Revista nomades araguaia

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nômades do A RAGUAIA 01 Ano I Tiragem 1.000 exemplares | Alto Araguaia-MT. Paulo César e Helio Pereira falam dos prazeres e das frustrações de se dirigir pelas estradas do Brasil estradas da vida Colaboradores desta edição ALFREDO COSTA e SHIRLENE ROHR Todo ano a festa de maio de Santa Rita do Araguaia atrai centenas de feirantes de fora A saga de estudantes que se tornaram viajantes pelo sonho de um futuro melhor.

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Projeto Experimental do Curso de Jornalismo da Unemat: Revista Nômades do Araguaia. Brenda Carvalho de Araújo, Cassiane Luisa Mews e Laura Cristina de Oliveira Ataídes. Orientador: Lawrenberg Advíncula da Silva. 2014.

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Revista

nômadesdo ArAguAiA 01

Ano I Tiragem 1.000 exemplares | Alto Araguaia-MT.

dezembro | 2014

a dura rotinados caminhoneirosPaulo César e Helio Pereira falam dos prazeres e das frustrações de se dirigir pelas estradas do Brasil

estradas da vida

VIDA DE ESTUDANTE,VIDA ITINERANTE

Colaboradores desta ediçãoALFREDO COSTA e SHIRLENE ROHR

FESTA DE GENTE VIAJANTE

Todo ano a festa de maio de Santa Rita do Araguaia atrai centenas de feirantes de fora

A saga de estudantes que se tornaram viajantes pelo sonho de um futuro melhor.

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nesta edição 01_dezembro

colaboraram nesta edição

ENTREVISTA O churrasqueiro Aparecido Camargo fala da sua jornada nômade de trabalho

04ESTRADAS DA VIDA A saga de caminhoneiros

ESTRADAS DA VIDAAs loucas estórias de quem mora nabeira da rodovia 12

ARTIGO A confraria de migrantes e nômades em Alto Araguaia | SHIRLENE ROHRPara onde ir e vir | ALFREDO COSTA

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REPORTAGEM, FOTOGRAFIA e PROJETO GRÁFICO

Nômades do Araguaia é uma publicação do curso de Jornalismo do câmpus de Alto Araguaia, da Universidade do Estado de Mato Grosso - Unemat.

Gráfica Mundigráfica, Goiânia-GO | Tiragem: 1.000 exemplares

CRÍTICA & OPINIÃOEDIÇÃO e

SUPERVISÃO FINAL

Brenda Carvalho Cassiane Mews Laura Cristina Alfredo Costa Shirlene Rohr Lawrenberg A. Silva

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DIÁRIO DE BORDO Os desafios enfrentados por estudantes em busca de um futuro melhor

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GENTE VIAJANTEA experiência de feirantes de Goiânia na Festa de Maio em Santa Rita do Araguaia

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RETRATOS 32 38

ESTAÇÃO POESIA 42 CONTOS DE VIAJANTES 43GUIA DO VIAJANTE 46 | CULTURA EM FLUXO 48

Desde o início o mundo sempre moveu e, assim, acabou criando uma cultura de viajantes entre os seus primeiros povos. Mais que uma cultura, criou-se uma necessidade de mover-se, ou melhor dizendo, uma curiosidade de desvendar o que parece invisível além dos horizontes. Em Alto Araguaia, interior de Mato Grosso, esta força obstinada e às vezes enigmática de deslocar nos apresenta pessoas dos mais distantes rincões do estado e do país. São gente simples e que estão tão perto que nem imaginamos quem poderiam ‘ser’. São estudantes universitários, caminhoneiros, andarilhos, ciganos, gente simples que mora em uma cidade e trabalha em outra.

Estamos nos referindo aos nômades. O nômade é aquela pessoa que sai de sua casa para ir a outro lugar, sair desse lugar, deixar um pouco de si e carregar consigo um tanto do lugar por onde passou. Para os mais antenados, ele é aquela pessoa que está conectada com o mundo por um notebook, por um celular, por uma rede sem fio que está no ar, uma tecnologia que quebra as barreiras da geografia e da distância entre as pessoas.

Hoje, não são mais guiados pelos pontos brilhantes da galáxia, mas pelas possibilidades de diferentes escolhas e rumos que o mundo oferece. ‘Ser’ nômade, aliás, ‘estar’ nômade, é conhecer o mundo, é ter a condição de ir e vir para lá e para cá quando se pode, quando se quer ou sem ter um motivo aparente.

O desafio desta edição é transportar o leitor a lugares que nunca foi, sentir sensações que nunca sentiu, conhecer histórias de vida e se emocionar com elas mesmo sem ter contato, de fato, com seus protagonistas. A maior escalada está em guiar e levar o leitor a viajar sem sair do lugar. O objetivo é fazer entender que todos ‘estamos’ nômades.Embarque nesta aventura e boa viagem pelas páginas da Nômades do Araguaia. Até a próxima parada! BRENDA CARVALHO e LAURA CRISTINA

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Mato Grosso

Goiás

entrevista

Nascido em Sete Lagoas (MG), Aparecido Evangelista Camargo, 57 anos, começou a trabalhar jovem como churrasqueiro a 40 anos atrás, quando tinha apenas 17. Todos os dias ele caminha 7 quilômetros para trabalhar em estados diferentes. De dia em um restaurante de Alto Araguaia, Mato Grosso, e à noite no restaurante da rodoviária de Santa Rita do Araguaia, Goiás. Casado há 24 anos, é pai de dois filhos e se orgulha de ter na profissão o sustento da família.

Revista: Como é a sua rotina de trabalho?ApARECidO: Trabalho das 8h30 às 14h em Alto Araguaia. Saio do serviço e vou para minha casa, em Santa Rita. Tomo banho e durmo cerca de 20 minutos. Depois vou para a rodoviária, entro às 16h e fico até a meia-noite. Faço todo o trajeto a pé. O sol pode estar trincando, mas tenho que ir. No dia em que chove, o pessoal me leva de motocicleta para o outro serviço.

Revista: E não é cansativo trabalhar assim?ApARECidO: Trabalho 365 dias por ano. Numa idade dessas aguentar esse trampo não é para qualquer um, porque se tem alguém que trabalha nesse Brasil, tá aqui [diz, fazendo menção a si mesmo]. Já me acostumei, porém, 40 anos de rotina não é fácil.

Revista: Há alguma diferença entre trabalhar em Alto Araguaia e Santa Rita?

ApARECidO: Não muita, porque em todo o lugar em que você trabalha tem um espinho (dificuldade). Sempre tem um pra te encher o saco, mas não estou nem aí. O que é ruim mesmo é o calor durante o dia, principalmente por causa da churrasqueira.

Revista: O senhor nasceu em Sete Lagoas, interior de Minas Gerais, como veio parar em Alto Araguaia?ApARECidO: Vim primeiro para Rondonópolis. Depois fui para Alto Garças, onde casei, daí voltei para Rondonópolis, mas não deu certo porque lá é muito corrido e eu gastava nove reais por dia com ônibus. Daí não compensa. Então retornei para cá.

Revista: Em que lugares o senhor já trabalhou e de onde vem o seu tempero?ApARECidO: Comecei em Rondonópolis, mas já passei por Tatuapé (MT) e Concórdia (SC).

Ninguém me ensinou. Simplesmente via o pessoal de um salão cortar carne e ficava de olho no tempero pra não ficar salgada, então aprendi comigo mesmo.

Revista: E quanto à família?ApARECidO: Meu guri está fazendo o 2° ano, quer ser veterinário e eu vou ajudar ele na faculdade com o transporte, comida e material de estudo. Pai é pai. Nem que eu sofra, mas não quero ver o meu filho sofrer.

Revista: Ainda assim, toda essa correria compensa?ApARECidO: Sim. Agora tô comendo melhor e a minha casinha está saindo. A partir de março do ano que vem não vou mais pagar aluguel. Para mim esse trabalho é terapia. No dia em que folgo na rodoviária, na segunda-feira à tarde, fico mal. Fico com o corpo mole e dá vontade de deitar. Mas quando estou trabalhando nem penso em cama

Entrevista e foto BRENDA CARVALHO

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Para iniciar a carreira de caminhoneiro, Paulo César aprontou uma peripécia

digna de ser mencionada. Ele tinha apenas a carteira profissional categoria C, necessária para a condução de transporte comercial. Precisava ter dois anos de experiência. Para isso, falsificou a carteira de motorista ao dizer que havia trabalhado na área por dois anos.

Com 61 anos, é aposentado desde 2006 por tempo de trabalho para complementar a renda. “No dia em que apo-sentei foi bom. Quando passou três anos, vi que ela não seria suficiente. Daí eu tive que me virar de novo e correr atrás de serviço”, conta.

Atualmente, trabalha há um ano carregando mercadorias de uma grande empresa lojista do Brasil. Antes disso, transportou veneno, combustível, mercadoria de armazém e trabalhou com terraplanagem para caminhões. Costuma fazer o trajeto entre os estados de Goiás e Mato Grosso, tendo a

cidade de Cáceres como ponto final, na maioria das vezes. De lá volta com o caminhão vazio para o recomeço de uma velha rotina. Todo o percurso dura, em média, cinco dias sobre as rodas do caminhão, o que o conduz a fazer uma viagem por semana.

Já são 30 anos de estrada e muitas experiências que carrega na boleia do caminhão. Uma delas foi há três anos, época em que ficou preso durante 41 dias no Posto Fiscal Henrique Peixoto, em Alto Araguaia. Tudo porque devia resíduos de imposto. Por exemplo, se o dono da mercadoria tem uma nota no valor de 50 mil reais e 10 centavos e paga 50 mil, fica devendo 10 centavos para o estado.

Nesse caso, o dono da mercadoria teve os produtos apreendidos por dever três reais, o que gerou uma multa de 70 mil reais. Paulo César ligou para o empresário que alegou que não iria pagar a multa, depois ligou para a fábrica que prometeu que

iria resolver o problema. “Fiquei durante dias ligando pra lá e pra cá. Os dias foram passando e nada de resolverem o problema”.Segundo Carvalho, o dono da mercadoria passou a não atender mais as suas ligações. Assim, o empresário que contratou seus serviços disse que mandaria outro para ficar em seu lugar porque o caminhão não podia sair dali. Nos dias em que ficou parado, Paulo César ganhou diária de 30 reais para cuidar do caminhão e da mercadoria.

No 41° dia chegou uma nova turma para trabalhar no posto fiscal. Paulo César conversou com o diretor deles e pediu para tirarem a mercadoria do caminhão para que fosse embora. O fiscal averiguou sua situação e achou um absurdo ele estar preso há muitos dias por tão pouco. Conclusão: o diretor liberou Paulo César, o caminhão e a mercadoria. “Não era preciso ter ficado todo esse tempo, tudo poderia ser resolvido em outro momento na Receita Federal”.

Reportagem BRENDA CARVALHO

Paulo César de Carvalho sempre teve como sonho viajar, com a certeza de conhecer os quatro cantos do Brasil.

Foi ganhar a vida na estrada. Faltava dinheiro para realizar o tão desejado

sonho, porém, vontade e coragem de se aventurar pelo país eram o que tinha de sobra. Aos 31 anos,

pegou um caminhão de uma empresa atacadista, saiu rodando e desde

então não parou mais.

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Frequentemente faz o trajeto entre Rio Branco, capital do Acre, e o estado de São Paulo. A paixão pela profissão é tanta que

Pereira nunca trabalhou em outra área. Hoje é proprietário de um caminhão que adquiriu em 2009. Costuma carregar madeira, verduras e frutas, tais como laranja e melância.

Helio Pereira é natural de Nova Esperança, interior do Paraná, mas foi em Rio Branco que ele fincou raízes, onde mora há mais de 20 anos com a esposa e três filhos. De todas as cidades que conheceu, o interior de São Paulo foi a que mais lhe agradou. “Não gosto da capital de São Paulo porque é muito violenta e ruim para dirigir. Prefiro o interior porque é mais tranquilo e bonito”, diz sobre as montanhas verdejantes do interior do estado mais populoso do Brasil.

O sonho de Paulo César foi realizado, mas não está tão perto da realidade que sempre quis. Ele diz que gasta muito

dinheiro na estrada porque em todo lugar que chega tem que pagar para tomar banho. Como dorme no caminhão, alguns lugares cobram o estacionamento para o pernoite.

Para comer, ele escolhe o local que está aberto no horário em que é possível comer. Quando tem mais tempo, faz a própria comida. “Se conheço a região, sei onde encontrar a comida do meu gosto e a preços acessíveis”, explica. Os seus cálculos contabilizam o valor diário de 30 a 40

reais, dinheiro que divide para as refeições de dois períodos do dia.

Ele viajou todo o Brasil, principalmente, para as regiões Nordeste e Sul do país. Considera o Rio Grande do Norte, o sul e o litoral da Bahia os lugares mais bonitos que visitou. No entanto, mantém grande paixão pelo Norte e o Nordeste. Sua simpatia por esses lugares vem mesmo é da forma como é recebido pelos moradores.“É um lugar em que sou bem acolhido e aceito porque o povo é humilde. Lá me sinto em casa. É mais pela população do que pelo lugar em si”, garante.

Asfalto, “poeira” e saudade

Há 30 anos com a mão no volante e o olho na pista, o paranaense Helio Pereira, 52 anos, começou a gostar da profissão por causa das viagens que fazia com o seu pai, também caminhoneiro. Com ele aprendeu a dirigir caminhão com apenas 12 anos. Ao atingir a idade adulta, tirou a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e começou a trabalhar. “Naquele tempo era mais fácil”, afirma ele sobre dirigir caminhões.

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Sua vida é uma corrida contra o tempo, por isso lamenta não ter momentos para aproveitar as passagens que faz pelas diferentes terras brasileiras. Ele lembra que uma vez fez uma entrega em um lugar que ficava a 300 metros do mar. Olhar para a imensidão azul que estava à sua frente o fez lembrar de sua família e aflorou a vontade de voltar para casa.

“Pensei que muitas pessoas financiavam ou juntavam dinheiro o ano inteiro pra ir naquele lugar. Me perguntei: estou de frente para ele e eu não vou lá?”. Ainda assim, a observação foi sua melhor companheira.

Perguntado sobre qual lugar gostaria de morar, ele diz que em qualquer lugar do litoral do Nordeste, como Aracaju (Sergipe) ou Natal (Rio Grande do Norte). A oportunidade de emprego foi o que o levou a morar em Teresina (Piauí). Paulo César havia comprado um pequeno caminhão e o agregou em uma empresa da cidade.

“O serviço foi dando certo e eu fui ficando. Quando fui ver, já tinha passado cinco anos. A cidade era muito quente, porém gostosa de morar”, elogia.

Uma curva na estrada: rumo ao abismo do preconceito

O emprego de motorista profissional leva muitas pessoas ao imaginário

de liberdade e a garantia de conhecer lugares diferentes. Em parte essa fantástica fantasia se torna realidade, no entanto, apesar da aventura, as dificuldades são grandes. Uma delas é a desvalorização do profissional, um caminho em que as pedras são formadas pelo preconceito.

“Acontece mais em lugares que tem gente de maior condição. Nos postos de gasolina de grandes cidades não gostam da gente”, pontua Paulo César. Foi em um posto de gasolina que ele foi tratado de modo indiferente. Na ocasião, comprou um café que custou mais caro porque era caminhoneiro. “Tive que pagar sete reais pelo café”.

Outra vez, ele e mais outros quatro caminhoneiros foram procurar vagas para dormir à noite em um hotel, pois na manhã do dia seguinte iriam carregar para a mesma firma. “A gerente de área ligou para esse hotel, pediu vagas para cinco motoristas dormirem e perguntou o preço. Era trezentos reais a diária, então a gerente falou: não, é coisinha simples. É só pra eles passarem a noite. É pra motorista, não é esse preço que eu quero”, diz bastante sorridente. No fim de tudo, conseguiram os quartos por um preço inferior. Em 30 anos de profissão, essa foi a única vez

em que ele dormiu em um hotel durante o trabalho.

“A estrada em si é mais perigosa do que quem está em cima dela. Elas, infelizmente, são muito deformadas e não têm acostamento em todos os trechos. Além disso, a polícia rodoviária só serve pra multar. Se você for pedir ajuda, eles vão procurar um defeito no caminhão”, critica Paulo César.A preocupação do motorista não é para menos. Um estudo realizado pelo Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro revela que, em 2012, Minas Gerais foi o estado com maior número de acidentes em rodovias federais. Foram 26.771 acidentes com 44,7 vítimas fatais para cada 1000 ocorrências, ou seja, aproximadamente 1200 mortos.

“Às vezes passo por um buraco, quebra uma mola ou estoura um pneu do caminhão. Tem empresa e patrão ruim que cobra do motorista. Trabalhei em duas firmas que eram assim. Me culparam e tive que pagar pelo prejuízo. No fim de tudo, não compensa”, reclama Paulo César.

“O Brasil não tem estradas e os pedágios são muito caros”, aponta Helio Pereira. Para ele, os piores trechos estão em Mato Grosso e cita as rodovias 174 e 364 como as campeãs em má qualidade. “De Rondonópolis a Cuiabá nem se fala”.

Contudo, Paulo César é a favor do pedágio porque ajuda na manutenção das estradas do país. “Se você não paga o pedágio, paga em consertos do caminhão e em vidas”, observa.

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Embora reclame das estradas, Paulo César nunca chegou a sofrer acidente, porém, ele brinca ao dizer que certa vez caiu do caminhão quando tentava descer a escada do veículo. O motorista esbanja um enorme sorriso quando lembra que errou o vão da escada e caiu de cabeça para baixo. “Nada muito grave”, comenta.

Quem não teve tanta sorte foi Helio Pereira. Em 1988, ele sofreu um acidente na Rodovia Belém-Brasília que liga a capital do país ao pará. O motorista que estava na pista contrária fez uma ultrapassagem no momento em que passava em cima de uma lombada. Helio tentou desviar e o motorista bateu na traseira de seu caminhão.

Apesar do susto, Helio não sofreu um arranhão, já o outro motorista quase morreu. “Ele se arrebentou todo. Se ainda está vivo, eu não sei”. Em decorrência do acidente, Helio ficou dois dias parado na rodovia enquanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF) averiguava o caso.

Na época, Helio Pereira não tinha seguro do caminhão e teve prejuízo porque o outro motorista não o ajudou no conserto do veículo. Para ele não foi difícil voltar a trabalhar. Em quinze dias, Helio retornava às pistas. Desde então, nunca mais teve acidente algum.

O hábito de dar carona também põe em risco a vida dos viajantes de carga pesada. São raras as vezes em que Paulo César dividiu o espaço da cabine com outra pessoa. “Acho muito perigoso porque tem gente que carrega droga ou quer te roubar”, aponta Carvalho.

Já Pereira diz não se precaver contra assaltos. “Se me roubarem, entrego tudo, o dinheiro, o caminhão, que me deixem. O mais importante é a minha vida”, opina.

De olhos vidrados

Segundo o Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro, o número de acidentes envolvendo caminhões em

2012 foi de 62.851, dos quais morreram 3.182 pessoas, uma média de 10,1 pessoas por dia. O estudo do Atlas aponta que 688 dos acidentes ocorreram em decorrência de defeitos na pista, 2.036 por causa de ultrapassagem indevida, 5.368 por velocidade acima do permitido e 21.860 pela falta de atenção dos motoristas.

Paulo César trabalha das 5h até a meia-noite ou 1h da manhã. Ele relata que não tem tempo para descansar durante o dia. “Caminhoneiro é agoniado porque nunca sabe o que vai encontrar pela frente. Logo queremos adiantar o serviço”, explica. E ainda revela que seu patrão não o pressiona por conta dos horários, contudo, precisa cumprir o tempo estimado de viagem. “Sei que a maioria faz pressão. Grande parte dos acidentes na pista é por causa da sonolência”.

Paulo César não está errado, o mesmo estudo assinala que 2.093 dos acidentes com caminhões ocorreram por causa de motoristas dormindo ao volante. Inclusive houve muitas vezes em que ele quase se acidentou por estar com sono. “É terrível estar sozinho dentro de uma cabine com sono”.

Para se manter acordado, em determinada ocasião, Carvalho bebeu a mistura de pó de guaraná com refrigerante de coca. Logo após se sentiu mal, teve dificuldades para respirar e quase morreu. Sua única atitude foi estacionar o caminhão no acostamento, estender o braço para fora da janela e fazer sinais como um pedido de socorro.

Algumas pessoas pararam, levaram-lhe até o hospital e o trouxeram de volta.Quem também tem jornada de trabalho puxada é Helio Pereira. Ele afirma que às vezes precisa trabalhar até 24 horas por dia. “Descanso só um pouquinho à noite”, alega. A reportagem o questionou sobre ter sono na estrada, mas Pereira diz não sentir sonolência

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e faz uma revelação.

“Tomo rebite”, diz com todas as letras e ainda afirma que nunca teve nenhum efeito colateral. As anfetaminas e seus derivados, como é o caso do rebite, têm efeito poderoso sobre o caminhoneiro. Só para se ter noção, Pereira diz conseguir viajar de São Paulo a Rio Branco em dois dias e meio. O trajeto pela BR – 364 é de aproximadamente 3.500 quilômetros. “Tenho que arriscar”, argumenta.

Os riscos para quem ingere esse tipo de droga são inúmeros, já que a anfetamina age no sistema nervoso central e também em outros órgãos do corpo humano. A ingestão do rebite ocasiona quadro de insônia, o que faz com que o organismo trabalhe horas a fio sem que a pessoa se sinta cansada.

O seu uso contínuo provoca dependência, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, arritmias, gastrite, diarréia e tremor nas mãos. Outros efeitos colaterais que podem ser verificados é que seus usuários podem ficar deprimidos, irritados, ter

ataques de pânico e até mesmo podem tentar se matar.

O fim do começo ou o começo do fim?

A vida de viajante permite o condutor conhecer novos lugares, pessoas e

culturas. Muitas vezes aproxima pessoas que são de longe e afasta aquelas que são de perto. Foi por causa da estrada que Paulo César separou da primeira esposa e construiu uma nova família.

“A maior parte dos caminhoneiros têm uma segunda e até uma terceira mulher”. O caminhoneiro descreve que da primeira tem quatro filhos e da segunda um. O mais novo tem quinze anos, fruto de seu segundo casamento. Quando morava em Teresina chegava a ficar de 30 a 40 dias sem ir para casa, em Uberlândia (Minas Gerais), onde foi criado.

“A ausência e a distância empurram a gente pra

outros caminhos. A distância também faz a gente se acostumar sem a presença do outro”, diz sobre as consequências das decisões que tomou na vida.

A história com sua segunda esposa inicia-se em 1989, junto à caminhada de sua profissão, quando a conheceu em uma pizzaria de Teresina. Os dois comeram e depois foram juntos a uma festa de carnaval. “Continuamos saindo, até que minha primeira esposa descobriu, então separamos”.

Depois da separação,Carvalho ia para Uberlândia cada três meses para ver os filhos e outros familiares. Passados os cinco anos em Teresina, retornou definitivamente para Minas Gerais e a segunda esposa foi atrás dele, com quem apenas namorava. Desde então, estão casados há sete anos. “Estamos muito bem, graças a Deus!”, manifesta.

Agora ele diz estar mais presente porque fica de três a quatro dias por semana com a família. Perguntado

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Amigos “viajantes”

Bem mais do que um sonho realizado e a garantia de pão na mesa, as

viagens de Paulo César o fizeram colecionar grandes amizades que guarda até hoje.Durante os 41 dias em que ficou parado no posto fiscal de Alto Araguaia, ele lembra que fez amizade com um caminhoneiro que estava na mesma situação. Os dois iam até o mercado para comprar alimento e outros itens de necessidade básica. Certo dia o dinheiro de seu colega acabou. Dez dias depois o de Carvalho também.

Sem dinheiro algum, o dono de um restaurante viu a situação em que se encontravam e disse que os dois podiam tomar café da manhã, almoçar e jantar em seu restaurante enquanto precisassem. Detalhe: não precisavam pagar nada e ainda ofereceu os serviços de sua esposa para lavar as roupas que viessem a sujar.Paulo César se diz eternamente grato ao casal. “Eles até me levaram pra uma igreja. Sempre que posso, passo lá e converso com eles”.

As suas amizades não param por aí. Em outra ocasião ele passou mal na estrada e parou em uma cidadezinha. Perguntou a um morador onde ficava o

hospital e lhe informou que não estava bem. Esse homem se ofereceu para levá-lo até a emergência de carro. Ajudou-o e lhe fez companhia enquanto esperava ser atendido no hospital.

Além disso, Paulo César mantém uma relação de amizade saudável com outros caminhoneiros. “Ajudamos uns aos outros, mas também não confio totalmente. Tem muita gente mal intencionada”, adverte.

Como se fosse a primeira vez

Os caminhos de Paulo César são incertos. Não sabe se desiste

ou se continua a profissão. As necessidades do sustento ainda são maiores que a saudade da família. De acordo com ele, o que o faz se reapaixonar pela sua profissão são as amizades que encontra pelo caminho e carrega no coração.

Mas não foi a quantidade de aniversários que lhe trouxe grandes vivências. Foi a quilometragem percorrida na cabine do caminhão que proporcionou suas maiores experiências na estrada da vida.“Aprendi a confiar e a não confiar, a conhecer o espírito das pessoas. Assim fui aprendendo a viver”, conclui mais um trajeto.t

sobre a opinião de sua família quanto a sua profissão, ele expõe que “ninguém gosta porque eles sabem como funciona e acompanham o meu sofrimento”. Embora divida a solidão de viajante com a estrada ou a cantiga de uma música, Carvalho já levou sua atual esposa para as viagens de trabalho. “Ela sabe o quanto a estrada é ingrata”.

Sua esposa pediu para ele desistir do emprego e por isso ficou dois anos sem viajar. Segundo ele, o que o fez retornar foi o salário da estrada que considera mais atrativo que o da cidade. A falta de opção e as cobranças da vida também estimularam o retorno à profissão de viajante peregrino.

“As necessidades não param, o dia a dia está sempre te cobrando. Resolvi trabalhar mais um ou dois anos, estou chegando no primeiro e nem tenho mais certeza se vou chegar ao segundo”, confessa.

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|13“Trabalhar aqui é puxado, cansativo e tenso. Embora, raramente, tenham me jogado cantadas, são super educados porque sabem que o ambiente é de família”, comenta Oliveira.

O restaurante abre às 7h. Quando saem do serviço, às 16h,

vão para o mercado, depois para casa e preparam tudo o que precisam levar para o dia seguinte.

Trabalhar em um restaurante frequentado por mais de 80 caminhoneiros por dia lhe rendeu boas histórias para contar. José lembra que um caminhoneiro foi tomar café da manhã no restaurante. Depois de comer, foi até o seu caminhão. “Como estávamos numa correria, achei que ele fosse buscar

o dinheiro pra acertar aqui”, lembra ele. Naquela ocasião, o caminhão deu a partida e o caminhoneiro foi embora sem pagar a conta.

Quando o motorista chegou no posto fiscal de Minas Gerais, não encontrou a nota fiscal da mercadoria que transportava e chegou à conclusão de que a havia esquecido no restaurante de Helda e José.

O caminhoneiro não poderia sair dali com o caminhão. “Vimos que esqueceu ela em cima da mesa, a guardamos e tentamos localizar ele, mas não conseguimos”, diz José.

Resultado: o caminhoneiro voltou de carona para Alto Araguaia para procurar a nota. “Os sete reais que ficou devendo aqui o fez fazer uma viagem de mais de 2.000 quilômetros”, enfatiza Helda. Sua viagem de ida e volta para buscar a nota fiscal chega a ultrapassar 4.000 quilômetros.

José Maria entregou a nota para ele e lembrou ao caminhoneiro do ocorrido. “Ele ficou muito sem graça, porém não a pagou nem pediu desculpas. Acredito que essa foi uma lição pra ele”, resume José.

Outro fato que José Maria presenciou foi junto ao seu filho, que estava no posto fiscal de Alto Araguaia. Um caminhoneiro havia acabado de carimbar uma nota fiscal e se preparava para ir embora. Quando saiu do posto, um redemoinho muito forte passou por ele e arrancou a nota de suas mãos. “Desapareceu, ninguém sabe pra onde foi e ele ficou sem saber o que fazer”, relata José.

Pouco tempo depois, o vento cessou e a nota caiu diretamente nos pés do caminhoneiro. “Todo mundo ficou assustado. É um mistério mesmo”, brinca.

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14|Entre a gratidão e a loucura

O ano era 1997. Um ex-presidiário chegou à porta do restaurante

de comida caseira de Maria Patrocínia de Lima, conhecida como Baiana, em Santa Rita do Araguaia (GO). Segundo ela, o homem era careca, estava mal vestido e tinha acabado de sair da cadeia. De acordo com Baiana, ele estava desempregado e não tinha família.

“Ele estava muito sofrido. Me contou sua história, vi que era verdade. Depois me pediu um prato de comida, então dei comida e mais cinco reais pra ele”. Baiana ainda conta que o homem disse que não tinha como pagá-la, contudo, poderia retribuí-la com um dos quadros que aprendeu a fabricar na cadeia.

“Andava com uma porção de quadros e disse para eu escolher um deles pra colocar no meu restaurante”. Nesse dia, Baiana também escolheu as frases que mais gostou para compor o quadro. Desde então, ela nunca o reencontrou. “Achei as frases muito bonitas e até hoje sinto saudades dele”, lembra, emocionada.

Três anos depois, Baiana abriu outro restaurante localizado na BR – 364, a 14 quilômetros de Alto Araguaia, onde administra há 14 anos. Nesse restaurante atende, em média, 30 pessoas por dia que vêm de firmas, outras são caminhoneiros e viajantes. Entre seus clientes estão cantores e grupos musicais famosos como Rick &

Renner e Roupa Nova.

“Gostam muito de feijoada, arroz, frango, purê de batata e costela de porco. A gente faz uma comida boa e o povo gosta. O preço também é atrativo porque é bastante acessível”, cita algumas das comidas preferidas de quem frequenta o local.

Outro fato que a marcou muito foi o caso de um homem que vinha de ônibus e pediu para o motorista parar na cidade porque precisava descer. Segundo Baiana, o homem veio correndo e pediu para usar o banheiro. Ela disse que sim. “Parecia ter problema mental”, comenta.

O tempo passou e nada de ele voltar para o ônibus. Foi quando os passageiros desceram do veículo para procurá-lo. Como não o encontraram, ligaram para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e contaram o caso. Assim que a PRF chegou, investigaram o seu desaparecimento. Analisaram

sua bagagem e encontraram os contatos da família que morava em Cuiabá.

“A família disse que ele estava muito doente e que era portador do vírus HIV”, narra Baiana. Dias depois, ela foi intimada para depor na Delegacia Municipal de Polícia de Alto Araguaia. Mostraram a fotografia de um homem a ela e assim constatou que se tratava do mesmo que havia visto naquele dia. Ele fora encontrado morto.

A desconfiança da polícia recaiu sobre ela. “Falei o que tinha acontecido naquela tarde e me perguntaram como ele havia morrido. Eu não sabia de nada, simplesmente comecei a chorar quando me falaram que ele estava morto”. Só depois das lágrimas é que deram um voto de credibilidade a ela.Para Baiana, esses dois fatos foram os que mais marcaram a sua vida na estrada. “Isso mexeu muito com o meu coração”, frisa.

Baiana registra num mural de fotografias as estórias vivenciadas com muitos caminhoneiros que pararam no seu restaurante.

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“Quando a galinha é boa, o pinto não falha.”

“Em terra de cego, quem tem um olho, merda… errei!”

“De pensar, morreu um burro… e aposto que ainda não entendeu!”

“Beijo é igual ferro elétrico: liga em cima e esquenta embaixo.”

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A confraria de migrantes e nômades em Alto AraguaiaPor SHIRLENE ROHRProfessora da Unemat (Câmpus Alto Araguaia)

Gosto da palavra “nômade” ou, talvez, da ideia de ser um “nômade”. No passado – mas em um passado muito distante mesmo – os homens todos eram nômades:

viviam no mundo, sem destino, apenas orientados pelo sol e pelas estrelas. Com suas andanças, eles descobriram caminhos, subiram montanhas, atravessaram vales e planícies e venceram as distâncias dos oceanos pelos estreitos entre os continentes... Mas com tempo e inteligência, aprenderam a ser sedentários.

O nômade não se fixa em lugar nenhum: não sossega, não cria raízes, não mora em uma rua, não aceita um endereço. O nômade está sempre na estrada ou pensando nela. Um grande fluxo de nômades é visto como uma ameaça: no medievo, a Europa passou por um longo período sob a pressão de povos nômades que desciam do Norte e invadiam as cidades, levando terror às gentes

dos povoados. Eram os nômades da Escandinávia, hoje tão sossegada. Esses ferozes guerreiros de ontem, inspiraram a literatura de alguns escritores... Shakespeare, por exemplo.

A literatura adora os nômades: personagens inquietos ou movidos por uma grande necessidade se põem a caminho, de um lugar a outro, como Pedro Malasartes, personagem da literatura popular, sempre chegando, sempre saindo... Viramundo, personagem do livro O grande mentecapto, é como Malasartes, todavia, Malasartes tem a sorte de não envelhecer, de não morrer, é eterno na cultura popular, sem infância e sem velhice, enquanto Viramundo cumpre seu destino literário, morrer de loucura. Alguns dizem que Fabiano – o personagem de linguagem truncada do livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos – e sua família eram nômades, mas isso é bobagem, eram fugitivos, ou melhor,

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eram retirantes; os retirantes são os que desistem de um lugar e vão para outro. Fabiano não era nômade, não queria ser nômade, queria mesmo era ficar, contudo o sol, a seca, a ronda da morte o leva a se decidir pela retirada.

Há grande diferença entre os nômades e os migrantes/imigrantes: os primeiros querem o mundo, estão de passagem; os últimos querem chegar e ficar; eles saem de um lugar para o outro com a intenção de se fixar, de criar vínculos nesse outro lugar.

Eu diria que em Alto Araguaia há mais migrantes que nômades, pois os que são nômades já foram, ou estão indo. Mas os migrantes de Alto Araguaia estão aqui. São pessoas que aqui chegaram, e ainda chegam, de todas as partes do Brasil, trazidos por um desejo, por uma esperança, um objetivo: muitos deles para trabalhar, outros para

16| |17estudar... Esses “chegados de outros lugares” aqui ficam e participam das trocas culturais, dos intercâmbios de costumes e das práticas locais, mais globalizadas do que nunca.

Em 2000, um fenômeno transformou a cidade de Alto Araguaia: atraídas pelo desenvolvimento econômico, muitas pessoas vieram para cá “tentar a vida”. Tentada, a vida revida: deteve alguns, que aqui se arranjaram em casamentos, aprumaram uma família e não quiseram mais ir embora. Eles também não querem ir porque a cidade é boa e as pessoas são gentis.

A cidade aceitou o movimento transformador dos migrantes e acolheu diferentes costumes que se manifestaram em sabores, danças, sons e sotaques.

A convergência de diferentes culturas redesenhou a configuração da população de Alto Araguaia, com ares agora de todas as regiões do Brasil, com pernas de todas as cores, “pernas brancas pretas

amarelas”... “para que tanta perna, meu Deus”, pergunta o coração do poeta Drummond. Ah! Se eu me chamasse Raimundo... de que adiantaria? Não mudaria o mundo, nem mudaria os rumos de Alto Araguaia, que cumpre seu destino de receber nômades e migrantes: os primeiros não ficam, desassossegados que são; os outros, sim, ficam com suas saudades e criam suas famílias.

Os “estranjos” do Araguaia, quando “dão de ir embora”, levados por alguma premência da vida, por alguma circunstância maior, levam a cidade consigo em boas lembranças. Mas a cidade fica, na sua divisa, na sua fronteira. Além de cidade, Alto Araguaia é também passagem, uma passagem que comunica quem entra e quem sai do Mato Grosso. Alto Araguaia é uma cidade que acolhe seus migrantes e saúda seus nômades. Mas, onde os nômades? Nos caminhões, talvez...t

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VIDA ITINERANTE!

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rotina inicia às 7h da manhã, quando passa a roupa sua e do filho, e depois leva-o a creche. O percurso é rápido, apenas alguns quarteirões de sua casa.

Às 8h, ela entra no serviço, na Associação Comercial de Alto Taquari (ACEATA). Trabalha lá não faz muito tempo. Antes disso, era atendente de uma funerária da pequena cidade de 6 mil habitantes.

Bem próximo do meio-dia, ela sai para o almoço. Geralmente almoça fora de casa, quando não leva marmita. O intervalo de uma hora é curto e quase insuficiente para preparar a refeição.

Do retorno do almoço ao fim do expediente na rádio, as horas passam diligentemente. Em seu cargo de secretária executiva, Tharija é

Reportagem e Foto LAURA CRISTINA

Na universidade todos os dias desembarcam muitas estórias que

chegam carregadas de sonho e de emoção. São pessoas de diversos lugares que precisam se adaptar a cidade em que vão ficar por alguns anos.

A acadêmica Tharija Gabriela, 30 anos, diz que já passou por muitos obstáculos e faz de tudo para concluir e finalmente ter seu tão sonhado diploma acadêmico.

Desde 2010 a jovem mãe embarca num ônibus alocado pela prefeitura de sua cidade, Alto Taquari, Mato Grosso, e segue viagem até Alto Araguaia, onde cursa jornalismo. “Quando iniciei, éramos somente meu marido e eu. Durante o curso, já no 3º semestre, engravidei do meu primeiro filho. Por sorte, coincidiu de o final da gestação ser nas férias de dezembro, me possibilitando concluir o semestre. Voltei o semestre seguinte por opção, visando terminar o curso no prazo determinado, mas outras circunstâncias foram surgindo, impedindo-me, criando com o tempo, desânimo e cansaço.”

Apesar do arrependimento de não se formar com a sua primeira turma, Tharija sempre mostrou determinação. A sua

responsável pela administração do seu local de trabalho.

E às 17h Tharija encerra mais uma rotina na rádio. A partir deste horário ela precisa se desdobrar em duas, pois além de pegar o seu filho na creche e deixá-lo com o pai, Peterson Romualdo, 31 anos, é preciso também se aprontar e preparar o material de estudo para mais um dia de aula na faculdade em outra cidade. “Não tem sido nada fácil estudar em outra cidade. Pra começar, a faculdade começa para mim não às 19h, mas sim, às 17h, pois toda correria a partir desse horário é em função de me preparar para ela. O ônibus que nos leva de Alto Taquari à Alto Araguaia sai às 18 horas. Nesse meio tempo eu preciso aprontar meu filho para ficar com o pai. Geralmente

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20| |21é frustrante, porque eu não tenho tempo para meu filho e meu marido, então é sempre uma choradeira para que eu fique em casa, tanto por parte do meu filho quanto do meu marido. Depois de aprontá-lo para ficar com o pai, eu tenho que me aprontar, lembrar que aula tem naquele dia, arrumar o material, pensar como eu vou estudar para a prova ou trabalho daquele dia enquanto vou no ônibus, pois o serviço é corrido e não me resta outro horário.”

O Jornalismo não é o primeiro curso que Tharija cursa dentro de uma rotina apertada. Para ela, antes inclusive era mais puxado. “Antes do curso atual, já havia estudado uma faculdade inteira de madrugada. Já perdi muitas noites de sono e agora não estou mais disposta a fazer isso... nem que para isso demore mais quatro anos para concluir. Não tenho mais pressa.”

A aula começa às 19h, mas o ônibus com os estudantes só desembarca por volta das 19h30, devido ao fato da estrada entre as duas cidades, a MT-100, ser muito esburacada. “Sempre perdemos conteúdo por conta disso. Quando entra em horário de verão, Alto Taquari continua com o horário normal. Isso faz com que cheguemos somente na segunda aula. Muitos, dependendo do professor,

reprovam por falta.”A viagem para a faculdade sempre foi arriscada. Não existe nenhum posto rodoviário na MT-100, por onde Mato Grosso escoa cerca de um terço de sua produção agrícola no modal de transporte que converge para a Ferronorte. “Estudar em outro município nos expõe a muitos riscos. A estrada é perigosa, os motoristas estão saturados e estressados e a situação do ônibus é precária. Muitas vezes ficamos com o carro quebrado na estrada”, comenta Tharija em tom pessimista.

Pior do que enfrentar os riscos da MT-100, é desembarcar cansado da viagem e descobrir que as aulas foram canceladas. “Ruim é sair de casa dessa forma, chegar à

faculdade e descobrir que não tem aula ou ser liberado mais cedo. Isso só dá certo pra quem mora em Alto Araguaia. Quem vem de outro município tem que esperar até às 23h de qualquer forma, mas pra quem mora no município onde estuda, é só ir pra casa.”

Além da falta de comunicação com a faculdade, Tharija e os estudantes de outras localidades também enfrentam problemas nos dias de prova. “Época de prova é a mesma coisa. Terminou a prova, pode ir embora, mas ir embora como? Tem que aguardar. Enquanto isso perco o tempo de estar em casa com minha família. Muitas vezes parece que não vale tanto a pena assim, que minha família é prioridade.”

Outra reclamação dela é

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22|sobre o descaso de alguns professores. “Já teve época em que tinha muito descaso, faltavam muito e liberavam antes do horário com frequência. Quem vem de fora geralmente chega cansado, atrasado e com fome, por isso saímos antes do intervalo para comer, mas não é por descaso ou por desinteresse como muitos dizem, é só fome mesmo. Fome de quem trabalhou o dia todo e nem almoçou, porque convenhamos quem faz almoço e come em uma hora?”

Bem próximo das 23h, o motorista do ônibus avisa os estudantes sobre o embarque. Quem sai mais cedo da sala de aula tem chances maiores de conseguir um assento. O mesmo acontece também na ida. “Dependendo do dia, geralmente quarta e quinta, o ônibus vem lotado devido os cursos da Unopar que são mais solicitados. Ou você sai mais cedo de casa e pega o ônibus no primeiro ponto para fazer a viagem sentada, ou viaja quilometros em pé ou sentada nos encostos dos braços das poltronas. Quem não tem como ir pro começo da cidade e mora no final, vai em pé”.

Geralmente o ônibus com os estudantes parte de Alto Araguaia às 23h20 e chega em Alto Taquari por volta da meia-noite à 1h da manhã. Na maioria das vezes quando Tharija chega em sua casa encontra seu marido e filho dormindo. Exausta, sempre busca forças para preparar um lanche antes de dormir... como se fosse uma recompensa depois de um dia movimentado.

A rotina dinâmica dela também perdura nos finais de semana, quando se vê dividida entre o calor familiar e a obrigação dos estudos e leituras da faculdade. E novamente a estudante de Jornalismo mostra-se determinada. “Participo da família me divertindo e passeando e estando presente com eles ou me isolo pra estudar e fazer os trabalhos da faculdade, porque durante a semana não tenho tempo. Neste exato momento, por exemplo, meu filho de dois aninhos me chamar: ‘vem mamãe brincar com o Ítalo’. Mas eu tenho muito trabalho pra fazer...”

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Depois de conhecer a rotina universitária de Tharija que é mãe,

esposa e dona de casa, vamos saber agora o dia a dia de um estudante solteiro, que saiu de seu conforto no interior de São Paulo para vivenciar novas experiências em Alto Araguaia.

O estudante Marcus Vinícius ainda sente muita falta de sua família em Barretos, estado de São Paulo. Quando soube que viria para Alto Araguaia, há nove meses, teve muitas incertezas. “Não tinha certeza se viria ou não para Araguaia, por outro lado, meus familiares deram total apoio desde o princípio, e, inclusive, vieram comigo para conhecer a cidade e a universidade. Ainda no caminho a incerteza sobre o futuro me causou pânico. Afinal, a distância entre as cidades e a rodovia péssima me causaram receio sobre o que me esperava”, argumentou o estudante de modo ressabiado.

A escolha por fazer Jornalismo deu-se através do Sistema de Seleção Unificada, o SISU. “Minha história em Alto Araguaia teve início há pouco tempo, precisamente há nove meses, quando procurava um curso de comunicação social pelo SISU. Acabei encontrando a cidade e a UNEMAT, que até então eram desconhecidas para mim.

Como minha média era a mesma do curso ofertado, selecionei como segunda opção apenas para ter o gosto de dizer que havia passado numa universidade estadual, pois além do curso não ter a habilitação desejada por mim, já estava quase tudo certo para me matricular em publicidade e propaganda na Universidade Paulista - UNIP.”

O SISU é desenvolvido pelo Ministério da Educação para selecionar os candidatos às vagas das instituições públicas de ensino superior, que utilizam a nota do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, como única fase de seu processo seletivo. De acordo com o Portal do Mec, a seleção é feita pelo sistema com base na nota obtida pelo candidato no Enem.

A adaptação de Marcus ao estilo de vida da pequena cidade e à universidade foi difícil no início. “Minha visão sobre universidade era completamente diferente da realidade vivida aqui, sempre imaginei que quando estivesse em uma haveria festas todos os dias, me surpreendi negativamente.”

Entre as principais frustrações do estudante estão a estrutura da universidade e sua casa do

estudante. “A primeira desilusão ocorreu quando conheci a estrutura da UNEMAT. Temos que ser realistas, que não é nem de perto uma das melhores. A segunda decepção foi com a casa do estudante oferecida aos alunos vindos de fora. A propaganda que fizeram dela não condiz com a realidade. E, por fim, o desânimo e a falta de engajamento dos poucos alunos da faculdade é contagiante”, ressalta ironicamente.

Contudo, mesmo decepcionado e desmotivado, Marcus não desiste e encara todos os obstáculos e problemas com bastante otimismo. “Tudo na vida, além do lado ruim também é possível identificar pontos positivos na mudança para o Mato Grosso. Sem dúvida nenhuma, posso dizer que apesar da distância de tudo e todos que amo, sou feliz em Aia, pois além da tranquilidade natural das cidades do interior, aqui conheci pessoas especiais e tenho certeza que mesmo que me mude um dia, sempre continuarão presentes na minha vida”.

MARCUS ViNÍCiUS: solteiro, vive para os estudos e não abre mão de estar com seus familiares no interior de São Paulo.

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Natural de Goiás, mas matogrossense de coração, a jovem Zilda Vieira Arcanjo partiu aos 17 anos da pacata cidade de Ponte Branca-MT, de 3 mil habitantes, para cursar Jornalismo em Alto Araguaia (MT). Ela sempre esbanjou convicção nas suas escolhas, sem esconder um olhar de nostalgia pela vida simples durante o tempo de colegial. “Minha vida agora tomou rumos diferentes e meus objetivos serão finalmente traçados e concluídos através dos estudos na faculdade. Mas não posso me esquecer que foi lá em Ponte Branca que passei grande parte de minha vida letiva, estudei da metade da segunda série ao terceiro ano do Ensino Médio.”

Ainda em Ponte Branca, Zilda teve sua primeira oportunidade de

emprego. Seu primeiro emprego foi no “Projeto Menor Aprendiz” onde trabalhou como secretária e depois como telefonista. Contudo, não perdurou muito, já que a necessidade de fazer uma faculdade era maior, inclusive do cotidiano ao lado de seus pais.

A jovem teve muitas dificuldades durante a mudança e adaptação na sua nova cidade. “Saí de Ponte Branca aos dezessete anos (primeira vez que estava ficando longe de meus pais). Dá para imaginar, né? Não foi uma tarefa muito fácil me adaptar em uma cidade que

eu pouco conhecia, sem meus pais, sozinha na casa de uma amiga, que vim a conhecer somente quando cheguei aqui. Ou seja, precisei me adaptar a uma realidade completamente diferente daquela em que eu vivia. Não esqueço e faço questão de destacar a ajuda que tive de amigos e amigos de meus pais. No início, por exemplo, uma amiga que apresentou um lugar para morar. A ajuda desta e de outras pessoas foi fundamental. Jamais me esquecerei! E nem me cansarei de agradecê-las”, enfatiza Zilda em seus agradecimentos.

A saga de Zilda é tão emblemática quanto a estória de Fabiano de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e de muitos outros brasileiros, que são motivados a buscar novos

horizontes em prol de um futuro melhor. A moça de sorriso carismático afirma que não faz apenas um curso na faculdade e ponto final, e sim, que está realizando o maior sonho de sua vida.

Desde sua infância ela sonhava em ser jornalista, amava ler, escrever, ouvir as pessoas. “O Jornalismo foi e é o que me motiva a cada dia”, conclui sem hesitar.

Uma barreira encontrada por Zilda

na nova cidade foi a questão financeira. “Comecei a trabalhar dois meses depois de chegar aqui e continuo trabalhando no mesmo lugar, todavia, ganho pouco. O meu salário nem aumentou muito, embora atualmente esteja trabalhando mais de um ano e meio”.

O custo de vida em Alto Araguaia é alto. De acordo com o website Custo de Vida (www.custodevida.com.br), o almoço mais barato em restaurante custa em média 12 reais, enquanto o aluguel mais barato não sai por menos de 350 reais. “É complicado se manter em um lugar onde o custo de vida é alto, nosso dinheirinho já tem destino certo: água, luz, aluguel, despesas

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24| |25pessoais, etc; é importante, muito foco, organização, disciplina, caso contrário, a situação fica desagradável. Meus pais me ajudam, felizmente. porque me ajudam de coração, mas, somos humildes e fica reduzida a renda lá de casa, por isso preciso trabalhar e estudar”, desabafa a estudante Zilda.

Contudo, a situação de Zilda na nova cidade melhora com a chegada de sua irmã mais caçula, a jovem Gilda. “Neste semestre minha irmã veio

(ela cursa Letras na UNEMAT também), estamos morando juntas e ficou bem melhor para todos nós.”

Igual a estudante vinda de Ponte Branca, são muitos jovens do interior de Mato Grosso que migram para cidades maiores em busca de um futuro profissional. No câmpus universitário de Alto Araguaia não é diferente, pois quase 60% dos seus alunos vieram de fora. Todos tornaram-se nômades, mas principalmente protagonistas de suas próprias estórias.

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O motorista Ademir Luis da Costa, 49 anos, trabalha com o transporte de estudantes universitários. Todos os dias ele enfrenta os percalços de viajar à noite na MT-100, rodovia sinuosa e conhecida por seus acidentes fatais.

entrevista

Revista: Quantos estudantes o senhor leva por dia em seu ônibus?Em média são cadastrados por ano 140 alunos, e diariamente 40 a 44 utilizam o ônibus. Como são em dias alternados, em média são atendidos 90 estudantes, porém, muitos fazem a inscrição e desistem.

Revista: Já aconteceu algum acidente? Não, graças a Deus, não! Apesar de a estrada ser ruim na maioria das vezes, nunca tivemos acidentes e no período em que estou na Secretaria não tive nenhuma informação sobre ocorrência de acidentes, ainda bem.

Revista: Qual o perfil (idade, sexo, profissão, cursos) de quem embarca?Masculino, feminino. As profissões e cursos são variados. Embarcam estudantes que ficam em casa ou trabalham fora.

Revista: O que acontece de mais inusitado nessas viagens? De inusitado apenas percebo a garra e determinação desses estudantes que deixam o conforto de suas casas para estudar. Admiro isso.

Revista: Quais os principais problemas no trajeto e do próprio veículo?Péssima condição da estrada, muito buraco, problemas com o “Horário de Verão” e o mais chato que acho é quando o ônibus danifica... aí enrola tudo.

Revista: Há uma parceria entre as prefeituras das cidades envolvidas neste trajeto universitário?Não. A prefeitura de Alto Taquari mantém integralmente o transporte universitário. É uma forma de incentivar os alunos para estudar. Acho bacana esse projeto.

Revista: É cobrado algum valor por mês desses alunos ou é gratuito? Totalmente gratuito.

Revista: O que é necessário fazer para conseguir uma vaga no ônibus? Existe um controle?Todos que procuram a Secretaria Municipal de Educação e Cultura são atendidos. Normalmente a capacidade de transporte do veículo é de 44 passageiros.

Revista: Como é seu convívio com esses alunos nômades?Muito bom. O respeito é recíprocot

26|Por LAURA CRISTINA

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Regulamento para os alunos que saem de Alto

Taquari (MT) para estudar em Alto Araguaia (MT)

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infografia: Laura Cristina e Lawrenberg A. Silva

NÃO É PERMITIDO...Transportar carneiros, o transporte escolar é exclusivo para alunos.

Transportar animais, ferramentas, alimentos (compras), restos de alimentos e outros objetos que não estejam relacionados a materiais escolares.

Embarque e desembarque somente nos pontos determinados pela Secretaria Municipal de Educação, sendo proibido parar em qualquer outro ponto da cidade sem a devida autorização da Secretaria Municipal de Educação.

Horário de embarque 18h, no horário normal e 17h30 no período de horário de verão será cumprido rigorosamente, com tolerância máxima de 05 (cinco) minutos.

Uso obrigatório do cinto de segurança.

Proibido o uso de som dentro do veículo (utilizar somente fone de ouvido).

Proibido o uso de bebida alcoólica, cigarro ou outra substancia ilícita.

Sentar na escada, corredor ou braço dos bancos.

Viajar em pé, colocar os braços ou cabeça para fora da janela do veículo.

Proibido brincadeira e algazarras dentro do ônibus.

Não usar palavrões e gestos obscenos dentro do veículo.

Desrespeitar o motorista ou qualquer outra pessoa dentro e fora do veículo.

Subir ou danificar os bancos do veículo.

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A festa que atrai gente viajanteComidas típicas, música ao vivo e produtos dos mais variados tipos e preços, são convites a população e região para participar de mais uma tradicional Festa de Maio.

Reportagem CASSiANE MEWS | Foto: LAURA CRiSTiNA

Mal raia o sol entre as colinas goianas e uma multidão alegre e criativa povoa as calçadas da praça principal da

pequena cidade de Santa Rita do Araguaia, Goiás. A multidão é constituída em sua maioria por vendedores ambulantes. E todos eles montam suas barracas para a festa da padroeira da cidade, Santa Rita dos Impossíveis. O evento é mais popularmente conhecida como Festa de Maio.

Todo ano são mais de 100 barraqueiros que viajam pela BR-364, rodovia federal, até o destino final, a praça Gerônimo Machado Valadão, onde está localizada a Paróquia da Igreja Matriz. Uns instalam-se em barracas improvisadas, outros, mais organizados,

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A festa que atrai gente viajanteadquirem um ponto fixo.

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura de Santa Rita do Araguaia, a Festa de Maio é considerada a segunda maior da região, só perdendo para a cidade de Trindade, no sudeste de Goiás (conhecida como a capital da Fé). E a presença de vendedores ambulantes de outras regiões movimenta a economia local, ao comercializar produtos a preços três vezes menores diante dos ofertados pelo comércio formal.

Promovida desde a déca-da de 60 pela paróquia, a história da festa con-

funde-se com a emancipação do município goiano. Segundo José Ribeiro de Souza, radia-lista e responsável pela orga-nização do pátio e leilão da festa há 16 anos, a “festa já acontecia muito antes de Santa Rita do Araguaia se tornar um município.”

Atualmente a Festa de Maio é dividida em dois momentos, o religioso e o social. Dez dias antes inicia a festa religiosa, que reúne pessoas da re-gião, padres de Cuiabá-MT e Goiânia-GO. Durantes esses dias são realizadas missas e no encerramento, no dia 22 de maio, dia da Santa Rita dos Impossíveis, é realizada a grande procissão seguida do almoço tradicional.

Já a festa social começa assim que encerra a festa religiosa. Durante a noite são realizados shows ao vivo com grupos da região. É o momento em que é possível encontrar na praça todos os festeiros, formados em sua maioria por gente das cidades matogrossenses de Alto Garças, Alto Araguaia, Alto Taquari, Araguainha, e Ponte Branca; além da goiana Mineiros.

Nos últimos 15 anos, o evento passou a atrair pessoas de outros estados, reunindo a

cada edição cerca de 10 mil pessoas. “A festa começou a tomar uma dimensão diferenciada, uma dimensão comercial como é hoje, com barracas e tendas mais equipadas. Diferente das barracas de palha feitas pelos próprios moradores como antigamente”, comenta Ribeiro.

Por outro lado, o aumento de público na festa tradicional contrasta-se com o despreparo da sua própria organização. Segundo Rayane Caroline Mariano Cosmo, 25 anos, festeira e atualmente residente em Cuiabá, o evento carece de uma melhor divulgação. “Todo o ano é assim. Poucos sabem sobre a festa. Eu venho aqui porque já a conheço faz tempo. Senão não saberia de sua realização”, diz Rayane.

Segundo o padre da Paróquia Santa Rita dos Impossíveis, Humberto de Freitas Vieira, 40 anos, um dos motivos da pouca divulgação da festa se dá devido a abrangência que a festa tomou. Sendo assim, a Paróquia se viu obrigada a terceirizar alguns dos serviços ofertados, como a venda de comidas e bebidas, já que a comunidade não dispõe de equipamentos para atender tamanha demanda. “A festa tomou uma dimensão gigantesca se compararmos com as primeiras festas realizadas. Atraiu todos os

A Festa de Maio de ontem e de hoje...

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30|tipos de públicos, desde os da região, até outros municípios e estados. Hoje necessitamos do acompanhamento da Polícia Militar, do apoio da Prefeitura Municipal, e dos feirantes com suas barracas, a fim de conseguir atender tamanho público.”

O padre Humberto também desmente boatos sobre o fim da Festa de Maio. “Há muitos comentários de que a Igreja quer acabar com a ‘Festa de Maio’, não é isso. Nós estamos refletindo a possibilidade de separar a festa da Santa Rita dos Impossíveis da festa social (baile e feira), a fim de excluir da festa bebidas alcoólicas, ou o

Os viajantes da festa

baile. E assim estreitar o público para que a comunidade volte a ‘tomar as rédeas’ da festa e ela seja celebrada ao nosso modelo, agradando a Deus.”

Pelo menos há dois dias antes da realização da Festa de Maio, em Santa

Rita do Araguaia, já é possível perceber a chegada de cara-vanas nômades de vendedores

de roupas, calçados e todo tipo de acessório de moda. Quase todos se instalam nas mediações da praça e de suas ruas (a avenida Valquir Viei-ra de Rezende, a rua Romão

Martins de Souza e a Abílio Alves), que consequentemente produzem novas cores e senti-do à paisagem, anteriormente considerada provinciana.

O padre conclui comentando uma possível parceria dos festeiros com o prefeito. “Estaremos no próximo ano, sentando com o prefeito para discutir essa possibilidade.”

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|31Responsável pela organização da feira no pátio, José Ribeiro explica como ela acontece. “A igreja cobra o alvará de cinco dias para que a feira funcione dentro da praça. O valor é calculado de acordo com o espaço (por metro) que o feirante precisa, ou seja, varia muito devido aos tipos de produtos que serão expostos na feira. Muito dos feirantes já têm seus pontos definidos, e já deixam marcados para o próximo ano”, diz Ribeiro.

Integrados ao comércio informal, esses barraqueiros também conhecidos como “donos da rua” ganham visibilidade entre as multidões que atravessam a festa. Por sua habilidade de comunicar e negociar, a maioria conquista o público-consumidor por um carisma excepcional, que mescla a imitação burlesca de alguns apresentadores de televisão com a espontaneidade de quem

já viveu as mais alucinantes peripécias.

Para Itajana Oliveira, 31 anos, enfermeira na cidade de Cuiabá, os barraqueiros tornaram-se uma atração à parte na Festa de Maio. “É muito difícil não parar e comprar nas barracas da feira aqui. Eles são ótimos negociadores, tem muita “lábia”, comentou ela, depois de esboçar um sorriso desenxabido.

Contudo, a vida dos barraqueiros ainda é bastante instável. Segundo o livro “Ambulantes e Direito à cidade – trajetórias de vida, organização e políticas públicas”, publicado pelo Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos (2004), a economia informal no Brasil é tratada como política compensatória, isto é, reservada a alguns grupos com dificuldades de entrada

no mercado de trabalho, como deficientes físicos, idosos e, em alguns países, veteranos de guerra.

Esta falta de políticas públicas mais sérias ao comércio informal acaba justificando a vida itinerante dos barraqueiros da Festa

de Maio. Pois, segundo André Alcântara, Geilson Sampaio e Luciana Itikawa, “em algumas das grandes cidades brasileiras, as leis que regulam o comércio ambulante apenas aparentemente servem para incluir, quando, na verdade, são instrumentos de exclusão dos trabalhadores das ruas”.

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Revista: Algum fato em sua vida acabou influenciando a escolha de sua profissão? Conte-nos um pouco. Minha grande influência foi meu pai. Ele trabalhou muitos anos com verdurão nas feiras de Goiânia-GO, plantava suas próprias verduras na horta de casa. Hoje ele produz em casa pamonhas e massa e continua vendendo-as na feira. Ele conta que desde nossos antepassados temos feirantes na família. Foram esses mineiros que trouxeram essa parte nômade (risos).

Outro motivo é a renda, se você for trabalhar como empregado a renda é muito baixa, se compararmos com o que a gente almeja e dos objetivos que a gente tem para alcançar.

Revista: Você escolheu esta profissão ou ela te escolheu? Fica até difícil te responder. Acho que as duas coisas afunilaram para isso, foi uma opção que eu tive, e a vontade de alcançar o objetivo financeiro mais rápido, também contribuiu para isso. Foi o que

culminou.

Revista: Este trabalho é sua única fonte de renda?

Atualmente sim. Tinha uma loja de bijuterias em Goiânia, mas acabei fechando porque não estava tendo uma renda tão bacana. Fechei ano passado a loja, e hoje trabalho assim, indo de cidade em cidade.

Rubem Gonçalves Vilela, 35 anos, é natural de Goiânia, Goiás. Ini-ciou recentemente seu trabalho como feirante de bijuterias. Com seu Fiat Elba, ano 96, equipado de mercadorias, malas e um col-chão velho, embarcou pela terceira vez para a cidade de Santa Rita do Araguaia, a fim de montar sua barraca na Festa de Maio.

entrevista I

Por CASSIANE MEWS

Crédito: Laura C

ristina

Page 33: Revista nomades araguaia

|33Revista: Trabalha sozinho? Sim, minha família não pode vir junto, minha esposa estava louca para vir, mas devido a escola do meu filho e a minha filha ter apenas dois aninhos, não teve como. Eu acredito que a gente tem que priorizar a educação dos nossos filhos para que no futuro eles possam fazer uma faculdade. Mas, quando forem maiores e quiserem seguir esta profissão, darei todo apoio.

Revista: Quais as vantagens e desvantagens da profissão? A vantagem é que o público alvo vai até você num curto espaço de tempo. E a desvantagem é não ter tanto conforto, você sofre

bastante, tem lugares que não há nenhum meio para atender as necessidades básicas dos feirantes, o mínimo das nossas necessidades diárias, dentre outras coisas. Pior do que isso, é ficar longe da família, e quando você fica doente e não tem atendimento médico acessível na cidade. Certa vez tive uma gripe muito forte, inflamação da garganta, que agravou meu quadro de sinusite. E na cidade que me encontrava, uma cidadezinha do interior, a qual não lembro o nome, não tinha atendimento médico disponível no horário. E na minha opinião a saúde, em qualquer cidade que você esteja, deve vir em primeiro lugar!

Revista: Já enfrentou algum tipo de assédio ou preconceito por causa da profissão?

Preconceito tem bastante, o pessoal muitas vezes desmerece nossa profissão e dizem ‘ah chegaram os barraqueiros para prejudicar o comércio local’. Certas pessoas até hoje carregam esse estigma da gente.

Revista: Como descobriu o evento? Por meio de um amigo meu que trabalha de maneira informal também. Uma vez ou outra ia visitá-lo em sua cidade, para ver como que estavam suas vendas, e fui observando aquele estilo de vida, e como nunca fui uma pessoa de ficar parado, quieto em um lugar fixo, pois me sinto agoniado.Certo dia esse amigo me convidou para conhecer Santa Rita do Araguaia. E como as vendas em meu comércio fixo já não estavam indo bem, comecei a trabalhar com ele, e hoje eu continuo feirante e ele parou.

Revista: Como é a recepção com os vendedores ambulantes em Santa Rita do Araguaia? O pessoal aqui, graças a Deus, é bacana, tenho vários amigos, e é uma cidade que eu gosto bastante de trabalhar, devido

o respeito do pessoal e o reconhecimento das pessoas pelo nosso trabalho. E a gente também vem trazendo sempre o melhor que a gente tem, para que as pessoas economizem, já que o mercado cobra preços elevados.

Revista: Como é feita a escolha das mercadorias? Todo ano temos mercadorias, a cada 30 dias a gente tém condições de ter produto novo, ou até em menos tempo, uns 15 ou 20 dias. Busco trazer muita moda, modinha essas coisas assim, mas normalmente quando é lançado um produto novo nas novelas, se gasta em torno de 30 dias para ele chegar para nós, ou então, você começa a pegar das empresas dos grandes centros, mas o preço é lá em cima, ‘nas nuvens’.

Revista: As pessoas pechincham muito? Até que não porque os preços que eu trabalho aqui são preços limites, não deixa de ter muita gente que diz ‘“Ah, não! Um brinquinho de dois reais você não faz por menos”. Sempre é assim, mas a gente trabalha com os preços no limite mesmo. t

Page 34: Revista nomades araguaia

Na profissão há mais tempo, Milton Cesar Cracco, 48 anos, pai de quatro filhos, participa pela quinta vez da tradicional Festa de Maio. Nascido em Arapongas, Paraná, vindo de família humilde da lavoura foi ganhar a vida nas feiras da capital de Goiás, Goiânia. Com amor a profissão conta sua história de vida.

Revista: Já trabalhou com carteira de trabalho assinada? Sim, trabalhei durante seis anos com carteira assinada na empresa Curtume Araputanga S/A, mas aconteceu um fato em que eu estava com a razão e a pessoa por ser superior a mim disse que estava errado. Foi aí que eu vi que deveria ser autônomo, pois não gosto de receber ordens na realidade. Quando saí do curtume, fui trabalhar com vendas de refrigeração, “muito osso”. Acho que é a pior coisa que tem para se vender hoje são balcões para supermercado, açougue... esses ‘trem’... Trabalhei durante um ano.

Revista: Quais as suas experiências profissionais? Fora o Curtume Araputanga S/A e vendas de refrigeração, tentei montar mercado, loja de auto peças e acabei na confecção. Hoje temos três lojas na 44 em Goiânia(GO). Temos clientes de todos os estados brasileiros como Pará, Maranhão, Piauí e Cuiabá. Não me interessei por outra atividade. Parece que está no sangue esta vida viajante.

Revista: Você escolheu esta profissão ou ela te escolheu? Acho que foi ela que me escolheu, porque eu não entendia nada de confecção, não sabia nem o que era confecção. E na realidade teve a influência do relacionamento que tive com a segunda esposa. Eu trabalhava com confecção de bonés, e nessa época comecei a ficar com ela, fomos nos apaixonando e então resolvi fazer uma proposta a ela para trabalhar comigo. Ela aceitou e criamos nossa própria empresa. Foi ela quem deu o chute inicial para entrar nessa profissão. Por um lado foi muito bom porque aprendi muito, mas por outro foi a pior coisa que aconteceu, tudo porque ela acabou com minha vida. Mesmo assim tiro lições boas, porque foi da experiência que me fez ficar mais ligado ao negócio.

Revista: Morou em outras cidades? Quais? Sim, já morei em Campo Grande (MS), Arapongas (PR), Araputanga (MT) e Araçatuba (SP).

Revista: Com quais tipos de mercadoria trabalha? Com confecção de calças, blusas, shorts, moda fitness, vestidos, camisetas masculinas e assessórias como cintos e bolsas.

Revista: As mercadorias são compradas ou confeccionadas? Nós mesmos as produzimos. O jeans vem para nós cru, ele é passado por um processo de corte e em seguida é feita a costura, depois alguns são bordados e outros não. Em seguida é mandado para a lavanderia para realizar o tingimento e amaciamento. Por final, vem o acabamento que é para colocar o botão, zíper,

entrevista II

34| |35Por CASSIANE MEWS

Page 35: Revista nomades araguaia

34| |35ilhós, essas coisas todas. Depois do acabamento ele vai para nossas lojas. Trabalhamos também com roupas de malha e suplex. Estas requerem um cuidado maior. É preciso infestar e deixar descansar durante 8 horas para não encolher, só depois e realizado o corte e a costura.

Revista: Quanto aos preços? Eu trabalho com preços bem acessíveis. Não posso chegar aqui e vender uma calça com preços altos, e além de tudo,

é feira. O pessoal que vai a feira procura roupas baratas, então não compensa eu sair de casa, gastar cinco mil reais e vender só 40 mil.

Revista: Como é a vida de um vendedor ambulante? Na realidade é uma vida muito sofrida. Tem o lado bom, mas tem muita coisa ruim. Aqui você corre riscos de ser assaltado a qualquer hora, principalmente à noite, depois que fecha a barraca. Você dorme no tablado que é colocado no chão, jogando só um cobertor ou colchão em cima. Corre o risco de ser picado por um inseto ou mordido por algum bicho, corre também o risco de perder a mercadoria porque pode vir um temporal e se for no meio da noite, não dá tempo de socorrer a mercadoria. Mas tem o lado bom que é você conhecer pessoas novas.

Revista: E sua família, onde ela reside? Eu tenho quatro filhos. Os dois caçulas moram comigo em Goiânia (GO): a menina de 9 anos e o menino de 13. Minha filha do meio, de 17 anos, mora em Araçatuba (SP), e a mais velha de 28 anos reside em Arapongas.

Revista: Com que frequência os visita? Frequentemente visito minha família. Uma vez por mês, mais ou menos. Até as que estão querendo casar, eu vou visitar. (sic).

Revista: desde que está nesta profissão sofreu algum acidente ou assalto? Comente como aconteceu. Em Catalão (GO) não tivemos muita sorte. Fomos com a expectativa de vender 150 mil reais, alugamos o ponto e construímos uma nave, uma espécie de minishopping. Eu na realidade investi 15 mil só na estrutura. Era o mês que íamos bombar de vender, mas foi chuva dia e noite, uma enxurrada, e não deu ninguém na festa. Foi quando pensei: podia ter pegado os 15 mil e ter mandado para minha filha de 17 anos começar a faculdade. Então tem muitos imprevistos que fazem a gente falar: “não! chega! Vou desistir!”... mas infelizmente só sabemos fazer e viver disso.

Revista: Já enfrentou algum tipo de assédio ou preconceito por causa da profissão?

Às vezes chegam pessoas e falam certas coisas que eu prefiro ficar calado

por educação, mas este ano durante a Festa de Maio daqui da cidade vieram duas meninas comprar calças e uma delas falou para a amiga: “Menina você é louca, vai comprar calça de feira desse povo pobre.” Eu simplesmente falei para ela: “Minha querida, você não precisa comprar roupa minha porque sou pobre. Você pode pegar essa calça ali que eu vendo a 70 reais e ir na loja aqui em baixo e pagar 180 reais, que é a mesma calça que ela comprou lá na minha loja, na 44 em Goiânia. Ela compra de mim para revender pra você.”

Então não é porque eu estou na feira e faço um barraco de lona que a gente é pobre. Eu falei para ela: “eu garanto para você que de espírito eu sou muito mais rico que você”.

Revista: Em Santa Rita do Araguaia, apesar deste episódio, como é a recepção da população com os vendedores ambulantes? O pessoal daqui é muito gente boa e hospitaleira. No dia em que chegamos à cidade veio uma senhora comprar calças, ela mora na mesma rua onde instalamos a loja e perguntou: “Você gosta de café?” Eu respondi: “eu amo café, eu sou fumante”. E ela foi a casa dela e fez uma garrafa de café, duas, aliás, e as trouxe para nós. Ela vinha à tarde, levava-a vazia e trazia-a cheia. Para nós isso ai é maravilhoso, e uma mulher dessas deve ser tratada como rainha. t

Page 36: Revista nomades araguaia

PArA onde ir e vir? num mundo globAlizAdo, o emPrego viaja e o trAbAlhAdor vAi Atrás

Por ALFREDO COSTAJornalista e Professor da UFMT (Câmpus Barra do Garças)

Na década de 1970, morei por um ano em Milwaukee, EUA.

Embora a cidade, localizada na região dos Grandes Lagos, apresentasse temperatura abaixo de zero durante quase a metade do ano, era a mais populosa do Estado de Wisconsin, com mais de 700 mil habitantes. Seus moradores encontravam facilmente bons empregos e usufruíam alto padrão de vida, proporcionado pela pujante economia, que concentrava diversas indústrias, entre elas a cervejeira.

Entre as opções de entretenimento, destacavam-se os esportes e a música. A população de Milwaukee era representada no cenário norte-americano por grandes times: no basquete, o Milwaukee Bucks; no futebol americano, o Green Bay Packers; e no baseball, o Milwaukee Brewers, em cujo estádio assisti – Meninos, eu vi! – concertos dos Rolling Stones, Eagles, Pink Floyd e outra bandas de rock internacionais para mais de 35 mil fãs em clima, típico da juventude da época, de

harmonia, paz e amor.Voltei recentemente a Milwaukee, onde encontrei o inesperado. A economia local murchou. A indústria cervejeira espalhou-se pelo país. As demais indústrias buscaram até mesmo outros países, em busca de mão de obra barata e maior acesso a matérias-primas. A população foi atrás de outros empregos no país e reduziu-se a pouco mais de 500 mil habitantes. Andando pelas ruas vazias, onde se concentravam as fábricas, vi imensos galpões abandonados. O Milwaukee Bucks resiste. Mas o Green Bay Packers e o Milwaukee Brewers fecharam suas portas. No estádio deste últimos não ecoam mais os sons psicodélicos do Pink Floyd. Foi demolido em 2001 e, no local, acontecem jogos de uma pequena liga, uma espécie de baseball de várzea, para o bom entendimento dos brasileiros.Milwaukee não é um caso

isolado nas terras do Tio Sam. O mesmo aconteceu com Detroit, a capital do automóvel, que, com a invasão dos carros asiáticos – e a conseqüente - decadência da indústria automobilística norte-americana -, teve sua população - que chegou a alcançar 1 milhão e meio de pessoas na década de 1950 - reduzida a 700 mil habitantes. A situação do mercado imobiliário local chegou a tal ponto que, muitos dos proprietários de casas incendeiam suas propriedades a fim de receber o seguro, pois não há procura para compra ou aluguel. O próprio estádio de

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Detroit, o Silverdome, onde o Brasil jogou na Copa do Mundo de Futebol de 1994, encontra-se em ruínas.

Brasil está inserido na Globalização – e o que isso tem a ver com o Mato Grosso?A partir da década de 1990, a globalização no Brasil se intensificou e passou a ter impacto na economia do país. Com a abertura de capitais, muitas empresas multinacionais aqui se instalaram, o que aumentou o emprego, o que nem sempre significou melhores condições de trabalho.

Com a crise financeira internacional e o fortalecimento no mercado de trabalho brasileiro, o país se tornou atrativo para imigrantes de diversas origens. Além de atrair trabalhadores de países europeus, latino-americanos e asiáticos, um novo fluxo migratório começou a trazer cidadãos de outras regiões da Ásia e países da África e do Caribe.

Entretanto, nos próximos 30 anos, um fato inédito deve acontecer no Brasil. Segundo projeções do IBGE, a população no país começará a diminuir. Com isso, muitas cidades, onde as oligarquias, os coronéis e os políticos locais impedirem o desenvolvimento

social e econômico, vão virar literalmente cidades-fantasma. Muitas regiões que outrora captavam parcela do movimento migratório podem ver esse fluxo inverter-se.

E isso tem a ver com o Estado de Mato Grosso. Enquanto só vejo administradores e políticos mato-grossenses anunciarem cenários positivos, o último censo mostrou que, no Estado, dos 141 municípios, 38 encolheram no número de habitantes. Ora, qualquer calouro do curso de graduação em Administração sabe que o planejamento estratégico leva em conta tanto cenários otimistas quanto pessimistas para a tomada de decisões a longo prazo.

De forma geral, a maior parte dos fluxos migratórios se dá pelo aspecto de desenvolvimento econômico. As pessoas vão em busca de educação, saúde, oportunidades de trabalho, enfim, melhores condições de vida, nos eixos de desenvolvimento nacional. As mudanças demográficas, se organizadas e planejadas, não são necessariamente negativas.

O “Nortão” do Estado de Mato Grosso foi, na contramão da racionalidade, colonizado sob a euforia causada no início da década de 70 pelo incentivo à ocupação da Floresta Amazônica, sob o slogan

de ‘Terra sem homens para homens sem terra”, sem pesar as conseqüências negativas que a expansão econômica não planejada trazem para o meio ambiente e o custo que significa criar uma infra-estrutura para regiões remotas onde a atividade econômica principal apresenta maior competitividade em outras regiões, como é o caso da pecuária. Não faz sentido criar bois em locais distantes centenas e centenas de quilômetros dos mercados consumidores. Que isso também sirva de alerta à região conhecida como Vale do Araguaia, no sentido de buscar sua real vocação econômica.

Mas sou otimista com relação à preservação da floresta e do cerrado no Estado de Mato Grosso como um todo. Isso porque à medida que o estoque de “homens sem terra” for se reduzindo, e a população começar a se deslocar para os eixos da infra-estrutura econômica, onde existem os empregos e melhores condições de vida, poderá ocorrer distribuição mais organizada e coordenada da população e a preservação da diversidade e da integridade do patrimônio biológico. O conjunto de recursos genéticos, biológicos e ambientais tem se mostrado importante ativo no contexto global, tornando-se uma aposta econômica estratégica por parte de países detentores de biodiversidade, como é o caso do Brasil. t

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estação poesia

Às vezes procuramos um rumo, às vezes o encontramos, e em outras nem nos importamos.Nossas pegadas ficam no chão. Elas são sorrateiras, fundas ou desaparecem como a neblina mais fina.Procuramos algo que nem procuramos e encontramos o que não desejamos.Às vezes encontramos um nada ou um abismo em seu desenrolar.Às vezes queremos nos perder, nos esconder, ser achados ou nunca mais aparecer.De vez em quando andamos por essa estrada que parece nem ser um caminho.Talvez seja apenas uma trilha.Ela pode ser estreita, curta, larga, pedregosa, sem instrutor. Podemos nos guiar pelos nossos instintos ou por aquilo o que queremos.Podemos caminhar à luz de uma prova iluminada pela vela que se chama vivência. O resultado é pura experiência.Às vezes esperamos o melhor no seu fim ou nem esperamos um final.Mas às vezes o final nos surpreende, chegando antes.Às vezes queremos o bom ou... algo que faça sentido. Em muitas delas, não queremos nada.Às vezes a seguimos esperando que, talvez algum dia, ela valha à pena ou que não valha nada.Às vezes andamos sem rumo na vida, esperando algo acontecer.Nem sabemos se será algo bom ou ruim, feio ou bonito, com um fim ou um começo. Seja ele triste ou feliz, amargo ou desejado. Pode ser que seja ingrato.É não saber o que esperar quando se está esperando.Apenas seguimos na estrada da vida.A estrada que nos levará a algum lugar que não sabemos aonde.

Às vezes andamos na vida por uma estrada sem rumo. Às vezes queremos que essa estrada tenha um bom final, em outras, apenas queremos estar em seu começo.Às vezes olhamos para um lado e para o outro, à procura de um não sei onde.Às vezes achamos o caminho certo, mas em outras, não há outra opção senão o caminho mais fácil.

Caminhos | Texto BRENDA CARVALHO e Fotografia LAURA CRISTINA

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O EXPRESSO DESTINOBrenda Carvalho

Ouro Preto, Minas Gerais. 13 de novembro de 2014. Era manhã de uma quinta-feira quando Edmundo acordou antes de o Sol nascer. Levantou, tomou um banho gelado, escovou os dentes e penteou

os cabelos negros. Observou-se demoradamente diante do espelho por ter cabelos ondulados, visto a pele negra e o fato de ter sido chamado de crioulo na escola, há dezesseis anos. Não se importa mais, hoje é advogado.

Vestiu um conjunto de terno branco de uma marca cara e famosa. A gravata também era branca com discretos fios de prata. Calçou um sapato social da mesma cor. Não podia negar que ficara bem por causa do contraste de cores entre o branco da roupa e a cor de jambo de sua pele, afinal, mesmo com seus 39 anos atraía os olhares das janeleiras que ficavam à sua espreita todas as quintas.

Tomou uma xícara de café, queimou a língua e praguejou até a sua terceira geração. Bebeu um pouco de água para aliviar, depois seguiu

Page 44: Revista nomades araguaia

para o lugar que era o seu preferido, a doca do seu Tilori. Foi ter com velhos parceiros de pôquer uma partida.

Embora homem fino, gostava mesmo era de tomar boas doses de cachaça, prêmio favorito de suas apostas. Ah, como adorava uma competição! Contudo, para manter-se em seu pedestal acima dos outros, ao invés de cigarro, fumava charuto. Tilori era o chefe da turma, quem tentava manter a ordem em caso de trapaça e organizava as premiações, mas não jogava.

Depois de uma hora Edmundo deu por encerrado o jogo. Era craque, ganhou a maioria das partidas e se vangloriava por ser o melhor. Mais craque era com a bebida. Permanecia de pé depois de sete doses, pois se acostumara e não se embriagava facilmente.

Quando levantou para ir embora, um homem barbudo, sujo e esfarrapado chegou em sua roda e convidou-o para sentar, pois fazia questão de jogar com o melhor dos melhores.

- Não tenho tempo. Sou um homem muito ocupado e tenho que ir trabalhar – disse Edmundo com ar de superioridade.

- Tem medo de perder para um velho andarilho?

Edmundo estreitou os olhos para aquele

homem estranho e viu nele uma afronta.

- O que um velho como você tem para apostar? Se é que tem alguma coisa – zombou.

- Você aposta bebidas, mas o que eu tenho para apostar é melhor do que isso. Se eu ganhar, vamos trocar de roupa.

O velho sentou-se e convidou Edmundo para fazer o mesmo. Desconfiado, Edmundo o fez.

- E se eu ganhar? – Perguntou o advogado com as sobrancelhas levantadas.

- Te ofereço um prêmio melhor do que isso.

- Você é um andarilho, o que tem para me oferecer?

- Algo maior do que pode imaginar, mais diferente do que já viu e uma conquista a cada parada. Pode ser a solução para todos os seus problemas. Mas não posso te oferecer isso se não quiser. Tudo depende da sua escolha.

Edmundo pensou e repensou. Não tinha nada a perder, afinal, era o melhor e aquele velho não tinha como ganhar dele

– Tudo bem. Mas se você perder... – apontou o dedo para ele - vai ter que ficar sem roupa pela estação.

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Seus amigos se entreolharam estranhando o pedido. Tudo o que o velhinho fez, foi apertar a sua mão. As apostas encerraram e o jogo iniciou. Depois de alguns minutos, Edmundo deu a cartada final, a de sua vitória. Levantou com voz forte e exigiu que o velho tirasse a roupa. Seus amigos pediram que não fizesse tal exigência, pois estava muito frio e o andarilho era um homem franzino de idade muito avançada. Mas Edmundo não quis saber.

- Sou um homem de justiça. Aposta é aposta.

Assim, o senhor tirou um papel de dentro do bolso de sua calça e entregou-o ao advogado. Quando começou a tirar a roupa, tremeu de frio, as pernas ficaram bambas, mas continuou. Como não queria presenciar tal cena, disse ao senhor que ficasse com suas roupas íntimas. Então, quando o velhinho tirou a roupa, Edmundo riu dele e saiu dali satisfeito. Havia ganhado o dia.

Enquanto caminhava para sair da estação, lembrou-se do papel que havia ganhado. Parou por um momento e pegou o papel que havia guardado dentro do bolso do paletó. Ele estava dobrado ao meio, quando o abriu, caiu no chão. Edmundo se agachou para apanhá-lo, mas o papelzinho foi arrastado pelo

vento. Ele correu para tentar pegá-lo, mas, novamente, ele fora levado pelo vento, desta vez pelo ar fazendo leves ondulações como se dançasse uma bela melodia.

E o papel voava cada vez mais alto, levando Edmundo para mais longe da multidão que esperava e perpassava pela plataforma do trem. Chegara a esbarrar em um ou outro, não pedia desculpa, sequer sabia em quem havia esbarrado, contudo, não perdia de vista aquele papelsinho. E como se a natureza desse uma trégua, parou de ventar e o papel caiu diretamente nas mãos do cobrador, um homem sorridente e prestativo.

- Bom dia! – Olhou o papel. – Hum... vejo que o senhor chegou bem na hora.

- Do que você está falando? - O som grave e alto que chegava a ser estridente do trem apitou.

- Entre, por favor, senão o trem vai partir. O senhor é o último passageiro – o advogado continuou sem entender. – No bilhete diz, Edmundo Cornuálio de Dantas.

Edmundo estranhou, observou o bilhete e constatou o que o cobrador lhe disse. Quase não acreditou. O trem apitou mais uma vez e anunciou que iria partir. Ele pensou em descobrir quem fizera tal gracinha e resolveu entrar no trem para tirar satisfação.

Quer saber mais sobre esta história?

ACESSE: www.janeladaalma.blogspot.com.br

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509km

421km

420m

360km

249km

210km

158km

155km145km

0km

Alto Araguaia-MT

Alto Garças-MT

Pedra Preta-MT

Rondonópolis-MT

Juscimeira-MT

Mineiros-GO

S. R. do Araguaia-GO

Distância entre as rotasde Cuiabá-MT a Mineiros-GO

Via rodovia federal BR 364

Viação São Luiz

Expresso São Luiz

Motta

Eucatur

PRINCIPAIS COMPANhIAS DE

ôNIbUS: bR 364

PARADA ObRIGATÓRIA

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CACHOEIRA DA FUMAÇAOnde: Jaciara-MTpara quem: mochileiro, fã de esporte radical.

SINUELO VINHOS Onde: Rondonópolis-MTpara quem: público em geral.

PARQUE NACIONAL DAS EMASOnde: Mineiros-GOpara quem: público em geral.

S. Pedro da Cipa-MT

Jaciara-MT

Cuiabá-MT

Outras Rotas

MT100

60kmAlto Araguaia-MT

Alto Taquari-MT

Guia do VIAJANTEpesquisa CASSIANE MEwS

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46| |37RANKING de Hotéis de Alto Araguaia-MT e Santa Rita do Araguaia-GO

PORTAL DO CERRADO HOTEL ______________________Apto completos e simples. De individual a triplo. Ar Condicionado, frigobar. Ponto p/Internet wireless, Telefone, Televisão, Café da manhã.Opções Corporativas: Computador, internet, Fax.Características diversas: Acesso p/ deficientes Físicos, Bar, Estacionamento, Serviço de Despertador, LavanderiaFone: Rodovia BR364 Km 4,5, Jardim Araguaia

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HOTÉIS DE SANTA RITA DO ARAGUAIASONECA HOTEL ______________________________ Apartamentos completos (suíte) e até triplo, com cama e colchão extra. Tem tv, frigobar, ar condicionado, wi-fi, café da manhã e estacionamento fechado. E-mail: sonecahotel@ hotmail.comFone (64) 3635-1662 Av. Walquir Vieira de Rezende, 627, Centro

HOTEL PAIAGUÁS ____________________________Apto com ventilador, ar, tv, internet wi-fi, estacionamento fechado e coberto, café da manha, apt térreo. Fone: (64) 3635-1234Av. Walquir Vieira de Rezende, 249, centro

HOTEL CENTRAL______________________________Apartamentos com ar, ventilador, tv, internet wi-fi, estacionamento coberto e fechado, café da manhã. OBS: O café da manhã é até as 10h e as camas são todas box. Há em cada quarto uma cama de casal e uma de solteiro.Fone: (66) 9669-1796 e (64)3635-1480Av. Walquir Vieira de Rezende, 441, Centro

fotografia BRENdA CARVALHO, CASSIANE MEwS e LAURA CRISTINA e Arte LAwRENBERG SILVA

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cultura em fluxo

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Livro: Hiroshima Autor: John Herseypáginas: 176

Hiroshima reúne os relatos de seis pessoas que tiveram suas vidas dras-ticamente afetadas durante e após o bombardeio nuclear em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945. A obra se trata de um artigo produzido pelo jornalista John Hersey para uma revista americana que, após grande repercus-são, se tornou um livro.

Cada página lida retrata de forma clara, simples e detalhista os aconteci-mentos causados pela bomba atômica que matou milhares de pessoas e entrou para uma das maiores tragédias de guerra da história do mundo.

Dica de filme

Filme: BabelAno: 2006diretor: Alejandro González iñárrituduração: 2h 22 min.

Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Marrocos. En-tre os viajantes estão Richard e Susan, um casal de americanos. Ali perto os meninos Ahmed e Youssef manejam um rifle que seu pai lhes deu para proteger a peque-na criação de cabras da família. Um tiro atinge o ônibus, ferindo Susan.

A partir daí o filme mostra como este fato afeta a vida de pessoas em vários pontos diferentes do mundo: nos Estados Unidos, onde Richard e Susan deixaram seus fi-lhos aos cuidados da babá mexicana; no Japão, onde um homem tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a filha surda a aceitar a perda; no Méxi-co, para onde a babá acaba levando as crianças; e ali mesmo, no Marrocos, onde a polícia passa a procurar suspeitos de um ato terrorista.Fonte: www.adorocinema.com

pesquisa e texto BRENDA CARVALHO

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Tirinha em FOTONOvElA

Produção LAURA CRISTINA e LAwRENBERG SIVA.

PlAYlIST vIAGEM

VIAJANTENey Matogrosso | MPB

A VIDA DO VIAJANTELuiz Gonzaga | MPB

TOCANDO EM FRENTEAlmir Sater | MPB

CAMINHONEIRO DO AMORSula Miranda

VIAJANTE SOLITÁRIOCésar & Paulinho | Sertanejo

ENCONTROS E DESPEDIDASMaria Rita | MPB

CAMINHONEIRORoberto Carlos | Romântica

FRETEChitãozinho & Xororó | Sertanejo

HOMENS NA ESTRADARacionais MC’s | Rap

ESTRADA DA VIDAMilionário & Zé Rico|Sertanejo

A ESTRADACidade Negra | Pop Rock

A ESTRADA Titâs | Rock

LOBO DA ESTRADASérgio Reis | Sertanejo

ESTRADA VELHAAmado Batista | Romântica

60 diAS ApAiXONAdOSChitãozinho & Xororó | Sertanejo

ALÉM DO HORIZONTEJota Quest | Pop Rock

FIM DE ESTRADACartola | Samba

pesquisa BRENDA CARVALHOLAURA CRISTINA e CASSIANE MEwS

cultura em fluxo

Page 50: Revista nomades araguaia

CONTRACAPAhoteis companhia de viagem.

FAÇA A DIFERENÇA NO MUNDO,FAÇA JORNALISMO!!!