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de ANGOLA REVISTA da Farmacêuticos Ordem dos Trimestral | Ano 3 Número 9/10 JAN-JUN 2016 Director: Boaventura Moura Comunicação paciente-farmacêutico A importância da comunicação na relação farmacêutico - pacien- te como um recurso pedagógico profissional no desenvolvimento do processo de aconselhamento farmacêutico - atenção farma- cêutica nas farmácias comunitá- rias e hospitalares é o tema cen- tral do artigo das farmacêuticas Helena Vilhena e Lucinda Figuei- redo. | Págs.13 e 14 Assunção Pascoal eleita presidente da Mesa da Assembleia-geral A farmacêutica Assunção Catihe Pedro Pascoal foi eleita presidente da Mesa da Assembleia-geral da Ordem dos Farmacêuticos de Angola por unanimidade e aclama- ção. A eleição decorreu durante a Assembleia-geral da OFA realizada em Março, em Luanda, com a participa- ção de mais de 100 farmacêuticos. Na ocasião, a farma- cêutica Cheilla Marisa Manuel foi eleita Secretária deste órgão social. A formação contínua dos farmacêuticos, a organização da III Semana da Farmácia Angolana e a participação nos congressos no Brasil, em Portugal e na Argentina são alguns dos objectivos para este ano. | Pág.4 Entrevista a Alina Sánchez Cuidados Farmacêuticos Cuidados Farmacêuticos - Sugestões para um currículo de formação centrada no pa- ciente é o título da obra apresentada recentemente em Luanda, da autoria da far- macêutica Alina Sánchez. Um tema significa- tivo para os desígnios da profissão farmacêu- tica no momento em que a farmácia discute a adopção de um novo modelo de prática pro- fissional, fundamentado na prestação de ser- viços voltados para o cuidado das pessoas. Leia a entrevista exclusiva. | Págs. 6 a 9

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de ANGOLA

REVISTA da

FarmacêuticosOrdem dos Trimestral | Ano 3

Número 9/10JAN-JUN 2016

Director: Boaventura

Moura

Comunicação paciente-farmacêuticoA importância da comunicaçãona relação farmacêutico - pacien-te como um recurso pedagógicoprofissional no desenvolvimentodo processo de aconselhamentofarmacêutico - atenção farma-cêutica nas farmácias comunitá-rias e hospitalares é o tema cen-tral do artigo das farmacêuticasHelena Vilhena e Lucinda Figuei-redo. | Págs.13 e 14

Assunção Pascoal eleita presidente daMesa da Assembleia-geralA farmacêutica Assunção Catihe Pedro Pascoal foi eleitapresidente da Mesa da Assembleia-geral da Ordem dosFarmacêuticos de Angola por unanimidade e aclama-ção. A eleição decorreu durante a Assembleia-geral daOFA realizada em Março, em Luanda, com a participa-ção de mais de 100 farmacêuticos. Na ocasião, a farma-cêutica Cheilla Marisa Manuel foi eleita Secretária desteórgão social. A formação contínua dos farmacêuticos, aorganização da III Semana da Farmácia Angolana e aparticipação nos congressos no Brasil, em Portugal e naArgentina são alguns dos objectivos para este ano. | Pág.4

Entrevista a Alina SánchezCuidados FarmacêuticosCuidados Farmacêuticos - Sugestões paraum currículo de formação centrada no pa-ciente é o título da obra apresentadarecentemente em Luanda, da autoria da far-macêutica Alina Sánchez. Um tema significa-tivo para os desígnios da profissão farmacêu-tica no momento em que a farmácia discute aadopção de um novo modelo de prática pro-fissional, fundamentado na prestação de ser-viços voltados para o cuidado das pessoas.Leia a entrevista exclusiva. | Págs. 6 a 9

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A

Editorial2 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Março 2014

Boaventura MouraBastonário e Presidente do Conselho Nacional

EditorialRevista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola |3 Janeiro/Junho 2016

A profissão farmacêutica está em permanente evolução e tem vindo a en-frentar e vencer novos desafios ao longo dos anos. Mas, actualmente, vive-se um momento de mudança particularmente acentuado. A tendência éno sentido da adopção de um novo modelo de prática profissional funda-mentado na prestação de serviços mais voltados para a atenção e o cuidadodas pessoas, o que uma das nossas entrevistadas nesta edição, Alina Sán-chez, denomina de cuidados farmacêuticos. No mesmo sentido, a novabastonária da OF de Portugal, Ana Paula Martins, igualmente entrevistadapela ROFA, é clara quando afirma que a sociedade confia e reconhece nosfarmacêuticos um parceiro imprescindível na resolução dos seus proble-mas de saúde, confiança esta que foi conquistada com muito esforço, coma aquisição de conhecimentos e competências em novas áreas, emergen-tes, capacitando-se assim para responder às necessidades dos doentes. Nem de propósito, um estudo recente, que também divulgamos nesta edi-ção, demonstra de forma clara que, em apenas um ano, os farmacêuticoscomunitários portugueses proporcionaram uma redução do consumo decuidados de saúde de outras fontesestimada em seis milhões de actospor ano (consultas médicas nãoprogramadas, urgências e hospita-lizações). Realizaram 120 milhõesde intervenções em Saúde Pública,o que se traduz num benefício totalde mais de 260 mil anos de vidaajustados pela qualidade e num va-lor económico estimado em 880milhões de euros anuais, integral-mente a favor do Estado e das famí-lias. E, tudo isto, contabilizandoapenas 10% da sua actividade, istoé, não considerando os 90% dotempo em que aviam receitas.Em Angola, apesar dos momentosdifíceis que atravessamos – e quehistoricamente sempre demons-trámos ser capazes de superá-los – há que não baixar os braços e, pelo con-trário, manifestar a força e o desejo de estar na linha da frente, abraçandoa amplitude das novas responsabilidades e dignificando a profissão farma-cêutica. É também por esta razão que vos esperamos, a todos, numa par-ticipação massiva, ilustrativa do nosso empenho, na próxima III Semanada Farmácia Angolana, já em Setembro, para debatermos em conjunto to-das estas questões.

ActualidadeAssembleia-geral da OFA elege novo presidente da AG e traça rumo para 2016A farmacêutica Assunção Catihe PedroPascoal foi eleita presidente da Mesa daAssembleia-geral da Ordem dos Farma-cêuticos de Angola por unanimidade eaclamação. | Pág. 4

2ª Semana da Farmácia Angolana já está à portaEm simultâneo com a Expo Farma, oevento de referência da classe farmacêu-tica em Angola está previsto para 19 a 25de Setembro próximo. | Pág. 4

EntrevistasOF Portugal elege nova BastonáriaAna Paula Martins quer reforçar o papelassistencial dos farmacêuticos no siste-ma de saúde e construir um modelo decooperação interinstitucional com asoutras profissões de saúde. Entrevistaexclusiva. | Págs. 6 e 7

Cuidados farmacêuticos: um novo modelo de prática profissional voltado para o cuidado das pessoasEntrevista a Alina Sánchez, a farmacêu-tica e investigadora autora de um livroque apresenta um tema significativo pa-ra os desígnios da profissão farmacêuti-ca.| Págs. 8 a 10

XII Congresso Mundial dosFarmacêuticos de Língua Portuguesa: organização espera 1.500 participantesA OFA prepara a deslocação de uma de-legação de farmacêuticos angolanos aoXII Congresso Mundial dos Farmacêuti-cos de Língua Portuguesa que decorreem Gramado, Rio Grande do Sul, Brasil,de 8 a 10 de Novembro. | Págs. 11 e 12

Conselho FarmacêuticoComunicação paciente-farmacêuticoA importância da comunicação na rela-ção farmacêutico - paciente como um re-curso pedagógico profissional no desen-volvimento do processo de aconselha-mento farmacêutico é o tema central doartigo das farmacêuticas Helena Vilhenae Lucinda Figueiredo. | Págs. 13 e 14

Folha FarmacoterapêuticaUso prolongado de benzodiazepínicosem idosos, declínio cognitivo e o possívelaumento do risco de Alzheimer. |Págs.15 a 18

Cuidados FarmacêuticosA morbilidade e mortalidadecausadas por medicamentosCerca de 16,6% dos internamentos hos-pitalares são provocados por respostasnegativas a medicamentos (RNM). Qualé a solução? Como se realiza o acompa-nhamento da farmacoterapia no pa-ciente? |Págs. 19 a 21

ReflexãoTempos de crise e os desafios da farmáciaO cenário e conjuntura actuais são ine-gavelmente pouco favoráveis ao naturalcrescimento de uma economia que,apesar de tudo, apresenta um enormepotencial. Com este enquadramento,como se posiciona o sector farmacêuti-co? Leia a opinião de João Pedro Matos |Págs. 22 e 23

FormaçãoControlar a diabetes: umcompromisso com a saúdeA habitual coluna de Nádia Noronha, es-te mês dedicada à patologia metabólicacrónica, caracterizada por hiperglice-mia. | Págs. 24 e 25

EstudosO justo valor dos farmacêuticosEm Portugal acabaram de fazer as con-tas: as actividades desenvolvidas pelosfarmacêuticos comunitários traduzem-se em mais de 120 milhões de interven-ções farmacêuticas por ano e 11 milhõesde horas, o que contribui para um au-mento de 8,3 % na qualidade de vida eum benefício total de mais de 260 milanos de vida ajustados pela qualidade. |Págs. 26 e 27

Espaço RegulamentarCarreira de farmácia do SNSConheça o Decreto que aprovou o regi-me e a estruturação da carreira de far-mácia do Serviço Nacional de Saúde. Oenquadramento profissional, as compe-tências do farmacêutico, o seu ingressona carreira, as categorias de farmacêuti-co e de técnico médio de farmácia, con-cursos, as modalidades de regime de tra-balho, e o que está previsto para a suaformação e aperfeiçoamento profissio-nal. | Págs. 28 e 29

InvestigaçãoParasita da malária que hiberna no fígado está a ganhar resistência aos fármacosCDois estudos publicados em Junho narevista Nature Genetics traçam a árvoregenética do Plasmodium vivax, um pa-rasita da malária menos conhecido, e re-velam a sua grande diversidademundial. |Pág. 30

...há que revelar a forçae o desejo de estar nalinha da frente,abraçando as novas re-sponsabilidades e dig-nificando a profissãofarmacêutica "

Índice

Ficha TécnicaPropriedade:Ordem dos Farmacêuticos de Angola | Director:Boaventura Moura | Con-selho editorial: João Novo, Helena Vilhena, Pedro Zangulo e Santos Nicolau | Endereço:Rua Kwame Nkrumah, nº 52 / 53, Maianga, Luanda, Angola. Tel.: (+244) 935 333 709 / 912847 892 | E-mails: [email protected] [email protected] | Web site:www.ordem-farmaceuticosangola.org | Editor: Rui Moreira de Sá - Marketing For You, Lda - www.mar-ketingforyou.co.ao | Redacção: Cláudia Pinto; Francisco Cosme; Magda Cunha Viana | Mar-keting e publicidade: Eileen Barreto Tel.: (+244) 945046312 / 928013347 e-mail: [email protected] | Periodicidade: trimestral | Design emaquetização: Fernando Almeida | Impressão e acabamento:EAL - Edições de Angola| Tiragem:3.000 exemplares

O momento é de mudança

Índice

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A 3ª Semana da Farmácia Ango-lana realiza-se em Luanda, de19 a 25 de Setembro próximo. Oevento de referência do sector,promovido pela Ordem dos Far-macêuticos de Angola (OFA),com o apoio da Direcção Nacio-nal de Medicamentos e Equipa-mentos, do Ministério da Saúde,e da Associação dos Profissio-nais de Farmácia de Angola (As-sofarma), continuará o êxito dasedições anteriores ao reunir, nacapital, centenas de farmacêu-ticos, profissionais de farmácia

e outros técnicos de saúde pro-venientes de todo o país e aindaconvidados do mundo lusófo-no.

A Semana da Farmácia An-golana tem-se afirmado comoum grande fórum de interacçãoentre a comunidade farmacêu-tica, para troca de experiênciasprofissionais e científicas. As in-tervenções irão, mais uma vez,promover o conhecimento e po-tenciar a actividade farmacêu-tica, a farmácia e a saúde, atra-vés do debate de ideias.

Expofarma – o face a face entre o especialista

do medicamento e os fornecedores do mercado

Na 4ª Expo Farma, feira que de-corre em simultâneo, esperamosque os expositores e patrocinado-res demonstrem uma atitudeproactiva e dinâmica junto dosdestinatários deste importanteevento nacional, dado tartar-se deuma oportunidade única para ocontacto entre os fornecedores eo profissional de saúde e especia-lista do medicamento angolano.

À semelhança dos anos ante-rior, sabemos já que irão surgircontactos profícuos, sérios, res-ponsáveis e profissionais, comtransferência de valor e conhe-cimento, em prol da saúde equalidade de vida da populaçãoangolana, traduzindo-se cadavez mais numa enriquecedoraexperiência para o dia-a-dia dasfarmácias.

Garanta o seu lugar, inscre-vendo-se já. Saiba tudo em:www.ordemfarmaceuticosan-gola.org

O grande fórum da comunidade farmacêutica já está à porta3ª Semana da Farmácia Angolana e 4ª Expo Farma

4 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola

Actualidade

Momento da votação em Assunção Pascoal para presidir à Mesa da Assembleia Geral

Janeiro/Junho 2016

A farmacêutica Assunção CatihePedro Pascoal foi eleita Presiden-te da Mesa da Assembleia Geralda Ordem dos Farmacêuticos deAngola (OFA) por unanimidadee aclamação.

A eleição decorreu durante aAssembleia-geral da OFA, no dia24 de Março de 2016, na Escolade Formação de Técnico de Saú-de, em Luanda, que reuniu maisde 100 farmacêuticos. Na oca-sião, a farmacêutica Cheilla Ma-risa Manuel foi eleita Secretária

deste órgão social.A sessão decorreu de forma

muito animada e participativa,tendo sido cumprido o programaprevisto. Entre outros pontos, oBastonário, Boaventura Moura,apresentou o balanço das activi-dades desenvolvidas em 2015, asrespectivas contas, e as perspec-tivas para 2016.

Este ano, a OFA tem como ob-jectivos principais a formaçãocontínua dos farmacêuticos emvárias temáticas, com realce para

a farmácia clínica, hospitalar eanálises clínicas e o estudo, ava-liação e uniformização para for-mação superior farmacêutica emAngola. A promoção do marke-ting farmacêutico, a participaçãonos congressos no Brasil, em Por-tugal e na Argentina e a realiza-ção da 3ª Semana da FarmáciaAngolana, em simultâneo com a4ª Expo Farma, de 19 a 25 de Se-tembro próximo, constam tam-bém dos objectivos para 2016.

Como curiosidade foi convi-

dada para a mesa do presidiuma farmacêutica mais nova pre-sente na sala, Maria Emília Ma-nuel, que ombreou com o mais“velho”, Pombal Mayembe, pre-sidente do Conselho Fiscal, e odirector da Assofarma, Fuíla Lu-mingo, igualmente convidadopara a mesa.

As eleições para a Mesa da As-sembleia-geral decorreram emvirtude do falecimento do pri-meiro presidente eleito, em Agos-to de 2013, João Lelessa.

Assembleia-geral da OFA muito participativaAssunção Pascoal eleita presidente da Mesa da AG

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Entrevista6 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

legenda

Ana Paula Martins, Bastonária da OF Portugal

“Actualmente, a sociedade confia e reconhece nos farmacêuticos um parceiro imprescindível na resoluçãodos seus problemas de saúde”

A farmacêutica Ana Pau-la Martins foi eleita bas-tonária da Ordem dosFarmacêuticos de Portu-gal. Reforçar o papelassistencial dos farma-cêuticos no sistema desaúde e construir ummodelo de cooperaçãointerinstitucional comas outras profissões desaúde, são algumas dasprioridades da nova di-recção, revelou a novadirigente em entrevistaà ROFA.— Quais os principais objecti-vos da sua direcção na OF paraos próximos três anos?

— O mandato que agora ini-ciámos apresenta alguns desafios,quer no plano interno, quer noplano externo. Internamente,queremos aproximar a OF dosseus membros. É fundamentalpromover uma participação acti-va dos farmacêuticos portuguesesnos trabalhos da entidade que osrepresenta. Mais do que uma ob-rigação moral, queremos que esteenvolvimento nos trabalhos daOF constitua uma motivação pro-fissional. Para este efeito, vamosnomear vários conselhos consul-tivos e grupos de trabalho, que seassumem como estruturas con-gregadoras do saber dos farma-cêuticos, para delinearmos umaestratégia consensual sobre o ca-

minho que pretendemos percor-rer.

Por outro lado, a nível externo,consideramos prioritário reforçaro papel assistencial dos farmacêu-ticos no sistema de saúde, em es-treita articulação com os diferen-tes níveis de cuidados de saúde(primários, hospitalares e conti-nuados) e no âmbito de progra-mas de saúde pública, mas tam-bém promover e valorizar a inter-venção dos farmacêuticos emtodo o cluster da saúde e construirum modelo de cooperação inte-rinstitucional com as outras pro-fissões de saúde, com as associa-ções de doentes e com a socieda-de, em geral.

Estes desígnios só serão possí-veis alcançar com uma cultura decolaboração e com o envolvimen-to dos profissionais que represen-

tamos, bem como dos restantesparceiros do sector. No fundo, oque pretendemos desenvolver aolongo do mandato é uma estreitacolaboração entre os diferentesagentes e autoridades para que oscidadãos possam ter acesso amais e melhores cuidados de saú-de.— Quais os principias desafiosque o farmacêutico enfrenta?— A profissão farmacêutica estáem constante evolução e tem vin-

do a abraçar novos desafios aolongo dos anos. Actualmente, asociedade confia e reconhece nosfarmacêuticos um parceiro im-prescindível na resolução dos seusproblemas de saúde. Esta con-fiança foi conquistada com muitoesforço, com a aquisição de co-nhecimentos e competências emnovas áreas, emergentes, capaci-tando-se assim para responder àsnecessidades dos doentes.

Cabe também às autoridadesreconhecer legalmente este con-tributo que os farmacêuticos po-dem e devem dar para o desenvol-vimento dos sistemas de saúde. Atítulo de exemplo, temos vindo adefender a criação de uma carrei-ra farmacêutica no SNS de carizassistencial, reservada aos farma-cêuticos com vínculo à adminis-tração pública e transversal às di-

“Consideramos prioritá-rio reforçar o papel as-sistencial dos farmacêu-ticos no sistema de saú-de”

Rui Moreira de Sá

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Editorial

Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola |Janeiro/Março 2014 Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 7Janeiro/Junho 2016

O 1º Secretário da Embaixadade Angola em Portugal, AbreuMateus Breganha, acompan-hado por João Novo, no mo-mento em que convidava anova Bastonária a participarna III Semana da Farmácia An-golana. De acordo com odiplomata “o convite foi aceiteo que indicia um futuropromissor nas relações de co-operação entre a OF de Portu-gal e a OFA. Acredito que onível será alto e o futuro inter-essante. Acresce que a di-recção da OFA também édinâmica e tem feito um bomtrabalho”

legenda legenda

ferentes áreas profissionais.Outro aspecto igualmente

importante prende-se com odesenvolvimento profissionaldos farmacêuticos através deum modelo de aquisição decompetências farmacêuticas,quer específicas de áreas de ati-vidade, quer transversais. Nofundo, trata-se de consagrar le-galmente e de forma estruturalum conjunto de actividadesrealizadas por farmacêuticos eque aportam valor para o doen-te e para o sistema de saúde.

O papel da Ordem neste do-mínio passa pelo reconheci-mento das competências dosfarmacêuticos para a prestaçãode novos serviços, à semelhan-ça do que hoje acontece com aadministração de vacinas e me-dicamentos injetáveis e, embreve, no âmbito da dispensade medicamentos para oVIH/sida.—No seu discurso de tomadade posse afirmou que os far-

macêuticos são uma profis-são com futuro. Na sua pers-pectiva, como se desenha es-se futuro? Quais as tendên-cias?— O envelhecimento da popu-lação e o custo das tecnologiasde saúde são factores que estãoa condicionar a sustentabilida-de dos sistemas de saúde umpouco por todo o mundo. Os re-cursos que temos à disposiçãosão limitados e a sua gestão éhoje um dos principais desafiosdas sociedades modernas. Te-mos por isso de encontrar solu-ções que evitem a duplicaçãode esforços e o desperdício derecursos e, neste âmbito, a par-ticipação e o aproveitamentodas competências dos farma-cêuticos deve constituir umaprioridade para os sistemassaúde.

A efectiva integração destesprofissionais de saúde ao níveldos cuidados de saúde primá-rios, por exemplo, envolvendo-

se e colaborando com as equi-pas de saúde muito beneficiariaos cidadãos e o próprio País.

Acreditamos muito nos be-nefícios que podem advir da li-gação e do relacionamento en-tre os vários profissionais desaúde e as diferentes estruturasde saúde – públicas, privadas edo sector social (centros de saú-de, unidades de saúde familiar,pequenos consultórios priva-dos, laboratórios de análises clí-nicas, farmácias comunitárias,autarquias, escolas, etc.). Estouem crer que todos temos um pa-pel a desempenhar no apoio àspopulações, desde que devida-mente integrados e benefician-do das respectivas capacidadese aptidões: na promoção e edu-cação para a saúde, na preven-ção e no rastreio de doenças, noacompanhamento e na presta-ção de cuidados aos doentes; nareferenciação e encaminha-mento para cuidados especiali-zados.

A OF de Portugal tem um histó-rico de cooperação com os far-macêuticos angolanos quemuito a valoriza e à qual pre-tendemos dar continuidade.Temos um enorme orgulho emter participado e contribuídode alguma forma para a forma-ção de uma classe farmacêuti-ca no País e ter, inclusivamente,apoiado a criação da OF de An-gola.Recentemente, a Direcção Na-cional nomeou o novo Conse-lho para a Cooperação, queacompanhará mais de perto osprojetos de cooperação na áreafarmacêutica com os restantespaíses lusófonos. Este Conse-lho será presidido pelo Prof.Doutor Hélder Mota Filipe, umprofundo conhecedor da reali-dade do sector farmacêuticonos países africanos de línguaportuguesa, tendo inclusiva-mente desempenhado um im-portante papel na criação doFórum das Agências Regulado-ras do Medicamento do EspaçoLusófono (FARMED). Estamoscerto que os trabalhos que se-rão desenvolvidos no seio destaestrutura irão contemplar a co-laboração com os farmacêuti-cos e as autoridades angolanas,tendo como objetivo primor-dial assegurar a cobertura e aqualidade da assistência far-macêutica às populações.Não deixaremos de participarnas iniciativas promovidas pe-la nossa congénere angolana eestaremos sempre empenha-dos na defesa de um modelo deexercício profissional assentena autonomia, na capacitaçãotécnica e científica dos farma-cêuticos e na valorização doseu papel nos sistemas de saú-de.

Cooperação com a OFA

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Entrevista a Alina Sánchez

8 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola

Entrevista

" Precisamos formar os farmacêuticos para uma missão que vai mais além davenda ou dispensa de medicamentos"

Janeiro/Junho 2016

Cuidados farmacêuticos: um novomodelo de prática profissionalvoltado para o cuidado das pessoas

Cuidados Farmacêuticos - Sugestões paraum currículo de formação centrada no pa-ciente é o título da obra apresentada recen-temente em Luanda, da autoria da farma-cêutica, investigadora e professora universi-tária Alina Sánchez. Motivada pela "necessi-dade de aperfeiçoamento contínuo da forçafarmacêutica ao nível internacional" e pela"falta de informação e visibilidade do ensinofarmacêutico na África", a par do histórico dasua formação profissional "rodeada de estu-dantes africanos lusófonos", esta colega lan-çou mãos à obra e, no momento em que co-memora 20 anos de carreira, apresenta àclasse uma reflexão e uma proposta que, nodizer das suas próprias palavras, "gostariaque contribuisse para uma formação farma-cêutica de qualidade, através do aumentodo valor sócio-sanitário e económico dosfarmacêuticos no mercado, e da criação desólidos sistemas de desenvolvimento pro-fissional contínuo nos países alvo do projetoreferido".Na entrevista exclusiva que concedeu à Re-vista da OFA, a autora descreve o âmbito dolivro que "apresenta um tema significativopara os desígnios da profissão farmacêuticano momento em que a Farmácia discute aadopção de um novo modelo de práticaprofissional baseado numa prestação deserviços direccionado ao cuidado das pes-soas, por ora denominados Cuidados Far-macêuticos". E propõe "a adopção de umadisciplina docente como via didáctica para aimplementação dos cuidados farmacêuti-cos no currículo universitário".

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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 9Janeiro/Junho 2016

— De que trata o livro?— Trata-se de um livro que apre-senta um tema significativo paraos desígnios da profissão farma-cêutica no momento em que aFarmácia discute para si a adop-ção de um novo modelo de práti-ca profissional, fundamentado naprestação de serviços voltados pa-ra o cuidado das pessoas, e que,por ora, denominamos CuidadosFarmacêuticos.

O livro mostra uma perspecti-va social, epistemológica e reflexi-va sobre o cuidado ao paciente e aformação dos farmacêuticos paraa prática da atenção farmacêuti-ca. Ele também apresenta os fun-damentos teóricos e metodológi-cos necessários para implantaçãoda atenção farmacêutica na prá-tica, bem como as bases lógicas epedagógicas para que este mode-lo de prática profissional seja im-plementado nos programas de es-tudo de farmácia.

Por outro lado, o livro aborda atemática relacionada com a for-mação dos farmacêuticos no con-texto universitário, permitindoaos professores e estudantes co-nhecer e refletir sobre a universi-dade como instituição social, e oseu papel na construção do novoparadigma e status quo que sepretende conseguir, hoje em dia,no âmbito da profissão farmacêu-tica para o bem-estar dos pacien-tes e os praticantes.

Conteúdos relacionados coma formação dos professores para oensino farmacêutico são apresen-tados neste livro, resultando as-sim numa ferramenta prática pa-ra o aprimoramento das habilida-des pedagógicas e metodológicasdo corpo docente.— Quais os principais conteú-dos?— O primeiro capítulo apresentaos elementos básicos dos Cuida-dos Farmacêuticos, o seu concei-to, estrutura e processo. Descrevea actualidade deste conceito e asua particularidade em diferentescontextos, fornece dados sobre aactualidade da formação farma-cêutica e da formação em Cuida-dos Farmacêuticos.

O segundo capítulo descreve a

evolução da universidade en-quanto instituição social, ao ilus-trar a mudança de paradigma e astendências na formação do far-macêutico profissional.

O capítulo seguinte, o terceiro,expõe o processo de elaboraçãode um modelo curricular apoiadono conceito de cuidados farma-cêuticos, tomando como base asatividades profissionais que vãosurgindo nesta prática e introduz,como contributo da autora, o con-ceito de método clínico farmacêu-tico como fio condutor do projec-to curricular.

A proposta de uma disciplinadocente como via didáctica paraa implementação dos cuidadosfarmacêuticos no currículo, con-siderando os elementos cogniti-vos e as novas dimensões éticasque caracterizam os cuidados far-macêuticos como filosofia de prá-tica profissional é o principal con-teúdo do quarto capítulo. Descre-ve-se ainda a aplicação do MétodoDelphi para a convalidação doprograma.

Finalmente, no último capítu-

lo, apresentam-se reflexões e reco-mendações em redor da forma-ção do professorado para o ensinouniversitário no âmbito da forma-ção farmacêutica, ao abrigo do pa-radigma dos Cuidados Farmacêu-ticos.— E estes conteúdos – ensinoda farmácia, por exemplo –têm aplicação em Angola?— Os conteúdos apresentadosneste livro estão, sem dúvida, emlinha com as reformas e mudan-ças que acontecem no âmbito doensino e a prática farmacêuticaem Angola, e são também umaresposta às aspirações e objetivosde trabalho da Ordem dos Farma-cêuticos de Angola (OFA). No en-tanto, apresenta-se o conceito,processo e estrutura daquele mo-delo de prática, contextualizando,sob uma perspectiva histórica, agénese, organização e legitimaçãosocial dos Cuidados Farmacêuti-cos justificados pela constataçãoda dinâmica das relações sociaisque determinam o uso de medica-mentos nas sociedades. Estesconteúdos permitirão aos farma-cêuticos angolanos, antecipar so-luções às novas relações estabele-cidas entre a sociedade angolanaatual e os medicamentos. Aten-dendo à necessidade de uma prá-tica assistencial voltada paraatender uma demanda social re-levante: a prevalência do proble-ma da morbilidade e da mortali-dade relacionada ao uso de medi-camentos na sociedade.

Para o atendimento aos pa-cientes e gerenciamento da far-macoterapia o farmacêutico pre-cisa de desenvolver competênciasrelacionadas com o raciocínio clí-nico e com as habilidades comu-nicativas e de relacionamento in-terpessoal, conteúdos que passa-riam a formar parte dos progra-mas de estudo em Angola. Numcenário real, onde a prática farma-cêutica convive com as incertezas,com a dor e o sofrimento caracte-rísticos do processo de adoecer;urge a necessidade de um currícu-lo contextualizado do ponto devista biológico, emocional, social,cultural e histórico.— Quanto tempo demorou a

escrever o livro?— A pesquisa resumida neste li-vro demorou três anos, conside-rando todos os processos de ava-liação dos resultados e processa-mento de dados. Demoramos ain-da um ano para conseguir culmi-nar o processo de tradução e edi-ção do texto pela Mayamba Edito-ra. Importante acrescentar que osresultados teóricos e o modelo dedesenho curricular para o ensinofarmacêutico baseado na filosofiados cuidados farmacêuticos con-taram com a avaliação do Dr.Charles D. Hepler, Professor Dis-tinguido na Universidade da Flo-rida, USA (ele é o pai do conceitoCuidados Farmacêuticos (Phar-maceutical Care em sua denomi-nação original em inglês). Aliás, osresultados desta pesquisa referidano livro, contam com a avaliaçãopositiva da European Society ofPharmaceutical Students (EPSA),e outras personalidades de altoprestigio no âmbito do ensino e aprática farmacêutica como o Dr.Robert Elenbaas, Diretor Executi-vo do Colégio Americano de Far-mácia Clinica (ACCP).— O que a motivou a escrever?— No começo do ano 2015 eu crieio Projeto de DesenvolvimentoProfissional Contínuo para Far-macêuticos Africanos de Expres-são Portuguesa, sustentado nasideias da FIP sobre a necessidadede aperfeiçoamento contínuo daforça farmacêutica ao nível inter-nacional e a falta de informação evisibilidade do ensino farmacêu-tico na África, sendo esta últimauma preocupação da FIP. Ao mes-mo tempo, o conhecimento da ex-pansão da indústria farmacêuticano continente africano coloca-nos perante o imperativo de for-mar aos profissionais para cuidardas populações que usam medi-camentos, demanda social quevai aumentar levando em conta asprevisões de desenvolvimentoeconómico, aumento da esperan-ça de vida, e da demanda por me-dicamentos para o tratamento dedoenças crónicas na África, tudoo que faz deste continente um so-nho para uma indústria que pre-cisa olhar para novos mercados,

“Trata-se de um livroque apresenta um temasignificativo para os de-sígnios da profissão far-macêutica no momentoem que a Farmácia dis-cute para si a adopçãode um novo modelo deprática profissional, fun-damentado na presta-ção de serviços voltadospara o cuidado das pes-soas, e que, por ora, de-nominamos CuidadosFarmacêuticos.”

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Entrevista10 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

com o objetivo de garantir a suaexpansão global, realidades am-plamente descritas pela consulto-ra IMS Health. Entre outros da-dos, os estudos desta consultoraconcluem que, em 2016, as despe-sas farmacêuticas poderão, nocontinente africano, ascender a 30mil milhões de dólares. Deriva-sedesta realidade que precisamosformar os farmacêuticos parauma missão que vai mais além davenda ou dispensa de medica-mentos. Agora, trata-se de formá-los para realizar o seguimento domedicamento no paciente garan-tindo a segurança e aumentandoa qualidade de vida dos utentesque recebem a farmacoterapia.

Por outro lado, há uma motiva-ção ainda mais profunda e quetem a ver com o histórico da mi-nha formação profissional rodea-da de estudantes africanos lusófo-nos, muitos deles farmacêuticosactualmente praticantes em An-gola, Moçambique e Cabo Verde,entre diversos países africanos.Outros tiveram a oportunidade deser meus alunos, e eu gostaria decontribuir para uma formaçãofarmacêutica de qualidade, atra-vés do aumento do valor sócio-sa-nitário e económico dos farma-cêuticos no mercado, e da criaçãode sólidos sistemas de desenvolvi-mento profissional contínuo nospaíses alvo do projeto referido.— Com que objetivo?— Fornecer uma fonte bibliográ-fica para estudantes e professores,encarar o desafio do ensino dosCuidados Farmacêuticos, ao mes-mo tempo providenciar um guiametodológico para o desenvolvi-mento do processo de aperfeiçoa-mento dos programas de estudode farmácia e das reformas curri-culares, no âmbito das intençõesda Associação de Farmacêuticosdos Países de Língua Portuguesa(AFPLP) de estabelecimento deum currículo base para os estudosde farmácia nesses países, o queabrirá as possibilidades de possí-veis processos de acreditação deprogramas de estudo, homologa-ção e, portanto, mobilidade e reco-nhecimento da força farmacêuti-ca no contexto da África lusófona.

— Qual a importância destaobra para os farmacêuticos an-golanos?— Existe uma grande diferençaentre apoiar esta filosofia do exer-cício e a implantação da mesmano exercício diário da farmácia.Neste livro, os farmacêuticos an-golanos vão ter um referente parapreencher o vazio entre a filosofiado exercício e a sua implementa-ção a nível da formação do farma-cêutico num processo pedagógicoque se apoia nas relações farma-cêutico-paciente. Através deste li-vro os farmacêuticos angolanosterão as ferramentas básicas paracomeçar uma prática que permi-tirá fazer a diferença social e eco-nómica no âmbito farmacêutico,agregando valor às suas ativida-des profissionais, aumentando as-sim seu prestígio, crescimentopessoal e desenvolvimento de seunegócio mediante a fidelização deutentes/clientes.

No âmbito do ensino farma-cêutico, bem como na prática, aleitura desde livro permitirá con-tribuir para a maturidade da clas-se farmacêutica angolana, e dar osalto para o desenvolvimento deuma profissão centrada nas pes-soas, o que é a missão da profissãode Farmácia hoje, e para cujocumprimento são dirigidos todosos esforços de nossa clase ao nivelmundial.

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Eventos

Mais de 1500 congressistas vão debatertemas da maior relevância

Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 11Janeiro/Junho 2016

Actuação clínica, fitoterapia, estética, cosméticae nutracêuticos serão as principais áreas das ca-pacitações e debates

A Associação de Farmacêuti-cos dos Países de Língua Portu-guesa (AFPLP) e o Conselho Fe-deral de Farmácia (CFF), reali-zam em Gramado, Rio Grandedo Sul, Brasil, de 8 a 10 de No-vembro de 2016, em simultâ-neo, o XII Congresso Mundialde Farmacêuticos de LínguaPortuguesa, o V Simpósio dePlantas Medicinais e Fitoterá-picos no Sistema Público deSaúde, o Congresso Interna-cional de Fitoterapia, o I Con-gresso Brasileiro de FarmáciaEstética e o I Simpósio Farma-cêutico de Nutracêuticos.

Sob o lema "Vida em equilí-brio: saúde, beleza e bem-es-tar", destacados conferencis-tas estarão reunidos para de-bater temas e definições degrande relevância e abrangên-cia para a área farma-cêutica, num momentode plena ascensão e ex-pansão da profissão,em que as práticas clí-nicas se consolidam,criando um novo papelpara o farmacêuticoperante a saúde públi-ca e a sociedade.

A organização esti-ma a participação demais de 1.500 congres-sistas e considera tra-tar-se de uma “oportu-nidade ímpar de apro-ximação com órgãosque regulamentam eregem a profissão far-macêutica, e com pro-fissionais de expressivaactuação no mercadofarmacêutico mundial”.

De acordo com o presidentedo congresso, presidente daAFPLP e vice-presidente doCFF, Valmir de Santi, “as dis-cussões estarão voltadas paraa área clínica, já que, no mun-do inteiro, a atividade farma-cêutica está a avançar nestedomínio. Cada vez com maiorfrequência, os farmacêuticosestão a assumir funções que oscolocam mais focados no cui-dado ao paciente, não se res-tringindo ao medicamento”.

Temas principaisPalestrantes de língua portu-guesa compartilharão o knowhow em diversos aspectos liga-dos ao eixo principal da farmá-cia clínica. Uma mesa redonda,no início do evento, apresenta-rá um panorama das doençascrónicas no mundo e qual o pa-pel do farmacêutico que actuano acompanhamento e gestãode pacientes crónicos.

Esse eixo temático tambémcontará com duas mesas re-dondas para demonstrar as ex-periências da actuação em far-mácia clínica que tiveram êxitoa nível nacional e internacio-nal. Essas mesas redondas têmo intuito de aprimorar pessoalpara atuar e implantar servi-ços de saúde na área clínica.

Na mesa nacional, serãoapresentados casosde sucesso de farmá-cias ou hospitais queimplantaram servi-ços de acompanha-mento em vários mu-nicípios brasileiros.Na mesa internacio-nal, profissionais delíngua inglesa apre-sentarão experiênciasde desenvolvimento ede atuação do farma-cêutico na área clíni-ca nos seus países deorigem. E ainda sobrea prescrição farma-cêutica e o funciona-mento da área da far-mácia e a actuaçãoprofissional nos siste-mas de saúde daque-

les países.Na área da fitoterapia, as

discussões contarão com o en-volvimento dos ministérioscompetentes pela atividade fi-toterápica. O Ministério do De-senvolvimento Agrário (MDA)participará das mesas de deba-tes sobre o desenvolvimento deplantas medicinais.

A abordagem da fitoterapiaserá voltada principalmentepara a área pública. As mesasredondas discutirão as funçõesdos ministérios em questões

“Convidamostodos os far-macêuticosangolanos a

participaremneste grande

evento daprofissão”

Valmir de Santi

Presidente do Congresso

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Eventos12 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

Programa preliminar

Mesas redondas1 – A situação das doenças car-diovasculares e diabetes emPortugal e no Brasil; sua im-portância e a acção dos farma-cêuticos para seu controle2 – A farmácia clínica e a pre-scrição farmacêutica – Exper-iências internacionais3 – A Farmácia clínica e a pre-scrição farmacêutica – Exper-iências nacionais4 – Marco regulatório das novasatribuições dos farmacêuticos;a reformulação da RDC 44; opagamento de serviços; proto-colos para execução de acom-panhamento e prescrição far-macêutica, solicitação de exam-es e outras actividades

Palestras1 - A semiologia aplicada aotratamento de pacientes comtranstornos menores2 - Cuidados farmacêuticoscom pacientes geriátricos3 – Doença negligenciadas4 – Como transformar o farma-cêutico em líder e coordenadorde equipes de trabalho em suaatuação profissional5 – Implantação do serviço devacinação em farmácia comu-nitária: aspectos técnicos e legais6 – Aspectos fármaco-económi-cos no uso racional de medica-mentos7 – A utilização dos guias de

tratamento de sinais e sintomas(parte 01)8 - A utilização dos guias detratamento de sinais e sintomas(parte 02) 9 – Aspectos fármaco-económi-cos no uso racional de medica-mentos10 – Segurança do paciente nocontexto da farmácia hospitalare comunitária

Painéis1 – Organização do sistema desaúde; o acesso ao medicamen-to; a produção, distribuição edispensação de medicamentosem países de língua portuguesaem África2 – O processo de trabalho dofarmacêutico nos países de lín-gua portuguesa

Minicursos1 – Semiologia para prescriçãofarmacêutica2 – Solicitação e interpretaçãode exames para o acompan-hamento de pacientes3 – Estratégias para que a far-mácia de farmacêutico se man-tenha no mercado como estab-elecimento de saúde.4 – Como assegurar a terapêuti-ca correcta em pacientes idosos5 - Implantação do consultóriofarmacêutico para acompan-hamento de pacientes: aspectostécnicos e legais6 – Serviços e procedimentosfarmacêuticos: como fazer?

A beleza de GramadoGramado está localizado nocoração da região das hortênsias.Considerada a cidade mais bonitada serra gaúcha, é marcada pelabeleza de suas ruas e atractivos,além de ser o maior pólo turístico doRio Grande do Sul e um dos mais im-portantes do Brasil. Aqui o clássico eo moderno encontram-se, a herançagermânica apresenta-se na arqui-tectura enxaimel da Bavária, a cul-tura italiana está presente na fartagastronomia. Seja no inverno comas temperaturas abaixo de zero, ouna primavera quando florescem ashortênsias, Gramado é um lugarideal para quem busca tranquili-dade e aconchego, ou simplesmentesentir-se bem num local charmosodesfrutando os famosos chocolatese deliciando-se nos cafés coloniais.

como financiamento e novosprojetos nas áreas de plantasmedicinais e fitoterápicos. Ha-verá, ainda, uma visita a umaparceria produtiva na região deNova Petrópolis, próximo aGramado, onde agricultores eindústria mantêm uma relaçãopróxima que vai da produção àutilização da planta medicinaltransformada em fitoterápico.Serão apresentados, ainda, mo-delos internacionais de formamais ampla e também seráabordada a pesquisa e desen-volvimento industrial. Dentreas atividades da fitoterapia, de-correrá em paralelo a reuniãodo comitê temático da farma-copeia homeopática brasileira.

Estética e cosméticaNa área da estética e cosmética,uma atividade nova que os far-macêuticos estão agora a assu-mir, a intenção é divulgar essenovo campo de trabalho. Far-macêuticos que já actuam eque desejam actuar em estéti-ca e cosmética terão acesso àsnovidades destas áreas.

Há ainda a intenção de fun-dar, durante o Congresso, a So-ciedade Brasileira de Estética eCosmética.

A área de nutracêuticos se-

gue o mesmo conceito. A áreacombina nutrição e farmácia eestuda os componentes pre-sentes nos alimentos para des-cobrir benefícios à saúde e pre-venção de doenças.

O simpósio de nutracêuti-cos trabalhará a prescrição far-macêutica, que já existe há al-gum tempo, mas que ainda nãoteve uma abordagem direta co-mo a que o Congresso oferece-rá.

O preço de inscrição é de 500reais (cerca de 150 dólares nor-te-americanos).

Orientações para submissão de trabalhos

Os trabalhos científicos devemser submetidos através do e-mail: [email protected]

Para submissão de resumode trabalho científico, é obriga-tória a inscrição de pelo menosum autor no Congresso. A ins-crição no Congresso dá direitoà submissão de até dois traba-lhos. Áreas de conhecimento:Área 1 - Farmácia clínicaÁrea 2 - Plantas medicinais e fi-toterapiaÁrea 3 - Farmácia estéticaÁrea 4 - Nutracêuticos e suple-mentos alimentares

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O objectivo é discutir a importância da comuni-cação na relação farmacêutico e paciente como umrecurso pedagógico profissional, no desenvolvi-mento do processo de Aconselhamento Farmacêu-tico - Atenção Farmacêutica nas farmácias comu-nitárias e hospitalares. A relação entre ambos éconstituída por um processo de aprendizagem,sen-do o farmacêutico um facilitador da aprendizagemcom o seu paciente.

A sua função é informar correctamente sobre ouso do medicamento; ensinar, não apenas transmi-tindo as informações, mas criando as condições pa-ra que o paciente as adquira de forma proveitosa eefectiva, organizando estratégias para o aprendiza-do da terapia prescrita.

Do ponto de vista da saúde pública, as farmáciassão importantes locais para busca de atendimentoe possível porta de entrada de pacientes no sistemade saúde; os farmacêuticos são os profissionais desaúde mais disponíveis para a população em geral.

Neste contexto, os serviços farmacêuticos sãotão relevantes para o cuidado ao paciente quantoos serviços providos por outros profissionais desaúde.

Isto proporciona aos farmacêuticos a oportuni-dade de prover o aconselhamento aos pacientes,interagir e discutir as suas necessidades, fornecerinformação sobre medicamentos e sobre o cuidadode doenças, incluindo a busca de outros profissio-nais.

Portanto, as suas ações apoiam o sistema desaúde e adquirem confiança pública.

O aconselhamento farmacêuticoAconselhamento é entendido como um processoindividualizado de escuta activa e centrado no pa-ciente. Pressupõe, a capacidade de estabelecer umarelação de confiança entre os interlocutores, nestecaso, farmacêutico e paciente, visando fortaleceras habilidades do paciente na condução do seu tra-tamento e na solução de problemas para melhorarou manter a sua saúde e qualidade de vida.

De acordo com o entendimento actual, deve serum processo interativo e bidirecional de comuni-cação em que os participantes, farmacêutico e pa-ciente, são convidados a dar respostas e a solicitarinformações adicionais, se assim o desejarem.

Além disso, fortalece o relacionamento entre oprofissional da saúde e o paciente, o que cria uma

atmosfera de confiança e pode aumentar a adesãoao tratamento. Embora haja entendimento corren-te de que o objectivo do aconselhamento seja a pro-moção da adesão, esta abordagem está a ser subs-tituída por um modelo mais recente de interacçãoentre profissional da saúde e paciente, denominadoconcordância.

Nesta abordagem, o papel do farmacêutico éapoiar o paciente na construção do seu próprio co-nhecimento e de atitudes com vista ao uso dos seusmedicamentos.

No aconselhamento ao paciente, o farmacêuticopode orientá-lo sobre o uso correcto dos medica-mentos prescritos e não prescritos, com vista a me-lhorar os efeitos terapêuticos e reduzir a probabili-dade de aparecimento de efeitos adversos e toxici-dade.

Pode também informar sobre cuidados com asaúde e higiene de modo a prevenir complicaçõese doenças e/ou melhorar seu estado geral.

O aconselhamento pode ser focado para um pa-ciente individual, geralmente com base numa re-ceita específica, ou ser direcionado a grupos de au-toajuda, grupos de portadores de doenças especí-ficas, turmas escolares, associação de moradoresou outros.

Os benefícios do aconselhamento As acções de aconselhamento não sejam exclusivasdos farmacêuticos. Mas, como estes realizam a en-trega de medicamentos, têm a oportunidade e res-ponsabilidade, inclusive ética, de aconselhar o pa-ciente antes de ele iniciar o tratamento.

Benefícios para o paciente — Torna-se capaz de tomar decisões apropriadassobre regime terapêutico de medicamentos pres-critos e não prescritos.— Entende a utilidade dos medicamentos paramanter ou promover o seu bem estar.— Compreende as orientações para lidar com ospossíveis efeitos adversos e interações medicamen-tosas.— Torna-se mais informado e participativo no tra-tamento da sua doença e no manejo do seu auto-cuidado.Benefícios para o farmacêutico — Satisfação por servir ao paciente e contribuir pa-ra seu bem-estar.

Dr.ª Helena Vilhena

Comunicação paciente - farmacêutico

Dr.ª Lucinda Figueiredo

Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 13

Conselho FarmacêuticoJaneiro/Junho 2016

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Conselho Farmacêutico14 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

— Satisfação por cumprir plenamente a sua obri-gação profissional.— Melhora a confiança do paciente nos serviçosprestados pelo farmacêutico.— Aproximação com outros provedores de cuida-dos à saúde e reconhecimento como tal.

Recursos úteis para melhorar o aconselhamentoPara alcançar melhores resultados no aconselha-mento ao paciente, recomenda-se combinar infor-mação oral e escrita.

Como as bulas dos medicamentos muitas vezespodem não ser compreensíveis para os usuários,pode ser necessário o uso de outros materiais edu-cativos para reforçar a comunicação e ter a certezade que o paciente sabe como utilizar os seus medi-camentos. Os materiais desenvolvidos para o acon-selhamento ou que são relatados na literatura in-cluem, por exemplo:— Slides de educação ao paciente, que podem serapresentados durante as sessões de aconselhamen-to;— Panfletos educativos (instruções escritas ou im-pressas);— Materiais que auxiliam a adesão, tais como cor-tadores de comprimidos, inaladores, monitores deglicemia, etc.;— Fichas de medicamentos, listando todos os me-dicamentos que o paciente está a usar, com as res-pectivas posologias;— Pictogramas relacionados com medicamentospodem ajudar na comunicação com alguns gruposde pessoas, especialmente se houver a barreira dalíngua ou linguagem, baixa habilidade de leitura oudeficiência visual.— A farmácia deverá ter áreas, claramente demar-cadas e identificadas para actividades de entrega.Se a área de atendimento não garantir privacidadesuficiente, deverá haver uma sala destinada aoaconselhamento. O ideal é uma sala com isolamen-to acústico, para garantir privacidade aos usuários.Outra opção seria uma área separada, visivelmenteidentificada como “Área de Aconselhamento ao Pa-ciente”, com um aviso indicando que o farmacêu-tico está disponível para este serviço.

Aspectos e informações a serem considerados no aconselhamentoNa actividade de aconselhamento, os profissionais

de saúde devem reconhecer cada paciente comoser humano único, com histórias de vida, proble-mas de saúde, contexto social e necessidades espe-cíficas.

Não existem roteiros ou manuais para se esta-belecer um aconselhamento farmacêutico efectivo,mas algumas recomendações podem ser dadas pa-ra que este processo seja mais produtivo.

De acordo com o perfil de cada paciente, itensdiferentes podem ser abordados, com maior oumenor ênfase, mas o conteúdo básico a ser focadodeve abranger a discussão sobre as enfermidadesapresentadas, o seu tratamento e hábitos saudáveisde vida.

Durante o processo, é importante fazer com queo paciente reflicta sobre os determinantes da suasaúde e suas doenças e que compreenda a sua par-ticipação activa no processo terapêutico.

Com relação ao tratamento farmacológico, du-rante o aconselhamento o paciente deve receber in-formações objectivas como dose, duração do tra-tamento, forma de administração, uso de disposi-tivos, possíveis reacções adversas, entre outras. De-ve também receber informações mais específicascomo o porquê da utilização, os benefícios do seuuso e os riscos da não utilização. Deve-se avaliar ocontexto social do paciente e sua rotina de vida e detrabalho. As percepções e crenças com relação àdoença e ao tratamento também precisam ser in-vestigadas.

Considerações finaisApesar dos reconhecidos benefícios que o aconse-lhamento apropriado pode trazer ao paciente, pou-ca atenção é dada ao desenvolvimento de habilida-des de comunicação, ponto fundamental para estaprática.

Contudo, é possível desenvolvê-las continua-mente, por meio de educação permanente.

Além disso, algumas atitudes podem fazer a dife-rença e ser benéficas para mudar o cenário actual, co-mo, por exemplo, esquecer mitos sobre o comporta-mento passivo do paciente, adoptar uma nova abor-dagem e centrar o atendimento no paciente.

Outro aspecto, que parece não ser corrente é oregisto e documentação das actividades. É impor-tante que os trabalhos em andamento, mesmo queincipientes, sejam divulgados por meio de artigoscientíficos ou comunicações breves em congres-sos.

Referências bibliográficas1.World Health Organization. Promoting rational use of medicines: core components. Geneva: World Health Organization; 2002.2. Naves JOS, Merchan-Hamann E, Silver L. Orientação Farmacêutica para DST: Uma proposta de sistematização. Ciênc Saúde Colet. 2005; 10(4): 1005-1014.3. World Health Organization. International Pharmaceutical Federation. e role of the pharmacist in the fight against the HIV-AIDS pandemic: a joint de-claration between the WHO and FIP. Genebra: OMS; 1997.4. International Pharmaceutical Students’ Federation, International Pharmaceutical Federation. Counseling, Concordance and Communication. InnovativeEducation for Pharmacists; 2005.5.Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico.4ªedição. Brasília. Ministério da Saúde; 2002.6. Brandão A. Entrevista/Divaldo Lyra Júnior. Comunicação paciente/farmacêutico: um instrumento libertário e essencial no trabalho do profissional e napromoção da saúde. Pharmacia Brasileira. Janeiro-Fevereiro, 2005; p. 6-10.7. Marin N, Luiza VL, Osório-de-Castro CGS, Machado-dos-Santos S. (org.). Assistência Farmacêutica para gerentes municipais. Rio de Janeiro: OPAS/OMS,2003. p. 239-60.Fonte: Adaptação de Reddy MVSPP, Vaidya R. How community pharmacists can promote

Do ponto devista da saúdepública, as far-mácias são im-portantes lo-cais para bus-ca de atendi-mento e possí-vel porta deentrada de pa-cientes no sis-tema de saú-de; os farma-cêuticos são osprofissionaisde saúde maisdisponíveispara a popula-ção em geral.

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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 15Janeiro/Junho 2016

Folha Farmacoterapêutica

Órgão informativoCINFARMA– Centro de Informação Farmacêutica no

Departamento de FarmacovigilânciaDNME/MINSA

ANO 3 N.º 9/10 - Janeiro a Junho de 2016

MENSAGEM DE ABERTURA

Todo o nosso esforço tem umúnico objectivo: proporcio-nar-lhe, a si e à sua família,melhores dias. Com o seuapoio e amizade atingimosgrandes metas, e outras nosesperam. Sentimo-nos realiza-dos com a sua alegria, prospe-ridade e felicidade, bem comocom a valorização da nossaprofissão. Acreditamos que é precisoacreditar.Acreditamos que só acredi-tando é possível construir.Acreditamos que só cons-truindo conseguiremos ven-cer.Acreditamos na nossa profis-são. Em si.Por isso, apresentamos-lhemais um feito farmacêuticoque gostaríamos que fizesseparte do seu quotidiano labo-ral, para a sua actualizaçãoprofissional. Pedimos-lhe quecontribua para a sua melho-ria. Esta Folha Farmacoterapêuti-cas estará sempre presente nasua Revista da OFA.

Abrace esta causa.

O Director NacionalBoaventura Moura

USO PROLONGADO DE BENZODIAZEPÍNICOSEM IDOSOS, DECLÍNIO COGNITIVO E O POSSÍVEL AUMENTO DO RISCO

DE ALZHEIMEREm 1955, Sternbach sintetizou um composto químico presumi-damente inactivo, o Ro 5-0690, ou clordiazepóxido. Foi aciden-talmente analisado em 1960 e constataram-se as suas proprieda-des miorrelaxantes, sedativas e ansiolíticas. Teve início, assim, aera dos benzodiazepínicos. Nas décadas seguintes, esta classe demedicamentos mostrou grande popularidade e foram desenvol-vidos cerca de três mil benzodiazepínicos com maior tolerabili-dade e segurança que os barbitúricos e outros sedativos que osprecederam.1

Actualmente, existem cinquenta benzodiazepínicos aces-síveis no mercado mundial. Estudos disponíveis, baseados emanálises de bases de dados de vários países, as quais reúnemnúmeros de prescrições e vendas em farmácias que servempara avaliar o seu uso médico, indicam que as vendas aumen-taram a partir da década de setenta. Predomina o uso de com-postos de alta potência, prescritos principalmente no âmbitoda atenção primária.2,3

Os benzodiazepínicos compõem uma classe de medica-mentos indiscutivelmente valiosos, muito utilizados para ocontrolo de transtornos de ansiedade e insónia transitória,sendo relativamente comum o seu uso crónico.

No entanto, o uso prolongado de benzodiazepínicos (tran-quilizantes, soníferos) aumenta o risco de Alzheimer, segundorevelam os primeiros resultados de um estudo francês, divul-gados pela revista Sciences et Avenir (Ciência e Futuro).

Segundo o estudo, em França, são registados entre 16 e 31mil casos anuais de Alzheimer provocados por tratamentoscom benzodiazepínicos (BZD), ou medicamentos semelhan-tes, e seus genéricos (Valium, Temesta, Xanax, Lexomil, Stil-nox, Mogadon, Tranxène, entre outros).

O encarregado do estudo, o professor Bernard Begaud (In-serm/ Universidade de Bordeaux), referiu-se às constataçõescomo "uma verdadeira bomba". "As autoridades precisam rea-gir", acrescentou, em declarações à revista. "Devem agir muitomais, se levarem em conta que, de nove estudos, seis vão nosentido de uma relação entre o consumo de tranquilizantes esoníferos prolongada e a doença de Alzheimer." Begaud rele-vou o caso do moderador de apetite Mediator, que pode tercausado mais de duas mil mortes entre 1998 e 2009.

O estudo foi realizado com 3777 indivíduos de 65 anos oumais que tomaram BZD durante períodos de dois a dez anos."Ao contrário das quedas e fracturas causadas por estes medi-camentos, os efeitos cerebrais não são imediatamente percep-tíveis, tendo que se aguardar alguns anos para que apareçam",afirmou o pesquisador. "Se em epidemiologia é difícil estabe-lecer uma relação directa de causa e efeito, quando há umasuspeita, parece normal agir e tentar limitar as prescrições

inúteis, que são muitas."A revista destacou que embora o aumento do risco – entre

20 e 50 por cento – possa parecer pouco em escala individual,não o é ao nível da população, dado o elevado consumo destesmedicamentos por idosos. Segundo o professor Begaud, 30por cento dos maiores de 65 anos consomem BZD, na maioriadas vezes de forma crónica. As prescrições são, regularmente,limitadas a duas semanas para os hipnóticos e doze semanaspara os ansiolíticos.

A forma como os BZD actuam no cérebro, fazendo aumen-tar o risco desta doença, continua a ser um mistério. O proble-ma já tinha sido mencionado em 2006, num relatório do Ga-binete Parlamentar de Políticas de Saúde sobre Remédios Psi-cotrópicos. "Depois não se fez nada", criticou o especialista. "Omínimo que podemos fazer é cumprir as regras que nós mes-mos aprovamos. Ou seja, limitar a duração do uso dessas dro-gas", sugeriu.4

Enquanto os efeitos deletérios agudos dos benzodiazepí-nicos sobre a memória e cognição estão bem documenta-dos1,2,3,4, a possibilidade de um aumento do risco de demênciaé ainda uma questão em debate.

O aumento do risco de demência, particularmente de Alz-heimer, nos doentes que tomam benzodiazepínicos, particu-larmente a longo prazo, fornece argumentos para avaliar cui-dadosamente as indicações para a utilização desta classe demedicamentos.

Foi também recentemente publicada uma pesquisa na re-vista médica British Medical Journal que investigou a relaçãoentre o risco de doença de Alzheimer e a utilização de benzo-diazepínicos. Os resultados demonstraram uma forte corre-lação entre o uso prévio de benzodiazepínicos e o risco de de-senvolver Alzheimer. Risco este que pode aumentar em 50 porcento, comparativamente às pessoas que não usaram o me-dicamento. A associação é maior quanto maior o uso. Por ou-tro lado, os participantes que utilizaram a medicação por me-nos de três meses não tiveram risco aumentado.

FREQUÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DE BENZODIAZEPÍNICOSEM IDOSOSOs benzodiazepínicos estão entre os medicamentos maisprescritos mundialmente. Os Estados Unidos da América re-gistaram mais de 112 milhões de receitas em 2007 e estima-seque 10 a 15 por cento da sua população faça uso deles. Um es-tudo realizado em 2013, no Canadá, demonstrou que o uso debenzodiazepínicos excedeu o uso de antipsicóticos na popu-lação feminina acima de 60 anos, principalmente se associa-dos ao Zolpidem e Zopiclone.10

REPÚBLICA DE ANGOLAMINISTÉRIO DA SAÚDEDIRECÇÃO NACIONAL

DE MEDICAMENTOS E EQUIPAMENTOS

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Folha Farmacoterapêutica16 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

A prevalência da sua utilização nos países europeusainda é alta, apesar de se ter registado um declínio esubstituição da sua prescrição por antidepressivos des-de a década de noventa. Na Suécia, um estudo realizadoem 188 024 idosos corrobora estes dados e revela que asprescrições são geralmente feitas por médicos de clínicageral, raramente por psiquiatras ou geriatras.11 O mesmoocorre na Holanda, onde, em 2007, fora registadas maisde dez milhões de prescrições de benzodiazepínicos a1,8 milhões de indivíduos.12

Um estudo de coorte realizado em Israel, nos anos1989 e 1999, em duas amostras nacionalmente represen-tativas de 1621 pacientes com idades compreendidasentre os 75 e os 94 anos, revelou que a utilização de psi-cotrópicos era de 13,7 a 14,5 por cento, sendo que entre85 e 90 por cento destes foram benzodiazepínicos13

Na Argentina, observa-se que a percentagem deprescrição de benzodiazepínicos é superior à observadana Europa e na América do Norte. Num hospital geriá-trico com 179 idosos, chegou a mais de 50 por cento.14

No Chile, a prevalência da utilização crónica foi de 10,3por cento numa amostra de 1081 idosos na atenção pri-mária de uma comunidade, com proporção de sexo detrês mulheres para um homem.15

No Brasil, o Sistema Nacional de Gerenciamento deProdutos Controlados da Agência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa) apresentou um panorama obtidopor intermédio de análises quantitativas referentes aoperíodo entre 2007 e 2010, durante o qual foram obser-vadas poucas alterações nos medicamentos mais con-

sumidos pela população geral do país, sendo os princi-pais o Clonazepam, Bromazepam e Alprazolam – ben-zodiazepínicos que, juntos, somam mais de vinte mi-lhões de unidades físicas dispensadas (UFD) por ano.

De acordo com o grupo estudado, a frequência douso de benzodiazepínicos em idosos no Brasil é variável.Um estudo realizado em São Paulo, baseado em 1115idosos com 65 anos de idade ou mais, mostrou que a pre-valência do uso de psicotrópicos foi equivalente a 12,2por cento, com predomínio dos benzodiazepínicos,principalmente no sexo feminino e associado ao usoconcomitante de dois ou mais fármacos (polifarmá-cia).16.17

MECANISMO DE ACÇÃO DOS BENZODIAZEPÍNICOSEM IDOSOSA gravidade dos efeitos adversos dos benzodiazepínicosna atenção, concentração e memória exige cautela nasua prescrição, devendo ser considerado o risco de de-senvolver tolerância e dependência fisiológica, associa-dos à idade do paciente e às interacções medicamento-sas.

Os benzodiazepínicos actuam como moduladoresalostéricos positivos nos receptores GABA-A, ligadosaos canais de cloro, que podem ser BZ1 e BZ2. A activa-ção desses receptores tem uma acção inibitória, comredução da excitabilidade dos neurónios. Os receptoresBZ1 estão concentrados no córtex cerebral, no tálamoe no cerebelo, o que promove um efeito sedativo, amné-sia anterógrada e uma acção anticonvulsivante.18,19 O

maior risco de amnésia encontra-se directamente rela-cionado com a lipossolubilidade do benzodiazepínicoem questão.19

Os receptores BZ2 concentram-se no sistema lím-bico e nos neurónios motores e medeiam os efeitos an-siolíticos e miorrelaxantes.19

Enquanto os benzodiazepínicos de acção rápidatêm meia vida de 1 a 12 horas, os benzodiazepínicos deacção intermediária têm meia-vida de 12 a 40 horas eos de acção prolongada, que são os mais prescritos, têmmeia-vida média de eliminação de 40 a 250 horas.10,

15,1618,19,20,21

Com o envelhecimento, as pessoas sofrem de umdeclínio constante dos mecanismos homeostáticos,principalmente no sistema nervoso central, no fígadoe nos rins. No sistema nervoso central, ocorre o proces-so de morte neuronal, com proliferação de células gliais,diminuição de enzimas intracelulares e redução do nú-mero de sinapses dendríticas.21 No fígado, observa-seuma redução da metabolização de medicamentos e,nos rins, um declínio funcional depois dos 40 anos deidade, com uma taxa de 1 por cento ao ano.22

Na sua totalidade, as mudanças fisiológicas relacio-nadas ao envelhecimento são particularmente impor-tantes em termos de acumulação dos benzodiazepíni-cos. O aumento da sensibilidade ao medicamento en-contra-se directamente associado à acumulação debenzodiazepínicos e aos seus metabólitos activos. Oseu efeito nos idosos é, então, mais prolongado e inten-so.

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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 17Janeiro/Junho 2016

TABELA1 - MEDICAMENTOS E CLASSES TERAPÊUTICAS ASSOCIADAS A REACÇÕES ADVERSAS E POTENCIALMENTE IMPRÓPRIOS PARA IDOSOS

Grupo Medicamento Possíveis consequências

Antidepresivos tricíclicos amitriptilina efeitos anticolinérgicos e hipotensão ortostáticaAntiagregantes plaquetários dipiridamol eventos adversos no SNC e hipotensão ortostática

ticlopidina não apresenta vantagens sobre o ácido acetilsalicílico, além de ser muito mais tóxicoAnti-histamínicos dexclorfeniramina efeitos anticolinérgicos potentes; sedação prolongada

prometazinaAnti-hipertensivos metildopa exacerbação de quadros depressivos; bradicardia

clonidina alto risco de hipotensão ortostática, depressão e sedaçãoreserpina

Inibidores seletivos de recaptação da serotonina fluoxetina estimulação do SNC, agitação e distúrbios do sonoAntiarrítmicos amiodarona alterações do intervalo QT; arritmias graves, como torsades de pointes

disopiramida efeito inotrópico negativo e efeitos anticolinérgicosAntiinflamatórios não-hormonais fenilbutazona agranulocitose e eventos adversos no SNC

indometacinaAnti-inflamatórios não-hormonais naproxeno risco de sangramento gastrointestinal, insuficiência cardíaca e hipertensão arterialde meia-vida longa, ou usados em piroxicamdoses elevadas por tempo prolongado tenoxicamAntianémicos sulfato ferroso eventos adversos no SNC, principalmente confusão mental

em dose >325mgHipoglicemiantes orais clorpropamida hipoglicemia prolongada e síndrome de secreção inapropriada de hormônioantidiuréticoBloqueadores de canais de cálcio nifedipina de meia-vida hipotensão; constipação

curtaBenzodiazepínicos de meia-vida longa diazepam sedação; possibilidade de quedas e fracturas

flurazepambromazepam

Benzodiazepínicos de meia-vida curta, lorazepam > 3mg considerando o aumento da sensibilidade aos benzodiazepínicos apresentado por idosos, conforme a dose oxazepam >60mg doses menores são mais seguras e tão efetivas quanto as maiores

alprazolam >2mgtriazolam >0,25mg

Barbitúricos todos menos incidência muito maior de eventos adversos em idosos que a maioriao fenobarbital, dos medicamentos sedativos e/ou hipnóticosexceto quando usados para otratamento de convulsões

Glicosídeos cardiotónicos digoxina maior risco de toxicidade digitálicaem dose >0,125mg

Agentes antiespasmódicos hioscina efeitos anticolinérgicos; efectividade questionável nas doses toleradas por idososgastrointestinais butilescopolaminaRelaxantes musculares carisoprodol efeitos anticolinérgicos; efectividade questionável nas doses toleradas por idososeantiespasmódicos ciclobenzaprina,

oxibutininaAgentes analgésicos propoxifeno possibilidade de dependência, sedação e confusão mental; toxicidade cardíaca;

pentazocina a potência analgésica é baixameperidina confusão e alucinações

confusão mentalAntibióticos nitrofurantoína risco elevado de insuficiência renalAgentes hormonais metiltestosterona hipertrofia prostática e cardiopatias

estrógenos orais isolados evidências de potencial carcinogénico sem comprovação de efeito cardioprotetor em idosas

Diuréticos ácido etacrínico potencial para hipotensão e distúrbios hidroeletrolíticosLaxativos estimulantes dulcolax, cáscara sagrada risco de exacerbação de disfunções motoras do intestinousados por tempo prolongado óleo mineral risco de aspiração

Agentes anoréxicos anfetaminas risco de dependência, hipertensão, angina e infarto do miocárdioAntipsicóticos tioridazina risco importante de eventos adversos extra-piramidais e no SNC

mesoridazin

Fonte: Adaptado de FICK et al, 2003

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Folha Farmacoterapêutica18 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

BENZODIAZEPÍNICOS E DECLÍNIO COGNITIVOVários estudos sugerem uma correlação entre o declíniocognitivo em idosos, a doença de Alzheimer e o uso cró-nico de psicotrópicos, entre eles os benzodiazepíni-cos.20,21,24,27-29 Estudos observacionais acompanhadoscom escalas mini-mental state exam (MMSE)25e clini-cal dementia rating (CDR)24 relatam o facto com o usode antipsicóticos e benzodiazepínicos, mas não antide-pressivos, em, respectivamente, 335 e 224 pacientes comdoença de Alzheimer.

Lopez e colaboradores,27 num estudo longitudinalcom 179 participantes com doença de Alzheimer e umgrupo de controlo sem uso de psicotrópicos, acompa-nhados ao longo de quatro anos, observaram que o usode sedativos, incluindo benzodiazepínicos, encontrava-se associado a um aumento duplo no risco de mortali-dade e também do risco de deterioração funcional.

Um estudo finlandês revelou uma frequência de uti-lização de benzodiazepínico de 73 por cento numa po-pulação de 565 idosos26, sendo que em dois terços tam-bém foi observada uma queda na pontuação do examemínimo do estado mental, principalmente nas mulhe-res, após 7,6 anos de seguimento.

Considerando-se que o declínio cognitivo implicaum pior desempenho em tarefas motoras, ocorreria aquitambém um efeito adicional dos benzodiazepínicos namaior incidência de quedas nessa população.30,31

No entanto, dada a prevalência de polifarmácia emidosos, os estudos são limitados e não têm o poder dedistinguir efeitos de medicamentos individualmente.Dadas essas limitações, não pode ser descartada a pos-sibilidade de os medicamentos psicotrópicos terem umefeito deletério no curso clínico da doença de Alzhei-mer.25-29

RISCOS DO USO CRÓNICO DE BENZODIAZEPÍNICOSPOR IDOSOS32

• Tremores• Quedas • Fracturas• Lentidão Psicomotora

• Comprometimento cognitivo • Amnésia • Diminuição da atenção • Dependência

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA E SAÚDEPÚBLICA6

As benzodiazepínicos são fármacos indiscutivelmentevaliosos para o controlo de transtornos de ansiedade einsónia transitória. Como indicado nas directrizes in-ternacionais, no entanto, os tratamentos devem ser decurta duração e não superior a três meses.

O nosso estudo reforça a suspeita de um risco au-mentado de demência de tipo Alzheimer entre os utili-zadores de benzodiazepínicos, particularmente a longoprazo, e fornece argumentos para avaliar cuidadosa-mente as indicações para o uso desta classe de medica-mentos. Os nossos resultados são de uma importânciaextrema para a saúde pública, particularmente consi-derando a prevalência e comicidade do uso de benzo-diazepínicos em idosos e a elevada e crescente incidên-cia de demência nos países desenvolvidos. Em tais con-dições, um aumento do risco de 43 a 51 por cento podegerar um grande número de casos de excesso, mesmoem países onde a prevalência do uso destes fármacosnão é alta.

Até à data, nenhum tratamento preventivo ou cura-tivo demonstrou ser satisfatoriamente eficaz na doençade Alzheimer. Por esta razão, a busca de factores de riscomodificáveis putativos deve ser priorizada. O uso pro-longado de benzodiazepínicos e outros medicamentossemelhantes, tais como ansiolíticos e hipnóticos, pode-ria ser um candidato plausível, dada a sua associaçãocom a doença de Alzheimer. Este factor é tipicamentemodificável através da limitação da sua utilização,quenão deve exceder os três meses. A sua utilização fora dasrecomendações internacionais e sem uma justificaçãoterapêutica priori parece estar associada a um risco ex-cessivo. Este impacto putativo, adicionado a outras con-sequências adversas, tais como fracturas relacionadascom quedas, 65 deve ser seriamente considerado pelosórgãos reguladores e prescritores. É portanto crucial que

estas evidências sejam utilizadas para incentivar os mé-dicos a equilibrar cuidadosamente riscos e benefíciosao iniciar ou renovar um tratamento com benzodiaze-pínicos e produtos relacionados em pacientes mais ve-lhos. Apesar da falta de dados em adultos mais jovens, oideal é seguir o princípio da precaução, pelo que a reco-mendação deve ser estendida também a estes.

MEDICAMENTOS POTENCIALMENTE IMPRÓPRIOSPARA IDOSOSA toma de medicamentos envolve uma sequência deetapas – prescrição, comunicação, dispensação, admi-nistração e acompanhamento clínico – o que a torna umacto complexo e vulnerável às iatrogenias, particular-mente em idosos.

A lista de critérios de Beers-Fick da tabela 1 é umaferramenta indispensável para orientar o uso de medi-camentos inapropriados por idosos e para evitar os efei-tos secundários causados pela sua utilização inadequa-da. No entanto, os profissionais de saúde carecem de co-nhecimento sobre a prescrição destes medicamentos aidosos. Além disso, a pouca disponibilidade de medica-mentos adequados para idosos nos nossos serviços pú-blicos de saúde, muito procurados por eles, aumenta orisco do uso desses medicamentos nesta população.33

CONSIDERAÇÕES FINAISOs benzodiazepínicos são fármacos ansiolíticos usadosno tratamento da ansiedade. Em geral, apresentam bai-xa toxicidade. Porém, o uso por parte de idosos merecebastante atenção, já que na terceira idade existem mu-danças na capacidade de absorção.

É, por isso, de suma importância que o paciente ido-so seja bem orientado de forma esclarecedora, em espe-cial pelo profissional farmacêutico, pois, assim, vai as-segurar a correcta utilização dos medicamentos pelospacientes idosos, contribuindo para o seu uso racional.Deve fazer-se uma avaliação precisa da indicação e umamonitorização cuidadosa do paciente idoso relativa aouso de benzodiazepínicos.

Direcção Técnica Dr. Boaventura Moura -Director Nacional de Medicamentos e EquipamentosConselho Redactorial Dra. Isabel Margareth Malungue - Chefe de Departamento Nacional de Farmacovigilância e Remédios Tradicionais; Dr. José Chocolate Lelo Zinga - Chefe do Centro de Informação Farmacêutica.

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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 19Janeiro/Junho 2016

Cuidados farmacêuticos

No entanto, a esperança de vidados seres humanos aumentou deforma espectacular nos últimosanos, sobretudo nos países de-senvolvidos. Este facto deve-se anumerosos factores, tais como asmelhorias alcançadas na nutri-ção e na higiene, os progressostecnológicos em todos os domí-nios, os seguros de saúde e a se-gurança social, etc.

Mas, entre todos estes facto-res benéficos, a existência de me-dicamentos e o acesso à sua utili-zação é considerado como umdos que mais contribuiu para oaumento da esperança de vidada população. Neste sentido, asvacinas, os antibióticos, os anti-neoplásicos, os antidiabéticos emuitos outros medicamentoscontribuíram para evitar a maio-ria das mortes prematuras. Exis-tem, ainda, outros medicamen-tos utilizados no processo dediagnóstico, fundamentais parao ulterior tratamento da doençadetectada. Finalmente, não de-vemos esquecer os progressos re-gistados na prevenção, no diag-nóstico e no tratamento no cam-po da farmacoterapia.

Contudo, nem sempre se ob-tém os resultados positivos pre-vistos ou desejados ao utilizarmedicamentos. Apesar de ser aforma de tratamento mais fre-quentemente empregada, a far-macoterapia não está isenta deriscos. Esses riscos não estão uni-camente relacionados com amorbilidade e/ou mortalidadedo medicamento em si, mas tam-bém com a forma como este éutilizado. A morbilidade associa-

da à farmacoterapia constituium grave problema de saúde pú-blica, ocasionando uma impor-tante procura de assistência eprovocando problemas de saúderelevantes, sendo uma das pri-meiras causas de morte nos paí-ses desenvolvidos. Os resultadosclínicos negativos associados àutilização de medicamentos(RNM) são episódios que podemafectar a saúde das pessoas queconsomem fármacos com finsterapêuticos, diagnósticos ouprofilácticos.

De acordo com os dados dediversos autores, a frequência doaparecimento dos efeitos adver-

Como reduzir a morbilidade e mortalidade causadas por medicamentos*

Quando a farmacoterapia falha

Para cada espécie biológi-ca é possível fixar um limi-te de esperança máximade vida geneticamentedefinido". Os indivíduosda espécie morrem quasesempre antes de terem al-cançado este limite, emconsequência do efeitodeletério súbito ou cumu-lativo de doenças, trau-matismos e condições devida desfavoráveis. Inclu-sivamente, os indivíduoscompletamente saudá-veis e que conseguem,por puro acaso, evitar osavatares da vida sem so-frer traumatismos e quevivem nas melhores con-dições do meio ambientepossíveis para a sua espé-cie, não conseguem pro-longar a sua vida paraalém desse inexorável li-mite imposto pelas leis dagenética.

*SÁNCHEZ, ALINA - Cuidados Farmacêu-ticos - Sugestões para um currículo deformação centrada no paciente

“Cerca de 16,6% dos in-ternamentos hospita-lares são provocadospor um RNM”

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Cuidados farmacêuticos20 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

sos derivados da utilização de fár-macos situa-se entre 2,6% e 50%.Santamaria-Pablos et al revelamque cerca de 16,6% dos interna-mentos hospitalares são princi-palmente provocados por umRNM. No que diz respeito à mor-talidade, um estudo realizado nosEstados Unidos colocou a iatro-genia derivada da utilização demedicamentos entre a quarta e asexta causa de morte hospitalar,estimando-se que morrem entre43 e 98 mil pacientes por ano de-vido a um problema de medica-ção. Por outro lado, os resultadosnegativos associados à farmaco-terapia implicam um elevadocusto de recursos de saúde e so-ciais e condicionam não só o au-mento do internamento hospita-lar, como também os custos asso-ciados.

Na área hospitalar, Bates et ale Classen et al calcularam que ocusto directo associado aos RNMnos hospitais dos Estados Unidososcila entre 1 600 milhões e 4 000milhões de dólares por ano. Nu-merosos factores inerentes aomedicamento conspiram contra

uma terapêutica racional: um ele-vado grau de automedicação de-sinformada, fornecimento abusi-vo, receitas sem justificação tera-pêutica, iatrogeniasmedicamentosas nem sempredetectadas como tal, baixo cum-primento das indicações forneci-das pelo médico por parte dos pa-cientes, informação farmacológi-ca parcializada, pressões daindústria, medicamentos de efi-cácia não demonstrada, receitasem excesso, insuficientes, múlti-plas, além de aspectos relaciona-

dos com o meio cultural e socialno qual nos movemos. Tudo istorepresenta uma situação de baixocusto-eficiência no que respeitaao impacto na saúde e na quali-dade de vida. Actualmente, osmedicamentos são receitados deforma exagerada e muitas vezesaté irracional (à luz da aplicaçãocientífica). A comercialização demedicamentos movimenta nomundo um fluxo monetário pró-ximo dos 600 mil milhões de dó-lares por ano.

Em pleno conhecimento doprocesso de desenvolvimento deum medicamento e dos princí-pios éticos que regem a sua utili-zação e em contraposição com osdados de morbilidade e mortali-dade indicados pela literaturaacima citada, podem surgir váriasdúvidas, entre elas a primeira:porque motivo falha a farmacote-rapia?

Por que motivo falha a farmacoterapia?

Falha quando provoca danos equando não se conseguem osefeitos terapêuticos ambiciona-

“A Gestão da Farmacote-rapia, também conheci-da por MTM, é termo uti-lizado para descreveruma ampla gama de ser-viços de cuidados médi-cos proporcionada pelosfarmacêuticos, ou seja,os peritos da medicaçãona equipa de cuidadosmédicos”

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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 21Janeiro/Junho 2016

dos; estes factos têm um custopara os recursos de saúde e con-vertem-se num problema de saú-de pública (Figura 1).

Um erro terapêutico pode termuitas origens. Pode dever-se aerros de diagnóstico, erros na es-colha do medicamento, erros nadose utilizada, utilização de ummedicamento de má qualidadefarmacêutica, falta de cumpri-mento do tratamento, uma mábiodisponibilidade do medica-mento ou a uma falta de eficáciado produto, a erros de medicaçãoou ao aparecimento de reacçõesadversas ao medicamento. A teo-ria biológica e a prática clinicamostram que não existem seresexactamente iguais. Após a admi-nistração de uma mesma doseusual de um medicamento, al-guns pacientes apresentam a res-posta esperada, outros respon-dem de modo excessivo e outrosrevelam uma resposta farmacoló-gica insuficiente ou nula. As varia-ções individuais podem dever-seao facto de, em igualdade de doseadministrada, se obterem con-centrações diferentes do fármacono locaI onde este deveria produ-zir efeito, ou então porque, face àmesma concentração do fárma-co, cada paciente poder respon-der de uma forma diferente.

No primeiro caso, fala-se devariações de tipo farmacocinéti-co, que são as principias determi-nantes da variabilidade inter e in-traindividual na resposta aos fár-macos e, por este motivo,devemos prestar uma atenção es-pecial aos factores que modifi-cam a absorção, distribuição, me-tabolização e excreção do fárma-co em cada paciente.

Qual é a solução?A morbilidade e mortalidade

causadas por medicamentos po-deriam reduzir-se em grande me-dida com uma estratégia integra-da para vigiar a segurança dosmedicamentos, a qual incluiria:— A criação de um sistema na-cional de farmacovigilância.— A educação e formação dosprofissionais de saúde na avalia-ção do balanço benefício-risco e

na utilização racional dos medi-camentos. — Uma mudança de comporta-mento entre os pacientes e osprofissionais de saúde para dimi-nuir a utilização irracionaI e des-necessária de medicamentos.

Um bom serviço de gestão dasegurança dos medicamentos eda farmacovigilância (FV) cons-titui um requisito imprescindívelpara a detecção precoce dos ris-cos associados a determinadosmedicamentos, prevenção dereacções adversas aos medica-mentos (RAM) e uma ajuda aosprofissionais de saúde e aos pa-cientes para conseguir a melhorrelação benefício-risco com umafarmacoterapia segura e eficaz.

Como levar a cabo este controlo?

O controlo da farmacoterapiapassa pelo acompanhamento dotratamento medicamentoso dopaciente para a prevenção, detec-ção e solução de qualquer episó-dio negativo relacionado com osmedicamentos

Qual é o profissional desaúde que pode desempe-

nhar estas funções?Sem lugar a dúvidas, é o farma-cêutico, por ser o único profissio-nal de saúde formado na Univer-sidade com os conhecimentos, ascompetências e os valores paraexercer uma profissão que tempor objecto o medicamento. Por-que o farmacêutico é um profis-sional acessível à população, ci-tando-se o exemplo clássico dofarmacêutico de cuidados primá-rios, comunitários ou de farmáciade oficina. E porque o farmacêu-tico se encontra num processo deprofunda mudança de paradig-ma, centrando actualmente a suaactuação profissional no pacien-te.

Como se realiza o acompanhamento da

farmacoterapia no paciente?Através de um novo conceito

de práticas de cuidados de saúdedenominado Cuidados Farma-cêuticos.

O Pharmaceutical Care (Cuidados Farmacêuti-cos ) é um movimento iniciado nos Estados Uni-dos, na década de 80, como consequência lógicadas reflexões que a farmácia clínica tinha levadopara a prática profissional A história deste movi-mento profissional começa em 1975 quando aAssociação Americana das Ordens dos Farma-cêuticos encomenda, a uma comissão de peritos,o chamado Relatório Millis, no qual assinalam anecessidade de implicar os farmacêuticos nocontrolo da adequada utilização dos medica-mentos. A primeira definição de Cuidados Far-macêuticos foi publicada em 1975 por Mikael etal. que refere como “a assistência que um deter-minado paciente necessita e recebe e que lhe ga-rante uma utilização segura e racional dos medi-camentos”.

Nos EUA os Cuidados Farmacêuticos têm so-frido, durante os últimos tempo, uma evolução apartir da perspectiva da gestão, o que se manifes-tou pelo aparecimento e implementação do con-ceito de Gestão da Terapia Medicamentosa, eminglês Medication erapy Management.

Em 2014, a Associação Americana de Farma-cêuticos proclama o consenso farmacêutico, oqual define a Gestão da Farmacoterapia, tam-bém conhecida por MTM, como um termo utili-zado para descrever uma ampla gama de servi-ços de cuidados médicos proporcionada pelosfarmacêuticos, ou seja, os peritos da medicaçãona equipa de cuidados médicos. Refere igual-mente a gestão da terapia com medicamentos(MTM) como um serviço, ou grupo de serviços,que optimizam os resultados terapêuticos dospacientes. Estes serviços incluem as consultasfarmacoterapêuticas, a gestão da anticoagula-ção, as vacinas, ou programas de saúde e bem-es-tar, entre outros serviços clínicos.

Cuidados Farmacêuticos,uma nova dimensão socioprofissional

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Editorial2 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Março 2014

Reflexão22 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

O cenário e conjuntura atuaissão inegavelmente pouco favorá-veis ao natural crescimento deuma economia que, apesar detudo, apresenta um enorme po-tencial.

Com este enquadramento,como se posiciona o sector far-macêutico?

Como todos sabemos, osector farmacêutico angolanoencontra-se em crescimento ecom desafios vários. Como con-sequência disso:

1.Estão a ser feitos esforçosno sentido de aumentar a forma-ção e número dos quadros far-macêuticos, bem como a quali-dade do seu ensino, por via dassucessivas revisões dos planoscurriculares do curso de farmá-cia nos últimos anos, sustentabi-lizando desta forma o cresci-mento da classe por via tambémda sua profissionalização.

2.O sector tem estado atentoàs necessidades de regulamen-tação nas diversas áreas, procu-rando agir em conformidade,regulamentando os seus profis-sionais, empresas, sistemas, pro-cessos e procedimentos.

3. Atentos às necessidadesde criação de um órgão que re-presentasse a classe e a fortale-cesse enquanto tal, foi possível aproclamação da OFA em Outu-bro de 2013 – há quase três (par-cos) anos, ainda com um longocaminho pela frente, contudo jácom um rumo trilhado e uma vi-são partilhada um pouco comtodos.

4. A qualidade dos medica-mentos é um importante factorde preocupação da entidade re-guladora nacional e que muitotem feito no combate à contra-facção de medicamentos e à en-trada de medicamentos despro-vidos de princípio activo e ou-tras situações tidas como nãoconformidades e altamente pre-

judiciais à saúde dos angolanos. 5. Tem-se pedido o apoio e

união de todos, por forma a, jun-tos, se poderem definir medidasconcretas de intervenção, combase numa clara estratégia quedeve ser partilhada e difundidapor todos.

Desafios da farmácia angolana

E a farmácia comunitária ango-lana? Como se posiciona emcontexto de crise perante osseus fornecedores, colaborado-res (clientes internos), utentes/clientes? Que esforços têm sidoempreendidos no sentido de queactuem como agentes em contracorrente face ao cenário da eco-nomia nacional?

Neste enquadramento, sãotambém vários os desafios dafarmácia angolana:

1. É inequívoco o sucessoda farmácia e sua correlaçãocom a sua cadeia de forneci-mento e negociação com os di-versos fornecedores.

2. Ter uma oferta em produ-tos e serviços o mais ajustadapossível ao conhecimento espe-cífico das necessidades dosutentes/clientes da farmácia,evitando dessa forma o desper-dício de recursos em atividadesimprodutivas ou produtos emstock sem qualquer sell-out esuas consequências e efeito ne-gativo nas contas e produtivida-de da farmácia, do ponto de vista

da sua gestão financeira. 3.Ter uma equipa preparada

e motivada para oferecer um ser-viço de excelência, todos os dias,mais e melhor, dispondo, em ple-no, de todos os recursos possí-veis para tal. Entre os recursos,destaque-se a existência de pla-nos de formação internos que vi-sem um extraordinário nível deconhecimentos sobre todos osprodutos de venda na farmácia,mas também sobre os utentes ea forma como melhor satisfazeras suas necessidades, inovandocontinuamente na sua aborda-gem, em conteúdo, forma emeios (não descuidando os ins-trumentos de apoio actuais emcontexto de ITs e de globaliza-ção).

4. Uma comunicação asser-tiva com os colaboradores (clien-tes internos) e com osutentes/clientes, gerando víncu-los sócio-emocionais com estese produzindo-lhes sensaçõesúnicas de satisfação e de genuínointeresse para com a gestão dasua saúde de forma efectiva eorientada para resultados.

5. Uma interacção atenta àrealidade dos utentes e da co-munidade onde todas e cadauma das farmácias actuam e in-tervêm, por forma a abraçar cau-sas que melhorem a saúde, mastambém atenuem a crise atual eo sofrimento que a mesma geraem todos e cada um dos uten-tes/clientes da farmácia.

Na base do êxitoTêm sido vários os casos de su-cesso que têm sido publicadosnas edições da ROFA, nomeada-mente de farmácias e as basespara o seu êxito, procurando ins-pirá-lo(a) a dar mais e melhor efazendo com que as mesmas se-jam por si vistas como bench-marks ou referências nesta ouaquela matérias.

Com uma econo-mia por diversasvezes referida co-mo petróleo de-pendente e cujovalor desta maté-ria-prima se en-contra hoje cercade 50% abaixodo valor pratica-do em épocapré-crise, os re-sultados decor-rentes da imple-mentação de es-tratégias dediversificação daeconomia ango-lana demorammais do quequalquer empre-sário ou cidadãoangolano gosta-ria.

João Pedro Matos Farmacêutico consultor | iD CONSULTING [email protected]

Tempos de crise e a farmácia

“O objetivo máximo é ode difundir uma culturade excelência e deorientação para a plenasatisfação das necessi-dades dos utentes/clien-tes da farmácia “

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Contudo, o que existe em co-mum a todas e os seus testemu-nhos?

Destacam-se os aspectos es-senciais que estão na base doseu êxito e que o(a) aconselha-mos passe a considerar na cul-tura empresarial da sua farmá-cia:

1. Existência de uma visão,missão e valores – identidadecorporativa que se inicia noscargos de gestão e liderança dosespaços e equipas e que é difun-dida por todos os elementosafectos à organização, gestão efuncionamento da farmácia. To-das as identidades corporativas,independentemente da sua sin-gularidade (se azuis, amarelasou roxas, por exemplo), apresen-tam um elemento comum: sãoorientadas para a satisfaçãocontínua das necessidades dosseus utentes/clientes e conside-ram-no o elemento principal detodo o processo. Em comple-mentaridade, não se satisfazem

com a venda de um produto,mas iniciam o processo numatendimento de qualidade quepretendem seja o primeiro pas-so para a edificação de uma rela-ção para toda a vida dos seusutentes/ clientes, procurandoestar sempre próximos destese das suas necessidades, ante-cipando-as sempre que possívele o mais possível.

2. Decorrente da sua orienta-ção para as necessidades dosseus utentes/clientes, uma orga-nização orientada para a inova-ção constante e oportunidadesdecorrentes do contexto atualem que vivemos.

3.Profissionalização na ges-tão de compras e de forneci-mento de medicamentos e ou-tros produtos de saúde, para oque muito contribuem compe-tências inerentes a uma boa eassertiva negociação com forne-cedores, de forma desafiante eprofissional: mais do que asboas condições promocionais e

de preço que tanto se impõemem contexto atual, importa oestabelecimento de compro-missos mútuos farmácia-labo-ratórios/ fornecedores que for-taleçam a proposta de valor quediariamente a farmácia entre-ga aos seus utentes/clientes,por via dos seus atendimentos(e existem várias!)

4. Formação contínua e qua-dros qualificados: sabe-se que éainda um ponto a melhorar eque está também na dependên-cia dos alunos que sairão das fa-culdades nos próximos anos.Contudo, os resultados têm sidopositivos e a mudança é já hojeuma realidade, antecipando quepor aqui é o caminho.

5. Profissionalização da co-municação e interação com osutentes/clientes, oferecendo-lhes benefícios que tornem asua experiência com a farmá-cia única e tida como a repetir.

6. O objetivo máximo é ode difundir uma cultura de ex-

celência e de orientação para aplena satisfação das necessida-des dos utentes/clientes da far-mácia para o que muito contri-bui a criação e oferta de propo-sições de valor únicas etotalmente ajustadas àqueleutente (em detrimento “dosutentes” no geral) e às suas ne-cessidades – este objetivo é al-cançado sempre e quando umutente/cliente reconhece umanecessidade passível de satisfa-ção na farmácia comunitária ese recorda da Farmácia A, e nãoda sinalética de cruz de farmá-cia, com tudo o que de não dife-renciado tal comporta.

Potencial do sector farmacêutico

Como colega farmacêutico es-pecialista nos domínios de es-tratégia, gestão e gestão demarketing farmacêutico, tenhoo grato gosto de estar a acompa-nhar o desafiante processo decrescimento e diferenciação dosector farmacêutico e das far-mácias angolanas, por via dosprojetos de formação que orgu-lhosamente temos desenvolvi-do com a OFA desde o momentoda sua 1ª Semana da FarmáciaAngolana.

Acredito veemente no poten-cial do sector farmacêutico an-golano, suas entidades e nas ca-pacidades dos colegas farma-cêuticos angolanos, não tendoquaisquer dúvidas que os desa-fios decorrentes de um sectorem crescimento e que se avizi-nham (apesar da crise econó-mica) serão ultrapassados deforma bem sucedida e orienta-da para o êxito do sector e daclasse, mas também e sobretu-do para a melhoria da qualidadede vida da população angolana– a razão principal e pela qualtodos nós, profissionais de saú-de e farmacêuticos, existimos.

Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 23Janeiro/Junho 2016

comunitária angolana

É fundamental dispor de uma oferta em produtos e serviços o mais ajustada possível ao conhecimento específico das necessi-dades dos utentes/clientes da farmácia

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Editorial2 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Março 2014

Formação24 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

EtiologiaO pâncreas é um órgão humanoque se divide em endócrino eexócrino. O denominado pân-creas endócrino é constituídopor milhões de células microscó-picas unidas em aglomerados,designados ilhotas de Langer-hans. Cada ilhota mede, na idadeadulta, 100 a 200 µm e possuiquatro tipos de células: as célulasβ (≈68%), as células α (≈20%), ascélulas δ (≈10%) e as células PP(≈2%). As célulasβsão as respon-sáveis pela produção da insulina.

Aquando da ingestão de ali-mentos e/ou bebidas, ocorreuma elevação das concentraçõesde glicose no sangue, estimulan-do a produção de insulina, queevita um aumento maior dos ní-veis de glicose e provoca a suadescida gradual. Deste modo, ahomeostasia normal da glicose érigorosamente controlada portrês processos, nomeadamentea produção de glicose no fígado(glicogénese), a captação e utili-zação da glicose nos tecidos pe-riféricos e a secreção da insulina.As células β são as responsáveispela síntese e libertação da insu-lina, cujo processo inicia devidoà presença de glicose no sanguee decorre devido à captação, pe-las células β, da proteína trans-portadora de glicose insulino-in-dependente, intitulada GLUT-2.

A insulina é uma hormonaanabólica necessária em diver-sas reacções que decorrem nonosso organismo como, porexemplo, no transporte trans-membranar de glicose e aminoá-cidos, na formação de glicogéniono fígado e músculos esqueléti-cos, na conversão de glicose emtriglicéridos, na síntese de ácidosnucleicos e na síntese proteica. Asua principal função metabólicaconsiste em aumentar a veloci-dade de transporte da glicose pa-ra determinadas zonas do corpo

para a produção de energia ouarmazenamento, até ser neces-sária.

Subgrupos da DiabetesExistem dois subgrupos de Dia-betes Mellitus, a Diabetes Melli-tus tipo 1 e a Diabetes Mellitus ti-po 2. O primeiro grupo é caracte-rizado por uma total deficiênciade insulina, causada por uma re-dução/destruição das células β,relacionada com factores gené-ticos, ambientais e imunológicos(auto-imunidade), com sinto-mas iniciais severos como a ce-toacidose e coma, devidos à ine-xistência desta hormona e con-sequente dependência deinsulina para viver. Geralmenteeste tipo de diabetes é diagnosti-cado na infância, tornando-semais grave na puberdade, embo-ra este problema possa ocorrerem qualquer idade, habitual-mente antes dos 30 anos.

Em relação à Diabetes Melli-tus tipo 2, este subgrupo tende aestar associado a uma predispo-sição genética, com maior inci-dência na idade adulta. Contra-riamente à Diabetes Mellitus ti-po 1, resulta de um conjunto demúltiplos defeitos genéticos oupolimorfismos, cada um contri-buindo com um determinadorisco e modificado por factoresambientais. O desenvolvimentodeste tipo de Diabetes está tam-bém relacionado com estilos devida cada vez mais modernos co-mo, por exemplo, o sedentaris-mo e a ingestão de fast food econsequente obesidade, sendopor isso mais prevalente nos paí-ses mais desenvolvidos. Nestecaso verifica-se um distúrbio nasecreção da insulina pelas célu-las βe uma redução da respostaà insulina pelos tecidos periféri-cos (resistência à insulina).

A diabetes gestacional surgedurante a gravidez e deve-se à

A Diabetes Mellitus trata-se deuma patologia metabólica cróni-ca, caracterizada por hiperglice-mia, resultante de deficiências nasecreção ou acção da insulina (ouambas) que, aquando da ausênciade tratamento adequado, podeoriginar complicações de saúdegraves para o doente. No entanto,hábitos de vida saudáveis, visitasregulares ao médico, uma boadieta e realização de actividade fí-sica, podem contribuir para um rá-pido diagnóstico ou bom controloda doença.

Nádia NoronhaFarmacêutica e Consultora Farmacêuticada Tecnosaúde Angola

Controlar a Diabetes: um

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elevação dos níveis de glicoseacima do esperado.

Sinais e sintomasSendo a insulina uma hormonaanabólica essencial ao organis-mo, além do metabolismo da gli-cose são igualmente afectados osmetabolismos dos lípidos e dasproteínas, dado que as restanteshormonas como o glucagon, ahormona do crescimento e aadrenalina, que têm um papel im-portante nestes metabolismosnão são inibidas. A assimilaçãoda glicose nos tecidos muscular eadiposo vai ser muito reduzida ouinibida, o armazenamento de gli-cogénio no fígado e na medula di-minui e ocorre a depleção das re-

servas através da glicogenólise.Consequentemente ocorre hi-perglicemia em jejum e glicosú-ria.

A hiperglicemia pode aconte-cer em indivíduos com diabetesmal controlada ou quando existeingestão de uma grande quanti-dade de hidratos de carbono. Estacondição pode causar sintomascomo: a poliúria (urinar frequen-temente), polidipsia (sede), poli-fagia (aumento do apetite), sensa-ção de boca seca (xerostomia), su-dação excessiva, cansaço,comichão por todo o corpo (commaior incidência na área genital)e visão turva.

A longo prazo, quando a glice-mia se mantém sistematicamen-

te elevada, surgem diversas com-plicações, tais como disfunções efalência de vários órgãos, espe-cialmente os olhos, fígado, rins,nervos, coração e vasos sanguí-neos. A hiperglicemia crónica po-de ainda comprometer o cresci-mento e gerar susceptibilidade aalgumas infecções.

Para a realização do diagnósti-co da Diabetes Mellitus deverá sertido em conta factores como a et-nia, a história familiar, a idade, aobesidade e patologias concomi-tantes. Relativamente à determi-nação da glicemia capilar devemser considerados os seguintes:— Glicemia em jejum

-Normal 70 a 100 mg/dl-Pré-diabetes 100 a 126 mg/dl-Diabetes > 126 mg/dl

— Glicemia pós-prandial (2 horasdepois da refeição)

-Normal 70 a 140 mg/dl-Pré-diabetes 140 a 200 mg/dl-Diabetes > 200 mg/dlEm Angola, a prevalência e in-

cidência da Diabetes Mellitus sãoainda pouco conhecidas, umavez que se trata de uma patologiadeficientemente diagnosticada,tratada e seguida por razões rela-cionadas não só com insuficiên-cias dos serviços de saúde, mastambém por razões aliadas aosdoentes, nomeadamente porquestões económicas, culturais ede compreensão da própriadoença.

Com o objectivo de informar,sensibilizar para o controlo da gli-cemia, promover a adesão à tera-pêutica farmacológica e não far-macológica, a Tecnosaúde, emparceira com a Australpharma,irá proceder à realização de vá-rios rastreios gratuitos, até ao fi-nal de 2016, em diversas farmá-cias de Luanda. Uma iniciativaúnica no país que resultará numadinamização de informação e de-tecção de novos suspeitos de Dia-betes.

Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 25Janeiro/Junho 2016

A insulina é uma hormo-na anabólica necessáriaem diversas reacçõesque decorrem no nossoorganismo como, porexemplo, no transportetransmembranar de gli-cose e aminoácidos, naformação de glicogéniono fígado e músculos es-queléticos, na conversãode glicose em triglicéri-dos, na síntese de ácidosnucleicos e na sínteseproteica.

compromisso com a saúde

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Editorial2 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Março 2014

Estudos26 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

Trata-se de um estudo pioneiroque evidencia, de forma cabal, ovalor do exercício profissionaldos farmacêuticos comunitá-rios para a sociedade e a econo-mia, revestindo-se, por conse-guinte, da maior importânciapara o sistema de saúde.

O estudo incidiu sobre as di-ferentes intervenções dos far-macêuticos em Saúde Pública,designadamente ao nível dasdoenças/terapêuticas crónicas,da saúde materna e da criança ea outros níveis, incluindo oaconselhamento e a indicaçãofarmacêutica nos casos detranstornos menores (tosse,constipação, diarreia, obstipa-ção, etc.), cessação tabágica,proteção solar, vacinação, etc.Não foi considerada no estudo adispensa de medicamentos (is-to é, o aviamento de receituá-rio), que, presentemente, repre-senta mais de 90% da actividadedas farmácias.

De acordo com o anteriorbastonário da OF, Maurício Bar-bosa, o estudo demonstra, deforma clara, que os cerca de 120milhões de intervencões anuaisem Saúde Pública (apenas 10%da actividade total) dos farma-cêuticos comunitários aportamrelevante valor:

Aportam qualidade de vida àpopulação, incluindo factoresde boa longevidade.

Proporcionam uma reduçãodo consumo de cuidados desaúde de outras fontes estimadaem seis milhões de actos porano (consultas médicas nãoprogramadas, urgências e hos-pitalizações).

Apresentam um valor econó-mico estimado em 880 milhõesde euros anuais, integralmentea favor do Estado e das famílias,em resultado do somatório doscustos da intervenção farma-cêutica não remunerada e doscuidados de saúde potencial-

mente evitados. Adicionalmente, o estudo

demonstra a existência de umpotencial de crescimento do va-lor social e económico estima-do, caso, no futuro, outras inter-venções venham a ser uma rea-lidade, designadamente emresultado de uma maior inte-gração com os cuidados primá-rios de saúde e também com oscuidados secundários.

Segundo Barbosa "a presta-ção de serviços farmacêuticosno âmbito de programas deSaúde Pública, de forma estru-turada e reconhecida pelo Esta-do como um contributo rele-vante, deve pois constituir oponto de viragem de tendênciapara uma cada vez mais efectivaparticipação dos farmacêuticoscomunitários no sistema desaúde. Mais participação efecti-

va, desde logo nos cuidados pri-mários, seja na identificaçãoprecoce de indivíduos com fac-tores de risco seja no acompa-nhamento dos doentes cróni-cos, num quadro de gestão inte-grada da doença com particularenfoque na gestão da terapêuti-ca, tendo em vista assegurarque estes doentes se mantêmequilibrados, já que, quandodescompensados, aumentamuito o risco de ocorreremeventos agudos, de um modogeral graves e dispendiosos -acidentes vasculares cerebraisnos hipertensos, retinopatias enecessidade de amputaçõesnos diabéticos, entre outros".

Além disso, nos casos de pa-tologias crónicas previamentediagnosticadas e com terapêu-tica instituída pelo médico, oresponsável entende "que faz to-do o sentido conferir capacida-de ao farmacêutico comunitá-rio para intervir quer na moni-torização de indicadores dadoença, quer na renovação daterapêutica, com base em pro-tocolos de actuação". Na reali-dade, após a prescrição médica,o farmacêutico é o elemento decontinuidade no processo far-macoterapêutico e também deproximidade com as pessoas,apoiando o doente em todas asvertentes relacionadas com ouso dos medicamentos. Emáreas como a diabetes e a hiper-tensão arterial, entre outras, arenovação da terapêutica, por sisó, constitui uma sobrecarga deprocura nas unidades do SNS eprovoca-lhes perdas de eficiên-cia.

As farmácias são verdadeirasunidades prestadoras de cuida-dos de saúde, dotadas de profis-sionais qualificados, que, aexemplo de outros países, po-dem e devem dar mais e melho-res contributos ao sistema desaúde.

Foi recentemen-te publicado oestudo Valor So-cial e Economicodas Intervencoesem Saude Publi-ca dosFarmaceuticosnas Farmaciasem Portugal, quea Ordem dos Far-maceuticos (OF)daquele país en-comendou aconsultores ex-ternos.

O justo valor dos farmacêuticos

Contributo anual das activi-dades desenvolvidas pelosfarmacêuticos comuniários:— Mais de 120 milhões de in-tervenções farmacêuticaspor ano— Cerca de 11 milhões de ho-ras de tempo farmacêuticopor ano— Em média, 8,3% de au-mento na qualidade de vida— Um benefício total de maisde 260 mil anos de vida ajus-tados pela qualidade

Concluões

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Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 27Janeiro/Junho 2016

SUMÁRIO EXECUTIVO OUTUBRO 2015

Valor económico agregado

a. Intervenção farmacêutica não remunerada

b. Poupança em consultas (Centros de Saúde e Hospitais)

c. Poupança em internamentos hospitalares

d. Poupança em urgências hospitalares

e. desperdício de medicamentos, programa de troca de seringas e outros

programas

0 240120

milhões de euros (M€)

Destaques

Intervenção em doenças/terapêuticas crónicas147,6M€

a. 342,1M€

d. 1,6M€

b. 401,5M€

c. 45,0M€

e. 89,5M€

879,6 M€

Diabetes

32,9M€

Asma e DPOC

27,7M€

Saúde materna e da criança13,3M€

Melhoria da adesão à terapêutica237,6M€

Indicação farmacêutica em MNSRM206,5M€

Indicação farmacêutica noutros produtos de saúde52,4M€

Noutra perspectiva!

Hipertensão Arterial208,2M€

Valores arredondados

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Editorial2 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Março 2014

Espaço regulamentar28 | Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola Janeiro/Junho 2016

Artigo 10º(Categorias do técnico médiode farmácias)O grupo de técnico médio de far-mácia integra as seguintes cate-gorias:

a) Técnico especialista prin-cipal;b) Técnico especialista;c) Técnico principal;d) Técnico de 1ª classe;e)Técnico de 2ª classe;

Artigo 11º(Recrutamento para técnicomédio de farmácia)O recrutamento para as catego-rias de técnico médio de farmá-cia obedece às seguintes regras:

a) Técnico especialista prin-cipal: de entre os técnicosmédios de farmácia, que me-diante concurso de avaliaçãocurricular, com pelo menos 3anos na categoria, classifica-dos de muito bom, ou 5 anosclassificados no mínimo debom;b)Técnico médio especialistade farmácia: de entre os técni-cos médios principais de far-mácia que, mediante concur-so de provas de conhecimen-tos com 3 anos na categoria eclassificação de serviço nãoinferior a bom e habilitadoscom o curso de especializa-ção, que constar no respecti-vo aviso de abertura;

c) Técnico principal de far-mácia: de entre os técnicosmédios de farmácia de 1ªclasse, após a permanênciade 5 anos na categoria e clas-sificação de serviço não infe-rior a bom;d) Técnico médio de 2ª clas-se: de entre os formados como curso médio de farmácia.

Artigo 12º(Categoria do técnico auxiliarde farmácia)O recrutamento para as catego-rias do técnico auxiliar de farmá-

cia obedece às seguintes regras:a) Técnico auxiliar de 1ª clas-se;b) Técnico auxiliar de 2ª clas-se;c) Técnico auxiliar de 3ª clas-se;

Artigo 13º(Recrutamento para técnicoauxiliar de farmácia)O recrutamento para as catego-rias de técnico auxiliar de far-mácia obedece às seguintes re-gras:

a) Técnico auxiliar de far-

mácia de 1ª classe: de entreos técnicos auxiliares de 2ªclasse, com pelo menos 3anos de serviço na respecti-va categoria classificados debom;b) Técnico auxiliar de 2ªclasse: de entre os técnicosauxiliares de 3ª classe compelo menos 3 anos de servi-ço na categoria classificadosde bom;c) Técnico auxiliar de far-mácia de 3ª classe: de entreos formados com o cursobásico de farmácia.

O Decreto que aprovou o regime e a estruturação da carreira de farmácia no Serviço Nacional de Saúdeconstitui um documento que convém conhecer bem e ter sempre à mão. Em particular, para os jovensque saem agora das faculdades e institutos. Por esta razão, concluímos neste número a sua reprodução in-tegral. O enquadramento profissional, as competências do farmacêutico, o seu ingresso na carreira, as ca-tegorias de farmacêutico e de técnico médio de farmácia, concursos, as modalidades de regime de traba-lho, e o que está previsto para a sua formação e aperfeiçoamento profissional, são alguns dos aspectosque o diploma contempla.

A carreira de farmácia no Serviço Nacional de Saúde

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CAPÍTULO IIIDos Concursos, Regimes deTrabalho e Condições para asua Prestação

Artigo 14º(Concurso)1. Os concursos de ingresso eacesso previstos para as diferen-tes categorias da carreira são re-gulamentados por despachos doMinistro da Saúde.2. Aos concursos de acesso aber-tos em qualquer estabelecimentoou serviço de nível local ou cen-tral, pode concorrer todo o pes-soal de farmácia na (s) carreira (s)desde que possua os requisitospara a categoria a que concorre.

Artigo 15º(Modalidades de regime detrabalho)1. São as seguintes modalidadesde regime de trabalho aplicáveisao pessoal de farmácia integra-dos na carreira:

a) Tempo completo;b) Tempo prolongado;c) Tempo parcial.

2. O regime de tempo completoimplica a prestação de 34 horaspor semana, sendo o regime nor-mal de trabalho da carreira defarmácia.3. O regime de tempo prolonga-do implica a prestação de 46 ho-ras de trabalho por semana, sen-do um regime de recurso e de-vendo apenas ser aplicado atítulo excepcional e de conve-niência dos serviços.4. O regime de tempo parcial im-plica a prestação de 18 horas detrabalho por semana, em condi-ções excepcionalmente autori-zadas caso a caso.5. No trabalho de turnos e/oujornadas, o pessoal de farmáciaterá direito a um intervalo de 30minutos para refeição dentro dopróprio estabelecimento ou ser-viço, que será considerado comotrabalho prestado.6. O pessoal de farmácia comidade superior a 45 anos poderá,se o requerer, ser dispensado dotrabalho por turnos e do exercí-cio de funções em serviços de ur-

gência, desde que daí não adve-nham graves prejuízos para oserviço.7. O pessoal de farmácia queexerça funções em condiçõesque envolvam excepcional riscousufruirá de direitos especiaisquanto às condições de presta-ção de trabalho, em termos a re-gulamentar.

Artigo 16º(Regime especial de trabalho)Poderá ser estabelecido excep-cionalmente um regime de pres-tação de trabalho para os profis-sionais da carreira, por despachodo Ministro da Saúde, que, emvirtude das respectivas funções,se encontrarem sujeitos a condi-ções especiais designadamenteradiações ionizantes, exposiçãoàs acções das correntes de altafrequência e de desgaste físicoconstante.

CAPÍTULO IVFormação Contínua e Conteúdo Funcional

Artigo 17º(Aperfeiçoamento profissional)1. Ao pessoal de farmácia é asse-gurado o direito ao aperfeiçoa-mento e/ou actualização profis-sional, visando a melhoria daprestação de serviço e o aumentode qualificação dos profissionais.2. Os cursos ou actividades deaperfeiçoamento profissional re-feridos no número anterior po-dem ser ponderados na aprecia-ção curricular da carreira.

Artigo 18ª(Conteúdo funcional)O conteúdo funcional e a defini-ção das competências do pes-soal de farmácia constam no ar-tigo do presente decreto.

CAPÍTULO VDisposições Finais e Transitórias

Artigo 19º(Salvaguarda de situações especiais)1. O Ministério da Saúde poderá

Revista da Ordem dos Farmacêuticos de Angola | 29Janeiro/Junho 2016

por despacho reconhecer, parcialou totalmente, a equivalência dehabilitações profissionais, adqui-ridas por cidadãos angolanos emorganismos estrangeiros, aoscursos de formação ali referidosmediante parecer favorável doorgão nacional responsável pelaformação.2. Aos técnicos básicos de far-mácia é assegurado o direito acandidatarem-se aos cursos pa-ra o ingresso nos grupos seguin-tes desde que obedeçam aos re-quisitos exigidos no presentedecreto.3. Os profissionais habilitadosem qualquer dos cursos legal-mente aceites e que não se en-contrem em exercício efectivoprofissional até à data de entra-da em vigor do presente decreto,poderão ser autorizados a in-gressarem na carreira, medianteconcursos.

Artigo 20º(Dúvidas e omissões)As dúvidas e omissões resultan-tes da aplicação e interpretaçãodeste decreto serão resolvidaspelo Ministro da Saúde.

Artigo 21º(Revogação da Legislação)É revogada toda a legislação quecontrarie o presente decreto.

Artigo 22º(Entrada em vigor)O presente decreto entre em vi-gor na data da sua publicação.Visto e aprovado pelo Conselhode Ministros

Publique-seLuanda, aos 8 de Janeiro de 1997O Primeiro Ministro, FernandoJosé de França Dias Van-DúnemO Presidente da República, JoséEduardo dos Santos

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InvestigaçãoJaneiro/Junho 2016

A grande marca do parasita Plas-modium vivax é a sua capacida-de de latência nas células do fíga-do dos seres humanos. Ao con-trário do Plasmodium falcipa-rum – a mais frequente e mortaldas cinco espécies dePlasmo-dium responsáveis pela malárianos humanos –, que se multiplicamal infecta as células do fígado, oP. vivax pode ficar em dormênciadurante anos. Por isso, basta umapessoa ser picada uma única vezpor um mosquito Anopheles in-fectado com o P. vivax para estarsujeita a ter vários episódios demalária.

Agora, dois estudos sequen-ciaram genomas de centenas deparasitas da espécie P. vivax, ob-tidos em pessoas do Sudoesteasiático e da América Central edo Sul. Os resultados revelam umparasita muito diverso, com umahistória evolutiva complexa eque está a ganhar resistênciasaos fármacos usados no combateda malária. Mas também podem

dar pistas para combater este pa-rasita, segundo os dois artigospublicados em Junho na revistaNature Genetics.

“Observámos no genoma quea resistência aos fármacos é umestímulo enorme para a evolução[do P. vivax]. É intrigante que, nal-guns lugares, este processo pare-ce estar a acontecer em respostaa fármacos usados em primeirolugar para tratar o P. falciparum.Não se sabe a razão para istoacontecer, mas é um sinal preo-cupante de que a resistência amedicamentos está a ficar enrai-zada na população de parasitas”,explica o principal autor do estu-do internacional, Richard Pear-son, do Instituto Sanger do Well-come Trust (no Reino Unido),que analisou genomas de parasi-tas provenientes do Sudoesteasiático, citado num comunica-do daquela instituição.

Impacto na saúde mundialApesar de ter havido uma dimi-nuição de casos nas últimas duasdécadas, a malária continua a seruma das doenças com maior im-pacto na saúde mundial. Em2015, o parasita era endémico em95 países, causando 214 milhõesde doentes e matando 438.000pessoas, de acordo com a Organi-zação Mundial da Saúde. Ascrianças com menos de cinco

anos são especialmente vulnerá-veis.

O P. falciparum é prevalentena África subsariana, onde adoença é mais devastadora, com88% dos casos e 90% das mortes.O P. vivax está pouco representa-do naquele território, mas predo-mina na Índia, no Sudeste asiáti-co e na América Central e do Sul,e estima-se que anualmente sóesta espécie de parasita causemalária a 16 milhões de pessoas.

Como tantos outros parasitasque usam os humanos comohospedeiros, parte do fascíniodos biólogos pelo estudo dos pa-rasitas da malária é o seu intrica-do ciclo de vida. O plasmódio al-terna entre nós e as fêmeas domosquito anófeles – que se ali-mentam de sangue humano.Quando um plasmódio invade ocorpo, entra na corrente sanguí-nea para chegar ao fígado. Lá, pe-netra numa célula, onde se ali-menta e multiplica, mudando deforma. De seguida, volta ao san-gue, onde infecta os glóbulos ver-

melhos, multiplicando-se e infec-tando novas células sanguíneasciclicamente. É durante a fasesanguínea que se dão os sinto-mas: febres altas e dores no cor-po.

Esta sequência de passos, emque o plasmódio sofre váriastransformações, dificulta o de-senvolvimento de uma vacinacontra a malária. Fármacos co-mo a artemisinina, de última ge-ração, são usados para tratar adoença, mas criam resistênciasnos parasitas – já existe uma po-pulação de P. falciparum no Su-deste asiático resistentes à arte-misinina, segundo um estudo re-cente publicado na revista NewEngland Journal of Medicine.

O último a cairO P. vivax, como não causa amaioria dos casos de malária epor ser difícil de cultivar no labo-ratório, é bastante menos estuda-do do que o P. falciparum. Só ago-ra, com o desenvolvimento detécnicas avançadas de sequen-ciação genética, é que foi possívelobter vários genomas diferentesdaquele parasita a partir do san-gue humano infectado.

A equipa de Richard Pearson,que se dedicou à região do Sudes-te asiático, obteve 200 genomasde P. vivax de amostras sanguí-neas de pessoas de vários países,e notou que a evolução divergen-te do plasmódio na Tailândia, noCamboja e na Indonésia se deveao uso de diferentes fármacosnestes países. “O medicamentoque está na linha da frente do tra-tamento da malária vivax é a clo-roquina”, explica Ric Price, daUniversidade de Oxford, do Rei-no Unido, citado no mesmo co-municado. “O nosso estudo mos-tra que a evolução é mais forte naPapuásia [província da Indoné-sia da ilha da Nova Guiné], ondea resistência do P. vivax à cloro-quina é agora desenfreada.”

Parasita da malária que hiberna no fígadoestá a ganhar resistência aos fármacos

Dois estudos publi-cados em Junho narevista Nature Ge-netics traçam a ár-vore genética doPlasmodium vivax,um parasita da ma-lária menos conhe-cido, e revelam asua grande diversi-dade mundial.

Nicolau Ferreira

“Já existe uma popula-ção de P. falciparum noSudeste asiático resis-tentes à artemisinina”

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