Revista Montepio

92
LUÍS BARBOSA FOMENTAR A SOLIDARIEDADE A CRUZ VERMELHA TEM VINDO A OBSERVAR AS TENDÊNCIAS E ASSUME- -SE PRONTA A RESPONDER ÀS NECESSIDADES DE UMA "NOVA" SOCIEDADE IR PARA FORA CÁ DENTRO ESTA PRIMAVERA NãO PERCA OS EX-LíBRIS DO TURISMO EM PORTUGAL, IDEIAS PARA OBSERVAR O CéU, CRIAR A SUA HORTA E MUITO MAIS! ESPECIAL Primavera 2013 Trimestral €1 montepio série II número 09 09 Revista Montepio

Transcript of Revista Montepio

Page 1: Revista Montepio

luís barbosafomentar a solidariedade A CRUZ VERMELHA TEM VINDO A OBSERVAR AS TENDÊNCIAS E ASSUME- -SE PRONTA A RESPONDER ÀS NECESSIDADES DE UMA "NOVA" SOCIEDADE

IR PARA FORA CÁ DENTROEsta primavEra não pErca os ex-líbris

do turismo Em portugal, idEias para obsErvar o céu,

criar a sua horta E muito mais!

ESPECIAL

Primavera 2013 Trimestral €1

montepio série ii

número

09

09

Rev

ista

Mon

tepi

o

Page 2: Revista Montepio

Passeios com História

Crónica Baptista-Bastos

Museu Marítimo de Ílhavo

Roteiro

O pão nosso de cada dia

Novidades Clube PelicasResultados

10 perguntas a Ana Nave Benefícios e Descontos

Cartão Associado

Page 3: Revista Montepio

o m

eu m

oNte

Pio o mEu mund

o

A miN

HA

CiD

AD

e

a minha Economia

a m

inh

a vida

124

53

hO

Te

L

educ

ação

Fin

ance

ira

cria

nças

Ilha do Corvo: Uma pausa no Atlântico

identidade

sumário

Glocal As questões ambientais

tendência A culinária está na m

oda

Reportagem

empreendedorism

o

Laze

r

PRIMAVERA 2013#09

especial

Fina

nças

Pes

soai

s

Passeios com História

Crónica Baptista-Bastos

entr

evis

ta L

uís

Barb

osa

Ter asas para voar

O futuro

!4Análise

missão: ajudar o próximo. A ação

das instituições humanitárias

é essencial

Juvenil

3 passos a pensar na universidade

pres

iden

te d

a Cr

uz V

erm

elha

tema de Fundo

Tendência: Turis

mo intelig

ente

observatório

A nossa “lhéngua” of cial

Quanto pode poupar no IRSAbr

a a

port

a ao

em

preg

o

De c

abeç

a no

ar

Museu Marítimo de Ílhavo

têm vindo a tornar-se tem

a obrigatório de debate

10

26

3642

4859

&2JardinagemVoltar à terra. ideias e sugestões para criar a sua própria horta

62

65

68

Cidade à Lupa Bragança

74

Roteiro

O pão nosso de cada dia

82

80

Novidades Clube PelicasResultados84

57

52

20

06

10 perguntas a Ana Nave

90

Benefícios e Descontos

88

Cartão Associado

89

Culturaescrever a

inspiração.Como Portugal inspira poetas

$5

Fina

nças

Pes

soai

s

Prod

utos

com

ben

efíc

ios

60

começa hoje

7686

Page 4: Revista Montepio

moNtePio PRIMAVeRA 2013

colaboradores

#09 primavera 2013

esta

revi

sta

foi r

edig

ida

ao a

brig

o do

nov

o a

cord

o O

rtog

ráfic

o

série ii

p r o p r i e d a d e montepio Geral – associação mutualista, rua do Ouro, 219-241 1100-062 Lisboa Tel. 213 249 828

d i r e t o r antónio Tomás Correia

d i r e t o r - a d j u n t o rita pinho Branco

c o o r d e n a ç ã o Gabinete de relações públicas institucionais

e d i t o r plot - Content agency av. Conselheiro Fernando de Sousa, 19, 6º, 1070-072 Lisboa Tel. 213 804 010

e d i t o r

ana Ferreira

d i r e t o r d e a r t e

inês reis

c o l a b o r a ç õ e s Baptista Bastos, Cláudia marina, Helena C. peralta, mafalda Simões monteiro, Nuno Silva, raquel abrantes amaral, rita penedos Duarte, Susana marvão, Susana Torrão (Texto); artur, ricardo meireles (fotografia), Carlos monteiro (ilustração), Cristiano Salgado (ilustração de capa).

p u b l i c i d a d e isabel Costa (918 708 613) maria João Siqueira (918 704 396) Fátima Quaresma (913 038 394) Laurinda Barata (918 708 558) Helena Ferraia (918 697 562) Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011

i m p r e s s ã o LiderGraf - artes Gráficas, Sarua do Galhano, 15 (e N 13), Árvore4480-089 vila do Conde

| revista trimestral |Depósito Legal nº 5673/84 | publicação periódica | registada sob o nº 120133

t i r a g e m 368 000 exemplares

O montepio é alheio ao conteúdo da publicidade externa. a sua exatidão e/ou veracidade é da responsabilidade exclusiva dos anunciantes e empresas publicitárias.

Certificado PEFC

Este produto tem origem em florestas com gestão florestal sustentável e fontes controladas

www.pefc.orgPEFC/13-31-011

Gonçalo Tocharealizador

Não tem uma profssão que o defna, porque é realizador, operador de câmara, argumentista, produtor e locutor do flme É na Terra não é na Lua e tem trabalhado como músico em documentários e no teatro.Gonçalo Tocha licenciou-se em Língua e CulturaPortuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

42pÁg.

José Avillez Chef

É um dos chefs portugueses de maior renome. José Avillez partilha a sua opinião sobre a moda da culinária,a sua dinâmica na televisão e o modo como influencia o grande público.No programa televisivo JÁ ao Lume, Avillez fornece dicas e ensina truques e receitas para o dia-a-dia.Ao longo da carreira já conquistou duas estrelas Michelin.

Ana Naveatriz/encenadora

É a protagonista da série Depois do Adeus, em exibição na RTP. Já interpretou papéis em séries e telenovelas, como Jardins Proibidos e Ilha dos Amores, tendo assegurado a direção de atores, por exemplo, na telenovela Rosa Fogo. É a entrevistada na rubrica “10 perguntas a”.

10pÁg.

90pÁg.

Nesta edição... Participe na próxima edição desta revistaEconomia^ eNeRGiA Qual o caminho para a efciência energética?Acredita que pode e deve ser adotada por empresas e particulares? Será esta uma das estratégias para poupar recursos e melhorar as condições de vida?

Música^ FADo é PAtRimóNio Que impacto terá no estrangeiro? Será que altera a forma como nos veem? O que é saudade?

Tendência^ CoRReR está NA moDA Diga-nos por que corre, onde e com que companhia. Partilhe dicas e conselhos essenciais.

Lazer^ GeLADos ARtesANAisCom a chegada do verão, nada melhor que um gelado para fazer frente ao calor. Conte-nos quais são as suas gelatarias favoritas, porquê e quais os sabores que não dispensa. Morango, chocolate ou algo mais divertido?

Aceite o desafio, participe na próxima edição e envie- -nos as suas sugestões e comentários para revista [email protected] ou, se preferir, para Revista Mon-tepio, Gabinete de Relações Públicas institucionais, Rua de santa Justa, 109, 5º, 1100-484 Lisboa

Page 5: Revista Montepio

moNtePio PRIMAVeRA 2013INFOGRAFIA GettyimAGes

No início do mês de março, a jornalista e escritora Clara Ferreira Alves, referindo-se ao quadro de mudança que marca Portugal e a Europa, mas também a estrutura social e a política tradicional das democracias capitalistas e liberais, alertava para a “qualquer coisa que acabou” e a “qualquer coisa que está a começar”.

Comentando as movimentações de reação ao fim do mundo que conhecemos – norteado pelo pensamento que enformou, até há bem pouco tempo, a democracia ocidental – e nos protegeu “da pobreza, da guerra, da miséria, da separação dos nossos filhos e de termos que abandonar os lugares onde nascemos e vivemos por outros lu-gares que não conhecemos”, chamava a atenção para o nascimento de algo novo, que se afasta da estrutura tradicional.

Escutámos de Clara F. Alves a afirmação da cidadania e da “nova sociedade” que dela resultará, inspirada nas pessoas, na sua vida, felicidade e serenidade, e observámos o modo como este cenário de presente-futuro se cruza com a visão que inspira o Montepio – a maior associação portuguesa e o maior exemplo nacional de par-tilha solidária de objetivos e esforços.

Por isso, reconhecemos no passar dos dias uma sociedade civil determinada a reagir ao estrangulamento e à asfixia provocados pela espiral de crise. Orgulhosos da natureza cidadã que nos carac-

Sociedade…e uma nova solidariedade

teriza, desejamos que esse ‘caminho’ de renova-ção e reinvenção, que também percorremos, dê lugar a uma nova solidariedade e à afirmação e fortalecimento de organizações que, como o Montepio, se orgulham de colocar a economia ao serviço das pessoas.

Se as dificuldades do presente resultarem no estreitamento dos laços, no estímulo à coo-peração cívica, no reforço da cidadania e da entreajuda e na contínua democratização da sociedade civil, gerando novos sentidos sociais, então… teremos razões para acreditar numa no-va solidariedade.

editorial

uma sociedade civil determinada a reagir ao estrangulamento e à asfixia provocados pela espiral da crise.

Reconhecemos

Page 6: Revista Montepio

montepio primavera 2013

A década passada foi a mais quente de sempre. Os anos zero (2000 a 2010) foram os mais quentes do planeta Terra desde 1880,quando começaram a ser registadas as temperaturas

E quanto poderá o planeta aquecer?

A subida das águas dos mares vai colocar em risco as cidades costeiras?

1. Se a emissão de gases com efeito estufa se mantiver como até agora até ao final do século

Se as emissões dos gases com efeito estufa continua-rem, as calotes de gelo do Ártico terão tendência a derreter e o risco será maior.

Uma estimativa da IPCC para o período entre 2090-2100, aponta para uma subida do nível das águas do mar entre os 180mm e os 590mm

Mesmo que todos os seres humanos parassem, neste exato momento, de emitir gases com efeito estufa, o mundo continuaria a aquecer em média 0,6 graus por ano, durante vários anos

2. Se as emissõesde gases baixarem consideravelmente

10,3°C8,7°C

Temperaturamínima do ar(média anual)

20111970

Países que emitem mais CO2

Países que emitem mais gases com efeito estufaTop 10 (em milhões de toneladas)

CHINA

RÚSSIA

ALEMANHA

CANADÁ

EUA

ARÁBIASAUDITA

JAPÃO

INDONÉSIABRASIL

MÉXICO

ÍNDIA

COREIA DO SUL

Históricode emissõesTop 10 mais

poluentesem milhões

de toneladas

2º6 931

2º5 420

10º696

8º555

9º808

6º810

8º1 005

10º464

3º2 856

3º1 967

6º1 870

9º490

4º2 046

1º7 2161º

9 697

4º1 829 5º

2 028

7º1 387

5º1 243

7º609

EUA339 174

CHI105 915

RUS94 679

ALE81 194

RU68 763

UCR25 431

CAN25 716

IND28 824

FRA32 667

JAP45 629

28,8%

Total mundial histórico de emissões de CO2

Emissãode gases

201053 059toneladas

199554 631toneladas

Portugal

Fontes: Guardian, Agência Espacial Norte Americana, UNESCO, Pordata.

1%Lagos, riose fontessubterrâneas

2%Gelo

97,5%Oceanose mares

Emissões totais per capitaEm toneladas

+4°C +1,8°C

Qatar36,9

EUA17,3

Austrália17

Rússia11,6 Alemanha

9,3ReinoUnido

7,8 China5,4

Médiamundial

4,5 Índia1,4

MédiaÁfrica

0,9Etiópia

0,1

Água naTerra

Como as mudanças do clima afetam a precipitação? Uma atmosfera mais quente terá necessaria-mente mais humidade

Globalmente, o vapor na água aumenta 7% por cada grau centígrado de aquecimento

As regiões secas subtropicais vão tornar-se ainda mais secas

Na Europa Central e do Sul podemosesperar invernos mais molhados e verões cada vez mais secos

aO LONGO DOS úLTimOS aNOS, aS QueSTõeS amBieNTaiS Têm viNDO a TOrNar-Se Tema OBriGaTóriO De DeBaTe. OS paíSeS, aS COmuNiDaDeS, aS empreSaS e CaDa um De NóS prOCuramOS aSSumir COmpOrTameNTOS “maiS verDeS” e maiS amiGOS DO amBieNTe

Glocal

Page 7: Revista Montepio

montepio primavera 2013

A década passada foi a mais quente de sempre. Os anos zero (2000 a 2010) foram os mais quentes do planeta Terra desde 1880,quando começaram a ser registadas as temperaturas

E quanto poderá o planeta aquecer?

A subida das águas dos mares vai colocar em risco as cidades costeiras?

1. Se a emissão de gases com efeito estufa se mantiver como até agora até ao final do século

Se as emissões dos gases com efeito estufa continua-rem, as calotes de gelo do Ártico terão tendência a derreter e o risco será maior.

Uma estimativa da IPCC para o período entre 2090-2100, aponta para uma subida do nível das águas do mar entre os 180mm e os 590mm

Mesmo que todos os seres humanos parassem, neste exato momento, de emitir gases com efeito estufa, o mundo continuaria a aquecer em média 0,6 graus por ano, durante vários anos

2. Se as emissõesde gases baixarem consideravelmente

10,3°C8,7°C

Temperaturamínima do ar(média anual)

20111970

Países que emitem mais CO2

Países que emitem mais gases com efeito estufaTop 10 (em milhões de toneladas)

CHINA

RÚSSIA

ALEMANHA

CANADÁ

EUA

ARÁBIASAUDITA

JAPÃO

INDONÉSIABRASIL

MÉXICO

ÍNDIA

COREIA DO SUL

Históricode emissõesTop 10 mais

poluentesem milhões

de toneladas

2º6 931

2º5 420

10º696

8º555

9º808

6º810

8º1 005

10º464

3º2 856

3º1 967

6º1 870

9º490

4º2 046

1º7 2161º

9 697

4º1 829 5º

2 028

7º1 387

5º1 243

7º609

EUA339 174

CHI105 915

RUS94 679

ALE81 194

RU68 763

UCR25 431

CAN25 716

IND28 824

FRA32 667

JAP45 629

28,8%

Total mundial histórico de emissões de CO2

Emissãode gases

201053 059toneladas

199554 631toneladas

Portugal

Fontes: Guardian, Agência Espacial Norte Americana, UNESCO, Pordata.

1%Lagos, riose fontessubterrâneas

2%Gelo

97,5%Oceanose mares

Emissões totais per capitaEm toneladas

+4°C +1,8°C

Qatar36,9

EUA17,3

Austrália17

Rússia11,6 Alemanha

9,3ReinoUnido

7,8 China5,4

Médiamundial

4,5 Índia1,4

MédiaÁfrica

0,9Etiópia

0,1

Água naTerra

Como as mudanças do clima afetam a precipitação? Uma atmosfera mais quente terá necessaria-mente mais humidade

Globalmente, o vapor na água aumenta 7% por cada grau centígrado de aquecimento

As regiões secas subtropicais vão tornar-se ainda mais secas

Na Europa Central e do Sul podemosesperar invernos mais molhados e verões cada vez mais secos

Page 8: Revista Montepio
Page 9: Revista Montepio

TeNDêNCIAS NA eCoNomiA, soCieDADe,

ViDA e CuLtuRA

O MEU MUNDO

página 20

eNtReVistAluís barbosa, presidente da Cruz Vermelha, partilha a sua visão da sociedade portuguesa, as suas difculdades e o papel da solidariedade

página 14

RePoRtAGemA ajuda humanitária de instituições como a AMi, Médicos do Mundo ou Cruz Vermelha é essencial para fazer frente a desafos por todo o mundo

página 26

tuRismoVá para fora cá dentro. O mercado do turismo em Portugal acompanha as tendências internacionais e conquista um espaço único

página 10

teNDêNCiA As estrelas do grande ecrã já não são só os atores. Os chefs ocuparam um lugar de destaque e elevaram a cozinha a um novo patamar

Page 10: Revista Montepio

11

10

montepio primavera 2013

o meu mundoRePoRtAGem

OS NOvOS chefs De COziNHa SãO perSONaLiDaDeS CONHeCiDaS, COm prOGramaS De TeLeviSãO

De SuCeSSO, LivrOS puBLiCaDOS e SeSSõeS De auTóGraFOS aGeNDaDaS.

um CeNÁriO Que TrOuxe maiS glamour à prOFiSSãO

por cláudia marina

TeNDêNCIA

A culináriA está nA modA

Jamie oliver Inglêsjamieoliver.com

José Avillez Portuguêsjoseavillez.pt

Nigella LawsonInglesa

nigella.com

Gordon Ramsay escocês

gordonramsay.com

Page 11: Revista Montepio

11

montepio primavera 2013

Portugal tem o terceiro melhor restaurante europeu

NomeAção

Os pesados chefs de cozinha, barri-gudos e perdidos entre tachos e pa-nelas, são uma imagem do passa-do. Nos dias que correm, os novos chefs entram-nos casa dentro através dos programas de televisão que pro-liferam pelos canais ou através das páginas dos seus muitos livros publi-cados. São em tudo semelhantes a verdadeiras estrelas pop.

Em todo o mundo, os denomina-dos TV food shows e as suas TV food personalities têm vindo a ganhar uma importância crescente. A Ad Age (agência de publicidade e marketing) demonstrou isso mesmo dando conta deste boom de cozinhas na televisão nos EUA e da rápida exportação des-te conceito além-fronteiras.

Dois dos programas de maior su-cesso – Hell's Kitchen e Masterchef – ambos transmitidos na Fox, um dos gigantes da televisão americana, con-quistam não só uma larga fatia da au-diência como alcançam os primeiros lugares quando se trata da atividade nas redes sociais, nomeadamente no Twitter e no Facebook.

Mas outros canais há que tam-bém se renderam às maravilhas da culinária televisionada: o Tra-vel Channel, por exemplo, entra em campo com programas como Man v. Food Nation e Anthony Bourdain: No Reservations. Feitas as contas, os últimos anos têm tornado visível uma enorme proliferação de progra-mas associados à gastronomia, pare-cendo que estão sempre no ar, seja em que canal for.

Mas os programas não sobrevive-riam sem as denominadas food per-sonalities e, neste caso, quem melhor do que o famoso e polémico Gordon Ramsay para abrir as hostilidades. O chef de cozinha escocês já tem vários restaurantes espalhados pelo Reino Unido e Estados Uni-dos da América, mas a fama de-finitiva chegou com os programas televisivos, entre eles alguns reality shows nos quais se notabilizou pela aspereza com que trata os vários participantes. E talvez tenham sido estes seus modos menos ortodoxos que lhe valeram a conquista de um público muito fiel.

De resto, Inglaterra parece ser profícua na criação de chefs famosos, já que também Jamie Oliver ocu-pa, há muito, um lugar de destaque

neste mundo da culinária televisio-nada. Conhecido pelo uso de alimen-tos naturais e orgânicos e pelo seu trabalho recente em prol da mudan-ça de hábitos alimentares nas esco-las britânicas, Oliver é uma verda-deira estrela, com livros publicados e seguidores fiéis um pouco por to-do o mundo.

Mas nem só de homens se faz o mundo dos chefs famosos. Aliás, começamos a ver algumas mulhe-res a ganharem destaque. É o caso da norte-americana Martha Stewart ou da britânica Nigella Lawson que, num registo mais leve e claramen-te virado para um público femini-no, nos trazem receitas que, à par-tida, teriam tudo para serem confe-cionadas apenas pelos grandes chefs cozinheiros.

Mas como poderá explicar-se esta predominância masculina no setor? Aqui as opiniões divergem, embo-ra muitos acreditem que o facto de, tradicionalmente, a sociedade des-tinar “a cozinha às mulheres” possa ter influenciado a generalidade dos homens que arriscam aí a sua sorte, com mais prazer, maior dedicação e, quem sabe, também maior sucesso.

Portugal não foge à regraEm Portugal, o panorama não é di-ferente. O boom de programas de culinária é um dado adquirido, seja através da transmissão de formatos adaptados à produção nacional, seja pela transformação dos chefs de co-zinha em autênticas estrelas.

E se o nosso imaginário está po-voado de nomes ligados à cozinha, com os velhinhos programas de culi-

nária protagonizados pelo Chefe Silva e também com as não menos famosas Maria de Lurdes Modesto e Filipa Vacondeus, hoje em dia tu-do mudou.

Atualmente, os programas e os chefs de cozinha adaptaram-se à evolução dos gostos portugueses e nomes como Mafalda Pinto Leite, José Avillez e Justa Nobre ganha-ram um lugar de destaque no pano-rama nacional.

A primeira masterchef portuguesa

A participação no programa televisivo Mas-

terchef mudou por com-pleto a vida de Lígia Santos. esta engenhei-ra civil, de Famalicão, foi a primeira vencedo-ra da edição portugue-sa do concurso, onde participou depois de o marido a ter inscrito no verão de 2011.

Lígia Santos teve que ultrapassar várias etapas, a começar pelos quase sete mil candi-datos inscritos na fase inicial do programa. Vencer a fnal deu-lhe direito a um prémio de 25 mil euros e à publicação de um livro de receitas. Mas a nova masterchef nacional também mudou a sua

vida. Abandonou a engenharia civil e hoje dedica-se a ensinar as pessoas a cozinharem no seu Club masterCOOK, um espaço que fundou. No futuro, a masterchef portuguesa quer abrir um espaço de turismo rural onde terá um res-taurante com um menu assinado por si.

O restaurante Largo do Paço (in-

tegrado na Casa da Calçada Relais & Chateaux) as-segurou a terceira posição na lista dos 50 melhores restau-rantes europeus. A eleição foi feita pelo público através de votação na Internet. O restau-rante, cujo chef responsável é Vítor Matos, tem à sua frente o Noma (na Dinamarca) e o el Celler de Can Roca (em espanha).

PRémio

Page 12: Revista Montepio

1

12

montepio primavera 2013

o meu mundoRePoRtAGem tendência

Os livros e a comida

Segundo avançou a OMG Consul-ting, 2010 e 2011 representaram um aumento expressivo da oferta nesta área, quer pelos canais generalistas quer pela oferta de canais cabo.

Em média estarão no ar mais de uma dezena de programas des-te âmbito e que vão desde os origi-nais Dias com Mafalda ao famoso Chakall&Pulga, ao Masterchef portu-guês ou ao programa da RTP Na Ro-ça com os Tachos. De resto, José Bento dos Santos conseguiu criar com esta oferta um verdadeiro fenómeno de popularidade televisiva e livresca.

Importados e transmitidos em Por-tugal, A Cozinha da Nigella, os vários programas do Jamie Oliver e a edição australiana de Masterchef são sucesso garantido, bem como Gordon Ramsay e os seus food-shows, com Hell's Kitchen a assumir lugar de destaque.

Quase sempre associados aos pro-gramas de televisão estão os livros de autor que, em muitos casos, levam os chefs a verdadeiras digressões nacio-nais e internacionais para sessões de apresentação e autógrafos sempre muito concorridas. Jamie Oliver é disso um bom exemplo, já que os seus livros de culinária asseguram lugares cimeiros no top dos livros mais vendi-dos em Portugal e no mundo.

Nos últimos cinco anos houve um boom e a cozinha está definitivamente

na moda, pelo que há que saber apro-veitá-la. Chegou de mansinho ao cine-ma, veio para ficar na TV e no mer-cado livreiro e ajudará agora a poten-ciar uma forte procura por conteúdos similares na plataforma digital.

Avillez, Oliver e Bourdain marcam presenças no ecrã

teLeVisão

A comida tem especial

relevância na maioria das obras de Jorge Amado. entre os seus vários livros, Gabriela, Cravo e Canela merece especial destaque quando o autor nos diz: "Na pobre cozinha, Gabriela fabricava riqueza: acarajés de cobre, abarás de prata, o mistério de ouro do vatapá."Na verdade,

os refogados são feitos e apreciados por vários dos seus personagens. Tieta, quando regressa a Santana do Agreste, prepara uma moqueca deliciosa, Gabriela é conhecida pelos seus bolinhos e uma moqueca, de fazer crescer água na boca, é servida na última refeição de Quincas Berro d'Água.

Jorge Amado e a comida nos seus livros

LiteRAtuRA

sABeR mAis

CONheçA MAIS LIVROS De GRANDeS CHEFS NA VeRSÃO

IPAD

jj ReFeiçÕes em 15 miNutos JAmie oLiVeRwww.jamieoliver.comDiz o autor que este livro dará aos seus leitores as ferramentas de que necessitam para criarem refeições rápidas.

editora Porto editoraPVP 24,50 €

jj CoziNHA CoNFiDeNCiAL ANtHoNy BouRDAiNwww.anthonybourdain.netUm relato do que é a vida nos “recantos escuros do submundo da restauração”.

editora Livros d’hojePVP 16,50 €

Page 13: Revista Montepio

13

montepio primavera 2013

A cozinha está na moda. Como vê esta tendência?Parece-me que a cozinha tem vindo a ganhar relevância porque o estar à mesa é, cada vez mais, uma forma de prazer e de partilha (de estar com os outros). Já não é só uma necessidade. O facto de a cozinha ganhar relevância faz com que as pessoas tenham mais informação e isso é muito bom: a exigência e a expetativa são maiores e isso eleva a qualidade da oferta gastronómica. Quanto melhor for a oferta gastronómica, maior será o número de visitantes que atrairemos.

Acredita que pode ser uma forma de "educar" os espectadores sob um ponto de vista culinário?Sim, sem dúvida. Pelo feedback que tenho tido as pessoas querem mesmo aprender, dão imensa atenção às dicas e aos truques e não os esquecem.

De que forma lida com o aumento do reconhecimento?O reconhecimento é uma forma de motivação. No entanto, não vivo para o reconhecimento. O que me move é a vontade de me superar todos os dias, para dar cada vez mais prazer a quem se senta à nossa mesa.

Claro que o reconhecimento tem impacto e traz pessoas aos restaurantes. No entanto, o que as faz voltar e o que as fdeliza é a qualidade da experiência que lhes oferecemos.

esta moda tem conduzido a um boom na profissão? Tem dado visibilidade à profssão. No entanto, não sei se pode falar--se em boom porque é uma carreira que exige muita paixão, empenho e sacrifícios. Trabalhamos 16 horas por dia, seis dias por semana, e a família e os amigos acabam por fcar em segundo plano.

Acredita que esta é uma moda passageira, fruto de uma sociedade cansada de problemas, ou será que veio para ficar? Parece-me mais que é fruto de uma sociedade que trabalha intensamente e precisa de encontrar algum equilíbrio, descontração e prazer. O estar à mesa oferece tudo isso.

os concursos de culinária ajudam a descobrir novos talentos?O objetivo da televisão é sempre entreter. Por isso, os concursos de culinária são programas de entretenimento que podem dar visibilidade a novos talentos.

José Avillez, chef responsável pelo restaurante Belcanto

P&R

o que são estReLAs miCHeLiN?São para os cozinheiros o equivalente aos óscares, já que se assumem como uma referência de excelentes restaurantes Como NAsCeRAm?O Guia Michelin foi publicado pela primeira vez em 1900, por André Michelin, um industrial francês cofundador da Compagnie Générale des Établissements Michelin.quAL o oBJetiVo?Promover o turismo para o crescente mercado automobilístico.oNDe existe o GuiA?está presente na maioria dos países europeus e em vários outros países em todo o mundo. O Guia é publicado em duas cores, sendo que cada uma tem uma aplicação diferenciada. O vermelho é o guia de referência de hotéis e restaurantes.Como são seLeCioNADos os esPAços?A seleção é feita com base em visitas por

parte dos inspetores Michelin, que, sem revelarem a sua missão, apreciam os mais diversos espaços.A AtRiBuição De estReLAs:

muito boa mesa na sua categoria;

mesa excelente, merece um desvio;

cozinha de nível excecional, esta mesa justifca a viagem.

em PoRtuGAL...Onze restaurantes ostentam estrelas Michelin

Restaurante Ocean, chefado por hans Neuner, em Lagoa.Vila Joya, chefado por Dieter Koschina, em Albufeira.

Belcanto, em Lisboa.Feitoria, em Lisboa.Fortaleza do Guincho, em Cascais.Willie's, em Vilamoura.São Gabriel, em Almancil.henrique Leis, em Almancil.Il Gallo d'Oro, no Funchal.Casa da Calçada, em Amarante.The Yeatman, em Vila Nova de Gaia.

A história das estrelas Michelin CuLtuRA

jj um Chef em suA CAsA José AViLLezwww.joseavillez.pteste livro reúne um conjunto de técnicas, gestos e conselhos partilhados pelos grandes mestres, desvendados através de receitas simples.

editora A esfera dos LivrosPVP 14,00 €

Page 14: Revista Montepio

1o meu mundoRePoRtAGem

14

moNtePio PRIMAVeRA 2013

CONFLiTOS pOLíTiCOS, pOBreza exTrema e FaLTa De ÁGua CONDiCiONam a SOBrevivêNCia De miLHõeS De peSSOaS em TODO O muNDO, TOrNaNDO maiS vaLiOSa a aJuDa De miLHareS De miSSiONÁriOS Que Levam CONHeCimeNTOS TéCNiCOS Na Área Da SaúDe aOS TerriTóriOS ONDe eSTa eSCaSSeia

por ana santos gomes

AJUDA hUMANITÁRIA

missão: AjudAr o próximo

Um em cada cinco habitantes da Síria está a precisar de ajuda humanitária. São pelo menos quatro milhões de habitantes que as Nações Unidas contabilizam entre as marcas de um conflito político com reflexos muito vincados na população. Sem eletricidade e combustível, os hospitais não conseguem dar resposta aos muitos pedidos de ajuda que se vão acumulando. E a Síria é só um dos casos mais recentes de países que necessitam de apoio internacional para fazer face a um clima de fome, insegurança e doença.

Page 15: Revista Montepio

15

montepio primavera 2013

Atualmente as organizações não-go-vernamentais (ONG) fornecem cer-ca de 20% da ajuda externa na área da saúde aos países em vias de desenvolvi-mento. A maior parte destas organiza-ções são muito pequenas e geralmente estão relacionadas com a igreja. Nos paí-ses mais pobres, os hospitais e clínicas dinamizados por missionários têm-se revelado mais eficientes que as unida-des estatais.

Pobreza e saúde são indicadores que andam a par e passo e que condenam milhões de pessoas, por todo o mundo, a um destino ingrato. A pobreza condi-ciona a precariedade das condições de saúde e a ausência destas acentua a po-breza, num ciclo vicioso. Uma realidade que se agrava quando 1,2 mil milhões de pessoas vivem abaixo do limiar da po-breza absoluta.

A evolução da medicina no último século deixa o mundo orgulhoso, mas as proezas que a investigação científica alcançou estão longe de chegar nas mes-mas proporções a todos os destinatários. Os países subdesenvolvidos têm 93% das doenças do mundo e consomem me-nos de 11% da despesa global em saúde. Há mesmo doenças que há muito foram erradicadas de países desenvolvidos e continuam a registar ocorrências em comunidades com fortes carências eco-nómicas. No mundo subdesenvolvido há 52 milhões de pessoas que não têm acesso a água potável e serviços básicos.

Cólera: uma luta inglóriaPaquistão, Haiti e Congo concentram atualmente os esforços humanitários da Oxfam, uma das ONG mais dinâ-micas em missões humanitárias in-ternacionais na área da saúde. “São os nossos pontos mais críticos e em todos eles envolvemos equipas com mais de 100 mil pessoas”, revela fonte da Oxfam. “Atuamos sobretudo na dis-tribuição de água e em programas de apoio sanitário, que incluem a distri-buição de kits de higiene e a constru-ção de latrinas”, relata a mesma fonte.

Antes de se instalar no terreno, a Oxfam preocupa-se em obter o acordo da comunidade local. Depois, o trabalho é feito em total articulação com grupos locais, chegando mesmo a ser contra-tados alguns colaboradores na comuni-dade. Entre as principais preocupações, quase todas relacionadas com a falta de acesso a água potável, surge um nome aterrador: cólera.

� Ami em Ação

O índice crescente

de mortalidade infantil na

Guiné-Bissau é preocupante:

138 crianças em cada 1 000 morrem antes

de completarem um ano

Page 16: Revista Montepio

16

1

montepio primavera 2013

o meu mundoRePoRtAGemajuda humanitária

De ViDAs poderiam ser salvas com os milhões poupados

se 90% DAs CRiANçAs dos 72 países mais pobres do mundo fossem vacinadas, seriam poupados 151 mil milhões de dólares em 10 anos para tratamentos médicos

90%

6,4 milhões

Foi precisamente a ocorrência de uma epidemia de cólera que levou a AMI a reforçar a sua presença na Gui-né-Bissau em outubro do ano passado. “Até dezembro, a AMI manteve duas médicas a trabalhar no Centro de Tra-tamento de Cólera instalado no Hospital Simão Mendes, em Bissau, onde a ins-tituição atuou no rastreio e tratamento de casos identificados em cooperação com o Ministério da Saúde e os Médi-cos sem Fronteiras”, revela Fernando Nobre, presidente e fundador da AMI. Além deste apoio médico, a AMI pro-cedeu à aquisição de dois kits de me-dicamentos e materiais de tratamento da cólera.

A cólera e outras doenças diarreicas têm uma prevalência elevada na Guiné- -Bissau, diretamente relacionada com a falta de qualidade da água naquele terri-tório. A malária, a diarreia, as infeções respiratórias e a má nutrição estão en-tre as principais causas de morte nas crianças. São realidades como esta que levam a AMI a manter um projeto de desenvolvimento na Região Sanitária de Bolama que já dura há mais de uma década. “O projeto atual, ‘Saúde em Re-de’, com um ciclo de 2012 a 2014, bene-

Na Cruz Vermelha, grande parte dos pedidos são

encaminhados para o hospital que a instituição gere, em Lisboa. Se antes os pedidos envolviam so-bretudo a população sé-nior e chegavam por via da ação social, hoje “são muitas as pessoas que estão sem emprego, sem

seguros de saúde e com necessidades urgentes e imediatas que precisam de soluções não compatí-veis com os atuais prazos de acessibilidade ao setor público ou com os preços elevadíssimos do setor privado”, confrma fonte da CVP. Foi também para dar uma resposta mais efciente a estes casos

que a Cruz Vermelha criou o “Projeto Portugal mais Feliz”, através do qual apoia famílias em situações de grande vulnerabilidade, que a crise acentuou. “O apoio é transversal, desde seniores e depen-dentes a crianças vítimas de violência e famílias de vários tipos.”

Seniores mais vulneráveisPoRtuGAL

um trabalho direto junto dos técnicos de saúde nos postos comunitários, on-de a nossa equipa supervisiona e apoia a prestação dos cuidados de saúde às grá-vidas, mães e crianças”, explica Carla Paiva. Em África, as atenções da Médi-cos do Mundo voltam-se para a preven-ção e combate ao VIH/SIDA.

As equipas de apoio humanitário são geralmente constituídas por habitantes locais, coordenados por técnicos envia-dos pela MdM. No terreno, encontram

ficia diretamente 13 enfermeiros locais e indiretamente os 10 301 habitantes da região”, explica Fernando Nobre. Perio-dicamente, a equipa é reforçada com es-tagiários de medicina ou enfermagem.

Crise sacrifica missõesReduzir e repensar as missões em de-senvolvimento é uma das consequên-cias nefastas da conjuntura de crise que o país atravessa e que levou já a Médicos do Mundo (MdM) a encer-rar um dos projetos que mantinha na Guiné-Bissau. Carla Paiva, diretora--geral da instituição, confirma que a redução significativa dos valores re-cebidos através de sócios e doadores está a condicionar a permanência dos voluntários nos vários países. A Médicos do Mundo mantém missões em Moçambique, São Tomé e Príncipe e ainda em Timor-Leste. Aqui, a preo-cupação centra-se na saúde materno--infantil e na nutrição das comunida-des de Los Palos e Viqueque. “Através de duas unidades móveis é feito um traba-lho de sensibilização sobre os temas de saúde materna e infantil, mas também

1jA AMI reforçou a sua presença na Guiné-Bissau após um surto de cólera 2jA equipa da AMI é reforçada periodicamente 3 4 À Cruz Vermelha chegam pedidos de todas as camadas da população 5 Médicos do Mundo no terreno

1 2

3

4

Page 17: Revista Montepio

PUB

17

Burundi, um caso extremo

O Burun-di foi conside-

rado, em 2013, o terceiro país mais pobre do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) de 400 dólares por habitante. Mais de 80% da po-pulação vive na pobreza. A SIDA é um dos prin-cipais flagelos do país, a que se

juntam a guerra civil, a corrup-ção e a falta de atividade econó-mica. De acordo com o Progra-ma Mundial de Alimentos, 56,8% das crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição crónica. O Burundi depende prin-cipalmente de ajuda externa.

não só um contexto de extrema pobreza e doença, como falta de estradas, água e energia. Além de tudo isto, falta outro bem essencial: a informação. “É funda-mental a capacidade dos técnicos expa-triados serem flexíveis e culturalmente sensíveis, pois esse é um fator crucial para o bom desempenho dos projetos. Não podemos impor a nossa visão ou forma de trabalho, temos, sim, de tra-balhar em parceria com os parceiros locais, nomeadamente o Ministério da Saúde, centros de saúde, líderes comu-nitários e agentes de saúde”, conclui.

Pobreza e doençaÁfrica concentra, sem grandes surpre-sas, algumas das comunidades mais ca-renciadas de apoio externo na área da Saúde. Pelo menos 60% das mortes re-gistadas em solo africano são devidas a doenças como a tuberculose, paludismo, SIDA e ainda algumas doenças infantis. Segundo o World Bank, a ajuda dos paí-ses desenvolvidos cobre 20% das despe-sas totais de saúde da África subsaharia-na (exceto África do Sul). Mas, em pelo menos cinco países – Burundi, Chade, Guiné-Bissau, Moçambique e Tanzânia – a ajuda dos doadores suporta mais de 50% das despesas com a saúde.

Nos países da OCDE gastam-se, em média, 239 dólares anuais por pes-soa só em medicamentos. Em África, o gasto médio anual por pessoa é de 6 dólares. Em países mais ricos, como o Reino Unido ou os EUA, há morfina suficiente para tratar todas as pessoas que sentem dor. Uma cobertura a 100% que contrasta com os parcos 8% regis-tados nos países pobres. Na sequên-cia desta realidade, e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, mais de 5 milhões de pessoas com cancro morrem anualmente em condições de dor intensa, sem acesso a morfina.

Não é difícil perceber que melho-rias da saúde nos países pobres aju-dariam a aumentar a produtividade desses mesmos países e, logo, o cres-cimento económico, reduzindo a po-breza. Está tudo interligado. E os es-tudos mais recentes comprovam que os custos de prevenção e erradicação de doenças são, geralmente, inferiores ao seu impacto económico. O custo da malária em África, por exemplo, está calculado em 3 mil milhões de dóla-res anuais, quando o custo da doença a curto prazo é já de 12 mil milhões de dólares anuais. Números que dão que pensar.

em DestAque

5

Page 18: Revista Montepio
Page 19: Revista Montepio
Page 20: Revista Montepio

20

moNtePio PRIMAVeRA 2013

o meu mundoeNtReVistA

1

Page 21: Revista Montepio

21

montepio primavera 2013

TODOS OS DiaS CHeGam à Cruz vermeLHa NOvOS CaSOS DramÁTiCOS

De FamíLiaS Que viram a CriSe DeSeQuiLiBrar aS SuaS viDaS.

NOS iDOSOS a SiTuaçãO é aGravaDa peLa DOeNça e peLa SOLiDãO,

CONFirma LuíS BarBOSa. O preSiDeNTe Da Cruz vermeLHa pOrTuGueSa

GaraNTe Que HÁ muiTaS CaTÁSTrOFeS eSCONDiDaS maS Que a SOLiDarieDaDe

DO pOvO pOrTuGuêS Tem SiDO iNaBaLÁveL

por ana santos gomesfotografia artur

LUÍS BARBOSA

"temos que ApostAr nos

serViÇos"

catástrofes escondidas, que abrangem um

número limitado de pessoas e não

têm eco na comunicação

social”

“Há muitas

Page 22: Revista Montepio

22

montepio primavera 2013

1o meu mundoeNtReVistAluís barbosa

Os tempos de crise obrigam a socie-dade a dar mais valor a instituições como a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP)?Sim, indiscutivelmente. Mas a Cruz Vermelha tem vivido, nestes 150 anos, crises tão graves que esta é só mais uma e não tem comparação com a II Guerra Mundial ou com o conflito que se vive atualmente na Síria. Isso não invalida que nos sintamos muito sensibilizados com os dramas que as pessoas atravessam com esta crise. Não é fácil ouvir a descrição de vidas dramáticas, situações difíceis de su-perar. Diz o povo que “uma desgraça nunca vem só”, e quando as pessoas têm uma doença aparecem proble-mas com os filhos, problemas com a casa, dificuldades financeiras e, no conjunto, torna-se muito. É eviden-te que o papel da comunicação so-cial é muito importante, pois dá a conhecer grandes acontecimentos que tocam mais facilmente as pes-soas, mas há muitas catástrofes es-condidas, que abrangem um núme-ro limitado de pessoas e não têm eco na comunicação social. O povo por-tuguês tem-se mostrado muito so-lidário, mesmo nesta fase de crise. E as empresas também, embora mui-tas atravessem dificuldades.Esta conjuntura acaba por trazer novos públicos à Cruz Vermelha Por-tuguesa? Com novas necessidades e desafios?Sim. Um dos dramas que estamos a presenciar é a passagem de pessoas que tinham a sua vida financeira-mente equilibrada para uma situação dramática, em muito pouco tempo. E este cenário vai agravar-se em 2013. Arrepia-me o problema das rendas de casa, especialmente quando isso ocorre em simultâneo com a incer-teza que as pessoas vivem em rela-ção ao impacto dos novos agravamen-tos fiscais. E a casa é o último reduto. Se isso falta, falta quase tudo o res-to. A conjuntura que se prevê para este ano de 2013 e também para 2014 pode ter consequências muito dramá-ticas. Dá medo.

Page 23: Revista Montepio

montepio primavera 2013

23

Com 1 300 funcio-nários em todo o país, a que se

juntam os 600 profs-sionais do hospital, a Cruz Vermelha mobiliza ainda uma legião de voluntários que asse-guram as mais variadas tarefas do quotidiano. São 7 000 voluntários registados em perma-nência, mas o número sobe aos 12 000 em épocas mais difíceis. “O importante é apro-veitar as pessoas de forma a que elas se sintam bem ao ajudar.

Pode ser uma ajuda para fazer um arranjo numa casa, para cuidar de um idoso no seu domicílio, pode até ser uma ajuda pontual ou por vezes assumir um ritmo de vida normal, como se o voluntário fosse um funcionário da casa”, explica Luís Barbosa, ele próprio a presidir a instituição em regime de volunta-riado. “Conheci uma pessoa que me dizia que a época mais feliz da sua vida tinha sido

aquela em que esteve no aeroporto a receber os retornados. Porque as pessoas são felizes por se sentirem úteis. esse sentimento não se perdeu. É humano”, afrma com convicção. e é o próprio presidente quem segue essa flo-sofa de vida. “Também sou um voluntário feliz. É claro que todos os dias me levanto com alguma preocupação na cabeça. Mas sinto-me feliz quando faço uma síntese do trabalho que já realizámos.”

A felicidade de ser voluntárioAJuDAR

O número de pedidos de ajuda tem vindo a aumentar?Sim. Chegam de todo o país, mas os grandes meios urbanos são os mais afetados. No meio rural há um sen-tido de comunidade mais acentuado, as pessoas conhecem-se e ajudam-se entre si. Além disso, nestes meios há economias de subsistência que aju-dam a não passar tão mal. Há sempre quem tenha umas galinhas, uns coe-lhos, umas couves ou umas batatas. Nos meios urbanos isso, geralmente, não existe. A vida nos meios urbanos é mais dispendiosa, seja em trans-portes, seja no consumo de energia. Em alguns casos temos estado a pe-dir a fornecedores que emitam as faturas mensalmente porque se as pessoas acumulam faturas de dois ou três meses nunca mais as conse-guem pagar. A gestão dos recursos escassos das famílias sofreu um dese-quilíbrio e muitas têm dificuldade em adaptar-se às novas circunstâncias. E tudo isto está a agravar-se.Quem vos procura pede sobretudo ajuda financeira?Chega-nos um pouco de tudo. Temos recolhido géneros alimentares para distribuir mas têm aparecido muitos problemas financeiros, face aos quais nos pedem para comparticipar me-dicamentos, rendas de casa, gás, ele-tricidade… E geralmente preferimos pagar as contas diretamente ao for-

necedor, não entregamos o dinheiro às pessoas.Novos públicos chegam também aos hospitais privados com mais fre-quência. Que leitura faz deste fenó-meno?Esse fenómeno resulta da conjugação de um conjunto de variáveis. Ao Hos-pital da Cruz Vermelha, por exem-plo, estão a chegar cada vez mais pes-soas porque passámos a disponibili-zar consultas de especialidade a 25 euros e isso é atrativo. As taxas mo-deradoras nos hospitais públicos já estão perto destes valores e, por um pouco mais, consegue-se uma con-sulta com mais rapidez e talvez com um atendimento mais personalizado. Mas também se criou em Portugal uma situação complicada porque as pessoas tinham grande confiança no Estado, essa confiança foi-lhes inspi-rada e neste momento apercebem-se que esse apoio tem limites e por ve-zes nem responde. Nos anos noventa os países nórdicos viveram um pro-blema semelhante e tiveram que re-duzir substancialmente as despesas do Estado. Acredito que, mais do que reduzir o papel do Estado, há que ra-cionalizá-lo. Em certas áreas, como a Saúde ou a Reforma, as pessoas deverão ter maior responsabilidade. O Estado poderá ajudar, mas as pessoas também têm que gerir. Há que entrar num regime de cogestão.

o problema das rendas de casa, especialmente

quando isso ocorre em simultâneo com a

incerteza que as pessoas vivem relativamente

ao impacto dos novos agravamentos fiscais”

"Arrepia-me

Page 24: Revista Montepio

24

montepio primavera 2013

1o meu mundoeNtReVistAluís barbosa

E nós precisamos de saber o custo de cada ato que envolve o Estado. Só as-sim poderemos gerir bem a nossa vida. O Hospital da Cruz Vermelha tam-bém regista uma procura crescente?Quando eu cheguei à CVP já o hos-pital tinha uma carteira de clientes que lhe permitia viver de forma equi-librada e tornar-se um centro de ex-celência em várias áreas. De repen-te, o Estado cortou a cooperação que mantinha connosco (enviava-nos os seus doentes) e tivemos uma quebra da procura, que está agora a ser reto-mada depois de um ano e meio de ne-gociações. Tivemos que baixar os pre-ços, mas chegámos a acordo. E assim decidimos alargar estes preços mais baixos a outros parceiros, que nos pos-sam trazer os seus associados, como acontece agora também com o Mon-tepio. Disponibilizamos consultas de especialidade a 25 euros e estamos já a pensar em alargar esta parceria a outros atos médicos, nomeadamente às cirurgias, disponibilizando o paga-mento de cirurgias a prestações me-diante garantia bancária. Que papel tiveram os seguros de saú-de na democratização do acesso aos hospitais privados?Tiveram um papel importante tendo em conta que mais de 2 milhões de portugueses estão cobertos por um seguro de saúde. Mas também fize-mos acordos com companhias de se-guros para atender sinistrados de aci-dentes de trabalho. Eu costumo cha-mar esta campanha de “Custo Justo”, pois se realizarmos um número su-ficiente de atos médicos poderemos praticar preços mais reduzidos. Fora do âmbito dos seguros de saúde estão os idosos. A sociedade poderia fazer mais pela população sénior?Nesta altura não é confortável ser sénior em Portugal. Se há uns que ainda vão a tempo de preparar a sua

velhice, há outros que já lá estão, que criaram hábitos e todos nós – os cida-dãos e o Estado – vamos ter que fa-zer mais pelos idosos. Neste tempo de crise, os seniores constituem um dos grupos mais vulneráveis.Que prioridades tem a Cruz Verme-lha para este ano?Assegurar o equilíbrio financeiro da instituição é, naturalmente, uma prio-ridade. Mas o grande desafio da Cruz Vermelha neste momento é adaptar--se a uma sociedade nova, que ainda não está bem definida. Temos que estar atentos para perceber as novas tendências e manter o nível de apoio que queremos ter. O século xx foi o século do self-service, o século xxi será o século do service. Temos que apostar nos serviços. Não se pode aguentar este nível de desemprego e há que criar atividades. Não basta concluir que há pessoas a mais e mandá-las embora. E o pró-prio Estado tem que ter iniciativas. O setor privado, só por si, não con-segue resolver todos os problemas.

O Estado tem que ter maior interven-ção. Não sei quanto tempo vai demo-rar esta travessia, mas quanto mais de-pressa fizermos a caminhada, melhor.Na vertente hospitalar, já começámos a exportar cirurgias enviando médi-cos para Angola. Pensamos exportar futuramente para outros países. Por cá, estamos a tentar tornar as cirurgias mais acessíveis, sobretudo em áreas que envolvem risco de vi-da, como a cirurgia cardiotorácica. Não se pode estar oito meses em lista de espera depois de se ter espe-rado tanto por uma consulta. Há que permitir ao doente resolver o proble-ma rapidamente, pagando depois a cirurgia em prestações de acordo com o seu rendimento.Mas há que pensar no futuro e em como se vai articular esta re-lação entre os cidadãos, o Esta-do e os prestadores de serviços. Há que encontrar um novo equilíbrio nesta relação, na qual o cidadão tam-bém possa ter uma intervenção posi-tiva na gestão.

"mais do que reduzir o papel do estado, há que racionalizá-lo. em certas áreas, como a saúde ou a Reforma, as pessoas deverão ter maior responsabilidade"

Page 25: Revista Montepio
Page 26: Revista Montepio

26

jn CookiNG AND NAtuRe - emotional hotel: Mergulhe num conceito diferente, no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros

Page 27: Revista Montepio

27

montepio primavera 2013

1o meu mundo

temA De FuNDo

“Aliado às novas tecnologias e à facilidade na mobilidade, o setor das viagens e do turismo é o grande motor de um novo modelo socioeconómico mundial. Em 1950 foram 25 milhões os turistas que viajaram pelo mundo, e em 2012 esse número atingiu a meta dos mil milhões.” Foi desta forma que o secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (UNWTO), Taleb Rifai, se referiu à importância do setor num discurso realizado no início deste ano, em Madrid.

é CaDa vez maiS SiGNiFiCaTiva a GeraçãO De viaJaNTeS Que prOCura DeSTiNOS e LOCaiS DiFereNCiaDOS, COm preOCupaçõeS amBieNTaiS e LiGaçõeS à NaTureza. O TuriSmO De CiDaDe aiNDa é O maiS FOrTe NO muNDO, maS OS peQueNOS NiCHOS COmeçam a Criar O Seu merCaDO. pOrTuGaL Tem BONS exempLOS DO Que De meLHOr Se pODe Fazer NeSTa Área

TeNDêNCIA

turismointeligente

por helena c. peralta

Page 28: Revista Montepio

28

1

montepio primavera 2013

o meu mundotemA De FuNDoturismo

Receitas Mundiais do Turismo por Região, em 2011Valores em milhares de milhões de euros

Retrato do Turismo Mundial

Retrato do Turismo em Portugal2012

Ásia ePacífico

210

Europa333 Américas

142,2

33,5

23,4

MédioOriente

África

Fonte: Organização Mundial do Turismo

Receita

8, 1mil milhõesde euros

Camas

298 743

7,3 milhõesHóspedesestrangeiros

5,7 milhõesHóspedes

portugueses

Hóspedesem Portugal

13milhões

HOTEL

Empreendimentoshoteleiros

2 046

Fonte: Turismo de Portugal e INEFonte: Organização Mundial do Turismo

Receita mundial do turismo (2011)

743 mil milhões de euros

PIBmundial

Turismo

9%

Turistas nomundo (2012)

1 000milhões

1,6 mil milhõesEstimativa do númerode chegadas, em termos mundiais, em 2020

Turistas naEuropa (2012)

535milhões

milhões. A Ásia albergou, em 2012, cerca de 233 milhões de visitantes, seguida das Américas com 162 mi-lhões e da África com 52 milhões. Para terminar, a região menos visi-tada foi o Médio Oriente, com 21 mi-lhões de turistas, em quebra acen-tuada desde 2000, quando recebeu 55 milhões. A Ásia e a África conti-nuam a ser das regiões com maiores crescimentos percentuais, sobretu-do devido à procura pela zona subsa-riana e à recuperação da zona norte, principalmente a Tunísia.

Mas, apesar de toda a importância económica que gira em torno do tu-rismo, Taleb Rifai ressalva como as-peto fundamental para o investimen-to a contribuição positiva que trará na sustentabilidade ambiental. Trata-se de fazer uma importante viragem pa-ra a chamada Economia Verde atra-vés da busca contínua da eficiência energética, minimizando a degrada-ção ambiental e consciencializando os viajantes para esta problemática.

eco-turismo em crescimentoO turismo com preocupações am-bientais é um nicho que assiste a um acentuado crescimento no mundo. Surgiram até, nas últimas duas dé-cadas, grupos turísticos inteiramen-te dedicados ao turismo sustentável e à proximidade com a natureza. Fa-lamos de cadeias internacionais co-mo a Six Senses, fundada por Sonu e Eva Shidvasani, que detém atual-mente marcas de resorts de luxo co-mo a Six Senses, Evason e Soneva,

Para este especialista das Nações Unidas, investir no turismo signifi-ca aumentar o emprego e reduzir a pobreza no mundo. Esta atividade constitui oportunidades de negócio para médias e pequenas empresas, bem como para a renovação e con-servação urbana e rural de muitas regiões. O setor das viagens e tu-rismo tem, pois, uma importância ímpar nas várias economias mun-diais e, em alguns casos, chega a ser o único meio de subsistência de certas localidades que não têm ou-tras formas de gerar receitas. “Uma das tendências mais marcantes dos últimos anos é a crescente importân-cia do turismo nas economias emer-gentes”, refere Taleb Rifai.

Regiões em crescimento A Europa, apesar de estar em desace-leração, continua a ser o maior emis-sor de turistas e o maior mercado re-cetor de visitantes. Das receitas totais geradas pelo turismo, o Velho Conti-nente arrecadou, em 2011, cerca de 333 mil milhões de euros e recebeu cerca de 509 milhões de visitantes. Já em 2012, foi visitado por cerca de 535 milhões de pessoas, o que repre-sentou um crescimento de 3%, sen-do a Europa Central e de Leste as re-giões nas quais a procura mais cres-ceu. Relevante é o facto de, apesar de ser um destino maduro e sem os crescimentos que zonas como a Ásia e o Pacífico registam, a Europa cres-ceu de 385 milhões de entradas tu-rísticas em 2000 para os atuais 535

Page 29: Revista Montepio

29

montepio primavera 2013

Receitas Mundiais do Turismo por Região, em 2011Valores em milhares de milhões de euros

Retrato do Turismo Mundial

Retrato do Turismo em Portugal2012

Ásia ePacífico

210

Europa333 Américas

142,2

33,5

23,4

MédioOriente

África

Fonte: Organização Mundial do Turismo

Receita

8, 1mil milhõesde euros

Camas

298 743

7,3 milhõesHóspedesestrangeiros

5,7 milhõesHóspedes

portugueses

Hóspedesem Portugal

13milhões

HOTEL

Empreendimentoshoteleiros

2 046

Fonte: Turismo de Portugal e INEFonte: Organização Mundial do Turismo

Receita mundial do turismo (2011)

743 mil milhões de euros

PIBmundial

Turismo

9%

Turistas nomundo (2012)

1 000milhões

1,6 mil milhõesEstimativa do númerode chegadas, em termos mundiais, em 2020

Turistas naEuropa (2012)

535milhões

Eco-sustentávelteNDêNCiAs

AReiAs Do seixoO projeto Areias do Seixo Charm Hotel and Residence nasceu do sonho que os seus proprietários tinham em criar “um lugar único, com uma forte consciência ambiental e em total respeito e consonância com a natureza, onde pudéssemos receber pessoas dos vários cantos do mundo num ambiente mágico e ao mesmo tempo familiar”. O projeto, inaugurado em 2010, surgiu em Póvoa de Penafrme, perto de Santa Cruz, e tem sido alvo de variados prémios, nacionais e internacionais. Gonçalo Alves conta, de forma poética, que o hotel nasceu de olhos postos no mar, empoleirado nas dunas e embalado pela música do pinhal. O espaço rege-se por princípios ecológicos e tira o máximo partido dos recursos naturais. Os turistas que o procuram quase sempre têm na bagagem preocupações ambientais e querem fugir da rotina diária, comungando com a natureza. O empreendimento dispõe de restaurante, bar e ainda de um SPA equipado com sauna seca, banho turco, salas de tratamento e piscina. As massagens seguem a linha da tradição indiana ayurvédica.

Rio Do PRADo No mesmo segmento encontramos o Rio do Prado, junto à lagoa de Óbidos, num local de rara beleza. este espaço surgiu com o objetivo de aproximar a sua oferta às coisas da terra e à sustentabilidade ambiental. "O turismo sustentável é o turismo do futuro, pela sua visão na gestão dos recursos de forma integrada e sistémica. Uma das características do Rio do Prado é a sua capacidade de articular eixos fundamentais da nossa economia e sociedade. Temas como a energia, a água, os resíduos, a mobilidade, a educação ambiental, uma agricultura de baixo carbono ou o design verde são eixos que, de uma forma integral, formam o nosso ecossistema”, explica Marta Garcia, proprietária. Inaugurado em julho do ano passado, o novo hotel ecológico aposta em cerca de 50 medidas de sustentabilidade ambiental.

jj Rio Do PRADo Neste hotel, onde a simplicidade é rainha, as pessoas são hóspedes e não clientes. O Rio do Prado assume-se como um regresso às origens na "arte" de receber. O empreendimento é constituído por dez módulos, com 17 quartos, todos enterrados no solo, a pensar no isolamento térmico

Page 30: Revista Montepio

30

1

montepio primavera 2013

o meu mundotemA De FuNDoturismo

em locais como as Maldivas, Vietna-me, Tailândia e Jordânia. Trata-se de empreendimentos que, segundo o seu fundador, representam um no-vo conceito, a que chama de “luxo in-teligente”. “Quando as pessoas estão em ambientes magníficos, como nas Maldivas, o que mais precisam? Pre-cisam de espaço, de privacidade, de serviços personalizados e de estar em comunhão com a natureza. Não que-rem viajar horas e horas de avião pa-ra terem algo parecido com o que têm em casa. Por isso temos um jardim de cultivo de vegetais orgânicos e as nossas saladas são apanhadas antes de serem servidas ao jantar. E tudo sabe a fresco, a acabado de apanhar”, refere o fundador do grupo.

Portugal segue tendências Em Portugal, o turismo também é uma das principais fontes de receitas do país, com um peso de 8,1 mil mi-lhões de euros, o que equivale a qua-se 5% do PIB, que atingiu, em 2011, os 171 mil milhões de euros e detém uma fatia de cerca de 10% do empre-go nacional. Encontra-se na 26ª po-sição do ranking mundial, mas está claramente a perder competitividade. O eixo de crescimento do turismo nacional centrou-se muito no sol e

praia, segmento em que a concorrên-cia tem apertado significativamente.

“As principais zonas turísticas nacionais, o Algarve e a Madeira, têm perdido competitividade nos últimos 10 anos. Já não registamos os cresci-mentos do passado”, revela Elidéri-co Viegas, presidente da AHETA – Associação dos Hotéis e Empreendi-mentos Turísticos do Algarve. E são vários os motivos para esta situação, muitos deles por falta de uma concer-tação de políticas destinadas a incre-mentar este setor, defende Elidérico

jn memmo BALeeiRA

O objetivo é que os clientes levem na memória sons,

aromas, cheiros e imagens de um

local único

jn CookiNG AND NAtuRe Rui e Rita Anas-tácio criaram este hotel emocional, de quatro estrelas, em pleno Parque Natural da Serra de Aire e Candeei-ros. Cada quarto representa uma emoção diferente, passando pela aventura ou saudade

Viegas. Fiscalidade elevada, promo-ção turística insuficiente ou desajus-tada, aumento da oferta e estagnação da procura, liberalização dos trans-portes aéreos e aparecimento das low cost, adesão ao euro e consequente valorização da moeda nacional, bem como desvalorização da libra esterli-na e do dólar, são algumas das razões que apontam para esta fraca compe-titividade.

Miguel Júdice, presidente da AHP – Associação dos Hotéis de Portugal, defende que o grande desafio que os

Page 31: Revista Montepio

31

montepio primavera 2013

ReCeitAs tuRístiCAs em PoRtuGAL, em 2012, segundo o Turismo de Portugal e o INe

é quANto RePReseNtA o tuRismo no PIB mundial, segundo a Organização Mundial do Turismo

9%

8,1 milhões

Experiências/NaturezateNDêNCiAs

memmo BALeeiRA O turismo que aposta nas experiências locais, nas memórias que se guardam para sempre dos locais que se visitam, também está a dar os primeiros passos em território nacional. O Memmo Baleeira, em Sagres, inaugurado em 2007, foi o primeiro hotel da marca Memmo hotels, fundada pela família Machaz, antigos donos da cadeia Tivoli, mas já outros estão na forja. “A marca assenta no nome Memmo, de memórias, e no símbolo do camaleão. Só quem viaja tem histórias para contar. Pretende-se assim que, ao saírem dos hotéis Memmo, os clientes levem na memória os sons, os aromas, os cheiros e as imagens de um local único. O camaleão reflete a vontade de adaptar o hotel ao local onde está inserido, absorvendo o que ele tem de melhor para nos dar”, explica Rodrigo Machaz, diretor-geral do empreendimento. O conceito por detrás da Memmo Unforgetable é inovador: não se pretende criar uma cadeia com o mesmo estilo e a mesma decoração, mas adaptar cada hotel ao ambiente em que se insere. Cada espaço terá a sua identidade própria, com um selo de qualidade comum. esta é, aliás, uma tendência internacional cada vez mais em voga. Para o futuro está planeada a abertura do Memmo Alfama, que inaugura já este ano e terá 42 quartos com uma vista única num dos bairros mais autênticos de Lisboa. Mais do que um hotel, vai ter uma vivência de casa para promover o modo de vida bairrista. “Contamos começar, ainda este ano, as obras do Memmo Príncipe Real. Com uma localização igualmente privilegiada, este hotel mostrará a Lisboa de charme de uma forma contemporânea e original, nunca esquecendo a hospitalidade que carateriza os hotéis Memmo”, remata Rodrigo Machaz.

CookiNG AND NAtuRe O Cooking & Nature, emotional hotel é um daqueles hotéis onde facilmente nos esquecemos de que não estamos em casa. Ambiente acolhedor, bar self--service, poucos funcionários e um ambiente rodeado de oliveiras. este projeto surgiu pela mão de um casal, Rui e Rita Anastácio, que se encantou, em 1993, pelo vale de Alvados, em Porto de Mós, em pleno Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros. Primeiro, o casal abriu um espaço de turismo rural, a Casa dos Matos, com 8 quartos, mas depressa pensou em evoluir para um outro tipo de conceito. Foi assim que a ideia do hotel emocional, de quatro estrelas, foi crescendo vagarosamente até abrir ao público, em 2012.Rui Anastácio, engenheiro florestal de formação, fez questão de acompanhar as obras e alterar o projeto, para que as oliveiras se mantivessem “quase dentro” da estrutura. A magnífca vista da serra e a comunhão com a natureza são uma vantagem que não poderia ser descurada. As paredes das zonas comuns, quase todas de vidro, facilitam esta integração, bem como as amplas janelas dos quartos, para que a serra os possa abraçar. Cada quarto é um mundo à parte, com uma decoração única, representando uma emoção diferente. São 12 emoções que vão da luxúria ao futuro, passando pelo exotismo, pela aventura e pela saudade. Todos com o mesmo preço, para que o viajante possa escolher o mundo mágico onde gostaria de pernoitar sem olhar ao custo. Uma das novidades deste hotel é o restaurante, feito a pensar na experiência única de cozinhar o próprio jantar, como se em casa estivesse. Através de reserva, o cliente pode optar por um dos quatro menus à disposição e o staff do hotel prepara os ingredientes e dá apoio ao grupo que queira cozinhar. Funciona como um workshop de culinária e o resultado fnal está sempre ao gosto de quem o cozinhou. “As tendências internacionais apontam para que as pessoas procurem locais onde se sintam em casa. Aqui não poderiam estar mais próximas disso”, refere Rui Anastácio.

operadores turísticos têm pela frente é conseguirem captar os seus clientes num cenário cada vez mais complica-do, uma vez que o mercado doméstico – o português e o espanhol – está em queda. Refere que há muito trabalho a ser feito e que os grupos privados estão a dar o seu melhor, unindo-se e realizando ações conjuntas quan-do necessário. A promoção da marca Portugal, de forma institucional, tem que continuar a ser feita pelo Esta-do, pois há limites que os grupos pri-vados não conseguem ultrapassar.

Page 32: Revista Montepio

32

1

montepio primavera 2013

o meu mundotemA De FuNDoturismo

Uma fusão de sabores RestAuRANte zAmBeze

O restaurante Zambeze abriu ao público em junho do ano passado e representa o primeiro projeto do grupo Visabeira na capital portuguesa. Situado num local com uma vista fabulosa para o rio Tejo, a caminho do Castelo de S. Jorge, dispõe de uma esplanada--miradouro que muito atrai estrangeiros e nacionais. Tem a grande vantagem de estar no antigo edifício do mercado do Chão do Loureiro, transformado recentemente em parque de estacionamento, pois os seus clientes têm direito a duas horas de estacionamento. José Arimateia, Administrador da Visabeira Turismo, refere que este projeto é uma importante parceria entre o Instituto Nacional de Turismo

(Moçambique), as Linhas Aéreas de Moçambique e os Aeroportos de Moçambique, e pretende dar a conhecer a gastronomia dos dois países. Tendo uma decoração de fusão – elementos da cerâmica portuguesa associados a artesanato moçambicano –, a ementa também consagra as duas culturas. Raquel Gomes, responsável pelo espaço, destaca como pratos mais procurados, do lado da cozinha beirã, o arroz de cabrito com castanhas e o bacalhau com crosta de broa. Do lado moçambicano, o caril de caranguejo e o caril de camarão fazem as delícias dos visitantes gourmet. “A equipa, dentro e fora da cozinha, é constituída por funcionários dos dois países”, refere Raquel.

jf José ARimAteiA

O Administrador da Visabeira

Turismo sublinha que o crescimento

do grupo passa por Moçambique

Além do trabalho que há para fazer, refere que “o turismo precisa de estra-tégia. Há pequenos nichos que preci-sam de engordar, como a gastrono-mia, o surf e outros desportos náuti-cos, as atividades na natureza, a saúde, o turismo religioso” diz Miguel Júdice.

Porém, convém não esquecer que há pequenas ações independentes que valem mais do que muitos mi-lhões de investimento em promo-ção internacional. Que surfista no mundo não conhece Peniche de-pois da passagem do Rip Curl Pro Surf pelas praias desta vila? E a Nazaré não está no mapa depois das ondas gigantes conquistadas por Garrett Macnamara, surfista mun-dialmente conhecido?

As vantagens do turismo nacional Para Rodrigo Machaz, diretor-geral do Memmo Baleeira, em Sagres, o turis-mo nacional deveria apostar na coope-ração entre regiões para a promoção do destino Portugal como um todo. “Podemos não ter as melhores praias, a melhor gastronomia, o melhor clima ou os mais belos monumen-tos do mundo, mas temos uma oferta equilibrada com praias lindas, uma gastronomia que surpreende, uma história riquíssima e um bom clima todo o ano. Por isso, a grande vanta-gem de Portugal como destino é a sua autenticidade, algo que não se copia

e que nos diferencia de outros desti-nos”, refere. Com ele concorda Gonçalo Alves, diretor-geral do empreendimen-to Areias do Seixo, em Santa Cruz. “O turismo nacional deveria apostar mais na autenticidade do país.” Para Rita Soares, administradora da Herda-de da Malhadinha Nova, em Beja, “ca-da vez mais o turista do futuro procu-ra espaços com identidade do local que visita, procura locais onde sinta as tra-dições da região, privilegiando o mais possível o sense of place”. É sobretudo o turista mais exigente e com mais ca-pacidade financeira que procura esse enriquecimento cultural e não apenas mais um hotel igual em qualquer parte do mundo, refere a propósito.

Aposta diferenciada em pequenos nichosPara quem não tem a dimensão dos grandes grupos hoteleiros, a solu-ção passa por atuar em pequenos ni-chos, com qualidade e diferenciação. “Há toda uma geração que procura a di-ferença e é junto desta que os indepen-dentes têm o seu mercado. Mas para sobreviverem têm que ser os melhores e conseguir entregar o que prometem”, refere José Theotónio, administrador financeiro do grupo Pestana.

Em Portugal começam agora a sur-gir diversos projetos ligados ao turismo ecológico e sustentado, à natureza e às experiências locais, bem como ao tu-rismo enogastronómico.

Page 33: Revista Montepio

33

montepio primavera 2013

cer nada melhor do que alargar ho-rizontes e apostar em novos merca-dos, menos maduros e com maior potencial. Foi precisamente esse o caminho seguido por grupos turísti-cos, como o Pestana, Vila Galé e Vi-sabeira, cada um com a sua estraté-gia diferenciadora. O grupo Pestana é um dos maiores grupos hoteleiros nacionais, dispondo de uma rede de 47 unidades com a sua marca, além de gerir as 37 Pousadas de Portugal, resultado da privatização de 49% da Enatur, e ainda oito empreendimen-tos em regime de time-sharing. Isto resulta numa oferta próxima dos 10 mil quartos, distribuídos pelo terri-tório nacional e pelos 12 países onde instalou unidades nos últimos anos. “Queremos jogar o jogo dos grandes, estar na championship da hotelaria e, para isso, necessitamos de ganhar es-cala. Começámos a crescer pelo mer-cado que conhecíamos melhor, o por-tuguês: primeiro a Madeira, o Algar-ve e depois Lisboa. A partir de 1998 internacionalizámos para Moçambi-que e Brasil, onde tínhamos mais afi-nidades culturais e vantagens face à concorrência”, explica José Theotó-nio, administrador financeiro do gru-po. Ganha a confiança necessária e a terminar a década dos anos 2000,

EnogastronomiateNDêNCiAs

HeRDADe DA mALHADiNHA NoVAA herdade da Malhadinha Nova surgiu em 1998, por iniciativa de uma família que ambicionava produzir um vinho de excelência. Para isso, comprou uma herdade abandonada em Beja, Alentejo, sem vinha e com duas ruínas. “Plantámos a vinha em 2001, construímos a adega e as ruínas foram recuperadas e transformadas no Country house & SPA”, explica Rita Soares, administradora. A oferta turística, iniciada em 2008, assenta na venda de experiências ligadas ao vinho e à gastronomia, mas também associa outros temas da região, como a natureza e a aventura, as tradições, a escultura e a pintura.

CAsA DA íNsuA O hotel Casa da Ínsua alia o peso da história e do património edifcado aos prazeres do vinho e da gastronomia local. Trata-se de um hotel de charme, a funcionar num palácio do século xviii, situado em Penalva do Castelo, Viseu. O edifício foi restaurado entre 2004 e 2009 pela Visabeira Turismo e foi transformado em hotel, com 38 quartos. Antes de iniciar as obras de requalifcação o edifício foi ainda utilizado nas flmagens do flme de José Fonseca e Costa, Viúva Rica, Solteira não Fica. em 2010, o espaço foi premiado pelo Turismo de Portugal como bom projeto de requalifcação privada. Andreia Rodrigues, responsável pelo hotel, afrma que este é um local que vive de experiências. “experiências não apenas ligadas ao vinho que produzimos, mas a toda a agricultura.” Os visitantes podem ver como se faz e fazer também vinho, queijos e compotas. Na época das vindimas podem participar no trabalho. As famílias podem acompanhar um pastor e ajudar a tratar das ovelhas. “Ainda que o mercado nacional seja muito importante para nós, a procura internacional tem crescido e surge com mais força a partir da primavera”.

jj CAsA DA íNsuA Fica em Penalva do Castelo, localidade situada a cerca de 25 Km de Viseu. Funciona num palácio do século xviii, recuperado pela Visabeira Turismo e em operação desde julho de 2009

Três grupos hoteleiros, três estratégias de crescimento. Seja qual for o caso, não restam dúvidas de que portugal é pequeno de mais para quem tem a ambição de prosperar.

Hotéis made in Portugal

A oferta no mercado nacional tem aumentado a bom ritmo nos últimos anos e, como tal, a concorrência é cada vez maior. Como a procura não acom-panha o mesmo nível, para crescer na-da melhor do que alargar horizontes e apostar em novos mercados, me-nos maduros e com maior potencial. Foi precisamente esse o caminho se-guido por grupos turísticos, como o Pestana, Vila Galé e Visabeira Turis-mo, cada um com a sua estratégia di-ferenciadora.

Pestana aposta nas grandes cidades A oferta no mercado nacional tem aumentado a bom ritmo nos últimos anos e, como tal, a concorrência é cada vez maior. Como a procura não acompanha o mesmo nível, para cres-

Page 34: Revista Montepio

34

1

montepio primavera 2013

o meu mundotemA De FuNDoturismo

o grupo acelera na internacionaliza-ção, que se desenrola em dois eixos principais: América do Norte e do Sul e Europa. “Queremos estar presentes nas principais cidades da América e da Europa e estamos atentos a novas oportunidades”, refere o administra-dor financeiro do grupo. Para ele, um dos caminhos do crescimento é a ges-tão de unidades que, por algum moti-vo, foram parar ao sistema financeiro e conseguir retirar delas a rentabili-dade que não conseguiam atingir até então. Também a rede Pousadas de Portugal é um vetor de crescimen-to na estratégia do Pestana Hotels & Resorts, criando-se, para isso, uma nova geração deste tipo de unidades, como o que já foi feito com a Pousa-da da Cidadela de Cascais e a Pou-sada do Palácio do Freixo, no Porto. Trata-se de duas unidades moder-nas, de maior dimensão, com mais de 100 quartos e capacidade para atrair eventos. Na forja estão ainda mais três pousadas semelhantes em Lisboa, sendo uma delas numa zona de excelência, o edifício do Terreiro do Paço.

A origem do grupo hoteleiro re-monta a 1972, no Funchal, com a fundação da M&J Pestana - Socie-dade de Turismo da Madeira, pela mão do empresário Dionísio Pesta-na. Hoje a sua presença, além de vas-ta no território nacional, chega ao Brasil, Moçambique, África do Sul, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Ar-gentina, Venezuela, Estados Unidos, Colômbia, Marrocos, Reino Unido e Alemanha. São mais de 7 mil os co-laboradores do grupo que, na área do lazer, além da rede hoteleira, tem seis campos de golfe, três empreen-dimentos imobiliários, duas conces-sões de jogo, uma no Casino da Ma-deira e outra no Casino de S. Tomé e Príncipe, uma participação numa companhia de aviação charter e um operador turístico.

Visabeira cresce com força em moçambiqueO grupo económico de Viseu surgiu em 1980 com foco na área das teleco-municações. Com o sucesso dos negó-cios depressa diversificou a sua ativi-dade para outras áreas, entrando no mundo do turismo.

Com forte ligação a Moçambi-que, onde está presente há mais de 20 anos, este tem sido o grande eixo de crescimento na área turísti-ca. Atualmente, a Visabeira Turismo divide-se em quatros áreas: hotela-ria e congressos, desporto e lazer (gol-fe, desportos hípicos…), restauração e catering (14 restaurantes) e entrete-nimento (Palácio do Gelo, bowling...). No primeiro segmento explora cin-co hotéis em Portugal (Montebelo Vi-seu, Montebelo Aguieira, Casa da Ín-sua, Hotel Príncipe Perfeito e Palácio dos Melos) e seis hotéis em Moçambi-que, com a marca Girassol (Girassol Gorongosa, Girassol Indy, Girassol Bahia, Girassol Nampula, Girassol Li-chinga e Girassol Songo).

José Arimateia, Administrador da Visabeira Turismo, revela que o cresci-mento passa por Moçambique, estando já em construção o Girassol Tete, com 125 quartos, restaurante, ginásio, cabe-leireiro e spa. O investimento global nes-te projeto rondará os 15 milhões de eu-ros. “O segmento de maior crescimento neste país é o do turismo de negócios, embora a natureza seja também rele-

jj José tHeotóNioAdministradorfnanceiro do grupo Pestana

jj HoteL PestANA PALACehotel de 5 estrelas, situado num palácio do século xix

Page 35: Revista Montepio

35

? o que siGNiFiCA os grupos portugueses estão atentos às tendências e a responder com ofertas únicas e assentes na personalização

jj o ViLA GALé CLuBe De CAmPo (imagem esquerda), Vila Galé Coimbra (imagem superior) e Vila Galé Ampalius (imagem inferior), este último situado no Algarve, são alguns dos hotéis do grupo situados por todo o país

vante”, afirma. No mercado doméstico, o hotel Montebelo Viseu, com 172 quar-tos, destinados a um segmento corpora-te, é a grande âncora desta área. “Esta-mos a compensar a perda do mercado nacional fazendo mais promoção inter-nacional através de feiras, educacionais, famtrips para atrair estrangeiros, de que são exemplos brasileiros, franceses, bel-gas e alemães”, conta.

Vila Galé abre primeiro 5 estrelasO grupo Vila Galé Hotéis, fundado há 23 anos por Jorge Rebelo de Almeida,

tem a sua operação centrada em dois mercados, o português e o brasileiro. São já 23 as unidades hoteleiras que pertencem a este grupo nacional: 17 em Portugal e seis no Brasil, perfazen-do uma oferta total de 12 mil camas. “Queremos continuar a crescer sus-tentadamente, consolidando a marca Vila Galé e colocando-a noutros desti-nos além de Portugal e Brasil. Para is-so estamos a analisar várias hipóteses de investimento, como Moçambique e Angola”, conta Gonçalo Rebelo de Al-meida, diretor de marketing e vendas.

Segundo este responsável, a estra-tégia da cadeia passa por alargar a sua presença à América Latina, Ca-bo Verde e a outros países da Euro-pa. A esta política não será alheio o facto de o mercado nacional ter redu-zido em 2012, situação que tenderá a agravar-se durante este ano. Alguns dos projetos previstos, como a aber-tura de hotéis em Sintra, Tejo e Évo-ra, encontram-se em stand-by. “Neste momento estamos a concluir as obras do nosso primeiro cinco estrelas em Portugal, o Vila Galé Collection Pa-lácio dos Arcos, que abrirá portas ao público em maio de 2013. E estamos também a iniciar a construção de um novo hotel no centro histórico do Rio de Janeiro, que deverá estar concluí-do em 2014”, revela Gonçalo Rebelo de Almeida.

O grupo fechou a operação de 2012, em Portugal, com 53% de taxa de ocupação média e 60 milhões de euros de receitas.

Page 36: Revista Montepio

1

36

1

montepio primavera 2013

o meu mundooBseRVAtóRio

Trabalhar numa área diferente daquela que se estudou, mudar várias vezes de profissão, de modo de vida e de país, acumular ativi-dades e ser reconhecido por isso, viver novas experiências no mundo laboral ou do lazer, ter no software informático um fiel aliado dos hábitos de consumo, partilhar casa com adultos de várias gerações. É a partir destas linhas que pode traçar-se o futuro da geração de por-tugueses que hoje tem entre 20 e 30 anos de idade. Contudo, tratando-se de ciências humanas, há que prever a possibilidade de o cenário ser totalmente diferente.

NOS próximOS 10 a 20 aNOS, COmO viverÁ a GeraçãO De pOrTuGueSeS CuJa iDaDe aNDa HOJe eNTre OS 20 e OS 30? a montePio CONverSOu COm iNveSTiGaDOreS e JOveNS aDuLTOS para CONHeCer aS previSõeS De uNS e aS aSpiraçõeS De OuTrOS

PReVISÃO

o futuro comeÇA hoje

por susana torrão ilustração carlos monteiro

VeJA MAIS NA VeRSÃO IPAD

Page 37: Revista Montepio

37

montepio primavera 2013

1o meu mundo

oBseRVAtóRioAna Caracol, Diogo Silva e Samuel Brás têm 29, 27 e 22 anos. Ela é ar-quiteta/fotógrafa com a ambição de abandonar a arquitetura nos próxi-mos anos. Diogo é engenheiro eletro-técnico e está preparado para partir, para o estrangeiro ou para outro pon-to do país. Samuel está a concluir a licenciatura em Turismo, trabalha na bilheteira de um cinema e não descarta a hipótese de ser assistente de bordo numa companhia aérea du-rante alguns anos, “pela experiência”. Em comum, partilham a descrença no sistema político baseado nos par-tidos e a consciência de que o seu per-curso será feito de mudanças cons-tantes. Sem refletirem muito sobre o assunto, representam alguns dos arquétipos da nova geração.

“Esta é uma geração que valoriza, acima de tudo, as várias experiências. A vida é encarada como uma viagem, deixou de ser um percurso linear pa-ra se tornar mais atomizado. É a ge-ração do life long learning, para a qual a aprendizagem contínua, por vezes como adaptação a novas fases da vi-da ou preparação para uma nova eta-pa, é sempre valorizada e antecipada.” Quem o afirma é Vítor Sérgio Ferrei-ra, investigador do Instituto de Ciên-cias Sociais da Universidade de Lis-boa e assessor da coordenação do Ob-servatório Permanente da Juventude.

A geração de portugueses que tem hoje 20 anos conviveu desde cedo com algum tipo de fragilidade, sem que isso tenha uma carga negativa. Cerca de metade tem os pais divor-

ciados e sabe, de antemão, que as re-gras da empregabilidade mudaram. Encaram com naturalidade aquilo que o sociólogo polaco Zymunt Bau-man designou por “modernidade lí-quida”. Uma noção que remete para a volatilidade da sociedade atual, na qual nada se mantém: o amor é líqui-do, o emprego é líquido, a permanên-cia num mesmo local também.

António Alvarenga, economista e especialista em prospetiva, também antevê para esta geração um futuro de mudanças constantes. “A impre-visibilidade não tem que ser encara-da como algo negativo”, afirma. As mudanças de profissão, de região ou de país, mais do que uma obrigação, têm tendência a passar a ser vistas como uma necessidade. Algo de que começa já a ser exemplo a chama-da “geração slash” (ver caixa). São os jornalistas/dj, advogados/fotógrafos, programadores informáticos/instru-tores de ioga, que andam entre os 25 e os 35 anos e se recusam a realizar apenas uma atividade. “A tendência é para que as pessoas deixem de ser definidas pela sua profissão princi-pal. É o que fazem, como um todo, que passará a defini-las: alguém po-de ser economista, cantor lírico e tra-balhar numa ONG. E todas essas di-mensões interagem”, afirma António Alvarenga.

Vítor Sérgio Ferreira junta a isto a cada vez maior importância dos ele-mentos não formais no curriculum de cada um. Pertencer a uma associa-ção, a um clube de montanhismo ou

fazer teatro são fatores que tendem a ser cada vez mais valorizados, ao contrário do que se passou em gera-ções anteriores, quando estas ocupa-ções podiam ser vistas como “perda de tempo”.

Ana Caracol é um bom exemplo. Natural de Estremoz, vive com o na-morado, em Lisboa, numa casa ar-rendada. “Nesta altura não é possível comprar. Além disso, hoje a vida é in-certa e se quisermos ir para o estran-geiro ou mudar de casa temos mais liberdade”, justifica. Ao trabalho no ateliê de arquitetura junta a paixão pela fotografia. Desde 2007 integra o Núcleo de Arte Fotográfica do Insti-tuto Superior Técnico e dá formação em fotografia junto de outras asso-ciações, levando essa experiência a crianças, idosos ou pessoas com pro-blemas mentais.

Futuro internacionalAna, Diogo e Samuel não colocam de parte a possibilidade de irem para o estrangeiro, ainda que para Ana isso seja mais fruto da necessidade do que de um sonho antigo. “Nunca me tinha passado isso pela cabeça”, admite.

O aumento de mobilidade a nível internacional é, e continuará a ser, muito forte. A limitação de movimen-tos é cada vez menos aceite, a circu-lação de ideias promove a circulação de pessoas e é valorizada a capaci-dade quer de partir, quer de atrair pessoas para o país no qual se vive. Ao mesmo tempo, isto implica uma nova relação com o país de origem e com a ideia que se tem dele. “Temos uma escala humana, nascemos e vive-mos num determinado sítio, com de-terminadas pessoas. Mudar de escala muito frequentemente é algo agressi-vo”, afirma António Alvarenga.

“A geração que tem hoje 20 anos tem uma noção mais realista que as pessoas com 30 ou 40 anos, que têm outro tipo de expetativas”(vítor sérgio Ferreira, investigador)

Geração slash teNDêNCiA

T êm entre 25 e 35 anos e defnem-se

pela barra (slash). São jornalistas/dj, programadores informáticos/escritores, advogados/fotógrafos, professores/instrutores de ioga. A chamada “geração slash” (barra, em inglês), cresceu na sociedade informatizada que tornou a simultaneidade uma prioridade.

Os representantes desta geração reivindicam o direito a mudarem de vida, reinventando-se a qualquer momento. Sentem-se enjaulados numa empresa tradicional e encaram o trabalho como algo que tem que ser feito com paixão – se não todo o trabalho, pelo menos parte dele. Organizados, autónomos e com facilidade para aprenderem rapidamente

novas técnicas e códigos, os chamados “slashers” são os verdadeiros “faz tudo” do momento. A tendência começou com a precariedade e instabilidade laboral da última década, como forma de equilibrar o orçamento mensal com um trabalho suplementar. hoje é uma forma de vida que deverá manter-se e intensifcar-se nos próximos anos.

Page 38: Revista Montepio

38

1

montepio primavera 2013

o meu mundooBseRVAtóRioo futuro começa hoje

Aumento da globalização

Aumento da longevidade

Redução do número de crianças

Maior relevância

das mulheres nos negócios

e na sociedade

Livre escolha

do estilo de vida

Relevância crescente das comunidades

virtuais

Meios de comunicação

em rede

Mobilidade crescente

Crescente migração na

Europa

Aceleração dos ciclos de produto e da criação do

conhecimento tecnológico

Apesar de não existirem dados oficiais sobre o número de portugue-ses que emigraram nos últimos anos, o mais provável é que esta seja uma tendência para continuar e que quem vá não volte. “Atualmente, as pessoas saem de Portugal numa fase da vi-da em que está tudo em construção. O mais natural é que não voltem de-pois de constituírem família e car-reira profissional lá fora”, diz Ví-tor Sérgio Ferreira. Com familiares com maiores possibilidades de viajar e com outros amigos a partilharem a condição de emigrantes, a relação com o país também será diferente. O “querido mês de agosto” deixará de marcar o regresso dos emigrantes, que poderão visitar amigos noutros países ou receber a família e amigos no seu país de acolhimento.

Novas formas de habitarFruto da emigração e do envelheci-mento populacional, daqui a uma ou duas décadas Portugal terá menos habitantes portugueses. E os que fica-rem poderão viver de forma diversa

da que é hoje tradicional, com maior convivência entre gerações.

“Poderá haver um reforço dos la-ços de proximidade por se prolongar por muito tempo a permanência na mesma casa, vamos ter várias gera-ções de adultos a conviverem na mes-ma casa, eventualmente até casais com filhos”, diz Vítor Sérgio Ferrei-ra. Há também o efeito da chamada “geração iô-iô” que ilustra a reversibi-lidade da condição juvenil e que aca-ba por se prolongar pela idade adulta. Os jovens saem de casa mas acabam por voltar, definitiva ou temporaria-mente, na sequência de um divórcio ou da perda de emprego.

António Alvarenga lembra ainda as consequências do envelhecimento populacional: “Por um lado as pessoas viverão mais, o que ajuda a uma maior solidariedade intergeracional, por ou-tro estarão muito mais dependentes e por mais tempo”, lembra o economista. Hoje o conceito de família é mais frag-mentado, com a existência de segun-das famílias, padrastos, madrastas e meios-irmãos, que criam uma espécie de rede. No futuro, é possível que ele-mentos dessa rede venham a partilhar a mesma casa e não apenas por moti-vos económicos.

“Dentro das famílias a hierarquia mudou, há uma relação mais equili-brada e uma maior proximidade en-tre pais e filhos. Deixou de haver uma necessidade de afirmação dramática”,

afirma António Alvarenga. A convi-vência de diferentes gerações de adul-tos na mesma casa não terá – como já não tem hoje – que ser feita entre mem-bros da mesma família. Interesses co-muns podem ser o motivo que leva à partilha do espaço. António Alvaren-ga dá o exemplo do co-housing, conceito criado na Escandinávia, nos anos 60, e que continua popular no Norte da Eu-ropa e nos Estados Unidos.

Apesar do que dizem os investi-gadores, os jovens adultos entrevis-tados pela Montepio torcem o nariz à ideia de partilharem casa. Diogo e Samuel rejeitam liminarmente a ideia, com Ana a fazer coro: “Preferia ir para uma casa mais pequena, fo-ra do centro, do que ter uma maior e central mas partilhada.” A sua ideia de futura casa passa por um espaço rural – contrariando a ideia de uma sociedade futura cada vez mais urba-na –, com um jardim onde possa dar largas ao prazer da jardinagem, hoje confinado aos vasos com legumes e ervas aromáticas da varanda. Diogo e Samuel são pragmáticos: querem ter casas não muito grandes, à medi-da da família que tiverem na altura.

intervenção políticaAo contrário do que é crença geral, os jovens estão hoje mais informados e são mais participativos do que eram, por exemplo, os jovens na altura do 25 de abril. Mas é um tipo de participação diferente. Vítor Sérgio Ferreira aponta o suicídio de Aaron Swartz – o hacker que se suicidou pouco tempo antes de ser julgado pela justiça norte-america-na – como um ato político.

JoVeNs PoRtuGueses (com menos de 30 anos) demoram, em média, um ano e meio a sair do desemprego

< 30 anos

FONTe: OCDe (eDUCATIONS AT A GLANCe 2010)

10 megatendências FutuRo

No início da década, a Siemens encomendou um estudo à TNS Infratest Munich destinado a identifcar as linhas gerais da sociedade do futuro. Horizons 2020 foi apresentado em outubro de 2004 e defniu 10 megatendências.

Page 39: Revista Montepio

Aumento da globalização

Aumento da longevidade

Redução do número de crianças

Maior relevância

das mulheres nos negócios

e na sociedade

Livre escolha

do estilo de vida

Relevância crescente das comunidades

virtuais

Meios de comunicação

em rede

Mobilidade crescente

Crescente migração na

Europa

Aceleração dos ciclos de produto e da criação do

conhecimento tecnológico

A intervenção política é e tende a continuar a ser feita em termos de in-tervenção cívica. Ana Caracol não se identifica com a política partidária e, num primeiro momento, tem dificul-dade em ver a sua intervenção junto de idosos e crianças, através da formação em fotografia, como um ato político. Samuel Brás concorda: “Não me vejo a integrar uma organização de cará-ter político, simplesmente porque não acredito nos políticos.”

Lazer e consumoTambém ao nível do lazer e do consu-mo, o futuro deixa-se adivinhar nas práticas atuais. “Esta é uma geração mais cosmopolita. Ao contrário do que acontecia nos anos 60, quando os sig-nos de distinção social estavam identi-ficados, ir à ópera já não é um sinal de status, o que passou a funcionar como elemento distintivo foi o ecletismo, a variedade de experiências culturais”, diz Vítor Sérgio Ferreira. Daí a impor-tância assumida, por exemplo, pela world music ou a importância dada a produtos “autênticos”.

António Alvarenga destaca a im-portância das redes sociais e das com-pras on-line nos hábitos de consumo. Antes de escolher um restaurante, um livro, um hotel, é possível consul-tar a opinião de quem já por lá passou. Ao mesmo tempo, as ferramentas e o software informático continuarão a ter um papel determinante. No futuro o frigorífico poderá estar equipado com um chip que informa o supermercado dos produtos em falta e, caso inclua informação biológica sobre a pessoa, também sobre os produtos mais ade-quados à sua saúde. “Prevê-se que, em

2080, nos restaurantes as ementas es-tejam estruturadas de acordo com as necessidades das pessoas em termos nutricionais”, diz António Alvarenga, que sublinha que para cada tendência existe uma reação, pelo que estas não serão realidades uniformes.

O economista antevê ainda que, nu-ma sociedade que tenha já satisfeito as suas necessidades de sobrevivência – uma sociedade pós-crise –, passe a existir mais tempo para o lazer, a que não é alheio o aumento dos empregos em part-time. “Há uma desmateriali-zação da noção de bem-estar. Deixa de ser apenas o dinheiro, a casa, o confor-to material. Em virtude disto, cada vez mais se farão pausas na carreira e mu-danças de vida e, defendem alguns, ha-verá também mais espaço para a reli-gião”, afirma António Alvarenga.

Um futuro que poderia agradar a Ana Caracol. Hoje, Ana e o namorado, que além de designer industrial tam-bém é músico numa banda, organizam a vida de forma poupada. Mas há hábi-tos de consumo dos quais não abdicam, como os discos, o ioga (ela), tudo o que tem a ver com a guitarra (ele) e as idas ao cinema. Imagina um futuro longe de Lisboa e da arquitetura, com uma família e tempo para usufruir dela. E, a nível mais geral, um tipo de socie-dade com menor carga horária laboral e mais tempo livre.

? o que siGNiFiCA A imprevisibilidade não deve ser encarada como algo negativo. esta geração defende uma aprendizagem contínua e uma adaptação constante

Page 40: Revista Montepio

40

1

montepio primavera 2013

o meu mundooBseRVAtóRiio o futuro começa hoje

Samuel Brás22 anos

Estudante

Diogo Silva 27 anosEngenheiro eletrotécnico e de computadores

“Deveria existir uma lei que obrigasse todas as firmas a admitirem jovens para trabalharem como estagiários, por áreas, o equivalente aos antigos aprendizes. Ou seja, os professores iriam ajudar os professores, os de medicina os médicos, os de economia os gestores, e assim sucessivamente. Desta forma não se perderia esta geração, que ficaria com mais conhecimentos e pronta para, após a crise, seguir para postos de trabalho reais, ficando bastante mais classificada para o arranque da economia do país (...).”

“Se não se tomarem providências, o futuro da geração daqui a 20/30 anos será angustiante, a falta de bens essenciais estagnará a sua existência. a água, fundamental na vida humana, atingirá valores monetários extremos que nem todos poderão suportar. a luta pela sobrevivência terá perfis cruéis, levando cada pessoa a uma autodefesa e individualismo perturbadores. a sociedade excluirá religião e humanismo e o único Deus aceitável será o poder (dinheiro e reputação)”.

Iolanda Salasassociada montepio

António Maiaassociado montepio

"Daqui a 15 anos sei que vou estar a fazer alguma coisa diferente"

“Daqui a 15 anos sei que vou estar a fazer alguma coisa diferente. Sei que não vou continuar a fazer arquitetura, mas ainda não sei qual será o percurso. Só sei que, mais cedo ou mais tarde, vou mudar. Vou estar a viver fora de Lisboa, de preferência numa casa maior e com mais espaço exterior. Quero poder criar

os meus flhos fora do ambiente citadino, sem as longas horas na escola à espera que os pais vão buscá-los.Não sei se o atual modelo de emprego se vai manter, mas espero que estejamos a evoluir para um sistema no qual as pessoas não tenham a carga de trabalho exagerada que têm hoje

e recuperem o tempo para estarem com a família ou para aquilo que gostam de fazer. A nível das relações interpessoais, gostava que as pessoas pudessem dedicar mais tempo umas às outras, deixando para trás as relações voláteis de hoje.”

Ana Caracol 29 anos

arquiteta/fotógrafa

“Daqui a 10 ou 20 anos espero já ter um espaço meu, uma família. Não sei onde estarei a trabalhar. hoje já não há empregos para a vida, nem a certeza de onde

nos vamos estabelecer. Neste momento estou a tentar ir para fora, mas encaro isso como uma situação

temporária que vai depender muito da forma como as coisas evoluírem por cá. Penso que a maneira mais fácil de progredir na carreira é, e continuará a ser, ir

saltando de sítio em sítio. Ficar sempre na mesma empresa é estagnar. Por quantos mais sítios passar, mais experiências tenho para juntar ao curriculum.

Por tudo isto, não penso em comprar casa. hoje é melhor arrendar. Torna-se mais fácil para mudar de

sítio. Além disso, não vejo vantagem em estar a pagar uma casa durante 50 anos e ser dono dela aos 80!”

“Daqui a 10, 15 anos, gostava de estar a trabalhar na minha área, num projeto no qual possa desenvolver o meu trabalho ao máximo e possa fazer trabalho de campo, sem estar sempre fechado num escritório. Mas as expetativas são poucas. O mercado do emprego funciona, e vai funcionar cada vez mais, por contratos

temporários. e não é a qualidade nem o mérito que levam a que alguém fque numa empresa. Tem mais a ver com o timing e com a oportunidade. Como experiência e também para enriquecer o curriculum, gostava de trabalhar uns anos como assistente de bordo numa companhia aérea. embora não

faça parte dos meus planos imediatos, também não ponho de lado a hipótese de trabalhar lá fora. Gostava de ter uma família grande. Mas isso é cada vez mais complicado. As pessoas estudam até mais tarde e a família acaba por ser adiada. Por isso acho que vai ser mais uma família à medida das possibilidades!”

Page 41: Revista Montepio

página 48

miRANDêsÉ a segunda língua oficial, com cerca de sete mil falantes. Conheça as voltas e sonoridades da língua que vem de Miranda do Douro

página 45

PoesiAPortugal é um país rico em poetas. Siga o roteiro a partir das palavras de Pessoa ou Ruy Belo, entre outros

página 42

iDeNtiDADeUm filme sobre o Corvo, nos Açores, que se tornou um tratado sobre as gentes, os costumes e as vivências. A não perder

CAMINhOS A PeRCORReR eM moBiLiDADe, uRBANismo,

soLiDARieDADe

A MINHA CIDADE

Page 42: Revista Montepio

2

42

moNtePio PRIMAVeRA 2013

a minha cidadeiDeNtiDADe

ILhA DO CORVO

umA pAusA no AtlânticoviSTa De Cima pareCe uma vírGuLa. COmO um SiNaL De pONTuaçãO Que iNDiCa uma pauSa e Separa OS eLemeNTOS CONSTiTuiNTeS De uma FraSe, TamBém eLa Separa OS CONTiNeNTeS – eurOpeu e ameriCaNO –, OBriGaNDO-NOS a parar NO CamiNHO QueNOS Leva De um aO OuTrO.aGraDeCemOS. Sem a vírGuLa – Sem O COrvO –, a viaGem NãO Faria O meSmO SeNTiDO

por rita penedos duartefotografia dídio pestana, gonçalo tocha e paulo castanheira/write view

É pela água e não pelo ar que Gonçalo Tocha e Dídio Pestana chegam à ilha no filme É na Terra não é na Lua. Perde-se a vírgula mas ganha-se um porto de abrigo. A pausa continua lá. Realizador e técnico de som quiseram apropriar-se de tudo o que pode ser o Corvo e dão-nos a visão de uma ilha que sabemos onde fica mas à qual nunca vamos e da qual é difícil ter uma ideia sem nunca lá termos posto o pé.

Só quando a chuva e o vento fustigam furiosamente as janelas de casa e não apetece sair é que podemos come-çar a perceber os corvinos em pleno inverno. Ou quando damos um pas-seio pela terra que nos viu nascer e reconhecemos todas as pessoas e to-dos os lugares. Ou ainda quando su-bimos ao ponto mais alto de uma montanha e dali vemos o mar e es-cutamos o silêncio. Não esquecendo um outro silêncio, mais carregado, no

fundo da cratera de um vulcão ador-mecido, onde não se vê ninguém, só as vacas a pastar. Tudo isto em ape-nas 17,3 quilómetros quadrados de terra, com uma única vila e 450 ha-bitantes.

Conhecer o Corvo é uma expe-riência total. É conhecer os corvinos, com tempo e paciência. Foi o que fi-zeram Gonçalo Tocha e Dídio Pesta-na durante dois anos. É na Terra não é na Lua foi o filme que nasceu des-

Page 43: Revista Montepio

43

moNtePio PRIMAVeRA 2013

� quem é GoNçALo

toCHA Nasceu em Lisboa, em 1979. estreou-

-se com Bye Bye My Blackbird, em 2006, realizado a

convite do festival Mediawave, na hungria.

Balaou (2007) foi a primeira

longa-metragem, premiada no

Indielisboa 2007, Prémio de Melhor

Fotografa para longa-metragem

portuguesa FujiFilm/AIP e

considerado um dos melhores 20 flmes europeus

não estreados nos eUA pela revista

americana Variety.

Porquê o nome É na Terra não é na Lua?Quando chegámos, em 2007, conhecemos o Óscar Nunes, a chegar aos 70 anos, e que tinha sido cabo do mar durante quase 40 anos. (…) O Óscar é a história viva do Corvo, recorda-se de tudo, tem uma memó-ria obsessiva e costu-mava registar todos os acontecimentos da ilha num diário, que acabou por queimar. Queria fazer uma ho-menagem a esse diá-rio desaparecido. No ano em que o ho-mem foi à Lua, escre-veu um conjunto de artigos no Jornal dos Açores, com esse tí-tulo, “É na Terra não é na Lua” (um outro era titulado “Da ilha do Corvo também se vê a Lua”), pretendendo chamar a atenção para as difculdades pelas quais os corvinos pas-savam. O título tem, além disso, relação com o que está a pas-sar-se no Corvo neste momento. está muito mais desenvolvido do que nos anos 70, mas continua a ser desco-nhecido. seis anos depois, o Corvo já não é o mesmo que encontraram?

Não, se fosse lá agora o flme era totalmente diferente. É bonito, mas é assustador. Porque percebemos que a vida é mesmo este conjunto de momentos que vivemos e que não voltam a acontecer.

se estivéssemos a elaborar um guia, o que destacaria?Não posso indicar um sítio em concreto porque o interessante é toda a ilha, todo o ambiente, é a atração de chegar ao Corvo. Não vamos à ilha do Corvo para ver uma coisa em concreto mas para experienciá-la. Não se trata de passar ali duas horas e ir só ao Caldeirão. É uma das coisas mais incríveis para ver, mas só faz sentido com a vila lá em baixo, com os campos e as falésias abruptas. É uma ilha pequena mas não dá para rodeá-la a pé. Toda essa experiência de viver o Corvo é que é grande.

A sua família é de s. miguel. As duas ilhas são muito diferentes entre si?Têm em comum o cheiro da natureza, a humidade da terra com o mar, alguma ve-

getação, mas o sentido de viver o Corvo e S. Miguel não têm na-da a ver. No Corvo não há outra vila ali ao lado e isso muda tudo. São 400 pessoas e todas se conhecem, não há qualquer escape.

que ideia é que os corvinos têm de si?É um povo muito bra-vo, orgulhoso e muito frontal. e têm cons-ciência disso. São re-sistentes, vivem ex-postos às intempéries. Têm um hábito engra-çado de tratar toda a gente por “tu”, não há uma hierarquia, o que é bonito.

os corvinos têm acompanhado o percurso do filme?Sim. estão orgulhosos do caminho que es-tá a fazer e do próprio flme, até para que a ilha possa ser vista em todo o lado. Já lá vol-tei duas vezes desde o fm das gravações e disseram-me que sen-tiram um grande au-mento de turistas. Ficam felizes porque é um turismo diferen-te, de olhos fascinados, com vontade de viver o Corvo. Mas, mais do que isso, agrada-me a ideia de o flme ser aceite como patrimó-nio de quem vive lá.

Gonçalo Tocharealizador, operador de câmara, argumentista, produtor e locutor do filme É na terra não é na lua

P&R

sa aventura e nos conta a história de quase todos os habitantes da mais pe-quena e oriental ilha do arquipélago dos Açores: a ilha do Corvo.

Em plena dorsal meso-atlântica (cordilheira submarina que se esten-de sob o oceano Atlântico e o oceano Ártico), o Corvo emerge – como as restantes oito ilhas irmãs – do ocea-no. Já se tem dito que seria um pe-daço da Atlântida, essa civilização fantástica que um dia desapareceu

Page 44: Revista Montepio

2

44

montepio primavera 2013

a minha cidadeiDeNtiDADeuma pausa no atlântico

e da qual não voltou a ouvir-se falar – exceto em lendas ou sonhos. A ilha mais oriental do arquipélago dos Açores mantém esse halo mís-tico, embora se encontrem inúme-ros exemplos de quão terrena po-de ser. O som do chamamento da pardela-de-bico-amarelo é parti-cularmente estranho e estridente quando é ouvido pela primeira vez. Só possível de escutar nos arquipé-lagos dos Açores, Madeira e Berlen-gas, esta ave, identificada pelo bico amarelo, dorso acastanhado e ventre branco, também passeia ao longo da costa continental. Trata-se de uma espécie protegida, já que a ilha foi declarada Reserva da Biosfera pela UNESCO, em 2007. O Projeto LIFE “Ilhas Santuário para as Aves Mari-nhas”, coordenado pela SPEA, já co-locou mais de 200 ninhos artificiais para aves marinhas na ilha, dotando--a do maior número de ninhos artifi-ciais em Portugal.

Igualmente terrenas, mas ternas, são as mãos de Inês de Inês, que tri-cota os bonés tradicionais dos pes-cadores segundo uma técnica de in-fluência escocesa, transmitida pelos baleeiros corvinos. Inês de Inês é ca-sada com José Mendonça de Inês, que explica o segredo por detrás das fechaduras de encaixe corvinas a quem ainda queira ouvir. É ele quem as constroi. Hoje os segredos fecham--se a sete chaves, mas alturas houve em que bastava um pedaço de ma-deira para manter a intimidade a sal-vo. Até no Corvo os tempos mudam. À exceção dos moinhos que perma-necem intemporais e cujos corações de madeira fazem rodar as cúpulas, para que as suas velas triangulares de pano acompanhem os ventos e pos-sam lutar contra os gigantes que vêm do mar.

Apenas cinco anos passaram des-de que Gonçalo e Dídio chegaram à ilha, mas já muito mudou. Surgiu um pavilhão Multiusos, a casa da matan-ça, um avião de transporte de passa-geiros com 37 lugares, mais barcos de ligação à ilha e até mais turistas.

É na Terra não é na LuaFiLme

No flme É na Terra

não é na Lua, Dídio Pestana e Gonçalo Tocha tentaram mostrar tudo o que o Corvo tem: as pessoas, os lugares, os costumes, os sonhos, os hábitos, os desejos. Nasceu assim uma “belíssima meditação sobre a comunidade, o isolamento e a passagem do tempo”, como disse o colunista Jay Weissberg, na revista Variety. em dois anos

de edição, transformaram 200 horas de flmagens e 300 horas de gravações de som – captadas ao longo de um ano e meio, num total de três viagens à ilha – em três horas de poesia em movimento. Um flme aclamado pela crítica nacional e internacional e até pelo público (nacional e internacional). Ganhou diversos prémios, entre os quais o Golden Gate Award (Melhor

jn CoRVo Para quem gosta de caminhadas, aqui encontra trilhos pedestres inigualáveis. A não perder, o Caldeirão, nome dado à cratera do antigo vulcão que deu origem à ilha e que se apresenta ao longo de 300 metros de profundidade e 2 400 de perímetro.

“Dizem-nos que há pessoas que que-rem conhecer o Corvo por causa do filme”, conta Tocha. Muita coisa mu-dou na ilha do Corvo mas podemos garantir que, dali, ainda se vê a Lua.

Documentário), em São Francisco, nos estados Unidos; prémio Cinema do Futuro, no Festival Internacional de Cinema Independente, em Buenos Aires; Menção especial do Júri no Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça; e a melhor longa-metragem, no DocLisboa, em 2011. O que é que o Corvo tem? É ver para saber. No local e em DVD.

Page 45: Revista Montepio

45

2a minha cidade

cultura

moNtePio PRIMAVeRA 2013

POeSIA

escreVer A inspirAÇãoOS pOeTaS SãO eSpeCiaiS. CONSeGuem TraDuzir O QuOTiDiaNO, O muNDO à NOSSa vOLTa, De uma FOrma úNiCa. CONSeGuem exprimir SeNTimeNTOS, eSTaDOS De aLma Ou meraS SiTuaçõeS. NãO Se Deixe iNTimiDar, merGuLHe Na pOeSia e SiGa O LÁpiS a CarvãO

por susana marvão e magda sousa ferreira fotografia getty images

Poesia. Do grego poíesis, “ação de fa-zer alguma coisa”. Arte que se distin-gue tradicionalmente da prosa pela composição em verso e pela organi-zação rítmica das palavras, aliada a recursos estilísticos e imagéticos pró-prios. Característica poética que po-de estar presente em qualquer obra de arte. Caráter daquilo que, por ser considerado belo ou ideal, desperta uma emoção ou sentimento estéti-co. Sentido figurado: harmonia, ins-piração. Esta é a definição de poesia. A definição do dicionário. Mas qual-

quer tentativa de explicar racional-mente o que é poesia provavelmente tornar-se-á redutora. Se calhar, até de-via ser proibido defini-la. Pois faça-se um decreto a dizer que a poesia não tem definição! Porque é o sentimento, são as emoções que governam o mun-do da poesia. “O poema não é feito des-sas letras que eu espeto como pregos, mas do branco que fica no papel”, es-crevia o poeta francês Paul Claudel.

Dizem que a poesia é a alma a chorar. Que não há poesia sem so-frimento. Defendem os poetas que,

mesmo a descrever algo extraordina-riamente belo, há dor. Porque o be-lo é incompreensível. Porque ultra-passa, dizem eles, a frágil capacida-de da razão humana. Portugal é um país de poetas e de poemas. Luís Vaz de Camões, Almeida Garrett, Teixei-ra de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, António Gedeão, Miguel Torga, So-phia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, David Mou-rão-Ferreira, entre muitos outros, expressaram o seu temperamento

Page 46: Revista Montepio

2

46

montepio primavera 2013

a minha cidadeCuLtuRApoesia

Navegação abstractaFito como um peixe o voo segue a rotaVista de cima tornou-se a terra um mapa

Porém subitamenteAtravessámos do oriente a grande portaDe safiras azuis no mar luzente

sophia de mello Breyner Andresen, Navegações

A editora Assírio & Alvim destacou da sua oferta de poesia dois autores contemporâneos: José Tolentino Mendonça e Armando Silva Carvalho. De José Tolentino Mendonça a editora sugeriu os títulos Baldios e Estação Central. Baldios, segundo a Assírio & Alvim, revelou- -se um dos grandes

livros de poesia publicados em 1999. “Uma poesia feita de alegrias e tristezas, comunhão e abandono, segredos, viagens, errâncias, atenta ao que a rodeia, tensa e de simplicidade extrema, ao mesmo tempo íntima e exterior.” Já Estação Central descreve a “ambivalência entre a solidão da humanidade

e o maravilhoso mistério que a acompanha”.De Armando Silva Carvalho chega-nos Anthero Areia & Água, publicado na coleção Poesia Inédita Portuguesa e distinguido com o prémio de poesia Teixeira de Pascoaes, em 2010. Outro título sugerido do mesmo autor foi De Amore.

Leituras para qualquer hora do diaAssíRio & ALVim

latino, produzindo obras de uma co-lossal riqueza emotiva.

Mas, definitivamente, não é preci-so ir além-fronteiras para descobrir a poesia. Aliás, Portugal é, por definição (a tal que devia ser proibida!), um país de poetas e trovadores, que atravessa-ram pelas palavras o País, de norte a sul. A lírica trovadoresca (séculos xii--xiv) mostrou-nos, num tempo de for-mação e consolidação da pátria portu-guesa, uma sensibilidade artística e literária marcadamente galaico-portu-guesa. Com a influência provençal e a nossa própria tradição oral foram apa-recendo as cantigas que deliciaram as cortes e romarias e que, infelizmente, se perderam na memória dos povos e nos arquivos das bibliotecas. O povo português, povo destemido e ousado, mas também melancólico e amargu-rado, teve sempre a veia poética ativa e pródiga.

Luís de Camões escreveu sentida-mente sobre as mulheres de Coimbra, de Lisboa e do mundo, como foi o caso da sua querida Dinamene. Antero de Quental versejou sobre as mágoas e a procura do Absoluto, aqui, além e nos Açores. Cesário foi o poeta da Lisboa repleta de cheiros, cores e realidade, mas também cantou Linda-a-Pastora, onde ia beber a vitalidade que a cidade lhe consumia. Fernando Pessoa des-dobrou-se em muitos que pertenciam a todo o lado e espelhavam muito do sentir português.

Miguel Torga nunca esqueceu a sua terra-mãe, agreste e plena de “torgas” que simbolizam a força rude e natural de Trás-os-Montes, mas tam-bém o telurismo e a humanidade que encontrava em Coimbra. Também em Coimbra nasceu Al Berto, mas é em Sines que cresce, com os chei-ros do Alentejo vicentino. Alexandre O’Neill, Eugénio de Andrade, Antó-nio Gedeão, Ary dos Santos, Florbe-

jn o PRoBLemA DA HABitAçãoRuy BeLoPublicado em 1962, um ano após Aquele Grande Rio Eufrates, o livro é agora reeditado.

PVP 11,00 €

jn estAção CeNtRALJosé toLeNtiNo meNDoNçAPoeta, sacerdote e professor, o autor é um dos grandes poetas da atualidade, trazendo-nos o sabor de Nova Iorque nos seus poemas.

PVP 9,00 €

jn De AmoReARmANDo siLVA CARVALHoDepois de Anthero Areia & Água, De Amore comprova que esta é uma das vozes poéticas a seguir.

PVP 10,00 €

sê paciente; esperaque a palavra amadureçae se desprenda como um frutoao passar o vento que a mereça.

eugénio de Andrade, Os Amantes Sem Dinheiro

Faz o favor encanta-meolha como faz marte aos engenheirose está a tantos milhões de distânciaNão te peço órbitas ao largo nem que venhasmapear a casa um perfume que seja teusó issoe encanta-me

Abel Neves, Os Teus Modos no Bairro

Page 47: Revista Montepio

47

montepio primavera 2013

Desde 1999 que a poesia tem direito a um dia só seu. Na 30ª Conferência Geral

da UNeSCO fcou estipulado que o dia 23 de março seria o Dia Mundial da Poesia. Todos os anos o Centro Cultural de Belém (CCB) escolhe um poeta português para homenagear neste dia. este ano o homenageado foi Ruy Belo, tendo o CCB sugerido do autor os títulos Homem de Palavra(s), O problema da Habitação e Despeço-me da Terra da Alegria. Nome de destaque na poesia portuguesa contemporânea, Ruy Belo não se “cingiu” à poesia, tendo exercido igualmente uma intensa atividade de ensaísta e crítico literário. Da sua obra poética fazem parte Aquele Grande Rio Eufrates (1961), Boca Bilingue (1966) e Transporte no Tempo (1973), entre outros.

Dia Mundial da Poesia: Ruy Belo

ComemoRAção

Atemporada de 2013 do CCB é mais do que música. É teatro, dança, literatura

e arquitetura. Basta ir a www.ccb.pt e entrar num universo composto por música barroca, deixar-se levar pela canção nacional que é o Fado, manter o ritmo ao som de jazz e guardar espaço para as batidas pop. A não perder o ciclo “Clássicos da Poesia Brasileira do Século xx” e o ciclo “A Mitologia”. Os associados Montepio benefciam do desconto de 20% na aquisição do “Cartão Amigo CCB”, acrescido de 10% de desconto nas adesões com débito direto em conta. Note que o "Cartão Amigo CCB" tem quatro categorias – Individual, Jovem, Sénior e Família –, com preços e benefícios distintos.

CCB: há cultura no arDesCoNtos PARA AssoCiADos

la Espanca e o seu Alentejo em flor, a sua dor e a sua paixão, e Sophia (de Mello Breyner), a mulher que quis ser conhecida por “poeta”, cantou a praia da Granja com o mar constan-te, abissal, enigmático. Não esquecer Ruy Belo, que nasceu em Rio Maior, o poeta que soube falar do lado sombrio da vida, das tristezas, das diferentes idades e da descoberta de crescer pa-ra a realidade amarga que foge do so-nho e da ilusão “e tudo era possível era só querer” (E tudo era possível). Todos eles, os poetas, do alto dos seus versos revelam-nos uma natureza e essência materna, do Portugal lírico que sabe compreender a saudade.

Um poeta não sofre uma vez, di-zia Mário Quintana, o poeta das coi-sas simples. Sofre três vezes: pri-meiro quando sente os poemas, de-pois quando os escreve e, por último, quando declamam os seus versos. Há quem diga ainda que os poetas nasceram (também) para alimentar o fado, que é tão nosso. “Chorai, cho-rai; Poetas do meu país; Troncos da mesma raiz; Da vida que nos juntou. E se vocês não estivessem a meu la-do; Então não havia fado; Nem fadis-tas como eu sou”, canta Mariza no fa-do Loucura.

A verdade é que a identidade lati-na nos fez poetas. Deu-nos sensibili-dade lírica e um fino recorte criativo. Deu-nos uma extraordinária habili-dade para exteriorizar as emoções o que, defendem alguns estudos, até pode ajudar a ter uma vida mais lon-ga. A localização geográfica de Por-tugal também ajuda. O nosso clima – que na verdade já teve traços de mais ameno do que hoje – e a diversidade da paisagem e beleza sempre incita-ram à “conspiração criativa”. Aliás, já o grande poeta britânico Lord Byron qualificava Sintra como a “mais bela vila do mundo”, num êxtase de inspi-

ração que o ambiente pitoresco do lo-cal potenciou.

os “novos” poetasMas nem só destes conceituados nomes vive a poesia no nosso país. Há um “lote” de luxo de novos e pro-missores poetas prontos a continua-rem a garantir a qualidade da poesia portuguesa. Margarida Ferra é um desses nomes. Publicou, em 2010, o livro de poemas Curso Intensivo de Jar-dinagem, finalista, no ano seguinte, do Prémio Literário Casino da Póvoa.

Miguel-Manso é outro escritor a se-guir. Publicou os notáveis Contra a Ma-nhã Burra e Quando Escreve Descalça--se. “Este parece um livro manuscrito, quase como se tivéssemos em fac-simile os cadernos de Miguel-Manso; há uma comunicabilidade direta do vivido co-mo é raro encontrar. (…) Muitos dos tex-tos são anotações, às vezes o memorial de um momento fugaz. Outros são poe-mas-piada, fáceis ou deliberadamente obscuros. Nos melhores casos, no en-tanto, combinam uma crença antiga e antiquada nos poderes da linguagem poética com uma auto-ironia e reticên-cia geracionalmente mais óbvias”, es-creve o crítico Pedro Mexia.

Margarida Vale do Gato, Miguel Cardoso, Miguel-Manso, Filipa Leal e Inês Fonseca Santos são apenas al-guns dos nomes a reter no panorama da poesia nacional.

Se após ler este artigo ainda acre-dita que poesia é “difícil” ou acha que nunca vai gostar da mesma, convida-mo-lo a pensar na sua cidade, a en-contrar autores nacionais que a te-nham assumido como ponto de par-tida para os seus poemas e a ver o seu quotidiano sob uma nova pers-petiva. É que, no fundo, os poetas conseguem apreender a realidade e traduzi-la de uma forma única. Leia. É o nosso conselho.

Naquela tarde quebradacontra o meu ouvido atentoeu soube que a missão das folhasé definir o vento

Ruy Belo, Aquele Grande Rio eufrates

os poemas que escrevosão moinhosque andam ao contrárioas águas que moemos moinhos que andam ao contráriosão as águas passadas

Adília Lopes, Caras Baratas

Page 48: Revista Montepio

2

48

a minha cidadeRePoRtAGem

moNtePio PRIMAVeRA 2013

MIRANDêS

A nossA “lhénguA” oficiAlSeGuNDa LíNGua OFiCiaL em pOrTuGaL, O miraNDêS Tem HOJe CerCa De SeTe miL FaLaNTeS. pOr TerraS De miraNDa DO DOurO, Quem JÁ NãO O FaLa eNTeNDe-O Ou CaNTa-O. CONHeça aS vOLTaS e a SONOriDaDe De uma LíNGua Que Teima em reSiSTir NO NOrDeSTe pOrTuGuêS

por susana torrão

NÃO PeRCA O LÉXICO eM MIRANDêS

NA VeRSÃO IPAD

Page 49: Revista Montepio

49

montepio primavera 2013

O mirandês também se lêDiVuLGAR

A editora ASA publicou duas aventuras

de Astérix em mirandês: Astérix o Gaulês e O Grande Fosso. A Âncora tem vários

títulos em mirandês, entre originais como La Bouba de la Tenerie, de Francisco Niebro (o pseudónimo de Amadeu Ferreira), ou as Nuobas Fábulas Mirandesas

i Cuontas Sacadas de la Bida, de Faustino Antão, a traduções como L Mais Alto Cantar de Salomon (versão mirandesa de O Cântico dos Cânticos).

Depuis d'anhos an que falar mirandés era bisto cumo cousa de giente pobre, la bielha lhéngua d'ourige lhionesa tornou-se motibo d'ourgulho pa las gientes de l cunceilho de Miranda de l Douro. Ansinado nas scuolas, dibulgado an blogues i cantado an nuobas i bielhas cançones l mirandés resiste ne l nordeste strasmuntano. Segunda lhéngua oufecial de la República Pertuesa zde 1999, ye falado hoije por cerca de 7 000 pessonas.

Quem leu com atenção o parágra-fo anterior, entendeu por certo o que está lá escrito em mirandês. Língua oficial desde 1999, o mirandês deixou para trás o estigma de ser uma língua de pessoas pobres para ser motivo de orgulho na divulgação da identidade de uma região: Miranda do Douro. A relativa facilidade de compreen-são prende-se com o facto de esta ser, tal como o português, uma língua la-tina mas que não deriva do galaico--português, pertencendo à família do astúrio-leonês.

É em mirandês que ainda hoje Amadeu Ferreira, um dos principais estudiosos e divulgadores da “lhén-gua”, fala com os pais, os irmãos e os filhos. Nascido em Sendim, nos anos 50, foi esta a língua que primeiro fa-lou, brincou e cantou. “Na minha ca-sa só se falava mirandês, na aldeia – hoje vila – e na rua era a língua que se falava. Costumo dizer que o meu mirandês foi mamado! Até ir para a escola não conhecia outra língua”, explica. Resta dizer que Amadeu, tal como os restantes habitantes de Sendim, cresceu a falar sendinês, que é um dialeto do mirandês. Hoje, Amadeu Ferreira assume-se como bilingue: usa o português no traba-lho e entre os amigos de Lisboa e o

mirandês em família. “Mas há algum vocabulário, sobretudo aquele liga-do à natureza e à agricultura, do qual por vezes só sei os nomes em miran-dês”, admite.

Em Portugal o interesse acadé-mico pelo mirandês reapareceu no século xix, com José Leite de Vas-concelos, que estudou a língua e foi autor de uma gramática mirandesa. Mas foi preciso que passasse outro sé-culo para que, nos anos 80 do século xx, a língua começasse a ser ensina-da nas escolas de Miranda do Douro, algo que se generalizou nos anos 90 e na última década, já depois da oficia-lização do mirandês como uma das línguas da República, em 1999.

Curiosamente, o mirandês sem-pre foi – e continua a ser – falado nas aldeias do concelho de Miranda do Douro, mas nunca na sede de conce-lho. A explicação pode estar na ori-gem da própria cidade: começando por ser uma estrutura de defesa da fronteira, Miranda era povoada por soldados que não eram da região. Mais tarde, com a elevação a cida-de, em 1545, e a criação do bispado, a corte episcopal falava português, que passou a ser a língua mais usada.

Desde sempre que as gentes das terras de Miranda são bilingues.

Com quem aprendeu mirandês?O meu pai fala muito bem mirandês. A minha infância foi em Fonte de Aldeia, a 15 quilómetros de Miranda do Douro. Sempre convivemos com os vizinhos, participámos nos traba-lhos agrícolas e a aprendizagem foi natural.

os membros do grupo falam mirandês entre si?Sim, falamos, mas não é a língua principal entre nós. No entanto, quando saímos todos juntos para concertos, fazemos um esforço por usar o mirandês, até para entrarmos nesse pensamento.

Na sua aldeia é a língua comum?Sim, conheço algumas pessoas que só falam esta língua no dia-a-dia da aldeia, mas quando vão a Miranda ou falam com alguém que não co-nhecem, falam português.

qual a importância da música na preservação da língua?A música é o principal veículo de divulgação do mirandês falado. há muitos grupos em Portugal que cantam músicas em mirandês. Toda a gente na Terra de Miranda, mesmo que não fale o mirandês, canta várias músicas nessa língua. Neste senti-do, o grupo Galandum Galundaina tem conseguido chegar a muita gen-te através de concertos ao vivo, CD, DVD, videoclipes.

qual o tema do vosso repertório que melhor divulga o mirandês?Todos os temas que trabalhamos têm a ver com a cultura mirandesa, mas destaco a música do Fraile Cor-nudo, a partir da qual fzemos um videoclipe no qual muitos dos nos-sos amigos participam numa festa quase espontânea.

Paulo Meirinhosmúsico

P&R

FALANtes De miRANDês. Apesar de haver mais gente a aprender mirandês, há cada vez menos falantes. Calcula-se que sejam entre cinco a dez mil, referindo-se por norma uma média de sete mil. O envelhecimento da população e a desertificação têm feito diminuir o número de habitantes do concelho, logo, o número de falantes.

5 a 10 mil

Page 50: Revista Montepio

2

50

montepio primavera 2013

a minha cidadeRePoRtAGemmirandês

“Há um fenómeno chamado diglos-sia, pelo qual a língua é falada em de-terminadas ocasiões”, explica Ama-deu Ferreira. Ao longo dos tempos os mirandeses habituaram-se a falar em casa e com os amigos numa língua e a tratar de assuntos oficiais noutra. Assim, é provável que quem chega de fora não ouça o mirandês nas aldeias. O motivo é simples: na presença de es-tranhos, mesmo quem usa o mirandês em casa e entre vizinhos passa auto-maticamente para o português. É pre-

ciso ganhar confiança ou passar des-percebido para ouvir dois vizinhos a conversar em mirandês.

ensinar mirandêsDuarte Martins, natural de Malhadas, é um dos três professores que ensina a língua nas escolas do concelho, tare-fa que divide com Domingos Raposo e Emílio Martins. Aos 37 anos reco-nhece que é dos poucos da sua geração que é fluente na língua através da qual continua a comunicar com os pais e os vizinhos mais velhos.

Embora o mirandês seja a sua lín-gua de sempre, só começou a lecio-ná-la em 2003 depois de, incentiva-do por Amadeu Ferreira, propor à então DREN o alargamento do ensi-no da língua. Hoje, o mirandês é en-sinado nas escolas do agrupamento de Miranda do Douro desde o ensino pré-escolar até ao final do secundá-rio, como disciplina de opção. “No to-tal são cerca de 400 alunos, abarcando todos os graus de ensino”, refere Duar-te Martins.

“O uso que fazem do mirandês fora das aulas depende da proveniência de cada aluno, se a língua é ou não fala-da em casa ou se vêm de aldeias on-de ainda é usada”, afirma o professor, que admite ser a sua a última gera-ção naturalmente bilingue. O estatuto de língua oficial provocou mais inte-resse pela língua e deu maior orgulho aos mirandeses, mas há ainda muito a fazer. Duarte Martins lamenta que a Fundação da Língua Mirandesa não tenha avançado e que a autarquia não tenha um site em mirandês. “A Fun-dação era importante não só ao nível da divulgação mas também do ensino, por exemplo na elaboração de mate-riais, que hoje são responsabilidade dos professores”, explica.

léxicoalgumas palavras em língua mirandesa

Abchouco

Abelhana

Aceilhas

Airico

Alegrie

Ancapaç

Simplório

Avelã

Sobrancelhas

Brisa

Alegria

Incapaz

FoNte: PeQUeNO VOCABULÁRIO MIRANDêS-PORTUGUêS, MOISÉS PIReS S D B

“Não me preocupa se o mirandês vai ou não acabar. importa que, enquanto língua viva que é, deve ser respeitada e apoiada. A diversidade é algo que faz parte da riqueza cultural do país."

A músicaPor muito enferrujado que esteja o mirandês de alguns dos jovens de Miranda do Douro, o mais provável é que todos saibam cantá-lo. Às can-ções tradicionais que ouviam em casa vieram juntar-se, na última década, os temas cantados por grupos como Galandum Galundaina, formado por músicos profissionais naturais da região. Com um forte movimen-to associativo, o concelho tem assis-tido ainda a um multiplicar de ini-ciativas, como o Festival Intercéltico de Sendim ou a iniciativa L Burro i l Gueiteiro, que celebram anualmente a cultura mirandesa.

Assim, o mais natural é que, mais do que falar, haja muitos a saber can-tar mirandês. Paulo Meirinhos, um dos elementos do Galandum Galun-daina (os outros são Paulo Preto e os irmãos Alexandre e Manuel Meiri-nhos), destaca a importância que a música sempre teve para a língua. “Sempre se falou mirandês à minha volta, mas mais do que palavras vêm--me à memória canções que a minha mãe e a minha avó me cantavam. Em casa fala uma vez por outra em mirandês com os filhos ou dá exem-plos de palavras mas, acima de tudo, canta com eles músicas mirandesas. “Há todo um valor e legado cultural que é importante manter. Cada vez há menos pessoas a viver na Terra de Miranda e o mirandês vai deixan-do de se falar, até porque a cadeia de transmissão oral entre avós, pais e netos está praticamente interrompi-da... Os meus filhos frequentam as aulas de mirandês”, afirma o mú-sico para quem o ensino do miran-dês é importante até para ajudar na aprendizagem do português. “Na es-cola primária, quando tinha dúvidas sobre a forma de escrever uma pala-vra, recorria à pronúncia dessa mes-ma palavra em mirandês, o que sem-pre me ajudou a dar menos erros.”

Bóbida

Boutizar

Bun

çacanório

çachar

Campana

Canhona

Deixadon

Dius

eigistir

Fraita

Fruscas

Abóbora

Batizar

Bom

Patife

Cavar com sacho

Sino

Ovelha

Desleixado

Deus

existir

Flauta

Arbustos

Uma língua falada e ensinadaoRiGem

Tal como o português, o mirandês

deriva do latim e faz parte das línguas da família astúrio-leonesa. Mas, enquanto no lado de lá da fronteira o leonês se perdeu, sendo falado apenas em alguns pontos das Astúrias, do lado de cá permaneceu até hoje. Durante muito tempo era sobretudo uma língua falada, já

que, com a ida para a escola, o ensino era apenas em português. “Até ao século xiv há bastante produção escrita em mirandês, já que esta era a língua usada na corte de Leão. Com o fm do reino de Leão deixou de se escrever”, esclarece Amadeu Ferreira, um estudioso.

Page 51: Revista Montepio

página 60

mutuALismoConheça soluções mutualistas de poupança e proteção e os benefícios de que pode usufruir por ser Associado Montepio

página 57

esPeCiAL iRsQuanto vai conseguir poupar? Não perca o guia que ensina a fazer contas ao imposto e a conhecer as deduções possíveis para aliviar a carga fscal

página 62

FiNANçAs PessoAisComo combater o desemprego em 2013. Ideias, dicas e conselhos úteis para colocar um plano em marcha

página 52

emPReeNDeRser empreendedor é ter visão e a capacidade de realizar sonhos. Conheça casos de sucesso marcados pelo ADN português

PRoDutos FiNANCeiRos, SUGeSTõeS e

eMPReeNDeDORISMO

A MINHA ECONOMIA

Page 52: Revista Montepio

52

3

montepio primavera 2013

a minha economiaemPReeNDeDoRismo

SaBer empreeNDer, Levar um NeGóCiO a BOm pOrTO e TraNSFOrmÁ--LO Numa empreSa veNCeDOra reQuer CaraCTeríSTiCaS FuNDameNTaiS, Sempre aJuSTaDaS a CaDa CaSO. CONHeça empreSaS Que apLiCaram FórmuLaS DiFereNCiaDaS e De SuCeSSO

por helena c. peralta fotografia getty images

INOVAR

ter AsAs pArA VoAr

Ser empreendedor é ter visão e realizar sonhos. É produzir ideias, ter criatividade e, sobretudo, não baixar os braços quando se esbarra com as primeiras dificuldades. Ter capacidade de sonhar e lutar até ao fim é uma característica comum a todos os empreendedores, portugueses ou não.

Desengane-se quem pensa que sa-ber empreender é algo inato, que nas-ce com o indivíduo. Muitos são os de-fensores de que esta é uma arte que pode e deve ser ensinada e treinada. O perfil de empreendedor pode ser trabalhado, as competências melho-radas e, sobretudo, não deve esque-cer-se o quanto se aprende com os erros. Como diz João Vasconcelos, diretor executivo da Startup Lisboa, incubadora de empresas fundada em 2011, “normalmente aprende-se mais com um falhanço do que com uma vi-tória. O segredo é falhar pequeno para ganhar em grande”.

Não existe uma receita mágica para que um negócio tenha sucesso. Cada caso é um caso e o que funciona bem num projeto pode ser um enor-me flop noutro. Replicar estratégias pode ser um caminho, mas sem-pre adaptadas ao caso específico de cada negócio.

Em sociedades como a Ach Brito e a Viarco, por exemplo, que poderá co-nhecer nas páginas seguintes, a solu-ção do futuro foi um regresso ao passa-do, aproveitando ativos aparentemente moribundos. Já no caso da Altitude Software e da ColorAdd, a solução pas-sou pela inovação contínua do produto.

PARA SABeR MAIS CONSULTe ei.moNtePio.Pt

Page 53: Revista Montepio

53

montepio primavera 2013

Saber empreenderUm bom empreendedor deve revelar características fundamentais para que o negócio siga no sentido do sucesso: ^ Ser motivado pelo desejo

de realizar^ Ter autoconfança

e autocrítica^ Ter capacidade de análise^ Ser otimista e resistente^ Saber delegar^ Trabalhar em equipa^ Ter capacidades de liderança e de

motivação de equipas^ Ser corajoso e flexível^ Saber quando desistir e aprender

com os erros^ Ter capacidade de se reerguer

sempre que um negócio corre mal

APReNDeR

mercado, com uma má equipa nunca resultará e uma boa equipa, com uma má ideia também não funcionará”, re-mata o responsável da Startup Lisboa.

Ach Brito: sucesso no mercado do luxo A empresa nortenha de produtos de higiene e beleza atingiu o auge nos anos que antecederam a revolução do 25 de abril. Com a revolução perdeu o mercado das colónias e a chegada da distribuição moderna, nos anos 80, traduziu-se na entrada de novas mar-cas. A ancestral fábrica dos famosos sabonetes Musgo Real foi posta em xeque, viu-se a braços com uma feroz concorrência e houve necessidade de um reposicionamento. Nos anos 90, Aquiles de Brito e Sónia de Brito, bis-netos do fundador, Achilles Alves de Brito, decidiram recuperar a empresa já moribunda. Contrataram um gestor profissional, José Fernandes, atual di-retor-geral, e em conjunto decidiram--se pela segmentação de mercados. Por um lado apostaram na grande distribuição, com a marca Ach Brito, e, por outro, revitalizaram marcas an-tigas, como a Claus Porto, direcionada para um segmento superior.

“Sucesso é ter clientes e receitas. Para isso, a qualidade da equipa fun-dadora, a sua experiência e conheci-mento do setor no qual pretende fazer negócio, a situação económica, a capa-cidade de inovar, alterar o mercado e antecipar tendências são fatores-chave para este sucesso”, refere, a propósito, João Vasconcelos. A flexibilidade pa-ra alterar a estratégia e o modelo de negócio sempre que necessário, num curto período de tempo, e saber de-sistir quando assim tem que ser, tam-bém são características fundamentais. “Acompanho muitas empresas e tenho observado muitas razões para um ne-

gócio correr mal. Normalmente acon-tece por decisões erradas, pela falta de capacidade de adaptação ao mercado e pela falta de competitividade da solu-ção ou produto oferecidos”, alerta João Vasconcelos.

Para atingir o sucesso muitos são os caminhos, mas em todos há imenso trabalho, persistência, ambição e, so-bretudo, muitos obstáculos superados. São três os fatores críticos, por esta or-dem de importância: equipa fundado-ra, mercado e ideia. “Uma ótima equi-pa, com uma ideia inovadora, num mau mercado nunca será um negócio de sucesso. Uma boa ideia, num bom

� tRês FAtoRes CRítiCos

Para atingir o sucesso deve ter

em conta três fatores críticos, por esta ordem

de importância: equipa fundadora,

mercado e ideia

Page 54: Revista Montepio

3

54

montepio primavera 2013

a minha economiaemPReeNDeDoRismoasas para voar

AStartup Lisboa é uma incubadora de

empresas que resulta de uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa, o IAPMeI e o Montepio. Para desenvolver

esta parceria as três entidades criaram uma associação privada, sem fns lucrativos, destinada a levar a cabo um conceito inovador de ninhos de empresas. Aqui, as empresas só

pagam o pacote de serviços, que, além dos habituais, como telecomunicações, limpezas e segurança, inclui serviços de apoio ao negócio. Saiba mais em www.startuplisboa.com

Apoiar empreendedoresstARtuP LisBoA

“Decidimos que o caminho era acrescentar valor ao produto e desper-tar interesse em outros mercados”, diz José Fernandes. A Ach Brito pegou en-tão no que ninguém parecia querer: tra-balhar um nicho de mercado de forma artesanal. O diretor-geral afirma que a diferenciação está no facto de a Ach Brito se ter inspirado em produtos an-tigos, como os rótulos dos sabonetes ar-tesanais, fruto do acervo histórico que tinha. Decidiu revitalizá-los e foram bem aceites.

Passados três anos de reorientação, o sucesso da internacionalização da mar-ca Claus Porto, sobretudo para os Esta-dos Unidos, o seu maior mercado, foi tal que estes sabonetes se tornaram os prediletos de alguns atores famosos de Hollywood, que ajudaram a divulgar a empresa. Nicolas Cage, Nancy Reagan, Kate Moss e Oprah Winfrey são alguns dos famosos consumidores da marca nacional. Em 2004, por exemplo, Oprah incluiu vários produtos Claus Porto no seu catálogo de Natal e, em 2005, a Ach Brito foi contratada pela MTV Europe para fornecer os seus produtos Claus Porto aos artistas convidados dos MTV Europe Music Awards, que se realizou em Lisboa. “Nós não fazemos publicida-de, mas os produtos estão sempre a apa-recer em destaque nas revistas interna-cionais”, diz José Fernandes.

Viarco procura segmento dos artistasEstratégia idêntica está a seguir a Viar-co, empresa de S. João da Madeira com 75 anos de história. Quem não se lem-bra dos famosos lápis de cor que usava na escola há uns anos? A memória da marca é um capital que José Vieira, bis-neto do fundador, não quer perder. De-pois de a empresa ter atravessado algu-mas dificuldades, porque, por um lado, não tinha capacidade para concorrer com outros fornecedores de peso, co-mo os alemães, e, por outro, perdeu um importante contrato de distribuição na Sonae, o empresário decidiu comprar e recuperar a empresa, apostando em nichos mais rentáveis. Além de conti-nuar a produzir os famosos lápis de cor, abrindo caminho a uma memória futu-

ra, apostou em novos produtos no seg-mento das artes através da inovação e da originalidade.

“Como tínhamos espaço livre, dispo-nibilizámos 500 metros quadrados para que artistas de várias áreas pudessem aqui trabalhar de forma gratuita. Duran-te este processo de proximidade surgi-ram ideias criativas que foram aprovei-tadas pela empresa”, refere José Vieira. Foi desta forma que nasceram produtos como a aguarela de grafite, um produto revolucionário e inovador, e o bastão de grafite aguarelável de grande dimensão, entre outros. Esta linha de produtos ex-clusivos, designada Art Graf, destina-se a lojas da especialidade, mais técnicas. É desta forma que a Viarco pretende au-mentar a sua presença internacional, pois não consegue competir em volume com gigantes como a Staedler, a Faber Castell ou a Carandache. Exporta pa-ra os Estados Unidos, Itália e França, através da grande distribuição e de ar-mazéns distribuidores, que entregam a marca em papelarias e lojas de design.

Nos planos futuros está a inauguração de um museu industrial para expor o património de que dispõe.

ColorAdd, cores inclusivasUm dos produtos originais da Viar-co são os lápis de cor para daltónicos, uma inovação que não seria possível sem a dedicação de vários anos de Mi-guel Neiva. Este designer empreende-dor está nas bocas do mundo pelas me-lhores razões: desenvolveu um código

jj ViARCo A empresa orgulha-se de ter a fábrica mais flexível do mundo, na qual é possível fazer produtos originais porque consegue ajustar a produção e fazer pequenas quantidades

jn ACH BRito Presente nas melhores lojas, a marca é um dos maiores cartões de visita de Portugal

Page 55: Revista Montepio

55

montepio primavera 2013

Apoio ao Empreendedorismo e à Criação do Próprio Emprego

O Montepio, o Instituto do em-prego e Formação Profssional, IP (IeFP), a Garval, Lisgarante, Norgarante e Agrogarante – So-ciedades de Garantia Mútua, celebraram um protocolo de cola-boração designado por Programa de Apoio ao empreendedorismo e à Criação do Próprio emprego – IeFP. O objetivo é facilitar a cria-ção da própria empresa/posto de trabalho a desempregados, jovens à procura do primeiro emprego e trabalhadores independentes com baixos rendimentos através de empréstimos bancários com bonificações. Os destinatários do Programa Nacional de Mi-crocrédito, acompanhado pela Cooperativa António Sérgio para a economia Social (CASeS), também podem benefciar deste apoio através da Microinvest. São destinatários do Programa Nacional de Microcrédito todos aqueles que tenham difculdades de acesso ao mercado de trabalho e estejam em risco de exclusão social, possuam uma ideia de ne-gócio viável e perfl de empreen-dedores e formulem e apresentem projetos viáveis, orientados para a criação e consolidação de postos de trabalho sustentáveis.

www.montepio.pt

sAiBA mAis

de gráfico monocromático de desdo-bramento de cores que permite aos daltónicos identificá-las corretamen-te. “Quando surgiu a ideia do código não imaginava o impacto que teria na sociedade”, refere Miguel Neiva.

Com formação em design gráfico, frequentou um mestrado em Engenha-ria Têxtil na Universidade do Minho. Para a dissertação escolheu algo que tivesse a ver com o design, sobretudo design inclusivo. Como tinha um ami-go daltónico pensou num projeto que permitisse aos daltónicos escolherem a cor das suas roupas. “Cerca de 90% da comunicação é feita através da cor. Os daltónicos representam 10% da po-pulação masculina mundial e depres-sa me apercebi que não havia nada es-pecífico para eles”, diz. Durante oito anos amadureceu a ideia, até que fi-nalmente a pôs em prática.

Realizou um estudo junto de 146 daltónicos de vários países e pôde ve-rificar que cerca de 41,5% sentem difi-culdade de integração. Além disso, há inúmeras profissões interditas a este grupo. O conceito que vai mudar-lhes a vida é simples: apoiou-se nas cores primárias, como ponto de partida, e no seu desdobramento para as cores secundárias através de símbolos facil-mente identificáveis. Patenteou o códi-go, começou a ir a congressos científi-cos apresentar a ferramenta e já deu duas voltas ao mundo a falar da sua criação. Com isto surgiu a necessida-de de criar uma equipa de trabalho – que já ascende a sete pessoas. Nasceu a ColorAdd.

O plano de negócios assenta no pa-gamento de licenças, um custo baixo e não impeditivo, pelas entidades que utilizam o código. “Já recusei licenças porque me pediam exclusividade e não é essa a minha opção.” As empresas interessadas começaram a surgir, den-tro e fora de fronteiras, como a Viarco, a Cin, o Metro de Lisboa, o Metro de S. Paulo, a Modalfa. O Comité Olímpi-co brasileiro quer o código nos jogos de 2016. A ideia foi capa do Le Monde, na National Goographic, e foi destacada, no Brasil, como uma das 40 ideias que vão mudar o mundo. “Criámos, também, uma ONG para pôr o código ao serviço da Educação, colocando-o nas escolas como ferramenta de aprendizagem”, diz Miguel Neiva.

Guava à conquista do mundoInês Caleiro era a melhor aluna do cur-so de Moda e Produto na London Colle-ge of Fashion quando recebeu um con-vite: estagiar na empresa Jimmy Choo. “A experiência foi única e bastante mar-cante para o meu percurso profissional. Estive em contacto com o departamento de Relações Públicas e de Design, onde contribuí para a nova coleção. Todos os momentos de aprendizagem na Jimmy Choo foram pontos altos de apreciação, procura e compreensão de como uma grande marca se apresenta no merca-do”, revela Inês Caleiro.

Daqui a construir a sua própria marca foi um passo. De regresso a Portugal, em 2010, a estilista avança com a sua marca de calçado, a Gua-va (goiaba em inglês), com a intenção de conquistar o mundo. Há uns anos o design português não tinha impacto nos mercados internacionais, hoje co-meça a ter alguma presença, difundi-da sobretudo por novos talentos. “Creio que já estamos a passar a imagem de

jj CoLoRADD O plano de negócios assenta no pagamento de licenças. Só assim Miguel Neiva consegue fnanciar a expansão do projeto para que esteja acessível a todos os daltónicos

Page 56: Revista Montepio

3

56

montepio primavera 2013

a minha economiaemPReeNDeDoRismo asas para voar

uma geração que aposta no design, que vende o que de melhor se faz em Por-tugal, que acredita na produção e na qualidade e quebra os padrões clássi-cos que esta indústria carregou duran-te anos”, revela Inês Caleiro.

Criar uma marca de acessórios, que seja internacionalmente co-nhecida, com carisma e qualida-de, e desenvolver uma gama lifestyle, são os principais objetivos desta em-preendedora. A produção é subcontra-tada em S. João da Madeira, num volu-me de 600 pares por coleção.

Crescer em altitudeInternacional é a Altitude Software. Aliás, nasceu com esse foco, já que o seu primeiro cliente, em 1993, era o brasileiro Banco Nacional. Além dis-so merece o reconhecimento do setor tecnológico, tendo já recebido mais de meia centena de prémios internacio-nais. A empresa foi pioneira no concei-to de gestão unificada de canais de in-teração (centros de contacto) na década de 90. O seu produto, Altitude UCI, um conjunto de aplicações de gestão de in-teração com clientes e em situações de atendimento e gestão de campanhas, destinado aos call centers, foi conside-rado a melhor solução de gestão mul-ticanal na Europa, pela ContactCen-terWorld, em 2005 e 2006. O seu leque de soluções de software permite a ges-tão unificada, em tempo real, de opera-ções e serviços empresariais de serviço ao cliente, de help desk, de cobranças, de televendas e inquéritos, entre outras si-tuações de interação com clientes, bem

como a gestão de processos de negócio ligados aos centros de contacto.

E qual o segredo do sucesso da tec-nologia made in Portugal? Gastão Ta-veira, CEO, refere que “por um lado temos um foco no desenvolvimento de um produto específico de software standard, igual em todo o mundo, com grande investimento em inovação, e por outro lado uma política de gestão financeira muito centralizada e rigoro-sa e uma política comercial muito flexí-vel e descentralizada”. Gastão Taveira adquiriu a empresa em 2003, quando esta atravessava problemas financei-ros, e decidiu apostar apenas no produ-to estrela. Tem atualmente 1 100 clien-tes em cerca de 80 países e uma rede de parceiros que atinge quase as duas centenas.

Nutri Ventures, aventuras saudáveis Portugal ainda não tem o seu “Rato Mickey”, mas já tem uma superpro-dução animada a caminho dos Estados Unidos, o país do entertainment. Trata--se da série Nutri Ventures, o primei-ro desenho animado inteiramente de-dicado à alimentação saudável. Esta é uma megaprodução nacional, orçada em 10 milhões de euros e totalmente independente dos apoios estatais, que

já iniciou a sua comercialização além--fronteiras. Tem atualmente cerca de 80 pessoas envolvidas, 40 das quais são desenhadores. A ideia partiu de dois sócios, Rui Lima Miranda e Ro-drigo Carvalho, que tinham o objetivo de criar histórias na área do entreteni-mento. Aperceberam-se que não havia nada que fosse ao mesmo tempo edu-cativo e atraente e surgiu assim a his-tória Nutri Ventures. Criaram a Nutri Ventures Corporation e conseguiram captar a atenção de mais investidores. Estão agora na segunda fase do finan-ciamento, abrindo o capital a mais in-teressados.

Segundo Rui Lima Miranda, os em-preendedores foram muito felizes com a história, que está a ter boa aceitação internacional. “A série estreou primei-ro na Ucrânia, depois em Israel e, mais recentemente, em Portugal. Já fechá-mos contratos com a República Che-ca, Eslovénia, Eslováquia, Roménia, Sérvia, Croácia, Malásia e Brasil”, refe-re o empresário. Em negociação estão mercados como o dos Estados Unidos, México e China. “O mercado america-no é de difícil penetração, mas espera-mos conseguir fechar contrato no pri-meiro semestre de 2013. Temos o apoio do programa Let’s Move, de Michelle Obama, e da Organização Mundial da Saúde”, refere. Aliás, todos os episódios são validados por entidades da área da nutrição ou da saúde. Rui Lima Miran-da diz que o sucesso da série – já con-seguiu destronar as Winx em termos de share – tem a ver com o facto de ser uma marca única.

A animação foi criada pelos estú-dios Bang Bang, fundados por Miguel Braga, em 2000. Os estúdios tinham já no seu portefólio inúmeras animações, nomeadamente para a RTP 2 e Canal Panda, como a Eu Quero Ser, a Ilha das Cores e o Sótão Mágico.

jj GuAVA A marca tem defnida uma estratégia de crescimento internacional na qual a exportação é chave. O principal mercado são os eUA, mas também vende para espanha, holanda, Bélgica e Angola

jj NutRi VeNtuRes, Os quatro heróis da série enfrentam um vilão que fez desaparecer a variedade alimentar, ajudando a combater a obesidade infantil

Page 57: Revista Montepio

57

montepio primavera 2013

QU

AN

DO

PR

ee

NC

he

R O

Se

U I

RS

eS

Te

AN

O T

eN

hA

eS

Te

AR

TIG

O P

eR

TO

De

SI

€ € € € €para muiTOS pOrTuGueSeS, O reemBOLSO DO irS é FuNDameNTaL para reeQuiLiBrar aS FiNaNçaS FamiLiareS. SaiBa COmO Se Fazem CONTaS aO impOSTO e QuaiS aS DeDuçõeS pOSSíveiS para aLiviar O FarDO FiSCaL

IMPOSTOS

quAnto pode poupAr no irs?

Se está a começar a organizar faturas, comprovativos e receitas médicas pa-ra preencher a sua declaração de IRS, saiba que no próximo ano o esforço se-rá menos recompensado. “O enorme aumento de impostos”, como afirma o Ministro das Finanças, Vítor Gas-par, já se sentirá ao longo do ano por via da subida das taxas de retenção na fonte nos salários, mas as deduções e o poder dedutivo das despesas vão diminuir.

Quanto aos rendimentos de 2012, ainda pode contar com deduções à co-leta que permitem abater significati-vamente a fatura fiscal. No entanto, a grande diferença está nas despesas de saúde, que passam a ter um teto e a permitir menor percentagem de dedu-ção. Além disso, nas despesas de habi-tação deixa de existir uma majoração pela eficiência energética do lar e só poderá deduzir o montante respeitante aos juros do crédito. Também as despe-sas com equipamentos de energias re-nováveis e de melhor aproveitamento térmico deixam de ser dedutíveis.

Deduções e benefícios fiscaiso que muDA

os FiLHos tRAzem BoNiFiCAção às famílias, mas a habitação e a saúde não permitem as deduções de outros tempos

ÁReA DeDUçÃO POSSÍVeL LIMITe

saúde

10% do total das despesas com iva a 6% ou isentas

838,44 € + 125,77 € por cada dependente em famílias com mais de 3 filhos

10% de outras despesas com iva superior

65 € ou 2,5% do total das restantes despesas (no caso de serem superiores)

educação e formação 30% das despesas

760 € + 142,50 € por cada dependente em famílias com mais de 3 filhos

Habitação própria 15% dos juros do crédito

591 € até 886,50 € dependendo do escalão de rendimentos

Habitação arrendada 15% do montante das rendas 591 €

Pensões de alimentos

20% das pensões decretadas por sentença ou acordo judicial

419,22 € por mês, por beneficiário

Lares

25% dos encargos dos titulares, ascendentes ou dependentes com deficiência, com rendimento inferior a 485 euros

403,75 €

Donativos 25% dos donativos ao Estado ou privados

sem limite nos donativos ao Estado. até 15% da coleta para outras entidades

seguros de saúde10% dos prémios de seguros que cubram, exclusivamente, riscos de saúde

50 € (solteiro) ou 100 € (casado) acrescidos de 25 € por dependente

Reforma

20% dos montantes aplicados em ppr antes da idade de reforma

Entre 300 € e 400 €

20% dos montantes aplicados em certificados de reforma

350 €

por nuno silva

Especial IRS

MONTEPIO

PARA SABeR MAIS CONSULTe ei.moNtePio.Pt

Page 58: Revista Montepio

3

58

montepio primavera 2013

a minha economiaFiNANçAs PessoAisirs

Limites apertadosEste ano ainda vigoram os 8 escalões de rendimentos e são sobre estes es-calões, que separam os portugueses pelo nível de riqueza anual, que são aplicados diferentes filtros para lá dos limites normais que já existem em ca-da dedução. Assim, as deduções e os benefícios fiscais estão limitados em função do escalão de rendimentos. Para as deduções à coleta, só os dois primeiros escalões (de salários men-sais que vão até um valor que ronda os 820 euros, para trabalhadores de-pendentes) têm a possibilidade de usu-fruir de todas as deduções possíveis. A partir daqui, e para rendimentos su-periores, as deduções estão limitadas.

Rendimentos reduzidos, maiores benefícios

o que muDA

umA FAmíLiA cujo casal tenha rendimentos brutos na ordem dos 40 mil euros conseguirá uma dedução máxima de 1 250 euros. Os benefícios fscais só podem ir até aos 100 euros

eSCALÃO POR ReNDIMeNTO (€) DeDUçÃO MÁXIMA BeNeFÍCIOS FISCAIS

MÁXIMOS

Até 4 898 € sem limite sem limite

entre 4 898,01 € e 7 410 € sem limite sem limite

entre 7 410,01 € e 18 375 € 1 250 € * 100 €

entre 18 375,01 € e 42 259 € 1 200 € * 80 €

entre 42 259,01 € e 61 244 € 1 150 € * 60 €

entre 61 244,01 1 € e 66 0451 € 1 100 € * 50 €

entre 66 045,01 € e 153 300 € 0 € 50 €

Acima de 153 300 € 0 € 0 €

* acresce 10% por cada dependente que não seja sujeito passivo.

exemPLo De um CAsAL que trabalha por conta de outrem, com um flho de 5 anos, residente no Continente, com rendimentos brutos de 40 mil euros (soma dos dois) e 6 mil euros de retenções (metade de cada)

Como se calcula?

dEspEsas

^ saúde 500 € (em produtos sem IVA ou com taxa reduzida de 6%)

^ educação 1 000 €

^ Habitação 250 € de juros

^ seguro de saúde300 € (cada)

13. imposto liquidado= 4 828,04 €

14. rEtEnçõEs E pagamEntos por conta

- 6 000 €

15. valor apurado= - 1 171,96 €

(como é negativo, a família receberá este valor)

1. rEndimEntos brutos dE cada catEgoria

40 000 €

4. quociEntE conjugal

2

3. rEndimEnto colEtÁvEl= 31 792 €

2. dEduçõEs EspEcíFicas das catEgorias

- 8 208 € (em 2012, a dedução específca por cada trabalhador por conta

de outrem é de 4 104 €)

9. apuramEnto2 994,02 €

10. quociEntE conjugalx 2

11. colEta total= 5 988,04€

12. dEduçõEs à colEta - (261,25 € x 2 + 190 €

+ 50 € (saúde) + 300 € (educação) + 37,5 € (habitação)

+ 60 € (seguros de saúde) = - 1 160 €

(por cada sujeito passivo existe uma dedução de 261,25 €

e por cada flho menor com mais de 3 anos a dedução

é de 190 €. A estas somam-se as deduções relativas

às despesas)

5. rEndimEnto colEtÁvEl corrigido

= 15 896 €

7. imposto= 24,5% x 15 896 € = 3 894,52 €

8. parcEla a abatEr- 900,5€

6. taxa dE imposto24,5%

(para rendimentos entre os 7 410 € e os 18 375 € a taxa

em vigor é de 24,5% e a parcela a abater é de 900,5 €)

Page 59: Revista Montepio

59

3

montepio primavera 2013

a minha economiaJuVeNiL

1 Trabalho em part-time Podes procurar junto do comércio local, nas páginas de emprego dos jornais, nos sites de emprego ou através de empresas de recruta-mento. Dar explicações, passear os cães ou tratar dos gatos de amigos, são outras possibilidades. Podes ir amealhando dinheiro que será importante no presente e no futuro.

2 Poupar ou investir Por certo tens um mealheiro em casa no qual vais juntando moedas e notas. Quando estiver cheio, ruma ao Banco onde podes esco-lher soluções de poupança ou de investimento. Ambas as soluções podem render juros. Se o vencimento dos juros coincidir (para não sofreres penalizações) com alguma época mais exigente em termos de necessidades fnanceiras (por exemplo, o início do ano letivo) é o ideal.

POUPANçA

3 pAssos A pensAr nA uniVersidAde?

Podes e deves ajudar a tua família enquanto estás na faculdade. Por isso, se ainda não tens, é a tua oportunidade de arranjares um part-time, de teres um emprego temporário no verão ou de rentabilizares as tuas competências dando explicações sobre as matérias que dominas. Se não entrares no ensino superior terás um ano pela frente que não pode ser desperdiçado a “ver televisão”.

Se a viDa aCaDémiCa eSTÁ preSTeS a COmeçar, eSTÁ Na HOra De reSpONDereS à perGuNTa maiS impOrTaNTe: aS miNHaS FiNaNçaS eSTãO preparaDaS?

3 Financiamento Se, ainda assim, for necessária alguma ajuda adicional, recorre ao sistema de empréstimos com garantia mútua para estudantes do ensino superior. Criado pelo Decreto-Lei nº 309-A/2007, de 7 de setembro, este diploma enquadra o fnanciamento dos mais diversos cursos superiores. Os empréstimos são garantidos pelo estado, não necessitando de avales ou garantias patrimoniais. As taxas de juro são reduzidas e têm um spread máximo de 1%, que vai baixando em função do aproveitamento escolar. Os empréstimos, com duração entre três e cinco anos, consoante a duração do curso, são reembolsáveis entre seis meses a dez anos após a conclusão do curso, com pelo menos um ano de carência de capital. O período para o reembolso do capital mutuado é, em regra, o dobro do período de duração do empréstimo. No máximo podem pedir- -se 5 000 euros por ano de curso, até um máximo de 25 mil euros. este sistema poderá complementar os mecanismos de ação social escolar e abrange programas de mobilidade internacional, como é o caso do programa erasmus. Segundo a Direção-Geral do ensino Superior (www.dges.mec.pt/), em nota atualizada a 5 de dezembro de 2012, são sete as instituições fnanceiras aderentes a este sistema de empréstimos, incluindo o Montepio.

por mafalda simões monteiro

^ ABoNo Não te esqueças de verifcar, juntamente com os teus pais, se reúnem as condições para continuarem a receber o abono de família ou benefciarem da Ação Social. ^ BoLsAs De estuDo Verifca se reúnes condições para benefciares de uma bolsa de estudo. encontras toda a informação sobre esta matéria no site da Direção-Geral do ensino Superior. ^ iRsGuarda todas as faturas de despesas relacionadas com a educação. Os limites de dedução à coleta estão mais reduzidos do que em outros anos, mas são majorados por cada dependente nos escalões mais baixos. São consideradas para dedução à coleta despesas com saúde, educação, habitação, lares e pensões de alimentos e até as despesas de deslocação, se estiveres colocado longe de casa.

BenefíciostomA NotA

� A soLução “CRéDito

FoRmAção moNtePio”

oferece condições preferenciais para

clientes associados. O valor pode ser

disponibilizado por tranches e permite

o fnanciamento da totalidade dos

encargos. No caso das pós-graduações,

especializações, mestrados,

doutoramentos ou MBA serem realizados

no estrangeiro, o montante pode ir até

aos 50 mil euros.

Page 60: Revista Montepio

60

montepio primavera 2013

3a minha economiaANáLise

aS muTuaLiDaDeS OFereCem muiTaS SOLuçõeS DeSTiNaDaS a aJuDar OS aSSOCiaDOS a pOupareme a SaLvaGuarDarem-Se De riSCOS FuTurOS. eDuCaçãO, reFOrma Ou pOupaNça pODem eSTareNTre OS OBJeTivOS.Quem BeNeFiCia? OS aSSOCiaDOS e aS SuaS FamíLiaS.

MUTUALISMO

produtos com benefícios

por mafalda simões monteiro

Se está a ler esta revista, provavelmente o mutualismo já faz parte da sua vida. Este sistema livre de proteção social nasce da vontade de pessoas que se associam de forma voluntária para se protegerem mutuamente em situações de carência ou de melhoria da qualidade de vida. Tem origem no latim mutuum, isto é, “o que é meu é teu”, como explica, em pormenor, o padre Vítor Melícias, presidente da Mesa da Assembleia Geral do Montepio, no Ei – Educação, Informação, o portal de Educação Financeira do Montepio.

PARA SABeR MAIS CONSULTe ei.moNtePio.Pt

No mutualismo as pessoas associam--se livremente, a cada uma é atribuí-do um voto e os recursos individuais são colocados ao serviço de todos.

Se a solidariedade é o motor do mutualismo, como se materializam as soluções de poupança e proteção colocadas ao serviço dos associados?

A resposta está nas modalidades mutualistas, soluções que garantem que todos contribuem para um be-nefício mútuo.

o que são modalidades mutualistas?Ser cliente de uma instituição finan-ceira ou associado de uma mutuali-dade, como o Montepio, é bem dife-rente, desde logo pela possibilidade que os associados têm de subscrever modalidades mutualistas, soluções de poupança ou de proteção, com condi-ções exclusivas, seguras e valoriza-

das, que podem beneficiar o próprio ou terceiros (beneficiários).

Estas soluções dão corpo ao mu-tualismo e materializam a lógica de entreajuda que, no caso do Monte-pio, inspira os mais de 530 mil as-sociados que vão constituindo um valor acumulado com as suas entre-gas e quotas.

O leque de modalidades é variado e responde aos vários objetivos dos subscritores. Pode desejar criar-se uma poupança para a entrada do fi-lho no ensino superior ou preparar um complemento de pensão para quando chegarem os anos doura-dos da reforma.

Quanto à construção do patri-mónio, as modalidades podem im-plicar entregas únicas, programa-das ou pontuais, por prazos mais extensos ou mais curtos e com va-lorizações geralmente superiores

Page 61: Revista Montepio

61

montepio primavera 2013

às taxas de inflação. E, no final, o resultado da poupança reverte para o Associado ou para os seus beneficiários, consoante a modali-dade, em capital ou na forma de ren-da vitalícia ou temporária.

Planos de poupançaO Montepio disponibiliza diferen-tes soluções de poupança. É o caso do Montepio Capital Certo, uma so-lução, por séries, com prazo definido, por exemplo cinco ou oito anos, que apresenta um rendimento crescente. Esta modalidade, em cada série e no decurso de um determinado período fixado, pode ser subscrita com um in-vestimento mínimo de 150 euros.

Existem outras soluções, mais fle-xíveis em termos de prazo. É o caso da Poupança Complementar, con-cebida para associados com idades entre os 18 e os 54 anos. O valor ini-cial, de 150 euros, pode ser reforçado através de entregas programadas, a partir de 12,50 euros/mês, ou livres, a partir de 25 euros.

O Montepio Poupança Reforma é outra solução mutualista que as-segura um complemento à reforma, além de rendimento. Com um histó-rico de rendibilidades superior à taxa de inflação, a entrega mínima inicial é de 150 euros, a que se seguem en-tregas livres ou periódicas a partir de 50 euros. Mas o Montepio também apresenta soluções especificamente

Mutualizar poupanças

sAiBA mAis

criadas para jovens até aos 17 anos (Montepio Poupança Complementar Jovem); outra que permite garantir uma renda mensal vitalícia ou tem-porária para o Associado ou familia-res (Montepio Rendas).

Planos de proteçãoOutra vertente dos planos mutualis-tas é a proteção. Estas modalidades garantem diferentes coberturas, de-pendendo dos objetivos, e respondem às necessidades de diferentes idades.

O Montepio Proteção 5 em 5 é uma solução cujo capital subscrito, acrescido de valorização, será pago em parcelas, ao Associado ou ao seu beneficiário, por morte, de cinco em cinco anos, durante 10, 15 ou 20 anos.

Outra solução de proteção visa a preparação de um complemento à reforma (Montepio Pensões de Re-forma), assegurando uma pensão vitalícia mensal. Para os jovens existe o plano Montepio Proteção Sub-25, que garante a proteção a prazo para crianças e jovens. Com esta solução o capital subscrito será atribuído mais tarde ao jovem ou à criança que o Associado pretende beneficiar, podendo, no fundo, assu-mir-se como uma Bolsa de Estudo. Existem também soluções cujo obje-tivo é assegurar, em caso de morte ou invalidez, o pagamento de uma dívida relativa a um crédito habita-ção ou individual.

1 Ser ou tornar--se Associado de uma associação mutualista, como, por exemplo, o Montepio.

2 escolher a solução mais indicada, tendo em conta prazos, objetivos e montantes disponíveis. Os produtos podem ter entregas únicas, regulares, programadas ou não programadas.

3 Tome nota: quando subscreve uma modalidade mutualista tem que ter em conta custos e penalizações em caso de resgates antecipados. Procure certifcar-se de quando vai precisar do montante aplicado.

4 No caso do Montepio, para manter a condição de Associado tem que subscrever uma modalidade de poupança ou proteção.

Como subscrever modalidades mutualistasem Ação

moNtePio PRoteção suB-25

objetivo modalidade de aforro jovem que garante a proteção a prazo para crianças e jovens.Beneficiários Crianças e jovens.

moNtePio PouPANçA ComPLemeNtAR JoVem*

objetivo modalidade de poupança para jovens, para usar o capital investido quando se quiser.Prazo Não tem prazo definido. Valorização Garante uma valorização mínima anual à qual acrescem os resultados anuais da modalidade montepio Poupança Complementar. mínimo 150 €

moNtePio PeNsÕes De ReFoRmA

objetivo Complemento de reforma/pensão. Beneficiário Associado subscritoridade para subscrição Associados dos 35 aos 60 anos (atuariais). A idade a convencionar para o início do recebimento da pensão deve ser escolhida entre os 55 e os 70.Prazos 10 a 20 anos.

moNtePio PouPANçA ReFoRmA*

objetivo Poupança que assegura um complemento à reforma e um rendimento. Prazo Pode. a qualquer momento, fazer reembolsar, total ou parcialmente, o capital acumulado. Valorização tem apresentado taxas superiores à taxa de inflação. mínimo 150 € As entregas para esta modalidade são passíveis de benefício fscal de dedução à coleta em sede de IRS, sendo este benefício passível de devolução, acrescida de penalização no caso de reembolso fora das situações previstas na lei.* NO CASO De ReeMBOLSO, TOTAL OU PARCIAL, DOS CAPITAIS eNTReGUeS hÁ MeNOS De 5 ANOS hAVeRÁ UMA PeNALIZAçÃO, NO ReNDIMeNTO, COMO PReVISTO NO ReGULAMeNTO DA MODALIDADe.

www.montepio.pt

Page 62: Revista Montepio

62

3

montepio primavera 2013

a minha economiaFiNANçAs PessoAis

DAR A VOLTA

AbrA A portA Ao empregoCOm uma Taxa De DeSempreGO Na OrDem DOS 16,9%, pOrTuGaL é HOJe um paíS COm meNOS OpOrTuNiDaDeS para OS JOveNS e prOFiSSiONaiS. CONHeça aLGumaS eSTraTéGiaS para vOLTar a reveLar O Seu TaLeNTO aO muNDO

por jorge pires ilustração carlos monteiro

923 mil. É este o “assustador” número de desempregados que se avolumam numa taxa de desemprego de 16,9% e que qualquer país gostaria de evitar. Entre os jovens dos 15 aos 24 anos o cenário é ainda mais penalizador: 40% estão à procura mas não encontram uma empresa que lhes abra as portas para trabalhar. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), referentes ao último trimestre de 2012, são elucidativos quanto à situação de crise económica portuguesa e nem o Fundo Monetário Internacional, entidade que faz parte da troika que assegurou o financiamento externo nacional, acredita num futuro mais risonho. Segundo o seu relatório, publicado em outubro último, sobre a economia global, a estimativa sobre a taxa de desemprego para Portugal não verá melhores dias durante 2013, já que o FMI previa uma taxa de desemprego na ordem dos 16% (ultrapassada já em 2012), sendo a terceira mais alta da Zona Euro, atrás da Grécia e da Espanha e bem longe da média europeia, 10,4%.

Page 63: Revista Montepio

63

montepio primavera 2013

Num mercado de emprego com menos trabalho e mais competitivi-dade, é necessário aliar a estratégia diferenciadora que cative emprega-dores à criatividade e ao profissiona-lismo, mas o Estado também dispõe de alguns mecanismos de facilitação de acesso ao mercado de trabalho que vale a pena conhecer e explorar. O objetivo: encontrar emprego!

1 elabore um CV à alturaQual é o primeiro cartão de visita que os empregadores recebem dos milha-res de candidatos a empregos? O Cur-riculum Vitae (CV) é o meio diferen-ciador para fazer sobressair as suas competências, por isso utilize-o para se apresentar às empresas da melhor maneira no contacto inicial. Lembre--se que perante uma pilha de CV as suas qualidades só serão avaliadas se estiverem bem explicadas e porme-norizadas.

Apesar do Modelo Europeu de Curriculum Vitae ser a base para en-viar às empresas que oferecem em-prego, procure inovar. Torne o seu CV mais apelativo para quem lê e pa-ra quem o avalia, já que é através dele que o recrutador constroi a primeira imagem sobre si.

O tamanho do CV pode dizer mui-to sobre si e é a porta de entrada pa-ra a sua experiência profissional. O tamanho terá que ser proporcio-nal aos anos de experiência, ou se-ja, se tem pouca experiência torne o seu CV mais pequeno e vice-versa. Seja conciso no documento e tente adaptar a informação a um máximo de três páginas. Se precisar de redu-zir o tamanho do seu CV, opte pelo que é importante e o que pode mar-car a diferença em relação aos outros concorrentes.

Como muitos empregadores têm pouco tempo para ler centenas de currículos, realce as suas principais qualidades na primeira página. Seja transparente na hora de escrever e mostrar o seu CV ao responsável da empresa a que se candidata. Seja cla-ro nas datas, nos feitos realizados e na informação que o seu CV contém e não deite tudo a perder apresen-tando dados que não correspondam à realidade.

Na escrita deve evitar pará-grafos longos e o uso abusivo de bullets, aproveitando todas as opor-

O caminho para conseguir emprego pode ser demorado mas é essencial que não desista nem se afaste dos seus propósitos. Siga o percurso correto para atingir o objetivo principal.

estas são algumas das questões frequentemente colocadas nas entrevistas de emprego. Prepare-se!

O caminho certo para o emprego

Faça o trabalho de casa

RetRAto

^ DeFiNA os oBJetiVosPara começar o caminho do emprego é necessário que defna os seus objetivos, preferências e prioridades.

^ PRePARe-se e DiVuLGue-se Prepare o seu CV, a sua carta de apresentação, e reúna certifcados, diplomas e demais documentos que considere importantes para se apresentar às empresas.

^ PRoCuRe e CoNCoRRA A procura ativa de emprego é o primeiro passo para se dar a conhecer às empresas. Informe-se quanto às oportunidades existentes e que estão dentro dos seus objetivos e... concorra! Siga a máxima popular: não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.

^ FALe um PouCo De si Responda de modo simples às questões que lhe são colocadas. Seja dinâmico, direto e sucinto. evite vangloriar-se.

^ quAis os seus PoNtos FRACos? evite a resposta “não sei”. Você conhece os seus pontos fracos melhor que ninguém. Por isso, seja sincero e não lhes dê muita importância. em vez disso, mostre-se determinado a aprender.

^ PoR que esCoLHeu A NossA emPResA? Antes da entrevista é essencial conhecer a empresa à qual se candidata. Uma boa pesquisa pode ser a grande porta de entrada para o novo trabalho.

tunidades para escrever na primeira pessoa as suas realizações (terminei, realizei...).

Como o mundo empresarial é muito diferente e os empregadores podem exigir diferentes abordagens, mantenha um CV em várias versões, pronto a responder a solicitações diferentes.

2 Aproveite os “passaportes”Dois em cada cinco jovens da popu-lação ativa estão no desemprego. Por isso, e a pensar na franja da popula-ção entre os 18 e os 30 anos, o Gover-no lançou o programa Passaporte Em-prego (o Passaporte Emprego Agri-cultura permite candidaturas a jovenscom idades entre os 18 e os 35 anos).Através deste programa, os emprega-

dores dão a oportunidade aos jovens desempregados, há pelo menos qua-tro meses, de entrarem no mercado de trabalho, promovendo assim o seu desenvolvimento. A entrada no mer-cado de emprego faz-se pela via de es-tágios com a duração de seis meses, sob alçada do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), desti-nados a melhorar o perfil de empre-

imPuLso JoVem. Número de empregos que o Programa Estatal Passaporte Jovem disponibiliza através do Impulso Jovem.

90 mil

Page 64: Revista Montepio

3

64

montepio primavera 2013

a minha economiaANáLiseabra a porta ao emprego

Garanta uma escrita cuidada

gabilidade dos jovens que procuram emprego e promover a sua inserção ou reconversão profissional. Do pon-to de vista financeiro, o Estado da-rá apoio às empresas que contratem através deste sistema, integralmen-te ou numa percentagem de 70% do valor da bolsa de estágio. Para os es-tagiários, o valor a receber depende-rá sempre das suas qualificações aca-démicas. Para um estagiário que não tenha completado o ensino secundá-rio o valor será de um Indexante de Apoios Sociais (IAS), ou seja, 419,22 euros, ao qual acresce o subsídio de alimentação. Conforme as qualifica-ções melhorem no perfil do estagiário, maior será a bolsa de estágio mensal, podendo atingir 691,71 euros se es-te tiver finalizado o ensino superior. A este valor acresce, ainda, o subsídio de alimentação.

As entidades que podem receber os estagiários são entidades com fins lucrativos (Passaporte Emprego), ins-tituições sem fins lucrativos (Passa-porte Emprego Economia Social), associações desportivas e juvenis (Passaporte Emprego Associações e Federações Juvenis e Desportivas) e entidades ligadas à agricultura (Pas-saporte Emprego Agricultura).

3 Crie a sua empresaOutra alternativa é a criação do pró-prio emprego. Através do Progra-ma de Apoio ao Empreendedoris-mo e à Criação do Próprio Empre-go, do IEFP, pode criar o negócio que tanto desejou. A sabedoria mile-nar chinesa diz-nos que a crise pode ser uma oportunidade de mudança

Um grupo de ajuda para voltar ao trabalhoiNiCiAtiVA

OGePe (Grupo de entreajuda na Procura de

emprego) nasceu de numa iniciativa do IPAV (Insti-tuto Padre António Vieira) que contou com o apoio da Fundação Montepio e do Ministério da Solidarieda-de e da Segurança Social. Foi criado para apoiar os desempregados, em particular os que sofrem maior impacto psicológico

pela sua situação, no processo de reintegração laboral. Os elementos do grupo trocam informações, alargam a sua rede de contactos e de apoio social, orientam para si as hipóteses de encontrar trabalho e aumentam as competências. elaborar um bom curriculum ou saber qual é a postura correta nas entrevistas são algumas das competên-

cias que os elementos do GePe aprendem nas suas sessões. A desmotivação, o isolamento e a depressão podem ser ultrapassadas nas sessões do GePe, dando os instrumentos de autoajuda necessários, nos quais a única coisa que se pede aos participantes é a sua atitude positiva e proatividade. As sessões acontecem todas as semanas em instalações

disponibilizadas pelas instituições anftriãs. Os grupos são normalmen-te constituídos por seis a 10 pessoas e por dois animadores voluntários. Durante duas horas são trabalhadas três com-ponentes: a partilha de atividades que ocorreram durante a semana com vista a encontrar emprego, a entreajuda emocional e a autoformação.

Quais as maiores aprendizagens adquiridas através do GEPE?

VoxPoP

Rui siLVA

“Através do GePe consegui aperceber-me de que existiam pessoas que, como eu, estavam numa situação de desemprego, apesar das suas características pessoais e da experiência profssional. As maiores aprendizagens que o GePe me trouxe foram a nível pessoal e de partilha. Posso dizer que os participantes do GePe foram os meus anjos em 2012.”

sANDRA meNDes

“Permitiu--me conhecer novas pessoas e novas formas de procurar emprego, fortalecer o meu networking, atualizar as minhas técnicas de procura de emprego (CV, postura na entrevista...), mas, principalmente, permitiu-me contribuir e partilhar a minha experiência anterior na área dos Recursos humanos com os outros ‘GePeANOS’."

Dicas para elaborar um CV

Inove!

Seja verdadeiroe claro

exponha o que acha mais importante

e a mudança pode começar no mi-crocrédito ou no pagamento, total ou parcial, do montante global das pres-tações de desemprego.

elabore um CV dinâmico

Page 65: Revista Montepio

65

montepio primavera 2013

dinheiro, economiA e A tuA cArteirA

CO

Le

CIO

Ne

AS

FIC

hA

S D

O P

RO

GR

AM

A D

e e

DU

CA

çÃ

O F

INA

NC

eIR

A e

AJ

UD

e A

S S

UA

S C

RIA

AS

A F

AZ

eR

eM

MA

IS P

eL

O S

eU

DIN

he

IRO

ABC

FiNANCeiRo

EDUCAÇÃOINFORMAÇÃO

Próxima edição

A montepio ajuda-te a fazeres contas

aos teus objetivos. sabes quanto tens

que poupar para os teus sonhos?

De pequenino é que se marca a diferença. Aprende como se ganha o dinheiro, onde deves guardá-lo e como podes multiplicá-lo.

Não é preciso ser o harry Potter ou fazer magias para aumentar o dinheiro, investindo-o. Imagina que a tua família poupa, todos os meses, 50 euros, depois de pagar as contas relativas à casa e escola... esse dinheiro

pode gerar mais dinheiro. Como? Parado não, no Banco encontram-se muitas soluções para investir o dinheiro. Antes de qualquer decisão ou ponderação, a palavra que deve estar sempre presente é: informação. Só com boa informação é possível seguir uma estratégia responsável.

O teu dinheiro a renderNo Banco, é normal que os produtos que podem fazer crescer o dinheiro se encontrem divididos por categorias de risco. O que é que isso signifca? Que a decisão de investir deve ter presente a possibilidade de, em função do risco associado à solução escolhida, poder ganhar-se ou perder-se dinheiro.Ou seja, quem investe pode acabar com menos do que quando investiu, fcando a perder.

f DePósitos A PRAzoFuncionam como um mealheiro. Colocas o teu dinheiro numa conta e defnes o momento em que queres levantá-lo (3 ou 6 meses, por exemplo). Durante esse período de tempo o teu dinheiro está seguro e o Banco paga-te algum dinheiro a mais, os juros, por teres a poupança ao serviço da economia.Risco: Baixo.Prazo: Para todos os objetivos, mas ajustado a quem quer fazer render as poupanças até dois anos, como dar entrada para comprar um carro.Possibilidade de ganho: existe um ganho de juros garantido à partida que anda em linha com a inflação, ou seja, a subida dos preços.

f oBRiGAçÕesSe uma empresa ou país precisa de dinheiro, pode pedir emprestado aos investidores através de obrigações. As obrigações são títulos de dívida através dos quais a entidade emitente (empresa) se compromete a pagar ao obrigacionista um determinado rendimento (que vem dos juros) e a reembolsar o dinheiro que o subscritor emprestou. O risco depende do tipo de empresa ou estado, mas, na sua generalidade, as obrigações são de risco médio baixo. Risco: O risco da obrigação depende do risco do emitente e de outros riscos, mas, por norma, as obrigações estão associadas a risco médio/baixo.

f AçÕesAs ações são partes do capital de uma empresa e a pessoa que tem ações chama-se acionista. há empresas que têm estes títulos negociados na bolsa de valores e o seu preço varia com a procura e a oferta. Na prática, quando muitas pessoas (investidores) querem comprar uma ação, o seu preço sobe. Quando há mais pessoas a vender, o preço desce. Risco: elevado.O preço das ações (cotações) varia diariamente e é impossível prever como vai comportar-se no futuro. Por isso, existe um risco elevado para o dinheiro de quem investe.Prazo: Para objetivos de longo prazo, como comprar uma casa nova daqui a dez anos ou para a reforma. Possibilidade de ganho: O ganho potencial é elevado, mas a perda potencial também é.

€ € €€ €

% % %%%

1

Prazo: Para objetivos de médio e longo prazos, como preparar a entrada na universidade nos próximos quatro anos.Possibilidade de ganho: As obrigações podem ter um ganho conhecido à partida para o fnal do prazo ou podem ter um rendimento variável. Tradicionalmente, oferecem ganhos potenciais entre os dos depósitos a prazo e os das ações.

Page 66: Revista Montepio
Page 67: Revista Montepio

página 76

PAsseios Com HistóRiArume a ílhavo, perto de Aveiro, e conheça o Museu Marítimo de Ílhavo, onde o bacalhau é o principal protagonista

página 72

HoRtAsO que para uns é um regresso às origens, para outros é novidade e lazer. Dedique-se à jardinagem durante todo o ano e colha os benefícios!

página 80

siGA o PãoPor todo o país, o pão assume lugar destaque. Conheça os principais pães por região e saiba por que são tão importantes na nossa gastronomia

página 68

AstRoNomiA esta primavera olhe para cima e, com a ajuda da Montepio, saiba o que o frmamento lhe reserva

IDeIAS e DeSCOBeRTAS eM LAzeR, FAmíLiA, sAúDe, CuLtuRA

A MINHA VIDA

Page 68: Revista Montepio

68

4a minha vidaLAzeR

moNtePio PRIMAVeRA 2013

Com o Dia Mundial da Astronomia a 8 de abril e o Sol a ter o seu pró-prio dia a 3 de maio, a primavera é boa altura para ter uma nova pers-petiva do céu. Se hoje vemos o mes-mo céu que Aristóteles – são necessá-rios, no mínimo, 26 mil anos para que sejam produzidas mudanças dignas de nota e só no ano 14 mil se prevê que o Norte deixe de ser indicado pela Estrela Polar, o que não significa que as estrelas que observamos no céu sejam as mesmas ao longo de todo o ano - a verdade é que temos um céu diferente a cada estação do ano, com determinadas estrelas, conste-lações e planetas a assumirem maior

COm a CHeGaDa DOS DiaS maiOreS e DO TempO ameNO, aprOveiTe para OLHar O Céu De OuTra maNeira. peraNTe um paNOrama DiFereNTe em CaDa eSTaçãO, SaiBa O Que O FirmameNTO LHe reServa eSTa primavera

ASTRONOMIA

de cAbeÇA no Ar

por susana torrão

protagonismo. Tudo graças ao mo-vimento de translação da Terra e ao movimento aparente do Sol, que faz com que o Sol se projete nas estrelas de forma diferente ao longo do ano, dando uma aparência diferente ao céu ao longo das estações.

A Montepio foi saber o que po-de esperar dos céus nos próximos meses. Coloque o nariz no ar e, em grupo, sozinho ou integrado num clu-be de astrónomos amadores, descu-bra um novo hobbie que mistura lazer e ciência. E não tema: ao contrário do que receavam os gauleses da aldeia de Astérix, não será desta que o céu nos cairá em cima da cabeça.

j^ equiNóCio De PRimAVeRA este ano a primavera começa a 20 de março, às 11h02. Na tarde deste dia, Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno, que pertence à constelação de Cão Maior, será visível ao pôr-do-sol.

j^ tRês-mARiAs ou CiNto Do GiGANte Integram a constelação de Orionte e marcaram o céu de inverno. No primeiro dia de primavera serão vistas ao crepúsculo. horas mais tarde, por volta das 22 horas, estarão a esconder- -se a Oeste, o mesmo acontecendo com Sirius.

j^ uRsA mAioR Facilmente identifcável pelas quatro estrelas que constituem o quadrado popularmente designado por “carro” ou “caçarola” e pelas três estrelas da cauda, aparece sempre em oposição à constelação de Cassiopeia.

25 abril eclipse parcial da Lua. será visível a olho nu. A Lua entrará na penumbra às 19h02, atingindo o meio do eclipse às 21h08. sairá da sombra às 21h23. Nesta data, em Portugal Continental, a Lua nasce às 20h20.

CALeNDáRio

Datas a reter25 maio

eclipse penumbral da Lua. um fenómeno que ocorre sempre na lua cheia e que será pouco percetível. A Lua entra na chamada zona de penumbra, perdendo brilho. Além de surgir menos brilhante, o brilho também não é uniforme.

6 maio enxame de meteoroides. As Aquáridas, meteoroides associados ao cometa Halley, entrarão na atmosfera, provo-cando uma chuva de estrelas. A maior intensidade deve ocorrer a 6 de maio, cerca das 22h30. Visível a olho nu.

Page 69: Revista Montepio

69

moNtePio PRIMAVeRA 2013

para uma boa observação, siga as dicas de rui agostinho, diretor do observatório astronómico de lisboa

observaçãoj^ CAstoR

e PóLux Quem olhar os céus com atenção vai também reparar em duas estrelas que surgem lado a lado. Trata-se de Castor e Pólux, duas das estrelas que pertencem à constelação de Gémeos. j^ esPiGA

Durante a primavera, esta estrela, que faz parte da constelação de Virgem, também será visível. Para a descobrir, o caminho mais fácil é, a partir do fm da cauda da Ursa Maior, descer o olhar até uma estrela vermelha (é Arcturus, da constelação do Boieiro) e depois descer mais um pouco até encontrar a estrela espiga, que se distingue pelo brilho.

j^ sAGitáRio Também conhecido como "bule de chá" ou "cafeteira", devido à sua forma, aparece no céu de madrugada, durante a primavera.

j^ meRCúRio É uma observação destinada aos mais madrugadores. Durante a primavera, Mercúrio será visível logo ao romper da aurora, entre 9 de maio e 1 de junho. Como tem uma órbita muito próxima do Sol, é observado imediatamente antes deste nascer. É um planeta não muito visto, não só pela hora a que aparece mas porque não tem uma presença muito exuberante no céu.

j^ CAssioPeiA esta constelação surge sempre no horizonte norte. É visível a oeste, numa posição baixa no horizonte.

j^ Leão No horizonte sul, é outra das constelações visíveis durante toda a primavera.

28 maio Vénus em conjugação com Júpiter. os dois planetas aparecerão alinhados, como dois pontos muito brilhantes. A partir da primeira semana de junho, Júpiter deixa de poder ser observado por se encontrar muito próximo do sol.

25 maio a 20 junho Vénus surge como estrela da tarde.

Pequeno telescópioSaia com grupos de astrónomos amadores e procure dicas sobre qual será o mais adequadoaos seus objetivos e aoseu orçamento.

Binóculos Melhoram, de forma significativa, a observação da Lua e de alguns planetas. Recomenda-seo uso de um tripé.

Fuja da orla costeira A humidade do ar que se verifica nas zonas costeiras dificulta a observação do firmamento.

Chuvas de meteorosÉ impossível olhar em todas as direções. O mais fácil é fazê-lo em grupo, com cada elemento voltado para uma posição, fazendo, no final, a contabilidade.

Procure um local escuro Os locais não afetados pelas luzes das cidades são os mais indicados para uma boa observação do céu.

Page 70: Revista Montepio

70

4a minha vidaLAzeRde cabeça no ar

moNtePio PRIMAVeRA 2013

j^ DesCoBeRtA DiáRiA A NASA ajuda a desvendar o universo. em apod.nasa.gov/apod/ todos os dias é publicada uma imagem do universo, acompanhada de explicação por um astrónomo

PALeSTRASNo último sábado de cada mês, o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), na Ajuda, organiza uma palestra. A entrada é livre mas é necessária inscrição prévia. Para quem está longe, as palestras podem ser acompanhadas em www.oal.ul.pt.

CURSOS De ASTRONOMIALecionados por professores universitários mas dirigidos ao público em geral, os cursos do OAL dão a conhecer o mundo da astronomia e incluem sessões práticas. Descontos para famílias e grupos. Aos sábados de manhã.

VISITASAs visitas são feitas por marcação, através dos contactos do OAL.

CIêNCIA VIVA De 15 de junho a 15 de setembro, o OAL realiza, todas as sextas-feiras, uma visita com observação do céu.

Observatório Astronómico de Lisboa

oBseRVAtóRio AstRoNómiCo

De LisBoATapada da Ajuda, 1349-018 LisboaTel. 213 616 730

[email protected]

PLANetáRio CALouste

GuLBeNkiAN – CeNtRo De

CiêNCiA ViVAPraça do Império, 1400-206 LisboaTel. 213 620 002

[email protected]

SeSSõeS PúBLICAS sessÕes iNFANtis Sábados, 16h00 Domingos, 11h30

ViAGem A um BuRACo NeGRo Domingos, 15h00

HuBBLe VisioN – umA NoVA Visão Do uNiVeRso Domingos, 16h00

PReçOS: Aos domingos a sessão infantil é grátis para crianças até aos 12 anos. Os acompanhantes pagam meio bilhete. Até aos 17 anos: 2,5 euros Dos 18 aos 64: 4 euros

PALeSTRA A 5 de abril, pelas 21h30, Guilherme de Almeida, da Associação Portuguesa de Astrónomos Amadores, dará uma palestra sobre Como Conhecer o Céu a Olho Nu. A entrada é livre.

Planetário Calouste Gulbenkian

N icolas Camille Flammarion, um astrónomo francês,

conseguiu lançar o pânico à escala mundial em 1911. Logo após a descoberta recente da composição química dos cometas – incluindo os gases letais – o cientista previu que a rota do cometa halley o levaria a passar muito próximo da Terra. De acordo com Flammarion, o cianogénio, um dos gases que integra a cauda do cometa, contaminaria a atmosfera terrestre, provocando uma grande mortandade à escala global. Com o aviso feito não pelas vozes da superstição mas por um cientista, depressa o pânico se generalizou. houve quem se suicidasse e quem

tentasse fazer negócio com máscaras e outros artefactos destinados a salvar a humanidade do gás mortífero. A comunidade científca de então ainda tentou explicar que as partículas do gás seriam inofensivas depois de entrarem na atmosfera terrestre, mas o mal já estava feito. Já antes o cometa tinha passado ainda mais próximo da Terra, nomeadamente em 1066, ano da batalha de hastings à qual, posteriormente, também fcou associado na forma de bom augúrio para as tropas de Guilherme II da Normandia, o Conquistador, e mau agoiro para as tropas de harold II, rei anglo-saxão morto na batalha. O halley voltou a poder ser visto em 1986 e espera-se nova visita em 2061.

Quando a ciência lançou o pânicoHistóRiA

Page 71: Revista Montepio
Page 72: Revista Montepio

72

4

montepio primavera 2013

a minha vidaJARDiNAGem

JÁ peNSOu em DeDiCar--Se à JarDiNaGem Ou em Criar uma HOrTa para COrTar GaSTOS Na DeSpeNSa? pOr Que NãO ir à varaNDa BuSCar OS iNGreDieNTeS em vez De aO SupermerCaDO?

por raquel abrantes amaralilustração carlos monteiro

hORTAS

VoltAr à terrA

Visíveis por diversas cidades, as hortas urbanas têm sido uma solução encontrada por muitos para poupar algum dinheiro, mas também uma opção considerada mais saudável para quem planta e consome os próprios vegetais. Esta atividade, cada vez mais em voga, tem vindo a aproveitar pequenos espaços verdes entre os prédios. Assim, da próxima vez que vir, por exemplo, um habi-tante de Lisboa, Porto ou Matosinhos com a enxada na mão, não estranhe, vai mesmo tratar da horta.

Em 2012, a Câmara Municipal de Lis-boa disponibilizou novos talhões nos Parques Hortícolas da Quinta de Nos-sa Sra. da Paz e de Telheiras, ambos na freguesia do Lumiar. A criação de parques deste género faz parte do programa de incentivo à agricultura urbana, em curso na Câmara Muni-cipal de Lisboa, segundo o qual ca-da hortelão paga um valor simbólico por metro quadrado e a manutenção dos espaços comuns fica a cargo da Câmara. O hortelão é o responsável

exclusivo pelo seu talhão, onde culti-va o que quer e colhe quando neces-sita, e tem ainda acesso a materiais de apoio ao cultivo, a água para rega e formação em horticultura.

No Porto, o projeto “Horta à Por-ta”, criado em 2003, tem como obje-tivo promover a qualidade de vida da população disponibilizando talhões de cerca de 25 metros quadrados a quem estiver interessado em pra-ticar agricultura biológica. Com o talhão de terreno, o hortelão benefi-

cia também de formação essencial em agricultura biológica.

Quem se dedica a uma horta des-taca as inúmeras vantagens de con-sumir produtos frescos, a poupança na conta do supermercado e umas deliciosas horas de lazer. Mas a exis-tência destas hortas urbanas também traz vários benefícios para a cidade. À semelhança dos parques e jardins, estes pequenos espaços verdes contri-buem para baixar as temperaturas no verão e libertar oxigénio.

OUTONO

VERÃO

INVERNO

CoentrosSemeie em abrile reserve-lheo canto maisquente da suavaranda.Precisamde calor

Orégãos Pode semearna primaverae terá colheitadurante todoo verão

ManjericãoÉ sensível aofrio. Não toleratemperaturasinferioresa 12 graus

Lúcia-limaPronta paracolher nosmeses de verão,basta cortar comos dedos e voltaa crescerrapidamente

janeiro marçofevereiro

julho agosto

setembrooutubro

dezembro

novembro

Coloque o cebolinhoao lado da salsa, para ajudar a prevenirdoenças e pragas.Também se dá muitobem com o tomate

SalsaEntre marçoe agosto

CebolinhoTodo o ano.Não corte maisde um terço dasfolhas de uma sóvez, pois a plantapode nãosobreviver

MorangosPlantam-se de junhoa setembro e devemestar protegidos dovento. Mantenha-oslonge do solo, paranão apodrecerem

HortelãEm semente: na primavera.Em mudas: todo o ano.Mantenha a terra húmidaao toque. Deve removeras folhas mais altas paraque a luz chegue às outrasainda em crescimento

Ervilhas Mantenha o solo húmido,necessitam de um local frescomas com bastante luz. Quandoas plantas atingirem cincocentímetros de altura já poderácolher algumas ervilhas.Deixe sempre, pelo menos,duas folhas em cada caule;

Tomate-cerejaEm semente: em janeiro.Em mudas: março e abril.Precisa de muita luz.A colheita pode ser feita 80 dias depois da plantação:tenha cuidado paranão partir outros caules

abril PRIMAVERAmaio

junh

o

RabanetesPodem ser plantadostodo o ano. Escolha umlocal ao sol e regue-osbastante. No verão sóprecisa de 30 diaspara a colheita

FeijõesVai precisar de espaçoe luz. Deve semear naprimavera e no verão.É uma planta de rápidocrescimento, massensível à geada

Couve coração de boiÉ a mais utilizada nas sopase pode ser semeada entremarço e outubro. Precisade muita água nos mesesde verão

BeterrabasPode cultivar o ano inteiroe são necessários 90 diasaté à colheita. É uma plantabastante resistente àsmudanças de temperatura

CenourasPode plantar a partirde dezembro mas deveprotegê-las do frio ou esperar até fevereiro.Podem ser colhidas16 semanas depois

AlfaceDeve ser semeada entremarço e setembro. Comboa luz é de crescimentobastante rápido. A regadeve ser feita de manhãou ao final do dia

EspinafresPode plantar nosmeses de verão ou outono e terácolheita cerca de 60 dias depois

Plantarem casa

Plantarna horta

Page 73: Revista Montepio

73

montepio primavera 2013

Faça a horta em sua casaPode também criar uma pequena horta na sua própria casa. É uma atividade mais prática mas na qual também vai ter de dispender tem-po, paciência e até amor. Vai ver que compensa. Tudo depende do espaço disponível, das horas em que o sol incide na sua varanda e do que pre-tende cultivar. Tenha em conta que as espécies mais fáceis de cultivar são: ervilhas, feijões, favas, rabane-tes, rúcula, beterrabas, alfaces, chi-cória, tomate, espinafres, morangos e ervas aromáticas.

Pode começar pelas ervas aromá-ticas, de rápido crescimento e que as-sim lhe permitem ter resultados qua-se imediatos, o que também é impor-tante para manter o entusiasmo.

Consegue comprar no supermer-cado e em lojas da especialidade sementes ou pequenas mudas de coentros, hortelã, salsa, cebolinhos, manjericão e lúcia-lima. Escolha as suas preferidas, cubra o fundo dos vasos com uma fina camada de pe-quenas pedras (brita) ou opte por va-sos com furos por baixo. É a forma ideal para drenar a água em exces-so. O truque para evitar que as aro-máticas morram com água a mais é manter o vaso sempre ligeiramente húmido. Molhar uma vez por dia é o suficiente e os vasos e floreiras de-vem ter aproximadamente 40 centí-metros de altura.

Lembre-se que é importante saber que quantidades de água neces-sita cada espécie, se bem que, geral-mente, as aromáticas sejam bastan-te fáceis de cuidar. Tenha igualmen-te atenção às necessidades de luz, calor, épocas de sementeira e colheita e que vai ter de investir tempo para ver a recompensa a nascer. A verda-de é que nada se compara a uns ovos mexidos com manjericão fresco.

PPode frequentar cursos

práticos de horticultura por todo o país. Nos jardins botânicos de Lisboa e de Coimbra existem ao longo de todo o ano. Pode ainda

contactar a Quinta Municipal da Piedade - Póvoa de Santa Iria ou a Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (www.agrobio.pt) para informações mais pormenorizadas.

A consultar também os cursos de jardinagem e de jardins promovidos pela Associação Portuguesa de Jardins e Sítios históricos, em parceria com a Viplant. Veja mais no site www.viplant.pt

Horticultura sem segredosAPReNDeR

j^ mAteRiAL De que VAi PReCisAR PARA A HoRtA Pás de cabo comprido, uma enxada de cabo, um sacho, um ancinho e uma tesoura de podar. Conte com cerca de 30 minutos por dia para que a sua horta esteja saudável e livre de pragas

OUTONO

VERÃO

INVERNO

CoentrosSemeie em abrile reserve-lheo canto maisquente da suavaranda.Precisamde calor

Orégãos Pode semearna primaverae terá colheitadurante todoo verão

ManjericãoÉ sensível aofrio. Não toleratemperaturasinferioresa 12 graus

Lúcia-limaPronta paracolher nosmeses de verão,basta cortar comos dedos e voltaa crescerrapidamente

janeiro marçofevereiro

julho agosto

setembrooutubro

dezembro

novembro

Coloque o cebolinhoao lado da salsa, para ajudar a prevenirdoenças e pragas.Também se dá muitobem com o tomate

SalsaEntre marçoe agosto

CebolinhoTodo o ano.Não corte maisde um terço dasfolhas de uma sóvez, pois a plantapode nãosobreviver

MorangosPlantam-se de junhoa setembro e devemestar protegidos dovento. Mantenha-oslonge do solo, paranão apodrecerem

HortelãEm semente: na primavera.Em mudas: todo o ano.Mantenha a terra húmidaao toque. Deve removeras folhas mais altas paraque a luz chegue às outrasainda em crescimento

Ervilhas Mantenha o solo húmido,necessitam de um local frescomas com bastante luz. Quandoas plantas atingirem cincocentímetros de altura já poderácolher algumas ervilhas.Deixe sempre, pelo menos,duas folhas em cada caule;

Tomate-cerejaEm semente: em janeiro.Em mudas: março e abril.Precisa de muita luz.A colheita pode ser feita 80 dias depois da plantação:tenha cuidado paranão partir outros caules

abril PRIMAVERAmaio

junh

o

RabanetesPodem ser plantadostodo o ano. Escolha umlocal ao sol e regue-osbastante. No verão sóprecisa de 30 diaspara a colheita

FeijõesVai precisar de espaçoe luz. Deve semear naprimavera e no verão.É uma planta de rápidocrescimento, massensível à geada

Couve coração de boiÉ a mais utilizada nas sopase pode ser semeada entremarço e outubro. Precisade muita água nos mesesde verão

BeterrabasPode cultivar o ano inteiroe são necessários 90 diasaté à colheita. É uma plantabastante resistente àsmudanças de temperatura

CenourasPode plantar a partirde dezembro mas deveprotegê-las do frio ou esperar até fevereiro.Podem ser colhidas16 semanas depois

AlfaceDeve ser semeada entremarço e setembro. Comboa luz é de crescimentobastante rápido. A regadeve ser feita de manhãou ao final do dia

EspinafresPode plantar nosmeses de verão ou outono e terácolheita cerca de 60 dias depois

Plantarem casa

Plantarna horta

Page 74: Revista Montepio

74

4

montepio primavera 2013

a minha vidaCiDADe À LuPA

... a não perder

A posta mirandesa, claramente. Mas também o cabrito de Montesinho, o cozido e a feijoada à transmontana. e as trutas, não esquecer as trutas. Depois temos o borralho, mas também os caldos de perdiz, confecionados com a água da cozedura destas aves, presunto, nabo e cebola. há ainda a sopa de coelho bravo marinado em vinho branco ou

o arroz de lebre com repolho. e o javali à transmontana. e depois, claro, os enchidos regionais, um dos ex-líbris. O presunto, as alheiras (aqui também designadas tabafeias), o salpicão e o butelo são dignos representantes desta “casta”. Uma coisa é certa: quando visitar a cidade leve apetite.

É a Cidadela, situada numa colina sobranceira à cidade, na qual, no in-terior das suas muralhas, se encon-tram edifícios invulgares, como a im-ponente Domus Municipalis, a Torre de Menagem, a Igreja de Santa Maria e o impressionante pelourinho gótico.

Bragança é também a Sé Catedral, renascentista e ocupada por mon-ges jesuítas que fundaram um colé-gio nas suas instalações. Hoje serve de poiso ao Centro Cultural Municipal, Biblioteca Municipal, Conservatório de Música e Espaço Memória da Cidade.

Bragança é ainda o Parque Natural de Montesinho, uma das maiores áreas protegidas de Portugal, estendendo-se por mais de 75 mil hectares e com uma altitude superior a 1 500 metros. Aqui pode cruzar-se com um lobo, um javali e uma águia-real.

A história de Bragança continua a fazer-se. Seja no Centro de Arte Con-temporânea Graça Morais, com pro-jeto do arquiteto Souto de Moura, seja no Museu Ibérico da Máscara e do Traje, seja no Centro de Ciência Viva.

GAstRoNomiA

1 2

BRAGANçA

de mAlA

sempre feitA GPS

n 41° 48' 14.5074" W 6° 45' 3.3012"

QuaLQuer CONverSa SOBre GaSTrONOmia vai

Ter a BraGaNça e iSSO NãO é reDuTOr. é LÁ Que eSTãO aS TraDiçõeS, OS COSTumeS e aS GeNTeS

DeSTa Terra. maS BraGaNça é muiTO maiS

DO Que um BOm praTO

por susana marvãofotografia câmara municipal de bragança

1jCentro de Arte Contemporânea Graça Morais2jCastelo de Bragança, cujas origens remontam ao séc. xii ou xiii

3jBiblioteca Municipal de Bragança, em plena zona histórica da cidade 4j Domus Municipalis, constituída por dois espaços distintos 5jCarnaval dos Caretos, durante o qual mais de 200 caretos, de Portugal, espanha e Itália, percorrem as ruas de Bragança

Page 75: Revista Montepio

75

montepio primavera 2013

Maria Teresa Barreira65 anos,

Professora aposentada

“As pessoas de Bragança primeiro gostam de

conhecer quem as visita. Mas depois são pessoas simpáticas. Tanto que

há uma frase que dizemos: ‘Da porta para dentro,

é tudo camas.’ Ou então, ‘há sempre tantico para dar,’ no sentido que há sempre um bocadito para repartir.”

meLHoR ALtuRA PARA iR Durante todo o ano há imensas atividades, mas não se esqueça que a amplitude térmica é elevada. Se for pela altura dos Reis não perca a Festa dos Rapazes, um curioso rito iniciático tradicional de puberdade e que representa a passagem dos jovens solteiros, com cerca de dezasseis anos, para a idade adulta. Se a visita for entre o fnal de janeiro e o princípio de fevereiro ainda apanha o Carnaval dos Caretos, realizado em Podense. Depois, entre julho e fnal de agosto, basta andar por toda a zona histórica que há sempre qualquer coisa a acontecer, desde feiras de artesanato a concertos...

oNDe ComeR?entre as pessoas com as quais falámos, um nome salta e é comum a todos: D. Roberto, especializado em cozinha típica regional. Pratos de caça, butelo com cascas, posta à mirandesa, cordeiro bragançano, cabrito à Montesinho, fumeiro regional, trilogia de porco bísaro, milhos doces com compotas e pudim de castanhas… (estrada Nacional 218, km 7, Bragança. Tel. 273 302 510).

Pedro Orlando Morais28 anos,

Psicólogo clínico

“Bragança está diferente. houve um grande

investimento na cultura pelo que os jovens já têm programas alternativos à sua escolha. Por outro

lado, o Instituto Politécnico de Bragança veio dar

mais vida à região. As rendas são baratas,

a cidade é segura e o custo de vida baixo. há qualidade

de vida.”

Carlos Trancoso23 anos,

estudante de arquitetura

“A melhor comida é a das aldeias, aí sim,

provamos a gastronomia local. Tenho pena que

tenham deslocado o mercado municipal, que

era mesmo ao lado da praça e que servia de troca

de produtos locais. Mas no geral há qualidade de vida e as pessoas vivem bem, além de terem uma

forte influência da cultura espanhola o que torna as

pessoas singulares. Todos falam espanhol.”

Um segredoDiz quem sabe que o melhor é travar conhecimento com um habitante de uma aldeia das redondezas e rezar para que o convide a almoçar em sua casa.

Uma recordaçãoPode trazer enchidos. Mas se quiser algo menos gastronómico, experimente um careto, de barro.

O que nunca fazerNunca, mas nunca, rejeite comer ou beber. É falta de educação e os bragantinos podem levar a mal se recusar o que lhe colocarem no prato.

5

43

os locais é que sabem

1ª pessoa

Page 76: Revista Montepio

76

4a minha vidaPAsseios Com HistóRiA

4

moNtePio PRIMAVeRA 2013

gadus morhua. é eSTe O “verDaDeirO” NOme DO “NOSSO BaCaLHau”, aQueLe Que Se peSCa e CONSOme HÁ SéCuLOS. e é TamBém a NOva aTraçãO DO aQuÁriO De BaCaLHauS, iNauGuraDO em JaNeirO, NO âmBiTO DaS COmemOraçõeS DO 75º aNiverSÁriO DO muSeu maríTimO De íLHavO

por susana marvãofotografia ricardo meireles

MUSeU MARÍTIMO De ÍLhAVO

onde o bAcAlhAu é rei

sAiBA mAis MUSeU MARÍTIMO De ILhAVO

Avenida Dr. Rocha Madahíl3830-193 Ílhavo

Tel. 234 329 990www.museumaritimo.com-ilhavo.pt

Page 77: Revista Montepio

77

montepio primavera 2013

O que é, afinal, o nosso bacalhau? Como distin-guir o bacalhau de outros gadídeos? Como vivem e habitam os bacalhaus? Estas são algumas das perguntas para as quais obterá resposta depois da visita ao Aquário dos Baca-lhaus, no Museu Marítimo de Ílhavo, inaugurado no passado mês de janeiro.

“É o único aquário da Uni-ão Europeia. Repare que, em Portugal, temos uma relação cultural com o bacalhau, que passa pelo consumo e pela memória da pesca. Mas a questão é que a maioria das pessoas nunca viu um bacalhau, um gadídeo”, explicou-nos Álvaro Garrido, consultor e membro da direção do Museu. Aqui vai ter a opor-tunidade de ver não um mas 11 dos 32 espécimes de bacalhaus, da Noruega e Islândia, que constituem o património biológico do Museu Marítimo de Ílhavo.

O Aquário dos Baca-lhaus tem uma capacida-de de 120 m3 de água e uma temperatura que ronda os 12ºC. Aliás, houve neces-sidade de atingir artifi-cialmente as condições de salinidade próximas do

existente no habitat na-tural, pelo que teve que se utilizar um sal medici-nal importado da Alema-nha, já que o sal nacional não reúne as caraterísticas técnicas para responder às exigências.

Com sorte, pode ain-da ver o tratador dar de comer aos bacalhaus – quando ficam particu-larmente ativos. A ali-mentação é dada de dois em dois dias e na refeição que presenciámos o me-nu, praticamente gourmet, é composto por miolo de camarão e lulas. Hoje, os bacalhaus já estão acostu-mados ao seu habitat mas, como nos explicou Álva-ro Garrido, quando chega-ram era muito difícil en-contrá-los, pois insistiam em esconder-se.

O Museu é obviamente muito mais do que o aquá-rio. A estrutura contempla três exposições permanen-tes, todas de temática ma-rítima. No piso inferior, na Sala da Faina Maior, pode contemplar uma exposição dedicada ao tema da pesca do bacalhau, enquanto na sala da Ria são abordadas as fainas agromarítimas da ria de Aveiro. No piso supe-rior ergue-se a imponente

j^ sALA DA FAiNA O espaço é pouco iluminado para criar um ambiente ostensivamente lúgubre, mítico e envolvente

1jIate da pesca do bacalhau, construído em 2001 2jBarco do andor, com Cristo e os Apóstolos3jFoquim, balde de madeira no qual os pescadores levavam a refeição 4jZagaia, amostra de chumbo, em forma de peixe, usada para capturar o bacalhau 5jA Sala da Ria expõe vários objetos relacionados com a pesca do bacalhau

1 2

5

3

4

“A gente de ílhavo não tira os olhos do mar, não sabe viver sem armadores de navios. Ainda mesmo no tempo de maior decadência da marinha de vela, hoje reanimada nas águas do Vouga pela pesca do bacalhau, nunca ílhavo deixou de trazer no mar gente sua e barcos seus, para a pesca ou para o comércio.”jaime de magalhães lima, os Povos do Baixo Vouga, 1926

Page 78: Revista Montepio

78

4

montepio primavera 2013

a minha vidaPAsseios Com HistóRiAmuseu marítimo de ílhavo

Ao fm de semana vai ser possível assistir a um mergulhador a interagir com os 11 bacalhaus

que habitam o aquário.Pode ser que veja a agitação dos bacalhaus quando o tratador os alimenta.

Visita Montepio ^ 25 De mAio14h00, 6,50€

A não perder^ meRGuLHos

Sala dos Mares, que expla-na a identidade marítima dos ílhavos.

Da faina ao marQuando entrar no Museu, provavelmente a primei-ra sala que vai ver será es-ta: a Sala da Faina, cuja exposição permanente foi rebatizada em homena-gem ao Capitão Francis-co Marques, último capi-tão do Creoula e diretor do Museu entre outubro de 1999 e junho de 2001. A exposição organiza--se em três espaços, des-tacando-se no centro um iate da pesca do bacalhau, ou palhabote, construído em madeira por artesãos da construção naval ao longo do ano 2001. Trata--se da representação de um navio típico da déca-da de 20 do século xx, um modelo em tamanho real que permite ao visitante ir a bordo e tocar todos os elementos que faziam parte da grande faina. Depois, o visitante pode observar o que falta no navio percorrendo a ala esquerda ao longo da qual vai encontrar os princi-pais espaços que ficavam sob o convés, com desta-

que para a câmara dos oficiais e o porão de salga. A ala direita consiste nu-ma narrativa de viagem, desde o apresto e largada do navio até à faina dos dó-ris e ao regresso. Na Sala da Ria é possível contem-plar nove embarcações tí-picas, em tamanho real, entre as quais o moliceiro e o saleiro, com as suas ve-las erguidas, quase tocan-do os tetos do edifício.

Álvaro Garrido, consul-tor e membro da direção do Museu, destaca na Sala do Mar três aspetos: a cole-ção de objetos da pesca de bacalhau, a coleção de ob-jetos etnográ ficos relacio-nados com a ria de Aveiro e o espólio documental, fo-tográfico e os esquissos, ce-dido pela família de Otávio Lixa Filgueiras.

Além das exposições permanentes, estão con-templadas no programa três exposições temporá-rias por ano, dedicadas a apresentações artísticas do mar, questões da cul-tura do mar, pintura ou fo-tografia. Em maio, aquan-do da visita dos associados Montepio, vai estar patente uma exposição de amule-tos de pesca. Ou seja, peças

de alguma forma supersti-ciosas que eram usadas na pesca para dar sorte.

Números deverão crescer mais de 50%O Museu recebeu 43 mil visitantes em 2012. Um número que baixou quan-do comparado com anos anteriores. Nos últimos 10 anos houve uma média de 52 mil visitantes anuais, sendo que o melhor ano foi o de 2006, com o número de visitantes a chegar aos 65 mil.

Álvaro Garrido diz que o número de visitantes re-gistado o ano passado de-verá aumentar entre os

50% e os 70%, muito por culpa dos bacalhaus.

O orçamento anual ron-da os 120 mil euros, um montante que o consultor diz ser reduzido mas bem gerido. “Há muito boa von-tade. Há muita coisa a ser feita internamente, pelo que o Museu rentabiliza muito as pessoas e a es-trutura que tem. E ainda aproveita a estrutura da Câmara Municipal, que está muito articulada com o Museu.” A equi-pa é constituída por 16 pessoas, desde técni-cos de conservação, as-sistentes de conservação e auxiliares de serviço administrativo e gerais. À subunidade de investi-gação do Museu, no CIE--Mar, estão alocados dois investigadores.

Page 79: Revista Montepio

AtiVidAdes pArA AssociAdos

montepio

SAIBA MAIS | www.montepio.pt | Informações e inscrições f Gabinete de Dinamização Associativa/[email protected]/ T. 213 249 230/1

abril maio junho

Re

CO

RT

e,

PA

RT

ILh

e e

NT

Re

AS

SO

CIA

DO

S e

AM

IGO

S e

MA

RQ

Ue

NA

AG

eN

DA

AGeNDA

Não perca passeios, atividades ao ar livre, cursos, visitas orientadas ou workshops criados a pensar em si e na sua família. Marque na agenda, reserve o dia e inscreva-se para umas horas ou um dia bem passado.

79

ATIVIDADeS De AR LIVRe

• Cruzeiro das 6 pontes – Douro Porto, dia 20, sáb, 11h, 9€ (inclui visita a uma cave e prova de vinhos)

• Btt – Dinossários em Btt Parque Natural da Arrábida (Sesimbra), dia 25, qui, 9h30, 7€ (BTT própria) ou 16€ (BTT da organização)

• Via Algarviana - Passeio Pedestre de “Vaqueiros a Cachopo” Vaqueiros (Algarve), dia 27, sáb, 8h, 5€

• Passeio fotográfico a monsaraz Monsaraz (Alentejo), dia 28, dom, 10h, 9€

PASSeIOS COM hISTÓRIA

• “um dia com os templários” Visita ao Convento, igreja sta. maria do olival e igreja são João Batista Tomar, dia 14, dom, 10h, Gratuito. Dia inteiro, almoço livre.

CURSOS

• iniciação à internet seniores Santarém, dias 17 e 18, 9h, Gratuito

WORKShOPS

• Diários Gráficos “são Carlos e D. maria ii - teatros de Lisboa à italiana” Lisboa, dias 20 e 27, sáb, 10h, 30€

VISITAS ORIeNTADAS

• Casa museu medeiros e Almeida Lisboa, dia 6, sáb, 10h, 5€

• museu de Angra do Heroísmo Ilha Terceira/ Açores, dia 6, sáb, 15h, 1€

• quinta da massôrra Resende, dia 21, dom, 10h, 8€ (inclui prova de vinhos e de outros produtos regionais)

ATIVIDADeS De AR LIVRe

• Canoagem “Arrábida mar” Parque Natural da Arrábida, dia 1, qua, 9h30, 20€

• Bird Watching - “terras do Priolo” Ilha de S. Miguel, Nordeste/Açores, dia 11, sáb, 9h, Gratuito

• Via Algarviana – Passeio pedestre de “Cachopo a Parizes” Cachopo (Algarve), dia 25, sáb, 8h, 5€

• Canoagem na Ria Formosa Parque Natural da Ria Formosa (Faro), dia 26, dom, 9h, 3€

PASSeIOS COM hISTÓRIA

• igreja e museu de são Francisco Porto, dia 18, sáb, 11h, 3,50€

• Palácio da Bolsa do Porto Porto, dia 18, sáb, 15h, 7€

• museu marítimo de ílhavo, Aquário dos Bacalhaus e Navio museu sto. André Ílhavo, dia 25, sáb, 14h: visita Museu e Aquário. 16h: visita Navio Museu Sto. André, 6,50€, <65 anos: 3€

CURSOS

• iniciação à internet seniores Lisboa, dias 15 e 16, qua e qui, 9h, Gratuito

• Curso de suporte Básico de Vida S. Pedro de Penaferrim (Sintra) dia 1, qua, 14h30, 32,50€

• Curso de suporte Básico de Vida São João da Madeira, dia 11, sáb, 9h, 32,50€

WORKShOPS

• iniciação à Fotografia Lisboa, dia 3 e 4, sex e sáb, 19h e 9h, 45€

• Diários Gráficos “madragoa rima com Lisboa” Lisboa, dia 4, sáb, 9h, 30€

• iniciação à Fotografia Porto, dia 10 e 11, sex e sáb, 19h e 9h, 45€

VISITAS ORIeNTADAS

• teatro de são Carlos Lisboa, dia 4, sáb, 15h, 2€

• turismo industrial São João da Madeira, dia 9, qui, 9h, 5€

• quinta da tapada Lousada, dia 19, dom, 10h, 6€ (inclui prova de vinhos e de queijo)

ATIVIDADeS De AR LIVRe

• Passeio pedestre com interpreta-ção ambiental na serra da estrela Seia (Guarda), dia 2, dom, 10h, 3€

• Passeio Pedestre de interpretação Ambiental "Lagoa comprida, Charcos" - Serra da estrela, dia 2, dom, 10h, 3€

• Rota dos senhores dos mártires Alcácer do Sal, dia 29, sáb, 9h 1,50€ (min. 10 pax), 1€ (max. 20 pax)

• Via Algarviana - “Parizes a Barranco do Velho” Parizes (Algarve), dia 29, sáb, 8h, 5€

PASSeIOS COM hISTÓRIA

• sintra Romântica Sintra, dia 23, dom, 10h, 10€

CURSOS

• iniciação à internet seniores Setúbal, dias 18 e 19, ter e qua, 9h, Gratuito

WORKShOPS

• Diários Gráficos – “marcha, Lisboa Popular” Lisboa, dias 7 e 8, sex e sáb, 19 e 9h, 30€

• Parque Aventura Lipor “Kit de sobrevivência” ermesinde, dia 16, dom, 10h, Gratuito (idade mínima: 14 anos)

VISITAS ORIeNTADAS

• museu do Pão Seia, Guarda, dia 1, sáb, 10h. Adultos: 4€. 4 aos 12 anos e >65 anos: 3€

• Centro de interpretação da serra da estrela - exposições “o planeta terra”, “o Centro de Portugal” e “A serra da estrela a três dimensões” Seia, Guarda, dia 2, dom, 15h, 2,5€

• Núcleos de gravuras de Foz Côa Vila Nova de Foz Côa, dia 8, sáb, 16h Adultos: 10€, > 65 anos: 5€, 3 aos 16 anos: 2,50€

• museu do Côa Vila Nova de Foz Côa, dia 9, dom, 11h30 Adultos: 5€, > 65 anos: 2,5€, até aos 10 anos: gratuito

• quinta da Aveleda Penafel, dia 15, sáb, 10h30, 4,50€ (inclui prova de vinhos e de queijo)

Page 80: Revista Montepio

80

4

montepio primavera 2013

a minha vidateNDêNCiA

ROTeIRO

o pão nosso de cAdA diApãO De ÁGua, BiCOS De paTO, Sêmea, paDa, papO-SeCO, pãO De COrOa, CaCeTe Ou reGueiFa. eSTeS SãO apeNaS aLGuNS DOS imeNSOS TipOS De pãO preSeNTeS NaS praTeLeiraS DaS paDariaS, um pOuCO pOr TODO O paíS

por susana marvãoHá o pão de trigo, o pão integral de trigo, mas também o pão de centeio e o pão integral de centeio. O pão tri-ticale e o de mistura, o de milho e o pão especial… E depois… depois há uma “luta” – mais do que justificada, diga-se – na qual cada região reclama para si ter o melhor pão do país (não perca o roteiro na versão iPad).

O Milagre das Rosas deu a D. Isabel,

mulher do rei D. Dinis, o direito a ostentar o título de “padroeira dos padeiros”. Reza a história que, no terrível ano de fome de 1333, D. Isabel teve

de empenhar as suas joias para pagar o trigo e continuar a distribuir o pão pelos pobres, como era seu costume. Um dia, abordada pelo rei, escondeu os pães no regaço e, quando o monarca lhe perguntou o que ali levava,

D. Isabel respondeu que eram rosas. D. Dinis duvidou, até porque era janeiro, e pediu para as ver. Santa Isabel abriu os braços e, no chão, para pasmo geral, caíram rosas frescas, perfumadas, as mais belas até então vistas.

Santa Isabel, a padroeiraHistóRiA

miRANDeLA Padaria

de S. Pedro Velho: pergunte onde é a

padaria do Sr. Amândio.

LisBoA Quinoa: privilegia os produtos adequados a quem é intolerante (Rua do Alecrim, 54)

Portugal é um portento da panifi-cação. Porque se à Europa o pão te-rá chegado pelas mãos dos gregos, ao Brasil foi a alma lusitana que traçou o rumo da panificação.

Segundo o investigador José Sac-chetta Ramos, citado na página da embaixada de Portugal no Brasil, os imigrantes portugueses foram os res-ponsáveis pela introdução, no início do século passado, de alguns tipos de pães naquele país, até então desconhe-cidos dos brasileiros. Segundo o aca-démico, os portugueses dominaram o comércio de padarias em São Pau-lo, a partir de 1920, porque havia uma carência de produção de pães na cida-de e eles tinham a tradição de fabricar o produto de forma artesanal. Alguns desses pães terão sido o pão-de-leite e o pão quartado, feito com quatro fari-nhas diferentes. O investigador refere ainda que, nos anos 30, os portugue-ses dominavam toda a cadeia do pão.

SIGA O ROTeIRO DO PÃO

NA VeRSÃO IPAD

Page 81: Revista Montepio

81

montepio primavera 2013

“Com a Caneças, no Corpo Santo, em Lisboa, o pão está na moda desde janeiro de 1985 – fabrico à vista do clien-te e cozedura durante quase todo o dia. e, por isso, havia quem só conhecesse o “pão quente” do Cais do Sodré ou a Boutique du Pain.As variedades de pão e os diversos tipos de cereais em-pregues foram uma pedrada no charco dos hábitos dos alfacinhas, tão habituados que estavam à carcaça do costume durante décadas. Ao longo do dia saem do forno mais de 20 variedades de pães; muitas são as pessoas que vêm de longe para conhecerem a novidade, algumas só para estudarem o modelo... e rapi-damente “os pães quentes” proliferam por todo o país.Passados 28 anos, a Caneças continua a resistir às mudan-ças e à concorrência dos super e hipermercados, pela quali-dade e pelo preço; às máqui-nas de fazer pão caseiras; aos modelos de fabrico centra-lizado, com espaços de venda em locais estratégicos e muito dependentes das recentes formas de comunicação.Com uma permanente inova-ção, a Caneças coloca à dispo-sição das pessoas pães exclu-sivos, outros criados especial-mente para responder a certas doenças e até opções de com-pra, como formas à medida ou cocktail de variedades. Na Caneças há o gosto e a con-vicção de que o pão não tem limite na sua criação.”

FONTe: MUSeU DO PÃO, eM SeIA

tomAR Padaria Rosa:

a qualidade da "Rosa" é famosa

nesta cidade (Porto da Lage)

minho e Douro Litoral Broa de milho, roseta e broa d’Avintestrás-os-montes e Alto Douro Pão de bicos, sêmea e padaBeira Alta Molete, triga-milha e pão de quartosBeira Baixa e Beira Litoral Regueifa doce, gémeos e padas de UlRibatejo Caralhotas, passarinhos e pão de coroaestremadura Sovado, pão de Mafra e bico de patoAlentejo Pão das pites, regueifa de Arronches e cacete de estremozAlgarve Cabeça tendida e quartos dobradoAçores Bolo lêvedo, rosquilha e pão de águamadeira Bolo do caco, brindeiros e pão de batata

Cada província, o seu pão

mAPA De PoRtuGAL

Não deite a culpa ao pãoO pão não engorda. E é saudável. Isso parece estar bem compreendido en-tre a comunidade de nutricionistas. O problema não é, por isso, o pão de per si, mas o que lá colocamos. Aquela deliciosa manteiga ou o queijo gordo. E depois deitamos a culpa no inocente pão que, especialmente o de mistura ou integral, é rico em fibras e vitami-nas do complexo B, que lhe conferem ótimas propriedades.

Segundo a Associação do Comér-cio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares, o consumo de pão per capita, que representou cer-ca de 150 kg por ano até ao final da década de 80, começou a decrescer, sendo que atualmente o consumo de-verá rondar os 100 kg per capita por ano, consequência de muitos ataques, como “o pão engorda”, “o pão é salga-do” e a apresentação de outros substi-tutos de cereais.

José Manuel AlmeidalisboaAssociado Montepio

participação EspEcial em resposta ao desafo "participe nesta revista"

Page 82: Revista Montepio

82

montepio primavera 2013

4a minha vidaCRóNiCA

fotografia getty images

Sentaram-no sob o caramanchão no pequeno jardim da casa onde moram há mais de cinquenta anos. Corre uma brisa leve e o calor,

assim, aperta menos. Ele está feliz e ela sorri com leveza. Tem a cabeça encostada ao ombro dele, olhos ligeiramente cerrados. O dia correu

ligeiro. A família, filhos, netos, noras, genros, há muito que se não reunia, por este ou por aquele motivo. O ruído das vozes e dos gritos dos

miúdos há horas se foi. Ele fez 80 anos e ainda é um homem corpulento. Ela um pouco mais baixa, o rosto decidido e o olhar límpido e resoluto.

Serenos, apaziguados e felizes. Ela tinha-lhe dito, dias antes: “Nunca desisti de ti; e a vida por vezes foi muito dura.” Recorda-se, com frequência, co-mo e as circunstâncias em que se conheceram. Nas festas populares encaminhara-se para aque-le bairro, a oriente da cidade, aonde nunca fora. Havia muita gente nas ruas e uma trupe-jazz to-cava num palanque. Um cantor muito penteado e cheio de brilhantina no cabelo imitava Dick Far-ney, um brasileiro célebre na época. Pares jovens dançavam, apertados, sob a vigilância atenta das mães. Às vezes, estas faziam sinais às filhas para que não se encostassem tanto. Bebera um copo de sangria, num balcão improvisado, e reparara na rapariga muito bela e esbelta que se encontrava junto ao chafariz. O chafariz jorrava água pela ca-beça marchetada de um leão de pedra. Olharam--se e sorriram. Foram dançar e ele sentira o corpo da rapariga, fremente e cálido. Estava tão feliz que parecia voar ou estar longe, com a rapariga nos braços. A partir daí algo se modificou nele. Que o impelira àquele bairro, àquela rua, e para aquela rapariga muito bela que o olhava com ternura e sossego? Que impulso misterioso o levara até lá e até ela, se o hábito não era esse e os seus caminhos diferentes daquele? Ela haveria de dizer, alguns anos decorridos: “Estava à tua espera.” E repetia a frase sempre que ele puxava o assunto à conversa.

No caramanchão, na noite, desfilam memó-rias, e nem todas são radiantes. Doenças, de-sempregos, alcatruzes de uma nora que se justi-fica pelos percalços da vida. Chegara a traduzir livros em quinze dias, e ela martirizava-se

pelo esforço dele, ajudando-o naquilo que podia: a casa, os filhos, a palavra certa no momento. O desespero não a sucumbia, pelo contrário: inci-tava-o, afagava-o na cabeça, beijava-o com enter-necimento, murmurava: “Força, marido.”

Ele agradecia-lhe com um olhar doce, voltava à máquina de escrever, uma Smith-Corona que, aliás, ainda possui, a sua vida era aquela: escre-ver e procurar conferir às palavras a dignidade que lhes dá o poder da razão. Beija os olhos da mulher, que continua com a cabeça no ombro dele. “Passámos muito maus bocados”, diz. Diz, qual deles? Ela ou ele, tanto faz: pertencem-se há tantos anos que o pensamento e as ideias de ca-da qual não são dissociáveis, embora ela sempre estivesse mais atenta, premonitória e exacta, ele menos com os pés na terra. “Estás sempre a so-nhar, e ainda bem que és assim”.

“Viste o que fizemos depois de eu descer aque-la rua desconhecida, de dançar contigo? Casámos, fizemos uma data de filhos, e agora netos, a conti-nuidade que se repete sem fim, até chegarmos ao dia de hoje, e eu com oitenta anos, sem dar por is-so a vida levou-me até aqui, ao teu lado e sinto-me muito bem contigo, nem fazia ideia viver de ou-tra maneira, de outro modo e com outra mulher.”

Um enternecimento que só pode ser sentido, nunca explicado; sentido. Filhos, netos, noras genros, o pulsar sereno das coisas; e eles dizem--se, sem dizer, que se amam, que a velhice não retira o amor dos sentimentos: uma doce sen-sação de sossego e de paz, na noite do caraman-chão, na noite de todas as noites, oitenta anos, oitenta, sorriem e sorriem. E é quando ele diz:

“Quando desci aquela rua, tu estavas à minha espera, e eu à tua procura.”

BAPtistA-BAstos

APENAS UMA SIMPLES

HISTÓRIA DE AMOR

NOTA: O autor é totalmente contrário ao assim denominado Novo Acordo Ortográfco, pelo que continua a escrever segundo a chamada norma antiga.

Page 83: Revista Montepio

NOTÍCIAS iNstituCioNAis, iNiCiAtiVAs,

PRoJetos e ComuNiCADos

O MEU MONtEpIO

página 88

BeNeFíCiosConheça os novos acordos e parceiros Montepio e aproveite os que mais se adequam às suas necessidades

página 86

CuLtuRANão perca o novo site do Clube Pelicas, uma exposição de pintura única e uma peça de teatro que vai fazê-lo rir

página 90

10 PeRGuNtAs Ana Nave, atriz da série "Depois do Adeus" e encenadora, em entrevista na primeira pessoa

página 84

síNtese Do DesemPeNHosaiba mais sobre 2012 e como o Montepio desenvolveu a sua atividade

Page 84: Revista Montepio

5

84

montepio primavera 2013

o meu montepioResuLtADos

Em 2012, Portugal viveu uma das pio-res crises da sua história recente, com impactos devastadores nas estrutu-ras produtivas e nos níveis de empre-go de muitos setores e comunidades, que afetaram o país e a vida de mui-tas famílias.

Esta crise, potenciada pelas medidas de consolidação e reequilíbrio orça-mental, determinou fortes restrições e dificuldades financeiras do Estado em assegurar as funções de proteção social e de saúde às populações e im-pôs a necessidade de respostas e alter-nativas nesses domínios.

Neste quadro, o mutualismo assumiu--se como resposta de assinalável impor-tância e crescente adesão. Efetivamen-te, ao traduzir um sistema privado de proteção social orientado para o auxílio mútuo entre os seus membros, o mutua-lismo concretiza a aplicação de poupan-ças para efeitos de proteção, mutualiza-ção dos riscos e organização de regimes complementares de previdência.

O desempenho do Montepio em 2012 comprova essa adesão ao mutualismo e demonstra a vitalidade e capacidade da Instituição em superar obstáculos e desafios, acompanhar as tendências da sociedade, adaptar-se e renovar-se.

O ano ficou marcado pelo trabalho de-senvolvido na esfera da dinamização e comunicação associativa, mas tam-bém pela intervenção solidária e pelos resultados alcançados em prol da sus-tentabilidade e do mutualismo.

São de destacar os eventos, de natu-reza cultural e formativa, realizados ao longo do ano, que incrementaram a interação com os associados, os seus níveis de participação e a difusão do mutualismo.

Foram dados passos significativos na modernização e adaptação do siste-

ma de governo a novos critérios e re-comendações das autoridades, com a alteração dos Estatutos da Caixa Eco-nómica decidida em Assembleia Ge-ral realizada a 15 de outubro de 2012.

Merece igual referência a eleição, a 7 de dezembro último, num dos atos eleitorais mais participados de sem-pre, dos órgãos associativos para o triénio 2013-2015.

A elaboração do Relatório e Contas de 2012, exclusivamente dedicado ao Montepio Geral - Associação Mutua-lista (MGAM), é já o resultado da re-forma do sistema de governo da Caixa Económica, no sentido da separação dos órgãos de gestão executiva e de controlo e dos respetivos documentos de prestação de contas, conforme as recomendações de bom governo divul-gadas pelas autoridades e entidades de supervisão.

Esta separação sinaliza, por igual, a maior dimensão e importância da Associação Mutualista.

A vitalidade e dinâmica que o MGAM voltou a evidenciar em 2012 é tanto mais notável por se tratar de uma das mais antigas associações portuguesas e da maior em número de associados.

Pela sua dimensão associativa e fi-nanceira, o MGAM é uma das maio-res mutualidades europeias e uma re-ferência no setor mutualista e da eco-nomia social.

À longevidade e dimensão associati-va junta-se um universo de institui-ções que têm apoiado o crescimento do Montepio e a supressão de necessi-dades muito diversas, de proteção so-cial e financeiras, dos seus associados, famílias e outros grupos de cidadãos ao longo do ciclo de vida.

Os principais destaques da evolução do MGAM em 2012 são:

AtiViDADe AssoCiAtiVADesenvolveram-se várias ações orien-tadas para o aumento do número de associados e a sua fidelização, das quais se destaca o alargamento da oferta de modalidades mutualistas ajustadas a diferentes necessidades de poupança e proteção familiar.

A base associativa atingiu, a 31 de dezembro de 2012, 534 418 associa-dos (mais 7,4% que em igual período de 2011).

O número de subscrições de moda-lidades também registou um cresci-mento assinalável, de 9,2%, totalizan-do 925 496.

DimeNsãoEm termos de dimensão refira-se o aumento do Ativo Líquido, em 14%, atingindo 3 272 milhões de euros.

O crescimento do Ativo reflete, par-ticularmente, o aumento da carteira de títulos, dos depósitos bancários e dos imóveis, prosseguindo a adoção de uma política de investimentos seleti-va e com um perfil ajustado à nature-za da atividade e aos fins mutualistas.

O Capital Próprio, de 449 milhões de euros, evidenciou uma evolução posi-tiva de 33 milhões de euros, que resul-tou do aumento dos Fundos Próprios, das Reservas e dos Resultados.

ResuLtADosNeste domínio assinala-se o significa-tivo aumento das Receitas Associati-vas (Quotas e Capitais Recebidos), em 85%, no montante de 744 milhões de euros, e os ganhos e rendimentos pro-venientes da carteira de títulos, com contributos favoráveis para a expres-são dos Resultados do Exercício, que atingiram 60,4 milhões de euros.

GRUPO MONTEPIO SíNTESE DO DESEMPENHO DE 2012

Page 85: Revista Montepio

5

85

montepio primavera 2013

o meu montepioResuLtADos

soLiDezO desempenho obtido em 2012 permi-tiu preservar os níveis de solidez do MGAM.

O rácio de cobertura das responsabili-dades, de 1,14 (equivalente aos fundos, reservas e provisões matemáticas sobre provisões para riscos e encargos), man-teve-se ao nível dos anos anteriores.

CAixA eCoNómiCADas entidades do universo Montepio que contribuem, com os seus meios, atividades e resultados, para a pros-secução dos fins mutualistas e de va-lorização das modalidades, bem co-mo para o reforço do posicionamen-to e reputação da marca, destaca-se a Caixa Económica Montepio Geral (CEMG).

Como instituição de crédito ao serviço do mutualismo, a CEMG coloca os seus recursos, meios, tecnologia, competên-cias e redes de distribuição e relação ao serviço do mutualismo há 169 anos.

AtiViDADe AssoCiAtiVA 2010 2011 2012

associados (unidades) 463 390 497 420 534 418

inscrições (número) 799 053 847 492 925 496

inscrições por associado (número médio) 1,72 1,70 1,73

pensionistas (unidades) 7 287 7 627 7 517

DimeNsão

ativo líquido (milhares de euros) 2 759 348 2 874 864 3 271 739

capital próprio (Fundos próprios, reservas e resultados) (milhares de euros) 410 645 415 631 448 749

ResuLtADos

resultado do Exercício (milhares de euros) 54 393 58 157 60 351

resultado do Exercício / ativo líquido médio 2,04% 2,06% 1,97%

CoBeRtuRA DAs ResPoNsABiLiDADes

Fundos reservas e provisões matemáticas / provisões para riscos e Encargos 1,15 1,15 1,14

ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA PRINCIPAIS INDICADORES

Em 2012, num contexto de extrema adversidade, a CEMG evoluiu confor-me as metas de desalavancagem e sol-vabilidade definidas no Plano de Fi-nanciamento e Capital (Funding & Capital Plan) imposto aos oito maio-res grupos bancários desde junho de 2011, no quadro do Programa de Assis-tência Financeira a Portugal. Os objeti-vos e as medidas desse plano têm sido concretizados pela CEMG ao longo do último ano e meio, de forma notável, contribuindo para os desígnios do país.

Em 2012 a CEMG também deu passos significativos na estratégia de diversi-ficação do Ativo e da carteira de cré-dito para micro, pequenas e médias empresas de diversos setores fora do imobiliário; de mitigação dos impactos do agravamento do incumprimento de crédito; de reforço da liquidez e da au-tonomia financeira e de preservação dos níveis de solvabilidade.

Para a melhoria da liquidez concor-reu a redução do rácio de alavancagem

(proporção do crédito a clientes face aos depósitos de clientes) que passou de 124,1% para 120,5%, igualando o ní-vel indicativo de 120% definido pelas autoridades para final de 2014.

O Resultado Líquido Consolidado do Exercício de 2012 da CEMG apresen-tou-se alinhado com o valor definido nas projeções do Funding & Capital Plan e conforme o Programa de Ação e Orçamento de 2012, aprovado na Assembleia Geral de 22 de dezembro de 2011, tendo atingido 2,1 milhões de euros 1.

Pese embora as dificuldades do con-texto, a CEMG demonstrou, em 2012, a sua resiliência, salientando-se o re-forço dos níveis de solidez conforme os objetivos e as exigências suscita-das pelo agravamento dos riscos. As-sim, o rácio de solvabilidade atingiu 13,6%, enquanto o rácio Core Tier 1 su-biu de 10,2% para 10,6%, acima dos mí-nimos prudenciais exigidos pelas au-toridades.

1 a submeter à apreciação e deliberação dos órgãos da caixa Económica montepio geral, no quadro da entrada em vigor dos novos estatutos, em 14 de janeiro de 2013.

Page 86: Revista Montepio

5

86

montepio primavera 2013

o meu montepioCuLtuRA

CRIANçAS

clube pelicAs

ao dar por terminado um quadro ou um desenho, está bastante dependente do modo como decorreu a feitura desse trabalho."

“O sentimento,

Não perca a peça de teatro com José Raposo, Sara Barradas, Joaquim Nicolau e Joel Branco, enquanto ator convidado, numa homenagem a Raul Solnado. Prepare-se para uma comédia clás-sica, com texto do brasileiro Paulo Pontes, que regressa a palco depois de ter sido interpretada por Raul Solnado em 1977, no Teatro Variedades.

De 5ª a sábado, às 21h30, e domingos às 16h00.

Isto É que Me Dói!

À distância de um clique, as crianças podem aceder a atividades lúdicas, pedagógicas e a momentos de diversão. Jogos, adivinhas, desenhos para colorir, ideias e ainda a zona do “Cofre do Sa-ber”, que ensina as crianças a conhece-rem o mundo que as rodeia, são apenas algumas das áreas em destaque. Os pais e professores encontram ainda uma zo-na própria, assim como os associados. Valores como o mutualismo e a soli-dariedade não foram esquecidos, até porque um dos principais objetivos do Clube é apoiar a criação de uma vasta comunidade de jovens associados, forte-mente motivados e esclarecidos, que for-taleçam o mutualismo no futuro.

Segundo Pedro Bleck da Silva, diretor do Gabinete de Dinamização Associativa do Montepio, “o site do Clu-be Pelicas foi criado para responder à necessidade de disponibilizar aos asso-ciados mais jovens uma ferramenta de comunicação e interação adequada às novas tecnologias e à forma de estar des-

ses associados, permitindo-lhes, através de um meio que lhes é familiar, ou seja, a Internet, estarem em contato perma-nente com o Clube e com as respetivas iniciativas”. Pedro Bleck sublinha, ain-da, que “a criação do site cumpre vários objetivos: a divulgação dos valores mu-tualistas e de outros valores socialmente relevantes; a divulgação dos benefícios de ser Associado Montepio; a disponibi-lização de informação sobre as ativida-des do Clube; a interação direta com os associados através da realização de ati-vidades e, sobretudo, a criação de uma relação afetiva das crianças com o Peli-cas e com os princípios mutualistas e de solidariedade”.

O novo site do Clube pelicas responde a todas as questões que as crianças (e os pais) tiverem e muito mais!

oNDe sociEdadE nacional dE bElas artEsRua Barata Salgueiro, 361250-044 Lisboa

Venha divertir-se e, se é Associado do montepio, usufrua de 20% de desconto na aquisição de ingressos (válido para Associado e acompanhante).

O CLUBE PELICAS É

CONSTITUíDO POR CERCA DE

66 000 memBRos

^ WWW.PeLiCAs.PtÀ data da disponibilização do site, todos os associados com idade inferior a 13 anos foram integrados no Clube Pelicas

Jaime Silva expõe cerca de 100 trabalhos na Sociedade de Belas artes, em Lisboa

Exposição Antológica

entre 7 de março e 27 de abril não perca a exposição Individual de Pintura de Jaime Silva, patente no salão principal da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). Reconhecida como de interesse cul-tural pela Secretaria de estado da Cultura, a exposição é constituída por cerca de 100 trabalhos que vão do período de formação até 2011. No decorrer da exposição na SNBA estão marcadas visitas guiadas, nos dias 4 e 27 de abril, e uma mesa redonda – dia 11 de abril – com a participação de Rui Mário Gonçal-ves, Cristina de Azevedo Tavares, José Manuel de Vasconcelos, Nuno Faria e Luís Filipe Rodrigues. em entrevista à Montepio, o pintor e Associado sublinha que começou muito novo a prestar atenção à pintura, mas também ao desenho ou ao cinema. No entanto, o artista assume: “Na altura em que decidi enveredar por uma via artística, foi na pintura que entendi que me poderia encontrar e dar largas a uma criatividade de que me sentia possuído. em todos estes anos, a pintura e a reflexão sobre arte têm sido uma constante, de tal modo que não saberia ser, nem estar no Mundo, de outro modo.”

Page 87: Revista Montepio
Page 88: Revista Montepio

5

88

montepio primavera 2013

o meu montepioBeNeFíCios e DesCoNtos PARA AssoCiADos

estA iNFoRmAção não dispensa a leitura das condições gerais de acesso e utilização destes benefícios, bem como das condições gerais e/ou particulares em vigor, defnidas pelas instituições mencionadas para efeitos da comercialização dos seus produtos e/ou disponibilização dos seus serviços. mais informação: www.montepio.org

AUTOMÓVEL / MOTO

PARRACHo AutoCARAVANAs & CARAVANAsSINTRA e MeM MARTINS

BEM-ESTAR

BeLPRoF — sPA PORTOBRiLHuNiFoRme – teRAPiAs ComPLememtAResVeNDA DO PINheIROiomiAmo – sPA & WeLLNess CeNteRPORTOkARismA – CLíNiCA Do CoRPoCASCAIS

CASA

CALGesso – ComéRCio De tiNtAs e mAteRiAis De CoNstRução TORReS VeDRASCoNFoRto – ARquiteCtuRA De iNteRioResALMADARADiALCoRODIVeLAS e FAMõeStACoLiDeR – ComéRCio De mADeiRAsODIVeLAS

CONSUMO

AR D’ALFAzemA GONDOMARPAPeLARiA LiVRARiA ARCo iRisVILA ReAL De SANTO ANTÓNIOPeRFumARiA LouRDeteALBUFeIRA / ÉVORA/ FARO / OLhÃO / PORTIMÃO / QUARTeIRA / SANTARÉMRequiNte PeRFumARiAsLISBOA

DESPORTO

AssoCiAção DesPoRtiVA De oeiRAsOeIRASComPLexo APAm – téNis De esPiNHoeSPINhOPóDio D’ AVeNtuRA – CeNtRo HíPiCoBARReIRALVA - MAFRA

kANGARoo HeALtH CLuBBARReIRO - S. MAMeDe INFeSTAyuPik – LoJA De DesPoRto, AVeNtuRA e PesCALISBOA

FORMAÇÃO

ACARo / CoNtAGiARtePORTOCoLéGio CACHABiuCASCAISCoLéGio estReLA Do mARSINeSisAG – iNstituto suPeRioR De ADmiNistRAção e GestãoPORTOsAtisFAz BAstANte – CeNtRo De exPLiCAçÕesBeLAS e MONTe ABRAÃO

ÓTICAS

ARt’ otiCA – seRViços ótiCosCACÉMCeNtRo óPtiCo CoNtACtoLISBOACeNtRo óPtiCo oLHARtGUIMARÃeSmuNDo óPtiCoOURÉMótiCA mutuAListAPORTO

PROTEÇÃO SOCIAL

FuNeRáRiA ALVeRqueNseALVeRCA DO RIBATeJO VILA FRANCA De XIRAuRsiNHos tRAquiNAs — CReCHeMeM MARTINS - SINTRA

SAÚDE

ANABeLA R. tAVARes — CARDioLoGiAPONTA DeLGADACemeARe – CeNtRo méDiCo De AssistêNCiA À RePRoDuçãoLISBOA CeNtRo méDiCo e DeNtáRio DA LouRiNHãLOURINhÃCeNtRo méDiCo PAssos mANueLLISBOA

CeRmA – seRViços méDiCos e De ReABiLitAçãoeRMeSINDe e SANTO TIRSOCeti – CeNtRo De estuDo e tRAtAmeNto DA iNFeRtiLiDADePORTOCLíDis – CLíNiCA De DiAGNóstiCos De siNesSINeSCLíNiCA ALiNeA – PRemium oRAL CAReCASCAISCLíNiCA CAmPos RosA – FisioteRAPiA | meDiCiNA DesPoRtiVACOVILhÃCLíNiCA DR. PiNHeiRo CoRReiA – meDiCiNA DeNtáRiAMASSAMÁ - SINTRACLíNiCA kLiFRADes – CoRPoRAção oDoNto — teRAPêutiCAOLIVeIRA De FRADeSCLíNiCA méDiCA Dos DesCoBRimeNtos — sAúDeVILA ReALCLíNiCA méDiCo-DeNtáRiA Dois PoRtosTORReS VeDRASCLíNiCA VeteRiNáRiA João xxiLISBOADR. PeDRo BARRoso moReiRA – CLíNiCAs De meDiCiNA DeNtáRiAPORTOeLite DeNtAL – CLíNiCA DeNtáRiAGUARDAFARmáCiA BAtistASANTARÉMFisioCoNVeNto – CLíNiCA De FisioteRAPiAMAFRAiPiu — iNstituto DA PRóstAtA e iNCoNtiNêNCiA uRiNáRiAÉVORA / LISBOALABoRAtóRio De ANáLises CLíNiCAs DA teRRuGemTeRRUGeM - SINTRAmeDiCAL ARt CeNteRPORTOmiGueL CostA – PeRSONAL TRAINeR e FisioteRAPeutALISBOA

moNteNeGRo CLiNiCs – CLíNiCA De meDiCiNA DeNtáRiALeIRIAm sAúDe – CLíNiCA méDiCARIO De MOURO - SINTRA

PHARmA-sCLALABisSANTARÉMRui mACHADo – CeNtRo De imAGioLoGiA DA AmADoRAAMADORAsuPeR DeNte – CLíNiCA DeNtáRiA LISBOAsuPRADeNte – CLíNiCA méDiCo-DeNtáRiAVALONGOteRmAs De moNFoRtiNHoIDANhA-A-NOVAteRmAs Do VimeiRoTORReS VeDRASVeRtiCAL – CeNtRo De moBiLiDADeCALDAS DA RAINhA

TURISMO

HeRDADe Dos GRous ALBeRNôA - BeJAo máRio – RestAuRANte ReGioNALFUNDÃOAL BRAGABRAGAHosPeDARiA CoNVeNto De tiBãesBRAGAHoteL AstóRiAIDANhA-A-NOVAHoteL CARVALHo ARAúJoGeRêSHoteL DAs teRmAsTORReS VeDRASHoteL Do LAGoBRAGAHoteL Do temPLoBRAGAHoteL FoNte sANtAIDANhA-A-NOVAHoteL GoLF mARTORReS VeDRASmeLiá HoteLsCOBeRTURA NACIONALquiNtA Dos ReméDios – AGRotuRismoPOMBALViLA VitA PARC ResoRt PORCheS

Novos acordos celebrados

Page 89: Revista Montepio

89

montepio primavera 2013

SA

ÚD

E

20

%de

scon

to

Des

cont

o de

20%

em

con

sulta

s,

trat

amen

tos,

vac

inaç

ões,

ci

rurg

ias

e in

tern

amen

tos.

10

% e

m p

rodu

tos

e ac

essó

rios

de

conf

orto

, hig

iene

e li

mpe

za p

ara

anim

ais

de c

ompa

nhia

, na

Am

ador

a.

CLíN

iCA

Vet

eRiN

áR

iA

DR

. CA

RLo

s G

ALR

ão

SA

ÚD

E

10%

desc

onto

Nos

trat

amen

tos,

no

Port

o

C eN

tRo

estu

Do e

tRA

tAm

eNto

iN

FeR

tiL

iDA

De

(Cet

i)

SA

ÚD

E

10%

desc

onto

CLíN

iCA

Vet

eRiN

áR

iA

Joã

o x

xi

Des

cont

o de

10%

em

con

sulta

s e

trat

amen

tos

e

5% e

m p

rodu

tos

de a

limen

taçã

o an

imal

, em

Lis

boa.

SA

ÚD

E

25%

e 30%

desc

onto

iNst

itu

to

PR

óst

AtA

e

iNCo

Nt

iNêN

CiA

u

RiN

áR

iA

Des

cont

o de

25%

em

con

sulta

s e

30%

em

exa

mes

, em

Lis

boa

e Év

ora

FOR

MA

ÇÃ

O

10%

desc

onto

isA

G -

iNst

itu

to

su

PeR

ioR

D

e A

Dm

iNis

tR

Açã

o

e G

estã

o

FOR

MA

ÇÃ

O

15%

desc

onto

FuN

DA

ção

Fe

RN

AN

Do

Pes

soA

Nas

pro

pina

s de

todo

s os

cur

sos

da U

nive

rsid

ade

Fern

ando

Pes

soa.

D

esco

nto

de 15

% n

as c

onsu

ltas

e tr

atam

ento

s de

Med

icin

a D

entá

ria,

Fi

siot

erap

ia, T

erap

êutic

a da

Fa

la, R

eabi

litaç

ão P

sico

mot

ora

e Ps

icol

ogia

, nas

clín

icas

ped

agóg

icas

da

Uni

vers

idad

e e

nas

cons

ulta

s de

Med

icin

a Ge

ral e

Fam

iliar

, no

hos

pita

l-es

cola

da

Uni

vers

idad

e

Be

Ne

FIC

Ie D

OS

De

SC

ON

TO

S Q

Ue

AS

eN

TID

AD

eS

PA

RC

eIR

AS

Re

Se

RV

AR

AM

PA

RA

SI.

Nas

pro

pina

s de

lice

ncia

tura

s

e m

estr

ados

, no

Port

o

uSe O Seu CarTãO De aSSOCiaDO mONTepiO e aprOveiTe TODaS aS vaNTaGeNS Que TemOS para Si. BaSTa apreSeNTar O CarTãO e uSuFruir DaS OFerTaS

CARTÃO ASSOCIADO

AproVeite os benefícios

A pensar nas suas férias, pequenas escapadelas ou simples passeios, o Montepio firmou novos acordos na área da hotelaria. O turismo de saúde é uma das grandes tendências e, para isso, nada melhor do que aproveitar o desconto de 25% (inscrições) e 20% (tratamentos exceto consulta médi-ca) nas termas do Vimeiro e Mon-fortinho. Já os programas de bem--estar das termas e spas do Grupo ÔHotels & Resort reservam des-contos de 15% e 10%. Pode ainda usufruir de 10% de des-conto na melhor tarifa do aloja-mento dos hotéis Golf Mar, Ter-mas, Astória e Fonte Santa e de 20% no golfe e nas experiências e passeios promovidos pelo centro hí-pico do Holtel Golf Mar. O Grupo Meliá Hotels International ofere-ce, também, a todos os associados Montepio, 10% de desconto sobre a BAR* para todas as unidades Meliá Hotels International, em Portugal, a nível de alojamento, assim como SPA e restauração. Nos hotéis no estrangeiro, o desconto é de 7%, no alojamento, sobre a BAR*.

No Vila Vita Parc Resort, no Algarve, em Porches, os des-

Prevenir para cuidar melhorNo Grupo Joaquim Chaves, um dos principais atores do setor da saúde, os associados podem usufruir de um desconto de 10% nos

laboratórios de análises clínicas, na Clinica Pais de Sousa, no Centro Médico de Moscavide e nas clínicas Quadrantes.

contos são de 10% sobre a me-lhor tarifa no alojamento em www.vilavitaparc.com, upgra-de para a categoria seguinte dis-ponível na altura do check-in, uma garrafa de vinho Herdade dos Grous no quarto, à chegada, e ainda 10% nos restaurantes do Vila Vita Parc Resort (exceto res-taurante Ocean) e da Herdade dos Grous, no Alentejo, assim como 10% nos tratamentos do Vila Vi-ta Parc Spa e no Fitness no Ener-Gym.

* BAR - MeLhOR TARIFA DISPONÍVeL (BEST AVAILABLE RATE)

Page 90: Revista Montepio

5

90

montepio primavera 2013

5o meu montepiotestemuNHo

ANA NAVe é atriz há mais de 25 anos. Na série Depois do Adeus, em exibição na RTP, interpreta Maria do Carmo Mendonça, uma lutadora

perguntas a...

Neste momeNto PoDemos Vê-LA NA séRie DePOIS DO ADeuS, PAssADA em 1975/76. Foi umA exPeRiêNCiA GRAtiFiCANte?Muito. Para um ator, fazer uma série de época é muito interessante. FAzeR umA séRie De éPoCA é umA GRANDe ResPoNsABiLiDADe? Por um lado, havia a responsabilidade de registar a história, embora a história da série seja fcção. Por outro, estava a fazer-se história sobre pessoas que ainda estão vivas e tive muita gente a contar-me aquilo por que passou. Isso deu-me uma grande responsabilidade.que ReCoRDAçÕes tem DessA ALtuRA? Tive memórias com objetos, músicas, padrões…

Como se PRePARou? Tivemos o acompanhamento da helena Matos, historiadora, e as obras sobre essa época também ajudaram a refazer a história.quem é A suA PeRsoNAGem? A Maria do Carmo é uma pessoa que vivia bem, num país enorme, e que se vê obrigada a ir para um país onde não se tem nada e não se tem futuro para os flhos, o que deve ser desesperante. embora, no caso da Maria do Carmo, o não ter esperança fosse um motivo ainda maior de força, de luta. ACHA que A séRie PoDe muDAR A FoRmA Como oLHAmos PARA AqueLA éPoCA? Quando se está a construir uma personagem não se parte do efeito que vai ter, tenta-se construi-la o mais humanamente possível. Acho é que a série pode ser um caminho para nos reconciliarmos com a nossa

história e pensarmos na nossa memória coletiva, no nosso futuro. Pode ser, não sei se é...Já Fez DiReção De AtoRes. GostA? enceno espetáculos há muito tempo e gosto. O trabalho de ator lida com coisas pequenas, como a subjetividade, a experiência, as memórias e a imaginação. Como é estAR Do “outRo LADo”?estar de fora dá-nos distância, lida-se com coisas objetivas que podem ajudar os atores a criarem a subjetividade da sua personagem. é um tRABALHo iNVisíVeL? Às vezes esquece-se que é um trabalho da maior importância e necessidade.e DePOIS DO ADeuS oNDe PoDeRemos eNCoNtRá-LA? Vou voltar a fazer televisão. Teatro, vou montar um espetáculo este ano, com textos do Alexandre O’Neill, que vai estrear em Macau.

Page 91: Revista Montepio
Page 92: Revista Montepio