Revista OLHAêê

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Ilustração: Suzy Silva N.º 01 - junho/2014 PERFIL DO CANTOR E COMPOSITOR PARAIBANO NANADO ALVES RÉPLICAS DE SERES PRÉ- HISTÓRICOS FEITAS COM EPÓXI BOQUEIRÃO: 2º MAIOR AÇUDE DA PARAÍBA ESTÁ AMEAÇADO ENSAIO - OS RELÓGIOS PÚBLICOS DE CAMPINA GRANDE

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Revista produzida por 13 estudantes do 4º período do Curso de Jornalismo da UEPB para a disciplina de Jornalismo Impresso II, ministrada pela professora Ada Guedes.

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N.º 01 - junho/2014

A ARTE DAS LOUCEIRAS DE CHÃ DA PIA

PERFIL DO CANTOR E COMPOSITOR PARAIBANO NANADO ALVES

RÉPLICAS DE SERES PRÉ-HISTÓRICOS FEITAS COM EPÓXI

BOQUEIRÃO: 2º MAIOR AÇUDE DA PARAÍBA ESTÁ AMEAÇADO

ENSAIO - OS RELÓGIOS PÚBLICOS DE CAMPINA GRANDE

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Olá, amigo(a) leitor(a)!

Se você gosta de curiosidades, então, não perca de vista a OLHAêê! Aqui você encontra uma série de matérias pra lá de interessantes produzidas pelos nossos olheiros de plantão: uma equipe composta por 13 estudantes, do 4º período, do Curso de Jornalismo da UEPB que idealizou o projeto para a disciplina de Jornalismo Impresso II, ministrada pela professora Ada Guedes.

O mais bacana nessa revista é que muitas dessas curiosidades foram extraídas a partir da cultura, da arte e da memória do povo nordestino.

Você sabia, por exemplo, que várias músicas do nosso tradicional forró, consagradas nas vozes de cantores famosos, são de autoria do compositor paraibano Nanado Alves? Sua vó já lhe explicou por que faz mal dormir depois de comer pirão? E aquela história do homem que se transformava em qualquer bicho da rua ou do mato? Alguém já lhe contou essa?

Enfim, são tradições populares, exemplos de gente talentosa, assuntos do cotidiano e muito mais que andamos garimpando por aí para enriquecer seu conhecimento de mundo.

Confira a miscelânea que organizamos para esta primeira edição da revista, que tem como reportagem de capa a arte das louceiras do povoado de “Chã da Pia”, no município de Remígio-PB. Lá não é permitido o trabalho dos homens na confecção das panelas de barro. Descubra essa e outras curiosidades na OLHAêê!

Boa leitura!

Simone Silva Editora

EDITORIAL

OLHEIROSALINE HERCULANO REPÓRTER

ANA MICHELEREPÓRTER

ANA VITÓRIACRONISTA

BERG RAMOSCORDELISTA / FOTÓGRAFO

ELISÂNGELA MARINHOREPÓRTER

HENRIQUE BORGESREPÓRTER

IARA DE JESUSCRONISTA

JAILSON SOUZAREPÓRTER

MARÍLIA GERLANEREPÓRTER

PATRÍCIA NASCIMENTOCRONISTA

RAQUEL CAMELODIAGRAMADORA

SIMONE SILVAEDITORA/REVISORA/DIAGRAMADORA

LARISSA SANTANAREPÓRTER

Page 3: Revista OLHAêê

SUMÁRIO

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O POVO CONTACordel - A história de Antoin PezinGENTE ARRETADA

Perfil do cantor e compositor Nanado Alves

NO TEMPO DA MINHA VÓCrônica - Quase Tudo

CIDADES DO INTERIORReportagem - Boqueirão: A Cidade das Águas

OLHAR FOTOGRÁFICOEnsaio - Horas Vistas do Alto

PUXANDO CONVERSAEntrevista - Hugo Leonardo, tatuador

CAPAReportagem - A arte das louceiras de Chã da Pia

MÃOS DE MESTREReportagem - Criatividade à base de epóxi

BICHOSReportagem - Cuidados com o pet

MUITO ALÉM DA FOTOCrônica - Banda Marcial 16 de julho de Campina Grande-PB DUVIDO QUE VOCÊ SABIA

Especial - 10 Curiosidades sobre a Seleção Brasileira na Copa

DANDO PITACOCrônica - Ah, se fosse eu! BÔNUS

Poesia popular - Linguagem Cabocla

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Page 4: Revista OLHAêê

A história que vou contar agoraPassou de geração em geração Não sei se foi verdade Ou fruto da imaginação

Pois o que vou descrever Faz parte da minha história Eu era muito menino E nada sai da minha memória

Tudo aconteceu lá em Sumé Há tanto tempo que nem sei dizer Prestem atenção, tenham fé Porque tem a ver com assombração

Mas não parem de ler Não tenham medo, nãoMesmo se for só uma lenda Pode te surpreender, meu irmão Esse causo parece ser assustador Mas é muito esquisito pra mim O cidadão que vou falar Se chamava “Antoin Pezin”

Homem mal humorado, de cara feia Cidadão que parecia ser normal Mas que, nas noites de lua cheia, Se transformava em qualquer animal

Eis alguns que posso citar: Cachorro, jumento, boi, gato... Qualquer bicho da rua e do mato Antoin Pezin podia se metamorfosear

Ele não fazia nenhuma questão de desmentir Pelo contrário! Alimentava cada estória dele Que aparecia por ali

Tudo conspirava a seu favor Deficiente de um pé Bruxo, feiticeiro, catimbozeiro diziam que ele era Parecia ter saído de um filme de terror Velho solitário era o seu modo de ser Morava lá no pé da serra, em um casebre sem estética Sem água e sem energia elétrica Não sei como ele conseguia sobreviver

À noite, eu tinha medo daquela paisagem Pois tudo era muito ameaçador E pra piorar sua imagem Antoin Pezin foi acusado de estuprador

Os anos se passaram e eu cresciFui morar em Campina Grande E por muito tempo fiquei Sem visitar a cidade onde eu nasci

Num certo dia recebi uma ligação Era minha mãe pra avisar uma notícia daquela ocasião:

— Ei, você lembra de “Antoin Pezin”? — Sempre lembro da sua existência O que foi que sucedeu? — Morreu! — Como assim? — Encontraram ele morto em sua residência E ninguém sabe o autor dessa truculência.

Eu logo retruquei: Ah! “Antoin Pezin”, morreu não! Ele deu foi um jeito de se encontrar com o Cão! A mim ele não engana Não acredito nessa história Nem que me pague muita grana Mas pra muitos ele morreu, Bateu as botas, escafedeu Só que, pra mim, ele está “vivin” Transformado em bicho por aí!

A história de

Antoin PEZINPor Berg Ramos

Pabl

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O POVO CONTA

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NAS ASAS DO MENSAGEIRO

B E I JA- F L O RPor Elisângela Marinho

GENTE ARRETADA

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Perfil do cantor e compositor paraibanoNanado Alves

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Vamos sair pra passear no parque, falar coisas bonitas, prometer amor. Eu vou-me embora que já tá na hora. Meu bem já acordou, o sonho

acabou. Errado. O sonho apenas começou. Afinal, com essa primeira composição, feita aos 15 anos, foi que Agnaldo Alves, ou melhor, Nanado Alves, percebeu que tinha vocação para a arte de compor.

A sua cidade natal, Monteiro-PB, contribuiu e muito para que esse caririzeiro conhecesse o mundo da música. O lugar, onde em cada esqui-na tinha um sanfoneiro, um cantador de repen-te, ajudou o poeta descobrir seu talento. Aos 11 anos, Nanado Alves já tocava percussão. É certo dizer que, ainda mais novo, já tinha a sua bandi-nha. Imaginária, é verdade, com direito a uma bateria de papelão, latas de doce e garrafas de vi-dro. Tudo era utilizado nessa banda de meninos.

Nanado é filho do agricultor Severino Ludo de Oliveira e da dona de casa Josefa Alfredo Alves, dona Zefinha, que adorava cantarolar ao pé do fogão, com saudades do filho Wilson, que estava em São Paulo. Segundo o filho Nanado, a mãe ti-nha uma voz linda. Apoio desse casal não faltou ao garoto sonhador. Ele recorda que, quando ia

tocar em outras cidades, sua mãe lhe questiona-va para qual lugar iria e, ao responder, ela ia ao centro da cidade, comprava roupas novas e dizia: “Se vai tocar em tal canto, tem que ir bonito”. O pai também deu sua contribuição para o jovem ta-lentoso. Quando completou 15 anos, Nanado ga-nhou o maior o presente de sua vida: um violão.

As primeiras referências musicais do poeta vêm dos grupos “Os Três do Nordeste” e “Trio Nordestino”. Na hora da composição, ele tenta se inspirar no pernambucano Maciel Melo, que é seu ídolo nessa área. No campo da interpreta-ção admira Flávio José, mas deseja que um dia Raimundo Fagner grave uma de suas músicas.

Qualquer situação pode virar uma canção na cabeça desse mestre da música: uma viagem, uma paisagem, um amor vivido, um amor platônico...Não há regras, limites e nem prazo estipulado para a arte da composição. “Lápis de Cor”, por exemplo, um de seus grandes sucessos, foi feita em quase dez anos, apenas pelo desejo de escrever uma mú-sica com esse título, por admirar o que podia ser feito com esse utensílio. Já outro marco de suas composições, “Mensageiro Beija-Flor”, foi produ-

Nanado Alves, cantor e compositor / Foto: Elisângela Marinho

GENTE ARRETADA

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zido em minutos, no ano de 1996, durante uma viagem para Natal-RN, quando fazia parte da ban-da de seu conterrâneo Flávio José. No hotel onde ficaram havia um jardim em cada apartamento e, no outro dia, após o show que fizeram naquela ci-dade, Nanado abriu a janela do seu quarto, pela manhã, e deu de cara com um beija-flor. Pronto. Foi assim que nasceu a música que o modesto poeta, ao apresentá-la ao “Caboclo Sonhador” disse que era uma “besteirinha”. Besteirinha essa que tanto agradou a Flávio José que não demorou muito para se transformar em mais um sucesso.

O monteirense tem, ao longo de sua carrei-ra, mais de 300 músicas compostas. Vários artis-tas tiveram o privilégio de interpretar músicas de Nanado Alves, além de Flávio José, como a Ban-da Magníficos, também de Monteiro, Santana, O Cantador, Adelmário Coelho e muitos outros.

Entre as centenas de músicas do artista, é fun-damental destacar a participação do também compositor monteirense Ilmar Cavalcante, o único

parceiro oficial de Nanado. Nessa parceria de amigos, que já

dura vinte anos, a lista de

composições passa de 400 músicas. Não é a toa que a Princesa do Cariri é chamada de berço de artistas. Houve parcerias relâmpagos com outros músicos, mas nenhuma rendeu tanto quanto a com Ilmar. Com apenas uma garra-fa de café e biscoitos cream cracker, na casa onde cresceu Nanado, a noite se torna uma criança e as músicas vão nascendo pela madru-gada: Seu Olhar Não Mente, Cheiro de Nós, O Bom do Amor, Um Passarinho e tantas outras.

Mas assim como todas as profissões enfren-tam dificuldades, essa não seria diferente. Na-nado conta que o início é muito difícil. Há dificul-dades para se chegar ao artista. Os interpretes já possuem seus compositores oficiais. Porém, com o tempo e com o nome já tatuado nesse meio, tudo fica mais fácil, pois os papeis se invertem e é o artista quem procura aquele compositor.

Hoje o poeta, com 47 anos, é um artista com-pleto: toca, canta, compõe e faz poemas. Já pos-sui três CDs gravados e apresenta o show Voz e Verso ao lado da poetisa Thaiana Campos. Ela declama e logo depois Nanado canta. É assim o show inteiro sem que os instrumentos parem.

Levando em consideração que a arte de com-por é uma das mais desvalorizadas, Nanado cri-tica fortemente a mídia brasileira afirmando que

ela é “imbecil” quando, por exemplo, ouve no rádio que “Mensageiro Beija-Flor” é de

Flávio José. Segundo o poeta, poucas são as emissoras de rádio que dão

créditos aos compositores e que a televisão só o faz

porque é obrigada. Mas com tantas pe-

dras no caminho, desistir nunca

foi opção para esse paraiba-no de-c i d i d o , a f i n a l ,

faz o que ama, e como ele mes-

mo diz: “Se desis-tirmos do amor o

que vai restar? Nada”.

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aNO TEMPO DA MINHA VÓ

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Se tem lugar melhor do que casa de vó, estou para conhecer. Lá podemos fazer de tudo: correr, brincar, aprontar

bastante, que ela nem liga. Também pode-mos comer tudo o que gostamos (ou quase tudo):

— Vó, o que temos para o café da ma-nhã?

— Tem pão, bolo, tapioca, suco, leite, café...

— Hum... Que delícia! Primeiro vou co-mer uma tapioca dessa.

— Nãããooo, menina! Tapioca não pode ser a primeira refeição do dia. Coma logo um pedaço de bolo, depois você come a tapioca.

— Mas vó, por quê?— Porque o corpo fica “aberto” e toda

mazela que lhe desejarem fica em você.— Tá bom, vovó. Como logo um pedaço

de bolo e depois como a tapioca. Quando eu terminar de comer vou pegar manga com o pessoal.

Como é bom chupar manga. Principal-mente quando é tirada do pé, na hora. Bem docinha! Tem coisa melhor não.

— Vozinha, cheguei! Peguei tanta manga que até trouxe umas pra senhora.

— Eita, coisa boa! Coloque ali na fruteira.— Vó, tem leite?— Tem, mas pra quê você quer?— Oxente, vó! para beber, né!?— Ôôôôô, menina, tais ficando doida, é?

Tu acabasse de chupar manga!—E o que é que tem?— Onde já se viu misturar manga com lei-

te? Faz mal, menina! Dá uma dor na barriga que não tem remédio que passe.

— Isso não existe. É apenas superstição!— Superstição nada! A filha da minha

tia-avó chupou manga e depois que tomou um copo de leite deu uma dor tão grande na coitada que ela não resistiu e morreu.

NO TEMPO DA MINHA VÓ

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— Tá bom vovó, se você tá dizendo...É melhor eu dar uma volta então.

— Vá, mas não demore porque daqui a pouco sai o almoço.

Como é bom casa na roça. Ver os animais, as plantas, as pessoas simples que trazem sempre consigo a esperança e um sorriso no rosto.

— Cheguei, vó.— Já ia mandar te chamar para almoçar.— O que tem pro almoço?— Pirão.E quem não gosta de tirar uma sonequi-

nha depois do almoço pra descansar um pouco?

— Vó, vou me deitar ali na rede e dormir um pouco.

— Ôôôôô, criatura, tu num tem juízo não é? Acabasse de comer pirão.

— ???— Isso é um veneno: Comer pirão e dei-

tar. Pirão é muito forte. O tio de um amigo do seu avô comeu pirão no almoço depois foi dormir e nunca mais acordou.

— Lá vem ela com essas estórias de novo...

— Tá pensando que é brincadeira, né, bichota? É a mais pura verdade.

Depois de uma estadia na casa dos avós chega o triste momento da partida. Deixar tudo aquilo para trás, mas na esperança de retornar nas próximas férias.

Em casa:— Filha, gostou de ficar esse tempo na

casa da sua avó?— Gostar eu gostei. O ruim é que a pes-

soa não pode fazer nada: não pode acordar e comer tapioca, não pode tomar leite depois de chupar manga e não pode nem deitar de-pois do almoço, quando a gente come pirão. Eu pensava que em casa de vó podia tudo.

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CIDADES DO INTERIOR

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BOQUEIRÃO: A CIDADE DAS

ÁGUASFalta de chuva ameaça o segundo maior açude do estado, o Epitácio Pessoa, cuja capacidade atual é de apenas 31%

Reportagem e fotos: Marília Gerlane

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Boqueirão é uma cidade encantadora para seus moradores e para aqueles que a visi-tam. Está localizada na região metropoli-

tana de Campina Grande e é conhecida como a “Cidade das Águas”, por possuir um dos maiores reservatórios de água do Estado da Paraíba. Atu-almente conta com uma população estimada de 16.888, segundo o censo do IBGE (2010), distribu-ídos em uma área de 424 km², com cerca de 146 quilômetros de distancia da capital João Pessoa.

Pelo seu potencial econômico e cultural, Bo-queirão faz parte do roteiro Cariri. A cidade foi se desenvolvendo culturalmente, conta com uma Associação de Escritores, uma Cooperativa de Produção Artística de Produtores Artesanais, e com outras entidades afins que têm contribuído com o seu desenvolvimento. Além disso, a cida-de apresenta uma estrutura comercial bastante

diversificada com micro e pequenos empresá-rios, que investem tanto no comércio de bens de consumo, quanto nas construções e moradias, como também empresários do setor têxtil, tan-to artesanal quanto industrial, (Comércio de ta-petes e redes, e confecção de roupas em jeans).

Hoje o município exerce um papel fundamental para os seus moradores e para a cidade de Cam-pina Grande. “Com a construção do açude Epitá-cio Pessoa, em Boqueirão, começaram a surgir a cultura de subsistência e as plantações irrigadas, que abastecem não só o comércio de Boqueirão e das cidades vizinhas, mas também o comércio de Campina Grande, bem como de grandes su-permercados. Aqui produzimos bananas, goia-ba, coentro, alface, tomate, repolho, enfim, uma gama de produtos agrícolas.” – declarou o ex--secretário executivo da cidade, Antônio Plínio.

CIDADES DO INTERIOR

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O gigante açude Epitácio Pessoa, conhecido popularmente como “Açude de Boqueirão” é o segundo maior do estado e leva água para mais de 700 mil paraibanos. Quando foi inaugurado, em janeiro de 1957, com principal objetivo de abastecer a cidade de Campina Grande, com-portava 535 milhões de metros cúbicos de água, mas por causa do assoreamento que se agravou ao longo dos anos essa capacidade foi reduzida.

Atualmente reservatório possui cerca de 129 milhões de metros cúbicos de água, o equivalen-te a 31% da capacidade total. A estiagem, que já dura cerca de um ano em algumas regiões da Paraíba, contribuiu para essa redução. “A bacia hidrográfica do açude Epitácio Pessoa, com base nos dados técnicos, possui 12 mil quilômetros quadrados que vem desde Monteiro e Taperoá até a bacia hidráulica do açude. É essencial que haja chuva nessas regiões para o abastecimento do manancial.” – Disse Everaldo Jacobino de Moura, funcionário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS, que monitora diaria-mente o volume de água armazenado no açude.

A água não para de baixar. Por dia, o reserva-tório perde 80 mil metros cúbicos de água, devi-do o abastecimento para dezenove municípios e cinco distritos. Além disso, há outros fatores que contribuem para a redução da capacidade do manancial, como o consumo animal, a evapora-

ção e a retirada de água feita diariamente pelos “pipeiros”, que vem de vários municípios, para abastecer os caminhões na estação da Cagepa.

No entanto, a principal preocupação das auto-ridades e da população campinense é com a irri-gação das plantações, responsável por boa parte da retirada de água em Boqueirão e, consequen-temente, um dos principais motivos do baixo nível de água do açude. O DNOCS já alertou que, se não chover, poderá ser suspensa: “Já foi determina-do pela Agência Nacional de Águas (ANA) que, a partir do dia 21 de junho, será proibida a retira-da de água para a irrigação, pois a própria legis-lação vigente diz que, em período de escassez, a água tem que ser priorizada para o consumo hu-mano e animal.” – informou Jacobino de Moura.

Preocupados com a situação, os irrigantes já se reuniram para buscar uma saída, porém sem suces-so. Cerca de mil famílias dos municípios de Boquei-rão, Cabaceiras e Barra de São Miguel dependem dessa atividade para sobreviver. Lavouras inteiras estão ameaçadas caso a estiagem se prolongue.

A última vez que o açude de Boqueirão san-grou foi em 2011, durante 183 dias. Enquanto a chuva não vem, a ordem é racionar a água. Só as-sim é possível evitar o colapso de Boqueirão que, além de matar a sede de centenas de pessoas, é um dos principais cartões postais da Paraíba.

O GIGANTE ABASTECEDOR DE ÁGUAS DA PARAÍBA ESTÁ AMEAÇADO

o açude Epitácio Pessoa está com a capacidade reduzida e abastece 19 municípios, inclusive, Campina Grande/ Foto: Marília Gerlane

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OLHAR FOTOGRÁFICO

VISTAS DO ALTOOs relógios públicos de templos e monumen-

tos representam a relação que os poderes religiosos, políticos, sociais e econômicos

mantém com o tempo, da época de suas fun-dações até os dias de hoje. A ideia de fotogra-far os relógios existentes em Campina Grande surgiu da necessidade de registrar e documen-tar, em fotos, esses artefatos, o que dará opor-tunidade aos leitores de conhecer um pouco da história de Campina Grande a partir do olhar para esses elementos do cenário urbano por vezes esquecidos pelos habitantes da cidade.

Um fato curioso observado durante a realiza-ção deste ensaio é que apenas dois relógios estão funcionando com a hora certa: os que estão loca-lizados nas igrejas do Rosário e de São Francisco.

Nesta série, foram fotografadas as seguintes edificações: Paróquia Nossa Senhora da Con-ceição (Catedral), localizada no Centro; Igreja São Francisco de Assis, no bairro da Conceição; Igreja Nossa Senhora do Rosário, no bairro da Prata; Igreja da Catedral Evangélica Congre-gacional, situada no centro; o prédio dos Cor-reios e Telégrafos, localizado também no Cen-tro e a Estação Nova de Trem, no Centenário.

Por: Berg Ramos

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IGREJA EVANGÉLICA CONGREGACIONAL DE CAMPINA GRANDE - Fundada em 1920, está

localizada à Rua 13 de Maio, nº 250 – Centro

PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO - Fundada em 1940, está

localizada à Rua Nilo Peçanha, S/N, Prata, Campina Grande-PB

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OLHAR FOTOGRÁFICO

CORREIOS e TELÉGRAFOS - Praça da Bandeira, 71 - Centro,

Campina Grande-PB

CATEDRAL DIOCESANA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO -

Fundada em 1769, está localizada na Av.: Marechal Floriano Peixoto, S/N,

Centro, Campina Grande-PB

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Page 19: Revista OLHAêê

PARÓQUIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS - Fundada em 1952, está

localizada à Rua São Francisco de Assis, 195, Conceição, Campina

Grande-PB

NOVA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA - Inaugurada em 14 de fevereiro de 1961, pela RFN - Rede Ferroviária do Nordeste. Está edificada no Bairro do Centenário e sua arquitetura lembra o Colégio Lyceu

Paraibano, de João Pessoa.

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PUXANDO CONVERSA

Alguns trabalhos feitos pelo tatuador Hugo Leonardo / Fotos: Divulgação

PUXANDO CONVERSA

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H u g o L e o n a r d oPor Aline Herculano

Nada melhor do que fazer uma entrevista com um tatuador em seu próprio estúdio. Foi assim que Hugo Leonardo, 38, grande

nome no ramo de tatuagem, nos recebeu. Natural de Campina Grande e há 21 anos no mercado, o interesse pela arte nasceu

neste tatuador através de um simples olhar.

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Page 22: Revista OLHAêê

não existia material. Era tudo caseiro. E tudo que aprendi foi ao longo do tempo, lendo um livro, pois não tinha internet naquela época. Passei dez anos sofridos para evoluir. Nestes dez anos, com o material que você tem, você faz barbaridades. Eu senti que estava com necessidades de evoluir. Sentia-me um pouco travado, tinha certas coisas que eu estava tendo dificuldade. Foi aí que eu vol-tei a estudar. Foi aí que, em um ano, eu evolui dez.

Além de tatuador você exerce outra profissão?Não, hoje eu me dedico somente à tatuagem. Sou profissional da tatuagem.

Quais os procedimentos que devem ser tomados após fazer uma tatuagem?Primeiramente não tomar banho de mar ou pis-cina. Evitar exposição ao sol, usar produto cicatri-zante para evitar irritação na tatuagem e, princi-palmente, fazer assepsia no local.

Qual a tatuagem mais bizarra que você já fez?Acho que a mais inusitada foi a de um amigo meu que fiz um palhaço com a boca aberta na axila. A boca ficou muito aberta e, pra mim, foi a mais exó-tica. Foi uma coisa diferente.

Qual o lugar do corpo você considera mais inco-mum para uma tatuagem?Geralmente na virilha, né? O pessoal acha mais estranho na virilha. Para mim, essa da axila do me-nino (do palhaço), é bem incomum por ser uma região mais sensível e dolorosa. Pouca gente se habilita em tatuar.

Como surgiu seu interesse pela tatuagem?Há vinte e um anos, um colega meu me chamou para acompanhá-lo em uma tatuagem. Cheguei lá, fiquei observando e me interessei bastante quan-do voltei para casa. Falei: “Eu vou fazer uma má-quina daquela”. Então peguei alguns materiais que observei como eram, fiz uma maquina como aque-la e comecei a me tatuar. Foi aí que tudo começou.

Quantas tatuagens você fez em si mesmo? E a dor?Foram várias (risos). A dor é suportável. Eu nunca tive “frescura” com dor, não. Mas tatuar-se não é bom, não. É chato. Pra se desligar é meio complica-do. Outra pessoa me tatuando eu me desligo legal.

Você fez alguma especialização depois que come-çou a tatuar?Fiz vários workshops, porque, no início, quando eu comecei na tatuagem, não tinha referência de nada. Não existia máquina, não existia tinta,

PUXANDO CONVERSA

“Tem gente que usa tatuagem

como se fosse um aces-sório. Quando vai ver, a realidade é outra e per-cebe que está com um negócio estranho na

pele”.

PUXANDO CONVERSA

Hugo Leonardo: tatuador profissional / Foto: Iara de Jesus

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ficando. Então a tatuagem passou a ser vista como arte.

Alguma vez você já errou alguma tatuagem, sem querer traçou alguma coisa errada?Caramba, isso é uma coisa que é muito seria. Há muito tempo atrás, muito tempo atrás mesmo, es-tava tatuando em casa, no meu quarto – inclusive no inicio, você tem uma certa insegurança, né? – chegou um cliente pra fazer uma índia. Esse cara falou tanto no mundo que eu acabei deixando a índia zarolha. Ficou com os olhos trocados.

Qual foi a reação do cliente na hora?Ele tentou disfarçar, mas acho que se ele tivesse me deixado mais à vontade não teria acontecido aquilo (risos).

Hoje em dia algumas pessoas estão aderindo à tatuagem no globo ocular. Você trabalha com este procedimento?Não trabalho e não concordo.

Por que você não concorda?Acho que tudo na vida temos que ter limite. E ta-tuar o globo ocular pra mim não chega a ser um lance artístico, porque o que se busca na tatuagem é a arte de interpretar um desenho. E você pintar um olho é como pintar uma unha, um cabelo.

Qual o conselho que você daria para quem quer fazer uma tatuagem?Acho que o público não é muito exigente com ta-tuagem, não está selecionando. Tem muita gente que chega pra fazer tatuagem e, às vezes, não sabe nem quem é o profissional ou o desenho que vai fazer. Isso é um erro frequente. Quem quiser eu faço. Mas como é uma coisa que vai ficar infinita-mente na pele, pra lhe acompanhar, então a pes-soa tem que pesquisar bastante. Às vezes, parece que a pessoa tá comprando um acessório, um re-lógio, uma pulseira e, quando vai ver a realidade, está com um negócio estranho na pele que não tem mais como voltar atrás.

Vocês tem algum tipo de segmento para as tatua-gens ou fazem de tudo?Não, aqui a gente é aberto, não segue muito um estilo. A gente procura fazer arte independente de estilo. Crescemos em uma escola que, aqui no Nordeste, não podemos nos dar ao luxo de traba-lhar com estilo definidos, isto ou aquilo. Devemos pegar um pouco de cada um, estudar e praticar pra poder desenvolver. Eu, particularmente, gosto do realismo, mas não trabalho só o realismo, tra-balho também com outras técnicas.

Você trabalha com remoção de tatuagem?Não é permitido tatuador fazer este procedimen-to. Só um profissional especializado em remoção de tatuagem.

Já aconteceu de você começar uma sessão e a pessoa desistir e não retornar para concluir a ta-tuagem?Varias vezes (Risos).

Há alguns anos a tatuagem era vista de forma preconceituosa. Hoje essa arte corporal vem con-quistando cada vez mais espaço e virou moda. A que se deve essa mudança?Pra mim, um grande passo e fator que evoluiu para diminuição desta discriminação, foi a participação da mídia, principalmente da televisão. E este es-tigma que se tinha sobre tatuagem, que vinha dos anos 70 e 80, com o passar do tempo, foi se modi-

“Com a participação da

mídia, esse estigma que se tinha sobre tatuagem,

com o passar do tempo, foi se modificando. Então a tatuagem passou a ser

vista como arte”

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“O barro bruto não sabia Que uma mão ao tocar Com uma água sadia No seu canto a descansar Ganharia outro formato Uma mulher lá do mato Artesã como aquela Em sintonia com a natureza Mostra a sua grandezaDo barro fez a panela Vem lá da comunidade Encontrar a freguesia Com sua simplicidade Vende tudo com alegria Na panela tem mineral Pra cozinhar vegetal Torrar a carne também Pote pra deixar a água mais fria A mão no barro com alegria Muita utilidade tem”.

(O BARRO BRUTO por Euzébio Cavalcante de Albuquer-que, agricultor e sindicalista)

CAPA

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Tradição, cultura e geração de emprego e renda há mais de 4 décadas

A arte das panelas de barro das mulheres do povoado

de Chã da Pia

O poema O Barro Bruto nos remete a um tipo de artesanato fabricado por centenas de mulheres espalhadas pelo Brasil. Com suas

mãos no barro, assim como os grandes pintores lançam seus pincéis às suas telas, essas mulhe-res simples transformam o barro bruto, de apa-rência suja e disforme, em objetos tais como pa-nelas e jarros, que se constituem obras de arte.

Um exemplo dessas trabalhadoras/artesãs são as louceiras da Comunidade Chã da Pia, localiza-do na zona rural do município de Remígio-PB, na microrregião do agreste Paraibano. No povoado, um grupo composto por 15 mulheres se destaca na arte de confeccionar panelas de barro. Essa cultura e tradição dentro da comunidade vêm

sendo transmitida de mãe para filha há mais de quatro décadas. Um detalhe curioso é que, den-tro da associação, não é permitido o trabalho de homens. Desde a criação da primeira panela, fo-gareiro, filtro e demais objetos lá produzidos, em 03 de fevereiro de 1973, foi estabelecido pela idealizadora, a senhora Joana Albuquerque Le-mos, ao lado de suas duas irmãs, que, dentro da-quela louceria, apenas trabalhariam mulheres.

O trabalho das artesãs do povoado de Chã da Pia já despertou a atenção do universo acadêmico, sendo objeto de pesquisa de vários estudantes. Por várias vezes as louceiras também foram destaques em matérias e reportagens de programas veicula-dos nacionalmente, como o Globo Rural.

Reportagem e fotos: Jailson Souza

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A louça da Chã da Pia é modelada a partir do barro retirado de alguns terrenos ou terras de particulares da região. As louceiras fazem

questão de dizer que o barro é extraído “bem de baixo da terra”, pois tem que ser de boa qualida-de. Aos olhos da louceira, o barreiro é mais que uma extensão de terra, como parece ser, mas é, na realidade, o rastro de quem esteve lá. Mostra a quantidade de barro levado e quanto tempo faz, com base nos sinais deixados pelos buracos. O bar-reiro é detentor também de um significado simbó-lico, uma vez que este lugar é o fornecedor da ma-téria-prima indispensável ao fazer destas artesãs.

Ao chegar ao barreiro, a louceira faz uma se-leção, procura o melhor lugar a ser escavado, reve-lando seu aprendizado e vivência no momento de

realizar tal escolha. São as experiências dessas mu-lheres que ensinam a perceber qual o material mais adequado. Elas herdam o saber através da tradição familiar. Assim, é possível dizer que na Chã da Pia, o aprendizado acontece no próprio fazer, pois a lou-ceira realiza sua atividade no ambiente doméstico e familiar. Desde muito cedo, as crianças convivem com esse universo artesanal dividindo espaço com as peças em processo de modelagem.

É através do ritmo da produção, do convívio di-ário, da imitação dos gestos, que as mulheres mais novas vão adquirindo as habilidades nessa arte. O fazer é aprendido por partes e a mestre, na maioria das vezes, é a própria mãe, avó ou até mesmo uma tia.

Apenas com as mãos, ásperas e de pele grossa de tanto mexer com o barro, a louceira vai modelando

PROCESSO PRODUTIVO DE MODELAGEM E QUEIMA

CAPA

Forno utilizado para queima das peças de barro produzidas pelas louceiras. / Foto: Jailson Souza

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aquela matéria-prima, antes disforme. Aos poucos trabalha todos os lados da peça. A técnica e a habi-lidade empregadas na confecção impressionam. O modo de fazer é executado com tanto esmero que o resultado é um verdadeiro trabalho de mestre.

Sentada no chão sobre uma das pernas e a outra para frente, a louceira tem ao alcance os seus instrumentos que lhe servem de auxílio e a tábua de madeira para usar como suporte e base da peça. Enquanto a mão e o barro vão sendo umedecidos, os dedos mais parecem espátu-las que transformam o barro em obras de arte.

A modelagem da louça é iniciada com uma bola de barro colocada sobre a tábua, cujo ta-manho vai variar de acordo com a peça a ser modelada, a qual recebe um “soco” para fa-zer o fundo da vasilha. Depois ela recebe a forma que a louceira chama de “alisada”.

Essa atividade demonstra muito mais do que uma simples feitura de objetos. Revela o treinamento, o aprendizado, as técnicas específicas empregadas pela louceira. É necessário, porém, esperar cerca de três dias para que uma peça fique totalmente seca e possa ser levada ao forno para ser queimada.

Os fornos, geralmente, são posicionados por trás ou à frente das casas do povoado e a or-dem de pôr as peças no forno é de acordo com o tamanho: primeiro os potes, em seguida os quartinhas (espécie de jarro), panelas e, por úl-timo, as peças menores, isto é, as “miudezas”.

A queima dura cerca de três horas porque, primeiro, é necessário enrijecer e dar a tonali-dade avermelhada ao barro, mas a retirada das peças só acontece após o esfriamento. Algumas vezes a fornada não sai como esperado, pois al-gumas peças apresentam defeito que não pos-sibilitam a venda. As peças são fabricadas, ge-ralmente, de segunda a quinta-feira já que nos finais de semana as louceiras dirigem-se às feiras para a venda dos produtos fabricados. Na comunidade Chã da Pia a arte de confeccionar panelas

de barro é uma atividade exclusiva para mulheres.

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Os produtos são comercializados nas feiras das cidades de Arara, Areia, Esperança e, aos domin-gos, em Remígio. No chão ou em bancas, em carri-nhos ou nas próprias mãos, os produtos vão sendo ordenados e oferecidos aos consumidores. Ofer-tas que podem ser apresentadas de variadas for-mas: através de canto, de poesia ou simplesmente de gritos, estratégias características da feira livre.

O lugar é conhecido como “Feira da Pane-la” pelos consumidores e frequentadores da fei-ra de Remígio. Dividem a cena as mulheres e suas jarras, produtos resultantes de seus traba-lhos e de uma modelagem particular. “Aprendi esta arte com minha mãe e ela sempre me dizia que as mulheres têm seda nas mãos, que tem delicadeza pra fazer tudo e dentro deste traba-lho é preciso, além da técnica, a sutileza que nós possuímos.” – disse Dona Joana, 73 anos de ida-de e ainda participante ativa na produção das peças de barro do povoado Chã da Pia.

COMERCIALIZAÇÃO

CAPA

As panelas de barro produzidas pelas louceiras de Chã da Pia são comercializadas nas feiras de várias cidades da região.

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Entre as diversas produções artísticas conhe-cidas, existem aquelas que, de alguma for-ma, nos chamam atenção pelas suas pecu-

liaridades, quer seja no material utilizado ou nas técnicas adotadas para a criação. Quem poderia imaginar, por exemplo, que aquela famosa cola “durepoxi” (resina epóxi), indicada para soldar e fazer reparos em diferentes materiais, poderia ser transformada em verdadeiras obras de arte?

Apesar de não haver nenhuma recomenda-ção dessa natureza no rótulo do produto, um jovem paraibano, da cidade de Olivedos, desco-briu que é possível, sim, encontrar uma utilidade mais criativa para a resina. Unindo apenas epóxi ao cobre, Francicláudio Oliveira dos Santos, 25, é capaz de moldar incríveis esculturas de esque-letos de dinossauros. Das mãos do artista já fo-ram produzidas espécies como o velociroptor, o triceratóps e, é claro, o temível tiranossauro rex.

Todo cuidado é pouco na hora de manuse-ar os protótipos do artista, que são minuciosa-mente trabalhados. Afirma que não fez nenhum curso para desenvolver esse tipo de habilidade: “eu acho que é um dom” – disse Francicláudio, que também declarou não receber nenhum in-centivo ou recurso para financiar suas criações.

O paraibano, apesar de também demonstrar vo-cação para a pintura, prefere continuar se aprimo-rando apenas no ramo das esculturas pré-históricas, uma atividade que já desenvolve há cerca de um ano.

O talento de Francicláudio e a originalidade de suas obras já lhe renderam algumas encomendas. Porém, sua arte ainda não está sendo comercializada.

Então, amigo leitor, se você é fã desses gigantes predadores que um dia habitaram a Terra e gosta-ria de ter sua própria coleção de dinossauros feitos com epóxi, vai ter que aguardar mais um pouco!

Artista produz réplicas de seres pré-históricos de um jeito que você nunca viu

CRIATIVIDADE À BASE DE EPÓXI

Por Henrique Borges

MÃOS DE MESTRE

Réplica de tiranossauro, feita com epóxi, medindo cerca de 60 cm / Foto: Henrique Borges

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Velociraptor ainda no ovo

Velociraptor adulto

Tricerátops

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CUIDADOS COM O PET

guém use um perfume muito forte, constante-mente, pode alterar o olfato do cãozinho, por exemplo, ou causar irritação.” – explicou Delfino.

E, para aqueles que não desgrudam do seu amiguinho, um aviso importante: Dormir com o gato ou cachorro em sua cama pode ser muito perigoso. Isso não deve acontecer em nenhuma hipótese, mesmo que eles sejam bem cuidados.

E só aparecer um filhotinho em qualquer lu-gar e pronto. Todos se alegram, principal-mente as crianças. Criar um gato ou cão-

zinho pode trazer inúmeros benefícios aos seus donos, como por exemplo, companhia, desen-volvimento do senso de responsabilidade, in-centivo à atividade física, dentre tantos outros.

No entanto, quem deseja ter um animal domés-tico deve estar consciente de que ele demanda cui-dados, como a higiene, alimentação adequada e controle das vacinas, pois, apesar de trazer muitos benefícios, os pets podem transmitir doenças para os seres humanos. São as chamadas zoonoses.

A proximidade dos donos com seus animais é tão grande que, muitas vezes, eles acabam sendo tratados como membros da família. Mesmo tratan-do-os com carinho, os cuidados não podem ser es-quecidos, especialmente por pessoas que tenham a imunidade baixa, como é o caso de portadores de HIV, pacientes em tratamento contra o câncer, idosos e crianças menores de cinco anos de idade.

De acordo com o veterinário Luciano Delfino, que atende em um Pet Shop na cidade de Campina Grande-PB, é fundamental sempre lavar as mãos após o contato com os bichos, vaciná-los e nunca beijá-los. Visitas periódicas ao veterinário também são importantes, mesmo que o pet pareça saudável.

Apesar de possuírem a imunidade mais alta que as dos humanos, animais como cães e gatos também podem contrair doenças com os seus donos, como gripes e até mesmo alergias. Esses fenômenos também exigem atenção: “Caso al-

Por: Ana Michele

Foto: Simone Silva

BICHOS

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DICAS DE CUIDADOS

• Lave sempre as mãos com água e sabão depois do contato com seu pet;

• Dê todas as vacinas necessárias;• Nunca beije seu animalzinho, nem o deixe lamber;

• Nunca durma com ele, nem deixe que se deite em sua cama;• Em caso de você ou seu pet estar doente, evite o contato;• Controle carrapatos e pulgas;

• Tenha bons hábitos de higiene, mantendo sem-pre limpo e desinfetado o ambiente do animal

e a sua casa.

PRINCIPAIS ZOONOSES

• Doenças de pele como micoses e sarna;

• DAG (Doença da Arranhadura de Gato), cau-sada por uma bactéria, através da arranhadura do

animal;• Criptococose - fungos que se manifesta na for-ma de meningite subfebril;• Raiva - transmitida a partir da saliva do animal infectado;• Tênia - transmitida a partir do contato com as

fezes contaminadas;• Doença de Lyme, transmitida através dos

carrapatos.

Foto: Simone Silva

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MUITO ALÉMDA FOTO

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Banda Marcial 16 de julho fez história nos desfiles cívicos em Campina Grande

Por: Ana VitóriaFotos: Vitorya Oliveira

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As Bandas Marciais do Brasil são o símbolo da Pátria Brasileira. Elas ditam o ritmo e a dispu-ta sadia dos desfiles cívicos. Cada instituição

quer superar uma à outra. Inovam em coreogra-fias e repertórios. Mostrar a batalha de cada colé-gio em busca da melhor apresentação durante o desfile cívico, através de muita dedicação nos en-saios realizados, é o retrato do contexto histórico da Banda Marcial 16 de Julho de Campina Grande.

Não estava presente quando a Banda Marcial 16 de Julho foi fundada, no dia 02 de janeiro de 1969. Assim como não participei da comemoração do seu primeiro aniversário, em 16 de julho de 1970. Mas tomei conhecimento que seus fundadores foram José Pedro de Barros e Bernadete Maria de Barros. Os filhos do casal deram continuidade a este bri-lhante trabalho que teve origem quando um grupo de voluntários idealizou o projeto para formação de uma banda para tocar durante o tradicional desfile de 7 de setembro. Adquirir os instrumentos musi-cais, como: lira, trompete, bombardino, tuba, trom-pa, saxofone e de percussão, foi o primeiro gran-de passo para o nascimento da banda paraibana.

Na década de 1960 vigorava o regime militar. Os colégios tinham por obrigação desfilar no dia 7 de se-tembro. Todos os colégios de Campina Grande pos-suíam suas Bandas Marciais. Com o passar do tempo, já não havia mais recursos financeiros para manu-

tenção das bandas e a tradição foi deixada de lado. As décadas se passaram e a 16 de Julho en-

cerrou suas atividades nos anos 1990 e foi re-aberta no ano de 2001, com o instrutor Antônio Cloves. Em seguida, o próprio diretor, Carlos Jr. Ao lado de Jadielson Costa, também ficou à fren-te da banda por vários anos. Atualmente, Dir-ceu Lelis é o instrutor desta banda, premiada com vários troféus. Ela é o orgulho do Colégio 16 de Julho, em Campina Grande. O troféu de hon-ra ao mérito “Instituto 16 de Julho do ano 1970” marcou a história da trajetória da banda. É uma pena o troféu ter sido vendido no ano de 1990.

Gostaria de ter sido voluntária e integran-te da Banda Marcial 16 de Julho. Há pouco tempo descobri sua existência. Com 50 com-ponentes, entre eles pais, professores e alu-nos, a banda possui uma história de luta e per-severança que vem atravessando gerações.

O dicionário não é suficiente para conhecer o significado de uma Banda Marcial, definida, geral-mente, como um grupo de músicos instrumentistas apresentando-se ao ar livre e incorporando movi-mentos a algum tipo de marcha adequada à apre-sentação musical. Embora nunca tenha estado pre-sente nos ensaios instrumentais e nas coreografias, entendo o seu valor associado à Pátria Brasileira. Símbolo de disciplina, respeito, ordem e progresso.

Banda 16 de Julho durante o desfile cívico de 7 de setembro de 2013 , em Campina Grande-PB / Foto: Vitorya Oliveira

MUITO ALÉMDA FOTO

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TOP

Curiosidades sobre a Seleção

Brasileira na Copa do Mundo

Por Larissa Santana

DUVIDO QUEVOCÊ SABIA

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1.CAMISAA seleção sempre usou uni-forme branco e azul. Porém, após ser derrotada pelo Pa-raguai, em 1950, foi feito um concurso nacional e a partir de então o uniforme passou

a ser verde e amarelo, permanecendo até hoje.

2.PARAIBANOSA Paraíba terá seu quarto representante em edições de Copa do Mundo. O pri-meiro foi Índio, no ano de 1954; o segundo foi Júnior em 1982 e 1986; o tercei-ro foi Mazinho, em 1994; e

agora Hulk, em 2014.

3. TÉCNICOS O Brasil já teve dois técni-cos estrangeiros: em 1944, um português, conhecido por Jureca, e um argenti-no, Filpo Núñes, em 1965. Nenhum deles chegaram a comandar a seleção em Copas do Mundo. Por ou-

tro lado, seleções como Peru, Portugal,

Jamaica e Paraguai, já tiveram técnicos

Brasileiros.

4. TAÇAO gesto emblemático de le-vantar a taça com as duas mãos acima da cabeça foi realizado em 1958, pelo capitão brasileiro Bellini, quando o Brasil ganhou a

Copa do Mundo. Esse gesto é utilizado até

hoje e em todos os

esportes.

5. TAÇA X TROFÉU

O troféu tem as alças nas duas laterais, diferentemente

da taça que não as possui. A seleção vencedora conquista, portanto,

uma taça.

DUVIDO QUEVOCÊ SABIA

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6.CAMPEÃO EM DOSE DUPLA

Zagalo é o único brasilei-ro que participou da Copa como jogador e como trei-nador. A nível mundial, até hoje, só temos o próprio

Zagalo e o alemão Franz Beckenbauer com

essas conquistas.

7.COPA DE 1950199.854 pessoas assistiram, no Ma-racanã, à partida entre Brasil x Uru-guai em 1950. Foi o maior público em copa do mundo no Brasil. Neste ano o Brasil também teve seu maior

números de gols da história: foram 22

gols. A maior goleada

foi de 7 contra 1 da Suécia e ainda teve o artilheiro da competição com 9 gols,

Ademir de Menezes.

8. CLUBE QUE MAIS CEDEU JOGADORES PARA AS COPAS Das 19 Copas que o Brasil participou, em apenas em cinco não havia ao menos um jogador alvinegro. Ao

todo, foram 46 atletas do Botafogo na

Seleção. Somente no mundial

de 1934 havia 9 atletas a

lvinegros no elenco.

9.FATO HILÁRIOA disputa entre Brasil e Inglaterra, na Copa de 1962, foi marcada por uma comédia com a invasão de um

cachorro no gramado. O habilidoso Garrinha tomou

um drible do animal, quefoi pego pelo jogador

inglês Greaves.

10.JOGADOR MAIS NOVO QUE MARCOU GOL NAS COPAS

O brasileiro Pelé, com apenas 17 anos e 239 dias, marcou um gol contra a seleção do País de

Gales, em 1958.

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Por: Patrícia Nascimento

AH, SE FOSSE EU!Se fosse eu, faria melhor”, “se fosse eu que estivesse fazendo, da-

ria certo”, “se fosse eu, sairia mais bonito”, se fosse eu... Quantas ve-zes já ouviu isso? E quantas vezes você disse isso? São tão comuns es-

sas expressões que se chega a acreditar que são legítimas. E algumas vezes são!É sempre muito cômodo julgar pessoas e situações ao invés de ter atitude de co-

operação, de incentivo, de compreensão para com os demais que, por vezes, podem se encontrar em momentos desfavoráveis ou situações que dificultam a criativida-de, e, consequentemente, impedem de enxergar uma melhor forma de fazer ou agir.

Com certeza o amigo leitor já se pegou pensando como faria se fosse alguém que vive de-terminado momento. Já imaginou que faria diferente daquilo que tal pessoa faz, fez ou tem feito. É comum, por exemplo, encontrar menina pensando que se fosse Uma Linda Mulher, do Richard Gere, o final da história seria mais interessante; filhos subestimando a compe-tência dos pais aos observarem dirigir, projetando quando tiverem seus próprios carros; um torcedor que tem certeza de que se estivesse no lugar do atacante não teria perdido aquele gol ou errado aquele passe; ou algo mais corriqueiro ainda: ao observar alguém bater um prego com dificuldade para acertar, a vontade que dá é tomar da mão do outro, o martelo, e começar a bater o prego, jurando que vai fazer bem feito. Nós sempre faríamos melhor!

Mas observa-se que quando se diz: “se fosse eu”, geralmente não se trata de ten-tar ou se colocar no lugar do outro para buscar compreendê-lo. É apenas uma manei-ra de criticar. Contudo, essa colocação não é totalmente negativa, sobretudo em se tratando de política. A situação atual do país não é lá uma das melhores, mas pare-ce que “alguém” não enxerga, ou melhor, finge não enxergar. A oposição diz que se es-tivesse no poder as coisas seriam diferente, isso quer dizer melhores. Mas será mesmo?

Bom, se fosse eu, ou melhor, se eu fosse você, não estaria gastando tempo lendo essas linhas, afinal é Copa! Quem quer saber de algo que não seja a Seleção Brasileira e fute-bol?! Vamos nos vestir e nos pintar de verde e amarelo, afinal agora nós “Somos um só”!

DANDO PITACO

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Vosmicê seu jornalistaQué fazê uma reportage,E me pede entrevistaPra gravá nossa linguage.Se deseja me iscutáTravéz vá ingnoráO meu linguajá grosseiro.Mas mode lhe satisfazê,Posso inté lhe fornecêUm resumido roteiro. Nossa linguage cabôcaPra quem tem inducação,Travez seja um bate bocaDe difíce compreesão.Mas já que fui isculhido,Vou fazê o seu pedidoCom meu fraco português.Se é o fala da gente,Veja cuma é diferenteDa língua de vosmicês:

Aqui um cabra comedôSe chama isgulepado,Um ôio d´água é choradôE doido, abestaiado.Gente boba é arigó,Um armário é caritóE grota funda, sucavão.Bufete é quebra-queixo,Rebolado, remelechoE muierengo, gavião(...) Prutatanto, seu jornalista,É essa nossa linguage.Que travez seja má vistaPru quem tem boa letrage.É uma língua falada,Pru quem nasce nas quebradasDas cordilheiras do sertão;Que sem curtura padece,E de quem sabe, merece,Uma ismola do perdão.

BÔNUS

Antônio Henriques Neto é um poeta autodidata, natu-ral do município de Picuí-PB. É autor de 3 livros: “Poesias Dis-persas” (1979); “Poesia, Fol-clore e Nordeste (1985) e “Voz de um Homem Rude” (2001).

Para ele, o poeta já nasce com o dom de escrever o que gosta através da poesia: “é aquele homem que transfor-ma a utopia em objetos palpá-veis. Eu nasci com esse dom”.

Por Simone Silva

Antonio Henriques Neto, 90, ao lado de sua esposa, Dona Severina. / Foto: Vanuza Oliver

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