Revista Tai Chi Brasil - Nº 9 - Jan-Fev 2011

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Tai Chi Brasil Revista Edição nº 9 - Janeiro/Fevereiro 2011 - Distribuição gratuita e dirigida www.RevistaTaiChiBrasil.com.br Tai Chi Chin Na (Tai Ji Qin Na) A Arte de Imobilizar no Tai Chi Chuan

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Revista Tai Chi Brasil - Edição nº 9 - Janeiro/fevereiro 2011 www.RevistaTaiChiBrasil.com.brSumário8 Qin Na. A arte das torções e chaves10 A Essência do Tai Ji. E a sua relação com o qin na12 Conhecimento Corporal. Como produto do processo cognitivo15 Tai Ji Quan. O movimento do supremo absoluto19 Qin Na. Um sistema histórico na arte de imobilizar21 Qin Na. Técnica e aprendizado25 Tai Ji Quan & Shao Lin Qin Na. Diferenças e similaridades26 Qin Na. A sua relação com a saúdeAssociation Brasil27 Yi e Qi. Manifestação consciente do pensamento e da energia no tai ji28 Tai Ji Quan & Qin Na. Relevância e referências31 Pai Lin. Uma homenagem ao seu aniversárioSEÇÕES4 CARTAS5 EDITORIAL6 RÁDIO CORREDOR

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Tai Chi Chin Na(Tai Ji Qin Na)A Arte de

Imobilizar no Tai Chi Chuan

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Tai Chi Chuan - Pratique!

Elli, Maria Celeste, Yáscara, Anderson, Aparecido, Artur, Daniel, Moizés e Sidapresentando Tai Chi Chuan no “2º Torneio e Confraternização entre Praticantes de Tai Chi Chuan”.

Setembro/2010.SESC Paraná - Água Verde. Curitiba - PR

Foto: Divulgação / Acervo LL

LOCAIS DE PRÁTICA NO BRASIL E NO MUNDO: WWW.AIPT.ORG.BR

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Tai Chi Brasil

RevistaTaiChiBrasil.com.br

Curitiba - Paraná - Brasil

Edição nº 9 | jan/fev | 2011

® Todos os direitos reservados

Registro nº 401.197 4° ofício de registro de documentos

editor: levis litz

colaboraram nesta edição alexandre wollner, aparecido de lira,

bruno davanzo, daniel souza, edith derdyk, estevam ribeiro, gui von schmidt,

laís wollner, niall o´floinn, regina azevedo, tarcísio tatit sapienza

e valesca giordano litz.

agradecimentos anderson rosa, angela freitas, angela soci, arthur dalmaso,artur da rosa, carlos andrade,

eduardo molon, elizabeth meira, elli nowatzki, fernando de lazzari,

flávio prado, hildo honório do couto, hunyuan taiji academy do brasil,

jardel caetano, maria celeste corrêa, moizés torquato, rodrigo leitão,

sara giffoni, sidmar, sociedade brasileira de tai chi chuan,

tai chi curitiba e yáscara.

ilustraçõeswendy nohemi arias audiffred

[email protected] [http://canela123.deviantart.com/gallery/]

revisãoviviane giordano

contato | publicidade [email protected]

[email protected]

jornalista responsável diplomado levis litz - mtb 3865/15/52v pr

Sumário

Distribuição gratuita e dirigida. Todos os tex-tos e fotos aqui publicadas são colaborações voluntárias gratuitas. Não são de responsa-bilidade desta revista os artigos de opinião e também as opiniões emitidas em entrevistas e depoimentos, por não representarem, ne-cessariamente, o pensamento do editor. Por questões de espaço, objetividade e clareza, a equipe editorial reserva-se o direito de resumir os textos recebidos. Foto com pouca definição é de responsabilidade do autor. Os exempla-res impressos em papel desta publicação serão doados para bibliotecas públicas.

SEÇÕES4 CARTAS5 EDITORIAL6 RÁDIO CORREDOR

8 Qin Na A arte das torções e chaves

10 A Essência do Tai Ji E a sua relação com o qin na

12 Conhecimento Corporal Como produto do processo cognitivo 15 Tai Ji Quan O movimento do supremo absoluto 19 Qin Na Um sistema histórico na arte de imobilizar

21 Qin Na Técnica e aprendizado 25 Tai Ji Quan & Shao Lin Qin Na Diferenças e similaridades 26 Qin Na A sua relação com a saúde

27 Yi e Qi Manifestação consciente do pensamento e da energia no tai ji 28 Tai Ji Quan & Qin Na Relevância e referências 31 Pai Lin Uma homenagem ao seu aniversário

Revista

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Mensagens & CartasRevista Tai Chi Brasil. Curitiba - Paraná - Brasil. [email protected] | editor: [email protected] questões de espaço, a equipe editorial reserva-se o direito de editar mensagens, depoimentos, fotos e textos recebidos.

4 www.RevistaTaiChiBrasil.com.br

“Sinto-me honrado pela aten-ção à mim dispensada, merecen-do até espaço em uma das mais importantes revistas de artes marciais do país. Aproveito para parabenizá-los pela importante colaboração que a revista trás para as artes marciais, como meio de comunicação, divulgação, orientação, colaboração, troca de informações e conhecimentos.”

Ademir Souza

“Gostaria de parabenizar pe-lo belo trabalho e pela iniciativa de divulgação do Tai Ji Quan no Brasil. Sou instrutor do Estilo Yang, estudante do estilo Chen e fabrico artezanalmente sabres para prática de Tai Ji. Esta revista vem consolidar o momento de franca expansão desta arte maravilhosa em nosso país.”

Jardel FariasDois Irmãos, RS

“Agradeço muito o seu envio e fiquei sensibilizado pelo apelo de anunciar na revista. Isto farei em seguida. Sinto-me honrado de recebê-la, obrigado pelas informações.

Hélio Brum JrFormado pelo Instituto de Cultura

Chinesa do Dr Wu Chao Hsiang (RJ)

“Hola Levis. Somos lectores de la revista Tai Chi Brasil, acá en Buenos Aires. Investigamos y enseñamos desde hace años los entrenamientos del maesto Lui Pai Lin (de quien Marcela fue discípula) y incorporando luego también los del maestro Chen Xiao Wang. Desde hace 10 años, además de dar clases regulares, organizamos viajes y retiros a la naturaleza para entrenar en contacto directo con el cielo y la tierra. Este año estamos organizando un viaje de una semana (entre el 19 y 27 de febrero) a caminar, acampar, meditar y entrenar Tai Chi en

un lugar muy especial de la Patagonia. Nos gustaría compartir esta experiencia con el público brasileño”

Marcela Rodas y Francisco Garcia Faure Buenos Aires, Argentina

“Vi rapidamente a revista, é muito rico, parabéns!”

SuemiCuritiba, PR

“Levis e Equipe. Realmente ficou ótimo o artigo do Mestre Chen Zhonghua! Muito obrigado a todos. Seu esforço ficou evidente no resultado.”

John VankoSão Paulo, SP

“Tenho 60 anos, sou sócio-fundador da Associação Gaúcha de Taijiquan e praticante desde início da década de 1990. Parabéns pela revista. Excelente meio de congraçamento entre os praticantes de admiradores do Tai Chi Chuan.”

Nelson Sterzi Porto Alegre, RS

“Caros Amigos Taoístas. Agradeço muito e, novamente, elogio o empenho em produção tão significa-tiva para o Brasil.”

Marcos Freire

“Grato pela Revista, de exce-lente qualidade.”

Marcus MaiaRio de Janeiro, RJ

“O artigo As Relações Mestre e Discípulo, Professor e Aluno na cultura Oriental da Revista Tai Chi Brasil nº 8 é do Professor Arthur Dalmaso, não é? Quero parabenizá-lo pelo excelente artigo.”

TeresaFlorianópolis, SC

“Parabéns pelo seu trabalho (ótimo) na revista!

JaelSão Paulo, SP

“Olá! Sou leitora da revista, indicada pelo meu Mestre Marcelo Giffoni do Parque Municipal.”

MagdaBelo Horizonte, MG

“Parabéns por conseguir manter a excelente qualidade dessa revista! Quero compartilhar com todos os leitores que a princípio hesitei em fazer anúncio nesta revista. Hoje entendo que anunciar aqui é dar sustentabilidade a esse importante trabalho de divulgação do Tai Chi Chuan, independente do retorno que isto possa nos trazer. Obrigado por expandir nossos horizontes em relação ao Tai Chi...paz.”

Bruno DavanzoCuritiba, PR

“Obrigada pelo belo trabalho em prol do Tai Chi Chuan.”

ElisaRio de Janeiro, RJ

“Parabéns! Esta edição está ótima. Eu a li integralmente assim que chegou. Meus votos de perenidade para esta excelente iniciativa.”

Luiz Carlos Beraldi

“Muito boa revista, o final do Chuang Tse ficou ótimo!”

Estevam RibeiroRio de Janeiro, RJ

“Obrigado pelas revistas en-cantadoras que tem nos enviado. Temos mantido em nossa Biblioteca para consulta dos alunos e através de nosso arquivo on-line. Uma das sessões de arquivos tem o nome “Revista Tai Chi Brasil!”

HelioSão Paulo, SP

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Revista Tai Chi Brasil

Bibliotecas & Acervos

Campinas, SP

Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental

Av. Oscar Pedroso Orta, 222. Barão Geraldo.-------------------------------------------

Caxias do Sul, RS

Centro de Estudos da Medicina ChinesaAv. Júlio de Castilhos, 1501. Sala 32. Centro

-------------------------------------------Curitiba, PR

Biblioteca Pública do ParanáRua Cândido Lopes, 133. Centro.

Biblioteca Hideo HandaPraça do Japão. Água Verde.

Academia ParamittaAv. Visc do Rio Branco, 84. Mercês.

Colégio Estadual do ParanáRua João Gualberto, 250. Alto da Glória.

Colégio MedianeiraAv. José Richa, nº 10546. Prado Velho.

NutribioformaR. Jaime Balão,1150. Casa 1. Hugo Lange.

SESC Paraná – Unidade Água VerdeAv. República Argentina, 944. Água Verde.-------------------------------------------

Ribeirão Preto, SP

Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan, Acupuntura e Cultura Oriental

Rua Cerqueira César, 1825. Jd. Sumaré.-------------------------------------------

São Paulo, SP

Espaço Bem Estar (Yoga e Tai Chi Chuan)Av. Pe. Antonio José dos Santos, 1371.

Brooklin Novo.

Peng Lai Brasil - Artes Marciais Tradicionais Chinesas.

Av. Deputado Emílio Carlos, 121. B. do Limão.

Sociedade Brasileira de Tai Chi ChuanRua José Maria Lisboa, 612, Sala 7.

-------------------------------------------Uberlândia, MG

Academia Budô KanRua Benjamin Monteiro, nº 64. Centro.

Ampliando os Horizontes

O tema desta edição tem como objetivo focalizar as principais características e conceitos para investigar a história e aplicação do qin na como arte de imobilizar nas práticas de tai ji quan. Buscamos trabalhar com características da estruturação do qin na, bem como suas diferenças aplicadas e seus resultados como parte integrante de uma arte marcial interna que preza tanto seu lado marcial, na auto-defesa, como no âmbito terapêutico, com fins de manutenção da saúde. Como resultante das buscas e cruzamento das informações obtidas, evidenciou-se a falta de informações e dados mais profundos no que concerne a aplicação do qin na no tai ji quan. Essa pesquisa, baseada no estudo e no trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Tai Chi Chuan do presente editor e com a colaboração do professor Estevam Ribeiro, se orientou também na perspectiva do método de levantamento bibliográfico, dando principal relevância no estudo do processo histórico, tanto do tai ji quan quanto no qin na e seus processos de desenvolvimento e vinculação.

Em “PinYin” É importante observar durante a leitura desta edição que os termos do idioma chinês utilizados estão em pinyin que significa literalmente soletração de sons. É o método, sistema de romanização, usado oficialmente na China para transcrever, no alfabeto latino, o dialeto mandarim padrão da língua chinesa, por isso tenha em mente que as pronúncias para Tai Ti Quan é algo similiar a Tai T´Chi T´Chuan e que para Qin Na corresponderia a T´Chin Na.

Boa leitura!

Levis Litz jornalista diplomado

Editorial

Contato

Revista Tai Chi Brasil - RTCB . website: www.RevistaTaiChiBrasil.com.br . e-mail: [email protected]

Editor - Levis Litz . e-mail: [email protected] | . msn: [email protected] . webpage: www.TaiChiCuritiba.com.br ----------------------------------------------------------------------------------

Curitiba - Paraná - Brasil

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Rádio Corredor I

Aprender Tai Chi Pai Lin

São Paulo, SP

Há um novo blog no ar. Ele foi criado por Tarcísio Tatit Sapienza. O mesmo promove o Tai Chi Pai Lin e seus locais de prática. É mais um veículo importante na divulgação dessa arte pela Internet. Parabéns! Os interessados devem acessar o seguinte endereço: http://aprendertaichi.blogspot.com

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Tai Chi Chuan Estilo YangUberlândia, MG

Outro blog recente assinado por Sara Giffoni, instrutora de Tai Chi Chuan formada pela SBTCC do Estilo Yang Tradicional de Tai Chi Chuan, tem informações gerais e novidades sobre Tai Chi Chuan. Com atitudes assim ganhamos mais espaço e promovemos o Tai Chi como um todo. Boa iniciativa! http://www.taichiudi.blogspot.com

Acupuntura e Tai Chi Estilo ChenRio de Janeiro, RJ

Com muitos projetos novos em mente, Eduardo Molon, além de praticante de Tai Chi Chuan Estilo Chen, recentemente abriu seu consultório de acupuntura. Com seu segundo filho recém nascido pra curtir, ainda tem uma viagem programada para a China, haja fôlego. Sucesso e Parabéns! Website: http://eduardomolon.com

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Centro de Filosofia Taoísta e

Terapias OrientaisSorocaba, SP

Olha que legal! Este ano, o Centro de Filosofia Taoísta e Terapias Orientais deve retomar as suas atividades, bem como as aulas e práticas de meditação gratuitas. Interessados podem entrar em contato com a Angela Freitas, pelo e-mail: [email protected]

Retiro de Tai Chi entre as montanhas

da PatagôniaArgentina

Um grupo de Tai Chi Chuan da Argentina que praticam o Tai Chi Pai Lin e também o Estilo Chen que, além de ensinar em aulas regulares por 10 anos, está organizando uma viagem de uma semana, entre 19 e 27 de fevereiro, junto a natureza para fazer caminhadas, camping, meditação e praticar muito Tai Chi Chuan entre as montanhas, em um lugar muito especial na Patagônia. Alguns membros da equipe da Revista Tai Chi Brasil já estiveram na Patagônia e recomendam - é muito bom! Gostou da ideia? Interessados entrem em contato pelo seguinte endereço: http://www.taichi-espaciosol.blogspot.com

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Rádio Corredor II

Abraço da Árvore São Paulo, SP

Um grupo de amigos do Tai Chi se reuniu para dar um grande abraço numa árvore. Foi um momento especial e bacana. Veja mais em: http://motivacao.posterous.com/abracando-a-vida

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Livro: “O Tai Chi Chuan e a Praça da

Harmonia Universal”Brasília, DF

No mundo literário brasi-leiro do Tai Chi acabou de ser publicado o livro “O Tai Chi Chuan e a Praça da Harmonia Universal”. Essa obra, de autoria

do professor de linguística Hildo Honório do Couto, contém 176 páginas e aborda, numa linguagem direta e objetiva, o vasto campo da arte do Tai Chi Chuan. Vale a pena conferir. Parabéns ao pessoal de Brasília! Informações podem ser obtidas por: [email protected]

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Tai Chi e Sorvete Curitiba, PR

Um grupo de praticantes de Tai Chi Chuan, sob a orientação do facilitador Carlos Andrade, dentro do Projeto Tai Chi nos Parques de Curitiba, se reuniu em confraternização de fim ano no Jardim Botânico. A ideia parece que vingou, pois estão pensando em se reunir todos os meses. Estão animados, que legal!

Livro: O Espírito das Artes Marciais

São Paulo, SP

O professor Roque Enrique Severino, Lama Zopa Norbu, utiliza de toda a sua experiência de mais de 30 anos dedicados às artes marciais para compilar em 315 páginas a fundamentação teórico-filosófica desta prática que, geração após geração, fascina cada vez mais jovens, adultos e idosos. Editora Nelpa. Informações: http://www.sbtccloja.com.br

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Embora o Taijiquan, e o estilo Chen em especial, disponham de um arsenal de golpes de percurssão, como socos e chutes, na essência o Taijiquan é uma arte de médio a curto alcance e que envolve principalmente estratégias de chaves e projeções. Qin Na é a arte das torções e chaves. Qin significa pegar ou agarrar e Na siginifica segurar e controlar. Existem extensões deste conceito que consiste em controlar seu oponente imobilizando-o. Qin Na é usado com deslocamento entre ossos, entre ossos e tendões e com pressão de pontos vitais. Na maior parte das vezes é aplicado entre ossos e tendões. O Qin Na é utilizado, em maior ou menor proporção, por todas as artes marciais tradicionais. Alguns exemplos específicos são: Suai Shiao, Garra de Aguia, Louva Deus, Ba Gua Zhang, Liu Ho Ba Fa, Jiu Jitsu e, mais recentemente, Aikido, Yi Quan e Kinomichi. O Qin Na do Taiji e das artes internas em geral é diferente das artes externas. Enquanto as externas utilizam mais força no Qin (agarrar), o praticante de Taiji utiliza mais o Yin (induzir), até que o oponente chegue quase por si próprio ao ponto de funil ou encontre o vazio, sem poder voltar, para então aplicar o Na (controlar). Aqui há exemplos de aplicações de Qin Na para as seguintes posturas: Lan Zhai Yi (amarrar a veste com indolência) e Pie Shen Chui (empacotar o corpo com os punhos). Muitas vezes as pessoas ficam admiradas com os Fa jings dos grandes mestres como Chen Xiao Wang. Mas o mais impressionante para mim é a habilidade dos grandes mestres em Qin Na. Eles são capazes de reverter qualquer chave, eu mesmo já tive esta experiência tentando aplicar algumas das melhores chaves que conheço no mestre Chen Xiao Wang. Era uma demonstração no final de um Workshop e eu me

Qin Na - a arte das torções e chaves

Estevam RibeiroProfessor de Tai Chi Chuan (Taijiquan)[email protected] - www.chenxiaowangbrasil.com.br Fotos: Alunos Jardel Caetano e Rodrigo Leitão - Acervo/Estevam Ribeiro

ofereci como cobaia. Antes de começarmos, o mestre me perguntou se eu realmente queria que ele fizesse a demonstração para os participantes do workshop, na maioria meus alunos. Eu disse que sim e ele me assinalou que não dispunhamos de tatami e que o chão era duro. Eu, já acostumado a treinar com rolamentos em chão duro, disse ok. Eu não sabia quantas vezes a minha cara ia se chocar com o chão duro naquelas velocidades. Foi impossível imobilizá-lo. E mesmo lutadores famosos, como se pode ver no youtube, são tratados como eu fui, como um boneco de pano sendo jogado para todos os lados. Apesar de tudo, não sofri nenhuma distensão nem quebrei nenhum osso. Qin Na é uma prática que pode, sem querer, acabar no hospital, portanto não deve ser praticado sem a presença de um profissional qualificado e ainda assim com muito cuidado e autocontrole. O autocontrole é o primeiro passo, antes de querer controlar os outros. Portanto, as fotos nessa revista são ilustrativas e não devem ser copiadas sem critério. Além de ser usado com oponentes, a técnica de Qin Na é uma arte a ser aperfeiçoada entre companheiros e amigos, pois aumenta a acuidade mental. Pode e deve ser desenvolvido como um alongamento em dupla. Um bom exemplo deste trabalho é o Kinomichi criado por Noro Sensei, discípulo de Aikido de M.Ueshiba. Sendo orientado por um bom professor , pode se tornar uma prática prazeirosa e rica em desenvolvimento pessoal e interpessoal. O Qin Na nos dá uma boa noção dos limites do corpo, assim como melhor entendimento e controle do Qi. Entender o corpo energético através do Qin Na fica muito mais claro quando experimentamos com parceiros o que aprendemos das formas solo. Ao praticar solo, o desenvolver do Qin Na se faz através do Chan Si Gong, elemento comum a todos os estilos de Taijiquan.

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“As fotos são ilustrativas e não

devem ser copiadas sem critério.”

“Qin Na é uma prática que pode, sem querer,

acabar no hospital, portanto não deve ser praticadosem a presença de um

profissional qualificado.”

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A essência do tai ji e a sua relação com o qin na

Kung Fu (Wu Shu)! Quem já não ouviu falar a respeito? Independente da formação escolar, parece que todos já escutaram ou viram algo relacionado ao Kung Fu. Dificilmente encontraríamos uma pessoa que não o associasse as artes marciais, pois vivemos, indiscutivelmente, em uma era de informações que permeiam às imagens. A contemporaneidade com seus filmes e desenhos animados de lutas, embates corporais que apresentam por trás de si uma filosofia, dá uma nova conotação na compreensão do que está por trás destes signos visuais. Contudo, antes de simplesmente praticar uma arte marcial, o praticante precisa compreender bem a filosofia que há dentro de alguns parâmetros teóricos adquiridos pelo aprendizado com um professor ou mestre, seja num grupo, escola ou academia, deve pensar na arte marcial como parte integrante de um universo mais abrangente que pode ser de origem diversa, seja pela influência do cinema, fotografia, desenho animado, história em quadrinhos ou pela mídia como um todo. O tai ji quan (tai chi chuan), por ser uma arte marcial chinesa interna, demonstra ser de uma eficácia suprema de destaque no âmbito marcial mundial combinado com exercícios leves, com pouco impacto e com tremendos resultados terapêuticos, integrou em suas técnicas o uso do qin na (chin na), que é a arte de imobilizar: “No chinês, a palavra Chin [qin] significa segurar ou agarrar. A palavra “Na” [na] significa controlar ou dominar. Aliadas, as duas palavras no dão o nome (...), não muito conhecido fora dos círculos envolvidos com artes marciais: Chin-na [qin na] a arte de agarrar e de segurar. Obviamente, todas as artes marciais que utilizam apenas as mãos nuas têm as técnicas de

“Tao, Verdade primeira e última nas disciplinas do Taoísmo,

é a chave secreta da filosofia de todas as Artes Marciais da China.”

Roque Severino

agarrar o corpo de um oponente, mas o Chin-na [qin na] se volta para o estudo exclusivo dessas técnicas, e pormenorizadamente.” (Crompton, 1990, p. 110.) Saber compreender a essência do tai ji e a sua relação com o qin na e sua aplicabilidade em sua profundidade, tornou-se uma necessidade premente, pois vivemos em uma era que as artes marciais

chinesas nos alcançam de forma dinâmica, rápida, inovadora e por conseguinte, híbrida. Mas saber interpretar, analisar e aplicar os conhecimentos advindos das origens do tai ji, associados ao qin na deve ir além de uma simples frequência em seminários ou cursos rápidos. O entendimento empírico do qin na no tai ji deve ser significativo, deve ter intencionalidade, é necessário ter qualidade para

evidenciar detalhes das informações pertinentes ao tai ji qin na - a arte de imobilizar no tai ji quan, para que melhor atendam a um processo eficiente e mais embasado de pesquisa para outros profissionais da área. Na literatura internacional, há poucos e incipientes estudos que oferecem referência substancial a respeito do tai ji quan. Em setembro de 1992, na China, no Wenxian International Annual Meeting of Taijiquan, colocou o desenvolvimento do tai ji quan num novo patamar superior. Milhares de entusiastas do tai ji quan de 24 países e 40 organizações estiveram presentes ao

Levis LitzProfessor de Tai Chi Chuan - www.TaiChiCuritiba.com.br Fotos Acervo/LL: Niall O´Floinn, Bruno Davanzo, Aparecido de Lira e Daniel Souza Ilustrações: Wendy Nohemi - [email protected]

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evento. Durante o encontro, pessoas conversaram sobre o desenvolvimento e popularização do tai ji quan e expressaram que é urgentemente necessário material escrito sobre tai ji quan em outros idiomas além do chinês. (Chen Zheng-Lei, 1992, p.4) No Brasil, a situação é mais precária ainda sobre esse tipo de informação. Há pouquíssimas referências em páginas da web com dados que devem ser corroborados devido a questionabilidade das fontes das informações apresentadas por este tipo de mídia. Embora o tai ji quan se utilize de muitas técnicas de qin na, desconhece-se que alguém, no Brasil, tenha compilado, sistematizado, apresentado e diponibilizado informações sobre o tai ji qin na para o público em geral. Essas pouquíssimas referências bibliográficas no âmbito nacional é uma determinante na decisão de se pesquisar mais e profundamente esta problemática, é um terreno que, além de fascinante, é muito fértil para investigação. Este entendimento é relevante na medida em que poderá contribuir para um maior conhecimento sobre tai ji qin na e, consequentemente, favorecer uma compreensão mais profunda aos praticantes do tai ji quan.

Para entender melhor o texto Wu shu é um termo chinês que literalmente significa arte da guerra. Este é o termo correto para o que no ocidente se passou a chamar equivocadamente de Kung Fu. Parte dos estilos externos de wu shu são originários do templo Shaolin. Entre os estilos internos de wu shu encontramos o tai ji quan . Arte Marcial Interna enfatiza em seu treinamento elementos internos, como consciência do espírito, da mente e do nei gong, potencial interno com o desenvolvimento do qi, já no início do treinamento. Uma vez aprendidas as relações internas, elas são aplicadas para exteriorizar a energia, o fa jin. Fa jin é um termo usado em algumas artes marciais chinesas, particularmente nas artes marciais internas que significa emitir ou descarregar o poder. É entendido como um conceito físico em que grupos de músculos trabalham juntos para exteriorizar a força do centro do corpo de uma maneira relaxada, assim como uma descarga mais brusca de energia qi, sem esforço físico aparente.

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Conhecimento corporal como produto do processo cognitivo

Os antigos chineses souberam,como nenhum outro povo, deduzir dos fenômenos da natureza certas leis e princípios

que passaram a fazer parte de uma filosofia de vida.

Marco Natali

No processo de ensino e aprendizagem nas artes corporais como um todo, para poder pensar de maneira mais específica nas atribuições do uso do qin na no tai ji quan, faz-se necessário refletir, primeiro, sobre como o praticante constrói seu conhecimento histórico e sustenta o seu treinamento, lembrando que, tal conhecimento e sua apreensão, estarão diretamente ligados à maneira como ele o recebe e o articula, nesse caso, por meio de um grupo, escola ou até mesmo um professor particular. “Se nós queremos compreender a teoria do tai ji, então devemos primeiro fazer uma trajetória de retorno às suas origens e raízes” (Yang Jwing Ming 1995, p. 23) para adquirir conhecimento histórico. Isso influencia de forma relevante na compreensão em se ter domínio do próprio conteúdo prático, bem como na reflexão e análise das formas de como os movimentos do tai ji qin na foram elaborados, veiculados, corroborados e preservados até nossos dias. Segundo De Lazzari, 2009, p.37, “somente se conseguirmos entender a teoria (...), poderemos alcançar um nível elevado e de competência na prática das artes marciais e uma profunda compreensão da vida.” Com o objetivo de possibilitar a compreensão de como a origem e a aplicabilidade dos movimentos são produzidos e aceitos pelo corpo, busca-se um desenvolvimento e aprofundamento do senso crítico. O estudo dos processos históricos, tanto teóricos como práticos do tai ji qin na, deve ter uma significação maior do que a mera acumulação de informações ou repetições mecânicas de um determinado movimento. “O sujeito que conhece, o objetivo do conhecimento e o conhecimento como produto do processo cognitivo” (Adam Schaff 1987, p. 72) aparecem em todas as análises do processo do conhecimento. “No conhecimento histórico, o sujeito e o objeto constituem uma totalidade orgânica, agindo um sobre o outro e vice-versa; a relação cognitiva nunca é passiva, contemplativa, mas ativa por causa do sujeito que conhece; o conhecimento e o comprometimento (...) estão sempre socialmente condicionados”. (Adam Schaff 1987, p. 105). A teoria do conhecimento mostra que a estrutura do conhecimento é fundamentada nas relações. E são

justamente as relações que o compõe e as que se pode estabelecer com as informações que se possui que fazem com que determinados conteúdos se transformem em saber e em conhecimento científico. Foi o mestre Chen Wan Ting, que, segundo documentos históricos, sistematizou e deu origem ao tai ji quan, quando sua experiência demonstrou que conhecer é ter capacidade de estruturar, relacionar, organizar e sistematizar as informações que se tem e perceber como estabelecer e harmonizar essas relações que estruturam a realidade do praticante do tai ji quan entre o interno e externo, o cheio e o vazio: o ying e yang .

“Alguns praticantes de artes marciais enfatizam apenas o aspecto da luta em suas modalidades, e com freqüência sacrificam a própria saúde para adquirir mais destreza na luta, desenvolvendo mãos e pés firmes, de tal maneira que acabam perdendo muito da sensibilidade natural e sofrem muitos danos físicos (...). Os mestres de Tai Chi Chuan veem essas práticas e atitudes (...) como excesso de yang, ou seja: dá-se ênfase excessiva ao

aspecto yang da luta, em detrimento do aspecto yin da saúde. (Wong Kiew Kit 1996, p. 29). As atividades de aprendizagem, assim como os objetivos das práticas e dos treinos, não podem se resumir a reproduzir conhecimentos para apenas memorizar e depois repetir. Todo conhecimento deve ser pensado no sentido de sua redescoberta ou redefinição corporal. Para isso, faz-se necessário trabalhar dialeticamente, construindo o conhecimento numa relação entre professor (mestre), discípulo (aluno), objeto e realidade. Nessa relação, o professor deve ser o mediador entre o aprendiz, o objeto do conhecimento e a realidade, buscando um caminho que leve o aprendiz a analisar e sintetizar esse objeto, de forma que chegue a um conhecimento prático mais elaborado, e não fragmentado e baseado apenas no senso comum. Quanto maior e mais diversificadas forem as experiências, fatos, situações e vivências que o aprendiz e

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praticante tiver, maiores serão as possibilidades de promover novas relações e uma elaboração mais crítica do saber e aplicabilidade do tai ji qin na. Portanto, o confronto, o conflito, a complexidade, fazem parte essencial do processo de construção da aprendizagem. Quando o professor (mestre) planeja suas aulas de tai ji qin na, deve fazê-lo sempre se questionando sobre o tipo de reação que suas ações provocará nos alunos (aprendizes); deve ter claro que tipo de operação mental está acionando e exigindo de seus alunos: recordação, reconhecimento, associação, comparação, interpretação, entre outros. Um dos principais objetivos da filosofia do tai ji quan é proporcionar aos seus praticantes a compreensão dos valores intrínsecos de sua fundamentação, utilizando-os para melhor entender ou explicar sua realidade, relacionando o presente com o passado, posicionando-se diante dessa realidade, situando-se diante dela e questionando-a, quando necessário. “Podemos ver o quanto Tai-Chi-Chuan é importante para a vida humana e para seu destino, e o efeito que tem sobre o movimento de restabelecimento da moral mundial. Tai-Chi-Chuan é realmente o tesouro inestimável da vida dos seres humanos”, (Wu Chao-Hsiang, 1984, p.27). Praticantes de tai ji quan e qi gong agregam às suas vidas os valores e explicações passados por seus professores e mestres, por isso, é função também do professor e mestre fornecer estímulos ou significados que farão os alunos aprendizes lembrar da importância quanto aos fatos, eventos históricos, imagens marcantes e processos que permeiam o aprendizado do tai ji quan, bem como o entendimento da importância do qin na. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 38): “O que se torna significativo e relevante consolida seu aprendizado [do aluno]. O que ele aprende fundamenta a construção e a reconstrução de seus valores e práticas cotidianas e as suas experiências sociais e culturais. O que o sensibiliza molda a sua identidade nas relações mantidas com a família, os amigos, os grupos

mais próximos e mais distantes e com a sua geração. O que provoca conflitos e dúvidas estimula-o a distinguir, explicar e dar sentido para o presente, o passado e o futuro, percebendo a vida como suscetível de transformação.” Para a construção do conhecimento do tai ji quan, é importante dar ênfase ao aprendizado de fatos históricos que digam respeito à vida cotidiana na origem cultural dos praticantes de artes marciais chinesas, seu contexto como um todo: fatores políticos, econômicos, sociais, culturais e ideológicos da época, sempre procurando estabelecer a relação entre esses diversos aspectos. Os fatos são frutos de ações de indivíduos que fizeram escolhas, mais ou menos conscientes, em suas vidas e, perceber que essas escolhas afetam a coletividade, é elemento chave para que se perceba a questão do sujeito, da responsabilidade dos indivíduos. A construção da sociedade é resultado das ações e decisões humanas e cada praticante de tai ji quan contribui de alguma forma nessa construção. A relevância de se estudar História deve residir na repercussão dos acontecimentos na própria História, no caso deste estudo, a China, ou seja, quanto esses fatos modificaram as relações sociais posteriores ou contemporâneas a eles,

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sempre fazendo uma relação passado-presente. A história do tai ji, por exemplo, é muito mais antiga do que o surgimento do tai ji quan, “O termo aparece pela primeira vez no Livro das Mutações [Yijing (I Ching), séculos VI e V a.C.].” (Catherine Despeux 1989, p. 37) Estudar o passado simplesmente pelo passado, não faz sentido. O praticante de tai ji quan precisa despertar para sua capacidade crítica, para uma reflexão sobre as relações humanas e sobre a consequência de suas ações. Naturalmente, que cada época tem sua própria maneira de ver o mundo e que cada grupo social tem seu próprio modo de interpretar a realidade. Analisar os acontecimentos do passado da cultura chinesa faz com que compreendamos que eles contribuíram de alguma forma para a construção, organização e desenvolvimento do tai ji quan. Assim, formar praticantes conscientes, só será possível com a compreensão crítica da sociedade em que viveram seus mestres e dos fatores que a produziram. Daí a importância fundamental do estudo crítico da História, sem dúvida um dos elementos essenciais na formação do cidadão capaz de participar conscientemente da transformação da sociedade e do mundo em que vive. Numa perspectiva dialética, a história do tai ji quan e a importância que o qin na tem nesse contexto deve ser trabalhada por sua relevância, entendendo que os acontecimentos históricos se interrelacionam no tempo e não estão circunscritos pelo espaço, permitindo que os praticantes e futuros aprendizes reflitam sobre os temas e a realidade de forma crítica e autônoma. Resgatar e preservar a essência do tai ji qin na é consolidar seus ensinamentos. Um resultado muito objetivo tão importante quanto

expressar o verdadeiro potencial corporal do praticante. ----------- Para entender melhor o texto Chen Wangting (1600-1680) também conhecido como Zouting, foi um erudito e exímio praticante de arte marcial. Treinava suas habilidades corporais durante o dia, estudioso dedicado, estudava todos os aspectos da literatura chinesa à noite. Yin Yang tem sua origem no Tao, uma das bases da filosofia chinesa. Representa o equilíbro e harmonia da dualidade em que duas forças se complementam simbolizando o equilíbrio das forças da natureza, da mente e do físico, também associado como o tigre e o dragão representando os opostos, na indicação de que tudo que

existe contém tanto o princípio Yin quanto o Yang. Qi gong é um método chinês constituído de uma série de exercícios corporais que utiliza o qi - a essência da energia vital, para alcançar benefícios terapêuticos Livro das Mutações ou I Ching é um dos mais antigos textos clássicos chineses. Ching, significa clássico e seu foi o nome dado por Confúcio. Antes era denominado apenas de I, cujo ideograma é traduzido

de diversas formas. No século XX, o I Ching tornou-se conhecido no ocidente como o livro das mutações ou livro da mudança. O I Ching pode ser tanto lido como um livro de sabedoria ou estudado como um oráculo. Para a filosofia chinesa sustentada pelo I Ching, não há o que mude, há apenas o mudar. A mudança seria uma característica do próprio mundo. O tradutor mais famoso do I Ching para o ocidente foi Richard Wilhelm que o traduziu para o idioma alemão, na época em que viveu na China.

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Tai ji quan - o movimento do supremo absoluto O tai ji quando compreendida sua essência, representa a origem de tudo; o início. Do seu princípio infinito, da sua calma, surge o movimento. Uma vez em ação, divide-se em dois, manifestando-se em yin e yang. “O yang retorna ciclicamente ao seu início, o yin atinge seu apogeu e cede lugar ao yang” (Fritjof Capra 1983, p. 87) e como resultado nascem as quatro estações e seus derivados, os cinco elementos do qi: metal, madeira, água, fogo e terra. “As mudanças sazonais e os fenômenos delas resultantes, do crescimento e decadência presentes na natureza orgânica eram encarados pelos chineses como as expressões mais evidentes da interrelação ente o yin e o yang, entre o inverno frio e escuro e o verão claro e quente. A relação sazonal entre os dois opostos aparece igualmente no alimento que comemos e que contém elementos de yin e yang.” (Fritjof Capra 1983, p. 87) A partir desse pensamento dá-se origem a todas as formas de vida e quando esses fundamentos do tai ji são aplicados no corpo humano, este se manifesta muito eficaz e potente, tanto no aspecto terapêutico, como na aplicação eficaz de técnicas de auto-defesa. “Uma boa maneira de se preparar para enfrentar qualquer tipo de luta seria aprender todas as diferentes artes marciais.Mas uma alternativa melhor seria praticar Tai Chi Chuan, pois isso não apenas economizaria tempo e esforço como também traria vantagem não oferecidas pelas outras artes marciais. (...) Os mestres de Tai Chi Chuan normalmente não ferem seus oponentes, primeiro porque seu treinamento é todo no sentido de que permaneçam calmos e não fiquem violentos durante a luta; em segundo lugar, porque eles podem demonstrar sua superioridade numa guerra elegante, o que não se encontra facilmente nas outras artes marciais. (...) Eles podem, por exemplo, jogar o oponente a vários metros de distância, marcando claramente sua vitória, mas sem machucá-lo. Em algumas das outras artes, nas quais se enfatiza demais a necessidade de vencer e se estimula cegamente as emoções agressivas, os praticantes precisam quebrar os ossos ou rachar a cabeça do adversário antes de serem considerados vitoriosos.” (Wong Kiew Kit, 1996, p.18) O tai ji quan, entre todas as artes marciais, se destaca por ter imbuído em sua essência a filosofia do yin e yang de equilíbrio e harmonia. Nesse sentido, o

O que você sabe não tem valor; o valor está no que você faz com o que sabe.

Bruce Lee

praticante de tai ji quan tem a habilidade de atingir um profundo nível de equilibrada existência, um objetivo comum dos que buscam na filosofia do Tao um modo de viver. “O Dáo [Tao], como Caminho ou Naturalidade, tem sentido de essência, origem e fundamento de tudo que existe no Universo. E virtude são todas as manifestações da Naturalidade que desabrocham no Caminho. Quem vive de acordo com os princípios do Dào, integrando-se de maneira harmoniosa com o Céu e a Terra, possui virtude porque realiza o Caminho da Naturalidade. Todas as ações praticadas por essa pessoa são, naturalmente, manifestações da virtude. O Taoísmo não define a virtude como um conjunto de regras morais e éticas aplicadas ao comportamento humano. (...). Quanto mais próxima da completa união com o Absoluto – que se revela através da perfeita harmonia que rege o Universo -, mais virtude a pessoa terá, mais virtuosa ela será.” (Wu Jyh Cherng, 2008, p.61) Entretanto, devido à intensa ênfase voltado aos benefícios terapêuticos que a prática do tai ji quan produz, a essência da origem de sua origem – as aplicações marciais –, tem sido gradualmente deixada de lado. “O conteúdo do tai ji quan é muito amplo e profundo. As pessoas sempre souberam que o tai ji

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possibilita manter a saúde, fortalecer o físico e o qi do corpo, relaxar a mente e o espírito, cultivar o caráter do indivíduo e equilibrar as emoções e discernimento mental. Entretanto, muitas pessoas não estão cientes que o tai ji quan também pode oferecer ao praticante uma grande base para a auto-defesa. (...) Para a sociedade das artes marciais da China, o tai ji quan é amplamente aceito como uma habilidade marcial que pode ser utilizada para a saúde e auto-defesa.” (Liang Shou-Yu, 1999, p. 15). É notório que muitos praticantes de tai ji quan, mesmo na China contemporânea, não estão cientes deste aspecto marcial do tai ji quan e, consequentemente, não compreendem a força marcial, jin, e a teoria de utilizar a mente para guiar o qi para energizar a força do músculo para o seu máximo potencial. Desta forma, as aplicações marciais de cada movimento declinou-se para um lento esquecimento. Quando o tai ji quan é aplicado como arte marcial, algumas categorias de combate se fazem presentes: o ti (chute), o da (ataque), o shuai (luta) e o qin na (agarrar e controlar; imobilizar). O tai ji quan e o qin na possuem uma relação íntima, a qual não se pode separar. Entre as 13 técnicas utilizadas no tai ji quan, oito são aplicadas com as mãos: peng (aparar), lu (desviar, rebater), qi (pressionar), an (empurrar), lie (estender), . cai (agarrar), zhou (golpear com o cotovelo) e kao (golpe com o ombro, inclinar-se). . Peng (aparar) É a expansão para fora, para onde se projeta a energia. Peng pode ser traduzido como desviar, repelir. É uma resposta a entrada de energia, aderindo-se a essa energia, permanecendo na própria postura e devolvendo a energia de entrada como se fosse um balão inflado.

O praticante realmente não responde à força com sua própria força muscular para repelir, bloquear ou repelir o ataque. Peng é uma resposta do corpo inteiro, de toda a postura, unidos no centro, com boa base e capaz de aglutinar e, em seguida, devolver a energia ao adversário. Refere-se também o peng como uma espécie de “projeção” de energia, tem o sentimento de circularidade e expansão, ou seja, quando o praticante utiliza seu braço para empurrar o oponente com o apoio do arco do peito é denominado de peng kai que significa abrir desviando e repelindo. A força de expansão também pode ser projetada para cima, para frente ou para os lados. A força produzida do peng é muito ofensiva e vigorosa. Peng geralmente é utilizado como círculo, numa atitude defensiva pelo peito e os braços. Desta maneira o praticante tem a chance de repelir a ofensiva do oponente para cima e neutralizar sua investida. . Lu (desviar, rebater) É o uso da força de uma direção para os lados, como se o oponente interceptasse e avançasse com um ataque dirigido à frente, simultaneamente, desviando-o levemente para um lado. Quanto maior a força de um ataque, o melhor resultado será a perda de equilíbrio por parte do oponente. Lu em ação é ceder, guiar e neutralizar, cuja função principal deste movimento é primeiramente ceder a ofensiva do oponente e depois redirecionar essa força para trás e para fora, neutralizando-a. Na teoria, Lu é um movimento de estratégia, entretanto, às vezes, pode ser bem agressivo quando a situação e um momento sincrônico assim o permitir. Desta maneira, um praticante de tai ji quan, ao se utilizar do Lu, ao ceder e redirecionar, pode também imobilizar ou quebrar o braço do oponente. No tai ji quan, o Lu pode ser aplicado de duas maneiras: uma é para o primeiro desvio do braço do oponente e então girá-lo de volta e desviá-lo para o lado; a outra maneira seria utilizar uma das mãos para agarrar o pulso do oponente enquanto utiliza o antebraço do outro braço para pressionar e imobilizar o lado de trás do braço do oponente. Este movimento de retorno é denominado de da lu. . Lie (partir, separar, estender) O movimento de lie tem o sentido de partir, por exemplo, um pedaço de madeira em duas partes. Entretanto sua ação é para frente e para o lado. Lie é a ação de usar o braço para partir ou estender tanto como para colocar o oponente numa posição cuja imobilidade o faça cair no solo. É considerado um tipo de peng lateralizado que pode ser utilizado para imobilizar o

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braço ou para tirar o equilíbrio corporal do oponente. . Qi (pressionar ou apertar) Esta é uma força ofensiva seguindo a energia do adversário, em espiral para a frente. Ao pressionar a energia, ele funciona como um método para receber o oponente, e, em seguida, aderir. A ação do qi pode ser aplicada com duas mãos, onde as palmas, (lao gong) ficam frente a frente e são pressionadas contra si mesmas. Este movimento, de forma alternativa, pode ser feito pressionando para frente com ambas as mãos, antebraços ou uma mão ao outro braço. . An (empurrar; pressionar) A força vem das pernas empurrando de dentro da terra. An pode ser aplicado com as duas mãos ou apenas com uma, seu movimento é geralmente conduzido inicialmente com os dedos apontando para frente e antes de pegar no oponente, o pulso é girado para baixo, para cima e para frente. Este movimento é chamado de zuo wan (posicionando o pulso). Utilizado também para bloquear as articulações e braços, bem como para atacar a área abdominal do oponente pressionando de cima para baixo ou então frequentemente usado para atacar o peito do oponente pela pressão de baixo para cima ou para frente. O que é relevante no início do movimento é seguir a imaginação. Por exemplo: quando as duas mãos estão posicionadas para pressionar, há uma intenção de fazer o movimento para a frente. Neste momento, a partir do centro das mãos é que a força e energia podem ser emitidas. É comum entre os praticantes de tai ji quan se referir a este movimento de empurrar, no entanto, não seria o termo mais apurado, mas sim definir o an como pressionar. O an é um movimento de ataque yang de qi proveniente de todo o corpo que trabalha com a emissão do qi de yin e yang em pontos no corpo do oponente. O praticante de tai ji quan tem que se concentrar e imaginar o qi se elevando tan tien pela coluna vertebral, através dos seus braços e pulsos e palmas das mãos. Portanto, nesse sentido, o qi é projetado para penetrar no corpo do oponente e é quando há a exteriorização da energia que no tai ji quan se denomina de fa jing, uma ação que libera o qi. “Defesa e ataque são características comuns em todas as artes marciais. Geralmente a defesa é vista como rou (suave) e ataque como gang (rígido, duro). Uma característica do estilo Chen de tai ji quan é a utilização frequente do fa jing ou the emissão explosiva de energia por qualquer parte do corpo. Acompanhado com o pulso, cotovelo, ombro, joelho e o pé utilizado nas artes marciais externas, o tai ji quan do estilo Chen pede que o praticante seja capaz de fa jing com

quaisquer parte do corpo que entre em contato com um oponente. Isso pode ser utilizado para arremessar ou imobilizar um oponente. Seguindo os princípios do yin e yang, o tai ji quan combina a rigidez e a suavidade da energia de maneira macia e intercambiável. Não somente qualquer parte do corpo pode fa jing, mas força pode ser alterada internamente, alternando do ataque para a defesa e vice-versa. (...) O primeiro passo no fa jing é permitir que o corpo relaxe (fang song) de maneira que possa reunir energia. (...) Fa jing, como todas as outras ações do tai ji quan do estilo Chen segue os princípios do chan su jing. (Gaffney e Sim, 2002, p. 138) . Cai (agarrar, colher) É pegar a energia, é a força emitida para um rápido agarrar e puxar (colher) geralmente o pulso de um oponente, tanto para trás como para baixo. Cai também é conhecido como a “polegada de energia” como colhendo frutas de uma árvore apenas com a pressão do pulso. Há situações em que uma mão é colocada sobre a outra para auxiliar no movimento, não significa puxar o pulso, mas um movimento de fa jing que pode atordoar o oponente. Com a utilização do cai, o oponente perde o controle do seu centro de gravidade, tirando-o de sua base. A ação do cai também pode imobilizar o oponente pelas suas articulações, como o cotovelo ou pulso. Após colher ou agarrar, o movimento segue de cima para baixo, de um lado para o outro ou de baixo para cima. O objetivo é levar, pela imobilização

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do braço, o oponente obrigatoriamente para a direção que o praticante de tai ji quan deseja. Assim também o equilíbrio do oponente pode ser vencido ou o braço pode ser imobilizado para outro tipo de ação. . Zhou (golpear com o cotovelo) A ação com zhou implica usar o cotovelo para atacar ou neutralizar o oponente. Desta forma há duas maneiras de se utilizar o zhou, seja para a defesa, quanto para o ataque. Quando o cotovelo é utilizado para o ataque através da força (da) ou pela pressão (ji), a região do peito do oponente é o alvo principal. Quando o cotovelo é usado para neutralizar um ataque, um movimento circular para redirecionar a ofensiva é aplicado. Desta forma o cotovelo pode neutralizar o ataque (hua) para enrolar como uma bobina o braço do oponente (chan) ou bloquear o braço do oponente para evitar um outro ataque. O cotovelo é como uma roda conduzindo os movimentos dos braços do oponente.Contudo, pode acontecer, para querer imobilizar o movimento do braço do praticante, que o oponente tente agarrar o cotovelo do praticante e assim controlar o braço do mesmo. Se isso acontecer, o praticante deve saber como fazer um círculo com o seu cotovelo de forma que gire seu cotovelo de forma inversa para reverter a situação. Para a auto-defesa, saber girar bem o cotovelo é muito importante para um praticante de tai ji quan. . Kao (golpear com o ombro, inclinar-se) A ação do kao se dá como um encontrão contra o corpo do oponente, utilizando-se o ombro (jian kao), as costas (bei kao), o quadril (tun kao), a coxa (tui kao), o joelho (xi kao) e o peito (xiong kao). A utilização do kao é muito importante pela gama de variações que o praticante tem face ao confronto com um oponente. Se o praticante aplicar os movimentos do kao de forma habilidosa, em que a energia é mobilizada em todo o corpo e, a partir daí, todo o corpo é usado como uma unidade e força entregue a ação desse “encontrão”, o oponente perderá seu equilíbrio e sua base. De forma alternativa, quando o oponente fizer uma tentativa de recuperar seu equilíbrio, o praticante pode aproveitar a oportunidade para executar uma ação mais intensa, tal como chutar ou derrubar. Claro está que se pode utilizar o kao, quando aplicado corretamente, para fazer o oponente cair. O kao é extremamente eficaz e poderoso e até destrutivo em algumas circunstâncias. De todas essas técnicas do tai ji quan, seis são mais comumente aplicadas no qin na, são elas: cai, an, zhou, lie, kao e lu. O praticante de tai ji quan deve ser cuidadoso e responsável em seus treinos para evitar utilizar essas técnicas nas regiões vitais de seu oponente.

Para entender melhor o texto Qi é um termo associado ao conceito ocidental de energia compartilhado por diversas artes marciais de origem oriental, destacado especialmente nas artes marciais internas de origem chinesa, entre elas o tai ji quan. É também um dos fundamentos básicos das práticas de qi gong, treinamentos de origem chinesa para ampliar a energia vital. Seu significado etimológico é frequentemente traduzido como ar ou respiração. Auto-defesa ou defesa pessoal é um sistema de métodos utilizados para deter um ataque pessoal derivado das artes marciais tradicionais, adaptadas para uso de pessoas comuns para se defenderem em sua vida normal. Utilizam-se técnicas simples, principalmente bloqueios, retenções e alavancas para dominar e imobilizar o oponente de maneira rápida. Tenta-se dominar de forma segura o oponente, sem provocar danos excessivos no mesmo. Geralmente são técnicas elementares com golpes únicos. 13 Técnicas do Tai Ji referem-se aos oito movimentos fundamentais com as mãos e cinco com as pernas, por vezes associados aos oito trigramas ba gua, que são elementos básicos na constituição do I Ching, e os cinco elementos em ação, wu xing, que fundamentam a medicina tradicional chinesa. Lao gong: seu ponto localiza-se, com a palma voltada para cima, entre o segundo e o terceiro metacarpo proximal e a articulação metacarpo-falângica n lado radial do terceiro osso metacarpo.

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Qin na – um sistema histórico na arte de imobilizar

A arte do Qin Na está fundamentada no princípio da não violência

e nos conhecimentos da Medicina Tradicional Chinesa.

Aparecido de Lira

O qin na é bem conhecido no âmbito das artes marciais orientais e suas técnicas tem sido parte integrante de muita relevância em muitos estilos. Entretanto registros históricos não determinam quando o qin na foi utilizado pela primeira vez. Naturalmente deve ter sido quando uma pessoa pela primeira vez agarrou a outra com a intenção de imobilizá-la ou controlá-la. “As duas palavras qin na foram mencionadas pela Polícia de Zejiang antes da Segunda Guerra Mundial, em 1937. Naquele período, todos os alunos, homens e mulheres, tiveram que aprender e praticar qin na (...) e auto-defesa contra punhais e revólveres”. (...) Estudou-se as técnicas de dividir os músculos e tendões e de deslocar o osso. (...) A partir deste estudo, ele compilaram e fizeram um completo registro das posturas utilizadas do qin na, tanto na prática individual como em duplas. Esta compilação denominou-se de Aplicações de Qin Na da Polícia ou simplesmente Técnicas de Qin Na. (...) Este conhecimento possibilitou que se aplicasse as técnicas que se deseja e atingisse um controle efetivo sobre o oponente. (Li Mao-Ching, 1995, p. xii). Alguns historiadores atribuem que foi um líder militar chinês patriota e nacionalista que lutou na Dinastia Song contra o exército de Jurchen da Dinastia Jin, conhecido também como Wu Mu, o general Yueh Fei (17 de Março de 1103 – 27 de Janeiro de 1142), que teria aprendido com o monge shaolin Jao Tung 108 técnicas de torção e imobilização que seriam conhecidas mais tarde como qin na. A intenção dos monges shaolin que codificaram o método do qin na era o de dominar o oponente sem que houvesse a necessidade de feri-lo seriamente. “A história do Qin Na inserida na arte Shaolin remonta a muitos séculos. Na maioria dos métodos secretos do Qin Na utilizado no Gong Fu foi transmitido

de uma geração a outra até atingir a mais alta perfeição na arte marcial. Quando você se encontra face a face com um oponente armado com uma arma “curta” e depende completamente do seu conhecimento de Qin Na e da sua visão, observe a postura do oponente, seu corpo, seu rosto, como fica e o que ele fará – tudo

deve ser claramente avaliado. Quando você entendeu bem as intenções do inimigo e depende da sua própria força, aproveite uma oportunidade, alterne as suas técnicas “duras” e “macias”. Se dois lutadores destacados se confrontam como um tigre contra um tigre, o resultado do confronto depende da melhor habilidade de Qin Na. Se ele está no processo de mudar, então eu também mudo seguindo-o de perto. Os golpes e controles devem seguir continuamente, sem dar pausa para o momento. Se você enxerga uma abertura vulnerável, deve aproveitá-la e

a sua maneira, limpe a passagem e aja rapidamente. Se você encontrar um vilão, a princípio imobilize-o (Qin) e então utilize a técnica (Fa) e você poderá exercitar o controle (Na). (...) É muito difícil alguém se defender contra técnicas do Qin Na, porque não há defesa contra dedos habilidosos de quem o pratica.” (Liu Jin Sheng 1936). As teorias, técnicas e princípios da aplicação do qin na são similares em muitos estilos de artes marciais, são aprendidas e treinadas para serem utilizadas em todas as situações. O praticante deve conservar no tai ji quan o espírito desperto, sereno e claro. “Preste atenção à menor alteração da postura

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do seu corpo, mas não se concentre a ponto de bloquear o pensamento. O olhar acompanha o gesto, na verdade às vezes o precede, e sempre o prolonga. Não disperse o olhar e não o force. Fique vigilante, pronto, cheio de potencialidade de ação. Esteja presente ao movimento. Escute o corpo. Tenha consciência da “energia espiritual dos olhos”. No entanto não fixe nada, nem direção alguma, com insistência, como se aquilo que você está fazendo não lhe dissesse respeito. (Habersetzer, 1983, p.43) “Assim como com o Tai Chi, a arte do Chin-na [qin na] utiliza círculos grandes, médios e pequenos para as suas técnicas de prender as articulações. De grande importância também é o desenvolvimento de um forte ato de agarrar apenas com o indicador e o polegar”, (Crompton, 1990, p. 111). É perceptível que a teoria do yin e yang permanece a mesma quando o qin na é utilizado no tai ji quan, ou seja, o uso do suave contra a rigidez tem que ser respeitado na aplicação, enfatizando que, uma vez usado o qin na no momento de imobilizar o oponente, o controle deve ser firme. “A força da aplicação do qin na (...) tem sustentação na origem ímpar no ato de desenrolar e espiralar a energia [Chan si jin] (...) do tai ji quan”,

(Gaffney e Sim, 2002, p. 131). Chan si jing, chamado de exercício da habilidade de enrolar a seda ou também conhecido como desenrolar o fio de seda (chan si gong) são práticas de qi gong incorporados em alguns estilos de tai ji quan. São utilizados como um sistema para melhorar a coordenação motora, a concentração e para se adquirir uma boa fundamentação de uma prática de base. Também é utilizado como aquecimento antes da prática do tai ji quan. “Chan ssu gong é o método pelo qual a força de enrolar o fio de seda (chan ssu jing) do tai ji quan estilo Chen é cultivado. (...) Involve uma prática ininterrupta de um movimento único de uma maneira suave e macia. (...) Cada círculo das mãos consiste em dois aspectos – shun-chan e ni-chan. Durante os movimentos de ni-chan, o praticante sente como se a energia está sendo levada para as extremidades. Shun-chan é o retorno da energia para o dan tian. (...) A prática constante desses movimentos levam a compreensão de como a ação em espiral da cintura leva ao movimento espiralado do ombro, cotovelo e pulso, bem como os quadris, joelhos e tornozelos.” (Gaffney e Sim, 2002, p. 110).

Chan si gong

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Qin NaTécnica e aprendizado

A ética genuína só existe onde o homem vive de dentro da sua fonte

e age pela pureza do seu coração; onde a genuinidade do seu ser

se revela em atos desinteressados e isentos de desejos .

Lao-Tsé

Velho conhecido no âmbito das artes marciais orientais, o qin na também tem suas técnicas peculiares, assim como todas as técnicas marciais. “Para conhecer a vitória(...): vence quem sabe que pode e que não pode lutar; vence quem conhece o uso de muitos e de poucos; vence quem compartilhar, de alto a baixo, de um mesmo anseio; vence quem está preparado contra o despreparado.” (Sun Tzu, 2006, p.41). O praticante do tai ji qin na está ciente que tem que pegar seu oponente de surpresa, que seu qin na deve ser hábil, ativo, rápido e poderoso. “Cada postura e movimento devem ser cuidadosamente analisados. Durante a prática, dedique-se para alcançar a correção. Quando você dominar uma postura, então siga para a próxima. Desta maneira vou gradualmente vai adquirir o domínio de toda a forma. Se as correções são efetuadas passo a passo, então mesmo após um longo tempo não haverá desvio, mudança dos princípios básicos.” (Wile, 1983, P.5) A arte do qin na se manifesta em cinco categorias: Fen Jin ou Zhua Jin (dividindo ou agarrando os músculos e tendões, Cuo Gu (deslocando os ossos), Bi Qi (interrompendo a respiração, estrangulando), Dian Mai ou Duan Mai (bloqueando a artéria, a circulação sanguínea) e Dian Mai ou Dian Xue (golpeando os canais do qi ou pressionando os pontos vitais). No tai ji o embate está terminado quando as espadas se cruzam, ou seja, quando dois oponentes fazem contato corporal, aquele que é o mais “suave” estará mais perceptivo a intenção do outro. Nesse nível avançado de tai ji, o praticante percebe que a sutileza dessa fração de segundo é mais do que ele precisa para sobrepujar o oponente. A força denominada como jing também é relevante num confronto. “Os mestres definem o jing como manifestação do sopro verdadeiro em sua forma dinâmica. Estabelecem, portanto, distinção entre o sopro, elemento que circula no corpo, e a força nascida dele. (...). Também se define o jing como o “sopro central que parte do coração”. (...) Concebido no tai ji quan como força enrolada, força de contração ou desdobramento, fina e ininterrupta. (...) Esse enrolamento não caracteriza a força propriamente dita, senão o modo com que devemos utilizá-la. A força interior do tai ji não é um círculo horizontal, mas uma espiral que se eleva no espaço.” (Despeaux, 1981, p.77)

O praticante de tai ji qin na deve compreender que seu aprendizado está relacionado com os sistemas de treinamento do tai ji quan que foram desenvolvidos no passado e, por isso, como princípio, deve saber conhecer seu corpo, colocá-lo no posicionamento correto das posturas. Isto inclui assumir o ângulo certo para imobilizar o oponente. “O que se enfatiza é a não-agressão, não-violência, não-resistência, ou não-oposição e o triunfo da suavidade sobre a força bruta”. (Severino, 1988, p.94.). Em um combate é muito importante que o praticante de tai ji qin na mantenha uma distância vantajosa entre ele o seu oponente para ataque ou defesa. Para isso se pratica tanto os movimentos de avançar, recuar, entre outros. “Qinna inclui técnicas de agarrar e imobilizar, constituindo um componente integral da maioria das artes marciais chinesas. Qin é pegar e capturar o oponente

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para controlá-lo. Se qin é utilizado isoladamente, seu controle pode ser parcial, permitindo a possibilidade do oponente de escapar. Na é agarrar o oponente para exercer controle sobre suas articulações. A força de espiralar é utilizado para bloquear as articulações ou dobrá-las de trás para a frente para o ponto onde é impossível resistir ou escapar. Na prática, as técnicas de qinna frequentemente combinam diversos princípios de uma só vez.” (Gaffney e Sim, 2002, p.141). Para que as técnicas de tai ji qin na sejam aplicadas corretamente, o oponente tem que saber se posicionar corretamente tanto na distância, quanto no ângulo o qual lhe permitirá ter uma manobra mais vantajosa sobre seu oponente. Atenção, agilidade e movimentos de pernas coordenados é essencial ao êxito em todos os estilos de artes marciais. No tai ji quan é exigido um movimento de pernas preciso e articulado para a expressão do qi. Nas artes marciais chinesas o bu é um termo geral que se refere a posição e trabalho com os pés e pernas. Wu bu são as cinco habilidades de movimento de pernas. Wu quer dizer cinco. Os movimentos de corpo e das pernas devem ser combinados juntos. Os cinco passos podem ser relacionados aos cinco elementos cósmicos (wu xing) que fundamentam a medicina tradicional chinesa: madeira, fogo, terra, metal e água. Os cinco movimentos estratégicos de direção na aplicação do tai ji quan são: jin bu (avançar), tui bu (recuar), zuo gu (olhar à esquerda), you pan (olhar à direita) e zhong ding (equilíbrio central). . Jin Bu (avançar) Este passo é um dos principais movimentos de um praticante de tai ji quan. Dar um passo a frente é

geralmente utilizado para manter a distância quando o oponente está recuando. Com a intenção de aderir e alcançar o oponente, o praticante deve manter a distância adequada. É normal, quando o oponente percebe que o praticante tem uma técnica melhor do que a dele, tentar recuar para evitar todo e qualquer avanço. Nesse sentido, o praticante tem que dominar habilmente esse passo para avançar rapidamente. “Uma resposta firme para seu avanço significa que o oponente tem um plano e está tentando implementá-lo. Seu contra-ataque deve ser suave, senão você não será capaz de entender a condição do oponente de forma acurada,” (Chen Xin, 2007, p.209). Desta maneira se obtém sucesso para poder neutralizar o oponente. Este movimento é associado com o elemento metal. . Tui Bu (recuar) A lógica na estratégia no passo do tui bu é exatamente o contrário do jin bu (avançar). Com o recuo o praticante, em uma situação de emergência, pode se livrar do ataque do oponente, principalmente se perceber que sua técnica é muito mais apurada do que a sua. Na inevitabilidade de um ataque superior, o tui bu também permite ao praticante ganhar tempo para pensar numa estratégia alternativa. Se um oponente está pressionando o peito do praticante com suas palmas, o praticante pode dar um passo para trás para ceder e ao mesmo tempo pressionar com suas mãos o oponente no sentido de fora para dentro. Desta forma, o praticante faz um movimento de recuar para se defender. Este movimento para trás é associado com o elemento madeira. . Zuo Gu (olhar à esquerda) Num sentido mais amplo, zuo gu significa ver ou procurar por uma oportunidade à esquerda do praticante. Quando o praticante se encontra numa situação de combate, ele deve sempre estar atento para uma oportunidade de dar um passo para um dos seus lados. Assim ele terá uma vantagem para aproveitar a falha do oponente, colocando-o numa situação difícil. Quando o praticante aplica a técnica de da lu (grande recuo), para tornar a técnica efetiva, ele deve dar um passo com sua perna esquerda em direção à sua esquerda e colocar o oponente numa posição de fácil imobilização ou controle. O zuo gu também é geralmente utilizado pelo praticante para se desviar ou evitar uma ofensiva contrária do oponente. Em xiao lu (pequeno recuo) o praticante, assim que neutralizar o oponente, deve dar um passo com a sua perna direita para a sua esquerda (direita do oponente) e ao mesmo tempo tirá-lo de seu equilíbrio. Estar sempre atento à esquerda é a principal razão do treinamento do zuo gu, pois assim o praticante

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pode aproveitar alguma oportunidade que surja naquele lado. Geralmente se refere também para que o praticante ceda um pouco para atacar habilmente logo em seguida, como girar e avançar adiante pela lateral. Este movimento de olhar à esquerda é associado com o elemento água. . You Pan (olhar à direita) Essencialmente é a mesma estratégia que o zuo gu, todavia refere-se ao lado direito. É a procura por uma oportunidade à direita do praticante de tai ji qin na. No movimento conhecido como mover as mãos como as nuvens, se a perna esquerda do oponente está à frente, assim que o praticante obter o controle de seu braço direito, deve, se possível, dar um passo com sua perna esquerda para o lado da perna esquerda do oponente (para a direita do praticante), pois desta maneira o praticante terá uma vantagem angular para derrubar o oponente. O movimento you pan de olhar para a direita é associado com o elemento fogo. . Zhong Ding (equilibrar o centro). Estabilizar, enraizar e firmar o centro, também são denominações que permeiam o zhong ding. Na prática do tai ji quan, zhong ding é provavelmente um dos mais importantes movimentos do qual um iniciante deveria se concentrar, pois para estabilizar o seu centro de gravidade corporal, o praticante deve manter primeiro um bom equilíbrio derivado de uma base firme, como se estivesse enraizado no chão. Para obter sucesso nessa técnica, é necessário que o praticante primeiro saiba como relaxar a si mesmo e permitir que o qi se desloque suavemente e naturalmente pelo seu corpo. Desta maneira, o praticante vai conseguir um apurado senso de equilíbrio corporal. Manter o equilíbrio, estar bem enraizado e ser firme em seu centro de gravidade corporal não é uma tarefa simples, especialmente para quem está se iniciando no tai ji quan. As posturas do galo dourado numa perna só e cravando a agulha no fundo do mar são exemplos de como o praticante de tai ji quan tem que manter o seu equilíbrio ao mesmo tempo que se movimenta. Por isso é comum os professores e mestres de tai ji quan trabalharem com seus alunos e aprendizes a técnica de ficar na postura da árvore para se obter uma boa base. Uma das práticas mais conhecidas no ocidente como Abraçar a Árvore, Postura da Árvore ou Qi Gong da Árvore”, o Zhan Zhuang se refere a uma forma de meditação que é feita em pé, conservando-se o praticante num estado de aparente imobilidade. O termo pode ser traduzido literalmente por em pé como uma estaca. Uma postura aparentemente estática onde o indivíduo exercita o controle sobre a tensão e o relaxamento, treinando o

espírito, a mente e o corpo. Pode também ser classificada como uma técnica de qi gong estático. Este método de treinamento é comum a diversas artes marciais chinesas, é especialmente enfatizado entre os estilos internos, Nei Jia. Há diversas posturas para realizar este treinamento. Em aparente imobilidade o praticante pode realizar exercícios respiratórios revigorantes e formas de meditação que auxiliem a desenvolver a força interior e o equilíbrio, além de relaxar o sistema nervoso e vitalizar o endócrino. São utilizadas para aumentar a força das pernas, obter um melhor equilíbrio, desenvolver a paciência, ampliar a capacidade de meditar e a vitalidade do corpo como um todo. Seu objetivo é desenvolver a energia vital, qi, do ser humano, proporcionando um nível elevado de harmonia entre corpo e mente. A técnica de zhong ding, de equilibrar o centro, também pode ser trabalhada com os exercícios estáticos de empurrar com as mãos (tui shou) do tai ji quan. Assim o praticante e seu companheiro de prática poderão exercitar a noção de base e enraizamento pessoal, bem como do seu oponente. Dentro dessa técnica, o praticante deve aprender como proteger seu centro e sua base para evitar perder seu equilíbrio frente a ofensiva de um oponente. Zhong ding é associado ao elemento terra.

“O empurrar com as mãos, criado por Chen Wanting, é um método de prática composta pelo qual o tai ji é colocado em uso. Atua como um treinamento da forma das aplicações e é uma maneira de aprender as habilidades de defesa e combate da arte. Originalmente conhecido como da shou, golpeando com as mãos ou ke shou, mãos cruzadas, é um método formulado pela combinação dos princípios do tai ji e os métodos marciais de segurar, agarrar e arremessar. Empurrar com as mãos foi mais tarde desenvolvido e aperfeiçoado para tornar-se um estilo ímpar em si mesmo.” (Gaffney e Sim, 2002, p. 149). “A prática de Tai Chi na sua componente marcial implica disciplina e envolve parceiros. Tal aspecto permite-nos sentir o contacto e desenvolver o equilíbrio e reduzir a sensação de medo, originando a autodefesa.” (Popovic & Brady, 2007).

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Além da importância de se ter noção do correto direcionamento a ser tomado, outro ponto importante para o praticante de tai ji qin na é saber respirar, controlar a forma correta de inspirar e expirar durante os movimentos para poder adquirir mais potência em suas ações. A respiração é uma fonte de qi e a mais importante de todas. “A respiração do bebê ou respiração abdominal é a respiração padrão do Tai Chi. Trata-se de inspirar e naturalmente expandir o abdome juntamente com os pulmões e expirar contraindo-os. Esta respiração melhora nossa capacidade de oxigenação e acalma a mente. O abdome deve estar sempre relaxado e a respiração deve ser calma, profunda, fina e solta. Não devemos prender a respiração e nem endurecer o abdome.” (Sasso, São Paulo, p.15.) Controlar os pensamentos, assim como na prática do tai ji quan, no qin na, a mente direciona o qi para os músculos e tendões para ativá-los para a ação. Quanto mais a mente estiver concentrada, mais qi poderá ser direcionado e mais força o praticante poderá liberar. Aonde o pensamento chega, o qi chega. Uma vez que o praticante consiga equilibrar sua mente, seu corpo, sua respiração e seu qi, então poderá estabelecer o controle de seu espírito. “A essência do t´ai chi é na realidade ajudar cada um a travar conhecimento do seu próprio sentido de crescimento potencial, do processo criativo de simplesmente ser o que se é. O t´ai chi ajuda você a ser você, e a deixar que esse sentido de admiração, evolução e constante alegria de mudança aconteça em você. T´ai chi é uma disciplina na qual você como pessoa, como ser humano, pode mergulhar e praticar, e lhe trará bons proveitos.” (Huang, 1979, p. 85.) “A teoria do poder interno é um desenvolvimento da filosofia do Yin e do Yang, a idéia-mãe de toda cultura chinesa”, (Liao, 1977, p.89). O praticante,

seguindo esse preceito, pode atingir os níveis mais elevados de execução do tai ji qin na, contudo ele deve entender que sem perseverança, não chega a nenhum lugar. “Essa aprendizagem é interior, e a condição para aprender é praticar os exercícios. Ler e praticar andam de mãos dadas. Ler o material também ajuda a prática. Em pouco tempo, à medida que exercita os movimentos, você aprenderá como pensar e o que sentir. O aprendizado do T´ai Chi é um processo lento.”, (Lee e Johnstone, 1989, p.18) Ser paciente é fundamental, se o praticante se acha muito lento em aprender ele tem que ser ainda mais paciente e, com certeza, alcançará o seu objetivo. “Como em todo bom sistema de exercícios, a prática regular é essencial. Não adianta se apressar, esperando resultados instantâneos”, (Chuen, 2000, p.5). Há uma boa razão para a arte do tai ji se chamar de “Supremo Absoluto”. Não somente seus praticantes são capazes de neutralizar a “dureza” e velocidade e assim desfrutar primeiro lugar entre as artes marciais, mas do fraco se tornar forte, do doente se recuperar e do tímido obter coragem. Na realidade é o caminho da força do indivíduo. (Cheng Man Ching, 1982, p.8) Ser humilde também é um dever do praticante, mesmo se ele alcançou um bom nível de tai ji qin na. Toda arte marcial é ímpar, o praticante tem que ser humilde no sentido de estudar e aprender e não permitir que o orgulho pessoal se sobreponha às suas ações, “assim como do Tao brota a vida, assim age o sábio, sem ferir ninguém”, (Lao Tsé, 2005, p.185). “O verdadeiro conhecimento do Tao é cultivado com boas ações e com a prática da virtude. Uma vez que as sementes do Tao não podem ser plantadas a menos que se faça boas ações e se adquira virtude, os que falharam e na assistência aos semelhantes e na meditação por razões egoísticas, adquirirão apenas um pouco mais de conhecimento”. (Huai-Chin Nan, 1988).

----------- Para entender melhor o texto Nei jia é a referência para escola interna. No contexto das artes marciais chinesas se refere a classificação dos estilos de wu shu em internos e externos. Os estilos internos são caracterizados pela ênfase no cultivo e desenvolvimento do qi, enquanto os estilos externos são associados aos templos de Shaolin.

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“O shao lin qin na é mais ofensivo, enquanto que o

tai ji qin na é mais defensivo”

Tai Ji Qin Na e Shao Lin Qin NaNas artes marciais, não importa se o estilo

é interno ou externo; embora seus passos sejam opostos,

o objetivo final é o mesmo.

Associação de Artes Marciais da China

Uma vez que as técnicas de qin na são muito similares, independente da arte marcial, há diferenças sutis no qin na aplicado entre as artes marciais internas e externas. O motivo é porque não importa a origem do qin na ou como ele é aplicado, ele é sustentado nos mesmos preceitos de imobilizar, seja dividindo, deslocando, separando, bloqueando, agarrando e pressionando. Um praticante de alto nível de qualquer arte marcial deve ser tão habilidoso que todas as técnicas podem ser aplicadas de forma “suave” e “circular” como na essência do tai ji. Este conceito de circularidade e suavidade é que acentua as diferenças entre as artes marciais externas e internas. Entretanto, muitos praticantes de artes marciais, tanto internos como externos, pensam que as técnicas dos estilos externos são apenas “rígidos” e que somente a força muscular é utilizada para executar as técnicas. Muitos deles também pensam que praticantes de artes marciais externas não treinam o cultivo do qi. Isso é um equívoco muito grande e denota falta de informação teórica sobre o assunto que também resulta num empobrecimento da prática. “O objetivo maior de toda filosofia, seja ela ocidental ou oriental – inclusive a filosofia Kung Fu – é a autotransformação e o auto-aprimoramento de seus praticantes, com o conseqüente aumento da capacidade de percepção da realidade.” (Natali, 1986, p. 131). “No Tai Chi, movimentos tais como Puxar, A Agulha no Fundo do Mar e Recuar para Repelir o Macaco podem ser interpretados como técnicas de agarrar ou de segurar quando aplicadas a um oponente. Parte do treinamento de um estudante do Chin-na [qin na] consiste em entender as juntas do corpo, ou de que modo elas podem ser torcidas ou presas.” (Crompton, 1990, p. 110.). No movimento da Agulha no Fundo do Mar: se o oponente atacar com o punho ou segurar o seu pulso, prenda o pulso dele e puxe-o para baixo, utilizando a força e o peso intrínsecos do seu tronco e pernas. Ele perderá o equilíbrio e cairá para a frente. Se ele resistir ou levantar os braços, use Mover os Braços como um Leque para levantar os braços dele e de um golpe no quadril do oponente com a palma da mão esquerda. Se o estilo é externo ou interno, quem pratica deve fazê-lo de forma séria para alcançar um alto nível de prática, o resultado final senão é o mesmo, é similar. Contudo, ao se fazer uma análise com mais profundidade e acurada nas diferenças dos estilos internos de qin na e dos estilos externos de qin na, podemos observar que há algumas diferenças notórias. O qin na aplicado no estilo shao lin é mais rígido, enquanto que no tai ji é mais “macio” devido a diferença dos métodos de treinamentos dos

praticantes. Isto denota que o shao lin qin na utiliza mais força muscular enquanto no tai ji qin na o qi se faz mais acentuado. O shao lin qin na enfatiza tanto movimentos retos quanto circulares, enquanto que o tai ji qin na é geralmente muito mais circular. Esta distinção também é resultado do treinamento do praticante. “Os métodos de qinna de uma arte marcial externa como o Shaolin Quan são geralmente desenvolvidos no fortalecimento, endurecimento e controle de treinamento em agarrar com as mãos e braços. A aplicação dos métodos é frequentemente correlacionada com a força física do praticante. Em contraste, as aplicações do taijiquan qinna são sustentadas não na força física, mas na força interna suave, utilizando a intenção mental e o qi.” (Gaffney e Sim, 2002, p.141) De certo modo, numa comparação mais direta, o

shao lin qin na é mais agressivo, enquanto que o tai ji qin na é passivo, pois a estratégia da arte marcial shao lin enfatiza os dois, ataque e defesa, o tai ji é especialista em utilizar a defesa como ataque, ou seja, o shao lin qin na é mais ofensivo, enquanto que o tai ji qin na é mais defensivo. No que se refere a aplicabilidade do qin na, seja na arte marcial externa, o shao lin wu shu ou na

arte marcial interna, o tai ji quan wu shu, pode-se concluir que, embora examinadas as diferenças entre o shao lin qin na e o tai ji qin na, elas não são antagônicas, um bom praticante de artes marciais, interno ou externo, deve saber gerenciar os movimentos do qin na a sua vontade, seja de forma “suave”, circular ou com sua rigidez. Assim é como age qualquer praticante de tai ji quan de alto nível, sempre com o objetivo principal de alcançar a meta suprema no taoísmo ou de qualquer outra disciplina filosófica.----------- O templo Shaolin está localizado nos bosques no sopé da montanha Shao Shi, China. Foi construído pelo Imperador Hsio Wen da dinastia Wei do Norte (386-534 AD) e se tornou famoso pelas traduções de manuscritos budistas para o chinês. A reputação dos monges lutadores se espalhou pela China, fazendo com que o shao lin kung fu se difundisse pelo país, principalmente durante a Dinastia Ming, vindo mais tarde a se difundir em outros países da Ásia e a dar origem a outros estilos de artes marciais.

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Qin na A sua relação com a saúde

O maior segredo é ser natural, paciente, persistente e não ter pressa.

E tudo vai acontecendo, equilibrando o corpo e a mente.

Salomón Bernardo Vinitsky

O alento é que fornece vida, leva a vitalidade para as entranhas corpo humano. “Para os chineses, é na barriga que se representa o Mar da Vida.” (Emerli Schlogl, 2000, p.30). Para a medicina tradicional chinesa é no centro de gravidade corporal que se encontra o tan tien, onde se processa a transmutação dos elementos, ponto fundamental também na prática do tao yin. É a fonte onde se revitaliza o qi que é irradiado para todo o corpo. Quando o qi está circulando bem pelos meridianos do corpo humano, a saúde está bem. Obter conhecimento do funcionamento do corpo humano e sua interação com o ambiente segundo os ciclos da natureza, é importante para a manutenção da saúde. O praticante sempre deve cuidar de sua saúde. Quando ele inicia o seu aprendizado do tai ji associado com as técnicas de qin na, pode acontecer que haja um desconforto corporal proveniente de uma prática equivocada ou demasiadamente externa, que pode levá-lo a conclusão de que qin na é somente para aplicação marcial. Na realidade “somente aquelas pessoas que tem praticado ́ qin na´ for um certo período é que perceberam que através da prática do qin na, elas pode obter muitos benefícios para sua saúde, tanto física, como mental.” (Yang, M. J., 1994, p. 16). O primeiro benefício que o praticante de tai ji qin na percebe é a capacidade de desenvolver melhor a sua percepção. Esse processo tem início com a consciência dos diferentes ângulos que podem ser danosos para os músculos, as articulações e os tendões. O motivo é que o qin na é específico em travar as juntas por determinados ângulos, especialmente os que afetam os ligamentos e os tendões. Através de um treinamento sério e constante, o praticante será capaz de aprender os ângulos que podem ser danosos ao corpo. Desta forma, o praticante vai desenvolver sua percepção para evitar ângulos que podem prejudicar as articulações. “Para a prática solo também é útil saber algo acerca das articulações, e da melhor maneira de usá-las. Por exemplo, quando a perna está dobrada na Postura do Arco, é anatomicamente mais propício para a tíbia mover-se sobre o pé de modo que o tornozelo não fique dobrado para dentro ou para fora.” (Paul Crompton, 1990, p. 111.). Em qualquer expressão corporal, a maioria dos efeitos prejudiciais da prática é facilmente causada nas articulações pelo uso da força demasiada ou pelo exercício de uma postura em um ângulo errado. Desta forma, um “estudo dos pontos vitais do corpo e, num

nível mais profundo, a percepção do fluxo por meio da pressão. (...) O estudo dos remédios medicinais à base de plantas a fim de que se possa curar vítimas de um ataque segundo a técnica do Chin-na”, (Crompton, 1990, p. 111), é importante ao praticante de tai ji qin na. Entre os resultados terapêuticos interessantes que a prática do tai ji qin na proporciona, foi corroborado o aumento do discernimento mental, maior força de vontade, compreensão sobre o corpo humano e sua estrutura física, obtenção de um melhor equilíbrio mental e emocional, entendimento sobre o funcionamento do qi no corpo e aquisição de melhor base na estabilidade corporal. “O mestre Yang da segunda geração, Yang Ban Hou, resumiu a essência da sua arte em nove poemas, conhecidos como Nove Segredos Essenciais do Tai Chi Chuan. (...) Que traz conselhos valiosos.” (Wong, 1996, p.218.), um deles, o Segredo do Yin e Yang diz: Poucas pessoas praticam consistentemente o yin-yang do Tai Chi; Rígidos e flexíveis são para engolir, atirar, flutuar e afundar; De frente ou de lado, recebem ou soltam, movem-se de acordo com a situação; Movimento e quietude podem trazer transformação; Para gerar ou controlar, a situação determinará; Esquivando-se e avançando, encontra-se nos movimentos; Quem podem ser leve ou pesado e aparente ou sólido; O leve não está preso ao pesado.----------- Para entender melhor o texto Tan tien é um princípio elementar em diversas linhas de artes marciais e de meditação, situado no abdômen, aproximadamente a quatro centímetros abaixo e para dentro do corpo em relação ao umbigo. Tao yin é um sistema de práticas que auxiliam no equilíbrio do yin e yang para que o tai

Professora de Tai Chi Elli Nowatzki Curitiba - PR

Celular: (41) 9164-3184

ji retorne ao seu repouso, voltando a se integrar ao vazio original, à origem da existência.

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Yi e Qi - Manifestação consciente do pensamento e da energia no tai ji

No trabalho do TAI-CHI-CHUAN, a parte energética é de extrema importância,

pois o CHI é exatamente o elemento do meio, que se liga ao SHEN e ao CHIN.

É o ponto de equilíbrio entre o corpo e a mente.

Wu Jyh Cherng

Todo praticante de tai ji quan tem o conhecimento de que, por esta ser uma arte marcial interna, tem como característica primordial de sua manifestação o qi e o yi. Quando há movimento no tai ji a princípio, o praticante produz yi, pensamento consciente e dirigido, e, a partir deste yi, o qi é guiado, direcionado para os músculos e nervos para ativar e energizar os músculos em movimentos de contrações e relaxamento. Assim, o praticante pode perceber a origem de cada manifestação que se denomina yi. O yi, pensamento consciente e dirigido, tem sua origem na mente, no cérebro. Acredita-se que o ser humano utiliza uma capacidade muito pequena do que o cérebro poderia proporcionar. Há passagens escritas por autores chineses que afirmam que a prática do tai ji quan e também do qi gong, ao haver a manifestação do yi, levam o qi para as células do cérebro, provendo-o com uma “energia extra”, o que produziria um estado alterado de consciência tão intenso que se assemelharia a um estágio de iluminação. O qi circula no corpo como uma forma de energia bioelétrica e o yi o direciona para onde o praticante deseja, numa manifestação conjunta, associada com a respiração abdominal. Para direcionar o qi, muita concentração e prática se fazem necessárias. Meditação também faz parte do processo. Somente assim o qi, pelo yi, pode se manifestar, ou seja, o praticante deve saber se concentrar muito bem, ter uma postura meditativa consciente, um reservatório de qi no tan tian e conhecer as técnicas de direcionar o qi para a região do corpo onde deseja manifestar a energização para um nível eficaz como resultado da sua intenção marcial. Essa é a essência primária da ação de uma arte marcial interna como o tai ji quan. “Algumas artes marciais acreditam que, desde que se levaria muito tempo para desenvolver uma mente meditativa e com concentração para carregar o Qi no Dan Tian inferior para um nível mais elevado, nós deveríamos primeiro utilizar o Qi disponível em nossos corpos para energizar o corpo físico para a luta. Em tempos antigos, era primordial que você aprendesse primeiro técnicas para sua defesa. Somente depois que você soubesse como se defender é que você

começaria a aprender a cultivar o Qi e treinar sua mente para a concentração e meditação. Estes estilos são denominados de estilos externos. Entretanto, outros estilos acreditavam que, desde que a mente e o Qi são a fonte da força física, deveria primeiro aprender a cultivar o Qi e treinar a concentração. Somente quando o Qi estivesse forte poderia ser direcionado pela mente concentrada para as técnicas aplicadas pelo corpo físico. Em ordem de permitir que o Qi circule pelo corpo de forma suave, o corpo deve estar relaxado e tranquilo. Esta é a origem do Taijiquan, conhecido com um dos estilos internos.” (Yang, 1995, p. 45) O tai ji quan enfatiza a leveza e a utiliza contra a rigidez. Suas técnicas se concentram com mais intensidade na prática interna, no desenvolvimento

da concentração, na meditação e no cultivo do qi. Seus movimentos, devido ao relaxamento corporal e mental constante do praticante de tai ji quan, são circulares em essência. “O eixo do qinna está na cintura e nas pernas. Quando aplicar uma técnica o praticante deve relaxar os ombros, manter os cotovelos baixos, encolher o peito, fortalecer as costas e concentrar

o qi. Manter o centro de gravidade firme e ficar próximo ao oponente no sentido de manter uma posição estável. Qinna envolve agarrar as articulações móveis, como os pulsos, cotovelos, ombros etc, de tal forma que o oponente não consiga facilmente escapar. No taijiquan estilo Chen há inúmeras maneiras para fazer o qi do oponente subir, uma delas é o qinna. Quando o qi sobe, a raiz (equilíbrio) fica comprometida e a pessoa pode ser facilmente derrubada. Isso também deixa a região do peito vulnerável para ataques.” (Gaffney e Sim, 2002, p.142). A mente concentrada é, portanto, a chave para a prática tanto no tai ji quan quanto na aplicabilidade das técnicas do qin na.

“A mente concentrada é, portanto, a chave para a prática tanto

no tai ji quan quanto na aplicabilidade das técnicas do qin na.”

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a relevância que a sua prática e teoria tem. É primordial levar em consideração que esta direção do olhar chegará a formulações teóricas sempre incompletas, mas que será de grande valia para o seu aprendizado. “Um investigador honesto terá de admitir que nem sempre é possível uma tal redução, mas será desonesto se de sua parte não tiver isto sempre presente no espírito. O cientista também é um ser humano. Por isso é natural que também ele deteste coisas que não consegue dar explicação. É uma ilusão comum acreditarmos que o que sabemos hoje é tudo o que poderemos saber sempre. Nada é mais vulnerável que uma teoria científica, apenas uma tentativa efêmera para explicar fatos, e nunca uma verdade eterna.” (Jung, 1997, p. 92). Portanto, é imprescindível compreender a relevân-cia do entendimento no que tange as técnicas de qin na nas práticas de tai ji quan e promover que esse asunto seja incorporado ao cotidiano dos praticantes de tai ji quan com mais assiduidade e valorização, possibilitando novas formas de se compreender a sua aplicabilidade. O tai ji quan sem a compreensão e aplicação do qin na, se torna incompleto, distanciando-se assim como um wu shu implicitamente autêntico. Todas as reflexões apontam para o fato de que o universo do tai ji qin na é de tal forma amplo que servirá como referência para um futuro estudo mais aprofundado sobre qin na e arte de imobilizar no tai ji quan.

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Considerando pesquisas realizadas e dados bibliográficos levantados para o estudo do tai ji qin na, acredita-se que esse assunto tende a se fortalecer no cenário nacional entre os praticantes de tai ji quan. “Toda conquista de grandes objetivos implica na conquista paulatina de objetivos pequenos e sucessivos.” (Natali, 1989, p. 34), e, desta maneira, a necessidade do estudo tem o seu valor na medida em que se consolidar pela difusão cada vez mais forte da aplicabilidade do qin na nas escolas e grupos de tai ji quan. Nessa perspectiva, há a possibilidade de muitos praticantes de tai ji quan se encontrarem num estado emocional de surpresa diante das informações apresentadas, justamente porque pouco se tem referenciado a respeito no cenário nacional. “Percebe-se que as tradições que emergem de diferentes culturas, sendo criações humanas, são formas simbólicas do existir humano” (Schlögl, 2009, p. 206), e, apesar de ter uma aparência de algo relativamente recente, a tradição e a cultura da utilização do qin na sobre a arte de imobilizar no tai ji quan não é um assunto que somente aflorou nas últimas décadas. É importante que o praticante investigue, se aprofunde no estudo do tai ji quan e do qin na. Embora muitos dados ainda são difíceis de compilar e a redução de informações vinculadas ao qin na e sua aplicação no tai ji quan são perceptíveis, deve-se ver esse assunto com

Tai Ji Quan e Qin NaRelevância e referências

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Chegará um momento em que a disciplina e a perseverança na prática do Tai Chi levarão o discípulo à prazerosa percepção de que ele não executa, mas se torna o próprio movimento.

José Milton de Oliveira

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SESC Água VerdeCuritiba - Paraná

3 TURMASÀs 2ªs, 4ªs e 6ªs: das 08h às 09h

Às 3ªs e 5ªs: das 18h20 às 19h20

Às 5ªs: das 16h30 às 18h

Pai Lin - uma homenagem

Cartaz de homenagem ao Mestre Liu Pai Lin. O texto é de Laís Wollner, professora de Tai Chi Pai Lin que pratica esta arte desde as primeiras turmas conduzidas pelo Mestre no Brasil. Em 2010 convidou amigos e familiares a participarem da realização desta homenagem ao Mestre Liu Pai Lin. Laís Wollner é Física, Doutora, com formação em História da Arte, Arte e Filosofia do Taichi. Em seus cursos, palestras e workshops integra Ciência e Espiritualidade ao tecer relações entre os Processos Criativos, o Modelo Quântico e a Prática do Tao. Contato: [email protected] O cartaz é criação de seu marido, o designer Alexandre Wollner. A foto do Mestre Liu, inédita, é do fotógrafo Gui Von Schmidt. A artista e escritora Edith Derdyk, também praticante de Tai Chi Pai Lin, colaborou na construção da versão finalizada do texto. Tarcísio Tatit Sapienza comentou.

Na data ocidental de aniversário do Mestre Liu Pai Lin, 8 de dezembro, foram afixados em locais dedicados à prática do Tai Chi Pai Lin cartazes em sua homenagem

(Veja versão ampliada na próxima página.)

Tai Chi Chuan - Cursos . Formação Livre (Aprofundamento) . Formação de Instrutores . Pós-graduação Lato Sensu

Inscrições e local dos cursos: Escola de Tai Chi Chuan Paramitta

R. Visc. do Rio Branco, 84. Curitiba, PR - Tel: (41) 3018-5056 Informações: www.TaiChiCuritiba.com.br | www.AcademiaParamitta.com.br

Início dos Cursos 16 e 17 de Abril

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