Revista In'Foco

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Revista elaborada para a disciplina TIDIR (Trabalho Interdisciplinar Dirigido) pela turma de Jornalismo do 1º período do Centro Universitário UNA.

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Da década de 80 para cá sabe-se que, no Brasil, a conduta do torcedor organizado nas arquibancadas dos estádios de futebol foi modificada, consideravelmente, devido ao surgimento de certas orga-nizações como uma nova categoria de torcedor, o chamado “torcedor organizado”.

Talvez seja necessário em certo ponto nos indagarmos: em que tipo de situação sociocultural, política e econômica nasce essa ca-tegoria?Cabe a nós analisarmos todo esse emaranhado social das grandes cidades, para talvez chegarmos a uma resposta conclusiva. O trabalho do jornalista está relacionado sempre com a habilidade de ver o que muitos não vêem, por mais que todos estejam olhando; sempre ressaltando algo pouco conhecido pela maioria das pessoas, embora se trate de algo às vezes tão próximo.

O que salta aos nossos olhos é a total falta de critério, por con-ta do governo e da polícia em dotar medidas de prevenção quanto à conduta do torcedor, hoje, nos estádios de futebol e fora dele. Esse aumento dos atos de violência praticados pelo movimento das “torcidas organizadas” tem como adeptos predominantes, jovens indi-vidualizados, se olharmos do ponto de vista da formação de uma consciência social e coletiva.

Como é que nos podemos explicar, a partir dos próprios torce-dores, certos atos de extrema violência praticados entre as torcidas?Por alguns dirigentes, o assustador aumento da violência, além já dos argumentos utilizados pelas autoridades esportivas tem dois fatores que seriam preponderantes: a influência da mídia e os ingredientes do próprio jogo.

Essa violência entre as torcidas passa a ser uma preocupação social, uma vez que assumiu características de acontecimentos banais e vazios, acarretando violência física, verbal e até mortes como vem ocorrendo.

Nessa mesma proporção, passou a ser também, um incômodo aos interesses em torno do evento esportivo. Tentando desmistificar, as autoridades esportivas apontam sinais que nos levam a compreen-der o que leva esse grupo organizado a cometerem delitos como es-ses. A ausência de expectativa de futuro ao jovens, ausência do Esta-do, enquanto mentor de políticas publica de formação social; efeitos da pobreza, familiarização com a violência falta de emprego e à misé-ria generalizada são apontados como os principais fatores.

Porém, como tudo tem um lado bom, encontramos o lado dig-no, afetivo e de cunho social, realizado pelas torcidas organizadas.O Clube Atlético Mineiro e o Cruzeiro Esporte Clube apóiam diversas ações sociais , por entender que o futebol tem a responsabilidade de contribuir para a melhoria da vida das pessoas . O horizonte do tempo muda a todo o momento, e com ele as condutas e atitudes do ser hu-mano.

in’Foco

EDITORIAL Ficha Técnica

Editor Chefe Jean Pierre Editores de Arte

Camila Sol Jean Pierre Editor de Fotografia

Adalberto Maia Redação Túlio Cheab Repórteres

Adalberto Maia Camila Sol Jean Pierre Lívia Lima Raphael Jota Vitor Hugo Diagramadores

Adalberto Maia Camila Sol Jean Pierre Revisão Final Túlio Cheab Camila Sol Colaboradores João Guilherme Reinaldo Max Wânia Maria Coordenadora de curso

Joana Ziller

Professores João Gomes João Guilherme Reinaldo Pereira Roberto Reis Wânia Maria Foto capa www.agenciaminas.mg.gov.br Cartas à Redação [email protected]

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Raphael Jota

T anto a Máfia Azul quanto a Galou-cura são torcidas organizadas, muito apaixonadas pelos seus clubes. Can-tam hinos, pulam nas arquibancadas do está-dio e se envolvem tanto com o time do cora-ção, que parecem estar ao mesmo tempo to-dos em campo. O que a grande maioria não sabe, é que existe um lado humano e social por trás delas, sem fins lucrativos.

A Máfia Azul, que é a maior torcida or-ganizada do Cruzeiro, tem como ação social a distribuição de materiais esportivos para entidades carentes. Fazem rifas para arreca-dar dinheiro, e garantirem o sustento. Todos os meses, integrantes da torcida doam san-gue como uma atitude de amor e fraternida-de com o próximo, pois, os bancos de san-gue, hoje, quase ficam completamente vazi-os.

A Máfia Azul recolhe donativos na A Máfia Azul recolhe donativos na porta das casas e entre os próprios a-porta das casas e entre os próprios a-deptos da torcida. Colaboram com a deptos da torcida. Colaboram com a campanha do agasalho realizada todo campanha do agasalho realizada todo ano em Belo Horizonte. Na Internet, a ano em Belo Horizonte. Na Internet, a Máfia Azul apóia campanhas de entida-Máfia Azul apóia campanhas de entida-des filantrópicas através de divulgação, des filantrópicas através de divulgação, e sem nenhuma visão de lucro. Solidari-e sem nenhuma visão de lucro. Solidari-zaza--se à campanha do garoto Pedro Ar-se à campanha do garoto Pedro Ar-thur, que adquiriu meningite bacteriana thur, que adquiriu meningite bacteriana com um ano e meio, que o deixou tetra-com um ano e meio, que o deixou tetra-

plégico; colocaram no site toplégico; colocaram no site to-

das as informações de como contribuir com doações e ainda vendem camisas para arre-cadar fundos para o Instituto Pedro Arthur.

Já a torcida da Galoucura, a maior do Atlético Mineiro, também realiza projetos so-ciais se mostrando preocupada com os pro-blemas que ocorrem em nossa sociedade. A torcida arrecada entre seus integrantes, ali-mentos para os moradores de rua, além de pessoas de baixa renda, estão assim, inte-grados a alguma atividade de cunho social.

Um diferencial da torcida da Galoucura é sua contribuição na oficina de capoeira, onde oferecem atividades às crianças do bairro São Paulo, como o teatro, dança e re-forço escolar. A parceria com o projeto é permanente e tem participação de mais de cem crianças visando formar pessoas e pre-pará-las para o mundo.

A torcida, mensalmente, faz doa-A torcida, mensalmente, faz doa-ções para a entidade UMEI(Unidade Mu-ções para a entidade UMEI(Unidade Mu-nicipal de Educação Infantil), que fica nicipal de Educação Infantil), que fica próxima à sede da torcida. As doações próxima à sede da torcida. As doações são feitas através de cestas básicas e são feitas através de cestas básicas e atividade para crianças. Ajudar não é atividade para crianças. Ajudar não é algo impossível, e muito menos difícil... algo impossível, e muito menos difícil... é tudo uma simples questão de querer é tudo uma simples questão de querer

fazer bem ao próximo.fazer bem ao próximo.

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Foto: Camila Sol

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Lívia Lima

D omingo é dia de ir ao Mineirão e tem toda aquela expectativa. Dia

de clássico então nem se fala. Tem aquele ritual, é começar a aquecer, vestir a farda da sua torcida, cantar e encontrar com os inte-grantes do comando ou das zonas.

Subir de ônibus ou a pé, o mais impor-tante é chegar ao Mineirão. Daí começa a concentração, é bateria começando a tocar, é carro com som no ultimo volume com o hi-no do seu clube. São todos os comandos e zonas chegando ao Mineirão. Os portões a-brem, as torcidas entram, o Mineirão enche. É tropeiro, água, salgadinho, picolé, é grito, é suor, é amor. Começa a “Guerra” das torci-das, quem canta mais alto?Quem tem a mai-or bandeira? Quem tem o maior numero de torcedores? De repente os dirigentes cha-mam os integrantes das torcidas, é hora de buscar o “bandeirão”, quanto pano e quanto orgulho de ver essa bandeira entrar em cam-po.

O Mineirão se colore e se divide em duas torcidas: Máfia Azul e Galoucura.

Começa o espetáculo, o juiz apita o começo do jogo, a bola rola, são onze para cada lado, o coração acelera, a alma parece querer sair do corpo. Por algumas horas você esquece tudo, e somente se concentra na vi-tória que seu time busca. Começa a grande cantoria das torcidas, a bateria não para, a gente não se cala. E cada vez fica mais forte a emoção. O intervalo chega, é hora de sen-tar um pouco, para se acalmar, mas as torci-das não param de cantar. O juiz apita o se-gundo tempo. É bola na trave, é escanteio, falta, pênalti, cartões com motivos e também sem motivos, e o coração do torcedor como é que fica? Com muita raiva, querendo às vezes sair do corpo.

De repente se houve um longo apito, é o final do jogo. Nem sempre um lado sai vi-torioso. E o grito de “É CAMPEÃO “sai da gar-ganta e ecoa no Mineirão.

Paixão de torcedor é aquela que ma-chuca a alma quando o clube perde, que faz a alma engrandecer quando ganha, faz cho-rar de alegria, ou de tristeza. Paixão de tor-cer é estar com time em todos os momentos, vestindo sua camisa, ou da sua torcida orga-nizada.É ir ao Mineirão, cantar até ficar rou-co, é gritar em cada gol e falar mal em cada lance errado. Amar um time não é loucura, não é doença, é quando seu time entra em campo, você faz a festa pela Galoucura, ou pela Máfia Azul , não tem como explicar a beleza deste espetáculo. Só quem já viu sa-be o que quer dizer .

É uma paixão que não se explica, ela ultrapassa classes, raças e credos.Apaixonar-se por um time é vestir a camisa dele na vi-tória e na derrota, amar a sua torcida acima de tudo e ter o orgulho de falar “eu amo” meu time de coração.

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Foto: Raphael Jota

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Lívia Lima

Q uando você entra no Minei-rão, se sente muito peque-

no,;você é só mais um torcedor no meio

de uma multidão. Em dia de clássico pa-

rece que o estádio fica bem maior, pare-

ce que muda de cor, muda de formato e

divide-se ao meio. De um lado a Máfia

Azul e do outro a Galoucura. Mineirão

pintado de azul e branco, preto e bran-

co, vira um gigante, o Gigante da

Pampulha.

Chegando ao Estádio tanto pela

Catalão quanto pela Abrão Caaran, vo-

cê já sente a emoção. Pára no estacio-

namento, toma uma cerveja e começa

a concentração. Começam a cantar e a

gritar. Assim que se entra nos portões

3 e 6, no lado do Cruzeiro ou 9 e 12,

no lado do Atlético, é de se arrepiar.

Todos chegando. O Mineirão se enche:

o coração dispara, a voz some e a a-

drenalina vai a mil. Não tem como não

se arrepiar quando se escuta o hino do

seu time do coração. O relógio parece

que não anda, dezesseis horas que

não chega, o juiz que não apita o inicio

do jogo e a voz começa a sumir. O co-

ração dispara ainda mais com o com-

“ Paixão:

Movimento

impetuoso da alma

para o bem ou para

o mal ”

Foto: Camila Sol

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passo da bateria. De repente começa a surgir as bandeiras vindas em fila e começa o

espetáculo das torcidas. Começam as canções em apoio ao time e contra o rival. Come-

ça um espetáculo que no mundo na a igual.

O juiz apita, começa o jogo, é bola rolando, é jogador caindo, falta, carrinho, im-

pedimento, cartão e mais cartão. É Juiz que não apita um lance, que não da um cartão

que havia de ser dado, o juiz é sempre xingado. Torcedor sofre, canta, vibra, chora, in-

centiva o time 90 minutos, e não para de cantar nem quando a voz some de vez. O juiz

apita fim do primeiro tempo, toda arquibancada sentando, alguns cantando ou-

tros saboreando um tropeiro, bebendo uma água. Começa o segundo tem-

po e o jogo não passa, o tempo para em cada lance, e o coração dispa-

ra com o grito de gol. E quando acaba, o juiz apita no centro do

campo. Como o torcedor fica aliviado quando o seu time ganha!

O Mineirão é um gigante, e nele cabe o lado azul e o alvi-

negro de Minas Gerais,

são as duas maiores torcidas do estado. Em 90 minutos faz

uma cidade

esquecer dos problemas de casa, do trabalho para viver in-

tensamente o jogo.

Vibra como se fosse o último dia de suas vidas. A cada gri-

to de gol e a cada vitória, uma emoção diferente, a cada

derrota um aprendizado.

Não existem palavras para definir o significa-

do de torcer por um time. É inexplicável uma

paixão sem limites, uma paixão que machuca

que trás felicidade por um dia, ou por um mo-

mento. Torcer

é mais do que um grito de gol, é cantar com o

coração e vibrar com a alma.

Seja Máfia azul ou Galoucura o importante é

torcer, cantar. E a melhor parte de um clássico é paz

entre as torcidas.

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Foto: C

amila Sol

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Raphael Jota

U m sentimento grande e forte que me-xe com nossas emoções é fácil dizer

qual é: a paixão. Palavra dada a qualquer tipo de ação contrária ao ódio, por isso, dizemos que amor e ódio andam lado a la-do, não existe um sem o outro.

As torcidas organizadas, máfia Azul e Galoucura nos deixam bem claro como esses dois sentimentos andam juntos, sem tempo para descobrirmos qual dos dois sentimentos é mais importante.

Em um jogo específico do campeo-nato mineiro de futebol vivenciei o compor-tamento da torcida organizada da Galoucu-ra e da Máfia Azul. De início, as duas são idênticas. Primeiro, junta-se todos os inte-grantes em um local específico do estádio, mais precisamente no corredor que faz li-gação com as arquibancadas do Mineirão, depois começam a cantar seus hinos de incentivo às respectivas equipes. Atlético e Cruzeiro começam a pular de uma maneira desordenada e a cantar de uma forma ani-mada. A cada novo jogo a sensação parece se repetir apesar da intensidade ser sem-pre maior, como se não existisse mais na-da, a não ser aquele momento único.

Estava filmando no meio da torcida da Galoucura, quando o presidente da a-gremiação de nome ‘Ferrugem’ me abordou e outra colega de trabalho de forma agres-siva e mal educada, querendo saber o mo-tivo da filmagem, quem seríamos, e de on-de estávamos vindo. Em um ato de grosse-ria nos impediu de filmar. Tentando contor-nar a situação explicamos o motivo pelo qual estávamos ali e que seria importante tal filmagem. O rapaz acalmou-se um pou-co e nos explicou que pessoas pegam ima-gens da torcida organizada e fazem vídeos

indevidos, criando uma imagem violenta da Ga-loucura. Não nos deixou muito satisfeitos, pois, a sua própria conduta era de uma pessoa violen-ta.

No decorrer da partida percebemos esse lado de paixão do torcedor para com seu time. Apoiaram sua equipe do início ao fim, cantando belas músicas de incentivo e amor ao clube. Não podemos esquecer que estes próprios torcedo-res, também, em contra partida cantavam com incentivo a violência, contra a torcida adversá-ria, a Máfia Azul.

Em outro jogo fomos conferir como a tor-cida da Máfia Azul como se comportava. Alguma diferença? Pouca. Entramos no meio da bateria, onde faziam o aquecimento. Entre o corredor e as arquibancadas percebemos uma situação; pulavam e cantavam com toda a força seus hi-nos, incentivando seu time prestes a entrar em campo. Ao contrário do conselho da Galoucura, fomos recebidos muito bem e de uma forma e-ducada pelo animador conhecido como “Fubá”, que nos autorizou a filmar e tirar fotos à vonta-de, e ainda desejou um bom trabalho. Ficamos até um pouco surpresos, pois, esperávamos u-ma reação mais parecida com a da Galoucura.

As duas torcidas em essência, apesar das diferenças, parecem fazer a violência como for-ma de afronta ou luta entre as duas. Para todos, vivenciar um clássico, um campeonato, ou sim-plesmente entrar no estádio de futebol, lhes traz um prazer não tão facilmente conquistado no dia-a-dia. Exprimir sentimentos tão intensos co-mo o de um torcedor fanático, traz uma questão a se pensar: Até quando o prazer é sinônimo de divertimento e não de violência? O importante, nesses pequenos momentos, para as torcidas, acabam sendo de não só cantarem para o seu time do coração, mas como também, cantarem para o rival.

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Jean Pierre

O svaldo, toda essa violência que existe entre as torci-das organizadas promete ser solucionada com um cadas-tramento. Você acha que is-so diminuirá a violência fora e dentro dos estádios?

Osvaldo Reis – Não adianta fazer cadastro, vai continu-ar a mesma coisa, pessoas de má fé já estão integradas dentro das torcidas, o proble-ma da violência no futebol com torcidas organizadas é bem mai-or que se pensa.

Bob Faria – No futebol, qual é a razão de uma torcida organizada? É juntar como se junta os fãs de um determinado cantor, no show, enfim virou uma associação para outros fins o que menos importa é o time é o jogo. É uma pena, mas é a verdade.

Bob você já teve algum problema com os ti-mes tanto atlético, quanto cruzeiro?

Bob Faria - Não porque eu respeito pra ser respeitado, eu acho que tem problema é quem não respeita. Acho que precisar ter uma relação com o esporte eu como analista eu analiso o desempenho do jogador, e no campo o que ele faz da vida dele não é problema meu, eu entrego uma análise e a pessoa tira uma própria conclusão.

Bob, você no Mineirão, principalmente em dias de clássicos, deve ser muito bonito poder

ver as torcidas organizadas; você fica sabendo dos acidentes e da violência que são cometidas ali no estádio?

Bob Faria - Isso não chega como notícia, o envolvimento com coisas ruins fica tão evidente, que você ta ali no espetá-culo esportivo, eu tenho que anunciar o que eu vejo em volta, mas o que se vê é somente violência geralmente

é coisa ruim. Quando se chega à TV e se

fala “olha que show que está a torcida organiza-

da, ela esta empurrando o time”. Ai também, não tem uma contra partida falando que esta-mos promovendo essas torcidas, mas quando a torcida promove baderna e marca pela internet de brigar isso também vira notícia ai é uma tristeza. Gostaria muito de dizer que tem uma fun-ção social, mas isso fica muito pequeno.

Foi realizado, no Centro Univer-

sitário UNA, no dia 31 de março

de 2009, o programa “Globo Es-

portivo” da Radio Globo AM, on-

de estavam presentes os co-

mentaristas. Após a gravação do

programa toda a equipe foi con-

vidada a participar de um deba-

te com os alunos e o jornal

in’Foco aproveitou o momento

para realizar algumas pergun-

tas.

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Foto: C

amila Sol

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C heguei a Galoucura num sábado pela manhã. O clima era de uma família que aos poucos iam se reencontrando e a casa ia se enchendo.

Por voltas das 8 horas, deu início a Oficina de MC’s onde alunos aprendem a escre-ver e se expressar através da música. “A rima representa o que eu posso ser e o Rap ser-ve para eu me libertar do mundo” - Wesley, 21 - que participou da oficina pela primeira vez.

Neste mesmo dia houve a formatura dos lutadores de Muai Tai e a entrega dos certificados. Estava presente o presidente da Federação de Muai tai, Carlos Luz, para a avaliação final. Para Leonardo, a luta é u-ma arte que traz tranqüilidade e controle, alem de fazer bem para o corpo e à mente. Henrique, 26, há 12 anos na Galoucura, diz ter entra-do na torcida por ter conhecido uma galera bacana. Ele era uma pessoa que brigava na rua e encontrou no Muai Tai uma forma de auto contro-le. Hoje, com outro estilo de vida, planeja se casar e trazer a família para a torcida.

Entregue os certificados, a sede da torcida alvinegro estava alegre. Houve até um batizado para os que acabavam de che-gar: rasparam a cabeça de muitos e assim seguia a festa.

Ao meio dia começaram os preparativos para o ensaio da bateria. Nos dias de jogos são 22 integrantes, mas ao total soa 60. Demétrio, 27, diz que a bateria representa harmonias, simplicidade e vibração na avenida.

Mariana, 22, tocadora de surdo, instrumen-to típico dos homens, diz ter orgulho de repre-sentar as mulheres. Sua família, assim como tantas outras, associa a torcida a vandalismo. Ela explica que eles fazem ações sociais, ajudam pessoas e tem amor a um time. Mas há um pequeno grupo que participa para denegrir a ima-gem dos organizados, diz Mariana.

E foi na rua que deu início ao ensaio. O fim do dia seguia com churrasco e muita animação. Na batida dos tambores se percebia a batida de corações apaixonados por um time e unidos como u-ma família, com o único ob-jetivo de torcer e ajudar ao próximo.

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Camila Sol e Vitor Hugo

Foto: Camila SolFoto: Camila Sol

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Adalberto Maia

A visão da sociedade, sobre as Torcidas Organizadas nos dias de hoje, é uma coisa muito superficial devi-do a forma que as mesmas são mostradas pela mídia ao público com as pesquisas feitas pelo jornal in’foco.

Saímos às ruas e perguntamos a pessoas de diversas ida-des, raças; mas as respostas sempre chegaram bem pró-ximas, indiferentemente da faixa etária. As pesquisas mostram que poucas pessoas sabem que as duas torcidas fazem ações sociais, mas dizem conhecê-las.Contradição entre conhecer e conhecer a fundo, do que se tratam as

torcidas, que impulsionou a pesquisa, veja os gráficos.

Apenas 31% das pessoas entrevistadas tem conhecimen-to das ações sociais – indiferente de qual torcida.

Os núme-ros ficam piores quando a pergunta é “Quando se fala em Torcida Organiza-da, o que lhe vem em men-te?”, den-

tre as respostas apareceram como principais visões: Vio-lência, Amor ao clube, Solidariedade:

A mídia ao expor em suas matérias somente as questões relacionadas à violência nos estádios, as brigas – marca-das ate mesmo via internet – a grande rivalidade que existe fora dos gramados – muitas vezes praticada por não membros das torcidas organizadas – ganha espaço e

público nos meios de comunicação, ao preço de passar uma visão errônea sobre as mesmas.

Quando se diz praticado por não membro, se dá ao fato de que com a pirataria dos produtos das torcidas – camisas, blusas de frio, calças – faz-se fácil passar-se por alguém da torcida de determi-nado clube.

Na pesquisa realizada em escolas os resultados não ficam muito diferentes. Alguns comentários chegaram a chocar os pesquisadores:

Em relação ao conhecimento das ações sociais:

Os jovens que já tem essa visão continuam rece-bendo somente informações que difamam as Torcidas Organiza-das.Acabam por passar essa ima-gem ruim das mesmas.

É preciso ser justo ao passar as informações sobre qualquer coisa, com as Torcidas Organizadas não pode ser diferente; existe briga, rivalidade, solidariedade? Sim, mas,se os meios de comunicação não abrirem espaço para que tais fatos sejam divulgados, as pesso-as continuaram dizimando idéias erradas.

Conheciment o das Ações Sociais

31%

69%

SIM

NÃO

V isão das pessoas sob re as To rcidas Organizadas

52%

13%

35%

Violência

Solidariedade

Amor ao Clube

Conhec iment o sobr e as Tor c i das

77%

23%

SIM

NÃO

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Foto: Camila SolFoto: Camila Sol

Vi são sobr e as Tor c i da s Organi z adas

56%

3%

41%

Violência

Solidariedade

Amor ao Clube

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