REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda...

13
© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA O projeto de Deus para seu lar REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 3 Para esta aula, sugerimos a leitura do livro Família da Aliança, de Gerad Van Groningen, da Editora Cultura Cristã, disponível para compra em: www.editoraculturacrista.com.br.

Transcript of REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda...

Page 1: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 3

Para esta aula, sugerimos a leitura do livro Família da Aliança, de Gerad Van Groningen, da Editora Cultura Cristã, disponível para compra em: www.editoraculturacrista.com.br.

Page 2: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 3

A FAMÍLIA CRISTÃ Efésios 5.22

A família é a mais antiga e a mais básica das instituições humanas. Tanto na cultura

israelita do Antigo Testamento como na cultura helênica do Novo Testamento, a estrutura da família consiste em pais e filhos, parentes de várias gerações, servos e, mesmo, amigos, dependendo dos recursos econômicos do chefe da família. A Bíblia acentua sua importância como uma unidade espiritual e base do treinamento para o caráter adulto maduro.

A Bíblia descreve uma clara estrutura da autoridade dentro da família, pela qual o marido conduz a esposa e os pais conduzem os filhos. Porém, como toda liderança deve ser exercida como uma forma de ministério, mais do que como uma tirania, esses papéis de liderança doméstica devem ser cumpridos em amor (Ef 5.22—6.4; Cl 3.18-21; 1Pe 3.1-7). O quarto mandamento exige que o chefe de família conduza toda sua família na observância do Sábado; o quinto mandamento exige que os filhos respeitem os pais e se submetam a eles (Êx 20.8-12; Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança (Lc 2.51). Mais tarde, Ele se opôs ferozmente a supostos gestos de piedade que, na realidade, eram formas de evitar a responsabilidade para com os pais (Mc 7.6-13), e seu próprio último ato, antes de morrer, consistiu em tomar providência quanto ao futuro de sua mãe (Jo 19.25-27).

A família deve ser uma comunidade de ensino e aprendizado a respeito de Deus e da piedade. As crianças devem ser instruídas (Gn 18.18,19; Dt 4.9; 6.6-8; 11.18-21; Pv 22.6; Ef 6.4) e encorajadas a usarem essas instruções como base para sua vida (Pv 1.8; 6.20). A disciplina deve ser usada como meio de conduzir as crianças para além de suas tolices pueris, à sabedoria do domínio próprio (Pv 13.24; 19.18; 22.15; 23.13,14; 29.15,17). Assim como na família de Deus a intenção é disciplinar com amor (Pv 3.11,12; Hb 12.5-11), assim deve ser também na família humana.

A família foi instituída para funcionar como uma unidade espiritual. A Páscoa, no Antigo Testamento, era uma observância da família (Êx 12.3). Josué estabeleceu um exemplo quando disse: "Eu e minha casa serviremos ao Senhor" (Js 24.15). As famílias se tornaram as unidades de dedicação cristão nos tempos do Novo Testamento (At 11.14; 16.15, 31-33; 1Co 1.16). A aptidão dos candidatos a oficiais, na igreja, era avaliada pelo seu modo de governar bem a própria família (1Tm 3.4, 5, 12; Tt 1.6).

Desenvolver uma vida familiar forte é sempre uma prioridade no serviço de Deus. Bíblia de Estudo de Genebra

Page 3: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 6

Para esta aula, sugerimos a leitura do livro Casamento Temporário, de John Piper. Acesse http://migre.me/ghtm6 e conheça um pouco mais sobre o livro. Na seção Extras, você pode ter acesso ao sumário, ao prefácio e à introdução.

Page 4: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 9

A “LEI DA PALMADINHA” À LUZ DA BÍBLIA

Há algum tempo atrás, o Presidente Lula encaminhou ao Congresso Nacional um projeto de lei que determina a proibição da “palmadinha” na criança. Segundo os jornais, a medida visa garantir o direito de uma criança ou jovem de ser educado sem o uso de castigos corporais ou tratamento cruel. Com o projeto, o texto passa a definir “castigo corporal” como ‘ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente’.

Para os infratores, as penas são advertência, encaminhamento a programas de proteção à família e orientação psicológica. Portanto, os pais crentes, perguntam: qual é a orientação bíblica que temos a respeito do assunto? I. A Disciplina é uma necessidade. Precisamos entender que a disciplina é uma demonstração de amor e não a falta deste. A Palavra de Deus nos fala sobejamente sobre a necessidade da disciplina (Pv 6.23; 12.1; Jr 6.8; Ef 6.4; Hb 12.7). O próprio Deus, em determinados momentos, disciplinou e disciplina o seu povo (Dt 8.5; 11.2; Jó 5.17; 37.13; Pv 3.11). II. A Disciplina visa um bem maior. A disciplina não é um fim em si mesma, ou pelo menos não deveria ser. Pelo contrário, o seu objetivo é conduzir o disciplinado ao caminho do arrependimento. A Bíblia nos fala muito sobre isso. Ela nos diz, por exemplo, que “aquele que ama seu filho, cedo o disciplina” (Pv 6.23; 12.1; 15.10; 15.32; 23.13-14; 29.15; Hb 12.10-11). III. A Disciplina, também, compreende o uso da vara. As conversas, as exortações, os castigos, que implicam na perda dos privilégios, tais como, TV, jogos, brinquedos, passeios, etc., têm o seu lugar na educação formativa e corretiva, contudo, biblicamente falando, o uso da vara também tem o papel. Vejamos: (Sl 89.30-32; Lm 3.1; Pv 10.13; 13.24; 22.15; 23.13-14; 26.3; 29.15). Portanto, queridos irmãos, é consenso entre os pais, quer sejam crentes ou não, que o caminho primário é o diálogo, aberto e sincero, entre os pais e os filhos. No entanto, quando necessário, a vara (“palmadinha”) certamente será um grande auxílio na educação dos filhos. A vara traz em si um valioso princípio, a autoridade. A vara demonstra para a criança que existe alguém acima dela e que tem direito legal sobre ela. É verdade que “varinha” ou “palmadinha” precisam ser usadas com sabedoria, evitando o excesso. Fugir da agressão física, proibindo a disciplina física, certamente não é a vontade revelada de Deus. Que o Senhor tenha misericórdia dos nossos filhos e de nós também.

Rev. André Silvério

Page 5: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 10

POLIGAMIA E CASAMENTO GAY Por Augustus Nicodemus Lopes

Recentemente minha atenção foi despertada para este assunto por um ativista gay que veio aqui no blog Tempora-Mores questionar minha afirmação de que o padrão bíblico é o casamento heterossexual e monogâmico. “Como assim?” questionou o sábio e entendido ativista (que se declarou ex-evangélico), “no Antigo Testamento temos a poligamia como modelo de casamento usado por homens como Abraão, Davi e Salomão, e o silêncio cúmplice de Deus sobre suas mulheres e concubinas”. E soltou sua conclusão, que da mesma forma que Deus no passado alterou o padrão de casamento, da monogamia para a poligamia, podia também em nossos dias alterar o casamento heterossexual para homoafetivo. Então, tá.

Como eu não havia antecipado este argumento no post sobre teologia gay, achei que deveria dar alguma atenção ao mesmo e escrever algo sobre poligamia. Aos fatos, então. Encontramos no Antigo Testamento diversos exemplos de poligamia. Os mais conhecidos são estes:

Lameque – duas esposas: Ada e Zilá (Gn 4.19).

Patriarca Abraão – três esposas: Sara, Agar, Quetura e várias concubinas (Gn 16.1-3; 25.1-6).

Esaú – três esposas: Judite, Basemate e Maalate (Gn 26.34-35 e 28.9).

Patriarca Jacó – duas esposas: Raquel e Lia, e duas concubinas: Bila e Zilpa (Gn 29.21-35).

Elcana – duas esposas: Ana e Penina (1Sm 1.1-2).

Juiz Gideão – muitas esposas e concubinas (Jz 8.30).

Rei Davi – oito esposas: Mical, Abigail, Ainoã, Maaca, Hagite, Abital, Eglá, Bate-seba e mais outras mulheres e concubinas (1Sm 25.40-43; 2Sm 3.2-5; 5.13; 2Cr 14.3).

Rei Salomão – a filha de Faraó, setecentas outras esposas e trezentas concubinas (1Rs 3.1; 11.1-3).

Rei Acabe – uma esposa: Jezabel e outras mulheres e concubinas (1Rs 16.31; 20.2-5).

Rei Abias – catorze mulheres (2Cr 13:21).

Rei Roboão – duas esposas: Maalate, Maaca, mais dezoito outras mulheres e sessenta concubinas (2Cr 11.21).

Rei Joás – duas mulheres (2Cr 24.1-3).

Rei Joaquim – muitas mulheres (2Cr 24.15).

Estes fatos levantam várias perguntas, sendo a mais importante esta: Deus sancionou e

aprovou estes casamentos poligâmicos? Se não, por que não há uma proibição clara da parte dele? Seu silêncio significa que o modelo de casamento pode variar com a cultura – monogâmico, heterossexual, poligâmico, homossexual – e que isto pouco importa para Deus? Em resposta ofereço os seguintes pontos como resultado do meu entendimento destes textos acima e de outros referentes à poligamia no Antigo e Novo Testamento.

Page 6: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

1. Sem dúvida alguma, o padrão divino para o casamento sempre foi a monogamia heterossexual, isto é, um homem e uma mulher: “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea... Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando- se os dois uma só carne” (Gn 2.18-25).

2. O desvio deste padrão ocorreu somente depois da queda de Adão e Eva (Gn 3), começando com Lameque, o assassino vingativo, filho de Caim (Gn 4). Depois dele, a poligamia foi praticada por diversos motivos. Entre os exemplos de poligamia no Antigo Testamento, encontramos alguns que eram políticos, ou seja, para selar tratados internacionais, como Salomão que se casou com a filha de Faraó (1Rs 3.1) e Acabe que casou com Jezabel, filha do rei dos sidônios (1Rs 16.31), além das mulheres que já tinham. Há outros casos em que o desejo de ter filhos e preservar a descendência parece ter motivado a aquisição de mais uma esposa ou concubina, no caso da esterilidade da primeira esposa, como foi o caso de Sarai ter trazido sua serva egípcia Agar para Abraão (Gn 16.1-4), costume praticado no Antigo Oriente. Provavelmente foi o mesmo caso de Elcana, casado com Ana (estéril) e depois com Penina (1Sm 1.1-2). Havia também o desejo de ter muitos filhos em caso de guerra (cf. Jz 8.30; 2Sm 3.2-5; 1Cr 7.4, 11.23, etc.). Nenhum destes casos, porém, justifica a poligamia, pois se trata de um desvio do padrão monogâmico.

3. Apesar do surgimento da poligamia cedo na história de Israel, a monogamia continuou a regra entre os israelitas e a poligamia, a exceção. Abraão mandou seu servo conseguir uma esposa para seu filho Isaque (Gn 24.37). Na genealogia dos descendentes de Judá, de entre dezenas de nomes, apenas um é citado como tendo tido duas mulheres, Asur (1Cr 4.5). No livro de Provérbios encontramos o encorajamento ao casamento monogâmico (Pv. 5.15-20; 12.4; 19.14). A ode feita à mulher virtuosa em Provérbios 31 pressupõe que ela é a única esposa do marido felizardo. Mesmo que Cantares tenha sido escrito por um polígamo, que foi Salomão, transparece claramente dele que o casamento é entre um homem e uma mulher, figura da relação de Deus com seu povo Israel. A poligamia, por razões econômicas, acontecia quase que exclusivamente entre os ricos, como os juízes e reis.

4. Os profetas tomam o casamento monogâmico para ilustrar a relação entre Deus e seu povo Israel (Jr 2.1-2; Os 3.1-5; Is 54.1-8; Jr 3.20). O profeta Malaquias denuncia a prática que havia em seus dias dos judeus se separarem de sua esposa para casarem com estrangeiras, mostrando assim que a poligamia não era o padrão estabelecido e muito menos o padrão comum e normal em Israel (Ml 2.13-16).

5. A lei de Moisés trazia diversas restrições e cuidados quanto à poligamia em Israel. A mulher israelita que fosse comprada para ser a segunda esposa teria os mesmos direitos que a primeira e seus filhos seriam igualmente herdeiros (Ex 21.7-11). O filho primogênito, ainda que da esposa aborrecida, teria o direito de herança acima do filho da esposa amada (Dt 21.15-17). Um homem casado não poderia casar com a irmã da sua esposa, o que provocaria a rivalidade entre ambas (Lv 18.18; cf. Gn 30.1).

6. Vários destes exemplos de famílias poligâmicas registrados no Antigo Testamento são acompanhados dos problemas que o sistema inevitavelmente causava. Os judeus casados com mulheres pagãs eram levados a adorar os deuses delas e assim pecar contra Deus. Havia uma advertência na lei de Moisés aos futuros reis de Israel contra a poligamia neste sentido: “Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie” (Dt 17.17), conselho este que não foi seguido por Salomão, cujas muitas mulheres pagãs o levaram à idolatria em sua velhice (1Rs 11.1-8). Foi assim que Neemias interpretou o episódio de Salomão e suas muitas mulheres, quando proibiu os judeus depois do cativeiro de multiplicar esposas pagãs (Ne 13.25-27).

Page 7: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

7. Além do risco da apostasia, a poligamia trazia profundos conflitos nas famílias poligâmicas. Havia ciúmes entre as mulheres, que disputavam entre si o amor do marido e competiam em número de filhos (Gn 16.4; 1Sm 1.5-8; Gn 30.1-26). Podemos ainda mencionar a angústia que as mulheres pagãs de Esaú trouxeram a seus pais (Gn 26.34-35). O marido acabava gostando mais de uma que da outra, favorecendo a amada e desprezando sua rival e seus filhos (Gn 29.30; 1Sm 1.5; 2Cr 11.21), o que levou a lei de Moisés, para amenizar esta situação, a estabelecer a lei dos filhos da aborrecida (Dt 21.15-17). Outro problema trazido pela poligamia dos reis de Israel era a briga entre os filhos das diversas mulheres quanto à sucessão, muito bem exemplificada na sucessão de Davi, veja 1Reis 1.

8. No Novo Testamento na época de Jesus a monogamia era claramente o padrão entre os judeus. Quando alguns fariseus vieram experimentar Jesus com uma pergunta capciosa sobre o divórcio, o Senhor respondeu tendo o casamento monogâmico como pressuposto comum e aceito: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.3-19).

9. Nas igrejas cristãs entre os gentios, o padrão monogâmico estava já estabelecido, embora na sociedade grega a poligamia fosse conhecida e praticada. Escrevendo aos coríntios Paulo declara: “Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem não toque em mulher; mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” (1Co 7.1-2). Aos Efésios, ele compara a relação entre o marido e a esposa à própria relação entre Cristo e sua Igreja: “Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.22-33).

10. Paulo claramente proíbe que os líderes das igrejas gentílicas fossem polígamos ou bígamos. Os bispos/presbíteros tinham de ser “esposos de uma só mulher” (1Tm 3.2; Tt 1.3-5) bem como os diáconos (1Tm 3.12).

Portanto, não há dúvida, em meu entender, que o padrão de Deus sempre foi o casamento monogâmico heterossexual, estabelecido na criação, e que a poligamia do Antigo Testamento foi um desvio deste padrão, em decorrência do pecado que entrou no mundo pela queda de Adão. Em Cristo, Deus restaura o casamento à sua forma original.

Contudo, pode parecer que Deus aprovou ou sancionou a poligamia, considerando que a lei de Moisés trazia regulamentações referentes a ela e que não há uma proibição direta de Deus contra a poligamia. Pode ser que nunca venhamos a entender completamente o silêncio de Deus neste assunto, mas uma coisa é certa: ele não significa que o assunto é indiferente para o Senhor e nem que “quem cala consente”.

1. As regulamentações da lei de Moisés sobre a poligamia não podem ser vistas como uma aprovação tácita da parte de Deus quanto ao casamento poligâmico, uma vez que este nunca foi o padrão por ele estabelecido. Trata-se da misericórdia de Deus protegendo as esposas e filhos de casamentos poligâmicos, uma amenização de uma distorção do casamento até a chegada do Messias.

2. Deus nos revela sua vontade de maneira gradual e progressiva nas Escrituras. No Antigo Testamento ele se revelou em figuras, tipos, promessas. A sua revelação final e definitiva se encontra no Novo Testamento. Antes de Cristo ele suportou sacrifícios de animais, passou leis referentes a comidas, o sistema de escravidão e levirato, o apedrejamento de determinados pecados, a lei de talião (olho por olho), o divórcio por qualquer motivo, etc. A poligamia deve ser vista neste contexto, como uma das coisas que

Page 8: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

Deus suportou na antiga dispensação e que foi definitivamente abolida em Cristo, à semelhança de várias outras.

3. A encarnação e manifestação de Cristo ao mundo trouxe à luz a verdade outrora oculta, agora revelada pelos apóstolos e profetas, que Cristo é o cabeça de sua igreja, um povo único, composto de pessoas de todas as raças, tribos e nações, como o homem é o cabeça da mulher. E que a relação de amor-submissão entre marido e mulher é uma expressão da relação amor-submissão entre Cristo e sua igreja. Portanto, a partir do evento de Cristo, Deus não mais tolera nem suporta a poligamia entre seu povo, como suportou pacientemente no período anterior à sua vinda, pois sua vontade quanto a isto é em Cristo e sua igreja plenamente revelada. Em Cristo restaura-se o padrão original estabelecido por Deus no jardim.

4. Deus pode demonstrar a sua vontade sobre um assunto simplesmente registrando os males associados a ele, como é o caso da poligamia. Apostasia, ciúmes, invejas, disputas entre mulheres e filhos acompanham o histórico da poligamia entre os israelitas. A evidência cumulativa depõe contra a poligamia, mesmo que Deus não tenha se pronunciado expressamente contra ela.

5. Aqui é preciso dizer que a revelação divina se encerrou com o cânon do Novo Testamento, onde o casamento monogâmico é claramente estabelecido como a vontade final de Deus para seu povo e a humanidade em geral. Portanto, não podemos aceitar que Deus, em nossos dias, esteja mudando o conceito de casamento para incluir o casamento homossexual, uma vez que o homossexualismo é claramente condenado em toda a Escritura canônica e a mesma se encontra definitivamente encerrada. Sola Scriptura!

Extraído do blog: O Tempora! O mores! (www.tempora-mores.blogspot.com.br)

Page 9: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 11a

Confissão de Fé Westminster

Capítulo XXIV

DO MATRIMÔNIO E DO DIVÓRCIO

I. O casamento deve ser entre um homem e uma mulher; ao homem não é licito ter mais de urna mulher nem à mulher mais de um marido, ao mesmo tempo (Gn 2.24; Mt 19.4-6; Rm7.3). II. O matrimônio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por uma sucessão legítima e da Igreja por uma semente santa, e para impedir a impureza (Gn 218; Gn 9.1; Ml 2.15; 1Co 7:2,9). III. A todos os que são capazes de dar um consentimento ajuizado, é lícito casar; mas é dever dos cristãos casar somente no Senhor; portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se desigualmente pelo jugo do casamento aos que são notoriamente ímpios em suas vidas ou que mantém heresias perniciosas (Hb.13:4; I Tm 4.3; Gn 24.57-58; 1Co 7.39; 1Co 6.14). IV. Não devem casar-se as pessoas entre as quais existem os graus de consanguinidade ou afinidade proibidos na palavra de Deus, tais casamentos incestuosos jamais poderão tornar-se lícitos pelas leis humanas ou consentimento das partes, de modo a poderem coabitar como marido e mulher (1Co 5.1; Mc 6.18; Lv 18.24,28) V. O adultério ou fornicação cometida depois de um contrato, sendo descoberto antes do casamento, dá à parte inocente justo motivo de dissolver o contrato; no caso de adultério depois do casamento, à parte inocente é lícito propor divórcio, e depois de obter o divórcio casar com outrem, como se a parte infiel fosse morta (Mt 1.18-20; Mt 5.31-32; Mt 19.9). VI. Posto que a corrupção do homem seja tal que o incline a procurar argumentos a fim de indevidamente separar aqueles que Deus uniu em matrimônio, contudo só é causa suficiente para dissolver os laços do matrimônio o adultério ou uma deserção tão obstinada que não possa ser remediada nem pela Igreja nem pelo magistrado civil; para a dissolução do matrimônio é necessário haver um processo público e regular, não se devendo deixar ao arbítrio e discrição das partes o decidirem seu próprio caso (Mt 19.6-8; 1Co 7.15; Dt 24.1-4; Ed 10.3).

Page 10: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

O CASAMENTO À LUZ DA BÍBLIA

Há muitas dúvidas que ainda pairam sobre alguns evangélicos acerca do casamento e do divórcio. Na visão do mundo, casar e separar-se são coisas normais. Daí, aquela famosa frase que se consagrou como “suposta verdade” – “a gente casa, mas se não der certo, separa”. Um assunto tão sério como este, deve ser estudado e entendido à luz das Escrituras. Partindo do texto de Mt 19.3-12, vejamos o que Jesus nos ensina. I. O casamento é indissolúvel

Os fariseus queriam “experimentar” a Jesus acerca do divórcio, ou seja, se era lícito repudiar (abandonar) a mulher por qualquer motivo (3). Jesus, porém, utiliza-se da Escritura para responder a pergunta (4), mostrando que Deus instituiu o casamento para ser monogâmico, heterossexual e indissolúvel (Gn 2.24). Deus já havia ensinado por meio do profeta Malaquias que ele odiava o divórcio (Ml 2.15-16). II. “Moisés e a carta de divórcio”

Na visão dos fariseus, se o casamento era indissolúvel, por que “mandou” Moisés dar carta de divórcio, perguntaram eles (7). Na verdade, Jesus corrige os fariseus dizendo que Moisés não “mandou” dar carta, mas “permitiu” repudiar a mulher. Isso não era uma regra, o normal e natural. Moisés disse isso por causa da “dureza do coração”. Ou seja, o divórcio não é o ideal de Deus para o homem. Pelo contrário, o perdão, a compreensão e a reconciliação são sempre o melhor caminho a ser seguindo; ainda, que não seja o mais fácil. Jesus, portanto, afirma e reafirma que o casamento é uma instituição de natureza indissolúvel (8).

III. Divórcio como “permissão” e não como “mandamento”

Caso alguns dos ouvintes ainda achassem que o divórcio era um mandamento, Jesus afirma: “eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e se casar com outra comete adultério” (9). Jesus ensina que o divórcio não era um mandamento, mas um ato permissivo de Deus, que nunca, jamais, deveria ser tomado como regra. Deste modo, divorciar-se e casar-se novamente constitui-se num pecado contra Deus. Por isso, exigi-se o arrependimento e contrição sincera. Na epístola aos Coríntios, Paulo ensina que aquele que se separa e se casa de novo comete adultério (1Co 7.11). E aqueles irmãos que já se casaram novamente, vivem em pecado? É uma pergunta difícil. Acreditamos que não, pois o adultério não é um pecado imperdoável. Conquanto, que se entenda que o divórcio e o novo casamento não se constituem numa regra a ser seguida, mas uma triste exceção. Que isto fique bem claro entre os cristãos.

Que a Igreja do Senhor possa continuar firme nas verdades do Evangelho de Cristo, a despeito do forte mundanismo que a tem assolado. Que não permitamos que conceitos carnais e diabólicos adentrem em nossos lares destruindo famílias inteiras. Que o nosso desejo seja a vontade expressa de Jesus: “o que Deus ajuntou, não o separe o homem” (Mt 19.6). Amém!

André Silvério

Page 11: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

REVISTA NOSSA FÉ – A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio didático – Lição 12a

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE PROVÉRBIOS

Visão geral Autores: Vários, incluindo Salomão, Ezequias, Agur e Lemuel e outros. Propósito: Oferecer um recurso para o ensino da sabedoria aos jovens, em primeiro lugar para a família real e, em segundo lugar, para todas as outras famílias em Israel. Data: 960-686 a.C. Verdades fundamentais:

Deus é a fonte de toda a sabedoria e ele a revelou para que os seres humanos a aprendam.

A sabedoria humana pode ser obtida apenas no contexto da reverência a Deus.

Os jovens precisam da instrução de pais e mães mais velhos e mais sábios.

Os líderes do povo de Deus, em especial, devem ser instruídos nos caminhos da sabedoria.

Autor Vários autores são mencionados no livro de Provérbios: Salomão (1.1; 10.1; 25.1), Ezequias (25.1), Agur (30.1) e Lemuel (31.1). Alguns intérpretes argumentam que as seções atribuídas a Salomão foram, na verdade, escritas por outros autores que usaram o seu nome, mas há pelo menos cinco fortes motivos para crer que Pv 1—24 é da autoria de Salomão. (1) Além de essa autoria ser declarada no livro, as Escrituras atestam que Salomão escreveu muitos provérbios (1Rs 4.29-34). Ademais, o Antigo Testamento se refere repetidamente à inigualável sabedoria de Salomão (1Rs 3.5-14; 4.29-34; 5.7,12; 10.1-9,23-24; 11.41; 2Cr 1.7-12; 9.1-8,22-23), e a redação e compilação de vários provérbios é inteiramente coerente com essa caracterização. (2) Provérbios apresenta notáveis semelhanças, quanto à sua estrutura e ao seu conteúdo, com outros textos de literatura sapiencial do Egito, da Mesopotâmia e do Levante anteriores ao tempo do tempo de Salomão. A instrução sapiencial do Egito, por exemplo, é apresentada de dois modos. Um deles consiste num título seguido de máximas (cf. 24.23-35); e a outro consiste num título longo (1.1), um preâmbulo / prólogo (1.2—9.18), um título curto (10.1) e máximas (10.2—22.16). Essas semelhanças sugerem que Provérbios foi escrito no período monárquico de Israel. A maior semelhança em forma e conteúdo pode ser observada entre Pv 22.16—24.22 e o texto egípcio “Sabedoria de Amenemope”, aproximadamente da mesma época que Salomão. (3) Uma vez que o comércio exterior era tão amplo no reinado de Salomão, pode-se pressupor que Israel conhecia a literatura de várias nações. Arquivos egípcios (c. 1350 a.C.) guardam textos literários em escrita cuneiforme da Babilônia usados na preparação de escribas para o serviço diplomático internacional. É possível conjeturar que obras literárias estrangeiras também chegaram a Israel por motivos semelhantes. Seria condizente com o perfil brilhante de Salomão usar desse recurso para se familiarizar com a instrução egípcia. (4) A atribuição de certos provérbios a Salomão (1.1; 10.1; 25.1) — bem como ao rei Ezequias (25.1) e ao rei Lemuel (31.1) — é inteiramente coerente com as práticas dos monarcas do antigo Oriente Próximo, onde os reis patrocinavam a sabedoria e a sabedoria sustentava os reis. Vários provérbios não apenas falam sobre reis, mas são dirigidos a eles e para eles. Em resumo, o tipo de literatura sapiencial encontrada em Provérbios era comum e típico das cortes reais. Nenhum candidato se encaixa melhor nesse cenário que Salomão.

Page 12: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

(5) Certos aspectos estilísticos também favorecem a aceitação de Salomão como autor dos caps. 1—24 e dos provérbios dos caps. 25—29. O paralelismo binário (de duas linhas) é atestado claramente na literatura sapiencial e em outros gêneros do terceiro milênio a.C. até o primeiro milênio a.C. Depois de 500 a.C., o paralelismo binário começou a se tornar menos comum tanto na literatura egípcia quanto na aramaica. Data e ocasião O rei Salomão (veja “Introdução: Autor”) começou a reinar por volta de 970 a.C. ou antes, caso tenha sido corregente com Davi (veja a nota sobre 1Rs 2.11). Supondo que Salomão reinou alguns anos antes de o Senhor lhe dar sabedoria (cf. 1Rs 2-3), e considerando algum tempo para o estudo e compilação dos seus provérbios, pode-se datar as partes do livro atribuídas a Salomão a partir de cerca de 960 a.C. Ezequias, por sua vez, reinou até 687/86 a.C., sendo essa a data mais recente possível para os trechos do livro compilados durante o seu reinado. Quanto a Lemuel, além de sua menção em Provérbios, não existe nenhuma outra informação disponível a seu respeito (veja a nota sobre 31.1), de modo que essa referência a ele não ajuda a definir a data de redação dos seus ditos. É importante fazer distinção entre o contexto palaciano da redação de Provérbios e o seu contexto de disseminação. Ao contrário de outros tipos de literatura sapiencial do antigo Oriente Próximo, Provérbios não cita um destinatário ou público-alvo específico em seu título. Assim, pode-se pressupor que a intenção do autor fosse produzir um livro para ser usado de um modo geral, antevendo que os seus ditos seriam ensinados nos lares tementes a Deus. Salomão visava transmitir a sua sabedoria aos jovens de Israel colocando os provérbios na boca de seus pais piedosos (1.8), da mesma maneira que Moisés havia defendido a disseminação da lei nos lares israelitas (Dt 6.7-9). É apropriado entender as referências ao pai e a seu(s) filho(s) no prólogo do livro de modo literal. Os textos sapienciais egípcios eram dirigidos aos filhos do autor, e não a alunos sem nenhum grau de parentesco. As referências à mãe como instrutora tanto na lei mosaica (cf. Dt 6.7-9) quanto nos provérbios de Salomão também define o lar como o contexto provável (veja Êx 20.12; Lv 19.3; Dt 5.16; 6.6-9; 21.18-21; Pv 4.3; 6.20; 10.1; 15.20; 23.22,24-25; 29.15; 31.1,26-28; Lc 2.51; 2Tm 1.5; 3.14). O uso de Provérbios na instrução dentro do lar é corroborado, igualmente, em 4.1-9, onde a família piedosa — que inclui o avô, o pai, a mãe e o filho — é apresentada, de modo figurado, transmitindo a herança espiritual da família. Propósito e características Enquanto os livros históricos relatam o desenvolvimento do reino de Deus por meio das alianças com Israel, a literatura sapiencial da Bíblia não menciona explicitamente a eleição de Israel ou suas alianças e trata apenas em raras ocasiões dos detalhes históricos da fé israelita. Não obstante, pode ser facilmente integrada à fé histórica de Israel mediante o seu apelo comum ao “temor do SENHOR” (cf. Dt 6.5; Js 24.14; Pv 1.7). “O SENHOR” é o nome de Deus que expressa o seu compromisso pessoal com Israel (Gn 12.8; Êx 3.15; 6.2-8). “Temê-lo” significa sujeitar-se à sua vontade revelada, quer esta seja expressa por Moisés ou por Salomão, motivado pela convicção de que ele cumprirá as suas promessas de vida para os fiéis e as suas ameaças de morte para os infiéis. Moisés, Salomão e os profetas procuraram mostrar a soberania de Deus. Embora a teologia de Provérbios complemente a visão histórica unificada de outras partes do Antigo Testamento, Provérbios se concentra mais na vida cotidiana do que na História, mais nas coisas comuns do que nas extraordinárias, mais no indivíduo (ainda que não isolado do contexto das relações sociais) do que na nação, mais na experiência pessoal do que na tradição sagrada. Infelizmente, Provérbio muitas vezes é interpretado de modo equivocado como um livro que contém promessas de sucesso, saúde, felicidade e riquezas para aqueles que seguem os seus

Page 13: REVISTA NOSSA FÉ A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA Apoio ... · © EDITORA CULTURA CRISTÃ. ... como toda liderança deve ser ... Ef 6.1-3). Jesus mesmo deu exemplo disso quando criança

© EDITORA CULTURA CRISTÃ. Todos os direitos são reservados. Revista Nossa Fé – 1º tri 2014 A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA

O projeto de Deus para seu lar

ensinamentos (veja 3.1-10 e “Introdução aos livros poéticos e de sabedoria: A sabedoria do Antigo Testamento”). Apesar de o livro descrever a prosperidade como uma bênção da sabedoria, vários dos benefícios mencionados não passam de observações acerca do transcurso natural dos acontecimentos. De um modo geral, quem experimenta a bênção é o indivíduo sóbrio, e não o ébrio (ver 23.29-35), o indivíduo tranquilo, e não o irascível (15.18; 19.19; 22.24; 29.22), e o diligente, e não indolente. Em segundo lugar, os provérbios qualificam-se mutuamente. Apesar de vários ditos se referirem aos benefícios reservados para os justos e aos julgamentos reservados para os perversos, muitos outros afirmam ou sugerem que os perversos prosperam enquanto os inocentes sofrem. Pv 10.2, por exemplo, ensina que o perverso possui tesouros acumulados por meio da perversidade (isto é, à custa dos justos), mas o provérbio seguinte (10.3) declara que os desejos do perverso serão frustrados. Ao serem considerados na sua totalidade, os provérbios ensinam que os perversos prosperam por algum tempo (10.2a), mas que no final suas riquezas não os livrarão da morte (10.2b). Por outro lado, os justos que são afligidos pelos perversos no presente, serão por fim livrados da morte (10.2b) e plenamente satisfeitos (10.3a). Do mesmo modo, os provérbios do tipo “melhor… do que” (p. ex., “Melhor é o pouco, havendo justiça, do que grandes rendimentos com injustiça”, 16.8) pressupõem que por ora são os perversos, e não os justos, que desfrutam bênçãos materiais (cf. 16.19; 17.1; 19.1,22; 21.9,19; 22.1; 25.24; 28.6; Sl 37.16; Ec 4.6). Para entender o significado ou aplicação de um provérbio é preciso lê-lo dentro do contexto do livro como um todo, e não de modo isolado. Em terceiro lugar, em sua função de cartilha sobre a moralidade que visa incentivar os jovens a uma vida reta, Provérbios se concentra, de maneira apropriada, na ascensão dos justos, e não nas dificuldades que ele enfrenta. O dito “porque sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os perversos são derribados pela calamidade” (24.16), por exemplo, ameniza a realidade dura de que, por vezes, os justos são destruídos, favorecendo a esperança de que eles serão exaltados. Contrastando com essa visão, Jó e Eclesiastes se concentram nos sofrimentos dos justos antes de sua exaltação final. Em quarto lugar, alguns textos ensinam explicitamente que os justos desfrutam um futuro abençoado que se estende além da morte (cf. 12.28; 14.32; 23.17). Em Provérbios, a “árvore de vida” representa de maneira figurativa a cura perpétua que garante a vida eterna (3.18; 11.30; 13.12; 15.4; cf. Gn 2.9; 3.24). O conceito do livro acerca da justiça torna essa esperança necessária. A situação de abertura retratada no primeiro discurso do pai é semelhante à primeira situação registrada da humanidade caída fora do jardim do Éden. Assim como Caim assassinou Abel, provocando a sua morte prematura em contraste com a duração natural de sua vida, também o “sangue” de um viajante inocente (1.11) sofre uma morte prematura nas mãos de pecadores mercenários (1.10-19). A fim de que a justiça seja feita, como Provérbios garante ao leitor que será (p. ex., 3.31-35; 16.4-5), ela deve ser executada numa esfera que transcende a experiência humana presente. Cristo em provérbios Como a lei de Moisés, Provérbios dá testemunho de Cristo retratando a sua pessoa e a sua obra. Vemos na lei a pessoa justa e santa e a obra do filho de Abraão que herdaria as bênçãos da aliança de Deus e seria o seu mediador para todas as nações. Em Provérbios (e na literatura sapiencial como um todo), vemos o discernimento e o trabalho do discípulo sábio. Somente o Senhor Jesus cumpre plenamente essa visão. Provérbios, bem como a literatura sapiencial em geral, também revela a semelhança na qual todo o verdadeiro Israel será conformado pela graça por meio da fé: a semelhança de Jesus, a encarnação da sabedoria de Deus (1Co 1.24,30; Cl 2.2-3).

Bíblia de Estudo de Genebra