Revista Senge-RJ

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Edição Especial 80 anos

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  • 19301945Comonascemos

    sindicatos noBrasil

    pg7

    19451964RepblicaDemocrtica

    pg13

    19641980Aditaduramilitar

    pg18

    19802002Onovosindicalismo

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    20022011Umsindicalistano

    podereosdesaosna

    mobilizaodacategoria

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    80anosValeuapena!

    pg36

    Sumrio

    senge-rJ 80 anos de lutas uma publicao do sindicato dos engenheiros no estado do rio de Janeiroeditores: tania Coelho e eduardo s, Pesquisa: Demian Melo, reviso: eduardo s, Comunicao senGe-rJ: Katarine Flor, Celia satil, Programao Visual:

    espalhafato/stefano Figalo, Produo: espalhafato Comunicao, Fotos: Arquivo senge, Adriana Medeiros, J. r. ripper, Capa: J.r. ripper/imagens humanas.

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  • etlio Vargas chega aopoder na chamadarevoluo de 1930. o Brasilrealiza mudanas profundas

    em direo ao seu desenvolvimentocapitalista. Devido crise doliberalismo econmico a partir 1929, oestado se reorganiza e passa a intervirna economia de maneira planejada. em funo da modernizao o eixoeconmico de produo se industrializa,invertendo em 10 anos a dinmica daeconomia brasileira para taxas mdiasanuais de 11,3% da produo daindstria contra 1,2% da agricultura de exportao.

    no plano ideolgico isso se expressana incorporao de noescorporativistas de organizao dasociedade e do estado. A existncia de interesses distintos entreempresrios e trabalhadores reconhecida, mas arma-se a

    possibilidade de concili-los atravs damediao de um estado forte. Aquesto social, vista como umproblema policial na repblica Velha,torna-se uma importante questopoltica. os conitos entre empregadose empregadores, entre as classessociais, passam para a regulaoestatal. os critrios socialmente aceitospara o exerccio de certas prossestambm so objetos de legislao.

    Com esse novo esprito, o Decreto-lein 19.770, de maro de 1931, tambm conhecido como lei desindicalizao, cria a estrutura sindicalbrasileira. os sindicatos j existentesso obrigados a se enquadrar sregras de funcionamento denidas pelo estado, caso contrrio no seriam reconhecidos pelo Ministrio do trabalho e seus associados nousufruiriam da legislao socialexistente. Diversas categoriais

    prossionais no sindicalizadas, porsua vez, criaram tais entidades combase na nova legislao.

    PRIMEIRO MANIFESTO

    nesse contexto que, em 22 desetembro de 1931, foi criado por umgrupo de jovens engenheiros osyndicato Central dos engenheiros.Como descreveria alguns anos depoiso seu primeiro presidente, Jos Furtadosimas, numa bela tarde de setembrode 1931 alguns engenheiros sereuniram na sede da Unio dosempregados do Comrcio earregimentavam-se sindicalmente, a mde trabalhar em cooperao com oGoverno Provisrio. Antes disso, amais importante associao de classedos engenheiros era o Clube deengenharia, fundado em 1880 no riode Janeiro, ento capital do pas. Coma repblica, surgiram posteriormente

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    Primeira reunio da Comisso encarregada de estudar a regulamentao da profisso dos engenheiros, realizada em

    25 de maio de 1933, na Diretoria do Povoamento, a convite do sr. Ministro do trabalho. Ao centro, de culos, o primeiro

    presidente do sindicato Central dos engenheiros, Furtado simas, um dos principais animadores da campanha1930

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    associaes de classe emdiversas unidades da federao,com destaque para o instituto deengenharia, fundado em 1917 nacidade de so Paulo. em 1929 foicriada a sociedade Brasileira deengenharia. estas duas entidadestiveram destacada atuao nacampanha pela regulamentaoda prosso, ao lado do Clube deengenharia e do prprio sindicato.

    no manifesto de fundao dosyndicato pode-se ler algumasdas suas intenes originais:

    pleitear do Governo leis queprotegessem os interesses dosengenheiros nacionais contra aintromisso indbita dos leigosestrangeiros; promover estudos para aracionalizao da produo, circulao,distribuio e consumo das utilidadesdentro do territrio nacional; a criaode um Departamento de engenhariaexperimental; assegurar aos engenheirosa direo de indstrias e organizaestcnicas; modernizao e criao deaparelhos educativos para a formaode quadros tcnicos, etc.

    em 12 de abril de 1932 o presidente dosindicato envia ao Ministro do trabalhoum ofcio, com base na racionalizaoda produo, buscando apresentar acontribuio dos engenheiros para aresoluo da grave crise econmicapor que passava o pas. o ofcioprope ao Ministrio do trabalho umacomisso de salvao da economianacional, composta por tcnicos doprprio Ministrio e das demaisassociaes de classe, com vistas aelaborar um plano econmico geral.

    Participantes de conferncia sobre o petrleo realizada em 9 de fevereiro de 1939, no Clube de engenharia. Desde as primeiras discusses sobre o tema noBrasil, o sindicato sempre teve uma posio pelo monoplio estatal do petrleo

    Fac-simile do decreto da regulamentao da prosso,

    datado de 11 de dezembro de 1933, fato que levou

    comemorao, nesta data, do Dia do engenheiro

    Documento da Polcia Civil do DistritoFederal ao sindicato, pela Delegaciaespecial de segurana Poltica e socialinformando a priso dos engenheirosGasto Pratti de Aguiar, Caetano Pereira eJoaquim Francisco da silva. o primeiro acusado de ter sido o orientador da grevenas obras do edifcio do Ministrio daJustia e foi demitido, enquanto os doisltimos foram presos tambm comoagitadores comunistas que teriamprotestado contra a demisso e priso do primeiro. Gasto Aguiar tambmacusado de ter participado do levantealiancista de 27 de novembro de 1935.

    Arquivo senGe/rJ

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    Uma das principais tarefas dosyndicato, durante seus primeiros anos de existncia, foi sua importanteparticipao na campanha daregulamentao da prosso doengenheiro. Faltava proteo aosprossionais formados, e que tambmlhe indicassem atribuies, deveres eobrigaes adequadas. nessa pocaforam implantadas novas estruturasmetlicas e o concreto armado, umaverdadeira revoluo tcnica naconstruo civil, alm de outrosprocessos que exigiam especializao.A regulamentao da prosso eranecessria, devido ao nvel de saber tcnico exigido para amodernizao econmica.

    no entanto, setores ainda identicadoscom o pensamento liberal ematerialmente ligados a outrosinteresses insurgiram-se contra. osjornais criticavam uma interfernciaindevida do Ministrio do trabalho,revelando as suas convices liberais.Para o Dirio Carioca, por exemplo, a

    regulamentao seria ummonstrozinho em projeto que, sub-repticiamente, com ps de l, sepretende introduzir na legislaobrasileira. A oposio de classe maisexpressiva veio dos empresrios daconstruo civil, e o Jornal do Brasilreforou seus reclamos alertando parapossveis problemas econmicosdecorrentes da lei, como o fechamentode muitos negcios e a demisso deoperrios. Mas esta grita no impediuque as bases fossem mobilizadas pelosyndicato Central dos engenheiros eseus parceiros.

    os dois primeiros presidentes dosindicato, os engenheiros Jos Furtadosimas (que voltaria a ocupar apresidncia do sindicato entre 1938 e1943) e Csar do rego Monteiro Filho,se destacaram nesta campanhaassumindo posies nas principaiscomisses elaboradoras do cdigoprossional. Foram veiculados tambmanncios no rdio, o principal meio decomunicao de massas naquela

    poca, e artigos em jornais e revistas.em 10 de maio de 1933 o Ministrio dotrabalho concedeu a carta dereconhecimento para o sindicato, quepassou a ser denominado syndicatonacional dos engenheiros, e em abrildeste mesmo ano instituiu umacomisso encarregada de redigir otexto da lei sobre a regulamentaodas prosses de engenheiro, Arquitetoe Agrimensor. na verdade, a prossode agrimensor j estava regulamentadadesde 1887, atravs do decretoimperial n 9.827, mas a nova lei tratoudas trs prosses conjuntamente.

    o relator do projeto de lei foi opresidente do sindicato, Csar do rego Monteiro Filho, e o engenheiroDulphe Pinheiro Machado, Diretor doDepartamento de Povoamento, teve opapel de dirigir essa Comisso.representantes de outras entidadestambm participaram. Como umaconsolidao de vrios estudos eprojetos, alguns apresentadosanteriormente ao prprio Governo, em 11 de dezembro de 1933 o DecretoFederal n 23.569 regulamentou aprosso de engenheiro. no captulo 3,em 1966 tal decreto foi revogado pelalei no 5.194/66 de 24 de dezembro,que a vigente. o sindicato teve umaparticipao decisiva nesse processo.

    EXERCCIO PROFISSIONAL

    o decreto estabeleceu que s seriapermitido aos diplomados eminstituies nacionais o exerccio dasprosses de engenheiro, arquiteto eagrimensor. no caso dos diplomadosno exterior, estes deveriam revalidar osttulos. os estudos, projetos, laudos etc.s poderiam ser submetidos ajulgamento pblico quando executadospor prossionais habilitados; o mesmopara desenhos, oramentos, plantas edemais documentos, sendo obrigatrioque o responsvel anotasse seu ttulo enmero de registro. todas as rmas,sociedades, empresas etc., queoperassem na rea de engenhariadeveriam ter prossionais habilitadoscomo responsveis, a mesmaobrigao existindo tambm naadministrao pblica. tais foram asprincipais diretrizes da lei deregulamentao.

    Campanhaderegulamentaodaprosso

    homenagem dos engenheiros do instituto de engenharia de so Paulo, em visita ao sindicato nacionaldos engenheiros, em 16 de dezembro de 1939, j com a presena das mulheres

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  • Para scalizar o exerccio prossional era necessrio criar rgos pblicosresponsveis, por isso em 1934 foiformado o Conselho Federal deengenharia, Arquitetura e Agrimensura(ConFeA), no qual o engenheiro Csardo rego Monteiro Filho assumiu asecretaria-geral em sua primeiradiretoria. em seguida foram criados osConselhos regionais (CreAs), queatenderiam a demanda por scalizaoem todo o territrio nacional. Conformou-se, assim, o sistema Confea/CreA.

    outra atividade importantedesempenhada pelo sindicato foi a participao na AssembleiaConstituinte de 1933-1934, ondeconseguiu-se estabelecer na novaCarta Constitucional a criao de

    conselhos tcnicos consultivos aosMinistrios da repblica, Cmara eao senado. tais conselhos deveriamser compostos por no mnimo metade de especialistas, como seria o caso dosengenheiros prossionais. tambm nosentido de cobrar aos poderes pblicosa observncia da lei de regulamentaoda prosso, teve o sindicato de movercampanha, junto ao CreA da 5 regio,contrria a um projeto apresentado noCongresso em 1936, que buscavaneutralizar as conquistas da lei deregulamentao.

    A entidade ainda denunciou a existnciade irregularidades na nomeao de no-diplomados para a direo dediversas empresas pblicas, ou aclassicao de leigos como prticos

    de engenharia. A diversidade dessasdemandas mostrava que muitas eram as frentes de atuao, pois nesta poca ganhou vulto uma srie deempreendimentos. Muitas vezes aatuao do sindicato se fazia desde aparticipao na execuo das obras at ascalizao dos prossionais contratados.

    Como efeito da lei orgnica desindicalizao Prossional, Decreto-lein 1.402 de 5 de julho de 1939, e deoutros dois decretos leis, couestabelecida a mudana para sindicatodos engenheiros do rio de Janeiro(serJ), nome s ocializado em 4 dejaneiro de 1941. o prprio sindicatoreconhecia a impossibilidade de darconta de representar as demandas dos engenheiros de todo o Brasil.

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    Conferncia sobre o petrleo. Compondo a mesa, no canto superior, Furtado simas (o quarto, da esquerda para a direita), primeiro presidente do sindicatoque voltou presidncia no incio do estado novo

    Autorizao da Delegacia especial Poltica e social, de 5 de janeiro de 1938, para realizao de assembleia no sindicato nacional dos engenheiros. Durante todo oestado novo essa foi uma exigncia corriqueira para ofuncionamento das entidades sindicais, que alm daautorizao deveriam realizar suas reunies com apresena de um representante da prpria Delegacia.

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  • outro tema que tomou as atividades do sindicato foi o imposto sindical.institudo por lei em 1942, eleestabeleceu dentro da nova estrutura aseguinte diviso de recursos: 60% paraos sindicatos, 15% para as federaes;5% para as confederaes e 20% parao Ministrio do trabalho. embora a

    estrutura legal mostrasse a diviso doimposto nesta proporo, surgiramdvidas por causa do pagamento deimpostos tambm a outro sindicato. noentendimento estabelecido com adiretoria do sindicato dos ConstrutoresCivis do rio de Janeiro foi aceito oimposto pago pelo sindicato dos

    engenheiros, quando o engenheiroexerce atividade puramente deadministrador, cando, porm, osindicato na obrigao de observar se oseu associado se mantm realmentedentro do compromisso assumido ode s administrar.

    nesse perodo diversas correntespolticas de esquerda defendiamvariadas formas de nacionalismo.seguindo uma linha mais conservadora, a Ao integralistaBrasileira (AiB), movimento deinspirao fascista liderado por Plnio salgado, tinha posies de umnacionalismo de extrema-direita, compropostas xenfobas, anti-liberais eanti-comunistas. o sindicato, nessapolarizao ideolgica, se dedicoumais s tarefas sindicais optando por uma variante nacionalista maispragmtica e prxima ao governo deVargas. Mas, apesar disso, no estavatotalmente alheio ao clima poltico.

    A orientao ideolgica nacionalista foi uma marca desses anos. ospronunciamentos pblicos do sindicato sobre as grandes questesestratgicas do pas no poderiam serdiferentes, como no caso da instalaode uma indstria siderrgica e naquesto do petrleo. em 1943 enviado um memorial ao presidenteGetlio Vargas elogiando a atuao doConselho nacional de Petrleo, queelaborou uma poltica de exploraopara o setor. o sindicato sempredefendeu enfaticamente o monoplioestatal do petrleo brasileiro, criticandoa interveno dos trustes internacionaise o enriquecimento de alguns

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    notcia publicada no jornal A Manh, de12 de dezembro de 1941, sobre o eventono sindicato nacional dos engenheiros,com a presena do Presidente GetlioVargas. Vargas discursa em frente ao sr.Furtado simas, presidente do sindicato.legenda do jornal: Comemorou-seontem, em todo o pas, o Dia doengenheiro, que assinala a data deregulamentao, pelo presidente GetlioVargas, da prosso. no Palcio doCatete, aproveitando essa oportunidade,o presidente da repblica recebeunumerosa delegao de engenheiros,representantes de todos os conselhos, de associaes de classe e escolas deengenharia que o foi cumprimentar.reunidos no salo Amarelo, falou, emnome da engenharia nacional, o sr.Furtado simas, presidente do sindicatoda classe. Depois de vrios comentrios,o orador acentuou que, graas ao

    Presidente Getlio Vargas, a engenharia, no perodo de 1930-1940, evolura mais do que nos trinta anosanteriores. o chefe do governo palestrou com os engenheiros alguns momentos, sendo tomado nessaocasio o agrante acima.

    Disputasideolgicas

    Correspondncia do lder da Aliana integralistaBrasileira (AiB), Plnio salgado, com o sindicatonacional dos engenheiros, 29 de julho de 1937

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    particulares nacionais em detrimento da maioria. esse posicionamento polticotambm se expressou junto sautoridades polticas, para que as obrasconsideradas de interesse para a defesanacional fossem vetadas participaode rmas e engenheiros estrangeiros.

    o posicionamento poltico maisimportante assumido pelo sindicato dizrespeito ao contexto da democratizaodo pas, na etapa nal da ditadura doestado novo. A entrada do Brasil na iiGuerra Mundial no combate spotncias do eixo (Alemanha, itlia eJapo), a partir de 1942, estimulou osurgimento de uma opinio pblicafavorvel democratizao do Brasil.isso levou o prprio presidente amedidas de liberalizao do regime.Aps vrias iniciativas, em 28 de maioVargas anunciou a convocao de umaAssembleia Constituinte e de eleiesgerais para 2 de dezembro de 1945. no mesmo ano o Brasilparticipou da Conferncia deChapultepec, realizada no Mxico, e foi obrigado a considerar os direitossindicais e trabalhistas, como o degreve, para o fortalecimento do regimedemocrtico. isso mobilizou asentidades de classe brasileiras.

    o sindicato dos engenheiros do rio de Janeiro tambm deu suacontribuio. A partir de umadeclarao do Conselho tcnicoConsultivo, endossado por sua diretoriapresidida pelo eng. luiz onofrePinheiro Guedes, em 1945 registra-se a

    posio de que a legislao trabalhistavigente possua ndole nitidamentefascista, em matria de organizaosindical. o sindicato criticava osdispositivos que impediriam aampliao do quadro social dosindicato e a prpria frequncia suasede. Discordava-se ainda dasintervenes governamentais naseleies de sua diretoria. Foi aprovadauma histrica resoluo democrtica,reforando a importncia da liberdadesindical e de expresso, defendendotambm a anistia e a supresso dos rgos de opresso.

    Alguns dias depois, em 24 de maro,60 engenheiros realizaram umaassembleia histrica. Graas a umabaixo assinado de 25 engenheiros, a diretoria do sindicato dosengenheiros do rio de Janeiroconvocou uma Assembleiaextraordinria que se congurou numato de rebeldia em relao legislaosindical vigente, j que foi feita sem umrepresentante do Ministrio do trabalho.o sindicato recebeu um srie detelegramas de apoio enviados porengenheiros e entidadesrepresentativas que no puderamcomparecer. Mas, como era de seesperar, o diretor do Departamentonacional do trabalho, segadas Vianna,enviou um telegrama ao sindicatopedindo explicaes de sua diretoria. opresidente da entidade, luiz onofrePinheiro, compareceu ao gabinete deVianna e explicou que tudo foi dito eouvido dentro dos princpios de respeito

    e considerao que ambas as parteseram merecedoras. Ainda assim, possvel vericar que o Ministrio dotrabalho continuou contrariado com as posies polticas assumidas pelosindicato ao longo daquele ano, pois oprprio Ministro do trabalho, AlexandreMarcondes Filho, enviara telegramaaos sindicatos do pas para que osmesmos no realizassem reunies decarter poltico.

    A defesa da democracia pelossindicatos seria posta a prova nos anosseguintes, quando o m da ditaduradeu lugar a um regime poltico em queo exerccio do voto (embora restrito aos alfabetizados) e o pluripartidarismo(limitado pela decretao deilegalidade do PCB em 1947)conviveriam com a manuteno daestrutura sindical corporativista, criadano perodo do primeiro governo Vargas.

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    resolveu aprovar a seguinte declarao: 1.) o sindicato dosengenheiros do estado do rio de Janeiro congratula-se com todosos engenheiros, arquitetos, e com o povo brasileiro, pelo trabalhono sentido da democratizao do Brasil, considerando como umdos elementos fundamentais dessa democratizao a liberdadesindical, corolrio de liberdade de pensamento, de palavra, dereunio; 2.) o sindicato dos engenheiros considera que para aefetiva e real democratizao do Brasil torna-se indispensvel aunio de todos os brasileiros, que s pode ser conseguida comanistia ampla em relao a condenaes polticas e correlatas ecom a supresso de todos os rgos de opresso...

    Convocao Assembleia, 22 de maro de 1945.reconquistaram os engenheiros sua liberdade dereunio. Pauta: manifestao dos engenheirossobre a situao que o pas atravessa, caminhando para uma verdadeira democracia

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    clima interno de democratizao e deconfraternizao internacional, aps avitria dos Aliados sobre o eixo nazi-fascista, marcou os primeiros anos donovo regime democraticamente eleitoem 1945 no Brasil. Antes de cair,Getlio Vargas promoveu uma srie dereformas liberalizantes. isso tudo secombinou com um forte ativismosindical, que se expressou, porexemplo, na criao do MovimentoUnicador dos trabalhadores (MUt).Uma onda de greves e mobilizaes porsalrios e direitos marcou a cena poltica.

    em 1946 a mobilizao sindical atingirseu auge, com 60 greves apenas nosdois primeiros meses. o Presidenteeurico Gaspar Dutra assumiu suasfunes em meio a essa espiralgrevista. Dutra apertou os mecanismosde controle legados pela legislaoestadonovista sobre a vida dos

    sindicatos. editou decretoscom vistas a restringir o direitode greve, proibir a discussopoltica nos sindicatos esuspender eleies para arenovao das diretorias,entre outras medidas.

    o sindicato dos engenheiros do rio deJaneiro (serJ) envolveu-sepoliticamente com as foras polticasmais esquerda. o serJ promoveu,por exemplo, no salo do Clube deengenharia, uma reunio pblica domovimento Queremos Getlio!, queera liderado pelos trabalhistas e contoucom o apoio do Partido Comunista,em prol de uma Assembleia nacionalConstituinte. o evento acabouprovocando alguns atritos entre adiretoria do Clube, que cou furiosacom a presena de luis Carlos Prestesentre os oradores, alm de inmeros

    prceres do PCB, como Joo Amazonas.

    Como estava enunciado no acordo deChapultepec, do qual o Brasil erasignatrio, a liberdade de organizaosindical deveria ser observada comoum dos atributos dos regimesdemocrticos. por isso que o serJajudava na formao de intersindicais eenviou representantes ao Congressosindical dos trabalhadores do DistritoFederal, organizado por iniciativa dossindicalistas do MUt, em 1946. Aparticipao do sindicato nesseenclave foi de tal importncia que aComisso Permanente de organizaodo Congresso pediu para que o serJ

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    indicasse dois representantes para areferida Comisso, que logo daria lugar entidade Unio sindical dostrabalhadores do Distrito Federal.entretanto, essa participao no eraconsenso entre a direo.

    enquanto as duas maiores potnciasmundiais, eUA e Urss, sedesentendiam no ps guerra queeliminou o nazismo alemo, no Brasilhouve o fechamento do PCB e daCentral dos trabalhadores do Brasil(fundada em 1946). Alm dainterveno em 400 sindicatos e areedio da exigncia do atestado de ideologia, que submetia possveiscandidatos a cargos eletivos ou derepresentao sindical a um pente node suas chas. Dutra prejudicou aparticipao dos sindicalistas deesquerda, quase todos com passagenspelas delegacias de polcias polticas.tudo isso acabou bloqueando umperodo de muito ativismo sindical.

    ABAIXO O ATESTADO

    DE IDEOLOGIA

    Mesmo assim o sindicato dosengenheiros do rio de Janeiro tomouatidudes corajasoas, como a campanha

    contra a exigncia do atestado de ideologia. Por ocasio darealizao das eleies para anova diretoria, no dia 23 denovembro de 1950, o serJdivulgou uma nota no jornalCorreio da Manh manifestandodesaprovao e repdio aodispositivo que implica emexigncia de um atestado deideologia, fornecido peloDepartamento Federal desegurana Pblica para oscandidatos aos cargos dadiretoria. A nota explicava que aexigncia representavacerceamento aos direitosgarantidos em artigos daConstituio brasileira. GetlioVargas volta ao poder em 1951 eabre uma fase de mobilizaessociais, numa nova erademocrtica. Ainda neste ano oMinistro do trabalho, DantonCoelho, anunciava a revogao daexigncia do atestado de ideologia.

    PELO AUMENTO SALARIAL

    este tambm foi um perodo de muitaslutas dos engenheiros pelo aumentosalarial. A campanha foi forte

    principalmente entre os prossionaisque trabalhavam no servio pblico eem autarquias. esses setoresconformariam uma Comisso nacionalPr-Aumento dos salrios dosengenheiros, Arquitetos e Agrnomos,criada em 14 de setembro de 1950 com

    Proibio poltica no sindicato, 1946:notcia da proibio,pelo governo Dutra,da poltica nossindicatos. talmedida signicouuma volta dasprticas repressivasdo estado novo eteve o propsito de impedir que amilitncia do PCBconseguisseinuenciar ossindicatos.

    noticia publicada no Correio da Manh, em 23 de novembro de 1950, onde informado que, seguindoo exemplo do sindicato dos Jornalistas, o serJ noiria mais seguir a regra de pedir comprovante deatestado ideolgico aos postulantes s eleiespara a diretoria do sindicato

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    21 entidades na sede doserJ, que foi o principalpalco de articulao domovimento. o prpriopresidente do sindicato,luiz onofre PinheiroGuedes, foi uma gura deproa na campanha, quevisava audincias comdiversas autoridades,insclusive a Presidnciada repblica. Por outrolado, segundo nota daComisso nacional, estaenviou dois telegramas Prefeitura mas no obteveresposta. Diante destapostura intransigente, aComisso nacional seempenhou na aprovaopela Cmara dosVereadores de uma leique substanciava asaspiraes dascategorias. Ao invs de sancionar a lei, o prefeito demitiu oengenheiro PinheiroGuedes.

    Contra essa medida, aComisso se pronuncioupublicamente emsolidariedade a luiz

    onofre Pinheiro Guedes. o movimentoganha a adeso de outros prossionaiscom curso superior, e em junho de1952 organiza uma paralisao parapressionar pela aprovao na Cmarados Deputados do projeto-de-lei1.082/50. Alm destas campanhasunicadas, jornadas de reivindicaessalariais importantes continuaram aacontecer, como a de 1955 queconquistou um aumento de 40%. outraquesto tambm sensvel aosengenheiros eram as opes dodesenvolvimento econmico. nummomento em que as diculdades naeconomia brasileira levavam aorecrudescimento de setores liberaiscontrrios a uma poltica econmicaprotecionista/industrializante, muitosadvogavam a necessidade deaprofundamento do planejamentoeconmico. esse foi o caso do tambmengenheiro roberto simonsen,industrial nacionalista que ocupou adireo das principais entidades daclasse patronal desde o estado novo.simonsen no se associava asindicatos, mas suas posies ligavam-se a uma forte culturaprossional dos engenheiros. nessesentido, o serJ acabava por expressaras tendncias nacionalista e estatistaque marcaram a cultura polticabrasileira.

    n a posse da diretoria do serJpresidida pelo eng. otvio Catanhedeforam apresentadas 21 intenes danova gesto, na presena do Ministrodo trabalho de JK e o presidente doClube de engenharia, alm do primeiropresidente do sindicato. Catanhede fezuma dura crtica ao governo quanto poltica adotada para as obras deconstruo de Braslia, e denunciou oque considerava um movimentoentreguista. no toleraremosquaisquer restries aos tcnicos e tcnica nacional, pois conhecemos asobras e empreendimentos que a nossaengenharia tem resolvido comecincia e alto sentido econmico,

    declarou em sua posse.

    no havia como qualquer entidade declasse passar ao largo das conjunesda luta poltica. em maro de 1961 umacidente na adutora do rio Guandu,que garantia o abastecimento de guapara a cidade, provocou uma crise deabastecimento na Guanabara. ogovernador Carlos lacerda decretouestado de calamidade pblica. Por suavez, Arlindo laviola, que sob o governode lacerda ocupou a secretaria deViao e obras Pblicas, advertiuatravs da imprensa que a situaopoderia car ainda pior com o possvelrompimento da segunda adutora de

    lajes. Mas o abastecimento foinormalizado e o episdio acaboulevando sua demisso e a do Diretordo Departamento de guas, o eng.homero Pedrosa, provocando fortereao do sindicato. A situao couainda mais delicada quando lacerdanomeou o Brigadeiro hlio Costa para asecretaria de Viao. o sindicato dosengenheiros emitiu o seu protesto scrticas dirigidas pelo governador, e opresidente do sindicato, otvioCatanhede, pediu uma audincia paraesclarecer os fatos. laviola, que saiubastante desgastado, assumiria apresidncia do sindicato anos depois.

    SindicatoXLacerda

    nota no jornal Correio da Manh, de 9 de janeiro de 1948, fala da proposio do Conselho tcnico Consultivo do serJ de umsalrio mnimo prossional para engenheiros e arquitetos

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    PELO SALRIO MNIMO

    PROFISSIONAL

    Antes do golpe de estado que instalouuma ditadura militar em 1964, ganhouimpulso uma importante luta dosengenheiros brasileiros ao longo doperodo democrtico: o salrio mnimoprossional. o serJ havia convocadouma assembleia da categoria para odia 12 de janeiro de 1948, tendo comopauta eleger uma comisso dosindicato para estudar o caso junto aoDepartamento nacional do trabalho. ojornal Correio da Manh publicou aseguinte reportagem:

    A comisso incumbida pelo Conselhotcnico Consultivo do sindicato dosengenheiros do rio de Janeiro, emseus trabalhos preliminares, chegou concluso de que o salrio mensalmnimo, inicial da carreira deengenheiros e arquitetos deve ser nomomento de Cr$ 4.500,00. Chegouainda concluso de que o salriomensal mnimo para nal de carreira, no

    momento, dever ser de Cr$ 9.000,00.os aumentos sucessivos do incio at om de carreira seriam feitosproporcionalmente ao tempo de servio,sempre considerados como mnimos.

    o Conselho refez os clculos e sugeriuo valor mnimo de Cr$ 6.000,00. oengenheiro Jos Moacyr de Andradesobrinho, um dos maiores animadoresda campanha, relatou que a partir declculos sobre seus custos anuais em1937 escreveu um parecer que foiposteriormente utilizado pelo serJ naelaborao do salrio mnimoprossional da categoria. em outubrode 1948 a proposta enviada ao senadofoi derrotada, renascendo em 1950, nocontexto da prpria luta do serJ peloaumento dos salrios de engenheiros,arquitetos e agrnomos.

    em setembro de 1950 o serJ enviou umprojeto de lei para a Presidncia darepblica. o sindicato construiu umaproposta por dentro dos trmites doMinistrio do trabalho, com a

    participao de representativo frum daclasse e de docentes da escola nacionalde engenharia. esta previa o salriomnimo de Cr$ 8.400,00 para osengenheiros, arquitetos e agrnomoscom carteira prossional expedidaspelos Creas, responsveis pelascalizao da aplicao das leis. outroartigo assegurava o acrscimo de 20%no salrio, a cada 5 anos de trabalho nomesmo emprego, durante 5 quinqunios.

    Para os casos de prestao de serviosdo engenheiro, do arquiteto e doagrnomo durante tempo de servioinferior ao horrio regulamentar, de 43horas semanais, o salrio mnimo sexou proporcionalmente ao salrioestabelecido. no entanto, tal como nacampanha pela regulamentao daprosso nos anos 30, algunsengenheiros repeliram a proposta.esses setores falavam em prejuzosdecorrentes do aumento do custo damo de obra especializada, quegeraria inao. o mesmo teor doscomentrios foram repetidos vinte anos

    notcia do protesto dosindicato dos engenheiros daGuanabara contra os ataquesfeitos pelo governador Carloslacerda contra osengenheiros estaduais.recorte de jornal sem dataprecisa. na legenda l-se:Durante a reunio que ontemrealizou o sindicato dosengenheiros para solidarizar-se com a sociedade deengenheiros e Arquitetos daGuanabara, vtima dosinsultos do Governador Carloslacerda, foi dado a conheceraos prossionais presentes otexto da carta em que o Dr.otvio Catanhede (foto),

    presidente do sindicato, coloca-se ao lado de seus colegas e arma que o desgaste de lacerda arrastao governo ao ridculo e ao embuste, por suas solues dignas de historietas onde aparecemMandrakes e mocinhos de bang-bang.

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    depois pelo general Castelo Branco,quando, na condio de ditador, vetou alei aprovada no Congresso. Porm, apresso da categoria sobre oCongresso nacional fez com que osenado derrubasse o veto presidencial,e no dia 13 de maio de 1966 foiaprovada a lei 4.950-A/66. o autor do Projeto de lei3204/1961 original foi o deputadotrabalhista pelo estado do Amazonas,Almino Afonso, que durante o governode Joo Goulart ocuparia o Ministriodo trabalho. segundo ele, tal inciativaestava ligada s resolues aprovadaspelo Congresso de Associaes deengenheiros, Arquitetos e Agrnomosrealizado em ns de 1959.

    MEMORVEL DIA

    o salrio mnimo prossional considerado at hoje uma das grandesconquistas da categoria dosengenheiros. Apesar da lei s ter sidovotada e sancionada no regime militar,ela anal foi estendida tambm paradiversos prossionais com diploma deensino superior, como qumicos,agrnomos, arquitetos e mdicosveterinrios. Como narrou AlminoAfonso em recente entrevista, a ideiapartiu do engenheiro rubens Paiva:

    nesse interregno que vai da minhachegada Cmara Federal em 1958/59at o golpe de estado de 1964 queentra a histria da lei do salrio mnimoprossional, que abrangia inicialmentetrs ou quatro categorias, como osengenheiros, os arquitetos, osagrnomos. Como nasceu isso? eutinha um grande amigo, que pordesgraa foi assassinado pela ditaduramilitar, o engenheiro rubens Paiva[PtB-sP] (...) entrei com a proposio ea batalha no Parlamento, que no foifcil. no tive o gosto de v-laaprovada na sua totalidade, porqueveio o golpe e l fui eu para o exlio.

    Cabe lembrar a importante atuao deoutros sindicatos de engenheirosestaduais nesta campanha,principalmente o senGe-MG. osindicato mineiro foi presidido no inciodos anos sessenta pelo engenheiro civilAimor Dutra Filho, um dos redatores

    da lei do salrio mnimo prossional.nos parece mais correto interpretaraquela luta tal como fez o senhor

    Annibal theophilo Maia, o seuAnnibal, que talvez o maiorresponsvel pela sobrevivncia damemria do senGe-rJ, pois foi seufuncionrio por mais de 50 anos:

    o sindicato sempre lutou desde osseus primrdios, pelo estabelecimentode um salrio Mnimo Prossional parao engenheiro, e no decorrer de todasas gestes das Diretorias que sesucederam muito se batalhou pela suainstituio. havia, entretanto, de sepassarem vrios anos para que essaideia chegasse a bom termo. Foi no dia 12 de abril de 1966 precisamente.reunido, o Congresso nacional agoraem Braslia, rejeitou o veto presidencialao projeto de lei 4950-A, que por muitotempo havia tramitado na Cmara e nosenado Federais. neste memorvel dia,foi promulgada a lei que viria instituirem denitivo a to esperadareivindicao.

    ANNIBAL THEOPHILO MAIA

    Annibal theophilo Maia foi o funcionrioque mais tempo trabalhou no senGe-rJ,desde os anos de criao da entidade.

    em 1933 veio de Garanhuns, interior dePernambuco, para o rio de Janeiro,morar com seu tio, luiz Brasil, fundadordo sindicato. o menino Annibalacompanhava o tio em seus afazeres,tornando-se conhecido no sindicato esendo contratado em pouco tempo parao cargo de contnuo. neste cargo eledesempenhou as atividades dedatilgrafo e despachante decontabilidade e at de cobranas,tornando-se o funcionrio mais convelda entidade. Com o seu tio, Annibalaprendeu a fazer atas de reunies e abriro cofre do sindicato, segredo queguardou por todo o longo perodo emque trabalhou no sindicato. em 1969 elese aposentou como auxiliar de escritrio,mas s cou um dia afastado, sendoreadmitido como secretrio executivo,cargo que exerceu at o seu afastamentodenitivo em 22 de abril de 1997. homemde gosto artstico e cultural renado,Annibal assumiu tambm a biblioteca dosenGe e certamente um dos maioresresponsveis pela preservao damemria histrica da entidade. eleorganizou um relato que a primeiratentativa de sistematizao da histria dosindicato, aqui utilizado como uma dasfontes. Faleceu em abril de 2005, tendosido homenageado pelo Jornal deengenheiros, n.87, junho de 2005.

    rubens Paivacontribuiu diretamentepara a formulao dalei do salrio mnimo. o engenheiro era deputado pelo PtB-sPe foi morto durante a ditadura militar

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    o incio dos anos sessenta oBrasil viveu uma forteativao dos movimentossociais. Com o presidente

    Joo Goulart (1961-1964), ex-Ministro do trabalho de Getlio Vargase duas vezes vice-Presidente darepblica, os setores mais organizadosda classe trabalhadora viram umaoportunidade para encaminhar asreivindicaes e ampliar sua participaonas decises polticas do pas.

    Foi um dos momentos decisivos dacampanha do sindicato para aaprovao da lei do salrio MnimoProssional, ainda que o nal doprocesso tenha ocorrido no incio daditadura militar. outras categoriasorganizadas tambm encaminharamsuas reivindicaes histricas nesseperodo. nunca na histria brasileiraorganizaes das esquerdas eentidades intersindicais tinham sidorecebidas pelas altas esferas

    governamentais e inudo todecisivamente nosrumos polticos doBrasil. Por isso, ossetores maisconservadores eligados ao capitalestrangeiroorganizaram o golpede estado de 1 deabril de 1964.

    Foram mais de duasdcadas de ditaduramilitar, ao lado de

    outras similares no Cone sul daAmrica latina. num primeiromomento, a cassao poltica e o exlioforam a regra para aqueles que haviamorganizado as ligaes entre ossindicatos e os movimentos dos baixa-patentes. As representaes polticasdos setores que organizaram o golpe,ligadas aos interesses internacionais,ocupariam os principais postos dasreas econmica e de planejamento.

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    o rearranjo do poder resultou em novascaracterscas, e aps as principaislutas sociais os velhos pelegos voltaramaos sindicatos. Ao mesmo tempo, apoltica recessiva resultante do Planode Ao econmica do Governo(PAeG) aprofundava as diculdadesdas pequenas empresas e aumentavao desemprego. Por m, as reformasimplementadas pelo novo blocoatacavam as bases sociais do setormais organizado da classe trabalhadora.o maior exemplo foi o a criao doFundo de Garantia por tempo de servio(FGts), a primeira exibilizao dalegislao trabalhista feita no Brasil.

    Por outro lado, paradoxalmente, aditadura reforou materialmente amquina sindical, ampliando seusrecursos e tornando a maior parte dossindicatos simples referncia paraservios assistenciais e jurdicostrabalhistas. essa regra pareceucontrariada em 1967-68, no governoCosta e silva, devido a uma liberalizaodo regime que permitiu a renovao dasdiretorias sindicais e a retomada dasmobilizaes. o marco deste perodoforam as greves radicalizadas deContagem (MG) e osasco (sP) em 1968,a primeira parcialmente vitoriosa e asegunda brutalmente reprimida. Dezanos se passariam para que omovimento sindical voltasse cenapoltica brasileira.

    em junho de 1965 o sindicato dosengenheiros promoveu um seminriosobre a questo salarial da categoria,com o patrocnio do Clube deengenharia e outras entidades. A partirda formularam o piso da categoria:engenheiro estagirio 6 salriosmnimos; engenheiro ajudante 8,5;engenheiro adjunto 11; engenheiroassessor 13,5; e engenheiro consultor 16 salrios mnimos.

    logo aps o Marechal Castelo Brancoter vetado a lei, o sindicato dosengenheiros comeou a ser presididopela controversa gura de Arlindolaviola. seu nome j havia aparecido nahistria do sindicato, quando foi demitidoda secretaria do governo Carlos lacerdae o sindicato empunhou uma campanhade solidariedade aos engenheiros

    estaduais. laviola participou do nal dacampanha nacional em favor do projetode lei que institua a lei do salrioMnimo Prossional dos engenheiros,arquitetos e agrnomos. o vetopresidencial foi derrubado e levou osenado a aprovar a demanda destesprossionais por expressiva votao.Castelo Branco ainda tentou declarar alei inconstitucional, mas o Consultor-Geral da repblica, Dr. AdroaldoMesquita da Costa, considerou que seriaa negao da ordem democrtica. Anosdepois, a Constituio Federal de 1988fortaleceu a aplicao da lei 4.950-A/66,prevendo a existncia de um piso salarial proporcional extenso ecomplexidade do trabalho.

    Voltando gesto laviola, seu cartercontraditrio devia-se s ligaes ntimascom a ditadura militar. At 1980 a linhapoltica do sindicato foi de apoio eproximidade ao regime. em seu discursode posse, em 21 de maro de 1966,criticou duramente o sindicato. possvel armar que ele estava sendoextremamente injusto com a histria daentidade, que teve em sua trajetriainmeras conquistas para a categoria.em sua exposio sobre a necessidadede reorganizar o sindicato, para que eledeixasse de ser uma agremiao deintelectuais, laviola via certopreconceito na categoria ao perceber napalavra sindicato o sinnimo desubverso. todavia, premido pelascircunstncias, criticava o Ministro doPlanejamento, roberto Campos, quevisava permitir a entrada no pas dermas e engenheiros estrangeiros. oentreguismo de Campos, toconhecido pela esquerda brasileira, eraagora conjurado pelo conservadorpresidente do sindicato dosengenheiros, que denunciava obeneciamento das rmasnorteamericanas.

    Poucos dias aps a sua posse, laviolaenviou uma circular a seus associadoscom o propsito de pedir acolaborao com o novo regime,pedindo aos colegas que enviassem aosindicato uma sntese de suas ideias arespeito de trabalhos sobre a Poltica deValorizao da Classe; de esquemas decursos sobre a liderana e crticas

    generalizadas. era aparentemente algoconstrutivo e at democrtico. s quepor trs da justicativa de organizar aluta sindical de forma mais consequente,o objetivo era afastar das listas eleitoraisos anti-democratas, os nacionalistas defachada que at hoje s trabalhampara o bem estar prprio, dizia odocumento. o uso de atestados deideologia voltaram a ser exigidos, e no por acaso que laviola seja lembradocomo uma pessoa que tinha relaescom a DoPs (Delegacia de ordemPoltica e social).

    em audincia com o Presidente darepblica, General emlio GarrastazuMdici, que presidiu o perodo mais durodo regime militar, em dezembro de 1969,laviola entregou um memorial ao ditador.no documento ele elogia o empenho dogoverno em promover odesenvolvimento econmico e pede umaao governamental para a valorizaodos salrios dos engenheiros earquitetos do servio Pblico. Asgestes de laviola, como todas dapoca, tambm primaram pelomelhoramento das instalaes dosindicato, alm do reforo nos serviosoferecidos pela entidade a seusassociados. o balano nal denota ocarter ocialista assumido pelaentidade por esses anos.

    o sindicato passa a ser denominadoem 1972 sindicato dos engenheiros doestado da Guanabara (seeG), apsalguns anos de indenio. esse ttulofoi alterado algumas vezes, at que emmaro de 1978 passou a adotar onome atual de sindicato dosengenheiros no estado do rio deJaneiro (senGe-rJ). no dia 23 demaro de 1973 foi inaugurada uma novasede, no local onde se encontra athoje, no edifcio so Borja da avenidario Branco, centro do rio. Apsalgumas iniciativas de laviola junto aoMinistrio do trabalho, a base territorialdo sindicato foi estendida para todo oestado do rio, com exceo domunicpio de Volta redonda, que jpossua um sindicato dos engenheiros.Um dos legados mais importantes deste perodo foi a extenso da baseterritorial do sindicato.

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  • em 1984 o rio de Janeiro promove seu primeiro comcio pelas Diretas. no obstante as maiores manifestaespblicas j realizadas na histria do pas, no dia 25 de abril, a emenda Constitucional Dante de oliveira foi derrotadapor falta de qurum. o sindicato expressou em seu boletim: a votao da emenda Dante de oliveira teve duplosignificado para a nao. A derrota do povo, trado por parlamentares divorciados das aspiraes populares,insensveis s maiores manifestaes de nossa histria poltica; e a vitria consubstanciada no avano da conscinciapopular, na maior participao das massas no processo poltico e na desmoralizao do Colgio eleitoral.

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  • ps o Ai-5 a ditadura militarviveu sua fase de terrorismode estado mais acentuada.Com a aniquilao da

    resistncia e a realizao do projeto deretomada da expanso econmicacapitalista, expressa no chamadoMilagre, os artces do regimeanunciaram intentos de liberalizao. oanncio do presidente Geisel para umatransio democracia era tambm oresultado do cansao da sociedade emrelao prpria ditadura.

    Clandestinas ao longo da dcada desetenta, as organizaes da esquerdalutram contra as altas taxas deexplorao, as jornadas extenuantes,os baixos salrios e pssimascondies de moradia encontradas nosgrandes centros industriais. no ABCpaulista explodiram as mais

    importantes mobilizaes sindicais. os analistas sociais deram a essaretomada o nome de novosindicalismo, para referir-se s lutassindicais que pipocaram no Brasil nocontexto da abertura democrtica. noplano poltico-partidrio surgiu oPartido dos trabalhadores (Pt),formado pelas lideranas sindicaisligadas ao grupo de lula, setores daigreja, dentre outras personalidades docampo progressista.

    no plano da organizao sindical, aexpresso maior foi a criao daCentral nica dos trabalhadores(CUt), em agosto de 1983, noCongresso nacional das Classestrabalhadoras (ConClAt), realizadoem s. Bernardo (sP). o senGe-rJ tevepapel central em sua estruturao,tanto no plano nacional como regional.Alguns grupos se opuseram CUt eaglutinaram sindicatos urbanos, rurais ediversas federaes e confederaesem torno de uma Coordenaonacional das Classes trabalhadoras(tambm ConClAt), criada no mesmoano de 1983 e que daria lugar CentralGeral dos trabalhadores (CGt). nosanos 1990 muitos deles ingressariamna CUt, e surgiriam outras entidadescomo a Fora sindical, que ganhavaapoio do governo e empresariado peloseu apoio lgica do capitalismo.

    entre os engenheiros, que estiverampresentes em todo esse processo,tambm ocorreram divises. nasprimeiras diretorias da CUt,sindicalistas vindos dos senges,

    principalmente do rio e Bahia, forameleitos para cargos dirigentes. os deso Paulo, no entanto, se opuseram. Avinculao dos sindicatos deengenheiros s lutas do novosindicalismo vinham ainda dos ns dosanos 1970. Mesmo a Federaonacional dos engenheiros, fundadapouco antes do golpe em 1964, viveuuma fase de reaglutinao.

    A acelerao do desenvolvimentocapitalista no Brasil desde os anos1950 aumentou o nmero deengenheiros assalariados,particularmente nas empresas estataise nas empresas de consultoria. essamudana renovou a base social dosindicato, que comeou a se articularna luta pela redemocratizao do pas.A partir de 1977 um grupo de ativistasclandestinos comeou uma campanhade liao ao senge-rJ, preparandouma disputa da direo do sindicatocom o incrustado grupo de laviola.Como contam esses ativistas, naquelaocasio laviola lanou mo doexpediente de enviar as chas dosnovos liados ao sindicato para oDoPs. A campanha que em setembrode 1979 levou renovao da diretoriado Clube de engenharia animou osativistas com a eleio da chapaCentenrio liderada pelo engenheiroPlnio reis de Catanhede Almeida. naseleies realizadas em 1979 umachapa de esquerda liderada peloengenheiro Jorge Bittar ganhou adireo do senGe-rJ, marcando aguinada poltica mais importante nahistria do sindicato.

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    Jorge Bittar(presidente de 1980 a 1986)

    A eleio de nossa diretoria para dirigir o senge em 1980 teve um signicado muito especial. era a consagrao deum perodo de retomada das lutas democrticas no pas com a reativao de importantes entidades representativasda sociedade, particularmente dos sindicatos. A retomada do senGe por uma gesto de natureza democrticapermitiu que ns pudssemos dar uma nova direo ao trabalho sindical. sobretudo por reconhecer que, desde osanos 60 e 70, houve transformaes importantes no papel dos engenheiros na sociedade, particularmente no setorprodutivo. os engenheiros tiveram a sua atividade muito massicada, fruto de um processo natural dedesenvolvimento da economia, do capitalismo nacional, motivando, portanto, um assalariamento muito intenso danossa prosso. Passamos a representar milhares de prossionais de engenharia. nossa luta contra o achatamentosalarial foi muito importante. Criamos associaes de engenheiros e/ou de servidores das empresas estatais emmuitas empresas que no tinham ainda tradio de sindicalismo. o sindicato teve tambm uma atuao muitoespecca em defesa da tecnologia nacional, em articulao com entidades como o Clube de engenharia, o CreA euniversidades. tivemos que travar uma dura luta contra o desemprego dos prossionais da rea de engenharia. nsajuizamos o primeiro dissdio coletivo dos engenheiros, visando denir uma data-base e lutar por reajustes dossalrios. isso se transformou em uma grande ao na Justia do trabalho. As empresas resistiram, mas obtemosvitrias na Justia. e fomos muito solidrios com outros setores da sociedade que lutavam tambm pela renovaoda vida sindical. o sindicato era um espao da retomada das lutas sociais e das lutas pela democracia em nossopas. Participamos de todos os processos de retomada das relaes intersindicais, e particularmente, da construoda Central nica dos trabalhadores (CUt). Como representante do sindicato dos engenheiros tive o privilgio depresidir a principal plenria da Conferncia nacional da Classe trabalhadora (Conclat), em 1981, representando onosso trabalho no rio de Janeiro, que extrapolava o limite do nosso sindicato. Participamos ativamente da luta dasDiretas, e de todas as lutas democrticas e realizamos muitas conquistas importantes para os engenheiros e para asociedade brasileira. o sindicato dos engenheiros uma referncia importante da sociedade carioca, do estado dorio de Janeiro e brasileira. longa vida para o nosso sindicato!

    A partir desta gesto o senGe senotabilizou por sua participao ativanos importantes episdios da luta pelademocracia, pela soberania nacional eem defesa da valorizao prossionalda categoria. Auxiliou tambm nacriao de associaes deempregados de empresas estatais apartir de 1981. o novo presidentedenunciava a dependncia tecnolgicado exterior como principal diculdadeno mercado de trabalho pelosengenheiros, alm da prpria criseeconmica que o Brasil enfrentava. osindicato no responsabilizava oaumento do nmero de vagas nasescolas de engenharia como causa dodesemprego na categoria. Foicertamente uma mudana histrica noperl do sindicato, que passou a seidenticar com uma combatividade noencontrada em outros momentos desua trajetria.

    em paralelo, a lei do salrio MnimoProssional era desrespeitada emmuitos casos. Aparecia na imprensa,

    quando eram anunciados empregospara engenheiros com remuneraoabaixo do piso de seis salriosmnimos. eram regulares as dennciasde associados ao DepartamentoJurdico do sindicato. As empresasregistravam os empregados com outrasatribuies para xar-lhes os salriosconvenientes aos seus interesses. osenGe orientou seus associados queestivessem em situao semelhante aprocurarem o Jurdico, para que osindicato pudesse patrocinar uma aojunto Justia do trabalho paragarantir a remunerao justa e adignidade dos engenheiros.

    seguindo uma poltica econmicacontestada pelos movimentos, no mde 1980 o governo decretou o m dosalrio mnimo prossional de diversascategorias de nvel superior. Mais decem entidades de todo o pas enviaramabaixo assinado ao PresidenteFigueiredo, alm de terem organizado oenvio de milhares de aerogramas aosparlamentares e de uma caravana a

    Braslia para exigir do Congresso asuspenso do tal artigo.Posteriormente, o Plano Bresser criou o salrio Mnimo de referncia, quevoltou a ameaar essa conquistahistrica.

    A Federao nacional dos engenheiros(Fne) promove em 1982 o ii encontronacional dos sindicatos dosengenheiros, propondo a defesa datecnologia nacional e a democratizaoda Universidade brasileira comoprincipais bandeiras. na ocasio foiaprovada a Carta de niteri, queapontava a necessidade de uma novapoltica industrial que garantisse aretomada do desenvolvimentoeconmico e das contrataes nomercado de trabalho. o senGe-rJtambm participou ativamente no 1ConClAt, enviando 15 delegados comdireito voto, evento que foi um marcona histria do movimento sindicalbrasileiro.

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    Ao contrrio dos argumentos dogoverno, que recorria ao FMi paraemprstimos que aumentavam a dvidabrasileira e exigia cortes de gastos nasreas sociais e investimentos pblicos,o senGe indicava como responsvelpela crise o modelo dedesenvolvimento econmico adotadopela ditadura. eram feitas obrasfaranicas nanciadas com oendividamento externo. no balano da gesto de Bittar no senge consta acampanha contra um decreto do

    governo, que reduzia os reajustessalariais, e o aumento do prestgio dosindicato com a ampliao do nmerode seus associados; em 1982ultrapassou a marca dos 10 mil. essadiretoria foi reconduzida para uma novagesto em 1983 e se destacou nosmovimentos pelo m da ditadura.

    em 1983 a campanha Diretas j! pelaredemocratizao do pas ganhou novompeto, com a formao de um grandemovimento social em torno das eleies

    para a presidncia da repblica. nodia 07 de dezembro foi criado o Comitrio Pelas eleies livres e Diretas paraa Presidncia da repblica, e osenGe-rJ embalado pelo movimentotambm formou seu prprio Comit dosengenheiros e desenvolveu intensamobilizao em suas bases. osocilogo herbert de souza, oBetinho, foi uma das personalidadesque transitou com certa frequncia nasede do sindicato e em frunspromovidos por este.

    Maria Jos sales(ex-diretora senge-MG e primeira diretora mulher da FisenGe)

    Foi avassalador o movimento sindical na dcada de 80. Comeou no rio de Janeiro. As vitrias se sucederam e ossindicatos saram das mos da direita e passaram a ter um papel preponderante na sociedade. o senGe umsindicato importantssimo na cidade do rio, porque ele fez interlocues e abriu sua sede para todas as categorias.Vrios movimentos tiveram origem na sede do sindicato. A comemorao dos 80 anos um marco no sindicalismodo rio de Janeiro e no sindicalismo brasileiro. essa histria tem que ser contada, fazer parte de teses, dissertaese livros, porque o que mais mudou nos ltimos tempos foi o mundo do trabalho, e o sindicato viveu bem essa crisesindical porque elegeu polticas pblicas para trabalhar: a poltica de saneamento, de energia, que so polticas queesto tendo outro rumo no pas. e, no temos dvida, que vai desempenhar sempre um papel importante dentro doestado e do movimento sindical. Ainda h muito a fazer. estamos fechando um ciclo, outros comeam a abrir novosciclos e, assim, a luta continua.

    lideranas assumem mudana histrica no perfil do sindicato, que passou a se identificar com uma combatividade no encontrada em outros momentosde sua trajetria

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    Aps a derrota do movimento pelaseleies diretas, o penoso processo de redemocratizao volta-se para as esferas do poder. todo o ricomovimento popular que lotou as ruasdo pas viu surgir como nicaalternativa a candidatura oposicionistade tancredo neves para a sucessopresidencial. o drama da eleioindireta de tancredo contra o candidatocivil da ditadura militar, Paulo Maluf, e asua doena e morte seguida da possede seu vice, Jos sarney, so episdiosbastante conhecidos dos brasileiros.

    o movimento popular organizado pelasbases teve importante participao naelaborao da nova Carta Magnapromulgada em 1988. o senGe seengajou no Movimento nacional Pr-Constituinte, exigindo a revogao oualterao profunda dos instrumentosjurdicos de exceo oriundos daditadura, entre eles as leis desegurana nacional, imprensa, Greve ea Clt, dentre outras. o senGe tambmparticipou de um Plenrio nacional pr-Participao Popular em busca deelaborar pontos de exigncias Assembleia Constituinte. Foramcolocados paineis de acompanhamentodos trabalhos constituintes De olhona Constituinte em praas e locaisde grande circulao pblica em todo o

    pas. o senGe-rJ ainda colheuassinaturas em suas bases para aspropostas de iniciativa popular Constituinte e tambm integrou oMovimento Cincia e tecnologia naConstituinte para o Desenvolvimentosocial, que era contra a produo dearmas nucleares.

    o processo de democratizao dosindicato dos engenheiros no estadodo rio de Janeiro teve como objetivo aampliao do nmero de engenheirosassalariados, principalmente nasempresas estatais e nas empresasprivadas de consultoria. por isso que,alm de continuar a defender osprossionais liberais, o senGe-rJintegrou-se aos movimentos gerais de reivindicao dos assalariados.

    o sindicato teve forte atuao em favordesses dois setores. Ao lado de outrossete sindicatos, o senGe-rJ participouativamente da direo da campanhapelo dissdio coletivo em 1986. no dia 3de julho de 1986 foi realizada, durante24 horas, a primeira greve pelosempregados de consultoria. Aparalisao reivindicava o aumentosalarial, a eleio de representantessindicais e reduo da jornada detrabalho para 40 horas. Poucasreivindicaes foram alcanadas,

    mas se conquistou a mudana dadata-base do setor, o piso-salarial e oauxlio-creche.

    nas empresas estatais a participaodo senGe-rJ foi intensa nascampanhas salariais, nas greves e nadenncia dos intentos de privatizao.Foi destas mobilizaes que, ao nal dadcada, surgiu o Frum das estatais.Dentre tais mobilizaes destacou-se agreve de 24 horas dos trabalhadoresda embratel, em 1987, que levou 12 milpessoas para as ruas em protestocontra a quebra do monoplio estataldas telecomunicaes. Vitoriosa, amobilizao obrigou a empresa arevogar o contrato.

    Muitas vezes o senGe-rJ atuou emcoordenao com outros sindicatos eentidades de base, como na campanhasalarial dos funcionrios de Furnas, emoutubro de 1987. Depois de uma fortegreve, a direo da empresa foiobrigada a negociar e estabeleceu umacordo bem prximo do queesperavam os sindicalistas.importantes seriam tambm as grevesgerais na dcada de 80, todas com aparticipao ativa do senGe-rJ. Mas ogoverno tambm no brincou emservio, e a represso foi implacvel.

    eliomar Coelho (1 secretrio de 1980 -1986)

    ns recebemos os ventos do processo de democratizao. no movimento dos engenheiros resolvemos trabalhar anossa participao de forma mais efetiva nas nossas entidades. Fizemos um grande trabalho de mobilizao.Primeiro, convencer o engenheiro da necessidade de se liar, porque, no fundo, ele s queria saber do Clube deengenharia. Convencendo-o, ento, era preciso levar a proposta para a inscrio como sindicalizado. isso envolveumuita gente e chegou a um processo eleitoral. Fomos para fora do Clube de engenharia fazer nossas reuniessemanais, porque o presidente do sindicato pediu uma lista de todo mundo que participava e entregou ao sniresultando na priso de vrios companheiros. Ganhamos a eleio e demos realmente outra cara ao sindicato dosengenheiros, com um amplo trabalho junto aos engenheiros nos seus locais de trabalho. Vou citar o exemplo deFurnas, quando zemos seminrios com os prossionais e ajudamos a construir a entidade que veio a ser chamadadepois Associao dos empregados de Furnas. essa foi a nossa luta, resistindo e trabalhando. no poderia, deforma alguma, deixar de falar que, num determinado momento, a prosso do engenheiro cou um poucoprecarizada. nossa diretoria trouxe dois sindicalistas da Frana e convidamos a representao de vrios sindicatospara o rio de Janeiro. Passamos uma semana na Quinta da Boa Vista discutindo como deveria ser dali para frenteos rumos do nosso sindicato. no teve um momento da democratizao desse pas que o sindicato no estivessepresente. e claro que, por conta dessa histria vigorosa, o nosso sindicato forjou um expressivo contingente depessoas que hoje esto na poltica.

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    no m a greve geral foi bem sucedida eacabou forando o governo a buscarentendimentos com os representantesdos trabalhadores, propondo um pacto social. na ocasio, a CUtarmou que aceitava dialogar, mas sem aceitar sacrifcios, troca favores e venda de promessas vazias. e em 12 de janeiro de 1987 foi enviavadauma lista de 19 reivindicaes aogoverno sarney: a adoo do ndice do salrio mnimo calculado peloDieese, jornada de 40 horas semanais,

    liberdade e autonomia sindical,raticao das convenes 85 e 151 da oit, etc. no sentido contrrio, ogoverno sarney apresentou o PlanoBresser, que propunha o maior arrochosalarial at ento visto.

    o volume de contradies acumuladasno pas, em meio a uma descontroladainao, levava a uma capacidade deresistncia e luta cada vez maior porparte dos trabalhadores. Deste modo,em 20 de agosto de 1987 tem lugar

    nova greve geral, feita em torno a trseixos: contra o pagamento da dvidaexterna, contra o Plano Bresser e pelaseleies diretas para presidente.

    essa conscincia sobre oassalariamento dos engenheiros fezparte das discusses feitas peladireo do sindicato com suas bases.Mas nem todos tm essa clareza,muitos se identificam mais com aempresa em que trabalham.

    Agostinho Guerreiro(2 secretrio de 1980 a 1983 e 2 Vice-Presidente de 1983 a 1986)

    o senGe-rJ foi e muito importante no s para os engenheiros, mas para toda a sociedade brasileira. nesses 80anos se empenhou e fez crescer o movimento pela democratizao das nossas entidades, como o Clube deengenharia, o Conselho regional de engenharia, Arquitetura e Agronomia - CreA, a sociedade dos engenheiros eArquitetos do estado do rio de Janeiro - seAerJ e o prprio senGe. sua ao foi determinante. Contribuiu para acriao da Central nica dos trabalhadores CUt, para a criao de um novo sindicalismo e para ademocratizao denitiva do Brasil. Unidos, os movimentos sociais venceram a ditadura militar e consolidaram ademocracia com a Constituio de 1988. Vivemos intensamente, na direo do senGe, nas ruas, esses momentoshistricos, fazendo histria.

    Manifestantes em praa pblica: todo o rico movimento popular que lotou as ruas do pas viu surgir como nica alternativa a candidatura oposicionista de tancredo neves para a sucesso presidencial

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    o senGe-rJ, portanto, sentia desde oincio dos anos 80 a necessidade departicipar das lutas sociais,econmicas e polticas do pas. ochoque dos assalariados contra aclasse capitalista ou o Governo reflete-se frequentemente em manifestaes,paralisaes e greves. A direo dosindicato no tem dvidas que fazparte da classe trabalhadora edefende seus interesses.

    o volume de campanhas, greves,manifestaes pblicas etc., em que osenGe esteve envolvido representaum momento alto da histria dosindicalismo e da participao dostrabalhadores organizados noprocesso poltico brasileiro. isso eraindito na histria do prprio sindicato,pois no pr-64, quando o movimentosindical brasileiro tambm viveu um deseus pontos altos, o senGe no seenvolveu to amplamente com as lutasgerais da classe trabalhadora. o dadonovo fundamental foi o processo deassalariamento crescente da categoria.naturalmente o sindicato dosengenheiros participou do campo dasociedade brasileira que se unicouem torno da candidatura de lula (Pt) presidncia da repblica nas eleiesde 1989. Apesar de superar asexpectativas, lula perdeu a eleiopara um lho da oligarquia brasileira,Fernando Collor de Mello.

    no Brasil os anos noventa sempresero lembrados como a dcada doneoliberalismo, quando os sucessivosgovernos privatizaram as empresaspblicas e iniciaram a exibilizaodos direitos sociais. A prpriaConstituio de 1988, resultante docontraditrio processo de

    redemocratizao do pas, queconsagra diversos direitos sociais e aobrigao do estado de prover osservios bsicos de educao, sade,saneamento e segurana populao,passou por uma perodo de reviso.esta se tornaria a base legal para ascontra-reformas neoliberais, que

    Agamenon oliveira(presidente 2007/2008)

    Assumi a presidncia do senGe por conta do compromisso da diretoria fazer uma espcie de rodzio: um colegiadoelegia o presidente e revezvamos. Vivemos, por exemplo, nesse perodo, a luta dos engenheiros de Furnas contraum Plano de Carreira que a empresa tentava implantar, no qual os engenheiros perdiam a perspectiva de carreira.Com forte mobilizao conseguimos reverter a situao. A questo da privatizao, do ponto de vista mais amplo,nunca deixou de acontecer. Muda de forma, como o lobo vai mudando para pegar os trs porquinhos. o que estpor trs de tudo isso uma sobrevalorizao do mercado. isso continua e nunca parou. ocorreram mudanasimportantes na transio de FhC para lula, mas nenhuma radical. na dcada de 90 tnhamos claro que aprivatizao era danosa e lutamos contra a entrega da Vale, Csn e outras empresas. hoje a poltica mais difusa,embora seja to prejudicial quanto. Do ponto de vista dos engenheiros, houve uma mudana e existe grandediculdade de mobilizao e existe descrdito na poltica, o que timo para a direita, porque se ningum quersaber de poltica eles resolvem sem a nossa participao. todo o movimento sindical est sofrendo esta crise departicipao. As profundas mudanas ocorridas no mundo do trabalho e a possibilidade cada vez mais concreta daimplementao do projeto neoliberal lanaram-lhe o seguinte repto: recicla-te ou te devoro.

    Plebiscito da Dvida externa, promovido de 2 a 7 de setembro de 2000, no rio de Janeiro

    Oneoliberalismoealutacontraasprivatizaesnosanos90

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    formou o desenho das polticasgovernamentais no perodo. A derrotade lula para Collor no segundo turnodas eleies presidenciais de 1989jogou um balde de gua fria no rico processo de mobilizao sindical e popular.

    Foi uma dcada marcada pelafragilizao das entidades sindicais, apartir de uma poltica deliberada dossucessivos governos e dosempresrios. Alm do deslocamentodas plantas industriais para locais semtradio de luta sindical, as prticas daterceirizao e fragmentao dasprprias unidades produtivas emdiversas pequenas empresasconformariam uma nova paisagem dasreas urbano-industriais. o Brasilexperimentou a sanha governamentalcontra os direitos dos trabalhadores, enos anos 1990 os ataques eram cada

    vez mais violentos contra os aparelhossindicais. Um dos artifcios utilizadosera o desrespeito s normas legais quegarantem aos dirigentes sindicais suaestabilidade no emprego. haviatambm o desao de garantir arepresentatividade das entidades numcontexto de alta do desemprego, ondeuma parte signicativa dostrabalhadores empregados noconhecia o contrato formal deemprego. Um exemplo disto foi achantagem feita base operria dosindicato dos trabalhadores daCompanhia siderrgica nacional(Csn), em Volta redonda, para aprivatizao da empresa e a entregada direo de seu sindicato Forasindical. A direo da Csn ameaouos trabalhadores de demisso caso achapa da CUt fosse novamentevencedora no pleito sindical, e logo

    aps a privatizao 10 mil operriosforam demitidos.

    Datam do incio dos anos oitenta asprimeiras denncias do senGe-rJ poltica de privatizaes. o Planonacional de Desestatizao (PnD),apresentado pelos porta-vozes dogoverno como a panaceia pararesolver os problemas da economiabrasileira, desde essa poca j vinhase gestando. tendo em sua base socialmuitos engenheiros das empresasestatais, o senGe-rJ desempenhoupapel ativo na luta contra asprivatizaes durante a dcada de1990 atuando na linha de frente commobilizaes de rua, campanhas deesclarecimento, produo de cartilhasinformativas e atividades contra osplanos de desestatizao. em outubrode 1993 denunciou as falcias emtorno do PnD, mostrando que, at

    aquela altura, das 24 empresasprivatizadas, 13 foram vendidas pelopreo mnimo exigido nos leiles.nesse sentido, o governo gastou maiscom as privatizaes do que arrecadoucom as empresas vendidas.

    Com o fenmeno de assalariamentodos engenheiros generalizado noterritrio nacional, em alguns estadosos sindicatos continuariam a operar deforma tradicional, o que esteve na basedas disputas dos engenheiros cutistas

    no interior da Federao nacional dosengenheiros nos anos oitenta e quedesembocaria na criao daFederao interestadual de sindicatosde engenheiros (Fisenge) em 1993,movimento em que a atuao dosenGe-rJ foi decisiva. Foi um perodode retomada das mobilizaes dosindicato, antes impulsionadas pelagerao que tinha Jorge Bittar nadireo da entidade. esse grupo foiresponsvel pela renovao quemarcou a histria do sindicato. Com a

    retomada das lutas o senGe foi alvode represlias por parte dos governosneoliberais, pois o sindicato e seusdiretores se colocaram na linha defrente do combate a essa agenda anti-nacional. Para diretores do senGe emoutros estados, como na Bahia, agesto carioca foi a primeira aps operodo de represso a ser compostapor uma administrao mais esquerda, servindo de exemplo paraoutras regies. A diretoria que assumiuse comprometeu a realizar um rodzio

    Clvis nascimento (presidente 2001/2004)

    Fazer parte dessa gloriosa histria motivo de muito orgulho e satisfao. Anal, so 80 anos de lutas em prol dosengenheiros e da engenharia nacional, com efetivas contribuies ao desenvolvimento da nao brasileira. este osindicato dos engenheiros no estado do rio de Janeiro. Precisamos lembrar que somos um pas, e temos quepreservar a memria da luta dos trabalhadores. Quando dizem que o Brasil um pas sem memria, o que se diz,na prtica, que ele conta a sua histria pela voz da sua elite, pelo vis do capital. em nome de todos que derama sua vida, que lutaram, eu gostaria de reverenciar o engenheiro rubens Paiva, e sua participao, que poucosconhecem, na conquista da lei do salrio mnimo profissional. Foi uma luta histrica, com dcadas de mobilizaoda categoria. e quem conta essa histria o advogado Almino Affonso, autor da lei do salrio mnimo profissional:a lei partiu da iniciativa de rubens Paiva, eleito em 1962 deputado federal pelo PtB-sP. Com o golpe e acassao do seu mandato, rubens Paiva seguiu para o exlio, e, logo depois, retornou ao Brasil, quando foi presoem 1971, torturado nos pores do Doi-CoDi e assassinado pelos agentes da represso. isso histria. Precisaser escrita e lembrada.

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    na gesto, de modo a democratizar ainstituio em sua prtica interna. orevezamento na presidncia eraescolhido pelo colegiado da diretoriaeleita a cada ano. o resultado disso que atualmente todos tmpraticamente o mesmocomprometimento e nvel de deciso, eas discusses so feitas sempre comum bom nivelamento e respeito. Ainsero de muitas mulheres naadministrao do sindicato outrosintoma desse processo.

    Uma das lutas travadas pelo senGecontra a desestatizao foi a dosistema eletrobrs, que compreendiaempresas pblicas como Cepel,Furnas e light. o presidente itamar

    Franco havia assinado um decretoautorizando a formao de consrciosentre empresas pblicas e privadaspara a construo de novas usinas econcluso das j iniciadas. Aprivatizao da light, includa poritamar no PnD, se seguiria daspolmicas privatizaes da Vale do rioDoce e da prpria Petrobrs. ogoverno de FhC reprimiuviolentamente as entidades sindicaisdos trabalhadores da Petrobrs,quando foram realizadas greves emfavor do monoplio estatal do petrleonacional. A paralisao durou 32 diase, alm da luta, enfrentou a demissode 34 lideranas. o exrcito aindaocupou as renarias e a greve foiderrotada, representando uma inexo

    negativa na atividade sindical.omovimento contra a privatizao dosetor eltrico tomou a agenda dosindicalismo dos engenheiros, e osenGe responsabilizou-se por suasecretaria tcnica. nesse perodoforam realizados diversos atos nasportas das empresas. no incio dogoverno FhC (1995), cou claro que ameta era a radicalizao do processode venda das empresas pblicas. ossindicalistas tambm criticavam aparticipao do BnDes nonanciamento s empresas privadas

    Carlos Bittencourt(presidente Fisenge)

    o senGe-rJ tem uma importncia fundamental para a Federao interestadual de sindicatos de engenheiros(FisenGe). Desde a discusso de sua formao e a fundao em 1990, o senGe-rJ sempre esteve presente nosgrandes debates nacionais. o sindicato dos engenheiros mais antigo do Brasil, com uma longa histria em defesada categoria e da engenharia, atravs das negociaes coletivas e aes jurdicas. Mas, muito mais do que isso, osenGe-rJ sempre esteve presente nas lutas pela democracia. em nome de todos os sindicatos de engenheirosliados FisenGe, quero parabenizar a direo atual do sindicato dos engenheiros e todas as direes anteriores. de grande importncia, e at um exemplo para todos os sindicatos, a histria de lutas do sindicato dosengenheiros no estado do do rio e sua estreita relao com os movimentos sociais.

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    Manifestao nas ruas do centro do rio

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    para a compra das estatais,poltica que acabou seconrmando em todo oprocesso de privatizao nogoverno neoliberal. At ogoverno itamar Franco asprivatizaes eramjusticadas pela supostacapacidade de transferir os

    recursos obtidos com a venda para asreas sociais, mas com o governo FhCestes recursos seriam gastos noabatimento da dvida pblica.

    s na primeira privatizao do governoFhC, a da esprito santo Centraiseltricas (escelsa), foram demitidoscerca de 25% dos funcionrios. A

    luiz incio lula da silva, ento sindicalista, em debate no auditrio do senGe-rJ

    Ato na sede de Furnas, no rio, contra a privatizao da empresa

    Comcio no Centro do rio, contra a privatizao da Vale

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    manobra para dividir a eletrobrs como propsito de privatiz-la, burlandonormas legais, tambm foi criticada.no dia 1 de dezembro de 1995 osenGe promoveu uma reunio comdiversos segmentos da sociedade civilpara criar uma frente parlamentar emdefesa do setor eltrico, num momentoem que o prprio Congresso j haviaaprovado a lei de Concesses e opresidente sancionado. Para osindicato dos engenheiros oimportante era garantir mecanismosque permitissem aos cidadosintervirem na poltica de tarifas e deexpanso da rede eltrica, alm daecincia de todo o setor.

    Mesmo assim o programa dedesestatizao vingou em todas asesferas governamentais. no m de1995 o governador do rio de Janeiro,Marcello Alencar (PsDB), conseguiuque a Assembleia legislativaaprovasse o seu Plano estadual deDesestatizao (PeD), que previa almdas privatizaes, terceirizaes eparcerias com a iniciativa privada. nodia houve uma manifestaoduramente reprimida pela polcia, queprendeu dezenas de pessoas. osucateamento das empresas estaduais

    Paulo Granja(presidente de 2004 a 2007)

    Minha primeira gesto como diretor do senGe/rJ foi em 1992, mas foi a partir de 1995, aps uma ciso entre osdiretores da gesto anterior, que senti grande anidade poltica com os meus novos pares de diretoria. A partir da,apesar de vir se renovando, aquela e as novas diretorias tinham dentre as suas mais importantes caractersticas,destaco duas: no sindicato ningum estrela nem tem capa preta. todos tm praticamente o mesmocomprometimento e nvel de deciso. Apesar de inmeras vezes o pau quebrar, por divergncias de opinio e depensamento, todas as discusses so feitas, sempre, com respeito entre todos. o meu envolvimento, no sindicato,foi muito grande na informatizao dos processos administrativos, nanceiros, jurdicos e de negociaes coletivas.isso praticamente no existia, quando muito, existiam alguns registros em planilhas de excel e os controles erammuito frgeis. Ainda tem muito para fazer nessa parte, mas houve um grande avano dando muita transparncia administrao do sindicato. sempre foi muito grande meu envolvimento com o funcionamento da mquina sindical,procurando deixar a estrutura nas melhores condies possveis, para que se pudesse fazer o melhor trabalhopoltico, e tambm nas negociaes coletivas, na assistncia jurdica, alm de outras atribuies. o que chama aateno na nossa luta sindical, principalmente na era lula, que com a poltica de valorizao do salrio mnimoimplementada pelo governo, poltica que apoiamos, comeamos a viver um perodo de muita preocupao, pelaviolao do salrio mnimo prossional em diversas empresas. Por isso, organizei, em vrias empresas, assembleiaspara que se zesse o enfrentamento poltico e judicial para garantir o piso salarial. At o momento, no perdemosnenhuma ao e j ganhamos vrias. essa, certamente, uma das mais importantes e vitoriosas bandeiras de lutaem prol da categoria, no perodo mais recente

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    Uma rotina: diretores do senGe-rJ participam de greves...

    .... e manifestaes populares no rio de Janeiro

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    Cerj, CeG, Cedae, Conerj, Flumitrens eFeema foi a poltica adotada pelaadministrao, e contra isso se formouo Frum estadual em Defesa do servioPblico, no qual o senGe e outrossindicatos tiveram destacada atuao.

    A mais emblemtica das batalhascontra as privatizaes se deu emtorno da empresa mineradora Vale dorio Doce. no incio de 1996 sindicatose outras entidades da sociedade civilarticularam uma campanha, e o sengepublicou vrias matrias em seu jornal

    e convocou os associados a participardo amplo movimento. naquelemomento a Vale havia se transformadonum dos mais rentveisempreendimentos estatais e detinha asreservas minerais do solo brasileiro.em 17 de dezembro de 1996 um ato

    sergio Almeida (presidente do senge/rJ em 1995)

    Ao assumir a direo do senge/rJ tnhamos clareza de que a luta a ser travada era contra a ideologia dadesestatizao, no apenas sob a tica dos interesses prossionais legtimos dos nossos representados, como doprprio futuro da engenharia brasileira e do desenvolvimento do Pas. sabamos tambm que s teramos chancede xito se nos agregssemos s entidades que compartilhassem conosco a viso de que o estado tinha um papelcentral na retomada do crescimento do Brasil. De incio, amargamos duras derrotas, com a privatizao da escelsae da light (que abriu caminho para a venda de quase todas as distribuidoras de energia eltrica do Pas), da Vale,das usinas geradoras da eletrosul, dentre outras. na medida em que nos organizamos, passamos a alcanar vitriasimportantes como a preservao de Furnas como empresa estatal e da prpria eletrobrs. Mas havia um delicadodilema a ser enfrentado. Mesmo compreendendo as diculdades conjunturais da poca, os associados esperavamo xito das suas entidades por ganhos de curto prazo, tais como melhorias salariais e conquistas sociais (coberturade despesas mdicas, auxlio alimentao etc). Assim, tnhamos que semear e cultivar atividades com diferentestempos de colheita. Dentre as aes com resultados de longo prazo, talvez a mais graticante e signicativatenha sido a incorporao do senGe/rJ campanha contra adeso do governo brasileiro ao acordo de formaoda rea de livre Comrcio das Amricas AlCA. Alm de abrigar em suas instalaes a secretaria estadual dacampanha, o sindicato levou o tema para discusso no seio da categoria. Para a categoria, o que estava em jogoera o prprio sentido da engenharia brasileira no futuro, seja no nmero de postos de trabalho, seja nas atribuiesque lhe caberiam. A luta valeu a pena.

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    sergio Almeida, ento presidente do senGe-rJ, em manifestao contra a privatizao de Furnas, encontra a sede da empresa tomada por policiais

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    simblico marcou a campanha, comum abrao ao edifcio da empresa, nocentro do rio de Janeiro. houve um atopblico na ABi em 1997 com aparticipao de personalidades comoDarcy ribeiro, Celso Furtado, luisFernando Verssimo e oscar niemeyer.As principais manifestaes ocorreramno centro do rio, levando s ruasmilhares de pessoas. Graas pressopopular o leilo da Vale foi adiado, masem maio de 1997 a empresa foiarrematada na Bolsa de Valores do rio

    de Janeiro por U$3,3 bilhes. novemeses depois a Vale teve umfaturamento superior U$ 10,1 bilhes,conrmando-se o que o movimento deresistncia privatizao denunciava.

    Graas resistncia do movimentoorganizado dos trabalhadores foipossvel evitar que a Cedae e Furnasdeixassem de pertencer ao povobrasileiro. e o senGe-rJ teve umaao relevante para que essasempresas pblicas no fossem

    privatizadas, alm do fator poltico com a entrada da oposio de AnthonyGarotinho no governo do rio. noentanto, novas ameaas deprivatizao rondariam as duasempresas ainda no governo Garotinhoe nas administraes estaduaisposteriores. A mdia esteve durantetodo esse processo contra a luta dostrabalhadores e a favor dasprivatizaes por todo o Brasil.

    Um dos aspectos que marcaram a vidado sindicato nos anos 90 foi a suaintensa solidariedade ao Movimentodos trabalhadores rurais sem terra(Mst). Formado das lutas dostrabalhadores rurais no m da ditaduramilitar, o Mst se conformouorganicamente em 1984, mas foi nadcada seguinte que sua atuao setornou mais notria. resultado dasgrandes mobilizaes promovidas pelomovimento, mas tambm da dennciada dura represso que se abateu (e seabate) sobre ele, cujos massacres deseus militantes pela Polcia Militar emCorumbiara (ro) e em eldorado dosCarajs (PA) foram os mais notrios.

    possvel vericar diversas visitas dolder do Mst, o economista Joo Pedrostdile, sede do sindicato, como nainaugurao do auditrio da entidadeem 7 de novembro de 1996, quando omesmo proferiu palestra sobre aquesto agrria no Brasil. o ldertambm escolheu tal auditrio mais deuma vez para apresentar os balanosda atuao do Mst imprensa elanar a revista sem-terra.

    em relao aos intelectuais, o senGe-rJ ampliou sua tradio de ser umacasa frequentada por pensadorescrticos. nomes nacionais eestrangeiros passaram e passam pelasede do sindicato, discutindo temasrelevantes para a compreenso domundo contemporneo e naelaborao de um projeto detransformao social. FranoisChesnais, Csar Benjamin, leandro

    Konder, Barbosa lima sobrinho, ignacioramonet, Vito Giannotti, Franois Vatin,so alguns que desde os anos 90colaboraram com o sindicato. osenGe-rJ tambm editou cadernostemticos e livros nos ltimos anos.

    Quando se comemoravam os 500anos da chegada dos portugueses noBrasil, ao lado de vrias entidades osenGe-rJ promoveu a campanhaBrasil, outros 500, que visava contara histria do pas sob o ponto de vistados trabalhadores e dos excludos deontem e de hoje. outra iniciativa damaior importncia foi a participao nacampanha pelo Plebiscito da Dvidaexterna, promovido de 2 a 7 desetembro de 2000. no nal de 1999essa dvida j perfazia o montante der$ 446 bilhes. Mais de 5 milhes debrasileiros compareceram ao plebiscitopopular, votando majoritariamente pelaauditoria da dvida externa e contra oacordo do Brasil com o FundoMonetrio internacional (FMi). essa

    marca s seria superada dois anosdepois, quando organizaram um novoplebiscito popular sobre a adeso doBrasil ao Acordo de livre Comrciodas Amricas (AlCA) e 10 milhes de cidados brasileiros disseram no. A sede do sindicato serviu comosecretaria da campanha desteplebiscito no rio.

    o projeto neoliberal acelerado pelogoverno FhC estava enormementedesgastado. os anos seminvestimentos substanciais nas reasda infra-estrutura trouxeram osapages, e a falta de concursospblicos para reposio de pessoalaposentado implicava na piora nosservios pblicos para a populao.Ao mesmo tempo, houve umarearticulao maior dos movimentossociais integrados especialmente pelossetores em volta da CUt, Mst e osdiversos grupos estudantis. esseconjunto de foras progressistas,articulando-se no plano internacional

    com os grupos crticosda globalizaoneoliberal, comeou apromover em PortoAlegre o Frum socialMundial (FsM), iniciadoem 2001. o senGe-rJao lado de outrasorganizaes promoveuo Frum social do rio deJaneiro, de 26 a 28 deoutubro, na UniversidadeCndido Mendes

    Paraalmdosengenheiros

    Joo Pedro stdile, economista e lder do Mst, na inaugurao do auditrio do senGe-rJ, 1996

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  • a virada do sculo o Brasilassistiu a ascenso doPartido dos trabalhadoresao poder com lula, um

    sindicalista, dirigindo o processo. Apsmais de 10 anos de muita mobilizaodos sindicalistas junto aos intelectuais,artistas e movimentos sociais, em 2002um partido popular chegava presidncia com a promessa demudanas substanciais no modelo dedesenvolvimento do pas. o senGe seempenhou no apoio a esse governomais democrtico, mas mantendo suaatuao coerente com crticasconstrutivas e apresentando propostasem relao ao governo federal.Aparentemente seria o contrrio do queFhC vinha implementando com asprivatizaes, mas na avaliao demuitos diretores do senGe pouca coisamudou. ocorreram transformaes,mas nenhuma substancial ou radical. eisso permanece com a chegada deDilma rousseff presidncia em 2010.

    em relao s privatizaes, porexemplo, os leiles de reas deexplorao de petrleo da Agncianacional de Petrleo continuaramocorrendo aps a descoberta do Pr-sal, que mudou todas as expectativasem relao ao lugar do Brasil nomercado internacional de combustveis.o senGe-rJ intervm de formapermanente sobre a necessidade deadoo de um novo marco regulatriopara a explorao do petrleo no Brasil,ladeando-se com os movimentos nacampanha o petrleo tem que sernosso. As Parcerias Pblico-Privadas(PPPs), consideradas um procedimentoque encobririam procedimentosprivatizantes, tambm so muitocriticadas pelo sindicato.

    A categoria vem sendo prejudicada nasempresas estatais atravs daintensicao da explorao dotrabalho sob a orientao neoliberal.

    De certa forma, esse modelo que nofoi alterado inui num descompromissodas estatais com o tempo de carreira dos trabalhadores. Com adisseminao da meritocracia e outrosmtodos neoliberais, gera-se umindividualismo e diculta a mobilizaoda categoria, que passa a procurarsolues individuais para problemascoletivos. hoje o inimigo no est toclaro como na dcada de 90, quandose tinha certeza que as privatizaeseram ruins para os trabalhadores elutava-se contra a entrega da Vale e daCsn, por exemplo. Como a polticaatualmente difusa, embora toprejudicial quanto, existem outras formasmais difceis de entender que prejudicamo movimento sindical em benefcio domercado. o desao atual superar essacrise de participao no meio sindical.

    se por um lado a categoria vemenfrentando essas diculdades, por

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    Greve do setor eltrico no centro do rio

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    outro o sindicato vem conquistandodiversos avanos em suaadministrao. A prpria disputatravada com Furnas em relao aoprocesso data-base levou busca demelhores mecanismos de combatedentro da mquina sindical. Desde1995 todos os processosadministrativos, nanceiros e jurdicosforam informatizados, de modo a deix-la mais dinmica e eciente para ostrabalhos polticos e outras atribuiesdo senGe. o controle cou maisconsistente, dando mais transparncia administrao do sindicato, e ascondies de luta foram aprimoradas.As novas geraes tero possibilidadestcnicas e administrativas para darsequncia luta, apesar de ainda sernecessrio avanar em muitos pontos.

    eDUArDo PiAZerAdiretor nanceiro da FisenGe, e diretor do sindicato dos engenheiros Agrnomos de santa Catarina seAGro))

    o senGe tem demonstrado em sua trajetria que entende o que sindicalismo, no s no mbito da engenharia,porque ele levou sua viso de democracia, o ideal de uma sociedade progressista para regies muito alm de suasfronteiras. o senGe tem uma importncia grande na prpria fundao do sindicalismo nacional. possvel notarisso pelas batalh