Revista historia

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Bibliografia para História 1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histórico na sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998. 2. BITENCOURT, Circe Maria F. Ensino de História – fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2005. 3. BLOCH, Marc. Apologia da História ou ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 4. BURKE, Peter. O que é História Cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 5. FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13. ed. São Paulo: EDUSP, 2008. 6. FERRO, Marc. A manipulação da história no ensino e nos meios de comunicação. A história dos dominados em todo o mundo. São Paulo: IBRASA, 1983. 7. FONSECA, Selva G. Caminhos da História Ensinada. Campinas: Papirus, 2009. 8. FONSECA, Selva G. Didática e Prática de Ensino de História. Campinas: Papirus, 2005. 9. FUNARI, Pedro Paulo; SILVA, Glaydson José da. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008. 10. HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula: visita à história contemporânea. 2. ed. São Paulo: Selo Negro, 2008. 11. HEYWOOD, Linda M. (Org.). Diáspora negra no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008. 12. KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. 13. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: UNICAMP, 2003. cap. “Memória”, “Documento/monumento”, “História”, “Passado/presente”. 14. PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009. 15. SOUZA, Marina de Melo. África e o Brasil Africano. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2007.

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  • 1. Bibliografia para Histria 1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histrico na sala de aula. 2. ed. So Paulo: Contexto, 1998. 2. BITENCOURT, Circe Maria F. Ensino de Histria fundamentos e mtodos. So Paulo: Cortez, 2005. 3. BLOCH, Marc. Apologia da Histria ou ofcio do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 4. BURKE, Peter. O que Histria Cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 5. FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. 13. ed. So Paulo: EDUSP, 2008. 6. FERRO, Marc. A manipulao da histria no ensino e nos meios de comunicao. A histria dos dominados em todo o mundo. So Paulo: IBRASA, 1983. 7. FONSECA, Selva G. Caminhos da Histria Ensinada. Campinas: Papirus, 2009. 8. FONSECA, Selva G. Didtica e Prtica de Ensino de Histria. Campinas: Papirus, 2005. 9. FUNARI, Pedro Paulo; SILVA, Glaydson Jos da. Teoria da Histria. So Paulo: Brasiliense, 2008. 10. HERNANDEZ, Leila Leite. frica na sala de aula: visita histria contempornea. 2. ed. So Paulo: Selo Negro, 2008. 11. HEYWOOD, Linda M. (Org.). Dispora negra no Brasil. So Paulo: Contexto, 2008. 12. KARNAL, Leandro (org.). Histria na sala de aula: conceitos, prticas e propostas. So Paulo: Contexto, 2003. 13. LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. Campinas: UNICAMP, 2003. cap. Memria, Documento/monumento, Histria, Passado/presente. 14. PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de histria. So Paulo: Contexto, 2009. 15. SOUZA, Marina de Melo. frica e o Brasil Africano. 2 ed. So Paulo: tica, 2007.

2. 1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histrico na sala de aula. 2. ed. So Paulo: Contexto, 1998. l - PROPOSTAS CURRICULARES Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de Histria Circe Bittencourt A volta da Histria como disciplina autnoma, no final do perodo militar, exigia repensar contedos e novas formas de relaes pedaggicas. Grupos sociais oriundos das classes trabalhadoras de idades e experincias diversas, diferentes culturas, devido ao processo migratrio, passaram a ocupar os bancos escolares, colocando em xeque o conhecimento tradicionalmente produzido e transmitido. Em uma sociedade consumista, responsvel por ritmos de mudanas acelerados, onde tudo rapidamente se transforma em passado, os alunos vivem um presentesmo intenso sem perceber os liames com o passado. Existem clivagens e conflitos inerentes entre o currculo pr-ativo, normativo e escrito pelo poder educacional institudo e o currculo como prtica na sala de aula ou currculo interativo. Uma disciplina mantm-se no currculo devido sua articulao com os objetivos da sociedade. As transformaes ocorrem quando os objetivos mudam. Histria manteve-se devido ao seu papel de disciplina formadora da identidade nacional. Nas propostas atuais, a questo da identidade tem sido considerada, tendo, contudo, que enfrentar a relao nacional/ mundializao dentro dos propsitos neoliberais. A inovao que ocorre a nfase n papel do ensino de Histria para a compreenso do sentir-se sujeito histrico e sua contribuio para a formao de um cidado crtico. A cidadania, com questes relacionadas utilizao de diferentes temporalidades e diferentes sujeitos, aparece nas propostas, sendo que o capitalismo tem se transformado em objeto de estudo do ensino de Histria. O conceito de cidado normalmente limitado cidadania poltica, sendo a cidadania social pouco caracterizada. A ampliao do conceito de cidadania, com a introduo da cidadania social, confere outra dimenso aos objetivos de Histria. Os desafios enfrentados na elaborao das propostas residem em articular a produo historiogrfica que relaciona o social e o cultural com o econmico e redimensiona o poltico. Currculos de Histria e Polticas Pblicas: os programas de Histria do Brasil na Escola Secundria Katia Abud 3. Os currculos e programas constituem o instrumento mais poderoso de interveno do Estado no ensino, interferindo na formao da clientela escolar para o exerccio da cidadania no sentido que interessa aos grupos dominantes. Nesse sentido, os currculos no podero ser analisados independentemente dos rgos que os produziram. Como disciplina escolar, a Histria efetivou-se com a criao do Colgio Pedro II, em 1837, sendo seu ensino pautado por um mtodo cientfico e uma concepo de evoluo caractersticos do final do sculo XIX. As mudanas educacionais promovidas por Francisco Campos, aps a revoluo de 30, acentuaram a centralizao com os primeiros programas para as escolas secundrias. Desde o incio do sculo XX, teve nfase a questo da formao da nacionalidade e da identidade brasileira. Nacionalismo e pensamento autoritrio caminhavam juntos, e a concepo de realidade e de sociedade que se originava do nacionalismo e do antiliberalismo, levava responsabilizao do Estado pela formao da nacionalidade e pela direo do povo, que deveria ser guiado pelas elites. Nessa perspectiva, a Histria seria um elemento poderoso na construo do Estado Nacional, em que o sentimento de identidade permitisse o ocultamento da diviso social. Trs pilares aliceravam a unidade nacional brasileira: unidade tnica, unidade administrativa e territorial e unidade cultural. Os eixos dos programas eram: a formao do "povo brasileiro", a organizao do poder poltico e a ocupao do territrio brasileiro, enfatizando os heris que constituram a nao. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira (4.024/61), produto de uma "americanizao" do currculo, iniciou claramente um processo de tecnizao da formao escolar. Na dcada de 60, Histria e Geografia foram substitudas por Estudos Sociais e os programas foram reduzidos a uma lista factual, numa perspectiva da Histria Poltica. Nos anos 80, com a redemocratizao do pas, a Histria reocupou o seu espao de disciplina autnoma. Histria, Poltica e Ensino Maria de Lourdes Mnaco Janotti A destruio do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experincia pessoal das geraes passadas, um dos fenmenos mais caractersticos e lgubres do final do sculo XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espcie de presente contnuo, sem qualquer relao orgnica com o passado pblico da poca em que vivem. Hobsbawn alerta para a possibilidade de uma inimaginvel alienao coletiva de resultados imprevisveis. A desqualificao do passado, como experincia poltico- social, foi absorvida at por grupos influentes de intelectuais, instaurando-se o domnio do presentesmo, como se nisso no houvesse o perigo de interpretaes ideolgicas 4. ou construes explicativas descontnuas. Temas recentes da Histria Imediata so prestigiados. O presente passou a explicar-se a partir de si mesmo. Na Nova Histria francesa, em menor escala, os historiadores neomarxistas ingleses e a poltica editorial, com uns poucos autores obrigatrios tanto na produo acadmica quanto em sala de aula, vm influenciando a formao dos professores. A historiografia francesa est retornando poltica, devido s crticas, especialmente inglesas, Nova Histria. O repdio Histria Poltica tradicional deveu-se concentrao no estudo do Estado-nao, dos comportamentos individuais, dos eventos circunstanciais e das situaes conjunturais efmeras. Sem renegar a Histria Nova, nem as aspiraes coletivas do marxismo, os historiadores acreditam estar realizando uma revoluo na antiga concepo de Histria Poltica, revitalizando a anlise do contedo e trazendo-o para o estudo global da sociedade, saindo do foco circunscrito ao da classe poltica. Essa constatao entrecruza-se, necessariamente, Histria Poltica, Histria do Tempo Presente (refere-se principalmente ao sc. XX) Histria Imediata (refere-se a acontecimentos que acabam de ocorrer). O presentesmo da Histria Imediata, devido ao julgamento rpido, pode ter consequncias na formao de jovens, podendo induzi- los a interpretar a aparncia pelo substancial. A formao do professor de Histria e o cotidiano da sala de aula Maria Auxiliadora Schmidt A formao dos professores de Histria e o cotidiano da sala de aula so pauta de encontros, congressos e seminrios h uma dcada. Em geral, essa formao comea e termina no curso de graduao. Depois de formado, muitas vezes o professor no dispe de tempo e nem dinheiro para investir na sua formao profissional. No seu cotidiano, espera-se que ele seja o promotor da unio entre a competncia acadmica (domnio dos saberes) e a competncia pedaggica (domnio da transmisso do saber), aliando competncia, convices e experincias de vida. No que se refere ao fazer histrico e ao fazer pedaggico, um desafio destaca-se: realizar a transposio didtica dos contedos e do procedimento histrico. A transposio didtica do fazer histrico pressupe, entre outros procedimentos, que a compreenso e a explicao histrica sejam trabalhadas. Destacam-se a problematizao, o ensino e a construo de conceitos, anlise causal, contexto temporal e o privilgio da explorao do documento histrico. Mais que as determinaes causais, importante levar o educando compreenso das mudanas e permanncias, das continuidades e descontinuidades, exigindo do professor uma grande ateno aos diferentes ritmos dos diferentes elementos que compem um processo histrico. O passado no pode ser resgatado tal qual ele aconteceu; ele s pode ser reconstrudo em funo das questes colocadas no presente. Para reconstruir o passado, o historiador manipula as caractersticas essenciais do tempo: a sucesso, a durao, a simultaneidade, a partir de periodizao e de recortes temporais. 5. Outro elemento considerado imprescindvel ao procedimento histrico em sala de aula, , sem dvida, o trabalho com as fontes ou documentos, que pode introduzir o aluno no mtodo histrico. II - LINGUAGEM E ENSINO Livros didticos entre textos e imagens Circe Bittencourt O texto procura refletir sobre o conjunto de imagens mais comuns no cotidiano escolar: as ilustraes do livro didtico. Objeto de avaliaes contraditrias, o livro didtico continua sendo o material de referrencia para professores e alunos. uma mercadoria com mltiplas facetas, mas tambm um depositrio de contedos escolares, um instrumento pedaggico e um veculo portador de valores, de ideologia, de cultura. Vrias pesquisas demonstram como textos e ilustraes transmitem esteretipos e valores dos grupos dominantes. Na vida escolar, o livro didtico pode ser o instrumento de reprodues ideolgicas e do saber oficial de setores do poder e do Estado. Mas sua leitura na sala de aula determinada pelo professor, podendo ser transformado em um recurso eficiente e adequado s necessidades de um ensino autnomo. Os franceses destacam-se na pesquisa de ilustraes dos livros didticos. No Brasil existem trabalhos que analisam como determinados segmentos sociais tm sido representados, especialmente os indgenas e os negros. Por concretizar a noo altamente abstrata do tempo histrico, a imagem como recurso pedaggico tem sido destacada h mais de um sculo. Observando o percurso das ilustraes, aparecem algumas peculiaridades: a reproduo de obras francesas nos livros de Histria Geral ou Universal, o carter mercadolgico e as questes tcnicas de fabricao. Hoje, a ao do autor limitada, pois, nas editoras, existem especialistas para desenvolver essa parte da produo do livro. Para Histria do Brasil, as ilustraes mais comuns so dos desenhistas ou fotgrafos de quadros histricos do final do sculo XIX. Dois quadros tm sido os mais reproduzidos, desde o incio do sculo: o 7 de setembro de 1822, de Pedro Amrico, e a Primeira Missa no Brasil, de Vtor Meirelles de Lima. A Histria poltica predominou com personagens: Tom de Souza, Pedro lvares Cabral, D. Pedro l e D. Pedro II; dos presidentes, a figura mais destacada Getlio Vargas e, em alguns manuais mais recentes, surgem charges de jornais ou revistas da poca ou criadas por cartunistas. A recorrncia das representaes indgenas fomentou uma srie de questionamentos. Ao longo do tempo foram representados, muitas vezes, como selvagens e responsveis pela miscigenao, preguia e averso ao trabalho produtivo. Essa apresentao das imagens nos livros didticos de Histria, embora de maneira 6. sucinta, pretende provocar algumas questes, procurando situar o professor como leitor crtico da obra didtica. Histria e dialogismo Antnio Terra Com exemplos tirados da histria da pintura, a autora pretende salientar a ideia de que uma obra (texto, oralidade, gravura, msica, pintura, fotografia, cinema, arquitetura) sintetiza uma srie de dilogos travados entre seu autor (um sujeito especfico) e sua prpria poca, e sujeitos produtores de outras obras e outras culturas anteriores a ele e num tempo futuro que vai alm do que ele - criador - poderia imaginar. Simultaneamente, as obras referendadas explicitamente ou no em outras obras (numa proximidade temtica ou de forma), dialogando com outros sujeitos de muitos tempos, ganham um novo sentido a cada novo contexto expresso e criado por outros autores e por outros leitores. a partir desses dilogos mltiplos internos s obras, que interferem na construo de enunciados, de sentidos, que elas constrem e comunicam, de compreenses mais diversas que delas podem ser apreendidas, que a autora usa para falar sobre a proposta para abordagem na Histria, com base na obra de Mikhail Bakhtin. Os estudos de Bakhtin referem-se lingustica, filosofia e literatura. A autora transfere as reflexes de Bakhtin sobre o texto (contida em seus escritos so- bre O problema do texto, da coletnea Esttica da criao verbal, para as possveis consideraes da obra. Para Bakhtin, quando estudamos o homem, buscamos e encontramos o signo em todas as partes e devemos tentar encontrar sua significao. O homem fala atravs de sua obra, e as Cincias Humanas no devem permitir que ele permanea mudo, mas que se manifeste enquanto sujeito que fala, que expressa e constri sentidos, enunciados e significaes. Toda obra tem um autor, isto , um sujeito que fala, escreve ou desenha. Para perceber a presena do autor, todavia, preciso distanciar primeiramente a coisa representada (realidade) dos meios de representao (a obra - expressa em signos -, palavras, formas, cores, etc.). No reconhecimento de que a obra no se confunde com a realidade que se sente a presena do autor. Quando se expressa, o autor faz de si um objeto para outro e para si mesmo, dando realidade sua conscincia. Compreender implica a presena de duas conscincias: a conscincia do autor e a conscincia de quem toma conhecimento da presena do autor na obra. Esse ato de compreender dialgico, na medida que ultrapassa uma lgica previsvel, causal ou factual, isto , a compreenso sempre diferente para leitores diferentes em contextos diferentes. Compreender uma obra implica, segundo Bakhtin, compreender uma diversidade de formas e aspectos, como, por exemplo, compreender a linguagem dos signos, compreender a obra numa linguagem conhecida e j compreendida (estilos de lngua, estilos de textos, estilos de pintura, estilos de msica etc.) e compreender o enunciado. No trabalho do professor de Histria, comum encontrar-se, como fonte 7. de pesquisa ou de informao sobre um determinado contexto histrico, uma gravura, uma pintura ou um texto. Podemos dizer que todos esses documentos so obras humanas, no sendo possvel, segundo Bakhtin, l-los ou compreend-los como simples objetos ou coisas que exemplifiquem contextos. Existem sujeitos que falam e que constrem sentidos especficos para a realidade retratada, atravs de estilos comuns s suas pocas, de formas, de contornos e de materialidades que so, simultaneamente, originais. A autora apresenta ainda uma obra de Frans Post para exemplificar, mostrando, entre outras coisas, comum acordo com a historiadora Ana Maria de Moraes Beiluzzo: "O colorido da pintura holandesa esteve presente nos qua- dros que compem a etapa brasileira de Frans Post, assim como a lembrana da paisagem brasileira acompanhou o pintor em sua volta para a Europa". De acordo com a autora, dentro da perspectiva do ensino de Histria, as reflexes de Bakhtin orientam para outro tipo de possibilidade de estudo na utilizao dos documentos como recurso didtico. Por que visitar museus Adriana Mortara Almeida e Camilo de Mello Vasconcellos Os autores discutem as potencialidades educativas dos museus para o ensino de Histria, atravs de uma cultura material. Para que ocorra um processo educativo, necessrio compreender as mensagens propostas pela exposio, que foram dispostas de maneira a constituir um discurso. So muitas as atividades realizadas em um museu, desde a incluso ou excluso de objetos, at os recortes feitos segundo a temtica proposta. As exposies vm sendo repensadas no mbito de uma estrutura de comunicao atravs de propostas museolgicas definidas, que utilizem uma linguagem de fcil acesso aos visitantes. A ao educativa em um museu no deve estar centrada apenas nas exposies, mas estas so os suportes essenciais que permitem e aproximam a relao com pblico. O contato com esses documentos materiais, a partir do suporte comunicativo das exposies, permite-nos inserir questes relativas constituio de uma memria e da preservao de um passado. Muitos museus brasileiros contam com departamento de educao ou ao cultural. Considerada como um meio de comunicao, a ex- posio tem o potencial de transmitir mensagens aos visitantes, dependendo da clareza dos cdigos utilizados. O educador do museu poder aumentar a capacidade de compreenso dos visitantes, adaptando e esclarecendo os cdigos da exposio de acordo com o interesse e o perfil do pblico. As aes culturais desenvolvidas nos Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE) e no Museu Paulista (MP) so exemplo aos quais o professor de Histria pode recorrer. Experincias e representaes sociais: reflexes sobre o uso e o consumo das imagens 8. Elias Thom Saliba Segundo o autor, nunca se devem subestimar a experincia pessoal e social das pessoas e dos grupos humanos, quaisquer que eles sejam. Vivemos cada vez mais num universo miditico, permeado pelas imagens, onde cada vez mais substitumos nossas experincias reais pelas representaes dessas experincias. Um bombardeio contnuo de imagens em velocidade afasta-nos cada vez mais do mundo real e tende a diminuir o espao temporal de nossas experincias. A globalizao atingiu a mdia, forjando, em ritmos rpidos e alucinantes, um renovado espao de circulao internacional de imagens e de informaes. Mas tambm est em curso um processo de maior especializao da produo cultural. Partindo dessas questes, o autor analisa a interferncia da TV, que, se por um lado aniquila o telespectador pela informao, por outro, no o transforma em um ingnuo zumbi. Em relao ao cinema ele coloca que certo que hoje se admite que a imagem no ilustra nem reproduz a realidade, mas a constri a partir de uma linguagem prpria, produzida num dado contexto histrico. Ao utilizar um filme em um processo de ensino, o esforo do professor deve ser o de mostrar que, da mesma forma que na Histria, o filme uma construo imaginativa que necessita ser pensada e trabalhada interminavelmente. Os historiadores deparam-se hoje com esse fenmenofenmeno histrico inusitado: a transformao do acontecimento em imagem. No mais a imagem alegrica que narra, mas a imagem analgica. A TV revela s claras que a informao que faz o acontecimento e no o contrrio. O acontecimento no um fato em si mesmo, mas um fato no momento em que conhecido. Tanto no ngulo da produo quanto no ngulo da difuso e da recepo, preciso um esforo analtico (e at pedaggico) no sentido de retirar a produo das imagens do terreno das evidncias, evitando trat- las, por exemplo, e sem mais mediaes, como documentos histricos. As imagens so estratgias para o conhecimento da realidade, mas no constituem sucedneos para nenhum suporte escrito. Sem comentrio, uma imagem no significa rigorosamente nada. Toda a ateno - de todo aquele que lida com imagens - deve voltar-se para o lado mais invisvel, frgil, no qual talvez se encontrem os possveis vestgios de um inconsciente visual de nossa poca. Memria e ensino de Histria Ricardo Ori Os ltimos anos vm sendo caracterizados por uma preocupao com a preservao da memria histrica e, por extenso, com o patrimnio cultural. Nos anos 70 e 80, assistimos emergncia dos movimentos sociais populares que colocaram na ordem do dia o interesse pelo "resgate" de sua memria, como instrumento de lutas e afirmao de sua identidade tnica e cultural. A temtica da memria do 9. patrimnio histrico recente no mbito da historiografia brasileira. Isso se explica em grande parte pelo fato de que os rgos e agncias de preservao histrica foram sistematicamente ocupados por profissionais da arquitetura, o que levou tambm ao privilgio do patrimnio edificado. Patrimnio histrico revisitado Quando se fala em patrimnio histrico, h a imediata associao com monumentos e edificaes antigas. Isso se deve em grande medida, primeira legislao patrimonial do pas, o Decreto-lei n 25/37, ainda em vigor, que, em seu art 1, explicita o conceito de patrimnio histrico e artstico. Constitui o patrimnio histrico e artstico nacional o conjunto de bens mveis e imveis no pas e cuja conservao seja de interesse pblico, quer por sua vinculao a fatos memorveis da Histria do Brasil, quer por seu excepcional valor arquitetnico ou etnogrfico, bibliogrfico ou artstico. Esse conceito norteou, a poltica de preservao no pas. Priorizou-se, assim, o patrimnio edificado e arquitetnico - a chamada "pedra e cal" - em detrimento de outros bens culturais. Essa poltica preservacionista levada a cabo pelo Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (SPHAN), criado em 1937, deixou um saldo de bens imveis tombados referentes aos setores dominantes da sociedade. Preservaram-se as igrejas barrocas, os fortes militares, as casas-grandes e os sobrados coloniais. Esqueceram-se as senzalas, os quilombos, as vilas operrias e os cortios. Essa poltica objetivava passar aos habitantes do pas a ideia de uma memria unvoca e de um passado homogneo, sem conflitos e contradies sociais. Hoje, a expresso patrimnio histrico e artstico vem sendo substituda por patrimnio cultural, sendo constitudo de unidades designadas de bens culturais. Quem primeiro se preocupou com a problemtica de patrimnio cultural foi o professor francs Hugues de Varine-Boham. Segundo ele, o patrimnio cultural pode ser dividido em trs grandes categorias: a) os elementos pertencentes natureza e ao meio ambiente (rios, peixes, vales e montanhas, enfim os recursos naturais - o chamado habitat natural); b) o conhecimento, as tcnicas, o saber e o saber-fazer (compreende, pois, toda capacidade de sobrevivncia do homem em seu meio ambiente, incluindo os elementos no-tangveis do patrimnio cultural); c) os bens culturais propriamente ditos (engloba toda sorte de objetos, artefatos, obras e construes, obtidos a partir do prprio meio ambiente e do saber fazer). Por uma nova poltica de patrimnio histrico no Brasil: a construo de uma memria plural Com a ampliao do conceito de patrimnio cultural, abre-se perspectiva para a adoo de uma nova poltica de proteo. A Constituio tenta corrigir essa distoro da poltica de preservao. Em seu artigo 215, pargrafo 1 e 2, por exemplo, ela determina que o Estado deve proteger as manifestaes das culturas populares, indgenas e afro-brasileiras e de outros grupos participantes do processo civlizatrio nacional. 10. Patrimnio histrico, cidadania e identidade cultural: o direito memria A preservao do patrimnio histrico vista, hoje, prioritariamente, como uma questo de cidadania e, como tal, interessa a todos por se constituir direito fundamental do cidado e esteio para construo da identidade. A identidade cultural de um pas, estado, cidade ou comunidade se faz com memria individual e coletiva e, para isso, fundamental a questo da preservao das memrias atravs dos patrimnios histricos. Televiso como documento Marcos Napolitano No ensino, torna-se cada vez mais frequente o uso de novas linguagens, entre elas as imagens (paradas e/ou em movimento) produzidas pela sociedade. Todo cuidado pouco com a incorporao das novas linguagens, principalmente em uma poca de desvalorizao do contedo socialmente acumulado pelo conhecimento cientfico. Em se tratando de documento televisivo, alguns gneros acabam se impondo como os mais relevantes e instigantes: o telejornal; a teledramaturgia; telefilmes, sobretudo os seriados, sendo os mais fceis de se conseguir. Entre o cinema e a TV, uma diferena deve ser demarcada. Enquanto o cinema produz uma mercadoria cultural que dever ser explorada e difundida por vrios anos, a indstria televisiva - bem como a radiofnica - tem a tendncia de produzir programas que se consomem no instante da sua difuso. O interesse terico em torno da televiso data dos anos 50, sendo constituda de uma "nova oralidade" substituindo a "cultura do livro". Nessa cultura da "nova oralidade", os receptores passaram a integrar-se, j no momento da transmisso da mensagem, numa cadeia de discusso conjunta, trocando e reelaborando as informaes veiculadas pelos meios eletrnicos. A televiso foi objeto de estudo de vrios tericos,entre eles: Marshall McLuhan; Umberto Eco; Michel de Certeau; Dieter Prokop; Francesco Casetti e Roger Odin, Jesus Martn--Barbero. O autor sugere que, no trabalho, o professor consiga toda informao terica bsica, selecione o material a ser analisado e defina um planejamento geral de utilizao dentro de uma atividade didtico-pedaggica. 11. Histria e ensino: o tema do sistema de fbrica visto atravs de filmes Carlos Alberto Vesentini O autor comenta experincias realizadas com a utilizao de filmes em sala de aula. Pensou-se primeiramente no conjunto do curso a ser oferecido e em sua temtica, procurando-se listar filmes que se relacionassem com ela. O tema discutido foi, grosso modo, o do sistema da fbrica, implicando uma reaproximao de um tema bastante tradicional do ensino, o da Revoluo Industrial, mas pretendendo evitar a centralizao da discusso nos processos peculiares: a Inglaterra do final do sc. XVIII e da primeira metade do sc. XIX. Com a redefinio do tema transparecem duas ca- ractersticas na seleo dos filmes. De um lado, a utilizao de filmes antigos, clssicos, com questes claras e perspectivas bem postas (alm de oscilarem entre programa poltico, propaganda e percepo de autor). E, de outro lado, a utilizao de filmes recentes, ampliando a temporalidade. O trabalho no se configurou como a Histria do Cinema nem se fechou em consideraes sobre o filme como documento. H um outro aspecto a ser enfatizado: a realizao de uma desmontagem do filme. Sem esquecer as discusses especficas da poca, os filmes trabalhados foram: Fritz Lang: Metrpolis (1962); Ren Clair: A Ns a Liberdade (1931); Charles Chaplin: Tempos Modernos (1936); Elio Petri: A Classe Operria Vai ao Paraso. Uma srie de questes comuns entre eles foi trabalhada: 1. O trabalho coletivo; 2. A organizao espacial; 3. Corpo e trabalho; 4. Corpo e cotidiano; 5. Cincia, tcnica, trabalho manual e trabalho intelectual; 6. Alienao no processo de trabalho e proposta poltica. Resumo elaborado por Eliana Esteves Ribeiro 12. 2. BITENCOURT, Circe Maria F. Ensino de Histria fundamentos e mtodos. So Paulo: Cortez, 2005. Conhea a autora Circe Bittencourt licenciada e bacharel em Histria pela Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas (FFLCH-USP). Fez mestrado e doutorado em Histria Social pela FFLCH-USP. Atualmente professora de ps-graduao na Faculdade de Educao da USP. O livro aborda aspectos de ensino e aprendizagem de Histria do ponto de vista dos problemas tericos que fundamentam o conhecimento escolar e dos problemas das prticas em sala de aula. A Histria, enquanto conhecimento escolar, possui uma histria que brevemente apresentada, a fim de proporcionar ao leitor reflexes sobre o atual momento da disciplina no processo de reformulaes curriculares. O livro preocupa-se em fornecer fundamentos sobre a seleo de contedos e mtodos para os futuros professores ou para os que j esto enfrentando o trabalho nas salas de aula. Parte 1 Disciplina escolar O que disciplina escolar? No simples, existe sria polmica a respeito desse conceito, a qual pode parecer meramente acadmico e terico, mas est relacionado a questes mais complexas sobre a escola e o saber que ela produz e transmite, assim como sobre o papel e o poder do professor e dos vrios sujeitos externos vida escolar na constituio do conhecimento escolar. Transposio didtica Para determinados educadores, franceses e ingleses, as disciplinas escolares decorrem das cincias eruditas de referncia, dependentes da produo das universidades ou demais instituies acadmicas, e servem como instrumento de vulgarizao do conhecimento produzido por um grupo de cientistas. 13. No que se refere aos contedos e mtodos de ensino e aprendizagem, os partidrios da ideia de transposio didtica identificam uma separao entre eles, entendendo que os contedos escolares provm, direta e exclusivamente, da produo cientfica e os mtodos decorrem apenas de tcnicas pedaggicas, transformando-se em didtica. Disciplina escolar como entidade cientifica Para outros pesquisadores, especialmente o ingls Ivor Goodson e o francs Andr Chervel, a disciplina escolar no se constitui pela simples transposio didtica do saber erudito, mas antes, por intermdio de uma teia de outros conhecimentos, havendo diferenas mais complexas entre as duas formas de conhecimento, o cientfico e o escolar. Andr Chervel, o crtico mais contundente da concepo de transposio didtica, sustenta que a disciplina escolar deve ser estudada historicamente, contextualizando o papel exercido pela escola em cada momento histrico. Ao defender a disciplina escolar como entidade epistemolgica, relativamente autnoma, esse pesquisador considera as relaes de poder intrnsecas escola. preciso deslocar o acento das decises, das influncias e legitimaes exteriores escola, inserindo o conhecimento por ela produzido no interior de uma cultura escolar. As disciplinas escolares formam-se no interior dessa cultura, tendo objetivos prprios e, muitas vezes, irredutveis aos da cincia de referncia, termo que Chervel emprega em lugar de conhecimento cientfico. A concepo de Chervel sobre a disciplina escolar provm de sue estudos da Histria da Gramtica escolar da Frana. Pela pesquisa histrica do ensino da Gramtica em seu pas, concluiu que a criao das famosas regra gramaticais e toda srie de normas da lngua francesa decorreram de necessidades internas da escola, que precisava ensinar todos os franceses a escrever corretamente de acordo com determinados critrios a ser obedecidos por todo o meio escolar. A Gramtica, como estudo acadmico, s passou a existir posteriormente, absorvendo e integrando os princpios estabelecidos pela escola. 14. Constituintes das disciplinas escolares Foi importante estabelecer as finalidades de cada uma das disciplinas, explicitar os contedos selecionados para serem ensinveis e definir os mtodos que garantissem tanto a apreenso de tais contedos como a avaliao da aprendizagem. As finalidades de uma disciplina escolar, cujo estabelecimento essencial para garantir sua permanncia no currculo, caracterizam-se pela articulao entre os objetivos instrucionais mais especficos e os objetivos educacionais mais gerais. Compreendem-se, assim, alguns objetivos gerais ao qual a escola teve de atender em determinados momentos histricos, como a formao de uma classe mdia pelo ensino secundrio, a expanso da alfabetizao pelos diferentes setores sociais ou a formao de um esprito nacionalista e patritico. Tais objetivos esto, evidentemente, inseridos em cada uma das disciplinas e justificam a permanncia delas nos currculos. As finalidades das disciplinas escolares fazem parte de uma teia complexa na qual a escola desempenha o papel de fornecedora de contedos de instruo, que obedecem a objetivos educacionais definidos mais amplos. Dessa forma as finalidades de uma disciplina tendem sempre a mudanas, de modo que atendam diferentes pblicos escolares e respondam as suas necessidades sociais e culturais inseridas no conjunto da sociedade. Outro constituinte fundamental da disciplina escolar e o mais visvel o contedo explcito. Esse componente da disciplina corresponde a um corpus de conhecimento organizado segundo uma lgica interna que articula conceitos, informaes e tcnicas consideradas fundamentais. Os contedos explcitos articulam-se intrinsecamente a outro componente da disciplina escolar: mtodos de ensino e de aprendizagem. Tais contedos so necessariamente apresentados ao pblico por intermdio de diferentes mtodos, indo da aula expositiva at o uso dos livros didticos ou da informtica. Disciplina escolar e produo do conhecimento 15. Ivor Goodson, para quem o prprio termo disciplina possibilita identificar distines. O autor ingls entende a disciplina como uma forma de conhecimento oriunda e caracterstica da tradio acadmica e, para o caso das escolas primrias e secundrias, utiliza o termo matria escolar (school subjects). Entre ns comum, no cotidiano escolar, utilizar o termo matria, embora no se use, nos textos oficiais acadmicos, disciplina escolar no caso dos cursos superiores, o termo usual disciplina, a qual, por sua vez, composta de matrias especficas, correspondentes a divises internas das disciplinas acadmicas. Em seus estudos empricos sobre a gnese e a trajetria de determinadas matrias escolares, Goodson mais contundente ao tratar das relaes entre as disciplinas acadmicas e as matrias escolares. Ele demonstra que a interferncia do conhecimento acadmico no foi benfica para a constituio de determinados saberes escolares, no caso de Cincias, que inicialmente, no sculo XIX, era matria ensinada como cincia das coisas comuns (the science of de common things) e tinha como objetivo atender aos interesses dos alunos. Disciplina escolar e conhecimento histrico 16. O historiador francs Henri Moniot, ao debruar-se sobre a Histria enquanto disciplina escolar, pondera sobre suas especificidades, e conclui que seu ensino, no final do sc. XIX assegurou a existncia da Histria em grandes perodos Antiguidade, Idade Mdia, Moderna e Contempornea , criada para organizar os estudos histricos escolares, acabou por definir as divises da cadeira ou disciplinas histricas universitrias assim como especialidades dos historiadores em seus campos de pesquisa. A articulao entre as disciplinas escolares e as disciplinas acadmicas , portanto complexa, e no pode ser entendida como um processo mecnico e linear, pelo qual o que se produz, enquanto conhecimento histrico-acadmico seja necessariamente transmitido e incorporado pela escola. Os hiatos so evidentes, mas no se trata de buscar super-los, integrando automaticamente as novidades das temticas histricas s escolas. Os objetivos diversos impem selees diversas de contedos e mtodos. A formao de professores, por outro lado, vem dos cursos superiores, e nesse sentido, preciso entender a necessidade de dilogo constante entre as disciplinas escolares e acadmicas. Professores e disciplinas escolares Por intermdio da concepo de disciplina escolar, podemos identificar o papel do professor em sua elaborao e prtica efetiva. Cabe ento indagar sobre a ao e poder dele nesse processo, uma vez que h vrios sujeitos na constituio da disciplina escolar: desde o Estado e suas determinaes curriculares ate os intelectuais universitrios e tcnicos educacionais, passando pela comunidade escolar composta de diretores, inspetores e supervisores escolares e pelos pais de alunos que, muitas vezes, se rebelam contra determinados contedos e mtodos dos professores, forando-os a recuar em suas propostas inovadoras. O papel do professor na constituio das disciplinas merece destaque. Sua ao nessa direo tem sido muito analisada, sendo ele o sujeito principal dos estudos sobre currculo real, ou seja, o que efetivamente acontece nas escolas e se prtica na sala de aula. O professor quem transforma o saber a ser ensinado e em saber aprendido, ao fundamental no processo de produo do conhecimento. Contedos, mtodos e avaliao constroem-se nesse cotidiano e nas relaes entre professores e alunos. Efetivamente, no ofcio do professor um saber especfico constitudo, e a 17. ao docente no se identifica apenas com a de um tcnico ou de um reprodutor de um saber produzido externamente. 2. Contedos e mtodos de ensino de Histria O contexto da produo da Historia escolar significativo para identificar as relaes entre diversos elementos constituintes da disciplina, ou seja, entre objetivos, contedos explcitos e mtodos. A anlise da disciplina em sua longa durao visa fornecer alguns indcios para a compreenso da permanncia de determinados contedos tradicionais e do mtodo da memorizao, responsvel por um slogan famoso da Histria escolar: uma matria decorativa por excelncia. Memorizao no processo de aprendizagem Um modelo de livro didtico muito utilizado em variadas escolas era o catecismo, e muitos textos de Histria destinados a criana seguiam o mesmo molde. A Histria, segundo o mtodo do catecismo, era representada por perguntas e respostas, e assim os alunos deviam repetir oralmente, ou por escrito, exatamente as respostas do livro. Como castigo, pela impreciso dos termos ou esquecimento de algumas palavras, recebia a famosa palmatria ou frula. O sistema de avaliao era associado a castigos fsicos. Uma obra interessante, a Metodologia da Histria na aula primria, escrita, em1917, pelo professor Jonathas Serrano da escola normal do Rio de Janeiro, indicava a possibilidade de mudanas no mtodo do ensino de Histria para os alunos a partir de sete anos. Sem deixar de exaltar o ensino da Histria ptria e o culto aos heris, o autor considerava que para tornar mais eficiente a Histria biogrfica, era preciso preparar melhor o professor. Este deveria escolher muito bem as narrativas que pudessem despertar interesse dos alunos e tambm atentar para a importncia do uso materiais, como mapas e gravuras. 18. Estudos Sociais e os Mtodos Ativos Os Estudos Sociais foram adotados em algumas escolas, denominadas experimentais ou vocacionais, no decorrer da dcada de 60 do sculo XX, e, depois da reforma educacional na fase da ditadura militar, pela lei 5.692 de agosto de 1971, na rea fio introduzida em todo o sistema de ensino o qual ento passou a se chamar de primeiro grau -, estendendo para as demais sries do antigo ginsio. Estudos de Histria no secundrio O nvel secundrio no Brasil caracterizou-se como um curso oferecido pelo setor pblico no colgio Pedro II do Rio de Janeiro, capital do imprio e da repblica, em Liceu Provncia, em Ginsios Estaduais Republicanos e pelo setor privado. A rede particular de escolas, para esse nvel escolar, desempenhou e continua a desempenhar importante papel, levando-se em conta que o secundrio foi criado para atender formao dos setores de elite. A Histria, tanto nas escolas pblicas como confessionais do sc. XIX, integrava o currculo denominado de Humanismo Clssico, o qual se assentava no estudo das lnguas, como destaque para o Latim, e tinha os textos da literatura clssica da Antiguidade como modelo padro cultural. O currculo humanstico pressupunha uma formao desprovida de qualquer utilidade imediata, mas era por intermdio dele que se adquiriam marcas de presena a uma elite. Assim, o estudo do latim no visava simplesmente formar um conhecedor de uma lngua antiga, mas servia para que o jovem secundarista fizesse citaes e usasse expresses caractersticas de um grupo social diferenciado do Povo Iletrado. A Histria e o currculo cientfico 19. A Histria integrou-se, nesse currculo, sem maiores problemas. Seus objetivos continuaram ainda associados formao de uma elite, mas com tendncia mais pragmticas. E a disciplina passou a ter uma funo pedaggica mais definida em relao sua importncia na formao poltica dessa elite. A Histria das civilizaes e a Histria do Brasil destinavam-se a operar como formadoras da cidadania e da moral cvica. Um dos objetivos bsicos da Histria escolar era a formao do Cidado poltico, que, em nosso caso, era o possuidor do direito ao voto. A Histria do Brasil servia para possibilitar, s futuras geraes dos setores de elite, informaes acerca de como conduzir a nao ao seu progresso, ao seu destino de Grande Nao. 3. Nas atuais propostas curriculares Renovaes curriculares Os currculos escolares tem sido objetivo de muitas anlises que situam seu significado poltico e social, e essa dimenso precisa ser entendida para determinarmos o direcionamento da educao escolar e o papel que cada disciplina tende a desempenhar na configurao de um conhecimento prprio da sociedade contempornea. No Brasil, as reformulaes curriculares iniciada no processo de democratizao, na dcada de 80 do sculo XX, pautaram-se pelo atendimento s camadas populares, como enfoques voltados para uma formao poltica que pressupunha o fortalecimento da participao de todos os setores sociais no processo democrtico. Juntamente com tais propsitos, foram introduzidos, nas diversas propostas que estavam sendo elaboradas, tambm os projetos vinculados aos das polticas liberais, voltada pra os interesse internacionais. Como parte da poltica federal, alinhado ao modelo liberal, o MEC comprometeu-se realizar total reformulao curricular, que abarcasse todos os nveis de escolarizao do infantil ao superior, para atender aos novos pressupostos educacionais. 20. Atualmente, a ideia de currculo concebida em todas as suas dimenses distinguindo-se o currculo formal (o pr-ativo ou normativo), criado pelo poder estatal o currculo real (ou interativo), correspondente ao que, efetivamente, realizado na sala de aula por professores e alunos, e o currculo oculto constitudo por aes que impem normas e comportamentos vividos nas escolas, mas sem registros oficiais, tais como discriminaes tnicas e sexuais, valorizao do individualismo, ausncia ou valorizao do trabalho coletivo, etc. Estudos recentes incluem, ainda, o currculo avaliado, que se materializa pelas aes dos professores e das instituies ao medirem o domnio dos contedos explcitos pelos alunos e incorpora valores no apenas instrucionais, mas tambm educacionais, como as habilidades tcnicas e prticas da cultura letrada. Quanto s concepes de currculo, os autores mais importantes so: Ivor Goodson, Michael Apple, Jimeno Sacristn, Antonio Flavio Moreira, Toms Tadeu da Silva e Thomas Popkewitz. Mtodos e novas tecnologias As mudanas culturais provocadas pelos meios audiovisuais e pelos computadores so inevitveis, pois geram sujeitos com novas habilidades e diferentes capacidade de entender o mundo. Para analisar essas mudanas, h a exigncia de novas interpretaes aos atuais meios de comunicao, que ultrapassem aquelas que os consideram degenerescncias ou involuo. Interpretaes permeadas de preconceito no possibilitam um entendimento das configuraes culturais emergentes e, portanto, dificultam todo dialogo como o nosso aluno. Por outro lado, e este o mais importante desafio para os professores, no se pode tambm ser ingnuo em relao a essa nova cultura. Portanto, os mtodos, nos processos de renovao curricular, relacionam-se a essa srie de problemas do mundo tecnolgico, com o entendimento de que tais tecnologias no so inimigas, mas tambm no so produtos que podem ser utilizados sem uma crtica profunda do que transmitem, das formas individualistas de comunicao e de lazer que estabelecem, do fortalecimento do iderio que promove 21. uma submisso irrestrita ao domnio da mquina, como instrumento educativo,. O uso de computadores, programas televisivos, filmes, jogos de vdeo game corresponde a uma realidade da vida moderna com a qual crianas e jovens tem total identificao, e tais suportes merecem ateno redobradas e mtodos rigorosos que formulem prticas de uso no alienado. Propostas curriculares para os diferentes nveis a) Histria para alunos de primeira quarta srie. As formulaes para o ensino de Histria a partir das sries ou ciclos iniciais do ensino fundamental sofrem variaes, mas visam a ultrapassar limitao de uma disciplina aprendida com base nos efeitos dos heris e dos grandes personagens, apresentados em atividades cvicas e com figuras atemporais. b) Histria para alunos de quinta oitava srie As propostas para as sries ou ciclos finais do ensino fundamental matem, como nas anteriores, a caracterizao disciplinar, ministrada por um professor especialista. Dessa forma, os fundamentos tericos e metodolgicos so apresentados de maneira que explicitem os pressupostos da Histria a ser ensinada. c) Histria para o Ensino Mdio A Histria proposta para o ensino mdio pelos PCN mantm a organizao dos contedos por temas, mas sem elenc-los ou apresentar sugestes, como foi feito para os demais nveis. Tem como preocupao maior aprofundar os conceitos 22. introduzidos a partir das sries iniciais e ampliar a capacidade do educando para o domnio de mtodos da pesquisa histrica escolar, reforando o trabalho pedaggico com propostas de leitura de bibliografia mais especfica sobre o tema de estudo, e com possibilidade de dominar o processo de produo de conhecimento histrico pelo uso mais intenso de fontes de diferentes naturezas. No inclui, entre seus objetivos, a formao de um historiador, mas visa dar condies de maior autonomia intelectual ante os diversos registros humanos, assim como aprofundar o conhecimento histrico da sociedade contempornea. Sobre os objetivos do ensino de Histria Um dos objetivos centrais do ensino de Histria, na atualidade, relaciona-se sua contribuio na constituio de identidades. A identidade nacional, nessa perspectiva uma das identidades a serem constitudas pela Histria escolar, mas, por outro lado, enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas relaes com o local e o mundial. Temas para o ensino de Histria A organizao de estudo de Histria por temas produz, assim, vrios problemas que precisam ser esclarecidos. Um deles o de distinguir entre Histria temtica, tal qual os historiadores a concebem na realizao de suas pesquisas, e Histria ensinada por eixos temticos. Essa distino fundamental tem sido pouco explicitada nas propostas curriculares, o que induz os vrios equvocos na prtica escolar. A seleo temtica proposta pelos PCN visa a ultrapassar os problemas e sugere, assim, a preocupao em discernir a Histria temtica, produzida pelos historiadores, da Histria por eixos temticos ou temas geradores, produzida pelos currculos escolares. Os temas de ensino de Histria propostos pelos PCN so, por outro lado articulados aos temas transversais: meio ambiente, tica, pluralidade cultural, sade, educao sexual, trabalho e consumo. Essa proposta de temas interdisciplinares gera novos desafios para o ensino de Histria. Um deles articular os contedos tradicionais, 23. como os de uma Histria poltica ou econmica, com contedos caractersticos de outras disciplinas, como o caso do meio ambiente ou questes de sade. Mtodos e contedos escolares, uma relao necessria. 1) Contedos histricos Contedos escolares e tendncias historiogrficas a) Histria como narrativa: a Histria pode ser concebida como uma narrativa de fatos passados. Conhecer o passado dos homens , por principio, uma definio de Histria, e aos historiadores cabe recolher, por intermdio de uma variedade de documentos, os fatos mais importantes, orden-los cronologicamente e narr-los. A reconstituio do passado da nao por intermdio de grandes personagens serviu como fundamento para a Histria escolar, privilegiando-se estudos das aes polticas, militares e das guerras, e a forma natural de apresentar a histria da nao era por intermdio de uma narrativa. b) De uma Histria econmica Histria social: no decorrer XX, a produo historiogrfica passou a disputar espao com as novas cincias sociais que se constituam na busca de compreenso da sociedade, especialmente a sociologia, a antropologia e a economia. Como consequncia dessa disputa houve uma renovao na produo Historiogrfica com paradigmas que visam ultrapassar o Estoicismo. O historiador Seu Flamarem, ao sintetizar as tendncias desse percurso Historiogrfico, identifica duas filiaes bsicas entre os anos de 1950 e 1968: escola dos Anlise e o dos Marxismo. O paradigma Marxista, desenvolvido paralelamente ao do grupo dos Anlise, tem como princpio o carter cientfico do conhecimento histrico, e o enfoque de sua anlise a estrutura e a dinmica das sociedades humanas. A anlise Marxista parte das estruturas presentes com a finalidade de orientar a prxis social, e tais estruturas conduzem percepo de fatores formados no passado cujo conhecimento til para atuao na realidade hodierna. Existe assim uma vinculao epistemolgica dialtica entre presente e passado. 24. c) Entra em cena a Histria cultural: a Histria cultural que atualmente procura vincular a micro Histria com a macro Histria e tem sido conhecida como nova Histria cultural, com propagao em escala mundial. Essa tendncia renovou a Histria das mentalidades, e, sobretudo, a velha Histria das ideias, inserindo-as em uma perspectiva sociocultural preocupada no apenas com o pensamento das elites, mas tambm com as ideias e confrontos de ideias de todos os grupos sociais. d) Histria do tempo ou presente como Histria: para os pesquisadores da rea de ensino de Histria, torna-se fundamental o domnio conceitual da Histria do tempo presente, a fim de que o ensino da disciplina possa cumprir uma de suas finalidades: libertar o aluno do tempo presente algo paradoxal primeira vista. Essa aparente contradio ocorre porque o domnio de uma Histria presente fornece contedos, mtodos de anlise do que est acontecendo e as ferramentas intelectuais que possibilitam aos alunos a compreenso dos fatos cotidianos desprovidos de mitos ou fatalismos desmobilizadores, alm de situar os acontecimentos em um tempo histrico mais amplo, em uma durao que contribui para a compreenso de uma situao imediata repleta de emoes. Presente como Histria, ou tambm Histria imediata, tambm comentada nas aulas de Histria quando acontecimentos mais trgicos so divulgados pela mdia, como uma espcie de exigncia por parte do aluno e pelo prprio compromisso do professor com a formao poltica deles. Entretanto, a Histria do tempo presente possui exigncias metodolgicas e conceituais, para que no se transforme em repeties de ensaio jornalstico pouco profundo nas anlises. Um ponto crucial situar essa histria dentro do conceito de contemporneo e situar sua periodizao. Com base no conceito de longa durao, pode se perceber que a histria do presente tem outras escalas de tempo e espao. No que se refere ao tempo, a concepo de contemporneo est associada a uma temporalidade de mudanas aceleradas, e, no que se refere ao espao, trata-se pensar em uma Histria mundial. Histria Nacional ou Mundial 25. a) Tendncias e perspectivas do ensino de Histria no Brasil Os contedos de Histria do Brasil so apresentados, na maior parte dessas obras escassamente. A diminuio dos contedos referentes ao Brasil explica-se, no pela sua insero em uma Histria integrada, mas pela opo terica que continua priorizando apenas as explicaes estruturais para as situaes nacionais ou regionais. a Histria do Brasil aparece como um apndice da Histria Global. E sua existncia deve ao desenvolvimento do capitalismo comercial,a partir da expanso martima europeia. A macro Histria, pela lgica, a chave para a compreenso de nossa condio de pas permanentemente perifrico do sistema econmico capitalista. A Histria do Brasil precisa necessariamente ser e estar integrada Histria Mundial para que seja entendida em suas articulaes como a Histria em escala mais ampla em sua participao nela. A Histria mundial no pode estar limitada ao conhecimento sobre a Histria do mundo, que na realidade a Histria da Europa. No se trata de negar a importncia e o legado da Europa para a nossa Histria; trata-se, antes, de no omitir outras Histrias de nossas heranas americanas e africanas. b) Histria regional e nacional A Histria regional passou a ser valorizada em virtude da possibilidade de fornecimento de explicaes na configurao, transformao e representao social do espao nacional, uma vez que a Historiografia nacional ressalta as semelhanas, enquanto a regional trata das diferenas e da multiplicidade. A Histria regional proporciona na dimenso do estudo do singular, um aprofundamento do conhecimento sobre a Histria nacional, ao estabelecer relaes entre as situaes Histricas diversas que constituem a nao. c) Cotidiano e Histria local Os estudos da Histria do cotidiano conduziram historiadores franceses, brasileiros e argentinos, entre outros, elaborao de coletneas sobre a Histria da vida privada, 26. tendo, entretanto, o cuidado de no situar os temas da vida cotidiana de forma isolada dos contextos histricos e dos temas tradicionais. Por exemplo, os autores da obra Historia da vida privada no Brasil advertem que a reconstituio de aspectos cotidianos, e da vida privada, se fez no processo histrico da formao brasileira. No se pretendeu a reconstituio de hbitos, gestos e amores como se estes nada tivessem que ver com a organizao mais ampla da sociedade, da economia, do estado. A Histria local, por outro lado, tem sido elaborada por historiadores de diferentes tipos. Polticos ou intelectuais de diversas provenincias tm se dedicado a escrever Histrias locais com objetivos distintos, e tais autores geralmente so criadores de memrias mais do que efetivamente de Histria. A memria sem duvida aspecto relevante na configurao de uma Histria local tanto para historiadores quanto para ensino. d) Histria local ou Historia do lugar A Histria do lugar como objetivo do estudo ganha, necessariamente, contornos temporais e espaciais. No se trata, portanto, ao se proporem contedos escolares da Histria local, de entend-los apenas na Histria do presente ou de determinado passado, mas de procurar identificar a dinmica do lugar, as transformaes do espao articular esse processo s relaes externas, a outros lugares. Aprendizagens em Histria O conhecimento histrico no se limita a apresentar o fato no tempo e no espao acompanhado de uma srie de documentos que comprovam sua existncia. preciso ligar o fato a temas e aos sujeitos que o produziam para busca uma explicao. E para explicar e interpretar os fatos, preciso uma anlise, que deve obedecer a determinados princpios. Nesse procedimento, so utilizados conceitos que organizam os fatos, tornando-os inteligveis. (Bittencourt, Circe) 27. A formao de conceitos: confronto entre Piaget e Vygotsky Para Piaget, a apreenso dos conceitos s ocorrer quando houver uma maturao interna e biolgica por parte do indivduo. Piaget no considera relevante a interao do indivduo em seu meio social, ou seja, para este autor no importa a histria de vida dos educandos. Segundo Bittencourt, em contraposio s ideias piagetianas, encontramos as ideias de Vygotsky que valoriza o conhecimento prvio do aluno, chamado de conhecimento espontneo, e busca relacion-lo ao conhecimento cientfico, reconhecendo assim a importncia da Escola na formao de conceitos, pois essa capacidade s se obtm atravs da aprendizagem organizada e sistematizada. Vygotsky, embora reconhea os estgios de desenvolvimento cognitivo, defende que a formao de conceitos depende muito do meio social e da vida cotidiana de cada criana. Portanto, para ele, a criana no aprende s na escola; preciso respeitar o conceito prvio que o aluno possui e buscar aproximar essa bagagem de senso comum ao conhecimento academicamente produzido de forma sistematizada. Reflexes sobre o conhecimento prvio dos alunos. As novas interpretaes sobre a aprendizagem conceitual e a importncias das interferncias sociais e culturais nesse processo erigiram o aluno e seu conhecimento prvio como condio necessria para a construo de novos significados e esquemas. Como consequncia, a psicologia social passou a contribuir para reflexo a cerca das sequncias de aprendizagens, partindo do conhecimento prvio dos alunos. No que se refere ao conhecimento histrico, essa posio torna-se ainda mais relevante, levando em conta as experincias histricas vividas pelos alunos e as apresentaes da Histria apresentada pela mdia cinema e televiso em particular - 28. por parte das crianas e dos jovens em seu cotidiano. A Histria escolar no pode ignorar os conceitos espontneos formados por intermdio de tais experincias. Conceitos fundamentais a) Histria e conceitos: no exerccio do seu oficio, os historiadores empregam conceitos especficos especialmente produzidos para a compreenso de determinado perodo histrico. Segundo alguns historiadores existem as noes histricas singulares, tais como renascimento, mercantilismo, descobrimento da Amrica, feudos medievais, cruzadas, repblica velha. Muitos dos conceitos criados pelos historiadores tornaram-se verdadeiras entidades a designar povos, grupos scias, sociedades, naes: povos brbaros, bandeirantes, colonato, donatrios das capitanias, patriciado romano, democracia ateniense, mercadores. Esse conceito tem sido consolidado pela comunidade de historiadores e so delimitados no tempo e no espao. A histria escolar utiliza essas noes e conceitos com bastante familiaridade, a ponto de acabarem por designar contedos programticos e constiturem captulos de livros didticos. b) Apreenso de conceitos histricos na escola: o conhecimento histrico escolar, comparado ao historiogrfico, informaes e acrescenta o autor francs Henri Moniote valores, especialmente os cvicos, que se relacionam formao da cidadania. As especificidades dos conceitos histricos, a ser apreendidos no processo de escolarizao, tm conotaes prprias de formao intelectual e valorativa, e a preciso conceitual torna-se fundamental para evitar deformaes ideolgicas. A Histria possui um contedo escolar que necessita estar articulado, desde o incio da escolarizao, com os fundamentos tericos para evitar conotaes meramente morais e de sedimentao de dogmas. Para Moniote, o ensino da disciplina justia-se em todo o processo de escolarizao, se estiver aliado necessidade de domnio e preciso de conceitos. Dessa concepo, vem suas criticas teoria piagetiana dos estgios de desenvolvimento, a qual serviu para impedir o ensino da Histria para crianas e jovens de determinadas faixas etrias. 29. Pilar Maetro, historiadora espanhola em seu texto Um nueva concepcion del apredizage de la Histria critica as interpretaes e as pesquisas baseadas nas concepes piagetianas, e afirma que a convico de impossibilidades de um conhecimento slido da Histria escolar teve consequncias considerveis, levando a disciplina a tornar-se um saber secundrio. Considera ainda que, embora tenha havido interferncia de outros fatores para a criao dessa viso, sobretudo o iderio de uma sociedade industrial e tecnocrtica, que proclama as virtudes do conhecimento cientfico e tcnico, certo que esta teoria concedeu respaldo cientfico a essa limitao distorcida do papel da Histria do currculo. Conceitos histricos fundamentais (noo de tempo e de espao) Uma reflexo inicial sobre as noes de tempo necessria para esclarecer as especificidades do tempo histrico. H o tempo vivido, o tempo de experincia individual: o tempo psicolgico os acontecimentos agradveis parecem passar rpidos e os desagradveis parecem durar mais tempo. O tempo vivido tambm o tempo biolgico que se manifesta nas etapas de vida da infncia, adolescncia, idade adulta e velhice. Na nossa sociedade, o tempo biolgico marcado por anos de vida geralmente comemorados nas festas de aniversario, evidenciado em idades bem limitadas, que possibilitam a entrada na escola, na vida adulta a maioridade -, o direito de votar, de dirigir automveis, o alistamento militar... Em culturas indgenas, as passagens do tempo biolgico, embora no sejam delimitadas por idades, tem marcas ritualsticas importantes, realizadas por cerimnias que indicam as fases de crescimento e de novas responsabilidades perante a comunidade. O tempo concebido varia de acordo com as culturas e gera relaes diferentes como o tempo vivido. Na sociedade capitalista, tempo dinheiro, no se pode perder tempo, e as pessoas so controladas pelo relgio. Para alguns grupos indgenas brasileiros, e mesmo de outros lugares essa concepo, gera algumas perplexidades. Uma 30. delas receber dinheiro pelo tempo de trabalho, e no pelo produto realizado. Tal procedimento provoca, vezes, a incompreenso de muitos povos indgenas que trabalham como assalariados para os brancos e acolhem mal a ideia das oito horas de trabalho, os feriados de domingos, uma vez que o tempo cclico o mais significativo para eles, e indica outras formas de ordenar o trabalho ou mesmo o descanso, o lazer, a festas, associando-o ao tempo da chuva, da seca, de plantar e colher e dos respectivos rituais. A semana de sete dias no faz parte do tempo indgena, das aldeias, bem como os anos, os meses, as mudanas dos fusos horrios. Historiadores e o tempo histrico Tempo e espao constituem os materiais bsicos dos historiadores. De fato, qualquer escrita da Histria fundamenta-se em uma dimenso temporal e espacial. Um dos objetivos bsicos da Histria compreender o tempo vivido em outras pocas e converter o passado em nossos tempos. A Histria prope-se reconstituir o tempo, distante da experincia do presente e, assim, transform-lo em tempos familiares para ns. Tempo histrico e espao Os historiadores, alm de se preocuparem em situar a aes humanas no tempo, tm a tarefa de situ-las no espao. No se pode conceber um fazer humano separado do lugar onde esse fazer ocorre. O ambiente natural ou urbano, as paisagens, o territrio, a trajetrias, os caminhos por terra e por mar so necessariamente parte do conhecimento histrico. Mudanas dos espaos realizadas pelos homens assim como as memrias de lugares tambm integram esse conhecimento. Tempo histrico e ensino 31. Tempo/Espao e mudana social. Entre os conceitos histricos fundamentais destacam-se a) o tempo histrico b) o espao; Mas ressaltamos que a cronologia se faz necessria, porm as crianas devem entender que existem outras temporalidades, que o tempo percebido pelas diversas sociedades de maneira diferente, importante ainda ressaltar a diferena entre tempo cronolgico de tempo histrico que igual a tempo vivido. Em suma importante que os alunos conheam a cronologia os marcos, porm no de uma forma rgida. A Histria prope-se a reconstruir os tempos distantes da experincia do presente e assim transform-los em tempos familiares para ns. (...) Assim podemos considerar que a funo do professor possibilitar ao estudante a reflexo sobre o presente pelo estudo do passado. A prtica de ensino de Histria, com alunos de diversos nveis de escolarizao, demonstrou alguns dos obstculos enfrentados pelo professores para efetivar essa aprendizagem. O aspecto que estes destacaram, como a maior dificuldade dos alunos, relaciona-se localizao ou identificao dos acontecimentos no tempo; mais especificamente identificao dos sculos e do perodo antes do Cristo (a.C) e depois de Cristo (d.C). E s dataes decorrentes dessa diviso temporal. Verificou-se assim que o tempo histrico, ao qual os professores se referiam, limitava- se a se ao tempo cronolgico. Tempo era, portanto sinnimo de tempo histrico. um dos objetivos bsicos da Histria compreender o tempo vivido de outras pocas e converter o passado em nossos tempos. 32. No caso do ensino do tempo cronolgico para as sries iniciais, interessante vincul- los noo de gerao. Pais, avs, os vestgios do passado de pessoas ou familiares mais velhos mostram um momento diferente do atual, revelando uma Histria e as transformaes sociais possveis de serem percebidas nas relaes com o tempo vivido da criana. Procedimentos metodolgicos no ensino de Histria Mtodos tradicionais versus Mtodos inovadores Existe uma ligao entre o mtodo tradicional e uso de lousa, giz e livro didtico: o aluno, em decorrncia da utilizao desse material, recebe de maneira passiva uma carga de informaes que, por sua vez, passam a ser repetidas mecanicamente, de forma oral ou por escrito, com base naquilo que foi copiado no caderno ou respondido nos exerccios propostos pelos livros. As mudanas de mtodos e contedos precisam ser entendidas luz da concepo de tradio escolar, sendo necessrio perceber, por intermdio desse conceito, dois aspectos fundamentais. 1. Cria-se a ideia de que em educao preciso sempre inventar a roda, embora baste verificar que muito do que se pensa ser novo j foi experimentado muitas outras vezes. 2. Entender que muito do tradicional deve ser mantido, porque a prtica escolar j comprovou que muitos contedos e mtodos escolares tradicionais so importantes para a formao dos alunos e no convm que sejam abolidos ou descartados em nome do novo. Reflexes sobre o mtodo dialtico em situao pedaggica O mtodo dialtico corresponde a um esforo para um progresso do conhecimento que surge no confronto de teses opostas: o pr e o contra, o sim e o no, a afirmao e a negao. O confronto das teses opostas possibilita a elaborao da crtica. Esse mtodo pretende chegar ao conhecimento de determinado objetivo ou fenmeno defrontado teses contrarias, divergentes. Tais teses, no entanto, no so apenas 33. divergentes; so opostas e por vezes contraditrias, e necessria qualidade que se confrontam pelas contradies. Muito estudiosos, especialmente, os filsofos, destacando-se os alemes Friedrich Hegel (1770-1831) e Karl Marx (1818-1883), dedicaram-se explicitao do mtodo dialtico e de suas reflexes derivam muitos estudos sobre a questo. Um ponto inicial, ao se propor a introduo do mtodo dialtico no ensino, identificar o objeto de estudo para os alunos e situ-los como um problema (com prs e contras) a ser desvendado com a utilizao da anlise da decomposio de elementos, para posteriormente esse objeto voltar a ser entendido como um todo. Representaes sociais e princpios metodolgicos de pesquisa em sala de aula A representao social entendida como uma modalidade particular de conhecimento. O termo designa, ao mesmo tempo, o produto, o processo, os contedos de conhecimento e os mecanismos de constituio e de funcionamento do produto. Considerando a representao social na situao educacional, o fundamental identificar os conhecimentos adquiridos pela experincia de vida, pela mdia etc. Que estejam solidamente enraizados, porque so uma construo pela qual o jovem se apropria do real, tornando-o inteligvel. Mas a representao social ultrapassa essa atividade de conhecimento prtico e preenche igualmente uma funo de comunicao. Ela permite s pessoas se inseriram em um grupo e realizarem trocas, intervindo na definio individual e social, na forma pela qual o grupo se expressa. O jovem (adverte Denise Jodelet, outra estudiosa das representaes sociais) possui domnio pertinente sobre numerosos objetos de estudo. Pertinente porque adaptado aos problemas que ele teve de conhecer ou resolver, e no pertinente do ponto de vista que a priori interessa ao professor, preocupado com o entendimento cientfico do objeto ou, pelo menos, da matria ensinada. Aquele conhecimento tem, alem do mais, um carter de autoridade, legitimidade, porque por meio dele que o indivduo estabelece comunicao com o grupo ao qual pertence. As representaes como instrumento de avaliao e diagnstico 34. Ao possibilitar, por intermdio de debates e discusses orais, e de respostas a questionrios cuidadosamente preparados, a exposio das representaes sociais dos alunos sobre determinado objeto, criam-se condies para que eles identifiquem os diferentes tipos de conhecimento: o proveniente da vivncia, das formas de comunicao diria que organizam suas representaes sobre a realidade social (expressa notadamente pelas expresses eu penso, eu acho, na minha opinio...), e o conhecimento sobre essa mesma realidade proveniente do mtodo cientfico. Ademais, fazer emergirem as representaes sociais dos alunos sobre o objeto de estudo, no decorrer das aulas, permite, ao professor, meios de avaliar os prprios alunos e o curso em sua integralidade. Procedimento metodolgico em prticas interdisciplinares Meio ambiente e Histria A Histria ambiental foi se constituindo basicamente em torno de um objetivo comum: investigar como os homens, em diferentes sociedades, ao longo dos sculos, foram afetados pelo meio ambiente, e, de maneira recproca, como o ambiente foi afetado pelos homens. Os historiadores esclarecem que a Histria ambiental trata do papel e do lugar da natureza na vida do homem Worster (1991). Vrios temas passaram a constitu-la e um levantamento parcial demonstra o crescimento da rea entre os historiadores brasileiros, embora sejam os norte americanos e europeus os lderes dessa produo. A Histria do meio ambiente no Brasil fortaleceu-se com a contribuio de um norte americano, o brasilianista Warren Dean, que em meados dos anos 80, se dedicou a analisar a relao entre a sociedade e o meio ambiente no Brasil. Interdisciplinaridade e prtica de ensino de Histria ambiental Alguns princpios fundamentais que devem permear e estruturar as disciplinas envolvidas em trabalho que se baseiam na concepo de conhecimento escolar 35. integrado. Para a educao ambiental, um dos princpios articuladores o da natureza ser dinmica e no poder ser entendida como esttica, sendo necessrio perceb-la em seu movimento. Outro principio aparentemente obvio, mas pouco explicito, o que estabelece o homem como parte integrante da natureza. Estudo do meio como prtica interdisciplinar O estudo do meio uma prtica pedaggica que se caracteriza pela interdisciplinaridade. Em relatos de escolas anarquistas de So Paulo do inicio do sculo XX, j se nota a preocupao dos educadores da linha pedaggica de Ferrer de colocar o aluno em contato com o meio social ou em situao de observao direta dos fenmenos naturais, para lhe proporcionar um estudo mais interativo e envolvente. O educador francs Celestin Freinet foi um dos ardentes defensores do estudo da realidade prxima do aluno, sendo esta prtica uma das bases de seu mtodo. O estudo do meio orienta- se tambm para o atendimento da formao intelectual dos alunos. Um objetivo central dessa prtica o desenvolvimento da capacidade de observao do educando. A observao como procedimento de investigao em, um estudo do meio, destacada por Ligia Possi (1993): observao simples, observao participante e observao sistemtica. Materiais Didticos: concepo e uso. Materiais didticos para a Histria escolar O estudo do meio um mtodo de investigao cujos procedimentos se devem ater a dois aspectos iniciais. O primeiro deles que esse mtodo um ponto de partida, no um fim em si mesmo. O segundo que sua aplicao resulta sempre de um projeto de estudo que integra ou parcial. 36. Para Bittencourt, o livro didtico e as imagens so interferidos por fatores mercadolgicos, tcnicos e editoriais. A pesquisadora ressalta que devido s imagens dos livros didticos brasileiros serem reprodues feitas por desenhistas, ( reduz os gastos), no apresenta informaes para a uma integral anlise.Por conceber as imagens como elementos importantes para a aprendizagem dos alunos, a autora assinala que os professores devem estar em alerta para as falhas que podem ter esse material didtico e a suas implicaes no aprendizado dos alunos. Ressalta ainda que as imagens no devam ser ferramentas decorativas, mas sim propiciadoras da apreenso e entendimento dos alunos sobre os assuntos. Bittencourt afirma que o professor deve ensinar ao seu aluno, a ler a imagem como objeto e como sujeito Os suportes informativos correspondem a todo discurso produzido com a inteno de comunicar elementos do saber das disciplinas escolares. Nesse sentido temos toda a srie de publicaes de livros didticos e paradidticos, Atlas, dicionrios, apostilas, cadernos, alem das produes de vdeo, CDS e DVDS e material de computador. Os suportes informativos pertencem ao setor da indstria cultural e so produzidos especialmente para a escola, caracterizando por uma linguagem prpria, por um tipo de construo tcnica que obedece a critrios de idade, vocabulrios, extenso e formatao de acordo com princpios pedaggicos. Material didtico: instrumento de controle curricular Um aspecto fundamental a ser considerado em anlise sobre material didtico o papel de instrumento e de controle do ensino por parte dos diversos agentes do poder. Michel Apple, no artigo Controlando a forma do currculo, alerta para a relao entre produo e consumo de material didtico e desqualificao do professor. O despreparo do professor, resultante de cursos sem qualificao adequada, e as condies de trabalho na escola, muitas vezes, favorecem, segundo o autor, uma cultura mercantilizada que transforma cada vez mais a escola em um mercado lucrativo para a indstria cultural, com oferta de materiais que so verdadeiros pacotes educacionais. 37. Livro didtico: um objeto cultural complexo A produo da literatura didtica tem sido objeto de preocupaes especiais de autoridades governamentais, e os livros escolares sempre foram avaliados segundo critrios especficos ao longo da Histria da educao. Os livros de Histria, particularmente, tm sido vigiados tanto por rgos nacionais como internacionais, sobretudo aps o fim da Segunda Guerra Mundial. A partir da segunda metade do sculo passado, divulgam-se estudos crticos sobre os contedos escolares, nos quais eram visveis preconceitos, vises estereotipadas de grupos e populaes. Como se tratava da fase ps-guerra, procurava-se evitar, por intermdio de suportes educacionais, qualquer manifestao que favorecesse qualquer sentimento de hostilidade entre os povos. Nessa perspectiva, a Histria foi uma das disciplinas mais visadas pelas autoridades. Essa vigilncia visvel ainda na atualidade, como bem o demonstra a imprensa peridica. A familiaridade como o uso de livro didtico faz com que seja fcil identific-lo e estabelecer distines entre ele e os demais livros. Entretanto, trata-se de objeto cultural de difcil definio, por ser obra bastante complexa, caracterizada pela interferncia de vrios sujeitos em sua produo, circulao e consumo. Pode assumir funes diferentes, dependendo das condies, do lugar e do momento em que produzido e utilizado nas diferentes situaes escolares. um objeto de mltiplas facetas, e para sua elaborao existem muitas interferncias. Entre livros didticos pesquisados, os de Histria tem sido os mais visados. Em estudo recente sobre o predomnio de investigao da produo didtica nessa rea a partir da segunda metade do sculo passado na Alemanha e na Europa em geral, a historiadora Verena R Garcia destaca o papel poltico dos manuais escolares de Histria, considerando-os verdadeiras autobiografias dos Estados modernos. Tendo em vista o momento poltico do ps-guerra, perodo extremamente complexo para as 38. relaes entre pases participantes da Segunda Guerra Mundial - explica a pesquisadora - houve a criao na Alemanha, de uma instituio encarregada de revisar os manuais escolares. O objetivo inicial era detectar erros e preconceitos no livro didticos por intermdio de estudos comparativos em escala internacional. Caracterizao dos livros de Histria Certas pesquisas sobre livros didticos permitem identificar algumas caracterstica dessa produo e mostram que ela esta em processo de mudana. Um dos mais importantes pesquisadores de livros didticos, o historiador francs Alain Choppin, tem afirmado que os manuais esto, na atualidade, convertendo-se de uma ferramenta polifnica, com varias funes. As funes atuais do livro didtico so: avaliar a aquisio dos saberes e competncias; oferecer uma documentao completa provenientes de suportes diferentes; facilitar aos alunos a apropriao de certos mtodos que possam ser usados em outras situaes e em outros contextos. Do ponto de vista da forma, entre ns, os livros didticos tm sofrido muitas mudanas nos ltimos anos, e se adaptado ao referencial do Programa Nacional do Livro Didtico. Os livros so produzidos em forma de colees, que se destinam s diferentes sries do ensino fundamental e, obrigatoriamente, apresentam o livro do aluno e do professor. Sua importncia reside na explicitao e sistematizao de contedos histricos provenientes das propostas curriculares e da produo historiogrfica. Autores e editoras tm sempre, na elaborao dos livros, o desafio de criar esse vnculo. Contedos pedaggicos Os contedos tm outra caracterstica que precisa ser analisada: a articulao entre informao e aprendizagem. A anlise do discurso veiculado pelo livro didtico indissocivel dos contedos e tendncias historiogrficas de que portador. 39. Entretanto, deve-se levantar algumas questes sobre essa qualificao impositiva do texto, ao se ater s relaes entre o contedo da disciplina e o contedo pedaggico. importante perceber a concepo de conhecimento expressa no livro; alm de sua capacidade de transmitir determinado acontecimento histrico, preciso identificar como esse conhecimento deve ser aprendido. O conjunto de atividades contidas em cada parte ou capitulo fornece as pistas para avaliar a qualidade do texto no que se refere s possibilidades de apreenso do contedo pelos estudantes. O conhecimento contido nos livros depende ainda da forma pela qual o professor o faz chegar ao aluno. Prticas de leitura de livros didticos A utilizao do livro didtico pelos professores bastante diversa. Algumas das pesquisas sobre esse tema revelam que no existe modelo definido e homogneo nas prticas de leitura, conforme pressupunha muitas das anlises sobre a ideologia dos contedos escolares das obras didticas. o poder da ideologia reside em uma imposio sem mediaes e toda ideologia integralmente incorporada por alunos e professores. (?) Embora no se possa negar e omitir o papel dos valores e da ideologia nas obras didticas, as concluses de muitas das atuais pesquisas sobre as prticas de leitura desse material tem apontado para a importncia das representaes sociais na apreenso de seu contedo e mtodo. A recepo feita pelos os usurios variada, at porque o pblico escolar no construdo por um grupo social homogneo. Usos didticos de documentos Os documentos tambm so materiais mais atrativos e estimulantes para os alunos e esto associados aos mtodos ativos ou ao construtivismo, conforme algumas justificativas de algumas propostas curriculares. 40. Mtodos de anlise de documentos O primeiro passo o professor saber como o documento utilizado na investigao do historiador, para, em seguida, poder apropriar-se do procedimento de anlise tendo em vista outras situaes de estudos histricos. A compreenso de um documento em toda sua complexidade deve tambm se pautar pela reflexo de outro historiador. O uso de documentos nas aulas de Histria justifica-se pelas contribuies que pode oferecer para o desenvolvimento do pensamento histrico. Uma delas facilitar a compreenso do processo de produo do conhecimento histrico pelo entendimento de que os vestgios do passado se encontram em diferentes lugares, fazem parte da memria social e precisam ser preservados como patrimnio da sociedade. Documentos escritos: jornais e literatura Os documentos escritos so os mais comuns e os que, tradicionalmente, tm sido usados por historiadores e professores nas aulas de Histria. No raro, encontramos documentos, usados com fins pedaggicos, em muitos livros didticos, ou em coletneas, que selecionam textos escritos de diferente natureza, tais como textos legislativos, artigos de jornais e revistas de diferentes pocas, trechos literrios e, mais recentemente, poemas e letras de msicas. Literatura Como Um Documento Interdisciplinar 41. Romances, poemas, contos so textos que contribuem, pela sua prpria natureza, para trabalhos interdisciplinares. O uso de textos literrios, por outras disciplinas, faz parte de uma longa tradio escolar, que remonta a poca em que dominava o perodo humanstico. Atualmente, a literatura integra os contedos das aulas de Lngua Portuguesa, mas tem sido utilizada por outras disciplinas, a ponto de existirem muitos exemplos de atividades integradas entre duas ou mais tendo por base textos literrios. Para o caso da Histria, o enlace como o ensino de literatura sempre desejvel. Muitas prticas de ensino optam pelo relato de lendas a alunos das sries iniciais do ensino fundamental como meio de introduzir conhecimentos histricos, alm de procurar favorecer o gosto pela leitura por intermdio de uma literatura adequada a essa faixa etria. Documentos Escritos Cannicos Entre os documentos escritos, os produzidos pelo poder institucional so bastante usuais na pesquisa historiogrfica, notadamente naquela afinada com a tradio de uma Histria poltica que se preocupa com o poder institucional e privilegia o papel do Estado nas transformaes histricas. O ensino de Histria pautado por essa linha no se utilizou, no entanto, de documentos legislativos. Em livros didticos, no comum encontrar documentos provenientes do poder institucional para serem explorados do ponto de vista pedaggico. So excees alguns artigos da Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado de 1789, nos captulos destinados Revoluo Francesa, e alguns outros artigos de Constituies dos Estados Modernos. Documentos No Escritos Na Sala de Aula 42. Objetos de museus que compem a cultura material so portadores de informaes sobre costumes, tcnicas, condies econmicas, ritos e crenas de nossos antepassados. Essas informaes ou mensagens so obtidas mediante uma leitura dos objetos, transformando-os em documento. Imagens diversas produzidas pela capacidade artstica humana tambm nos informa sobre o passado da sociedade, sobre suas sensaes, seu trabalho, sua paisagens, caninhos, cidades, guerras. Qualquer imagem importante, e no somente aquelas produzidas por artistas. comum encontrarmos crianas e jovens em museus, acompanhado de seus professores, percorrendo as salas onde esto expostos variados objetos em vitrinas com iluminao atrativas. Uma atividade educativa dessa natureza sempre bem vinda, ento as visitas aos museus merecem ateno, para que possam constituir uma situao pedaggica privilegiada como trabalho de anlise da cultura do material, em vista da compreenso da linguagem plstica. Mesa, vasos, cermica, vidro ou metal, tapetes, cadeiras, automveis ou locomotivas, armas e moedas podem ser transformados de simples objeto da vida cotidiana, que apenas despertam interesse pelo viver antigamente, em documentos ou em material didtico que serviro como fonte de anlise, de interpretao e de crtica por parte dos alunos. Imagens no ensino de Histria As gravuras ou ilustraes tm sido utilizadas com frequncia como recurso pedaggico no ensino de Histria. Atualmente, alm das imagens dos livros escolares, h tambm a proliferao da produo de imagens tecnolgicas como recurso didtico, proveniente de mquinas ou aparelhos eletrnicos, e constitudas de filmes, fotografias e imagens informticas dos CDs e softwares. O interesse dos historiadores pelas imagens, que circulam em diferentes espaos e momentos, por diversas sociedades e culturas, aumentou na ultima dcada. As diversas imagens tm se tornado em fontes importantes da pesquisa historiogrfica, sobretudo pra os especialistas da Histria social e cultural, saindo do mbito dos historiadores da arte. 43. Cinemas e Audiovisuais Introduzir imagens cinematogrficas como material didtico no ensino de Histria no novidade. Jonathas Serrano, professor do colgio Pedro II e conhecido autor de livros didticos, procurava, desde 1912, incentivar seus colegas a recorrer a filmes de fico ou documentrios para facilitar o aprendizado da disciplina. Segundo esse educador, os professores teriam condies, pelos filmes, de abandonar o tradicional mtodo de memorizao, mediante o qual os alunos se limitavam a decorar pginas de insuportvel sequncia de eventos. interessante destacar que, se as imagens cinematogrficas demoraram a penetrar na escola, e ainda o fazem de maneira ilustrativa, elas foram praticamente ignoradas por longo tempo pelos historiadores, ocupados em anlise de documento mais nobre os textos escritos. Atualmente com a contribuio de vrios estudos interdisciplinares de antroplogos, lingistas, socilogos e demais tericos da comunicao, os historiadores podem dispor de uma metodologia mais abrangente para analisar tantos filmes de fico como documentrios ou filmes cientficos. Msica e Histria A msica tem se tornado objeto de pesquisa de historiadores muito recentemente, e tem sido utilizada como material didtico com certa frequncia nas aulas de Histria. Entre os tipos de msica que atraem tanto pesquisadores brasileiros como professores, a msica popular se sobressai. Segundo Marcos Napolitano, historiador especializado nessa rea, a msica popular emergiu do sistema musical ocidental, tal como foi consagrado pela burguesia no incio do sculo XIX, e a dicotomia popular e erudito nasceu mais em funo das prprias tenses sociais e lutas culturais da sociedade burguesa do que por um desenvolvimento natural do gosto coletivo, em torno de formas musicais fixas. Nas aulas de Histria, msicas tm sido utilizadas com frequncia como recurso didtico, assim como em aulas de Geografia e Lngua Portuguesa, alm de Educao Artstica. 44. QUESTES: 1. Assinale as alternativas corretas: I O tempo concebido varia de acordo com as culturas e gera relaes diferentes como o tempo vivido. II um dos objetivos bsicos da Histria compreender o tempo vivido de outras pocas e converter o passado em nossos tempos. III A Histria prope-se a reconstruir os tempos distantes da experincia do presente e assim transform-los em tempos familiares para ns. IV podemos considerar que a funo do professor possibilitar ao estudante a reflexo sobre o presente pelo estudo do passado. V Tempo sinnimo de tempo histrico a) I e II; b) II, III e IV; c) III, IV e V; d) I, II, III e IV; e) todas esto corretas. 2) o poder da ideologia reside em uma imposio sem mediaes e toda ideologia integralmente incorporada por alunos e professores. a) trata-se de uma afirmao radical, pois os professores podem manipular os livros didticos e utiliz-los de outra forma b) o material didtico pedaggico uma ferramenta a ser utilizada por mestres e alunos, visando a integralidade dos estudos c) as alternativas A e B esto corretas 45. d) a alternativa A est correta e seu enunciado complementa a B c) todas esto erradas 3) as imagens no devEm ser ferramentas decorativas, mas sim propiciadoras da apreenso e entendimento dos alunos sobre os assuntos. Bittencourt afirma que o professor deve ensinar ao seu aluno, a ler a imagem como objeto e como sujeito. a) alm do livro didtico, Bittencourt cita como fontes histricas, museus, documentos cannicos, msica, literatura, entre outros b) as imagens, sejam elas obras de arte de artistas famosos ou no, devem ser interpretadas pelos alunos de acordo com a viso passada pelo educador c) o uso do cinema, vdeo, TV, msica so fundamentais e essenciais para a memorizao das atividades d) Os textos escritos, material mais nobre no ensino, deve prevalecer sobre outras tcnicas que proliferaram na atualidade. e) N.D.A. GABARITO: 1. D 2. C 3. A 3. BLOCH, Marc. Apologia da Histria ou ofcio do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. Obs.: Esfe livro trata de metodologia da Histria. Foi o ltimo de Marc Bloch e encontra-se inacabado. A primeira edio de 1949. Nascido em 1886, foi educado no seio de uma famlia judia e dreyfusista, Bloch frequentou a cole Normale at 1908. Entrou em contato com a existncia da ideia definidora de diferentes momentos civilizatrios de Bruhl e teve maior influncia de Durkheim. Optou pela Histria medieval e especializou-se na le-de-France, sobre a qual publicou, em 1913, seu primeiro estudo em que a noo de problema surgia expressa no questionamento do conceito de regio, alegando que esta variava em 46. funo da questo que se tinha em mente. Foi nomeado mestre de conferncia em dezembro de 1919 e professeur na Universidade de Estrasburgo, em 1921. Nos anos aps a Primeira Guerra, Estrasburgo, recm-desanexada da Alemanha, representava um ambiente renovado e aberto ao intercmbio entre disciplinas e ideias. Aps ter lutado na Primeira Guerra, retorna em 1914, ferido. Nesse perodo, escreveu suas memrias esboadas, que seriam mais tarde retomadas e transformadas no livro A estranha derrota. Ele usa a experincia no front para pensar uma histria da psicologia coletiva. nesse contexto intelectual que conhece Halbwachs, cujo estudo sobre a estrutura da memria social o influenciou, e tambm Lefbre e Febvre. Em 1924, publica Os reis taumaturgos, cujo tema adentrava na psicologia religiosa e na seara das iluses coletivas. Em 1929, funda com Febvre a Escola dos Annales, novo modelo de historiografia. Em 1931, publica um livro sobre a histria rural francesa, aplicando seu mtodo regressivo. Em 1939, a vez de A sociedade feudal, histria europeia de 900 a 1300. Na Segunda Guerra Mundial, mesmo com 53 anos, alista-se. Diante da derrota francesa, ele volta e, em 1943, entra para a Resistncia do grupo de Lyon. Em 1944, preso e ento saem A estranha derrota e A apologia da histria ou o ofcio do historiador. Torturado pela Gestapo, foi fuzilado em 16 de julho de 1944 em Saint Didier de Formans, perto de Lyon. Bloch, um ser individual e coletivo, foi uma das vtimas de Klaus Barbie. Para que serve a Histria? - pergunta seu filho. Ele responde neste livro. O problema colocado o da "legitimidade da Histria", expresso que mostra que, para ele, o problema epistemolgico da Histria tanto intelectual e cientfico quanto cvico e moral. O problema da utilidade da Histria, no sentido pragmtico da palavra til, no se confunde com o de sua legitimidade intelectual. A Histria uma cincia em marcha e no ultrapassou alguns dos problemas essenciais do seu mtodo. Para Bloch, importante utilizar a interdisciplinaridade sem, no entanto, causar confuso entre as disciplinas. Histria uma palavra antiqussima e, desde que surgiu, j mudou muito de contedo. Cabe ao historiador saber como e quais temas escolher e como trat-los. A Cincia a histria dos homens no tempo (o tempo da histria escapa uniformidade, oscila entre a longa durao e o momento, colocando como mediadora a "tomada de conscincia"). Esse tempo perptua mudana. Em que medida devemos considerar o conhecimento do mais antigo como necessrio ou suprfluo para a compreenso do mais recente? A obsesso das origens teve seu momento no pensamento histrico. Tambm no estudo religioso, parecia fornecer um critrio prprio do valor do Cristianismo, que essencialmente uma religio histrica. Talvez a mania de origem seja um disfarce da mania de j