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Revista Brasileira de Ciências Ambientais – número 2 46 MONITORAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS COMO INSTRUMENTO DE OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS E SUAS IMPLICAÇÕES Solange Vieira da Silva Mestre em história social da ciência pela FFLCH-USP, especialista em engenharia de saneamento básico pela FSP-USP. Especialista em entomologia médica pela FSP-USP. Graduada em ciências biológicas pelo Instituto de Biociências da USP. [email protected] Rosemara Augusto Pereira Engenheira civil formada pela PUC-Campinas, especialista em engenharia de saneamento básico pela FSP-USP. Responsável pela coordenação dos projetos da Empresa VSTECH. [email protected] Roque Passos Piveli Engenheiro civil pela Escola de Engenharia de São Carlos – USP (EESC-USP). Doutor em engenharia hidráulica e sanitária pela Escoloa Politécnica da USP e mestre em engenharia hidráulica e saneamento pela EESC-USP. [email protected] Hernan Junqueira Criscuolo Engenheiro civil pela Autarquia Municipal de Ensinos de Poços de Caldas – atua PUC-Poços de Caldas. Especialista em engenharia de saneamento básico pela FSP-USP. [email protected] RESUMO As variações na composição dos esgotos que chegam às estações de tratamento de esgoto (ETE) causam grandes transtornos operacionais. Em geral, dados os procedimentos operacionais padrão e a concepção de projetos rigidamente estruturados, não há como adotar uma atitude preventiva. O caráter dinâmico do funcionamento de uma ETE também dificulta a realização de mudanças drásti- cas de operação quando em situações adversas. Nesse sentido, um programa de monitoramento pode auxiliar para que o processo de tratamento dos esgotos atinja seu máximo de eficiência. A adoção de parâmetros que possibilitem averiguar as características dos esgotos encaminhados à ETE, em pontos estratégicos de monitoramento, pode orientar na escolha de estratégias operacionais eficazes. Conhecer o ambiente dos microrganismos responsáveis pelos processos metabólicos envolvidos na degradação de matéria carbonácea e de nitrificação, possibilita antecipar quais parâmetros devem ser controlados. O monitoramento também pode auxiliar na identificação das possíveis fontes geradoras de poluição, possibilitando a transferência de custos de tratamento por meio da aplicação do princípio poluidor-pagador. No presente trabalho foram analisados parâmetros de caracterização do afluente e efluente das ETEs Barueri e Franca. PALAVRAS-CHAVE Monitoramento de esgotos sanitários, caracterização de esgotos, processo de lodos ativados. ABSTRACT Variations in the wastewater composition can cause serious operational problems in the wastewater treatment plant. Very often, the strategies adopted to overcome problems related to the biochemical process, usually caused by toxic compounds are not effective. Moreover, the concept and the operation of the wastewater treatment plants are not structured to support changes in function of the wastewater characteristics. In this way, a very structured monitoring program can help operators to achieve the maximum treatment efficiency. The precise specification of the monitoring parameters and the strategic points of measuring them can lead to a more efficient operation. Another important question is the knowledge of the biological process responsible for the carbonaceous degradation and the nitrification process. This knowledge can anticipate which parameters must effectively be controlled to guarantee the microorganisms growing and adaptation. Besides, the wastewater monitoring can identify the wastewater sources and transfer these costs to the wastewater generators by the application of principle of “who pollutes must pay for that”. In this work, the influent and the effluent of two wastewater treatment plant using sludge activated processes characteristics where analyzed. Despite of the less pollutant concentrations in the Barueri treatment plant, Franca treatment plant is more efficient. One of the reasons for that is the huge dimensions of the Barueri treatment plant, the operation complexity and great wastewater volume treated contribute to a lower treatment efficiency. KEY WORDS Wastewater monitoring, sludge activated process, wastewater parameters characterization. Saneamento Ambiental

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais – número 246

MONITORAMENTO DASCARACTERÍSTICAS DOS ESGOTOS

COMO INSTRUMENTO DEOTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE

LODOS ATIVADOS E SUASIMPLICAÇÕES

Solange Vieira da SilvaMestre em história social da ciência pela FFLCH-USP,

especialista em engenharia de saneamento básicopela FSP-USP. Especialista em entomologia

médica pela FSP-USP. Graduada em ciênciasbiológicas pelo Instituto de Biociências da USP.

[email protected]

Rosemara Augusto PereiraEngenheira civil formada pela PUC-Campinas,

especialista em engenharia de saneamento básicopela FSP-USP. Responsável pela coordenação dos

projetos da Empresa [email protected]

Roque Passos PiveliEngenheiro civil pela Escola de Engenharia de SãoCarlos – USP (EESC-USP). Doutor em engenharia

hidráulica e sanitária pela Escoloa Politécnica da USP emestre em engenharia hidráulica e saneamento pela

[email protected]

Hernan Junqueira CriscuoloEngenheiro civil pela Autarquia Municipal de Ensinos

de Poços de Caldas – atua PUC-Poços de Caldas.Especialista em engenharia de saneamento básico

pela [email protected]

RESUMOAs variações na composição dos esgotos que chegam às estações de tratamento de esgoto (ETE)causam grandes transtornos operacionais. Em geral, dados os procedimentos operacionais padrão ea concepção de projetos rigidamente estruturados, não há como adotar uma atitude preventiva. Ocaráter dinâmico do funcionamento de uma ETE também dificulta a realização de mudanças drásti-cas de operação quando em situações adversas. Nesse sentido, um programa de monitoramentopode auxiliar para que o processo de tratamento dos esgotos atinja seu máximo de eficiência. Aadoção de parâmetros que possibilitem averiguar as características dos esgotos encaminhados àETE, em pontos estratégicos de monitoramento, pode orientar na escolha de estratégias operacionaiseficazes. Conhecer o ambiente dos microrganismos responsáveis pelos processos metabólicosenvolvidos na degradação de matéria carbonácea e de nitrificação, possibilita antecipar quais parâmetrosdevem ser controlados. O monitoramento também pode auxiliar na identificação das possíveisfontes geradoras de poluição, possibilitando a transferência de custos de tratamento por meio daaplicação do princípio poluidor-pagador. No presente trabalho foram analisados parâmetros decaracterização do afluente e efluente das ETEs Barueri e Franca.

PALAVRAS-CHAVEMonitoramento de esgotos sanitários, caracterização de esgotos, processo de lodos ativados.

ABSTRACTVariations in the wastewater composition can cause serious operational problems in the wastewatertreatment plant. Very often, the strategies adopted to overcome problems related to the biochemicalprocess, usually caused by toxic compounds are not effective. Moreover, the concept and theoperation of the wastewater treatment plants are not structured to support changes in function of thewastewater characteristics. In this way, a very structured monitoring program can help operators toachieve the maximum treatment efficiency. The precise specification of the monitoring parametersand the strategic points of measuring them can lead to a more efficient operation. Another importantquestion is the knowledge of the biological process responsible for the carbonaceous degradationand the nitrification process. This knowledge can anticipate which parameters must effectively becontrolled to guarantee the microorganisms growing and adaptation. Besides, the wastewater monitoringcan identify the wastewater sources and transfer these costs to the wastewater generators by theapplication of principle of “who pollutes must pay for that”. In this work, the influent and the effluentof two wastewater treatment plant using sludge activated processes characteristics where analyzed.Despite of the less pollutant concentrations in the Barueri treatment plant, Franca treatment plant ismore efficient. One of the reasons for that is the huge dimensions of the Barueri treatment plant, theoperation complexity and great wastewater volume treated contribute to a lower treatment efficiency.

KEY WORDSWastewater monitoring, sludge activated process, wastewater parameters characterization.

SaneamentoAmbiental

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INTRODUÇÃOConsiderando os riscos ambientais a

que estão submetidos os corposhídricos, sujeitos ao recebimento dasmais diversas cargas poluentes,decorrentes do lançamento direto deesgotos e dos efluentes finais de umaestação de tratamento de esgotos, adeterminação das principaiscaracterísticas dos mesmos,identificando suas propriedades físicas eseus principais constituintes químicos ebiológicos, constitui ferramentapoderosa a auxiliar na tomada demedidas, cujo objetivo seja o deotimizar os processos operacionais deuma ETE. Uma análise da viabilidade domonitoramento das características dosesgotos submetidos ao processobiológico de tratamento, a partir dedados de monitoramento dascaracterísticas dos afluentes e efluentesfinais das estações de tratamento deesgotos de Barueri e Franca, referentesao período de agosto a dezembro doano de 2002, obtidos na Companhiade Saneamento Básico do Estado deSão Paulo (Sabesp), possibilitou não sócaracterizar os esgotos brutos dessasestações de tratamento como tambémpermitiu uma avaliação geral de suascondições de funcionamento.

Este estudo possibilitou definir quaisparâmetros físicos, químicos e biológicossão fundamentais na caracterização dosafluentes e efluentes, assim como acomparação entre os dados obtidos domonitoramento das características dosafluentes e efluentes finais das estaçõesde tratamento de esgotos de Barueri eFranca permitiu avaliar a eficiência dessasestações em função do afluente querecebem. Essa análise foi possível pelofato de essas unidades utilizarem oprocesso de lodos ativados notratamento.

Também foi considerado um conjuntode dados isolados específicos às estaçõesde tratamento de esgotos estudadas,cuja análise possibilitou evidenciaraspectos representativos de cada umadelas, os quais indicaram particularidadesdas regiões a elas associadas.

A escolha dos parâmetros utilizadosna análise comparativa entre as duasestações de tratamento de esgotos levouem consideração a relevância para acaracterização e a constância no períodode referência, e para a análise deeficiência no tratamento consideraram-seas concentrações dos vários parâmetrospresentes no afluente e no efluente final.

No que se refere ao efluente devemser considerados não só os riscosambientais, mas também o fato de suascaracterísticas apresentarem grandeinterferência na segurança e na saúdedos trabalhadores que operam osistema, e na preservação das instalaçõesde coletas e transporte dos esgotos,permanentemente sujeitos à corrosão,incrustação ou mesmo obstrução econdições que podem gerar explosões.

Os resultados obtidos a partir domonitoramento do afluente e efluentepermitem não só avaliar a eficiência dotratamento efetuado pelas ETEs emquestão, mas também possibilitamidentificar problemas em potencial,orientando nas ações que conduzem auma otimização dos processosoperacionais dentro dessas ETEs.

Monitoramento das características dosesgotosO monitoramento das características

dos esgotos deve basear-se em umconjunto de ações que tenha porobjetivo avaliar a eficiência do sistema detratamento de efluentes por meio demedições repetitivas, de forma discretaou contínua. Essa avaliação só é possívelquando se dispõem de informações

confiáveis obtidas a partir de dadosobservados nas diversas fases do fluxode um sistema de esgotos, para umefetivo conhecimento do que estáocorrendo no meio. É assim que ossistemas de monitoramento de esgotosdevem ser planejados, pois de nadaadianta obter dados isolados os quaisnão possibilitam conclusões acerca domeio em questão.

O conceito de monitoramento dascaracterísticas dos esgotos é muito maisamplo do que simplesmente verificar seos padrões legais de emissão elançamento de efluentes estão sendoobedecidos ou não. Um plano demonitoramento eficaz deve atender àsnecessidades de responder o que estádivergindo das características esperadase por que está ocorrendo, para quemedidas eficientes sejam tomadas.

METODOLOGIAEste estudo se baseou em dados

secundários gerados a partir dasinformações que constam nos relatóriostécnicos das estações de tratamento deesgotos de Barueri e Franca, fornecidospela Companhia de Saneamento Básicodo Estado de São Paulo, nos quaisconstam valores médios mensais paradiversos parâmetros de caracterizaçãodos esgotos. Salienta-se que nestetrabalho foram selecionados os dadoscorrespondentes ao período de agostoa dezembro de 2002. Esses dados sãoapresentados no item reservado àanálise de dados.

Processo de tratamento dos dadosPrimeiramente, os dados foram

tabulados em Excel (Microsoft Office2000 Premium), a partir do qual foramgerados os gráficos temporais queauxiliaram no processo de análise.

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A definição dos parâmetros utilizadospara análise considerou, como aspectosimportantes, a constância durante operíodo de referência e os valoresmédios mensais. Para a análise deeficiência no tratamento consideram-se asconcentrações desses vários parâmetrospresentes no afluente e no efluente finale, posteriormente, a análise de dadosisolados possibilitou o reconhecimentode particularidades inerentes a cada umadas estações de tratamento estudadas. Oestudo comparativo a partir dessesdados foi possível, uma vez que ambasse utilizam do processo de lodo ativadopara tratamento dos esgotos quechegam nas estações de tratamento.

DESCRIÇÃO DOS MÉTODOSANALÍTICOSForam objetos de estudo deste

trabalho as estações de tratamento deesgotos de Barueri e Franca, para asquais foram analisadas as característicasdos esgotos que chegam às estações detratamento e do efluente final, a fim deidentificar a eficiência de ambas.

Estação de tratamento de esgotos deBarueriO sistema de esgotos de Barueri é

responsável pela coleta, transporte etratamento das contribuições de esgotoprovenientes das regiões: centro, norte,sul e oeste da região metropolitana deSão Paulo, além de municípios dasregiões oeste e sudoeste da Grande SãoPaulo, que são: Osasco, Taboão daSerra, Carapicuíba, Barueri, Cotia, Jandirae Itapevi.

Esse sistema de esgotos possui amaior e a mais complexa rede de coletae transporte de esgotos da RMSP,abrangendo uma área de cerca de1.200 km², na qual estão presentes os

rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, alémdos reservatórios Billings e Guarapiranga.

O processo de tratamento dosesgotos do sistema Barueri é do tipolodos ativados convencional e em nívelsecundário.

O tratamento compreende:tratamento preliminar, pelo gradeamentoe desarenação; decantação primária emtanques retangulares; aeração por ardifuso em dois conjuntos de tanques deaeração; clarificação final emdecantadores circulares com extração delodos por sifonamento; tratamento delodos por adensamento, por gravidadepara lodos primários e por flotação paralodos secundários; digestão anaeróbia edesidratação mecânica dos lodosproduzidos.

A ETE Barueri lança seu efluente finalno rio Tietê, o qual pertence à classe 04,de acordo com o Decreto n. 10.755/77.

Atualmente, a ETE Barueri temcapacidade nominal estabelecida em9,5 m³/s e trata cerca de 6,0 m³/s. Aconfiguração final prevista, no atualplano diretor da Sabesp, é de 28,5 m³/s,correspondendo a três módulos de9,5 m³/s.

Estação de tratamento de esgotos deFrancaO município de Franca é atendido

por cinco subsistemas de esgotos. Nesseprojeto estão sendo estudados apenasos esgotos encaminhados à ETE Franca.

A ETE de Franca está localizada namargem esquerda do córrego dosBagres, a jusante do cruzamento destecom a rodovia SP-345.

A ETE Franca lança seu efluente finaldo córrego dos Bagres, o qual pertenceà classe 04, de acordo com o Decreton. 10.755/77.

O processo de tratamento dosesgotos da ETE Franca é do tipo lodosativados convencional e em nívelsecundário.

O esgoto chega à ETE pelo emissáriodos Bagres. Nessa fase é realizado umtratamento preliminar; em seguida, oefluente é enviado para o poço desucção da estação elevatória de esgotobruto, de onde é bombeado até atorre de controle de nível e, em seguida,para os decantadores primários,seguido de aeração por ar difuso;clarificação final em decantadores etratamento de lodos.

Apresentação dos dadosAs Tabelas 1 e 2 apresentam,

respectivamente, as características dosesgotos afluentes às ETEs Barueri eFranca, e as Tabelas 3 e 4 apresentam,respectivamente, as características doefluente final das ETEs Barueri e Franca.

DISCUSSÃOA análise foi feita a partir de dados

apresentados nos relatórios da Sabesppara as estações de tratamento deesgotos de Barueri e de Franca. Foiconsiderado o período de agosto adezembro de 2002 pelo fato de osparâmetros usados para a comparaçãoentre as duas ETEs estarem presentesnos dois relatórios. Não foi possível fazeruma análise comparativa para asconcentrações de metais nem para ascaracterísticas da microfauna quecompunham o lodo do tanque deaeração (reator), porque nos relatóriosnão há informações para esses dadosno período considerado. Também nãohá indicações sobre as metodologiasaplicadas para a obtenção e análise dasamostras. Assim sendo, não podemosdescartar a possibilidade que asdiscrepâncias apresentadas possam serresultantes da aplicação de metodologiasdiferenciadas. Contudo, a análise dosparâmetros considerados permite avaliar,individualmente, as condições gerais nas

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Tabela 2 – Características do esgoto bruto afluente à ETE Franca *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

Tabela 4 – Características do efluente final da ETE Franca *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

Tabela 3 – Características do efluente final da ETE Barueri *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003** Valores não-determinados

Tabela 1 – Características do esgoto bruto afluente à ETE Barueri *

* Dados obtidos a partir do relatório técnico fornecido pela Sabesp, 2003

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quais essas ETEs estão funcionando,fornecendo indicativos da eficiênciaobtida por cada uma delas.

Foram analisados, para o afluente e oefluente das ETEs Barueri e Franca, osparâmetros: sólidos suspensos totais(SST), sólidos suspensos voláteis (SSV),demanda química de oxigênio (DQO),demanda bioquímica de oxigênio(DBO), nitrogênio total kjeldhal (NTk)(KEENEY e NELSON, 1982), nitrogênioorgânico (N-org), nitrogênio amoniacal(N-NH3), metais, coliformes, índicevolumétrico (IVL). A escolha dessesparâmetros teve como base apossibilidade de verificação, a partir deseus valores referentes ao afluente eefluente, das condições gerais defuncionamento das estações detratamento de esgotos (ETEs) Barueri eFranca. Outros parâmetros igualmenteimportantes para inferir as condições defuncionamento das ETEs são acaracterização da fauna microbiológica ea idade do lodo ( ). Não havendodados sobre a fauna microbiológica quecompõe os lodos dessas ETEs, noperíodo considerado, não foi possívelfazer a correlação com o parâmetroidade do lodo ( ), para a avaliação dadiversidade dessa fauna e a composiçãorelativa entre os organismosconstituintes. O correlacionamentodesses dois parâmetros permitiria inferiros possíveis agentes a comprometeremo bom funcionamento do sistema.

Condições de funcionamento da ETEBarueriPara a ETE Barueri, a temperatura

média nos pontos de coleta manteve-seem 26º C e o pH médio esteve por voltade 7,2. Para o período considerado, amedida para a DQOaflu do afluentemostra um valor médio de 473,2 mg/L.O valor máximo atingido foi de 529 mg/Le ocorreu no mês de agosto. Para aDBOaflu, o valor médio foi de 247,4 mg/L.

O valor máximo atingido ocorreu nomês de outubro e chegou a 285 mg/L.A relação DQOaflu/DBOaflu ficou ao redorde 1,9, que segundo os valores aceitos,é típico de esgotos domésticos brutos,cujo valor varia entre 1,7 a 2,4 (BRAILE eCAVALCANTI, 1979; VON SPERLING,1996a).

A análise para a DQOaflu e DBOaflu,respectivamente, mostra que, em geral,nessa ETE, os valores de DBO foram emtorno de 52% menor. Isso significa quepróximo de 52% da matéria orgânicapresente no afluente bruto de Baruerideveriam corresponder à matériaorgânica carbonácea biodegradável, jáque a DBO5,20 mede apenas a fraçãobiodegradável. Quanto mais este valor seaproximar da DQO, mais facilmentebiodegradado será o esgoto. Otratamento biológico, normalmente, érecomendado quando a relaçãoDQO/DBO5,20 for menor a 3/1, e valoresmuito elevados desta relação indicamgrandes possibilidades de insucesso,uma vez que a fração biodegradável setorna pequena, ficando o tratamentobiológico prejudicado pelo efeito tóxicoexercido pela fração não-biodegradávelsobre os microrganismos (CETESB,2003).

Esse valor, no entanto, pode estarmascarado por alguns fatores queinterferem na medição da DBO. Porexemplo, a presença de metais pesadosno esgoto bruto pode estar inibindo oprocesso metabólico dosmicrorganismos presentes no tanque deaeração, ou estes microrganismospodem não estar adaptados àscondições do ambiente. Também areação de nitrificação pode interferir namedida da DBO, ou seja, a presença denitrogênio, em meio aeróbio, favorece aação das nitrosomonas, as quaisconvertem a amônia a nitrito (NO2-), edas Nitrobacter, que convertem nitrito anitrato (NO3-).

Por outro lado, a DQO envolve aoxidação tanto de matéria biodegradávelquanto da inerte, presentes no despejo.Dependendo da matéria presente naamostra, pode haver umasuperestimativa do oxigênio requeridono afluente em questão, quando ocorretambém a oxidação de matériainorgânica. A análise dos demaisparâmetros pode auxiliar na confirmaçãoou não das estimativas feitas a partirdesses valores.

O parâmetro SSTaflu, que quantifica ossólidos suspensos totais presentes noesgoto bruto e, portanto, a matériaorgânica total (fração biodegradável efração inerte) e inorgânica da ETE deBarueri teve o valor médio de195,4 mg/L, no período considerado.

O parâmetro SSVaflu quantifica amatéria volátil. Caracteristicamente, amatéria orgânica volatiliza totalmente a550 ºC. O valor médio, de agosto adezembro de 2002, foi de 150 mg/L. Ovalor médio encontrado para o SSVaflu

do esgoto bruto da ETE de Barueri écerca de 76% do valor médioencontrado para o SST. Esse valor indicaque cerca de 76% da quantidade totalde sólidos suspensos corresponde àmatéria orgânica.

A análise de DBOaflu mostra que 48%da matéria orgânica total presente noesgoto bruto do afluente de Barueri nãoé biodegradável, o que correspondepróximo de 36,48% do total de sólidossuspensos totais. Isso indica que39,52% do valor de SSTaflu é compostode matéria orgânica biodegradável,restando 24% que corresponde àfração inorgânica.

Para o efluente de Barueri, o valormédio da DQO foi de 70,4 mg/L. O valormáximo ocorreu no mês de setembrode 2002, chegando a 95 mg/L.

Para a DBOeflu, o valor médiopermaneceu por volta de 42 mg/L. Ovalor máximo foi de 55 mg/L e ocorreu

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nos meses de setembro e outubro de2002. Segundo o Decreto n. 8.468/76,para a DBO, o valor máximo permitidopara lançamento no corpo receptor é de60 mg/L.

A relação DQOeflu/DBOeflu média foi de1,67, que, segundo a literatura, écaracterístico de esgotos domésticosbrutos. No entanto, como enfatizado porvon Sperling (1996b), o valor para essarelação deve aumentar após otratamento biológico e, usualmente, ésuperior a 3,0 no efluente final dotratamento biológico, uma vez que abiodegradação leva à redução damatéria orgânica biodegradável,mantendo inalterada a quantidade dematerial inerte.

Comparando o valor obtido para arelação DQO/DBO do afluente e doefluente, houve uma diminuição de 1,9para 1,67, quando se esperava umaumento desse valor.

Considerando que 41% do material éinerte, e observando que a remoção daDQO foi superior a 90% e a remoçãode DBO foi em torno de 87%, háindicativos que embora tenha havidoeficiência na remoção de material inerte,a remoção de matéria orgânica estásendo comprometida em algum pontodo processo biológico. Pode havermaterial tóxico comprometendo osprocessos bioquímicos, ou o maisprovável é haver problemasoperacionais, como, por exemplo, perdade lodo ou controle inadequado daidade do mesmo, levando a umdesequilíbrio no qual há excesso deprocesso de degradação endógena emdetrimento da exógena.

Para os valores de sólidos suspensostotais do efluente de Barueri, o valormédio obtido para o SSTeflu, no períodode agosto a dezembro de 2002, foi de26,4mg/L. O valor máximo obtido noperíodo foi de 44 mg/L, no mês desetembro de 2002.

O valor médio para SSVeflu de Barueri,no mesmo período, foi de 20,6 mg/L. Eo valor máximo ocorreu no mês denovembro e foi de 35 mg/L, no mês desetembro de 2002.

Observa-se que o valor médioencontrado para o SSVeflu, no períodoconsiderado, foi cerca de 78% do valorpara SSTeflu, significando que perto de78% dos sólidos totais presentes noefluente correspondem a materialorgânico. Desse total, 46,02%correspondem à fração orgânicabiodegradável e 31,98% a materialorgânico não-biodegradável. A fraçãoinorgânica corresponde a 22%.

Assim, o efluente final da ETE Barueripossui as seguintes características:46,02% corresponde à matéria orgânicabiodegradável; 31,98% material orgâniconão-biodegradável, aproximadamente; ecerca de 22% corresponde a materialinerte, que passou incólume peloprocesso.

Para a verificação da eficiência naremoção do nitrogênio, a Tabela 5mostra os valores obtidos na ETE Barueri.

A análise dos dados mostra quehouve uma baixa eficiência na remoçãodo nitrogênio amoniacal. Particularmente,no mês de agosto de 2002, de acordocom o relatório da Sabesp (2003),somente 20% do nitrogênio total foiremovido. A Sabesp, em seu relatório de2003, enfatiza que esta ETE não foiprojetada para a remoção de compostosnitrogenados e isso, certamente, vemcausando problemas operacionais.

A amônia é o produto primário donitrogênio em muitos processos detratamento de esgoto. Isso aconteceporque a ação das bactérias nitrificantespara oxidar a amônia a nitrito (NO2-) e,a partir daí, a nitrato (NO3-), requerabundância de O2 e os sistemas deaeração encarecem o tratamento deesgotos (MANAHAN, 1994). Assim, se oprocesso de lodos ativados for operadosob condições que favoreçam amanutenção do nitrogênio na forma deamônia (NH3), este pode ser retirado daágua por arraste pelo ar, desde que opH seja mantido em nível superior aopKa do íon amônio (NH4

+), favorecendoa forma gasosa do NH3. Na prática, o pHé mantido em níveis superiores a 11,usualmente 11,5, pela adição de cal(MANAHAN, 1994). A desvantagemdesse processo é a poluição atmosférica.

No caso específico da ETE Barueri,esse procedimento parece não ser amelhor solução. Talvez seja maisconveniente e tenha menor custopromover o processo completo,favorecendo o processo dedesnitrificação, logo após a nitrificação.A desnitrificação é catalisada porbactérias desnitrificantes e ocorre emambiente anaeróbio, podendo requereruma fonte adicional de matéria orgânica– neste caso, o metanol pode seradicionado. Contudo, o parâmetro,usualmente, utilizado para favorecer aremoção do nitrogênio é o tempo deretenção (Sludge retention time – SRT)(GRADY, 1999).

Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Barueri, 2003

Tabela 5 – Valores médios para NTK, N-NH3 e N-org, (valores em mg/L), na ETE Barueri

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As concentrações de metais pesadosque chegam ao reator (ou tanque deaeração) tiveram as seguintes médias,apresentadas na Tabela 6, para operíodo considerado.

A remoção de metais solúveis deveser feita a partir de reações de oxidaçãoque tornem o metal em questãoinsolúvel, facilitando sua retirada poroutros processos.

No caso do ferro e do manganês,esse processo deve garantir oxidaçãopróxima ao mais alto estado de oxidaçãoinsolúvel. A taxa de oxidação é pH-dependente, e, quanto maior for o pH,mais rapidamente ocorre a oxidação(MANAHAN, 1994).

Os metais pesados, tais como cobre,cádmio, mercúrio e chumbo sãoencontrados em águas residuárias deprocessos industriais. Devido à toxicidadede muitos metais pesados, há umapreocupação em removê-los ou, pelomenos, reduzi-los aos níveis mais baixosdurante os processos de tratamentodessas águas.

A ação tóxica de muitos metais ocorrepor haver afinidade com o enxofre,causando a quebra da cadeia protéica eformando ligações com o enxofre emmuitas enzimas, comprometendo a açãoenzimática. O grupo carboxila (-CO2H) eamina (-NH2), presentes em proteínas, étambém atacado por muitos metaispesados.

Cádmio, cobre, chumbo e mercúriose ligam à membrana celular,bloqueando o transporte celular. Osmetais podem precipitar biocompostosfosforados ou participarem dacatalisação dessas substâncias.

No afluente de Barueri, o zincoapresentou valores que comprometemos processos bioquímicos dedegradação de matéria carbonácea e osprocessos de nitrificação. Dado isolado,do mês de agosto de 2002, apresentouum valor de 1,17 mg/L no afluente e,

correspondentemente, uma eficiência de20% na remoção do nitrogênioamoniacal. Esses resultados, entretanto,não são conclusivos e dependem daavaliação de outros parâmetros. O cobretambém apresenta concentrações derisco, com valores bem próximos doslimites comprometedores (Tabela 6).

O efluente final da ETE Barueriapresenta concentrações para metais(níquel, manganês, chumbo, cobre,cromo total e ferro) abaixo dos limitesmáximos de lançamento. Embora aeficiência na remoção de alguns dessesmetais esteja acima de 70%, a presença

deles no efluente é preocupante porserem cumulativos ao longo da cadeiaalimentar.

Outro aspecto a requerer atençãosão as condições dos corpos d’águaque recebem esses efluentes os quais,segundo a Cetesb (2003), apresentamcondições elevadas desses metais.

A Tabela 7 mostra os valores obtidospara compostos orgânicos, presentes noafluente e efluente da ETE Barueri, noperíodo considerado.

A remoção ou a diminuição dasconcentrações dos compostos orgânicospresentes no efluente é importante pelo

Tabela 6 – Metais presentes no afluente e efluente da ETE Barueri

* Valores obtidos a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003* * Valores a partir dos quais há o comprometimento dos processos bioquímicosFonte: METCALF & EDDY, 1991

Tabela 7 – Mostra os valores obtidos para compostos orgânicos, para a ETE Barueri

* Valores obtidos a partir do relatório técnico fornecidos pela Sabesp, 2003* * Valores a partir dos quais há o comprometimento dos processos bioquímicosFonte: METCALF & EDDY, 1991

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fato de, na presença de cloro, ocorrer acloração de alguns desses compostosencontrados na água, particularmente,substâncias húmicas, levando à formaçãodos trihalometanos.

A presença de estruturas fenólicasocorre naturalmente no meio ambiente,como resultado da decomposição devegetais no solo, no metabolismosecundário de plantas e aparecem comointermediários na formação de húmus(VILLAS BÔAS, 1999). O aumento nosníveis de fenol no ambiente é devido àsatividades industriais, principalmente,naqueles efluentes provenientes derefinarias, siderúrgicas e indústrias deprodutos químicos orgânicos (BASTOSet al,1997 apud VILLAS BÔAS, 1999).

A presença desse e de alguns outroscompostos no reator podecomprometer os processos bioquímicosenvolvidos na degradação de material.Villas Bôas (1999) demonstrou, em seutrabalho, que ocorre uma seleção dosmicrorganismos presentes no lodo doreator biológico, quando submetidos aambientes estressantes, necessitando deum certo tempo para que haja umareconfiguração da microfauna presentenesse lodo. Em ambientes restritivos,observamos uma diminuição dadiversidade desses microrganismos. Napresença de concentrações variáveis defenol, Villas-Bôas mostrou que, à medidaque a concentração aumenta, ocorreuma seleção em favor de alguns grupos,tais como as do grupo Sporosarcina,Klebsiella (por exemplo, a Klebsiellapneumoniae).

As vazões médias para esgoto brutoapresentadas pela ETE Barueri foi de6.105 L/s e estão dentro dos valores deprojeto. Assim, esse parâmetro não deveinterferir no desempenho do sistema. ATabela 8 mostra o IVL, a relaçãoalimento/microrganismos (F/M) e idadedo lodo ( ), para o lodo retirado doreator.

Jordão (1998), em seu trabalho,discute o valor para o IVL que melhorrepresentaria uma boa sedimentalidadepara o lodo. Mostrou que em algumassituações nas quais o lodo apresentavaaltas concentrações e não sedimentava,o valor encontrado para o IVL estavaao redor de 130 mL/g. De acordo coma literatura clássica sobre operações deestações de tratamento, o autor cita oMOP-11 da WEF (1990), o qualsugere um valor acima de 200 mL/g,indicando um lodo de má qualidade.No entanto, Jordão (1998)demonstrou:

(i) a viscosidade e resistência do lodonão estão relacionadas aos valores deIVL;

(ii) a temperatura afeta a viscosidadeda amostra, alterando os resultados doteste;

(iii) os ensaios devem ser feitos emproveta padrão.

A utilização do índice volumétrico delodo diluído (Diluted Sludge VolumeIndex – IVLD) pode ser aplicado a lodoscom altas concentrações de sólidos ou

em estado de intumescimento (JORDÃO,1998). As relações entre o IVLD e IVLsão da ordem de 0,58 a 0,77. Assim,para lodos com IVL de 149 mL/g, oIVLD correspondente foi de 86 mL/g.

Desse modo, o método utilizado paramedição do índice volumétrico deve serescolhido com precaução para evitarfalsos resultados que possam levar aestratégias operacionais inadequadas.

Os dados fornecidos para o IVL daETE Barueri mostram valores superioresa 200 mL/g para os meses de agosto/2002 (251 mL/g), setembro/2002(288 mL/g), outubro/2002 (203 mL/g).Em média, o valor do IVL para a ETEBarueri foi de 198,8 mL/g, no períodoconsiderado. Esses resultados não sãosatisfatórios e indicam problemasoperacionais.

A Tabela 9 mostra as concentraçõesde coliformes presentes no esgoto brutoe efluente, para a ETE Barueri.

Não há dados para avaliar osmicrorganismos que compunham olodo do reator da ETE Barueri, para operíodo considerado.

Tabela 8 – Valores obtidos para os parâmetros IVL; F/M, idade do lodo da ETE Barueri

Fonte: SABESP, 2003

Tabela 9 – Comparativa dos valores para coliformes na ETE Barueri

Fonte: SABESP, 2003

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais – número 254

Condições operacionais da ETE de FrancaA temperatura média no local de

coleta das amostras foi de 23,5º C, e opH médio foi de 6,5. A DQOaflu da ETEde Franca atingiu o valor médio de728,6 mg/L entre os meses de agosto adezembro. O valor máximo ocorreu nomês de agosto e chegou a 959 mg/L.A DBOaflu apresentou um valor médio de362,0 mg/L e atingiu um valor máximono mês de agosto, chegando a454 mg/L. A relação DQO/DDBO para oafluente da ETE de Franca resultou em2,01, e, de acordo com a literatura,caracterizaria esgoto doméstico bruto(BRAILE e CAVALCANTI, 1979; VONSPERLING, 1996a).

O SSTaflu médio do afluente nosmeses de agosto a dezembro ficou em313 mg/L. O SSVaflu médio do afluentepara o mesmo período ficou em261,8 mg/L. Esses valores mostram que,em média, 83% do esgoto bruto quechega à ETE Franca é constituído por:41,6% de matéria orgânica biodegradável;42,2% de matéria orgânica inerte e 17%de matéria inorgânica.

A avaliação dos sólidos totais (SSTeflu)para o efluente mostrou valor médio de10,96 mg/L, para os meses de agosto adezembro.

O valor para os sólidos suspensosvoláteis (SSVeflu) do efluente mostrouvalor médio de 8,76 mg/L, no períodoconsiderado (agosto a dezembro de2002). O SSVeflu corresponde a 80%dos sólidos suspensos totais. Desses80%, 23% correspondem à fraçãobiodegradável, e o restante àfração inerte (77%). O SSVeflu

corresponde a 80% dos SSTeflu, restandocerca de 20% para a fração inorgânica.Assim, podemos caracterizar o efluentecomo tendo as seguintes frações: 20%de inorgânica; 18,4% de orgânicabiodegradável; e 61,6% de matériaorgânica não-biodegradável.

Para o afluente, o valor médio para onitrogênio total (NTKaflu) foi de 59,2 mg/L.Para o nitrogênio orgânico o valormédio, no mesmo período, foi de32 mg/L. Para o nitrogênio amoniacal, ovalor foi de 27 mg/L, valores obtidos noperíodo de agosto a dezembro de2002.

A presença de nitrogênio amoniacal,em condições aeróbias e pH<8, está naforma do íon amônio (NH4

+), e napresença de bactérias nitrificantes reduzo nitrogênio a nitrito (NO2-), e,posteriormente, a nitrato (NO3-), em umprocesso que consome oxigênio.

A Tabela 10 mostra os valoresmedidos para NTK, N-NH3 e N-org doafluente da ETE Franca.

Nitrogênio no efluente de Franca – osvalores médios para o efluente da ETEde Franca estão mostrados na Tabela 11.

A eficiência na remoção do nitrogênioamoniacal manteve-se ao redor de 58%,em média, para o período de agosto adezembro de 2002. Para o nitrogênioorgânico, esse valor ficou cerca de 66%e para o nitrogênio total esse valor foi de56%.

O valor médio para a DQOeflu doefluente da ETE de Franca para osmeses de agosto a dezembroapresentou o valor de 42,36 mg/L eatingiu valor máximo no mês desetembro com valor de 49 mg/L.

No mesmo período, o valor médiopara a DBOeflu foi de 9,9 mg/L e o valormáximo foi de 11,5 mg/L no mês deagosto. A relação DQO/DBO para oefluente da ETE apresentou valor 4,278.Observamos que a relação DQO/DBOdo efluente é cerca de duas vezesmaior que o valor obtido para o esgotobruto. Esse resultado está de acordocom o esperado, segundo Braile eCavalcanti (1979), uma vez que háuma diminuição da matéria orgânicabiodegradada, sem que haja diminuiçãosignificativa da matéria inerte. Esse valoré bastante satisfatório e sugere boascondições dos processos biológicos.Outros parâmetros podem serconsiderados para confirmação doobservado.

A DBO foi próximo de 23% da DQO,no mesmo período considerado.

Tabela 10 – Valores medidos para NTK, N-NH3 e N-org do afluente da ETE Franca, (valores em mg/L)

Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Franca, 2003

Fonte: Relatório elaborado pela Sabesp de Franca, 2003

Tabela 11 – Valores medidos para NTK, N-NH3 e N-org do efluente da ETE Franca

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A Tabela12 mostra valores médiospara NKT, N-NH3 e N-org (valores emmg/L).

A Tabela 13 mostra valores paracoliformes totais e Escherichia coli (107

NMP/100 mL) no afluente geral.As concentrações para Escherichia coli

e coliformes totais, para os meses deagosto a dezembro de 2002,apresentaram como valores médios noafluente 2,25.107 NMP/100 mL e 14.107

NMP/100 mL, respectivamente. A Tabela14 mostra a concentração de coliformesno efluente da ETE Franca.

Os valores do IVL, idade do lodo ( )e relação F/M no lodo no reator da ETEFranca são mostrados na Tabela 15.

Análise comparativa entre as ETEs deBarueri e FrancaA comparação das vazões para as

ETEs de Barueri e Franca mostra que,em média, os valores para o períodocompreendido entre os meses deagosto e dezembro de 2002 foram de6.105 L/s e 308 L/s, respectivamente. AETE de Franca possui uma vazão cercade 20 vezes menor que a de Barueri. Ovalor para o SST de Franca é de 1,6 vezmaior que o valor presente na ETEBarueri e o SSV de Franca é ao redor de1,74 vez maior que o valor encontradona ETE Barueri.

A DQOaflu em Franca é 1,5 vez maiorque a de Barueri. Para a DBOaflu, o valorde Franca é de 1,4 vez maior que a deBarueri. A relação DQOaflu/DBOaflu para oesgoto bruto de Franca foi 2,01 e deBarueri foi 1,9. Para ambas, os valorespermaneceram dentro da faixacaracterística para esgotos domésticos.No efluente, esses valores ficaram em1,67 para Barueri e 4,278 para Franca.As Tabelas 16 e 17 resumem os valoresapresentados pelas duas ETES.

A Tabela 16 mostra os parâmetrosconsiderados para análise e osrespectivos valores.

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Tabela 12 – Valores médios para NKT, N-NH3 e N-org, para a ETE Franca, período considerado(valores em mg/L)

Tabela 14 – Valores para E. coli e coliformes no efluente final da ETE Franca

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Tabela 15 – IVL, idade do lodo para a ETE de Franca

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

Tabela 16 – Comparação entre as ETEs Barueri e Franca*

* Valores calculados a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003Fonte: SABESP, 2003

Tabela 13 – Valores para coliformes totais e Escherichia coli (107 NMP/100 mL) no afluente geral

Fonte: ETE Franca – Relatório Sabesp (2003)

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais – número 256

A ETE Barueri apresentou um valorDQO/DBO bastante anormal, já queindica um aumento de matéria orgânicabiodegradável no final do processo. Issopode ser um indício de problemasoperacionais, tais como ineficiência doprocesso bioquímico por causa deagentes contaminantes ou, muito maisprovável, perda de lodo no processo.Comparando os valores do SSV para oafluente e efluente da ETE Barueri,verificamos um aumento ao final doprocesso, quando o esperado seria adiminuição da fração biodegradável. Umaprovável solução seria aumentar arelação F/M, diminuindo a quantidadede lodo na linha de recirculação, deforma a garantir uma maior oferta dealimento a ser degradada pelosmicrorganismos. Contudo, devemosconsiderar que, nesse caso, sendo altasas concentrações de metais presentes nolodo do tanque de aeração, uma maioroferta de alimento significaria tambémuma maior atuação de compostostóxicos sobre a microfauna do lodo doreator, o que provocaria uma piora nascondições de funcionamento da ETE.

O valor obtido para o SST do efluentede Barueri é em torno de 2,4 vezesmaior que o valor verificado em Franca,embora o valor inicial do SST deFranca fosse maior que o de Barueri.Para o SSV, Franca obteve um valor 2,3vezes menor que o de Barueri.

Verificamos que, embora, o esgotobruto de Franca apresente umaquantidade de sólidos suspensos totaisbastante superior ao da ETE Barueri, osvalores apresentados no efluente deFranca são inferiores, sugerindo umamaior eficiência na remoção de sólidosna ETE Franca – devemos considerarque a relação entre os volumes deFranca e Barueri é cerca de 5%.Também para a DBO e DQO verificamosuma maior eficiência de remoção na ETEFranca.

O IVL apresentado pela ETE Baruerimostra um lodo com baixa capacidadede compactação. Dados da literaturamostram como possíveis causas oseguinte (JORDÃO, 1998):

(i) baixas concentrações de oxigêniodissolvido;

(ii) baixa carga de floco na entradado reator;

(iii) deficiência de nutrientes;(iv) óleos e graxas emulsionados.Para identificar a causa do IVL

elevado, seria necessária a observaçãode certas características, tais como:presença ou não de grumos de lodo nodecantador secundário, presença ounão de bolhas de gás envolvidas nofloco, baixa concentração de bactériasfilamentosas ou grande concentração debactérias filamentosas.

O afluente da ETE Barueriapresentou uma concentração de zinco,

cujo valor poderia estar comprometendoos processos de biodegradaçãocarbonácea e a nitrificação.

De maneira geral, o desempenho daETE Barueri se mostrou bastantecomprometido. Os dados analisadospara essa ETE não são suficientes parauma avaliação conclusiva, contudo, asinferências possibilitadas pela análisepodem auxiliar na adoção de medidascorretivas que visem à melhora dascondições operacioanais dessa ETE.

O MONITORAMENTO E AEFICIÊNCIA EM UMA ESTAÇÃODE TRATAMENTO DE ESGOTOSA função de uma ETE é tratar os

esgotos que possam causar impactosambientais nos corpos d’água os quaisirão receber esses efluentes. Muitoembora os processos de tratamentoofereçam alternativas diversas, umaspecto bastante preocupante é adificuldade em determinar ascaracterísticas do esgoto que estáchegando na estação de tratamento.Alguns aspectos são previstos noprojeto, porém, o processo deurbanização e industrialização nemsempre seguem o que foi projetado. Apoluição ambiental é, hoje, um dosgrandes desafios que o homem doséculo 21 terá de enfrentar. Não bastatão-somente ter a noção do que sejagestão ambiental, mas é preciso criarmecanismos de ação que possibilitemnão só a tomada de medidaspreventivas, dentro de uma concepção apriori dos problemas ambientais, masgarantir que a legislação seja cumprida.

O monitoramento de parâmetrosambientais é uma ferramenta poderosapara a gestão ambiental sob váriosaspectos:

Tabela 17 – Compara a composição das frações orgânicas e inorgânicas nas duas ETES*

* Valores calculados a partir dos dados fornecidos pela Sabesp, 2003

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(i) possibilita localizar fontespoluidoras;

(ii) possibilita identificar fatores derisco;

(iii) possibilita a tomada de medidaspreventivas;

(iv) possibilita a tomada de medidascorretivas.

No que se refere à gestão dosrecursos hídricos, um dos problemasenfrentados é justamente a identificaçãode fontes poluidoras.

Entre os fatores que causam grandevariação nas características dos esgotosque chegam às ETEs para tratamento,podemos considerar os seguintes:temperatura, pressão, pluviosidade,aumento na concentração desubstâncias que, normalmente,aparecem no esgoto, presença desubstâncias não-usuais, presençaintermitente de certas substânciascausando variações abruptas em suasconcetrações, compostos tóxicos.

Esses fatores interferem grandementeno desempenho de uma ETE. Contudo,podem ser adotados procedimentoscujo objetivo seja identificar essasvariações nas características dedeterminados aspectos do esgoto, asquais possibilitem as adequaçõesoperacionais convenientes, para garantirum efluente de qualidade.

Monitoramento bem planejado,visando caracterizar o esgoto antes queele chegue à estação de tratamento,pode trazer os seguintes benefícios:

(i) ao conhecer a composição doafluente, é possível propor mudançasoperacionais antecipadamente;

(ii) identificação dos possíveispoluidores;

(iii) verificar o cumprimento dalegislação;

(iv) possibilita uma fiscalização ativa;(v) possibilidade de aplicar o princípio

poluidor-pagador, para minimizar oscustos com o tratamento do esgoto;

(vi) caso não seja possível localizar afonte poluidora, pode-se pensar emalternativas, como, por exemplo, gruposde empresas custeando uma ETEprojetada para tratamentos de lodos,com características mais específicas;

(vii) garantir o monitoramento amontante e a jusante da ETE;

(viii) promover estudos urbanísticos eeconômicos para definir estratégias;

(ix) promover pesquisas para aescolha de parâmetros que sejamsignificativos;

(x) promover um aumento naeficiência das ETEs.

A ETE Barueri recebe esgotos de umaregião da cidade de São Paulo bastanteproblemática, já que, além de esgotosdomésticos, há os industriais e, com eles,os chamados compostos xenobióticosos quais comprometem, grandemente, odesempenho nessa estação. Asmudanças necessárias para que estaETE possa aumentar sua eficência édificultada por vários motivos. Podemoscitar pelo menos dois principais. Por seruma estação de grande porte, mesmoas soluções operacionais imediatas,como, por exemplo, correção de pH oualcalinidade, exigem grandesquantidades de reagentes que, paraatuarem de forma adequada, exigemum sistema de mistura eficiente – o quenem sempre é possível. Comoobservado no relatório da Sabesp(2003), essa estação não foi projetadapara remover compostos nitrogenados.As soluções para amenizar esseproblema devem evitar alterações

estruturais de projeto ou, se forempropostas e factíveis, devem consideraros custos envolvidos. Um programa demonitoramento bem projetado poderiaser uma alternativa, por possibilitar aidentificação dos fatores que afetam aoperação. Esse programa poderiatambém auxiliar na identificação dosagentes causadores e suas fontes.

Os problemas decorrentes danecessidade de alterações operacionaispara a correção de parâmetros, taiscomo: pH, temperatura e outros, podemser minimizados com a adoção detratamentos específicos em estações depequeno porte.

No que se refere à ETE de Franca, osdados mostraram uma maior eficiênciano tratamento do esgoto recebido, cujascaracterísticas eram bastante ruins. Essefato reforça a idéia que estações depequeno porte possibilitam um controleoperacional mais eficiente.

Contudo, não dispomos de dados osquais possibilitem uma averiguação doscustos envolvidos para o funcionamentodas duas ETEs e a correlação com o tipode afluente recebido.

Os valores iniciais para os parâmetros,que caracterizam o esgoto recebidonessas ETES, mostram que as condiçõesiniciais de operação na ETE de Franca épior que as de Barueri, ou seja, o esgotorecebido pela ETE Franca apresentapiores condições do que o recebidopela ETE Barueri.

Os valores finais os quais caracterizamo efluente nas duas ETEs estãoapresentados na Tabela 18.

Tabela 18 – IVL, idade do lodo

Fonte: SABESP, 2003

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais – número 258

A comparação entre os valotresobtidos para o IVL (F/M) e idade dolodo.

A remoção de nitrogênio amoniacalmostrou-se bastante comprometida nasduas ETEs. Como a idade do lodo noreator pode influenciar na remoção donitrogênio, talvez, para Franca, umaumento nesse parâmetro pudessetornar mais eficiente a remoção denitrogênio amoniacal. No caso deBarueri, talvez fosse recomendadodiminuir o lodo na linha de circulação,de tal forma a promover um aumentona relação F/M. Contudo, não podemosdeixar de considerar as altasconcentrações de metais presentes noafluente do tanque de aeração, o quecomprometeria todo o processobioquímico. Também, ineficiência naaeração pode estar dificultando oprocesso de nitrificação, como discutidoanteriormente.

CONCLUSÃOA partir das considerações

possibilitadas pela análise dos dadosfornecidos pela Sabesp, referentes àsestações de tratamento de esgotos deBarueri e de Franca, e considerando queum programa de monitoramento bemplanejado seja capaz de identificarproblemas em potencial, os quaispossam comprometer o funcionamentode uma ETE e, conseqüentemente,contribuir para a degradação ambiental,foi possível verificar os seguintes aspectos:

(i) é preciso escolher um conjunto deparâmetros que possam, de fato, trazerinformações úteis e eficazes na indicaçãode ações alternativas;

(ii) a análise de parâmetros quecaracterizem o afluente e efluente sãolimitados, no sentido de não trazeremnenhuma informação sobre os aspectosoperacionais da ETE em questão;

(iii) no entanto, esses parâmetrospermitem que se façam avaliações dosriscos em potencial e, quando analisadosconjuntamente aos parâmetrosoperacionais, auxiliam na orientação dasações corretivas dentro da ETE;

(iv) é preciso que os pontos demonitoramento se estendam por toda aregião abrangida pela ETE;

(v) a partir desses dados mais gerais,dois caminhos podem ser adotados:primeiro, promover ações que auxiliemna mudança das características doafluente, identificando as fontespoluidoras e orientando quanto àsalternativas possíveis de tratamento, ouquanto a processos de produçãomenos agressivos ao meio ambiente,possibilitando transferências de custosdo tratamento. Como segundo caminho,é possível utilizar os indicativos domonitoramento do afluente ou mesmoefluente, para sugerir medidaspreventivas de correções operacionaisdentro da ETE;

(vi) o conhecimento das condiçõessociais, econômicas, políticas, ambientaissão importantes para um planejamentode ações possíveis.

Assim, os parâmetros SST, SSV, DQO,DBO, presença de nitrogênio, fósforo,metais e compostos orgânicos,mostraram-se eficazes na identificação deafluentes problemáticos e, portanto,comprometedores dos processosbioquímicos envolvidos no tratamentopor lodos ativados. Quando essesparâmetros são analisados levando-seem consideração também os parâmetrosoperacionais no reator, tais comooxigênio dissolvido (OD), pH,temperatura, índice volumétrico (IVL),idade do lodo ( ), relação alimento/microrganismo (F/M), constituição damicrofauna do lodo do reator, é possívelsugerir alterações em parâmetrosoperacionais, garantindo um efluente dequalidade.

O conceito de monitoramento deesgotos pode ser ampliado e não selimita apenas em verificar se os padrõeslegais estão sendo obedecidos. Mais doque isso, um efetivo monitoramentodeve atender às necessidades deresponder o que está sendo alterado, epor que essas modificações estãoacontecendo.

A adoção de uma postura a priori,no que se refere à utilização domonitoramento, constitui uma poderosaferramenta de orientação, já queidentifica as causas de grande parte dosproblemas enfrentados em uma estaçãode tratamento de esgotos. Esseconhecimento permite que sejamefetuadas não só as mudanças na rotinade operação da estação de tratamento,mas, principalmente, serve de suportepara a identificação das fontes delançamento e, eventualmente, atransferência do aumento nos custos detratamento, partindo da aplicação doprincípio poluidor-pagador.

Dessa forma, é crucial a elaboraçãode medidas corretivas ou de controle apartir da identificação dos fatores dadegradação ambiental.

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