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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do PortoVol. 6, Nº 2, Maio·Agosto 2006ISSN 1645-0523 · Dep. Legal 161033/01

DirectorJorge Olímpio Bento (Universidade do Porto)

EditoresAntónio Teixeira Marques (Universidade do Porto)José Oliveira (Universidade do Porto)

Conselho editorial [Editorial Board]Adroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul, Brasil)António Prista (Universidade Pedagógica, Moçambique)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia, Alemanha)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina, Bélgica)Go Tani (Universidade São Paulo, Brasil)Ian Franks (Universidade de British Columbia, Canadá)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa, Portugal)Jorge Mota (Universidade do Porto, Portugal)José Alberto Duarte (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel)Neville Owen (Universidade de Queensland, Austrália)Rafael Martín Acero (Universidade da Corunha, Espanha)Robert Brustad (Universidade de Northern Colorado, USA)Robert M. Malina (Universidade Estadual de Tarleton, USA)

Comissão de Publicação [Publication Committee]Amândio Graça (Universidade do Porto, Portugal)António Manuel Fonseca (Universidade do Porto, Portugal)Eunice Lebre (Universidade do Porto, Portugal)João Paulo Vilas Boas (Universidade do Porto, Portugal)José Pedro Sarmento (Universidade do Porto, Portugal)Júlio Garganta (Universidade do Porto, Portugal)Maria Adília Silva (Universidade do Porto, Portugal)Olga Vasconcelos (Universidade do Porto, Portugal)Ovídio Costa (Universidade do Porto, Portugal)Rui Garcia (Universidade do Porto, Portugal)

Design gráfico e paginação Armando Vilas BoasImpressão e acabamento Multitema

Assinatura Anual Portugal e Europa: 37,50 Euros Brasil e PALOP: 45 Euros, outros países: 52,50 EurosPreço deste número Portugal e Europa: 15 Euros Brasil e PALOP: 15 Euros, outros países: 20 Euros

Tiragem 500 exemplaresCopyright A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director.

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700; Fax: +351–225500689www.fcdef.up.pt – [email protected]

Consultores [Consulting Editors]Alberto Amadio (Universidade São Paulo)Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro)Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas)Anthony Sargeant (Universidade de Manchester)Antônio Carlos Guimarães† (Universidade Federal Rio Grande Sul)António da Paula Brito (Universidade Técnica Lisboa)António José Silva (Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro)António Roberto da Rocha Santos (Univ. Federal Pernambuco)Carlos Balbinotti (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia)Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa)Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro)Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina)Duarte Freitas (Universidade da Madeira)Eduardo Kokubun (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)Francisco Alves (Universidade Técnica de Lisboa)Francisco Camiña Fernandez (Universidade da Corunha)Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa)Francisco Martins Silva (Universidade Federal Paraíba)Glória Balagué (Universidade Chicago)Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa)Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia)Helena Santa Clara (Universidade Técnica Lisboa)Hugo Lovisolo (Universidade Gama Filho)Isabel Fragoso (Universidade Técnica de Lisboa)Jaime Sampaio (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon)Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga)João Barreiros (Universidade Técnica de Lisboa)José A. Barela (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)José Alves (Escola Superior de Desporto de Rio Maior)José Luis Soidán (Universidade de Vigo)José Manuel Constantino (Universidade Lusófona)José Vasconcelos Raposo (Univ. Trás-os-Montes Alto Douro)Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina)Jürgen Weineck (Universidade Erlangen)Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho)Lilian Teresa Bucken Gobbi (Univ. Estadual Paulista, Rio Claro)Luiz Cláudio Stanganelli (Universidade Estadual de Londrina)Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa)Manoel Costa (Universidade de Pernambuco)Manuel João Coelho e Silva (Universidade de Coimbra)Manuel Patrício (Universidade de Évora)Manuela Hasse (Universidade Técnica de Lisboa)Marco Túlio de Mello (Universidade Federal de São Paulo)Margarida Espanha (Universidade Técnica de Lisboa)Margarida Matos (Universidade Técnica de Lisboa)Maria José Mosquera González (INEF Galiza)Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina)Mauricio Murad (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Pablo Greco (Universidade Federal de Minas Gerais)Paula Mota (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Paulo Farinatti (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Paulo Machado (Universidade Minho)Pedro Sarmento (Universidade Técnica de Lisboa)Ricardo Petersen (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa)Silvana Göllner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Valdir Barbanti (Universidade São Paulo)Víctor Matsudo (CELAFISCS)Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa)Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança)Wojtek Chodzko-Zajko (Universidade Illinois Urbana-Champaign)

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Vol. 6, Nº 2, Maio·Agosto 2006

ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS]

143 Alterações imunológicas e antropométricas induzidas por uma ultramaratona em Kayak. Um estudo de casoImmunological and antropometric changes induced by an ultramarathon in kayak. A case studyJ.A. Rodrigues dos Santos, J. Candeias, M.C. Magalhães

154 Comparação entre a intensidade do esforço realiza-da por jovens futebolistas no primeiro e no segundotempo do jogo de FutebolComparison between the effort intensity of young soccer players in the first and second halves of the soccer gameLucas Mortimer, Luciano Condessa, ViníciusRodrigues, Daniel Coelho, Danusa Soares,Emerson Silami-Garcia

160 Exercício contínuo e intermitente: Efeitos do treina-mento e do destreinamento sobre o peso corporal e o metabolismo muscular de ratos obesosContinuous and intermittent exercise: Effects of training and detraining on body weight and muscle metabolism in obese ratsLarissa Braga, Maria Mello, Fúlvia Manchado,Claudio Gobatto

170 Exercício rosca bíceps: influência do tempo de exe-cução e da intensidade da carga na atividade eletro-miográfica de músculos lombaresBiceps curl exercise: endurance time and load level effects in the electromyographic activity of lumbar muscles Anderson Oliveira, Mauro Gonçalves, Adalgiso Cardozo, Fernando Barbosa

179 Efeito do número de demonstrações na aquisição de uma habilidade motora: um estudo exploratórioEffect of the number of demonstrations on a motor skill learning: An exploratory studyAlessandro Bruzi, Leandro Palhares, João Fialho,Rodolfo Benda, Herbert Ugrinowitsch.

188 Análise da assimetria nos padrões fundamentaisarremessar e chutar em criançasAsymmetry analysis of overarm throwing and kicking motor patterns in children

Ilca Santos, Guilherme Lage, Adriana Calvacante,Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo Benda

194 A competência percebida pelos alunos, as expectati-vas do professor e o desempenho académico: comose relacionam na disciplina de educação física?Pupil's self-perceived competence, teacher expectations, and acade-mic performance: How do they relate in Physical Education?José Henrique, Carlos Januário

205 As associações desportivas em Porto Alegre, Brasil:espaço de representação da identidade culturalteuto-brasileiraThe sport associations in Porto Alegre, Brazil: space for representationof the German-Brazilian cultural identityJanice Mazo, Adroaldo Gaya

ARTIGOS DE REVISÃO [REVIEWS]

217 Glicocorticóides e síndrome metabólica: aspectosfavoráveis do exercício físico nesta patofisiologia Metabolic Syndrome and Glucocorticoid: Favorable aspects of physicalexercise on this pathophysiologyJ. Rodrigo Pauli, Luciana Souza, GustavoRogatto, Ricardo Gomes, Eliete Luciano

229 Compreendendo o overtraining no desporto: da definição ao tratamentoUnderstanding overtraining in sports: from definition to treatmentAdelino S. R. Silva, Vanessa Santhiago, Cláudio A. Gobatto

ENSAIO [ESSAY]

241 Não se deve identificar força explosiva com potênciamuscular, ainda que existam algumas relaçõesentre ambasOne should not compare explosive strength and muscular power even if some connection can be found between both abilitiesCarlos Carvalho, Alberto Carvalho

249 Pedagogia da viagem. Arlequim, Mestiço, Híbrido,uma colcha de retalhosTraveler’s pedagogyAdroaldo Gaya

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional Ciência,Tecnologia, Inovação do Quadro

Comunitário de Apoio III

Nota editorialDiário de bordo — Ventos alísios

Jorge Bento

VIAGEM

Aparelhei o barco da ilusãoE forcei a fé do marinheiroEra longe o meu sonho, e traiçoeiroO mar...(Só nos é concedidaEsta vida que temos;E é nela que é precisoProcurar o velho paraísoQue perdemos.)Prestes, larguei a velaE disse adeus ao cais, à paz tolhida.Desmedida, a revolta imensidãoTransforma dia a dia a embarcaçãoNuma errante e alada sepultura...Mas corto as ondas sem desanimar.Em qualquer aventura, O que importa é partir, não é chegar.

Miguel Torga

1. Preocupam-me os excessos do futebol. Tal comoas claques que se assemelham a hordas de selvagens,sem cultura e sem alma, por dentro vazios de princí-pios e valores, mas cheios de instintos bárbaros eprimários. Assusta-me que haja gente que esgota avida a brigar por uma equipa. E que se entrega aofutebol a ponto de se esquecer da sua vida, de outravida, com outro sentido e elevação.Sim, essa forma de extremismo e fanatismo religiosodá que pensar e temer. Mas assusta-me muito mais acomissão liquidatária da alma lusitana - escarolada,limpa, laboriosa, íntegra, proba, séria e honrada –que se instalou entre nós. As marcas nobres dessa

alma, os traços essenciais e ancestrais que a perfa-zem e exaltam estão a ser abatidos e entregues aodesbarato pelo despudor neoliberal. O pensamento filosófico, na antiguidade como nopresente, viu e vê na ilusão o alimento preferido dafelicidade. Tudo quanto seja fonte multiplicadora deencantamento e ilusão leva a modalidades superioresde configuração da vida e portanto abeira da felicida-de ou, no mínimo, oferece momentos e oportunida-des de concretização desta utopia. Não podemos,pois, deixar de ver o desporto em geral e o futebolem particular como um campo de sementeira fértilde ilusões e, por via destas, de vivência de situaçõesúnicas e renováveis de felicidade. Ora é isto mesmoque o Mundial de Futebol constitui para tantas pes-soas em todos os recantos do globo, para mim emilhões de portugueses. O apego ao futebol traduzdescrença no resto. É a única tábua de salvação àvista de um povo à deriva. Por isso também tenhomedo dos tempos seguintes à conclusão do certame.O vazio promete alastrar. Aonde iremos buscar a ilu-são que sustenta a vida?2. A hora é estranha. É como se a mortalidade flu-tuasse no ar e vivêssemos um intervalo, num lugarque não mais nos reconhece. Como se a sabedoria, adecência e lucidez voassem pela janela, à medida quea crise se adensa. Todavia no fundo do nosso íntimovive a convicção de que o homem volta sempre àssuas próprias necessidades de beleza, verdade e dis-cernimento. Mais, acredito que na escrita, no ensinoe aprendizagem da vida só perdura aquilo que obe-dece a três critérios: esplendor ético e estético, forçaintelectual, sapiência. Mas é uma crença desmentida pela conjuntura. Esteé o tempo de Dom Quixote: de beirar a transcendên-

cia e simultaneamente de sucumbir à desilusão,como se apenas houvéssemos de alcançar a apoteoseno silêncio tranquilo e amargo do aniquilamento eresignação. Aceitemos, pois, os limites das possibili-dades, sem esquecer as palavras de Hilel: “Onde nãohouver homens, esforçai-vos para agir como umhomem”. E tendo também em conta a advertênciade Tarphon: “Não sois obrigados a concluir a obra,mas tampouco estais livres para desistir dela”.1

Mantenhamos vivas as convicções ganhas num trajectoesforçado, suado e limpo. E continuemos a iluminar asnoites e dias da dúvida opressora com este clarão deMário Quintana: “A vida são deveres que nós trouxe-mos para fazer em casa”. Para os guardar e cumprir.Sei que eles caíram em desuso. Porém é mister quesigamos o rumo traçado, para não cairmos na farsa ementira. Os enganadores têm o castigo de ser o quesão; não são nada, falta-lhes identidade. Eis porquedevemos passar de cara erguida, leves e orgulhososde nós, por entre a multidão desfigurada. Sim, devemos preferir a dificuldade dorida do deverporfiado à vantagem indevida do dever contornado.Até porque o homem que a dor não educou nãopassa de uma criança. A dor torna-nos mais fortes epor certo mais sábios, cépticos e prudentes, emboratambém pessimistas e solitários.3. Quando olho a conjuntura e as circunstâncias,vem-me à memória o poeta russo Maiakowski. Opoeta acreditava piamente na revolução e que delasairia um mundo melhor, mais justo, fraterno e soli-dário. Pouco a pouco foi percebendo que os líderesdo seu país tinham perdido a alma. O desrespeito eos atropelos brutais à dignidade física e moral dascriaturas eram a regra vigente. Desiludido e semesperança, em 1930 rendeu-se e saiu de cena, pondoum fim trágico à sua vida.Também hoje vivemos tempos dúbios e tristes.Muitos de nós já sentem angústias e desalentos pró-ximos aos do poeta. Perdemos a confiança em genteque se afirmava ciosa do bem comum, apostada emcombater iniquidades e diminuir as desigualdadessociais. Tudo o que traduz solidariedade, atenção erespeito do outro, do semelhante, é destruído semapelo nem agravo. O doente, o necessitado e o des-valido são erigidos em privilegiados e como tal vili-pendiados e execrados na praça pública. Por isso vaialastrando uma onda de suspeição, descrédito e

desesperança, em relação aos políticos e ao seu jeitotão baixo de fazer política. Contudo ela não gerarevolta; pelo contrário, redunda em passividade edesistência, o que é deveras preocupante.Só que eu sou professor, pertenço à profissão dapalavra e da obrigação de a dizer alto. Não procede-rei como Maiakowski, nem tampouco fico calado, àespera que me tirem a voz da garganta e já nãopossa falar. Não deixemos que o silêncio dos melhores seja cúm-plice do alarido e desvergonha dos piores! Não per-camos a alma, nem permitamos que nos roubem odireito de sonhar, a vontade de viver melhor!Sim, é tudo isto que causa dor em mim e em muitosportugueses. Não foi tão presente enquanto a nossaSelecção esteve no Mundial. Depois veio o pesadelo atoldar a nossa visão sobre um horizonte onde já nãose descortina a ilusão. Da terra emerge uma cruz comum epitáfio: “Aqui jaz a alma portuguesa. Vendida eperdida por…” Recuso-me a continuar a ler, porque élonga a lista dos que a vendem e perdem.4. Somos poucos e sem peso económico, mediático ecomercial, mas fomos longe no Mundial de Futebol.Na Europa não há admiração pelos feitos desmedi-dos da nossa história, mas na Alemanha sentiu-se ovento lusitano. Esse sopro universal que insufla ainquietação de Portugal, tão bem dito por MiguelTorga, que é o de não ter medo senão da pequenez,“medo de ficar aquém do estalão por onde, desdeque o mundo é mundo, se mede à hora da morte otamanho de uma criatura”.2

O papel que nos tocou desempenhar na história daHumanidade ri-se da soberba europeia. A via-sacra danossa aventura ingente deixou-nos na pele uma novatatuagem e o sudário de uma condição desgarrada;transformou-nos em arlequins de roupa multicolori-da. Somos híbridos, mestiços, polimorfos, ubíquos,divididos e perdidos na lonjura e na distância. Umacolcha de retalhos e estilhaços, a revelar a unidade daespécie humana. Antes tínhamos só as marcas doagro originário; hoje temos traços de outras culturas,somos também africanos, asiáticos, angolanos, brasi-leiros, cabo-verdeanos, goeses, guineenses, macaen-ses, moçambicanos, timorenses etc. Temos a pátriaaumentada e gememos por todas as suas parcelas nodesespero duma opção impossível. Somos duplos? Éclaro que não somos duplos, somos isso sim um ser

por inteiro, mais humano, mais solidário, mais comu-nitário. Somos sim um sujeito mais universal, umcidadão global e planetário. Como um Cristo deamplos braços. A isso chama-se ser português.No decurso da nossa peregrinação e errância houvedesencontros com os povos que connosco se cruza-ram. Mas também houve encontros, aproximações,paixões, amores e sexo insubmissos a pudores daepiderme e a arrogâncias biológicas, redundando emcasamentos que misturaram o sangue e geraramlaços e afectos. Por isso somos Sísifos com as pernasescanchadas sobre o oceano, apostados em secá-lo eunir as suas margens.Estava em Cabo Verde quando Portugal jogou comAngola. Alegrei-me com a vitória, mas não entrei emexcesso de festa e euforia. Talvez os angolanos preci-sassem mais do que nós de ganhar para porem umapincelada de alegria em cima da espessa camada deagrura e incerteza que cobre o seu dia-a-dia. ParaAngola vai, pois, uma saudação de estima e apreçopelo feito realizado, tal como a minha profunda sin-tonia com o entusiasmo que varreu o povo angolano.Em Cabo Verde senti a identificação com Portugal.Ela mantém-se viva, apesar das vicissitudes da políti-ca e do poderoso cortejo de interesses económicosque tudo fazem para destruir laços antigos e, em seulugar, colocar outros mais superficiais e surdos à vozdos afectos. A nossa Selecção também é a de muitoscabo-verdeanos, mas o Brasil também conquistacada vez mais corações naquelas paragens. Este factodá-me satisfação, por ser prova insofismável de quea Comunidade dos Países de Língua Portuguesa temraízes fundas no sentir dos povos que a perfazem.Ela é uma realidade bem mais sólida e visível nasatitudes das pessoas do que no cenário político.Igualmente de Goa, do Brasil, Timor e outras bandasrecebi testemunhos da intensa comunhão lusófona edo apoio activo às selecções do nosso idioma. Foramdeveras comoventes os telefonemas que chegaram deGoa, de Manaus, de Porto Alegre, de São Luís doMaranhão, de São Paulo e do Rio de Janeiro, a trans-mitir a corrente de solidariedade, quer no início,quer após os jogos. Nos locais mais recônditos doglobo havia bandeiras do Brasil e de Portugal aondular ao vento do amor, da veneração e admiração.E erguia-se no ar a chama resplandecente da almalusófona, grávida e acrescida de sonho e futuridade.

O nosso lugar certo e natural é portanto na imensi-dão lusófona. É nela que podemos encontrar arrimoe lamber as feridas provocadas pelas mordeduras doscanzarrões que defecam no Mundo. Por isso mesmoé que me dói ver responsáveis políticos, inclusive naárea desportiva, exibirem um ar de riso desdenhosoquando se fala na lusofonia e na sua comunidade. Acara dessa gente não engana; a sua alma tem os fer-ros das ganadarias dos mares do norte. Viva oPortugal multicolorido! Viva a pátria lusófona!5. Como disse atrás, estive recentemente no meio doOceano Atlântico, em Cabo Verde. Ao contemplaraquelas ilhas e o esforço titânico das suas gentespara dobrarem o destino e a rudeza das circunstân-cias, dei-me conta de que não podemos ser todosiguais; a dimensão telúrica do local do nascimentocondiciona o ser e a obra das criaturas. A grandezada alma e da autenticidade e ternura humanas quese derramam na sua face. Realmente a gente deCabo Verde é incomparável no tamanho e limpidezda alma e do coração, dos sonhos, do afecto e gene-rosidade, da alegria de dar, de ser fraterna e de sesentir lusófona. Aberta ao mistério, à fé e ao milagreda vida, faz brotar das cinzas e fragas vulcânicas asplantas, flores e frutos que incendeiam de riso, har-monia e festa o cântico sofrido e magoado da exis-tência. Na falta de água, rega a seca e o chão comlágrimas de saudade e emoção.Isto leva-me a considerar irrelevantes as razões e oteor deste texto. Talvez o devesse deitar fora e escre-ver de novo. Eis uma sugestão para algo mais lato eabrangente: para recomeçar o texto da vida e rein-ventar as margens que o seu curso deve seguir.Afinal a vida é uma viagem; é nesta que a aprendiza-gem acontece e a pessoa amadurece. O saber vem-nos do sabor que a viagem oferece. Estamos e somosem trânsito, num mar salgado e fundo de vivoencantamento e ácida desilusão. Cabo Verde e o exemplo, a música, a fé, a persistên-cia e a diáspora das suas gentes vão comigo até aofim da viagem, envoltos na toalha da memória docee da sentida gratidão. Bem hajam!

1 BLOOM, Harold (2004): Onde Encontrar a Sabedoria?Editora Objetiva Ltda., Rio de Janeiro.

2 TORGA, Miguel (2002): Ensaios e Discursos.Círculo de Leitores.

ARTIGOS DEINVESTIGAÇÃO

[RESEARCH PAPERS]

Rev Port Cien Desp 6(2) 143–153 143

Alterações imunológicas e antropométricas induzidas por uma ultramaratona em Kayak. Um estudo de caso

J. A. Rodrigues dos Santos1

J. Candeias2

M.C. Magalhães2

1 Universidade do PortoFaculdade de DesportoPortugal

2 Serviço de ImunologiaHospital de S. JoãoPortoPortugal

RESUMOReplicando um estudo anterior com o mesmo canoísta vetera-no, foram analisados, no sangue periférico, os valores de váriascélulas da função imune, bem como algumas medidas antropo-métricas, antes e um, cinco e dez dias após uma ultramaratona(UM) em Kayak. As amostras sanguíneas foram obtidas emjejum, às 9 horas da manhã e, pelo menos, mais de 12 horasapós o último momento de esforço. Foram medidos o númerode leucócitos e o número e percentagens de linfócitos, monóci-tos, neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Por citometria de fluxoforam identificados as seguintes subséries linfocitárias (CD3+,CD4+, CD8+, CD16+/CD56+, CD19+), ratio CD4+/CD8+,CD3+αβ, CD3+γδ, e os marcadores de activação (CD25+,CD94+ e HLA-DR), bem como as células “naive” (CD45RA+)e “memória” (CD45RO+). As alterações mais significativasapós a UM incidiram na redução das células CD4+CD45RA+(-14.8%), CD94+ (-40%), da ratio CD4+/CD8+ (-15.7%) e noaumento das CD4+CD25+ (28%), CD8+ (19%),CD8+CD25+ (36%), CD25+ (29%). Com excepção das célu-las totais CD25+, cujos valores se mantiveram elevados, e dascélulas NK, em que se acentuou a depressão pós-esforço (-13.6%), ao 10º dia após esforço todos os valores de partidaforam recuperados e por vezes ultrapassados. Verificou-se umaredução significativa do peso corporal a expensas da redução dapercentagem da massa gorda, o que indica um balanço energé-tico negativo no decurso da UM. A evolução dos indicadoresimunológicos, neste estudo, indicia uma boa capacidade adap-tativa do sujeito a este tipo de esforços. As alterações provoca-das pela UM parecem ter um carácter transitório e não seexprimiram por qualquer crise infecciosa das vias respiratóriassuperiores em todo o tempo do estudo.

Palavras-chave: ultramaratona, canoagem, sistema imune,CD4+, CD8+, CD16+/CD56+, CD19+, HLA-DR, CD25+,CD94+, CD45RA+, CD45RO+.

ABSTRACTImmunological and antropometric changes induced by an ultramarathon in kayak. A case study

This study, replicating a former study with the same master paddler,investigated the changes on the immune system, as well as someanthropometric indicators, before, and one, five, and ten days after anultramarathon in kayak. The blood samples were collected in fastingstate, at 9 a.m., at least 12 hours after the last exertion. The numberof leukocytes and the number and percent of lymphocytes, monocytes,neutrophils, eosinophils, and basophils were assessed. By flow citome-try, the following lymphocytes subsets were identified and assessed:CD3+, CD4+, CD8+, CD16+/CD56+, CD19+, ratioCD4+/CD8+, CD3+αβ, CD3+γδ, the activation markers (CD25+,CD94+ e HLA-DR), as well as the “naive” (CD45RA+) and “memo-ry” (CD45RO+) cells. The most significant changes after the ultrama-rathon indicated the decrease of CD4+CD45RA+ (-14.8%), CD94+(-40%), CD4+/CD8+ ratio (-15.7%) and the increase ofCD4+CD25+ (28%), CD8+ (19%), CD8+CD25+ (36%),CD25+ (29%). Total CD25+ cells increase verified after exertion wassustained during the recovery period. The slight depression of the NKcells verified after the ultramarathon, was more pronounced (-13.6%)at the 10th day of recovery. The other cells, at the 10th of recovery,returned or overpassed the basal values. A significant reduction of thebody weight was verified supported by the concurrent reduction of thefat mass, what suggest a negative energetic balance during the ultra-marathon. The evolution of the immunological indicators during thestudy indicated good adaptative capacity of the subject to this kind ofexertion. The changes induced by the ultramarathon seem be transitoryand didn’t trigger any upper respiratory tract infection during the timeof exertion or recovery days.

Key-Words: ultramarathon, canoeing, immune system, CD4+,CD8+, CD16+/CD56+, CD19+, HLA-DR, CD25+, CD94+,CD45RA+, CD45RO+.

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INTRODUÇÃOEm estudo anterior (40), com o mesmo atleta, verifi-camos uma marcada linfocitose, elevadas percenta-gens basais de linfócitos CD8+ e ratio CD4+/CD8+abaixo de 1.0, quer em período de treino intensoquer após ultramaratona (UM), não se tendo verifi-cado a ocorrência de qualquer episódio de infecçãodas vias respiratórias superiores. Alguns sinais indi-ciadores de imunodepressão não se exprimiram emqualquer processo infeccioso. A literatura apontapara o efeito protector do exercício físico moderado,enquanto o exercício físico intenso parece induzirdebilidade imunológica que se pode manter expressadurante vários dias (26, 45) e que pode provocar oadvento de processos de infecção do tracto respirató-rio superior (27). No entanto, mesmo o exercíciofísico de fraca intensidade mas muito prolongado,pode induzir alterações imunológicas que se mantêmdurante vários dias (41). Reforçando a tese protecto-ra foi verificado, em ultramaratonistas (29), que osmais experientes apresentavam o sistema imuneadquirido mais potenciado, o que atenuava a emer-gência de episódios infecciosos das vias respiratóriassuperiores. Em relação aos indicadores antropométricos, foicomprovado que esforços muito prolongados e debaixa intensidade mobilizam as reservas lipídicas,induzindo redução do peso corporal por diminuiçãoda massa gorda (40).Assim, o objectivo fundamental deste estudo foireplicar, com o mesmo atleta, o estudo anterior, ten-tando verificar se esforço idêntico em novas circuns-tâncias induziria idênticas alterações, quer ao níveldo sistema imune quer ao nível antropométrico.

MATERIAL E MÉTODOSSujeitoCanoista veterano, com 56 anos de idade, praticanteda modalidade há mais de 40 anos e com participaçãofrequente em provas competitivas de longa duração.

Percurso e condições particulares O percurso foi cumprido no rio Tejo desde Trillo(Espanha) até Lisboa (Portugal), durante 16 dias deesforço, descansando 1 dia em Aranjuez, 1 dia emTalavera la Reina e 1 dia em Vila Velha do Rodão. Aquilometragem total rondou os 900 km, que foram

cumpridos em etapas que variaram entre os 50 e os70 km. O esforço mínimo diário a pagaiar nunca foiinferior a 6 horas. Várias etapas foram desenroladasdebaixo de temperaturas superiores a 40 graus centí-grados. As barragens foram todas ultrapassadas como barco às costas, por vezes andando mais de 2 km.Em dois momentos, por má provisão de alimentos, osujeito esteve um dia sem se alimentar e com redu-zido aporte hídrico.

Composição corporalA determinação da composição corporal foi obtida apartir da mensuração das pregas de adiposidade sub-cutânea. A densidade corporal foi estimada a partir daequação de Durnin e Womersley (7) e a percentagemde gordura corporal a partir da equação de Siri (47).

Amostras sanguíneasAmostras de sangue venoso periférico (5 ml) foramrecolhidas da veia antecubital em tubos contendoetilenodiaminotetracetato (EDTA) e analisadas den-tro de 6 horas.

Valores hematológicosOs leucócitos totais e uma contagem diferencial decinco populações foi realizada usando os procedi-mentos padrão (Max M - Coulter Electronics®).

Anticorpos monoclonaisForam utilizados anticorpos monoclonais de ratinhodirigidos contra os antigénios da superfície celulardos leucócitos e conjugados com diferentes fluoro-cromos (FITC) e ficoeritrina (PERCEP CY5.5 eAPC). O cluster, clone, fluorocromos, origem e espe-cificidade e modo de associação desses anticorposestão sumariados no quadro 1.

J.A. Rodrigues dos Santos, J. Candeias, M.C. Magalhães

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Preparação das amostras para citometria de fluxoA determinação das subpopulações linfocitárias foiconseguida através de técnica de imunofluorescênciadirecta. As amostras tratadas com EDTA foram incu-badas (20 min, 4ºC, escuro) com 10 µl de anticorposmonoclonais conjugados com FITC e 5 µl PERCEP eAPC. Depois os eritrócitos foram lisados durante 10min. com 2 ml de Facs Lysing Solution®(BD).Finalmente as células foram lavadas em PBS, centri-fugadas a 1500 r/min. e resuspendidas em PBS.“List mode files” foram adquiridos num citómetrode fluxo (FACSCALIBUR, BD) dentro de 2 horas.

Recolha de dados e análiseA recolha de dados e análise foram realizados com osoftware de investigação FACSCALIBUR Lysis II 1.1.(BD), elaborando gráficos de pontos para a separa-

ção dos linfócitos, usando janelas de dispersão fron-tal (FSC) versus janelas de dispersão lateral (SSC) econfirmados por “gate” em CD45 versus SSC, pelomenos nas células com mais alta intensidade defluorescência em CD45. Foram analisados 10000eventos. Foram usados 600 volts no multiplificadorFL1 e 581 volts no FL2, uma amplificação linearpara FL1 e uma compensação espectral para FL2.Para confirmar a população analisada, a percentagemde linfócitos obtida foi comparada com os diferentesvalores das 5 subpopulações e com o resultado obti-do com o primeiro gráfico de pontos - FL1 versusSSC - usando CD45/CD14 (Leucogate - BD). Ascélulas que mostraram uma dupla intensidade médiade fluorescência, quando comparadas com o controlenegativo, eram consideradas positivas.

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Quadro 1. Cluster, clone, corante fluorescente, fonte e especificidade dos anticorpos.

BD – Becton Dickinson; PHARM. – Pharmingen; COULTER – Coulter Electronics

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RESULTADOSAntropometria

Quadro 2. Alterações antropométricas induzidas pela UM em kayak.

J.A. Rodrigues dos Santos, J. Candeias, M.C. Magalhães

Verificamos uma marcada redução do peso e percentagem de gordura após a UM.

Quadro 4. Percentagens das subséries linfocitárias, antes e vários momentos após a realização da UM em kayak.

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DISCUSSÃOO stresse físico induz alterações dos parâmetrosimunológicos que estão, principalmente, dependen-tes do tipo de esforço (31) e do perfil de actividadefísica do sujeito (41). As alterações agudas do siste-ma imune induzidas por um esforço de endurancede curta duração desaparecem ao fim de poucashoras (35). Os esforços de endurance, regulares emuito prolongados, parecem produzir alteraçõescom algum carácter crónico (40).Foi comprovado (22), após exercício físico exaustivoe prolongado, um aumento do número de leucócitosque permaneceu elevado vários dias. Como adapta-ção crónica aos esforços de endurance parece aconte-cer uma redução do número basal de leucócitos (2),o que está de acordo com os valores relativamentebaixos encontrados no sujeito do PE. A estabilidadeverificada na contagem leucocitária indicia o caráctercrónico desta adaptação e é corroborada pelo estudoanterior que realizamos com o mesmo atleta (40).Assim, os presentes dados conflituam, em parte,com a posição de Scharhag et al. (43) que afirmamque o exercício prolongado e moderado não altera deforma significativa a primeira linha de defesa imune.Esta discrepância pode radicar nas diferenças verifi-cadas na situação experimental, já que o nosso racio-cínio é reforçado pela verificação de elevadas percen-tagens basais de linfócitos e baixas de neutrófilos,ambas fora dos valores de referência laboratorial, eque pouco foram alteradas pela UM. O que indiciaum estado crónico de debilidade imunológica que

corrobora o nosso estudo anterior (40) e que poderadicar no perfil de esforço habitual deste atleta, oqual pode induzir um estado crónico de alteração dafunção linfocitária (28). Será que o exercício prolongado constante altera deforma crónica a função imune? Será que a teoria da“open window”, caracterizada pela diminuição dasdefesas imunes 1 a 9 horas após exercício prolonga-do, se pode estabelecer como défice crónico do siste-ma imunitário quando o treino de endurance muitoprolongado se torna sistemático? Estas perguntas são difíceis de responder já que,contrariando os nossos dados, foram encontrados,em maratonistas, valores de linfócitos ligeiramenteinferiores aos normais (16), o que faz supor umaresponsividade individual muito diferenciada aosestímulos de treino.O elevado número de eosinófilos antes da UM podesignificar, ou uma agressão parasitária, ou um episó-dio alérgico intenso. Vamos pela segunda hipótese,já que o canoísta deste estudo caracteriza-se por epi-sódios recorrentes de rinite alérgica com manifesta-ções de hipersensibilidade do Tipo I, com dificulda-des respiratórias e prurido cutâneo generalizado, quepodem ser detonados ou potenciados por choquesanafiláticos de origem alimentar. A regressão a zeroda contagem de eosinófilos ao 10º dia de recupera-ção significa a eliminação do episódio alérgico ouagressão parasitária. Parece que a resposta aguda ao esforço prolongado éo aumento do número de monócitos (1) que cai

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Quadro 3. Percentagem e número das células leucocitárias, antes e vários momentos após a realização da UM em kayak.

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abaixo dos valores basais 3 horas após o exercício(14). No PE verificamos, 1 dia após a UM, umaredução quer na percentagem (-17.2%) quer nonúmero (-33.3%) de monócitos o que, corroborandoo estudo de Gabriel et al. (14), indicia uma mobili-zação dos monócitos para zonas de inflamação pro-vocadas pelo exercício, evoluindo, assim, até macró-fagos. Ao 10º dia os valores de partida foram recupe-rados e mesmo ultrapassados o que pode significar aatenuação do processo fagocitário. A percentagem total de linfócitos T (CD3+) aumen-ta após o esforço e rapidamente regressa aos valoresbasais (27), parecendo ser relativamente estável eindependente do estado de treino (20, 35). Essaestabilidade foi verificada neste estudo. As células CD3+alfa/beta (a nível sistémico) e asCD3+gama/delta (mais a nível do epitélio intestinal)apresentam um papel protectivo contra uma série deinfecções (5, 24) e controlo do processo inflamatório(6) através da secreção de citocinas ou citotoxicidade.As CD3+alfa/beta aumentaram ligeiramente após aUM, mantendo-se estável a percentagem dasCD3+gama/delta, indicando um bom estado de vigi-lância imunológica específico destas células. A inexis-tência de estudos em desporto com estas subsérieslinfocitárias não nos permite fazer comparações. Os linfócitos T exprimindo os receptores para a inter-leucina-2 (CD25+) que segundo Baum et al. (3) nãose modificam com o treino, sofreram após a UM umaumento significativo (29%), o que indica uma supe-rior activação e potenciação contra eventuais agres-sões de antigénios estranhos (36). Os linfócitos Treguladores (CD4+CD25+), que correspondem a 5-10% das células CD4+ em animais normais (4),apresentavam valores de partida de 16.8% e subirampara 21.5% após a UM. Este aumento significativo(28%) parece apontar para a potenciação da linha dedefesa contra doenças infecciosas e auto-imunes. Noperíodo de recuperação verificou-se uma tendênciapara regresso aos valores de partida, o que pode sig-nificar que o repouso induz a redução do número decélulas reguladoras activadas por redução dos focosinflamatórios. Isto é confirmado pelo comportamentodas células CD8+CD25+ que, após um pico ao 5ºdia de recuperação, regrediram para valores abaixodos valores de partida ao 10º dia, indiciando uma ate-nuação da função citotóxica/supressora.

Números baixos de linfócitos CD4+ estão relaciona-dos com várias patologias e situações de imunode-pressão. A percentagem de linfócitos CD4+ nodecurso do estudo encontrou-se, sempre, dentro dosvalores normais em atletas (10). Os valores destascélulas mantiveram-se praticamente inalterados apósa UM, o que é corroborado por outros estudos (15,32). No entanto, após esforço idêntico, foi verificadauma ligeira redução desta subsérie linfocitária (40).Ao 10º dia e em relação aos valores pós-UM, verificá-mos um ligeiro aumento, quer da percentagem querdo número total de células CD4+ que passaram de794/µL para 924/µL de sangue, ou seja, mais 16,3%.Esta evolução dentro dos valores de normalidade(500 a 1600/µL) indica uma certa potenciação do sis-tema imune que estava ligeiramente debilitado nodecurso do esforço, o que é parcialmente corroboradopor outro trabalho (25), já que o protocolo experi-mental no nosso estudo foi muito mais agressivo. Os linfócitos T citotóxicos-supressores (CD8+)aumentaram 19% após a UM regredindo, ao 10º dia,para valores inferiores aos de partida. Embora algunsautores, imediatamente após esforços prolongados,encontrem aumentos (12) ou reduções (32), quer-nos parecer que os esforços diários prolongadosdeste estudo podem ter induzido alterações bi-fási-cas, com redução durante o esforço e com aumentoapós algumas horas de recuperação. Estas alteraçõescoincidem com o comportamento da ratioCD4+/CD8+ que diminuiu 15.7% após a UM,aumentando depois. Estes dados corroboram onosso estudo com o mesmo atleta (40) em que severificou uma ratio basal de 0.87 em período de trei-no intenso e de 0.92 após UM, com recuperação pos-terior. Embora alguns autores tenham constatadoque o treino moderado de endurance não altera estaratio (46), a descida verificada neste estudo prende-se, no nosso entender, com a elevada quilometragemdesenvolvida diariamente. A redução temporária daratio CD4+/CD8+ pode significar o aumento dafunção citotóxica e um aumento da susceptibilidadea infecções (23). Os nossos dados não apontam paraaí já que, quer durante o esforço quer nos 10 dias derecuperação, não se verificou nenhum episódio deinfecção das vias respiratórias superiores, o que cor-robora a experiência anterior do mesmo atleta emque a redução da ratio foi mais acentuada (40).

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Quer-nos parecer que durante um esforço exaustivoe prolongado e nos primeiros dias de recuperação,mesmo que alguns indicadores indiciem imunode-pressão, o organismo apresenta-se em estado dealerta potenciado contra agressões externas, o quetende a desvalorizar o significado clínico das desci-das temporárias da ratio CD4+/CD8+. O aumentode 18.2% da ratio CD4+/CD8+ ao 10º dia é umsinal de aumento do potencial imunológico com odominante aumento e influência dos linfócitos T-auxiliadores.O exercício de endurance, intenso e exaustivo, pro-move a mobilização das células “natural killer”(CD16+/CD56+), que aumentam no sangue ime-diatamente após o esforço e, posteriormente, se des-locam para os focos de lesão ou inflamação (13).Também se verificou, após exercício de 1 hora a 75%do VO2max, um aumento para o dobro das célulasNK, que regressaram aos valores de partida dentrode 2 horas (35). O valor basal do sujeito do PE exce-de ligeiramente o valor superior de referência paraatletas (10). O treino sistemático aumenta a conta-gem basal das células CD16+CD56+ (46), masparece que tem de ser intenso e prolongado parainduzir uma elevação crónica desta subsérie linfoci-tária (50), o que está de acordo com o perfil de trei-no deste sujeito. Após a UM verificamos uma redu-ção de 7,3% das células NK que se acentuou (15%)ao 3º dia de recuperação. É de aceitar a hipótese queem esforços excepcionalmente prolongados, comono PE, aconteça uma deslocação das células NKdurante o esforço para os locais de inflamação, indu-zindo reduções pronunciadas que se prolongam notempo e que parecem depender das prostaglandinaslibertadas pelos monócitos e neutrófilos activados(35). Esta asserção é corroborada por Shek et al.(44) que verificaram uma redução significativa dascélulas NK 7 dias após exercício prolongado.Também Baj et al. (2), em relação ao grupo controlo,verificaram, em ciclistas, uma contagem diminuídadas células CD16+. Contrariando os nossos dados,comparando maratonistas com sedentários, verifica-ram-se idênticas contagens das células NK, massuperior actividade citotóxica naqueles (33). O cluster de diferenciação CD94+ designa células NKmaduras e controla a sua função. Após exercíciocurto e intenso, células NK expressando CD94+ nãose alteraram (18) e demonstram grande estabilidade

mesmo em sujeitos altamente treinados (39).Tomando como referência os valores totais destemarcador, verificou-se uma redução de 40% após aUM que se acentuou ao 3º dia. Esta redução é simi-lar às verificadas em algumas patologias (17) e indi-cia a atenuação da função citotóxica das células NK.No entanto, ao contrário das situações patológicasinstaladas, ao 10º dia denota-se uma tendência pararecuperar os valores de partida. Após a UM, a per-centagem das células NK exprimindo CD94+ dimi-nuiu, embora a percentagem de células activadas(CD94+DR) tenha aumentado 340%, o que indiciaaumento do potencial citotóxico das células NK.Os linfócitos B (CD19+) que sofrem aumentos mar-cantes após exercício regressam rapidamente aosvalores de partida (8). No decurso do PE, a percen-tagem de linfócitos B (CD19+) não sofreu alteraçõessignificativas, o que é corroborado por outros estu-dos (40, 48). No entanto, contrariando os nossosdados, verificou-se que o treino reduz os valoresbasais das CD19+ (46). Os nossos resultados refor-çam a posição de Pedersen (35) que afirma a grandeestabilidade das células CD19+ e a impossibilidadede discernir a situação de treinado de não treinado apartir deste indicador.A HLA-DR é uma glicoproteína presente na superfí-cie de todas as células B, monócitos e células T acti-vadas. Está presente entre 11 a 18% dos linfócitosnormais periféricos. No PE as células exprimindoHLA-DR sofreram ligeiras variações entre os váriosmomentos de avaliação, demonstrando grande esta-bilidade que parece não ser afectada mesmo duranteas adaptações agudas ao exercício (12, 20). No PE, o valor basal das células CD4+CD45RA+(16.2%) é superior ao verificado em estudo anteriorcom o mesmo atleta (9.9%), mas inferior ao verifica-do em futebolistas (38). Quer-nos parecer que ostresse recorrente determinado por cargas muitoprolongadas fez diminuir a percentagem das células“naive” CD4+, que reduziram 14.8% após a UM,recuperando e ultrapassando os valores basais ao 10ºdia. Se o esforço for sistemático e recorrente parecehaver uma tendência, no decurso do tempo, para aredução desta subsérie linfocitária (38). As células“memória” CD4+CD45RO+, que diminuiram ligei-ramente após a UM, recuperaram os valores de par-tida ao 10º dia, o que conflitua com o estudo deWoods et al. (49).

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As células CD8+CD45RA+, contrariamente ao veri-ficado noutro estudo (50), sofreram um ligeiroaumento após a UM reduzindo quase 15% ao 10ºdia. As células CD8+CD45RO+ não se alteraramapós a UM mas reduziram ao 10º dia, o que confli-tua com outro estudo (11). Esforços muito prolon-gados parecem apontar para a depressão das célulasmemória CD8+.As percentagens totais das células CD45RA+ eCD45RO+ sofreram uma ligeira redução após a UMcom comportamentos diferentes ao 3º dia. Enquantoas células “naive” aumentavam ligeiramente, as“memória” acentuavam a redução (quase 12% emrelação aos valores de partida). Ao 10º dia reverteu-se a situação diminuindo as CD45RA+ e recuperan-do os valores de partida as CD45RO+. Estes dadosestão de acordo com Gabriel et al. (11) que afirmamque o exercício de endurance muito prolongado podeinduzir a conversão dos linfócitos CD45RA+ emCD45RO+, o que indica um superior estádio deactivação e, talvez, uma superior maturação destascélulas. A regularidade da ratioCD45RA+/CD45RO+, verificada no PE, não justifi-ca essa asserção. O comportamento individual dascélulas “naive e “memória” das subséries CD4+ eCD8+ não nos permite ser muito conclusivos e abreespaço para novos trabalhos.As células T reguladoras (CD4+CD25+), que pare-cem desempenhar um papel central na imunomode-lação, previnem a autoimunidade, evitam a rejeiçãode enxertos, controlam as respostas à infecção e ini-bem os processos inflamatórios (19). Estas célulasreguladoras são antigénio-específicas e desempe-nham um papel primordial na imunidade adquirida.Aumentaram 28% após a UM, regredindo ao 10º diaaos valores de partida. Contrariando os nossosdados, alguns autores (3, 21) afirmam que o treinonão altera a percentagem deste tipo de células.Pensamos que as condições protocolares justificamas diferenças. As células CD8+CD25+ aumentaram 36% apósesforço e recuperaram para os valores de partida ao10º dia. Pizza et al. (37) afirmam que quanto maisagressivo for o exercício maior é a expressão de acti-vação dos linfócitos T citotóxicos-supressores.Parece que o treino aumenta os linfócitos

CD8+CD25+ como resposta a uma dada carga (9).Os nossos dados confirmam que, embora o esforçotenha sido de intensidade fraca a moderada, devidoao elevado volume diário constituiu-se num signifi-cativo stressor do sistema imune. Embora, os marcadores CD25+ específicos dasCD4+ e CD8+ tenham regredido aos valores basaisno 10º dia, a percentagem total de células exprimin-do receptores alfa para a IL-2 (CD25+) subiu 29%após esforço, o que é corroborado pelo estudo deMertens et al. (30), e continuou elevada ao 10º dia,o que indicia a activação de outras células leucocitá-rias. Como em situação de infecção se verifica oaumento dos marcadores de activação linfocitária(e.g. CD25+), quer-nos parecer que os valores eleva-dos ao 10º dia podem indiciar uma situação de algu-ma disfunção imunológica. Esta especulação podeser abusiva já que outros indicadores de activação(e.g. HLA-DR) não sofreram variações significativasno decurso do estudo, o que nos permite especularque a manutenção elevada dos valores das célulasexprimindo CD25+ representa um superior estadode imuno-vigilânica potenciado pela UM.Verificou-se uma redução significativa de peso cor-poral, fundamentalmente à custa da massa gorda.Embora a redução de peso esteja relacionada com adiminuição da proliferação linfocitária estimuladapor mitogénios, parece não afectar a imunidade inatado compartimento sanguíneo (34). Shore et al. (46)afirmam que quando o volume de treino é suficientepara induzir um balanço energético negativo, comoaconteceu no PE, o sistema imune pode ser negati-vamente afectado. Quer-nos parecer que a boa condi-ção física do sujeito e a grande adaptabilidade a estetipo de esforços obstou a disfunções marcantes dosistema imune.Podemos concluir que, seja pelo carácter protectorda experiência anterior (40), seja pelo habitual perfilde actividade deste atleta, no PE, embora levado aefeito em situações climatéricas e nutricionais muitoagressivas, verificaram-se ligeiras alterações do siste-ma imune, o que evidencia a óptima capacidadeadaptativa deste atleta a este tipo de esforços.Embora algumas alterações persistam ao 10º dia derecuperação, pensamos que são transitórias e nãoindiciadoras de imunodepressão.

J.A. Rodrigues dos Santos, J. Candeias, M.C. Magalhães

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CORRESPONDÊNCIAJosé Augusto Rodrigues dos SantosFaculdade de DesportoUniversidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200-450 [email protected]

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Imunologia em ultramaratona em Kayak

Rev Port Cien Desp 6(2) 154–159154

Comparação entre a intensidade do esforço realizada por jovensfutebolistas no primeiro e no segundo tempo do jogo de Futebol

Lucas MortimerLuciano CondessaVinícius RodriguesDaniel CoelhoDanusa SoaresEmerson Silami-Garcia

Universidade Federal de Minas GeraisEscola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia OcupacionalCentro de Excelência Esportiva (CENESP)Belo HorizonteMinas GeraisBrasil

RESUMOConstitui objetivo deste estudo comparar a intensidade doesforço (IE) de atletas de futebol entre o primeiro e o segundotempo de jogos oficiais. Métodos: Foram avaliados 25 atletas(17,5 ± 1,2 anos; 8,5 ± 1,0% de gordura corporal; 175,1 ± 6,8cm; 69,3 ± 5,2 kg e VO2máx de 52,2 ± 3,3 mlO2•kg-1•min-1)pertencentes a um clube da primeira divisão do futebol brasi-leiro. A freqüência cardíaca (FC) dos atletas foi medida usan-do-se um conjunto de cardiofrequencímetros, durante jogos decompetições oficiais, sendo 14 jogos da categoria juvenil(menos de 17 anos) e 8 jogos da categoria júnior (menos de 21anos). A freqüência cardíaca máxima (FCmáx) de cada atleta foiconsiderada como o maior valor de FC observado entre doistestes máximos (corrida de 1000m e 2400m) utilizados para adeterminação da mesma. Nos casos em que foram observadosvalores superiores da FC durante as situações de jogo em rela-ção aos testes, esta foi considerada como a FCmáx individual. Osresultados foram analisados usando-se o teste t-Student comnível de significância adotado de p<0,05. Resultados: Foiobservada diferença (p<0,01) da FC média e do percentual dafreqüência cardíaca máxima (%FCmáx) entre o primeiro tempo(170 ± 8 bpm e 85,2 ± 4,5%FCmáx) e o segundo tempo (166 ±10 bpm e 82,7 ± 4,6%FCmáx). Os resultados traduzem umamenor intensidade do esforço no segundo tempo de jogo, com-parativamente com o primeiro tempo.

Palavras-chave: futebol, freqüência cardíaca, intensidade deesforço.

ABSTRACTComparison between the effort intensity of young soccer playersin the first and second halves of the soccer game

Objective: Compare the effort intensity (IE) of young soccer playersbetween the first and second halves of official games. Methods: 25 ath-letes were evaluated (17,5 ± 1,2 years; 8,5 ± 1,0% of body fat;175,1 ± 6,8 cm; 69,3 ± 5,2 kg and VO2máx of 52,2 ± 3,3 mlO2•kg-1•min-1) who pertained to a club of the first division of theBrazilian soccer. Heart rate (HR) of the athletes was measured using aset of heart rate monitors, during official games, being 14 games of theunder-17 category (U-17) and 8 games of the under-20 category (U-20). The maximal heart rate (MHR) for each athlete was consideredas the highest HR observed during two maximal effort tests (race of1000m and 2400m). In the cases which a higher value of HR wasobserved during game situations in relation to the tests, this was con-sidered the MHR. Results were analyzed using Student t test and theaccepted level of significance was p<0,05. Results: There was a signifi-cant difference (p<0,01) between the average HR and the percentageof maximal heart rate (%MHR) between first half (170 ± 8 bpm and85,2 ± 4,5%MHR) and second half (166 ± 10 bpm e 82,7 ±4,6%MHR). These results show a lower effort intensity in the secondhalf of the game, in comparison with the first half.

Key Words: soccer, heart rate, effort intensity.

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INTRODUÇÃOO futebol é considerado como um dos esportes maispraticados no mundo (15), existindo, atualmente,mais de duzentos milhões de jogadores em atividade(12). Desta forma, vem crescendo o interesse dospesquisadores da área da educação física sobre ademanda fisiológica durante a prática deste esporte.Uma maior compreensão deste tema pode permitirum aperfeiçoamento dos programas de treinamen-tos, o que levaria os jogadores a obterem um melhordesempenho durante os jogos (32).A demanda fisiológica à qual um indivíduo está sub-metido durante uma partida de futebol tem sidorelatada a partir de diferentes parâmetros, como adistância total percorrida (5, 6, 10, 15, 23, 26), avelocidade média de corrida (5), a temperatura cor-poral (3, 10), medidas diretas de oxigênio (21), con-centração de lactato (5, 10) e freqüência cardíaca(FC) (2, 3, 5, 8, 9, 10, 13, 15, 20, 21, 25, 26). Dentre esses parâmetros, a determinação da intensi-dade do esforço (IE) através da medição direta doconsumo de oxigênio (VO2) dos jogadores durante ojogo seria uma fonte de informação bastante esclare-cedora. Porém, é clara a interferência que a utiliza-ção dos instrumentos que este método exige podeacarretar para o rendimento dos atletas durante ojogo. Além disso, existe ainda a proibição do uso dequaisquer equipamentos pelos jogadores em jogosoficiais (26). Devido a esta limitação, somente jogossimulados poderiam ser avaliados. No estudo deReilly (1997) somente uma pequena parte do jogosimulado pôde ser avaliada, sendo estes resultadosextrapolados para todo o jogo, o que não representaa verdadeira IE do mesmo. Portanto, dentre todos os parâmetros utilizados paraa determinação da IE no futebol, a FC apresenta-secomo uma variável de fácil aplicação para a determi-nação da produção de energia aeróbica (1, 11, 13,14, 29, 31) durante um jogo de futebol (2, 8). Istose deve ao fato da existência de uma relação linearentre a FC e o VO2 (5, 11), mesmo em exercíciosintermitentes como o futebol (5).Considerando que a FC sofre interferência de algunsfatores, como por exemplo, a idade, Karvonen eVuorimaa (1988) recomendam a sua relativizaçãoem função da freqüência cardíaca máxima (FCmáx).Assim, a IE indicada como percentual da freqüência

cardíaca máxima (%FCmáx) representa um parâmetroadequado para o controle da IE de atletas e pratican-tes recreacionais de atividades físicas (16).Pela alta intensidade e longa duração de um jogo defutebol, os jogadores devem ser capazes de manterum alto nível de esforço durante todo o jogo. Noentanto, identifica-se um declínio na distância per-corrida, na intensidade de trabalho, na FC, nas con-centrações de lactato e de glicose no decorrer dojogo (28, 33), apontando para uma menor perma-nência dos jogadores em zonas de maior IE nodecorrer do jogo (15). Em geral, a distância percorri-da por um jogador durante um jogo de futeboldepende do grau de dificuldade imposto pelo timeadversário, de aspectos táticos adotados pelas equi-pes e da importância do jogo (7). O mesmo autoridentificou ainda a existência de diferença entre adistância percorrida por uma equipe entre o primei-ro e segundo tempo de jogo, sendo a distância per-corrida no segundo tempo menor em cerca de 5%.Vários outros autores (2, 5, 8, 15, 19) tambémencontraram diferenças entre a IE no primeiro esegundo tempos, utilizando a FC como parâmetro deavaliação da mesma.Tem sido sugerido por alguns autores (28, 33) queos jogadores podem apresentar uma melhora nodesempenho técnico e tático durante os jogos semelhorarem sua capacidade aeróbia. Considerandoque os jogadores de futebol que possuem alta capa-cidade aeróbia são capazes de percorrer maiores dis-tâncias durante um jogo (30), participar de umnúmero maior de jogadas decisivas, aumentar onúmero de sprints realizados (15), melhorar a suarecuperação após os sprints (4), atenuar a diminuiçãodo desempenho no segundo tempo de jogo (10) eaumentar o desempenho global durante uma partidade futebol (28, 33), sugere-se uma maior ênfase notreinamento da capacidade aeróbia no futebol, visan-do diminuir a queda da IE dos jogadores ao longo dojogo (15).Poucos estudos têm sido apresentados na literaturasobre a IE de jogadores de futebol brasileiros. Amaioria dos estudos sobre IE no futebol é realizadaem países europeus de clima temperado ou frio (28).Tendo em vista que o Brasil possui uma das melho-res escolas de futebol do mundo, tendo obtido títu-los mundiais nas principais categorias (tetracampeão

Intensidade do esforço no Futebol

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sub-17, tetracampeão sub-20 e pentacampeão profis-sional), e que o clima da região é considerado tropi-cal, faz-se relevante a análise da IE nesta população.Além disso, o estilo de jogo das equipas brasileiraspode ser considerado diferente daquele adotadopelas equipas européias, o qual poderia influenciarna intensidade de esforço do jogo (23).Portanto, o objetivo do presente estudo foi compa-rar a IE, expressa como valores absolutos em bati-mentos por minuto (bpm) e como %FCmáx, de fute-bolistas entre o primeiro e o segundo tempo dejogos oficiais.

MÉTODOSAmostraParticiparam do estudo 25 atletas do sexo masculi-no, pertencentes a um clube da primeira divisão dofutebol brasileiro, que mantêm treinamentos regula-res e participação em competições reconhecidas pelaConfederação Brasileira de Futebol (CBF). Os joga-dores de futebol treinavam em média 16 horas porsemana e jogavam nos campeonatos duas vezes porsemana (geralmente, quartas-feiras e domingos). Osjogadores possuíam em média 5 anos de experiênciacom o futebol com treinamento sistematizado emclubes e, grande parte destes, já faziam parte dacategoria de base do clube em questão. As caracte-rísticas desses atletas estão descritas no Quadro 1.

Lucas Mortimer, Luciano Condessa, Vinícius Rodrigues, Daniel Coelho, Danusa Soares, Emerson Silami-Garcia

Quadro 1. Idade, percentual de gordura (%G), estatura, massa corporal (MC) e capacidade aeróbia (VO2máx) dos futebolistas que fizeram parte da amostra. Valores apresentados como média e desvio padrão.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética emPesquisa (COEP) da Universidade Federal de MinasGerais (ETIC-476/2004) e respeitou todas as normasestabelecidas pelo Conselho Nacional da Saúde (Res.196/96) envolvendo pesquisas com seres humanos.Todos os atletas voluntários assinaram um Termo deConsentimento Livre e Esclarecido onde confirma-ram estarem cientes dos objetivos e métodos utiliza-dos e da possibilidade de abandonar o estudo a qual-quer momento sem a necessidade de justificativa.

Condições ambientaisO registro das condições ambientais dos locais derealização dos jogos na data de acontecimento dosmesmos foi fornecido pelo departamento de meteo-rologia do Centro de Desenvolvimento de TecnologiaNuclear (CDTN) da UFMG. A temperatura seca foi em média 23,9 ± 2,65 Cº, atemperatura úmida foi em média 18,9 ± 2,5 Cº e aumidade relativa foi de 63,3 ± 15,85%.

ProcedimentosA FC dos atletas, em batimentos por minuto (bpm),foi medida durante jogos de competições oficiais,sendo 14 jogos da categoria juvenil (menos de 17anos) e 8 jogos da categoria júnior (menos de 20anos). No total, foram feitos 113 registros indivi-duais de FC da categoria juvenil e 66 registros dacategoria júnior. Foram avaliados, em média, de 6 a10 jogadores a cada jogo e foram considerados ape-nas aqueles que possuíam mais de 3 jogos comple-tos, sendo descartados aqueles que foram substituí-dos durante o decorrer dos jogos. Para a medida daFC foi utilizado o equipamento Polar Team System®.Este conjunto de cardiofreqüêncímetros permite oregistro da FC durante uma atividade sem a utiliza-ção de um monitor de punho, o que é proibido emjogos pelas regras do futebol por colocar em risco aintegridade do atleta, de seus companheiros e adver-sários. A taxa de amostragem de FC registrada foi de5s em 5s.

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A FC média dos jogadores foi avaliada em valoresabsolutos (bpm) e também como %FCmáx. Foramconsiderados os dados do primeiro e segundo tempoe do tempo total de jogo.A FCmáx foi determinada como o maior valor da FCregistrado dentre as três situações descritas a seguir:1) Teste de esforço em corrida com velocidade subje-tiva máxima: realizado em terreno gramado planocom o uso de chuteiras, em uma distância de1000m. Este teste já era realizado no próprio clubecom o objetivo de se medir a FCmáx.. Portanto, osjogadores já estavam familiarizados com o mesmo;2) Teste de esforço para a estimativa do consumomáximo oxigênio (VO2máx) (17): consistiu em per-correr uma distância pré-determinada em terrenoplano no menor tempo possível. No presente estudo,utilizou-se a distância de 2400m em um local já

conhecido pelos atletas; 3) FCmáx durante os jogos:esta foi considerada como o maior valor da FC regis-trado durante os jogos. A maioria dos jogadoresatingiu a FCmáx durante os jogos. A FCmáx individualdeterminada dentre as três situações foi utilizadapara relativizar o esforço dos jogadores enquanto%FCmáx.

Análise estatísticaOs dados são apresentados como média e desvio-padrão. Os resultados foram analisados usando-se oteste t-Student para amostras dependentes no soft-ware SPSS®, versão 10.0 e o nível de significânciaadotado foi de p<0,05.

RESULTADOSOs resultados estão apresentados no Quadro 2.

Intensidade do esforço no Futebol

Quadro 2. FC média (bpm) e %FCmáx das categorias juvenil e júnior e da média das duas categorias (Média), no primeiro tempo, no segundo tempo e no jogo completo. Valores apresentados como média e desvio-padrão (DP).

Foi observada uma diferença (p<0,01) da IE, tanto emvalores absolutos (bpm) quanto como %FCmáx, entre oprimeiro tempo e o segundo tempo de jogo nas duascategorias. Não houve diferença entre as categorias.A figura 1 apresenta a FC de um jogador ao longo deum jogo oficial. As barras pretas ao longo do eixotempo demonstram as médias da FC para o primeirotempo (189 bpm) e segundo tempo (176 bpm).

* Diferença significativa (p<0,01) em relação ao primeiro tempo.

Figura 1. FC de um jogador ao longo de um jogo oficial.

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DISCUSSÃONo nosso estudo não houve diferença entre as cate-gorias juvenil e júnior, provavelmente, devido à pro-ximidade da idade, semelhança da carga de treina-mento e freqüência de jogos das mesmas. Portanto, adiscussão se desenvolverá em torno dos resultadosda média das duas categorias.No segundo tempo de um jogo de futebol a IE reali-zada pelos atletas diminui, o que pode dever-se àfadiga (22, 23). No presente estudo, registrou-seuma queda significativa da IE no segundo tempo(p<0,01) que pode ser visualizada, a título ilustrati-vo, na figura 1, a qual exibe uma maior FC média deum jogador no primeiro tempo (189 bpm) em com-paração ao segundo tempo (176 bpm). Esta quedada IE no segundo tempo de jogo também foi obser-vada em outros estudos (2, 5, 19, 21, 27), querusando como amostra crianças de 11 anos (8), querquando se analisaram jogos simulados (13).Possivelmente, este comportamento se deve à degra-dação progressiva do glicogênio muscular ao longoda partida, o que poderia implicar em uma queda dorendimento físico dos atletas na segunda parte dojogo (5).A análise da FC de seis atletas de futebol em jogosda liga nacional dinamarquesa mostraram uma redu-ção de 10 bpm na FC média durante o segundotempo de jogo (154 bpm), comparativamente com aFC média observada no primeiro tempo do jogo(164 bpm) (5). Ali e Farraly (2), comparando joga-dores semi-profissionais, universitários e recreacio-nais, constataram também que os valores médios deFC dos jogadores no segundo tempo eram inferioresaos do primeiro tempo de jogo. Estes resultados cor-roboram os de Mohr et al. (19), que mostraram valo-res médios de FC de 164 ± 1 e 158 ± 1 bpm para oprimeiro e segundo tempo de jogo, respectivamente.O jogo avaliado neste último estudo citado foi umjogo de futebol amistoso e foi considerada comoFCmáx o maior valor da FC registrado durante omesmo. Os resultados do presente estudo corrobo-ram os dos estudos apresentados anteriormente.Em nosso estudo a FC média dos jogadores duranteo primeiro tempo (170 ± 8 bpm) revelou-se supe-rior à do segundo tempo (166 ± 10 bpm), porémdeve-se considerar que a FC média em valores abso-lutos dos jogadores do presente trabalho mostrou

valores mais altos do que os encontrados nos estu-dos citados anteriormente.Capranica et al. (8), a partir da avaliação da FC decrianças de 11 anos durante um jogo de futebol,determinou o percentual do tempo de jogo durante oqual estas crianças apresentavam valores da FCsuperiores a 170 bpm. Os autores constataram queas crianças permaneciam 88% e 80% do tempo totalde jogo, no primeiro e segundo tempo, respectiva-mente, acima desta FC. Entretanto, os mesmos auto-res relataram que esses dados não se revelaram esta-tisticamente diferentes. Convém relevar que, ao con-trário do presente estudo, foram avaliadas crianças ea FCmáx durante o jogo não foi determinada.Nos estudos citados anteriormente a FC média dosjogadores foi considerada em valores absolutos(bpm). No entanto, a relativização da FC pela FCmáx

revela-se necessária quando se avaliam diferentesindivíduos, já que a FC e a FCmáx apresentam varia-ção interindividual (16). No presente estudo a IErealizada pelos jogadores durante o jogo foi emmédia 85,2 ± 4,5 e 82,7 ± 4,6 %FCmáx para o pri-meiro e segundo tempos, respectivamente, revelan-do-se estes valores significativamente diferentes(p<0,01). Estudos realizando este tipo de análise(comparação entre o primeiro tempo e o segundotempo de jogo) não foram encontrados na literatura.No entanto, valores de IE, expressa como %FCmáx,próximos aos encontrados no nosso estudo para otempo total do jogo (84,1 ± 4,2%FCmáx) foram rela-tados por outros autores (18, 19, 20, 21, 25).O nosso estudo, permite concluir que a intensidadedo esforço realizada pelos futebolistas no segundotempo de jogo, quando comparada com a do primei-ro tempo, se revelou inferior, o que sugere umadiminuição do desempenho nesta parte do jogo.

AGRADECIMENTOSCNPq, CAPES, FAPEMIG e Ministério do Esporte.

CORRESPONDÊNCIAEmerson Silami GarciaRua Rio de Janeiro, 2779, apto. 602, Lourdes, Belo Horizonte, [email protected]

Lucas Mortimer, Luciano Condessa, Vinícius Rodrigues, Daniel Coelho, Danusa Soares, Emerson Silami-Garcia

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Intensidade do esforço no Futebol

Rev Port Cien Desp 6(2) 160–169160

Exercício contínuo e intermitente: Efeitos do treinamento e do destreinamento sobre o peso corporal e o metabolismo muscular de ratos obesos

Larissa BragaMaria MelloFúlvia ManchadoClaudio Gobatto

Universidade Estadual PaulistaInstituto de BiociênciasDepartamento de Educação FísicaRio ClaroSão PauloBrasil

RESUMOEste estudo teve como objetivo comparar os efeitos de progra-mas de treinamento contínuo e intermitente e do destreina-mento sobre a adiposidade corporal e o metabolismo muscularde ratos obesos. Foram utilizados ratos Wistar, recém-nascidos,que receberam glutamato monossódio (MSG), via subcutânea,4mg/g peso corporal (p.c.), a cada dois dias, nos primeiros 14dias de vida. Após o desmame, foram separados em 3 grupos:MSG-SED (sedentário), MSG-CONT (treino contínuo = nata-ção, 45 min/dia, 5 dias/semana, com sobrecarga de 5% p.c.durante 10 semanas) e MSG-INT (treino intermitente = nata-ção, 15 seg de atividade/15 seg de repouso, num total de45min, 5 dias/semana, com sobrecarga de 15% do peso corpo-ral). Como controles foram utilizados ratos que receberamsolução salina (SAL) separados em 3 grupos: SAL-SED, SAL-CONT e SAL-INT. Os animais foram avaliados após 12 sema-nas de treinamento e 8 semanas depois de sua interrupção. Osratos MSG mostraram maiores teores de gordura na carcaçaque os SAL, comprovando a eficácia da droga em causar obesi-dade. Ambos os protocolos de treino foram eficazes em reduzirsignificativamente o ganho de peso dos ratos SAL e MSG bemcomo a produção muscular de lactato dos ratos MSG. Os efei-tos dos dois protocolos foram transitórios, uma vez que após odestreinamento os benefícios observados foram revertidos.

Palavras-chave: obesidade, treinamento intermitente, treinamen-to contínuo, glutamato monossódico, rato.

ABSTRACTContinuous and intermittent exercise: Effects of training anddetraining on body weight and muscle metabolism in obese rats

This study was designed to compare the effects of continuous and inter-mittent exercise training on body weight, carcass composition and mus-cle metabolism in obese rats. Obese male Wistar rats (treated withmonosodium glutamate-MSG-administration, 4mg/g body weight,administered every 2 day, from birth to 14 days of age) were used.After drug administration, the rats were separated into three groups:MSG-SED (sedentary), MSG-CONT (continuous training = swim-ming, 45 min/day, 5 days/week, with an overload of 5% body weightduring 12 weeks) and MSG-INT (intermittent training = 15 secswimming intermitted by 15 sec rest, during 45min, 5 days/week, withan overload of 15% body weight during 12 weeks). Rats of the sameage and strain, administered with saline (SAL) were used as controlsand subdivided into three groups: SALT-SED, SALT-CONT and SALT-INT. The animals were evaluated after 12 weeks of training and after8 weeks of detraining. MSG rats showed higher carcass fat contentthan SAL rats, indicting the effectiveness of the drug in causing obesi-ty. Both training protocols were effective in reducing significantly bodyweight gain of SAL and MSG rats as well as the lactate production bythe skeletal muscle of the MSG rats. The effects of the two protocolswere transitory, since after the detraining period the observed benefitswere reverted.

Key Words: obesity, intermittent training, continuous training,monosodium glutamate, rat.

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INTRODUÇÃOOs estudos envolvendo a obesidade têm-se intensifi-cado nos últimos anos, em função da presença cadavez maior de indivíduos portadores dessa doença,que ganha contornos de epidemia mundial. Os moti-vos para essa incidência são muitos, contando-seentre eles fatores genéticos, psicológicos, fisiológicose, especialmente, hábitos alimentares inadequadosassociados a estilos de vida sedentários decorrentesda vida moderna (7). Vários modelos de obesidade experimental têm sidopropostos a fim de investigar aspectos metabólicos ehormonais envolvidos nesse quadro (35). Os estu-dos em modelos animais têm sido bastante úteis noestabelecimento das causas e consequências dadoença e podem, também, ter importante participa-ção no desenvolvimento de procedimentos mais efe-tivos para prevenção e tratamento. Entre os modelos neurais, a obesidade hipotalâmica éa mais bem conhecida. Existem diferentes maneirasde indução da obesidade hipotalâmica, inclusive atra-vés de injeções sistêmicas de glutamato monossódico.Animais tratados com essa droga apresentam reduçãodo crescimento corporal, intolerância à glicose e resis-tência à insulina, entre outras alterações (35).O exercício físico, por sua vez, tem sido amplamenteempregado, isoladamente ou em associação com die-toterapia, no tratamento da obesidade. Embora a uti-lização do treinamento contínuo, de caráter aeróbio,seja mais difundida, o treinamento intervalado,segundo alguns autores, também pode ser útil emprogramas de redução ponderal, uma vez que pareceinduzir maiores adaptações metabólicas mesmo 24horas após exercício (17). Tem sido relatado, paraesse modelo de treinamento, maior transporte deglicose, elevação dos estoques de glicogênio, maioroxidação da glicose e aumento da capacidade detransporte do lactato da fibra muscular para a circu-lação sanguínea em músculos adaptados (3, 14, 19,28, 31). Existem poucas informações quanto ao usodo exercício na prevenção da obesidade e são rarosos estudos comparativos entre os efeitos de progra-mas contínuos e intermitentes sobre a gordura cor-poral e o metabolismo muscular. Mais raras aindasão as pesquisas que abordam os efeitos do destrei-namento sobre esses parâmetros.

O presente estudo foi delineado com o objetivo decomparar os efeitos de programas de treinamentofísico contínuo e intermitente e do subsequente des-treinamento, sobre a gordura corporal e o metabolis-mo glicídico muscular de ratos jovens com obesida-de induzida por glutamato monossódico (MSG).

MATERIAIS E MÉTODOSAnimais e seu tratamentoForam utilizados ratos Wistar, recém-nascidos (obti-dos da Universidade Estadual Paulista - UNESP,Campus de Botucatu - SP), que receberam glutamatomonossódico (MSG - 4mg/g peso corporal) via sub-cutânea, a cada dois dias nos primeiros 14 dias devida. Após o desmame, os animais foram separadosem 3 grupos: MSG-SED (sedentário, n=30), MSG-CONT (treino contínuo = natação, n=30) e MSG-INT (treino intervalado = natação, n=30) e manti-dos em gaiolas coletivas, não excedendo quatro ani-mais por gaiola, em ciclo claro/escuro de 12/12horas. Como controles foram utilizados ratos quereceberam solução salina (SAL) e que foram separa-dos também em 3 grupos: SAL-SED (n=30), SAL-CONT (n=30) e SAL-INT (n=30). Em cada grupo,20 animais foram avaliados após 12 semanas de trei-namento (contínuo e intermitente) ou de vidasedentária, enquanto os 10 restantes foram sacrifica-dos 8 semanas depois. Todos os ratos tiveram livreacesso à água e ao alimento (ração comercial pararoedores). Antes do início dos programas de treina-mento, os animais designados aos grupos sedentá-rios e treinados passaram por período de adaptaçãoao meio líquido, bem como à colocação de sobrecar-ga em seu dorso, durante uma semana. Após isso, ostreinados foram submetidos aos programas designa-dos, enquanto os sedentários (MSG-SED e SAL-SED) foram manipulados e mantidos em água rasa(5 cm de profundidade) no mesmo horário e tempode duração dos treinados, visando submetê-los àsmesmas condições dos grupos experimentais. Todosos procedimentos foram conduzidos seguindo asnormas éticas de experimentação animal, vigentesatualmente no Brasil.

Protocolos de treinamentoPrograma contínuoO programa contínuo consistiu de 45 minutos denatação com sobrecarga de 5% do peso corporal do

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animal, cinco dias por semana, durante 12 semanasconsecutivas, em recipiente contendo água mantidaa 32±1ºC, de acordo com protocolos previamentedefinidos na literatura (13, 26).

Programa intervalado O programa intervalado consistiu num tempo totalde 45 minutos de natação, sendo alternados 15segundos de trabalho suportando sobrecarga de 15%do peso corporal com 15 segundos de repouso, cincodias por semana, durante 12 semanas, em recipientecontendo água mantida a 32±1ºC, de acordo comprotocolo definido na literatura (36). Em ambos osprogramas, contínuo e intermitente, durante a pri-meira semana de treinamento, houve adaptação pro-gressiva à sobrecarga utilizada em cada caso.

Avaliações prévias ao sacrifício dos animaisParâmetros geraisOs animais foram pesados e medidos (focinho-ânus)no início e no final de cada período experimentalpara a determinação das variações ponderais (ganhoou perda de peso corporal) e do comprimento linearfinal do período, respectivamente. A ingestão alimen-tar dos ratos foi registrada uma vez por semana, pormeio da diferença entre a quantidade de alimentoofertada num dia e a quantidade restante no come-douro no dia seguinte, o que permitiu a determina-ção da ingestão alimentar média de cada período.

Avaliações após o sacrifício dos animaisMetabolismo da glicose pelo músculo sóleo isoladoApós o sacrifício por decapitação, as patas traseirasforam retiradas e o músculo sóleo foi removido. Ostendões distal e proximal desse músculo foram libe-rados e com um bisturi foi efetuado um corte longi-tudinal em sua linha mediana. A seguir, a preparaçãofoi pesada e as fatias com peso entre 25 e 35 mgforam submetidas ao procedimento de incubaçãodescrito por Mello et al (26), modificado.As fatias de músculo sóleo (25 e 35mg) foram colo-cadas em frascos de cintilação contendo 1,5 ml detampão Krebs-Ringer bicarbonato e submetidos a 30minutos de pré-incubação sob agitação em banhotipo Dubinoff a 60 rpm e contínuo gaseamento comO2/CO2 (95%/5%). Após esse período, as fatias domúsculo foram transferidas para novos frascos de

cintilação (frasco externo), em cujo interior foraminstalados pequenos tubos em forma de concha(frasco interno) com uma haste reta de aproximada-mente 3 cm de comprimento que se insere nas tam-pas de borracha do frasco externo. Cada frasco externo continha 1,5ml de tampãoKrebs-Ringer e cada frasco interno 700µl de hiamina10x. Após 60 minutos de incubação nesse sistema,com gaseamento durante os 15 primeiros minutos,foram adicionados 100µl de ácido tricloroacético(TCA) 25% ao frasco externo visando a liberação deCO2 . A preparação foi mantida por mais 3 horas nosistema. Decorrido esse tempo, 200µl do líquidocontido no frasco interno foram retirados para adeterminação do CO2 produzido. O meio de incuba-ção acidificado contido no frasco externo foi armaze-nado para determinação do lactato e a fatia de mús-culo imediatamente digerida em 0,5 ml de KOH (38)para dosagem do glicogênio muscular (11). A tem-peratura na pré-incubação e incubação foi de 37ºC(Figura 1).O tampão Krebs-Ringer, base dos meios de pré-incu-bação e incubação, constituiu de: NACL 06%,HEPES 6,64mM, KCL 0,032%, CACL2 1,14nM,KH2PO4 0,015%, NAHCO3 0,19%, MgSO4 0,03%. Asolução assim preparada foi gaseada durante 20 a 30minutos em O2/CO2 (95%/5%) e o pH ajustado a7,4. A esta solução foram adicionados 20 volumes dealbumina sérica bovina livre de gordura. Ao meio depré-incubação foi adicionado piruvato de sódio paraa concentração de 5mM. Ao meio de incubação, foiadicionada glicose (5,5mM) contendo [U-14C] glico-se (0,25 mCi/µl), [3H] 2-deoxyglicose (2DG = 0,5mCi/µl) e insulina (100 mUI/µl). Feitas as adições,o pH foi ajustado a 7,4 e os meios transferidos paraos frascos que foram selados e equilibrados nobanho a 37ºC sob gaseamento em O2/CO2

(95%/5%) durante pelo menos 15 minutos. Fatiasdo mesmo músculo, com peso semelhante àquelasincubadas, foram utilizadas para determinação daconcentração controle de glicogênio.

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Foram avaliadas a captação de glicose, utilizando-sea 2-DG como marcador, e a incorporação do 14C aglicogênio (síntese), medindo-se a radioatividade do14C da glicose e 3H da 2-DG contidas, respectiva-mente, no precipitado e na fase alcoólica da extraçãodo glicogênio, através de contador de partículas beta.O lactato radioativo liberado no meio de incubaçãofoi determinado por separação de metabólitos emcoluna de troca iônica (Dowex-2, Sigma), o querepresenta um índice do transporte de glicose nessascondições. Para a estimativa da glicose oxidada (pro-dução de CO2), foi determinada a radioatividade do14C presente no líquido (hiamina) coletado do frascointerno do sistema de incubação.

Composição química da carcaça Após sacrifício dos animais as carcaças foram eviscera-das, pesadas e secas até peso constante em estufa a100ºC. Foram então homogenizadas em liquidificadorcom benzeno sofrendo várias lavagens com esse solven-te para a remoção da gordura. A carcaça livre de gordu-ra foi seca até peso constante em estufa a 100ºC. O póseco e desengordurado foi pesado. O conteúdo de gor-dura foi calculado por diferença de peso (23).

Peso do tecido adiposo epididimalPor terem sido utilizados ratos machos no estudo, otecido adiposo epididimal dos animais, de caracterís-tica visceral e facilmente delimitado, foi totalmenteremovido e pesado em balança analítica com preci-são de 10-4 gramas.

Análise estatísticaFoi realizada através da análise de variância de duasentradas, sendo avaliados os efeitos da obesidadeinduzida por glutamato monossódico e do treina-mento físico. Quando necessário foi utilizado o teste“post-hoc” Newman-Keuls para a comparação entreos grupos. Em todos os casos, o nível de significân-cia foi pré-fixado em 5%.

RESULTADOSOs valores referentes ao ganho de peso e ao compri-mento corporal dos ratos MSG foram significativa-mente inferiores em relação aos animais controlesequivalentes. Na etapa de destreinamento, apenas osratos MSG-SED mantiveram menor ganho de pesoque os demais (Tabela 1).

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Figura 1. Etapas do procedimento de incubação.

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Os animais MSG mostraram valores significativa-mente superiores em relação aos teores de gordurana carcaça durante todo o período experimental(treinamento e destreinamento), comparados aosgrupos controle (tratados com solução salina) cor-respondente (Tabela 2), sem qualquer alteração naingestão alimentar (Tabela 1). O peso do tecido adi-

poso epididimal também foi significativamente maiselevado nos grupos MSG que nos SAL (Tabela 2).Ambos os protocolos de exercício atenuaram signifi-cativamente o ganho de peso dos ratos SAL e MSG(Tabela 1) e ligeiramente o teor de gordura da carca-ça e o peso do tecido adiposo epididimal (Tabela 2)dos ratos MSG ao final da etapa de treinamento.

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Tabela 1. Ganho de peso (g) e ingestão alimentar média (g/100g dia) durante os períodos de treinamento e destreinamento e comprimento corporal (cm) ao final desses períodos.

Tabela 2. Teores de gordura (g/100g de tecido) na carcaça e peso do tecido adiposo epididimal (mg/100g de peso corporal) dos ratos após treinamento físico e subsequente destreinamento

Resultados expressos como média ± desvio padrão de 5-8 animais por grupo. SAL = solução salina, MSG = glutamato monossódico, SED = sedentário,CONT = treino contínuo, INT = treino intermitente. Diferença significativa (ANOVA P≤ 0,05) em relação a: a) SAL-SED, b) SAL-CONT, c) SAL-INT.

Resultados expressos como média ± desvio padrão de 20 (treinamento) ou 10 (destreinamento) animais por grupo. Ganho de peso treinamento = peso aodesmame – peso no último dia de treino. Ganho de peso destreinamento = peso no último dia de treino – peso imediatamente antes do sacrifício. Ingestão

Alimentar treinamento = valores médios do desmame ao último dia de treino. Ingestão Alimentar destreinamento = valores médios do último dia de treino atéo dia do sacrifício. = SAL = solução salina, MSG = glutamato monossódico, SED = sedentário, CONT = treino contínuo, INT = treino intermitente. Diferença signifi-

cativa (ANOVA P≤ 0,05) em relação a: a) SAL-SED, b) SAL-CONT, c) SAL-INT, d) MSG-SED.

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No estudo in vitro, foi observado aumento na produ-ção de lactato pelo músculo isolado dos ratos MSG-SED em comparação aos SAL-SED. O inverso foiconstatado para os MSG treinados, em ambos osprotocolos, em relação aos ratos MSG-SED. Nãoforam observadas diferenças entre os grupos na cap-tação e na oxidação de glicose, assim como na sínte-se de glicogênio, enquanto que a concentração deglicogênio no músculo dos ratos MSG-CONT foisuperior à dos ratos MSG-SED (Tabela 3).

DISCUSSÃOOs animais tratados com glutamato monossódico nopresente estudo apresentaram menor peso corporal emenor estatura (comprimento focinho-ânus) que oscontroles, equivalentes assim como uma deposiçãoanormalmente elevada de gordura na carcaça emambas as etapas do estudo (treinamento e destreina-mento). Isso também foi observado em outros estudosutilizando roedores tratados com MSG (10, 24, 34).

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Tabela 3. Captação de glicose (mmol/g.h), oxidação da glicose (mmol/g.h), síntese de glicogênio (mmol/g.h), produção de lactato (mmol/g.h) e teor de glicogênio (mg/100mg) em músculo isolado após treinamento e subseqüente destreinamento.

Resultados expressos como média ± desvio padrão de 9-10 fatias de músculos por grupo. SAL = solução salina, MSG = glutamato monossódico, SED= sedentário, CONT = treino contínuo, INT = treino intermitente. Diferença significativa (ANOVA P≤ 0,05) em relação a: a) SAL-SED, b) MSG-SED.

O acúmulo excessivo de tecido adiposo nesses ani-mais parece estar relacionado a um desbalanço entrerespostas lipolíticas e atividades lipogênicas (10).Marmo et al. (25) e Dolnikoff et al. (10) sugeriramque a obesidade induzida por MSG consiste numaalteração metabólica caracterizada por aumento na

capacidade de transporte de glicose e de síntese delipídeos pelo tecido adiposo, resultado de um aumen-to na sensibilidade à insulina.Tem sido relatado que ratos tratados com MSG sãohipoativos e o desenvolvimento da obesidade nestesfoi relacionada ao menor gasto energético em certos

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períodos do dia (39, 41). A obesidade nesses ani-mais tem sido associada também a um aumento daeficiência alimentar (9). Animais MSG usualmenteapresentam menor temperatura corporal (41) emenor taxa metabólica basal comparativamente aosanimais eutróficos (4, 9, 27). Além disso, de acordocom diferentes autores, o desenvolvimento da obesi-dade em ratos tratados com MSG no período neona-tal, ocorre na ausência de hiperfagia e sem excessivoganho de peso (1, 4, 10, 30, 39). Em resumo, os resultados referentes ao acúmulo degordura na carcaça e ao crescimento somático indi-cam que, no presente estudo, o desenvolvimento daobesidade induzida pelo MSG processou-se confor-me descrito na literatura.Em estudos anteriores, demonstrou-se que o ratoobeso pelo tratamento com MSG é um modelo ade-quado para o estudo dos efeitos metabólicos doexercício na obesidade (13). Dessa forma, no presen-te estudo, avaliou-se o efeito de dois programas dis-tintos de treinamento sobre a adiposidade corporal eo metabolismo muscular da glicose nesse modelo.O teor de gordura na carcaça e o peso do tecido adi-poso epididimal dos animais MSG treinados pelosdois protocolos foram ligeiramente menores que ossedentários após a etapa de treinamento, confirman-do os resultados obtidos por Couto (6) e Gobatto etal (13). Segundo alguns autores, o exercício físicopromove elevação da lipólise no tecido adiposo pelaação de hormônios lipolíticos (glucagon, adrenalina,noradrenalina, glicocorticóides e hormônio do cresci-mento (GH), que são liberados durante o exercíciode longa duração (33). Dessa forma, quanto maisintenso for o exercício, maiores serão os níveis séri-cos de catecolaminas (32), o saldo negativo nobalanço energético e o gasto energético em repouso(17, 18). Além disso, a carga de trabalho pode indu-zir alterações agudas na temperatura corporal quedesencadeiam respostas termorregulatórias maisduradouras (21).Diversos estudos têm demonstrado que atletasenvolvidos com exercícios de alta intensidade apre-sentam elevação aproximada de 5 a 20% no dispên-dio energético durante o repouso quando compara-dos com indivíduos sedentários (2, 40).Possivelmente a elevação da atividade simpáticapossa estar envolvida na gênese do aumento do dis-

pêndio energético em repouso induzido pelo exercí-cio (17). Outros estudos explicam a redução do teci-do adiposo corporal, promovida pelo treinamentofísico como resultado de “desbalanço” entre lipólisee lipogênese (29). O treinamento contendo sucessivos estímulos anae-róbios talvez favoreça o maior gasto energético pós-exercício por manter a taxa metabólica de repousoem níveis elevados por um longo tempo (37). Nesseperíodo, a gordura proveniente do tecido adiposoconstitui o principal substrato consumido pelo orga-nismo, reduzindo assim o conteúdo lipídico corpo-ral. O menor conteúdo lipídico dos animais MSGsubmetidos ao treinamento físico pode ser um dosfatores responsáveis pelo menor ganho de peso cor-poral alcançado por esses animais. Outros estudosdescrevem os mesmos efeitos do exercício físico emrelação à perda de peso (6, 12). Em resumo, ambos os protocolos de treinamentofísico foram eficazes na redução do ganho de pesocorporal e dos teores de gordura da carcaça dos ani-mais obesos. Não foram observadas, no presente estudo, diferen-ças entre os grupos em relação à captação da glico-se, síntese de glicogênio e oxidação de glicose nasavaliações realizadas in vitro após o período de trei-namento. Contudo, diversos autores sugeremmelhoria na tolerância à glicose e na resistência àinsulina após treinamento físico e que esta se deve,pelo menos em parte, às adaptações muscularesque aumentam a ação da insulina no transporte eutilização de glicose (28). O incremento da ativida-de da hexoquinase (30) e da glicogênio sintetase(3), além do aumento no número de transportado-res de glicose do tipo 4 (GLUT-4), associado à suamaior eficiência para translocar-se até à membranaapós o exercício, podem ser a causa destas altera-ções (8). Também parece contribuir para esse fenô-meno o aumento da capilarização dos músculosesqueléticos (15, 16). Além disso, foi relatado queo acúmulo das reservas de glicogênio observadocom o treinamento físico pode estar relacionado aoaumento da glicogênese e ao maior transporte deglicose por mecanismos insulino-independentes(14). As discrepâncias entre os resultados do pre-sente estudo e aqueles relatados previamente naliteratura podem ser devidas, entre outros fatores,

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a diferenças nos protocolos de treinamento.Em relação à produção de lactato, os ratos MSG-SEDmostraram valores elevados em comparação aogrupo SAL-SED. Isso pode indicar maior metabolis-mo da glicose pela via anaeróbia no primeiro grupo.Tal alteração foi revertida pelo treinamento físico,sugerindo melhora do condicionamento aeróbio. Osefeitos causados pelo treinamento foram transitó-rios, pois desapareceram após o destreinamento. O conjunto dos resultados referentes ao metabolis-mo de glicose intramuscular precisa ser visto comcautela, pois apesar de não terem sido observadasalterações na captação, oxidação de glicose e na sín-tese de glicogênio em resposta ao treinamento, osratos MSG-CONT apresentaram elevação do glicogê-nio quando comparados ao grupo sedentário equiva-lente. Mais análises são necessárias para o esclareci-mento desse fenômeno. Cheng et al (5) demonstraram que dieta hiperlipídi-ca aumenta a capacidade de oxidação de lipídeospelo músculo de ratos obesos exercitados por 4semanas. Em situações de necessidade, como porexemplo o jejum de 24 horas, animais obesos trata-dos com dieta de cafeteria mobilizaram menos glico-gênio hepático (22). Assim podemos sugerir que,apesar dos ratos MSG-CONT não terem apresentadoquaisquer alterações na captação, oxidação de glicosee na síntese de glicogênio muscular, os mesmosmostraram, como possível adaptação a uma situaçãode necessidade energética (exercício), maior capaci-dade de preservação das reservas de glicogênio mus-cular, através de mecanismos que não são explicáveispelas avaliações feitas neste estudo. Em resumo, os ratos MSG mostraram maiores teoresde gordura na carcaça que os SAL, comprovando aeficácia da droga em causar obesidade. Ambos osprotocolos de treinamento provocaram redução naprodução de lactato pelo músculo esquelético dosratos obesos, indicando melhoria do condicionamen-to aeróbio desses animais. Ambos os protocolosforam eficazes em reduzir significativamente oganho de peso dos ratos SAL e MSG e ligeiramente oteor de gordura da carcaça dos ratos MSG. Os efeitosdos dois protocolos foram transitórios, uma vez queapós o destreinamento os benefícios observadosforam revertidos.

CORRESPONDÊNCIAMaria Alice Rostom de MelloAvenida 24-A, 1515Bela VistaDepartamento de Educação Física UNESP – Rio Claro/ SP 13506-900 [email protected]

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Exercício contínuo e intermitente em ratos obesos

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Exercício rosca bíceps: influência do tempo de execução e da intensidade da carga na atividade eletromiográfica de músculos lombares

Anderson OliveiraMauro GonçalvesAdalgiso CardozoFernando Barbosa

Universidade Estadual PaulistaInstituto de BiociênciasDepartamento de Educação FísicaLaboratório de BiomecânicaRio ClaroSão PauloBrasil

RESUMOO objetivo do estudo foi verificar o efeito do tempo de execu-ção, da intensidade da carga e do tipo de contração na atividadeeletromiográfica do músculo longuíssimo do tórax bilateral-mente, durante a execução do exercício rosca bíceps. Dezvoluntários saudáveis executaram o exercício até à exaustãocom 25%, 35% e 45% da carga máxima, em três dias diferen-tes, sendo uma carga por dia. Foram analisadas a root meansquare (RMS) e o slope a cada 10% do tempo total. Os resulta-dos mostraram aumento progressivo na RMS com o tempo a25% e 35% da carga máxima, com aumentos significativos apartir de 80% do tempo de execução. Houve efeito da intensi-dade da carga nas contrações concêntricas, predominantementeentre 25% e 45% nas diferentes porcentagens de tempo. Aoanalisar os tipos de contração observa-se que a RMS nas con-trações concêntricas apresenta-se maior que nas contraçõesexcêntricas, predominantemente na carga de 45% para ambosos músculos. As comparações dos valores de slope indicampequeno efeito da carga e tipo de contração. Estes resultadospermitem concluir que a execução do exercício rosca bícepsaumenta a atividade eletromiográfica dos músculos longuíssi-mos do tórax, principalmente durante movimentos concêntri-cos dos cotovelos a partir dos 80% do tempo de execução

Palavras-chave: fadiga muscular, eletromiografia, eretor da espi-nha, estabilização do tronco, treinamento resistido.

ABSTRACTBiceps curl exercise: endurance time and load level effects in the electromyographic activity of lumbar muscles

The purpose of this study was to verify the effect of execution time,load level and contraction type in the electromyographic activity oflongissimus thoracis muscle bilaterally, during the execution of thebiceps curl exercise. Ten healthy subjects performed the exercise untilexhaustion with 25%, 35% and 45% of one repetition maximum(RM), in three different days. Root mean square and slope were ana-lyzed in each 10% of total time. Results showed a progressive increasein electromyographic activity with time, at 25% and 35% of 1RMwith significant increases in the electromyographic activity beginning at80% of execution time. The effect of load level in the activity of longis-simus thoracis muscles occurred in the concentric phase between 25%and 45% of RM. There was a predominantly effect of contraction typeat 45% of 1-RM for both muscles, and was found a small effect of con-traction type for slope values. These results allow to conclude that theperformance of biceps curl exercise increases the electromyographicactivity of longissimus thoracis muscles during the concentric elbowmovements and at 80% of execution time.

Key Words: muscle fatigue, electromyography, erector spinae, trunkstabilization, resisted training.

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INTRODUÇÃOExiste um aumento no número de lesões originadasdurante treinamentos resistidos, principalmente devi-do à utilização de cargas inadequadas em combinaçãocom posturas incorretas. Isto acontece, sobretudo,quando os exercícios são realizados em pé e, particu-larmente, nos músculos posturais, como os eretoresda espinha [1, 2], e em atletas profissionais [2].Entre os exercícios resistidos um dos mais pratica-dos é o rosca bíceps, que exercita os músculos flexo-res do cotovelo, o qual, devido às característicaspeculiares à sua execução, suscita muitas preocupa-ções, principalmente quando realizado sem a devidaorientação [3]. Estas preocupações se concentram nofato da carga ser posicionada anteriormente ao corpodo praticante, durante sua execução. Isto possibilitaa hiperextensão da coluna lombar, que pode seracentuada dependendo da quantidade de carga e datécnica de execução utilizadas, promovendo assimuma distribuição inadequada da carga sobre os dis-cos intervertebrais e aumentando o risco de lesões[1, 4, 5].Aliado a todos estes fatores encontra-se a fadigamuscular, definida como a impossibilidade de reali-zação de determinada tarefa devido às falhas no sis-tema neuromuscular, acarretando diminuição na pro-dução de força durante contrações isométricas e iso-tônicas [6, 7], e podendo aumentar o risco de lesãoda região lombar. O fenômeno da fadiga muscular játem sido objeto de estudo há várias décadas [8, 9,10], entretanto, algumas dúvidas persistem sobre ocomportamento das unidades motoras durante taisatividades [5].Uma das ferramentas biomecânicas mais utilizadaspara a investigação da atividade muscular, e conse-qüentemente da fadiga muscular, é a eletromiografia(EMG) que mede a amplitude e/ou a freqüência dosdisparos das unidades motoras durante a execuçãode determinada tarefa ou movimento. Embora aEMG seja amplamente utilizada em estudos comfadiga muscular, poucas investigações se destinam aestudar o comportamento dos músculos eretores daespinha durante a realização de exercícios resistidos[11, 12, 13].A determinação da fadiga muscular pode ser realiza-da pela análise dos valores de amplitude, especial-mente a root mean square (RMS) do sinal eletromio-

gráfico, que aumenta em função do tempo de execu-ção (TE) do exercício. Permitindo assim ser analisa-da por meio do coeficiente de inclinação (slope), queé obtido quando realizam-se regressões lineares comos valores de RMS. O slope pode ser uma ferramentaútil para a observação da fadiga muscular durantecontrações isométricas e isotônicas, ao quantificaraumentos ou diminuições nos parâmetros eletromio-gráficos [14, 15, 16]. Além do TE, o slope pode aindaser influenciado pela intensidade de carga deslocadae pelo tipo de contração analisada [17].Tendo em vista a grande freqüência desta modalida-de de exercício nos programas de treinamento, comintuito de manutenção das capacidades físicas bási-cas assim como da forma atlética, evidencia-se anecessidade de indicadores mais objetivos sobre odesenvolvimento da fadiga muscular em função doTE desta tarefa durante os treinamentos, assimcomo o efeito da concentração de cargas deslocadassobre os músculos eretores da espinha. Neste senti-do, o objetivo do presente estudo foi avaliar o com-portamento da atividade dos músculos eretores daespinha bilateralmente durante a realização do exer-cício rosca bíceps, com diferentes porcentagens decarga até a exaustão.

MATERIAL E MÉTODOSSujeitosParticiparam deste estudo 10 homens saudáveis commédia de idade de 20,91±1,37 anos, altura de177,3±5,61cm, massa corporal de 71,77±5,69kg eíndice de massa corporal de 22.32±0.81kg/m2. Essessujeitos deveriam possuir uma prática de treinamen-to resistido de no mínimo 12 semanas durante operíodo dos testes [18]. Os sujeitos não possuíamhistórico de lesões músculo-esqueléticas nosombros, cotovelos e coluna vertebral. O Comitê deÉtica local aprovou o estudo e os voluntários assina-ram Termo de Consentimento Livre e Esclarecidoantes de realizarem os testes.

TarefasNa semana anterior ao início dos testes foi realizado,em três dias, o teste de uma repetição máxima (1-RM) de cada voluntário, segundo procedimento des-crito por Oliveira et al. [19].Em outros 3 dias, testes de exaustão foram realiza-

Exercício rosca bíceps

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dos com um intervalo de 24 a 72 horas entre os dias[18]. Em cada dia de teste os voluntários realizaramo exercício rosca bíceps com cargas correspondentesa 25%, 35% e 45% de 1-RM, selecionadas de formarandômica. A exaustão foi determinada pela impossi-bilidade de realizar o movimento na amplitude (15ºa 130º de flexão) e no ritmo (40 bpm) padronizados.Os sujeitos tiveram um tempo para adaptar-se aoritmo de execução do exercício antes do início doteste. Estas intensidades de carga foram estabeleci-das por meio de estudos-piloto, pelos quais se verifi-cou que estas cargas poderiam ser mantidas emmovimento ao menos durante 1 minuto. Os voluntá-rios foram encorajados durante todo o teste a conti-nuar realizando a tarefa. Os sujeitos foram orienta-dos a não realizarem qualquer treinamento para osmúsculos envolvidos no experimento no dia anteriore nos próprios dias de teste.

Equipamentos e posicionamentoPara a realização do teste de carga máxima e doexercício rosca bíceps foi utilizada uma barra deferro reta (7kg, 120cm de comprimento) e anilhas(1/2, 1, 4, 5 e 10Kg). Para a padronização do ritmode execução do exercício isotônico foi utilizado ummetrônomo digital (Qwik Time QT-3, Beijing,China) cabrilado a 40 bpm.Durante os testes de exaustão os sujeitos permane-ceram em postura ereta com os pés distantes 40cmentre eles [3]. Um monitor colocado a 130cm dosujeito e a 100cm de altura ofereceu retorno visualde sua postura. Foram obtidas imagens no planosagital por meio de uma câmera (JVC GR-AX910U,Tokio, Japan) posicionada a 360cm perperdicular-mente ao plano em que os voluntários se encontra-vam. Estas imagens ofereceram um feedback posturalaos voluntários durante a realização do exercícioassim como posteriormente, pela identificação deum sistema fotoeletrônico [20] gravado simultanea-mente, a aquisição dos registros EMG permitiu aidentificação das fases dos movimento e obtençãodos valores de RMS. Com o objetivo de padronizar apostura simétrica e os movimentos durante o testede exaustão, um sistema de hastes metálicas foiconstruído, o qual limitou os movimentos dos bra-ços ântero-lateralmente e manteve a flexão dos joe-lhos a 15º. A partir desta posição foram realizadas

flexões e extensões do cotovelo, com o antebraçosupinado bilateralmente e as mãos afastadas aproxi-madamente 45cm.

Sistema EMGDois pares de eletrodos de superfície, bipolares, des-cartáveis (MediTrace 100, Chicopee, Canada) e comárea de captação de 1cm foram posicionados sobreos músculos longuíssimo do tórax direito (LTD) eesquerdo (LTE) no nível de L1, de acordo comKumar [21], na direção das fibras musculares. Umeletrodo de referência foi posicionado no punhodireito.Para a obtenção dos sinais eletromiográficos foi utili-zado um módulo de aquisição de sinais biológicos(Lynx - Tecnologia Eletrônica Ltda®, São Paulo, SP,Brasil) de quatro canais, ao qual foram conectadosos cabos e eletrodos. A freqüência de amostragemfoi de 1000Hz, o filtro passa alta de 10Hz, o filtropassa baixa de 500Hz e o ganho de 1000 vezes. Aconversão dos sinais analógicos para digitais foi rea-lizada por uma placa A/D com faixa de entrada de–5 a +5 volts (CAD 1026-Lynx). Para a aquisiçãodos sinais eletromiográficos também foi utilizadoum software específico (Aqdados-Lynx).

Análise estatísticaOs valores de RMS do sinal EMG foram analisadosseparadamente nas contrações concêntricas de flexãodos cotovelos (FC) (fase de levantamento da carga)e nas contrações excêntricas de extensão dos cotove-los (EC) (fase de abaixamento da carga), durante ostestes de exaustão. Estes valores foram normalizadospelo valor da primeira contração, realizada com 45%de 1-RM, e analisados a cada 10% do TE. Dos valo-res destas regressões lineares entre RMS e tempoforam obtidos os respectivos slopes, tanto para as FCcomo para as EC do movimento analisado em cadauma das porcentagens de carga. A análise estatísticados dados foi realizada por meio de testes não para-métricos. Sendo que para a verificação da intensida-de de carga sobre os valores de TE total, da percen-tagem de TE dentro de uma mesma intensidade decarga, e da intensidade de carga para um mesmomúsculo e tipo de contração, foi aplicado o teste deFriedman. Já para as comparações entre os diferentestipos de contração (FC e EC) para um mesmo mús-

Anderson Oliveira, Mauro Gonçalves, Adalgiso Cardozo, Fernando Barbosa

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culo e carga, bem como para a comparação entre osmúsculos localizados do lado direito (LTD) e esquer-do (LTE) da coluna vertebral, foi utilizado o teste deWilcoxon. Para todas as análises foi estabelecido umnível de significância de p≤ 0,05.

RESULTADOSO efeito do tempo de execuçãoInicialmente, verifica-se que existe efeito da intensida-de da carga sobre os valores de TE (p<0.05), existindouma relação inversa entre estes dois parâmetros.

Tabela 1. Valores de carga máxima e tempo de execução (em segundos) do exercício rosca bíceps para cada intensidade de carga.

(*) Repetição máxima (em kg).(**) Diferença significativa em relação a 35% e 45%.

(***) Diferença significativa em relação a 45%.

O TE apresentou um significativo efeito (p<0.05)sobre os valores de RMS do músculo LTD (Figura 1)e do músculo LTE (Figura 2) nas cargas de 25% e35% durante a FC, ao passo que durante a EC houvesignificativo efeito do TE apenas para o músculoLTD nas cargas de 25% e 35%.

Figura 1. Valores médios e desvios padrão da RMS do músculo lon-guíssimo do tórax direito (LTD) durante a flexão (FC) e extensão

do cotovelo (EC) no exercício rosca bíceps com 25%, 35% e 45% de1RM. (+ Diferença significativa em relação à 80%; † Diferença sig-

nificativa em relação a 90%; § Diferença significativa em relação a60%, 90% e 100%; * Diferença significativa em relação à 100% )

Exercício rosca bíceps

% do tempo de execução

% do tempo de execução

+

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Na análise dos valores de slopes dos músculos deambos os lados (Figuras 3 e 4), os resultadosdemonstraram que existem diferentes comportamen-tos entre as FC e as EC, pois até aos 50% do TE asFC possuem tendência à diminuição dos seus valo-res, enquanto as EC possuem a característica deaumento. Ao passo que após os 50% do TE os com-portamentos se assemelham para os dois tipos decontração. Existiu uma predominante diferença nasFC para o músculo LTD entre os intervalos de 10% e 90%, de 20% e 50%, de 20% e 70%, e de 20% e90% do TE. É importante ressaltar que, apesar dasfiguras não apresentarem os valores de desvio-padrão, estes variaram de ±1,4 (principalmente apartir dos 40% do TE) até ±14 (principalmente até30% do TE) para ambos os músculos, demonstrandoassim maiores variações nos valores dos slopes para oinício do exercício.

Figura 3. Valores médios de slopes do músculo longuíssimo do tórax direito(LTD) durante a flexão (FC) e extensão do cotovelo (EC) no exercício rosca

bíceps com 25%, 35% e 45% de 1RM durante o tempo total de execução.

Anderson Oliveira, Mauro Gonçalves, Adalgiso Cardozo, Fernando Barbosa

Figura 2. Valores médios e desvios padrão da RMS do músculo longuíssimo do tórax esquerdo (LTE) durante a flexão (FC) e exten-são do cotovelo (EC) no exercício rosca bíceps com 25%, 35% e 45% de 1RM. (+ Diferença significativa em relação a 80%; † Diferençasignificativa em relação a 90%; § Diferença significativa em relação a 80%, 90% e 100%; * Diferença significativa em relação a 100%)

+

% do tempo de execução

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Figura 4. Valores médios de slopes do músculo longuíssimo do tórax esquer-do (LTE) durante a flexão (FC) e extensão do cotovelo (EC) no exercício rosca

bíceps com 25%, 35% e 45% de 1RM durante o tempo total de execução.

O efeito da intensidade de cargaVerificou-se que houve efeito da intensidade da cargaimposta para a execução do exercício rosca bícepsnos valores da RMS de ambos os músculos do tron-co analisados durante a FC. Nesta fase ocorreramdiferenças significativas entre 25% e 35% de 1RMno LTD nos intervalos de 20% e 30% do tempo totalde execução, com maiores valores para 35% de 1-RM. Entre as cargas de 25% e 45% de 1-RM verifica-ram-se diferenças a 0%, 10%, 20%, 30%, 40%, 50%,70%, 90% e 100% do tempo total de execução, apre-sentando maiores valores quando utilizada 45% de1RM. Entre as cargas de 35% e 45% de 1-RM houvediferença significativa a 0%, 40% e 50% do tempototal de execução, com maiores valores quandomovimentada a carga de 45% de 1-RM.Durante a FE a intensidade de carga utilizada tambémapresentou efeito sobre a atividade do LTD, havendodiferença entre as cargas de 25% e 35% de 1-RM a0%, 10%, 40%, 70% e 80% do tempo total de execu-ção, com maiores valores a 35% de 1-RM. Entre ascargas de 25% e 45% de 1-RM houve diferença signi-ficativa apenas para os intervalos de 0%, 50% e 60%do tempo, com maior valor para 45% de 1-RM.No LTE durante a FC verifica-se o efeito da intensi-dade da carga, apresentando diferenças significativasentre as cargas de 25% e 35% de 1-RM apenas nointervalo de 60% do TE, com maiores valores a 35%de 1-RM. Entre as cargas de 25% e 45% de 1-RM,

foram encontradas diferenças em todos os intervalosde tempo, exceto em 50% do TE, com maiores valo-res para 45%. Já para as cargas de 35% e 45% de 1-RM houve diferença significativa apenas nos interva-los de 20% e 40% do tempo, com maiores valorespara 45% de 1-RM.Durante as EC, o músculo LTE apresentou diferen-ças significativas entre as cargas de 25% e 35% de 1-RM nos intervalos de 70% e 90% do tempo total deexecução, com maiores valores obtidos com 35% de1-RM e entre as cargas de 25% e 45% de 1-RM nosintervalos de 50% e 60% do TE, com maiores valo-res a 45% de 1-RM.Já para os valores de slope a atividade dos músculoseretores da espinha, apresentou o efeito da intensi-dade da carga apenas no LTD na EC entre as cargasde 25% e 35% de 1-RM no intervalo de 90% dotempo, com maior valor na carga de 35% de 1-RM.

Diferenças no tipo de contraçãoQuanto se analisou em cada carga utilizada os dife-rentes tipos de contração (FC e EC), verificou-seque, ao se deslocar 25% de 1-RM, apenas o LTEdemonstrou diferença significativa nos intervalos de0% e 40% do TE. Com a carga de 35% de 1-RM,estas diferenças foram significativas entre os interva-los de 0%, 20% e 40% do tempo no LTD, e 20% e40% do TE no LTE, com os maiores valores sendoencontrados na FC. Com a utilização de 45% de 1-RM também se verifica efeito da fase de deslocamen-to da carga para ambos os músculos, com maioresintensidades obtidas na FC, existindo diferenças sig-nificativas em todos os intervalos de tempo, excetoem 0%, 10% e 60% para o músculo LTD e 10%,20%, 30%, 40%, 70%, 80% e 90% do TE para omúsculo LTE, com os maiores valores sendo encon-trados para a FC.Na comparação dos slopes dos músculos de ambos oslados, realizada entre a FC e EC, verifica-se umadiferença significativa quando se utilizou a carga de25% para o músculo LTD nas FC em 10%(9.34±7.35) e 20% (6.66±5.95) em relação à EC (-0.79±6.98 e -0.39±3.41 respectivamente); nacarga de 35% o músculo LTE nas FC a 100% do TE(4.18±2.70) em relação à EC (1.84±2.65). Quanto acarga de 45% foi utilizada, houve diferença significa-tiva da atividade do músculo LTD nas FC em 30%

Exercício rosca bíceps

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(4.47±8.70) e 90% (2.46±3.06) em relação à EC (-1.73±6.52 e -0.56±5.05 respectivamente). E parao músculo LTE nas FC em 70% do (5.47±7.72) emrelação à EC (1.31±2.70). Não foram evidenciadas diferenças significativasquando se comparou o LTD com o LTE, quando serealizaram as comparações entre tipos de contração,carga e TE.

DISCUSSÃODificuldades na estabilização do tronco, durantetarefas repetidas na postura ortostática [22, 23],pelos músculos lombares têm representado para acoluna lombar um grande risco de lesões, tanto notrabalho [10] como no esporte [2]. Uma das causasé a fadiga dos músculos eretores da espinha [24,25]. Este fato pode ser constatado no presente estu-do, nos músculos LTD e LTE, durante a execução doexercício rosca bíceps [22, 23], em que um evidenteaumento da atividade EMG ocorreu em função doTE, principalmente durante a realização da FC [24,26]. Este comportamento está relacionado aoaumento no recrutamento das unidades motorase/ou da sua taxa de disparos [9, 17, 27], bem comoa alterações na ordem de recrutamento das unidadesmotoras [9, 17, 28, 29, 30] para manutenção datarefa e da postura. Pelo fato do exercício rosca bíceps ser, evidentemen-te, uma atividade física dedicada ao treinamento dosmúsculos do membro superior, movimentações des-tes membros propiciam um aumento da ação dosmúsculos da coluna lombar [31, 32]. Constata-secom isso que, apesar de em menor magnitude quepara os músculos dos membros superiores, os mús-culos LTD e LTE também são acometidos pelo pro-cesso de fadiga muscular [25], predominantemente apartir de 80% do TE do exercício rosca bíceps, devi-do ao significativo aumento da atividade EMG.A utilização de diferentes intensidades de carga nopresente estudo evidenciou que existem alteraçõesna atividade EMG dos músculos LTD e LTE, com oaumento da atividade em função do aumento dacarga, assim como com o passar do TE [33, 34, 35],principalmente a partir de 50% do tempo. Este fatopode ter relação com a necessidade do aumento norecrutamento de fibras do Tipo II [30], que sãomenos resistentes à fadiga muscular [18, 36] e pos-

suem maiores valores de amplitude do sinal eletro-miográfico [34]. Este mesmo fato já foi verificadoem estudos anteriores, porém com utilização deintensidades de cargas mais altas e durante tarefasisométricas de flexão dos cotovelos na posição em pé[13, 25]. Verificaram-se, então, alterações na formade execução do movimento [3], havendo uma com-pensação do movimento de flexão dos cotovelos porhiperextensões da coluna lombar [24, 26]. Nesta mesma direção podemos analisar as diferençasexistentes na atividade EMG dos músculos LTD eLTE, em cada percentagem do TE, durante a FC eEC. Predominantemente o presente estudo demons-tra uma maior atividade dos músculos lombaresdurante as FC, que pode estar relacionada com umadiminuição da eficiência dos músculos do braço, oque propicia uma hiperextensão compensatória dacoluna lombar para auxiliar a continuidade da tarefa.Esta atividade é diminuída quando a carga é reduzi-da durante a EC, pois, nesta fase, os músculos anali-sados estão executando uma estabilização do troncoe não, efetivamente, um possível movimento dacoluna vertebral.Os slopes obtidos para os músculos lombares podemtrazer informações sobre o comportamento destesmúsculos frente a tarefas fadigantes [6]. Ao verifi-car-se que ocorre predominância de semelhanças nosvalores de slopes entre as cargas, pode se dizer que aatividade entre as cargas não se modifica. Pode-seressaltar então que atividades realizadas em pé,mesmo que com cargas relativamente baixas (até45% de 1-RM), promovem atividade semelhante domúsculo longuíssimo do tórax, apesar de existiremdiferenças no TE entre estas cargas.O comportamento dos slopes obtidos nos diferentespercentuais do TE apresenta grande variação até os50% do TE, onde os músculos de ambos os ladosapresentam uma predominante tendência à diminui-ção durante a FC e aumento na EC. A partir de 60%do TE os slopes apresentam um padrão similar aolongo do TE para ambos os músculos e, além disso,predominantemente semelhante entre as cargas etipos de contração. Apesar de não serem encontradasinformações tão detalhadas quanto ao comportamen-to dos slopes ao longo do tempo na literatura, no pre-sente estudo verifica-se mesmo, quando se analisamparcelas deste tempo de execução, que existe a pre-

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sença de inclinação positiva. Esta é interpretadacomo a presença de fadiga muscular, demonstrandoque os músculos lombares durante exercícios resisti-dos apresentam fadiga muscular durante as FC, epredominantemente a partir dos 50% da execuçãopara as EC. E este aumento da atividade EMG foiverificado nas diferenças significativas da RMS a par-tir dos 80% do TE, quando comparada ao início doexercício.Na presente investigação foram encontradas seme-lhanças nestes valores de slopes a partir de 60% doTE, o que pode indicar que, ao realizar o exercíciorosca bíceps até 70% do TE total, pode ser eficientepara análises da fadiga muscular durante a execuçãodo exercício rosca bíceps. Ao mesmo tempo permitea adequada ação do músculo longuíssimo do tóraxpara a estabilização da coluna lombar, visto que aatividade deste músculo não será aumentada deforma tão acentuada, independentemente da intensi-dade de carga imposta para a realização do exercíciopara membros superiores. Embora o presente estudo tenha permitido identifi-car o importante papel do músculo longuíssimo dotórax para a estabilidade da coluna lombar durante aexecução do exercício rosca bíceps, estudos futurosdeveriam considerar a avaliação de outros músculoslombares, com o objetivo de identificar diferençasrelacionadas com a função destes músculos, minimi-zando os possíveis riscos de lesões nesta regiãodurante exercícios na posição em pé.

CONCLUSÃOVerifica-se no presente estudo que a execução deexercícios na posição em pé, com a manutenção dacarga anterior ao corpo, acarreta ativação de múscu-los posturais. Constata-se também que esta ativida-de aumenta durante o TE do exercício, sendo maisevidente durante as FC, período em que a carga émovimentada a diferentes distâncias da linha médiado corpo e diferentes alturas em relação ao solo,independentemente da intensidade de carga utilizadadurante os testes. Estas maiores atividades dos mús-culos lombares, a partir dos 80% do TE, podem serindicadoras de dificuldades para estabilização dotronco, aumentando assim a possibilidade de lesõesda coluna lombar.

AGRADECIMENTOSLaboratório de Biomecânica, UNESP, Rio Claro/SP.FUNDUNESP – Fundação para o desenvolvimentoda UNESP.CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior.Laboratório de Pesquisas Ergonómicas, Universidadede Alberta, Edmonton, Canadá.

CORRESPONDÊNCIAAnderson OliveiraLaboratório de BiomecânicaDepartamento de Educação FísicaInstituto de BiociênciasUniversidade Estadual PaulistaAv. 24-A, nº 1515 - Bela Vista13506-900 - Rio Claro - [email protected]

Exercício rosca bíceps

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Anderson Oliveira, Mauro Gonçalves, Adalgiso Cardozo, Fernando Barbosa

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Efeito do número de demonstrações na aquisição de uma habilidade motora: um estudo exploratório

Alessandro BruziLeandro PalharesJoão FialhoRodolfo BendaHerbert Ugrinowitsch

Universidade Federal de Minas GeraisEscola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia OcupacionalGrupo de Estudos em Desenvolvimento e AprendizagemMotoraBelo Horizonte – MGBrasil

RESUMOO efeito de diferentes números de demonstrações na aquisiçãode habilidades motoras ainda não está claro. Isto incentivou ainvestigação do efeito do número de demonstrações na apren-dizagem do arremesso de dardo de salão. Quatorze sujeitosforam distribuídos aleatoriamente em 4 grupos: uma demons-tração (D1), duas (D2), quatro (D4) e oito (D8). O experimen-to constou de três fases: aquisição, com 70 tentativas do arre-messo “profissional”, a 2,37m do alvo; teste de transferênciaapós 3 minutos, com 10 tentativas da pegada em “V”, a 3,37m;e teste de retenção da aquisição, com 10 tentativas, após 10minutos. Na análise do padrão de movimento, pela moda, nãose detectou diferença significativa intergrupos (p>0,05) edetectou-se, no índice de variabilidade do padrão de movimen-to (IVP), diferença intergrupos no bloco 1 do teste de retenção,sendo 4 e 8 demonstrações superiores. Os resultados mostramque todos os grupos foram semelhantes na aprendizagem datarefa. Além disso, 4 e 8 demonstrações apresentaram umamaior flexibilidade no padrão de movimento.

Palavras-chave: aprendizagem motora, habilidade motora, núme-ro de demonstrações.

ABSTRACTEffect of the number of demonstrations on a motor skill learning:An exploratory study

The effect of the number of demonstrations on motor skill learningisn’t clear. This originated the present research about the effect of thenumber of demonstrations on a dart throwing learning task. Fourteensubjects were randomly divided into four groups: one (D1), two (D2),four (D4) and eight (D8) demonstrations. This study had three phas-es: (1) acquisition, with 70 trials of “professional” dart throwing,2,37m far from the target; (2) transfer test after three minutes, 10 tri-als with “V” dart throwing, 3,37m far from the target; (3) acquisitionretention test, 10 trials, after ten minutes. Kruskal-Wallis test didn’tshow significant differences (p>0,05) among the movement patterns ofthe different groups. However, differences among the movement patternvariability index (IVP) of the different groups in the first block ofretention test were found, corresponding the best performances to D4and D8 groups. Results also evidentiated that all groups were similaron the motor skill learning. Despite of this, groups D4 and D8 showedmore movement pattern flexibility.

Key Words: number of demonstrations, motor skill, motor learning.

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INTRODUÇÃOA prática de modalidades esportivas, visando osdiversos fins, objetiva o alcance de níveis máximosou ótimos de desempenho (21). Independente docontexto, o desempenho desejado é alcançado pormeio de ações habilidosas. Desta maneira, é essen-cial investigar a aprendizagem de habilidades espor-tivas, processo que envolve prática e informação, taiscomo feedback, instrução verbal e demonstração (16).Dessa maneira, é possível identificar a importânciada demonstração como variável influente na aquisi-ção de habilidades motoras, quando comparada àinstrução verbal (1, 19). A demonstração transmiteao observador características espaciais e temporaisdo movimento que o ajudam a desenvolver umarepresentação cognitiva da ação, que é usada na pro-dução do movimento e serve como padrão paradetecção e correção de erros (5, 6, 7, 8, 17, 18).Existem algumas variáveis envolvidas com o estudode demonstração, sendo algumas delas o nível dedesempenho do modelo, o nível de desenvolvimentomotor do aprendiz ou ainda o número de demons-trações fornecido. O número de demonstrações éentendido como um aspecto importante, pois podeoportunizar um maior número de chances ao apren-diz de identificar aspectos cruciais da habilidademotora (15). Contudo, poucos estudos que avalia-ram o efeito de diferentes números de demonstra-ções analisaram a eficiência desta variável na quali-dade do padrão de movimento (8, 10, 14). Outrofato comum nestes estudos é a utilização de tarefasde laboratório como, por exemplo, a tarefa de subir aescada de Bachman (10), de timing coincidente (26)e da simulação da ação remar (8, 14). Em geral, osresultados da maioria dos estudos mostraram queum maior número de demonstrações tem sido maiseficiente na aquisição de um padrão de movimento,quando comparado com um menor número dedemonstrações. Um problema desses estudos, realizados com tarefasde laboratório onde se enfatiza a fidedignidade dosresultados (20, 24), é que os seus resultados nãopodem ser diretamente aplicados em situações reaisde ensino-aprendizagem. Dessa forma, faz-se necessá-rio testar os resultados obtidos nas pesquisas de labo-ratório em situações que se aproximem mais dassituações de ensino-aprendizagem (9, 11, 20, 23).

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi o de investi-gar o efeito de diferentes números de demonstraçõesna aprendizagem do arremesso de dardo de salão.

MATERIAL E MÉTODOSAmostraParticiparam do estudo 14 universitários voluntárioscom consentimento livre e esclarecido, de ambos osgêneros, na faixa etária entre 18 e 35 anos e semexperiência prévia na tarefa.

Tarefa e instrumentosA tarefa utilizada foi o arremesso de dardo de salão.Foram utilizadas duas variações do arremesso dedardo com a mão dominante: I) arremesso de dardocom pegada “profissional”, no qual o sujeito se posi-cionou de lado em relação ao alvo e o dardo eraapoiado nas faces anteriores dos dedos polegar, indi-cador, médio e mínimo e na face posterior do dedoanelar, e II) arremesso de dardo com pegada em “V”,no qual o sujeito se posicionou de frente para o alvoe o dardo era apoiado entre os dedos indicador emédio, totalmente flexionados, e na face anterior dodedo polegar.Foi utilizado um instrumento para medida dedesempenho que continha duas estruturas: a) umequipamento profissional para arremesso de dardode salão contendo um alvo de sisal e metal, com 12círculos circunscritos nas cores vermelha (centro),preta e branca para pontuação que variava de 1(extremidade) a 12 pontos (centro), fixo a um tripée seis dardos com ponta metálica, e b) duas filmado-ras MC Panasonic, modelo AG 196, UP/VHS, parafilmagem das tentativas da fase de aquisição e doteste de retenção, posicionadas no plano sagital e a45º em relação ao executante.

Procedimentos e delineamento experimentalA coleta de dados foi realizada em um ginásio de ati-vidades da Escola de Educação Física, Fisioterapia eTerapia Ocupacional da Universidade Federal deMinas Gerais, no qual os equipamentos de coletaforam dispostos. Os sujeitos se encaminhavam aolocal de coleta, eram informados quanto à sua dinâ-mica e, após terem assinado o consentimento livre eesclarecido, eram distribuídos aleatoriamente em umdos grupos experimentais: D1 (uma demonstração),

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D2 (duas demonstrações), D4 (quatro demonstra-ções) ou D8 (oito demonstrações). Após as explica-ções e as demonstrações tinha início a fase de aqui-sição com um comando sonoro “filma”, que serviapara que os sujeitos adotassem a posição inicial doarremesso com pegada “profissional” e para queambas filmadoras fossem acionadas. Após 3 segun-dos de filmagem era dado o comando de “prepara”para que o sujeito realizasse o arremesso. Ao finaldo arremesso, a filmagem era interrompida e era for-necido ao sujeito o conhecimento do resultado (CR)sobre o escore obtido na tentativa. Após o forneci-mento do CR era disponibilizado outro dardo para atentativa seguinte, dando seqüência ao procedimentodurante toda a fase de aquisição (70 execuções). Aotérmino da fase de aquisição houve um intervalo detrês minutos para ajuste do equipamento e para ofornecimento da instrução verbal sobre a nova tarefado teste de transferência (TT) com 10 execuções:arremesso de dardo com pegada em “V”. Em segui-da teve início o teste de transferência sem o forneci-mento de CR e sem utilização de filmagem, tendoapenas o comando de “prepara” para início da tenta-tiva. Ao final do teste de transferência houve dezminutos de intervalo para realização do teste deretenção (TR) da aquisição, com a utilização do arre-messo com pegada “profissional”, sendo realizadasmais 10 execuções com as filmagens.

Quadro 1. Grupos e fases do experimento.

Fases Fase de Teste de Teste deGrupo Aquisição Transferência RetençãoD1 (uma 70 tentativas 10 tentativas 10 tentativasdemonstraçãoD2 (duas pegada pegada pegadademonstrações “profissional” em “V” “profissional”D4 (quatrodemonstrações 3 minutos 10 minutosD8 (oito após a após ademonstrações aquisição retenção

Decodificação dos dados para análise do padrão de movimentoAs filmagens de 80 tentativas por sujeito (70 da fasede aquisição e 10 do teste de retenção) foram anali-sadas de acordo com o instrumento para avaliaçãodo padrão de movimento (Quadro 2). Para isso, foiutilizado uma TV e um vídeo cassete, no qual asimagens foram reproduzidas em velocidade normal eem câmera lenta. Antes da decodificação dos dados oinstrumento foi testado em um estudo piloto, comtrês observadores, e os resultados mostraram umíndice de concordância intra-observadores de 0.87 einter-observadores de 0.94 (22). Concluído este pro-cedimento, a decodificação dos dados foi realizadapor apenas uma pessoa.

Número de demonstrações e aquisição de uma habilidade motora

Quadro 2. Instrumento para avaliação do padrão de movi-mento do arremesso de dardocom pegada “profissional” (4).

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Tratamento estatísticoPara cada sujeito foram analisadas duas varáveisdependentes: uma quantitativa, que avaliou odesempenho (escore) obtido pela pontuação dosarremessos no alvo, e outra, qualitativa, que avaliouo processo de execução (padrão de movimento),decodificado a partir do instrumento proposto porBruzi et al. (4). Para análise do escore foi calculada amédia e o desvio-padrão em blocos de 5 tentativas.Para análise do padrão de movimento, foi utilizada amoda de cada aspecto (Quadro 2) em blocos de 5tentativas. Foram utilizadas comparações inter eintragrupo da moda de cada aspecto, e também dasoma da moda de cada aspecto, obtendo um valorglobal do padrão de movimento. Para análise davariabilidade do padrão de movimento foi utilizado oÍndice de Variabilidade do Padrão (IVP) por aspecto,proposto por Barela & Barela (3), já utilizado porGimenez et al. (13):

IVP = Número de Padrões DiferentesNúmero Total de Tentativas

No presente estudo, o índice mais baixo correspondea zero e o índice mais alto a 0.6. Para esta análiseforam utilizados blocos de 5 tentativas para as com-parações inter e intragrupo dos IVPs de cada aspec-to, e também inter e intragrupo da média entre osIVPs de cada aspecto, ou seja, o IVP que representoua habilidade.Para analisar a existência de diferença intergruposfoi utilizado, tanto para o escore quanto para análise

do padrão de movimento, o teste não-paramétrico deKruskal-Wallis. Para análise de diferença intragruposfoi utilizado o teste não-paramétrico de Friedman.Os dados foram analisados pelo pacote Statistica forWindows 6.0 e manteve-se um nível de significânciade p≤ 0,05. Nos casos que existiram diferenças foiutilizado o procedimento de Bonferroni para identifi-car onde ocorreram as diferenças intergrupos, nostestes de transferência e retenção, e intragrupos, doúltimo bloco da aquisição para os testes (25).Quando não foram identificadas as diferenças devidoao ajuste do “p” referente ao número de medidasrepetidas, o procedimento utilizado foi o de observa-ção das curvas dos gráficos.

RESULTADOSAo realizar a análise descritiva dos resultados, é pos-sível identificar a efetiva potência da variáveldemonstração no padrão de movimento e que dife-rentes números de demonstrações promoveram dife-rença intra e intergrupos quanto à variabilidade dopadrão formado.

Fase de aquisiçãoNa análise inferencial intragrupos da média do esco-re, o teste de Friedman identificou diferença signifi-cativa para o D1 [F(n=4, df= 13)= 22,903,p<0,04]. Ao observar a Figura 1 é possível suporque, provavelmente, o D1 aumentou sua precisão dobloco 1 para os blocos 7, 8, 10 e 13. Os demais gru-pos se mantiveram semelhantes com relação à médiado escore (p>0,05).

Alessandro Bruzi, Leandro Palhares, João Fialho, Rodolfo Benda, Herbert Ugrinowitsch

Figura 1. Média do escore em blocos de 5 tentativas.

Na análise do desvio-padrão do escore, oteste de Friedman nãoidentificou alterações navariabilidade (p>0,05)em nenhum dos gruposexperimentais duranteessa fase do experimen-to (Figura 2).

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Com relação ao padrão de movimento, na análise iso-lada da moda de cada aspecto, o teste de Friedmannão identificou diferença intragrupos (p>0,05), omesmo ocorrendo na somatória das modas de cadaaspecto (Quadro 3). Com relação à variabilidade dopadrão de movimento, na análise da média entre osIVPs de cada aspecto, o teste de Friedman identificoudiferenças para o D1 [F(n=4, df= 14)= 46,899,p<0,01], para o D2 [F(n=3, df= 14)= 26,637,

p<0,02] e para o D8 [F(n=4, df= 14)= 38,396,p<0,01]. Ao observar o Quadro 4, é possível suporque, provavelmente, o D1 reduziu sua variabilidadesendo o bloco 1 superior aos blocos 2, 4, 11 e 12, oD2 reduziu sua variabilidade do bloco 1 para os blo-cos 7, 11 e 12 e, no D8, os blocos 3, 5, 8, 9, 10, 11,13 e 14 tiveram variabilidade inferior aos demais blo-cos (Quadro 4). O teste utilizado não identificoualteração nessa medida no grupo D4 (p>0,05).

Número de demonstrações e aquisição de uma habilidade motora

Figura 2. Desvio-padrão do escore em blocos de 5 tentativas.

Quadro 3. Avaliação do padrão de movimento (PM) pela moda do somatório das modas dos aspectos e pelas modas de cada aspecto.

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Na análise intragrupo do IVP por aspecto, o teste deFriedman identificou diferença no aspecto 1 para oD1 [F(n=4, df= 14)= 29,142, p<0,01], para o D2[F(n=3, df= 14)= 27,100, p<0,01] e para o D8[F(n=4, df= 14)= 35,309, p<0,01]. Por meio daobservação do Quadro 4, é possível supor que, pro-vavelmente, no D1, os blocos 3, 5 e 8 tiveram varia-bilidade superior que os demais blocos, no D2, osblocos 3 e 5 tiveram variabilidade superior que osdemais e o D8 apresentou diferenças intragrupos,porém não identificada no Quadro 4. O teste estatís-tico não detectou alteração nessa medida para o D4.No aspecto 2, o teste de Friedman identificou dife-rença para o D1 [F(n=4, df= 14)= 25,886, p<0,02],o D2 [F(n=3, df= 14)= 28,000, p<0,01], o D4[F(n=3, df= 14)= 24,677, p<0,03] e o D8 [F(n=4,df= 14)= 48,520, p<0,01]. Por meio da observaçãodo Quadro 4, é possível supor que, provavelmente,no D1, os blocos 1, 6, 10, 13 e 14 tiveram variabili-dade superior aos demais, no D2 os blocos 1, 13 e14 tiveram variabilidade superior aos demais, no D4o bloco 13 foi superior aos demais e no D8 houvediferença significativa intragrupo, porém não identi-ficada no Quadro 4.No aspecto 3, o teste de Friedman detectou diferen-ça para o D2 [F(n=3, df= 14)= 27,605, p<0,01], oD4 [F(n=3, df= 14)= 24,705, p<0,03] e o D8

[F(n=4, df= 14)= 35,093, p<0,01]. No D2 e no D4houve diferença intragrupos, porém não identificadano Quadro 4. Por meio da observação do Quadro 4 épossível supor que, provavelmente, no D8, os blocos1, 2, 6 e 7 tiveram variabilidade superior aos demais.Não foi identificada, no D1, alteração significativanessa medida.No aspecto 4, o teste de Friedman detectou diferen-ça para o D1 [F(n=4, df= 14)= 31,938, p<0,01], oD2 [F(n=3, df= 14)= 28,825, p<0,01], o D4[F(n=3, df= 14)= 31,230, p<0,01] e o D8 [F(n=4,df= 14)= 42,976, p<0,01]. Em todos os gruposhouve diferença, porém não identificada pela obser-vação do Quadro 4.

Testes de transferência e retençãoNa análise intragrupo da média do escore, o teste deFriedman detectou diferença do último bloco de ten-tativas da aquisição para os testes no D1 [F(n=4,df= 4)= 10,683, p<0,03] e no D2 [F(n=3, df= 4)=10,644, p<0,03]. Em ambos os grupos, o procedi-mento de Bonferroni (teste de Wilcoxon) não foicapaz de identificar onde ocorreu a diferença devidoao ajuste do “p” resultante da utilização de medidasrepetidas (p>0,0125). Porém, por meio da observa-ção da Figura 1, é possível supor que, provavelmen-te, a precisão do D1 e do D2 reduziu do último

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Quadro 4. Análise da variabilidade do padrão de movimento pela média dos IVPs de cada aspecto e pelo IVP de cada aspecto.

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bloco da fase de aquisição para os dois blocos do TT.Não foi identificada diferença intergrupos, por meiodo teste estatístico de Kruskal-Wallis na análise damédia do escore (p>0,05). Na análise do desvio-padrão do escore (Figura 2), oteste de Friedman não identificou diferença intragru-pos do último bloco da aquisição para os testes, e oteste de Kruskal-Wallis não identificou diferençaintergrupos (p>0,05).Com relação ao padrão de movimento, tanto ao ana-lisar isoladamente a moda de cada aspecto quanto asomatória das modas de cada aspecto, o teste deFriedman não identificou diferenças intragrupos doúltimo bloco da fase de aquisição para os testes, e oteste de Kruskal-Wallis não identificou diferençaintergrupos para p<0,05 (Quadro 3).Outra análise conduzida através do teste deFriedman detectou diferença intragrupo para o D1[F(n=4, df=2)=6,000, p<0,05] entre o últimobloco da aquisição e o TR. Por meio do procedimen-to de Bonferroni (teste de Wilcoxon) não foi possí-vel identificar entre quais blocos ocorreu a diferença(p>0,025), mas, por meio da observação do Quadro4, é possível supor que o último bloco da aquisiçãoteve variabilidade superior ao bloco 1 do TR.Na análise da média entre os IVPs de cada aspecto, oteste de Kruskal-Wallis identificou diferença inter-grupos [H2(7,829,df= 4) p<0,05] no primeiro blocodo TR. Por meio de do procedimento de Bonferroninão foi possível identificar entre quais grupos ocor-reu a diferença (p>0,0083). Porém, por meio daobservação do Quadro 4, é possível supor que D4 eD8 tiveram superior variabilidade no padrão demovimento que D1 e D2. Na análise dos IVPs por aspecto (Quadro 4), os tes-tes de Friedman e de Kruskal-Wallis não detectaramdiferenças intragrupo, entre o último bloco da aqui-sição e o TR, e intergrupo, respectivamente(p>0,05).

DISCUSSÃOO objetivo deste estudo foi investigar o efeito dediferentes números de demonstrações na aprendiza-gem do arremesso de dardo de salão. Em linhasgerais, os resultados dos testes estatísticos, para asanálises intra e intergrupos, tanto da média quantodo desvio-padrão do escore, não apresentaram alte-rações significativas ao longo da fase de aquisição,

corroborando os achados de Feltz (10), o que écomum em estágios iniciais de aquisição de habilida-des, nos quais os aprendizes buscam adquirir a idéiaou a forma do movimento (10, 12, 19). Todos osgrupos mantiveram o escore ao longo da aquisição,exceto o D1 que aumentou sua precisão, o que já éum indicativo de aprendizagem. Contudo, os princi-pais resultados encontram-se no TR e no TT.Ainda discutindo os resultados da análise do escore,tanto D1 quanto D2 reduziram a precisão do últimobloco da aquisição para o bloco 1 do TT. Este resul-tado pode se relacionar aos números de demonstra-ções recebidos pelos dois grupos, ou seja, menosoportunidade para extrair detalhes importantes domovimento, que pode ter gerado um conjunto deinformações limitado, o qual permitiu poucas altera-ções, e desfavorável a uma boa precisão em umatarefa com características novas. A análise dos resultados da avaliação do padrão demovimento na fase de aquisição e no TR confirmoua formação de uma representação cognitiva respon-sável pelo padrão de movimento (8). Desta maneira,é possível supor uma semelhança, intra e intergru-pos, com relação à representação cognitiva que gerao movimento e que pode estar relacionada ao nívelde complexidade da tarefa. Newell, Morris & Scully(18), Carrol & Bandura (8) e Laguna (14) sugeremque quanto maior o número de componentes deuma habilidade motora, maior a necessidade dedemonstrações para que os aprendizes captem infor-mações importantes e necessárias a um bom desem-penho. Para a tarefa em questão se observou queuma demonstração foi suficiente, o que pode serdevido ao pequeno número de graus de liberdade datarefa, sugerindo uma relação específica entre onúmero de demonstrações e a habilidade a seraprendida (10). Contudo, essa é uma questão queainda merece ser investigada em tarefas com níveisde maior complexidade.A análise da moda de cada aspecto do padrão demovimento mostra que todos os grupos foram capa-zes de focalizar a atenção às características estrutu-rais dos componentes do movimento e tiveram capa-cidade cognitiva suficiente para formular e reter arepresentação cognitiva da ação. Isto pode ser devidoà interação entre a complexidade da tarefa e o nívelde desenvolvimento motor dos voluntários do expe-rimento (17).

Número de demonstrações e aquisição de uma habilidade motora

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A redução da variabilidade do padrão de movimento,durante a fase de aquisição, do D1, do D2 e do D8,pode ter ocorrido pelo ganho de consistência nomovimento (8) e continuou ocorrendo com D1 doúltimo bloco da aquisição para o bloco 1 do TR. Estefato sustenta a predição de Bandura (2), que respon-sabiliza a prática por proporcionar momentos quepromovem o reforço da representação cognitiva. Quanto à diferença intergrupo para a média doÍndice de Variabilidade do Padrão de Movimento(IVP) entre os aspectos, no bloco 1 do TR, é possívelsugerir que diferentes números de demonstrações,por meio de um modelo nas condições reais de práti-ca, podem permitir aos aprendizes captar diferentesinformações (15). Isto pode ter formado representa-ções cognitivas semelhantes em todos os grupos,porém com diferentes arranjos dessas informações,que podem ter promovido a capacidade dos sujeitosdo D4 e o D8 de explorar variações no padrão demovimento. Os resultados das medidas do padrão demovimento vão ao encontro dos obtidos nas medi-das de desempenho, porque tanto D4 quanto D8 nãoreduziram seu desempenho no TT. Sendo assim, épossível supor que o fornecimento de 4 ou 8demonstrações na tarefa em questão permitiu aosaprendizes formarem uma representação cognitivacom maior flexibilidade em seu arranjo de informa-ções e com a capacidade de experimentar novasalternativas no movimento, sem ter queda nodesempenho. O efeito das características do modelo,sob condições reais ou adaptadas, merece maisinvestigações, especialmente na aprendizagem detarefas com diferentes níveis de previsibilidadeambiental. Por meio da análise dos IVPs por aspecto, os resulta-dos mostraram que todos os grupos reduziram suavariabilidade durante a fase de aquisição, que semanteve no teste de retenção. Isto pode ter ocorridopelo fortalecimento dos processos de detecção e cor-reção dos erros, reforçando o plano de ação durantea prática.Contudo, é possível dizer que as demonstrações nocontexto real de ensino-aprendizagem da habilidademotora são importantes na formulação de umarepresentação cognitiva flexível, que permite com oaprendiz ajustar seus movimentos a situações comdiferentes exigências.

Os resultados, extrapolados às situações reais, dãoindícios de que para a aprendizagem de habilidadesmotoras, os professores/treinadores devem analisaras características dos alunos, da habilidade motoraquanto à complexidade, do ambiente onde a habili-dade será praticada e do modelo, para que o númerode demonstrações seja mais efetivo.

CORRESPONDÊNCIAHerbert UgrinowitschDepartamento de EsportesEscola de Educação Física, Fisioterapia e TerapiaOcupacionalUniversidade Federal de Minas GeraisCampus PampulhaAvenida Presidente Carlos Luz, 4664Pampulha, 31330-250Belo Horizonte, Minas [email protected]

Alessandro Bruzi, Leandro Palhares, João Fialho, Rodolfo Benda, Herbert Ugrinowitsch

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Número de demonstrações e aquisição de uma habilidade motora

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Análise da assimetria nos padrões fundamentais arremessar e chutar em crianças

Ilca Santos1

Guilherme Lage1,2

Adriana Calvacante3

Herbert Ugrinowitsch3

Rodolfo Benda3

1 Faculdades Unidas do Norte de Minas2 Universidade FUMEC3 Universidade Federal de Minas GeraisBrasil

RESUMOA assimetria de desempenho nos padrões fundamentais arre-messar e chutar foi analisada em 46 crianças, de ambos ossexos, entre 6 e 7 anos de idade. As crianças executaram 3 ten-tativas do arremesso e do chute com cada membro. O desem-penho dos membros contralaterais foi analisado qualitativa-mente através do protocolo de McClenaghan e Gallahue (7). As análises do número de observações dos padrões fundamen-tais arremesso e chute indicaram efeitos de assimetria nos está-gios inicial, elementar e maduro. Os resultados foram discuti-dos em termos de uma necessidade de desenvolvimento bilate-ral dos padrões fundamentais na infância.

Palavras-chave: padrões motores fundamentais, assimetria, arre-messo, chute.

ABSTRACTAsymmetry analysis of overarm throwing and kicking motor patterns in children

Performance asymmetry in the fundamental motor patterns of the over-arm throwing and kicking was analyzed in 46 children aged 6 and 7years old. Children performed 3 trials of both the overarm throwingand kicking with each limb. Performance of contralateral limbs wasanalyzed on the basis of qualitative analysis, as proposed byMcClenaghan & Gallahue (7). The inferential analyses of the numberof observations in each component involved in the fundamental pat-terns of the overarm throwing and kicking indicated effects of asymme-try in the initial, elementary and mature stages. The findings are dis-cussed in terms of necessity of a bilateral development of the fundamen-tal motor patterns in childhood.

Key Words: fundamental motor patterns, asymmetry, overarmthrowing, kicking.

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INTRODUÇÃOAs assimetrias encontradas no comportamentomotor apresentam duas dimensões. Uma das dimen-sões, conhecida como assimetria lateral de preferên-cia, diz respeito à maior freqüência de utilização deum determinado membro comparado ao membrocontralateral. Esta preferência se relaciona ao confor-to e a segurança que um sujeito apresenta na execu-ção de habilidades motoras específicas. A outradimensão, definida como assimetria lateral dedesempenho, refere-se à diferença na qualidade daexecução das tarefas pelos membros contralaterais. O desenvolvimento dessas assimetrias encontra-sena interação entre fatores biológicos e ambientais.Em relação ao aspecto biológico a especializaçãohemisférica apresenta uma função predominante nasassimetrias. Entende-se que o hemisfério esquerdo éo responsável pelo processamento das informaçõesrelacionadas aos aspectos seqüenciais e temporais domovimento, enquanto o hemisfério direito lida maiseficientemente com o processamento paralelo e apercepção de aspectos espaciais do ambiente (2, 3).Já em relação à participação do ambiente na emer-gência dessas assimetrias, os aspectos culturais têmsido apontados como um dos principais fatores. Deforma geral, o mundo ocidental tem sido construídopor uma tendência à direção direita-esquerda. Osseres humanos nutrem estas assimetrias quandouma variedade de objetos é construída de acordocom essa tendência (12). Dessa forma, o tipo de prá-tica vivenciada é um dos marcos para o desenvolvi-mento dessas assimetrias (8). No ciclo de vida do ser humano, podem ser observa-das já no início de seu desenvolvimento as assime-trias laterais de desempenho e preferência (4, 9). Deacordo com Haywood (6), a preferência por umdeterminado membro já pode ser observada a partirdos 4 anos e se mantém estável durante a infância.Teixeira e Gasparetto (10) investigaram as assime-trias laterais no padrão fundamental arremesso emgrupos de crianças entre 4 e 10 anos e observaramque, independentemente do aumento da proficiênciana execução do arremesso com o avanço da idade, osníveis de assimetria de desempenho entre membrosse mantêm na infância.

Comparativamente aos estudos sobre assimetria queanalisaram o desempenho entre membros superio-res, apenas um pequeno número de estudos teminvestigado os efeitos da assimetria entre membrosinferiores (1). Em relação ao padrão fundamentalchutar em crianças, não foi observado na literaturaestudos que investiguem esses movimentos demanipulação. Teixeira et al. (11) encontraram, deforma geral, um desempenho superior do membrodominante em relação ao não-dominante em adoles-centes, em tarefas motoras relacionadas ao futebol.Os índices de assimetria encontrados foram diferen-tes entre as tarefas, assim como não apresentaramalta correlação entre eles. Isto evidencia o caráterdinâmico do desenvolvimento das assimetrias, quedepende de aspectos como a idade, a quantidade deprática e as características específicas das tarefas. O desenvolvimento motor caracteriza-se como umaprogressão de movimentos mais simples para habili-dades motoras mais complexas e organizadas.Durante a fase motora fundamental, que compreen-de as idades entre 2 e 7 anos, há uma progressãoque pode ser subdividida em três estágios: inicial,elementar e maduro (5). A aquisição destes padrõesfundamentais é de essencial importância para odomínio das habilidades motoras. Se os padrões fun-damentais formam a base do repertório motor atra-vés do qual o ser humano interage com o seu meio,justificam-se novos estudos sobre as assimetriaslaterais nos padrões fundamentais. Tendo em vistaque poucas investigações foram realizadas, novosconhecimentos acerca desse fenômeno podem, futu-ramente, auxiliar na compreensão sobre como asassimetrias afetam o desenvolvimento global dascrianças no que tange às suas percepções sobre omundo e sobre si mesmas. Dessa forma, o objetivodo presente estudo foi analisar os efeitos da assime-tria lateral de desempenho nos padrões fundamen-tais arremessar e chutar em crianças.

MÉTODOAmostraA amostra foi composta por 46 crianças pré-escola-res, destras, com idade de 7 anos (média de 84,6meses de idade), de ambos os sexos. A participaçãodas crianças teve o consentimento livre e esclarecidodos pais.

Assimetria nos padrões fundamentais

Mann-Whitney indicou diferença significativa entre osmembros direito e esquerdo no estágio elementar [Z(n = 276) = -3,02, p < 0,01] e no estágio maduro [Z(n = 276)= 3,75, p < 0,01]. Um maior número deobservações foi encontrado para o membro esquerdono estágio elementar, enquanto um maior número deobservações foi encontrado para o membro direito noestágio maduro. Não foi encontrada diferença entre onúmero de observações entre os membros no estágioinicial [Z (n = 276) = -0,52, p = 0,6].

Figura 1. Número de observações nos estágios inicial, elementar e maduro para o componente braço.

O número de observações encontradas no compo-nente tronco pode ser observado na Figura 2. Naanálise do componente tronco, foi encontrada dife-rença significativa entre o número de observações noestágio inicial [Z (n = 276) = -2,39, p < 0,01],tendo um maior número de observações do membroesquerdo comparado ao membro direito. Não houvediferença significativa entre as observações para osestágios elementar [Z (n = 276) = 1,04, p = 0,29] emaduro [Z (n = 276) = 1,36, p = 0,17].

Figura 2. Número de observações nos estágios inicial, elementar e maduro para o componente tronco.

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Instrumentos e tarefa Foram utilizados uma câmera filmadora digital (2.5zoom, 3.2 megapixel, marca olympus), 1 tripé paraapoio da câmera, 3 bolas de tênis, 3 bolas de futsalinfantil. Todas as crianças executaram 3 arremessoscom bolas de tênis e três chutes com bolas de futsalinfantil com cada membro. A meta das tarefas foiarremessar e chutar “o mais longe possível”. Para aanálise dos padrões arremesso e chute foi utilizado oprotocolo de avaliação de padrões fundamentais deMcClenaghan e Gallahue (7).

ProcedimentosA câmera de vídeo foi posicionada a 45º em relação aum ponto demarcado de execução. O critério adota-do para a definição dos membros dominante e não-dominante, para cada criança, foi baseado na auto-definição das crianças sobre o membro com que elasgostavam de arremessar e chutar, e na definição deduas profissionais de Educação Física que trabalha-vam com as mesmas. As crianças foram filmadasindividualmente e sem a presença das demais nolocal reservado à coleta. Após as instruções padroni-zadas sobre como executar os movimentos funda-mentais arremesso e chute e sobre a meta de arre-messar e chutar o “mais longe possível”, as criançasexecutaram três tentativas de cada movimento emambos os lados. Inicialmente foram executados osarremessos e posteriormente os chutes. As tentati-vas foram contrabalançadas entre os membrosesquerdo e direito. A análise dos movimentos foirealizada posteriormente por uma especialista emdesenvolvimento motor.

Tratamento dos dadosA análise qualitativa dos movimentos foi realizadaem termos de número de observações dos compo-nentes propostos pelo modelo de McClenaghan eGallahue (7) nos estágios inicial, elementar e madu-ro. Para a análise inferencial foi utilizado o teste deMann-Whitney para comparar o número de observa-ções entre os membros contralaterais em cada umdos estágios propostos. Foi adotado um nível de sig-nificância de 0,05.

RESULTADOS Padrão fundamental arremessoO número de observações encontradas no componen-te braço pode ser observado na Figura 1. O teste de

Ilca Santos, Guilherme Lage, Adriana Calvacante, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo Benda

Rev Port Cien Desp 6(2) 188–193 191

O número de observações encontradas no compo-nente perna/pé pode ser visto na Figura 3. Na análi-se dos componentes foi encontrada diferença signifi-cativa para as observações nos estágios inicial [Z (n= 276) = 1,98, p < 0,05], indicando um maiornúmero de observações para o membro esquerdoquando comparado com o direito. Não foi encontra-da diferença significativa para os estágios elementar[Z (n = 276) = -1,87, p = 0,06] e maduro [Z (n =276) = -0,1, p = 0,92].

Figura 3. Número de observações nos estágios inicial, elementar e maduro para o componente perna/pé.

Padrão fundamental chutarO número de observações encontradas no compo-nente braço/tronco pode ser observado na Figura 4.A análise dos componentes mostrou diferença signi-ficativa entre as observações no estágio inicial [Z (n= 276) = -2,6 , p < 0,01], com um maior númerode observações para o lado esquerdo. Não foi encon-trada diferença significativa para as observações noestágio elementar [Z (n = 276) = 0,73, p = 0,47] emaduro [Z (n = 276) = 1,66 , p = 0,09].

Figura 4. Número de observações nos estágios inicial, elementar e maduro para o componente braço/tronco.

O número de observações encontradas no compo-nente perna pode ser observado na Figura 5. Na aná-lise do padrão do componente perna observou-seuma diferença significativa entre as observações noestágio inicial [Z (n = 276) = -2,29, p < 0,05] emaduro [Z (n = 276) = 2,7, p < 0,01]. Não houvediferença significativa para as observações no estágioelementar [Z (n = 276) = -0,62, p = 0,53].

Figura 5. Número de observações nos estágios inicial, elementar e maduro para o componente perna.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃOO presente estudo teve como objetivo analisar osefeitos da assimetria lateral de desempenho nospadrões fundamentais arremessar e chutar em crian-ças. A análise geral dos resultados aponta para exis-tência de assimetria de desempenho em todos com-ponentes que compõem os padrões fundamentaischutar e arremessar. Esses resultados corroboram osachados de pesquisas anteriores realizadas comcrianças (9, 10), evidenciando o efeito da assimetriade desempenho em infantis. Na análise do componente braço da habilidade arre-messo foi encontrado um maior número de observa-ções no estágio elementar para o membro esquerdo,enquanto para o membro direito foi encontrado ummaior número de observações no estágio maduro.Estes resultados indicam um maior nível de desen-volvimento no membro direito para o componentebraço. Entendendo que o fenômeno da assimetria dedesempenho tem um caráter dinâmico, é possívelque a interação entre aspectos biológicos e ambien-tais seja o fator marcante para um padrão maisdesenvolvido no membro direito. A predominância

Assimetria nos padrões fundamentais

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do hemisfério esquerdo no processamento dosaspectos seqüenciais e temporais da ação (2) favore-ce uma melhor execução do membro direito.Somado a esse fator, a preferência manual das crian-ças que participaram desse experimento pela utiliza-ção do membro direito nas atividades recreativas eesportivas vivenciadas na escola apresenta um papelimportante na emergência desses padrões assimétri-cos entre os membros contralaterais. A assimetria encontrada nos componentes do padrãofundamental chutar indica que este efeito é tambémencontrado em movimentos manipulativos realizadoscom os membros inferiores em crianças. A análise detodos os componentes e ambas as habilidades mostraque, com exceção do componente braço do arremes-sar, o efeito de assimetria foi destacado no estágioinicial. Os membros esquerdo superior e inferiorapresentaram um maior número de observações,quando comparados aos membros direitos. Essesresultados reforçam a existência de assimetrias entreos membros contralaterais inferiores e superiores nospadrões fundamentais e que os membros superior einferior esquerdo apresentam um menor nível deproficiência nessa fase do desenvolvimento motor. Um outro ponto de análise é perceber em qual doscomponentes das habilidades arremessar e chutar oefeito de assimetria foi melhor observado. Emambos os padrões fundamentais os resultados maisclaros foram aqueles relacionados ao membro direta-mente ligado à execução, ou seja, o componentebraço para o arremesso e o componente perna para ochute. No arremesso, o componente braço apresen-tou maior número de observações para o ladoesquerdo no estágio inicial e para o lado direito noestágio maduro. Nos componentes que utilizammusculaturas sinergistas, componentes tronco eperna/pé, o efeito de assimetria lateral foi encontra-do somente em um dos estágios. O mesmo efeito foiencontrado para o padrão fundamental chutar, tendoapenas o componente perna apresentado assimetrialateral de desempenho, tanto no estágio inicial quan-to no maduro. Nas habilidades arremessar e chutar estão envolvi-dos o controle de diferentes segmentos corporaisque formam os componentes do movimento. Osresultados favoráveis aos membros direito encontra-dos no padrão de execução do componente braço,

habilidade arremesso, e componente perna, habilida-de chutar, podem estar relacionados aos resultadosobservados nos demais componentes. Como exem-plo, se os componentes tronco e perna/pé se encon-tram em estágios iniciais de desenvolvimento, toda aestabilidade da habilidade arremessar pode ficarcomprometida, gerando limitações na qualidade domovimento no braço esquerdo, estando este direta-mente relacionado ao movimento. Os resultados doestudo de Teixeira e Gasparetto (10) não mostraramesse maior efeito da assimetria nos membros direta-mente relacionados à manipulação. Novos estudossão necessários para investigar o efeito da assimetrianos componentes envolvidos no movimento. Respeitando as limitações da análise quantitativarealizada nesse experimento, os resultados encontra-dos permitem inferir que o desenvolvimento dospadrões fundamentais das crianças não ocorre deuma forma global, ou seja, numa perspectiva bilate-ral. Sugerem-se algumas questões a serem levanta-das para próximos estudos. Qual a relação entre aassimetria no padrão de movimento e a assimetriano desempenho do padrão? Em outras palavras,poderia um menor nível de força ou precisão de umdeterminado membro estar relacionado a um menornível de desenvolvimento do padrão fundamentalpara aquele membro? Uma outra questão se refere àdiminuição da assimetria entre membros nospadrões fundamentais devido à prática. Ou seja: épossível minimizar o déficit no desenvolvimento bila-teral das crianças pela atuação do profissional daEducação Física? Entendendo as assimetrias comoum fenômeno multifacetado que, entre outros, éinfluenciado pela prática, a manipulação da preferên-cia lateral das crianças, recorrendo à adequação deregras e brincadeiras, poderia ser um fator de inter-ferência nesse processo.

CORRESPONDÊNCIAGuilherme LageUniversidade FUMECFCS - Faculdade de Ciências da SaúdeDepartamento de Educação FísicaRua da Paisagem, 240 – Vila da SerraCEP [email protected]

Ilca Santos, Guilherme Lage, Adriana Calvacante, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo Benda

Rev Port Cien Desp 6(2) 188–193 193

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Assimetria nos padrões fundamentais

Rev Port Cien Desp 6(2) 194–204194

A competência percebida pelos alunos, as expectativas do professor e o desempenho académico: como se relacionam na disciplina de educação física?

José HenriqueCarlos Januário

Universidade Técnica de LisboaFaculdade de Motricidade HumanaPortugal

RESUMOA auto-percepção de competência influencia o interesse e apersistência do aluno na concretização da aprendizagem. Oobjectivo deste estudo analisa a relação entre o desempenhodos alunos, as expectativas dos professores e a competênciapercebida pelos alunos. O estudo é descritivo e a amostra éconstituída por 10 professores e 186 alunos da 6ª à 8ª série doensino fundamental brasileiro. O desempenho dos alunos foimedido através de testes, e a percepção pessoal do aluno e asexpectativas do professor foram obtidas através da técnica deauto-relato. As estatísticas descritiva e inferencial permitiram aanálise da congruência entre as variáveis em estudo. A compe-tência percebida pelos alunos tem forte associação positiva,tanto com o seu desempenho, como com as expectativas doprofessor. Há uma expressiva correspondência entre as expecta-tivas dos professores e o desempenho dos alunos. Os resulta-dos demonstram a necessidade de aprofundar o estudo dasexpectativas do professor e os seus efeitos sobre o comporta-mento de ensino e a representação de competência formuladapelos alunos.

Palavras-chave: auto-percepção de competência, educação físicaescolar, pensamento do aluno, expectativas do professor, ensino.

ABSTRACTPupil’s self-perceived competence, teacher expectations, and aca-demic performance: How do they relate in Physical Education?

Student’s perceived competence influences interest and persistence inlearning accomplishment. The aim of this study was to analyze therelationships among student performance, teachers’ expectations andstudent’s perceived competence. Having a descriptive approach, we sam-pled 10 teachers and 186 6nd to 8nd grade students of the Brazilianeducational system. Student performance was measured through tests,and the student’s personal perception and teacher’s expectation werepicked up through self-report measures. Descriptive and inferential sta-tistics allowed the analysis of the congruence among the variables instudy. Student’s personal perception has strong association with stu-dent performance and teacher’s expectations. The teachers’ expectationscorresponded meaningfully with the students’ performance. The resultsdemonstrate the need to deepen the study of the effects of teachers’expectations on the teaching behaviour and students’ perceived compe-tence.

Key Words: perceived competence, school physical education, pupilthinking, teacher’s expectations, teaching.

Rev Port Cien Desp 6(2) 194–204 195

INTRODUÇÃONa actualidade, a combinação de diferentes paradig-mas de investigação sobre o ensino responde a umdesafio e a um apelo frequente e constante na litera-tura (23, 17), oferecendo a vantagem de ampliar oconhecimento sobre fenómenos caracterizados pelacomplexidade – pelo número de variáveis presentese/ou pela variabilidade e diferenciação de cada variá-vel. É sob este enfoque que, nos últimos anos, setem verificado a multiplicação de estudos que sereportam à análise das acções de ensino, comple-mentados pelo estudo das variáveis psicológicas deprofessores e alunos, aprofundando o conhecimento

sobre o ensino e a aprendizagem com vista ao incre-mento da eficácia pedagógica. O aprofundamentodas investigações tem mostrado quanto os processospsicológicos alimentam as acções de professores ealunos, bem como a relação pedagógica, surgindomesmo como poderosos preditores dos eventosocorridos no processo educativo. Assim, a investigação sobre os processos de pensa-mento do professor (5) tem relevado a influênciados processos cognitivos dos professores sobre assuas acções de ensino. O modelo ‘Pensamento eAcção do Professor’ propõe a integração destes doisgrandes domínios (Figura 1).

Autopercepção do aluno em Educação Física

Segundo a teoria, o comportamento do professor, ocomportamento do aluno e os resultados de aprendi-zagem influenciam-se mútua e reciprocamente. Aapresentação no formato circular pretende dar senti-do à inter-influência entre as componentes de cadadimensão do acto educativo. Deste modo, conceptua-liza-se que os pensamentos e decisões dos professo-res interagem qualitativamente entre as fases interac-tiva, pré-interactiva e pós-interactiva de ensino. Noâmbito da acção docente esta perspectiva assume acausalidade recíproca das interacções, i.e., o compor-tamento do professor afecta o comportamento doaluno que, em contrapartida, influencia o comporta-mento e as decisões do professor, bem como as pró-prias realizações. A influência entre as duas dimen-sões e respectivas componentes é concomitante e

resulta em consequências directas para o ensino epara o desempenho académico. O modelo é rematadocom referência aos aspectos com os quais os profes-sores lidam no dia-a-dia da função docente e que,pela sua natureza, facilitam ou limitam a actuaçãoprofissional. Da mesma forma, tem sido relevado o contexto psi-cológico do aluno e dos seus processos de pensamen-to. A pesquisa que considera central o pensamentodiscente evoca a importância desta variável paraexplicar o envolvimento do aluno no processo ensi-no-aprendizagem. A teoria enfatiza o papel das cren-ças, expectativas, motivações, atitudes e sentimentoscomo mediadores entre o ensino e a aprendizagem,assumindo que esta ligação pode ser esclarecida soba perspectiva formulada pelos alunos (9, 8).

Figura 1. Modelo de pensamen-to e acção do professor. (Fonte:Clark & Peterson, 5: 257).

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Um conjunto considerável de pesquisas tem relevadoa importância da percepção de competência do alunono processo ensino-aprendizagem (2, 3, 9, 27, 10,16). A percepção de competência tem constituídoobjecto de interesse das teorias da motivação devidoà sua evidente influência sobre as capacidades voliti-vas do aluno, com reflexos sobre o seu envolvimentoactivo nas tarefas de aprendizagem (25). ParaBandura (1), um dos factores mais poderosos doautoconhecimento é a própria concepção de eficácia,pois o sentimento positivo acerca das capacidadespróprias fomenta no aluno o interesse e a persistên-cia para a concretização da aprendizagem. Na visãode alguns investigadores (16, 9), a forma como oaluno percebe a própria competência é mais impor-tante do que aquela efectivamente dominada, quan-do se busca explicar a sua motivação e aprendiza-gem. Portanto, o sentido que os alunos conferem àprópria capacidade de realização e os sentimentospositivos sobre a própria competência são condicio-nantes da efectiva participação no processo ensino-aprendizagem (29).A percepção de competência do aluno é condiciona-da por factores sociais (professor, pais, colegas declasse), contextuais relativos ao próprio (género,idade ou estágio de desenvolvimento, orientaçãodos objectivos pessoais, habilidade real do aluno) ede ordem pedagógica (conteúdo, oportunidades,clima de aula) (28, 29, 11, 9, 22, 13, 15, 16). Noprocesso ensino-aprendizagem a competência perce-bida pelo aluno é ainda influenciada pelo comporta-mento e expectativas do professor. As expectativasdo professor sobre a habilidade dos alunos induzemao comportamento de ensino que influencia e sus-tenta certos tipos de desempenho no aluno. É issoque nos ensina a profecia de auto-realização ou,como também é conhecida, a teoria do efeito pigma-lião (21, 13, 14).De acordo com o modelo proposto por Martinek(13), as expectativas originam-se em consequênciade impressões relacionadas com as característicaspessoais de professores e alunos ou da interacção deambas (13, 15). O modelo assume que se o profes-sor espera e encoraja um determinado nível de per-formance, o aluno perceberá e produzirá, assim, umrendimento compatível com o esperado pelo profes-sor. Pimentel (20) constatou que os alunos eleitos

pelos professores como mais e menos competentesmereceram tratamento diferenciado durante o ensi-no. Outro estudo (26) constatou que os alunos dealto rendimento pensaram receber expectativas maisaltas de seus professores e mais oportunidades deescolhas que seus opostos. Enquanto as expectativaselevadas seriam bem acolhidas no ambiente de ensi-no, por projectarem atitudes positivas e, possivel-mente, rendimentos compatíveis, as baixas expecta-tivas perpetuariam o baixo rendimento sendo, porisso, preocupantes no meio educativo.Parece não existir dúvida de que aquilo que o alunopensa ser capaz de fazer, bem como aquilo que elepercebe que outras pessoas esperam que ele faça,influenciam a sua auto-confiança, as interacções naclasse, a performance e a capacidade para aprenderoutras tarefas (15). Na investigação realizada porBibik (2), a percepção de competência de 50% dosalunos foi concordante com as expectativas dos pro-fessores. Este facto, somado à evidência de tratamen-tos diferenciados para alunos com diferentes níveis dehabilidade, levou a autora a concluir que a percepçãode competência dos alunos foi influenciada pelasexpectativas do professor. No estudo com alunosnorte-americanos (29), a auto-avaliação de competên-cia reportada pelos alunos apresentou relação positivae significativa com as avaliações dos professores emturmas do 4º, 8º e 11º anos de escolaridade.Qualquer esforço científico comprometido em iden-tificar factores que influenciam os sentimentos ecrenças dos alunos é importante porque intenta tra-zer subsídios para a melhoria do ensino e a potencia-lização da aprendizagem. Com efeito, neste estudo, acompetência percebida será compreendida pelo jul-gamento do próprio aluno sobre quanto ele se perce-beu hábil na realização de uma tarefa desportivaensinada nas aulas de educação física. Se muito do que o aluno crê ser capaz de realizar éinfluenciado pelas expectativas do professor, entãotorna-se coerente estudarmos as realizações e per-cepções pessoais do aluno, com base no que os pro-fessores alimentam como expectativas. Pretendemosabordar esta questão, investigando a percepção decompetência reportada pelos alunos em associaçãocom o desempenho académico e as expectativas for-muladas pelos professores. Assim, procuramos res-postas para as seguintes questões:

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1. A competência percebida formulada pelos alunosé congruente com as expectativas dos professores?2. Em que medida a competência percebida pelosalunos de alta e baixa percepção de competência e asexpectativas dos professores correspondem aodesempenho dos alunos?

METODOLOGIAEste estudo desenvolveu-se mediante um design descri-tivo visando caracterizar as variáveis em análise emrelação aos sujeitos, ao ambiente e à realidade do ensi-no da educação física em escolas públicas brasileiras.Para a realização da pesquisa de campo foram cumpri-dos os procedimentos de autorização junto aos órgãosde gestão das redes de ensino, direcção das escolas,docentes, discentes e respectivos responsáveis.

A unidade experimental de ensinoA unidade experimental de salto em altura tesouradecorreu em ambiente real de ensino e foi compostapor três aulas (uma aula semanal, com duraçãomáxima de 50 minutos), com mais uma aula desti-nada à avaliação do desempenho final.

Selecção da amostraA amostra é caracterizada como conveniente, pois aselecção obedeceu a critérios objectivos de inclusãodesejáveis para o desenvolvimento da pesquisa (6,4). Foram seleccionados 10 professores experientes(M=8 e F=2) com base em critérios de experiência,biografia profissional e concordância em desenvol-ver a unidade experimental de ensino proposta. Aidade dos professores variou entre 32 e 46 anos(39.4±5) e o tempo de serviço entre 8 e 21 anos(14.8±4.5). Os professores leccionaram turmas da6ª à 8ª série do ensino fundamental em regime co-educacional, em nove escolas públicas do Estado doRio de Janeiro.A amostra de alunos emergiu de um quantitativoinicial de 363 alunos, seleccionados em função de(a) demonstrarem interesse em participar no estudo,(b) não terem vivenciado anteriormente o conteúdodesenvolvido na unidade experimental de ensino, (c)frequentarem integralmente as aulas e, (d) realiza-rem o teste final de desempenho. Assim, foramseleccionados 186 alunos (M=104 e F=82), comidade entre 11 e 18 anos (13.2±1,4).

ProcedimentosExpectativas dos professoresOs professores foram previamente solicitados a indi-car, nas suas turmas, os alunos que alcançariam altoe baixo desempenho na unidade de salto em alturatesoura; os alunos não indicados nestes gruposforam considerados medianos. Este procedimentopermitiu conhecer as expectativas dos professoresem relação aos seus alunos.

Desempenho académicoOs alunos foram avaliados mediante um teste nasemana posterior à unidade experimental de ensino,realizado pelos professores nas aulas de educaçãofísica, respeitando o seguinte protocolo: os professo-res comunicaram à turma o objectivo e o protocoloda avaliação; realizaram uma demonstração do saltotesoura; não forneceram feedback, nem manifestaramcomportamentos de incentivo, correcção ou críticaaos alunos; o primeiro salto foi realizado à altura de60 cm para as meninas e 70 cm para os meninos,elevada em 5 cm a cada sequência; os alunos tiveramduas oportunidades para ultrapassar cada altura.

Competência percebida pelos alunosAvaliada posteriormente aos testes de desempenho,por auto-relato em questionário, numa escala tipoLikert de cinco pontos (muito habilidoso, habilidoso,nem muito nem pouco habilidoso, pouco habilidoso, muitopouco habilidoso). Os alunos não comentaram as res-postas entre si ou com o professor, a fim de evitarinfluências de outrem.

Notas de campoAs notas de campo foram recolhidas durante asaulas da unidade experimental de ensino e nos con-tactos mantidos com os professores, reflectindoalgumas verificações contextuais no tocante ao com-portamento de instrução do professor e ao climarelacional estabelecido com os alunos de alta e baixaexpectativa de desempenho. A utilização desta técni-ca permitiu-nos obter informações que pudessem, dealguma forma, complementar e mesmo ajudar aexplicar os restantes dados.

Análise dos dadosUtilizou-se a média, desvio-padrão e percentagempara caracterizar os sujeitos e as representações for-

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muladas por professores e alunos. Através do cálculode quartis categorizou-se os pólos de expectativasdocentes, de percepções discentes e de desempenho,em simultâneo.A congruência entre a auto-percepção dos alunos e aexpectativa dos professores, bem como a medida decorrespondência destas variáveis com o desempenho,foram obtidas mediante o cruzamento das variáveis(crosstabulation) relativas aos professores, alunos(1x1) e resultados de desempenho (1x1 e 2x1). Apartir do cruzamento das variáveis, ascendeu-se àsproporções produzidas pelas categorias (expectati-vas, percepções e desempenho) e classes (alto,médio e baixo) das variáveis.A média de desempenho dos alunos foi comparadapara cada nível de competência percebida e de expec-tativas docentes, bem como inter e intragrupos con-gruentes e incongruentes, utilizando-se para isso oteste t de Student para diferença de médias. Por fim, or de Pearson forneceu o índice de correlação existenteentre as variáveis estudadas. Para ambas as provas onível de significância foi estabelecido em .05.

RESULTADOSO primeiro procedimento, empregue no sentido deanalisar a correspondência entre as expectativas dosprofessores e a percepção de competência dos alu-nos, verificou em que medida os alunos sobre osquais os professores alimentavam alta e baixa expec-tativa, também possuíam percepções correlatas arespeito da sua própria competência. Os professoreslistaram 46 alunos sobre os quais depositavam altasexpectativas de desempenho. Dentre estes alunos,78.3% também reportaram alta competência percebi-da, i.e., estes alunos foram alvo de altas expectativasdos professores e se perceberam ‘habilidosos’ ou‘muito habilidosos’. Por outro lado, os professoresmanifestaram baixas expectativas sobre 39 alunos,mas apenas 25.6% destes apresentaram índices debaixa competência percebida, considerando-se ‘pouco’ou ‘muito pouco habilidosos’. A Figura 2 resume os resultados obtidos relativos àocorrência de congruência entre percepções dos alu-nos e expectativas dos professores. Na diagonaldemarcada a sombreado encontra-se o resultado dosalunos que denominamos congruentes, pois a suapercepção de competência foi concordante com as

expectativas do professor. Acima e abaixo da partesombreada encontram-se os alunos cuja concordân-cia não se verificou e, por isso, foram denominadosincongruentes. Estes foram ainda classificados emincongruente-alto (acima da área sombreada), por-que perceberam a sua habilidade acima do esperadopelo professor e, incongruente-baixo (abaixo da áreasombreada), porque as suas percepções estiveramaquém das expectativas do professor.

Figura 2. Congruência entre expectativa dos professores e a competência percebida pelos alunos.

Na Tabela 1 pode-se constatar que a percepção decompetência de uma parcela considerável da amostrafoi congruente com as expectativas projectadas pelosprofessores. Verifica-se que 83 alunos (44.6% daamostra) perceberam a sua competência de formacongruente com as expectativas do professor, sendo47 do género masculino (56.6% do grupo congruen-te e 45.2% da amostra masculina) e 36 do génerofeminino (43.4% do grupo congruente e 43.9% daamostra feminina).

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Tabela 1. Composição dos grupos congruente e incongruente.

O grupo incongruente foi representado por 103 alu-nos (55.4% da amostra), dentre os quais 57 do géne-ro masculino (55.3% do grupo incongruente e54.8% da amostra masculina) e 46 do género femini-no (44.7% do grupo incongruente e 56.1% da amos-tra feminina).A grande maioria dos alunos incongruentes denotoupercepção positiva em relação à sua habilidade, man-tida acima das expectativas projectadas pelos profes-sores, na medida em que 84.5% dos alunos destegrupo (n=87) se perceberam acima do nível de habi-lidade esperado pelo professor, enquanto 15.5%(n=16) expressaram percepções abaixo das expecta-tivas dos professores.Considerando que o desempenho do aluno se consti-tui tanto numa fonte de impressões para a formula-ção das expectativas dos professores, quanto influen-cia as representações formuladas pelos alunos sobrea sua competência perante a classe, cruzámos osdados de auto-relato de professores e alunos com odesempenho final na unidade experimental de ensi-no e, posteriormente, comparámo-los. A actividadede salto em altura possui uma característica clara-mente classificatória. A forma como decorreu a ava-liação dos alunos no teste de final de unidade tam-bém poderia ter contribuído para o estabelecimentode um ambiente deveras comparativo e classificató-rio. Assim, interessava conhecer se o auto-relato da

competência percebida pelo aluno correspondia aodesempenho obtido mediante tais condições. A média global de desempenho dos alunos foi de112.6 cm (SD=17.4 e amplitude entre 70 e 155 cm).A comparação do desempenho do grupo congruente(113.85 cm, SD=18,2) e incongruente (111.55 cm,SD=16.7) não indicou diferenças significativas.Entretanto, quando comparadas as médias obtidaspelos alunos congruentes-alto (122.50 cm,SD=16.3) e congruentes-baixo (95.00 cm,SD=16.4), o teste t indica diferenças significativas(t=-4.67, p<.001). As diferenças não foram signifi-cativas entre os incongruentes-alto (111.09 cm,SD=15.2) e incongruentes-baixo (114.06 cm,SD=23.4). Com a intenção de verificarmos a congruência daspercepções pessoais dos alunos e expectativas docen-tes com o desempenho do aluno, procedemos à clas-sificação do desempenho obtido pelos alunos nofinal da unidade experimental de ensino. Com efeito,foram calculados os quartis com base no intervalodos escores registados no teste final. Ao primeiroquartil, denominado posto 1, corresponderam osresultados inferiores produzidos no teste (70 a 100cm para todos os grupos), enquanto ao último quar-til, denominado posto 2, corresponderam os resulta-dos superiores (125 a 155 cm para o grupo con-gruente; 120 a 150 cm para o grupo incongruente).Era suposto que, se as percepções dos alunos e asexpectativas dos professores estivessem relacionadascom o desempenho do aluno, então o desempenhodos alunos de alta competência percebida e as expec-tativas docentes mais elevadas deveriam enquadrar-se no posto 2 e, segundo a mesma lógica, os resulta-dos dos alunos de baixa competência percebida e asexpectativas docentes mais baixas deveriam seenquadrar no posto 1.No grupo congruente (n=83), em 42.2% dos casos aauto-percepção dos alunos e a expectativa dos profes-sores foram coerentes com o desempenho na unidadeexperimental de ensino, i.e., a análise denota concor-dância entre as expectativas docentes, a competênciapercebida pelo aluno e o desempenho académico. A análise dos alunos alvo de baixa expectativa doprofessor revelou que 60% apresentaram desempe-nho ao nível do primeiro quartil, enquanto 10% aonível do último quartil. Entre os alunos que foram

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alvo de expectativas elevadas por parte dos professo-res (n=36), 44% apresentaram desempenho ao níveldo último quartil, enquanto 5.6% ao nível do primei-ro quartil. O facto de mais de metade dos alunosdeste grupo não apresentar desempenho compatívelcom o nível de competência percebida e, assimmesmo, manter alta a sua percepção de competência,pode indiciar a possível influência das expectativasdos professores, neste caso, transmitidas maiorita-riamente através de estratégias de gestão do climarelacional com estes alunos.Ainda que a correspondência directa entre as expec-tativas docentes e percepções discentes não se esta-beleça no grupo incongruente, analisámos em quemedida as representações de alunos e professoresdenotavam acordo com o desempenho final. A análi-se mostrou que as expectativas dos professores coin-cidiram com o desempenho final em 36.9% doscasos, sendo mais expressiva a correspondênciaentre as baixas expectativas e os desempenhos maisbaixos. Isto talvez possa ser explicado pelo facto doprofessor identificar com maior clareza os alunosmenos habilidosos.A análise da correspondência da competência perce-bida pelo aluno incongruente com o desempenhopermitiu constatar que 42.7% dos alunos apresenta-ram desempenho compatível com o nível de compe-tência percebida. Entretanto, quando se analisa oresultado exclusivamente sob a perspectiva das clas-ses de alunos de alta e baixa percepção de competên-cia, verificamos que 50% dos alunos de baixa com-petência percebida produziram resultados correspon-dentes com o posto 1. Já entre os alunos de alta per-cepção de competência a correspondência ocorreu naproporção de 41.9%. Assim, se o grupo incongruen-te de baixa percepção de competência foi mais crite-rioso que o seu oposto, colocamos a hipótese de tersido influenciado em maior grau pelo resultado doseu desempenho, comparativamente aos restantescolegas de turma.Como procedimento final, procurámos verificar asrelações existentes entre a expectativa dos professo-res e a competência percebida pelos alunos, bemcomo entre estas e o desempenho na unidade experi-mental de ensino. Considerando toda a amostra,verificámos correlações significativas entre as expec-tativas dos professores e a competência percebida

dos alunos (r=.34, p<.01), entre as expectativas dosprofessores e o desempenho dos alunos (r=.33,p<.01), e entre a competência percebida dos alunose o seu desempenho (r=.30, p<.01). Ao analisarapenas o grupo de alunos congruentes, além da rela-ção que já é inerente entre as expectativas dos pro-fessores e as percepções dos alunos, verificámos que,quer as expectativas dos professores (r=.49, p<.01)quer a competência percebida dos alunos (r=.50,p<.01), denotam relações significativas com odesempenho final na unidade experimental de ensi-no. Entretanto, a análise independente dos gruposcongruentes alto e baixo, apesar de denotar relaçõespositivas, não demonstrou serem significativas. Istopode ser devido à expressão de congruência face aoquantitativo de alunos, principalmente entre os con-gruentes-baixo, não ter sido suficiente para fazeremergir a significância estatística. A auto-percepçãodos alunos incongruentes-baixo (n=16) correlacio-nou-se significativamente com a expectativa dos pro-fessores (r=.60, p<.01), indicando a tendência deevolução dos níveis de competência percebida dosalunos à medida que aumentou a expectativa dosprofessores. Finalmente, entre os incongruentes-alto(n=87) pudemos verificar de forma mais expressivaa relação significativa da competência percebida coma expectativa dos professores (r=.51, p<.01) do quecom o resultado de desempenho (r=.22, p<.03).

DISCUSSÃORememore-se que as expectativas radicadas nasimpressões percebidas pelo professor influenciam asua forma de estruturar e gerir a dimensão pedagógi-ca do ensino. Isto tem consequências para as oportu-nidades de aprendizagem oferecidas aos alunos, bemcomo para o clima interactivo. Portanto, antes dediscutirmos a expressão quantitativa dos dados, fazsentido interpretá-los em consonância com a obser-vação do contexto em que decorreu o ensino e docomportamento do professor durante as aulas.Na unidade experimental de ensino, em geral, os pro-fessores comportaram-se de modo a motivar todos osalunos, independentemente das expectativas sobre asua competência. Entretanto, observou-se a quasetotalidade de contextos massivos de aprendizagem,embora ajustando as condições de realização da tare-fa para os alunos sobre os quais os professores ali-

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mentavam baixas expectativas. Apesar do conteúdocontribuir para o estabelecimento de um ambientealtamente classificatório, foi evidente que os profes-sores procuraram estabelecer um clima positivo,transmitindo confiança aos alunos durante as aulas.Em geral, independentemente do nível de habilidade,os alunos receberam muitos elogios. Os professoresincentivaram mais os alunos que demonstravammaiores dificuldades, tendo mesmo, em algumasoportunidades, valorizado mais o esforço que pro-priamente o resultado do desempenho. Outra atitudemanifesta dos docentes, no sentido de valorizar oenvolvimento do aluno nas tarefas, foi destacar para aturma os movimentos correctos que alguns alunos‘menos habilidosos’ realizavam. O critério de êxitofoi flexibilizado de modo a transparecer para os alu-nos ‘menos habilidosos’ o alcance dos objectivos pro-postos. Ao baixar o nível de exigência, as tarefaseram pouco atractivas para os alunos ‘mais habilido-sos’, os quais reagiam com sarcasmo e desinteresseface à inadequação do critério de êxito ao seu nívelde competência. Em resposta, apesar de algumasvezes criticarem tal atitude, os professores privilegia-ram o estabelecimento de interacções positivas comestes alunos, relevando a sua competência na realiza-ção das tarefas através de incentivos e fornecimentode pistas visando o progresso do desempenho.A análise dos resultados permite a interpretação sobduas perspectivas. A primeira, relativa aos efeitos dodesempenho e da comparação social sobre a compe-tência percebida pelos alunos, reflectindo no recursoao parâmetro normo-social para ajuizar o própriodesempenho em relação aos companheiros de classe.Coerente com a teoria, as impressões retidas pelosprofessores os induzem a produzir contextos deensino e oportunidades de aprendizagem compatí-veis com o que esperam dos alunos. Como afirmaPalardy (18), a proposição de uma profecia é, tam-bém, um acto de criação das condições para que elase realize.Neste estudo, quase metade dos alunos manifesta-ram percepções congruentes com as expectativas dosprofessores. Este resultado é similar ao obtido noestudo de Bibik (2), no qual a auto-percepção de50% dos alunos correspondeu às expectativas doprofessor. A correspondência entre as percepçõesdos alunos, as expectativas dos professores e a rela-

ção de ambas com o desempenho realizado peloaluno sugere uma dinâmica similar ao modelo referi-do por Martinek (13), ao abordar o efeito pigmaliãono ensino em educação física.O clima, o feedback, as informações e suporte forneci-do aos alunos aparecem como elementos que irra-diam as expectativas dos professores aos alunos (24,13). Neste estudo, os factores que podem ter contri-buído para a manutenção de percepções congruentespelos alunos de alta competência percebida foram oclima estabelecido pelos professores e o suporte aeles fornecido, mesmo que informal. Os alunos con-gruentes de baixa competência percebida, apesar deincentivados perante a turma, receberam feedbackpúblico sobre a sua prestação, facto que pode ter con-tribuído para perceberem o comportamento do pro-fessor como forma de incentivo à prática mas, face àexteriorização de suas deficiências e à assumpção decritérios normo-sociais no juízo sobre a própria per-formance, quer em termos de realização do gesto téc-nico quer em termos de desempenho quantitativo(altura saltada), também poderá ter contribuído paraa ponderação sobre as capacidades pessoais.Em geral, os professores justificaram a estratégia deacção como modo de manter indistintamente todosos alunos motivados. Entretanto, outros estudos(12, 19, 15) indicam que os alunos nem sempreinterpretam as ocorrências de ensino consoante asintenções dos professores ou da mesma forma entresi. A frequência e intensidade das interacções, supor-te, felicitações, concessão de privilégios e severidadedas avaliações são interpretadas pelos alunos comofontes de alta e baixa expectativa projectadas pelosprofessores (7).Outro resultado relevante a destacar diz respeito aosalunos que relataram percepção de competência dis-sonante com o próprio desempenho, i.e., alunos debaixa competência percebida. Apesar de realizaremrendimentos na média da turma ou mesmo acima damédia, mantiveram tal percepção. Por outro lado, osalunos de alta competência percebida mantiveramalta a sua percepção, apesar do desempenho emníveis inferiores. Portanto, uma parcela consideráveldos alunos manifestou percepções mais congruentescom as expectativas dos professores do que com osresultados do seu desempenho. Considerando que, adespeito do desempenho, as expectativas docentes e

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as percepções pessoais dos alunos tenham se apre-sentado congruentes, é possível que a unidade expe-rimental de ensino não tenha sido longa o suficientepara influenciar as percepções pessoais dos alunos,face aos resultados verificados. Ao mesmo tempo,isto permite evidenciar quão consistente e perma-nente podem se tornar as crenças sobre a auto-com-petência retida pelos alunos, sobrepujando mesmo odesempenho manifesto.Por fim, a concordância e relações verificadas da ava-liação dos professores e auto-percepção dos alunoscom as realizações na unidade experimental de ensi-no, revelaram tanto a competência do professor quan-to a competência de uma parte expressiva de alunosno ajuizamento do desempenho académico. Em 40%dos casos, a aferição dos professores correspondeu aodesempenho demonstrado pelos alunos no final daunidade experimental de ensino. Ainda que se espe-rasse valores mais substantivos, deve-se ter em contaque o conteúdo fugia ao padrão de actividades desen-volvidas nas aulas de educação física, onde prevaleceo ensino de jogos e actividades desportivas colectivas.Portanto, a avaliação dos professores foi condicionadapela mobilização de informações, baseadas em parâ-metros distintos do habitual, na projecção da compe-tência dos alunos no conteúdo de salto em altura.Isto ficou evidente nas questões colocadas pelos pro-fessores no momento da avaliação, oportunidade emque expressaram dúvidas quanto ao juízo formuladoface à novidade do conteúdo.Foi considerável a proporção de alunos que reporta-ram níveis de habilidade compatíveis com o desem-penho realizado na unidade experimental de ensino.Estes resultados foram notavelmente influenciadospelos alunos que reportaram alta percepção de com-petência. No estudo de Bibik (2), os alunos incon-gruentes-alto demonstraram forte crença nas suascapacidades e, por isso, recorreram menos à compa-ração social na formulação da própria competência.Muitas vezes justificaram a falta de atenção do pro-fessor, alegando não precisar de feedback.Se uma parcela expressiva de alunos de diferentesníveis de habilidade (42.5%) demonstrou coerênciado sentimento de competência com o desempenho,podemos realçar a importância de se considerar oauto-relato dos alunos sobre a própria competênciana tomada de decisões pedagógicas (8), bem comono processo de avaliação escolar (25).

CONCLUSÃOOs resultados ratificam a complexidade inerente aoprocesso ensino-aprendizagem. Isto ficou evidentenos indícios de que tanto as expectativas docentesquanto o desempenho podem ter influenciado a per-cepção de competência dos alunos.Em resposta às questões iniciais colocadas nesteestudo, cerca de metade da amostra relatou percep-ções congruentes com as expectativas do professor.Além disso, considerando o conjunto amostral, foisignificativa a relação entre as expectativas docentese a percepção de competência dos alunos. Verificou-se, ainda, que a auto-percepção de alguns alunoscongruentes alto e baixo se relacionou com a expec-tativa de seus professores, muito embora tenhamapresentado desempenho abaixo ou acima do queseria suposto, respectivamente. A expressão destacorrespondência não pode ser negligenciada, princi-palmente por ocorrer no ambiente escolar que deveprimar por promover sentimentos positivos e ainclusão de todos os alunos no processo educativo.Parece não existir dúvida de que o desempenho tam-bém serviu de parâmetro para os alunos formularemas suas percepções. Cerca de 40% dos alunos, inde-pendentemente do grau de congruência, denotarampercepções coerentes com o desempenho final naunidade experimental de ensino. Os alunos de baixapercepção de competência poderão ser mais influen-ciados por critérios normativos, com fortes indíciosde que a comparação social em classe tenha servidode parâmetro para a maioria no ajuizamento da pró-pria competência.O professor constituiu-se numa boa fonte de infor-mação sobre a competência do aluno, principalmentese tratando de ter ajuizado a sua habilidade comantecedência e num conteúdo pouco comum no pro-grama da disciplina. As suas expectativas foram maiscongruentes com o desempenho dos alunos de baixapercepção de competência. Este apuramento podeser útil no momento de planear e operacionalizartarefas ao nível de competência dos alunos.As implicações práticas destes resultados têm sidoenfaticamente ressaltadas pela literatura, demons-trando que os alunos podem constituir uma impor-tante fonte de informação para uma melhor com-preensão do processo ensino-aprendizagem. O queos alunos pensam pode ser muito importante para

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os professores compreenderem os mecanismos queengendram as suas aprendizagens. O sentimento doaluno sobre a sua competência é fundamental, namedida em que, em alguns casos, aquilo que elepensa ser capaz de fazer pode influenciar o compor-tamento face às tarefas propostas.Por outro lado, o conhecimento que o professor pos-sui sobre os seus alunos favorece a estruturação doensino, de forma a permitir-lhes experimentar osucesso com constância na disciplina. A literaturatem ressaltado a importância do clima para o estabe-lecimento de um ambiente favorável às aprendiza-gens e dirigido ao incentivo de sentimentos positivosde competência nos alunos. Entretanto, a acção doprofessor deve estar baseada na gestão eficaz da tare-fa, a fim de potencializar a aprendizagem dos alunos,pois as suas crenças são formadas a partir da fre-quência de oportunidades de participação, associadacom o sentimento de sucesso que estas lhes garan-tem. Estas acções frutificarão, resultando em maiormotivação e persistência dos alunos para concretizaras aprendizagens.

CORRESPONDÊNCIACarlos JanuárioFaculdade de Motricidade Humana Departamento de Ciências da EducaçãoEstrada da Costa1495-688 Cruz [email protected]

Autopercepção do aluno em Educação Física

AGRADECIMENTOAgradecemos à CAPES - Brasil o apoio concedidodurante a realização deste trabalho.

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José Henrique, Carlos Januário

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As associações desportivas em Porto Alegre, Brasil: espaço de representação da identidade cultural teuto-brasileira

Janice MazoAdroaldo Gaya

Universidade Federal do Rio Grande do SulEscola de Educação FísicaPorto AlegreBrasil

RESUMOAs primeiras associações desportivas foram fundadas em PortoAlegre pelos teuto-brasileiros (imigrantes alemães e seus des-cendentes) na segunda metade do século XIX. Alguns estudossugerem que as associações em geral se constituíram enquantoespaço de representação da identidade cultural teuto-brasileira.O objetivo deste estudo é investigar se as associações desporti-vas também se constituíram enquanto espaço de representaçãoda identidade cultural dos teuto-brasileiros. Com base na análi-se de fontes documentais impressas e fontes orais, buscou-seidentificar as possíveis representações que expressavam estaidentidade cultural. Constatou-se que as associações desporti-vas se constituíram em espaço de representação da identidadecultural teuto-brasileira, através da manutenção do idioma ale-mão nos documentos e na comunicação oral, na adoção de sím-bolos e exaltação dos heróis alemães, e de incentivos à práticadesportiva em busca de disciplina e saúde corporal.

Palavras-chave: associações desportivas, identidade cultural,teuto-brasileiros, representações, Porto Alegre, Brasil.

ABSTRACTThe sport associations in Porto Alegre, Brazil: space for representation of the German-Brazilian cultural identity

The first sport associations in Porto Alegre were founded by theGerman-Brazilians in the second half of the XIX century. Previousstudies suggested that sport associations constituted a space of repre-sentation of the German-Brazilian cultural identity. The goal of thisstudy was to investigate if the sport associations were also constitutedas a space for representing the cultural identity of German-Brazilians.Based on the analysis of documental and oral testimonial sources it wasintended to identify the possible representations that expressed this cul-tural identity. It was found out that sports associations constitute aspace for representation of the German-Brazilian cultural identity,through the maintenance of German language on documents and theoral communication, through the adoption of the symbols and hailingof German heroes, and through incentives to the practice of sports insearch of discipline and body health.

Key Words: sport associations, cultural identity, German-Brazilians,representations, Porto Alegre, Brazil.

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INTRODUÇÃOAs primeiras associações desportivas em Porto Alegreforam fundadas pelos teuto-brasileiros (imigrantesalemães e seus descendentes) na segunda metade doséculo XIX, quando este grupo migratório já tinhasuperado a difícil fase da colonização e começava adinamizar sua vida social (32). No período com-preendido entre meados do século XIX e princípio doséculo XX foram organizadas 10 associações despor-tivas em Porto Alegre pela iniciativa dos teuto-brasi-leiros: Turnerbund (1867), Von Musterreiter (1885),Ruder Club (1888), Ruder-Verein Germânia (1892), ClubWalhalla (1896), Rodforvier Verein Blitz (1896),Deutscher Schristzen Verein (1897), União Velocipédica(1899), Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense (1903), Fuss-ball (1903). Este número expressivo reforça a afirma-ção de que “as associações eram sustentáculos dastradições de origem” dos teuto-brasileiros na fase deadaptação ao novo país (34, p. 165). Num processo histórico de colonização, o associati-vismo se constituiu enquanto expressão de consciên-cia coletiva dos teuto-brasileiros e como estratégiade preservação de sua identidade. A identidadeteuto-brasileira é uma identidade cultural que assu-miu características próprias, resultantes do contrasteentre a cultura européia e a cultura dos primeirosgrupos que colonizaram Porto Alegre (35). Os teuto-brasileiros percebiam-se como alemães, pois acredi-tavam numa origem comum e cultivavam diferençasculturais em relação aos brasileiros, preservandolaços de pertencimento com a Pátria de origem (24). Para a compreensão da identidade teuto-brasileira,faz-se necessário estabelecer a diferenciação entrenacionalidade e cidadania, pois os alemães comparti-lhavam a noção de jus sangüinis (29). Segundo estaconcepção, a nacionalidade está relacionada à filiaçãocultural, enquanto que a cidadania é determinadapela participação política e econômica no país (34).Sendo assim, os teuto-brasileiros consideravam-secidadãos brasileiros de nacionalidade alemã. Estadistinção não era compartilhada pelos brasileiros,cuja referência identitária alicerçava-se na noção dojus soli, segundo a qual a cidadania e a nacionalidadesão determinadas pelo país de nascimento. A condição peculiar construída pelos teuto-brasilei-ros em sua nova Pátria desencadeou uma conflituosarelação com os brasileiros. Os teuto-brasileiros

foram concebidos como sendo o ‘outro’ da culturabrasileira. Brandão (4, p. 42) afirma que “as identi-dades são representações inevitavelmente marcadaspelo confronto com o outro”. A produção de identi-dades explicita a dinâmica das relações entre ‘nós’ e‘os outros’, mas a identidade é mais do que o produ-to da oposição por contraste, ela é o próprio reco-nhecimento social da diferença. Os teuto-brasileiros eram reconhecidos pela socieda-de nacional brasileira como um grupo diferenciado,tanto que lhes foi atribuída uma identidade própria.O grupo, por sua vez, não apenas incorporou a novadenominação, como também procurou formas de serepresentar enquanto tal. Do ponto de vista das rela-ções entre os grupos, as representações são construí-das culturalmente, enquanto estratégia para oenfrentamento das adversidades e como demonstra-ção de unidade. De acordo com Chartier (6, p. 178),as representações do mundo social são tambémcomponentes da realidade social e “toda representa-ção se apresenta como representação de algumacoisa”. A representação é entendida como um ato deexibição, isto é, de ver e ser visto. Então, traços cul-turais são escolhidos à construção da auto-identifica-ção do grupo e para distinguir-se dos demais. Neste sentido, o associativismo desportivo, queenglobou um amplo repertório de símbolos, valores,normas, comportamentos e outras formas de repre-sentações que evocavam a mãe-pátria, pode ser vistocomo um mecanismo de afirmação da identidadecultural teuto-brasileira. O estudo tem por objetivo investigar se as associa-ções desportivas também se constituíram enquantoespaço de representação da identidade cultural dosteuto-brasileiros. Para tanto, buscou-se identificar aspossíveis representações que expressavam esta iden-tidade cultural.A bibliografia consultada e as fontes documentaisforam submetidas à análise documental. Outrosuporte da pesquisa consistiu na coleta de setedepoimentos orais de ex-atletas das associações des-portivas de Porto Alegre, com idades entre 76 anos e84 anos, que são identificados no decorrer do estudopelas letras do alfabeto (A, B, C, D, E, F, G). Asentrevistas gravadas e transcritas (1) foram submeti-das à análise temática de conteúdo e confrontadascom as informações obtidas nas fontes documentais.

Janice Mazo, Adroaldo Gaya

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PORTO ALEGRE: “CIDADE DOS ALEMÃES” (27)O primeiro grupo de imigrantes alemães chegou aoBrasil no ano de 1824. A cidade de Porto Alegre,localizada no extremo sul do país, acolheu umnúmero expressivo destes imigrantes (25). Seguindoa trajetória dos primeiros imigrantes alemães, che-gou a Porto Alegre a segunda onda migratória alemãoriunda de diversas camadas sociais e de diferentesprofissões nos anos de 1851 e 1852. Neste grupoestavam presentes oficiais e soldados prussianos,que participaram das revoluções liberais na Europa,contratados como lanceiros pelo governo imperial doBrasil para integrarem o exército brasileiro na guerracontra a Argentina em 1851. Eram chamados debrummers (contestadores), em razão do alto grau deescolaridade e por expressarem suas idéias políticas,econômicas e sociais sobre o Brasil (37; entrevistado“E”). Após o retorno da guerra, os brummers se insta-laram nas regiões onde já residiam teuto-brasileiros,colaborando para o desenvolvimento econômico esocial das cidades.O fortalecimento sócio-econômico dos teuto-brasi-leiros, que se tornaram pequenos proprietáriosrurais, transformou Porto Alegre em um núcleoexportador de produtos para o centro do país nofinal do século XIX (14). Contudo, sua atuação ficoulimitada ao campo econômico e social, pois as auto-ridades brasileiras impuseram obstáculos à ocupaçãode cargos políticos pelos teuto-brasileiros ao deter-minar que o poder político fosse restrito aos brasilei-ros católicos (30). A vinculação com a religião lute-rana, o escasso domínio da língua portuguesa e adificuldade para a nacionalização foram fatores queretardaram a ocupação do campo político pelosteuto-brasileiros. De acordo com Tramontini (38), a tentativa de con-quistar espaço para a participação na vida políticalocal foi o principal fator que motivou a afirmação daidentidade pelos teuto-brasileiros, já que isto foranegado no período inicial da colonização. Esta afir-mação contestou estudos anteriores (28, 32) queatribuíam ao isolamento dos teuto-brasileiros nanova Pátria a necessidade de preservação da sua cul-tura. A possibilidade de atuação política dos teuto-brasileiros somente foi alargada com a Proclamaçãoda República em 1889, quando o governo brasileirocomeçou a promover a nacionalização dos imigrantes. Ao mesmo tempo em que reivindicavam mais parti-

cipação política (24), os teuto-brasileiros exerciaminfluência administrativa em estabelecimentoscomerciais, industriais, bancos, companhias de tea-tro, escolas, associações culturais e associações des-portivas (32). A presença marcante deste grupo naespacialização social da cidade conjugava “elementoscomportamentais, expressividades físico-corporais,recursos lingüístico-discursivos e referências simbó-licas e culturais como forma de atribuição de signifi-cado e sentido de lugar às suas condições identitá-rias” (33, p. 421). Estas formas de representação dacultura de origem dos teuto-brasileiros foram evi-denciadas nas primeiras associações desportivas fun-dadas em Porto Alegre.

A ORGANIZAÇÃO DAS PRIMEIRAS ASSOCIAÇÕES DES-PORTIVAS EM PORTO ALEGRE E AS REPRESENTAÇÕESDA IDENTIDADE TEUTO-BRASILEIRANa organização das primeiras associações desportivasem Porto Alegre observaram-se os seguintes aspectosque se constituíram ou foram apropriados enquantorepresentações da identidade cultural teuto-brasilei-ra: fundadores das associações com nomes e sobreno-mes alemães, permanência dos dirigentes nos cargosadministrativos, ingresso nas associações desportivas,predominância do idioma alemão nas associações,adoção de símbolos e exaltação dos heróis alemães,contratação de instrutores alemães, incentivo a práti-ca de atividades desportivas, participação das mulhe-res e crianças nas atividades desportivas e promoçãode eventos desportivos. A seguir procura-se caracteri-zar estas representações.

Fundadores das associações: nomes e sobrenomes alemães Os nomes e sobrenomes em idioma alemão sãoconstatados na maioria dos fundadores das primeirasassociações desportivas em Porto Alegre. Por exem-plo, o grupo pioneiro do Ruder Club era AlfredSchuett, Igwersen, Julio Issler Jor, John Day, LuizKoehler e Schwerin e Alberto Bins. Desde sua funda-ção, todos os cargos da diretoria da Turnerbund tam-bém foram ocupados por teuto-brasileiros, comopode ser constatado na listagem da diretoria relacio-nada por Daudt (9). Na relação dos sócios veteranose dos benfeitores da Turnerbund no período de 1883 a1911, foram observados apenas sobrenomes teuto-brasileiros.

As associações desportivas e suas representações culturais

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PERMANÊNCIA DOS DIRIGENTES NOS CARGOS ADMINISTRATIVOSA permanência dos dirigentes e funcionários teuto-brasileiros por longo tempo nos cargos foi evidencia-da em várias associações. O cargo de presidente daTurnerbund foi ocupado durante 30 anos por JacobAloys Friederichs. Em algumas gestões revezou comoutros dirigentes a presidência da sociedade, mesmoassim, continuou exercendo influência através desuas idéias em busca da maior eugenia da raça brasi-leira. Em virtude dos vários anos de dedicação aosideais da sociedade, Aloys Friederichs recebeu o títu-lo de presidente honorário em 1/12/1923 (9).Outros cargos, especialmente de vice-presidente etesoureiro do Turnerbund, foram ocupados duranteanos por teuto-brasileiros bem sucedidos no comér-cio e indústria porto-alegrense. Quanto aos instruto-res e funcionários, um exemplo foi a permanência domestre de ginástica Georg Black Sen durante 32 anosna Turnerbund (9). Do mesmo modo, o instrutor JohnPoist administrou o Basenho e ministrou aulas denatação para os associados da Turnerbund durante dezanos. Também foi longa a permanência do diretor doCampo Desportivo São João da Turnerbund, quedesempenhou a função durante 30 anos.

Ingresso nas associações desportivasAs exigências estabelecidas para o ingresso nas asso-ciações teuto-brasileiras eram influenciadas peloscritérios de nacionalidade alemã (35). Para associar-se era necessário ser imigrante alemão ou teuto-bra-sileiro e pertencer à elite teuto-brasileira. As associa-ções desportivas eram reconhecidas enquanto espa-ços da elite, cuja finalidade era tornar visível o lastroeconômico, social e político do grupo, além damatriz cultural. O entrevistado “E” referiu que fre-qüentava uma associação de remo, na qual a maioriados sócios era teuto-brasileira. Já o entrevistado “G”,que participava desta mesma associação, procurounegar esta evidência dizendo: “não, não tinha tantosalemães assim. Já tinha mais brasileiros, bastantebrasileiros”. Porém, no decorrer do relato comentouque os atletas destacados da associação de remo“eram alemães ou descendentes que vieram dos fun-dadores e ficaram todos lá, com sobrenome alemão”.Ao mesmo tempo em que confirmam a presençamaciça de teuto-brasileiros, as falas excluem a con-

tribuição daqueles identificados como brasileiros,conforme ilustra o depoimento do entrevistado “B”:“não era do brasileiro o esporte, a não ser o futebol,que é outra conversa, mas, o brasileiro, o brasileiro(alterou a entonação da voz), ele não tinha interesseem freqüentar o clube porque ele não dava valor aoesporte”. Quando questionado sobre quem eram osbrasileiros ele esclareceu como sendo os portuguesese seus descendentes. Declarou que os jovens da eliteluso-brasileira circulavam “nos hipódromos paraassistir as provas de turfe, no entanto eram poucosque praticavam”. Os teuto-brasileiros produziramuma identificação com as práticas desportivas, comopode ser observado no depoimento do entrevistado“B”: “nos desportos predominava a influência doestrangeiro e não do francês, esse não tinha expres-são; americano quase que nenhuma, então isso, foi oinício”. O termo “estrangeiro” é empregado peloentrevistado para identificar os teuto-brasileiros emrelação aos “nacionais”, provavelmente os portugue-ses e demais grupos culturais. Este depoimentoremete para a relação de alteridade na construção daidentidade, pois pressupõe “os de dentro”, os nacio-nais e “os de fora”, os estrangeiros.

Predominância do idioma alemão nas associaçõesO alemão era o idioma oficial na redação dos estatu-tos, das atas e demais documentos das associaçõesteuto-brasileiras (17, 26). As atas de fundação daTurnerbund e do Ruder Club foram redigidas em ale-mão (21), assim como a ata de fundação do GrêmioNáutico União: “o União é um clube que foi criadopor descendentes de alemão e que até as atas eramfeitas em alemão. Mas que isto não era exclusividadedo União, era geral.” (entrevistado “A”). O idiomatambém era empregado pelos instrutores nas aulasde ginástica e no treinamento dos desportos, alémde ser falado no cotidiano das associações pelossócios, conforme mostram os depoimentos. O entre-vistado “A” comentou que na SOGIPA “se falavamuito mais o alemão do que o português”, poishavia um vínculo cultural desta sociedade com “osalemães desde sua fundação e até hoje mantém algu-ma coisa”. Damo (8, p. 46) afirmou que as associa-ções cultuavam, “além das práticas desportivas, cer-tos traços identitários entre os quais a língua de ori-gem de seus sócios-fundadores”. Até mesmo nas

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solenidades públicas os teuto-brasileiros emprega-vam o idioma alemão, como se percebeu no pronun-ciamento do “senhor Munssen, falando em línguaalemã, e brindando as tripulações vencedoras” nacerimônia de entrega dos prêmios pelos membros doComitê de Regatas (3, p. 48). Todavia, a análise dopronunciamento de outro membro do Comitê evi-denciou a possibilidade de conflito de identidadesculturais na própria comunidade teuto-brasileira. Emsua manifestação pública, “o Sr. Sattler, com dicçãocorreta e fluente, proferiu um breve discurso em lín-gua portuguesa agradecendo às autoridades e àimprensa” (3, p. 48). Esta fala do dirigente teuto-brasileiro em língua portuguesa denotava certo dis-tanciamento da sua matriz cultural, enquanto que afala em idioma alemão do outro dirigente expressavao forte vínculo deste teuto-brasileiro com a pátria deorigem. Estas representações culturais, manifestadasatravés dos diferentes discursos, explicitavam o con-flito de identidades culturais na própria comunidade.

Adoção de símbolos e exaltação dos heróis alemãesA camiseta usada pelos ginastas da Turnerbund exibiasímbolos que identificavam a pátria de origem.Neste uniforme havia a inscrição dos quatro “efes”posicionados no formato quadrangular: frish, fromm,frölink e frei, que significavam, respectivamente: sau-dável, devoto, alegre e livre (7). O entrevistado “H”explicou que os “efes” também eram encontradosem todas as bandeiras desportivas da Alemanha. EmPorto Alegre a bandeira da Turnerbund reproduziu osímbolo dos “efes”, além da simbologia da insígniacom as datas históricas do turnen (2). A bandeiraficava posicionada na sala de ginástica para ser reve-renciada pelos ginastas durante as sessões de ginás-tica, que eram precedidas de turnliedertaffel (cantosem alemão), entoados pelos alunos antes da realiza-ção dos exercícios. O entrevistado “H” lembrou quenestas sessões os alunos também cantavam depoisque realizavam os exercícios de ginástica de apare-lhos. A sessão era encerrada quando “os ginastasentravam em forma e pronunciavam a saudação: GutHeil (boa saúde)”, disse o entrevistado “H”. Outrassimbologias, que sugeriam a identificação com ascorrentes nacionalistas na Alemanha, eram apresen-tadas pelas sociedades de ginástica na abertura dosGauturnfeste (Festivais de Ginástica). As festividades

iniciavam com os desfiles dos atletas ostentando nosseus estandartes as cores da bandeira do ImpérioAlemão e entoando canções e hinos em idioma ale-mão. De acordo com Hobsbawm (16), as bandeiras,os hinos e as medalhas são tradições inventadaspelos governos para construir a nação e unificar apopulação em torno desta idéia. As festividades dassociedades de ginástica eram “comemorações emhonra de Jahn, com várias competições atléticas,jogos olímpicos, demonstrações nos vários apare-lhos, exercícios físicos, etc.” (9, p. 15). Estas tradi-ções inventadas (16) tinham a finalidade de unificara comunidade teuto-brasileira em torno da sua cul-tura de origem. Outra estratégia de afirmação públi-ca da identidade cultural era a exaltação da memóriados heróis nacionais alemães. Foi erigida uma colunacom o busto de Bismarck, herói da unificação alemã,em frente à Musterreiter (Sociedade de Atiradores)em Porto Alegre no final do século XIX.Provavelmente, a construção da escultura em PortoAlegre foi influenciada pelas homenagens realizadasem 470 municípios alemães, que construíram colu-nas com o busto de Bismarck, um ano após a suamorte em 1898 (16). Já os associados da Turnerbundcultuavam especialmente a memória de Jahn, ideali-zador de uma Alemanha unida e criador do movi-mento dos ginastas. Prestaram uma homenagem aoconstruir uma coluna com o busto de Jahn em frenteà sede da sociedade. Conforme o entrevistado “H”,isto não era uma exclusividade desta associação, pois“toda a sociedade tinha um busto de Jahn”. Estarepresentação simbólica da Turnerbund aos heróisnacionais alemães serviu de referência para as 15sociedades de ginástica fundadas pelos teuto-brasi-leiros até o final do século XIX no Rio Grande doSul (39).

Contratação de instrutores alemães A contratação de instrutores de remo e de ginásticaprovenientes da Alemanha, que somente se comuni-cavam em idioma alemão, mantinha latente a relaçãocom a pátria de origem. O intercâmbio era incre-mentado pela visita periódica dos instrutores deginástica, contratados pelo Turnlehrer aus Deutschland(39) para ministrar aulas e, também, para fazer exi-bições nas competições. Os primeiros instrutores daTurnerbund foram E. Gottfriedsen e seus assistentes

As associações desportivas e suas representações culturais

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E. Martens Junior e A. Weiss (1867-1875), depoisassumiu Henrique Englert (1876 a 1884) e, logoapós, Aloys Friderihs (1885) (10). No ano de 1906 afunção de instrutor de ginástica foi assumida peloimigrante alemão Georg Black Sen que, além de terestudado no Kgl-bayerischen Zentral-turnlehrerbildung-sanstalt na Alemanha, ainda realizou o curso para aformação de instrutores de ginástica na Turnerbund(31). Georg Black era conhecido no meio desportivopelo seu desempenho enquanto ginasta e, também,por ser instrutor de vários desportos na Turnerbund.A presença dos instrutores alemães reforçava a iden-tificação das associações com a cultura alemã: “aTurnerbund começou como clube de alemães” (entre-vistado “F”). Já o entrevistado “G” afirmou: “eratudo descendente de alemão na Turnerbund”.

Incentivo à prática de atividades desportivasAs atividades desportivas desempenharam um papelfundamental na produção e preservação da identida-de dos teuto-brasileiros. Segundo MacClancy’s (23)o desporto, freqüentemente, atua enquanto meiopara a afirmação de identidade de classes, de gruposétnicos, ou como representação de uma comunidade.A ginástica foi a primeira atividade desenvolvida naTurnerbund, constituindo-se em um aspecto de dife-renciação cultural dos teuto-brasileiros. Era um doscomponentes do turnen, que também envolvia jogos,caminhadas, teatro e coral (30). Embora a ginásticafosse uma herança alemã, não tinha a conotaçãoguerreira e ideológica da proposta de seu idealizadorJahn na segunda metade do século XIX. A ginásticaalemã se enquadrou nos ideais da cultura do corpo,voltando-se para a busca da saúde corporal e, maistarde, para a beleza física. Para os demais gruposculturais, a ginástica não tinha a mesma importânciaatribuída pelos teuto-brasileiros, como se percebe nodepoimento: “o esporte e a ginástica eram praticadospelos alemães, austríacos, italianos, mas inglesesmuito poucos” (Entrevistado B). Para este entrevis-tado: “o brasileiro nato não era dado à ginástica, nãoera dado à ginástica”. Outro depoimento confirma avalorização da ginástica e dos desportos: “o alemãosempre foi muito ligado ao espírito associativo e osalemães faziam muita cultura física ao ar livre eesses grupos foram se formando em alguns espor-tes” (entrevistado “E”). A Turnerbund também se

destacou pela introdução de várias modalidades des-portivas (18; entrevistado “G” e “B”), sendo identifi-cada enquanto um “viveiro de campeões e campeãsriograndenses” (32, p. 645).

Participação das mulheres e crianças nas atividadesdesportivas A participação expressiva das teuto-brasileiras nasdiversas atividades das associações era um traço cul-tural distintivo destas mulheres em relação às brasi-leiras. Elas começaram a praticar ginástica desde oinício do século XX na Turnerbund, sob a orientaçãode instrutoras que fizeram o curso para a formaçãode mestres de ginástica, em 1904, na própria socie-dade. As quatro mulheres que obtiveram o título demestres de ginástica fundaram o DepartamentoFeminino de Ginástica da Turnerbund, que funcionavade forma autônoma, com diretoria própria formadaapenas por mulheres (3). As associações desportivasteuto-brasileiras também foram responsáveis pelopioneirismo das mulheres nas competições desporti-vas. Elas tiveram a oportunidade de disputar provasde atletismo nas competições realizadas durante acomemoração do Centenário da Imigração Alemã em1924 (9). Além das mulheres, a participação decrianças em atividades desportivas era uma caracte-rística cultural marcante dos teuto-brasileiros. Háregistro da primeira competição de ginástica paracrianças, a qual foi realizada em 7/9/1899 no campoda Sociedade de Ciclismo Blitz (3).

Promoção de eventos desportivosA primeira competição de ginástica registrada ocor-reu em 18/04/1896, no atual Parque Moinhos deVento. Além da premiação aos atletas que obtinhamos melhores resultados nas competições, a Federaçãotambém distribuiu diplomas aos atletas que se des-tacavam pela disciplina, postura corporal e marcha.Esses critérios de avaliação dos competidores refor-çavam a prática da ginástica enquanto elemento fun-damental da educação teuto-brasileira. As pequenascompetições de ginástica realizadas apenas em PortoAlegre evoluíram para os Gauturnfeste (Festivais deGinástica) envolvendo as sociedades do interior doEstado. Assim, a abertura dos festivais tornou-semais prestigiada pela comunidade teuto-brasileira,que também acompanhava as disputas realizadas emdiferentes desportos. Segundo Daudt (10), os festi-

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vais contavam com a participação de aproximada-mente 1.000 atletas prestigiados pelo público comcerca de dez mil pessoas. O entrevistado “D” lem-brou dos festivais: “eram realizados nos campos defutebol que ficava minado de gente, era desfile,então praticavam tudo que era tipo de esporte”. Namesma perspectiva dos festivais de ginástica, masreunindo um grupo menor de participantes, era rea-lizada a Schützenfest (Festa dos Atiradores) pelasSchützenhalte (Sociedades de Atiradores), que promo-viam durante um dia o encontro dos seus associadospara a disputa de provas de tiro, de danças, entreoutras atividades sociais. As Festas dos Atiradores edos ginastas eram comemorações anuais previstasnos estatutos das sociedades teuto-brasileiras.Outras competições desportivas davam maior visibi-lidade aos teuto-brasileiros diante da sociedadeporto-alegrense. Em 03/06/1894, o Comitê deRegatas realizou a primeira regata oficial, totalizandoum percurso de 1.800 metros, que foi consideradauma “grande novidade para o povo pôrto-alegrense”(17, p. 157). Alguns anos depois, em 1897, a Liga deNatação, também promoveu a primeira competiçãode natação em longa distância. Neste mesmo ano, aRodforvier Verein Blitz (Sociedade Ciclística Blitz) rea-lizou sua primeira corrida ciclística nas ruas de PortoAlegre, pois ainda não tinha velódromo (22). Em1898, após a conclusão do velódromo, a Blitz promo-veu a primeira corrida ciclística em pista oficial emPorto Alegre. Provavelmente foi esta competição queestimulou a fundação de uma nova associação deciclistas, constituída em sua maioria por teuto-brasi-leiros, chamada União Velocipédica, em 1899 (20).

CONSIDERAÇÕES FINAISAs associações desportivas, com base na pesquisadocumental e nos depoimentos orais, se constituí-ram enquanto espaço de representação da identidadecultural dos teuto-brasileiros em Porto Alegre nasegunda metade do século XIX. Foi possível consta-tar que os teuto-brasileiros fundaram suas associa-ções, não apenas para a prática de atividades despor-tivas, mas também, para configurar mais um espaçode expressão do sentimento de pertencimento aogrupo. Ao mesmo tempo em que organizavam asso-ciações desportivas para demarcar seus limites cultu-rais, apropriavam-se das práticas culturais desporti-vas para a afirmação de sua identidade.

A partir da análise das fontes documentais foramextraídas as categorias que permitiram identificarquais as representações que foram escolhidas pelosteuto-brasileiros para a construção da sua identida-de. A produção, a manutenção e a recomposição daidentidade teuto-brasileira nas associações desporti-vas foram observadas através de diferentes formasde representações. Inicialmente, destaca-se o fato deque não apenas os fundadores das associações des-portivas, mas também, os dirigentes e funcionáriospossuírem nomes e sobrenomes alemães. Salienta-se, que este grupo mantinha-se por longos anos àfrente dos cargos administrativos. Com exceção dosfuncionários, todos os demais pertenciam à elitesócio-econômica porto-alegrense.Outro meio de sustentar os traços culturais dasassociações desportivas era a exigência de critériosimpostos pelos dirigentes para o ingresso de novosmembros associados. Constatou-se com vistas nosestatutos, redigidos em idioma alemão, que um dospré-requisitos para tornar-se sócio era ser imigrantealemão ou seu descendente (teuto-brasileiro). Osteuto-brasileiros reforçavam sua identidade atravésdo uso predominante do idioma alemão no cotidianodas associações. Alguns teuto-brasileiros até procu-ravam comunicar-se em língua portuguesa, masmantinham costumes oriundos de sua matriz cultu-ral. Desta forma, asseguravam sua estabilidadesócio-cultural.Outra significativa representação da identidadeteuto-brasileira nas associações desportivas foi a prá-tica da ginástica. Homens, mulheres e crianças eramincentivados a participar das sessões semanais, poisa ginástica representava muito mais que uma ativi-dade físico-desportiva; era um elemento da culturadesportiva teuto-brasileira. Através da prática daginástica, buscava-se a promoção da saúde, a forma-ção moral e a preparação para o trabalho. Os depoi-mentos reafirmaram que a prática da ginástica faziaparte do modo de ser teuto-brasileiro. A própriaanálise do processo de construção de identidades noâmbito do associativismo desportivo sugere que:“ser um teuto-brasileiro implicava em ser um des-portista; enquanto que ser brasileiro significava serum não-desportista”. Frequentemente, as associa-ções recebiam a visita de instrutores de ginástica daAlemanha para perpetuar esta cultura desportiva.

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Este grupo de instrutores foi o grande responsávelpela formação dos primeiros mestres de ginásticateuto-brasileiros, que mantiveram acesa por décadassua identidade cultural nas associações.Para além das atividades realizadas no espaço priva-do das associações desportivas, os teuto-brasileirospromoviam festivais de ginástica, festas dos atirado-res e competições em espaços abertos à comunidadeporto-alegrense para a exibição da sua identidadecultural. Estes eventos tinham o intuito de congre-gar as associações desportivas teuto-brasileiras etambém serviam para exercer influência à preserva-ção dos costumes. Garantir a participação e a lealda-de dos sócios por diferentes meios era fundamentalpara a manutenção desta identidade. A articulação desta rede passava pela adoção de nor-mas, comportamentos e um amplo repertório desímbolos que possibilitavam uma identificação coma pátria de origem. O símbolo dos “quatro efes”,bordados nas camisetas dos ginastas, e os monu-mentos de heróis alemães postados à frente dasassociações desportivas eram exemplos de exaltaçãoda identidade teuto-brasileira. Por fim, cabe ressaltar que, até ao final do séculoXIX, as associações desportivas em Porto Alegreforam organizadas maioritariamente pelos teuto-bra-sileiros. Todavia, isto não exclui a significativa con-tribuição de outros grupos culturais na emergênciado associativismo desportivo em Porto Alegre.

CORRESPONDÊNCIAJanice MazoAvenida Lucas de Oliveira n. 2507/402Bairro Petrópolis90.460-001 Porto Alegre/[email protected]

Janice Mazo, Adroaldo Gaya

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05/11/2002.— Erich Seewald (ginástica olímpica). Realizada em

25/10/2000.— Henrique Licht (remo). Realizada em 19/08/2002.— Ilse Süffert Doormann (salto em distância, corrida, volei-

bol). Realizada em 16/08/2002.— Liseloth Barth (corrida com barreira). Realizada em

30/08/2002.

As associações desportivas e suas representações culturais

ARTIGOS DEREVISÃO

[REVIEWS]

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Glicocorticóides e síndrome metabólica: aspectos favoráveis do exercício físico nesta patofisiologia

J. Rodrigo PauliLuciana SouzaGustavo RogattoRicardo GomesEliete Luciano

Universidade Estadual de CampinasFaculdade de Ciências MédicasLaboratório de Sinalização CelularCampinas, Brasil

RESUMOA síndrome metabólica tem diversas similaridades com a sín-drome de Cushing (intolerância à glicose, resistência à insuli-na, hipertensão, dislipidemia, obesidade central), sugerindoque anormalidades no metabolismo dos glicocorticóides estãoassociadas com a síndrome metabólica. Por outro lado, a práti-ca regular de atividade física tem sido recomendada para a pre-venção e a reabilitação de doenças cardiovasculares e outrasdoenças crônico-degenerativas. Estudos epidemiológicos têmdemonstrado relação direta entre inatividade física e presençade múltiplos fatores de risco como os encontrados na síndromemetabólica. Os efeitos benéficos do exercício físico têm sidodemonstrados na prevenção e no tratamento da hipertensãoarterial, na resistência à insulina, no diabetes, na dislipidemia ena obesidade. Nesse contexto, esta revisão tem o intuito dediscutir os efeitos metabólicos dos glicocorticóides e a associa-ção da ação destes esteróides com as características da síndro-me metabólica. Além disso, vamos explorar os mecanismospelos quais a atividade física pode favorecer o metabolismo dosusuários de glicocorticóides.

Palavras-chave: glicocorticóides, síndrome metabólica, exercíciofísico.

ABSTRACTMetabolic syndrome and glucocorticoid: Favorable aspects of physical exercise on this pathophysiology.

The metabolic syndrome has several similarities with Cushing’s syn-drome (impaired glucose tolerance, insulin resistance, hypertension, dys-lipidemia, central obesity) suggesting that abnormalities in the glucocor-ticoid metabolism have a link with the metabolic syndrome. On theother hand, regular physical activity provides several health benefitshelping in prevention and rehabilitation of cardiovascular and otherchronic diseases. Epidemiological studies have been demonstrating adirect relationship between physical inactivity and the multiple risk fac-tors such as those found in the metabolic syndrome. Otherwise, it hasbeen demonstrated the physical exercise benefit to prevent and treatarterial hypertension, insulin resistance, diabetes, dislipidemy, and obesi-ty. This review will discuss the metabolic effects in the context of gluco-corticoid metabolism and establish the association of glucocorticoidaction with the features of the metabolic syndrome, specially obesity andinsulin resistance. Moreover, we will explore how physical activity pro-motes favorable physiologic adaptations improving quality of life in theabnormalities metabolic association with the excess of glucocorticoid.

Keys Words: glucocorticoid, metabolic syndrome and physical exercise.

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INTRODUÇÃOO uso de glicocorticóides (GCs) ocorre com freqüên-cia na população, sendo uma das drogas mais pres-critas e utilizadas em todo mundo, em várias condi-ções clínicas (1). Constituem indicação absoluta epermanente nos pacientes com insuficiência adrenal,quando utilizam doses de reposição para restabele-cer a homeostase do organismo. Na maioria doscasos, eles são usados em crise de asma brônquica,como antiflamatórios, sendo necessárias dosessuprafisiológicas, o que promove o aparecimento demuitos efeitos adversos como, por exemplo, atrofiamuscular, osteoporose, supressão do sistema imuno-lógico e funcional do eixo hipotálamo-hipófise-adre-nais (2, 3, 4).O excesso de GCs tem sido também associado coma síndrome metabólica. Na síndrome de Cushing, oaumento na secreção de GCs devido a um adenomapituitário conduz a obesidade central, hipertensão,hiperlipidemia e intolerância à glicose, um grupo deanormalidades relacionadas com a síndrome meta-bólica (5). Além disso, a administração clínica des-tes esteróides no tratamento crônico e agudo dedoenças inflamatórias tem sido associada com efei-tos metabólicos adversos, tais como pressão sistóli-ca elevada, níveis aumentados de lipídeos circulan-tes e resistência à insulina, como observado na sín-drome metabólica (6).Na tentativa de minimizar estes efeitos colaterais rea-lizam-se terapias locais, intervalos na utilização dadroga, suplementação com cálcio, vitamina D3, admi-nistram-se hormônio do crescimento e estrogênio emhumanos (3) e, recentemente, tem sido usado oligo-nucleotídeo antisense para o receptor de glicocorti-cóide (GR) em animais (7), entre outras. Por outrolado, estudos com modelos de treinamento físico, nosentido de prevenção da resistência à insulina, bemcomo das desordens metabólicas, ou ainda, da redu-ção dos possíveis efeitos catabólicos resultantes daadministração de glicocorticóide são raros na literatu-ra. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foirealizar uma revisão bibliográfica para investigar aação dos glicocorticóides sobre o metabolismo e asua relação com a síndrome metabólica e, ainda, veri-ficar a maneira pela qual o exercício físico pode atuarna prevenção e tratamento das anormalidades rela-cionadas ao uso de glicocorticóide.

ASSOCIAÇÃO CLÍNICA ENTRE GLICOCORTICÓIDES E SÍNDROME METABÓLICAO conceito de síndrome metabólica tem existido hápelo menos 80 anos (8). No entanto, nas últimasduas décadas, o aumento do número de pessoas comsíndrome metabólica, distribuídas pelo mundo todo,tem ocupado espaço de destaque no cenário científi-co. Este aumento está associado com a epidemia glo-bal de obesidade e diabetes, e com elevado risco dedoenças cardiovasculares associadas à síndromemetabólica (9).A síndrome metabólica é também conhecida comosíndrome X, síndrome da resistência à insulina,quarteto letal e síndrome plurimetabólica (10).Apesar das diferentes definições e critérios para clas-sificá-la, entre os distúrbios metabólicos comumentepresentes estão a intolerância à glicose, resistência àinsulina, obesidade central, dislipidemia e hiperten-são, todos bem documentados fatores de risco paradoenças coronarianas (10).Evidências clínicas têm demonstrado associaçãoentre o metabolismo anormal de GC e a síndromemetabólica. Os níveis de cortisol plasmáticos aumen-tados, encontrados com o envelhecimento, estãorelacionados com uma ou mais características da sín-drome metabólica (11). Verificou-se que, tanto arazão da secreção, como as liberações periféricas decortisol nesses pacientes foram positivamente corre-lacionadas com a pressão sanguínea sistólica, glicosee insulina de jejum. Outros estudos também repor-taram correlação entre o aumento da atividade dosGCs e a redução da sensitividade periférica à insuli-na, níveis elevados de glicose plasmática e hiperten-são (12, 13, 14).O padrão de deposição de gordura central da síndro-me metabólica assemelha-se muito ao que ocorre nasíndrome de Cushing, ou em indivíduos que foramadministrados com glicocorticóide sintéticos, queapresentam ainda hipertensão arterial e intolerânciaà glicose. Evidências recentes não deixam dúvidas deque há um novo e importante mecanismo envolvidono controle da ação dos glicocorticóides, mediadaprincipalmente pela regulação pré-receptor exercidapela 11-beta-hidroxiesteróide-desidrogenase(11βHSD) (7, 15).Foi demonstrado que animais transgênicos deficien-tes da 11-β-HSD1 apresentam perfil metabólico favo-

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rável, com aumento do catabolismo lipídico, reduçãodo nível intracelular de glicocorticóides, aumento dasensibilidade à insulina, HDL-colesterol e apo-AI,sugerindo um fenótipo protetor em relação ao pro-cesso aterosclerótico (15). Por outro lado, a adminis-tração de glicocorticóides ou a elevação de glicocorti-cóides endógeno promovem dislipidemia e resistên-cia à insulina. Estes achados clínicos sugerem que aação dos glicocorticóides tem papel importante napatofisiologia da síndrome metabólica.

GLICOCORTICÓIDE, METABOLISMO E AÇÃOO cortisol ou hidrocortisona como é conhecido, é oprincipal glicocorticóide endógeno. Este hormônioesteróide é produzido e secretado pela zona fascicu-lada das adrenais e está sob controle do hormônioadrenocorticotrófico (ACTH). Seu nível circulante éregulado pela atividade do eixo hipotálamo-pituitá-ria-adrenal, um circuito de feedback neuroendócrinoque pode ser ativado por estímulos fisiológicos, taiscomo o estresse (16). A ação local dos glicocorticói-des é dependente de seu metabolismo intracelularpela 11βHSD. 11βHSD1 ativa os glicocorticóides(cortisona para cortisol), enquanto 11βHSD2 inativao hormônio. Estas duas isoenzimas são produtos dediferentes genes e têm distinta distribuição nos teci-dos. A 11β-HSD1 é expressada primariamente nofígado, adipócitos, rim e cérebro, enquanto a 11β-HSD2 é expressada principalmente nos rins e glân-dulas salivares (17). Assim, a atividade destas enzi-mas desempenha papel importante nas ações fisioló-gicas dos GCs.A cortisona apresenta-se no plasma de forma livre,no entanto, aproximadamente 6% do cortisol sãocarreados pela albumina e 90% se combinam reversi-velmente a uma alfa-globulina, sintetizada no fígadodenominada transcortina ou CBG (corticosteroid-bin-ding globulin), funcionando como reserva (18). ACBG está presente em diversos tecidos e pode regu-lar a ação do GC de maneira tecido específico. Porexemplo, níveis significativamente baixos de CBG notecido adiposo de ratos Zucker contribuem para aresistência à insulina (19). A ação dos glicocorticóides também é mediada peloreceptor de glicocorticóide (GR), um receptornuclear que regula eventos fisiológicos diretamente,ativando ou inibindo genes alvos envolvidos na infla-

mação, gliconeogênese e diferenciação dos adipóci-tos (20). Na maioria dos casos, o efeito na transcri-ção é estimulador, levando ao acúmulo de RNAsmensageiros que codificam a síntese protéica. Sabe-se que efeitos inibitórios também ocorrem em genesque são regulados negativamente. Entretanto, algunsfatos permanecem obscuros na ação deste hormônio.Portanto, a ação dos GC nos tecidos alvos não édependente somente da concentração de GC circu-lante e da expressão celular de GR, mas também dometabolismo intracelular tecido-específico de GCpela 11-β-HSDs.

EFEITOS METABÓLICOS DOS GLICOCORTICÓIDESOs glicocorticóides são hormônios com ação antagô-nica à insulina. Exercem ação predominante sobre ometabolismo intermediário, com efeitos principal-mente sobre os tecidos hepático, muscular e adipo-so. Numa situação de estresse, os glicocorticóides(no homem, principalmente o cortisol, e na maioriados roedores, a corticosterona) contribuem na mobi-lização de substratos energéticos, com a finalidadede recuperar os tecidos lesionados e promover ahomeostase orgânica, já que ambos são hormônioscatabólicos.Diferente das ações fisiológicas (isto é reguladoras emetabólicas) dos glicocorticóides de secreção endóge-na, em altas concentrações como evidenciadas na sín-drome de Cushing ou pela administração exógena deseus análogos sintéticos, induzem resistência à insu-lina e inúmeras desordens metabólicas ao organismo.As alterações metabólicas evidenciadas na obesidadeem humanos, que têm relação importante com doen-ças do coração, incluindo hipertensão, resistência àinsulina, diabetes tipo 2 e hiperlipidemia, caracterís-ticas da síndrome metabólica, também são encontra-das na síndrome de Cushing, quando esta é causadapelo aumento dos níveis circulantes de glicocorticói-des (21). Observou-se também que a administraçãoexógena de GCs aumenta os níveis séricos de insuli-na e triglicérides (22).Os efeitos metabólicos dos GCs são mediados pordiversos mecanismos que são fisiologicamente rele-vantes no desenvolvimento da resistência à insulinahepática e periférica, dislipidemia, obesidade e hiper-glicemia. Suas ações em tecidos específicos contri-buem para as anormalidades da síndrome metabólica.

Glicocorticóide, Síndrome metabólica e exercício físico

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No músculo esquelético, os glicocorticóides exercemefeitos catabólicos via aumento na proteólise (23),diminuição no transporte de aminoácidos para ointerior do músculo (24), inibição da síntese de pro-teínas (25) e indução da miostatina, um conhecidofator regulador negativo da massa muscular (26).Elevada atividade GC no músculo esquelético podeinibir a via de sinalização da insulina por diversosmecanismos, incluindo inibição da translocação deGLUT4 para a membrana celular (27) e inibição daatividade da Lipoproteína Lipase (LPL) e, conse-qüentemente, captação reduzida de triglicérides dacirculação (28). Estas ações dos GCs na sinalização eregulação metabólica estão relacionadas com a quan-tidade de receptores de glicocorticóides nos tecidossensíveis a insulina e com a disponibilidade de corti-sol na forma ativa, que é convertido da cortisonapela enzima 11-β-HSD1 nas células dos músculosesqueléticos (20). Estudos anteriores detectaramaumento no RNAm dos GR em biópsia de músculoesquelético de diabéticos do tipo 2, com uma subse-qüente diminuição na expressão de GR, correlacio-nada com melhora na sensitividade à insulina nestespacientes após tratamento intensivo (29). Estesresultados sugerem que a atividade anormal dos GRno músculo esquelético pode ter um significativoefeito na resistência à insulina observada no diabetesdo tipo 2.Os GCs exercem alterações importantes também nometabolismo hepático. Estes esteróides conduzem àelevação da glicemia, atuando na captação, consumoperiférico e produção de glicose (30). Estimulam agliconeogênese hepática a partir da liberação de áci-dos graxos e glicerol dos adipócitos e de aminoáci-dos provenientes da inibição na síntese protéicaperiférica (31, 32). Especificamente, os GCs indu-zem a gliconeogênese hepática pela ativação dosreceptores de glicocorticóides (GR) dessa via, queestimula a expressão da fosfoenolpiruvato carboxila-se (PEPCK) e glicose-6-fosfatase (G6Pase), enzimaschaves da cascata de gliconeogênese (33-34). Istoresulta em aumento da produção hepática de glicosee hiperglicemia.Estes esteróides interferem no metabolismo das gor-duras, favorecendo a lipólise com aumento de ácidosgraxos no plasma, decorrente de estímulo de libera-ção do tecido adiposo, possivelmente por ação per-

missiva com outros hormônios, como as catecolami-nas e o glucagon (35). Além disso, ativam a lipasehormônio sensível, uma enzima chave na lipólise,inibida pela insulina. No entanto, a secreção endóge-na ou administração de doses excessivas de glicocor-ticóides promovem aumento dos depósitos de gor-dura, principalmente na região abdominal (36).Evidências acumuladas demonstram que a atividadeenzimática da 11-β-HSD1 tem papel importante napatogênese da obesidade visceral e da síndromemetabólica (37). Em modelos de obesidade em roe-dores (38) a 11-β-HSD1 encontra-se diminuída nofígado e aumentada no tecido adiposo mesentérico.Além do mais, a reduzida sensitividade à insulinaem tecidos periféricos está associada aos efeitosantagonistas do GC na translocação dos transporta-dores de glicose dos compartimentos intracelularesda membrana plasmática (39). A compreensão dosmecanismos de ação dos glicocorticóides sobre ometabolismo envolve uma série de eventos molecu-lares com a participação da insulina. Variações nosníveis e/ou graus de fosforilação do IR, IRS-1 e IRS-2 e na atividade da PI 3-quinase foram observadosem animais submetidos à administração exógena deglicocorticóides (40, 41). Similar mecanismo é res-ponsável pela resistência à insulina no músculoesquelético (42), redução na captação de aminoáci-dos pelos adipócitos estimulada pela insulina (43),além do que o aumento da lipólise ou oxidação degordura pode estar relacionado à resistência à insuli-na periférica induzida por GC (44).O uso de glicocorticóides pode também alterar afuncionalidade da célula beta do pâncreas. Estudosdemonstraram que os GCs têm efeito na secreção deinsulina da célula beta em animais e alteram o picodeste hormônio no período pós-prandial em huma-nos (45-46). Outros efeitos adicionais do excesso de glicocorticói-des estão implicados na hipertensão, outra caracte-rística comum da síndrome metabólica. Os GCs têmação agonista com receptores mineralocorticóides(MR), e a sua ativação provoca retenção de sal e ele-vação da pressão sangüínea. A expressão de ambas,11-β-HSD1 e 11-β-HSD2, no rim sugere que a inter-conversão dos GCs inativo e ativo aconteça demaneira equilibrada. Assim, a ativação de MR podeser controlada especificamente em cada tecido (47).

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Contudo, o excesso de GC resultante do aumento daatividade da 11-β-HSD1 ou redução da 11-β-HSD2conduz à ativação do MR e hipertensão.Além disso, a exposição aos glicocorticóides podeprovocar alterações nos níveis circulantes de agen-tes vasodilatadores, como por exemplo, inibição dasíntese de óxido nítrico (NO) (48-49). Como o NOliberado do endotélio exerce importante ação vaso-dilatadora sobre as artérias, a menor síntese dessevasodilatador, em resposta ao efeito inibitório dadexametasona na ativação da enzima óxido nítricosíntase (NOS), provocaria injúria sobre o endotélioe, conseqüentemente, alteração de fluxo sanguíneo,prejuízo na responsividade dos tecidos periféricos àinsulina e alteração no metabolismo lipídico, con-

tribuindo para o aumento da pressão arterial (50).Este conjunto de dados fisiológicos sugere que osefeitos metabólicos dos glicocorticóides ocorremem diferentes tecidos e o aumento da ação delescontribui para a etiologia da síndrome metabólica(51) (Figura 1). Satisfatoriamente por meio deestudos moleculares e genéticos, mais informaçõestêm sido disponibilizadas para esclarecer, minucio-samente, a ação dos GCs sob tecidos específicos esua relação com as características da síndromemetabólica. Diante dessa eminente relação entreglicocorticóides e anormalidades metabólicas, vere-mos a seguir a maneira pela qual o exercício físicopode auxiliar na homeostase do organismo frente aesta situação.

Glicocorticóide, Síndrome metabólica e exercício físico

Figura 1. Relaçãoentre os efeitosdos glicocorticói-des e as caracterís-ticas da síndromemetabólica. Osmaiores efeitos nosdiferentes tecidossão sumarizados ea associação fisio-lógica com a sín-drome metabólicaé apresentada.Adaptado de WangMinghan (51).

EXERCÍCIO FÍSICO E BENEFÍCIOS À SAÚDEO exercício físico tem sido apontado por muitos auto-res como promotor de bem estar e saúde aos seus pra-ticantes, promovendo melhora na aptidão funcional econtribuindo favoravelmente, com o sistema circulató-rio, respiratório, imunológico, entre outros, reduzindoos fatores deletérios relacionados ao sedentarismo (52,

53, 54). Admite-se atualmente que um estilo de vidafisicamente ativo é um fator de grande importância naredução de uma série de distúrbios, dentre os quaisincluem-se os problemas cardíacos, alguns tipos decâncer, diabetes mellitus, obesidade, osteoporose entreoutros. Os possíveis benefícios da realização de umaatividade física bem orientada, realizada de maneira

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sistematizada, são muitos e estudos recentes enfati-zam a importância de programas de exercícios emlongo prazo no tratamento e prevenção das anormali-dades metabólicas comuns da síndrome metabólica ede suas complicações (55, 56).

MÚSCULO ESQUELÉTICO E METABOLISMOO músculo esquelético representa a maior massa detecido periférico, sumarizando aproximadamente40% da massa corporal total, e exerce papel primor-dial sobre o balanço energético. É responsável pormais de 30% do dispêndio de energia, e é o tecidoprimário na captação, disponibilidade e estoque deglicose estimulada por insulina. Além disso, o mús-culo exerce seu efeito no metabolismo via modula-ção de lipídios circulantes e de seus estoques. Ocatabolismo lipídico suprime mais de 70% do reque-rimento de energia para o músculo em repouso. Noentanto, a necessidade de maior consumo de energiafaz com que o exercício físico estimule a captação deglicose, melhore a sensitividade à insulina após oesforço e promova a oxidação de ácidos graxos dacirculação, provendo dessa maneira ATP para a mus-culatura esquelética durante e após a atividade con-trátil dos músculos (57). Estas adaptações, além de serem fundamentais parao rendimento de um atleta, também são importantesem pessoas com anormalidades metabólicas, comoevidenciado na obesidade, diabetes do tipo 2 e hiper-tensão e, em longo prazo, podem diminuir a concen-tração de glicose sanguínea e melhorar o perfil lipí-dico, tendo assim, efeito preventivo e retardando odesenvolvimento destas doenças.Nesse contexto, o músculo esquelético é um impor-tante alvo terapêutico no controle da doença cardio-vascular, uma vez que os efeitos favoráveis sobre ometabolismo proporcionados pelo exercício físicoaeróbio, que diretamente influenciam os fatores derisco de doenças cardiovasculares, são primariamen-te dirigidos pelo músculo esquelético. Assim, estarevisão foca os efeitos do exercício físico regular sobos distúrbios metabólicos comumente presentes nasíndrome metabólica, como a intolerância à glicose,resistência à insulina, obesidade central, dislipidemiae hipertensão, todos bem documentados fatores derisco para doenças coronarianas, observadas emsituações de uso de glicocorticóides.

EXERCÍCIO FÍSICO E RESISTÊNCIA À INSULINAO transporte de glicose para os miócitos é aguda-mente regulado pela insulina e por fatores seme-lhantes à insulina através da ativação de uma sériede proteínas intracelulares (58). Além disso, o trans-porte de glicose no músculo esquelético é tambémestimulado por mecanismos independentes de insu-lina, que são ativados pela contração muscular (59),hipóxia (60), óxido nítrico (61) e bradicinina (62).Apesar de ainda obscuros os caminhos pelos quaisestes fatores estimulam a translocação de GLUT-4,recentes evidências suportam o papel da ativação da“5-adenosine monophosphate-activated protein kina-se” (AMP kinase), uma enzima ativada pelo decrés-cimo de energia celular (63) e que discutiremos commais detalhes à frente. Vejamos a seguir os mecanis-mos pelos quais o exercício físico promove umamelhora na sensitividade à insulina.A atividade física regular promove uma melhora naresposta dos eventos pós-receptores da insulina, istoé, na fosforilação de proteínas que iniciam as açõesdo hormônio (64). Associado a isto ocorre o aumen-to da síntese de transportadores de glicose e da ativi-dade de enzimas ligadas ao seu metabolismo. Todosestes fenômenos proporcionam melhorias à tolerân-cia à glicose (64). Além dos efeitos moleculares doexercício, o aumento do fluxo sanguíneo pode acar-retar maior disponibilidade de insulina para os teci-dos periféricos, contribuindo para a melhora meta-bólica observada durante o treinamento físico. Os exercícios físicos, principalmente os resistidosque proporcionam a manutenção ou o aumento demassa magra, podem ser importantes na homeostaseda glicose, uma vez que proporcionam um aumentodo espaço destinado ao estoque desta hexose (glico-gênio). Já o aumento do número de fibras de contra-ção lenta (também conhecidas como fibras do tipo 1ou fibras vermelhas), em resposta ao treinamentoaeróbio, favorece a oxidação de glicose. Além disso, os níveis aumentados de fatores seme-lhantes à insulina (IGFs) induzida pelos exercíciostambém podem atuar no transporte de glicose paraos músculos em atividade (65), contribuindo para oaumento da captação de glicose.Portanto, está bem estabelecido que o exercício físi-co (agudo e crônico) melhora a captação de glicoseestimulada pela insulina, tanto em humanos quanto

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em modelos animais (32, 64, 65, 66). O Programade Prevenção ao Diabetes dos Estados Unidos con-cluiu que a introdução de um programa com modifi-cações no estilo de vida, incluindo uma redução de7% no peso corporal e a realização de, no mínimo,150 minutos de atividade física semanais, pode, emum período de 3 anos, reduzir a incidência de diabe-tes tipo 2 em 58% em indivíduos com significanterisco para desenvolver a doença (67). Além do mais, dados do nosso laboratório demons-traram que ratos administrados com dexametasonapor 10 semanas apresentam resistência à insulina.No entanto, os animais que receberam a droga e rea-lizaram exercício físico no mesmo período apresen-taram taxa de remoção de glicose durante o teste detolerância à insulina semelhante ao grupo de ani-mais controles (4, 32). Portanto, o exercício regularpode favorecer organismos que apresentam intole-rância à glicose e resistência à insulina (como obser-vado no diabetes do tipo 2, obesidade, excesso deglicocorticóides, entre outras), reduzindo o númerode mortes por doenças cardiovasculares.Apesar desses benefícios comprovados, a realizaçãodo exercício por um período curto de tempo estáassociada a baixa sensibilidade à insulina, enquantoa permanência por períodos longos de inatividadefísica está associada a um aumento da resistência àinsulina (68, 69). O efeito do exercício físico sobre asensibilidade à insulina tem sido demonstrado entre12 e 48 horas após a sessão de exercício, porém esseefeito parece retornar aos níveis pré-atividade emtrês e cinco dias após o último período de realizaçãode exercício físico (70), o que reforça a necessidadede adotar-se um estilo de vida fisicamente ativo.Além disso, muitas vezes é necessário associar dietase uso de medicamentos para que se possa controlaras anormalidades metabólicas.

EXERCÍCIO FÍSICO, OBESIDADE E DISLIPIDEMIAO exercício físico regular produz efeitos no grau deaterosclerose coronária e nos fatores de risco dedoenças cardíacas. É observada em diversos estudosuma associação entre exercício e redução da adiposi-dade, principalmente aquela localizada na região dotronco e do abdomen (71, 72). Estudos com animaisde experimentação têm demonstrado que o treina-mento físico promove redução da gordura corporal.

Nosso grupo verificou recentemente que ratos admi-nistrados com dexametasona apresentavam umaumento no peso do tecido adiposo epididimal.Entretanto, os ratos que realizaram exercícios regu-lares tiveram um menor acúmulo de gordura nessaregião quando comparados com o grupo controle ecom o grupo que recebeu dexametasona e permane-ceu sedentário (32). Este fato talvez possa justificaras observações feitas por outros pesquisadores, queafirmam que o treinamento aeróbio colabora com aperda de gordura (54, 73). Tal tentativa de analogia ede interpretação pode ser reforçada pelos resultadosobtidos no estudo de Mensink e colaboradores (74),quando ficou evidenciado que a intervenção de umprograma de atividades físicas promove melhoras noperfil metabólico de indivíduos diabéticos tipo 2,além de aumento da capacidade de utilização de áci-dos graxos livres pelo músculo esquelético.Sabe-se que, além do efeito direto no gasto calórico,o exercício físico regular mantem o metabolismobasal aumentado por longo período após as sessõesde treinamento. Entre os efeitos importantes daprática de atividades físicas sobre a perda de pesodestacam-se o aumento da atividade da enzima lípa-se hormônio sensível e o aumento da densidademitocôndrial, potencializando a oxidação de lípidose favorecendo, assim, o emagrecimento (75). Emrelação ao perfil lipídico, há uma grande variabilida-de nos resultados encontrados nas pesquisas rela-cionando níveis lipídicos e exercício, em função daheterogeneidade das populações, do treinamentorealizado, do controle do uso de fármacos, da dietae da perda de peso corporal associada (76). Apesardisso, são muitas as evidências que comprovam osefeitos benéficos do exercício na melhora do perfillipídico, com o aumento do HDL-colesterol e redu-ção do LDL-colesterol e dos triglicérides ( 55, 56,72, 73, 74, 75, 76). Portanto, o treinamento físicopode ser uma excelente intervenção não-farmacoló-gica para o tratamento da obesidade e dos seus dis-túrbios metabólicos.

EXERCÍCIO FÍSICO E HIPERTENSÃOHá evidências associando anormalidades da ação dainsulina à hipertensão nos pacientes. Por outro lado, oexercício tem sido mostrado como um fator importan-te na prevenção da hipertensão e de suas doenças

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associadas. Bouchard e colaboradores (77) revelaramuma redução significativa de 3/3 mmHg(sistólica/diastólica) em normotensos e uma maiorredução em indivíduos hipertensos (em média 10/8mmHg) com a prática regular de exercícios físicos.Semelhantes resultados foram observados por Arroll eBeaglehole (78) que encontraram reduções de 6-7mmHg na pressão sistólica e diastólica em indivíduosnormotensos e hipertensos com o treinamento físico.As alterações da pressão arterial estão associadascom a síntese de óxido nítrico (NO). O NO produzi-do no endotélio provoca relaxamento das fibras mus-culares lisas adjacentes, inibe a agregação de plaque-tas e a adesão de células inflamatórias à superfícievascular, diminui a proliferação muscular e a apopto-se endotelial, aumenta a atividade das enzimas queneutralizam os radicais livres, reduzindo assim, aatividade inflamatória. Em condição de exercícioocorre aumento do débito cardíaco e redistribuiçãodo fluxo sanguíneo para a musculatura esquelética ecirculação cardíaca. Este mecanismo é mediado pelaenzima óxido nítrico síntase endotelial (eNOS), cujaexpressão genética pode ser potencializada comexercícios físicos aeróbios regulares (79, 80).Portanto, estímulos como a pressão de arrasto sobreas paredes dos vasos sanguíneos (shear stress) peloexercício contribui para a geração basal de óxidonítrico no sistema arterial (81). Assim, em conse-qüência do exercício, a elevação da produção deóxido nítrico aumenta a vasodilatação dependente doendotélio e inibe os múltiplos processos envolvidoscom a aterogênese, bem como o processo inflamató-rio associado. Dessa forma, o exercício físico podeser importante para a geração de NO, que é inibidapelo uso de dexametasona (49).

AÇÕES MOLECULARES DO EXERCÍCIO FÍSICO NO CONTROLE METABÓLICO: NOVAS PERSPECTIVASAMPK e transporte de glicoseApesar de muitos anos de pesquisas, o mecanismomolecular pelo qual o exercício promove estes benefí-cios permanece não totalmente conhecido. A proteínaquinase ativa pelo AMP (AMPK) tem sido recente-mente implicada na regulação de muitos destes efei-tos. Existe evidência de que esta enzima participa dasadaptações crônicas adquiridas pelo treinamento físicono músculo esquelético, através de modificação naexpressão de genes de diversas proteínas (82).

A ativação da AMPK durante o exercício é decorrentede um rápido declínio nas razões AMP/ATP e creati-na/fosfocreatina do músculo em atividade. Diferentesexperimentos têm demonstrado que a contração, efe-tivamente, aumenta a atividade da AMPK (83). Porexemplo, foi demonstrado que a contração muscularpor estimulação elétrica in situ (84) e a contração iso-lada de músculo de ratos in vitro (85) aumentam sig-nificativamente a atividade da AMPK. O exercício deciclismo também aumenta a atividade da isoforma α2AMPK em humanos, no entanto, tal ativação édependente, da intensidade e do tempo de duraçãodo esforço (86). A α2 AMPK é ativada durante oexercício de intensidade moderada quando, em geral,a isoforma α1 AMPK parece ser mais resistente à ati-vação e é somente ativada em condições extremas,como na contração isolada de músculo de ratos invitro, durante o sprint no ciclismo e ou nos exercíciossupramáximos em humanos (86).Esse aumento da atividade da AMPK em resposta auma necessidade de gerar ATP, durante o exercício,promove a translocação das vesículas contendoGLUT-4, facilitando assim o transporte de glicosepara o músculo de maneira semelhante à da insuli-na, embora por cascatas de sinalização diferentes eindependentes. Nessa situação, a redução da malo-nil-CoA permite o aumento da ação da carnitina pal-mitoiltransferase I (CPT1), que aumenta a eficiênciado transporte de ácidos graxos para as mitocôndriase conseqüente oxidação.De maneira similar à contração muscular, a ativaçãoda AMPK com 5-amino-4-imidazole-carboxamine-ribose (AICAR), um ativador farmacológico daAMPK, resulta em um aumento da captação de gli-cose no músculo, indicando de fato que esta enzimapode ter um papel determinante na entrada de glico-se nesse tecido (87). Observou-se que a ativaçãocrônica da AMPK por AICAR diariamente durante 4semanas, para simular o treinamento com exercícios,foi associada com aumentos no conteúdo de GLUT-4, assim como à atividade das enzimas oxidativasmitocôndriais (88). Esses dados sugerem que repeti-das sessões de exercício físico podem gerar adapta-ções bioquímicas no músculo esquelético, através daativação repetida da AMPK.Desse modo, a AMPK tem se tornado um interes-sante alvo para o desenvolvimento de drogas. Um

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grupo de autores examinaram a ação do exercício emdiabéticos tipo 2 (89). A atividade da α2 AMPK nomúsculo esquelético destes pacientes foi similar aosindivíduos controles do estudo, um indicativo deque indivíduos com essa doença têm um funciona-mento normal da AMPK no músculo.

RECEPTORES HORMONAIS NUCLEARES E METABOLISMOA atividade de fatores transcripcionais da família dereceptores hormonais nucleares (NRs) no músculoesquelético tem ganhado destaque e surge como umpotencial alvo no combate contra a obesidade (90),síndrome metabólica (91), diabetes do tipo 2 e disli-pidemia (92). A presença de NRs no músculo esque-lético, como por exemplo, o receptor ativado porproliferadores de peroxissoma (do inglês “PeroxisomeProliferator-Activated Receptor” – PPAR), com três iso-formas conhecidas PPARα, PPARδ e PPARγ (91, 92,93, 94), tem sido mostrado estar envolvido noaumento da disponibilidade de glicose estimuladapor insulina, diminuição de triglicerídeos e aumentodo catabolismo lipídico, dispêndio energético, efluxode colesterol e níveis de HDL-c no plasma. Estudorecente, demonstrou que a ativação do PPARδ con-duz a um fenótipo predominante de fibras de contra-ção lenta (oxidativas) e aumenta, dramaticamente, acapacidade de endurance, aumento da sensitividadeà insulina e resistência à obesidade (95).Conseqüentemente, o entendimento das funções dosNRs no músculo esquelético possui enorme utilida-de farmacológica para o tratamento da doença car-diovascular e da síndrome metabólica.Nesse contexto, o entendimento de como o exercíciofísico interage com os fatores transcripcionais dafamília de receptores hormonais nucleares, deve tra-zer novas descobertas científicas em relação aos efei-tos da atividade física sobre as anormalidades meta-bólicas evidenciadas na síndrome metabólica e noexcesso de glicocorticóide.Portanto, pode-se dizer que o exercício físico regularpode exercer adaptações favoráveis ao organismo edeve ser pensado como forma de tratamento ou pre-venção em indivíduos que apresentam resistência àinsulina e outras anormalidades metabólicas, eviden-ciadas tanto na síndrome metabólica quanto pelouso de glicocorticóides. Assim, o treinamento físicopode auxiliar no tratamento desses distúrbios meta-

bólicos, mas não necessariamente normalizar as alte-rações no metabolismo, devendo, portanto, ser asso-ciado a outras condutas quando necessárias.

CORRESPONDÊNCIAJosé Rodrigo PauliRua XV de Novembro, 1701, centro 13400-370 PiracicabaSão Paulo [email protected]

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Glicocorticóide, Síndrome metabólica e exercício físico

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Compreendendo o overtraining no desporto: da definição ao tratamento

Adelino S.R. SilvaVanessa SanthiagoCláudio A. Gobatto

Universidade Estadual PaulistaInstituto de BiociênciasDepartamento de Educação FísicaRio ClaroSão PauloBrasil

RESUMONo desporto de alto nível o desenvolvimento de um programade treinamento físico tem como principal objetivo a maximiza-ção da performance. Contudo, caso não ocorra uma periodiza-ção do treinamento adequada, os atletas podem desenvolver ofenômeno denominado overtraining ou sobretreino. O overtrai-ning pode ser definido como um distúrbio neuroendócrino, queocorre no eixo hipotálamo-hipófise, resultado do desequilíbrioentre a demanda do exercício e a capacidade de resposta doorganismo. O objetivo do presente estudo de revisão é apresen-tar fatores inerentes ao overtraining, para que a comunidadecientífica aprofunde o conhecimento sobre este problema dotreinamento e auxilie os profissionais do desporto e atletas aevitá-lo.

Palavras-chave: desporto, treinamento, overtraining.

ABSTRACTUnderstanding overtraining in sports: from definition to treatment

The main aim of a training program in the high level sport is toenhance performance. Athletes can present overtraining (OT) if aninadequate training periodisation occurs. Overtraining can be definedas a neuroendocrine disturb in hypothalamic-pituitary axis resultingfrom an unbalance between training and recovery. The aim of thisreview is to deepen the knowledge about overtraining factors, bringingactual scientific data to help coaches and athletes to deal with thisproblem, and overcome it.

Key Words: sport, training, overtraining.

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INTRODUÇÃONo desporto de alto nível o desenvolvimento de umprograma de treinamento físico tem como principalobjetivo a maximização da performance. Contudo,para que ocorram adaptações fisiológicas e neuroló-gicas positivas nos músculos e em outros tecidos énecessário que o treinamento apresente uma perio-dização que permita um equilíbrio entre a distribui-ção das cargas de treino e a recuperação do atleta. Durante e logo após uma sessão de treinamentoocorre uma fase catabólica, com diminuição da tole-rância ao esforço, caracterizada por mudanças rever-síveis de parâmetros bioquímicos, hormonais e imu-nológicos. Durante a recuperação, ocorre uma faseanabólica caracterizada por alta capacidade adaptati-va e aumento das reservas energéticas, denominadasupercompensação [3].Em situações em que a periodização do treinamentonão ocorre ou é mal planejada resultando em treina-mento excessivo, os atletas podem desenvolver umfenômeno denominado overtraining (OT) ou sobre-treino. Embora muitos atletas e técnicos desportivos desco-nheçam este problema, alguns estudos demonstra-ram que o OT afeta aproximadamente 60% de corre-dores de fundo e meio fundo durante a carreira atlé-tica [62], além de 50% de jogadores profissionais defutebol durante uma temporada competitiva de 5meses [52] e 33% de jogadores profissionais de bas-quete durante um período de treinamento de 6semanas [87]. Dessa maneira este trabalho é de suma importância,pois através de uma revisão de literatura aprofunda-da visa apresentar fatores inerentes ao OT, para quea comunidade científica alargue o conhecimentosobre este problema do treinamento e auxilie os pro-fissionais do desporto e atletas a evitá-la.

OVERTRAININGO OT pode ser definido como um distúrbio neuroen-dócrino, que ocorre no eixo hipotálamo-hipófise,resultado do desequilíbrio entre a demanda do exer-cício e a capacidade de resposta do organismo [3].

Diferença entre overtraining e overreachingNo âmbito científico e prático é importante queesteja clara a distinção entre overtraining e overrea-

ching (OR) para que tanto os pesquisadores, quantoos treinadores e fisiologistas, possam identificar ossintomas em seus atletas e tomar as providênciasnecessárias. De acordo com Lehmann, Foster e Keul[48], o OR ocorre após vários dias de treinamentointenso e está associado à fadiga muscular ou perifé-rica, podendo ser definido como uma fase pré-over-training [44]. A recuperação do atleta ocorre apósalguns dias de afastamento dos treinamentos oudiminuição das cargas de treino. Já o OT tem maior relação com a fadiga central e arecuperação pode demorar semanas ou meses. Oatleta que se encontra em OT, normalmente, apre-senta redução de performance acompanhada poralterações fisiológicas, psicológicas e bioquímicas.

Formas de overtrainingSegundo Israel [36], o OT pode ser classificado emduas categorias: a parassimpática e a simpática. Aforma simpática ou clássica do OT é caracterizadapelo aumento da atividade do sistema nervoso sim-pático em repouso. O sistema nervoso simpáticoprovoca alterações básicas das funções do organis-mo, facilitando a resposta motora ao estresse agudoou à atividade física. Ocorre com maior freqüênciaem equipes que utilizam predominantemente ometabolismo anaeróbio alático e lático para suprir asdemandas musculares, além de ser influenciada peloestado emocional do atleta que não depende apenasde fatores estressantes relacionados à modalidade,mas também aos fatores extra-treinamento.Já a forma parassimpática do OT é caracterizada pelapredominância do tônus parassimpático no repouso,assim como durante o exercício, e é observada commaior freqüência em atletas de endurance [3].

Modelos para estudar o overtraining e overreachingDe acordo com Mackinnon [56], dois modelos geraissão utilizados para o estudo do OT. No primeiro, osatletas são avaliados durante a temporada competiti-va e as respostas fisiológicas e psicológicas são com-paradas para cada atleta entre períodos de alta ebaixa intensidade de treinamento, ou entre atletasque demonstraram sintomas de OT e os que nãoapresentaram tais sintomas. A vantagem deste méto-do é que os atletas são avaliados no seu ambientenatural, sem a manipulação do regime normal de

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treinamento. A desvantagem é a dificuldade de secontrolar as variáveis que podem ser alteradas devi-do à alimentação, variabilidade climática e estressecompetitivo. No segundo modelo, o treinamento é intensificadopropositadamente durante um período de 4 sema-nas. Por razões éticas, quatro semanas é o períodomáximo que os atletas podem suportar o aumentode cargas que já são intensas [52, 57]. A performan-ce aeróbia, anaeróbia lática ou alática e as variáveispsicológicas e fisiológicas são comparadas antes eapós o período de treinamento intensificado ouentre atletas que demonstraram sintomas de overrea-ching, já que 4 semanas são consideradas um períodocurto para levar o atleta ao overtraining, e os que nãoapresentaram tais sintomas. Este método possibilitaum melhor controle das variáveis que possam con-fundir o diagnóstico. Contudo, o aumento das cargas de treinamento ésuperior ao que normalmente ocorre, não refletindo,desta maneira, o programa de treinamento do atleta.Exceto estas limitações, ambos os modelos forneceminformações úteis para identificar os marcadores ecompreender os mecanismos responsáveis pelo over-training ou overreaching.

Etiologia do overtrainingA tolerância do atleta ao estresse é determinada pelasua capacidade de adaptação, estratégias de competi-ção e características fisiológicas. A quantidade totalde fatores estressantes internos e externos determi-na a maior vulnerabilidade de alguns atletas. Emrelação aos fatores internos, Koutedakis e Sharp [43]verificaram que homens e mulheres respondem demaneira diferente aos fatores de estresse, e que aincidência do OT parece ser maior nos homens.Sobre os fatores externos, um aumento progressivono volume do treinamento intenso, com considerá-vel aumento no volume total de treinamento pareceser a causa predominante do aumento da suscetibili-dade ao OT. Existem muitas teorias, embora nenhuma delas con-clusivas, sobre a origem e mudanças fisiopatológicasdo estado de OT. Possivelmente os fatores responsá-veis pela síndrome do sobretreino relacionados àadaptação central são: 1) Desequilíbrio circulante de aminoácidos. Durante oexercício aeróbio de longa duração pode ocorrer uma

diminuição da concentração dos aminoácidos decadeia ramificada (AACR; leucina, isoleucina e vali-na) devido à oxidação pelo músculo esquelético paraa ressíntese de adenosina trifosfato (ATP).Simultaneamente ocorre um aumento da concentra-ção de aminoácidos aromáticos (AAA; tirosina, feni-lanina e triptofano). O triptofano (Trp) é o precursorda serotonina no cérebro e 90% deste aminoácidocircula ligado à albumina, o restante circula livre-mente (TrpL) [71]. Assim como os aminoácidos de cadeia ramificada(AACR), os ácidos graxos livres (AGLs) também sãooxidados pelo músculo esquelético para produzirATP quando ocorre depleção do glicogênio musculare hepático, respectivamente. Os AGLs, como não sãosolúveis em água, também utilizam a albumina paracircularem no sangue. Desta maneira, ocorre umacompetição pela albumina entre os AGLs e o TrpL , equanto maior for a utilização de AGLs para a ressín-tese de ATP maior será a quantidade de TrpL [50].O transporte dos AACR e dos AAA pela barreirahematoencefálica ocorre pelo mesmo mecanismoespecífico, que é controlado por competição, e a afini-dade do transportador pelo aminoácido é determina-da pelas concentrações dos demais aminoácidos.Como há baixa concentração de AACR e alta concen-tração de AAA, principalmente o TrpL, este aminoáci-do chega ao cérebro para formar a serotonina [75]. Este fenômeno já foi observado em atletas em OT[26] e uma diminuição na concentração sanguíneada razão TrpL/AACR tem sido proposta como ferra-menta para diagnosticar OT em atletas de enduran-ce [64].

2) Variações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA).Duclos et al [16], observaram que a repetição doestresse fisiológico imposto pelo treinamento físicoem corredores de longa distância influenciava naprodução do hormônio adrenocorticotrópico(ACTH). Na realidade, ocorria um aumento da con-centração plasmática deste hormônio, contudo nãofoi observada alteração na concentração plasmáticado principal hormônio da sua glândula alvo, ou seja,o cortisol. Isto poderia ser explicado através da dimi-nuição da sensibilidade da glândula adrenal a esti-mulação do ACTH e/ou a uma diminuição da sensi-bilidade do eixo hipotálamo-hipófise ao feedbacknegativo imposto pelo cortisol.

Compreendendo o overtraining no desporto

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Posteriormente Duclos et al [15], estimularam o eixohipotálamo-hipófise-adrenal através de administraçãofarmacológica e a glândula adrenal com ACTH, con-cluindo que a concentração normal de cortisol em res-posta ao aumento do ACTH induzido pelo estressefísico é, supostamente, resultado da diminuição dasensibilidade da hipófise para o feedback negativo docortisol e não da glândula adrenal ao ACTH.Luger et al [55] verificaram em atletas em OT comhipercortisolismo médio uma diminuição na respos-ta do cortisol e do ACTH ao hormônio liberador dacorticotropina (CRH), mas um aumento normal emresposta ao exercício físico, sugerindo que o estresseimposto pela atividade física sobrepõe o controle dofeedback negativo exercido pelo aumento da concen-tração de cortisol.

3) Disfunção do sistema nervoso autônomo. A excreçãourinária noturna de catecolaminas parece refletir aatividade intrínseca do sistema nervoso simpático[41]. Alguns autores têm verificado uma diminuiçãoda excreção urinária noturna de catecolaminas ematletas em overtraining [52, 53]. Além disso, Steinle[81] encontrou uma correlação negativa entre aexcreção de catecolaminas e a latência da fase REMdo sono (r=-0,46; p<0,01), confirmando a hipótesede que uma diminuição na excreção de catecolami-nas pode indicar a presença de fadiga central.Com relação à concentração plasmática de catecola-minas, em atletas em overtraining, tem se observadoum aumento nos níveis de noradrenalina plasmáticaem repouso e em resposta ao exercício de intensida-de moderada [46, 49]. Hooper et al [34] tambémverificaram aumento nas concentrações plasmáticasde noradrenalina no repouso, em nadadores em OT. Quanto à adaptação periférica, a capacidade dosórgãos de receberem informação do sistema nervo-so central parece ser influenciada pelo overtraining[53]. Por exemplo, Lehmann, Foster e Keul [48]concluíram que a implantação de um programa detreinamento diminuiu a sensibilidade da glândulaadrenal ao ACTH em atletas recreacionais. Istopoderia explicar alguns estudos que indicaram umadiminuição na liberação do cortisol em atletas emOT [4, 49, 84].

Estresse oxidativo e overtrainingOs radicais livres de oxigênio (RLO) são produzidosnaturalmente pelo nosso organismo e muitas vezessão de extrema utilidade, como na ativação do siste-ma imunológico, no processo de desintoxicação dedrogas e na produção do fator relaxante derivado doendotélio (óxido nítico), que é fundamental para orelaxamento dos vasos sangüíneos [38].Cerca de 2 a 5% do oxigênio total consumido dá ori-gem a produtos reduzidos como o radical ânion supe-róxido, peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila.Essas espécies de subprodutos são coletivamente cha-madas de espécies reativas de oxigênio (EROs) [38].Altos níveis de EROs são responsáveis por várias açõesdeletérias, como a oxidação de estruturas celulares e oprejuízo na homeostase intracelular. Com o objetivode diminuir a ação tóxica da EROs, o organismo dis-põe do sistema enzimático antioxidante, no qual asenzimas parecem possuir a capacidade de se adequarao aumento da produção da EROs através do aumentona sua atividade [72]. Além disso, várias moléculascom ação antioxidante também são consumidas nadieta, como α-tocoferol (vitamina E), β-caroteno (pre-cursor de vitamina A), selênio, zinco, cobre, glutationareduzida (GSR) e ácido ascórbico [89]. Embora essas defesas antioxidantes reduzam o riscode lesões oxidativas da EROs, hábitos de vida ina-propriados, tais como, o consumo excessivo deálcool, hábito de fumar, dieta inadequada, exposiçãofreqüente à radiação não ionizante UV, à poluição,além do estresse emocional [18], do envelhecimento[14] e da prática constante de exercício extenuante[18] podem desencadear um desequilíbrio entre adefesa antioxidante e a produção da EROs gerandouma situação de estresse oxidativo.O exercício físico está associado ao aumento de radi-cais livres devido ao aumento do consumo de oxigê-nio pelos tecidos ativos [12, 91]. Bloomer e Goldfard[6] verificaram que após o exercício físico agudo oucrônico existe um aumento da concentração de radi-cais livres nos tecidos biológicos que coincide com apresença de danos teciduais.Na realidade, a relação entre estresse oxidativo eexercício físico está diretamente relacionada à inten-sidade e duração do exercício. O exercício físicointenso normalmente desencadeia o estresse oxidati-vo que gera diminuição do desempenho físico, fadiga

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muscular, danos musculares e, até, overtraining [42],promovendo alteração do sistema imune e do estadode treinamento dos indivíduos [2]. De acordo com Lamprecht et al [45], os danos mus-culares causados pelo estresse oxidativo são maisacentuados em indivíduos pouco treinados que reali-zam exercícios com intensidade e duração acima doseu condicionamento físico. Miyazaki et al [61] veri-ficaram que a realização de um treinamento modera-do, antes dos indivíduos serem submetidos ao exer-cício agudo de alta intensidade, minimiza os efeitosdo estresse oxidativo.A prática regular de atividade física moderada alterapositivamente a homeostase oxidativa de células etecidos, através da diminuição dos danos oxidativose do aumento da resistência ao estresse oxidativo[12, 13]. Dessa forma são desejados como respostaadaptativa a um treinamento eficiente, altos níveisde defesa antioxidante e baixos níveis de produçãodo estresse oxidativo [91].

Hipótese das citocinas e overtrainingAs citocinas são pequenas proteínas ou peptídeosque compreendem um grupo muito extenso demoléculas envolvidas na emissão de sinais entre ascélulas, através de um processo análogo ao dos hor-mônios, durante o desencadeamento das respostasimunes. As citocinas podem ser divididas, de acordocom sua estrutura ou função, em diversas categorias:interferons (IFN), interleucinas (IL-1 a IL-15), fatorestimulador de colônias (CSF), fator de necrosetumoral (TNF-α e TNF-β), e fator de transformaçãode crescimento (TGF-β) [79].Geralmente, as citocinas são estudadas de acordocom sua função pró ou antiinflamatória. As citocinaspró-inflamatórias incluem as IL-1β, IL-6 e IL8 e oTNF-α. Também existe uma quantidade de citocinasantiinflamatórias cujo único propósito é regular oprocesso inflamatório. Algumas dessas citocinasincluem IL-4, IL-10, IL-13, assim como, o receptorantagonista da IL-1 (IL-1ra) [79].Com relação ao exercício físico, as IL-1β e IL-6 e oTNF-α são as citocinas mais estudadas. SegundoPedersen, Rohde e Ostrowski [69], a maioria dosestudos avaliam o comportamento dessas citocinasapós a realização do esforço físico. O aumento da IL-6 em resposta ao exercício físico foi constatado por

diversos autores [67, 82, 85]. No entanto, os resul-tados em relação à resposta TNF-α após o exercíciosão contraditórios. Alguns autores não observarammudanças [74, 82], enquanto outros constataramaumento desse tipo de citocina [67, 68].O aumento das citocinas em resposta ao exercíciofísico ocorre principalmente nas atividades em que acontração é excêntrica. Bruunsgaard et al [9] compa-raram o efeito da contração excêntrica e concêntrica,com o mesmo consumo de oxigênio, na concentra-ção de catecolaminas, citocinas e de creatina quinase(CK). Embora os níveis de catecolaminas nãotenham apresentado diferença, o nível de creatinaquinase aumentou cerca de 40 vezes, 4 dias após aatividade excêntrica. No exercício concêntrico não houve alteração naconcentração de CK. A concentração de IL-6 aumen-tou 5 vezes após o exercício excêntrico e apresentoucorrelação significativa com a concentração de CK.Este estudo indica que existe uma relação entre aconcentração de IL-6 e microlesão muscular.Muitos autores sugerem que as lesões musculoes-queléticas podem ser consideradas como uma mani-festação muscular da síndrome de sobretreino [21,65]. Seene et al [76], através de biópsias musculares,verificaram um grande número de lesões em atletasem overtraining. Smith [79] sugere que as lesões musculares não sóocorrem nos atletas em sobretreino, como são acausa do OT. A formação de microlesões muscularesem resposta ao volume e/ou intensidade de treina-mento associadas com recuperação insuficienteseriam a principal causa do overtraining. Atravésdessa linha de raciocínio o autor sugere que a maio-ria dos sintomas fisiológicos e psicológicos do OTpodem surgir de uma lesão muscular. Contudo, recentemente, Halson et al [30] não verifi-caram nenhuma alteração na concentração plasmáti-ca de IL-6 e TNF-α após um período de treinamentointenso de 2 semanas em que houve diminuição daperformance e aumento dos distúrbios de humor.

Diagnóstico do overtrainingEmbora muitos estudos tenham sido realizados como objetivo de determinar parâmetros capazes dedetectar o OT, ainda não foi possível estabelecer ummarcador universal capaz de identificar, em um

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grupo de atletas, aqueles que apresentam possibili-dade de desenvolver o OT ao longo de um programade treinamento [22, 33, 47, 84]. Desta maneira, omonitoramento regular da combinação de variáveisde performance, fisiológicas, psicológicas, bioquími-cas e imunológicas parece ser a melhor estratégiapara avaliar a adaptação do atleta ao treinamento eevitar o OT. Dentre a grande quantidade de variáveis citadas emestudos de overtraining podemos classificá-las emalguns parâmetros:

1) Parâmetros de performancea) Consumo máximo de oxigênio (VO2max): Algunsautores verificaram que o VO2max em teste incre-mental até à exaustão diminuía nos atletas em OT[49, 80, 84] enquanto outros não verificaram nenhu-ma alteração [22, 83].b) Freqüência Cardíaca (FC): A FC em repouso pare-ce não apresentar alteração em atletas em OT [33,51]. Por outro lado, uma série de estudos indica quea FC máxima diminui 5-10 bpm [49, 51, 90].c) Lactato Sanguíneo: Muitos autores, em diferentesmodalidades esportivas, verificaram que a concentra-ção pico de lactato sanguíneo ([Lac]pico) diminui ematletas em overtraining [11, 31, 83]. Neste tipo deatleta, as concentrações de lactato sanguíneo duranteexercício incremental de intensidade moderada([Lac]) também diminuem, refletindo um aumentono cálculo do Limiar Anaeróbio (Lan) que mascara areal condição aeróbia do atleta [5, 35, 37, 39]. Natentativa de eliminar esta contradição, Snyder et al[80] propuseram complementar a mensuração dolactato sanguíneo com as taxas de percepção deesforço (RPE). Assim, a razão [Lac]/RPE diminuirianos atletas em OT e permaneceria inalterada quandoocorresse adaptação positiva ao treinamento. Estemecanismo foi considerado eficiente apenas paraatletas em OR. Bosquet, Léger e Legros [7], conse-guiram corrigir a superestimação do Lan em atletasem OR e OT ao utilizar a [Lac] como %[Lac]pico.

2) Parâmetros imunológicosa) Leucócitos: Normalmente, a quantidade de leucó-citos permanece dentro dos valores de referência,mesmo durante períodos de treinamento físicointenso e em atletas em OT [27, 34, 58]. Contudo,

Lehmann et al [51] observaram em corredores umadiminuição da quantidade de leucócitos abaixo dosvalores de referência, em resposta a um período dequatro semanas em que o volume, e não a intensida-de de treinamento, foi dobrado. Matvienko [59] veri-ficou uma diminuição da contagem de leucócitos ematletas com estagnação da performance, mas semsintomas de OT.b) Linfócitos: Assim como os leucócitos, o número delinfócitos permanece dentro dos valores de referênciaem resposta ao treinamento físico intenso ou em atle-tas em OT [25, 27]. Hooper et al [33] não verificaramdiferença significativa para contagem de linfócitosentre o grupo de nadadores normal e os classificadosem OT durante uma temporada de seis meses.c) Neutrófilos: Alguns estudos têm registrado, emmodalidades esportivas distintas, uma diminuição daatividade basal e pós-exercício dos neutrófilos deatletas comparados com sedentários ou dos mesmosatletas em diferentes fases do treinamento [29, 73,78]. Com relação à contagem de neutrófilos, Hooperet al [33] não verificaram diferença significativaentre o grupo de nadadores normal e os classificadosem OT durante uma temporada de seis meses, con-tudo houve diferença significativa entre os atletasem OT durante o polimento.d) Eosinófilos: Gabriel et al [25] verificaram umamenor quantidade de eosinófilos nos atletas em OT.Fry et al [22] também observaram, em atletas emOT, uma diminuição na contagem de eosinófilosantes do início do programa de treinamento intenso.

3) Parâmetros hormonaisa) Testosterona: Flynn et al [20] verificaram umadiminuição da concentração de testosterona plasmá-tica, assim como da performance, em nadadoresapós o aumento de 88% do volume de treinamento,durante duas semanas. Sobre o exercício resistido,recentemente Durand et al [17] concluíram que,tanto a contração dinâmica excêntrica. quanto a con-cêntrica aumentaram significativamente as concen-trações plasmáticas de T e TF. b) Cortisol: Muitos autores não verificaram nenhu-ma alteração na concentração plasmática basal decortisol em atletas em OT [33, 83, 84], enquantooutros observaram um aumento [1, 4], diminuição[49], ou respostas variáveis [31].

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c) Razão Testosterona/Cortisol (T/C): Adlercreutz etal [1] propuseram que a diminuição superior a 30%na razão T/C indicaria o estado de OT. Emboraalguns estudos tenham constatado alterações narazão T/C durante períodos de treinamento intenso[40, 88], a maioria dos pesquisadores não verificoutais alterações em uma série de atletas incluindo cor-redores [20, 23, 86] e nadadores [20, 33, 40]. Alémdisso, alguns estudos verificaram queda igual ousuperior a 30% na razão T/C, que correspondeu comganho de performance [19, 32]. Gorostiaga et al [28]sugerem que uma queda inferior a 45% da razãoT/C nem sempre pode indicar OT. d) Catecolaminas: Mudanças na concentração plas-mática e excreção urinária da noradrenalina têm sidoassociadas com o OT [58]. Aumento e diminuiçãoda concentração plasmática em repouso e após exer-cício de alta intensidade, respectivamente, foramregistrados em corredores de meio fundo após perío-dos de treinamento intenso [46, 49, 51, 58]. Hooperet al [33] também constataram menor concentraçãoplasmática de noradrenalina em nadadores em OT.

4) Parâmetros hematológicosa) Hematócrito: Mackinnon et al [58] observaramuma tendência do hematócrito de diminuir em nada-doras em OT, após duas e quatro semanas deaumento progressivo no volume de treinamento.b) Eritrócitos: Mackinnon et al [58] verificaram umadiminuição da quantidade de eritrócitos durante qua-tro semanas de aumento progressivo no volume detreinamento em nadadores. Este declínio, aproxima-damente 8-12%, foi similar, em magnitude, ao declí-nio da concentração de hemoglobina, em valores de5-9%. Outros autores também constataram diminui-ção nas concentrações de eritrócitos e hemoglobinasapós treinamento de alta intensidade [63, 77]. c) Creatina quinase (CK). Halson et al [30], após umperíodo de seis semanas de treinamento com ciclis-tas, com a terceira e quarta e a quinta e sexta sema-nas apresentando o dobro e a metade do volume dasduas primeiras semanas, respectivamente, observa-ram um aumento significativo na atividade da CK aofinal da terceira e quarta semanas de treinamento. d) Uréia. A maioria dos estudos não constatou alte-ração na concentração plasmática de uréia em atletasem OT [44, 47, 49]. Halson et al [30] verificaram

uma tendência (p = 0,057) da concentração de uréiaaumentar após duas semanas em que o volume detreinamento normal em ciclistas foi dobrado. e) Amônia: Leitzmann, Jung e Seiler [54] verificaramuma diminuição na concentração de amônia nosatletas em OT. Contudo, Halson et al [30] verifica-ram uma tendência (p = 0,067) da concentração deamônia aumentar após duas semanas em que o volu-me de treinamento normal em ciclistas foi dobrado. f) Creatinina: Lehmann et al [47] não observaramalteração na concentração plasmática basal de creati-nina em corredores de fundo e meio fundo em res-posta ao aumento semanal de aproximadamente33% no volume de treinamento durante 4 semanas.

5) Parâmetros psicológicosAlguns estudos têm verificado uma relação direta-mente proporcional entre os distúrbios de humor eas cargas de treinamento [20, 62, 66]. O questionário POMS (Profile of Mood States), desen-volvido em 1971 por MacNair, Lorr e Droppleman[60] é um dos mais conhecidos instrumentos paraestimar estados emocionais e os dados subjetivosacerca dos sentimentos, afetos e humor [8].Recentemente, Peluso [70] traduziu e validou oquestionário POMS para o português. Os atletas emOT, normalmente, apresentam aumento das variáveisnegativas e diminuição da variável positiva do POMS[19, 20, 66].

Prevenção e tratamentoA prevenção do OT inclui uma periodização do trei-namento que permita intercalar sessões de treina-mento com repouso adequado. Além disso, é funda-mental a execução de testes ao longo da periodizaçãoque possibilitem a detecção precoce do OT. Contudo,a interpretação dos resultados obtidos na bateria detestes deve ser conduzida de forma consistente, paraque se evite confundir a fadiga normal do treinamen-to com o OT [24].Segundo Budget [10] o tratamento mais adequadopara o atleta que está em overtraining é o repouso,que em geral não deve ser inferior a cinco semanas,com sessões crescentes de atividade aeróbia.Contudo, a completa recuperação pode levar dozesemanas e a individualidade biológica de cada atletadeve ser respeitada.

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AGRADECIMENTOSApoio financeiro: FAPESP (processo 03/04214-3);CNPq (processo 130441/2004-0); Fundunesp (pro-cesso 00844/03-DFP).

CORRESPONDÊNCIAAdelino Sanchez Ramos da SilvaRua Rui Barbosa nº 221Vila Monteiro13560-330, São CarlosSão [email protected]

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Adelino Silva, Vanessa Santhiago, Cláudio Gobatto

ENSAIO

[ESSAY]

Rev Port Cien Desp 6(2) 241–248 241

Não se deve identificar força explosiva com potência muscular,ainda que existam algumas relações entre ambas

Carlos CarvalhoAlberto Carvalho

Laboratório do Movimento HumanoInstituto Superior da MaiaPortugal

RESUMOO objectivo deste trabalho é procurar diferenciar a força explo-siva da potência muscular. Apesar de ambas serem manifesta-ções de força rápida, dependem de factores bastante diferentes,têm características distintas e necessitam de metodologias emétodos específicos e independentes no seu treino e desenvol-vimento. Sumariamente, podemos dizer que o treino de forçaexplosiva se deve realizar com cargas máximas e a máximavelocidade de contracção muscular, para que se garanta umasuficiente activação nervosa dos factores intramusculares(recrutamento, frequência e descarga dos impulsos e sincronis-mo das unidades motoras). Contrariamente, o treino da potên-cia deve ser realizado com cargas médias, com máxima veloci-dade de execução de um determinado gesto, acção e/ousequência motora específica. Daí cair fortemente na esfera dotreino coordenativo ou técnico. Assim se depreende que seja-mos da opinião de que estas duas manifestações de força rápidanão podem, nem devem, ser identificadas como sinónimos deuma mesma capacidade motora.

Palavras-chave: força explosiva, potência muscular, treino daforça.

ABSTRACT One should not identify explosive strength with muscular powereven if some connection can be found between them

The aim of this paper is to search for the difference between explosivestrength and muscular power. In spite of both being expressions ofspeed-strength, they depend on very different factors, have distinctcharacteristics and need specific and independent methods and method-ologies. To sum it all up, it can be said that explosive strength trainingshould be done with maximum loads and the maximum rate of velocityof muscular contraction so that a sufficient nervous activation can beachieved in the intramuscular factors (recruitment, firing frequency andsynchronism of nervous stimulus). Contrarily to this, power should betrained with medium loads but with high speed of execution of any spe-cific motor action and/or sequences, therefore falling on a more techni-cal or coordinative training. We can deduce from all this that these twoexpressions of speed-strength should not be identified as synonyms ofthe same physical abilities.

Key Words: explosive strength, muscular power, strength training.

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INTRODUÇÃODesde há muito que defendemos que os equívocosterminológicos e conceptuais são questões limitati-vas da correcta compreensão e análise crítica dosfenómenos. Pensamos mesmo que, se os equívocos eas incorrecções não forem esclarecidos, dificilmentenos podemos entender com clareza e, pior do queisso, dificilmente se poderão conceber metodologiasde treino de efectiva eficácia prática. Os conceitos deforça explosiva e de potência muscular são, semdúvida, dois exemplos paradigmáticos da falta derigor, de consistência e de delimitação entre distin-tos tipos de força que vulgarmente encontramos naliteratura da especialidade.Assim, o objectivo deste trabalho é procurar diferen-ciar a força explosiva da potência muscular. Apesarde ambas serem manifestações de força rápida,dependem de factores bastante diferentes, têm carac-terísticas distintas e necessitam de metodologias emétodos específicos e independentes no seu treino edesenvolvimento.

FORÇA RÁPIDAComo é sabido, devemos entender por força máxi-ma (Fmax) o valor mais elevado de força que o sis-tema neuromuscular é capaz de produzir, indepen-dentemente do factor tempo (15). Logo que a forçaé condicionada pelo factor tempo entramos no“reino” da força rápida (Frap). A grande maioria dasactividades desportivas depende não tanto de altasexpressões de força, mas muito mais de que essaforça ou parte dela se produza com elevada rapidez.Isto é verdade não só nos lançamentos, saltos ouremates, mas em todas as situações em que énecessário alterações rápidas de direcção e/ou ace-leração, como acontece na grande maioria dos even-tos desportivos (p. ex.: no futebol, andebol, volei-bol, basquetebol, ginástica, etc.).Se, para além do registo da força produzida, avaliar-mos também o tempo do movimento, observamosuma correlação negativa entre Fmax e o tempo demovimento. Esta correlação aumentará à medidaque as cargas se aproximam do máximo individual(15) e, por outro lado, se a resistência a vencer forbaixa, a influência da Fmax diminui gradualmente ea velocidade de execução tenderá a assumir maiorpredominância.

Esta relação de força tempo (velocidade) pode serexpressa através da curva força-tempo (C f-t), ou,então, esta relação que se manifesta entre a força evelocidade pode ser representada por uma curva(hiperbólica) que denominamos por curva força-velocidade (C f-v). Ambas as curvas procuramexpressar esta relação difícil, e aparentemente con-traditória, de duas propriedades mecânicas dos mús-culos, que, a nível do rendimento se procura maxi-mizar, a saber: (1) melhorar a capacidade de desen-volver mais força em menos tempo e (2) conseguirque as estruturas musculares tenham a mais elevadaprodução de força perante um aumento de velocida-de de encurtamento muscular.Como podemos observar na figura 1, qualquer modi-ficação que se produz na C f-t reflecte-se na C f-v evice-versa. As modificações positivas na C f-t (figura1a) produzem-se quando a curva se desloca para aesquerda e significam que: (i) para produzir amesma força se tem menos tempo, ou que (ii) com omesmo tempo se alcança mais força. Se os resulta-dos são expressos através da C f-v as modificaçõespositivas produzem-se quando a curva se deslocapara a direita e o que se identifica é que (i) a mesmaresistência desloca-se em maior velocidade, ou que(ii) à mesma velocidade desloca-se mais resistência(figura 1 b).

Figura 1. As alterações produzidas na C f-t são equivalentes às produzidas na C f-v (1).

No fundo, o problema da Frap é procurar harmonizarduas capacidades motoras que, em valores absolutos,se manifestam em oposição. Tal como se pode cons-tatar pela análise da curva de Hill1 (curva de força-velocidade), quanto maior é a velocidade de acçãomuscular concêntrica, menor terá de ser a resistênciaa superar (no extremo, será sem carga, resistência =0), ou quanto maior a resistência a vencer, mais

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baixa será a velocidade manifestada (no extremo, avelocidade = 0, acção estática/isométrica). Entreestes dois extremos, existe todo um espectro de pos-sibilidades que, dependendo da carga a vencer, dotempo disponível para desenvolver força e do nívelde velocidade de execução atingido, nos permiteidentificar diferente expressões de força rápida quevamos estruturar em dois grandes sub-grupos: daforça explosiva e da potência.

FORÇA EXPLOSIVAA Força explosiva (Fexp) é o resultado da relaçãoentre a força produzida (manifestada ou aplicada) eo tempo necessário disponível. Portanto, a Fexp é aprodução de força numa unidade de tempo e expres-sa-se em N.s-1. Podemos de uma forma mais percep-tível entender e relacionar a força desenvolvida porum sujeito e a sua relação com o tempo através daanálise atenta da C f-t (figura 2). Ao contrário damanifestação máxima de força, enfatiza-se agora queessa Fmax ou percentagem seja atingida em cada vezmenos tempo. Este conceito é materializado e avalia-do pela subida (declive) mais ou menos íngreme dalinha de força na curva f-t. Este súbito incrementode força era designado por Verschoshanskij, desde oinício dos anos setenta, por força explosiva e corres-ponde, grosso modo, à mais rápida manifestação deforça no mínimo tempo. Na literatura da especialida-de, é denominada por Taxa de Produção de Força(TPF), o que significa “proporção, taxa ou velocida-de de desenvolvimento ou produção de força emrelação ao tempo” (4, 8).

Figura 2. Curva f-t durante uma contracção isométrica que se referencia e formula em expressão matemática, respectivamente,

Índice de Força Rápida, Força Explosiva e Força Inicial (3)

Esta expressão de força mede-se desde o início damanifestação de força até qualquer ponto da curva f-t. Se se mede desde o início da produção de força atéao momento em que se alcança o valor mais elevadode força [Pico Máximo de Força (PMF)] e se estaacção se fizer contra carga máxima (de preferênciacontra uma carga inamovível), medimos o queBürhle (2, 99) denomina de Índice de Força Rápida(I Fráp) e podemos definir por “Coeficiente entre ovalor máximo de força e o tempo máximo que énecessário para o valor de Fmax ser atingido”. Équantificado pela seguinte expressão matemática:

I Frap=Fmax/tmax

Este índice de Fráp exige, nomeadamente na suamaior magnitude, muito tempo para ser atingido -mais de 700 milésimos de segundos (ms) - o que émuito pouco característico da grande maioria dasacções desportivas, em que o tempo disponível sesitua, genericamente, por volta dos 250 ms. É, poroutro lado, neste período temporal que se manifes-tam as maiores expressões de Fexp. É aqui que aforça explosiva é máxima (Fexp max ou TPFmax),expressa no declive mais acentuado da linha de forçana curva de f-t e quantificada matematicamente naequação Fexp max = ∆F/∆t. Por ser esta a sub-divisãode força que nos interessa particularmente, iremos,posteriormente, fazer uma análise mais detalhada.Existem alguns autores que, de acordo com este cri-tério tempo, ainda referem uma outra manifestaçãode força que denominam por Força Inicial (3, 15, 16).Definem-na pela capacidade de nos momentos ini-ciais da tensão muscular se desenvolver a mais altaexpressão de força. É fundamental para o óptimorendimento em disciplinas em que os gestos despor-tivos requeridos são de grande velocidade inicial,como o Boxe, Karaté, Esgrima, ou em todas as acti-vidades onde haja somente um tempo disponívelreduzido e em que seja importante obter considerá-veis níveis de força. A Força Inicial é avaliada atravésdo valor de força que é alcançado nos primeiros 30ms (2, 3) ou 50 ms (15). Quando a resistência avencer é muito pequena (inferior a 25% da Fmax) eo movimento a realizar pode ser considerado denatureza balística, o factor predominante é ForçaInicial, também denominado por Taxa Inicial de

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Produção de Força (TIPF). Assim, por Força Inicialentende-se a capacidade de o sistema neuromuscularacelerar o mais rapidamente possível, desde zero(14, 16). Na curva força-tempo, a TIPF é o início dodeclive da curva (figura 2).

FORÇA EXPLOSIVA MÁXIMA OU TAXA DE PRODUÇÃO DE FORÇA MÁXIMAZatsiorskij, citado por Harre e Lotz (10), defineforça explosiva como a capacidade de obter valoreselevados de força em tempo muito curto. O mesmoquer dizer que é a capacidade neuromuscular desuperar com alta velocidade de execução resistênciasbastante altas. A força explosiva depende da veloci-dade de contracção muscular, em resultado da esti-mulação neuro-sensorial, ou seja, depende fortemen-te da intensidade da descarga dos impulsos nervosos(5, 7, 8, 9, 12).Havendo uma infinidade de possibilidades de medi-ções da força explosiva (Fexp) entre os diferentespontos da curva f-t, constata-se, no entanto, queexiste um momento em que a produção de força porunidade de tempo é a mais elevada de todo o percur-so da curva, e essa produção de força denomina-sede força explosiva máxima (Fexp max) ou Taxa deProdução de Força Máxima (TPFM). Podemos defini-la pela máxima produção de força por unidade detempo em todo o percurso de produção de força. Émedida, geralmente, em situação de força isométricaou pelo menos na fase estática de uma acção dinâmi-ca, e, por isso mesmo, a Fexp max produz-se no iní-cio da produção de força, i.e., nos primeiros 100 ms,sendo aqui que encontramos a fase de máximo decli-ve da curva f-t. Se medirmos a força dinamicamente, como se podeobservar na figura 3, o pico máximo de força (PMF)diminui gradualmente à medida que reduzimos aresistência; quanto mais rapidamente se executa omovimento, menor é o tempo de intervenção, mas,genericamente, é idêntico o nível de desenvolvimen-to de força. Isto constata-se pela forma de subida ouevolução da curva de força. Também sabemos o queacontece se as cargas a vencer forem de cada vezmais baixa magnitude: o nível de produção diminuiirremediavelmente. Assim, com resistências inferio-res a 30% da Fmax (isométrica), a inclinação dalinha da curva de f-t declina para a direita. É, no

entanto, comummente aceite que, com resistênciassuperiores a 30% da força máxima, a Fexp max éestável e pode ser sempre máxima.Segundo Badillo e Serna (1), se a resistência a vencerfor inferior a 30% da Fmax, quase imediatamenteapós o início de aplicação da força começa a existirmovimento; o corpo começa a mover-se antes de seter aplicado a força necessária para produzir o máxi-mo de força, pelo que não se consegue alcançar ovalor máximo de força explosiva Fexp, já que o corpocomeça a deslocar-se e a força aplicada por unidadede tempo é tanto menor quanto maior for a velocida-de de deslocamento. De tudo isto se deduz facilmen-te que a força explosiva máxima se produz na faseestática de qualquer deslocamento de uma resistênciae que se a resistência for muito pequena não se podeproduzir a dita força explosiva máxima (1, 22). Poroutro lado, há autores que referem que quanto maiselevada for a velocidade, menor é a expressão deforça, porque as conexões dos filamentos de actina-miosina se fazem de forma cada vez mais débil, logoé menor a tensão desenvolvida pelo músculo (5, 13).

Figura 3. Curva f-t para acção isométrica e concêntrica contra diferentescargas, em movimento de braço no lançamento de peso de um sujeito. As

setas indicam o início da fase concêntrica dos diferentes movimentos (16).

Isto leva-nos, de momento, a duas reflexões.Primeira, que a Fexp max não tem nada ou tempouco que ver com o movimento, mas sim com asua produção, e segunda, que se deduz da primeira,que é o facto de não fazer grande sentido associar aFexp Max, unicamente, com movimentos muito rápi-dos. Os exercícios explosivos (ou acções explosivas)não são os que são produzidos a grande velocidade,mas sim aqueles em que se alcança a máxima ouquase máxima produção de força em uma unidade

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de tempo (16, 387). Obviamente que a Fexp e a Fexpmax têm uma estreita relação com a velocidade demovimento perante uma determinada resistência, jáque a maior ou menor velocidade depende precisa-mente da capacidade de produzir força rapidamente.Quanto maior é o grau de desenvolvimento da força(produzido na fase estática) mais rapidamente podeser realizada a fase de aceleração (fase que começaprecisamente no início do movimento) (18).A Fexp e a Fexp max, como referimos, conseguemmaiores expressões de força em presença de resis-tências máximas ou quasi-máximas. Logo, perantecargas de tal magnitude, para além de existir umafase estática considerável, a velocidade de desloca-mento terá de ser sempre reduzida. A sua aceleraçãoé, naturalmente, baixa, no entanto, a “intenção” devencer essa carga tem de ser feita com grande explo-sividade e, assim, a velocidade de contracção muscu-lar terá de ser máxima. Há aqui que distinguir dois conceitos que muitasvezes a literatura da especialidade não tem explicita-do convenientemente: uma coisa é a velocidade deexecução de um movimento e outra é a velocidadede contracção muscular, que, não sendo antagónicas,no caso de cargas de magnitude considerável, nãosão coincidentes.É por isso que os métodos da Taxa de Produção deForça, também designados de Métodos Máximos, têmcomo objectivo incrementar a força explosiva e fazem-no através do aumento da capacidade de activaçãonervosa. Por aumento da capacidade de activação ner-vosa devemos entender todo o conjunto de mecanis-mos neurais que podem contribuir para aumentar acapacidade de o músculo produzir força, nomeada-mente o recrutamento, a frequência de actividade e asincronização das unidades motoras (UMs). Se as UMs que têm a capacidade de produção deforça mais elevada são as UMs da fibra tipo II, deacordo com o Princípio do Recrutamento das UMs,estas só serão recrutadas se a resistência a vencer forsuficientemente grande para que o limiar de recruta-mento seja atingido. Por esta razão, para mobilizaras fibras rápidas, é necessário vencer resistênciasmuito próximas do máximo individual, pois sóassim se garante o recrutamento dessas fibras.Complementarmente, para solicitar o aumento dafrequência de actividade das UMs, i.e., o número de

estímulos por unidade de tempo, é crucial que aacção muscular seja realizada de forma explosiva,logo, com uma grande velocidade de contracçãomuscular. E é aqui que reside o cerne do treino comobjectivos de adaptação neural. Assim, é no cumpri-mento desta dialéctica que se alicerçam todos osmétodos de treino da força explosiva ou, tambémdenominados, métodos de desenvolvimento da Taxade Produção de Força.Por este motivo o treino de Fexp e de Fexp max deveser realizado, preferencialmente, com cargas máxi-mas ou próximas do máximo e com uma velocidadeexplosiva de contracção muscular. Tendo em conta acapacidade de produzir força, o tempo disponível eresistência a vencer, há que ajustar o treino à especi-ficidade dos gestos e acções desportivas que se pre-tende desenvolver. Para terminar, é importante referir que a Fexp depen-de dos seguintes factores principais: capacidade deFmax, tipo e características de contracção das fibrasmusculares e coordenação intra-muscular (recruta-mento, frequência da descarga de impulsos e sincro-nismo das UMs), e que estes factores se reflectemna produção rápida de força na fase estática e iníciodo movimento e na velocidade de encurtamento domúsculo.

POTÊNCIA MUSCULARDe volta à Potência Muscular iremos começar porfazer uma abordagem sintética da sua perspectivamecânica e procurando, de seguida, aproximarmo-nos da sua dimensão de capacidade motora.O conceito mecânico de trabalho (W) refere o pro-duto da força aplicada a um corpo pela distância quepercorre na direcção da sua aplicação (W=F.d).Expressa-se em Newton.metros (N.m) ou em Joules(J), (1 J =1 N.m).Por Potência (P) entende-se a razão entre um determi-nado trabalho mecânico e o tempo em que é efectuado(P=W/t e expressa-se em Joules/seg. ou Watts).Se a velocidade é o espaço percorrido em determina-do tempo (m.s-1), teremos então que P=W/t o quepoderemos substituir por P=F.d.t-1. Daí podermosformular que a Potência é igual ao produto da Forçapela Velocidade (P=F.V), ou seja, o produto da Forçaque um segmento do corpo pode produzir pela velo-cidade desse segmento.

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O conceito de potência é, deste modo, importantepara o treino e está, naturalmente, associado à curvaf-v. A potência será, assim, o produto da força pelavelocidade em cada instante do movimento. Existetambém uma curva de potência, dependente dacurva f-v. Ou, mais importante ainda, é o melhorproduto força-velocidade conseguido através domovimento que determina o pico máximo de potên-cia, e é este que define as características dinâmicasda força aplicada durante um exercício.Tendo em atenção o que é evidenciado na curvaforça-velocidade expressa pela curva em forma dehipérbole de Hill, representada na figura 4, nota-seque, quanto mais elevada é a carga a vencer, maisforça tem de ser produzida pela componente con-tráctil e menor é a velocidade de encurtamento des-sas componentes musculares; o ponto mais elevadodesta sequência corresponde à força máxima isomé-trica (estática), já que a velocidade deixa de aconte-cer, como já referimos. Neste ponto a potência étambém nula (P = Fmáx .0). No outro extremo dacurva, joga-se uma situação inversa em que a carga éigual a zero. O músculo movimenta-se livremente, avelocidade é máxima, pelo menos teoricamente, vol-tando a Potência a ser nula (P= 0.Vmáx). Destaforma surge a curva da potência em forma de sinoque oscila entre dois limites, procurando compatibi-lizar dois factores que conceptualmente se opõemmutuamente (figura 4).

Figura 4. Partindo do pressuposto de que quanto mais elevada for a carga avencer mais força tem de ser desenvolvida e menor é a velocidade de encur-tamento muscular, poder-se-á formar uma curva que oscila entre dois limi-

tes, em forma de sino, que procura compatibilizar estes dois factores (força-velocidade) (Adaptado de 17).

A maior potência e a velocidade máxima de contrac-ção não se conseguem perante resistências ligeiras,nem quando utilizamos grandes resistências a velo-cidade baixa, mas quando realizamos o movimentocom cargas e com velocidades intermédias.Segundo a figura 4, Tihanyi (17), a curva força –velocidade e de potência será um contínuo em quese distinguem três grandes zonas:1 – Zona de influência de força maximal: onde seutiliza máxima ou grande força e mínima ou poucavelocidade. A potência desenvolvida é média oubaixa.2 – Zona de velocidade maximal: consegue-se umagrande velocidade perante resistências pequenas. Apotência será também média ou baixa.3 – Zona de potência, em que a força aplicada e avelocidade apresentam valores intermédios. A potên-cia alcança os seus níveis máximos e está ainda sub-dividida:3.1 – Parte em que o cume do rendimento é limitadopela força máxima;3.2 – Parte em que o cume do rendimento é limitadopela velocidade máxima.Poderemos interpretar que nesta zona 3 dever-se-átreinar, ao mesmo tempo, a força e velocidade na suaexpressão maximal. Esta zona joga, assim, um papeldeterminante do ponto de vista do desenvolvimentoda força e velocidade. Antigamente chamava-se a atenção para o facto deque esta relação não se podia fazer seguramente.Agora esta relação é claramente assegurada pelo con-senso dos resultados de investigação, os quaisdemonstram que o treino da força move, favoravel-mente, a curva força-velocidade para a direita.Depois do treino da Força, o músculo é mais forteem todas as velocidades de movimento desde umacontracção isométrica a uma contracção realizada àvelocidade máxima (6). O incremento da potência máxima é sempre positivopara o desportista, ainda que a melhoria possa sergerada por vias distintas e com resultados tambémdistintos. Quando se trabalha com cargas ligeiras, amelhoria da potência consegue-se perante cargaidêntica pelo aumento da velocidade de execução;mas quanto maior for a carga aplicada, a melhoria,se se produzir, terá lugar pela magnitude das cargasutilizadas, o que significa que terá havido um

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aumento da força e, provavelmente, também de velo-cidade. O objectivo do treino e as necessidades decada especialidade devem marcar a via mais adequa-da das melhorias.Os valores concretos de força e velocidade (supõe-seque estas sejam sempre o máximo possível), nosquais se alcançam a potência máxima não são osmesmos em todos os sujeitos e especialidades. Emtermos médios, a força (resistência a vencer) deveestar entre os 30 a 40% da força isométrica máximae a velocidade entre os 35 e os 45% da velocidademáxima de contracção contra resistências muitoligeiras ou nulas (5, 17). A oscilação dentro destasmargens dependerá das características do desportistae do tipo de treino realizado. Os indivíduos mais for-tes e/ou mais lentos geralmente conseguem a suapotência máxima a velocidade menor do que os maisrápidos. Como resultado, os factores que afectam tanto aforça muscular quanto a velocidade de encurtamentodeterminarão a potência que pode ser produzida.Quando a um músculo chega um impulso nervosoadequado, segundo Enoka (5, p. 307), “os principaisdeterminantes da produção de potência são o núme-ro de fibras musculares activadas em paralelo e avelocidade com que os miofilamentos podem conver-ter energia em trabalho mecânico”. Embora a produ-ção de potência seja máxima quando a força muscu-lar é de cerca de um terço do máximo, a produção depotência aumenta à medida que o músculo se tornamais forte (a área de secção transversal aumenta), e,assim, o valor de um terço aumenta (5). E daqui,desde logo, podemos depreender quão errada é, doponto de vista do treino e incorrecta na perspectivabiomecânica, a convicção de que o desenvolvimentoda força muscular induz perda de velocidade. Por outro lado, a expressão de um movimento des-portivo implica, normalmente, a execução de gestose/ou de um conjunto de gestos com que se procura aharmonização e optimização da acção de um conjun-to de músculos que têm responsabilidade na concre-tização dessa acção. Assim, uma outra possibilidadepara o aumento da potência muscular decorre damelhoria da coordenação intermuscular. A coordena-ção intermuscular expressa a capacidade da melhorcooperação possível entre os músculos agonistas,antagonistas e sinergistas, no que diz respeito ao

objectivo do movimento em causa. A melhoria dapotência muscular, que pode atribuir-se a umamelhor coordenação intermuscular, está muitodependente da especificidade do movimento, o quesignifica que não é muito transferível de um movi-mento/gesto para outro.De facto, é bem conhecido que o desenvolvimento deforça é específico de determinado padrão de movi-mento, de determinada velocidade e de tipo de acçãomuscular utilizados durante o treino. Isto é, natural-mente, ainda muito mais evidente no treino paramelhoria de potência, que, na prática, exige domíniode movimentos complexos com interferência de umconjunto de músculos geralmente multi-articulares.Só podemos, então, treinar potência, como de restovelocidade, após um domínio perfeito do gesto quepretendemos desenvolver. Quanto melhor for a mes-tria técnica do gesto, mais veloz e perfeita a execuçãoe, com isso, o produto final pretendido.De facto, o treino da potência é, antes de tudo, umaprimoramento, entre duas importantes qualidades:força e velocidade. Donde o treino da potência temde ser efectuado com uma carga leve (30-60% dacarga máxima de acordo com exigência do gesto des-portivo pretendido) e vencida à máxima velocidadede execução a tal ponto que, como Schmidtbleichergosta de caricaturar, seria possível ouvir o “silvar”do movimento; nessa medida, o treino cai fortemen-te no âmbito do treino coordenativo específico outreino técnico.

EM SÍNTESE A força explosiva e a potência devem enquadrar-seno grupo das manifestações da força muscular que,geralmente, denominamos de força rápida. Ambassão condicionadas, por esse motivo, pelo factortempo em que se realizam ou se devem realizar. Noentanto, para a força explosiva o determinante é onível de força expressa e o tempo necessário para tal,independentemente de existir ou não movimento; napotência, o factor substantivo é a velocidade comque se consegue vencer uma determinada resistên-cia, por isso, a sua expressão máxima corresponde àconjugação óptima da carga a vencer (ca. 40% daforça máxima isométrica) e da velocidade máxima demovimento que se consegue alcançar perante talcarga. Inferindo-se daí que o treino de força explosi-

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va deve realizar-se com cargas máximas e à máximavelocidade de contracção muscular, para que segaranta uma suficiente activação nervosa dos facto-res intramusculares (recrutamento, frequência e des-carga dos impulsos e sincronismo das unidadesmotoras). Contrariamente, o treino da potência deveser realizado com cargas médias, com máxima velo-cidade de execução de um determinado gesto, acçãoe/ou sequência motora específica (cooperação ópti-ma entre os músculos agonistas, antagonistas esinergistas); daí cair fortemente na esfera do treinocoordenativo ou técnico.

NOTAS1 Deixando-se contrair um músculo quando parte de idênticocomprimento mas contra diferentes magnitudes de carga, regis-tam-se diferentes velocidades de encurtamento, o que se deno-minou por relação força-velocidade. Esta relação deixa-se muitobem descrever por uma função hiperbólica que Hill (11) trans-formou num expressão matemática que é conhecida por equa-ção de Hill.

CORRESPONDÊNCIACarlos CarvalhoLaboratório do Movimento Humano Instituto Superior da Maia Av. Carlos Oliveira Campos4474-690 Avioso, S. [email protected]

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3. Bührle M (1986). Zum Grundkonzept des Kraft-undSprungkrafttrainings. In Carl K, Schiffer J (eds.) Zur Praxisdes Sprungskrafttrainings. Bundesinstitut Sportwissenschaft.

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5. Enoka RM (2000). Bases Neuromecânicas de Cinesiologia (2ªEdição). Brasil: Manole.

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7. Häkkinen K (1985). Factors influencing trainability pf mus-cle strength during short term and prolonged training.National Strength and Conditioning Association Journal 7: 32-37.

8. Häkkinen K, Komi PV (1983). Electromyographic changesduring strength training and detraining. Medicine andScience in Sports and Exercise 15: 455-460.

9. Häkkinen K, Komi PV (1985). Effects of explosive typestrength training on electromyographic and force produc-tion characteristics of leg extensor muscles during concen-tric and various strech-shortening cycle exercises. Scand JSports Sci 7, 65-76.

10. Harre D, Lotz L (1989). O treino da força rápida. RevistaTreino Desportivo, 12.

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14. Schmidtbleicher D (1984). Strikturanalyse des motoris-chen Eigenschaft. In Krafttraining Lehre des Leichtathletik.Beilage zur zeitschrift Leichathletik 35(50): 1785-1792.

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Carlos Carvalho, Alberto Carvalho

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Pedagogia da viagem. Arlequim, Mestiço, Híbrido, uma colcha de retalhos

Adroaldo Gaya Universidade Federal do Rio Grande do SulEscola de Educação FísicaPorto AlegreBrasil

Intervenção nas cerimónias comemorativas dos 30 anos da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 6 e 7 de Março de 2006

Parte: saí do ventre de tua mãe,Levante: do berço esplêndido.Segue o caminho do sol, do mar, da luz e do céu profundo.Sai da sombra oferecida pela casa paternaE as paisagens juvenis.Vai ao vento e à chuva.Lá fora, faltam todos os abrigos.As tuas idéias iniciais não repetem senão palavras antigas.Jovem: velho tagarela.

(Adaptado de Michel Serres)

A viagem dos filhos, eis o sentido pleno da palavragrega Pedagogia. Pedagogia, a viagem dos filhos, eisdo que trato nesta breve intervenção.O telemóvel soa e vibra sobre minha mesa de trabalho.Ao observar o painel luminoso, meu corpo se alegra. Éde Portugal! É do Porto! Sendo assim, num lapso detempo, revejo as probabilidades de quem está a comuni-car-se da outra margem do Atlântico: 40% Jorge Bento,30% António Marques, 20% minha filha Anelise, 8%José Oliveira, 2% alguma agradável surpresa.Atento e na expectativa. Ouço a voz pausada, grave,sonora, quase sacerdotal. É o navegador dos setemares. Jorge Bento. Nosso timoneiro. O maestro dasinfonia lusófona. Sinfonia que exalta em tom maiora solidariedade entre povos de cultura portuguesaque aprendemos a cantar.

JB me convida para participar deste evento - trintaanos da nossa FCDEF, hoje Faculdade de Desporto -e sugere (melhor seria, designa) a tarefa: falar sobremobilidade estudantil.Não dou qualquer chance ao superego. As reaçõesfisiológicas do córtex não dão espaço à intervençãodo neo-córtex. Neste momento, sou como um animalem perigo. Luta ou foge? Sou emoção e sentimento. Lembro do poeta que canta com incrível lucidez:

Seja feliz enquanto a razão estiver distraída.(Toquinho)

O convite me faz muito feliz. Não vou fugir. Vouaceitar tamanha responsabilidade enquanto a razãoestiver distraída.Aceitei o desafio. Aqui estou e creio ser desnecessá-rio expressar tanta honra, tanto orgulho e a vaidadeque faz meu corpo levitar neste momento ímpar.Muito obrigado pelo convite. Muito obrigado poresta honraria. Desejo muitos anos de vida e glóriapara nossa Faculdade de Desporto.Mas passado o instante da emoção, após aceitar ohonroso convite, seguiu a ansiedade da criação. Arazão assume o comando das ações, evidentementesem embaçar o brilho das emoções. E fico a imagi-nar: O que dizer sobre mobilidade estudantil?

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Relacionar os estudantes que do Brasil vieram aPortugal e que de Portugal foram ao Brasil? Ora! Istoos serviços administrativos de nossas instituiçõespodem fazer com maior competência. Ressaltaraspectos pitorescos dessas aventuras? Isto exigiriauma etnografia que o tempo não permitiria. Contar ahistória sobre a concepção destes projetos? Isto éuma tarefa coletiva que deve ser realizada entretodos aqueles que, em algum momento, construíramestes programas.Mas algo me incomodava. O que seria? Bem! Logodescobri. Era a expressão mobilidade estudantil. Elasoava em meus ouvidos como uma expressão fria,burocrática, sem brilho, sem emoção. Expressãomuito longe de representar a “Caixa de Pandora”onde estão guardadas alegrias, tristezas, medos,desafios, curiosidades, aprendizagens, amizades fra-ternas, abraços, lágrimas... Mobilidade estudantil...não! É muito burocrático e sem brilho. Vamos trans-formá-la numa pedagogia. Sim, num discurso peda-gógico. A pedagogia dos viajantes? Quem sabe apedagogia de encontros e despedidas? Ou, citandoRui Veloso, a pedagogia dos cavaleiros andantes?Volto à pedagogia no sentido atribuído pelas pala-vras do cientista, filósofo e poeta Michel Serres:

Nenhuma aprendizagem evita a viagem. Sob a orientaçãode um guia, a educação empurra para o exterior

Volto ao início:

Parte: sai do ventre de tua mãe, do berço, da sombra ofere-cida pela casa paterna e as paisagens juvenis. Ao vento e àchuva: lá fora, faltam todos os abrigos. As tuas idéias ini-ciais não repetem senão palavras antigas. Jovem tagarela.A viagem dos filhos eis o sentido despido da palavra gregapedagogia.

(Michel Serres)

Viagem, pedagogia, pedagogia de encontros e despedi-das: eis o mais profundo significado que neste discur-so dou a expressão burocrática mobilidade estudantil.

Pedagogia na poesia de Vitorino:

Perguntei ao ventoOnde foi encontrar

Mago, sopro encantoNau da vela em cruzFoi nas ondas do marDo mundo inteiroTerras da perdição

Terras da perdição. Pedagogia de encontros e despedi-das. Jovens que atravessam oceanos. São gaúchos,brasileiros, gremistas, que cantam e dançam o samba.Hoje jovens da cultura lusófona. Também, tripeiros,portugueses, portistas e que cantam o fado.Tripeiros de Trás-os Montes, das margens doD’Ouro. Portugueses, enfim, que cantam nas tunasuniversitárias. Hoje, também, gaúchos, paulistas,manauaras, nordestinos que dançam forró e cantampagodes.São híbridos. São mestiços. Arlequins com seusmantos furta-cores. Meninos e meninas que atraves-sam o oceano, se tornam mestiços. Arlequins comretalhos multicoloridos. Uma colcha de retalhos.Já falam em português do Brasil com sotaque lusita-no. Falam português de Portugal com gírias e “ss”do Brasil. Colcha de retalhos. Pele tatuada pela expe-riência de uma nova cultura.Não sou mais o mesmo brasileiro que um dia che-gou neste país, nesta cidade, nesta Faculdade.Tampouco minha filha é a mesma brasileira que, emsua adolescência, estudou em Espinho e, na suajuventude, mudou-se para Portugal Não somos damesma forma portugueses. Quem somos, minhafilha? Somos mestiços, brasileiros que fomos tatua-dos por hábitos e costumes desta terra. Somos mes-tiços, arlequins, híbridos. Uma colcha de retalhos.Como alguns dizem por estas bandas, para o bem oupara o mal, somos “brasucas”.Mas quem viaja, quem atravessa o oceano, leva con-sigo suas raízes. Jamais abandonaremos nossa cultu-ra de origem. Ela está tatuada, indelével em nossapele. Somos e sempre seremos brasileiros emPortugal ou portugueses no Brasil. Mas:

Depois de ter deixado a margem, permanece-se algumtempo muito mais perto de um do que do outro lado,mesmo de frente, pelo menos o suficiente para que o corpose entregue a esse cálculo e diga silenciosamente que podesempre regressar.

(Michel Serres)

Adroaldo Gaya

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Mas, feita a travessia, nos tornamos estranhos naoutra margem. Costumes, hábitos diversos. Umoutro mundo. E então, paulatinamente, se formossuficientemente inteligentes, aprendemos e apreen-demos traços da nova cultura. Vamos tecendo sobrenossa pele uma nova tatuagem. Vamos nos transfor-mando num arlequim de roupa multicolorida. Umser híbrido. Uma colcha de retalhos. Enfim, um serculto. Antes neto de uma índia Kaigang com umportuguês, nascido em Esteio, criado em PortoAlegre, gaúcho, gremista, brasileiro; hoje tambémtripeiro, portista, português. Somos duplos? É claroque não somos duplos. Somos, isso sim, um ser porinteiro, mais humano, mais solidário, mais comuni-tário. Sou, sim, um gaúcho mais português, umsujeito mais universal, um ser mais humano.

Senhores e senhoras: Pedagogia. A viagem dosfilhos, legítima aprendizagem.

Partir. Sair. Deixar-se um dia seduzir. Tornar-se em vários,enfrentar o exterior, bifurcar em qualquer direção. Nãoexiste aprendizagem sem exposição, muitas vezes perigosa.Não existe aprendizagem sem errância.

(Michel Serres)

Lua, espada nuaBanha no céu imensa e amarelaTão redonda a luaComo flutuaVem navegando o azul do firmamentoE num silêncio lentoUm trovador cheio de estrelas

(Tom Jobim)

Sim, navegando num silêncio lento. Um trovadorcheio de estrelas. Um estudante cheio de sonhos eexpectativas. Em sua bagagem muito é o que contar.Seu conhecimento científico, sua história, sua vida,sua cultura. Mas, no retorno, sua bagagem é muitomais pesada. Traz consigo suas aprendizagens danova terra. Novos conhecimentos científicos, novashistórias, uma vida que, submetida ao desafio deuma nova cultura, adapta-se. É uma nova vida.Bifurcou. Aquele que foi não é o mesmo que volta. Éum mestiço, arlequim, um híbrido, uma colcha deretalhos.

Assim como os estudantes portugueses colam emsuas capas negras os escudos que representamlocais, instituições ou algo que lhes é significativo,os viajantes tatuam em sua pele as experiências ehistórias vividas nos diversos destinos. Enfim,somos arlequins, mestiços, híbridos. Viajantes. Umacolcha de retalhos. Somos, na partida, como cera,madeira, bronze, mármore bruto, onde se moldam asmais sofisticadas obras de arte. Carregamos, emnosso ser, um infindável caderno de folhas em bran-co sempre prontas a receber novos contos, poesias,histórias reais ou de ficção. Somos uma tela ondepintamos imagens e recordações. Somos uma pautaonde a canção da existência faz eterno o fado de nos-sas vidas.Pedagogia de encontros e despedidas.

Meu caro Jorge BentoMobilidade estudantil é uma expressão muito pobrepara representar todo o significado da verdadeirapedagogia que nossas instituições subscrevem nestelegado de amizade, solidariedade, companheirismo.Nesta aprendizagem sobre os valores culturais maissignificativos de nossa existência. Repito. Somosarlequins, mestiços, híbridos. Uma colcha de reta-lhos. Pois, em cada regresso ao Porto cantamos:

Quem vem e atravessa o rioJunto à Serra do PilarVê um velho casarioQue se estende até ao mar

(Rui Veloso)

E quando retornamos, ainda no avião, ao avistar oCristo Redentor, cantamos com Tom Jobim:

Minha alma cantaVejo o Rio de JaneiroEstou morrendo de saudades.

Mobilidade estudantil uma verdadeira pedagogia.Uma pedagogia de encontros e despedidas.

Meu caro Jorge BentoPeço-lhe desculpas se minha fala, de algum modo,frustrou suas expectativas. E, enfim, aos estudantesque já foram e voltaram, aos que ainda irão e aquichegarão, dedico os versos de Milton Nascimento:

Pedagogia da viagem

Rev Port Cien Desp 6(2) 249–252252

Tem gente que chega pra ficarTem gente que vai pra nunca maisTem gente que vem e quer voltarTem gente que vai e quer ficarTem gente que veio só olharTem gente a sorrir e a chorarE assim chegar e partir.

Mobilidade estudantil. A pedagogia dos encontros edespedidas.Enfim, com versos de Pessoa e na música deCaetano Veloso, cantemos nossa pedagogia.

Navegar é precisoViver não é precisoNavegar é precisoViver não preciso.

Adroaldo Gaya

Tipos de publicação

Investigação originalA RPCD publica artigos origi-nais relativos a todas as áreasdas ciências do desporto.

Revisões da investigaçãoA RPCD publica artigos desíntese da literaturaque contribuam para a gene-ralização do conhecimentoem ciências do desporto.Artigos de meta-análise erevisões críticas de literaturasão dois possíveismodelos de publicação.Porém, este tipo de publica-ção só estará aberto aespecialistas convidadospela RPCD.

ComentáriosComentários sobre artigosoriginais e sobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como são fran-camente encorajados pelocorpo editorial.

Estudos de casoA RPCD publica estudos decaso que sejam consideradosrelevantes para as ciências dodesporto. O controlo rigoro-so da metodologia é aqui umparâmetro determinante.

EnsaiosA RPCD convidará especia-listas a escreverem ensaios,ou seja, reflexões profundassobre determinados temas,sínteses de múltiplas abor-dagens próprias, onde àargumentação científica, filo-sófica ou de outra naturezase adiciona uma forte com-ponente literária.

Revisões de publicaçõesA RPCD tem uma secçãoonde são apresentadas revi-sões de obras ou artigospublicados e que sejam con-siderados relevantes para asciências do desporto.

Regras gerais de publicação

Os artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ou experi-mentais, na área das ciênciasdo desporto. A parte subs-tancial do artigo não deveráter sido publicada em maisnenhum local. Se parte doartigo foi já apresentadapublicamente deverá serfeita referência a esse factona secção deAgradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados pelos edito-res-chefe e terão como crité-rios iniciais de aceitação:normas de publicação, rela-ção do tópico tratado comas ciências do desporto emérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, sefor considerado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. A acei-tação de um e a rejeição deoutro obrigará a uma 3ªconsulta.

Preparação dos manuscritos

Aspectos geraisCada artigo deverá seracompanhado por umacarta de rosto que deveráconter:

– Título do artigo e nomesdos autores;

– Declaração de que o artigonunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverão

ser escritos em papel A4com 3 cm de margem, letra12 e com duplo espaço enão exceder 20 páginas;

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Dimensões e estilo– Os artigos deverão ser o

mais sucintos possível; Aespeculação deverá ser ape-nas utilizada quando osdados o permitem e a lite-ratura não confirma;

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– As abreviaturas deverãoser as referidas internacio-nalmente;

Página de títuloA página de título deveráconter a seguinte informação:

– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);

– Título conciso mas sufi-cientemente informativo;

– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir graus acadé-micos)

– “Running head” concisanão excedendo os 45 carac-teres;

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– Nome e morada do autorpara onde toda a corres-pondência deverá serenviada;

Página de resumo– Resumo deverá ser infor-

mativo e não deverá refe-rir-se ao texto do artigo;

– Se o artigo for em portu-guês o resumo deverá serfeito em português e eminglês;

– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;

– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;

– O resumo não deverá exce-der as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientemente

compreensível, explicitan-do claramente o objectivodo trabalho e relevando aimportância do estudo faceao estado actual do conhe-cimento;

– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá ser

incluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;

– Os métodos deverão serajustados ao objectivo doestudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau defidelidade;

– Quando utilizados huma-nos deverá ser indicadoque os procedimentos uti-lizados respeitam as nor-

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

mas internacionais deexperimentação comhumanos (Declaração deHelsínquia de 1975);

– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a uma comis-são de ética;

– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípios acti-vos, dosagem e dosagem;

– A confidencialidade dossujeitos deverá ser estrita-mente mantida;

– Os métodos estatísticosutilizados deverão ser cui-dadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão ape-

nas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;

– Os resultados só deverãoaparecer uma vez notexto: ou em quadro ouem figura;

– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;

– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;

– Unidades, quantidades efórmulas deverão ser utili-zados pelo SistemaInternacional (SI units).

– Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os

aspectos mais importantesdo estudo deverão ser rele-vados de forma clara econcisa;

– Não deverão ser repetidosos resultados já apresen-tados;

– A relevância dos dadosdeverá ser referida e a com-paração com outros estu-dos deverá ser estimulada;

– As especulações nãosuportadas pelos métodosestatísticos não deverão serevitadas;

– Sempre que possível, deve-rão ser incluídas recomen-dações;

– A discussão deverá sercompletada com um pará-grafo final onde são realça-das as principais conclu-sões do estudo;

AgradecimentosSe o artigo tiver sido par-cialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão ser

citadas no texto por núme-ro e compiladas alfabetica-mente e ordenadas nume-ricamente;

– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normas interna-cionais (ex: IndexMedicus);

– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)

– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendo assina-lados como “dados nãopublicados”;

– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-revie-wed” será uma condição denão aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. Int JSports Med 18: 113-117

LIVRO COMPLETO

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London: AcademicPress Inc. Ltd.

CAPÍTULO DE UM LIVRO

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURAS

Figuras e ilustrações deve-rão ser utilizadas quandoauxiliam na melhor com-preensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;Cada figura deverá serimpressa numa folha sepa-rada com uma legendacurta e concisa;Cada folha deverá ter naparte posterior a identifica-ção do autor, título do arti-go. Estas informaçõesdeverão ser escritas a lápise de forma suave;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão ser evi-tadas;

Endereço para envio de artigos

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal

QUADROS

Os quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com as mes-mas regras das referidaspara as legendas e figuras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar as abreviatu-ras utilizadas no quadro.

Working materials (manuscripts)

Original investigationThe PJSS publishes originalpapers related to all areas ofSport Sciences.

Reviews of the literature (state of the art papers)State of the art papers orcritical literature reviews arepublished if, and only if,they contribute to the gener-alization of knowledge.Meta-analytic papers or gen-eral reviews are possiblemodes from contributingauthors. This type of publi-cation is open only to invit-ed authors.

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Manuscript preparation

General aspectsThe first page of the manu-script has to contain:

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Title page– Title page has to contain

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manuscript (but see work-ing materials-manu-scripts).

– Brief and highly informa-tive title.

– Author(s) name(s) withfirst and middle names (donot write academic degrees)

– Running head with nomore than 45 letters.

– Name and place of the aca-demic institutions.

– Name, address, fax num-ber and email of the per-son to whom the proof isto be sent.

Abstract page– The abstract has to be very

precise and contain nomore than 200 words,including objectives,design, main results andconclusions. It has to beintelligible without refer-ence to the rest of thepaper.

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– Include 3 to 6 key words.– Do not use abbreviations.

Introduction– Has to be highly compre-

hensible, stating clearly thepurpose(s) of the manu-script, and presenting theimportance of the work.

– Literature review includedis not expected to beexhaustive.

Material and methods– Include all necessary infor-

mation for the replicationof the work without anyfurther information fromauthors.

– All applied methods areexpected to be reliable andhighly adjusted to theproblem.

– If humans are to be usedas sampling units in exper-imental or non-experimen-tal research it is expectedthat all procedures followHelsinki Declaration ofHuman Rights related toresearch.

– When using animals allethical principals related toanimal experimentation areto be respected, and when

Portuguese Journal of Sport Sciences

PUBLICATION NORMS

possible submitted to anethical committee.

– All drugs and chemicalsused are to be designatedby their general names,active principles anddosage.

– Confidentiality of subjectsis to be maintained.

– All statistical methodsused are to be preciselyand carefully stated.

Results– Do provide only relevant

results that are useful fordiscussion.

– Results appear only oncein Tables or Figures.

– Do not duplicate informa-tion, and present only themost relevant results.

– Importance of main resultsis to be explicitly stated.

– Units, quantities and for-mulas are to be expressedaccording to theInternational System (SIunits).

– Use only metric units.

Discussion– New information coming

from data analysis shouldbe presented clearly.

– Do no repeat results.– Data relevancy should be

compared to existing infor-mation from previousresearch.

– Do not speculate, other-wise carefully supported,in a way, by insights fromyour data analysis.

– Final discussion should besummarized in its majorpoints.

Acknowledgements– If the paper has been part-

ly presented elsewhere, doprovide such information.

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References– Cited references are to be

numbered in the text, andalphabetically listed.

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– Only published or “inpress” papers should becited. Very rarely areaccepted “non publisheddata”.

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ExamplesPEER-REVIEW PAPER

1 Pincivero DM, LephartSM, Kurunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. In JSports Med 18:113-117

COMPLETE BOOK

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London:AcademicPress Inc. Ltd.

BOOK CHAPTER

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURES

Figures and illustrationsshould be used only for abetter understanding of themain text.Use sequence arabic num-bers for all Figures.Each Figure is to be pre-sented in a separated sheetwith a short and precisetitle.

In the back of each Figuredo provide informationregarding the author andtitle of the paper. Use apencil to write this infor-mation.All Figures and illustra-tions should have excellentgraphic quality I black andwhite.Avoid photos from equip-ments and human subjects.

TABLES

Tables should be utilizedto present relevant numeri-cal data information.Each table should have avery precise and short title.Tables should be presentedwithin the same rules asLegends and Figures.Tables’ footnotes should beused only to describeabbreviations used.

General address of thePortuguese Journal of Sport Sciences

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal