Revista inventa edicao especial

44

description

 

Transcript of Revista inventa edicao especial

Page 1: Revista inventa edicao especial
Page 2: Revista inventa edicao especial
Page 3: Revista inventa edicao especial
Page 4: Revista inventa edicao especial

EXPEDIENTE// INVENTA// EDIÇÃO ESPECIAL// MAIO/JUNHO2014// TIRAGEM ÚNICA - EDIÇÃO ESPECIALA revista Inventa é uma publicação de caráter informativo com circulação gratuita e dirigida.EDITADA POR IEME Comunicacao_ iemecomunicacao.com.br IEME - Integração Em Marketing, Comunicação E Vendas Ltda. - Rua Heitor Stockler De França, 356 - 1º andar - Centro Cívico - Curitiba PR // 41 3253-0053 - CNPJ 05664381/0001-27

DIRETORA RESPONSÁVEL Tais Mainardes [email protected] DE JORNALISMO Marília Bobato [email protected]ÇÃO Bruno Reis [email protected] Isadora Hofstaetter [email protected] Jéssica Amaral _ [email protected] Lyane Martinelli [email protected] Mariana Hillbrecht [email protected]ÇÃO Larissa Pires, Pedro Henrique Machniewicz, Vanessa Stival , Thais GallianoCOORDENAÇÃO DE PROJETOS ESPECIAIS Ana Amaral [email protected] IEME [email protected] PARCERIA COMERCIAL_SALTORI_ [email protected] _(41) 3016-9094

PROJETO GRÁFICO E FINALIZAÇÃO Larissa Pires, Pedro Henrique Machniewicz, Vanessa Stival , Thais GallianoFOTOGRAFIA Prata GelatinaFOTOGRAFIA DE CAPA Justin James MuirREVISÃO Larissa Pires, Pedro Henrique Machniewicz, Vanessa Stival , Thais GallianoIMPRESSÃO E ACABAMENTO Tecnicópias

CRITICAS _ [email protected] E SUGESTÕES DE PAUTA [email protected]

Design Editorial é para os fortes!O objetivo geral do design, em qualquer uma das suas diversas variações, geralmente consiste na organização e composição de ideias. O material com que se trabalha são elementos visuais, funcionais ou conceituais que, muitas vezes, partem do próprio designer ou de uma necessidade específica. Ou seja, o briefing. É sob este aspecto, origem e propósitos das ideias, que o design editorial se diferencia.

O designer editorial possui a tarefa de apresentar para o mundo ideias criadas não por ele próprio e sim por uma varie-dade de outros profissionais como artistas, fotógrafos, escritores e jornalistas. Enquanto esses profissionais têm a tarefa de pesquisar e elaborar uma unidade de informação, a preocupação do designer é elaborar um conjunto dessas informações de forma clara, agradável e atrativa para o leitor, sem distorcer ou prejudicar de qualquer forma o seu con-teúdo original. Trata-se de uma tarefa nobre e de muita responsabilidade, que pode ser comparada com a curadoria de uma exposição.

Esta Edição Especial da Revista Inventa consiste de uma parceria entre os Editores da Revista, as Professoras da dis-ciplina de Projeto Visual II e os alunos do 2º ano do curso de Design Projeto Visual da Universidade Positivo. Neste projeto, realizado durante o segundo bimestre de 2014, os alunos puderam desenvolver o design editorial de uma revista. O planejamento gráfico para um novo layout, o grid, a composição, a paleta de cores, as tipografias adotadas aos estilos de parágrafo, as imagens, a produção fotográfica, as horas em frente ao computador, a espera em sala para orientação com as professoras, cada linha órfã, cada ajuste na diagramação, testes de impressão, entre tantas outras especificidades fizeram parte da rotina destes alunos.

Assim, como professoras, esperamos que os alunos tenham experimentado neste projeto uma pequena parte desta área do design que, por vezes, carece de profissionais especializados. Também esperamos que nossos alunos possam contar com este projeto como mais um artefato de importância para seus portfólios. Esperamos que os Editores da Revista Inventa e aos demais leitores apreciem este trabalho sob um novo ponto de vista e sob uma nova maneira de contar suas histórias, informações e imagens nas página que se seguem.

Boa leitura. Boa apreciação visual.

Professoras Eliza Sawada e Michelle Aguiar

Design Projeto Visual | Universidade Positivo

Page 5: Revista inventa edicao especial

h

Page 6: Revista inventa edicao especial

6

colaboradores

Rafael Camargo, ou Rafa Camargo, é ilustrador profissional desde 2001.Hoje, atua como chargista esportivo do Jornal Tribuna do Paraná, mas já colaborou com as revistas Superinteressante, Mundo Estranho, Encore Magazine (Munique/Alemanha), entre outras. Rafa também teve trabalhos selecionados em salões nacionais e internacionais, obtendo em março deste ano, o primeiro lugar no XVII Salão Internacional de Imprensa de Porto Alegre, com a charge ‘Nature Song’. Participou de três edições da exposição Ilustra Brasil, sendo membro da Sociedade dos Ilustradores do Brasil – SIB. Em 2004, lançou a Mamute Estúdio Gráfico, onde desenvolve projetos de design e ilustração, e envia, semanalmente, um charge para os emails cadastrados no site da agência. Mantém um blog, veículo em que divulga textos e criações diversas. Lava a louça de domingo e casou antes de comprar sua bicicleta!www.rafacamargo.com.br

Há cinco anos, João Paulo Esmanhoto Bertol largou sua bem sucedida profissão de redator publicitário em Curitiba para se arriscar no cinema canadense: mudou-se para Vancouver em busca de especialização na sétima arte e uma melhor qualidade de vida. Hoje, com 30 anos, está atuando como assistente de direção no filme Mordecai e já participou de diversos filmes e shows de tele-visão, como Wolverine, 2012, Tron 2.0, Supernatural, Psych, Harper’s Island e assume: morre de saudades do Brasil. “Morando fora a gente aprende que a nossa casa vai ser sempre a nossa casa, não im-porta quanto tempo você passe longe”.

Non-stop! Assim é Andrea Greca Krueger, jornalista e professora. Aos 28 anos, a coolhunter, ou melhor, investigadora de tendências garante: “não gosto de ficar sem fazer nada, me sentir meio inútil, ver o tempo passar sem produzir”. Não produzir? Realmente, impossível. Andrea é pós-graduada em Coolhunting e Investigação Qualitativa de Tendências na Universitat Ramón Llull, em Barcelona, e especialista em Mídia de Moda e Jornalismo de Moda (ambas cursadas em Londres). Seguidora de novidades, ávida por observação. Desde pequena, ela era a mais obser-vadora da turma, o que já demonstrava a atração da garota pela profissão que exerce há dois anos. Além de viajar, ler, pesquisar e observar (muito!), Andrea não vive sem redes sociais, defende o aprofundamento da pesquisa de tendências e ainda encontra tempo para curtir música eletrônica. Mas não para por aí. Ela mantém seu blog atualizadoe colabora com o canal virtual espanhol Tendencias.tv.http://somainkinderland.wordpress.com

Ela gosta de banho de rio, mas foi outro Rio que despertou seu interesse.Responsável pela base antropológica do estudo “Retrato Carioca”, Simone Terra desenvolveu, e continua aprofundando, o “Jeito de ser Carioca” onde demonstra como as interseções culturais influenciam no comportamento de compra desse consumidor. Diretora da empresa que leva seu nome, Simone é Graduada em Teatro e Ciências Sociais, pós-graduada em pesquisa de mercado e marketing estratégico na França e possui especialização em varejo e comportamento de compra. Natural de Cambuci mora atualmente em Niterói. É Presidente do Comitê de Promoção, Trade e Varejo da Associação Brasileira de Anunciantes e Con-sultora Associada ao SENAC Rio e Fecomércio. Nos 17 anos de carreira já trabalhou com grandes grupos e marcas no Brasil e no exterior, entre elas: 3M, Bompreço, Coca-Cola, Danone, Eletro, Extra, FGV, FNAC, Guaraná Jesus, Gerdau, Gillette, Infoglobo, Les Galeries Lafayette, L’oréal, Panex, Pão de Açúcar, Procter&Gamble, Senac, Sendas, Souza Cruz, Unilever, Wyeth, entre outros.www.sterra.com.br

COLUNISTA Executivo com sólida formação nas áreas de marketing e de ges-tão empresarial, Julio Sampaio é diretor da Resultado Consultoria e vice-presidente da ADVB-PR. Co-mo consultor já atuou em impor-tantes projetos de reestruturação de empresas, visando incremento de vendas e rentabilidade. Como executivo, atuou na direção e ges-tão comercial em empresas como Jornal O Globo, Jornal Gazeta do Povoe Rede de Varejo Casa e Vídeo.É autor do livro O Espírito do Dinhei-ro e mestre em Organizações e Desenvolvimento. [email protected]

Page 7: Revista inventa edicao especial
Page 8: Revista inventa edicao especial

8

O MUNDO DOS GAMES INVADIU A PUBLIDADE, OU FOI O CONTRÁRIO?Correndo de mulheres desesperadas, o homem chocolate precisa de uma decisão rápida: arrancar seus dedos e conseguir andar mais meia quadra ou perder um braço rapidamente? Decidido, deixa seu minguinho para trás, prepara a armadilha e consegue escapar de mais uma bela.

Nos últimos anos, a indústria responsável pela diver-são garantida nos intervalos do trabalho e quando chega o tédio do computador cresceu mais que os conhecidos gigantes do entretenimento como o cinema e a música, faturando, em 2008, US$ 21,3 bilhões.

A publicidade almeja, a todo custo, a interação e imersão do usuário no universo do produto. Quando essa experiência do consumidor com a marca é diver-tida, torna-se a menina dos olhos. Unindo o avanço no mercado, as tecnologias disponíveis e a possibilidade de interação com os usuários, bingo! Chegamos aos advergames.

As marcas podem estar nos games de, basicamente, três formas: nos advergames, que são games custo-mizados para marcas e produtos; em anúncios nos cenários virtuais, chamados de in-games advertising; ou ainda pela inserção de produtos no contexto do jogo, products placement – quase um merchandising. Atualmente, os advergames são os preferidos. Marcas como Unilever, Chevrolet, Brasil Telecom são apenas alguns dos muitos exemplos de como anunciantes estão brincando direto com seu público. De acordo com pesquisas, a tendência é um pouco óbvia: a cada ano deve aumentar ainda mais o número de jogos online com diferentes inserções de marcas e produtos. (IH)

*Se você ainda não conhece o jogo do homem chocolate, acesse http://www.axe.com.br/dark/site/

LIXO QUE NÃO É LIXO Pegar recados amassados, fotos comprometedoras e objetos que, para muitos, já não têm mais valor e publicar em uma revista. Acha que ninguém vai querer comprar? Errou. Essas ações fazem parte do cotidiano da revista Found, que, desde 2001, conquista leitores em todo o mundo. Lançada em Chicago por Jason Bittner e Dave Robarth, a publicação reúne bizarrices e divertidos objetos pessoais e reveladores.

Um mosaico (quase) saído do lixo, a Found é anual e começou com 700 cópias. Sua colagem punk ganhou o mundo e, hoje, seus 70 mil exemplares chegam a qualquer cidade do planeta através de solicitações no site (www.foundmagazine.com) por apenas US$ 5. Além de “lixo”, o outro diferencial da Found é a participação ativa de seus leitores: 70% do que é publicado chega via correio, apenas com a descrição de onde foi encontrado. Antes de serem impressas, as peças ganham um ar de “antiguidade”, o que deixa as páginas da revista com aspecto entre o cult e o retrô. Há também uma segunda publicação, a Dirty Found, mais apimentada que a primeira e com tiragem de 25 mil exemplares. (IH)

Acesse sse “lixo” no www.foundmagazine.com

MADE IN BRAZIL Há quem diga que o segundo lugar é o primeiro perdedor. Mas, nem sempre ser o vice é ruim. Orgulhosamente, somos agora o segundo país em produção de embalagens. Isso mesmo! De acordo com uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Monitoramento Global de Embalagem da ESPM, o Brasil está atrás apenas dos Estados Unidos no quesito lançamento de embalagens. Ao longo do ano, foram apresentadas 20 mil novas embalagens Made in Brazil.

Para a merecida valorização dos responsáveis criativos por tantas embalagens, o Prêmio ABRE de Design & Embalagem chega em sua 9ª edição e mantém-se como o mais importante prêmio do segmento. Para quem quiser participar da categoria Júri Popular, as inscrições vão até o dia 29 de maio. Já para o Júri Técnico, o prazo é um pouquinho maior: inscrições até o dia 26 de junho. O vencedor participa do International World Star Awards da Organização Mundial da Embalagem – WPO. (IH)

Saiba mais em www.abre.org.br

RAPIDAS

ima

gem

_divulg

açã

o

Page 9: Revista inventa edicao especial

9

NOVA PAUTA: JORNALISMOO simples fato de você estar lendo agora a Inventa já diz muito sobre o futuro do jornalismo. E, na verdade, hoje existem poucos assuntos mais quentes do que o destino do jornalismo no rápido e dinâmico mundo da informação. Com tantos novos veículos circulando, sejam eles impressos ou online, sejam eles novos ou tradicionais, surge agora uma oportunidade única para reformular o relacionamento entre o jornalismo e o público. A crise dos jornais é, na verdade, uma crise do jornalismo em si, que precisa buscar um novo espaço entre as tantas novas mídias disponíveis.

E é nessa busca que dois congressos mundiais se reú-nem este ano, juntando os mais importantes jornais do mundo para debater o futuro. De 13 a 15 de maio, a International Newsmedia Marketing Association realiza em Miami seu 79º INMA World Congress. O grande ponto de interrogação será o plano de recuperação para compensar as baixas expressivas com as receitas em publicidade. Ou seja: como salvar os grandes jornais impressos do mundo, e como utilizar as já consolidadas marcas para uma tarefa simples: vender mais edições? Como salvar gigantes como o The New York Times e o The Washington Post, que recentemente anunciaram seus planos de demissão.

A resposta talvez esteja na Índia, aposta a Associação Mundial de Jornais, WAN (na sigla em Inglês), que rea-liza lá seu 62º congresso. O país, maior democracia do mundo, tem uma imprensa local que apresenta um crescimento extraordinário. E já é o segundo mercado mundial, atrás apenas da China. Comprando mais de 99 milhões de cópias de jornais diariamente, os indianos são 200 milhões de leitores e representam um mercado com potencial ainda grande. Tratando-se de um dos países líderes em tecnologia e em acesso à internet, a Índia é a prova que há espaço sim para a permanência dos veículos tradicionais. E qual o segredo? Milhares de empresários do setor estarão lá no início de dezembro para discutir a resposta. O que é muito claro, no entanto, é que o objetivo do evento é definir o novo posicionamento dos grandes jornais nesse novo cenário mundial, com as novas mídias já consolidadas como fontes de informação. A crise do jornalismo veio tarde, e era mesmo inevitável. O novo jornalismo se integra agora a uma rede, e os veículos tradicionais ocupam um novo espaço menos central para um público que não mais apenas busca informação, mas, em muitos casos, também a produz. Inevitavelmente, eles venderão menos exemplares.

Fato é que os leitores já não querem só o factual, que-rem jornalistas ativos, veículos novos. Querem notícias que interessam, e querem se aprofundar no que se interessam. Terminou a era do velho jornal que reunia todos os assuntos. A notícia agora chega mais rápida, e vai direta ao leitor. Chega também cada vez mais pelas novas mídias, sejam fotos e vídeos de celular ou mesmo blogs, twitter, facebook, Inventa, etc. (BR)

A NONA ARTE E SUA SENHORA HISTÓRIACapaz de brigar com o espelho ao chegar à cidade grande, Nhô-Quim é considerado o primeiro personagem fixo de uma graphic novel no mundo. Zé Caipora e sua complexa personalidade foram os primeiros a ter uma revista para contar suas aventuras. Dois personagens tipicamente brasileiros, criações do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, Nhô-Quim e Zé Caipora marcam o surgimento das histórias em quadrinhos e comemoram, em 2009, 140 anos.

Para as gerações atuais, esses senhores personagens deixaram, além da história, muita referência. Já em 1869, Agostini e seus fieis escudeiros defendiam uma linha dura contra injustiças da sociedade e do governo. Durante o reinado de Dom Pedro II, Nhô-Quim levantou a bandeira da república e agia contra a escravidão.

Algumas das histórias dos heróis tupiniquins podem ser encontradas na coletânea As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora: Os Primeiros Quadrinhos Brasileiros, editada pelo Conselho Editorial do Senado Federal. (IH)

+ Livraria do Senado Federal www.livrariasenado.com

Page 10: Revista inventa edicao especial

10

BIENAL DO LIVROJá são pelo menos nove as bienais do livro no Bra-sil. E cada uma dessas nove já faz um sucesso do tamanho da Bíblia. Apenas para se ter uma ideia, só a Bienal do Livro de São Paulo, que aconteceu no ano passado, constatou que cerca de 75% dos visitantes compraram livro, sendo que, na média, cada visitante comprou cinco livros! Sem dúvida, um grande sucesso econômico para as editoras. Sucesso também se considerarmos que a média de leitura no Brasil é de menos de dois livros por ano, sendo que, se tirarmos os livros didáticos, a média cai para menos de um.

Curitiba terá, em breve, a sua bienal. Prevista para ocorrer de 27 de agosto a 4 de setembro, no Expo Unimed Curitiba, a 1ª Bienal Internacional do Livro de Curitiba promete movimentar a capital curitibana. Com curadoria do mineiro Alcione Araújo, escritor, diretor e ator, que trabalha atualmente como roteirista e já elaborou 13 para o cinema brasileiro, entre eles Pátria Amada e Policarpo Quaresma, a Bienal promete divulgar novos autores, novas publicações e novas edições, incitar crianças, jovens e adultos a ler mais e ajudar instituições de ensino a desenvolverem o importante gosto pela leitura. (TM e BR)

EMPURRÃOZINHOEstudantes, maiores de 18 anos e matriculados em alguma instituição de ensino superior de 30 países, têm até às 17 horas do dia 5 de junho para fazer a inscrição para o Prêmio Adobe® Design Achievement. São 12 categorias em três mídias diferentes para participar enviando trabalhos criados com produtos da Adobe. Os vencedores ganham viagens, soft ware da Adobe e prêmios em dinheiro, além, é claro, do “reconhecimento e um empurrãozinho nas futuras carreiras”, como afirma o regulamento do prêmio no site. (TM)

adaaentry.com/br

“THAT’S SUCH GOOD NEWS, BECAUSE IT’S ALL ABOUT ME!” Foi dessa forma que Tiny recebeu a notícia de que seu trabalho como diretora de criação seria publicado em um livro. Com apenas quatro anos de idade, a linda garotinha é responsável por avaliar as ilustrações de seu pai, Bill Zeman, e dar o veredicto: aprovado ou reprovado. Na próxima primavera americana, per- tinho da comemoração do Dia dos Pais naquele país, o resultado de três anos de blog ganha novo formato e reconhecimento. Publicado pela editora Chronicle, o livro terá capa dura e uma série de materiais inéditos, além de algumas peças que já fazem parte do blog.

Moradores do Brooklyn, pai e filha trabalham e se divertem juntos há três anos: Bill, desenhando; Tiny, avaliando. Tiny adora croco- dilos e dinossauros, e o pai explica que esse gosto vem da excita- ção – quase medo – que esses animais causam na menina. “Hoje ela já gosta da minha arte, mas continua tendo uma visão interes- sante sobre as ilustrações”. Com comentários engraçados, e muitas vezes cruéis, Tiny surpreende pela sinceridade. E Bill avisa: mesmo muito crítica, Tiny é uma menina fofa e bem comportada. (IH)

Enquanto o livro não chega, acesse:

http://tinyartdirector.blogspot.com/

ima

gem

_divulg

açã

o

Page 11: Revista inventa edicao especial
Page 12: Revista inventa edicao especial
Page 13: Revista inventa edicao especial

13

Você tem tesoura, cartolina, cola, papel e ima-ginação? Então você tem tudo o que precisa para fazer um filme. Com a caixa Homemade Blockbuster, você não precisa de mais nada para ser um diretor. É simples, você só precisa de uma câmera, criatividade e uma boa dose de coragem. Aliás, a caixa vem vazia para estimular a sua cabeça a imaginar o que gostaria que estivesse ali dentro.Vale até acreditar que não existe nada na caixa. Afinal, Lars Von Trier não fez um filme de três horas sem quase nenhum cenário? Michel Gondry experimentou e garante os resultados já fez dois filmes que usam e abusam da imaginação, com efeitos quase caseiros. Sem falar em uma infinidade de comerciais e videoclipes que provam que boas ideias valem mais do que duas horas de explo- sões e tiros de raio lazers sem alvo e sentido. Afinal, depois de um tempo, você cansa de carros que viram robôs e quer algo que estimule sua criatividade, que maravilhe seus olhos e a criança dentro de você. Por isso, o kit Homemade Blockbuster. Quer outra prova do sucesso dessa fórmula? Spike Jonze fez um vídeo em que seus amigos brincavam de polícia e ladrão. Como seus amigos tinham uma banda de hip-hop, a brincadeira virou um videoclipe, aliás um dos mais famosos da história da MTV. Não parou mais, seus melhores trabalhos não têm super produção, não parecem videogame. São boas ideias, desafiadoras, daquelas que você não tinha vergonha de ter aos do- ze anos de idade. Até o Oscar já se rendeu. Hugh Jackman ficou fascinado brincando com pedaços de cartolina na frente das câmeras para o mundo todo. Dançou com a cabeça enfiada naquelas painéis que você encontra em qualquer cidadezinha de Santa Catarina, e tem um casal de alemães pintados na frente. E as pessoas assistiam maravilhadas com as ideias velhas, mas esquecidas há muito e muito tempo, afinal a gente passa mais e mais tempo na frente do computador a cada dia. O Homemade Blockbuster está conquistando o mundo. No Brasil, já teve abertura de novela das oito com favela feita de material reciclável, aqui leia-se aquilo sem o

uso da imaginação ou com o uso de muito pouca, é só lixo. E se você ficar acordado até um pouco mais tarde, ainda pode ver um outro criativo, Luis Fernando Carvalho. Seus trabalhos brincam com to- dos os tipos de linguagem e faz de suas minisséries um caledoscópio de ideias que, quanto mais simples mais geniais. Se você já está convencido de que o Homemade Blockbuster é uma ideia fenômenal, espere até saber o preço. Com esse revolucionário método\produto, você pode fazer verdadeiras obras-primas gastando muito pouco. Quentim Tarantino filmou a história de gangsters com orça- mento baixíssimo. Cristopher Nolan, que hoje faz Batmans, começou filmando com amigos aos finais de semana e com uma equipe que cabia em um táxi. Robert Rodriguez contou a história de seu Mariac- chi com um orçamento do tamanho do seu carro 1.0. A única coisa que ele tinha embaixo da manga, ou dentro do case do violão, era uma metralhadora de ideias – desculpem o trocadilho. Aliás, não se preo- cupar com julgamentos é outra regra básica do Homemade Blockbuster. Se não, você acaba ficando com vergonha das coisas que tira da caixa e nunca vai fazer um videoclipe mostrando os seus passos de dança especiais como os usados para uma música do Moby, ou ainda, para uma do Fat Boy Slim, aliás, dirigido pelo Spike Jonze, usuário assíduo do Home- made Blockbuster. Agora que você já sabe como fun- ciona, mãos à obra. Pegue uma boa ideia, vale reciclar aquelas dos seu tempo de criança. Aliás, pegue várias e junte-as em uma história. Lembre-se da regra básica do começo-meio-e- fim e lembre-se também que regras não combinam nada com criatividade e faça um meio-fim-e-come-ço. Crie, invente, cole, descole, inverta e esqueça do conceito preguiçoso de que tudo precisa de um orçamento gigantesco para ser bem feito. Uma boa ideia vence qualquer adversidade, transforma obstáculos em uma nova linguagem. Em Hollywood, eles já perceberam que um Blockbuster também pode ser feito de papelão, um Slumdog Millionaire.

Page 14: Revista inventa edicao especial

COOLHUNTING

Page 15: Revista inventa edicao especial

15

Coolhunting já não é um conceito dos mais misteriosos, convenhamos. Quem tem uma noção básica de inglês e uma mente que não decifra apenas enigmas de natureza exata pode entender que a disciplina em questão é, literalmente, uma caça a coisas legais, havendo, contudo, controvérsias na segunda parte da definição. Prefiro chamar de investigação de tendências – coolhunting, além de ter uma incômoda pitada de arrogância, parece designar um hobby. “Sou coolhunter” soa como “estou acima do bem e do mal, sou bem-informado, vivo viajando e, por isso, sei de TUDO e conheço TODOS. Ah, e nas horas vagas sou o descolado da turma.” Não, não, não. Um investigador de tendências tem que ser, antes de qualquer coisa, humilde e tolerante, ter intuição e olhar para todos os lados, exceto para o próprio umbigo. De onde vem à moeda com que esse profissional trabalha senão justamente da vida dos outros?Depois de muito dito sobre a profissão em plano introdutório, en-tramos em um segundo patamar de análise. A possibilidade de aprender a ser um coolhunter já foi discutida (há técnicas poderosas de pesquisa, há cursos e pós-graduações. Se um indi-víduo vai atrás dessa carreria, é bem capaz que já tenha a centelha inicial. O que não se aprende é a ser intui-tivo.); a capacidade de previsão de um fenômeno que pode virar uma febre também (pode ser monitorada, mas não exatamente prevista); muitos já sabem de onde vêm as tendências (simples: da situação social-econômica-ambiental-espiritual das pessoas) e já está claro que rotina não é um tour fotográfico e bem remunerado pelos pontos mais

bacanas do planeta. A subjetividade do termo e a novidade da disciplina geraram algumas discussões e muitas controvérsias. Ótimo.

Passada a fase da apresentação e do deslumbre inicial com o falso glamour que permeia a profissão, agora é importante analisar o que se faz com as tais tendências que caçamos, com as informações que colhemos, com os relatórios que entregamos aos clientes, com toda a informação filtrada, trata-da e entregue mais mastigada que pa-pinha de neném a quem contrata um trabalho de investigação de tendências.

Conhecimento é poder. Mais do que nunca, a informação atual, nova, dirigida, e, principalmente, com credibilidade tem peso de ouro. O que se vê, no entanto, são empresas que buscam esse serviço e depois não sabem exatamente como lidar e o que fazer com o que recebem. Nesse trabalho minucioso, estão ideias, imagens, sugestões de ações inspiradas em iniciativas criativas e de sucesso de outras corporações; tudo é claro, adaptado ao mercado e à realidade do contratante. Esse quadro de estagnação é frustrante, assim como ver o resultado parado por falta do quer que seja: às vezes, não há quem execute; em outras, falta um dedinho de atitude; há ainda casos graves de conservadorismo agudo, os que considero os mais terríveis. Não há mais lugar para caretice no mercado de hoje, não importa a área de atuação. E isto, pode anotar, é um macro tendência. A realidade, por outro lado, pode ser animadora. Segundo uma pesquisa feita pela revista Exame

sobre o futuro do consumo na crise, as áreas que sofrerão menos cortes nas empresas de grande porte serão as de pesquisa e inovação. Um dado positivo que demonstra a importância de ter um olho no presente e o outro atento ao que vem pela frente.

A vontade de contratar um coolhunter deve ir além do status imaginário que é ter um profissional à caça de novidades ao seu dispor. É um trabalho árduo, de pesquisa minuciosa, em que um networking global é acio-nado em busca de dados preciosos e exclusivos. É muito mais que uma simples busca no Google. Isso, sim, qualquer um pode fazer. Interpretar esses dados, entretanto, requer outras habilidades. A informação contida em um boletim de tendências vem da fonte, é original, é buscada, percebida, trabalhada e endereçada com muito cuidado. O resultado positivo depende totalmente da sinergia e boa vontade de ambas as partes. Um relatório de novas ideias pode salvar negócios que estão à beira do abismo, trazer um respiro de ar fresco àqueles que estão no caminho cinza da estagnação e agregar aos que vão de vento em popa. Esses, provavelmente, não padecem de tradicionalismo crônico.

Page 16: Revista inventa edicao especial
Page 17: Revista inventa edicao especial

17

A primeira lista telefônica do Brasil é datada de 1881, quando foi instalada na rua da Quitanda, no Rio de Janeiro. A Telephone Company of Brazil veio dos Estados Unidos para trazer a invenção de Graham Bell para terras tupiniquins. Dois anos depois, o Rio já contava com 5 mil assinantes distribuídos em cinco esta- ções telefônicas. A partir daí, veio a necessidade de se criar uma lista telefônica com mais conteúdo e mais orga- nizada. Um das soluções foi a inclusão de anúncios que, além de facilitar a consulta, fornecia dados sobre os esta- belecimentos, produtos e serviços oferecidos.

As boas e velhas listas telefônicas ficaram para trás com a chegada da internet. Sites como Google, Yahoo, MSN Search revolucionaram a forma de trabalhar com as infor- mações. Em aproximadamente cinco segundos, é possível ter não só o telefone e o endereço completo desejado, como informações sobre serviços, horário de atendimen- to, preços, mapa de como chegar, além de zilhões de da- dos de menor relevância.

Com toda esta informação, uma busca na internet pode acabar sendo uma armadilha. Diferente do que acontecia nos primórdios dos sites de busca, quando o Cadê? apre- sentava os resultados em ordem alfabética, hoje, os siste- mas de busca vão atrás de palavras-chave que identifique o tipo de serviço ou o produto que o usuário está procu- rando. Uma pequena falha na hora de montar o site pode acabar fazendo com que ele role ladeira abaixo nas bus- cas. “Se você não está nas três primeiras páginas do Goo- gle, você é invisível”, afirma Paulo Teixeira, professor de marketing digital e afirma Paulo Teixeira, professor de

marketing digital e especialista em SEO de sites. Também publicou o livro SEO Otimização de Sites. SEO. Não enten- deu? Para alcançar esses primeiros lugares, surgiu um no- vo nicho profissional: SEO, iniciais de Search Engine Opti- mization, em português, Otimização de Sites. Analisar as páginas e criar estratégias é o que resume, basicamente, o trabalho de um SEO. Tudo começa com a análise de to- dos os elementos de um site e termina com algumas alte- rações para tornar a página mais relevante. Uma das pequenas ações mais comuns no meio deste caminho é trocar títulos ou reescrever o texto para facilitar o entendi- mento. “É preciso bolar ideias para melhorar a quantida- de de links para o site atendido. Para isso, é importante a criação de uma estratégia forte e criativa”, explica Teixeira.

Especialistas afirmam que 40% dos cliques vêm de links patrocinados e que os outros 60% são decorrentes da busca orgânica, que é o resultado “gratuito” que as ferramentas exibem.

Partindo do princípio do SEO, blogueiros e pequenas em- presas disputam os primeiros lugares, de igual para igual, com as grandes empresas e suas verbas milionárias. Os sites de busca pontuam os sites de acordo com a rele-vância, e blogs costumam linkar e ser linkados. Assim, os buscadores entendem esses links como votos de confi- ança e, então, passam a colocá-los nos TOP10. Já as pe-quenas empresas que escrevem bons textos em seus sites e interagem com seus clientes tendem a ser relevan- tes pela troca de informações, e a empresa ainda pode criar um blog para facilitar essa troca.

Page 18: Revista inventa edicao especial

18

De acordo com Teixeira, existem diversas técnicas. O que acontece é que algumas delas, mesmo melhorando o posicionamento, são conside-radas desonestas e podem sofrer punições, isto é, perder posições nos buscadores, ou ainda ser excluídos. O conjunto das técnicas “desonestas” é chamado Black Hat SEO. Do outro lado, estão os White Hat SEO, aqueles que praticam o SEO honesto. “Um dos casos mais conhecidos de Black Hat SEO é o da BMW alemã. A empresa decidiu apre- sentar páginas diferentes. Os visitantes rece-biam uma página cheia de animações e recursos visuais enquanto o Google recebia uma página cheia de códigos. O único objetivo era melhorar o posicionamento de sua página”, exemplifica Teixeira. Outra tática muito usada pelos chapéus pretos, além do uso de códigos ocultos, é invadir sites ou blogs usando SQL injection, que nada mais é do que entrar no banco de dados de site e robar as informações, ou inserir algum código malicioso, para ganhar links. No meio termo ficam os Grey Hat Seo, na tradução literal, os “chapéus cinza”. Estes não utilizam técnicas con- sideradas desonestas aos olhos dos sites de busca, mas as que usam não são unânimes do ponto de vista ético. Mas, afinal de contas, por que chapéu? O adorno é quase sempre utilizado para destacar algum atributo e criar uma beleza que chame a atenção. Daí a terminologia.

O mercado dos SEOs já está em rápido cresci-mento, no Brasil e no mundo. No entanto, os profissionais do ramo já começam a se preocupar com uma novidade que vem por aí. É coisa grande, e muitos especialistas dizem se tratar da ter- ceira revolução da web e, por isso, a designam de web 3.0. A di- ferença é que hoje os usuários tem que se moldar para achar o que procuram nos buscadores. Se uma das palavras-chave da busca não for encon-trada em um site, o Google não o exibe na lista de resultados. Mas agora com a busca semântica, a força- da economia de palavras-chave, que limita os resultados, está com os dias contados. O processo deve fluir mais naturalmen- te. Alguns dizem até de forma mais humana. Com a busca se- mântica, o buscador vai “entender” o que é perguntado e, en- tão, apresentar os resultados. Um exemplo: devido à essa nova associação de palavras o Google poderá saber se a pala- vra“Pit”é um poço (em inglês) ou um ator de cinema ao ler a página e cruzar referências com seu banco de dados. Em um futuro próximo, da web 3.0, ele inclusive saberá qual o gosto do usuário, e se seria mais provável que ele estivesse buscando poço ou cinema.

Embora possa ter passado despercebido por muita gente, desde abril o Google já utiliza uma primeira versão da tecnologia. A Microsoft também planeja entrar, em breve, na novidade com um novo busca-dor, o Kumo.com, já que seu Live Search nunca conseguiu desbancar o Yahoo! do 2o lugar. Resta saber como os profissionais do SEO irão se encaixar nesse novo contexto. Uma coisa já é certa: sites com conteúdo único e original continuarão a ser premiados.

QUANTO VALE SEU SITE?Por Marilia Bobato

Relevância. É isso que seu site precisa para estar no topo. De acordo com a ad-ministradora de sites MundoSEO, para chegar lá você deve:

- Elevar o seu PageRank para pelo me-nos quatro.

- Aumentar o número de visitantes por dia para no mínimo 500.

- Produzir conteúdo suficiente para seu site atingir 100 páginas.

Mas, lembre-se os sites de busca só ge- ram o ranking para sites comprovada- mente relevantes, que geram conteúdo original e que conquistam visitantes por serem interessantes e de qualidade. A MundoSEO avisa que não adianta usar o Black Hat. Mesmo que você force algum aspecto, produzindo cem pági- nas de Spam, por exemplo, o aspecto dos visitantes e principalmente o pré- requisito do PageRank é muito compli- cado de ser forjado. Invista no seu site para torná-lo um campeão de audiên- cia e visitação.

Page 19: Revista inventa edicao especial
Page 20: Revista inventa edicao especial
Page 21: Revista inventa edicao especial

VELHO NOVO PAPELPor Isadora Hofstaetter

Cerca de 5 mil anos antes de Cristo, egípcios já possuíam suporte semelhante ao papel. O mesmo com tanta experiência de vida, o protagonista das ativi-dades gráficas passa por sérios problemas de relacionamento com comunicadores e, principal-mente, consumidores.

Page 22: Revista inventa edicao especial

Ele está presente no enxugar mãos, anotar telefones, ler, vender. Está lá quando criamos, defendemos um direito, ensi- namos, listamos coisas, ates- tamos. O papel é item de primeira necessidade na sociedade. Pensava-se que com a tecnologia digital, o consumo de papel iria dimi- nuir. Nenhuma pessoa calcu- lou, porém, o que onde exis- tisse um computador haveria também uma a uma impressora. Alguns defendem que, além do fácil acesso à impresisão, o aumento do acesso à informação gerou a maior demanda de papéis. Só apenas nos Estados Uni-dos, com o uso do e-mail popularizado, o consumo aumentou em 40% em pou- cos anos. Muitos desses papéis nunca e não foram

(nem serão) lidos ou utilizado.Em sexto lugar no ranking mundial de produção de celulose e em 12º lugar na produção de papel, o Brasil tem um consumo relativamente baixo: 42,2 Kg de papel por habitante/ano, nada perto de países como Alemanha, que conso-me 368,8 Kg per capita, e Canadá, 210 Kg e 290 Kg. E mesmo sendo a base da comunicação, edu- cação e documentação de qualquer país, todo o processo no qual o papel está envolvido é prejudicial à sociedade “a plantação de eucalipto ou pinus, a extração, o trans- porte, a produção, o trans- porte para a gráfica, a apli- cação de tinta, o refile, o consumo, de todas as etapas do ciclo de vida do papel são agressivas”, explica Nelson

Smythe Júnior design gráfico sustentável e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR),que aponta um passado pior. “Até algum tempo atrás, o bran- queamento do papel era feito à base de cloro, extremamen- te prejudicial desde a aplica- ção até o final do processo, quando contaminava os solos na decomposição do papel. Hoje, o braqueamento é feito à base de ozônio. As tintas também deram um passo im- portante, já que agora têm como base óleos vegetais e não mais minerais”. Mesmo com avanços, o ciclo continua nocivo e pode ser amenizado através da conscientização a respeito do uso do papel reci- clado, o “ecologicamente cor- reto”, que representa 10% do consumo de papéis no Brasil.

consumo de papelhabitante-ano

22

Page 23: Revista inventa edicao especial

Mas não se anime. Nem tudo é tão simples assim. O papel reciclado é produzido, basicamen- te, com aparas pré e pós uso. Envolvendo toda uma cadeia produtiva, há os aparistas que são quem compram as aparas das gráficas e, novamente, o transporte, os produtores, a gráfica, a tinta, o refile e o consumidor. Sem dúvida, o papel reciclado é me- nos impactante do que o papel virgem. Mas apenas no quesito ambiental. O que muitos esquecem é que para que algo seja considerado sustentável, é neces- sário que pontos econômicos e sociais também se- jam avaliados. E é aí que o problema começa. A questão econômica do papel reciclado, no Brasil, é a importação. “O ponto principal é que o país ainda não produz um grande volume de aparas. Tem muito potencial, mas não tem um sistema de coleta e seleção com empresas organizadas e estruturadas nessa função atualmente o mercado brasileiro é controlado por dois ou três aparistas. Então, como não há uma coleta e seleção corretas, não temos as aparas cor- retas e, por isso, o Brasil precisa impor- tar”, explica Geraldo Ferreira, gerente geral da APP Brasil, grande fabricante de papel e celulose. Já a questão social escapa ainda mais aos olhos do consumidor: está relacionada à postura das empre- sas envolvidas (fabricantes, gráficas, transportado- ras) com as comunidades onde estão inseridas. Smythe presas aponta que a questão social ultrapassa os programas criados para a população

e a geração de empregos. “Todo o relacionamento com o funcionário também é uma questão social. Eles pagam adequadamente? Estão envolvidos em processos trabalhistas?”. Pensar o ciclo de vida, envolvendo aspectos ambientais, sociais e econô- micos, tanto do papel quanto de tudo o que é produzido e consumido, não é uma tarefa fácil “É um sistema caro e ficaria inviável nos projetos reali- zados cotidianamente em uma agência de comuni- cação, por exemplo. Porém, deve ser pensado. Faze- mos escolhas empíricas. É necessário ter uma postu- ra crítica, que, ao menos, possa indicar qual seriam as melhores opções, as que geram menor impacto no ambiente e na sociedade”, explica o consultor. “Não adianta utilizar o papel reciclado vindo de Manaus, em Curitiba, por exemplo, já que o transporte é um dos fatores menos sustentáveis que temos disponível no Brasil. Também não adianta produzir um cartão de visita em reciclado, se o objetivo do material é a durabilidade. Hoje, temos opções até quanto a acabamentos, sempre tão impactantes no meio ambiente. É possível utilizar um verniz à base de água, agradar o cliente e diminuir os prejuízos à sociedade. Todas as variáveis devem fazer parte de um planejamento sustentável, apesar do termo ser utópico. Ele atua mais como um norteador das ações do que como meta a ser alcançada”. Toda a discussão que ocorre hoje sobre a qualidade ou não dos papéis reciclados que existem no mercado brasileiro aponta a desconfi- ança de quem lida com essas escolhas diariamente. Grandes empresas, reconhecidas pelo reciclado em seus materiais impressos, começam a repensar o uso do papel. A Natura, por exemplo, substituiu o reciclado por papel couché e diz que o diferencial mercadológico que existia não existe mais, apontan- do a redução de custos e critérios ambientais como a causa da troca. Selos como o FSC - Forest Stewardship Council - são a nova tendência. O FSC é hoje o mais reconhecido no mundo qua- nto ao manejo florestal. Presente em 75 países, atua certificando empresas que possuem um desenvolvi- mento mais próximo possível do sustentável, com o diferencial que só é cedido a empresas que traba- lham com outras que também tenham o selo, geran- do uma cadeia de custódia. Essa cadeia é tão importante no processo que a Suzano Papel e Celu- lose, quando recebeu a certificação em 2008, inves- tiu R$480 mil para ajudar na certificação de outras empresas e possibilitar que seus produtos chegas- sem ao consumidor final ainda certificados.

23

Page 24: Revista inventa edicao especial

Todos acompanharam a manifestação dos super- mercados em busca dos “bioplásticos” em 2007, certo? Substituir o plástico vin- do do petróleo por outro produ- zido a partir de plantas parecia (e parece) ser uma ótima solução para essa questão ambiental. Mas essa questão também não é tão simples assim. As sacolas oxi-bio- degradáveis não são a solução, mas sim uma etapa para fazer a sociedade pensar no consumo. Lei em Curitiba desde agosto de 2007, o uso dos “bioplásticos” geram, entre os problemas, o au- mento da emissão de gases cau- sadores do efeito estufa em am- bientes de aterros sanitários. Também é comum o uso de co- rantes tóxicos na composição des- ses plásticos, o que, depois da decomposição, gera poluição em terrenos e rios próximos ao local. Entre as soluções do produto a possibilidade de decomposição 66 vezes mais rápida que a do plástico vindo do petróleo e movimentação da sociedade a favor das questões ambientais. Independente de ser oxi-biodegradável ou não, a ques- tão principal é o consumo de sacolas plásticas, para o qual a solução ideal seria a abolição e substituição das mesmas por sacolas retonáveis, de tecido. No site da Fundaverde – organização não governamental focada em projetos de cunho ecológico – os dados assustam: o mundo conso- me 1 milhão de sacos plásticos por minuto, o que significa quase 1,5 bilhão por dia e mais de 500 bilhões por ano. Só no Brasil, os super-mercados distribuem, a cada mês, 1 bilhão de sacos plásticos. Você deve lembrar também que muitos comercian- tes utilizaram toda essa questão das sacolas oxi-biodegradável como um selo de uma “empresaamiga do meio ambiente”. Essa forma de ação é chamada no marketing de

greenwashing e as sacolas são só um exemplo. Greenwashing é enfatizar pequenas ações ditas sustentáveis para promover a empresa, sendo que, na realidade, a maior parte de suas ações e produções é danosa ao meio ambiente e à sociedade. A lógica é clara: a empresa supervaloriza uma ocasião ecológica que, geralmente, é benéfica para ela em termos de custo (e que, no caso das sacolas plásticas, era lei) e divulga isso como sendo uma atitude responsável. O consumidor, por sua vez, querendo tirar o peso do consumo da sua consciência, compra sem questionar a qualidade e procedência dos produtos “verdes” e adere ao movimento. Vale ressaltar que toda essa manifestação verde

amarelada e não ocorreu, necessariamente, de má fé. Especialistas indicam que houve uma cobrança grande da sociedade antes das empresas es- tarem preparadas para agir sus- tentavelmente, e o marketing, por sua vez, apressado, tomou parti- do e levantou a bandeira sem ter base na produção. Vendo o quan- to estavam pressionadas, as em- presas valeram-se de pequenos feitos para mostrar preocupação com a escassez de recursos, com as gerações futuras. Revendo esse histórico, entendem-se os resulta- dos das pesquisas que mostram que, atualmente, o consumidor está desconfiado e sem interesse a respeito das empresas sustentá- veis. Agora, o jeito é reverter o quadro e buscar, novamente, a confiança dos consumidores.

Consumo verde?

saiba mais em www.scuppie.com

Não é Natal, Páscoa, nem Dia das Crianças, mas o rapaz está lá, fazendo trabalho voluntário com meninos de rua, vestindo sua cami- seta de marca produzida com fibra de bambu. No pulso, um relógio com tecnologia de ponta, e no saldo bancário, muito dinheiro. Segundo o vocabulário atual, esse rapaz é um scuppie. Ricos, bem-sucedidos, consumistas e preocupados com o futuro do mundo. Consumistas e preocupados com o futuro do mundo? Isso mesmo. Dizem os scuppies que essa aparente contradição é possível. Misto de hippie com yuppie, o scuppie – socially conscious upwardly-mobile person, algo como pessoa em ascensão financeira e consciente socialmente – é um movimento cheio de adeptos e que já tem, in- clusive, manual. O termo, criado por Chuck Failla, empresário do setor financeiro de Nova York, gerou adeptos: os scuppies carregam o ideal de salvar o mundo sem abrir mão do estilo e do conforto da vida moderna. Alvo de muitas críticas, o movimento procura colocar no mesmo patamar a preocupação com o meio ambiente e o luxo, tentando zerar a equação entre benefício e dano. Um exemplo? Angelina Jolie e Brad Pitt. Quem é contra define o movimento como superficial e acredita que o cotidiano de um scuppie é tão perverso e vermelho quanto o de qualquer indústria de extração. “Criadores de novo nicho de mercado” podem dizer alguns; “compradores e os compulsivos do falso verde”. A verdade é que, sim, eles são um novo nicho de mercado. E esse nicho cresce a cada dia. Se eles são bons para o mundo? Não se sabe. Mas que eles estão se preparando para distinguir o falso do verdadeiro, estão.

24

Page 25: Revista inventa edicao especial
Page 26: Revista inventa edicao especial

EMBA

LAD

OR D

E IDEIA

S

Elifas Andreato

ENTREVISTA

Page 27: Revista inventa edicao especial

27

Elifas Andreato acredita que tinha tudo para dar errado. Nasceu pobre, no norte do Paraná, com cinco irmãos mais novos para criar. Foi alfabetizado apenas aos 15 anos e perseguido pela ditadura durante muito tempo, na época que tinha alguns companheiros militantes da ação popular. A repressão e a censura fizeram parte de sua vida quando trabalhou no jornal Opinião. Mesmo sem instrução formal, tornou-se referência no meio intelectual e artístico do país. Com a vida, aprendeu a se preocupar com o direito das crianças. Apesar de afirmar que não cria nada, aos 63 anos, Elifas não deu errado. Contabiliza mais de 500 capas de LPs que lhe renderam amizades com músicos de Pixinguinha a Zeca Pagodinho. Reinventouse, passando da criação de capas de LPs para os encartes em CDs. Criou cenários para programas de televisão e esculturas para grandes prêmios, entre eles o Colunistas, principal da publicidade brasileira. “É um Alex Periscinoto esculpido por mim, que nunca fui publicitário”. Em maio, ele lança o segundo livro de sua carrei- ira. Faz o lançamento também da compilação dos 10 anos do Almanaque, a revista de bordo da TAM e a “menina dos olhos” de Elifas. Polêmico e de muita opinião, o artista, escultor e editor é um homem que, acima de tudo, preza o que é justo. Em seu escritório, em São Paulo, “um lugar descente para trabalhar”, ele abriu parte de sua história para a Inventa.

Por - Marília Bobato

Page 28: Revista inventa edicao especial

Inventa - Em seu trabalho, você já realizou muito em relação à música, literatura, teatro e outras atividades. Sempre existiu essa relação de trabalho e amizade com os artistas?Dei sorte. Sou de uma geração extraordinária de criadores em todas as áreas e, por isso, sempre misturei muito o trabalho com amizade. Primeiro pela natureza do meu trabalho... eu seria o fazedor de convites, se fosse pra ver a peça de teatro, pra ler o livro, pra ler um texto ou pra comprar o disco. Muito cedo percebi isso e o que veio junto com essa consciência foi a responsabilidade que eu tinha. Eu tinha de ser fiel e jamais seria mais importante do que as obras que eu ia convidar o cidadão a ver, ler ou ouvir. Isso exigia uma convivência não apenas com a obra, mas com o artista. Significava jogar futebol com o Chico (Buarque), sinuca com o Paulinho (da Viola), com o João Bosco... enfim, almoçar na casa da (Maria) Bethânia, da Clara Nunes. E isso era o que me dava inspiração e segurança para fazer o trabalho. Poucas vezes errei no trabalho. E, quando errei, tive tempo de corrigir.

Inventa - Estas amizades permanecem até hoje?Fiz muitos amigos e as amizades permanecem. Por exemplo, estou dirigindo o show do Martinho (da Vila) em diversas cidades. Eu era amigo mesmo, continuei sendo como sou até hoje. Todos me respeitam, não há uma pessoa com quem eu traba-lhei que eu tenha tido problema. Me envaidece o tratamento que me dão, de respeito, admiração. Mas, não ligo muito pra isso, porque a gente não pode ficar muito ligado nas coisas elogiosas. Às vezes, encontro essa gente e vejo o carinho. Para a inauguração do Centro de Referência da Música Carioca, o meu genro, João, fez um documentário. Num certo momento, numa das entrevistas, o Sergio Cabral (historiador e intelectual), disse uma frase que eu nunca tinha pensado: As pessoas queriam saber como o Elifas via aquele artista.

Inventa - E foi em um desses muitos encontros que houve um pedido especial do Vinícius de Moraes pelo seu filho Bento?Foi um pedido durante uma conversa. Essa coisa de ter vivido com essa gente, Pixinguinha, Cartola, Nelson Cavaquinho, me deixou muito atrevido e queria muito estar próximo deles porque isso me enriquecia. Sempre aprendi muito observando,

ouvindo. E, aí, veio a história do Vinícius. Eu tinha decidido não ter filhos: tive uma infância péssima, uma péssima relação com o meu pai. Quando ouvi a música O Filho que eu Quero Ter, de Vinícius e Toquinho, fiquei atrapalhado. Pensei: “será que essa decisão de não ter filhos é certa?”. E, em uma conversa com Vinícius, ele me disse claramente: “se você não tiver um filho, não vai compreender seu pai nem a vida completamente”. Ah! Ele tem poemas lindos sobre pai e filho, fora os infantis. E eu resolvi ter filho.

Inventa - E o que mudou com a chegada do Bento?Mudou tudo. Chegou o Bento, logo depois veio a Laura e o mundo passou a ter outro sentido. Tanto que a Declaração dos Direitos da Criança - que eu comecei a escrever já fazendo as letras que só muito depois eu entreguei pro Toquinho musicar - era o resultado da convivência com o Bento, mole-quinho, querendo saber tudo e a reflexão sobre a comparação com a minha infância e a de tantas crianças brasileiras que ainda padecem muito. É muita gente pobre, criança desassistida. Isso sempre me preocupou. A questão da infância sempre foi um tema presente na minha vida, no meu cotidiano.

Inventa - Quais são seus projetos em relação às crianças?Então, nós estamos comemorando 50 anos da Declaração Universal dos Direitos da Criança e 30 do nosso trabalho sobre a declaração. O que mais me impressiona é que pouca gente conhece esse trabalho. A ONU (Organização das Nações Unidas) nos deu uma carta de reconhecimento de contribuição à humanidade e adoção do disco no mundo inteiro... E o Brasil insiste em ouvir a Xuxa. O que essa mulher causou de desgraça para essa piazada, a gente vai precisar de mais de três décadas para consertar. Porque é a exploração da criança, sexualização precoce, isso é uma tragédia. O que mais me espanta é que a TV Globo acha que ela é a nossa rainha. Sempre que posso, pergunto: “rainha de quê, de quem?”. Mas, enfim, estou contando isso porque minha proposta é tratar de direitos da criança e valores humanos na rede pública de ensino para a criança pensar sobre esses assuntos.

Inventa - Quem contratava você eram os músicos?Eram. Raramente fiz qualquer coisa que fosse para editora ou gravadora. Sempre foi para os artistas.

Page 29: Revista inventa edicao especial

Eles falavam: “vou fazer com o Elifas”. E as gravadoras rebatiam: “ah, mas o cara é um problema, sempre atrasa, é caro”. É tudo mentira. Muitas gravadoras usavam esses argumentos para não trabalhar comigo.

Inventa - E como você se sentiu quando os LPs foram substituídos pelos CDs?Quando encerrei minha participação na música brasileira, não faz muito tempo, foi com a capa do Zeca Pagodinho, quando finalmente ele tinha status pra me chamar. Isso é conversa dele (risos). Enfim, quando ele começou a vender muito, a gravadora começou a me aborrecer, vinha com umas conversas meio idiotas. Comecei a perceber que tudo havia mudado. Não era só a história que contam, da mudança do LP pro CD. Tinha mudado o mundo, as gravadoras, os diretores de arte já não eram bons e nem lutavam por algo que acreditavam.

Inventa - Você ficou desiludido?Fiquei aborrecido porque eu comecei a fazer as capas com fotos do Zeca. Um dia o Zeca Pagodinho me deu uma bronca: “pô, eu esperei 35 anos pra chamar esse cara para fazer uma capa pra mim e vem aqui todo ano com fotógrafo.” Falou meio brincando, mas era uma provocação. Ele queria que eu o desenhasse. Tudo bem. Fiz “Água da Minha Sede”, que é um desenho bonitinho até. Ele ficou muito contente, embora existam outras melhores. Por exemplo, acho que “Hoje é Dia de Festa”, onde eu misturei ele sambando com os desenhos do J. Carlos (chargista) é uma das melhores coisas que eu fiz em toda a minha carreira. Se você pegar aquela minha capa, no encarte, com aquela graça do J. Carlos, que é o maior ilustrador de todos os tempos, você entende qual foi a decepção. A decepção maior mesmo foi quando eu liguei pro G. Alves Pinto na gravadora e disse pra ele: “olha, nós estamos fazendo uma homenagem ao J. Carlos. E a única coisa que um dos filhos pediu foi um dinheirinho, porque eles não estão bem de vida”. Era coisa de mil reais. Aí o G. disse pra mim: “mas essa homenagem quem está fazendo é você, não é a gravadora”. E eu fiquei pensando: “caramba, ele sabe da importância do J. Carlos, e de colocá-lo na capa do Zeca Pagodinho, que vende um milhão de discos”? Aí, não tive dúvida, liguei para o Zeca e falei: “olha, nós vamos ter uma despesa com essa capa, porque vamos ter que dar mil reais para os filhos do J. Carlos”. Quando a gravadora ficou sabendo que nós, eu e o Zeca Pagodinho, íamos pagar os filhos,

a gravadora disse: “calma lá, não é bem assim”. Mas, fiquei muito decepcionado. Rompi definitivamente quando a gravadora me ligou no dia seguinte e disse: “o disco do Zeca está pronto, precisa de uma capa”. Eu liguei pro G. pra avisar e ele disse: “preciso te avi-sar que precisa ter uma foto do Zeca na capa”. E eu disse: “se precisa da foto, não precisa de mim. Você chama o fotógrafo e está resolvido”. Então, continuo fazendo as capas pros meus amigos e pra quem está começando. Faço por prazer mesmo porque às vezes nem há muitos recursos. Mas, se tem qualidade, faço até de graça.

Inventa - Aquelas capas de época, que são as históricas, não foram mais feitas? Era outro tempo... Quando o CD começou a ganhar mais espaço na música em geral, comecei a pensar no que iria fazer para continuar inventando coisas. Aí fui chamado para fazer um disco e bolei um articulado, um bonequinho, que ficava preso no acrílico. Não conseguia achar nenhum ilhós que pudesse ser usado. Não existia, então não dava para fazer. Aí fiz uma capa mais convencional. Depois, o Martinho (da Vila) gravou um disco chamado “Ao Rio de Janeiro”, dedicado ao Rio, e eu bolei uma capa, que era uma caixinha em formato de coração e até escrevi um texto como se fosse ele. E todo pimpão, fui pra gravadora, coloquei o coração lá e pensei: “ah, vou fazer um monte capa bem diferente”. A capa de CD era uma caixinha e aí eu ouvi do diretor comercial uma pergunta que eu acho que foram poucas vezes que eu passei tanta vergonha como essa. Ele disse assim: “como é que a empilhadeira pega esse negócio? E a empa-cotadeira?”. Comecei, então, a perceber o ridículo daquilo. Tudo é montado para a caixinha, essa maldita caixinha plástica. Qualquer coisa que você colocar na caixinha custa três vezes o preço dela, mesmo que seja uma luva de papel. E com um agravante: as gráficas. Algumas gravadoras têm gráfica, têm um tipo de dobra, e você fica amarrado naquele formato ou encarecesse o produto final.Dá para fazer coisas muito legais, e tenho feito, mas são projetos especiais. Por exemplo, aquele disco que fiz do Toquinho para o Dia do Professor do Positivo. É dessa forma que a gente encontra possibilidades. Pago, distribuído.

Page 30: Revista inventa edicao especial

30

Inventa - Você se sentiu decepcionado quando viu sua função de ilustrador mudar?Não. Com a experiência que eu tinha, fui fazer a série MPB Compositores para a Editora Globo, uma coleção de 40 fascículos e CDs. Depois, fiz a história do samba, para a Globo também, que é uma obra de referência. Eu já era editor, fazia do jeito que queria fazer e pronto. Quando me afastei desse mundo em mudança, já tinha outros projetos, não estava mais interessado em capa de disco, de livro ou de desenho na imprensa. Já vai fazer 20 anos que estou editando, fazendo projetos especiais com música, literatura e livros especiais.

Inventa - O Almanaque (revista de bordo da TAM) parece ser sua “menina dos olhos”. É um desses projetos especiais?Sim, mas a gente nem pensa em ganhar dinheiro. Porque nós temos um problema sério com a manutenção do Almanaque. Primeiro, tem crise que serve de desculpa para qualquer coisa. Segundo, nós não temos um departamento comercial que viabilize anúncios. Fora essa história de custo gráfico ser muito alto, a gente está falando em 120 mil exemplares...

Inventa - Que acabam muito rápido... Esse é um problema que a TAM tem. A reclamação é que em 15, 20 dias desaparece completamente.

Inventa - Mas, se rodasse mais, o problema seria o custo?Muito caro. Veja o Rolim (Rolim Adolfo Amaro – presidente da TAM até 2001), a visão que ele tinha dessas coisas. Quando levei o projeto para ele, ele transportava 700 mil passageiros por mês. Quando falei que a tiragem seria 100 mil, lembro que estava saindo da sala e ele virou para mim: “mas eu estou comprando um problema, porque 100 mil é pouco”. E hoje a TAM transporta mais de 2 milhões de pessoas por mês para 120 mil exemplares. Não dá pra nada. E as pessoas levam embora, levam mais de um. Conheço gente que encomenda para quem vai viajar.

Inventa - As pessoas pedem? Pedem. E pedem muito. E você não pode negar, tem gente que pede oito. Então, as comissárias adotaram aquilo de esconder alguns para os mais briguentos. Porque às vezes dá confusão, o sujeito pede e não tem, e aí fica bravo. (risos)

Inventa - Mas o Almanaque é posicionado, não tem concorrente, tem uma leitura diferenciada, é como se fosse um livrinho... A gente tem sempre a preocupação de buscar as coisas na história. Em todos os números você vai encontrar algumas coisas que a história brasileira ainda não contou. Então esse papel é importante. Acho que a gente construiu o prestígio graças à qualidade das pesquisas. Nossa luta, em todo começo de ano, é por anúncio, pagar a conta. A gente nem pensa em ganhar dinheiro.

Inventa – E ainda é colecionável, não? Com o Almanaque é assim: O Almanaque é meu, você pega emprestado e me devolve. É colecionável. Mas existem outros caminhos para ele. Agora em maio, estamos fazendo com a Editora Ediouro uma compilação dos 10 anos do Almanaque, um livrão. Mas, é aquela história, né? Nada disso dá dinheiro. Para ganhar dinheiro com livro lançado tem que vender muito. A gente faz o que pode. O que me atrapalha muito é que as pessoas não dão muita importância para isso. A TAM paga fortunas para contratar a Ivete Sangalo para cantar alguns números e lançar uma nova marca e não põe um tostão a mais no Almanaque, diz que não tem dinheiro. Você vai entender como a TAM não tem dinheiro para colocar no Almanaque?

Inventa - E a TAM é a patrocinadora oficial da Madonna...Do Cirque de Soleil também. Mas, nós vamos correr atrás. Eles alegam que já é muito caro. De fato, é, mas nós estamos correndo atrás de anunciantes.

Page 31: Revista inventa edicao especial

31

Inventa - Dentre esses projetos especiais que você faz hoje, você chegou a criar até um troféu de futebol... Eu comecei a fazer coisas variadas, comecei a esculpir. A única coisa que saiu dessa linha foi o troféu do Brasileirão que fiz pra Nestlé. Já tem 30 anos que fiz um Vlado, troféu Vladimir Herzog (Prêmio jornalístico de Anistia e Direitos Humanos, em 1981). Com o Herzog, com quem eu trabalhei, eu fiz duas coisas: O troféu, aquele desenho dele na câmera de tortura, e um retrato bem grande que está na sede do sindicato dos jornalistas em São Paulo. E agora a ONU me chama para fazer o desenho do prêmio que celebra os 60 anos dos Direitos Humanos. E eu finalmente pude fazer a imagem vitoriosa dele contra aquela imagem divulgada pela ditadura do Vlado enforcado de joelhos numa cela. Estou contando isso porque todas as outras esculturas também são políticas: Diocese São Paulo, Luta contra o trabalho escravo, SOS Mulher. E tem uma curiosidade que é o prêmio Colunistas, principal prêmio da Publicidade brasileira, um Alex Periscinoto (primeiro brasileiro a representar o País no Festival de Cannes e no Clio Awards, realizado em Nova York). Ele foi um grande escultor. Já parou, mas esculpia cavalos, cavalinhos de carrossel que era uma beleza. E eu tive a honra de ser o artista escolhido para esculpi-lo.

Inventa - Como você faz suas esculturas? Geralmente, faço um protótipo. Por exemplo, a da ONU, fiz em gesso. E a gente ia quebrar a matriz para que nunca mais fosse feito. Mas, resolvi dar para a Alice Herzog (esposa do jornalista Vladimir Herzog). Fizemos uma caixa em acrílico e entreguei para ela. Aquilo nunca mais vai ser reproduzido. A matriz, o original, geralmente, faço em argila. Eu sou, na verdade, um escultor frustrado. Eu acho que desenhar é muito bom, pintar também, mas só faço por encomenda. Não sei trabalhar se não for por encomenda. Sou incapaz de fazer algo que não tenha sido encomendado.

Inventa - Você não cria?Eu não crio nada. Mas, se me pedem uma escultura, um desenho, aí tudo bem, é muito fácil. Meu

psiquiatra vive insistindo para eu criar, ele fala: “faz pra você mesmo, sem compromisso”. Mas, eu fico lá horas no estúdio em casa e não sai nada. Mas, se alguém pede alguma coisa, eu vou e faço. Inventa - Trabalha sob pressão? O Ziraldo tem uma frase ótima que é: “a musa é o prazo”. E a gente aprende a viver com isso. Chega uma hora que você precisa entregar, então tem que fazer. E faz. Às vezes sai bem, às vezes não sai.

Inventa - Eu li algumas críticas que citavam que a sua arte é comercial. O que é arte comercial e o que não é? Já fui acusado de várias coisas. Essa é uma delas. Ela é um ato comercial? Claro que é, porque sempre esteve ligada a produtos. Se você faz um cartaz de teatro, você está vendendo um produto. A peça de teatro é um produto. Discos, livros, jornais, tudo isso é comercial.Também fui acusado de pieguice, comunista engajado. Já tive alguns rótulos, mas, no balanço final, saí ganhando. Eu tô aí, vivo, trabalhando, fazendo meu Almanaque, que todo mundo gosta. E ser artista gráfico é fazer arte comercial.

Inventa - Então alguma coisa mudou! Há 10 anos você só falava ser desenhista, agora você usa o termo artista gráfico.É... eu continuo sendo desenhista. Mas, a ajuda do psiquiatra, às vezes, chama para alguma coisa: a auto-estima. Se você olhar para trás, para a tua obra, você tem que se dar um pouco mais de respeito. Você não pode ficar o tempo todo minimizando o que você mesmo construiu e isso é importante para todo mundo, não só para você. Eu tinha tudo para dar errado. Nasci pobre lá no Norte do Paraná com a família pobre pra caramba, com cinco irmãos mais novos para criar. Só fui me alfabetizar com 15 anos, num curso de alfabetização para adultos e mesmo assim fiz isso tudo. Será que não dá para se valorizar um pouco? Se dê pelo menos o nome de artista. Você fez uma obra, você tem uma arte aí, reconhecida, né?

Page 32: Revista inventa edicao especial

32

Inventa - Designer ainda não? Não, eu não cheguei a tanto. Designer é uma palavra que eu não gosto. E não gosto porque nós estamos cheios de palavras americanas e sou contra, algumas não dá. Enquanto houver possibilidade de me definir como desenhista, prefiro. Embora, hoje eu tenho um pouco mais de orgulho do trabalho feito, já me chamo de artista gráfico porque eu não sou só um desenhista. Desenhista tem muito a ver com aquele sujeito que desenha o que as pessoas querem. Já o artista, não. Tem opinião própria em tudo que faz. E é isso que eu faço. Até hoje não abro mão disso. Daí o fato de eu fazer uma arte comercial, mas uma arte que tem que ser respeitada, porque é uma decisão.

Inventa - Você acha que a arte gráfica tem que fazer pensar?Tem que fazer pensar. E tem que atrair as pessoas. Meu pensamento sempre foi esse. Se a pessoa for desconhecida, tem que chamar a atenção ainda mais. Primeiro: tem que traduzir corretamente, mas tem que ter impacto, tem que ser atrativo. Você pega “Morte sem Sepultura”, do Sartre, no auge da ditadura militar, eu ponho o sujeito num pau de arara... Aquilo sim era uma denúncia das torturas, tanto que a polícia foi recolher o cartaz. E nem aquele nazista atrás deu pra enganar, porque os caras disseram que pau de arara não é uma invenção nossa, tinham orgulho disso. Mas, sempre foi o meu pensamento. Quando decidi ser um artista gráfico, um embalador de ideias, tinha que fazer a tradução certa, porque a pessoa ia ver, ouvir. E aconteceu com a literatura o mesmo que aconteceu com a música. Muitos escritores queriam que eu interpretasse as coisas que eles escreveram. E eu fiz isso pra muita gente. Nesse livro novo que vou lançar este mês, que é um portfólio, vocês vão ver uma coisa surpreendente, porque eu fiz uma releitura de Michelangelo a partir de um livro técnico para executivos. E o que eu criei? Eu criei, a partir da obra de Michelangelo, desenhos de tremendo impacto para ilustrar regras básicas da gerência ou da gestão empresarial. E isso foi um impacto quando as pessoas viram pela primeira vez.

Inventa - O designer talvez não faça com esse intuito, o designer resolve graficamente? O meu trabalho está mais pra isso mesmo. Aquela história de aproveitar as oportunidades de fazer coisas relevantes. Acho que essa responsabilidade social que hoje está muito na moda foi uma coisa que eu sempre tive. Sempre que me ofereceram alguma oportunidade, pagando ou não, nunca desenhei por dinheiro, nunca fiz nada em troca de dinheiro. E muita coisa eu deixei de fazer porque não tinha relevância nenhuma para mim. Talvez isso tenha sido um erro. Talvez! Vamos esperar mais alguns anos. Porque se eu continuar pobre assim, lutando com esse Almanaquinho aí, e não conseguir viabilizar o trabalho desses moleques...Não quero quadro para ficar na parede de uma pessoa. Pode até, eventualmente, acontecer. A necessidade, muitas vezes, me obrigou a vender o único patrimônio que eu tinha, meus originais, para poder continuar trabalhando, fazer as minhas maluquices. Como eu não tenho aposentadoria, vou ter que trabalhar pra caramba. Vou ter que colocar essa coisa de pé pra molecada pagar a minha aposentadoria! Tudo isso é um esforço pra deixar um lugar decente para eles trabalharem. Porque não tem mais lugar decente pra trabalhar, é muito raro. Muita gente saiu daqui e foi pra Folha de S. Paulo, Estadão, Editora Abril e foi um desastre. Ganha experiência, mas vira um bagaço. Aqui não, aqui tem espaço...

Inventa - Qualidade de vida? Tem. As coisas aqui são bacanas. O Brasil que nos interessa é o país de causas justas que a gente batalha e sempre está se envolvendo. Esse é meu projeto, não tem outro.

Page 33: Revista inventa edicao especial
Page 34: Revista inventa edicao especial

RUMO ÀS ARTESNo século XVII, São Luiz do Purunã fazia parte do caminho dos tropeiros que saíam do Rio Grande do Sul rumo ao Sudeste do Brasil. O caminho que le- vava gado e mercadorias para serem comercializados em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro começa, nos próximos meses, a ser percorrido por inte- lectuais e artistas. Na paisagem bucólica dos Campos Gerais surge um projeto inusitado e inovador que, aos poucos, vai tomando forma. Quem vê de longe pode até pensar que mais uma pousada está chegando ao distrito de Balsa Nova, localizado a menos de 50Km da capital paranaense. Mas o confortável chalé com um mosaico de janelas de demolição de tamanhos variados e o alojamento elaborado com dois contêineres é, na verdade, o início de um ousa- do projeto: o Campo das Artes. Com o intuito de incentivar a troca de experiências entre artistas, críticos e pesquisadores de diferentes localida- des e áreas de atuação, o Campo das Artes é um espaço multicultural com residências artísticas que reúne artes plásticas, literatura, artes visuais, design, gastronomia, moda e outras manifestações. Projeto de vida do ator curitibano Luis Melo, consagrado pelo seu trabalho no cinema, no teatro e na teledramaturgia, o local vem sendo idealizado desde 2007 e a primeira fase da construção está quase finalizada. Quase, quase! Em breve, começam oficinas. Com recursos próprios, Luiz Melo vem construindo seu sonho. “É um projeto pioneiro no Paraná, tanto no tamanho quanto na forma e na prática”, conta o ator que traz para o Centro das Artes sua vivência no exterior e referências de outras residências artísticas, como a de Toga, no Japão. “No Brasil, espaços como este geralmente são públicos. Minha intenção é que o Centro das Artes fique para a comunidade. Futuramente, desejo ainda que seja um centro de pesquisa”. Residências artísticas como o Centro das Artes existem em várias partes do mundo. São programas que não seguem um padrão, têm objetivos próprios e tempo de duração variáveis: alguns focam em apenas uma lingua- gem artística enquanto outros estimulam todas as disciplinas e, até mesmo, a interação entre elas. Há diferenças também quanto às condições de financia- mento, alojamento, infra-estrutura, seleção, acompanhamento e exposição do projeto desenvolvido. Detalhes à parte, o objetivo, como o próprio nome já diz, é o mesmo: propiciar uma estadia em que os artistas fiquem realmente imersos no mundo das artes.

Page 35: Revista inventa edicao especial

35

A iniciativa paranaense quer produzir cultura não comercial. Oferece oportunidade para a comunida- de intelectual, artística e local desenvolver projetos de criação sem se deslocar do local de pesquisa. Pa- ra isso, a infra-estrutura é completa. São mais de 4 mil m2 e o projeto engloba Teatro de Arena, Parque das Esculturas, cinco ateliês de criação, dormitórios (chalés e alojamentos), camping, refeitório, estacio- namento e uma área de convivência composta por biblioteca, videoteca, sala de leitura e até brinque- doteca. Algumas estruturas já estão finalizadas. No final de abril, quando a equipe Inventa conheceu o espaço, um chalé e um alojamento estavam prontos. Os ateliês, refeitório, lounge, café, sala multiuso e o local onde serão expostos os trabalhos realizados já estavam em construção. “O Centro das Artes é tam- bém um espaço para brincar com texturas, ideias. Nossa estrutura atenderá tanto os residentes quanto a comunidade”, explica o ator. Os programas terão duração de três meses a um ano. “O desafio é mudar a perspectiva do artista. E a minha parte é fazer esse papel existir e a comunidade artística tomar posse disso”, destaca Melo. No espaço, os artistas desfruta- rão de uma confortável e amigável hospedagem, com direito a TV e internet. As residências são equi- padas com sala de estar, banheiro, cozinha e quarto, em um espaço intimista, apenas com divisórias en- tre o banheiro e a cozinha. Decorado por designers e apoiadores do projeto, as residências têm um to- que de decoração contemporânea com o conforto rústico de uma casa de campo, mistura de cores quentes e frias, como vermelho, azul e branco.

“Todo mundo está participando! Amigos e artistas estão contribuindo. Por exemplo, tenho uma pro- posta de colocar vidro, e então já começam a me trazer coisas”, orgulha-se. “Misturo desde peças artesanais até Jaqueline Turnes”. Este ano, o Campo das Artes já abre para a comunidade levando o antigo Bazar do ACT (Ateliê de Criação Teatral) para os Campos Gerais. Depois de cinco edições em Curitiba, o Bazar do ACT passa a se chamar Rural Contemporâneo e acontece no Campo das Artes. “Para incentivar o pú- blico a conhecer, consumir e valorizar a arte brasileira e os produtos rurais, o bazar vai expor desde pão caseiro até produtos de design desenvolvidos no projeto”, diz Melo. Paralelo ao bazar, outro mini projeto também acontece em 2009. O Pequeno Jardineiro, oficina de capacitação de produção rural para a comunidade, ensinará como fazer a horta aproveitando todo o terreno, plantando em níveis, e o que for produzido no local poderá ser levado pelo aluno. Para a inauguração do Centro das Artes, o ator está preparando um espetá- culo da obra de Guimarães Rosa. Apesar de o nome da peça ainda ser segredo, Luis Melo já adianta como vai ser: uma brincadeira com diversos elemen- tos como os sons, o silêncio, o ruído das aves e do imaginário da vida, marcada pela influência de falares populares e regionais, encaixando-se com a proposta do projeto. “As pessoas vão se apaixonar. É um trabalho de imersão artística e interfere no resultado. Estou formando um público que gosta de presentear com cultura. E o objetivo final é realizar um Festival de Artes Anual”. Em breve, começam oficinas.

Page 36: Revista inventa edicao especial
Page 37: Revista inventa edicao especial

37

Talvez o primeiro com a idéia tenha sido Tehching Hsieh, em 1978. Tinha sob o seu domínio o tempo, e para isso foi necessária a paciência e o rigor que aprendera durante um treinamento de três anos no exército de Taiwan. Com 10 mil dólares, doados pela mãe (“Não seja um criminoso”, foi a única exigência), construiu em seu loft na TriBeCa uma cela de pouco menos de 10 metros quadrados, e a decorou com uma pequena cama, uma pia e um balde. No dia 28 de setembro de 1978 datilografou com seu limitado ingês: “Não deverei conversar, ler, escrever, escutar rádio ou ver televisão, até que eu me liberte no dia 29 de Setembro de 1979”. A única ajuda seria um amigo compatriota que limparia seus resíduos e tiraria uma foto por dia, todos os dias.

Hoje, em alguns minutos pode-se acompanhar a exposição do trabalho que foi chamado de The Cage Piece. O artista Hsieh (pronuncia-se Shei) começou sem cabelos, terminou cabeludo. Sua expressão também está indelével nas fotografias. Um ano preso com nada, a não ser seus pensamentos, pode mesmo alterar o olhar de um rosto. E o interessante da exposição, que esteve no MoMA, em Nova York, de janeiro a maio de 2009, é justamente observar a distorção do tempo. Moldado em uma sala de exposições o ano da vida do artista, que não perdeu tempo e no ano seguinte, 1980, iniciou um segundo experimento: durante um ano, bateu um cartão no ponto todas as horas, registrou tudo e fez um filme que também esteve exposto recentemente em Nova York, desta vez, no Guggenhein.

Hsieh fez isso tudo mais de 20 anos antes da tecnologia digital ter permitido possível o trabalho de Noah Kalina. Ainda estudante de artes visuais, com 19 anos, Noah começou a tirar um auto-retrato por dia. Não sabia muito bem o que faria com o material, mas a ideia logo veio a cabeça depois de ter visto um experimento similar no YouTube.

Em menos de quatro horas já havia baixado suas 2.356 fotos no Windows Movie Maker e feito um vídeo de três minutos, dos seis últimos anos da sua vida. .

O sucesso deste projeto, denominado “Everyday”, foi enorme. Pouco depois de seu lançamento, Noah já estava dando palestras mundo afora sobre uma nova área na fotografia, o portraiture, que correu o mundo na mão de novos aspirantes a retratistas, produzindo verdadeiros daguerreótipos do século XXIHoje, com uma rápida passada pelo Orkut, Facebook ou MySpace, já se vê o como são estilizados os novos auto-retratos. A câmera, num ângulo inclinado, e a luz preenchendo e contornando quase sempre de uma maneira diferente. Autoretratos em formatos que não eram comuns antes, com o filme. Detalhes das vantagens tecnológicas à parte, fazer registro diariamente parece ter despertado vontade em muita gente e basta acessar qualquer um dos links de relacionamentos para se impressionar. Existe ainda o site Daily MugShot, onde milhares de pessoas levam o registro diário religiosamente a sério e outras milhares acabam desistindo (ou esquecendo) logo após a primeira semana. A proposta do www.dailymugshot.com é ajudar os interessados a acompanhar suas “transformações” ao longo dos anos. Gratuito e bastante simples: o usuário tira uma foto por dia através da webcam (ou câmera digital), as imagens já vão para o site, e depois de um tempo já se pode assistir ao vídeo produzido automaticamente e compartilhar a evolução (sua, do seu bebê ou até mesmo do animal de estimação) nos mil e outros sites de relacionamentos que não param de surgir. Divertido? Com certeza. Difícil é encontrar na web registros diários dignos de serem expostos mundo afora.

Page 38: Revista inventa edicao especial

CACOBARCELLOS

Cidade de Deus, Carandiru, Orfeu, Tropa de Elite. Filmes brasileiros que trazem à tona a situação das favelas, o tráfico de drogas e a corrupção da polícia no Brasil. Temas árduos que fazem parte da rotina do jornalista investigativo, Caco Barcellos, muito antes de ganhar as telas de cinema.

Autor de três livros, Nicarágua: A Revoluçãodas Crianças, Rota 66, Abusado, O Dono do Morro Dona Marta, BARCELLOS ACREDITA QUE A SOCIEDADE NÃO DISCUTE DROGAS.Foi assim que decidiu escrever suas obras e já prepara o quatro título. Sobre este, prefere manter sigilo. “Sou muito perverso comigo mesmo, então prefiro não falar, para não complicara caminhada”.

15 MINUTOS

por lyan

e martin

elli

e maril

ia bobato

foto humberto michaltchuk

Page 39: Revista inventa edicao especial

39

Inventa - Você acha que virou moda falar de tráfico e favelas no Brasil? O tráfico quer lugar na mídia?Não, nunca são eles os provocadores dessas histórias. Vejo inclusive que o cinema está ocupando um espaço que na verdade deveria ser da imprensa. Se a imprensa estivesse falando com profundidade sobre esse tema, talvez não existisse a necessidade de filmes sobre o assunto.

Inventa - Por que o Brasil vende esta imagem, já que no exterior também existe tráfico? Porque a nossa imprensa tem uma tendência a seguir as neuroses americanas. Os americanos são preocupados com o consumo de cocaína porque eles têm um consumo muito alto lá. A gente não devia seguir esse exemplo porque o nosso grande problema não é a droga ilegal. É, sim, a droga legal, é o cigarro, é o álcool. Esta é a tragédia nacional. A cachaça, principalmente, é a que mais mata no Brasil. É uma droga que precisaria ser tratada com a devida ênfase, e a gente trata com o aspecto mais banal e superficial que é pela via da repressão. Aliás, a imprensa fala do papel do estado no combate às drogas e não sobre drogas, efetivamente. A sociedade não discute drogas, não fala com traficante, por exemplo. Não conhece a realidade de uma boca de cocaína. Escrevi um livro porque a imprensa não fala disso. Pesquisei durante cinco anos, fiz um livro de 600 páginas e falei muito pouco. E as pessoas compraram muito o livro porque são histórias que não estão no dia a dia das coberturas, que é uma cobertura vista de um lado só.

Inventa - A mídia não aprendeu a fazer a cobertura de temas como drogas?Não só a imprensa, mas a gente tende a ver o mundo com o viés da nossa condição muito particular. As pessoas tendem a retratar mais o universo onde estão representadas, e aí essa realidade de moradores de periferia... A imprensa, hoje e sempre, é um veículo das elites brasileiras.

Inventa - Você pensa em continuar seu trabalho discutindo drogas, favelas e corrupção?Enquanto for uma temática que preocupe a sociedade, que diga respeito à vida de todo mundo - e eu acho que drogas são, assim com a violência, o salário indigno, a educação de má qualidade, a privatização do ensino ineficaz, escolas caríssimas - a gente tem que debater e discutir todos os dias. Ainda são temas de primeira linha, infelizmente.

Inventa - Quais são seus projetos futuros?Tem um livro. Estou bem envolvido nele.

Inventa - Já tem o título?Te conto daqui a quatro anos. Em detalhes, tudo. Ou melhor, só daqui a cinco anos, porque quatro vai ser pouco.

Inventa - E outros projetos? Não tenho a menor ideia. Estou começando um projeto que tem seis meses, que é um programa semanal na TV. E estou muito envolvido com isso também. Não está dando tempo pra nada, queria ter mais tempo para o livro e não estou conseguindo. Gosto de fazer uma coisa por vez e estou fazendo duas.

Page 40: Revista inventa edicao especial

DO CARDÁPIO DACRISE, DE QUE SERVE

A PREOCUPAÇÃOPOR JULIO SAMPAIO

COLUN

A

Page 41: Revista inventa edicao especial

41

É interessante perceber como as pessoas reagem de forma tão diferente diante das incertezas. O ser humano faz tudo para elimi- ná-las e nesta tentativa produz certezas tão ab- solutas quanto questionáveis. As estatísticas mostram que a crise econômica mundial chegou ao Brasil, para alguns de forma indiscutível. Os otimistas afirmam que ela já está indo embora e que no segundo semestre do ano já estaremos crescendo. Já para os pessimistas, a crise nem chegou e o pior ainda está por vir. Há notícias e fatos que servem para comprovar qualquer des- tas posições. Diante de um cardápio, faça a sua escolha. De concreto, existe a incerteza, e como é difícil lidar com ela.

Concreto também é o fato de pessoas terem sido atingidas pela crise, até o momento, de manei- ras diferentes, havendo aquelas que perderam boa parte de suas economias, os que ficaram de- sempregados ou os que sofrem por perdas de amigos ou familiares. Alguns veem na crise opor- tunidades, e parecem ser os que lidam melhor com ela. Há muitos, no entanto, que foram atin- gidos apenas pela iminência de serem atingidos, e que sofrem por isto. Quando perguntados so- bre como andam os negócios, sua resposta: “é... mais ou menos... sabe como é... a crise”. Estas pessoas leem tudo sobre a crise. Colecionam to- das as notícias ruins e têm até certo prazer em propagá-las. Se for um empresário, talvez já te- nha demitido pessoas e suspendido projetos por conta da crise, que “se não chegou, vai chegar”. Se é um vendedor, ele já reduziu o valor das pro- postas aos clientes e tenta negociar a redução das metas com a empresa, por antecipação. Em casa, já cancelou a viagem de férias, a ida a res- taurantes, além de ter adotado um austero pa- cote econômico para toda a família. Anda nervo- so, dorme mal e está mais preocupado do que nunca com o futuro. Estas pessoas sofrem por antecipação e isto constitui uma forma sutil de

preocupação. Sabemos o quanto o apego é pre- judicial e o quanto ele nos distância da felicidade Há apegos de vários tipos.

Há pessoas que são extremamente apegadas aos bens materiais, ao dinheiro, ao patrimônio, mui- tas vezes conquistados com tanto esforço e sa- crifício. Para estas pessoas, a queda das bolsas e a deterioração do valor de suas ações podem ser comparadas a um punhal no seu peito (expressã literal de um conhecido). Mas há outras formas de apego. Há pessoas que são apegadas ao pas- sado, outras ao futuro. Há pessoas que são ape- gadas a outras pessoas, como ao marido, mulher ou filhos. Outras são apegadas a posições, fama, títulos, ou aos seus próprios pontos de vista. O interessante é perceber que quanto mais apega- dos, mais perdemos o que queremos controlar.

A preocupação é uma forma de apego. E é uma forma de prisão. Como exemplo oposto, Nelson Mandela, depois de estar preso por 27 anos, quando questionado, afirmou com tran- quilidade: “eu sempre fui livre”. O mestre japo- nês Mokiti Okada desafia a tentar os efeitos con- trários, pois é soltando que as coisas retornam. Ele aconselha cada um a fazer a sua parte, envi- dando todos os esforços que estão ao seu alcan- ce e, a partir daí, soltar, deixar que as coisas flu- am naturalmente. Os resultados, segundo ensina costumam superar as expectativas. Diante de tantas incertezas, é preciso apenas fazer o que precisa ser feito. Evitar preocupações inúteis, as que aprisionam, tolhem a criatividade e a ousa- dia necessárias. Elas apenas antecipam um sofri- mento, que pode nem acontecer. Assim, evitar as preocupações desnecessárias pode ser entendi- do como um ato de responsabilidade. Ao contrá- rio do que pode parecer, responsabilidade não tem nada a ver com preocupação. Do cardápio, a ação acompanhada de desapego parece ser uma melhor pedida.

Page 42: Revista inventa edicao especial
Page 43: Revista inventa edicao especial
Page 44: Revista inventa edicao especial