Revista Human 84_Entrevista HF

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30 JANEIRO 16 Helder Figueiredo, Global Manager of International Assignment Services na Sodexo, em Paris Human_84.indd 30 04/01/16 18:20

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Helder Figueiredo, Global Manager of International Assignment Services na Sodexo, em Paris

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AAos 44 anos, casado e pai de quatro filhos, Helder Figuei-redo trabalha em Paris, depois de em 2011 ter tomado a decisão de sair de Portugal. Ele próprio conta: «Quando fiz 40 anos, olhei para trás e refleti sobre o meu percur-so profissional até aí. Já tinha 15 anos de carreira, como consultor [duas vezes na Accenture, primeiro no início de carreira, em 1997, ainda a consultora se chamava An-dersen Consulting], como diretor de recursos humanos [Construtora do Tâmega e Fnac], como empreendedor e com o meu próprio negócio de ‘coaching’ (‘licensee’ da LMI – Leadership Managemet International em Portu-gal), como docente do ensino superior [IPAM – Instituto Português de Administração de Marketing, em Lisboa) e como ‘business operator’ numa empresa de consultoria [Addwise]. Nesses 15 anos procurei o que mais prazer me tinha dado fazer, e descobri que queria voltar a ser diretor de recursos humanos. Comecei então a redirecio-nar a minha carreira, e ao falar com vários ‘head hunters’ amigos todos foram unânimes em me aconselhar ir tra-balhar para fora do país, nomeadamente em África.» Foi assim que com mais um pouco de trabalho de pesquisa encontrou a oportunidade de trabalhar em Angola como ‘country human resources director’ da Sodexo, uma das maiores empresas mundiais a atuar na área de ‘quality of life services’, servindo mais de 75 milhões de clientes diariamente, em 80 países, e com mais de 420.000 em-pregados. Em fevereiro de 2012 passou a integrar esta empresa francesa fundada há mais meio século.

Uma nova realidadeLicenciado em «Gestão de Recursos Humanos» pelo an-tigo ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) e com um mestrado em ‘stand by’ na Universidade de Évora, chegou a Angola e rapidamente se integrou numa nova realidade. «Em Angola as condições de trabalho e de vida não são fáceis. Fui para uma empresa com 1.000 trabalhadores, dos quais 900 angolanos e 100 expatria-dos de 16 nacionalidades». Aqui, Helder Figueiredo dei-xa uma nota – «devido a uma decisão de ajudar à loca-lização de quadros, quando saí estávamos a ultrapassar novamente os 1.000 trabalhadores, mas com apenas 50 expatriados, na mesma de 16 nacionalidades». O negó-cio da empresa ainda trouxe dificuldades acrescidas.

«Em Angola servíamos mais de dois milhões de refei-ções por ano, ‘on-shore’ (Luanda, Lobito, Porto Amboim, Cabinda) e ‘off-shore’ (quase uma dezena de platafor-mas petrolíferas), pelo que a cadeia de fornecimento da comida pode ser uma verdadeira dor de cabeça. Desde a falta de produtos no mercado, como ovos ou açúcar, até falhas nos fornecimentos para alto mar, as coisas podem tornar-se um pesadelo. Cheguei a estar numa platafor-ma, abrir a câmara frigorífica e só ter hambúrgueres para dois dias para 200 pessoas, e sem perspetivas de forne-cimento, mas lá se conseguiu fornecimento alternativo. Mais ainda… Ameaças de greve, furtos, pessoal que fal-tava aos embarques por qualquer razão, tudo cenários a que não estava muito habituado, mas que me permi-tiram crescer enquanto profissional, pois para tudo ti-vemos que encontrar soluções e negociar, para manter o negócio a funcionar.» As diferenças culturais foram outro grande desafio. «Apesar de falarmos a mesma lín-gua, a nossa cultura é completamente diferente, e para adicionar complexidade tínhamos ainda outras 15 na-cionalidades que era preciso fazer trabalhar em equipa. Foi um desafio empolgante e que me permite hoje olhar para o mundo de uma forma completamente diferente», partilha Helder Figueiredo.

Em FrançaA mudança para França ocorreu com naturalidade no contexto de desenvolvimento de carreira numa multina-cional como a Sodexo. «Internamente temos uma polí-tica de proporcionar oportunidades de carreira interna-cional aos trabalhadores que tenham o perfil e a vonta-de para tal. Temos inclusive uma ‘newsletter’ quinzenal onde são publicadas todas as oportunidades internas em aberto.» Helder Figueiredo concorreu, fez todo o percurso de entrevistas e em setembro de 2014 aterrou em Paris para gerir globalmente a área de ‘international assignment services’, incorporado na equipa de recursos humanos do grupo.O que ganhou este jovem quadro, um dos mais presti-giados profissionais portugueses de recursos humanos, com estas novas experiências? Ele próprio esclarece: «Costumo dizer que a minha cabeça quase explodiu de tanto ter sido exposta a uma realidade completamente

Os milagres da tecnologia

Depois de uma carreira de década e meia em Portugal, em grande parte na área de recursos humanos, Helder Figueiredo aventurou-se no exterior, na multinacional Sodexo. Angola e

França foram os destinos deste profissional que graças aos milagres da tecnologia dá todos os dias a volta ao mundo a trabalhar e toma o pequeno-almoço e janta com a família.

Texto: António Manuel Venda Fotos: DR

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diferente de estar focalizado apenas num país. Ao ter-mos a oportunidade de conhecer pessoas de diversas culturas e trabalhar com elas, pessoas com diferentes religiões e experiências de vida e profissionais, temos que nos adaptar de uma forma absolutamente extraor-dinária. Sinto que essa capacidade de adaptação, tão intrínseca aos portugueses, bem como a capacidade de decidir em ambiente de ambiguidade, foi o que mais de-senvolvi nestes anos a trabalhar fora.»Em termos familiares, o impacto foi, e continua a ser, brutal. Em Angola houve a possibilidade de durante um período Helder Figueiredo estar acompanhado pela mulher e pelos quatro filhos. «Apesar de ter sido uma aventura muito louca, foi a melhor decisão que tomei na vida. A minha mulher teve oportunidade de meter uma licença sem vencimento e os miúdos viram que há mais mundo para lá de Lisboa. Estudaram num colégio privado em Luanda Sul e conheceram crianças oriundas de vários países, filhos de outros expatriados e de ango-lanos. Ainda hoje mantêm contacto com muitos desses amigos.»Atualmente Helder Figueiredo tem a família em Portugal e regressa pelo menos uma vez por mês, ficando mais ou menos uma semana, entre férias e trabalho em casa. «Uma lição que costumo partilhar com todos os que vão trabalhar para fora é que mantenham rotinas de falar pelo Skype, como se fosse uma rotina quase religiosa. No meu caso, todos os dias jantamos juntos e ao pequeno--almoço é a mesma coisa. Em nossa casa o computador está no meu lugar habitual, e a televisão está desligada. Estas duas refeições são em família, o que me permite acompanhar a vida dos miúdos. Quando chego a Portu-

gal, há uma sensação de continuidade, pois o dia-a-dia foi partilhado através do Skype. Mas isto tem que ser fei-to de forma contínua. No escritório já sabem que há uma hora de manhã em que eu não estou disponível, e isso é respeitado por todos.»

E regressar?«Acredito que um dia vou regressar, provavelmente para uma função na qual possa manter uma forte liga-ção com os negócios internacionais e com a gestão de talentos em ambiente internacional», confessa Helder Figueiredo. «É verdadeiramente o que me fascina, e na realidade é o que me faz levantar todos os dias com uma energia renovada. Os desafios a nível internacio-nal são muitos e complexos, e apesar de as tecnologias terem mudado a forma como trabalhamos e vivemos hoje, continuam a ser as pessoas a fazer a diferença. Ajudar essas pessoas a fazerem a diferença, acompa-nhando-as no desafio da internacionalização, é o que me move.»Num dia normal de trabalho, Helder Figueiredo começa bem cedo em interação com as equipas da Sodexo em Singapura e noutros países da Ásia. Durante o dia, dá mais atenção aos colegas da Europa, nomeadamente no Reino Unido e em França, e é muito normal acabar as tardes e ir pela noite dentro a trabalhar com os cole-gas da América Latina (Chile e Brasil, maioritariamente) e dos Estados Unidos e do Canadá, devido aos fusos horários. A brincar, acaba por dizer: «Todos os dias dou a volta a mundo... É a realidade com que vivo e traba-lho, sendo que ao longo do dia tenho que falar normal-mente em três línguas, inglês, francês e português.»

Mesmo longe, em Paris, Helder Figueiredo

toma o pequeno-almoço e janta todos os dias

com a família, com a ajuda do Skype. «Em

nossa casa o computador está no meu lugar

habitual, e a televisão está desligada.»

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