Revista Meucerebro Ano 00 Nº 01 Outubro 2014

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Revista Meu Cérebro Edição 1

Transcript of Revista Meucerebro Ano 00 Nº 01 Outubro 2014

  • 2 | m e u c e r e b r o . c o m

    O CREBROO Lobo Frontal, p. 04

    psicologia cognitivaO Surgimento da Neuroeducao, p. 06

    EVOLUOA rea 10, p. 16

    espiritualidade e religioConexo entre corpo e esprito, p. 22

    pessoasO que limitao para voc?, p. 30

    notcias do ms, p. 34

    neurohistriaA histria de Phineas Gage, p. 36

    A Revista meucerebro uma publicao mensal do grupo meucerebro.com e de distribuio on-line para assinantes. Editores-chefe: Leonardo Faria e Ramon Andrade. Redao: Daniela vila Malagoli e Leonardo Faria. Diagramao: Carlos Gabriel Ferreira. Colaboradores: Ana Lcia Hennemann, Flvio Maneira, Matheus Guisoni Pereira e Pricilla Faria.

    EXPEDIENTE

    programa de desenvolvimento meucerebroTurbine o seu Crebro, p. 08

    MSICAQual o som de uma cor?, p. 18

    neurocincia do sucesso4 pilares: voc no controle da sua vida, p. 26

    especialInteligncia emocional: por que ela importante?, p. 10

  • 3Comearei agradecendo a minha equipe. Pessoas formidveis, sem as quais um sonho antigo no se realizaria. Ramon, meu scio, cuja confiana sem precedentes me fez enxergar possibilidades. Carlos, cujo profissionalismo e talento em perceber ideias e transform-las em arte proporcionou um grande salto ao grupo. Daniela, minha companheira, dedicada, paciente, e extremamente competente em seus propsitos. Sem vocs nada d isso seria possvel. Os sonhos so assim mesmo. Demoram s vezes uma vida. Mas so eles que a validam.

    Tudo comeou h aproximadamente 2 anos, quando tive um insight. Para dizer a verdade, pouco acreditava em intuio ou percepo extrassensorial. Mas de alguma forma fui sugestionado a ver que os caminhos que por algum motivo me levaram at ali no mais o fariam. Inserido no meio de uma extenuante residncia mdica em neurocirurgia, percebi que faltava algo essencial. Algo mais primordial que uma suposta inteligncia.

    A vida faz a gente acreditar que a inteligncia pode ser objetivamente mensurada por meio de testes, provas, vestibulares e notas. Que o sucesso o ponto final de uma vida galgada nesses termos. Mas no. estranho dizer que o oposto de determinada coisa justamente o holofote que mais a ilumina. Foi de certa forma a razo que me fez enxergar a emoo. Hoje compreendo que aquela no uma fora. Esta sim. Enquanto a razo direciona, a emoo impulsiona.

    Por um momento, deixei a razo de lado e passei a valorizar as emoes, o prazer, o bem-estar, a dor, a contemplao, o relaxamento, o motivo. Passei a enxergar as pessoas e a diferenci-las pelo engajamento emocional com que viviam dia aps dia. Enquanto algumas pessoas se perdiam em comportamentos repetitivos para os quais suas razes construam as mais extravagantes explicaes, outras percebiam-se com um simples olhar.

    Muito me surpreendia como a maioria atribua a importncia do crebro sua capacidade de desenvolver a inteligncia. Mas a emoo era o combustvel. No era prudente mais deix-la de fora. Hoje percebo que o crebro tudo isso. O seu equilbrio sempre esteve na relao de reciprocidade construda entre razo e emoo. A nossa vida se determina assim.

    nesse contexto que qualquer explicao racional sobre o por que de estarmos aqui, termos nos dedicado constituio do grupo meucerebro, dessa primeira edio, a edio de lanamento da revista digital meucerebro, torna-se insignificante. O que vier a ser explicado no conseguir alcanar a fora que nos impulsionou. Hoje somos um grupo que alia neurocincias e comunicao, que busca disseminar ideias e aprender. Ser objeto, mas principalmente sujeito desse novo momento que o homem atravessa: o da verdadeira autopercepo.

    Voc agora faz parte do meucerebro.Seja muito bem-vindo!

    editorial

    Leonardo Faria, Editor-chefe da revista meucerebro

  • 4 | m e u c e r e b r o . c o m

    A matria desta edio far referncia anatomia de superfcie de um lobo cerebral. O conhecimento dela especialmente importante para neurologistas, neurocirurgies,

    neuroradiologistas e qualquer outra pessoa que

    lide com a anatomia cerebral, como o caso dos

    estudantes de medicina, psicologia e neurobiologia

    comparativa. O lobo frontal peculiar ao homem pelo

    tamanho e pelas funes. Aqui nos caber um relato

    especfico da anatomia dos seus sulcos e giros.

    Na face superior mais lateral do lobo frontal de

    cada hemisfrio identificam-se trs sulcos principais:

    o sulco pr-central (mais ou menos paralelo ao sulco

    central, muitas vezes dividido em dois segmentos),

    o sulco frontal superior (inicia-se geralmente na

    poro superior do sulco pr-central e tem direo

    aproximadamente perpendicular a ele, para o plo

    frontal) e o sulco frontal inferior (partindo da poro

    inferior do sulco pr-central, dirige-se para frente e

    para baixo).

    Entre o sulco central e o sulco pr-central est

    o giro pr-central. Acima do sulco frontal superior,

    continuando na face medial do crebro, localiza-se o

    giro frontal superior. Entre os sulcos frontal superior

    e frontal inferior est o giro frontal mdio, e abaixo do

    sulco frontal inferior, o giro frontal inferior. Este ltimo

    subdividido pelos ramos anterior e ascendente

    do sulco lateral em trs partes: orbital, triangular e

    opercular. A primeira situa-se abaixo do ramo anterior,

    a segunda entre este ramo e o ramo ascendente, e a

    ltima entre o ramo ascendente e o sulco pr-central.

    O giro frontal inferior do hemisfrio cerebral esquerdo

    denominado giro de Broca.

    O Lobo FrontalA anatomia dos sulcos e giros

    Leonardo Faria

    Sulco do Corpo Caloso

    Sulco do Cngulo

    Ramo Marginal

    Sulco Subparietal

    Sulco Paracentral

    Giro do Cngulo

    Lbulo Paracentral

    Pr-cneos

    Giro Frontal Superior

  • 5

    Na face medial do crebro, existem dois sulcos

    que passam do lobo frontal para o lobo parietal: o

    sulco do corpo caloso (comea abaixo do rostro do

    corpo caloso, contorna o tronco e o esplnio do corpo

    caloso, onde se continua j no lobo temporal, com o

    sulco do hipocampo) e o sulco do cngulo (tem seu

    curso paralelo ao sulco do corpo caloso, do qual

    separado pelo giro do cngulo. Termina posteriormente,

    dividindo-se em dois ramos: o ramo marginal, que se

    curva em direo margem superior do hemisfrio,

    e o sulco subparietal, que continua posteriormente

    a direo do sulco do cngulo). Nesta face tambm

    est presente o sulco paracentral, que se destaca do

    sulco do cngulo em direo margem superior do

    hemisfrio; delimita, com o sulco do cngulo e seu ramo

    marginal, o lbulo paracentral, assim denominado

    em razo de suas relaes com o sulco central, cuja

    extremidade superior termina aproximadamente no

    seu meio.

    Resumidamente, em relao aos giros delimitados

    por estes sulcos, acima do corpo caloso temos o giro

    do cngulo; mais acima temos, de trs para diante, o

    pr-cneus, o lbulo paracentral e a face medial do

    giro frontal superior.

    A face inferior do lobo frontal apresenta um

    nico sulco importante, o sulco olfatrio, profundo e

    de direo ntero-posterior. Medialmente ao sulco

    olfatrio, continuando dorsalmente como giro frontal

    superior, situa-se o giro reto. O restante da face inferior

    do lobo frontal ocupada por sulcos e giros muito

    irregulares, os sulcos e giros pr-orbitrios.

    Giro Pr-Central

    Giro Frontal Superior

    Giro Frontal Mdio

    Giro Frontal Inferior

    Sulco Frontal Superior

    Sulco Frontal Inferior

    Sulco Pr-Central

    //////////// o c r e b r oSulco do Corpo Caloso

    Sulco do Cngulo

    Ramo Marginal

    Sulco Subparietal

    Sulco Paracentral

    Giro Reto

    Giros Orbitrios

    Sulco Olfatrio

    Sulcos Orbitrios FONTES:1. NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.2. SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 21ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.3. MACHADO, Angelo B.M.. Neuroanatomia Funcional. 2ed. So Paulo: Atheneu, 2002.Ilustraes: Netter.

  • 6 | m e u c e r e b r o . c o m

    O Surgimento da Neuroeducao Aprender modificar comportamentos

    Ana Lcia Hennemann,

    Um dos primeiros relatos que temos sobre a educao com um olhar mais global se d atravs das Paideias, na Grcia. As mesmas eram constitudas a partir da concepo de que a

    comunidade e o indivduo so responsveis uns

    pelos outros e, dessa forma, vo se transformando,

    integrando-se e evoluindo. O indivduo era percebido

    sobre seus diversos aspectos e fazia parte de uma

    cadeia social. Cada um era importante. Cada um tinha

    contribuies para a evoluo daquele contexto social.

    Entretanto, as concepes mudaram e a

    educao abandonou a percepo individual

    e integral do sujeito para outro aspecto muito

    diferenciado: o indivduo valia o quanto ele produzia;

    em outras palavras, o melhor aluno era aquele que

    conseguia acumular mais conhecimento. Mas at

    aqui a escola ainda no era para todos. Apenas alguns

    privilegiados estudavam.

    Conforme Tracey Espinosa, mesmo tendo os

    direitos assegurados pela Declarao Universal dos

    Direitos Humanos, somente na dcada de 1980 que

    a educao em massa comea a fazer parte do cenrio

    educacional e atravs dessa maior diversidade que

    se percebe que o sistema educacional necessitava

    de muitas melhorias.

    Todo o conhecimento que se tinha em educao,

    aprendizagem e comportamento humano ainda

    era fruto de pesquisas anteriores ao escaneamento

    cerebral, e as grandes mudanas comeam a ocorrer

    com o surgimento da neurocincia, responsvel pelo

    estudo metdico do sistema nervoso.

    A psicologia, uma das reas que sempre

    auxiliou a educao, ao agregar os conhecimentos

    da neurocincia, comeou a trazer abordagens

    diferenciadas para o contexto educacional e,

    dessa forma, a pedagogia pautada na educao e

    aprendizagem percebeu que se fazia necessrio um

    novo olhar educacional, voltar s origens da Paideia

    e perceber o ser humano como um ser global.

    Todas as reas que at ento eram especializadas

    em modificam-se e comeam a atuar de modo

    interdisciplinar agregando a nomenclatura de

    neuroeducao.

    A neuroeducao no uma nova rea do

    conhecimento. Ela trata da juno dos conhecimentos

    da psicologia, educao e neurocincia (Figura 1).

    A neuroeducao nos traz uma abordagem

    diferenciada do que aprendizagem. Anteriormente,

    em uma viso mais direta poderia se dizer que

    aprender adquirir novos conhecimentos. A mesma

    neuroeducao nos mostra agora que aprender

    modificar comportamentos.

    Quando pensamos uma educao inclusiva o

    significado de aprender dentro destas concepes

    tem outro valor. Porque se o sujeito somente

    avaliado pelo vis do conhecimento adquirido

    dentro do contexto escolar, certamente a educao

    no estar sendo inclusiva; mas, se ela consegue

    perceber o educando como algum que modificou

    seu comportamento inicial, seja ele, psicomotor,

    cognitivo ou emocional, desse modo sim, estamos

    diante de uma educao inclusiva, que prima pelos

    direitos humanos.

    Percebemos indivduos Downs atuando na

    sociedade como reprteres, cineastas, professores,

    e outras tantas profisses e temos o entendimento

    Especialista em Alfabetizao, Educao Inclusiva, Neuropsicopedagogia e Ps-graduanda em Neuroaprendizagem. Email: [email protected].

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    com o surgimento da neurocincia, responsvel pelo

    estudo metdico do sistema nervoso.

    A psicologia, uma das reas que sempre

    auxiliou a educao, ao agregar os conhecimentos

    da neurocincia, comeou a trazer abordagens

    diferenciadas para o contexto educacional e,

    dessa forma, a pedagogia pautada na educao e

    aprendizagem percebeu que se fazia necessrio um

    novo olhar educacional, voltar s origens da Paideia

    e perceber o ser humano como um ser global.

    Todas as reas que at ento eram especializadas

    em modificam-se e comeam a atuar de modo

    interdisciplinar agregando a nomenclatura de

    neuroeducao.

    A neuroeducao no uma nova rea do

    conhecimento. Ela trata da juno dos conhecimentos

    da psicologia, educao e neurocincia (Figura 1).

    A neuroeducao nos traz uma abordagem

    diferenciada do que aprendizagem. Anteriormente,

    em uma viso mais direta poderia se dizer que

    aprender adquirir novos conhecimentos. A mesma

    neuroeducao nos mostra agora que aprender

    modificar comportamentos.

    Quando pensamos uma educao inclusiva o

    significado de aprender dentro destas concepes

    tem outro valor. Porque se o sujeito somente

    avaliado pelo vis do conhecimento adquirido

    dentro do contexto escolar, certamente a educao

    no estar sendo inclusiva; mas, se ela consegue

    perceber o educando como algum que modificou

    seu comportamento inicial, seja ele, psicomotor,

    cognitivo ou emocional, desse modo sim, estamos

    diante de uma educao inclusiva, que prima pelos

    direitos humanos.

    Percebemos indivduos Downs atuando na

    sociedade como reprteres, cineastas, professores,

    e outras tantas profisses e temos o entendimento

    do quo importante a interao com o meio. Mais ainda,

    do quo importante o trabalho de um profissional que tem

    o entendimento do funcionamento do sistema nervoso.

    O neuroeducador, profissional da neuroeducao,

    resgata a prxis das Paideias. Ele observa o indivduo em

    seus aspectos que precisam ser melhorados e em suas

    potencialidades e, atravs disso, constri um planejamento

    individualizado para cada educando. Porm, em ltima

    instncia, todos aprendem, pois h modificao de

    comportamento tanto para o neuroeducador quanto para

    os educandos. Ambos necessitam sair de suas zonas de

    conforto e, dessa forma, alcanar patamares mais elevados.

    Atravs disso, resgata-se um valor primordial que os gregos

    j conheciam: a cooperao. A sociedade se constitui pelo

    entendimento da responsabilidade que temos uns com os outros

    e s podemos mud-la se mudarmos nossos comportamentos.

    FONTES:1. TOKUHAMA ESPINOSA, Tracey. Why Mind, Brain, and Education Scienceis the New Brain--Based Education. Disponvel online em http://migre.me/lXgK3

    / p s i c o l o g i a c o g n i t i v a

    FIGURA 1:Adaptado a partir de Tracey Tokuhama-Espinosa

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    H uma regra oculta nestas equaes. Encontre o valor de B e

    mostre que matemtica no problema para voc.

    reas cerebrais envolvidas neste teste:

    Inicialmente, os crtices visuais primrio e secundrio sero ativados.

    A cognio aplicada resoluo de problemas e a utilizao da memria

    de trabalho so atribudas ao crtex pr-frontal. Alm disso, reas parieto-

    temporais e parieto-occipitais, mais precisamente a rea de Wernicke,

    que pode ou no incluir o giro angular esquerdo, sero acionadas no

    reconhecimento dos algarismos e letras, e tambm durante os clculos.

    Crtex Pr-Frontal

    rea de Wernicke

  • 9Crtex Visual

    Giro Angular

    rea de Wernicke

    Resposta:

    A resoluo deste exerccio depende de uma boa anlise

    das equaes anteriores.

    A resposta : A = 2+6-7

    B = 276 + A

    Logo, A = 1 e B = 277.

    Comentrios:

    Um teste que trabalha a flexibilidade cognitiva na

    resoluo de problemas. Aparentemente, parece um simples

    exerccio de adio; entretanto, a varivel A requer um pouco

    mais de raciocnio para ser decifrada. Isso nos remete s

    primeiras adies do exerccio.

    A varivel B facilmente explicvel, uma vez que

    tenhamos definida a varivel A. B sempre a soma de A com

    o nmero inicial. Mas e A?

    A representado pela soma do primeiro e terceiro

    algarismos do nmero inicial, subtrado do algarismo do meio.

    Logo, 537 (5+7-3=9), 106 (1+6-0=7), 989 (9+9-8=10) e assim por

    diante. A=1 (6+2-7=1) e B=277.

    // t u r b i n e s e u c r e b r o

  • 10 | m e u c e r e b r o . c o m

    Aprender a ser emocionalmente inteligente possvelDaniela vila Malagoli

    O conceito de inteligncia emocional (IE) tem sido bastante discutido na atualidade. No entanto, j vem sendo estudado desde o ano de 1990, quando foi formalmente introduzido na Psicologia por meio dos pesquisadores Peter Salovey, da Universidade de Yale, e John D. Mayer, da Universidade de New Hampshire, os quais apresentaram a definio de inteligncia emocional como sendo a capacidade de processar as informaes emocionais e us-las favoravelmente no processo adaptativo. Contudo, o conceito se tornou popular cinco anos depois, por meio do livro Inteligncia Emocional: A teoria revolucionria que redefine o que ser inteligente, do psiclogo da Universidade de Havard Daniel Goleman.

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  • 12 | m e u c e r e b r o . c o m

    Goleman disse ao Huffington Post A vida corre muito mais suavemente se voc tiver boa inteligncia emocional. O psiclogo traz uma nova discusso por meio de seu livro, no qual

    atribui parte do sucesso pessoal e profissional a esse

    tipo de inteligncia; isto , ela to importante quanto

    outras habilidades cognitivas - ou at mais -. Assim,

    quais as habilidades podem ser encontradas dentro

    da inteligncia emocional? Diversas, como a de

    superar as frustraes, motivar a si mesmo, controlar

    impulsos, canalizar emoes, dentre outras. Goleman

    tambm mapeia a inteligncia emocional em

    cinco habilidades importantes de serem realadas:

    autoconhecimento emocional; controle emocional,

    automotivao, reconhecimento das emoes em

    outras pessoas e habilidades em relacionamentos

    interpessoais. Assim, a inteligncia emocional

    dividida em intra e interpessoal.

    As emoes fazem parte da evoluo do indivduo;

    so inatas a ele e constituem uma importante

    forma de comunicao. Predominam em diversos

    momentos da nossa vida e, se gerenciadas com

    cuidado e inteligncia, auxiliam de forma significativa

    nas decises, na imposio de limites, enfim, no

    relacionamento com o outro e consigo mesmo. De

    acordo com o psiclogo e professor de Sociologia

    Leonardo Abraho, observa-se, hoje em dia, um mau

    gerenciamento das emoes: raivas e exploses de

    dio no trnsito e nas organizaes; comportamentos

    obsessivos em meio a casais, surgidos a partir da

    inobservncia de sentimentos como cimes doentio

    e/ou carncia no cuidada; violncias mltiplas a

    partir da dificuldade em se lidar com os sentimentos

    alheios, como discriminao e bullying entre jovens

    ou adultos nas escolas ou nas empresas, explica,

    so alguns exemplos dessa problemtica social.

    Nesse contexto, os cinco componentes da IE,

    definidos por Goleman - autoconscincia, autorregulao,

    motivao, habilidades sociais e empatia so

    fundamentais tambm no mbito profissional.

    Para ele, quem tem inteligncia

    emocional geralmente

    confiante, sabe trabalhar

    na direo de suas

    metas, adaptvel

    e flexvel. Voc

    se recupera

    rapidamente

    do estresse e

    resistente,

    disse ao

    Huffington

    Post. E como

    saber se sou

    emocionalmente

    inteligente,

    e/ou se devo

    progredir nesse

    sentido? Reportagem

    recente publicada pela

    revista Exame mostrou 14

    sinais que demonstram um alto

    grau de inteligncia emocional, como:

    voc um bom lder, reconhece suas foras e

    suas fraquezas, confia no seu instinto, quando

    est chateado, sabe exatamente o por qu, dentre

    outros.

    A boa notcia que, caso voc no tenha

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    ///////////////// e s p e c i a l

    desenvolvido essas habilidades ou mesmo

    no priorize elas em sua vida pessoal e

    profissional, pode adquirir e aprimorar a

    inteligncia emocional por meio da prtica.

    De acordo com o site da empresa provedora

    mundial de inteligncia emocional TalentSmart,

    embora algumas pessoas

    sejam naturalmente mais

    emocionalmente

    inteligentes do que

    outras, voc pode

    desenvolver

    grande

    capacidade

    mesmo no

    tendo nascido

    com ela. A

    inteligncia

    emocional,

    segundo

    Abraho,

    pressupe

    autoconhecimento,

    que pode ser

    racional ou

    intuitivo (treinado/

    pesquisado ou natural/

    espontneo). Para o psiclogo,

    entender a origem dos nossos

    sentimentos, suas caractersticas, suas

    fragilidades e seus potenciais favorece o nosso

    caminhar em meio s pessoas, circunstncias e

    possibil idades que nos rodeiam.

    Essa possibilidade se deve plasticidade

    do crebro, isto , ele hbil de mudanas. O

    crebro desenvolve novas conexes, medida

    em que estimulado; assim, ao aprender novas

    habilidades de utilizar as emoes a seu favor,

    voc est produzindo uma mudana, que

    gradual, de acordo com TalentSmart. A utilizao

    de estratgias para desenvolver a inteligncia

    emocional permite que os bilhes de neurnios

    presentes no crebro criem novas conexes

    entre os centros neurais relacionados razo e

    emoo. Cada neurnio, atravs de sua rvore

    dendrtica, capaz de formar aproximadamente

    15.000 conexes com outros neurnios vizinhos.

    Tal conectividade habilita o indivduo a gerenciar

    melhor suas emoes futuras, a compreend-las

    e, at mesmo, express-las racionalmente. Em

    outras palavras, a inteligncia emocional pode

    ser fruto de uma aprendizagem sistematizada.

    Ela pode se tornar um hbito na vida de quem

    vier a desenvolv-la.

    A empresa tambm fez testes de inteligncia

    emocional ao lado de outras habilidades importantes

    no mbito profissional. A concluso de que

    esse tipo de inteligncia o maior prognstico de

    desempenho, representando 58% do sucesso em

    todos os tipos de trabalho. Portanto, a inteligncia

    emocional importante para o aprimoramento

    pessoal e profissional e merece dedicao. Segundo

    estudo feito por Travis Bradberry e Jean Greaves,

    autores do livro Emotional Intelligence 2.0

    (Inteligncia emocional 2.0), da TalentSmart, apenas

    36% das pessoas conseguem identificar suas prprias

    emoes. Essa pesquisa, feita com mais de 500 mil

    pessoas ao longo de uma dcada, demonstra que

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    essa competncia rara e valiosa.

    Portanto, gerenciar as emoes seria dar um

    pouco de razo a elas? E se optarmos por agir e reagir

    conforme alertam nossas emoes, sem controlar

    os impulsos, enfim, extravasar (alguns dizem que

    uma boa opo em certos momentos da vida), como

    seriam as nossas relaes? Ficariam comprometidas?

    Ou seriam mais espontneas? Abraho explica: a

    espontaneidade dos sentimentos e das emoes no

    significa, necessariamente, uma inteligncia emocional.

    Por exemplo, uma exploso de cimes pode ser a mais

    espontnea e sincera possvel, mas nada inteligente no

    contexto de uma relao interpessoal. Assim como uma

    exploso de raiva ou de solidariedade. A inteligncia

    est em processar, racional ou intuitivamente.

    A inteligncia emocional, segundo o professor,

    pode ser infinita, assim como as demais formas de

    inteligncia, bastando, para tanto, que a pessoa a treine

    e/ou a amadurea por meio do autoconhecimento, da

    autotransformao e da autorrealizao existencial.

    Reflexes parte, o importante que a razo d

    direo e ordem emoo; as duas caminham juntas

    - pelo menos, devem -. Conhecer, entender e, por

    consequncia, utilizar as emoes a seu favor, um

    dos caminhos de crescimento do indivduo para com

    ele mesmo, para com os outros e para com o mundo

    em que est imbudo. Para Abraho, no h sucesso

    na vida sem sucesso nos relacionamentos e no

    h relacionamentos de sucesso sem habilidades

    emocionais e sentimentais.FONTES:1. http://goo.gl/WfaH8C2. http://goo.gl/WD0reG3. http://goo.gl/wYdv9M4. http://goo.gl/Gu8ug85. http://goo.gl/kjOCX36. http://goo.gl/LvN2At7. http://goo.gl/LE0ToC8. http://goo.gl/CD2VCI9. http://goo.gl/WDt6wnFotografia: Flickr Commons

    O crebro desenvolve novas conexes, medida em que

    estimulado; assim, ao aprender novas

    habilidades de utilizar as emoes a seu favor, voc est produzindo

    uma mudana, que gradual, de acordo com TalentSmart o importante que a razo d direo e

    ordem emoo; os dois caminham juntos - pelo menos, devem.

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    A rea 10Ela nos torna mais humanos

    Leonardo Faria

    Oque nos difere de todas as outras espcies em termos evolutivos? O que o crebro humano esconde, se que realmente tem algo de especial? O senso comum que estudar

    o crebro humano contemplaria a chave para tais

    questionamentos, as respostas para desvendar

    o curioso processo da inteligncia. De fato, a sua

    organizao interna, maior e mais complexa em

    comparao aos de outros mamferos e primatas,

    parece ter sido, para alguns autores, o aspecto

    evolutivo fundamental para o desenvolvimento da

    cultura, incluindo a linguagem, a simbolizao e a

    cognio elaborada, fatores e dimenses que diferem

    o Homo sapiens de todas as outras espcies.

    Entretanto, se pudermos apontar um dado

    qualitativo do estudo evolutivo neurobiolgico, a

    concluso de que os plos frontais e temporais

    dos crebros dos homindeos se expandiram

    precocemente na evoluo, seguidos da expanso

    das reas posteriores do crebro em uma fase

    posterior. O trabalho de Falk e colaboradores atesta que

    a grande expanso do crebro humano no se iniciou

    com o gnero Homo, como se pensava anteriormente,

    mas h pelo menos 2 a 3 milhes de anos, com os

    membros do gnero Australopithecus. O crebro se

    expandiu muito durante a fase evolutiva do gnero

    Homo, mas tal expanso j havia comeado bem antes.

    O grupo de Falk concluiu ainda que as reas

    dos lobos frontais que mais se desenvolveram foram

    aquelas relacionadas s regies correspondentes

    rea 10 de Brodmann. Semendeferi e

    colaboradores indicaram que a rea 10 6 a 7

    vezes maior em humanos quando comparadas aos

    grandes smios africanos. A neuropsicologia, por sua

    vez, tem mostrado que tal rea est associada ao

    pensamento abstrato, organizao e ao planejamento

    de aes futuras, iniciativa e tomada de decises,

    assim como ao controle e ao processamento das

    emoes e ao julgamento. Da integridade da rea 10

    dependem, particularmente, funes como memria

    de trabalho, memria espacial, memria prospectiva,

    processamento sinttico e compreenso de metforas,

    gerao de verbos, clculo numrico e ateno conjunta

    (fundamental para habilidades sociais). Assim, a evoluo

    da rea 10 no Homo sapiens parece ser central naquilo

    que se postula ser a humanidade dos homens.

    Neuroanatomia comparativa contempornea

    Recentemente, pesquisadores foram alm e

    compararam imagens de ressonncia magntica do crtex

    ventrolateral frontal um dos componentes da rea 10

    de 25 voluntrios adultos com imagens equivalentes de 25

    macacos. A partir desses dados, os pesquisadores foram

    capazes de dividir o crtex ventrolateral humano em 12

    reas que foram consistentes entre todos os indivduos.

    Aps a comparao dos grupos eles descobriram que

    uma pequena regio, ainda mais especfica dentro da

    rea 10 de Brodmann, no possua equivalente nos

    macacos o chamado crtex do plo pr-frontal lateral.

    Fica a reflexo: caso no percebamos iniciativa

    por parte das pessoas, planejamento, julgamento

    dos fatos associado a um bom controle emocional e,

    principalmente, criatividade, de que forma poderamos

    consider-las evolutivamente diferentes dos outros

    animais pelo menos no que se refere ao comportamento?

  • 17

    vezes maior em humanos quando comparadas aos

    grandes smios africanos. A neuropsicologia, por sua

    vez, tem mostrado que tal rea est associada ao

    pensamento abstrato, organizao e ao planejamento

    de aes futuras, iniciativa e tomada de decises,

    assim como ao controle e ao processamento das

    emoes e ao julgamento. Da integridade da rea 10

    dependem, particularmente, funes como memria

    de trabalho, memria espacial, memria prospectiva,

    processamento sinttico e compreenso de metforas,

    gerao de verbos, clculo numrico e ateno conjunta

    (fundamental para habilidades sociais). Assim, a evoluo

    da rea 10 no Homo sapiens parece ser central naquilo

    que se postula ser a humanidade dos homens.

    Neuroanatomia comparativa contempornea

    Recentemente, pesquisadores foram alm e

    compararam imagens de ressonncia magntica do crtex

    ventrolateral frontal um dos componentes da rea 10

    de 25 voluntrios adultos com imagens equivalentes de 25

    macacos. A partir desses dados, os pesquisadores foram

    capazes de dividir o crtex ventrolateral humano em 12

    reas que foram consistentes entre todos os indivduos.

    Aps a comparao dos grupos eles descobriram que

    uma pequena regio, ainda mais especfica dentro da

    rea 10 de Brodmann, no possua equivalente nos

    macacos o chamado crtex do plo pr-frontal lateral.

    Fica a reflexo: caso no percebamos iniciativa

    por parte das pessoas, planejamento, julgamento

    dos fatos associado a um bom controle emocional e,

    principalmente, criatividade, de que forma poderamos

    consider-las evolutivamente diferentes dos outros

    animais pelo menos no que se refere ao comportamento?

    FONTES:1. http://goo.gl/rdWGlL2. http://goo.gl/0C85FH3. Livro Evoluo do crebro, por Paulo Dalgalarrondo.

    //////////////// e v o l u o

  • 18 | m e u c e r e b r o . c o m

  • 19

    Msica, cores e emoo

    /////////////// m s i c a

    /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Leonardo Faria

    Voc estava saboreando algo e lhe veio

    algum som bem peculiar aos ouvidos?

    Algum lugar que voc visitou logo lhe

    trouxe um sabor boca. Determinado

    cheiro lhe faz ver imagens como se fossem reais

    naquele momento? Alguma vez voc escutou

    uma msica e logo veio a percepo de uma cor

    em especial? No, no loucura. A sinestesia

    um fenmeno neurolgico caracterizado pela

    produo de duas sensaes paralelas, de

    natureza distinta, por um nico estmulo.

  • 20 | m e u c e r e b r o . c o m

    No h o que temer. A sinestesia no uma

    doena. Na verdade, ela ilustra como o crebro

    um rgo complexo e repleto de fortes

    interconexes. A experincia sensorial de certas

    pessoas na qual sensaes correspondentes a

    um certo sentido so associadas a outro sentido ,

    na verdade, o cimento da memria. Quanto mais

    relaes as sensaes puderem estabelecer

    entre si, mais facilmente so reestabelecidas as

    suas memrias correspondentes.

    Portanto, por conta da sinestesia,

    eventualmente ocorre essa espcie de

    cruzamento de sensaes em um s estmulo.

    Assim, uma cor pode ter um sabor ou um som

    pode ter uma forma. Essa forma diferente de

    processar as informaes obtidas atravs dos

    sentidos pode ter uma base hereditria.

    O que dizem os estudos

    Diversos estudos tm investigado possveis

    relaes sensoriais desse tipo, especialmente

    entre sons e cores. Uma pesquisa realizada

    pela Universidade da Califrnia, em Berkeley,

    e publicada recentemente no peridico PNAS

    mostrou que o crebro humano capaz de

    ir mais alm. Segundo o estudo, atravs das

    sensaes que uma melodia provoca, o crebro

    foi capaz de fazer relaes entre cor e msica

    a ponto de superar barreiras culturais, como se

    todas as pessoas apresentassem uma estrutura

    neural senso-perceptiva comum.

    Ainda sobre o estudo, cujo ttulo original

    Musiccolor associations are mediated by

    emotion, identificou-se que msicas mais rpidas

    se relacionavam a cores claras e vvidas, como

    o amarelo; e melodias mais lentas, a tons mais

    escuros, acinzentados ou azulados. Todas essas

    informaes poderiam, segundo a pesquisa,

    auxiliar o desenvolvimento de estratgias

    para afiar a criatividade e a percepo, novos

    mtodos de reabilitao emocional que se

    utilizem de terapias cognitivas, alm de embasar

    novas aes tomadas pelos profissionais do

    neuromarketing e publicidade. Os programas

    tocadores de msica, por exemplo, podem se

    utilizar das informaes de um equalizador

    para produzir padres de cores em suas telas,

    procurando seguir as caractersticas o tom

    emocional de cada msica.

    Muitas figuras conhecidas j se lanaram

    no estudo das cores, como Aristteles, Newton

    e Goethe. Em contrapartida, Goethe foi um dos

    nicos a se opor de certa forma ideia intuitiva

    de que existe uma relao fsica direta entre

    sons e cores. Em uma de suas obras, A Teoria

    das Cores (Zur Farbenlehre), originalmente

    publicada em 1810, ele disse:

  • 21

    Sempre se percebeu que existe certa relao entre cor e som,

    como demonstram as frequentes comparaes, por vezes passageiras,

    por vezes suficientemente pormenorizadas. O erro nelas cometido se deve ao seguinte: Cor e som de maneira alguma

    podem ser comparados, embora ambos remetam a uma frmula

    superior, a partir da qual possvel deduzir cada um deles. Ambos

    so como dois rios que nascem na mesma montanha, mas devido a circunstncias diversas correm sobre regies opostas, de modo que em todo o percurso no h

    nenhum ponto em que possam ser comparados. Ambos so efeitos gerais e elementares segundo a

    lei universal que tende a separar e unir, oscilar, pesando ora de um

    lado, ora de outro lado da balana, mas conforme aspectos, maneiras,

    elementos intermedirios e sentidos completamente distintos.

    Mas, apesar do alerta de Goethe, os

    neurocientistas insistem na correlao neural

    entre sons e cores. Seguindo vias neurais

    prprias e paralelas ou que, secundariamente,

    se cruzem em algum ponto do caminho

    perceptivo cerebral, o fato que parece

    prevalecer um denominador comum entre

    as sensaes, particularmente entre aquelas

    veiculadas pelos olhos e ouvidos. Assim como

    outro estudo de 2007 The Color of Music:

    Correspondence Through Emotion tambm

    concluiu, a msica parece compartilhar com o

    som um substrato neural comum: o emocional.

    Seria essa a origem da sinestesia.

    FONTES:1. http://goo.gl/D3SXpC2. http://goo.gl/r74uRh3. http://goo.gl/WesMx94. http://goo.gl/T7kvZi5. http://goo.gl/kNvklS6. http://goo.gl/L6m8OIFotografia: Flickr Commons

    / a m s i c a e o c r e b r o

  • 22 | m e u c e r e b r o . c o m

  • 23

    A conexo entrecorpo e esprito

    A glndula pineal e sua relao com a espiritualidade

    Matheus Guisoni Pereira

    A pinha, um dos smbolos mais presentes nas sociedades do passado, ocidentais e orientais, reserva-se cheia de mistrios e lendas. Mas uma coisa constante: a relao com a expanso da conscincia, da elevao e da iluminao do ser. No Egito a pinha se mostra na ponta do cajado de Osris, o Deus da vida aps a morte, essa que era o passaporte para o convvio com os deuses. Na Grcia antiga ela aparece na extremidade superior do Tirso, o cajado usado por Dionsio. E no arbitrrio o fato de ser Dionsio o smbolo da plenitude de conscincia e unificao com o todo. Pinha em grego traduz-se por Pineu, um dos nomes utilizados para batizar nossa glndula pineal.

    /espiritualidade e religio

  • 24 | m e u c e r e b r o . c o m

    O terceiro olho, referido como olho de Hrus

    ou olho de R, uma referncia explcita tambm a

    essa glndula, chamada tambm por outras culturas

    como o olho da razo, da alma ou da mente. O olho

    dentro da pirmide, uma adaptao desse simbolismo,

    ficou amplamente conhecido no mundo aps ser

    empregado como um dos smbolos da maonaria

    e ser incorporado tardiamente no dlar americano.

    Mas, afinal de contas, o que essa glndula

    faz de to especial para a maioria de ns que

    no estamos ainda no caminho da meditao em

    busca do nirvana? Bem, esse olho vestigial guarda

    semelhanas em sua embriologia com os olhos,

    emerge do diencfalo ficando entre os dois colculos

    superiores sobre o mesencfalo e funciona como um

    temporizador, um marcapasso circadiano e sazonal.

    Sobre influncia simptica, a qual predominante

    durante a noite, ela secreta em maiores quantidades

    um hormnio, a melatonina. Sabe-se que maiores

    concentraes desse hormnio reduzem a funo

    das glndulas e que este importante para o

    amadurecimento dessas. A melatonina tambm

    pode realocar o dispndio energtico de acordo

    com os ciclos sono-viglia, resultado obtido do

    trabalho da Dr. Fernanda Gaspar do Amaral.

    Recentemente, notou-se em estudo do Dr.

    Jimo Borjigin na Universidade de Michigan e na

    Universidade Estadual de Louisiana pelo Dr. Steven

    Barker, analisando glndulas de ratos, a presena

    de N,N-Dimethyltryptamine (DMT). No se sabe

    ao certo qual a funo desse composto nos

    organismos, contudo, o uso dessa substncia j

    apreciado por pessoas que buscam experincias

    de psicodelismo. Essa substncia tambm

    encontrada no ch Ayahuasca, o santo daime.

    Mais excitante, no entanto, est o trabalho do

    mdico Dr. Sergio Felipe de Oliveira. Durante uma

    microscopia de varredura em glndulas dissecadas,

    ele notou a presena de cristais de apatita. Esses

    cristais funcionam como uma caixa de ressonncia

    que capta campos magnticos, sequestrando-os.

    Essa pode ser a chave para se desvendar como

    pessoas que possuem domnio de sua mediunidade

    mantm um transe ou uma comunicao com

    entidades extrafsicas inteligentes. Pelo trabalho

    do Dr. Sergio Felipe, tambm ficou verificado a

    relao inversamente proporcional entre esses

    cristais e surtos de ansiedade e depresso do

    sistema nervoso central. O indivduo, recebendo

    muitas informaes sensoriais por campos

    O crebro, como smbolo de nossa inteligncia, daquilo que

    nos torna humanos, recebe agora, mais do que nunca,

    contribuies slidas da cincia de que ele pode conter tambm a ponte daquilo que

    nos torna ns mesmos, da nossa conscincia: o esprito.

  • 25

    magnticos, gastaria uma quantidade grande de

    neurotransmissores para decodific-las e, em um

    segundo momento, ocorreria uma queda abrupta

    em sua concentrao, levando sinais de depresso.

    A glndula tambm est relacionada com a

    liberao de energia na forma de ectoplasma, este

    evidenciado por Charles Richet, Nobel de medicina

    e fisiologia em 1913, e pelo Dr. Albert Von Schrenck-

    Notzing. Se esta energia demasiadamente

    liberada (como ocorre com alguns mdiuns),

    o organismo tende a responder distribuindo-a

    para stios orgnicos, podendo originar estruturas

    ectpicas como osteofitoses, cistos ou mesmo

    causar um aumento de peso e sangramento. No

    entanto, isso no se faz uma consequncia imediata

    e fatal, sempre restando ao mdium o dever de

    controlar essa capacidade da maneira a melhor

    atender-lhe a sade. O estudo se faz inevitvel.

    Muito ainda resta para ser desvendado

    nesse campo, que se caracteriza como uma

    rea promissora e excitante de pesquisas. O

    conhecimento milenar de culturas do passado se

    mostra mais uma vez atual sua maneira, e cabe

    cincia mostrar-se humilde s possibilidades j

    abertas por nossos ancestrais. O crebro, como

    smbolo de nossa inteligncia, daquilo que nos

    torna humanos, recebe agora, mais do que nunca,

    contribuies slidas da cincia de que ele pode

    conter tambm a ponte daquilo que nos torna

    ns mesmos, da nossa conscincia: o esprito.

    FONTES:1. VILLELA, DARINE; ATHERINO,VICTORIA FAIRBANKS; LIMA, LARISSA DE S ; MOUTINHO,

    ANDERSON AUGUSTO; AMARAL, FERNANDA GASPAR DO ; PERES, RAFAEL ; MARTINS DE LIMA, THAIS ; TORRO, ANDRA DA SILVA ; Cipolla-Neto, Jos ; SCAVONE, CRISTFORO ; Afeche, Solange Castro . Modulation of Pineal Melatonin Synthesis by Glutamate Involves Paracrine

    Interactions between Pinealocytes and Astrocytes through NF-B Activation. BioMed Research International, v. 2013, p. 1-14, 2013.

    2. Barker, S.A.; Borjigin, J.; Lomnicka, L.; Strassman, R. LC/MS/MS analysis of the endogenous Dimethyltryptamine hallucinogens, their precursors, and major metabolites in rat pineal gland

    microdialysate.. Biomed Chromatogr, v. 2013, p. 1690-700, 2013.3. OLIVEIRA, S. F. . Glandula Pineal - Avanos nas Pesquisas. 2007. (Apresentao de Trabalho/

    Conferncia ou palestra).4. Biomed Chromatogr. 2013 Dec;27(12):1690-700. doi: 10.1002/bmc.2981. Epub 2013 Jul 23.5. LC/MS/MS analysis of the endogenous dimethyltryptamine hallucinogens, their precur-sors, and major metabolites in rat pineal gland microdialysate. Barker SABorjigin JLomnicka

    IStrassman R.Imagens: http://goo.gl/kGCnT1 e http://goo.gl/2TVl0f

  • 26 | m e u c e r e b r o . c o m

    possvel termos o controle da nossa vida ou somos frutos do acaso? O que determina o sucesso? Alis, o que sucesso, para voc? Ser que existe um caminho para revolucionar a prpria vida, at coisas mais prticas como comear (ou terminar) algo que no est do jeito que voc gostaria? Voc est feliz na sua vida pessoal? e profissional? Como andam suas atividades de lazer? E sua espiritualidade?

    Em anos de trabalho com foco no desenvolvimento de pessoas, percebo que ter clareza psquica, emocional ou, como gosto de dizer, ampliar a conscincia o primeiro passo de um processo profundo de mudana, cujo intuito ser mais feliz nos principais pilares que sustentam e torneiam sua vida.

    Quais so esses pilares?

    Flvio Maneira,Autor e Coordenador do mtodo e curso 4 pilares, gesto de carreira e de vida. Executivo da indstria farmacutica h 16 anos, atuou na rea de vendas, liderana e treinamento e desenvolvimento, passando por empresas como Novartis, Schering-Plough, MSD e atualmente est na Biolab Sanus Farmacutica responsvel pela capacitao estratgica da unidade cardiovascular. Professor de MBA em disciplinas ligadas a Pessoas e Negcios e colunista do portal Zeneconomics.

    4 pilares: Voc no controle da sua vidaCrie um mapa estratgico para ela

    /a neurocincia do sucesso

  • 27

    Entendemos como pilar pessoal o que se refere a tudo e a todos que giram em torno de voc: sua famlia, amigos, filhos, cnjuge. Como anda sua relao com seus familiares e amigos? Est saudvel? Outro ponto importante do pilar pessoal tem a ver com propsito e valores, talvez o mais importante. Voc sabe claramente qual o seu propsito de vida? E quanto aos seus valores? Segundo John Maxwell: no d para ter um sistema de valores para uso no mundo dos negcios e outro para a vida pessoal. O carter de uma pessoa rege toda a sua vida. Interessante, no? Em minha trajetria de vida, nas empresas nas quais trabalhei e onde trabalho, nas palestras e aulas que ministro, percebo que a maioria das pessoas no tem claro isso, simplesmente vo vivendo e no param para refletir a respeito. Alm das questes de valores, nesse pilar deve-se considerar questes como sade, nutrio, emoes, ou seja, o alimento do corpo e da mente. Dizem que somos o que comemos. Vou alm, somos o que pensamos, somos o que sabemos. Nossa formao como pessoa dada parte pela gentica (DNA) e pelo meio desde o nosso nascimento macro (pas, regio, cidade, bairro, cultura, famlia, amigos, escola, faculdade, trabalho) para o micro (indivduo, personalidade, reas de inteligncia).

    Flvio Maneira,Autor e Coordenador do mtodo e curso 4 pilares, gesto de carreira e de vida. Executivo da indstria farmacutica h 16 anos, atuou na rea de vendas, liderana e treinamento e desenvolvimento, passando por empresas como Novartis, Schering-Plough, MSD e atualmente est na Biolab Sanus Farmacutica responsvel pela capacitao estratgica da unidade cardiovascular. Professor de MBA em disciplinas ligadas a Pessoas e Negcios e colunista do portal Zeneconomics.

    4 pilares: Voc no controle da sua vidaCrie um mapa estratgico para ela

    pessoal

  • 28 | m e u c e r e b r o . c o m

    Esse pilar um dos grandes responsveis por questes que vo muito alm do dinheiro, por exemplo: felicidade. Voc faz o que realmente ama? Voc aprendeu a amar o que faz? Voc se encontrou profissionalmente? Se no, por que no arriscar em recomear? Voc est satisfeito com seu superior? Como voc considera o clima (ambiente) do seu trabalho? E com seus pares? Se voc um gestor ou empreendedor e tem uma equipe, como considera sua gesto? Existem inmeras pesquisas bem fundamentadas sobre aspectos profissionais envolvendo liderana, colaboradores, clientes, empreendedores e em todas vemos alguns aspectos em comum: so mais pontos de melhorias do que os que do certo. Vou dar um exemplo: Se perguntarmos para 100 pessoas sobre seus chefes (ou lderes), 80 esto insatisfeitas, porm, dessas 80 insatisfeitas, quantas fazem algo para mudar isso? No chega a 10%, acredite! No caso dos empreendedores, grande parte das empresas fecham antes de completarem trs anos de vida e, quando feita uma anlise sobre o principal motivo, adivinhe? Falta de conhecimento. As pessoas simplesmente abrem um negcio sem ao menos saberem o que um plano de negcios. Quando o assunto carreira, os resultados so ainda piores: a maioria das pessoas no sabe gerir um plano de carreira alinhado com suas fortalezas (seus talentos dominantes, seus pontos fortes). Vivemos uma escassez de lderes e bons gestores de pessoas e, com isso, vem a falta de orientao e desenvolvimento adequado, estratgico e assertivo, de acordo com cada indivduo. As pessoas esto, literalmente, perdidas profissionalmente. O que preciso? Parar, estruturar um plano, procurar ajuda, ler, estudar e principalmente saber que vai exigir muita disciplina, mudana de hbitos. um percentual muito pequeno da populao que est disposto a isso. Tony Robbins (autor e palestrante especialista em reprogramao mental) diz: por isso os pobres esto cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

    O que voc faz que extremamente prazeroso? Que lhe traz uma sensao quase indescritvel? Voc s consegue isso nos finais de semana, feriados ou quando sai de frias? Ou voc tem plulas de lazer que lhe do prazer diariamente? E semanalmente? Na medida em que vamos adquirindo certas responsabilidades nos dois pilares anteriores (pessoal e profissional), fica mais difcil fazer o que gostvamos de fazer? Vem o casamento, vm os filhos, vem o crescimento profissional e por ai vai. Acontece que, para voc se tornar melhor tanto na sua vida pessoal como profissional, necessrio alimentar suas emoes, seus sentimentos, ou seja, necessrio rir com quem ou com o que lhe estimula a isso. Tem gente que encontra no esporte (atividades fsicas) uma forma de grande lazer (prazer). Sim, porque suar e performar mais e mais a cada dia mexe de forma nica com a neuroqumica, alimentando sua estima, fazendo com que voc se sinta bem. Outros encontram na msica, na meditao, na leitura, na arte, no encontro com os amigos, semanalmente, mensalmente. Amigos fazem bem para sua sade, isso comprovado. Animais tambm. Qual lazer voc foi deixando para trs? O que preciso para retomar? Possivelmente isso est ligado a uma melhor administrao de sua agenda e de alguns alinhamentos com seus familiares. Dedicamos muito tempo aos outros com medo do que pensam sobre a gente e esquecemo-nos de pensar em ns mesmos. Acredite: eles vo entender. Voc ser percebido como uma pessoa melhor, sua energia vai mudar. As pessoas que conseguem desfrutar de pequenas doses de lazer todos os dias apresentam uma melhora perceptvel em sua energia, ficam mais positivas.

    profissional lazer

    Concluo sugerindo que no perca, mas ganhe tempo investindo em seu maior bem: voc. Dedique tempo para criar um mapa estratgico da sua vida envolvendo os 4 pilares: Pessoal, Profissional, Lazer e Espiritual. Considere o curto, mdio e longo prazo, tendo como premissa o conhecimento e a potencializao das suas competncias naturais. Dizem que aprendemos mais pela dor do que pelo amor. Eu sou a prova disso e quero compartilhar isso com voc. Um grande amigo disse certa vez: temos duas datas de nascimento: uma biolgica, quando nascemos e outra quando lanamos um olhar inteligente e genuno sobre ns mesmos. Esse o verdadeiro nascimento. Pense nisso.{

  • 29

    O que voc faz que extremamente prazeroso? Que lhe traz uma sensao quase indescritvel? Voc s consegue isso nos finais de semana, feriados ou quando sai de frias? Ou voc tem plulas de lazer que lhe do prazer diariamente? E semanalmente? Na medida em que vamos adquirindo certas responsabilidades nos dois pilares anteriores (pessoal e profissional), fica mais difcil fazer o que gostvamos de fazer? Vem o casamento, vm os filhos, vem o crescimento profissional e por ai vai. Acontece que, para voc se tornar melhor tanto na sua vida pessoal como profissional, necessrio alimentar suas emoes, seus sentimentos, ou seja, necessrio rir com quem ou com o que lhe estimula a isso. Tem gente que encontra no esporte (atividades fsicas) uma forma de grande lazer (prazer). Sim, porque suar e performar mais e mais a cada dia mexe de forma nica com a neuroqumica, alimentando sua estima, fazendo com que voc se sinta bem. Outros encontram na msica, na meditao, na leitura, na arte, no encontro com os amigos, semanalmente, mensalmente. Amigos fazem bem para sua sade, isso comprovado. Animais tambm. Qual lazer voc foi deixando para trs? O que preciso para retomar? Possivelmente isso est ligado a uma melhor administrao de sua agenda e de alguns alinhamentos com seus familiares. Dedicamos muito tempo aos outros com medo do que pensam sobre a gente e esquecemo-nos de pensar em ns mesmos. Acredite: eles vo entender. Voc ser percebido como uma pessoa melhor, sua energia vai mudar. As pessoas que conseguem desfrutar de pequenas doses de lazer todos os dias apresentam uma melhora perceptvel em sua energia, ficam mais positivas.

    Longe de dogmas religiosos, qual o seu entendimento por espiritualidade? Se voc pensou em algo como ajudar o prximo, em generosidade, voc est no caminho. Se voc j faz algo nesse sentido, j uma pessoa espiritualizada. Mais que dinheiro, se voc dedica parte do seu tempo para ajudar (seja compartilhando conhecimento, dando amor, ouvindo algum) o outro, livre de pr-conceitos, discriminaes, crenas, voc est um degrau acima. As pessoas que menos tm so as que mais compartilham, seja comida, dinheiro, casa, ou um lugar para dormir. Pare por alguns minutos e pense em algum por quem voc muito grato, por te ajudar em algum momento difcil da sua vida. Pensou? Pronto, agora pegue uma folha em branco e um lpis ou caneta e escreva-lhe uma carta dizendo o por que de voc ser to grato a ela. Por fim, faa uma ligao (ou encontre essa pessoa) e leia a carta para ela. provado que isso aumenta significativamente o seu estado de felicidade. Ou seja, a gratido explicitada a algum vai lhe tornar uma pessoa mais feliz, uma pessoa melhor. Atuo junto classe mdica h alguns anos e conheci mdicos com uma espiritualidade incrvel. Mas, o que eles tm em comum? Tratam as pessoas como pessoas, so generosos e pacientes com seus pacientes. Percebo que a humanidade no caminha para problemas de doenas fsicas, mas sim para doenas de fundo emocional. Vivemos um caos emocional. A rea que mais cresce no est ligada a problemas cardiovasculares, mas a problemas psquicos. Livros de autoajuda nunca venderam tanto. Medicamentos desenvolvidos para os transtornos psquicos, especialmente os ansiolticos, nunca venderam tanto. Sempre digo: temos que tratar a causa e no o sintoma. Por isso, agir com mais espiritualidade uma boa maneira de amenizar essas questes psicolgicas que afligem a humanidade.

    lazer Espiritualidade

    Concluo sugerindo que no perca, mas ganhe tempo investindo em seu maior bem: voc. Dedique tempo para criar um mapa estratgico da sua vida envolvendo os 4 pilares: Pessoal, Profissional, Lazer e Espiritual. Considere o curto, mdio e longo prazo, tendo como premissa o conhecimento e a potencializao das suas competncias naturais. Dizem que aprendemos mais pela dor do que pelo amor. Eu sou a prova disso e quero compartilhar isso com voc. Um grande amigo disse certa vez: temos duas datas de nascimento: uma biolgica, quando nascemos e outra quando lanamos um olhar inteligente e genuno sobre ns mesmos. Esse o verdadeiro nascimento. Pense nisso.

    PARA MAIS INFORMAES:http://flaviomaneira.com.br

  • 30 | m e u c e r e b r o . c o m

  • 31

    O que

    para voc?limitao

    Esther Varoto, 28 anos, graduada em msica. Esclerose Mltipla. Doena inflamatria crnica degenerativa. Elas se

    conheceram em novembro de 2008

    Daniela vila Malagoli

    Com dois anos, comeou a cantar. Aos trs, comps a primeira msica. Como no sabia escrever, pediu me que anotasse. Com cinco anos, j lia partitura ao tocar flauta doce. Gravou o primeiro CD nessa idade. Com 15, virou professora. Cursou oito anos de violo, contrabaixo e guitarra no Conservatrio Estadual Cora Pavan Capparelli, mas estudou sozinha para a prova de habilidade especfica do curso de Msica (licenciatura em violo erudito), ingressando no curso, na Universidade Federal de Uberlndia (UFU), em 7 lugar, aos 19 anos.

  • 32 | m e u c e r e b r o . c o m

    Esther sentiu uma sensao estranha nos braos. No outro dia, acordou com metade do corpo dormente.

    No conseguia piscar o olho direito e sentia tonturas e nuseas. Passou mal dia aps dia, por trs meses,

    quando j estava casada. Os mdicos, inicialmente, desacreditavam no diagnstico de Esclerose Mltipla.

    Mas ela desconfiava. E se preparou.

    Esther, que chora e em menos de 10 segundos enxuga as lgrimas, no cancelou um dia de aula para

    seus alunos. Quando os movimentos da mo esquerda, precisos para sua profisso, ficaram travados por

    dois meses, um dos alunos a consolou: enquanto voc estiver falando, est bom, eu j aprendo. Antes de

    a Esclerose Mltipla manifestar-se, Esther pensava: eu sou jovem, aguenta corpo! Sete meses depois

    dos primeiros sintomas, e aps passar por oito mdicos, o diagnstico foi confirmado.

    Uma das primeiras coisas que fez, em seguida, foi compor uma msica em homenagem aos

    portadores da doena. O que eu fiz os trs primeiros anos depois que eu descobri a doena o que eu

    teria feito na minha vida toda se eu no a tivesse descoberto. Ela preparou a qualidade do seu futuro,

    mas viveu, e vive intensamente o presente. Andei muito de patins. Se eu fosse pra cadeira de rodas

    amanh, pelo menos iria lembrar a sensao. Nadar, sentir seu corpo na gua, como importante! As

    pessoas deviam pensar nisso. Ela define a doena: Esclerose Mltipla no sinnimo de loucura. uma

    doena rara e diferente que as pessoas deveriam conhecer mais.

    Esther nunca perdeu o bom humor e a vontade de viver. Nos inmeros exames de ressonncia

    magntica que fez, brincava com os sons do aparelho como se fossem notas musicais. Esther, que parece

    uma pessoa sem o diagnstico de uma doena degenerativa como a Esclerose Mltipla Surto Remisso (ver

    infogrfico), reconhece: uma doena que pode expor o portador a muitas a muitas deficincias fsicas, e

    muitas delas felizmente podem ser revertidas com o uso de anti-inflamatrios potentes (corticosterides).

    Um dia, aps uma aula de canto na Ufu, na semana do prpriocasamento,

  • 33

    //////////////// p e s s o a sEsther adora passear no shopping, fazer compras. Sempre acompanhada do seu grande amor, do

    seu apoio, Elker Tonini. Ele o seu porto seguro. E se o assunto ela, ele no hesita. Ningum derruba

    a Esther, guerreira. Ele pretende curtir todos os momentos da vida junto dela. A musicista fundou

    a Academia de Msica Varotonini, na qual Elker tambm professor, em 2011, no mesmo ano de sua

    formatura: fruto de tudo que eu fao em minha vida, o que me move, me d prazer, a msica. Para o

    professor do curso de Msica da UFU Andr Campos, Esther empreendedora e batalhadora.

    Esther professora de canto, violo popular e erudito, guitarra base e solo, contrabaixo, viola caipira,

    bateria e percusso, musicalizao infantil, composio, teoria e percepo musical, edio de partituras

    e preparao para habilidade especfica em Violo Erudito. Tem contrato como compositora com a

    Editora Clube da Msica, que parceira da Sony Music. Comps, interpretou e produziu a trilha sonora

    da Novela Portal do Cerrado. Hoje est cursando Direito. Objetivos futuros: maior dedicao carreira

    solo. Expanso da Academia de Msica Varotonini. Esther pensa na frente, afirma a professora do curso

    de Msica da UFU Sandra Alfonso.

    Uma mulher bem sucedida? Intimidade com Deus, prazer em viver e acreditar em mim foi o que fez

    Esther uma empresria de sucesso. O que a Esclerose Mltipla te ensinou, Esther? Maturidade e paixo

    pela vida. Qual a primeira coisa que gostaria que algum soubesse sobre voc? Que eu curto a vida.

    Esther, o que limitao para voc? Limitao algo que a gente coloca na prpria cabea.

    INFORMAES SOBRE ESTHER: http://goo.gl/5OI3sqINFOGRFICO: Leonardo Faria

  • 34 | m e u c e r e b r o . c o m

    O cerebelo a parte do crebro respon-

    svel por movimentos motores finos, incluindo

    a postura, o equilbrio, a aprendizagem motora

    e a fala. Localizado na base do crnio, contm

    cerca de metade dos neurnios do crebro,

    embora represente apenas 10% do seu volu-

    me. A sua disfuno parcial devido a uma leso

    ou doena no incomum, contudo a ausncia

    do cerebelo j ao nascimento extremamente

    rara. Mdicos na China descobriram uma mu-

    lher de 24 anos, apenas o nono caso conhecido

    de uma pessoa viva com agenesia cerebelar.

    Sua condio foi descrita na revista Brain.

    O caso veio tona depois que a mulher

    procurou atendimento mdico devido a nu-

    seas e vertigens. Uma tomografia computa-

    dorizada e imagens de ressonncia magntica

    revelaram a ausncia do cerebelo, que pronta-

    mente explica os sintomas encontrados. Alm

    disso, sua condio explica tambm por que

    ela no foi capaz de falar at completar seis

    anos de idade e de andar at os sete. Devido

    ausncia desta importante parte do sistema

    nervoso, tambm no foi capaz de brincar e

    saltar como as outras crianas. Sem nenhuma

    surpresa, a mulher tinha sido incapaz de andar

    sem constante apoio ao longo de sua vida.

    Embora os testes revelassem que ela

    no apresentava dificuldades para entender

    o vocabulrio, havia prejuzos relacionados

    pronncia, a voz era trmula e as palavras, ar-

    rastadas. Apesar disso, os mdicos considera-

    ram os sintomas relativamente leves. Eles es-

    peravam por um comprometimento maior.

    O espao onde o cerebelo deveria existir

    foi preenchido pelo lquido cefalorraquidiano. A

    qumica do fluido parecia normal, mas a pres-

    so estava um pouco elevada (210 mmH2O, ao

    invs de 70-180 mmH20). Ela foi adequada-

    mente tratada com medidas pouco invasivas

    e, quatro anos depois, ela ainda estava muito

    bem.

    Casou-se e teve uma filha neurologica-

    mente normal. As estruturas e os tecidos ao

    redor de onde estaria o cerebelo aparentavam

    boa estrutura, sem danos significativos. A ponte

    parecia pouco desenvolvida mas, consideran-

    do que parte de seu trabalho transmitir men-

    sagens a partir do crtex frontal ao cerebelo,

    isso no totalmente surpreendente.

    Como a doena rara, no muito bem

    compreendida. Embora existam cerca de 30

    mutaes associadas com alteraes cerebe-

    lares, a ausncia completa da estrutura um

    pouco mais difcil de descobrir. Essa mulher re-

    presenta uma oportunidade nica para estudar

    os efeitos da doena em um adulto vivo. No

    se sabe como a sua condio ir mudar me-

    dida em que envelhecer, mas todas as coisas

    que ela foi capaz de fazer at aqui represen-

    tam mais uma vez uma boa prova da plastici-

    dade cerebral.

    Mulher de 24 anos vive sem o cerebeloA relao entre sade mental e leses na cabea um tema

    controverso. Pesquisas anteriores produziram resultados ambguos que

    colocaram em dvida a associao entre ambas. Muito frequentes em

    esportes de contato como artes marciais e futebol americano, pequenos

    traumatismos podem culminar em problemas de sade mais srios do

    que se pensa primeira vista. Um estudo publicado no American Journal

    of Psychiatry, o maior da rea, revela que mesmo uma nica dessas

    pancadas na cabea pode, at mesmo, aumentar o risco de doenas

    mentais, em especial se a pancada ocorrer durante a adolescncia.

    A pesquisa realizada por Sonja Orlovska e sua equipe, da

    Universidade de Copenhague, durou 23 anos e analisou 113.906 registros

    mdicos dinamarqueses de pessoas que haviam sido hospitalizadas

    por ferimentos na cabea. Eles descobriram que, alm dos problemas

    cognitivos causados pelos danos estruturais no crebro (como delrio),

    esses pacientes demonstraram, posteriormente, maior probabilidade de

    desenvolver transtornos psiquitricos: risco de 65% para esquizofrenia

    e 59% para depresso. O perigo era maior nos primeiros 12 meses aps

    o trauma, mas permaneceu significativamente elevado pelos 15 anos

    seguintes.

    Ainda segundo o estudo, o fator preditivo mais forte associado ao

    desenvolvimento futuro de esquizofrenia, depresso e transtorno bipolar

    foi sofrer traumatismo craniano no incio da adolescncia (11 aos 15 anos

    de idade). Leses na cabea poderiam provocar inflamao cerebral,

    alterando a permeabilidade da barreira hematoenceflica e favorecendo

    a entrada de contedos potencialmente prejudiciais ao crebro a partir

    da corrente sangunea.

    Enquanto o mecanismo ainda no for totalmente esclarecido, o

    melhor seguir as orientaes j estabelecidas depois de sofrer leses

    traumticas. Descansar e evitar atividades que demandem esforo fsico

    e mental, alm de obviamente consultar um mdico to logo apaream

    sintomas. Tudo isso fundamental.

    Pancadas na cabea podem causar doena mental

    FONTE: http://goo.gl/QhrvC0

    FONTE: http://goo.gl/QXEdcY

  • 35

    Estudo feito por pesquisadores

    da Universidade Rush, de Chicago,

    com 294 idosos, confirma a ideia de

    que ler e escrever regularmente pode

    contribuir para preservar a memria por

    mais tempo, reduzindo a velocidade do

    processo de deteriorao mental.

    Essas prticas saudveis podem

    diminuir at 15% o ritmo de progresso

    da perda da memria.O declnio cerebral

    entre os idosos que liam ou escreviam

    com frequncia ainda na velhice ocorreu

    em um ritmo 32% mais lento do que

    entre os que faziam isso com uma

    constncia menor. Os idosos que quase

    nunca se dedicavam a essas atividades

    apresentaram uma velocidade de

    deteriorao mental 48% maior do que os

    que liam e escreviam esporadicamente.

    Os pesquisadores acompanharam

    os participantes do estudo durante

    cerca de seis anos, at o momento

    de sua morte, em mdia aos 89 anos.

    Anualmente, submeteram os idosos

    a testes de memria e cognio e os

    entrevistaram sobre seus hbitos de leitura

    ao longo da vida.

    Memria preservada com leituras espordicas

    A relao entre sade mental e leses na cabea um tema

    controverso. Pesquisas anteriores produziram resultados ambguos que

    colocaram em dvida a associao entre ambas. Muito frequentes em

    esportes de contato como artes marciais e futebol americano, pequenos

    traumatismos podem culminar em problemas de sade mais srios do

    que se pensa primeira vista. Um estudo publicado no American Journal

    of Psychiatry, o maior da rea, revela que mesmo uma nica dessas

    pancadas na cabea pode, at mesmo, aumentar o risco de doenas

    mentais, em especial se a pancada ocorrer durante a adolescncia.

    A pesquisa realizada por Sonja Orlovska e sua equipe, da

    Universidade de Copenhague, durou 23 anos e analisou 113.906 registros

    mdicos dinamarqueses de pessoas que haviam sido hospitalizadas

    por ferimentos na cabea. Eles descobriram que, alm dos problemas

    cognitivos causados pelos danos estruturais no crebro (como delrio),

    esses pacientes demonstraram, posteriormente, maior probabilidade de

    desenvolver transtornos psiquitricos: risco de 65% para esquizofrenia

    e 59% para depresso. O perigo era maior nos primeiros 12 meses aps

    o trauma, mas permaneceu significativamente elevado pelos 15 anos

    seguintes.

    Ainda segundo o estudo, o fator preditivo mais forte associado ao

    desenvolvimento futuro de esquizofrenia, depresso e transtorno bipolar

    foi sofrer traumatismo craniano no incio da adolescncia (11 aos 15 anos

    de idade). Leses na cabea poderiam provocar inflamao cerebral,

    alterando a permeabilidade da barreira hematoenceflica e favorecendo

    a entrada de contedos potencialmente prejudiciais ao crebro a partir

    da corrente sangunea.

    Enquanto o mecanismo ainda no for totalmente esclarecido, o

    melhor seguir as orientaes j estabelecidas depois de sofrer leses

    traumticas. Descansar e evitar atividades que demandem esforo fsico

    e mental, alm de obviamente consultar um mdico to logo apaream

    sintomas. Tudo isso fundamental.

    /////////////// n o t c i a s

    Pancadas na cabea podem causar doena mental

    FONTE: http://goo.gl/QXEdcY

    FONTE: http://bit.ly/1pSKChX

  • 36 | m e u c e r e b r o . c o m

    Em 13 de setembro de 1848 um acidente terrvel fez surgir uma teoria: a de que o nosso sentido moral tem fundamento biolgico. Phineas Gage, renomado trabalhador de uma companhia ferroviria de Vermont, nos Estados Unidos, sofreu um

    grave acidente quando estava trabalhando na construo de uma

    estrada de ferro. Ao tentar explodir para longe rochas que estavam

    no local, um atrito entre a plvora e o buraco no qual Gage colocava

    a barra de ferro provocou uma exploso. A barra foi arremessada em

    direo ao trabalhador, entrou pela bochecha esquerda, destruiu

    o olho, atravessou a parte frontal do crebro e saiu pelo topo do

    crnio, do outro lado.

    O interessante que, mesmo com metade da cabea

    perfurada e sem um dos olhos, Gage sobreviveu sem danos

    considerveis em suas faculdades (na poca, quando recuperou

    a conscincia, foi levado para o hospital caminhando e falando).

    Contudo, quanto ao seu comportamento, a mudana foi drstica:

    Gage passou de educado a extremamente rude, desrespeitoso,

    perigoso e socialmente irresponsvel. Os comentrios eram de que

    Gage j no era mais Gage. Hoje, o nome dado ao comportamento

    A histria de Phineas GageO homem desinibido

    Daniela vila Malagoli

  • 37

    Em 13 de setembro de 1848 um acidente terrvel fez surgir uma teoria: a de que o nosso sentido moral tem fundamento biolgico. Phineas Gage, renomado trabalhador de uma companhia ferroviria de Vermont, nos Estados Unidos, sofreu um

    grave acidente quando estava trabalhando na construo de uma

    estrada de ferro. Ao tentar explodir para longe rochas que estavam

    no local, um atrito entre a plvora e o buraco no qual Gage colocava

    a barra de ferro provocou uma exploso. A barra foi arremessada em

    direo ao trabalhador, entrou pela bochecha esquerda, destruiu

    o olho, atravessou a parte frontal do crebro e saiu pelo topo do

    crnio, do outro lado.

    O interessante que, mesmo com metade da cabea

    perfurada e sem um dos olhos, Gage sobreviveu sem danos

    considerveis em suas faculdades (na poca, quando recuperou

    a conscincia, foi levado para o hospital caminhando e falando).

    Contudo, quanto ao seu comportamento, a mudana foi drstica:

    Gage passou de educado a extremamente rude, desrespeitoso,

    perigoso e socialmente irresponsvel. Os comentrios eram de que

    Gage j no era mais Gage. Hoje, o nome dado ao comportamento

    do operrio desinibido; uma referncia ao modo de se portar

    de pessoas que tiveram leses nos lobos frontais.

    O crnio, a mscara morturia e a barra de ferro esto em

    exibio no Museu da Faculdade de Medicina da Universidade

    de Havard. O acidente de Gage constituiu o incio histrico

    dos estudos das bases biolgicas do comportamento, como

    explica o neurologista Antnio Damsio. A modificao bruta

    de comportamento resultante do acidente instigou os mdicos

    a estudarem os possveis danos cerebrais, tendo em mente a

    possvel relao entre a personalidade e o crebro.

    A concluso: as reas afetadas, que causaram prejuzos

    considerveis de ordem moral, so as centrais para este tipo de

    humanidade, mais especificamente, os lobos frontais. Gage sofreu

    poucos efeitos fsicos (embora tenha perdido um dos olhos). O que

    mudou foi o comportamento. O operrio viveu por mais de 12 anos,

    agindo de forma extravagante e anti-social, contando muitas mentiras,

    enfim, sendo uma companhia difcil, segundo neurologistas.

    FONTE: 1. O livro do crebro um guia ilustrado de sua

    estrutura, funcionamento e transtornos, Rita Carter

    2. http://goo.gl/8jBBts3. http://goo.gl/LZS2RF4. http://goo.gl/3BJ2o1

    Fotografia: Flickr Commons

    /////// n e u r o h i s t r i a

    A histria de Phineas GageO homem desinibido

    Daniela vila Malagoli