Revista Ímpar

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06/2011 R$ 8,90 Craft+Design Tendências para 2011 A intimidade do artista-artesão piauiense AGADMAN, em entrevista exclusiva Mercado Inovação é a chave para o sucesso Nº 1

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Revista de artesanato produzida para a disciplina de projeto III, do curso de Design Gráfico da ESPM-SP

Transcript of Revista Ímpar

06/2011R$ 8,90

Craft+DesignTendências para 2011

A intimidade do artista-artesão piauiense AGADMAN, em entrevista exclusiva

MercadoInovação é a chave

para o sucesso

Nº 1

ESCOLA SUPERIOR DE PRO-PAGANDA E MARKETING

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN COM HABILITAÇÃO EM COMUNICA-ÇÃO E ÊNFASE EM MARKETING

Projeto integrado do 3º semestre das disciplinas: Projeto III - Cultura e Informação Prof. Ma-rise De Chirico e Prof. Dr. Marcello MontoreLíngua Portuguesa III Prof. Regina Fer-reira da SilvaMarketing II Prof. Vivian Iara StrehlauMódulo de Atividades Habilitação/ Cor Prof. Paula CsillagProdução Gráfica Prof. Antonio Celso Collaro

Edição de imagens, Projeto gráfico, Diagramação, Tratamento de imagens, Revisão, Editores:Daisy Kyoko TamashiroFernando Imai HoshikoLeonardo Broglio DeusdadoMarina Valentin ThobiasPedro Vincente de AndradeVitor Mello Artigas

artesanato | cultura

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www

apresentando

Quando se trata de artesanato, cada peça é única. Ela carrega

consigo um pouco do artista, um pouco das ferramentas que

foram usadas e um pouco da matéria-prima. Por mais que sejam

semelhantes, duas peças nunca são iguais, cada peça é única:

ímpar. A nossa revista que tem como objetivo principal trazer

uma visão abrangente do universo do artesanato, focando essen-

cialmente na sua relação com a cultura, também é ímpar.

Dentro desse tema, sentimos a necessidade de construir uma

identidade forte do artesão brasileiro que é pouco valorizado,

mesmo tendo uma forte influência sobre a cultura brasileira

em geral. Na seção “conversando” há uma entrevista com o

artista e artesão Agadman, que divide conosco um pouco de

sua vida e sua ideologia. Ainda reforçando a importância de

se reverenciar o artesanato brasileiro, na seção “viajando”, há

um completo panorama sobre a influência do artesanato da

cidade de Cunha, interior de São Paulo, atualmente a maior

produtora de peças de cerâmica do Brasil.

Na seção “visualizando”, última página desta edição, há um poe-

ma visual, que dialoga com o tema e a identidade da publicação.

Boa leitura!

Sumário

Saiba mais sobre Cunha, interior de São Paulo, famoso por seus artesanatos

Fique por dentro de cursos, eventos e o Craft Design 2011

Erick Renan fala sobre o que achou da Feira de Jequitinhonha

Conheça melhor o artesão-artista Agadman e suas obras incríveis

Confira os bastidores e as fotos do desfile Dragão Fashion 2011

Poema visual: relaciona com o tema e sempre fecha nossa revista

Inovação no artesanato, saiba como desenvolver e expandir seus negócios

Aprenda a criar com crochê essa linda pulseira de corrente

Como tornar seus produtos artesanais mais sustentáveis?

Cerâmica de Santarém ou Tapajônica, mas o que é isso?

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conversando

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Modelagem

de cerâmica

O Brasil na

arte popularIdealizada há mais de 10 anos, a Craft Design é uma feira de negócios que apresenta tendências na área de decoração, design e arte.Direcionada a lojistas, fabricantes, arquitetos, deco-radores e profissionais do setor em geral, a Feira pro-move, semestralmente, a integração tanto de novos talentos, quanto de designers consagrados, com o se-tor produtivo e seus canais de distribuição.O talento e a idoneidade dos expositores, somados a um excelente clima para negócios e um eficiente tra-balho de divulgação, tem trazido para o evento, a cada edição, empresários e profissionais de todo o Brasil e do exterior. Neste ano, o evento acontece dos dias 25 a 28 de agosto em São Paulo, SP.

Das 10h às 20hTerraço Villa Daslu Av. Juscelino Kubitschek, 2.041Vila Olímpia - São Paulo - SP

Craft+Design

Realizada na maior região de comercio do Ceará – a ave-nida Mosenhor Tabosa em Fortaleza, a Feincartes – CE chega a sua terceira edição com enorme sucesso. Reali-zada no Moderno e bem localizado Centro de Negócios do Sebrae, em ambiente totalmente climatizado, a feira tem sido uma ótima oportunidade de negócios e vendas aos expositores. O publico cearense tem uma ligação muito forte com o artesanato, além disso, Fortaleza é destino turístico certo durante todo o ano, fazendo com que a feira tenha uma grande variedade de público com um ótimo perder de compra. Tudo isso aliado a um am-plo plano de divulgação e mídia.

Data: de 17 à 26 de junho de 2011Local: Centro de Negócios do Sebrae.Entrada: R$ 06 (seis reais). Horário: das 15h00min às 22h00minPessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada e crianças até 12 anos de idade, acompanhadas por responsável, tem entrada liberada.

Feincartes – CE

acontecendo

Rua Bom Pastor, 654 - IpirangaSão Paulo - SPTel: (11) 2065-0150www.sesisp.org.br/ipiranga

Para quem procura aplicar técnicas va-riadas de modelagem em argila.Serão demonstradas técnicas para a mo-delagem peças decorativas e utilitárias: vasos, cachepôs, travessas e cinzeiros. Além de técnicas para secagem, utilização adequada do forno e técnicas de queima.

Foi aberta no último dia 17 de maio/11 a exposição de obras de arte popular brasileira no Museu Nacional em Brasília. A exposição com 1.500 obras de 70 artistas popu-lares pertence ao acervo Museu Casa do Pontal do Rio de Janeiro, e fica aberta ao público até o dia 26 de junho/11. Muito bem organizada, é muito mais que apenas apresen-tar obras de artistas populares brasileiros, é uma viagem pela cultura e folclore de todos os estados do país, numa riqueza de valores que merece uma visita. O Museu Na-cional de Brasília fica na Esplanada dos Ministérios, Setor Cultural Sul e a exposição está aberta ao público de terça a domingo, das 9h às 18h30. Imperdível.

Mais informações: http://www.popular.art.br/

acontecendo

de 50 estabelecimentos de hospedagem e alimentação e pouco mais de 20 ateliês com 30 ceramistas.

O forno noborigama é uma técnica mi-lenar chinesa, incorporada e aperfeiço-ada pelos japoneses. Em japonês, numa tradução literal, noboro significa rampa e gama forno. O forno, de alta temperatura, é construído em degraus, em declive na-tural, e pode chegar a 1.400 graus célsius

(ºC). As câmaras interliga-das proporcionam o apro-veitamento do calor - que, ao ser produzido na for-nalha, sobe gradualmente para as câmaras.

A fornalha, também co-nhecida como boca, é ali-mentada com madeira de

eucalipto reflorestado. A primeira queima, chamada de biscoito, é levada de 800 ºC a 900 ºC por 24 horas. Essa pré-queima serve para dar resistência e porosidade à peça, ti-rando toda a água e dando mais aderência

De seu ateliê, em frente à exuberân-cia da Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki avista a bela paisagem montanhosa de Cunha, a 227 quilômetros de São Paulo. É ali, diante do torno, que suas mãos un-tadas com água dão forma ao barro. Com a técnica - aperfeiçoada há quase 40 anos

- e paciência oriental, ela deixa sua marca nas peças. Mieko é pioneira na produção de cerâmicas em forno noborigama na ci-dade. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se instalou na capital paulista, no aparta-mento de uns amigos, até encontrar um lugar para realizar seu trabalho.

Em um mês descobriu a Estância Cli-mática de Cunha, um lugar bastante sos-segado, com extensa área verde, locali-zado entre os contrafortes das Serras da Quebra Cangalha e do Mar, próximo a Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais artistas, entre eles o ceramista português Alberto Cidraes, que também veio ao Bra-sil para trabalhar com o noborigama. Eles transformaram um galpão, cedido pela prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha.

"Éramos um grupo de seis pessoas, muito unido e que se ajudava e ensinava uns aos outros", diz Mieko. Em janeiro de 1976 fizeram a primeira queima.

Quando foram para Cunha, a cidade tinha apenas um hotel e nenhum res-taurante. Por meio da cerâmica surgiu a possibilidade de desenvolvimento para a região. Devido ao crescimento dos ateliês e à divulgação que ela e outros artistas fa-ziam em palestras sobre cerâmicas além dos limites de São Paulo, aos poucos os turistas foram chegando, e a necessidade de ter infraestrutura para atender toda essa gente também au-mentou.

Com 26 mil habitantes, divididos entre a área ur-bana e o campo, o municí-pio tem sua economia ba-seada na pecuária leiteira, no plantio de feijão, milho e batata e, desde o final da década de 1980, no turismo rural. "A ce-râmica tem bastante espaço na melhoria da economia. A atividade fez muito bem à cidade, porque causou essa vinda de turistas", diz Mieko. Hoje, existem mais

Mãos de argilaArtesãos de Cunha, SP, criam peças de beleza singular e transformam a cerâmica em atração turística

Mieko Ukeseki foi quem

iniciou a produção de

cerâmica em Cunha

A cerâmica tem bastante espaço na

melhoria da economia

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trabalho conhecido, além de atrair turismo para a cidade. A abertura dos fornos deu um outro significado às peças. “A cerâmica tem de fazer parte da vida das pessoas. É para ser usada”, diz.

A cada dois meses, abrem-se no-vas fornadas. É sempre uma surpre-sa. A fusão do fogo com o esmalte

produz efeitos inéditos, de beleza singular. A fuligem produzida pela queima da lenha também influencia no resultado final. Todas as peças são únicas e exclusivas. Apesar de o artista conhecer o fun-cionamento de

ao esmalte. Ao fim da primeira queima, a peça é limpa e esmal-tada. Após essa etapa, inicia-se a queima definitiva, em que as peças ficam no forno durante 30 horas contínuas. Quando todas as câmaras atingem a temperatura desejada, ou seja, 1.400 ºC, o processo está concluído. O fogo é extremamente importante nesse processo. É ele que vai determinar o resultado da fusão dos esmaltes e da coloração do barro e dará a resistência à peça.

E tudo começa pelas mãos

do artista - que dá forma ao barro. Os quatro elementos - terra, água, fogo e ar - se unem durante a fa-bricação da cerâmica. O processo de transformação da argila em uma obra de arte é para muitos ceramistas algo que envolve ma-gia e emoção. Ele acontece como um ritual, da extração da argila da natureza à queima nos for-nos noborigama.

Cada ceramista tem uma característica e um projeto artístico. Uns usam a es-maltação, outros preferem a cerâmica rústica. Há os que gostam de produzir

utilitários como xícaras, pratos, ca-necas, vasilhas. Outros gostam de objetos de decoração. O tipo de for-no também diferencia: dos 20 for-nos existentes em Cunha, cinco são noborigama. Os outros ateliês usam forno elétrico e a gás. A singulari-dade e a criatividade dos ceramistas de Cunha fazem com que cada um a seu modo conquiste o público. “A maleabilidade do barro permite a você gerar qualquer tipo de forma. É um desafio transformar a terra, o chão que a gente pisa, em peças de valor, seja artístico, seja econômico” diz Alberto Cidraes.

Nos últimos 20 anos, a cidade fi-cou conhecida como o polo criativo na produção de cerâmicas, princi-palmente depois da transformação da abertura dos fornos noborigama num grande evento, idealizado pelo ceramista Gilberto Jardineiro e sua esposa, Kimiko Suenaga.

Incorporados ao grupo de cera-mistas instalados no município, eles vieram para o Brasil em 1984, quan-do construíram seu primeiro forno noborigama. Desde 1988, abrem as fornadas para os turistas. Com didática e paixão pelo que faz, Jar-dineiro explica o passo a passo da produção da cerâmica: da extração da argila da natureza à queima final. Jardineiro não queria ser um comer-ciante de cerâmicas, muito menos colocar suas peças em exposições; assim, convidar as pessoas para ir ao seu ateliê foi a forma que ele en-controu para tornar seu

A queima com forno

Noborigama já era utilizada há

mais de mil anos atrás no Japão

Gilberto Jardineiro iniciou seu trabalho com cerâmica no Japão, em 1980

todo o processo, ele não tem como definir a forma final das peças.”A cerâmica é um enigma: você só vai saber o resultado do trabalho quan-do abrir o forno”, diz Jardineiro ao tirar uma caneca cor creme, esmal-tada com argila, cinza de lenha, cin-za de casca de arroz e feldspato do forno recém-aberto.

As fortes chuvas que castigaram a região de Cunha no começo des-te ano prejudicaram o fluxo de tu-ristas. Porém, eles voltaram com a abertura dos fornos e devem acorrer novamente em grande número - é o que todos na cidade esperam - aos eventos tradicionais do município, como o Festival de Pinhão, a expo-sição em honra ao Dia do Ceramista (28 de maio) e as festas de cunho religioso.

A qualidade e a variedade da argila fazem de Cunha o local ideal para a

instalação dos ateliês de cerâmica

A cerâmica tem de fazer parte da vida das pessoas. É para

ser usada

conversando conversando

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O atelier de formas do artista-

artesão, pintor e entalhador

além de confeccionador de

móveis, painéis circulares

em madeira, etc.

Agadman

Eu me apaixonei pelas formas, pelas cores

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Revista Ímpar - Quando começou a trabalhar com madeira?Agadman - Acho que, com vinte e poucos anos, eu comecei esta brincadeira. É, com dezessete anos é que eu desenvolvi mais isso, é que eu mexia com desenho com pintura, modelagem em durepox.

Revista Ímpar - Qual é a sua escola, como você aprendeu, como foi?Agadman - Isso não tem escola não, é da vontade que vem da alma- mexia com gado, com fazenda, né, e criei uma paixão, o resto foi desenvolvendo no automático do meu ser, uma vontade de ver o estranho de ver a diferenciação, de mergulhar em outros espaços, que não fossem conhecidos pelas pessoas. Eu sempre acreditei em universos diferentes, eu vejo as pessoas que tem capacidade de exercer as faculdades, dirigidas em qualquer sentido que quer ciência, então eu me apaixonei pela formas, pelas cores.

Uma das belas criações de Agadman.

A beleza independe da política, inclusive da cultura

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Revista Ímpar - E essa coisa de você trabalhar com madeira?Agadman - Em Brasília comecei a fazer artesanato, e olhando aquela cidade toda com formas retas, as pessoas morando naqueles prédios quadrados, etc., procurei fazer algo diferente, um diferencial, então comecei a fazer entalhes em discos de madeira, eu já mexia com madeira. Minha idéia era encher a cidade com uma forma que não tinha lá. Aconteceu aí, olha - mostrando o atelier - o trabalho de madeira é o seguinte: primeiramente eu conquistei o desenho, até quando cheguei hoje numa forma, que eu encontrei um símbolo universal de contorno de qualquer imagem, no desenho, que uma criancinha aprende isso em menos de meia hora, isso é o ápice da minha pesquisa no desenho (...) A beleza independe da política, inclusive da cultura, um cara sem cultura vê uma coisa que é linda, uma vez eu foi num sítio velho lá no Piauí, e encontrei na parede de um caboclo, que nem nunca foi na cidade, levei uma revista velha e deixei pôr lá, tinha um clássico, uma mulher, uns

banhistas e tal, e eu achei que aquele cidadão ia achar aquilo mais bonito, no entanto ele pegou um trabalho do Van Gogh,

um bem doido lá, e fez uma moldurinha de graveto e colocou lá na parede, eu perguntei porque você escolheu isso? – “Porque isto aqui é que é belo, não sei o que me deu, mas isso aqui é que é belo, eu não entendo, mas eu gosto disso.” - então uma pessoa sem estudar faz isso.

Cores vivas e fortes fazem parte de seu estilo.Revista Ímpar - Uma reprodução?Agadman - É uma reprodução, que ele colocou sagradamente na parede dele, e tinha um retrato de um cavalo, de um boi bonito, que pra mim, o que eu pensei daquela pessoa, o que fosse satisfazer mais o indivíduo, mas ele procurou aquilo, ele falou; “que não sabia o que era, mas me faz um bem.” - entendeu? Então, a arte é essa magia.

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Revista Ímpar - Você nasceu em que cidade do Piauí? Agadman - Cidade Corrente.

Revista Ímpar - E lá nessa região tem tradição de trabalhar com madeira, barro, artesanato? Agadman - Tem não, só com enxada nas costas mesmo, a gente plantava, feijão, batata...

Revista Ímpar - E hoje, você se considera um artesão ou artista-artesão, como é isso? Agadman - Todo artista deve ser um artesão, pra poder desenvolver o jeitode fazer o que ele quer, o seu jeito, a sua maneira. Eu já fui um artesão, hoje eu me considero um artista e dou trabalho para os artesãos que estão comigo.

Revista Ímpar - Então pra você, o que é artesanato, o que é ser artesão? Agadman - O artesão copia, às vezes, até algo que ele mesmo criou, ou não, pode ser a obra de outro artista, então ele repete aquilo inúmeras vezes, e ele visa o mercado, vender o seu produto com um preço acessível, e coisa e tal. E o artesanato pode ser feito de muitas maneiras não é só com as mã os, hoje você pode se utilizar dos recursos modernos, até o laser, pôr exemplo, é mais uma ferramenta, e o artesão sempre utilizou ferramentas.

Revista Ímpar - E o que é ser artista, o que é arte? Agadman - O artista faz o novo, algo que nunca se viu, faz o único, e com isso encontra o seu lugar no mundo, o lugar só dele. É o indivíduo que criou um diferencial, e a arte dá essa possibilidade, a arte é isso, a oportunidade de se expressar, é comunicação, é uma liberdade de expressão, e cada um procura a sua linguagem o seu modo de falar, seu modo de expressar o que esta dentro dele, o que muitas vezes não se pode dizer com palavras, é uma espécie de presente, que o homem primeiro dá a si próprio e depois compartilha com o mundo, a arte salva muita gente da loucura.

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Reconhecida como um dos espaços que melhor acolhem a cultura do Norte de Minas, a tradicional Feira de Arte-sanato do Vale do Jequitinhonha volta a ocupar a Praça de Serviços, no campus Pampulha, entre os dias 2 e 7 de maio. Em sua 12ª edição, o evento abrigará peças produzidas por artesãos de duas etnias indígenas e hom-enageará a paneleira Dona Zizi e a fiandeira Dona Ger-alda, duas mestras que lutam para perpetuar seus ofícios.

A fama já ultrapassou – e muito – as fronteiras de-marcadas pelo Rio Jequitinhonha. Na mão de homens e mulheres habilidosos, barro, taboa e madeira dão for-ma a esculturas, trançados, cerâmicas, panelas, bone-cas, moringas e tigelas, materializando uma das mais belas expressões culturais da região. Mas, mesmo com todo esse prestígio, os artesãos encontram dificuldades para expor suas peças e vendê-las a um preço justo.

Uma exceção nesse cenário é a tradicional Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que este ano chega à 12ª edição. Será realizada na próxima semana, entre 2 e 7 de maio, numa promoção da Pró-reitoria de Extensão (Proex), do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e da Diretoria de

Jequitinhonha e sua feira

por Eric Renan

Ação Cultural (DAC), reunindo, na Praça de Serviços, 42 associações de artesãos de 25 cidades do Vale. Só no ano passado, os expositores lucraram cerca de R$ 100 mil com as vendas.

Dentre as novidades, destaque para a participação de artesãos de duas etnias indígenas, Aranã e Pataxó-Pankararu, de Araçuaí. “Isso dará visibilidade ao trabalho artesanal realizado por eles, além de reforçar a presença indígena no campus”, afirma Terezinha Furiati, coordenadora do Artesanato Coop-erativo, ligada ao Programa Polo, e que trabalha na organização do evento. Outra inovação da edição de 2011 é a montagem de um espaço especial para artesãos reconhecidos do Vale. Entre os convidados, Ulisses Mendes, de Itinga, a família de Dona Isabel, de Santana do Araçuaí, e Lira Marques, de Araçuaí.

O artesão João Alves, de Taiobeiras, é uma das estrelas da Feira. Suas esculturas em argila já foram premiadas pela Unesco e expostas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No caso da capi-tal mineira, ele produziu 40 peças que ficaram em exposição no Palácio da Liberdade. “Elas representam o folclore de Minas, um retrato da nossa cultura”, conta o artesão, que participa da feira desde a primeira edição e hoje integra a Associarte, entidade que, segundo ele, tem papel importante na valorização de seu trabalho. “Graças a ela faço vários con-tatos e aprendo muito com os outros artesãos”, argumenta.

Além do artesanato, a música do Jequitinhonha também invadirá a Praça de Serviços, com shows diários. Na segun-da feira, dia 2, haverá apresentação do Coral Água Branca, de Itinga; na terça, 3, Volber e Gilmar; na quarta, 4, o Grupo Sarandeiros e, na sexta, 6, a Banda Terceira Margem, de Montes Claros, sempre às 12h30. Na quinta-feira, dia 5, às 17h30, haverá homenagem às mestras de ofício Elzi Gon-çalves Pereira e Geralda Leite Sena (veja abaixo) e show de João di Souza e Chico Lobo. A entrada é franca.

A tradicional feira está melhor do que nunca

visualizando

conversando

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