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OBSERVA OBSERVA MAGAZINE 10 / AGOSTO EDIÇÃO 08 MAGAZINE REVISTA MENSAL OBSERVAMAGAZINE.PT

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OBSERVA

O B S E R V A M A G A Z I N E

1 0 / A G O S T O

E D I Ç Ã O

08

M A G A Z I N E

R E V I S T A M E N S A L O B S E R V A M A G A Z I N E . P T

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OBSERVAM A G A Z I N E

CAPA: CARLOS FARINHA As asas feitas de coração de mulher vianense.Afetos de infância.

EDITORIAL, MADALENA PIRES DE LIMA Um brinde à nova rubrica, Grandes temas Boas viagens. Desejo de um agosto florido.

OBSERVATÓRIO DOS LUSODESCENDENTES Encontro com a Secretária de Estado francesa dos assuntos europeus. FAD, novos corpos sociais.

DE REGRESSO A PORTUGAL Sandrina Francisco,“Acredito numa forca superior”.

GRANDE TEMA Artigo de opinião, Madalena Pires de Lima E tudo o lítio levou?

PELA DIÁSPORA: Plataforma entre a China e os países lusófonos,por Rita Botelho dos Santos (Macau).

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PELA DIÁSPORA: Paulo David Pereira. 25 anos a elevar Angola.

CURIOSIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA Temos muito dos lobos: Aquilino Ribeiro

PALAVRA AOS INVESTIGADORES História da língua portuguesa fora de Portugal, por Marco Neves.

COM LUPA: À ESPREITA CÁ DENTRO Caminhas, mercearia & petiscos

COM LUPA: À ESPREITA LÁ FORA Eftling, um parque encantado, na Holanda.

INFORMAÇÕES LEGAIS As « Férias judiciais » não são as férias da justiça,por Jorge Mendes Constante

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OBRAS DE CAPA

AS ASAS DE VIANA

Resolvi brincar com um dos ícones que

representa um coração. Criado e desenvol-

vido por ourives da zona de Viana do Cas-

telo que marca e define uma forma muito

própria de encarar a nossa portugalidade .

As asas de Viana são uma homenagem à

mulher portuguesa, que dia após dia, me

recordam os afetos e a minha infância.

Numa aldeia da beira, Sobreira Formosa,

existia uma enorme feira no primeiro

domingo de Agosto e os feirantes vendiam

essas preciosidades em bancas, junto à rua

da Padeira.

Que saudades dessas manhãs quentes em

que íamos à vila ver a feira! Era o centro do

mundo e a minha memória recorda esses

rostos de quem vestia as melhores roupas

para desfilar por entre tendas e sapatos,

bugigangas e galinhas . No primeiro do-

mingo de agosto, cheirava a Portugal com

mulheres que vestiam asas de Viana.

Carlos [email protected]

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E : [email protected]

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PERIODICIDADE

MENSAL

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Em virtude do disposto no artigo 68º nº2, i) e j), artigo 75º nº2, m) do Código do Di-reito de Autor e dos Direitos Conexos ar-tigos 10º e 10º Bis da Conv. de Berna, são expressamente proibidas a reprodução, a distribuição, a comunicação pública ou colocação à disposição, da totalidade ou parte dos conteúdos desta publicação, com fins comerciais directos ou indirec-tos, em qualquer suporte e por quaisquer meio técnico, sem a autorização da Won-derpotential Lda.

EDIÇÃO

Agosto 2019, Edição 08 - GRATUITA

D E S I G N G R Á F I C OColors Design - https://colorsdesign.eu

D I R E T O R A A D J U N T A

Madalena Pires de Lima

E S T A T U T O E D I T O R I A L

https://observamagazine.pt/estatuto-editorial

R E G I S T O E R C

127150

E D I T O R E P R O P R I E T Á R I O

Wonderpotential Lda, NIF 514077840

D I R E T O R

Jorge Vilela

E D I T O R E S

António Manuel Monteiro, Carlos Farinha, Catarina dos Santos, Cristina Passas, Gilda Pereira, Hernâni Ermida, Inês Bernardes, Jorge Mendes Constante, José Governo, Marco Neves, Maria Coelho, Philippe Fernan-des, Pilar Abreu e Lima, Pedro Guerreiro, Rui Pessoa Vasques

D I R E T O R A C O M E R C I A L

Gilda Pereira

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EDITORIAL

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

Pelas asas de uma Vianense voamos

a mais um encontro. O nosso pintor

tem destas coisas: um pincel adivi-

nho com a mania de vaguear pelos

nossos sonhos. E é de sonhos que se

fazem as viagens de voos a pique de

quem ousa continuar a vir para Por-

tugal. A China tem uns convénios a

espreitar. Até a Forbes fala no nosso

país e a EI! resolve ajudar. Conversa-

mos com o Paulo David Pereira, que

soma êxitos em Angola e continua

com a visão apontada à escolha dos

melhores negócios. Confessa-nos

a sua exigência e bom gosto: «tudo

o que não seja uma savana a perder

de vista, uma paisagem desértico-

-lunar, uma floresta virgem ou uma

praia imensa e “desocupada” não

preenche a minha área de conforto».

A paz depois da guerra.

Um brinde aos Grandes Temas: ou-

çamos o uivar dos lobos, os do Aqui-

lino Ribeiro e os de Vila Real e do Alto

Minho, que em forma de humanos

erguem a sua coragem ao cimo dos

montes por onde jorra água a defen-

der, voam aves a conservar e correm

cavalos que não podem deixar de

galopar, soltos. Nas casas, às quais

voltam lusodescendentes com so-

nhos, cientes do valor da sua bússola

- que sempre aponta para um Norte

- vivem poetas: homens rijos, com a

coluna direita. Reúnem-se em mati-

lhas e rejeitam a fama de lobos maus.

Uns e outros nunca o foram. Apenas

são valentes, ainda que apanhados

em fojos. As mulheres emergem ao

lado deles, tratadoras de filhos co-

munitários, quais lobas protetoras

das ninhadas, que mesmo não sen-

do delas, não querem abandonadas

e fugitivas, no esventrar do seu solo,

o que as liga à segurança dos valores

que importam. Um uivar aflito con-

tra o lítio traduz o sentir de todos

que sabem que não existe um pac-

to de serviços mínimos para a água,

que nos mata a sede. A todos e na

Casa Comum, como lhe chama o Papa

Francisco.

O Património nem sempre é feito de

granito. Desta vez, o Céu desce à Ter-

ra sob a forma de doçaria, pela pena

de António Manuel Monteiro, o En-

genheiro Agrónomo que trata a lín-

gua portuguesa, qual Beethoven as

teclas de seu piano. Bela a sua prosa

coberta de amêndoas de Moncorvo!

Descobrimos o que aconteceu à lín-

gua portuguesa fora de Portugal, mas

sempre de baixo, claro, do mesmo

Céu. Marco Neves investigou. Por fa-

lar tanto em Céu, aproveitemos os si-

nais daquele que nos une, queiramos

sentir ou não a lunação que poten-

cia conexões surpreendentes, nunca

imaginadas: espreite as novas engre-

nagens que nos traz a Inês Bernardes.

As estrelas também se olham bem em

Caminha, por onde passam tantos

caminheiros, que agora param e pe-

tiscam. Regue os petiscos com vinhos

a seu - que se una ao nosso - gosto.

Dê um saltinho a Barcelos e prove um

doce regional. Esqueça as bombas e

experimente um ECO- camp dedi-

cado à flor. Se for viajar com crianças

dê um salto ao Efling e leve a histó-

ria A Cidade e a Árvore convosco. A

seu tempo, as árvores darão sombra

e flores. Um Agosto florido. Temos

encontro marcado a 10 de Setembro.

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OBSERVATÓRIO

No passado dia 11 de julho, realizou-se em Lisboa, um pe-queno-almoço com a simpática e dinâmica Secretária de Estado francesa Amélie de Montchalin, onde estiveram presentes, a convite da embaixada de França, vários membros do Observató-rio pertencentes à comunidade francesa a viver em Lisboa.Este encontro permitiu aos participantes falar sobre as suas circunstâncias pessoais, tendo a Senhora Secretário de Estado apontado soluções ou cami-nhos para os vários problemas mencionados, à luz das medidas governamentais francesas e europeias.A maioria dos participantes desenvolveu a sua experiência profissional em vários países e encontram-se presentemente em Portugal, fundamental-mente, devido as suas raízes portuguesas.

Alguns deles guardam uma imagem da burocracia e de custo de contexto francesas que prejudica as iniciativas dos empreendedores que preten-dem desenvolver a sua atividade em França. A Senhora Secre-tário de Estado reconheceu que essa ideia tem a ver com uma realidade passada, tendo França implementado medidas de simplificação e de incentivo a atividade empreendedora, não só para apoiar os empreendedo-res residentes mas também para apoiar os franceses residentes no estrangeiro.A Secretária de Estado realçou a importância dos residentes franceses se apoiarem nos que vivem no exterior para desen-volver negócios internacionais, permitindo estes últimos fomentar a internacionalização da economia francesa. Destacou a importância de aprofundar relações com Portugal e usar o nosso país como porta de entra-

da para os países lusófonos.Foi também referido que a França tem desenvolvido um conjunto de políticas para criar circunstâncias que favoreçam o desenvolvimento económico em vários países africanos, para potenciar a fixação de quadros e empreendedores nesses países, pois sem alternativas de vida, não têm outra opção em se juntar ao fluxo migratório para a Europa. Uma dessas estratégias é a criação de extinções de Uni-versidades Francesas de renome nesses países, levando profes-sores prestigiados a dar aulas nesses países africanos, dando oportunidades extraordinárias a jovens africanos de ter acesso a qualidade do ensino europeu que de outro modo dificilmente teriam acesso. Não há dúvida que é cooperando entre povos que se consegue obter graus de desenvolvimento benéficos para todos e gerar mais oportunida-des para empreendedores.

Encontro com a Secretária de Estado francesa dos assuntos europeus

Amélie de Montchalin

O que aconteceu?

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Escritora da diáspora, residente no Reino Unido desde 2001, obteve doutoramento na Universidade de Birmingham. Lecio-nou nas Universidades de Birmingham e Liverpool e foi intérprete do City Council of Stoke-on-Trent. Com vasta obra e livros traduzidos para inglês, francês e chinês, a autora aborda as temáticas da emigração e ruralidade. Editou a “Coleção Portugue-se Insights” (2012) para divulgar a cultura rural lá fora. Em 2018, cria o espaço cul-tural PALHEIRO TI GRABULHA, Trás-os-Montes. Tem 3 livros no Plano Nacional de Leitura e acaba de lançar a “Coleção Dos Bichos”.

Pedro Lobo tem nacionalidade portuguesa e reside em Macau desde 1995.É filho de pai natural de Fafe e mãe natural de Benguela, Angola, onde passou parte da sua infância. Formado em Informática e Gestão. É docente na Escola Portuguesa de Macau e Empresário, detendo diver-sas empresas nos ramos das Tecnologias, Média, Consultoria, Eventos e F&B. É um dos fundadores da Câmara de Comércio de Angola em Macau, e desenvolve uma participação cívica ativa, sendo fundador e membro ativo de diversas Associações locais e internacionais. Integra, como vo-gal, o Conselho Fiscal do Observatório dos Lusodescendentes.

I s a b e l M at e u s

P e d r o L o b o

O L D I A N O S D O M Ê S

Federação das Associações da Diáspora Elege os Novos Corpos Sociais

A cidade de Viseu recebeu, no fim-de-semana passado, a Assembleia-Geral da Federação das Associações da Diás-pora. José Ernesto Silva, almoxarife da Confraria de Saberes e Sabores da Beira “Grão Vasco”, mantém a presidência da Assembleia-Geral, enquanto que Jorge Rodrigues, de Zurique, Suíça, é o novo presidente da direção, sucedendo ao Dr. Manuel Bettencourt, da Califórnia, EUA, que por sua vez, passa a presidir ao Conselho Fiscal.A acto eleitoral decorreu no âmbito do IV Encontro Anual da FAD, onde contou com a presença de mais de 20 partici-pantes oriundos e representantes de associações de vários pontos do mun-do.O encontro ficou marcado por várias intervenções, com destaque para o ve-reador do turismo e cultura da câmara municipal de Viseu, Dr. Jorge Sobrado, que saudou a presença de tantos repre-sentantes na cidade. A Dr.ª Odete Ma-deira abordou a temática do folclore.

O Dr. José Governo destacou a impor-tância e o papel das associações da Diáspora. A Eng.ª Diana Marques da Lusovini, falou sobre o papel que o vinho do Dão pode ter na ligação da diáspora ao país, e finalmente, Jorge Rodrigues, apresentou as linhas mes-tras para os desafios do mandato para o triénio 2019/2021. O Observatório deseja assim os maio-res sucessos aos novos órgãos sociais que agora assumem funções e que con-sigam alcançar os objetivos e as metas a que se propõe, em prol do movimen-to associativo da diáspora e também da promoção de Portugal no mundo.

Philippe FernandesPresidente do Conselho Fiscal do

Observatório dos [email protected]

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Sandrina Francisco

DE REGRESSO A PORTUGAL

Licenciada em Relações Internacionais pelo ISCSP / UTL. Pós-Graduada em Consultoria de Imagem, em Comunicação e Tendências pela Faculdade de Letras. Curso Executivo em Marketing de Produtos e Serviços de Luxo, pela Universidade Católica de Lisboa.

Sandrina Francisco, entrou em 2004 na RTP e de 2007 a 2014 apresentou o magazine de moda MODA PORTUGAL, tendo também assegurado durante um ano a rubrica “Es-pelho Meu”, na RTP1. Coordena a Fashion Studio, agência de modelos e de profissionais de moda e imagem que con-ta com mais de 150 agenciados e colaboradores. Trabalha com modelos, influencers, atores, celebridades, maqui-lhadores, cabeleireiros, fotógrafos e stylists. É consultora de várias empresas e criadores, e divulga a moda portu-guesa além-fronteiras. Criou o Start’ups Design Room, um espaço de promoção para os designers de moda. É consultora de Imagem em várias clínicas, MyMoment, e Clínica Em forma, são exemplo e também em empresas como a L’Oréal, Grupo Brodheim, Century 21, Mc Do-nald’s, Louis Vuitton, Lancôme, entre muitas outras. Dá

formação em várias escolas e também no ensino superior: World Academy, IPAM, ETIC, LSD, Visage, CPS, Gestinfor Angola, e IADE. É membro da União de Exportadores da CPLP, onde é responsável pelos projetos na área da moda. Colaborou com a revista de luxo Your Vip Partner. Produz com regularidade eventos de moda e apoia as mar-cas portuguesas. Foi curadora de moda na Casa Ideal em 2014, organizou o Moda Sem fronteiras no Festival IN na FIL em 2015 e os desfiles do LXD na FIL. É responsável pela equipa de imagem da Sport Tv e da Bola TV e comentadora na Sporting TV.Produz diversos desfiles todos os anos, para Câmaras Mu-nicipais e entidades privadas. Na área do styling colabora com publicações, marcas e fotógrafos e faz a direção cria-tiva de várias marcas de vestuário e artistas.

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D E R E G R E S S O A P O RT U G A L S A N D R I N A F R A N C I S C O

OM: Obrigada por nos conceder esta entrevista. Gostaríamos de saber como se deu a circunstância de ter nascido em Paris e ter vindo para Por-tugal.

SF: Os meus pais emigraram mui-to cedo e estabeleceram-se em Paris nos anos 70 à procura de uma vida melhor. O meu irmão e eu nascemos e crescemos em França, até ao dia em que os meus pais manifestaram a vontade de regressar ao seu país, não nos deixando grande hipótese de es-colha. Regressamos em 1991. Eu tinha 16 anos, o meu irmão 8.

OM: Passava cá férias? O que mais lhe custou em deixar Paris, como residên-cia principal? Quais foram as primei-ras emoções quando chegou?

SF: Sempre passamos o nosso querido mês de agosto em Leiria. Quando os meus pais me anunciaram que iría-mos de férias e não regressaríamos a França julguei que estavam a brin-car. Só entendi que era mesmo a va-ler quando ao chegar à nossa casa em Leiria, o meu pai queimou as malas. Percebi que não havia retorno e que ia mesmo ficar em terras lusas. Cho-rei muito. Na altura não me sentia portuguesa. Tinha 16 anos e todos os amigos em França. Cresci sentindo-me francesa, falando francês, estan-do na escola francesa e absorvendo a cultura de Paris. Portugal era o local das férias, não o meu país. Demorei anos a ter orgulho em ser portugue-sa, a pensar e sonhar em português. O processo foi violento, mas hoje agra-deço terem voltado.

OM: Como se desenrolou a sua en-trada no mercado de trabalho portu-guês? Ser uma mulher bonita ajudou?

SF: Não sei se ajudou ou não. Sem-pre fui muito lutadora e aventureira. Demorei algum tempo a perceber o que queria fazer a nível profissional.

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Nunca manifestei a vontade de ser apresentadora, ou mo-delo, ou de ter uma empresa de moda. As oportunidades foram surgindo, fui conhecendo pessoas e criei a Fashion Studio em 2001. Penso que fui descobrindo realmente o que gostava de fazer ao longo do tempo e fui adicionan-do novas atividades à empresa, umas de cada vez, após bastante reflexão. Trabalhei 8 anos em Banca e seguros, mas odiei. Saber o que não queria para mim talvez tenha ajudado. Tive a sorte de ter encontrado bons mestres que me ensinaram e puxaram por mim.

OM: Por favor conte-nos como se divide pelas múltiplas atividades em que está envolvida profissionalmente.

SF: Trabalho por prioridades e tenho uma super equipa que me apoia. Seria impensável fazer tanta tarefa sozinha. Não tenho medo de delegar, sou organizada e vou gerin-do as obrigações por ordem de importância. Nunca largo a minha agenda, o meu telemóvel e não tenho horários. Se há trabalho para fazer, faço-o. Sempre que tenho uma ideia para uma nova área para a empresa, procuro um pro-fissional para a chefiar.

OM: Sabemos que ainda tem tempo para relaxar. Quais os destinos preferidos quando viaja? Tem algum animal de estimação?

SF: Tenho uma Yorkshire com 10 anos, a Vicky, que se adaptou ao meu ritmo e horários. Em relação ao tempo para relaxar, ele é fundamental. Só consigo trabalhar a 100% se conseguir também parar e ter tempo para mim e a minha família. Em média viajo uma a duas vezes por ano. Adoro destinos quentes e sou uma apaixonada pela Ásia. Os países que mais gostei de visi-tar são imensos. Destaco o Vietnam, Tailândia, Costa Rica, Maldivas, Zanzibar e Cuba. Pela natureza, cultura, paisa-gens, pessoas e comida! Acho que gostei de todas as mi-nhas viagens.

OM: Diz o filósofo que «quem gosta do que faz, não preci-sará de trabalhar um único dia na sua vida» Suponho que concorda.

SF: Concordo. Gosto muito do que faço, principalmente porque nenhum dia é igual ao outro e porque me permite comunicar e criar.

OM: Hoje em dia fala-se muito na importância de ter um foco, de ter uma especialização profissional, uma espé-cie de carimbo facilmente identificável. Como consegue manter tantos focos?

SF: O meu trabalho acaba por ser gerir pessoas. Cada de-partamento da Fashion Studio tem um responsável e eu

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vou gerindo, coordenando e conciliando o trabalho de to-dos. O meu foco é moda e imagem, nas suas mais variadas vertentes. Tudo se baseia em encontrar a melhor solução para cada cliente ou projeto, e escolher os melhores pro-fissionais dentro da nossa equipa para cada desafio.

OM: Não gosta de rotinas e no entanto tem de ter disci-plina, uma vez que tem variadas responsabilidades. Que truque é esse? Com que antecedência prevê a sua agenda? A intuição e o deixar fluir têm lugar nessa equação?

SF: O mais importante é gerir o tempo. Nisso temos de ser disciplinados. Se sei que tenho muito trabalho pendente acordo mais cedo. Não tenho horários e muitas vezes tra-balho mais de 12 horas por dia. Mas também sei parar e ter momentos para descontrair quando a agenda está mais calma. Como referi nenhum dia é igual, pelo que vou ge-rindo a agenda distribuindo reuniões, aulas, produções. Não penso demais, nem vivo demasiado preocupada com o futuro. Deixo fluir e penso positivo.

OM: Existe uma preocupação crescente para nos man-termos saudáveis e ao mesmo tempo com boa aparência. Conte-nos dois segredos de beleza e bem-estar.

SF: Não tenho segredos de beleza nem de bem estar. Ape-nas tento cuidar de mim. O primeiro conselho que dou é dormir bem! Tento descansar pelo menos 8 horas por dia. Apanho sol com moderação pois é principal causa de enve-lhecimento. Bebo muita água, tento manter uma alimen-tação saudável e tomar alguns suplementos ( colagénio,

vitaminas) e nunca me deito com a maquilhagem no rosto.

OM: É uma mulher de Fé. Interioriza desejos e pede-os? A quem? Ou apenas agradece as bênçãos que lhe vão che-gando?

SF: Sou católica, acredito numa força superior, nas ener-gias e na lei do retorno. Se fizer o bem colho o bem. O con-trário também é válido. Rezo o mantra do Hop’honopono diariamente. Sinto muito, perdoo, amo e sou grata. Sou mais de agradecer do que de pedir. Ter estado em África durante vários meses fez-me ver que sou uma sortuda e que tenho mais do que muita gente. Por isso sou mui-to grata e agradeço cada conquista, nunca esquecendo de onde vim.

OM: É uma mulher feminista?

SF: Sou mas não sou radical. Ainda há muito caminho a percorrer e a sociedade vai demorar tempo a alterar men-talidades e comportamentos. OM: Algum conselho aos lusodescendentes que gostariam de vir para Portugal?

SF: Portugal é um país maravilhoso, cheio de luz, onde se vive bem e onde existem nichos de mercado por explorar. Não se deve ter medo, mas sim acreditar que quando que-remos algo com muita força, conseguimos. Podemos ser o que quisermos, onde quisermos.

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GRANDE TEMA

E T U D O O L Í T I O L E V O U ?

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Com a aposta mundial nos automóveis eléctricos (designados mais “verdes”, apenas para uns e mais poluentes para outros) e movidos a baterias de lítio, a Europa procura fontes alternativas de fornecedores (de preferência na Eu-ropa). Alega-se que a importação de lítio aos maiores fornecedores a nível global (Austrália, China e o Chile) faz com que o preço da matéria-prima na Europa seja muito elevado. Assim, a Europa “decidiu” que Portugal seria o fornecedor (preferido) de lítio, onde se podem praticar preços mais baixos a escoar para a indústria automóvel da Europa, no sentido de fazer concor-rência aos carros eléctricos produzi-dos na China. A Alemanha, sendo um dos grandes fabricantes de automó-veis elétricos e tendo lítio, não faz a sua exploração no seu território. Por-quê? Prefere, por exemplo, a Bolívia, “A Arábia Saudita do lítio”. Prevê-se, num futuro próximo, que a China li-derará o mercado global do lítio, sendo

que quando tiver o monopólio, irá re-duzir drasticamente o preço deste me-tal, assim como o de outros minérios para fazer baixar, consequentemente, os preços das baterias dos EV (electric vehicles), que representam o compo-nente mais caro dos mesmos, promo-vendo a sua produção interna de EVS.Portugal possui reservas identifica-das de minerais contendo lítio, como provam vários estudos existentes há anos. Assim, foi definida pelo nosso governo (com o apoio da UE) uma Estratégia Nacional do Lítio. Tam-bém foi levada a cabo uma forte campanha promovida pelo Governo para o estrangeiro no objectivo de captar investidores e atrair a aten-ção de grandes empresas mineiras, nomeadamente através de um vídeo promocional que não passou nas te-levisões portuguesas.A minha preocupação - que é a de muitos - prende-se com a circunstân-cia de que, para Portugal produzir lítio

à escala dos gigantes, como a Austrália ou o Chile, será necessário causar um rasto de destruição enorme, obrigan-do também ao êxodo de habitantes, à emigração, ao caos na Biodiversidade, com o consequente desaparecimento de muitas espécies de fauna e flora, na contaminação da água e na deser-tificação dos solos, já tão massacra-dos pelos incêndios. A experiência em outros países como a Espanha, Peru, Austrália, China e Chile, diz-nos que são escassos os empregos inerentes à mineração. Em outros casos usa-se o trabalho escravo e infantil, como é o caso da República Democrática do Congo, na extracção de cobalto, essen-cial também para as baterias. No nos-so país, a eventual extracção do lítio será realizada em minas a céu aberto, (embora agora se fale em túnel), que se resumem a crateras gigantescas no território. O processo de extracção, conforme se poderá consultar em vá-rias fontes, é um processo muito po-

GRANDE TEMAE T U D O O L Í T I O L E V O U ?

DO ESPANTO: DIMENSÃO, ESTRATÉGIA, LEIS E OUTROS DOCUMENTOS

Já só existem 300 lobos ibéricos nas sete alcateias do Norte

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luente e que recorre a grandes quantidades de água, que terá de ser captada localmente, com zonas de lavarias do minério e escombreiras. Serão utilizados produtos quími-cos tóxicos, para reação e obtenção do lítio e dos outros minérios associados que se encontram nos filões da rocha encaixante.Pode, assim, um país vender-se contaminando aquilo que de mais sagrado há e que já se tornou num escasso recur-so: a água? Será um país condenado à desertificação e ao despovoamento. Este é um tipo de exploração mineira que não se coaduna nomeadamente, com a Região do Mi-nho e Alto Minho, por várias razões: dispersão geográfica das povoações, existência de diversas actividades econó-micas: agricultura, pecuária, silvicultura, vinicultura (re-gião do vinho verde e alvarinho), actividades de turismo, agricultura biológica, e todo o património arquitectónico, arqueológico e histórico, entre outros.Existe na legislação a possibilidade de não obrigatorie-dade da realização do EIA - Estudo de Impacto Ambiental (que só será obrigatório acima de 15 hectares, (na melhor das hipóteses), o que corresponde a título de exemplo, a 15 campos de futebol, e conforme a legislação em vigor (De-creto-Lei nº 151-B/2013). Os EIAs serão realizados (pa-gos), incompreensivelmente, pelas próprias empresas após a celebração do contrato de exploração. Estão também legislados os PIN(s) – Projectos de Potencial Interesse Nacional, que permitem que uma dada zona de interesse, sendo assim “classificada”, mesmo que seja uma reserva natural ou uma zona próxima de uma aldeia, por exem-plo, lhe seja concedida a licença de prospecção e explora-ção mineira. Está ainda legislada a Proposta de Definição de Âmbito (PDA), que é grosso modo, um pré-estudo de Impacte Ambiental. Como daria muito trabalho corrigirem o Estudo de Impacte ambiental, congeminaram uma estra-tégia, com o conluio da DGEG, que foi a de reduzirem de 403,71ha de área de exploração para 7,8ha - o que invali-daria a obrigatoriedade de Estudo de Impacte Ambiental,

pois a lei obrigava a este os pedidos, como já foi referido, a áreas superiores a 15ha (7,8ha é inferior, logo foi uma joga-da de mestre).Conseguindo a concessão para 7,8ha, facilmente conse-guem alargamento da área. Agora veio o Governo anun-ciar que, mesmo para 7,8ha, irá ser exigido EIA à empresa que pretende a concessão, o que não deixa de ser outra manobra de contornar o problema: sendo difícil para a empresa realizar um EIA para 403,71ha, facilmente ela-borará um para apenas 7,8ha, pois os impactes serão cla-ramente menores e facilmente contornáveis. Tudo em prol da concessão efectiva, como desde o início é preten-dida pelos decisores e empresas.A partir deste processo, proceder-se-á a obtenção de ter-renos, por compra ou expropriação dos mesmos, aos pro-prietários, por forma a se poder concretizar o contrato de exploração.Acresce que existe um desconhecimento generalizado por parte das populações e também de algumas autoridades locais (nomeadamente juntas de freguesia), do que está a acontecer. No Diário da República existe perto de uma cen-tena de avisos para Licença de prospecção, pesquisa e ex-ploração do Minério em Portugal. A ser concretizado este gigantesco projecto, dele vai decorrer um enorme impac-to ambiental, social e de saúde pública que irá ocorrer no caso específico dos Distritos de Viana do Castelo, Vila Real, Viseu, Guarda e Castelo Branco. Um interior já esquecido, nomeadamente no Norte, pelo corte da linha de comboio, transformada em passadiços, onde podemos ver dezenas de estações de comboio fechadas e outras mais ou menos bem restauradas para outros fins, que não servem as po-pulações. Como referência poderá ver o que se passa neste momento na região do Barroso: Barroso, ou Terras de Barroso são os nomes tradicionais da região formada pelos Concelhos de Montalegre e Boticas, Distrito de Vila Real.

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A nossa investigação: da prospecção que já se faz nesta zona, podem ver-se sacos e sacos de lítio deixados ao aca-so, à mercê de animais e pessoas menos informadas, sem vedação. Em risco estão já as populações dada a contami-nação de pastagens e recursos hídricos, (estando mesmo em perigo a própria barragem dos Pisões - Alto Rabagão). A Mina do Barroso, foi a primeira Mina concessionada pelo Estado à empresa Savannah Lithium, Lda, sediada em Braga e anteriormente, designada por Savannah Re-sources passa a deter os direitos de exploração, tendo ad-quirido a Slipstream Resources Portugal, que por sua vez cria, em 2018, a empresa portuguesa Savannah Lithium Lda para desenvolver o projeto mineiro na região do Bar-roso, website institucional.Esta última, actual detentora do contrato de exploração, foi contactada pela OBSERVA Magazine no sentido de res-ponder a algumas questões. Aqui pode-se consultar as perguntas e as respostas. Como se pode constatar, não foi cumprida a obrigatorie-dade de entrega e avaliação prévia de EIA, que ainda está por entregar – o que claramente revela ilegalidade. Tudo isto se passa sem que a população tivesse sido consultada ou sequer, informada.Nas fotos, acima, vemos o local da prospecção e o local da segunda mina: A Mina do Romano é a segunda Mina concessionada pelo Estado à empresa Lusorecursos Por-

tugal Lithium, Sa, website institucional e que se situa en-tre as aldeias de Morgade, Carvalhais, Rebordelo e Crian-de, constituindo estas a freguesia de Morgade. Trata-se da concessão C-152 no concelho de Boticas nas fregue-sias de Morgade e Sarraquinhos, que engloba uma área de 824 hectares, portanto, uma área muito superior à da mina do Barroso. Podemos ver aqui o contrato. No total, estas 2 concessões totalizam 1348 hectares, ou seja, 1348 campos de futebol. Sabe-se que a extração do lítio como de restantes minérios, como: estanho, cobre, volfrâmio, ouro, prata, terras raras, entre outros, alguns previstos nas prospeções são extremamente poluentes. Alguns dos produtos tóxicos resultantes do processo metalúrgico/químico poderão ser: ácido sulfúrico, cianeto e arsénio, entre outros, ou seja: autênticos venenos. Veja-se por exemplo a Resolução de Ministros Nº 11/2018 de 25 de janeiro de 2018 e respectivo MAPA 1 - Enqua-dramento Geológico e Potencial Mineiro do Lítio. Preocu-pante é também o facto da Lei nº 90/90 - que regulava o processo de atribuição dos Contratos de Prospecção e Exploração Mineira, Servidão Administrativa e Expro-priações - ter sido revogada pela nova Lei Nº 54/2015 - Bases do regime jurídico da revelação e do aproveita-mento dos recursos geológicos existentes no território nacional, incluindo os localizados no espaço marítimo nacional.

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Ana AlvesMina do Romano Ana AlvesMina do Romano

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Ou seja, passou a estender-se a passadeira vermelha para a prospecção e exploração, ao Mar. Também outra Lei que veio muscular, fortemente, a liberdade de acção das em-presas mineiras é a Lei 54/2015, segundo a qual, havendo contrato de prospecção dá-se luz verde ao contrato de ex-ploração. Daqui decorre a enorme urgência em estancar as prospeções. Pelos documentos publicados na DGEG (Dir. Geral de Energia e Geologia), a área dos pedidos de licença para prospecção e pesquisa no Distrito de Viana do Castelo terá sido de cerca de 500 Km2, que, corres-ponde, aproximadamente, a mais de 50.000 campos de futebol. Uma área gigantesca, passando por vários conce-lhos: Viana do Castelo, Ponte de Lima, Caminha, V. Nova de Cerveira, não escapando o Monte de Santa Luzia, costa litoral norte, praias de Carreço a Moledo e o Rio Lima. Transcrevo em parte, o texto que consta na página da APA (Agência Portuguesa do Ambiente): «A Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) é um instrumen-to preventivo da política de ambiente e do ordenamento do território, que permite assegurar que as prováveis conse-quências sobre o ambiente de um determinado projeto de investimento sejam analisadas e tomadas em consideração no seu processo de aprovação. A sua aplicação compreen-de:- A preparação de um Estudo de Impacte Ambiental (EIA), da responsabilidade do proponente; - A condução de um processo administrativo - o processo de AIA propria-mente dito - da responsabilidade do Ministério do Ambien-te, do Ordenamento do Território e Energia (MAOTE) atra-vés das seguintes Autoridades de AIA: Agência Portuguesa de Ambiente (APA) - Autoridade Nacional de AIA; Comis-sões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Este processo, regulado pelo Decreto-Lei n.º Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de Outubro, inclui, obrigatoriamente, uma componente de participação pública, da responsabili-dade de cada uma das Autoridades de AIA, que assume uma particular relevância em todo o processo, constituindo um contributo para a tomada de decisão. Para uma participação ativa e eficaz dos cidadãos é essencial garantir o acesso à informação. A participação e a informação em matéria de

ambiente são condições inerentes à promoção do direito do ambiente, tal como reconhecido pela Constituição da Re-pública Portuguesa e por instrumentos jurídicos interna-cionais, nomeadamente a Convenção de Aarhus… Como ter acesso à informação? O Estudo de Impacte Ambiental ou o RECAPE – Relatório de Conformidade Ambiental do Pro-jeto de Execução com a Declaração de Impacte Ambiental encontram-se disponíveis nas Câmaras Municipais e nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional da área de localização do projeto e na Agência Portuguesa do Ambiente. Encontram-se disponíveis nos sítios da internet das respetivas autoridades de AIA. Quem pode participar? Todos os cidadãos interessados, tal como definidos nas alíneas q) e r) do 151-B/2013, de 31 de Outubro, nomeada-mente: os titulares de direitos subjetivos ou de interesses legalmente protegidos, no âmbito das decisões tomadas no procedimento administrativo de AIA, bem como o públi-co afetado ou suscetível de ser afetado por essa decisão, designadamente as organizações não-governamentais de ambiente (ONGA). Como participar? Os interessados po-derão emitir as suas opiniões, sugestões ou reclamações por escrito e dirigidas ao presidente da Autoridade de AIA competente. Apenas poderão ser contempladas as expo-sições que se relacionem com o projecto em avaliação. Quando participar? A Consulta Pública é aberta por um determinado período, indicado em anúncios afixados nas Câmaras Municipais, CCDR e Juntas de Freguesia abran-gidas pelo projeto e no sítio da internet da autoridade de AIA. Para quê participar? Através deste procedimento pretende-se que sejam tidos em consideração na toma-da de decisão as preocupações manifestadas e os valores envolvidos (sociais, culturais, patrimoniais, económi-cos e ambientais). Estes dois documentos (Relatório de Consulta Pública e Parecer da Comissão de Avaliação) ser-virão de base à Declaração de Impacte Ambiental. A DIA tem caracter vinculativo. Como saber o resultado? A De-claração de Impacte Ambiental ficará disponível na Auto-ridade de AIA». De acordo com algumas pessoas que contactei, os pedi-dos de prospeções também tinham 30 dias úteis para re-clamações e quando se acedia à página do gabinete DGEG

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só passando 40, 60 dias é que se encontrava disponível.Curiosamente, em 12-01-2018, foi aprovado o Aviso Nº 1212/2018 do Município de Viana do Castelo, com vista à proteção e classificação de 8 Monumentos Naturais Lo-cais. Precisamente, 13 dias antes da publicação da Resolu-ção de Ministros Nº 11/2018 de 25 de Janeiro de 2018. Lembro que em Agosto de 2016, ocorreram grandes incên-dios no distrito de Viana do Castelo, onde em várias fregue-sias as populações estiveram em risco de vida e completa-mente cercados pelo fogo. Conspiração nessa ligação ou a realidade a sobrepor-se à ficção? Acresce que a lei que gere os baldios tem muita relevância em todo este processo, sendo publicada em 2017: Lei nº 75/2017 de 17 de Agosto (Regime aplicável aos baldios e aos demais meios de pro-dução comunitários), revogando a anterior Lei nº 68/93). Documentos também muito importantes neste proces-so são o Relatório do Grupo de Trabalho do Lítio, em que praticamente são apenas referidos os aspectos positivos e o Boletim de Minas - Edição Especial Lítio, vol. 52, Lis-boa 2017-2018, publicado em www.dgeg.gov.pt. De realçar nesta publicação, o descrito das páginas 7-47, 80-82 e 84-87. Outros documentos que pode consultar: Portugal-ac-quisition-25.05.17” da empresa SAVANNAH RESOURCES PLC. (sediada em Londres). Nele descreve-se, claramen-te, o projecto “Serra d’Arga”. A Serra d´Arga é um conjunto montanhoso pertencente ao Distrito de Viana do Castelo, na Região do Alto Minho. Administrativamente, abrange os concelhos de Caminha, Ponte de Lima e Viana do Castelo. Este documento é pú-blico, está disponível na internet através de consulta por

“Serra D’Arga Lithium”. Contem detalhes do projecto (aparentemente e ainda de prospeção) como áreas, fotos, mapas, entre outros.

O LÍTIO E AS SUAS ALTERNATIVAS OS PARTIDOS POLÍTICOS E O GOVERNO

Perguntar, se se quer a exploração do lítio no nosso país, não é o mesmo que perguntar se se gosta mais do pai ou da mãe. Mas, é assim que alguns partidos respondem: gosto igualmente dos dois. Não é isso que se pergunta.O que se questiona é: querem a sobrevivência da espécie humana e de outras e apostar em outras soluções no sen-tido de continuarmos a utilizar smarphones, computado-res e carros, ainda que de modo mais adequado? Nathalie Thomas escreveu por estes dias no Financial Ti-mes “ A Agência Internacional de energia de Paris (AIE) descreveu 2019 como um ano de “ impulso sem preceden-tes “ para o hidrogénio, com 50 políticas ou metas intro-duzidas globalmente para apoiar o seu desenvolvimento. Stephan Herbst, gerente geral técnico de hidrogénio na Toyota motor Europa, disse: “ a mudança de jogo-chave é o acordo de Paris [Clima]…existe agora um consenso de que precisamos de descarbonizar os transportes e outros secto-res e precisamos de todas as fontes de energia.”Por outro lado, e para que se entenda a urgência da ex-ploração do lítio, por parte das empresas mineiras, existe quem defenda que as baterias de lítio também têm os dias contados, que durarão apenas uma década, pois as bate-

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Lontra na Serra d’Arga Cavalo Garrano: raça autóctone de Serras d´Arga, Soajo e Gerês

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rias de grafeno e sódio serão prova-velmente as próximas, pode ler-se também no Financial Times. Portan-to, há que capitalizar rapidamente. A BOSCH, por seu turno, diz que será possível os carros antigos (movidos a combustíveis fosseis) adaptarem-se ao novo combustível sintético assim como também toda a linha actual de postos de abastecimento.

AS (NÃO) POSIÇÕES OFICIAIS DOS PARTIDOS

O ALIANÇA não tem uma opinião in-teiramente formada, por enquanto. Luís Cirilo discorda da lei em vigor que prevê que os estudos de impacto ambiental de exploração sejam da res-ponsabilidade das empresas que que-rem concorrer. “É um erro. O que fará sentido é que os estudos de impacto ambiental sejam feitos por entidades independentes”, explica o candidato à Assembleia da República, por Braga, que assume que o Aliança “vai conti-nuar a abordar o assunto para atem-

padamente ter uma posição sobre esta matéria”. Prometidos estão debates com os pós e contra lítio. O BLOCO DE ESQUERDA, faz uma série de pergun-tas ao Governo sobre a prospecção em covas do Barroso e na Serra da Arge-mela, mas não se situa frontalmente contra a exploração do lítio ao nível de todo o território. Trata-se de um partido sem tradição autárquica, pelo que distante das populações do inte-rior e mais citadino. Não respondeu ao mail. O CDS dizia «nim». Parece querer agricultura e desenvolvimen-to. No momento e perante as novas notícias, não respondeu ao mail. O INICIATIVA LIBERAL e o NÓS CIDA-DÃOS também não responderam. O PAN está em diligências, caso a caso. Não tem opinião para todo o territó-rio. Uma abelha em Montalegre é di-ferente de uma abelha no Alentejo? Não se entende, de todo, esta postura no partido das pessoas, dos animais e da natureza. Também não respon-deu ao nosso mail. O PCP quer que seja o Estado a fazer a prospecção no in-

terior do país. O problema reside em quem esburacava e não o quê. Sobre o automóvel eléctrico diz João Ferreira, deputado europeu do PCP: «A socieda-de do automóvel, como nós a conhe-cemos, está condenada a prazo. Daí, a imperiosa necessidade de começar a incrementar, desde já, a utilização de todos os tipos de transporte colectivo - públicos, para que acessíveis a todos - e particularmente os electricamente accionados: comboio, metropolitano pesado e ligeiro, eléctricos rápidos, troleys, etc». Afinal, serve-lhes a ex-ploração, desde que nacionalizada, ou não? Ficamos sem perceber. O PS tem sido uma máquina de produção de legislação feita à medida para ten-tar contornar as alegadas ilegalidades e não respondeu ao nosso mail. A sua posição é amplamente divulgada pelas declarações públicas do Ministro da Economia, do Ministro do Ambiente e transição energética e do Secretario de Estado: lítio em toda a linha. O PSD de Rio, também não respondeu. Estará o PSD conivente com o PS? O eleitorado

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Religiosidade Popular na Serra d’Arga

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ainda não foi informado sobre as ge-ringonças pós-eleitorais. A deputa-da Alto-minhota Liliana Silva afirma que: «Temos de afirmar perante todos os governantes que o território portu-guês pertence aos portugueses… Inva-dir o nosso território com estratégias massivas de destruição do território consubstanciadas na falta de transpa-rência e rigor, jamais aceitaremos!» O LIVRE sempre foi contra a exploração, mas também não respondeu. OS VER-DES têm perguntado ao PM qual a sua posição, o PM não responde no par-lamento, esgota o tempo de resposta e a deputada Eloísa Apolónia não se indigna, senta-se e não reitera a per-gunta, a cada situação. Volta à carga outro dia e continua sem resposta. Ao Ministro da Economia, por mais de uma vez ouvimo-lo afirmar que os re-cursos são para aproveitar, ainda que com resultados do estudo de impacte ambiental. O Ministro do Ambiente fi-cava aborrecido com as perguntas de órgãos de comunicação social, porque nem é ambientalista. Porque não se havia de esburacar o país?

METERAM-NOS NO MEIO DE SARILHOS ENTRE POTÊNCIAS?

(Opinião)

O tema tem merecido crescente aten-ção nas redes sociais. Inspirado pela

última encíclica de Sua Santidade, o Papa Francisco, Laudato Si: Salvemos a Casa Comum, Victor Tavares Morais escreve: «Um inferno sem labaredas. Se acham que os incêndios são o inferno do mundo rural ainda não viram a in-dústria extractivista no seu novo es-plendor. Sobre a dimensão do desastre ambiental e do sarilho geopolítico em que nos metemos com a abertura a um megaprojecto extractivista em Por-tugal, e as razões por que a oposição a este plano é uma atitude profunda-mente ecológica, solidária e de defesa da democracia. A geopolítica é uma brent-science, por inferência uma transport-science na medida que este representa 60% da procura de petróleo. O petróleo é uma commodity muito diversificada, ao contrário do lítio, a OPEC só controla 30% e há no total uma centena de paí-ses produtores, ainda que apenas 20 controlem 80% da produção. Situação diferente acontece com os metais para as baterias de iões de lítio dos veícu-los eléctrico (EV) para além do lítio os metais necessários para a construção dos cátodos são: níquel, manganês e o cobalto (NMC) e são muito poucos os países controlam a sua produção. Ago-ra imaginem o que acontece se a pro-cura mundial de EV subir dos actuais 5 milhões para os 300 em 2040. Mes-

mo com a evolução tecnológica a usar uma menor percentagem de cobalto dos NMC 1:1:1 para os 8:1:1, o forneci-mento deste metal vai ser um enorme risco geopolítico. O cobalto (um mer-cado de $9 biliões) é normalmente um subproduto da exploração do cobre e do níquel e é dominada pelo Congo com 64% da produção mundial em 2017, estima-se que em 2025 atinga os 80%, um país em guerra perpétua o cobalto representa 1/6 do PIB. O níquel (um mercado de $30 biliões) é domi-nado pela Indonésia e Filipinas com aproximadamente 1/5 do mercado cada, sendo a lista de países produto-res constituída por mais de 30 países, apesar de investimentos já planeados, a produção é hoje considerada defi-citária. O lítio (um mercado actual de $3.2 biliões), aquele que nos interes-sa, com a procura estimada a saltar da produção actual de 240kt para umas estratosféricas 1700 kt em 2040, vem colocar Portugal no radar, junto com a Austrália e os países do “triângulo do lítio” (Bolívia, Argentina e Chile). O lítio tem um price-maker mundial, a China, não pelo domínio da quota de produção, mas pelo domínio da tecno-logia de conversão química dos con-centrados de lítio – evidência: os pri-meiros derivados das minas operadas pela Savannah em Portugal têm como destino a China.

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Aqui chegados, estamos metidos ou meteram-nos num grande sarilho, no meio de uma colisão de placas tectóni-cas, uma luta de potências pelo domínio da cadeia de for-necimentos destes minerais, críticos para a indústria au-tomóvel.O que é necessário para que os investidores se interessem e Portugal ganhe relevo na fileira industrial do lítio? Um pro-jecto extractivista com dimensões tais que terá um impacto ambiental colossal!»

«Na serra d´Arga há valores ambientais importantes e com uma presença humana que se pretende preservar», arqui-tecto Paulo Ricca. No livro: «A Casa Grande de Romarigães», Aquilino Ribei-ro escreve sobre a mesma serra: “as pessoas que não têm filhos conseguirão procriar se andarem pela serra, porque aquela montanha sagrada é fértil”. Pode ler-se no grupo do Movimento Anti Lítio de Braga, que já reúne mais de 1000 pessoas foi recebido pelo Pre-sidente da Câmara Municipal de Braga, Dr. Ricardo Rio. «Este ouviu as nossas preocupações e informou da posição do município contra a atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos de minerais na área definida como

Cruto, que abrange os concelhos de Braga, Barcelos e Vila Verde. Esta posição foi comunicada pela CMB à Direção Ge-ral de Energia e Geologia, sendo o parecer negativo funda-mentado com vários pontos: - A importante ocupação do Concelho de Braga pela área de prospeção proposta, abrangendo os centros urbanos das Uniões de Freguesias de Maximinos, Sé e Cividade, Ferreiros e Gondizalves, Lomar, Real, Dume e Semelhe, Frossos e Merelim S. Pedro, Merelim S. Paio, Panoias e Mire de Tibães, Cabreiros e Passos S. Julião, Padim da Graça, Parada de Tibães, e Sequeira, cujo polígono afeta diretamente cerca de 60.000 bracarenses e, indiretamen-te, 200.000 residentes; - A sobreposição da área proposta de prospeção a impor-tantes recursos naturais e agrícolas, reserva ecológica na-cional, áreas de proteção de património classificado e áreas com potencial turístico elevado; - A descaracterização e desvalorização do aglomerado urbano envolvido, patrimó-nio classificado e inventariado, nomeadamente o Mosteiro de Tibães, rio Cávado, entre outros; - O desrespeito pelos princípios do desenvolvimento sustentável, de modo inte-grado, nas vertentes económica, social, urbanística cultu-ral, patrimonial, paisagística e ambiental».

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‘A Scrophularia Bourgaeana é uma raridade que existe em Arga de Cima (Caminha) e uma das inúmeras espécies ameaçadas pela futura exploração de Lítio na Serra d’Arga.’Gonçalo Sampaio e Melo

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Entre outros. Pode ler-se no grupo do Movimento SOS Ser-ra d’Arga: «Manifestámos no IPVC, em Viana do Castelo, para dizer ao Sr. Ministro do Ambiente que não aceitamos minas de lítio ou outros minerais na Serra d’Arga... A con-vite do seu assessor, tivemos uma reunião com João Pedro Matos Fernandes. Nesse encontro, percebemos que a serra não está fora de perigo. Apenas a zona protegida pela Rede Natura 2000….… Ainda que sejam feitos os melhores estudos de impacte ambiental, não aceitaremos expropriações, desvaloriza-ções de terrenos, destruição de habitats, degradação da paisagem, extinção de espécies protegidas.Ninguém, nem mesmo o Sr. Ministro, nos pode garantir boas práticas da parte das empresas mineiras». Na Serra D’Arga, as maiores concentrações de lítio estão localiza-das fora da área protegida, que é o maciço central graní-tico. Para além da área brutal da mina, é necessário contar com as áreas circundantes, que o Governo poderá ceder às empresas de mineração, aumentando e diversificando as-sim o tipo de impactes expectáveis. Foi também explicado pela Geóloga, Teresa Fontão que «o minério de lítio é en-contrado na rocha em percentagens muito baixas, cerca de 1%, o que a leva a questionar: o que acontecerá a tudo o resto que for encontrado? Qual será o destino dado aos res-tantes 99% de toneladas e toneladas de rocha encaixante? Temos ainda como agravante o facto de as zonas, onde este mineral, ocorre estarem afastadas entre si».Foi também passada a informação de que, no momento, existe fora de Portugal (em meios relacionados com os negócios da indústria de extracção mineral), a convicção de que o nosso país está aberto à exploração do lítio e que não haverá contestação popular.Os representantes da associação COREMA relataram ainda que rio Coura tem presentemente problemas com focos de poluição activos em Covas, Vila Nova de Cerveira, desde o início da entrada das minas de volfrâmio ou tungsténio, al-tura em que as minas subterrâneas começaram. Esses pro-blemas subsistiram mesmo depois de fecharem a actividade

em 1984, altura em que por envenenamento foi intentada uma acção judicial contra a empresa mineira, que resultou numa condenação e indemnização, em sede de julgamento. Este foi o primeiro julgamento do qual resultou uma con-denação por envenenamento do Ambiente. Assim, as mi-nas foram encerradas, sendo alegado pela empresa que a cotação do tungsténio tinha descido, sendo abandonadas em 1999. Houve uma intervenção, em 2005, mas, a água contaminada ainda corre 24 horas por dia para o Rio Cou-ra e consequentemente para o Rio Minho e por fim para o oceano. Membros desta associação deslocaram-se recen-temente às zonas de prospecção no concelho de Boticas e descreveram já impactes significativos nos locais ao nível paisagístico como por exemplo, a existência de mais de 200 plataformas para a fazer furos nos terrenos. (Outros residentes atestam a seca de 3 nascentes). Foram também levantadas preocupações sobre o impacte que as perfura-ções realizadas nas prospecções podem causar ao nível dos lençóis freáticos que encontram.

Foi chamado à atenção por um membro da audiência que…. todas as câmaras emitiram um parecer negativo à exploração de lítio nos seus concelhos, excepção feita apenas à Câmara de Viana do Castelo».

Os geólogos pró-lítio apontam o lucro e o potencial como argumentos, e desvalorizam os exemplos que já existem de exploração de lítio no Mundo ou louvam-nos. Com-param as minas de lítio às pedreiras, (como se fossem comparáveis, nos seus impactos e dimensões). Também alegam que prospeção não é exploração. Mas, se as popu-lações não desejam a exploração, para quê fazer a pros-pecção, com passaporte para a exploração?

«Portugal é o único país na Europa com recursos de lítio importantes». É esse o argumento que o nosso Governo avança para justificar que temos o “DEVER” de explorar o nosso potencial para abastecer a Europa em lítio. Isso é

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mais uma grande inverdade. Diz-nos a USGS (Agência científica do governo dos Estados Unidos): “… os recursos de lítio aumentaram substancialmente em todo o mundo e totalizam cerca de 62 milhões de toneladas. Os recursos de lítio identificados na Argentina são 14,8 milhões de tonela-das; Bolívia, 9 milhões de toneladas; Chile, 8,5 milhões de toneladas; Austrália, 7,7 milhões de toneladas; China, 4,5 milhões de toneladas; … Peru e Portugal, 130.000 toneladas cada… ``.

SENDO ASSIM, QUEM DEFENDE O NOSSO PAÍS?

Existindo vários países europeus com recursos de lítio muito superiores aos de Portugal, que é a 6ª reserva na Europa, questiono: porque será que apenas Portugal quer esventrar o seu território com dezenas de minas a céu aberto? Porque a legislação base é antiga, dos anos 90 e as actualizações que estão a introduzir são ainda mais atrac-tivas às concessões. Como se não bastasse, acresce a essa legislação, uma nova que ainda é mais facilitadora, abrin-do as portas do nosso país à destruição massiva. Nestas e em outras zonas do interior Centro e Norte de Portugal não será imperativo e democrático respeitar a vontade que a população mostra em viver nas suas terras? Salvar as espécies? Atrair os jovens que partiram? Muitos (en-tre eles lusodescendentes) regressaram e confrontam-se agora com a perda de projectos de ecoturismo, agricultura e outros. A Serra da Estrela é uma das Serras apontada ao esventrar da sua natureza, local para onde está prevista uma grande manifestação no próximo dia 24.Nenhum dinheiro paga a mudança forçada da escolha que se fez por um modo de estar na vida. Nenhum dinheiro paga a morte de um sonho, concretizado com o esforço de estar onde não se pertence, no sentido de um dia voar ao

encontro das nossas raízes e da terra.Se este medonho projecto tiver continuidade, apesar da acção crescente entre as populações, que se prepa-ram para subir o tom da sua contestação, o Governo e os partidos, (até agora ausentes em assumir posições) – irremediavelmente – irão ficar ligados a 10 anos de desenvolvimento medíocre e a séculos de uma natureza irremediavelmente destruída. Prevejo essa a sua herança política. Uma herança nunca, antes, registada em Portu-gal.As populações sentem -se indignadas com a ausência de quem os represente na luta, quer por parte das institui-ções nacionais, quer por parte das instituições europeias e mesmo mundiais, nomeadamente pelas ONGs.Não menos importante é a posição dos autarcas de todas estas regiões, que apesar de se puderem encantar com promessas de lucros, vão alegadamente e com certeza ficar na memória de tantas gerações como destruidores e traidores ou como heróis defensores das suas gentes, (queiram eles). Muitos autarcas têm sido os autarcas que se posicionam em defesa das suas populações, como é o caso do autarca de Caminha, (PS) que remata o seu pare-cer negativo, relativo à mina com o desabafo: «A minha preocupação é a salvaguarda do património. É que, para nós, outros valores são valores hierarquicamente infe-riores».Nos termos do Artº. 3° Alínea e) do Estatuto do Ministério Público é da competência do mesmo “assumir, nos casos previstos na lei, a defesa dos interesses colectivos e difu-sos”, nos quais se inclui o Direito do Ambiente.

GRANDE TEMAE T U D O O L Í T I O L E V O U ?

Madalena Pires de [email protected]

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

Agradecimentos: Associação COREMA, Savannah Lithium, Lda, Grupo Lisboa contra as Minas, Maria Carmo Mendes, Montalegre Com Vida - Associação de Defesa Ambiental, Movimento SOS Serra d’Arga, Movimento Anti Lítio de Braga, Movimento Contra Mineração na Beira Alta e na Beira Inte-rior, Regina Pereira, Teresa Fontão e Victor Tavares Moreira.

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M I G R AÇ Õ E SV E N H A PA R A P O RT U G A L !

A F O R B E S C O N C O R D A E A E I ! A J U D A

Portugal volta a estar nas bocas de todo o mundo, meio milénio depois da época imperial. Há 500 anos, foi a nossa temeridade, as nossas técnicas de navegação e constru-ção naval, o espírito aventureiro e o mapear do globo que abriram as portas para novos comércios e trocas inter-culturais. A fama que Portugal tem tido no decorrer dos últimos anos, é devida a diversos fatores, nomeadamente o turismo, a nossa gastronomia rica e apetitosa, a segu-rança das cidades, a facilidade em viajar pelo país, o vasto património histórico e cultural, os preços acessíveis e a ampla oferta de atividades e passeios turísticos. Estes são apenas alguns exemplos, daquilo que faz de Portugal, um dos países favoritos da Europa a ser visitado.Contudo, a esta realidade, acresce-se a procura por Por-

tugal como destino para investir e criar novas raízes. A Ei! Assessoria Migratória existe há quase cinco anos e, estan-do na vanguarda de centenas de processos de regulariza-ção de estrangeiros em Portugal, conseguiu perceber que, especialmente nos últimos dois anos e meio, a fama do nosso país lá fora tem ganho novos contornos, nomeada-mente no que tange ao investimento nas áreas das Tecno-logias da Informação.A mais famosa revista norte-americana de economia, investimento e negócios, Forbes, recentemente, colocou Portugal entre um dos melhores países para investir e re-sidir. Kathleen Peddicord, autora deste artigo, enuncia al-gumas destas características, nomeadamente que “basta investir em Portugal para receber em troca o visto de resi-

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dência e, eventualmente mais tarde, a cidadania do país”. Mais especificamente Peddicord explica que “fazendo uma doação para alguma investigação científica ou para a arte e cultura portuguesas, investindo ou iniciando um negócio e criando empregos, ou fazendo uma compra de imóveis” são algumas das formas de investimento que permitem a concessão dos vulgarmente designados Vistos Gold que concedem autorização de residência em Portugal, que permite a livre circulação no espaço Schengen.Ademais, este artigo da Forbes menciona um dado muito importante que está relacionado com a redução no tempo mínimo que é necessário permanecer em Portugal para se poder pedir a cidadania portuguesa. Recentemente, pas-sou de 6 para 5 anos, fator que é bastante apreciado pelos vários cidadãos estrangeiros que veem em Portugal uma entrada para o resto do continente europeu.Por último, no seu artigo, Peddicord refere ainda o Estatu-to de Residente Não-Habitual como um dos motivos pelos quais Portugal se destaca no ranking de melhores países para obter residência, partilhado com Espanha, Montene-gro, Malta, Letónia, Grécia e Chipre. Este estatuto repre-senta uma redução ou mesmo isenção de impostos sobre os rendimentos auferidos no país de origem desde que al-terem a sua morada fiscal em Portugal.

É importante ter em conta os aspetos emocionais, pro-vavelmente menos tangíveis, que atraem tantas famílias, diariamente, para o nosso país. Factos como o estarmos no Top dos cinco países mais seguros do mundo, termos sido eleitos o melhor destino sustentável da Europa e por crescermos como país de referência no setor da educação, investigação, ciência e Tecnologias de Informação. Afinal de contas é com as emoções que lidamos diariamente na Ei! e que nos motivam a cumprir a nossa missão.Mas, reconhecemos que são igualmente importantes estes aspetos mais práticos e com uma vertente mais económi-co-financeira, virada para os empreendimentos e apostas nos setores culturais e artísticos, no mercado imobiliário e no desenvolvimento de negócios que criem emprego. A nossa Lei dos Estrangeiros, face às revisões que possam ser feitas à realidade migratória atual, é bastante flexível em comparação à de outros países da Europa. Inclusiva-mente, começa a facilitar os processos e burocracias não só para quem traz capital para o país, como para certos profissionais com competências e conhecimentos dos quais temos escassez tendo em conta a oferta existente, nomeadamente, no sector das Tecnologias de Informação e Comunicação. Portugal é sem dúvida uma jóia de país escondido à vista de todos!

Gilda PereiraSócia fundadora da Ei! Assessoria migratória

[email protected]

Fonte: http://bit.ly/Forbes-Observa

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E C O M E R C I A I S E N T R E A C H I N A E O S PA Í S E S D E L Í N G U A P O RT U G U E S A

No período compreendido entre 12 e 14 de outubro de 2003, por iniciativa do Governo Popular Central da República Po-pular da China foi realizado pelo Governo da Região Admi-nistrativa Especial de Macau, o 1º Fórum para a Cooperação Económica e Comercial. O Fórum de Macau, que promoveu a aproximação entre a China e os países de língua portuguesa, visou sobretudo reforçar a cooperação económica e comer-cial entre a China e os Países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste e São Tome e Príncipe. Este último país, ape-nas aderiu ao Fórum de Macau em 2017. No decorreu deste fórum também se elaborou um plano de ação, no sentido de se estreitar e consolidar a cooperação económica e comercial. O Fórum ofereceu a Macau o papel de plataforma de liga-ção entre a China e os Países lusófonos, na promoção do de-senvolvimento comum. Foi com o maior dos gostos que fui nomeada pelo Governo da Região Administrativa Especial de

Macau, Coordenadora do Gabinete de Apoio à Organização do Fórum, tendo oportunidade de fornecer apoio aos empresá-rios da China e dos outros países, no âmbito da atribuição de bolsas de contactos e encontros, proporcionando oportuni-dades de negócio. Os Ministros presentes neste Fórum consideraram que os mesmos contribuíram positivamente para o desenvolvi-mento das relações económicas, comerciais e de investi-mento entre os países participantes e reconheceram o papel que a plataforma Macau poderá desempenhar no aprofun-damento dos laços económicos entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Com este estímulo, foi criado, em 2004, o Secretariado Permanente do Fórum de Macau, procedendo-se à nomeação dos delegados de Angola, Brasil, Cabo Verde, China, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste. Em 2017, foram nomeados os delegados de São Tomé e Prín-cipe. Na reunião do Secretariado Permanente, datada de 30

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E C O M E R C I A I S E N T R E A C H I N A E O S PA Í S E S D E L Í N G U A P O RT U G U E S A

de julho de 2010, foi anunciada a designação, pelo Governo da RAEM, da signatária como Secretária-Geral Adjunta na estrutura orgânica do mesmo.Como coordenadora do Gabinete de Apoio depositei um grande esforço na realização das várias conferência Ministe-riais.: 1ª Conferência Ministerial (com a presença da Vice Pri-meira-Ministra, Wu Yi), em Outubro de 2003; 2ª Conferência Ministerial (com a presença do Conselheiro de Estado, Hua Jianmin), em Setembro de 2006; 3ª Conferência Ministerial (com a presença do Primeiro-Ministro, Wen Jiabao), em No-vembro de 2010 e 4ª Conferência Ministerial (com a presença do Vice Primeiro-Ministro, Wang Yang), em Novembro de 2013. Todas foram coroadas de pleno êxito, contando com a presença de Presidentes, Vice-presidentes e Ministros dos Países de Língua Portuguesa. De Portugal, e em todas as Conferências Ministeriais esti-veram presentes representantes do Governo e delegações empresariais. A última Conferência Ministerial, também foi realizada na Região Administrativa Especial de Macau com a

presença do Primeiro Ministro da China Li Keqian e os diri-gentes dos 8 Países de Língua Portuguesa. Na 5ª Conferência Ministerial foram aprovados Planos de Ac-ção para a Cooperação Económica e Comercial que definiram objectivos e conteúdo para a cooperação nas seguintes áreas: cooperação intergovernamental, comércio, investimento e cooperação empresarial, capacidade produtiva, agricultura, floresta, pesca e pecuária, infra-estruturas, energia e recur-sos naturais, educação e recursos humanos, área financeira, cooperação para o desenvolvimento, turismo, transportes e comunicações, cultura, rádio, cinema e televisão, desporto, saúde, domínio do mar, cooperação entre províncias e muni-cípios, bem como o papel de Macau como plataforma. Na 5ª Conferência Ministerial foi assinado o “Memorando de Entendimento sobre a Promoção da Cooperação da Ca-pacidade Produtiva do Fórum de Macau”, permitindo assim a criação de um novo modelo de cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa que, sob o meu ponto de vis-ta, Portugal poderá potenciar melhor, dada a sua capacidade

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nesses âmbitos, especialmente, na implementação de novas tecnologias. Na qualidade de Secretária Geral Adjunta do Fórum de Ma-cau (em representação do Governo da RAEM) e durante os 12 anos ao serviço da China e dos Países de Língua Portuguesa, trabalhei de forma a poder concretizar o papel da plataforma de Macau, no sentido de manter as estreitas relações de ami-zade e de cooperação económica e comercial com os merca-dos dos países onde o português é a língua oficial.Em 2008, por proposta da China e dos Países de Língua Por-tuguesa tive o prazer de organizar conjuntamente com os de-legados desses países, representantes do Governo da China e dos Serviços públicos de Macau, a Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa. Nela participaram grupos artísticos e artistas populares. Foram realizadas exposições de pintura, fotografia e escultura. Foram, também, realizadas outras actividades, nomeadamente espectáculos, apresenta-ções da gastronomia e artesanato de cada país. Para além da Semana Cultural, foi também organizado pelo Governo de Macau o “Festival da Lusofonia”, no qual tive a oportunida-de de colaborar como Directora Municipal, que apresentou o

“Desfile por Macau, Cidade Latina”, entre outras actividades, que contribuíram para enriquecer ainda mais as característi-cas culturais sino-lusófonas de Macau.O Governo da Região Administrativa Especial de Macau tem, também, levado a cabo esforços no sentido de manter rela-ções estreitas com a União Europeia e países latinos, devido às afinidades históricas em diversas áreas, nomeadamente: economia, cultura, área social e Direito. Assim, em fevereiro de 2016, fui nomeada Secretária-Geral do Fórum de Coope-ração para o Desenvolvimento China-Lusofonia-Ibero-A-mérica-Caribe, uma iniciativa não governamental, que rea-lizou um evento em Lisboa, resultando com imenso sucesso. Estiveram presentes representantes diplomáticos e empre-sários de todos os países participantes do referido Fórum. Macau e os Países de Língua Portuguesa mantêm estreitas relações seculares históricas e culturais, têm um sistema administrativo e legal que bebem da mesma matriz e Macau partilha ainda com os Países de Língua Portuguesa a língua portuguesa consagrada, na RAEM, por um sistema oficial de bilinguismo em chinês e português.

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Rita Botelho dos Santos (Macau)Presidente do Conselho Regional da Ásia e Oceânia das Comunidades Portuguesas

Presentemente, os Conselheiros das Comunidades das Co-munidades Portuguesas do Círculo da China, Macau e Hong Kong têm estado a incentivar os empresários da China e de Macau no sentido de investir em Portugal em diversas áreas como o imobiliário, adegas e outros e também têm promovi-do o intercâmbio nos âmbitos da cultura, educação e despor-to. Encontramo-nos, adicionalmente, a promover os produ-tos alimentares de Portugal, do Brasil e de Moçambique no mercado da China, recorrendo aos empresários de Macau que fazem trocas comerciais entre a Macau e os referidos países de língua portuguesa.O Governo da Região Administrativa Especial de Macau tem apoiado as empresas na procura de parceiros do Interior da China e dos Países de Língua Portuguesa (através dos di-versos serviços públicos de Macau), disponibilizando infor-mações, com o apoio das comunidades, as associações e as câmaras comerciais com ligações aos Países de Língua Por-tuguesa e com sede em Macau. Também dá apoio às peque-nas e médias empresas de Macau, bem como às empresas dos Países de Língua Portuguesa e do Interior da China, na realização de actividades económicas, comerciais e culturais

nomeadamente, exposições e feiras de produtos dos países lusófonos. Finalmente são promovidas bolsas de contacto e intercâmbio cultural entre os artistas da China e os dos Países de Língua Portuguesa. Por fim gostaria de salientar que Portugal pode potenciar mais o papel de plataforma de Macau, dado que os residen-tes de Macau têm profundos conhecimentos sobre as tradi-ções e cultura do Interior da China que poderão contribuir para estreitamento das relações económicas e comerciais entre a China e Portugal. Os Conselheiros das Comunidades Portuguesas do Círculo da China, Macau e Hong Kong estão dispostos a prestar serviços aos empresários portugueses que queiram utilizar o papel de plataforma de Macau para iniciar ou aprofundar as relações económicas, reforçando as próprias vantagens de Macau, no papel que assume de pla-taforma e ponte de ligação entre todos. No nosso site, pode consultar as Oito Novas Medidas anunciadas pelo Governo Chinês, na Cerimónia de Abertura da 4ª Conferência Minis-terial do Fórum de Macau, e que têm como objectivo, apoiar o desenvolvimento económico e social dos países Participantes de África e da Ásia no Fórum de Macau.

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Empresário, de nacionalidadeportuguesa e residente em Angola. Marido, pai e avô. Paulo David Pereira, CEO da Empresa de Manutenção e Montagem de Elevadores (EMME) em Angola, convida-nos a conhecer as motivações empresariais e elos emocionais que não só o mantiveram num país em guerra bem como o levaram a investir e construir o seu negócio.

Um dos fundadores da Escola Portuguesa de Luanda, este empresário encoraja o investimento neste país, ao qual reconhece um enorme potencial em diversas áreas, nomeadamente, o turismo, a agricultura e as “energias limpas”.

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OM: O que o manteve em Angola após a independência?

PP: A história começa quando no auge da chamada ponte aérea visitei Por-tugal e, não me consegui entender e entrosar com o ambiente que então se vivia. De norte a sul tudo me era es-tranho e estranhamente provisório. O assentamento mais que provisó-rio das famílias e o futuro demasiado incerto, os aglomerados de pessoas e bens nos portos e aeroportos e, tam-bém uma certa animosidade para com os que chegavam impelidos pe-las situações de guerra criadas pelos que nunca tinham saído, mas tinham criado tal situação. Assim, tudo visto e ponderado, decidi que ficaria onde havia já muitos anos, tinha assentado arraiais, uma vez que a primeira vez que fui à escola já foi em Luanda. Em

vez de um salto no escuro, preferi o conforto do meu lar.

OM: O que o levou a empreender num país em plena guerra civil?

PP: Sobretudo as oportunidades. É verdade que o país estava em guer-ra e por isso havia pouca gente “que fizesse”, e o país necessitava que al-guém fizesse. As oportunidades es-tavam ali à espera de serem aprovei-tadas e, apesar do sistema político na teoria não o permitir, empreender a título individual ou mesmo com uma pequena empresa sempre foi possível. Neste campo como em outros, dado que havia pouca gente e pouca gente se predispunha a vir trabalhar para um país em guerra, as oportunidades floresceram. Lembro-me de ter sido o mentor da primeira obra de constru-

ção civil executada por uma empresa portuguesa, logo após a independên-cia (um pavilhão escolar de 1500 m2, na cidade do Sumbe, 330 km a sul de Luanda) ainda antes das grandes em-presas portuguesas do sector terem dado início à sua atividade. A rele-vância foi tal que o recém-nomeado e primeiro adido comercial da Embai-xada de Portugal fez questão de visi-tar a obra deslocando-se ao Sumbe.

OM: Quais foram os principais de-safios que enfrentou no começo? E quais enfrenta hoje?

PP: Os desafios foram múltiplos e va-riados pois, num país em guerra falta de tudo um pouco, a começar pelos recursos humanos: estes seguramen-te a maior carência para a atividade económica uma vez que todos os re-

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cursos estavam alocados à situação prevalecente no país, a guerra. Hoje os desafios são outros e de outra or-dem: como enfrentar a crise econó-mica? Bom, o princípio que adotei desde sempre é a completa indepen-dência em relação aos Bancos. Acres-ce a isto a necessária dose de perse-verança e know-how para bem servir o cliente. Ao contrário de outros nun-ca foi meu princípio de vida desertar nos momentos difíceis e complicados. Quando a concorrência deserta, fica mais espaço para quem permanece.

OM: Que impacto teve na sua vida fa-miliar ser um empresário num outro país?

PP: A questão, para mim, não se põe. Como já acima referi, a primeira vez que fui à escola foi em Luanda e, na

mesma sequência, a primeira vez que fiz um negócio foi em Angola. Estava na Universidade quando comecei a ti-rar apontamentos das aulas de análise matemática e cálculo diferencial que pedia aos professores para corrigir e, depois reproduzia-os em máqui-na de stencil e vendia-os aos colegas. Igualmente a vida familiar começou em Angola e ainda por cá se mantêm. Portanto nunca fui empresário “em outro país” nomeadamente no país onde acidentalmente nasci.

OM: O que poderia motivar outros portugueses a investir em Angola?

PP: O motivo principal é sem dúvida o manancial de oportunidades e as es-pecificidades do mercado. É possível fazer uma empresa, trabalhar e viver com qualidade em Angola em especial

se não se medirem os padrões de com-portamento, leia-se a maneira de fa-zer negócios, pela mesma bitola nem se tentar replicar padrões e modos de atuação que ficaram para trás e, mos-traram não serem os mais adequados porque provaram não resultar. Tais padrões levam muitos portugueses a procurar modo de vida fora e, seja onde for têm sempre de se adaptar ao meio onde se estabeleceram. Em An-gola, não pode ser de modo diferente.

OM: Quais os negócios que poderiam ser um diferencial para esse país?

PP: Para mim creio que o agro-negó-cio, o turismo e as energias limpas são negócios que podem fazer a diferença. Angola tem imensas terras agricultá-veis que podem alimentar toda a sua população e exportar o excedente, de resto como já aconteceu no passado. E, é factual que existe atualmente um défice na produção de alimentos que podem ser “arrancados” à terra. Outra área que pode vir a ser muito valiosa é o turismo já que Angola tem paragens e paisagens de uma beleza sui generis. O atual Governo está a dar uma grande ênfase ao turismo pois é reconheci-damente um setor que pode relançar rapidamente, o país na senda do pro-gresso e bem-estar, uma vez que esta atividade “arrasta” outras tais como a hotelaria, a gastronomia (restau-ração), a construção civil e também as obras públicas (estradas, pontes, túneis, etc.). As energias limpas en-contram aqui também abundância das fontes primárias, água e sol e são de momento praticamente inexisten-tes porque nunca foram “cultivadas”. Existe uma cultura do gerador, (diesel ou gasolina) que foi adotada para a re-solução de todas as situações que ne-cessitam de energia e aonde não chega a energia da rede.

OM: Algumas dicas importantes para quem quer investir em Angola.

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PP: Em primeiro lugar, é preciso “mente aberta” e perceber que estamos do outro lado do mundo. As “coisas” não se passam exatamente da mes-ma maneira e, há comprovadamente maneiras diferentes, quiçá melhores, de resolver situações. Outra questão importante é o prazo que se quer para o retorno do investimento. O caminho do êxi-to aponta para um mínimo de 5 anos para o início da geração de lucro. É também muito útil perce-ber, entender e lidar bem com o fenómeno da in-flação e, sobretudo, tentar perceber como é que há vizinhos a sul de Angola que são países de êxito. Muitos dos recém-chegados, nunca ouviram fa-lar de tais países precisamente porque os êxitos e sucessos não fazem notícia. No entanto, um olhar atento quando se vai ao supermercado pode fazer perceber que há por perto outros valores. Em resu-mo, olhar para Sul e tentar perceber como se criam países de êxito sem riquezas exuberantes “à vista desarmada”.

OM: Pretende voltar para Portugal algum dia?

PP: Não. Como alguém muito próximo já me fez notar, tudo o que não seja uma savana a perder de vista, uma paisagem desértico-lunar, uma flores-ta virgem ou uma praia imensa e “desocupada” não preenche a minha área de conforto. Por ou-tro lado, as “referências” estão quase, quase to-das aqui. Um pouco mais a sul ou um pouco mais a norte o meu dia a dia vai ser pela África Austral.

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C U R I O S I DA D E S DA L Í N G U A P O RT U G U E S AA Q U I L I N O R I B E I R O / Q U A N D O O S LO B O S U I VA M

Aquilino Ribeiro nasceu a 13 de setembro de 1885, na fre-guesia de Carregal de Tabosa, Concelho de Sernancelhe, Distrito de Viseu. Este “obreiro das letras” trabalhou até à sua morte, a 27 de maio de 1963, em Lisboa, pouco depois da cidade do Porto lhe prestar tributo pelos seus 50 anos de trabalho romancista e ficcionista.Foi um escritor português, atualmente, desvalorizado e longe das prateleiras das livrarias pela ausência da rura-lidade no imaginário português, cada vez mais urbano. Será mesmo assim?Aquilino foi dos escritores mais empenhados cívica e po-liticamente, na primeira metade séc XX. Pode dizer -se que foi um grande criador de personagens contestatárias

e desafiantes dos autoritarismos do sistema estabelecidos. São exemplos o campesino beirão, o pequeno-burguês de província, o cosmopolita, o idealista, o obcecado, o asceta, o sibarita, a mulher tentadora e a virgem solícita e dispo-nível.Aquilino Ribeiro: um exímio descritor da Natureza, cená-rio predileto dos seus livros.Depois de passar por alguns seminários, onde estudou Filosofia e de onde foi expulso, chega a Lisboa em 1906. Na capital, reparte a escrita com artigos de opinião publi-cados em jornais como A Vanguarda, jornal republicano e com a redação, em parceria com José Ferreira da Silva, do folhetim. Publica «A Filha do Jardineiro», uma ficção de

“Para nós serranos, é sempre opressão, ainda que se não proteste, ainda que não saibamos exprimi-la. Nós somos bárbaros, mas bárbaros sem trela. Temos muito dos lobos que, mesmo nas selvas plantadas a cordel, não aprenderam a moderar os instintos da sua braveza.”

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propaganda republicana e de crítica corrosiva às figuras do regime monárquico, a primeira das quais, D. Carlos. A seguir, é perseguido, preso e escapa à cadeia rumando a Paris. Na capital francesa, inscreve-se no curso de Filo-sofia da Sorbonne, onde contacta com a intelectualidade portuguesa que, também por motivos políticos, se via for-çada a viver fora de Portugal.Também em Paris, conhece Grete Tiedemann, sua primei-ra mulher e mãe do filho mais velho. Com a guerra mun-dial, é forçado a voltar a Portugal em 1914. Deixa, assim, o seu curso e matriculado no 4º ano.Já em Portugal, faz escrita ficcional e cronística para a im-prensa periódica (uma atividade que desenvolverá com regularidade ao longo da vida), acumulando com o traba-lho de professor no Liceu Camões, onde fica durante três anos, e, posteriormente, com o cargo de segundo bibliote-cário na Biblioteca Nacional. Continua a desenvolver uma atividade cívica que vai ter a sua expressão mais visível na revista Seara Nova.Participa, em 1927, na revolta frustrada contra a ditadura militar, que se seguiu ao golpe de 28 de maio de 1926, e vê-se obrigado a refugiar-se em Paris. De regresso a Portugal, volta a participar numa ação antirregime (movimento do regimento de Pinhel) Volta a ser preso e volta a fugir para as serras beirãs e de novo vai até Paris. Estas experiên-cias de ativista político, podemos apreciá-las no enredo, por exemplo, de «O Arcanjo Negro», (escrito em 1939-40,

mas - devido a problemas com a censura - publicado ape-nas em 1947) ou de «O Homem que Matou o Diabo». O exílio termina em 1932, ano em que regressa - ainda que clandestinamente - a Portugal. Entretanto casa - pela se-gunda vez e viúvo - com Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado, o Presidente da República depos-to por Sidónio Pais. O único filho do casal nasce em 1930. Também em 1932, é amnistiado e a sua vida acalma de forma a conseguir regressar à sua escrita. Ficaram lendá-rias as suas idas ao Chiado, ao fim da tarde, para tertúlias à porta da Bertrand, sua editora. Não se auto espartilhou em correntes literárias do seu tempo, conferindo à língua portuguesa uma nova elasticidade de vivências quer po-pulares, quer eruditas. Também não abdicou da consciên-cia política e cívica que se refletiu em ações críticas à dita-dura salazarista. Aderiu ao MUD (Movimento de Unidade Democrática). Apoiou a campanha presidencial de Norton de Matos, integrou a Comissão Promotora do Voto e mili-tou na candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, em 1958. Em 1956 criou - em conjunto com outros contemporâ-neos - a Sociedade Portuguesa de Escritores, de que foi fundador e presidente.A apresentação da sua candidatura ao prémio Nobel foi proposta por Francisco Vieira de Almeida e subscrita por José Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Urbano Tava-res Rodrigues, José Gomes Ferreira, Maria Judite de Car-

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valho, Joel Serrão, Mário Soares, Vitorino Nemésio, Abel Manta, Alves Redol, Luísa Dacosta, Vergílio Ferreira e ou-tros. Em sua defesa e à sua volta, aglutina-se um grande grupo de intelectuais depois da publicação do romance Quando os Lobos Uivam, em 1958, (considerado pelo regime como injurioso do poder instituído), sujeitando-se o Escritor a um processo crime.Para além da defesa formal, intentada por advogado, Aquilino tem o apoio de cerca de 300 intelectuais portu-gueses que se agregam num abaixo-assinado solicitan-do o arquivamento do processo. Também alguns fora de Portugal, assinam uma petição em defesa de Aquilino, assinada, nomeadamente, publicada em vários jornais e revistas franceses. O processo acaba arquivado cerca de vinte meses depois da sua instauração, em resultado de uma amnistia.

«Quando os lobos uivam» Na Serra dos Milhafres, nos finais dos anos 40, o Esta-do Novo impõe aos beirões uma nova Lei que dita que os terrenos baldios - utilizados para bem comunitário e de onde essa comunidade retirava parte significativa do seu

sustento – passariam a ser «expropriados» e utilizados para plantar pinheiros. Surge o medo nas populações e é esse sentimento de mãos dadas com revolta, que Manuel Louvadeus - que tinha emigrado para o Brasil anos antes - vem encontrar quando regressa à aldeia. Manuel tem uma visão alargada e transversal e um grande sentido de justiça, características que ajudam a que caia facilmente nas graças da população. Sente as dores da sua gente: pes-soas honestas e humildes que trabalham todo o dia, mas que nem assim conseguem aspirar a nada que não sejam as muitas dificuldades com que vivem. A revolta acaba por se materializar em confrontos, dos quais resultam alguns mortos e feridos e finalmente numa caçada aos homens por parte da polícia que leva muitos à prisão, acusados de serem provocadores e cérebros da revolta. O Estado mos-tra um poder musculado e a insensibilidade de quem está longe dos usos e costumes das populações rurais. Um Es-tado central, que não conhece o seu país. Assim, esta obra de Aquilino retrata a saga dos beirões na defesa dos terre-nos baldios perante o ditador e forte Estado Novo. A pri-meira edição foi apreendida pela censura, valendo a Aqui-lino Ribeiro um processo que se arrastou durante mais de dois anos, acima referido.

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O lobo é um mamífero carnívoro da família Canidae, que vive nos montes transmontanos, onde os sulcos da mon-tanha e o gelo apenas deixam viver os duros e bravos. É, essencialmente, no enclave das serras Peneda Gerês, Al-vão e Montesinho, a zona onde vivem mais lobos, no nos-so país. Estima-se que apenas sobrevivam 300 exempla-res da espécie.A nível nacional, a conservação desta espécie está regu-lamentada pela Lei de Proteção do Lobo Ibérico (Lei n.º 90/88 e Decreto-Lei nº139/90), onde se define a espécie como estritamente protegida. A mesma Lei obriga o Es-tado português a responsabilizar-se pelos prejuízos cau-sados a animais domésticos, desde que tenham sido cum-pridos requisitos de proteção, tais como o correto maneio do gado à noite e, durante o dia, a utilização de vedações, podendo ser eletrificadas e o recurso a cães de gado. A circunstância de ser uma espécie em vias de extinção é manifestamente preocupante para o Ecossistema, dado que o lobo protege a agricultura, uma vez que controla outras espécies como a fuinha e a raposa. Existem crenças, lendas, mitos e histórias de vida fanta-siadas de medos do lobo, animal diabolizado pela famosa história do Capuchinho Vermelho. Durante muitos anos, o lobo esteve associado a vários mitos, como portadores de doenças, espíritos malignos ou até a histórias sobre lobisomens, havendo ao longo dos últimos séculos várias perseguições à espécie, por exemplo com os fojos. Não existem registo de ataques de lobos a pessoas. Embora

seja frequentemente abatido, é o homem, na destruição do habitat do lobo e no extermínio das suas presas naturais, (como o corço, o veado e o javali), as causas que mais fi-zeram desaparecer muitos lobos. Preservada a cadeia ali-mentar, jamais os lobos matam para comer animais do-mésticos, como vacas, ovelhas e cabras. Não tendo comida prefere animais mortos por outros.Felizmente, também existem algumas histórias infantis que enaltecem os lobos: histórias sobre lobas ou alcateias que cuidaram de crianças, como a lenda romana de «Ró-mulo e Remo», ou a história do «menino lobo», que se tornou no clássico da Walt Disney, «Mogli».

«Bitcho Bravo» é o nome de um livro de Ricardo Rodri-gues, que nos leva a entender o mito do lobo em Trás - os Montes com uma história verídica sobre Francisco Álva-res, o biólogo que foi viver com os lobos durante 10 anos. «Às quatro da manhã, hora em que o Barroso embala em sono profundo, Francisco sobe muitas vezes os montes sozinho para falar com os animais. Trepa para o alto de um penhasco, e com as mãos em concha e começa a uivar. Os lobos respondem-lhe.” Uivar faz parte da comunica-ção dos lobos, para iniciar uma caça, aviso de um perigo, entre outras mensagens. “É-lhe mais fácil pôr-se do lado da facção menos óbvia, a dos animais…O lobo é um resis-tente, tem conseguido sobreviver a todos os cercos que lhe fazem. Foi o homem que lhe invadiu o território e não o contrário…. Assim é, um fóssil vivo que encontrou nas po-pulações humanas o primeiro predador´´.A «história» tende a repetir-se e o lobo a continuar a uivar.

O Lobo Ibérico

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A nossa língua veio do Norte — em traços largos, da Galiza e do Minho — para o Sul, chegando, no seu percurso euro-peu, ao Algarve. Com o tempo, ganhou o nome do reino que passou a usá-la como língua oficial, passando a ser conhe-cida como «português».

Ora, embatendo a reconquista portuguesa nas costas a sul, e estando a expansão para leste bloqueada por Castela, os Portugueses lançaram-se ao mar. A História desse proces-so não cabe aqui — mas cabe dizer que foi assim que o por-tuguês chegou aos Açores e à Madeira.

Depois, com o tempo, chegou a muitos outros pontos do mundo. Houve tempos em que o português era uma espécie de língua franca do Índico, usada até por outros europeus, como os Holandeses. Algumas das nossas palavras ainda hoje se ouvem da boca dos japoneses, já muito alteradas. E, pelo mundo, há várias línguas que nasceram do português, desde um crioulo hoje quase desaparecido no Sri Lanka, passando pelo papiamento, língua oficial de várias ilhas das Caraíbas, até ao cabo-verdiano, língua que, não sendo oficial, é o idioma em que os cabo-verdianos aprendem a falar.

Depois, claro, temos os países onde português é língua ofi-cial. As situações são muito variadas. Dou três exemplos: em Cabo Verde, o português é a língua da escrita e do Es-

tado e a população aprende-o na escola; em Angola, está a tornar-se a língua materna de partes significativas da po-pulação; no Brasil, é a língua materna de milhões e milhões de pessoas e a língua nacional do gigante sul-americano.

Agora, é verdade que, ao ouvirmos um brasileiro, ouvimos a nossa língua, mas com significativas e curiosas diferenças. Não é só a pronúncia, mas também a sintaxe que é um pou-co diferente. Disse «um pouco», mas podia dizer «muito». Dependerá se estou a falar da escrita, do registo formal, de uma conversa de rua, de um artigo académico…

O facto é que os brasileiros chamam à língua que falam e escrevem «português». Mas por que razão o português do Brasil é diferente do português de Portugal?

As razões são interessantíssimas e revelam-nos alguma coisa sobre a natureza da linguagem humana e da história dos povos.

Para começar, quando há um qualquer tipo de separação ou distância entre grupos dentro de uma mesma comunidade linguística, a língua tende a diferenciar-se. Porquê? Porque a língua muda, inexorável e constantemente, por razões biológicas, nunca seguindo um caminho previsível — há muito de aleatoriedade nessa mudança. Ora, se um grupo

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de pessoas contacta mais entre si do que com outros gru-pos, tenderá a criar uma série de hábitos linguísticos novos, que se cristalizam em diferenças linguísticas regulares. Ou seja, a língua muda, mas nunca muda de forma previsível. Havendo uma separação social ou geográfica entre dois grupos, a língua mudará de forma diferente no seio dos dois grupos.

Ora, no caso do português de Portugal e do português do Brasil, há razões históricas que aceleraram a diferenciação, para lá da óbvia distância geográfica e social, que já existia antes da independência. Um primeiro factor de separação: no Brasil, os portugueses misturaram-se com quem já lá estava, os indígenas ameri-canos, que falavam várias línguas. Simplificando o proces-so, podemos dizer que surgiu uma nova língua, chamada língua geral, baseada no tupi, com influências portuguesas. Esta língua seria incompreensível para qualquer português — mas era a língua que os portugueses do Brasil usavam.

O Marquês de Pombal, já na segunda metade do século XVIII, decide impor o português como única língua oficial, proibindo o uso da língua geral. Esta não desapareceu por completo, mas libertou o lugar central que tinha na socie-dade brasileira para que o português se tornasse, indubi-tavelmente, a língua nacional do Brasil. No entanto, como sempre acontece quando uma população que fala uma lín-gua passa a falar outra, a língua geral influenciou o portu-guês, deixando marcas na língua tal como é falada pelos brasileiros.

Depois, como segundo factor de diferenciação, não pode-mos esquecer a influência das línguas africanas. Os escra-vos eram levados para o Brasil e tinham de usar o português como forma de comunicação não só com os traficantes, como também entre si. O português era aprendido rapida-mente, de forma incompleta, eivado de expressões africa-nas. Quando, como o tempo, os descendentes dos escravos começaram a aprender o português como língua materna, deram-lhe palavras de origem africana que apimentam a nossa língua por aquelas terras. A palavra «samba», por exemplo, é disso mesmo testemunho.

Por fim, o próprio percurso do português em Portugal é um factor de diferenciação. Os portugueses não falam hoje o que se falava no século XVI — estamos muito longe disso. Se Camões hoje aparecesse, vindo do passado, nas nossas ruas falaria um português estranhíssimo aos nossos ou-vidos, certamente bem distante do português lisboeta dos nossos dias.

A nossa foi uma língua que nasceu no recanto esquecido da Europa — a Galiza e o Minho da actualidade — e acabou por se expandir até chegar a recantos longínquos do mundo in-teiro. Uma língua que nasceu numa terra de bosques e bru-mas e navegou pelos sete mares do mundo, numa história de sofrimento, aventuras e tremendas memórias.

PROPOSTAS DE LEITURA:

Deixo a sugestão de leitura dum romance que publiquei, A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa, onde conto a história da língua como se fosse um romance.

As seguintes obras são tratamentos académicos do mesmo tema, muito aconselháveis:Introdução à História do Português, de Ivo Castro — um li-vro actualizado, com fartos exemplos concretos.História do Português, de Esperança Cardeira — um livro brevíssimo, editado numa colecção da Caminho sobre te-mas de linguística.Em breve, o investigador Fernando Venâncio irá publicar um livro, ainda sem título definitivo, que nos dará uma perspectiva rigorosa e informada sobre a origem e desen-volvimento da nossa língua.

Marco Neves Universidade Nova de Lisboa

[email protected]

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Ao certo, quer seja de carácter eloquente apenas de consistente insinuação, pouco se sabe acerca da origem das amêndoas cobertas em Torre de Moncorvo. Carecemos de provas convincentes, ainda se disputam vi-sibilidades […] Procuram-se fontes indígenas satisfató-rias. Porém, o que é certo – demonstrado em manifestas evidências de outras atenções – é que elas estão de assento nas trocas festivas e na rotina comercial dos moncorvenses desde o início do século XIX. Já lá vão duzentos anos de es-pólio mercantilista. À certa, até bem mais! E à volta da mesa ou das fraquezas de outros? Ou no regalo das bodas casa-menteiras em gratas ofertas! Desde quando? E que dizer da mestria das nossas cobrideiras?

também a descoberta daquele saber-fazer a aprendizagem herdada […] a onda amodernada do

chocolate e do acrónico acanelar da coberta, a serventia e o tempo das primitivas dedaleiras, o silêncio da resistência ou os segredos da popularidade do negócio [?], a comemo-ração e a excelência das memórias (…) são, entre tantas e tão discordantes inquietações históricas, além de requisitos à conversa, as perguntas mais devidas ao que aqui, na mag-nitude da «sua» Terra, queremos Honrar - a Amêndoa Co-berta de Moncorvo. Dito de pronto: agrada-me, até aplau-do, tal como apadrinho, até faço birras, sobretudo advogo a razoabilidade do eventual berço das [nossas] amêndoas cobertas - por adopção circunstancial (Porque não à cata de eventuais empreendimentos?) ou de mera predisposição às tendências do gosto - nas cozinhas das famílias mais enri-cadas das várias casas e solares construídos entre o perío-do maneirista e o culto do arcadismo setecentista, (entre a plenitude da Real Feitoria de Antuérpia e os nacionalismos

C.M. de Torre de Moncorvo

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emergentes das “revoluções francesas”), que àquela época tão doceira pontuavam o burgo moncorvense. Estávamos em período áureo da [futura] Doçaria Conventual

arte etérea, mágica, feminina, Manifestação pecami-nosa! ofício exuberante, diabrura sedutora, frenética, miste-riosa, e pelo encanto dos portugueses com confeitos, gulo-dices, amêndoas e amendoados. Ainda hoje – indisciplina-dos nos cânones nutricionais – o aferro desta gente cisma com uma pequena brutalidade açucarada. Burguesia, clero e nobreza adulteravam condutas, viciavam prazeres [!] O povo conformava-se ou acomodava-se na disponibilidade dos apetites […] De volta ao discurso possível, às honoratas Honras, aos achados documentais (incluindo romanescos, romanceiros, fantasiosos…), à sustentabilidade das razões e – que o seja – às voltas com as intrigas da história. À ge-nialidade da gastronomia feita libertina paixão, às instin-tivas excitações pelo dulcificado […] À [nossa] Amêndoa Coberta de Moncorvo.

Ainda se apresentam no mercado em três modelos

Bicudas brancas - quando só cobertas de açúcar [branco]. São as originárias, as comuns. São as progenitoras, as mais tradicionais e as preferidas pelos forasteiros ou pelos ausentes de circunstância. Foram as que diferenciaram a confeitaria moncorvense. São o nosso aplauso à imortali-dade daquele labor!

Que seja da minha memória, aí pelos anos sessenta/setenta haveria poucos emigrantes moncorvenses que nas malas de retorno a França, ao Luxemburgo, Holanda, à Suíça, Ale-manha, além da meia dúzia de salpicões acabados de sair do vareiro ou de guarda no azeite das talhas, um bom molho de grelos, Até a vassoura de piaçaba! não aconchegam-se um, dois ou mais pacotes de amêndoas cobertas, quase sempre das bicudas - também uma garrafa de Porto «Três Velho-tes» (tinto), de aguentar o ano inteiro, um «Lágrima de

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Cristo» (branco), gordo e adamado, de meter no frigorífico e fazer uso nos períodos já mais aquentados, uma outra da «Ramos Pinto» para oferta especial - em rostos de melan-colia e sorrisos de saudade. A diáspora moncorvense sem-pre arranjou jeito de louvar as suas cobrideiras e memoriar as coisas da [sua] Terra.

Morenas - além de abraçadas pela respectiva calda de açúcar também levam à mistura chocolate [só a partir dos anos 40], ou cacau em pó, e/ou canela [desde sempre (?), dizem alguns, sendo, no fim do século XIX, nomeadas de escuras ou amêndoas dos ricos] ou – apenas – calda de cho-colate na fase final da sua confecção. Em relação ao uso do chocolate, recordava [-me] a minha tia Rosa: «foi depois da Guerra, mais ano menos ano, por aí, (talvez) aquando da abertura dos Correios ou (terá sido?) pela festa de inauguração do Cinema (…)» Continuando. «Há quem diga que foram os muitos pedidos dos que vi-nham da cidade, até dos estudantes em Coimbra, que – por grandeza – exigiam que as amêndoas fossem cobertas de chocolate, como faziam por lá. Eram feitas só de encomen-da (…) E pegou moda prás bicudas!»

Peladinhas - quando o grão é revestido por uma ligeira [íssima] camada de açúcar que não chega a evidenciar os bicos característicos das outras versões – bicos incipientes ou inexistentes.

eram as primeiras ou as cobertas pelas aprendizes do ofício e – de amiúdo – as amêndoas do desenrasque, quando o negócio apertava e havia necessidade de produções mais apressadas [Também] Que me deite à lembrança muito por culpa das [tais] conversas comestíveis que fui mantendo ao longo dos anos, legitimadas por algumas das intérpretes da arte, Até há bem pouco tempo ainda se aproveitava uma pequena escolha de amêndoa amarga para cobrir, a Amara, que era utilizada - não por muitos, certa-mente - à saída da mesa para atenuar o efeito de uns copi-tos a mais, enfeitar a espiritualidade e favorecer a digestão das petiscadas mais abelhudas. Na opinião deles, experi-mentada – dizem as histórias taberneiras da Terra, e digo--o eu – evocadora das propriedades sedativas, anestésicas e inebriantes, daquela ascética especialidade

as amaras com a dose certa de vinho fino

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aquecido e temperado de canela, numa espécie de hyppocras medieval, eram bem melhores que os alívios apressados dos Alka-Seltzer! Serão estas terapêuticas as primogénitas amêndoas cobertas em Moncorvo? Claro que não! Nem para os confeiteiros flamengos! A tradição curandeira da amêndoa amarga, reportada a problemas di-gestivos, a desarranjos abusivos, ressacas e dores de cabe-ça, tratamento de espasmos (…) fazia-se com «amargas» ou amaras - não cobertas de açúcar, em grão simples ou em cozedura - nunca mais de quatro a cinco por dia e num período muito curto de tempo, devido à sua toxicidade. É saber de retoma recente!? Quando muito estas «amaras» – de Rhazes – poderão estar na origem das cobertas [doces] dos gostos açucarados nas cortes abássidas e saladinas dos séculos IX-XII! Por cá e por toda a Europa renascentista, quando tal saber arribou, veio já em plena doçura - drupa mais cobertura.

Modo de saber fazer

Se a minha memória e a dos meus interlocutores a quem fui sacando informações [e aclaramentos] ao longo dos [últimos] anos, ainda não se atrapalharam de-masiado com o multiplicar dos anos nem com os contra-tempos de outras adversidades, era assim que a minha tia Rosa as fazia […] era assim que as cobriam.

Rosa Monteiro [1927-2002], reguense de nascimento [Se-dielos], a viver em Torre de Moncorvo desde 1935, entre outros negócios que assumiu, foi doceira de amêndoas co-bertas até à Páscoa de 1977, com “cacos” num baixo da Rua Manuel Seixas (a antiga Rua da Salgada, quase em frente à revivalista «casa do brasileiro» – a Casa da Avó) e venda à porta no Largo do Rocio (a Praça das Regateiras), em parce-ria com a sazonalidade de outra doçaria Escaldava os grãos em água fervente, sem os dei-xar cozer, pelava-os, ficavam a secar dois a três dias e, de

seguida, torrava-os no forno em latas apropriadas - tabu-leiros armados em folha-de-flandres. Finda esta operação, descomplicada, espalhava-os numa bacia de cobre redonda [«do tamanho das minhas braçadas»] assente num algui-dar de barro grosso cheio de rescaldo - o “caco”, à medi-da da bacia - em que a arte de controlo da temperatura do borralho não era saber de qualquer uma. Benzia-se e benzia a bacia e, pouco a pouco, em ritmo de volteio e de bom to-que para quem passasse na rua, remexia-os, remexia-os, cuidadosamente, com os dedos protegidos pelos dedais da costura

não só de protecção às falangetas dos calores dos borralhos e do encosto às quenturas do cobre, ou a outras contingên-cias do ofício, também de moldagem aos [clássicos] bicos - técnica que poderá ter-se iniciado junto das confeitarias flamengas ainda no decorrer do século XVI ou já nos pri-meiros anos do século XVII, (admissível, apenas, porque a pintura da época não o retrata claramente), pela história de fabrico dos dedais e [certos] formatos adquiridos pelos confeitos regando-os de açúcar em ponto - ponto de pinga len-ta, ponto de pérola, que é outro dos segredos das cobertas, mais ou menos um quilo de açúcar por cada litro de água, em água recolhida na mítica Fonte de Santo António (pe-los vistos, sabe-se lá porquê, outras doceiras preferiam águas mais férreas – das águas do Chafariz de Lamelas), calda nem sempre clarificada com claras de ovo - com ou sem aromas, a intervalos de colheradas de sopa. Uma ba-ciada das boas levava pelo menos sete dias de trabalho so-frido [...] Contado [também] por ela, pela tia Lurdes e pela minha mãe que nos períodos de maior aflição davam uma ajuda aos negócios, e ainda com as expeditas achegas da vizinha Filomena Souteira (…) para o exercício de cobridei-ra encartada bastava ter o imposto de selo pago, o boletim individual de saúde em dia, a obrigatoriedade da prova da tuberculina e BCG, ter os apetrechos necessários

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a bacia de fabrico e a caldeira de cobre para a fervura da água e do açúcar, o caco de barro prás cinzas com umas brasas de aquecimento e um trempe de ferro, a lata da torra, uma colher da sopa e uma concha, um caneco e um coador, oito dedais de costureira, mais um banco de assento, um avental branco de peitilho e um lenço de amarrar o penteado algum dinheiro para pagar o terrado das festas, «trocar o chumbo nos baixos do Tribunal» – a aferição das balanças pelos serviços camarários – pagar a con-tribuição industrial à Fazenda, a compra do corredor de enchimento e dos sacos de celofane, em substitui-ção dos cartuchos de papel e da venda a granel nos ta-leigos de linho grosso e estopa, e – claro está – a ma-téria-prima açúcar, chocolate, ou cacau, canela e água (…) Quanto ao grão, quanto às amêndoas, sem ser as que vinham da «União» ou as que comprava aos Mesquitas da Cor-redoura, a minha tia, tal como as outras de porta aber-ta todo o ano, preferia as Verdeais e as Romeiras dos cantoneiros, também podiam ser as Aleixas por serem adocicadas, e distinguia-as bem pela prova, porque eram as melhores. (Hoje sabe-se que isso é verdade). Qualquer um de nós, rapazolas, já em período de férias, lá tratávamos de organizar os nossos amigos na brecha aos amendoais mais massacrados nestas aventuras empresariais, para venda do grão às doceiras mais apa-lavradas (ou a pequenos ajuntadores que ocultavam as nossas identidades), e assegurar as maquias necessá-rias para ter à mão umas boas coboiadas ou fazer figu-ra de homens num dos Cafés da vila […] Certezas que muito ajudaram a estruturar a história e a manutenção social destes abicados.

Os confétis, os biquinhos que se partiam nas bra-çadas das principiantes ou nas pressas dos volteios, es-combros artísticos ou rebotalhos da inabilidade, fica-vam para mim e para os meus companheiros. (Ou para outros sortudos.) Guardava-os numa bolsinha que a minha tia me arranjara, os sacos de celofane eram ba-

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António Manuel MonteiroEngenheiro Agrónomo

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O C É U D E S C E U À T E R R A S O B A F O R M A D E D O Ç A R I A

rulhentos no mexer dos bolsos! Que bem sabiam com uma golada de generoso! Ou com uma escorropichada às sobras do enchimento das garrafas de licor de canela! Que é feito [?] de outras certezas de apelo aos embaraços destas estó-rias que fazem das cobrideiras moncorvenses as guardiãs de tão delicados e memoráveis legados dos confeitos da do-çaria barroca.

Diziam que o licor de canela da Ti Antoninha Biló, mãe da enorme escritora que é Júlia de Barros Biló - daqueles tão alicorados contos ao luar de Agosto da [nossa] Corredoura, daquele linguajar de olvido e silêncio - era o melhor! Talvez! O da Adélia Caranca, da Xica do Porto, Áurea Lapa, Maria Júlia Nunes, Maria do Heitor (…) da Lígia mãe do Teófilo ou da Filomena Souteira - históricas doceiras moncorvenses - também não eram maus! Ainda puxam saudades! Mas, que bem recordo!, (para que fique de indício à disputa das me-mórias), quando a menina Lucília Ceguinha - que seria pri-ma do escritor argentino Jorge Luís Borges - levava o ora-tório de culto à «Sagrada Família» a casa das minhas tias e sem ser necessário perguntar-lhe, em vez do protocolar vinho fino por tarefa tão aguardada, lá requestava e botava a baixo um bom copo de licor de canela com a inevitável sú-plica e meia mão de peladinhas pró retorno. Não é que o Céu desceu à Terra! Embora muito mais se pudesse reafirmar em loas à “Amêndoa coberta de Moncorvo”, aos seus percursos e apegos à Terra, também acerca de outras figuras da dinâ-mica social e empresarial que [muito] devem ter contribuí-do para a sua subsistência, resguardo e divulgação

do imperial empresário que foi António Caetano de Oliveira ao sendinês Amadeu Ferreira que se aprazava de as ofertar nos seus locais de trabalho e me obrigou a escrever este tex-to […] Todos, à sua maneira, as ilustram de memórias e as estimam no gosto sobre a notabilidade da doçaria [conventual] portu-guesa e da imoderada paixão freirática pelo açúcar, ovos e amêndoas, acerca do mito da confeitaria pós-renascentis-ta, barroca e modernista, das cismas históricas e do orgu-lho de arte tão identitária, fico-me por aqui, antes que os pés das pacientes cobrideiras sejam eles, agora, de Deolinda Morais, a quem tributo cor-tesias de reconhecimento e agradeço relatos de vivências, de Maria Palmira e Sílvia Dinis, Mª Júlia Rodrigues, Cândida Carvalho, Lurdes Caetano (…) ou da veterana Elsa Martinho, que continuam a refrescar ancestralidades e a estimular saberes, botem inchadura, à certa arranjem umas estapo-radas hérnias nos costados ou umas artroses na leveza das ossaduras, levem com alguma escaldadela no encosto ao caco ou no descuido dos dedos desprotegidos, porque este labor amiserável é bem capaz disso tudo, e o aroma destas delícias inofensivas ainda um dia destes a elevar a «Mara-vilha» da doçaria portuguesa ou a património cultural ima-terial da Humanidade pela UNESCO me activem imoderadamente a circulação promovam apetites mais descuidados e mais ferozes! Bem hajam! Agora só falta o verde dos amendrucos [e o en-gano do licor de canela!].

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Em Junho e Julho, entre nascimentos, casamen-tos, funerais, transações imobiliárias e obras, muitas foram as transformações nos cenários domésticos e familiares, assim como no contex-to profissional com fortes imprevistos.Estas mudanças marcantes conduziram à reco-nexão com pontos sensíveis talvez desconhe-cidos, tais como: necessidades não admitidas, inseguranças e dependências embaraçosas, tristezas antigas e sentimentos de culpa, mas também tremendas forças criativas, capacida-

des surpreendentes para nutrir, proteger e tran-quilizar nas situações mais difíceis e incalculá-vel poder de amar. Entretanto, no início de Agosto, à medida que Mercúrio foi retomando o movimento directo e ganhando velocidade, o mecanismo do tempo que impera sobre nós todos, começou a desen-cravar e irá tornar-se cada vez mais desenvol-to, possibilitando encarar os acontecimentos e o futuro de forma progressivamente mais lumi-nosa, objectiva e desapegada do passado.

Novos mecanismos para o progresso

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A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

A S T R O L O G I AO C É U Q U E N O S U N E

Inês BernardesAstróloga

[email protected]

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

Dia 11, Júpiter retoma o movimento directo depois de 4 meses de reorientação do processo de cresci-mento pessoal, dando a sua bênção para o lança-mento e desenvolvimento concreto dos projectos que se andam a preparar. No mesmo dia, Mercúrio ingressa em Leão e até dia 13 faz sesquiquadratura (135˚) com Júpiter imprimindo paixão e ambição para alcançar resultados tangíveis nesses projectos, impelindo à sua divulgação.Por sua vez, no dia 12, Urano começa a retrograda-ção em Touro que se prolongará até Janeiro. Quem tem no seu mapa astrológico posicionamentos entre os graus 2˚ e 6˚ dos signos fixos (Touro, Escorpião, Leão e Aquário) terá vindo a sentir, desde Abril, que a Vida exige descondicionamento e reinven-ção completa em algum contexto. Assim, é natural que tenha surgido insatisfação com uma situação, a perda de algo aparentemente seguro ou ainda uma forte intuição que despertou para novas possibi-lidades de valorização pessoal, construção e pra-zer. Neste período de retrogradação é fundamental assimilar as mudanças já ocorridas e ir testando a funcionalidade das reinvenções e “revoluções” que se pretendem implementar, para que a partir de Ja-neiro se tornem efectivas e conduzam ao progresso.Dia 15, dá-se a Lua cheia em Aquário em estreita li-gação à Vénus em Leão, estando Mercúrio em qua-dratura com Urano, o que traz para primeiro plano a necessidade de observar com distanciamento e frieza os relacionamentos e ligações (assim como a nossa própria atitude nesses contextos), não só para ganharmos perspectiva sobre novas possibilidade de lhes acrescentar prazer e alegria, mas também para evitar o descontrolo drástico por fixação ex-cessiva na ideia de que carecemos de mais atenção e de que a nossa importância deve ser efusivamente reconhecida. Esta lunação potencia também cone-xões (criativas e românticas) surpreendentes, nun-ca antes imaginadas!

Entre 18 e 29, os sucessivos ingressos de Marte, Vénus, Sol e Mercúrio em Virgem vão gradualmente mudando o foco da esfera mais pessoal para a ne-cessidade de dedicação aos detalhes do trabalho. Nesta corrente de diligência tão bem oleada, entra a Lua nova em Virgem, no dia 30, abrindo caminho em direcção a novos mecanismos para o progresso. Até 9 de Setembro, à medida que estes planetas vão formando um grande trígono de terra com Urano, Saturno e o Nó Sul e uma “quadratura em T” com Júpiter e Neptuno, será possível aliar o rasgo de ins-piração e inventividade à incansável produtividade com vista a realizações complexas e eficientes.

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A M B I E N T E E S U S T E N TA B I L I DA D EE C O C A M P : A F LO R

Rui Pessoa VasquesPresidente Executivo da Associação

«Live With Earth» [email protected]

O ECO CAMP é um evento de verão, que acontece no último fim de semana de Agosto, na Associação Live With Earth, composto por (A) Palestras, (B) Acti-vidades, (C) Turismo & Lazer, com a participação de vários projetos de sus-tentabilidade, agricultura biológica,produtores locais, movimentos de transição, projetos de medicinas naturais, artes e música. Todos os momentos estão relacionados com a evolução individual e coletiva rumo à sustentabilidade ambiental, financeira e económica, dentro das perspetivas de Desenvolvimento Sustentável nacional e global.

Durante três dias 1) Humanidade e Na-tureza, 2) Saúde e Bem-Estar e 3) Co-munidade e Cidadania, podes experien-ciar atividades como: Slackline, Jogos de Grupo, Permaculture PediPapper, Workshops , Palestras, Terapias Alter-nativas, Sessões de Cinema ao Ar Livre, Concertos ao Vivo, ATL permanente para crianças e muito mais. Temos como o principal objetivo expandir as temáticas de sustentabilidade e ligação à Natureza, no sentiddo de criar um evento de convergência de produtores, projetos e pessoas conscientes e ativas nesta transição.

ECO CAMP : A FLOR30 de AGOSTO a 1 de SETEMBRO de 2019

Nesta 5a edição, celebramos o tema A FLOR. Depois de A Semente (2015), As

Raízes (2016), A Terra (2017) e O Céu (2018), revelamos e honra-mos mais um dos elementos que compõem o ciclo do ECO CAMP.

A Flor, é o primeiro sinal de esperança de uma espécie, para a consagração de um produto, atingir um objectivo e dar início a condições que gerem novas conexões e por si, novos ciclos. Os insectos polinizam as flo-res, é nelas que encontram o seu alimento. Também representam uma complexa rede de fertilidade, entre as espécies vegetais, das quais fazem parte os arbustos e as árvores.

Tanto mais para dizer, criar e vi-ver em torno deste tema, durante esta edição.

O ECO CAMP vai acontecer pela primeira vez na Associação Live With Earth, entidade organizado-ra do evento, desde 2015. Este ano, as datas coincidem com o festival Novas Invasões, na cidade de Torres Vedras.Podem consultar o programa oficial e mais informações sobre o evento na nossa página de Fa-cebook : ECO CAMP, e videos de edições anteriores na página de Youtube : ECO CAMP.

Para reservas e mais informações: [email protected]

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E S PAÇ O L U S O - C R I A N Ç AA C I D A D E E A Á R V O R E

- Olá Cidade, estás a acordar?

- Sim, estou. Sem ainda ter adormecido. Durante a noite,

não me deixam relaxar, pois, algumas pessoas não res-

peitam o silêncio, a partir das 22 horas, conforme diz a

Lei.

- O que é a Lei, Cidade?

- A Lei é um conjunto de regras, igual para todos os ci-

dadãos, explica a Cidade. E continua com um exemplo:

aqueles lugares onde as pessoas se divertem até mais tar-

de, deveriam ter isolamento do som. Assim, não incomo-

davam os que querem descansar, de modo a que os outros

possam divertir-se.

Também é importante que possas abrigar todas as aves

que procuram os teus galhos para repousar; aproveitar a

tua sombra; fazer ninhos e dormir.

- Sou mesmo importante, diz a Árvore, envergonhada,

abanando os seus ramos em direcção ao Sol..

- És um ser muito, muito importante e por vários moti-

vos. Sabes uma coisa? Ao longo de vários séculos, a flo-

resta em Portugal sofreu grandes mudanças feitas pelo

homem. Hoje em dia, existem imensas plantações de

pinheiro-bravo e eucalipto e desapareceram os bosques

originais de carvalhos. Vamos imaginar como seria a ve-

getação do território do nosso país sem a intervenção hu-

mana?

- Como se os homens, as mulheres, os jovens e as crian-

ças não existissem? Perguntou a árvore.

- Isso tudo, explicou a Cidade: como se apenas existem os

outros animais, as árvores, os oceanos e os rios.

- Mas sem eles, tu não existias, Cidade.

- É verdade, sim. Podemos existir todos se houver res-

peito por cada um. Por falar nisso, estou a ver duas crian-

ças que procuram a tua sombra para brincar.

Irei contar-te todas as qualidades que tens e que fazem

de ti tão importante. Agora, diverte-te com as crianças.

Madalena Pires de LimaDiretora Adjunta

[email protected]

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OC A M I N H A S

M E R C E A R I A & P E T I S C O S

O Caminhas – Mercearia e Petiscos

nasceu da vontade de ter um espa-

ço acolhedor com boa comida e bom

vinho, onde todos se sentissem em

casa. A viver no Porto e a trabalhar na

gestão de pessoas há vários anos, ins-

pirada pela famosa máxima de Antó-

nio Variações “muda de vida se não

viveres satisfeito”, mudei.

A ideia de criar este projecto em Ca-

minha surge, das boas memórias

de férias e fins-de-semana fora do

stress do Porto, e da vontade de asso-

ciar o projecto aos Caminhos de San-

tiago.

Como peregrina, sentia uma enor-

me lacuna em encontrar, em Cami-

nha, espaços orientados para os ca-

minhantes. Da minha experiência

pessoal, o peregrino procura essen-

cialmente um local para descontrair,

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À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OC A M I N H A S

M E R C E A R I A & P E T I S C O S

conhecer um pouco da gastronomia e conviver com outros

peregrinos.

Acredito, ter criado um espaço favorável ao convívio entre

todos, com uma decoração simples onde a mesa corrida

de pinho que domina a Mercearia, e que é o local de exce-

lência para boas conversas e partilhas. Um espaço onde os

sabores portugueses são a prioridade e onde os petiscos

são criados com autenticidade e com amor.

A ideia de ter uma Mercearia & Petiscos, com produtos

100% Portugueses escolhidos de forma pessoal e criterio-

sa é bastante romântica. Aqui, todos os produtos, do quei-

jo ao vinho foram provados, seleccionados e escolhidos

para mostrar um pouco do nosso país, maioritariamente

do norte de Portugal, com alguns apontamentos do Alen-

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 53

À E S P R E I TA C O M L U PA : C Á D E N T R OC A M I N H A S

M E R C E A R I A & P E T I S C O S

tejo, nomeadamente, vinho.

Ao almoço, oferecemos, de segunda a

sexta-feira pratos típicos da cozinha

portuguesa, fazendo parte da nossa

ementa açorda, feijoada à transmon-

tana e arroz de alheira. Sem esquecer

o público vegetariano, duas vezes por

semana, a nossa ementa é confeccio-

nada apenas com legumes, sempre

frescos e comprados localmente.

Os Caminhenses, os peregrinos e os

turistas têm agora em Caminha, um

local onde podem degustar ou levar

para casa, um pouco dos sabores de

Portugal.

No Caminhas temos desde alheiras

tradicionais e compotas artesanais de

Trás-os-Montes, ao vinho Alvarinho

e às conservas da Ramirez. É ainda

possível encontrar exposto artesana-

to de artistas locais ou nacionais.

O espaço está localizado no centro de

Caminha, na praça central, conheci-

da pelos locais como o Terreiro, num

edifício partilhado com o Caminha

Hostel & Suites. A localização é pri-

vilegiada e local de passagem e visita

por todos os que visitam Caminha.

Apesar da sazonalidade dos turistas

e peregrinos, é um grande objectivo

criar dinamismo em Caminha, e po-

tenciar no Inverno o espaço com pro-

vas de vinho, jantares temáticos e de

degustação, workshops e tertúlias.

Ainda sem completar um mês é com

orgulho que partilho que já temos

Clientes habituais e regulares que nos

presenteiam com a sua generosidade

e simpatia de rasgados elogios ao ser-

viço, decoração e qualidade dos pro-

dutos.

Visitem o nosso espaço pois “o Ca-

minhas não é meu, é a casa de quem

o visitar.”

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

Ana LeiteCaminhas

[email protected]

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À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R APA R Q U E T E M ÁT I C O E F T E L I N G

Se vai viajar para a Holanda e tem crianças ou jovens não

deixe de visitar o Parque Temático Efteling.

Desde Amesterdão, pode comprar os bilhetes de comboio

e demora a chegar cerca de uma hora e 50 minutos. Tam-

bém pode viajar de carro ao encontro deste local encanta-

do no Sul da Holanda.

Quem viaja de avião até Amesterdão e em uma companhia

aérea holandesa começa desde logo a entender a impor-

tância que a infância representa para este povo e para este

país que está a fechar as prisões por falta de criminosos.

No país em que famílias inteiras e numerosas se apinham

nas bicicletas, as crianças são sempre as primeiras a se-

rem ouvidas e atendidas. Nos aviões e nos restaurantes

estendem-lhes, antes de se atenderem os adultos, livros

e lápis de cor; são as primeiras a serem ouvidas e servidas

nas suas escolhas.

Pode comprar os bilhetes de comboio e simultaneamen-

te, o ingresso para a entrada no Parque e demora a che-

gar cerca de uma hora e 50 m ao sul da Holanda. Também

pode viajar de carro ao encontro deste local encantado. Se

chegar de carro tem a sua espera um enorme parque de

estacionamento, mesmo em frente ao Parque e adquirir o

seu bilhete na bilheteira.

Assim que chega fica de imediato encantado com a enor-

me receção feita de telhado em colmo, onde se penduram

na sua estrutura imensos corvos que antecipam com os

seus gritos o universo fantasmagórico que encontrara no

seu interior.

Este parque tem uma atmosfera e uma vibração distinta da

comercial Disney, também pela envolvente natural. Situa-

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 55

À E S P R E I TA C O M L U PA : L Á F O R APA R Q U E T E M ÁT I C O E F T E L I N G

se em Kaatsheuvel e nasceu em 1952. É considerado

um dos melhores parques da Europa e o melhor da

Holanda. O Efteling abriu as suas portas com a Flo-

resta dos Contos de Fadas, com muito menos perso-

nagens que a Disney e muita mais dose de realidade,

onde encontramos uma árvore que fala, tem olhos

que se mexem, nariz e boca que conta histórias. Pena

ser apenas em holandês, que poucos entendem. No

meio da floresta encontra contos de fadas; A casa de

doces do conto João e Maria, a casa da avó de Capu-

chinho Vermelho com o Lobo Mau à Porta; a casa dos

três porquinhos em que o lobo também é protago-

nista, mais uma vez à porta, deixando à imaginação

a sua investida em entrar e o nosso desejo que não

consiga. Tudo em tamanho real. O Efteling é com-

posto na área central e 4 reinos:

A floresta encantada, (descrita em cima)

O Reino da Aventura (montanhas russas)

O Reino Alternativo (castelos assombrados e cidades

proibidas, onde pode assistir a bailados de bonecas

em lagos de nenúfares, confrontar-se com a bruxa

má que ganha vida no espelho do conto A Branca de

Neve, e finalmente

O Reino da Viagem (onde, a título de exemplos, exis-

te uma plataforma inspirada em um templo tailan-

dês que sobe 45m e que, girando, oferece uma visão

panorâmica e uma espécie de barcos giratórios que

navegam na corrente de um rio, que nos molha. Leve

uma mochila com roupa alternativa. Pode fazer a vi-

sita em dois dias e pernoitar num dos hotéis da pro-

ximidade ou mesmo no hotel

Pode também disfrutar de vários restaurantes e

quiosques e locais para descanso. No fim do dia, não

deixe de assistir ao espetáculo de água e som!

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Novos tempos querem tratar da saúde ao vinho

Há um longo debate sobre a influência do vinho na saúde. De um lado, encon-tramos os oposicionistas ao consumo, que desde há muito fazem um lobby sério, nomeadamente nas instâncias europeias; muitos deles são médicos, organizados, que combatem o consu-mo de álcool e de vinho em particular. Do outro lado, estão usualmente pro-dutores, mas também muitos consu-midores informados; e investigadores, que invocam os benefícios de algumas componentes do vinho na saúde hu-mana. Bem no centro, tem estado o status quo instalado: a versão política,

que limita o consumo, mas que o ins-tiga simultaneamente. Aparentemen-te, este meio termo poderá ter os dias contados… Pessoalmente, partilhei sempre a opi-nião de que`´ no meio está a virtude´´. Parece-me que vale a pena procurar as razões das partes, sem extremismos. Vamos abrir uma garrafa enquanto pensamos nisso?

1. A história do HomemNão há muitos alimentos mais pre-sentes na História do que o vinho, que é um produto agrícola milenar, cuja

origem se perde antes dos 8.000 anos antes de Cristo. A sua importância não é apenas cultural. O vinho é um ali-mento seguro e o corpo humano está habituado ao seu consumo desde há muitas gerações.

2. Os benefícios para a saúdeActualmente, a roda mediterrânica dos alimentos prevê o consumo mo-derado de vinho. Mas está em estudo, a pedido da Direcção Geral da Saúde, a sua saída. As autoridades invocam que não há qualquer nível de ingestão de álcool considerado seguro, sem risco.

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

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OBSERVA - MAGAZINE | PAG 57O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico OBSERVA - MAGAZINE | PAG 57

Em simultâneo, o consumo de vinho tinto tem vindo a ser apontado como benéfico, por conter polifenóis. O mais famoso e estudado é uma substância chamada resveratrol – que é possível encontrar em vários outros alimen-tos e tem propriedades antioxidantes, cardioprotectoras, antivirais e qui-miopreventivas. Está mais presente nos vinhos tintos, com maior concen-tração de cor.

3. O excesso de consumoA Organização Mundial da Saúde, criada em 1948, aponta o consumo excessivo de álcool como responsá-vel pela morte anual de mais de 3M de pessoas, um pouco por todo o mundo: 5,3% de todas as mortes. O alcoolismo é um problema sério, mundial, que provoca a morte de muitas pessoas em várias geografias. Não há como ne-gar. Lembro-me perfeitamente de um “cliente” que todos os dias levantava, logo de manhã, 5 litros de vinho para consumo nesse próprio dia. Morreu com uma cirrose. Mas teria morrido mais cedo, também com uma cirro-

se, se tivesse ingerido 5 litros de leite (nomeadamente de origem animal e de vaca) todos os dias. Até os vegeta-rianos e os macrobióticos – que be-bem leite de arroz, leite de amêndoa e outros - defendem o vinho a acompa-nhar as suas refeições. Por outras pa-lavras, o excesso é sempre prejudicial. Seja no vinho ou até na água. Apesar de tudo, nos países desenvolvidos, hoje, consome-se menos bebidas alcoólicas do que no passado. Há mais consumi-dores informados, que sabem o que bebem, quando devem beber e quando deixar de beber. O consumo informado é a prova viva de que o problema não está no consumo, mas sim no excesso.

4. Os sulfitos e outras substâncias usadas na produçãoO vinho não tem apenas uvas esma-gadas. É um facto. Para perdurar, para não se estragar, precisa da adição de outras substâncias, às vezes não na-turais. Mas serão estas substâncias prejudiciais à saúde? Na verdade, o vi-nho é um alimento. Como todos os ali-mentos, o vinho é trabalhado de forma

a não se deteriorar. E há um conjunto de outros alimentos que têm mais sul-fitos e mais substâncias não naturais do que o vinho: como a carne embala-da ou a fruta desidratada. E da mesma forma que há alimentos naturais ou biológicos, também há vinhos natu-rais ou biológicos…

Em suma, o vinho, como a maioria dos alimentos, pode ser consumido, desde que em quantidades razoáveis. O vinho está associado a momentos de prazer, de relaxe, e não deve ser consumido quando se conduz ou em trabalho. Mas deixar de estimular a economia ou o consumo de produtos culturalmente tão enraizados parece mais uma fuga ao bom senso. Ou mais uma tentati-va para encontrar formas de taxar o contribuinte. Estimule-se o consumo informado de vinhos. Mas chega de ver o mundo a preto e branco, em que tudo é ou muito bom, ou muito mau. O meio termo é quase sempre a melhor resposta. Até porque os extremistas incentivam o meu consumo de álcool: para esquecer que existem.

Pedro GuerreiroGestor

[email protected]

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O L Í Q U I D O

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PAG 58 | OBSERVA - MAGAZINE

DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Transcrevo a informação detalhada que me concedeu a

Câmara Municipal de Barcelos (à qual agradeço a colabo-

ração):

«Barcelos território do galo, onde a arte popular permitiu

o título cidade criativa da Unesco, é também reconhecida

pela sua distinta gastronomia, capital agrícola, com uma

importante e tradicional feira, documentada desde 1412,

a qual todas quintas-feiras espelha a tradição e aromatiza

com a cor e o sabor dos produtos autóctones as cozinhas

de Barcelos, levando a qualidade dos produtos da terra.

Pelas freguesias do concelho, que se orgulha ter o maior

número no país, onde não há romaria sem doces, a doçaria

evidencia que sempre esteve presente e é parte da celebra-

ção da comunidade. Face a este contexto são realizadas,

com décadas de edições, semanas gastronómicas ao longo

do ano, onde se inclui a realização anual do Concurso Bar-

celos Doce. São ações de forte dinamismo turístico e eco-

nómico no território, em especial nos espaços de restau-

ração de Barcelos. Embora não se consiga confirmar a data

exata de origem, sabemos que virá pelo menos desde 1900,

data em que já era realizada na antiga Confeitaria Salva-

ção, constituía uma das suas especialidades, premiada em

muitas ações gastronómicas. Na Confeitaria Colonial são

feitas pelo menos desde 1936 e são diariamente procura-

das pela comunidade, pelos turistas, pelos peregrinos que

diariamente passam em frente no Caminho Português de

Santiago, levando a experiência e sabor de um doce iden-

titário do território.

Esta especialidade de Barcelos apresenta a forma de estre-

la de cinco bicos, é recheada com um doce feito à base de

amêndoa e queijo branco.

Hoje trago-vos um doce do Norte: a Queijadinha de Barcelos

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DA A L M AS A B O R E S L U S O S E M E S TA D O S Ó L I D O

Hernâni ErmidaChef

[email protected]

OBSERVA - MAGAZINE | PAG 59O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

RECEITANum tacho leva-se 250 gramas de açúcar a ponto pérola e

junta-se 250 gramas de amêndoas raladas. Quando a mas-

sa arrefecer juntam-se 12 gemas de ovos batidas. Volta ao

lume para as gemas cozerem. Depois da pasta fria acres-

centa-se miolo de amêndoa ralado para dar o ponto de en-

formar. Embrulham-se em hóstia, com os dedos fecha-se

a massa e molda-se por forma a ficarem os bicos e obter a

forma de estrela. Vão ao forno em lume brando para secar.

Depois de pronta, a queijadinha tem uma consistência ma-

cia, embora o invólucro seja estaladiço».

Aguardo que me contem como ficaram as vossas queijadi-

nhas e também aguardo a vossa visita, em Barcelos.

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I N F O R M AÇ Õ E S L E G A I SA S « F É R I A S J U D I C I A I S » S Ã O A S F É R I A S D A J U S T I Ç A ?

Em Portugal os tribunais não con-seguem manter o ritmo habitual das audiências devido à indispo-nibilidade de juízes e oficiais de justiça entre 16 de julho e 31 de agosto. Este modo de funciona-mento também vigorou noutros países europeus.Estas «férias» traduzem, em boa verdade, a suspensão dos proces-sos correntes e não as férias dos Tribunais e da Justiça.Em muitos países europeus não existe este período de férias judi-ciais, como por exemplo, na Ale-manha, Republica Checa, Finlân-dia, Países-Baixos, não havendo portanto, períodos pré-definidos de férias judiciais.Em França, foi criado um me-canismo alternativo às férias judiciais, o «service allégé», ou seja, um serviço público da justiça simplificado, com regras próprias em termos éticos e processuais por parte dos agentes da justiça.

O artigo L 111-4 do Código da Organização Judiciária Francesa estabelece que « a permanência e a continuidade do serviço público de justiça estão sempre assegura-das », mas a lei prevê um “serviço ágil”, mais simples que o nor-mal durante o período em que os Magistrados beneficiam das suas férias anuais.Na prática, os tribunais france-ses estão em serviço em serviço simples 12 semanas por ano, oito semanas no verão, duas semanas no Natal e na Páscoa.Se, durante este período, as au-diências são menos complexas do que o habitual, a permanência do serviço público de justiça continua a ser assegurada com um número mínimo de presenças no trabalho e nas audiências, mas durante este período os atos processuais conti-nuam a ser efetuados.Já em Portugal, as diligências como audiências de julgamento estão suspensas, só os processos urgentes têm resposta imediata

dos tribunais (violência domésti-ca, processos de família e menores e de insolvência, entre outros).Por outro lado em França tudo continua sem qualquer interrup-ção mas de forma «mais leve», e a um ritmo menos acelerado.Em minha opinião, o sistema de férias judiciais em Portugal acaba por atrasar o decorrer normal dos processos, pelo que podia pensar-se em adotar o sistema francês, no qual não se interrompe o decorrer normal dos processos e evitando-se que se obrigue todos os magistrados e funcionários a gozar férias no mesmo período de tempo.Não podemos esquecer que os magistrados e auxiliares de justiça devem, para prestar uma justi-ça de qualidade, impor-se uma pausa da actividade normal para desenvolver actividades, como por exemplo reorganizar o tratamen-to dos dossiers, recuperar algum trabalho que se vai acumulando, realizar acções de actualização de informações e conhecimentos jurídicos que se sucedem a um ritmo vertiginoso. Os advogados podem ainda relançar os dossiers que tinham em mãos, mas que não eram tão urgentes ou prementes.Mas todos eles precisam de re-cuperar forças enquanto tiram férias merecidas, tendo em conta a aceleração e o peso da justiça judicial nas nossas democracias modernas e cada um ao seu ritmo e circunstâncias.

E M M I N H A O P I N I Ã O , O S I S T E M A D E F É R I A S J U D I C I A I S E M P O R T U G A L A C A B A

P O R A T R A S A R O D E C O R R E R N O R M A L D O S P R O C E S S O S ,

P E L O Q U E P O D I A P E N S A R - S E E M A D O T A R O S I S T E M A F R A N C Ê S

Jorge Mendes ConstanteAdvogado MCL Avocats

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I N F O R M AÇ Õ E S F I S C A I SC O M P R A S P E L A I N T E R N E T

Impostos especiais de consumoSe comprar produtos do tabaco ou bebi-das alcoólicas pela internet noutro país da UE, o preço inclui o imposto especial de consumo, independentemente da quan-tidade e mesmo se os bens em questão forem um presente.O vendedor é responsável pelo pagamen-to do imposto especial de consumo devi-do no país da UE de destino.Por conseguinte, deve prever que o preço deste tipo de produtos reflita a aplicação do imposto especial de consumo. Se o preço for muito baixo, confirme junto do vendedor se o imposto foi pago antes de concluir a compra. Se o vendedor não ti-ver pago o imposto especial de consumo devido, os bens podem ser confiscados pelas autoridades aduaneiras à chegada ou poderá ser obrigado a pagar o imposto devido. Deve certificar-se sempre de que o vendedor paga o imposto especial de consumo no país da UE de destino.

Exceção no caso dos serviços de telecomunicações, serviços de radiodifusão e televisão e serviços eletrónicosO IVA sobre os serviços de telecomunica-ções, os serviços de radiodifusão e televi-são e os serviços eletrónicos é cobrado no país onde vive o consumidor (país onde este está estabelecido ou tem residência permanente ou habitual) e não no país onde o serviço foi comprado. Estas regras são aplicáveis a serviços adquiridos tanto na UE como fora da UE.

Exceções aplicáveis a outros serviços adquiridos pela internetQuando compra serviços pela internet a um vendedor estabelecido na UE, deve pagar a taxa de IVA do país onde está es-tabelecido o vendedor. Esta regra também se aplica se não viver no país da UE do co-merciante.

No entanto, existem muitas exceções a esta regra, nomeadamente:

• Serviços prestados por um interme-diário: o IVA é cobrado no país onde tem lugar a principal transação com o inter-mediário. Por exemplo, o dono de uma casa de férias situada em França deseja mudar alguns móveis para a sua casa na Suécia e solicita a um intermediário que encontre uma empresa de mudanças que o possa fazer. A comissão do intermediá-rio está sujeita ao IVA francês uma vez que o principal serviço (isto é, o transporte de mercadorias entre dois países da UE) tem lugar no ponto de partida.• Serviços relacionados com bens imo-biliários: são tributados no lugar onde se situa a propriedade. Por exemplo, se um arquiteto estabelecido em França for con-tratado para fazer o projeto de uma casa em Espanha, os seus honorários estarão sujeitos ao regime de IVA espanhol.• Transporte de passageiros: é tributado de acordo com a distância percorrida. Por exemplo, o preço de um bilhete de viagem de autocarro desde a Polónia até França passando pela Alemanha incluirá o IVA polaco, alemão e francês, na proporção

da distância percorrida em cada país. Se o autocarro também atravessar a Suíça, não será cobrado IVA sobre essa parte do trajeto, uma vez que a Suíça não pertence à UE.• Serviços de restauração e de refeição (exceto quando prestados a bordo de na-vios, aeronaves ou comboios): são tribu-tados no lugar onde as prestações de ser-viços são materialmente executadas. Por exemplo, uma empresa com sede no Lu-xemburgo que fornece alimentos e bebi-das num evento em Florença deve cobrar o IVA italiano.

Exceção no caso dos automóveisCaso compre um automóvel novo noutro país da UE, o IVA é liquidado no país para onde importa e regista o automóvel (isto é, o país onde reside). Este regime de IVA aplica-se igualmente a outros meios de transporte novos, como os grandes mo-tociclos, os barcos e os aviões.

Cabe sobretudo ao vendedor o cumpri-mento das regras fiscais consoante o meio que usa para vender os seus produ-tos, mas é de todo conveniente que o con-sumidor esteja consciente das regras fis-cais para poder comprar ao melhor preço e fazer as melhores escolhas.Se mesmo assim tiver dúvidas, não hesite em falar com um contabilista certificado pelo sim pelo não.

Philippe FernandesBusiness Adviser

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