Revista SPECTRUM Nº 06

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Revista do Comando-Geral do Ar Nº 06 - Janeiro 2003 Centros de Gravidade: A Eficácia da Estratégia Institucionalizando a Excelência Inteligência de Imagens como MAGE Baixa Probabilidade de Interceptação (LPI) Requisito Essencial na Guerra Moderna

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Inteligência de Imagens como MAGE Institucionalizando a Excelência Revista do Comando-Geral do Ar Nº 06 - Janeiro 2003

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Revista do Comando-Geral do Ar Nº 06 - Janeiro 2003

Centros de Gravidade:A Eficácia da Estratégia

Institucionalizando a Excelência

Inteligência de Imagens como MAGE

Baixa Probabilidade deInterceptação (LPI)Requisito Essencialna Guerra Moderna

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ÍndiceExpediente

Comandante-Geral do ArTen.-Brig.-do Ar José Carlos Pereira

Conselho Editorial e RevisãoCel.-Av. Narcelio Ramos RibeiroMaj.-Av. Fábio Durante Pereira AlvesMaj.-Av. Davi Rogério da Silva CastroCap.-Av. Carlos Alberto FernandesCap.-Av. Edson Fernando da Costa GuimarãesCap.-Av. Élison MontagnerCap.-Av. Antonio Ferreira de Lima Júnior

ColaboraçãoCentro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)

Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 3921-0121 / 3922-4048 / 3922-3374CEP 12243-630 - São José dos Campos - SPe-mail: [email protected]

ImpressãoEditora Gráfica IpirangaSIG - Quadra 08 - Lote 2095tel: (61) 344-2266 - fax: (61) 344-1077CEP 70610-400 - Brasília-DF

Distribuição interna. Tiragem: 2.000 exemplares.

Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.

[email protected] (Internet)

Editorial ..................................................................... 3

Centros de Gravidade:

A Eficácia Estratégica ................................................. 4

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Alguns Paradigmas da FAB ......................................... 7

Institucionalizando a Excelência .............................. 11

Programa de Pós-Graduação para a Guerra:

Fator de Assimetria Operacional .............................. 14

Gestão do Conhecimento Para a

Área da Guerra Eletrônica ........................................ 18

Baixa Probabilidade de Interceptação ...................... 21

Aplicação de Sistemas Eletroópticos na

Aviação de Patrulha ................................................. 24

A Inteligência de Imagens como MAGE ................... 27

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Editorial

Aidéia de publicar a revista SPECTRUM

surgiu em 1999, ao final do século

XX, justamente quando o campo mi-

litar experimentou significativas mudanças di-

tadas pelas características dos conflitos atuais,

conhecidos como “limitados”, ou “não decla-

rados”, ou “de curta duração” (FA-E-01 Estra-

tégia Militar Brasileira – 1998), ou, ainda, de

combate direto aos ilícitos transnacionais.

O Comando-Geral do Ar, a quem cabe de-

senvolver, preponderantemente, a atividade-fim

da Força Aérea Brasileira, iniciou a sua publica-

ção com a finalidade de contribuir para a divul-

gação de trabalhos voltados para o preparo e o

emprego da Força, pretendendo incentivar a

apresentação de temas que viessem a despertar

debates e estudos, de forma a realçar o espírito

operacional de seus integrantes.

Singelamente, é por intermédio do secular

binômio HOMEM x MÁQUINA que o COMGAR

cumpre a sua missão, de “preparar e empregar

as Grandes Unidades Aéreas para a realização

de operações militares, reais ou simuladas da

Força Aérea Brasileira, como instrumento mili-

tar do Poder Aeroespacial.” (1)

Dentro deste enfoque, temos, então, qua-

tro variáveis: o HOMEM, a MÁQUINA, o PRE-

PARO e o EMPREGO, e uma única constante, a

UNIDADE AÉREA. Esta, em última análise, é a

mais importante, pois toda a estrutura e todos os

segmentos da FAB somente existem para apoiá-

la. É a “célula mater” de um sistema em que to-

dos devem gravitar ao seu derredor.

O HOMEM é o principal ator, a MÁQUINA,

o seu instrumento de trabalho (inclusos seus sis-

temas de navegação, de armas, de defesa), sen-

do o PREPARO a fase de agregação de valores e

o EMPREGO o culminar de todo o processo.

Restringindo-se apenas ao PREPARO e ao

HOMEM, é possível admitir-se que o PREPARO

determinará ao HOMEM a necessidade do sa-

ber, da sabedoria desenvolvida pelos conheci-

mentos adquiridos e pelas reflexões deles decor-

Maj.-Brig.-do-Ar

Cezar Ney Britto de Mello

Chefe do Estado-Maior do

COMGAR

Maj.-Brig.-do-Ar Cezar Ney Britto de MelloChefe do Estado-Maior do COMGAR

rentes. O PREPARO, enfim, re-

quer motivação profissional,

questionamentos, estudos dou-

trinários, tecnológicos e, cada

vez mais, clarividência no apren-

dizado e humildade para rever

dogmas e conceitos.

Diante de todo este espec-

tro, a revista SPECTRUM surge

como mais um foro aberto a

nossos(as) militares, proporcio-

nando oportunidade para a apre-

sentação de um novo tema, de

um sonho acalentado, de uma

opinião que não quer calar, de uma verdade pes-

soal que ninguém ainda descobriu, sempre ten-

do como meta a discussão limitada à área

operacional, pois é através do entrechoque de

idéias e de argumentos que se aprimora a doutri-

na e se atualiza normas e procedimentos.

O gigantesco esforço de uma pequena equi-

pe hoje se materializa em fato concreto com o

lançamento de mais um número da nossa

SPECTRUM. Artigos diversificados e abrangentes

são as suas características mais marcantes.

Prezados tripulantes, médicos de Esquadrão,

devotados amigos da Logística, gente do Pessoal

e da Inteligência, integrantes de um Estado-Mai-

or, guerreiros da Infantaria, leiam, deleitem-se,

debatam, criem e, principalmente, critiquem! Este

é o primeiro passo para o despertar de uma

invulgar, inquestionável e irrequieta inteligência.

Junte-se a nós nesta empreitada que objeti-

va a eficácia operacional de nossas Unidades

Aéreas, o aprimoramento de nossos homens do

combate, a adequação de nossas necessidades,

a busca da excelência e da grandiosidade de

nossa Força Aérea.

Concito a todos para se lançarem nesta

missão!

A LUZ VERDE já está acesa! À porta: JÁ,

JÁ, JÁ!(1) Dec. nº 60.521, de 31 Mar. 1967

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Centros de Gravidade: A Eficácia da EstratégiaNarcélio Ramos Ribeiro, Cel.-Av.

COMGAR

O Coronel Narcélio Ramos

Ribeiro é piloto de patrulha,

concluiu o CFOAv em 1980

e exerce atualmente a função

de chefe do Centro de Guer-

ra Eletrônica do COMGAR.

Possui curso de Guerra Eletrô-

nica na Inglaterra (“Electronic

Warfare Directors”) e pós-gra-

duação em Planejamento Es-

tratégico e Qualidade Total

pela AEUDF (Brasília). O Cel.

Narcelio tem trabalhos

publicados nas revistas da

UNIFA e “O Patrulheiro”.

“A essência da estratégia consiste emdiscernir os centros de gravidade do oponente. . . e aplicar nossas forças para atingi-los . . .(mas) isto é problemático...”

Carl Von Clausewitz

Ao longo da história das guerras, os lí-

deres militares têm aspirado por vi-

tórias rápidas e decisivas. Apesar de,

em várias situações, possuírem vantagens nu-

méricas, tecnológicas, doutrinárias e, até mes-

mo, melhor liderança, muitos falharam nessas

tentativas, poucos obtiveram êxito (ainda que às

custas de desperdício de energia e excesso de

perdas de recursos materiais, humanos e finan-

ceiros) e alguns sentiram o dissabor da derrota.

À medida que a guerra tornou-se cada vez

mais complexa, aumentou a dificuldade de se

obter vitórias rápidas e decisivas, contrariando

as aspirações dos comandantes e planejadores.

O Enfoque das Forças de SuperfíciesSegundo Clausewitz e o senso comum, “um

exército em tempo de guerra é bem sucedido ao

derrotar o exército inimigo. Destruir a capacida-

de das forças fardadas do inimigo atuar com efi-

cácia, elimina o que se interpõe à vitória mili-

tar”.[1] Às vezes um país era afortunado e capaz

de aniquilar o exército do oponente, como o fez

Napoleão em Austerlitz e nas batalhas de Jena e

Auerstad; tal êxito podia produzir uma capitula-

ção rápida. Na maioria das vezes, contudo, as

batalhas eram sangrentas e nada decidiam; as

guerras eram exercícios de desgaste ou exaustão

(para um exemplo mais recente, vide guerra Peru

versus Equador na década passada).

À medida que as guerras se tornaram pro-

gressivamente totais, as forças armadas maiores

e as sociedades mais industrializadas, o sonho

de que alguma coisa, por si só, seja decisiva, tor-

nou-se comumente uma quimera. Os exércitos

se tornaram instrumentos táticos que desgasta-

vam por completo a força armada inimiga, na

esperança de que um

acúmulo de vitórias no cam-

po de batalha os colocasse em

posição de conduzir opera-

ções estratégicas decisivas.[2]

De certo modo, as mari-

nhas também estão condena-

das a combater no nível tático

da guerra. Tão logo conquista-

do o domínio do mar, uma es-

quadra pode, em seguida,

bombardear fortalezas próxi-

mas à praia, impor um blo-

queio ou conduzir operações

anfíbias. No primeiro caso,

contudo, os resultados são li-

mitados pelo alcance dos arma-

mentos dos navios; no segun-

do, o inimigo só sente os resul-

tados indiretamente e com o

passar do tempo. É certo que

um bloqueio pode privar um

beligerante dos itens necessá-

rios à manutenção do esforço

de guerra; contudo, um ele-

mento bloqueado pode substituir e redistribuir seus

recursos para compensar o que lhe foi negado. Em

suma, a guerra econômica indireta toma muito tem-

po. Na verdade, raras foram as vezes em que blo-

queios levaram o inimigo à submissão.[3] No últi-

mo caso, as operações anfíbias são geralmente

apenas um prelúdio de operações terrestres

ininterruptas, mas isso só nos leva de volta ao ciclo

de exército versus exército.

A Vantagem do Poder AéreoO poder aéreo mudou as coisas quando

comprimiu a linha que divide os níveis tático e

estratégico. As aeronaves podem, rotineiramen-

te, conduzir operações que alcancem efeitos de

nível estratégico. Em grande medida, as aerona-

ves eliminam a necessidade de enfrentar o terre-

no ou o ambiente devido à sua habilidade de

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voar por sobre exércitos, esquadras e obstáculos

geográficos e atacar diretamente os centros de

gravidade de um país. Essa capacidade oferece

alternativas tanto às batalhas terrestres sangren-

tas e prolongadas quanto aos bloqueios navais

mortíferos.

Na verdade, embora os primeiros teóricos

do poder aéreo falassem com freqüência do po-

tencial deste conceito (centro de gravidade), cons-

tituiu-se ele, em grande medida, num sonho por

muitas décadas. O poder aéreo não eliminou a

necessidade de uma campanha terrestre na Eu-

ropa durante a 2ª Guerra Mundial, e embora uma

invasão do próprio Japão fosse desnecessária, a

evidência disso não era muito nítida (foram ne-

cessários quatro anos e as operações combina-

das de todas as forças singulares para preparar o

cenário para a fase aérea final e decisiva).

A Coréia e o Vietnã demonstraram a mui-

tas pessoas que o poder aéreo não era uma arma

estratégica eficaz, embora houvesse quem sus-

tentasse que nunca lhes foi dada uma oportuni-

dade de provar a si mesmo.[4] A Operação Tem-

pestade no Deserto, por outro lado, chegou pró-

ximo da realização do que sustentavam os pri-

meiros teóricos. Resta ver se isso foi o cumpri-

mento de uma profecia ou uma aberração.

Finalmente, e talvez mais importante, a

velocidade e o alcance do poder aéreo lhe

permitem atacar alvos em toda a profundida-

de e largura de um país inimigo. As aeronaves

não precisam desengajar-se de uma batalha

para se engajar em outra, uma manobra extre-

mamente arriscada e complexa para as forças

terrestres. Tendo já se desengajado, as aerona-

ves não têm de percorrer estradas lamacentas,

cruzar rios em época de cheias ou redirecionar

linhas de suprimentos para combater em ou-

tro lugar. Um excelente exemplo disso é o da

Força Aérea Israelense na Guerra do Yom

Kippur de 1973. Os israelenses remanejaram

constantemente o poder aéreo da frente do

Sinai para as Colinas de Golan e da interdição

para o apoio aéreo aproximado. Foram capa-

zes de efetuar essas mudanças diariamente no

decorrer de várias semanas.

Essas operações paralelas podem produ-

zir efeitos simultâneos, submetendo o inimigo

a múltiplas crises que ocorrem tão rapidamente

que ele não consegue responder com eficácia

a qualquer delas. A demonstração mais devas-

tadora desse fenômeno ocorreu durante os dois

primeiros dias da Guerra do Golfo, quando

centenas de aeronaves da coalizão atingiram,

entre outros alvos, o sistema de defesa aérea,

usinas de energia elétrica, instalações de pes-

quisa nuclear, quartel general das forças arma-

das, torres de telecomunicações, “bunkers” de

comando, órgãos de inteligência e um palácio

presidencial do Iraque. Esses ataques ocorre-

ram tão rapidamente contra diversos centros

de gravidade do Iraque, que o país, em consi-

derável medida, foi imobilizado e a guerra

decidida naquelas poucas horas.

Centro de GravidadeComo Instrumento da Estratégia

O conceito de centro de gravidade existe,

na doutrina militar, para ser utilizado pelos co-

mandantes e planejadores, visando facilitar o

caminho para alcançar os objetivos políticos da

contenda e, dessa forma, obter a vitória e o su-

cesso diante do grupo social oponente (estado-

nação, crime transnacional, grupos terroristas,

etc), por meio da análise, da identificação e da

concentração de ações contra pontos vitais, a

fim de evitar desperdício de energia e de perdas

desnecessárias de recursos materiais e humanos,

além de desgastes políticos.

Esse, no entanto, tem sido um conceito que

apenas um grupo pequeno de forças aéreas en-

tende e explora com satisfatória competência.

Na maioria delas, o que se percebe é a predomi-

nância de um raciocínio tático de uma filosofia

de seleção de alvos “baseada na fé” (os

planejadores não sabem que Deus é pacifista),

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ao invés de método e experiência empírica que

enfatizam a lógica e as incertezas dos cenários

operacionais.

De modo simplificado, o que se observa, é

que as forças aéreas, que nos últimos sessenta

anos obtiveram sucesso nos espaços de batalha,

consideram a seguinte seqüência nos processos

de identificação, análise e busca de solução para

a aplicação do poder aéreo:

a) objetivo político do estado-nação;

b) identificação de centros de gravidade para

atingir aos objetivos políticos;

c) definição das ações;

d) seleção de alvos e de armamentos

(quando for o caso); e

e) definição dos atores (unidades aéreas e

suas missões).

A maioria das forças aéreas, no entanto, têm

dificuldade para utilizar o conceito de centros de

gravidade, o que torna a seqüência do planeja-

mento incompleto e, por conseguinte, acabam

concentrando-se no nível tático, em prejuízo do

raciocínio estratégico. Entre os vários fatores que

contribuem para essa atitude não muito adequa-

da para a condução de uma campanha, alguns

merecem destaque:

a)quase todas as forças aéreas sabem formar

um bom piloto. No entanto, apenas um grupo

pequeno possui programa de capacitação que

habilita os seus planejadores raciocinarem com

centros de gravidade e, consequentemente, atua-

rem nos níveis operacional e estratégico da guer-

ra com maior probabilidade de sucesso; e

b) A maioria das forças aéreas não possui

metodologia que possibilite a eficiente explora-

ção do conceito de centros de gravidade.

Percebe-se que o domínio de metodologia

para identificar e analisar centros de gravidade é

que tem permitido um raciocínio estratégico por

parte de integrantes de um pequeno grupo de for-

ças aéreas. Na maioria delas, no entanto, isto é fei-

to de modo intuitivo e a maior ênfase recai numa

seleção de alvos de efeito duvidoso, quando se tenta

associar aos objetivos políticos da contenda.

O poder aéreo pode produzir efeitos psico-

lógicos. Em seu nível mais fundamental, a guerra

é psicológica. Pode ser que a melhor maneira de

ampliar o choque psicológico seja aumentar o

choque físico, mas deve-se ter cuidado para não

equiparar destruição com eficácia. Ao contrário,

o comandante deve capitalizar a velocidade e a

ubiqüidade do poder aéreo, sua capacidade de

aumentar consideravelmente o ritmo das opera-

ções de combate, de poder atingir diferentes tipos

de alvos em qualquer lugar e associar tudo isto ao

conceito de centro de gravidade para obter o su-

cesso no emprego do poder aéreo.Notas

[1] Martin Blumenson, “A Deaf Ear to Clausewitz:Allied Operational Objectives in World War II,”Parameters 23, no. 2 (Verão 1993): 16. Napoleão afir-mou que os generais europeus viam coisas demais,enquanto ele via uma só coisa, o exército inimigo.

[2] Para uma visão sombriamente pessimista docaráter intrinsecamente indecisivo da guerra terrestre,em qualquer época, ver Russel Weigley, The Age ofBattles: The Quest for Decisive Warfare fromBreitenfeld to Waterloo (Bloomington, Ind.: IndianaUniversity Press, 1991).

[3] Mancur Olson, Jr., in The Economics of theWartime Shortages: A History of British Food Suppliesin the Napoleeonic War and in World War I and WorldWar II (Durham, N.C.: Duke University Press, 1963),sustenta que as tentativas napoleônicas e posterior-mente alemãs nas duas guerras mundiais de, pela fome,levar a Inglaterra à submissão foram fracassos quenunca sequer se aproximaram do êxito. Por outro lado,embargos navais, se impostos por muito tempo, po-dem provocar grandes sofrimentos, como contra oIraque desde agosto de 1990. Youssef M. Ibrahim, “Iraqis Near Economic Ruin but Hussein Appears Secure”,New York Times, 25 de outubro de 1994, 1.

[4] Para os defensores do poder aéreo, ver Almi-rante U.S.G. Sharp, Strategy for Defeat: Vietnam inRetrospect (San Raphael: Presidio Press, 1978); e GenWilliam Momyer, Airpower in Three Wars (Washing-ton, D.C.: Government Printing office, 1978). Para oponto de vista oposto, veja-se Maj Mark Clodfelter,The Limits of Airpower: The American Bombing of

North Vietnam (New York: Free Press, 1989).

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Alexandre Fernandes Da Silva Lessa, Ten.-Cel.-Av.EMAER

O Tenente Coronel Ale-

xandre Fernandes da Silva

Lessa, é piloto de asas

rotativas, concluiu o CFOAV

em 1981 e exerce atualmente

a função de Adjunto da 3ª

Subchefia do EMAER.

Possui cursos de Gerên-

cia pela Qualidade Total para

Oficiais, de Elaboração e

Monitoramento de Projetos,

de Gerenciamento de Progra-

mas e Projetos, de Planeja-

mento Estratégico, dentre ou-

tros.

Tenho encontrado ao longo dos anos vá

rios colegas que reconhecem que a FAB

está sofrendo da Síndrome do Sapo Fer-

vido, da mesma forma outros não sabem nem

do que se trata, não reconhecem nenhum pro-

blema tão grave, têm certeza de que ela conti-

nua cumprindo sua missão, etc.

Quem estaria com a razão?

Se nos colocarmos na situação do sapo,

como poderíamos saber que a situação do

nosso meio ambiente está mudando se não

houver um ponto de referência?

Se há os dois grupos, há certamente dife-

renças na visão de cada um deles. Talvez um

tenha um ponto de referência e o outro não.

Se tentarmos olhar a Instituição de fora

para dentro e começarmos a fazer perguntas

básicas, tais como, qual a sua missão? Para

que serve este ou aquele órgão? Para que vocês

estão adquirindo este ou aquele sistema ou

aeronave? Por que vocês não têm este ou aque-

le sistema ou aeronave? Vamos encontrar al-

gumas surpresas.

Bastam, só para mostrar a “ponta do

Iceberg”, algumas referências documentais e

alguns fatos do nosso dia-a-dia e vamos en-

contrar paradigmas que, dadas as suas áreas

de atuação, não poderiam ser aceitos em uma

Instituição que deveria primar pela

modernidade e eficácia.

Paradigma da MissãoAntes de identificar esse paradigma é ne-

cessário definir “missão” e depois tentar

identificá-lo na Instituição. Portanto, aí vão

algumas considerações.

Segundo a ECEMAR: “Missão, significa a

incumbência de realizar determinada tarefa

com propósito definido. Pode ser atribuída ou

deduzida”. Ainda, “tarefa, é o encargo impos-

to a alguma autoridade por outra de nível su-

perior (atribuída) ou imposto a si pela própria

autoridade (deduzida).” E, “propósito, é o ob-

jetivo a ser alcançado com a

realização da tarefa.”

Segundo Peter F.

Drucker, “Uma declaração de

missão precisa ser operacional:

caso contrário, não passa de

boas intenções. Uma declara-

ção de missão deve focalizar

aquilo que a instituição tenta

realmente realizar (...)”

“Antes de adotar uma es-

tratégia de atuação, a organi-

zação precisa definir qual é a

sua missão. A missão orienta e

delimita a ação da organiza-

ção, definindo o seu propósi-

to. Exprime a razão de sua exis-

tência.” (US Navy).

Para não ser muito

repetitivo, as três abordagens

acima já são suficientes para

concluir que a definição da

missão é fundamental para

qualquer planejamento de

qualquer que seja a organiza-

ção, seja ela civil ou militar.

Assim, vamos procurar a nossa missão.

Consultamos a Doutrina Básica da FAB (DMA

1-1) e encontramos como Missão da Aeronáu-

tica:

- “Missão Constitucional

• Defender a Pátria;

• Garantir os poderes constitucionais; e

• Garantir a lei e a ordem, por iniciativa

de qualquer dos poderes constitucionais.

- Missões Complementares

• Orientar, coordenar e controlar as ativi-

dades da Aviação Civil;

• Prover a segurança da navegação aérea;

• Contribuir para a formulação e condu-

ção da Política Aeroespacial Nacional;

• Estabelecer, equipar e operar, diretamen-

te ou mediante concessão, a Infra-estrutura

Alguns Paradigmas da FAB

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Aeroespacial; e

• Cooperar com o desenvolvimento na-

cional e a defesa civil.”

Fomos além e encontramos exatamente o

mesmo texto na DMA 14-5 Política da Aero-

náutica e na DMA 15-1 Diretriz Estratégica da

Aeronáutica.

A Missão da Aeronáutica ou da Força Aé-

rea Brasileira não foi encontrada em nenhum

outro documento.

O paradigma da missão está justamente

aí. Onde? Ora, se há uma Missão Constitucio-

nal, que estabelece por que a instituição exis-

te, ou seja, o propósito, segundo a definição

acadêmica, está faltando a tarefa.

Entre a Missão Constitucional e as Mis-

sões Complementares está faltando a declara-

ção da Missão da Aeronáutica ou da FAB. Que

precisa ser uma declaração objetiva do que

ela realmente faz ou deveria fazer. Um exem-

plo poderia ser: Controlar, permanentemente,

o espaço aéreo brasileiro a fim de possibilitaro emprego eficaz de recursos típicos de ForçaAérea na defesa da soberania do País, na ga-rantia dos Poderes Constitucionais, da Lei eda Ordem.

Este é um paradigma que precisa ser que-

brado, pois repercute em todos os planejamen-

tos, objetivos e metas da organização. “A mis-

são é a determinação do motivo central do pla-

nejamento estratégico, ou seja, a determina-

ção de onde a empresa quer ir” [7]. Enquanto

coexistirmos com este paradigma, tudo o que

estivermos fazendo hoje pode ser considera-

do como mero chute, mesmo que intuitivamen-

te estejamos fazendo a coisa certa.

Paradigma do ConhecimentoEste paradigma é um dos mais danosos

para a nossa organização. Ela remonta às nos-

sas origens e reflete na cultura organizacional

atual. Para aquele que não sabe ou não se re-

Vários estudos biológicos provaram que umsapo colocado num recipiente com a mesma águade sua lagoa, fica estático durante todo o tempo emque aquecemos a água, até que ela ferva. O saponão reage ao gradual aumento da temperatura (mu-danças de ambiente) e morre quando a água ferve.Inchadinho e feliz.

Por outro lado, outro sapo que seja jogado nes-te recipiente já com água fervendo, salta imediata-mente para fora. Meio chamuscado, porém vivo!

Temos vários sapos fervidos por aí. Não per-cebem as mudanças, acham que está muito bom,que vai passar, que é só dar um tempo! Estão pres-tes a morrer, porém ficam boiando estáveis e impá-vidos na água em que se aquecem a cada minuto.Acabam “morrendo” inchadinhos e felizes, sem terpercebido mudanças.

Sapos fervidos não percebem que além de se-rem eficientes (fazer certo as coisas) precisam sereficazes (fazer as coisas certas).

E para que isso aconteça tem que haver umcrescimento profissional com espaço para diá-

logo, para a comunicação clara, para ocompartilhamento, para o planejamento e parauma relação adulta. O desafio ainda maior estána humildade de atuar de forma coletiva. Fize-mos durante muitos anos o culto ao individua-lismo e a turbulência exige hoje, o espaço coleti-vo, que é a essência da eficácia como resposta.

Tomar as ações coletivas exige, fundamental-mente, muita competência interpessoal para o de-senvolvimento do espírito de equipe, exige saberpartilhar o poder, delegar, acreditar no potencial daspessoas e saber ouvir.

Há sapos fervidos, que ainda acreditam queo fundamental é a obediência e não a competên-cia, que, manda quem pode e obedece quem temjuízo!

Acordem sapos fervidos! Saiam dessa! O mun-do mudou! Pulem fora antes que a água ferva. Pre-cisamos estar vivos, meio chamuscados, mas vivose prontos para agir!

Extraído do Livro: Tecnologia do Cotidiano (Rubens Alves)

A Síndrome do Sapo Fervido

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corda, a FAB recebeu duas influências históri-

cas distintas, uma francesa e outra norte-ame-

ricana.

A primeira é fundamentada numa hierar-

quia rígida em que o mais antigo é soberano,

manda no mais moderno e ponto-final, sobre-

pujando inclusive a capacidade e o conheci-

mento. Se for mais antigo, sabe mais e tem mais

capacidade; não se discute. É o conhecido

“sim, senhor; não, senhor; quero ir embora,

senhor.”

A segunda é também fundamentada na

hierarquia, porém privilegia a competência.

Não que “A” seja mais ou menos competente

do que “B”, mas sim, no sentido de estar um

determinado indivíduo mais capacitado para

desempenhar uma tarefa do que outro, inde-

pendente de sua antigüidade, em função de

capacitação e conhecimentos adquiridos ou

habilidades inatas.

E é isso que temos hoje: um permanente

conflito entre a hierarquia rígida e a compe-

tência.

Ao se movimentar um militar, seja de uma

Unidade ou de uma função, para outra a sua

capacitação não é levada em conta – salvo

casos isolados. Ele é considerado apenas um

número. É um militar no posto “X” excedente,

ou não, que irá ocupar uma vaga existente em

outro lugar, e mais nada.

Ao assumir a nova função, logo lhe são

cobrados conhecimentos e capacidades que,

praticamente na totalidade das vezes, ele não

possui.

Para ser mais claro, vamos a alguns exem-

plos, sem citar nomes:

1)Um oficial que por cerca de 20 anos

desempenhou funções diretamente ligadas às

atividades operacionais de Unidade Aérea foi

transferido para um Comando-Geral para tra-

balhar com política de pessoal. Esse oficial re-

portou textualmente não conhecer nada sobre

o assunto;

2)Um oficial depois de realizar um curso

de pós-graduação no exterior, ao retornar re-

cebeu a notícia de que seria movimentado para

outra Unidade onde estavam precisando pre-

encher uma vaga. A função que exerceria nada

tinha a ver com os conhecimentos adquiridos.

3)Um oficial após realizar um curso de

pós-graduação na área de engenharia foi de-

signado para ser chefe da garagem de uma

base. Sem comentários.

4)Um outro oficial, com bastante experi-

ência na área de administração de pessoal, foi

transferido para um Comando-Geral para a

seção de logística e reportou não conhecer

nada das atividades que deveria desempenhar.

Essa lista é muito longa e repetitiva, bas-

tando apenas trocar os nomes, as capacitações

adquiridas e as datas. Exemplos, como os cita-

dos, não precisam nem ser tabulados para se-

rem comprovados, basta virarmos para um lado

qualquer que, certamente, fatos similares se-

rão encontrados.

Isso representa um custo inaceitável para

a Força, tanto em volume de dinheiro desper-

diçado quanto em tempo, que é um bem

irrecuperável, gerando conseqüências de vá-

rios tipos, tais como, desmotivação, erros de

avaliação, decisões erradas, atrasos,

descontinuidade administrativa, prejuízos fi-

nanceiros, ações legais e uma lista interminá-

vel de contratempos.

Tudo isso porque adotamos o paradigma

de que o conhecimento está na função, na

cadeira que o militar ocupa e não nas habili-

dades e nas experiências que cada um traz

consigo; que cada elemento, integrante da or-

ganização é um ser único, que tem seus

anseios, suas preferências e características pró-

prias.

Todo aquele que estiver lendo este texto e

pensando “com seus botões” que o mais im-

portante é a missão da organização, e não as

características e preferências de cada um, es-

Page 10: Revista SPECTRUM Nº 06

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Spectrum

tará perfeitamente correto e redondamente

enganado ao mesmo tempo.

Correto porque não poderia ser diferente;

a organização e sua missão são mais impor-

tantes do que o indivíduo. E enganado porque

a atual forma de gerenciamento de recursos

humanos, que não leva em conta as caracte-

rísticas do homem, encarece a administração

e afeta negativamente sua produtividade. A

lealdade, o moral elevado, a disciplina, o res-

peito, o comprometimento com os objetivos

da organização, e outras qualidades, são dire-

tamente relacionadas com a satisfação de ne-

cessidades básicas do homem, às vezes muito

simples e sutis, como afirmava Maslow [6].

“As guerras podem ser lutadas com armas,

mas são ganhas por homens. É o espírito dos

homens que seguem e do homem que lidera

que obtém a vitória” – General George S.

Patton [4].

“O principal talento de um general con-

siste em conhecer a mentalidade do soldado e

em ganhar sua confiança”- Napoleão

Bonaparte [4].

“Promova as pessoas para posições em

que seus talentos possam ser mais bem utili-

zados e aperfeiçoados”- William A. Cohen,

PhD, USAF [4].

Poderíamos listar mais um sem número

de citações que ratificam a importância de se-

rem consideradas as habilidades do indivíduo,

sangue de qualquer organização, todas ditas

por expoentes, desde Sun Tzu até os tempos

modernos. E, ainda assim, perseveramos no

erro.

A capacidade e as habilidades das pesso-

as precisa ser valorizada e reconhecida durante

toda a carreira, de forma efetiva e transparen-

te (para que haja confiabilidade) em todos os

níveis da Organização e não de forma subjeti-

va e inconsistente.

Ao conversarmos, ao longo de vários anos,

com colegas que passaram para a reserva, to-

dos, sem exceção, confirmam que o principal

motivo pelo qual tomaram aquela decisão foi,

em primeiro lugar, a falta de perspectivas pal-

páveis, ou seja, a visão de futuro que a organi-

zação deveria ter para motivar seus integran-

tes: o paradigma da missão. Em segundo lu-

gar, a falta de motivação, resultado da

inexistência de uma política de gerenciamento

de recursos humanos moderna e que valorize

as qualidades do indivíduo: o paradigma do

conhecimento.

A FAB vive sob a égide de paradigmas ar-

raigados na cultura organizacional que, enco-

bertos pelos problemas do dia-a-dia, pela roti-

na e pelo afastamento da sociedade, formam

uma cúpula isolante, impedindo a percepção

de que está caminhando para uma situação

de alto risco, assim como na Síndrome do Sapo

Fervido.

Referências bibliográficas1. BRASIL. Ministério da Aeronáutica.

“Diretriz Estratégica da Aeronáutica -DMA

15-1”. Brasília, 1998.

2. ______ . “Doutrina Básica da FAB - DMA

1-1”. Brasília, 1997.

3. ______ . “Política da Aeronáutica - DMA

14-5”. Brasília, 1998.

4. Cohen, William A. “Lições de Liderança

em Tempos de Guerra”. São Paulo:

Makron Books, 2001.

5. Drucker, Peter F. “Administração de

Organizações Sem Fins Lucrativos,

princípios e práticas”. 5. ed. São Paulo:

Pioneira, 1999.

6. Maslow, Abraham H. “Maslow no

Gerenciamento”. São Paulo: Qualitymark,

2000.

7. Oliveira, Djalma de Pinho Rebouças.

“Planejamento Estratégico: conceitos,

metodologia e práticas”.15. ed. São Paulo:

Atlas, 2001.

Page 11: Revista SPECTRUM Nº 06

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Spectrum

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Institucionalizando a ExcelênciaPaulo César Guerreiro da Costa, Maj.-Av.

EMAER

O Major-Aviador Paulo

Cesar Guerreiro da Costa é Lí-

der de Esquadrão da aviação de

Caça. Concluiu o CFOAv em

1986 e serve atualmente na 3ª

Subchefia do EMAER. Possui

cursos nas áreas de guerra ele-

trônica e planejamento estraté-

gico no Brasil e na Inglaterra. É

Mestre em Engenharia de Sis-

temas pela George Mason

Universtity (Virginia – EUA),

com especialização em C3I, e

atua como colaborador nos

cursos do CGEGAR.

Por volta de 1761, sob o comando de

Frederico, o Grande, as tropas

Prussianas obtiveram uma série de bri-

lhantes vitórias sobre inimigos muitas vezes em

vantagens numéricas de cinco para um. Não

por acaso, o exército da Prússia manteve uma

aura de invencibilidade que só veio a desmo-

ronar em 1806, quando foi praticamente dizi-

mado pelas tropas francesas nas batalhas de

Jena e Auerstad.

Apesar de ter a mesma competência e o

mesmo nível de treinamento de cinqüenta anos

atrás, os prussianos não eram mais liderados

por alguém que hoje consta na maioria das

listas dos dez maiores gênios militares de to-

dos os tempos e, pior ainda, tiveram a infelici-

dade de ver no comando das fileiras inimigas

ninguém menos do que Napoleão, considera-

do por muitos o mais brilhante dentre os que

compõem este seleto rol.

Atentos à dependência que os exércitos

tinham de gênios militares, um insumo de di-

fícil obtenção, o grupo de cinco oficiais res-

ponsável pela reconstrução do exército da

Prússia, dentre os quais se incluía o então Major

Karl Von Clausewitz, tomou como premissa

que a única maneira de eliminar tal depen-

dência seria através da “diluição” desta

genialidade pela organização militar como um

todo ou, em outras palavras, através da

institucionalização da excelência.

Esta reestruturação teve um maior enfoque

nas áreas de gerenciamento da guerra

(mobilização, treinamento, supervisão, etc.) e

melhoria do processo decisório. Na primeira,

foi nítida a preocupação com o controle dos

efetivos (ativa e reserva) e com a quantificação

da capacitação e eficiência dos mesmos, ao

passo que a competência em termos decisórios

foi perseguida por intermédio de sensíveis

melhorias nas escolas militares e no processo

de seleção para os postos de comando.

É inegável o legado de sucesso que este

processo obteve, principalmen-

te ao levarmos em conta que, no

período que vai do início desta

reorganização até 1945, os exér-

citos prussianos e, posteriormen-

te, alemães obtiveram uma con-

sistente superioridade em termos

de eficiência e eficácia em rela-

ção a seus inimigos, a despeito

das derrotas sofridas nas duas

grandes guerras e do fato de não

terem nenhum gênio militar no

comando1 .

Nestes fatos da história mi-

litar podemos inferir uma corre-

lação com o período pelo qual

passa nossa Força. Como sabe-

mos, os fatos do passado são um

excelente recurso para se anali-

sar os do presente, conquanto os

consideremos sob a ótica do con-

texto político, social e

tecnológico onde os mesmos es-

tavam inseridos. À luz deste

enfoque, os episódios

supracitados contêm ensinamentos úteis para

uma análise de nosso atual estágio, principal-

mente quando observados sob o contexto do

que hoje é a grande força motriz da guerra

moderna: a tecnologia.

Não é necessário muito esforço para se

ter uma noção da importância deste fator em

qualquer análise do mundo atual. Ao fazermos

uma retrospectiva dos avanços tecnológicos ao

longo da história da humanidade é impressio-

nante a constatação da desproporção entre o

que se atingiu no último século em compara-

ção com o restante de nossa existência. Um

observador mais atento certamente irá notar

que dentro do próprio século XX a mesma

desproporcionalidade ocorre entre o início e

os últimos anos deste período.

O passado recente nos mostra algo que

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Spectrum

pode ser entendido como um ponto de

inflexão, onde claramente a história da evolu-

ção tecnológica adquiriu um comportamento

exponencial. Em outras palavras, estamos di-

ante de uma época onde as mudanças não se-

guem um comportamento linear e, portanto,

de fácil previsibilidade.

No campo militar os reflexos deste fenô-

meno podem ser observados pela onipresença

da tecnologia na arte da guerra, onde o preço

da obsolescência é

cada vez mais alto fren-

te ao que o seria há al-

guns anos atrás. Cabe

ressaltar que, em fun-

ção de suas caracterís-

ticas próprias, a Força

Aérea é sem dúvida a

arma que mais sente os

efeitos do avanço

exponencial da

tecnologia e, portanto,

a que mais deve estar

preparada para os mes-

mos.

Considerando os óbices da atual conjun-

tura nacional e o estágio tecnológico em que

se encontra a Aeronáutica, iniciativas como a

criação do Programa de Fortalecimento do

Controle do Espaço Aéreo (PFCEAB) revestem-

se de um caráter de rara importância para uma

Força Armada em um país em desenvolvimen-

to. Não obstante, ao contrário do que poderia

ocorrer no passado, a mera aquisição de equi-

pamentos de última geração não garante a efi-

ciência da Força Aérea em cumprir sua

destinação constitucional.

A busca pela eficiência militar passa não

apenas pela modernidade dos equipamentos,

mas também pela otimização das técnicas, tá-

ticas, conceitos de emprego e demais campos

onde o aprendizado não se encontra à venda

no mercado. Neste ponto, o avançado estágio

técnico de grande parte dos equipamentos a

serem incorporados ao acervo da FAB tornou

inadiável a necessidade de também progredir-

mos na dimensão metodológica.

Em resposta a esta constatação, nossa ins-

tituição passou a adotar diversas iniciativas que

em muito se assemelham ao processo elabo-

rado pelos reformadores do exército prussiano

após 1806. Na busca pela otimização gerencial

da guerra, o desenvolvimento de sistemas

como o Ópera, o Hércules e o SISGPO têm o

mesmo escopo das modificações que garanti-

ram um elevado patamar de eficiência na área

de Comando e Controle nos níveis tático,

operacional e estratégico do exército prussiano.

Já no tocante ao processo decisório em

geral, podemos destacar algumas iniciativas es-

tratégicas voltadas para uma melhor

capacitação dos recursos humanos. Uma de-

las é o projeto Marte, que visa obter na área

de jogos de guerra, inicialmente focada na

ECEMAR, um salto qualitativo equivalente ao

que o PFCEAB trará à Força em termos de equi-

pamentos.

Novamente é possível retroceder no tem-

po e constatar que uma das maiores priorida-

des da reforma prussiana foi justamente nesta

área, onde os jogos de guerra da “War

Academy” passaram a refletir fielmente o

“modus operandi” do exército prussiano em

campanha, sendo um bom desempenho nes-

tes um pré-requisito aos postos mais

prestigiados da instituição.

O nível de excelência alcançado pelo

exército alemão fez com que ele servisse como

base para muitas instituições militares, algo que

também tinha sido previsto pelos reformadores,

que buscaram, então, garantir a vanguarda atra-

vés do constante aprimoramento dos recursos

humanos.

Hoje, a experiência dos países ditos de

primeiro mundo mostra que é cada vez mais

necessária a conjunção entre o conhecimento

Maj. Karl VonClausewitzFonte: The ClausewitzHomepage(www.clausewitz.com)

Page 13: Revista SPECTRUM Nº 06

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operacional e a capacitação científica, sendo

possível observar que apenas um grupo seleto

de Forças Aéreas produz novos conceitos de

emprego, os quais são posteriormente copia-

dos pelas demais.

Também à semelhança do exemplo

prussiano, recentes iniciativas na Aeronáutica

têm tornado evidente a preocupação com a

busca pela independência no campo científi-

co voltado para as aplicações operacionais, de

forma a poder ingressar no grupo de elite das

Forças Aéreas que tem a capacidade de gerar

Doutrina. Para tal, a FAB deve buscar a garan-

tia de que sua estrutura de capacitação de re-

cursos humanos seja capaz de forjar Oficiais

que possuam o domínio global de todos os

conceitos e técnicas necessárias ao emprego

pleno do Poder Aéreo.

Um dos resultados desta busca é o Pro-

grama de Pós-Graduação em Aplicações

Operacionais (PPGAO) que, na mesma linha

dos reformistas prussianos, enfoca a

capacitação tecnológica e metodológica nos

assuntos da Guerra, em nosso caso procuran-

do aproveitar a excelência já alcançada pela

Aeronáutica em seu complexo tecnológico

(CTA) e abrir novas linhas de pesquisa nas áre-

as onde o conhecimento não é facilmente ob-

tido no exterior ou, quando oferecido, normal-

mente está desatualizado e redunda em cus-

tos muito altos.

Seria fácil prosseguir nesta comparação

entre uma Força Armada do passado que, par-

tindo de uma situação caótica, se tornou exem-

plo de excelência por mais de um século, com

uma Força Armada do presente que, ao se de-

parar com uma conjuntura adversa, tem toma-

do iniciativas bastante semelhantes. Porém as

óbvias diferenças entre os dois casos tornam

prudente abstrair apenas o sentido geral que

está por trás destas semelhanças.

Napoleão, durante o armistício de 1808,

impôs restrições brutais ao já depauperado

exército da Prússia, na intenção de impedir que

aquele país voltasse a ser uma potência mili-

tar. Piorando esta situação, o grupo dos

reformadores encontrou seriíssimas reações às

mudanças por eles pregadas, vindas principal-

mente dos nobres, casta que dominava a ofi-

cialidade do exército e detinha o controle de

seus processos. No entanto, a própria necessi-

dade de sobrevivência da Prússia como nação

fez com que a busca pela excelência suplan-

tasse todas estas reações.

Esta parte da história parece-nos corrobo-

rar a noção de que, por mais adversas que se-

jam as condições, o caminho para a

institucionalização da excelência encontra-se

na otimização gerencial e no aprimoramento

dos recursos humanos, aparentemente um ca-

minho que nossa organização tem procurado

trilhar. Economizar nestas áreas significa optar

por um alívio em curto prazo em troca da in-

solvência no futuro, pois os juros cobrados pela

estagnação tecnológica a uma Força Aérea dei-

xariam encabulado o mais cruel dos agiotas.

Bibliografia

Beason, J. D.; “A Necessidade de Guerreiros

Técnicos”, artigo reproduzido na revista

Spectrum nº 5, Brasília, 2002.

Creveld, M. V.; Command in War; Harvard

University Press, Londres, 1985.

Dupuy, T. N.; A Genius for War; Nova

Publications, 8a ed., Falls Church, 1997.

Notas

1 Líderes como Moltke, nas campanhas de

1866, e Rommel, na Segunda Guerra,

foram inegavelmente comandantes

brilhantes; porém é consenso que nenhum

deles está no patamar de Napoleão ou

Frederico, o Grande.

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Spectrum

Programa de Pós-Graduação Para a Guerra:Fator de Assimetria Operacional

“ ... a maior ameaça é a fragilidade inte-lectual ...”

(Ten.-Brig do Ar José Carlos Pereira

Simpósio sobre Preparo e Emprego da FAB, 1999)

D ois fatores causam assimetriaoperacional no espaço de batalha:tecnologia e concepção de empre-

go. Enquanto aquela depende de aporte finan-ceiro, esta (a concepção de emprego) depen-de da capacitação dos recursos humanos deuma força armada, para desenvolver, enten-der e explorar conceitos de guerra, estratégi-as, modelos, métodos, táticas e procedimen-tos operacionais.

Na guerra do Yom Kippur, por exemplo,as Forças Armadas Árabes possuíam superio-ridade numérica e até mesmo a surpresatecnológica (mísseis portáteis, técnica Dopplerpara guiamento radar de mísseis superfície-ar,o conceito de guarda-chuva de fogo, etc). Noentanto, as Forças de Israel saíram vitoriosasnaquele embate, pois possuíam recursos hu-manos melhor capacitados, capazes de ino-var, desenvolver, entender, explorar e causarassimetria no espaço de batalha. Por certo, asforças israelenses não se limitaram a formarrecursos humanos apenas para repetir estraté-gias, modelos, métodos, táticas e procedimen-tos operacionais, eles buscaram a excelênciana área de defesa.

Este artigo se propõe a analisar, sucinta-mente, a importância do Programa de Pós-Gra-duação em Aplicações Operacionais (PPGAO– mestrado e doutorado nas áreas de coman-do e controle, guerra eletrônica, análiseoperacional e armamento aéreo) e o Curso deEspecialização em Análise de Ambiente Ele-tromagnético (CEAAE – pós-graduação latosensu em guerra eletrônica) como um fator deassimetria operacional, a ser utilizado pelasForças Armadas Brasileiras e, em especial, pelaAeronáutica.

1 – O Enfoque da Pós-GraduaçãoA capacitação de pessoal no nível de pós-

CGEGAR - COMGAR

graduação (mestrado e dou-torado) é o principal pilar desustentação do progressoacelerado das várias ativida-des humanas dos dias atuais.Métodos e tecnologias têmsido desenvolvidos num rit-mo cada vez mais crescen-te, permitindo superar barrei-ras nos vários campos doconhecimento.

A principal diferençaentre a formação no nível degraduação e a pós-gradua-ção é que enquanto aquelaprepara os recursos humanospara desempenhar funçõesconforme métodos, mode-los, concepções etecnologias existentes (for-mação do repetidor), estacapacita-os a desenvolvê-los, a pesquisar, buscar a ino-vação, superar obstáculosnovos e antigos, criar condi-ções favoráveis para que asorganizações possam com-petir com maior probabilidade de sucesso.

Outra diferença a ser considerada é que o“feed back” de uma pessoa que conclui o cur-so de graduação só ocorre ao longo do tempo,durante o desempenho das funções, enquantona pós-graduação poderá ser imediato com oaproveitamento da tese desenvolvida, além deuma melhor preparação para as atividades desíntese, análise e avaliação de soluções.

No modelo educacional consagrado nomundo, a Taxionomia de Bloom, no domíniocognitivo, estabelece os seguintes níveis de ob-jetivos operacionais a serem alcançados ao fi-nal de um determinado curso:

a)conhecimento ou familiarização;b)compreensão;c)aplicação;d)análise e síntese; ee)avaliação (da solução).

O CGEGAR (Centro deGuerra Eletrônica doCOMGAR) assessora o Coman-dante Geral do Ar na gerênciado SIGEA (Sistema de GuerraEletrônica da Aeronáutica). Foicriado em 1993 como 1SC7(Sétima Seção da 1ªSub-Chefia do COMGAR) e, em1995, passou à denominaçãoNuCenCE (Núcleo do Centrode Combate Eletrônico do COMGAR). Em 1997, passouà atual denominação, sendo composto das seguintes se-ções: Desenvolvimento de Re-cursos Humanos, Inteligência, Técnica e Análise Operacional.

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Os cursos, cuja proposta pedagógica visaatingir os três primeiros níveis, limitam-se a ca-pacitar os recursos humanos para responder aestímulos situacionais conforme modelos, mé-todos e tecnologias desenvolvidos por outrem,ou seja: forma um repetidor. Os dois últimosníveis são melhores alcançados nos cursos depós-graduação, pois visam, especificamente, aformação de profissionais com pensamento crí-tico e capacidade de análise, síntese e avalia-ção de soluções (busca da excelência - inova-ção).

Na Aeronáutica, antes da ativação doPPGAO e do CEAAE, os cursos operacionaisatingiam, no máximo, o terceiro nível daTaxionomia de Bloom (aplicação). Isto caracte-rizava uma preocupação em formar “orepetidor” e pouca ênfase em capacitar os inte-grantes da Força Aérea a desenvolver ou criti-car conceitos de guerra, concepções de empre-go, modelos, métodos, táticas e procedimentosoperacionais, além de aumentar suas capaci-dades de análise, síntese e avaliação.

Com a ativação do PPGAO e CEAAE, acapacitação dos recursos humanos da Força Aé-rea Brasileira, para fins de defesa, passou a serrealizada dentro de uma política coerente comas necessidades dos cenários operacionais,norteada pela busca da excelência, cuja pro-posta pedagógica foi elaborada para atender atodos níveis da guerra, a característica inusita-da do combate e visa preparar o homem paraentender e explorar as interações que ocorremno teatro de guerra e, até mesmo, gerar novosconceitos, concepções operacionais, métodos,modelos, táticas, procedimentos e tecnologiasvoltadas para o emprego militar (“know-why”).

2 - A Pós-Graduação na Área MilitarNa área militar a formação no nível de

pós-graduação permite a uma Força Armadadesenvolver, entender e explorar, com maiorprobabilidade de sucesso, os conceitos de guer-ra, as concepções de emprego, os modelos,métodos, táticas, procedimentos operacionaise as tecnologias utilizadas nos cenários de cri-

se, conflito ou guerra.Como exemplo da importância deste tipo

de formação, na Força Aérea dos EUA 96/% dosoficiais realizaram, no mínimo, um curso nonível de mestrado, e a Marinha desse mesmopaís adota como um dos critérios, para coman-dar um porta-aviões, que o oficial tenha reali-zado um curso de doutorado, pois esse tipo debelonave pode tornar-se o navio-capitânia deuma frota inteira e esse nível de curso aumentaa capacidade de análise, síntese e avaliação dasolução por parte de quem o realiza, diminuin-do a probabilidade de insucesso nas decisões.

A Aplicação Militar do Poder AeroespacialBrasileiro é um monopólio exclusivo da Aero-náutica. Da mesma forma, a Petrobrás possuíao monopólio da exploração e explotação dopetróleo no Brasil até pouco tempo atrás. A di-ferença é que esta empresa tornou-se a melhordo mundo no seu negócio na plataforma marí-tima. Isso aconteceu principalmente pelo fatoda Petrobrás possuir um programa de busca deexcelência, que consta basicamente dacapacitação de recursos humanos no nível depós-graduação (especialização, mestrado e dou-torado), com os temas das teses direcionadospara atender às suas necessidades.

A Aeronáutica possui, há muito tempo,programas de busca de excelência na área téc-nica que tem apresentado resultados deinquestionável valor para o país. Esses progra-mas foram iniciados a partir da criação do ITA.Esse instituto é considerado pelo MEC como amelhor instituição de ensino em engenhariado país e conta com um formidável corpo do-cente, uma infra-estrutura considerável, alémde possuir a melhor biblioteca de engenhariada América Latina.

O preparo e emprego eficaz e eficientede uma Força Aérea dependem das seguintesatividades, consideradas essenciais:

a)Logística – que tem a finalidade de for-necer meios e pessoal;

b)Inteligência – que trata da segurança dasinformações referentes ao ambiente operacionalamigo e do levantamento das possibilidades e

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limitações do inimigo;c)Comando e Controle – que cuida da ge-

rência e da aplicação dos meios, dos homens ede processos; visando atingir determinados ob-jetivos políticos e operacionais;

d)Guerra Eletrônica – que engloba as açõese o estabelecimento de critérios, métodos, mo-delos, concepções ou táticas militares, destrutivasou não, de utilização do espectro eletromagné-tico, que tenham como objetivo a obtenção deassimetria vantajosa sobre o oponente;

e)Análise Operacional - que propicia a umaforça armada metodologia e ferramentas paraidentificar as variáveis componentes de um pro-blema operacional, caracterizá-las, mensurá-las,definir indicadores (coeficiente de atrito, proba-bilidade de sucesso, erro circular provável, etc),avaliar equipamentos, sistemas e armamentos,estabelecer procedimentos e fazer prognósticosde resultados; e

f) Operações Psicológicas – que buscam in-fluenciar o comportamento de organizações, go-vernos, estados e pessoas, de modo a facilitar aconsecução dos objetivos amigos.

Percebe-se que as forças armadas que pos-suem programa de pós-graduação nessas ativi-dades são as que têm conseguido obter sucessonos campos de batalha nos últimos sessenta anos.

3 – O PPGAO e CEAAE como Fatores deAssimetria Operacional

Todas as forças aéreas no mundo capacitamrecursos humanos, poucas, no entanto, atingemos níveis mais altos de conhecimento nesse “ne-gócio” denominado defesa.

Isso ocorre devido a vários fatores, dentre osquais, alguns merecem destaque:

a)a grande maioria das forças aéreas limi-tam-se a capacitar os recursos humanos, visandoo desempenho das funções a bordo das platafor-mas ou no solo (formação do repetidor), sem, con-tudo, considerar a necessidade de evolução,melhoria constante, domínio do conhecimento,desenvolvimento de conceitos, concepções, táti-cas, métodos, modelos e procedimentosoperacionais; e

b)a maioria das forças aéreas sabem formarbem um piloto, poucas, no entanto, têm progra-ma de pós-graduação nas áreas de comando econtrole, guerra eletrônica, análise operacional,armamento aéreo, logística e operações psicoló-gicas.

O resultado desse desnível no enfoque decapacitação de recursos humanos, entre forçasaéreas de diferentes países, é que apenas um pe-queno grupo delas gera a quase totalidade dosconceitos, concepções, táticas, modelos, métodose, até mesmo, novos procedimentos operacionais,enquanto que a maioria apresenta dificuldade paraentender ou, até mesmo, copiar a evolução queocorre nessas áreas e que afetam a maneira deaplicar a arma aérea.

Essa diferença é um dos principais fatorescausadores de assimetria entre forças aéreas, poispolítica de capacitação de recursos humanos semprograma de pós-graduação, pode criar depen-dência intelectual/doutrinária, corre o risco dedeixar a força conceitualmente fraca, com poucoentendimento de emprego e, mesmo que possuarecursos tecnológicos, existirá grande probabili-dade de cometer erros amadores, por falta de con-cepção atualizada.

Pós-graduar nas várias áreas da guerra é,portanto, muito mais que uma simples política deeducação, é querer dividir com as melhores for-ças aéreas o pódium do campo de batalha, pois,ao contrário da tecnologia que depende de quan-tidade significativa de aporte financeiro e de deci-sões que extrapolam os limites da Força AéreaBrasileira, a doutrina e capacitação de recursoshumanos são questões confinadas aos muros dacaserna, e a opção de estabelecer ou não progra-mas que permitam-na ficar entre as melhores domundo nessas áreas, dependia da idéia de vitóriade seus integrantes.

Esta realidade fez com que a Força AéreaBrasileira adotasse uma postura pró-ativa nacapacitação de recursos humanos, de modo a criarvalores compartilhados, preparar os integrantes daorganização para liderança intelectual, capacitá-los para desenvolver teoria ou visão de vitória,possibilitar a melhor utilização das características

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

da arma aérea (velocidade, alcance e flexibilida-de), entender e explorar os conceitos de precisão,conhecimento situacional global e do teatro deoperações, estabelecer estratégias e aplicar o po-der aéreo como instrumento de política do esta-do-nação.

Numa busca de institucionalização da exce-lência na área operacional, o Comandante daAeronáutica emitiu a portaria 941/GC3, de 11 Dez2001, que cria, no Instituto Tecnológico de Aero-náutica (ITA), o Programa de Pós-Graduação emAplicações Operacionais (PPGAO), nos níveis deMestrado e Doutorado, nas áreas de Comando eControle, Guerra Eletrônica, Análise Operacionale Armamento Aéreo, com a finalidade de formarmilitares e civis para o exercício de atividades deanálise, síntese, avaliação, pesquisa e desenvolvi-mento de concepções, métodos, modelos, con-ceitos, táticas, procedimentos e tecnologias, to-das relacionadas com aplicações operacionais.

Esse programa tem por objetivo atender àsnecessidades operacionais da Aeronáutica, visan-do à geração e ao domínio do conhecimento nosníveis estratégico, operacional e tático. Os temasdas teses de mestrado e doutorado serão defini-dos pelo EMAER E COMGAR ou outros setoresda Força Aérea, caracterizando um retorno quaseque imediato do investimento.

4 – PerspectivasNos últimos sessenta anos, quase todos os

conceitos de guerra, concepções de emprego,modelos, métodos, táticas e, até mesmo, procedi-mentos operacionais para a utilização eficaz daArma Aérea foram desenvolvidos por, basicamen-te, três países: Inglaterra, Estados Unidos da Amé-rica e Israel. Coincidentemente, esses países ven-ceram todos os embates em que se envolveramneste período, pois possuíam um dos maiores fa-tores de assimetria: programas de busca da exce-lência em defesa.

No caso brasileiro, o CEAAE e o PPGAO se-rão instrumentos pedagógicos que transformarãoo potencial, existente no capital humano, em ca-pacidade, pois resultarão nos seguintes ganhosoperacionais:

a)aumentará, de maneira consideravel, a ca-pacidade das FFAA brasileiras de resolverem pro-blemas operacionais e técnicos de ambiente deguerra;

b)possibilitará a geração de novos conheci-mentos (Know-Why) que resultem em conceitosde guerra, concepções de emprego, modelos, mé-todos, táticas, procedimentos e tecnologias;

c)concorrerá para melhorar o ciclo de deci-são nos vários níveis da guerra;

d)ampliará a capacidade de otimização e uti-lização dos meios existentes nas FFAA; e

e)aumentará a capacidade de tirar proveitodas concepções e dos recursos técnicos do inimi-go.

Considere-se, ainda que as Forças ArmadasBrasileiras serão as únicas, abaixo da linha doequador, a possuírem programa semelhante, quenão apenas causa assimetria operacional, mas,principalmente, contribui para aumentar o Poderde Dissuasão.

Embora, as matrículas de integrantes das trêsForças Singulares Brasileiras tanto no CEAAE (quejá está na sua quinta edição) como no PPGAO(que está iniciando em 2003) tenha ocorrido comnormalidade, as seguintes ações necessitam serlevadas a efeito:

a) implementar um programa de pós-douto-rado para os professores do CEAAE e PPGAO, comduração de seis meses a um ano, em estabeleci-mentos de ensino que atuem em áreas afins (“Na-val Postgraduate School”, a George MaisonUniversity nos EUA, etc);

b)buscar o patrocínio do Ministério da Defe-sa, vez que o programa atende às três Forças Sin-gulares Brasileira, além da indústria nacional dedefesa; e

c)ampliar o programa para atender umamaior demanda das FFAA Brasileira e em particu-lar da Aeronáutica.

Finalmente, pode-se inferir que esse progra-ma poderá fazer a diferença entre a vitória e aderrota, o sucesso e o fracasso num teatro deguerra, além de tornar fato a busca da exce-lência operacional dentro da nossa Força.

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Spectrum

Gestão do Conhecimento Para a Área de Guerra Eletrônica

David Almeida Alcoforado - Cap.-AV.COMGAR

O Cap.-Av. David é piloto

de Caça, concluiu o CFOAv em

1989 e exerce atualmente a

função de Adjunto ao Centro

de Guerra Eletrônica do

COMGAR. Possui os cursos de

especialização em Telecomuni-

cações pela Universidade

Gama Filho (RJ), Mestrado em

Pesquisa Operacional pela

COPPE/UFRJ e Electronic

Warfare Simulation na França.

AGuerra Eletrônica (GE) consolidou-se

como uma atividade imprescindível

e de extrema importância para a guer-

ra moderna. A FAB, ciente desta realidade, tem

investido grandes somas para formar pessoal

numa área tão especializada. Um dos grandes

exemplos é o Curso de Especialização em Aná-

lise do Ambiente Eletromagnético (CEAAE),

realizado no ITA, que tem alavancado grande

parte do conhecimento hoje existente na For-

ça na área de GE. Recentemente, também foi

criado o Programa de Pós-Graduação em Apli-

cações Operacionais (PPGAO), também no

ITA, com cursos no nível de mestrado e douto-

rado nas áreas de armamento, comando e con-

trole, guerra eletrônica e pesquisa operacional.

Some-se a isto, os diversos cursos no nível de

especialização e mestrado realizados no país

e no exterior. Uma questão que advém desta

política de formação de pessoal é como

gerenciar toda a bagagem de conhecimentos

adquiridos, visando o aproveitamento máxi-

mo do que vem sendo investido, fato este

agravado por tratar-se de uma área cujo co-

nhecimento se volatiliza num curto espaço

de tempo.

A Gestão do Conhecimento

Todos os benefícios gerados pelos pro-

gramas de formação mencionados podem e

devem ser potencializados através da utiliza-

ção de adequadas ferramentas gerenciais. A

resposta para este problema pode ser a im-

plantação de uma metodologia que vem sen-

do empregada por grandes empresas de su-

cesso em todo o mundo, denominada Gestão

do Conhecimento.

A gestão do conhecimento pode ser en-

tendida como a maneira como as organiza-

ções geram, difundem e alavancam os seus

ativos intelectuais, e recentemente emergiu

como uma fonte essencial de vantagem com-

petitiva na economia da in-

formação [2].

A economia do conhe-

cimento segue uma nova

lógica econômica, pois o

conhecimento difere radi-

calmente de todas as outras

“commodities”, porque não

segue a teoria da escassez.

Segundo esta teoria econô-

mica, um dos quesitos para

que um produto se torne um

bem econômico é a sua es-

cassez. Assim, num exem-

plo simples, o ar não é con-

siderado um bem econômi-

co pela sua não escassez. Já

o conhecimento, ao contrá-

rio, segue o que se pode

chamar de teoria da abun-

dância. Quanto mais se

compartilha, mais se tem, quanto mais alguém

utiliza um conhecimento, maior será o seu

valor.

Existem basicamente dois tipos de conhe-

cimento: o conhecimento explícito e o conhe-

cimento tácito. O primeiro é o conhecimento

formal e sistemático, facilmente difundido e

disseminado nas organizações, através de cur-

sos, palestras, manuais, normas e procedimen-

tos. O conhecimento tácito é um tipo de co-

nhecimento difícil de ser expressado ou for-

malizado, é o conhecimento pessoal. Normal-

mente, sabemos muito mais do que consegui-

mos expressar. Vejamos um exemplo: aquele

instrutor de vôo que tem uma habilidade es-

pecial para ensinar um aluno a pousar ou voar

formatura é aquele que consegue transformar

o seu conhecimento pessoal, a sua experiên-

cia, em palavras ou numa “fórmula” para que

o aluno possa aprender mais rápido. Quantas

vezes seguimos um procedimento formal, es-

crito, cujo resultado não é favorável e temos

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19

Spectrum

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

que recorrer a alguém detentor de um conhe-

cimento a mais que acaba por resolver o pro-

blema? O operador de um radar que tem um

“macete” para identificar precocemente um

alvo, um operador de um equipamento MAGE

que sabe algo além dos manuais, e tantos ou-

tros exemplos, devem ser estimulados a difun-

dir esse conhecimento. A difusão e a

formalização de um conhecimento tácito é

uma tarefa árdua e se constitui num dos maio-

res desafios da gestão do conhecimento.

Objetivos da Gestão do Conhecimento

A gestão do conhecimento é uma disci-

plina que promove, com visão integrada, o

gerenciamento e o compartilhamento de todo

o ativo de informação possuído por uma orga-

nização. Esta informação pode estar em um

banco de dados, documentos, procedimentos

ou em pessoas, através de suas experiências e

habilidades. Precisamos gerenciar o conheci-

mento para:

1. Não repetir os erros ou aprender com a

experiência;

2. Registrar o conhecimento;

3. Registrar as melhores práticas; e

4. Disponibilizar o conhecimento gerado na

organização.

A gestão do conhecimento não é uma

tecnologia, mas usa a tecnologia. É uma

metodologia e não um produto. Para que um

projeto de gestão do conhecimento obtenha

êxito é necessário que ocorram mudanças cul-

turais e gerenciais na organização, e a princi-

pal tarefa é transformar o conhecimento tácito

em conhecimento explícito, através de ferra-

mentas adequadas para disponibilizar o conhe-

cimento para toda a organização. Uma boa

estruturação nesta área também permite às or-

ganizações transformar uma variada gama de

dados brutos em conhecimento útil e vital para

a tomada de decisão.

Modelos de Gestão do Conhecimento

O modelo de gestão do conhecimento,

adotado pelo Centro de Referência em Inteli-

gência Empresarial (CRIE) da COPPE/UFRJ [2],

baseia-se na exploração dos capitais do co-

nhecimento, conforme ilustra a Figura 1. Se-

gundo este enfoque, o conhecimento está ba-

seado no capital de relacionamento, capital

estrutural, capital intelectual e capital

ambiental. O capital ambiental engloba todo

o conhecimento a respeito do ambiente exter-

no à organização, como os fatores políticos,

novas tecnologias, mudança nas regras de

competição, entre outras, e neste meio estão

inseridos todos os outros capitais. O capital

estrutural refere-se ao meio físico para que a

organização funcione, como os programas de

computadores, máquinas, sistema administra-

tivo, rotinas, marcas, patentes, entre outros. O

capital de relacionamento é a rede de relacio-

namentos de uma organização com clientes,

parceiros e fornecedores. Por fim, o capital

intelectual, que são as pessoas, é o maior

patrimônio de qualquer organização. Um pro-

jeto de gestão do conhecimento deve contem-

plar todos os capitais mencionados, e para cada

um deles existem ações específicas a serem

desenvolvidas.

Capital Ambiental

Capital

Estrutural

Capital

de

Relacion

amento

Capital Intelectual

Figura 1 - Modelo de gestão do conhecimento dosquatro capitais do conhecimento - COPPE/UFRJ

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○20

Spectrum

Um outro enfoque interessante foi apre-

sentado por Quinn et al.[3], que é o conceito

das “Redes Intelectuais”. Uma aplicação para

este conceito na área de GE seria a divisão de

especialistas em determinas áreas, por exem-

plo, a especialização por faixas do espectro.

Cada equipe ficaria integrada por meio de

“software” adequado para a gestão do conhe-

cimento e teriam tarefas específicas. Teriam

como objetivo desenvolver pesquisa sobre os

temas de sua área, atualizar e disponibilizar o

conhecimento, além de outras tarefas a serem

identificadas. Esta seria uma forma interessan-

te para evitar que algum colaborador altamente

especializado se isole em alguma unidade e

acabe por perder todo o conhecimento adqui-

rido. A chave de sucesso para essas equipes é

a motivação, através de incentivos, cursos de

atualização, participação em congressos, além

de serem submetidos a um processo de avali-

ação de rendimento.

A Importância do Conhecimento naSociedade Pós-Industrial

Sem dúvida, muitas outras idéias surgirão

para a gestão do conhecimento na área de GE,

e também existem várias técnicas para implan-

tar um projeto nessa área, cuja abordagem foge

ao escopo deste artigo, mas podem ser facil-

mente encontradas nas referências citadas. O

principal objetivo é alertar que algo precisa

ser feito para otimizarmos a aquisição de co-

nhecimentos numa área tão crucial para a guer-

ra.

Segundo De Masi [4], na sociedade in-

dustrial, o poder dependia da posse dos meios

de produção (fábricas). Na sociedade pós-in-

dustrial, o poder depende da posse dos meios

de ideação (laboratórios) e de informação. Os

Estados Unidos são uma potência não porque

possuem a Ford ou a Microsoft, mas porque

possuem universidades, laboratórios de pes-

quisa, o cinema e a CNN. A produção por si

só não representa mais uma vantagem com-

petitiva. Hoje, 55% da riqueza mundial está

baseada no conhecimento. A FAB tem tudo

para liderar um grande processo de inovação

na área de guerra eletrônica, pois já possui uma

massa crítica de pessoal capacitado em vários

níveis, desde a pesquisa básica, até o elo

operacional, tudo isso com o suporte de uma

indústria que se mostra cada vez mais compe-

tente. Então, mãos à obra!

Referências:[1] Gomes, E. Fabiane, B. Inteligência

Competitiva. Rio de Janeiro, Campus,

2001.

[2] Drucker, P. “The Coming of the New

Organization”. Harvard Business Review,

jan 1988.

[3] Quinn, J.B. Anderson, P. Finkelstein, S.

“Managing Professional Intellect: Making

the Most of the Best”. Harvard Business

Review, Mar 1996.

[4] De Masi, D. O Ócio Criativo. Rio de

Janeiro, Sextante, 2000.

Page 21: Revista SPECTRUM Nº 06

21

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Oelemento surpresa sempre repre-

sentou um fator importantíssimo

em ações militares. Imagine um

cenário de combate onde uma das forças par-

ticipantes detecta alvos, guia mísseis e navega

emitindo todo o tempo sem ser interceptada

eletronicamente por seus oponentes. A eviden-

te vantagem obtida em tal situação explica o

fato do número crescente de radares e

aviônicos com capacidade LPI que surgiram

nas duas últimas décadas, bem como o sem-

pre presente requisito de baixa probabilidade

de interceptação que vem sendo inserido em

novos projetos de radares aerotransportados ou

não. [1]

Radares e aviônicos convencionais que

realizam qualquer tipo de emissão eletromag-

nética sempre apresentaram o “efeito

colateral” da detecção por parte de recepto-

res de guerra eletrônica. O requisito de baixa

probabilidade de interceptação para radares

decorre da constante necessidade de superi-

oridade de informações sobre determinado

oponente num ambiente de combate, ou, em

termos gerais, da necessidade de “ver sem ser

visto”. O conceito portanto é bastante subje-

tivo e está vinculado à possibilidade de utili-

zação de equipamentos MAGE (Medidas de

Apoio à Guerra Eletrônica) e CME (Contra-

Medidas Eletrônicas) por parte do oponente,

com o propósito de localizar, identificar e in-

terferir ou alterar (“jammear”) o sinal radar

amigo em benefício próprio, bem como à

possível utilização de mísseis anti-radiação

(ARM) para destruição ou danificação do

emissor.

Este requisito não vem sendo exigido so-

mente de radares aerotransportados de desig-

nação de alvos, guiagem e direção de tiro,

mas também de equipamentos bastante co-

nhecidos e largamente utilizados como

radialtímetros, radares de vigilância e nave-

gação, equipamentos de pouso de precisão,

Baixa Probabilidade de Interceptação (LPI – Low Probability of Intercept)Requisito Essencial na Guerra Moderna

Antônio Ferreira de Lima Júnior, Cap.-Av.COMGAR

O Cap.-Av. Antônio

Ferreira de Lima Júnior é instru-

tor de patrulha, concluiu o

CFOAV em 1993 e exerce atu-

almente a função de Adjunto da

Seção de Desenvolvimento de

Recursos Humanos do

CGEGAR. Possui o Curso de Es-

pecialização em Análise de

Ambiente Eletromagnético, no

Instituto Tecnológico de Aero-

náutica (ITA) e Mestrado em En-

genharia de Sistemas pela Na-

val Postgraduate School

(Califórnia - EUA) , com espe-

cialização em Guerra Eletrôni-

ca.

radares de mísseis ar-terra e

torpedos como o “Spearfish”

(em seu modo de guiagem ati-

va).

A baixa probabilidade de

interceptação pode ser atingi-

da através de técnicas como

o controle da potência de

emissão, espalhamento da

banda de transmissão

(“spread spectrum”), diversi-

dade e agilidade de freqüên-

cia, e aumento da complexi-

dade da varredura. [2]

Estas técnicas podem ser

usadas em conjunto ou isola-

damente, levando inclusive à

possibilidade do radar ser in-

terceptado porém não identi-

ficado, tornando praticamen-

te impossível, numa situação

real, qualquer tomada de de-

cisão em tempo útil. Como

exemplo poderíamos citar o

problema no qual um subma-

rino chega a interceptar o ra-

dar do “Spearfish”, porém não o identifica

como tal a tempo de efetuar uma manobra

evasiva, imaginando tratar-se de sinal espú-

rio.

Fazendo uma análise rápida das técni-

cas mencionadas, o controle de potência de

emissão visa tornar o “duty cycle” (razão en-

tre a largura de pulso e a freqüência de repe-

tição de pulsos) o maior possível, ao mesmo

tempo que a potência é mantida no menor

valor que ainda permita a detecção de alvos

de interesse do radar. Numa representação

gráfica podemos visualizar a relação Tempo

X Potência que irá definir o “duty cycle” de

um radar LPI, usando transmissão de onda

contínua (CW), em comparação com um ra-

dar pulsado:

Page 22: Revista SPECTRUM Nº 06

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22

Spectrum

Figura 1: Comparação entre o “duty cycle” de umradar pulsado e de um radar LPI CW.

A diferença entre um radar CW conven-

cional e um radar LPI é, além do controle de

potência de transmissão, a modulação do si-

nal de onda contínua em freqüência ou em

fase. Este método, usado para aumentar a ban-

da de transmissão do radar, pode ser dividido

em modulação linear ou senoidal em freqüên-

cia, modulação em fase (alterando a fase do

sinal entre dois valores – bifásica - ou mais -

polifásica) e formas combinadas das duas téc-

nicas anteriores, usando seqüências pseudo-

randômicas (principalmente na modulação em

fase), dependendo da aplicação. Desta forma

a potência irradiada é espalhada por uma lar-

ga banda de freqüências, contribuindo para

que a densidade espectral de potência no re-

ceptor fique abaixo do nível do ruído. [2]

O sinal pode até eventualmente ser inter-

ceptado, porém a costumeira vantagem tem-

poral e espacial dos receptores MAGE, neces-

sária para uma reação rápida e eficaz, não mais

estará presente. Uma outra razão para modu-

lar o sinal CW é a detecção de qualquer tipo

de alvo (móvel ou estacionário), através do

batimento “doppler” gerado pela própria mo-

dulação, diferente dos radares CW convenci-

onais onde só é possível detectar alvos que

provoquem desvio “doppler” na onda emitida

devido ao seu movimento relativo.

Um exemplo de aplicação LPI em

aviônicos é o radialtímetro AN/APN 232 CARA(“Combined Altitude Radar Altimeter”) da em-

presa americana NavCom, que usa modula-

ção linear em freqüência de sinal de onda con-

tínua (FMCW), possuindo inerente capacida-

de “spread spectrum”, além de controlar a

potência de emissão de acordo com o terreno

sobrevoado, diminuindo a probabilidade de

interceptação do sinal emitido. [3]

Além do espalhamento espectral devi-

do aos tipos de modulação mencionados, al-

guns radares também possuem diversidade

ou agilidade de freqüência. Este fator torna

o trabalho de um receptor MAGE ainda mais

difícil visto que o receptor teria que cobrir

toda a banda utilizada pela transmissão para

que pudesse processar informação suficien-

te para uma identificação positiva. Existe ain-

da uma diferença básica entre radares pul-

sados com diversidade de freqüência e ra-

dares LPI com a mesma característica. Os

radares pulsados apresentam o salto de fre-

qüência entre a transmissão de um pulso para

o outro, ou de um conjunto de pulsos para

outro. Radares LPI geralmente utilizam salto

em freqüência de sinal de onda contínua, ou

seja, durante a transmissão, complicando

bastante o seu processamento por outros re-

ceptores.

O uso de modulações baseadas em pro-

cessos pseudo-randômicos permite que o ra-

dar (conhecedor da seqüência

decodificadora do sinal) seja o único capaz

de demodular o sinal coerentemente. O re-

ceptor convencional que encontrasse este

tipo de sinal não seria capaz de processá-lo

Figura 2: Componentes do NavCom AN/APN-232 (V) “CARA – Comb. AltitudeRadar Altimeter”, Fonte: Jane’s Avionics2002-2003.

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23

Spectrum

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e poderia até mesmo confundi-lo com o ru-

ído.

O sucesso de um radar LPI depende por-

tanto da dificuldade que os receptores MAGE

têm de detectar seus parâmetros de emissão.

Do outro lado da moeda, o desenvolvimen-

to de novas técnicas de análise de sinais di-

gitais vem ajudar a diminuir esta vantagem

dos radares LPI. Técnicas como o tratamen-

to deste tipo de emissão como um processo

aleatório e ciclo-estacionário (tratamento

estatístico dos parâmetros do sinal), ou usan-

do filtros de alta ordem permitem extrair

parâmetros de sinais com características LPI.

[4] Porém estes tópicos são razoavelmente

complexos e merecem um novo artigo, tal-

vez para a próxima edição.

Por enquanto, fica a idéia da importân-

cia deste tipo de requisito tanto para radares

como para aviônicos em geral, visto que o

ambiente de combate tende a ficar cada vez

mais eletronicamente denso, sofisticado e

portanto cada vez mais difícil de ser domi-

nado. A superioridade de informações está

cada vez mais l igada ao domínio de

tecnologia de ponta e ao uso inteligente da

tecnologia disponível. A possibilidade de

“ver sem ser visto” dos radares e aviônicos

LPI e a maior consciência situacional, de-

corrente de sua utilização, além de serem

importantes na garantia do fator surpresa e

do sucesso de qualquer ação militar, tam-

bém auxiliarão taticamente numa tomada de

decisão rápida e eficaz. Considerando uma

corruptela do velho ditado: “Em ‘guerra’ de

cego, quem tem somente um olho tem supe-

rioridade de informações”.

Referências Bibliográficas:

[1] Para uma visão histórica da importância

do elemento surpresa nas guerras e

evolução da necessidade de baixa

probabilidade de interceptação, vide

FULLER, K. L. – “To see and not be seen”,

IEEE Proceedings, Vol. 137, Pt. F, nº1, p.

2-9, Fevereiro 1990

[2] Para uma compreensão do uso de

técnicas de espalhamento espectral na

modulação de sinais radar, vide

BURGOS-GARCIA M., et al, “Radar

Sensor using LPI Spread Spectrum Fre-

quency Hopping Signal”, IEEE AES Sys-

tems Magazine, p. 23-28, Abril 2000

[3] Vários exemplos de equipamentos

usando tecnologia LPI podem ser

encontrados no link da Jane´s Avionics na

Intraer: www.janes.intraer

[4] Apresentação e implementação em

Matlab® de dois métodos para análise de

sinais LPI, sob a ótica do receptor MAGE:

LIMA, A. F., “Analysis of Low Probability

of Intercept (LPI) Radar Signals Using

Cyclostationary Processing”, Master

Thesis, NPS, EUA, Setembro 2002

Figura 3: Antena fixa “active-element phasedarray” do AN/APG-77 (Radar LPI do F22 “Raptor”).Fonte: http://www.f22fighter.com/radar.htm

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Aplicação de Sistemas Eletroópticos na Aviação de Patrulha

Sidney César Coelho Alves, Cap.-Av.2º/7º GAv.

O Cap.-Av. Sidney CésarCoelho Alves é instrutor de patru-lha, concluiu o CFOAV em 1993e exerce atualmente a função deChefe da Subseção de Guerra Ele-trônica do 2º/7º Gav. Possui oCurso de Planejamento de Empre-go de Armamento Aéreo, no Gru-po de Instrução Técnica e Especi-alizada (GITE), Curso Básico deGuerra Eletrônica e Especializa-ção em Análise de Ambiente Ele-tromagnético, no InstitutoTecnológico de Aeronáutica (ITA).

Com a aprovação pelo Governo Fede-ral do “Programa de Fortalecimentodo Espaço Aéreo Brasileiro”, surgiu na

FAB uma expectativa muito grande à respeitodas novas potencialidades advindas da aquisi-ção de plataformas de última geração. Porém,esta nova mudança terá que ser feita de formagradativa, sem nos esquecermos das platafor-mas hoje existentes, que servirão para a adap-tação dos novos pilotos nos diversos sistemasda moderna tecnologia.

Certamente, várias aeronaves como oF-5, C-95, T-27 e P-95, entre outras do acervoatual da Força Aérea, poderão ter suas vidas úteisprolongadas com a revitalização ou moderni-zação de seus sistemas d’armas, sensores radar,sistemas de navegação e muitos outros, queaumentarão de forma significativa suas vidasoperacionais, contribuindo como um “trampo-lim” para as aviações de primeira linha. Estavisão certamente torna a aquisição desses “pa-cotes” de revitalização uma forma mais rápidae econômica de se proporcionar um up-date,sem a necessidade da aquisição de uma plata-forma em desenvolvimento, o que demandariatempo e, principalmente, dinheiro.

Aplicação dos Sistemas Eletroópticosno Ambiente da Patrulha

Atualmente, os esquadrões de patrulha dis-põem da plataforma P-95, nas versões Alfa e Bra-vo, sendo que estas duas diferem entre si em ape-nas alguns componentes do sistema de aviônicos.Tais aeronaves cumprem de maneira satisfatóriaas tarefas a elas atribuídas, entretanto, suas restri-ções operacionais poderiam ser minimizadas como estudo da possibilidade de aplicação de siste-mas ópticos, o que proporcionaria um incremen-to do emprego noturno, além de ser factível o re-gistro através de imagens de plataformas hostis ouilícitas (com o registro de imagens de interesse), oaumento da capacidade de busca e salvamento ea vigilância contra atos nocivos ao meio ambien-te.

Como meio primário de esclarecimento ma-rítimo da Força Aérea Brasileira, os esquadrões

de patrulha dispõem so-mente de sistemas ópticosrudimentares (binóculos ecâmera fotográfica) para aidentificação e registro deplataformas de interesse.Sabendo-se que no cenárioda patrulha marítima “os sis-temas de sensores dessas ae-ronaves devem ser capazesde detectar, acompanhar eidentificar alvos móveis e es-táticos a grande distância noar, no solo, na superfície esob o mar”[1], os sensoreseletroópticos passaram adesempenhar um papel deimportância tática nuncavisto anteriormente.

Somando-se a isso,com o incremento datecnologia STEALTH*, aidentificação de plataformasmarítimas através de radares está se tornando cadavez mais complexa, requerendo de seus operado-res uma aplicação tática cada vez mais aperfeiçoa-da. Sob esta nova ótica, várias forças armadas vi-ram-se obrigadas a um constante melhoramentodas plataformas aéreas, com o agregamento detecnologias para acompanhamento e vigilância.

A partir de 1980, o controle de irradiaçãotermal tornou-se o principal problema das plata-formas marítimas devido à crescente proliferaçãode sistemas eletroópticos FLIR**(Forward LookingInfrared) de longo alcance, além de seekers dearmamentos com guiagem na faixa doinfravermelho [2]. Sistemas embarcados em navi-os, como o Vampir IRS&T*** ( Consórcio Holanda/Canadá), é um bom exemplo desse desenvolvi-mento visando se antepor às ameaças surgidascom o aparecimento de mísseis anti-navio comoo Harpoon(Estados Unidos), Penguin(Noruega) eExocet(França). O Vampir IRS&T é capaz de reali-zar a detecção, aquisição e tracking de ameaçascom velocidades subsônicas e navegação ao ní-vel das ondas. Tem a capacidade de integração

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Fig. 1 - Espectro EletromagnéticoFonte: Sistemas Optrônicos do R-99SRAula Expositiva: Curso de Sistemas de Aeronave - ITA 2001

Fig. 2 - Faixa do Espectro que abrange o InfravermelhoFonte: Sistemas Optrônicos do R-99SRAula Expositiva - Curso de Sistemas de Aeronave - ITA 2001

com os sistemas de autodefesa, fornecendo de-terminação de proa e elevação da ameaça[3].

Princípios dos Imageadores TermaisPara que possamos compreender alguns

termos usados em sistemas de imageamentotermal, deve-se ter em mente alguns princípi-os básicos que regem diretamente a emissãode energia infravermelha no espaço livre(troposfera).

Sistemas de imageamento termais basei-am-se na emissão inerente de energia termalde todos os corpos existentes na natureza comtemperaturas acima de 0 K ou – 273º C. Base-ado nesta característica física intrínseca, os sis-temas eletroópticos são dispositivos passivos,que captam essas emissões infravermelhas eas transformam em imagem. Os imageadorestermais atuam na faixa de 3 a 5 micrômetros(ambientes com alta umidade e altas diferen-ças de temperaturas) ou de 8 a 12 micrômetros(ambientes com poeira, fumaça, etc.), faixasem que a atenuação, devida ao vapor d’águae ao dióxido de carbono presentes natroposfera, é menos prejudicial aoinfravermelho.

Equipamento FLIRAtualmente, várias empresas se especi-

alizaram em sistemas FLIR, tanto para fins mi-litares como civis. O emprego militar dessesdispositivos logo se direcionou para os maisdistintos campos como o da vigilância,guiamento de mísseis ar-ar, combate SAR ecomo complemento de sistemas antiaéreos de

aquisição e diretor de tiro. Tomando comoenfoque principal a vigilância, vários paísesintegraram às suas plataformas de esclareci-mento marítimo este tipo de sensor, como porexemplo: P-3 ORION, NIMROD eATLANTIQUE.

Uma característica importante desses equi-pamentos é a crescente redução de volume epeso, que os tornaram compatíveis com aero-naves de pequeno e médio porte. Um exemploé o sistema STAR SAFIRE, que equipa o R-99BRS, que tem peso e dimensões compatíveis como P-95 e, por se tratar de um equipamento deoperação independente, sua integração à aero-nave torna-se menos complicada.

O SensorÓptico e Infra-vermelho (OIS),apresentado naFigura 3, éaerotransportadoe faz parte do sis-tema de senso-riamento remotoda aeronave R-99B do 2°/6°GAv.

O STAR (Staring Array) SAFIRE (Shipboard/Airborne Forward-Looking InfraredEquipament), modelo AN/AAQ-22, é fabrica-do pela FSI Company (FLIR Systems Inc. –USA.), possuindo a capacidade deimageamento na faixa do visível einfravermelho termal para operaçõesaerotransportadas de detecção diurna e notur-na e identificação de alvos. Consiste de umaTorreta (TFU), Unidade de Controle do Siste-ma (SCU), Unidade Central Eletrônica (CEU) eUnidade de Visualização (VDU).

Mudança de Concepção de EmpregoImaginando-se uma aquisição operacional

de um sistema FLIR nos atuais P-95, uma mu-dança na concepção de emprego seria necessá-ria. Atualmente, não possuímos condições deidentificação noturna de plataformas navais. Com

Fig. 3 - Sistema Star Safire que equipa o R-99 B

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Fig. 4 - Imagem Noturna de uma Embarcação

a possibilidade de cumprirmos tais missões, ha-verá uma maximização do controle aéreo sobreos meios navais, tanto militares como mercan-tes, que utilizam águas territoriais brasileirascomo passagem. O registro de imagens termaispoderia nos fornecer vários dados importantessobre as plataformas, tais como: existência decarga a bordo, leitura do nome de registro nocostado (mesmo em condições adversas de tem-po), possíveis vazamentos de combustível emáguas brasileiras e etc. Por exemplo, na fig. 4podemos identificar uma embarcação, vista nafaixa de infravermelho, sendo possível interpre-tar vários aspectos como: nome, pessoas a bor-do e localização da casa de máquinas.

Do ponto de vista tático, a não emissão deenergia eletromagnética, característica dos siste-mas FLIR, torna nossa plataforma mais segura nasoperações em que não possa delatar sua posição,como por exemplo um acompanhamento de umaforça naval inimiga. Aliado ao fato de que o em-prego em conjunto com sistemas de aproxima-ção de imagem (zoom) e processamento devídeo(CCD), fazem com que a plataforma fique auma distância segura dos alvos hostis, não sendoameaçada pela maioria dos armamentos hoje ememprego na América Latina.

O Brasil é privilegiado por possuir mais de8.000 Km de extensão de mar territorial. Talpatrimônio é fonte de riquezas imensuráveis, por-ta de chegada e saída de produtos das mais diver-sas procedências. A guarda e manutenção da So-berania Nacional neste imenso “tapete azul” é deinteira responsabilidade de nossas Forças Arma-das. A Aeronáutica sempre cumpriu seu papel demaneira profissional e, sobretudo, buscando efi-

ciência em suas ações. Para que esta realidadecontinue a acontecer, temos que procurar cadavez mais evoluir no que há de mais atual no ce-nário mundial. O primeiro passo já foi dado como reaparelhamento da Força, porém não nos po-demos furtar ao desejo de aprimorarmos aquiloque já possuímos. O estudo de novas aplicações,táticas de emprego, aperfeiçoamento operacionaldo P-95 é uma proposta viável a ser alcançada,com condições de emprego quase que imediatas,não havendo a necessidade de espera pela entra-da operacional das novas aeronaves. Tudo isto visamanter nossa operacionalidade no mais alto ní-vel, para que possamos cumprir bem o papel quea sociedade brasileira espera de cada um de nósmilitares. Para isto, temos que estar prontos quan-do for preciso.

Referências Bibliográficas:[1] MATTEI, A. L. P.; ALVES, F. D. P. Tecnologia a

serviço da superioridade da informação. Spectrum-Revista do Comando Geral do Ar, Brasília, nº4, p. 23,nov. 2001.

[2] BROWER, K.S. Stealth and SurfaceCombatants. Electro-optical FLIR. Naval Technology-International Forum for Maritime Power- nº IV, vol.XIX, p. 107, 1998.

[3] LUM, Z. Shipboard IRS&T: Eyes on theHorizon. Journal of Electronic Defense – OfficialPublication of the Association of Old Crows – nº 6,vol. 18, p. 64, 1995.

[4] CENTRO DE GUERRA ELETRÔNICA DOCOMANDO-GERAL DO AR. Comando da Aeronáu-tica. Brasil. Apostila de Sistemas Eletroópticos. In: CursoBásico de Guerra Eletrônica. Natal, 2002.58 p.

*STEALTH – Tecnologia empregada visando o em-prego furtivo, discreto de plataformas, com a finalidadede se expor o menos possível aos sensores inimigos.

**FLIR (FORWARD LOOKING INFRARED) –Possuíam esta denominação porque os primeirossensores desenvolvidos tinham a capacidade de visa-da somente para a frente. Nos equipamentos atuais acobertura ocorre em 360º.

***IRS&T(Infrared Search and Tracking Systems)– Sistema de busca e acompanhamento eminfravermelho. Consiste de um telescópio óptico, ummecanismo de varredura, detetores e um equipamen-

to de processamento de sinais.

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Alexandre Silveira Urquia, 2º Ten. Esp. Fot.COMGAR

A Inteligência de Imagens como MAGE

O 2.º Ten. Alexandre Silveira

Urquia é especialista em Fotografia,

concluiu o Curso de Formação de

Oficiais Especialistas em 2001 e exer-

ce atualmente a função de Adjunto

do A2 do COMGAR. Possui os cur-

sos de Reconhecimento Visual,

Fotointérprete e Técnico em Informa-

ções de Reconhecimento todos no

1.º/10.º Gav, além do Curso Básico

de Guerra Eletrônica para Oficiais no

Grupo de Instrução Técnica e Espe-

cializada (GITE).

A realidade da IMINT (IMagery

INTelligence – Inteligência de Ima-

gens) no contexto atual da FAB, con-

siste na atividade atribuída aos Esquadrões de

Reconhecimento, ou seja, sensoriamento de

objetivos ou áreas de interesse tático e estraté-

gico, através de equipamentos fotográficos

aerotransportados, com a finalidade de obter

informações físicas e operacionais dos objeti-

vos que, após a adequada análise por especia-

listas em fotointerpretação, são difundidas aos

órgãos solicitantes através do Relatório de Mis-

são de Reconhecimento – REMIR, ou servirão

de matéria prima para fins cartográficos.

Entretanto, o desenvolvimento de novas

tecnologias como o imageamento orbital e o

imageamento através de radares de abertura sin-

tética (SAR), colocam a IMINT como uma das

mais importantes fontes de informações para as

MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica)

no cenário da guerra moderna.

MAGE “é a parte da Guerra Eletrônica que

engloba os processos de levantamento e

processamento de dados para satisfazer as ne-

cessidades de informações das atividades que

envolvam Guerra Eletrônica” [1], isto é, toda e

qualquer ação que resulte em apoio à GE, atra-

vés do levantamento e processamento de dados

para obtenção de informações necessárias ao seu

funcionamento, pode ser considerada como

MAGE.

Para as MAGE, constituem-se numa impor-

tante fonte de informações as atividades de IN-

TELIGÊNCIA, onde destacamos a Inteligência de

Imagens – IMINT, como uma das fontes que mais

têm crescido em importância com o desenvolvi-

mento dos sensores orbitais, especificamente na

detecção, identificação e levantamento de infor-

mações de equipamentos eletrônicos de interes-

se militar fora do território nacional, pois, no ce-

nário atual, o reconhecimento fotográfico forne-

ce informações de objetivos apenas dentro do

país ou, em última instância, obtém-se estas in-

formações dos demais paí-

ses através de objetivos de

oportunidade ou pesquisas

pelos mais variados meios

de comunicação (jornais,

revistas, internet...).

Os sensores orbitais

varrem toda a superfície da

Terra com resoluções tem-

porais diversas, sendo capa-

zes de suprir às áreas de In-

teligência com informações

oportunas e atualizadas tan-

to de interesses tático quan-

to estratégico, indispensá-

veis para o êxito de qualquer

Força Armada na guerra mo-

derna, a guerra da informa-

ção.

O uso de imagens

orbitais que, inicialmente, tinha seu maior em-

prego nas áreas de pesquisas ambientais, geo-

gráficas, biológicas, geológicas, florestais, etc.,

em função das limitações de suas resoluções es-

paciais, tem atraído a atenção dos organismos

militares com o desenvolvimento e difusão co-

mercial de imagens de alta resolução, capazes

de fornecer informações extremamente detalha-

das e preciosas sobre o inimigo, inclusive com a

possibilidade de obtenção de modelos

estereoscópicos (tridimensionais) das áreas de

interesse.

Atualmente, as imagens mais utilizadas pela

FAB para a atividade de IMINT são as obtidas pelo

LANDSAT 7, cujos sensores possuem um total de

oito bandas espectrais abrangendo desde o visí-

vel até o infravermelho termal, porém, sua me-

lhor resolução espacial é de 15m, obtida no modo

pancromático (banda 8), na faixa de 0,5 a 0,9

mmm, o que praticamente inviabiliza seu empre-

go na obtenção de informações sobre equipamen-

tos eletrônicos, restringindo-o ao levantamento de

informações de caráter estratégico [2].

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Spectrum

Dentre as plataformas orbitais com sensores

de alta resolução, cujas imagens, disponíveis

comercialmente, revertem-se em uma excelente

fonte de informações para as MAGE, destacam-

se três: SPOT-4; IKONOS e QUICKBIRD.

1. SPOT-4:

O Programa SPOT foi planejado e pro-

jetado desde o início como um sistema

operacional e comercial de observação da

Terra estabelecido por iniciativa do governo

francês (SPOT-Satellite Pour L’Observation de

la Terre), com participação da Suécia e Bél-

gica. O SPOT-4 foi lançado em março de

1998, transportando dois sensores HRVIR

(High Resolution Visible Infrared) e um

sensor Vegetation, com quatro câmeras

imageadoras independentes e com resolução

espacial degradada (1165m) para o estudo

da vegetação [2]. Os sensores HRVIR, pos-

suem detectores com tecnologia CCD

(Charge-Coupled Device) com leitura dos

sinais por varredura eletrônica, com um to-

tal de 6000 elementos detectores por banda

espectral, apresentando características mos-

tradas na Tabela 1.

Cada sensor abrange uma faixa de 60Km e,

como operam aos pares, são posicionados de

forma a imagear faixas adjacentes, sobrepondo

3Km, resultando em uma largura de faixa de

117Km. A resolução temporal (período de tem-

po entre duas passagens sobre um mesmo ponto

na superfície da terra) é de 26 dias, porém, como

possui possibilidade de visada oblíqua, pode-se

aumentar a freqüência das observações para até

um total de onze imagens de um mesmo ponto

em órbitas sucessivas, além de permitir a obten-

ção de estereoscopia [2]. Note-se que para fins

de MAGE, a banda com melhor resolução espa-

cial seria a B2, no modo multiespectral, forne-

cendo imagens codificadas em 8 bits (256 níveis

de cinza) e com 10m de resolução, limitando o

emprego das imagens SPOT-4 para informações

de equipamentos eletrônicos de grande porte.

2. IKONOS:

O satélite IKONOS II foi lançado em 24 de

setembro de 1999, e está operacional desde o

início de janeiro de 2000, gerando imagens com

até 1m de resolução espacial, o que veio a revo-

lucionar o emprego militar de imagens orbitais.

Encontra-se disponível comercialmente para

qualquer área da América Latina tendo, porém,

uma grande restrição devido ao alto custo: para

imagens com resolução de 1m não existentes em

catálogo, o pedido mínimo é de 100Km2 , ao

custo de R$ 90,00 o Km2, resultando num total

de R$ 9.000,00 por imagem [3].

Figura 1: Satélite SPOT-4

Tabela 1: Características do SPOT-4

Figura 2: Satélite IKONOS II

Page 29: Revista SPECTRUM Nº 06

29

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O IKONOS tem possibilidade de realizar vi-

sadas no sentido de sua órbita e perpendicular-

mente a sua órbita, aumentando a resolução tem-

poral e permitindo a aquisição de pares

estereoscópicos. Constitui-se em uma excelen-

te fonte de informações para MAGE, uma vez

que permite, no modo PAN, discriminar objetos

de 1m2 através de imagens com resolução

radiométrica de 11 bits (2048 níveis de cinza),

aumentando o poder de contraste e de discrimi-

nação de imagens nas áreas de sombra. Veja-

mos um exemplo prático de obtenção de infor-

mações para MAGE:

Através de pesquisa de informações obte-

ve-se as dimensões do satélite e, efetuando-se

uma regra de três simples, chega-se a altura da

antena (92,6m). Como trata-se de uma antena

de grande porte (baixa freqüência), o tamanho

da antena equivaleria a 1/2 do comprimento

de onda, chegando-se a λ = 370,4m [4].

Como a freqüência é igual a c/λ, chega-se

ao valor da freqüência de operação da antena,

que é de 810KHz (3x108m/s/370,4m) [4]. Logo,

conclui-se que se trata de uma antena de radio-

difusão/telecomunicações, operando na faixa de

MF, aproveitando-se para transmissão do efeito

da vinculação (durante o dia) e propagação

ionosférica (durante a noite) [5].

3. QUICKBIRD:O satélite americano QUICKBIRD II, em

órbita desde outubro de 2001, proporciona

imagens com a melhor resolução espacial dis-

ponível comercialmente na atualidade: 0,61m

no modo pancromático (no nadir) e 2,44m no

multiespectral (no

nadir), permitindo o le-

vantamento das mais

precisas informações

de interesse à inteli-

gência militar, aqui tra-

tadas do ponto de vis-

ta da guerra eletrônica,

além da avaliação de

danos de bombardeio.

Aliada à alta resolução

espacial, soma-se a

excelente resolução temporal, permitindo um

tempo de revista de 1 a 3,5 dias, o que traz

como conseqüência a possibilidade de uma

elevada taxa de atualização de dados e de

acompanhamento da evolução das atividades

inimigas. Como nas demais imagens orbitais,

o grande obstáculo, face à situação político-

econômica atual, consiste no custo das ima-

gens: com prazo mínimo de entrega de 100

dias e área mínima de 64Km2 ao custo de R$

131,00 o Km2, o valor mínimo de uma ima-

gem PAN seria de R$ 8.384,00 [6].

Além da mais alta resolução em termos

de sensores óticos disponíveis, fornece ima-

gens com codificação em 11 bits e possui

georeferenciamento com erro menor que 23m,

possibilitando ainda a tomada de imagens

estereoscópicas.

4. Presente e Futuro: SPOT-5 e RADAR (SAR)do R-99B

4.1 – SPOT-5:Concluído em fevereiro de 2002, o satéli-

Tabela 2: Características do IKONOS-II

Tabela 3: Características do QUICKBIRD

Figura 3: Satélite QUICKBIRD

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Spectrum

te SPOT-5 foi colocado em órbita na noite do

dia 3 para o dia 4 de maio deste ano, dando

um grande passo em termos de especificações

técnicas em relação ao SPOT-4, trabalhando

com resolução de 5m para o modo

pancromático, 10m para imagens no modo

multiespectral e 2,5m

na opção “Supermode”,

a qual consiste em du-

plicar e deslocar de +

pixel os detectores de

CCD, permitindo que

sejam captadas duas

vezes mais informações

da área imageada.

Uma das grandes

novidades do SPOT-5

são os dois instrumen-

tos HRS (High Resolution Stereoscopic), com

ângulos de visada de 20 graus para frente e

para trás do satélite, obtendo imagens

estereoscópicas de maneira sistemática e com

10m de resolução espacial [7].

4.2 RADAR (SAR) DO R-99B:O Sistema de Radar de Abertura Sinté-

tica (SAR) cria uma antena virtual centenas

de vezes maior que seu tamanho físico atra-

vés de gravações e processamento dos si-

nais de retorno, resultando em uma resolu-

ção em azimute de 0,3 a 3m para sistemas

aerotransportados, independentemente da

distância entre o radar e o alvo.

O radar a bordo do R-99B, em opera-

ção no 2.º/6.º GAv, é capaz de imagear em

qualquer tempo e a qualquer hora, com

quatro antenas em duas diferentes bandas

de freqüência: duas na banda L e duas na

banda X.

Dentre uma gama variada de modos de

operação do SAR, destaca-se para fins de

informações para MAGE, o modo “B.2

Spot”, disponível na banda X, que alia a

obtenção de imagens radar de alta resolu-

ção com um elevado alcance.

Dessa forma, uma imagem de resolu-

ção adequada poderá suprir os órgãos de

Guerra Eletrônica com informações im-

prescindíveis. Vejamos então, mais um

exemplo de aplicação dos dados de IMINT

para MAGE, sob esta nova perspectiva:

Em uma imagem SAR obtida de uma

área de interesse, observa-se um radar

com refletor parabólico medindo 10m de

largura e 5m de altura. O analista de ima-

gens consegue identificar o tipo de equi-

pamento e, através de consulta em banco

de dados, verifica que a freqüência de

operação é de 1,5GHz (λ=0,2m). Além da

localização precisa do objetivo e da des-

crição dos aspectos físicos e operacionais

através do REMIR, a IMINT poderá forne-

cer outras informações de interesse à GE,

como:

a. Largura dos feixes horizontal e ver-

tical: θh = 70λ/L → θh = 1,4° e θv = 53λ/

A → θv = 2,1°, onde “L” é a largura do

refletor e “A” a altura [4]; e

b. Ganho da Antena: G = 4πAe/λ2 →

G = 38,9dB, onde “Ae” é a área efetiva

do refletor (25m2) e partindo-se da premis-

sa de que pode-se considerar a eficiência

de um refletor parabólico em torno de

Figura 5: R99B com radar SAR.

Figura 4: Satélite SPOT-5.

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50% de sua área física [4].

Logo, a IMINT aliada a um eficiente

banco de dados sobre Equipamentos Ele-

trônicos, alimentado por informações de

equipamentos MAGE em plataformas ter-

restres, marítimas ou aéreas e por pesqui-

sas específicas, torna-se uma poderosa

fonte de informações para as atividades

de Guerra Eletrônica.

Apesar das imprecisões por ventura

provocadas pelas melhores ou piores re-

soluções espaciais dos sensores aqui abor-

dados e das aproximações provocadas

pelo empirismo de muitas equações, sali-

enta-se a importância da INFORMAÇÃO

atualizada sobre a dinâmica operacional

do inimigo, o que justifica, inclusive o

elevado investimento na aquisição de ima-

gens.

Diante do exposto, evidencia-se a ne-

cessidade da estruturação de um eficien-

te banco de dados sobre os equipamentos

eletrônicos de interesse militar, alicerçado

pela pesquisa de informações, bem como,

a implementação de uma cultura de Inte-

ligência de Imagens voltada não só ao le-

vantamento de informações sobre os ob-

jetivos de caráter tático e estratégico, mas

também à assessoria dos órgãos de Guer-

ra Eletrônica, com o intuito proporcionar

um incremento significativo de dados para

as MAGE. Certamente, os recursos que

venham a ser dispendidos na qualificação

de pessoal e aquisição de equipamentos

e imagens orbitais de alta resolução des-

tas áreas de interesse, reverter-se-ão em

benefícios incontestáveis e de valor incal-

cu láve l : in fo rmações opor tunas e

atualizadas sobre áreas de interesse da

FAB, subsídios indispensáveis para o me-

lhor cumprimento de sua missão.

Referências:[1] - GITE – Grupo de Instrução Tática

Especializada. Guerra Eletrônica –

MAGE: Extrato do MCA 500-2. Natal,

2002. p. 1, 3 e 4.

[2] - CIAAR- Centro de Instrução e

Adaptação da Aeronáutica. Estágio

Básico de Sensoriamento Remoto.

Sistemas de Sensoriamento Remoto –

Sistemas Sensores Orbitais. Belo

Horizonte, 2001. p. 10, 24 – 28 e 73.

[3] - IKONOS. Ficha Técnica Resumida.

Disponível em http://

www.engesat.com.br/satelites/

ikonos.htm. Acesso em 05 mai. 2002.

[4] - GITE – Grupo de Instrução Tática

Especializada. Guerra Eletrônica –

Antenas: Extrato do MCA 500-2. Natal,

2002. p. 5, 7 e 21.

[5] - COMANDO DA AERONÁUTICA.

MCA 200-5 – Manual de Descrição de

Objetivo – Equipamentos Eletrônicos.

Brasília, 2000. p. 13 e 14.

[6] - QUICKBIRD. Disponível em http://

www.intersat.com.br.htm/. Acesso em

09 mai. 2002.

[7] - O FUTURO COM SPOT-5.

Disponível em http://

www.engesat.com.br/satelites/

spot5.htm. Acesso em 05 mai. 2002.

[8] - GOMES, José Carlos. Comando da

Aeronáutica. Manual de

Fotointerpretação I. Guaratinguetá,

2001. p. 28.

[9] - LANDSAT 7 ETM+. Ficha Técnica

Resumida. Disponível em http://

www.engesat.com.br/satelites/

landsat7.htm. Acesso em 05 mai. 2002.

[10] - O PROGRAMA SPOT. Disponível

em http://www.engesat.com.br/satelites/

spot4.htm. Acesso em 05 mai. 2002.