15 anos. Na fase avançada da doença, surge como alternativa terapêutica a ci-rurgia. Esta pode ser efectuada pela lesão de um núcleo cerebral ou por estimulação profunda desta estrutu-ra. É preciso esclarecer que a cirurgia da DP é, igualmente, um tratamento sintomático, não curativo, mas extre-mamente eficaz no desaparecimento da rigidez, na abolição do tremor de repouso e de acção, na redução mar-

cada das discinésias invalidantes e na diminuição drástica da necessidade de medicação antiparkinsónica. O tratamento cirúrgico ablativo da DP foi bastante utilizado nas décadas de 50 e 60, sendo depois praticamente abandonado devido ao aparecimento da levodopa, que teve uma enorme expansão e repercussão no tratamen-to dos doentes parkinsónicos. Então, porquê este renovado interesse pela cirurgia? Vários factores estão impli-cados:– Nos estádios avançados da doença,

utilizando todas as alternativas tera-pêuticas existentes, muitos doentes continuam incapacitados;

– Actualmente, existe um melhor co-nhecimento da organização funcio-nal das estruturas - gânglios basais - responsáveis pelo desenvolvimen-to da DP. Existem vários núcleos en-volvidos, situados na base do cére-bro, sendo consensual a existência de hiperactividade dos núcleos sub-talâmicos (STN’s), visando a cirurgia anular esta alteração;

– O procedimento cirúrgico com esti-mulação cerebral bilateral revelou-se eficaz, seguro e reversível, ao con-trário das antigas técnicas cirúrgicas que provocavam uma lesão irrever-sível do núcleo.

Maria Begoña CattoniNeurocirurgiã do

Hospital de Santa Maria

Cirurgia Inovadora

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: 2 4 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

Nos anos 90, no Serviço de Neuro-cirurgia do Hospital de Santa Maria (HSM) surgiu a iniciativa de desen-volver um programa de tratamento cirúrgico da DP avançada. Isto só foi possível anos depois, após a criação do Departamento de Neurociências e Saúde Mental, que actualmente en-globa os Serviços de Neurologia, Neu-rocirurgia e Psiquiatria. Em Janeiro de 2006, foi intervencionado o primeiro doente, com o procedimento deno-minado DBS (Deep Brain Stimulation) ou Estimulação Cerebral Profunda dos núcleos subtalâmicos. Até hoje, foram operados 30 doentes, com resultados excelentes, similares aos dos centros cirúrgicos de referência a nível inter-nacional. Este projecto implica o funcionamen-to duma equipa médica multidiscipli-nar, altamente qualificada e experien-te. O Serviço de Neurologia do HSM, através da Consulta de Doenças do Movimento, é ponto de referência no país, no acompanhamento especiali-zado destes doentes, pois dispõe de vários especialistas que proporcionam um apoio permanente, antes, durante e depois da intervenção cirúrgica. O Serviço de Neurocirurgia, com vasta experiência e tradição na cirurgia es-tereotáxica e funcional, disponibiliza vários neurocirurgiões, para a reali-zação desta técnica. Paralelamente, desenvolve-se o trabalho de diferen-tes especialistas: neurorradiologistas, neurofisiologistas, neuropsicólogos e psiquiatras, para uma completa ava-liação neuropsicológica e imagiológi-ca do candidato à DBS. A selecção dos candidatos à cirurgia é muito rigorosa, feita pela equipa de

neurologistas do movimento, tendo como principais critérios: idade infe-rior a 70 anos; alto grau de incapa-cidade apesar de esgotadas todas as estratégias terapêuticas; boa resposta à levodopa e inexistência de demên-cia, depressão severa ou alterações do comportamento. A cirurgia é um pro-cesso complexo e dispendioso, com um risco não negligenciável, que exi-ge um grande empenho do doente, dos familiares e da equipa médica.

com o registo da sua actividade eléc-trica e pelo posterior estudo dos efei-tos clínicos benéficos e adversos da estimulação.Nesta fase, a colaboração do doente é crucial, realizando as manobras que o neurologista pede, com o intuito de orientar a localização definitiva do eléctrodo de estimulação crónica, para atingir o melhor controlo sinto-mático, minimizando os efeitos se-cundários. Os resultados da interven-ção estão dependentes da precisão do acto cirúrgico, com a implantação milimétrica dos eléctrodos na posição escolhida.Depois, já sob anestesia geral, segue-se a implantação na região subclavi-cular esquerda do neuroestimulador (bateria) que há-de proporcionar um estímulo eléctrico constante aos eléc-trodos colocados na profundidade do cérebro. Todo o processo descrito de-mora, em média 10-12 horas.Num futuro muito próximo, o grupo de neurocirurgia funcional das doen-ças do movimento do HSM tenciona aumentar o ritmo de intervenções com DBS nos doentes parkinsónicos. Simultaneamente, irá ser iniciado um novo projecto para abranger o trata-mento cirúrgico de outras patologias incapacitantes, como as distonias ou o tremor essencial.

Quadro estereotáxico LEKSELL, fixado na cabeça do doente acordado, durante a cirurgia.

Planificação feita em computador

Esquema da implantação na região subclavicular do neuroestimulador (bateria) que proporciona um estímulo eléctrico constante aos eléctrodos colocados no cérebro.

Descrição do procedimento cirúrgico

A estimulação cerebral profunda re-quer uma correcta identificação ima-giológica dos STN’s. Assim, o doente, que parou a sua medicação antipar-kinsónica 12 horas antes, realizará no próprio dia da cirurgia uma TAC em condições estereotáxicas. O neuroci-rurgião fixa um quadro referenciador rígido na cabeça do doente acordado, com a ajuda de anestesia local. De-pois, com a ajuda de um sofisticado programa informático, fará a fusão da TAC estereotáxica com a ressonância magnética (RM), realizada dias antes da intervenção. Após a localização dos STNs, é feita a definição do ponto de entrada craniano e a determinação do trajecto cirúrgico, evitando danificar certas estruturas encefálicas durante a passagem dos eléctrodos de registo e estimulação (orientação estereotáxica guiada por RM ou neuronavegação).Já no bloco operatório, o doente per-manece consciente e monitorizado pelo anestesista. Inicia-se a fase pro-priamente cirúrgica, durante a qual uma equipa de dois neurocirurgiões insere os microelectrodos, segundo a trajectória previamente estudada. A posição dos STN´s tem de ser ago-ra confirmada intra-operatoriamente

Cirurgia Inovadora Fo

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Na actualidade colocam-se importan-tes desafios no contexto da seguran-ça do doente (“patient safety”). Es-ses desafios têm sido essencialmente abordados numa perspectiva global da qualidade em saúde, ainda que inicialmente tenham sido os aspectos relacionados com o “erro médico” (ou, se se preferir, o “erro clínico”) a concentrar as atenções. Claro que se encontram implicados outros aspectos para além do erro clínico, destacando-se o erro medicamentoso e a infecção relacionada com a prestação de cui-dados clínicos.A ocorrência de efeitos indesejados em doentes submetidos a prestação de cuidados, principalmente em hos-pitais, atinge valores da ordem dos 10 a 15%, sendo cerca de 5 a 7% gra-ves, de que podem resultar óbitos. A abordagem habitual dos aspectos relacionados com a segurança do do-ente tem-se centrado essencialmente numa perspectiva de acontecimento acidental em que as variáveis individu-ais são decisivas para a sua ocorrência. De facto, tem sido muito descurada a abordagem sistémica do problema,

A segurança do doente também depende da saúde e segurança de quem presta cuidados

António Sousa Uva, Médico do trabalho e professor catedrático de Saúde Ocupacional (Escola Nacional de Saúde Pública - Universidade Nova de Lisboa ENSP/UNL)

Florentino Serranheira, Ergonomista e professor auxiliar de Saúde Ocupacional (ENSP/UNL)

centrada essencialmente na perspec-tiva da prevenção dessas ocorrências. Apesar disso as unidades de saúde, aparentemente, não conseguem criar sistemas “perenes” de aprendizagem com os erros. Esses ficam muitas ve-zes por identificar, devido à insufici-ência de mecanismos de referencia-ção desses acontecimentos (ou quase acontecimentos) ou por incapacidade de investigação das relações “causa-efeito”.A perspectiva mais dominante na saú-de assenta no modelo da “perfeição”, em que o erro não é admissível e que, quando existente, implica a conse-quente “culpa”. Trata-se de um mo-delo essencialmente explicativo dos incidentes (e mesmo assim “míope”) e pouco eficaz para a sua prevenção.A redução da probabilidade do erro deve iniciar-se com a concepção de todos os elementos do sistema de prestação, desde a “arquitectura hos-pitalar” aos “suportes à prestação de cuidados”. Desde logo a “arquitectu-ra hospitalar” deveria ter objectivos de segurança e funcionalidade não só em função da prestação de cuida-

dos mas também tendo em atenção os aspectos ergonómicos (sistémicos), também dos prestadores. Os ambientes hospitalares, nas suas componentes espaciais, funcionais e relacionais, são frequentemente subvalorizados. Constata-se que al-guns elementos, designadamente a implantação, a volumetria e a estéti-ca exterior dos edifícios, influenciam negativamente as componentes da funcionalidade e por consequência aspectos decisivos da segurança, do bem-estar e do conforto do doente e dos prestadores de cuidados. Assim, na (re)concepção de postos de trabalho seguros e saudáveis, para trabalhadores igualmente seguros e saudáveis, é fundamental a integra-ção de informação como por exemplo (1) a relação antropométrica com as dimensões dos equipamentos mais frequentemente utilizados - as ca-mas, os catres, as cadeiras de rodas ou as superfícies de trabalho, (2) a carga de trabalho “aceitável” face às características, capacidades “reais” dos nossos profissionais de saúde e (3) a análise (ergonómica) das situa-

Gestão & Economia da Saúde

Page 26: Revista HdF Nº7

: 2 6 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

ções reais de trabalho (nos seus três níveis: condicionantes do trabalho, actividade de trabalho e efeitos para a saúde). É pois indispensável que a concepção dos serviços de saúde (clí-nicas, centros de saúde ou hospitais) integre informação sobre as caracte-rísticas humanas e sobre o trabalho real dos diversos profissionais de saú-de em meio hospitalar, considerando efectivamente o que é efectuado e como é efectuado. Só dessa forma se poderão compreender as situações de trabalho e fornecer informação para a concepção de sistemas seguros em função de quem os usa e adequados aos utilizadores.Por exemplo, uma tarefa de adminis-tração de um injectável intramuscular é habitualmente “tipificada”, ou seja, é por hábito considerada como um procedimento idêntico independente-mente de cada contexto e de quem executa essa actividade. Tal tarefa não pode ser considerada como “deter-minista” e a diminuição da probabi-lidade de acontecimento indesejado passa por considerar, entre outros: (1) a morfologia da mão/dedos de modo a facilitar a “pega” da ampola/frasco; (2) o reconhecimento inequívoco, quer pela forma, quer pelos rótulos e cores; (3) o processo de abertura fácil para a maioria dos profissionais de saúde sem esforço acrescido; (4) as posturas assumidas face aos equipamentos e sua disposição e (5) o procedimento de transvaze previsto em local ade-quado no sentido de minorar even-tuais más práticas; (6) a proximidade de contentor para a colocação em segurança das agulhas após utilização e (7) a antecipação de todas as situa-ções de carga mental e de stresse de modo a permitir que os mecanismos de regulação do profissional, em fun-ção das exigências reais, possam ge-rir essas solicitações e obter níveis de segurança elevados na prática clínica. Só partindo dessa informação e inte-grando, entre outros: (8) a divisão or-ganizacional e funcional até à escala dos postos de trabalho nos diversos contextos; (9) as relações (e sua su-cessão), a montante e jusante, entre os postos de trabalho; (10) as comu-nicações necessárias; (11) os equipa-mentos adequados e os meios mais frequentemente utilizados; (12) as exigências técnicas particulares, quer clínicas, quer de contextos de apren-dizagem clínica e (13) as condições de trabalho em que toda actividade se

desenvolve, será possível que o “es-paço” seja o adequado às necessida-des e ao número de utilizadores pre-visto, assim como aos profissionais de saúde. Devem ainda ser considerados importantes (14) a correcta definição dos espaços de trabalho e das áreas de utentes, (15) a identificação das ca-racterísticas dos equipamentos a utili-zar e (16) a flexibilidade e a adaptação dos espaços e da sua organização.Também os aspectos relativos às con-dições de trabalho dos prestadores de cuidados em matéria de saúde e se-gurança do trabalho nem sempre são valorizados e bastaria a esse propósito referir as necessidades de adequação da temperatura, dos níveis de ruído, da humidade relativa, da iluminação ou ainda dos aspectos da ventilação nos espaços hospitalares.Assim, se os recursos humanos são decisivos para tratar os doentes, os aspectos da sua interacção com o ambiente físico e organizacional são igualmente decisivos. Desde logo, as-pectos como a dimensão das equipas ou da sua relação com os doentes tratados poderão ter consequências directas em aspectos como a adminis-tração de fármacos, registo documen-tal de procedimentos ou qualidade das práticas. O trabalho por turnos e o trabalho nocturno, as amplas jor-nadas de trabalho de muitos profis-sionais ou a tensão relacionada com a emergência de acção em inúmeras situações são igualmente situações que devem ser objecto de atenção

por parte de quem concebe novos (ou futuros) hospitais.A melhoria da segurança dos doen-tes está portanto intimamente ligada à melhoria da saúde e segurança dos prestadores e à concepção de siste-mas em função de quem os utiliza. Exige-se por isso o desenvolvimento de uma cultura de qualidade que deve fazer parte da cultura da organização e em que a concepção dos sistemas de trabalho deve ter presente que os clínicos são sua parte integrante. A promoção da saúde e do bem-estar dos profissionais de saúde e a ergono-mia são por isso elementos determi-nantes na segurança dos doentes. De facto a segurança do doente não está só dependente de eventuais caracterís-ticas individuais, por exemplo relacio-nadas com a experiência (ou a persona-lidade) dos prestadores, mas também de aspectos organizacionais e técni-cos, como os respectivos climas orga-nizacionais e ambientais de trabalho. O hospital do futuro deve portanto in-tegrar na sua concepção uma compo-nente indutiva de utilização da infor-mação sobre a actividade de trabalho e os postos de trabalho onde se cuida de doentes, que permita estabelecer relações funcionais entre esses, com os espaços, os circuitos e as compo-nentes edificáveis. Só desse modo se valorizarão os aspectos de estrutura e de processo para a obtenção dos melhores resultados em ganhos de saúde.

Se os recursos humanos são decisivos para tratar os doentes, os aspectos da sua interacção com o ambiente físico e organizacional são igualmente decisivos

Gestão & Economia da Saúde

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2 7 :Setembro 2008 / Hospital do Futuro

A Medicina Interna

A Medicina Interna (MI) nasceu em 1882 (Wiesbaden), numa altura em que os avanços científicos modificaram de for-ma sensível a forma de actuar dos médi-cos. Após séculos de Medicina praticada pelos “físicos”, baseada no legado de Hipócrates, Galeno e Avicena, uma séria evolução nos conhecimentos de anato-mo-patologia e bacteriologia fez com que os próprios médicos sentissem ne-cessidade de se reinventar. Os princípios estruturais e éticos mantiveram-se, mas o modo de abordagem do diagnóstico, e a consequente evolução terapêutica, motivaram o nascimento da MI.A MI viu-se, pouco depois do seu nas-cimento, confrontada com a incapaci-dade de dominar todas as técnicas de diagnóstico e terapêutica emergentes e que estiveram na origem das várias sub-especialidades (SE) médicas como a Cardiologia, a Nefrologia, a Pneumolo-gia, etc.Os Hospitais foram-se modificando, tra-duzindo internamente o aparecimento das SE, tendo surgido os Serviços de Cardiologia, Gastrenterologia, etc. Este modelo manteve alguma funcionali-dade, porque os internistas foram as-

A Medicina Internae o futuro dos Hospitais

1º França

2º Itália

3º São Marino

4º Andorra

5º Malta

6º Singapura

7º Espanha

8º Oman

9º Áustria

10º Japão

11º Noruega

12º Portugal

18º Reino Unido

23º Suécia

31º Finlândia

34º Dinamarca

37º EUA

António Martins BaptistaVice-Presidente da Sociedade Portuguesa

de Medicina Interna

segurando uma série de funções, que supriam os hiatos em que nenhuma das SE se revia. Foram sendo assim o cimen-to que reunia todos os tijolos e garantia alguma solidez ao edifício hospitalar. As Urgências externas e internas, as Con-sultas externas e internas foram col-matando as falhas que iam surgindo. Quando o doente não é de ninguém, então é da MI. Quando os órgãos afec-tados são “demais” e os médicos “de um só órgão” não se sentem à vontade com a situação, então os internistas são chamados a entrar em acção. Quando o doente está, há tempo de mais, a passar de especialidade para especiali-dade, sem diagnóstico, porque as suas manifestações são variadas e difíceis de enquadrar, lá está o internista para de-sembaraçar o novelo.Entretanto, a hipervalorização, também retributiva, dos actos técnicos (ecocar-diograma e endoscopia, por exemplo), implicou a desvalorização do raciocínio clínico e do tempo passado à cabecei-ra do doente, tendo contribuído para afastar os jovens médicos da MI. E por todo o Mundo começaram a faltar in-ternistas. E os tais doentes que não per-tencem a ninguém ficaram mesmo sem médico para lhes acudir.

É muito interessante constatar que os países onde os sistemas de saúde têm uma forte componente de MI, como França, Itália, Espanha e Portugal, este-jam entre os melhores na famosa classi-ficação da OMS de 2000 (ver tabela).Nos últimos anos, para garantir a con-tinuidade assistencial, alguns países modificaram a organização dos seus hospitais, “reinventando” os internistas

Classificação dos Sistemas de Saúde no Relatório da OMS de 2000

Opinião

Page 28: Revista HdF Nº7

Opinião

: 2 8 Setembro 2008 / Hospital do Futuro

entretanto perdidos, nomeadamente nos EUA com o aparecimento dos hos-pitalistas e no Reino Unido com o apa-recimento dos médicos dos Cuidados Intermédios.No primeiro caso, tomaram consciência de que os doentes estavam demasia-do tempo internados, “abandonados” à espera do seu médico (com prática predominantemente de ambulatório). Começaram então a contratar médicos de MI para assegurar a continuidade assistencial. Estes médicos, chamados hospitalistas, têm vindo a ganhar prestí-gio e têm já por sua conta um terço do Congresso Anual do American College of Physicians.No segundo caso, no Reino Unido, os doentes, por disposição regulamentar, não podem ficar mais de seis horas no Serviço de Urgência. Como às seis horas alguns doentes ainda estão instáveis e os médicos dos Serviços das SE não do-minam a patologia de urgência fora do âmbito da sua SE, recusam-se (depois de algumas fatalidades) a receber estes doentes. Apareceram assim os “espe-cialistas em Cuidados Intermédios”, ge-neralistas, que vêem os doentes entre as seis e as 48 horas e que acabam por dar apoio a todo o Hospital. São estes médi-cos que têm vindo a pedir aproximação às organizações de MI europeias.Mas não se pense que o assunto está resolvido. Por todo o lado a fúria sub-especializadora ainda grassa, com pe-didos múltiplos de criação de Urgen-tologia, Geriatria, etc., e com algumas especialidades, sem campo nítido de acção nem razão de existir, a quererem exclusividade na observação dos “seus” doentes. Este é um movimento que tem de ser travado, sob pena de perdermos a enorme vantagem de ainda termos uma MI universal, activa, prestigiada e dedicada ao Hospital. Os custos econó-micos desta via são, como muitos países estão agora a perceber, altíssimos.

A realidade hospitalar actual

Actualmente a maioria dos Hospitais estão ainda organizados em Serviços por especialidades. Os doentes inter-nados nesses serviços são observados pelos médicos dessas especialidades. São conhecidas as dificuldades que as várias SE cirúrgicas têm na abordagem de problemas médicos tão banais como a hipertensão ou a diabetes. Não estão treinados para isso.A Urgência Interna de MI é frequente-mente chamada, quase sempre tarde,

Nos últimos anos, para garantir a continuidade assis-tencial, alguns países modificaram a organização dos seus hospitais, “reinventando” os internistas entretanto perdidos, nomeadamente nos EUA e no Reino Unido.

quando o doente se encontra muito mal e sem informação no seu processo clínico, o que condiciona uma actuação menos orientada do que seria exigível em boa prática assistencial.Os internistas, que deveriam intervir preventivamente, continuam a ser mui-tas vezes considerados os bombeiros de serviço do hospital.Contudo, as modificações a este estado de coisas têm esbarrado com a intransi-gência que qualquer mudança sempre encontra e com a sensação de perda de poder que os dirigentes dos vários Servi-ços sentem, sempre que se fala em alte-rações da orgânica da organização.

O Hospital do futuro visto pelos in-ternistas

O Hospital do futuro (de que já há mo-delos a funcionar) responde a novos de-safios. O Hospital deixa de ser um lugar para os doentes estarem, mas antes um Hospital de agudos, com muita tecnolo-gia incorporada, mas onde os doentes permanecem pouco tempo – interna-mentos curtos e com grandes áreas de ambulatório – hospital de dia e cirurgia de ambulatório.O internamento deixa de ser a base da organização e os serviços de inter-namentos tendem a ser gerais, geridos para uma adequada utilização deste recurso, com harmonização da ocupa-ção. A gestão clínica é departamentada, com Chefes de Serviço a gerir áreas di-versas, com apoio das SE respectivas. E em todas estas áreas o trabalho clínico de base é efectuado pelos internistas. O responsável pelo internamento congre-ga regularmente (três vezes por sema-na) os vários especialistas (MI e SE) para resolverem em conjunto as situações complexas e que carecem de apoio das diferentes especialidades, sendo que todos os doentes têm o seu internista de referência. Os doentes cirúrgicos têm também o seu internista de referência a partir de determinada idade, ou sempre que há patologia médica conhecida.Não custa imaginar que um doente or-topédico é muito melhor seguido se à sua entrada tiver um internista que o observe e medique as doenças médicas, um ortopedista que observe as doenças ortopédicas, eventualmente o opere e o pós-operatório for seguido pelos dois, com o internista a ter a palavra final so-bre a medicação que o doente leva para ambulatório.Também um doente cardiológico pode

ser recebido à entrada por um internista, que se aconselhe e peça os exames de diagnóstico e terapêutica ao cardiologis-ta, mas que entretanto vá controlando a Diabetes Mellitus e a doença pulmonar que o doente também apresenta, se ne-cessário com o apoio do pneumologista e do endocrinologista, todos a trabalhar no mesmo espaço. Este modelo permite uma enorme efici-ência na gestão dos recursos materiais por um lado e dos recursos humanos por outro, com cada profissional a fa-zer aquilo em que é mais proficiente. Os SE a executarem exames, a darem consultas, a operar, enquanto os profis-sionais da clínica (os internistas) fazem o seguimento rigoroso da evolução clíni-ca, aconselhando-se quando necessário com os sub-especialistas.Algumas experiências, como a do Hos-pital Pedro Hispano ou do Hospital do SAMS, embora parcelares e incomple-tas, demonstram que este modelo é viável, economicamente rentável, pres-ta cuidados de qualidade e dá enorme gratificação aos profissionais que nele trabalham.Numa altura em que a população é cada vez mais idosa, e portanto cada vez mais multidisciplinar, e os recursos materiais e humanos cada vez mais limitados, esta é a única fórmula que permitirá ao nos-so Sistema de Saúde continuar a prestar cuidados universais de qualidade aos nossos doentes.

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Estas Jornadas, organizadas com a colaboração da Escola Superior de Tecnologia e Gestão e da Escola Su-perior de Saúde daquele Instituto, vão integrar temas como soluções infor-máticas para serviços de saúde, novas tecnologias e deontologia médica, telemedicina, dispositivos médicos e medicina do futuro, entre outros.Divulgar o que existe de mais expressi-vo ao nível das tecnologias aplicadas à saúde; estabelecer o diálogo entre in-vestigadores e profissionais/estruturas de saúde (médicos, enfermeiros, téc-nicos, estudantes de Medicina); dar a conhecer novos projectos, permitir uma maior interacção entre ensino superior e as empresas vocacionadas para as áreas referenciadas consti-tuem os principais objectivos destas Jornadas, à semelhança do que acon-teceu no primeiro evento realizado em 30 de Abril do corrente ano.

Incrementar o diálogoAtravés dessa realização, o Instituto

II Jornadas sobre

Tecnologia e Saúde

O Instituto Politécnico da Guarda (IPG) vai pro-mover, no dia 30 de Abril de 2009, as II Jornadas sobre Tecnologia e Saúde.

Politécnico da Guarda deu sequência ao ciclo iniciado em 2007 com a reali-zação das I Jornadas Interdisciplinares sobre Tuberculose. “O êxito dessa iniciativa, que foi su-blinhado pelos mais insuspeitos teste-munhos, reforçou a nossa convicção no interesse e oportunidade deste tipo de acções informativas e forma-tivas”, tal como afirmou o Presidente do IPG, Prof. Jorge Manuel Mendes, na sessão de abertura das I Jornadas sobre Tecnologia e Saúde.“Se em 2007 a temática escolhida foi associada a uma efeméride parti-cularmente grata para a Guarda – a passagem do centésimo aniversário da inauguração do Sanatório Sou-sa Martins -, entendemos que seria oportuno centrar esta nova iniciativa sobre a interacção entre Tecnologia e Saúde”, acrescentou o Presidente do IPG na sua intervenção.“Desde logo pelo maior envolvimen-to de duas Escolas Superiores que integram o Instituto Politécnico; pela

continuidade da matriz esboçada nas Jornadas do passado ano e sobretu-do pela importância da divulgação do que existe de mais expressivo ao nível das tecnologias aplicadas à saúde”. O Presidente do Politécnico da Guar-da considerou que é “extremamente importante estabelecer um diálogo entre investigadores e profissionais de saúde, e igualmente com as estrutu-ras e instituições a que estão ligados. À semelhança do que ocorreu com as I Jornadas Interdisciplinares sobre Tu-berculose, o número de pessoas inte-ressadas em participar foi muito além das nossas melhores expectativas”.

Programa com temas diversifica-dosO programa das I Jornadas incluiu temas como “O papel dos dispositi-vos médicos” (desenvolvido pela Dr.ª Isabel Dionísio, Presidente da Asso-ciação Portuguesa de Dispositivos Médicos – APORMED), “Tecnologia e Direito” (Dr. Álvaro Guerreiro), “As

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As Novas Tecnologias da Saúde

Hélder SequeiraAcessor Principal,

Instituto Politécnico da Guarda

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soluções de colaboração online como drivers de produtividade na Saúde” (Drª Joana Vilhena, NeeaConsulting Portugal); “Telemedicina no presente e no futuro” (Dr. Fernando Gomes da Costa, Administração Regional de Saúde do Centro); “A experiência do Hospital Sousa Martins na informati-zação de Serviços” (Dr. Luís Ferreira, Director Clínico do Hospital Sousa Martins, Guarda); “A CIPE e a práti-ca de cuidados de Enfermagem” (Dr. António Silva Faria, Hospital de São Marcos, Braga), “Projecto Magic Key: a Tecnologia ao serviço das Pessoas” (Prof. Luís Figueiredo, Escola Superior de Tecnologia e Gestão/IPG) e “Uma experiência de informatização num Hospital” (Prof. José Carlos Fonseca, Escola Superior de Tecnologia e Ges-tão/IPG).No período da tarde tiveram lugar as comunicações, subordinadas aos te-mas “O uso da Telemedicina na con-sulta de Dermatologia” (Drª Fátima Cabral, Hospital Sousa Martins e Dr. Rui Teixeira, Centro de Saúde de Pi-nhel), “Inovação em Ortopedia” (Dr. João Figueiredo, Hospital São Teotó-nio, Viseu), “Os desafios das Tecno-logias de Informação na área da Saú-de - Uma ajuda preciosa” (Engº João Mota Lopes, ORACLE Portugal), “A medida HNR: sua relevância na aná-lise acústica da voz e sua estimação precisa” (Prof.ª Susana Teixeira e Eng.º José Lopes, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), “Novas Tecnologias ao Serviço das Doenças Cardiovasculares: Realidade ou Uto-

pia? “ (Drª Carla Reanha, Tcare – Co-nhecimento e Saúde SA), “O Alert®” (Dr. Miguel Rocha, Alert Life Scien-ces Computing, S.A), “Computação Ubíqua na Melhoria da Qualidade de Vida” (Eng.º Tiago Camilo, Envispot) e “Higiene Oral na Saúde – Aplicação Informática para Web” (Avelino Nu-nes, Escola Superior de Tecnologia e Gestão/IPG).De referir, ainda, a apresentação de posters enquadrados na temática destas Jornadas, as quais contaram também com a participação de várias

empresas, ligadas às áreas já mencio-nadas, que divulgaram os seus equi-pamentos e serviços.

Jornadas com mais projecçãoO balanço feito pela Comissão Or-ganizadora é “francamente positivo, pelo que para a iniciativa agendada para 2009 se pretende dar-lhe um ca-riz internacional, até pelos contactos que entretanto foram estabelecidos”, referiu o Prof. Doutor Fernando Ne-ves, Vice-Presidente do IPG.Entretanto, a Organização já tem dis-ponibilizada mais informação no sítio das Jornadas, em http://www.ipg.pt/tecnologia-saude2009/

O auditório do IPG recebeu cerca de 300 participantes nas I Jornadas sobre Tecnologias e Saúde.

Um dos projectos apresentados foi o “Projecto Magic Key: a Tecnologia ao serviço das Pessoas”, pelo Prof. Luís Figueiredo, da Escola Superior de Tecnologia e Gestão (IPG)

As Novas Tecnologias da Saúde

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Misericórdias: Cooperação com Autarquias25 de Setembro

Fernando Seara, Presidente, Câmara Municipal de Sintra

Manuel de Lemos, Presidente, União das Misericórdias Portuguesas

O Papel da Medicina Interna no Hospital do Futuro

30 de Outubro

Faustino Ferreira, Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

Pedro Lopes, Presidente Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares

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