Revista Lumen - Agosto de 2014 - Edição 05
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Revista Digital Lumen
EDIÇÃO 05 - AGOSTO 2014
Mais de 400 anos depois,
os passos de São José de Anchieta
Revista Digital Lumen02
Revista Digital Lumen
DO SETOR IMPRENSAARQUIDIOCESE DE CAMPINAS
Nesta edição da Revista Di-gital Lumen, falamos sobre São José de Anchieta, pa-
trono dos catequistas e apóstolo do Brasil. Desfrute da edição e nos escre-va, partilhando conosco suas suges-tões, para o [email protected]
Boa navegação!
Óleo sobre tela “A Visão de An-chieta”, 1955, na entrada da
Biblioteca Padre Antônio Viei-ra, em São Paulo (SP). Por ser a única obra do artista Albino
Menghini, não integra o acervo do Museu de Anchieta, também
no Pateo do Collegio.Foto de Carolina Grohmann.
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Revista Digital Lumen
PASSOS DE ANCHIETApercorremos o caminhofeito pelo santo
SÃO JOÃO BATISTAanunciar a vinda de Jesus
CONDIÇÃO HUMANAe teologia moral
CONCILIARou reconciliar?
MILAGRE DO PATOcrença capixaba
ENFIM SANTOum resumo do longo processo até o decreto
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PAI NOSSOa oração que Elenos ensinou
O LADO ASão José de Anchieta
LINHA DO TEMPOvida de Anchieta
MUSEU DE ANCHIETAresgate da História
EM CAMPINASparóquia dedicada ao santo se alegra
AS CIDADESvistas do alto
HOSPITAL DA PUCtraz avanços
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A CONDIçÃO HUMANA
A Teologia Moral é uma ciência
prática que está direcionada
à vida concreta. Trata-se de
compreender como os cristãos podem
agir de forma profunda, norteando suas
ações nos valores e princípios oriundos
do Evangelho. O agir moral possui uma
teleologia, ou seja, a sua finalidade é
viver a santidade e a perfeição, cha-
mados à concretização da verdade
em Jesus de Nazaré.
e a teologia moral
Padre José Antônio Trasferetti
“A educação moral é tarefa de todos e deve estar incluída em nossos trabalhos pastorais, sociais e litúrgicos”
teologia moral
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Evidentemente, não é uma tarefa fácil
no contexto de uma sociedade cada
vez mais excludente e neoliberal.
A teologia moral se pauta pelo rigor
das sagradas escrituras, a tradição
apostólica, o magistério eclesiástico,
a palavra dos teólogos e a vida em
comunidade. A partir destas fontes te-
ológicas, elabora suas leis morais que
orientam a conduta humana, visan-
do sempre levar as pessoas mais pró-
ximas de Deus. Ela apresenta um ideal
de vida inspirado no Evangelho de Je-
sus. Entretanto, a nossa vida concreta
é marcada pelas limitações e fragilida-
des próprias do ser humano. Só Deus é
perfeito, nós somos imperfeitos e carre-
gamos em nossos corações e mentes
ódio, vingança, rancor, mágoa, inveja,
ciúmes e tantas outras coisas que nem
mesmo sabemos, porque estão guar-
dados no fundo do nosso ser, em nosso
inconsciente.
O ser humano não é fácil, mas, ao mes-
mo tempo, é belo e também carrega
coisas boas, como bondade, genero-
sidade, amor, complacência, compa-
nheirismo, solidariedade e tantas ou-
tras.
Na verdade, o ser humano vive ba-
lançando entre as realidades da sua
vida. Para o filósofo Pascal, o homem
é “um caniço balançado pelo vento”.
Ele fala de uma antropologia negativa,
que só poderia ser redimida pelo amor
de Deus. Quando converso ou mesmo
confesso as pessoas, sinto a fragilidade
humana, a pequenez enraizada numa
alma que busca Deus, mas sente sua
limitação.
“o homem é ‘um caniço balançado pelo vento’”
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Estamos vivendo uma crise social pro-
funda que prejudica a vida em socie-
dade. A Teologia Moral compreende
a crise em relação com a pessoa no
contexto de uma crise individual e ao
mesmo tempo coletiva. Ela afeta
os agentes morais (pai, mãe,
professor, médico etc.),
bem como as instituições
morais (família, igreja, es-
colas etc.).
A vida moral numa so-
ciedade caracterizada
por um ambiente de crise
social constante deixa as pes-
soas perplexas e perdidas. Vive-
mos num ambiente complexo, cujos
valores e princípios geradores de vida
são constantemente postos em xeque
pelos instrumentos sociais que, na so-
ciedade atual, influenciam o compor-
tamento moral. Em situações de crise,
como estamos vivendo, é necessário
muita calma e prudência para julgar
as pessoas. Elas estão cada
vez mais fragilizadas pelos
constantes apelos gera-
dos pelos meios de co-
municação de massa,
incluindo as redes so-
ciais.
Vivemos numa socie-
dade cujas bases sociais
estão destruídas. São mui-
tas as informações, mas nem
sempre são transformados em educa-
ção que produza consciência crítica
necessária.
“o estado de anomia moral não ajuda em nada”
“A razão tem sido uma
aliada importante na luta por uma sociedade mais
justa”
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Os novos comportamentos, sobretudo
aqueles que são inspirados nas novas
tecnologias de comunicação, tam-
bém estão deixando as pessoas cada
vez mais confusas e perdidas.
Neste ambiente, a teologia moral pode
exercer uma influência muito grande,
ao recolocar as questões e apresentar
um sentido para a vida. A tarefa da Te-
ologia Moral é orientar as pessoas para
que tenham discernimento moral, sai-
bam fazer suas escolhas movidas por
uma consciência clara e lúcida diante
da realidade social.
A educação moral é tarefa de todos
e deve estar incluída em nossos tra-
balhos pastorais, sociais e litúrgicos. A
condição humana atual exige pesso-
as sábias, que utilizem a racionalida-
de como arma contra a ignorância e
o medo. A razão tem sido uma aliada
importante na luta por uma sociedade
mais justa, cujos valores sejam respei-
tados. O estado de anomia moral não
ajuda em nada, pelo contrário, cria um
desrespeito e um relaxo moral. Vive-
mos num país cuja presidenta é vaiada
e xingada quando presente em even-
tos sociais de porte internacional, cujas
pessoas escondem o rosto e quebram
instituições tradicionais. Que a Teologia
Moral compreenda a condição huma-
na no mundo atual e seja uma luz para
todos os que se sentem perdidos e de-
sorientados.
Padre José Antônio TrasferettiPároco da Paróquia São Pedro Apóstolo
em Campinas, SP
Arqu
ivo
“O ser humano não é fácil, ao mesmo tempo, é belo”
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Notre Père qui es aux cieux,que ton nom soit sanctifié,
que ton règne vienne,que ta volonté soit faite
sur la terre comme au ciel.Donne-nous aujourd’hui
notre pain de ce jour.Pardonne-nous nos offensés,
comme nous pardonnons aussià ceux qui nos ont offensés.
Et ne nous soumets pas à la tentation,mais délivre-nous du Mal.
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Pad
re n
ostr
o, ch
e sei
nei c
ieli,
sia
sant
ifica
to il
tuo n
ome
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A ORAÇÃOque o Senhor nos ensinou
Padre Reginaldo Manzotti
A oração é uma recordação
de Deus, como um desper-
tar frequente da “memória
do coração” (CIC 2697). A oração é
fruto da vida, é um filho que fala com
seu Pai dos cansaços, das conquistas
e frustrações, alegrias e tristezas, êxitos
e fracassos. E, o elemento essencial
para a oração é um coração humilde
e contrito.
Quando os discípulos pediram: “Se-
nhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1),
Jesus ensinou-lhes a oração do “Pai
Nosso”. Dois Evangelistas fazem essa
narração. Lucas, de forma mais breve,
com apenas cinco petições (Lc 11,1ss)
e Mateus, de forma mais longa, com
sete petições (cf. Mt 6,9ss). Este último
é a que usamos para a nossa oração.
O “Pai Nosso” é chamado oração
dominical e oração do Senhor, porque
não foi feita por mãos humanas, mas
revelada pelo próprio Nosso Senhor
Jesus Cristo. A primeira parte do “Pai
Nosso” é na verdade um pôr-se na
presença de Deus nosso Pai. A segun-
da são as petições em relação às nos-
sas necessidades.
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ons h
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Rezar: “Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o Teu nome; venha a
nós o Teu reino, seja feita a Tua von-
tade, assim na terra como no céu” é
pôr-se na presença de Deus Pai para
adorá-Lo, amá-Lo e para bendizê-Lo.
Essa primeira parte é uma louvação,
adoração e declaração de amor.
Ao ensinar os Apóstolos a rezarem,
Jesus começa com “Pai”. Isso demos-
tra que essa palavra já tinha sido ela-
borada, fazia parte do cotidiano e
havia sido internalizada. Ele verbaliza
aquilo que a sua filiação sentia. Cha-
mar Deus de Pai é uma ousadia filial e
Ele quer que sejamos ousados, porque
o filho não tem medidas: ele pede,
implora, chora, grita e esperneia, mas
não desiste. Somos autorizados por
Jesus a ter essa ousadia, pois não es-
tamos nos relacionando com um Deus
abstrato ou distante. Jesus estabelece
uma relação íntima entre nós e o Pai.
“Santificado seja O Vosso Nome”, sig-
nifica: santificada seja a Vossa pater-
nidade. Santificar o Nome de Deus é
antes de mais nada um louvor que re-
conhece a Deus como Santo. “Venha
a nós o Vosso reino”, porque que o
reino é o de Nosso Senhor, somos cha-
mados a antecipar o Reino, de fazê-lo
acontecer aqui e agora.
“Ele verbaliza aquilo que a sua filiação sentia”
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dona
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A quarta e a quinta petições dizem
respeito à nossa vida, seja no alimen-
to material e espiritual ou para pedir
a cura do pecado. “O pão nosso de
cada dia nos dai hoje” diz respeito ao
alimento, mas em não armazenar, por-
que o que acumulamos em nossa dis-
pensa, na nossa avareza, é a fome do
nosso irmão. Então, como rezar o “Pai
Nosso” com tanta gente de barriga
vazia? Como rezar essa oração quan-
do há tanto desperdício de alimento e
com tanto consumismo? Como pedir o
pão de cada dia e sermos idólatras do
dinheiro? Jesus não disse somente “dai-
-nos o pão nosso”, Ele incluiu “de cada
dia”. Um grande santo disse que deve-
mos pedir o pão de cada dia para nos
lembrar do quanto somos necessitados
de Deus. Ele nos dá o pão de cada dia
como outrora no deserto deu o Maná,
para mostrar o quanto é misericordioso.
A sexta e a sétima petições dizem res-
peito ao combate espiritual que somos
chamados a travar, cuja vitória é de
quem permanece na oração. “Perdoai
as nossas ofensas assim como nós per-
doamos a quem nos tem ofendido”.
Rezar e perdoar, na verdade, requer
de nós um exame de confiança per-
manente. Quem eu ainda não per-
doei? Quem ainda me falta perdoar?
Nós sabemos que Deus perdoa, mas só
conseguiremos ser perdoados por Ele
na medida em que perdoarmos os nos-
sos irmãos.
A partir do momento que perdoamos
e temos nossa memória purificada, o
que era motivo de sofrimento transfor-
ma-se em motivo de intercessão, em
oração por aquela pessoa.
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“Não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal” é uma afirma-
ção que a tentação faz parte de nos-
sa vida, não mandada por Deus, mas
permitida por Ele. Nossos pecados são
frutos da nossa fraqueza diante da
tentação e essa petição é um pedido
de discernimento, de fortaleza para
vencermos as tentações, vigiando e
orando. Pedimos que Deus nos livre do
mal do presente, do passado, do futu-
ro e nos afaste de tudo aquilo que nos
faz perder a salvação.
Proponho que, depois de ler este arti-
go, a próxima vez que nos dirigirmos a
Deus para fazer esta oração, a faça-
mos calmamente, refletindo sobre o
seu significado e os compromissos que
estamos assumindo.
Rezemos: “Pai Nosso que estais no
céu, santificado seja o Vosso nome,
vem a nós o Vosso reino, seja feita a
Vossa vontade, assim na terra como
no céu. O pão nosso de cada dia
nos dai hoje, perdoai-nos as nossas
ofensas, assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido, e não nos
deixei cair em tentação, mas livrai-nos
do mal. Amém”.
Padre Reginaldo Manzotti é coordenador da Associação Evangelizar é Preciso – Obra considerada benfeitora
nacional que objetiva a evangelização pelos meios de comunicação – e pároco reitor do Santuário Nossa
Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR). Apresenta diariamente programas de rádio e TV.
www.padrereginaldomanzotti.org.br. www.facebook.com/padrereginaldomanzotti.
Twitter: @padremanzottiArqu
ivo
Revista Digital Lumen
João Batista não teve medo de preparar o caminho para Jesus, deu a vida na missão que o Senhor lhe con-fiou. E quando Jesus chegou, João dizia que não era a Ele a que o povo deveria seguir, mas ao Mestre, pois Ele era o Cordeiro que tiraria o peca-do do mundo. E naturalmente, os que eram discípulos de João acabaram se tornando discípulos de Jesus.O mundo de hoje precisa ser prepa-
rado para a segunda vinda de Jesus. A descrença está aumentando cada dia mais, e a fé está se esgotando.
O exemplo de
São João BatistaMonsenhor Jonas Abib
“ O Batismo de Cristo” de Pietro Perugino
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Diante do desamor, que vai tomando
as pessoas, o único antídoto é a efu-
são no Espírito Santo, algo crescente
e que precisa ser renovado todos os
dias. Precisamos ser cada vez mais
homens e mulheres cheios do Espírito
Santo.
É o momento de você e eu assumir-
mos essa realidade, a missão que o
Senhor nos confiou, sem receio, con-
tando com as forças do Senhor.
Jonas Abib é Fundador da Comunidade Canção Nova e presidente de honra da Fundação João
Paulo II, mantenedora do Sistema Canção Nova de Comunicação, em Cachoeira Paulista
(SP). Autor de 48 livros, Cd´s e DVD´s, além de várias palestras em áudio e vídeo.
Nós percebemos que não só aque-
les que não são cristãos, mas também
nós, que nos entregamos ao Senhor,
estamos sendo minados na fé, por isso
sentimos um espírito de incredulidade
nos rodeando.
Precisamos ter a coragem de João
Batista. Assim como o Senhor escolheu
um João para preparar o caminho
para a vinda de Jesus, agora Ele con-
voca não um homem, mas um povo
para preparar o caminho da segunda
vinda de Cristo. Este “João Batista” de
hoje somos nós!
Arquivo
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CONCILIAR OU RECONCILIAR? Evaristo Eduardo de Miranda
O Concílio Ecumênico Vaticano II aproximou a Igreja dos céus e dos
infernos. Esse Concílio de vocação pastoral e não dogmática se
transformou naquilo que o Papa Bento XVI qualificou de um super-
dogma. Vive-se entre certas lideranças eclesiais, uma idolatria do Concílio Va-
ticano II, sem que seja feita, nesses 50 anos de sua história, uma análise crítica
de seus impactos negativos e positivos na Igreja brasileira e universal. Pode-se
interrogar meio século depois: o que foi conciliado, reconciliado ou malquista-
do na Igreja, na Sociedade e entre as duas como resultado do Vaticano II?
Bento XVI, que viveu como jovem protagonista os anos do Concílio e, depois,
como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, pode avaliar a profundi-
dade e a extensão da crise pós-conciliar. Ele conhecia a dramaticidade do
problema. Em célebre discurso feito à Cúria Romana (22/12/2005), Bento XVI
evocou os efeitos do Concílio de Nicéia e interrogou os cardeais e prelados
sobre os do Concílio Ecumênico Vaticano II: “Qual foi o resultado do Concílio?
Foi recebido de modo correto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o
que foi insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito?”.
espiritualidade
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CONCILIAR OU RECONCILIAR? Prosseguiu o Papa: “Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igre-
ja, a recepção do Concílio teve lugar de modo bastante difícil, mesmo
que não se deseje aplicar àquilo que aconteceu nestes anos a des-
crição que o grande Doutor da Igreja, São Basílio, faz da situação da Igreja
depois do Concílio de Niceia: ele compara-a com uma batalha naval na es-
curidão da tempestade, dizendo entre outras coisas: ‘O grito rouco daqueles
que, pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados incom-
preensíveis e o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase
toda a Igreja falsificando, por excesso ou por defeito, a reta doutrina da fé...’
(De Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17 bis, p. 524). Não queremos apli-
car exatamente esta descrição dramática à situação do pós-Concílio, todavia
alguma coisa do que aconteceu se reflete nele” (Discurso de Bento XVI aos cardeais,
arcebispos e prelados da Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal).
“Qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido de modo correto? O que ainda deve ser feito?”
Revista Digital Lumen20
Para avaliar a situação pós-concílio, Bento XVI propôs utilizar o método
da hermenêutica da continuidade oposta à da descontinuidade e da
ruptura. Ele encaminhou a discussão do Concílio Vaticano II tanto à re-
flexão teológica quanto à discussão histórica. No estudo do Concílio, ao lado
da hermenêutica dos teólogos, é necessária a reconstrução dos fatos, das
suas raízes e de suas consequências pelos historiadores (Discurso de Bento XVI. Ibi-
dem). Por aqui, ainda aguarda-se essa dupla discussão e avaliação.
O Concílio Vaticano II não foi uma Assembleia Constituinte que eliminou uma
antiga constituição da Igreja e criou outra. Existem pessoas que, face aos re-
sultados decepcionantes para elas do Concílio Vaticano II, defendem uma
refundação da Igreja, muito além de uma reforma. No Brasil, todo dia fundam-
-se igrejas em nome de Jesus, dos apóstolos e com base em interpretações
criativas dos textos bíblicos. O Concílio Vaticano II realmente não refundou a
Igreja porque não ele era uma Constituinte, como de certa forma foi o primei-
ro concílio, o de Jerusalém, o dos apóstolos e discípulos de Jesus (At 15, 19-29),
convocado e presidido por S. Pedro.
“O Concílio Vaticano II não foi uma Assembleia Constituinte que eliminou uma antiga constituição da Igreja e criou outra”
Revista Digital Lumen 21
Qualquer Constituinte tem um mandante: o povo. É ao povo que ela
deve servir. Durante o Concílio Vaticano II “os Padres não tinham tal
mandato e ninguém lhos tinha dado; ninguém, afinal, podia dá-lo
porque a constituição essencial da Igreja vem do Senhor e nos foi dada para
que pudéssemos chegar à vida eterna e, partindo desta perspectiva, conse-
guirmos iluminar também a vida no tempo e o próprio tempo. Os Bispos, pelo
Sacramento que receberam, são fiduciários do dom do Senhor” (Discurso de Bento
XVI. Ibidem).
Quem interpreta o ConcílioVaticano II na linha da descontinuidade pode ter-
minar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a pós-conciliar. Para alguns,
mesmo os textos do Concílio, ainda não representam a verdadeira expressão
do espírito do Concílio. Para quem defende essa ideia, o espírito do Concílio
estaria nos trechos subjacentes de seus documentos que impulsionam rumo ao
novo. Seria necessário partir deles e em conformidade com eles, para avan-
çar. Como os textos refletiriam de modo imperfeito o verdadeiro espírito do
Concílio e a sua novidade, seria preciso ir corajosamente para além dos tex-
tos. A recomendação é de seguir não os textos do Concílio, mas o seu espírito.
Como e quem, definiria este espírito? Com isso se concede espaço a toda de-
riva e inconstância, afirmou Bento XVI.
“Seria preciso ir corajosamente para além dos textos”
Revista Digital Lumen22
A juventude de hoje nasceu 20, 30 anos após o Concílio Vaticano II. A
maioria da fração de jovens que se dizem católicos não tem a menor
ideia do que foi o Concílio. Poucos brasileiros têm presente as esco-
lhas feitas pela Igreja do Brasil, a partir do Concílio Vaticano II, e suas conse-
quências. O que seria relevante relembrar, rememorar sobre esse Concílio no
Brasil, meio século depois? A crise atual da Igreja é consequência da forma
radicalmente insuficiente de conceber sua missão. A missão espiritual e huma-
na que lhe é própria. Não cabe reprovar o passado da Igreja. Ele não poderia
ter sido sensivelmente diferente. Mas seremos imperdoáveis de não levarmos
em conta os fracassos ocorridos nos últimos 50 anos e de perpetuarmos esse
passado no futuro. Isso acentuaria os fracassos e a conduziria inelutavelmente
a um desastre.
Meio século após o Concílio Vaticano II cabe a pergunta: Quem é mais fiel?
Aquele que só tem seu foco no que foi feito no passado ou aquele que bus-
ca o melhor, partindo do que já foi atingido? Seria relevante preservar uma
religião de autoridade, que toma a si mesma como seu próprio objetivo? Ou
preparar, graças a essa religião e indo além de suas circunstâncias, a vinda de
uma religião de chamado, tão necessária para a Igreja ser digna da missão
que herdou de Jesus?
Imagens: ACI Digital
Revista Digital Lumen 23
A Igreja é o ambiente favorável e necessário para que os homens, gra-
ças ao aprofundamento da vida espiritual a que cada um é chama-
do, possam entrar na inteligência do que é Jesus para eles. A Igreja
ajuda a enxertar a missão de cada pessoa na própria missão de Jesus. E por
esse caminho, pela Igreja, cada um faz a aproximação de seu mistério pessoal
e do mistério de Deus, pelo seguimento de Jesus que é de Deus. A Igreja não
existe para o conforto religioso dos cristãos, mas para sua realização espiritual.
Os cristãos não existem para servir a Igreja, mas para fazê-la viver. Se alguém
é de Jesus, ele é da Igreja. E se ele é da Igreja, ele deve permanecer nela, em
nome de sua fé em Jesus, e ser fiel em seu caminho espiritual e em seus enga-
jamentos comunitários e sociais (Légaut, Marcel. Patience et passion d´un croyant. Cerf.
Paris, 2000).
Evaristo Eduardo de MirandaMinistro das Exéquias, autor do livro “Eu vim
para servir – Comunidade, Igreja e Sociedade” (Loyola) Fo
to: Ar
quiv
o
“A Igreja ajuda a enxertar a missão de cada pessoa na própria missão de Jesus”
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Apóstolo do Brasil,São José de Anchieta!
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Os Passos de Anchieta100 Km de fé e história
Carolina Grohmann
Este ano, a 17ª edição do caminho que refaz os passos de São José de Anchieta atraiu 4.000 andarilhos. O caminho, no Estado do Espírito Santo, era feito duas vezes ao mês pelo padre jesuíta.
Arqu
ivo
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Revista Digital Lumen
Pelos índios, Anchieta era conhecido como abarebebe que, em tupi, sig-
nifica “padre voador”, em referência às peregrinações que ele realizava,
principalmente a pé. Uma dessas rotas foi resgatada em 1988 e atrai até
4.000 andarilhos por ano, sendo o primeiro roteiro cristão das Américas. Os Passos
de Anchieta, como é conhecido, refaz os caminhos do santo durante seus últi-
mos anos de vida no estado do Espírito Santo. A trilha, de 100 km, era percorrida
por Anchieta duas vezes ao mês, na companhia dos índios temiminós, entre a
Vila Nossa Senhora da Vitória, onde lecionava no Colégio São Tiago (atual sede
do Governo, em Vitória), e a antiga Vila de Reritiba (atual Santuário Anchieta),
onde se encontrava com os índios.
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Revista Digital Lumen
São José de Anchieta, rogai por nós!
Arqu
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Revista Digital Lumen
Hoje, a rota é organizada pela ONG Associação Brasileira dos Amigos dos
Passos de Anchieta (ABAPA) e ocorre anualmente no feriado de Corpus
Christi, a fim de facilitar a participação de andarilhos do país inteiro. São
quatro dias de caminhada com o apoio da Polícia Militar do Espírito Santo, do
Corpo de Bombeiros, atendimento médico e o auxílio das prefeituras. Pontos de
paradas com frutas e água recebem o andarilho durante todo o trajeto.
A venezuelana Terry González Bordas mora no Brasil há 14 anos. Este ano, ela
completou a nona participação na caminhada. O interesse nasceu pela vonta-
de de conhecer a cultura do país e de fazer novos amigos. Leu sobre Os Passos
de Anchieta numa reportagem e, incentivada por uma amiga, que conhecia
o roteiro, fez a inscrição. “Parti sem nunca ter feito uma caminhada desse tipo.
Achei os amigos que queria, mas também encontrei uma motivação fortemen-
te espiritual que me acompanha. Falam que quando alguém começa a cami-
nhar, não consegue parar – uma grande verdade. Liguei para vários amigos,
pegamos nossas mochilas e fomos para Vitória, cheios de uma emoção ante
uma nova rota, de refazer os passos feitos pelo Apóstolo do Brasil”, conta.
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Revista Digital Lumen
Terry e o marido, Bernardo, à espera
da bênção que marca o início da
caminhada. Terry no terceiro dia de
caminhada em um dos pontos de
parada. Abaixo, Morro do Moreno. Na
página anterior, Convento da Penha
,
em Vila Velha (ES), uma das
passagens dos andarilhos.
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Revista Digital Lumen
Terry já cumpriu os 100 km em diferentes meses e afirma que, a cada vez,
a experiência é nova. “Cada ano renovo a minha fé. Adoro rever amigos,
experimentar uma rica moqueca capixaba, caminhar em silêncio e olhar
belíssimas paisagens”. Devota de São José de Anchieta, Terry diz que, este ano,
a caminhada foi emocionante, por ser a primeira a cumprir após a canoniza-
ção. “Ele foi uma pessoa iluminada por Deus, que amou a todos por igual sem
se importar com diferenças culturais. Sua vida é apaixonante, foi o primeiro a se
preocupar com a linguística indígena. Foi médico, engenheiro, poeta e pai da
literatura brasileira”.
Durante os quatro dias, além dos pontos de apoio organizados pela ABAPA,
moradores se preparam para receber os andarilhos. Preparam canjica, lanches,
leite quente, café e, como sempre, muita fruta.
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Revista Digital Lumen
O Coordenador da ABAPA, Carlos Magno de Queiroz, o “Lilico”, diz
que o caminho já foi percorrido por pessoas de todos os países.
“O caminho ficou internacional. Ao longo desses 17 anos, já tive-
mos a participação de pessoas de todos os estados do Brasil e também do
mundo. Os Passos de Anchieta é muito conhecido pelo mundo todo nesse
segmento de caminhada”, explica. “Já disseram que é o caminho mais bem
sinalizado do mundo; 70 mil pessoas já passaram por ele”, pontua.
Mapa da rota. Abaixo, Terry e Lilico durante a concentração em frente à
Catedral de Vitória.
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Revista Digital Lumen32
Dia 1
Recebidos ao som do tradicional
congo capixaba, os andarilhos
se concentram na Catedral Me-
tropolitana de Vitória (ES), logo às 6h30
no feriado de Corpus Christi. Ganham
a Credencial do Andarilho, com 16 es-
paços em branco, para serem carim-
bados durante o trajeto. Após a missa e
bênção do pároco, Padre Paulo Régis
Silvestre, os 4.000 andarilhos caminham
em direção ao Palácio Anchieta, onde
o santo começava seus passos. Após a
Curva do Saldanha, os andarilhos per-
correm, de ônibus, a Terceira Ponte,
que tem o tráfego de pedestres proibi-
do. São deixados no Convento da Pe-
nha, marco da colonização do Estado
e, depois, percorrem o Morro do More-
no. Após o trajeto pelas praias urbanas
de Vila Velha, atravessam toda a reser-
va de Jacarenema, grande área de
proteção ambiental. Depois de 23 km,
chegam à Barra do Jucu, destino final
do primeiro dia.
Revista Digital Lumen 33
CORPUS CHRISTI
A tradicional confecção dos
tapetes de rua durante a festa de
Corpus Christi surpreendeu os
andarilhos, que paravam para
apreciar as artes. Com 1 km de
extensão, a montagem reuniu
crianças e adultos em toda
a Praia da Costa,
em Vila Velha.
Revista Digital Lumen34
Dia 2
No segundo dia, o trajeto é feito praticamente na areia. Este ano,
o comentário geral entre os andarilhos veteranos era de que o
dia foi “o mais difícil de todas as edições”. Com chuva, vento e
frio, os andarilhos atravessam a praia Ponta da Fruta e entram no Parque
Estadual Paulo César Vinhas. O atrativo principal do dia está no Parque: a
Lagoa dos Caraís, que oferece um banho de água doce e um momento
para descansar. O pernoite é feito em Setiba.
Lagoa dos Caraís
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Mala Filatélica desenvolvida pelos Correios em homenagem aos Passos de Anchieta. Fonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. O segundo dia de caminhada é considerado o mais difícil pelo andarilho.
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Dia 3
Com saída em Setiba, o caminho passa por praias particulares e uma
trilha, onde é possível contemplar a beleza da Mata Atlântica. Todo o
trajeto do dia é em Guarapari, cidade fundada pelo santo. Ao entrar
na praia dos Jesuítas, os andarilhos encontram um poço, aberto por Anchieta
em 1585. Depois da praia, chega-se à Igreja Nossa Senhora da Conceição,
construída pelo santo. Ela foi o marco da fundação da cidade de Guarapari e
era usada como igreja-residência dos jesuítas. O fim do terceiro dia ocorre no
quilômetro 77, na cidade de Meaípe.
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A Igreja Nossa Senhora da
Conceição foi construída pelo santo e
foi usada também como
residência dos jesuítas.
Andarilhos seguem na caminhada. Na praia dos Jesuítas,
o andarilho passa por um poço aberto por Anchieta.
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Santuário de Anchieta,
acima. Abaixo, escadaria da chegada,
ao fim da rota.VEJA MAIS IMAGENS
DO ROTEIRO “OS PASSOS DE ANCHIETA”!
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Dia 4
A última etapa é percorrida em rodovia, praias e estrada de terra.
Os andarilhos chegam em Anchieta e passam pelo município de
Ubu, uma pequena vila de pescadores. O nome faz menção à
última passagem do santo no local. Carregado pelos índios, o corpo de An-
chieta tombou do caixão e os índios exclamaram aba ubu – o padre caiu.
O quilômetro 100 está no fim da escadaria que leva ao Santuário de An-
chieta, uma construção de 1597. Os andarilhos recebem o último carimbo,
tiram foto na placa do número 100 e participam da missa de boas-vindas.
Foto
s: C
arol
ina
Gro
hman
n
Carolina Grohmann e Mariana Maia, do Setor Imprensa da Arquidiocese de Campinas, participaram da última edição da rota e refizeram os passos do Padre Anchieta. Elas recomendam a caminhada como uma experiência de fé e superação, a exemplo do santo.
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A crença capixabano “milagre do pato”
Carolina Grohmann
Durante os festejos de 24 de ju-nho, na Aldeia de São João (atual Carapina, na Serra), o pa-
dre José de Anchieta restituiu a fala de uma criança muda. Os capixabas or-gulham-se da história, que aconteceu em 1569 e é uma forte crença popular. A Igreja de São João, onde teria acon-tecido o milagre, tornou-se um ponto turístico no município de Serra, a 80 km de Vitória. Construída no século XVI, em 1584. Desprotegida de qualquer muro e de fácil acesso, a Igreja continua em pé graças aos fieis, pois sofre a amea-ça de grandes empresas que instalam suas indústrias por perto.Estrategicamente construída em um
local alto, onde é possível ver o Con-vento da Penha, hoje, a Igreja de São João de Carapina comemora a festa do seu padroeiro sempre com a pre-sença do padre Anchieta. Na parede,
é possível ler a placa de divulgação da “Festa de São João e de São José de Anchieta”. A motivação, além do mi-lagre, é pelo reconhecimento da atu-ação do Santo no estado. “Essa igreja foi fundada pelo Anchieta e os outros jesuítas, num tempo em que não havia infra-estrutura. Anchieta antecipou os tempos, foi um herói”, pontua o páro-co da Paróquia São José Operário, Pa-dre Elio Savoia.Conhecido como “milagre do pato”,
a história está presente em diversos li-vros do Espírito Santo, como no Histó-ria da Serra, do historiador capixaba Clério Borges, quem conta como foi o milagre: “Durante a festa, vários cava-leiros disputavam um pato. Na disputa, houve um empate e pediram ao padre Anchieta resolver a questão. O padre chamou um menino, mudo de nasci-mento e conhecido por todos, e pediu
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que ele dissesse de quem era o pato. Quando todos estavam surpreendidos com a solução do padre, o menino res-pondeu: ‘o pato é meu e eu vou levá--lo para a minha mãe’. Maravilhados, entenderam que era a resolução de
Deus e aclamaram o padre Anchieta. Três padres presentes testemunharam o milagre. Anos mais tarde, o menino, Estevão Machado, depôs em inquérito formado pela Igreja Católica, relatan-do o milagre”.
Padre Elio Savoia
em frente à Igreja
São João de
Carapina,
em Serra (ES).
“Anchieta antecipou
os tempos”.
Fotos: Carolina Grohmann
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O Lado A do Santo
Peço ao Correio Popular a oportu-nidade de discordar, respeitosa-mente, do que a dra. Lídice Meyer
Pinto Ribeiro (Correio,14/4/14), escre-veu sobre um homem extraordinário,o padre José de Anchieta que exerceu entre os índios as tarefas de médico, sacerdote jesuíta e professor. No pro-cesso de catequização utilizou o teatro e a poesia para ensinar a fé cristã; en-sinou latim e aprendeu o tupi-guarani. Em 1595, publicou a “Arte da Gramáti-ca da Língua Mais Falada na Costa do Brasil”.O terceiro grupo de missionários que
chegou ao Brasil, acompanhado do segundo governador geral, Duarte da Costa, em 13 de julho de 1553, na Bahia de Todos os Santos incluía o irmão José de Anchieta com 19 anos de idade, sob a chefia do padre Luís da Grã. Este, em 1560, convocou uma reunião de chefes indígenas e os fez jurar quatro compromissos cristãos: não ter senão
José Antonio JorgeTeologia e doutor em Agronomia e autor do Dicionário Informativo Bíblico, Teológico e Litúrgico
Em artigo, o Diácono José Antonio Jorge, da Arquidiocese de Campinas, aborda a vida e o legado de São José de Anchieta, que o fizeram santo. Ele se opõe a outro artigo, em que o autor questiona a elegibilidade à santidade de Anchieta.
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uma mulher; não se embebedar; não dar ouvidos aos pajés; não matar nem comer carne humana.Com o corpo frágil, portador de en-
fermidade crônica na espinha dorsal e dotado de um senso crítico pode ob-servar, desde logo, como os indígenas admiravam o canto, a música e a dan-ça. Esta conclusão pode ter mudado o curso de seu futuro relacionamento com os nativos – sua maneira de agir e evangelizar. Anchieta aproveitou a melodia das canções que estavam na moda na Espanha e Portugal para adaptá-la nos cantos religiosos em tupi, português, latim e espanhol, propagan-do os fundamentos da doutrina cristã. Em São Paulo de Piratininga, Anchieta ensinava latim aos estudantes jesuítas e, em seu convívio com índios, aprendeu e escreveu a gramática tupi. Em segui-da, Anchieta redigiu em tupi o Diálogo da Fé e várias instruções para a cate-quese batismal dos indígenas. As dan-
LEIA A MATÉRIA DE O GLOBO, “ANCHIETA: O SANTO QUE
INVENTOU RIO E SÃO PAULO”
Obra de Benedito Calixto, “O Evangelho nas Selvas”, 1893.
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Ao lado, relíquia do Padre José de Anchieta doada ao Governo do Estado do Espírito Santo pela Companhia de Jesus, em 2007. Foto de Alair Caliari/Divulgação.Obra de Oscar Pereira da Silva, “Fundação de São Paulo”, 1909.Clique no ícone para ver a imagem ampliada!
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Revista Digital Lumen
ças eram um componente inseparável dos povos nômades e semi-nômades, sendo realizadas para saudar os deuses e os astros e servem para comemorar todos os acontecimentos importantes. Além do aspecto religioso significa-va a celebração da vida. Nes-te mesmo ano, após o nau-frágio dos Abrolhos, teve em Caravelas o primeiro contato com índios, pas-sando nove dias com eles. Funcionou como in-térprete na negociação de paz entre os tamoios e tupiniquins. A partir de 21 de julho deste mesmo ano ficou 4,5 meses como refém entre os primeiros povos, período em que seus sentimen-tos indianistas cresceram.No campo espiritual, José de Anchieta
dedicava uma grande veneração por Maria Narrando a vida de Maria, na forma de um poema, Anchieta divide sua obra em cinco cantos, incluindo: a infância de Maria, a Encarnação, a natividade de Jesus, a Paixão e a gló-ria do Filho e da Mãe.
Em 1581, o jesuíta canário fundou o Hospital de Misericórdia, no Rio de Ja-neiro, para acolher grande número de enfermos e feridos, tendo em vista as expedições militares portuguesas e es-
panholas estabelecidas no litoral brasileiro. Numa espécie de
sínodo dos bispos, reali-zado em 1583 na Bahia, resolveu-se enviar à sua majestade uma re-solução propondo que doravante nenhum ín-
dio do Brasil pudesse ser escravizado.
Pelas obras e milagres, foi cognominado o Apóstolo do
Brasil. Além de poeta, seus biógrafos se referiam a ele como professor, episto-lógrafo, enfermeiro e muito mais… Pes-soalmente, Anchieta impressionou seus interlocutores por sua “brandura” e sim-plicidade: um corpo mutilado e venci-do pelo missionário, sempre em busca de almas. Sua lealdade aos indígenas foi sempre inabalável! Para Anchieta, a salvação das almas sempre foi priori-dade absoluta.
“Pelas obras e milagres, foi
cognominado o Apóstolo do
Brasil”
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Revista Digital Lumen46
A espera de 417 anos após o primeiro pedido de canonização do Padre
José de Anchieta terminou em abril deste ano: em decreto assinado
por Papa Francisco, o padre jesuíta é agora proclamado São José de
Anchieta. O Pontífice atendeu ao pedido solicitado em outubro de 2013, pela
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de que fosse retomada a
análise do processo de Anchieta.
Devido ao avançado tempo, com o processo iniciado no ano da morte do
santo, dificultando a verificação, o jesuíta não precisou ter os dois milagres com-
provados, o da beatificação, decretado pelo papa João Paulo II em 22 de ju-
nho de 1980, e outro para a canonização, realizada pelo Santo Padre Francisco
no dia 03 de abril de 2014. “São José de Anchieta soube comunicar aquilo que
tinha experimentado com o Senhor, aquilo que tinha visto e ouvido d’Ele; e essa
foi e é a sua santidade”, ressaltou o Papa Francisco durante homilia na missa de
Ação de Graças pela canonização de Anchieta.
São José de Anchieta: enfim santo Mariana Maia
Revista Digital Lumen
A santificação de Anchieta se deu pelos trabalhos missionários no Brasil, como
catequização dos índios, durante o período colonial, e das fundações de mis-
sões jesuíticas nas diversas regiões do país. Esse procedimento é chamado de
canonização equipolente e só é realizada após o Papa verificar três condições:
a incidência de antigo culto, atestação histórica de fé católica e de uma vida
de martírio, e a popularidade por intermediar milagres a pedidos de fiéis.
De acordo com relatos da época, Anchieta amava viver no Brasil, por isso,
mesmo de nacionalidade espanhola, foi considerado o terceiro santo brasi-
leiro. Em 19 de maio de 2002, a italiana Madre Paulina recebeu o título
pelo Papa João Paulo II, após 60 anos de sua morte. Frei Galvão
é o único santo que possui nacionalidade brasileira e, depois
de 185 anos, foi o segundo nomeado santo no país, pelo
Papa Bento XVI no, dia 11 de maio de 2007.
Arqu
ivo
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Apóstolo do Brasil
Nos dias 2 e 3 de abril, todas as Paróquias de São Paulo e do Rio de Janeiro to-caram seus sinos em homenagem à canonização de Anchieta, que cons-truiu colégios e igrejas que foram marcos da fundação das tais capitais. O
mesmo o santo fez na Bahia e no Espírito Santo.O primeiro contato de Anchieta em solos brasileiros foi em Salvador, no dia 13 de ju-
lho 1553. Sofrendo de espinhela caída, chegou ao Brasil com 19 anos. Encontrou-se com o padre Manuel da Nóbrega, que o encarregou de dar continuidade à cons-trução do colégio de São Paulo, no planalto Piratininga. Foi neste momento que An-chieta iniciou seus passos pelo interior e aprendeu a língua tupi com os índios. Voltou à capital baiana apenas três anos depois, sendo ordenado sacerdote, ocupando o cargo de superior de comunidades e provincial de toda a missão no Brasil.De acordo com o Cardeal de São Paulo Dom Odilo Pedro Scherer, no centro históri-
co da capital paulista, o Pátio do Colégio Piratininga memoriza que Anchieta foi um dos fundadores da cidade e também um dos iniciadores da Igreja na metrópole.Já no Rio de Janeiro, Anchieta ficou encarregado pela interlocução entre os por-
tugueses e índios, que estavam em guerra com franceses que tentavam tomar as terras brasileiras. Mais tarde, assumiu a direção do colégio da Companhia de Jesus no extinto Morro do Castelo, derrubado no início do século passado. Foi com ele a construção da Santa Casa de Misericórdia que atendeu na época muitas vítimas das epidemias.Na capital do Espírito Santo, fundou e dirigiu o Colégio São Tiago, e onde passou
seus últimos meses de vida: pelo prazer de caminhar, percorria 105 quilômetros, duas vezes por mês, entre Vitória e Reritiba, atual Anchieta.
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Patrono dos catequistas
Um dos papeis mais importantes do santo no país foi a evangelização dos portugueses e principalmente dos índios. Conheceu a língua tupi-guarani e compôs a primeira gramática da língua tupi, escrevendo mais tarde um ca-
tecismo no idioma deles. O jesuíta adaptou a catequese para os índios com peças teatrais e hinos, feitos principalmente no interior do Colégio São Tiago (atual Palácio Anchieta, sede do governo).Na primeira visita ao Brasil, o Papa João Paulo II ressaltou na missa no Campo de
Marte, em São Paulo, a grande missão que José de Anchieta teve entre o povo. “Anchieta veio para o Brasil para anunciar Jesus Cristo e difundir o Evangelho. Veio com o único objetivo levar os homens a Cristo”, pontuou.Ao mesmo tempo em que ensinava aos nativos no-
ções básicas de higiene, medicina, música e literatura, fazia questão de apren- der com eles suas culturas, cos-tumes, seus conhecimen- tos sobre a fauna e a flora. No mesmo dia de sua canonização, a CNBB deu ao santo o título de patrono dos
catequistas.
Arqu
ivo
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O jesuíta na linha do tempoA vida do santo de seu nascimento na Espanha até sua morte em terras brasileiras Mariana Maia
Fonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
19 de março 1534 – José Anchieta nasce em Tenerife, nas Ilhas
Canárias, arquipélago espanhol.
1548 – Aos 14 anos vai para Portugal para estudar Filosofia na Universidade de
Coimbra, lá tem seus primeiros contatos com os jesuítas.
1 de maio 1551 – Aos 17 anos, Anchieta entra para a Companhia de Jesus.
13 de julho 1553 – Dois anos depois, é enviado como missionário ao Bra-
sil por iniciativa do Padre Manuel da Nóbrega, que precisa de reforço para a
evangelização no País. Ao desembarcar, Anchieta passa três meses em Salva-
dor.
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24 de janeiro 1554 – Chega à capitania de São Vicente e, juntamente com
Nóbrega, funda nesse mesmo ano o Colégio de Piratininga, que dará origem à
cidade de São Paulo. É onde seu trabalho missionário começa.
1563 – Ajuda na negociação de paz entre os portugueses e os tamoios.
Para dar uma prova aos índios de sua sinceridade, entrega-se como refém, fi-
cando preso por um período de seis meses, enquanto seus companheiros ne-
gociam a paz. Nesse período, Anchieta escreve nas areias de uma praia de
Ubatuba seu Poema a Virgem Maria.
Acer
vo d
o M
useu
de
Anch
ieta
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6 de junho 1566 – Retorna à capital baiana para informar ao governador Mem de Sá o andamento da guerra contra os franceses. Anchieta nesse mes-mo ano ordena-se sacerdote, ocupando o cargo de superior de comunidades e provincial de toda a missão no Brasil.1567 – Chega ao Rio de Janeiro com Nóbrega para fundar o colégio local.1570 e 1573 – Anchieta assume a direção do colégio da Companhia de Jesus, no extinto Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, derrubado no início do século passado.1576 – Torna-se o quinto provincial da Companhia de Jesus no Brasil, ocupan-do esse cargo por 11 anos.1582 – Inicia a construção da Santa Casa de Misericórdia, destinada a assistir os doentes e as vítimas das frequentes epidemias.1587 – Renuncia ao cargo de superior provincial para se tornar reitor do colé-gio São Thiago, em Vitória. Anchieta conclui a primeira ala do Colégio. 1588 – Foi destinado a superior das casas do Espírito Santo.
9 de junho 1597 – Aos 67 anos, o jesuíta falece em terras brasileiras,
na aldeia de Reritiba, atual município de Anchieta (ES). Seu corpo é transporta-
do pelos índios até a Catedral
de Vitória, para ser ali sepul-
tado. Logo após a sua morte,
é qualificado como ‘Apósto-
lo do Brasil’ e também nesse
ano começa o longo proces-
so para sua canonização.
Arquivo
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1611 – Os restos mortais do Jesuíta são trasladados. Uma parte é levada para
o Colégio São Thiago, fundado e dirigido pelo padre em Vitória. Hoje, atual Pa-
lácio Anchieta, sede do Governo do Espírito Santo. E outra parte é enviada a
Roma.
1734 – Seu túmulo no colégio São Thiago é aberto novamente, tendo sido re-
tirados os últimos restos mortais de Anchieta.
1736 – Sem nenhum desfecho do processo para se tornar beato, o Vaticano
reconhece as virtudes e sua vida de martírio. Recebe então o título como
venerável. Os fiéis puderam rezar em seu nome, mas não po-
dem ainda ser construídas Igrejas ou ser rezadas missas em
seu nome.
22 de junho 1980 – O Papa João Paulo II beatifica José
Anchieta.
03 de abril 2014 – Depois de 417 anos o Pontífice Fran-
cisco, assina o decreto que torna Anchieta santo.
Selo comemorativo em homenagem à beatificação de
Anchieta, lançado pelos Correios em 1980. Arquivo.
Foto de Alair Caliari/Divulgação.
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De uma simples cabana surgiria uma vigorosa cidade. A previsão foi de
Anchieta, ao chegar à região do planalto de Piratininga. Junto com
o padre Manoel da Nóbrega, subiu a Serra do Mar em busca de um
local seguro para catequizar os índios. Por ter “ares frios e temperados como
os da Espanha”, o planalto de Piratininga foi o local escolhido para se instalar.
Imortalizada na única tela de Albino Menghini, “A visão de Anchieta” (1955)
ilustra a capa desta edição e reflete o que é São Paulo hoje: um horizonte de
prédios composto de cores diferentes, simbolizando o pluralismo cultural da
metrópole. No centro da tela está a cabana de noventa metros quadrados
coberta por folhas de palmeira – onde, em 25 de janeiro de 1554, foi realizada
a missa que oficializou o nascimento do colégio jesuíta e da cidade de São
Paulo. Denominado Pateo do Collegio, ainda hoje pode ser escrito com gra-
fia arcaizante para efeitos turísticos.
Museu de Anchieta Carolina Grohmann
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Em 1556, o padre Afonso Brás, precursor da
arquitetura brasileira, foi o responsável pela
construção do colégio em taipa de pilão
e de uma igreja anexa. Hoje, o Pátio do Colégio
abriga o Museu Anchieta, uma Igreja e a Biblioteca
Padre Antônio Vieira. Todos os ambientes podem ser
visitados diariamente. De terça a sexta-feira às 12h00, e
aos domingos às 10h00, são celebradas missas. Durante todos os dias, a Igreja
fica aberta e o público pode visitar um oratório, onde estão expostos a vesti-
menta e o fêmur do santo.
No museu, a visita inicia com uma maquete que apresenta as primeiras cons-
truções da cidade. Uma pia batismal, original da época do colégio dos jesuí-
tas, é o elemento central do museu e está no segundo ambiente da visitação.
“Pelas obras e milagres, foi
cognominado o Apóstolo do
Brasil”
CONFIRA OUTRAS FOTOS DO MUSEU DE ANCHIETA! CLIQUE NO ÍCONE E FAÇA UM PASSEIO VIRTUAL PELAS SALAS E OBRAS
Fotos do Museu e das peças do acervo: Carolina Grohmann
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O visitante segue para uma sala que reúne obras de artes que retra-
tam a vida do santo. Em destaque, em cima da porta, está a conhe-
cida pintura de Benedito Calixto que lembra o momento em que
Anchieta escreveu o Poema à Virgem. Em alguns quadros, muitos pássaros são
retratados. A cena é uma lembrança a um dos milagres do santo: quando na-
vegava com companheiros jesuítas, sob forte Sol, Anchieta chamava grupos
de pássaros, como os guarás vermelhos, que atendiam ao chamado e voa-
vam junto à canoa, oferecendo sombra aos viajantes.
No andar superior do museu, várias obras sacras ocupam o espaço, como as
imagens chamadas “paulistinhas”, reinterpretações de obras espanholas e
portuguesas que não chegavam ao isolado planalto. O destaque da sala é
um baldaquino, protegido por uma sala escura, com pontos de luz que repre-
sentam estrelas. A peça simboliza a relação entre o terreno e o celeste, tendo
Cristo como o elo entre as duas partes.
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O horário de funcionamento do Museu Anchieta é de terça-feira
a domingo, das 09h00 às 17h00, com monitoria. Os ingressos cus-
tam R$ 5,00 (inteira), R$ 2,50 (estudantes), R$ 1,00 (alunos de es-
cola pública) e gratuito para crianças de até sete anos e idosos acima de
60 anos. Todo terceiro domingo do mês, às 11h00, ocorre a atividade Vem
pro Pateo no Domingo, em que são oferecidas atividades culturais gratui-
tas para todas as idades.
A Biblioteca Padre Antônio Vieira também é aberta ao público e oferece
consulta a livros, principalmente sobre a história da Companhia de Jesus e
da cidade de São Paulo. O acesso é permitido de terça a sexta-feira, das
09h00 às 17h00, mediante apresentação de documento de identidade.
O Museu fica na Praça Pateo do Collegio, 2, Centro, São Paulo.
Tel.: (11) 3105.6899. Contato: www.pateocollegio.com.br
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Canonização alegra Paróquia
Padre José de Anchieta foi proclamado Santo na manhã do dia 03 de
abril, em decreto assinado pelo Papa Francisco, durante reunião com o
cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação dos Santos, depois de
uma espera de mais de 400 anos após a abertura do processo que solicitava
sua canonização. Apesar de não ter milagres comprovados devido ao avan-
çado tempo, a canonização se deu pelos trabalhos missionários no Brasil, como
catequização dos índios (durante o período colonial) e das fundações de mis-
sões jesuítas nas diversas regiões do Brasil.
da Arquidiocese de Campinas
Carolina Grohmann
Dona Linda e Dom Airton, Arcebispo de Campinas.Fotos: Carolina Grohmann
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A Paróquia da Arquidiocese de Campinas que tem o Santo como padroeiro,
na cidade de Valinhos, realizou, no dia 02 de abril deste ano, Missa para
celebrar a canonização. Presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Air-
ton José dos Santos, a celebração reuniu cerca de 1500 fieis, de acordo com le-
vantamento da paróquia. Na homilia, Dom Airton lembrou a importância também
histórica do Santo, missionário jesuíta espanhol no Brasil e fundador da cidade de
São Paulo. Durante a Missa, Dona Linda, paroquiana ativa na Paróquia desde a fun-
dação, entregou a Dom Airton uma relíquia do Santo, um pedaço do fêmur doado
pelos jesuítas que fundaram a comunidade, anos atrás. A relíquia foi colocada ao
lado da imagem com cerca de um metro de altura.
O pároco, Padre Rogério Canciam.
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As CIDADES VISTAS DO ALTOEm mais duas igrejas, o mundo visto das torres Bárbara Beraquet, Carolina Grohmann, Mariana Maia, Giovanna Lima e Marcela Rezende
Indaiatuba, “ajuntamento de indaiás” em tupi-guarani, recebeu seu nome pelo grande número de palmeiras in-
daiá que exibia em sua paisagem. Lu-gar de parada de tropeiros, a denomi-nação Indaiatuba tornou-se oficial em 1830. Também oficialmente, tornou-se vila em 1859, mas antes disso pertencia à Freguesia de Vila de Itu. Uma ima-gem de Nossa Senhora da Candelária, como registra a tradição oral, encon-trada na região, deu origem ao povo-ado, que se formou no entorno da ca-pelinha erigida para abrigá-la.
Já Vinhedo, conhecida hoje como a cidade da Festa da Uva, tem no culti-vo das bagas, trazidas pelos imigrantes italianos, a origem de seu nome, uma homenagem ao principal produto agrí-cola local. A primeira Festa da Uva ofi-cial aconteceu na Praça Sant’Anna, em 1948, próxima da igreja, com ares de quermesse. O vinho esteve presen-te no crescimento e desenvolvimento do município.As duas cidades são parte da Arqui-diocese de Campinas. Vamos conhe-cê-las do alto de suas igrejas?
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Na Matriz da Paróquia Sant’Ana, em Vinhedo, após subir 170 degraus,
mesmo com certa dificuldade, podemos observar grande parte da ci-
dade através da janela que se abre, no número 3 do grande relógio
em mosaico que fica no alto da torre. As pequenas janelas, nos números 3 e 9,
existem para facilitar acertos ou concertos dos ponteiros. Na imagem que se
avista, está, belo e de braços abertos, o Cristo do Mosteiro de São Bento.
Os primeiros degraus levam a um hall com vista para o interior da paróquia; ali
já foi usado para o coral, mas hoje se encontra desativado.
Há 17 anos, o zelador, Seu José Honório Cardoso, é encarregado de subir os
quase 40 metros de altura da torre. Ele cumpre essa rotina ao menos uma vez
por semana, mas garante já ter subido até quatro vezes num só dia.
Fotos: Carolina Grohmann
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Os últimos degraus da igreja, fundada em 1914, são de uma esca-
da caracol que leva a três sinos elétricos programados para tocar
das 7h00 às 17h00, de hora em hora, e às 18h00 o som do Ângelus
é emitido da parte mais alta da Igreja. Lá de cima, a vista frontal é da Praça
Sant’Ana e do Mosteiro de São Bento. Atrás, passa a Rodovia Anhanguera e
o Clube Sant’Ana. Do lado direito, fica a cidade de Louveira e do lado es-
querdo, Campinas e Valinhos.
A visita até a cúpula é aberta ao público, e muito solicitada pelas crianças
da catequese.
Mais informações pelos telefones (19) 3886.1972 ou (19) 3836.3430.
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“E anjos de Deus subiam e desciam
pela escada. No alto estava o
Senhor” Gênesis 28:12
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Na Igreja Matriz de Vinhedo, uma bela vista da cidade se
descortina. Na próxima página, note: na torre, cogobós
enfeitam, permitem a entrada de luz e, em cores claras,
formam a Cruz do Senhor.Fotos de Carolina Grohmann.
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Do alto da torre da Paróquia Nossa Senhora da Candelária,
em Indaiatuba, pode-se ver a Praça Leonor de Barros Camar-
go, bem arborizada e com o busto do patrono que nomeia
a Praça, tombado como patrimônio histórico de Indaiatuba. Do lado
esquerdo, na direção de Campinas, está localizado o Colégio Can-
delária, fundado pelo Cônego Carlos Menegazzi, falecido em março
deste ano e que era pároco da paróquia na época da fundação.
A Igreja Matriz também é um marco importante no desenvolvimento
da cidade. A fundação da Paróquia ocorreu no mesmo dia da funda-
ção de Indaiatuba, em 9 de dezembro de 1830 e, a partir da sua cons-
trução, a cidade começou a tomar forma. É uma das poucas igrejas
sobreviventes no interior do Estado de São Paulo construída em taipa
de pilão.
Na torre da paróquia contam-se 47 degraus, de difícil acesso. O ze-
lador Helio Pavonelli, que trabalha na paróquia há sete anos, diz que
sobe apenas quando precisa realizar alguma manutenção, mas que
sempre acompanha as pessoas que querem ver a vista que o alto da
torre oferece.
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“Os céus declaram a glória de Deus e o
firmamento anuncia a obra das suas mãos”
Salmos 19:1
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A fachada da igreja, seu interior e detalhes do que pode ser
visto do alto do templo. Fotos de Giovanna Lima.
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hospital e maternidade celso pierro
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O Serviço de Otorrinolaringolo-
gia do Hospital e Maternida-
de Celso Pierro realizou, no
dia 28 de junho, o segundo implante
coclear, em uma menina de 4 anos de
idade, pelo convênio privado.
Em Campinas, há algumas clínicas pri-
vadas que realizam esse procedimen-
to. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
a cirurgia só pode ser realizada no Hos-
pital de Clínicas da Unicamp. O HMCP
já solicitou o credenciamento junto ao
Ministério da Saúde para realização do
implante coclear pelo SUS e aguarda
aprovação.
Atualmente, o implante coclear pode
ser feito tanto no SUS, quanto no âm-
bito privado. A única diferença é que
no SUS só pode ser realizado o implan-
te coclear unilateral. No setor privado,
o implante bilateral pode ser feito nor-
malmente e tanto a cirurgia quanto a
prótese devem ser cobertas pelas ope-
radoras de saúde, desde que o pacien-
te se enquadre nas indicações para o
procedimento. O valor aproximado de
um implante coclear é de R$ 60 mil.
O alto custo se deve, principalmente,
pelo fato de todas as próteses disponí-
veis serem importadas. Ainda não há
nenhum implante coclear produzido e
fabricado no Brasil.
“Ouvido Biônico”implante coclear na reabilitação da audição Hospital e Maternidade Celso Pierro
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Nas crianças que nasceram
com a surdez, a cirurgia visa
proporcionar o estabeleci-
mento da comunicação oral, que só
é possível por meio de uma audição
adequada. Para os adultos, o retorno
do convívio social e melhora da quali-
dade de vida são outros benefícios ge-
ralmente trazidos com o implante.
O implante coclear, mais conhecido
como ‘ouvido biônico’ é um dispositivo
eletrônico que tem por objetivo reabili-
tar a audição por meio da estimulação
elétrica direta do nervo audi-
tivo. Ele é composto por uni-
dade interna (que fica em-
baixo da pele e é colocada
durante o procedimento ci-
rúrgico) e uma parte externa,
semelhante a um aparelho
auditivo.
“Basicamente, os sons são captados
pela parte externa e enviados para a
parte interna por meio de sinais de ra-
diofrequência. A partir daí, esses sinais
são transformados em estímulos elétri-
cos, sendo então carreados para den-
tro da cóclea por meio de um feixe de
eletrodos que, por fim, estimularão as fi-
bras do nervo auditivo”, explica o otor-
rinolaringologista e médico assistente
responsável pelo serviço de otologia,
João Paulo Valente.
Revista Digital Lumen
Segundo Valente, o implante coclear
está indicado para pacientes com sur-
dez severa ou profunda bilateral (ambos
ouvidos), que não apresentam benefício com
o uso de aparelho auditivo convencional. Mais
recentemente, o implante tem sido utilizado em
caso de surdez unilateral, mas as indicações
ainda são restritas e devem ser sempre indivi-
dualizadas. “Apesar de teoricamente o implan-
te estar indicado em todos os pacientes com
surdez severa/profunda bilateral, não significa
que todos terão o mesmo resultado e nem que
todos devem ser submetidos à cirurgia. Vários
fatores influenciam nos resultados. Dentre eles,
destacam-se a idade em que é realizada a ci-
rurgia (quanto mais precoce, melhores os resul-
tados, particularmente nas crianças, nas quais
o implante pode ser feito a partir dos 6 meses),
tempo de surdez, uso prévio de aparelhos audi-
tivos e terapia fonoaudiológica”.
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Fotos cedidas pelo Hospital
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A cirurgia é normalmente feita
sob anestesia geral, poden-
do ser realizada em um ou-
vido (unilateral) ou nos dois ao mesmo
tempo (bilateral). A duração do pro-
cedimento é de cerca de 1 hora e 30
minutos quando se realiza o implante
unilateral e 3h se bilateral. Na cirurgia é
colocado o componente interno do im-
plante, composto pela unidade recep-
tora e feixe de eletrodos. Usualmente o
paciente permanece internado por 1
ou 2 dias e as complicações pós-ope-
ratórias são, geralmente, incomuns.
Equipe envolvida: Prof. Dr. Silvio Antonio Monteiro Maro-
ne – chefe do Serviço de Otorrinolarin-
gologia do Hospital e Maternidade Cel-
so Pierro e professor titular da disciplina
“Otorrinolaringologia” da PUC-Campi-
nas.
Dr. João Paulo Valente - médico assis-
tente responsável pelo Serviço de Oto-
logia do Hospital e Maternidade Celso
Pierro.
Fonoaudióloga Karin Nivoloni – respon-
sável pelo Serviço de Fonoaudiologia
do Hospital e Maternidade Celso Pierro.
“Para os adultos, o retorno do convívio social e melhora da qualidade de vida são outros benefícios”
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