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revista portuguesa de ciências do desporto Volume 9 · Nº 2 (Supl. 1) Novembro 2009 portuguese journal of sport sciences 9º Congresso Nacional de Gestão do Desporto 1º Congresso Internacional de Gestão do Desporto Desenvolvimento do Desporto

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revista portuguesa de

ciências do desporto

revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences]

Volume 9 · Nº 2 (Supl. 1)Novembro 2009

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Publicação quadrimestralVolume 9 · Nº 2 (Supl. 1) Nov. 2009ISSN 1645–0523Dep. Legal 161033/01

Vol. 9, Nº 2

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional

Ciência, Tecnologia, Inovaçãodo Quadro Comunitário

de Apoio III

ARTIGOS [PAPERS]

Gestão desportiva: análise das dissertações de Mestrado e teses deDoutoramento na Faculdade de Desporto da Universidade do PortoSport Management: analysis of Master dissertations and Doctoral Thesesfrom the Faculty of Sport, University of OportoJosé Pedro Sarmento, Maria José Carvalho,Ricardo Barreto Coelho, Daiane Miranda de Freitas

A criatividade como alavanca para uma melhor gestão desportivaCreativity as leverage for better sports managementMafalda Moreira, Daiane Miranda de Freitas

Políticas públicas desportivas: avaliação do nível de execuçãoe eficácia nos municípios da Área Metropolitana do PortoPublic sportive policies: assessment of the performance and effectivenessin the municipalities belonging to the Metropolitan Area of PortoCarlos Januário, Pedro Sarmento, Maria José Carvalho

Empresas municipais de desporto: contributos para a suacaracterização legal, funcional e relacionalMunicipal enterprises of sport: contributions to the legal,functional and relational characterizationMaria José Carvalho, José Cancela Moura, Nancy Oliveira

Hábitos desportivos dos jovens do interior nortee litoral norte de PortugalSports habits of youth from Portugal north interior and coastViriato Santos Costa, António Serôdio-Fernandes, Miguel Maia

Relação entre esgotamento e satisfaçãoem jovens praticantes desportivosRelationship between burnout and satisfaction in young sports practitionersAntónio Rosado, Isabel Mesquita, Abel Correia, Carlos Colaço

Estratégias do desporto universitário PortuguêsStrategies of college sports: a case study about sports in portuguese collegesCarlos P. Colaço, Leandro A. Fleck

Percepções dos professores do desporto escolar sobre a relação entreo sector escolar e o sector federado da Região Autónoma da MadeiraTeacher's perceptions of school sport regarding the relationbetween school and federated sector in the Autonomous Region of MadeiraJorge Soares

Estudo do potencial empreendedor dos acadêmicosdo 7º período do curso de educação física da UFVStudy of the entrepreneurial potential of physical education studentsof the 7th course period at the Federal University of ViçosaPaulo Lanes Lobato, Dilermando Duarte do Carmo

Caracterização das funções do coordenador técnico em Basquetebol:estudo realizado com os clubes da Associação de Basquetebol de AveiroCharacterization of the roles of a basketball technical coordinator:study in the basketball association clubs of AveiroNuno Leite, Victor Maçãs, Jaime Sampaio, Marina Carvalho

Caracterização do perfil retrospectivo do dirigente esportivo declube de futebol profissional da primeira divisão, entre os anos2003 e 2007Retrospective characterization of the profile of football pro-league sport managers,between the years 2003 and 2007Paulo Henrique Azevedo, Rubens Eduardo Nascimento Spessoto

Percurso profissional dos licenciados em Educação Física eDesporto, com opção de Futebol, pela Universidadede Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 1992 e 2006Professional career of graduates in physical education and sport with specializationon soccer by the University of Trás-os-Montes and Alto Douro, between 1992 and 2006Victor Maçãs, Carlos Valadar, António Serôdio,José Carlos Leitão, Jaime Sampaio, Nuno Leite

Turismo de prática desportiva:um segmento do mercado do turismo desportivoSport practice tourism: a segment of sport tourism marketPedro Guedes de Carvalho, Rui Lourenço

Sobre o (des)equilíbrio financeiro da primeira décadado Sporting, sociedade desportiva de futebol, SADAbout the financial (un)balance of the first decade of Sporting Soccer Sport SocietyMargarida Boa Baptista, Paulo de Andrade

Prestação de Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008Performance of Portugal in the Beijing 2008 Olympic GamesAlfredo J. Silva

O Olimpismo hoje. De uma diplomacia do silêncio parauma diplomacia silenciosa. O caso das duas ChinasThe Olympic movement today. From a diplomacy of silence to a silent diplomacy.The case of both ChinaGustavo Pires

Abandono no Andebol na Região Autónoma da MadeiraHandball drop-out in Autonomous Region of MadeiraNorberta Fernandes, Abel Correia e Ana Maria Abreu

RESUMOS [ABSTRACTS]

9º Congresso Nacional de Gestão do Desporto1º Congresso Internacional de Gestão do DesportoDesenvolvimento do Desporto

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do PortoVol. 9, Nº 2 (Supl. 1) Novembro 2009ISSN 1645-0523 · Dep. Legal 161033/01

DirectorJorge Olímpio Bento (Universidade do Porto)

Conselho editorial [Editorial Board]Adroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul, Brasil)António Prista (Universidade Pedagógica, Moçambique)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia, Alemanha)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina, Bélgica)Go Tani (Universidade São Paulo, Brasil)Ian Franks (Universidade de British Columbia, Canadá)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa, Portugal)Jorge Mota (Universidade do Porto, Portugal)José Alberto Duarte (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel)Neville Owen (Universidade de Queensland, Austrália)Rafael Martín Acero (Universidade da Corunha, Espanha)Robert Brustad (Universidade de Northern Colorado, USA)Robert M. Malina (Universidade Estadual de Tarleton, USA)

Editores Chefe [Chief Editors]António Teixeira Marques (Universidade do Porto, Portugal)José Oliveira (Universidade do Porto, Portugal)

Editores Associados [Associated Editors]Amândio Graça (Universidade do Porto, Portugal)António Ascensão (Universidade do Porto, Portugal)António Manuel Fonseca (Universidade do Porto, Portugal)João Paulo Vilas Boas (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)José Pedro Sarmento (Universidade do Porto, Portugal)Júlio Garganta (Universidade do Porto, Portugal)Maria Adília Silva (Universidade do Porto, Portugal)Olga Vasconcelos (Universidade do Porto, Portugal)Rui Garcia (Universidade do Porto, Portugal)

Design gráfico e paginação Armando Vilas BoasImpressão e acabamento Multitema

Assinatura Anual Particulares: Portugal e Europa 40 Euros; Brasil e PALOP 50 Euros; outros países 60 EurosInstituições: 120 EurosPreço deste número 20 Euros

Tiragem 500 exemplaresCopyright A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700; Fax: +351–225500689www.fade.up.pt – [email protected]

Consultores [Consulting Editors]Alberto Amadio (Universidade São Paulo)Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro)Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas)Anthony Sargeant (Universidade de Manchester)António José Silva (Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro)António Roberto da Rocha Santos (Univ. Federal Pernambuco)Carlos Balbinotti (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia)Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa)Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro)Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina)Duarte Freitas (Universidade da Madeira)Eduardo Kokubun (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)Eunice Lebre (Universidade do Porto, Portugal)Francisco Alves (Universidade Técnica de Lisboa)Francisco Camiña Fernandez (Universidade da Corunha)Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa)Francisco Martins Silva (Universidade Federal Paraíba)Glória Balagué (Universidade Chicago)Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa)Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia)Helena Santa Clara (Universidade Técnica Lisboa)Hugo Lovisolo (Universidade Gama Filho)Isabel Fragoso (Universidade Técnica de Lisboa)Jaime Sampaio (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon)Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga)João Barreiros (Universidade Técnica de Lisboa)José A. Barela (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)José Alves (Escola Superior de Desporto de Rio Maior)José Luis Soidán (Universidade de Vigo)José Manuel Constantino (Universidade Lusófona)José Vasconcelos Raposo (Univ. Trás-os-Montes Alto Douro)Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina)Jürgen Weineck (Universidade Erlangen)Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho)Lilian Teresa Bucken Gobbi (Univ. Estadual Paulista, Rio Claro)Luis Mochizuki (Universidade São Paulo)Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa)Luiz Cláudio Stanganelli (Universidade Estadual de Londrina)Manoel Costa (Universidade de Pernambuco)Manuel João Coelho e Silva (Universidade de Coimbra)Manuel Patrício (Universidade de Évora)Manuela Hasse (Universidade Técnica de Lisboa)Marco Túlio de Mello (Universidade Federal de São Paulo)Margarida Espanha (Universidade Técnica de Lisboa)Margarida Matos (Universidade Técnica de Lisboa)Maria José Mosquera González (INEF Galiza)Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina)Mauricio Murad (Universidade Estado Rio de Janeiro e Universo)Ovídio Costa (Universidade do Porto, Portugal)Pablo Greco (Universidade Federal de Minas Gerais)Paula Mota (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Paulo Farinatti (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Paulo Machado (Universidade Minho)Pedro Sarmento (Universidade Técnica de Lisboa)Ricardo Petersen (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa)Silvana Göllner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Valdir Barbanti (Universidade São Paulo)Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa)Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança)Víctor Matsudo (CELAFISCS)Wojtek Chodzko-Zajko (Universidade Illinois Urbana-Champaign)

A Revista Portuguesa de Ciências do Desporto está indexada na plataforma SciELO Portugal - Scientific Electronic Library Online(http://www.scielo.oces.mctes.pt), no SPORTDiscus e no Directório e no Catálogo Latindex – Sistema regional de informação em linha

para revistas científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Vol. 9, Nº 2 (Supl. 1) Novembro 2009

ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS [PAPERS] 7 Gestão desportiva: análise das dissertações de Mestrado

e teses de Doutoramento na Faculdade de Desporto daUniversidade do PortoSport Management: analysis of Master dissertations and Doctoral Theses from the Faculty of Sport, University of OportoJosé Pedro Sarmento, Maria José Carvalho, Ricardo Barreto Coelho, Daiane Miranda de Freitas

17 A criatividade como alavanca para uma melhor gestão desportivaCreativity as leverage for better sports managementMafalda Moreira, Daiane Miranda de Freitas

26 Políticas públicas desportivas: avaliação do nível de execução e eficácia nos municípios da ÁreaMetropolitana do PortoPublic sportive policies: assessment of the performance and effectiveness in the municipalities belonging to the Metropolitan Area of PortoCarlos Januário, Pedro Sarmento, Maria José Carvalho

33 Empresas municipais de desporto: contributos para a sua caracterização legal, funcional e relacionalMunicipal enterprises of sport: contributions to the legal, functional and relational characterizationMaria José Carvalho, José Cancela Moura, Nancy Oliveira

46 Hábitos desportivos dos jovens do interior norte e litoral norte de PortugalSports habits of youth from Portugal north interior and coastViriato Santos Costa, António Serôdio-Fernandes,Miguel Maia

56 Relação entre esgotamento e satisfação em jovens praticantes desportivosRelationship between burnout and satisfaction in young sports practitioners António Rosado, Isabel Mesquita, Abel Correia, Carlos Colaço

68 Estratégias do desporto universitário PortuguêsStrategies of college sports: a case study about sports in portuguese collegesCarlos P. Colaço, Leandro A. Fleck

76 Percepções dos professores do desporto escolar sobre a relação entre o sector escolar e o sector federado daRegião Autónoma da MadeiraTeacher’s perceptions of school sport regarding the relation between school and federated sector in the Autonomous Region of MadeiraJorge Soares

83 Estudo do potencial empreendedor dos acadêmicos do 7º período do curso de educação física da UFVStudy of the entrepreneurial potential of physical education students of the 7th course period at the Federal University of ViçosaPaulo Lanes Lobato, Dilermando Duarte do Carmo

97 Caracterização das funções do coordenador técnico em Basquetebol: estudo realizado com os clubes daAssociação de Basquetebol de AveiroCharacterization of the roles of a basketball technical coordinator: study in the basketball association clubs of AveiroNuno Leite, Victor Maçãs, Jaime Sampaio, Marina Carvalho

103 Caracterização do perfil retrospectivo do dirigente esportivo de clube de futebol profissional da primeira divisão, entre os anos 2003 e 2007Retrospective characterization of the profile of football pro-league sport managers, between the years 2003 and 2007Paulo Henrique Azevedo, Rubens Eduardo Nascimento Spessoto

113 Percurso profissional dos licenciados em Educação Físicae Desporto, com opção de Futebol, pela Universidade deTrás-os-Montes e Alto Douro, entre 1992 e 2006Professional career of graduates in physical education and sport with specialization on soccer by the University of Trás-os-Montes and Alto Douro,between 1992 and 2006Victor Maçãs, Carlos Valadar, António Serôdio, José Carlos Leitão, Jaime Sampaio, Nuno Leite

122 Turismo de prática desportiva: um segmento do mercado do turismo desportivoSport practice tourism: a segment of sport tourism marketPedro Guedes de Carvalho, Rui Lourenço

133 Sobre o (des)equilíbrio financeiro da primeira década do Sporting, sociedade desportiva de futebol, SADAbout the financial (un)balance of the first decade of Sporting Soccer Sport SocietyMargarida Boa Baptista, Paulo de Andrade

143 Prestação de Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008Performance of Portugal in the Beijing 2008 Olympic Games Alfredo J. Silva

159 O Olimpismo hoje. De uma diplomacia do silêncio parauma diplomacia silenciosa. O caso das duas ChinasThe Olympic movement today. From a diplomacy of silence to a silent diplomacy. The case of both ChinaGustavo Pires

196 Abandono no Andebol na Região Autónoma da MadeiraHandball drop-out in Autonomous Region of MadeiraNorberta Fernandes, Abel Correia e Ana Maria Abreu

209 RESUMOS [ABSTRACTS]

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional Ciência,Tecnologia, Inovação do QuadroComunitário de Apoio III

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Nota editorial

António SerôdioPresidente da Comissão Organizadora

A Associação Portuguesa de Gestão do Desporto(APOGESD), após doze anos de existência, realizouo seu congresso anual, para o qual pretendeu dar umpasso mais na sua implantação, junto de todos aque-les que de alguma maneira trabalham dentro da áreada Gestão do Desporto.Por isso, pela primeira vez, procurou a internaciona-lização, pelo que o presente congresso foi o nononacional e o primeiro internacional.Como o seu fundador, Gustavo Pires, disse “O desen-volvimento integrado do desporto em Portugal exige umenorme esforço de planeamento e definição de uma estraté-gia de desenvolvimento que ultrapasse um certo improviso eum excessivo enfoque em questões administrativo-jurídicasem que tem estado envolto. Impõe-se uma “nova perspectivade governação do desporto nacional, onde o papel doEstado/Governo é primacial, mas que exige deste uma novafilosofia de intervenção e regulação capaz de articular osgrandes princípios estratégicos de desenvolvimento do des-porto, em partenariado com a generalidade dos agentesmais ou menos formais que intervêm no mundo do despor-to, articulando o desporto nas suas diferentes implicaçõessociais, envolvendo múltiplos departamentos governamen-tais que têm de trabalhar conjugadamente (educação,saúde, juventude e desporto, por exemplo) – originandouma indispensável “interdepartamentalidade do desporto”. Por outro lado, as Políticas Públicas Desportivas de que opaís desportivo carece implicam um grande trabalho delevantamento, análise e concepção baseado em estudos deta-lhados da situação desportiva em todo o território nacional,onde se evidenciem clara e inequivocamente as principaisfragilidades do sistema e se fundamentem as corresponden-tes e consequentes opções de política concreta de desenvolvi-mento do nível desportivo do país. Para que o desenvolvimento do desporto se concretize com

um destino e um planeamento que dê origem a equilíbriosterritoriais e, numa perspectiva de equidade, à inclusão dosmais diversos estratos populacionais, as Políticas Públicastêm de decorrer de conhecimento sistemático das realidades,única forma de sobre as mesmas actuar de forma racionali-zada e projectada. Ora, é neste fio condutor da intervenção pública no desen-volvimento do desporto que deve enquadrar-se a missão e ascorrespondentes funções e trabalho efectivo.”Por isso o presente congresso teve como temática dereferência o “Desenvolvimento do Desporto” porquefoi intenção da organização contribuir para a defini-ção do que devem ser os passos correctos nesta áreada Gestão do Desporto, que de alguma forma ultra-passa aquilo que normalmente é trabalhado no dia-a-dia dos profissionais que se dedicam a esta profissão.Sendo importantes todas as áreas a que a Gestão doDesporto está ligada, desde a concepção e gestão dasinstalações, à gestão de recursos humanos, até à ges-tão financeira de clubes, pareceu-nos fundamentalreflectir sobre os modelos de desenvolvimento quese pretendem para o futuro.Para isso foi possível reunir uma vasta plateia de téc-nicos, quer ligados ao meio académico, quer ligadosà iniciativa privada ou pública, que durante dois diastiveram a possibilidade de debater os diversos pro-blemas que enfrentam, todos os dias nos seus locaisde trabalho, assim como trocar opiniões com acadé-micos que se debruçam sobre a temática de umaforma sistemática.Ao mesmo tempo, pela primeira vez, foi possívelalargar esta discussão a congressistas internacionais,nomeadamente de Espanha e do Brasil que vieramcontribuir para o enriquecimento do congresso aotransmitirem realidades diferentes das nacionais.

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Foi preocupação da organização juntar à discussãoespecialistas reconhecidos internacionalmente naárea do Desenvolvimento do Desporto, pelo que foipossível debater outras realidades, nomeadamente aInglesa pela voz de Barrie Houllian e a Australianapor Mick Green.Para a realização deste congresso muitos foram osassociados que contribuíram de uma forma voluntá-

ria, o que permitiu o seu êxito, e a quem a organiza-ção pretende aqui, publicamente, agradecer.Igualmente pretendemos agradecer à Universidadede Trás-os-Montes e Alto Douro a contribuição nacedência das suas instalações assim como àFaculdade de Desporto da Universidade do Porto,pela possibilidade de publicar as actas deste congres-so na Revista Portuguesa de Ciências do Desporto.

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ARTIGOS

[PAPERS]

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Rev Port Cien Desp 9(2) 7–16 7

Gestão Desportiva: análise das dissertações de Mestrado e teses deDoutoramento na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

José Pedro SarmentoMaria José CarvalhoRicardo Barreto CoelhoDaiane Miranda de Freitas

Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOEste estudo tem por objectivo caracterizar e compreender aslinhas de investigação traçadas no Gabinete de GestãoDesportiva da Faculdade de Desporto da Universidade doPorto, desde a primeira (1998) à oitava edição do mestrado deGestão Desportiva (2005).Metodologicamente, os dados para investigação foram recolhi-dos pelos registos administrativos relativos aos alunos de mes-trado e doutoramento, cujo tratamento passou pela análise des-critiva de vários indicadores, designadamente: sexo, nacionali-dade, orientadores, tempo total de obtenção do grau.Recolhemos ainda o acervo de dissertações e teses relativas àsedições supramencionadas e procedemos à sua diferenciaçãoquanto às áreas científicas, metodologias e palavras-chave.Os resultados apontam que a área de investigação dePlaneamento e Estratégia é predominante nas dissertações demestrado (27%), sendo as áreas de Direito do Desporto eDesenvolvimento Organizacional as que preenchem as áreas deinvestigação de doutoramento (50%). A abordagem quantitati-va e o estudo exploratório são as metodologias predominantesdas dissertações de mestrado. Nos trabalhos de doutoramentoa abordagem qualitativa e o estudo exploratório juntamentecom a análise descritiva são mais representativos. Quanto aotempo médio despendido até a apresentação e defesas públicas,os resultados apontam para 2 anos e 6 meses para os alunos demestrado e 4 anos e 4 meses para os alunos de doutoramento.

Palavras-chave: gestão desportiva, áreas científicas, metodolo-gias, investigação, dissertações e teses

ABSTRACTSport Management: analysis of Master dissertations andDoctoral Theses from the Faculty of Sport, University of Oporto

The propose of this study is describe and understand the lines ofresearch outlined in the office of Sport Management in Faculty of Sportat the University of Oporto, since the first (1998) to the eighth editionof the Masters of Sport Management (2005).Methodologically, the data for research were collected by administrativerecords relating to the master’s and doctoral students, whose treatmentfell by descriptive analysis of several indicators, including: gender, nation-ality, guiding, total time for obtaining a degree. We collected even thebody of dissertations and theses on the above issues and proceeded to itsdifferentiation on the science, methodologies and keywords.The results indicate that the area of research, Planning and Strategy ispredominant in the master’s dissertations (27%), and the areas of theSports Law and the Organizational Development fulfilling the areas ofdoctoral research (50%). The quantitative approach and exploratorystudy are the predominant methodologies of the Masters dissertations.In doctoral work on the qualitative approach and exploratory studyalong with the descriptive analysis are more representative. On theaverage time spent by the public presentation and defense, the resultspoint to 2 years and 6 months for the master’s students and 4 yearsand 4 months for doctoral students.

Key-words: sport management, scientific areas, methodologies,research, dissertations and theses

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INTRODUÇÃOA área da Gestão Desportiva teve ao longo dos anosum tratamento muito específico no currículo daFaculdade de Desporto da Universidade do Porto(FADEUP). Na década de oitenta a abordagem destatemática era realizada numa disciplina de caracterís-ticas semestrais que decorria através da apresentaçãode temas por professores convidados.A partir de 1995 mudou-se de estratégia e a discipli-na à altura designada de Organização e Gestão doDesporto (OGD) foi atribuída a um professor daFaculdade, que lentamente iniciou um processo deafirmação da área dentro da Instituição. Este proces-so lento e difícil foi obtendo progressivamentepequenas e grandes vitórias numa fase inicial, e pos-teriormente entrou num período de impossibilidadede crescimento.Numa primeira fase, conseguiu-se o aumento dacarga horária através da utilização de uma hora prá-tica, o que permitiu uma nova dinâmica. Mas, ogrande momento deste processo de afirmação e cres-cimento deu-se em 1997 quando o ConselhoCientífico aprovou a proposta de criação de umMestrado em Gestão Desportiva, que catapultou aGestão Desportiva para um outro nível dentro doenquadramento das áreas científicas leccionadas naFaculdade. O ano de 1998 tratou-se de um momento fulcral deafirmação e projecção da Gestão Desportiva comoárea disciplinar no currículo da Faculdade. Já neste Século, teve lugar uma revisão curricular emque se colocou muita expectativa sobre a possibilida-de de a Gestão vir a ganhar o estatuto de área opcio-nal na licenciatura, mas tal não aconteceu. Enquantoisto, o Mestrado de Gestão Desportiva ia demons-trando grande vitalidade e procura, expressos na ele-vada percentagem de dissertações defendidas e numnúmero estável de candidatos em cada ano. Acompanhando este percurso na licenciatura e nomestrado foram-se desenvolvendo e finalizandodiversas teses de doutoramento quer de estudantesportugueses como brasileiros. Com o processo de Bolonha foi possível reformularem 2007 a estrutura do curso de Licenciatura efinalmente a Gestão Desportiva foi reconhecidacomo uma das mais importantes oportunidades deemprego na área das Ciências do Desporto, o que

de forma coerente possibilitou a sua afirmaçãocomo uma das opções para a obtenção daLicenciatura em Ciências do Desporto em conjuntocom o Treino Desportivo, Desporto e PopulaçõesEspeciais e Exercício Físico e Saúde.Assim a Faculdade de Desporto passa a oferecer no1º Ciclo de Estudos uma opção em GestãoDesportiva alicerçada em quatro cadeiras semestraise mais uma optativa de Direito do Desporto.Mantendo um 2º Ciclo de estudos dedicado à GestãoDesportiva, na sequência do que foi o Mestrado coma mesma designação.Este trabalho pretende de uma forma clara e objecti-va traçar os principais contornos da produção de dis-sertações e teses orientadas pelo Gabinete de GestãoDesportiva da UPorto nos últimos dez anos, tentan-do esclarecer dados sobre quem as realizou, como asrealizou e com a orientação de quem, refazendoassim, também, um pouco da história da GestãoDesportiva em Portugal. Uma vez que a Gestão Desportiva é essencialmenteuma plataforma de cruzamento de várias áreas cientí-ficas, que corresponde ao interesse fundamental emque cada documento se concentra, realizamos umaprospecção sobre a perspectiva de vários autores dereconhecida competência(1,11). Só depois de um estu-do comparativo de diversas posições nos decidimospela elaboração da grelha que agrupasse as áreascientíficas abordadas pela amostra do nosso estudo.Assim, para Parkhouse(7) os aspectos fundamentaispara um programa de Gestão do Desporto são:Domínio das actividades desportivas (behavioraldimensions in sport); Gestão e competências organi-zacionais em desporto (management and organiza-tional skills in sport); Ética; Marketing;Comunicação; Finanças; Economia do desporto;Direito do desporto; Política desportiva; Experiênciade terreno. Danylchuck(2) enfatizava que os programas deGestão do Desporto deveriam evoluir nos próximosanos em termos estratégicos, tendo em atenção qua-tro características fundamentais: Envolvimento comas faculdades de economia e gestão; Incrementardiversidade e especialização; Enfatizar os aspectosinternacionais e globais; Melhorar a capacidadeempreendedora. Devendo os currículos evidenciar asseguintes áreas do conhecimento: Marketing;

Gestão do Desporto

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Turismo; Recursos Humanos; Tecnologias da infor-mação; Relações internacionais; Planeamento estra-tégico; Gestão de negócios.Por outro lado, Pires e Sarmento(8) consideram quea Gestão Desportiva tem essência por ela própria,não defendendo directamente todas as áreas refe-renciadas pelos autores, mas essencialmente o con-texto em que a gestão é exercida. Estes não crêemque nenhuma escola se possa arvorar em detentorade todas as soluções que respondam aos problemasgerenciais que o mundo do desporto está a levantar.Tanto o desporto como a sua gestão são processosem plena evolução. Por isso, o conceito de gestãodo desporto é considerado como tendo em atençãoseis questões fundamentais: (1) Polissemia; (2)Dimensão híbrida; (3) Tecnologia específica; (4)Contextualização; (5) Nível de intervenção; (6)Âmbito de intervenção.Para identificar e compreender o percurso das teses edissertações defendidas na Faculdade de Desporto,nos últimos dez anos, decidimos classificar segundoum conjunto de dados objectivos (sexo, nacionalida-de, orientadores, tempo total de obtenção do grau epalavras-chave) e subjectivos (áreas científicas emetodologias utilizadas) referentes a cada trabalhoacadémico, no sentido de refazer as opções funda-mentais de investigação escolhidas.

METODOLOGIAAmostraFace ao objectivo deste estudo em caracterizar e com-preender as linhas de investigação adoptadas pelosmestrados e doutoramentos no âmbito do Gabinetede Gestão Desportiva entre 1998 e 2008, estudamos97 dissertações defendidas por alunos matriculadosentre 1998 e 2006 no Mestrado em GestãoDesportiva, e 6 teses de doutoramento referentes aosalunos que as concluíram até junho de 2008.

Procedimentos de recolha de dadosMetodologicamente, os dados para investigaçãoforam recolhidos pelos registos administrativos rela-tivos aos alunos de mestrado e doutoramento, cujotratamento passou pela análise descritiva de váriosindicadores, designadamente: sexo, nacionalidade,orientadores, tempo total de obtenção do grau.Recolhemos ainda o acervo de dissertações e teses

relativas às edições supramencionadas e procedemosà sua diferenciação quanto às áreas científicas, meto-dologias e palavras-chave.

Tratamento dos dadosCom base nas reflexões anteriores e na necessidadede caracterização pelo confronto directo de todas asteses e dissertações da amostra, optamos por classi-ficá-las seguindo as seguintes áreas científicas:Marketing/Patrocínio, Direito do Desporto,Desenvolvimento Organizacional, Planeamento eEstratégia, Qualidade, Gestão de RecursosHumanos, Instalações Desportivas, EventosDesportivos e Ensaios.A partir da análise dos procedimentos da metodolo-gia caracterizados pela literatura especializada(3,5,6,8)

utilizamos para este estudo, em termos das metodo-logias, três princípios que melhor contextualizavamesta pesquisa: abordagem, técnicas de estudo e análi-se e os instrumentos. Assim sendo, convencionamoscaracterizar as abordagens como: 1 - Qualitativas: asteses e dissertações que descrevem e produzem rela-tos de uma realidade; 2 - Quantitativas: os estudosque buscam medir e analisar as relações causaisentre as diversas variáveis; 3 - Mistas: teses e disser-tações que associam as abordagens qualitativas equantitativas em simultâneo. As técnicas de estudo e análise englobam várias pos-sibilidades: 1 - estudos exploratórios; 2 - ensaios; 3 -análise descritiva e 3 – análise documental. Relativamente aos instrumentos de recolha de dadosutilizados discriminamos: 1 – entrevistas; 2 – ques-tionários; 3 - recolha bibliográfica; 4 - recolha dedados (directa ou documental); 4 – mista, quando nautilização de mais de um instrumento.A apresentação de dados referentes ao género enacionalidade dos alunos, foi necessária devido àimportância da caracterização da amostra, principal-mente por existir a presença de estudantes estran-geiros oriundos do Brasil, Angola e Argentina. O estudo sobre os orientadores teve por base suarelação com a FADEUP permitindo a sua caracteriza-ção em: interno e externo. Os orientadores internossão aqueles que fazem parte do corpo de docentes daFaculdade de Desporto da Universidade do Porto, etodos os restantes, doutorados ou especialistas, sãoexterno.

Gestão do Desporto

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O tempo total de curso teve por base o tempo quedecorreu entre a matrícula e a defesa das provaspúblicas, tendo relativamente este indicador a amos-tra sendo constituída por 69 alunos do mestrado e 6do doutoramento.Em relação às palavras-chave apresentadas nas dis-sertações apenas referenciamos as que foram maisde quatro vezes mencionadas. Enquanto que nasteses todas as palavras citadas foram consideradas.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Dada a juventude da área da Gestão Desportiva noâmbito do ensino universitário em Portugal não exis-tem dados concretos sobre a importância relativa dosdiversos trabalhos de investigação elaborados porautores portugueses nos últimos 35 anos neste con-texto. O único dado conhecido da importância relati-va da Gestão Desportiva no que concerne as investi-gações de revisão na globalidade dos trabalhos naárea das Ciências do Desporto corresponde a umatese de doutoramento de Adroaldo Gaya(4), de 1994,que atribui uma ocorrência em valores percentuaisde apenas 1,2%.Decidimos para uma maior clareza de apresentaçãoanalisar de forma separada, mas comparativa, osresultados encontrados para as teses de doutoramen-to e dissertações de mestrado.Há claramente uma superioridade do número de dis-sertações apresentadas pelo sexo masculino, o quetambém é evidente nos alunos que se inscreveramem cada um dos cursos de mestrado (Figura 1). Eque, obviamente decorre da relação que existe daparticipação das mulheres nos cargos Dirigentes dosistema desportivo português. Este estudo mostra,no entanto, que há um crescente envolvimento dasmulheres nas funções de direcção do desporto emPortugal, já que os valores globais se aproximamagora dos 30%, contrariando outros valores de estu-dos anteriores de 19% (10).Os alunos que concluíram o mestrado em GestãoDesportiva até 2008 foram maioritariamente do sexomasculino, representando 70% do total. As mulheresapenas igualaram os homens no 7º mestrado (9 alu-nas), no qual ocuparam 50% das vagas.O número de alunos do sexo masculino seguiu umatendência decrescente. Enquanto isso, o sexo femininoteve uma tendência crescente. Podemos dizer que há

uma tendência de aproximação, dado o aumento departicipação das mulheres no contexto deste mestrado.Relativamente aos alunos do doutoramento, temos aparticipação apenas de uma mulher, o que corres-ponde a 17% (Figura 2). O que, comparativamenteaos valores encontrados para o mestrado é inferior,mas continua a revelar uma tendência crescente darelação das mulheres com a Gestão Desportiva.

Figura 2. Percentagem de alunos de doutoramento por sexo

O mestrado em Gestão Desportiva na FADEUP apre-sentou a seguinte distribuição por nacionalidade(Figura 3): 87 alunos portugueses que concluíram ocurso, incluindo os naturais e/ou residentes nasRegiões Autónomas dos Açores e Madeira, e 10estrangeiros, compostos da seguinte forma: 7Brasileiros, 2 Angolanos e 1 Argentino.

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Figura 1. Relação do número de dissertações defendidas por sexo ao longo dos cursos de mestrado

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Figura 3. Percentagem de alunos de mestrado por nacionalidade

Relativamente às teses de doutoramento essas foramrealizadas por 6 alunos, sendo 3 portugueses e 3brasileiros (Figura 4).

Figura 4. Percentagem de alunos de doutoramento por nacionalidade

Quer no mestrado como no doutoramento o aumen-to do número de alunos, principalmente brasileiros,tem vindo a aumentar progressivamente. Este factodeve-se a situação embrionária que a GestãoDesportiva ainda possui no Brasil. O que não permi-te que os estudantes oriundos deste país possamdesenvolver no seu local de residência os estudosnesta área, e se vejam obrigados viajar para outrasuniversidades que já tenham esta formação maisdesenvolvida.Dos oito cursos de mestrado analisados apenas os de2000 e 2003 não tiveram a defesa pública de disser-tação por alunos brasileiros. Dos dados recolhidos para análise do tempo médiodespendido até a apresentação e defesa pública pelosalunos (Figura 5) podemos concluir que entre osvalores médios para cada curso existe uma diferença

de 8 meses (27 a 35) e que o valor médio foi de 30meses. O que está de acordo com os valores impos-tos pela legislação.O tempo médio despendido pelos alunos estrangei-ros que concluíram o mestrado em GestãoDesportiva foi de 30 meses, o que é equivalente amédia total.O tempo médio gasto entre a entrega da dissertaçãoe a defesa pública dos alunos foi de 2 meses e 24dias, o que também está de acordo com o regula-mento.

Figura 5. Tempo médio de conclusão do mestrado

Relativamente à elaboração das teses, a média totaldo tempo despendido foi de 52 meses, sendo que osestrangeiros realizaram em termos médios 49 mesese os portugueses em 55 meses. Este facto deve-seessencialmente à pressão que os estudantes brasilei-ros sentem não apenas para a obtenção do grau, mastambém para reduzirem o tempo de estadia e de via-gens à cidade do Porto. É de salientar ainda, que otempo mínimo de execução da tese foi de 46 mesesde um estudante brasileiro e o máximo foi de 59meses de um português.A área científica a qual corresponde à média maisalta para elaboração da dissertação do mestrado é deQualidade com 33 meses e a que corresponde umtempo de execução mais baixo é deDesenvolvimento Organizacional, com valor médiode 28 meses (Figura 6). Relativamente às duas áreascientíficas do doutoramento, o tempo médio despen-dido pelos alunos foi de 52 meses, respectivamente.

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Figura 6. Duração média das dissertações do mestrado por área científica

Na orientação das dissertações do mestrado tiveramenvolvidos 31 orientadores. 29% são docentes daFADE.UP e 71% são professores convidados deoutras instituições, conforme apresentado na Figura7. Pertencente à amostra de doutoramento temos 3professores orientadores, sendo 1 interno com 4orientações e 2 externos com 1 orientação cada.

Figura 7. Percentagem de orientadores internos e externos do mestrado

Apesar desta diferença numérica, a comissão de coor-denação do mestrado em Gestão Desportiva (4 docen-tes) assumiu mais de metade das orientações (55%),como se pode verificar na Figura 8. Deste total, umprofessor orientou 31 alunos, representando 32%.

Figura 8. Percentagem de orientações das dissertações

90% das orientações dos estrangeiros (Figura 9)foram realizadas por professores pertencentes àcomissão coordenadora e 78% destas referem-se aapenas um dos professores.

Figura 9. Percentagem das orientações de dissertações de estrangeiros

51% dos Portugueses que concluíram o mestradotiveram a orientação dos professores coordenadoresdo mestrado em Gestão Desportiva (Figura 10). Aoutra parte foi orientada por diversos professores,tanto internos como externos.

Figura 10. Percentagem das orientações de dissertações de Portugueses

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Na Figura 11 a seguir é possível verificar que a áreade Desenvolvimento Organizacional apresentou 17orientações realizadas por professores internos eapenas 1 externo. Mas, a área onde se realizarammais dissertações, Planeamento e Estratégia, 16 alu-nos receberam orientação de professores internos e10 externos. Apenas na área de Marketing/Patrocíniohouve mais orientações de professores externos doque internos.

Figura 11. Relação da quantidade de orientadores internos e externos das dissertações por área de investigação

A distribuição das dissertações apresentadas pelasdiversas áreas científicas não é regular ao longo dosanos. Aparecem sim, picos de interesse relativamen-te a cada área nos diversos cursos. Inicialmentevamos fazer a abordagem das áreas numa lógica glo-bal e somente depois analisaremos os diversos picosde interesse.A área científica que apresentou maior percentagemde estudos no mestrado foi a de Planeamento eEstratégia, com 27% conforme identificado na Figura12, sendo a única área que esteve presente ao longodos 8 cursos (Figura 13). Esta área recebeu maisatenção dos alunos que concluíram durante os doisprimeiros anos de curso em Gestão Desportiva, com6 alunos em cada ano. No 8º curso teve a maior pro-cura quando comparada com as outras áreas, corres-pondendo a 4 alunos.

Figura 12. Percentagem das dissertações por área científica

A área de Desenvolvimento Organizacional foi asegunda mais investigada nos 8 cursos, correspon-dendo a 19% (Figura 12). Esta área obteve maiornúmero de alunos no 7º curso, seguida neste casopela área da Qualidade, com 5 alunos.

Figura 13. Quantidade de dissertações por área científica ao longo dos cursos

A área de Gestão de Recursos Humanos obteve no3º curso a sua maior procura com cerca de 40% dosalunos. Relativamente às teses de doutoramento, as áreasem que elas foram englobadas são as deDesenvolvimento Organizacional e Direito doDesporto correspondendo exactamente 50% a cadauma delas.Quanto ao processo metodológico destacamos quede entre as abordagens mais utilizadas pelos alunossurgem as Quantitativas, com 58% das dissertações(Figura 14). Esta abordagem foi a mais trabalhadanos 6 primeiros anos do curso.

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A abordagem Qualitativa teve um pico de concentra-ção a partir do 7º mestrado mantendo-se superior àsoutras abordagens nos 2 últimos anos. As disserta-ções que foram defendidas contendo a abordagemQualitativa e Quantitativa ao mesmo tempo seguiuuma tendência mais ou menos constante ao longodos 8 mestrados (Figura 14). Nas teses de doutora-mento verificou-se 50 % de utilização da metodolo-gia qualitativa.

Figura 14. Relação das abordagens metodológicas nas dissertações de mestrado ao longo dos cursos

Dos dados recolhidos do mestrado podemos perce-ber que o estudo exploratório foi a técnica que sedestacou na amostra, tendo aparecido muitas vezesassociada a análise documental e análise descritiva(Figura 15). Nas 6 teses de doutoramento foi utiliza-da a técnica de estudo exploratório, de forma combi-nada ou isolada.A análise descritiva, isoladamente, foi apenas utiliza-da em 2 dissertações, contudo, foi utilizada em

simultâneo com o estudo exploratório, em mais doistrabalhos (Figura 15). A análise documental repre-sentou apenas 6% da amostra.Quanto aos instrumentos de recolha de dados utili-zados nas dissertações de mestrado verificamos quea operação mista representou 35%. Enquanto oquestionário, após uma estabilidade durante os 7primeiros anos do mestrado, sofreu uma queda brus-ca no 8º (Figura 16), a entrevista, que não apareceuno 4º e 5º anos consecutivos, teve um crescimentono 7º e manteve-se no último ano de análise.Relativamente às palavras-chave seleccionadas pelosautores das dissertações nota-se uma clara prevalênciadas designações da Qualidade, Organização/Estruturae Desporto num primeiro grupo com mais de 20 cita-ções, e depois um segundo grupo onde se evidenciamainda as designações das Autarquias, Gestão,Formação, Actividade Física e Piscinas, todas elas commais de 10 citações, conforme distribuição apresenta-da na Figura 17. A partir daqui forma-se um grupo de16 designações, mas com muito menor representativi-dade, abaixo de 10 citações.As palavras-chave citadas pelos alunos do doutora-mento foram diversas e as mesmas se apresentaramuma única vez, com excepção da palavra Desportoque apareceu 2 vezes. São elas: Desporto, Parceria,Impactos, Estratégias, Extensão Universitária,Escola, Clube, Autarquia, Lazer, Tempo Livre,Direito do Desporto, Desporto Profissional, Clubese Sociedades Desportivas, Ligas Profissionais,Competição Desportiva Profissional e Praticantedesportivo.

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Figura 15. Relação das técnicas de análise e estudo nas dissertações de mestrado ao longo dos cursos

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CONCLUSÕESApós este estudo podemos concluir que:- Ainda prevalece o sexo masculino na investigaçãoem Gestão Desportiva, mas sente-se uma clara evo-lução da participação da mulher.- Apesar de participarem alunos de diversos paísesnestes programas de mestrado e doutoramento pre-valecem maioritariamente os portugueses.- O tempo de realização das teses e dissertações estádentro do previsto na legislação, havendo pequenasexcepções.

- O maior número de orientações esteve a cargo dosmembros da comissão coordenadora, assim como emtermos globais prevaleceram os orientadores inter-nos, havendo, no entanto um importante grupo deorientadores externos constituído por doutores eespecialistas.- As teses de doutoramento apenas foram agrupadasem duas áreas científicas, enquanto as dissertaçõesde mestrado estão distribuídas pelas nove áreas cien-tíficas previamente formuladas. A área mais estuda-da foi a do Planeamento e Estratégia nas disserta-

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Figura 16. Relação dos instrumentos de recolha de dados nas dissertações de mestrado ao longo dos cursos

Figura 17. Relação do número de citações das palavras-chave nas dissertações de mestrado

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ções, enquanto no doutoramento a divisão foi equi-tativa entre Desenvolvimento Organizacional eDireito do Desporto.- Em termos metodológicos sentiu-se ao longo dosanos alguma evolução principalmente relacionadacom o aumento dos estudos qualitativos e a diminui-ção dos quantitativos e o recurso preferencial à utili-zação dos questionários e entrevistas como ferra-mentas metodológicas.- Por fim, as três palavras-chave mais referenciadascorrespondem à Qualidade, Organização/Estrutura eDesporto. Apenas a palavra Qualidade extravasa asexpectativas iniciais, o que certamente corresponde-rá no futuro a uma das principais linhas de investi-gação na área da Gestão Desportiva.

CORRESPONDÊNCIADaiane Miranda de FreitasGabinete de Gestão DesportivaRua Dr. Plácido Costa, 91 - 4200-450 Porto, PortugalE-mail: [email protected]

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A criatividade como alavanca para uma melhor gestão desportiva

Mafalda Moreira 1Daiane Miranda de Freitas 2

1 Faculdade de EngenhariaUniversidade do PortoPortugal

2 Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOO objectivo deste estudo é demonstrar que a criatividadeamplia o espectro de soluções possíveis para as questões pre-sentes nas actividades diárias de um Gestor Desportivo e dasorganizações desportivas.Metodologicamente, os dados foram recolhidos da revisãobibliográfica dos principais autores sobre criatividade e pensa-mento sistémico. Num primeiro momento, o tratamento dosdados baseou-se na relação da “5ª disciplina” de Peter Sengecom os princípios, práticas e a essência de cada uma das cincodisciplinas em aprendizagem. Em seguida, no cruzamento dascinco disciplinas com factores de incentivo e barreira à criativi-dade dentro de uma abordagem sistémica e a partir de concei-tos da criatividade organizacional e do pensamento sistémico.O resultado obtido mostrou-nos informações que poderão sub-sidiar o trabalho do Gestor Desportivo no sentido de promovero seu potencial criativo. Verifica-se, porém, a existência dediversas barreiras e incentivos à criatividade, as quais devemser evitadas ou fomentadas, respectivamente, para se obter efi-cácia na gestão da organização. A criatividade actua como fac-tor impulsionador da inovação na Gestão Desportiva, uma vezque surgem diversas soluções possíveis para as questões dodia-a-dia do Gestor e das organizações, constituindo-se umaalavanca para uma melhor Gestão.

Palavras-chave: criatividade, gestão desportiva, abordagem sis-témica

ABSTRACTCreativity as leverage for better sports management

The purpose of this study is to demonstrate that the creativity extendsthe specter of possible solutions for the questions in the daily activity ofa Sporting Manager and the sporting organizations.Methodologically, the data had been collected of the bibliographicalrevision of the main authors on creativity and systemic thought. At afirst moment, the treatment of the data was based on the relation of“5ª discipline” of Peter Senge with the principles, practical and theessence of each one of the five discipline in learning. After that, in thecrossing of the five discipline with factors of incentive and barrier tothe creativity inside of a systemic boarding and from concepts of theorganizational creativity and the systemic thought.The result obtained showed us informations that will be able to subsi-dize the work of the Sporting Manager in the direction to promote hispotential creative. It is verified, however, the existence of diverse barri-ers and incentives to the creativity, which must be prevented or befomented, respectively, to get effectiveness in the management of theorganization. The creativity acts as factor booster of the innovation inthe Sporting Management, a time that diverse possible solutions for thequestions of day-by-day of the Manager and the organizations appear,consisting a handspike for one better Management.

Key-words: creativity, sports management, systemic approach

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INTRODUÇÃOPara Pires e Sarmento(12) os desafios actuais encon-trados na Gestão do Desporto implicam uma buscade diferentes soluções e oportunidades de interven-ção que se multiplicam em função da criatividadedas pessoas, das organizações e até da própria dinâ-mica social em que se encontram. Enquanto as orga-nizações e os sistemas são capazes de acompanharesta dinâmica tudo se desenrola de forma natural.No entanto, quando não existe essa capacidade surgea crise, tal como pode ser constatado em muitasorganizações e sistema desportivo em Portugal.Nesta perspectiva, um clube, uma federação, ouqualquer outra organização deve ser vista como umsistema vivo em que os diversos recursos são geridosde forma a serem obtidos melhores resultados aonível do planeamento, da liderança, da organização edo controlo. É evidente que um melhor funciona-mento nestes domínios garante a eficácia e eficiênciana obtenção de resultados desportivos.A realização deste trabalho surge num momento emque se torna necessário repensar os modelos deGestão Desportiva, reciclar mentalidades e encontraruma forma de lidar com um mundo cada vez maiscomplexo, veloz e em contínua mutação. Num mundo cada vez mais interligado, com osnegócios mais complexos e dinâmicos, as empresasbuscam na superação das deficiências de aprendiza-gem uma forma de reconhecer novas oportunidadese entender os perigos que bloqueiam seu desenvolvi-mento. Dentro desse contexto, Peter Senge, especia-lista em administração do MIT (Massachusetts Instituteof Technology), apresenta sua revolucionária concep-ção das ‘organizações de aprendizagem’ - uma formade administrar baseada em cinco disciplinas integra-das pelo ‘raciocínio sistémico’ (a compreensão darealidade como um todo indivisível e auto-recorren-te), que leva à compreensão dos perigos que amea-çam a sobrevivência da organização e a reconhecernovas oportunidades.“Os seres humanos aprendem realmente quando há mudan-ças fundamentais na sua maneira de ver o mundo e altera-ções significativas de suas capacidades” (17, p.88).A premissa de que o indivíduo tanto deve pensarlocalmente como globalmente, vai de encontro à teo-ria sistémica, que estuda as inter-relações decausa/efeito entre os vários elementos de um siste-

ma - contempla o todo, os padrões e as partes. Estaabordagem estuda a complexidade das relações, tor-nando compreensível como as acções criam os pro-blemas existentes num sistema(18). É necessário res-saltar que na abordagem sistémica a totalidade dosistema é muito mais do que a soma das suas partes. Neste contexto, verifica-se a importância de adoptarmodelos organizacionais dinâmicos e flexíveis, umavez que manter a ligação a antigos paradigmas levaráas organizações à estagnação e à perda de oportunida-des. Neste sentido, o uso de técnicas de criatividadefacilita a convivência na crescente complexidade orga-nizacional que as novas tecnologias ajudaram a criar. Segundo Morais(10), a definição do conceito deCriatividade apresenta alguma controvérsia pela suacomplexidade. Estamos perante um termo ambíguoque facilmente se confunde com termos como:génio, inteligência ou talento. Da imensidão de defi-nições referentes ao conceito de criatividade, estetrabalho baseia-se na definição de Tschimmel(19):“Capacidade cognitiva de um sistema vivo (indivíduo,grupo, organização) de produzir novas combinações (práti-cas, materiais, estéticas, semânticas), dar respostas inespe-radas, úteis e satisfatórias, dirigidas a uma determinadacomunidade. É o resultado de um pensamento intencional, posto ao servi-ço da solução de problemas que não têm uma solução conhe-cida ou que admitem mais e melhores soluções que as jáconhecidas.”A criatividade é vital para o sucesso das organizaçõese funciona como “o combustível que dá vida à inova-ção”(6), ou seja, é factor impulsionador da inovação.Neste sentido, o objectivo deste estudo é demonstrarque a criatividade amplia o espectro de soluções pos-síveis para as questões presentes no dia-a-dia de umGestor Desportivo e das organizações desportivas.Isto significa que são necessárias cada vez mais estra-tégias originais para que o gestor possa ser realmenteinovador e apresentar resultados competitivos.

METODOLOGIAO procedimento metodológico adoptado para aten-der ao objectivo proposto baseia-se na revisão biblio-gráfica dos principais autores sobre criatividade epensamento sistémico.O tratamento dos dados foi realizado, num primeiromomento, com base na relação da “5ª disciplina” de

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Peter Senge com os princípios, práticas e a essênciade cada uma das cinco disciplinas em aprendizagem.Em seguida, baseou-se no cruzamento das cinco dis-ciplinas de Peter Senge com factores de incentivo ebarreira à criatividade dentro de uma abordagem sis-témica de autores como Amabile(1), Hipple(7),Patterson(11), Rodrigo(15), Tschimmel(19), Williams eYang(20) e conceitos de criatividade organizacional edo pensamento sistémico de autores como Bilhim(3),Brabandere(4), Johansson(8), Brasil e Ritto(5) eRidderstråle(13). Deste cruzamento, resultou a síntese de um conjun-to de acções e características a fomentar e a evitarpara atingir melhores resultados organizacionais.Buscou-se, a partir de então, exemplificar os dadosobtidos do cruzamento dos conceitos com a realida-de do sistema desportivo.

RESULTADOS E DISCUSSÃOAtravés da exploração da abordagem sistémica doconceito de criatividade e de factores que fomentamo pensamento criativo pretende-se construir um dis-curso consistente orientado para o GestorDesportivo e organizações desportivas.A criatividade vista de uma perspectiva sistémica,ajuda o Gestor a identificar inter-relações entre dife-rentes elementos, em vez de observar cadeias derelações lineares. Desta forma, o Gestor do Desportopassa a compreender melhor a complexidade dinâmi-ca das várias situações organizacionais e adquire fer-ramentas que lhe permitem lidar mais facilmentecom essa complexidade. Do ponto de vista sistémico, o leque de possíveisvariáveis a observar pode ser estendido aos univer-sos infinitamente grandes e infinitamente pequenos,uma vez que tudo são sistemas interligados e inter-dependentes, gerando efeitos de causalidade, muitasvezes difíceis de prever.Peter Senge, autor de A 5ª disciplina, criou este con-ceito em 1990 como resultado da associação do pen-samento sistémico a um grupo de disciplinas que,convergindo e trabalhando em conjunto, visammelhorar a prestação das organizações. Falamos de:1. Mestria Pessoal; 2. Modelos Mentais; 3. Visão Compartilhada;4. Aprendizagem em Equipa;5. Pensamento Sistémico.

A “5ª disciplina” procura compreender como asacções de diversos sistemas originam futuras situa-ções e problemas. Um dos seus objectivos assenta nacompreensão da subtileza de determinadas interac-ções chave e de como estas influenciam comporta-mentos ao longo do tempo. Para garantir a eficácia deste conceito no SistemaDesportivo é necessária uma mudança de mentalida-de no seio das organizações, assim como a utilizaçãodo pensamento sistémico pelo Gestor Desportivo. De seguida serão descritas e referenciadas com aliteratura as cinco disciplinas em aprendizagem quevêm convergindo para facilitar a inovação nas organi-zações que aprendem. Embora desenvolvidas separa-damente, cada uma delas é fundamental para osucesso das outras.

1. Mestria PessoalTrata-se de um ponto de vista criativo e não reactivo,sendo que através dos indivíduos que aprendem, asorganizações aprendem. Os Gestores Desportivos determinados a promover aMestria Pessoal devem esclarecer continuamente o queé importante para si e aprender continuamente a visua-lizar com mais clareza a realidade do momento(18). As exigências aos quadros directivos no mundo dofutebol hoje são, incomparavelmente, diferentesdaquelas que colocaram nos últimos trinta anos.Mudanças estas que exigem dos GestoresDesportivos uma visão mais sistémica da realidade,envolvimento num conjunto de ideias, objectivos,processos e valores partilhados(9).

2. Modelos MentaisOs modelos mentais demonstram o entendimentoindividual de como o mundo funciona e, consequen-temente, demonstram que as acções dos gestoresestão por trás da sua visão do mundo. Consiste emreflectir, esclarecer continuamente e melhorar a ima-gem que cada um tem do mundo, a fim de verificarcomo moldar actos e decisões(18).

3. Visão compartilhadaSegundo Senge(18), o objectivo da visão compartilha-da é estimular o engajamento do grupo em relaçãoao futuro que se procura criar e elaborar os princí-pios e as directrizes que permitirão que esse futuro

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seja alcançado. Esta disciplina é uma força nas orga-nizações em aprendizagem, pois gera mais energia eaprendizagem.Para Maçãs(9), o papel do Gestor Desportivo no fute-bol está no estabelecimento de uma ligação funcio-nal prioritária entre a administração da organização eo cargo do treinador, bem como um conjunto derelações internas e externas à organização desporti-va, neste caso, exigindo do mesmo uma visão com-partilhada.

4. Aprendizagem em equipa A disciplina de aprendizagem em equipa domina aspráticas do diálogo e discussão como fundamentaispara o seu desenvolvimento(14). Dentro das organiza-ções desportivas, as equipas de sucesso desenvolvemum trabalho coordenado, onde cada membro temconsciência de que faz parte de uma equipa e age demodo a complementar as acções dos outros inte-grantes(2).

5. Pensamento sistémicoO pensamento sistémico reside na visão do todo, dodetalhe, do padrão e das diversas inter-relações entreos elementos de um ou mais sistemas.O Gestor Desportivo assume uma importância deci-siva na gestão das organizações, tornando um dosactivos estratégicos, com base no seu capital huma-no, alicerçado no seu conhecimento, qualificações epotencial inovador(9).Na tabela 1 encontram-se sintetizados os princípios,práticas e a essência de cada uma das cinco discipli-nas em aprendizagem definidas anteriormente, assimcomo a sua relação com a “5ª disciplina”. Para clari-ficar o significado da palavra essência aqui apresen-tada, é assumido que se trata do estado experimen-tado naturalmente pelos indivíduos com alto nívelde mestria em cada uma destas cinco disciplinas.Das cinco disciplinas de Peter Senge podemos retirarconclusões relativamente a incentivos e barreiras àcriatividade. O cruzamento dos vários factores quefomentam e bloqueiam a criatividade organizacionalcom as cinco disciplinas em aprendizagem será apro-fundado de seguida com exemplos do sistema des-portivo e culmina na apresentação de uma tabelasíntese (Tabela 2).

Incentivos à criatividadeSeguindo a questão já apontada e quase implícita deque o mundo está em constante mutação, é necessá-rio cultivar a capacidade de mudar, quer ao nível pes-soal, quer ao nível organizacional, para crescer eobter resultados positivos(11). O aumento de processos criativos constitui, por isso,um factor fundamental para aumentar a competitivi-dade e inovação da organização desportiva. A criatividade pode ser estimulada a partir do gostopela aprendizagem(1). “O aprendizado não tem muitoa ver com treinamento. O aprendizado ocorre no dia-a-dia, ao longo do tempo” (17, p. 84). “Ele percebeu emmim não a minha vocação ou a possibilidade de metornar um craque no voleibol, mas a persistência, ateimosia, a vontade de sempre voltar para um novocomeço a cada derrota” (2, p.30). Estas palavras do téc-nico Bernardinho(2) referem-se as suas característicaspessoais percebidas pelo seu treinador de vôlei,sendo que, como atleta da época ou como técnico naactualidade, ele demonstrava e demonstra o gostopor aprender com os erros ou com as vitórias, embusca sempre da eficiência.Para encorajar estilos de pensamento criativo naorganização desportiva é necessário que cada ele-mento da organização tenha autorização e liberdadepara o fazer, sendo que a presença de ciclos de feed-back(1, 20) potencia o surgimento do pensamento cria-tivo. Os vários momentos de feedback entre o GestorDesportivo e todas as áreas, futebol negócio ou fute-bol jogo, com que este lida contribuem significativa-mente para a identificação de novas oportunidadesexpressas em serviços, produtos e estratégias inova-doras, além de garantir o melhor funcionamento sis-témico da organização desportiva(9). A actividade auto-iniciada comporta sugestões demelhoramentos e desenvolvimentos organizacionais deforma livre, explorada e desenvolvida pelos váriosmembros da organização(14). É inevitável fazer umaanálise inversa a este factor e, para isto, evidenciamoso sistema desportivo português que acaba por estagnarpor falta não só de novos recursos humanos como peladesactualização daqueles que se perpetuam e multipli-cam por vários lugares por anos a fio, alimentando-sedas próprias organizações a que pertencem(12).Outro factor que incentiva à criatividade refere-se aestímulos diversos(14), internos e externos à organi-

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zação, dos quais se tira algum tipo de vantagem paraaplicar na organização. O Gestor Desportivo deveestar apto a equacionar a complexidade do futebolnegócio e a complexidade do futebol jogo, tornando-se criativo na gestão dos factores que influenciamdirectamente o rendimento em jogo (Lógica Internado Jogo) e a organização desportiva em geral (LógicaExterna do Jogo)(9).

Além disso, promover situações em que os indiví-duos possam criar novas soluções e desenvolvernovas ideias(1) estimula a criatividade. Ambientescomo o do futebol, referido por Maças(9), em queexistem mudanças normativas, limitação de recursoshumanos, a concorrência característica do meio e anecessidade de sobrevivência, justificam-se algumasdas atitudes criativas do Gestor Desportivo para uma

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Disciplinas em aprendizagem

Essências Princípios Práticas Ligação com a “5ª disciplina”

Mestria Pessoal - Ser - Gerar - Ligação

- Visão - Tensão criativa vs tensão emocional - Subconsciente

- Clarificar a visão pessoal - Manter a tensão criativa (focar no resultado, ver a realidade actual) - Fazer escolhas

Integra razão e intuição, compromisso com o todo e uma visão do mundo mais sistémica.

Modelos Mentais - Defender a verdade - Abertura

- Teoria adoptada vs teoria em uso - Equilibrar questionário com argumentação

- Distinguir abstracções baseadas em dados (testar suposições, a “coluna esquerda”)

Os modelos mentais expõem suposições escondidas, enquanto o pensamento sistémico revela as causas de problemas significativos.

Visão Compartilhada - Propósito comum - Parceria

- Visão partilhada como holograma - Compromisso vs Submissão

- Processo da visão (partilhar visões pessoais, ouvir os outros, permitir liberdade de escolha) - Reconhecer a realidade actual

A visão cria a imagem do que queremos. O pensamento sistémico revela como criámos a situação presente. Adquire-se a percepção das estruturas subjacentes que limitam o crescimento.

Aprendizagem em Equipa

- Inteligência colectiva - Alinhamento

- Integrar diálogo e discussão - Rotina defensiva

- Suspender suposições - Agir como colegas - Mostrar a própria defesa - Praticar

O pensamento sistémico e as suas ferramentas são essenciais à aprendizagem em equipa que envolve uma luta com a complexidade.

Pensamento Sistémico

- Holismo - Inter-ligação

- Estrutura influencia o comportamento - Política de resistência - Vantagem

- Arquétipos de sistema - Simulação

A 5ª disciplina é a disciplina que integra todas as disciplinas e recorre, para isso, à análise sistémica

Tabela 1. Essência, princípios, práticas e relação das disciplinas em aprendizagem com a “5ª disciplina”

Fonte: Senge (18)

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melhor dinâmica organizacional.Evitar e desencorajar situações de competição impli-ca em uma das formas de incentivo à criatividade,algo que Bernardinho, actual treinador da equipa devôlei masculina do Brasil, fez muito bem quando sedeparou com uma jogadora da sua equipa da época -“solista que não pensa muito na orquestra” (p. 92).Segundo Bernardinho(2), “o que eu quis, e luteimuito para conseguir, foi fazer que ela dividisse sualuz, sua excelência técnica, com as demais jogadoras.E que desenvolvesse a consciência da interdependên-cia que existe no voleibol”.O alinhamento como princípio que pode ser aplicadocomo alavanca ao processo criativo corresponde àcompreensão e contribuição de toda a equipa para os

objectivos da organização(14). Se os membros tiverema sensação de que foram ouvidos, participando nasdefinições dos objectivos do seu trabalho e da suaorganização, promoverão maior alinhamento, coesãocom a organização e uns com os outros(3). “A dispo-sição de uma equipe e o entendimento e a colabora-ção entre os jogadores na quadra podem ser maisdecisivos que o brilho individual” (2, p. 46).Cultivar o seguimento de valores organizacionais emsubstituição da aplicação de regras também favoreceà criatividade para que o indivíduo mantenha a suaindependência e opte por seguir esses mesmos valo-res(1). Uma das obrigações do Gestor Desportivo éprovocar, desafiar, instigar, buscar nada menos que omáximo. Só isso faz crescer(2), pois a criatividade do

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Tabela 2. Cruzamento dos vários factores que fomentam e bloqueiam a criatividade organizacional com as cinco disciplinas em aprendizagem de Peter Senge.

Fontes: Amabile(1), Brasil e Ritto(5), Hipple(7), Patterson(11), Ridderstråle(13), Senge(18), Williams e Yang(20)

Disciplinas em aprendizagem

Incentivos à criatividade organizacional Barreiras à criatividade organizacional

Mestria Pessoal

Gosto pela aprendizagem Liberdade pessoal para seguir os valores organizacionais Actividade autónoma auto-iniciada, Observação e análise crítica do meio envolvente (intra e extra organização) Aceitação de ideias novas

Crença de que a vantagem competitiva tem bases sólidas Ilusão de aprender com a experiência Ilusão de ter o controlo “Eu sou a minha posição” Personalidade burocrática

Modelos Mentais Comunicação entre os diferentes domínios e subsistemas individuais da organização Partilha de informação

Personalidade burocrática Pensamento conservador Adesão rígida a regras Inovação baseada no indíviduo médio

Visão Compartilhada Não competição Alinhamento de valores e objectivos Compromisso

“Eu sou a minha posição” Pensamento conservador Adesão rígida a regras

Aprendizagem em Equipa

Experimentação Abertura a diferentes perspectivas Feedback dos vários domínios Adaptação de soluções Comunicação constante

Presença de estruturas de ranking Fraco conhecimento das competências de cada um O mito da equipa de gestão

Pensamento Sistémico

Sistema organizacional flexível Exposição e análise de estímulos diversos para fomentar soluções criativas Observar ciclos de feedback

A parábola do “sapo a ferver” Fixação em eventos Síndrome do “inimigo anda por aí”

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grupo como resposta à solução dos diversos proble-mas é colocada em questão no momento em que sebusca o melhor resultado. A actividade não-oficial tem como objectivo melhorara prestação da organização, na qual os membros destesistema associam a sua vida diária à organização comuma visão crítica, encontrando facilmente novas solu-ções e alternativas que favoreçam todo o sistema(14).Serendipity1 corresponde aos acidentes agradáveis eproveitosos para a organização, embora os autorescompreendam que o seu real significado esteja algocorrompido. É fundamental que o treinador de umaequipa monitore intensamente sua relação com oscolaboradores em momentos de sucesso, e disponhade capacidade criativa para conscientizá-los de queser bom é imprescindível, mas estar preparado sem-pre é indispensável(2).O Gestor Desportivo deve fomentar o significado de“organização” como um sistema complexo, social,político e técnico, assim como deve anular os váriosfactores que inibem a criatividade(11). Os factorescomo a autonomia dada à equipa, a atenção paracom os objectivos, a visão de cada um, a flexibilidadee a análise atenta, não só fomentam a criatividadecomo abrem portas para novos pontos de vista. Patterson(11) refere que a identificação de novasoportunidades e a abertura a novas perspectivasrequer uma aprendizagem organizacional e indivi-dual que irá capacitar todo o sistema de ferramentaspermitindo a integração das soluções inovadoras,resultantes do pensamento criativo, dos objectivosestratégicos e da realidade em que a organização seencontra inserida. As consequências do aumento de processos criativosorganizacionais orientados são a inovação e os resul-tados competitivos no mercado. A criatividade orga-nizacional é a base para a criação da inovação e comotal, estes dois conceitos devem ser encarados deforma paralela e complementar. Os sistemas organizacionais que reagem aos “por-quês” com interesse e curiosidade e que respeitam oseu potencial criativo apresentam um maior poten-cial para evoluir, aprender e inovar(5).

Barreiras à criatividadeSe uma organização não fomenta a produção deprestações criativas de forma correcta, nem está

atenta aos vários bloqueios existentes, não consegueassumir-se como uma organização em aprendizagem,uma vez que não evolui nem se adapta ao meioenvolvente.Para vencer as barreiras à criatividade, os gestoresdesportivos e as respectivas organizações devemfocar a sua atenção em medidas que facilite a comu-nicação, o trabalho multidisciplinar, a auto-iniciativa,a liberdade pessoal e a não competitividade interna.Williams e Yang(20) defendem que os sistemas orga-nizacionais tradicionais, rejeitam potenciais ideiaspouco familiares e diferentes, quebrando qualquerfluxo de ideias e novos conceitos, pois fomentam umpensamento conservador, uma adesão rígida a regrase regulamentos, uma forte divisão de tarefas e umapresença de estruturas de ranking. Na relação entre supervisores e colaboradores, umfraco conhecimento das competências de cada cola-borador por parte do supervisor, leva frequentemen-te ao bloqueio de novas ideias por desconhecimen-to(18). Uma característica fundamental do Gestorcomo forma de fomentar a criatividade da sua equi-pa, e não bloqueá-la, neste exemplo na função detreinador, é ter conhecimento de como o jogadorpensa, como ele se sente, quais são as suas expecta-tivas e seus limites(2).Os autores Williams e Yang(20) defendem que indiví-duos com uma personalidade burocrática se sentemameaçados por conceitos de inovação e mudança,uma vez que o seu objectivo organizacional está cen-trado na segurança e manutenção do salário e posi-ção que ocupam, seguindo as regras de forma exces-siva. Estas barreiras pessoais à implementação da criativi-dade organizacional, não são o único entrave(20). Ahierarquia é também apresentada como factor dedesencorajamento da criatividade, pela excessivaburocracia que implica, pela pouca importância queos gestores atribuem ao trabalho dos subordinados epela ganância e insensibilidade com o que rodeia osgestores de carreira. Ridderstråle(13) afirma que a “criação da novidade jánão é opcional” para as organizações, mas mesmoassim ainda há obstáculos a enfrentar para que ainovação seja atingida. Um dos primeiros obstáculosassenta na própria definição do que é a inovação,que ainda se encontra associada aos limites da orga-

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nização em termos de produtos e recursos, quandoesta apresenta um espectro mais alargado e ligado aprocessos criativos. O segundo é a crença de que avantagem competitiva tem bases sólidas, intempo-rais e vitalícias. Para se manterem competitivas, asorganizações não podem tomar como certa a suaposição no mercado e têm de estar em constanteprocura de novas fontes de vantagem competitiva.Por fim, o terceiro obstáculo foca na antiga concep-ção de inovação baseada no indivíduo médio, nasmassas e em soluções genéricas, quando o que sepassa nos dias de hoje é que os “extremos governamo mundo” e que soluções realmente diferentes, nãofocadas no que já existe, são as alavancas para osucesso organizacional(13).De acordo com estas barreiras, é necessário criarestratégias e comportamentos que consigam desen-cadear resultados originais nas organizações despor-tivas, respondendo à permanente e veloz mudançaem que a sociedade vive.

CONCLUSÕESAo analisar a literatura teórica sobre o pensamentosistémico e a criatividade no contexto organizacionaldeparamos com inúmeras informações que poderãosubsidiar a actuação do Gestor Desportivo no senti-do de promover o seu potencial criativo. Verifica-se,porém, a existência de diversas barreiras e incentivosà criatividade, as quais devem ser evitadas ou fomen-tadas, respectivamente, para se obter eficácia na ges-tão da organização.O pensamento sistémico surge como antídoto paraque o Gestor Desportivo lute contra o constante sen-timento de impotência face à crescente complexida-de com que se depara. O Gestor deve encarar as dis-ciplinas que compõem esse pensamento como um sósistema, onde estas convergem criando uma onda deexperiências e avanços na organização.É preciso despertar para ver as inter-relações entrediferentes elementos, em vez de apenas observarcadeias lineares de causa/efeito, assim como analisaras estruturas como um todo ao invés de olhar paraeventos isolados. A vantagem desta abordagem é queoferece ao Gestor Desportivo e, consequentemente, àsorganizações desportivas ferramentas que permitemcompreender a complexidade dinâmica das situaçõessem se perder na complexidade do detalhe(18).

De modo geral, a criatividade amplia o espectro desoluções possíveis para as questões presentes no dia-a-dia de um Gestor Desportivo e das organizaçõesdesportivas, constituindo, por conseguinte, uma ala-vanca para uma melhor Gestão Desportiva.

NOTAS1 A palavra serendipity teve a sua origem em 1557, no livro deMichele Tramezzino intitulado “Os Três Príncipes de Serendip”.Narra a história, que o rei Giaffer que governava a ilha deSerendip no extremo oriente, tinha três filhos que enviou forada ilha de modo a completarem a sua formação. Durante a suaviajem e de forma sagaz, os três príncipes faziam constantesdescobertas por acidente, o que contribuiu para a sua sabedoriacomo fututros reis de Serendip. O uso do termo serendipity foiinspirado pela história de Michele Tramezzino e os seus primei-ros registos foram encontrados numa das cartas escritas porHorace Walpole (1717-97), filho do primeiro-ministro RobertWalpole ao rei George II (Florença). (online inhttp://www.espacoacademico.com.br/013/13mendes.htm, ace-dido em 02-03-08)

CORRESPONDÊNCIAMafalda Vaz Pinto Moreira Rua Amadeu de Sousa Cardoso, 50, Ap703, 7º andarSenhora da Hora, 4460-481, Matosinhos PortugalE-mail: [email protected]

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Políticas públicas desportivas: avaliação do nível de execução e eficácia nos municípios da Área Metropolitana do Porto

Carlos JanuárioPedro SarmentoMaria José Carvalho

Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOO interesse político das autarquias locais em torno do desportonão é recente. Todavia, a sua imposição como um “direito detodos” tanto a nível dos textos e documentos internacionaiscomo nacionais rondará as quatro décadas. Ignorar a suaimportância é, pois, contradizer os interesses, necessidades eexpectativas das populações, assim como, o interesse públicoque lhe está subjacente. É nosso propósito investigar o interes-se, a promoção e a operacionalização das políticas públicas, osprogramas e as medidas de acção por parte do poder local nodesporto. A amostra contemplará os municípios da ÁreaMetropolitana do Porto. Metodologicamente, recorreremos aentrevistas e análise documental de fontes diversas. Os resulta-dos terão por base a análise de conteúdo, a estatística descritivae a interpretação jurídica e, na sua discussão, atenderemos adissertações na área, à doutrina e à jurisprudência. Por fim,apontaremos as principais conclusões e recomendações.

Palavras-chave: políticas públicas desportivas, autarquias, acti-vidade física e desportiva

ABSTRACTPublic sportive policies: assessment of the performance and effec-tiveness in the municipalities belonging to the Metropolitan Areaof Porto

The political interest of local autarchies around sports isn’t recent.Nevertheless, it’s imposition as a “right to everyone” either in the inter-national subjects or in a national level, goes round four decades.Ignoring its importance it’s to contradict the population’s interests,needs and expectations, as well as its underlying public interest. It’sour purpose to investigate the interest, promotion and operative skillsof public policies, the programs and the action measures of local powerconcerning sports. The sample will contemplate the municipalities ofthe Metropolitan area of Porto. Methodologically speaking, we will useinterviews and documental analysis of several sources. The result willhave as basis the content’s analysis, the descriptive statistics and thelegal interpretation and, in its discussion, we will attend the disserta-tions in the area, the principles and the jurisprudence. At last we willpoint out our main conclusions and recommendations.

Key-words: public sportive policies, autarchies, physical and sportiveactivity

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INTRODUÇÃOO papel das autarquias no capítulo desportivo temvindo a ser reforçado. No entanto, ao mesmo tempoque se verifica uma uniformidade legislativa, as prá-ticas parecem demonstrar a existência de algumadiversidade na intervenção. Importa assim, analisaras razões dessa diversidade de modo a aquilatar daexistência, ou não, de um desempenho específicoe/ou comum por parte dos Municípios da ÁreaMetropolitana do Porto, na estruturação e desenvol-vimento de uma política pública desportiva.Atendendo ao objecto de estudo, situado no interes-se político das autarquias locais no âmbito desporti-vo, os grandes propósitos desta pesquisa são osseguintes:1. Conhecer as propostas de fomento e apoio à acti-vidade física e desportiva de âmbito municipal; 2. Identificar e classificar as ofertas desportivasmunicipais;3. Avaliar o cumprimento das atribuições e compe-tências legais das autarquias locais. Com este trabalho pretendemos dar ênfase a umaárea de estudo pouco discutida e desenvolvida emPortugal. Deste modo, parece-nos relevante o impac-to da nossa pesquisa ao propugnar: 1. Avaliar o nível de execução e eficácia das medidas“políticas” dos municípios da Área Metropolitana doPorto. 2. Apurar, se os resultados se enquadram entre osprincípios orientadores plasmados nos textos inter-nacionais e na legislação europeia, assim como, nosprincipais textos normativos e políticos nacionais:Constituição da República Portuguesa, Programas deGoverno Constitucionais, Lei de Bases da ActividadeFísica e do Desporto e Lei das Atribuições eCompetências das Autarquias Locais.3. Identificar a importância atribuída às actividadesfísicas e desportivas como factor de promoção dasaúde, bem-estar e qualidade de vida das populações. A amostra enquadra os municípios da ÁreaMetropolitana do Porto que agrupa 14 concelhos(Póvoa de Varzim; Vila do Conde; Trofa; Santo Tirso;Maia; Valongo; Matosinhos; Porto; Gondomar; VilaNova de Gaia; Espinho; Santa Maria da Feira; S. Joãoda Madeira; Arouca).

MATERIAL E MÉTODOSEm conformidade, adoptaremos os seguintes proce-dimentos metodológicos:1. Recurso a entrevista semi-estruturada no intuitode colher depoimentos junto dos Presidentes deCâmara Municipal e/ou Vereadores de Desporto decada município amostrado acerca das ideias, prefe-rências, expectativas e medidas de política públicadesportiva.2. Recurso à análise de conteúdo de documentaçãopolítica oficial, como técnica amplamente utilizadaem investigação qualitativa nesta área do conheci-mento.Neste cenário, procederemos à inclusão, selecção eanálise dos documentos que constituirão o «corpus»do nosso estudo, a saber:1. Programas eleitorais sufragados. 2. Plano de actividades e Orçamento aprovados emAssembleia Municipal. 3. Relatórios de Gestão, Balanço e Demonstração deResultados. Da necessidade de proceder ao levantamento e trata-mento de dados nas Câmaras Municipais justifica-mos a premência, em estabelecer quadros teóricosde suporte à decisão, em matéria de política públicadesportiva. Perseguindo tais objectivos propomo-nos:1. Proceder ao enquadramento teórico subjacenteaos conceitos/palavras-chave desta investigação(políticas públicas desportivas; autarquias; actividadefísica e desportiva) e que dizem respeito aos mode-los, teorias e quadros conceptuais que estão na basedo problema de investigação.2. Enquadrar a nível normativo a regulamentaçãovertida nos textos internacionais que abriram cami-nho a um reconhecimento quase universal do des-porto. 3. Delimitar os preceitos constitucionais plasmadosna Constituição da República Portuguesa que deforma expressa ou implícita, contribuam para a aná-lise do objecto em estudo. 4. Enquadrar os Programas de GovernoConstitucionais – Iº ao XVIIº, como elementos-chavede «leitura política» da importância do desporto.5. Analisar e interpretar a Lei de Bases da ActividadeFísica e do Desporto – Lei n.º 5 de 2007, de 16 deJaneiro, enquanto texto normativo mais recente no

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quadro legal do sistema desportivo, cujo articulado, nodomínio das políticas públicas assaca «ao Estado (...) eàs autarquias locais, a promoção e o desenvolvimentoda actividade física e do desporto”. 6. Identificar as Atribuições e Competências dasAutarquias Locais – Lei n.º 159/99, de 14 de Setembroe Lei n.º 169/99, de 18 de Setembro, que imputam,respectivamente e de forma expressa aos municípios,atribuições no domínio dos «Tempos livres e desporto»e competências no apoio ou comparticipação a «activi-dades de interesse municipal, de natureza social, cultu-ral, desportiva, recreativa ou outra”.Da evolução das etapas anteriores propomo-nos defi-nir a problemática do estudo e de seguida, procederà construção do modelo de análise. Tal, assentará noconceito de Política Pública Desportiva e nasDimensões «Desporto de elite» e «Desporto paratodos». Os Indicadores recairão, respectivamente em: 1. Selecção de Talentos, Formação Desportiva eEspectáculo Desportivo. 2. Democratização do acesso à prática, Lazer eSectores específicos da população.

DISCUSSÃONuma perspectiva global o papel essencial e funda-mental do Município é o de promover e co-promovera melhoria das condições de vida das suas popula-ções. Atendendo à realidade nacional e ao vastoespectro de actuação dos municípios, o modelo dedesenvolvimento desportivo a nível local, que defen-demos, é sustentado nomeadamente em Paz(14),Pires(15), Carvalho(2, 3), Constantino(7), Carvalho(4),autores de referência no estudo desta temática. Asua tese assenta fundamentalmente na satisfação dasnecessidades básicas, estruturando a actividade físicae desportiva numa perspectiva de saúde, bem-estar equalidade de vida das populações. As restantesdimensões da prática desportiva serãoauxiliares/complementares do referido objectivo.Perante esta concepção de desenvolvimento desporti-vo, não basta às autarquias locais confinar-se apenasaos domínios clássicos das infra-estruturas e equipa-mentos desportivos mínimos. Nesta perspectiva, nãose perseguiriam as Grandes Opções do Plano 2005-2009 (Lei n.º 52/2005, de 31 de Agosto) dado, noâmbito da 3.ª opção ser expressamente referido:Mais e melhor desporto “modernizar e melhorar a

qualidade do desporto português, tendo por finalida-de o aumento da qualidade de vida e o contributopara a melhoria da saúde pública, articulando o des-porto com as políticas de turismo, de ambiente edesenvolvimento autárquico”.Para que tal não suceda, urge promover uma autar-quia centrada no cidadão, que leve em linha de contaque as pessoas manifestam a sua actividade física edesportiva de diversas formas e por variadas razões.Muito provavelmente, as políticas públicas de desen-volvimento desportivo local não se têm desenhadoem função de tais premissas mas, porventura, assen-tes num modelo piramidal que teima em persistir. Lembramos que o sedentarismo é um dos comporta-mentos morbidogénicos que afecta a nossa sociedadee cuja prevalência em Portugal é extremamente ele-vada. Impõe-se por isso, procurar novos caminhos eidear uma prática acessível a toda a comunidadeainda que, a sua implementação possa ser classifica-da de utópica. Mais, materializam a inoperância dasmedidas e/ou o alheamento dos decisores políticos.Esta problemática reveste-se ainda, de uma maiorimportância pelo motivo de atingir indiscriminada-mente crianças, jovens e adultos. Colocados peranteesta realidade, impõe-se a todos os que directa ouindirectamente intervêm nesta área que não fiquemindiferentes, muito menos, se resignem porque, acultura do conformismo e da resignação obstam àinovação. As sinergias estratégicas são, em matériade inovação, factor fundamental e são, simultanea-mente, a base de uma cultura empreendedora nacomunidade local, na justa medida em que contri-buem para o desenvolvimento de uma visão partilha-da do futuro. A própria Direcção Geral de Saúde,publicou recentemente (21 de Maio de 2007) a cir-cular informativa n.º 12/DIR, documento que classi-ficamos de extrema importância por tratar-se de umproblema de saúde pública e com dados alarmantesno tocante à nossa situação. Estabelece, esta circular,que a elevada prevalência da obesidade em Portugal,o aumento da sua incidência, a morbilidade e morta-lidade associadas e os elevados custos que determi-na, explicam a necessidade da criação da PlataformaContra a Obesidade, cuja origem está seguramente,nos reduzidos níveis de actividade física e empadrões desequilibrados de comportamento alimen-tar. Daí a questão que se coloca: será possível, isto é,

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será legítimo, manter esta situação por mais tempo?Estamos em crer que não. Neste cenário, e conformeestudo por nós realizado(12), idealizamos para o pre-sente e a pensar no futuro uma autarquia agilizada,indutora de estilos de vida activos, com efeitos bené-ficos na saúde e potenciadora dentro das suas atri-buições e competências de a) uma adequada promo-ção desportiva capaz de contemplar de forma eficaz otempo livre da população e b) consequentemente,assegurar uma melhor qualidade de vida. Sendo um objectivo que nunca se esgota, advertimospara a necessidade de as autarquias serem criativas einovadoras, quer nos objectivos e na gestão, quer nadefinição de novas políticas e estratégias em buscade “uma mudança nas pessoas e na sociedade”(9).Como em todos os sectores da vida, também nocapítulo desportivo, somos confrontados com aresistência à mudança. Independentemente do reco-nhecimento geral do papel do poder local, em ter-mos de intervenção e incremento desportivo, existecomo que um sentimento de impotência em termosde intervenção, porque não se sabe a todo o momen-to como actuar. A justificação decorre, não só, peladiversidade e multiplicidade das práticas, como tam-bém, devido à extensão permanente de fenómenosde exclusão de origem local. Além do mais, conduzcom frequência, a que a responsabilização e trata-mento local desses fenómenos seja aligeirada emfunção da sua componente nacional(16). Não obstan-te, e baseando-nos na nossa experiência e vivêncianos últimos anos, as políticas desportivas municipaistraduzem modos de relação particular entre o poderpolítico e o desporto pelo que, advogamos, que osmunicípios em matéria de política pública desportivadevem, face ao futuro, erigir como prioridadessegundo Lacoba(13) as seguintes funções:- Administrar os recursos disponíveis com eficácia eeficiência controlando os gastos e reduzindo o défice(Função Administradora). Ex. Capitalizar as receitas. - Reduzir paulatinamente o protagonismo em todosos programas, implicando cada vez mais os clubes, omovimento associativo e dando importância crescen-te a outras instituições intermédias (FunçãoCoordenadora). Ex. Potenciar a utilização das infra-estruturas desportivas.- Gerir e regulamentar o uso de instalações, espaçosdes portivos e a participação do cidadão (Função

Reguladora). Ex. Potenciar a utilização do espaçopúblico.- Facilitar a prática desportiva a todos os cidadãoscomo instrumento potenciador de qualidade de vida(Função Integradora). Ex. Potenciar programas diri-gidos a nichos de população.- Criar redes de equipamentos públicos, facilitadorasdo acesso à prática desportiva (Função Inversora).Ex. Potenciar equipamentos de proximidade, multi-lúdicos e desportivos.- Definir objectivos concretos e desenhar estratégiaspara a sua prossecução, assim como, prever e quanti-ficar os meios e recursos necessários para os prazosestabelecidos (Função Planificadora). Ex. Socorrer-sede um programa municipal.Apesar da diversidade das políticas públicas despor-tivas(19), cada município faz incidir, em regra, a suaintervenção de forma dominante ou especificamentenum dos seguintes domínios:1. Material: centrada na infra-estruturação de equi-pamentos desportivos no território municipal, numalógica de a) centralidade ou b) proximidade (bair-ro/quarteirão).2. Individual: centrada na oferta de serviços e anima-ção desportiva circunscrita aos munícipes locais ereduzida abertura ao exterior.3. Promocional: centrada na mediatização territoriale nas relações externas explorando exponencialmen-te todo o potencial do desporto na vertente da a)competição, b) nos eventos e c) no turismo daregião.Vergnes(19) contrariando esta visão política de inter-venção predominante num dos domínios, sustenta atendência actual para:1. Políticas de equilíbrio – que não privilegiem uni-camente um eixo de intervenção. 2. Políticas adaptadas às especificidades do território(o nosso País tem aqui, uma enorme janela de opor-tunidades) valoradas em função da (i) situação geo-gráfica (mar, montanha, …) (ii) demográfica (jovem,reformados, …) (iii) socio-económica (operários,desempregados) e (iv) escolar. Acresce, neste particular, que as assimetrias territo-riais ao não serem muito díspares, implicarão a pos-sibilidade de uma intervenção desportiva de caráctermais específico, e tendencialmente, dirigidas a pro-jectos emblemáticos que potenciem uma imagem de

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marca da localidade, podendo ser encarados comonovos catalizadores do fenómeno desportivo. Istoleva-nos a falar da premente necessidade de articula-ção supra-municipal das políticas desportivas, factoque suscita a Laurentino Dias(8) a tese de que, “sóestabilizando uma oferta desportiva, que seja genui-namente uma marca para a promoção de cada regiãoe dos municípios que a compõem e se coadune como seu planeamento estratégico, poderá existir umdesenvolvimento sustentável para a política desporti-va em Portugal”.Por outro lado, fruto das mudanças contínuas, extre-mamente céleres e imprevisíveis que se registamactualmente no fenómeno desportivo, implicarãonestes territórios novas e diferentes adaptabilidades,que serão determinantes e imperativas na tomada dedecisão em tempo oportuno dos decisores políticos.Este último indicador, alerta-nos assim, para umapossível “metamorfose” da política desportiva muni-cipal (municipalização) e possível tendência, paraum pendor mais abrangente de cariz metropolitano(metropolização). Desta tendência, retiramos a pos-sibilidade de funcionamento em rede e potencializa-ção da afirmação territorial, gerando novos públicos,promovendo a intercircularidade e intermunicipali-dade desportivas e engrandecer no quadro interna-cional, a promoção de uma região ou do própriopaís. Esta visão, decorre, igualmente, do pensamentode Clayes(6) de que o problema das políticas despor-tivas assenta, fundamentalmente, na possibilidade deos cidadãos terem acesso às respectivas práticas,qualquer que seja a sua localização porque, de acor-do com Silvano(18) a ideia de se ser de algum sítio éestruturalmente relativa. Dito de outro modo,depende da escala a que num determinado contextode interacção social, o sujeito (ou grupo de pessoas)se coloca e por outro lado, ao argumento de que asactividades não deverão ser destinadas apenas aoscidadãos do concelho até porque, o território muni-cipal é “povoado” por mais cidadãos que não apenasos seus habitantes. Porém, conceber o contributo dodesporto autárquico nas novas dinâmicas metropoli-tanas, sem desvirtuar grandemente e com impactonegativo as particularidades e especificidades de cadamunicípio e valorizar simultaneamente a sua dimen-são estratégica, só está ao alcance de líderes locaisesclarecidos5 dependentes, obviamente, da qualidade

de cooperação que suscitarem entre si em prol doscidadãos. Apesar de ser possível detectar a existênciadesta cooperação em determinadas autarquias, a ten-dência aponta para a sua quase inexistência, o quepoderá querer sugerir duas coisas (1) que as redesintermunicipais têm vindo a ser negligenciadas ouhierarquizadas em função do protagonismo de deter-minados actores (2) que os políticos receiam o quenão controlam. Tecnicamente, cremos que esta cooperação supra-municipal que nós apelidaríamos de política de boavizinhança, poderia germinar, se estruturada por umConselho Consultivo e decidida politicamente noquadro de um Conselho Metropolitano deVereadores do Desporto, subjacente a uma estratégiaconcertada com a Comissão de Coordenação eDesenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).Percebe-se, assim, claramente, o alcance e o poten-cial de benefício mútuo em resultado desta coopera-ção, qual seja, desde logo, adquirir escala no contex-to regional, nacional, europeu e/ou internacional.Numa versão minimalista importa evitar duplicaçõese garantir a coerência das intervenções pública e pri-vada. Esta situação, confronta-nos ainda com a con-vicção de que os serviços desportivos só se podemdesenvolver e hoje em dia implementar eficazmente,numa área geográfica e de densidade populacionalmaior que o estritamente municipal. As fronteirasdevem, portanto, neste campo, ser abolidas deixandode fazer sentido, pensar numa “lógica paroquial”para idear outra “supra-municipal”. Pretende-se com isto sublinhar que, a uma visãosimplista do município como simples executor deassuntos meramente locais e hermeticamente dirigi-da aos habitantes do concelho, se deve contrapor aimagem de uma entidade cujo protagonismo políticotranscende, em larga medida, esse mesmo âmbito.De acordo com esta análise, avançamos o conceitode “poder regional” que, na óptica de Fernandes(10)

pode “gerar consensos, sempre que esteja em causaa valorização da região”. Uma estratégia baseada,portanto, em valores partilhados. Desta forma, valo-ra-se exponencialmente a importância das ÁreasMetropolitanas, dada a sua capacidade aglutinadoradas sinergias intermunicipais e consequente poten-cialização e articulação de investimentos e iniciativasindutoras, de grandes projectos estruturantes.

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Afinal, a sua verdadeira razão de ser. O território metropolitano é, por conseguinte achave para a implementação eficaz de políticas públi-cas desportivas locais, parecendo-nos indispensável,avançar para um novo princípio, o da “interdepen-dência” definido por Sarmento17 como imprescindí-vel no ajustamento das políticas desportivas autár-quicas sustentado na a) proximidade geográfica e b)nas tendências demográficas. Além do mais, segundodados do estudo “Prospectivas de urbanização doMundo”, do Departamento dos AssuntosEconómicos e Sociais das Nações Unidas, a ÁreaMetropolitana do Porto vai ter um crescente peso nademografia portuguesa, destacando-se, em 2015 cla-ramente, como a segunda maior área urbana do país,com 23,9% do total da população (a Grande Lisboa,atingirá segundo o mesmo estudo 45,3%).Sustentamos igualmente esta visão no entendimentode Giddens(11) ao referir que muitas questões e pro-blemas actuais têm origem acima do nível do estado-nação e não podem ser resolvidos no âmbito dasfronteiras desse mesmo estado, adoptando comofilosofia política “pensar globalmente as acções quese devem promover localmente”. Como linhas de acção, Bento(1) dita cinco medidasque poderão ser encaradas como objectivos políticospotenciadores de desenvolvimento desportivo noquadro específico da cidade e região envolvente doPorto, a saber:1. Desenvolver projectos desportivos que, pela suaqualidade, excelência e inovação possam ombrearcom a vanguarda internacional e servir até de refe-rência e inspiração para outras cidades.2. Manter uma relação de estima, empatia, com-preensão e respeito com todas as instituições e lernas vitórias desportivas e outras, a capacidade reali-zadora e empreendedora das nossas cidades.3. Fazer algo de substancial para que os índices departicipação desportiva da população atinjam umvalor aceitável patrocinando, nomeadamente, progra-mas e discriminando positivamente as instituiçõesque se envolvam de modo exemplar, com a práticadesportiva através de contratos-programa.4. Incrementar o desporto escolar visando a aproxi-mação e partilha de objectivos e responsabilidadesentre a escola e os clubes.5. Equacionar no contexto da Área Metropolitana a

problemática da modernidade desportiva da cidade. Repensar os contornos e a materialização de umaintervenção autárquica concretizadora de projectos eacções, ganha, cada vez mais actualidade na agendapolítica. É indispensável, por isso, que o Municípioseja encarado como o campo privilegiado para oenquadramento e reorganização da prática desportivasob todos os aspectos, assumindo maiores responsa-bilidades, transformando-se numa entidade media-dora de todas, ou de boa parte das acções realizadasno concelho, com vista à promoção e desenvolvimen-to desportivo local. Visto desta forma, a vida despor-tiva a “praticar” pela autarquia não é coisa de menorimportância no rol das preocupações dos decisorespolíticos. Encontrar caminhos para enfrentar estaproblemática, não é tarefa fácil e poucos se atrevema emitir uma opinião sustentada sobre o que será odesporto municipal, nos próximos anos como fezPires(15) ao “prognosticar” que “as CâmarasMunicipais, em termos orgânicos, dão-nos a ideia deque no futuro o desenvolvimento do desporto vai,necessariamente, passar por elas”. Será que as previ-sões falharam? O desafio está lançado! Auguramoscom os resultados da investigação gerar contributossignificativos para a idealização de soluções político-desportivas na Área Metropolitana do Porto, comimpacto directo na qualidade de vida de previsivel-mente 23,9% da população portuguesa em 2015.

CORRESPONDÊNCIAMaria José Carvalho Faculdade de Desporto, Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200-450 Porto, PortugalE-mail: [email protected]

Carlos JanuárioE-mail: [email protected]

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15. Pires G (1989). A estrutura e a política desportivas: o caso portu-guês – estudo da intervenção do aparelho estatal no sistema desporti-vo português. Lisboa: G. Pires. Dissertação de Doutoramentoapresentada à Faculdade de Motricidade Humana.

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Empresas municipais de desporto: contributos para a sua caracterização legal, funcional e relacional

Maria José Carvalho1José Cancela MouraNancy Oliveira2

1 Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

2 Proviver/Câmara Municipal de VilaverdePortugal

RESUMOO presente trabalho aborda uma temática pouco explorada epesquisada no sector desportivo e que se configura, actualmen-te, de extrema importância para o desenvolvimento e para agestão do Desporto ao nível local. Vocacionados, por razões de ordem operacional e de investiga-ção, para a problemática da caracterização e funcionamento dasestruturas organizativas que gravitam à volta do Desporto, sãoobjecto de análise neste estudo as empresas municipais que noseu código de actividade económica contemplem o desporto. Determinamos como objectivo principal deste trabalho, caracte-rizar estas entidades do sector empresarial local no que respeitaao seu enquadramento legal e funcional, e quanto a este últi-mo, designadamente, a sua dimensão, localização, volume denegócios, número de trabalhadores e código de actividade eco-nómica principal.Estas empresas surgiram nos municípios portugueses, commaior intensidade na última década, como uma nova cultura degestão de diversas áreas, nomeadamente da gestão do desporto,tendo a sua organização e enquadramento legal sido recente-mente alvo de alterações significativas por via da publicação doRegime Jurídico do Sector Empresarial Local, Lei 53-F/2006, de29 de Dezembro, diploma que constituirá o cerne essencial deanálise no presente trabalho.

Palavras-chave: empresas municipais, organizações desportivas,município

ABSTRACTMunicipal enterprises of sport: contributions to the legal, func-tional and relational characterization

The present work approaches a thematic that is not commonly exploredand researched in sport sector, although its extreme importance for thedevelopment and management of Sport at the local level.Since we are devoted to the problem of characterization and function-ing of the organizational structures that surround sport, the scope ofthe present work is the set of municipal enterprises that consider sportin their code of economic activity.The main objective of our work is to characterize these entities, whichare considered as local enterprises, regarding their legal and operationalframework, particularly their size, location, turnover, labour force andmain code of economic activity.These companies became more and more frequent in the Portuguesemunicipalities during the last decade, as a new culture of managementin various areas, namely in sports management, whose organizationaland legal framework recently suffered significant changes due to thepublication of the Legal Framework for the Local Enterprise Sector,Law 53-F/2006, of 29 of December. This law will be in the core of ouranalysis in the present work.

Key-words: municipal enterprises, organizational structures, munici-pality

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INTRODUÇÃOJá é um lugar-comum afirmar que as AutarquiasLocais são das entidades com uma intervenção maisassinalável na estrutura global do sistema desportivoe, actualmente, as principais financiadoras do asso-ciativismo e da própria actividade desportiva.Daí a importância que as mesmas revestem actual-mente e podem continuar a exercer nos âmbitos dofomento e desenvolvimento do desporto.E esta importância decorre precisamente da incum-bência aos Municípios da concretização do princípioconstitucional do direito ao desporto, ao se entenderque eles são parte integrante do próprio Estado(3).Na esteira da Carta Internacional da Educação Física e doDesporto da UNESCO e da Carta Europeia do Desporto,rege em Portugal, o artigo 79.º da Constituição daRepública Portuguesa que é peremptório quanto à uni-versalidade do desporto e à função da AdministraçãoPública no seu fomento e desenvolvimento:“(…) incumbe ao Estado, em colaboração com as escola eas associações e colectividades desportivas, promover, esti-mular, orientar e apoiar a prática e a difusão da culturafísica e do desporto (…).Acção esta, considerada como tarefa fundamental doEstado de acordo com o que se encontra vertido noartigo 9º, alínea d), parte final, deste mesmo textoconstitucional.Igualmente na regulamentação específica destasautoridades locais o desporto é contemplado comouma das atribuições da Câmara Municipal, conformeo estatuído no artigo 64.º, n.º 4, alínea b), da Lei nº169/99, de 18 de Setembro: (…) apoiar ou comparticipar, pelos meios adequado, noapoio às actividades de interesse municipal, de naturezasocial cultural, desportiva, recreativa ou outra (…).À tradicional orgânica das autarquias locais enquan-to instâncias de uma complexa estrutura da organi-zação do poder político e da administração, mas queconsubstanciam formas autónomas de corresponderàs necessidades das populações locais, introduziu-senos últimos anos uma figura organizacional que seconfigura como um instrumento privilegiado de ges-tão autárquica. Este novo sujeito de gestão pública municipal, aempresa municipal, apesar de, pelo menos, desde alei das autarquias locais de 19771 ter tido acolhi-mento e autorização expressa por parte do legislador,

só após 1998 se afirmou e expandiu com impactocrescente. Contudo, a Lei n.º 58/98, de 18 deAgosto, Lei-Quadro das Empresas Municipais,Intermunicipais e Regionais, como salienta PedroGonçalves2, padecia de defeitos e ambiguidades, porexemplo, quanto à natureza jurídica das empresas, à ausên-cia de determinações claras sobre os limites do respectivoobjecto (facto que conduziu à criação de empresas semobjecto empresarial, para o exercício de funções administra-tivas ou, por exemplo, para se ocuparem da “gestão de par-ques desportivos” compostos por um campo de futebol e umpavilhão desportivo), a ausência de definição rigorosa dascondições de viabilidade económica das empresas a consti-tuir (o que conduziu à criação de empresas inviáveis), atotal omissão de regras sobre a escolha de parceiros priva-dos ou a ausência das exigência geral de um quadro deregulação contratual entre a empresa e o município (6). Assim se justifica que passados oito anos este regi-me tenha sido revogado com a publicação da Lei n.º53-F/2006, de 29 de Dezembro, denominada RegimeJurídico do Sector Empresarial Local (RJSEL)3, que comoé propalado em seu abono, agiliza procedimentos,permite maior flexibilidade da gestão, possibilitarecrutamento de técnicos qualificados, e promove aespecialização de tarefas e adopção de instrumentos,mais eficientes, de direito privado para a prossecu-ção dos objectivos estatutários, colocando oMunicípio ao nível de uma qualquer sociedadecomercial na área dos serviços, ressalvando que:(…) Não podem ser criadas, ou participadas, empresas deâmbito municipal, intermunicipal, ou metropolitano cujoobjecto social não se insira no âmbito das atribuições daautarquia (…) sendo proibida a criação de empresas para odesenvolvimento de actividades de natureza exclusivamenteadministrativa ou de intuito predominantemente mercantil4.Por conseguinte, dadas as limitações impostas paraeste trabalho, será sobretudo neste diploma que cen-traremos a nossa análise jurídica, no que respeita aaspectos que consideramos essenciais para a opera-cionalização e funcionalidade sobretudo das empre-sas municipais, finalizando com uma caracterizaçãosumária dos principais traços fisionómicos destasentidades existentes no sector do desporto.

MATERIAL E MÉTODOSA norma pública é o principal instrumento utilizadopara a interpretação jurídica do regime das empresas

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municipais. Não descurando a abordagem diacrónicado enquadramento legal das empresas públicas, éessencialmente sobre o diploma referente ao RegimeJurídico do Sector Empresarial Local, Lei 53-F/2006,de 29 de Dezembro, que recai a nossa interpretação,cruzando este diploma com outros cuja matériatenha conexão. Para a análise estatística dos dados relativos àsempresas municipais estudadas utilizamos o pro-grama da Microsoft Office Excel 2003 e calculamosa frequência de cada variável. A base de dadosseleccionada foi o Ficheiro de Unidades Estatísticasdo Instituto Nacional de Estatística, extracção de09 de Julho de 2008. A amostra foi constituídapelas empresas municipais que integram na suadesignação ou nos seus Códigos de ActividadeEconómica, referências a “desporto”, “desportiva”ou “desportivo”.

Um novo sujeito de gestão pública localComo supra-mencionado, a Lei n.º 53-F/2006, de 29de Dezembro aprovou o Regime Jurídico do SectorEmpresarial Local, que integra as empresas municipais,intermunicipais e metropolitanas (artigo 2.º, n.º 1) eregula as condições em que os Municípios,Associações de Municípios ou Juntas Metropolitanaspodem criar empresas dotadas de personalidade jurí-dica e de autonomia administrativa, financeira epatrimonial, com um dualismo organizativo: PRIVA-DO ou PÚBLICO.No âmbito privado, como decorre do artigo 3.º, n.º1, alíneas a) e b), as empresas são constituídas nostermos da lei comercial, nas quais os municípios,associações de municípios e áreas metropolitanaspossam exercer, de forma directa ou indirecta, umainfluência dominante em virtude da detenção damaioria do capital ou dos direitos de voto, ou dodireito de designar ou destituir a maioria dos mem-bros do órgão de administração ou de fiscalização.Os municípios podem, por isso, constituir socieda-des anónimas, sociedades por quotas e inclusiva-mente sociedades unipessoais. A denominação des-tas sociedades é acompanhada da indicação da suanatureza municipal, intermunicipal ou metropolitana(EM, EIM ou EMT). Os órgãos sociais, que podem ser nomeados e exo-nerados pelos municípios ou pela assembleia geral

são, nas sociedades anónimas o conselho de admi-nistração, a assembleia geral de accionistas, o fiscalúnico ou o conselho fiscal e nas sociedades por quo-tas, a assembleia geral e a gerência.Ao nível público, as empresas são entidades empre-sariais locais, onde se incluem as “antigas” EM,constituídas ao abrigo do regime jurídico revogadopelo actual diploma, onde pontifica a tutela econó-mico-financeira das Câmaras Municipais, através daaprovação dos planos de actividades e estratégico,orçamentos e contas, da fixação das dotações para ocapital estatutário, subsídios e indemnizações com-pensatórias, da homologação preços ou tarifas a pra-ticar pela empresa (artigo 39.º).Os municípios, associações de municípios e juntasmetropolitanas detêm ainda poderes de superinten-dência sobre as entidades empresariais locais, previs-tos no regime anterior, através da emissão de directi-vas e instruções genéricas ao CA, autorização para acontracção de empréstimos ou definição do estatutoremuneratório dos membros dos órgãos sociais.À denominação das entidades empresariais locaisdeve ser integrado a indicação da sua natureza muni-cipal, intermunicipal ou metropolitana (EEM, EEIM,EEMT) e os órgãos de administração e fiscalizaçãodas EEM, estruturam-se segundo as modalidades ecom as designações previstas para as sociedades anó-nimas tendo as competências genéricas previstas nalei comercial.A arquitectura do novel regime jurídico procuraassim, aproximar o conceito de empresa municipaldo conceito de empresa pública exposto no RegimeJurídico do Sector Empresarial do Estado5, ao prevera existência de empresas de direito público – as enti-dades empresarias locais (semelhantes às entidadespúblicas empresariais) onde se incluem as antigasempresas municipais constituídas nos termos da Lein.º 58/98, de 18/08 (v. art.º 34.º, n.º 2) - e introdu-zindo a possibilidade de se criarem empresas muni-cipais de cariz comercial e societário, à semelhançado que já ocorria no sector empresarial do Estado. Também a disciplina na relação entre as entidadespúblicas e os parceiros privados no seio das empre-sas do sector empresarial local é reforçada, procuran-do evitar a discricionariedade que se tinha vindo aassistir na escolha dos parceiros privados pelospoderes públicos.

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Da constituição às funcionalidades da empresa municipalA constituição de uma empresa municipal é da com-petência da Assembleia Municipal, sob proposta daCâmara Municipal, sendo que, sob pena de nulidadee responsabilidade financeira a proposta de criaçãoda empresa deve ser sempre precedida dos necessários estu-dos técnicos, nomeadamente do plano do projecto, na ópticado investimento, da exploração e do financiamento,demonstrando-se a viabilidade económica das unidades,através da identificação dos ganhos de qualidade, e a racio-nalidade acrescentada decorrente do desenvolvimento daactividade através de uma entidade empresarial, e aindade um projecto de Estatutos (cf. artigos 8.º, n.º 1, al.a) e 9.º, n.ºs 1 e 4 da lei em análise).O mesmo ocorre nas decisões relativas à tomada deuma participação que confira ao município a influên-cia dominante nestas empresas.Quer a criação de empresas, quer a tomada de posi-ção dominante, implicam a obrigatoriedade decomunicar tais factos à Inspecção Geral de Finanças,bem como à entidade reguladora do sector, comexcepção das EEM ao qual este normativo não seaplica – art.º 8º, n.º 2.Quanto às principais formalidades de constituiçãoimpõe-se que: (art.º 8º, n.ºs 3, 4 e 5 e art.º 33º):— O contrato constitutivo seja reduzido a escrito ouescritura pública (para celebração é competente oNotário privativo da Câmara);— Seja comunicada a constituição ao MinistérioPúblico;— Seja publicada no Diário da República e num dosjornais mais lidos na área.Em termos funcionais, é uma evidência, que asempresas municipais se têm assumido como um ins-trumento privilegiado de gestão autárquica e, nessamedida, articula os seus objectivos com os daCâmara Municipal, assegurando a necessária comple-mentaridade e uma adequada interligação com opoder político municipal.De facto, a possibilidade de agilizar e acelerar proce-dimentos nesta área de intervenção, que até às aludi-das aberturas legislativas era da competência exclusi-va da Câmara Municipal, coloca o Município ao nívelde uma qualquer sociedade comercial na área dosserviços. Contudo as empresas municipais têm umobjecto social prefigurado na lei, que apenas podeintegrar:

— A gestão de serviços de interesse geral (artigo18.º);— A promoção do desenvolvimento local e regional(artigo 21.º);— A gestão de concessões (artigo 24.º).Matéria com especial acuidade diz respeito ao pro-cesso de relacionamento entre a Câmara Municipal ea empresa municipal, pois apesar de participadas esob influência dominante dos municípios, as empre-sas municipais não se confundem com eles, consti-tuindo-se como entidades juridicamente distintas,pelo menos num plano formal.É o próprio regime jurídico que remete para o insti-tuto do contrato, a regulamentação entre as duasentidades. Através de um contrato de gestão para asEM incumbidas da gestão de serviços de interessegeral e de um contrato-programa as que promovemo desenvolvimento local e regional (exigências deter-minadas pelos artigos 20.º e 23º).E como bem enfatiza PEDRO GONÇALVES, não esta-mos perante um contrato “comum”, mas antescomo um “ponto de referência” das condições emque as partes se obrigam para a realização dos res-pectivos objectivos6, sendo a celebração do mesmonecessária ainda que não haja subsídios ou outrastransferências financeiras provenientes das entida-des participantes. Referências expressas aos contratos de gestão e aoscontratos-programa são feitas nas normas 20.º e 23.ºdo diploma em análise, retirando-se delas essencial-mente quanto aos primeiros que definem pormenoriza-damente o fundamento da necessidade e finalidade da rela-ção contratual, bem como a eficácia e a eficiência que sepretende atingir com a mesma, concretizados num conjuntode indicadores ou referenciais que permitem medir a realiza-ção dos objectivos sectoriais. Estes contratos regulamainda os termos em que se processam as transferên-cias financeiras dos municípios, caso as empresasdesenvolvam políticas de preços abaixo do custo, nosserviços prestados.Os contratos-programa definem o seu objecto e mis-são, bem como as funções de desenvolvimento eco-nómico a desempenhar, deles constando obrigatoria-mente o montante das comparticipações públicas –subsídios e indemnizações compensatórias – que asEM têm direito a receber como contrapartida dasobrigações assumidas.

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Nos termos dos referidos contratos, podem ser dele-gadas todas as competências necessárias para pro-mover a gestão e exploração, a execução de obras deconservação e beneficiação dos espaços desportivos,nomeadamente pavilhões gimnodesportivos, polides-portivos e piscinas.E no que tange às comparticipações financeiras rece-bidas como contrapartida advogamos que sejamassumidas pelas EM as seguintes obrigações:— A prática de preços sociais, isto é, preços diferen-ciados de acesso às piscinas, à utilização dos pavi-lhões e de outros equipamentos desportivos públi-cos, em função da condição social dos utentes;— Investimentos de rendibilidade não demonstrada,ou seja, o planeamento e a concretização de progra-mas e actividades de promoção e desenvolvimentoda prática e animação desportiva.Aquelas comparticipações permitem colmatar ou,pelo menos, minimizar a perda efectiva que a aplica-bilidade prática das medidas implica, ao nível doequilíbrio orçamental. Até porque as receitas dasempresas se resumem quase em exclusivo àquelasque são provenientes da sua actividade.Em função da experiência recente da política comer-cial implementada pelas empresas municipais dedesporto e da análise a alguns elementos constantesdos respectivos instrumentos de gestão – balanço,demonstração de resultados e relatório sobre a exe-cução anual dos orçamentos – o custo social suporta-do pelas mesma, restringe o seu crescimento e ograu de autonomia financeira, que no primeiro anode actividade se situará entre os 10 e os 15%.A este propósito refira-se que, os estudos económi-co-financeiros prévios à constituição das empresasapontam para um período médio de seis anos para,ao nível de um índice de preços estável, aquelaspoderem atingir o equilíbrio orçamental.

Os recursos humanosEntre os múltiplos aspectos determinantes para anormal funcionalidade da empresa municipal, o dosrecursos humanos assume particular relevância. Etambém neste capítulo a Lei n.º 53-F/2006 preceituaclaramente: o estatuto do pessoal das empresas é o doregime do contrato individual de trabalho sendo a contra-tação colectiva regida pela lei geral (artigo 45.º, n.ºs1 e 2).

No entanto, esta lei admite que os funcionários eagentes da administração pública, incluindo os domunicípio, (…) podem exercer funções nas entidades dosector empresarial local em regime de afectação específicaou de cedência especial nas entidades do sector empresariallocal, em regime de afectação específica ou de cedência espe-cial, nos termos da legislação geral em matéria de mobilida-de (artigo 46.º, n.º 1).A afectação específica está equiparada ao anteriorconceito de destacamento e reporta “ao exercício defunções próprias da categoria e carreira do funcioná-rio ou agente noutro serviço ou pessoa colectivapública para satisfação de necessidades específicas etransitórias” determinada por despacho conjunto dosserviços, por iniciativa da pessoa colectiva ou arequerimento do funcionário. Esta afectação faz-sepor períodos até 6 meses, prorrogáveis até ao limitede um ano e, salvo acordo em contrário, constituiencargo do serviço de origem, a remuneração dasfunções exercidas7.A cedência especial8, que também se equipara aoconceito anterior de requisição, implica o acordoentre os serviços ou a pessoa colectiva pública e fun-cionário ou agente que tenha dado o seu consenti-mento expresso por escrito para o efeito, que nesteregime vê suspenso o seu estatuto de funcionário ouagente da administração pública. Tal modalidade nãotem limite de vigência temporal e a remuneração dofuncionário ou agente é estabelecida nos termos doacordo de cedência, constituindo encargo da empresamunicipal.Esta cedência sujeita o funcionário cedido às ordens,instruções e poder disciplinar (à excepção da aplica-ção de penas disciplinares expulsivas) da empresamunicipal.Na cedência especial o funcionário ou agente temainda direito:— À contagem, na categoria de origem, do tempo de servi-ço prestado, na empresa municipal;— A optar pela manutenção do regime de protecção socialda função pública devendo, no caso, a empresa muni-cipal proceder ao pagamento da contribuição devidajunto da Caixa Geral de Aposentações comparticiparnas despesas de administração da ADSE;— A participar os concursos da função pública paraos quais preencha os requisitos legais, cujo provimentona sequência do mesmo, implicará a extinção do

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acordo de cedência em vigor, sem prejuízo da cele-bração de uma novo acordo.Ora, de acordo com estas balizas e de acordo com aexistência de recursos humanos que já dispunhamde uma relação contratual com o município, o qua-dro de pessoal inicial de uma EM poderá ser consti-tuído do seguinte modo:— Dispondo dos funcionários do Pelouro doDesporto, aos quais numa fase de instalação sepoderia aplicar o regime de afectação específica e,depois, numa fase de consolidação, com o seu assen-timento, serem “requisitados” através de cedênciaespecial à Câmara Municipal, porquanto mantêmvínculo à função pública;— Retendo os particulares que, trabalhando para omunicípio, se mantinham num regime de prestaçãode serviços e podem agora outorgar com a empresa,um contrato individual de trabalho, tornando maisefectiva a sua colaboração;— Permitir aos funcionários que laboravam nosequipamentos municipais ou em certas actividades jáexistentes, e que dispunham de um vínculo precáriocom o município, a celebração, em alternativa, decontratos a termo com a empresa municipal.A estes deverão juntar-se, contratados ab initio, pro-fissionais e técnicos qualificados que constituíam aespinha dorsal das áreas administrativa, financeira efuncional da empresa, onde se incluem naturalmenteos recursos humanos específicos da área de activida-de da empresa municipal, nomeadamente licenciadosem Educação Física e Gestão do Desporto.A economia funcional, de custos e de recursos, deve-rá começar no próprio órgão de administração que,numa fase de implantação da empresa, deverá serreduzido e acumular as funções de chefia de primei-ra linha.A possibilidade de se criar um quadro de pessoal deraiz, permite desde logo:— A existência de um novo estatuto remuneratório,com valores mais atractivos – superiores àqueles quesão praticados numa Câmara Municipal, mas tam-bém mais justos, porque premeiam o trabalho efecti-vo de cada um. À remuneração base e ao subsídio derefeição pode acrescer, entre outros factores, confor-me os casos, subsídio de turno, créditos pela isençãode horário e assunção de chefias;— A elaboração de um nova metodologia na promo-

ção e progressão na carreira, relevando o mérito emdetrimento da antiguidade;— Extinguem-se as horas extra com a fixação dehorários por turnos nos equipamentos desportivos,com a atribuição do respectivo subsídio determinadolegalmente; — A criação de um sistema de avaliação de desem-penho para efeitos de promoção e classificação dosfuncionários, tais como a fixação de patamares dedesempenho, a relação no local de trabalho e com osutentes, o respeito pelos procedimentos e cultura daempresa;— Implementação de um adequado programa de forma-ção profissional, com selecção criteriosa quer dos fun-cionários, quer das acções a promover ou a participar;— Relação de proximidade das chefias com os fun-cionários de base, eliminando o carácter de abstrac-ção em que funda o poder tradicionalmente hierar-quizado de uma Câmara Municipal.

Empreitada e aquisição de bens e serviçosNo que respeita a empreitadas e aquisição de bens eserviços, até 1 de Julho de 2008, data do início davigência do Código dos Contratos Públicos (CCP)9,não existia qualquer regra imperativa que obrigasseas empresas municipais à abertura de concursopúblico para adquirir bens ou contratar serviços,regendo-se aquelas pelo Princípio da LiberdadeContratual, definido pelo artigo 405º do CódigoCivil, o qual dispõe que dentro dos limites da lei, as par-tes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos con-tratos, celebrar contratos diferentes dos previstos e nestecódigo e incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver.No entanto, as empresas municipais, por mera cau-tela ou adoptavam procedimentos de controlo pró-prios, organizados em função do montante da despe-sa a realizar, que para além de agilizarem os procedi-mentos, asseguravam também a transparência natramitação dos processos de contratação para aquisi-ção de bens ou de fornecimento de serviços comautorizações internas ou com consulta prévia a umnúmero mínimo de fornecedores, ou seguiam o regi-me de aquisição de bens e serviços vigente na admi-nistração pública, aprovado pelo Decreto-Lei n.º197/99, de 8 de Junho.

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Também a abertura de concursos e a adjudicação deempreitadas para a construção de equipamentos des-portivos, não obstante se tratar de uma área semgrande tradição ou actividade relevante ao nível dahistória recente das empresas municipais de despor-to, não era pacífica a equiparação destas ao sectorpúblico do Estado, e a consequente aplicabilidade doDecreto-Lei n.º 59/99, de 2 de Março, que regula-mentava o regime jurídico de empreitadas de obraspúblicas (al. g) do n.º 1 do artigo 3.º).Ora, o novo regime jurídico de contratação pública, paraalém de revogar estes diplomas, dissipa todas as dúvi-das, enquadrando as empresas municipais como entida-des adjudicantes, no âmbito da respectiva aplicação.Neste particular, embora adoptando as regras vigen-tes na administração pública, é manifesto que,mesmo considerando o cumprimento de prazos eformalismos legais, quer os processos de decisão,quer a funcionalidade da estrutura de uma empresamunicipal, permitirão uma maior celeridade tantopara a aquisição de bens e serviços como para a exe-cução das empreitadas.

Organização financeira, centros de custos e preços sociaisEste modelo empresarial aplicado à realidade do des-porto, tal como outros sectores cujo objectivo sejarentabilizar recursos, pretende implementar proces-sos rigorosos e padronizados de gestão financeira econtabilística que clarifiquem como são gastos osdinheiros públicos.A transferência dos equipamentos desportivos impli-ca a celebração de novos contratos para aquisição efornecimento de serviços externos, devendo proce-der-se a uma consulta prévia e alargada aos merca-dos especializados, com a posterior criação de umcentro de custos para cada um dos equipamentosexistentes.Os encargos, que anteriormente, ao nível do municí-pio figuram como custo global, nunca identificadosou insuficientemente justificados (ex. da facturaapresentada pela PT à Câmara Municipal contémnormalmente um infindável rol de números de tele-fone, sem indicação, nem da origem, nem dos aces-sos), passarão a ser contabilizados individualmente,o que permitirá uma redução substancial ao níveldas despesas correntes.

Os orçamentos, os custos e as receitas, serão conta-bilizados e apresentados, equipamento a equipamen-to, conhecendo-se, a todo o tempo, quais os encar-gos que cada espaço apresenta em electricidade, tele-comunicações, recursos humanos, produtos de higie-ne, limpeza e conservação, água, gás ou seguros. Taismontantes eram normalmente liquidados num enor-me lençol de preços e de serviços, cujos custos aCâmara Municipal nem tinha a possibilidade dedetalhar ou comparar.A mesma lógica se aplicará à programação das activi-dades, que são planeadas com base na elaboração deum plano de meios: especificação parcelar dos encar-gos (entre outros, inserções nos jornais, spots rádioou TV, custo de flyers, outdoors e cartazes, meios deorganização, alimentação e alojamento), que tantoserve para aferir da disponibilidade orçamental paraa realização dos eventos, como para controlar os cus-tos e evitar derrapagens na realização da despesa.Atendendo à procura cada vez maior de espaços parapraticar desporto pelo cidadão anónimo, para a suamanutenção e lazer, ou pelas associações, para assuas actividades desportivas federadas e não federa-das, podem introduzir-se inovações ao nível dastaxas a praticar pelas empresas municipais de des-porto no acesso aos equipamentos desportivos,tendo em conta que:— A necessidade de disciplinar a utilização dos espa-ços vai para além da adopção dos preços sociais, e ocusto pode sobretudo ser definido em função dalocalização geográfica dos equipamentos e/ou pelacondição social dos utentes que os utilizam.Deste modo poderão utilizar os pavilhões munici-pais, com equidade, os clubes federados, os particu-lares ou os grupos organizados informalmente, nodecurso da época desportiva, considerada entre 1 deSetembro e 30 de Junho do ano seguinte.Estas medidas permitem compreender o alcance dosganhos de gestão da empresa, no controle dos encar-gos de exploração, na rentabilidade dos equipamentosou na eficiência e qualidade dos serviços prestados.Tendo em consideração o referido horizonte de seisanos, para que esta atinja um equilíbrio entre asreceitas e as despesas, as empresas municipais,numa fase posterior à sua consolidação enquantoestrutura, terão na comercialização e venda de espa-ços para publicidade estática, nos pavimentos de

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jogo, tabelas laterais e paredes dos pavilhões ou nostectos, fundos e paredes das piscinas um manancialde fontes de receita ainda por explorar.Na mesma esteira, poderão ser consideradas as ces-sões de exploração dos bares daqueles espaços des-portivos, através da realização de concurso públicopara a respectiva adjudicação.

FiscalidadeMesmo enfermando de alguma polémica, porque esta-mos perante uma nova realidade, a regra que seguemas empresas municipais vai no sentido de que tudoquanto sejam proveitos, nomeadamente as receitas deuma actividade comercial ou da prestação de um ser-viço (bilhetes de acesso à piscina ou a taxa de utiliza-ção do pavilhão) são tributados em sede de IVA, que aempresa tem de arrecadar e entregar ao Estado.A receita fica prejudicada, diminuindo na proporçãodirecta do imposto liquidado, uma vez que antes aCâmara Municipal, estando isenta daquela tributa-ção, arrecadava o preço por inteiro, que agora é frac-cionado, numa parte correspondente ao proveito eoutra relativa ao imposto indirecto que se cobra nopróprio preço.Temos de ressalvar, o que também não é pacíficoadmitir (facto questionado por alguns ROC’s nopleno exercício de funções), os subsídios e as indem-nizações compensatórias que, funcionando comocontrapartida da obrigação de realizar investimentosde rendibilidade não demonstrada ou da adopção depreços sociais10 não estão, na nossa opinião, sujeitosà liquidação daquele imposto.Talvez não seja despiciendo equacionar a contratuali-zação de uma prestação de serviços na área da fisca-lidade com uma empresa especializada. Os custossão reduzidos e os ganhos na operacionalização daempresa municipal parecem evidentes.Na liquidação de IRC, imposto sobre o rendimentode pessoas colectivas, incluindo o pagamento espe-cial por conta, o enquadramento não suscita polémi-ca e a empresa municipal é equiparável a uma socie-dade comercial do sector privado.

Fisionomia geral das empresas municipais de desportoNo sentido de cumprir o segundo objectivo destetrabalho, incidiremos seguidamente a nossa investi-gação sobre alguns aspectos caracterizadores das

empresas municipais de desporto, tendo em perspec-tiva, em pesquisas futuras aprofundarmos outrasmatérias, nomeadamente as estruturas orgânicasdestas entidades, a organização dos programas dedesporto que apresentam, a relação contratual quecelebram com os sócios e a relação que estabelecemcom empresas congéneres. Para tal, importa, desde já, clarificar que, quando nosreferimos a “Empresas Municipais de Desporto”,fazemo-lo atendendo às Empresas Municipais quetêm, na sua designação ou nos seus Códigos deActividade Económica (CAE), referências a “despor-to”, “desportiva” ou “desportivo”.Na recolha dos dados que nos interessam demomento, recorremos a duas fontes, designadamen-te: a publicação da Direcção Geral das AutarquiasLocais, “ADMINISTRAÇÃO LOCAL em números2005”, e o Instituto Nacional de Estatística11. Alertamos para o facto de que, correspondendo àexigência legal ínsita no n.º 7, do artigo 8.º, da járeferida Lei nº 53-F/2006, a Direcção Geral dasAutarquias Locais mantém no seu sítio12 uma listaactualizada das entidades do sector empresariallocal, da qual constam já 208 empresas municipais,contra as 194 que constam do ficheiro do INE. Noentanto, apesar da discrepância incompreensível dedados indicados pelas fontes públicas, optamos porutilizar a informação fornecida pelo INE, pois dispo-nibiliza mais dados caracterizadores, permitindouma análise mais aprofundada, ao contrário da listada Direcção Geral das Autarquias Locais, onde ape-nas constam as designações e os contactos dasempresas municipais.

Empresas municipais: quantas são e onde se localizam?Começamos por analisar o número e a distribuiçãopor distrito das empresas municipais na sua genera-lidade e verificamos que, em 2008 existem, noFicheiro de Unidades Estatísticas anteriormentereferido, 194 empresas municipais, correspondendo168 às existentes no continente e 26 às existentesnas regiões autónomas.Conforme podemos observar no gráfico 1, surgemnos lugares cimeiros da lista os distritos de Porto eLisboa, com 26 e 24 empresas municipais respectiva-mente, imediatamente seguidos pela RegiãoAutónoma dos Açores, com 20 empresas municipais.

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Empresas municipais de desporto: quantas são, onde se localizam e quando se constituíram?Das 194 empresas municipais, 31%, que correspon-dem a 61 empresas, têm no seu CAE, actividades

relacionadas com Desporto, de acordo com os crité-rios de inclusão antes referidos de existência dos ter-mos “desporto”, “desportiva” ou “desportivo” nadesignação da empresa ou nos Códigos de

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Gráfico 1. Empresas municipais por distrito.

Gráfico 2. Empresasmunicipais de despor-to por distrito

Gráfico 3. Empresas municipais dedesporto constituídas por ano.

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Actividade Económica. Para uma maior clarificaçãodeste enquadramento, deverão ser analisados os ins-trumentos de gestão destas empresas, como sejamos planos e relatórios de actividades.Ao analisarmos a distribuição geográfica das empre-sas municipais do desporto, constatamos que a ten-dência se mantém, pelo que são os Distritos deLisboa e Porto que apresentam o maior número deempresas municipais do Desporto, no continente. ARegião Autónoma dos Açores apresenta tambémaqui um número muito elevado de empresas munici-pais de desporto, sendo que das 12 empresas muni-cipais existentes, 8 têm desporto no seu CAE princi-pal e as restantes, apresentam esta característica nadesignação da empresa ou no CAE secundário.Nos distritos de Beja, Coimbra e Setúbal, não estáidentificada nenhuma empresa municipal de desporto.No que se refere ao ano de constituição, identifica-mos 3 anos bastante férteis na criação de empresasmunicipais do desporto: 2001, ano em que se regis-tou a constituição de 16 empresas municipais dedesporto; 2004, ano em que se constituíram 8empresas desta natureza e finalmente 2006 com acriação de 12 novas entidades do género. As razõesdestes momentos altos, serão alvo de investigaçãofutura, pois parecem estar relacionados com momen-tos políticos e desportivos importantes como as elei-ções autárquicas, o surgimento de nova legislação oua realização do Euro 2004.

Qual a sua actividade económica principal?Embora já se tenha constatado que a existência doDesporto no Código de Actividade Económica, não éfactor suficiente para afirmar que uma dada empresamunicipal se dedica realmente aquela actividade, jul-gamos que a existência do Desporto no CAE principalda empresa poderá ajudar a clarificar esta questão.Assim, constatamos que, das 61 empresas municiaisdo Desporto que fazem parte desta análise, cerca de40% (24) têm como CAE principal a “Gestão deInstalações Desportivas” e, quase 30% (18) incluemDesporto no CAE principal, perfazendo 70%. Nas restantes 19 (31,15%) encontramos o desportono CAE Secundário.

Quantas pessoas têm ao serviço?Outro dado importante nesta matéria é o número depessoas que constituem as empresas. Neste ponto,

os dados disponíveis apresentam elevada percenta-gem de valores não especificados, o que dificulta aanálise, mas revelam que mais de metade das empre-sas municipais, têm menos de 50 trabalhadores. O facto de 25% das empresas terem menos de 10trabalhadores será também um dado suficientementeimportante para análise futura.

Qual o seu volume de negócios?Por fim, e no que se refere ao volume de negócios,podemos também verificar uma elevada percentagemde valores não especificados.Das empresas cujos dados conhecemos, constatamosque mais de metade apresenta um volume de negó-cios inferior a 1.500.000,00€ (um milhão e quinhen-tos mil euros) e cerca de 37% destas, atingem apenaso escalão dos 500.000,00 (quinhentos mil euros).

NOTAS CONCLUSIVASA adopção do modelo empresarial para a gestão daactividade económica relativa ao desporto está longede ser tomada como pacífica e tem dividido opiniões,entre os que se vinculam à solução e os que a conde-nam, por representar, por um lado, a autonomia dasdecisões públicas ou, por outro lado, a menoridadedo próprio Estado na matéria.Primeiro, a Lei nº 58/98, de 18 de Agosto e depois oregime jurídico do sector empresarial local, aprovadopela Lei nº 53-F/2006, de 29 de Dezembro, vieramdotar os municípios de um instrumento há muitodesejado, com o condão de ultrapassar os constrangi-mentos característicos e inerentes às pesadas máqui-nas administrativas do Estado, pouco céleres no trata-mento de um vasto conjunto de variáveis que estãopresentes na prestação de serviços na área desportiva,nomeadamente a gestão de instalações e espaços des-portivos, geradores de uma elevada diversidade devalências para a actividade física e desportiva.Efectivamente, a empresa municipal, dotada de auto-nomia financeira, administrativa e patrimonial, per-mite uma nova fórmula para organizar o serviçopúblico, conducente a uma gestão mais eficaz e comníveis crescentes de qualidade, que garantem a ges-tão, pelo Estado, do património público reforçandoos desígnios da intervenção e da rentabilidade socialque este deve salvaguardar, garantir e regular,excluindo o recurso à privatização.

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Gráfico 4. Empresas municipais dedesporto por actividade económicaprincipal.

Gráfico 5. Empresasmunicipais de desportopor número de trabalha-dores

Gráfico 6. Empresas municipais dedesporto por volume de negócios.

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No conjunto das questões que suscitam a falta devocação da administração local para a gestão directadestas instalações, ou pelo menos a debilidade demecanismos para o fazer da forma mais adequada,releva a dificuldade no recrutamento de recursoshumanos especializados, nomeadamente com qualifi-cações, cujo reconhecimento ainda é recente – cursos elicenciaturas em educação física e gestão do desporto.Acresce ainda que, muitas autarquias, fruto do graude endividamento, se aproximam perigosamente dolimite legal permitido para os custos com o pessoal –60% do valor global do orçamento – facto que, namaior parte dos casos, condiciona a realização denovos investimentos, impede a gestão directa dosequipamentos e promove o incremento de processosde privatização das instalações desportivas munici-pais, sem consistência e sustentabilidade.A autonomia administrativa das empresas munici-pais, ao contrário da administração pública, quemanifestamente não tem dado resposta às necessida-des específicas do sector, permite a organização deum quadro de pessoal, com carreiras e categoriasprofissionais, perfeitamente ajustado ao seu objectosocial e às reais necessidades e características domercado que serve.No entanto, para que uma empresa municipal possapotenciar o desenvolvimento do movimento desporti-vo de um município, é necessário respeitar duas pre-missas fundamentais, quais sejam a de que aquelaresista à tentação de não se constituir como concorren-te do associativismo desportivo local e que, nas suasatribuições, não reproduza uma duplicação das compe-tências próprias dos serviços de desporto da autarquia.Ao contrário, a criação da empresa municipal deveráabrir caminho para um maior empenhamento dasDivisões de Desporto das autarquias na prossecuçãodas suas competências próprias e exclusivas, nomea-damente apoio e incentivo ao associativismo, estudoe planeamento de programas de desenvolvimento econstrução de novos equipamentos desportivos, incasu, de acordo com o que vertem o artº 64º, nº 4,alínea b), da Lei nº 169/99, de 18 de Setembro.Mas, no fim, tal como no princípio, subsiste umapequena grande dúvida. Porque é que o legislador,interpretando as dificuldades de ordem prática, foiem busca de agilizar procedimentos, criando umnovo modelo de gestão?

Porquê e para quê fazê-lo coexistir, quer com a pesa-da e infuncional máquina administrativa do Estado,quer com regras e procedimentos de gestão queestão “fora do prazo de validade”?Porque não, e quiçá com maior eficácia e economiade meios e recursos, disciplinar a desburocratizaçãodos procedimentos do próprio Estado, no âmbito deuma verdadeira reforma da administração pública?Estas dúvidas persistem fundadas na convicção deque a Administração, mesmo quando revestida detrajes privados, não pode nunca deixar de estar vin-culada à observância de princípios, tão bem clarifica-dos por Maria João Estorninho, como o Prossecuçãodo Interesse Público, o da Legalidade, ou o daVinculação aos Direitos Fundamentais(5). Dito deoutro modo, parece-nos crucial que entendamos quequalquer que seja a forma jurídica para a gestão dodesporto no município, esta tem de respeitar inevita-velmente o tipo de actividade a desempenhar pelaAdministração Pública, donde se torna evidente quea celeridade e a eficácia pretendidas através da adop-ção da gestão empresarial não se obtenham à custada diminuição ou inobservância dos princípios acimarelembrados.

CORRESPONDÊNCIAMaria José CarvalhoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 91 - 4200.450 Porto PortugalE-mail: [email protected]

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NOTAS1 A Lei n.º 79/77, de 25 de Outubro, no seu artigo 48.º, n.º 1,al. o), atribuía à assembleia municipal a competência paraautorizar o município a “formar empresas municipais”. Amesma perspectiva foi seguida no Decreto-Lei n.º 100/84, de29 de Março ao reiterar no artigo 39.º, n.º 2, al. g), a compe-tência da assembleia municipal para autorizar o município “acriar empresas públicas municipais”. 2 Também outros autores, como EUGÉNIO ANTUNES, As autarquiaslocais e a nova gestão pública – as empresas públicas municipais e aprestação de contas, Tese de mestrado, ISCTE, 2003; JOÃOPACHECO DE AMORIM, As empresas públicas no direito português – emespecial, as empresas municipais, Coimbra, Almedina, 2000, ouCARLOS BAPTISTA LOBO, “A função de actuação económica doestado e o novo regime jurídico do sector empresarial doEstado e das empresas públicas municipais”, in Eduardo PazFerreira (org.), Estudos sobre o Novo Regime do Sector Empresarialdo Estado, Coimbra, Almedina, 2000, pp. 241-255, haviam teci-do criticas ao instituído na Lei n.º 58/98. Destaque para outrasanálises a este diploma em auditorias e pareceres do Tribunalde Contas, designadamente: Relatório de Auditoria 5/2007 2.ªSecção - Auditoria Temática aos Vencimentos e RemuneraçõesAcessórias dos Titulares do Órgão de Gestão das EmpresasMunicipais 2003-2004; Relatório de Auditoria nº 24/2005 - 2 ªSecção Auditoria à EPMES - Empresa Pública Municipal deEstacionamento em Sintra, EM; Relatório de Auditoria nº11/2005 - 2 ª Secção Auditoria ao Exercício de 2003 da HPEM- Higiene Pública, EM.; Relatório de Auditoria nº 4/2005 - 2 ªSecção EMSUAS - Empresa Municipal de Serviços Urbanos deAlcácer do Sal, EM - Exercício de 2002. Por parte daProcuradoria-geral da República registemos também as análisesàquele regime nos Pareceres n.º 83/93, de 10 de Maio de 1995,n.º 02/2000, de 06 de Abril de 2000, n.º 77/2002, de 13 deFevereiro de 2003 e n.º 10/2003, de 15 de Maio de 2003, cf.podem ser consultados em texto integral disponível emhttp://www.dgsi.pt. 3 Em complemento foram publicados diplomas com importantesorientações sobre a gestão deste sector, em especial a Lei dasFinanças Locais (Lei n.º 2/2007, de 15 de Janeiro) e o Estatutodo Gestor Público (Decreto-Lei n.º 71/07, de 27 de Março).Referência ainda para os princípios de bom governo das empre-sas do sector empresarial do Estado ínsitos na Resolução doConselho de Ministros n.º 49/2007, de 27 de Março.4 Cf. artigo 5º, nºs 1 e 2 da Lei n.º 53-F/2006, de 29 deDezembro, norma que estatui como objecto social obrigatóriodestas empresas a exploração de actividades de interesse geral,a promoção do desenvolvimento local e regional e a gestão deconcessões, como melhor analisaremos adiante. 5 Cf. artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 558/99, de 17 de Dezembro,diploma que sujeito a alteração pelo Decreto-Lei n.º 300/2007,de 23 de Agosto.6 Como na nota 6, pp. 173-178.7 Cf. o artigo 8.º, nºs 1, 2 e 4 da Lei n.º 53/2006, de 7 deDezembro, que estabelece o Regime comum de mobilidade entreserviços dos funcionários e agentes da Administração Pública.8 Ver a este respeito o artigo 9.º da lei referida na nota anterior.9 Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro, queestabelece a disciplina aplicável à contratação pública e o regi-me substantivo dos contratos públicos.10 Ver artigo 20.º, n.º 4 e artigo 23.º, n.º 2 da Lei n.º 53-F/2006,de 29 de Dezembro. 11 Solicitamos ao Instituto Nacional de Estatística (INE) umaextracção de dados, em 24 de Junho de 2008, do Ficheiro deUnidades Estatísticas (FUE), que nos foi facultada em 09 deJulho de 2008.12 Endereço electrónico http://www.dgaa.pt, consultado em 9 deJulho de 2008.

REFERÊNCIAS 1. Amorim J (2000). As empresas públicas no direito português –

em especial, as empresas municipais. Coimbra: Almedina. 2. Antunes E (2003), As autarquias locais e a nova gestão

pública – as empresa públicas municipais e a prestação decontas, Tese de mestrado, ISCTE.

3. Carvalho MJ (2007). Os elementos estruturantes do regi-me jurídico do desporto profissional em Portugal.Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade deDesporto da Universidade do Porto.

4. Direcção Geral das Autarquias Locais (2006). AdministraçãoLocal em Números. Lisboa.

5. Estorninho MJ (1999). A fuga para o direito privado – contri-buto para o estudo da actividade de direito privado daAdministração Pública. Coimbra, Almedina.

6. Gonçalves, P. (2007). Regime Jurídico das EmpresasMunicipais. Coimbra, Almedina.

7. Lobo, C. (2000). “A função de actuação económica doestado e o novo regime jurídico do sector empresarial doEstado e das empresas públicas municipais”, in EduardoPaz Ferreira (org.), Estudos sobre o Novo Regime do SectorEmpresarial do Estado, Coimbra, Almedina, pp. 241-255.

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Hábitos desportivos dos jovens do interior norte e litoral norte de Portugal

Viriato Santos CostaAntónio Serôdio-FernandesMiguel Maia

Departamento de DesportoUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroPortugal

RESUMOConhecer os hábitos de tempo livre dos jovens é de extremaimportância a fim de conhecer as suas actividades de lazer e opapel que o desporto ocupa nas mesmas.Devido a uma noção generalizada de que a prática de actividadefísica extra-curricular entre jovens tende a diminuir, surgiu aquestão sobre o que leva os jovens a praticar, ou não praticaractividade física. Existem já alguns estudos acerca desta temática, que nos apre-sentam resultados referentes aos hábitos desportivos na popu-lação portuguesa. No entanto, devido à variedade de realidadessociais e culturais que existem no nosso país, pensamos queseria relevante estudar cada um desses diferentes meios.Perante isto, os principais objectivos deste trabalho são a carac-terização da prática desportiva dos jovens do Interior Norte eLitoral Norte do País e saber quais os factores que levam à nãoprática dos jovens destas duas regiões. Para o presente estudoconsideramos: Interior Norte os concelhos de Vila Real, VilaPouca de Aguiar, Bragança e Vila Flor; Litoral Norte os conce-lhos de Guimarães, Penafiel, Viana do Castelo e Vizela.Os dados referentes a este trabalho foram recolhidos no ano de2007 no âmbito de vários estudos de tese final de licenciatura,nestes foi utilizado como instrumento um questionário valida-do por peritagem.A amostra deste estudo é constituída por 1304 alunos perten-centes aos graus de ensino do 3º Ciclo e Secundário das escolaspúblicas de ensino das duas regiões por nós definidas, dosquais 572 (43,8%) são do sexo masculino e 732 (56,2%) dosexo feminino.Para o presente estudo utilizamos a estatística descritiva,nomeadamente a frequência, a percentagem, a média, o desviopadrão e para a comparação de médias, utilizamos o teste t deStudent.Da análise efectuada aos resultados obtidos destacamos: o baixoíndice de prática nas duas regiões comparativamente ao que severifica na Comunidade Europeia; a falta de motivação apontadacomo razão da não prática, quer no Interior Norte, quer noLitoral Norte; o Futebol ser a modalidade mais praticada pelaamostra em geral; a ajustada e adequada proporção de exercíciofísico semanal, bem como a duração média por sessão praticadapela amostra; o facto de no Interior Norte o local mais comumpara a prática desportiva se prender com espaços naturais, comoa rua e a natureza; no Litoral Norte a preferência está no clube eem infra-estruturas adequadas à prática desportiva.

Palavras-chave: jovens, prática desportiva, não prática, interiornorte, litoral norte

ABSTRACTSports habits of youth from Portugal north interior and coast

Knowing the habits of free time of young people is extreme importancein order to meet their leisure activities and the role that sport plays inthem.Due to a widespread notion that the practice of extra-curricular physi-cal activity among young people tends to decrease, the question arose ofwhat leads young people to practice or not practicing physical activity.There are already some studies on this issue that present results relatedto sports habits in the Portuguese population. However, due to thevariety of social and cultural realities that exist in our country, wethink that would be relevant study each of these different means.Given this, the main objectives of this work are the characterization ofsport practice for young people of the North Interior and North Coastof the country and know about the factors that lead to not practice ofyoung people of these two regions. For this study we consider: NorthInterior the municipality of Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Bragançaand Vila Flor; North Coast the municipality of Guimarães, Penafiel,Viana do Castelo and Vizela.The data from this study were collected in the year 2007 as part ofseveral studies of graduate thesis, the questionnaires apply in thesewere validated by experts.The sample of this study consists of 1304 students with a mean age of15,82 of which 572 (43.8%) are male and 732 (56.2%)Females.For this study used the descriptive statistics, including the frequency,the percentage, mean, standard deviation and to compare means, weused the Student t-test.From the analysis of the data collected we highlighted the achieve-ments: the low level of practice in the two regions compared to thefound in the European Community; lack of motivation indicated as thereason of not practice, either in North Interior, either in the NorthCoast, the Football being the modality most practiced by the sample ingeneral, the adjusted and proper proportion of physical activity weekly,and the average duration per session practiced by the sample, the factthat in the North Interior the most common site for the practice beingrelated to natural areas, such as the street and the nature, in theNorth Coast the preference goes to the club and adequate infrastructurefor sport practice.

Key-words: youth, sports practice, non practice, north interior, northcoast

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INTRODUÇÃOAs noções de que a actividade física regular assumeum papel relevante na promoção de um estilo devida saudável e de que níveis elevados de actividadefísica durante a infância e juventude aumentam aprobabilidade de uma participação similar quandoadultos são bastante consensuais. No entanto, a rea-lidade nacional tem revelado uma fraca aquisição dehábitos desportivos dos homens e mulheres portu-guesas, sendo este quadro ainda mais preocupanteno que se refere aos jovens, condicionando assim aqualidade de vida da nossa população. Apesar deuma melhor implementação da prática física e des-portiva, os hábitos de prática desportiva na socieda-de portuguesa, quando comparados com outros paí-ses da Comunidade Europeia, são inferiores(15).Segundo Fernando(8) um dos caminhos a seguir paramelhorar o nível físico-desportivo das populações é ainvestigação da prática desportiva e o conhecimentodos motivos mais profundos que levam a populaçãoa praticar desporto. Será mais fácil fazer correspon-der a oferta aos motivos básicos da população, e nãoàs ideias pré-concebidas frequentemente cheias deideologias e preconceitos, contrários ao que deve serum desporto cultural e popular para todos.Kenyon(12) criou um dos primeiros instrumentos(ATPA, ou seja, Attitudes Towards Physical Activity)para estudar a adesão da população à prática despor-tiva, baseando-se num modelo conceptual de seisdimensões: experiência social, saúde e condição físi-ca, vertigem, aspectos estéticos, catarse e ascetismo. Mais tarde, Simons e Smoll(26) adaptaram este instru-mento para populações mais novas (CATPA, isto é,Children Attitudes Towards Physical Activity), tendo(28)

examinado a natureza e o grau de associação entre osresultados fornecidos pelo instrumento e o envolvi-mento desportivo de estudantes do quarto ao sextonível de escolaridade. A análise de correlações canó-nicas identificou uma associação positiva e significati-va entre as variáveis. O CATPA foi ainda utilizadopor Smoll e Schutz(27) num estudo longitudinal con-duzido com rapazes e raparigas do quarto, quinto esexto ano de escolaridade. Esta investigação detectoualguma fragilidade devido ao facto da versão originaldo inventário ter sido concebida para adultos. Sonstroem(29, 30) e Sonstroem & Kampper(31) desen-volveram o Physical Estimation and Attraction Scales

(PEAS). Apesar de possuir aceitáveis propriedadespsicométricas, o instrumento não teve grande suces-so na predição do grau de envolvimento dos jovensna prática desportiva. Com base na amostra de classes universitárias deEducação Física, Weick(37) mostrou que o “diverti-mento” e a “necessidade de prática regular de exercí-cio físico” foram os motivos mais apontados paraexplicar a adesão às classes, que eram opcionais.Soudan & Everett(32), num estudo bastante idêntico,destacaram outros dois motivos: “estar com boasaúde” e “estar fisicamente apto”. Gould(11) apresentou os resultados de um inquéritodirigido a 23 psicólogos do desporto e 33 treinadoresde jovens e administradores de programas desporti-vos infanto-juvenis, indicando que “why young athleteparticipate in sports?” foi apontado como dos tópicosmais relevantes na área do desporto para crianças ejovens. Em Portugal as primeiras utilizações do questionáriode Gill et al.(10) acontecem no final da década de1980, pela mão de investigadores da Universidadedo Minho(5, 6, 7), que produziram a versão intituladaQuestionário da Motivação para a Participação Desportiva– QMPD. Esta versão utilizou a escala de respostas 1(pouco importante), 2 (mais ou menos importante)e 3 (muito importante). Ligeiramente mais tarde,Serpa(22) publica o trabalho de Serpa & Frias(24),apresentando uma outra versão portuguesa, designa-da Questionário de Motivos para a Participação Desportiva– QMAD. Esta última versão foi amplamente aplica-da pelas escolas universitárias de Educação Física eDesporto de Lisboa(3, 34), Porto(2, 9, 23), Trás-os-Montes(1, 35, 36) (dos quais, o primeiro trabalho efec-tuado com jovens da Graciosa, Açores). O QMADdestacou-se ainda pela adopção de uma escala maisampla de respostas, sendo 1, nada importante, 2,pouco importante, 3, importante, 4, muito importan-te, 5, totalmente importante.Medir e avaliar as atitudes dos jovens face ao despor-to tem sido uma preocupação dos investigadores, emespecial a partir da última metade da década de 90do século XX Shields D, Bredemeier B, Power F(25,38). O problema reside não só na dificuldade deencontrar instrumentos adequados ao objecto deestudo, como em estabelecer um enquadramentoconceptual que torne evidente a expressão de condu-

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tas que os jovens praticantes julgam como as maisadequadas às situações desportivas e permitam, aomesmo tempo, a intervenção dos agentes de ensino.A prática desportiva das crianças e jovens é fomenta-da e incentivada devido às suas virtudes formativas –carácter, disciplina, vontade, de “preparação para avida” e pró-sociais. Assistimos nas últimas décadas aum vertiginoso aumento da oferta desportiva paraidades cada vez mais baixas, chegando-se à actualsituação em que a participação em actividades des-portivas representa a maior fatia de ocupação detempo livre, não lectivo, entre as crianças e os ado-lescentes(4, 21).Parece, assim, ser claro que os factores ligados aoenvolvimento social estão inquestionavelmente asso-ciados aos hábitos desportivos evidenciados porcrianças e jovens(20).O suporte social, nomeadamente a família e ospares, tem sido identificado como elemento críticono desenvolvimento da criança e do jovem no quediz respeito ao interesse e à participação em activida-des físicas.De acordo com Wold e Andersen(39), um estudo rea-lizado pela Organização Mundial de Saúde em dife-rentes países europeus, com crianças e jovens de ida-des compreendidas entre os 11 e os 15 anos,demonstrou que quando três ou mais pessoas consi-deradas importantes para o jovem (melhor amigo,pais e ou irmãos), participavam em actividades físi-cas, 84% dos indivíduos do sexo masculino e 71%do sexo feminino realizavam uma prática desportivaduas ou mais vezes por semana. Pelo contrário,quando nenhuma dessas pessoas participava nasreferidas actividades, apenas 52% dos meninos e30% das meninas referiam ser activos.É então inequívoco que a actividade física constituium comportamento de grande importância na pro-moção de um estilo de vida saudável, tanto na infân-cia e juventude, como na idade adulta(20).Neste sentido, é imperioso, que o futuro planeamen-to do desporto estude e analise pormenorizadamentea oferta existente, a procura actual e a previsão daprocura futura, de tal maneira que qualquer acção,obedeça a padrões reais e o mais ajustada possível àsreais necessidades e carências dos cidadãos(19), eneste caso específico dos jovens. Não basta afirmar que o desporto tem o estatuto de

direito do cidadão, para que todos o possam e quei-ram praticar, é necessário que as políticas desporti-vas e as instituições responsáveis pela sua aplicação,tratem de tomar medidas no sentido de concretizaras intenções manifestadas na legislação nacional enas cartas e acordos internacionais, levando a quemais cidadãos, independentemente da idade e dosexo, acedam ao desporto e às suas actividades. Paratal, é imprescindível que todos sejam capazes de pôrem prática os pressupostos inerentes a um correctoplaneamento da actividade desportiva.Assim, foi nosso objectivo desenvolver um estudoque permitisse identificar a realidade da prática deactividade física dos jovens nas regiões do InteriorNorte e Litoral Norte de Portugal. Para tal considera-mos: Interior Norte os concelhos de Vila Real, VilaPouca de Aguiar, Bragança e Vila Flor; Litoral Norteos concelhos de Guimarães, Penafiel, Viana doCastelo e Vizela.O presente estudo torna-se fundamental como ins-trumento operativo na definição e estruturação dodesenvolvimento desportivo nas referidas regiões.

ObjectivosO principal objectivo deste trabalho é a caracteriza-ção da prática desportiva dos jovens no InteriorNorte e Litoral Norte do País.Assim, definimos como objectivos específicos: (1)conhecer a adesão à prática de actividade física extra-curricular, do Interior Norte e do Litoral Norte dePortugal dos jovens em idade escolar; (2) confrontara adesão à prática de actividade física extracurriculardos jovens nestas duas regiões; e (3) conhecer asenvolventes que levam à não prática dos jovens noInterior Norte e Litoral Norte do País.

METODOLOGIACaracterização da amostraAtravés de uma análise descritiva procedemos àcaracterização da amostra em três níveis: amostratotal, amostra do interior norte e amostra do litoralnorte (Quadro 1).A amostra inquirida é constituída por 1304 alunospertencentes aos graus de ensino do 3º Ciclo eSecundário das escolas públicas de ensino dos con-celhos: Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Bragança eVila Flor (População do Interior Norte); Guimarães,

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Penafiel, Viana do Castelo e Vizela (População doLitoral Norte). Dos alunos inquiridos, 54,5% (711)afirma praticar actividade física fora do âmbito dasaulas de educação física, e 45,5% (593) declara quenão realiza qualquer tipo de actividade física oudesporto.Relativamente à idade dos alunos verificamos que asidades variam entre os 12 e os 21 anos, sendo que amédia de idades é de 15,82±1,76 anos(CV1=8,98%).

InstrumentoCom o objectivo de avaliar os hábitos desportivosdos jovens desenvolvemos um questionário validadopor peritagem para a presente investigação. O pro-cesso de validação cumpriu com os requisitos impos-tos na literatura científica da especialidade(17).O instrumento é de preenchimento individual, anó-nimo e confidencial constituído por questões deresposta aberta e fechada estruturada em duas par-tes. A primeira parte permite caracterizar a amostrasegundo: (1) ano de nascimento; (2) ano de escola-ridade; (3) sexo; e (4) praticante / não praticantedesportivo.A segunda parte permite discriminar entre os alu-nos com prática desportiva extra-escolar e os alu-nos sem essa prática. Assim, a segunda parte do

questionário é constituída por dois grupos, sendoque os alunos só preenchem a parte que melhor oscaracteriza. O primeiro grupo pretende unicamentecaracterizar os motivos da não prática desportiva,enquanto que o segundo grupo é preenchido unica-mente pelos alunos com prática desportiva extra-escolar e caracteriza-se por: (1) regularidade sema-nal; (2) duração diária; (3) local de prática; e (4)contexto social.

ProcedimentosO questionário foi elaborado considerando a especi-ficidade do estudo, tendo sido validado e pré-testadopor peritagem através de quinze profissionais dasciências do desporto.Como único critério de inclusão para o nosso estudodefinimos que os alunos teriam que frequentar o 3ºciclo ou secundário numa das escolas públicas dosconcelhos em causa.Os questionários foram preenchidos pelos alunos noinício de uma aula de Educação Física, tendo sidoinformados dos objectivos do estudo, do modo depreenchimento do questionário, bem como do carác-ter voluntário do mesmo.Para a realização do estudo foram salvaguardadas asdevidas autorizações, tanto do Conselho Executivodas escolas, como dos próprios alunos.

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Amostra total Interior Norte Litoral Norte

N % N % N %

Masculino 572 43,8 205 46,6 367 42,4

Feminino 732 56,2 235 53,4 497 57,6 Sexo

Total 1304 100 440 100 864 100

3º Ciclo 467 35,8 254 57,7 213 24,7

Secundário 837 64,2 186 42,3 651 75,3 Ano Escolaridade

Total 1304 100 440 100 864 100

Sim 711 54,5 269 61,1 442 51,2

Não 593 45,5 171 38,9 422 48,8 Prática Desportiva

Total 1304 100 440 100 864 100

Legenda:

N – Frequência; % – Percentagem.

Quadro 1. Caracterização da amostra relativamente ao género, ano de escolaridade e prática desportiva.

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Procedimentos estatísticos Para a análise dos dados recolhidos, utilizamos oprograma estatístico Statistical Package for the SocialSciences (SPSS®) versão 15.0 for Windows®, para pro-ceder ao tratamento estatístico dos dados, no qualintroduzimos os dados relativos a todas as informa-ções constantes no questionário.De modo a cumprir os objectivos e também caracte-rizar a amostra em estudo, analisamos as frequênciasde resposta, utilizando a estatística descritiva,nomeadamente a frequência (n), a percentagem (%),a média (M), o desvio padrão (±DP), o coeficientede variação (CV).Tendo em consideração a dimensão da amostra(n=1304), iremos utilizar as técnicas estatísticasparamétricas, uma vez que a dimensão se encontrabem acima do recomendado por Pestana e Gageiro(2005) para a utilização desta categoria de testes(n≥30).Com objectivo de verificar se existem diferençasestatisticamente significativas entre as variáveisindependentes dicotómicas (sexo, ano de escolarida-de e região) e as variáveis dependentes (regularidadesemanal, duração diária, local de prática e contextosocial), ou seja comparar as médias das distribuiçõesdos diversos grupos em estudo, utilizamos o teste t

de Student (procedimento estatístico paramétrico). Onível de significância foi mantido em 5% (p≤0,05)para todos os procedimentos estatísticos utilizados.

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSNão prática desportivaApós todos os dados estatisticamente tratados obtive-mos, relativamente à não prática, que um dos factoresmais referidos pelos inquiridos sobre o motivo de nãopraticarem qualquer actividade extra-escolar deve-se a“sem motivação” com uma média de 2,19±1,24(CV=1,77%). Não havendo diferenças estatisticamen-te significativas neste motivo para a não prática nanossa amostra, entre as regiões estudadas.Contraditoriamente do que se verificou em outrosestudos(16) a falta de tempo é apontada como princi-pal razão da não prática desportiva, o que nos leva areflectir sobre a preocupante falta de motivação dosjovens não praticantes, tanto no Interior Norte comoLitoral Norte.Em seguida uns dos motivos apresentados para anão prática é “falta de transporte”, em que este émais representativo para a população do InteriorNorte (2,36±1,35 CV=1,75%) comparativamentecom o Litoral Norte (1,98±1,22 CV=1,62%). O quenos leva a pensar na falta de oferta de transportes no

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Amostra total Interior Norte Litoral Norte Teste - t

M DP M DP M DP p t

Não gosto 1,51 0,838 1,45 0,643 1,54 0,904 0,197 -1,291

Não tenho idade 1,21 0,516 1,28 0,599 1,18 0,476 0,050* 1,969

Sem benefícios 1,26 0,571 1,35 0,635 1,23 0,539 0,034* 2,129

Não aprendi 1,42 0,747 1,46 0,721 1,41 0,758 0,474 0,716

Sem saúde 1,57 0,954 1,73 1,046 1,51 0,908 0,017* 2,411

Sem jeito 1,89 1,088 1,83 0,979 1,92 1,129 0,376 -0,886

Pais não deixam 1,38 0,853 1,48 1,065 1,33 0,748 0,099 1,657

Sem instalações 1,85 1,109 1,99 1,186 1,79 1,072 0,046* 1,996

Sem motivação 2,19 1,238 2,12 1,164 2,22 1,267 0,357 -0,922

Sem transporte 2,09 1,268 2,36 1,354 1,98 1,216 0,002* 3,199

Sem dinheiro 1,70 1,033 1,75 1,061 1,69 1,022 0,508 0,662

Legenda: M – média; DP – desvio padrão; p – nível de significância; t – valor do teste t; * - existem diferenças estatisticamente significativas

Quadro 2. Estatística descritiva dos motivos da não prática desportiva.

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Interior Norte, que em tudo reflecte a situação doInterior face ao Litoral em todo o País nesta questão.O que reflecte as assimetrias económicas e financei-ras verificadas entre o litoral e interior. Após estes motivos mais manifestos para a não prá-tica dos inquiridos, destacamos outros que nos pare-cem também bastante intrigantes quando compara-dos entre as duas regiões. No Interior Norte “seminstalações” e “sem saúde” com médias de1,99±1,19 (CV=1,67%) e 1,73±1,41 (CV=1,23%)respectivamente, comparado com os valores dosinquiridos no Litoral Norte, “sem instalações”1,79±1,07 (CV=1,67%) e “sem saúde” 1,51±0,91(CV=1,66%). Que nos leva a mais uma realidadedistinta entre o Interior e o Litoral quer a nível decondições para a prática desportiva, quer em termosde saúde para a prática.Por outro lado, parece-nos preocupante o facto deque uma parte destes jovens referem não ter jeitopara o desporto (1,89±1,09 CV=1,73%). Este é umdos factores fortemente influenciadores no sentidoda não prática, estes apresentam-se altamente resis-tente à mudança. Assim, é importante definir estra-tégias integradas e concretas de modo a despertar ointeresse pela prática desportiva e pela adopção dehábitos desportivos saudáveis.Consideramos ainda importante salientar que, ape-sar dos motivos apresentados serem referidos, pelosjovens, como os principais motivos pelo facto de nãopraticarem desporto, verificamos que a importânciaatribuída, em média é de nível 2, ou seja, “discordo”.

Prática desportivaRelativamente às modalidades escolhidas por aque-les alunos que procuram ocupar parte do seu tempoatravés da prática desportiva, verificamos que a maispraticada é o Futebol. Este obtém índices de práticamuito semelhantes quer no Interior Norte (45,9%)quer no Litoral Norte (45,7%).Em segundo o Basquetebol é o desporto mais prati-cado pelos inquiridos no Interior Norte (11,2%),sendo que, no Litoral Norte a Natação é o segundodesporto de preferência para os jovens desta região(12,5%). Este facto pode-se associar à realidade dasduas regiões quer em termos de instalações desporti-vas específicas, quer em termos culturais que cadauma impõe aos seus jovens.

De salientar que no Interior Norte a terceira modali-dade mais escolhida pelos jovens é a natação, comcerca de 10,4% de praticantes o que faz com queesta esteja muito próxima da segunda mais pratica-da, o mesmo já não se denota no Litoral em que aterceira modalidade mais referenciada foram asActividades de Academia em que apenas regista umapercentagem de 6,6% dos praticantes. Esta últimaapresenta valores mais representativos quando com-parado com o Interior Norte (2,2%).A prática de Voleibol apresenta também um “fosso”entre as duas regiões, sendo que o Interior Norte nãoapresenta uma prática visível da modalidade em con-traste com Litoral Norte (3,4%). Continuando assimestas duas regiões a diferenciarem-se culturalmente esocialmente em questões de prática desportiva.Existem ainda um conjunto de alunos que procura umavariedade de modalidades desportivas que no entantonão se manifestaram representativas para o estudo.No que diz respeito à regularidade semanal da práti-ca desportiva ambas as regiões apresentam valoressimilares sendo que tanto os alunos praticantes doInterior Norte (28,6%) como do Litoral Norte(29,9%) afirmam ter prática desportiva pelo menostrês vezes por semana, fazendo com que seja onúmero de dias mais globalizado quanto à regulari-dade semanal.Comparativamente com os estudos de(16), que verifi-cou uma média de dois dias por semana de práticadesportiva, podemos defender que os jovens prati-cantes das duas regiões em estudo apresentam níveismuito aceitáveis de prática desportiva, no que con-cerne à frequência de prática. Já a duração diária estabelece algumas diferençasquando comparada nas duas regiões. A maior porçãodos inquiridos no Interior Norte (22,7%) afirma quea duração diária não ultrapassa uma hora de dura-ção. Em contraste os alunos do Litoral Norte (26%)declaram que esta tem uma duração de uma hora etrinta minutos, sendo que outros 24,2% afirmamque esta dura duas horas.Quanto ao local de prática destacamos o facto de queos alunos do Interior Norte referem em média3,40±1,36 (CV=2,50%) a Rua como principal localde prática enquanto que no Litoral Norte estes ape-nas referem a Rua numa média de 2,68±1,33(CV=2,02%).

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O Clube e a Natureza aparecem também como locaiscom diferenças estatisticamente significativas em queo nível de significância é ≤0,05, em que é atribuídauma média de 2,61±1,68 (CV=1,56%) no LitoralNorte e 2,28±1,52 (CV=1,50%) ao Interior Norterelativamente ao clube sendo que 2,68±1,33

(CV=2,02%) e 2,99±1,44 (CV=2,08%) são estabele-cidas para a Natureza no Litoral Norte e Interior res-pectivamente. Podemos afirmar então que existe umaclara preferência por locais distintos quando compa-ramos as duas regiões, no Interior é privilegiado osespaços abertos, a natureza e os elementos do meio

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Quadro 3. “Top ten” das modalidades mais praticadas.

Quadro 4. Caracterização da prática desportiva relativamente à sua regularidade semanal e duração diária.

Amostra total Interior Norte Litoral Norte

N % N % N %

Danças de Salão 33 4,7 9 3,4 24 5,5

Actividades de Academia 35 4,9 6 2,2 29 6,6

Basquetebol 46 6,5 30 11,2 16 3,6

Ciclismo/Btt 34 4,8 17 6,3 17 3,9

Futebol 324 45,8 123 45,9 201 45,7

Futsal 34 4,8 12 4,5 22 5,0

Natação 83 11,7 28 10,4 55 12,5

Taekwondo 30 4,2 13 4,9 17 3,9

Atletismo 18 2,5 8 3,0 10 2,3

Voleibol 15 2,1 0 0 15 3,4

Legenda: N – frequência; % – percentagem.

Amostra total Interior Norte Litoral Norte

N % N % N %

1x semana 92 12,9 26 9,7 58 13,1

2x semana 148 20,8 60 22,3 96 21,7

3x semana 202 28,4 77 28,6 132 29,9

4x semana 144 20,3 58 21,6 88 19,9

5x semana 84 11,8 32 11,9 46 10,4

Regularidade semanal

6x semana 41 5,8 16 5,9 22 5,0

30min 71 10,0 31 11,5 39 8,8

1h 150 21,1 61 22,7 93 21,0

1h 30min 171 24,1 58 21,6 115 26,0

2h 164 23,1 52 19,3 107 24,2

2h 30min 82 11,5 36 13,4 48 10,9

Duração diária

3h 73 10,3 31 11,5 40 9,0

Legenda: N – frequência; % – percentagem.

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enquanto no Litoral as condições para a prática des-portiva apresentam-se mais em conta, devido á ofertadesta nos distintos locais. Isto vai de encontro aoobjecto de estudo acima abordado relativo à falta deinstalações como um dos motivos para não praticarqualquer tipo de actividade desportiva extra-escolar.

No contexto social não existindo diferenças estatisti-camente significativas podemos afirmar perante osdados recolhidos que os alunos inquiridos praticamactividade desportiva extra-escolar mais frequente-mente entre os amigos (4,08±1,00 CV=4,08%) ecolegas (3,84±1,13 CV=3,40%) na maioria das vezes.

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Quadro 5. Estatística descritiva da prática desportiva relativamente ao local e contexto social desta.

Amostra total Interior Norte Litoral Norte Teste - t

M DP M DP M DP p t

Clube 2,49

1,630 2,28 1,519 2,61 1,683 0,008* -2,673

Ginásio 2,21

1,303 2,12 1,332 2,27 1,283 0,131 -1,513

Pavilhão 3,03

1,295 3,00 1,330 3,04 1,274 0,667 -0,430

Desporto escolar 2,41

1,336 2,39 1,398 2,43 1,299 0,712 -0,370

Associações 1,75

1,132 1,84 1,240 1,70 1,058 0,125 1,535

Casa do povo 1,42

0,909 1,48 1,006 1,38 0,843 0,175 1,358

Junta de freguesia 1,53

1,016 1,67 1,122 1,45 0,936 0,008* 2,654

Natureza 2,77

1,351 2,99 1,443 2,64 1,276 0,001* 3,353

Rua 2,95

1,386 3,40 1,358 2,68 1,333 0,000* 6,907

Local

Outro 1,92

1,417 1,80 1,444 1,99 1,397 0,077 -1,770

Sozinho 2,50

1,193 2,61 1,246 2,44 1,156 0,064 1,856

Em família 2,31

1,061 2,30 1,090 2,31 1,043 0,923 -0,097

Entre amigos 4,08

1,002 4,09 1,052 4,08 0,971 0,863 0,173

Entre colegas 3,84

1,133 3,91 1,202 3,80 1,089 0,182 1,337

Entre vizinhos 2,49

1,361 2,61 1,425 2,41 1,316 0,070 1,816

Em Grupo 2,63

1,283 2,72 1,338 2,57 1,246 0,135 1,496

Contexto social

Outra situação 1,82

1,286 1,71 1,250 1,88 1,304 0,088 -1,711

Legenda: M – média; DP – desvio padrão; p – nível de significância; t – valor do teste t; * - existem diferenças estatisticamente significativas

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CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos e nos objectivos aatingir, concluímos que a adesão à prática desportivanas duas regiões está um pouco aquém dos valoresmédios obtidos na Comunidade Europeia (64%).Verificamos que os alunos inquiridos tanto noInterior Norte como no Litoral Norte apresentamcomo principal de motivo para a não prática, a faltade motivação. Concluímos também relativamente aos motivos danão prática que no Interior norte os factores maisrelevantes para a não prática prendem-se pela faltade transporte e instalações. Estes também são apre-sentados pelo Litoral Norte mas com uma ênfasebastante mais reduzida comparativamente com oInterior Norte, o que nos leva á distinção clara des-tas duas regiões em termos de oferta desportiva eredes de transporte.Também relativamente aos motivos da não prática,conclui-se que uma porção dos alunos refere não terjeito para o desporto.Sendo que o valor estipulado para a definição domotivo da não prática é de em média 2 ou seja “dis-cordo” podemos defender que ainda não consegui-mos caracterizar o factor crítico pelo qual os jovensnão aderem à prática desportiva extra-escolar. Nestesentido, defendemos a necessidade de se realizar umestudo especificamente para estudar este assunto.Por isto no que concerne aos aspectos negativos paraa não prática, pensamos ser fundamental a criaçãode estratégias e planos de acção no sentido de sensi-bilizar e despertar o interesse dos jovens para o des-porto, bem como uma adaptação dos horários dasinstalações e das actividades.Relativamente às modalidades preferidas dos jovensinquiridos, salientamos o elevado peso que o fute-bol, tem na globalidade das escolhidas, tanto noInterior Norte como no Litoral Norte. Devido à especificidade de instalações nas diferentesregiões, o Basquetebol apresenta-se como segundamodalidade mais praticada pelo Interior Norte e aNatação pelo Litoral Norte. Assim, sem perder devista a universalidade de escolha e do individualismodas práticas desportivas, deve o poder local e centralapostar no desenvolvimento das condições que ofe-recem aos seus praticantes. Do ponto de vista da regularidade de prática despor-tiva, salientamos a ajustada e adequada proporção deexercício físico semanal, bem como a duração médiapor sessão. É com boas perspectivas que pensamos

que a adesão ao exercício físico por parte destesjovens se manterá ao longo do tempo e manterão asua influência na captação de novos praticantes.Parece ser também evidente a distinção entreInterior e Litoral no que se refere ao local de prática.Em que o meio ambiente tem uma importante cono-tação no Interior, sendo que o associativismo despor-tivo tem mais impacto no Litoral relativamente àoferta de prática desportiva extra-escolar, apresen-tando-se o clube como o principal representante.Neste sentido, defendemos que os espaços sejamconservados e dotados de melhores condições nocaso do Litoral Norte, e que no Interior Norte sejamcriadas sinergias entre o movimento associativo paramelhor a oferta e prática desportiva desta populaçãoem condições que assim o permitam. Pretendemoscom isto, salientar, o apoio ao nível da formação dedirigentes e ao nível da gestão do desporto, que nosparecem pontos importantes a desenvolver e nãoexclusivamente o apoio financeiro, numa lógica dedependência subsidiária. Tanto a escola como o clube deveriam unir esforçospara que se criem, nas crianças e jovens, hábitos des-portivos. Os clubes desportivos devem assumir umacultura organizativa adequada ao contexto socialonde estão inseridos, aos tempos actuais e entreoutros aspectos, responder adequadamente às neces-sidades dos praticantes desportivos.Por outro lado, o facto de os jovens afirmarem nãoterem instalações desportivas no concelho, podere-mos propor o aproveitamento das potencialidadesque as actividades de exploração da natureza para arealização de prática desportiva regular.A prática desportiva das crianças e jovens é fomenta-da e incentivada devido às suas virtudes formativas –carácter, disciplina, vontade, de “preparação para avida” e pró-sociais(4).É então inequívoco que a actividade física constituium comportamento de grande importância na pro-moção de um estilo de vida saudável, tanto na infân-cia como na juventude(20).Com o presente trabalho pensamos que estamos adotar a sociedade civil e política, de dados científicosque deverão, juntamente com os demais estudosnacionais, servir de base à tomada de decisão no queconcerne à definição de políticas públicas desporti-vas e de estratégias de desenvolvimento desportivo.

NOTAS1 CV – Coeficiente de Variação: M/DPx100 (%).

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Relação entre esgotamento e satisfação em jovens praticantes desportivos

António Rosado 1Isabel Mesquita 2Abel Correia 1Carlos Colaço 1

1 Faculdade de Motricidade HumanaUniversidade Técnica de LisboaPortugal

2 Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOO presente estudo procura estabelecer a relação entre esgota-mento e satisfação em praticantes desportivos. A amostra eraconstituída por 266 praticantes, 213 do género masculino e 53do feminino (média de idades de 20.01 ± 5.357). Os partici-pantes responderam às versões portuguesas de duas escalas deavaliação [Athlete Burnout Questionnaire de Raedeke &Smith(25) e Athlete Satisfaction Questionnaire (Riemer &Chelladurai(28)]. Realizou-se a análise de componentes princi-pais e a análise da consistência interna dos factores. Os resulta-dos evidenciam suporte parcial para a validade e fidelidade daescala de esgotamento quando usada com a população dejovens desportistas portugueses e um suporte global para asdimensões da escala de satisfação. Os resultados evidenciamníveis absolutos elevados de satisfação em todas as dimensõese níveis baixos a moderados de esgotamento, sendo os níveismais elevados de satisfação encontrados entre os praticantes dogénero feminino e entre os praticantes seniores. Considerandoa totalidade da amostra, verifica-se que a satisfação é, em parte,predita pelo esgotamento embora essa associação seja, noessencial, fraca e relativa a uma dimensão particular do esgota-mento. As variáveis género e nível de prática moderam as rela-ções entre satisfação e esgotamento.

Palavras-chave: esgotamento, satisfação

ABSTRACTRelationship between burnout and satisfaction in young sportspractitioners

The present study aims to establish the relationship between burnoutand athlete sport satisfaction. Two hundred sixty six participants fromdifferent sports participated in the study. Specifically, the sampleincluded: 213 males and 53 females (mean age = 20.01±5.357).They completed the Portuguese versions of two scales, assessing AthleteBurnout Questionnaire [Raedeke & Smith, (25)] and AthleteSatisfaction Questionnaire (Riemer & Chelladurai, 28). Principal com-ponents factor was performed and internal consistency of the subscaleswas determined by calculating Cronbach’s Coefficient Alpha. Thisinvestigation found partial support for the validity and reliability ofAthlete Burnout Questionnaire when used with a youth Portuguesesport population and a global support for the validity and reliability ofAthlete Satisfaction Questionnaire. Results showed high levels of satis-faction and low levels of burnout between the athletes. The two meas-ures are relatively independents but emotional and physical exhaustioncan predict dissatisfaction. Higher levels of satisfaction were found forfemale athletes and for seniors. Gender and age level moderated therelationship between satisfaction and burnout.

Key-words: burnout, satisfaction

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INTRODUÇÃOA satisfação é uma parte integral da participação eda apreciação do desporto. Sem satisfação, os atletasvirar-se-iam para outras potenciais fontes de sucessoe prazer. A satisfação em desporto pode ser definidacomo “um estado afectivo positivo resultante deuma complexa avaliação das estruturas, processos eprodutos associados com a experiência desportiva”(28p.135). Por outras palavras, a satisfação é “a diferençaentre a percepção do que os atletas receberam e oque eles querem”(7 p. 135). Quanto maior a disparida-de entre o que se quer e o que se obtém, maior ainsatisfação experienciada, sendo o nível de satisfa-ção um indicador dos sentimentos do atleta sobre osambientes da equipa desportiva(7). Riemer & Chelladurai(28) estabeleceram critériosespecíficos para classificar as diferentes vertentes dasatisfação em desporto. Em primeiro lugar, a satisfa-ção devia estar relacionada com os resultados, comoganhar ou alcançar os objectivos definidos, e com osprocessos que resultam nesses produtos (por ex., aliderança). Em segundo lugar, a satisfação deviareflectir processos e resultados individuais e grupaisou de equipa. Esta ideia suporta-se na noção de quecertos resultados desejados pelos indivíduos podemser alcançados, unicamente, pela performance oupelo esforço dos seus companheiros de equipa(28).Consequentemente, um atleta pode desenvolver ati-tudes face à equipa diferenciadas das atitudes relati-vamente a si mesmo. Finalmente, um terceiro crité-rio de classificação afirma que a satisfação deve seranalisada da dupla perspectiva das tarefas e dos pro-cessos e resultados sociais.Apesar da satisfação ter sido objecto de particularatenção na área da dinâmica de grupos(5, 8), tem exis-tido pouca investigação para desenvolver medidasadequadas deste constructo. A aproximação metodo-lógica típica tem sido a utilização de um só itempara medir uma ou mais facetas da satisfação com odesporto (5, 28, 30). Além de que estes instrumentos,muitas vezes, avaliam a satisfação global sem estabe-lecer a natureza da multidimensionalidade da suaconstrução. Como resultado, o questionário de satis-fação do atleta [ASQ](28) foi desenvolvido para ultra-passar esta limitação operacional. Chelladurai,Inamura, Yamaguchi, Oinuma & Miyauchi(9)

demonstraram que a performance é uma parte signi-

ficativa da satisfação do atleta, consequentemente,qualquer factor que possa influenciar a performance(quer a nível individual, quer a nível da equipa)pode, também, directa ou indirectamente, induzir onível de satisfação do atleta. No desporto, a satisfação tem sido estudada em con-junto com diversas variáveis, nomeadamente, a lide-rança(5, 9 , 11, 15 , 20, 27, 29, 30, 32, 36). Diversos académicosda psicologia do desporto incluíram a satisfação doatleta como uma variável de sucesso no seu trabalho.Por exemplo, o modelo multidimensional de lideran-ça(4, 6) inclui a satisfação como uma variável desucesso, a par da performance. A satisfação tem sido fortemente relacionada com oesgotamento na literatura profissional e educacional,com níveis elevados de insatisfação manifestadas aaltos níveis de esgotamento(1). Similarmente, Lee eAshford(21), referiram uma relação negativa entresatisfação e exaustão emocional confrontada com adespersonalização ou a realização pessoal.Nos últimos anos, o termo esgotamento começou aaparecer na comunidade desportiva, com crescentefrequência(3, 12, 13, 24, 26, 34, 33). Atletas de elite aban-donaram o desporto no auge das suas carreiras, sus-tentando que estavam esgotados, estado que oslevava ao abandono da modalidade(31). Esta situaçãolevou a que treinadores de todos os níveis começas-sem a discutir os perigos do esgotamento. A ideiasubjacente nos modelos teóricos sobre o esgota-mento é a de que o atleta se encontra submetido auma enorme variedade de elementos stressantes(sociais, afectivos, de treino, competitivos, etc.),sem capacidade de implementar estratégias de“combate” suficientes e que, consequentemente,vão levar ao síndrome de esgotamento(22). ParaRaedeke e Smith(25), o esgotamento é um síndrometridimensional caracterizado pelo esgotamento emo-cional, a despersonalização e a baixa realização pes-soal. A dimensão de exaustão físico/emocional pare-ce estar associada às exigências do treino e da com-petição; já a reduzida percepção da dimensão de rea-lização pessoal penaliza os sentimentos dos atletasno que respeita ao seu crescimento e realização pes-soal nas suas participações desportivas, enquanto adimensão despersonalização representa a perda deinteresse pelo desporto e o consequente desejo deretirada(25).

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O modelo cognitivo-afectivo de Smith(31) é o primei-ro modelo explicativo do esgotamento, construídopara o contexto desportivo, definindo-o como umareacção ao stresse crónico. Existem característicasque são indicadores de síndrome de esgotamento(14,10) tais como: baixa motivação ou energia; problemasde concentração; perda de desejo de jogar/participar;falta de preocupação; distúrbio do sono; esgotamen-to físico e mental; auto-estima diminuída; afectonegativo; mudanças de humor; abuso de substâncias;mudança de valores e crenças; isolamento emocio-nal; ansiedade aumentada; altos e baixos; dores decabeça e depressão.Na literatura desportiva muito pouca investigaçãopode ser encontrada relatando a relação entre a satis-fação dos atletas e o esgotamento. Altahayneh(2)

indicou que a satisfação dos atletas se encontravacorrelacionada negativamente com o esgotamento.Todas as associações resultantes neste estudo supor-taram esta hipótese, ou seja, que a variável satisfaçãocorrelacionava-se negativa e significativamente comtodas as variáveis de esgotamento do atleta. Na ver-dade, altos níveis de trabalho, sobre pressão, sãoconsiderados como uma causa para o esgotamen-to(23). É racional esperar que, nalgumas dimensões,os atletas que estejam satisfeitos relatem níveis maisbaixos de esgotamento do que propriamente aquelesque estão descontentes. No entanto, muito poucosestudos analisaram esse elo; por conseguinte, deve-remos ser cautelosos quando interpretamos essesdados, uma vez que a coexistência de esgotamento esatisfação não é incomum(23). Espera-se, também,que essas relações sejam influenciadas pelo género eescalão de formação, que de certa forma poderãomoderar a associação satisfação-esgotamento.Da análise dos quadros teóricos referenciados ressal-ta a necessidade de conhecermos os níveis de satisfa-ção e de esgotamento dos praticantes desportivos, desaber se estes níveis variam em função de variáveiscomo o género e o escalão e, ainda, de aprofundar-mos as relações entre satisfação e esgotamento emdesporto.Neste estudo coloca-se a hipótese de existirem entreos atletas níveis elevados de satisfação com as diver-sas dimensões da prática desportiva e existirem debaixos níveis de esgotamento entre os atletas.Coloca-se, ainda, a hipótese de existência da associa-

ção entre esgotamento e satisfação, de tal maneiraque elevados níveis de satisfação se associam a bai-xos níveis de esgotamento. A nossa hipótese inicial éde que a satisfação dos atletas (com o treino e a ins-trução, com o tratamento pessoal, com a performan-ce da equipa e com a performance individual) estaránegativamente correlacionada com o esgotamentodos atletas pois parece-nos mais provável que atletassatisfeitos relatem níveis mais baixos de esgotamen-to do que os atletas satisfeitos. A nossa hipótese é,também, que essas relações sejam influenciadas pelogénero e escalão de formação, que deverão moderaras relações satisfação-esgotamento.

MÉTODOParticipantesNeste estudo participaram 267 indivíduos dos quais213 do género masculino e 53 do género feminino,provenientes de vinte e três modalidades, das quaisdezasseis são modalidades individuais e sete sãomodalidades colectivas, com uma média de idades de20.07±5.357. Garantiu-se, assim, uma amostramuito heterógenea no que respeita à proveniênciadesportiva.

InstrumentosPara a realização deste estudo, utilizaram-se osseguintes questionários: Questionário sobre oEsgotamento do Atleta (Athlete BurnoutQuestionnaire) de Thomas Raedeke e Alan Smith(25)

e Questionário sobre a Satisfação do Atleta (AthleteSatisfaction Questionnaire) de Riemer eChelladurai(28) nas suas adaptações portuguesas. Obteve-se, por tradução, a versão portuguesa deambos os instrumentos com base na constituição deum painel de peritos(5) com formação avançada emciências do desporto e 2 licenciados em línguas eliteratura inglesa, que procederam a traduções inde-pendentes dos instrumentos. As várias fases de con-frontação de alternativas de tradução garantiramuma adequada tradução do instrumento à capacidadede compreensão dos destinatários.A satisfação dos praticantes foi medida pelo ASQ deRiemer e Chelladurai(28). Este questionário mede 15factores da satisfação dos praticantes (performanceindividual, performance da equipa, utilização decapacidades, estratégia, tratamento pessoal, treino e

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instrução, contribuição das tarefa de grupo, contri-buição social do grupo, ética da equipa, integraçãoda equipa, dedicação pessoal, orçamento, pessoalmédico, serviços de suporte académicos e agentesexternos) num total de 56 itens. Os praticantes res-pondem numa escala de 1 a 7, indicando o valormais elevado a máxima satisfação. A escala foi devi-damente testada quanto à sua fidelidade, validade deconstrução e estrutura factorial(17).Neste estudo, a satisfação foi avaliada através da uti-lização de quatro das 15 sub-escalas do ASQ: satisfa-ção com treino e instrução (3 itens), satisfação trata-mento pessoal (5 itens), satisfação com a equipa (3itens) e satisfação com a performance individual (3itens). As duas primeiras sub-escalas concentram-sena satisfação com o processo de treino, enquantoque as outras avaliam a satisfação com os resultadosassociados aos processos de liderança(28).A satisfação com o treino e a instrução refere-se àsatisfação com o treino e à instrução fornecida pelotreinador. A satisfação com o tratamento pessoalrefere-se à satisfação com os comportamentos notreino que directamente afectam o indivíduo e queindirectamente afectam o desenvolvimento de equipa.Esta dimensão inclui o suporte social e o feedbackpositivo. A satisfação com a equipa refere-se à satis-fação do praticante com o nível dos resultados da suaequipa. A performance na tarefa inclui a performanceabsoluta, a realização de objectivos e as melhorias dodesempenho. Finalmente, a satisfação com a perfor-mance individual refere-se à satisfação do praticantecom o seu desempenho das tarefas. A performancena tarefa inclui a performance absoluta, melhorias naperformance e realização de objectivos(28).Riemer e Chelladurai(28) estimaram a consistênciainterna (Alfa de Cronbach) entre .78 e .95(média=.88). Riemer e Chelladurai também fornece-ram a evidência da validade de construção do ASQ.Para o efeito utilizaram a análise factorial confirma-tória e as correlações de item-score total. As correla-ções entre as sub-escalas do ASQ(28), as sub-escalasque medem o constructo “Intenção de Abandono” e“Compromisso de Equipa”(8) e a Escala deAfectividade Negativa fornecem a evidência de vali-dade referida ao critério. Esta escala foi devidamentetestada quanto à fidelidade, validade de construção eestrutura factorial(17, 28).

Para a amostra actual, obtiveram-se os seguintesvalores de fidelidade: .870 (satisfação com a equipa),.895 (satisfação com a performance individual), .950(satisfação com o Treino/Instrução) e .963 (satisfa-ção com o tratamento pessoal). O questionário sobre o Esgotamento do Atleta éconstituído por 15 questões, numa escala de Likertque varia de quase nunca (1) a quase sempre (5). Oconteúdo e a validade de construção do ABQ foramdemonstrados por Raedeke e Smith(25). Quanto àfidelidade, Raedeke e Smith estimaram a coerênciainterna (alfa de Cronbach) de .91 para a exaustãofísico-emocional, .85 para a baixa realização pessoal,e .90 para a desvalorização. Adicionalmente, as esti-mativas de fidelidade com o teste-reteste consegui-das numa amostra de corredores de corta-mato nastrês subescalas foram .92 para a exaustão físico-emocional, .86 para a baixa realização pessoal e .92para a desvalorização. No questionário do esgota-mento, através da análise factorial de componentesprincipais, pelo método varimax, confirmou-se aexistência das três dimensões previstas: esgotamentofísico e emocional, despersonalização e baixa realiza-ção pessoal explicando 53,97% da variância total.Para a amostra actual, a fidelidade da escala de esgo-tamento é de .849 para a exaustão físico-emocional ede .749 para a desvalorização. Um factor (realizaçãopessoal) teve fidelidade inferior a .70 e não foiincluído nas análises subsequentes.

ProcedimentosTodos os atletas, das diferentes modalidades, foramcontactados pessoalmente para que fosse autorizadaa aplicação dos questionários, com a respectiva expli-cação introdutória sobre a finalidade e forma depreenchimento, dos mesmos. Após este procedimen-to, os atletas preencheram os respectivos questioná-rios, sendo sempre garantido o anonimato e a confi-dencialidade dos resultados. Todos os participantespreencheram os questionários numa sala tranquilasem terem presentes companheiros de equipa. O preenchimento dos questionários demorou aproxi-madamente 20 minutos. Os questionários foramcontrabalançados para se eliminar o efeito de orde-nação. Os procedimentos de correlação usadosenvolveram a realização da prova r de Pearson e aregressão múltipla para a totalidade da amostra

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tendo sido estabelecido um nível de significância dep < .05. Para além do estudo correlativo procedeu-se, ainda, a uma comparação dos resultados dos tes-tes de satisfação e esgotamento em função do géneroe do escalão competitivo, tendo-se utilizado a esta-tística ANOVA, após verificação dos pressupostos denormalidade e homogeneidade das variâncias.Esses procedimentos foram efectuados através doprograma de análise estatística, SPSS 15.0.

RESULTADOSAs estatísticas descritivas apresentadas no Quadro 1pretendem caracterizar a amostra global em medidasde tendência central e de dispersão. As médias descritas representam valores baixos deesgotamento, quer no que se refere ao esgotamentoglobal, quer no que se refere às duas dimensões deesgotamento retidas para análise; a exaustão físico-emocional e a desvalorização. Já no que se refere àsatisfação, encontrámos valores médios a elevadosde satisfação entre os praticantes inquiridos.A mesma análise foi realizada em função da variávelgénero. Como se pode constatar (Quadro 2), os pra-ticantes masculinos apresentam valores mais eleva-dos de esgotamento, quer global, quer no que serefere à exaustão físico-emocional quer à desvalori-zação. Já as praticantes apresentam valores mais ele-vados de satisfação com a prática desportiva emtodas as dimensões de análise consideradas.A comparação dos dois grupos revela diferenças sig-nificativas para a satisfação global, para a satisfaçãocom a equipa, para a satisfação com o tratamentopessoal e a performance individual, sendo favoráveisàs participantes.No que se refere ao esgotamento, não se encontra-ram diferenças significativas entre os dois géneros.No que se refere aos escalões etários, considerandouma divisão em escalões de formação e escalãosénior, verificámos maiores níveis de satisfação e deesgotamento global para os seniores, bem comomaiores níveis de exaustão física e emocional e dedesvalorização e níveis mais elevados de satisfaçãocom a equipa, com o tratamento pessoal, com a per-formance individual e com o treino e a instrução doque os escalões de formação.As comparações ente os dois escalões etários vemrevelar, no entanto, que essas diferenças não são

estatisticamente significativas para o valor global doesgotamento, nem para a exaustão físico-emocional,mas, sim, para a desvalorização, sentindo os senio-res, de forma significativamente mais intensa ainfluência desta dimensão do esgotamento. Noentanto, apresentam, sistematicamente valores maiselevados de satisfação do que os praticantes dosescalões de formação.No procedimento estatístico para verificar qual arelação entre a satisfação e o esgotamento obtive-ram-se os resultados apresentados no Quadro 6.Como se esperaria, as correlações entre as diversasdimensões da satisfação são significativas e positivaso mesmo acontecendo com as diversas dimensões doesgotamento. Considerando a totalidade da amostra de praticantesverifica-se, no essencial, a ausência de correlaçãoentre as diversas dimensões da satisfação e do esgo-tamento, com excepção para a correlação entre asatisfação com o treino e a instrução e a exaustãofísico-emocional. Sendo positiva essa relação(r=.138, p=.025) tal significa que elevados níveis desatisfação com o treino e a instrução potenciam apercepção de níveis superiores de exaustão física eemocional.Quando as matrizes de correlações consideraram osdois níveis da variável género verificou-se, para osexo feminino, uma ausência total de correlaçãoentre as diversas medidas de satisfação e as medidasde esgotamento. Já no que se refere aos praticantesmasculinos a satisfação com o treino e a instruçãocorrelaciona-se positivamente com o EsgotamentoGlobal (r=.145, p=.037) e com a Exaustão Física eEmocional (r=.177, p=.011).Por outro lado, os escalões de formação apresentamcorrelações significativas entre a Satisfação com oTreino e a Instrução com o Esgotamento (r=.25,p=.008), a Exaustão Físico-Emocional (r=.233,p=.015) e a desvalorização (r=.202, p=.037), de talmodo que a satisfação com o treino e a Instrução secorrelaciona positiva e significativamente com todasas variáveis do esgotamento consideradas. Acresce,ainda, que a satisfação com a equipa se correlacionapositivamente com a exaustão físico-emocional(r=.233, p=.015) e que a satisfação com a perfor-mance individual se correlaciona, também, com aexaustão (r=.207, p=.031). Diversas medidas de

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N Média Desvio-Padrão

Exaustão física e emocional 263 1.93 .709

Desvalorização 262 1.92 .720

Satisfação com a equipa 265 4.25 1.361

Satisfação Tratamento Pessoal 263 5.52 2.187

Satisfação com Treino e Instrução

264 4.46 1.823

Satisfação com a Performance Individual

265 4.54 1.496

Valor Global da Satisfação 262 4.45 1.513

Valor Global do Esgotamento 261 2.25 .526

Quadro 1. Estatísticas Descritivas dasvariáveis de Satisfação e Esgotamento

N Média Desvio-Padrão

Valor Global da Satisfação Masculino 209 4.35 1.564

Feminino 52 4.85 1.201

Total 261 4.45 1.510

Valor Global do Esgotamento Masculino 208 2.27 .530

Feminino 52 2.17 .508

Total 260 2.25 .526

Exaustao fisica e emocional Masculino 210 1.95 .722

Feminino 52 1.87 .655

Total 262 1.93 .709

Desvalorização Masculino 209 1.93 .726

Feminino 52 1.88 .706

Total 261 1.92 .721

Satisfação com a equipa Masculino 211 4.14 1.370

Feminino 53 4.61 1.239

Total 264 4.24 1.356

Satisfação Tratamento Pessoal Masculino 210 5.38 2.252

Feminino 52 6.04 1.799

Total 262 5.51 2.183

Satisfação com Treino e Instrução Masculino 210 4.36 1.890

Feminino 53 4.83 1.477

Total 263 4.45 1.821

Satisfação com a Performance Individual

Masculino 211 4.44 1.538

Feminino 53 4.89 1.260

Total 264 4.53 1.495

Quadro 2. EstatísticasDescritivas das variáveisde Satisfação eEsgotamento de acordocom o Género

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Quadro 3. Valores da Anovapara as comparações entre

Satisfação e Esgotamento emfunção do Género

Soma de Quadrados

df F Sig.

Valor Global da Satisfação 10.419 1 4.632 .032

Valor Global do Esgotamento .424 1 1.531 .217

Exaustão física e emocional .249 1 .494 .483

Desvalorização .097 1 .187 .666

Satisfação com a equipa 9.335 1 5.156 .024

Satisfação Tratamento Pessoal 18.550 1 3.934 .048

Satisfação com Treino e Instrução 9.217 1 2.796 .096

Satisfação com a Performance Individual 8.666 1 3.917 .049

Variáveis Média Desvio-padrão

Valor Global da Satisfação Sénior 4.95 1.017

Escalão de formação 3.73 1.803

Total 4.45 1.513

Valor Global do Esgotamento Sénior 2.28 .493

Escalão de formação 2.21 .569

Total 2.25 .526

Exaustão física e emocional Sénior 1.92 .651

Escalão de formação 1.95 .785

Total 1.93 .709

Desvalorização Sénior 2.02 .710

Escalão de formação 1.79 .714

Total 1.92 .720

Satisfação com a equipa Sénior 4.56 1.152

Escalão de formação 3.80 1.505

Total 4.25 1.361

Satisfação Tratamento Pessoal Sénior 6.17 1.675

Escalão de formação 4.59 2.487

Total 5.52 2.187

Satisfação com Treino e Instrução Sénior 5.07 1.204

Escalão de formação 3.60 2.181

Total 4.46 1.823

Satisfação com a Performance Individual Sénior 5.09 1.083

Escalão de formação 3.76 1.652

Total 4.54 1.496

Quadro 4. EstatísticasDescritivas das variáveis de

Satisfação e Esgotamento deacordo com o Escalão´

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satisfação correlacionam-se, assim, positivamentecom diversas medidas de esgotamento nos escalõesde formação. Já no escalão sénior, a Satisfação com o Treino e aInstrução correlaciona-se negativamente quer com ovalor global do esgotamento (r= -.167, p=.039)quer com a Desvalorização (r = -.169, p=.0036). Talsignifica que as relações entre esgotamento e satisfa-

ção parecem ser muito influenciadas pelas variáveisgénero e escalão etário.No sentido de aprofundar estas relações, procurandoperceber em que medida a satisfação global podia serpredita pelas diversas medidas parciais de satisfaçãoe pelas medidas de esgotamento, realizámos umaanálise da regressão múltipla (utilizando o métodoenter) para a totalidade da amostra.

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Quadro 5. Valores da Anovapara as comparações entreSatisfação e Esgotamentoem função do Escalão

Soma de Quadrados

df F Sig.

Valor Global da Satisfação 93.571 1 48.264 .000

Valor Global do Esgotamento .328 1 1.184 .277

Exaustão física e emocional .096 1 .191 .662

Desvalorização 3.436 1 6.770 .010

Satisfação com a equipa 38.136 1 22.221 .000

Satisfação Tratamento Pessoal 159.219 1 37.981 .000

Satisfação com Treino e Instrução 137.437 1 48.849 .000

Satisfação com a Performance Individual 112.944 1 62.071 .000

Exaustão Desvalorização Satisfação equipa

Satisfação Tratamento Pessoal

Satisfação Treino e Instrução

Satisfação Performance Individual

Exaustão r 1 .644(**) .111 .073 .138(*) .049

Sig. .000 .072 .241 .025 .432

N 263 262 263 262 262 263

Desvalorização r .644(**) 1 .017 .048 .097 .019

Sig. .000 .783 .444 .118 .759

N 262 262 262 262 261 262

Satisfação equipa r .111 .017 1 .733(**) .769(**) .742(**)

Sig. .072 .783 .000 .000 .000

N 263 262 265 263 264 265

Satisfação Tratamento Pessoal

r .073 .048 .733(**) 1 .842(**) .784(**)

Sig. .241 .444 .000 .000 .000

N 262 262 263 263 262 263

Satisfação Treino e Instrução

r .138(*) .097 .769(**) .842(**) 1 .819(**)

Sig. .025 .118 .000 .000 .000

Satisfação Performance Individual

r .049 .019 .742(**) .784(**) .819(**) 1

Quadro 6. Correlações entre Satisfação e Esgotamento

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O modelo geral obtido indica que, como se esperava,a satisfação global é predita pelas medidas parciaisde satisfação, cujo peso relativo pode agora ser equa-cionado com base nos valores beta da equação deregressão e, ainda, pela exaustão físico-emocional,com a qual se correlaciona negativamente. A variabi-lidade associada ao género e ao escalão etário suge-riu a necessidade de equações de regressão específi-cas para estas duas variáveis. No que se refere aosexo masculino manteve-se o mesmo modelo (aexaustão a correlacionar-se negativamente com asatisfação global) mas o modelo alterou-se para ogénero feminino, uma vez que a exaustão físico-emocional deixa de ter expressão significativa comopreditora da satisfação (t=.063, p=.950), o quesublinha a grande independência, no género femini-no, entre satisfação e esgotamento. A análise da regressão considerando os dois escalõesetários, seniores e formação, evidencia, no caso dosseniores, que a satisfação global não é predita pornenhuma das variáveis do esgotamento. No caso dosescalões de formação, a exaustão física e emocional éjá considerada no modelo (t=-3.915, p=.000), apre-sentando uma correlação negativa com o valor globalda satisfação.

DISCUSSÃOOs atletas deste estudo apresentam baixos níveis deesgotamento e apresentam elevados níveis de satisfa-ção com todas as componentes da sua experiênciadesportiva. Na medida em que a satisfação derivaprioritariamente dos aspectos psicológicos e ambien-tais associados ao atleta(2, 7), os resultados do pre-sente estudo mostram efectivamente que, de umaforma geral, a prática desportiva tem proporcionadoaos praticantes sentimentos positivos sobre osambientes da equipa(2, 7) e sobre os desempenhosindividuais. No presente estudo esta constatação foiparticularmente evidente nas equipas sénior e nosexo feminino. Por outro lado, verificámos que a satisfação dos atle-tas (treino e instrução, tratamento pessoal, perfor-mance da equipa e performance individual) estãoaltamente correlacionadas. De facto, a satisfação glo-bal correlaciona-se positivamente com os diversosfactores de satisfação e todas elas entre si. O mesmoacontece para as diversas variáveis do esgotamento,que se correlacionam significativamente entre si, demodo positivo. A satisfação dos atletas não se correlaciona, noentanto, do mesmo modo com todas as variáveis do

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Modelo Coeficientes Não-standartizados

Coeficientes standartizados

t Sig.

B Std. Error Beta

(Constante) .064 .012 5.370 .000

Exaustão física e emocional -.014 .005 -.007 -2.936 .004

Desvalorização .000 .005 .000 .065 .948

Satisfação com a equipa .153 .003 .138 48.071 .000

Satisfação Tratamento Pessoal .307 .002 .442 130.242 .000

Satisfação com Treino e Instrução .230 .003 .277 73.649 .000

Satisfação com a Performance Individual

.228 .003 .225 69.802 .000

Variável Dependente: Valor Global da Satisfação

Quadro 7. Modelo de Regressão para a Satisfação Global

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esgotamento e a variável género e escalão etárioparecem influenciar esta relação. No nosso caso, aexaustão físico-emocional aparece como o melhorpreditor da satisfação global com as práticas despor-tivas mantendo com esta uma correlação moderadanegativa.Também Altahayneh(2) encontrou correlações mode-radas negativas entre a exaustão físico-emocional eos quatro factores da satisfação. O autor encontrou,ainda, correlações moderadas negativas entre os qua-tro factores da satisfação com o desporto e a percep-ção de realização, facto não constatado no nossoestudo. Se esta constatação global tende a confirmara nossa hipótese de estudo, já quando se considera amoderação das variáveis género e escalão etário, ainterpretação deverá ser diferenciada.No presente estudo foi claro que a variável génerointerferiu na relação estabelecida entre satisfação e aexaustão física e emocional. Enquanto que nos prati-cantes estas duas variáveis registaram uma correlaçãonegativa, nas praticantes a relação foi de independên-cia. Ademais, as praticantes apresentaram níveis desatisfação significativamente superiores, podendoencontrar explicação em possíveis diferenças relacio-nadas com os objectivos de prática desportiva. Tradicionalmente, o desporto tem sido consideradouma actividade associada ao conceito de masculini-dade, no qual prevalece os atributos de forte, agres-sivo, poderoso e musculoso em contraste com o con-ceito de feminilidade, o qual se associa a uma relati-va fragilidade, submissão e gentileza(19, 35). Destemodo, as mulheres tendem a ser menos competiti-vos que os homens, em ambientes onde os imperati-vos de rendimento se sobrepõe aos de participação.Tal pode explicar que o sexo feminino, ao privilegiara participação, a filiação ao grupo, as relações estabe-lecidas através do desporto, apresente a percepção deníveis de satisfação elevados na prática desportiva.Tais assunções mereceriam no futuro serem confir-madas ou infirmadas pela investigação. No que se refere aos escalões etários, considerandouma divisão em escalões de formação e escalãosénior, verificámos maiores níveis de satisfação e deesgotamento global para os seniores, bem comomaiores níveis de exaustão física e emocional e dedesvalorização e níveis mais elevados de satisfaçãocom a equipa, com o tratamento pessoal, com a per-

formance individual e com o treino e a instrução doque os escalões de formação.Relativamente aos escalões etários foi claro que,enquanto nos seniores a satisfação global não foipredita por nenhuma variável do esgotamento, nosiniciados verificou-se uma correlação negativa daexaustão física e emocional com a satisfação. O factode os seniores apresentarem maior esgotamento esatisfação, embora parecendo paradoxal e contrarian-do alguma literatura, pode se dever à importânciaconferida aos objectivos de rendimento em oposiçãoaos objectivos de participação comuns nos escalõesde formação. A auto-superação, a transcendênciapessoal no ultrapassar dos limites da performancepode, de facto, explicar o facto dos atletas se senti-rem mais satisfeitos quando estão esgotados, por-quanto o cansaço físico é um indicador de auto-superação. De facto, os objectivos de prática desportiva podemexplicar estas diferenças. Sendo que no escalãosénior imperam os objectivos de rendimento, onde aauto-superação constante dos limites de performan-ce é uma prerrogativa incontornável, é natural que asatisfação não dependa do desgaste emocional e físi-co dos praticantes mas mais de outros aspectoscomo seja o sucesso na competição, o reconhecimen-to social, etc. De facto, a vivência de uma práticadeliberada altamente estruturada com o objectivoexplícito de ultrapassar as debilidades e de optimizaro rendimento(16), torna a experimentação de níveisde exaustão física e emocional elevados algo natural,resultante das elevadas exigências competitivasimpostas aos praticantes. Contrariamente, nos iniciados, por coincidir com afase inicial da prática organizada, onde o prazer daparticipação(35) e o desenvolvimento do espírito deequipa, a aquisição de competências e a possibilida-de de competir são os motivos indicados pelosjovens para praticarem desporto federado(18) é plau-sível que a experimentação de níveis de exaustãofísica elevada induzam baixos níveis de satisfação.Seria interessante, em futuras pesquisas analisar aconsistência e estabilidade das possíveis razõesapontadas para a relação entre satisfação e exaustãofísica e emocional em função do escalão de prática. Em suma, o estudo realizado indicou que os níveisde esgotamento podem ser independentes dos níveis

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de satisfação, embora a questão não tenha uma res-posta única, presente o efeito de diversas variáveismediadoras cujo efeito terá de ser melhor compreen-dido. Futuramente, importa aprofundar, as relaçõesentre satisfação e esgotamento. A pesquisa futura deverá estudar os efeitos do esgo-tamento dos atletas na intenção de abandono e nopróprio abandono e estudos comparativos e inter-culturais devem ser conduzidos para determinar assimilaridades e diferenças de diversas característicasdos treinadores e dos atletas, em função de diversasdeterminantes sócio-culturais. A pesquisa deve,ainda, examinar as exigências pessoais e situacionaisdos diversos tipos de desportos e níveis competitivosde modo a se poder determinar, nestes contextos, asrelações entre satisfação e esgotamento. Uma maiorcompreensão dos mecanismos que influenciam oesgotamento e a satisfação dos atletas pode ajudar adesenvolver métodos mais efectivos de treino. Beneficiando do estudo, directores e administradoresdesportivos deverão ser capazes de detectar estraté-gias de potenciação da satisfação e de prevenção doesgotamento. Os dados também podem ser benéficosao sugerir direcções relevantes no desenvolvimentode estratégias de intervenção e de planos de acção.Os treinadores podem desenvolver estratégias deintervenção, alterar climas organizacionais, modificaros seus estilos de liderança e implementar estratégiasde compensação para aumentar a satisfação, reduzir oesgotamento do atleta, melhorar as condições de tra-balho e criar ambientes mais saudáveis.

CORRESPONDÊNCIAAntónio Fernando Boleto Rosado Technical University of LisbonFaculty of Human MovementEstrada da Costa, Cruz Quebrada1495-688 Cruz Quebrada-DafundoLisboa (Portugal)E-mail: [email protected]

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Estratégias do desporto universitário: um estudo de caso sobre o desporto em universidades portuguesas

Carlos P. ColaçoLeandro A. Fleck

Faculdade de Motricidade HumanaUniversidade Técnica de LisboaPortugal

RESUMOEste estudo teve como foco principal, aprofundar os conheci-mentos sobre o desporto universitário em UniversidadesPortuguesas, bem como verificar e compreender as estratégiasutilizadas, o planeamento das estratégias, os objectivos e estru-tura organizacional dos serviços desportivos. Para tal pesquisafoi utilizado o paradigma qualitativo em estudo de caso, sendouma metodologia interpretativa, descritiva e fenomenológica.Para a colecta de dados foi utilizado como instrumentos de pes-quisa, uma entrevista com questionário semi-estruturado,observação de campo e análise de documentos. O estudo foirealizado nos departamentos desportivos de quatro universida-des portuguesas. Através dos resultados obtidos, verificamosque as universidades tem como principal estratégia divulgar onome da instituição e como principal objectivo, proporcionar odesporto para toda a comunidade académica.

Palavras-chave: desporto universitário, serviço desportivo,estratégias, objectivos, planeamento

ABSTRACTStrategies of college sports: a case study about sports inPortuguese colleges

The main focus of this study is to deepen the knowledge about collegesports in Portuguese Universities, as well as to verify and understandthe strategies used, the strategy planning, the objectives and the organi-zational structure of sport services. For this research, it was used thequalitative paradigm in case study, being it an interpretative, descriptiveand phenomenological methodology. For the collection of data, it wasused, as tools of research, an interview with a semi-structured question-naire, field observation and document analysis. The study was per-formed in the sport departments of four Portuguese colleges. Throughthe results obtained, we concluded that the universities have, as theirmain strategy, to advertise the name of the institution and, as theirmain objective, to provide sports to the whole academic community.

Key-words: college sports, sport services, strategies, objectives, planning

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INTRODUÇÃOAssim como todas as actividades humanas, o despor-to também se transformou numa indústria que pro-duz produtos e serviços para diversos consumido-res(27). O desporto hoje é um mercado, disponibili-zando diversos produtos aos consumidores, onde serelaciona o desporto, ao fitness, a recreação, ao lazer,actividades, bens, serviços, pessoas, lugares ou ideias. Na industria do desporto podemos identificar algunssegmentos específicos de acordo com a habilidade econhecimento necessário na área como o desportocolegial, desporto profissional, administração de insta-lações, desporto comunitário, informações desporti-vas, jornalismo desportivo, administração de clubesdesportivos, a industria do fitness, treinamento despor-tivo e medicina desportiva, administração de despor-tos aquáticos, consultoria e empreendimentos e osdois últimos segmentos que são o foco deste estudo, odesporto universitário através dos programas e servi-ços desportivos no campus universitário. O mesmoautor ainda enfatiza alguns factores que podem impul-sionar o desporto universitário tais como, o aumentodo número de actividades desportivas, o aumento depatrocinadores e mais investimentos para o desporto,aumento do marketing desportivo, aumento da com-petência na administração do desporto.Verificando que o desporto universitário está inseridoneste contexto de mercado, industria e organizaçõesdesportivas, possibilita-nos realizar uma investigaçãono desporto universitário de algumas instituições deEnsino Superior de Portugal. Com isso podemos veri-ficar a organização dos serviços desportivos universi-tários, seus produtos e serviços bem como os princi-pais objectivos e estratégias utilizadas para com odesporto, pois segundo Mintzberg e Quinn(16), odesenvolvimento de estratégias é um dos factoresmais importantes para o sucesso da organização. Partindo desta premissa, pretendemos contribuir eaumentar os conhecimentos sobre as estratégias dasuniversidades para com o desporto e tudo que a nor-teia como. Este estudo pretende identificar e com-preender o contexto do desporto universitário, bemcomo as estratégias utilizadas e os principais objecti-vos para com o desporto de universidades com des-taque no desporto universitário de Portugal e aindaverificar os serviços desportivos disponibilizadospelas instituições.

Sobretudo, a gestão das estratégias consiste nosobjectivos que a organização tem para com o despor-to, na disposição dos recursos, os serviços e produ-tos que serão fornecidos. Entretanto cabe-nos inves-tigar, se é feito análises dos ambientes, para entãodefinirem sobre os objectivos bem como as estraté-gias que serão formulados e implantadas. A gestãoda estratégia visa um fim claro, uma selecção deobjectivos, escolha, definição e posicionamento deserviços e um controlo de avaliação.Após esta abordagem dos assuntos principais, sur-gem as questões pertinentes a pesquisa e as pergun-tas que nortearão este estudo tais como: Quais osobjectivos das universidades com relação ao despor-to? Quais as opções estratégicas usadas pelas univer-sidades? Que tipo de gestão é utilizada pelas insti-tuições? O desporto é competitivo ou recreativo?Quais as principais modalidades disponibilizadas aosalunos? Se há um planeamento por parte dos res-ponsáveis pelos serviços desportivos das universida-des? Com é a organização interna do deporto nasuniversidades? Qual o volume dos recursos? Quemsão os tomadores de decisão? E qual a realidade dosserviços desportivos nas universidades pesquisadas?Ao contextualizar tais questões no intuito de esclare-cer as expectativas do estudo, delineando sobretudose as universidades utilizam a estratégia no desportouniversitário e de que maneira é gerido os sistemasdesportivos, principalmente quais são os objectivosdas universidades com relação ao desporto, de quemaneira é oferecido e disponibilizado aos seus estu-dantes, podemos finalmente definir a pergunta quenorteia este estudo e o principal objectivo.Quais são as estratégias utilizadas pelo desporto uni-versitário em universidades de Portugal? O estudo tem como objectivo principal identificar ecompreender as estratégias das instituições do ensi-no superior pesquisadas em Portugal com relação aodesporto universitário, bem como os principaisobjectivos que levam as decisões estratégicas no con-texto da pesquisa. Para tanto abordaremos no refe-rencial teórico, o contexto do desporto universitárioe conceitos sobre estratégias e todo seu processo.O desporto universitário surgiu no século XIX naInglaterra e foi introduzido nas universidades comobjectivo de melhor gerir o tempo livre dos estudan-tes das classes dominantes e ascendentes(2). Acredita-

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se ainda que o desporto universitário tenha surgido daobservação do desporto como um meio de confrater-nização entre os povos, sendo um instrumento socialentre a comunidade e ainda um factor importantepara a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Os primeiros passos oficiais do desporto universitá-rio deram através do pai dos Jogos Olímpicos moder-nos, o Barão Pierry de Coubertin ainda no séculoXIX. Na sequência dos acontecimentos foram surgin-do interesses em formar uma associação do desportouniversitário. Foi então que em 1949, constituiu-seoficialmente a International University SportsFederation (FISU), como instituição máxima do des-porto universitário e assim organizando a primeiraUniversiade na cidade italiana de Turin em 1959. O desporto universitário como qualquer actividadehumana vem sofrendo inúmeras mudanças no decor-rer nos anos se tornando também um óptimo negó-cio para instituições de ensino superior. O desportouniversitário é formado por um conjunto de praticaslúdicas, desportivas e de formação, desenvolvendo-senas universidades como uma actividade extra-curri-cular(13). O desporto pode ser inserido num contextode prestação de serviço, desenvolvendo práticas des-portivas tanto recreativas quanto competitivas paraalunos, professores e funcionários da universidade.Dentro desta perspectiva ainda podemos dizer quetais praticas desportivas podem ser desenvolvidascomo uma forma de lazer dos estudantes, como umaforma semi-profissional onde os estudantes compe-tem pela instituição em troca de bolsa de estudos ena forma profissional com atletas profissionais com-petindo representando o nome da universidade emdiversos campeonatos, tanto universitários comofederados ou em ligas profissionais. Seguindo ainda a mesma linha de raciocínio, podemosverificar que inúmeras universidades desenvolvem odesporto universitário de forma profissional, como noEstados Unidos por exemplo, onde o desporto univer-sitário serve como um salto para os atletas ingressa-rem no desporto profissional e no Brasil onde o des-porto universitário em muitas instituições de ensinoprivado utilizam o desporto como uma estratégia demarketing para a divulgação de sua marca e conse-quentemente visando angariar mais alunos para a ins-tituição através do desporto de competição e assimfomentando os negócios da universidade(27).

Na realidade de hoje, as mudanças que vão surgindoa cada dia no âmbito económico e social proporcionapara as organizações novos rumos e desafios a seremenfrentados. Com isso, torna-se um constante odesafio para a gestão das organizações desportivas,principalmente no desporto universitário pois lida-mos com pessoas que tem seus próprios objectivosde vida e ideais a seguirem. Este ambiente é muitocomplexo e põem a gestão do desporto universitárioe seus agentes em exigentes tarefas no intuito deobtenção de resultados e total eficiência e eficácianos serviços prestados pelos mesmos.Para tanto, temos consciência de que o desporto uni-versitário pode ser melhor aproveitado através deprojectos, objectivos especificamente definidos parao desporto, uma gestão profissional e ainda a utiliza-ção de estratégias na perspectiva de adquirir a vanta-gem competitiva. Como em qualquer actividade énecessário a profissionalização do desporto nas uni-versidades, ter um vínculo forte entre o desporto e ainstituição alinhando objectivos e formulando estra-tégias em conjunto no intuito de atingir a eficiênciae eficácia(27). Entretanto com as constantes mudanças no ambien-te externo, exigem que as organizações desportivasestejam capacitadas para tais mudanças bem comocapacitada para agir estrategicamente(6). O desenvol-vimento de estratégias é um dos principais factorespara o sucesso de qualquer organização(16). A formulação de estratégias pode garantir que aorganização alcance seus objectivos e com isso atinjaa eficiência e a eficácia melhorando a performance daorganização. No contexto desportivo há inúmerasorganizações públicas e privadas que actuam de acor-do com seus desejos, possibilidades e circunstâncias,produzindo serviços para públicos específicos, ondeo desenvolvimento de estratégias é um factor impor-tante para o sucesso das organizações(8).Se tratando de entidades desportivas, as organiza-ções não tem tradição na formulação de estratégias,pois não visam a obtenção de lucro e sim na manu-tenção das actividades desportivas e ai podemos des-tacar especificamente o desporto universitário nasinstituições públicas pois não visam lucros(9). A todo momento surgem novas tecnologias, novosprodutos e serviços. As organizações necessitam deuma constante percepção frente a este ambiente.

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Novos desafios são lançados no intuito de superar asgrandes evoluções nos modelos de gestão, nos pro-dutos e serviços, pois também os consumidoresestão mais exigentes e os concorrentes por sua vezestão cada vez mais eficazes. Hoje com a aceleração das mudanças a nível deambiente interno como novas tecnologias, novosprodutos e serviços e também nas mudanças doambiente externo como a economia instável em quevivemos hoje, exige que a empresa esteja capacitadaem antecipar a estas mudanças aproveitando novasoportunidades e assim evitando as ameaças constan-tes. Por isso a estratégia é de suma importância, é oprincipal passo para que a empresa possa atingir estacapacidade de manobra(6).Segundo Toledo(27), a estratégia principal para insti-tuições de ensino superior é a uma estratégia demarketing, onde a universidade estará totalmenteengajada na captação de novos alunos, ou seja, seg-mentar seu público-alvo desenvolvendo uma estraté-gia competitiva para atingir os objectivos da institui-ção. Outro aspecto importante se concentra noobjectivo de divulgação da marca da universidade edos seus produtos e serviços, popularizando-se comouma empresa voltada ao desporto.Com isso, torna-se necessário mostrar que o despor-to universitário pode ser um bom negócio para a ins-tituição e que se for feito de maneira correcta, pro-fissionalizada, com objectivos e metas a serem cum-pridos, beneficiando os alunos, divulgando os patro-cinadores, investindo no marketing e assim obtendoum retorno de alguma forma para a universidade,para alunos e para o desporto.

MATERIAL E MÉTODOS A metodologia deste estudo baseou-se no paradigmaqualitativa com estudo de caso nalgumas universida-des de Portugal. Na sequencia dos acontecimentosforam estipulados os instrumentos para a colecta dedados, considerando que nos estudos qualitativos sãomais utilizados a observação, a entrevista, os docu-mentos recolhidos durante a pesquisa e assim arma-zenando uma grande quantidade de informações per-tinentes a pesquisa. Posteriormente foi utilizado a téc-nica de análise e interpretação os dados recolhidos.Os principais instrumentos para a colecta de dadosforam o diário de campo, observação participante

passiva, onde o observador não participa dos aconte-cimentos, apenas regista os acontecimentos nomomento em que ocorrem. O diário de campo, comocolecta de dados, pode ser feito de várias formas,como memorial descritivo, no qual caracteriza-secomo, segundo Molina(17) uma descrição com muitospormenores de uma realidade vivida e se referindoaos fenómenos da consciência, as formas de pensardo indivíduo diante de situações vivenciadas. As ano-tações no campo da pesquisa, é uma técnica valiosade abordagens de dados qualitativos, sendo comple-mento de informações obtidas por outras técnicas.A entrevista utilizada e a que mais se adequava aoestudo foi a semi-estruturada, pois o instrumento decolecta obtém informações de questões concretas,previamente definidas pelo pesquisador e que permi-tem realizar explorações não previstas. Molina(17)

relata que, quando fazemos o uso de entrevistassemi-estruturadas, visamos garantir uma gama deinformações importantes ao estudo e dando maiorflexibilidade à entrevista, proporcionando mais liber-dade ao entrevistado para expor seus aspectos, quepode ser relevante em se tratando de determinadatemática. Outro recurso de grande vantagem utilizado pelopesquisador é a selecção e utilização de documentosadquiridos durante o processo de pesquisa decampo, onde podemos seleccionar revistas, jornais,artigos, documentos referentes a organização dispo-nibilizados pelo inquerido, sendo uma fonte podero-sa, de onde podem ser retiradas informações, afirma-ções e declarações. No intuito de explorar ao máxima foco de estudoutilizamos a técnica de triangulação dos dados, quepara Triviños(28), tem por objectivo abranger aomáximo a amplitude na descrição, explicação, e com-preensão do estudo, optando por triangular o refe-rencial teórico, as entrevistas, os documentos e areflexão do investigador, pois o investigador nãopode confiar em uma única fonte de dados.Numa perspectiva mais específica em expor o pro-blema do estudo, tendo como definição de pesquisa,que segundo Gil(12) é um processo formal e sistemá-tico de desenvolvimento do método científico, nointuito de descobrir as respostas para os problemasempregando procedimentos científicos. Com isso,podemos investigar que tipos de estratégias são utili-

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zadas, bem como seus principais objectivos e a mis-são dos departamentos desportivos das universida-des, os serviços desportivos desenvolvidos nas insti-tuições, se é feito um planeamento estratégico, quala natureza das decisões, que recursos humanos efinanceiros é dependente, quais competições emodalidades disputadas bem como o tipo de gestãoutilizada pelo sistema desportivo nas universidades. Portanto, no intuito de responder tais problemas doestudo, a pesquisa é concentrada no sistema despor-tivo ou departamento desportivo controlador do des-porto dentro da universidade e nos actores controla-dores deste sistema, ou seja, nas pessoas encarrega-das do desporto dentro das instituições pesquisadas,bem como no descobrimento das estratégias e objec-tivos das universidades investigadas. Para tanto esta-belecemos a pesquisa descritiva que de acordo comGil(12), tem como objectivo e característica descreverdeterminada população, fenómeno ou estabelecerrelação entre variáveis. O presente estudo foi desenvolvido no contexto doDesporto Universitário em Portugal, sendo o univer-so investigado de quatro universidades, escolhidasatravés de uma análise de informações juntamentecom a Federação Académica de DesportoUniversitário (FADU) com relação aos serviços des-portivos desenvolvidos nas instituições bem comosua importância a nível do desporto universitário noâmbito nacional. As universidades escolhidas forama Universidade do Minho (UM), a Universidades deAveiro (UA), a Universidade de Lisboa (UL) e aUniversidade Fernando Pessoa (UFP), caracterizandotrês universidades públicas e uma privada. O passo seguinte, na busca incessante do entendi-mento do fenómeno, foi feito a transcrição dasentrevistas e a separação dos documentos arrecada-dos pertinentes a esta fase da investigação. A seguirutilizamos a triangulação dos dados que consiste emreunir as informações colectadas, juntamente com oreferencial teórico e a reflexão do investigador paraassim realizar as interpretações chegando a conclu-são do presente estudo.

RESULTADOSNesta fase do estudo, relatamos o quotidiano dasuniversidades pesquisadas, procurando evidenciar asprincipais estratégias dos serviços desportivos destas

instituições de ensino superior em Portugal e tam-bém esclarecer o processo de gestão, bem como osprincipais objectivos e missão dos departamentosresponsáveis pelo desporto universitário. Ainda den-tro desta análise, destacamos também assuntos rela-cionados como recursos humanos e financeiroscomo principais investimentos por parte das univer-sidades e com isso procurando identificar as ques-tões acima abordadas, tendo como campo de investi-gação, todo o universo do desporto universitárionestas instituições que estão entre as mais importan-tes no âmbito do desporto universitário nacional. A análise dos dados recolhidos na investigação tevecomo contexto pesquisado o serviço desportivo uni-versitário nas Universidades do Minho (UM),Universidade de Aveiro (UA), Universidade deLisboa (UL) e Universidade Fernando Pessoa (UFP).No contexto do desporto universitário em Portugal,trata-se de três universidade públicas de renomenacional, sendo duas instituições novas e uma que éa mais antiga do país. A quarta instituição é umauniversidade privada e nova de acordo com os parâ-metros de universidades nacionais, mas sendo tam-bém de destaque no âmbito desportivo nacional.No processo a seguir, é feito uma análise em conjun-to do material investigado. Com isso, pretende-sechegar o mais perto possível da resolução dos pro-blemas em questão neste estudo, para na sequênciachegar à conclusão. Verificamos que nas universidades investigadas, odesporto universitário é desenvolvido e apoiado pelaalta gestão das instituições com objectivo especificode proporcionar actividades desportivas para os alu-nos, onde na UM e UL também conta com funcioná-rios e a comunidade circundante a universidadecomo utentes do desporto. Ainda se tratando deobjectivos, podemos dizer que as universidadesinvestem no desenvolvimento do desporto visando oreconhecimento da instituição em diversos contextosatravés do desporto universitário. Nos serviços desportivos encontramos discrepânciaentre as universidades. Tais diferenças são relaciona-das no que diz respeito a instalações tanto dosdepartamentos desportivos quanto nas instalaçõesdesportivas para o desenvolvimento das actividades.As actividades proporcionadas aos utentes são navertente recreativa e competitiva nas quatro institui-

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ções, havendo uma semelhança das actividades naUM e UL, onde também contam com uma gamavariada de actividades. Destacamos que na UA omaior apoio é dado ao desporto competitivo e comisso as modalidades recreativas ficam desprovidas demaiores desenvolvimentos e na UFP, onde a institui-ção não possui instalações desportivas próprias ondesofre um decréscimo nas possibilidades de ampliaros serviços desportivos. Os serviços desportivos nas instituições tem comoprincipais objectivos proporcionar e organizar activi-dades desportivas, contribuir para a melhor qualida-de de vida e ocupar o tempo livre dos alunos numaquestão de lazer e convívio social. Verificamos quena UM, UA e UL os utentes dos serviços desportivospagam taxas para usufruir das actividades, onde pos-suem diferentes tabelas de preços dentre os maisvariados serviços disponibilizados. Entretanto naUFP os alunos não pagam qualquer tipo de taxa parausufruírem das actividades desportivas. Os alunos ainda têm a possibilidade de representar ainstituição em competições desportivas universitá-rias a nível regional e nacional. Destacamos a UM ea UFP que possuem equipas que participam de ligasde desporto federado. Outro factor relevante e que écomum entre as instituições investigadas, é o factode nas competições os alunos não pagam qualquertipo de valor para representar a universidade.Como principal estratégia, verificamos que a estraté-gia de marketing é a utilizada pelos serviços despor-tivos, sendo totalmente voltada para divulgação damarca da instituição e o reconhecimento da universi-dade através do desporto universitário. Não foidetectado nenhuma intenção em fomentar os negó-cios da universidade através do desporto, por se tra-tarem de universidades públicas e o mesmo na aUFP que é uma universidade privada. As universida-des apenas visam o reconhecimento nos âmbitosregional, nacional e ate internacional e a divulgaçãoda marca e do nome da instituição. Com relação a organização dos departamentos despor-tivos, verificamos alguma discrepância entre as uni-versidades investigadas. A UM e a UL divulgam emdocumentos escritos a missão, visão e os objectivosdo departamento desportivo, bem como divulga indi-cadores dos serviços desportivos. Também são elabo-rados documentos referentes ao planeamento anual

de actividades e o planeamento das estratégias defini-das pela gestão responsável do desporto. Previamentea este processo as duas instituições realizam análisesinternas e externas no intuito de estudar os ambientespara então delimitarem suas directrizes. Já na UA e UFP verificamos que não há definição demissão e objectivos em documentos específicos, sãoapenas conjecturas internas dos gestores dos depar-tamentos. Também verificamos a não elaboração emdocumentos sobre o planeamentos estratégicos espe-cíficos para o desporto. Apenas são elaborados docu-mentos referentes a planeamento anual de activida-des, projectos e orçamentos anuais.Tais factores anteriores são diagnosticados devido aotipo de gestão por parte dos serviços desportivosdestas instituições. Verificamos que na UM a gestãoestá a cargo de aproximadamente 10 profissionaisque conta com uma equipa de trabalho entre instru-tores e colaboradores que corresponde a amplitudedo desporto naquela instituição, o mesmo ocorrendocom a UL que possui uma equipa de 6 profissionaise mais instrutores e colaboradores suficiente para odesenvolvimentos das funções organizacionais. Já naUA, notamos uma carência na parte da gestão ondeapenas dois gestores profissionais comandam o des-porto não suprindo as necessidades reais do despor-to na UA, contando com instrutores responsáveispelas modalidades desportivas. Entretanto na UFP agestão é feita apenas por uma pessoa que foi deno-minada semi-profissional pois está em regime part-time contando com a colaboração do presidente daassociação responsável pelo desporto em caráctervoluntario e com os técnicos das equipas. Entretanto, esta gestão do deporto universitário,depende muito dos recursos financeiros para a suaexistência. Na UM 60% dos recursos são suportadospelo Serviço de Acção Social e os outros 40% é rela-tivo as taxas pagas pelos utentes dos serviços des-portivos. A UA a taxa dos alunos suporta 50% doorçamento sendo os outros 50% suportado peloServiço de Acção Social e pela Câmara de Aveiro. NaUL não forma fornecidos indicadores de percenta-gem apenas foi relatado que o orçamento é suporta-do pela Reitora, pelo Serviço de Acção Social e pelataxa dos utentes dos serviços desportivos. Já na UFPo orçamento para o desporto é totalmente suportadopela Reitoria da instituição.

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DISCUSSÃOO estudo em conclusão passou pelo universo do des-porto universitário de instituições de renome emPortugal, tendo como proposta investigar as princi-pais estratégias e objectivos dos serviços desportivosnas universidades pesquisadas. Para tanto realizamosa pesquisa baseado no paradigma qualitativo quetem como metodologia interpretativa fenomenológi-ca e descritiva no qual interpreta as acções humanas.Com isso a investigação partiu de inquéritos com osresponsáveis dos serviços desportivos das universi-dades do Minho, Lisboa, Aveiro e Fernando Pessoa,com objectivo do descobrimento sobre o contexto doestudo para posteriormente responder a pergunta asquestões que envolvem a investigação. As universidades pesquisadas apoiam o desenvolvi-mento das práticas desportivas através dos departa-mentos desportivos responsáveis pelo serviço despor-tivo universitário. Os principais objectivos para odesenvolvimento do desporto por parte da instituiçãosão o visionamento e reconhecimento da universida-de através do desporto. Este reconhecimento podeser através do desporto competitivo que participa emcampeonatos universitários em ambas as instituiçõese no desporto federado com a UA e UFP. Este reco-nhecimento também pode vir através do desportorecreativo como na UM e UL onde os serviços des-portivos são estendidos também a funcionários epopulação em geral circundante a universidade.Para tanto o estabelecimento de estratégias por partedas universidades gira em torno do marketing dauniversidade, com objectivo de divulgar o nome e amarca da instituição. As universidades do Minho ede Lisboa ainda estabelecem uma estratégia de diver-sificação dos seus serviços, propiciando uma variadagama actividades tendo cada universidade a sua par-ticularidade. Com relação a estrutura das organizações desporti-vas, verificamos as universidades do Minho e deLisboa se diferem da UA e UFP, no estabelecimentode estratégias, nos planeamentos, nas tomadas dedecisões e nas elaborações dos documentos contan-do uma missão, visão e objectivos para com o des-porto. Tais diferenças podem ser justificadas pelosdiferentes apoios dado aos serviços desportivos porparte da alta gestão das instituições inqueridas.Verificamos que as gestões dos serviços desportivos

são de capacidades diferenciadas para o desenvolvi-mento do desporto universitário nas instituições,pois como pudemos verificar através dos dados reco-lhidos a UA e UFP contam com um números de pes-soas na gestão do desporto bem reduzido comparadoa UM e UL. Entretanto, não podemos deixar de destacar o empe-nho por parte destes gestores da UA e UFP quelutam constantemente para o desenvolvimentos dodesporto nas instituições apesar de suas dificuldades,principalmente por parte da UFP que não possui ins-talações desportivas próprias, mas que relatou estáem andamento um projecto para a construção de umpavilhão desportivo. Outro factor importante e rele-vante para este estudo é que nenhuma das universi-dades investigadas possui o curso de Educação Físicao que seria uma mais valia com relação a recursoshumanos e recursos de instalações desportivas. Finalizando este estudo, face a necessidade de eluci-dar a importância do estudo das estratégias bemcomo sua utilização por parte dos serviços desporti-vos universitários no objectivo de maximizar odesenvolvimento do desporto universitário em todosos âmbitos. Esperamos que este estudo contribuapara um maior conhecimento do contexto desportivouniversitário, bem como dos serviços desportivos,pois temos consciência que o universo pesquisado émuito maior, parecendo-nos importante o aumentode estudos nesta área que no nosso entender écarente de referências bibliográficas.

CORRESPONDÊNCIACarlos Jorge Pinheiro ColaçoFaculdade de Motricidade Humana 1495-688 Cruz Quebrada Lisboa PortugalE-mail: [email protected]

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Percepções dos professores do desporto escolar sobre a relação entre o sector escolar e o sector federado da Região Autónoma da Madeira

Jorge Soares Departamento de Educação Física e DesportoUniversidade da MadeiraPortugal

RESUMOA Lei Quadro do Sistema Desportivo da Região Autónoma daMadeira(5) defende que o desporto escolar deve ser desenvolvidonuma relação de articulação com o desporto federado. O estudoseguiu dois objectivos: detectar se os professores envolvidos emcargos no desporto escolar na Madeira também estavam envolvi-dos no sector federado e conhecer as percepções dos mesmossobre a relação que deve existir entre ambos os sectores.A amostra contabilizou um total de 255 participantes, repre-sentando 98% do universo dos professores do desporto escolar.Para a recolha dos dados foi utilizado um questionário, cons-truídos a partir do estudo de Correia & Rosado(4) e adaptado àMadeira a partir do seu programa de actividades(7). O trata-mento dos dados fez-se através do SPSS e da técnica não para-métrica de independência do Qui-quadrado (p=0,05).Os resultados identificaram um total de 117 professores(45,9%) envolvidos em cargos no sector federado, sendo ocargo de treinador e a modalidade de futebol, aqueles quemaiores percentagens colheram, 73,5% e 30,7%, respectiva-mente. A maioria dos inquiridos (51,8%) acha que deve existiruma relação mais próxima, de articulação e de cooperação entreo sector escolar e o federado, contra 24,7% que acham que não,e 21,2% que optaram por não expressar a sua convicção. Osresultados evidenciaram diferenças significativas entre o grupodos professores que estavam ligados ao desporto federado e ogrupo dos professores que não tinha ligação ao federado(p=0,003). De realçar ainda que dos 124 professores que nãoestavam envolvidos no sector federado, 54 (43,5%) são a favorde uma relação de proximidade entre ambos os sectores. Emconclusão, os resultados sugerem uma maior articulação e coo-peração entre os sectores escolar e federado.

Palavras-chave: desporto escolar, desporto federado, coopera-ção, organização, professores

ABSTRACTTeacher’s perceptions of school sport regarding the relationbetween school and federated sector in the Autonomous Regionof Madeira

The Sports System Law Framework of Autonomous Region ofMadeira(5) argues that school sports should be developed in articulationwith the federated sport. The study carried out and presented hereunderhad two main objectives: to determine if the teachers involved in schoolsports positions in Madeira were also involved in the federated sectorand also to identify their perceptions concerning the relationship thatshould exist between both sectors.The sample covered a total of 255 participants, representing 98% ofthe universe of teachers in school sports. The questionnaire used to col-lect the data was put together departing from the study of Correia &Rosado(4) and adapted to Madeira in accordance with its programmeof activities(7). Data was processed with SPSS and the independencenon-parametric technique of the chi-square (p=0.05). The results showa total of 117 teachers (45.9%) involved in the federated sector, andthe positions of coach and football modality were the ones that scoredthe highest percentages, 73.5% and 30.7% respectively. The majorityof the respondents (51.8%) think there should be a closer relationship,in the form of articulation and cooperation between the federated andschool sector, against 24.7% who do not agree with this point of view,and 21.2% who chose not to express their position. The results alsoshow significant differences between the group of teachers who werelinked to federated sport and the group of teachers who had no connec-tion with it (p=0.003). Furthermore, from the 124 teachers who werenot involved in the federal sector, 54 (43.5%) are in favour of a closerrelationship between both sectors. In conclusion, the results suggestgreater coordination and cooperation between the federated and schoolsectors.

Key-words: school sport, federated sport, cooperation, organization,teachers

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INTRODUÇÃOA Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto(9),bem como assim, a Lei de Bases do SistemaEducativo(10) define, no âmbito dos objectivos, que odesporto escolar deve ser entendido como um factorde cultura. E, só poderá sê-lo, se considerarmos odesporto como um fenómeno social e total, onde avertente educativa e formativa está em primeirolugar. Assim, e de acordo com uma análise sistémicae de desenvolvimento do fenómeno desportivo, asactividades que se desenvolvem no âmbito educativonão devem estar dissociadas das actividades que serealizam no âmbito do contexto sociocultural e des-portivo, seja na vertente federada-competitiva, sejana vertente de lazer e recreação. O desporto escolardeve, assim, ser entendido como um sector autóno-mo do sistema educativo, mas também deve manterestreitas e dinâmicas interacções com as actividadesque se realizam nos restantes sectores, entre osquais o sector federado(1, 3).No caso específico da Região Autónoma da Madeira,e seguindo as oportunidades consagradas no seuEstatuto Político-Administrativo(11), o GovernoRegional levou à Assembleia Legislativa, a propostade Lei Quadro do Sistema Desportivo da Madeira(5),

que viria a ser aprovada por maioria. Neste diplomaconstata-se que existe uma intenção do GovernoRegional no sentido do desporto escolar vir a assu-mir uma estreita ligação ao desporto que se desen-volve nos clubes federados. Por exemplo, no artigo19º - actividades conjuntas, defende que os clubes eassociações federadas articulam as suas intervençõesde modo a favorecer o contacto entre as áreas dodesporto escolar e as do desporto federado, atravésda implementação de actividades conjuntas, dotadasde regulamentação técnico-pedagógica apropriada,sem prejuízo da concretização das actividades especí-ficas de cada um dos sectores. De certa forma, estavisão integrada, reconhece à escola, um papel rele-vante na formação desportiva dos mais jovens e nasua articulação com o desporto que se faz na socie-dade. Nesta abordagem integrada do desporto desta-camos(6), quando defende uma forte ligação da esco-la ao desporto na sociedade e o desporto escolarcomo um viveiro de formação de praticantes para odesporto federado.

O desporto escolar e as orientações que estão subja-centes à sua organização, dinâmica e qualidade doserviço, envolvem necessariamente uma dimensãopolítica(6). Defende, por um lado, que as questões daqualidade do serviço público precisam de ser analisa-das e compreendidas na perspectiva da decisão polí-tica para o serviço público, e por outro na diferençaentre o serviço prestado e a qualidade do serviçopercepcionado pelos clientes e intervenientes.Igualmente, mas no âmbito da avaliação dos serviçosprofissionais do sector privado(12), defende uma rela-ção continuada e consistente na avaliação das expec-tativas e dos resultados da satisfação dos clientes.Neste contexto, as expectativas e percepções dosprincipais actores envolvidos na organização despor-tiva são determinantes para se percepcionar a quali-dade do serviço e melhorar os seus atributos(8,14).Dentro da organização do desporto escolar, os pro-fessores que desempenham cargos específicos: coor-denador ou gestor desportivo, orientador de equipa ecoordenador de actividade interna, constituem osactores mais privilegiados para avaliarem a qualidadedo serviço. Segundo Chelladurai(2), a qualidade do serviço dasactividades físicas e desportivas passa por determinaro grau de satisfação e de percepção dos intervenien-tes. Ademais, sabendo-se que há uma década atrás,mais de metade dos professores envolvidos no despor-to escolar também estavam envolvidos no desportofederado na qualidade de treinadores(15), importaconhecer até que ponto esta acumulação continua.Assim, o estudo seguiu dois objectivos: detectar seos professores envolvidos em cargos no desportoescolar na Madeira também estavam envolvidos nosector federado e conhecer as percepções dos mes-mos sobre a relação que deve existir entre ambos ossectores.

MATERIAL E MÉTODOSFoi constituída uma equipa de sete investigadores,aproveitando-se as mais-valias proporcionadas pelosrecursos humanos do Gabinete Coordenador doDesporto Escolar e pelos alunos do Curso deMestrado em Educação Física e Desporto (edições2005/2006 e 2006/2007).Esta dupla colaboração permitiu alcançar um total de255 professores de Educação Física que exerciam fun-

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ções específicas no desporto escolar, correspondente a98% do universo dos professores (260). Se tivermosem conta o total dos professores de Educação Física aleccionar em todas as escolas públicas e privadas dos2º e 3º ciclos e ensino secundário na Região Autónomada Madeira (476), a amostra corresponde a 53,6%.Foi elaborado um questionário de avaliação da quali-dade do serviço com base no instrumento desenvol-vido no estudo realizado em Portugal Continental(4),posteriormente adaptado e validado à orgânica eregulamentação do desporto escolar da Madeira(7).Para apurar a fiabilidade do questionário utilizou-sea técnica de Alpha de Cronbach tendo-se verificado aexistência de fiabilidade interna adequada para cadauma das variáveis em análise.A aplicação do questionário foi feita através deuma reunião de carácter obrigatório tendo sidoorientada pelos respectivos elementos da equipa deinvestigação que prestaram os esclarecimentos easseguraram a recolha e imediata do instrumento.No que diz respeito aos procedimentos estatísticosrecorremos ao software SPSS (Statistical Packagefor the Social Sciences) versão 15.0 for Windows eao programa Microsoft Office Excel versão 11.0.Dada a natureza da maioria das variáveis - do tiponominal e ordinal, recorremos à utilização de técni-cas não paramétricas, nomeadamente, o teste doQui-Quadrado, e o teste Mann-Whitney, para umaprobabilidade de erro de 0,05.

RESULTADOSEnvolvimento dos professores do desporto escolar nosector federadoA participação e acumulação de funções dos profes-sores do desporto escolar no sector federado podeser um factor relevante para o conhecimento edesenvolvimento da relação entre os dois sectores.Nessa medida procuramos conhecer até que pontoos professores do desporto escolar estavam ligadostambém ao sector federado, e verificámos que, 117(45,9%) dos professores, durante o ano lectivo 2006-2007, estiveram ligados a um clube fora da escola,contra 129 (50,6%).Constatou-se que o cargo desempenhado no sectorfederado que maior resultado colheu foi o de treina-dor/monitor com um valor de 73,5%, seguido do deatleta com 10,26% e do de Dirigente/Coordenadorcom 9,4% (Figura 1).

A análise da participação dos professores no sectorfederado, de acordo com as modalidades desportivas,permitiu-nos destacar a de futebol como aquela quecolheu maior preferência dos professores (30,7%),seguido do voleibol (11,4%) e da natação (8,7%),resultados muito similares aos das modalidades des-portivas no sector escolar.

Articulação do desporto escolar com o desporto federadoConfrontados com a questão “Considera que o des-porto escolar na sua escola deveria ter uma relaçãomais próxima (articulada/interligada cooperante)com o DF?”, 132 (51,8%) dos professores responde-ram afirmativamente, contra 63 (24,7%) que disse-ram que não. Os resultados indicam-nos ainda maisum resultado interessante e preocupante: 54(21,2%) preferiam não emitir qualquer resposta.No sentido de se procurar uma justificação plausívelpara a percentagem de 51,8% a concordar com umamaior proximidade entre ambos os sectores, avan-çou-se com o Chi-Square Test a fim de verificar se osprofessores que estavam envolvidos no sector federa-do eram os que mais defendiam a relação de proxi-midade. Os resultados do Quadro 1 confirmam queexistem diferenças significativas (p=0,003) entre osdois grupos de professores, sendo os que estão liga-dos ao sector federado aqueles que defendem umaarticulação mais próxima. Todavia, o Quadro 1 também nos mostra que, dogrupo dos professores que não estão envolvidos nosector federado, 54 deles (43,5%) consideram quedeveriam haver uma relação mais próxima.

Dinamismo na conquista de parceiros externosUma maior articulação e interacção entre os doissectores desportivos pode ser explicada a partir daidentificação da dinâmica das escolas na conquistade parceiros externos. Os resultados obtidos sobreesta questão revelaram que quase metades dosdocentes (45,5%) não evidenciaram opinião, o quepode significar desconhecimento da existência deparceiros externos ou displicência em relação à ques-tão. Por outro lado, daqueles que se pronunciaram,29,4% dizem haver dinamismo e 22,4% considera asua escola pouco activa na conquista de parceirosexternos (Quadro 2).

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Dos 75 que acharam que a escola é dinâmica na con-quista de parceiros externos a maior percentagem(33,3%) apontou os clubes e associações desportivascomo organizações parceiras.

DISCUSSÃOOs resultados apurados sugerem claramente umamaior articulação e cooperação entre o sector des-portivo escolar e o sector federado e estão em con-

cordância com as novas orientações definidas na LeiQuadro do Sistema Desportivo da Região Autónomada Madeira(5) quando advoga uma maior dinâmica deinteracção e articulação do trabalho da escola com asactividades dos clubes e associações desportivas.Os resultados também confirmam um envolvimentoelevado, com mais de 50% dos professores do des-porto escolar a exercer funções específicas no des-porto federado. Os mesmos resultados já tinham

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Figura 1. Cargos ocupados no sec-tor federado pelos professores dodesporto escolar

Figura 2.Modalidadesdesportivasdo sectorfederadoonde estãoenvolvidos osprofessores

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sido apurados no ano lectivo de 1994/1995 quan-do(15) constatou que 54% dos docentes do desportoescolar também estavam ligados ao sector federado,especialmente na função de treinador.No entanto, é o grupo dos professores que estáenvolvido em funções mo desporto federado, quemmais defende uma relação de aproximação entreambos os sectores, comparativamente com o grupode docentes que não estava envolvido no sector fede-rado. O conhecimento que os professores detêmpelo facto de estarem envolvidos em ambos os secto-res, e as potencialidades de interacção, podem serduas possíveis explicações para esta convicção dosdocentes. Tal como sugerem autores que têm reflec-tido e escrito a interacção entre o sector escolar e osector federado(1, 3, 13, 16), as dinâmicas e as sinergias

que se criam entre ambos os sectores, devem supe-rar claramente os conflitos e adversidades, e acres-centar mais valias para a qualidade da formação ecompetição desportivas dos mais jovens. O estudo também evidencia um resultado muitointeressante: do grupo dos professores que não esta-va envolvido no sector federado, constatou-se queuma percentagem elevada (43,5%) foi no sentido deconcordar com a relação de aproximação e de inte-racção entre ambos os sectores.Uma das interpretações plausíveis para estes resulta-dos é o de que a escola pode e deve ter um papelrelevante na formação desportiva inicial e na suarelação de intercomplementaridade com o papel dosclubes federados(3, 6). Supostamente, os professoresque estão envolvidos nos clubes esperam e anseiam

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Quadro 1. Relação entre a percepção que os professores têm da articulação desporto escolar-desporto federado e o envolvimento/não envolvimento dos mesmos nos clubes federados

Quadro 2. Escola como dinâ-mica ou não na conquista de

parceiros externos

Envolvido num clube? Total Questão Indicadores

Não Sim Não

n 33 18 51

% 26,6% 15,5% 21,3% Sem opinião

Valor residual 1,3 -1,3

n 54 76 130

% 43,5% 65,5% 54,2% Sim

Valor residual -1,6 1,7

n 37 22 59

% 29,8% 19,0% 24,6%

Desporto escolar deve ter uma relação mais próxima com o desporto federado?

Não

Valor residual 1,2 -1,2

n 124 116 240 Total

% 100,0% 100,0% 100,0%

2 = 11,695 g.l. = 2 Sig.= 0,003

Respostas N %

Sem opinião 116 45,5 Sim 75 29,4 Não 57 22,4 Ausência de Resposta 7 2,7

Total 255 100,0

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que haja uma maior dinâmica de cooperação e arti-culação entre ambos os sectores. Conforme modeloorganizacional proposto por Pires(13), o desporto naescola constituiu uma zona de interface e de projec-ção do atleta para a vida e para a competição, e nestesentido o trabalho do desporto escolar não pode ficarindiferente ao que se faz no desporto federado.Dos 117 professores que também estão ligados aodesporto federado, 73,5% desempenham o papel detreinador ou monitor desportivo. É de realçar que hácerca de dez anos atrás Soares(15), também já tinhaconstatado que uma percentagem elevada (69%) dosprofessores envolvidos no sistema desportivo,desempenhava o cargo de treinador desportivo.Havendo esta duplicidade de funções é pertinentequestionar o aproveitamento ou não desta oportunida-de, seja numa perspectiva de continuidade da práticadesportiva dos jovens quando transitam do escolarpara o federado, seja ao nível da optimização dosrecursos humanos e das sinergias que resultam da par-ticipação conjunta dos praticantes nas respectivas com-petições. Contudo, é necessário considerar os princí-pios de interacção e clarificar o papel de ambos os sec-tores, para que haja uma relação de cooperação, decomplementaridade, e não de crispação ou de conflito.Os resultados também colocam em evidência anecessidade das escolas conquistarem parceriasexternas e optimizarem os recursos com os clubes eassociações desportivas federadas. O incremento dosclubes desportivos escolares poderá ser uma estraté-gia de desenvolvimento da organização interna dasescolas no sentido de uma melhoria substancial daqualidade do serviço(16). Para tal, é necessário que secriem sinergias e autonomia suficiente para que osactores organizacionais possam desenvolver as suascompetências e interagir com as actividades desen-volvidas pelas associações e clubes, num contextomais amplo da organização das actividades desporti-vas para jovens.

CONCLUSÃOOs resultados do estudo leva-nos a concluir que osprofessores envolvidos em funções específicas nodesporto escolar defendem uma relação mais próxi-ma e uma interacção de cooperação entre o sector dodesporto escolar e o sector do desporto federado. Esta relação não só é defendida por aqueles profes-

sores que estão também envolvidos em funçõesespecíficas no desporto federado, como tambémpelos que apenas exercem funções no sector escolar.Os resultados do estudo indiciam uma fraca e preo-cupante relação da escola na conquista de parceirosexternos para o desporto escolar.

AGRADECIMENTOSO autor do estudo agradece a colaboração: doGabinete Coordenador do Desporto Escolar daDirecção Regional de Educação da Madeira; dos pro-fessores do desporto escolar das escolas do 2º e 3ºciclos e do ensino secundário da Região Autónomada Madeira; das professoras Júlia Andrade e SandraGodinho e dos estudantes do Mestrado em EducaçãoFísica e Desporto da Universidade da Madeira: JorgeCamacho, Duarte Sumares, Hélio Antunes, AnaSampaio, Isabel Vieira, Miguel Saldanha e RicardoSantos.

CORRESPONDÊNCIAJorge SoaresDepartamento de Educação Física e Desporto – Piso 1Campus Universitário da Penteada, Universidade daMadeira9000-390 Funchal Telef.: 962566517; 291705321.E-mail: [email protected]

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and Recreation. Human Kinetics, 2nd edition.3. Coelho O (1989). Desporto escolar e desporto federado,

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13. Pires G (1994). Desporto escolar – desenvolvimento e gestão deprojectos. U.T.L., Faculdade de Motricidade Humana,Departamento de Ciências do Desporto, Lisboa.

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Estudo do potencial empreendedor dos acadêmicos do 7º períododo curso de Educação Física da Universidade Federal de Viçosa

Paulo Lanes Lobato Dilermando Duarte do Carmo

Universidade Federal de ViçosaViçosa/MGBrasil

RESUMOO Profissional de Educação física vem enfrentando mudançassignificativas no contexto do mundo do trabalho. Por issoconhecer e saber da importância do empreendedorismo assumeum papel importante para esse novo profissional frente as exi-gências do mercado de trabalho. Assim, este estudo objetivaverificar o potencial empreendedor dos acadêmicos do 7º perío-do de educação física da UFV e relacioná-los ao estudo feitopor Daher(2), verificando as alterações no potencial empreende-dor. A amostra foi composta por 50 acadêmicos, na faixa etáriade 20 a 28 anos. Os dados foram obtidos através da aplicaçãode um questionário que avalia o potencial empreendedor doindivíduo. O tratamento estatístico utilizado foi a estatísticadescritiva como distribuição de freqüência, média e desvio-padrão. Os resultados indicaram que 78% dos respondentesapresentaram “potencial transitório” tendo sido inferior aoapresentado quando ingressaram no curso em 2004, que foi de85%. Com a análise comparativa dos dados e a interpretação desuas variáveis, verifica-se a necessidade de melhoria na capaci-tação gerencial para lançarem-se no mundo dos negócios.Sugere-se que novos estudos sejam realizados buscando alter-nativas para melhorar a relação entre formação profissional e arealidade de atuação dos profissionais de educação física.

Palavras-chave: empreendedorismo, profissional educação físi-ca, mercado trabalho, potencial empreendedor

ABSTRACTStudy of the entrepreneurial potential of physical education stu-dents of the 7th course period at the Federal University of Viçosa

Human movement professionals are facing a series of changes in thereal world work opportunities. The market exigencies show to be reallyrelevant for these professionals to be an entrepreneur. The aim of thisstudy was to verify the entrepreneur potential of human movement stu-dents, and establish relationship with Daher’s(2) study, verifying possi-ble changes in that potential. The sample comprised 50 fourth gradestudents aged between 20 and 28 years. Data collection was doneusing a specific questionnaire to evaluate individual entrepreneur poten-tial applied twice throughout their graduate studies. To data analyseswas used descriptive statistics as frequency, mean and standard devia-tion. Results showed 78% as ´transitory potential´. These results werelower than showed by these students in the first grade (85% were inthe transitory potential classification). Comparative analyses of theseresults indicate needs of improvement in management area to start wor-king in the business world. These results suggest new research to verifythe relationship between professional education and ´real world´ workfor human movement professionals.

Key-words: entrepreneur, human movement professionals, entrepre-neur potential

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INTRODUÇÃOA cada dia os profissionais mais precisam se preocu-par em se conhecer e identificar em suas característi-cas os pontos fortes e as deficiências, para minimizaros efeitos destas em sua atuação profissional.Diante da nova conjuntura econômica, com reduçãocrescente dos postos de trabalho nas empresas, cres-ce a necessidade de quem procura o seu primeiroemprego, trabalhadores demitidos de grandes corpo-rações e órgãos públicos em virtude de reestrutura-ções, fechamento, privatizações e fusões, criarem oseu próprio negócio como alternativa de trabalho.Como afirma Dolabela(3): “Pessoas que não conse-guem colocação ou recolocação no mercado se vêemforçadas a criar seu próprio emprego como únicaalternativa de sobrevivência”.Atualmente está sendo muito discutida a questão deque as pessoas devam ser os empreendedores de seupróprio futuro. Partindo deste ponto de vista essapesquisa vai procurar compreender melhor o papeldo curso no processo de formação do potencialempreendedor em acadêmicos de Educação Física daUniversidade Federal de Viçosa (UFV), e, se a for-mação acadêmica tem interferido para alterar o perfilempreendedor dos futuros profissionais.A realização deste estudo se deu a partir de um tra-balho realizado com os acadêmicos do primeiroperíodo de 2004 do curso de Educação Física, reali-zado pelo então estudante Eduardo Daher(2). A proposta desse estudo foi, utilizando o mesmoinstrumento e metodologia de coleta de informações,com os mesmos acadêmicos, que agora completam osétimo período do curso, portanto, na fase final desua formação. A partir dos dados coletados será feitaanálise comparativa objetivando perceber se a suaformação acadêmica interferiu no potencial empreen-dedor dos alunos.

ObjetivoO estudo visa verificar o potencial empreendedor dosacadêmicos do 7º período do curso de Educação Físicada UFV, bem como a interferência do curso no perfilempreendedor dos alunos por meio da comparaçãodos dados coletados, com o mesmo instrumento,quando estes estavam ingressando no curso em 2004. Da mesma forma, o estudo tem a finalidade de des-pertar nos alunos de Educação Física a capacidade de

identificar oportunidades de negócios e do mesmomodo, intensificar a orientação ao longo do curso,no sentido de estimular percepção destas novas cir-cunstancias para a futura atuação profissional.

JustificativaApesar da importância desse assunto, constata-seque existe uma carência de estudos sobre o tema,especialmente dedicados a compreender o empreen-dedorismo na Educação Física e a figura doempreendedor para o e no mercado. Portanto, hánecessidade de aprofundamento de fundamentosconceituais na formação do profissional de educaçãofísica, no processo de desenvolvimento do potencialempreendedor dos alunos. Portanto, este trabalho justifica-se pela necessidadede despertar nos acadêmicos de educação física aimportância do empreendedorismo para sua inserçãono mercado de trabalho.

REVISÃO DE LITERATURAEste trabalho apresenta inicialmente uma revisãobibliográfica sobre o tema “empreendedorismo”,desde seu surgimento e as características doempreendedor, aspectos relacionados ao perfilempreendedor, cujas particularidades servirão debase para o trabalho de pesquisa de identificação dopotencial de novos empreendedores. Serão apresen-tadas também as relações do empreendedorismo noBrasil. Ao final, discutiu-se sobre o ensino doempreendedorismo na Educação Física, principal-mente no que tange à formação acadêmica.

O empreendedorismoO termo empreendedorismo, conforme Dolabela(4),originou-se do francês entrepreneur, que no séculoXII era utilizado para designar aquele que incenti-vava brigas.Historicamente, a partir do século XVIII, os econo-mistas Cantillon, em 1755, e Jean-Baptiste Say, em1803, passaram a denominar de empreendedor aqueleque identificava oportunidades de negócios e assumiariscos de realizá-los, que inovava e que era agente demudanças. O austríaco Joseph A. Schumpeter, nadécada de 1930, também apoiava esta linha de concei-tuação. Outros autores, no entanto, procuraram con-ceituar o empreendedorismo baseando-se mais nos

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comportamentos do que nas ações decorrentes(9,11). Neste segundo grupamento encontram-se MaxWeber, em 1930, e mais recentemente, em 1961,David MacClelland, que procuraram estudar os com-portamentos daqueles que praticam o empreendedo-rismo. Em uma perspectiva mais genérica, Freire(7)

cita que o empreendedorismo é considerado a forçaque sempre existiu por trás das invenções e inova-ções, impulsionando o crescimento dos povos eregiões. Por meio dele, novas abordagens em ciên-cias naturais e sociais são desenvolvidas, a tecnolo-gia avança e desenvolve novos produtos e ferramen-tas, promovendo aumento continuado na produtivi-dade humana. Ele constitui, assim, um dos elemen-tos centrais para as mudanças introduzidas na socie-dade, contribuindo fortemente para a aceleraçãomutacional atual.Como elemento impulsionador do empreendedoris-mo tem-se a figura do seu criador, denominadoempreendedor, que busca constantemente a conti-nuidade do empreendimento.Dolabela(3) menciona que o empreendedor, ou seja,aquele que pratica o empreendedorismo está relacio-nado ao desenvolvimento econômico, à inovação eao aproveitamento de oportunidades em negócios.No entanto, deve-se ter em mente que o empreende-dorismo é um fenômeno cultural, que possui fatorese atitudes comportamentais que variam de um lugarpara o outro, dependendo do meio em que se vive. Destacando as características dos empreendedores,Mori(8) cita que são pessoas que perseguem o benefí-cio, trabalham individual e coletivamente. Podem serdefinidos como indivíduos que inovam, identificam ecriam oportunidades de negócios, montam e coorde-nam novas combinações de recursos (função de pro-dução), para extrair os melhores benefícios de suasinovações num meio incerto.O empreendedor é caracterizado por Filion(6) comouma pessoa criativa, marcada pela capacidade deestabelecer e atingir objetivos e que mantém altonível de consciência do ambiente em que vive, usan-do-a para detectar oportunidades de negócios. Umempreendedor que continua a aprender a respeito depossíveis oportunidades de negócios e a tomar deci-sões moderadamente arriscadas, que objetivam ainovação, continuará a desempenhar um papel deempreendedor.

Tendo como base esses conceitos, faz-se necessárioum maior conhecimento sobre algumas característi-cas gerais do empreendedor. Para isso, procurou-seidentificar o perfil do empreendedor, aprofundandoainda mais no conhecimento sobre o tema.

Perfil do empreendedorFillion(6) acredita que as características variam deacordo com as atividades que o empreender executaem uma dada época ou em função da etapa de cresci-mento da empresa. Tendo em vista que os diferentespesquisadores apresentaram resultados divergentesnas suas pesquisas. E por que a preocupação emidentificar o perfil do empreendedor de sucesso?Para que se possa a aprender a agir, adotando com-portamentos e atitudes adequadas.O indivíduo portador das condições para empreendersaberá aprender o que for necessário para criar,desenvolver e realizar sua visão. SegundoDolabela(3): “as características a seguir sintetizam asatividades que os empreendedores desenvolvem paraatingir seus objetivos, vinculado a cada uma delas ascaracterísticas pessoais, suas competências e habili-dades necessárias e a aprendizagem envolvida.” 1) Buscar oportunidade e ter iniciativa: fazer as coisasantes de solicitado ou antes de forçado pelas circuns-tâncias. Agir para expandir o negócio a novas áreas,produtos ou serviços. Aproveitar oportunidades forado comum para começar um negócio, obter financia-mentos, equipamentos, terrenos, local de trabalhoou assistência.2) Ser persistente: agir diante de um obstáculo. Agirrepetidamente ou mudar de estratégia a fim deenfrentar um desafio ou superar um obstáculo.Assumir responsabilidade pessoal pelo desempenhonecessário ao atendimento de metas e objetivos.3) Ser comprometido: fazer sacrifícios pessoais e des-pender um esforço extraordinário para completaruma tarefa. Colaborar com os empregados ou colo-car-se no lugar deles, se necessário, para terminarum trabalho. Esmerar-se em manter os clientessatisfeitos e colocar em primeiro lugar a boa vontadea longo prazo, acima do lucro de curto prazo.4) Ser exigente quanto à qualidade e eficiência: encontrarmaneiras de fazer as coisas de uma forma melhor,mais rápida, ou mais barato. Desenvolver ou utilizarprocedimentos para assegurar que o trabalho seja

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terminado a tempo ou que o trabalho atenda apadrões de qualidade previamente combinados.5) Correr riscos calculáveis: avaliar alternativas e calcu-lar riscos deliberadamente. Agir para reduzir os ris-cos ou controlar os resultados. Colocar-se em situa-ções que implicam desafios ou riscos moderados.6) Estabelecer metas: estabelecer metas e objetivos quesão desafiantes e que têm significado pessoal.Definir metas de longo prazo, claras e específicas.Estabelecer objetivos de curto prazo, mensuráveis.7) Buscar informações: dedicar-se pessoalmente a obterinformações de clientes, fornecedores e concorren-tes. Investigar pessoalmente como fabricar um pro-duto ou fornecer um serviço. Consultar especialistaspara obter assessoria técnica ou comercial.8) Planejar e monitorar sistematicamente: planejar divi-dindo tarefas de grande porte em subtarefas comprazos definidos. Revisar seus planos constantemen-te, levando em conta os resultados obtidos e mudan-ças circunstanciais. Manter registros financeiros eutilizá-los para tomar decisões.9) Persuadir e manter rede de contatos: utilizar estraté-gias deliberadas para influenciar ou persuadir osoutros. Utilizar pessoas-chaves como agentes paraatingir seus próprios objetivos. Agir para desenvol-ver e manter relações comerciais.10) Ser independente e manter autoconfiança: buscar auto-nomia em relação a normas e controles de outros.Manter seu ponto de vista, mesmo diante da oposiçãoou de resultados inicialmente desanimadores.Expressar confiança na sua própria capacidade de com-pletar uma tarefa difícil ou de enfrentar um desafio.Essas características permitem-nos agora relacionaro empreendedorismo com os aspectos peculiares darealidade brasileira.

Empreendedorismo no BrasilMuito se discute a respeito do empreendedorismono Brasil como sendo um dos fatores críticos para odesenvolvimento econômico, geração de empregos eriqueza à sociedade. Tanto nações mais desenvolvi-das como as em desenvolvimento têm dado especialdestaque ao empreendedorismo com vistas a melhorentender como ocorre o processo empreendedor esuas peculiaridades locais. Exemplos disto podemser encontrados nos recentes estudos promovidospelo grupo Global Entrepreneurship Monitor, que

objetivavam entender o relacionamento entreempreendedorismo e desenvolvimento econômico.A pesquisa é feita desde 1999 pelo GlobalEntrepreneurship Monitor, disponível na íntegra nositío www.e-commerce.org.br. Na primeira vez em quefoi avaliado, em 2000, junto com 21 países, o Brasilfoi classificado como a primeira nação em iniciativaempreendedora. No ano seguinte, já com 28 paísesparticipando da pesquisa, ficou em quinto lugar.Agora aparece em sétimo entre 37 nações. O estudo mostra que, de forma geral, o empreende-dorismo por necessidade tende a ser maior entre ospaíses em desenvolvimento, onde as dificuldades deinserção no mercado de trabalho levam as pessoas abuscar alternativas de ocupação.O movimento de empreendedorismo no Brasil come-çou a tomar forma na década de 1990, quando enti-dades como Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio asMicro e Pequena Empresa) e Softex (Associação parapromoção da excelência do software brasileiro)foram criadas. Antes disso, praticamente não se fala-va em empreendedorismo e em criação de pequenasempresas. O Sebrae é um dos órgãos mais conheci-dos do pequeno empresário brasileiro, que buscajunto a essa entidade todo suporte de que precisapara iniciar sua empresa, bem como consultoriaspara resolver pequenos problemas pontuais de seunegócio.No caso brasileiro, o movimento do empreendedo-rismo tem crescido rapidamente nos últimos anos,cursos universitários têm criado disciplinas com focoem empreendedorismo e as incubadoras de empresassão a principal vitrine do país quando se discute oempreendedorismo. No entanto, ainda faltam políti-cas públicas duradouras dirigidas a consolidação doempreendedorismo no país, como alternativa a faltade emprego.

O ensino do empreendedorismo no curso de Educação Física O desenvolvimento do perfil empreendedor, combase no aprender a aprender, advém, em grandeparte, do abrir espaço para a criatividade. No entan-to, buscar referenciais para apreender as competên-cias, detectar os melhores conteúdos programáticos,captar a dinâmica educacional mais adequada eexplorar mecanismos que coloquem em ação a ativi-

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dade pedagógica desejada representa hoje o grandedesafio para a formação do empreendedor nos cursosde graduação em Educação Física.Para Dornelas(5), um dos caminhos a ser seguido pelauniversidade para desenvolver o espírito empreende-dor, pode ser através do enfoque dado na identificaçãoe no entendimento das habilidades do empreendedor,em como ocorre a inovação e o processo empreende-dor, na importância do empreendedorismo para odesenvolvimento econômico, entre outras.Dolabela(3) afirma que o ensino no Brasil ainda nãosinaliza totalmente para o empreendedorismo, vistoque está voltado para a formação de profissionaisque irão buscar emprego no mercado de trabalho.Pardini(9) complementa ao afirmar que a culturapedagógica das universidades brasileiras está direcio-nada a valores e comportamentos que não abordamas organizações pequenas e médias da economianacional. Essa cultura faz o emprego assumir umvalor essencial na formação da sua sociedade.No processo de mudança e condução desse novoprofissional, faz-se necessário a busca de novasestratégias metodológicas e a reestruturação curricu-lar, tendo como base a interdisciplinaridade, a visãoholística do conhecimento e a abertura daqueles quevão fazer acontecer

METODOLOGIAPara a realização da pesquisa foi feito um estudo qua-litativo, longitudinal envolvendo os acadêmicos queingressaram no curso de Educação Física da UFV noano de 2004. Fez-se a identificação do potencialempreendedor em 2007 e estes resultados compara-dos com aqueles obtidos em 2004 por Daher(2).

AmostraA amostra foi composta 50 estudantes do curso deEducação Física da UFV, que ingressaram no ano de2004. Para aplicação do questionário foram desconsi-derados aspectos relacionados à origem, acesso àinformação e renda familiar e que já haviam sidosubmetidos ao estudo anterior.

Coleta de dadosPara a obtenção dos dados utilizou-se um questioná-rio – Avaliação do Potencial Empreendedor (Anexo1) – adaptado por Barbosa e Cunha(1).

Esse questionário é composto por 40 questões divi-didas em três partes: 1. Características gerais do empreendedor, composta por8 questões. Segundo Barbosa e Cunha(1), essa pri-meira parte fundamenta-se no trabalho de Fortin(1986) e aborda os atributos ou traços comuns quecaracterizam os empreendedores, diferenciando-osde outros indivíduos.2. Preferências de atividades, composta por 9 questões.Para Barbosa e Cunha(1), essa segunda parte tem porobjetivo coligir informações sobre as principais pre-ferências acerca de aspectos relativos ao trabalho doempreendedor. 3. Características de personalidade, composta por 23questões. De acordo com Barbosa e Cunha(1), essaterceira parte mede o grau em que o indivíduo estápreparado a se lançar nos negócios, nos planos indi-vidual e psicológico.Para a verificação da pontuação (Anexo 2), com totalmáximo de 40 pontos, Barbosa e Cunha(1) utiliza-ram-se da seguinte configuração adaptada dos traba-lhos já citados anteriormente:1. Grande potencial empreendedor: respondente queobtiver entre 84,0% a 100,0% dos pontos, cujaexploração deste potencial dependeria apenas dasoportunidades disponíveis.2. Forte potencial empreendedor: respondente que obti-ver entre 66,0% a 83,0% dos pontos, cujo sucessodependeria muito de outras habilidades e recursosdisponíveis.3. Resultado transitório: respondente que obtiver entre46,0% a 65,0% dos pontos, cujo sucesso dependeriade muito esforço e perseverança, sendo necessárioum acompanhamento técnico e consultoria.4. Potencial duvidoso: respondente que obtiver entre25,0% a 45,0% dos pontos, existindo a necessidadede mudança de certos aspectos de sua filosofia devida, atitudes e comportamentos.5. Falta de potencial: respondente que obtiver entre0,0% a 24,0% dos pontos, existindo a necessidade deconscientização quanto às dificuldades e exigênciasdo empreendedorismo, sendo receoso lançar-se deimediato no mundo dos negócios. Para que se pudessem referenciar estudos abertos ànecessidade de caracterização do perfil dos respon-dentes do questionário, foram incluídas questões decaracterização da amostra que auxiliaram na análisee interpretação dos dados.

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Tratamento estatísticoPara fins de análise dos dados foram utilizadosconhecimentos da estatística descritiva como distri-buição de freqüência, média e desvio-padrão.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOSO presente capítulo apresenta e analisa os dadosobtidos, iniciando-se com a caracterização do perfil eposteriormente com o estudo do potencial empreen-dedor dos respondentes do questionário.

Perfil dos respondentes dos alunos do 7º período em 2007O questionário foi respondido por 50 estudantes do7º período do curso de Educação Física daUniversidade Federal de Viçosa sendo 24 (48%) dosexo masculino e 26 (52%) do sexo feminino, todossolteiros, na faixa de 20 aos 28 anos.No que se refere ao mercado de trabalho, 62% dosrespondentes já exercem atividade remuneradaatualmente. Dentre esses, 29,0% estão no mercadohá mais de 1 ano e 71,0% recebem até 1 saláriomínimo por mês. Os demais (71%) estão no merca-do a um ano ou menos com a mesma faixa de salá-rio. Ainda que com baixa remuneração, percebe-sea inserção muito significativa no mercado de traba-lho local.Em relação ao futuro profissional, 58% responderamque pretendem atuar como ‘empregados’ e apenas12% querem ser ‘proprietários’ de seus própriosnegócios. Percebe-se que uma faixa significativa(30%) ainda não tem perspectiva de atuação. Essesdados revelam que a parcela mais significativa nãopretende se arriscar no mundo dos negócios comoproprietários. Quanto à perspectiva salarial, destaca-mos que 34% esperam receber entre 6 e 10 saláriosmínimos e 32% esperam receber acima de 10 salá-rios mínimos. Em relação à formação acadêmica, obteve-se osseguintes resultados: 68% responderam que obtive-ram uma boa formação acadêmica, 14% responde-ram que a formação foi razoável, 18% responderamque não aprovaram sua formação. Apesar do significativo percentual de aprovação daformação recebida (68%) a insatisfação identificada(32%) deveria ser objeto de análise mais específica.

Potencial empreendedor dos respondentesOs resultados serão apresentados por tópicos deabordagem no questionário. Isso facilitará a análise eas inferências a respeito dos resultados obtidos.

Características gerais do empreendedorEssa primeira parte do questionário possui um totalmáximo de 8 pontos em que as questões procuramidentificar as características dos empreendedores queos diferenciam das outras pessoas. No Quadro 1apresenta-se o resultado.A amplitude das respostas variou entre 2 (25%) e 8(100%), com média 4,8 correspondente a 60% dospontos totais. Dos respondentes, 30 (60%) ficaramacima da média, 20 (40%) ficaram abaixo da média.Esses dados indicam que mais da metade (60%) dosrespondentes possuem características esperadas emempreendedores e que, mais 22% dos respondentesse encontram muito próximos em alcançar a mediade pontos esperada e da mesma forma, 30% seencontra no limiar inferior da pontuação, indicandoque aproximadamente 50% dos respondentes deve-riam receber estímulos para ampliar o seu potencialempreendedor.

Preferências de atividadesA segunda parte do questionário possui um totalmáximo de 9 pontos e as questões apresentam asatividades mais comuns aos empreendedores. NoQuadro 2 apresenta-se o resultado.A amplitude dos pontos obtidos pelos respondentesvariou entre 2 (22,2%) e 9 (100%), com média 4,9correspondente a 54,4% dos pontos totais. Dos res-pondentes, 27 (54%) ficaram acima da média e 23(46%) ficaram abaixo da média. Da mesma forma queno caso anterior, apesar de estatisticamente 54% dosrespondentes se encontrarem acima da média, pode-se perceber que aproximadamente 30% se encontrammuito próximos da média, mas que esse percentualchega a 58 se considerar aqueles que se encontramcom a pontuação média, evidenciando a necessidadede interferências imediatas no sentido de que o riscoda atividade empreendedora seja minimizado.

Características de personalidadeA terceira parte do questionário possui um totalmáximo de 23 pontos. Essas questões apresentam as

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características de personalidade que mais se asseme-lham aos empreendedores. No Quadro 3 apresenta-se o resultado. A amplitude dos pontos obtidospelos respondentes variou entre 9 (39,1%) e 16(69,6%), com média 12, correspondente a 52,2% dospontos totais. Dos respondentes, 19 (38,0%) ficaramacima da média, 14 (28,0%) ficaram próximos àmédia e 17 (34,0%) ficaram abaixo da média. Houveuma distribuição mais equilibrada dos respondentes

Indicam que o resultado foi razoável e nos permiteafirmar que nesse momento, os sujeitos, apresentamcaracterísticas de personalidade semelhantes às espe-radas nos empreendedores. Esses indicadores podemser interpretados de maneira positiva, pois, a ten-dência aponta para índices superiores e mais signifi-cativo se torna o resultado pois são características depersonalidade, indicando a pré-disposição para aação empreendedora.

Gestão do Desporto

Total de pontos obtidos Percentual dos pontos Freqüência Percentual Percentual Acumulado 2 25,0 01 2 2

3 37,5 08 16 18

4 50,0 11 22 40

5 62,5 15 30 70

6 75,0 11 22 92

7 87,5 2 4 96

8 100 2 4 100

8 100,0 50 100,0

Quadro 1. Características gerais do empreendedor.

Total de pontos obtidos Percentual dos pontos Freqüência Percentual Percentual Acumulado 2 22,2 03 6 6

3 33,3 08 16 22

4 44,4 12 24 46

5 55,5 14 28 74

6 66,7 05 10 84

7 77,8 03 6 90

8 88,9 02 4 94

9 100,0 03 6 100,0

9 100,0 50 100,0

Quadro 2. Preferências de atividades.

Quadro 3. Características de personalidade

Total de pontos obtidos Percentual dos pontos Freqüência Percentual Percentual Acumulado 9 39,1 05 10,0 10,0

10 43,5 05 10,0 20,0

11 47,8 07 14,0 34,0

12 52,2 14 28,0 62,0

13 56,5 09 18,0 80,0

14 60,9 07 14,0 94,0

15 65,2 01 2,0 96,0

16 69,6 02 4,0 100,0

23 100,0 50 100,0

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Gestão do Desporto

Total de pontos obtidos Percentual dos pontos Freqüência Percentual Percentual Acumulado 15 37,5 01 2,0 2,0

16 40,0 01 2,0 4,0

17 42,5 02 4,0 8,0

18 45,0 05 10,0 18,0

19 47,5 04 8,0 26,0

20 50,0 06 12,0 38,0

21 52,5 06 12,0 50,0

22 55,0 04 8,0 58,0

23 57,5 04 8,0 66,0

24 60,0 11 22,0 88,0

25 62,5 02 4,0 92,0

26 65,0 02 4,0 96,0

28 70,0 01 2,0 98,0

33 82,5 01 2,0 100,0

40 100,0 50 100,0

Categoria % de pontos necessários Freqüência Percentual 1. Grande potencial empreendedor 84 a 100 - -

2. Forte potencial 66 a 83 02 4,0

3. Resultado transitório 46 a 65 39 78,0

4. Potencial duvidoso 25 a 45 09 18,0

5. Falta de potencial 0 a 24 - -

Atividade remunerada Futuro Profissional Perspectiva salarial ANO SIM NÃO Empregado Proprietário Entre 6 e 10

salários Acima de 10 salários

2004 – 1ºp. 3,30% 96,70% 51,70% 40,00% 45,00% 30,00%

2007 – 7ºp. 62,00% 38,00% 58,00% 42,00% 34,00% 32,00%

Quadro 4. Potencial geral do empreendedor

Quadro 5. Classificação dos respondentes

Quadro 6. Perfil do empreendedor

ANO ACIMA DA MÉDIA ABAIXO DA MÉDIA 2004 – 1ºp. 42,80% 57,20%

2007 – 7ºp. 60,00% 40,00%

Quadro 7. Características Gerais

ANO ACIMA DA MÉDIA ABAIXO DA MÉDIA 2004 – 1ºp. 58,30% 41,70%

2007 – 7ºp. 54,00% 46,00%

Quadro 8. Preferência de Atividades.

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Potencial geral do empreendedorO potencial do empreendedor é o resultado dosomatório dos pontos obtidos nas três partes ante-riores, com um total máximo de 40 pontos. NoQuadro 4 apresenta-se o resultado.A amplitude dos pontos obtidos pelos respondentesvariou entre 15 (37,5%) e 33 (82,5%), com média21,7, correspondente a 54,3% dos pontos totais.Pelos dados se percebe, estatisticamente, que háequilíbrio, mas como apresentado, a tendência nãopermite afirmar que seja uma condição satisfatória.Estes resultados (Quadro 5) indicam que 78,0% dosrespondentes apresentam potencial transitório masque a tendência se apresenta como de risco, pois96% apresentam potencial transitório e duvidoso.Segundo Barbosa e Cunha(1), este resultado indicaque o sucesso dependerá de muito esforço e perseve-rança. Esses respondentes necessitam de acompa-nhamento técnico e consultorias para desenvolveremseus próprios negócios.

ANÁLISE COMPARATIVAComparando-se os dados coletados em 2004(2) e em2007, apesar de algumas limitações, serão feitas aná-lises por meio de quadros, com ênfase em algumasvariáveis. Algumas situações referentes aos percen-tuais se apresentam com totalização inferior a 100%em decorrência da estratégia de análise e apresenta-ção utilizada por Daher(2) e que não interessam serdiscutidas neste estudo.A grande diferença no percentual sobre a atividaderemunerada evidencia que ao se aproximar do finaldo curso aumentam as oportunidades de desenvolve-

rem uma atividade remunerada. Em ambos osmomentos esperam sair do curso e entrar no merca-do de trabalho como empregados, fato mais acentua-do nos dados de 2007, da mesma forma, com relaçãoa perspectiva salarial, que começa a ficar mais realis-ta e tendeu a diminuir ao final do curso.Observando tais resultados, pode-se deduzir queempreender ainda não é uma perspectiva muito consi-derada pelo estudante independente do ganho salarial.Em relação às características gerais do empreende-dor, encontrou-se valores maiores ao final do curso.Estes resultados nos permitem inferências e estimu-lam a busca dos fatores que determinaram esta alte-ração, permitindo até deduzir que a formação ofere-cida no curso proporciona a alteração, no entanto, oíndice de 40% é ainda muito alto e, indica a necessi-dade de interferências no processo de formação.Não houve alteração significativa em relação aosresultados mas poder-se–ia esperar que a compreen-são da atividade profissional melhorasse esse quadroe não ocorresse a diminuição, fato que, apesar denão termos indicadores específicos, mereceria estu-dos para sua explicação.Da mesma forma que na analise anterior, não foiexpressiva e alteração, mas pelo conteúdo do tópico,as respostas poderiam ter indicado, desde o inicio docurso perspectivas mais favoráveis e estas até dimi-nuíssem ao final do curso em conseqüência do maiorconhecimento da realidade do mercado de trabalho.Ao se analisar esses dados, podemos afirmar que ape-sar de indicadores aparentemente favoráveis, nãohouve significância nos percentuais encontrados,salvo o destaque de que em 2007 4% dos responden-

Gestão do Desporto

ANO ACIMA DA MÉDIA ABAIXO DA MÉDIA 2004 – 1ºp. 55,00% 45,00%

2007 – 7ºp. 52,00% 48,00%

ANO ACIMA DA MÉDIA ABAIXO DA MÉDIA 2004 – 1ºp. 50,00% 50,00%

2007 – 7ºp. 50,00% 50,00%

CLASSIFICAÇÃO TRANSITÓRIO DUVIDOSO 2004 – 1ºp. 85,00% 15,00%

2007 – 7ºp. 78,00% 18,00%

Quadro 9. Característica de Personalidade.

Quadro 10. Potencial Geral (Classificação)

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tes atingiram o nível de forte potencial empreende-dor, o que representa uma tímida evolução, maspreocupa, pois, como visto a maioria dos alunos(68%), está satisfeita com a formação recebida. Damesma forma, a concentração com tendência negativana classificação do potencial empreendedor, emambos os momentos compromete ainda mais o qua-dro encontrado, indicando que ações efetivas deverãoser implementadas para alterar o perfil empreendedordo profissional do curso de Educação Física da UFV .

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃOConsiderando o perfil gerado por este estudo, umanova questão surge: como o curso de EducaçãoFísica da UFV pode contribuir para o desenvolvi-mento de uma formação empreendedora nos seusalunos? Os resultados obtidos indicam que é neces-sária maior preocupação com a formação desses pro-fissionais, estabelecendo que o processo de ensinopossibilite a identificação das necessidades do mer-cado de trabalho e que o prepare adequadamentepara a inserção no mesmo. Na atual conjuntura, pode-se perceber que a classifi-cação do potencial empreendedor em “resultadotransitório” e “potencial empreendedor duvidoso” seencontrando em 100% em 2004 e em 96% em 2007,evidenciam muito claramente a necessidade inter-venções para alterar esse quadro, pois os dados indi-cam que esses profissionais quando forem adminis-trar seu próprio negócio, necessitarão de orientaçãoem prol do sucesso profissional.Para implementar o empreendedorismo no curso deeducação física ações extracurriculares deveriam sermais enfaticamente desenvolvidas, promovendo aparticipação em organizações que estimulem e per-mitam a atividade empreendedora supervisionada,tais como Empresas Juniores, projetos de extensãouniversitária, organizações estudantis diversas, prin-cipalmente as esportivas, participação em eventosformativos de cunho administrativo, como: cursos,palestras, seminários etc.Portanto, com a caracterização do perfil empreende-dor do aluno ingresso em 2004 no curso deEducação Física da Universidade Federal de Viçosa,identificaram-se lacunas na formação que poderão, apartir destas constatações, promover intervençõescorretivas para o processo de formação.Da mesma forma, pode-se concluir que a média

encontrada entre as duas medidas (81,5% compotencial transitório) não inviabiliza a possibilidadede sucesso do grupo, muito pelo contrário, indica damesma forma grande possibilidade de sucesso, masnos permite sugerir que o estudo possa ser repetidoapós algum tempo para verificar a coerência dosresultados com a atuação desses profissionais nomercado, o que enriqueceria as informações para aspossíveis intervenções no processo de formação.Assim, podemos concluir que os objetivos do estudoforam plenamente atingidos, e que de posse dessesdados, os atuais alunos possam desde agora realizarações que o estimulem a desenvolver o seu potencialempreendedor para ampliar as suas possibilidades desucesso ao final de seu período de formação.

AGRADECIMENTOSO presente trabalho foi apresentado no 1º CongressoInternacional de Gestão do Desporto e 9º CongressoNacional de Gestão do Desporto, Vila Real, Portugal,com financiamento da FAPEMIG

CORRESPONDÊNCIAPaulo Lanes LobatoCaixa Postal 27136570-000 Viçosa – MG – BrasilTelefone: (31) 3899 2061Celular: (31) 8635 7037E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Barbosa TRCG, Cunha NRS (1996). Um Estudo Exploratório

do Perfil do Empreendedor e dos Fatores Influenciadores doDesenvolvimento do Potencial Empreendedor da Microrregião daMata de Viçosa. Relatório de Pesquisa CNPq/UFV. Viçosa:Departamento de Administração - UFV.

2. Daher E (2004). Estudo do potencial empreendedor dos acadêmi-cos no primeiro período do curso de educação física da UFV.Monografia: Departamento de Educação Física - UFV.

3. Dolabela F (1999). Oficina do Empreendedor. São Paulo:Cultura Editores Associados.

4. Dolabela F (1999). O Segredo de Luísa. São Paulo: CulturaEditores Associados.

5. Dornelas JCA (2001). Empreendedorismo: transformando idéiasem negócios. Rio de Janeiro: Campus.

6. Filion LJ (1999). Empreendedorismo: empreendedores eproprietários-gerentes de pequenos negócios. S. Paulo,Revista de Administração FEA/USP, pag.34

7. Freire L (2001). Empreendedorismo: fundamentos concei-tuais. In: Encontro nacional de empreendedorismo, III,Florianópolis/SC, 2001. Anais... Florianópolis: ENE,

8. Pimentel RC, Prates GA (2002). Tempo, Espaço, Tecnologia eo Ser Humano: a vertente para o empreendedorismo. RibeirãoPreto: Novo Saber Editora.

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ANEXO 1

Questionário de Avaliação do Potencial Empreendedor dos Acadêmicos do 7º período do Curso de Educação Física – UFV Prezado respondente, Esta pesquisa está sendo realizada para ser apresentada como monografia de final de curso do Departamento de Educação Física – UFV, tendo como objetivo maior estudar o potencial empreendedor dos acadêmicos do 8º período desse curso. Trata-se, pois de uma pesquisa acadêmica sem nenhum propósito de fiscalização ou controle de suas atividades. O instrumento ora apresentado possui uma parte de caracterização do respondente e um questionário com quarenta questões, divididas em três partes:

I. Características Gerais do Empreendedor. II. Preferências de Atividade. III. Características de Personalidade. Leia atentamente cada uma das questões e siga as instruções contidas em cada uma das três

partes. Obrigado pela colaboração.

PERFIL DO RESPONDENTE

Data: ____/____/____ Sexo: _________ Idade: ______ Estado civil: __________ Exerce atividade remunerada atualmente? __________ Há quanto tempo? __________ Faixa salarial? ( ) Até R$ 240,00 ( ) Entre R$ 240,00 e R$ 480,00 ( ) Acima R$ 480,00 Em que área(s) pretende atuar após formar? ___________________________________ Como pretende atuar? ( ) proprietário ( ) empregado ( ) ____________________ Qual salário espera receber? ( ) Até R$ 960,00 ( ) Entre R$ 960,00 e R$ 1440,00 ( ) Entre R$ 1440,00 e R$ 2400,00 ( ) Acima de R$ 2400,00 Você acha que o curso lhe ofereceu uma boa formação? ________ I. Características Gerais do Empreendedor Leia atentamente as questões e assinale com um “X” a resposta que mais se enquadra às suas características: 1. Face a um problema, você está mais inclinado a: a) Procurar um amigo próximo para buscar ajuda. b) Obter ajuda de um desconhecido renomado como sendo “expert”. c) Tentar trabalhar sozinho o problema. 2. Dentre as alternativas abaixo, qual a que melhor descreveria o seu principal motivo para se dedicar a uma atividade esportiva: a) Despender energia e se manter em boa condição física. b) Obter satisfação de derrotar outros competidores nesta atividade. c) Tentar bater seu próprio recorde. 3. Você geralmente é motivado pela necessidade: a) De satisfazer um objetivo pessoal de grande importância. b) Obter a atenção e o reconhecimento públicos. c) Controlar riquezas e pessoas. 4. Você acredita que o sucesso ou o fracasso de uma nova empresa depende em primeiro lugar: a) Da sorte ou destino. b) Do suporte e da aprovação dos outros. c) De suas próprias forças e habilidades. 5

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Idade: ______ Estado civil: __________ E

( ) Entre R$ 960,00 e R$ 1440,00

p p 5. Tendo a possibilidade de ganhar uma recompensa substancial, qual das ações seguintes você perseguiria: a) Lançar um dado com 33% de chance de ganhar.

b) Trabalhar um problema com 33% de chance de resolve-lo, dentro do prazo previsto. c) Não fazer nem “a” nem “b”, porque suas chances de sucesso são muito pequenas.

6. Você está mais inclinado a escolher uma tarefa: a) Que implique um nível de risco moderado, mas os resultados, apesar de bons, são demorados. b) Onde os riscos são elevados, mas que as recompensas financeiras são importantes.

c) Que é relativamente fácil e onde os riscos e os resultados são poucos. 7. Os lucros são importantes para você, porque:

a) Trazem dinheiro, que lhe permite desenvolver outras idéias e tomar dianteira em outras ocasiões.

b) Constituem uma forma objetiva de medir o seu sucesso.

II. Preferências de Atividades

Para cada par, indicar com um “X” qual o tipo de atividade que você prefere: Coluna A Coluna B 9. Uma atividade que oferece pouco ou

nenhum desafio. Uma atividade que exige que você fique completamente isolado de outros colegas.

10. Uma atividade para o qual a remuneração é muito boa.

Uma atividade que tem muitas possibilidades de ser criativo e inovador.

11. Uma atividade em que você deve freqüentemente tomar decisões importantes.

Uma atividade onde haja muita gente satisfeita com o que faz.

12. Uma atividade que ofereça pouca segurança em uma organização mais instável.

Uma atividade na qual você tenha pouca ou nenhuma possibilidade de participar nas decisões que lhe afete.

13. Uma atividade na qual as maiores responsabilidades são atribuídas àqueles que efetuam as tarefas de melhor maneira.

Uma atividade na qual as grandes responsabilidades são atribuídas aos empregados leais e que têm mais tempo de casa.

14. Uma atividade onde o chefe imediato é às vezes crítico e severo.

Uma atividade que não exige muita capacidade.

15. Uma atividade muito rotineira. Uma atividade onde seus colegas não são amigos.

16. Uma atividade onde o chefe imediato lhe respeita e lhe trata justamente.

Uma atividade que lhe permita participar regularmente de novas coisas interessantes.

17. Uma atividade onde você tenha todas as chances de se desenvolver pessoalmente.

Uma atividade com excelentes benefícios extras e um bom período de férias.

1

2

2

2

2

2

2

2

2

2

3

c) Permitem acumular riqueza pessoal. 8. Qual dos enunciados seguintes você valoriza mais no seu trabalho? a) A importância dada à competência e à eficácia. b) A liberdade de controlar a utilização de seu tempo. c) A oportunidade de criar e efetuar coisas novas.

Coluna B 9 Uma atividade que oferece pouco ou

n

Uma atividade para o qual a r

Uma atividade em que você deve f

Uma atividade que ofereça pouca s

Uma atividade na qual as maiores r

Uma atividade onde o chefe imediato é à

Uma atividade muito rotineira. Uma atividade onde seus colegas não são a

Uma atividade onde o chefe imediato lhe r

Uma atividade onde você tenha todas as c

1

2

2

2

2

2

2

2

2

2

3

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Gestão do Desporto

III. Características de Personalidade Alguns dos enunciados seguintes descrevem uma situação que você pode considerar mais ou menos representativa de sua própria maneira de pensar e de agir. Leia atentamente os enunciados e marque com um “X” a resposta que melhor represente a sua situação: Considerando a minha maneira de pensa r e agir, eu diria que... Concordo

A

Discordo

B

18. Eu sou geralmente otimista.

19. Eu gosto de fazer as coisas melhor que os outros.

20. Quando eu resolvo um problema, eu tento chegar à melhor solução que se apresenta

no momento, sem mais me preocupar com outras informações e possibilidades.

21. Eu gosto de bater um “papo” com os colegas de trabalho depois do expediente.

22. Eu prefiro estabelecer meus próprios objetivos e me empenhar para realiza-los.

23. Eu me aproximo e me relaciono facilmente com os outros.

24. Eu gosto de conhecer bem o que se passa e tomo as providências para sabê-lo.

25. Eu trabalho melhor quando alguém me orienta e me aconselha.

26. Quando tenho razão, eu posso convencer os outros.

27. Eu sempre acho que as pessoas me fazem perder tempo precioso.

28. Eu gosto bem de assistir futebol ou corrida de fórmula 1.

29. Eu tenho tendência a falar facilmente e abertamente de mim mesmo com os outros.

30. Eu acho que não me acrescenta nada seguir as ordens e diretrizes daqueles que

possuem autoridade legítima no assunto.

31. Eu gosto mais de elaborar os planos do que colocá-los em prática.

32. Não existe prazer em apostar (arriscar) quando os resultados são facilmente

previsíveis.

33. Face a um grande obstáculo, eu prefiro mudar rapidamente de atividade do que

perseverar na mesma situação.

34. Eu penso que para sair bem nos negócios, é preciso reservar tempo suficiente para a

família.

35. Sempre que ganho alguma coisa, eu considero importante guardá-la em segurança.

36. Ganhar muito dinheiro é uma questão de sorte, na maioria das vezes.

37. Desde que se considerem várias alternativas, encontra-se freqüentemente a solução

mais eficaz para os problemas.

38. Eu gosto de impressionar os outros com meus feitos.

39. Eu prefiro praticar esportes com alguém que seja ligeiramente mais forte do que eu.

40. Eu gostaria que meus melhores amigos trabalhassem para mim na minha empresa.

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3

3

3

3

4

ANEXO 2 Pontuação do Questionário

Parte I – Características Gerais do Empreendedor Questão Códigos e Valores

1 A 0 B 0 C 1 2 A 0 B 0 C 1 3 A 1 B 0 C 0 4 A 0 B 0 C 1 5 A 0 B 1 C 0 6 A 1 B 0 C 0 7 A 1 B 1 C 0 8 A 0 B 0 C 1

Parte II – Preferências de Atividades

Questão Códigos e Valores 9 A 0 B 1

10 A 0 B 1 11 A 1 B 0 12 A 1 B 0 13 A 1 B 0 14 A 1 B 0 15 A 0 B 1 16 A 0 B 1 17 A 1 B 0

Parte III – Características de Personalidade

Questão Códigos e Valores Questão Códigos e Valores

18 A 1 B 0 30 A 0 B 1

19 A 1 B 0 31 A 0 B 1

20 A 0 B 1 32 A 1 B 0

21 A 0 B 1 33 A 1 B 0

22 A 1 B 0 34 A 0 B 1

23 A 0 B 1 35 A 0 B 1

24 A 1 B 0 36 A 0 B 1

25 A 0 B 1 37 A 1 B 0

26 A 1 B 0 38 A 1 B 0

27 A 1 B 0 39 A 1 B 0

28 A 0 B 1 40 A 0 B 1

29 A 0 B 1

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Caracterização das funções do coordenador técnico em basquetebol: estudo realizado com os clubes da associação de basquetebol de Aveiro

Nuno LeiteVictor Maçãs Jaime SampaioMarina Carvalho

Departamento de Ciências do Desporto, Exercício e SaúdeUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroPortugal

RESUMO No Basquetebol actual, o coordenador técnico tem uma impor-tância estratégica na planificação, ao estabelecer objectivos edecidindo como os concretizar, o que implica sistematização eantecipação do futuro em todo o processo. A sua actividade noplaneamento estratégico, enquanto planeamento estruturante,é fulcral, na competitividade e desenvolvimento sustentável doclube, pois, permite definir a direcção das organizações em sen-tido mais lato e no longo prazo, estabelecendo objectivosabrangentes e posicionando a organização no ambiente em queopera. Assim, o objectivo principal deste estudo foi caracterizara actividade desenvolvida pelos coordenadores técnicos nos clu-bes de Basquetebol pertencentes à Associação de Basquetebolde Aveiro, numa visão dinâmica e prospectiva da sua interven-ção enquanto gestor profissional, ficando-se a conhecer o seupapel no processo de recrutamento e formação de treinadores ejogadores, e a forma de cooperação entre estes e o DirectorTécnico Regional. Para responder aos problemas e objectivos doestudo, concebemos um modelo de análise que incidiu sobreuma amostra de vinte e um clubes de Basquetebol, relativa avinte e um coordenadores técnicos. A recolha dos dados foirealizada através da análise documental e de um questionárioaplicado em entrevista (n=21). O tratamento foi possível atra-vés do registo e codificação dos dados para o software SPSS ecom base na análise estatística descritiva e de conteúdo.Os resultados desta investigação permitiram-nos constatar umagrande heterogeneidade nos clubes, podendo até existir maisdo que um coordenador técnico, existindo até mesmo algunscasos, quem não apresente este elemento por apenas possuí-rem uma equipa. Os coordenadores técnicos são maioritaria-mente do sexo masculino e bastante jovens, possuindo simulta-neamente um elevado grau de formação académico e específicoem basquetebol. Apesar dos coordenadores técnicos estaremligados à modalidade há muitos anos, só recentemente passa-ram a exercer essa função específica, onde encontramos umconjunto algo homogéneo de tarefas, variáveis de acordo comas crenças e filosofia dos clubes. Por último, o Director TécnicoRegional estabelece com estes contactos informais, não existin-do uma cooperação efectiva.

Palavras-chave: perfis profissionais, coordenador técnico, bas-quetebol

ABSTRACTCharacterization of the roles of a basketball technical coordina-tor: study in the basketball association clubs of Aveiro

In Basketball, the technical coordinator has a strategic importance inplanning, by establishing goals and deciding how to make them real,which involves systematization and anticipation of the future in thewhole process. His activity works like a fulcrum, in the competitivenessand sustainable development of the club, allowing organizations todefine the long term development philosophy, establishing several goalsand positioning the organization in the environment in which it oper-ates. So, the main goal of this study was to characterize the activitydeveloped by the technical coordinators in the clubs of AveiroBasketball Association, in a dynamic and prospective vision of hisintervention while professional manager. The data gathering was car-ried out through the documentary analysis and a questionnaire appliedin interview (n=21). In order to accomplish the register and codifica-tion of the data (statistical descriptive analysis and of content) we usedsoftware SPSS. The result of this investigation allowed us to note a great heterogeneityin the clubs, being able up to exist more than a technical coordinator,there are even some cases, which do not present this element becausethey only have a team. The technical coordinators are mainly males andyoung, having simultaneously a high and specific degree in basketball.About they’re connection to basketball, only recently they started topractise this specific function, where we find a homogeneous set oftasks, which may vary according to the beliefs and philosophy of theclubs.

Key-words: professional profile, technical coordinator, basketball

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INTRODUÇÃOO Basquetebol é actualmente uma modalidade prati-cada em todo o mundo e a que as associações dãouma especial atenção, promovendo-o e gerindo-orecorrendo a técnicos cada vez mais especializados.O papel do coordenador técnico tem sido objecto deuma insuficiente reflexão, o que em nosso entendercomporta alguns factores negativos, já que este éessencial no plano do desenvolvimento do Desporto. Nas organizações de Basquetebol profissional e nãoprofissional em Portugal, os coordenadores técnicosenquanto gestores desportivos têm necessidade deformação e requalificação especializada.Não podemos ignorar o quadro, por vezes difícil ecomplexo, em que muitos coordenadores técnicosexercem na grande maioria dos casos benevolamen-te, a sua acção. Por estas razões, a realização destetrabalho, surge como contributo ao entendimento dafunção do coordenador técnico, e decorrente desta, anecessidade da respectiva formação.

ObjectivosO modelo de análise teve por base os seguintesobjectivos: i) caracterizar os recursos humanos/coor-denador(es) técnico(s) nos clubes da Associação deBasquetebol do distrito de Aveiro (ABA); ii) descre-ver e comparar os dados biográficos, nomeadamenteos referentes à formação e experiência profissionaldos coordenadores técnicos nos clubes da ABA; iii)descrever e comparar a natureza e duração das acti-vidades de gestão desenvolvidas pelos coordenadorestécnicos em cargos de direcção e de treino, nos clu-bes da ABA; iv) caracterizar as funções desenvolvi-das pelos coordenadores técnicos nos clubes daABA; e, por último, v) conhecer de que forma oDirector Técnico Regional (DTR) coopera com oscoordenadores técnicos dos clubes da ABA.

MATERIAL E MÉTODOSParticipantesA população deste estudo é constituída por todos oscoordenadores técnicos das vinte e uma [21] secçõesde Basquetebol dos clubes pertencentes à Associaçãode Basquetebol de Aveiro.

InstrumentosO instrumento utilizado para o estudo foi um ques-tionário, necessário para analisar a existência de

coordenadores técnicos de Basquetebol nos clubes,conhecer os seus dados biográficos, nomeadamentenível de formação e experiência profissional, a natu-reza e duração das actividades desenvolvidas porestes, as funções da sua responsabilidade dentro dasecção de Basquetebol, e ainda, conhecer de queforma os DTR cooperam com os clubes.O questionário apresenta-se dividido em seis partesdistintas: (i) identificação do coordenador técnico; (ii)nível de formação e experiência profissional; (iii) fun-ções; (iv) processo de recrutamento e formação detreinadores; (v) processo de captação, selecção e for-mação de jogadores; (vi) interacção com o exterior.

ProcedimentosAo longo do estudo os procedimentos metodológicosforam desenvolvidos em várias etapas, aqui descritasde uma forma genérica: Etapa I - O conhecimento empírico e a análise docu-mental permitiu-nos concluir que das 21 associaçõesde Basquetebol existentes a nível nacional, a ABAapresenta um peso relevante na panorâmica doBasquetebol nacional, contendo, uma grande maioriados clubes, equipas nas competições nacionais, anível masculino e feminino. Pelo que, pensámos cen-trar o nosso estudo nas funções do coordenador téc-nico, inquirindo desta forma todos os clubes destaassociação.Etapa II - A partir da revisão da literatura, procede-mos à construção do questionário, que foi analisado,reformulado e validado por especialistas, para poste-riormente se proceder à sua aplicação para recolhade dados. Etapa III - Efectuado um levantamento dos clubes ins-critos na ABA na presente época desportiva2006/2007, no decurso do mês de Maio de 2007 pro-cedeu-se à recolha de dados através do questionário.Na presença do inquiridor os coordenadores técnicosresponderam ao questionário e sempre que surgiaalguma dúvida, esta era devidamente esclarecida.

Tratamento estatísticoEtapa IV - Depois de recolhida a informação procedeu-se ao seu registo e codificação, sendo todos os cálcu-los estatísticos necessários realizados no SPSS 14.0.De uma forma genérica, foi utilizada a análise estatís-tica descritiva, através da distribuição de frequências e

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percentagens. A partir daí recorreu-se a representa-ções gráficas que traduzem a distribuição dos valoresdas variáveis. A pesquisa documental completou osdados obtidos através dos questionários.

RESULTADOS E DISCUSSÃOA discussão dos resultados foi orientada de acordocom os cinco objectivos formulados e feita tendo porbase a apresentação detalhada e exaustiva dos resul-tados do estudo, procedendo à discussão dos ele-mentos mais significativos, apresentando algumasreflexões pessoais alicerçadas na opinião de diferen-tes autores. 1) Os 21 clubes inquiridos representam 100% dapopulação estudada e apenas dois (8,7%) não apre-sentam coordenador técnico referindo como motivo,o apresentarem apenas uma equipa na secção, nãoconsiderando necessária a função do coordenadortécnico. Dos clubes que possuem este elemento, éimportante referir, que alguns apresentam mais doque um, cabendo a cada um deles a responsabilidadede um grupo de equipas ou escalões, de acordo comos objectivos globais traçados no plano estratégicodo clube. Nos clubes da ABA existem assimetriasconsideráveis quanto à existência de coordenadorestécnicos, o que não se pode explicar, apenas pelanatureza desportiva, na medida em que esta estádependente da inter-relação de factores sociais, cul-turais, económicos e políticos traçados pelos clubes,geralmente a longo prazo, pois alguns são muitomenos ambiciosos, o que logo à partida condicionaos resultados que possam vir a alcançar. O papel docoordenador técnico como motor dinamizador daspolíticas a implementar, começa actualmente a serreconhecido pelas associações como fulcral para atin-gir metas e objectivos traçados. 2) Verificou-se que 90,5% dos coordenadores técni-cos são do género masculino, situando-se a maioriana faixa etária compreendida entre os 21-30 e os 31-40 anos de idade, existindo apenas um coordenadorcom mais de 50 anos. Estes resultados eram previsí-veis pois a “gestão estratégica” nos clubes desporti-vos é uma prática recente, e a coordenação técnicapassou simultaneamente a ser considerada importan-te pelos clubes, sendo actualmente uma função comexigência técnica e que exige uma formação académi-ca e específica considerável. Os coordenadores técni-

cos mais jovens têm na generalidade um grau de for-mação mais elevado, o que não é díspar do que severifica a nível da população portuguesa, sendo-o noentanto em relação à maioria dos técnicos e directo-res desportivos que têm um grau de formação relati-vamente baixo. Dos inquiridos 66,6% têm cursosuperior e 19% destes possuem cursos de pós-gra-duação. Verifica-se ainda que estes cursos são em92,86% dos casos em áreas ligadas ao desporto eapenas um na área de gestão, o que é demonstrativoda exigência técnica desta função, sendo ainda evi-denciado, pelo facto, de os inquiridos possuírem em95,2% dos casos um nível de formação emBasquetebol, sendo a maioria (55,0%) de nível III.3) A maioria dos coordenadores técnicos estão liga-dos à modalidade de Basquetebol há mais de 11anos, tendo 90,5% dos mesmos sido praticantes.Podemos no entanto constatar que destes, a maioriasó exerce a função de coordenador técnico há menosde 3 anos, possivelmente por ser um papel a que sóna actualidade se começou a dar a relevância queesta tarefa tem realmente, na gestão global e na pla-nificação estratégica dos clubes.4) A generalidade dos coordenadores técnicos fazemtrabalho de coordenação entre diversos escalões,com responsabilidade na coordenação de aproxima-damente 6 equipas, sendo importante mencionarque 71,43% destes referem ser autónomos em rela-ção à sua actuação enquanto coordenadores técnicos,os restantes 28,57% dizem ser coadjuvados nessafunção pelos dirigentes do clube. Na vida colectivadas secções, o sucesso e a eficácia exigem que quemdirige tenha capacidade de liderança e que seja autó-nomo nas suas decisões, devendo também ter cola-boradores autónomos e responsáveis, capazes de seauto- disciplinarem, motivarem e prepararem. Deacordo com Brito(2) para o caso concreto do ClubeDesportivo da Póvoa e com Moutinho(8) para oAnadia Futebol Clube, os dados recolhidos vieramdemonstrar que são da responsabilidade da generali-dade dos coordenadores técnicos de Aveiro asseguintes funções, expostas ordenadamente pelograu de importância atribuído: a) definir os objecti-vos gerais e as metas a atingir em cada escalão; b)definir os conteúdos técnicos a serem abordados emcada escalão; c) coordenar, supervisionar e avaliar otrabalho desenvolvido na formação; d) especificar e

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coordenar actividades da formação; e) definir metasdesportivas a alcançar; f) definir o modelo de jogopara as equipas de formação; g) definir um perfil detreinador para cada escalão; h) definir a política des-portiva da secção de Basquetebol; i) analisar e geriros recursos humanos da secção; j) analisar e gerir osrecursos materiais da secção; k) definir o modelo detreino para as equipas de formação. Para além destasfunções, também é da responsabilidade de 93,8%dos coordenadores técnicos a elaboração do docu-mento orientador do trabalho a realizar na secção.É importante que para além da planificação estraté-gica a longo prazo, existam planos a curto prazo edocumentos orientadores específicos do trabalho arealizar pelas diferentes equipas e escalões do clube,que permitam cumprir os objectivos globais traça-dos. Esta relação, está de acordo com a definição deplaneamento estratégico proposta por Sampedro(11),quando refere que o planeamento estratégico é umplaneamento estruturante, que define a direcção dasorganizações em sentido mais lato, e no longo prazoestabelece objectivos abrangentes e posiciona a orga-nização no ambiente em que opera. Em 85,7% das secções de Basquetebol dos clubes daABA, é da responsabilidade dos coordenadores técni-cos a preparação e organização das reuniões, geral-mente mensais, de coordenação técnica, em que seencontram presentes todos os treinadores, e porvezes, elementos da direcção, o que nos leva a con-cluir que existe uma preocupação em acompanhar asequipas da secção e transmitir-lhes o caminho aseguir, de acordo com os objectivos gerais e específi-cos traçados. A maioria dos coordenadores técnicos(81%), são ainda responsáveis pelo processo derecrutamento e formação dos treinadores nas suasescolas de Basquetebol, devido à importância estra-tégica atribuída pelo clube ao desenvolvimento dopatrimónio humano, para assim, conseguir obter umgrupo de treinadores e técnicos emersos na ideologiadesportiva do clube, que sintam realmente as cores eque saibam que podem contar com a confiança dosdirigentes do clube. Desta forma, o clube terá dadoum grande passo para criar uma estrutura técnicasólida. Neste processo de recrutamento de treinado-res, o parâmetro considerado mais relevante peloscoordenadores técnicos é o nível de formação dotreinador, o que era de esperar, pois estamos num

universo de técnicos, com elevado nível de formaçãona modalidade, e que muitas vezes, são simultanea-mente eles os próprios treinadores de alguns esca-lões. Para além, do nível de formação, são tambémparâmetros considerados importantes no recruta-mento de treinadores, os seguintes: a) experiênciaem escalões de formação; b) perfil e filosofia do trei-nador; c) anos de experiência; d) perfil técnico.É ainda preocupação dos coordenadores técnicos aformação contínua dos seus treinadores, contribuin-do através, da divulgação da existência de acções ecursos de formação, havendo mesmo 50% das sec-ções que organizam essas acções e 25% que as finan-ciam, o que é demonstrativo do interesse em existi-rem técnicos permanentemente actualizados e efi-cientes. Segundo Araújo(1) a actividade “coaching”de qualquer coordenador técnico pressupõe informa-ção e formação contínua, ensinar o esperado e geriro inesperado, contidos no funcionamento de qual-quer equipa de trabalho, tendo de ser realizado porquem seja capaz de, mais do que invocar o seu esta-tuto de autoridade, provocar nos componentes daequipa que lidera o reconhecimento dessa autorida-de, de forma a que se consigam criar ambientes detrabalho onde, a competência seja reconhecida eincentivada.Em 73,7% das secções de Basquetebol dos clubes daABA, cabe ao coordenador técnico o processo decaptação e formação de jogadores, desempenhandoesta função individual ou conjuntamente com ostreinadores e os dirigentes. De acordo comFerreira(6), também os clubes do distrito de Aveirotêm vindo a investir fortemente na formação, embo-ra algumas decisões só no longo prazo apresentamresultados positivos, o que pode ser exemplificadocom o que nos diz Comas(4), que apresenta comouma das soluções para obter bons resultados a longoprazo, assumida actualmente por alguns clubes quese centram no desenvolvimento de programas de for-mação de jogadores na forma de escolas desportivas,conseguindo promover dentro dos clubes jogadoresde qualidade, o que implica uma menor necessidadede fixar jogadores externos ao clube, conseguindodesta forma uma poupança em dinheiro e esforços.Também, desta forma, nos clubes da ABA têm vindoa dedicar-se à Preparação Desportiva a Longo Prazo,procurando desenvolver bases que permitam aos

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jogadores alcançar os objectivos finais(6). A incorpo-ração nas equipas dos jogadores melhor dotados(3, 9),deve seguir um processo desenvolvido em três gran-des fases: (i) detecção; (ii) selecção; e (iii) desenvol-vimento dos talentos.A segunda fase do processo acima descrito – selecçãode jogadores, na opinião dos coordenadores técnicosdos clubes da ABA, apenas deve existir a partir doescalão de juniores ou até mesmo só no escalão deseniores. Desta forma, a maioria referiu que quandotinha muitos jogadores num dado escalão, construíaequipa(s) “A” e “B”, de forma a que todos os joga-dores do clube competissem. Neste caso, consideramque a idade é o factor preponderante na decisão daida de um jogador para a equipa “A” ou “B” de umdeterminado escalão. Os que coordenam para alémde outros escalões, o escalão de juniores e/ou senio-res, os aspectos fundamentais na selecção de jogado-res são, ordenadamente pelo grau de importância, osseguintes: 1) Constituição física do jogador; 2)Fundamentos individuais ofensivos; 3) Fundamentosindividuais defensivos; 4) Fundamentos tácticosofensivos; 5) Fundamentos tácticos defensivos; 6)Anos de experiência como jogador; 7) Resultadosobtidos noutros clubes; 8) Perfil do jogador; 9)Capacidades volitivas; 10) Idade.As funções de coordenação técnica nas secções dosclubes, não são exercidas por profissionais em exclu-sividade, como seria desejável, mas sim cumulativa-mente com outras actividades profissionais, já que57,2% são professores e 14,3% são técnicos ou ges-tores desportivos. A quase totalidade dos coordena-dores técnicos ainda exerce no clube pelo menosmais uma actividade para além da coordenação técni-ca, sendo que, a maioria são simultaneamente trei-nadores de pelo menos um escalão. Cada vez mais seconstata que a coordenação técnica deve ser umpapel desenvolvido em exclusividade e assumidocomo profissão, para evitar uma sobrecarga psicoló-gica e física que actualmente é imposta aos técnicosque têm de exercer além da sua profissão todo umconjunto de funções dentro do clube, muitas vezescom carácter de voluntariado, o que não é compatí-vel com o profissionalismo que a função de coorde-nador técnico exige. 5) Ao nível da coordenação da secção os coordena-dores técnicos estabelecem diversos contactos com o

exterior, um destes é estabelecido em 81% dos casoscom a ABA, particularmente, com o DTR (66,7%).Estes contactos são geralmente informais, e as pou-cas reuniões efectuadas são geralmente esporádicas,existindo ainda, algumas reuniões periódicas ealguns ofícios circulares que são enviados pelo DTR.Esta situação é preocupante face ao estatuto e àsfunções que este apresenta, ou deveria apresentar anível do desenvolvimento do Basquetebol da regiãode Aveiro, pois o DTR é um técnico a quem se reco-nhece autoridade no domínio técnico-pedagógico damodalidade, cujas referências se associam à compe-tência, conhecimento e prestígio na área, que deveriacoordenar as actividades e solucionar problemas defundo da modalidade, particularmente aqueles quese relacionam com o desenvolvimento desportivo, eainda, apoiar as iniciativas que se inserem nos pla-nos de desenvolvimento da modalidade(5, 7, 10). Nolongo prazo a cooperação entre estas entidades e osclubes, particularmente com o coordenador técnico,deve ser mais efectiva para que a modalidade sedesenvolva a nível nacional.

CONCLUSÕESNos clubes há heterogeneidade em termos da exis-tência de coordenadores técnicos, de acordo com osobjectivos globais traçados no plano estratégico, sena maioria existe um que coordena todos os esca-lões, há outros que apresentam mais do que umcoordenador técnico, sendo cada um deles responsá-vel por um grupo de equipas ou escalões, e algunsclubes não apresentam este elemento por apenaspossuírem uma equipa. Os coordenadores técnicos são maioritariamente dogénero masculino e situam-se na faixa etária dos 21aos 40 anos de idade, possuindo um elevado grau deformação académico em áreas ligadas ao desporto equase todos apresentam um nível de formação emBasquetebol, maioritariamente nível III.A maioria dos coordenadores técnicos estão ligadosà modalidade de Basquetebol há mais de 11 anos,tendo sido praticantes da modalidade, mas só exer-cem a função de coordenador técnico há menos de 3anos.De acordo com as crenças e filosofia dos clubes, sãoda responsabilidade da generalidade dos coordena-dores técnicos de Aveiro um conjunto alargado de

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funções das quais se destacam a definição dos objec-tivos gerais e as metas a atingir em cada escalão, adefinição dos conteúdos técnicos a serem abordadosem cada escalão ou a coordenação, supervisão e ava-liação do trabalho desenvolvido na formação. Face aorol de funções apresentadas, constata-se que a coor-denação técnica deveria ser exercida de uma formaprofissional e em exclusividade, para que os clubespossam vir a atingir as metas a que se propõem.Finalmente, ao nível da coordenação externa das sec-ções de Basquetebol dos clubes, a maioria dos coor-denadores técnicos apenas estabelece contactosinformais com o DTR e as poucas reuniões realiza-das entre estes são geralmente esporádicas, não exis-tindo cooperação efectiva.

CORRESPONDÊNCIANuno LeiteUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroDepartamento de DesportoQuinta de PradosApartado 10135000-911 Vila RealE-mail: [email protected]

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Caracterização do perfil retrospectivo do dirigente esportivo declube de futebol profissional da primeira divisão, entre os anos2003 e 2007

Paulo Henrique AzevêdoRubens Eduardo Nascimento Spessoto

Faculdade de Educação FísicaUniversidade de Brasília (UnB)Brasil

RESUMOO propósito desta investigação foi o de analisar a evolução doperfil sócio-econômico e cultural retrospectivo dos gestores dasorganizações esportivas profissionais que atuaram na primeiradivisão de futebol do Distrito Federal, Brasil, durante as edi-ções do Campeonato Brasiliense, entre os anos de 2003 e 2007.Como perfil foram entendidas as características gerais, aspectose caráter delimitados neste trabalho. Foi uma pesquisa do tipodescritiva e retrospectiva, que utilizou como instrumentos deinvestigação o questionário e a análise documental de dados,onde foram estudados os 19 dirigentes máximos que adminis-traram os seus clubes nestas competições, quanto às seguintesvariáveis: gênero, faixa etária, nível de escolaridade, estadocivil, ocupação principal, renda mensal pessoal e cargo ocupadono clube esportivo. Os resultados apontaram que esses gestoressão indivíduos do gênero masculino, casados, na faixa etária de46 a 55 anos, que têm ocupação principal de funcionário públi-co, com curso superior incompleto ou completo, renda mensalentre US$ 1422,64 a mais de US$ 1778,31, ocupantes do cargode presidente de seus respectivos clubes esportivos.

Palavras-chave: esporte, gestão do esporte, futebol, dirigentesesportivos

ABSTRACTRetrospective characterization of the profile of football pro-league sport managers, between the years 2003 and 2007

The purpose of this investigation was to examine the evolution of thesocial, economical and cultural profiles of the managers of the profes-sional sports organizations that participated in the first division soccerleague of the Federal District, Brazil, during the championship’s edi-tions between 2003 and 2007. As for profile were considered generalcharacteristics, aspects and character as defined in this study. It was andescriptive and backwards research, that used a questionnaire and doc-umentary analysis as instruments of survey, in which the 19 leaderswho managed their clubs in these competitions were studied, concerningthe following variables: gender, age group, level of schooling, maritalstatus, main occupancy, monthly personal income and occupation in thesports club. The results showed that this managers are male, married,with complete or incomplete university education, have monthly incomebetween US$1422.64 to above US$1778.31, all of them being presi-dents of their respective sports clubs.

Key-words: sports, sports management, soccer, sports managers

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INTRODUÇÃOO profissionalismo no futebol evolui substancial-mente nas relações de trabalho entre profissionais-atletas e os clubes esportivos, mas será que omesmo acontece na administração dos clubes quemantêm atividade esportiva profissional em seusquadros? À frente da gestão de clubes de futebol,indivíduos possuem responsabilidade que vão alémda mero cumprimento burocrático empresarial.Muito se questiona sobre quem são esses gestoresdo esporte e quais as suas características gerais.O Campeonato Brasiliense de Futebol, realizado noDistrito Federal, é um dos vinte e sete campeonatos,onde as equipes disputam o título estadual (no caso,Distrital) e vagas para a participação na Copa doBrasil, segunda mais importante competição do fute-bol brasileiro. Os clubes de futebol do DistritoFederal são constituídos, em grande parte, por ex-jogadores de equipes das mais diversas regiões dopaís e não é muito representativa a presença de atle-tas formados nas categorias de base dessas equipes.A despeito do pouco tempo de vida da CapitalFederal, o seu futebol profissional já começa a terboa representatividade nos cenários regional e nacio-nal, sendo que os melhores resultados começaram aaparecer ao final dos anos 1990. O BrasilienseFutebol Clube Taguatinga chegou em 2002 à final daCopa do Brasil; subiu para primeira divisão doCampeonato Brasileiro em 2004, mas caiu em 2005para a segunda divisão, onde permanece até hoje. ASociedade Esportiva do Gama já participou da pri-meira divisão do Campeonato Brasileiro (mais recen-temente no quadriênio 1999-2000-2001-2002); foirebaixada consecutivamente (em 2002 e 2003), che-gando à terceira divisão, onde permaneceu por umatemporada, tendo retornado para a segunda divisão,onde também se encontra atualmente.O futebol do Distrito Federal não possui como carac-terística um modelo de gestão competitivo; tambémnão se verifica a existência de incentivos financeirossignificativos e, por isso, as estruturas físicas e osrecursos humanos existentes não são aqueles consi-derados adequados ao sucesso esportivo das equipes.Os melhores resultados esportivos obtidos nos últi-mos anos contrastam com os problemas de ordemorganizacional, de ausência ou atraso de pagamen-tos, denúncias de sonegação de impostos e utilização

de recursos provenientes de fontes duvidosas.Nesse sentido, torna-se imprescindível o papel dogestor esportivo, como elemento fundamental paraque os clubes adquiram as condições essenciais parao sucesso financeiro e esportivo. Bastos(1) conclui“ser necessário um direcionamento temático, umadiversificação e um incremento geral nos estudos,pesquisas, publicações, intercâmbios entre o meioacadêmico e os profissionais que atuam na área daAdministração Esportiva”. Para Drucker(2), a administração é independente dapropriedade, de títulos e de poder. Ela é uma funçãoobjetiva e deve ser fundamental na responsabilidadepelo desempenho; é profissional – a administração éuma função, uma disciplina, uma tarefa a ser execu-tada; e os administradores são os profissionais queexercitam esta disciplina, desempenham suas funçõese executam as tarefas. Já não é mais relevante se oadministrador é também o proprietário; a proprieda-de é acidental ao trabalho principal: administrar.Segundo Motta e Bresser-Pereira(3), nas organizaçõesburocráticas é necessário haver o administrador pro-fissional, pessoa esta que é altamente qualificada,um especialista. Quando se for escolher o adminis-trador da organização, deve-se levar em consideraçãoas competências do profissional e não as relaçõeshereditárias. Coloca ainda que o administrador pro-fissional tem seu cargo como atividade principal, enão faz dela meramente um “bico” ou “passatempo”, como ocorre diversas vezes com os dirigen-tes dos clubes esportivos, segundo o descrito abaixo:“...Ele não é administrador por acidente, subsidiaria-mente, como o eram os nobres dentro da adminis-tração palaciana, ou como ainda o são os conselhei-ros e mesmo os diretores de um clube esportivo”(3).O administrador esportivo, para realizar um bomtrabalho, precisa ter desenvolvido algumas caracte-rísticas, competências e acima de tudo conhecimen-to. Em estudo realizado, Correa(4), apresenta algu-mas competências julgadas importantes, que deve-riam ser trabalhadas internamente com os dirigentesdos clubes de futebol. Encabeçam a lista: conheci-mentos gerais, conhecimentos específicos doambiente profissional e conhecimentos procedimen-tais, além de outras competências. Segundo o autor,grande parte dos clubes de futebol estão em estágioinicial no processo de construção dessas qualidades

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tão importantes para exercer uma boa gestão.Para Pires e Lopes(5), a questão a ser colocada ésobre qual a formação básica necessária para a atua-ção no mundo do desporto, especificamente na áreada gestão. Para estes pesquisadores, é indispensáveluma formação inicial em gestão do desporto, pois acapacitação tradicional já não atende às exigênciassociais. De maneira conclusiva, afirmam que “asactuais gerações de dirigentes hão-de ser responsabi-lizadas por não terem sido capazes de promover ummodelo sustentado de desenvolvimento do desportoque não comprometesse as práticas desportivas dasgerações futuras”.A gestão realizada pelos dirigentes tradicionais declubes e federações de futebol tem sido indicadacomo a causa maior do não aproveitamento pleno dopotencial econômico do futebol brasileiro, princi-palmente nos denominados agentes diretos – clu-bes e federações; somada aos problemas estrutu-rais da economia e das diferenças de renda percapita entre o Brasil e os principais países queinvestem no futebol como atividade econômica(6). Zouain e Pimenta(7), sugerem como perfil profissio-nal genérico do gestor esportivo, um profissionalque tenha habilidades com enfoque nas áreas deadministração (técnicas gerenciais, conhecimentofiscal, programação de eventos), comunicação e rela-cionamento humano (gestão de pessoas, marketing evendas, habilidades de comunicação); entendendonão ser fácil estabelecer um perfil genérico ao profis-sional de gestão esportiva brasileira, num ambienteque apresenta profissionais com formação muitoheterogênea.Souza(8), ao analisar as seguintes entidades esporti-vas brasileiras: Federação de Triatlo do DistritoFederal, Federação Metropolitana de Handebol,Federação Brasiliense de Voleibol, FederaçãoBrasiliense de Ginástica e Federação de DesportosAquáticos do Distrito Federal, verificou que todos osgestores (presidentes) destas instituições trabalha-vam voluntariamente, sem qualquer tipo de remune-ração, assim como os demais colaboradores quegarantiam o funcionamento daquelas estruturas.Constatou que os presidentes possuíam curso supe-rior completo, sendo que vinte por cento destes tam-bém haviam realizado pós-graduação. Mais da meta-de, ou seja, 60% dedicavam a até 4 horas diárias à

sua federação, tempo insuficiente para se adminis-trar esse tipo de organização.Azevêdo, Barros e Suaiden(9) realizaram pesquisaonde foram estudados os dirigentes máximos dosdez clubes que participaram do CampeonatoBrasiliense da primeira divisão de futebol profissio-nal, no ano de 2001. A investigação permitiu traçarum perfil sócio-econômico e cultural desses dirigen-tes e em termos estatísticos foram utilizadas medi-das de associação para variáveis qualitativas levanta-das em questionários aplicados a estes dirigentes.No que se refere ao perfil dos dirigentes dos clubes,eles eram homens católicos, casados e recebiam maisde US$ 2060,53 por mês; possuíam o ensino funda-mental, tinham, em média, 45 anos e meio; trabalha-vam como funcionários públicos e empresários, queacumulam com as atribuições de dirigentes dos clu-bes que presidiam; nenhum deles era profissional degestão de suas entidades de futebol, embora afirmas-sem ter muito ou total poder de decisão sobre asquestões.Em 2001, os clubes de futebol profissional da pri-meira divisão do Distrito Federal possuíam adminis-tração centralizada, gestão respaldada na “paixão”pelo futebol, parceiros comerciais inconsistentes,predominância dos assuntos internos, falta de plane-jamento e distância de ações estratégicas. Por isso,ainda não haviam adotado uma gestão profissionalem suas entidades(10).

ObjetivoAnalisar a evolução do perfil sócio-econômico e cul-tural dos gestores das organizações esportivas profis-sionais que atuaram na primeira divisão de futeboldo Distrito Federal, Brasil, durante as edições doCampeonato Brasiliense, entre os anos de 2003 e2007.

MATERIAL E MÉTODOSFoi realizada uma pesquisa descritiva com pesquisade campo realizada no local de atuação onde ocorreuo fenômeno investigado. No mesmo sentido do quea pesquisa realizada por Azevêdo, Barros eSuaiden(9), que estudou o perfil dos dirigentes queatuaram na mesma competição, especificamente noano 2001, esta investigação realizou um estudoretrospectivo, abrangendo o período 2003-2007.

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Os instrumentos utilizados na pesquisa de campoforam o questionário e a análise documental dedados obtidos na Federação Brasiliense de Futebol enos sítios eletrônicos da Internet.Foram estudados os dezenove dirigentes (presiden-tes), dos dezesseis clubes (Quadro 1) que disputa-ram, em uma ou mais edições, a primeira divisão doCampeonato Brasiliense de Futebol Profissional,entre os anos de 2003 e 2007, analisando as seguin-tes variáveis:— Gênero;— Faixa etária;— Nível de escolaridade;— Estado civil;— Ocupação principal;— Renda mensal pessoal; e— Cargo ocupado no clube esportivo.

Representação da frequência relativa dos dados encontradosAs frequências relativas dos fenômenos observadossão representadas como frações na forma a/b, onde aé o número de ocorrências do fenômeno em questãoe b é o número de observações realizadas, e lê-se “ade b”. A justificativa para tal escolha é a grande pos-sibilidade incidência de erros de arredondamento,quando da utilização de porcentagem, decorrente douso de números pequenos de observações (e conse-quentemente de ocorrências), que geram dízimasperiódicas. Para fins de formatação adequada dastabelas será usada a representação Fr para aFrequência Relativa aqui explicada.

RESULTADOSDos 16 clubes estudados, 13 não mudaram os seuspresidentes (13/16) e 3 mudaram o seu principaldirigente (3/16) (Tabela 1).

Gestão do Desporto

Ano Base

2003 2004 2005 2006 2007 ARUC* Bandeirante Brasiliense Brazlândia Ceilândia CFZ Dom Pedro II Gama Guará Luziânia-GO Sobradinho* Unaí-MG

Bandeirante Brasiliense Brazlândia* Ceilândia CFZ Dom Pedro II Gama Guará Luziânia Paranoá* Sobradinho Unaí

Bandeirante* Brasiliense Ceilândia CFZ Dom Pedro II Gama Guará Luziânia Paranoá Santa Maria* Sobradinho* Unaí/Itapuã

Brasiliense Capital* Ceilândia CFZ* Dom Pedro II Gama Guará* Luziânia Paranoá Unaí/Itapuã

Brasiliense Ceilândia Dom Pedro II Esportivo Gama Luziânia* Paranoá* Unaí/Itapuã

Quadro 1. Clubes participantes do Campeonato Brasiliense da 1ª divisão entre os anos 2003 e 2007

* Clubes rebaixados para a segunda divisão

Sobre a troca ou não do dirigente Quantidade Frequência Relativa

Clubes que não trocaram o presidente 13 13/16

Clubes que trocaram o presidente 03 03/16

Total 16 16/16

Tabela 1. Situação detroca ou permanência

do dirigente máximodo clube - 2003-2007

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Sobre os clubes que trocaram o gestor (Tabela 2), doistiveram dois e um teve três diferentes dirigentesmáximos, no período. Duas equipes que mudaram ogestor foram rebaixadas, em algum desses anos.

GêneroFoi possível observar que no período correspondenteaos anos de 2003 a 2007 o número de times partici-

pantes da primeira divisão do campeonato diminuiu,porém, a proporção de dirigentes masculinos mante-ve-se em grande parte do período, como observadona Tabela 3.

Faixa EtáriaFoi observada maior ocorrência de dirigentes inseri-dos nas faixas etárias superiores a 36 anos, com des-

Gestão do Desporto

Clubes que trocaram o dirigente Quantidade Frequência Relativa

Clubes que trocaram uma vez 02 2/3

Clubes que trocaram duas vezes 01 1/3

Total 03 3/3

Tabela 2. Trocas dos diri-gentes máximos doclube – 2003-2007

2003 2004 2005 2006 2007 Gênero

n Fr n Fr n Fr n Fr n Fr

Masculino 12 12/12 11 11/12 11 11/12 9 9/10 7 7/8

Feminino 0 0/12 1 1/12 1 1/12 1 1/10 1 1/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

Tabela 3. Distribuição das Frequências dos Dirigentes, segundo o Gênero

2003 2004 2005 2006 2007 Faixa Etária

n Fr n Fr n Fr n Fr n Fr

Até 25 anos 0 0/12 0 0/12 0 0/12 0 0/10 0 0/8

De 26 a 35 anos 1 1/12 1 1/12 2 2/12 1 1/10 0 0/8

De 36 a 45 anos 3 3/12 2 2/12 1 1/12 2 2/10 3 3/8

De 46 a 55 anos 6 6/12 7 7/12 7 7/12 7 7/10 5 5/8

De 56 a 65 anos 2 2/12 1 1/12 1 1/12 0 0/10 0 0/8

Mais de 65 anos 0 0/12 1 1/12 1 1/12 0 0/10 0 0/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

Tabela 4. Distribuição, segundo faixa etária [frequências relativa (Fr) e absoluta (n)]

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Gestão do Desporto

2003 2004 2005 2006 2007 Faixa Etária

n Fr n Fr n Fr n Fr n Fr

Ensino fundamental incompleto 2 2/12 2 2/12 1 1/12 0 0/10 1 1/8

Ensino fundamental completo 0 0/12 0 0/12 0 0/12 1 1/10 0 0/8

Ensino médio incompleto 0 0/12 0 0/12 0 0/12 2 2/10 0 0/8

Ensino médio completo 6 6/12 6 6/12 3 3/12 0 0/10 2 2/8

Curso superior incompleto 1 1/12 1 1/12 3 3/12 3 3/10 1 1/8

Curso superior completo 3 3/12 3 3/12 5 5/12 4 4/10 4 4/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

2003 2004 2005 2006 2007 Estado Civil

n Fr n Fr n Fr n Fr n Fr

Solteiro (a) 2 2/12 2 2/12 3 3/12 1 1/10 1 1/8

Casado (a) 9 2/12 8 8/12 7 7/12 6 6/10 5 5/8

Divorciado (a) 0 0/12 0 0/12 0 0/12 1 1/10 1 1/8

Viúvo (a) 1 1/12 1 1/12 1 1/12 1 1/10 0 0/8

Outro 0 0/12 1 1/12 1 1/12 1 1/10 1 1/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

2003 2004 2005 2006 2007 Ocupação Principal

n Fr n Fr n n n Fr n Fr

Funcionário Público 5 5/12 4 4/12 6 6/12 5 5/10 3 3/8

Empresário 2 2/12 2 2/12 2 2/12 2 2/10 2 2/8

Profissional Liberal 2 2/12 3 3/12 2 2/12 1 1/10 1 1/8

Funcionário de empresa privada 2 2/12 2 2/12 1 1/12 1 1/10 1 1/8

Aposentado 0 0/12 0 0/12 0 0/12 0 0/10 0 0/8

Outra 1 1/12 1 1/12 1 1/12 1 1/10 1 1/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

Tabela 5. Distribuição, segundo nível de escolaridade [frequências relativa (Fr) e absoluta (n)]

Tabela 6. Distribuição, segundo estado civil [frequências relativa (Fr) e absoluta (n)]

Tabela 7. Distribuição, segundo ocupação principal [frequências relativa (Fr) e absoluta (n)]

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taque para a faixa de 46 a 55 anos de idade, que con-centra, em todos os anos, pelo menos metade donúmero de dirigentes. Observa-se até o ano de 2006, aumento da frequên-cia relativa às faixas 36 a 45 anos e 46 a 55 anos.

Nível de EscolaridadeObserva-se que até 2004 (Tabela 5), tem-se maiorconcentração de dirigentes com nível escolaridade atéo ensino médio completo. Enquanto a partir do ano

de 2005, é claro o aumento nos dirigentes com nívelde instrução mais avançado; em 2007, metade dosclubes tinham dirigentes com curso superior comple-to. É possível ainda destacar o decréscimo da propor-ção de dirigentes que tinham o menor grau de instru-ção mensurado (Ensino fundamental Incompleto).

Estado CivilEm todos os anos em que a pesquisa foi realizada, amaioria dos dirigentes entrevistada é casada (Tabela

Gestão do Desporto

2003 2004 2005 2006 2007 Renda mensal pessoal (US$)

n Fr n Fr n Fr n Fr n Fr

Até US$ 355,66 0 0/12 1 1/12 1 1/12 1 1/10 2 2/8

Mais de US$ 355,66 até US$ 711,32 1 1/12 1 1/12 0 0/12 0 0/10 0 0/8

Mais de US$ 711,32 até US$ 1066,98 2 2/12 2 2/12 2 2/12 1 1/10 0 0/8

Mais de US$ 1066,9 até US$ 1422,64 2 2/12 1 1/12 1 1/12 2 2/10 2 2/8

Mais de US$ 1422,64 até US$ 1778,31

2 2/12 1 1/12 2 2/12 2 2/10 1 1/8

Mais de US$ 1778,31 5 5/12 6 6/12 6 6/12 4 4/10 3 3/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

2003 2004 2005 2006 2007 Ocupação no Clube

n Fr n Fr n Fr n Fr n Fr

Presidente 8 8/12 9 9/12 11 11/12 8 8/10 6 6/8

Vice-Presidente 3 3/12 2 2/12 0 0/12 0 0/10 0 0/8

Diretor 1 1/12 1 1/12 1 1/12 1 1/10 2 2/8

Vice-diretor 0 0/12 0 0/12 0 0/12 0 0/10 0 0/8

Conselheiro 0 0/12 0 0/12 0 0/12 1 1/10 0 0/8

Outra 0 0/12 0 0/12 0 0/12 0 0/10 0 0/8

Total 12 12/12 12 12/12 12 12/12 10 10/10 8 8/8

Tabela 8. Distribuição, segundo renda mensal pessoal [frequências relativa (Fr) e absoluta (n)]

Tabela 9. Distribuição, segundo cargo no clube [frequências relativa (Fr) e absoluta (n)]

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6). As demais classes não tiveram tanta representati-vidade em termos de frequência relativa, exceto ogrupo Solteiro.

Ocupação PrincipalCom o passar do tempo, nota-se, em relação à ocu-pação profissional principal (Tabela 7), mudança doperfil dos dirigentes: a maioria deles é ainda funcio-nário público, embora a proporção tenha diminuído,e tenha havido acréscimo de dirigentes que sãoempresários. Há flutuação de aumento e queda daproporção nas demais categorias, mas nada quepossa ser considerado de maneira satisfatória.Apenas um desses dirigentes se declara exclusiva-mente como gestor esportivo, identificado na ocupa-ção principal “outra”.

Renda mensal pessoalEm todos os anos da pesquisa, foi possível observara predominância de uma alta renda mensal pessoaldos dirigentes na faixa daqueles que recebem maisde US$ 1778,31) (Tabela 8). Porém tal grupo tevequeda na porcentagem representativa.Foi possível, ainda, a detecção do aumento da pro-porção de dirigentes que recebem até US$ 355,66;diminuição da proporção da faixa de US$ 711,32 atéUS$ 1066,98. Para 2003, U$$ 1 = R$ 2,02. Para2004 U$$ 1 = R$ 2,19. Para 2005 U$$ 1 = R$ 2,53.Para 2006 U$$ 1 = R$ 2,95. Para 2007 U$$ 1 = R$3,20. Para chegar a esses valores, foi feita uma médiadas cotações no 1º dia e último dia do mês duranteos 12 meses do ano.

Cargo no clube esportivo no ano de 2003Verifica-se que dentre os dirigentes entrevistados, amaioria em quaisquer anos era o presidente do clube(Tabela 9).

Caracterização do Perfil em 2003Para o ano em questão todos os dirigentes eram dogênero masculino, 9/12 casados, metade deles seencontrava na faixa etária de 46 a 55 anos. 10/12com ao menos segundo grau completo, 5/12 dosdirigentes eram funcionários públicos, e 5/12 tam-bém recebiam mais de 1778,31 dólares americanosmensais. 8/12 dos entrevistados exerciam o cargo depresidente dentro do clube.

Caracterização do Perfil em 2004Para o ano em questão: 11/12 dos dirigentes eramdo gênero masculino, 8/12 casados, 7/12 se encon-trava na faixa etária de 46 a 55 anos. 10/12 com aomenos segundo grau completo, um terço dos diri-gentes eram funcionários públicos, houve acréscimona quantidade de dirigentes que são profissionaisliberais e 6/12 também recebiam mais de 1778,31dólares americanos mensais. 9/12 dos entrevistadosexerciam o cargo de presidente dentro do clube.

Caracterização do Perfil em 2005Para o ano em questão: 11/12 eram dirigentes dogênero masculino, 7/12 casados, 7/12 se encontra-vam na faixa etária de 46 a 55 anos. 11/12 têm aomenos o segundo grau completo, metade dos diri-gentes eram funcionários públicos, e metade tam-bém recebia mais de 1778,31 dólares americanosmensais. 11/12 dos entrevistados exerciam o cargode presidente dentro do clube.

Caracterização do Perfil em 2006Para o ano em questão 9/10 dos dirigentes eram dogênero masculino, 6/10 casados, 7/10 se encontra-vam na faixa etária de 46 a 55 anos. A maioria(7/10) tem ao menos nível superior incompleto,5/10 dos dirigentes eram funcionários públicos, e4/10 também recebiam mais de 1778,31 dólaresamericanos mensais. 8/10 dos entrevistados exer-ciam o cargo de presidente dentro do clube.

Caracterização do Perfil em 2007Para o ano em questão a maioria dos dirigentes erado gênero masculino (7/8), 5/8 casados, 5/8 delesse encontravam na faixa etária de 46 a 55 anos. Ametade (4/8) tinha curso superior completo, 3/8 dosdirigentes eram funcionários públicos, e 3/8 tambémrecebiam mais de 1778,31 dólares americanos men-sais. 6/8 dos entrevistados exerciam o cargo de pre-sidente dentro do clube.

DISCUSSÃOAo longo dos anos de 2003 e 2007, a proporção dedirigentes analisada reduziu, tendo em vista a redu-ção de clubes participantes das competições nesseperíodo. A frequência absoluta de dirigentes dogênero feminino manteve-se constante desde o ano

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de 2004. Contudo a predominância é de dirigentesdo gênero masculino.Os resultados encontrados neste estudo podem serdiretamente comparados com os obtidos porAzevêdo, Barros e Suaiden(9), em pesquisa ondeforam estudados os dirigentes máximos dos dezclubes que participaram do Campeonato Brasilienseda primeira divisão de futebol profissional, no anode 2001. Em relação à idade, pode-se observar que em todosos anos, a concentração de dirigentes estava na clas-se de 46 a 55 anos, sendo que na passagem do anosde 2006 para 2007 houve uma redução na proporçãode dirigentes nessa classe, devido a redução de clu-bes participantes no ano de 2007. Após 2005 houveum aumento na frequência da classe de idade entre36 e 45 anos. Azevêdo, Barros e Suaiden (2004)constataram que, em 2001, os dirigentes possuíam,em média, 45 anos e meio, não sendo, portanto, pre-cisar se houve diferença significativa nesta variável.Pires e Lopes(5), concluem que é indispensável umaformação inicial em gestão do desporto, pois a capa-citação tradicional já não atende às exigênciassociais. Ao longo dos cinco anos pesquisados, cons-tata-se ainda um baixo nível de escolaridade, quandocomparado às exigências da área esportiva. Na pes-quisa, sobre o grau de instrução, é interessanteobservar a inversão das curvas de Ensino médiocompleto e Curso superior completo. Quando com-parados os valores absolutos, de 2003 a 2007 onúmero de dirigentes com Ensino médio completodecresceu até 2006 tendo um leve aumento em 2007e o número de dirigentes com Curso superior com-pleto elevou-se até 2005 sofrendo uma leve quedaem 2006 mantendo-se em 2007. Apesar dessa redu-ção quando comparados números absolutos, pode-seperceber obteve um aumento relativo do número dedirigentes com Curso superior completo. Entretanto,vale lembrar que o número de clubes que disputa-ram o ano de 2007 foi reduzido em relação aosoutros anos. O que se pode imaginar é a qualificaçãodos dirigentes que já estavam ocupando o cargo,tendo em vista a pequena troca de dirigentes noscargos. Já Azevêdo, Barros e Suaiden(9), verificaramque em 2001, os dirigentes possuíam o ensino fun-damental, o que representa uma melhora representa-tiva no nível educacional.

Quanto ao estado civil dos dirigentes, houve umaredução relativa na frequência relativa dos casados eum aumento relativo na frequência relativa de soltei-ros. Entretanto a quantidade de casados sempre foisuperior às outras categorias. Azevêdo, Barros eSuaiden (2004), em pesquisa realizada no ano de2001, também encontrou predominância de indiví-duos casados.Segundo Drucker(2) e Motta e Bresser-Pereira(3), queentendem que o administrador deva ser um profis-sional qualificado, especializado em sua área deatuação e que tem seu cargo como atividade princi-pal. A ocupação principal da maioria dos dirigentesesportivos pesquisados é de funcionário público. Umfuncionário público, também não atende às compe-tências citadas por Correa(4), tais como: conhecimen-tos gerais, conhecimentos específicos do ambienteprofissional e conhecimentos procedimentais, alémde outras competências. Nesta pesquisa ocorreu umaoscilação no número de dirigentes que eram funcio-nários públicos, entre os anos de 2003 a 2007.Houve um decréscimo do ano de 2003 para 2004,com uma manutenção até 2005 e um aumento em2006 com novo decréscimo em 2007. Entretanto,esse decréscimo deve ser relativo, pois houve umaredução na quantidade de clubes que disputaram acompetição em 2007. Já para o cargo de empresário,houve um aumento de 2003 a 2007, mas nada com-parado ao observado para o cargo de funcionáriopúblico. A grande maioria acumula sua profissãocom as atribuições de dirigente do clube que preside.Apenas um deles se declara exclusivamente profis-sional de administração de sua entidade de futebol.O resultado corrobora o encontrado por Souza(8), aoanalisar outras entidades esportivas do DistritoFederal, onde os gestores trabalhavam voluntaria-mente, sem remuneração e dedicando poucas horaspor dia às atividades administrativas de sua organi-zação, o que foi considerado insuficiente para aobtenção de êxito.Azevêdo, Barros e Suaiden(9) em pesquisa realizadaem 2001, também com os dirigentes dos dez clubesque participaram do Campeonato Brasiliense da pri-meira divisão de futebol profissional, concluíram queeles recebiam mais de US$ 2060,53 por mês. Já noatual estudo, a maior parte dos dirigentes esportivosganhava entre 2003 e 2007, entre US$ 1422,64 a

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mais de US$ 1778,31. Ocorreu, durante os anos,muita oscilação das faixas de salário, exceto a demais de US$ 1778,31. Nota-se aí, uma redução nosrendimentos desses dirigentes, quando se compara oencontrado na pesquisa realizada em 2001, com operíodo de 2003 a 2007, com diminuição neste últi-mo período.Nesta investigação, quanto ao cargo, a maioria pre-dominante era de presidentes. O aumento na fre-quência relativa de diretores no ano de 2007 podeser devido a redução do número de clubes naqueleano, pois o aumento absoluto que essa categoriasofreu não foi significativamente alto. Na pesquisarealizada em 2001 por Azevêdo, Barros e Suaiden(9),foram estudados os dirigentes máximos (presiden-tes) dos clubes participantes do CampeonatoBrasiliense.

CONCLUSÃONo que se refere à caracterização do perfil sócio-eco-nômico e cultural retrospectivo do dirigente esporti-vo de clube de futebol profissional da primeira divi-são do Distrito Federal, entre os anos 2003 e 2007:É indivíduo do gênero masculino; casado; na faixaetária de 46 a 55 anos; a ocupação principal é de fun-cionário público; com curso superior completo;renda mensal entre US$ 1422,64 a mais de US$1778,31; ocupante do cargo de presidente de seurespectivo clube, sendo apenas um se declara profis-sionalmente gestor esportivo.

CORRESPONDÊNCIAPaulo Henrique AzevêdoCampus Universitário Darcy RibeiroColina da UnB Bloco H Apto 406Asa NorteBrasília – DF – CEP: 70904-108 – BrasilE-mail: [email protected]

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Percurso profissional dos licenciados em educação física e desporto, com opção de futebol, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 1992 e 2006

Victor MaçãsCarlos ValadarAntónio Serôdio José Carlos Leitão Jaime Sampaio Nuno Leite

Departamento de DesportoUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroPortugal

RESUMO O presente estudo teve como objectivo avaliar a inserção pro-fissional dos licenciados em educação física e desporto comopção de futebol, pela Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro. A amostra foi constituída por licenciados (n=59) quefrequentaram a especialização em futebol, entre os anos de1992 a 2006. Na recolha dos dados utilizámos um questioná-rio, adaptado do Observatório do Percurso Profissional daUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. A análise esta-tística, essencialmente descritiva, foi realizada através do SPSS.Com base nas respostas dos licenciados ao questionário (34%do universo), verificámos que os licenciados ingressaram nalicenciatura por gosto pessoal e devido às boas expectativas desaídas profissionais. A escolha do futebol esteve relacionadacom a possibilidade de trabalhar no “mundo do futebol”.Os licenciados estão empregados em 96.6% dos casos, sendo agrande maioria enquanto professores de educação física. Nodomínio do futebol, 93.2% dos casos já trabalharam nesta área,mas apenas 3.3% dos casos o fazem exclusivamente neste sec-tor de actividade. Destacamos as funções de treinadores, coor-denadores técnicos e Scout’s. O vínculo contratual mais usual é o contrato a prazo, mas mui-tos fazem-no em regime de prestação de serviços (recibos ver-des). Os valores auferidos situam-se entre os 1000 e 1500euros, nos empregos principais. Nos empregos complementa-res, os valores situam-se entre os 250 e 500 euros.A grande maioria revelou não pretender fazer estudos de pós-graduação, mas quase todos frequentaram ou pretendem fre-quentar cursos especializados no âmbito do futebol.Concluímos que os licenciados têm uma taxa elevada deempregabilidade. No caso dos licenciados com opção de fute-bol, na generalidade, exercem funções relacionadas com a suaespecialização. No entanto, a baixa remuneração não permite odesempenho destas funções a tempo inteiro.

Palavras-chave: inserção profissional, mercado emprego, profis-sões desporto, emprego, futebol

ABSTRACTProfessional career of graduates in physical education and sportwith specialization on soccer by the University of Trás-os-Montesand Alto Douro, between 1992 and 2006

The present study purpose was to evaluate the professional placement ofgraduate in physical education (soccer specialization) by University ofTrás-os-Montes e Alto Douro. The sample was constituted by graduatestudents (n=59) from 1992 to 2006. For data gathering we used aquestionnaire. The statistic analysis, essentially descriptive, was carriedby SPSS. The answers (34% of the student population) permitted us to verifythat the graduates have chosen this curriculum based on good profes-sional expectations. Soccer specialization choice was related with thepossibility to work in “soccer environment”. The graduates are employed in 96.6% of the cases, being the greatmajority physical education teachers. In soccer domain in 93,2% of thecases had already worked in this area, but only 3,3% do it exclusively.Functions as coaches, technical coordinators and Scout’s were detached.The contractual bond in majority is limited in time, but many of themare freelancers. Income is placed among 1000 and 1500 euros in full-time jobs and, in second jobs between 250 to 500 euros. The greatmajority does not intend to do postgraduate studies, but almost allhave already attend or intend to attend soccer specialized courses. Weconcluded that graduates have a high job rate and the ones with soccerspecialization work in this domain. However, the low income does notallow them to have this activity a fulltime job.

Key-words: professional insertion, job market, sports professions, soc-cer, job

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INTRODUÇÃOAs saídas profissionais dos alunos do ensino supe-rior são alvo das preocupações de todos os envolvi-dos neste processo, desde os alunos e respectivasfamílias, as instituições de ensino, o mercado de tra-balho, os responsáveis políticos e a sociedade emgeral. Esta é uma questão cada vez mais actual,tendo como referência os últimos dados estatísticosdo desemprego em Portugal, onde os jovens licencia-dos ocupam um destaque especial.A inserção profissional pode ser entendida “comoum processo segundo o qual um indivíduo ou umgrupo de indivíduos que nunca pertenceu à popula-ção activa deseja uma posição estabilizada no siste-ma de emprego”. Esta resulta de uma consolidaçãode vários factores, podendo culminar numa boa oumá integração, tanto no mercado de trabalho, comoa nível social(16).Estudos relacionados com a inserção profissionaldos agentes de desporto, quer no domínio da educa-ção física, quer no domínio do desporto, enquantotreinadores, gestores ou outra actividade profissio-nal, não são usuais, tratando-se de um tema poucoaprofundado. No entanto, noutras áreas é frequenteexistirem estudos desta natureza e estão descritosna literatura(1, 5, 9, 4, 13).Os percursos profissionais dos jovens licenciadospodem ser alvo de análise e reflexão profunda, nosentido de compreendermos a receptividade e a inte-gração destes quadros no mercado de trabalho, bemcomo instrumento de reorientação das competênciasa desenvolver nos alunos para uma melhor capacida-de de resposta às exigências que a vida profissionalactiva vai colocando. Esta deve ser uma das preocu-pações dos sistemas de formação e qualificação derecursos humanos, como contributo decisivo para amelhoria do capital humano das organizações dasociedade dos nossos dias.O ensino superior é actualmente reconhecido comoum factor estrutural para o desenvolvimento econó-mico e social, bem como para o reforço da própriacompetitividade. Nesta perspectiva, vários autores(10,15) afirmam que as entidades empregadoras valorizamuma boa formação de base, condição para o desenvol-vimento de capacidades de natureza superior, a disci-plina e o rigor do pensamento. A ênfase é assim colo-cada nas capacidades e competências transversais

necessárias à maioria dos novos postos de trabalho. Sabemos que as questões da empregabilidade e darelevância das formações no Ensino Superior ganha-ram uma nova visibilidade política com a Declaraçãode Sorbonne1 e Declaração de Bolonha2. Daí resultouum alinhamento de políticas nacionais com vista àadopção de um quadro comum de referência para osdiferentes sistemas de graus académicos, por umlado; e, por outro, a definição de instrumentos quefacilitem esse movimento, com vista a promover aempregabilidade e a mobilidade dos cidadãos, bemcomo melhorar a competitividade internacional doensino superior europeu(8).Esta linha de pensamento induziu a várias mudançasna estruturação do ciclo de estudos no ensino supe-rior, que culminaram na adesão ao Tratado de Bolonha,cujos reflexos operacionais estão em execução. Longe de se conceber que a função da Universidadese reduz à formação profissional e à colocação da“mão de obra” qualificada no mercado de trabalho,de acordo com a sua necessidade, esta não pode ficarindiferente a essa realidade e à real inserção dos seuslicenciados no mundo do trabalho(1).As universidades deverão proporcionar uma boa pre-paração de base, tendo em vista o encarar de umagrande variedade de situações novas. Não obstante,de acordo com as orientações do Conselho deReitores das Universidades Portuguesas(2) e doObservatório Permanente para a Qualidade deEnsino(Universidade do Algarve)(14), esta opção nãodeve ser impeditiva de se desenvolver um ensinovocacional que transmita os conhecimentos necessá-rios para a execução de tarefas específicas de umadada profissão. O Conselho de Reitores tem vindo aalertar para a necessidade de transformar as univer-sidades em parceiros de entidades públicas, deempresas, de estruturas de desenvolvimento local,regional e nacional(10). É nesta linha de pensamentoque são apontadas novas responsabilidades não sóem termos de formação e de educação, mas tambémno que se refere à empregabilidade e à investigaçãopara o desenvolvimento.Na educação física e desporto, o desenvolvimento eaplicação da formação tem assinalado um progressoconsiderável ao nível do ensino superior. Contudo, ofacto de estar profundamente associada ao sistemaeducativo constitui um entrave à criação de uma

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interdisciplinaridade na matriz do desporto, ficandoesta condicionada aos conceitos (ou mesmo precon-ceitos) da “ginástica” e “educação física”(11), ficandoassim esquecidas ou desvalorizadas as responsabili-dades no domínio do desenvolvimento do desporto.Urge assim a necessidade de cooperação entre o sis-tema de formação e as entidades responsáveis pelodesporto, permitindo a formação e a integração dequadros técnicos especializados.No final dos anos oitenta, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ampliou as suas ofertas educa-tivas, com a criação3 da licenciatura em educaçãofísica e desporto, que funcionou a partir do ano lecti-vo de 1988/89, cujo lema se orientava para (i) levarpara a escola o clube; (ii) levar o clube para a escola;(iii) levar para a comunidade, o desporto(7).No ano lectivo 1990/91, face ao plano curricular dalicenciatura, surgiram os percursos formativos deespecialização no âmbito das modalidades desporti-vas, onde naturalmente aparece o futebol. Pelosaspectos sociais, culturais, económicos e impactomediático desta modalidade, espontaneamente severificou que os alunos escolheram o futebol comodisciplina opcional, na esperança de uma futurainserção profissional no “mundo do futebol”.Apesar deste sonho poucas vezes declarado, os alu-nos ao longo dos anos foram apreendendo que “umaopção pelo futebol pressupõe uma motivação pro-funda que nos conduz, implica uma paixão intensa(…) mas exige também uma coragem sem fim e umaresistência a todas as adversidades porque o cami-nho é longo e quase sempre agreste.”(3, pp. 60).Neste contexto, o conhecimento dos percursossócio-profissionais dos licenciados em educação físi-ca e desporto pela Universidade de Trás-os-Montes e

Alto Douro, com especialização em futebol e as res-pectivas percepções sobre a formação adquirida,revelam-se como um factor importante para justifi-car a pertinência deste estudo.Nesta linha definimos os seguintes objectivos:(i) Avaliar a opinião dos ex-alunos em relação àlicenciatura e opção de futebol;(ii) Avaliar as condições de inserção profissional doslicenciados;(iii) Caracterizar o percurso profissional dos licencia-dos em termos de situação contratual, remuneração,tipo de instituição empregadora e função exercida nomercado de trabalho do Futebol; (iv) Identificar as necessidades de contacto com ainstituição de formação inicial, após licenciatura.

MATERIAL E MÉTODOSA população do nosso estudo é constituída peloslicenciados em educação física e desporto, com espe-cialização em futebol, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Este universo representa umconjunto de 174 licenciados. A amostra utilizada foi constituída por 59 antigos alu-nos da opção de futebol (os que responderam aoquestionário), representando os alunos que concluí-ram a licenciatura entre 1993 e 2006, correspondendoa 34% do universo. O Quadro 1 apresenta a caracteri-zação da amostra por ano de licenciatura e sexo.O instrumento utilizado foi construído com base noquestionário utilizado pelo gabinete de saídas profis-sionais (GASP) da Universidade de Trás-os-Montes eAlto Douro, adaptado aos objectivos do estudo e aogrupo alvo a que se dirigiu. Elaborámos uma primei-ra versão do questionário que foi aplicada numgrupo de 15 indivíduos, licenciados com opção de

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Sexo Feminino Sexo Masculino Total Anos de Licenciatura

Env Resp (%) Env Resp (%) Env Resp (%) 1993 – 1995 1 1 100 37 15 40,5 38 16 42,1 1996 – 1998 - - - 47 8 17 47 8 17 1999 – 2001 4 2 50 42 10 23,8 46 12 26 2002 – 2004 - - - 27 11 40,7 27 11 40,7 2005 – 2006 - - - 16 12 75 16 12 75

TOTAL 5 3 60 169 56 32,5 174 59 33,9

Quadro 1. Respostas ao questionário, por ano de licenciatura e sexo

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futebol e 3 professores da universidade com expe-riência em trabalhos de campo através da utilizaçãodestes instrumentos. A versão final do questionário contempla perguntasde escolha múltipla, perguntas fechadas e uma únicapergunta aberta. A estrutura do questionário estáorganizada em sete tópicos: (i) identificação dolicenciado; (ii) questões relacionadas com a licencia-tura; (iii) questões relacionadas com a opção de fute-bol; (iv) questões relacionadas com a situação peran-te o emprego; (v) questões sobre o percurso profis-sional; (vi) posicionamento do licenciado perante osestudos de pós-graduação; (vii) questão aberta sobreeventuais observações, comentários ou sugestões.Os questionários foram distribuídos por correio pos-tal e correio electrónico, havendo casos em que oentregámos pessoalmente. A recolha de informaçãoprocessou-se entre Março e Julho de 2007. A análiseexploratória dos dados foi realizada recorrendo àestatística descritiva, através do software SPSS (ver-são 15.0).

RESULTADOS E DISCUSSÃOA apresentação dos resultados segue a estrutura doquestionário. Começaremos por apresentar os resul-tados relativos à opinião dos licenciados sobre alicenciatura e opção de futebol, depois destacaremosos dados sobre a situação perante o emprego e porfim, as necessidades de contacto com a instituição deformação inicial.

Opinião sobre a licenciatura e opção de futebolOs factores apontados como decisivos na escolha dalicenciatura foram o “gosto pessoal” com 41,5%,seguindo-se “saídas profissionais” com 21,1% e “boacomponente prática” (13%). A positividade do pri-meiro factor poderá revelar uma mais-valia, uma vezque a maioria dos licenciados entraram por gostaremda licenciatura em causa, o que aumenta a sua moti-vação na frequência do curso. Os outros dois facto-res revelam uma preocupação mais profunda naescolha do curso, pois reportam-se às expectativasdos licenciados aquando a sua entrada no curso, oque poderá indicar que houve uma pesquisa préviasobre o curso. Contudo, é de salientar que as respos-tas obtidas para o factor “Saídas profissionais” foramobtidas, na sua maioria, pelos licenciados mais anti-

gos, pelas facilidades encontradas em ingressar noensino publico, já que os recém-licenciados sentemmais dificuldades, na actualidade, para iniciar a acti-vidade profissional.A opinião positiva dos licenciados sobre a licenciatu-ra, recaiu nos factores “formação teórica” com umapercentagem de 95%, seguido de “qualidade pedagó-gica” com 91%, “qualidade científica” e “formaçãoprática” com percentagens muito próximas de 89% e88%, respectivamente. Os factores com opiniõesmenos favoráveis foram a “divulgação no mercado detrabalho” (46%) e o “contacto com a realidade exte-rior” (35%).Em relação à opção de futebol, os factores determi-nantes na decisão de ingresso, no 3º ano daLicenciatura, continuou a vigorar o “gosto pessoal”com um valor de 39,4%. O “contacto com mundo dofutebol” foi outro dos factores mais respondido(23,6%) e a “boa componente prática” com 15,7%.A avaliação dos licenciados em relação aos aspectospositivos e negativos da opção foram as qualidadespedagógicas e científicas (96%), formação teórica(95%) e formação prática (91%).Tal como na opinião sobre a licenciatura, os factoresapontados como menos favoráveis, foram a “divulga-ção no mercado de trabalho” e o “contacto com arealidade exterior” com valores de 47% e 23%. Emfunção destes resultados, as sugestões apresentadaspara aperfeiçoamento da opção, por 40% dos licen-ciados, apontaram para uma melhoria do contactocom o mundo do futebol e melhorias nos apoios aoscentros de treino, nomeadamente na supervisão doprocesso de condução das equipas, bem como napossibilidade de existir apoio financeiro ao trabalhodesenvolvido. Os licenciados destacam ainda anecessidade de existir um reforço nas competênciaspráticas dos alunos.

Situação perante o empregoA situação de emprego dos licenciados inquiridos,relativamente ao Futebol, é bastante clara, dadoque 93.2% (n = 55) dos licenciados já trabalharamnesta área e 6.8% (n = 4) nunca o fizeram após alicenciatura. Os dados sobre a avaliação do emprego actual doslicenciados, podem ser observados no Quadro 2.

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Com o intuito de caracterizar o percurso profissionaldos licenciados que responderam, passaremos a ana-lisar as profissões e entidades empregadoras, tantono sector da educação como no mundo do futebol.Antes de passar a qualquer análise do ponto de vistaprofissional, é importante mencionar que o intervalodo “1º emprego” ao “4º emprego” é abordado deduas formas diferentes. Os licenciados mais antigosdefinem um trajecto de profissões, onde houvemudança de entidade empregadora e (principalmen-te) de emprego; ao passo que os licenciados maisrecentes apresentam uma acumulação de empregosque pode chegar a quatro ou mais, juntando os sec-tores de educação e do futebol.Com o apoio da literatura, Marques(9) afirma que aconfiguração de mercados de entrada e de transição,a partir dos licenciados que declaram um ou maisempregos, permite-nos replicar algumas das princi-pais tendências associadas às dificuldades de acessoao primeiro emprego, ao prolongamento deste perío-do de inserção e ao facto de a estabilização noemprego ser menos rápida no início, mas tambémno decurso da carreira. Quanto às denominações dos empregos, nota-se umclaro domínio da profissão de “professor de educa-ção física”, representando uma elevada procura,tanto no início do processo de inserção profissional,como em processo de consolidação de uma carreira

profissional, ao longo dos vários empregos relatados.Estes valores não constituem grande novidade paranós, uma vez se tratar de uma licenciatura via ensinoe assim apresenta como principal objectivo a forma-ção de professores de educação física para o 2º e 3ºciclos do ensino básico e ensino secundário.Outras das profissões foram agrupadas como “moni-tor de actividade física”. Considerámos neste âmbi-to, os licenciados que exercem funções de professorde actividades físicas e/ou desportivas em autarquias(ou através destas), em associações ou em institui-ções privadas.Na categoria profissional denominada de “outro”,cabem as profissões de vereador do desporto; técnicosuperior de educação física e desporto; coordenadortécnico e pedagógico e professor universitário.No âmbito do futebol verificámos que a maioria doslicenciados na área do futebol, referiram o desempenhoda função de “treinador” com percentagens elevadas(64% a 77%), nos diferentes empregos vivenciados.No nosso entender estes dados são bastante positi-vos, visto que vão de encontro às expectativas eexperiências adquiridas na formação alcançada naopção. Todavia, é importante realçar que apenas 2(3,3%) dos 59 inquiridos têm profissões exclusiva-mente ligadas ao Futebol, os restantes (96,6%) acu-mulam as profissões da área do futebol com as daárea da educação física.

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Quadro 2. Como os licenciados avaliam o seu emprego actual

Opinião Negativa Opinião Positiva

FACTORES Resp (%) Resp (%)

Realização pessoal 9 16 42 75 Salário/remuneração 25 45 26 46 Adequação da formação às tarefas desempenhadas 3 5 48 86 Estabilidade do emprego 26 46 25 45 Perspectivas de progressão na carreira profissional 27 48 24 43 Perspectivas de melhorias salariais 32 57 19 34 Actualização de conhecimentos/desenvolvimento profissional 13 23 38 68 Ambiente sócio-profissional 6 11 45 80 Localização do emprego 7 13 44 79 Horário laboral 4 7 47 84 Prestígio social 14 25 37 66

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É importante referir ainda, outras denominações deprofissões que estes licenciados desempenham,como treinador adjunto, coordenador técnico, joga-dor profissional; preparador físico; dirigente despor-tivo e scout’s (Observação e análise do jogo).Quanto às entidades empregadoras mais referencia-das, surge o estado, através do Ministério daEducação. Nos últimos anos, também a administra-ção pública local tem assumido um papel de relevo,no enquadramento dos jovens licenciados, nas activi-dades de enriquecimento curricular (disciplina deexpressão físico-motora) do 1º ciclo do ensino básico.No futebol, verificámos que a liderança do mercadode emprego está a cargo dos clubes, com valores per-centuais de (73% a 87%), desde o 1º ao 4º emprego.As outras entidades empregadoras que se destacamcomo alternativas, são as associações de futebol, asescolas de futebol e até o desporto escolar.No entanto, é importante referir que os empregosnas associações estão a cargo dos licenciados maisantigos, por cumprirem os normativos legais necessá-rios para serem requisitados ao quadro das escolas.O vínculo contratual que os licenciados mantêm comas entidades empregadoras são na sua maioria, atra-vés de “contrato a prazo”. Observa-se ainda quemuitos licenciados exercem as suas funções em regi-me de prestação de serviços (recibos verdes), naordem dos 25%, o que revela um vínculo débil.A remuneração auferida por estes licenciados noemprego principal, em 38% dos inquiridos situa-senos valores “De 1000 a menos de 1500 euros”. Nosempregos complementares, a maioria dos licencia-dos respondeu que auferem “de 250 a menos de500 euros”.Após a análise do questionário, podemos constatarque a maioria dos empregos com remuneração de“menos de 250 euros”, estão relacionados com aárea do futebol, que surge como uma actividadecomplementar, mais no âmbito da realização pessoal,do que propriamente os benefícios salariais. Esta lei-tura deve ser salvaguardada pelo facto de muitoslicenciados, especialmente os mais recentes e aindaaqueles que conjugam as profissões de professor etreinador, complementarem as suas remuneraçõesatravés do exercício de vários empregos. Outro dado que procurámos saber foi o tempo deespera para os licenciados obterem o seu primeiro

emprego. De acordo com o Instituto do Emprego eFormação Profissional(6) o tempo de procura deemprego após a licenciatura implica indiscutivelmenteum forte envolvimento e actividade dos candidatos.No caso do nosso estudo, dos licenciados inquiridos,57 (96.6%) estão empregados e apenas 2 (3.3%) nãoexercem nenhuma actividade profissional.Constatámos ainda que 50% dos licenciados játinham emprego mesmo antes de concluírem ocurso, devendo referir que estes dados dizem respei-to aos licenciados mais antigos. Actualmente o cená-rio é diferente, havendo mais dificuldade na procurado primeiro emprego, mas os dados apontam parauma boa inserção profissional, havendo casos emque esperam dois a três meses pela colocação (esta-mos a falar de empregos temporários e sem grandescondições de estabilidade profissional).O processo de obtenção de emprego mais referido foiatravés de concurso público (Diário da República /Ministério da Educação). Parece-nos um dado espera-do porque se trata de um curso via ensino e como taluma das saídas naturais é (foi) a escola pública.Por outro lado, os inquiridos referiram que o factor“conhecimentos pessoais” teve uma grande influênciana obtenção dos empregos, com valores que variamentre os 27%, 41%, 44% e 50%, respectivamente paraos 1º, 2º, 3º e 4º empregos. Por estes dados, este fac-tor assume-se como preponderante na inserção profis-sional dos licenciados do estudo. Reparamos que estefactor tem a mesma preponderância noutros cursos,através de outras investigações(1, 5, 9).É importante realçar que o factor que ocupa o tercei-ro lugar no pódio do conhecimento dos empregos éo “contacto directo com os empregadores” com valo-res de 10% no 1º emprego; 22% no 2º; 25% no 3º; e21% no 4º emprego. Parece-nos então que os licen-ciados pela Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro demonstram uma forte auto-iniciativa na pro-cura dos seus empregos.No que diz respeito aos factores que influenciaram aobtenção de empregos por parte dos licenciados refe-riram os seguintes factores favoráveis:Os factores favoráveis destacados pela nossa amostraforam o “grau de licenciatura” como preponderantena obtenção dos seus empregos, auferindo 16,6% dototal das respostas. O facto de ser um “curso especí-fico” (13,4%), nomeadamente a opção de futebol,

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teve o seu peso na influência dos empregos doslicenciados, seguido do “bom relacionamento social”com 12,7%.Relativamente às razões que conduzem à mudançade emprego, houve uma grande variedade de respos-tas. Dos licenciados que afirmaram ter mudado deemprego, o factor “realização profissional” foi o maisassinalado (27,5%), seguindo-se “perspectivas deprogressão na carreira” com 21,7% e “salário/remu-neração com 14,5%.É compreensível que a tentativa de mudança deemprego seja orientada segundo a realização profis-sional, ao mesmo tempo que se procura a possibilida-de de conseguir empregos mais estáveis. No entanto,é curioso que o “salário/remuneração” não tenhamaior peso nos resultados. Provavelmente, os maispreocupados com este factor são os recém-licenciadosna procura da independência financeira. É neste sen-tido que Marques(9) diz que outros factores “não eco-nómicos” interferem nas decisões dos licenciados,que obedecem a motivações sociais, contemplando oemprego como um processo de concretização de aspi-rações e de realização profissional. Ao mesmo tempo,o conceito tradicional de carreira profissional começaa ser inconsistente, na medida em que muitos jovensnão estão a trabalhar em empregos especificamenterelacionados com a sua formação(1).

Necessidades de contacto com instituição de formação inicialNo que respeita à frequência de estudos pós-licen-ciatura, deparamos com uma grande percentagem delicenciados que não pretendem frequentar qualquertipo de estudos posteriores, “pós-graduação” com64% das respostas; “mestrado” com 26%; e “douto-ramento” com 70%.Ao contrário, o mestrado assume-se como a pós gra-duação que os alunos mais pretendem frequentar oujá frequentam, quer na universidade de formação ini-cial ou em outra.Na investigação de Marques(9), em circunstânciasidênticas, a autora associa este investimento de for-mação, por parte dos recém-licenciados e finalistas,não só com a necessidade dos licenciados aperfeiçoa-rem e actualizarem conhecimentos adquiridos nauniversidade, mas também por terem receio deenfrentar o mercado de trabalho.

Em relação à formação extra na área do futebol, veri-ficámos que praticamente todos os inquiridos fre-quentaram ou pretendem frequentar cursos de trei-nador, acções de formação, entre outros.O processo de inserção na actividade profissionalnão é tarefa fácil, é repleto de obstáculos e estadosde espírito que variam em função de se concretiza-rem (ou não) as expectativas criadas(4). Deste modo,apercebemo-nos que alguns licenciados regressam àinstituição formadora para procurar apoio, melho-rando as suas qualificações e apetências na esperançade virem a ingressar no mercado de emprego.Algumas das razões apontadas pelos licenciados,como necessidade de contacto com a instituição deformação inicial foram: “contacto com docentes”com a maioria da percentagem de respostas (32%),seguido da “utilização da biblioteca” com 17%. Emterceiro lugar está “exercício da sua actividade pro-fissional”, a par do “contacto com gabinete de fute-bol” com 16% do total das respostas.

CONCLUSÕESDestacamos agora os aspectos mais importantesdeste estudo:Cerca de metade dos alunos inquiridos, ingressaramna licenciatura em educação física e desporto porgosto pessoal, associado às boas expectativas de saí-das profissionais. Uma vez decididos pela licenciatu-ra em causa, no 3º ano da estrutura curricular, oslicenciados escolheram o futebol como especializa-ção, devido à possibilidade de vir a trabalhar no“mundo do futebol”.Os licenciados apresentaram uma opinião positiva emrelação ao curso, bem como à opção de futebol. Nesteúltimo caso, manifestaram a necessidade de umamelhor divulgação no mercado de trabalho, um melhorcontacto com a realidade exterior e melhorias no pro-cesso de supervisão dos centros de prática pedagógica,vulgarmente conhecidos por centros de treino. Ao longo do seu percurso profissional, quase todosos licenciados exerceram ou exercem funções rela-cionadas com a sua especialização no futebol.Relativamente ao seu emprego actual, a amostrainquirida está satisfeita com as funções que desem-penha no seio das entidades empregadoras, apesarda sua insatisfação perante as hipóteses de melho-rias salariais e as perspectivas de progressão na car-reira.

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Os licenciados mais antigos não dão tanta ênfase aoemprego na área do futebol, uma vez que a sua soli-dez profissional há muito que passa pelos quadrosdo Ministério da Educação. Contudo, sentem-se bema realizar funções adequadas à sua especialização,pondo em prática os conhecimentos relativos àopção de futebol.Por outro lado, os recém-licenciados valorizam osempregos menos estáveis, em particular, no âmbitodo futebol, pois sabe-se que a inserção profissionalno ensino revela bastantes entraves. Assim, conci-liam diversos empregos com o intuito de obter algu-mas contrapartidas, nomeadamente económicas.As principais denominações profissionais dos licen-ciados são, professor de educação física e treinador,nas áreas da licenciatura e da opção, respectivamen-te. Quanto às entidades empregadoras, a esmagadoramaioria fica a cargo do Ministério da Educação e dosclubes, nas referidas áreas.Nas profissões, o principal tipo de vínculo é o con-trato a prazo e quanto às remunerações, a maioriados licenciados que trabalham na escola afirmaramreceber ente os 1000 e os 1500 euros. No caso dosque trabalham no futebol referiram valores inferioresa 250 euros e entre 250 e 500 euros. Notamos aindaque metade dos inquiridos conseguiram o 1º empre-go ainda antes do término da licenciatura. No que concerne ao investimento em estudos poste-riores constatamos que a maioria dos licenciadosnão pretende realizar qualquer tipo de formação pós-licenciatura. Já no contexto do futebol, a realidade ébem diferente, visto que praticamente toda a amos-tra frequentou ou pretende frequentar cursos de trei-nador ou formações adjacentes. De qualquer modo,alguns licenciados mantêm o contacto com a insti-tuição formadora, especialmente para o contactocom docentes.A conclusão geral desta investigação prende-se como facto global dos licenciados com opção de futebolestarem inseridos profissionalmente no mundo dofutebol, exercendo cargos relacionados com a forma-ção adquirida. Contudo, esta inserção profissionalnão se revela plenamente compensada, uma vez quenecessitam de exercer funções noutros sectores dodesporto para complemento do salário mensal.

NOTAS1 A declaração de Sorbonne, precede a declaração de Bolonha,com vista à harmonização do ensino superior, assinada emParis, a 25 de Maio de 1998, pela Alemanha, França, Itália eReino Unido.http://www.aic.lv/rec/Eng/new_d_en/bologna/sorbon.html2 A Declaração de Bolonha foi assinada em 19 de Junho de1999, com o objectivo de introduzir um conjunto de reformasno ensino superior, permitindo uma maior harmonização, com-petitividade e atractividade para os estudantes europeus e deoutros continentes, nomeadamente dos Estados Unidos daAmérica e da Ásia.http://ec.europa.eu/education/policies/educ/bologna/bolog-na_en.html3 Na sequência do Desp. 1/ME/88, surge a Portaria nº 464-A/88, de 15 de Julho (suplemento nº 162, I série do Diário daRepublica) que fundamenta a criação legal da licenciatura.

CORRESPONDÊNCIAVictor MaçãsUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroDepartamento de DesportoQuinta de PradosApartado 10135000-911 Vila RealE-mail: [email protected]

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Turismo de prática desportiva: um segmento do mercado do turismo desportivo

Pedro Guedes de Carvalho 1Rui Lourenço 1,2

1 Centro de Estudos em Desporto, Saúde e DesenvolvimentoHumano (CIDESD)Universidade da Beira InteriorPortugal

2 Técnico Superior nas Termas de MonfortinhoPortugal

RESUMOO Turismo Desportivo representa o corpo de conhecimento e oconjunto de práticas onde as áreas do turismo e do desporto setornam interdependentes. Esta área de sobreposição evidencia-se a dois níveis que se poderão chamar de Turismo deEspectáculo Desportivo e Turismo de Prática desportiva. De acordo com Pigeassou(9), os fundamentos do turismo des-portivo não são os mesmos que se utilizam na classificação deactividades desportivas. Neste artigo procura-se dar um contributo teórico para a com-preensão do Segmento de mercado do Turismo de PráticaDesportiva através de uma análise da tipologia de comporta-mento dos seus clientes, clarificando as motivações dos mes-mos e mostrando a importância que essa proposta pode ter nodesenvolvimento do destino turístico. Alguns resultados de um trabalho experimental realizado sãotambém apresentados.

Palavras-chave: turismo, desporto, turismo desportivo, turismode prática desportiva, turismo de espectáculo desportivo

ABSTRACTSport practice tourism: a segment of sport tourism market

Sport Tourism represents the knowledge and the group of practiceswhere Sport and Tourism became interdependent. This overlapping areaturns clearly at two levels that might be named by Sport TourismSpectacle and Sport Tourism Practice. According to Pigeassou(9 )the foundations of sport tourism do not con-sist purely of classifying sport tourism activities using categoriesemployed in sport activities.In this article we provide a theoretical framework for the understand-ing of the market segment in Sport Tourism Practice, looking at theirclient behaviour typology, their motivations and high lightening therole this framework plays on the tourist destiny development.Furthermore we present some empirical results of a seminal experimen-tal design.

Key-words: tourism, sport, sport tourism, sport tourism practice,sport tourism spectacle

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INTRODUÇÃONos últimos 30 anos a evolução tecnológica e socialtransformou de forma fantástica o modo como amaioria das pessoas vêem o tempo e a vida. Se háalgumas décadas atrás era impensável para a genera-lidade da população viajar pelo simples prazer deconhecer sítios novos, hoje isso é banal para muitagente, de tal modo que a viagem turística já se trans-formou em algo mais do que conhecer sítios novos. Neste contexto o Turismo vive uma fase de profundatransformação. Mais do que sítios diferentes ouoportunidades de descanso, as pessoas viajam cadavez mais à procura de novas experiências, novasvivências associadas a diversas práticas activas. Como um dos pontos mais marcantes nesta transfor-mação podemos destacar a passagem de um turismoinactivo, em que o objectivo era “desligar” e isolar-mo-nos do mundo, para um turismo activo onde oobjectivo é também viver nos limites o contexto daviagem e retirar desta a maior quantidade e a melhorqualidade de vivências e experiências marcantes. O desporto, actividade onde o Homem experimentaos seus limites, está inserido nas mesmas dinâmicasda sociedade contemporânea, experimentando tam-bém uma fase de crescimento e de mutação. Assumenovas formas, novos contextos e novos valores, ondepara além da competição com os outros, as pessoasprocuram para si evasão, saúde e novas vivências. O desporto no seu todo representa actualmente umdos mais fascinantes e relevantes fenómenossociais; Manuel Sérgio refere mesmo que “oDesporto é o fenómeno cultural de maior magia no mundocontemporâneo”(14).Para além de se desenvolverem de forma individuali-zada, o turismo e o desporto foram-se desenvolven-do ao longo dos tempos de forma sistémica, comsinergias e áreas de sobreposição. Este aspectotorna-se especialmente evidente nas últimas décadasdo século XX, dando origem ao que se passou adesignar na literatura por Turismo Desportivo. Para além da prática desportiva assume tambémespecial relevância o espectáculo desportivo; por issoo Turismo Desportivo apresenta duas tipologiasespecialmente relevantes, uma associada ao espectá-culo desportivo (TED) e uma segunda associada àprática desportiva (TPD). É objectivo deste artigo contribuir para a com-

preensão desta relação e, consequentemente, esta-belecer com maior rigor um quadro conceptual quepermita potenciar o desenvolvimento sustentávelno segmento de mercado do Turismo de PráticaDesportiva (TPD), seja enquanto motivação princi-pal de viagem ou como complemento de outrasmotivações turísticas.

DESPORTO E TURISMO – UMA EVOLUÇÃO PARALELANas suas formas contemporâneas pode dizer-se queDesporto e Turismo tiveram origem na revoluçãoindustrial e mantêm, desde essa época, uma evolu-ção individualizada mas com um paralelismo muitointeressante. Foram idênticos os factores, os tempos e os contex-tos sociais que representaram pontos de mudança ede desenvolvimento, podendo destacar-se 4 factoresque tiveram um papel fundamental para a relevânciaque estes dois fenómenos representam hoje nasociedade:

Figura 1. Ilustração do percurso dos fenómenos desporto e turismo ao longo do tempo

A concentração das populações em torno dos centrosurbanos; O aumento da duração do tempo de lazer; O aumento do poder de compra; e O desenvolvimento dos meios de transporte.

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Com tantos pontos em comum este percurso acaba-ria por se cruzar como seria de esperar. Como seilustra na Figura 1, o Turismo e o Desporto passam ater actividades, contextos e práticas comuns aos doissectores de actividade a partir de determinada época. Estes campos comuns representam uma zona ondeas duas actividades se sobrepõem; a este espaço desobreposição ou de “intercepção” como referePigeassou(9), chama-se actualmente TurismoDesportivo. Kurtzman e Zauhar(5) afirmam mesmoque “os pontos de contacto entre o desporto e oturismo tem aumentado drasticamente”.Embora se possa considerar que as relações entreTurismo e Desporto se tenham iniciado mais cedo, oturismo desportivo tal como o conhecemos hoje tema sua origem em meados do século XX, estando emgrande medida associado ao “surgimento dos des-portos de Inverno nos Alpes”(8). No entanto, aexpressão “turismo desportivo” surge apenas nadécada de 70 em França(8). Partindo deste quadro, É nosso entender que, parase estudar o turismo desportivo como instrumentopotenciador do desenvolvimento sustentado, setorna necessário clarificar os seus dois conceitosconstituintes – o turismo e o desporto.

DesportoNo âmbito da Carta Europeia do Desporto oConselho da Europa define desporto como: “Todas as formas de actividades físicas que, através de umaparticipação organizada ou não, têm por objectivo a expres-são ou o melhoramento da condição física e psíquica, odesenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resul-tados na competição a todos os níveis”(13). De acordo com esta definição e tendo como quadrode referência a “Motricidade Humana”1, podem-seincluir no conceito de desporto todas as suas novasformas. Estas são cada vez menos formalizadas,geradas em função de um contexto específico e sub-metendo-se muitas vezes a uma lógica comercial deproduto.Esta posição está em concordância com autorescomo Standeven e De Knop que defendem que umadefinição larga de desporto permite “aumentar o signi-ficado das ligações entre turismo e desporto”(15).Devemos realçar também que o desporto se assumeà escala global como um excelente espectáculo2

capaz de mobilizar multidões e de fidelizar umaimensa quantidade de espectadores, por um ladoatravés da presença ao vivo, mas especialmente atra-vés do acompanhamento à distância e muitas vezesem simultâneo. Com base nestes pressupostos considerar-se-á comodesportistas, não só o praticante desportivo mastambém o espectador desportivo, sendo estes doisgrupos os principais clientes actuais do mercadoDesporto.

TurismoA Organização Mundial do Turismo (OMT), agênciaespecializada das Nações Unidas (ONU) dedicada aoturismo com sede em Madrid define Turismo como:“O conjunto das actividades desenvolvidas por pessoasdurante as viagens e estadas em locais fora do seu ambientehabitual por um período consecutivo que não ultrapasse umano, por motivos de lazer, de negócios e outros”(6).Como cliente do mercado turístico, a OMT considerao Visitante, que será qualquer pessoa que viaja paraqualquer lugar fora do seu ambiente habitual pormenos de 12 meses consecutivos e cujo motivo prin-cipal da visita não seja o de exercer uma actividaderemunerada no local visitado. A OMT distingue ainda entre Turista que será o visi-tante que permanece pelo menos uma noite no localvisitado e Visitante do dia, a pessoa que não perma-nece pelo menos uma noite.Este tipo de definições são extremamente úteis doponto de vista estatístico e quantitativo, bem comopara definir um quadro de referência objectivo. O Turismo é no entanto um fenómeno extremamen-te complexo, lato e interdisciplinar e ter-se-á que seconsiderar como parte integrante da actividade turís-tica os meios que permitem a viagem, as actividadese os serviços turísticos numa lógica sistémica e deinteracção com os outros sectores de actividade.

ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL: O TURISMO DESPORTIVOA relevância das áreas de sobreposição que se referi-ram tem aumentado de tal forma que na actualidadepodemos falar da existência consolidada de TurismoDesportivo quer do ponto de vista conceptual, querpela sua relevância de mercado. Pigeassou(9) conside-ra que o contributo económico deste segmento de

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mercado do turismo “tem crescido fortemente nasúltimas décadas”. O Turismo Desportivo representa assim o corpo deconhecimento e o conjunto de práticas onde as áreasdo turismo e do desporto se tornam interdependen-tes, merecendo alguma especialização no seu estudo. A Figura 2 ilustra esta relação. Podemos dizer que existe um conjunto de activida-des que são simultaneamente turísticas e desporti-vas, carecendo portanto das abordagens pluridiscipli-nares entre o turismo e desporto. Pigeassou, Bui-Xuan e Gleyse(8) referem que “clarificar a noção nãosignifica necessariamente que o fenómeno definidocomo turismo desportivo não possa ser analisadoatravés de metodologias usadas no estudo do turis-mo e do desporto”

Figura 2. Sobreposição do Turismo e do Desporto

É nossa opinião que o turismo desportivo não emer-ge de qualquer ruptura com o desporto ou com oturismo, mas sim de uma abordagem metodológicapluridisciplinar entre estes dois fenómenos. Nãoexiste uma prática que tenha deixado de ser despor-tiva, ou deixado de ser turística, para passar a serturístico-desportiva. O que se passa é que o fenóme-no desporto cresceu num sentido que fez com que odesporto tivesse necessidade de recorrer aos serviçose aos conhecimentos do turismo. O inverso tambémacontece, o turismo cresceu num sentido que tornaútil a utilização dos serviços e dos conhecimentos dodesporto no âmbito da actividade turística.Pigeassou, Bui-Xuan e Gleyse(8) consideram que oturismo desportivo enquanto disciplina se encontraainda numa “fase pré-paradigmática”. Existe assim,

no actual contexto do desenvolvimento do turismodesportivo, a necessidade de fomentar uma relaçãomuito próxima entre os técnicos de desporto e ostécnicos de turismo, de modo a que a reunião destesdois “saber-fazer” permita potenciar ao máximo odesenvolvimento tanto do ponto de vista conceptual,como da compreensão das dinâmicas do segmentode mercado do turismo desportivo. Várias instituições e autores têm apresentado contri-butos relevantes para a compreensão do conceito deturismo desportivo. De entre os vários contributosdestaca-se por exemplo a OMT e autores comoStandeven e De Knop na sua obra intitulada “SportTourism”(15), Cunha no seu trabalho “Introdução aoTurismo”(2), onde o turismo desportivo é apresenta-do como um tipo de turismo3. Também apresentamespecial relevo alguns artigos publicados no Journalof Sport Tourism ou no Cahier Éspaces, dos quais sepodem destacar “Epistemológical Issues on SportTourism: Challenge For a New Scientific Field” dePigeassou, Bui-Xuan e Gleyse(8, 11), “Sport andTourism: A Conceptual Framework” de Gammon eRobinson(4) ou “A Wave in Time – The SportsTourism Phenomena” de Kurtzman e Zauhar(5),entre outros. Apesar de os vários autores apresentarem diferentesperspectivas de análise, a necessidade de associaçãoentre turismo e desporto é consensual na análise doconceito de turismo desportivo. Assumindo esta óbvia sobreposição entre turismo edesporto torna-se necessário, para que se considereum indivíduo como turista desportivo, considerarque esse individuo tem que ser turista e simultanea-mente participar numa actividade desportiva oudesenvolvida em contexto desportivo. Assim, é possível definir quatro premissas que énecessário verificar para se considerar um qualquerindivíduo como turista desportivo; as primeiras trêsdecorrentes dos conceitos de turismo e de turistareferido nos ponto 2.2 e a última premissa implican-do a participação em actividades ou contextos asso-ciados ao desporto, cujo o âmbito foi definido noponto 2.1.Temos assim que considerar:1 - Que a pessoa realize uma viagem para fora doseu ambiente habitual e que permaneça pelo menosuma noite no local visitado (menos de uma noite

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será o Visitante Desportivo do dia4); 2 - Que esta viagem não tenha carácter definitivo,considerando normalmente que ela não deva excederos 12 meses; 3 - Que esta viagem não tenha como motivação prin-cipal exercer uma actividade remunerada; e 4 - Que o viajante participe durante a viagem ou aestada, numa actividade ou contexto desportivo.Se a associação entre turismo e desporto era consen-sual na bibliografia consultada, no que se refere àsdiferentes actividades e contextos que se podem con-siderar dentro do universo do turismo desportivo, asopiniões são um pouco mais diversas. Ainda assim,dois pontos são quase consensuais: (i) a Inclusão daprática desportiva e (ii) a assistência enquantoespectador.De realçar uma quase unanimidade em considerarcomo turismo desportivo para além das actividadesdesportivas praticadas pelos turistas, também asactividades desportivas a que o turista assiste ou éespectador. Diversos autores utilizam uma termino-logia que considera a prática desportiva como parti-cipação activa e a assistência a um espectáculo des-portivo como participação passiva. Para além das actividades direccionadas para a práticae para a assistência desportiva, existe um conjunto deoutros aspectos que embora menos consensuais, ouabordados de diferentes perspectivas, são referidos naliteratura e podem ser considerados como zonas desobreposição entre o turismo e o desporto. No entanto, é nossa opinião que o conjunto de activi-dades desportivas em que participem turistas, sejaenquanto praticantes ou espectadores, representam omaior relevo no fenómeno Turismo Desportivo. Asoutras formas de turismo desportivo que abordaremosresumidamente no ponto 3.3 deverão assim ter umpeso residual e pontual enquanto zonas de sobreposi-ção entre as áreas do desporto e do turismo. Estedado carece ainda assim de uma análise mais aprofun-dada de indicadores como a quantidade de turistasenvolvidos em cada um dos tipos de turismo desporti-vo ou os volumes de negócios associados. A participação de turistas em actividades ou contextosdesportivos pode agrupar-se na seguinte tipologia: 1 - Turismo de prática desportiva (TPD); 2 - Turismo de espectáculo desportivo (TED);3 - Outros contextos turístico-desportivos.

Em conclusão e como sistematização do fenómenoturismo desportivo, apresenta-se a Figura 3 que ilus-tra os diferentes tipos de turismo desportivo.

Figura 3. Principais tipos de Turismo Desportivo

A importância desta clarificação é a de que a cadatipo definido podemos associar também um tipo decliente, o que tem diferentes implicações no marke-ting e estratégia de desenvolvimento económico.Assim definidos os conceitos, importa realçar aindaque o turismo desportivo e cada um dos seus tipos,não se resumem aos seus clientes. Para além dosclientes, é necessário considerar as dinâmicas entretodos os intervenientes no fenómeno. Na Figura 4,que apresentaremos aquando da análise do mercadodo turismo de prática desportiva, podemos verificarcomo em qualquer outro mercado, que para alémdos clientes/consumidores é necessário consideraros produtores, os distribuidores e os facilitadores.No entanto é nossa opinião que a organização detodas as dinâmicas deve começar pela análise rigoro-sa dos clientes-tipo que poderão viabilizar e poten-ciar um determinado mercado.

Turismo de prática desportiva Relativamente ao turismo de prática desportiva estepode definir-se como o Conjunto de actividades des-portivas em que participem turistas enquanto prati-cantes. Podemos considerar a pessoa com este tipode participação no desporto como o turista praticantedesportivo que, por sua vez se poderá definir comoaquele Turista que, durante a sua viagem, praticauma qualquer actividade desportiva, independente-mente da motivação principal da viagem.Pigeassou(9) chama e esta família de relações entre oturismo e o desporto a “prática de actividades físicas

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TURISMO DESPORTIVO

Turista Praticante Desportivo

Turismo de Prática

Desportiva

Turista Espectador Desportivo

Outros Clientes turístico-desportivos

Outros contextos turístico

desportivos

Turismo de Espectáculo Desportivo

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e/ou desportivas” ou “Turismo desportivo de acção”onde a “actividade física é um iniciador e um inter-mediário da experiência” que se vive. Na estrutura de relações de “sinergia” entre turismo edesporto, Robinson e Gammon(12) não distinguem aprática desportiva como segmento do turismo despor-tivo, mas referem-se ao turismo desportivo como a“análise dos indivíduos e/ou grupos de pessoas queparticipam activamente ou passivamente em desportocompetitivo ou recreativo” podendo considerar-se a“participação activa” como a prática desportiva. De uma forma menos atenta poder-se-ia ter a tenta-ção de definir turismo de prática desportiva como oturismo em que a principal motivação de viagemfosse a participação numa qualquer actividade des-portiva enquanto praticante. No entanto uma análisemais aprofundada permite perceber que este tipo deturismo representa apenas uma parte dos turistaspraticantes desportivos. Com efeito, também as pes-soas que embora tenham outra motivação de viagem,como por exemplo o turismo de sol e mar ou o turis-mo em espaço rural, podem vir a praticar uma activi-dade desportiva. Independentemente da motivaçãoda viagem, a prática desportiva por parte dos turistasrepresenta um campo de sobreposição entre o turis-mo e o desporto. Este aspecto será desenvolvido nasecção 4.

Turismo de espectáculo desportivoRelativamente ao turismo de espectáculo desportivo, estepoderá definir-se como o conjunto de actividadesdesportivas de que usufruam os turistas enquantoespectadores considerando-se a pessoa com este tipode participação no turismo desportivo como o turistaespectador desportivo. Este poderá assim definir-secomo o turista que, durante a sua viagem, assiste aum qualquer espectáculo ou evento desportivo, inde-pendentemente da motivação principal da viagem. Pigeassou(9) chama e esta família de relações entre oturismo e o desporto a “participação em eventos ouexibições focadas no desporto” ou “Turismo despor-tivo de eventos”, em que “uma proximidade senso-rial e emocional com a situação real é essencial”. Robinson e Gammon(12) na mesma análise referidano sub-capítulo 3.1 referem-se à “participação passi-va” podendo considerar-se esta como a assistência aespectáculos desportivos.

Assim considerado, o espectáculo desportivo tem-sedesenvolvido de forma exponencial ao longo das últi-mas décadas, em parte devido ao desenvolvimentomediatizado de competições a nível global, conse-quência do desenvolvimento dos meios de transportee comunicação de larga escala ocorrido a partir demeados do século passado. Os modelos competitivos bastante atractivos vieramfomentar a assistência ao vivo às competições desporti-vas (exemplos disso: os Jogos Olímpicos, oCampeonato do Mundo de Futebol, Campeonato doMundo de Formula 1, Voltas nacionais em ciclismo,...)tornando-os numa nova forma de actividade económi-ca de elevada relevância nas economias dos países. Tem-se assim uma enorme quantidade de pessoasque se deslocam tendo como objectivo principalassistir a espectáculos desportivos ou que, estandode férias com qualquer outra motivação, acabam porassistir a espectáculos desportivos que se realizamno mesmo destino turístico. Este mercado assume assim um relevo muito signifi-cativo, não só pela capacidade de atracção de turistasde forma directa, mas também como forma de pro-moção dando visibilidade a um determinado destinoou contexto turístico. A título de exemplo podería-mos referir o Euro 2004 realizado em Portugal e quepara além das receitas directas que proporcionou,também contribuiu de forma muito interessante paraa promoção de país no exterior. O TED assume assim diversas características quepermitem análises distintas e muito úteis para acompreensão do fenómeno turismo desportivo, ana-lises essas que serão aprofundadas noutros artigosfuturos.

Outras formas de turismo desportivoPigeassou(9) refere quatro tipos de práticas sociaisque associam turismo e desporto e que são, paraalém do “turismo desportivo de acção” e do “turis-mo desportivo de evento”, o “turismo desportivo decultura” e o “turismo desportivo de envolvimento”. O turismo desportivo de cultura refere-se a um carác-ter mais cognitivo da cultura desportiva que podeestar associado a um sentido de história desportiva,de curiosidade intelectual ou de veneração. O turismodesportivo de envolvimento refere-se às situações ine-rentes ao mundo do desporto, nomeadamente às inú-

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meras possibilidade de viagem turística associadas àadministração desportiva ou ao treino. Por exemplo o“staff de uma competição” ou os “workshops de for-mação desportiva complementares”. Para além de considerarem que a relação entre turis-mo e desporto pode ser “participativa” ou “não par-ticipativa”, Kurtzman e Zauhar(5) utilizam uma ter-minologia mais prática, identificando cinco catego-rias de turismo desportivo: as “atracções de turismodesportivo”, os “resorts de turismo desportivo”, os“cruzeiros de turismo desportivo”, as “viagens deturismo desportivo” e os “eventos de turismo des-portivo”. Em nossa opinião existe um conjunto de relaçõesentre turismo e desporto que vão para além do TPDe do TED sendo estas tipologias muito variadas eapresentando cada uma delas aspectos muito especí-ficos e que importa analisar caso a caso. Sem nos alongarmos nesta discussão, deixamosalguns pontos que poderão servir de ponto de parti-da para uma análise mais aprofundada:— algumas destas relações podem não implicarclientes de turismo desportivo (por exemplo: osestágios pré-competitivos das equipas de desportoprofissional têm normalmente um efeito muitosuperior ao nível da promoção turística do que dodesenvolvimento de serviços de turismo desportivo);— algumas destas relações podem estar muito próxi-mas de outros tipos de turismo (por exemplo: doturismo cultural no caso dos museus ou exposiçõescom motivos desportivos);— algumas destas relações representam nichosmuito específicos e cujo a interpretação dificilmentepode ser transposta para outros contextos.

O MERCADO DE TURISMO DE PRÁTICA DESPORTIVA Na presente secção analisa-se o mercado do TPD,isto é, o conjunto de actividades desportivas em queparticipem turistas enquanto praticantes, abordandoa forma como estas se organizam e atendendo aindaàs dinâmicas que geram para poderem ser explora-das numa lógica de mercado. No trabalho “Reinventando o Turismo emPortugal”(1) publicado pela Confederação do TurismoPortuguês/SaER é sugerido o modelo apresentado naFigura 4 para sintetizar a Organização Actual daIndústria do Turismo.

Figura 4. Organização actual da indústria do turismo

Fonte: Adaptado de CTP(1)

Neste modelo podem distinguir-se, como noutrosmercados, quatro tipos de agentes intervenientes naindústria do turismo: os Produtores, osDistribuidores, os Facilitadores e os Consumidores. Este modelo não faz referência a um tipo de agentesque parece muito relevante para o desenvolvimentoda Indústria do Turismo e que se poderiam designarde «Planificadores», isto é, os agentes públicos e nãopúblicos que contribuem para o estudo do fenómenoe para a definição de estratégias globais de um deter-minado sector ou tipo de agentes ou ainda para aconstrução de um verdadeiro destino turístico. Seráo caso por exemplo dos organismos públicos de pro-moção turística quer a nível nacional, regional oulocal; das associações empresariais representantes deuma determinada região ou sector; das escolas e ins-titutos responsáveis pelo estudo do turismo, etc. Na perspectiva económica e de marketing são asnecessidades e motivações dos consumidores quedefinem quais os melhores produtos e quais osmelhores canais que os Produtores, osDistribuidores e os Facilitadores devem utilizar parachegar aos Consumidores/Clientes. Cabe a quem planifica uma actividade tornar coeren-te a adequação entre estas necessidades e os objecti-vos de mais largo prazo como exige qualquer activi-dade económica moderna (preocupações com oambiente e a sustentabilidade de uma região, país oumesmo do Planeta).Vamos de seguida caracterizar os turistas praticantesdesportivos e distinguir os principais tipos que sepodem considerar.

Gestão do Desporto

PRODUTORES

Restauração

Diversão/outras

Cultura

Hotelaria

Transportes

DISTRIBUIDORES FACILITADORES CONSUMIDORES

Tour Operators

Internet Websites

Informação

Turistas Independentes

Agencias Viagens

“Tour

Travellers”

Organização Actual da Industria de Turismo

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Turismo de prática desportiva – os consumidores Os Turistas Praticantes Desportivos, isto é, os consu-midores de TPD, podem ser analisados sob duasperspectivas: (i) a da viagem turística e toda a logísticaque a torna possível e (ii) a da prática desportiva etudo o que exige a sua organização e realização. Relativamente à viagem turística, o modelo de indús-tria do turismo apresentado distingue dois tipos deturistas, os Turistas Independentes e os “TourTravellers”, exigindo a consideração de dois tipos deatitudes determinantes da procura de viagem turísti-ca. No TPD podem encontrar-se estes dois tipos deturistas, dependendo muito do tipo de destino turís-tico, do tipo de actividade desportiva escolhida e atéda personalidade e das preferências do próprio turis-ta pelo que é importante realçar outros aspectos paraalém da forma de planeamento da viagem. Pigeassou, Bui-Xuan e Gleyse(8) afirmam que “omeio desportivo é a primeira característica e o maisimportante elemento no turismo desportivo” Nomesmo raciocínio também os aspectos associados àprática desportiva constituem o principal elementodiferenciador relativamente aos outros tipos de turis-mo desportivo ou outro.

Dois tipos de turistas praticantes desportivosA prática desportiva pelos turistas pode constituir-secomo uma motivação de viagem ou como um com-plemento dessa viagem. Robinson e Gammon(12)

num artigo dedicado à questão dos motivos primá-rios e secundários na estrutura do turismo desporti-vo e referindo-se genericamente ao turismo desporti-vo5 salientam que este pode dividir-se entre os que“viajam em primeiro lugar pelo desporto” e os queconsideram o desporto numa perspectiva secundária. Aquilo que consideramos novo em relação ao traba-lho de Pigeassou(9) na nossa abordagem é que, narealidade, uma viagem turística tem normalmenteuma motivação comportamental principal associada;no que diz respeito ao TPD esta motivação principalda viagem permite distinguir dois tipos de consumi-dores ou dois tipos de turista praticante desportivoaos quais vamos chamar de Entusiasta e Esporádico,sendo que: — Entusiasta será o turista que se desloca para umqualquer destino tendo como motivação principal aprática de uma actividade desportiva específica e

— Esporádico será o turista que pratica uma qualqueractividade desportiva durante a sua viagem, mas emque a prática desportiva não é a motivação principalda viagem. E é esta diferença que permite clarificar o papel daoferta turística na captação de novos clientes dosegundo grupo.Por exemplo, um turista que se desloca com a moti-vação de fazer termas e acaba por realizar um per-curso pedestre que lhe é proposto pela equipa deanimação das termas é também um TPD Esporádico.Consideremos por exemplo um turista que se deslo-ca à Serra tendo como objectivo a realização de umatravessia a pé entre dois abrigos de montanha. Eleserá um TPD Entusiasta, neste caso entusiasta dopedestrianismo. Parecendo pouco relevante esta distinção, ela eviden-cia contudo a existência de dois tipos de turistasque, podendo utilizar a mesma actividade comomeio de ocupação de uma parte do seu tempo dedi-cado ao turismo, confere à prática desportiva carac-terísticas claramente distintas do ponto de vista domarketing e, como tal, necessitam de ser abordadosde forma diferenciada nos produtos/serviços que selhes proponham. Os produtores, distribuidores e facilitadores, bemcomo «os planificadores», que intervêm mercado dasactividades de TPD podem ter a consciência da exis-tência dos dois públicos completamente distintos aque se dirigem, o que implica que se saibam direc-cionar-se a cada um deles de forma eficiente, nomea-damente no que diz respeito às:- Modalidades/actividades desportivas a propor; e- Estratégia a definir para cada destino turístico.Nesse sentido, a clarificação de conceitos aqui pro-posta tem um alcance importante no desenho deuma estratégia de desenvolvimento turístico combase em actividades desportivas.Vários autores têm realçado estes dois tipos de com-portamento dos turistas face à prática desportiva,embora usem terminologias distintas. Robinson e Gammon(12) usam uma terminologia queconsidera “turismo desportivo” quando o desporto éa “principal motivação de viagem” e “desporto turís-tico” quando o “desporto é uma actividade secundá-ria”. Por sua vez, Pereira(7) distingue entre uma “ver-tente eminentemente desportiva” e uma “vertente

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eminentemente turística” considerando que no pri-meiro “as pessoas se deslocam tendo como principalobjectivo o desporto” e que no segundo “o sistematurístico é o motor do binómio”, onde “a procura depráticas desportivas, por parte dos turistas, se centraessencialmente na óptica do lazer”. Devemos aindaassim referir que embora estes dois autores conside-rem a prática desportiva, não a distinguem do espec-táculo desportivo como segmentos significativamen-te distintos, considerando-os fenómenos integrados.No entanto eles reflectem diferentes atitudes com-portamentais dos turistas face à prática desportiva.A nossa concepção diferencia-se da apresentada naliteratura uma vez que encara a actividade desportivacomo um potencial instrumento de acréscimo devalor e não apenas como uma mera actividade turís-tica residual. Considerando que o turismo de práticadesportiva representa um segmento do turismo des-portivo com características suficientemente autóno-mas para justificar uma análise autónoma e conside-rando ainda que existem dois perfis de cliente clara-mente distintos, importa definir ferramentas quepermitam aos técnicos que actuam no terreno inter-vir de forma eficiente.Para o efeito sistematizam-se na Tabela 1 algumassemelhanças e diferenças entre o TPD Esporádico eo TPD Entusiasta, quanto às características/-activi-dades/decisões que nos parecem mais marcantespara caracterizar estes consumidores. Para além da comparação decidiu-se agrupar os pon-tos que permitem distinguir entre os dois tipos em: 1 - Aspectos relacionados com o turismo e planea-mento da viagem e 2 - Aspectos relacionados com a prática desportiva.O trabalho experimental que se fizer com base emindicadores objectivos para cada uma das dimensõesdefinidas deverá permitir avaliar se esta hipótese decategorização proposta é a mais ajustada.

Principais impactos do TPD no destino turístico Também podemos pensar o turismo de prática des-portiva como elemento gerador de dinâmicas de sus-tentabilidade dos destinos turísticos. Não sendoainda possível uma verificação experimental destetema, sugerimos alguns efeitos que, em nossa opi-nião, se constituem como os mais relevantes e quedevem ser alvo de análise.

Relativamente aos praticantes Entusiastas poderáconsiderar-se um efeito de «evento de prática desporti-va» em que os turistas se deslocam a um destinocom a motivação de participar num evento específicoe um efeito de «visita regular» em que o que motiva avisita são as condições de referência aparentadaspelo destino turístico para a prática de uma activida-de específica. Relativamente aos praticantes Esporádicos terá espe-cial relevo um efeito de «animação turística», isto é, decomplemento e valorização de uma outra actividadeturística principal. Dado o diferente impacto económico que cada umadelas pode ter esta análise torna-se particularmenteimportante na definição de políticas municipais e deentidades diversas, uma vez que as autarquias, clu-bes e outras entidades têm uma enorme propensãopara se empenharem e subsidiarem fortementealguns eventos e actividades na crença de que ela sãodeterminantes para a promoção territorial dos seusterritórios. Ora pode não ser sempre esse o caso.

SÍNTESEMuitos têm sido os autores que ao longo das últimasdécadas têm procurado conceptualizar acerca dofenómeno Turismo Desportivo e da sua relevânciaeconómica e social, bem como, acerca do corpo deconhecimentos e do conjunto de práticas onde asáreas do Turismo e do desporto se tornam interde-pendentes.Embora dentro da mesma relação de sobreposiçãoentre turismo e desporto, o TPD apresenta, em ter-mos de procura e consequentemente em termos deoferta, características bem distintas dos outros tiposde turismo desportivo. Pelo que importa analisareste segmento de forma substancialmente autónoma. Considerando o segmento do TPD, torna-se impor-tante desenvolver ferramentas e perspectivas de aná-lise do fenómeno que permitam tanto aos técnicosde desporto como aos de turismo intervir nesta áreade forma mais eficiente. Para afinar a operacionalização desta proposta defini-ram-se dois tipos de turistas praticantes desportivos,os entusiastas e os esporádicos, cuja principal distinçãotem a ver com o comportamento e a motivação princi-pal da viagem; característica esta que revela uma atitu-de completamente distinta dos potenciais clientes face

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à prática desportiva realizada no contexto turístico. Dentro de uma lógica global do destino turístico, asactividades/modalidades desportivas a propor, assuas formas de organização e de promoção devemconsiderar estas diferenças de atitudes, potenciandoao máximo o impacto da prática desportiva comoinstrumento de política adequado para a sustentabi-lidade de um destino turístico. Por último, importa referir que é necessário com-pletar a presente análise com a verificação de indi-cadores cada vez mais objectivos que permitam ava-liar de forma mais rigorosa a proposta teórica aquiapresentada. No âmbito das Ciências do Desporto, teremos porexemplo os parâmetros fisiológicos, bem como da

habilidades motoras necessárias para cada activida-de específica para cada tipo de prática turístico des-portiva. Na perspectiva do TED é importante reunir a infor-mação existente segundo a hipótese apresentada,nomeadamente no que diz respeito às diferentestipologias de procura deste segmento.Pela nossa parte, já foi desenhada uma experiênciaaplicada à actividade “Percursos Pedestres nasTermas de Monfortinho”, cujos resultados estão des-critos noutro artigo dos mesmos autores6

Uma outra linha de investigação que importa dedesenvolver tem a ver com a própria medição deimpactos TPD como elemento potenciador da sus-tentabilidade dos destinos turísticos.

Gestão do Desporto

Características/Actividades/Decisões TPD Entusiasta TPD Esporádico

São turistas Sim Sim

Aspe

ctos

Si

mila

res

Praticam desporto durante a viagem Sim Sim

Têm como motivação principal de viagem praticar desporto

Sim Não

Planeiam a viagem em função do desporto que vão realizar

Sim Não

Decidem praticar desporto antes de iniciarem a viagem Sim Normalmente Não

Aspe

ctos

rela

cion

ados

co

m o

Tur

ism

o e

plan

eam

ento

da

Viag

em

Percentagem do tempo de férias dedicado à prática da actividade escolhida

Normalmente Alta Normalmente Baixa

Praticam com regularidade a actividade desportiva que vão realizar nas férias

Normalmente Sim

Normalmente Não

Equipamento individual necessário para a prática do desporto que praticam em férias é

Normalmente Próprio Normalmente Alugado

As habilidades motoras exigidas para a prática da actividade escolhida são

Muitas vezes Complexas

Normalmente Simples

O nível com que a actividade é Praticado é Intermédio ou Avançado

Normalmente de Principiante

Podem estar disponíveis para adquirir aulas de Aperfeiçoamento Iniciação

Aspe

ctos

rela

cion

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a P

rátic

a De

spor

tiva

Nível de exigência em termos de condições e infra-estruturas para a prática do desporto escolhido

Normalmente Elevado Baixo ou Pouco Específico

Tabela 1. Comparação entre turistas praticantes desportivos Esporádicos e Entusiastas

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NOTAS1 Termo atribuído a Manuel Sérgio, significando ”todo o movi-mento intencional do Homem na busca da superação dos seuslimites e do sentido da vida”.2 Um espectáculo é uma representação pública que impressionaou é destinada a impressionar. Pode ser uma apresentação tea-tral, musical, cinematográfica, circense, uma exibição de traba-lhos artísticos etc.(0).3 Curiosamente não está consagrado na recente legislação por-tuguesa como tal; de entre os produtos que a lei consagra cons-tam apenas o golfe e o turismo náutico. (Resolução ConselhoMinistros 53/2007).4 A OMT utiliza o critério de permanência de pelo menos umanoite para definir turista, numa lógica exclusivamente quantita-tiva; no entanto, quando se analisa o fenómeno numa lógicaglobal, temos que considerar que o visitante de um só dia é umelemento integrado dentro do fenómeno. Portanto, também ovisitante turista desportivo é um elemento integrado dentro dofenómeno turismo desportivo. No âmbito do presente artigopassaremos a usar genericamente a expressão turista desporti-vo. 5 Não fazem distinção entre turismo de prática e de espectáculodesportivo, embora considerem a participação activa a passivadentro da relação entre turismo e desporto. 6 Lourenço e Carvalho (2008) Estudo de caso: PercursosPedestres e os Termalistas clássicos em Monfortinho”, Postersubmetido para o Congresso APOGESD 2008, Porto.

CORRESPONDÊNCIAPedro Guedes de CarvalhoE-mail: [email protected] LourençoE-mail: [email protected]

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Sobre o (des)equilíbrio financeiro da primeira década do Sporting, Sociedade Desportiva de Futebol, SAD

Margarida Boa Baptista Paulo de Andrade

Faculdade de Motricidade HumanaUniversidade Técnica de LisboaPortugal

RESUMOComo noutros países, o futebol é indiscutivelmente a modali-dade desportiva com mais adeptos em Portugal. Os bons resul-tados obtidos pela selecção nacional constituem motivo deorgulho nacional e de sentimento de união. O objectivo desteartigo é dar uma maior visibilidade à parte mais oculta da ges-tão desportiva, a gestão económica e financeira dos clubes defutebol. A Sporting, SAD foi eleita para o presente estudo decaso. Os autores analisaram a evolução do equilíbrio financeiroda Sporting, SAD ao longo da primeira década da respectivaexistência, utilizando a abordagem clássica dos rácios financei-ros. Os dados recolhidos derivam dos documentos económico-financeiros e respectivos anexos publicados nos Relatórios eContas da Sporting, SAD. Os resultados apurados evidenciam odesequilíbrio financeiro em que a organização viveu ao longoda primeira década da sua existência, só ultrapassado nas últi-mas três épocas, em muito propulsionado pelas decisões deengenharia financeira tomadas durante a época de 2004/05.

Palavras-chave: gestão financeira, sociedade desportiva, futebol

ABSTRACTAbout the financial (un)balance of the first decade of SportingSoccer Sport Society

As it happens in many other countries, soccer is no doubt the sport,which gathers more fans in Portugal. The fine results achieved by thenational soccer team are a reason for national pride and union feeling.The purpose of this article is to highline sport’s management mostunseen part, the financial management of soccer teams. The Sporting,SAD was chosen as the present case study. The authors have analysedthe evolution of Sporting’s financial balance during the first decade ofits existence, using the classical financial ratio approach. The data wereobtained from the Sporting, SAD’s Financial Statements. The resultsshow an unbalanced financial period for the first seven years. AlthoughSporting, SAD has overtaken this problem for the last three years, it isthe authors’ opinion that the financial engineering performed by theorganization’s administration during the season of 2004/2005 was thebase for such a change.

Key-words: financial management, sport society, soccer

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INTRODUÇÃOSobre a importância do futebol O Futebol é indiscutivelmente a modalidade despor-tiva com mais adeptos em Portugal. Os bons resulta-dos obtidos pela selecção nacional e pelos três prin-cipais clubes com impacto internacional constituemmotivo de orgulho nacional e de sentimento deunião. Poucas são as actividades em que, como nofutebol, podemos encontrar um impacto tão positivona promoção exterior da imagem de Portugal. A importância que o futebol tem para os portugue-ses já no passado levou a que se sentisse um fenó-meno de sentido inverso: quando em 1934, a selecçãoda Federação Portuguesa de Futebol perdeu por 9-0, emMadrid, historiadores houve que levantaram, indignados,as suas vozes, afirmando que o resultado era indigno daPátria a que pertenciam os descendentes dos heróicos vence-dores de Aljubarrota…E note-se que esses intelectuais demaneira nenhuma estavam ligados ao movimento desporti-vo, e até o desmerecia(3).Uma actividade que tem um impacto tão relevante nasociedade não podia deixar de se assumir como umpoderoso foco de atracção para algumas pessoas queencontram no dirigismo desportivo uma via para, inde-pendentemente de servirem as organizações, se apro-veitarem da posição que ocupam para retirar benefíciospessoais que podem até apenas passar pelo protago-nismo público que adquirem. O poder dos dirigentesde futebol na sociedade portuguesa é realmente sur-preendente. Nesta matéria, lembremos as palavrasproferidas pelo Professor Manuel Sérgio quando assu-me que os clubes de maior nomeada funcionam, hoje, comoinstrumentos de conservação do poder, por parte de grupos deinteresses, arredando os sócios das magnas decisões sobre acoisa desportiva(9). Ironicamente, tal realidade é muitasvezes conseguida com os sócios convencidos que atélhes coube o poder de decidir, tal a complexidade dasmatérias que lhes são colocadas para análise… Umoutro exemplo bem ilustrativo desta situação é-nosrecordado pelo Professor José Esteves: João Havelange,na sua despedida da Federação Internacional de FutebolAssociado (FIFA), o acto de maior e mediática repercussão foiuma longa entrevista à British Broadcasting Corporation(BBC), também exibida em Portugal, onde respondeu à derra-deira questão, esta: “O que o moveu, o que o tem motivado,na sua longa vida, como dirigente desportivo?” disse apenasisto, ”O Poder”(3).Infelizmente a importância do futebol ultrapassa

mesmo a fronteira do fenómeno desportivo para semisturar na esfera da política. Uma vez mais oProfessor José Esteves alerta: para se alcançar o poder, eem particular o poder autárquico, dentre as promessas afazer, ou a dar a entender, mas tudo com largas delapida-ções dos dinheiros públicos, sobressaem as correspondentesaos futebóis locais. E são dezenas de milhões de contos quese despendem anualmente, pelas autarquias, pequenas,médias e grandes, as de todas as divisões, regionais e nacio-nais, que “o futebol é a distracção, a alegria, do povo”(3).Com um peso determinante na propagação einfluência do futebol encontramos os meios decomunicação social. Para lá de circularem emPortugal três jornais desportivos diários dedicadosquase em exclusivo ao futebol, é-nos também forne-cida informação diária em plenos telejornais, duranteos horários mais nobres, sobre os treinos dos trêsprincipais clubes portugueses. Encontramos aquiuma importante ponte para a compreensão da liga-ção dos clubes de futebol aos patrocinadores.Seguramente, não é irrelevante o facto de em perío-dos de tão elevada audiência poderem ver as suasmarcas expostas nos telejornais.

Sobre a gestão dos clubesDebruçando-nos agora sobre a forma como os clubessão geridos, sobressai o facto de existir uma gestãoclaramente direccionada para os sócios e adeptos,cuja preocupação está quase em exclusividade cen-trada nos resultados desportivos. A emoção da vitó-ria ou da derrota consubstancia-se no estímulo prin-cipal da sua reacção sobre a performance de dirigen-tes, técnicos e jogadores. Numa actividade em queestá presente uma tão importante carga emocional, agestão acaba inevitavelmente por ser norteada para amáxima debilitação das reacções nos momentosnegativos, bem como para um cuidado enaltecimen-to dos bons resultados.E o que dizer da criação de valor económico na orga-nização? Será vista como um objectivo para os sóciose adeptos?O actual Presidente do Sporting Clube de Portugaladmitiu recentemente que o Sporting teve anos de mágestão desportiva, é preciso reconhecê-lo(5). Dado o relevoque tem dado à difícil situação económica que oclube atravessa ao longo do seu mandato, admitimosque tenha um entendimento da gestão desportiva

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muito mais abrangente do que o respeitante à esferada performance competitiva. Não deixa, no entanto,de ser curioso que os elevadíssimos prejuízos anuaisnão tenham merecido qualquer comentário específi-co a um Presidente que tem dado tanta ênfase àsituação económica e financeira do clube.Ora, o que é uma gestão competente?Entronca aqui uma das vertentes principais do fute-bol, a quantidade de euros e dólares que giram emtorno desta modalidade. A perpetuidade do Clube égarantida apenas pelos êxitos desportivos ou neces-sitam estes de ser acompanhados por uma correctagestão económica e financeira? Não deverá uma ges-tão competente procurar alcançar equilíbrio econó-mico e financeiro lutando simultaneamente pelaobtenção de bons resultados desportivos?Recordemos Peter Drucker: as empresas têm de ter resul-tados financeiros satisfatórios para viverem; sem eles nãoconseguem sobreviver e não podem, de facto, fazer o seu tra-balho. Contudo, elas não existem para ter resultados finan-ceiros. Os resultados financeiros, por si mesmo, não são ade-quados, não são o propósito da empresa e não são a justifica-ção e a razão da sua existência(2). Sublinhemos portanto,algo que frequentemente parece arredado das mentesde tantos dirigentes desportivos: sem resultados eco-nómicos positivos as organizações não conseguemsobreviver. Então, justificar-se-á que nos questione-mos sobre a reacção de sócios e adeptos perante umamá gestão económica. Sofre algum tipo de penaliza-ção? E o papel do Conselho Fiscal? Alerta os sóciospara uma eventual degradação da situação económica?E é a este importante órgão alguma vez apontado odedo, co-responsabilizando os seus membros por nãodenunciarem a condução de um clube para uma situa-ção de falência? Nunca. Desde logo porque a maioriados sócios não sabe interpretar os dados fornecidospor um Balanço ou uma Demonstração de Resultados.E aqueles que sabem não se preocupam em, ano apósano, analisar a sua evolução. É portanto uma área quevai evoluindo sem grande controlo até que os sinaisvermelhos surjam bem acesos. Provavelmente, numaaltura em que a autonomia financeira já fica muitaaquém do desejável, entregando-se o clube nas mãosde terceiros, dos bancos. Como exemplo flagrante,mais uma vez, nas palavras do actual Presidente doSporting, SAD, tanto o Banco Espírito Santo (BES) comoo Banco Comercial Português (BCP) acham que têm uma

exposição muito elevada no Sporting cujo índice de solvabili-dade é muito baixo. Ou seja, querem que o clube diminuaradicalmente o seu passivo bancário(4).

Sobre os objectivos do trabalhoCom este trabalho vamos procurar dar uma maiorvisibilidade para a parte mais oculta da gestão des-portiva, a gestão económica e financeira dos clubesde futebol. Com o advento das SAD’s procurou-secriar uma nova cultura, novas metodologias de traba-lho, trazendo para as organizações desportivas umaindispensável componente empresarial, uma maiorprofissionalização da estrutura. A sociedade quevamos analisar, a Sporting, Sociedade Desportiva deFutebol, SAD foi constituída por escritura pública de28 de Outubro de 1997, com um capital de7.000.000 contos, com apelo à subscrição pública,regendo-se pelo regime jurídico especial estabelecidono Decreto-lei n.º 67/97, de 3 de Abril. No prospec-to de Subscrição Pública, em Agosto de 1997, pode-se ler que a Vossa empresa é gerida de forma responsável etransparente na defesa do património dos seus accionistas.Mas será que esta profunda transformação se veio areflectir em mudanças comportamentais dos dirigen-tes face à gestão e, em particular, no que respeita àevolução do equilíbrio financeiro da organização aolongo da primeira década da respectiva existência?Esta é uma das perguntas a que iremos tentar res-ponder com este trabalho.Pretendemos assim, com o presente trabalho, focali-zar a atenção para a necessidade do adepto apaixona-do passar a encarar como uma inevitabilidade a ges-tão do clube de uma forma integrada, onde a compo-nente desportiva nunca pode desassociar-se da estra-tégia económica e financeira, de molde a poder estarsempre garantida, num prazo mais ou menos longo,a obtenção do indispensável equilíbrio económico efinanceiro, essencial ao futuro da organização des-portiva e sustentáculo fundamental à tão desejadacompetitividade desportiva a médio e longo prazo.

MATERIAL E MÉTODOSSobre o método aplicadoA verificação de equilíbrio financeiro é consideradafundamental para a análise da estabilidade da organi-zação. O estudo do equilíbrio financeiro visa a certi-ficação da existência, ou não, de um relacionamento

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equilibrado entre os recursos e as aplicações existen-tes em qualquer organização(6). As decisões de ges-tão sobre a estrutura financeira, ou sobre a formaatravés da qual os elementos do activo (aplicações defundos) são financiados, por capitais alheios de curtoou médio e longo prazo (origens alheias de fundos)ou por capitais próprios (origens próprias de fun-dos), devem garantir a existência de equilíbrio finan-ceiro na organização. Pelo exposto, são incontorná-veis os efeitos condicionantes de duplo sentido entreas políticas de investimentos e financiamentos. Ditode outro modo, a política de investimentos é condi-cionada pela política de financiamentos tal como,por seu turno, não se deverá conceber uma políticade financiamentos desintegrada da política de inves-timentos. Para a aferição pretendida utilizámos a abordagemtradicional que assenta em dois vectores elementa-res, a saber, a análise do Fundo de Maneio e a Teoriados Rácios(1), no que respeita exclusivamente aoconjunto de rácios que apreciam aspectos de índolefinanceira, denominados rácios de liquidez e definanciamento. Existem outras teorias de análise do equilíbrio finan-ceiro, das quais destacamos a Teoria Funcional, cujapreocupação reside no equilíbrio funcional entre asorigens e as aplicações de fundos, estudando a rela-ção existente entre si para cada ciclo financeiro daorganização (ciclo de investimento, ciclo das opera-ções financeiras e ciclo das operações de exploração),a partir da construção do balanço funcional(1, 6).Contudo, para que a sua aplicação seja possível, énecessário ter-se um conhecimento detalhado sobreas componentes das diversas rubricas que consti-tuem as grandes classes de contas do Balanço. É poisdevido à carência de tal informação, bem como àopção dos autores em não sustentar a aplicação dareferida teoria em demasiados pressupostos, no sen-tido de diminuir ao máximo o risco da subjectivida-de, que se optou por utilizar para o presente traba-lho uma teoria já há muito testada, garantindo assimum elevado grau de fiabilidade quanto aos resultadosalcançados.

Sobre a recolha de dadosOs dados recolhidos derivam dos documentos eco-nómico-financeiros e respectivos anexos publicados

nos Relatórios e Contas do SPORTING – SociedadeDesportiva de Futebol, SAD., em especial, os dadosincluídos nos Balanços e Demonstrações deResultados, relativos aos primeiros dez anos de exis-tência da sociedade desportiva em análise, designa-damente, aos exercícios económicos de 1997/98 a2006/07.

Sobre a explicação de alguns dados recolhidosAlgumas situações particulares referentes aos dadosrecolhidos merecem uma explicação mais detalhada,a saber:a) Na época 2003/04 as demonstrações financeiras doexercício são de apenas onze meses de actividade, pelo quenão são directamente comparáveis com as dos restantesexercícios(7). Os resultados deste exercício foram, nanossa opinião, bastante beneficiados devido a estasituação. Efectivamente, os principais centros decustos, custos com o pessoal, amortizações, FSE ecustos financeiros, terão sido positivamente afecta-dos em mais de 3 milhões de euros enquanto que, anível de proveitos operacionais, admitimos que omês em falta tenha apenas deixado de contabilizarcerca de 600.000 euros respeitantes a quotizações desócios, patrocínios e royalties.b) A situação financeira da sociedade foi positiva-mente afectada a partir do exercício de 2004/05pelos motivos seguintes:Por escritura pública realizada em 31 de Março de 2005 ocapital social foi elevado de m€22 000 para m€ 42 000.O aumento foi efectuado mediante a emissão de 10 000000 de novas acções escriturais nominativas, com o valornominal de € 2 e um ágio de € 0,65 cada uma. No âmbitodo processo de consolidação, reestruturação e reorganizaçãoeconómico-financeira a Sporting SAD cedeu, em finais domês de Março de 2005, à DE – Desporto e Espectáculo,SA, sociedade na qual detinha 100% do seu capital: osdireitos televisivos e os direitos acessórios relativos às épo-cas desportivas de 2008/09 a 2018/19 e os créditos docontrato celebrado com a TBZ Marketing – AcçõesPromocionais, SA. Por contrato celebrado em finais deMarço de 2005 a Sporting, SAD alienou a participaçãofinanceira detida na DE – Desporto e Espectáculo, SA àSporting Comércio e Serviços, pelo montante de m€65000. Esta operação gerou uma mais valia contabilísticade m€ 64950, a qual se encontra relevada nas demonstra-ções financeiras a 30 de Junho de 2005(8).

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c) No Relatório e Contas referente à época desporti-va 2006/07 surge um montante de proveitos comtransferências de jogadores de € 25 456 000 devidofundamentalmente à saída do jogador Nani.

Sobre a transferência de jogadoresA questão relativa à contabilização das mais-valiasprovenientes de transferências de jogadores tem sidomatéria de controvérsia entre várias sociedades des-portivas, podendo observar-se a dicotomia opcional“proveitos operacionais versus proveitos extraordiná-rios”. Não se trata apenas de uma mera discussãoacadémica: quando incorporados no balanço organi-zacional, os passes dos jogadores são classificadoscomo investimentos e, consequentemente, contabili-zados em imobilizado incorpóreo (PropriedadeIndustrial e Outros Direitos), ficando assim, sujeitosa uma base anual de amortizações. O custo anualque é portanto repercutido nas contas é o da amorti-zação. Porém, quando existe uma mais-valia prove-niente de uma transferência de um jogador, deixandode fazer parte do património da organização, deveria,segundo os mais básicos pressupostos do métodocontabilístico, ser incorporado em proveitos extraor-dinários.A opção por considerar tais proveitos como opera-cionais pode originar erros graves de análise paraaqueles que não são conhecedores desta situação. Seas sociedades estiverem cotadas na Bolsa de Valores,como é o caso da organização em estudo, os accio-nistas acabam por poder ser induzidos em erro pordeficiente informação. As contas do Sporting SAD daépoca 2006/07 constituem um excelente exemplo dorisco de erro delineado, pois podem facilmente con-duzir a uma deficiente análise da evolução da situa-ção económica e financeira da organização. Em boaverdade, se os proveitos respeitantes às transferên-cias fossem imputados a proveitos extraordinários,obteríamos um resultado operacional negativo supe-rior a 8 milhões de euros. Atendendo a que no caso em apreço, a sociedade sóa partir da época de 2003/04 é que enveredou pelocritério de contabilizar em proveitos operacionaistais mais-valias, foi opção dos autores corrigir asdemonstrações de resultados a partir dessa época,imputando os respectivos valores a proveitosextraordinários.

DISCUSSÃO DE RESULTADOSSobre o Fundo de ManeioUm elevado Fundo de Maneio (FM), expresso peloexcedente dos capitais permanentes (capitais coloca-dos à disposição da gestão por um período superior a1 ano) sobre o activo fixo (totalidade das imobiliza-ções líquidas de amortizações e das dívidas a recebernum prazo superior a 1 ano), é, na perspectiva destateoria, um sinal de maior solidez financeira de umaorganização, garantindo que as fontes de financia-mento permanentes cobrem não só o activo fixocomo ainda uma certa percentagem do activo circu-lante. Os resultados da Sporting SAD (Quadro 1)revelam exactamente o contrário durante os primei-ros 7 anos, período durante o qual o FM se foi agra-vando vertiginosamente, arrancando de um patamarnegativo de 6 064 m€ (milhares de euros) na épocade 1997/98 até atingir, na época de 2003/04 umlimiar negativo de 63 334 m€. Durante este período,a organização viveu um claro desequilíbrio financei-ro, representando a parte de capitais exigíveis a curtoprazo que esteve a financiar a parte do activo cujaliquidez é mais reduzida. De salientar, dada a ressal-va anteriormente efectuada quanto à particularidadedos valores envolvidos nas demonstrações financeirasdo exercício referente à época de 2003/04, um poten-cial agravamento do valor respeitante ao FM domesmo ano, caso tivesse sido contabilizado o mêsem falta, uma vez que na presença de um benefíciodos custos contabilizados, não compensado pormovimento inverso do lado dos proveitos, muitoprovavelmente, iríamos alcançar um resultado líqui-do do exercício ainda mais negativo do que o apre-sentado (9 222 m€), prejudicando ainda mais o valordo capital próprio total já negativo em 47246 m€.Nos últimos três anos em análise, isto é, a partir de2004/05, a tendência até então delineada é completa-mente alterada, na medida em que não só o FM apre-senta valores positivos como uma propensão de clarocrescimento, observando-se no último ano um mon-tante positivo de 66 663 m€. Incontornavelmente, aviragem verificada ao nível do valor do total do capi-tal próprio da época de 2003/04 para a de 2004/05,passando de um valor negativo de 47246 m€ paraum valor positivo de 33924 m€, teve um peso inesti-mável na reviravolta provocada ao nível do FM. Osfactores já sublinhados anteriormente relativamente

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à alteração do valor total do capital próprio ao longoda época de 2004/05, induziram a tal melhoria tãosignificativa: por um lado, o aumento de 20 000 m€do capital social através da emissão de acções, e poroutro, a obtenção de um lucro de 54670 m€, decisi-vamente alicerçado pela cedência de direitos televisi-vos, acessórios e créditos à DE – Desporto eEspectáculo, SA, e alienação da participação na DE àSporting Comércio e Serviços, SA, processo quegerou uma mais-valia de 64950 m€. Por último, amais-valia de 25456 m€ gerada pela venda do joga-dor Nani contribuiu para se atingir, em 2006/07, ovalor máximo do FM ao longo de toda a primeiradécada da Sporting, SAD.

Sobre os Rácios de LiquidezOs rácios de liquidez conferem a capacidade dasorganizações solverem os seus compromissos decurto prazo. Como a Sporting, SAD não detém exis-tências, calculámos apenas os rácios de liquidezreduzida e imediata (Quadro 2). Segundo este mode-lo, valores elevados demonstram que a organizaçãotem uma liquidez do activo suficiente para fazer faceàs obrigações inerentes ao passivo de curto prazo.Assume-se como patamar mínimo de segurançafinanceira o valor de 1 para a liquidez reduzida,enquanto que para a imediata o valor padrão é ine-xistente, dependendo sobretudo das necessidades detesouraria compatíveis com a natureza da actividade

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m : Milhares de Euros 1997/8 1998/9 1999/00 2000/1 2001/2 2002/3 2003/4 2004/5 2005/6 2006/7

Capitais Permanentes:

Capitais Próprios 27471 24925 13490 11997 -10713 -38025 -47246 33924 34236 48716

Passivo de MLP:

Provisões Riscos/Encargos 499 0 0 1142 1022 883 239 285 0 2000

Dívidas Instituições Crédito 0 6734 4489 8230 24486 17396 5000 15000 33000 33000

Outros Credores 6085 7290 2810 7223 6317 12938 11182 4362 4593 3990

Total Passivo MLP 6584 14024 7299 16595 31825 31217 16421 19647 37593 38990

Total Capitais Permanentes 34055 38949 20789 28592 21112 -6808 -30825 53571 71829 87706

Activo Fixo:

Imobilizações Incorpóreas:

Despesas Instalação 620 372 125 33 22 11 1 73 47 20

Propriedade Industrial e OD 38826 41113 35544 51859 45641 36903 27208 16622 18847 14446

Adiantamento Imobilizações 0 998 0 0 0 0 0 0 0 0

Total Imobilizações Incorpóreas 39446 42483 35669 51892 45663 36914 27209 16695 18894 14466

Imobilizações Corpóreas:

Edifícios 0 92 105 442 235 0 0 0 0 0

Equipamento Básico 82 57 90 134 186 133 88 52 29 16

Equipamento Transporte 265 193 131 85 119 103 112 55 5 5

Ferramentas/Utensílios 2 3 3 2 1 0 0 0 0 0

Equipamento Administrativo 158 139 158 134 108 75 60 45 33 25

Outras Imobilizações 6 35 31 24 30 48 40 31 23 28

Imobilizações em Curso 0 0 357 0 0 0 0 0 0 3

Total Imobilizações Corpóreas 513 519 875 821 679 359 300 183 90 77

Dívidas de Terceiros MLP 160 1400 1082 4312 8955 5981 5000 100 0 6500

Total Activo Fixo 40119 44402 37626 57025 55297 43254 32509 16978 18984 21043

Fundo de Maneio -6064 -5453 -16837 -28433 -34185 -50062 -63334 36593 52845 66663

Quadro 1- Fundo de Maneio

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desenvolvida pela organização. Os valores obtidospara os rácios de liquidez da Sporting, SAD são, àexcepção da liquidez reduzida ao longo dos três últi-mos anos analisados, manifestamente insuficientes,revelando aos respectivos credores um elevado risco,tanto no que respeita ao reembolso pelos créditosconcedidos, como no que concerne à concessão denovos créditos ou empréstimos de curto prazo. Naépoca de 2004/05, a grande diminuição do passivode curto prazo, alavancado pelo aumento do activode curto prazo (situações que, no período em causa,em muito se sustentaram na variação positiva daconta de accionistas), originaram a grande melhoriada liquidez reduzida, continuando esta a incremen-tar-se até à época 2006/07. Gravíssimos são os resul-tados da liquidez imediata, denotando-se uma quasenulidade dos meios mais líquidos para fazer face àsdívidas a pagar num período inferior a 1 ano.

Sobre os Rácios de FinanciamentoNo essencial, os rácios de financiamento estabele-cem comparações entre os capitais alheios, os capi-tais próprios e os capitais totais, permitindo umaanálise complementar aos rácios de liquidez, cen-

trando a nossa atenção na capacidade organizacionalde solver os seus compromissos a médio/longoprazo (Quadro 3). A expressão do peso dos capitaisalheios no financiamento organizacional é dada peloRácio de Endividamento, evidenciando a ideia geraldo risco financeiro, o qual cresce com a sua percen-tagem. A questão crucial da autonomia financeira foiposta em causa desde a época 1999/00 até à de2004/05, ano em que foi recuperado o sinal positivodo total dos capitais próprios. Na mesma linha deorientação, surge o Rácio de Solvabilidade, verifican-do em que medida o passivo é coberto pelos capitaispróprios. Os resultados revelam uma nítida falta deindependência financeira entre o período de 1999/00até 2003/04. No último ano, a proporção do capitalpróprio em relação ao passivo é claramente confortá-vel. Quanto ao grau de exigibilidade do passivo,dado tanto pela Estrutura do Endividamento a CurtoPrazo e como pelo Peso do Endividamento aMédio/Longo Prazo, os resultados mostram-nos quesó a partir da época de 2005/06 é que se vislumbrauma pressão menos elevada de tesouraria, dado ocrescente peso do endividamento a médio/longoprazo face ao de curto prazo. Por seu turno, o grau

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m : Milhares de Euros 1997/8 1998/9 1999/00 2000/1 2001/2 2002/3 2003/4 2004/5 2005/6 2006/7

Activo de Curto Prazo:

Total do Activo 55137 62538 62418 76080 79000 71856 74960 89992 100939 113712

Activo Fixo 40119 44402 37626 57025 55297 43254 32509 16978 18984 21043

Total Activo Curto Prazo 15018 18136 24792 19055 23703 28602 42451 73014 81955 92669

Passivo de Curto Prazo:

Total do Passivo 27666 37613 48928 64083 89713 109881 122206 56068 66703 64996

Passivo de MLP 6584 14024 7299 16595 31825 31217 16421 19647 37593 38990

Total Passivo Curto Prazo 21082 23589 41629 47488 57888 78664 105785 36421 29110 26006

Rácio Liquidez Reduzida 0,71 0,77 0,60 0,40 0,41 0,36 0,40 2,00 2,82 3,56

Disponibilidades:

Caixa 1 4 3 3 11 6 3 4 0 0

Depósitos à Ordem 1 718 128 3021 441 4222 798 459 131 1038

Depósitos a Prazo 0 0 0 0 0 0 2693 0 0 0

Total de Disponibilidades 2 722 131 3024 452 4228 3494 463 131 1038

Total Passivo Curto Prazo 21082 23589 41629 47488 57888 78664 105785 36421 29110 26006

Rácio Liquidez Imediata 0,00 0,03 0,00 0,06 0,01 0,05 0,03 0,01 0,00 0,04

Quadro 2- Rácios de Liquidez

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m : Milhares de Euros 1997/8 1998/9 1999/00 2000/1 2001/2 2002/3 2003/4 2004/5 2005/6 2006/7

Total do Passivo 27666 37613 48928 64083 89713 109881 122206 56068 66703 64996

Total do Activo 55137 62538 62418 76080 79000 71856 74960 89992 100939 113712

Rácio de Endividamento 50% 60% 78% 84% 114% 153% 163% 62% 66% 57%

Capital Próprio 27471 24925 13490 11997 -10713 -38025 -47246 33924 34236 48716

Total do Passivo 27666 37613 48928 64083 89713 109881 122206 56068 66703 64996

Rácio de Solvabilidade 99% 66% 28% 19% -12% -35% -39% 61% 51% 75%

Total do Passivo Curto Prazo 21082 23589 41629 47488 57888 78664 105785 36421 29110 26006

Total do Passivo 27666 37613 48928 64083 89713 109881 122206 56068 66703 64996

Estrutura Endividamento CP 76% 63% 85% 74% 65% 72% 87% 65% 44% 40%

Total do Passivo MLP 6584 14024 7299 16595 31825 31217 16421 19647 37593 38990

Total do Passivo 27666 37613 48928 64083 89713 109881 122206 56068 66703 64996

Peso Endividamento MLP 24% 37% 15% 26% 35% 28% 13% 35% 56% 60%

Excedente Bruto Exploração:

Resultados Operacionais -11.975

-19.528 -28.008

-25.373

-32.627 -31.206 -16.529 -9.700 -2.960 -8.002

Amortizações do Exercício 9765 13879 15008 18151 17898 16936 11641 13055 9012 9836

Provisões do Exercício 499 0 0 1142 0 0 1249 586 0 2000 Total Excedente Bruto Exploração -1711 -5649 -13000 -6080 -14729 -14270 -3639 3941 6052 3834

Total Encargos Financeiros 167 1384 987 1891 3241 3570 2486 2139 1905 2515

Rácio Cobertura Encargos Financeiros -10,25 -4,08 -13,17 -3,22 -4,54 -4,00 -1,46 1,84 3,18 1,52

Total Endividamento Estável 6584 14024 7299 16595 31825 31217 16421 19647 37593 38990

Total Capitais Permanentes 34055 38949 20789 28592 21112 -6808 -30825 53571 71829 87706

Estrutura Capitais Estáveis 19% 36% 35% 58% 151% -459% -53% 37% 52% 44%

Autofinanciamento:

Resultado Líquido do Exercício -7.445 -2.546 -11.435 -21.445

-22.715 -27.311 -9.222 54.670 313 14.480

Amortizações do Exercício 9765 13879 15008 18151 17898 16936 11641 13055 9012 9836

Provisões do Exercício 499 0 0 1142 0 0 1249 586 0 2000

Total do Autofinanciamento 2819 11333 3573 -2152 -4817 -10375 3668 68311 9325 26316 Total dos Proveitos Operacionais 11.982 13.362 15.893 26.036 22.816 17.912 23.695 32.889 32.853 39.426

Margem de Autofinanciamento 24% 85% 22% -8% -21% -58% 15% 208% 28% 67%

Total Endividamento Estável 6584 14024 7299 16595 31825 31217 16421 19647 37593 38990

Total do Autofinanciamento 2819 11333 3573 -2152 -4817 -10375 3668 68311 9325 26316

Período de Reembolso 2,34 1,24 2,04 -7,71 -6,61 -3,01 4,48 0,29 4,03 1,48

Quadro 3- Rácios de Financiamento

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em que a exploração organizacional consegue gerarmeios suficientes para cobrir os respectivos encargosfinanceiros é dado pelo Rácio de Cobertura dosEncargos Financeiros. Os valores negativos obtidosaté à época de 2003/04 denunciam graves problemascom o pagamento de juros, só ocorrendo uma cober-tura adequada no ano de 2005/06 e embora manten-do-se positivo no último ano, decai para um limiarde segurança. O Rácio da Estrutura dos CapitaisEstáveis é indicador do peso do endividamento alongo prazo em relação à totalidade dos capitais per-manentes disponíveis na organização. É observadoum claro desequilíbrio no financiamento a longoprazo entre o endividamento estável e os capitaispróprios entre as épocas de 2001/02 e 2003/04,situação que se restabelece a partir de 2004/05. AMargem de Auto-financiamento permite analisar acapacidade da organização na geração de meios atra-vés das suas operações. Entre as épocas de 2000/01e 2002/03, a Sporting, SAD mostrou, nesse âmbito,uma total incapacidade, verificando-se em 2004/05uma inversão de tal aptidão, fundamentando-se naobtenção de um lucro muito elevado nesse ano,pelas razões que já alertámos anteriormente. Porúltimo, o Período de Reembolso expressa o númerode períodos económicos necessários para que, com onível de auto-financiamento organizacional apurado,se consiga cobrir o total das dívidas a médio/longoprazo contraídas. Neste âmbito, o período muito crí-tico corresponde às épocas de 2000/01 a 2002/03,onde são verificados valores negativos, impossibili-tando a cobertura em análise. Nos últimos 4 anos,os valores, embora muito irregulares, são todos infe-riores aos quatro anos e meio, e no último ano, oaumento do auto-financiamento verificado em muitopela venda do jogador Nani, permite um período dereembolso inferior a um ano e meio.

CONCLUSÕESA existência de estabilidade financeira tem de seconstituir, definitivamente, como um vector indis-pensável para a prossecução dos objectivos ligados àcompetitividade desportiva numa organização comoa Sporting, SAD, pelo que, torna-se fundamentalgarantir aturadamente o equilíbrio financeiro deorganizações desta natureza. Os resultados apurados evidenciam o desequilíbriofinanceiro em que a Sporting, SAD viveu ao longo daprimeira década da sua existência, só ultrapassadonas últimas três épocas, em muito propulsionadopelas decisões de engenharia financeira tomadasdurante a época de 2004/05. Não podemos deixar desublinhar que tais medidas podem acarretar gravesriscos de encobrir a realidade muito negativa dosresultados correntes da organização, os quais, nãotendo em consideração os proveitos decorrentes dasmais-valias de transferência de jogadores, atingiramo somatório exorbitante de quase 200 milhões deeuros de prejuízo ao longo dos primeiros dez anosque analisámos. Esperamos, com o nosso trabalho, ter estimulado aatenção do adepto apaixonado para uma das áreasmais importantes da gestão do desporto, a áreafinanceira. Desprezar esta área é um erro que podetrazer, num prazo mais ou menos lato, consequên-cias irreversíveis para o futuro dos clubes de futebol. Em futuros trabalhos e na posse de informação con-tabilística mais detalhada, é nosso propósito não sóaprofundar a análise iniciada a esta sociedade des-portiva, adoptando metodologias alternativas, comotambém, utilizando indicadores análogos, verificar ecomparar o comportamento económico e financeirodas SAD do Porto e do Benfica.

CORRESPONDÊNCIAMargarida Boa BaptistaDoutorada em Ciências do DesportoProfessora Auxiliar da FMH – UTLEstrada da Costa, Cruz Quebrada, OeirasE-mail: [email protected]

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Gestão do Desporto

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Prestação de Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008

Alfredo J. Silva Escola Superior de Desporto de Rio MaiorPortugal

RESUMOIntrodução: O valor desporto de rendimento de cada nação éaferido, entre outros acontecimentos, no maior evento despor-tivo, os Jogos Olímpicos.O objectivo do artigo é avaliar a prestação de Portugal nosJogos Olímpicos de Pequim 2008 no plano desportivo e finan-ceiro e comparar com a prestação obtida nos Jogos Olímpicosde Atenas 2004. Metodologia: A metodologia adoptada no estudo consiste narecolha de informação de várias fontes documentais.Resultados: Os três objectivos desportivos fixados paraPortugal nos Jogos Olímpico de Pequim 2008, não foram atin-gidos.O desempenho desportivo de Portugal traduzido no número demedalhas e de diplomas teve um nível inferior em Pequim 2008do que em Atenas 2004.Para a execução do Projecto Pequim 2008 foi concedido aoComité Olímpico de Portugal uma verba 12.142.876€, mas omontante afectado às federações desportivas destinado à prepa-ração dos praticantes desportivos e às bolsas, foi inferior em154.241€, ao correspondente no Projecto Atenas 2004. No período de 12 anos (Atlanta 1996 – Pequim 2008) os meiosfinanceiros aplicados na preparação olímpica aumentaram em100%, não tendo os resultados desportivos acompanhado comqualquer crescimento.

Palavras-chave: jogos olímpicos, Pequim 2008, comité olímpicode Portugal, resultados olímpicos de Portugal

ABSTRACTPerformance of Portugal in the Beijing 2008 Olympic Games

Introduction: The value at the top level sport of each nation is checked,among other events, in the largest sport event, the Olympic Games. The propose of the study is to evaluate the performance of Portugal inthe Olympic Games Beijing 2008 in the sport and financial level andto compare with the performance obtained in the Olympic Games ofAthena 2004. Methodology: The methodology use in the study consists in the it col-lects of information of several documental sources. Results: The three sport goals fastened for Portugal in the Beijing 2008Olympic Games, they were not reached. The sport performance of Portugal translated in the number of medalsand of graduate classifications he had an inferior level in Beijing 2008than in Athena 2004. For the execution of Project Beijing 2008 was granted to OlympicCommittee of Portugal a budget 12.142.876€, but the amount affect-ed to the sport federations destined to the sport preparation and thebags, it was inferior in 154.241€, to the correspondent in ProjectAthena 2004. In the period of 12 years (Atlanta 1996 - Beijing 2008) the appliedfinancial means in the olympic preparation increased in 100%, doesn’ttend the sport results accompanied with any growth.

Key-words: Beijing 2008, olympic games, Portugal olympic commit-tee, olympic results of Portugal

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INTRODUÇÃOO valor desporto de rendimento de cada nação é afe-rido, entre outros acontecimentos, no maior eventodesportivo do mundo, os Jogos Olímpicos.Os Jogos Olímpicos são quadrienalmente um assun-to dimensionado à escala mundial e objecto de ava-liação pelos mais diferentes intervenientes e pelasmais distintas perspectivas.Pela razão dos tempos que vivemos é um assunto denatureza prioritária em vários planos, onde a comu-nicação social assume o seu papel, mediante análisese comentários, nem sempre com a profundidadedesejável, induz muitas vezes a reacções intempesti-vas por parte, quer dos organismos desportivos, querdos governos.O número de medalhas que os países obtêm, há-desempre manifestar o valor do desporto de rendimen-to desses países e posiciona-os na globalizada escalada competitividade do desporto mundial. O artigo tem por objectivo avaliar a prestação dePortugal nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 ecomparar com a prestação obtida nos JogosOlímpicos de Atenas 2004. A avaliação dos resulta-dos obtidos e dos objectivos fixados, abrangerá oplano desportivo e financeiro e incluirá a compara-ção dos 27 países da União Europeia.A preocupação principal consiste em avaliar odesempenho dos praticantes desportivos e das fede-rações desportivas nos Jogos Olímpicos de Pequim2008, confrontando os resultados alcançados com osobjectivos que se encontravam estabelecidos e comos financiamentos que foram concedidos.

METODOLOGIAA metodologia adoptada no estudo consistiu narecolha e registo de informação de várias fontesdocumentais: do relatório dos Jogos Olímpicos deAtenas 2004 elaborado pelo Instituto do Desporto dePortugal em 2004, dos elementos fornecidos peloInstituto do Desporto de Portugal, relativamente aosfinanciamentos concedidos para os Jogos Olímpicosde Pequim 2008, no período de 2005 a 2008, dosrelatórios dos anos de 2005, 2006 e 2007 do progra-ma de preparação olímpica do Comité Olímpico dePortugal e dos resultados desportivos obtidos porPortugal nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, quedecorreram de 8 a 24 de Agosto de 2008 em Pequim.

RESULTADOSPraticantes desportivos e federações desportivas queparticiparam nos Jogos Olímpicos Pequim 2008Das 29 federações desportivas que integram discipli-nas incluídas no programa oficial dos JogosOlímpicos de Verão 2008, 17 estiveram representa-das nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, o que cor-responde a 58% das federações desportivas. Dozefederações desportivas (42%) não estiveram repre-sentadas nos Jogos Olímpicos.Os praticantes desportivos que integraram a missãode Portugal aos Jogos Olímpicos foram em númerode 77. A federação desportiva que maior número depraticantes desportivos levou aos Jogos Olímpicosfoi a de Atletismo com 27 praticantes, que corres-ponde a mais de 1/3 dos praticantes na missão(35%).Relativamente ao género, 51 dos 77 praticantes des-portivos eram do sexo masculino, valor que corres-ponde a 66%.As 17 modalidades participantes eram todas de des-portos individuais. Não houve participação de moda-lidades de desportos colectivos.O nível desportivo dos praticantes desportivos queparticiparam nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008era bastante diversificado. Dos 77 praticantes queparticiparam nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008,56 (73%) estavam integrados no Projecto Pequim2008(4), beneficiaram de especiais apoios e foramsujeitos ao programa de preparação desportivaPequim 2008, com vista a assegurar a obtenção deresultados relevantes.Nove praticantes integravam o nível I de desempe-nho, que corresponde à categoria de medalhado emJogos Olímpicos. 15 praticantes estavam integradosno nível II, correspondente à categoria de finalista oudiploma (4.º a 8.º lugar) em Jogos Olímpicos.Um grupo mais extenso de 21 praticantes pertenciaao nível III que corresponde à categoria de semi-fina-lista (9.º a 16.º lugar) em Jogos Olímpicos. E aindaos níveis de desempenho IV e Qualificado (Q) com32 praticantes desportivos (41%), que correspondemàs categorias inferiores de desempenho desportivo.

Resultados obtidos pelos praticantes desportivos, fede-rações desportivas e mérito das classificaçõesEm termos de resultados obtidos pelos praticantes

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desportivos verificamos que o desempenho dePortugal em Pequim 2008 ao nível das classificaçõesdos 3 lugares de pódio foi de 2 medalhas o que cor-responde a 2,5%, das 79 classificações teoricamentepossíveis de obter. Dos 9 praticantes desportivos queintegravam o nível I, 2 (22%) concretizaram o objec-tivo ao terem conquistado classificações correspon-dentes ao seu nível.Na categoria dos diplomas (do 4.º ao 8.º lugar)foram obtidos 7 lugares que correspondem a 8,8%dos resultados. Dos 15 praticantes desportivos queintegravam o nível II, 6 praticantes (40%) atingiramo objectivo. Ou seja, verificamos que 60% dos prati-cantes do nível II não obteve classificações corres-pondentes ao seu nível.Na categoria do 9.º ao 16.º lugar foram obtidas 15classificações que correspondem a 19% dos resulta-

dos. Dos 21 praticantes desportivos que integravamo nível III de desempenho, 4 (19%) conseguiramesse objectivo e conquistaram classificações corres-pondentes ao seu nível, enquanto 81% não consegui-ram esse objectivo.As 55 classificações acima do 16.º lugar ou desistên-cias correspondem a 70% dos resultados.Verificamos que 23 praticantes dos níveis desporti-vos superiores - I, II e III - obtiveram classificaçõesneste segmento não correspondendo a um desempe-nho compatível com o seu desportivo.Dos 24 praticantes que integraram os níveis I e II,apenas 9 (38%) conseguiram obter classificações atéao 8.º lugar. Neste 2 níveis, 62% dos praticantes des-portivos não conseguiu concretizar o seu objectivo,mediante a obtenção de uma classificação correspon-dente ao seu nível desportivo.

Gestão do Desporto

Praticantes desportivos e federações desportivas e participação nos Jogos Olímpicos

Praticantes desportivos

Federações que participaram nos Jogos Olímpicos

Masc. Fem. Total Federações que não participaram nos Jogos Olímpicos

1 Atletismo 13 14 27 1 Andebol

2 Natação 7 3 10 2 Basebol

3 Vela 8 8 3 Basquetebol

4 Judo 3 2 5 4 Boxe

5 Canoagem 1 3 4 5 Halterofilismo

6 Triatlo 2 1 3 6 Hóquei

7 Equestre 3 3 7 Pentatlo Moderno

8 Ténis de Mesa 3 3 8 Futebol

9 Remo 2 2 9 Ginástica

10 Trampolins 1 1 2 10 Lutas Amadoras

11 Badmington 1 1 2 11 Voleibol

12 Ciclismo 2 2 12 Ténis

13 Esgrima 1 1 2 42% das federações

14 Taekwondo 1 1

15 Tiro 1 1

16 Tiro com Arco 1 1

17 Tiro com Armas de Caça 1 1

58% das federações

TT oo tt aa ll 55 11 22 66 77 77

Quadro 1. Praticantes desportivos, federações desportivas e participação nos Jogos Olímpicos

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Nos níveis I, II e III, verificou-se uma situação aindamais desfavorável, na qual 80% dos praticantes des-portivos não teve uma prestação desportiva compatí-vel com o seu nível desportivo.Para apreciação do mérito desportivo das classifica-ções obtidas foi adoptado o quadro de pontuação,que vem sendo utilizado desde os Jogos de Atlanta1996, que permite avaliar, quer a prestação dePortugal e dos países, quer das várias federações des-portivas participantes, em função das classificaçõesobtidas pelos praticantes desportivos nas respectivascompetições.A pontuação de mérito desportivo obtida porPortugal foi de 28 pontos, resultante de 2 medalhas

e de 7 diplomas. Saliente-se que na categoria do 9.ºao 16.º lugar foram obtidas 15 classificações.As federações desportivas que obtiveram melhoresresultados de mérito desportivo foram a deAtletismo, a de Vela e a de Triatlo. Um segundogrupo de federações integra a de Judo e a deTaekwondo, ao qual sucede a federação de Remo.Das 17 federações desportivas presentes nos JogosOlímpicos de Pequim 2008, 6 (35%) conseguiramobter classificações até ao 8.º lugar. Pelo contrário 11federações desportivas (65%) não obtiveram qualquerclassificação até ao 8.º lugar. Mais de metade (53%)das federações desportivas presentes(6) não conseguiuobter qualquer classificação até ao 16.º lugar.

Gestão do Desporto

Quadro 2. Classificações dos praticantes desportivos por nível desportivo

Nível desportivo dos praticantes e classificações obtidas

Nível desportivo

II II II II II II IV Q Total

N.º de praticantes 99 11 55 22 11 11 21 77 (100%)

N.º e % de medalhas 22 (( 22 55 %% )) 00 00 0 0 2 (2,5%)

N.º e % de diplomas 1 33 (( 22 11 %% )) 22 1 0 7 (8,8%)

N.º class. de 9.º a 16.º 3 8 44 (( 11 77 %% )) 0 0 15 (19%)

N.º class. acima de 16.º e desistências 2 3 18 10 22 55 (70%)

Total de class. possíveis 8 14 24 11 22 79 (100%)

Quadro 3. Mérito desportivo e clas-sificações obtidas nos Jogos

Olímpicos Pequim 2008

Mérito desportivo e classificações obtidas nos Jogos Olímpicos Pequim 2008

Classificação N.º de classificações obtidas

Pontos a atribuir por classificação

Pontuação obtida

Ouro 1 8 8

Prata 1 7 7

Bronze 6

sub-total 2 15

4.º lugar 1 5 5

5.º lugar 4

6.º lugar 3

7.º lugar 2 2 4

8.º lugar 4 1 4

sub-total 7 13

Total 9 28

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Objectivos de Portugal para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008Os objectivos desportivos de Portugal para os JogosOlímpicos de Pequim 2008, foram fixados no contrato-programa de desenvolvimento desportivo n.º48/2005(2), celebrado em 27 de Janeiro de 2005, entre oComité Olímpico de Portugal e o Estado Português,através do Instituto do Desporto de Portugal. Esse con-trato foi publicado no Diário da República N.º 70, de 11de Abril de 2005, 2.ª série, e era seu objecto a execuçãodo Programa de Preparação Olímpica para os JogosOlímpicos de Pequim 2008. A execução desse programade actividades tinha os seguintes objectivos desportivos:1) Obter cinco classificações de pódio (medalhas); 2) Obter doze classificações correspondentes a diplo-mas (do 4.º ao 8.º lugar); e 3) Estar representado com dezoito modalidades des-portivas.

As metas dos objectivos formulados, considerando oanterior desempenho de Portugal nos JogosOlímpicos de Atenas 2004 manifestam incrementosna ordem de 2 medalhas, (67%), 2 diplomas (20%)e uma modalidade desportiva presente (6%).Terminados os Jogos Olímpicos e antes de apreciar ograu de cumprimento dos objectivos desportivos,interessa referir que o Estado Português, através doInstituto do Desporto de Portugal cumpriu as suasobrigações no âmbito do contrato. Ou seja, transfe-riu para o Comité Olímpico de Portugal todos osmeios financeiros que o contrato lhe fixava(3).No que respeita à apreciação do grau de concretizaçãodos objectivos desportivos de Portugal nos JogosOlímpicos de Pequim 2008, importa destacar o seguinte:O primeiro objectivo de Portugal que era obter cincoclassificações de pódio (medalhas) não foi alcançado.Foram obtidas duas medalhas.

Gestão do Desporto

Quadro do mérito desportivo por federação desportiva

Federação

N.º de class. até ao 8.º lugar

N.º pontos obtidos

1 Atletismo 2 9 (32%)

2 Vela 3 7 (25%)

3 Triatlo 1 7 (25%)

4 Judo 1 2 (7%)

5 Taekwondo 1 2 (7%)

6 Remo 1 1 (3,6)

7 Canoagem

8 Natação

9 Tiro com Armas Caça

10 Trampolins

11 Ciclismo

12 Equestre

13 Esgrima

14 Tiro

15 Badminton

16 Ténis Mesa

17 Tiro Arco

Total 9 28 (100%)

Quadro 4. Quadro do mérito desportivo por federação desportiva

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O segundo objectivo de Portugal que era obter dozeclassificações correspondentes a diplomas (do 4.º ao8.º lugar) não foi alcançado, na medida em queforam obtidas sete classificações.

O terceiro objectivo de Portugal que era estar repre-sentado com 18 modalidades desportivas não foiatingido, na medida em que esteve representado por17 modalidades.

Gestão do Desporto

Federações que obtiveram classificações correspondentes a medalha, diploma, 9.º ao 16.º lugar e acima do 16.º lugar / Desistência

Classificações

Federações

N.º de praticantes desportivos que participaram nos Jogos Olímpicos

Medalha do 4.º ao 8.º lugar

do 9.º ao 16.º lugar

acima do 16.º/ Desist.

N.º de classific. possíveis de obter

11 AA tt llee tt ii ss mm oo 22 77 11 1 3 23 28

22 TT rr iiaa tt ll oo 33 11 2 3

33 VV ee llaa 88 33 2 5

44 TT aa ee kk ww oo nn dd oo 11 11 1

55 RR ee mm oo 22 11 1

66 JJ uu dd oo 55 11 4 5

77 CC aa nn oo aa gg ee mm 44 44 4

88 TT rr aa mm pp oo ll ii nn ss 22 22 2

9 Tiro com Arco 1 1 1

10 Tiro com Armas de Caça 1 1 1

11 Badmington 2 2 2

12 Ciclismo 2 2 2

13 Esgrima 2 2 2

14 Tiro 1 2 2

15 Equestre 3 3 3

16 Ténis de Mesa 3 3 3

17 Natação 10 14 14

TT oo tt aa ll 77 77 22 77 11 55 55 55 77 99

Quadro 5. Classificações das federações desportivas por categoria de resultado

Quadro 6. Comparação dos objectivos fixados para Pequim 2008 e resultados obtidos em Atenas 2004

Objectivos fixados para Pequim 2008 e resultados obtidos em Atenas 2004

Jogos Olímpicos

Atenas 2004 Pequim 2008 Variação

Resultados obtidos Objectivos fixados no contrato

Absoluta (%)

Classificações de pódio (medalha) 3 5 2 67%

Classificações do 4.º ao 8.º lugar (diploma) 10 12 2 20%

Número de modalidades presentes 17 18 1 6%

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Esta é a verdade factual da participação de Portugal.Dos três objectivos fixados, Portugal não teve capaci-dades para alcançar qualquer deles.

Custos do Projecto Pequim 2008O Projecto Pequim 2008 teve início em Janeiro de2005 e a sua conclusão em Agosto de 2008. Durante44 meses foram asseguradas especiais condições depreparação aos praticantes desportivos e selecçõesnacionais que reuniam condição desportiva para

obterem classificações susceptíveis de concretizaremos objectivos fixados para os Jogos Olímpicos dePequim 2008.Para assegurar a concretização dos objectivos doProjecto Pequim 2008, o Estado Português atravésdo Instituto do Desporto de Portugal(2) disponibili-zou do Orçamento de Estado, Programa deInvestimentos e Despesas de Desenvolvimento daAdministração Central (PIDDAC), os meios finan-ceiros, que ascenderam a 11.442.876€. A este mon-

Gestão do Desporto

Objectivos e resultados alcançados por Portugal

Medida do resultado Objectivos para Pequim 2008

Resultados alcançados em Pequim 2008

Desvio

1 Medalhas 5 2 -3

2 Diplomas (4.º ao 8.º) 12 7 -5

3 Modalidades presentes 18 17 -1

Pontuação obtida (a) 60 28 -32

Quadro 7. Objectivos e resultadosalcançados por Portugal

(a) A pontuação obtida não era umobjectivo fixado no contrato progra-ma. Foi anunciado pelo ComitéOlímpico de Portugal, no sítio naInternet do jornal Expresso, emwww.expresso.pt, em 13-08-2008.

Quadro 8. Apoios financeiros concedidosao Comité Olímpico de Portugal por pro-jecto, Pequim 2008

Apoios financeiros concedidos ao Comité Olímpico de Portugal

Projecto Valor do contrato 2005 / 2008

Gestão do Projecto Pequim 630.000

Projecto Pequim - Federações 10.812.876

Subtotal 11.442.876

Missão a Pequim 2008 700.000

TT oo tt aa ll 11 22 ..11 44 22 ..88 77 66

Custos da missão olímpica

Valor do contrato 2008

N.º de Praticantes desportivos

Custo por praticante

Missão Olímpica 700.000 77 9.090

Quadro 9. Custos da missãoolímpica

Custo por medalha e por diploma

Custo por medalha Custo por diploma

Custo total do Projecto Pequim 2008 12.142.876 12.142.876

N.º de medalhas / diplomas 2 7

Custo por medalha / diploma 6.071.438 1.734.697

Quadro 10. Custo pormedalha e por diploma

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tante acresce um financiamento suplementar de700.000€ destinado a custear as despesas com amissão a Pequim 2008, o que totaliza um valor glo-bal de 12.142.876 €.Do montante total despendido, o valor efectivamentedestinado à preparação dos praticantes desportivos eàs bolsas olímpicas foi de 10.812.876 €, montantecorrespondente a 89% do total concedido(3).Para realizar a gestão do Projecto Pequim 2008foram atribuídos ao Comité Olímpico de Portugal630.000€, que corresponde a 5,2% do montantetotal despendido e a uma despesa mensal de14.318€(3).Relativamente aos custos da missão de Portugal oapoio concedido de 700.000€, para um total de 77praticantes desportivos, corresponde a um montantede 9.090€ por praticante.

Custos por medalha e por diplomaTendo em conta as 2 medalhas alcançadas e o custodo Projecto Pequim 2008, o valor necessário despen-

der para ser obtida uma medalha foi de 6.071.438€.Considerando as 7 classificações obtidas até ao 8.ºlugar, o custo de cada classificação foi de1.734.697€.

Apoios financeiros concedidos às federações desporti-vas e classificações obtidasAs 3 federações desportivas que maiores apoiosfinanceiros receberam no âmbito do Projecto Pequim2008, até final do ano de 2007 (b) foram, de formadestacada, a de Atletismo, Vela e Judo, cujo somató-rio ascendeu a 3.755.931,20€(3). Estas federaçõescorrespondem a (18%) e receberam 61% dos finan-ciamentos atribuídos até 2007 às federações despor-tivas que participaram nos Jogos Olímpicos. Poroutro lado, releva-se também, que estas 3 federaçõesobtiveram 64% da pontuação de mérito desportivode Portugal. As federações desportivas que menores apoios tive-ram foram as de Badminton, Ténis de Mesa, Tirocom Arco e Taekwondo que em conjunto receberam

82.674,09 €(3),representam 24% dasfederações e recebe-ram 1,3% dos finan-ciamentos atribuídosaté 2007 às federa-ções desportivas queparticiparam nosJogos Olímpicos.As federações des-portivas que nãoobtiveram classifica-ções até ao 16.ºlugar foram 9, erepresentam 53%das federações, con-tudo receberamfinanciamentos novalor de1.264.370,81€, querepresenta 21% dosfinanciamentos atri-buídos até 2007 àsfederações desporti-vas que participaramnos Jogos Olímpicos

Gestão do Desporto

Valor dos apoios concedidos às federações desportivas

Federação Valor dos apoios concedidos de 2005 a 2007 (b)

N.º de class. até ao 8.º lugar

N.º pontos obtidos

1 Atletismo 1.845.995,75 2 9 (32%)

2 Vela 1.103.409,82 3 7 (25%)

3 Judo 806.525,63 1 2 (7%)

4 Canoagem 450.930,90

5 Natação 303.132,09

6 Triatlo 276.464,96 1 7

7 Tiro com Armas Caça 233.666,66

8 Trampolins 213.284,59

9 Ciclismo 212.779,95

10 Equestre 171.888,09

11 Remo 161.562,46 1 1 (3,6%)

12 Esgrima 145.042,43

13 Tiro 124.625,00

14 Badminton 41.202,68

15 Ténis Mesa 22.033,91

16 Tiro Arco 10.000,00

17 Taekwondo 9.437,50 1 2 (7%)

TT oo tt aa ll 66 ..11 33 11 .. 99 88 22 ,, 44 22 99 22 88

Quadro 11. Valor dos apoios concedidos de 2005 a 2007 às federações desportivas e resultados obtidos

(b) - Nesta data, o valor dos apoios concedidos em 2008 às federações não está disponível

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Procurámos estabelecer uma relação entre o valordos apoios totais concedidos até 2007 às federaçõesdesportivas e as classificações por elas obtidas. Nas 2federações que receberam maior volume de apoios

parece verificar-se a existência de uma relação direc-ta entre o financiamento concedido e o número declassificações obtidas. O Atletismo e a Vela foram asfederações desportivas que receberam maiores

Gestão do Desporto

Taxa de “Medalhamento”

N.º de medalhas obtidas 2

População residente 10.617.575

Taxa de “Medalhamento” 5.308.788

Objectivos e resultados obtidos por Portugal

Medida do resultado

Resultados alcançados em Atenas 2004

Objectivos para Pequim 2008

Resultados alcançados em Pequim 2008

Variação face a Atenas 2004

1 Medalhas 3 5 2 -1

2 Diplomas (4.º ao 8.º) 10 12 7 -3

3 Modalidades presentes 16 18 17 1

Pontuação obtida (a) 44 60 28 -16

Mérito desportivo e classificações obtidas nos 4 Jogos Olímpicos

Atlanta 1996 Sydney 2000 Atenas 2004 Pequim 2008

Classificação N.º de

classific. Pontuação

N.º de

classific. Pontuação

N.º de

classific. Pontuação

N.º de

classific. Pontuação

Ouro 1 8 1 8

Prata 2 14 1 7

Bronze 1 6 2 12 1 6

sub-total 2 14 2 12 3 20 2 15

4.º lugar 2 10 1 5 1 5

5.º lugar 1 4 2 8

6.º lugar 1 3 1 3 2 6

7.º lugar 4 4 3 6 4 8 2 4

8.º lugar 2 2 4 4

sub-total 7 17 6 18 10 24 7 13

TT oo tt aa ll 99 33 11 88 33 00 11 33 44 44 99 22 88

Quadro 14. Mérito desportivo e classificações obtidas por Portugal nos últimos 4 Jogos Olímpicos

Quadro 12. Número dehabitantes por medalha -taxa de “medalhamento

Quadro 13. Grau de concretização dos objectivos e resultados obtidos por Portugal em Pequim 2008 e Atenas 2004

(a) A pontuação obtida não era um objectivo fixado no contrato programa. Foi anunciado pelo ComitéOlímpico de Portugal, no sítio na Internet do jornal Expresso, em www.expresso.pt, em 13-08-2008.

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apoios, mas também as que obtiveram melhoresresultados, através de maior número de classifica-ções até ao 8.º lugar e maior número de pontos.Encontramos uma relação inversa nas federações deCanoagem, Natação, Tiro com Armas de Caça,Trampolins e Ciclismo, cada uma recebeu apoiossuperiores a 200.000€ e não obteve qualquer resul-tado até ao 8.º lugar.

Número de habitantes por medalha— taxa de “medalhamento”O indicador número de habitantes de um país pormedalha fornece informação sobre a base de recruta-mento de praticantes desportivos que poderá revelara capacidade do sistema desportivo de um dado paísproduzir resultados. Este indicador é usualmentedesignado por taxa de “medalhamento” de cada país. Tendo em conta que a população residente emPortugal, em 2008(5) é de 10.617.575 habitantes, ataxa de “medalhamento” de Portugal, nos JogosOlímpicos de Pequim 2008 foi de 1 medalha por5.308.788 milhões de habitantes.

DISCUSSÃOResultados obtidos pelos praticantes desportivos e federações desportivasO desempenho de Portugal nos Jogos Olímpicos emPequim 2008 teve um nível inferior ao de Atenas2004 em todas as categorias dos objectivos. 3 meda-lhas obtidas em Atenas, 2 em Pequim. 10 diplomasem Atenas, 7 em Pequim. 44 pontos obtidos emAtenas, 28 em Pequim(1).No período de 12 anos e 4 Jogos Olímpicos o núme-ro de medalhas que Portugal arrecadou nunca ultra-passou o valor de 3, máximo atingido em Atenas2004. Nos outros 3 Jogos Olímpicos o número demedalhas obtido foi sempre de 2, apesar de diferen-tes no seu valor(1).O número de diplomas (classificações do 4.º ao 8.ºlugar) obtido em Pequim 2008 foi igual ao obtidoem Atlanta 1996 e superior em 1 a Sydney 2000.Ficou contudo, 3 abaixo da melhor classificação obti-da em Atenas 2004, com 10 diplomas(1).O desempenho desportivo de Portugal nos JogosOlímpicos de Pequim 2008 relativamente aos JogosOlímpicos de Atlanta 1996, manifestou uma manu-tenção do número de medalhas em 2 e do número

de classificações do 4.º ao 8.º lugar em 7. Ou seja,decorridos 12 anos, apesar de Portugal dispor, aonível do desporto olímpico, de melhores condiçõesfinanceiras e materiais, verificou-se um desempenhoidêntico ao de Atlanta 1996.Relativamente a Sydney 2000(1), em Pequim 2008 onúmero de medalhas manteve-se em 2 e o número declassificações do 4.º ao 8.º lugar aumentou de 6 para7. Ou seja, em Pequim 2008 verificou-se um desem-penho ligeiramente superior ao de Sydney 2000.Relativamente a Atenas 2004(1), em Pequim 2008 onúmero de medalhas sofreu uma redução de 1 e onúmero de classificações do 4.º ao 8.º lugar foi tam-bém menor em 3, de 10 em Atenas 2004, para 7 emPequim 2008.Apesar da estabilidade financeira conseguida para aexecução do projecto de preparação olímpica, da con-tratualização quadrienal dos apoios e da conduçãoem exclusivo, pelo Comité Olímpico de Portugal, dapreparação olímpica o desempenho desportivo dePortugal teve um nível inferior em Pequim 2008 doque em Atenas 2004.A competitividade das federações desportivas podeser aferida pelo critério do número de classificaçõesobtidas, método que possibilita distinguir as federa-ções desportivas em 3 grupos, consoante a sua com-petitividade nos últimos 4 Jogos Olímpicos: 1 – Modalidades que obtiveram medalha; 2 - Modalidades que obtiveram classificação corres-pondente a diploma (4.º - 8.º lugar)3 - Modalidades que nunca obtiveram classificaçãocorrespondente a diploma.As federações mais competitivas e com um melhordesempenho nos últimos 4 Jogos Olímpicos são asintegradas no grupo I, Atletismo, Vela, Judo, Triatlo eo Ciclismo, as demais manifestam um nível de desem-penho inferior e integram-se nos grupos II e III.

Custos do Projecto Pequim 2008No Projecto Pequim 2008 o montante afectado àsfederações desportivas destinado à preparação dospraticantes desportivos e às bolsas, foi inferior em154.241€, ao correspondente no Projecto Atenas2004. Donde se conclui que os custos da preparaçãodos praticantes desportivos para os Jogos Olímpicosde Pequim 2008 foram inferiores aos custos doProjecto Atenas 2004.

Gestão do Desporto

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Gestão do Desporto

Grupos de modalidades segundo as classificações obtidas nos 4 Jogos Olímpicos

Atlanta 1996 Sydney 2000 Atenas 2004 Pequim 2008 Total

Federações Med.

4.º

ao

8.º

Med.

4.º

ao

8.º

Med.

4.º

ao

8.º

Med. 4.º ao

8.º Med. 4.º ao 8.º

1 Atletismo 1 2 1 2 2 1 1 5 5

2 Vela 1 2 3 3 3 1 11

3 Judo 1 1 2 1 1 4

4 Triatlo 1 1 1 1

I

5 Ciclismo 1 1 0

6 Voleibol Praia 1 1 0 2

7 Canoagem 1 0 1

8 Tiro 1 0 1

9 Tiro A. Caça 1 0 1

10 Futebol 1 0 1

11 Trampolins 1 0 1

12 Taekwondo 1 0 1

II

13 Remo 1 0 1

14 Esgrima 0 0

15 Badminton 0 0

16 Equestre 0 0

17 Ginástica 0 0

18 Lutas Amador. 0 0

19 Natação 0 0

20 Pent. Moderno 0 0

21 Ténis 0 0

III

22 Tiro com Arco 0 0

Subtotal 2 7 2 6 3 10 2 7 9 30

TT oo tt aa ll 99 88 11 33 99 33 99

Quadro 15. Grupos de federações desportivas segundo a competitividade nos 4 Jogos Olímpicos

Apoios financeiros concedidos ao Comité Olímpico de Portugal

Projecto Projecto Atenas 2004 Valores dos contratos 2001 / 2004

Projecto Pequim 2008 Valores dos contratos 2005 / 2008

Variação face a Atenas 2004

Gestão do Projecto 234.796 630.000 395.204

Federações 10.967.117 10.812.876 -154.241

Total 11.201.913 11.442.876 240.963

Missão Olímpica 650.000 700.000 50.000

Quadro 16. Apoios concedidos ao Comité Olímpico de Portugal, Projectos Pequim 2008 e Atenas 2004

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Gestão do Desporto

Apoios financeiros concedidos ao Comité Olímpico de Portugal para o Projecto Atlanta 1996, Sydney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008

Projecto Atlanta 1996

Projecto Sydney 2000 Projecto Atenas 2004 Projecto Pequim 2008

Valores dos contratos 1995 - 1996

Valores dos contratos 1997 - 2000

Variação Valores dos contratos 2001 - 2004

Variação Valores do contrato 2005 - 2008

Variação

Gestão do Projecto 199.520 274.340 37,5% 234.796 -14,4% 630.000 268,3%

Missão Olímpica 324.218 349.157 7,7% 650.000 86,1% 700.000 7,7%

Subtotal Comité Olímpico

523.738 623.497 19,0% 964.796 (a) 54,7% 1.330.000 37,9%

Subtotal Federações

5.561.597 8.927.375 60,5% 10.967.117 22,9% 10.812.876 - 1,4%

Total 6.085.334 9.550.872 56,9% 11.931.912 24,1% 12.142.876 1,8%

% do apoio COP/Fed. 9% 7% 9% 11%

(a) inclui um montante 80.000 destinado aos praticantes qualificados

Financiamento da missão aos Jogos Olímpicos e custo por praticante da missão

Jogos Olímpicos Valor do contrato Variação N.º de praticantes desportivos participantes

Custo por praticante

Variação

Atlanta 1996 324.218 nd 101 3.210 nd

Sydney 2000 349.157 7,7% 62 5.632 75,0%

Atenas 2004 650.000 86,1% 82 7.927 40,7%

Pequim 2008 700.000 7,7% 77 9.090 14,7%

Custo por medalha e por diploma Pequim 2008 e Atenas 2004

Projecto Atenas 2004 Projecto Pequim 2008 Variação

Custo total do Projecto 11.931.913 12.142.876 1,8%

N.º de medalhas 3 2 -66,7%

Custo por medalha 3.977.304 6.071.438 52,7%

N.º de classificações até ao 8.º lugar 13 7 -53,8%

Custo por classificação até ao 8.º lugar 917.839 1.734.697 88,9%

Quadro 17. Apoios financeiros concedidos ao Comité Olímpico de Portugal do Projecto Atlanta 1996 a Pequim 2008

Quadro 18. Financiamento da Missão aos últimos 4 Jogos Olímpicos e custo por praticante da missão

Quadro 19. Custo por medalha e por diploma em Pequim 2008 e Atenas 2004

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Gestão do Desporto

Taxa de “Medalhamento”

Atenas 2004 Pequim 2008

N.º de medalhas obtidas 3 2

População residente (2003 / 2008) 10.356.117 10.617.575

Taxa de “Medalhamento” 3.452.039 5.308.788

Taxa de “medalhamento” por país da União Europeia 27 nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008

País População 2008 N.º de medalhas N.º habitantes por medalha

1 Eslovénia 2.025.866 5 405.173

2 Estónia 1.340.935 2 670.468

3 Lituânia 3.366.357 5 673.271

4 Letónia 2.270.894 3 756.965

5 Dinamarca 5.475.791 7 782.256

6 Eslováquia 5.400.998 6 900.166

7 Hungria 10.045.000 10 1.004.500

8 Países-Baixos 16.404.282 16 1.025.268

9 Reino Unido 61.185.981 47 1.301.829

10 Finlândia 5.300.484 4 1.325.121

11 Irlanda 4.419.859 3 1.473.286

12 Bulgária 7.640.238 5 1.528.048

13 França 63.753.140 40 1.593.829

14 Republica Checa 10.381.130 6 1.730.188

15 Suécia 9.182.927 5 1.836.585

16 Alemanha 82.221.808 41 2.005.410

17 Itália 59.618.114 28 2.129.218

18 Espanha 45.283.259 18 2.515.737

19 Roménia 21.528.627 8 2.691.078

20 Áustria 8.331.930 3 2.777.310

21 Grécia 11.214.992 4 2.803.748

22 Polónia 38.115.641 10 3.811.564

22 33 PP oo rr tt uu gg aa ll 11 00 ..66 11 77 ..55 77 55 22 55 ..33 00 88 .. 77 88 88

24 Bélgica 10.666.866 2 5.333.433

25 Chipre 794.580 0 0

26 Luxemburgo 483.799 0 0

27 Malta 410.584 0 0

Quadro 20. Número de habitantes por medalha - taxa de “medalhamento”, Pequim 2008 e Atenas 2004

Quadro 21. Número de habitantes por medalha – taxa de “medalhamento” por país da União Europeia 27

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Um projecto que manifestou um aumento de custosfoi a gestão do Projecto que passou a ser efectuadaem exclusivo pelo Comité Olímpico de Portugal, teveuma despesa quadrienal de 630.000€, o que corres-ponde a um encargo mensal de 14.318€.O valor dos apoios concedidos ao Comité Olímpicode Portugal representou 11% dos apoios concedidos

às federações desportivas, mais 2% do que noProjecto Atenas 2004. Relacionando o desempenho desportivo de Portugale os meios financeiros afectados à preparação olím-pica, conclui-se que no período de 12 anos (Atlanta1996 – Pequim 2008) os meios financeiros aplicadosaumentaram em 100%, não tendo os resultados des-

Gestão do Desporto

Os 27 países da União Europeia e indicadores desportivos

País União Europeia 27

N.º de Medalhas Atenas 2004

N.º de Medalhas Pequim 2008

N.º habitantes por medalha Pequim 2008

Variação: n.º de medalhas Atenas 2004 / Pequim 2008

Variação: posição n.º habitantes por medalha Atenas 2004 / Pequim 2008

1 Reino Unido 30 47 1.301.829 17 8

2 Alemanha 49 41 2.005.410 -8 -2

3 França 33 40 1.593.829 7 3

4 Itália 32 28 2.129.218 -4 -2

5 Espanha 19 18 2.515.737 -1 0

6 Países-Baixos 22 16 1.025.268 -6 -1

7 Hungria 17 10 1.004.500 -7 -4

8 Polónia 10 10 3.811.564 0 0

9 Roménia 19 8 2.691.078 -11 -10

10 Dinamarca 8 7 782.256 -1 0

11 Eslováquia 6 6 900.166 0 2

12 Republica Checa 8 6 1.730.188 -2 -2

13 Bulgária 12 5 1.528.048 -7 -8

14 Eslovénia 4 5 405.173 1 1

15 Lituânia 3 5 673.271 2 7

16 Suécia 7 5 1.836.585 -2 -2

17 Finlândia 2 4 1.325.121 2 9

18 Grécia 16 4 2.803.748 -12 -15

19 Áustria 7 3 2.777.310 -4 -9

20 Irlanda 0 3 1.473.286 3 16

21 Letónia 0 3 756.965 3 22

22 Bélgica 3 2 5.333.433 -1 -4

23 Estónia 3 2 670.468 -1 -1

22 44 PP oo rr tt uu gg aa ll 33 22 55 ..33 00 88 .. 77 88 88 -- 11 -- 22

25 Chipre 0 0 0 0 0

26 Luxemburgo 0 0 0 0 -2

27 Malta 0 0 0 0 -4

Quadro 22. Comparação do indicador, n.º de medalhas e n.º habitantes por medalha Pequim 2008 e Atenas 2004

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portivos acompanhado com qualquer crescimento.Especificamente para a missão aos Jogos Olímpicosde Pequim 2008, relativamente ao apoio concedidopara a missão a Atenas 2004 verificou-se um aumen-to de 7,7%. Ou seja, teve um custo de 9.090 € porpraticante, enquanto para Atenas foi de 7.927€.

Custo por medalha e por diplomaComprando a prestação desportiva em Pequim 2008com a de Atenas 2004, tendo em conta as 3 medalhasalcançadas e o custo dos projectos olímpicos, o valornecessário despender para ser obtida uma medalha emPequim 2008 foi de 6.071.438 € e em Atenas 2004 foide 3.977.304 €. Para obter uma classificação até ao 8.ºlugar, o custo em Atenas 2004 foi de 917.839€,enquanto em Pequim 2008 foi de 1.734.697 €.

Número de habitantes por medalha — taxa de “medalhamento” No indicador número de habitantes por medalha odesempenho de Portugal nos Jogos Olímpicos dePequim 2008 foi inferior ao dos Jogos Olímpicos deAtenas 2004, manifestou uma relação de 1 medalhapor 5.308.788 habitantes em Pequim 2008, para umamedalha por 3.452.039 habitantes em Atenas 2004.No âmbito dos 27 países da União Europeia (UE) aprestação de Portugal ao nível do número de meda-lhas obtidas permitiu posicionar Portugal no 21.ºlugar, com a mesma prestação que a Bélgica e aEstónia. Atrás de Portugal ficaram apenas pequenospaíses que não obtiveram qualquer medalha, Chipre,Luxemburgo e Malta e cuja população não ultrapassaos 800.000 habitantes.Ao nível da taxa de “medalhamento” medida pelonúmero de habitantes por medalha, a posição dePortugal no âmbito dos 27 países da União Europeiaainda é mais desfavorável, ocupando o 23.º lugar,com 5.308.788 habitantes por medalha, ficando posi-cionados atrás de Portugal a Bélgica, Chipre,Luxemburgo e Malta.Comparando o desempenho de Portugal nos Jogos olím-picos de Pequim 2008 com o de Atenas 2004 verifica-mos que não se registaram alterações significativas. Os 2indicadores registaram em Pequim 2008 níveis inferioresde desempenho. Por um lado, Portugal obteve menos 1medalha e, por outro, a posição, no que respeita aonúmero de habitantes por medalha desceu 2 lugares.

Em síntese as grandes conclusões são as seguintes:dos três objectivos desportivos fixados para Portugalnos Jogos Olímpico de Pequim 2008, não foi atingi-do nenhum.Apesar da estabilidade financeira conseguida para aexecução do projecto de preparação olímpica, da con-tratualização quadrienal dos apoios e da conduçãoem exclusivo, pelo Comité Olímpico de Portugal, dapreparação olímpica, o desempenho desportivo dePortugal teve um nível inferior em Pequim 2008 doque em Atenas 2004.Para a execução do Projecto Pequim 2008 foi conce-dida ao Comité Olímpico de Portugal uma verba12.142.876€, mas o montante afectado às federaçõesdesportivas destinado à preparação dos praticantesdesportivos e às bolsas, foi inferior em 154.241€, aocorrespondente no Projecto Atenas 2004. No período de 12 anos (Atlanta 1996 – Pequim 2008)os meios financeiros aplicados na preparação olímpicaaumentaram em 100%, não tendo os resultados des-portivos acompanhado com qualquer crescimento.No âmbito dos 27 países da União Europeia a pres-tação de Portugal ao nível do número de medalhasobtidas permitiu posicionar Portugal no 21.º lugar,com a mesma prestação que a Bélgica e a Estónia.Atrás de Portugal ficaram apenas pequenos paísesque não obtiveram qualquer medalha.

CORRESPONDÊNCIAAlfredo SilvaEscola Superior de Desporto de Rio MaiorInstituto Politécnico de SantarémAvenida Dr. Mário Soares - Pavilhão Multiusos2040-413 Rio MaiorPortugalTelefone: +(351) 965 071 871 E-mail: [email protected]

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REFERÊNCIAS1. Avaliação dos Apoios à Participação de Portugal nos Jogos

Olímpicos de Atenas 2004, Instituto do Desporto dePortugal, 2004 (documento não publicado).

2. Diário da Republica, 2.ª série, N.º 70, de 11 de Abril de2005.

3. Relatório do Programa de Preparação Olímpica 2006,Comité Olímpico de Portugal, 2007 (documento nãopublicado).

4. Relatório do Programa de Preparação Olímpica 2007,Comité Olímpico de Portugal, 2008 (documento nãopublicado).

5. Página Oficial do Comité Olímpico de Portugal -http://www.comiteolimpicoportugal.pt/ - acedida em 26-08-2008.

6. Pagina Oficial do Instituto do Desporto de Portugal -www.idesporto.pt - acedida em 15-08-2008.

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O Olimpismo hoje. De uma diplomacia do silêncio para uma diplomacia silenciosa. O caso das duas Chinas

Gustavo Pires Faculdade de Motricidade HumanaUniversidade Técnica de LisboaPortugalPresidente do Fórum Olímpico de Portugal

RESUMOO Movimento Olímpico, devido à contestação política que têmcomo cenário de fundo os Jogos de Pequim (2008), vive ummomento crucial que, por paradoxal que possa parecer, está a pro-piciar as condições necessárias à sua evolução e ao seu progresso.Por um lado, a República Popular da China (RPC) comprometeu-sea realizar a abertura necessária no âmbito do respeito pelosDireitos Humanos quando, em 2001, Pequim recebeu a incumbên-cia de organizar os Jogos da XXIX Olimpíada. Por outro lado, oComité Olímpico Internacional (COI) passou a sofrer as maiorespressões das mais diversas organizações não governamentais(ONGs), a fim de obrigar a China a cumprir o prometido. Tal comoJacques Rogge reconheceu, o Movimento Olímpico acabou por ficarno meio de uma crise difícil de gerir a contento de todos. Contudo, o ambiente de crises entre o COI e a RPC não erauma situação totalmente desconhecida para as duas entidades.De facto, no início dos anos cinquenta desencadeou-se o desig-nado problema das “duas Chinas” que chegou ao ponto doComité Olímpico Nacional (CON) da RPC, em plena guerra-fria, abandonar o COI e a generalidade das federações interna-cionais (FI). Ao tempo, Avery Brundage Presidente do COI,afirmava que o desporto nada tinha a ver com a política.Passados mais de cinquenta anos, como se tem vindo a consta-tar na Olimpíada de Pequim, a questão das relações entre odesporto e a política, pelas mais diversas razões, ainda não estáresolvida. Por um lado, os dirigentes políticos continuam amanipular as questões desportivas de acordo com as suas con-veniências, por outro lado, contra todas as evidências, a genera-lidade dos dirigentes do mundo do Movimento Olímpico conti-nua a afirmar que o desporto nada tem a ver com a política. O objectivo do presente ensaio é analisar a questão política dodesporto tendo em consideração as relações passadas e presentesentre a RPC e COI, no quadro do problema das “duas Chinas”.

Palavras-chave: China, desenvolvimento, ideologia, Olimpismo,política

ABSTRACTThe Olympic movement today. From a diplomacy of silence to asilent diplomacy. The case of both China

Due to the political protest which scenery was Peking Olympic Gamesof (2008), the Olympic Movement, for paradoxical reasons, is in a cru-cial moment which can be the appropriate and necessary one to promotehis evolution and progress. On one side, the People’s Republic of Chine(PRC) promised to accomplish the necessary opening in the ambit ofthe respect for the Human Rights when, in 2001, Peking received theincumbency to organize the Games of the XXIX Olympiad. On theother hand, the International Olympic Committee (IOC) started to suf-fer the largest pressures from several non-governmental organisations(NGOs), in order to force China to accomplish his promises. JacquesRogge recognized, that the Olympic Movement was in the middle of acrisis difficult to manage in a satisfactory way for every one involved inthe process. However, the atmosphere of crises between IOC and RPC was not anunknown situation for the two entities. As matter of fact, in the begin-ning of the fifties the so called «two China» problem got to a point thatthe national Olympic Committee of PRC, in the middle of the cold war,abandoned the IOC and several of international sports federations (IF).At the time, Avery Brundage President of IOC, affirmed that the sporthas nothing to do with policy. Passed more than fifty years, as it is possible to verify in the Olympicsof Peking, the subject of the relationships between the sport and thepolitics, for the most several reasons, was not still resolved. On oneside, the political leaders continue to manipulate the sport subjects inagreement with their conveniences, on the other hand, against all theevidences, most of leaders’ of the Olympic Movement continues toaffirm that the sport has nothing to do with policy.The objective of the present rehearsal is to analyze the political subjectof the sport, considering the last and present relationships betweenPRC and IOC, in the context of the «two China» problem.

Key-words: China, development, ideology, Olympics, policy

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INTRODUÇÃOA atribuição da organização dos Jogos da XXIXOlimpíadai a Pequim, devido às questões relativasaos Direitos Humanos na China, à guerra no Darfure à autonomia do Tibete, veio, mais uma vez, trazerao decima a questão da utilização política do despor-to que, recorrentemente, atinge as parangonas dacomunicação social e as preocupações de muitosdirigentes desportivos. Contudo, independentementede, só em determinados momentos, as questões polí-ticas do desporto poderem merecer os favores privi-legiados da atenção social, o que é facto é que, asmais diversas ideologias, da esquerda à direita e ageneralidade dos regimes políticos, embora não oadmitam, sempre que lhes convém, utilizam o des-porto como uma arma política. Dum lado, esgrimemaqueles que representam os eternos complexos deuma esquerda envergonhada que gosta do desporto edos seus efeitos propagandísticos mas, como tempreconceitos em admiti-lo, desvaloriza-o e despresti-gia-o, transformando-o numa actividade menor, fol-clórica, à margem dos assuntos sérios da vida, peloque, para ela, o dito só serve para alienar as desgra-ças do povo. Do outro lado, o apetite fogoso de umadireita mercantilista, desavergonhada, com tiquesreaccionários, por vezes até mesmo fascistas, funda-mentalmente interessada em transformar o desportonuma “vaca leiteira”ii que é necessário mugir até àúltima pinga de leite, em nome dos interesses dapátria amada. Perante estes dois cenários, o Movimento Olímpicotradicionalmente adoptou um comportamento queinvariavelmente se situou entre a metáfora da aves-truz que faz por ignorar os problemas e um determi-nado oportunismo que procura tirar partido dassituações em benefício próprio. Estas duas perspecti-vas, ao longo dos últimos mais de cinquenta anos,sob a desculpa do apolitismo desportivo, impediramo Comité Olímpico Internacional (COI) de possuiruma agenda política própria, acabando por, em mui-tas situações, andar a reboque de agendas políticasalheias e, muitas vezes até, das próprias agendaspessoais de dirigentes desportivos e políticos. Até à II Guerra Mundial, à excepção das disputasrelativas ao boicote aos Jogos de Berlim (1936), aquestão política do desporto, para além de algunsassuntos importantes mas, de certo modo, delimita-

dos, decorreu sem problemas de maior, quer dizer, àmargem das grandes questões de ordem ideológica,até porque era o COI quem controlava a situação,uma vez que a acção política decorria de dentro doCOI para fora, quer dizer, do COI para os líderes, asorganizações, os governos e os países com quemmantinha relações, ou desejava influenciar politica-mente.iii A partir dos anos cinquenta, com as seque-las da II Grande Guerra, a situação alterou-se radi-calmente na medida em que o COI começou a ter delidar com problemas que lhe chegavam de fora paradentro. Ora, o COI não estava minimamente prepa-rado para resolver este tipo de situações. Por isso,perante a incapacidade de lidar com problemas queestavam fora da sua esfera de acção, optou por sefechar sobre si próprio, através da posição de que odesporto nada tinha a ver com a política. Esta atitu-de deu origem ao designado apolitismo desportivono qual o COI se refugiou durante mais de cinquen-ta anos, a fim de não se deixar contaminar pelasquestões ideológicas e políticas que sempre marca-ram e sempre hão-de marcar a vida mundial.A seguir à II Guerra Mundial, as condições sociais,económicas e políticas do mundo, alteraram-se radi-calmente. As relações entre o desporto e a políticadeixaram de ter o quadro mais ou menos cordato dopassado, só verdadeiramente perturbado com osJogos de Berlim (1936). A partir dos anos cinquenta,as questões começaram a ser outras completamentediferentes, pelo que, de um momento para o outro, oCOI viu-se invadido pelos mais diversos problemas,alguns provenientes dos tempos modernos que omundo vivia, outros, decorrentes das enormessequelas políticas deixadas pela própria Guerra. A problemática do apolitismo desportivo começou aser levantada por Avery Brundage (1887-1975) naqualidade de Presidente do Comité Olímpico dosEstado Unidos (COEU) a propósito do eventual boi-cote dos EUA aos Jogos de Berlim (1936), devido àquestão dos judeus. Depois, não só na sua qualidadede Vice-presidente do COI como, de 1952 até 1972,como seu Presidente, Brundage com a maior dahipocrisias e cinismos sempre defendeu que o des-porto nada tinha a ver com a política, causando comesta sua posição enormes problemas ao próprioMovimento Olímpico.iv Mas, como vamos ter a opor-tunidade de verificar ao longo do presente ensaio, a

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máxima adoptada por Brundage surgiu de uma inca-pacidade absoluta dos dirigentes enfrentarem asquestões ideológicas e políticas que o desporto lhescolocava, pelo que acabaram por ser manipuladospor todos os lados inclusivamente por AveryBrundage. Depois, a II Grande Guerra Mundial acabou porcolocar problemas políticos e desportivos aoMovimento Olímpico, para os quais o COI não esta-va preparado para resolver. Tudo aquilo que a gene-ralidade dos dirigentes do COI verdadeiramentedesejavam, era manter o Movimento Olímpico emcada país, fora do controlo governamental. Todavia,para o conseguirem, escolheram a estratégia errada.E escolheram a estratégia errada na medida em quenem todos os protagonistas de ambos os lados erammovidos pelas melhores intenções. Por isso, porparadoxal que possa parecer, para ultrapassarem osproblemas políticos com que se defrontavam, ideolo-gia era aquilo que os dirigentes do MovimentoOlímpico mais necessitavam. Até porque, uma orga-nização seja ela qual for, sem ideologia e sem umaagenda política próprias, acaba por ser gerida aosabor das conveniências, dos impulsos e das pres-sões internas e externas a que, em cada momento,está sujeita. E foi o que aconteceu. Em consequên-cia, embora contra a opinião da generalidade dosinvestigadores que se tem dedicado ao estudo dasrelações do desporto com a política, o que é facto éque a ideia de Brundage resistiu durante mais decinquenta anos. Mas resistiu não pela força dos seusargumentos mas pela força dos interesses da genera-lidade dos dirigentes desportivos e políticos que pas-saram a utilizar a metáfora das mais diversas manei-ras, em função dos seus interesses. Em conformidade, contestamos o discurso “politica-mente correcto” que afirma que o desporto nada tema ver com a política. Este tipo de discurso, em muitascircunstâncias, conduziu injustamente o desporto emgeral e o Olimpismo em particular, para uma imagemdistorcida junto da generalidade das pessoas. Agora, o Movimento Olímpico, com todos os proble-mas que decorreram da atribuição em 2001 da reali-zação dos Jogos XXIX Olimpíada à cidade dePequim, está a viver um momento crucial de mudan-ça de paradigma, em que o velho adágio cunhado porAvery Brundage está, sob a nova Liderança de

Jacques Rogge, a dar lugar a uma outra perspectivade entender a questão, em que o desporto é entendi-do como um catalizador de mudança e de progressoao serviço do Desenvolvimento Humano.v E, devidoa este novo posicionamento social e político, o quese verifica é que o COI está a evoluir de uma “políti-ca de silêncio” que caracterizou a sua acção no pas-sado, para uma “política silenciosa” que há-de carac-terizar a sua acção no futuro e que já começou a teralguns efeitos nos Jogos de Pequim.Na realidade, do movimento de contestação aosJogos Olímpicos de Pequim, pode ter começado asurgir uma alternativa ao apolitismo desportivo queenvolveu os discursos da generalidade dos dirigentespolíticos e desportivos, sempre que lhes conveio.Porque, o que se tem vindo a passar na Olimpíadade Pequim, muito provavelmente, indicia umamudança de paradigma em que um discurso velho edesajustado aos tempos actuais, pode estar a darlugar a um discurso novo que assume que o despor-to, tal como outra qualquer actividade do domíniosocial, é política pelo simples facto de estar envolvi-do na própria vida das pessoas e das comunidades.Nesta perspectiva, o desenvolvimento do desportono quadro da acção do COI passa a avocar uma fun-ção catalítica de mudança no domínio do designado“soft power”, que acaba por ser bem mais eficiente noque diz respeito à promoção dos valores doOlimpismo. Porque, como defende Jacques RoggePresidente do COI, muito embora não seja função doOlimpismo resolver os problemas do mundo, toda-via, também não os pode ignorar metendo a cabeçana areia, dizendo que o desporto nada tem a ver comaquilo que se passa à sua volta, para além do rendi-mento, da medida, dos recordes e dos espectáculosdesportivos que, à escala do Planeta, acontecem dequatro em quatro anos. Entre a institucionalização por Avery Brundage damáxima de que “o desporto nada tem a ver com apolítica” e a proferida por Jacques Rooge de que “odesporto é um catalizador de mudança”, decorrerammais de cinquenta anos. Neste período de tempo, omundo viveu mais ou menos convencido de que odesporto nada tinha a ver com a política até que, noinício da XXIX Olimpíada, em Março de 2008, asmanifestações contra a política interna e externa daRepublica Popular da China (RPC), bem como contra

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a aparente passividade do COI relativamente aos atro-pelos aos Direitos Humanos na China, surgiram tãoinopinadamente e com tanta violência, que ninguémficou indiferente ao que se estava a passar. Tanto oCOI como as autoridades chinesas foram apanhadoscompletamente desprevenidos, perante uma situaçãoque podia atingir proporções desastrosas para a pró-pria organização dos Jogos Olímpicos de Pequim. Osmanifestantes exigiam à RPC o respeito pelos DireitosHumanos e ao COI que assumisse a suas responsabi-lidades de acordo com o seu quadro ideológico dereferência, expresso na Carta Olímpica. Depois, perante a gravidade dos acontecimentos aAmnistia Internacional (AI)vi, emitiu um comunica-do aonde afirmava:“A China está a aproveitar os Jogos Olímpicos, para realizaracções de repressão que violam os direitos humanos, nomea-damente está a limpar Pequim de ‘indesejáveis’. (…) Arepressão sobre defensores dos Direitos Humanos, jornalistase advogados, tem vindo a tornar-se mais forte devido aosJogos Olímpicos. Caso as autoridades não mudem imediata-mente de rumo, o legado dos Jogos Olímpicos de Pequim nãoserá positivo para os direitos humanos na China”.vii

Claro que a China repudiou as acusações da AI edefendeu a forma como o país testava a evoluir naquestão dos Direitos Humanos. Não há dúvidas deque a RPC progrediu extraordinariamente desde ofim da Revolução Cultural (1966-1976), no entanto,essa evolução ficou-se em grande medida a dever àspressões das mais diversas organizações da comuni-dade internacional, entre elas as do COI. E não podeser de outra maneira, até porque quando a tese doapolitismo desportivo defende a ideia da indepen-dência total da prática desportiva relativamente àsquestões de ordem política, transforma o desportonuma simples actividade de raiz física e biológicaque se esgota no corpo máquina do rendimento, damedida e do recorde ao serviço do espectáculo.Deste modo, desencadeia uma perspectiva fascizanteda prática desportiva na medida em que inverte osobjectivos e os valores do desporto e, em última aná-lise, coloca o desportista ao serviço do desporto enão o desporto ao serviço daqueles que, das maisdiversas maneiras, estão ligados às suas práticas.Vasco Pulido Valente escrevia em 1988 imediatamen-te a seguir aos Jogos Olímpicos de Seul: “O desporto Olímpico é um sacrifício humano aos valores

mais sórdidos e perversos do mundo contemporâneo. É umademonstração ritual de que a barbárie existe.”viii

Esta constatação que vinte anos depois, como seconstatou em Pequim (2008) com, entre outras, aceleuma acerca da verdadeira idade das ginastas chi-nesas, continua a ser oportuna, na medida em que,por detrás das performances das ginastas que encan-taram o mundo, estão questões de direitos humanosnos quais se inclui a exploração do trabalho infantil,pelo que, quer os arautos do apolitismo desportivoqueiram quer não, dão uma dimensão política aofenómeno desportivo deste logo porque o colocamnuma posição central no que diz respeito aos direi-tos humanos em geral e aos das crianças em particu-lar. E o texto de Pulido Valente continua a ser deenorme oportunidade na medida em que tem preva-lecido a ideia de que o desporto é qualquer coisa quepode funcionar à margem da política, sem quaisquerpreconceitos de ordem moral para que todos aquelesque afirmam que “o desporto nada tem a ver com apolítica”, possam dormir descansados, porque nin-guém sabe nem quer saber quantas atletas ficarampelo caminho e, sobretudo, quais as razões.ix

Perante este quadro e as enormes pressões a que oCOI estava a ser sujeito, no início da XXIXOlimpíada, Jacques Rogge foi obrigado a vir a públicomanifestar a posição do COI. Então, a 10/4/2008,numa conferência de imprensa realizada em Pequim,Rogge não se coibiu de recordar às autoridades chine-sas os compromissos assumidos em matéria de direi-tos humanos aquando da escolha da cidade de Pequimpara sediar os Jogos da XXIX Olimpíada. E disse:“Pedimos claramente à China que respeite esse compromissomoral”.As declarações de Rogge suscitaram uma rápidareacção de Jiang Yu, a porta-voz do Ministério dosNegócios Estrangeiros da RPC, que pediu aos res-ponsáveis do COI para não introduzirem políticanos Jogos:“Acredito que os membros do COI apoiam os JO e a inten-ção dos princípios olímpicos de não discutir factores políti-cos irrelevantes.” “Espero que os membros do COI conti-nuem a respeitar os estatutos olímpicos”.Quando Jiang Yu, em nome do governo da RPC,afrontou daquela maneira Jacques Rogge o COI,estava-se a esquecer ou a ignorar que os dirigentesda RPC, desde a sua fundação em 1949, sempre se

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utilizaram do desporto e do Olimpismo como instru-mentos da sua estratégia política ao serviço da ideo-logia. Até meados dos anos sessenta, a máxima dodesporto chinês que era levada às últimas conse-quências dizia: “Primeiro a amizade depois a competição.”Ora, quando no desporto, a competição naquilo quesignifica a luta leal e honrada pela vitória, não é oalfa e o ómega da prática desportiva, é porque exis-tem interferências externas que nada têm a ver como próprio desporto. E foi o que aconteceu comovamos ter a oportunidade de ver ao longo do presen-te ensaio.Em conformidade, o presente ensaio tem como objec-tivo contribuir para o esclarecimento da dimensãopolítica do desporto, à luz do problema das “duasChinas” que teve a sua origem ao tempo da organiza-ção dos Jogos Olímpicos de Helsínquia (1952), desen-volveu-se durante quase trinta anos influenciando arealização de vários Jogos Olímpico, sem que, aindahoje, esteja completamente resolvido. A questão das “duas Chinas” demorou mais do quedevia a resolver, porque nunca nenhuma das partesactuou com clareza e abertura, na medida em que,sob a metáfora de que o desporto nada tinha a vercom a política, sempre se limitaram a tentar imporos seus interesses explícitos ou implícitos, própriosou alheios.No presente ensaio vamos analisar as relações e opercurso da RPC no âmbito do Movimento Olímpicointernacional, tendo em atenção a problemática polí-tica que envolveu toda esta questão, que ficouconhecida como o problema das “duas Chinas”.

ABERTURA DO OLIMPISMO A ORIENTEUm Movimento Olímpico fechado é a última coisaque pode agradar àqueles que verdadeiramente seinteressam pelas questões do Olimpismo e do des-porto. Só pode convir àqueles que querem fazer doOlimpismo uma espécie de “clube de amigos”, aoserviço de vários interesses que nada têm a ver nemcom os atletas nem com a “celebração da humanida-de”. Por isso, a abertura do COI às mais diversasculturas, regiões, países e regimes, é uma questãoque tem de estar sempre na ordem do dia, de acordocom o próprio espírito internacionalista doMovimento Olímpico. E a grande oportunidade para

o COI dar mais um passo em frente na construçãodo Olimpismo moderno, aconteceu na 112ª reuniãodo Comité Olímpico Internacional (COI) realizada a13 de Julho de 2001 em Moscovo, quando foi anun-ciada a escolha de Pequim como a cidade sede dosJogos da XXIX Olimpíada que seriam realizados em2008. Na referida reunião, o COI:— Arriscou a abertura ao desconhecido;— Tomou uma decisão potencialmente portadora defuturo;— Assumiu-se como uma instituição portadora demudança à escala planetária;— Proporcionou aos chineses a possibilidade demanifestarem o seu orgulho nacional; — Desencadeou uma nova perspectiva política deabordagem das questões desportivas.Ao tempo, foram muitos aqueles que entenderamque o COI tinha tomado uma decisão portadora defuturo. Todavia, existia também consciência de que,se por um lado, a decisão iria, de alguma maneira,contribuir para a abertura da República Popular daChina (RPC) ao mundo, por outro lado, sabia-se quese estava a tomar uma decisão de alto risco, namedida em que o COI aceitava entrar num processode longo prazox sem retorno, que, em muitas cir-cunstâncias, não controlava. Quer dizer, o COIabriu-se por vontade própria à RPC, um país comuma população de mais de mil milhões, atribuindo arealização dos Jogos Olímpicos à cidade de Pequimque se candidatava pela segunda vez, sabendo queessa decisão, no futuro, lhe ia certamente levantarproblemas difíceis de resolver. Contudo, o COI nãoestava em condições de não decidir a favor dePequim, sob pena de poder ser acusado de parciali-dade e de estar a introduzir questões ideológicas noprocesso de tomada de decisão da escolha da cidadesede dos Jogos Olímpicos.

Um bilião e trezentos milhões de habitantesA abertura do COI a Oriente também foi uma acçãointeressada, na medida em que o COI é uma máqui-na que gere uma das indústrias mais proveitosas domundo. Em conformidade, não podia deixar de setentar pelo país mais populoso do mundo, com umaeconomia que, nos últimos trinta anos cresceu auma taxa média anual de 9.6%.xi Com um rendimen-to per capita de 1290 dólares,xii a RPC transformou-se

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num exército económico extraordinariamente efi-ciente e barato, que passou a dificultar as economiasocidentais, entre elas a dos EUA. Perante este cená-rio A contestação aos Jogos Olímpicos de Pequimtambém aconteceu certamente por motivos de inte-resse de ordem exclusivamente económica que nadatinham a ver com os aspectos da defesa dos DireitosHumanos que anunciavam.

Receios – parlamento europeuIndependentemente das motivações de cariz humani-tário ou económico, as reacções não se fizeram espe-rar, mesmo antes da decisão ter sido tomada em2001. As possíveis opções relativamente aos Jogosda XXIX Olimpíada eram:— Pequim;— Toronto;— Osaka;— Paris;— Istambul.Perante este número de opções, o ParlamentoEuropeu, com alguma antecedência, não deixou demanifestar as suas preocupações relativamente àdecisão do COI, alertando-o para a necessidade deter de:xiii

— “Estabelecer directrizes que incluíssem o respeitopelos Direitos Humanos e pelos princípios democrá-ticos como regra geral a cumprir pelos países candi-datos a acolherem os Jogos Olímpicos”;— “Proceder a uma avaliação global do impactoambiental no que se refere, em particular, às defi-ciências repetidas de abastecimento de água, aoimpacto do turismo de massas e às repercussõessociais na região que circunda Pequim”;— “Reconsiderar a candidatura de Pequim quando asautoridades da RPC tivessem alterado profundamen-te a sua política em matéria de direitos do Homem ede promoção da democracia e do Estado de Direito.”Contudo, não foi por isso que o COI deixou de esco-lher Pequim, contrariando os desejos do ParlamentoEuropeu e indo contra os grupos de defesa dosDireitos Humanos que afirmavam que a RPC erauma ditadura, onde se praticavam ideias contráriasao Olimpismo, pelo que Pequim devia ser o últimolugar da Terra aonde se podia celebrar uma festa deliberdade e de fraternidade, como devem ser osJogos Olímpicos.

E os grupos de defesa dos Direitos Humanos nãotiveram qualquer pejo em avançar com o exemplodos Jogos Olímpicos de Berlim (1936), em que oCOI, de cedência em cedência, deu a sua contribui-ção para a hecatombe que foi a II Guerra Mundial.Os críticos argumentaram ainda com Tien An Menque, em 1993, tinha levado o COI a decidir entregara realização dos Jogos da XXVII Olimpíada à cidadede Sydney e não a Pequim que também tinha concor-rido. Como nada de verdadeiramente significativo,entretanto, mudara, não havia qualquer razão paraoptar por Pequim.O que é facto é que, em 2001, prevaleceram os argu-mentos que em 1981 tinham determinado a escolhada cidade de Seul para a realização dos Jogos daXXIV Olimpíada. Na realidade, a atribuição dosJogos de 1988 à capital da Coreia do Sul, coincidiucom o lento transformar de uma autocracia numademocracia. Hoje, é possível dizer que a sociedadecoreana evoluiu definitivamente para uma democra-cia plena e a realização dos Jogos Olímpicos, de algu-ma maneira, contribuiu para isso. Queremos acredi-tar que foi nesta perspectiva que o COI entregou arealização dos Jogos da XXIX Olimpíada a Pequim.

Bomba-relógioO mundo olímpico viveu mais ou menos sossegado,muito embora os mais atentos estivessem conscien-tes de que, de um momento para o outro, a bombarelógio ia rebentar. E rebentou. Em Março de 2008, portanto no início da XXIXOlimpíada, começaram a saltar para a comunicaçãosocial as três grandes questões latentes que ameaça-vam os Jogos de Pequim: — A questão dos Direitos Humanos na China; — A questão da guerra do Darfur;— A questão do genocídio cultural no Tibete.E a bomba-relógio rebentou ao desencadearem-sevárias manifestações em Lhasa capital do Tibete como propósito claro dos seus mentores se aproveitaremdos Jogos Olímpicos para chamarem a atenção domundo sobre a situação do Tibete. Das manifesta-ções resultaram, segundo o Governo de Pequim, 13mortos e 325 feridos e, segundo o Governo tibetanono exílio, pelo menos, 99 mortos, a maioria na pró-pria capital.xiv

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Depois, o percurso mundial da Tocha Olímpica criouuma excelente oportunidade para diversasOrganizações Não Governamentais (ONGs) se mani-festarem contra o que se estava a passar na RPC. Etudo começou logo na cerimónia do atear da ChamaOlímpica realizada em 24 de Março de 2008 emOlímpia, já que o mundo teve a oportunidade deassistir em directo na televisão, a manifestações emdefesa dos direitos dos tibetanos, levadas a efeitopela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF).

Uns Jogos excepcionaisPerante o impacto das manifestações, diversos diri-gentes políticos e desportivos apressaram-se a mani-festar a sua contrariedade relativamente ao que seestava a passar. Segundo eles, não era legítimo quediversas ONGs se imiscuíssem nos Jogos Olímpicoscom os quais nada tinham a ver. Contudo, não faziaqualquer sentido que o COI, por um lado, assumisseos Jogos Olímpicos como um ritual à escala do pla-neta, em que pretendia “celebrar a humanidade”,mas, por outro, se tenha permitido, ao longo dosúltimos cinquenta anos da sua existência, convivercom as maiores misérias do mundo, sustentandoinvariavelmente a sua posição numa declaração hipó-crita como aquela que diz que “o desporto nada tema ver com a política”. Na realidade, perante as enormes transformaçõessociais que aconteceram desde os Jogos de Atenas2004, para além dos problemas políticos e económi-cos que envolvem o mundo e, em especial, a China,só os ingénuos podiam supor que a Olimpíada dePequim bem como os Jogos Olímpicos, iam decorrersem problemas, quer dizer, numa espécie de pazcelestial. Assim, a abertura do COI a Oriente, foi umaespécie de risco calculado, que só o futuro poderáfazer a contabilidade dos custos benefícios de talopção, na certeza de que, o Olimpismo nunca maisserá o mesmo depois dos Jogos Olímpicos de Pequim.O COI ao escolher Pequim para sediar a organizaçãodos jogos Olímpicos, apostou, arriscou e, para já,ganhou. Os Jogos decorreram na maior das harmoniase foram, como Jacques Rogge teve a oportunidade dereferir, sem sombra de dúvidas, um acontecimentodesportivo que, de facto, apesar de tudo, celebrou ahumanidade. O Presidente do COI considerou que oorganismo que lidera “saiu reforçado” da China:

“Foram jogos excepcionais em termos de universalidade”.xv

Todavia, a Olimpíada de Pequim vai continuar até aodia 31 de Dezembro de 2011, pelo que todo o pro-cesso em curso vai continuar. O que é que se vaipassar na China durante esse período de tempo é apergunta a fazer. Do ponto de vista interno e exter-no, qual é o legado político, económico e social dosJogos Olímpicos de Pequim?Vamos ter de esperar algum tempo para nos aperce-bermos do significado da decisão de 2001 tomadapelo COI.

O DESPORTO AO SERVIÇO DA RPCJiang Yu, porta-voz do Ministério dos NegóciosEstrangeiros da RPC, em plena crise originada pelacontestação à política chinesa durante o percurso daTocha Olímpica, veio recordar ao mundo umas dasrealidades mais hipócritas do desporto, isto é, que odesporto nada tem a ver com a política quando ascircunstâncias não jogam a favor dos nossos interes-ses, e, tem tudo a ver com a política, quando elasjogam a nosso favor. E esta dualidade de critérios, foio que sempre aconteceu na RPC.Hoje, é possível saber que, as autoridades da RPC atéao final da Revolução Cultural (1966-1976), subordi-naram a competição desportiva aos desígnios daorientação política. Ao fazê-lo, perverteram o espíritodo desporto. Mas é necessário dizer que os dirigentesda RPC ao utilizarem o desporto como arma política,não faziam nada mais do que os dirigentes de todosos outros países, na medida em que esse procedimen-to sempre foi utilizado pela generalidade dos políticosdos mais diversos países do mundo e de todos os regi-mes. O grande problema é que, se por um lado, ageneralidade dos dirigentes políticos nunca teve gran-de respeito pelo desporto e os seus dirigentes, poroutro lado, a generalidade dos dirigentes desportivosnunca se deu muito a respeitar.Em conformidade, todos eles só não utilizaram odesporto em benefício dos seus interesses políticosquando o não puderam fazer. Umas vezes, fizeram-no com bons propósitos, outras vezes, nem porisso. Porém, quando as coisas não iam no sentidoque mais lhes interessava, começavam logo a acusaros seus opositores de utilização política do despor-to, dizendo que o desporto nada tinha a ver com apolítica.

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Espanto, admiração e receioNa realidade, o desporto tem e muito a ver com apolítica e as autoridades chinesas até têm uma longaexperiência acerca do assunto. Toda a estratégia dacandidatura e organização dos Jogos da XXIXOlimpíada, assentou na necessidade política de afir-mação da RPC no mundo, processo iniciado ainda aotempo de Mao Zedong (1893-1976) com a diploma-cia do ping-pong, muito embora o desejo dos chine-ses organizarem o Jogos Olímpicos viesse de princí-pios do século XX. A própria entrada da RPC nasNações Unidas, sempre foi vista pela autoridadeschinesas como uma questão que andava a par daentrada no COI. E porquê? Pelo problema da “duasChinas”, uma disputa que se desenvolveu no COIdurante mais de 30 anos e que ainda hoje não estácompletamente resolvida. Se alguma coisa esta dis-puta prova, é que o desporto e a política estão com-pletamente envolvidos um no outro.Na realidade, as autoridades da RPC sempre utiliza-ram Olimpismo como um instrumento da sua afir-mação no mundo. Mais recentemente, desde o ping-pong de Mao Zedong, passando pela primeira candi-datura falhada da cidade de Pequim à organizaçãodos Jogos Olímpicos da XXVII Olimpíada que acaba-ram por se realizar em Sydney, até à candidaturavitoriosa de Pequim para a organização dos Jogos daXXIX Olimpíada, continuaram a fazê-lo de umaforma bem empenhada, mas debaixo de uma descon-fiança crescente por parte da comunidade internacio-nal, na medida em que ninguém é capaz de concluirse o estão a fazer com bons ou maus propósitos.Hoje, o mundo olha com espanto, admiração ealgum receio para a China e aguarda com expectativaas consequências a prazo, tanto do ponto de vistainterno como externo, que hão-de decorrer dos Jogosde Pequim.O que parece já não haver dúvidas é que o desporto,de há uns anos a esta parte, no mundo globalizadoem que vivemos, passou a ser um instrumento de“soft power” da geopolítica chinesa. Em boa verda-de, ninguém pode prever o que vai ser a Chinadepois dos Jogos. Porém, uma coisa parece certa, odesporto é para os chineses um instrumento da suaafirmação no mundo, pelo que a desconfiança comque alguns olham para os grandes eventos desporti-vos em que a RPC se envolve, é absolutamente justi-

ficada até pelos ensinamentos que é possível colherda história recente.

Países de língua oficial PortuguesaO sentimento de desconfiança referido é, também,partilhado por muitos daqueles que nos Países deLíngua Oficial Portuguesa (PALOPs) se interessampelas questões do desenvolvimento do desporto. A primeira edição dos Jogos da Lusofonia decorreuna Região Administrativa Especial de Macau, entre 7e 15 de Outubro de 2006. Segundo os seus promoto-res, com o objectivo de celebrarem:xvi “O espaço da lusofonia como comunidade de afinidadesconstruídas em redor de uma mesma língua”. No entanto, a realidade é completamente diferente.A institucionalização dos Jogos da Lusofonia maisnão é do que um muito útil e adequado instrumentoao serviço de uma estratégia de afirmação da Chinano continente africano, e muito especialmente emAngola e Moçambique. Para atingir este desiderato aRPC fez um investimento de 160 milhões de patacasou seja cerca de 16 milhões de euros na realizaçãodos Primeiros Jogos da Lusofonia. Nesta perspectiva em que os Jogos da Lusofonia sãopura e simplesmente uma alavanca estratégica daafirmação da RPC em África, pelo que Portugal atra-vés do COP está a ser simplesmente um peão daque-la estratégia, sem que daí advenham quaisquer resul-tados desportivos, devido ao desnível competitivoentre as equipas dos diversos países e regiões parti-cipantes, xvii ou quaisquer outros dignos de nota. Poroutro lado, ao abrir os Jogos da Lusofonia a outrosespaços geográficos aonde Portugal impôs uma pre-sença colonial, pode ser contraproducente na estraté-gia de afirmação de Portugal no mundo. O que sepassa por exemplo em Goa quando o Presidente daRepública Cavaco Silva recebeu em 2007 sob protes-tos um Doutoramento Honoris Causa pelaUniversidade de Goa, até às manifestações deOutubro de 2008 de protesto por parte da “freedom-fighters fraternity”, que acusam Portugal de estar adesenvolver uma política colonialista e a FundaçãoOriente de ser um agente ao serviço do GovernoPortuguês, são aspectos que devem ser consideradossob pena de “o feitiço se virar contra o feiticeiro”.Nesta perspectiva, também o Brasil, pelo menos apa-rentemente, olhou para a primeira edição dos Jogos

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da Lusofonia com alguma desconfiança. Aguarda-secom interesse, a posição que irá tomar relativamenteà segunda edição dos Jogos que decorrerá emPortugal em 2009, para a qual o governo portuguêsconsagrou no Orçamento de Estado a verba de 1,44milhões de euros, absolutamente insignificante secomparada com a dispendida pelos chineses na pri-meira edição dos Jogos da Lusofonia.

Os guerreiros de terracotaApesar de tudo, os Jogos da Lusofonia são só umpequeno aspecto da estratégia de “soft power” deafirmação da RPC no mundo. No que diz respeito aogrande projecto que foram os Jogos de Pequim, setudo começou na monumentalidade das infra-estru-turas desportivas e para-desportivas, não é por issoque os chineses deixaram de cuidar de todos oslados da organização até ao mais ínfimo pormenor,numa lógica de integração vertical de uma cadeia devalores políticos, económicos e comerciais, que che-gou até ao detalhe dos equipamentos que os atletasolímpicos usaram durante os Jogos, fornecidos pelaNIKE o que, desde logo se revela uma atitude desimpatia para com os americanos, na medida em quena China existe uma marca semelhante à NIKE quedá pelo nome de Ni Ling. O Estádio Olímpico – Ninho de Pássaros – com umacapacidade para 91 mil espectadores e um custo de425 milhões de dólares, mostrou ao mundo umanova China rica e moderna, bem diferente da Chinapobre e miserável transmitida nos anos sessenta esetenta pelas televisões de todo o mundo. Mas amonumentalidade das instalações desportivas projec-tou-se até ao nível da acção no terreno, através dosequipamentos. Repare-se que os equipamentos queos atletas chineses utilizaram, foram inspirados noscélebres guerreiros de Terracota. Eles procuramtransmitir os sentimentos de patriotismo e sacrifícioque o lendário imperador Qin Shi Huangdi promo-veu para a unificação da China. Os atletas afirmavamque quando vestiam os equipamentos se sentiam napele de “super-heróis”, na medida em que: — Incorporavam o espírito guerreiro de Terracota; — Sentiam um enorme orgulho em pertencerem àequipa nacional; — Usufruíam do supremo sentimento de servirem opaís.

Para que tudo isto pudesse ser explorado ao máxi-mo, o vermelho dos equipamentos foi testado sob osefeitos da iluminação das transmissões televisivas nopróprio Estádio Olímpico, a fim de ser conseguida acor mais desejada. Mas havia ainda um segredo bemguardado que procurava atingir o íntimo de cadaatleta. No interior dos equipamentos, num localonde ninguém a não ser o próprio podia ver, estavamescritas duas palavras do Hino Nacional da RPC: “Levantem-se e marchem…”. xviii

Os chineses idolatram os seus atletas mais famosos,desde Liu Xiang, ouro em Atenas nos 110 metrosbarreiras, até a Yao Ming, jogador de basquetebol daNBA. Assim, perante o desafio dos Jogos Olímpicos,a RPC preparou-se para os vencer porque, actual-mente, ao contrário do passado, as vitórias desporti-vas passaram a fazer parte da afirmação política eeconómica da RPC no mundo.

Uma Educação Física ao serviço da PátriaHoje, a RPC voltou à linha dura da competição des-portiva de Mao Zedong (pré-marxista), quer dizer,dos seus tempos de juventude. O “grande timonei-ro” da revolução chinesa, em 1917, muito antes dasua visão marxista do mundo, escreveu um livrointitulado “Um Estudo de Educação Física”, aondecomeçava por lamentar a deficiente condição físicada população chinesa. E, depois, escreveu: “A educação física não só harmoniza as emoções como tam-bém fortalece a vontade. (…) O principal desígnio da edu-cação física é o heroísmo militar. Os objectos do heroísmomilitar como a coragem, desafio, audácia e perseverança sãotodos questões de vontade. (…) As corridas de longa dis-tância são particularmente boas para o treino da perseve-rança.”xix

Note-se que, por contraditório que possa parecer,esta visão desportiva de Mao Zedong até era coinci-dente com a do nacionalista Chiang Kai-shek. E detal maneira que, segundo Andrew Morris (2008),xx

nos anos trinta aconteceram várias tentativas paraencontrar na China um modelo desportivo nacionalque pudesse contribuir para a unidade do país. Eesta ideia era partilhada tanto à esquerda como àdireita. Aliás, a confusão entre diferentes perspecti-vas ideológicas de direita e de esquerda aconteceutambém em França nos anos trinta.xxi

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Assim, nesta política de afirmação nacionalista, apartir dos términos da Revolução Cultural, a RPCdesenvolveu toda uma estratégia conducente àobtenção de resultados desportivos que se projectas-sem no mundo em benefício do país. Em consequên-cia, nos Jogos de Atlanta (1996) ficou em quartolugar com 16 medalhas de ouro; em Sydney (2000)ficou em terceiro lugar com 28 medalhas de ouro;em Atenas (2004) ficou em segundo lugar com 32medalhas de ouro (três atrás dos EUA); em 2008 emPequim a China ficou em primeiro lugar com 51medalhas de ouro num total de 100 medalhas con-quistadas.

Ser rico é gloriosoA guerra, em muitas circunstâncias, já não aconteceentre os exércitos dos países. Agora, a verdadeira“guerra” é económica. Em conformidade, a RPCassumiu decididamente o pensamento do antigoPrimeiro-ministro Deng Xiaoping quando este deu osinal de partida, quer dizer, o mote, para o combateeconómico que se avizinhava: “Ser rico é glorioso”. Do ponto de vista interno a RPC na última décadacriou uma classe média de 100 a 150 milhões depessoas com possibilidades para comprarem casa,automóvel e outros bens, até há pouco tempo ina-cessíveis. Do ponto de vista externo, os JogosOlímpicos de Pequim ao provocarem a visita de maisde 500 mil turistas e, entre os dias 8 a 24 de Agosto,a atenção de 4,7 biliões de telespectadores, ou seja,cerca de 70% da população da Terra, foram bem ummarco fundamental de toda uma estratégia de pro-moção e afirmação política e económica da RPC nomundo. A Organização Mundial do Turismo estimaque a China deve atingir o topo da lista de paísesmais procurados pelos turistas até 2010. Hoje, não restam dúvidas que a realização dos JogosOlímpicos com uma organização perfeita aos olhos domundo, era de fundamental importância para a ima-gem da China. Contudo, perante os perturbadoresacontecimentos relativos ao percurso da TochaOlímpica, as autoridades chinesas não podiam procla-mar que o desporto nada tem a ver com a política, namedida em que elas, sempre o utilizaram como umdos seus “feitiços” para resolverem questões, econó-micas, sociais e políticas, com que se deparavam.

De facto, ao longo dos últimos quase sessenta anos,Mao Zedong, Zhou Enlai (1898-1976), DengXiaoping (1904-1997) e agora Hu Jintao (n.1942)nunca deixaram os créditos do desporto por mãosalheias. Sempre que lhes conveio envolveram o des-porto nas questões políticas e utilizaram-no de acor-do com a estratégia que mais convinha ao país.

REGRESSO AO PASSADOMas se Jiang Yu, em nome do governo da RPC, aoafrontar o COI, estava a ignorar o passado recente daRPC, em que o desporto se transformou no instru-mento político do domínio do “soft power” que doponto de vista interno contribui para a construção daidentidade nacional sem a utilização da violência dopassado, do ponto de vista externo está também aser um instrumento poderosíssimos de “soft power”de afirmação da RPC no mundo, no que diz respeitoao passado mais longínquo, Jiang Yu também seesqueceu que o chineses sempre tiveram uma afini-dade muito especial relativamente ao MovimentoOlímpico e ao COI.

A humilhação colonialEm finais do século XIX a China era um país subju-gado aos interesses das principais potências colo-niais. O domínio colonial exercia-se com o apoio e aconivência dos imperadores chineses da dinastiaManchu que governavam a China desde o séculoXVII. A revolta era uma questão de tempo. Em1900, os Boxers, membros de uma sociedade secretaque praticava o “boxe sagrado”, desencadearam umarevolta nacional contra os estrangeiros. Acabarampor ser massacrados pelos exércitos das potênciascoloniais.Em 1911, o movimento nacionalista liderado porSun Yat-sen derrubou a dinastia Manchu e a repúbli-ca foi proclamada. Sun Yat-sen acabou por ser o pri-meiro Presidente da República. Depois, com os seusapaniguados, fundou o Kuomintag, Partido Nacionaldo Povo. Todavia, a república não conseguiu fazerfrente nem às potências estrangeiras, nem aos chefesmilitares locais, os “senhores da guerra”.Toda a lógica da evolução do desporto na China temde ser entendida a partir da humilhação colonialsofrida no século XIX. O desporto na China duranteo último século serviu para demonstrar o seu poder

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político e social, mas também para demonstrar a suaprofunda ansiedade relativamente a um passado quea feria profundamente. Nestes termos, o processo dedesenvolvimento do desporto na China foi umaquestão central do chamado problema das “duasChinas”, na medida em que sempre esteve relaciona-do com a sua identidade e dignidade nacionais.

Guerra civil e cisãoEm 1921, foi criado o Partido Comunista Chinês(PCC). Os seus principais fundadores foram o inte-lectual Chen-Tu-xiu, o educador Peng-Pai e o activis-ta político Mao Zedong. Depois, em 1927, o generalChiang Kai-shec assumiu o comando do Kuomintag,disposto a criar ordem no país. Mas, ao atacar os“senhores da guerra”, acabou também por atacar oscomunistas o que desencadeou um conflito de enor-mes proporções. Os comunistas estavam numa posi-ção desvantajosa, por isso, Mao Zedong, para evitaro cerco, dirigiu-se para Norte para a província deShensi, através de uma operação que ficou conhecidacomo a “Longa Marcha”.A guerra entre nacionalistas e comunistas só foiinterrompida em 1937 a fim de ambos os exércitoscombaterem o Japão que havia invadido aManchúria, e durante a II Guerra Mundial a fim deenfrentarem as forças Nazis.Com o final da II Guerra Mundial, os japonesesforam expulsos do território chinês e as tropas deChiang Kai-shec, com o apoio dos EUA, lançaramuma ofensiva contra exército popular de MaoZedong. Apesar do apoio dos EUA a Chiang Kai-shec, as tropas de Mao acabaram por vencer e, em 1ºde Outubro de 1949, proclamaram a RepúblicaPopular da China (RPC). Chiang Kai-shec, financiado e armado pelos EUA,refugiou-se na ilha de Taiwan (Formosa), onde insta-lou o governo da República da China (RC) com acapital em Taipé. No continente, ficou a RPC lideradapor Mao Zedong. A RC (Taiwan) passou a ser com-posta pelas ilhas de Taiwan, Pescadores, Kinmen,Matsu e outras menores. Na China continental, orga-nizou-se a RPC, que hoje incluiu as regiões adminis-trativas especiais de Hong Kong e Macau. O problema é que se por um lado a RPC consideravaTaiwan como uma província da China, quer dizer,como parte do seu território soberano, pelo que a

RC era uma entidade extinta, pelo que ilegítima, poroutro lado, a RC reivindicava a supremacia sobretoda a China, na medida em que era o Kuomintagque governava a China, quando foi forçado a transfe-rir-se para Taiwan em Dezembro de 1949, depois deter perdido a guerra civil com o exército de Mao. Eassim, se originou aquilo a que ficou conhecido peloproblema das “duas Chinas”, que acabou tambémpor ter significativas incidências no mundo do des-porto e do Olimpismo.

“Realpolitik”Se até 1971 a Organização das Nações Unidas(ONU) reconhecia a RC, a partir de 1971, através daresolução 2758 {XXVI} de 25 Outubro daAssembleia-geral, passou a reconhecer a RPC daChina como o único representante da China nasNações Unidas.xxii De facto, em 1971, a RC (Taiwan)perdeu o seu lugar na ONU tendo o mesmo sidoocupado pela RPC. Desde então, a ONU consideraTaiwan como uma província da China. Depois, a“realpolitik” determinou que a maioria dos Estadosacabasse por transferir o seu reconhecimento diplo-mático para a RPC, passando a considerar esta últi-ma como o único representante legítimo da unidadechinesa. Contudo, a RC continuou a manter relaçõesoficiosas com quase todos os países do mundo,incluindo a própria RPC. O desporto, como não podia deixar de ser, sempreesteve no meio das “duas Chinas”, pelo que as ques-tões desportivas nunca foram fáceis de gerir. Osparadoxos e as contradições próprias da política,envolveram as questões desportivas e estas, por suavez, atiçaram as próprias contradições políticas. Mas também no desporto imperou a “realpolitik” namedida em que, hoje, Taiwan é conhecida comoChina Taipé nos eventos desportivos internacionaistais como os Campeonatos do Mundo, JogosAsiáticos e Jogos Olímpicos. Tudo o resto funcionadentro da ambiguidade da “realpolitik”. Por exemplo,o basebol é considerado a modalidade nacional emTaiwan. A fase final que apurava para os Jogos dePequim, realizou-se em Março de 2008 precisamenteem Taiwan. Tudo sem quaisquer problemas.Contudo, quando o COI divulgou o percurso daTocha Olímpica, verificou-se que ia do Vietname(Cidade de Ho Chi Minh) para Taipé, antes de passar

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por Macau e Hong Kong. Taiwan rejeitou que aTocha Olímpica passasse por Taipé na medida emque, nestas circunstâncias, seria reconhecer queTaiwan é parte integrante da RPC.Este é o espírito de convivência e gestão de ambigui-dades que anima as relações entre as “duas Chinas”.Para além de Taiwan participar nos próximos JogosOlímpicos de Pequim com uma comitiva própria,muitos atletas de delegações de Taiwan têm competi-do com atletas de delegações da RPC em múltiploseventos internacionais, sem que, até Maio de 2008,tenham existido relações oficiais directas entre aRPC e Taiwan. Entretanto, em Abril de 2008, aconteceu um encon-tro histórico entre o líder da RPC, Hu Jintao e oVice-presidente eleito da RC, Vicent Siew. Foram asnecessidades da economia a determinar esta aberturade relações e o desporto com os Jogos Olímpicos afazer de catalizador a fim de que o processo químicose desencadeasse como pretendido. “Boa química,química harmoniosa” foram as palavras de um mem-bro da delegação taiwanesa ao comentar areunião.xxiii

Hoje, existem diferentes opiniões jurídicas sobre oestatuto político da RC pelo que, o que melhor carac-teriza a situação é a ambiguidade. Taiwan, tem parti-dos, eleições e governo próprio, está representada emdiversas organizações internacionais e negoceia compraticamente todos os países do mundo, incluindo aprópria RPC sem que, aparentemente, seja posto emcausa o princípio da unidade chinesa ou em questão aautoridade de Pequim. A política do real tomou contada situação. Recentemente, iniciaram-se contactosdirectos entre o RPC e Taiwan e, em Julho de 2008,efectuou-se o primeiro voo de Taiwan para o conti-nente desde 1949.

A CHINA E O MOVIMENTO OLÍMPICOO envolvimento da China nas questões doOlimpismo começou, tal como começou em muitosoutros países, pela iniciativa de Pierre de Coubertin.Em 1894, Coubertin, através da embaixada francesana China, enviou uma missiva aos governantes dadinastia Manchu convidando-os a enviarem repre-sentantes aos Jogos Olímpicos de Atenas (1896).Contudo, Coubertin não obteve qualquer resposta namedida em que os chineses não estavam familiariza-

dos com as questões do Olimpismo. Depois:— Em 1904, a imprensa chinesa relatou algumasestórias sobre os Jogos de St. Louis nos EUA;— Em 1906, apareceu numa revista local um artigoacerca da história do Olimpismo;— Em 24 de Outubro de 1907, o pedagogo ZhangBoling realizou uma conferência em Tianjin que seseguiu a um evento desportivo, tendo defendido aparticipação chinesa nos Jogos Olímpicos indepen-dentemente dos resultados;— Em 1915, o COI convidou a China a pertencer aoMovimento Olímpico Internacional e a enviaralguém às suas reuniões. xxiv

Wang Cheng-ting, por diversas vezes entre 1932 e1939 Ministro dos Negócios Estrangeiros, um dosfundadores em 1913 da Federação Atlética AmadoraNacional Chinesa, organismo que foi o motor dearranque do desporto na China, responsável pelaorganização em 1921 dos Jogos do Extremo Orienteem Changai, foi cooptado em 1922 para membro doCOI. Em 1924, os chineses participaram extra-pro-grama nos Jogos Olímpicos de Paris e, em 1928,mandaram observadores aos Jogos de Amesterdão. O Comité Olímpico Nacional Chinês (COC) acaboupor ser fundado em Pequim e inscrito no COI em1931. Ainda segundo o site do actual COC da RPC,a China só foi realmente convidada pelo COI paraparticipar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em1932. De facto, a China foi aos Jogos Olímpicos emLos Angeles com uma delegação de seis elementos.Em 1936, apresentou-se em Berlim com uma comiti-va de 139 elementos. Em 1939 e em 1947, o membro chinês do COI,Wang Zhengyan, propôs ao COI a entrada de novoselementos chineses. Eles foram respectivamenteH.H. Kung (Kong Xiang-si) Presidente do Banco daChina e Shou Yi Tung (Dong Shouyi) (1895-1978)um professor de educação física, secretário-geral doCOC, cooptado na 41ª Sessão do COI, realizada emEstocolmo de 18 a 21 de Junho de 1947.Em 1946, o COC tinha a sua sede em Xangai e em1947 mudou-se para Nanquim, sendo, ao tempo, oProf. Shou Yi Tung o seu secretário.xxv Com a procla-mação da RPC por Mao Zedong em 1 de Outubro de1949, o governo militar de Chiang Kai-shek retirou-se para Taiwan. A maioria dos membros do COCque, antes da II Guerra Mundial, tinha sido reconhe-

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cido pelo COI, foram para Taiwan, pelo que o COCpassou a funcionar em Taipé.

Novos tempos e problemasDepois da Revolução Chinesa e da fundação da RPCem 1949, o COI recebeu do COC a informação deque a sua direcção se tinha mudado para Taipé emTaiwan aonde, como se disse, sob a liderança dogeneral Chiang Kai-shec, se organizou a ChinaNacionalista debaixo da protecção dos EUA. ParaAvery Brundage, ao tempo Vice-presidente do COI, amudança não levantou quaisquer problemas no COI,pelo que a ocorrência foi registada nos escritórios daorganização em Lausanne, como:“Um acto rotineiro ao qual não foi atribuído nenhum sig-nificado político” xxvi

Contudo, esta informação que Brundage verteu paraas suas memórias, levanta sérias dúvidas, na medidaem que o mundo tinha acabado de viver a maiorhecatombe da sua história e olhava para o que sepassava na China com desconfiança e preocupação.Muito embora a ONU tenha continuado a reconhe-cer o governo de Taipé como legitimo representanteda China, o que é facto é que se estava perante umasituação muito melindrosa que não podia ser tratadacomo um simples acto de rotina administrativa. Estaperspectiva é defendida por Xu Guoqi (2008)xxvii

quando afirma que o facto de Taiwan ter continuadono seio da “Família Olímpica” tem sobretudo a vercom a conjuntura da “guerra-fria”, até porque mui-tos países ocidentais, até 1970, reconheciam o gover-no de Taipé em prejuízo do governo de Pequim. Emconformidade, hoje, parece não haver dúvidas que aquestão foi tratada pelo COI com alguns preconcei-tos relativamente à RPC, em defesa dos interesses deTaiwan, cujo governo era protegido pelos EUA.Entretanto, os problemas não se fizeram esperar.

Federação Atlética Amadora de Toda a China (FAATC)Em 1951, um ano antes dos Jogos de Helsínquia(1952), fundou-se na RPC a Federação AtléticaAmadora de Toda a China (FAATC) que se conside-rava a si própria como a legítima representante doMovimento Olímpico em toda a China.xxviii Em con-formidade, o COI recebeu uma carta de Pequimaonde se dizia que o CON estava formado, pelo quedesejava ser reconhecido pelo COI a fim da RPC

poder participar nos Jogos Olímpicos a realizar naFinlândia (1952). O Comité Organizador dos Jogosde Helsínquia também recebeu uma carta através daembaixada chinesa em Estocolmo, aonde era solicita-do um convite para a RPC participar nos Jogos daXV Olimpíada. O Comité Olímpico Chinês com sedeem Taipé (Taiwan) também solicitou um convite afim de participar nos Jogos de 1952.Depois, durante os trabalhos da 47ª Sessão do COIrealizada em Oslo em 12 e 13 Fevereiro de 1952, oentão Presidente do COI o sueco Sigfrid Edströmteve uma reunião com o representante da FAATC,em que o dirigente chinês o informou que a suaFederação representava o Movimento Olímpico paratoda a China, pelo que desejava ser reconhecida peloCOI a fim de participar nos Jogos de Helsínquia(1952). Edström prestou-lhe todas as informaçõesnecessárias inclusivamente acerca dos pré-requisitosnecessários para que o CON da RPC pudesse seraceite como membro do COI.xxix

Como nenhum dos três membros chineses do COIcompareceu à reunião, Edström informou ainda orepresentante da FAATC que desejava consultar oschineses membros do COI.

Má VontadeDa reunião de Sigfrid Edström com o representanteda FAATC transparece alguma má vontade contra osChineses da RPC, protagonizada por alguns mem-bros do COI, para a qual não vemos outros motivossenão políticos, na medida em que existiam enormespreconceitos contra o regime comunista da RPC. Narealidade, ao tempo, não fazia qualquer sentido colo-car as exigências que foram colocadas à RPC, como aquestão das Federações Internacionais terem de terrepresentantes da RPC, um país acabado de sair deuma guerra com os japoneses havia sete anos e deuma guerra civil havia pouco mais de dois anos.Apesar destas dificuldades, o COI decidiu que se asFederações Internacionais não respondessem na suamaioria afirmativamente à questão, o CON da RPCnão seria convidado a participar nos Jogos deHelsínquia. Por outro lado, ao desejar consultar os membros chi-neses do COI que eram três, Edström, secundadopor Avery Brundage, ao tempo vice-presidente doCOI, sabia que as moradas eram desconhecidas, o

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que tornava a situação ainda mais risível. Por outrolado, os membros do COI eram e são cooptados pelopróprio COI. Eles não representavam nem represen-tam no COI o país da sua nacionalidade. Eles eramos representantes, quer dizer, os embaixadores doCOI na China. Por isso, os membros chineses doCOI estarem ou não presentes era um problema doCOI e não da RPC. Ainda hoje, os membros do COIsó representam os interesses do próprio COI no paísonde habitam. Na versão de Karl Lennartz (1995),27 Edström reu-niu-se com o representante da FAATC mas comonão se sabia se as Federações Internacionais tinhamfederações da RPC filiadas e o reconhecimento dosCONs era por via das Federações Internacionais, oCOI acabou por não tomar naquele momento qual-quer decisão. Ainda segundo Lennartz, AveryBrundage, manifestou a opinião de que deviam serconsultados os membros chineses do COI, antes dehaver qualquer decisão. Segundo as memórias de Brundage (1976),26 com oobjectivo de resolver a filiação da RPC no COI,Sigfrid Edström reuniu-se com os chineses.Contudo, iniciada a reunião, ao verificar que estavaperante entidades políticas representantes do gover-no, Edström recusou-se a falar com elas sobre ques-tões desportivas. Para além do mais, Edström infor-mou os chineses presentes que desejava, antes detudo, falar com o único membro chinês do COI queainda vivia na China continental, o Prof. Shou YiTung.

O Prof. Shou Yi Tung O Prof. Shou Yi Tung não tinha respondido às tenta-tivas de contacto de Sigfrid Edström. Aliás, segundoXu Guoqi (2008)27 os dirigentes de Taiwan tinhamposto a correr o boato de que ele tinha morrido. Dequalquer maneira, a questão da RPC, não devia serresolvida sem ouvir o único membro chinês do COIque se sabia ter ficado na China continental depoisda revolução, se tal fosse possível. Esta era a posiçãode Edström e Brundage. Mal sabiam eles que o tirolhes ia sair pela culatra.O Prof. Shou Yi Tung, foi um desportista eclético,membro das equipas nacionais de basquetebol, fute-bol, basebol, atletismo e ténis. Esta variedade demodalidades ficou-se muito provavelmente a dever ao

facto de ter sido durante dois anos estudante noSpringfield College (Manssachusetts - EUA). Depois,foi capitão e mais tarde em 1934/36, treinador daequipa nacional de basquetebol, tendo participado naqualidade de treinador nos Jogos Olímpicos de 1936.Foi árbitro internacional da FIBA. Em 1944, foinomeado secretário-geral da Federação AmadoraAtlética Nacional Chinesa que, com sede em Nankin,cumpria as funções do Comité Olímpico NacionalChinês. O Prof. Shou Yi Tung acabou por instalar asede do Comité Olímpico Nacional Chinês em Nankin,tendo sido seu vice-presidente. Em 1948, foi secretá-rio-geral da delegação chinesa aos Jogos de Londres.Enquanto professor de educação física, foi director doInstituto de Educação Física da Young Men’s ChristianAssociation (YMCA) em Tien Tsin. Foi, ainda, de 1947 a1958, membro do COI. Quer dizer, o Prof. Shou YiTung apresentava um currículo desportivo muito signi-ficativo pelo que era uma pessoa intransponível noquadro da integração da RPC no Movimento Olímpico,desde logo e para além de tudo, porque era membrode pleno direito do COI. xxx

Ao decidir, em 1949, ficar na RPC, ao contrário dosoutros dois elementos chineses membros do COI, oDr. H. H. Kong e o Dr. C. T. Wang que aderiram àChina Nacionalista, o Prof. Shou Yi Tung acabou porse tornar o principal protagonista de uma das pági-nas mais confusas do Movimento OlímpicoInternacional que tem precisamente a ver com o cha-mado problema das “duas Chinas”.

Duas Chinas e duas equipas Os Jogos Olímpicos de Helsínquia (1952) aproxima-vam-se e os chineses da RPC não esperaram peloconvite para se fazerem convidados. O que aconte-ceu foi que em antevésperas dos Jogos a equipaolímpica da RPC aguardava em Estalinegrado autori-zação para entrar na Finlândia. A situação no que dizrespeito ao problema das “duas Chinas” era extraor-dinariamente melindrosa. Sigfrid Edström começoupor recordar aos membros do COI que: “A organização Olímpica deve ignorar as questões raciais,religiosas, ou políticas, o seu fim é a união da juventude domundo.”xxxi

Segundo Lennartz,27 Sigfrid Edström informou quemuito embora só a China da Formosa (Taiwan)tenha sido convidada para participar nos Jogos, toda-

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via, a Comissão Executiva tinha tomado a posição denão permitir que qualquer das Chinas participassenos Jogos. Perante a dureza de tal decisão, houvequem se manifestasse contra, argumentando que jáhavia Federações Internacionais (FI) aonde estavaminscritas Federações Desportivas da RPC. Em confor-midade, a Comissão Executiva do COI decidiu ouvircada um dos representantes das “duas Chinas”. O deTaiwan, Sun-hoh Gun, argumentou que 19 dos 25membros do COC viviam em Taiawn o que legitima-va a continuidade do próprio Comité OlímpicoNacional Chinês na RC. O representante da RPCCheng Chi-pai, para além de se declarar o represen-tante legal do Prof. Shou Yi Tung, contra-argumen-tou afirmando que falava em nome de 400 milhõesde chineses, pelo que pediu que o seu CON fosse oúnico reconhecido pelo COI, uma vez que as federa-ções internacionais de futebol, natação e basquete-bol, já tinham federações da RPC. Segundo XuGuoqi (2008)26 as referidas federações tinham entra-do nas federações internacionais na medida em quese tinham disponibilizado para pagar as quotas ematraso das antigas federações chinesas. Entretanto,Cheng Chi-pai pediu também a imediata expulsão doCOI, do CON-Taiwan. Edström acabou por concluirque, das duas uma:— “Ou nenhum dos comités nacionais podia partici-par nos Jogos de Helsínquia”;— “Ou os dois comités nacionais podiam participarnos Jogos de Helsínquia”.A segunda hipótese ganhou 29-22. Na sequência da votação, o francês François Piétrifez a seguinte proposta aprovada por 33 de 53 votos:“O COI, reservando a sua posição definitiva no quediz respeito às respectivas situações da RepublicaPopular da China e do Estado de Taiwan, decisãoque depende principalmente de uma determinaçãoprecisa do estatuto internacional destas duas entida-des, autoriza os atletas tanto de uma como de outrade acordo com o Comité Organizador dos JogosOlímpicos de Helsínquia a participarem nas provasda Olimpíada actual nas modalidades desportivas emque as respectivas Federações Internacionais tenhamadmitido as suas inscrições.” xxxii

Aprovada a solução, Brundage apressou-se a afirmarque havia de ficar claro que:

“A permissão de participar não implicava o reconhe-cimento do CON da China Vermelha” e que a atitu-de do COI “tinha de ser entendida como uma excep-ção e não como um precedente” Lennartz, Karl(1995:60).27

Na realidade, segundo a Carta Olímpica, só podiamcompetir nos Jogos atletas que pertencessem a umCON reconhecido pelo COI.De acordo com Liang Lijuanxxxiii, a comitiva da RPC,liderada por Ron Gaotang (1912-2006)xxxiv secretárioda Liga da Juventude, era composta por quarentaelementos que iriam participar no futebol, no bas-quetebol e na natação. Infelizmente, a comitiva che-gou atrasada pelo que só um nadador de seu nomeWu Chuanyu, participou nas provas de qualificação,mas foi eliminado. Contudo, para os chineses, “fazeriçar a bandeira vermelha das cinco estrelas da novaChina nos Jogos Olímpicos já era uma vitória” Liang,Lijuan (2007:26)32, na medida em que havia elemen-tos no COI que se opunham à participação da RPCnos Jogos. E opunham-se de tal maneira que o con-vite para a RPC só tinha sido enviado quando osJogos já tinham começado.

O Regresso do Prof. Shou Yi TungDos encontros havidos com a delegação da RPC, oPresidente Edström tomou conhecimento de que oProf. Shou Yi Tung, membro do Comité OlímpicoInternacional, com quem tinha tentado entrar emcontacto depois da fundação da RPC, afinal, estavavivo e vivia em Pequim. Para todos os efeitos, elecontinuava a ser o Embaixador do COI para a RPC.Em conformidade, Edström pediu aos representantesda RPC para que o Prof. Shou Yi Tung se deslocasseimediatamente a Helsínquia. O Prof. Shou Yi Tung acabou por chegar a Helsínquiaa 2 de Agosto, a tempo de participar na última reu-nião da Comissão Executiva do COI. Porém, o Prof.Shou Yi Tung não chegou sozinho mas acompanhadode um intérprete, que dizia que o Prof. Shou Yi Tungsomente falava chinês. O intérprete era nem maisnem menos do que He Zhenliang que mais tardeviria a ser Presidente do Comité Olímpico Chinês,membro da Comissão Executiva do COI, Vice-presi-dente do COI e responsável pelas candidaturas dePequim à organização dos Jogos Olímpicos. Aotempo, Zhenliang iniciava a sua carreira no domínio

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do Movimento Olímpico, precisamente naquela reu-nião. Liang, Lijuan (2007:41)32 Porquê HeZhenliang? Porque segundo Xu Guoqi (2008)26 àfalta de outra organização, as autoridades de Pequimserviram-se da Liga Comunista da Juventude da qualHe Zhenliang fazia parte, para acompanhar a equipada RPC a Helsínquia.O currículo do Prof. Shou Yi Tung era suficientemen-te expressivo para causar pelo menos algumas preo-cupações às autoridades da RPC. Por isso, somoslevados a especular, que as autoridades chinesas nãose podiam permitir colocar nas mãos de alguémconotado com o antigo regime e com uma currículoamericanizado, os destinos da RPC no MovimentoOlímpico internacional, muito embora, posterior-mente, o Prof. Shou Yi Tung passasse a ser no inte-rior do COI, como alguém que tinha aderido às filei-ras de Mao Zedong.xxxv

He Zhenliang, com pouco mais de vinte anos, ini-ciou a sua actividade no domínio do MovimentoOlímpico, enquanto intérprete, mas, o que ele era defacto, era um quadro do partido encarregue dedefender as decisões do seu governo junto do COI.Relativamente à presença de Zhenliang enquantotradutor, Liang, Lijuan afirma: “Zhenliang podia ser seu tradutor (do Prof. Shou Yi Tung),e se acontecesse qualquer coisa inesperada os dois podiam-na discutir entre eles.” Liang, Lijuan (2007:41).32

O problema é que o Presidente do COI Edströmsabia que o Prof. Shou Yi Tung falava inglês, já quetinha estudado nos EUA e tinha trabalhado durantemuitos anos para o YMCA na China. Quanto à justi-ficação de Zhenliang poder ter qualquer opiniãosobre qualquer assunto tratado, é no mínimo ingé-nua, na medida em que, ao tempo, Zhenliang era umjovem de 22 anos completamente ignorante emassuntos desportivos e, ainda mais, em assuntos doforo do Olimpismo.Irritado com a situação, Edström pediu ao Prof. ShouYi Tung e ao intérprete para abandonarem a sala.xxxvi

A propósito deste incidente segundo a versão deBrundage (1973), 30 o Prof. Shou Yi Tung apareceunuma Sessão do COI acompanhado por dois compa-triotas. O Presidente do COI, Sigfrid Edström, sau-dou o Prof. Shou Yi Tung, perguntando-lhe de segui-da quem eram os seus companheiros?Imediatamente um deles informou que eram intér-

pretes, na medida em que o Prof. Shou Yi Tung nãofalava nem francês, nem inglês. Depois, Edströminformou os acompanhantes do Prof. Shou Yi Tungque a Sessão do COI era restrita aos seus membros,pelo que lhes pedia para saírem. E saíram os três.Efectivamente, só o Prof. Shou Yi Tung era membrodo COI com plenos direitos a participar na reunião.Esta situação foi muito penosa para os chineses, namedida em que o próprio Primeiro-ministro ZhouEnlai tinha recebido os líderes da comitiva antesdeles partirem para Helsínquia, recomendando-lhesque se deviam opor à existência no COI de “duasChinas”. Mas mais, Zhou Enlai instruiu a delegaçãopara fazerem todos os possíveis para travarem osobjectivos de T. C. Wang, um dos membros chinesesno COI que se tinha retirado para Hon Kong. Liang,Lijuan (2007:41)32 Quer dizer que a situação deTaiwan era uma obsessão para os líderes chinesesque se serviam do desporto para a combaterem.Apesar deste catastrófico encontro, por pressão daURSS sobre o COI, a RPC acabou por participar nosJogos da XV Olimpíada. Entenda-se que a pressão daUnião Soviética sobre o COI, não teve outra intençãosenão a de obter vantagem competitiva no âmbito dapolítica internacional. Na realidade, a URSS tinhaaderido ao COI em 1950, pelo que era de seu inte-resse reforçar o bloco comunista dentro da organiza-ção. Nos Jogos de Helsínquia a URSS obteve resulta-dos extraordinários que espantaram o mundo dodesporto. Brundage, completamente enganado, con-gratulou-se com o facto, dizendo convictamente queera uma vitória do Olimpismo na medida em quefazia cair a “cortina de ferro” que separava a URSSdo resto do mundo. Mal sabia Brundage que o inte-resse da URSS pouco ou nada tinha a ver com a pro-moção do Olimpismo, mas tão-somente com a pro-paganda do regime soviético e a superioridade dosistema comunista. E o primeiro resultado consegui-do pela URSS, ao forçar a entrada da RPC nos JogosOlímpicos, foi o afastamento por iniciativa própriada delegação do regime nacionalista (Taiwan) queem protesto pela participação da RPC acabou por seretirar dos Jogos. Claro que esta retirada representoutambém uma derrota para os EUA. Depois, as auto-ridades de Taiwan promoveram um blackout total nacomunicação social relativamente a qualquer notíciaacerca do Jogos Olímpicos de Helsínquia (1952).

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Ainda segundo Xu Guoqi (2008),26 a URSS ao forçara entrada da RPC conseguiu antecipar o problemadas “duas Chinas”, obrigando o COI a tratar de umassunto que não estava minimamente preparadopara o fazer. Vivia-se já em plena guerra-fria e oMovimento Olímpico era um excelente local para seesgrimirem argumentos ideológicos, através da com-petição desportiva.

Reconhecimento do CON-PequimO Prof. Shou Yi Tung acabou por aparecer sozinhona 50ª Sessão do COI realizada de 10 a 15 de Maioem Atenas. Contudo, a situação desencadeada pelaexistência de “duas Chinas” no seio do COI não erafácil de resolver:— Levantar problemas ao CON-Taiwan era ir contrao regime de Chiang Kai-shek protegido dos EUA;— Não reconhecer o CON-Pequim era não reconhe-cer o CON do país mais populoso do mundo mas,em contrapartida, era reconhecer o CON de um paísque não pertencia à ONU;— Reconhecer os dois CONs era ir contra a CartaOlímpica que só aceitava um CON por país.Então, depois de um longo debate, o CON-Pequim,quer dizer, da China Popular, foi reconhecido peloCOI, numa votação que 23 a favor, 21 contra.Segundo o COI, uma das razões porque o CON daRPC levou tanto tempo a ser reconhecido, ficou-se adever ao facto de se fazer representar por políticos“cheios de legalidades” e não por desportistas.xxxvii

Ora, isto só revela que todo o processo estava conta-minado e por todos os lados, por questões de ordempolítica.A partir de então, para além do CON-Taiwan daChina Nacionalista, com sede em Taipé, passou aexistir também um CON-Pequim da China Popular.Segundo o COI, ambos os CONs estavam em condi-ções de participar nos próximos Jogos Olímpicos arealizar em Melbourne (1956) na Austrália. Aparentemente parecia que tudo estava resolvido. Oproblema é que a procissão ainda ia no adro.

Duas Chinas dois Comités OlímpicosSegundo Otto Schantz (1995),xxxviii em 1955, o CON-Taiwan reivindicou ser o único representante da Chinano Movimento Olímpico. Como não podia deixar deser, o CON-Pequim tinha de reagir. Em conformidade,

o Prof. Shou Yi Tung, na 51ª Sessão do COI que serealizou de 13 a 18 de Junho de 1955 em Paris, levan-tou a questão de Taiwan ser parte integrante daChina, pelo que o desporto naquela ilha devia estarsubordinado ao CON-Pequim. Em consequência,pedia a exclusão do CON-Taiwan do COI.Avery Brundage, ao tempo já Presidente do COI,segundo as suas próprias memórias,26 informou oschineses da RPC que o problema das “duas Chinas”era um problema político que não competia ao COIresolver. Para Pequim o problema das “duas Chinas”era uma questão crucial ao ponto dos dirigentes daRPC colocarem as relações com o COI ao mesmonível das relações com a ONU. Segundo o site doCOC,xxxix em Junho de 1955, Rong Gaotang, Vice-Presidente e Secretario-Geral do CON-Pequim,defendeu numa reunião da Comissão Executiva doCOI que: “A aceitação do Comité Olímpico de Taiwan pelo COI erailegal e violava o espírito da Carta Olímpica” (…) “o COIdevia desistir do seu reconhecimento.”46

Brundage, não aceitou as pretensões do CON-Pequim, dizendo aquilo que ele, contra toda a evi-dência, mais gostava de dizer: “O desporto nada tem a ver com a política.” Brundage, ao instituir nesta perspectiva acéfala deabordar as questões políticas no seio do COI, origi-nou uma das maiores confusões de que há memóriano Movimento Olímpico. Segundo os chineses,Brundage jogava com truques políticos sujos (dirtypolitical tricks), na medida em que, debaixo do dis-curso apolítico, defendia os seus próprios interessese os interesses dos EUA. Em consequência, o CON-Taiwan continuou a coexistir com o CON-Pequim daChina Popular. Em conclusão, o que aconteceu na 51ª Sessão doCOI foi uma estrondosa derrota da RPC, ao ponto dacomitiva chinesa, de volta Pequim, ter sido criticadapelo próprio Primeiro-ministro Zhou Enlai.Entretanto, as relações entre o Prof. Shou Yi Tung eAvery Brundage começaram a aquecer.

Jogos de Melbourne (1956)Aquando da preparação dos Jogos da XVI Olimpíada– Melbourne (1956), o CON-Pequim escreveu umacarta aos trabalhadores e desportistas da “provínciade Taiwan” a fim de os convidar a participar nos

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campeonatos a realizar em Pequim, que selecciona-riam uma única equipa chinesa que participaria nosJogos de Melbourne. Também foi garantido aos chi-neses de Taiwan que, uma vez concluídas as provasde selecção em Pequim, eles seriam livres de regres-sar a Taiwan. É evidente que os chineses de Taiwannem se deram ao trabalho de recusar tal convite. Emconsequência, segundo Brundage, quando os Jogosde Melbourne (1956) estavam prestes a começar, osdirigentes do Comité Olímpico da República Popularda China informaram o COI que não participariamcaso os “bandidos de Taiwan” participassem.38

Segundo o relato de Brundage (1973:261)26 as coisaspassaram-se assim: “À minha chegada a Melbourne para os Jogos, os dirigentesdo Comité Olímpico de Pequim pediram-me uma entrevista.Desejavam saber se ia chegar uma delegação da Formosa.Disseram-me que tinham preparado uma equipa de 150 dehomens e mulheres que aguardavam em Pequim, mas quenão iriam aos Jogos caso viessem “os bandidos de Taiwan”.Brundage, respondeu-lhes com o discurso do costume:“Não eram os países que competiam mas os atletas pelo queo reconhecimento de um CON não significava necessaria-mente o reconhecimento do governo do país.” Como os dois comités eram reconhecidos pelo COI,ambas as delegações podiam participar. Entretanto, o Prof. Shou Yi Tung fez os maioresesforços para explicar a Brundage a situação deTaiwan no quadro histórico da China. No entanto, oPresidente do COI manteve-se na sua, considerandoa existência de “duas Chinas”, o que a RPC se recu-sava a aceitar. Para além do mais, apesar dos repeti-dos protestos do CON de Pequim, o COI insistia emutilizar nos seus documentos “ Pequim - China” e“Formosa-China” o que para além de sugerir a exis-tência de “duas Chinas” colocava as duas realidadespolíticas em igualdade de circunstâncias, coisa que aRPC discordava. Brundage recusou-se a admitir qualquer argumento,pelo que o COI acabou por confirmar que reconheciadois CONs de “duas Chinas”: CON-Pequim e CON-Taiwan. O “reconhecimento” implícito da existênciade “duas Chinas” foi também assumido por diversasFederações Internacionais o que era inaceitável paraa RPC. Em consequência, a RPC decidiu não partici-par nos Jogos de Melbourne.

Avery Brundage, nas suas memórias, conta aindaque, na cerimónia de boas vindas à delegação deTaiwan, pronunciaram-se os habituais discursos, abanda tocou o hino nacional e içou-se a bandeira.Mas, quando o responsável australiano se preparavapara içar a bandeira da China Nacionalista, um chi-nês vindo não se sabe de onde, chegou-se ao pé doaustraliano e disse-lhe que a bandeira da China nãoera aquela. O australiano foi imediatamente trocar abandeira. O problema é que trocou a bandeira daChina Nacionalista (Taiwan) pela bandeira da ChinaPopular (Pequim). E a bandeira da China Popular foiiçada perante os olhos incrédulos da delegação daChina Nacionalista. Após a cerimónia, claro que abandeira foi rapidamente arreada e novamente subs-tituída. Claro que, o solícito chinês desapareceu talcomo tinha aparecido. Estórias da guerra-fria.

Ruptura e isolamentoA 19 de Agosto de 1958, em plena crise do Estreitoda Formosa, a RPC anunciou retirar-se doMovimento Olímpico. Depois, a 25 de Agosto de1958 foi recebido na chancelaria do COI emLausanne um comunicado oficial a confirmar a situa-ção.xl A fim do abandono do COI não poder vir a serconsiderado uma questão pessoal contra Brundage, aRPC retirou-se simultaneamente de várias organiza-ções desportivas internacionais, optando por umapolítica de isolamento desportivo. Assim, abandonouas Federações Internacionais de Atletismo,Basquetebol, Futebol, Luta, Pesos e Halteres,Natação, Tiro e Ténis.A retirada da RPC deixou o COI bastante perturbadode tal maneira que, a “Olympic Review” nº 64 deNovembro de 1958, acusava a RPC de ter optado porum “isolamento esplêndido”, perguntando-se simul-taneamente as razões de tal atitude?O que é facto é que a RPC, abandonou o COI acu-sando Brundage de ser um “agente imperialista dosEUA”. E o Prof. Shou Yi Tung escreveu ao COI: “Brundage, Presidente do Comité Olímpico Internacionalviolou deliberadamente a Carta Olímpica com o fim de ser-vir o projecto imperialista dos Estados Unidos de criar“duas Chinas”. Declaro formalmente que recuso cooperarcom ele ou de ter quaisquer relações com o COI enquantoesta organização estiver sob o seu domínio.” Na carta resposta que Brundage escreveu ao Prof.

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Shou Yi Tung, argumentou que Taiwan não pertenciaà China e que os nativos de Taiwan não eram nemchineses nem japoneses. Mas, como argumentava oProf. Shou Yi Tung desde os tempos mais remotosque Taiwan era território chinês. Tinha, de facto,estado debaixo da ocupação Japonesa de 1895 a1945, mas, depois da II Guerra Mundial, de acordocom a Declaração do Cairoxli e a Declaração dePotsdamxlii, foi restituída à China. Mas o que mais perturbou Brundage foi o facto daRPC ter afirmado que não voltaria ao COI enquantoBrundage fosse o seu líder. E cumpriu.Mesmo relativamente à URSS, a RPC optou por umcorte de relações. Aliás, nos anos sessenta desenro-lou-se um conflito aberto entre a RPC e a URSS,pelo que o corte das relações desportivas vinhamesmo a calhar. Entretanto, em meados dos anos sessenta, a RPCentrou em plena Revolução Cultural pelo que as rela-ções desportivas internacionais ficaram reduzidas aospaíses em vias de desenvolvimento. Em consequência,o Movimento Desportivo na RPC sofreu um enormeretrocesso e os maiores atentados à dignidade não sódos desportistas como do próprios dirigentes.A ruptura da RPC com o COI, tendo em atenção aideia de Michel Bouet (1968),xliii caracterizou-se porser do tipo de conflito que dissimula por detrás deleum outro mais importante e mais grave.Efectivamente, a RPC utilizou o desporto para dissi-mular um conflito muito mais grave e importantepara as autoridades chinesas que era o das “duasChinas”, que, no fundo, representava duas concep-ções do mundo radicalmente opostas. A partir deentão, o COI que dizia não ser uma organização polí-tica, passou a estar no centro das questões políticasentre dois sistemas que se digladiavam: o sistemacapitalista e o sistema comunista. A entrada da RPC no COI processou-se com enor-mes dificuldades na medida em que estavam emconfronto duas ideologias fechadas, a do COI e a daRPC, que se julgavam a salvação do mundo. Cadauma delas tentou impor à outra as suas ideias e osseus objectivos sem fazer o mínimo esforço paracompreender as ideias e os objectivos da parte con-trária. Portanto, as confusões e a ignorância de partea parte, os mal entendidos e o sacrifício de pessoascomo o Prof. Shou Yi Tung, acabaram por dificultar a

normal resolução de um problema em que todosfalavam mas ninguém se ouvia. Tudo acabou inglo-riamente na ruptura e no isolamento desportivo daRPC que, posteriormente, como vamos ver, conduziua situações degradantes no Movimento Desportivomundial.

ESTRATÉGIA ALTERNATIVA DA RPCApesar de tudo lhe ter corrido mal, a RPC não sepodia deixar isolar completamente da cena desporti-va internacional, pelo que decidiu começar a jogarnoutros tabuleiros políticos. Nesta conformidade,conseguiu que nos IV Jogos Asiáticos (1962), aIndonésia enquanto país organizador impedisseTaiwan de participar. O próprio Primeiro-ministroZhou Enlai meteu-se no assunto. O que aconteceufoi que a RPC conseguiu manobrar nos bastidores demodo a que a República da China (Taiwan) não par-ticipasse nos IV Jogos Asiáticos porque os vistos deentrada na Indonésia nunca lhes chegaram às mãos.Assim, a Indonésia salvava a face e a RPC tinhaaquilo que mais queria que era afastar Taiwan dosJogos Asiáticos. Como se vê, em matéria de utiliza-ção do desporto pela política, a RPC nunca “brincouem serviço”.xliv

Perante esta situação, algumas organizações interna-cionais decidiram não reconhecer os Jogos Asiáticose deixaram de reconhecer o Comité Olímpico daIndonésia. Para além do mais, a Indonésia foi proibi-da de participar nos Jogos Olímpicos. Em resposta, oPresidente da Indonésia Sukarno (1901-1970) pro-pôs a institucionalização dos Jogos das NovasPotências Emergentes. Estes Jogos realizaram-se emJakarta em Setembro de 1963 e em 1966 em PhnomPenh. Ora, os Jogos das Novas Potências Emergentesserviram sobretudo para demonstrarem a força doTerceiro mundo no Movimento Desportivo interna-cional, que pretendia substituir-se ao próprioMovimento Olímpico.

Primeiro a amizade, depois a competiçãoA partir da institucionalização da RPC e a conse-quente organização social, a perspectiva belicista,chauvinista e hiper competitiva de Mao Zedong queele próprio expressou no livro “Um Estudo deEducação Física” a que já nos referimos, não seadaptava aos novos tempos da revolução comunista.

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Na realidade, a visão que Mao expressou no seulivro, tinha a ver com tudo menos com uma visãomarxista da organização politica e social que se deviatambém projectar nas práticas desportivas. Assim,na fase de isolamento da RPC, o desporto foi coloca-do ao serviço dos superiores interesses da políticaexterna, mas numa perspectiva completamente dife-rente da preconizada por Mao em 1917. Já não setratava simplesmente da preparação para a guerra ousequer simplesmente vencer os jogos e os campeo-natos. As relações entre os povos passaram a ser apalavra de ordem do desporto na RPC. E o desportopassou a ser um poderoso instrumento da constru-ção daquela amizade. Em consequência, a amizadesobrepôs-se à lógica da vitória que deve presidir atoda e qualquer competição desportiva. No entanto,a máxima adoptada pelo desporto chinês não deixavamargem para dúvidas: “A amizade é eterna, a vitória passageira.”A partir de então, na RPC os jogos passaram a serdisputados sem árbitros, na medida em que o resul-tado era o que menos interessava. O sistema ideoló-gico da RPC fundamentava-se na construção de umarede de solidariedade em que o modelo de competi-ção desportiva era pura e simplesmente desprezado.Assim, nos anos cinquenta as autoridades chinesascomeçaram a impor aquilo a que John Hoberman(1984:219)xlv designou por uma visão “maoísta orto-doxa” que sobreviveu até 1976, quer dizer, até aofim da Revolução Cultural. Esta visão, baseava-sefundamentalmente na construção de uma rede derelações humanas à margem dos modelos construí-dos na base da promoção da performance humana.Assim, o modelo maoísta, inspirado no modelo dosprimeiros tempos da URSS, assentava em três pila-res fundamentais: — A educação física;— O desporto; — A condição física.O que interessava era promover a educação física, odesporto recreativo e a saúde das populações. Osprogramas desenvolvidos, segundo Hoberman, foraminspirados na máxima do desporto Soviético dosanos trinta que dizia “prontos para o trabalho e paraa defesa”. Contudo, nos anos cinquenta, quando aChina aderiu ao programa da URSS, já esta tinhaabandonado a visão de um “desporto não competiti-

vo”, na medida em que tinha decididamente aderidoao Movimento Olímpico.A visão Maoísta ortodoxa, à semelhança daquilo quetinha acontecido na URSS era muito mais marcadapela ideologia do que pela performances desportivas.A competição era desvalorizada. O objectivo era con-trariar os sentimentos agressivos entre competidoresque caracterizavam a prática desportiva burguesa.Conforme refere Huang Yaling,xlvi da Universidadedo Desporto de Pequim, durante a RevoluçãoCultural o desporto devia ser jogado pelo simplesprazer de jogar, sem quaisquer preocupações compe-titivas. De alguma maneira, foi com este espírito quea RPC participou nos Jogos das Novas PotênciasEmergentes – África, Ásia e América Latina.xlvii

Jogos das novas potências emergentes Os primeiros Jogos das Novas Potências Emergentesrealizaram-se em Novembro de 1963 em Jacarta. ARPC atribuía-lhes grande importância, ao ponto dacomitiva chinesa ter sido recebida pelo Primeiro-ministro Zhou Enlai, que a alertou para a necessida-de de se reforçar a unidade entre os países de África,Ásia e América Latina. Nesta conformidade, a comi-tiva da RPC devia ser portadora de um espírito pro-piciador do desenvolvimento de uma nova atmosferapolítica entre as nações envolvidas. Para Zhou Enlai,não se tratava de competir numa perspectivaOcidental em que os atletas se consideravam uns aosoutros como rivais, mas de promover a amizademútua através do desporto. E Zhou Enlai até deu omote que devia animar a comitiva da RPC: “Unidade contra o imperialismo, consulta democrática,aprender com os outros e elevação comum.” Liang, Lijuan(2007:85).32

Mas Zhou Enlai foi ainda mais longe. De facto, oPrimeiro-ministro chinês recomendou à comitivapara: “Ajudar a equipa da Indonésia a conseguir bons resultadosna medida em que era um país fundador dos Jogos dasNovas Potências Emergentes e, simultaneamente, organiza-dor dos primeiros Jogos. O badminton era uma modalidademuito popular na Indonésia pelo que o país tinha altasperspectivas de ganhar a medalha de ouro.” (Liang,Lijuan, 2007:85-86).32

O problema é que, ao tempo, a China no badmintonera possuidora de atletas de alto gabarito. E como os

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atletas chineses tinham estado fora das competiçõesmundiais durante bastante tempo, estavam desejo-sos de mostrar a sua força. Por isso, o Vice-primeiro-ministro Chen YI disse: “Considerem os sentimentos do país organizador e deixem aIndonésia ganhar algumas medalhas em badminton, quandoregressarem a casa tratarei de vocês.” (Liang, Lijuan,2007:86).32

Entretanto, He Dong também Vice-primeiro-minis-tro contrapôs: “Há muito que não competimos no estrangeiro, devemosmostrar ao mundo os nossos progressos no desporto. Seganharem todas as medalhas em badminton, quando regres-sarem a casa tratarei de vocês.” (Liang, Lijuan,2007:85).32

Zhou Enlai riu-se e disse: “Prestem igual atenção à amizade e à performance desporti-va, desenvolvam o vosso potencial em ambos.” (Liang,Lijuan, 2007:85).32

O Vice-primeiro Ministro He Long acompanhou aequipa chinesa a Jacarta pelo que assistiu in loco todaa competição. Contudo, quando se apercebeu que oschineses iam ganhar tudo, e do prejuízo que essefacto podia significar para as relações entre a China ea Indonésia, ordenou que deixassem a Indonésiaganhar a medalha de ouro. Claro que o atleta chinêsfez por perder o jogo enquanto que a televisão indo-nésia comentava que parecia que o chinês, de ummomento para o outro, tinha deixado de saber jogar.(Liang, Lijuan, 2007:87).32

Lijuan Liang a propósito comentou: “Nesta perspectiva, podemos ver que embora He Long – oVice-primeiro-ministro – tivesse uma personalidade caracte-rizada por gostar de ganhar, ele tinha dos assuntos umaperspectiva dos altos interesses políticos. Os indonésios tive-ram um entendimento tácito do jogo e ficaram muito agra-decidos à China.” (Liang, Lijuan, 2007:87).32

E Zhou Enlai enviou um telegrama de felicitaçõescom os seguintes dizeres: “A inauguração dos Jogos das Novas Potências Emergentesmarcam uma grande vitória conquistada pelo povo dasnovas nações emergentes, na sua luta contra o controlo e omonopólio sobre o desporto internacional pelo imperialismoe o velho e novo imperialismo.” (Liang, Lijuan,2007:87).32

De facto, toda a missão tinha sido acompanhadapelo Primeiro-ministro Zhou Enlai e não era para

menos. O interesse dos chineses era tal que, mesmonuma situação de grandes dificuldades económicas,pagaram a participação nos Jogos das NovasPotências Emergentes aos países que não podiamsuportar as despesas. Pelo seu lado, o COI, liderado por Avery Brundage,ameaçava excluir da participação nos JogosOlímpicos, pelo período de 12 meses, todos os atle-tas que participassem nos Jogos das Novas PotênciasEmergentes.xlviii A Indonésia e a Coreia do Norteforam admitidas à participação nos Jogos Olímpicosde 1964 realizados em Tóquio, na condição denenhum dos seus atletas ter participado nos Jogosdas Novas Potências Emergentes. Mesmo assim, ospaíses visados enviaram para Tóquio atletas quetinham competido nos Jogos das Novas PotenciasEmergentes na expectativa de poder haver umamudança de atitude por parte do COI. Todavia, oCOI foi intransigente e não mudou de posição. ACoreia do Norte acabou por retirar a totalidade dasua equipa. (Liang, Lijuan, 2007:97).32 Quer dizer,os atletas foram apanhados no fogo cruzado da guer-ra-fria.A interpretação que se pode fazer é a de que haviada parte do COI e em especial de Avery Brundageuma séria intenção política de isolar a RPC. ComoBrundage não podia atacar directamente os países,resolveu de uma forma a todos os títulos reprovávelpenalizar os atletas, perante a indiferença da genera-lidade do Movimento Desportivo. Avery Brundage sempre manifestou uma profundahipocrisia nas disputas no interior do COI relativa-mente ao problema das “duas Chinas”. Por um lado,afirmava que o COI não se podia imiscuir em ques-tões políticas, mas, por outro, era ele que se utiliza-va politicamente do COI em defesa dos seus pró-prios interesses e também dos interesses dos EUA.Note-se que as relações entre EUA e China haviamsido cortadas em Outubro de 1949 quando forçascomunistas lideradas por Mao Zedong depuseram ogoverno nacionalista do general Chiang Kai-shek.Na perspectiva política da RPC, a continuação dosJogos da Novas Potências Emergentes era uma ques-tão crucial. Assim, Zhou Enlai voltou a envolver-seno processo quando soube que o Egipto exigia umasoma considerável para organizar os II Jogos. E fazia-o com a convicção do conhecimento que tinha de

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que a RPC havia auxiliado a Argélia com um subsí-dio substancial para construir o centro de conferên-cias que serviu para a realização da IIª conferênciaÁfrica-Ásia, realizada em 1965. (Liang, Lijuan,2007:98).32 Muito embora o investimento não tenhasido realizado, podemos simplesmente concluir quese a China teve aquela atitude estratégica em defesados seus interesses no mundo, num tempo de gran-des dificuldades económicas, o que é que ela hojenão fará em defesa dos seus interesses estratégicos,com a capacidade financeira de que é possuidora.xlix

Campeonato do Mundo de Ténis de Mesa - 1971Em 1971 o Campeonato do Mundo de Ténis de Mesadecorreu no Japão em Nagoya. A Coreia do Norte nãoqueria participar na medida em que existia no Japãouma comunidade 600 mil norte-coreanos que, peranteos previsíveis fracos resultados desportivos, podiademonstrar alguma hostilidade para com o regime dePyongyang. Em consequência, as autoridades daCoreia do Norte entenderam não participar. Contudo,aos chineses interessava-lhes que a Coreia do Nortetambém participasse. Então, como refere Xu Guoqi(2008),30 através da intervenção directa de ZhouEnlai, os norte-coreanos foram convencidos a partici-par a troco de algumas vitórias com que impressiona-riam os concidadãos que viviam no Japão. O problema foi que aconteceu um imponderável. Acomitiva chinesa era liderada por Zhao Zhenghongum militar que não esteve pelos ajustes políticos.Para ele, o desporto tal como a guerra era paraganhar. Em consequência, a equipa da China que,apesar dos efeitos negativos da Revolução Cultural,tinha os melhores jogadores do mundo, acabou porderrotar a Coreia do Norte por 3-0 impedindo-a deganhar os homens singulares como estava previsto.Quanto ao Japão, todos os atletas chineses derrota-ram os atletas japoneses. O segundo problema surgiu quando a comitiva chi-nesa regressou a casa. Aquilo que aconteceria emqualquer outro país do mundo, na China aconteceuprecisamente o contrário. A equipa foi chamada aZhou Enlai que obrigou o chefe da comitiva ZhaoZhenghong a fazer um relatório autocrítico e,depois, mandou-o ir à Coreia do Norte pedir descul-pas. Zhao apresentou directamente desculpas aoPresidente nortecoreano Kim II Sung. O próprio

Zhou Enlai, não deixou também de se desculparperante os norte-coreanos pelo comportamento daequipa chinesa. Depois, Kim II Sung teve a oportuni-dade de agradecer aos camaradas Mao e Zhou osesforços realizados para reforçarem a amizade entrea China e a Coreia do Norte.

Aprender à própria custa - competição é competiçãoOs chineses, ainda segundo Xu Guoqi (2008),30

haviam de aprender à sua custa. No apuramento dofutebol para os Jogos de Moscovo (1980), os chine-ses e os norte-coreanos voltaram a combinar o resul-tado. Para que todos ficassem satisfeitos o resultadoajustado foi de 3-3. Mas, quando o resultado atingiua cifra combinada, os norte-coreanos “roeram acorda”, meteram mais um golo e fizeram 4-3.Depois, puseram-se a jogar à defesa e não deixaramos chineses empatar o jogo como estava combinado.Com esta derrota, os chineses acabaram por concluirque, no domínio da competição desportiva nãopodem existir resultados de amizade. Competição écompetição. Apesar de tudo, uma nova perspectivade entender a competição quer nacional quer inter-nacional de uma forma séria, só veio a ser posta emprática a seguir à morte de Mao Zedon.A RPC utilizou o desporto das maneiras mais criticá-veis, ao chegar ao ponto das autoridades políticas aomais alto nível promoverem a corrupção dos resulta-dos em nome de uma solidariedade que, como se viu,não tinha qualquer sentido, na medida em que a con-trapartida geralmente não funcionou. Depois, os chi-neses acabaram por aprender à própria custa que acompetição é uma coisa séria que não dá para brincar. Mas o problema mais sério originado pela posiçãohipócrita de que “primeiro estava a amizade e,depois, a competição”, originou que um “modelo dedesporto não competitivo”, a partir dos anos sessen-ta, passasse a ter influência em países como a Françaaonde os neo-marxistas, desanimados com o revisio-nismo do Partido Comunista Francês promoviam omaoísmo. Ora, esta perspectiva ultrapassou as fron-teiras francesas e projectou-se noutros países entreos quais Portugal com incidências nefastas nos pro-gramas da disciplina de Educação Física que aindahoje se fazem sentir e comprometem o desenvolvi-mento do desporto do país.l

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EXPULSÃO DA REPÚBLICA DA CHINA (TAIWAN) DO COIHá muito que a RPC tinha assumido que a sua lutadentro e fora do COI ultrapassava em grande medidaos problemas do mundo do desporto. De facto, paraa RPC o desporto e o Olimpismo eram instrumentosfundamentais para ser reconhecida pela ONU. Emconformidade, jogava fortemente com os conflitos deinteresses internos do próprio COI, uma organizaçãointernacional, como todas elas, com muitos parado-xos e contradições.Na 56ª Sessão do COI realizada 23 a 28 de Maio de1959 em Munique, o problema das “duas Chinas”foi um dos temas da sessão. A partir de uma propos-ta do Marquês de Exeter (1905-1981), foi decididopor 48-7 retirar o CON-Taiwan que utilizava o nomede Comité Olímpico Nacional Chinês da lista oficialdos comités reconhecidos pelo COI e considerar asua readmissão caso aceitasse mudar o nome. Otexto da decisão que passou a ser conhecida como a“Decisão de Munique” foi o seguinte: “O Comité Olímpico Nacional Chinês com sede em Taipé,(Taiwan) será notificado pelo Chanceler do ComitéOlímpico Internacional que não pode continuar a ser reco-nhecido sob aquele nome na medida em que não controla odesporto na China, e o seu nome será retirado da lista ofi-cial. Se for realizada uma candidatura de reconhecimentocom um diferente nome, será considerada pelo ComitéOlímpico Internacional.” li

Em conclusão, aquilo que para todos os efeitos aosolhos do mundo foi decidido, foi que a República daChina (Taiwan) tinha sido expulsa do COI.Esta decisão do COI causou tantos problemas quenão se percebe como foi possível Brundage deixaravançar o processo. Quanto a nós, só vemos uma deduas possibilidades:— Ou a votação (que viria a ser posteriormente con-testada) apanhou Brundage completamente distraído;— Ou, pelo contrário, Brundage estava bem cons-ciente do que se estava a passar, só que os seus inte-resses naquele momento ultrapassavam as posiçõesque tinha assumido no passado. O problema é que as novas conveniências deBrundage entravam frontalmente em confronto comas dos EUA. Hoje, é legítimo pensar que Brundageenquanto Presidente do COI, dificilmente podia con-viver com a situação de ter o CON do país maispopuloso do mundo, ao tempo, com cerca de 600

milhões de habitantes, fora do COI. Mas mais. ParaBrundage, era certamente muito difícil conviver como facto das autoridades da RPC terem afirmado sole-nemente que só regressariam ao COI depois deBrundage sair. Em conformidade, Brundage fez umajogada de mestre. O que ele, muito provavelmente,desejava era criar as condições para o regresso aoseio do COI da RPC. Afastada Taiwan, a RPC regres-saria em grande triunfo e ele faria parte desse triun-fo. Entretanto, relativamente a Taiwan era só umaquestão dos nacionalistas mudarem de nome o queaté já vinha a acontecer noutras organizações inter-nacionais. O problema é que Brundage não foi capaz de, mini-mamente, imaginar a reacção de várias entidadesnorte-americanas, bem como, posteriormente, dageneralidade da população norte-americana. Se anível das entidades as questões se colocavam nadimensão global da guerra-fria,lii no que diz respeitoao povo americano a imagem que passou foi a deuma Taiwan protegida dos EUA, a ser trucidadapelos interesses da enorme China comunista. Emconsequência, Brundage deve ter passado um dosperíodos mais difíceis da sua vida, na medida emque, para além de aos olhos dos americanos, terposto em causa os interesses do seu próprio país,teve, por diversas vezes, de ouvir aquilo que nãoqueria e de contradizer aquilo que tinha sido decidi-do pelo COI. Para alguém com uma personalidademais ou menos autocrática como era a de Brundage,não deve ter sido mesmo nada fácil.

O Pesadelo de BrundageAo tempo, a ONU ainda não tinha reconhecido a RPCo que só viria a acontecer em finais de 1971. SóTaiwan era reconhecida como República da China naONU. Por outro lado, a decisão de expulsão relativa-mente ao Comité Nacional Olímpico da China –Taiwan, ia contra tudo aquilo que tinha sido o discur-so oficial que afirmava que o desporto nada tinha aver com a política, e que não eram os países que inte-ressavam mas os atletas. Se o desporto nada tinha aver com a política, como era possível que o COI, noque diz respeito ao reconhecimento dos países, ultra-passasse a situação existente na ONU, tornando-se,deste modo, um instrumento de pressão no sentidode forçar a entrada da RPC na ONU? Porque, de facto,

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esse era o primeiro objectivo da RPC e o COI, com asua atitude, estava pura e simplesmente a ser um ins-trumento político nas mãos da RPC.Assim, a resolução de Munique, em plena guerra-fria, não podia deixar de ter enormes repercussõesnos EUA. Brundage e o COI foram acusados deceder aos países comunistas liderados pela URSS, afim de facilitarem o regresso da China Popular(Pequim) ao Movimento Olímpico, à custa da exclu-são da China Nacionalista (Taiwan). Brundage aca-bou por ser atacado pelo Governo, pelo Congresso epelo próprio Presidente Eisenhower. Até a contagemdos votos na Sessão do COI realizada em Muniquefoi posta em causa e precisamente por um membroamericano do COI de seu nome Douglas Roby(1898-1992). Simultaneamente, a população norte-americana come-çou a sentir que o significado da expressão guerra-friaafinal não era assim tão fria quanto isso, ao tomarconhecimento dos bombardeamentos efectuados pelaRPC às ilhas nacionalistas de Quemoy e Matsu. Emconsequência, o embaixador dos EUA nas NaçõesUnidas, Henry C. Lodge, pediu que a decisão do COIrelativamente a Taiwan fosse reconsiderada.Pelo seu lado, o COA afrontava o COI no sentido de odesafiar a voltar a reconhecer o Comité Olímpico daRepública da China (China Nacionalista). Para os diri-gentes do Comité Olímpico Americano (COA) qualqueratraso na reentrada do Comité Olímpico da Repúblicada China prejudicaria seriamente o movimentoOlímpico nos EUA. Na realidade, o COA estava decerto modo em pânico na medida em que se encontravaa praticamente um ano da realização dos JogosOlímpicos de Inverno em Squaw Valley (1960), peloque não se podia permitir ter um caso que lhe secasseas fontes de financiamento. A questão da expulsão daChina Nacionalista do seio do COI estava a pôr emrisco os apoios financeiros aos Jogos de Squaw Valley(1960) provenientes dos “sponsors” americanos. Alémdo mais, muitas entidades exigiam pura e simplesmentea saída do COA do COI o que, ainda pior, comprometiaa realização dos próprios Jogos de Squaw Valley.liii

O dito por não ditoPerante tal situação, Brundage, pondo de lado todo oseu “horror” a envolver a política no desporto, foiobrigado a entrar em negociações com os chineses

de Taiwan, e, desta feita, numa posição de extraordi-nária debilidade na medida em que estava sem reta-guarda. E ao fazê-lo, entrou em contradição com afilosofia do próprio COI que defendia que “só discu-tia com atletas e não com os governos” ou que “sóreconhecia organizações desportivas e não gover-nos”,liv conforme esclarecimento prestado pelo COIimediatamente depois da Sessão de Munique.Apesar de tudo, as negociações iniciaram-se, mascomo os chineses de Taiwan estavam numa posiçãofavorável, resolveram “esticar a corda” pelo que exi-giam ser reconhecidos por Comité Olímpico daRepública da China. Ora, esta posição seria sempreinaceitável para a RPC.Perante a situação, Brundage teve de dar o dito pornão dito. Assim, começou simplesmente por dizer quea resolução de Munique tinha sido mal interpretada e,a 19 de Julho de 1959, fez a seguinte declaração: “Os termos da resolução adoptado pelo COI na Sessão de28 de Maio de 1959 (Sessão de Munique) foram infelizes erealmente não expressaram a intenção da Sessão deMunique. A intenção do Comité Olímpico Internacional foimeramente no sentido de identificar os atletas que viviamem Taiwan (Formosa). A Formosa chinesa agora candida-tou-se sob o nome do seu país – Comité Olímpico daRepública da China. Eu recomendarei e apoiarei o reconhe-cimento deste comité sob este nome.”lv

Apesar de tudo o que Brundage pudesse dizer, aosolhos dos americanos, na Sessão de Munique, aChina Nacionalista foi expulsa do COI e a prová-loestá o facto de, conforme a acta da Sessão deMunique, se Taiwan quisesse voltar pertencer aoCOI, tinha de desencadear uma nova candidatura.

Jogos Olímpicos de inverno Squaw Valley (1960)Em todo este processo a organização dos JogosOlímpicos de Squaw Valley (1960) teve um papelfundamental. Eram enormes as verbas e os apoios detoda a ordem que estavam em jogo. Em conformida-de, a 29 de Junho de 1959, Prentis C. Hale,Presidente da Comissão Executiva dos Jogos, depoisde ter tido uma reunião com Avery Brundage, apres-sou-se, através de uma news release, a informar opúblico americano: 1 – O Comité Olímpico da República da China(China Nacionalista), foi convidado para participarnos Jogos de Squaw Valley pelo Comité Organizador

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dos VIII Jogos Olímpicos de Inverno; o ComitéOlímpico da República da China aceitou e vai ter aoportunidade de aparecer.2 – O Comité Olímpico da República Democrática daChina (China vermelha) não era reconhecido peloComité Olímpico Internacional quando o ComitéOrganizador enviou os convites para participar; pre-sentemente não é reconhecido pelo Comité OlímpicoInternacional pelo que não lhe será permitido parti-cipar nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1960. lvi

Simultaneamente, Prentis C. Hale divulgou umadeclaração de Brundage, onde este informava osamericanos que a decisão do COI de 28 de Maio(Sessão de Munique) teve como único objectivoesclarecer a situação da China Nacionalista no seioda Família Olímpica. Mas dizia mais: Recentes rumores de que a admissão do ComitéOlímpico da China Nacionalista tinha sido negadasob o nome de República da China ou uma variaçãosemelhante não são verdadeiros.lvii

Em todo o processo, Avery Brundage jogou com umaenorme inabilidade e, em consequência, foi apanha-do nas malhas das suas próprias contradições. Aocontrário daquilo que ele tinha passado uma vida aafirmar, o desporto e o Olimpismo tinham mesmo aver com a política. Como Brundage afirmava o con-trário, acabou simplesmente por andar a reboque dapolítica, para tentar-se salvar dos problemas que elepróprio tinha desencadeado.

Última Jogada de BrundageSe os chineses se utilizaram do desporto para finspolíticos, o COI fundamentalmente sob a liderançade Brundage, também não o deixou de fazer.Brundage nunca permitiu que a questão das “duasChinas” fosse tratada de uma forma clara, aberta esem quaisquer preconceitos. A dois anos de abando-nar o COI, o que viria a acontecer imediatamente aseguir aos Jogos de Munique (1972), Brundage jácom 83 anos de idade continuava a exercer o seupoder autocrático que no final da sua vida já só tinaa ver com o seu maior ódio de estimação, quer dizera RPC. Assim, na 70ª Sessão do COI realizada de 12a 16 de Maio de 1970 em Amesterdão, Brundage for-çou votação no COI de um novo membro, desta feitaHenry Hsu da República da China (Taiwan).lviii Ora,tal proposta, independentemente da sua bondade, só

podia provocar mal-estar nos dirigentes da RPC efazer com que a sua atitude se radicalizasse aindamais do que já estava. Quer dizer que, ao cabo de 18anos de incapacidade absoluta para resolver um pro-blema, Brundage com tal atitude pretendeu, pelomenos aparentemente, condicionar a resolução doproblema das “duas Chinas” para além da sua lide-rança no COI.Henry Hsu foi muito provavelmente, no que diz res-peito às “duas Chinas”, a última jogada deSamaranch. Todavia, a jogada não revelou ser degrande utilidade na medida em que Henry Hsu, pos-teriormente, acabou por ser um elemento construti-vo na resolução do problema das “duas Chinas”.Entretanto eram os próprios membros do COI queultrapassavam a casmurrice de Brundage. Por exem-plo, vários dirigentes do COI tais como ReginaldAlexander do Quénia e Giulio Onesti de Itália, visi-taram por sua conta e risco a RPC contactando comos dirigentes desportivos chineses. Porém, estas visi-tas foram mantidas fora do conhecimento deBrundage, na medida em que se sabia que a posiçãodo Presidente do COI seria sempre de oposição por-que essa era a posição dos EUA que, ao tempo, nãoreconheciam a RPC. No entanto, independentementeda vontade de Brundage ou até mesmo dos EUA, apressão para que as relações entre o COI e a RPCvoltassem ao normal há muito que vinham a serexercidas pelos mais diversos protagonistas.

ConclusãoBrundage jogou com a questão das “duas Chinascomo muito bem entendeu. Apesar desta sua atitu-de, não se percebe muito bem como é que na Sessãode Munique se deixou cair na situação em que, emtermos práticos o CON de Taiwan acabou expulso doCOI só podendo regressar se aceitasse mudar denome. Depois, quando a situação aqueceu, Brundageteve um comportamento errático e incoerente relati-vamente às suas posições anteriores. Acabou porpassar um mau bocado, teve de dar o dito por nãodito, a fim de salvar a sua posição que estava a sermuito difícil pela aproximação dos Jogos Olímpicosde Inverno de Squaw Valley (1960). Mas, apesar detodos os seus fracassos, Brundage continuou igual asi próprio. Numa a atitude de pouco respeito peloselementos do COI e numa provocação descarada

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relativamente à RPC, fez eleger Henry Hsu deTaiwan para elemento do COI. Pelo seu lado, à reve-lia do próprio Brundage, alguns elementos do COIcomeçaram a estabelecer relações com a RPC. Com asua longevidade à frente do COI Brundage acaboupor, mais uma vez, provar que as lideranças autocrá-ticas acabam geralmente no caos.

REGRESSO AO MOVIMENTO OLÍMPICONão fazia qualquer sentido que a RPC, o país maispopuloso do mundo, estivesse fora do MovimentoOlímpico. Em conformidade, o mundo comunistafundamentalmente através da URSS, começou apressionar o COI no sentido deste criar as condiçõespara que a RPC regressasse ao Movimento Olímpico.Mas a pressão sobre o COI não foi só exercida pelomundo comunista, na medida em que na 56ª Sessãodo COI, realizada em Munique, ela surgiu dentro dopróprio COI. O que aconteceu foi que a RPC recebeuum apoio fundamental para a sua causa doPresidente da International Amateur AthleticFederation (IAAF), David George Brownlow Cecil(1905-1981), o 6º Marquês de Exeter.lix

Exeter tinha um currículo desportivo a todos os títu-los digno de espanto, o que lhe facilitava a vida nosmeandros do mundo do desporto e do Olimpismo.Nestes ambientes, um campeão há-de ser sempreum campeão. Exeter, tinha participado em três JogosOlímpicos: Paris (1924); Amesterdão (1928) e; LosAngeles (1932). Foi Campeão Olímpico nos 400metros barreiras nos Jogos de Amesterdão (1928).Mais tarde, durante 40 anos exerceu as funções dePresidente da Amateur Athletic Association e dePresidente a IAAF durante 30 anos. Foi ainda mem-bro do COI durante 48 anos. Portanto, um pesopesado do Movimento Olímpico, cuja opinião nãopodia deixar de se ouvir. Exeter defendia que deviam ser criadas as condiçõespara que a RPC regressasse ao movimento Olímpico.Para ele, o verdadeiro representante dos chineses eraa RPC, na medida em que a China Nacionalistarepresentava apenas uma pequena minoria. Exeter iamesmo ao ponto de defender que o CON-Taiwancom sede em Taipé que se identificava com o seunome original, Comité Olímpico Nacional Chinês,devia retirar a palavra China do seu nome. Contudoesta posição de Exeter que acabou por envolver

Brundage, não satisfazia os desejos da RPC na medi-da em que aceitava a continuação de um CON deTaiwan, quando o que a RPC desejava era a pura esimples exclusão de Taiwan do COI.Independentemente de Exeter estar certo ou errado,o que é facto é que o COI ao entrar nesta dinâmicade pensamento ia contra tudo aquilo que o seu diri-gente Avery Brundage tinha andado a dizer, isto é,que o desporto nada tinha a ver com a política. Emsimultâneo, era entrar por um caminho muito com-plicado, na medida em que a ONU reconhecia aChina Nacionalista - Taiwan como República daChina. Quer dizer, o COI sobrepunha-se e antecipa-va-se à ONU, em defesa das posições da RPC. Noentanto, o COI ao jogar desta maneira antecipava-sea um futuro mais que previsível. Contudo o queaconteceu, acabou por provar que, afinal, não chegater razão, é necessário ter razão no momento exactoe no local apropriado. A Sessão de Munique não foicertamente nem o momento exacto nem o localapropriado.

Diplomacia do ping-pong No início da década de 1970, perante um país com aeconomia em completo colapso e sob a ameaça daUnião Soviética, Mao Zedong iniciou uma manobraestratégica a fim de se aproximar dos EUA, muitoembora o imperialismo americano fosse visto pelasautoridades de Pequim como o inimigo mais perigo-so. O problema é que a nomenclatura chinesa come-çou a perceber que ainda havia um inimigo maisperigoso do que o mais perigoso dos inimigos. Esseinimigo era a URSS com quem a China para além dedividir a liderança de uma ideologia, partilhava aindamilhares de quilómetros de fronteira. O conflitolatente entre a URSS e a RPC ultrapassava as pró-prias fronteiras da ideologia na medida em que tinhaas suas origens nos tempos dos czares russos. Com a aproximação aos EUA o Presidente MaoZedong, em primeiro lugar, afastou-se dos conflitoslatentes com a União Soviética. Zhou Enlai diziamesmo que as questões com a URSS estavam paraalém da possibilidade de serem geridas à margemdo conflito. E compreende-se na medida em que aURSS tinha 43 divisões estacionada na fronteiracom a RPC. Em segundo lugar, Mao demarcou-seda URSS que reivindicava a unificação do socialis-

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mo debaixo da tutela do Kremlin. Em terceirolugar, conseguiu o reconhecimento internacionalque a RPC não tinha conseguido enquanto aliadada URSS. Desde a fundação da RPC em 1949, o mundo oci-dental via o governo de Mao Zedong como ilegal, namedida em que, para a generalidade dos ocidentais,o verdadeiro governo da China estava refugiado emTaiwan. Com a aproximação aos EUA, os países oci-dentais passaram a ver Mao Zedong como o legítimoregente da China continental.Ao tempo, tanto a RPC como os EUA parece teremcomeçado a perceber que as questões que os opu-nham jamais se resolveriam através de uma diploma-cia de confronto, mas, pelo contrário, só podiam tersolução através de uma diplomacia de cooperação.Em conformidade, iniciaram um processo de nego-ciações nos bastidores da política internacional. Se aRPC tinha interesse em abrir as suas relações aoOcidente porque, para além da sua economia estarexausta queria fugir do jugo soviético, os EUAtinham interesse em afastar a RPC da influênciasoviética. Então, em 15 de Julho de 1971, oPresidente Nixon surpreendeu os americanos aocomunicar-lhes que, de 9 a 11 de Julho, tinha havidoconversações em Pequim entre Zhou Enlai e HenryKissinger e que o Primeiro-ministro Chinês o tinhaconvidado para visitar a China.O mais significativo de todo este processo foi o factodas relações diplomáticas entre os EUA e a RPC,terem começado quando, a 6 de Abril de 1971, aequipa de ténis de mesa dos EUA que estava noJapão a participar no 31º Campeonato do Mundo,recebeu um convite da RPC para visitar o país. ARPC estava pela primeira vez a participar noCampeonato do Mundo de Ténis de Mesa depois de,em 1958, ter decidido retirar-se de várias organiza-ções desportivas internacionais. Entretanto, a 12 deAbril, nove jogadores americanos, quatro altos fun-cionários, acompanhados por 10 jornalistas, atraves-saram uma ponte que liga Hong-Kong à China conti-nental e, deste modo, inauguraram não só uma novaera nas relações internacionais, entre os EUA e aRPC, como também uma nova visão relativamente àsfunções que o desporto, no quadro da diplomaciainternacional, pode assumir. A partir de então, a “diplomacia do ping-pong” pas-

sou contrariar o discurso de uma certa cultura incul-ta que afirma que o desporto nada tem a ver com apolítica. E o Primeiro-ministro Zhou Enlai durante obanquete em homenagem aos visitantes no GrandeHall do Povo em Pequim afirmou: “Vocês abriram novo capítulo nas relações entre o povoamericano e o chinês” (…) “Tenho a certeza de que o reiní-cio de nossa amizade resultará num maior apoio entre osdois povos.”lx

E a metáfora da “política de ping-pong” passou a fazerparte dos dicionários de ciência política. E, simulta-neamente, um modelo de aculturação à escala global.E a prová-lo aí está o facto de quatro dos elementosda equipa Americana de ténis de mesa presentes nosJogos de Pequim terem nascido na China.

Entrada na ONUPor coincidência ou não, em Outubro de 1971 aAssembleia-geral das Nações Unidas, através daresolução 2758 (XXVI) de 25 de Outubro reconhe-ceu a RPC, passando a considerar a província deTaiwan como uma das suas partes. Ora, este factoalterou completamente os dados do problema das“duas Chinas” na medida em que atribuiu à RPCuma situação muito mais confortável no quadro doseu prestígio no âmbito das nações. Desde logo por-que a RPC começava finalmente a sair do isolamentoa que tinha estado sujeita, desde a sua fundação em1 de Outubro de 1949.Depois, os Estados Unidos revogaram um embargocomercial contra a China e, em finais do ano de1971, aproveitando a boa vontade gerada pela diplo-macia do ping-pong, o Presidente Richard Nixon(1913-1994) anunciou que visitaria a China no anoseguinte, a fim de iniciar conversações formais entreos EUA e a RPC. Um ano depois, uma equipa da RPC fez uma excur-são pelos Estados Unidos. Sob o lema “amizade emprimeiro lugar”, jogou várias partidas com atletasamericanos. Deste modo, a RPC iniciou uma novaera nas suas relações internacionais precisamente apartir da utilização do desporto enquanto instrumen-to do domínio da “diplomacia soft”. É evidente que o desporto pode e deve ser utilizadotal como qualquer outra actividade humana na pro-moção das relações entre os povos. Pode ser utiliza-do pelos governantes com boas ou más intenções.

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Todavia, não é por alguns líderes e organizações outilizarem com objectivos que nada têm a ver com ointeresse da generalidade das pessoas e dos países,que os dirigentes desportivos devam passar a fazerde avestruzes e a dizer que o desporto nada tem aver com a política.

Jogos Olímpicos de Montreal (1976)Uma vez dentro da ONU, a RPC acertou todas assuas baterias para conseguir entrar novamente noCOI, aliás, de onde nunca devia ter saído. Assim,depois de, em 1972, ter conseguido, com o empenhodirecto de Zhou Enlai, o afastamento de Taiwan daFederação Asiática de Ténis de Mesa e da Federaçãodos Jogos Asiáticos, duas vitórias de significativaimportância, a RPC virou-se decididamente para omovimento Olímpico. Em conformidade, começou apedir a determinados membros do COI que manifes-tavam amizade e simpatia para com a RPC, parafazerem discursos a defender o regresso da RPC aoMovimento Olímpico. O que aconteceu foi que, emtodas as sessões do COI e em diversas reuniões daComissão Executiva do COI, o problema das “duasChinas” esteve sempre presente. Segundo Dongguang Pei (2006),lxi cerca de seismeses depois da organização dos Jogos Olímpicoster sido atribuída a Montreal o que aconteceu em1970, o Canadá estabeleceu relações diplomáticascom a RPC. Claro que a RPC aproveitou a circuns-tância para fazer mais uma das suas jogadas estraté-gicas no sentido de acabar com a situação das “duasChinas”. A ideia que esteve quase a resultar, era con-seguir da parte dos canadianos um convite directopara participar nos Jogos, impondo ao mesmo tempoa exclusão de Taiwan. Pelo seu lado, o Canadá paraalém de aceitar a entrada directa da RPC o que con-trariava os compromissos assumidos com o COI, sópermitiria a participação de Taiwan sob o nome deTaiwan como tinha acontecido em 1960 nos Jogos deRoma em que, Taiwan desfilou na cerimónia de aber-tura com um cartaz que dizia “under protest”. O Governo do Canadá só revelou a sua posição emMaio de 1976. Ora, o COI não ficou nada satisfeitocom a situação em vias de acontecer, na medida emque, se por um lado, a RPC não podia participar por-que não era membro do COI, por outro, Taiwan nãopodia ser impedida de participar porque era membro

do COI. Perante esta situação o COI emitiu oseguinte comunicado: “A posição do Canadá está em conflito com os princípiosfundamentais do Olimpismo pelo que os Jogos nunca deviamter sido atribuídos ao Canadá (…) se o Canadá não tivessegarantido que os atletas de todos os Comités OlímpicosNacionais reconhecidos pelo COI poderiam participar.”lxii

O que é facto é que a 9 de Julho de 1976, portanto aescassos dias da abertura dos Jogos, por um lado, acomitiva da RPC preparava-se para participar e, poroutro, não tinham sido facultados vistos de entrada àdelegação de Taiwan, quer dizer, estava a ser utiliza-do o mesmo truque que serviu para afastar Taiwanda participação nos IV Jogos Asiáticos realizados naIndonésia em 1962.As posições eram de tal maneira irredutíveis que oCOI chegou a considerar a possibilidade de cancelara realização dos Jogos, ou, simplesmente, retirar-lhesa designação de Jogos Olímpicos. Contudo, o COIcedeu. Foi decidido prosseguir com os Jogos semTaiwan. Entretanto, perante a cedência do COI, o Presidentedo Comité Olímpico Americano, com o apoio doPresidente Gerald Ford, ameaçou retirar dos Jogos aequipa dos EUA o que seria um desastre já quetodos os contratos com as televisões americanas fica-vam sem efeito. Claro que, perante tal ameaça, tinhade ser encontrada uma solução que satisfizesse, porum lado, a política de uma única China à qual oCanadá tinha aderido e, por outro, os princípios doCOI que obrigavam à aceitação de Taiwan enquantomembro de pleno direito. Então, por envolvimentodirecto do Presidente do COI Lorde Killanine e doPrimeiro-ministro Canadiano Pierre Trudeau, foi ten-tada uma solução em que Taiwan poderia competirdebaixo da designação de Comité Olímpico deTaiwan. O problema foi que tanto Taiwan, como aRPC recusaram a proposta. Os Jogos acabaram porter a sua abertura como estava previsto a 17 de Julhosem qualquer participação chinesa, o que, no fundo,significou uma derrota para todas as partes.

O Gato de Deng XiaopingO ano de 1976 foi um ano em que se abriram, defacto, possibilidades para que o problema das “duasChinas” pudesse de uma vez por todas ser resolvido.O que aconteceu de significativo foi que:

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— Zhou Enlai morreu a 8 de Janeiro;— Mao Zedong morreu a 9 de Setembro;— Em 6 de Outubro foi desencadeado um golpe deestado liderado por, entre outros, Deng Xiaoping;— O Bando dos Quatro foi preso. Em conformidade, Deng Xiaoping acedeu ao poder,dando-se por terminada a era de Mao Zedong e,simultaneamente, do tenebroso período daRevolução Cultural. Entretanto, começaram as refor-mas de que a China há muito necessitava. Reformassobretudo de mentalidades que vieram possibilitar acriação de novas oportunidades que permitiram oregresso da RPC ao Movimento Olímpico. Pelo seu lado, para o COI era absolutamente neces-sário resolver a questão das “duas Chinas”. A situa-ção tinha atingido um padrão de conflito impossívelde gerir, sem provocar estragos no próprioMovimento Olímpico. O que tinha acontecido nosJogos de Montreal, não podia voltar a acontecer. Emconformidade, era necessário resolver a questão das“duas Chinas” antes dos Jogos Olímpicos deMoscovo (1980). O problema é que a questão estavabloqueada a menos que houvesse alguma flexibilida-de de uma das partes interessadas. Mas qual delasestava em melhores condições de dar o primeiropasso? O COI, não podia ceder, expulsando pura esimplesmente o Comité Olímpico da República daChina (Taiwan), na medida em que, ao fazê-lo, esta-va a tirar a milhões de jovens a possibilidade poten-cial de participarem nos Jogos Olímpicos. Pelo seulado, a parte mais fraca de todo o processo que eraTaiwan também não podia ceder na medida em queo tempo já não jogava a seu favor, pelo que os diri-gentes sentiam o tapete a fugir-lhe debaixo dos pés.Assim, só restava a terceira parte do problema, querdizer, a RPC. Na realidade, a RPC, das três entidadesenvolvidas, era aquela que tinha na mão a solução doproblema, na medida em que era a única que, paracomeçar, podia ceder qualquer coisa, desde logo por-que tinha acabado de conseguir uma vitória muitosignificativa ao ser admitida no seio da ONU, paraalém de ter ficado livre dos líderes Mao Zedon eZhou Enlai que, ao cabo de vinte anos de discussõese disputas inúteis, eram as principais dificuldades àresolução da questão. De facto, ao tempo de MaoZedon e Zhou Enlai, a questão das “duas Chinas”era praticamente insolúvel na medida em que os

líderes da RPC tinham radicalizado a sua posição detal maneira que, dificilmente, podiam de lá sair semperderem a face.Com Deng Xiaoping a situação tornou-se radical-mente diferente. A Deng, como ele próprio dizia,não lhe interessava saber se o gato era preto oubranco desde que ele fosse capaz de caçar o rato.lxiii

Quer dizer, não lhe interessava se o regime era capi-talista ou comunista, desde que funcionasse.Portanto, a partir de então, as questões ideológicasdeixaram de ter a importância do passado, tendosido substituídas por um pragmatismo absolutamen-te necessário ao desenvolvimento económico da RPCe este desenvolvimento passava, também, pelomundo do desporto, concretamente pela ambiçãoque os dirigentes chineses há muito acalentavam deorganizar os Jogos Olímpicos. Nestes termos, estavam conseguidas as condiçõesmínimas para se poder novamente voltar a equacio-nar o regresso da RPC ao Movimento Olímpico.

Regresso à família olímpicaDe 14 a 19 de Setembro de 1977, o Presidente doCOI Lord Killanin deslocou-se a Pequim a fim de seencontrar com membros da FAATC e com oMinistro da Cultura Física e do Desporto. Esta visitacalhou num momento em que depois da morte deMao Zedong, Deng Xiaoping ainda não tinha assu-mido verdadeiramente o poder. Segundo Xu Guoqi,30

o Presidente do COI passou em Pequim um tempobem aborrecido, a ser doutrinado sobre o desportona RPC e a questão de Taiwan. Entretanto, na 80ªSessão realizada de 16 a 20 de Maio em Atenas, rela-tivamente ao assunto das “duas Chinas”, Killanineinformou que a RPC continuava a manter a sua posi-ção de só voltar ao Movimento Olímpico depois daexpulsão de Taiwan. Um ano depois, também visitou Taiwan. Depois, nareunião da Comissão Executiva realizada em 25 e 26de Janeiro de 1978 na Tunísia, Killanin relatou que aRPC exigia a expulsão de Taiwan como pré-condiçãopara regressar ao COI. Pelo seu lado, o COI tambémnão podia admitir essa solução drástica na medidaem que era afastar um dos seus membros que, paratodos os efeitos, exercia uma gestão efectiva sobreum território com milhões de cidadãos. Assim, ageneralidade das opiniões ia no sentido de solicitar

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ao CON de Taiwan que mudasse o seu nome. António Samaranch foi membro do COI desde 1966e foi Vice-presidente de 1974 a 1978. Nesta qualida-de, também começou a aparecer no processo das“duas Chinas”. Aliás, ele reivindica para si os lourosde ter resolvido a questão das “duas Chinas”.lxiv Na81ª Sessão do COI realizada de 4 a 7 de Abril emMontevideu, Samaranch teve a oportunidade deesclarecer a sua posição dizendo que era fundamen-tal para o Movimento Olímpico que a questão das“duas Chinas” fosse resolvida, uma vez que a ONUjá tinha reconhecido a RPC e diversas FederaçõesInternacionais já a tinham incluído entre os seusmembros. A sua estratégia era clara: o COI convida-va Taiwan a mudar de nome, como se sabia queTaiwan não mudaria, o COI votava a sua expulsão oususpensão e estava o problema resolvido. (Liang,Lijuan, 2007:150).32 Claro que tal solução colocava oproblema das “duas Chinas” no centro da política epelas piores razões, na medida em que o COI entra-va numa dinâmica em que os fins justificavam osmeios. A solução ia, também, contra tudo aquilo queo COI defendia no que diz respeito a todos os chine-ses terem a possibilidade potencial de participaremnos Jogos. Ora, se Taiwan fosse expulsa do COI, ajuventude de Taiwan deixaria de ter a possibilidadede participar nos Jogos Olímpicos. Não era necessária uma medida tão drástica. Aotempo, se por um lado a RPC se estava a tornar maisflexível, pelo que as autoridades já não defendiamcom tanta convicção a expulsão do CON de Taiwancomo condição para a sua entrada no MovimentoOlímpico, por outro lado, o COI com Killanin, emfinal de mandato, estava a atingir um ponto em quea questão das “duas Chinas” se tinha tornado umassunto de primordial importância. Assim, o proble-ma encaminhava-se para a sua resolução:— Em 1978, a IAAF decidiu readmitir a Federaçãode Atletismo da RPC, muito embora a Federação deAtletismo de Taiwan, como não estava de acordo emser expulsa, tenha movido uma acção contra a IAAFnum tribunal de Inglaterra. A RPC tinha como objec-tivo recuperar rapidamente os lugares que tinhaabandonado nas Federações Internacionais;— Em 1 de Janeiro de 1979, os EUA e a RPC reco-nheceram-se reciprocamente e estabeleceram relaçõesdiplomáticas formais entre si, para além de terem

acordado entre si que Taiwan fazia parte da China;— Em Fevereiro de 1979 as autoridades da RPC dei-xaram de se referir às autoridades de Taiwan com a“clique de Chiang” e passaram a tratá-las como“autoridades de Taiwan”. Ora, isto era uma mudançade atitude absolutamente fundamental para a resolu-ção do problema; (Liang, Lijuan, 2007:157-158).32

— O COI envolveu alguns membros da ComissãoExecutiva em visitas à RPC e a Taiwan, a fim demelhor se identificarem com a questão;— A própria revisão da Carta Olímpica (1978), insti-tuiu uma nova perspectiva relativamente à palavrapaís. País passou a ser entendido como qualquerpaís, Estado, território ou parte de território. Depois, a partir do estabelecimento de relações entreos EUA e a RPC, as mais diversas entidades e orga-nizações começaram a pressionar para que o proble-ma das “duas Chinas” fosse resolvido o mais depres-sa possível.Ainda na 81ª Sessão do COI, He Zhenliang emrepresentação do RPC abriu uma oportunidade paraa resolução do problema ao colocá-lo nos seguintestermos: “De acordo com a Carta Olímpica somente umComité Olímpico Chinês deve ser reconhecido. No respeitodo direito de oportunidade dos atletas de Taiwan participa-rem nos Jogos Olímpicos o desporto em Taiwan pode passara funcionar como uma organização local chinesa e conti-nuar ligada ao Movimento Olímpico, sob o nome de ComitéOlímpico Chinês de Taipé. Contudo, o seu hino, bandeira eestatuto devem mudar.” (Pei, Dongguang:27)78

Estava finalmente dado o primeiro grande passo paraque uma solução pudesse ser encontrada. De facto, aRPC alterou a sua posição, passando, em determina-das condições, a aceitar a coexistência com Taiwan.De acordo com Dongguang Pei78 esta foi, também, aprimeira vez que as autoridades chinesas mostraramalguma abertura para CON de Taiwan incluir a pala-vra China no seu nome. Assim, o COI, sob a presidência de Killanin, acaboupor concluir um processo moroso e complicado mas,acerca do qual não estava isento de culpas. Em 25 deOutubro de 1979, numa reunião da ComissãoExecutiva do COI realizada em Nagóia no Japão, aRPC aderiu novamente ao COI. O CON da RPCficou reconhecida no COI como Comité OlímpicoChinês (COC), enquanto que o Comité Olímpico deTaiwan passou a ser designado por Comité Olímpico

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Chinês de Taipé. Quer dizer, foi encontrada a soluçãoque há muito podia ter sido encontrada.

Regresso à competição sériaO regresso ao Movimento Olímpico obrigou a RPC aalterar completamente a sua ideologia em matéria dedesporto. Já não se tratava somente de ver a bandei-ra chinesa desfraldada na Aldeia Olímpica entre asdemais bandeiras nacionais, como referia LiangLijuan (2007)36 relativamente aos Jogos deHelsínquia (1952). O problema, passou a ser o daobtenção de resultados desportivos capazes dedemonstrar que a RPC já não era mais aquele paísagrícola, pobre e atrasado que a Revolução Culturalpassou para o mundo. Na realidade, o desporto na RPC deixou de ter qual-quer relação com aquilo que se passava ao tempo daRevolução Cultural em que os ideólogos do regime,na linha do que se tinha passado na URSS vinte anosantes, ensaiaram construir um desporto não compe-titivo, absolutamente subordinado aos ditames dosinteresses do Partido. Agora, segundo Liu Hong Bin,director da escola de desporto Shi Cha Hai: “O treino é deliberadamente duro a fim de melhor fortale-cer as crianças.” E acrescentou: “Existe um provérbio chinês que diz que se encontra felici-dade no sofrimento. As crianças podem encontrar felicidadeno treino duro.”lxv

Hoje, a RPC ultrapassou a anacrónica visão de umdesporto não competitivo dos tempos da RevoluçãoCultural. O embaraço é que, em nome doOlimpismo ao serviço da economia, está a cair noextremo oposto. Muito provavelmente, a voltar aosvalores preconizados por Mao Zedon quando em1917 escreveu o livro “Um Estudo de EducaçãoFísica”, aonde preconizava que “o principal desígnioda educação física era o heroísmo militar.” Por isso,a situação hoje na China é preocupante. Aindasegundo Liu Hong Bin: “Alguns pais, dizem aos nossos treinadores que podembater nos seus filhos: se a criança não se comportar bem,por favor, bata nela”lxvi

A grandiosidade dos Jogos de Pequim, em nome doOlimpismo, ficará marcada por diversos estigmassociais, desde os anacrónicos sistemas de ensino ede treino relatados no filme de Chao Gan “The Red

Race”,lxvii até à deslocação de populações sem quais-quer compensações, passando pelos obscenos gastosem instalações desportivas. O Movimento Olímpico e os seus dirigentes nãopodem olhar para esta situação dizendo que o des-porto nada tem a ver com a política sob pena denegarem os princípios e os valores do próprioOlimpismo que, em quaisquer circunstâncias, deveestar ao serviço do desenvolvimento humano e dacelebração da humanidade. Este é o grande estigma que marcará para sempre oMovimento Olímpico, a menos que os Jogos dePequim acabem por ser, como temos esperança queo venham a ser, o catalisador das mudanças necessá-rias e urgentes de que a Grande China e o desportonecessitam. Por mais que alguns dirigentes desporti-vos insistam que o desporto nada tem a ver com apolítica.

A China e os Jogos OlímpicosA organização dos Jogos Olímpicos de Pequim era umsonho chinês com cem anos de idade. Como refereSusan Brownell (2007)23 o desejo dos chineses orga-nizarem os Jogos Olímpicos era tão velho quanto ahistória do Olimpismo moderno. Em 1907, a YMCAdesenvolveu um programa de educação física quecomeçava por colocar três questões fundamentais:— Quando é que a China será capaz de enviar atletasvencedores aos Jogos Olímpicos?— Quando é que a China será capaz de enviar equi-pas vencedoras aos Jogos Olímpicos?— Quando é que a China será capaz de organizar osJogos Olímpicos convidando o mundo para se deslo-car a Pequim para neles participar?A China enviou pela primeira vez atletas aos Jogosde Los Angeles em 1932. A RPC mandou pela pri-meira vez atletas ganhadores aos Jogos Olímpicosem Los Angeles (1984) – Jogos da Olimpíada.Finalmente, a RPC organizou os seus primeirosJogos Olímpicos em Pequim em Agosto de 2008.Nesta conformidade, a China levou cem anos a cum-prir o seu sonho olímpico. Quanto à organização dos Jogos, a RPC apresentou aprimeira candidatura em 1993 quando se propôssediar os Jogos da XXVII Olimpíada. Acabou por serprejudicada devido fundamentalmente aos trágicosacontecimentos da Praça Tiananmen em 1989.

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Depois, acabou por vencer a candidatura à organiza-ção dos Jogos da XXIX Olimpíada, tendo o Governochinês prometido uma abertura do regime, umamaior liberdade de imprensa e um maior respeitopelos Direitos Humanos.

ConclusãoA diplomacia do ping-pong, desencadeada por MaoZedong, foi o primeiro passo estratégico que condu-ziu a RPC de volta ao Movimento Olímpico interna-cional. Todavia, Mao não o fez pela causa desportiva.Fê-lo porque, ao tempo, interessava-lhe aproximar-se dos EUA a fim de se libertar da URSS. Depois,com a morte de Zhou Enlai e Mao Zedong aRevolução Cultural atingiu o seu término. ComDeng Xiaoping ser rico passou a ser glorioso, peloque a RPC abriu as portas ao capitalismo e, em con-sequência, a um desporto diferente do modelo nãocompetitivo da Revolução Cultural. A um desportoque conduziu a RPC ao grande êxito que foi a orga-nização dos Jogos de Pequim.

CONCLUSÕESMuito embora Jiang Yu, a porta-voz do Ministério dosNegócios Estrangeiros da RPC tenha pedido a JacquesRogge para manter o desporto afastado da política, oque é facto é que podemos concluir que desde sempreo RPC utilizou o desporto como instrumento da suapolítica. Os Jogos Olímpicos de Pequim, se do pontode vista externo foram um poderoso instrumento deafirmação da China no mundo, o que lhe permitiujustamente assumir a sua velha força cultural e econó-mica anterior ao século XIX, do ponto de vista inter-no, foram uma oportunidade para as autoridades pro-moverem, à custa do desporto e da representaçãonacional, um certo nacionalismo com o objectivo demanter o país unido. Contudo, as autoridades chinesas sabem que umamoeda tem duas faces. Se do ponto de vista externoa afirmação da China no mundo está a ser um focode preocupações de muitos países ocidentais quevêem as suas economias ameaçadas pelos baixossalários e regime de segurança social praticados, doponto de vista interno, o tipo de mobilização nacio-nalista em curso, pode fazer percutir o tiro pela cula-tra. Aquando das manifestações de Londres e deParis, a pretexto da passagem da Tocha Olímpica, se

começaram a organizar contra manifestações espon-tâneas de cidadãos chineses no estrangeiro em defe-sa das posições da RPC, as autoridades de Pequimapressaram-se a desmobilizar as referidas manifesta-ções com receio de que as mesmas fossem longedemais e pudessem contagiar o interior da própriaRPC. Na realidade, acções deste tipo, como explicaEric Hoffer (1989)lxviii, têm o condão de, de ummomento para o outro, sem que se perceba muitobem porquê, “ virarem o feitiço contra o feiticeiro”. Muitos dirigentes desportivos, apesar de todas asevidências, hão-de continuar a afirmar que o despor-to nada tem a ver com a política. Hoje, é possívelcompreender que tal afirmação não tem qualquersignificado. Nas palavras de Georges Magnane(1964),lxix o desporto em si não é progressivo nemregressivo, como todos os factos sociais é uma cria-ção perpétua dos homens que o praticam e organi-zam. Em conformidade, os homens são, por sua vez,transformados pelo próprio desporto e também otransformam. É nesta perspectiva, que entendemosque o desporto, para além de ser uma questão ideo-lógica, muito embora os políticos não lhe prestematenção até ao momento em que surgem problemas,ele próprio, pelas atitudes políticas a que obriga osgovernantes a assumir, é um agente provocador deideologia. Quer dizer, as opções em matéria de des-porto podem e devem ser objecto de confronto ideo-lógico, sob pena do desporto em termos sociais nãoservir a não ser para alienar as massas ao serviço dopoder vigente, seja ele qual for.De toda a questão das “duas Chinas” é possível tiraralgumas lições para o futuro. Foram demasiados oserros cometidos por todas as partes envolvidas, aolongo de mais de vinte anos, erros esses que se tradu-ziram em desilusões e sofrimento para muita gente. — A aceitação por parte do COI da mudança de resi-dência do Comité Olímpico Nacional Chinês paraTaipé após 1949;— A aceitação por parte do COI da participação daRPC nos Jogos de Helsínquia, quando ainda nãoexistia um CON no país;— A arrogância da RPC impondo ao COI os seus qua-dros políticos, ignorando que o Prof. Shou Yi Tngmembro do COI ficara a viver na RPC, pelo que pode-ria ter tirado partido dele de uma forma positiva emvez de o massacrar em disputas com Avery Brundage;

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— As autoridades de Taiwan também não souberamutilizar os dois membros chineses do COI quetinham aderido à China Nacionalista;— Tanto a RPC como Taiwan ignoraram que osmembros do COI eram representantes do COI naChina e não representantes da China no COI;— A ignorância total da RPC em matéria da organi-zação Olímpica, tentando impor as suas decisõescom violência e nenhuma elegância, a partir dosrepresentantes políticos;— A arrogância de Avery Brundage que sempre teveum comportamento favorável à China Nacionalistaem prejuízo da RPC. Com o boicote a Moscovo (1980), por paradoxal quepossa parecer, a RPC acabou por só voltar a partici-par nos Jogos de Inverno Lake Placid (1980), e,depois, nos Jogos da XXIII Olimpíada em LosAngeles (1984), aos quais compareceu com 353 ele-mentos dos quais 224 atletas. A RPC ficou em quar-to lugar com 15 medalhas de ouro num total de 32.Entretanto, a cooperação entre a China e o COIparece ter entrado num novo período. Em 1981, HeZhenliang, que em 1952 com 22 anos de idade, aoserviço do Partido, tinha ido a Helsínquia fazer de“intérprete” ao Prof. Shou He Tung, foi eleito mem-bro do COI. Em 1985 foi eleito membro ComitéExecutivo e em 1989, vice-Presidente COI. Depoisfoi o grande responsável pelas duas candidaturas dePequim ao Jogos Olímpico. Como dos heróis não reza a história, para nós, ogrande herói de todo este processo, foi sem sombrade dúvida o Prof. Shou Yi Tung que foi sacrificadopor uma causa inútil sem que, pelo menos aparente-mente, as autoridades chinesas o tenham reconheci-do. Infelizmente, o Prof. Shou Yi Tung morreu em1978 aos 83 anos, um ano antes de poder ver aChina reentrar no Movimento Olímpico. Hoje, o problema das “duas Chinas” continua porresolver, contudo, agora, existe uma “química har-moniosa” entre Pequim e Taipé. O Olimpismo, comomuito provavelmente dirá Jacques Rogge, foi o cata-lizador para que aquela “reacção química” harmonio-sa fosse possível. Como afirmou Melo de Carvalho (2000),lxx a crisedo Olimpismo encontra-se encerrada em duas ques-tões fundamentais. Por um lado, uma comercializa-ção sem fronteiras, por outro, um falso discurso que

procura escamotear a realidade da situação. E conti-nuou dizendo que enquanto a estrutura doMovimento Olímpico é cada vez mais poderosa, oIdeal Olímpico tem vindo a caminhar progressiva-mente para a sua fragilização. E, dizemos nós, quan-do os princípios e os valores deixam de comandar odesporto, este transforma-se numa actividade dealienação de massas à margem do desenvolvimentohumano.Contudo, o mundo está a mudar a uma velocidademuito maior do que aquela que a generalidade daspessoas é capaz de se aperceber. As condições emque hoje o COI opera, são bem diferentes daquelasem que funcionava há oito ou dez anos. O que acon-teceu de radical foi que, entretanto, a internet tomouconta do mundo e estabeleceu uma rede de relaçõesvirtuais entre milhões de pessoas, absolutamenteinimaginável ainda há meia dúzia de anos. Ora, estefacto está a transformar a maneira como o sistemadesportivo mundial funciona. Hoje, estão a surgirdiversas comunidades interessadas no fenómenodesportivo que interagem na rede, como ainda hámeia dúzia de anos não era possível. Pelo seu lado, oCOI está presente na internet com um “site” quefornece informação em tempo real acerca daquiloque está a acontecer no Movimento Olímpico acei-tando deste modo expor-se de uma maneira absolu-tamente inimaginável ainda há meia dúzia de anos.A sociedade da comunicação em rede coloca as maisdiversas organizações e os respectivos líderes debai-xo dos olhares do mundo. Qualquer assunto, de ummomento para o outro, pode assumir um “efeito deborboleta” e passar a estar nas bocas do mundo. Emconsequência, o desporto está a funcionar cada vezmais a partir de redes de organizações que estabele-cem entre si relações fluidas e mutáveis de interes-ses, com diferentes graus de formalidade. Nesta con-formidade, deixa de fazer qualquer sentido que algu-mas organizações reivindiquem para si o vértice dapirâmide. Na realidade, a pirâmide já não existe.Haverá eventualmente muitas pirâmides em interac-ção. Quando muito, as redes funcionam em torno deuma multinacional, na base de alianças e cooperação. Está claro que num mundo em rede, a pirâmideorganizacional da civilização industrial está a deixarde ter o sentido e a importância de outrora. Assim, osistema desportivo mundial começa a funcionar com

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uma descentralização extrema e um alto padrão deflexibilidade que permitem um ajustamento emtempo real às novas realidades e provocações que, atodo o momento e de todos os lados, surgem. O sis-tema transcende fronteiras, identidades e interessescorporativos ou nacionais. Hoje, a FIFA e a UEFA,com frequência, pretendem intervir nos Estadosnacionais. Por sua vez, redes de Estados nacionais,como é o caso da União Europeia (EU), tambémfazem vingar as suas opiniões junto das organizaçõessupranacionais.lxxi

Constata-se ainda que o sistema está a evoluir deorganizações multinacionais para redes internacio-nais à medida que o processo de globalização sedesenvolve. Em consequência, o COI está a deixar deser uma organização transnacional de representaçãomítica, em que a sua imagem foi construída embenefício próprio a partir de uma ideia de Pierre deCoubertin e dos seus amigos, para passar a ser umaorganização internacional a funcionar em redes maisou menos formais, mas cada vez mais descentraliza-das. Por isso, a democraticidade do seu funciona-mento é uma questão que, mais dia, menos dia, sal-tará para a discussão na rede.Note-se que, e este é um dos principais problemasdo COI e do próprio Jacques Rogge, o ponto fracodeste tipo de redes reside na sua incapacidade paraprocessar grandes transformações que exijam acor-dos alargados. Nestes termos, não vale a pena pensarem mudar muito de uma só vez, como o pretendemas ONGs que pressionam o COI para desencadeargrandes mudanças, mas idealizar estratégias paramudar muitas vezes ao longo do tempo. Para queisto seja possível, a rede tem de viver uma cultura demudança que lhe é dada fundamentalmente pelo seugrau de educação e este leva tempo a consolidar.Estamos a viver tempos de mudança que já não secompadecem com discursos fechados, corporativos esem sentido global, na medida em que já nada têm aver com o mundo e o desporto à escala em que vive-mos. Até porque, como refere Manuel Castells(2000),lxxii a lógica da rede é mais poderosa do que alógica dos poderes dentro da rede. Nesta perspectiva,só agora é que o COI começa a ter força para proces-sar as mudanças há muito necessárias, na medida emque haverá sempre elementos da rede a fazerem todoo tipo de pressão sobre a própria rede. Porque o COI

estava prisioneiro do próprio COI. Jacques Roggeveio alterar este status quo. Entenda-se que a pressãosobre o COI só pode ser portadora de futuro.Contudo, na dialéctica de confronto de ideias numaestrutura em rede, alguns dos seus membros serãosempre mais iguais dos que os outros. Não se deveestranhar tal situação. De uma maneira geral, asrelações de interdependência tendem a ser assimétri-cas. Como refere Melo de Carvalho, o fosso entre ospaíses ricos e os 3º e 4º Mundos, alarga-se produzin-do injustiças globais à escala do Planeta. Todavia, adenúncia sistemática e permanente dessas injustiçaspassou a fazer parte da rede e o COI já não pode pre-tender viver à margem delas, quer dizer, noutromundo. Nestes termos, a gestão da incerteza é defundamental importância no perfil de capacidades ecompetências daqueles que pretendem interagir narede. Mas, a única solução para gerir surpresas éresolver a montante os problemas que lhes dão ori-gem. No entanto, também se sabe que a incertezaagrava-se tanto mais quanto a dinâmica das relaçõesinternacionais deixou de ser analisada em exclusivoa partir do Estado. Hoje, são múltiplas as ONGs queinteragem no sistema exercendo sobre ele enormespressões através de redes formais e informais deinformação que, paradoxalmente, está a criar umnovo padrão de desenvolvimento que há-de organi-zar a sociedade do conhecimento.Nesta perspectiva, o desporto é assumido como uminstrumento de desenvolvimento humano pelo quedeve voltar a ser considerado como ao tempo deCoubertin, quer dizer, como uma ferramenta de“soft-diplomacia”, ao serviço das relações internacio-nais. Sempre que tal acontece, podemos dizer que odesporto está integrado numa dinâmica do chamado“soft power” que, ao longo da história do século XX,aconteceu por diversas vezes e em várias circunstân-cias, umas com êxito, outras sem qualquer êxito. Porexemplo, aconteceu com êxito em 1971 em plenaRevolução Culturallxxiii com a abertura da China aomundo através da política do ping-pong desencadea-da por Mao Zedong. A política do ping-pong acaboupor ser bem mais eficaz do que o chamado “hardpower” e da diplomacia de confronto de forças entreos dois países. Aconteceu sem qualquer êxito nosJogos de Montreal (1976) quando vários países afri-canos protestaram contra o facto da equipa de râgue-

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bi da Nova Zelândia ter feito uma digressão pelaÁfrica do Sul, furando o boicote desportivo em vigor.Os países africanos recusavam-se a participar nosJogos a menos que a equipa da Nova Zelândia fosseafastada. O COI, em virtude do râguebi não ser umamodalidade olímpica, tentou ignorar a questão. Emconsequência, a 48 horas do início dos Jogos, 30 paí-ses e cerca de 1000 atletas abandonaram Montreal. Entretanto, a atribuiu a realização dos Jogos daXXIX Olimpíada à cidade de Pequim, veio trazeruma nova dinâmica política e social ao Olimpismomoderno que tem vindo a estabelecer um corte como “discurso de avestruz”, quer dizer, a diplomacia dosilêncio desencadeado nos anos cinquenta por AveryBrundage, com a máxima de que “o desporto nadatem a ver com a política”. Hoje, este tipo de discur-so, embora muitos dirigentes, como vimos anterior-mente, ainda o queiram manter, está condenado aofracasso na medida em que as estruturas de autori-dade em linha estão cada vez mais desajustadas àdinâmica informacional/global e, como a questão das“duas Chinas” demonstra cabalmente, está, sempreesteve completamente desfasado da realidade. Omundo das organizações desportivas, deste modo,tem de se adaptar a um novo modelo organizacionala funcionar em rede, em alternativa ao modelo neo-clássico de forma piramidal do passado.Na perspectiva de Castells, a globalização e a infor-macionalização estão estruturalmente relacionadascom o funcionamento em rede e a flexibilidade. Asorganizações desportivas começaram a funcionarnuma teia de redes múltiplas que fazem parte deuma grande diversidade de contextos institucionais.Perante este quadro, em que o poder muitas vezes éexercido de uma forma aleatória, o COI foi levadoatravés de Jacques Rogge a protagonizar um discursonovo que, pelo menos aparentemente, começa acolocar novamente os valores da ideologia Olímpicano centro do desenvolvimento do MovimentoOlímpico. Com este novo posicionamento, o COI:— Promove os seus próprios valores sem o cinismodo passado;— Atrai a simpatia das pessoas e das organizações,através das suas atitudes claras;— Torna-se uma instituição geradora de desenvolvi-mento e progresso aos olhos da comunidade mun-dial.

O mundo está a viver a uma velocidade vertiginosa,a viver um tempo complexo, de enorme precariedadeassociado a grandes transformações. Contudo, avelocidade imprimida à vida pela civilização pós-ndustrial dificulta à generalidade das pessoas a tarefade compreender o tempo em que vivem. Apesar detudo as coisas estão a mudar. Quando Jiang Yu,porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiroschinês, pediu aos membros do COI para respeitaremo espírito da Carta Olímpica, ela sabia certamente doque estava a falar. Claro que, Jacques Rogge, tambémsabia do que falava, quando pediu à RPC para respei-tar os compromissos assumidos quanto ao exercíciodos direitos humanos na China.

NOTASI Olimpíada: Segundo a Regra Seis nº 2 da Carta Olímpica “osJogos Olímpicos são os Jogos da Olimpíada e os Jogos Olímpicosde Inverno.” Com a Carta Olímpica que entrou em vigor em 1 deSetembro de 2004 deixou de existir o conceito de JogosOlímpicos de Verão que até então determinavam o período daOlimpíada. Agora, segundo o Texto de Aplicação à Regra Seis,“uma Olimpíada é um período de quatro anos civis consecutivosque começa no primeiro de Janeiro do primeiro ano e terminaem 31 de Dezembro do quarto ano.” As Olimpíadas contam-se apartir dos primeiros Jogos da Olimpíada celebradas em Atenasem 1896. “A XXIX Olimpíada começa em 1 de Janeiro de 2008.Os Jogos da XXIX Olimpíada serão realizados em Pequim. Destemodo, as Olimpíadas deixam de estar associadas exclusivamenteaos Jogos Olímpicos que se realizam no Verão.II A Matriz BCG (Boston Consulting Group) é um modelo utili-zado para análise do ciclo de vida do produto. No ciclo da VacaLeiteira, os lucros encontram-se no apogeu.III Quando Pierre de Coubertin (1863-1837), em finais do séculoXIX, fundou o COI e institucionalizou os Jogos Olímpicos daera moderna não podia de maneira nenhuma fugir à realidadeeconómica social e política do seu tempo. Coubertin era umpedagogo, sobre isto não existem quaisquer dúvidas, contudo,para ele, a pedagogia era um instrumento da política. Coubertindefendia que: “Para que ele (o desporto) se torne um adjuvantedirecto, é necessário que se lhe atribua um objectivo reflectidode solidariedade que o eleve acima dele mesmo.” E este é umdos grandes equívocos dos seus detractores. Na realidadeCoubertin entendia o desporto para além do próprio desporto, efoi nesta perspectiva que em 1894 se lançou àquilo a que elepróprio designou como “a conquista da Grécia”. Ao tempo, oque estava em causa era a organização dos Jogos de Atenas em1896, contudo, como podemos apreciar nas suas “MemóriasOlímpicas”, até ao último combate da sua vida que foi a defesada realização dos Jogos de Berlim em 1936, nunca Coubertindeixou de utilizar o desporto como um instrumento político aoserviço do Olimpismo e do desenvolvimento humano. Pode tererrado mas, quando o fez, fê-lo com a convicção das suas ideiase à margem de muita hipocrisia que mais tarde veio a envolveras questões do Olimpismo e do próprio desporto. IV Para fundamentar a sua expressão de que o desporto nada

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tinha a ver com a política, Brundage afirmava: “Se aceitamosque num mundo imperfeito como o nosso, se deixe de praticardesporto, cada vez que as leis humanas são violadas, nuncahaverá competições internacionais.” In: Brundage, Avery(1973). Memórias. Madrid, Instituto Nacional de EducaciónFísica, p.260.V A 7 de Agosto de 2007, precisamente um ano antes da ceri-mónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, JacquesRogge publicou um artigo de opinião no Herald Tribune aondeafirmava: “ O Movimento Olímpico não existe no vácuo. O des-porto faz parte da sociedade.” E continuou: “É natural queorganizações como as dos direitos humanos e outras coloquemas suas causas sob a luz que os Jogos olímpicos estão a colocarna China a fim de chamarem a atenção para as causas queadvogam. Contudo, os Jogos só podem ser um catalizador demudança e não uma panaceia.”VI A Amnistia Internacional tem exercido pressão sobre os maisdiversos CONs por esse mundo fora. Teresa Nogueira, da sec-ção portuguesa da Amnistia Internacional, criticou o facto de asua organização não ter sido recebida pelo Comité Olímpico dePortugal. (In: TSF on line, 02/4/2008.VII In: Lusa, 29/7/2008.VIII Conferir: Pulido, Valente, Vasco (1988). A Feira dosHorrores. In: “O Independente”, 7 de Outubro de 1988.IX A este respeito ver “The Red Race”, um filme de Chao Ganque mostra os exageros físicos e emocionais da alta competi-ção. Mostra a tortura e a humilhação a que são submetidascrianças chinesas às mãos dos seus treinadores. Entra-se nodomínio da exploração do trabalho infantil e do desrespeitopelos Direitos do Homem.X A decisão sobre a cidade organizadora é realizada com seteanos de antecedência, depois de um processo longo e sofistica-do que pode ser consultado no SITE do COI. XI In: Newsweek, 6/10/2008. Entrevista de Zakaria Fareed aoPrimeiro-Ministro Chinês Jiabao.http://www.newsweek.com/id/161410/page/1XII Vieira, Flávio, Vilela (2006). China: Crescimento Económicode Longo Prazo. In: “Revista de Economia Política”, vol.26 nº.3,São Paulo Julho/Set. 2006.XIII In: Textos aprovados pelo Parlamento - Edição provisória :05/07/2001 - Candidatura de Pequim aos Jogos Olímpicos de2008 - B5-0487, 0498, 0505 e 0524/2001. In:www.europarl.europa.euXIV In: Público, 20/03/2008.XV In: CRI – Rádio Internacional da China.http://portuguese.cri.cn/183/2008/10/06/1s96779.htm XVI Conferir: Pires, Gustavo & Correia, José, Pinto (2006). OsJogos da Lusofonia na Geoestratégia da China. In: http://forumo-limpico.org/?q=node/275XVII Lusa em Macau, 09/10/2006.http://esporte.uol.com.br/outros/ultimas /2006/10/09XVIII In: http://www.sportmarketing.com.br/search?q=terracotta XIX In: http://www.marxists.org/reference/archive/mao/selec-ted-works/index.htmXX Conferir: Morris, Andrew (2008) How Could AnyoneRespect Us?: A Century of Olympic Consciousness andNational Anxiety in China. In: The Brown Journal of WorldAffairs, Vol. XIV, Issue II Sping/summer, 25-39.XXI Conferir: Spivak, Marcel (1987). A Política Desportiva daFrente Popular. Lisboa. Direcção-geral dos Desportos. ColDesporto e Sociedade.XXII In: http://www.un.org/apps/news/

XXIII In: Público, 13/4/08.XXIV Conferir: Brownell, Susan (2007). China and the OlympicGames: Body Culture, East and West. Amsterdam School forSocial Science Research, Staffseminar on Body, Society, Politics.XXV In: Olympic Review n. 64 November 1958, p.42.XXVI Conferir: Brundage, Avery (1973). Memórias. Madrid,Instituto Nacional de Educación Física. p 261.XXVII Conferir: Guoqi, Xu (2008). Olympic Dreams – China andSports - 1895-2008. USA: Harvard University Press.XXVIII Conferir: Lennartz, Karl (1995). The Edström Presidency(1942-1952). In: The International Olympic Committee OneHundred Years – The Idea – The Presidents – The Achievements.Lausanne, International Olympic Committee, Vol. II.XXIX In: Olympic Review, nº32, Mars 1952. (p.14). 46ª Sessãodo COI, Oslo, 12-13 Fevereiro de 1952. XXX In: Review Olympic, n. 66-67, Juin 1973, p.171. XXXI In: Review Olympic, n. 66-67, Juin 1973, p.172. Não fazqualquer sentido colocar em termos idênticos as questões raciaisreligiosas e políticas. Têm conteúdos ideológicos diferentes e porisso devem ser tratadas de forma diferente. Desde logo separan-do as políticas que é uma categoria maior das outras, religião eraça, que serão sempre sub-categorias da política.XXXII In: Review Olympic, n. 66-67, Juin 1973, p.172. Esta medi-da não teve qualquer efeito, tanto no momnto, como relativa-mente ao futuro.XXXIII Conferir: Liang, Lijuan (2007). He Zhenliang and China’sOlympic Dream, Pequim, Foreign Languages Press, Tradução:Susan, Brownell, (p.27). Liang Lijuan foi jornalista do “People’sDaily. Participou nas duas candidaturas de Pequim à organiza-ção dos Jogos Olímpicos. Mas a informação mais importante, éa de que Liang Lijuan é casada com He Zhenliang o que confereuma credibilidade muito importante à narrativa acerca de todaa dinâmica do desenvolvimento do desporto na RPC a partir de1949. Esta credibilidade é tanto mais de considerar quanto sepercebe a ingenuidade com que determinados episódio sãorelatados, como, por exemplo, o da viciação de resultados aotempo do Primeiro-ministro Szou Enlai.XXXIV Conferir: Ron Gaotang (1912-2006), foi secretário-geraldo Comité Nacional da Educação Física e Desporto. Foi o pri-meiro chinês a receber a medalha de prata da Ordem Olímpicaque lhe foi atribuída pelo antigo Presidente do COI JuanAntonio Samaranch em 1983, pelos serviços prestados aodesenvolvimento do desporto chinês.XXXV In: Review Olympic, n. 66-67, Juin 1973, p.171.XXXVI Conferir: Lennartz (1973:75) cf.: Liberg, W. (1989). TheIOC Sessions1894-1955. Unpublished manuscript, (p. 289).IOC Archives.XXXVII In: Olympic Review n. 64, November 1958, p.42.XXXVIII Conferir: Schantz, Otto (1995). The Brundage Presidency(1952-1972) In: The International Olympic Committee OneHundred Years – The Idea – The Presidents – The Achievements.Lausanne, International Olympic Committee, Vol. IIXXXIX In: http://en.olympic.cn/XL In: Olympic Review n. 64, November 1958, p.42.XLI Pela Declaração do Cairo, assinada em Dezembro de 1943,os Estados Unidos, o Reino Unido e a China declararam que oJapão devia devolver o nordeste da China, Taiwan e arquipélagoPenghu à China.XLII Declaração de Potsdam - Conferência entre os países vitorio-sos da II Guerra Mundial (Grã-Bretanha, União das RepúblicasSocialistas Soviéticas, EUA) ocorrida em Potsdam, Alemanha(perto de Berlim), entre 17 de Julho e 2 de Agosto de 1945 que,

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entre outros assuntos, ultimou os termos de capitulação incondi-cional do Japão. Tendo o Japão recusado foram lançadas bombasatómicas em Hiroshima e Nagasaki a 6 e 9 de Agosto de 1945. ADeclaração de Porsdam diz concretamente: “The terms of theCairo Declaration shall be carried out and Japanese sovereigntyshall be limited to the islands of Honshu, Hokkaido, Kyushu,Shikoku and such minor islands as we determine.”XLIII Conferir: Bouet, Michel (1968). Signification du Sport.Paris: Ed. Universitaires.XLIV O que aconteceu foi que a RPC conseguiu manobrar nosbastidores de modo a que a República da China (Taiwan) nãoparticipasse nos IVºs Jogos Asiáticos porque os vistos de entra-da na indonésia nunca lhes chegaram às mãos. (Conferir:Liang, Lijuan (2007). Ibidem, p.82-83. Em matéria de utiliza-ção do desporto pela política, a RPC nunca “brincou em servi-ço”. Sempre colocou o desporto ao serviço da política. Só que ofez de uma forma clara e leal, enquanto que outros o fizeramde forma encoberta e muita hipocrisia.XLV Conferir: Hoberman, John (1984). Sport and PoliticalIdeology, USA: University of Texas Press.XLVI In: http://www.napavalleyregister.com/arti-cles/2005/10/30/business/ap/iq_3142979.txt XLVII Games of the New Emerging Forces (GANEFO). XLVIII A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tambémmandou atletas aos Jogos. Contudo para não comprometer aorganização enviou atletas de segunda categoria. O desporto aoserviço da política. E bem.XLIX É nesta perspectiva que vemos a realização dos Jogos daLusofonia que tiveram a sua primeira edição em 2007 emMacau aonde se gastaram cerca de 7 milhões de euros numdesperdício a todos os títulos condenável. Os Jogos daLusofonia avançaram por interesse dos chineses que levaram areboque o nosso atávico provincianismo que, no fundo, justificao subdesenvolvimento relativo do país. Os segundos Jogos daLusofonia estão previstos para serem realizados em Portugal noano de 2009 a menos que alguém com um mínimo de bom-senso e sentido do interesse público seja capaz de os travar.L O problema é que a visão marxista que entendia a prática des-portiva como uma actividade lúdica, não competitiva em que asmodalidades individuais eram estigmatizadas em função docolectivo das modalidades de equipa, provocou não só devasta-dores efeitos na China como em diversos países da Europa. Porexemplo, em França, os ideólogos da designada “nova esquer-da”, cuja figura mais proeminente foi Jean-Marie Brohm, acom-panhado por, entre outros, Genette Berthaud, FrançoisGantheret e Pierre Laguillaumie, espalharam através do traba-lho colectivo “Sport, Culture & Répression” publicado na“Partisans”, aquilo a que chamavam “uma crítica fundamentaldo desporto”, que acabou por dar expressão a uma linha depensamento que se traduziu numa prática desportiva pretensa-mente higiénica, ilusoriamente pedagógica e mediocrementecompetitiva, que acabou por ser expressa nos programas de“Educação Física”, de diversos países entre os quais Portugal,com efeitos devastadores na organização do desporto não só noSistema Educativo como no Desportivo.LI In: Olympic Review, nº 67, August 1959, p.63.LII Guerra-fria é a designação atribuída ao conflito político-ideo-lógico entre os Estados Unidos (EUA), defensores do capitalis-mo, e a União Soviética (URSS), defensora do socialismo.Decorreu entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e aextinção da União Soviética (1991). A guerra era designada de“fria” em virtude de não ter havido confronto entre as suassuper potências.LIII In: Olympic Review n. 68, November 1959, p.35.

LIV In: Olympic Review n. 67, August 1959, p.63.LV In: Olympic Review n. 68, November 1959, p.35.LVI In: Olympic Review n. 67, August 1959, p.88.LVII In: Olympic Review n. 67, August 1959, p.88.LVIII Conferir: Miller, David (1992). Revolution Olímpica –Biografia Olímpica de Juan António Samaranch. Barcelona:Ediciones Península, p.245. Henry Hsu foi eleito na 69ª Sessãodo COI. Depois acabou por se revelar um elemento muito posi-tivo na resolução do problema das “duas Chinas”.LIX In: Olympic Review, nº 67, August 1959, p.75.LX In: http://usinfo.state.gov/journals/itps/0406/ijpp/ping-pong.htmLXI Conferir: Pei, Dongguang (2006). A Question of Names:The Solution to the Two Chinas’ Issue in Modern OlympicHistory: The Final Phase, 1971-1984. In: 8th SymposiumInternational for Olympic research. http://www.la84founda-tion.org/SportsLibrary/ISOR/ISOR2006c.pdfLXII Conferir: J. Saywell (1977). The Olympic Games: CanadianAnnual Review of Politics and Public Affairs for1976. Toronto,University of Toronto.LXIII A Metáfora do “gato branco e do gato preto” é descrita em:Pei, Dongguang (2006). A Question of Names: The Solution tothe Two Chinas’ Issue in Modern Olympic History: The FinalPhase, 1971-1984. In: 8th Symposium International forOlympic research.http://www.la84foundation.org/SportsLibrary/ISOR/ISOR2006c.pdf),a partir de Deng Xiaoping o idealismo foi progressivamentesubstituído pelo realismo.LXIV Conferir: Miller, David (1992). Revolution Olímpica –Biografia Olímpica de Juan António Samaranch. Barcelona:Ediciones Península, p.176 fotos.LXV In: http://news.bbc.co.uk/sport2/hi/tv_and_radio/grands-tand/4467434.stmLXVI In : http://news.bbc.co.uk/sport2/hi/tv_and_radio/grands-tand/4467434.stmLXVII In: http://www.youtube.com/watch?v=XYdetXI3uIsLXVIII Conferir: Hoffer, Eric (1989). The True Believer –Thoughts on the Nature of Mass Movements. New York:Harper & Row.LXIX Conferir: Magnane, George (1964). Sociologie du Sport.Paris: Galimard.LXX Conferir: Carvalho, Melo de (2000). Hipocrisia ou FunçãoHumanista? In: “Avante”, nº 1403, 19 de Outubro e nº 1415,11 de Janeiro de 2001.LXXI A lei Bosman do Tribunal de Justiça da União Europeia per-mitiu que os futebolistas enquanto trabalhadores comunitários,não se vissem impedidos de jogar noutro país da UniãoEuropeia por normas internas da UEFA e das respectivasFederações nacionais de Futebol. LXXII Conferir: Castells, Manuel (2000) A sociedade em Rede –A era da Informação: economia, sociedade e Cultura. Lisboa:Fundação Calouste Gulbenkian. Vol. I.LXXIII A Revolução Cultural da China foi um movimento de mas-sas na RPC ocorrido entre 1966 e 1976, desencadeado porestudantes e trabalhadores, contra a burocracia que tomavaconta do Partido Comunista Chinês. Por exemplo, o grandeobreiro das duas candidaturas da RPC à organização dos JogosOlímpicos e actualmente membro do COI, He Zhenliang, foiapanhado pela “revolução cultural” tendo sido destacado peloPartido para trabalhos na província. Em Novembro de 1969Zhenliang foi enviado pelo Partido para “May 7 Cadre School”na província de Shanxi para reeducação onde ficou durante umano e meio”, Conferir: Liang, Lijuan (2007). Ibidem, p.90.

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Abandono no andebol na Região Autónoma da Madeira

Norberta Fernandes 1Abel Correia 2Ana Maria Abreu 1

1 Universidade da MadeiraPortugal

2 Faculdade de Motricidade HumanaUniversidade Técnica de LisboaPortugal

RESUMOEsta investigação pretendeu estudar o abandono desportivo noandebol na ilha da Madeira. Os atletas inscritos pela primeiravez na Federação, no período entre 1995 e 2004, constituíram aamostra, com dimensão 4721. Desta, extraímos uma sub-amos-tra, formada pelas raparigas que iniciaram a modalidade entreos 10 e os 14 anos e pelos rapazes que iniciaram entre os 10 eos 15, num total de 2293 atletas. Foram aplicados questioná-rios a atletas no activo e àqueles que tinham abandonado, per-fazendo 230 atletas. No domínio metodológico, foram calcula-das taxas de abandono para a amostra e sub-amostra tendo emconta a idade de entrada, o género, o número de épocas e aidade de abandono. Na análise dos questionários, efectuou-se oteste de Pearson para detectar diferenças entre os dois grupos.Os resultados do estudo indicaram que a taxa de abandonosobe à medida que aumenta a idade de entrada dos atletas. Apercentagem de abandono nas primeiras épocas é tanto maiorquanto maior for a idade de entrada dos mesmos. A principalconclusão resultante dos questionários apontou no sentido deos atletas que estavam no activo serem mais comprometidoscom o andebol do que aqueles que já tinham abandonado.

Palavras-chave: abandono, andebol, compromisso.

ABSTRACTDrop-out of handball in the Madeira Autonomous Region

This investigation has the purpose of study the dropout in the handballin Madeira Island. A sample of 4721 athletes was collected from thefederation, between 1995 and 2004. We worked with a sub-sample,with girls that started practice handball between the ages of 10 and 14years old and with boys that started between 10 and 15, in a total of2293 athletes. The questionnaires were applied to athletes in the activeand to those who dropped out, in a total of 230. In the methodologicaldomain we calculated the average rates of dropout for the sample andsub-sample considering the starting age, the gender, the number of sea-sons and the age of dropout. Analysing the questionairy, we used thetest of “Pearson” to detect the differences between the two groups. Theresults of the study showed that the median rate of dropout by seasonincreases along side with the starting age of the athletes. Similarly thedropout percentages during the first season are bigger if the startingage is higher. The main results of the questionnaires analysis show thatthe athletes that were active were more involved with handball thanthe athletes who have dropped out.

Key-words: dropout, handball, commitment.

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INTRODUÇÃOEste estudo visa compreender o fenómeno do aban-dono desportivo no andebol na Região Autónoma daMadeira, usando os postulados da teoria do inter-câmbio social.A teoria do intercâmbio social(13) começa com a con-cepção de que o comportamento humano é governadoprimeiramente pelo desejo de maximizar as experiên-cias positivas e minimizar as experiências negativas.Nesta perspectiva, as pessoas participam em relaçõese actividades somente enquanto os resultados de par-ticipação são suficientemente favoráveis. O favoritis-mo é determinado pelo balanço entre os benefícios eos custos. Na maioria dos modelos, a análise dos cus-tos/benefícios é expressa por uma variável atractiva,como satisfação(8, 9) ou divertimento(11).De acordo com Thibaut e Kelley(13), a decisão de man-ter-se numa relação ou numa actividade não é baseadasomente no balanço entre os benefícios e os custos. Adecisão de persistir ou abandonar também depende davisibilidade e da atracção pelas alternativas.Consequentemente, alguém pode escolher continuarenvolvido no desporto, mesmo que os custos excedamos benefícios (recompensas) porque não existemalternativas ou não são acessíveis. No domínio des-portivo, recompensas poderão envolver consequênciastangíveis, como as medalhas, diplomas e outros tro-féus, ou até algumas vezes dinheiro. Mas também sãopsicológicas, como atingir os objectivos desejados.O paradigma do intercâmbio social foi consideradoefectivo na predição do compromisso e permite dis-tinguir entre indivíduos que ficam numa relação ouno trabalho e aqueles que abandonam.Scanlan et al.(11) apresentaram um modelo teóricoespecífico para o desporto – o modelo de compro-misso desportivo – que está centrado em processospsicológicos subjacentes à participação desportiva.Este modelo tem a sua base na psicologia organiza-cional e social.O compromisso é o termo que significa a força moti-vacional por trás da persistência. No domínio des-portivo, Scanlan et al.(11) definem o compromissocomo um constructo psicológico, que representa odesejo para continuar na participação desportiva. Emresumo, o compromisso representa o estado psicoló-gico individual de ligação à sua participação ou umaforça motivacional para continuar envolvido.

O compromisso desportivo pode ser estabelecido emfunção de quatro antecedentes: a análise dos cus-tos/benefícios, feita pelo atleta, da sua experiênciadesportiva; uma atracção ou não pelas alternativasdesportivas; nível de investimento; os sentimentosdo atleta acerca dos constrangimentos sociais.No domínio desportivo, os investimentos são otempo, o esforço e o dinheiro que os indivíduoscolocam directamente no seu envolvimento e quenão pode ser recuperado se desistirem(11). Existe ahipótese de que um grande investimento pessoal irápromover um grande compromisso desportivo.O constrangimento social acentua a pressão socialpara participar, é necessário manter-se na actividadepara agradar os outros(1, 5, 11, 12). Fazendo o transferepara o desporto significa que outros incluem pais,amigos, treinadores e outras pessoas no geral(11). Apesar das inúmeras razões apontadas pelos jovensconducentes à sua participação desportiva,Petlichkoff(6) identificou o divertimento como o prin-cipal motivo pelo qual estes se mantêm envolvidosnas actividades ou a abandonam.Contudo, embora crianças e adolescentes possamargumentar que a razão da participação em activida-des desportivas é o divertimento, este pode não ter omesmo significado para ambos. Para uma criançapode ter um significado relacionado com os aspectosdo envolvimento desportivo e do próprio jogo,enquanto que para um adolescente pode ser conecta-do com a excitação competitiva(2). Uma revisão de literatura sobre a motivação emjovens atletas definiram como fontes de divertimen-to 6 dimensões, nomeadamente, competência, auto-nomia, relação com os outros, progresso, apoio dotreinador e jogar muito tempo. Estas dimensõesforam consideradas preditoras da satisfação dadapelo andebol. Como tal, também foram utilizadasneste estudo para definir divertimento no modelo docompromisso desportivo.Burton(3) menciona que as percentagens de abando-no desportivo poderão eventualmente ser interpreta-das de um modo optimista ou pessimista. Na pri-meira perspectiva, refere que o abandono desportivofaz necessariamente parte da natureza dos jovens eadolescentes que, pelo método experimental da ten-tativa e erro, procuram encontrar a actividade quemais lhes agrada e lhes permita atingir a natural

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necessidade de afirmação das suas capacidades.Numa perspectiva pessimista, o mesmo autor indicaque essas percentagens de abandono podem pôr emevidência que os programas e as exigências das dife-rentes modalidades desportivas não estão de acordocom o nível de capacidades e maturação dos jovensque as praticam. Esta situação impede que eles atin-jam os objectivos que perspectivaram obter quandose envolveram na prática desportiva.Petlichkoff(7) refere que todos os anos cerca de 70milhões de jovens atletas em todo o planeta, comidades compreendidas entre os 6 e os 16 anos, ade-rem a práticas desportivas. Paradoxalmente, tambémestimou que até cerca dos 17 anos, 80% dos jovensabandonaram o desportoorganizado em que esta-vam envolvidos.Existem vários tipos deabandono referidos naliteratura. Assim é impor-tante definir o conceito deabandono desportivo queutilizámos para este estu-do. Consideramos aban-dono desportivo no ande-bol, como sendo o aban-dono da prática federadado andebol.

MATERIAL E MÉTODOS AmostraA amostra foi recolhida tendo por base os atletasinscritos pela primeira vez na Federação Portuguesade Andebol nas épocas 1995/96 a 2004/05 (10 épo-cas), o que totalizou 4721 indivíduos. O númeromédio de entradas por época, por género e por idadepode ser observado nos gráficos da Figura 1.Para tratar especificamente as questões do abandono,delimitámos a nossa amostra em termos de idade,com base no número médio de entradas por época(Figura 2). Assim, trabalhámos com as raparigas queiniciaram a modalidade entre os 10 e os 14 anos ecom os rapazes que iniciaram entre os 10 e os 15.

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Figura 1. Número médio de entradas por época.

Figura 2. Caracterização da sub-amostra.

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Os atletas com menos de 10 anos foram excluídos daanálise pois nesta etapa de formação os objectivospassam por sensibilizar os atletas para a modalidade.Apesar de esses atletas representarem a maior per-centagem da amostra em todas as épocas, como emmédia cerca de 45% abandonaram após a primeiraépoca, admitimos que muitos deles estão em fase deexperimentação e, por tentativa e erro, irão optar poresta modalidade ou por outra.Com a ressalva do ponto anterior, os atletas que ana-lisámos foram aqueles cujas idades apresentaram asmaiores percentagens de entradas. De facto, a per-centagem de entradas decresce bruscamente paraalém dos escalões considerados em cada género.Para a aplicação dos questionários, a nossa amostrafoi constituída por 230 atletas (180 atletas no activo,50 atletas que abandonaram).

QuestionárioCom base nas percepções que definimos para o diver-timento e nas dimensões de alternativas do envolvi-mento e constrangimentos sociais aplicámos o ques-tionário para obter informações relativas a três situa-ções: caracterização do atleta (data de nascimento,género, número de anos de prática e de horas de trei-no, nível competitivo e grau de empenhamento);razões que levaram ao abandono e, paralelamente,razões pelas quais os atletas se mantêm na prática.Para cada dimensão e respectivas componentes foramcriadas frases, sendo a escala de Likert, de 1 (corres-ponde a discordo totalmente) a 5 (corresponde a con-cordo totalmente) a utilizada com mais frequência.Para avaliar a consistência dos questionários calculá-mos o coeficiente de “alpha” de Cronbach e obtive-mos os seguintes valores: para o questionário aplica-do aos atletas activos o valor foi “alpha” = 0.692 emediu 48 itens. Para o questionário aplicado aosatletas que abandonaram o valor foi “alpha” = 0.784e mediu 53 itens.Os questionários foram aplicados aos atletas quetinham abandonado a prática desportiva federada, deambos os sexos e com as idades onde esse processoacontece com maior frequência. Fomos à procuradaqueles que abandonaram apenas na última épocado nosso estudo (2004/2005), para que não houves-se um distanciamento muito grande do acontecimen-to estudado.

Os atletas que estavam no sistema e que tinham asidades determinadas pelo estudo, foram igualmenteinterrogados. Assim ficámos com uma perspectivaintegrada do andebol federado da Região Autónomada Madeira.A aplicação dos questionários foi realizada na época2006/2007. A amostragem dos atletas que abando-naram foi por conveniência porque muitos dos atle-tas encontrados não quiseram participar no estudo eoutros não se encontravam na ilha.Os questionários que aplicámos aos atletas queabandonaram e àqueles que ainda se mantinham nosistema desportivo foram muito semelhantes. A dife-rença prendeu-se com questões relacionadas com ostempos verbais. Depois de seleccionar os atletas que já tinham aban-donado, optámos por procurá-los nas escolas da suaárea de residência e aplicar-lhes directamente osquestionários. O envio do questionário para casapareceu-nos pouco eficaz, visto que muitos dos atle-tas foram contactados primeiro por telefone edemonstraram pouca receptividade para o assunto.Outra questão que constatámos foi o facto de muitosatletas já terem regressado à prática da modalidadeem questão e outros não estarem na região, porvários motivos.

Tratamento dos dadosPara caracterização da amostra calculámos médias,por género e por faixa etária. Relativamente à sub-amostra, para além do procedimento anterior, apre-sentámos mais medidas de localização (mínimo, pri-meiro quartil, mediana, terceiro quartil e máximo)referentes ao número de épocas, à idade de abando-no, por género e por faixa etária. Além disso, utilizá-mos a análise de sobrevivência para determinar asestimativas de Kaplan-Meier da função de sobrevi-vência, por género, quer relativo ao número de épo-cas, quer à idade de abandono. Os procedimentos estatísticos utilizados nos ques-tionários foram: teste de Pearson do qui-quadrado;gráficos de barras para caracterização das respostasde algumas questões.

RESULTADOSCom base na amostra inicial, a taxa média de abando-no, por época, nas raparigas é de 37%, enquanto que

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nos rapazes é de 33%. No entanto, em ambos os géne-ros, as taxas têm valores díspares ao longo das épocas,embora sem apresentar qualquer tipo de tendência. Relativamente à sub-amostra, no caso do género femi-nino, verificámos que a taxa média de abandono é de38% para as atletas que iniciaram a modalidade entreos 10 e os 12 anos e de 44% entre os 13 e os 14.Quanto ao género masculino, a taxa é de 27% entreos 10 e os 11 anos, de 37% entre os 12 e os 13 e de50 % entre os atletas que iniciam com 14 ou 15 anos.Uma vez que existe uma correlação negativa signifi-cativa entre a idade em que o atleta se iniciou na

modalidade e o número de épocas que se manteveem actividade, ou seja, quanto menor é a idade deentrada maior é o número de épocas, averiguámos apercentagem de abandono de acordo com o númerode épocas, tendo em conta a idade de início.Ao observar os gráficos da Figura podemos notar quea percentagem de abandono é muito elevada nas duasprimeiras épocas, tanto no género masculino comono feminino. Nas raparigas a percentagem é seme-lhante para as duas faixas etárias ao longo das épocasembora a faixa etária dos 13 e 14 anos apresente umligeiro acréscimo nas duas primeiras épocas, compen-

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Figura 3. Percentagens de abandono, por época, faixas etárias e género.

Figura 4. Distribuições do número de épocas e da idade de abandono nos dois géneros.

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sado por um decréscimo notório a partir da sextaépoca. Nos rapazes, à excepção da terceira e da séti-ma época, a percentagem de abandono é semelhantepara as faixas etárias 10 e 11 anos e 12 e 13 anos.Relativamente aos 14 e 15 anos, a percentagem émuito elevada nas primeiras épocas, observando-se90% de abandono ao fim de apenas três épocas. Ao analisar a sub-amostra globalmente comparámosas distribuições da idade de abandono e do númerode épocas nos dois géneros. A semelhança dos dois géneros relativa ao número deépocas é bem visível, pois os valores do mínimo (1),primeiro quartil (1), mediana (2), terceiro quartil (3)e máximo (10) coincidem. No entanto, sob o pontode vista da idade de abandono, as semelhanças resu-mem-se ao mínimo (11) e à mediana (14). Quanto àsdiferenças, 25% das raparigas abandonam até aos 12anos, enquanto que os rapazes só o fazem até aos 13.Observa-se o mesmo tipo de diferença relativamenteaos 75%, com as raparigas a abandonarem até aos 15anos e os rapazes até aos 16. Assim, no geral, pode-mos concluir que as raparigas abandonam a modali-dade mais cedo do que os rapazes.No que diz respeito à aplicação da análise de sobre-vivência, começámos por determinar as estimativasde Kaplan-Meier da função de sobrevivência, porgénero, onde o tempo de vida é o tempo desde que oatleta inicia a modalidade a nível federado até ao

abandono. Os resultados encontram-se na Figura,sendo que, no primeiro caso tivemos em conta onúmero de épocas, enquanto que no segundo foi aidade de abandono. Ao analisar o comportamento dos atletas através donúmero de épocas, novamente é visível a ausência dediferença significativa entre os dois géneros. Noentanto, ao analisarmos através da idade de abando-no, já podemos notar que, até aos 18 anos, as rapari-gas têm uma taxa de abandono mais elevada. Alémdisso, também se observa uma quebra acentuada daprática desportiva dos 13 para os 14 anos nas rapari-gas e dos 14 para os 15 nos rapazes.Parece-nos importante realçar algumas diferençasencontradas na análise dos questionários, nomeada-mente no género e entre os atletas activos e os queabandonaram. Essas diferenças foram detectadasatravés do teste de Pearson do qui-quadrado. Apenasapresentámos e discutimos os dados cujos valores dep foram significativos, com a seguinte interpretação:entre 0,05 e 0,01 existem diferenças significativas(*); entre 0,01 e 0,001 existem diferenças muito sig-nificativas (**); menor do que 0,001 existem diferen-ças extremamente significativas (***).Foi na dimensão compromisso que encontrámos asdiferenças mais significativas entre os atletas activose os que abandonaram, como se pode verificar atra-vés da análise das afirmações que se seguem.

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Figura 5. Estimativas de Kaplan-Meier da função de sobrevivência, por género.

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CO.2. Eu estou determinado em continuar a jogar andebol. Existem diferenças extremamente significati-vas entre os atletas activos e os que abando-naram, p<.0001. Nesta questão, os atletasactivos apresentam percentagens claramentesuperiores nas categorias muito determinadoe muitíssimo determinado. Os atletas queabandonaram apresentam uma percentagemmuito superior nas categorias nada determina-do e pouco determinado.

CO.3. É difícil para ti abandonar o andebol?Nesta questão existem diferenças muito signi-ficativas entre os rapazes que abandonaram eaqueles que permanecem no activo, p=0.001.Isso pode-se verificar com a ajuda do gráficoque se segue.As diferenças são mais expressivas nas catego-rias de muitíssimo difícil, onde os activos apre-sentam uma percentagem de 35% e os queabandonaram apenas 9% aproximadamente.Nas categorias nada difícil e pouco difícil, osatletas que abandonaram apresentam percenta-gens muito superiores às dos activos, com aparticularidade de nenhum destes últimos terassinalado a primeira categoria.Existem diferenças extremamente significati-vas entre as raparigas que estão no activo eaquelas que abandonaram, p<0.0001, como évisível na Figura 8.As grandes diferenças encontram-se nas cate-gorias dos extremos, ou seja, as activas opta-ram maioritariamente pela categoria muitíssi-mo difícil e apresentam uma percentagemnula na categoria nada difícil. As atletas queabandonaram distribuíram-se por todas ascategorias de uma forma mais ou menoshomogénea.

CO.4. O que és capaz de fazer para não abando-nares o andebol?Os rapazes que estão no activo apresentamdiferenças muito significativas em relação aosque abandonaram, p = 0.001.Essas diferenças são bem evidentes nas catego-rias poucas coisas e muitas coisas (Figura 9).Na primeira são os atletas que já abandonaramque têm uma percentagem de 38% versus 9% ena segunda os activos 35% versus 3%.

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Figura 6. Percentagens das respostas dos atletas activos e daqueles que já abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO2.

Figura 7. Percentagens das respostas dos atletas activos e daqueles que já abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO3.

Figura 8. Percentagens das respostas das atletas activas e daquelas que já abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO3.

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Nesta mesma questão existem diferenças extrema-mente significativas entre as atletas que estão noactivo e aquelas que abandonaram, p<.000. As pri-meiras optaram claramente pelas categorias bastan-tes coisas e muitas coisas, enquanto que as raparigasque já abandonaram têm uma maior percentagemnas categorias nada e algumas coisas (Figura 10).Nas restantes dimensões e componentes os resulta-dos foram os seguintes: tanto os atletas que estão noactivo, como aqueles que abandonaram têm a per-cepção de que não estagnaram tecnicamente emelhoraram tacticamente no andebol (percepção de

competência); os atletas inquiridos apre-sentam uma boa relação com os outros(percepção de relação com os outros);podemos acrescentar que as raparigas seapresentam mais satisfeitas com o papeldo treinador (percepção de progresso); osatletas inquiridos, de uma maneira geral,conseguem conciliar os estudos com oandebol (alternativas do envolvimento);em termos gerais a atracção por outrasactividades não é uma realidade nestaamostra; os atletas inquiridos não têmpreocupações em agradar aos pais nemaos treinadores, apesar da tendência paraagradar ao treinador ser ligeiramentesuperior.

DISCUSSÃO Um dos postulados da teoria do intercâm-bio social é que as pessoas participamnuma actividade, se o balanço entre oscustos e os benefícios forem favoráveis(13).É recomendado que os treinadorestenham conhecimento desta realidadequando trabalham com os atletas. Emresumo, e como implicação prática, esteestudo sugere que uma das prioridadesdos treinadores e de outros líderes despor-tivos seja a criação de um envolvimentosocial que permita que os atletas alcancemos seus motivos de participação.Especificamente, temos de assegurar queas expectativas dos atletas relacionadoscom o progresso, relação com os outros,competência, autonomia, e suporte dado

pelo treinador sejam alcançados, se quisermos que odivertimento e o correspondente compromisso sejamelevados e que os atletas continuem envolvidos. Da análise dos questionários concluímos que asgrandes diferenças entre os praticantes que abando-naram e aqueles que se mantiveram no activo, são asrespostas às questões da dimensão compromisso. Osatletas que estavam no activo eram mais comprome-tidos com o andebol e por isso não abandonaram. Onosso estudo está em consonância com a teoria dointercâmbio social e com o modelo do compromissodesportivo.

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Figura 9. Percentagens das respostas dos atletas activos e daqueles que já abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO4.

Figura 10. Percentagens das respostas das atletas activas e daquelas que já abandonaram, pelas diferentes categorias, na questão CO4.

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Nas questões da percepção de progresso, tanto osactivos como os que abandonaram apresentam-sesatisfeitos com o trabalho do treinador em relação aoprogresso dos atletas. Poderá ser útil educar os trei-nadores para o impacto dos seus comportamentosnas motivações dos atletas(14). Um elemento chavepoderá ser encorajar os treinadores a utilizar umclima direccionado para a tarefa, no sentido de aju-dar os atletas a centrarem-se em dimensões de mes-tria de actividade e não em dimensões extrínsecas.Assim o sucesso deverá ser definido como o melho-ramento pessoal ao contrário de enfatizar a vitória. Nas alternativas do envolvimento, grande parte dosinquiridos não se sentiu atraído por outras activida-des, existiu apenas uma pequena percentagem deatletas que abandonaram que optaria por fazeroutras coisas. Este facto contraria a linha de investi-gação que diz que os conflitos de interesse e/ouinteresses por outras actividades são os motivosmais consistentes para o abandono desportivo(4).Nos constrangimentos sociais, os atletas inquiridosnão têm preocupações em agradar aos pais ou/e aostreinadores, apesar da tendência para agradar ao trei-nador ser ligeiramente superior. Não existiram senti-mentos de obrigatoriedade nesta amostra(activos/abandonaram). Os atletas que abandonaramnão sentiram pressão, logo o compromisso diminuiu.Nos investimentos pessoais e especificamente nograu de empenhamento, são os rapazes que abando-naram que tiveram maiores percentagens na catego-ria quase sempre. Este dado poderá ser revelador deque os jovens abandonaram porque sentiam-se injus-tiçados ou porque sentiam que mesmo com um graude empenhamento elevado não conseguiam atingirdeterminados patamares.A compreensão do fenómeno do abandono passanecessariamente por um cruzamento de teorias ecomparação de paradigmas afins de decidir qual éque melhor poderá explicar este assunto(10). Porvezes, só essas pontes entre as teorias conseguemobter a diversidade dos factores e processos implica-dos neste fenómeno.De acordo com os resultados quer da análise descri-tiva quer da análise de sobrevivência, tendo emconta o número de épocas, pudemos concluir que ogénero não constituiu uma variável explicativa dofenómeno que estudámos. No entanto, com base na

idade de abandono, já notámos alguma diferença.Esta última observação não entra em contradiçãocom a anterior: no primeiro caso estávamos a consi-derar quantas épocas o atleta se mantinha na moda-lidade, enquanto que no segundo considerámos quala idade em que abandonava. Significa pois que asraparigas tendem a iniciar mais cedo o andebol, mastambém tendem a abandoná-lo mais cedo.Concluímos ainda que a taxa média de abandono,por época, sobe à medida que aumenta a idade deentrada dos atletas. Verificámos também que a percentagem de abando-no nas primeiras épocas é tanto maior quanto maiorfor a idade de entrada dos atletas.

CORRESPONDÊNCIANorberta FernandesEdifício Solar da Azenha, Bl. A, 3º L9125-018 CaniçoMadeiraE-mail: [email protected]

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RESUMOS

[ABSTRACTS]

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MOTIVOS PARA A PRÁTICA DO DESPORTO ESCOLAR E ATRIBUTOSDA QUALIDADE DO SERVIÇO: AS PERCEPÇÕES DOS PRATICANTESSEGUNDO O GÉNERO

H. Antunes, J. Soares

RESUMOO estudo teve por objectivo identificar os motivos dos rapazese raparigas para a prática de desporto escolar e verificar se estesapresentavam a mesma percepção dos atributos da qualidadedo serviço. Foi seleccionada uma amostra estratificada que corresponde aum total de 1317 praticantes (25,7%) do desporto escolar daRegião Autónoma da Madeira. Foi utilizado um questionário eo tratamento estatístico baseou-se nas técnicas não paramétri-cas: independência do Qui-quadrado (X2) e Mann-Whitney(p=0,05). O motivo para a prática do desporto escolar mais valorizadopelos praticantes foi indubitavelmente, “eu gosto de me diver-tir” (97,6%), seguido de: “eu quero melhorar as minhas capaci-dades” (96,1%) e “eu quero ser fisicamente saudável”(95,8%). Quando comparados os resultados entre rapazes e raparigasverificou-se a existência de diferenças estatisticamente signifi-cativas para os seguintes motivos: “eu gosto da competição”(p<0,001) “eu gosto de ser popular” (p<0,001); “eu quero seruma estrela” (p<0,001) e “os meus pais querem que eu prati-que” (p<0,001), sendo as raparigas quem lhes atribuiu menorimportância. Considerando as percepções sobre atributos da qualidade doserviço, não foram detectadas diferenças significativas, à excep-ção do indicador “empenhamento dos professores nos treinos”(p=0,022), em que os rapazes evidenciaram maior insatisfaçãodo que as raparigas. Em epílogo, pode dizer-se que as raparigas não valorizam tantoos motivos extrínsecos como os rapazes, porém ambos estãosatisfeitos com a qualidade do desporto escolar. Palavras-chave: desporto escolar, motivação desportiva, atribu-tos da qualidade do serviço.

ABSTRACTMotives for the practice of scholar sport and the service qualityattributes: participants’ perceptions by gender.The present study aimed at identifying the main motives reported byboys and girls for participating in school sports and to determine ifthey had the same perception towards the quality service attributes.The stratified sample comprised a total of 1317 participants in schoolsport (25,7% at the population), from the Autonomous Region ofMadeira. Data were collected by means of questionnaire and analysedusing non-parametric techniques: the independent Qui-square (X2) andthe Mann-Whitney (p=0,05) tests. The main motif for reported by theparticipants for sport participation was, undoutbly, “I like to have fun”(97,6%), follwed by “I want to improve my skills” (96,1%) and “Iwant to be physically healthy” (95,8%). The results showed, statisti-cally significant differences between boys and girls in the followingmotives: “I like competition” (p<0,001), “I like to be popular”(p<0,001), “I want to be a star” (p<0,001) and “My parents wantme to practice” (p<0,001), with girls giving less importance to them.As for the perceptions about the quality service attributes, no signifi-cant differences were found, except for the indicator “teachers commit-ment to practice sessions” (p=0,022), with boys having a greater dis-

satisfaction than girls. Overall, we can conclude that girls didn’t valueas much as boys the extrinsic motives, although both boys and girlswere satisfied with the quality of school sport. Key-words: scholar sport, sport motivation, service quality attributes

PLANEAR, PROJECTAR, CONSTRUIR E GERIR PISCINAS PÚBLICAS,SERVIÇOS DE CONSULTORIA

C. Costa

RESUMOApesar das referências ao aparecimento de instrumentos deplaneamento por parte da administração central, continua a nãoexistir uma estratégia nacional e a construção de instalaçõesdesportivas tem sido determinada por dois critérios principais:um de financiamento, dirigido para equipamentos vocacionadospara a competição; e um segundo caracterizado pelas lógicas deplaneamento que se restringem aos espaços territoriais dosdiferentes concelhos do país.Consideramos que o resultado desta ausência de política para aconstrução de instalações desportivas, representa enormes cus-tos para o desenvolvimento do desporto. Se observarmos o que foi realizado nos últimos anos em maté-ria de construção de piscinas, verificamos que grande parte dosmunicípios elegeu esta tipologia de instalação como prioridade,estando o país dotado de mais e melhores piscinas, mas tam-bém verificamos que uma vez mais os critérios de planeamentosão de âmbito concelhio e que muitos dos projectos são desa-justados para as necessidades reais dos contextos em que seinserem e apresentam características conceptuais e construti-vas, que condicionam de forma significativa a sua gestão.Vivemos nos últimos anos um período de crescimento e valori-zação do parque desportivo nacional, que importa potenciar ejustificar com correspondente aumento dos índices de práticadesportiva e particularmente com um aumento dos resultadosdesportivos.Um novo período está iniciado, sendo determinante para umaoptimização dos recursos a existência de planos nacionais, queestabeleçam as orientações para a construção de instalaçõesdesportivas e para o desenvolvimento do desporto.Importa ainda entender, que as instalações existem para res-ponder a necessidade das pessoas, que devem representar ins-trumentos para o desenvolvimento do desporto e que os seuscustos de construção e de gestão, são fortemente condicionadospelas soluções preconizadas em fase de Programa Preliminar ede Projecto. Assim, estas preocupações devem constituir orien-tações estratégicas para o desenvolvimento dos projectos, evi-tando que sejam cometidos “excessos” e “desperdícios” embenefício de pressupostos estéticos, políticos, ou outros queem nada contribuem para o desenvolvimento do desporto. Também as práticas de gestão e as opções para a gestão dosequipamentos e serviços de desporto, merecem uma análisereflectida e actualizada, que sirva os melhores interesses detodos. Administração Central, Autarquias, clubes, empresasmunicipais, cooperativas, fundações, privadas, consórcios públi-cos/privados, concessões e explorações, etc., são algumas dassoluções já experimentadas e possíveis de avaliar. Palavras-chave: equipamentos desportivos, piscinas, planea-mento, serviço de desporto.

Gestão do Desporto

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ABSTRACTPlaning, projrcting to construct and to manage public swimmingpools, consulting servicesAlthough the references to the appearance of instruments of planningon the part of the central administration, continue not to exist a natio-nal strategy and the construction of sporting facilities has been determi-ned for two main criteria: one of financing, directed for equipmentpointed to the competition; other characterized by the planning logicsthat are restrict to the territorial spaces of the different concils of thecountry.We consider that the result of this absence of politics for the construc-tion of sport facilities represents enormous costs for the development ofthe sport.If we observe what it was carried through in recent years in substanceof construction of swimming pools, we verify that great part of thecities chose this type offacilitie as priority, being the country endowedwith and better swimming pools, but we also verify once more the plan-ning criteria is a concil scope and that many of the projects are misad-justed for the real necessities of the contexts where they insert and theypresent conceptual and constructive characteristics that condition itsmanagement.In recent years we live a period of growth and valuation of the nationalsporting park, that matters to harness and to justify with correspon-ding increase of the indices of practical of sport and particularly withan increase of the sport results.A new period is being determinative for an optimization of the resour-ces, the existence of national plans, which establish the orientacions forthe construction of sport facilities and the development of the sport.It matters still to understand, that the facilities exist to answer thenecessity of the people, who must represent instruments for the develop-ment of the sport and that its costs of construction and managementare strongly conditioned for the solutions praised in phase ofPreliminary Program and Project. Thus, these concerns must constitutestrategical orientations for the development of the projectos, preventingthat “excesses” and “wastefulnesses” in benefit of estimated aestheticare committed, politicians or others, that does not contribute for thedevelopment of sport.Also practical of management and the options for the management ofthe equipment and services of sport deserve a reflection analysis thatserves the best interests of all. Central administration, municipalities,clubs, municipal enterpreises, cooperative companies, foundations, pri-vate, private public trusts/, concessions and explorations, etc., are someof the solutions already tried and possible to evaluate.Key-words: sport facilities, swimming pool, planning, sport service.

ESTRATÉGIA DOS CLUBES DESPORTIVOS DO CONCELHO DEPAREDES

J.C. Leitão, V. Moreira, A.R. Bodas

RESUMOO presente estudo teve como objectivo a caracterização daestratégia dos clubes desportivos no que concerne às dimen-sões i) recursos, ii) análise estratégica, iii) natureza de decisãoe iv) resultados, previstas no Modelo Iconográfico de Análiseda Estratégia dos Clube. A amostra foi constituída por 20 clu-bes desportivos do Concelho de Paredes (N = 20) e a recolhade dados efectuada através de questionário designado porInquérito aos Clubes Desportivos Nacionais. Os principais resultados obtidos, através da análise descritiva e

inferencial, indicaram a autarquia como principal fonte definanciamento dos clubes, sendo os factores externos de natu-reza financeira, nomeadamente o apoio financeiro do estado eorganização da associação regional, os que mais parecem condi-cionar a obtenção de resultados. Observou-se uma associaçãopositiva entre a principal missão dos clubes (exigir técnicoscom formação) e a principal vocação (formar indivíduos).Evidenciou-se ainda a influência dos elementos internos, sobre-tudo dos presidentes no processo de decisão, sendo a dimensãodo clube uma variável determinante neste processo. Palavras-chave: dinâmica organizacional, análise estratégica,clubes do Concelho de Paredes.

ABSTRACTManagement strategies of the sport clubs in Paredes municipalityThe purpose of this study was to characterize the sport clubs strategiesin the Council of Paredes. The sample was formed by 20 sport clubsand the data was collected trough a survey (Santos, 2002), administe-red to the main director of the club. The theoretical instrument based inthe strategy analysis model (Correia, 1999) is constituted by fourdimensions: resources, strategy analysis, nature of the decision makingand outcome. The statistical analysis, shows that the financial supportand the club outcome is influenced by external factors. Also the makingprocess decision seems to be strongly influenced by the main director ofclub; however 3 in this process, the “consensus” is particularly impor-tant when the dimension of the club is bigger. Key-words: organisational dynamic, clubs strategy, sport clubs ofParedes Council.

A QUALIDADE DE SERVIÇOS DA ESCOLA MUNICIPAL DE NATAÇÃODE RIO MAIOR

A. Maria, T. Vinhas

RESUMONo âmbito da gestão de serviços desportivos, a preocupaçãopela qualidade tem sido uma área onde se verifica evolução.Mesmo nos serviços públicos, como é o caso da EscolaMunicipal de Natação de Rio Maior (onde decorreu o presenteestudo), gerida pela Empresa Municipal DESMOR E. M., a qua-lidade de serviços é a referência da estratégia de gestão. Estetrabalho tem como principais objectivos, a avaliação das pro-priedades psicométricas do questionário que tem sido aplicadodesde 1999, e a avaliação da qualidade de serviços de forma adetectarem-se diferenças entre as percepções dos “praticantes”e as dos “familiares”, bem como a existência de lacunas entre aqualidade esperada e a qualidade percebida. A amostra é cons-tituída por 454 indivíduos e o questionário foi aplicado no mêsde Maio de 2008. Palavras-chave: qualidade de serviço, expectativas, percepções,marketing de serviços, gestão desportiva.

ABSTRACTQuality of sports services management in the municipal swim-ming school of Rio MaiorIn the context of the sports services management, quality concern hasbeen a topic in progression. Even in public services, such as theMunicipal Swimming School of Rio Maior (where the present studytook place), managed by the Municipal Enterprise DESMOR E. M.,services quality is the reference of the managing strategy. This study

Gestão do Desporto

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has as main objectives: the evaluation of psychometric properties of thesurvey, which has been applied since 1999; the quality evaluation ofthe services in order to detect differences among costumers and theirfamilies’ perceptions; the detection of existing lacks between the waitedand the perceived quality. The sample is composed by 454 costumersand the enquiry was applied in May 2008. Key-words: services quality, customer expectations, customer percep-tions, services marketing, sports management

O PAPEL DO TREINADOR DE FUTEBOL NA GESTÃO DE RECURSOSHUMANOS DAS EQUIPAS DA LIGA PORTUGUESA DE FUTEBOLPROFISSIONAL

L. Silva, V. Maçãs

RESUMOO treinador, como gestor de pessoas, tem uma acção decisivaem tudo o que diga respeito à performance na organização des-portiva. Entrevistámos 12 treinadores de futebol da LigaPortuguesa de Futebol Profissional. As principais conclusões: i)todos os treinadores entrevistados têm um poder decisivo norecrutamento e na integração dos jogadores, sendo que 33,4%também têm poder decisivo na selecção dos jogadores. Na defini-ção dos objectivos e na definição da recompensa mais utilizada(monetária), o poder de todos os treinadores é apenas consulti-vo; ii) apontada por 75% dos treinadores entrevistados a princi-pal dificuldade/obstáculo é a falta de resultados positivos numcurto espaço de tempo; iii) a coesão assume um papel determi-nante na filosofia de trabalho dos treinadores; iv) os resultadossão o factor que mais interfere com o papel de ser treinador.Palavras-chave: treinador, gestor, liga de futebol.

ABSTRACTCoach’s role of in the human resources management on thePortuguese teams of the pro soccer leagueThe coachman, as a people manager, has an important and a decisiveaction in sport organization performance. We have interviewed twelvecoachmen from Portuguese professional league. The main conclusions: i)every interviewed coachmen have a decisive power when it comes torecruiting and integrating the players, and from these, 34% also have adecisive power when it comes to select the players. In the definition ofobjectives and in the definition of the most used reward (money), allcoachmen’s power is just a consulting one; ii) being pointed by 75% ofthe interviewed the main difficulty/obstacle is the lack of positive resultsin a short period of time; iii) the cohesion takes a determinant role in thecoachmen’s work philosophy, it’s always present in their minds and poin-ting it as a vital factor to face/deal with the difficulties/obstacles; iv) theresults are the factor that interfere most with the coaching role.Key-words: coach, manager, football league

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO SECTOR DO DESPORTO

G. Sousa, M.J. Silva

RESUMOO Desporto é um sector em rápido desenvolvimento comimpacto relevante no campo económico e social. Embora aInovação seja largamente referenciada como um elemento fun-

damental no desenvolvimento de países, regiões e sectores, nãotem existido na comunidade académica um interesse pelo estu-do dos processos de inovação no sector do desporto. Partindoda abordagem teórica dos Sistemas Sectoriais de Inovação esteestudo tem como objectivo efectuar uma revisão dos artigospublicados nas principais revistas académicas e científicas daárea das Ciências do Desporto e classificá-los no enquadramen-to teórico proposto nesta abordagem. Mais especificamente,este artigo procura classificar as publicações no que concerneao conhecimento e tecnologias específicas do desporto, actorese redes próprias deste sector e instituições características dodesporto. Constatamos que a abordagem dos SistemasSectoriais de Inovação é passível de ser aplicada no estudo dosector do desporto, identificando um conjunto de dimensões deanálise sobre as quais futuros estudos se devem debruçar. Asimplicações deste estudo são várias: para a comunidade acadé-mica abrem-se novas linhas de investigação que importa seguirpara melhor entender os processos de desenvolvimento despor-tivo; para os responsáveis políticos cuja actividade podeinfluenciar as decisões de carácter legislativo ou económico,este estudo é útil no enquadramento dessas políticas num pro-cesso de inovação que signifique uma maior eficácia na gover-nação do desporto. Palavras-chave: inovação, desporto, sistemas sectoriais de ino-vação, desenvolvimento

ABSTRACTInnovation and development in sport The Sport sector is in fast development with a relevant impact in theeconomic and social field. Although Innovation is broadly refered as afundamental element in the development of countries, regions and sec-tors, the academic community doesn’t appears to be interested in thestudy of the innovation processes in the sports sector. Grounded on thetheoretical approach of the Sectoral Systems of Innovation this studyaims to do a revision of the studies published in the main portuguesescientific and academic Sport Sciences Journals and to classify them inthe theoretical framing proposed in this approach. More specifically,this article tries to classify the publications in what concerns to theknowledge and specific technologies of sport, actors, specific networksand institutions of this sector. We verified that the approach of SectoralSystems of Innovation is susceptible to be applied in the study of sportsector, and we identify a group of dimensions on which futures studiesshould lean over. The implications of this study are several: for the aca-demic community it can open up new lines of investigation that it isimportant to proceed for a better understanding of the sport develop-ment process; for the politician whose activities can influence the deci-sions in legislative or economical aspects, this study is useful in the fra-ming of those politics in an innovation process that means a largereffectiveness in sport’s governance.Key-words: innovation, sport, sectoral systems of innovation, deve-lopment

A (IN)DEPENDÊNCIA DOS CLUBES DESPORTIVOS: A RELAÇÃO INS-TITUCIONAL COM A AUTARQUIA LOCAL

B. Albuquerque, P. Sarmento

RESUMONa nossa sociedade, conforme Carvalho (2001), neste início deséculo, marcado por problemas sociais em agravamento (socie-

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dade dual, miséria, marginalidade), o associativismo constituium dos poucos locais em que se pode reconstruir e estreitarlaços sociais. Muito se tem falado e escrito sobre a crise deassociativismo. Daí o interesse por abordar esta temática. Onosso estudo parte da análise descritiva para o estudo de umarealidade local através de uma caracterização aprofundando oconhecimento e a contextualização do movimento associativo,dando uma ênfase especial à relação com a autarquia local.Palavras-Chave: clube desportivo, autarquia

ABSTRACTThe (in)dependency of sport clubs: the intitucional relationshipwith local administration authorities Our society is, according to Carvalho (2001) marked by increasingsocial problems such as dual society, misery, criminality, at this begin-ning of century. Associativism is one of the few spots where one canrebuild and straighten social bonds. Much has been spoken and writtenabout the associativism crisis. Thus the interest in bringing this subjectup. Our study begins with a descriptive analysis to the study of localreality thought a characterisation, deepening the knowledge and thecontext of the associative movement, giving a special emphasis to itsrelationship with the local government.This research involved twenty-nine (29) sports clubs throughout Póvoade Varzim council, which showed some type of competitive activity.The results allowed us to describe the local sports situation, focusing itin the basic cell of national sport – the sportive clubs.The creation of a support cabinet to associativism will be, in our opi-nion, a possible solution to the functioning, either internal or external,of clubs and that will enhance the development of the local sports pro-cess. Key-words: sport clubs, local administration

ESTILOS DE LIDERANÇA

B. Albuquerque, G. Sousa

RESUMOA sociedade em que vivemos é cada vez mais competitiva e asorganizações necessitam de um quadro de Recursos Humanose competentes para alcançar os seus objectivos de rendibilidadeeconómica e social. A satisfação no trabalho pode ser influen-ciada pelo estilo de liderança e por outras características rela-cionadas com o ambiente laboral. Com este estudo verificamosque níveis mais elevados de satisfação estão relacionados commelhores salários e que um estilo de liderança participativacontribui para índice de satisfação mais elevado.Palavras-chave: liderança, satisfação no trabalho

ABSTRACTLeadership styleThe society where we live is more competitive and the organizationsneed a picture of human resources and competence to reach its goals ofeconomic and social rendibilite. The satisfaction in the work can beinfluenced by the style of leadership and other characteristics relatedwith the labor environment.With this study we verify that higher levels of satisfaction are relatedwith better wages and that a style of participativ leadership contributesmore for raised index of satisfaction.Key-words: leadership, work satisfaction

ESCOLA DE NATAÇÃO : ORIENTAÇÕES ADMINISTRATIVAS BÁSICASPARA ESSE TIPO DE EMPREENDIMENTO

P.R. Albuquerque, P.L. Lobato

RESUMOO objetivo do presente estudo foi analisar as perspectivas rela-cionadas a escolas de natação e levantar aspectos sobre a suaadministração, tanto para a implantação como também parasua gestão. A metodologia utilizada baseou-se na realização depesquisa qualitativa por meio de revisão de literatura comple-mentada e por visitas e entrevista a escolas de natação nas cida-des de Viçosa e Belo Horizonte. Os dados pesquisados na lite-ratura foram confrontados com os dados levantados nas visi-tas/entrevistas. Concluiu-se que não se da a consideraçãonecessária ao processo administrativo, agindo predominante-mente de forma intuitiva o que poderia explicar, em alguns,casos o insucesso no empreendimento. Da mesma forma pode-se constatar que em escolas que agem de acordo com o preco-nizado na literatura e os resultados têm demonstrado o sucessodo empreendimento. Palavras-chave: escolas de natação, administração, empreende-dorismo, organização administrativa.

ABSTRACTSwimming school: basic administration guidelinesThe purpose of this article has been examining the prospects related toschools, swimming and raise issues about its administration, both forthe deployment but also for its management. The methodology usedwas based on the attainment of qualitative research through literaturereview, supplemented by interviews and visits to schools, swimming inthe cities of Viçosa and Belo Horizonte. The data in the literaturesearch were compared with data collected through these visits. It wasconcluded that most schools do not give importance to swim the neces-sary administrative process, acting on an intuitive which could explain,in some cases the failure in the venture. On the other hand someschools act in a manner consistent with the found in the literature andthe results have demonstrated the success of the venture. Key-words: schools swimming, administration

A QUALIDADE NO ACESSO A INSTALAÇÕES DESPORTIVAS (GINÁ-SIOS)

C. Andrade, L. Cunha

Palavras-chave: qualidade, acessibilidade, instalações desportivas, ido-sos, Município de Sintra

ABSTRACTThe quality of accessibility in sport facilities (gymnasiums)The quality of accessibility is very important to promote adherence tophysical education in sportive spaces. In the Sintra Municipality thereare 111 sportive spaces, divided in categories: associative, scholar andprivate spaces. The associative spaces are multifunctional and are fre-quently used to senior physical education, in order to satisfy the needsof local populations. The scholar spaces are used by the school pupilsand sometimes they are rent to the comunity. The private spaces sellsportive services to every one. The objective of this study was: to deter-

Gestão do Desporto

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mine the quality of accessibility to the sportive spaces in the SintraMunicipality, in order to evaluate if these are available and are used bysenior clients. The creation of an evaluation system for sportive spaces,based on the legislation, allowed us to conclude that the sportive spacesin the Municipality of Sintra have poor accessibility. The spaces withmore accessibility are the scholar ones, which are not used by elderly. Inorder to improve the use of sportive spaces and to promote better servi-ces to population, it is important to create interventional programmesin this area to provide the use of different sportive spaces and to pro-mote activities for senior population.Key-words: quality, accessibility, sports facilities, seniors, SintraMunicipality

MARKETING ESPORTIVO NA PROMOÇÃO DE EVENTOS: ESTUDO DECASO DA 71ª EDIÇÃO DOS JOGOS ABERTOS DO INTERIOR

J.T. Barros

RESUMOEsse estudo, de caráter exploratório, tem por intuito avaliar asprincipais etapas do marketing esportivo adotadas pelo ComitêOrganizador na promoção da 71ª. edição dos Jogos Abertos doInterior realizado em Outubro de 2007 no município deBalneário de Praia Grande-SP, Brasil. O estudo utilizou pesqui-sa de abordagem qualitativa, compreendendo revisão bibliográ-fica e o desenvolvimento de estudo de caso único com coleta dedados por meio de entrevistas, observação participante e noprocessamento de informações. Foi identificado, por um lado, opapel do evento como mobilizador de recursos para a cidade, epor outro lado, a falta de uma metodologia de trabalho ordena-do, a ausência de capacitação acadêmica ou profissional dosresponsáveis e um processo empírico para a gestão de marke-ting do evento. Palavras-chave: Planejamento de marketing, marketing esporti-vo, gestão de eventos, eventos esportivos

ABSTRACTSports marketing in promoting events: case study of the interior71th Open Games This exploratory study has as main purpose to evaluate the main stagesof the sports marketing adopted by the Organization Committee in thepromotion of 71ª. edition of the Open Games of the São Paulo statecarried out through in October of the 2007 in the city of PraiaGrande-SP, Brazil. This study used research of qualitative boarding,understanding, bibliographical revision and the development of study ofonly case with collection of data by means of interviews, participantcomment and in the processing of information. It was identified, on theother hand, the function of the event as mobilizing of resources for thecity, and on the other hand, lacks of a methodology of commandedwork, the absence of academic or professional qualification of responsi-ble and an empirical process for the management of the event. Key-words: planning of marketing, sports marketing, sports manage-ment of events, events

A INTERNET COMO FERRAMENTA COMUNICACIONAL EM HEALTHCLUBS

M. Castro, J.P. Sarmento

RESUMOO estudo analisa as potencialidades da Internet, como ferra-menta comunicacional, em health clubs. Os resultados foramobtidos através da aplicação de um questionário em dois healthclubs, sendo a amostra de 127 indivíduos. Verificou-se assimuma elevada taxa de utilização da Internet por parte das pes-soas da amostra estudada, percebendo que o que tem maiorprocura num site/sítio de um health club são os horários dasactividades disponibilizadas. Referir que a sua visualização tempouca ou nenhuma influência na tomada de decisão da pessoade se inscrever como cliente do health club, sendo de salientar,por outro lado, a disponibilidade da amostra estudada parareceber promoções/informações de novos produtos do seuhealth club no seu e-mail. Sem ser na Internet, a recepção dohealth club parece ser o local onde as pessoas da amostra estu-dada mais procuram informações relativas às actividades domesmo.Palavras-chave: desporto, wellness, marketing, internet, healthclub

ABSTRACTThe web as a comunicational tool in the health clubs The study analyses the potential of the Internet, as a communicationtool, in health clubs. The results were obtained trough the applicationof a questionnaire on two health clubs, being the sample constituted by127 individuals. It was found a high rate of Internet usage by personsof the sample studied, realizing that the schedules of the activities madeavailable by the health club is what has more demand on the website.Notice also that its visibility has little or no influence in the decision ofthe person to register as a client of the health club, and, on the otherhand, emphasize the availability of the sample studied for receivingpromotion/information of new products of their health club in their e-mail address. Without being on the Internet, the reception of the healthclub seems to be the place where the persons of the sample studied seekmore information from their activities.Key-words: sport, wellness, marketing, internet, health club

O REGIME JURÍDICO DAS FEDERAÇÕES DESPORTIVAS: A REALIDA-DE ORGÂNICA E FUNCIONAL DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DEVOLEIBOL

P. Coutinho, R. Araújo, C. Prata, M. J. Carvalho

RESUMOO sistema desportivo nacional e internacional integra umaconstelação de organizações desportivas de carácter público eprivado que actuam no desporto associativo, federativo e nobusiness (Olmeda, A., 2002; Pires, G., 2007; Carvalho, M. J.,2007). Assim, procuramos aprofundar conhecimentos para ummelhor domínio de intervenção no que concerne à orgânica,regulamentação e funcionamento da Federação Portuguesa deVoleibol. Concretizamos o propósito desta investigação, recor-rendo à análise exploratória, avocando a principal doutrina ejurisprudência respeitantes ao objecto do estudo e documentosoriundos de fontes diversas (ordenamento jurídico público eprivado). Assistimos à transição do modelo organizativo dasFederações Desportivas (FD), daí que os resultados obtidosevidenciarão as mudanças operadas entre a realidade decretadaem 1993 e o que decorrer, após o parecer do ConselhoNacional de Desporto, da publicação do novo regime jurídico

Gestão do Desporto

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das FD. Apresentaremos, por fim, as principais conclusões doestudo e algumas sugestões para a modalidade do Voleibol.Palavras-chave: federação desportiva, regime jurídico, FederaçãoPortuguesa de Voleibol

ABSTRACTSport federations legal framewwork: functional and organic rea-lity of the Portuguese Volleyball Federation The national and international sports system combines a variety ofsports organizations either public or private, which operate in associa-tive and federal sports and in business (Olmeda, A., 2002; Pires, G.,2007; Carvalho, M. J., 2007). Thus, we tried to go further in ourknowledge in order to improve the intervention field concerning thestructure, regulations and functioning of the Portuguese VolleyballFederation. We accomplished the purpose of this investigation by meansof an exploratory analysis, evoking the main doctrine and jurisprudenceconcerning the object of study and documents from different sources(public and private law system). We witnessed the transition of theorganizational model of Sports Federations, so results will show thechanges that took place between what had been decreed in 1993 andwhat will happen after the publication of the new set of laws of theSports Federations, after the Council of National Sports being heard.To finish we’ll present the main conclusions of the study and makesome suggestions concerning volleyball.Key-words: sports federations, legal framework, PortugueseVolleyball Federation

A ACTIVIDADE FÍSICA NO CONTEXTO LABORAL: UM PROJECTOMULTIDISCIPLINAR

A. Domínguez, D.M. Freitas, M.J. Carvalho

RESUMONo mundo laboral, os factores relacionados com a criação deambientes de trabalho equilibrados assumem particular relevân-cia, onde a capacidade de gerir e de influenciar os outros já nãopode ser considerado só um assunto pessoal, mas antes um fac-tor que determina os objectivos a atingir. Assim sendo, pareceser uma necessidade emergente a criação de programas direccio-nados para as entidades laborais que prestem diferentes tipos deserviços independentes, mas complementares. A nossa propostavisa a implementação de programas de saúde integral em empre-sas situadas na região Norte da Península. Estes programas serãodesenvolvidos por uma equipa multidisciplinar, centrando a suaintervenção ao nível do bem-estar físico, psicoemocional e socialdos trabalhadores. Portanto, procuraremos melhorar a satisfaçãoe produtividade criando um bom ambiente de trabalho e promo-vendo a aquisição de estilos de vida saudáveis.Palavras-chave: actividade física, saúde, bem-estar, recursoshumanos, gestão

ABSTRACTPhysical activity in labor: a multidisciplinary project In business world, the factors related with the work environment assu-me particular relevance, where the capacity to manage the emotionalstate and to influence the others cannot be considered only a personalsubject, but more a factor that determines the business results. Thus, itseems to be necessary the creation of programs that dispose differenttypes of independent but complementary services. Our proposal aimsconsist on the implementation of integral health’s programs in compa-

nies situated on the North region of the Peninsula. These programs willbe developed by a multidiscipline equip, whose intervention is focus onthe physical, psychoemotional and social well-being of the workers.Therefore, we will look for improve the satisfaction and productivity ofthe employees by creating a good environment of work and promoting ahealthy life-style.Key-words: physical activity, health, well-being, human resources,management

VISÃO ESTRATÉGICA DO PROJECTO LOUSADA TÉNIS ATLÂNTICO

A.P. Faria, A. Moreira, J. C. Ferreira

RESUMO1) Este poster servirá para que de um modo sintético possamosapresentar o projecto de Lousada Ténis Atlântico. As instala-ções já se encontram numa fase avançada de construção, onde aATPorto prevê que em Outubro de 2008 esteja terminado.2) Este poster apresenta a estratégia de posicionamento desteprojecto no ténis nacional e internacional.A estratégia adoptada para o nosso país assenta principalmentena formação, apostando também em questões que nos possibi-litem ser um ponto de referência do ténis em Portugal.- Desenvolvimento local; - Suporte regional; - Referência nacio-nal; - Parcerias estratégicas em áreas chave; - Fomento; -Formação; - Treino; - Investigação.Já para a estratégia externa, tentaremos passar Lousada para ocenário do ténis internacional, apostando principalmente emquestões de dimensão Ibérica.- Ponto de encontro euro-regional; - Posicionamento Ibérico; -Projecção Europeia; - Divulgação internacional.3) Em suma, a estratégia global serve para que Lousada TénisAtlântico vá ao encontro do desenvolvimento da região deLousada e da modalidade ténis, apostando na qualidade e sus-tentabilidade das instalações, no posicionamento estratégico enos métodos de gestão que proporcionem o alcance internacio-nal deste projecto.Palavras-chave: ténis, desenvolvimento local.

ABSTRACTProject strategic vision of the Lousada Ténis AtlânticoThis poster presents in a synthetic way the present project of LousadaAtlantic Tennis. The facilities are in an advanced state of construction,and the ATPorto thinks that in October of 2008 it is finished.This poster presents the strategy of positioning of this projecto in natio-nal and international tennis.The strategy adoptee for our country seats mainly in the formation,also betting in questions that became reference of tennis in Portugal.- Local Development; - Regional Support; - National Reference; -Strategical Partnerships in key areas; - Promotion; - Formation; -Training; - Inquiry.To an external strategy, we will try to pass Lousada for the scene ofinternational tennis, betting mainly in questions of Iberian dimension.- Euro-regional meeting point; - Iberian Positioning; - EuropeanProjection; - International Spreading.The global strategy is that Lousada Atlantic Tennis became a partenerof the development of the region of Lousada and tennis, betting in thequality and sustentabilidade of the facilities, in the strategical positio-ning and the methods of management that provide to the internationalreach of this project.Key-words: tenis, local developement

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POSICIONAMENTO E RETENÇÃO EM GINÁSIOS E HEALTH CLUBS

Gonçalves, C.; Correia, A.

RESUMOO exercício físico deixou de ser visto simplesmente comoforma de lazer para passar a ser uma necessidade de bem-estar,promoção de saúde, redução de stress e combate da obesidade.Acrescem razões que se prendem com a harmonia, o culto docorpo, a estética, o retardar do envelhecimento e o reequilíbrioemocional – conceito wellness difundido nos Ginásios e HealthClubs. Estes precisam de interagir permanentemente com ossócios na sua constante manutenção – retenção. O presenteposter apresentará em que medida é que a retenção, no contex-to dos Ginásios e Health Clubs, é influência pela percepção dossócios e como é que essa percepção influência o sócio a perma-necer. Utilizar-se-á uma metodologia qualitativa e quantitativaatravés de recurso à entrevista e ao questionário. Na análisequalitativa utilizar-se-á a análise de conteúdo e na quantitativaa estatística descritiva e inferencial. Palavras-chave: posicionamento, percepção, retenção, abando-no, ginásios e health clubs

ABSTRACTPositioning and retention in gyms and health clubs Physical exercise is no longer seen only as leisure but it has also becomea need to wellbeing, health promotion, stress reduction and obesitycombating. Other reasons are added, which are related to harmony,body cult, aesthetics, ageing delay and emotional rebalance – concept ofwellness diffused in Gyms and Health Clubs. These must permanentlyinteract with the members in their constant maintenance – retention.The present poster will discuss the extent to which retention, within thecontext of Gyms and Health Clubs, is an influence through the mem-bers’ perception and how does that perception influence the member tostay. A qualitative and quantitative method will be used by means ofinterview and questionnaire. In the qualitative analysis the contentanalysis will be used and in the quantitative analysis the descriptiveand inferential statistics.Key-words: positioning, perception, retention, drop out, gyms andhealth clubs

CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO DE UMA PROVA DE ORIENTA-ÇÃO

P.V. João, C. Nogueira, L. Vaz, A. Serôdio

RESUMOIntrodução: A orientação é uma das modalidades desportivas,que mais tem evoluído ao longo dos anos, no nosso País.Actualmente, o número de atletas nas diferentes provas atinge,um número bastante elevado. A Organização, faz a organizaçãoda organização (Pires, 2003). Pretende-se avaliar a organizaçãode uma prova internacional do ranking mundial “PortugalO’Meeting 2005”. Metodologia: A amostra foi constituída por 118 participantesna prova. Foi utilizado um questionário adaptado de Cunha(2003) já previamente testado e validado em provas deOrientação nacionais e internacionais. Foi efectuada a análise

descritiva e respectivas percentagens, de modo a caracterizar afrequência dos indicadores de respostas em estudo. Resultados/Discussão: Os resultados apontam para o sucessoda organização da prova de orientação à qualidade dos percur-sos, qualidade dos mapas e informação disponibilizada pelaorganização. A Região do Alto Tâmega possui excelentes condi-ções naturais para a prática da orientação. Palavras-chave: orientação, qualidade.

ABSTRACTCharacterization of an orientering competition organizationIntroduction: Orienteering is one of the sports that show a greatestdevelopment through the years in our country. Today, the number ofparticipants in the different kind of competitions is very high. Theorganization makes the organization (Pires, 2003). This study evalua-ting the organization of an international competition include in theworld ranking “Portugal O’Meeting”. Methods: The simple for this study was made of 118 participants. Todo this work a questionnaire adapted from Cunha (2003) and pre-viously test and approved in national and international Orientationcompetitions was used. Descriptive analyze of the percentages, in orderto characterize the frequency of the studied indicators in the answers. Results/Discussion: The success of an Orienteering competition is highlyrelated with the quality of courses, the quality of the maps and infor-mation made available by organization. The good natural conditionsthat this region has that the make it an ideal place to practice thissport.Key-words: orienteering, quality.

OS “PERCURSOS PEDESTRES E OS TERMALISTAS CLÁSSICOS EMMONFORTINHO”

Lourenço, R.; Carvalho, P.G.

RESUMONeste artigo consideram-se dois subprodutos na área doTurismo Desportivo que se designaram por Turismo deEspectáculo Desportivo (TED) e Turismo de Prática Desportiva(TPD). No estudo de caso sobre um projecto de animaçãoturística nas Termas de Monfortinho (localizadas na RegiãoCentro Transfronteiriço de Portugal) e englobado no âmbito dosegundo (TPD), procurou-se avaliar a adequação dos percursospedestres propostos ao público-alvo dos clientes das Termasbem como, através do conhecimento dos atributos das activida-des mais valorizados por estes participantes se determinou qualo peso do projecto de animação na fidelização dos clientes dasTermas. São ainda retiradas algumas conclusões sobre a impor-tância destes subprodutos na estratégia de marketing territoriale sobre o papel destas actividades desportivas no desenvolvi-mento económico regional através do sector do turismo. Palavras-chave: turismo desportivo, turismo de prática desporti-va, termalismo, marketing territorial, desenvolvimento econó-mico, Monfortinho, Portugal

ABSTRACTPedestrian pathways and the classic thermalists in monfortinhoIn this paper we consider two sub products in Sport Tourism named asSport Tourism Spectacle (STS) and Sport Tourism Practice (STP). Wepresent a case study about an Animation Tourism Project included inthe second (STP) of the Thermal Spa “Termas de Monfortinho” (loca-

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ted at the cross border centre region in Portugal). In the study we lookforward to assess how the designed hacking tracks and its attributesinfluenced their decision to come back to the Thermal spa; furthermore,we concluded about the relevance of this sub product (STP) in a globalterritorial marketing strategy and the role that sport activities play ina general tourist regional economic development framework. Key-words: sport tourism, sport tourism practice, thermals, territo-rial marketing, regional development, Monfortinho, Portugal.

HÁBITOS DE PRÁTICA FÍSICO-DESPORTIVA DA POPULAÇÃO DOS 10AOS 14 ANOS, NO CONCELHO DE RIO MAIOR

A. Maria, L. Pereira

RESUMOO estudo tem como principal objectivo, a análise dos hábitosfísico-desportivos da população dos 10 aos 14 anos, fora doâmbito da Disciplina Curricular de Educação Física. De uma População de 982 indivíduos foi retirada uma amostrade 402, a qual traduz um Intervalo de Confiança de 95% e umErro de Amostragem de 3,75%. Os dados recolhidos indicam-nos que 91,3% dos inquiridospraticam com regularidade alguma actividade físico-desportiva,dos quais 49,5% de forma organizada (desporto escolar e/ouclube) e 41,8% de forma informal.Como principal conclusão e considerando o elevado número deinquiridos que praticam desporto de forma informal (41,8%),as medidas no âmbito da política desportiva municipal deverãocontemplar incentivos ao associativismo desportivo, com facto-res de descriminação positiva, bem como para o surgimento denovos clubes, para o enquadramento desses jovens numa práti-ca desportiva organizada.Palavras-chave: educação física, actividade fisico-desportiva,politica desportiva municipal.

ABSTRACTHabits of sport practice of rio maior youth population aged 10-14 yearsThe study it has as main objectivo, the analysis of the physicist-portinghabits of the population of the 10 to the 14 years, is of the scope ofCurricular Disciplina of Physical Education.Of a Population of 982 individuals a sample of 402 was removed,which translates an Interval of 95% and an Error of Sampling of3,75% reliable.The collected data show that 91.3% of the inquired ones practise withregularity some physicist activity or sport, of which 49.5% of organi-zed form (sport in school and/or club) and 41.8% of informal form.As main inquired conclusion and considering the raised number of thatthey practise sport of informal form (41.8%), the measures in thescope of the municipal sport politicy will have to contemplate incentivesto the sport clubs, with factors of positive descrimination, as well as forthe borning of new clubs.Key-words; physical education, sport and physic activitie, municipalsport policy

PROGRAMA MUNICIPAL DE ACÇÃO DESPORTIVA: PROJECTOSENIORES ACTIVOS – MAIS MOVIMENTO E MAIS VIDA!

N. Oliveira, V. Rodrigues, C. Ferreira

RESUMOO Projecto Seniores Activos é promovido pelo Município deVila Verde, através da Empresa Municipal PROVIVER. São par-ceiros do projecto as IPSS e as Juntas de Freguesia. Aulas deActividade Física duas vezes por semana e diversos eventos deinteracção e socialização, como forma de promover a saúde ebem-estar, mas também combater a solidão a que muitos estãosujeitos, são promovidos desde 2002. As aulas realizam-se em 11 das 58 Freguesias do Concelho(área de 228.7 Km2), num total de 1040 aulas por ano em 14locais de prática, atingindo 205 pessoas entre os 65 e os 100anos. Ao nível da gestão, fazem o enquadramento técnico des-tas aulas duas professoras especializadas em actividade físicapara idosos que percorrem mais de 30.000 Km por ano no sen-tido de facilitar a acessibilidade dos idosos à actividade. O Projecto registou aumento do número de participantes, de2007 para 2008 de 30%. Este ano, foram implementadas asaulas na piscina do Complexo de Lazer de Vila Verde. Os momentos altos do ano são também celebrados neste con-texto. O Natal Desportivo é comemorado em cada centro deactividade e os ”Jogos Seniores”, o Magusto Municipal eSemana da Praia são uma festa desportiva e social conjunta. Oorçamento actual do projecto é de cerca de 30000,00€, supor-tados integralmente pelo Município. Palavras-chave: actividade física, idosos, programa municipal

ABSTRACTMunicipal program of sport action: active senior project - movemore and more lifeThe Project Active Seniors is promoted by the City of Vila Verde,through the Municipal Company PROVIVER. The IPSS and the LocalMunicipality are partners of project. Lessons of Physical Activity twicea week and diverse events of interaction and socialization, as form topromote the health and well-being, but also to fight the solitude ofmany citizens, are promoted since 2002.The lessons are become fulfilled in 11 of the 58 Clienteles of theCouncil (area of 228.7 Km2), in a total of 1040 lessons per year in14 places of practical, reaching 205 people between the 65 and 100years. To the level of the management, two teachers specialized in phy-sical activity for aged make the framing technician of these lessons thatthey cover 30,000 more than km per year in the direction to facilitatethe accessibility of the aged ones to the activity.The Project had an increase of the number of participants, of 2007 for2008 of 30%. . The lessons in the swimming pool of the Complex ofLeisure of Vila Verde had been this year implemented.The high moments of the year also are celebrated in this context. TheSport Christmas is commemorated in each center of activity and the”Games Seniors”, the Municipal “Magusto” and Week of the Beach aresport parties and social joint. The current budget of project is of about30000, 00€, supported integrally for the City.Key-words: physical activity, aged people, municipal program.

PROGRAMA MUNICIPAL DE ACÇÃO DESPORTIVA. ESCOLA MUNICI-PAL DE FUTEBOL PROVIVER/VILAVERDENSE – UMA PARCERIA DESUCESSO!

L. Pereira, J.L. Torres, N. Oliveira

RESUMOO projecto que a Proviver EM apresenta para a formação de

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jovens em futebol, é bastante amplo e tem por objectivo orga-nizacional estabelecer uma ligação sólida entre o desportomunicipal, o Vilaverdense Futebol Clube - parceiro para a ver-tente competitiva - os outros clubes e principalmente com acomunidade local. O objectivo de formar com qualidade jovens jogadores, median-te um projecto pedagógico ajustado à realidade local, e às suaspotencialidades, maximizando recursos, munido que está deum leque de bons profissionais, qualificados técnica e pedago-gicamente para as suas funções, é hoje um facto: 1Coordenador Pedagógico, 10 treinadores – todos licenciados emEducação Física- e 2 fisioterapeutas garantem o sucesso e cati-varam 160 jovens na época 2007-2008, representado umaumento de mais de 50% em relação ao projecto anterior. No final deste primeiro ano, apesar do pouco tempo paraimplantação de uma nova filosofia e metodologia, que sempre éencarada com receio, ficamos bem mais perto de um ideal queé bem concreto, que é chegar a um conceito de «escola de fute-bol», abrangente, onde o ensino se estratifica mediante níveisde aprendizagem, de desenvolvimento, tomando por referênciaindicadores científicos. As turmas dividem-se em lúdicas, e de competição, procuran-do-se em ambos os casos estimular sempre em primeiro lugaro jogo, o prazer de jogar. Há neste contexto, jovens que vêm do Vilaverdense F.C. há seisanos, e são neste momento ainda infantis. (11-12 anos). Elessão o maior capital deste projecto e arrastam outros jovens.Instalações de qualidade superior, animam pais, alunos e pro-fessores. O próximo desenvolvimento é criação de um pequeno centrode estudos, em parceria com uma entidade especializada, paraapoiar os alunos ao nível do estudo, nomeadamente na realiza-ção de trabalhos de casa, na hora entre o fim do horário escolare o início do treino. A criação de cursos de línguas ou informática para os alunos epara os pais, no espaço do Estádio Municpal de Vila Verde éuma opção em estudo. Palavras chave: formação desportiva, clube, empresa municipal,parceria, futebol

ABSTRACTMunicipal program of sport action. Proviver/Vilaverdense muni-cipal football school – a successful partnershipThe project that Proviver IN presents for the formation of young soccerplayers is sufficiently large and is main goal is to establish a solid lin-king between the municipal sport, the Vilaverdense Soccer Club - part-ner for the competitive source - the other clubs and mainly with thelocal community.The objectiv of having quality young players, trough a pedagogical pro-ject adjusted to the local reality, and to its potentialities, maximizingresources, once it as good professionals, qualified technique and pedago-gically for its functions, is today a fact: 1 Pedagogical Coordinator, 10chouch - all Physical Education degrees and 2 physiotherapists guaran-tee the success and had captivated 160 young players in 2007-2008season at the time, represented an increase of more than 50% in rela-tion to previous projects.In end of this first year, although the lack of time for implantation of anew philosophy and methodology, that always is faced with distrust,we are closer to an ideal that is concrete, that is to arrive at a conceptof “soccer school”, where eeducation of levels of development learning,

taking for reference indicating scientific. The groups divide themselves in playful, and of competition, lookingthemselves in both the cases to always stimulate in first place the game,the pleasure to play.In this context, young players that come from Vilaverdense F.C. formores than six years, and are at this moment still less than 11-12years. They are the best capital of this project and drag other young.Facilities of superior quality liven up parents, pupils and professors.The next development is a small center of studies, in partnership with aspecialized entity, to support the pupils to the level of the study, nomi-nated in the accomplishment of house works, in the hour it enters theend of the pertaining to school schedule and the beginning of the trai-nings. The creation of courses of languages or computer science for the pupilsand the parents, in the space of the Stadium Municipal of Vila Verde isan option in study.Key-words: player education, club, municipal company, partnership,soccer

A ATITUDE DO TREINADOR

G. Pires, A. Cunha, P. Queirós

Gestão do Desporto

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AVALIAÇÃO DA INTEGRAÇÃO DO DESPORTO ESCOLAR NO PRO-JECTO EDUCATIVO DE ACORDO COM OS PROFESSORES ENVOLVI-DOS NAS FUNÇÕES DE GESTÃO E COORDENAÇÃO

A. Sampaio, J. Soares

RESUMOO estudo teve como objectivo identificar as percepções dos pro-fessores sobre a integração do Desporto Escolar, no âmbito doProjecto Educativo de Escola, e verificar se estas variam segun-do os cargos dos professores envolvidos, em funções de gestãoe coordenação das actividades. Foi elaborado um questionárioanónimo, aplicado a 255 professores de Educação Física quedesempenharam funções específicas no Desporto Escolar(98%), dos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e Secundário daRegião Autónoma da Madeira, correspondendo a três grupos:os Coordenadores do Desporto Escolar, os Coordenadores deActividade Interna e os Orientadores de Equipa ou núcleos depraticantes. O tratamento estatístico foi baseado na análise des-critiva de indicadores percentuais e na utilização do teste deQui-Quadrado, que serviu para aferir a ocorrência de diferençasentre os três grupos inquiridos. Os resultados obtidos indicamque o cargo que o professor desempenha no Desporto Escolarnão tem um efeito significativo, relativamente à avaliação daintegração das actividades do sector no Projecto Educativo daescola, pois o nível de significância obtido foi superior a 0,05 (p= 0,177). No geral, os resultados indicam que o DesportoEscolar está integrado no Projecto Educativo de Escola (46%).Todavia, uma percentagem elevada (35,7%) considera que nãoestá integrado e 17,5% dos inquiridos não têm opinião ouconhecimento sobre este assunto. Os resultados também indi-cam que, em 75% das escolas, o Coordenador do DesportoEscolar não tem assento no Conselho Pedagógico, e cerca demetade dos professores preferiram não emitir opinião, em rela-ção à escola ser ou não dinâmica na conquista de parceiros.Palavras-chave: organização, desporto escolar, projecto educativo

ABSTRACTEvaluation of the school sports integration in the educationalproject of the school according to the teachers involved in mana-gement and coordination tasksThe aim of this study was not only to identify how the teachers percei-ved the integration of the School Sports in the Educational Project ofthe school, but also to determine if their perceptions changed accordingto their involvement in management and coordination tasks. An anony-mous quiz has been elaborated and 255 (98%) Physical Education tea-chers with specific tasks in the school sports of the 5th to the 9th levelsof the school system of the Autonomous Region of Madeira have beenasked to answer it. These teachers belonged to three different groups:the Coordinators of the School Sports, the Coordinators of InternalActivities and the Managers of a Team or a Group of Players. It hasbeen statistically processed using the descriptive analysis of percentindicators and the Square-Qui test, which has been useful to determineif differences among the three groups had occurred. The obtained resultsshow that the specific job each teacher has within the School Sportshas no meaningful effect on the way they evaluate the integration ofthis area in the Educational Project of the school, since the determinedvalidity level has exceeded 0.05 (p = 0.177). The general results showthat 46% of those enquired think that school sports are integrated inthe Educational Project of the school. However, a considerable number

of them (35.7%) think that it is not integrated and 17.5% said theyhave no opinion or knowledge of this matter. The results also show thatin 75% of the schools the Coordinator of the School Sports has no seatat the pedagogic council. It was also verified that about half of the tea-chers preferred not to reveal their opinion about how dynamic theirschool has been in trying to find partnerships. Key-words: organization, school sports, educational project

ATRIBUTOS DA QUALIDADE DA COMPETIÇÃO DESPORTIVA ESCO-LAR: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS PERCEPÇÕES DOS PRATI-CANTES E RESPECTIVOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO

J. Santos, J. Soares

RESUMOO estudo teve por objectivo verificar se existiam diferençasentre os praticantes do desporto escolar e os respectivos encar-regados de educação no que respeita à avaliação da qualidadedo serviço da competição desportiva escolar. O estudo foi efectuado na Região Autónoma da Madeira e con-tou com uma amostragem estratificada de 1317 alunos do 2º,3º Ciclos e Secundário praticantes do desporto escolar e respec-tivos encarregados de educação, correspondente a 25,4% douniverso, a quem foi aplicado um questionário anónimo. Foi elaborado um questionário para cada um dos grupos e otratamento estatístico baseou-se na técnica não paramétrica:independência do Qui-quadrado (X2). Os resultados indicam diferenças estatisticamente significativasentre os dois grupos: os praticantes evidenciam uma visão maiscrítica sobre o interesse das competições, o respeito pelasregras desportivas; a classificação nas competições, o númerode competições/jogos por ano (todos com p<0,001); enquantoos pais evidenciam resultados de indiferença (nem satisfeitonem insatisfeito) em relação às dimensões: interesse dos trei-nos, empenhamento dos professores e pontualidade dos profes-sores (todos com p<0,001). Palavras-chave: desporto escolar, competição desportiva, atribu-tos da qualidade

ABSTRACTAttributes of quality in school sports competition: comparativestudy between the perceptions of practitioners and their educa-tion tutorsThe study had as objectiv to verify if differences between the practitio-ners of the school sport and the respective people in charge of educationexisted in what it respects to the evaluation of the quality of the serviceof the pertaining to school sporting competition.The study was done in the Autonomous Region of Madeira and countedon a stratified sampling of 1317 pupils of 2º, 3º Cycles and Secondarypractitioners to school sport and respective people in charge of educa-tion, correspondent 25.4% of the universe, to who were applied a ques-tionnaire anonymous. A questionnaire for each one of the groups was elaborated and the sta-tistical treatment was based on the technique distribution free: indepen-dence of the Qui-square (X2).The results statistical indicate significant differences between the twogroups: the practitioners evidence a more critical vision on the interestof the competitions, the respect for the sport rules; the classification inthe competitions, the number of competitions/games per year (all withp<0,001); while the parents evidence resulted of indifference (nor

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satisfied nor unsatisfied) in relation to the dimensions: interest of thetrains, engagement of the professors and punctuality of the professors(all with p<0,001).Key-words: school sport, sportcompetition, quality attributes

O DESPORTO ADAPTADO NO CONCELHO DE SANTA MARIA DAFEIRA

M. Silva, M. J. Carvalho

RESUMOO Município de St. M.ª da Feira, no cumprimento das suas atri-buições e competências legais, criou em Setembro de 2007 oprojecto “ Natação Adaptada FeiraViva”, propiciando activida-des desportivas para a população com deficiência. Assim, o presente estudo tem como objectivo identificar aPolítica Desportiva deste Município no âmbito do DesportoAdaptado. A nossa metodologia incidiu na interpretação dos principaistextos jurídicos relativos às empresas municipais, análise docu-mental de textos de referência da empresa e realização deentrevistas semi-estruturadas ao Vereador do Pelouro doDesporto do Município, ao Director Executivo da FeiraViva eCoordenadora do grupo técnico de Natação Adaptada. Para a apresentação e discussão dos resultados empíricos pro-cedemos à análise do conteúdo das entrevistas (tarefa descriti-va e interpretativa). Concluímos com três considerações finais: 1. A Política Desportiva do Desporto Adaptado no Concelho deStª Mª da Feira, projecta-se num (restrito) âmbito da dimensãodo desporto de alto-rendimento; 2. Esta concepção unitária tem como consequência uma ofertasingular de Desporto Adaptado, direccionando exclusivamenteas pessoas com deficiência para o projecto de natação; 3. O referido projecto, circunscrito ao âmbito do alto-rendi-mento, não consegue responder às necessidades da populaçãocom deficiência, no que respeita ao carácter plural da inclusão,independentemente do valor de excelência, social e desportivo,que revela. Palavras-chave: deficiência, desporto adaptado, natação adapta-da, gestão desportiva municipal, desenvolvimento desportivo

ABSTRACTAdapted sport in the municipality of Santa Maria da FeiraIn September of 2007 the Municipality of Sª Mª da Feira createdAdapted Swimming FeiraViva providing to people with special needsthe opportunity to perform sports adjusted to their needs. These study have the objective of identified the Sport Policies as far asAdapted Sports is concerned in this Municipality. The followed methodology focused the interpretation to the main juridi-cal texts relative to municipal enterprises, the documental analysis andinterviews to Vereador do Pelouro do Desporto do Município de SantaMaria da Feira, to the Executive Director of FeiraViva and to theCoordinator of the technical group of Adapted Swimming. Later took part the interviews presentation and discussion (descriptiveand interpretative task). The investigation culminated with three important considerations: 1. The Sports Policy of Adapted Sport in Municipality of Stª Mª daFeira consists in a restrictive conception of the dimension of high per-formance sport.

2. This unitary conception has as a consequence a Sports restrictiveprovision, routing only people with disabilities to the swimming draft. 3. The project, limited the scope of high-income, can not meet the aspi-rations of people with disabilities, with respect to the diversity of inclu-sion.Key-words: adapted sport, adapted swimming, people with specialneeds, municipally management sport, sport development

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO IPATING FUTEBOL CLUBE: UMAANÁLISE CRÍTICA

J.A. Soares, P.L. Lobato

RESUMOEntre as dificuldades enfrentadas por alguns clubes de futebolbrasileiros uma está relacionada à capacidade de montar e man-ter uma estrutura organizacional que de fato dê um bom supor-te de trabalho para o clube. O objetivo deste estudo foi identifi-car a estratégia administrativa que vem sendo adotada peloIpatinga e discutir em relação às adotadas por outros clubese/ou preconizadas pela literatura. Para isso, desenvolveu-se umestudo dentro de um modelo de estudo de caso, cuja estruturainvestiga um fenômeno contemporâneo, em específico, dentrode seu contexto real, no caso, a ascensão do Ipatinga Futebolclube. Para o desenvolvimento do estudo foram realizadas asseguintes atividades: pesquisa bibliográfica sobre o tema admi-nistração e marketing esportivo, elaboração e aplicação de umaentrevista semi-estruturada a integrantes da administração doIpatinga Futebol Clube, consulta a arquivos, banco de dados,documentos e materiais históricos para levantamento de dadossobre o clube, visitas técnicas para realização das entrevistas econhecimento da infra-estrutura física e funcional do clube. Apartir dos resultados obtidos foi possível verificar que oIpatinga Futebol Clube não apresenta um modelo de gestãoexclusiva, ele apenas faz adaptações circunstanciais que temdado bons resultados, sendo que o diferencial maior se reportaàs parcerias firmadas. Não existe um “modelo de administra-ção” no Ipatinga. A administração é feita com base naquilo quea literatura prevê; são as atitudes e uma série de ações coeren-tes canalizadas para este fim que acabam por fazer a equipealcançar bons resultados e conseqüente êxito nas relações.Palavras-chave: futebol, administração esportiva, marketingesportivo, parcerias no futebol

ABSTRACTIpatinga Football Club organizational strcture: a critical analysisAmong the difficulties confronted by some Brazilian soccer teams, oneof them is related to the capacity of building and keeping an organizedstructure that gives the tem a good working support. The goal of thisstudy was to identify the administrative strategy that is being used byIpatinga and to discuss the ones being used by others teams and/ormentioned by literature. Having that in mind, a research in a model ofstudy was developed and it searches a contemporany phenomena, speci-fically inside its real context, like the rising of Ipatinga Football Club.Fot the development of the study, the following activities were perfor-med: bibliographic research about sport´s business and marketing,semi-structured interview to the Ipatinga managers, file research to theIpatinga´s databank and club history and technical visits to verifyIpatinga´s facilities. From the results obtained, it was possible to verifythat the Ipatinga Football Club doesn´t have an exclusive business

Gestão do Desporto

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model, it just makes circumstantial adaptations that have good results,mainly as results of the established cooperation’s. There isn´t a “modelof administration” in the Ipatinga. The administration is made basedon what literature foresees; it is the attitudes and a series of coherentactions directed to that the main responsible for the tem goo results. Key-words: soccer, sports business, sports marketing, soccer coopera-tion

EMPREGABILIDADE NO DESPORTO: OFERTA E PROCURA DEEMPREGO NO ENSINO PÚBLICO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

M. Teixeira, D. Padilha, G. Figueiredo, R. Carvalho

RESUMOEste estudo pretende quantificar a taxa de empregabilidade nomercado do ensino público de Educação Física, comparando onúmero de diplomados do ensino superior público e privado, eo número de docentes concorrentes ao ensino básico e secun-dário. Fizeram parte da amostra Universidades de EnsinoSuperior Público e Particular/Cooperativo Universitário (10),bem como os Institutos do Ensino Superior Público eParticular/Cooperativo Politécnico (22). Foram também anali-sados os docentes que concorreram ao ensino público dos gru-pos de docência 260 e 620 nos anos lectivos de 2004/2005 a2006/2007. Os resultados indicam que o número de alunosque são formados no ensino superior e entram no mercado detrabalho, nomeadamente no ensino, aumenta ao longo dos 3anos lectivos. O mesmo acontece com o número de docentesque concorre ao Ensino Básico e Secundário. Quando analisa-dos todos os resultados, concluímos que o número de coloca-dos, não colocados e excluídos do concurso de docentes, e tam-bém o número de diplomados do Ensino Superior aumenta deano para ano, fazendo com que as listas de espera para coloca-ção sejam cada vez maiores. Juntando este facto ao aumento donúmero de alunos formados, conferimos que o mercado de tra-balho está a ficar cada vez mais esgotado. Palavras-chave: ensino superior, diplomados, empregabilidade,colocados

ABSTRACTEmployability in sport: job offers and demand for physical educa-tion teaching in the public education system This study is supposed to quantify the percentage of job offers in physi-cal education, specifically speaking, public teaching, being done by com-paring the number of graduated college students, private and publicand the number teachers placed in public teaching. As part of the sam-ple, public, general (10), and private, general and politechnical (22),Universities. Teachers who applied to teaching group posts 260 and620 from 2004/2005 till the school year of 2006/2007, where alsoanalyzed. The results show that the number of graduated who enter thejob market, teaching, increased threw those 3 school years, in the uni-versities. The same happens for teachers applying to elementary andhigh school. After an analysis of the results, we concluded that thenumber of: placed, not placed and excluded from the teachers placementprogram, as well as the number of graduated increases year by year,this makes the waiting lists to grow. Adding this to the increase of gra-duated, we verified that the working market is getting “dry” and nee-ding of opportunities for the freshly graduated. Key-words: elementary teaching, graduated university, job offering,high school teaching

O DESPORTO NÃO É UM DESPORTO PIN: O DESPORTO É UM PRO-JECTO VITAL PARA PORTUGAL

F. Tenreiro

RESUMOEm Portugal em 2008 as profissões ligadas à produção despor-tiva são actividades de risco e ameaçadas pelo desemprego efalência dos investimentos realizados. Os professores de educa-ção física, os treinadores e os gestores de organizações despor-tivas esperam que o futuro lhes traga benefícios para os seusinvestimentos. A sua expectativa é razoável e corresponde auma apreciação desfasada da realidade desportiva portuguesa eda sua política desportiva. Desenganem-se porque não são asSADs, ginásios e clubes-empresa que lhes trarão o plenoemprego, os salários competitivos e os praticantes que tornarãorentáveis os seus investimentos escolares, profissionais eempresariais. Aliás, no actual clima do mercado do desporto osinvestimentos empresariais poderão ter resultados nulos emesmo negativos fazendo-os perder os investimentos pessoaisrealizados. O modelo de desenvolvimento desportivo portuguêsé um modelo cuja característica económica incide sobre a suaintensidade de capital que em termos europeus está mal direc-cionada, é ineficiente e frequentemente errada. O objecto destetexto é o de propor medidas de política desportiva que assegu-rem a eficiência dos investimentos efectuados pelos seus agen-tes privados visando a satisfação das necessidades da popula-ção.Palavras-chave: Investimento, mercado de desporto, modelo dedesenvolvimento de desporto

ABSTRACTSport is vital project for PortugalIn Portugal in 2008 the professions related to the sport production areactivities of risk and threatened by the unemployment and bankruptcyof the carried through investments. The professors of physical educa-tion, the trainers and the managers of sport organizations wait thatthe future brings them benefits for its investments.Its expectation is reasonable and corresponds to a bad appreciation ofthe Portuguese sport reality and its sport policy. They are undeceived because they are not the competitive SADs, gym-nasia and club-company that will bring them the full job, wages andthe practitioners that will become income-producing its pertaining toschool investments, professional and enterprise.By the way, in the current climate of the market of the sport the enter-prise investments will be able to have resulted null and exactly negativemaking to lose them the carried through personal investments.The Portuguese sport development model is one whose economical cha-racteristic happens on its intensity of capital that in European termsbadly is directed, inefficient and is frequent missed.The object of this text is to consider measured of sport politics thatassures the efficiency of the investments effectuates for its privateagents aiming at the satisfaction of the necessities of the population.Key-words: Investment, market of sport, model of sport development.

Gestão do Desporto

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Rev Port Cien Desp 9(2) 209–221 221

COMO AUMENTAR A PRODUTIVIDADE DA FORÇA DE VENDAS DEUM CLUBE DE LAZER? TRÊS FACTORES DETERMINANTES

M. Arraya RESUMOA medição da produtividade e posterior incremento são desa-fios permanentes dos departamentos comerciais alinhados como sucesso. A proliferação de ginásios, clubes de lazer ou acade-mias obrigou as organizações a agirem sobre o mercado atravésde vendedores especializados no produto lazer desportivo. Estanova realidade exortou a força de vendas a actuar proactiva-mente na conquista de patamares produtivos mais elevados,onde a introdução de novos factores é determinante.Palavras-Chave: Força Vendas, produtividade, capacidade voliti-va, motivação e competências.

ABSTRACTHow to increase the productivity of a sales force club of leisure?Three determinant factors The measurement of the productivity and posterior increment are per-manent challenges of the lined up commercial departments with the suc-cess. The proliferation of gymnasia, clubs of leisure or academies com-pelled the organizations to act on the market through salesmen speciali-zed in the product sport leisure. These new realities balance the force ofsales to act proactively in the conquest of higher productive platforms,where the introduction of new factors is determinative.Key-words: sales force, productivity, volitional capacity, motivationand abilities.

Gestão do Desporto

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Tipos de publicação

Investigação originalA RPCD publica artigos origi-nais relativos a todas as áreasdas ciências do desporto.

Revisões da investigaçãoA RPCD publica artigos desíntese da literaturaque contribuam para a gene-ralização do conhecimentoem ciências do desporto.Artigos de meta-análise erevisões críticas de literaturasão dois possíveismodelos de publicação.Porém, este tipo de publica-ção só estará aberto aespecialistas convidados pelaRPCD.

ComentáriosComentários sobre artigosoriginais e sobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como são fran-camente encorajados pelocorpo editorial.

Estudos de casoA RPCD publica estudos decaso que sejam consideradosrelevantes para as ciências dodesporto. O controlo rigorosoda metodologia é aqui umparâmetro determinante.

EnsaiosA RPCD convidará especia-listas a escreverem ensaios,ou seja, reflexões profundassobre determinados temas,sínteses de múltiplas aborda-gens próprias, onde à argu-mentação científica, filosófi-ca ou de outra natureza seadiciona uma forte compo-nente literária.

Revisões de publicaçõesA RPCD tem uma secçãoonde são apresentadas revi-sões de obras ou artigospublicados e que sejam con-siderados relevantes para asciências do desporto.

Regras gerais de publicação

Os artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ou experi-mentais, na área das ciênciasdo desporto. A parte subs-tancial do artigo não deveráter sido publicada em maisnenhum local. Se parte doartigo foi já apresentadapublicamente deverá serfeita referência a esse factona secção deAgradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados pelos edito-res-chefe e terão como crité-rios iniciais de aceitação:normas de publicação, rela-ção do tópico tratado com as ciências do desporto emérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, se for considerado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. A acei -tação de um e a rejeição deoutro obrigará a uma 3ª consulta.

Preparação dos manuscritos

Aspectos geraisCada artigo deverá seracompanhado por umacarta de rosto que deveráconter:– Título do artigo e nomesdos autores;– Declaração de que o artigonunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverãoser escritos em papel A4com 3 cm de margem, letra12 e com duplo espaço enão exceder 20 páginas;– As páginas deverão sernumeradas sequencialmen-te, sendo a página de títuloa nº1;

Dimensões e estilo– Os artigos deverão ser omais sucintos possível; Aespeculação deverá ser ape-nas utilizada quando osdados o permitem e a lite-ratura não confirma;– Os artigos serão rejeitadosquando escritos em portu-guês ou inglês de fracaqualidade linguística; – As abreviaturas deverãoser as referidas internacio-nalmente;

Página de títuloA página de título deveráconter a seguinte informação:– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);– Título conciso mas sufi-cientemente informativo;– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir graus acadé -micos)– “Running head” concisanão excedendo os 45 carac-teres;– Nome e local da institui -ção onde o trabalho foi rea-lizado;

– Nome e morada do autorpara onde toda a corres-pondência deverá serenviada, incluindo endere-ço de e-mail;

Página de resumo– Resumo deverá ser infor-mativo e não deverá refe-rir-se ao texto do artigo;– Se o artigo for em portu-guês o resumo deverá serfeito em português e eminglês;– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;– Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;– O resumo não deverá exce-der as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientementecompreensível, explicitan-do claramente o objectivodo trabalho e relevando aimportância do estudo faceao estado actual do conhe-cimento;– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá serincluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;– Os métodos deverão serajustados ao objectivo doestudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau defidelidade;– Quando utilizados huma-nos deverá ser indicadoque os procedimentos utili-zados respeitam as normasinternacionais de experi-mentação com humanos(Declaração de Helsínquia de 1975);

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

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– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a uma comis-são de ética;– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípios acti-vos, dosagem e dosagem;– A confidencialidade dossujeitos deverá ser estrita-mente mantida;– Os métodos estatísticosutilizados deverão ser cui-dadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão ape-nas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;– Os resultados só deverãoaparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura;– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;– Unidades, quantidades efórmulas deverão ser utili-zados pelo SistemaInternacional (SI units). – Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os aspec-tos mais importantes doestudo deverão ser relevadosde forma clara e concisa;– Não deverão ser repetidosos resultados já apresen -tados;– A relevância dos dadosdeverá ser referida e a com -paração com outros estudosdeverá ser estimulada;– As especulações não supor-tadas pelos métodos esta-

tísticos não deverão serevitadas;– Sempre que possível, deve-rão ser incluídas recomen-dações;– A discussão deverá sercompletada com um pará-grafo final onde são realça-das as principais conclu-sões do estudo;

Agradecimentos– Se o artigo tiver sido par-cialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;– Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão sercitadas no texto por núme-ro e compiladas alfabetica-mente e ordenadas numeri-camente;– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normas interna-cionais (ex: IndexMedicus);– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendo assina-lados como “dados nãopublicados”;– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-revie-wed” será uma condição denão aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. Int JSports Med 18: 113-117

LIVRO COMPLETOHudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London: AcademicPress Inc. Ltd.CAPÍTULO DE UM LIVROBalon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254FIGURASFiguras e ilustrações deve-rão ser utilizadas quandoauxiliam na melhor com-preensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;As figuras deverão serimpressas em folhas sepa-radas daquelas contendo ocorpo de texto do manus-crito. No ficheiro informá-tico em processador detexto, as figuras deverãotambém ser colocadasseparadas do corpo detexto nas páginas finais domanuscrito e apenas umaúnica figura por página;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão ser evi-tadas;QUADROSOs quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com as mes-mas regras das referidas

para as legendas e figuras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar as abreviatu-ras utilizadas no quadro.

Formas de submissão

A submissão de artigos paraa RPCD poderá ser efectuadapor via postal, através doenvio de 1 exemplar domanuscrito em versãoimpressa em papel, acompa-nhada de versão gravada emsuporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo oartigo em processador detexto Microsoft Word(*.doc).Os artigos poderão igual-mente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheirocontendo o manuscrito emprocessador de textoMicrosoft Word (*.doc) e adeclaração de que o artigonunca foi previamente publicado.

Endereços para envio de artigos

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugalE-mail: [email protected]

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Working materials (manuscripts)

Original investigationThe PJSS publishes originalpapers related to all areas ofSport Sciences.

Reviews of the literature (state of the art papers)State of the art papers or critical literature reviews arepublished if, and only if,they contribute to the gener-alization of knowledge.Meta-analytic papers or gen-eral reviews are possiblemodes from contributingauthors. This type of publi-cation is open only to invitedauthors.

CommentariesCommentaries about pub-lished papers or literaturereviews are highly recom-mended by the editorialboard and accepted.

Case studiesHighly relevant case studiesare favoured by the editorialboard if they contribute tospecific knowledge withinthe framework of SportSciences research. Themeticulous control ofresearch methodology is afundamental issue in termsof paper acceptance.

EssaysThe PJSS shall invite highlyregarded specialists to writeessays or careful and deepthinking about severalthemes of the sport sciencesmainly related to philosophyand/or strong argumentationin sociology or psychology.

Book reviewsThe PJSS has a section forbook reviews.

General publication rules

All papers submitted to thePJSS are obliged to haveoriginal data, theoretical orexperimental, within therealm of Sport Sciences. It ismandatory that the submit-ted paper has not yet beenpublished elsewhere. If aminor part of the paper waspreviously published, it hasto be stated explicitly in theacknowledgments section.All papers are first evaluatedby the editor in chief, andshall have as initial criteriafor acceptance the following:fulfilment of all norms, clearrelationship to SportSciences, and scientificmerit. After this first screen-ing, and if the paper is firstlyaccepted, two independentreferees shall evaluate itscontent in a “double blind”fashion. A third referee shallbe considered if the previoustwo are not in agreementabout the quality of thepaper.After the referees receive themanuscripts, it is hoped thattheir reviews are posted tothe editor in chief in nolonger than a month.

Manuscript preparation

General aspectsThe first page of the manu-script has to contain:– Title and author(s)name(s)– Declaration that the paperhas never been published

Format– All manuscripts are to betyped in A4 paper, withmargins of 3 cm, usingTimes New Roman stylesize 12 with double space,and having no more than20 pages in length.– Pages are to be numberedsequentially, with the titlepage as nr.1.

Size and style– Papers are to be written ina very precise and clearlanguage. No place is allowed for speculationwithout the boundaries ofavailable data.– If manuscripts are highlyconfused and written in avery poor Portuguese orEnglish they are immedi-ately rejected by the editorin chief.– All abbreviations are to beused according to interna-tional rules of the specificfield.

Title page– Title page has to containthe following information:– Specification of type ofmanuscript (but see work-ing materials-manu-scripts).– Brief and highly informa-tive title.– Author(s) name(s) withfirst and middle names (donot write academicdegrees)– Running head with nomore than 45 letters.– Name and place of the aca-demic institutions.

– Name, address, fax num-ber and email of the per-son to whom the proof isto be sent.

Abstract page– The abstract has to be veryprecise and contain nomore than 200 words,including objectives,design, main results andconclusions. It has to beintelligible without refer-ence to the rest of thepaper.– Portuguese and Englishabstracts are mandatory.– Include 3 to 6 key words.– Do not use abbreviations.

Introduction– Has to be highly compre-hensible, stating clearly thepurpose(s) of the manu-script, and presenting theimportance of the work.– Literature review includedis not expected to beexhaustive.

Material and methods– Include all necessary infor-mation for the replicationof the work without anyfurther information fromauthors.– All applied methods areexpected to be reliable andhighly adjusted to theproblem.– If humans are to be usedas sampling units in exper-imental or non-experimen-tal research it is expectedthat all procedures followHelsinki Declaration ofHuman Rights related toresearch.– When using animals allethical principals related toanimal experimentation areto be respected, and whenpossible submitted to anethical committee.– All drugs and chemicalsused are to be designatedby their general names,

Portuguese Journal of Sport Sciences

PUBLICATION NORMS

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active principles anddosage.– Confidentiality of subjectsis to be maintained.– All statistical methodsused are to be preciselyand carefully stated.

Results– Do provide only relevantresults that are useful fordiscussion.– Results appear only oncein Tables or Figures.– Do not duplicate informa-tion, and present only themost relevant results.– Importance of main resultsis to be explicitly stated.– Units, quantities and for-mulas are to be expressedaccording to theInternational System (SIunits).– Use only metric units.

Discussion– New information comingfrom data analysis shouldbe presented clearly.– Do no repeat results.– Data relevancy should becompared to existing infor-mation from previousresearch.– Do not speculate, other-wise carefully supported,in a way, by insights fromyour data analysis.– Final discussion should besummarized in its majorpoints.

Acknowledgements– If the paper has been part-ly presented elsewhere, doprovide such information.– Any financial supportshould be mentioned.

References– Cited references are to benumbered in the text, andalphabetically listed.– Journals’ names are to becited according to general

abbreviations (ex: IndexMedicus).– Please write the names ofall authors (do not use etal.).– Only published or “inpress” papers should becited. Very rarely areaccepted “non publisheddata”.– If non-reviewed papers arecited may cause the rejec-tion of the paper.

ExamplesPEER-REVIEW PAPER1 Pincivero DM, LephartSM, Kurunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. In JSports Med 18:113-117COMPLETE BOOKHudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London:AcademicPress Inc. Ltd.BOOK CHAPTERBalon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254FIGURESFigures and illustrationsshould be used only for abetter understanding of themain text.Use sequence arabic num-bers for all Figures.Each Figure is to be pre-sented in a separated sheetwith a short and precisetitle.In the back of each Figuredo provide informationregarding the author andtitle of the paper. Use apencil to write this infor-mation.

All Figures and illustra-tions should have excellentgraphic quality I black andwhite.Avoid photos from equip-ments and human subjects.TABLESTables should be utilized topresent relevant numericaldata information.Each table should have avery precise and short title.Tables should be presentedwithin the same rules asLegends and Figures.Tables’ footnotes should beused only to describeabbreviations used.

Manuscript submission

The manuscript submissioncould be made by post send-ing one hard copy of thearticle together with an elec-tronic version [MicrosoftWord (*.doc)] on CD-ROMor DVD.Manuscripts could also besubmitted by e-mail attach-ing an electronic file version[Microsoft Word (*.doc)]together with the declarationthat the paper has neverbeen previously published.

Address for manuscript submission

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugalE-mail: [email protected]

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revista portuguesa de

ciências do desporto

revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences]

Volume 9 · Nº 2 (Supl. 1)Novembro 2009

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Publicação quadrimestralVolume 9 · Nº 2 (Supl. 1) Nov. 2009ISSN 1645–0523Dep. Legal 161033/01

Vol. 9, Nº 2

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional

Ciência, Tecnologia, Inovaçãodo Quadro Comunitário

de Apoio III

ARTIGOS [PAPERS]

Gestão desportiva: análise das dissertações de Mestrado e teses deDoutoramento na Faculdade de Desporto da Universidade do PortoSport Management: analysis of Master dissertations and Doctoral Thesesfrom the Faculty of Sport, University of OportoJosé Pedro Sarmento, Maria José Carvalho,Ricardo Barreto Coelho, Daiane Miranda de Freitas

A criatividade como alavanca para uma melhor gestão desportivaCreativity as leverage for better sports managementMafalda Moreira, Daiane Miranda de Freitas

Políticas públicas desportivas: avaliação do nível de execuçãoe eficácia nos municípios da Área Metropolitana do PortoPublic sportive policies: assessment of the performance and effectivenessin the municipalities belonging to the Metropolitan Area of PortoCarlos Januário, Pedro Sarmento, Maria José Carvalho

Empresas municipais de desporto: contributos para a suacaracterização legal, funcional e relacionalMunicipal enterprises of sport: contributions to the legal,functional and relational characterizationMaria José Carvalho, José Cancela Moura, Nancy Oliveira

Hábitos desportivos dos jovens do interior nortee litoral norte de PortugalSports habits of youth from Portugal north interior and coastViriato Santos Costa, António Serôdio-Fernandes, Miguel Maia

Relação entre esgotamento e satisfaçãoem jovens praticantes desportivosRelationship between burnout and satisfaction in young sports practitionersAntónio Rosado, Isabel Mesquita, Abel Correia, Carlos Colaço

Estratégias do desporto universitário PortuguêsStrategies of college sports: a case study about sports in portuguese collegesCarlos P. Colaço, Leandro A. Fleck

Percepções dos professores do desporto escolar sobre a relação entreo sector escolar e o sector federado da Região Autónoma da MadeiraTeacher's perceptions of school sport regarding the relationbetween school and federated sector in the Autonomous Region of MadeiraJorge Soares

Estudo do potencial empreendedor dos acadêmicosdo 7º período do curso de educação física da UFVStudy of the entrepreneurial potential of physical education studentsof the 7th course period at the Federal University of ViçosaPaulo Lanes Lobato, Dilermando Duarte do Carmo

Caracterização das funções do coordenador técnico em Basquetebol:estudo realizado com os clubes da Associação de Basquetebol de AveiroCharacterization of the roles of a basketball technical coordinator:study in the basketball association clubs of AveiroNuno Leite, Victor Maçãs, Jaime Sampaio, Marina Carvalho

Caracterização do perfil retrospectivo do dirigente esportivo declube de futebol profissional da primeira divisão, entre os anos2003 e 2007Retrospective characterization of the profile of football pro-league sport managers,between the years 2003 and 2007Paulo Henrique Azevedo, Rubens Eduardo Nascimento Spessoto

Percurso profissional dos licenciados em Educação Física eDesporto, com opção de Futebol, pela Universidadede Trás-os-Montes e Alto Douro, entre 1992 e 2006Professional career of graduates in physical education and sport with specializationon soccer by the University of Trás-os-Montes and Alto Douro, between 1992 and 2006Victor Maçãs, Carlos Valadar, António Serôdio,José Carlos Leitão, Jaime Sampaio, Nuno Leite

Turismo de prática desportiva:um segmento do mercado do turismo desportivoSport practice tourism: a segment of sport tourism marketPedro Guedes de Carvalho, Rui Lourenço

Sobre o (des)equilíbrio financeiro da primeira décadado Sporting, sociedade desportiva de futebol, SADAbout the financial (un)balance of the first decade of Sporting Soccer Sport SocietyMargarida Boa Baptista, Paulo de Andrade

Prestação de Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008Performance of Portugal in the Beijing 2008 Olympic GamesAlfredo J. Silva

O Olimpismo hoje. De uma diplomacia do silêncio parauma diplomacia silenciosa. O caso das duas ChinasThe Olympic movement today. From a diplomacy of silence to a silent diplomacy.The case of both ChinaGustavo Pires

Abandono no Andebol na Região Autónoma da MadeiraHandball drop-out in Autonomous Region of MadeiraNorberta Fernandes, Abel Correia e Ana Maria Abreu

RESUMOS [ABSTRACTS]

9º Congresso Nacional de Gestão do Desporto1º Congresso Internacional de Gestão do DesportoDesenvolvimento do Desporto