Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

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Ano 7 - Edição nº 41 - Agosto de 2012 Acesse o portal: Publicação INOVAÇÃO Energia solar chegará aos brasileiros em 2013 TECNOLOGIA Embrapa na reta final para o etanol de 2ª. geração DESENVOLVIMENTO Resíduos da cana podem gerar mais energia do que a Usina de Itaipu Especial FENASUCRO 2012 Distribuição gratuita APESAR DO GRANDE POTENCIAL,SETOR SUCROENERGÉTICO SEGUE EM CRISE

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O setor sucroenergético brasileiro vive hoje um paradoxo. De um lado, tem um imenso e evidente potencial de mercado, em vista da crescente onda de sustentabilidade e da preocupação geral em se instalar uma matriz energética limpa, renovável e barata. De outro, porém, esta indústria vivencia hoje uma profunda crise, que vem comprometendo os níveis de produção e comercialização de derivados da cana. Os temas que envolvem as problemáticas do setor estarão sendo debatidos durante a Fenasucro&Agrocana 2012, o mais importante evento de negócios da indústria sucroenergética do mundo, de 28 a 31/8 em Sertãozinho, polo regional da cana-de-açúcar, no interior de São Paulo. Nós, da Mercado Empresarial, fazemos nossa parte, dedicando ao setor esta edição. Boa leitura!

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Ano 7 - Edição nº 41 - Agosto de 2012

Acesse o portal:

Publicação

INOVAÇÃO Energia solar chegará aos brasileiros em 2013

TECNOLOGIA Embrapa na reta final para o etanol de 2ª. geração

DESENVOLVIMENTO Resíduos da cana podem gerar mais energia do que a Usina de Itaipu

Especial FENASUCRO 2012

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APESAR DO GRANDE POTENCIAL,SETOR

SUCROENERGÉTICOSEGUE EM CRISE

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Mercado Empresarial

SETOR SUCROENERGÉTICO NECESSITA ESTRATÉGIA GOVERNAMENTAL DE

LONGO ALCANCE

setor sucroenergético brasileiro vive hoje um paradoxo. De um

lado, tem um imenso e evidente potencial de mercado, em vista

da crescente onda de sustentabilidade e da preocupação geral em

se instalar uma matriz energética limpa, renovável e barata. De outro,

porém, esta indústria vivencia hoje uma profunda crise, que vem com-

prometendo os níveis de produção e comercialização de derivados da

cana. O quadro atual é de envelhecimento e baixa produtividade dos

canaviais, preços pouco remuneradores, descapitalização generalizada,

carência de linhas de crédito e endividamento acentuados das usinas –

estima-se que os débitos somados se situem na casa dos US$ 42 bilhões.

E, para arrematar, paira na área um considerável grau de incerteza sobre

o que virá mais à frente.

Na opinião de especialistas, o setor necessita mais do que nunca que

o Governo Federal delineie uma estratégia de longo alcance que possa

nortear os negócios de todos os elos da vasta cadeia produtiva envolvida

– ao invés de medidas pontuais ou políticas localizadas. Somente desta

maneira, se poderia aumentar e direcionar melhor os recursos, conceber

planos de expansão, elevar a competitividade dos derivados da cana e

explorar o vasto potencial oriundo das demandas emergentes de energia

renovável. Segundo o representante da União da Indústria de Cana-

de-Açúcar (Unica) em Ribeirão Preto, Sergio Prado, é imprescindível

estabelecer regras para o investimento e para isso o País tem de definir

o tamanho do mercado e a oferta de etanol que deseja ter.

Os temas que envolvem as problemáticas do setor estarão sendo de-

batidos durante a Fenasucro&Agrocana 2012, o mais importante evento

de negócios da indústria sucroenergética do mundo, de 28 a 31/8 em

Sertãozinho, polo regional da cana-de-açúcar, no interior de São Paulo.

Nós, da Mercado Empresarial, fazemos nossa parte, dedicando ao setor

esta edição. Boa leitura!

O

editorial

expediente

Coordenação: Mariza SimãoRedatora: Sonnia Mateu - MTb 10362-SPcontato: [email protected] nesta edição: Irineu Uehara e João LopesDiagramação: Rogério SilvaArte: Cesar Souza, José Francisco dos Santos,José Luiz Moreira, Edmilson Mandiar, Ivanice Bovolenta, Fellipe Moreira, Marilene Moreno, Hermínio Mirabete Junior, Ricardo Satoshi Yamassaki, Danilo Barbosa GomesDistribuição: FENASUCRO & AGROCANA 2012 (20º Feira Internacional da Indústria Sucroenergética e 10º Feira de Negócios e Tecnologia da Agricultura da Cana-de-Açúcar)

Matriz:São Paulo - Rua Martins Fontes, 230 - Centro CEP 01050-907 - Tel.: (11) 3124-6200 - Fax: (11) 3124-6273Filiais:Araçatuba - Rua Floriano Peixoto, 120 1º and. - s/ 14 - Centro - CEP 16010-220 - Tel.: (18) 3622-1569 Fax: (18) 3622-1309Bauru - Edifício MetropolitanRua Luso Brasileira, 4-44 - sl 1214 - 12º and.CEP 17016-230 - Tel.: (14) 3226-4068Fax: (14) 3226-4098 PiracicabaSisal Center - Rua Treze de Maio, 768sl 53 - 5º and. CEP 13400-300 - Tel.: (19) 3432 - 1434Fax.: (19) 3432-1524Presidente Prudente - Av. Cel. José Soares Marcondes, 871 - 8º and. - sl 81 - Centro - CEP 19010-000 Tel.: (18) 3222-8444 - Fax: (18) 3223-3690Ribeirão Preto - Rua Álvares Cabral, 576 -9º and. cj 92 - Centro - CEP 14010-080 - Tel.: (16) 3636-4628 Fax: (16) 3625-9895Santos - Rua Leonardo Roitman, 27 - 4º and. cj 48 - Santos - SP - CEP.: 11015-550Tel.: (13) 3224-9326 / 3232-4763São José do Rio Preto - Rua XV de Novembro, 3057 - 3º and. - cj 301 - CEP 15015-110 Tel.: (17) 3234-3599 - Fax: (17) 3233-7419

O editor não se responsabiliza pelas opiniões expressas pelos entrevistados.

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Fascículo Ecoturismo - Vol.4

sumário

Apesar do grande potencial,setor sucroenergéticosegue em crise

Panorama do setor

Meio Ambiente

Sustentabilidade

Pesquisa

Vitrine Release

Economia

Mercado

Evento

Opinião

Tecnologia

Inovação

Cases & Cases

Reflexão

O atual ciclo “vicioso” vivenciado pelo setor sucroenergético

Embrapa na reta final para o etanol de 2ª. geração

Energia solar chegará aos brasileiros em 2013

Uso do gás natural poderia salvar florestas?

Mais usinas paulistas conquis-tam o certificado “Etanol Verde”

Custo do aquecimento global na América Latina é de US$ 100 bi ao ano

Dicas de leitura

Brasil tem maior‘recife de algas’ do mundo

Cientistas fazem mapeamento microbiológico de solos com cana-de-açúcar

Fenasucro & Agrocana 2012 A maior vitrine de inovação tecno-lógica do setor sucroenergético

Família brasileira está mais otimista sobre o País, diz governo

Syngenta inaugura biofábrica para produção de Plene, uma tecnologia inovadora

Os bons frutos da economia verde

Bioeletricidade: o que falta para esta alternativa energética deslanchar

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Mais do que nunca, é preciso que o Governo Federal deli-neie uma estratégia de longo alcance

DEstino Brasil: Cerrado & CaatingaNesta edição:

Desenvolvimento

Resíduos da cana podem gerar mais energia do que a Usina de Itaipu55

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Mais do que nunca, é preciso que o Governo Federal delineie uma estratégia de longo alcance

panorama do setor

APESAR DO GRANDE POTENCIAL,SETOR

SUCROENERGÉTICOSEGUE EM CRISE

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panorama do setor

m se tratando do segmento sucroener-gético no Brasil, um aparente paradoxo chama, de imediato, a atenção dos

observadores. Existe, de um lado, um imenso e evidente potencial de mercado, em vista da crescente onda de sustentabilidade e da preocu-pação geral em se instalar uma matriz energética limpa, renovável e barata. De outro lado, porém, a realidade inegável é que esta indústria vivencia hoje uma profunda crise, que vem comprome-tendo os níveis de produção e comercialização de derivados da cana.

O quadro atual é de envelhecimento e bai-xa produtividade dos canaviais, preços pouco remuneradores, descapitalização generalizada, carência de linhas de crédito e endividamento acentuados das usinas – estima-se que os débitos somados se situem na casa dos US$ 42 bilhões. E, para arrematar, paira na área um considerável grau de incerteza sobre o que virá mais à frente. Na opinião dos especialistas entrevistados por Mercado Empresarial, esta indústria, como nunca antes, precisa que o Governo Federal de-lineie uma estratégia de longo alcance que possa nortear os negócios de todos os elos da vasta cadeia produtiva envolvida (para uma discussão mais detalhada deste tema, leia o texto “Cresci-mento depende de estratégia abrangente”).

Sérgio Prado, representante da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto, não hesita em externar um grave diagnós-tico: “Nosso setor parou ou até descresceu. A oferta de cana é limitada, houve um pé no freio nos negócios com etanol e não temos fôlego para atender a demanda”, admite ele, notando que o escasso capital disponível foi empregado para salvar os balanços de um sem-número de empresas deficitárias.

De 2008 para cá, recapitula Prado, tem havido desaceleração dos investimentos, pre-judicando os projetos de expansão e a própria renovação do plantio, sem mencionar a inci-dência de condições climáticas adversas que prejudicaram os canaviais. Um resultado visível desses atropelos foi a crise de abastecimento que, no ano passado, levou o Brasil a importar álcool combustível dos EUA. Embora hoje ape-nas 35% da frota de veículos leves seja movida a etanol (contra 54% em 2009), o consumo subiu devido à colocação de mais carros nas ruas, aumentando o “gap” na oferta.

Para se compreender melhor o panorama

vigente, é preciso remontar aos acontecimentos de alguns anos atrás. De 2005 a 2008, tinha ocorrido uma vigo-rosa alavancagem dos investimentos em novas usinas e instalações, pois se aguardava um “boom” na demanda, o que de resto atraiu muitos capitais externos. “Além da significativa expansão da frota de veículos ‘flex” a partir de 2005, havia a perspectiva de que se exportaria muito álcool combustível para os EUA”, recorda Renata Marco-nato, analista para o ramo sucroalcooleiro da consultoria MB Agro.

Efeitos da crise econômicaA maré, no entanto, virou de vez nos últimos meses

de 2008, quando a crise econômico-financeira global teve intensa repercussão nesta indústria, pega então no contrapé. Como explica Marco Antonio Conejero, gerente do Centro de Inteligência em Agronegócios da Pricewa-terhouseCoopers no Brasil, a catástrofe ocasionou uma súbita escassez de crédito, acompanhada da depreciação nos preços dos derivados da cana. “O custo do capital era elevado, as usinas não dispunham de caixa e o nível de inadimplência subiu”, resume ele.

Desencadeou-se, em meio às turbulências, uma onda de vendas de companhias brasileiras para multinacionais, fazendo com que a participação estrangeira dobrasse em pouco tempo, subindo de 12% para 25%. “O capital de fora acabou por salvar muitas empresas que estavam em dificuldades”, rememora Sérgio Prado. O ambiente hostil gerado pela crise, aliás, aprofundara uma ten-dência real de desnacionalização que já estava em curso, na medida em que as companhias mais fragilizadas se viram compelidas a atrair rapidamente sócios ou compradores.

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“Nosso setor parou ou até descresceu. A oferta de cana é limitada, hou-

ve um pé no freio nos negócios com etanol e não temos fôlego para

atender a demanda”

Sérgio Prado, representante da Unica (União da Indústria

de Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto

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panorama do setor

Foram, nesse sentido, levadas a efeito numerosas transações de monta, tais como a aquisição do Grupo Moema pela multinacional Bunge e a chegada do maior conglomerado refinador de

açúcar da Índia, o Shree Renuka Sugars – os indianos ficaram com 50,8% da Equipav Açúcar e Álcool. Outros exemplos ilustrativos: a francesa Dreyfus adquiriu 60% de participação na Santelisa Vale e a Shell e a Cosan constituíram uma joint venture. Até a Petrobras Biocombustíveis, um peso-pesado nacional, fez polpudos aportes nas empresas São Martinho e Açúcar Guarani, de olho nas potencia-lidades do álcool de cana Atualmente, porém, em decorrência dos impasses vividos por esta indústria, houve uma freada no ingresso de dinheiro novo.

Os efeitos combinados da retração econômica e das fusões e aquisições havidas se fizeram sentir da seguinte forma: 1 - Muitas usinas não renovaram as áreas cultivadas com variedades melhores de cana. Calcula-se que, para se obter maior eficiência, é

preciso modernizar pelo menos 20% das plan-tações por ano, o que esteve longe de ocorrer; 2 - As mudanças nos estilos de gestão, devido às trocas de comando nas usinas, mexeram nas equipes que vinham tocando as operações; 3 - Numerosos fornecedores deixaram de firmar novos contratos com os clientes.

Condições climáticas adversasPara culminar, conforme nota Renata Mar-

conato, os plantadores enfrentaram três anos consecutivos de clima desfavorável. Houve excesso de chuvas em 2010, impedindo o uso de máquinas na colheita e reduzindo a qualida-de da cana, seguindo-se um 2011 marcado por uma seca inclemente. E a atual safra está sendo afetada, mais uma vez, por índices elevados de precipitações pluviométricas.

O resultado foi que, na região Centro-Sul, onde se concentra o grosso das usinas, a pro-

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Marco Antonio Conejero, gerente do Centro de Inteligência em Agronegócios da

PricewaterhouseCoopers no Brasil

“O custo do capital era elevado, as usinas não dispunham de caixa e o

nível de inadimplência subiu”

dução caiu de 85 toneladas/hectare para apro-ximadamente 70 toneladas/hectare. “Como se trata de commodities, os preços praticados estão muito próximos dos custos de produção, o que alimentou a crise”, pondera Marco Co-nejero. Com resultados tão decepcionantes, as empresas estão contendo os investimentos e algumas até mesmo ensaiam uma movimenta-ção para sair desta área.

No ano de 2009, um fenômeno que havia contribuído decisivamente para amenizar as agruras dos usineiros foi a quebra da safra na Índia, evento que deflagrou uma expressiva alta das cotações internacionais do açúcar, impul-sionando sobremaneira as receitas brasileiras com as exportações do produto. As empresas conseguiram, deste modo, fazer caixa e ree-quilibrar as contas. Naquela altura, o etanol também acusava bons níveis de venda, em linha com o aumento da frota dos automóveis “flex” no Brasil.

Este desafogo, entretanto, foi momentâneo. A Índia retomou os níveis de produção, obtendo uma boa safra em 2011, reação que se verificou igualmente em outros países asiáticos, como a Tai-lândia. “O cenário passou a ser de superávit global de açúcar. E o Brasil começou a produzir pouco, junto com preços de comercialização rebaixados. Assim, as usinas poderão perder dinheiro com esta ‘commodity’ se não promoverem uma renovação na produção”, adverte Conejero.

No pico da armazenagem de açúcar no País, em setembro e outubro, projeta-se que haverá 12 milhões de toneladas estocadas, volume quase 50% superior aos 8,5 milhões de toneladas em igual período de 2011. A situação, por outro lado, poderá melhorar se for confirmada a previsão de queda na produção na Índia, devido às secas, e de aumento na procura por parte da China.

Os dados da balança comercial, coligidos pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior), atestam esta perda de proeminência do açúcar. Em 2011, os volumes exportados haviam sido de 25,357 milhões de toneladas, um recuo de 9,4% sobre os 28 milhões comercializados em 2010 (ano de auge nos em-barques). No primeiro semestre deste ano, foram vendidas lá fora 7,503 milhões de toneladas, um declínio de 20% sobre os 9,366 milhões de janeiro-junho de 2011.

No que tange ao etanol, o maior entrave vem dos preços controlados com que a gasolina é forne-cida há seis anos, o que a torna bem mais atraente para os consumidores abastecerem os veículos. O público acabou-se habituando com o limite fixado para que o combustível verde seja mais vantajoso. Em razão desta depreciação dos preços, as usinas, de acordo com Conejero, não estão ganhando com a venda do álcool, ficando sem retorno sobre os desembolsos feitos em insumos, defensivos agrí-colas e maquinário.

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panorama do setor

Ana Maria Castelo, economista da FGV e consultora do Sinduscon-SP

Como medida de estímulo, esperava-se que o governo liberasse o preço da gasolina para equipará-lo aos praticados no mercado externo, além de reduzir a Cide (Contribuição de Inter-venção no Domínio Econômico) sobre o etanol nas bombas. Ocorreu, contudo, justamente o oposto: em junho, o governo optou por zerar a Cide sobre a gasolina e o óleo diesel, com o objetivo de reduzir os impactos do reajuste decretado pela Petrobras (mais detalhes A res-peito deste tema no texto “Crescimento depende de estratégia abrangente”).

Combate à inflaçãoComo se sabe, o controle sobre os custos

dos combustíveis fósseis faz parte da política de combate à inflação. Por essas e por outras,

o etanol hidratado, que responde por um percentual entre 25% e 30% da renda dos usineiros, está sendo vendido com margem negativa, com reflexos diretos na remune-ração da cana.

No comércio externo, as exportações de álcool têm se mantido em nível discreto, revelam os números do MDIC. Após um pico de 5,1 bilhões de litros comercializados internacionalmente pelo País em 2008, os volumes caíram para 3,3 bilhões em 2009, 1,9 bilhão em 2010 e 2 bilhões em 2012. No primeiro semestre deste ano, exportou-

se um montante de 0,5993 bilhão, uma alta de 9,6% em relação ao total de 0,5465 bilhão contabilizado nos meses de janeiro a junho de 2011.

Para o curto prazo, as perspectivas não são propícias, na medida em que os vetores que empurram os negócios para baixo tendem a perdurar por mais algum tempo, a começar pelo clima. O Brasil, conforme dados da consultoria Datagro, deverá processar na presente safra um total de 565 milhões de toneladas, com a região Centro-Sul respondendo por 500 milhões, fi-cando o Nordeste com 65 milhões. Em 2011, o total produzido havia sido de 495 mihões.

Estatísticas recentes divulgadas pela Unica demonstram que a situação, de fato, não vai bem. Desde o início da safra 2012/2013 até pri-meiro de julho último, a moagem das unidades produtoras da região Centro-Sul somou 128,31 milhões de toneladas, um recuo de 27,7% frente às 177,70 milhões de toneladas de igual período do ano anterior. Segundo a entidade, a opera-cionalização da colheita seguiu prejudicada por chuvas torrenciais, tendo aumentado o número de dias de atividade perdidos – calcula-se um atraso na moagem da ordem de 30%.

Segundo o CTC (Centro de Tecnologia Ca-navieira), a produtividade da área colhida desde o início da safra neste ano (74,87 toneladas de cana por hectare) ainda é 2,5% inferior à de 2011 (76,79 toneladas por hectare). No acumu-lado até primeiro de julho, a concentração de ATRs (Açúcares Totais Recuperáveis) foi 3,8% menor do que a do mesmo período do ano

“O mais importante agora é haver maior

transparência e segurança sobre as próximas ações do

governo, a fim de se saber que margens será

possível obter”

Renata Marconato, analista para o ramo sucroalcooleiro

da consultoria MB Agro

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panorama do setor

anterior (118,56 kg por tonelada de matéria-prima, contra 123,34 kg por tonelada).

Produção de derivadosDo total da cana processada até primeiro

de julho, 53,82% destinou-se à geração de etanol, cujo volume somou 4,82 bilhões de litros – 3,36 bilhões de litros de hidratado e 1,46 bilhão de litros de anidro. A produção de açúcar bateu nos 6,69 milhões de toneladas, um declínio de 28,8% na comparação com os 9,40 milhões de toneladas fabricadas em igual período de 2011.

No acumulado de abril até primeiro de julho, as vendas somadas de etanol alcançaram 4,71 bilhões de litros (2,78 bilhões de litros de hidra-tado e 1,93 bilhão de litros de anidro), desempe-nho 8,15% abaixo do montante comercializado nos mesmos meses do ano passado. Daquele total, 9,62% destinou-se às exportações.

Ao analisar a conjuntura, Danilo Daniel dos Santos, gerente administrativo da Equilíbrio, fabricante de equipamentos, concorda que, genericamente falando, as expectativas até o final do ano não são positivas, já que as usinas não estão investindo em novos produtos e estão sem grandes projetos “greenfield” (construção de unidades de processamento).

Além das questões peculiares a esta área, Santos observa que, a bem da verdade, a indús-tria nacional como um todo está enfrentando dificuldades e perdendo competitividade. “Vi-vemos um momento em que falta qualidade à mão de obra empregada, os custos de produção são altos em razão dos encargos e impostos, há uma burocracia e legislação trabalhistas que estão engessando nossa produtividade e inova-ção, sem esquecer dos problemas de logística e da carência de linhas de crédito acessíveis”, enumera ele.

Por sua vez, tentando vislumbrar o cená-rio um pouco mais à frente, Vanessa Nardy, analista sênior do Centro de Inteligência em Agronegócios da PricewaterhouseCoopers no Brasil, afirma que poderá haver recuperação em 2014/15, desde que nada de grave ocorra até lá. “Fatores como a evolução do mercado, o clima, as políticas oficiais para os combustíveis, entre outros, determinarão a peformance do setor”, conclui ela.

ais do que medidas pontuais ou políticas localizadas, a indústria sucroenergética necessita da formulação de uma estratégia abrangente, de longo alcance, que possa balizar os rumos a serem tomados daqui por

diante. Somente desta maneira, dizem os especialistas ouvidos por Mercado Empresarial, se poderia aumentar e direcionar melhor os recursos, conceber planos de expansão, elevar a competitividade dos derivados da cana e explorar o vasto potencial oriundo das demandas emergentes de energia renovável.

Cabe, em outros termos, dissipar as incertezas que ainda tur-vam o horizonte, as quais vêm estancando a entrada de recursos e até fazendo com que determinadas empresas desistam de operar. “Não adianta olhar para trás agora. É imprescindível estabelecer regras para o investimento e para isso o País tem de definir o tamanho do mercado e a oferta de etanol que deseja ter”, precei-tua Sérgio Prado, representante da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto.

Enfatizando que o capital estrangeiro só continuará a desem-barcar por aqui se houver garantias de retorno, Prado declara que a indústria aguarda uma sinalização mais concreta do governo, com quem, por sinal, vem dialogando há muito tempo nesse sentido. Se a meta traçada for, por exemplo, voltar a abastecer metade da frota leve de veículos, e ainda gerar excedentes exportáveis, já estarão dadas as condições de incrementar expressivamente a produção, ficando mais fácil aquilatar qual o tamanho do investi-mento necessário para tanto. Seria possível, deste modo, ocupar a capacidade ociosa existente hoje, que a Unica dimensiona em 150 milhões de toneladas de cana.

Complementando, Renata Marconato, analista para o ramo sucroalcooleiro da consultoria MB Agro, assinala que o capital externo que entrou não foi suficiente para possibilitar uma re-tomada, exatamente porque as perspectivas não estão claras. “O mais importante agora é haver maior transparência e segurança sobre as próximas ações do governo, a fim de se saber que mar-gens será possível obter”, pontua. Ela lembra, a propósito, de um fato negativo havido no ano passado, quando as autoridades ameaçaram impor uma maior taxação sobre o açúcar a fim de estimular a produção do etanol.

CRESCIMENTO DEPENDE DE ESTRATÉGIA AbRANGENTE

É imprescindível que o Governo estabele-ça uma política transparente

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Preservação da lucratividadeEndossando estas avaliações, José Luiz Olivério,

vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini, entende que a solução para destravar os investimentos é desenhar uma política pública na-cional que preserve a lucratividade a médio e longo prazos. “Isso não ocorre desde a crise de 2008, o que é confirmado pela retirada da Cide (Contri-buição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre a gasolina, tendo sido mantidas todas as taxas e impostos sobre o etanol. Essa decisão prejudica economicamente o setor, pois a gasolina representa um teto de preço para o etanol”, pormenoriza ele, adicionando que o País carece de definições claras quanto ao posicionamento do álcool combustível na matriz energética.

Concretamente, portanto, o governo precisaria propiciar ao biocombustível vantagens equiparáveis às concedidas à gasolina, promovendo a desonera-ção dos custos e reduzindo a tributação na ponta do consumo. “Nas condições atuais”, pondera Sérgio Prado, “o etanol hidratado, comercializado nos postos de combustíveis, tem baixa competitividade em relação ao concorrente.”

O governo, aliás, sinalizou que até setembro poderá lançar um conjunto de medidas de apoio, o que incluiria a retirada do PIS/Cofins sobre o etanol, além do incentivo aos investimentos – redu-zindo o IPI sobre compras de equipamentos – e da concessão de juros mais baixos. Estas providências poderiam representar os primeiros passos na direção

certa. De outra parte, a realização de leilões específicos para a compra de bioeletricidade (energia elétrica gerada a partir das sobras da cana), um pleito antigo do setor, também estaria em análise pelas autoridades.

A fixação de diretrizes deve respaldar-se em uma visão holística, que dê conta de toda a complexidade deste segmento, preconiza Marco Antonio Conejero, gerente do Centro de Inte-ligência em Agronegócios da Pricewaterhouse-Coopers no Brasil. “O ideal seria dar condições estruturais para que o setor possa crescer por si só, o que pressupõe que ele dependa menos do açúcar e migre a maior parte da produção para o etanol”, sugere ele. Esse encaminhamento, de quebra, poderia favorecer a melhora nas cotações do próprio açúcar, dado que o Brasil responde hoje por mais de 50% da produção mundial desta riqueza.

Na verdade, trata-se de permitir a franca ampliação do “mix” das usinas, escapando da “commoditização”. Como explica Vanessa Nardy, analista sênior do Centro de Inteligência em Agronegócios da PricewaterhouseCoopers no Brasil, a diversificação de produtos daria aos fabricantes maior fôlego para enfrentar as oscilações do mercado. “A saída viável seria apostar em derivados de alto valor agregado, como por exemplo o plástico verde, o etanol celulósico, o biocombustível para aviação e o biodiesel de cana”, ilustra ela. O próprio açúcar,

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José Luiz Olivério, vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini

“No aspecto da instalação industrial, existem fornecedores nacionais que podem disponibi-lizar soluções que representam a excelência tecnológica para cada estágio ou parte do processo produtivo”

de resto, poderia ser fabricado com maior variedade de tipos, atendendo a novos desejos dos consumidores.

Neste esforço de recuperação, a indústria canavieira ressalta que os investimentos não deverão sair apenas do governo. Sérgio Prado, embora destaque que o BNDES continuará sendo importante (desde que haja melhores condições para liberar o crédito), estima que 40% do capital deverá provir do próprio setor. “Mas o dinheiro investido precisa ser remu-nerado, com o etanol pagando os custos de produção”, salienta ele.

Condições para retomada já existemEm temos gerais, os pilares de uma política

de resgate desta indústria já estão mais do que assentados. Pioneiro na substituição do com-bustível fóssil com a criação do programa Pro-alcool (Programa Nacional do Álcool), nos idos de 1976, o Brasil ocupa um lugar privilegiado na busca por soluções para a crise ambiental do planeta. Hoje há no País cerca de 554 usinas em atividade, mobilizando 500 mil pessoas na área agrícola, mais 1,2 milhão no ramo agroin-dustrial. São Paulo abriga o maior número de unidades (209 delas), seguido por por Goiás (73) e Minas Gerais (67). Com o avanço desse mercado, aumentam as possibilidades de negó-cios para todas as regiões brasileiras.

José Luiz Olivério, da Dedini, calcula que há

no País uma demanda reprimida que, para ser contem-plada, exigiria a moagem de 800 milhões de toneladas por safra, bem acima, portanto, da oferta atual, que, como vimos, é inferior a 600 milhões. A capacidade industrial de processamento das usinas está no patamar de 700 milhões.

“Mesmo com esse descompasso, o segmento está parado, sem investimentos em capacidade”, diagnostica ele. Para atender o consumo esperado, os empresários deveriam, simultaneamente, mobilizar-se em quatro frentes, assim elencadas por Silvério: recompor a lavoura, estender o plantio de cana e iniciar a im-plantação agrícola e a industrial dos novos projetos “greenfields”.

Nas estimativas da Unica, a fim de garantir a dispo-nibilidade de etanol até 2020, o Brasil terá de construir mais 120 usinas de porte avantajado, além da expansão das atuais, com investimentos de R$ 156 bilhões, sendo R$ 110 bilhões voltados para a área industrial e R$ 46 bilhões para a agrícola. Com isso, se poderia elevar a moagem para 1,2 bilhão de toneladas da matéria-prima em 2020, gerando 350 mil empregos diretos e 750 mil indiretos. “O setor já conseguiu dobrar a produção entre 2003 e 2010. Repetir este feito seria perfeitamente possível, se o Brasil conseguir efetivamente desenhar metas de longo prazo”, assegura Prado.

O potencial para ganhos de produtividade é grande, acrescenta Renata Marconato, da MB Abro. Além de haver mais áreas disponíveis para o cultivo, argumenta ela, a indústria canavieira já deu início à mecanização do plantio, após ter mecanizado a colheita há alguns anos, notadamente nos Estados mais adiantados, como no caso de São Paulo.

Olivério, em tom otimista, não tem dúvidas sobre os bons negócios à vista: “O curto prazo é de crise, mas o cenário de médio e longo prazos é extrema-mente promissor em vista dos planos de expansão do segmento. Os sinais que estamos recebendo mostram que as empresas acreditam na superação das incertezas, voltando a investir em aumento de capacidade a partir de 2013”. Atualmente, relata ele, a Dedini tem recebido consultas e preparado orçamentos nessa direção, por solicitação dos clientes.

panorama do setor 13mercado empresarialmercado empresarial

Page 14: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

e a intenção é fazer do Brasil um grande e dinâ-mico pólo global nas áreas de biocombustíveis e de bioquímica, tirando máximo proveito dos múltiplos recursos oferecidos pela cana, as bases

tecnológicas para concretizar este projeto já estão dis-poníveis. É o que garantem os fornecedores de plantas e equipamentos para a indústria sucroenergética.

Em que pesem as dificuldades conjunturais, como as que entravam hoje o desempenho do segmento, muitos produtores instalados já operam com elevados índices de eficiência e produtividade, atesta Danilo Daniel dos Santos, gerente administrativo da Equilíbrio. “O ramo sucroenergético e toda sua cadeia produtiva vêm avan-çando tecnologicamente ano a ano, sendo referência mundial na produção de etanol e açúcar por meio da cana”, afiança ele.

Após uma evolução que transcorreu ao longo de décadas, observa Santos, o Brasil é o país que mais tem usinas em operação em todo o mundo, tendo originado

uma vasta cadeia de fornecedores para atender as mais de 500 unidades pro-dutoras. Dessa maneira, os implemen-tos comercializados pelos fabricantes nacionais, acrescenta o executivo, são de tecnologia e qualidade superiores quando comparados à maior parte dos produtos ofertados pelas empresas de fora. “Hoje, temos excelência tecnológica em todo o processo dentro de uma usina, desde estudos genéticos que aumentam a produtividade da matéria-prima até equipamentos de ponta dentro do parque industrial para geração do produto final”, pormenoriza o gerente da Equilíbrio.

De sua parte, José Luiz Olivério, vice-presidente de tecnologia e desenvolvi-mento da Dedini, lembra que a liderança tecnológica do País nesta indústria é decorrente dos investimentos efetuados pela iniciativa privada no desenvolvimento

e implantação de inovações incrementais e até com quebra de paradigmas.

“No aspecto da instalação industrial, existem fornecedores nacionais que podem disponi-bilizar soluções que representam a excelência tecnológica para cada estágio ou parte do pro-cesso produtivo”, situa Olivério. A indústria de equipamentos do Brasil, pondera ele, oferece as respostas mais sofisticadas quanto à capacidade de produção, eficiência, rendimento, integração energética e de processos, agregação de valor e sustentabilidade. “Tais soluções podem ser consideradas superiores ou, no mínimo, iguais àquelas encontradas no mercado internacional”, reforça ele.

Nível tecnológico desigualNo entanto, o estado-da-arte na infraestru-

tura não se faz presente em todas as usinas. Na estimativa da Dedini, a maioria das unidades construídas a partir de 2003 desfruta de alto nível tecnológico, perfazendo um universo de cerca de 25% delas. Há um outro grupo, constituído por empreendimentos antigos que foram repaginados e passaram por um

DISPõEM DE TECNOLOGIA DE PONTA

USINAS

S

Setor sucroenergético brasileiro é referência

mundial

panorama do setor

“O ramo sucroenergético e toda sua cadeia pro-dutiva vêm avançando tecnologicamente ano

a ano, sendo referência mundial na produção de

etanol e açúcar por meio da cana”

Danilo Daniel dos Santos, gerente administrativo da

Equilíbrio.

14

Page 15: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

“upgrade”, representando aproximadamente 10% do total. “O resultado é que há mais de 50% das usinas defasadas tecnicamente, em especial nos aspectos de otimização energética e de sustentabilidade. Para essas, o nível tecno-lógico existente está aquém da possibilidade de otimização”, assinala Olivério.

Danilo dos Santos também constata que uma parte do nosso parque fabril segue em-pregando tecnologias obsoletas, em contraste com as companhias nacionais que são referência mundial em eficiência produtiva. “Ainda não há incentivo financeiro e tributário que dê fôlego para as indústrias investirem em suas plantas. Precisamos de mais transparência e simplici-dade nas leis, de capital barato para incentivar a inovação e aquisição de equipamentos com maior tecnologia, a fim de que isso se reflita na redução dos custos e no aumento da pro-dutividade”, advoga o gerente administrativo da Equilíbrio.

Para aprimorar a capacitação do setor, complementa Olivério, o que está faltando é a reedição dos projetos “greenfields”, além da mudança de mentalidade pela qual se

busca adquirir uma usina com base no menor custo de investimento inicial, em detrimento dos benefícios aportados a médio e longo prazos. “Em paralelo com a retomada de outros empreendimentos, através de mecanismos decorrentes de políticas públicas, novas linhas de financiamento devem ser disponibilizadas ao mercado, induzindo a escolha das tecnologias de melhor eficiência, desempenho, produtividade e sustentabilida-de”, conclui ele.

Gestão também é modernizadaOutro ganho que vem despontando no segmento

é a melhoria dos processos de gestão, visando maximi-zar a eficiência operacional e a geração de resultados, além de contemplar os requisitos de responsabilidade socioambienal. O forte ingresso de capital externo, com a entrada de várias multinacionais deflagrando uma onda de fusões e aquisições de empresas, acabou reforçando a modernização das práticas de governança corporativa.

Conforme descreve Marco Antonio Conejero, gerente do Centro de Inteligência em Agronegócios da PricewaterhouseCoo-pers no Brasil, são os novos requerimentos do mercado que forçam as organizações a imprimir maior profissionalização na gestão, com um controle de riscos mais rigoroso e maior grau de transparência. E esta ten-dência se reflete inequivocamente na preo-cupação com a agenda da sustentabilidade social e ambiental.

“O setor está mudando de cara, em vista das pressões da sociedade, do governo e do mercado. Talvez só a área de frigoríficos esteja sofrendo uma cobrança equivalente”, compara ele. Atualmente, “exige-se que toda a cadeia de valor esteja aderente às práticas sustentáveis, o que pressupõe a concessão de certificações e a divulgação de balanços corporativos em que estas ações estejam registradas”, detalha Conejero.

Outro foco das atenções, desta vez mais diretamen-te afeito ao lado social, é a requalificação profissional dos trabalhadores, fazendo com que, por exemplo, os colhedores de cana se transformem em mecânicos ou operadores de máquinas. “A meta é suprir de mão de obra todos os elos da cadeia produtiva, englobando a agricultura, a industrialização, a administração e a co-mercialização”, informa Vanessa Nardy, analista sênior do Centro de Inteligência em Agronegócios da Pricewa-terhouseCoopers no Brasil. Contudo, embora tenha havido melhora na oferta de capital humano, diz ela, os resultados desta iniciativa estão abaixo do ideal no que se refere ao atendimento da demanda existente. ME

“A meta é suprir de mão de obra todos os

elos da cadeia pro-dutiva, englobando a

agricultura, a industria-lização, a administração

e a comercialização”

Vanessa Nardy, analista sê-nior do Centro de Inteligência em Agronegócios da Pricewa-

terhouseCoopers no Brasil

panorama do setor 15mercado empresarialmercado empresarial

Page 16: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

opinião

m 22 de junho deste ano, o governo surpreendeu o setor sucroenergético com a notícia de nova redução da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) incidente sobre a gaso-

lina e óleo diesel com objetivo de reduzir os impactos do aumento dos preços dos combustíveis feito pela Petro-brás. A alíquota foi zerada com a intenção de diminuir a pressão inflacionária na economia que ocorreria com esse reajuste, mas grandes sequelas dessa política deverão afetar a indústria da cana ainda este ano.

Atualmente é vantajoso abastecer com etanol em ape-nas 3 estados – Goiás, São Paulo e Mato Grosso – isso porque estamos em plena safra, quando teoricamente os preços se encontram em níveis mais baixos e há maior consumo do biocombustível. Porém, infelizmente nesta safra não está sendo observado esse comportamento, uma vez que o consumo de etanol ainda está abaixo do esperado, abastecendo apenas 35% da frota de veículos leves do Brasil. Historicamente esse percentual já foi de 54%, superando em 2009 o consumo de gasolina. Entre-tanto, o que se observou foi uma reversão dessa tendência ao longo do tempo, embora as vendas de carros flex só tenham aumentado a partir de então. Hoje, estima-se que os veículos detentores dessa tecnologia já representem 50% da frota total no Brasil.

Seriam esses sinais de reversão no setor? Segundo o diretor-executivo da Única, Eduardo Leão, a indústria da cana “tem sobrevivido mais em função do preço do açúcar e do anidro. Agora o etanol hidratado, que responde por 25%, 30% da renda, está trabalhando com margem ne-gativa, o que também se reflete na remuneração da cana-de-açúcar”. Assim, somente uma desoneração fiscal traria de volta a competitividade com os combustíveis fósseis. A promessa é de que até setembro o governo lance um conjunto de medidas de estímulo ao segmento, inclusive a retirada do PIS e Cofins que está sob análise, incluindo

também a desoneração de investimentos e juros mais baratos.

Essas medidas prometem dar um alívio ao setor que se vê apertado desde a crise de 2008 e está passando por uma fase de estagnação, com a falta de novos investimentos em usinas e prin-cipalmente, no setor agrícola. A preocupação com o envelhecimento dos canaviais veio à tona com a quebra da safra 2011/12, onde os níveis de produtividade no Centro-Sul chegaram aos alarmantes 70 ton/ha. O sinal de alerta foi aceso e muitas usinas fizeram o dever de casa repensando suas estratégias na parte agrícola. Porém, algumas delas esbarraram no velho pro-blema da acessibilidade ao crédito. Apesar de existirem diversos programas de financiamento como o Pró-Renova, a demora e a burocracia envolvida nos processos inviabilizam muitos dos projetos que buscam esse crédito deixando o setor de mãos atadas, mais uma vez. Até agora o BNDES, responsável pelos recursos do Pró-Renova, só recebeu projetos no valor de ¼ do montante total disponível para o financiamento e desses projetos, apenas R$ 230 milhões foram liberados para uma usina no Paraná.

E assim o setor vai caminhando em meio a tropeços no desenrolar da safra 2012/13, que não deverá trazer grandes avanços com relação à produção. Estimativas já revisadas esperam uma moagem de 500 milhões de toneladas para o Centro-Sul e a produção de 32 milhões de toneladas de açúcar e 21 bilhões de litros de etanol.

Novamente, o clima vem exercendo influen-cia significante nesta safra, atrasando a moagem em um dos principais meses de colheita. O

E

O ATUAL CICLO “VICIOSO” VIVENCIADO PELO SETOR

SUCROENERGÉTICO*Por Marco Conejero e Vanessa Nardy

16

Page 17: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

opinião

excesso de chuvas ocorridas no mês de junho fez com que a moagem encerrasse o mês com um atraso de 30% quando comparada à safra anterior. Se esse atraso se mantiver e/ou houver novas interrupções como esta devido às más condições do tempo, corre-se o risco de encer-rarmos esta safra com mais cana bisada e con-sequente impacto na produtividade. Lembrando que essa safra 2012/13 já teve um início tardio em virtude da demora no amadurecimento da cana também provocada por fatores climáticos junto com o envelhecimento dos canaviais.

Além disso, o excesso de chuvas prejudicou a concentração de sacarose na cana, diminuindo a rentabilidade do ATR e consequente preço da cana. E essa oscilação também tem impacto no preço dos contratos de parceria fechados com base no índice cana campo.

Já vimos que o etanol se encontra em situ-ação delicada perante a concorrência com os preços da gasolina, assim a esperança está mais uma vez no preço internacional do açúcar, que tem apresentado tendências de melhora. Isso, pois a produção de açúcar na Índia deve cair em função da falta de chuva nas principais regiões produtoras. A seca prolongada na Rússia poderá afetar a safra de beterraba e reduzir a produção de açúcar no país. E por fim, a China sinalizou o aumento do interesse na compra de açúcar produzido no Brasil.

Essa redução da oferta contribuiu para o aumento das cotações do açúcar no cenário internacional, elevando os contratos fechados na Bolsa de Nova York para a média dos 21 cents/LP, após terem “passeado” pelas cotações em torno dos 19-20 cents/LP.

*Vanessa Nardy é analista sênior do

centro de inteligência em agronegócios da

PricewaterhouseCoopers e bacharel em economia

pela FEA-RP/USP.

*Marco Conejero é gerente do centro de

inteligência em agrone-gócios da Pricewaterhou-seCoopers, economista e doutor em administração

pela FEA/USP..

Porém, embora o cenário do comércio internacional esteja relativamente favorável, o Brasil vem apresentando desde o início do ano uma redução no ritmo de suas exporta-ções: até agora foram embarcados um volume acumulado 15% inferior. As chuvas concen-tradas em junho não afetaram somente a parte agrícola, mas também os embarques de açúcar nos principais portos do país. Com chuva não há embarque – simplesmente pelo fato dos terminais de carregamento não possuírem cobertura específica que impeça o contato do açúcar com a água.

E assim vemos novamente a indústria da cana à deriva no cenário internacional na es-perança de tentar salvar sua produção interna. A recente subida de preços é positiva quando vem da quebra da safra de concorrentes inter-nacionais, mas se está relacionada a questões que comprometem a nossa produção ame-açando também a competitividade externa pode não surtir os efeitos benéficos que são esperados. Portanto, para evitar mais uma safra com produção ameaçada, bem aventu-rados aqueles que diversificam a produção atacando novas fontes de receita, como os biopolímeros e químicos verdes. A diversifica-ção de negócios é a chave para que se adentre em um mercado de maior valor agregado, precavendo-se das oscilações do mercado de commodities que são tão maléficas ao agronegócio. Além disso, a diversificação pro-voca um amadurecimento das indústrias em termos de gestão, controles internos e visão de negócios que são extremamente atrativos a novos investidores. Investidores esses que podem trazer novo fôlego e dinamismo que tanto o setor precisa. ME

Evolução das exportações de açúcar – em mil toneladas

Fonte: SECEX/MDIC (2012). Adaptado por PwC Agribusiness Research & Knowledge Center.

17mercado empresarialmercado empresarial

Page 18: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

evento

onsiderado o mais importante evento de negócios da indústria sucroener-gética do mundo, a FENASUCRO & AGROCANA 2012 (20º Feira Inter-

nacional da Indústria Sucroenergética e 10º Feira de Negócios e Tecnologia da Agricultura da Cana-de-Açúcar) acontece de 28 a 31 de agosto em Sertãozinho, polo regional da cana-de-açúcar, no interior de São Paulo.

O evento é promovido pela Reed Multiplus, associada à Reed Exhibitions Alcanta-

ra Machado, o CEISE Br (Centro Nacional das Indústrias do Setor

Sucroalcooleiro e Biocombus-tíveis) e o Sindicato Rural de Sertãozinho e reunirá mais

de 500 empresas e mais de 32 mil profissionais do setor numa área

de 55 mil m2 no Pavilhão de Exposição do Centro de Eventos Zanini, onde o público

terá acesso às principais ferramentas e solu-ções tecnológicas para ganho de eficiência e produtividade nos negócios.

O megaevento também promove um am-plo debate sobre os rumos do setor, durante o Fórum Internacional sobre o Futuro do Etanol, o Workshop Fenasucro&Agrocana, o Seminário GEGIS, a reunião Gerhai e as roda-das de negócios do projeto APLA/APEX, que acontecem simultaneamente às feiras. Também fazem parte do portfólio de feiras e eventos do setor sucroenergético da Reed Multiplus as Mostras Sucroeste (GO) e Sucronor (PE), a Brazil Ethanol Trade Show (SP), Usina e Compras (SP) e Congresso ISSCT.

REfERênciaEste ano, a Fenasucro e a Agrocana com-

pletarão, respectivamente, 20 e 10 anos. Juntas, são referência em intercâmbio comercial para as usinas e profissionais, em mais de 40 países e plataforma de negócios para a agroindústria.

Com um público altamente qualificado, o evento está na agenda dos profissionais, autoridades e empresários do setor. Na edição anterior, foram registrados visitantes de 35

C

Soluções inovadoras, tendências e

conhecimento em alta

FEICON BATIMAT E EXPOLUX 2010

FENASUCRO AGROCANA

2012

A MAIOR VITRINE DE INOVAçãO TECNOLóGICA DO SETOR SUCROENERGÉTICO

18

Page 19: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

evento

Fenasucro 2011 - Vista externa

Edição 2011 do mais importante evento de negócios da industria sucroenergética do mundo

países, entre eles Alemanha, Austrália, Argentina, Canadá, Chile, China, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França e Inglaterra.

As feiras possuem ainda um papel importan-te na movimentação da economia na região de Sertãozinho, gerando cerca de 13 mil empregos temporários e R$ 5,5 milhões em turismo de negócios.

Em um cenário que aponta para a necessidade de investimentos no setor sucroenergético, as fei-ras representam o espaço ideal para a busca das mais modernas alternativas tecnológicas. Segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única), estima-se que o Brasil precise de novas usinas para garantir a oferta de etanol até 2020, aumentando a produção de 640 milhões de toneladas de cana para até 960 milhões. A demanda por máquinas encontra um mercado em expansão e é preciso investir cerca de R$ 80 bilhões para construir mais 150 usinas de cana-de-açúcar até 2020. ME

19mercado empresarialmercado empresarial

Page 20: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

economia

família brasileira está mais otimista em relação à situação socioeconômica do Brasil, segundo a 23ª edição do IEF (Índice de Expectativas das Famílias) feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada), fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Apurado em junho, o índice atingiu 68,5 pontos – valor 1,5 ponto acima do registrado em maio. A estimativa é superior ao mês de junho de 2010 e meio ponto percentual abaixo do maior valor verificado na série, em janeiro de 2012.

As regiões Centro-Oeste e Norte foram as principais responsáveis pelo aumento da confiança, ao terem mais expectativas em variados temas da pesquisa.

Segundo o Ipea, o brasileiro manteve-se otimista em todo o período entre junho de 2011 e junho de 2012. A expectativa das famílias sobre a situação da economia

no curto prazo, porém, caiu 1,8% de maio para junho, a 65% na última estimativa. A confiança na economia varia entre a mo-deração e o otimismo para os próximos 12 meses em todas as faixas de renda e escolaridade consideradas.

A região Centro-Oeste, que puxa a alta para o otimismo socioeconômico no índice geral, também é a responsável pela maior confiança na economia do

País. Quase 90% das famílias da região acreditam que a economia brasileira estará melhor nos próximos 12 meses.

Para o poder da economia brasileira no longo prazo, a confiança das famílias teve avanço no mês de junho,

com 63% delas otimistas com o desempenho nos próximos cinco anos.

Sobre a expectativa para a situação financeira, 75,5% indicaram estar melhor hoje do que há um ano – valor 2,3 pontos percentuais menor que o resultado de maio.

ConsumoCerca de 60% das famílias brasileiras estão con-

vencidas de que o momento é bom para o consumo de bens duráveis, o que expressa uma ligeira queda em relação à expectativa registrada em maio. Mais de 35% consideram, entretanto, que o momento não é ideal.

Mais da metade das famílias pesquisadas se diz sem dívidas. O estudo aponta que houve variação entre a quantidade de famílias endividadas e “no azul” de acordo com as regiões do País. A região Centro-Oeste apresentou alta na taxa de famílias sem nenhum endividamento, com 88,8% delas com as contas em dia. A região Sudeste é a segunda com o maior índice de famílias sem dívidas, de 60%.

TrabalhoAs famílias ainda estão otimistas em relação ao

mercado de trabalho. Para elas, a segurança na ocu-pação do responsável pelo domicílio e dos demais membros recuou, mas ainda se mantém elevada. As famílias brasileiras diminuíram em 2,6 pontos percentuais as expectativas da segurança de quem comanda a casa no mercado de trabalho, de 82,8% em maio para 80,2% em junho. Fonte: R7 ME

A

A região Sudeste é a segunda com o

maior índice de fa-mílias sem dívidas,

de 60%.

FAMíLIA bRASILEIRA ESTá MAIS OTIMISTA SOBRE O PAíS, DIz GOVERNO

Regiões Centro-Oeste e Norte foram as principais responsáveis pela maior confiança

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Page 21: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

economia

Supõe-se que preço da energia elétrica subirá entre 2013 e 2014, ano em que o Brasil vai sediar a Copa do Mundo. O evento deve aumentar a demanda por eletricidade no país, sobretudo nos setores relacionados à prestação de serviços, como metrô, shopping centers e hotéis, onde os condicionares de ar terão de permanecer ligados. A constatação é da Brix, plataforma eletrônica de comercialização de energia criada em 2011, através de seu primeiro indicador de preços futuros, cujo gráfico mostra que os agentes consideram uma elevação das cotações daqui a dois anos em relação ao valores pagos ao longo do ano que vem.

Nos contratos com vencimento em 2013, o mercado projeta preços de R$ 96 por MWh entre janeiro e julho e de R$ 95 o MWh entre julho e dezembro. A partir de 2014, porém, o gráfico mostra uma curva de alta. Os agentes

Copa do Mundo deve aumentar demanda por eletricidade

ENERGIA: MAIS CARA EM 2014

negociam a energia para entrega daqui a dois anos por R$ 100.

Os va lores não conseguem capturar possíveis fatores climá-ticos adversos, como períodos de seca, que influenciam o custo da energia no país. Esse custo está refletido no PLD (preço de liquida-ção de diferenças), que é divulgado semanal-mente com base nas informações fornecidas pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Segundo a Brix, a curva futura de preços não tem relação direta com os modelos matemáticos utilizados para cálculo do PLD. Com informações do Valor Online ME

LINhAS FERROVIáRIAS SEM USO TERãO qUE SER RECUPERADAS

Concessionárias de ferrovias terão de re-cuperar 5 mil quilômetros de estradas de ferro que estão absolutamente abandonadas, por exigência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) – segundo o jornal Valor Econômico. No total, são 49 trechos e as obras custarão cerca de 5 bilhões de Reais. A determi-nação do Governo atinge 3 das 12 empresas que controlam a malha nacional: América Latina Logística (ALL), Transnordestina Logística e Ferrovia Centro-Atlântica.

A avaliação da ANTT é que muitos trechos abandonados e em situação precária passaram a ter demanda, como, por exemplo, o corredor de 131km que liga os municípios paulistas de

Pradópolis e Barretos e onde existe hoje uma forte procura para viabili-zar o escoamento de cana, açúcar e álcool. Entretanto, segundo Fábio Coelho Barbosa, gerente de regula-ção e outorgas ferroviárias de cargas da ANTT, mesmo que não exista de-manda isso não desobriga as conces-sionárias de reformarem as estruturas abandonadas. Após a regularização, será verificado se a concessionária tem interesse em oferecer o serviço no trecho. “Caso ela não queira, a ferrovia ficará à total disposição do mercado”, comenta. ME

Em um dos trechos, entre Pradópolis e barretos, existe hoje uma forte procura para viabilizar o escoamento de cana, açúcar e álcool

21mercado empresarialmercado empresarial

Page 22: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

s empresas instaladas em território bra-sileiro perdem cerca de US$ 80 bilhões ao ano por causa da falta de investi-mentos públicos no setor de logística

– portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. É o que apontam cálculos feitos por Paulo Resen-de, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral (FDC). Resende diz que o valor corresponde a 4% do

Produto Interno Bruto (PIB), quantia idêntica ao volume que o País precisa investir anual-mente nos próximos dez anos para acabar com os gargalos do setor.

Para o pesquisador, isso sig-nifica que não há canais suficientes para escoar toda a produção nacional para os mercados interno e externo. De acordo com Resende, nos últimos 30 anos os aportes nos modais logísti-cos brasileiros ficaram estagnados em apenas 1,5% do PIB. “Dentre os Brics (grupo de países emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estamos em último lugar na relação entre o PIB e os custos logísticos, referentes a transporte (portos e aeroportos) e armazenagem (armazéns, distribuição)”, diz.

Ele explica que a referência para os cálculos foram os Estados Unidos, país de dimensões continentais e com matriz energética consoli-dada. Quanto menor o percentual do PIB gasto com logística, mais eficientes são os serviços.

“O custo logístico norte-americano é 8% do PIB. No Brasil, esse percentual é de 12%, ou seja, a competitivida-de menor gerou a diferença de 4% (que no caso do Brasil representam R$ 80 bilhões). Com os investimentos feitos nos últimos dez anos, a China alcançou o percentual de 8%, o mesmo dos EUA. A Índia e África do Sul estão com 10% cada uma”, afirma.

Resende avalia que um dos maiores problemas é a de-pendência das rodovias. “Segundo dados do Ministério dos Transportes, a malha rodoviária brasileira, de 1,6 milhão de quilômetros, transporta cerca de 60% de tudo que é mo-vimentado no País. Desse total, apenas 12% das rodovias são asfaltadas. Já a China e a Índia têm 1,6 milhão de km asfaltados, cada uma. O frete de um caminhão trafegando por uma via de terra cresce 30% sobre aquele feito em via asfaltada”, explica.

O pesquisador da Dom Cabral critica a pequena malha ferroviária, que, segundo projeções do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), deverá ser expandida dos atuais 28,6 mil quilômetros para 40 mil quilômetros em quatro anos, com recursos da ordem de R$ 30 bilhões. “Se a gente conseguir colocar esses 11 mil quilômetros de ferrovias em direção à fronteira agrícola, aumentaremos a competitividade da malha ferroviária”, avalia. O número de portos também é pequeno. “São oito mil quilômetros de costa e só os portos de Santos (SP) e Paranaguá (SC) têm capacidade de movimentar grandes volumes”, afirma. Apesar do cenário, Resende se diz otimista. “O Brasil, através do Programa de Ace-leração do Crescimento (PAC), voltou a colocar o inves-timento em logística na pauta pública nacional”, conclui. Fonte: Export News ME

Expansão da malha ferroviária ajudaria

A

BRASIL PERDE US$ 80 BILhõESPOR ANO COM GARGALOS LOGíSTICOS

economia22

Page 23: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

Seja pela crise fi-nanceira mundial, seja pela desvalori-zação do Real frente ao Dólar (encare-cendo as compras), a realidade é que as empresas brasileiras estão investindo menos em aquisições e participações no exterior . De janeiro a maio últimos, a saída líquida de recursos foi de US$ 2 bilhões, o que representa uma redução de 85% em relação aos US$ 13,8 bilhões do mesmo período do ano passado. Nos dois anos anteriores, despejaram US$ 45 bilhões em seu processo de internacionali-zação, de acordo com dados do Banco Central. Já o movimento na direção contrária - repatriação de recursos decorrente da venda de participações em empresas – saltou para US$ 3,8 bilhões, com alta de 342% em relação aos US$ 840 milhões do mesmo período de 2011.

Segundo especialistas, a tendência é as empre-sas brasileiras darem prioridade aos investimentos domésticos, tendo em vista que o crescimento do mercado local, ainda que moderado, deverá ser bem maior que nos países da Europa, por exemplo. Um dos exemplos é o Grupo Trigo, franqueador das marcas Spoleto, Domino’s Pizza e Koni Store, que adiou seu projeto para a Costa Rica e desistiu da ideia de abrir mais lojas na Argentina e na Austrália, por enquanto, para dar prioridade a seus negócios no Brasil. ME

O Governo Federa l anunciou, no final de junho, que vai comprar 3 mil pa-trulhas agrícolas (tratores e equipamentos agrícolas) no valor R$ 840 milhões para aumentar a produtividade

da agricultura. A medida faz parte de pacote de estímulo à economia no valor de R$ 8,4 bilhões, batizado de “PAC Equipamentos – Programa de Compras Governamentais”.

Segundo o portal do Agronegócio, também foi informada a compra de 3.591 retroescavadeiras, no valor de R$ 650 milhões, e 1.330 motoniveladoras por R$ 638 milhões, com o objetivo de melhorar as estradas e ajudar o escoamento da produção agrícola dos municípios.

Outra medida de impacto reflete diretamente no combate à seca. O governo vai adquirir 8 mil caminhões a custo de R$ 2,280 bilhões para ações em localidades afetadas pela estiagem, destinar a municípios com problemas climáticos e reequipar as forças armadas. ME

PACOTE DO GOVERNO INCLUI COMPRA DE MáqUINAS AGRíCOLAS

A medida visa o au-mento da produtivi-dade na agricultura

A tendência é priorizar negócios domésticos

NACIONAIS ESTãO INVESTINDO MENOS NO ExTERIOR

economia 23mercado empresarialmercado empresarial

Page 24: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

mercado

empresa anglo-suíça Syngenta, uma das maiores produtoras de defensivos agrícolas e sementes do mercado mundial, inaugurou oficialmente em 13/6 último, em Itápolis/SP (353km de São Paulo), uma

biofábrica para a produção de Plene, uma tecnologia inova-dora, desenvolvida no Brasil para simplificar e aumentar a eficiência do plantio dos canaviais. Foram investidos cerca de US$ 100 milhões no novo negócio e a expectativa é de que as vendas atinjam US$ 500 milhões por ano e a capacidade triplique até 2015.

Para o diretor global de cana-de-açúcar da Syngenta, Daniel Bachner, a nova tecnologia vai transformar o modelo de plantio manual e plantio mecanizado. “Hoje você gasta uma média de 12 a 15 toneladas de cana para o plantio por hectare, com o Plene você vai gastar duas toneladas de cana. Então temos um grande espaço para revolucionar o processo”, diz.

Segundo Eduardo Junqueira da Motta Luiz, diretor da usina Guaíra, primeira empresa a firmar contrato para uso da Plene, a nova tecnologia permite redução de 15% do custo.

A nova unidade da Syngenta está instalada em uma área de 480 mil m² e estima gerar 1,1 mil empregos diretos e indiretos no período da safra. As máquinas em operação produzem 400 toletes de Plene por segundo, prontos

Foram investidos cerca de US$ 100 milhões no

novo negócio

para plantio. A produção é automatizada, desde a limpeza da cana-de-açúcar até o corte dos toletes e a aplicação dos defensivos.

Segundo Bachner, a cidade de Itápolis já sente as mudan-ças com a instalação da multinacional. “Não conseguimos mais encontrar mão de obra em Itápolis. Começamos a buscar profissionais em cidades vizinhas”. O prefeito da cidade, Júlio César Mazzo, confirma o crescimento. “Ela vem transformar a nossa cidade em todos os sentidos, trazendo um porto seguro para toda a região”, conclui.

Tecnologia PleneA tecnologia Plene representa uma evolução em relação

ao sistema convencional utilizado pelas usinas, ao oferecer toletes de cana de apenas 5 centímetros, diferente do modelo convencional em que a cana é plantada com mudas de 40 a 50 centímetros. O plantio é feito por meio de máquinas menores e mais leves que as convencionais, o que promove uma menor compactação do solo e redução de 15% no custo do plantio, além de reduzir a emissão de CO2.

As variedades que o Plene contempla são aquelas disponíveis com a Syngenta, ou seja, em parceria com Instituto Agronômi-co (IAC) e Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Ridesa). Com informações da Agência UDOP de Notícias e Folha.com ME

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SyNGENTA INAUGURA

BIOFáBRICA PARA PRODUçãO DE PLENE, UMA TECNOLOGIA INOVADORA

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mercado

Unidade Termelétrica da Umoe Bio-energy, localizada em Sandovalina, no interior do Estado de São Paulo,

iniciou a geração de energia elétrica no dia 30 de maio último, conseguindo antecipar a entrada em operação em dois anos do previsto inicialmente pelo Grupo Umoe. Para o geren-te em bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar Souza, o exemplo da Umoe Bioenergy mostra que a bioeletricidade pode ser considerada a fonte que mais rapidamente consegue colocar de pé novos projetos de geração.

“Isto é muito positivo para a segurança energética do sistema, pela rapidez e confiabili-dade que essa energia apresenta”, complementa Souza. Ele destacou que o prazo total para conclusão do projeto, até o início da geração de energia, foi de apenas 14 meses, bem inferior ao prazo estimado para novos empreendimentos de outras fontes de geração.

Gil Mesquita, gerente de bioeletricidade da Umoe Bioenergy, frisou a importância do resul-tado obtido pela empresa como demonstração da força da bioeletricidade para implementar projetos em curto espaço de tempo. “A Umoe

UMOE bIOENERGy COMEçA A GERAR

bIOELETRICIDADE DOIS ANOS ANTES DO PREVISTO

Projeto foi colocado em prática em apenas 14 meses

vendeu no leilão para iniciar a entrega em 2014, e estamos antecipando em 2 anos a entrada em operação, contribuindo para o suprimento de energia no país,” acrescentou.

O BNDES concedeu um financiamento de longo prazo para o empreendimento.

A Umoe Bioenergy, empresa associada à Unica, tem uma planta industrial com capaci-dade de moagem de 2,6 milhões de toneladas/safra. Parte da energia a ser produzida pela usina foi comercializada no 12º Leilão de Energia Nova, ocorrido no ano passado. A energia total comercializada naquele leilão foi de 17,3 MW médios, energia capaz de abastecer o equivalen-te a 340 mil pessoas durante o ano. ME

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Unidade da UMOE gerando energia elétrica renovável a partir do bagaço de cana

25mercado empresarialmercado empresarial

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mercado

terminal rodoferroviário do Grupo São Marti-nho, em Pradópolis (SP), foi ampliado. Segundo a empresa, mais de R$ 30 milhões foram in-vestidos no novo complexo logístico, que tem

capacidade para transbordar por via ferroviária mais de dois milhões de toneladas de açúcar por ano, próprio e de terceiros, com destino ao Porto de Santos para exportação. Os investimentos do Grupo São Martinho na ampliação do terminal têm foco no açúcar e contem-plam um novo armazém com capacidade instalada para 60 mil toneladas. Com dois outros já existentes, cada um com capacidade de 120 mil toneladas, a capacidade

total do complexo chega a 300 mil toneladas. “A inauguração deste terminal representa uma nova fase da logística da São Martinho, que

passa a ser uma importante solução para a região oferecendo serviços de armazena-

gem e transbordo a terceiros,” afirma o presidente do Grupo São Martinho, Fábio Venturelli. A obra inclui um túnel que amplia o traçado interno da linha férrea, garantindo mais agilida-de ao permitir que as composições de trem entrem e saiam do terminal por acessos distintos.

Para o diretor técnico e presiden-te interino da União da Indústria de

Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, “investimentos como esse ajudam a reduzir os custos de logística e aumentam a competitividade do açúcar brasileiro perante os nossos concorrentes. Não podemos nos es-quecer que o custo com o transporte do açúcar representa, em média, cerca de 10% do preço final do produto,” afirma. Ele acrescenta: “Hoje, as empresas não se preocupam apenas com o custo de produção até a porta da fabrica, mas até seu destino final. Isto sem contar o compro-misso ambiental que uma iniciativa como esta proporciona, já que elimina veículos de carga das estradas.”

Logística planejadaAdequações necessárias para o transporte

ferroviário a partir do ramal principal serão realizadas pela Rumo Logística, empresa do Grupo Cosan que mantém parceria com o Grupo São Martinho na operação do terminal. A Rumo também será responsável pela captação do produto junto a outras empresas. O Grupo São Martinho permanece responsável pela gestão da recepção, armazenagem e transbordo do açúcar enquanto a Rumo Logística responde pelo transporte ferroviário até Santos. ME

NOVO TERMINAL RODOFERROVIáRIO DO GRUPO SãO MARTINhO REDUz CUSTO DE LOGíSTICA E

AUMENTA COMPETITIVIDADE

Mais de R$ 30 milhões foram investidos no

novo complexo

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27mercado

E impulsiona o uso do etanol

na cadeia sucroenergética

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Nova embalagem renovável da BASF

27mercado empresarialmercado empresarial

bASF ENTRA NO MERCADO DE bIOPLáSTICOS

entrada da multinacional Basf no mer-cado de bioplásticos amplia o uso do etanol na indústria química, um negó-cio de grandes dimensões e que impõe

ainda mais a necessidade de crescimento do setor sucroenergético nacional, na opinião do consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Alfred Szwarc. Em janeiro último, a empresa lançou a primeira embalagem de produto de sua linha, o inseticida Regent® 800 WG, que usa como matéria-prima o etanol de cana.

“Por se tratar de um dos defensivos mais utilizados no manejo e controle de pragas no campo, esta iniciativa da Basf representa uma grande oportunidade comercial para o etanol na indústria química, cujo mercado apresenta demanda crescente por produtos fabricados de forma sustentável,” avalia o especialista.

Pegada Sustentável Redson Vieira, gerente de Marketing de

Cultivos e Especialidades da Basf, informa que a utilização do etanol nas embalagens do Re-gent® 800 WG, comercializadas desde o início de 2012, ajuda a retirar até duas toneladas e meia

de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera para cada tonelada do recipiente produzido. O novo plástico apresenta as mesmas propriedades téc-nicas, de processabilidade e desempenho, de seu similar produzido a partir do petróleo.

O executivo da empresa acredita que a adoção desse tipo de tecnologia pela companhia vai contribuir para o desenvolvimento de todo o setor da cana e outros cultivos no País.

A petroquímica Braskem, braço do grupo Odebrecht, é fornecedora oficial do bioplásti-co usado pela Basf, tecnicamente conhecido como polietileno renovável. O negócio é tão promissor que a empresa pretende instalar uma nova fábrica para produzir, a partir de 2013, o “polipropileno verde.” Trata-se de um tipo de bioplástico mais apropriado para produtos com maiores dimensões, como eletrodomésticos e peças para automóveis, cujo consumo global é de 51 milhões de toneladas ao ano. A nova instalação, em local ainda não divulgado, vai ampliar a oferta do produto que, em menos de dois anos, já tem entre seus usuários grandes empresas como Coca-Cola, Heinz, TetraPak, Nestlé, Procter & Gamble, AT&T e Águas Crystal. ME

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s conceitos de uma economia verde, urgentes para viabilizar a sustentabilidade no século 21, ainda estão em aberto. Tanto que a discussão dos princípios desse segmento foi um dos te-

mas centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. É frágil o consenso na urgência de o mundo mudar; de empresas e governos incorporarem critérios de conservação e justiça social à economia formal; de se promover for-mas de organização e inovações tecnológicas capazes de reduzir a produção de resíduos, zerar emissões, impulsionar a eficiência energética e racionalizar o uso dos recursos naturais.

Ainda assim, são numerosas as maneiras de traduzir isso tudo em um só modelo de sucesso. Artesanato e ex-trativismo são boas vitrines, mas não bastam. A econo-mia verde pede bases mais amplas, sólidas, inteligentes e inovadoras. Deve ir além dos subsídios oficiais e quebrar tabus, inclusive os do movimento ambientalista.

Um bom caminho é unir ciência e empreendedoris-mo - como fez a família Craveiro no Nordeste do Brasil. O pai, o químico Afrânio Aragão Craveiro, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), recebeu em 1988 um pedido do maior produtor regional de ca-marão para pesquisar uma solução para seus resíduos de processamento - montanhas malcheirosas de casca e cabeça do crustáceo. Sem receio de lidar com uma indústria considerada suja por seu histórico, Afrânio Craveiro apostou firme no princípio da reciclagem: a melhor maneira de eliminar resíduos é transformá-los em matéria-prima.

Na verdade, ele inventou a matéria-prima para depois

criar a indústria que a utilizaria. Lançou mão de sua ciência para descobrir a serventia de um polímero natural chamado quitina, pre-sente na carapaça do camarão e de outros crustáceos, como lagosta, siri e caranguejo, cuja principal característica é aglutinar e ab-sorver gorduras e óleos. Com base na quitina, o químico desenvolveu a quitosana, usada no combate à obesidade e ao colesterol alto. Chegou a comercializar 1 milhão de cápsulas no primeiro ano, fabricadas em uma empresa incubada no Parque de Desenvolvimento Tec-nológico (Padetec), da UFC, dirigido por ele. Em seguida, Craveiro teve a ideia de atacar os vazamentos de petróleo. Para tanto, criou microesferas de quitosana. Pulverizadas sobre o poluente, derramado em águas doces ou salgadas, elas formam aglomerados fáceis de recolher, tornando a limpeza mais eficiente.

O produto, que rendeu um prêmio da Petrobras e três patentes, agora está em fase de testes de campo, já com melhorias incor-poradas graças à nanotecnologia. Dentro das microesferas de quitosana, o pesquisador conseguiu inocular bactérias capazes de de-gradar o petróleo. Assim, ao lançar as novas microesferas em um vazamento, enquanto a quitosana aglutina o óleo, as bactérias já tra-tam de digerir tudo. O processo de limpeza ambiental se acelera e ameniza as dificuldades com a destinação do petróleo recolhido. Com base no mesmo raciocínio, o projeto da vez é uma membrana de quitosana para filtragem da água e purificação de efluentes industriais, com a possibilidade de absorver gorduras, proteínas, pesticidas e metais pesados. Fonte: Liana John / National Geographic Brasil ME

OS bONS FRUTOS DA ECONOMIA VERDE

O camarão que vira remédio

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cases & cases

m tempos de alta de preço do etanol, motivada especialmente pela entressafra da cana-de-açúcar, a Monsanto desen-volveu um híbrido de sorgo sacarino que

serviria como alternativa para a produção do combustível nesse período. A usina Cerradi-nho, localizada em Catanduva, interior de São Paulo, acabou de produzir 1,4 milhão de litros de etanol usando como matéria-prima a planta desenvolvida pela multinacional.

As atividades de pesquisa e desenvolvi-mento para chegar a esse híbrido começaram em 2004 na Monsanto, mas o salto dos labo-ratórios para a produção de sorgo no campo e fabricação do etanol se deu com a participa-ção da equipe de pesquisadores e técnicos da CanaVialis, instalada em Campinas. A firma de biotecnologia brasileira foi comprada pela empresa norte-americana em 2008 e se destaca na pesquisa de novas variedades de cana para produção de etanol.

O novo híbrido do sorgo sacarino, planta que se assemelha à cana, está sendo cultivado em dez usinas e totaliza 12 mil hectares de área

plantada. Segundo Urubatan Klink, líder de pesquisa em sorgo da Monsanto no Brasil, a empresa desenvolveu o híbrido de sorgo para cobrir alguns gargalos da cadeia do etanol. Um deles é a produção insuficiente de cana e etanol para as necessidades do mercado interno, dado o aumento da frota de veículos de motor flex. O outro problema está na redução da produ-ção e abastecimento de etanol em períodos de entressafra da cana, quando o preço do combustível aumenta para o consumidor. Se plantado entre outubro e novembro, quando começa a entressafra da cana, o sorgo poderá ser colhido até 45 dias antes do começo da safra seguinte, cobrindo, portanto, o período da entressafra.

Há ainda os desafios climáticos, como os períodos de seca ou de excesso de chuva, que reduzem a produtividade da cana no campo, e o sorgo poderia entrar como complemento. Por fim, o mercado de açúcar está muito aque-cido, e os produtores acabam processando cana para fabricar esse produto, em detrimentos do etanol. Fonte: Janaína Simões /Unicamp ME

MONSANTO DESENVOLVE híbRIDO DE SORGO SACARINO COMO ALTERNATIVA PARA PRODUçãO DE ETANOL

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31mercado empresarialmercado empresarial

A Usina Cerradi-nho, em Catandu-va (SP), produziu

1,4 milhão de litros de etanol usando a planta

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ma nova iniciativa no Nordeste do País promete ampliar as possibilidades de uso da vinhaça, um resíduo líquido da produção de etanol, para a geração de energia. No início de

abril deste ano, em Vitória de Santo Antão, cidade na zona rural próxima a Recife (PE), foi inaugurada a primeira operação industrial de geração de energia elétrica a partir da vinhaça.

O projeto foi concebido em uma parceria entre a Companhia Alcoolquímica Nacional, usina do grupo pernambucano JB, e a empresa baiana Cetrel, controlada pela Braskem (Odebrecht) e especiali-zada em tratamento de resíduos e aproveitamento energético.

“Embora diversas empresas do setor sucroenergético conheçam a tecnologia de biodigestão da vinhaça para a concentração do produto e geração de biogás, os investimentos necessários e as dificuldades ope-racionais com as tecnologias testa-das limitaram o desenvolvimento de projetos desse tipo até hoje. A iniciativa do grupo JB e da Cetrel abre perspectivas para a mudança desse quadro. A comprovação de sua

viabilidade técnica e econômica poderá promover outras iniciativas semelhantes e representar mais uma oportunidade para o setor,” afirma Alfred Szwarc, consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

1 para 12Para cada litro de etanol produzido, em média

doze litros de vinhaça são deixados como subprodu-to. Na tentativa de aproveitar este resíduo, o trabalho do grupo em Pernambuco utiliza um processo de

biodigestão do conteúdo orgânico da vinhaça. A digestão por bactérias resulta em um biogás com 80% de metano, gás com grande potencial energético.

“Utilizamos o conhecimento adquirido em 33 anos de tratamento de efluentes e aplicamos os conceitos de biodigestão para desenvolver tecnologia específica e, deste modo, apresentar a vinhaça como uma excelente alternativa para produção de energia limpa no País,” afirma a gerente da área de bioenergia da Cetrel, Suzana Domingues.

“Para termos a dimensão desse potencial, na safra 2010/2011 foram produzidos 25 bilhões de litros de etanol, o que corresponde à geração de cerca de 300 bilhões de litros de vinhaça ou 300 milhões de m3. Este volume seria suficiente para gerar cerca de 1.600 MW, aproximada-mente 45% da capacidade instalada de uma hidrelétrica como a de Jirau, com a vantagem de produzir energia de forma descentralizada e sem impacto para o meio ambiente,” explica Suzana.

ProjetoSegundo técnicos da Cetrel, o projeto ocupa

cerca de 6000 m2 e pode ser ampliado. Na fase inicial, a unidade utiliza cerca de 20% da capaci-dade de geração de energia a partir da vinhaça, ou aproximadamente mil metros cúbicos (1 mil m3) de vinhaça/dia com capacidade de geração de até 0,85 MW de biogás em seus motogera-dores. O resultado, nessa fase, são 612 MWh de energia comercializados no mercado livre por mês. Em escala industrial, a operação de Vitória de Santo Antão terá sua capacidade ampliada em até cinco vezes (cerca de 4,5 MW). ME

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CRESCE UTILIzAÇÃO DE VINhAÇA DE CANA PARA GERAR ENERGIA E COMO FERTILIzANTE

Aproveitamento do resíduo resulta em

um biogás com 80% de metano, gás com

grande potencial energético

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ção

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m estudo realizado por pesquisadores revelou que o ataque da broca ( Diatraea saccharalis ), lagarta que é a principal praga da cana-de-açúcar, induz à ati-

vação de um gene que codifica proteínas com forte atividade antifúngica. O trabalho, que teve seus resultados publicados na revista Molecular Plant-Microbe Interactions, faz parte de um projeto de pesquisa sobre as interações entre plantas, microrganismos e insetos, conduzido no âmbito do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

Participaram da pesquisa cientistas da Es-cola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, em Ribeirão Preto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas (SP).

De acordo com um dos autores do artigo, Marcio Castro Silva-Filho, professor do De-partamento de Genética da Esalq-USP, em estudos anteriores o grupo já havia mostrado que o ataque da broca desencadeava na planta a ativação de um gene que expressa a proteína conhecida como “sugarina”.

Supondo que a sugarina tivesse ação inseti-cida, os pesquisadores da Esalq patentearam o promotor do gene da sugarina, tendo em vista a aplicação em plantas geneticamente modifica-das capazes de liberar as proteínas apenas quan-do a planta é atacada pelo inseto. No entanto, o grupo descobriu um fato intrigante: a sugarina não tinha efeito contra os insetos.

“Clonamos o gene da sugarina, fizemos sua introdução em um vetor fúngico para produzir a proteína em grande quantidade e testamos sua ação no inseto. Ficamos surpresos, pois a proteína não tinha qualquer efeito inseticida. Só então levantamos a hipótese de que talvez o gene fosse expresso para proteger a planta dos fungos que podem surgir após o ataque do inseto”, explica Silva-Filho.

As plantas possuem uma série de genes que são ativados e produzem proteínas capa-zes de impedir o ataque de certos insetos. Há algum tempo o grupo da Esalq tenta inserir na

cana-de-açúcar genes que são ativados quando a planta é atacada. “Observamos que, nas plantações de cana, a ocorrência da praga da broca é frequentemente associada à presença dos fungos que causam a podridão vermelha”, disse Silva-Filho.

Podridão vermelhaA podridão vermelha, segundo ele, é uma doença

responsável pela diminuição na produção de sacarose da cana-de-açúcar. Quando a planta se destina à produção de etanol, o problema causa prejuízos ainda maiores, pois os microrganismos invasores contaminam o caldo e concorrem com as leveduras na fermentação, afetando a produção.

“A mariposa Diatraea saccharalis coloca seus ovos no colmo da planta. Quando os ovos eclodem, a lagarta penetra no colmo e produz buracos e galerias. É por essas aberturas que entram esses fungos oportunistas”, explicou Silva-Filho.

Os microrganismos estão sempre presentes no ambien-te da plantação, mas quando não há ruptura na superfície da planta, eles não conseguem invadi-la. “Quando a broca está presente, os fungos podem entrar. Os prejuízos cau-sados pelo fungo acabam sendo muito mais graves que os causados pelo inseto”, disse. Fonte: Agência FAPESP ME

Os prejuízos causados por fungos são mais

graves

CIENTISTAS DESVENDAM INTERAçãO ENTRE CANA-DE-AçúCAR, INSETO E FUNGO

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Ataque da broca (principal praga da cana-de-açúcar) induz a planta a produzir proteínas que não agem contra o inseto, mas têm atividade antifungos

33mercado empresarialmercado empresarial

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4Ecoturismo

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4Ecoturismo

4Fascículo

Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, o que significa que grande parte de seu patrimônio biológico não pode ser encon-trado em nenhum outro lugar do planeta. O Cerrado é o mais antigo bioma brasileiro. Fala-se que sua idade é de aproximadamente 65 milhões de anos. É, ainda, a nossa segunda maior formação vege-tal. Essas duas regiões, apesar da degradação de seu meio ambiente,

guardam inquestionáveis tesouros em matéria de beleza cênica, biodiversidade, história e cultura. São, também, polos de ecoturismo cada vez mais procurados.

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Destino BrasilCAATINGA

CERRADO&

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4Ecoturismo

Caatinga é o único bioma exclusivamente bra-sileiro, o que significa que grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta. Ocupa uma área de, aproximadamente, 850.000 km², cerca

de 10% do território nacional, estendendo-se pela totalidade do Ceará (100%) e partes dos estados do Rio Grande do Norte (95%), Paraíba (92%), Pernambuco (83%), Piauí (63%), Sergipe (49%), Alagoas (48%), Bahia (54%), Maranhão (1%), e do Norte de Minas Gerais (2% ). É cercado pelos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. Cerca de 28 milhões de brasileiros habitam esse bioma, sendo que aproximadamente 38% vivem no meio rural.

Antigamente acreditava-se que a caatinga (mata clara e aberta em tupi-guarani) seria o resultado da degradação de formações vegetais mais exuberantes, como a Mata Atlântica ou a Floresta Amazônica. Essa crença levou à falsa ideia de que o bioma seria

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Ecoturismo Vo l .4

CAATINGAo único bioma exclusivamente brasileiro

homogêneo, pobre em espécies e em endemismos, estando assim pouco alterado ou ameaçado, desde o início da colonização do Brasil – tratamento esse que tem permitido a degradação do meio ambiente e a extinção em âmbito local de várias espécies, principalmente de grandes mamíferos. Entretanto, estudos e compilações de dados mais recentes apontam a Caatinga como rica em biodiversidade e endemismos, e bastante heterogênea. Muitas áreas que eram consideradas como primárias são, na verdade, o produto de interação entre o homem nordestino e o seu ambiente, fruto de uma exploração que se estende desde o século XVI .

A vegetação da Caatinga é adaptada às condições de aridez (xerófila). Quanto à flora, foram registradas até o momento cerca de 1000 espécies, estimando-se que haja um total de 2000 a 3000 plantas. Com relação à fauna, esta é depauperada, com baixas densidades de indivíduos e poucas espécies endêmicas. Apesar

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4EcoturismoEcoturismo Vo l .4

Patrimônio ameaçadoEste patrimônio nordestino, entretanto, encontra-se amea-

çado. A exploração feita de forma extrativista pela população local, desde a ocupação do semi árido, tem levado a uma rápida degradação ambiental. Segundo estimativas, cerca de 70% da Caatinga já se encontra alterada pelo homem, e somente 0,28% de sua área encontra-se protegida em unidades de conservação. Estes números conferem à Caatinga a condição de ecossistema menos preservado e um dos mais degradados.

Como consequência desta degradação, algumas espécies já figuram na lista das espécies ameaçadas de extinção do Ibama. Outras, como a aroeira e o umbuzeiro, já se encontram pro-tegidas pela legislação florestal de serem usadas como fonte de energia, a fim de evitar a sua extinção. Quanto à fauna, os felinos (onças e gatos selvagens), os herbívoros de porte médio (veado catingueiro e capivara), as aves (ararinha azul , pombas de arribação) e abelhas nativas figuram entre os mais atingidos pela caça predatória e destruição do seu habitat natural.

da pequena densidade e do pouco endemismo, já foram identifica-das 17 espécies de anfíbios , 44 de répteis , 695 de aves e 120 de mamíferos , pouco se conhecendo em relação aos invertebrados. Descrições de novas espécies vêm sendo registradas, indicando um conhecimento botânico e zoológico bastante precário deste ecossistema, que segundo os pesquisadores é considerado o menos conhecido e estudado dos ecossistemas brasileiros.

Além da importância biológica, a Caatinga apresenta um potencial econômico ainda pouco valorizado. Em termos forrageiros, apresenta espécies como o pau-ferro, a catingueira verdadeira, a catingueira rasteira, a canafístula, o mororó e o juazeiro que poderiam ser utilizadas como opção alimentar para caprinos, ovinos, bovinos e muares. Entre as de potencialidade frutífera, destacam-se o umbú, o araticum, o jatobá, o murici e o licuri e, entre as espécies medicinais, encontram-se a aroeira, a braúna, o quatro-patacas, o pinhão, o velame, o marmeleiro, o angico, o sabiá, o jericó, entre outras.

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4EcoturismoEcoturismo Vo l .4Ecoturismo

No coração da Bahia, a natureza esculpiu um dos recantos mais belos do planeta. São cânions, cachoeiras, riachos, corredei-ras, grutas, cavernas e vales espalhados em 153 mil hectares, um cenário que deslumbra milhares de visitantes de todas as partes do mundo: o Parque Nacional da Chapada Diamantina É nesta região serrana, de topografia diversificada, que nascem 90 por cento dos rios que formam as bacias do Paraguaçu, do Jacuípe e do rio de Contas. São milhares de quilômetros de águas cristalinas que brotam dos cumes, escorrem pelas serras em cachoeiras, deságuam em planaltos e planícies formando belíssimos poços e piscinas naturais. A beleza das águas é complementada por uma vegetação exuberante que mistura espécies cactáceas da Caatinga com raros exemplares da flora serrana, especialmente bromélias, orquídeas e sempre-vivas.

O Parque foi criado em 1985, por decreto federal, e abrange 84 mil km2 da serra do Sincorá e arredores, entre os municípios de Lençóis, Palmeiras, Mucugê e Andaraí, incluindo o distrito de Xique-Xique do Igatu, conhecido como “a cidade das pedras”. O órgão oficial de turismo da Bahia, a Bahiatursa, definiu duas áreas dentro da Chapada, conforme suas origens: Circuito do Diamante, que abrange Lençóis, Andaraí, Mucugê e Palmeiras; e o Circuito do Ouro, compreendendo Rio de Contas, Abaíra, Jussiape e Piatã.

As atrações naturais são tantas que é possível escolher entre os variados roteiros: subterrâneos das grutas, das cachoeiras, caminhar por antigas trilhas de garimpeiros ou cavalgar nos vales como o do Pati ou do Capão, em meio a comunidades esotéricas e alternativas.

Na Chapada estão os três pontos mais altos de todo o Estado: o Pico das Almas, com 1.958 metros de altitude, o do Itobira, com 1.970m, e o do Barbados, com 2.080m. Também é nesta

Ecoturismo na Caatinga

Os locais mais procurados para ecoturismo na Caatin-ga são suas unidades de conservação, como os Parques Nacionais da Chapada Diamantina e da Serra da Capivara, assim como o Vale do Catimbau e a rota Aracajú-Xingó.

Chapada diamantina:Paraíso ecológico no coração da bahia

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4Ecoturismo Vo l .4Ecoturismo

região onde estão a Cachoeira da Fumaça, com seus 420 metros de queda livre, e o fascinante Poço Encantado, que emociona tantos quantos o visitam.

O patrimônio histórico conta a saga do garimpo em cada beco e nos casarões seculares das cidades de Lençóis, Rio de Contas, Andaraí, Mucugê e no minúsculo distrito serrano de Xique-xique do Igatu. Estas cidades nasceram e floresceram com o Ciclo do Minério, a partir do século XVII, quando aconteceu a febre do ouro, dos diamantes e o sonho do enriquecimento rápido.

explorar o Parque O Parque abrange algumas cidades da região, como Lençóis (a

“capital” da Chapada e principal base para explorar os atrativos da reserva), Palmeiras/Vale do Capão (a 86 quilômetros de Lençóis), Andaraí (100 km) e Mucugê (134 km). Cada uma guarda uma infinidade de surpresas, como cachoeiras, grutas, cânions, serras e platôs de tirar o fôlego.

Formada por um altiplano de cerca de 700 m de altitude, a Chapada Diamantina oferece amplas possibilidades de aventuras ecoturísticas e um agradável e especial microclima. A procura de ouro e diamante, no passado, levaram à descoberta desse panorama natural de rara beleza. Para conhecer seus encantos, é preciso caminhar. Além dos dois circuitos turísticos oficiais (o do Diamante e o do Ouro), vem sendo estabelecido, em torno de Jacobina, na Chapada Norte, um novo: o “Circuito das Ca-choeiras”, com base em um moderno modelo de planejamento de ecoturismo.

encantar-se com o cenário e as lendasOs distritos e povoados que compõem os municípios da

Chapada Diamantina têm qualquer coisa envolvendo o fantástico. Os moradores, a maioria velhos e crianças, contam histórias de coronéis perversos, tesouros escondidos, escravos sacrificados que no final viram fantasmas, assombrações ou coisa parecida. Entre as mais fantásticas está a “lenda do Pai Inácio”, transformada em roteiro para cinema.

As belezas cênicas da Chapada Diamantina encantam os visitantes a tal ponto que muitos acabam ficando. Foi o caso do biólogo americano Roy Funch, que se naturalizou brasileiro e mora em Lençóis há mais de 20 anos. A paixão de Funch pela Chapada foi tamanha que em 1982 chegou a escrever um trabalho “Chapada Diamantina, uma reserva natural” em defesa da criação de um parque nacional, o que veio a acontecer três anos depois.

Caminhar por LençóisUma das principais cidades da Chapada é Lençóis, com suas

ruas de paralelepípedos e casario colonial que abriga pousadas, restaurantes e agências que oferecem atividades pelo parque e arredores. São muitas as opções de passeios – feitos sempre caminhando. Imperdíveis são os que levam aos cartões-postais:

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4EcoturismoMorro do Pai Inácio, com 1.200 metros de altitude, vista panorâmica e ponto de contemplação de um belíssimo pôr do sol; e Cachoeira da Fumaça, a maior do país, com 380 metros de queda.

Como as atrações ficam distantes umas das outras, vale a pena pernoitar em outras cidades e povoados, como Mucugê, Andaraí e Vale do Capão, que oferecem charmosas pousadinhas e muita hospitalidade, além de guardarem e contarem histórias do Ciclo dos Diamantes.

Curtir a beleza do Vale do CapãoO Vale do Capão, isolado pelas montanhas da Chapada e

situando-se a 60lm do aeroporto de Lençóis, é ponto avançado de partida de trilhas para paisagens inacreditáveis e verdadeiros paraísos ecológicos, como a lendária Cachoeira da Fumaça e o abismo onde caem suas águas, o Vale do Patí, o Gerais do Vieira, o imponente Morrão, e Águas Claras. Formado por um lado pela Serra do Candombá e por outro pela Serra da Larguinha, onde fica o Morro Branco, o Vale do Capão limita-se com as cidades de Seabra, Lençóis, Iraquara, Mucugê, Boninal.

Além de um contato intenso com a natureza, quem conhece o Vale do Capão não deixa de se encantar com a simplicidade e a autenticidade dos seus habitantes, do seu coral, da sua escola de circo, da sua feira, do forró na vila e das suas belezas naturais. Não por acaso, várias comunidades alternativas se instalaram no Vale nos últimos anos, atraindo gente de todo o mundo, pessoas interessadas em conviver harmoniosamente com a natureza e com o seu próximo. O Vale também é uma opção de turismo esotérico, com ofertas de medicina alternativa, alimentação na-tural, meditação e outros.

encarar um trekkingCobiçado pelos amantes do trekking, o Parque Nacional da

Chapada Diamantina tem atrações que extrapolam seus limites e se espalham por cidadezinhas que tiveram seu apogeu no final do século 19, quando a região era famosa somente pelas jazidas de diamantes.

E, realmente, é somente através de caminhadas que se chega aos mais belos cenários da Chapada Diamantina, o que faz da região o paraíso dos adeptos do trekking. Os mais experientes não abrem mão da trilha do Paty, que liga o Vale do Capão a Andaraí. O trekking de 70 quilômetros dura cinco dias e é considerado o mais bonito do país. Surpreende os trekkers do início ao fim. Por todo o percurso surgem recompensas naturais, como platôs, quedas d’água, rios, vales, poços, grutas... A aventura inclui ainda pernoites na casa de nativos, com direito a refeição caseira, luz de lampião e muitos “causos”.

Mas há opções menos desgastantes e que também descorti-nam bonitas paisagens. Uma das trilhas mais procuradas da região é a que parte de Lençóis em direção ao Vale do Capão. São 24 quilômetros percorridos em sete horas de caminhada leve e com belos visuais, passando por cânions, serras e quedas d’água. Uma dica é pernoitar nas simpáticas pousadas do povoado do

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4EcoturismoVale do Capão, e no dia seguinte visitar a cachoeira da Fumaça, a um quilômetro.

Também faz sucesso o caminho de nível médio que liga o Morro do Pai Inácio a Lençóis. São 15 quilômetros cortando áreas de garimpo, vencidos em quatro horas.

Ver o pôr do sol no morro do Pai inácioA 1.120 metros de altitude, o Morro do Pai Inácio descor-

tina a mais linda vista panorâmica da Chapada. São 360 graus de paisagem belíssima, ainda mais na hora do pôr-do-sol. Uma subida de 300 metros, vencida em vinte minutos, leva ao topo do cartão-postal, que fica em Palmeiras, a 22 quilômetros do centro de Lençóis.

apreciar a Cachoeira da Fumaça A cachoeira mais alta do Brasil, com 380 metros de queda, é

uma das principais atrações da Chapada. A maneira “mais fácil” de vislumbrar a água que jorra de um buraco no paredão é de cima, arrastando-se até a beira do precipício. Para chegar lá é preciso caminhar duas horas (seis quilômetros). Quem pretende apreciar a queda por baixo deve se preparar – partindo de Lençóis, são três dias de caminhada em meio às serras.

mergulhar no Poço azul Uma caverna inundada por águas cristalinas e azuladas só

poderia ganhar o nome de Poço Azul. A profundidade chega a 16 metros e é permitido nadar em alguns trechos. Recomenda-se desfrutá-lo o início da tarde, quando a incidência do sol deixa as águas ainda mais azuis. O poço fica em Andaraí.

desbravar a Gruta torrinha A mais interessante gruta da Chapada é tomada por orna-

mentações, como as agulhas de gipsita, com 60 centímetros de comprimento; e as raras flores de aragonita, que parecem de vidro. As visitas guiadas duram entre uma hora e duas horas e meia e, em alguns trechos, é preciso andar agachado.

Banhar-se em uma das 45 quedas do Parque das CachoeirasAo norte da Chapada Diamantina, a Chapada Norte, que

compõe o Circuito do Ouro, torna-se cada vez mais conhecida, especialmente os municípios de Jacobina e Morro do Chapéu, ricos em grutas com inscrições rupestres, rios, serras e cachoeiras. É nesta região que está localizado o Parque das Cachoeiras, com mais de 45 quedas d´água e diversas trilhas ecológicas.

As atrações naturais são tantas que é possível escolher entre roteiros subterrâneos das grutas, das cachoeiras, caminhar por antigas trilhas de garimpeiros ou cavalgar entre vales como o do Pati em meio a comunidades esotéricas e alternativas. Com muita sorte é possível até, da serra do Capa Bode, em Mucugê, avistar no céu “naves de extraterrestres”, como muitos habitantes da cidade acham ter visto. Em Jacobina existe um aeroporto para aviões de pequeno porte.

Para fazer turismo na Chapada Diamantina é neces-sário observar alguns pré-requisitos indispensáveis como ter resistência física, consciência ecológica no sentido de respeitar a natureza contribuindo para a preservação da fauna e da flora (nunca adquirir plantas ou animais silvestres nas estradas para desestimular a captura), contratar os serviços de um bom guia para os passeios ecológicos e, especialmente, não ter pressa, pois os caminhos da Chapada escondem atrações surpreen-dentes só reveladas a quem tem calma e disposição.

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Serra da Capivaramonumental museu a céu aberto

O Parque Nacional Serra da Capivara é outro ponto da Caatinga com vários atrativos, Maior concentração de sítios pré-históricos do continente americano, foi reconhecido em 1991 pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. É um monumental museu a céu aberto, entre belíssimas formações rochosas, onde se encontram sítios arqueológicos e paleontoló-gicos espetaculares, que testemunham a presença de homens e animais pré-históricos há 50.000 anos. Localizado no sudeste do estado do Piauí, ocupa áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, São João do Piauí, Coronel José Dias e Canto do Buriti.

Tem 129.140 hectares e seu perímetro é de 214 quilômetros. É administrado pelo Institu-

to Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O Parque foi criado para proteger a área na qual se

encontra o mais importan-te patrimônio pré-histó-rico do Brasil, contendo a maior quantidade de pinturas primitivas so-

bre rocha do mundo. Trata-se de um parque arqueológico com uma riqueza de vestígios que se conservaram durante milênios, devido à existência de um equilíbrio ecológico, hoje extremamente alterado. O patrimônio cultural e os ecossiste-mas locais estão, portanto, intimamente ligados, pois a conser-vação do primeiro depende do equilíbrio desses ecossistemas.

Situado em uma região de clima semi árido, fronteira en-tre duas grandes formações geológicas (a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Fran-cisco), seu relevo é formado por serras, vales e planícies. É o único Parque Nacional do domínio morfoclimático das caatingas, o que ressalta a necessidade de conservação e res-tauração da flora. O Parque abriga fauna e flora específicas.

Durante muito tempo acreditou-se que a migração humana atingiu as Américas há cerca de 12 mil anos, ocupando todo o continente a partir do Alasca, onde chegou atravessando o Estreito de Behring. Porém, no final do século passado, a missão arqueológica franco-brasileira, chefiada pela arqueóloga brasileira Niede Guidon, descobriu sinais da presença de seres humanos há mais de 50 mil anos na América do Sul, mais precisamente no Brasil, em São Raimundo Nonato, no Sudeste do Piauí.

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O vale dO Catimbau, onde a natureza, a história e o misticismo se encontram

Escarpas de arenito colorido, painéis com inscrições ru-pestres, cemitérios indígenas, formações de brejos de altitude, nascentes em plena caatinga, grutas e cavernas habitadas há seis mil anos. Estas são algumas das atrações do Parque Nacional Vale do Catimbau, criado em 2002 por decreto federal, e uma das unidades de conservação federal que preservam a Caatinga.

O Vale do Catimbau está localizado há 295 Km do Recife, na região intermediária entre o sertão e o agreste, entre os municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. A área faz divisa com a reserva indígena federal Kapinawá, de-marcada pela Funai em 1983, localizada na serra da Mina, há 18 km de Buíque, e onde vivem cerca de 400 índios.

O ponto de partida para acesso ao Parque é a vila Catimbau, a 12 km de Buíque. Guias não faltam. Apesar de recém-criado as estradas são boas e há várias trilhas abertas. A altitude da região que vai de 700 a 1.226 metros de altitude, oferece uma temperatura agradável na maior parte do ano. A melhor época para visitas é na estação chuvosa, de dezembro a junho, quando a Caatinga está exuberante. Nesta época, o visitante pode se deleitar com a surpreendente beleza de uma espécie da família das liliáceas (lírio do campo), que brota do chão arenoso e branco, como um daqueles milagres sertanejos descritos por Euclides da Cunha, em Os Sertões. A vegetação local se compõe de espécies como bromélias, cactos e palmeiras (o buriti, ouricuri e babaçu).

Em alguns aspectos, o PN Vale do Catimbau lembra Sete Cidades e Serra da Capivara (PI), tanto pelas inscrições rupestres como pelas formações rochosas que sugerem animais, pessoas e construções, como a Pedra do Elefante (próxima à reserva indí-gena), Pedra do Cachorro, Pedra da Concha e Serra das Torres.

rapel e tirolesa no ValeUma das atrações mais importantes do lugar são os sítios

arqueológicos, considerados os mais significativos de Pernambuco. Para quem gosta de explorar grutas e cavernas, há 200 delas no Vale do Catimbau.

A região virou também atração para os adeptos de espor-tes radicais na última década, principalmente para quem gosta de rapel e tirolesa, praticados no serrote, com 50 metros de altura, o que equivale a um prédio de 16 andares. Não deve se esperar luxos ao conhecer a região. A hospedagem é sim-ples, mas decente. Também vale a pena dar uma olhada no artesanato indígena vendido na feira municipal aos sábados.

araCaju-Xingó: rota de caminhadas e mergulhos

Entre Aracaju e Xingó está a rota perfeita para os aventureiros que buscam trilhas ecológicas entre a Caatinga e as margens do Rio São Francisco. Praias, manguezais, lagoas, rios, serras, cavernas e cânions aguardam a sua visita. Avistar as aves de rapina da caa-tinga e visitar a Grota do Angico, onde Lampião foi morto, fazem parte do passeio. A história do cangaço também passa por aqui.

Não deixe de mergulhar nas águas verdes da Gruta do Talhado, batizada assim porque suas rochas parecem talha-das à mão. A gruta é parte do maravilhoso cânion do Xingó – quinto maior cânion navegável do mundo, com vales que chegam a 170 metros de profundidade, extensão de 65 km e largura entre 50 e 300 metros. O passeio inesquecível é feito em catamarãs ou escunas e dura em média três ho-ras, com alguns bons e refrescantes mergulhos no caminho.

Ao longo de 14 trilhas e 64 sítios arqueológicos abertos à visitação, encontramos tesouros, como os pedaços de cerâmicas mais antigos das Amé-ricas, de 8.960 anos. No circuito dos Veadinhos Azuis, podemos encontrar quatro sítios com pinturas azuis, a primeira desta cor descoberta no mundo.

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CERRADOo mais antigo bioma brasileiro

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Quem já viajou pelo interior do Brasil, através de estados como Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul, certamente atravessou extensos chapadões, cobertos por uma vegetação de pequenas árvores retorcidas e de folhas grossas, dispersas em meio a um tapete ralo e rasteiro de gramíneas, misturando-se, às vezes, com campos limpos ou matas de árvores não muito altas. É o Cerrado, o mais antigo bioma brasileiro. Tem aproximadamente 65 milhões de anos, tantos que 70% de sua biomassa está dentro da terra, como uma “floresta de cabeça prá baixo” – motivo pelo qual alguns especialistas acredi-tam que, uma vez devastado, não permite qualquer revitalização.

O Cerrado ocupa uma área de 2.036.448 Km², corresponden-te a 23,92% do território brasileiro e é constituído principalmente por savanas. Estende-se pela região do Planalto Central brasileiro, ocupando a totalidade do Distrito Federal e parte do território da Bahia (27%), Goiás (97%), Maranhão (65%), Mato Grosso (39%), Mato Grosso do Sul (61%), Minas Gerais (57%), Paraná (2%), Piauí (37%), Rondônia (0,2%), São Paulo (32%) e Tocantins (91%). Podem ser encontradas ainda manchas de Cerrado incrustadas na região da Caatinga, Mata Atlântica e Floresta Amazônica.

Típico de regiões tropicais, o Cerrado apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Durante os meses quentes de verão, quando as chuvas se concentram e os dias são mais longos, tudo ali é muito verde. No inverno, ao contrário, o capim amarelece e seca; quase todas as árvores e arbustos, por sua vez, trocam a folhagem por outra totalmente nova. Mas não o fazem a um só tempo, como nas caatingas nordestinas. Enquanto alguns ainda mantém suas folhas verdes, outros já as apresentam amarelas ou pardacentas, e outros já se despiram totalmente delas. Assim, mesmo no auge da seca, o Cerrado apresenta algum verde.

É a segunda maior formação vegetal brasileira. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes porém rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbus-tos esparsos e gramíneas, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal. Esta vegetação abriga importantes espécies da flora e da fauna daquela região, al-gumas delas ameaçadas de extinção, como é o caso do lobo-guará, do veado-campeiro e do pato-mergulhão, entre outros.

a grande caixa d´água brasileiraO Cerrado é também a grande caixa d’água brasileira. Seu

solo esconde um grande manancial de água, que alimenta seus rios. É do Planalto Central que se alimentam bacias hidrográficas que correm para o sul, para o norte, para o oeste e para o leste.

A presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) na região favorece sua fantástica biodiversidade. Estima-se que 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 161 de mamíferos vivam ali. Essa riqueza biológica, po-rém, é seriamente afetada pela caça e pelo comércio ilegal.

O relevo do Cerrado é em geral bastante plano ou sua-vemente ondulado, estendendo-se por imensos planaltos ou

chapadões. Cerca de 50% de sua área situa-se em altitudes que ficam entre 300 e 600 m acima do nível do mar; apenas 5,5% vão além de 900m. As maiores elevações são o Pico do Itacolomi (1797 m) na Serra do Espinhaço, o Pico do Sol (2070 m) na Serra do Caraça e a Chapada dos Veadeiros, que pode atingir 1676 m. O bioma do Cerrado não ultrapassa, em geral, os 1100 m.

devastaçãoO Cerrado é o sistema ambiental brasileiro que mais sofreu

alteração com a ocupação humana. Cerca de 57% da área já foi totalmente devastada e a metade do que resta está bastante dani-ficada. Atualmente, vivem ali cerca de 20 milhões de pessoas. Essa população é majoritariamente urbana e enfrenta problemas como desemprego, falta de habitação e poluição, entre outros. A ativida-de garimpeira, por exemplo, intensa na região, contaminou os rios de mercúrio e contribuiu para seu assoreamento. A mineração favoreceu o desgaste e a erosão dos solos. Na economia, também se destaca a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão, que começou a se expandir principalmente a partir da década de 80.

Nos últimos 30 anos, a pecuária extensiva, as monoculturas e a abertura de estradas destruíram boa parte do Cerrado. Hoje, menos de 2% está protegido em parques ou reservas. Além das cercas, a vizinhança de um Parque Nacional ou qualquer outra uni-dade de conservação, é formada por fazendas, onde a vegetação e a fauna natural já não mais existem. O Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás, por exemplo, é uma verdadeira ilha de Cerrado, em meio a um mar de soja. Se a sua fauna for dizimada por grandes incêndios, ele não terá como ser naturalmente repo-voado, uma vez que essa fauna já não mais existe nas vizinhanças.

Para se ter uma ideia do tamanho do Cerrado, dentro de sua extensa área de cerca de 200 mi-lhões de hectares cabe toda a Europa Ocidental e ainda sobra espaço...

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Ecoturismo no Cerrado

Em virtude do clima estável e previsível, e sobretudo por sua beleza cênica, pode-se dizer que o Cerrado é o ecossistema ideal para caminhadas, acampamentos e observação de animais – com suas árvores e arbustos de porte reduzido, adaptados aos baixos teores de umidade do ar e ao sol forte, entremea-dos por campos de gramíneas. Ali pode-se avistar com relativa facilidade a fauna regional, constituída por veados-campeiros, porcos do mato, lobos, tatus, tamanduás, e se observar aves como os tucanos, codornas, emas, seriemas, gaviões e falcões.

Realmente, de uns anos para cá, o ecoturismo tornou-se um dos fatores de desenvolvimento da região. O potencial para essa atividade é grande, em especial devido às belas cachoeiras formadas pelos rios que abastecem as bacias dos rios Paraná, São Francisco e Tocantins e que propiciam várias práticas de turismo ecológico. Entretanto, para desenvolver a atividade de maneira sustentável, ainda é necessário melhorar a infraestrutura aliada a políticas de proteção dos recursos naturais e da cultura local.

Em Goiás, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e os municípios de Alto Paraíso e Vila de São Jorge são os locais que oferecem maior número de atrativos naturais propícios ao ecoturismo. A Chapada dos Veadeiros apresenta ativida-des para os períodos de seca e de chuvas, com suas trilhas e cachoeiras, atraindo pessoas também pelo misticismo, devido

a energia mística que muitos acreditam que o local possui. No Mato Grosso, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães é farto em cachoeiras, cavernas, lagoas e trilhas em meio à natureza típica de cerrado. A Serra da Canastra, no centro-sul do estado de Minas Gerais, outro importante parque nacional, é outra região privilegiada por belezas paisagísticas, diversidade biológica e potencial turístico. Em Tocantins, o Parque Estadual do Cantão e o Jalapão também aliam preservação ambiental a atividades de ecoturismo como rafting, observação da fauna e flora e pesca esportiva. Próximo às divisas com o Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Parque Nacional das Emas representa uma das mais importantes Unidades de Conservação do Cer-rado devido à sua extensão e integridade de habitats, riqueza faunística e presença de espécies raras e ameaçadas de extinção.

Chapada dOS veadeirOS:uma das maravilhas brasileiras

Localizado no Estado de Goiás, a cerca de 250 Km de Brasília e 500 Km de Goiânia, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros pertence a uma das maravilhas encontradas no coração do Brasil, a Chapada dos Veadeiros - o mais antigo patrimônio geológico da América do Sul, formado há 1,8 bilhão de anos. A beleza natural e a aura mística que envolve a Cha-pada fazem da região uma das mais procuradas pelos amantes do ecoturismo no Brasil que são atraídos pela energia do lugar. Cachoeiras, rios, piscinas naturais, montanhas, canyons, minas de cristal, trilhas e paisagens inesquecíveis são parte do cenário da Chapada. A flora do lugar encanta com suas espécies exóticas

Em 2001 tanto o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros como o Parque Nacional das Emas, foram declarados “Patrimônio Natural Mundial” pela Unesco.

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• Mirante dos dois saltos • CaChoeira de são Bento• rio Cristal• CaChoeira da Água Fria • Cataratas dos Couros • Fazenda lua • CaChoeira da ave Maria • CaChoeiras do santana • JardiM zen • Jardins de Maitréia • CaChoeiras do rio alMéCegas • nasCentes do MaCaCão • CaChoeiras do rio MaCaCão • o rio MaCaCão • vale da lua • aBisMo • raizaMa • Morada do sol • Águas Quentes• CaChoeira do Poço enCantado• alto Paraíso

dicas - Se você gosta de acampar, há diversas opções de campings em São Jorge. Para os que preferem ficar em pousadas, existem opções econômicas em Alto Paraíso e em São Jorge. A Chapada possui clima semitropical de suave brisa, com temperatu-ra média entre 21º e 22º C. A melhor época do ano para ir é entre maio e outubro, pois chove menos e a vegetação fica mais exube-rante. O verão (outubro a abril) é um período de chuvas torrenciais.

parque naCiOnal daS emaSa maior área preservada do Cerrado

O Parque Nacional das Emas é a maior área preservada do Bioma Cerrado em todo o planeta, com uma riquíssima variedade de flores, plantas, animais e centenas de espécies de pássaros, além de paisagens belíssimas em área de Cerradão, Cerrado, Mata Ciliar, Campo Úmido, Campo Sujo, Campo limpo e Veredas. Em seus 131.868 hectares o visitante poderá observar, além de rica vegetação, corredeiras de águas cristalinas, animais como Veados-campeiros, Tamanduá-bandeira, Lobo-guará, Emas, Araras-Canindé, Tucanos, Sucuris, e diversas outras espécies. Criado em 1961, sua denominação decorre da presença, na região, de grande quantidade de emas (Rhea americana). O Rio Formoso e o poço da Capivara, com suas águas claras, são de uma beleza ímpar e ideais para um banho, principalmente nas altas temperaturas do verão. A época melhor para visitação é no verão e na primavera.

O Parque fica ao sul do Planalto Central, no sudoeste do estado de Goiás nos municípios de Mineiros e Chapadão do Céu, já na fronteira com o estado do Mato Grosso do Sul, abrangendo parte do município de Costa Rica. São duas

e coloridas e a fauna não fica para trás. Animais em extinção como o veado-campeiro, o lobo-guará, a ema e o tucano de bico-amarelo completam a beleza desse santuário ecológico.

Criado em 1961 por decreto federal, e ocupando área de 65.515 hectares, apresenta a seus visitantes um clima tropical quen-te semi úmido, com temperatura média anual de 24 a 26 graus centígrados, variando entre o mínimo de 4 a 8 graus centígrados e o máximo entre 40 e 42 graus centígrados. Com altitudes de 600 ms a 1650 ms, corresponde ao pediplano mais alto do Brasil Cen-tral. No ponto mais alto do Parque encontra-se a Serra de Santana.

O principal rio que drena o Parque Nacional dos Veadeiros é o Rio Preto, afluente do Rio Tocantins. Ao longo do seu per-curso podemos encontrar várias cachoeiras, entre elas o Salto do Rio Preto, com 120 ms de altura, a base do salto, com 80 ms, e as Cariocas. Igualmente de grande beleza despontam os Canyons, paredões de até 40 ms de altura e vãos de até 300 ms.

Cristais de rocha afloram do solo entre a bela flora com va-riada vegetação do cerrado, composta por matas ciliares, campos cerrados, cerrados abertos típicos, como também por florestas de galeria, onde podem ser encontradas mais de 25 espécies de orquídeas, além de outras como o Pau d’Arco Roxo, a Co-paíba, a Aroeira, a Tamanqueira, o Jerivá, os Buritis e o Babaçu.

A rica fauna da região abriga espécies ameaçadas de extinção como o Veado Campeiro, o Cervo do Pantanal, a Onça Pinta-da e o Lobo Guará, além de outras como a Ema, a Seriema, o Tapeti, o Tatu Canastra, o Tamanduá Bandeira, a Capivara, a Anta, o Tucano de Bico Verde, o Urubu Rei e o Urubu Preto.

O Parque Nacional dos Veadeiros dispõe de um centro de visitantes, além de alojamento para pesquisadores. A visitação é feita obrigatoriamente com acompanhamento de guias que po-dem ser encontrados na comunidade de Alto Paraíso de Goiás ou no povoado de São Jorge, vizinho ao Parque. A entrada do parque não é gratuita. Ligue e informe-se antes de viajar: 62 3446-1159.

atrações Na Chapada dos Veadeiros existem vários tipos de trilhas,

desde as mais suaves até as que exigem algum preparo físico, como no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, onde se caminha por terrenos planos e acidentados, por aproxi-madamente 6 Km, e que oferece duas opções de caminhada. Em uma delas pode-se ir até as cachoeiras do Rio Preto, uma com 120 m de queda e outra com 80 m. A outra opção é ir até a cachoeira das Carioquinhas e os Cânions. Estes passeios ficam a 2 km um do outro, e na volta mais 6 km de caminhada.

O nível de dificuldade das caminhadas é médio, com trilhas lon-gas, porém fáceis, ideal para quem quer caminhar mantendo um con-tato direto com a natureza, sentindo toda a sua energia e esplendor.

opções de trekking

• CaChoeira do rio Preto • Canyon 2 e CarioCas • Canyon 1 • CaChoeira da rodoviÁria

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entradas de acesso aos visitantes, uma a 25 km de Chapadão do Céu pelo portão Guarda do Bandeira, que leva à sede do Parque e outra a 80 km de Mineiros pelo portão Jacuba.

atrativosA atividade ecoturística na região ainda é incipiente, apre-

sentando uma baixa taxa de ocupação, devido as distâncias para se percorrer e por se tratar de uma região pouco conhe-cida para esta atividade. É possível visitar uma área restrita do Parque sem acompanhamento de guia, entretanto os passeios são mais produtivos com a contratação de um guia local que auxilia na observação e interpretação da diversidade natural.

As trilhas no Parque das Emas são muito extensas - algumas com mais de 40 km, e não é permitido incursões à pé em algumas delas; o pernoite no parque também não é permitido, mas o tu-rista dispõe de estrutura de hospedagem em fazendas e pousadas vizinhas ao parque. São três tipos de passeio/observação: Trilha interpretativa (identificação dos animais pelas pegadas, fezes e alimentos consumidos; identificação da vegetação); Trilha motori-zada (de ônibus ou de carro, para observação, de animais escondi-dos no cerrado e os que não têm tempo de se esconder com uma aproximação mais rápida que nas caminhadas); Caminhadas em mata ou campo: (onde se pode tocar a natureza, sentir o caminho, ver bem de perto aves, lagartos, tatu, tamanduá e outros animais).

A cidades que fazem parte do Parque oferecem várias atrações.

O município de Chapadão do Céu (GO) é um dos prin-cipais portões de entrada para o Parque Nacional das Emas.

Principais atrações:• salto do rio ForMoso• Corredeira da usina• CaChoeira do ivan garCia• CaChoeira da Prata• Canyon do rio suCuriu

A cidade de Costa Rica (MS) se localiza a leste do Mato Grosso do Sul. Possui uma extensão territorial de 5.740,80km² equivalente a 1,60% do total do estado.

Principais atrativos:• lages • BalneÁrio Mundo novo• salto Magestoso do rio suCuriu• saltinho• 1° salto suCuriú ou salto raPadura: • salto da Água eMendada: • CaChoeira das araras• Furnas e Canyons• Borda da serra da Boa vista• Água santa• orQuidÁrio natural• Ponte de Pedra• gruta da verdade• gruta do toPe da Pedra

O município de Serranópolis, antiga Serra do Café, já era ha-bitado há mais de 11.000 anos por nativos de nosso continente, considerando-se as evidências arqueológicas encontradas na re-gião. Esta cidade é muito procurada por seus sítios arqueológicos, suas cachoeiras, corredeiras e reservas de cerrado com presença de fauna característica. Principais atrações: Serra do Cafezal, Sítio Arqueológico GOJA-03 (Pousada das Araras), Sítio Arqueológi-co GOJA-01 (Gruta I do Diogo), Gruta II do Diogo, Morro da Bandeira, Morro do Baú, Morro da Mesa Serra Azul, Morro do Peão, Cachoeira do Corcovado, Cachoeira do Canguçú, Cacho-eira da Barra do Douradinho, Ponte de Pedra - Cachoeira da Ponte de Pedra (da Felicidade), Salto I do Itumirim - Salto II do Itumirim, Rio Jacuba - Corredeiras do rio Corrente, Casa Goiana.

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a eXuberânCia da Chapada dOS guimarãeS

Bem no centro geodésico da América do Sul, está a Chapada dos Guimarães, palco de uma paisagem fantástica e muito misticismo, além de ser cortada pelo paralelo 15° sul, uma linha imaginária que passa também por Porto Segu-ro, Brasília e Lago Titicaca. Segundo as antigas profecias do padre Italiano Dom Bosco, estes lugares seriam beneficiados energeticamente. Talvez por esse motivo, a Chapada dos Guimarães seja um antigo reduto de místicos e esotéricos.

Os fósseis de conchas marinhas encontrados no alto das es-carpas de arenito parecem provar que a Chapada, há 500 milhões de anos, era fundo de oceano. Ao longo da existência da Terra, o local também já foi coberto por florestas tropicais e habitat de dinossauros, até adquirir a paisagem atual. Para proteger essa im-portante amostra de fauna e flora do cerrado brasileiro foi criado, em 1989, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, uma área de 33 milhas, abrangendo o Rio Mutuca até o Morro São Ge-rônimo. Ali estão cachoeiras, grutas, cavernas, morros e formações rochosas em meio a cânions de arenito com até 350m de altura.

Mirantes natura is proporc ionam v is tas incr íve is das planícies do Centro Oeste brasileiro e até do Pan-tanal. Esse cenário exuberante tem sido um dos lugares preferidos de místicos em busca de energias positivas.

Situada a poucos quilômetros de Cuiabá, no Mato Gros-so, a Chapada dos Guimarães recebe este nome devido aos paredões que marcam as bordas do Planalto Central Brasi-leiro. O tom vermelho-alaranjado destas formações rocho-sas e as belezas naturais do local transformado em Parque Nacional em 1989 encantam os visitantes e fazem dele um destino completo para ecoturismo e turismo de aventura.

Dentre as atividades que podem ser praticadas no local estão trekking, rapel, flutuação, balonismo e escalada. Tudo isso em um cenário perfeito que combina cerrado, cachoeiras e cânions, além de pinturas rupestres e formações rochosas que enchem os olhos dos apaixonados pela vida ao ar livre.

atraçõesCinco dos atrativos mais cobiçados da Chapada dos Gui-

marães são: Mirante do Véu de Noiva, Circuito das Cachoeiras, Casa de Pedra, Morro de São Jerônimo e Vale do Rio Claro. No Véu de Noiva, uma trilha de 550m separa o turista de um visual deslumbrante. Após esta caminhada, lá de cima é possível curtir toda a força da cachoeira que recebe o mesmo nome do mirante.

Para visitar o Circuito das Cachoeiras e a Casa de Pedra do córrego Independência é preciso disposição. O passeio completo pode ter até seis horas de duração e as para-das para banho nas águas calmas das piscinas naturais são as responsáveis por revigorar o aventureiro. Já a Casa de Pedra é uma gruta com vestígios de inscrições rupestres.

Com 800 metros de altura, o Morro de São Jerônimo é um dos pontos mais altos do parque e um dos locais mais indicados para apreciação da fauna e flora locais, en-quanto o Vale do Rio Claro é ideal para quem deseja apro-veitar o momento na natureza dentro de um veículo 4x4.

Fora da reserva também há muitas belezas. Uma das mais encan-tadoras é a caverna Aroe Jari, uma gigantesca gruta de arenito com 1.500 metros de extensão e inscrições rupestres. Seu conjunto in-clui ainda a Lagoa Azul, de águas transparentes e mergulho proibido.

Também merece destaque a Cidade de Pedra, emoldurada por rochas pontiagudas que remetem a castelos medievais. As for-mações espalham-se por cânions que chegam a 350 metros de al-tura em meio a escarpas frequentadas por belas araras-vermelhas.

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Chapada dos Guimarães, cenário perfeito para trekking, rapel, flutuação, balonismo e escalada.

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Vo l .4Ecoturismo Vo l .4EcoturismoEcoturismo

Na próximaedição:

PANTANAL

Fontes: Ibama; portais EcoViagens, GoiásAgito, BrazilAd-ventureInternational, Brazadv, EcoTur, FériasBrasil, CliqueSe-miárido, FériasTur, TurismoMatoGrosso, PortalBrasil, Trilhase Aventuras/Coluna de Fê Cabral;; Revista Turismo, WordPress, Folha do Meio, Ministério do Turismo

Você saBe o que é um Parque NacioNal ?

A proteção das espécies da fauna e da flora nativas de um país ou região onde ocorrem, só pode ser feita de forma efetiva pela preservação de porções significa-tivas de seus ambientes naturais ou habitats. Assim, no Brasil, a exemplo de muitos outros países, foram criadas as Unidades de Conservação, abrangendo amostras destes ambientes naturais, tendo como finalidade sua preservação e/ou conservação e se constituindo num instrumento de proteção da biodiversidade do País. Os parques Nacionais, uma das modalidades de Uni-dades de Conservação, são áreas especialmente cria-das para preservar representantes da fauna e da flora (inclusive os ameaçados de extinção), para proteger os recursos hídricos, como rios, cachoeiras, nascentes e também para conservar as formações geológicas. Os Parques têm ainda a função de proporcionar meios para a educação ambiental, pesquisa e recreação.

a rara beleza da Serra da CanaStra

A Serra da Canastra, uma cadeia montanhosa localizada no centro-sul do estado de Minas Gerais, possui algumas das mais deslumbrantes e desconhecidas paisagens do Brasil. Durante muito tempo, esteve isolada por precárias estradas de terra e só há poucos anos entrou nos roteiros de viagem como lugar privilegiado para a prática de esportes radicais, vivência ambiental e turismo ecológico.

A região ecoturística da Serra da Canastra tem mais de 200 mil hectares e abrange 6 municípios: São Roque de Minas, Var-gem Bonita, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória e Capitólio. Os grandes atrativos ficam no Parque Nacional da Serra da Canastra, criado em 1972 para proteger as nascentes do rio São Francisco, e cuja portaria principal fica a 8 km de São Roque de Minas. A Serra tem esse nome devido à seme-lhança apresentada pelo imenso chapadão que, ao ser avistado de longe, parece ter a forma de uma canastra ou de um baú.

O Parque protege um cenário de rara beleza, sua vegetação de transição entre a “borda da Mata Atlântica” e o “início do Cer-rado”, com predominância de Campos de Altitude que abrigam inúmeras espécies da fauna e da flora do cerrado, como o lobo guará, o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro, diversos gaviões e espécies ameaçadas de extinção como o pato mergulhão e o tatu-canastra. A água é o fator preponderante no parque, cujas nascentes, que chegam a centenas, surgem em função da umidade que a rocha fria absorve do ar, principalmente no período da noite. Seus verões são chuvosos e invernos secos, com temperaturas médias no mês mais frio (julho) equivalente a 17°C e nos meses mais quentes (janeiro e fevereiro), 23°C.

• CaChoeira CasCa d’anta • CaChoeira do vento • nasCente do velho ChiCo • arvorisMo • trekking • Corridas de aventura • trilhas eM Moto, JiPe e Mountain Bike

“Enquanto tive diante dos meus olhos a Serra da Canastra, des-frutei de um panorama maravilhoso. À direita descortinava uma vasta extensão de campinas e à esquerda tinha a serra, do alto da qual jorravam quatro cascatas.” (Auguste de Saint-Hilaire).

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Você saBe o que é um Parque NacioNal ?

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reflexão

bioeletricidade é uma energia limpa e renovável, feita a partir da biomassa: resíduos da cana-de-açúcar (bagaço e palha), restos de madeira, carvão vegetal, casca de arroz, capim-elefante e outras. No Brasil, 80% da bioeletricidade vêm dos resíduos da cana-de-

açúcar. Cada tonelada de cana-de-açúcar moída na fabricação de açúcar e etanol gera, em média, 250 kg de bagaço e 200 kg de palha e pontas.

Com alto teor de fibras, o bagaço de cana, desde a re-volução industrial, tem sido empregado na produção de vapor e energia elétrica para a fabricação de açúcar e etanol, garantindo a autossuficiência energética das usinas durante o período da safra. Mas, além de atender as necessidades de energia das usinas, desde a década de 1980 o bagaço tem permitido a geração de excedentes de energia elétrica que são fornecidos para o sistema elétrico brasileiro. Especifica-mente neste ano, o setor sucroenegético celebrou 25 anos da atividade de venda de bioeletricidade para a rede elétrica nacional.

Em 2011, a produção de bioeletricidade para o sistema elétrico brasileiro foi equivalente à energia necessária para atender 20 milhões de pessoas. O Brasil pode gerar mais de 15.000 megawatts médios de energia da cana-de-açúcar - o equivalente a mais de três usinas de Belo Monte. Esta é a eletricidade feita com o bagaço e a palha da cana-de-açúcar: a bioeletricidade, tema que será tratado nos tópicos a seguir.

A situação atual da bioeletricidadeA energia elétrica gerada a partir do bagaço e da palha

da cana de açúcar e excedente às necessidades de consumo próprio das mais de 400 usinas no setor sucroenergético cresceu 13% entre 2010 e 2011, mostrando a potencialidade dessa fonte renovável e sustentável. Em 2011, o total de

bioeletricidade da cana comercializado para o setor elétrico foi de 9.925 GWh, de acordo com dados preliminares do Ministério de Minas e Energia.

Quando se avalia apenas a bioeletricidade fornecida para a rede elétrica, a importância dessa fonte também se mostra estratégica. O total de 9.925 GWh comercializado junto ao Sistema Interligado Nacional em 2011 representou 2,3% do consumo brasileiro total de energia elétrica, equivalente ao abastecimento de energia elétrica de 5,3 milhões de residên-cias durante o ano inteiro. Além do mais, a bioeletricidade fornecida para a rede elétrica, por ser complementar à fonte hídrica, proporcionou uma economia de 5% da água dos reservatórios das Regiões Sudeste e Centro-Oeste no período seco no ano.

A geração da bioeletricidade sucroenergética em 2011 foi equivalente a 14% da geração total no Estado de São Paulo em 2011 ou a 29% do consumo residencial do Estado de São Paulo no ano passado. Em 2011, o Estado de São Paulo importou do Sistema Interligado Nacional 46% do total de energia elétrica necessária para atendimento ao consumo do Estado (SEESP, 2012).

Outro aspecto importante também é a sustentabilidade ambiental dessa fonte. A bioeletricidade consegue evitar emissões de Gases de Efeito Estufa, substituindo fontes fósseis, e evitou o equivalente a 2,2 milhões de toneladas de CO2, em 2011. Para atingir a mesma economia de CO2, seria preciso plantar 16 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos. E sem essa geração da bioeletricidade em 2011, a matriz de emissões do setor elétrico teria um acréscimo de 8%.

Apesar de todos esses benefícios da bioeletricidade, o ano de 2011 não foi muito diferente de 2010 ou 2009, em termos de um avanço mais vigoroso dessa fonte em nossa matriz energética. Em virtude da presente política para o

A

BIOELETRICIDADE: O qUE FALTA PARA ESTA

ALTERNATIVA ENERGÉTICA DESLANChAR

*Zilmar José de Souza

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reflexão

setor, toda a cadeia produtiva da bioeletricidade opera em ociosidade, principalmente devido ao atual formato dos lei-lões “genéricos” que misturam fontes em um único certame. Fontes que são incomparáveis até pelas próprias qualidades intrínsecas de cada uma delas.

Respondendo à sinalização dada em 2008, a cadeia pro-dutiva da bioeletricidade se preparou para atender algo como 500 a 600 MW médios anualmente. No entanto, de 2009 até 2011, o total comercializado anualmente pela fonte tem sido uma média de poucos mais de 90 MW médios nos leilões promovidos pelo Governo Federal, que ainda são a “porta de entrada” da bioeletricidade no setor elétrico.

A descontinuidade na contratação da bioeletricidade põe em risco a estrutura tecnológica e operacional criada para a cadeia produtiva da bioeletricidade, genuinamente tupi-niquim. A bioeletricidade é uma fonte de resposta rápida, às vezes em até um ano e meio se consegue colocar de pé um novo projeto – ou menos! A bioeletricidade apresenta externalidades positivas ambientais, energéticas, econômicas e sociais ainda não adequadamente reconhecidas no atual formato dos leilões genéricos - qualidades que não têm sido corretamente valorizadas ou incentivadas no míope mode-lo de precificação praticado no Ambiente de Contratação Regulada.

O potencial da bioeletricidade da canaO valor estratégico da bioeletricidade fica mais evidente

quando verificamos seu potencial, ainda bem distante da geração efetiva de 2011. A energia elétrica da cana capaz de ser “exportada” para a rede elétrica tem potencial estimado de 134 mil GWh/ano até 2020. Utilizar plenamente esse potencial significaria proporcionar o atendimento anual de cinco (5) cidades do tamanho de São Paulo, quase 87 cidades

*Zilmar José de Souza é gerente em bioele-tricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e professor da FGV-SP.

do porte de Ribeirão Preto ou 450 cidades do tamanho de Sertãozinho, considerando dados de consumo atual dessas cidades. Representaria quase o dobro da energia elétrica produzida no Estado de São Paulo em 2011.

Equivalente a mais de três vezes o que a Usina Belo Monte será capaz de produzir ou duas usinas Itaipu em termos de capacidade instalada, atingir esse potencial de ge-ração no setor sucroenergético significaria um investimento adicional de R$ 100 bilhões na bioeletricidade. Lembrando que a bioeletricidade cria 15 vezes mais empregos diretos que a geração a carvão mineral, 22 vezes mais que a fonte gás natural e 72 vezes mais empregos diretos que a energia nuclear (BNDES, 2005).

Se hoje a bioeletricidade representa apenas 2,3% do con-sumo brasileiro, essa fonte renovável e sustentável poderá representar 18% do consumo nacional de energia elétrica em 2020, caso seu potencial seja efetivamente concretizado.

Importante também é o aspecto da sustentabilidade dessa fonte. Aproveitar todo esse potencial de geração de bioeletricidade em 2020 significaria evitar quase 40 milhões de toneladas em emissões de CO2/ano, equivalente a mais de duas vezes e meia o total de Gases de Efeito Estufa (GEEs) emitidos no município de São Paulo.

Uma política setorial de longo prazo para a bioeletricidade deslanchar

Para atingirmos o pleno potencial da bioeletricidade – ou diminuirmos o hiato produtivo, há necessidade de uma política setorial de longo prazo para essa fonte renovável e sustentável. É fato que a opção exclusiva por leilões nacionais no Ambiente Regulado, sem discriminação da localização dos empreendimentos ou tipo de fonte, tem limitado a pos-sibilidade de o Governo Federal compor a matriz de energia elétrica, conforme as necessidades e potenciais de cada região, promovendo a expansão concentrada em regiões e a baixa diversificação entre as fontes.

Os resultados do último Leilão A-5, ocorrido em dezem-bro de 2011, mostram isso: dos 42 projetos que comerciali-zaram energia elétrica no certame, 39 são empreendimentos eólicos (93% do total). Em termos espaciais, 80% foram empreendimentos localizados no Submercado Nordeste e apenas 5% no Sudeste/Centro-Oeste, submercado responsá-vel por 62% da demanda por energia no sistema Interligado em 2011. Esses 5% de empreendimentos no Submercado SE/CO foram justamente de dois empreendimentos que operarão com biomassa da cana.

Promover a contratação das fontes de geração em leilões genéricos que estão em “desequilíbrio institucional” (quer seja por concessão de benefícios fiscais, de financiamento ou conjuntura de sua própria indústria) apresenta uma oportuni-dade para aprimorarmos esse modelo. Isso, sem mencionar os efeitos da não-diversificação da matriz elétrica e concen-tração da geração em regiões longe do centro de carga.

A realização de leilões regionais representa um refinamen-to necessário do atual modelo de contratação no Ambiente Regulado capaz de permitir um planejamento mais adequado do potencial das diversas fontes renováveis

53mercado empresarialmercado empresarial

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que o Brasil possui. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (2012), a demanda no país por energia elétrica deverá saltar de 472 mil GWh em 2011 para 736 mil GWh em 2021, um crescimento de apro-ximadamente 60% no período, equivalente a quase sete vezes a energia a ser produzida pela UHE Belo Monte a plena motorização. Há espaço para as diversas fontes renováveis que sejam de fato complementares à fonte hídrica, como é a bioeletricidade.

O formato de leilões regionais para o aproveitamento local das fontes pode ser uma opção de real política setorial para as fontes renováveis, especialmente para a biomassa da cana, cujo potencial está inserido nos principais centros consumidores do país, além de ser plenamente complementar à fonte hídrica e ambiental-mente sustentável.

Entende-se que os leilões no ambiente regulado de-veriam ser específicos por fonte ou regionais, levando-se em consideração o potencial de cada fonte ou região. No caso da biomassa de cana, o potencial está princi-palmente na Região Centro-Sul, que é o maior centro consumidor de energia elétrica do País, respondendo por 77% do consumo nacional. Isto permite aos agentes pú-blicos do setor elétrico o pleno resgate do planejamento efetivamente “ex-ante” e não “ex-post” como estamos observando com os resultados dos leilões genéricos, que não conseguem direcionar para o aproveitamento locacional das diversas fontes de geração que o Brasil possui.

Um ponto importante também a ser consi-derado é o papel da bioeletricidade na expansão da oferta de etanol. Até 2020, de acordo com estimativas da Unica, a produção de cana no País teria que praticamente dobrar, atingindo cerca de 1,2 bilhão de toneladas por ano apenas para atender o aumento da demanda por etanol e manter a posição brasileira no mercado mundial de açúcar. Para que isso aconteça, serão necessá-rios investimentos de mais de R$ 150 bilhões e a construção de 120 novas usinas de processamen-to de cana – as chamadas greenfields.

Nesta linha, energia elétrica e etanol são produtos sinérgicos no setor sucroenergético. Se restringirmos a expansão da bioeletricidade, desestimula-se a tão necessária expansão do etanol no País. Uma política setorial de longo prazo adequada para a bioeletricidade certamente colaborará também para a expansão da produção do etanol e do açúcar. Isto ajudaria não somente a bioeletricidade, mas também o etanol a deslan-charem na matriz energética brasileira.

Trata-se de uma oportunidade literalmente única para promover o diálogo entre os diversos agentes públicos e privados da cadeia produtiva do setor sucroenegético para a expansão desses dois produtos sinérgicos na matriz energética nacional: o etanol e a bioeletricidade. ME

reflexãoreflexão54

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s resíduos secos do cultivo de cana-de- açúcar no Brasil poderiam gerar mais ener-gia do que a potência instalada da Usina de Itaipu. De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos: Diagnóstico dos Re-

síduos Urbanos, Agrosilvopastoris e a Questão dos Catadores, divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o uso desses resíduos poderiam gerar 16.464 megawatts por ano. As informações são da Agência Brasil.

O levantamento mostra que, entre 13 culturas agrícolas pesquisadas, a cana-de-açúcar foi a que gerou maior volume de resíduos, 201 milhões de toneladas por ano, incluindo subprodutos como o bagaço que tem alto potencial energético e vinhaça com melhor aproveitamento como adubo na pró-pria plantação.

O setor já é considerado autossuficiente em termos energéticos, atendendo a mais de 98% da sua própria demanda de energia. Segundo o Ipea, ainda existe grande potencial para geração de excedentes energéticos que ainda é muito pouco utilizado.

“Para viabilizar uma maior disponibilização dessa energia para a rede elétrica, entretanto, será necessário vencer várias barreiras de ordem técnica, econômica e regulatória, sendo necessários mais incentivos econômicos para motivar os investi-mentos do setor privado nessa área”, destacou o documento.

Além do potencial energético, a queima do bagaço também soluciona o problema de destinação desse resíduo, que é muito volumoso e de difícil transporte.

No total das 13 culturas pesquisadas pelo instituto, o volume de resíduos produzidos chegou a 291 milhões de toneladas por ano. O Ipea analisou o potencial energé-tico apenas dos cultivos secos, como o de cana-de-açúcar, milho e soja, desconsiderando as culturas de banana, laranja e uva.

“O aproveitamento desses resíduos, além de evitar potenciais impactos negativos causados pelo descarte inadequado no ambiente, pode gerar muitos benefícios econômicos para o país”, destacou o estudo.

Os resíduos da agricultura, pecuária e florestas também poderiam atender às necessidades de energia elétrica do setor e ainda ser comercializada no mercado. De acordo com o levantamento, na pecuária, as criações de bovinos, suínos e aves geram cerca de 1,7 bilhão de toneladas de dejetos por ano. Desse total, 365 milhões de toneladas de dejetos são produzidas a partir de criações confinadas, que poderiam virar energia reduzindo os impactos sobre o meio ambiente. A criação de bovinos responde por quase 90% deste volume. ME

RESíDUOS DA CANA PODEM

GERAR MAIS ENERGIADO qUE A USINA DE ITAIPU

Se utilizados, os resíduos secos gerariam 16.464 megawatts por ano

desenvolvimento

O

55mercado empresarialmercado empresarial

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Brasil apresentou a maior taxa de crescimento na produção de energia eólica em 2011 – 63% – de acordo com dados do GWEC (Conselho Global de Energia Eólica), publicados em fevereiro deste ano de 2012. Com este registro, o Brasil entra

no top 20 dos maiores produtores de energia eólica do mundo, uma lista que continua a ser liderada pela China, com um total de 62 mil MW em parques eólicos – e um crescimento de 47% em 2011.

De acordo com a GWEC, a produção de energia eó-lica continua a subir globalmente a um bom ritmo, apesar da crise econômica. A grande diferença é que o crescimento, antes puxado pela França, é agora conduzido sobretudo pelos países emergentes da Ásia e América Latina. Portugal continua no top 10: é o décimo maior produtor de energia eólica, com 4.083 MW e 1,7% de quota de mercado global. O Brasil subiu dos 927 MW para os 1.509 MW em 2011, praticamente metade da energia eólica instalada da América Latina.

Segundo o estudo, o sector da energia eólica instalou 41 mil MW de energia limpa e confiável em 2011, elevando a capacidade total instalada globalmente para os 238 mil MW – um aumento de 21%. A energia eólica representa 6% do mercado global de energia, sendo que há hoje 80 países com instalações de eólicas

– e 22% destes já passaram dos 1 GW.“Apesar do estado atual da economia global, a

energia eólica continua a ser a tecnologia de ge-ração de energia renovável mais escolhida”,

explicou Steve Sawyer, secretário geral da GWEC. “2011 foi um ano difícil,

e 2012 não será diferente, mas as bases do setor permanecerão só-

lidas em longo prazo. Há dois anos seguidos que a maioria das novas instalações estão sendo feitas fora do OCDE – e os novos mercados na América Latina, África e Ásia estão a impulsionar o crescimento do setor.”

Além de China e Brasil, a Índia também é destaque. No BRIC, as instalações de 2011 elevaram a capacidade

total do país para um pouco mais de 16 mil MW. “A Índia

alcançou outro marco acrescentando mais de 3 mil MW de energia eólica instalados em 2011. Este número possivelmente chegará a 5 mil MW por ano até 2015”, disse Sawyer.

No Brasil, este crescimento deve-se, principal-mente, ao Proinfa, programa federal de incentivo às fontes renováveis de energia, que se iniciou em 2004 e finalmente cumpriu sua meta de instalação de parques eólicos. No entanto, o grande boom de eó-lica ainda está por vir; entre 2009 e 2011, o custo da geração eólica no Brasil caiu vertiginosamente – hoje é o mais baixo no mundo – e leilões contrataram mais de 7 mil MW da fonte, o que deve posicionar o país entre os dez maiores geradores até 2015.

VEJA O RANKING (TOP 10)China: 62 MW – 26,3%Estados Unidos: 46 MW – 18,7%Alemanha: 29 MW – 12,2%Espanha: 21 MW – 9,1%Índia: 16 MW – 6,7%França: 6,8 MW – 2,9%Itália: 6,7 MW – 2,8%Reino Unido: 6,5 – 2,7%Canadá: 5,2 MW – 2,2%Portugal: 4 MW – 1,7%Resto do Mundo: 32 MW – 13,6%Fonte: Green Savers / Portugal ME

EM 2011, BRASIL FOI O PAíS: qUE MAIS

CRESCEU EM ENERGIA EóLICA

O

Taxa de crescimento foi de 63%

desenvolvimento56

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s carências da logística de transportes no Brasil são frequentemen-te apontadas como obstáculo para o crescimento. Mas existem setores, como o sucroenergético, que não tem poupado esforços para que as melhorias aconteçam. Segundo o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão

de Sousa, no caso do etanol, o que se tem verificado é uma expansão da produção em estados com menor consumo, gerando uma clara necessi-dade de desenvolvimento de uma logística que distribua estes excedentes para os estados mais consumidores. “Nesses casos, dutos são a solução mais eficiente, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental,” explicou.

Já para o açúcar, que requer redução de custos logísticos para expor-tação, as ferrovias são a melhor opção. “Para garantir a competitividade do sistema, o próprio setor privado tem investido vários bilhões de reais na infraestrutura de dutos, transbordos rodoferroviários e terminais nos portos,” completou.

Sousa lembra que a concentração da cultura da cana na região Centro-Sul do País leva necessariamente a logísticas e dinâmicas próprias. “No que se refere às exportações, um outro importante gargalo tem sido a concentração nos portos de Santos e de Paranaguá, que além de saturados, apresentam custos várias vezes superiores aos de nossos concorrentes,” explicou o executivo. ME

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) inaugurou recentemente seu Laboratório de Produção de Biopolímero da cana-de-açúcar para Pesquisa, Desenvolvimento e Produção. O biopolímero é resultante da ação de uma bactéria que se desenvolve no caldo da cana ou melaço. As pesquisas na área foram iniciadas há

anos pelos pesquisadores de Indústria da EECAC, lideradas pelo engenheiro químico Francisco de Assis Dutra Melo.

Segundo o ProCana Brasil, com o sucesso da utilização, o polímero foi levado para o Hospital das Clínicas da UFPE, iniciando-se as pesquisas em humanos, no tratamento de queimados, chegando hoje a várias finalidades, inclusive próteses.

O material foi testado inicialmente no Hospital Veterinário da UFRPE para cicatrização de feridas em animais. Depois, o polímero passou a produzir fios cirúrgicos, cuja sutura era absorvida pelo organismo. ME

SETOR SUCROENERGÉTICO INDUz ExPANSãO NA LOGíSTICA DE TRANSPORTES

Investimento em logistica é vital para

reduzir custos

UNIVERSIDADE INAUGURA LAbORATóRIO DE PRODUçãO DE bIOPOLíMERO DO MELAçO DA CANA

A

A

PSA (Peugeot/Citroën) deve concluir em 2013 os testes do Hybrid4 - veículo híbrido entre as tecnologias de motor elétrico e a combustão (diesel)- com o

uso de 100% de biodiesel brasileiro de cana. Os testes são desenvolvidos em parceria com técnicos da USP de Ribeirão Preto (303 km de São Paulo) e já consumiram R$ 2,5 milhões em investimentos nas três fases do projeto.

Em experimentos com o uso de 30% de biodiesel de cana, a montadora francesa regis-trou até 25% menos emissões de CO2 do que um veículo 1.0 movido a etanol.

Os investimentos feitos no Brasil visam absorver a expertise nacional na produção de biodiesel com origem 100% vegetal, uma vez que na Europa ainda não é possível obtê-lo. Apesar disso, a tecnologia só servirá aos consumidores de países europeus. O governo brasileiro ainda não autorizou a comercialização de veículos de passeio com o diesel como fonte de abastecimento. Fonte: Folha de S. Paulo ME

TESTE COM 100% DE bIODIESEL DE CANA DEVE SER CONCLUíDO EM 2013

AMenos emissões de CO2

O Sindaçúcar-PE e as Usinas associadas são parceiros no

projeto, fornecendo o melaço

desenvolvimento 57mercado empresarialmercado empresarial

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meio ambientetecnologia

Embrapa Agroenergia está na reta final daquela que é a principal demanda do setor: o etanol de 2ª geração. A tecnologia

já é dominada pela estatal, mas seu custo ainda é muito alto para a produção em larga escala. A tec-nologia consiste em transformar o bagaço da cana, a biomassa, em etanol. “Existe a viabilidade e temos a tecnologia, mas ainda não é viável do ponto de vista econômico”, afirmou o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Júnior.

Antes mesmo de ser disseminada, a tecnologia pode enfrentar um mercado concorrido. O bagaço da cana é hoje utilizado por praticamente todas as usinas para gerar sua própria energia. Das 430 usinas em operação no país, cerca de 160 estão, inclusive, comercializando o excedente.

O governo analisa a possibilidade de realizar leilões de cogeração com a queima do bagaço da cana. “Lentamente, o setor está se adaptando para atender as refinarias de bioeletricidade. Quando o etanol de 2ª geração estiver pronto do ponto de vista comercial, o produto terá que enfrentar mais esse concorrente [de geração]”, disse Souza Júnior.

Atualmente, a Embrapa trabalha com desenvol-vimento de tecnologias diferentes para a produção de etanol por meio de outras culturas para atender pedidos do setor produtivo, como o sorgo, agave azul - usado para a produção de tequila -, a beter-raba açucareira e a mandioca. “É importante variar as matérias-primas para que regiões sem histórico de produção de etanol possam entrar mercado e ampliar a produção do país”, disse Souza Júnior.

“O agave azul está sendo testado no Nordeste, onde o clima é parecido com o México e pode ser uma fonte viável. No Sul, testamos a beterraba açu-careira. Além disso, temos a mandioca que, desde o Proálcool, na década de 70, foi considerada uma fonte alternativa e volta forte em diversas regiões do país”, disse. Fonte: Valor Econômico ME

EMbRAPA NA RETA FINAL PARA O ETANOL DE 2ª. GERAÇÃO

Tecnologia já é dominada pela

estatal, mas custo ainda é muito alto para a produção em larga escala

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tecnologia

EMbRAPA NA RETA FINAL PARA O ETANOL DE 2ª. GERAÇÃO

odificações genéticas e experimentos de evolução garantiram um aumento de 11% no rendimento da fermentação de leveduras utilizadas no processo de fabricação de etanol pro-veniente da cana-de-açúcar. O resultado foi obtido por uma

pesquisa realizada na USP, em parceria com a Universidade Federal da Santa Catarina (UFSC) e com a Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda. Segundo Thiago Basso, autor do estudo, cada 3% de aumento no rendimento da fermentação representa um aumento de 1 bilhão de litros de etanol por ano.

A modificação genética foi produzida por meio da tecnologia de DNA recombinante, que alterou o gene produtor da enzima invertase, responsável pela clivagem da sacarose, que passou a ocorrer em meio intracelular.

Na levedura original, a sacarose é clivada no meio extracelular e resulta em duas moléculas (glicose e frutose), que são absorvidas pela levedura e transformadas em etanol. Com a nova técnica, a célula absorveu a sacarose diretamente. No entanto, o transporte de sacarose mostrou-se insuficiente e o rendimento ficou abaixo do esperado. Para contornar a situação, as leveduras modificadas foram cultivadas em um reator chama-do quimiostato, num processo contínuo no qual a sacarose era um fator limitante. Com isso, o clone que sofresse uma mutação que garantisse maior rendimento energético seria selecionado naturalmente em relação aos demais, fornecendo uma geração de leveduras que clivassem sacarose internamente e apresentassem um rendimento energético considerado compatível com previsões teóricas. Esse resultado foi alcançado após 60 gerações desses organismos.

Depois da segunda etapa do experimento, as novas leveduras foram analisadas e verificou-se aumento de expressão de vários genes, incluindo a duplicação do gene AGT1, responsável por transportar sacarose para o interior das células.

Os estudos continuam, agora, na tentativa de identificar as mutações ocorridas na etapa evolutiva, num processo chamado de “engenharia metabólica inversa”. Fontes: Agência USP /Inovação Tecnológica ME

empresa norte-americana Seat-tle Hydrovolts criou uma turbi-na voltada para

a produção de energia cinética. Ela consegue gerar energia a partir do movimento da água em canais usados para ir-rigação. Apesar da energia cinética já ser usada em vários lugares do mundo a partir do movimento das ondas do mar, por exemplo, esse novo método, o Hydrovolts, tem seu diferencial por usar canais de irrigação agrícola.

A quantidade de energia gerada por ele varia conforme a velocidade da água que passa pela tur-bina. Se a água correr em uma velocidade de 1m/s, é possível produzir 0,4 kW. Caso o fluxo seja de 2m/s, a produção vai para 4 kW. Se ela for de 4m/s, então, a produção pode alcançar 32 KW. Esse volume é suficiente para alimentar as casas ao redor dos canais. Além disso, o equipamento também pode ser colocado em estações de tratamento e outras pequenas vertentes de água.

Vale ressaltar que a eficiência do Hydrovolts de-pende do formato do local em que ela está inserida. Por exemplo, em canais mais estreitos a eficiência energética alcança 60%. Por sua vez, em locais abertos, onde a água dispersa e deixa a corrente mais fraca, os números ficam em torno de 15 a 30%.

Um protótipo dessa turbina está instalado no Canal Roza, que faz parte de um sistema que fornece água do rio Yakima, em Washington. No local, a produção alcança 8 KW. Se os testes provarem que a turbina não afeta a qualidade da água e o ecossis-tema local, uma concessionária que administra 500 canais pode reduzir a quantidade de combustíveis fósseis utilizada para bombear e gerenciar a água. Fonte: INFO Online ME

ENGENhARIA EVOLUTIVA AMPLIA RENDIMENTO NA PRODUçãO DE ETANOL

Um aumento de 1 bilhão de litros de etanol

por ano

MA

TURbINA USA CANAIS DE IRRIGAçãO PARA PRODUzIR ENERGIA

Processo foi criado pela

norte-americana Seattle Hydrovolts

59mercado empresarialmercado empresarial

Page 60: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

inalmente, a eletricidade gerada a partir da energia solar irá para a rede de distribuição e chegará aos consumidores brasileiros. A interligação das chamadas “fazendas solares”

ocorrerá a partir do início de 2013. São 18 projetos de usinas solares aprovados para várias concessio-nárias de energia, totalizando 25 megawatts (MW) de potência instalada.

Para se ter uma ideia do atraso da energia so-lar no Brasil, a energia eólica já conta com 1.479

MW instalados. Em uma única liberação de recursos para energia eólica, feita pelo BNDES há poucos dias, está prevista a instalação de 150 MW adicionais, seis vezes mais do que todo o “arranque” inicial dado à energia solar.

Apesar disso, o momento é de entusiasmo. “Este é um marco para a energia fotovoltaica no Brasil porque é o momento de introdução dessa tecnologia no País. Sempre falávamos no futuro e agora o futuro chegou,” diz professor Ennio Peres da Silva, da Unicamp. A capacidade instalada de energia solar no Brasil é de 6 MW, provenientes de unidades criadas no Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios, para atender comunidades isoladas. Essa capacidade agora será ampliada mais de quatro vezes.

Os pesquisadores da Unicamp estão trabalhando

em associação com a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), para a instalação de uma unidade híbrida, que irá explorar energia eólica e solar, interligando ambas à rede de distribuição. Serão dois aerogeradores com 5 kW de potência, instalados na Usina de Tanquinho, em Campinas. Tanquinho também terá painéis solares para a geração 1 MW, enquanto a Unicamp receberá quatro conjuntos de painéis solares de diferen-tes tecnologias, de 15 quilowatts (kW) cada um. Serão testados painéis solares e aerogeradores nacionais e importados.

Aprimoramento tecnológicoA Unicamp já atuava como parceira da CPFL

no desenvolvimento de tecnologias de geração solar/eólica, em um projeto de 20 kW. Com a instalação das novas usinas, os pesquisadores da Unicamp vão iniciar estudos de medições, simulações e também de aprimoramento das tecnologias já desenvolvidas para a conexão à rede elétrica da energia fotovoltaica gerada.

“A melhoria do controle dos conversores ele-trônicos de potência é uma delas,” diz Ruppert Filho, orientador da pesquisa que resultou no primeiro conversor trifásico para a conexão de painéis solares à rede elétrica. Fontes: Inovação Tecnológica/Jornal da Unicamp ME

Correndo atrás do vento

F

ENERGIA SOLARChEGARá AOS bRASILEIROS EM 2013

inovação60

Page 61: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

AChEGARá AOS bRASILEIROS EM 2013s ondas do mar são um recurso renovável e inesgotável, dis-poníveis em abundância em todo o planeta. É por isso que há tanto interesse em utilizá-las para gerar eletricidade. O grande desafio é converter as ondas do mar em energia elétrica de

forma eficiente. É difícil, por exemplo, compensar as velocidades relativamente baixas e os movimentos irregulares das ondas. Pesqui-sadores da Universidade de Beira Interior, em Portugal, acreditam ter encontrado uma solução para superar os dois problemas.

Os engenheiros portugueses projetaram um novo dispositivo de conversão de energia especificamente voltado para superar os dois inconvenientes - ou seja, a baixa velocidade e os movimentos irregulares das ondas. O sistema consiste em uma boia ligada a um novo tipo de gerador, chamado Gerador Elétrico Linear Planar de Relutância Comutada, que fica submerso. Ele converte diretamente em eletricidade o movimento induzido pelas ondas que passam, que fazem o elemento flutuante subir e descer.

A pesquisadora Maria do Rosário Calado e seus colegas afirmam que o novo gerador tem como vantagens uma alta densidade de po-tência e grande robustez. Além disso, garantem eles, não há nenhum empecilho técnico para modelar e construir um protótipo em escala piloto.

Conversão diretaQuando a boia sobe, pelo passar de uma onda, o cabo que desce

até o gerador puxa sua parte central. Como o gerador tem um mo-vimento linear - ao contrário dos geradores rotativos normais - o movimento da onda capturado pela boia não precisa ser convertido, evitando perdas. Uma mola no fundo do gerador ajuda a puxar seu eixo central de volta à posição original, deixando-o pronto para o próximo ciclo. Fonte: Inovação Tecnológica ME

A caminho da plena escala comercial dos bio-combustíveis avançados e de um cenário mundial com combustíveis limpos e mais acessíveis para os nossos carros, ônibus e caminhões, a Novozy-mes anunciou, em junho último, sua mais recente inovação ao mercado latino-americano: a Cellic® CTec3. Essa enzima permite uma relação eficien-te de custo-benefício na conversão de biomassa em etanol e apresenta um desempenho 1,5 vezes melhor em relação ao produto anterior da Novo-zymes, líder de mercado, a Cellic CTec2.

A empresa brasileira de bioenergia GraalBio estará entre as primeiras empresas no mundo a produzirem o etanol celulósico em escala comercial quando inaugurar sua nova planta em Alagoas, em 2013. A unidade produzirá 82 milhões de litros de etanol celulósico, ao ano, a partir do bagaço e da palha de cana de açúcar e a Novozymes fornecerá a tecnologia enzimática necessária.

Biocombustíveis avançados são produzidos a partir da celulose presente na biomassa (como palha de trigo, talos de milho, bagaço de cana-de-açúcar e lixo doméstico). Primeiro, a biomassa é dividida em uma polpa. As enzimas são então adicionadas, transformando a polpa em açúcar que pode ser fermentado para se tornar combus-tível, ração animal ou produtos químicos.

A Novozymes já começou a procura por lo-cais para implantar novas unidades produtoras de enzimas industriais no Brasil. Considerada líder em bioinovação, a empresa atua no Brasil desde 1975, com uma unidade industrial em Araucária, Paraná. Em 2011, inaugurou seu oitavo Centro de Pesquisa & Desenvolvimento, o primeiro no Brasil, voltado para o desenvolvimento de novas enzimas para o setor de bioenergia, em franca expansão. Com informações do portal Fator Brasil ME

GERADOR LINEAR CONVERTE DIRETAMENTE MOVIMENTO DAS ONDAS EM ELETRICIDADE

Velocidade e ritmo

inovação

Enzima da Novozymes reduz custos e aumenta os rendimentos na produção de biocombustíveis avançados a partir de resíduos agrícolas e rejeitos

O gerador linear possui seis polos na cremalheira primária e quatro na secundária, sendo duas bobinas por fase.

ETANOL CELULóSICOSE TORNA REALIDADE NO bRASIL COM ENzIMA INOVADORA

61mercado empresarialmercado empresarial

Page 62: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

ara o copresidente do programa de energia sustentável da ONU, Kandeh Yumkella, o gás natural, incluindo o não-tradicional gás de xisto, deveria ter um papel importante na

redução das emissões de gases do efeito estufa, na preservação das florestas e na melhora dos padrões de vida e saúde das populações pobres. Segundo entrevista dele à Reuters, durante a Rio+20, sem isso, a chamada Iniciativa de Energia Sustentável para Todos, da ONU, terá dificuldades em alcançar até 2030 as metas de acesso energético universal e duplicação dos índices de melhoria energética e uso de recursos renováveis.

Yumkella, que é também chefe da Organização de Desenvolvimento Industrial da ONU, admite que seu apoio ao gás natural é polêmico, mas acha que seria quase impossível conseguir até 2030 o valor estimado - 43 bilhões de dólares por ano - neces-sário para fornecer eletricidade para 1,3 bilhão de pessoas, metade do número que não tem acesso a ela hoje. “Você não conseguirá salvar a floresta se não tiver gás”, disse Yumkella, originário de Serra Leoa. “É uma das soluções das quais precisamos

P

meio ambiente

USO DO GáS NATURAL PODERIA SALVAR FLORESTAS?

62

Page 63: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

descoberta de novos recursos em lugares como Serra Leoa, seu país natal, e outras nações da África, região com menor acesso a eletricidade e energia limpa.

“Pense no mundo daqui a 40 anos”, disse ele. “Será que a África vai exportar seus recursos para o mundo desenvolvido, para que os caras ricos tenham seus jipes e ar-condicionado, e todo o resto do pessoal continue pobre? Essa é a receita da insegurança.”

Ao mesmo tempo, ele louva o desenvolvimento do gás de xisto nos EUA, por se tratar de um recurso abundante que ajudou o país, um dos maiores polui-dores mundiais, a baratear sua energia e reduzir suas emissões de carbono, já que o gás é mais limpo que o carvão. “Saudamos novas fontes de energia, na verdade é preciso dar crédito aos norte-americanos. “Há 15 anos eles decidiram investir em novas tecnologias.”, disse Yumkella. O gás de xisto é factível se a pesquisa e desenvolvimento forem feitos, e é menos poluente do que outras formas... Ao mesmo tempo, precisamos salvaguardar, precisamos assegurar que as tecnologias não causem danos colaterais.”

Sabido, da Friends of the Earth, qualificou essa posição de perigosa, porque a exploração do gás de xisto ameaça mananciais e perturba comunidades remotas. Quanto às tecnologias existentes de petróleo e gás, muita coisa precisa ser feita para evitar o desperdício e a poluição. Algumas medidas poderiam contribuir para o acesso dos mais pobres à energia, segundo ele. Parte da iniciativa prevê uma redução drástica na quantidade de gás queimado ou desperdiçado devido à falta de mercados ou gaso-dutos. “A quantidade de gás queimada na África pode amparar 50 por cento das necessidades elétricas da África, e o pior (desperdício) é na Nigéria”, concluiu. Fonte: Reuters ME

para reduzir o desmatamento e reduzir os 2 milhões de pessoas que morreram a cada ano por causa da poluição atmosférica em ambiente fechado, devido ao uso da lenha.”

Entretanto, muitos participantes da Rio+20 consideram problemática a inclusão do gás natural na iniciativa (o gás natural é um hidrocarboneto não renovável, e sua queima provoca emissões de dióxido de carbono, o principal dos gases do efeito estufa). Entre eles, Pasco Sabido, consultor climático da ONG Friends of the Earth Europe. “Yumkella é um grande homem, mas seu painel é dominado por pessoas que falam pelas grandes indústrias energéticas”, disse o consultor. O painel de Yu-mkella, nomeado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, tem como outros copresidentes Chad Holliday, presidente do Bank of America, Chen Yuan, presidente do Banco de Desenvolvimento da China, e o brasileiro Carlos Ghosn, presidente e executivo-chefe da Renault-Nissan.

Sabido considera que a ênfase na geração de energia para os pobres deveria estar na adoção da energia solar e da biomassa. “O gás pode ser bom como uma medida paliativa”, disse Carlos Rittle, da entidade ambiental WWF. “Mas não é uma solução de longo prazo. Precisamos realmente nos afastar das velhas fontes energéticas.”

Lidy Nacpil, que participa da coordenação do Movimento Jubileu para Dívida e Desenvolvimento no Sul da Ásia/Pacífico, também fez críticas à abor-dagem de Yumkella. “Qualquer iniciativa energética global que não coloque as pessoas em primeiro lugar está fadada ao fracasso na solução da pobreza energética”, disse. “Em vez de olhar para a energia pertencente e gerida pela comunidade, ela empurra mais privatizações.”

Energia na pautaMas Yumkella considera que as críticas são ine-

rentes à discussão. “Pelo menos conseguimos final-mente colocar a energia na pauta”, afirmou. “Antes disso, qualquer discussão sobre energia na ONU ficava em segundo plano diante da geopolítica do petróleo e do gás.” O desenvolvimento do gás e do petróleo é essencial, disse ele, especialmente porque a preocupação com a segurança energética levou à

Assunto divide opiniões

meio ambiente 63mercado empresarialmercado empresarial

Page 64: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

evento

PARA CRIAR COMBUSTíVEL LIMPO PARA AVIAÇÃO

s fabricantes de aeronaves Embraer, do Brasil, e Boeing, dos Estados Unidos, iniciaram oficialmente, em abril último, discussões bilaterais com o objetivo de

produzir biocombustíveis para aviação. A meta é criar, no futuro, um centro de pesquisa no país que será referência mundial.

As duas grandes companhias aeronáuticas, em parceria com a Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), devem desenvolver um combustível que emita menos gases de efeito estufa, seja renovável e não prejudique o desem-penho de aeronaves que já estão em operação ou de novos jatos que serão desenvolvidos – seja para aviação comercial ou executiva.

As discussões sobre metodologias de pesquisa e quais matérias-primas serão analisadas devem durar nove meses por cientistas e engenheiros. Eles vão definir o melhor modelo de investigação científica, mas olhando para o que já foi desenvolvido no setor até hoje — inclusive a indústria da cana-de-açúcar e do etanol. Entretanto, ainda não há uma previsão de quando será iniciada a fabricação do produto voltado à aviação.

Principal desafioDe acordo com Mauro Kern, vice-presi-

dente de Engenharia e Tecnologia da Embraer, apesar do Brasil ter vantagens na indústria de combustíves renováveis, o principal desafio será a produção em larga escala. A empresa já desen-volve pesquisas com óleos vegetais e cana de açúcar no desenvolvimento do bioquerosene.

Segundo ele, o produto renovável deve reduzir em 80% as emissões de gases estufa, se comparado com outros combustíveis fósseis, e vai contribuir para o setor cumprir metas de re-dução na liberação de gases. A aviação mundial pretende cortar pela metade a emissão de CO2 até 2050, comparado ao índice de 2005.

Para Carlos Brito, diretor científico da Fapesp, mesmo o Brasil sendo referência no uso da cana para a produzir o etanol, e ter uma indústria em torno disso, outras fontes precisam ser analisadas. “Queremos conhecer os candidatos interessantes, mas isso é cercado de muitos requisitos técnicos e de sustentabi-lidade”, explica.

A presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak, citou que empresas concorrentes, como a Airbus, estão de olho neste setor. “Precisamos ter mais voos com biocombustíveis, para que eles deixem de ser algo extraordinário e passem a ser usuais”. Fonte: Globo Natureza ME

BRASIL SE UNE AOS EUA

AA meta é

desenvolver um centro de pesquisa no

país que será referência mundial

meio ambiente64

Page 65: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

BRASIL SE UNE AOS EUAs países da América Latina e o Caribe enfrentarão prejuízos anuais de US$ 100 bilhões até 2050, caso não adotem medidas para tentar conter os danos

em decorrência do aquecimento global. O alar-me vem de um levantamento feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em conjunto com a Comissão Econômica da América Latina e o Caribe (Cepal) e a World Wildlife Fund (WWF), que foi apresentado na Rio+20.

Para chegar ao número estimado do prejuí-zo, o relatório avaliou a literatura que identificou os diferentes impactos físicos e também fez cál-culos próprios. “A novidade é que, pela primeira vez, temos um cálculo dos impactos físicos, utilizando uma metodologia similar e colocando custos financeiros em uma moeda que possa ser comparativa, no caso, o dólar”, disse ao Estado Walter Vergara, chefe da Divisão de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade do BID.

De acordo com Vergara, os impactos físicos podem ser reduzidos com investimentos em adaptação. Ele cita que os problemas de perda de capacidade dos reservatórios hidroelétricos no Brasil, por exemplo, podem ser compensa-dos com ações de reflorestamento.

“Uma medida de adaptação muito simples para o Brasil é trabalhar em bacias altas, acima dos reservatórios, fazer reflorestamento e con-servar os bosques para que eles consigam reter a água e diminuir o impacto físico da perda de

energia. Assim você consegue diminuir a veloci-dade de escoamento das águas e aumentar o ar-mazenamento no solo”, explicou o especialista.

O aumento do nível do mar também é outro impacto importante do aquecimento global. Para isso, o relatório aponta a necessidade de planejamento de infraestrutura urbana e tam-bém a construção de barreiras físicas.

O relatório ainda aponta os prejuízos nas lavouras agrícolas na América Tropical, Brasil, Bolívia e norte da Argentina em decorrência das condições climáticas. “Nas áreas onde era pos-sível plantar soja, por exemplo, será necessário encontrar sementes que consigam se adaptar às mudanças de temperatura.”

Segundo Vergara, o relatório ainda faz os cálculos do custo financeiro associado à dimi-nuição rápida de emissões de gases na América Latina. “A gente calcula que será necessário investir outros US$ 110 bilhões por ano para reduzir as emissões do estágio de hoje para 2 toneladas per capita para o ano 2050. Essa é a única forma para que o planeta não esquen-te mais do que 2ºC neste século”, finalizou. Fonte: Estadão ME

O

CUSTO DO AqUECIMENTO GLOBAL NA AMÉRICA LATINA É DE US$ 100 bI AO ANO

Estudo do bID adverte que região sofrerá prejuízos anuais até 2050 se medidas

preventivas não forem tomadas

meio ambiente 65mercado empresarialmercado empresarial

Page 66: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

mbora a comunidade científica internacional tenha chegado ao consenso de que o aumento de até 2º C na temperatura média do planeta é aceitável para os ecossistemas terrestres, esse aquecimento pode ser

mais nocivo do que se imagina para os oceanos e para a vida marinha. “Nesse cenário, o número de dias com picos de temperatura acima dos 28ºC a 30ºC aumentaria significa-tivamente nas águas costeiras e em mares fechados, como o Mediterrâneo. Deveríamos avaliar melhor os efeitos da temperatura mais alta sobre a vida marinha, especialmente sobre a estabilidade de algumas proteínas”, disse Luis Valdés, chefe do setor de Ciência Oceânica da Comissão

Intergovernamental de Oceano-grafia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), à Agência Fapesp durante a RIO+20.

Segundo Valdés, há uma escas-sez de peixes no mundo todo e é cada vez mais difícil se achar peixes grandes, o que afeta de forma grave

economias que dependem da pesca. “A elevação dos níveis do mar causada pelo degelo é um dos grandes problemas. Ainda não sabemos a velocidade em que o degelo está

ocorrendo na Groenlândia. Como isso vai afetar as mudanças de temperatura nas correntes ma-rinhas é uma informação-chave. Se as correntes mudam, tudo muda”, disse.

“Em termos de biologia, se a produção primária dos oceanos diminuir, a pesca também vai cair. A mudança nas rotas migratórias dos peixes-espadas repercutirá diretamente nas economias dos países e em muitos postos de trabalho em terra. A pesca é um exemplo claro de como um setor produtivo repercute em uma grande economia”, disse Valdés.

Segundo o especialista, a dimensão dos efei-tos das mudanças climáticas sobre os oceanos é frequentemente negligenciada e a informação recebida pela comunidade científica e pelo público geral é parcial. “Temos dados do he-misfério Norte sobre o impacto das mudanças globais nos oceanos, mas não do hemisfério Sul. Desse modo, não temos como saber quais são os efeitos e os danos, como os ecossistemas estão respondendo ou como as espécies estão se adaptando”, ponderou.

Valdés afirma que as medidas que podem ser tomadas no sentido de mitigar os efeitos do aquecimento global sobre os oceanos estão diretamente relacionadas ao poder econômico dos países. “As medidas tomadas em termos de adaptação em países como Holanda e Inglaterra são no sentido de se proteger contra o aumento no nível do mar. Isso significa uma importante transformação na engenharia costeira, o que é mais difícil de se fazer em economias menos de-senvolvidas, como, por exemplo, em pequenas ilhas do Pacífico”, disse. Fonte: Fapesp ME

A dimensão dos efeitos das mudanças climáti-cas sobre os oceanos precisa ser melhor

compreendida

E

OCEANOS PODEM SOFRER MAIS COM

AqUECIMENTO

bICICLETAS DE bAMbU PARA MILhARES DE ALUNOS DE ESCOLAS PúbLICAS DE SãO PAULO

O projeto Escola de Bicicleta está distri-buindo bicicletas de bambu para 4600 alunos da rede pública de São Paulo. Cada uma das 46 unidades do CEU receberá, até dezembro, uma centena de bikes construídas com bambu. O programa desenvolve, ainda, oficinas e cursos para as crianças utilizarem a bicicleta de forma segura e correta.

Os alunos ajudam no processo de traçar ciclorrotas e participam de atividades sobre cidadania e reciclagem. As escolas participantes se tornam também centros de descarte de gar-

rafas PET, destinadas depois para reciclagem. A cada pesagem, 20 bicicletas são entregues para a escola que arrecadou a maior quantidade de material. O consultor do projeto foi o dina-marquês Mikael Colville-Andersen, especialista em mobilidade urbana que criou o conceito Copenhagenize, uma proposta para inspirar as cidades de todo o mundo a se tornarem amigas dos ciclistas, como é a capital da Dinamarca.

Segundo Mikael, o programa possibi-litará “o retorno das bicicletas pela saúde das crianças e a transformação das comuni-dades em lugares melhores para se viver”. Fonte: Vida Simples/Planeta Sustentável ME

Todos de bike

meio ambiente66

Page 67: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

PROjETO AGORA LANçA O

“DESAFIO ENERGIA + LIMPA”

Brasil tem duas novas unidades de con-servação ambiental: a Reserva Biológica Bom Jesus (PR) e o Parque Nacional Furna Feia (RN), criados por decreto

presidencial no Dia Mundial do Meio Ambien-te, 5/6 último. Além disso, foram ampliadas as áreas do Parque Nacional do Descobrimento (BA), da Floresta Nacional Araripe-Apodi (CE) e da Floresta Nacional Goytacazes (ES).

Situada nos munícipios de Antonina (PR) e Guaraqueçaba (PR), a Reserva Biológica Bom Jesus terá 34.179 hectares e representa uma importante região remanescente de Mata Atlân-tica. Nas cidades de Barauna (RN) e Mossoró (RN), o Parque Nacional Furna Feia contará com 8.500 hectares e visa à preservação da caatinga e de cavidades naturais subterrâneas.

O Parque Nacional do Descobrimento, em Prado (BA), ganhará mais 1.549 hectares e será, agora, uma unidade de conservação com 22.678 hectares. A ampliação permitirá que im-portantes fragmentos de Mata Atlântica sejam incorporados ao parque.

Na Floresta Nacional Araripe-Apodi serão adi-cionados 706,77 hectares e a área total passará a ser de 39.333,09 hectares de caa-tinga, dentro de Barbalha (CE). A ampliação possibilitará a realização de pesquisas científicas e o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais. A incorporação foi possível graças à área que a Embrapa doou ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Ao todo, 74 hectares de Mata Atlântica serão somados à Flo-resta Nacional de Goytacazes, em Linhares (ES), que contará, agora, com um total de 1.424 hectares. A área adicional também foi doada pela Embrapa ao ICMBio com o objetivo de viabilizar a pesquisa científica e o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais ali existentes.

A taxa de desmatamento da Amazônia Legal em 2011 foi a menor desde 1988, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (Inpe/MCTI) começou a fazer a medição. De acordo com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, 81,2% da floresta original encontram-se conservadas. Desde 2004, quando foi lança-do o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), a redução é de 76,9%.

O

BRASIL GANhA DUAS áREAS DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Uma no Paraná e outra no Rio Grande do

Norte

Chegou às escolas, neste segundo semestre, o quarto projeto educacional do Projeto AGO-RA, o “Desafio Energia + Limpa,” seguindo uma fórmula que tem gerado resultados expres-sivos junto a professores e estudantes de todo o País. Dirigido a mais de 900 mil alunos dos 8º e 9º anos da rede pública de ensino de dez estados brasileiros (SP, RJ, PR, MG, GO, MT, MS, AL, PE, PB) e o Distrito Federal (DF), a ação visa estimular o debate nas salas de aula sobre os tipos de energia existentes, abordando, nesse contexto, a bioletricidade e o etanol produzidos a partir da cana-de-açúcar.

Seguindo os moldes do primeiro projeto

educacional do AGORA, o Desafio Mudanças Climáticas de 2009, o novo “Desafio Energia + Limpa” envolverá aproximadamente 40 mil profissionais de educação, entre professores, di-retores e coordenadores pedagógicos, que terão a missão de produzir, com seus estudantes uma carta endereçada à presidente da República, Dilma Rousseff, com o tema: “Que tipo de energia o Brasil precisa e de onde ela virá?” Os alunos que apresentarem as produções mais criativas serão premiados, bem como suas respectivas escolas e professores. Um kit educacional foi distribuído para todas as escolas estaduais dos estados participantes.

Edições anteriores atingiram cerca de 2.839.000 estudantes e 50.200 professores em nove

estados brasileiros

meio ambiente 67mercado empresarialmercado empresarial

Page 68: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

erca de 95% das usinas de processamento de cana-de-açúcar situadas em São Paulo (SP) conquistaram na safra 2011/2012 o certificado “Etanol Verde,” emitido pela

Secretaria do Meio Ambiente (SMA) do governo do Estado. No total, 173 usinas receberam o certificado, um crescimento de 8,5% em relação ao ano safra 2010/2011.Lançado em 2007, o Programa foi idealizado para incentivar a produção sustentável de biocombus-tível a partir da cana-de-açúcar. Um dos principais instrumentos do Programa é o chamado Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético, iniciativa assinada pelo Governo de São Paulo e a Unica para promover a sustentabilidade na cadeia produtiva de açúcar, etanol e bioenergia. O Protocolo estabelece uma série de diretivas técnicas, como a recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APP), a adoção de melhores práticas para a utilização eficiente para os recursos hídricos e a antecipação dos prazos legais para o uso do fogo na colheita da cana-de-açúcar.De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente, ór-gão responsável pelo Programa Etanol Verde, cerca de 90% das unidades produtivas paulistas aderiram voluntariamente ao Protocolo Agroambiental, o que corresponde a 80% de toda a cana-de-açúcar colhida no Estado. Em 2008, os fornecedores, representados por suas associações, também se comprometeram com o Protocolo. São cerca de 5.400 fornecedores, responsáveis por cerca de 22% da área de cana co-lhida no Estado.

Desde a assinatura do documento, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o percentual de área colhida sem o uso do fogo, ou seja, por meio da meca-nização, evoluiu de 34,2% em 2007 para 65,2% em 2012. Os dados do INPE contemplam toda a cana-de-açúcar cultivada e colhida em São Paulo.

Capacitação de mão-de-obraCom a evolução da mecanização, 2.890 colhe-doras de cana já estão em operação no Estado, ação que demandou um esforço adicional do setor para a capacitação de mão-de-obra para os novos postos de trabalho. É nesse sentido que o Projeto RenovAção, iniciativa da Unica em parceria com a Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (Feraesp), requalificou, desde seu lançamento em fevereiro de 2010, mais de 4.550 trabalha-dores, muitos provenientes do corte manual da cana. No mesmo período as associadas da Unica formaram cerca de 16 mil trabalhadores, seguindo os moldes do RenovAção.Considerando apenas os dados do Protocolo Agroambiental, a evolução da mecanização é ainda mais evidente. O percentual de cana colhida crua, sem uso de fogo, atingiu 81,3% das áreas de cultivo das usinas que aderiram ao Protocolo ME

C

No total, 173 foram certificadas

MAIS USINAS PAULISTAS CONqUISTAM O CERTIFICADO

“ETANOL VERDE”

sustentabilidade68

Page 69: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

ACaso o consumo continue no ritmo atual, até 2025 mais da

metade dos países sofrerá com a escassez de água

Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) coordenará o lado brasileiro do projeto internacional Coroado. O projeto é financiado pela União Europeia para tentar descobrir e disseminar novos métodos e ferramen-

tas que estimulem a aplicação de tecnologias de reúso de água no mundo.

A região Metropolitana de São Paulo, a Bacia do Rio Copiapó, no Chile, a Bacia do Rio Bravo/Rio Grande, no México, e a Bacia do Rio Suquía, na Argentina serão transformados em laboratórios naturais de experimentos em busca desses novos métodos. As regi-ões escolhidas são estratégicas do ponto de vista do consumo - um aspecto importante sob o prisma da condição atual de preservação dos recursos hídricos, vulneráveis a secas, infraestrutura precária, desperdício, aumento de demanda e mananciais degradados ou inacessíveis.

Segundo a responsável pelo Coroado no Brasil, a pesquisadora Monica Ferreira do Amaral Porto, o projeto tem um custo superior a 4,5 milhões de euros e terá quatro anos de duração. “Entre as ações, [o projeto] deverá avaliar as diversas tecnologias de reúso e reciclagem da água, em contraste com tecnologias e capacidade locais; custos e benefícios relativos à prática do reúso; soluções eficientes e economicamente viáveis para o fornecimento de água e para o combate da degradação de ecossistemas e reservas de água”, explica.

O primeiro encontro de trabalho foi realizado em maio último, em São Paulo, com representantes das 13 universidades participan-tes do projeto (nove europeias e quatro sul-americanas) e aberto para empresários nos debates. Outros estão sendo agendados. O objetivo é que o relatório final, com os resultados do projeto, possa servir como base para que a União Europeia canalize investimen-tos em locais com grande potencial de aplicação de tecnologias de reúso. ME

Decreto presidencial regulamentou as compras públicas de produtos sustentáveis. As compras governamentais representam cerca de 16% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e têm o poder de transfor-mar mercado. Somente em 2010, o governo federal contratou quase R$ 70 bilhões de reais, dado que demonstra a participação efetiva do Estado na economia. Esse poder de compra deverá permitir a criação de uma demanda a favor dos mercados verdes, re-pletos de inovações tecnológicas. ME

PROjETO INTERNACIONAL SObRE REúSO DE áGUA TEM PARTICIPAçãO DA POLI/USP

COMPRAS PúbLICAS SUSTENTáVEIS VãO

RECEbER INCENTIVO

As compras governamentais repre-sentam cerca de 16% do PIB nacional

sustentabilidade 69mercado empresarialmercado empresarial

Page 70: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

Plataforma de Abrolhos, na costa da Bahia, possui a maior área coberta por rodolitos em todo o mundo, de acordo com um estudo liderado por pesquisadores brasileiros. Os rodolitos são algas que formam estru-

turas semelhantes a recifes de corais. O levantamento, que teve seus resultados publicados na revista PLoS One, concluiu que os recifes de rodolitos em Abrolhos cobrem uma extensão de mais de 20 mil quilômetros quadrados, comparável à área do estado de Sergipe.

A pesquisa revela também que esses recifes, que produzem anualmente cerca de 25 milhões de toneladas de carbonato de cálcio, enfrentam diversas ameaças e são especialmente vulne-ráveis à acidificação do oceano.

O estudo, que mereceu um comentário na revista Science, teve contribuição do projeto “Mapeamento dos hábitats bentô-nicos do banco de Abrolhos”, coordenado por Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP), e financiado pela Fapesp por meio da modalidade Au-xílio à Pesquisa - Regular.

De acordo com Sumida, os rodolitos ocupam quase metade da área total do banco de Abrolhos, que tem cerca de 46 mil qui-lômetros quadrados. Considerando essas dimensões, o estudo alerta para a necessidade de políticas de conservação ambiental. “É uma área imensa de recifes, que abrigam uma biodiversidade riquíssima. Além disso, eles são muito vulneráveis às ameaças ambientais, como a acidificação do oceano. Os rodolitos são uma verdadeira fábrica de carbonato de cálcio e sua degradação poderia liberar quantidades gigantescas de carbono para o meio ambiente”, disse Sumida à Agência Fapesp

O levantamento desvendou a distribuição, extensão, com-posição e estrutura dos recifes de rodolitos. Para isso foi rea-lizado um mapeamento com sonares de varredura, mergulhos técnicos e uso de veículos robôs. “O Parque Nacional Marinho de Abrolhos foi o primeiro do gênero no Brasil. Mas a área do parque, com profundidades de menos de 20 metros, não chega a

2% do banco de Abrolos. Começamos a mapear o banco de Abrolros em áreas mais profundas, de forma sistemática, em profundidades de até 100 metros”, disse Sumida.

O registro feito com os sonares - que varrem uma área de até 400 metros em torno da embarcação - revelou es-truturas homogêneas no relevo do fun-do. Para identificar do que se tratava, os cientistas utilizaram os mergulhadores e os veículos operados remotamente.

“Descobrimos essa área imensa coberta por rodolitos e quando consul-tamos a literatura confirmamos que se trata do maior banco contínuo dessas estruturas no mundo, com mais de 20 mil quilômetros quadrados”, contou Sumida.

Agregadores da biodiversidadeSegundo Sumida, por sua enorme

extensão de recifes de rodolitos, o banco de Abrolhos pode ter um papel ambiental importante no clima global.

A

Pesquisa possibilitará indicar áreas que apresentam maior incidência de microrganismos que ajudam a cultura agrícola a se desenvolver melhor ou resistir a pragas

BRASIL TEM MAIOR‘RECIFE DE ALGAS’ DO MUNDO

pesquisa70

Page 71: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

Ao produzir o carbonato de cálcio em sua estrutura, essas algas sequestram carbono da atmosfera. “Como são compostos por um material calcário, os rodolitos são muito sujeitos à aci-dificação marinha. Essa degradação poderia colocar todo esse carbono de volta no ambiente marinho. Ao jogar mais carbono na água, o processo ten-de a aumentar o desequilíbrio químico do oceano, aumentando ainda mais o efeito de acidificação, em um círculo vicioso de proporções desastrosas”, explicou.

Outro fator que enfatiza a neces-sidade de políticas de conservação no banco de Abrolhos é a rica biodiversi-dade presente na área de rodolitos, que forma um ambiente complexo e hete-rogêneo, repleto de nichos ecológicos. “Além de sumidouro de carbono, os rodolitos são importantes agregadores de biodiversidade, assim como os re-cifes de corais. É uma área crítica para preservação. Quando essas estruturas são degradadas, o ecossistema é simpli-

pesquisa

ficado e algumas espécies oportunistas, adaptadas a hábitats mais homogêneos, acabam sendo favorecidas. O resultado é um empobrecimento dramático da biodiversidade local”, disse Sumida.

O cientista afirma que os resultados da pesquisa já estão sendo utilizados como base para a discussão relativa à ampliação das áreas de preservação em Abrolhos. “O ideal seria excluir Abrolhos dos planos de exploração de petróleo na região, que já está toda loteada para ser explorada. Haveria impactos extremos. O estudo também mostra que seria inviável a exploração de calcário na região”, disse.

Depois de desvendar a estrutura e extensão dos recifes de rodolitos, segundo Sumida, os pesquisadores do IO-USP e do JBRJ deverão agora se concentrar no estudo da diversidade de microinvertebrados presente nos nichos ecológicos formados pelos rodolitos em Abrolhos. Fonte: Fábio de Castro/Agência Fapesp ME

O estudo teve participação de cientistas da USP, do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), da Universidade de Boston (Estados Unidos) e das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Espírito San-to (UFES), da Paraíba (UFPB) e Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ). A coordenação do trabalho foi de Gilberto Amado Filho, do Instituto de Pesquisa JBRJ. O grupo que realizou o levantamento também incluiu pesquisadores da Conserva-ção Internacional e do Instituto de Milênio Projeto Pró-Abrolhos.

71mercado empresarialmercado empresarial

Page 72: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

pesquisa

Estado de São Paulo já possui mapeamentos físicos e climáticos que apontam as regiões com melhores aptidões ambientais para o cultivo da cana-de-açúcar. No entanto, ainda não dispõe de um mapa micro-

biológico que indique, por exemplo, áreas com composição microbiana do solo mais propícia para o desenvolvimento da cultura no Estado.

Um projeto de pesquisa, realizado por pes-quisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fapesp no âmbito do Programa de Pesquisa em Bioe-nergia (BIOEN), pretende mapear a diver-sidade microbiana existente nos solos onde já é cultivada cana-de-açúcar em São Paulo. Iniciado em 2011, o objetivo do estudo é ma-pear os grupos de microrganismos existentes, correlacionando-os com fatores como o tipo de manejo da cultura, aspectos climáticos, como umidade e temperatura, e tipo de solo.

Com base nos dados microbiológicos obtidos pelos pes-quisadores será possível estimar se uma determinada região apresenta maior incidência de determinados grupos de micror-ganismos e, em função disso, demanda menos fertilizantes. Ou se manter a palha da cana-de-açúcar na superfície da plantação da cultura após a colheita induz o crescimento de certos grupos de microrganismos no solo que auxiliam no desenvolvimento da planta, suprindo-a com nutrientes, ou que a tornam mais resistente a pragas e doenças agrícolas.

“A ideia central da pesquisa é, com base no conhecimento

da microbiologia do solo, poder indicar tipos de manejo que induzem o crescimento de determi-nados microrganismos que ajudam a planta a se nutrir e crescer, estimulando o recurso natural da área”, disse Fernando Dini Andreote, professor da Esalq e coordenador da pesquisa, à Agência Fapesp.

De acordo com Andreote, calcula-se que existam entre 15 mil e 30 mil espécies diferen-tes de microrganismos no solo, que variam de acordo com fatores como o tipo de clima, do solo, da existência ou não de floresta e planta-ções e do manejo da terra. Para estimar quais grupos de microrganismos estão presentes, entre fungos, bactérias e outros, os pesquisado-res coletaram 440 amostras de 10 talhões (uma espécie de quarteirão) de cana de 11 diferentes regiões no Estado (do extremo norte ao mu-nicípio de São Manoel, próximo a Piracicaba), que possuem diferentes temperaturas, tipos de solo, incidência de chuva e são manejadas de diversas formas, como por colheita mecânica ou queima da cana.

As amostras foram analisadas pelo método sem cultivo, em que é extraído e sequenciado

o DNA de todos os microrga-nismos presentes na porção de solo coletado em trabalho de campo para quantificar as cé-lulas de cada grupo de micror-ganismo na região, que podem chegar a 1 bilhão de células por grama de solo.

A análise físico-química das amostras ainda não foi concluí-da, mas os primeiros resultados das avaliações dos grupos de bactérias e fungos, que estão

mais adiantadas, indicam que há variações dos grupos de acordo com a área investigada.

“Ainda não fizemos a análise estatística para podermos afirmar que um determi-nado tipo de cultivo induz o crescimento de um grupo de bactéria ou fungo. Mas já sabemos que há variabilidade dos grupos de microrganismos nas regiões analisadas, que iremos verificar se corresponde ou não a uma variação biológica”, disse Andreote. Fonte: Agência FAPESP ME

CIENTISTAS FAzEM MAPEAMENTO MICROBIOLóGICO DE SOLOS COM CANA-DE-AçúCAR

Pesquisa possibilita-rá indicar áreas que apresentam maior

incidência de micror-ganismos que ajudam a cultura agrícola a se desenvolver melhor ou resistir a pragas

O

72

Page 73: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

egundo a 15ª edição do Prêmio Tof of Mind Rural, promovido pela Revista Rural com o objetivo de “mensurar a força das marcas existentes, além de avaliar e reconhecer o

trabalho das empresas que atuam no agronegó-cio”, a Stihl é a primeira marca que vem à mente de agricultores e pecuaristas quando se trata de motosserras e roçadeiras. Líder no mercado bra-sileiro de ferramentas motorizadas, com um mix completo de 52 produtos comercializados em mais de 2.000 pontos de venda em todo o país, a Stihl foi a marca mais lembrada nas categorias Motosserras (18,25%) e Roçadeiras (13,45%).

Para chegar às marcas campeãs, a Revista Rural realizou 1.180 entrevistas, sendo 649 agri-cultores e 531 pecuaristas, em todas as regiões produtoras do país. A pesquisa comemora 15 anos e é referência no setor, considerada ex-

pressiva premiação do marketing rural brasileiro.

A Stihl tem um plano de inves-timentos que prevê recursos de R$ 518 milhões até 2014.

Roçadeiras A Stihl tem em sua linha de

roçadeiras desde máquinas leves, para trabalhos ocasionais, como encorpadas, para trabalhos inten-sos, atendendo os mercados agro-pecuário, florestal e de jardinagem profissional ou doméstico. Entre os destaques estão: a FSE 41, da linha elétrica, que além da pratici-dade tem design especial, com o

motor na parte de baixo da máquina, é leve, ergonômica e tem múltiplas regulagens; a FS 55, roçadeira para cuidar do jardim; a FS 80, um modelo de muita potência para serviços do dia a dia em casas, empresas ou até em sítios; a FS 130, com tecnologia exclusiva 4-MIX, que tem como principal benefício a menor emissão e a maior economia de com-bustível, indicada para o corte e a roçada de vegetações de pequeno e médio porte; e a FS 160 – robusta e resistente, para trabalhos de maior intensidade na agricultura, pecuária, fruticultura, fumicultura, serviços públicos, manutenção de rodovias e companhias florestais.

Motosserras As motosserras da empresa unem tecno-

logia inovadora, alto desempenho, ergono-mia, baixo peso e baixa vibração com menor emissão de gases. A motosserra MS 170, por exemplo, é uma ferramenta leve, segura e de fácil operação, desenvolvida a partir de rigorosos critérios de qualidade e tecnologia de ponta. Já a MS 361 possui baixo nível de vibração e de consumo de combustível e é equipada com o sistema ElastoStart, que facilita o arranque. A MS 260 é robusta, leve, potente e inovadora no design ergonômico. Fácil de operar, é econômica e tem alta dura-bilidade. Ideal para as atividades de reflores-tamento, desbaste, desgalgamento, corte de árvores, preparação de madeira, colheita de florestas de pequeno e médio porte, podas e manutenção de árvores. ME

S

TOP OF MIND RURAL: STIhL É CAMPEã NAS CATEGORIAS ROÇADEIRAS E MOTOSSERRAS

Foi a marca mais lembrada por agricultores e pecuaristas de todo o país

qualidade

CIENTISTAS FAzEM MAPEAMENTO MICROBIOLóGICO DE SOLOS COM CANA-DE-AçúCAR

73mercado empresarialmercado empresarial

Page 74: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

dicas de leitura

BIOETANOL DA CANA-DE-AÇÚCAR: P&D PARA PRODUTIVIDADE E SUSTEN-TABILIDADE

Trata-se de uma coletânea de textos es-critos a partir dos workshops do Projeto de Políticas Públicas PPP Etanol da Fapesp e tam-bém de autores convidados pela relevância de suas pesquisas a respeito do tema etanol. Esta publicação conclui a primeira fase do projeto que teve início em 2005 e se desenvolveu por meio de diversos workshops em todo o país. O livro objetiva colaborar com a pesquisa sobre o tema neste momento em que a cana-de-açúcar é foco de interesse como base para obtenção de combustíveis líquidos, bioprodu-tos (plásticos entre outros) e bioeletricidade. A publicação do livro nas versões português e inglês traduz uma realização compartilhada com a comunidade científica ligada a matéria-prima cana-de-açúcar, geradora de absolutas inovações humanas e tecnológicas

Coordenador: Luís Augusto Barbosa Cortez

Editora: Blucher / 2010

Número de páginas: 992

CANA-DE-AÇÚCAR

O livro apresenta a cultura da cana-de-açúcar, com informações imprescindíveis para às transformações ocorridas no setor sucroalcooleiro e no comporta-mento dessa cultura. Em 41 capítulos, o livro aborda dez áreas temáticas – história, plantas, melhoramento genético e manejo varietal, ambientes de produção,

nutrição e adubação, fitossanidade, tecnologia de produção, cana-de-açúcar para fins diversos, estatística e experimentação, aspectos econômicos e ambientais. A obra tem a participação de 72 autores de diversas instituições de pesquisa – além de autores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), participam também pesquisadores do Instituto Biológico, do Instituto de Economia Agrícola e de Polos da APTA, todas unidades de pesquisa da APTA e da Secretaria de Agricultura.

Autores: Leila Luci Dinardo-Miranda, Antônio Carlos Machado de Vasconcelos,

Marcos Guimarães de A. Landell, e outros

Editora pelo IAC / 2008

Número de páginas: 882

CANA-DE-AÇÚCAR - BIOENERGIA, AÇÚCAR E ETANOL

A surpreendente aceitação do Etanol como bio-combustível pelo consumidor brasileiro provocou alterações de planos em quase todas as montadoras em operação no Brasil, tamanha a velocidade com que o novo conceito foi consolidado. O Brasil é líder em tecnologia de produção de Bioenergia, especialmente

de Etanol e Açúcar, a partir de cana. Esta obra reúne os mais recentes avanços tecnológicos do setor sucroenergético.

Autores: Fernando Santos, Aloízio Borém e Celson Caldas

Editora: UFV – Universidade Federal de Viçosa / 2011

Número de páginas: 637

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Page 75: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

MANUAL DE BIODIESEL

O conceito técnico de se uti-lizar óleos vegetais ou gorduras animais ou mesmo óleos usados como combustíveis diesel de natureza renovável tem cada vez mais interessados. O biodiesel é

hoje a forma em que estes óleos e gorduras estão sendo utilizados como combustível puro ou como misturas com combustíveis diesel derivados do petróleo. O con-ceito propriamente dito pode parecer simples, mas esta aparência é relativamente enganosa dado que o uso do biodiesel tem apresentado inúmeras questões de ordem técnica. Neste sentido, muitos pesquisadores de todo o mundo têm se preocupado com estas questões e, em mui-tos casos, desenvolvido soluções inovadoras. Este livro representa uma tentativa de se resumir estas questões, explicar como elas devem ser encaradas, e apresentar resultados e informações técnicas. Em todo o mundo, incontáveis atos legislativos e marcos regulatórios têm procurado auxiliar na pavimentação do caminho em di-reção à ampla difusão e aplicação prática deste conceito. Este livro também trata destas questões. Para completar, capítulos sobre a história dos combustíveis diesel deriva-dos de óleos vegetais, os conceitos básicos dos motores diesel, e a química do glicerol, um valioso sub-produto da produção do biodiesel.

Autores: Gerhard Knothe, Jürgen Krahl, Jon Van Gerpen, Luiz Pereira Ramos

Editora: Blucher / 2006

Páginas: 352

EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O SÉCULO XXINO BRASIL E NO MUNDO

Com mais de seis bilhões de habitantes, o nosso planeta começa a dar sinais incon-

fundíveis de que a pressão de nossas atividades cotidianas não é mais absorvida sem nenhuma consequência. As alterações violentas nos regimes sazonais, o derretimento das calotas polares, o buraco na camada de ozônio, a extinção de espé-cies, a poluição de rios e mares, o acúmulo de lixo e o desmatamento indiscriminado estão aí para quem quiser ver. O termo “meio ambiente” já aparece com frequência em reuniões de dirigentes de empresas, políticos e pessoas influentes de um modo geral. O objetivo desta obra é oferecer a oportunidade de apreender conceitos e fatos que lhe darão subsídios para avaliar o problema das ameaças ao meio ambiente nos seus mais varia-dos aspectos, principalmente agora que questões tão importantes têm sido debatidas em âmbito internacional, como a escassez de água potável, a destruição de áreas ricas em biodiversidade, o uso de transgênicos na agricultura e muitas ou-tras. Com enfoque jornalístico e didático, o livro propõe um mergulho nas leis naturais e na relação destas com as atividades humanas, colocando o leitor a par deste momento crítico para o futuro da Terra.

Autor: Rafael Pinotti

Editora: Blucher / 2010

Número de páginas: 264

dicas de leitura 75mercado empresarialmercado empresarial

Page 76: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

vitrine

Inédito no mercado

KRJ acaba de lançar uma linha de conectores sem similar no mercado, que interliga os cabos extras flexí-veis instalados em residências aos

pontos de conexão das redes de distribuição de energia, e que se propõe a dimi-nuir a incidência de falhas na rede. Trata-se dos conectores KMED. Segundo o diretor comercial da

empresa, Roberto Karam, as distribuidoras de energia passaram a adotar os cabos extra-flexíveis há dois anos, e a KRJ desenvolveu a solução para fazer a conexão destes novos cabos.

Os conectores, instalado no medidor de energia, são compostos por dois com-ponentes poliméricos, denominados tampa e base. A base possui um alojamento para acomodação de uma mola de compensação e um barramento em cobre estanhado com dois dentes pontiagudos, que garantem a continuidade na força normal de contato elétrico após a aplicação do produto. Pos-sui ainda saliências externas, que permitem o travamento da tampa quando esta for

pressionada contra a base. Com isso, com-prime o condutor contra o barramento, onde é feita a ligação aos medidores de energia. A nova linha se aplica a condutores de cobre das classes 4 e 5 na faixa de 6 a 35 mm², cada vez mais utilizados nas entradas de energia de consumidores em geral.

Com sua utilização, as distribuidoras de energia poderão diminuir a incidência de fa-lhas na rede, evitando perda de faturamento e gerando um fornecimento sem interrupção para o consumidor final. Outra vantagem do produto é sua fácil instalação, com tempo médio de 30 segundos, já que não é necessário retirar a isolação dos cabos. ME

A

KRj LANçACONECTOR KMED

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Page 77: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

vitrine

nvestindo no desenvolvimento de soluções dedicadas à aplicações de transmissão e geração de energias renováveis fotovoltaica, eólica e su-

croenergética, o grupo Bonfiglioli lança no mercado um sistema inovador para orientação de turbinas eólicas. São so-luções completas baseada em redutores, motoredutores e inversores para contro-les de yaw (orientação da turbina) e pitch (o controle das pás). Entre as novidades estão os redutores de comando de yaw Série 7TW. O produto pode ser aplicado em turbinas de 1,5 MW até 3,5 MW, para instalações em terra firme ou mar.

A nova geração de redutores da marca é 8% mais leve, além de ter di-mensões mais compactas do que as so-luções existentes no mercado. O produto também vem equipado com motor e freios integrados, pronto para uso com inversor de potência, é fácil de instalar e sua manutenção é muito simples. “Todos esses recursos garantem aos fabricantes de turbinas eólicas maior eficiência ener-gética e confiabilidade durante a vida útil

do equipamento”, diz Manfredi Ucelli Di Nemi, diretor executivo da Bonfiglioli do Brasil.

O grupo Bonfiglioli confirma seu foco nas aplicações para energias verdes mantendo uma forte participação nos mercados eólico e fotovoltaico no mundo inteiro. O faturamento do grupo gerado por aplicações em fontes renováveis foi 18% da receita total de 2011. A presença dos produtos da marca nos parque eólicos instalados no País continua crescendo, por meio de parceria com clientes de porte como IMPSA e Alstom, que contam com total colaboração e suporte técnico da filial brasileira. ME

bONFIGLIOLI DESENVOLVE NOVAS SOLUçõES EM ENERGIAS RENOVáVEIS

Entre as novidades estão os redutores de comando de yaw

Série 7TW

I

77mercado empresarialmercado empresarial

Page 78: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

A marca Mobil, licenciada no Brasil para a Cosan Lubrificantes e Especialidades S.A., e re-conhecida por sua alta performance e avançada tecnologia em lubrificantes e serviços, apresenta ao mercado seus mais recentes lançamentos: Mobil SHC 600 Next Generation, Mobil SHC Gear e Mobil SHC Gear OH. Trata-se de uma nova geração de produtos sintéticos próprios para engrenagens e sistemas de circulação, oferecendo melhor proteção contra o desgaste dos equipamentos, maior eficiência energética e performance prolongada.

A série Mobil SHC 600 Next Generation traz óleos de alta performance para engrenagens e sistemas de circulação, com eficiência de energia documentada de até 3,6% quando comparados a óleos minerais.

A linha Mobil SHC Gear apresenta maior resistência à oxidação e seus produtos satisfa-zem ou excedem às principais especificações industriais e dos Fabricantes de Equipamentos Originais (OEM) para aplicações industriais de caixas de engrenagens.

O Mobil SHC Gear OH é um produto especializado para o segmento de mineração, elaborado para aplicação nos comandos finais e rodas motorizadas de veículos fora-de-estrada (OHV). Sua fórmula química oferece proteção contra desgaste e promete ótimo desempenho em temperaturas extremas. ME

FLUKE APRESENTA OS ANALISADORES DE qUALIDADE DE ENERGIA TRIFáSICOS 430 SÉRIE II

A Fluke Corporation, líder mundial em tecnologia portátil de teste e medição eletrônico, apresenta o Analisador de Qualidade de Energia Trifásico Fluke 430 série II, principal ferramenta com algorítimo patenteado para medir des-perdício de energia e quantificar custos. O 430 série II se propõe a ajudar as

empresas a reduzir o consumo de energia e melhorar o desempenho e duração de equipamentos eletro-mecânicos, fornecendo a justificação ROI para mitigar a distorção de qualidade de energia.

Anteriormente, apenas especialistas podiam calcular o quanto de energia havia sido desperdiçado devido a problemas com a qualidade de energia; concessionárias de energia podiam calcular o custo, mas o processo requerido de medição estava além do alcance de maior parte dos eletricistas. Com a nova e patenteada função Unified Power do 430 série II, eletricistas, técnicos de concessionárias de energia, enge-nheiros eletricistas, técnicos de serviços em campo e consultores de energia podem automaticamente determinar o quanto de energia está sendo desperdiçado e calcular exatamente quais são os gastos extras de energia com uma única ferramenta.

Os Analisadores de Qualidade de EnergiaFluke 430 série II per-mitem que as plantas verifiquem o impacto de eficiência energética em aplicações de eletrônica de potência e sistemas de iluminação até controles de motores e HVAC. ME

Produto mantém a formulação e pode

ser utilizado em diversas aplicações

MObIL APRESENTA UMA NOVA GERAçãO DE PRODUTOS SINTÉTICOS

Eficiência energética e melhor pro-teção contra o desgaste

dos equipamentos

vitrine78

Page 79: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

A Gardner Denver Nash, líder mundial na fabricação de bombas de vácuo de anel líquido, compressores de

anel líquido e ´sistemas engenheirados´, destaca para o mercado de açúcar e álcool a linha Vectra, que compre-ende Bombas de Vácuo e Compressores de Anel Líquido disponíveis em vários tamanhos e construídos em ferro fundido ou aço inox – operando como Bomba de Vácuo com capacidades de 200 a 8.800 m³/h (vácuo máximo de 724 mmHg ao nível do mar) e como Compressor com capacidades de 200 a 9000 m³/h (pressão máxima de 2 kg/cm²).

Até o final deste ano, a Nash lançará um revestimento de polisoprene (borracha desenvolvida para aplicações sujeitas a abrasão e corrosão) que poderá ser aplicado nas bombas e compressores da marca para aumentar a durabilidade dos mesmos. O material, que já é padrão em alguns modelos de bombas Nash, agora também estará disponível no reparo dos equipamentos. Outra novidade da empresa é a venda de pacotes de serviços para as usinas. ME

A multinacional japonesa NSK apresenta ao mercado o Rolamento Autocompensa-dor de Rolos Esféricos Série HPS. O produto, devido sua avançada tecnologia de fa-bricação, projeto e materiais,

possui elevada capacidade de carga dinâmica e limite de rotação e menor desgaste da gaiola, proporcionado considerável aumento em sua vida útil, mesmo nas apli-cações mais críticas.

A NSK está presente nos cinco continentes, com 130 escritórios de vendas distribuídos em 28 países, 63 fábricas pelo mundo e 14 Centros Tecnológicos, sendo um no Brasil. Com 96 anos de experiência no mundo e mais de 40 no Brasil, é a maior fabricante de rolamentos fixos de uma carreira de esferas da América Latina – mais de 50 milhões de unidades por ano. ME

bOMbAS DE VáCUO E COMPRESSORES DE ANEL LíqUIDO DA GARDNER DENVER NASh

Em ferro fundido ou aço inox

Elevada capaci-dade de carga

dinâmica

ROLAMENTO AUTO-COMPENSADORDE ROLOS ESFÉRICOS SÉRIE hPS É O DESTAqUE DA NSK

vitrine 79mercado empresarialmercado empresarial

Page 80: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

Em 1967, Wilfredo de Carvalho Baía inicia em Belo Horizonte a Casa das Correias. Em 1968 dá inicío à parceria com a Gates, importan-te fabricante mundial de correias, que em 1994 encerra a produção da sua linha de Correias Transportadoras.

Assim, nasce a Materpen Ind. e Com. Ltda, totalmente voltada para a indústria de Correias Transportadoras, mantendo a consagrada tec-nologia e qualidade Gates.

Hoje a Masterpen é uma das maiores em-

presas do Brasil no segmento e mantém em sua linha de produção Correias Transportadoras, Elevadoras e Planas (laminadas), fornecendo em todo país aos setores agrícola, mineração., siderurgia, portuário, cimenteiro, açucareiro e nas diversas atividades que necessitam do transporte de materiais leves e pesados.

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Page 81: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

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A Maior Variedade em Cofres e Móveis

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A A.M. Cofres e Móveis para escritório, explora o ramo de comércio de cofres e móveis para escritório em geral, com atuação em todo o Brasil, especializada em uma linha completa de cofres para guardar documentos, armas, joias, objetos de valor e outros bens.

O seu elevado nível de experiência, alcançado durante 30 anos (desde 1980) de atividades, aliado a uma adequada política de valores e credibilidade, permite a A.M. Cofres e Móveis participar de licitações de órgãos públicos, fornecer cofres e móveis para escritório desde residências, empresas, instituições financeiras, transportadoras de valor, e tantas outras atividades.

Hoje a A.M. Cofres e Móveis para escritório possui em seu cadastro mais de 50.000 clientes, dos quais já realizaram inúmeras compras de pequeno, médio e grande porte ao longo destes anos e assim conquistou o respeito merecido dos seus cliente, parceiros e concorrentes, sentindo-se

assim muito orgulhosa em ter seu esforço reconhecido.Atendemos todo o Brasil. Estamos a vossa inteira

disposição, consulte-nos.

81mercado empresarialmercado empresarial

Page 82: Revista Mercado Empresarial - Fenasucro

índice de anunciantes

Aços Lapefer .................................................................................................................................................. 74

Air Cyclo Cilindros Pneumáticos .................................................................................................................. 74

AM Cofres e Móveis para Escritório ............................................................................................................ 81

Anluz Eletrometalúrgica Ltda .........................................................................................................................81

Anuario das Indústrias .............................................................................................................................28/29

Cabos de Aço São José ..........................................................................................................................2ª Capa

Chavetas e Cia ........................................................................................................................................3ª Capa

D & D Manufatureira ......................................................................................................................................05

Erg Eletromotores ...........................................................................................................................................80

Getrat Ipiranga ............................................................................................................................................Capa

Masterpen ..................................................................................................................................................... 80

MercoSul Refratários Ltda ............................................................................................................34 / 4ª Capa

Metalmag Produtos Magnéticos Ltda ......................................................................................................... 80

Portal 123 .......................................................................................................................................... 19/51/75

REP Relógios de Ponto ...................................................................................................................................81

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