Revista Teologia ano 1 número 2 - Epifania

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Ano 1, Nº 2 Produzida por Pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil - A Epifania e suas opor- tunidades, 42 - Epifania - Sermão, 38 - Música - Três Reis Ma- gos, 78 - Liturgia para o Culto de Natal, 83 - A Estrela - simbologia cristã, 77 - A Natureza Missioná- ria da Igreja, 4 - A TV como veículo de evangelização na Igreja Evangélica Luterana do Brasil, 23 - A Onipotência de Deus e a Universalida- de da Graça no Livro de Jonas, 69

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Revista Produzida por pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, em conjunto, com o objetivo de compartilhar material. Pode ser livremente copiada e distribuída desde que citada a fonte e os autores.

Transcript of Revista Teologia ano 1 número 2 - Epifania

Ano 1, Nº 2Produzida por Pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil

- A Epifania e suas opor-tunidades, 42- Epifania - Sermão, 38

- Música - Três Reis Ma-gos, 78- Liturgia para o Culto de Natal, 83- A Estrela - simbologia cristã, 77

- A Natureza Missioná-ria da Igreja, 4- A TV como veículo de evangelização na Igreja Evangélica Luterana do Brasil, 23

- A Onipotência de Deus e a Universalida-de da Graça no Livro de Jonas, 69

EXPEDIENTEPublicação mensal de pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) não oficial. Tem como propósito divulgar textos teológicos/pastorais, inéditos ou não, produzidos por pastores da IELB, recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão disponíveis na Internet, divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica luterana confessional e a reflexão teológica na IELB, e ser uma ferramenta prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas. Os conteúdos são de responsabilidade dos seus autores.

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ApresentAção dA revistA

eletrônicA teologiA & práticA

- A Água - biblicamente falando, 58 - A Epifania e suas oportunidades, 42- A Estrela - simbologia cristã, 77- A Natureza Missionária da Igreja, 4- A Onipotência de Deus e a Universalidade da Graça no Livro de Jonas, 69- A TV como veículo de evangelização na Igreja Evangélica Luterana do Brasil, 23- Deus continua manifestando a sua glória através da Igreja, 60- Direto ao ponto, 87- e-mail de Lutero — A Reforma da Igreja Cristã, 63- Epifania - Sermão, 38- Litúrgica: Culto de Natal, 83- Música - Três Reis Magos, 78- Nasceu o Salvador, 46

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Escrituras Sagradas respostas para que a Igreja desem-penhe com fidelidade sua missão, consciente de que foi chamada para ser sal, luz e fermento para todas as nações.

1. A Base Bíblica

1.1. A Missão no Antigo TestamentoOs capítulos iniciais da Bíblia, Gênesis 1 a 11, pos-

suem um significado especial para a teologia da missão. Mostram a origem de todas as nações e o relacionamen-to de Deus com as mesmas. Estes capítulos servem de pano de fundo para descrever a atividade salvífica de Deus.2

Estes registros bíblicos são um claro testemunho, em meio às nações pagãs, do plano divino de salvação, e contestam a existência dos deuses das nações, mos-trando que o Deus de Israel é um Deus histórico, que age na e através da história para trazer salvação. Isto proporcionou ao povo de Israel a consciência de que, em sua vida, estava presente o Deus Criador de todas as coisas, o Eterno, que permanece para sempre e que age historicamente. Evidencia-se, assim, que a história da criação do mundo e das nações acontece pela deter-minação do Senhor e, por isso, serve de pano de fundo para a sua atividade salvífica em Israel e, através dele, em todas as nações.

Além disso, a universalidade do proto-evangelho de Gênesis 3.15 é básica à revelação do Antigo Testamen-to, pois apresenta a promessa universal de salvação. “É o leitmotif soteriológico... e o princípio hermenêutico que governa a interpretação do Antigo Testamento”.3

2. BLAUW, Johannes. A Natureza Missionária da Igreja. Jovelino Pereira Ramos, trad. São Paulo: ASTE, 1979, p. 19.

3. PETERS, George W. A Biblical Theology of Missions. Chicago: Moody Press, 1972, p. 86.

A Natureza Missionária da

Esta afirmação dá destaque a um dos aspectos prin-cipais da natureza ímpar da Igreja Cristã: ou ela é

missionária ou deixa de ser Igreja. Qual é a essência da natureza da Igreja? De onde procede a sua particulari-dade? Qual seu papel no plano de Deus?

Na busca de respostas a estas questões, faz-se neces-sária uma análise do conceito de missão no Antigo e no Novo Testamento, para que Deus, em sua palavra, mostre a realidade e importância desta missão, e como ela foi levada a efeito pelo povo de Deus da antiga e da nova aliança. Como Israel efetuou a sua missão no período vétero-testamentário? Como interpretar os mandatos missionários de Jesus? Qual foi a ação dos discípulos e do apóstolo Paulo com relação à missão? A Escritura Sagrada evidencia um plano divino de ação, a fim de o evangelho da salvação atingir todas as nações?

Uma rápida passagem por Lutero e seus escritos mostrará, igualmente, a importância que ele atribuiu à missão da Igreja, destacando-a como uma das impor-tantes e imprescindíveis funções da Igreja de Cristo. Lutero tem sido acusado de não ter dado importância nem destaque à natureza missionária da Igreja1. Será isto verdadeiro? O que Lutero tem a dizer sobre a ativi-dade e a natureza missionárias da Igreja?

O exame da dimensão missionária da Igreja e dos desafios atuais à Igreja missionária evidenciará como o poder de Deus continua em ação na sua Igreja, como e por que meios o evangelho da salvação em Jesus Cristo continua a ser “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Quais são os desafios que a Igreja de hoje enfrenta na sua proclamação do evange-lho? Como vencer estas barreiras?

Com isto em mente, o presente estudo busca nas 1. WARNECK, Gustav. Abriss einer Geschichte der Protestantis-

chen Missionen von der Reformation bis auf die Gegenwart. 6. ed. Berlin: Martin Warneck, 1900, p. 9. LATOURETTE, Ken-neth Scott. Three Centuries of Advance. In: A History of the Ex-pansion of Christianity. New York/London: Harper & Brothers, 1939, v. 3, p. 24.

Rev. Rony Ricardo MarquardtMissão

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que Deus usou para os seus propó-sitos universais de salvação. Desta forma, Israel como um todo possuía a função sacerdotal — “vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19.6) — e esta minoria escolhida foi o instrumento de Deus para atingir a maioria, a humanidade, as nações.7

Israel foi escolhido para que, vi-vendo entre as nações, testemunhasse os grandes feitos de Deus a elas. Estas nações — goyim8 — são convidadas a testemunharem os feitos de Deus para com Israel e se tornarem parti-cipantes da promessa de salvação, reconhecendo o Deus de Israel como o único Deus de toda a terra (Sl 67;

93-100; 117).Israel foi chamado, em sua eleição por Javé, para ser pregador e exemplo, profeta e sacerdote às na-ções. A presença ativa de Deus em Israel é sinal e garan-tia da Sua presença no mundo: e a presença de Is-rael é, assim, contínuo apelo às nações do mundo.9

O Antigo Testamento vê a missão como uma pos-sibilidade escatológica, pois a expectativa do Messias tornou-se expectativa para todos os povos. Por isso, a missão no Antigo Testamento acontece mais no senti-do centrípeto do que centrífugo, isto é, as nações serão atraídas a Jerusalém e se dirigirão a ela, em vez de Israel

7. PETERS, p. 87,89.8. A palavra gôy, e o plural goyim, tornou-se termo técnico para

designar os gentios, enquanto `am é usada para o povo esco-lhido por Deus (2 Sm 1.12; Ez 36.20 - `am YHVH - povo de Yahweh). Em Êxodo 33.13 gôy é usado para povo em geral e `am para o povo escolhido. Israel é o `am kadosh - povo santo (Dt 7.6). Isaías 9.1 também apresenta esta idéia com a expressão gelil ha-goyim - Galiléia dos gentios. No Novo Testamento, é mantida esta diferenciação com os termos laos - povo de Israel - e ethne - as nações que precisam ouvir o evangelho. Vide: CLEMENTS, Ronald E. “Gôy”. In: Theological Dictionary of the Old Testament. G. Johannes Botterweck e Helmer Ringgren, ed. John T. Willis, trad. Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1975, v. 2, p. 426-433. BERTRAM, Georg e SCH-MIDT, Karl Ludwig. “Ethnos, Ethnikos”. In: Theological Dictio-nary of the New Testament. Gerhard Kittel, ed. Geoffrey W. Bromiley, trad. Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1964, v. 2, p. 364-372. BIETENHARD, Hans. Povo. In: O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Colin Brown, ed. Gordon Chown, trad. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 1985, v. 3, p. 613-625.

9. BLAUW, p. 28.

O chamado de Abraão é o começo da restauração da humanidade e da comunhão do homem com Deus. Quando ele é chamado por Deus, passa a ser o repre-sentante da salvação divina, um testemunho às nações da salvação oferecida por Deus. A ordem tríplice de Deus a Abraão — “sai da tua terra”, “vai para a terra que te mostrarei” e “sê tu uma bênção” (Gn 12.1-3) — coloca-o como um testemunho a peregrinar entre os povos pagãos, mostrando o poder e a misericórdia de Yahweh. Esta declaração de Gênesis 12 é interpreta-da pelo Novo Testamento como promessa de salvação para todos os povos e é colocada sob a luz cristológica (Rm 4; Gl 3.6-18; Hb 11.8-19). A eleição de Abraão e, por conseqüência, de Israel, deve ser vista à luz da revelação de Deus às nações.4

Este privilégio [a eleição] não foi estendido a Israel para que este ficasse inebriado com ele, mas para que o reconhecesse como comissão. A eleição separa Israel das nações, para que ele possa servir a Deus e revelar, de modo especial, a glória e a soberania deste sobre a terra e, por fim, trazer todo o mundo a Deus.5

A eleição de Israel não significa favoritismo da parte de Deus. O Antigo Testamento dá ênfase a Israel como povo de Deus, pois sua eleição “é questão de iniciativa divina, que tem como alvo o reconhecimento de Deus por todas as nações em todo o mundo”.6

A escolha de Israel como servo foi a metodologia

4. BLAUW, p. 21-22.5. VRIEZEN, Th. C. apud BLAUW, p. 22.6. BLAUW, p. 23.

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trangeiros igualmente mostra este fato, pois o Livro da Aliança garante aos estrangeiros muitos privilégios em meio ao povo de Israel (Êx 12.48; Nm 9.14; Êx 22.21; Nm 15.14; Dt 1.16; 10.18; 29.11; 31.12).12

Na era davídica, pelo uso dos Salmos, pode-se de-preender o mesmo posicionamento em relação às na-ções. Há mais de 175 referências à universalidade da mensagem divina, e muitas delas trazem esperança de salvação para as nações. Há vários Salmos que são men-sagens e apelos missionários (Sl 2; 33; 66; 72; 98; 117; 145). Além disso, na oração de dedicação do templo, feita por Salomão (1 Rs 8.23-53), a vinda das nações ao templo é antecipada (1 Rs 8.41-43) e é expresso o desígnio missionário do templo (1 Rs 8.60).13

O propósito missionário da salvação oferecida por Deus aparece claramente na era profética. Sofonias destaca a universalidade da promessa de Deus (2.11).

12. PETERS, p. 111-114.13. Ibid., p. 114-118.

ir às nações (Is 2.2-5). A vinda das nações é a resposta aos atos de Deus em Israel. A função de Israel é marcar a presença de Deus em meio à humanidade.10

Diz Martin-Achard:A Igreja não pode negar que Deus converte as na-ções, atuando no meio do Seu povo. A sua interven-ção, e somente esta, faz de Israel a luz do mundo. ... A evangelização do mundo, antes de mais nada e acima de tudo, não é questão de palavras ou de atividade, mas de presença: a presença do povo de Deus no meio da humanidade, a presença de Deus entre o Seu povo.11

Israel é chamado e recebe a missão de ser servo e povo de Deus, escolhido como mediador entre Deus e os povos - uma nação santa e dedicada ao serviço do Senhor (Êx 19.4-6). A atitude de Israel para com os es-

10. Ibid., p. 38-40.11. MARTIN-ACHARD, R. apud BLAUW, p. 42. (Grifo do autor)

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certos na medida em que compreendem que o livro ocupa-se com algo que é muito mais do que o caráter universal da salvação; e que, por outro lado, aqueles que rejeitam esta exegese missionária também estão certos, na medida em que entendem que não há pensamento missionário no Antigo Testamento como ocorre no Novo, no sentido centrífugo, de “ida às nações”.17

O livro de Jonas, por isso, é de grande importância para uma base bíblica da missão, pois antecipa o man-dato divino da ida aos gentios, servindo assim como passo preparatório à ação da Igreja do Novo Testamen-to. O livro apresenta o plano abrangente de Deus, que quer a salvação de toda a humanidade. Embora o Anti-go Testamento normalmente convide as outras nações a virem até Israel, Jonas, a exemplo dos discípulos do Novo Testamento, recebe a ordem de ir! “O Deus de Jerusalém é também o Deus de Nínive. Diferentemen-te de Jonas, ele não tem ‘complexo gentílico’.”18

Assim, fica claro que o objetivo essencial do Antigo Testamento é missionário, pois a universalidade da sal-vação pervade a todo ele. A missão constitui o propó-sito do chamado, da vida e do ministério de Israel. “O Antigo Testamento não contém missão; ele próprio é ‘missão’ no mundo”.19

Deste modo, quando Jesus, na sinagoga de Nazaré, abriu o livro do profeta Isaías e leu — “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evan-gelizar aos pobres; enviou-me para proclamar liberta-ção aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.16-21; Is 61.1-3) — estava mostran-do que o Antigo Testamento indicava em sua direção. A missão de Israel era proclamar a salvação que viria com o Messias, a sua esperança de que Deus cumpriria a promessa feita já a Adão e Eva (Gn 3.15). Os cânticos do Servo do Senhor de Isaías apontam para este aspec-to, pois destacam o que Deus faria para trazer salvação ao povo do Senhor e, através dele — pelo seu testemu-nho — a todas as nações.

Com Cristo, o dia do Senhor havia chegado. A salva-ção estava consumada e poderia ser proclamada a todas as nações. Isto Israel já estava fazendo, na expectativa da vinda do Messias. Mas a sua atuação, como diz o após-tolo Paulo, também era uma “sombra das coisas que ha-

17. Ibid., p. 34.18. VERKUYL, Johannes. Contemporary Missiology - An Introduc-

tion. Dale Cooper, trad. Grand Rapids: William B. Eerdmans, 1978, p. 96-97,100.

19. PETERS, p. 129. (Grifo do autor)

Habacuque apresenta três princípios básicos: justifica-ção pela fé (2.4), o conhecimento universal da glória de Deus (2.14) e o culto universal ao Senhor (2.20). O profeta Joel anuncia que o julgamento divino virá sobre todas as nações (3.9,11) e que o seu Espírito será compartilhado por toda a carne (2.28).14

O profeta Isaías mostra que todas as nações estão sob o juízo de Deus, mas também sob a sua salvação. As nações são advertidas por Deus (10; 13-23) mas es-tão incluídas nas grandes promessas de bênçãos (2.1-5; 11.10; 25.6-9). Os capítulos 40 a 55 do livro do pro-feta Isaías são um dos pináculos missionários do Anti-go Testamento, onde Israel é apresentado como servo de Yahweh para ser sua testemunha e seu mensageiro (43.10,12; 44.8; 42.19; 44.26). Em Isaías 55-60 são fei-tas promessas de ricas bênçãos para as nações, promes-sas que são garantidas em meio à glória de Israel (55.4-5; 56.3-7; 60.3,10-16; 61.5-11). Em Isaías 66.18-21 é expressa a evangelização de toda a terra e afirmado que as nações também participarão na responsabilidade de ministrar perante o Senhor.15

Ao examinar o Antigo Testamento em busca de uma teologia de missão, não se pode deixar de considerar o livro do profeta Jonas, que é considerado por muitos como um dos pináculos missionários do Antigo Testa-mento. Outros, porém, acham que falta em Jonas uma justificativa real para a missão.

Os exegetas, em sua maioria, são unânimes em sua avaliação de Jonas. Aqui, na opinião destes, o ide-al missionário é proclamado sem ambigüidades, e neste livro Israel é orientado para sua verdadeira vocação no mundo. O livro é preparado contra o exclusivismo judeu, religioso ou nacionalista, sen-do, assim, clara justificativa da missão entre os gentios.

Outros, porém,... negam que o livro esteja preocu-pado com a comissão de proclamar a todas as nações a mensagem de salvação. A oposição a um exclusivismo judeu só consiste, de acordo com esta opinião, em acen-tuar a misericórdia infinita e ampla de Javé.16

Johannes Blauw apontou com propriedade os dois lados da questão e comenta que estas duas tendências de interpretação do livro de Jonas são possíveis, pois os que defendem uma interpretação missionária estão

14. Ibid., p. 121.15. Ibid., p. 123-128.16. BLAUW, p. 33.

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seja pregada a todas as nações. E a vinda das nações é o tempo do semear e do crescer. Deste modo, o “ain-da não” do Antigo Testamento é substituído pelo “já agora” do Novo Testamento, embora este “ainda não” continue, em termos de plenitude.23

1.2.1. Os Mandatos Missionários de Jesus

Todos os evangelhos culminam com o relato da res-surreição e, ligado a este, o chamado à missão. Em todas as narrativas, fica claro que a ressurreição é a primeira e grande pressuposição e condição para a proclamação do evangelho.

A Grande Comissão em Mateus 28.18-20 procede da autoridade que Jesus recebeu do Pai. Ele permane-ceu fiel à missão recebida do Pai, venceu o tentador (Mt 4.9) e consumou a salvação, atendendo à vontade do Pai.24

O Senhor ressuscitado agora envia seu povo a todos os lugares, quando diz: “Tendo ido, discipulai!” Ir às nações é o caminho evidente e natural de agir para fazer discípulos de todas as nações.25 Os limites da pregação do evangelho (cf. Mt 10.5-6) são removidos, e todo o mundo deve ouvir a boa nova da salvação.26

Marcos 16.15-16 também liga o relato da ressur-reição à comissão para os discípulos irem por todo o mundo e pregarem o euangelion a toda a humanidade, destacando a universalidade da graça divina.27

Em sua oração sacerdotal, Jesus havia dito: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” ( Jo 17.18). E em João 20.21-23 ele concre-tiza isto. Assim, os discípulos tornaram-se efetivamente apóstolos, os enviados do Senhor Jesus Cristo, que é o significado do termo apostello, enviar.28

E aquele que envia capacita os que são enviados. O dom do Espírito Santo é a capacitação dos discípulos a fim de que exerçam o direito, a autoridade e o poder de perdoar e reter pecados, concedendo a paz que Cristo

23. BLAUW, p. 67-80.24. TASKER, R. V. G. Mateus - Introdução e Comentário. Odair Oli-

vetti, trad. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1980, p. 217.25. LENSKI, R. C. H. The Interpretation of St. Matthew’s Gospel.

Columbus: Wartburg Press, 1943, p. 1172.26. BLAUW, p. 85-86.27. LENSKI, R. C. H. The Interpretation of St. Mark’s Gospel. Co-

lumbus: Wartburg Press, 1946, p. 28,765.28. BRUCE, F. F. João - Introdução e Comentário. Hans Udo Fuchs,

trad. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1987, p. 334.

viam de vir” (Cl 2.17). A missão de Israel cumpre-se em Cristo, o Messias crido e do qual o povo de Israel deu testemunho, pela fé (Hb 11, especialmente 12.1). Toda sua atividade como povo de Yahweh era missão — era envio ao mundo para proclamação da salvação.

1.2. A Missão no Novo TestamentoQuando se compara o Antigo e o Novo Testamento

com relação ao tema “missão”, vê-se que o Novo Testa-mento traz algo bem novo: a comissão de proclamar o evangelho às nações, a missão da Igreja no sentido cen-trífugo. Assim, a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento não significa identidade, mas implica em diferença também.20

Deus, como criador do céu e da terra, concedeu vida e paz ao homem mesmo depois de sua desobediência, e abriu o caminho para a restauração da comunhão en-tre Deus e o homem com a eleição de Abraão e, poste-riormente, de Israel. Com a vinda de Cristo, as nações podem agora ver e experimentar o que Israel pôde na aliança com Deus.21

Com isto em mente, entende-se por que Jesus cons-cientemente confinou sua atividade a Israel (Mt 15.24) e orientou seus discípulos a que limitassem sua ativida-de “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.5-6). A hora dos gentios viria após a cruz.22 A vinda dos gentios era esperada para o tempo do fim, quando o reino de Deus seria plenamente revelado a Israel.

O tema e o conteúdo do evangelho são a proclama-ção deste reino, como cumprimento das promessas do Antigo Testamento. A sua concretização começa na pregação de Jesus, que anuncia a vinda do reino e con-vida o povo ao arrependimento e à fé. E embora o evan-gelho seja o cumprimento da expectativa de salvação, é ainda um cumprimento em caráter experimental, em relação às nações (Mc 1.15; Mt 4.17).

A parábola do semeador, em Mateus 13, mostra que o reino que veio em e com Cristo é agora a semente, e o Messias assume a figura do semeador. Na grande hora escatológica do cumprimento é isto o que está aconte-cendo: o semeador saiu a semear, e isto pressupõe tem-po e espaço para o crescimento e amadurecimento para a colheita. Há um intervalo de tempo entre a revelação do reino e o juízo final, para que a boa nova do reino

20. BLAUW, p. 66,71.21. Ibid., p. 81-83.22. JEREMIAS, Joachim. Jesu Verheissung für die Völker. 2. ed. Stut-

tgart: W. Kohlhammer, 1959, p. 32.

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conquistou com sua obra na cruz.29

Lucas 24.44-49 mostra que os dis-cípulos, como testemunhas oculares, proclamariam os eventos do sofri-mento, morte e ressurreição de Jesus, para arrependimento e remis¬são dos pecados. Foram enviados como arautos-testemunhas.30

A estas testemunhas seria enviado o poder prometido pelo Pai. Aqui está registrada a fonte de todo o ver-dadeiro poder para a evangelização.31 E este poder os discípulos receberam no Pentecostes.

Em Atos 1.8 Jesus afirma: “sereis minhas testemunhas”, isto é, pessoas que tiveram um encontro especial com Cristo e estavam absolutamente convictas de que Jesus era seu Senhor e Salvador.32 “‘Minhas’ testemu-nhas = chamadas para testemunhar de mim, por mim, sobre mim, sim, tudo sobre mim.”33

E Jesus então mostra qual o plano de ação que os discípulos seguiriam: “Jerusalém, Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. Jerusalém é citada primeiro porque os apóstolos iniciariam naquela cidade a sua grande obra, fundando ali a congregação mãe de toda a cristandade, a partir da qual seriam estabelecidas todas as congregações irmãs em todos os lugares.34

Nesta ordem de Jesus está o esboço da atividade dos apóstolos e do próprio livro de Atos: os capítulos 1 a 7 descrevem a atividade em Jerusalém; o testemunho na Judéia e Samaria é descrito nos capítulos 8 e 9; e a ida aos confins da terra, incluindo Cesaréia, Antioquia, Ásia Menor, Grécia e Roma, é descrita no restante do livro, capítulos 10 a 28.35

A descida do Espírito Santo no Pentecostes é a se-gunda pressuposição e condição para a tarefa missio-

29. LENSKI, R. C. H. The Interpretation of St. John’s Gospel. Colum-bus: Lutheran Book Concern, 1942, p. 1371.

30. _____. The Interpretation of St. Luke’s Gospel. Columbus: War-tburg Press, 1946, p. 1205-1207.

31. MORRIS, Leon L. Lucas - Introdução e Comentário. Gordon Chown, trad. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1986, p. 322.

32. ROTTMANN, Johannes H. Atos dos Apóstolos no Contexto do Século XX. Porto Alegre: Concórdia, 1979, p. 23.

33. LENSKI, R. C. H. The Interpretation of the Acts of the Apostles. Columbus: Wartburg Press, 1944, p. 32.

34. Ibid., p. 32.35. HOERBER, Robert G., ed. Concordia Self-Study Bible. St. Louis:

Concordia, 1986, p. 1655.

nária da Igreja. A primeira é a ressurreição de Cristo. “A obra missionária da Igreja está ligada tanto à Páscoa quanto ao Pentecostes.”36

Pela ressurreição de Cristo e o dom do Espírito San-to é aberto o caminho ao mundo das nações. Israel não foi rejeitado, pois ainda tem precedência com respeito à proclamação do evangelho. Mas esta precedência é, a princípio, interpretada por alguns como exclusividade (At 10; 11.2-3), e é apenas em Antioquia que a Igreja Cristã perde seu caráter de congregação judaica refor-mada (At 11.20-21,26). O ponto de partida para a obra da Igreja ainda é Jerusalém — não o templo, mas a con-gregação de Jerusalém.37

Nesta rápida análise dos mandatos missionários de Jesus, vê-se que todos os evangelhos culminam com esta Grande Comissão, destacando assim sua riqueza de conteúdo e sua unidade de propósito.

Sua riqueza teológica mostra a autoridade do Se-nhor ressuscitado e exaltado, a universalidade do evan-gelho e a instrumentalidade humana na sua procla-mação, bem como a companhia constante do Senhor através de seu Espírito Santo.38

1.2.2. A Atividade dos ApóstolosOs apóstolos são os autorizados por Jesus para a rea-

lização da obra do reino de Deus. Sua importância para a primeira comunidade cristã consistia no fato de se-rem testemunhas oculares da ressurreição e terem sido

36. BLAUW, p. 89.37. Ibid., p. 90-91.38. PETERS, p. 176.

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d) Os apóstolos viviam e trabalhavam conscientes de que o Espírito Santo estava com eles, sendo a dinâ-mica de seu ministério (1 Jo 3.24; 4.13; At 2.4; 4.8,31; 6.3,5,10; 7.55; 10.19; 1 Pe 1.12; 2 Pe 1. 21).41

A ação missionária dos apóstolos mostra a profunda e abrangente visão missionária que possuíam. Sua te-ologia missionária estava fundamentada no princípio que tornou o mandato do evangelismo mundial um imperativo evangélico e espiritual, um transbordar de vida, antes que uma imposição. “A missão tornou-se a vida deles, seu interesse que tudo absorvia, sua paixão que tudo consumia, à qual suas vidas foram alegremen-te dedicadas.”42

1.2.3. O Apóstolo PauloPaulo é o maior expoente, o principal representante

teológico, o maior apologista evangélico e o mais ar-dente advogado da fé cristã. É óbvio na sua vida, em seus ensinos e em suas atividades o reconhecimento da universalidade do evangelho daquele Senhor que o chamou e o comissionou, a quem o apóstolo viu e em

41. Ibid., p. 135-144.42. Ibid., p. 145-146.

revestidos pessoalmente por Jesus da autoridade de tes-temunhas (Lc 24.44-49; At 1.8). Este grupo representa Israel e forma o começo, o núcleo do povo escatológico de Deus, em torno do Messias. Sua missão com relação às nações, antes da consumação da obra de Cristo, é vis-ta como futura (Mt 10.5-6). Após o sacrifício messiâni-co, surge em plena atividade a comissão dada por Jesus, e então os limites de Israel são ultrapassados para a pro-clamação do reino de Deus em toda a terra.39 Inicia-se, assim, a missão no sentido centrífugo, a ida a todas as nações, o transpor dos limites geográficos e culturais.

O livro de Atos descreve os apóstolos em ativida-de, primeiro como missionários ao seu próprio povo e, depois, como embaixadores de Cristo às nações do mundo. A grande linha divisória na vida destes após-tolos foi o Pentecostes, onde a missão neotestamentá-ria inicia seu curso progressivo de realização. O fato de haverem testemunhado a ressurreição e a presença do Espírito Santo modelou-os como homens de Deus e apóstolos.40

Sua motivação missionária foi assim esboçada por George W. Peters:

a) Os apóstolos estavam convictos que:• Deus havia agido soberana, decisiva e redentiva-

mente (At 2.23; 4.28; 1 Pe 1.20; 1 Jo 4.9-10,14);• O ato decisivo e redentivo de Deus aconteceu em

Cristo (At 3.13-15; 2 Co 5.19; 1 Jo 5.12; At 2.36; 4.12; 10.36);

• Este ato foi um evento histórico com conseqüen-tes resultados históricos (At 2.22; 3.13);

• Tudo que aconteceu estava em perfeita harmonia com as profecias do Antigo Testamento (At 2.16,25,34; 3.18,21,24);

• O ato redentivo de Deus em Cristo foi em bene-fício de toda a humanidade (At 2.39; 10.34-35; 15.13-20; 1 Jo 2.2; 4.14);

• A pregação de lei e evangelho era o caminho para oferecer esta salvação aos povos (At 2.38; 3.19; 8.22; 10.36).

b) Os apóstolos foram impelidos em seu empreen-dimento missionário pela entrega em obediência ao seu Senhor (At 5.32; 1 Pe 1.2,22; 1 Jo 2.3-4,29; 3.24; 5.2-5).

c) Os apóstolos eram motivados pela presença do Cristo vivo (At 2.32; 3.15; 4.10,33; 5.29-32; 1 Jo 1.1-3).

39. BLAUW, p. 77-78.40. PETERS, p. 134-135.

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ção de Paulo elementos e características comuns à sua pregação, como destaca Roland Allen: apelo ao passa-do, tentando conquistar a simpatia dos ouvintes; decla-ração simples de fatos familiares; resposta às objeções da razão humana; apelo às necessidades espirituais do ser humano; séria advertência, pois a rejeição da mensa-gem divina envolve perigo. É característico na pregação de Paulo a conciliação com a condição dos ouvintes, a coragem no aberto reconhecimento das dificuldades, o respeito e a confiança sem hesitação na verdade de sua mensagem.44

1.3. O Plano Missionário de DeusÀ luz desta rápida travessia pela Bíblia e pelos seus

enfoques missionários no Antigo e no Novo Testa-mento, percebe-se que Deus revelou um plano pelo qual o homem foi e é alvo da reconciliação, e que ele pode voltar à comunhão divina rompida pelo pecado. Como parte deste plano divino, Abraão e seus descen-dentes foram escolhidos para que, através deles, todas as nações da terra recebessem as bênçãos e a salvação de Deus (Gn 12.1-3). Depois Israel foi chamado e escolhi-do para ser este testemunho. Com o contínuo bairris-mo do povo judaico e a sua rejeição final do Messias, os gentios foram chamados por Deus (Rm 11.11; Ef 3.6), para a salvação do próprio Israel (Rm 11.25-29).45

E assim inicia a missão no sentido centrífugo, a ida às nações, levando a elas o evangelho da salvação, a boa notícia de Cristo Jesus. A partir da Grande Comissão dada por Cristo, os apóstolos envolveram-se pessoal-mente nesta missão e devotaram suas vidas a levar este evangelho da paz aos povos. Esta era a função da Igre-ja primitiva: discipular as nações mediante batismo e ensino (Mt 28.19-20), pregar o evangelho (Mc 16.15), pregar arrependimento para remissão de pecados (Lc 24.47), reconhecendo-se enviada pelo Filho para ofere-cer o que ele conquistou com sua obra na cruz - perdão e paz ( Jo 20.21-23), ser testemunha pessoal do Senhor ressuscitado e possuindo o poder do Espírito Santo (At 1.8).

Para este fim, Deus confiou à sua Igreja “a palavra da reconciliação” (2 Co 5.19), pois estabeleceu que a salvação dos homens aconteça pela pregação do evan-

44. ALLEN, Roland. Missionary Methods - St. Paul’s or ours? Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1966, p. 63-64.

45. HESSELGRAVE, David J. Plantar Igrejas - Um Guia para Mis-sões Locais e Transculturais. Gordon Chown, trad. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 14.

quem creu “como por um nascido fora de tempo” (1 Co 15.8). Paulo evidencia esta universalidade quando, em suas epístolas, deixa claro que toda a humanidade:

a) Assume posição igual perante Deus, como peca-dora (Rm 1.18-3.20; Ef 2.1-3);

b) Está sob igual condenação e em necessidade de salvação da ira presente e eterna de Deus (Rm 1.18-3.20);

c) É justificada em termos iguais, pela fé em Cristo como provisão e propiciação divinas (Rm 3.21-5.21);

d) Recebe posição igual na Igreja de Cristo como membro de seu corpo (Ef 2.11-3.12);

e) Experimenta igual relacionamento com Deus (Ef 2.19; Rm 8.15; Gl 3.26);

f ) Participa de privilégios e riquezas iguais (Ef 3.6; Rm 8.17).43

Estas grandes verdades levaram Paulo a pregar o evangelho a todas as nações e fazer-se “tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1 Co 9.22).

Perguntando pela natureza missionária da Igreja Cristã, observa-se na atividade missionária e na prega-

43. Ibid., p. 147-151.

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No comentário sobre o Salmo 19, Lutero afirma:Também deverá ser pregado o evangelho em todos os países, nações e línguas, e não somente com e en-tre os judeus, não somente em Jerusalém, porém em todas as línguas... para que a graça de Deus seja proclamada por toda parte.49

Lutero destaca aqui a necessidade de levar a palavra de Deus a todas as nações, fundamento de toda a obra missionária, para que os pagãos passem a louvar a Deus e sejam membros de seu reino, louvando-o pela sua gra-ciosa salvação.

E, se todos os povos devem louvar ao Senhor, então pregadores devem ser enviados. Por isso, ao comentar o Salmo 68.11, ele ensina:

Aqui Deus diz que dará evangelistas, assim como Paulo também diz, em 2 Coríntios 3.6: “Nós somos ministros do espírito e não da letra”, isto é, prega-dores da graça e não da lei. Isto aconteceu por meio dos apóstolos e de seus sucessores em todo o mundo. Pois ele deu-lhes muito, enviando-os a todas as ter-ras, como é conveniente no tempo da graça.50

49. W 5, 1334,1335.50. W 5, 667.

gelho através dos próprios homens (Rm 10.14), e asse-gura, com sua promessa, que este evangelho é poderoso e eficaz, pois “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16; cf. Is 55.11).46

2. Lutero e a Missão da Igreja Cristã

Com o objetivo de ser reforçada a posição de que faz parte da natureza da Igreja o seu aspecto missionário, o presente capítulo realiza um rápido apanhado daquilo que Lutero disse a respeito da missão da Igreja, sua ne-cessidade e importância.

Procura também colocar-se contra a posição, sur-gida no século XIX, de que o reformador não teve compreensão das obrigações missionárias da Igreja, re-afirmando, assim, o caráter missionário de nossa Igreja Luterana.

2.1. O Ensino de Lutero sobre MissãoPode-se perceber nos escritos de Lutero sua clara

compreensão da atividade missionária da Igreja. Assim, por exemplo, falando sobre a promessa feita por Deus a Abraão, afirmou: “Assim, esta promessa deverá ser dada e distribuída para todos os povos e gerações da terra, como as palavras claramente demonstram”,47 mostran-do que já no Antigo Testamento a promessa havia sido dada a todas as nações, não apenas a Abraão e aos seus descendentes.

Nos seus sermões e comentários sobre os Salmos são encontrados muitos ensinos missionários. Falando so-bre o Salmo 117, Lutero comenta:

Por isso, se todos os pagãos devem louvar a Deus, então primeiro deverá acontecer que ele se torne o seu Deus. Se ele deve ser o seu Deus, então eles deverão conhecê-lo e nele crer, e abandonar toda a idolatria. ... Se devem crer, então primeiro de-vem ouvir a sua palavra e por esse meio receber o Espírito Santo, o qual pela fé limpará e iluminará o seu coração. ... Se devem ouvir a sua palavra, en-tão pregadores devem ser enviados a eles, os quais lhes anunciam a palavra de Deus... onde houver pagãos ou terras e cidades, lá deverá chegar o evan-gelho e trazer alguns para a fé no reino de Cristo.48

46. FLOR, Paulo. Assim como eu vos amei - Manual de Evangeliza-ção. Porto Alegre: Concórdia, s.d., p. 12-13.

47. LUTHERS, Martin. In: Sämmtliche Schriften. Joh. Georg Walch, ed. St. Louis: Concordia, 1892, v. 1, col. 748. (Doravante desig-nada por W).

48. W 5, 1139,1143.

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Nestes poucos exemplos de sermões e comentários de Lutero evidencia-se com clareza seu pensamento missionário. Ele afirma a necessidade de levar a palavra de Deus, a certeza de que a evangelização é obra contí-nua do próprio Deus levada a efeito pelos cristãos, que proclamam a sua palavra, e que deve alcançar todas as pessoas em todo o mundo.

Nos seus escritos confessionais Lutero demonstra sua preocupação com a missão da Igreja Cristã. Nas Confissões Luteranas não há uma teologia das missões, especificamente expressa, mas elas têm muito a dizer sobre a doutrina da Igreja, sobre a universalidade da redenção, sobre a pregação da palavra. E estas questões estão diretamente ligadas à missão em si.53

Além disso, as explanações de Lutero sobre o Ter-ceiro Artigo do Credo Apostólico e sobre a Segunda Petição do Pai-Nosso demonstram sua confiança na obra divina e evidenciam a essência de seu pensamento missionário.54

No Terceiro Artigo fala do Espírito Santo chaman-do e reunindo a totalidade da Igreja Cristã e manten-do-a na verdadeira fé em Cristo. No Catecismo Maior diz que a Igreja Cristã é “uma congregação peculiar no mundo, congregação esta que é a mãe que gera e carrega a cada cristão mediante a palavra de Deus.”55

Igualmente expressa sua compreensão missionária na Segunda Petição:

Pedimos, por conseguinte, aqui, em primeiro lu-gar, que isso tome efeito entre nós, e que destarte seu nome seja exaltado pela santa palavra de Deus e por uma vida cristã, tanto para que nós, que a aceita¬mos, nisso permaneçamos e diariamente progridamos, como também a fim de que alcan-ce assentimento e adesões entre outros homens e marche poderosamente pelo mundo universo, a fim de muitos deles, trazidos pelo Espírito Santo, virem ao reino da graça e se tornarem partícipes da redenção, para que dessa maneira todos juntos fiquemos eternamente em um só reino, agora prin-cipiado.56

Lutero expõe que, quando o cristão suplica “venha o teu reino”, está rogando que o reino venha a ele e que,

53. COATES, Thomas. “Were the Reformers Mission-Minded?” Concordia Theological Monthly, St. Louis: n. 9, out. 1969, p. 609.

54. PETERS, Paul. Luther’s Practical Mission-Mindedness. Wiscon-sin Lutheran Quarterly, Milwaukee: n. 2, abr. 1969, p. 112.

55. LIVRO DE CONCÓRDIA, CM II, iii, 42.56. Ibid., CM III, ii, 52.

Deus providencia missionários e evangelistas. Esta é a afirmação missionária de Lutero, sua certeza de que a missão é obra do próprio Deus. Isto também é expres-so por ele no segundo sermão para o dia da Ascensão, quando fala sobre a Grande Comissão dada aos após-tolos:

Sua pregação espalhou-se por todo o mundo, se bem que ainda não tenha chegado em todo o mun-do. Este ir e anunciar foi iniciado e distribuído, ainda que não tenha se realizado e cumprido, mas ainda continuará a ser pregado até o dia do Juízo Final. Quando esta pregação for pregada e ouvida, e proclamada em todo o mundo, então a mensa-gem estará cumprida e transmitida em toda parte, então também chegará o Juízo Final.51

Esta é, assim, a descrição da contínua obra da evan-gelização, até que venha o último dia. Enquanto hou-ver mundo, o evangelho será pregado e a obra da mis-são continuará.

No terceiro sermão para o dia da Ascensão, baseado em Marcos 16, Lutero expôs o chamado do evangelho a todos os homens:

Estas são palavras da majestade... que ordena a estes pobres mendigos que saiam e anunciem esta nova pregação, não em uma cidade ou nação, porém em todo o mundo, principado e reino; e abram a boca com confiança perante toda criatura, para que tudo que seja do gênero humano ouça esta pregação. Este mandato passa por sobre todos os reis, príncipes, nações e pessoas, grandes e pequenos, jovens e velhos, eruditos, sábios, santos. Com esta única palavra fi-cam sujeitos todo domínio e poder, bem como toda sabedoria, santidade, alteza e regimento que exis-tam sobre a terra; tudo lhe deverá estar sujeito.Mas não é necessariamente um senhor mau, que torna sujeito ao seu poder e envia missionários, não para um ou mais senhores ou reis, porém para to-dos no vasto mundo; e tem sobre eles total poder e domínio, como sobre seus súditos.E lhes dá esta ordem, de modo que diante de nin-guém tenham medo nem se espantem, seja grande ou poderoso; porém que vão livremente, sempre mais longe, tão grande seja o mundo, e preguem de modo que sejam ouvidos e ninguém lhes possa resistir.52

51. W 11, 951.52. W 11, 963.

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Esta visão de Warneck está baseada em seu concei-to de missão, como ele próprio afirma: “como a com-preendemos hoje”.61 Isto significa, para ele, o envio sistemático de missionários profissionais às nações não--cristãs através de sociedades missionárias organizadas, patrocinadas pela Igreja oficial. Assim, fez de um mé-todo particular de missão uma necessidade teológica e acusou Lutero de ter uma teologia imperfeita sobre missão, por não ter advogado este método.62

Para chegar-se a uma conclusão sobre a questão de Lutero ter tido ou não visão missionária, não se pode comparar seu pensamento missionário com o que hoje se entende por missão e nem comparar a atividade mis-sionária da Igreja de Lutero com a da Igreja Católica Romana. Pois há três fatores importantes para o pro-gresso e a eficácia do programa missionário católico--romano que não estavam presentes na Reforma e nas Igrejas desta:

1. O conceito de supremacia papal a embraçar o mundo inteiro;

2. As ordens monásticas, que eram um canal efetivo para a tarefa de evangelizar os pagãos;

3. As forças coloniais e seus governantes eram da Igreja Romana, concedendo seu apoio e proteção às missões que estavam sendo estabelecidas em seus ter-ritórios.63

Apesar de não ter havido uma explosão missionária na época de Lutero por parte das Igrejas protestantes alemãs, vê-se que isso não ocorreu por falta de uma cla-ra e pura teologia de missão. Tanto Lutero como seus colaboradores estavam conscientes da necessidade e urgência desta missão. Thomas Coates cita oito razões para a falta dessa atividade missionária no período da Reforma e seu resultado na época da ortodoxia:

1. A luta para estabelecer e fixar os princípios da Re-forma em seus próprios domínios;

2. As guerras religiosas, de modo especial a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que interromperam a vida normal da Igreja;

3. A escatologia do período da Reforma;4. O princípio de cuius regio, eius religio;5. A ausência das ordens monásticas;6. O pouco contato dos países protestantes com

pessoas e regiões não-cristãs no além-mar;7. O conceito do Landeskirche;

61. WARNECK, p. 9.62. KOSCHADE, p. 224-225.63. COATES, p. 600-601.

através dele, alcance o mundo inteiro. Em outras pala-vras, o cristão coloca-se à disposição de Deus como seu instrumento para realizar a sua missão.

O próprio catecismo foi escrito com propósitos missionários, pois Lutero diz na Missa e Ordem do Cul-to Alemão:

Catecismo quer dizer a instrução pela qual os pagãos que querem ficar cristãos são ensinados e orientados a respeito do que devem crer, fazer, evi-tar e saber no cristianismo.57

Em tudo isto, vê-se a compreensão de Lutero sobre a obra que Deus vem realizando no mundo. A Grande Comissão, dada por Cristo aos seus discípulos, ainda é cumprida pelos seus discípulos de hoje, e Lutero viu esta responsabilidade e necessidade com muita clareza, mostrando que esta obra continuaria até o dia do Juí-zo Final, até que “o pecado, a morte e o inferno sejam exterminados, a fim de vivermos eternamente em plena justiça e bem-aventurança.”58

2.2. A Controvérsia sobre a Consciência Missionária de Lutero

Ao escrever a história das missões protestantes, Gustav Warneck fez a acusação de que Lutero não teve compreensão das obrigações missionárias da Igreja de pregar o evangelho às nações ainda não-cristianizadas.59 Reconheceu as circunstâncias peculiares da época que tornavam a missão impossível, pois a Alemanha estava isolada das recém-descobertas terras; que o movimento da Reforma precisava ser consolidado; e também que as Igrejas protestantes estavam fazendo missão dentro da Alemanha, neste período. Mas, considerando o fato de que nenhum lamento surgiu a respeito da impossibi-lidade de realizar a missão, chegou à conclusão de que esta falha era teológica, e não prática.60

57. LUTERO, Martinho. Pelo Evangelho de Cristo. Walter O. Schlu-pp, trad. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1984, p. 221.

58. LIVRO DE CONCÓRDIA, CM III, ii, 54.59. WARNECK, p. 9: Não somente o feito missionário, mas mesmo

o pensamento missionário, no sentido como o compreende-mos hoje em dia, deixamos de sentir nos reformadores. E não somente pelo fato de que quase todo o novo mundo pagão ultramarino descoberto estivesse fora do seu horizonte visual, mas tão importante quanto isso deve ser considerado que fundamentações teológicas principais os atrapalhavam para darem uma direção missionária ao seu campo de ação e mes-mo aos seus pensamentos.

60. KOSCHADE, Alfred. Luther on Missionary Motivation. The Lu-theran Quarterly, Gettysburg: n. 3, ago. 1965, p. 224.

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significa uma parte ou duas, mas tudo e todos, o que for e onde houver pessoas.”68

Lutero compara a pregação do evangelho a uma pe-dra lançada à água, produzindo ondulações em círculos concêntricos, as ondas se sucedendo e estendendo uma após a outra, até atingirem a margem. Esta é a tarefa missionária centrífuga da Igreja, pois cada época recebe de Deus este imperativo missionário que está claramen-te expresso na Grande Comissão.

É assim que acontece com esta mensagem da pre-gação, como se a gente atirasse uma pedra na água, a qual faz ondas e circunferências ou estrias ao seu redor, e as ondas empurram-se sempre e sempre, uma impele a outra, até que cheguem à margem. Ainda que no meio fique calmo, as ondas não des-cansam, mas movimentam-se por si. Assim tam-bém acontece com a pregação: ela foi iniciada pelos apóstolos e sempre continua, e é levada adiante pelos pregadores, de cá para lá tocada no mundo e perseguida, mas é sempre tornada conhecida àque-les que anteriormente não a ouviram, é manifesta-da, mesmo que no meio do caminho seja apagada e como heresia seja condenada.69

Em seu comentário sobre o livro do profeta Isaías mostra que esta contínua pregação do evangelho ao mundo todo é a função da Igreja, pois ela existe e vive enquanto estiver perpetuamente ocupada em chamar as pessoas ao arrependimento e trazê-las à fé. Diz Lute-ro: “Pois a Igreja permanece com isto: converter outros à fé e chamar ao arrependimento.”70 E a dinâmica para esta tarefa e natureza missionárias da Igreja é o próprio evangelho, sem o qual não há Igreja.

Por isso, a continuidade desta obra missionária é in-cumbência de cada congregação. Lutero mostra que faz parte da essência da comunhão cristã que a Igreja pro-curará estender-se e trazer outros ao seu meio. Fica evi-dente, deste modo, que o imperativo missionário está relacionado ao conceito do sacerdócio real de todos os crentes. Cada cristão, em virtude de seu relacionamen-to com Deus, tem a vocação e a responsabilidade de ser uma testemunha de Cristo.71

Sua compreensão do caráter universal do evange-lho, sua reafirmação da natureza missionária da Igreja e a redescoberta do sacerdócio real dos cristãos mos-

68. W 11, 966,970.69. W 11, 951.70. W 6, 782.71. KOSCHADE, p. 232.

8. O dogmatismo da época da ortodoxia.64

Foi apenas com o advento do pietismo, por volta de 1670, que o luteranismo recebeu seu primeiro ímpe-to missionário real. Mas para a Igreja de hoje é impor-tante que, apesar de não ter havido nenhuma tentati-va missionária de âmbito internacional no período da Reforma, já estavam implícitos na teologia da Reforma os princípios que guiaram e motivaram as missões pro-testantes posteriores. E esta é a grande contribuição de Lutero e da Reforma para o empreendimento missio-nário atual.65

2.3. A Visão Missionária da Igreja em Lutero

Em face do exposto, evidencia-se que a teologia de Lutero estabeleceu os princípios básicos, orientações e motivação para o empreendimento missionário da Igreja Luterana, que no decorrer do tempo realizou-se efetivamente e que são encontrados principalmente na sua doutrina sobre a Igreja.

A Igreja, para Lutero, não é uma instituição estáti-ca, mas uma comunhão de dimensões universais. Na e através da Igreja os homens são trazidos a Cristo, e esta missão redentora continuará até o fim dos tempos.66

Onde houver cristãos, ali estarão a Igreja e o evange-lho, e este evangelho alcançará o mundo ao seu redor, buscando e salvando os perdidos. A Igreja tem uma só missão, independente de como ou por quem ou em que lugar ou por que meios essa missão é realizada. Ao chamar a Igreja de volta ao evangelho, Lutero a estava chamando de volta à missão. Por isso, para andar nos passos de Lutero, o pensamento missionário atual da Igreja deve ser retornar das missões para “a missão”, a grande obra de levar o evangelho de Cristo a todas as nações. Esta é a obra própria da Igreja Cristã.67

O caráter universal do evangelho foi muito bem compreendido por Lutero. Repetidas vezes mostrou que Deus havia dado seu Filho ao mundo, não para um povo ou para uma classe de pessoas, mas para a huma-nidade inteira. Isto é expresso enfaticamente por ele no seu sermão de Ascensão baseado em Marcos 16.14-20, onde diz: “Visto que ele afirma: ‘Ide por todo o mundo e pregai a toda criatura’, assim ele não quer que ninguém seja excluído”; e mais adiante: “Pois ‘todo mundo’ não

64. Ibid., p. 609-610.65. Ibid., p. 610.66. Ibid., p. 610.67. KOSCHADE, p. 238.

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sim estabelece uma conexão com os homens aos quais quer salvar. Em conseqüência, do ponto de vista de Deus, o envio sempre tem um objetivo concreto a ser atingido — a salvação dos homens. Assim, a missão é obra do amor de Deus pela humanidade.75

A partir do texto de Mateus 24.14, Peter Beyerhaus, falando sobre o conteúdo e objetivo da missão, diz que ela acontece por nada menos que “a nomeação do Cru-cificado e Ressuscitado no domínio do mundo.”76

Também no Congresso Internacional de Evange-lização Mundial, realizado em Lausanne, a missão foi definida como proclamação: “evangelizar é divulgar as boas novas de que Jesus Cristo morreu pelos nos-sos pecados e ressuscitou dentre os mortos, segundo as

75. Ibid., p. 40-41.76. BEYERHAUS, Peter. Allen Völkern zum Zeugnis - Biblisch-the-

ologische Besinnung zum Wesen der Mission. Wuppertal: Rolf Brockhaus, 1972, p. 47.

tram como Lutero estava consciente da missão da Igreja e como seus ensinos e princípios teológicos servem de fundamento para a obra missionária que a Igreja reali-zou durante estes cinco séculos e, igualmente, nos dias de hoje.

3. Missão e Igreja

3.1. O que é Missão?A palavra “missão” designa a atividade divina que

emerge da própria natureza de Deus, pois o Deus vivo da Bíblia é um Deus que “envia”. Ele enviou os profetas, seu Filho, os apóstolos, o Espírito Santo, a Igreja. As-sim, a primeira missão é a missão de Deus, cujo centro evidencia-se no envio de seu Filho ao mundo.72 E a mis-são da Igreja resulta desta missão do Filho ( Jo 20.21).

A Bíblia, em sua totalidade, atribui uma só intenção para a ação de Deus: salvar a humanidade. Assim, tam-bém o seu Filho foi enviado ao mundo apenas com este objetivo: salvar a humanidade. Por isso, missão é Deus em atividade, é obra de Deus.

O derradeiro mistério da missão, do qual ela ema-na e do qual vive é: Deus envia seu Filho, Pai e Filho enviam o Espírito. ... Esse processo do envio intradivino é de eminente importância para a missão e o serviço da Igreja. Sua missão está pre-figurada na missão divina, seu serviço está prees-tabelecido pelo serviço divino, o sentido e conteúdo do trabalho estão determinados a partir da missio Dei.73

Portanto, toda revelação de Deus em sua missio acontece sempre em benefício da humanidade. A mis-são da Igreja não é nada mais do que a continuação da atividade salvífica de Deus através do anúncio daquilo que ele fez pela humanidade. Esta atividade salvífica de Deus, como é oferecida na missio Dei, seu relaciona-mento com o mundo, seu agir com os homens, é des-crita na Escritura pela palavra “enviar”. Deus envia a fim de salvar os homens.74

Através deste envio Deus constrói uma ponte e as-

72. STOTT, John R. W. Gesandt wie Christus - Grundfragen christli-cher Mission und Evangelisation. Gerd Rumler, trad. Wuppertal: R. Brockhaus, 1976, p. 18.

73. VICEDOM, Georg F. A missão como Obra de Deus: Introdução a uma teologia da missão. Ilson Kayser, trad. São Leopoldo: Sinodal, 1996, p. 17.

74. Ibid., p. 18.

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A missão objetiva salvar, trazendo à fé pelo teste-munho da palavra, pela qual o Espírito Santo age. A palavra é o único meio da missão. A proclamação é de-finida por Paulo como a “palavra da reconciliação” (2 Co 5.18-19), o testemunho “do evangelho da graça de Deus” (At 20.24).79

Por isso, o Espírito Santo é o impulso para a mis-são e é aquele que age para que a missão seja levada a efeito. Os apóstolos iniciaram sua obra após receberem o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, e assim foram levados à pregação, ao estabelecimento da primeira congregação e à missão. Aonde iam eram guiados pelo Espírito, e quando apresentavam sua mensagem, o Es-pírito Santo estava com eles.80

A missão é obra de Deus. É o Deus Triúno — Pai, Filho e Espírito Santo — que está em ação na missão. “Missão é a realidade de Deus neste mundo.”81

E esta ação e realidade de Deus acontecem entre a ascensão e a segunda vinda de Jesus. “Missio é agora a atividade do Senhor exaltado entre sua ascensão e seu volta”.82 Esse é o significado da missão “e será pregado este evangelho do reino por todo mundo, para teste-munho a todas as nações. Então virá o fim” (Mt 24.14). “O significado da missão mundial como pregação é a preparação da chegada do Senhor”.83

Aqui está o sentido escatológico da missão. Missão não é apenas proclamação para encher Igrejas, para au-mentar estatísticas denominacionais, para satisfazer o ego de algum missionário bem-sucedido. Missão é pre-parar o mundo para a volta de Cristo. É semear a boa semente do evangelho do reino para que muitos, cren-do, sejam salvos naquele dia. Se este aspecto escatoló-gico é retirado, a missão perde seu objetivo, seu propó-sito, seu alvo — a salvação. Foi para esse fim que Deus enviou seu Filho, que o Filho enviou o seu Espírito e os discípulos e a Igreja. Pois Deus “deseja que todos os homens sejam salvos... Porquanto há um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem. O qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos. (1 Tm 2.4-6).

Deus é um Deus de missão. Ele quer a missão. Ele ordena a missão. Ele exige a missão. Ele tornou a missão possível através de seu Filho. Ele tornou a

79. VICEDOM, p. 83.80. Ibid., p. 45-46.81. FREYTAG, Walter. Reden und Aufsätze. München: Chr. Kaiser,

1961, v. 2, p. 219.82. VICEDOM, p. 38.83. BEYERHAUS, p. 49.

Escrituras”.77

Esta proclamação acontece pelo batismo e ensi-no (Mt 28.18-20), pela pregação do evangelho (Mc 16.15), pela pregação de arrependimento para remis-são de pecados (Lc 24.47), pela absolvição dos pecados ( Jo 20.23), pelo ser testemunha de Cristo em todo o mundo (Lc 24.48; At 1.8), pelo anunciar do evangelho (1 Co 15.1-11; 2 Co 5.18-6.2).

A forma da missão é com certeza a pregação... O caráter da missão é testemunho, martírio. Não é ação. Também não é revolução, mas testemunho. Isto significa que o caráter da missão é dirigir-se com o destemido testemunho da verdade à consci-ência dos homens.78

77. GRAHAM, Billy et al. O Congresso de Lausanne - A Missão da Igreja no Mundo de Hoje. José Gabriel Said, trad. São Paulo/Belo Horizonte: ABU/Visão Mundial, 1982, p. 241. (Doravante citado como LAUSANNE).

78. BEYERHAUS, p. 47,51.

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clusiva de Deus” com um objetivo definido — “a fim de proclamar as virtudes daquele que a chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). “A missão surge da constituição, caráter, chamado e desígnios próprios da Igreja”.90

“Não existe nenhuma outra Igreja senão a Igreja en-viada ao mundo e não há outra missão a não ser a da Igreja de Cristo”.91 Por isso, o trabalho da missão não pode ser separado da obra da Igreja. “Todo serviço da Igreja só tem sentido se levar à missão e nisso encontrar seu objetivo último.”92

A missão, e com ela a Igreja, são obra do próprio Deus. Ambas são tão-somente instrumentos de Deus, através dos quais Deus promove sua mis-são. Somente se a Igreja cumpre, em obediência, a intenção missionária dele, ela pode também fa-

lar de sua missão, porque esta então está acolhida na missio Dei. ... Portanto,

não cabe à Igreja decidir se ela quer fazer missão, mas ela só pode decidir se quer ser Igre-

ja.93

A obra missionária é, assim, não somente uma das atividades

da Igreja, mas o critério de todas as suas atividades, pois reflete de modo

singular a própria essência da Igreja e do ministério da reconciliação que lhe foi confiado. A Igreja foi chama-da e enviada por Deus ao mundo para chamar e enviar outras pessoas. “É exatamente pelo sair de si mesma que a Igreja é ela mesma e volta a si mesma”.94

Os sinais visíveis pelos quais se pode reconhecer a Igreja, a palavra e os sacramentos do batismo e da san-ta ceia, dados por Deus para a salvação dos homens, são ao mesmo tempo o conteúdo do testemunho dos salvos. Por isso, palavra e sacramentos são de grande importância na obra missionária.

Faz parte do mandato missionário de Cristo que os discípulos, tendo ido, fizessem discípulos batizando e ensinando. Pelo batismo a Igreja anuncia o perdão dos pecados e proclama o Salvador ao mundo. Também oferece, pelo batismo, a nova vida que é fruto da fé no Salvador. E, para nutrir e fortalecer esta nova vida cria-

90. PETERS, George W., p. 200.91. BLAUW, p. 122. (Grifo do autor).92. VICEDOM, A Missão como Obra de Deus, p. 15.93. Ibid., p. 16. (Grifos do autor).94. BLAUW, p. 123.

missão real enviando o Espírito Santo. O argu-mento supremo para a missão... é o próprio Cristo e o que Ele revela e significa.84

É na própria essência de Deus que a base mais pro-funda do empreendimento missionário pode ser achada. Não podemos pensar em Deus a não ser em termos que tornam necessária a idéia missio-nária.85

3.2. A Igreja MissionáriaA própria Igreja é resultado da missio Dei. O envio

que Deus realizou em Jesus Cristo e que continua sua atividade da época dos apóstolos até o dia de hoje levou à formação da Igreja. Se Deus não tivesse enviado seu Filho, não haveria Igreja nem missão. Assim, a própria Igreja é a maior prova de que o evangelho deve ser pro-clamado aos pagãos. A Igreja realiza a obra da missão não porque tem o evangelho, mas tem o evangelho para que ele seja anunciado aos pagãos. “Somos Igre-ja porque Deus quis a missão gentílica.”86

Deus compadeceu-se dos homens. Ele quer salvá--los da condenação eterna. Por isso ele enviou o seu Filho, que trouxe a salvação. Pela fé a congregação toma parte neste envio. Ela é colocada no mundo para propiciar a salvação da humanidade e estar a serviço do mundo.87

A atitude da Igreja com relação ao mundo é deter-minada pelo envio. Ela é a portadora da mensagem e é colocada no mundo e enviada ao mundo para procla-mar a palavra de Deus a este mundo perdido e assim reunir aqueles que ouvem a palavra e a aceitam em uma congregação, a comunhão dos santos, o povo de Deus na terra.88

A obra missionária é como um par de sandálias dado à Igreja para que esta se ponha a caminho e continue avançando para tornar conhecido o mis-tério do Evangelho (Ef 6.19).89

A Igreja é, como diz o apóstolo Pedro, “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade ex-84. PETERS, George W., p. 346-347.85. SPEER, R. E. apud PETERS, George W., p. 347-348.86. VICEDOM, p. 62.87. _____. Die Missionarische Dimension der Gemeinde. Berlin:

Lutherisches Verlaghaus, 1963, p. 14.88. _____, A Missão como Obra de Deus, p. 75.89. BLAUW, p. 126. (Grifo do autor).

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da pelo batismo, Cristo deixou à sua Igreja a santa ceia. Pela santa ceia a Igreja sempre de novo torna-se uma Igreja que confessa seu Salvador perante o mundo.95

Estes meios missionários e dons de Deus — palavra e sacramentos — diferenciam a Igreja no ambiente em que ela vive. Georg Vicedom comenta, a respeito disto:

É um mistério o fato de, através deles, a Igreja in-fluenciar de modo mais incisivo seu ambiente jus-tamente quando ela mesma nada mais quer ser do que uma comunidade do Senhor surgida através dos meios da missão. Quanto mais deseja ser isso e somente isso, tanto maior sua influência sobre o mundo. Através de seu testemunho, os povos vão sendo cristianizados aos poucos.96

O Senhor Deus reuniu os cristãos em sua Igreja e os mantém em seu serviço pela palavra e pelos sacra-mentos. Assim, a Igreja se torna portadora da revelação divina no mundo. Ela possui algo que outros não têm. Ela conhece a vontade de seu Senhor, que é a salvação da humanidade. Esta Igreja recebeu pelo batismo a au-torização e o privilégio de testemunhar dos feitos ma-ravilhosos de Deus em Cristo, para que o mundo creia e seja salvo. E Deus inclusive lhe dá os dons para o de-sempenho desta tarefa.97

E a única motivação da Igreja para o desempenho de sua natureza missionária é o próprio amor de Cristo, que “amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mes-mo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.25-27). Esta Igreja amada pelo seu Senhor e Salvador tem um relacionamento tridirecional: para cima, com Deus, em adoração e louvor; para dentro, consigo mesma, em edificação, purificação, educação e disciplina; e para fora, ao mundo, em evangelização e serviço.98

O Senhor da missão também deixou sua Igreja cons-ciente de que o mundo iria contestar seu direito de exis-tir e de fazer missão, chegando a ponto de persegui-la e tentar destruí-la. A Igreja seria “peregrina e forasteira” neste mundo (1 Pe 2.11), mas teria a presença constan-te de seu Salvador, conforme sua promessa, “todos os dias, até a consumação do século” (Mt 28.20).

Por isso, “enquanto houver neste mundo homens

95. VICEDOM, A Missão como Obra de Deus, p. 88-91.96. Ibid., p. 91.97. Ibid., p. 93.98. PETERS, George W., p. 209.

em trevas, sem Deus e sem misericórdia, há de durar a tarefa missionária da Igreja Cristã.”99

Em resumo, são as seguintes as pressuposições teo-lógicas da missão, elaboradas pela Comissão de Teolo-gia e Relações Eclesiais da Igreja Luterana - Sínodo de Missouri:

1. A missão da Igreja é fazer discípulos de todas as nações.

2. A missão da Igreja pressupõe que a Bíblia é a ins-pirada e inerrante palavra de Deus.

3. A missão da Igreja pressupõe a total corrupção da totalidade da raça humana.

4. A missão da Igreja pressupõe o eterno plano de salvação de Deus pela fé em Cristo.

5. A missão da Igreja pressupõe que a Igreja tenha sido instituída por Deus.

6. A missão da Igreja pressupõe que conversão é ex-clusivamente obra do Espírito Santo.

7. A missão da Igreja pressupõe a necessidade e cen-tralidade dos meios da graça (palavra e sacramentos).

8. A missão da Igreja pressupõe a distinção entre o sacerdócio dos crentes e o ofício pastoral.

9. A missão da Igreja pressupõe que Deus dá aos cristãos a graça de servi-lo em suas variadas vocações.

10. A missão da Igreja pressupõe que Deus motiva seu povo a realizá-la, não pela pressão e com ameaças da lei, mas pelas promessas do evangelho.100

3.3. Desafios atuais à Igreja MissionáriaHá uma série de desafios que confrontam a Igreja

missionária nos dias atuais. Um destes desafios é dei-xar de ser uma Igreja nos moldes vétero-testamentários, esperando sempre que as pessoas venham até à Igreja, em vez de, motivada pelo amor de Deus em Cristo, ir ao seu encontro, levando-lhes o evangelho da salvação, onde estiverem. Sobre isto, há a famosa frase de S. Vila: “Satanás soube traduzir a palavra ‘Ide’ por ‘Ficai aqui e discuti’.”101

Mas aquilo de que nos ressentimos é o fato de sem-pre pensarmos somente em construir, em conser-var, em mostrar tudo aquilo que possuímos. Sem-pre viemos apenas “de onde” e nunca vamos “para

99. BLAUW, p. 136.100. EVANGELISM AND CHURCH GROWTH. A Report of the

Commission on Theology and Church Relations of the Luthe-ran Church - Missouri Synod, set. 1987, p. 8-24.

101. VILA, S. apud LEHENBAUER, Oscar. Um Chamado à Reno-vação no Luteranismo. Mensageiro Luterano, Porto Alegre: n. 6, jun. 1988, p. 16.

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onde”. E este “para onde” chama-se plano de Deus e é para todos.102

É preciso que a Igreja viva descentralizadamente, procurando o seu centro não em torno de si mesma, mas fora, voltando-se para o mundo e sendo uma Igreja para os outros. Como comenta John R. W. Stott: “So-mos com freqüência a ‘Igreja da espera’, onde simples-mente se aguarda a vinda das pessoas. Devemos subs-tituir nossas ‘estruturas-de-vir’ por ‘estruturas-de-ir’.”103 Deste modo, a Igreja estará efetivamente realizado a missão centrífuga, a ida às nações.

Outro desafio à Igreja atual é a mudança do concei-to de missão, que é vista hoje como um instrumento de ação social e libertação, na busca de mudanças nas estruturas sociais.104 Dessa forma, no Brasil, missão é libertação da opressão, reconstrução de um novo mun-do; a conversão é vista como mudança de interesses; a salvação como melhoria das condições do mundo; a liberação como criação de um novo homem; a Igreja como instrumento para criar este novo mundo. Esta nova conceituação esquece de reafirmar os ensinamen-tos sobre o pecado pessoal, reconciliação com Deus, revelação, vida eterna e fé em Jesus Cristo.

Outra dimensão da missão da Igreja é evidencia-da em seu caráter diacônico. Sem dúvida, faz parte da missão da Igreja o seu caráter diacônico, de serviço à humanidade. A salvação oferecida por Cristo sempre é total, abrangendo corpo e alma, e a missão da Igreja deve acontecer sempre visando a totalidade do homem.

Também a diaconia pode ser expressão da mis-são, no sentido verdadeiro, quando ela apresenta o amor de Deus, como ele veio a nós através de Cristo. Isto significa que, se ela indica que aquilo que faz é feito de acordo com a vontade de Cristo, motivado por ele, com o objetivo de tornar real sua vontade salvífica.105

102. FREYTAG, p. 221.103. STOTT, John R. W. A Base Bíblica da Evangelização. In: LAU-

SANNE, p. 38.104. COMBLIN, José. Medellín: Vinte Anos Depois. Revista Eclesi-

ástica Brasileira, Petrópolis: n. 192, dez. 1988, p. 807. SCHE-RER, James A. ...that the Gospel may be sincerely preached throughout the world. LWF Report, Stuttgart: n. 11/12, nov. 1982, p. 93. GUTIÉRREZ, Gustavo. The Hope of Liberation. ANDERSON, Gerald H. e STRANSKI, Thomas R. Third World Theologies. In: Mission Trends. New York/Grand Rapids: Paulist Press/Wm. B. Eerdmans, 1978, v. 3, p. 65-69. BOFF, Leonardo. Evangelizar a partir das culturas oprimidas. Revista Eclesiásti-ca Brasileira, Petrópolis: n. 196, dez. 1989, p. 833.

105. BEYERHAUS, p. 48.

Esta é também a opinião de Georg F. Vicedom, quando fala sobre a dimensão missionária da congre-gação cristã, pois assim como ela foi escolhida para tes-temunhar e servir, também recebeu os dons necessários para este testemunho e serviço — a presença do Espí-rito Santo.106

Neste aspecto, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil mostrou sua compreensão desse desafio e durante anos tem oferecido lado a lado o evangelho da salvação e o auxílio às necessidades do homem. Assim, foram cria-dos os Centros Integrados de Missão, o Centro Edu-cacional para Deficientes Auditivos, o Instituto Santís-sima Trindade de Moreira e o Lar Ebenézer em Porto Alegre, bem como diversos empreendimentos em nível congregacional, para citar apenas alguns exemplos.

Além disso, as Áreas de Missão e de Ação Social têm trabalhado de forma integrada, deixando claro que faz parte da ação missionária da Igreja o atendimento às necessidades físicas e materiais do ser humano, que missão e diaconia devem andar lado a lado.

Logicamente, há aqueles que chegam ao extremo, achando que missão é somente assistência social, aten-ção à situação do ser humano e auxílio aos problemas que ele enfrenta na sociedade moderna. Assim age muitas vezes a teologia da libertação, que converte a missão em mero atendimento às necessidades terre-nas do homem e numa luta contra as assim cha-madas “estruturas do poder”. Por isso, é sempre atual e importante o alerta de Hugh Thomson Kerr:

Não somos enviados para pregar sociologia mas sal-vação; não economia mas evangelismo; não refor-ma mas redenção; não cultura mas conversão; não progresso mas perdão; não uma nova ordem social mas um novo nascimento; não revolução mas re-generação; não renovação mas reavivamento; não ressuscitamento mas ressurreição; não uma nova organização mas uma nova criação; não democra-cia mas o evangelho; não civilização mas Cristo; somos embaixadores e não diplomatas.107

Este é um grande desafio à Igreja missionária. Man-ter a tensão necessária entre a proclamação do evange-lho e o auxílio às necessidades físicas das pessoas é de vital importância na obra missionária. Mas a Igreja não

106. VICEDOM, Die Missionarische Dimension der Gemeinde, p. 32.

107. KERR, Hugh Thomson apud PETERS, George W., p. 209.

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pode deixar de atender a essas necessidades,

pois fazem parte do serviço que ela

presta a Cristo, moti-vada pelo seu amor (Mt

25.31-46). A Igreja precisa estar sempre

atenta à situação em que vive o povo a quem está levando a palavra de Deus. Ne-

cessita entender o contexto em que vivem as pessoas, e não impor sua situação de vida. É por

isso que a presente dissertação procura proporcionar auxílio àqueles que querem ir ao encontro das pessoas

onde elas estão, levando em consideração o contexto cultural, social, físico e religioso em que vivem. É

necessário que a Igreja realize sua missão não assumindo uma posição de superioridade em relação aos que estão sendo evangeliza-

dos. A tarefa da Igreja é levar o evangelho às nações, estejam onde estiverem, seja qual for o

contexto em que vivam, agindo de acordo com os princípios da Escritura Sagrada.

Missão é não é mais tanto missão “de cima para baixo”, no sentido de os portadores da mensagem serem cultural ou pelo menos civilizatoriamente

superiores aos destinatários. Com isto, chega ao fim um longo período da história da missão.

Desde a época de Constantino a expansão do cristianismo sempre teve, com raras exceções, esta queda de cima para baixo. Se quisermos nos re-encontrar com uma compreensão da missão e com uma fundamentação que permaneçam mesmo diante de uma situação diferente, então precisa-mos voltar para bem antes de Constantino, preci-samos voltar às fontes.108

Conclusão

A Igreja Cristã é e deve continuar sendo missionária em sua natureza, essência e atuação. Recebeu do Se-nhor Deus a comissão de tornar efetiva a missio Dei, que consiste na proclamação da sua palavra salvífica, sua lei e evangelho, para arrependimento, perdão dos pecados e fé.

Por isso, com o objetivo de levar a efeito esta missão

108. FREYTAG, p. 212.

da forma mais proveitosa, a Igreja Cristã, a exemplo do próprio Deus que assumiu a natureza humana para sal-var o ser humano, insere-se na cultura e sociedade das pessoas, para lhes levar a palavra de maneira relevante e, vivendo no contexto destas pessoas, auxiliá-las em suas necessidades espirituais, oferecendo perdão dos peca-dos, vida e salvação, pelos meios da graça.

A Igreja Evangélica Luterana do Brasil tem uma grande missão neste país. Ela possui as marcas visíveis que a caracterizam como Igreja de Cristo: a proclama-ção pura e fiel da palavra de Deus e a correta administra-ção dos sacramentos. Contextualizando sua mensagem e atuação, a IELB crescerá, não somente em números, mas principalmente no ir ao encontro das necessidades de seus membros.

Através da ação missionária contextualizada da IELB o Espírito Santo quer continuar a chamar e con-gregar seu povo neste país. “Cristo para todos”, lema da IELB, é manifestação desta vontade que a Igreja tem de servir com fidelidade ao Senhor, relevante e contextu-alizadamente.

A partir de uma análise constante do contexto em que vive e de sua atuação e visão missionárias, a IELB saberá se inserir neste contexto e continuar contextua-lizando sua ação, sendo um instrumento útil nas mãos do Senhor para a realização da missão de “ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15).

Esta é a missão de Deus à qual somos chamados a tomar parte. Ser Igreja missionária é privilégio. Con-textualizar a mensagem e ação missionária também é privilégio, antes que responsabilidade. Que o amor de Deus, manifesto em seu Filho Jesus Cristo, motive e ca-pacite a Igreja Cristã e, de forma especial a IELB, nesta importante e proveitosa tarefa da contextualização.

A Igreja não é mundo e não é do mundo. Mas ela precisa estar no mundo, precisa falar ao mundo, precisa escrever, com letras fortes e compreensíveis, no contex-to do mundo, a boa nova do perdão e da salvação, para que o mundo creia naquele que “foi morto e com o seu sangue comprou para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9), pois Cristo é para todos.

Rev. Rony Ricardo Marquardt, pastor da Igreja Evangélica Luterana do BrasilExtraído da obra: A contextualização na ação missionária da Igreja Cristã. Canoas/

Porto Alegre, ULBRA/Concórdia, 2005. Produzida como dissertação para obtenção do grau de Mestre em Teologia no

Seminário Concórdia de São Leopoldo, RS, em 1991.

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O uso dos meios de comunica-ção está previsto no Estatuto

e no Regimento da Igreja Evangéli-ca Luterana do Brasil (Ielb). No ca-pítulo II do Estatuto, Artigo 5º, e), é dito que a Igreja, para cumprir sua finalidade, “utilizará os meios de co-municação”. No Regimento, onde se fala sobre a Área de Comunicação, lê-se que a Igreja tem como objeti-vo de exercer um ministério cristão formador e evangelizador e que este acontecerá “através dos diferentes veículos de comunicação” (Capítu-lo V, Artigo 69). Neste mesmo arti-go, é dito que a Igreja deverá:

—“Divulgar os programas e a men-sagem da IELB pelos meios de comuni-cação social” (IV);

—“Alertar a opinião pública quan-to a conteúdos dos meios de comunica-ção que não condizem com a verdade” (V);

—“Praticar um jornalismo dinâmi-co, ético, cristão, luterano, através de todos os meios de comunicação dispo-níveis (VI);

“Estimular e apoiar o uso dos meios de comunicação nas congregações e en-tidades.” (X)1

Como se nota, o uso dos meios de comunicação é previsão estatutá-ria e regimental na IELB. Mas como será a realidade? É o que se preten-de responder neste estudo (e no da próxima edição esta revista). 1 IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA

DO BRASIL. Estatuto, Regimento, Código de Ética Pastoral, Regras Plenárias, Administração. Porto Alegre, edição atualizada de 2006.

Rev. Dieter Joel JagnowMissão e Mídia

Visão geral do uso dos veículos de comunicação

Com invento dos tipos móveis por Gutenberg, em 1447, novas e grandes oportunidades surgiram para uma rápida multiplicação da palavra escrita. Desde logo, o lutera-nismo soube utilizar-se deste meio para comunicar o evangelho.

Lutero foi o grande expoente dos primórdios da imprensa massi-va. Compreendendo a importância desde meio, julgava que a imprensa era o último milagre de Deus para propagação ainda mais rápida do Evangelho. A Reforma liderada por Lutero aconteceu não tanto do púlpito e da cátedra, mas através da imprensa.

Tradicionalmente, a imprensa tem sido o meio de comunicação de massa mais utilizado pela IELB, em forma de livros, revistas, jornais, folhetos e vários outros formatos. Mesmo com a chegada do rádio ao Brasil, foi a mídia mais usada, mas não tanto para o evangelismo, e sim para a informação e formação dos próprios fiéis.

No caso da IELB, um indicativo claro desta preocupação está no fato de que a sua primeira publicação regular, o Evangelish-Lutherisches Kirchenblatt fuer Suedamerica [ Jornal da Igreja Evangélica Luterana para a América do Sul] iniciou em dezembro de 1903 — portanto antes da fundação da pró-

pria Igreja, que aconteceu em junho de 1904.

No ano de 1917 começou a ser edi-tado o primeiro periódico em língua portuguesa — o Mensageiro Christão (que no ano seguinte mudou de nome para Mensageiro Luterano). Esta revis-ta ainda é editada, constituindo-se no principal órgão impresso da IELB, com tiragem mensal de cerca de 9 mil exem-plares.

Na década de 1950, a IELB possuía, além do Kirchenblatt, as seguintes pu-blicações periódicas: Mensageiro Lute-rano, Igreja Luterana, Lar Cristão, O Jovem Luterano, O Pequeno Luterano e Luther-Kalender. Destas, existem hoje apenas as três primeiras, sendo que não foram criados periódicos novos para atender a esta segmentação. Uma publicação infantil é mensalmente en-cartada no Mensageiro Luterano, com o nome de Mensageiro das Crianças.2

O rádio surgiu no fim do século 19 e chegou a Brasil em 1922. Em 25 de maio de 1929, na Rádio Clube do Bra-sil, Rio de Janeiro, o pastor Rodolpho F. Hasse utilizou o veículo para trans-mitir um culto — o que aconteceu ain-da outras vezes a partir de então. Em 14 de março de 1937, foi irradiado, pela

2 Para detalhes sobre uso da imprensa pela IELB ao longo da sua história, ver REHFELDT, Mário L. Um grão de mostarda — A história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Traduzido por Dieter Joel Jagnow. Porto Alegre: Concórdia, 2004. v. 1; BUSS, Paulo. Um grão de mostarda — A história da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Porto Alegre: Concórdia, 2006. v. 2; WARTH, Carlos H.Crônicas da Igreja. Porto Alegre: Concórdia, 1979.

Parte 1 - Levantamento histórico geral

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Rádio Farroupilha, em Porto Alegre, RS, o primeiro “sermão radiofônico”.

Todavia, a Igreja começou a atuar organizadamente no rádio apenas em 1947, através da Hora Luterana, a Voz da Cruz.3 A organização surgiu com o objetivo de produzir programas para serem reproduzidos em emissoras bra-sileiras.

A ruptura entre as organizações re-ligiosas e os meios de comunicação de massa vem diminuindo, como ficou evidenciado no Capítulo 2. Nos últi-mos anos, não só a televisão, mas tam-bém a internet se tornou um meio de expressão da religiosidade das pessoas. Rapidamente, elas vêm construindo sites, portais e emissoras virtuais de televisão e rádio, além de chats, blogs, fóruns, etc. A IELB colocou a primeira versão do seu site na internet em feve-reiro de 1997. Dezenas de organizações e congregações da Igreja mantém sites. Todavia, o investimento neste veículo ainda pode ser considerado tímido.

Visão histórica geral no uso da televisão

A televisão chegou ao Brasil em 1950. Somente cerca de 25 anos de-pois a IELB começou a utilizar este veículo de forma regular.

A década de 1980 marcou o apogeu e a decadência da Igreja uso da TV como veículo de evangeliza-ção. Neste período, a IELB chegou a ter oito programas de veiculação regular. Hoje, possui um. Dado significativo é que nenhuma destas

3 Posteriormente, o nome mudou para Cristo Para Todas as Nações, e, por fim, novamente Hora Luterana.

iniciativas se deveu à Igreja como um todo, mas a determinados seg-mentos dela.

A década de 1990 marcou um período de declínio acentuado. To-davia, no final dela iniciou-se um processo de renovação de interesse, especialmente pelo tema comunica-ção, cujo auge se deu em 2006.

Décadas de 1940 a 1960

Ao que tudo indica, a primeira re-ferência de eventual uso da televisão pela IELB é de junho de 1948. Uma nota da revista Mensageiro Luterano, órgão oficial da Igreja, dava conta de que, em 1 de janeiro daquele ano, a organização Hora Luterana (da Igreja Luterana — Sínodo de Missouri), dos Estados Unidos, havia transmitido seu primeiro programa pela televisão. Pa-ralelamente a esta transmissão, foi rea-lizado em uma congregação “um culto por televisão”, considerado o “primeiro culto desta espécie realizado na América.” Quase ao final da nota, é dito que “esta maravilho-sa invenção deve ser empre-

gada pelos cristãos na difusão de to-das as gentes.” Finalmente, a nota faz um prenúncio indireto para o uso da televisão pela IELB: “Em anos não re-motos... poderá se tornar também em nosso país... na anunciação da Palavra de Deus”.4

De acordo com Paulo Buss, os pri-meiros registros do interesse da Igreja em usar os veículos aparecem em 1960.5 Neste ano, a Convenção Nacional da IELB determinou que o Departamen-

4 A HORA LUTERANA e a televisão. Mensageiro Luterano, Rio de Janeiro, n. 6, ano 31, p. 43, 44, jun. 1948. O que se percebe através da publicação da nota é que mesmo antes do início das transmissões de televisão no Brasil, a IELB já estava interessada no assunto, tendo como ponto de referência a Igreja Luterana — Sínodo de Missouri, dos Estados Unidos. (A mesma revista publicou outra nota do uso da televisão por luteranos nos EUA em maio de 1949, p. 39.)

5 Deve se entender a expressão de Buss como sendo referência ao primeiro registro de uma ação concreta para uso da televisão, haja vista a nota anterior.

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to de Educação Paroquial tivesse como uma das suas atribuições o estudo da possibilidade de produzir programas religiosos para a TV. Outro registro, de 1962, indica que a Igreja esperava ini-ciar, em breve, programas religiosos de televisão em algumas capitais de esta-dos brasileiros. Todavia, conclui Buss, “o acesso à televisão continuava um so-nho não realizado no final da década.”6

Em 1969, a Igreja fez publicar uma matéria onde novamente o assunto é tratado. Com o título Vamos à T.V. [sic], o artigo inicia dizendo que há muito a IELB vem sonhando com um progra-ma de TV, mas que até o momento nada havia sido conseguido. Novamen-te é citado o exemplo dos luteranos dos Estados Unidos, que mantinham diver-sos programas. Em seguida, o texto traz uma informação que ainda não havia aparecido em registro anterior: de que há anos a IELB tinha o interesse em transmitir no Brasil um dos programas de maior audiência nos EUA, o Esta é a Vida. É dito que um pastor da Igreja havia assumido a direção da Hora Lu-terana Internacional e que ele estava “convicto de que em muito breve tere-mos este programa na TV brasileira.”7

Após estas notas introdutórias, o texto apresenta um artigo do pastor Hilmar Kannenber, da Igreja Evangéli-ca de Confissão Luterana no Brasil (IE-CLB). A transcrição do artigo no Men-sageiro Luterano tem um claro cunho de incentivo e desafio para a IELB: a importância e a necessidade de usar a TV como veículo de evangelização no Brasil. O artigo faz afirmações como estas: ”Ninguém deixa de ver TV, nem mesmo os seus maiores críticos”; “A TV atinge todas as camadas sociais”;

6 BUSS, op.cit., p. 87.7 VAMOS à T.V. Mensageiro

Luterano, Porto Alegre, n. 11, ano 52, p. 16, nov. 1969. Esta série estreou nos EUA em 1952 e ficou no ar até o final da década de 1980. Originalmente era produzida pela Igreja Luterana — Sínodo de Missouri e distribuída International Lutheran Laymen’s League (Liga Internacional de Leigos Luteranos).

“Pela TV o Evangelho entra em lares nunca imaginados”; “A televisão... é um instrumento valioso para a missão”. Hilmar também diz que num país onde os evangélicos são absoluta minoria, ra-dio e televisão são praticamente os úni-cos meios de comunicação com o povo. Ele cita o exemplo do Japão: 30% dos membros de igrejas luteranas do país tiveram seu primeiro contato com o cristianismo através do rádio e da TV. Em razão disto, diz, é de se estranhar a ausência marcante de programas das igrejas no Brasil, particularmente as igrejas protestantes. Por fim, o au-tor sugere um caminho a ser trilhado: “reunião de todas as forças disponíveis para ao patrocínio, a compra de espaço na TV, censura e dublagem dos filmes. O evangelho nos deve ser tão caro que nada nos seja caro demais para a sua transmissão aos homens.”8

Década de 1970

A década de 1970 marca o início de um processo regular no uso da te-levisão pela IELB. Historicamente, é possível dizer que o ponto de par-tida foi uma reorganização adminis-trativa da Igreja. Ela iniciou em ja-neiro de 1972, em uma Convenção Nacional. Todos os departamentos e comissões até então existentes deram lugar a quatro departamen-tos, cada qual dirigido por um se-cretário executivo. Inicialmente, os departamentos eram estes: Missão, Educação Paroquial, Educação Mé-dia e Superior, e Finanças. Na Con-venção Extraordinária de 1976 foi criado mais um departamento: Co-municação. Foi a partir da criação deste Departamento que o investi-mento em comunicação na Igreja — também em televisão — ganhou um significativo impulso, tendo seu auge em meados da década de 1980.

Esta tendência na IELB de in-

8 Idem.

vestir em televisão é revelada através de uma série de indicativos situados no ano de 1976, especialmente. Para fins históricos, este ano pode ser apontado como o início de uma nova era na Igreja no que se refere à comunicação e à televisão.

O primeiro indicativo é a pre-sença do assunto “meios de comuni-cação de massa” na 45ª Convenção Nacional, realizada nos dias 21 a 26 de janeiro, em São Leopoldo, RS. Durante o evento foram realizadas dez oficinas sobre diferentes temas. Uma delas teve como tema Os meios de comu-nicação social e a Igreja.

O segun-do momento se localiza em setembro deste ano, quando foi publicada uma extensa reporta-gem sobre a Hora Luterana Inter-n a c i o n a l , dos Esta-dos Unidos, responsável pelo então maior pro-grama de rá-dio de uma org anização não governamental.9 A matéria enfoca os investimentos feitos pela organiza-ção no rádio e na televisão.

A comunicação pelo rádio e pela te-levisão também teve novamente amplo destaque no Mensageiro Luterano em dezembro. Nesta edição foi publicada na revista uma extensa entrevista com Oswald Hoffmann, orador em língua inglesa da Hora Luterana Internacio-

9 Na época, o programa era transmitido por 1.800 emissoras de 125 países e em 50 línguas diferentes.

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ordem missionária para os seus segui-dores (cf. Capítulo 1), ele “certamente também quis referir-se ao uso dos mo-dernos meios de comunicação, qual seja a Imprensa, o Rádio e a Televisão.”11

No anuário também foi é publica-da o que parece ser a primeira reflexão crítica impressa na IELB sobre o que é denominado “mass-média”, ou seja, os grandes meios de comunicação. São ci-tados: jornal, revista, livro, rádio, filme e televisão. O texto fala sobre a pres-são que estes veículos exercem sobre a “massa”. Por si só, os veículos são neu-tros, mas que podem ser utilizados para o bem ou para o mal..

Em seguida, o artigo avalia como o cristão deve se posicionar diante dos “mass-média”. Duas atitudes básicas são citadas. Em primeiro lugar, é necessário escolher e controlar bem o que é lido e visto. Em segundo lugar, o cristão e a Igreja devem fazer uso correto “dos maravilhosos meios de comunicação.” É preciso usar o rádio e a TV para transmitir bons programas, ou seja, que veiculem a Palavra de Deus. Assim, “os meios de comunicação podem ser uma grande bênção para a humanidade.”12

Além destas abordagens no Men-sageiro Luterano e no Lar Cristão, um outro indicativo é que neste ano iniciou o primeiro programa regular da IELB na televisão: o A Hora, de Erechim, RS. Durante quatro ano ele permaneceu como o único programa da Igreja na TV.13

11 WARTH, R. Pelo microfone. IN: Lar Cristão 1976. Porto Alegre: Concórdia. Ano XXVII, p. 59.

12 KUCHENBECKER, H. O uso dos meios de comunicação. IN: Lar Cristão 1976. Porto Alegre: Concórdia. Ano XXVII, p. 76-78.

13 Este e outros programas regulares da IELB serão vistos na parte 2 deste estudo (vide próxima edição da Revista Teologia & Prática) 4. Ao que tudo indica, a primeira informação oficial de que havia surgido o primeiro programa religioso da IELB na televisão aconteceu somente em maio de 1977. Embora a reportagem de dois terços de página do Mensageiro Luterano aponte para o fato — Erechim tem programa

Outra marca da segunda metade da década foi o empenho do primei-ro secretário executivo eleito para o Departamento de Comunicação, pastor Leopoldo Heimann, no sen-tido de desenvolver uma série de ações em comunicação. Uma delas foi o início de uma série de Con-gressos Luteranos de Comunicação.

O primeiro Congresso aconteceu nos dias 23 a 25 de maio de 1978, em São Leopoldo, com mais de 200 parti-cipantes. Uma justificativa para a reali-zação do evento apareceu em matéria do Mensageiro Luterano da edição de abril daquele ano. É dito que a Igre-ja deve conhecer e procurar investir nas novas formas de comunicação que estão à disposição para o anúncio do Evangelho. Assim, o encontro tinha como objetivo refletir sobre a “impor-tância e necessidade de se utilizar cada vez mais e melhor dos diversos veículos de comunicação social.”14

Na edição do Mensageiro Lutera-no em que foi publicada a reportagem sobre o Congresso, Heimann justifi-ca a realização do evento por vários motivos. Um deles era analisar “este complexo mundo das comunicações: os veículos, as mensagens, o estranho comportamento de nossa sociedade massificada...” Um outro motivo era provocar o despertamento da IELB so-bre a necessidade de “utilizar, cada vez mais e melhor, estes novos púlpitos que a ciência e a técnica colocaram à nossa

religioso na TV —, somente algumas linhas realmente tratam do assunto em termos de informação. É dito que “Deus nos abriu uma grande porta e está nos dando uma possibilidade extraordinária para levar a mensagem da salvação a lares, através de um programa semanal na TV...” e que se tratava do primeiro na Igreja. TILP, Edgar. Erechim tem programa religioso na TV. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 5, ano 60, p. 20, maio 1977.

14 KUCHENBECKER, Horst. 46º Convenção Nacional da IELB. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 4. ano 61p. 9, abr. 1978.

nal, além de conferencista em cruza-das evangélicas ao redor do mundo. Em março, Hoffmann havia estado no Brasil e realizado cruzadas em várias cidades brasileiras. Entre uma série de outros assuntos, ele comenta sobre a diferença entre a comunicação pelo rá-dio e a pela televisão. Diz que o rádio é um meio de som e, por isso, a produ-ção precisa ser “praticamente perfeita”; caso contrário, as pessoas desligam. De outro lado, a televisão é um forte meio audiovisual. Daí a importância de se utilizar imagens para acompanhar a fala. Hoffmann também diz que, en-

quanto os programas de rádio custam ficar no

ar por muito tempo, os de TV se esgotam rapidamente.10

Neste mesmo ano saiu uma pu-blicação (lançada

no final de 1975) que dava indícios

concretos do interes-se da Igreja em investir

em comunicação. Trata-se do anuário Lar Cristão

1976, que tinha como título de capa Ide,

comunicai... O anuário tra-

zia cerca de 20 textos

a b o r -dando a

c o mun i c a ç ã o da Igreja em di-

ferentes contextos (no lar, na escola, na cátedra, no púlpito, etc.). Não há uma referência direta ao uso da televi-são. Todavia, onde o rádio é abordado, é dito que, quando Jesus Cristo deu a 10 DINAMISMO e progresso na

Igreja. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, n. 2/3, ano 59, p. 16, fev./mar. 1976; HEIMANN, Leopoldo. O maior programa religioso do mundo! Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 9, ano 59, p. 13-15, set. 1976; HEIMANN, Leopoldo. Cristo é o Senhor. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, ano 59, p. 5-9, dez.. 1976.

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diferentes veículos, como o rádio e o jornal, mas não há informação de que a televisão tenha sido contemplada. Apenas há indicação de que os congres-sistas visitaram a TV Guaíba, de Porto Alegre, e que “foi de proveito esse en-contro com a moderna técnica e apare-lhagem da comunicação eletrônica.”18

Durante esta década, a Hora Lute-rana também procurou investir em televisão. Em dezembro de 1972, trinta emissoras da Rede Globo vei-cularam o filme O Natal é..., produ-zido nos Estados Unidos e dublado pela Hora Luterana. No ano seguinte, o mesmo filme foi ao ar em algumas emissoras da Rede Tupi.19

Em meados de 1974 aparece um re-gistro de que a Igreja desejava transmi-tir o Evangelho pela televisão de uma forma regular e que fazia esforço nesse sentido. Contudo, as perspectivas eram pouco animadoras. Nesse sentido, é emblemática a afirmação de diretores da Hora Luterana: “Infelizmente na podemos acusar grandes progressos na missão pela televisão, apesar de não ter-mos poupado esforços neste sentido.”20

Na segunda metade da década, a questão da dublagem do seriado Esta é a Vida continuava na pauta da Hora Luterana. O Mensageiro Luterano de outubro de 1977 registra o momento em que um luterano norte-americano, representando um distrito de leigos dos EUA, entrega ao então presidente da IELB, Johannes Gedrat, um cheque de 5.000 dólares para a dublagem. A nota também informa que uma rede de televisão brasileira havia prometi-do transmitir 26 episódios da série ao longo de um ano, tão logo eles estives-sem prontos. O custo do projeto estava orçado em 30 mil dólares. Esforços es-18 GRASEL, Gerhard. A Igreja cresce

escrevendo. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 8, ano 62, p. 4-8, set. 1979.

19 BUSS, op. cit., p. 177.20 GEDRAT, Johannes e WARTH, Rodolpho.

Hora Luterana: Trazendo Cristo às nações. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 7, ano 57, p. 17, jul.1974.

tavam sendo feitos para fazer as dublagens.21

Novas informações so-bre a série Esta é a vida aparecem em abril de 1978. É informado que a dublagem ainda não havia sido feita — mas que o seria “muito em breve” — e que parte do dinheiro já estava disponível. Depois de superada a etapa da dublagem haveria um novo desafio a ser superado: a distribuição. Também é dito que “se esta série de filmes tiver boa aceitação pelo público brasileiro, sem dúvida alguma as atividades resultantes deste empreendimento serão inúmeras e em muito a IELB será beneficiada.”22

Na edição de maio de 1978 do

21 JUNG, Paulo Kerte. No Brasil — Esta é a Vida. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 10, ano 60, p. 18, out. 1977.

22 WARTH, Rodolpho. Há trinta anos a Hora Luterana está transmitindo a Palavra de Deus ao povo brasileiro. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, n. 4, ano 61, p. 27, abril 1978.

disposição...”15

Este Congresso teve como tema A Igreja busca novos púlpitos. Foram reali-zadas várias palestras por profissionais de diferentes veículos, além de teóricos da comunicação. Em uma elas, o pastor Ilmar Kannenberg disse que a Igre-ja deve semear o Evangelho também através da televisão. Para tanto, precisa usar a imaginação, criando programas que realmente prendam a atenção das pessoas. Para ele, o rádio e a televisão podem ser transformados em “verda-deiros púlpitos”. Todavia, advertiu, “o objetivo da Igreja no uso desses meios é levar o indivíduo à comunhão na comunidade cristã, e não formar uma espécie de comunidade aérea, de uma ‘igreja do ar’”.16

Em outra palestra, o teólogo cató-lico Urbano Zilles enfatizou a neces-sidade da Igreja integrar os meios de comunicação social em sua reflexão teológica, pois não bastava formar téc-nicos. “Não se resolve o problema com gente diplomada nas universidades, mas deve-se levar em conta os aspec-tos teológicos da comunicação”, disse. Neste sentido, Zilles criticou a Igreja Católica, considerando que ela não ha-via se preparado adequadamente para o uso da TV e do rádio: “A Igreja nunca preparou homens para tal serviço; ela se preocupou e instalar emissoras de rádio e TV, além de gráficas e editoras, e pôs apenas técnicos lá dentro.” Zilles também afirmou que se a comunica-ção massiva não fosse acompanhada de comunicação interpessoal, tendia a ser vaga e incompleta.17

O segundo Congresso aconteceu no ano seguinte, nos dias 29 a 31 de maio, também em São Leopoldo. Este teve como tema A Igreja cresce escreven-do. O evento destacou a redação para

15 HEIMANN, Leopoldo. Apresentando. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 7, ano 61, p. 2, jul. 1978.

16 GRASEL, Gerhard e PETER, Silvo R. A igreja busca novos púlpitos. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 7, ano 61, p. 5-12, jul. 1978.

17 Idem.

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Mensagei-ro Luterano

é publicada uma entrevista

com o recém eleito Presidente da IELB, Jo-

hannes Gedrat. Em uma das perguntas foi colocada a reali-zação do 1º Congresso de Co-municação que aconteceria em

breve e a “convicção de que igre-ja precisa anunciar a mensagem de

Cristo através dos veículos de massa”. Perguntado sobre sua opinião acerca do assunto, Gedrat respondeu: “A igre-ja deve utilizar-se de todos os veículos para levar aos homens a mensagem da salvação em Cristo.”23

Em dezembro deste mesmo ano, um editorial da revista Mensageiro Lu-terano insistia na necessidade da Igreja sair de si mesma e divulgar ao grande público a mensagem de Cristo. O texto dizia que, caso Cristo desafiasse a sua Igreja hoje para a evangelização, diria algo como: “proclamai-o através de todos os veículos de comunicação so-cial... através do rádio, da televisão, do

23 HEIMANN, Leopoldo. “Aceito minha eleição como um chamado especial de Deus”. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 5, ano 61, p. 7, maio 1978.

cinema, do livro, dos jornais, das revis-tas, dos cartazes.” Em seguida, o autor diz que “os meios eletrônicos de massa devem estar a serviço da propagação do evangelho” e que a Igreja precisa usar “todos aqueles instrumentos de comunicação que vão mais alto e mais longe.”24

O crescente interesse da IELB pela televisão também pode ser notado no aumento do número de artigos publi-cados na revista oficial da Igreja a partir de meados da década. Havia uma certa preocupação sobre o conteúdo da TV e o seu efeito sobre as crianças. Por exem-plo, em outubro de 1977 foi publicada uma matéria Televisão, a nova moléstia da infância. Em abril de 1979 o assunto foi As crianças da geração televisão.

Década de 1980

A década de 1980 marca o apogeu da presença da IELB nos meios de co-municação, particularmente na TV. Um dos primeiros registros desta fase foi um evento que aconteceu nos dias 2 e 3 de setembro de 1980, quando a Hora Luterana realizou um encontro de colaboradores, na cidade de São Paulo. Há registro de que os programas regulares de TV da IELB que existiam na época (A Hora, A Voz da Cruz e Expectativa) foram alvos de considera-ções durante o evento.25

O encontro da Hora Luterana tam-bém revela uma dupla face da realidade do uso religioso da TV por luteranos dos Estados Unidos e do Brasil. Este-ve presente no encontro um represen-tante da Igreja Luterana — Sínodo de Missouri, dos EUA. Ele falou sobre o trabalho desta Igreja no rádio e na te-levisão. Embora o trabalho no rádio es-

24 HEIMANN, Leopoldo. Proclamar dos telhados. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, ano 60, p. 3, dez. 1977.

25 SEIBERT, Erni W. A Hora Luterana continua levando Cristo para as nações. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 11, ano 63, p. 11,12, nov. 1980.

tivesse bem, o da televisão estava tendo problemas crescentes, pois estava au-mentando cada vez mais a dificuldade de transmitir programas religiosos por este veículo.

Conforme visto no Capítulo 2, as décadas de 1970 e 1980 foram marca-das pela forte presença de tele-evange-listas na televisão Brasileira. O assunto foi pautado pela revista Mensageiro Luterano de janeiro/fevereiro de 1981. A matéria é uma crítica, especialmen-te, ao norte-americano Rex Humbard. Suas pregações são consideradas espe-táculos teatrais e de autopromoção. Além disso, ele é acusado de usar da boa fé dos evangélicos brasileiros. Por isso, após escrever que Humbard fizesse seus programas onde e como quisesse, o autor faz um apelo: “mas que faça tudo isto à sua própria custa e não use e abuse de nossa gente e dos nossos recursos.”26

De outro lado, o autor também critica os crentes evangélicos, que se deixam levar pela “genuína danças das cores para impressionar os olhos, di-vertir e deleitar o povo, seguido sempre do maior milagre, real milagre e único, o de coletar fundos financeiros como nunca se fez entre os evangélicos do Brasil...” Por esta razão, os crentes são instados a saírem do “esclerosamento espiritual” e “usar a cabeça”.27

Nos últimos anos da década de 1970 e no começo da década de 1980 surgiram quatro programas de televi-são na IELB. Em abril de 1981, a revis-ta Mensageiro Luterano publicou uma extensa reportagem sobre eles. 26 EGG, Carlos René. A dança das

cores — Rex Humbard no Brasil. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 1, ano 64, jan./fev. 1981, p. 16,17. Este artigo havia sido originalmente publicado dois anos antes no jornal O Estandarte, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

27 Idem. O assunto voltou às páginas do Mensageiro em novembro de 1985 (p. 32), onde é citada uma matéria publicada no jornal Folha de São Paulo (24/02/1985) sobre o fenômeno da Igreja Eletrônica e as cifras astronômicas envolvidas e o esquema de marketing utilizado.

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Na abertura da matéria são mos-trados rapidamente os investimentos feitos pela Igreja nos meios de comu-nicação, como a imprensa e o rádio. Também são citados eventos abordan-do a Igreja e os meios de comunicação. Referindo-se ao uso da TV, é dito que “mesmo conhecendo, há tempo, a im-portância e a penetração da TV e a ne-cessidade de utilizar este maravilhoso instrumento de comunicação, faz pou-cos anos que a igreja mantêm progra-mas regulares.”28

A reportagem também explica que as principais dificuldades para mul-tiplicar o número de programas são o alto custo de veiculação, poucos profis-sionais qualificados e carência de equi-pamento. Em seguida, são apresenta-dos os quatro programas regulares que existiam na época: A Hora (Erechim, RS), A Voz da Cruz (Cruz Alta. RS), Expectati-va (Vitória, ES) e Expec-tativa (Cascavel, PR).

Além de historiar os programas com informações de pes-soas ligadas a eles, a matéria também traz opiniões de-las sobre o uso da TV. Em uma delas é dito que a Igreja está atrasada “no tempo e no espaço. Se Deus deu sabe-doria ao homem para aperfeiçoar a técnica, por que não colocar Cristo como estandarte vivo na frente desta técni-ca? A TV não pode ser esquecida.” Em seguida, é afirmado que, embora a TV seja um investimento caro, mais caro é o Evangelho de Jesus Cristo e a salvação das pessoas. Por esta razão, é dito que “se o apóstolo Paulo estives-se aqui hoje, por certo estaria voando em supersônico, falando pelo rádio, 28 HEIMANN, Leopoldo. Proclamando

Cristo do alto dos telhados. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 4, ano 64, p 6, abr. 1981.

programa de televisão, pois a seara está madura e não há tempo a perder.” 29

Ainda em 1981, foi publicada no Mensageiro Luterano uma reportagem sobre o 3º Congresso Luterano de Co-municação, realizado em São Leopol-do, com a participação de 198 inscri-tos. O tema geral foi É tempo de falar. Esse congresso, como os anteriores, foi uma promoção do Departamento de Comunicação da Igreja.30

Neste encontro, o uso da televisão como veículo de evangelização recebeu destaque sob diferentes ângulos. O jor-nalista Carlos Henrique Weber pales-trou sobre as características de um pro-grama religioso na TV. Ele afirmou que a TV é um grande desafio missionário

que requer uma equipe capaz de a t u a r

nas mais diferentes áreas, desde a pro-dução até a execução.

29 Ibidem, p. 11.30 GRASEL, Gerhard e JUNG, Paulo Kerte.

É tempo de falar. Mensageiro Luterano, n. 10, ano 64, p 4-8, out. 1981.

O pastor Nikolai Neumann fa-lou sobre a manutenção de progra-mas religiosos, particularmente no rádio e na televisão. Para ele, este era o “calcanhar de Aquiles”. Suge-riu que cada congregação da Igreja criasse uma equipe de pessoas inte-ressadas nos meios de comunicação e que previsse em seu orçamento in-vestimentos nestes meios.

O jornalista Roberto Thomé pales-trou sobre os equipamentos utilizados para se fazer TV. Em sua avaliação, por causa dos altos custos destes equipa-mentos, a solução mais adequada era usar os que as emissoras locais possuí-am.

O convidado especial do evento for o jornalista Ruy Carlos Ostermann. Ele falou sobre a sua experiência da te-

levisão sob vários aspectos e repassou orientações

sobre o seu uso adequado.

T a m b é m houve um painel para que os pro-gramas de TV então existentes pudessem rela-tar suas experi-ências.

É significa-tivo notar que

durante o Con-gresso foi utili-

zado considerável tempo para discutir

a criação de uma “central de produção e informação” da IELB. Um levantamento feito indicava que, em média, os programas exigiam doze ho-ras semanais de produção. A idéia era criar um núcleo que alimentasse os programas regionais com material re-colhido entre as pessoas que atuavam na área. Com isso, se evitaria desperdí-cio de talentos, de tempo, de energia e de dinheiro.31

31 Na reportagem citada é dito que “a idéia da central está germinando”.

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Uma iniciativa da Redação do Men-sageiro demonstra a importância que a atuação da IELB no rádio e na TV estava tendo no início da década. Na edição de janeiro de 1982 estreou uma nova coluna, como o nome de Rádio e TV. Na justificativa da Redação consta que o espaço estava sendo aberto para que programas regionais, mantidos por indivíduos, congregações e distritos, pudessem divulgar suas atividades mis-sionárias pelo rádio ou TV. A coluna iniciou com uma matéria de página in-teira sobre o programa Expectativa, de Vitória.32

Como havia acontecido com a edi-ção de 1976 do anuário Lar Cristão, a edição de 1982 enfocou a comunicação da Palavra de Deus de diversas formas. Também foram apresentados os quatro programas de TV que existiam então: A Hora, A Voz da Cruz, Expectativa (Vitória, ES) e Expectativa (Cascavel, PR).33

Nesta década surgiu uma outra ini-ciativa que procurou usar a televisão como instrumento de evangelismo: o Projeto Um Momento. A Liga de Lei-gos Luteranos do Brasil (LLLB) resol-veu, em um congresso nacional extraor-dinário, realizado em janeiro de 1982, que destinaria 80% das ofertas recebi-das para investimento evangelísticos no rádio e na televisão. Segundo Paulo Buss, a Liga, auxiliada pelo Departa-mento de Comunicação da IELB e pela Hora Luterana, criou a Comissão Rádio e TV. A Comissão liderou a pro-dução do programa Um Momento, cujo objetivo era auxiliar as congregações da Igreja em campanhas evangelísticas.34

O assunto voltaria à pauta de um Congresso de Comunicação em 1984.

32 UM ANO de Expectativa. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 1, ano 65, p. 37, jan. 1982.

33 O programa Expectativa de Cascavel estava fora do ar quando do fechamento desta edição do Lar Cristão. Veja na próxima edição desta revista.

34 Não foi localizado registro oficial de campanhas evangelísticas com base nos programas. Todavia, ao menos

Na época, o presidente da LLLB, Alcion Sponholz, apresentou o projeto através da revista Mensageiro Lutera-no. Segundo ele, os programas tinham o propósito de despertar no telespecta-dor o interesse para que se aprofundas-se no tema e buscasse a igreja.35

Foram produzidos dez progra-mas com a duração de dois minutos, apresentados pelo pastor Nilo Figur. Os temas eram variados e tratavam de questões como o sentido da vida, a es-perança, medo da morte, ansiedade, fé e ciência.36 O primeiro programa foi oficialmente apresentado — e avaliado — durante o VI Congresso Nacional da LLLB, realizado nos dias 18 a 21 de agosto de 1983, em Caiobá, PR.37

Em junho de 1983, uma matéria publicada no Mensageiro Luterano dava conta que o projeto de veicular a série Esta é a vida ainda estava em an-damento. É dito que 100 filmes “ad-quiridos pela rede de Televisão SBT”

uma aconteceu no Distrito Paraná-Leste, tendo como base a cidade de Curitiba, PR. Espaços foram comprados em uma emissora de TV. Durante vários dias, programas Um Momento foram veiculados em diferentes horários. Ao final de cada programa, era fornecido um número telefônico, através do qual era possível obter mais informações sobre o assunto, além de outros materiais evangelísticos. Foi montada uma equipe de atendimento na Comunidade São Paulo, do bairro Portão.

35 SPONHOLZ, Alcion. Projeto Rádio e TV. Mensageiro Luterano, n. 8, ano 66, p. 20, ago. 1984.

36 Idem.37 KUCHENBECKER, Horst. O desafio

dos leigos: missão pela TV. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 6, ano 66, p. 8-10, out. 1983. O projeto ainda estava em andamento em 1985. Em matéria no Mensageiro Luterano, o então presidente da LLLB, Alcion Sponholz, escreve sobre o Projeto Participação. Uma das ações do Projeto era a arrecadação de fundos e o investimento no programa Um Momento. SPONHOLZ, Alcion. O presidente da LLLB fala sobre o Projeto Participação. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 3, ano 68, p. 10,11, mar. 1983.

estavam “em fase de preparação para dublagem” e que os filmes “possivel-mente ainda neste ano serão apresenta-dos no Brasil.”38

Nos dias 25 a 32 de maio de 1983, a IELB realizou o primeiro Concílio Nacional de Obreiros, em Florianópo-lis, SC. Um dos estudos tratou sobre O obreiro e sua Igreja, onde foi destacado a atenção especial que deve ser dada ao conteúdo das pregações, tanto no púl-pito tradicional ou em “outros púlpi-tos”, como a televisão.39

Ainda em 1983 foi publicada uma nota no Mensageiro Luterano concla-mando os leitores a colaborarem na re-posição do acervo da TVE — Funda-ção Televisão Educativa do Rio Grande do Sul — que havia sido destruído por um incêndio. Os leitores foram convi-dados a enviar para a emissora “tudo o que for útil à preservação da memória do RS, como fitas, cassete, livros, revis-tas, áudios, discos, etc.”40

O ano de 1984 marcou o apogeu da IELB no uso da televisão como veículo evangelizador. Igreja tinha programas em oito canais de TV, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pa-raná e Espírito Santo, além do alcance das áreas vizinhas a estes estados. Estes programas tinham uma duração total de 93 minutos, utilizados semanalmen-te. Na avaliação de Hugo Assmann, os luteranos da IELB faziam “um esforço de programação evangélica de nível técnico e conteúdo responsável.”41

Neste sentido, é emblemática uma edição da revista Mensageiro Luterano 38 JUNG, Paulo K. Hora Luterana.

Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 6, ano 66, p. 26, jun. 1983.

39 SEIBERT, Erni Walter. O Concílio Nacional de Obreiros. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 6, ano 66, p. 4, ago. 1983.

40 TVE começa de novo. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, n. 9, ano 66, p. 32, set. 1983.

41 ASSMANN, Hugo. A Igreja Eletrônica e seu impacto na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 123. Assmann informa que a duração total dos programas da IELB era de “cerca de 100 minutos”.

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deste ano com matéria de capa intitula-da Rádio e TV como meios de evangelis-mo. Na Palavra do Leitor, o jornalista Astomiro Romais escreveu que a Igreja não podia dispensar as possibilidades da tecnologia moderna para falar da vinda do Reino, “sob pena de nos alie-narmos e negarmos a ordem de evange-lizar os povos.”42

No editorial desta edição nota-se uma clara preocupação em usar a tele-visão como instrumento missionário. É dito que “este veículo de comunicação com os seus prós e contras não pode ser ignorado e omitido na estratégia de Cristo de leve o evangelho a cada criatura.” Também são reconhecidas dificuldades financeiras e humanas, mas com um tom otimista: “Os custos são altos e os recursos humanos não são muitos, mas estes custos nunca serão maiores do que o valor da palavra sal-vadora de Deus...” Por isso, é afirmado que “não podemos ignorar o rádio e a TV como meios de chegarmos aos 120 milhões de brasileiros...” Além disso, nota-se uma satisfação em relação ao uso da televisão pela IELB na década de 80 e prevê avanços: “... e na década de 80 está amadurecendo uma estratégia 42 ROMAIS, Astomiro. Palavra ao

Leitor. Mensageiro Luterano, n. 8, ano 86, p.1, ago. 1984.

consciente de uso da TV como meio de proclamar o evangelho através de 7 programas semanais...”43

Na abertura da reportagem princi-pal são apresentados números sobre o uso do rádio e da TV pela IELB.44 É dito, também, que a matéria especial tinha por objetivo “dar uma panorâ-mica do uso que a IELB está fazendo dos meios eletrônicos para a pregação do Evangelho.” O texto também indi-ca que a reportagem fornece subsídios para uma reflexão em torno do tema e chama a atenção para um evento que ocorreria em outubro: o próximo Con-gresso Luterano de Comunicação. Nes-te encontro, diz a matéria, “deverá ser estabelecida uma estratégia global de princípios de uso destes meios eletrôni-cos para o evangelismo.”45

Artigos desta mesma edição do Mensageiro Luterano refletem sobre a postura do cristão diante da TV. Die-ter Joel Jagnow escreveu que o “cristão pode e deve usar bem a TV”, e Carlos Henrique Weber afirmou que a Igreja tem o desafio de usar o rádio e a televi-são com um “padrão de qualidade cria-tivo e comunicador”.46

Também foi em 1984, durante os dias 15 a 17 de outubro, aconteceu o IV Congresso Luterano de Comuni-cação, em Florianópolis, SC. Foi uma promoção do Departamento de Co-municação da IELB com o apoio de Luteranos Unidos em Comunicação (LUC). A temática do encontro foi Rádio e TV como meios de evangelismo. Todavia, o destaque ficou por conta da televisão, devido ao significativo núme-ro de programas que a IELB mantinha

43 FIGUR, Nilo Lutero. A missão da IELB no rádio e na TV. Mensageiro Luterano, n. 8, ano 86, p. 3, ago. 1984.

44 Sobre a TV, os números já foram citados acima.

45 A IELB no rádio e na TV. Mensageiro Luterano, n. 8, ano 86, p. 8, ago. 1984.

46 JAGNOW, Dieter Joel. O videota — o cristão diante da TV; WEBER, Carlos Henrique. A Igreja e os meios de comunicação. Mensageiro Luterano, n. 8, ano 86, p. 21, 33, ago. 1984.

então.Estiveram reunidas cerca de 80

pessoas — pastores e leigos — que de alguma forma estavam envolvidas ou interessadas no tema comunicação. O objetivo era refletir como a Igreja es-tava usando os meios de comunicação, se estava alcançando seus alvos, e o que poderia ser aperfeiçoado.47

Na abertura, foram apresentados todos os programas regulares da IELB existentes na época: A Hora (Erechim, RS), A Voz da Cruz (Cruz Alta, RS), Expectativa (de Vitória, ES, também transmitido em Cascavel, PR, e Lon-drina, PR), Fé e Esperança (Porto Ale-gre, RS) e Encontro (Florianópolis, SC). Além disso, foi apresentado o pro-jeto Um Momento, da Liga de Leigos Luteranos do Brasil.48

Uma das palestras tratou do tema A comunicação na TV. Ela foi proferida pelo jornalista Gontijo Teodoro, inte-grante do Departamento de Telejor-nalismo da extinta TV Tupi e que du-rante muitos anos foi apresentador do Repórter Esso. Gontigo, além de falar sobre a televisão em termos gerais, fez uma avaliação dos programas de TV da IELB. Uma das suas críticas foi em rela-ção à ausência de testemunhos nos pro-gramas, já que os julgava importantes para reforçar a mensagem, promover a imitação, persuadir melhor.49

O pastor e professor Leopoldo Heimann foi outro palestrante do en-contro que focou bastante a televisão. Ele abordou a questão teológica em palestra denominada O texto divino para o contexto humano: a Teologia da evangelização nos textos de rádio e TV. Heimann disse que a Igreja Cristã não podia ser substituída pela igreja eletrô-nica, mas que os meios de comunicação deveriam ser auxiliares na proclamação do Evangelho. Salientou que a Igreja deveria estar ciente de que estes progra-

47 FLOR, Jonas. 4 ºCongresso Luterano de Comunicação. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, ano 67, p. 22-25, dez. 1984.

48 Sobre este projeto, veja detalhes acima.49 FLOR, op. cit., p. 26.

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mas não eram, em primeiro lugar, para os seus próprios membros, mas para o público externo. Heimann também su-geriu que os programas tivessem o que chamou de “carimbo confessional”, ou seja, que tivessem o mesmo formato para identificar a Igreja. Outra ênfase esteve na necessidade da Igreja apri-morar seus talentos nesta área e racio-nalizar seus esforços nesta área através de uma central de produção de progra-mas.50

Uma das atividades práticas do en-contro foi a discussão de princípios e estratégias para o uso do radio e da TV como meios de evangelismo. Dentre as inúmeras conclusões também relativas à televisão, estão estas:

— As iniciativas até agora desen-volvidas ainda são deficientes no que se refere ao embasamento teórico, técnico e organizacional.

— É urgente a necessidade de for-mação de recursos humanos através de cursos, treinamentos, etc.

— Embora o nível atual dos pro-gramas de TV possa ser considerado satisfatório, em visto dos poucos recur-sos materiais disponíveis, é urgente o investimento nesta área.

— No que se refere aos recursos fi-nanceiros, propõe-se formar comissões congregacionais e distritais, formadas por leigos e pastores, para planejarem a consecução do apoio necessário para o seu programa.

— É imprescindível a montagem de estratégias adequadas para o desenvol-vimento de um trabalho evangelístico junto ao público-alvo. “Como numa caça, a TV e o rádio são como cachor-ros que vão à frente e levam a caça.”51

— É necessário um maior intercâm-bio de programas entre os diversos pro-dutores, a fim de administrar melhor o tempo e os recursos.

— Impõe-se a implantação imedia-ta de uma Central Luterana de Pro-

50 Idem, p. 24.51 FLOR, Elmer. Rádio e TV como

meios de Evangelismo. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, ano 67, p. 25-27, dez. 1984.

dução de Rádio e TV. Esta Central servirá para a racionalização de custos e desenvolvimento de uma unidade de mensagens e imagem pública e televisa da IELB, além de envolver nesta missão as congregações e os distritos da Igreja. De outro lado, preparará recursos hu-manos através de cursos profissionais e técnicos, literatura, releases, progra-mas-piloto, etc. Além disso, adquirirá o material e equipamento necessário para o seu bom funcionamento, bus-cando “recursos financeiros de órgãos que se dedicam a esse ministério no país e exterior, ou de ofertas e doações de indivíduos e firmas que se propo-nham a isso.”52

Como havia acontecido no 3º Con-gresso, realizado em 1981, a questão de uma central de produção ocupou parte do tempo dos congressistas. O assunto ainda continuou latente durante algum tempo na Igreja. Em março de 1985, a Liga de Leigos Luteranos do Brasil (LLLB) publicou artigo no Mensagei-ro Luterano falando sobre suas metas e seu plano de ação. Fica claro que havia se estabelecido uma parceria entre a LLLB, o Departamento de Comunica-ção e a Hora Luterana para concretizar o projeto. É dito que o objetivo da par-ceria era criar a Central “para amparar as congregações e distritos que se uti-lizam da televisão como apoio para o evangelismo, bem como coordenar a produção e veiculação de programas,

52 Idem.

visando racionar esforços e custos financeiros.”53

O assunto foi também foi alvo de decisão na 50ª Convenção Nacional, realizada de 21 a 26 de janeiro de 1986. Uma das moções propunha a oficializa-ção da Central de Produções da IELB. A moção foi aprovada.54

Apesar da chancela oficial, pelo que foi possível levantar durante a pesquisa, a Central de Produções nunca chegou a ser concretizada nos moldes planeja-dos.

De todos os Congressos de Comu-nicação realizados até então, este foi o que modo mais direto e prático focou o uso da TV como veículo de evangeliza-ção. A proposta estava dentro do espí-rito do momento, já que a Igreja estava investindo neste veículo como nunca o fizera antes.55

Em fevereiro de 1985, o então Se-

53 LÜDKE, Reinaldo Martim. Projeto Participação — o que é? Mensageiro Luterano, n. 3, ano 68, p. 6-9, mar. 1985. Na matéria também aparece um demonstrativo das ofertas da LLLB e sua aplicação, havendo indicação de provisão para a Missão Rádio e TV.

54 AS PRINCIPAIS decisões. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, n. 2/3, ano 69, p. 45, jan./fev. 1986.

55 Não foi possível encontrar informações sobre a realização de um 5º Congresso. Ao que tudo indica, isso se deve ao fato do gradativo fim do programas que aconteceram nos anos seguintes, chegando a nenhum antes do final da década.

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cretário Executivo do Departamento de Comunicação da IELB participou de um encontro de Luteranos Unidos em Comunicação (LUC), em Lima, Peru. No evento, ele palestrou sobre a evangelização através da TV.56

Neste mesmo ano, de 22 a 25 de agosto, aconteceu o VII Congresso Na-cional da LLLB, em Irai, RS. Durante o encontro foram desenvolvidas duas te-máticas: qual é a obra da igreja e como realizar esta obra. Para respondeu a estas questões, foram discutidos três te-mas. Um deles foi: O desafio dos meios de comunicação no trabalho da igreja, liderado pelo pastor Nilo Lutero Figur.

Durante o Congresso foi apresen-tando um documentário sobre o Proje-to Participação da Liga. O vídeo, com 20 minutos de duração, havia sido pro-duzido pela LLLB, em conjunto com o Departamento de Comunicação da IELB e a Hora Luterana,57 ou seja, a “central de produções”.

Ainda neste ano, a edição de outu-bro do Mensageiro Luterano traz uma carta de um pastor repercutindo a ma-téria O videota, publicada em agosto. O autor diz que criou “ao longo dos anos uma verdadeira aversão pelos meios de comunicação, mormente pela TV” e que a TV, embora tenha pontos po-sitivos, os negativos não compensam “gastar tanto dinheiro e tanto tempo com ela.” Ele também afirma que “a TV é um dos mais sérios, um dos mais gra-ves, um dos mais terríveis problemas de nosso tempo e que precisa ser discutido e analisado.”58 A preocupação do leitor dirige seu foco à presença da TV na vida das famílias e os danos que pode causar. Não há indício no texto de que exista uma crítica ao empenho da Igreja em usar mais a televisão como veículo

56 EVANGELHO e comunicação massiva. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 4, ano 68, p 31,32, abr. 1985.

57 VII CONGRESSO Nacional da LLLB. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, ano 68, p 20,1, dez. 1985.

58 PFLUCK, Ari. A TV em nosso tempo. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 10, ano 67, p. 33, out. 1984.

missionário.Apesar de todos os investimentos

feitos nas diversas áreas durante o final da década de 1970 e a primeira metade da década de 1980, um a um os progra-mas de televisão da IELB começaram a deixar de ir ao ar, especialmente por causa de dificuldades na manutenção. Buss diz que “já ao final da década, a IELB deixara de utilizar a televisão como veículo de sua mensagem.”59

Além disso, um sintoma do estado das coisas nesta segunda metade da década pode ser verificado no fato de que a Igreja resolveu, em 1987, não mais ter um secretário executivo para a área de comunicação. Como “despe-dida”, o pastor Nilo Figur escreveu um editorial do Mensageiro Luterano no início de 1988. Apesar do declínio dos investimentos da Igreja na área — ou talvez por causa dele — ele diz que a comunicação havia assumido um lugar importante, até decisivo em qualquer empreendimento. Por isso, julgava que a IELB precisava “tratar a comunica-ção, em todas as suas áreas de atuação, como algo até decisivo na busca do seu objetivo maior, que é o testemunho da nova vida em Cristo.”60

Criado em 1976, o Departamento surgiu no mesmo ano que foi criado o primeiro programa de TV da IELB, o A Hora. A extinção do cargo de Secre-tário Executivo se deu exatamente no período em que os programas regula-res já tinham ou estavam em processo de sair do ar. Todavia, o Departamento voltaria a ter um Secretário quatro anos depois, como será visto mais adiante.

Embora não especificamente a tele-visão, a questão dos meios de comuni-cação ainda ocupou espaço importante na IELB quase no final da década. De

59 BUSS, op.cit., p. 254. Além disso, registra Buss, também houve redução no acesso ao rádio. Não foi possível encontrar registros sobre a data do término dos programas regulares que existiam na IELB.

60 FIGUR, Nilo Lutero. Registros. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p. 4, fev./mar. 1988.

13 a 17 de abril de 1988, a Igreja rea-lizou sua 51º Convenção Nacional, em Brasília. Uma das conferências foi so-bre Igreja e Meios de Comunicação, diri-gida pelo jornalista Alexandre Garcia, da TV Globo.61

Neste mesmo mês, foi publicada no Mensageiro Luterano uma crítica ao conteúdo da televisão brasileira e à ausência do Cristianismo na programa-ção. De autoria do pastor Vilson Re-gina, o texto não cita especificamente a IELB, mas, por extensão, a crítica já era válida nesta época, haja vista o acen-tuado declínio no uso da televisão que estava ocorrendo na segunda metade desta década.

Quando fala do conteúdo, Regina diz que a Igreja Cristã, embora possua “o mais excelente conteúdo”, ela carece “de muito mais espaços nos melhores

61 JUNG, Paulo Kerte. Representativa, dinâmica, eficiente. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p. 28-31, maio 1988. O pastor Nilo Figur, que recém havia deixado o cargo do também recém extinto Departamento de Comunicação, foi o presidente da comissão organizadora da Convenção. Sua atuação foi decisiva para que a comunicação fosse pautada no evento.

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meios de comunicação”, inclusive a TV. Em seguida, ele faz uma comparação entre a doutrina da ressurreição (cristã) e da reencarnação (espírita). Enquan-to que a primeira praticamente quase não aparece nos diferentes veículos, a segunda tem ampla visibilidade. E isto que, no seu entender, a ressurreição de Jesus Cristo é a “maior manchete da história”.62

A questão da propriedade do uso da televisão pela IELB voltou a ser mencionada de passagem em artigo do Mensageiro Luterano em agosto de 1988. Sob o título Culpada ou inocen-te?, o jornalista Décio Dalke analisa a programação da TV. Ele cita estupros, assaltos, socos, vícios, perseguições e uma infinidade de cenas que diaria-mente aparecem nas telas. Em seguida, comenta que esse estado de coisas não é culpa da TV em si, mas de quem a utili-za. Caso fosso o contrário, escreve, “en-tão a própria Igreja Luterana não mais poderá fazer uso dela para transmitir suas mensagens.”63

62 REGINA, Vilson. A maior manchete da história. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, abr. 1988, p. 13, 14.

63 DALKE, Décio. Culpada ou Inocente? Mensageiro Luterano,

O conteúdo da tele-visão brasileira também foi alvo de uma decisão do Distrito Lago Itaipu da IELB (no estado do Paraná) em sete de março de 1999: enviar uma cor-respondência para o Pre-sidente das Organizações Globo, Roberto Marinho. Para justificar a carta, são citados a violência e a imo-ralidade, tanto nos filmes como nas novelas. Uma das decisões colocadas no texto enviado: “Deixar de assistir a filmes e novelas que apresentam cenas de violência e imoralidades, desligando o aparelho, ou ao menos selecionando um outro canal.”64 Também é dito que os membros de

toda a Região Paranaense seriam incen-tivados a fazerem o mesmo.

No final da década surgiu na IELB o Projeto Macedônia da IELB. No site atual do Projeto, consta que a sua tare-fa é de “estimular e treinar pessoas de comunidades cristãs para visitarem ou-vintes e telespectadores de programas de 30 segundos em rádio e televisão, onde é oferecida literatura gratuita...”65 Não há notícia de que o Projeto tenha utilizado, até hoje, a televisão como fer-ramenta evangelística.

A indicação da década de 1980 como sendo o auge da presença da televisão como alvo da IELB tam-bém pode ser verificado através do número de artigos publicados sobre o assunto no Mensageiro Luterano. Assim como na década de 1970, a preocupação continuou a ser espe-

Porto Alegre, n. 8, ano 71, p 21, ago. 1988.

64 DE OLHO na televisão. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, p. 27, jul. 1989.

65 PROPÓSITOS. Disponível em: <http://www.macedonia.org.br/index.php?pag=propositos.php>. Acessado em: 25 jan 2006.

cialmente sobre os efeitos produzi-dos pela televisão. Em 1984, apare-ceram vários textos na edição agosto analisando a postura do cristão da Igreja diante da TV, e um outro em outubro, abordando os possíveis efeitos maléficos do veículo. Os efeitos dos comerciais de TV foram abordados em março de 1985. Em junho de 1986 apareceu o artigo A televisão e o tempo. Em 1988, foram publicados dois artigos: Criança e TV: cuidado com o abuso (fevereiro/março) e Televisão: um mal necessá-rio? (agosto).

O assunto também ocupou várias vezes a seção de cartas dos leitores. Ao menos um leitor escreveu à Redação da revista criticando o conteúdo das ma-térias publicadas, pois há tempo vinha observando “a radical condenação à televisão”. Por fim, ele questiona: “será mesmo a televisão responsável pela mudança dos hábitos dos cristãos? Um cristão autêntico trocaria o culto por um capítulo de novela?”66

A década de 1990

Na década de 90, o assunto “tele-visão” praticamente desapareceu da agenda da IELB. Neste período, os in-vestimentos na comunicação de uma forma geral diminuíram sensivelmente. Inclusive, a estrutura administrativa da Igreja passou por um processo de mu-dança, que acabou levando à extinção definitiva do Departamento de Comu-nicação e, por extensão, da figura de um Secretário Executivo. Este Depar-tamento havia apoiado, de forma direta e indireta, o surgimento de programas de televisão desde o final da década de 1970 e, especialmente, na década de 1980, além de promover encontros para discutir a comunicação e outras ações.

Uma crítica à atitude da Igreja em

66 SOBIESIAK, Regina. Televisão e Telenovela. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p. 2, jan. 1987.

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relação à comunicação de uma forma geral foi publicada no editorial do Mensageiro Luterano de novembro de 1990. Assinado por Astomiro Romais, a reflexão diz que, ao contrário do que tradicionalmente aconteceu durante a história do Cristianismo, hoje existe um afastamento entre teologia e comu-nicação. Romais diz que é fácil explicar a ausência nos meios de comunicação argumentando falta de recursos. Mas a questão vai muito além, afirma. A Igre-ja precisa entender que “a educação e ocupação com a comunicação são fato-res fundamentais de quem quer procla-mar o evangelho...” Por isso, ela precisa se preocupar como uma série de ques-tões, como estas: a Igreja está se preo-cupando com a nova sociedade, ori-ginária dos meios de comunicação? A Igreja está se preocupando com a nova linguagem do mundo, a fim de poder se comunicar com ele? A Igreja está consciente de que é preciso se aproxi-mar, entender, estudar os novos meios, além de preparar pessoas para utilizá--los adequadamente? A Igreja está ciente da necessidade de comunicar-se melhor e de maneira mais eficiente?67

O editorial foi repercutido na seção de cartas de dezembro do mesmo ano. O jornalista Décio Dalke escreveu que a visão da IELB é de gabinete, enquan-to deveria de ser de mercado, a partir de fundamentos de marketing. Dalke

67 ROMAIS, Astomiro. Igreja e novos desafios de comunicação. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p. 4, nov. 1990.

também diz que não adianta a Igreja ter uma assessoria de imprensa, se não possui uma estrutura de comunicação.

Para ele, apenas levar sugestões de pauta aos veículos da Capital [Por-to Alegre] “equivale à comunicação

com tambor em aldeia, quando os meios eletrônicos levam mensagens aos confins do universo.”68

A crescente presença da Igreja Uni-versal do Reino de Deus (leia-se Edir Macedo) na mídia, especialmente na televisão, foi motivo de nota e comen-tário no Mensageiro Luterano de maio de 1991. Na nota, é informado que milhares de fiéis estavam levando, aos templos da Universal, envelopes com dinheiro como resposta à Operação Salmo 91. A Operação tinha o objetivo de arrecadar dinheiro para pagar dívi-das trabalhistas que Macedo havia con-traído com a compra da Rede Record. Além disso, a arrecadação também ser-viria para retomar obras da Igreja, que estavam paradas por causa da redução do volume de contribuições, em fun-ção da crise econômica do Brasil.

Após a nota, segue-se um comentá-rio. É dito que o Macedo, já apresen-tado ao país pela televisão carregando sacos de dinheiro, após uma concen-tração evangelística da cidade do Rio de Janeiro, “especializa-se na ‘arte’ de arrecadar dinheiro. É um ministro não do evangelho, mas da economia. Das economias dos pobres, entenda-se bem. Para o descrédito cada vez maior do nome ‘evangélico’ junto à opinião pública.”69

Ainda neste ano, a comunicação foi novamente pautada em editorial do Mensageiro Luterano, assinado pelo então secretário da Área de Comuni-cação da IELB, o pastor Nilo Lutero Figur. O artigo é importante porque reflete uma reação a um estado de coi-sas criado na Igreja nos anos anteriores, o que também contribuiu para o fim do

68 CARTAS. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p. 2, dez. 1990.

69 ROMAIS, Astomiro. Para a tele crente. Mensageiro Luterano. Porto Alegre, p. 32, maio 1991.

uso da televisão. Figur estava voltando à Secretaria Executiva de Comunicação da IELB após um período de quatro anos em que a função deixou de exis-tir.70

Após afirmar que existe uma rela-ção importante entre a comunicação e a Igreja, Figur diz que é “difícil enten-der” como uma Igreja que historica-mente tinha uma íntima relação com a comunicação resolveu, em 1987, privar a Área de Comunicação de ter uma pes-soa para coordená-la. Em seguida, ele demonstra satisfação porque a função foi restabelecida através de decisão da Convenção Nacional.

No restante do artigo, Figur tam-bém não cita especificamente a tele-visão, mas argumenta que “este é um tempo precioso e trepidante no qual precisamos comunicar e comunicar bem os nossos valores, nossa ética, nossa fé e esperança em Cristo” e que “fazendo uso dos recursos da comuni-cação que Deus está oferecendo à Igreja através da ciência e tecnologia...”71

Durante esta década a IELB conti-nuou ativa como parceira de Luteranos Unidos em Comunicação (LUC), um fórum de comunicadores luteranos da América Latina. LUC realizou encon-tros periódicos. Um deles aconteceu em Viamão, RS, em abril de 1993: o 2º Congresso Latino-americano de Comunicação e a VI Assembleia Geral de LUC, que teve como tema central Comunicação para a vida. Um dos or-ganizadores do evento foi o pastor Nilo Figur, que na época ainda coordenava o Departamento de Comunicação da

70 FIGUR, Nilo. Comunicar é fundamental. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p 4, set. 1991. A decisão do fim da Secretaria Executiva havia sido tomada pelo Conselho Diretor da IELB em 1987. Ou seja, a Igreja permaneceu sem Secretário Executivo por cerca de quatro anos. Todavia, mesmo com o retorno do Secretário Executivo não mais seria possível retornar ao período áureo da década anterior no uso da televisão. Figur concorreu à eleição ao cargo com mais dois candidatos.

71 Idem.

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IELB. O encontro se tornou emblemá-tico por mostrar a disposição da Igreja em manter de alguma forma o interesse em comunicação, apesar de não mais usar a televisão como veículo de evan-gelização. Neste encontro, o pastor Nilo Figur foi eleito como Coordena-dor Geral de LUC.72

Após um período de cerca de cinco anos sem iniciativas importantes, mu-danças começaram a acontecer no final da década de 1990, quando surgiu um projeto conjunto para a televisão entre a IELB e a Igreja Evangélica de Confis-são Luterana no Brasil (IECLB). Em outubro de 1998, aconteceu em Ro-deio 12, SC, a 1ª Conferência Nacional Interluterana, organizada pela Comis-são Interluterana de Diálogo (CID). Um dos desafios colocados pelo encon-tro para as Igrejas foi a produção de três VTs de 30 segundos cada para a divul-gação da mensagem cristã na televisão.

O projeto, denominado Igreja na TV, foi desenvolvido por comu-nicadores das duas Igrejas em 1999. Os vídeos tiveram seus conteúdos direcionados para três temas: Re-forma Luterana, Liberdade e Novo Milênio.

Os VTs foram oferecidos para as congregações de ambas as Igrejas. Uma nota do Mensageiro Luterano dá conta de “houve 15 encomendas por parte de congregações, paróquias e distritos das duas Igrejas, resultando em boa veicu-lação em diferentes regiões do Brasil.”73 Foram seis no Rio Grande do Sul (Es-trela, Pelotas, Três de Maio, Erechim, Porto Alegre e Gramado); três em San-

72 SILVA, João Artur M. da. Luteranos unidos em comunicação. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 9, ano 76, p. 10,11, set. 1993. Também merece nota a participação de representantes da IELB em encontros da World Association for Christian Communication (WACC), seção Brasil, tanto na década de 1980, como nas de 1990 e 2000.

73 IGREJA na TV. Mensageiro Luterano, encarte Pela IELB, Porto Alegre, n. 2/3, ano 83, p. 4, fev./mar. 2000.

ta Catarina (Blumenau, Rio do Sul e Tubarão); dois em Paraná ( Juranda e Toledo); dois no Mato Grosso ( Juína e Cuiabá), um no Rio de Janeiro (capi-tal) e um no Pará (Santarém).74

No final da década também come-çou a projeção nacional do padre Mar-celo Rossi na televisão, com a sua “ae-róbica do Senhor”. Editorial da revista Mensageiro Luterano de janeiro de 1999 abordou a “ibopização” de Rossi. No final da matéria, os leitores foram convidados a enviar sua opinião sobre o assunto para a Redação, ou seja, se se-ria bom se a IELB tivesse na televisão pastores como era o padre.75 Nos meses subsequentes várias opiniões foram pu-blicadas. Na edição de abril apareceram dez opiniões. Apesar de serem contra-ditórias, ficou claro que a Igreja tinha dificuldades nesta área, tanto no uso de dons como da televisão. Um dos leito-res escreveu: “...não estamos aparecen-do na telinha. Precisamos sair do nos-so casulo, fazer uso da televisão e nos apresentar como uma verdadeira igreja missionária.”76

Convém notar, ainda, que em 20 de novembro de 1999 aconteceu o 1º Encontro de Comunicadores. O evento foi uma promoção de LUC--Brasil com o objetivo de reunir co-municadores da IELB e da IECLB para a discussão de temas afins e o compartilhamento de experiências na área. Um novo encontro foi mar-cado para 2000, em São Leopoldo, RS.

Embora o uso da televisão te-nha cessado na década de 1980, o assunto continuou sendo motivo de matérias na revista Mensageiro Luterano durante esta década. Em

74 CID — A igreja na TV. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 2/3, ano 83, p.14, fev./mar. 2000.

75 JAGNOW, Dieter Joel. A aeróbica do Senhor. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 1, ano 82, p. 3, jan 1999.

76 SCHMIDT, Eric. Opção pela TV. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 1, ano 82, p. 8, jan. 1999.

agosto de 1990 foi publicado um artigo avaliando o conteúdo da TV brasileira. Em agosto de 1993 saiu um artigo analisando a televisão, a família e a educação. Na edição de janeiro/fevereiro de 1995, um títu-lo forte chama a atenção: Jogue sua TV fora! Ou aprenda a usá-la! Em julho de 1999 saiu a matéria TV: de quem é o controle?

A década de 2000

A comunicação — e de forma in-direta o uso da televisão — começou a ser pautada novamente na IELB no fi-nal da década de 1990 e, de forma mais acentuada, na década de 2000. Em ou-tubro deste ano aconteceu um novo encontro de comunicadores da IELB e da IECLB. Uma das atividades de-senvolvida foi a análise da série de três VTs A Igreja na TV, que haviam sido produzidos em conjunto pelas Igrejas em 1999. Os comunicadores julgaram que a iniciativa era “muito positiva”. De outro lado, foi questionado se não con-fundia mais mostrar que há duas Igrejas Luteranas diferentes no Brasil. Além disso, concluiu-se que ainda era preci-so acertar a linguagem e que faltavam recursos para uma produção melhor.77

Ao longo do ano de 2003, a IELB promoveu uma série de Concílios.78 A

77 LUTERANOS se reúnem para o 2º Encontro de Comunicadores. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, ano 84, p. 14, dez. 2000.

78 Na IELB, os Concílios são encontros

Missão e Mídia

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temática destes en-contros foi comunicação. Em uma mensagem para a Igreja, o então presidente da Igreja, Carlos W. Winterle, disse que “os nossos dias são privilegiados em termos de comunicação com toda a tecnolo-gia que está à nossa disposição.” Em seguida, colocou os objetivos dos Concílios ao abordar o tema: a) avaliar como está a comu-nicação pessoal; b) refletir so-bre o que pode ser feito para melhorar a comunicação; c) verificar como “usar os meios, recursos e técnicas de hoje em prol de uma melhor e maior divul-gação do Evangelho...”79

Também em 2003 a IELB promo-veu o 1º Fórum de Comunicadores. O encontro aconteceu em São Leopoldo, RS. O evento marcou um novo início da Igreja no sentido de repensar as ações de comunicação e capacitar os comunicadores que atuam em diferen-

de pastores para reciclagem e aperfeiçoamento. Eventualmente podem ser convidadas pessoas leigas. Acontecem em várias regiões do Brasil a cada dois anos.

79 WINTERLE, Carlos W. Concílios 2003 — Comunicação. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 5, ano 86, p. 5, maio 2003.

Missão e Mídia

tes áreas.80 Foi resolvido que os Fóruns teriam uma periodicidade anual.

Um encontro de líderes da IELB e representantes da Igreja Luterana — Sí-nodo de Missouri, dos Estados Unidos, aconteceu entre os dias 12 e 15 de abril de 2004, no campus da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas, RS. O objetivo do encontro foi de dia-logar sobre o que os diversos segmentos da Igreja poderiam fazer melhor em con-junto do que separados para a obra mis-sionária. Uma das principais conclusões do encontro foi que a comunicação de-veria ser um ponto prioritário da agen-

80 .FÓRUM reúne comunicadores da IELB. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 9, ano 86, p. 25, set. 2003. De certa forma, estes Fóruns viriam a preencher a lacuna deixada pelo fim dos Congressos de Comunicação.

da da Igreja e que havia necessidade de investimentos (inclusive financeiros) na área, a fim de levar o evangelho para mais pessoas.81

Este encontro ajudou a acelerar a concretização de um anseio da Igreja, já manifestado em outros momentos: novamente investir em assessoria de co-municação. Um estagiário em Jornalis-mo foi contratado em agosto de 2004. Após a formatura do assessor, ele ficou na função até fevereiro de 2007, quan-do aceitou outra atividade na Igreja.

Em novembro de 2004 a IELB voltou a ter um programa regular de TV: Toque de Vida. Tratou-se de uma iniciativa da Universidade Luterana do

81 JAGNOW, Dieter Joel. Líderes indicam prioridades da agenda da IELB. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 6, ano 87, p. 22-24, jun. 2004.

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 37

Missão e Mídia

Brasil. O programa ainda está no ar, na Ulbra TV.

Em 2005, a preocupação pelo tema ficou demonstrada através de uma de-cisão do Conselho Diretor da Igreja, realizado em novembro em Campo Grande, MS: “Que o Seminário Con-córdia promova seminários na área de comunicação, visando à preparação dos candidatos ao ministério na produ-ção de textos e de apresentações para jornal, rádio e televisão, com acompa-nhamento de profissionais da área de comunicação.”82

Pode-se dizer que o ápice desta nova tendência aconteceu durante a 59ª Convenção Nacional da IELB, re-alizada entre os dias 19 e 23 de abril de 2006, em Guarapari, ES. Antes do evento, o então presidente da IELB, Carlos W. Winterle enviou mensagem para a Igreja acerca da Convenção e do tema. Após comentar sobre o cres-cimento da comunicação (imprensa, rádio, televisão e internet) nos últimos tempos, afirmou que “muitas vezes ficamos parados no tempo, usando a comunicação apenas verbal, no púlpito ou, timidamente, através de literatura e dos outros meios citados.”83

O tema geral da Convenção foi A comunicação a serviço do Evangelho — Aquecendo corações. A temática foi pau-tada em palestras sobre planejamento de comunicação para a congregação, Teologia e Comunicação,84 e elementos

82 SCHMIDT, Gustavo. IELB reúne Conselho Diretor em Campo Grande. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 1/2, ano 90, p. 26, 27, jan./fev. 2006,

83 WINTERLE, Carlos W. A comunicação a serviço do Evangelho — Aquecendo corações com o amor de Cristo. Mensageiro Luterano, n. 4, ano 89, p. 5, abr. 2006.

84 Nesta palestra, foi dito que as congre-gações da IELB deveriam investir recur-sos e esforços na divulgação e no uso dos meios de comunicação de massa, especialmente a televisão. “A IELB precisa posicionar-se, ocupar espaço na mídia, mostrando-se para aqueles que buscam uma igreja cristã e nem

de teoria da comunicação em Marti-nho Lutero. O assunto também esteve presente em oficinas sobre comunica-ção escrita, comunicação a serviço da missão, comunicação visual no culto, comunicação pelas mídias contempo-râneas, comunicação e responsabilida-de social e comunicação pessoal e em grupos.85

Mas em termos concretos, no que se refere à televisão, durante esta déca-da praticamente nada aconteceu. Além do início do programa Toque de Vida, as únicas iniciativas ficaram com Cristo Para Todas as Nações. Em 6 de julho de 2003, entrou no ar na rede Bandeirante Vale do Paraíba, SP o programa "Tudo para todos". O programa abria uma ja-nela de três minutos para o "Momento Espiritual", que trazia mensagens pre-paradas por Cristo para Todas as Na-ções. O programa alcançava 36 cidades do Vale do Paraíba, litorais Sul e Norte de São Paulo, Serra da Mantiqueira e Campos do Jorão. O "Momento Es-piritual" era apresentado pelo pastor Waldemar Garcia Jr86.

Em 2006, CPTN anunciou o livro A Verdade Sobre os Anjos em televisão aberta, no programa Pra Você da rede Gazeta, nos dias 11 e 12 de maio, no programa “Mulheres”, da mesma emis-sora, no dia 14 de maio. Os anúncios foram do tipo “testemunhal”. Segundo nota de CPTN, a organização acredi-tava que essa era uma grande oportu-nidade de evangelismo, pois o assunto “anjos” estava sendo muito explorado e vinha despertando um interesse cada vez maior nas pessoas.87

mesmo sabem da existência da IELB”. SCHMIDT, Gustavo. IELB realiza Convenção Nacional e elege nova Diretoria. Mensageiro Lutera-no, Porto Alegre, n. 6, ano 89, p. 22-24, jun. 2006,

85 Idem.86 LUTERANOS ampliam evangelismo

em meios de comunicação. Disponível em: <http://www.alc-noticias.org/arti-culo.asp?artCode=1319&lanCode=3>. Acessado em: 7 fev 2007. O progra-mete durou poucas edições.

87 A VERDADE Sobre os Anjos na

Em dezembro de 2006, CPTN veiculou cinco desenhos animados re-ligiosos na Rede Canção Nova de Te-levisão.88

Em 2007, o Departamento de Co-municação (hoje Área de Comunica-ção) continua existindo dentro da es-trutura administrativa da IELB. A sua coordenação é da responsabilidade do Secretário da Igreja. O uso da televisão como veículo de evangelização não tem sido prioridade da Área. O foco está na comunicação impressa, seguida da co-municação via internet.

Além destas iniciativas ao longo das décadas, convém ressaltar ações isola-das de pastores no sentido de abrirem espaços na mídia local e regional como fontes. É o caso do pastor Vilson Regi-na, enquanto trabalhou em Uruguaia-na, RS entre 1979 e 1983. Regina era regularmente entrevistado pela TV Uruguaiana (RBS) para opinar sobre temas com algum nível de apelo reli-gioso, como Páscoa, Natal, atentado sofrido pelo papa, autoflagelação pra-ticada por uma determinada seita do nordeste brasileiro, o crescimento dos cultos sectários e a estagnação das igre-jas históricas.89

Rev. Dieter Joel Jagnow é jornalista e pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Ribeirão

Preto-SP, além de participar da equipe editorial da Revista.Teologia.

TV. Disponível em <http://www.cptln.org/hora.luterana/lerdestaque.asp?xid=1352004131740>. Acessado em: 7 fev. 2007.

88 DESENHOS de CPTN na TV Canção Nova. Disponível em: <http://www.cptln.org/hora.luterana/lerdestaque.a s p ? x i d = 1 5 1 2 2 0 0 6 1 1 1 8 2 4 > . Acessado em: 7 fev. 2007.

89 REGINA, Vilson. Informações [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por [email protected] em 26 jan. 2007.

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Faz uns 4000 anos mais ou menos que Deus cha-mou um homem, como, não sabemos, de

sua terra, onde hoje fica o Iraque, para ir a uma terra totalmente desconhecida para ele. Ele hoje nos é mui-to conhecido por meio da história bíblica. Ele é........ABRAÃO. Pois este Abraão é, para nós, o símbolo da evangelização no AT. Por todos os lugares onde Abraão ia e vivia, ele levantava um altar ao Deus verdadeiro, em meio a um mundo de total idolatria e paganismo.

Infelizmente os filhos de Abraão, os israelitas, não entenderam e não cumpriram a sua tarefa de ser um povo especial de Deus com o objetivo de pregar e tes-temunhar o nome de Senhor Deus ao mundo pagão da época.

Ontem, dia 6/01, foi o dia assim conhecido pela tradição litúrgica de Epifania. Ele também é conhe-cido pelo nome de “Natal dos gentios”, Natal dos não judeus, para nós brasileiros conhecido como Dia dos Santos Reis.

Conforme conclusão dos estudiosos, foi neste dia, 12 dias após o nascimento de Jesus, que os 3 sábios do oriente chegaram a Belém e lá encontraram José, Maria e Jesus, de acordo com o que lemos em nosso texto.

Como é que estas sábios sabiam que a estrela di-ferente que lhes brilhou no Oriente era um sinal do

nascimento do Rei dos judeus? O fato é que por esta época se sabia que deveria nascer o Messias Salvador do mundo. Não só entre os judeus isto era conhecido, mas também em muitos outros países. É que os judeus na época eram grandes comerciantes e viajantes, e muitos moravam em grandes cidades da época. Também na longínqua Babilônia, onde hoje fica o Iraque, isto era sabido. Lá o AT com suas promessas era conhecido en-tre os sábios. Lá viveram os profetas Daniel e Ezequiel.

Por isso não devemos ficar surpresos se, logo após estes sábios terem avistado uma estrela diferente, que eles logo entenderam que isto era o sinal de Deus. Logo encilharam os seus camelos e rumaram para a terra dos judeus, atrás da orientação da referida estrela. Deus lhes tinha dado a ver uma estrela especial. Eles obedeceram e logo seguiram o sinal da natureza. Deus acendeu uma luz para que os sábios entendessem a mensagem.

Para nós hoje, a própria natureza é uma “estrela” de Deus que nos deve guiar ao encontro de Deus. Toda a natureza criada por Deus brilha sobre nós, ela é como milhões de dedos a indicarem para a existência. Lemos no salmo 19.1: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos”. Não há desculpa para os descrentes que não sabem da exis-tência do Deus verdadeiro, do Criador de tudo, visto o

Rev. Heldo BredowHoMilética: serMão

Mateus 2.1-121

1 Jesus nasceu na cidade de Belém, na região da Judeia, quando Herodes era rei da terra de Israel. Nesse tempo alguns homens que estudavam as estrelas vieram do Oriente e chegaram a Jerusalém. 2Eles perguntaram: — Onde está o menino que nasceu para ser o rei dos judeus? Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá--lo.

3Quando o rei Herodes soube disso, ficou muito preocupado, e todo o povo de Jerusalém também ficou. 4Então Herodes reuniu os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei e perguntou onde devia nascer o Messias. 5Eles responderam: — Na cidade de Belém, na re-gião da Judeia, pois o profeta escreveu o seguinte:

6“Você, Belém, da terra de Judá, de modo nenhum é a menor entre as principais cidades de Judá, pois de você sairá o líder que

1 Texto da Nova Tradução na Linguagem de Hoje, da Socie-dade Bíblica do Brasil (www.sbb.org.br).

guiará o meu povo de Israel.”7Então Herodes chamou os visitantes do Oriente para uma

reunião secreta e perguntou qual o tempo exato em que a estrela havia aparecido; e eles disseram. 8Depois os mandou a Belém com a seguinte ordem: — Vão e procurem informações bem certas sobre o menino. E, quando o encontrarem, me avisem, para eu também ir adorá-lo.

9Depois de receberem a ordem do rei, os visitantes foram em-bora. No caminho viram a estrela, a mesma que tinham visto no Oriente. Ela foi adiante deles e parou acima do lugar onde o me-nino estava. 10Quando viram a estrela, eles ficaram muito alegres e felizes. 11Entraram na casa e encontraram o menino com Maria, a sua mãe. Então se ajoelharam diante dele e o adoraram. Depois abriram os seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.

12E num sonho Deus os avisou que não voltassem para falar com Herodes. Por isso voltaram para a sua terra por outro caminho.

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 39

nosso próprio corpo ser uma verdadeira maravilha divi-na, criada por um Deus sábio e poderoso.

Muitas vezes, no entanto, Deus faz brilhar em nos-sas vidas estrelas especiais da própria natureza para nos conduzir a ele. Os sinais da natureza: calamidades, do-enças e morte são dedos que apontam para Deus, prin-cipalmente quando andamos por caminhos errantes. É então que Deus usa os seus “dedos” para conduzir as pessoas a si mesmo, mesmo que isto seja feito por meio de sofrimentos. Ele então nos corrige e procura levar ao arrependimento, para que não sejamos condenados junto com os nossos pecados.

Por outro lado, quando Deus nos concede alegrias na vida, quando ele nos liberta de perigos e da morte, que sinais são estes, a não ser “estrelas” pelas quais nos quer achegar a ele? A natureza, portanto, é a primeira

“estrela” por meio da qual o Senhor nos quer guiar a ele.A segunda estrela, com a qual Deus nos quer cha-

mar ao seu encontro, é a sua Palavra. Lemos: “Quando o rei Herodes...... (ler de 3 a 6). A estrela que os sábios tinham visto no oriente não continuou a lhes brilhar ao chegarem a Jerusalém. Lá ela sumiu, se apagou. Eles ti-nham certeza de que era a estrela do Messias. Sua certe-za os levou a Jerusalém, mas, em chegando lá, ninguém sabia lhes dizer nada sobre o Messias. Que decepção para eles! Deve ter sido um grande choque para eles. Vieram de tão longe para adorarem o Messias, e o pró-prio povo, em cujo meio o Salvador nasceu, nada sabia do seu nascimento.

Quando os sábios já estavam quase ao ponto de de-sistirem de tudo e darem meia volta para casa, eis que a segunda estrela começa a brilhar. Deus lhes acendeu a luz de sua Palavra. A bíblia, diga-se aqui AT, lhes mos-

HoMilética: serMão

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trou que eles não estavam enganados. É que eles espera-vam encontrar o novo rei em berço de ouro, no palácio real. Só que a bíblia os levou a Belém, uma pequena vila alguns quilômetros distante da capital. A bíblia lhes mostrou o caminho certo, o endereço onde poderiam encontrar Jesus.

A Palavra de Deus, a bíblia, escrita por homens ins-pirados pelo Espírito Santo, é a mais brilhante estrela que conduz peregrinos pecadores deste mundo a Deus. A natureza, a 1ª estrela, conforme dissemos, nos diz que existe um Deus, mas ela não nos diz QUEM é este Deus. A luz da natureza nos conduz aos nossos pró-

prios pensamentos e idéias. Por isso, a religião natural nunca salvou e nunca salvará ninguém! Quem segue as suas idéias próprias em questões espirituais é como um navegador em alto mar sem bússola. Ele não chegará ao destino.

E Deus nos deu este guia, esta bússola, esta estrela. Mas precisamos usá-la, como um navegador usa a sua bússola. Precisamos ouvir a sua Palavra e nela procu-rar Deus e a vida eterna. A Palavra de Deus é a única lâmpada, não interessa se o mundo pagão e até pesso-as dentro da igreja cristã ou mesmo dentro de famílias cristãs a consideram ultrapassada. Sem a sua luz, as pes-

HoMilética: serMão

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HoMilética: serMão

soas acabam na desilusão, como desiludidos estiveram os sábios do oriente antes de procurarem nas promessas do AT o caminho certo.

Quanto você leu e pesquisou e ouviu a sua bíblia no ano de 2006? Se você comparar o tempo que gas-tou diante da telinha, vendo “abobrinhas”, com o tem-po que a sua bíblia pousou em suas mãos, você pode dizer “Graças a Deus”, que você teve e usou o tempo para crescer no conhecimento da vontade Deus, para assim você poder dar um melhor testemunho de sua fé no Messias Salvador? Ou você foi um desses a quem certo autor num livro chama de “cristãos que envelhe-

cem mas nunca crescem..... porque decidem não crescer”? Andam ain-da, depois de adultos, em sapatinhos de crochê e quando precisam dar um testemunho de sua fé, engasgam por-que não lêem a bíblia.

A Palavra de Deus traz perdão em Cristo, e é só a Palavra de Deus que trata e que fala do perdão. A Pa-lavra de Deus responde perguntas de ordem espiritual. E as que ela não responde, por serem mistérios da fé, estas perguntas Deus nos responderá na eternidade, pessoalmente. A Pa-lavra de Deus nos fortalece a prosse-guirmos adiante, não interessa se so-fremos decepções na vida ou não. A Palavra de Deus nos anima, estimula e conforta nas dúvidas e turbulências da vida presente. Esta é a 2ª estrela de Deus para nós. E esta brilha e ilumi-na a todo aquele que se aproximar de sua luz. Ela não falha para quem nela buscar a luz real e verdadeira em Cristo.

Mas existe uma 3ª estrela, a Es-trela com letra maiúscula, a grande Estrela-Guia, que é o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

“Então Herodes chamou...... (ler de 7 a 12). Nenhuma pessoa, ne-nhum judeu, nenhum sacerdote foi com os sábios quando estes saíram de Jerusalém. Ninguém em Jerusa-lém se preocupou com Cristo, que

tinha acabado de nascer há poucos dias. O único que se preocupou foi o traiçoeiro Herodes. Despertado em seu ciúme e em sua inveja, ele procurou logo matar a criança de Belém, porque achava que era uma amea-ça ao seu reinado. Mas toda a apatia e o desinteresse dos judeus para com Jesus não desanimou os sábios do oriente. Eles o adoraram, se ajoelhando diante dele, tão logo o encontraram, entregando a José e Maria os seus tesouros trazidos de longe, se alegrando com “grande e intenso júbilo”. Tinham estudado e visto muitas es-trelas, mas nenhuma se podia comparar com a Estrela de Belém. E aí foram de volta para a sua terra, para as suas casas, na certeza de terem encontrado o seu Salva-dor. Desta forma, através dos sábios do oriente Deus levou a notícia da vinda do Salvador ao mundo gentio, ao mundo não judeu. E assim este Salvador hoje é co-nhecido por nós gentios também.

A verdadeira Estrela de Belém é Jesus Cristo. É ele que traz a graça e a felicidade de nos sentirmos ama-dos por Deus. Como é estimulante e confortador ou-virmos sempre de novo, entra ano, sai ano, que o Deus que se revelou em Cristo é o Senhor dos senhores, que se compadece de nossas fraquezas.

Todas as estrelas especiais que Deus possa fa-zer brilhar em nossas vidas: Os dedos da natureza que apontam para ele, as alegrias e tristezas que ele venha a nos proporcionar, não levarão a anda, enquanto não formos levados a imitar os sábios do oriente, enquan-to não dobrarmos os nossos joelhos e nos rendermos a ele em fé verdadeira. Não terá sentido conhecermos, como falamos acima, a Palavra de Deus pelo uso diário e constante da mesma por meio da leitura aplicada, en-quanto não acompanharmos em humildade e confian-ça os sábios do oriente e nos dobrarmos diante daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. “Não existe sal-vação em nenhum outro, porque abaixo do céu não foi dado, entre os homens, nenhum outro nome, por meio do qual podemos ser salvos”, At 4.12.

EPIFANIA, dia da manifestação oficial da gra-ça de Deus também aos gentios, é uma festa quase es-quecida dentro da própria igreja luterana.

Olhemos para a natureza: Nela estão registra-das as marcas de Deus e de sua existência. Mas em Cris-to ele revela o seu amor, pelo qual ele nos salva para a vida eterna. Amém.

Curitiba-PR, 7/jan/2007

Rev. Heldo Bredow, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Curitiba-PR

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O dia 6 de Janeiro é o dia Epi-fania, onde é lembrada a vi-

sita dos magos, por isso também chamado de “Natal dos gentios”, ou seja, Natal dos não judeus (Mt 2.1-12). Pois as primeiras manifestações se deram por judeus para judeus. O termo Epifania vem do grego: Ἐπιφάνεια: “manifestação, aparição”.

O dia da Epifania

O dia da Epifania marca a visita dos magos ao menino Jesus. Mas quem eram eles? De onde e quando vieram? Para que vieram? Nos pro-gramas de natal apresentam-se os magos como se eles tivessem vindo logo após o nascimento de Jesus. Mas certamente vieram alguns me-ses depois. Pois Maria e José já não estavam mais numa estrebaria, mas já moravam numa casa. É também provável que eles não eram reis, como diz a tradição, pois a Bíblia não diz isso. Sabemos que eram ma-gos. E magos eram homens sábios que estudavam as estrelas e eram pesquisadores de outras ciências. A tradição também diz que eles eram em número de três, porque foram entregues três presentes. Mas não se tem certeza, podem ter sido mais. Em se tratando de estudiosos, a co-mitiva não dever ter sida pequena. É possível que tenham tido um escolta de segurança. Tradicionalmente os

nomes deles são: Gaspar, Melquior e Baltazar. Mas da veracidade disso também não há certeza.

Diz o Evangelista Mateus (Mt 2.1) que eles vieram do Oriente, mas não diz o lugar exato. É possível que tenha sido da antiga Babilônia, onde hoje fica o Irã e o Iraque. Eles viram uma estrela diferente e a se-guiram. Sabiam que ela indicava o lugar do nascimento de um grande rei e de ser ele o Messias prometido. Mas como sabiam disso? Acontece que, 500 anos antes, o povo de Isra-el viveu 70 anos no cativeiro babi-lônico. Ali construíram sinagogas e cultivaram sua religião. Entre eles estava o profeta Daniel e outros pro-fetas. Daniel era um homem extre-mamente sábio. Ele até foi nome-ado chefe dos sábios da Babilônia. Foi conselheiro de sete reis na Babi-lônia. Foi testemunha fiel do Deus verdadeiro no palácio destes reis que dominaram o mundo na épo-ca. É possível que ele tenha falado de uma estrela que indicaria o nas-cimento de um novo Rei. Ou seja, os sábios da Babilônia conheciam as profecias de Daniel não só a respei-to do futuro dos reis e da história do universo, mas também do fato de o Messias ser o Salvador da humani-dade. A estrela especial lhes deu a convicção de que o tempo tinha se cumprido.

O dia da Epifania é a lembrança

da primeira manifestação de Cristo a um povo que não era de entre os judeus e da primeira demonstração de que Cristo é para todos. É o Fi-lho de Deus dando-se a conhecer ao mundo. É um dia para celebrar a alegria por Deus nos ter condu-zido ao conhecimento do Salvador. E, enquanto aguardamos a manifes-tação da sua glória, no juízo final, importa continuar adorando e tes-temunhando.

Um agravante é que o dia da Epi-fania, 6 de Janeiro, cai num domin-go somente a cada sete anos. E como este dia não é feriado nacional, a tendência é que ele passe desperce-bido e a mensagem dele cause pou-co impacto. Tende a ficar apenas a lembrança do costume, de neste dia, desmontar o pinheirinho de Natal.

A Época da Epifania

Além do dia próprio, comemo-ra-se também a Época de Epifania. É o período que liga o nascimento e a Paixão de Jesus Cristo. O ponto de partida é a visita dos magos ao me-nino Jesus.

Dentro do espírito de manifes-tação, no domingo seguinte ao dia da Epifania é lembrado o Batismo de Jesus. Ele é considerado tão im-portante que os quatro evangelhos Mateus, Marcos, Lucas e João dão destaque para ele. E, para acentu-

OportunidadesA Epifania e suas

Rev. David Karnoppartigo

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 43

ar esta importância, os evangelhos mostram que o céu se abriu e o Es-pírito de Deus desceu em forma de pomba e se ouviu a voz do Pai falan-do do céu. Jesus sendo batizado, o Espírito Santo descendo em forma de pomba e o Pai falando. É a San-ta Trindade unida no batismo. Este grande destaque, dado ao batismo de Jesus, nos convida a refletirmos sobre o valor do batismo para nossa vida. É uma brilhante oportunidade para falar da importância do batis-mo.

Na Epifania também é lembrado o início do ministério de Jesus. As leituras do evangelho para a época falam do seu ministério. Uvm desta-que é o milagre da agua para o vinho no casamento de Caná. Com este milagre “ele revelou a sua natureza divina, e os seus discípulos creram nele” ( Jo.2.11). Este relato não tem a intenção de falar do casamento em si, mas mostrar que obra salvadora de Jesus estava iniciando.

Na Epifania também é destacado o trabalho de João batista, o precur-sor, que apontou para Jesus como “Cordeiro de Deus que tira o peca-do do Mundo”( Jo 1.29). As leituras do Antigo testamento para a época enfatizam o chamado dos profetas. Também neles se vê um destaque na promessa da vinda do Filho de Deus ao mundo. A epístola e os evangelhos enfatizam o chamado e

o ministério dos apóstolos. A Epi-fania culmina com a Transfiguração de Jesus, dia que nos dá uma visão antecipada da glória no céu. Assim, a ênfase desta época é a manifesta-ção de Jesus Cristo como verdadeiro

Deus ao mundo.No Brasil esta é uma época de

férias escolares e trabalhistas. Mui-tos fazem passeios com a família, o que gera um certo esvaziamento dos cultos. É também a época onde

Oportunidadesartigo

44 | Teologia | Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011

a maioria dos pastores tira férias. E como muitas congregações não têm um programa de culto para a ausên-cia do seu pastor, acaba-se perdendo a rica ênfase da Epifania. As ativida-des nas congregações costumam ser retomadas de forma mais intensa na Quaresma. E nela tende a ser enfa-tizada a piedade pessoal e nem sem-pre a obra do Cordeiro de Deus. As-sim, geralmente saltamos do Natal para a Quaresma sem apreciar com profundidade a riqueza da Epifania. A Epifania deveria iluminar o cami-nho da Quaresma para que a peni-tência da igreja tivesse como base o sofrimento de Cristo e seu amor por nós.

Quais as oportunidades que a Epifania nos fornece?

Ou perguntando de outra forma, como aproveitar melhor a riqueza da Epifania? E mais, que papel a igreja tem na epifania do Senhor? O contexto das leituras bíblicas do Lecionário Trienal para a Epifania é extremamente rico. São estas leitu-ras a melhor resposta e nos dão vá-rias orientações.

1. As leituras do Antigo Testa-mento e da epístola destacam o cha-mado e o ministério dos profetas e apóstolos. As leituras dos evange-lhos mostram Jesus chamando seus discípulos para serem pescadores

de homens. É uma grande oportu-nidade para enfatizar a vocação ao pastorado e para falar do chamado e ministério pastoral.

2. Tendo ênfase na manifestação, a Epifania é uma boa oportunida-de para destacar a missão de Deus no mundo. O espírito missionário está muito forte nos relatos das di-ferentes pessoas que Jesus se deu a conhecer a começar pelos magos do oriente. Entre as muitas abor-dagens pode-se dizer que a mani-festação de Cristo é a única possi-bilidade de o ser humano ter acesso a Deus e a vida eterna. E a salvação do pecador só acontece por causa da Epifania do Senhor. Epifania é a manifestação do amor de Deus em Cristo Jesus. Cristo continua se manifestando através da sua Palavra

- Jesus chama seus discípulos

para serem pescadores de homens.

- O espírito missionário está muito

forte nos relatods das di

ferentes

pessoas que Jesus se deu a

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oriente.- Cristo continu

a se manifestando

por meio de sua Palavra.

artigo

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e sacramentos. E, firmados na ação de Deus em Cristo Jesus, todos os cristãos são chamados a manifestar o evangelho em palavras e ações. A longa viagem em lombo de camelos, mostra que os magos não mediram esforços para adorar o menino. Eles sairam do silêncio, contrariando tal-vez todos que os desaconselhavam. Eles tinham um grande propósito em mente: “Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá-lo”(Mt 2.2). A Epifania nos conclama a sair do silêncio da fé e a manifestar ao mundo que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

3. Os cultos da Epifania deve-riam ter a linguagem da manifesta-ção do Senhor e do espírito missio-nário. Há vários hinos onde a ênfase da epifania é muito rica. Na oração geral da igreja de cada culto da epi-fania, pode se orar pelos missioná-rios espalhados pelos mundo e pelo despertar de novas vocações.

4. Epifania é o tempo para reafir-mar o “Cristo para todos”, lema da Igreja Evangélica Luterana do Bra-sil. Dos nossos púlpitos isso devia ser dito com coragem e ouvido com clareza. O “Rei dos judeus”, veio para salvar o mundo todo, não ape-nas os judeus.

5. Lembrando a presença dos magos que vieram adorar o menino, o dia da Epífania é um momento

próprio para falar do fundamento bíblico da adoração. Há uma bri-lhante culminância deste tema no dia da Transfiguração, que encerra a epifania. Lá o assunto pode ser retomado com o propósito do Pai falando de seu Filho: “A ele ouvi” (Lc 9.28-36). É a oportunidade para mostrar que o enfoque princi-pal do culto não está no dar, mas no receber de Cristo. E ele se manifes-ta no culto através da proclamação da Palavra e da administração dos sacramentos Batismo e Santa Ceia. É época para enfatizar nossa parti-cipação na Santa Ceia, na qual Jesus se manifesta dando-nos seu corpo e sangue.

6. No gesto de abrirem seus te-souros e ofertarem generosamente

BibliografiaGARLIPP, Luiz Carlos. Sabiam, vieram, adoraram. In Mensageiro Luterano Jan 1990 p.9 Porto Alegre Concórdia Editora LTDAGEDRAT, Clovis Vitor. A Epifania, a festa da alegria. In Mensageiro Luterano Jan 1989 p.7 Porto Alegre Concórdia Editora LTDAHOFFMANN, Martinho Lutero. O resgate da Epifania. Mensageiro Luterano Jan 1992 p.5 Porto Alegre Concórdia Editora

LTDAKARNOPP, David. A Dinâmica do Culto Cristão. Origem prática e simbologia. Porto Alegre Concórdia Editôra, 2003LINDEN, Gerson. Missão de Deus revela a sua glória em humildade. Preciso Falar 2001 Vol. 1. P 40-41 Porto Alegre: Concórdia

Editora. WEIRICH, Paulo P. A missão de Deus desfaia a igreja a revelar o Cristo em Alegria. Preciso Falar 2002 p.30-31. Porto Alegre:

Concórdia Editora. WINTERLE, Carlos Walter. Epifania: Uma declaração de que Cristo é para todos. Mensageiro Luterano Jan 1992 p. 23 Porto

Alegre Concórdia Editora LTDAWINTERLE, Carlos Walter. Cristo é para todos — na Manifestação gloriosa como Filho de Deus. Mensageiro Luterano Fev

1992 p. 23 Porto Alegre Concórdia Editora LTDA

seus presentes, o dia da Epifania pode ser oportunidade para falar da oferta cristã que nasce do amor de Deus. Aquele que crê em Cristo como seu Salvador, não há de ficar passivo diante do amor de Deus e há de se prostrar e adorar ao seu Criador e lhe ofertar o melhor da sua vida.

Em todas as suas manifestações, Jesus mostrou ao povo que é o Filho de Deus, o Cordeiro Deus que veio ao mundo trazer salvação a todos. Que o amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus, nos encha de ale-gria para adorar, ofertar e testemu-nhar.Rev. David Karnopp, pastor da Igreja Evangélica Lute-rana do Brasil em Vacaria-RS e membro da Comissão

de Culto da IELB

HoMilética: serMão

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Natal é uma das principais festas na cristan-dade. A única festa que tem três cele-

brações num período de vinte e quatro horas: vésperas, culto matinal de Natal e o culto de Natal propriamente dito; além das celebrações devocionais nos lares. Em nosso meio, os dois eventos mais conhecidos e celebra-dos são: a noite de Natal, com o programa das crianças, e o culto de Natal.

Encarnação

O grande destaque nas celebrações, nas quais fes-tejamos o nascimento de Jesus Cristo em Belém da Judéia, é a doutrina da encarnação de Jesus. O Filho de Deus, Jesus Cristo, assumiu, da virgem Maria, nossa natureza humana e tornou-se nosso irmão na carne a fim de salvar a humanidade do pecado, da morte e da eterna condenação. Essa verdade é ensina-da em toda a Escritura e foi proclamada aos pastores pelo anjo: “Eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”(Lc 2.10,11).

Principais Leituras Bíblicas

As principais leituras bíblicas para o dia festivo de Natal são: Vésperas: Sl 96.1-10; Is 9.2-7; Tt 2.11-14; Lc 2.1-20; culto matinal: Sl 98.1-7 (Sl 2); Ez 37.24-28 (Is 52.7-10); Tt 3.4-8 (Hb 1.1-9); Jo 1.1-14; cul-to de Natal: Sl 98.1-7; Mq 5.2-4 (Is 62.10-12); Hb 1.1-5 (Tt 3.4-7) Lc 2.1-20. Vale a pena ler e meditar sobre esses textos para inteirar-se do espírito de Na-tal. Além disto, é importante relembrar as principais passagens que falam diretamente sobre a encarnação de Cristo: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”(Gl 4.4). “Aquele que foi manifestado na carne, foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”(1 Tm 3.16). “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus envian-do o seu próprio Filho em semelhança de carne pe-caminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, con-denou Deus, na carne, o pecado em sua carne”(Rm

Rev. Horst Kuchenbeckerartigo

O Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.A encarnação do Verbo, João 1.1-141

1No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2Ele estava no princípio com Deus. 3Todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. 4A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens. 5A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.

6Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João. 7Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. 8Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, 9a saber: a verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem.

10Estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. 11Veio para o que era seu, e os seus não o

1 Texto da Bíblia Almeida Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil (www.sbb.org.br)

receberam. 12Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome; 13os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

14E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.

O testemunho de João Batista, 1.15-18

15João testemunha a respeito dele e exclama: Este é o de quem eu disse: O que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, por-quanto já existia antes de mim.

16Porque todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça so-bre graça. 17Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. 18Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.

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8.3). A palavra “encarnação” significa “tornar-se car-ne,” isto é, vir a ser pessoa humana, sem degradar ou perder algo de sua natureza divina. O apóstolo Pau-lo acentua aos filipenses: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus, ...” (Fp 2.5-11). Todos os atributos essenciais de Deus são atribuídos, na Bí-blia, também a Jesus Cristo como homem. Confira ainda: Gl 4.1-7; Cl 1.13-17; 2.9; Hb 2.14-18; 2 Pe 1.2.

Texto dos Evangelhos

Os textos dos evangelhos merecem atenção especial. Três evangelhos contam a história do nascimento de Je-sus: Mateus, Lucas e João. Marcos apresenta Jesus com a idade de 30 anos, ao iniciar o seu ministério público. Ao lermos os evangelhos, precisamos ter em mente que o autor dos mesmos é Deus Espírito Santo. O Espírito Santo, ao usar os evangelistas para relatarem sobre a vida de Jesus, teve um propósito definido: dizer o que

O Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.(Jo 1.14)

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precisamos saber para nossa sal-vação. Por isso, se um evangelista relata um fato e o outro não, ou um relata um fato de um ângulo e outro evangelista de outro ângulo, tudo isso serve para nos tornar sá-bios para a salvação. Não nos cabe especular sobre o porquê de um fato e o não de outro, ou tentar preencher lacunas. O evangelista Mateus traz a genealogia de José (Mt 1.1-17). Ele escreve para os ju-deus e acentua o cumprimento das profecias. O evangelista Lucas traz a genealogia de Maria (Lc 3.23-38) (Obs.: Comparando as duas genealogias nos deparamos com diferenças. Qual a explicação? A explicação mais provável é de que Lucas traz a genealogia de Maria. E que a frase: “Como se cuidava, filho de José”(Lc 3.23), tem o sig-nificado: “Como o povo supunha ser filho de José”, e não quer dizer especificamente que esta genealogia é a de José.) Mateus e Lucas destacam a pessoa humana de Jesus. O evange-lista João acentua a divindade de Jesus. O prólogo de seu evangelho é o trecho mais belo sobre a encarnação de Jesus Cristo, resumido, claro e maravilhoso.

Prólogo, João 1.1-14

As palavras introdutórias do evangelho de João, chamadas de prólogo, são fundamentais para a com-preensão de todo o evangelho. Nessas palavras, o evangelista João chama atenção sobre a pessoa de Cristo e o profundo mistério de sua encarnação, o Deus homem. Nossa razão não pode compreender esse mistério divino. Por isso nos aproximamos desse texto divino com a humilde súplica de que Deus Espí-rito Santo nos ilumine e nos firme na fé.

O prólogo destaca oito pontos: a) A divindade do Verbo (v.1); b) O Verbo, o Criador (v.3); c) A vida que está no Verbo (v.4); d) O Verbo, a luz do mundo (v.5); e) O Verbo que veio para o que era seu (v.11-13); f ) O Verbo que se tornou carne (v.14); g) O Ver-bo que revela a Deus (v.18); h) O testemunho de João a respeito do Verbo (v.15).

O Verbo (v.1)

Nos primeiros cinco versículos, o evangelista João fala sobre Jesus, a quem chama de Logos, uma palavra grega que, traduzida, significa: Palavra ou Verbo. Mas a palavra grega significa mais do que diz a simples tra-dução em português. Uma palavra é uma idéia expressa pela combinação de sons e letras. Sem a idéia ou o con-ceito sobre a palavra, as simples letras são vazias e inex-pressivas. Tomemos, por exemplo, a sigla: IELB. Um estranho pode tentar reproduzir os sons destas letras, mas isso nada significará para ele, se ele não for infor-mado sobre o significado dessas letras, a saber: Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Assim também uma palavra estrangeira. Ela pode ser pronunciada por al-guém, mas se ele não for informado a respeito da idéia e do conceito que a palavra encerra, ela nada significará para ele. Isto acontece também com a palavra “Logos”. Logos é um termo técnico da filosofia grega, e significa: a razão controladora do universo, a mente que controla e dá sentido ao universo. “Logos” na filosofia grega era o conceito mais puro e último da inteligência, a razão ou vontade que era chamado deus, mas um deus im-pessoal.

Ao traduzirmos a palavra “Logos” do prólogo de

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João, não podemos colocar nela simplesmente o conte-údo da filosofia grega, mas é preciso ver o significado que o evangelista João dá a esta palavra no seu evangelho. A palavra “Logos” deve ser com-preendida na luz da pessoa de Cristo. Com Jesus de Naza-ré começou uma nova vida, uma nova razão e esperança de vida, que o mundo pagão não conhecia. Aqui cabe uma observação: Muitos gostam de falar numa nova filosofia de vida. De certa forma pode-mos falar em filosofia de vida. Mas como a filosofia é algo que o homem desenvolve, não gostamos de usar a palavra fi-losofia. Realmente Cristo não nos trouxe uma nova filosofia de vida, mas vida nova.

A grande pergunta, ainda hoje muito atual, com a qual o evangelista João se de-fronta, é: Quem é Jesus Cristo? É ele o melhor dos ho-mens, um espírito evoluído (espiritismo), que deve ser admirado e seu exemplo seguido ou é ele o verdadeiro Deus que deve ser adorado? É ele o maior de todos os profetas (Islã e Testemunhas de Jeová) ou o Salvador da humanidade? É nossa atitude para com ele, nosso caráter ou nossa fé em Cristo que determinará o nosso destino eterno?

Estas perguntas João responde no evangelho como um todo e no prólogo de forma sucinta, clara e objeti-va ( Jo 1.1-18). Vamos, pois, analisar esta maravilhosa exposição, dentro do contexto do evangelho e de toda a Escritura.

A) A divindade do Verbo (v.1)A primeira afirmação a respeito do Verbo é que ele

é Deus eterno. João diz: “No princípio era o Verbo.” Isso lembra o que está escrito no início da Bíblia: “No princípio.” A pergunta que João enfoca não é: O que era no princípio, mas: Desde quando existe o Logos, o Verbo? E a resposta é: No princípio, quando o tempo começou, quando o relógio começou a fazer tique-ta-

que — se assim o podemos dizer — o Verbo já existia. O Verbo é o Deus que fala no princípio: “Disse Deus” (Gn 1.3). “Façamos (plural) o homem (Gn 1.26). “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus”(Hb 11.3). “Os céus por sua palavra se fize-ram ... Pois ele falou, e tudo se fez”(Sl 33.6,9). Jesus, o Verbo, estava com o Pai e o Espírito Santo quando a boa notícia da salvação foi anunciada a Adão e Eva (Gn 3.15). O apóstolo Paulo escreveu: “Ele é antes de todas as cousas”(Cl 1.17). Em Hebreus lemos: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser”(Hb 1.3).

“O Verbo estava com Deus.” Jesus Cristo não é um princípio impessoal, não é um atributo de Deus. A pala-vra “com” relaciona duas pessoas. Jesus é uma persona-lidade viva, inteligente, ativa, que se relaciona, que fala. No grego, a palavra Deus neste versículo é usada aqui a primeira vez sem artigo, isso enfatiza a qualidade do ser Deus; e na segunda vez com artigo, para enfatizar o indivíduo: Jesus, como pessoa divina. Jesus, o agente na criação, como pessoa própria, estava com Deus.

“O Verbo era Deus.” João dá mais um passo. Ele afirma: “Jesus, o Verbo era Deus.” Não era algo dife-rente ou inferior a Deus, mas ele próprio era Deus. E ele é Deus não somente para os homens, mas para toda a criação. Ele não é simplesmente o começo, ele está no começo. Ele não estava somente com Deus, ele era Deus. Por isso confessamos na explicação do Segundo Artigo do Credo Apostólico: “Jesus Cristo é verda-deiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade (Sl 2.7; At 13.33; Hb 1.5; 5.5) e também verdadeiro homem, nascido da virgem Maria, é meu Senhor.” Alguns que-rem relacionar o salmo 2.7 ao versículo 6, dizendo que “gerar” é sinônimo de empossar como rei. Tal exegese é impossível. Nenhuma artimanha exegética pode tirar a força e a clareza dessas palavras.

Que maravilha! Jesus Cristo, nosso Salvador, é ver-dadeiro Deus. A ele seja toda a honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.

B) O Verbo, o Criador (v.3)“Tudo foi feito por intermédio dele, e sem ele nada

do que foi feito se fez”(v.3). Jesus é o criador do mundo, do universo. O apóstolo Paulo reafirma isso ao escre-ver: “O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza

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da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim.”(Cl 1.26-29). “E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça de todas as cousas, o deu à igre-ja” (Ef 1.22). O salmista declara: “Ele falou, e tudo se fez.”(Sl 33.9). A palavra “tudo” está relacionada ao uni-verso, e inclui todos os elementos e sistemas de leis, a ordem que rege o universo. As palavras “foram feitas”, podemos traduzir também por “vieram a ser,” que é uma tradução mais exata. O verbo grego (aoristo) ex-pressa uma ocorrência, um evento, não um processo. O evangelista João não está interessado em falar sobre o método usado na criação, mas sobre o fato da criação. O verbo “era”, no imperfeito, mostra a duração em con-traste com o verbo existir. O Verbo, o Criador é eterno; a matéria, o universo é temporal.

A obra da criação é obra da Trindade. Lemos na car-ta aos hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem consti-tuiu herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expres-são exata do seu Ser, sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder.”(Hb 1.1-3).

Verbo não criou somente o universo, ele também o sustenta. Em sua grande passagem cristológica, o apóstolo Paulo afirma: “Pois nele foram criadas todas as cousas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisí-veis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”(Cl 1.16).

Muitos estudiosos da Bíblia vêem na afirmação do rei Salomão, que “personifica a sabedoria,” uma refe-rência à pessoa de Cristo: “O Senhor me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra ...” (Pv 8.22-31). Aqui é des-crita uma pessoa, a sabedoria, que está com Deus desde o começo e participa com Deus Pai na criação. Lutero e outros acreditam que esta pessoa, a sabedoria, é Cristo.

Que maravilha! Jesus Cristo, nosso Salvador, é o criador e mantenedor do universo. A ele seja toda a honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.

C) A vida que está no Verbo (v.4)“A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.”

O que é vida? Pensamos nos seres animados, na vida vegetal e animal, mas a palavra “vida”, usada pelo evan-gelista João 54 vezes no seu evangelho, refere-se à ver-dadeira vida no seu sentido pleno. É a vida que Adão e Eva possuíram antes da queda em pecado. Eles foram criados com a Imagem Divina, que consistiu “no bem--aventurado conhecimento de Deus, perfeita justiça e santidade.” Isto era vida. Verdadeira vida é vida em co-munhão com Deus. E a verdadeira vida estava no Ver-bo. O imperfeito da forma verbal não caracteriza um fato histórico passado, mas que Jesus é a fonte eterna da verdadeira vida. Verdadeira vida só existe em Deus, em Jesus Cristo. Fora da comunhão com Deus, não há verdadeira vida.

“E a vida era a luz dos homens.” Esta luz não é uma capacidade racional, mas “a que ilumina a todo o homem.” Em que sentido? O termo “trevas” no versículo 5 aponta para o conflito en-tre a luz e as trevas. Trevas lembram o mundo caído em pecado. Deus criou tudo perfeito. Mas um grupo de anjos se rebelou contra Deus e Deus os con-denou ao inferno. A Escritura afirma: “Aos anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandona-ram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eter-nas, para o juízo do grande dia”( Jd 6). Esses anjos aproveitaram sua liberdade condicional e tentaram os primeiros homens. E Adão e Eva, de livre e es-pontânea vontade, deixaram-se sedu-zir e desobedeceram a Deus. Caíram em pecado e nas trevas. O homem, despido da imagem divina, está des-qualificado para viver em comunhão com Deus. Após a queda em pecado, os homens foram expulsos da presen-ça de Deus, do paraíso. Desde lá nas-cemos com o pecado original. “O pe-cado original é a completa corrupção de toda a natureza humana, privada da justiça original, inclinada para todo o mal, sujeita à condenação.” Somos

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incapazes de nos regenerarmos por esforço próprio. Mesmo que alguém se esforce e adquira honrosa justiça diante dos homens, a ponto de ser considerado homem bom e reto, diante dos olhos de Deus o homem per-manece pecador, “morto em seus delitos e pecados”(Ef 2.1,5). Precisamos de um salvador, de uma força sobre-natural para sermos salvos da ruína eterna. O relato de Gênesis 1.1-3, mostra que as trevas cósmicas foram substituídas por ordem divina pela luz, ao Deus dizer: “Haja luz!” Isto é o pano de fundo para a encarnação do Verbo. João mostra que este mundo precisava do Verbo para remover as trevas do pecado. O mundo é incapaz de salvar-se a si próprio. Em seu grande amor para com a humanidade, Deus veio a Adão e Eva e lhes prometeu salvação. O profeta afirma: “As misericórdias do Se-

nhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22). Deus amou o mundo e enviou o seu Filho unigênito para remover as trevas. A vida do Verbo trouxe luz e esperança. Esta vida é a luz dos homens. Não luz natural, mas a graça de Cristo, o perdão dos pecados que reestabeleceu a verdadeira vida em comunhão com Deus e a esperança da vida eterna a todo o que crê. Maravilhado, João es-creve: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está jul-gado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.”( Jo 3.16-18).

A palavra “verdade” refere-se à verdade em contraste ao erro. A mesma palavra “verdade” é usada a respeito de Deus em Jo 17.3: “E a vida eterna é esta: que te co-nheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Por isso a oração de Jesus: “Santifica--os na verdade; a tua palavra é a verdade”( Jo 17.17).Te-mos a capacidade de ler a Bíblia e até considerá-la como uma verdade. Mas aceitar como a verdade e confiar nela plenamente, só pela iluminação do Espírito Santo, que atua pela palavra. Daí a oração: “Santifica-nos na verda-de.” A ênfase está no caráter último do ser Deus, que é a verdade. Do Verbo provém a verdadeira iluminação espiritual, o verdadeiro conhecimento de Deus, de sua graça e do seu amor. A verdadeira sabedoria é conhe-cer a Cristo e confiar nele. Este tem a verdadeira vida, a vida eterna. O apóstolo Paulo afirma: “Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justi-ça, e santificação, e redenção”(1 Co 1.30).

Que maravilha! Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nosso Salvador, trouxe de volta a verdadeira vida, o perdão dos pecados, pelo qual temos paz com Deus e a esperança da vida eterna. A ele seja toda a honra e o todo o louvor, agora e sempre. Amém.

D) O Verbo, a luz do mundo (v. 5)Nos versículos 6 a 9, o evangelista João descreve a

vinda de Cristo, o Verbo, ao mundo e sua humanação. Contemplamos o Verbo como o eterno, agora João fala da encarnação do Verbo no tempo. O apóstolo Pau-lo escreveu a respeito: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher,

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nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, por-que vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.”(Gl 4.4,5). João relaciona a missão de João Batista com a vinda do Verbo. João Batista foi enviado para preparar o cami-nho para Cristo, a perfeita “luz do mundo.” A palavra mundo é usada 72 vezes no evangelho de João. Aqui o termo mundo é aplicado ao envolvimento espiritual e material, no qual vive a humanidade. O Verbo entrou na estrutura da vida do mundo e tomou parte dela.

Cristo veio ao mundo durante o reinado de Cesar Augusto. Jesus viveu 30 anos com seus pais, nos deve-res domésticos. Aos trinta anos começou o seu minis-tério profético e sacerdotal propriamente dito. Atuou três anos na Palestina, locomovendo-se entre Jerusalém e a Galiléia, ensinando, curando e revelando-se como o Messias prometido, o Filho de Deus. Mas o mun-do, tanto judaico como gentílico, conforme relatam os evangelhos, só tomou conhecimento superficial de Cristo. Mesmo seus discípulos custaram a compreen-der a pessoa e obra de Cristo. Só a compreenderam a partir de Pentecostes (At l.7).

Que maravilha! Jesus Cristo, verdadeiro Deus e ho-mem, trouxe luz para o meio das trevas. “Agora temos salvação de graça e por bondade.” A ele seja toda a hon-ra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.

E) O Verbo veio para o que era seu (v.11-13)

Os versículos 11 a 13, ampliam ainda mais o termo “mundo,” como sinônimo da humanidade, e ao mesmo tempo o individualiza. “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”(v.11). Os indivíduos que com-põem o mundo, que são suas criaturas necessitadas, às quais Jesus veio salvar, não lhe deram as boas vindas. Sendo Jesus o Criador do mundo, quando ele nasceu, veio para o que lhe pertencia (Cf.: Jo 16.32; 19.27). Ele “veio para o seu próprio lar.” Mas mesmo seu próprio povo, os judeus, povo formado e escolhido por Deus, não o recebeu. A idéia de “vir ao que era seu” é a ex-pressão que Jesus usou nas parábolas do administrador infiel (Mt 21.33-46; Mc 12.1-12; Lc 20.9-16). Cristo foi aceito pelos samaritanos ( Jo 4), foi procurado pelos gentios gregos ( Jo 12.20), mas foi rejeitado pelos repre-sentantes oficiais do seu povo. Bem atesta o apóstolo Paulo: “Nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo

para os judeus, loucura para os gen-tios”(1 Co 1.23).E conclui: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem fei-tos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome (v.12).” Isto é um ato da misericórdia de Deus. Crer na graça de Cristo é a chave para ser recebido pelo Verbo que veio ao mun-do.

Que maravilha! Todo aquele que nele crê tem perdão dos peca-dos. E onde há perdão dos pecados, há também vida e eterna salvação. A ele seja toda a honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.

F) O Verbo que se tornou carne (v.14)

Nos versículos 14 a 18, o evangelista João fala especificamente da encarnação do Verbo. O versículo 14, mesmo curto, é rico em conteúdo e contém assunto sufi-ciente para um livro. O eterno Filho de Deus, nosso Salvador, aceitou a natureza humana para salvar os pecadores. Isso não foi uma meta-morfose, como de uma lagarta que se transforma em borboleta. O divino uniu-se à natureza humana, o infinito ao finito. Esse é o grande mistério da huma-nação de Cristo.

O versículo 14 é chave do prólogo. A palavra Verbo, neste versículo, é conectada com a palavra Verbo dos versículos 1 e 2. O primeiro versículo fala da natureza eterna do Verbo e de seu relacionamento com Deus; o v.14 fala do relacionamento do Verbo com o mundo dos homens. Jesus, o eterno e majestoso Filho de Deus, assume a natureza humana visível, audível e tangível. Lemos em Hebreus: “Visto, pois, que os filhos tem participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse a todos que, pelo pavor da morte, esta-vam sujeitos à escravidão por toda a vida”(Hb 2.14,15). Jesus tornou-se homem como nós em todas as cousas, exceto o pecado. Como nós, ele nasceu de mulher, da virgem, conforme o anjo anunciara a Maria: “Descerá

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sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também

o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus.”(Lc 1.35; Is 7.14). O Es-

pírito Santo, “que com sua sombra envolve Maria”, não gera o Filho, não é o Pai de Jesus, mas o espí-

rito criador que atua em Maria. Lucas relata que, tal como nós, ele cresceu corporalmente “em estatura e

sabedoria” (Lc 2.52). Tal como nós, ele passou fome, sede, comeu, bebeu, dormiu, estava cansado, sentiu

dor, alegria, maravilhava-se e tinha compaixão. Ele brincou, leu a Escritura, sofreu, foi tentado, der-

ramou seu sangue, morreu e foi sepultado, ressuscitou e subiu ao céu.

“O Verbo habitou entre nós.” A palavra “habi-tar”, no original, lembra o “tabernáculo,” no qual

Deus habitou no meio do seu povo Israel, no Antigo Testamento. O evangelista João, no seu livro de Apocalipse, aponta para Jesus e o chama de “o tabernáculo de Deus entre os homens”(Ap 21.3). Ta-bernáculo é uma tenda. A palavra taber-

náculo é usada somente 5 vezes no Novo

Testamen-to: Jo 1.14

(habitação); Ap 2.13; 12.12;

13.6; 21.3; duas vezes se refere a Deus. Assim como

no Antigo Testamento, Deus estava presente entre o seu povo, no tabernácu-

lo, de dia na nuvem e de noite na coluna de fogo (Nm 14.14), para o guiar. Jesus veio ao mundo para es-tar no meio da humanidade, como nosso irmão na car-ne, para a salvar e guiar ao lar celestial.

O Verbo se tornou carne. Essa união é definitiva para toda a eternidade. A partir da concepção, em nenhum momento estas duas naturezas, a divina e a humana unidas na pessoa de Cristo, se separaram. Jesus sempre foi, em todos os momentos, mesmo nos momentos da mais profunda humilhação, como na sua concepção ou crucificação, verdadeiro Deus. Como também o é agora, no seu estado de exaltação, sempre verdadeiro homem. Para compreendermos isto — até onde nos é possível captar esse mistério com a razão — precisamos lembrar em que consistiu a humilhação e a exaltação de

Cristo. “A humilhação de Cristo, que iniciou com sua concepção e foi até o seu sepultamento, consistiu em Jesus não ter usado sempre e inteiramente a majestade divina, comunicada à sua natureza humana.” A Escri-tura afirma: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Jesus Cristo, pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou assumindo a forma de servo”(Fp 2.5-8). “E a exaltação de Cristo, que iniciou com sua descida ao inferno, para proclamar sua vitória, e consiste em ele usar sempre e inteiramen-te a majestade divina comunicada à sua natureza hu-mana.” A Escritura afirma: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai”(Fp 2.9-11). (Definições do Cate-cismo Menor). Esta união das duas pessoas, a divina e a humana numa só pessoa, e a comunicação de suas qua-lidades uma à outra é um dos grandes mistérios da reli-gião cristã. Esse mistério não pode ser desvendado pela razão humana, nem serve para especulações, só pode ser aceito por fé.

Essa habitação de Cristo no mundo entre os ho-mens foi reconhecida pelos discípulos. João escreve: “E vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”(v.14). “Vimos,” quer dizer observamos. Isso é mais do que um simples golpe de vista. A vida de Jesus foi observada e examinada nas mais diferentes situações. Todas as observações possíveis foram dadas por Cristo a seus contemporâneos.

E João dá o seu testemunho bem pessoal: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça so-bre graça.” ( Jo 1.16). E Pedro confessou: “Tu és o Cris-to, o Filho do Deus vivo”(Mt 16.16). Em sua carta João testemunha: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anun-ciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada, o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente man-tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo”(1 Jo 1.1-3).

Aqui precisamos levantar mais uma pergunta: Por que o nosso Salvador tinha que ser verdadeiro Deus e

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verdadeiro homem? Nosso Catecismo responde à base da Escritura: “Nosso Redentor tinha quer ser verdadei-ro homem, para que, como substituto de todos os ho-mens, pudesse cumprir a lei, padecer e morrer.” A Escri-tura afirma: “Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igual-mente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”(Hb 2.14). Por que nosso Salvador tinha que ser verdadeiro Deus? “Nosso Redentor tinha que ser verdadeiro Deus, para que pudesse expiar a ira de Deus e vencer o peca-do, a morte e o diabo.” A Escritura afirma: “Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate, pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre”(Sl 49.7,8).

Para salvar a humanidade, nosso Salvador tinha que ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Por isso o Verbo se tornou carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.”

Que maravilha! Jesus desceu do céu e tornou-se nos-so irmão na carne. E como nosso substituto cumpriu a lei, pagou a nossa dívida e nos libertou de nossos inimi-gos: pecado, morte e Satanás. A ele seja toda a honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.

G) O Verbo, que revela a Deus (v.18)O clímax do prólogo está no versículo 18. “Nin-

guém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” Deus é invisível. A essência da divindade nunca poderá ser vista por um ser humano. Como Deus havia dito a Moisés: “Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá” (Êx 33.20). Mas o caráter de Deus pode ser visto no Filho, é a plena expressão da vida e do amor do Pai. A expressão “no seio do Pai,” revela a união e o amor entre o Pai e o Filho. A natureza invi-sível e misteriosa de Deus é revelada é trazida à luz por um que é qualificado para fazê-lo, o Filho de Deus.

Ao Deus revelar-se em seu unigênito Filho, Jesus Cristo, ele o fez “ao contrário”, isto é, de uma forma não esperada. Ele veio pobre, fraco, e morreu numa cruz.

Por isso o apóstolo afirma: “Certamente a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: “Des-truirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligên-cia dos entendidos.” Onde está o sábio? onde o escriba? onde o inquiridor deste século? Porventura não tor-nou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que crêem, pela loucura da pregação. Porque tanto os ju-deus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que fo-ram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a

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fraqueza de Deus é mais forte do que os homens”(1 Co 1.18-25). Hoje ele vem a nós por sua palavra, quando retamente ensinada, e por seus sacramentos, quando administrados conforme instituídos.

Estas duas verdades: que o verdadeiro Deus é um só Deus em três pessoas e que Jesus Cristo, a segunda pes-soa da Trindade, é também verdadeiro homem, nasci-do da virgem Maria, nosso único e suficiente Salvador, distinguem a religião cristã de todas as outras religiões.

Que maravilha! Jesus nos revela o profundo amor do Pai, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. A ele seja toda a honra e todo o louvor, agora e para sempre. Amém.

O testemunho de João a respeito do Verbo (1.15-18)

O prólogo fala de três tempos relacionados com o

Verbo: 1) O Verbo na eternidade; 2) o Verbo que nas-ceu em Belém e recebe o nome de Jesus; e 3) o início do ministério do Verbo aos 30 anos. João Batista recebe não menos do que seis versículos no Prólogo, descre-vendo o seu relacionamento com o Verbo.

O aparecimento de Jesus de Nazaré na Palestina não foi um evento repentino. Ele foi anunciado por muitos profetas durante um período de 4 mil anos, conforme relata o Antigo Testamento. Vale a pena conferir as principais profecias a respeito da pessoa e obra de Jesus Cristo. (Gn 3.l5; 12.1-3; 49.10; Nm 24.17; Dt 18.15; 2 Sm 7.12; Sl 2; 110.1; Is 7.14; 11.1,2; 9.6; 28.16; 42.1; 52.13; 53; 60.1,2; Jr 23.5,6; Ez 34.23; Zc 9.9; Ml 4.2) O último profeta foi Malaquias. Então seguiram-se 400 anos de silêncio. Após o que surgiu João Batista que levantou sua voz nas proximidades do rio Jordão e clamou: “Está próximo o reino de Deus.”(Mt 3.2). João Batista recusou ser identificado como Cristo, a luz do mundo. João testemunhou: “Este é o de quem eu disse: O que vem depois de mim tem, contudo, a primazia, porquanto já existia antes de mim”(v.15). E outro dia, vendo a Jesus, apontou para ele e exclamou: “Eis o Cor-deiro de Deus que tira o pecado do mundo”(v.29).

João Batista tinha discípulos os quais ele dirigiu para Jesus. João e André estavam entre eles. Em cone-xão com o seu testemunho a respeito do Verbo, afirma: “Pois eu de fato vi, e tenho testificado que ele é o Filho de Deus” (v.34). Este é um dos muitos testemunhos que João dá em seu evangelho. Diante disso a cristan-dade confessa no Credo Ecumênico, chamado Atana-siano (ano 451 AD):

“Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã.

Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente. E a verda-deira fé cristã é esta, que honremos um único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundindo as pessoas nem dividindo a substância divina. Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espíri-to Santo; mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus, iguais em glória e majestade eterna. Qual o Pai, tal o Filho e tal o Espírito Santo. O Pai é incria-

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do, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. O Pai é incomensurável, o Filho é incomensurável, o Es-pírito Santo é incomensurável. O pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. Contudo não são três Eternos, mas um único Eterno. Do mesmo modo não são três Incriados, nem três Incomensuráveis, mas um único Incriado e um único Incomensurável. Da mesma maneira, o Pai é todo-poderoso, o Filho é to-do-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso; con-tudo, não são três Todo Poderosos, mas um único Todo-Poderoso. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; todavia, não são três Deuses, mas um único Deus. Deste modo o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; entretanto, não são três Senhores, mas um único Senhor. Visto que, segundo a verdade cristã, nos importa confessar cada pessoa por sua vez como sendo Deus e Senhor, é-nos proibido pela fé cristã dizer que há três Deuses e três Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem cria-do, nem gerado. O Filho provém apenas do Pai, não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado pelo Pai e pelo Filho, mas deles procede.

Logo, é um único Pai, não são três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade nenhuma pes-soa é anterior ou posterior, nenhuma maior ou menor; mas todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que, como foi dito, em tudo seja honra-da a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade. Portanto, quem quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade. Entretanto, é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é, portanto, a fé verdadeira: crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e Homem. É Deus da substân-cia do Pai, gerado antes dos tempos, e Homem da subs-tância de sua mãe, nascido no tempo; Deus perfeito e Homem perfeito, subsistindo em alma racional e car-ne humana. Igual ao Pai segundo a divindade e menor do que o Pai segundo a sua humanidade. Ainda que é Deus e Homem, nem por isso são dois, mas um único Cristo, um só, não pela transformação da divindade em humanidade, mas mediante a recepção da humanidade na divindade. É, de fato, um só, não pela fusão das duas substâncias, mas por unidade de pessoa. Pois, assim como corpo e alma racional constituem um único ho-mem, Deus e Homem é um único Cristo, o qual pade-

ceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos. Subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. E quando vier, todos os ho-mens hão de ressuscitar com os seus corpos e dar contas de seus próprios atos, e aqueles que fize-ram o bem irão para a vida eterna, mas aqueles que fizeram o mal, para o fogo eterno. Esta é a verdadeira fé cristã. Aquele que não crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.”

Este é o poderoso testemunho do evange-lista João no prólogo do seu evangelho. Jesus Cristo é o verda-deiro Filho de Deus, igual ao Pai e ao Es-p í r i t o S a n t o em poder e majestade, que veio ao mundo e se encarnou na virgem Maria. Desde a concepção é, agora, verdadeiro Deus e verdadeiro homem uma só pessoa. E hoje, glorificado, enche como homem céus e terra. O Pai deu-lhe todo o poder sobre céu e terra. Ele virá um dia em glória para julgar vivos e mortos. “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas”(Ap 22.14).

Por isso, escreve João no evangelho: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”( Jo 17.3). E Jesus diz: “Bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço”(Mt 11.6). E: “Bem-aventurado são os que ouvem a palavra de Deus e a guarda!”(Lc 11.28).”

Que maravilha! Que Deus em sua graça nos fortaleça a fé no Salvador Jesus. A ele seja toda a honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.

Conclusão

Você crê isso? Talvez você dirá: Quem me dera, pudesse? Mas isso tudo vai contra minha razão. É verdade. Por isso, o apóstolo João afir-ma: “Veio para o que era seu, e os seus não o re-

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Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 57

ceberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”( Jo 1.11,12). Confessamos na exposi-ção do terceiro Artigo do Credo Apostólico: “Creio

que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, ilumi-nou com seus dons, santificou e conservou na verda-deira fé.” Por sermos espiritualmente cegos, mortos

e inimigos de Deus, não aceitamos essa palavra

de Deus nem con-fiamos nela. É

preciso que Deus Espí-rito Santo

nos ilumine, nos convença de

nossa pecaminosi-dade e nos faça reco-

Oração — Te Deum Laudamus

nhecer a Jesus, o Filho de Deus, como nosso único e suficiente Salvador e confiar nele plenamente. E ele opera esta fé nos que não lhe resistem obstinadamen-te. Esta fé se apega à palavra escrita, quer o compre-endamos ou não, quer o sintamos ou não. O Espírito Santo nos mostra que a palavra é confiável. Haverá tentações, lutas, dúvidas, mas o Espírito Santo nos ampara, para voltarmos sempre à palavra e deposi-tar nela nossa confiança. Com ela podemos apagar as setas inflamadas do maligno (Ef 6.16). Quando alguém chega a esta convicção, ele sabe, “não foi por minha inteligência que cheguei a este conhecimento e convicção, mas foi a graça de Deus Espírito Santo que me regenerou.” E quando alguém se perde pre-cisará confessar: Eu não quis. Confessamos no Cre-do Apostólico: “Nesta cristandade perdoa a mim e a todos os crentes diária e abundantemente todos os pecados, e no dia derradeiro me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os cren-tes em Cristo a vida eterna. Isto é certamente verdade. Amém.

Rev. Horst Reinhold Kuchenbecker, Igreja Evangélica Luterana do Brasil

Tu, quando venceste o aguilhão da morte, abriste a todos os fiéis o reino celeste.

Tu, à mão direita de Deus, estás sentado na glória do Pai. Cremos que virás ser nosso Juiz.Portanto te suplicamos socorras a teus servos,aos quais com teu precioso sangue redimiste.Faze com que o número de teus santos sejam contados na

glória sempiterna.Ó Senhor, salva teu povo e abençoa a tua herança.Governa-o e exalta-o perpetuamente.Dia após dia a ti magnificamos;E glorificamos teu nome pelos séculos dos séculos.Digna-te, ó Senhor, conservar-nos hoje sem pecado.Ó Senhor, tem misericórdia de nós, tem misericórdia de

nós.Ó Senhor, seja sobre nós tua misericórdia, pois em ti está

toda a nossa confiança.Em ti, ó Senhor, tenho confiado, não me deixes jamais ser

confundido. Amém.

A ti, ó Deus, louvamos, e por Senhor nosso confessamos.A ti, ó eterno Pai, adora toda a terra.A ti clamam todos os anjos, os céus e todas as suas

potestades;A ti os querubins e os serafins continuamente bradam:santo, santo, santo, Senhor Deus dos Exércitos;os céus e a terra estão cheios da majestade da tua glória.A ti louva o glorioso coro dos apóstolos. A ti louva a santa congregação dos profetas. A ti louva o nobre exército dos mártires.A ti reconhece, por toda a terra, a santa igreja:como o Pai de infinita majestade;como adorável, verdadeiro e único Filho;e como o Espírito Santo, o Consolador.Tu és o Rei da glória, ó Cristo. Tu és do Pai, o sempiterno Filho.Tu, quando tomaste sobre ti livrar o homem, te humi-

lhaste a nascer duma virgem.

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Não tenho a pretensão de esgotar o assunto pro-

posto pelo título. Reparto contigo alguns pensamentos, na esperança que sejam sementes. Eis o que quero partilhar:

Inimigas declaradas na percep-ção de muitos teólogos e cientistas, a Teoria Evolucionista e a Proposta Criacionista se tocam em alguns pontos. Um deles refere-se ao lo-cal onde a vida animal começou: a água. Portanto, existe, desde o iní-cio, um marcante elo entre a água e a vida. De certa maneira a mente do homem carrega esta marca: água é vida.

Infelizmente, nem todas as mar-cas na mente do homem o impelem a fazer a coisa certa. Até porque es-tas marcas são diversas, e o homem parece ter uma tendência a escolher aquilo que lhe provoca o mal. Deve ser a tal pulsão de morte da qual nos falava Freud. Mas bem, voltemos àquilo sobre o que eu quero falar: água é vida, e também a Bíblia nos

ensina isto.A Concordância Bíblica edita-

da pela Sociedade Bíblica do Brasil apresenta 662 referências à palavra “água” na Tradução Revista e Atua-lizada de João Ferreira de Almeida. Isto não é pouca coisa. Do Gênesis ao Apocalipse ela está presente. Na verdade, já estava aqui antes de nós. Os dois primeiros versículos da Bí-blia nos dizem: “No princípio criou Deus os céus e a terra... e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. A água também foi usada como juízo de Deus quando “vieram sobre a terra as águas do dilúvio” (Gênesis 7.10). Um juízo que renovou a ter-ra dominada pela maldade humana. O grande libertador do povo de Is-

rael, Moisés, foi “tirado das águas” (Êxodo 2.10). No Salmo 23, um dos textos bíblicos mais popu-lares do mundo, pedimos que nosso Bom Pastor nos leve às “águas de descanso” (Salmo 23.2). Apocalipse, último li-vro da Bíblia, diz, próximo à sua conclusão: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22.17b).

Obviamente, a Bíblia não atribui nenhum poder mágico à água. Ela, em si, é parte da criação de Deus, sendo, portanto, um meio para os seus propósitos. No entanto, a água é frequentemente usada em cone-

biblicamente falando

Rev. Maximiliano W. Silvaartigo

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 59

xão com as promessas e bênçãos de Deus. Isto acontece nas figuras de linguagem ou no uso da água en-quanto elemento sacramental visí-vel. O poder não está na água, mas na Palavra à qual ela está ligada. De uma maneira ou de outra, o impor-tante é notarmos que a água é es-colhida. Isto ocorre porque através

do que é palpável e visível podemos entender melhor aquilo que é espi-ritual e invisível. Sua escolha fala de suas qualidades e características.

Pensar em água nos remete ao limpar, lavar, purificar. Perceba que poluir água é destruir parte de seu propósito que, em última análise, é o propósito de Deus. Esta água, usa-da por judeus em suas cerimônias de purificação, torna-se o elemen-

to externo do Santo Batismo Cristão. Sua imagem nos

fala sobre aquilo que Deus faz no sacramento: lim-pa, lava, purifica, perdoa pecados. Perdão é vida, nova vida em Cristo.

Dependemos de água para viver. Sem ela não

duramos mais que poucos dias.

Estar sem ela é, extrema-

mente, angustiante. Jesus apresen-ta-se como a “água viva” ( João 4). Bebemos dele, e através dele temos vida. Não uma vida qualquer, mas uma vida plena. Se dele bebermos, jamais teremos sede novamente. Imagine o poder desta analogia numa região árida, rodeada por de-sertos. Mais valorizamos aquilo que menos temos.

A água que limpa e hidrata tor-na-se parte atuante do maior pro-pósito de Deus: promover a vida. Através da água ele nos mantém fi-sicamente, também através dela ele nos ensina sobre as bênçãos espiri-tuais que quer nos conceder. Nada mais justo do que honrarmos aquele que nos presenteia honrando o pre-sente que nos concede ( João 3.5, João 7.38, 1 Pe 3.20,21, Apocalipse 7.17).Rev. Maximiliano Wolfgramm Silva é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e capelão da Universi-

dade Luterana do Brasil em Santarém

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60 | Teologia | Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011

Já estamos próximos ao quin-gentésimo aniversário da

Igreja Luterana (1517–2017). Grandes movimentos e festas se-rão realizados neste período nas comunidades luteranas do mundo inteiro. Somos gratos a Deus pelas muitas bênçãos derramadas sobre a Igreja Luterana e, por isso, come-morar estes 500 anos é, sem dúvida, um motivo para darmos glórias a Deus. Afinal, o Evangelho de Cris-to para todos alcançou milhares por este mundo afora. Aqui no Brasil, por exemplo, de um pequeno grupo no Rio Grande do Sul, que estabe-leceu a IELB em 1904, somos hoje mais de 230 mil em todo o país, sem contar com os milhares que foram transferidos para a glória. E tudo isto, portanto, nos leva a acreditar que o Senhor Deus continua mani-festando a sua glória na igreja.

Mas a nossa história não é a única. Há mais de 2000 anos, des-de quando os pastores e os magos visitaram a Jesus, esta boa nova da salvação é divulgada. Os magos, por exemplo, vieram de longe para adorar o menino Jesus. Após vi-rem esta manifestação da glória de Deus, divulgaram por onde iam a boa nova do rei nascido. Nesta época do ano, epifania, segundo o calendário eclesiástico (começa do no dia de reis, 06 de janeiro e vai até a 4a. feira de cinzas) nos unimos aos magos para adorar o rei recém nas-cido, trazendo os nossos presentes, a nossa vida e saindo do anonima-to, com alegria por termos conhe-cido a salvação em Cristo.

Epifania, portanto, significa a manifestação de Cristo ao mundo que começou com os magos e con-tinua com ele próprio, após o seu batismo no rio Jordão quando Jesus manifestou-se ao povo iniciando o seu ministério.

Deus continua manifestando a sua glória através da

Rev. Waldyr Hoffmannartigo

Epifania para nós nos leva a re-fletir sobre a nossa prática missio-nária. Sair do anonimato passa a ser um desafio constante para todos os cristãos. Hoje não temos os magos para levarem a boa notícia do reino. Esta tarefa é de todos nós. Os ma-gos nos inspiram à evangelização. No entanto, quando fazemos uma análise mais séria sobre o nosso comportamento missionário, ob-servamos uma lacuna muito grande entre a nossa comissão/tarefa e a nossa prática, ou seja, somos bons adoradores, temos cultos em nossas igrejas a cada final de semana, temos contato com os valores do reino, a palavra, a Santa Ceia, somos rea-bastecidos e, quando se espera algo a mais, afirmamos que não estamos prontos. Os magos também não es-tavam prontos. Apesar disso, ime-diatamente, após virem a Salvação, anunciaram a boa nova ao mundo. Precisamos aprender com eles e dei-

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 61

xar o nosso comodismo de lado.Epifania também é manifestação

do Senhor através da igreja cristã e, particularmente, também através da IELB. Não dá para contar quantos foram beneficiados com a mensa-gem de Jesus, suas curas e milagres. Assim também não dá para contar quantas pessoas foram atingidas pelo ensino transmitido pela palavra dado pela IELB ate hoje. Crianças, jovens, adultos e idosos receberam a mensagem de Cristo para todos e confiaram no Senhor. A manifes-tação do amor de Deus em Cristo continua sendo tão atual e benéfica tal qual foi no tempo de Jesus.

Por isso estamos agradecidos. Deus continua manifestando o seu poder, amor e misericórdia para to-dos. Eis, portanto, o nosso desafio: somos os agentes que promovem este bem estar na igreja, sendo pro-pagadores desta verdade perante to-dos. Pastores e líderes precisam sen-tir o chamado e se engajar cada vez mais neste desafio de levar Cristo para todos. Com certeza, Deus nos acompanhará em cada passo.

Rev. Waldyr Hoffimann é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Joenvile-SC

Deus continua manifestando a sua glória através da

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62 | Teologia | Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011

From: lutero@docéu.com To: Igrejas Luteranas em todo o Brasil Subject: A Reforma da Igreja Cristã Date: 31 de outubro de 2010

“Graça e paz da Parte de Deus e de Jesus Cristo seu Filho e do Espírito Santo a todos vocês, meus amigos e cidadãos das Igrejas Luteranas em todo o Brasil, especialmente da Congregação Trindade de São Luís-MA. Em mais alguns dias vocês irão lembrar de um momento muito importante para a vida e sal-vação de todos vocês. Por isso achei que seria im-portante enviar, por este meio moderno e eficiente, esta simples e humilde correspondência onde gosta-ria de relatar e esclarecer alguns pontos importan-tes sobre minha vida enquanto estive aí na terra, e sobre o movimento da Reforma da Igreja Cristã.

Em primeiro lugar não me vanglorio por ser con-siderado o ‘Iniciador’ desse movimento, nem gosta-ria que vocês me considerassem o ‘mais importante’, ‘santo’ ou qualquer outra coisa parecida por esse motivo. Não estou acima nem ao lado de Cristo, mas muito abaixo dele. O que fiz foi apenas zelar pela única verdade que salva: a verdadeira fé em Cristo Jesus, nosso SENHOR. Fui apenas um servo a serviço de Deus. Também sempre dou graças a Deus por ele ter sido meu protetor e a quem sempre recorri como meu único Deus e Pai.

Minha família sempre foi uma família humilde, mas muito trabalhadora. Me criaram com muito rigor e me instruíram no conhecimento e temor do Senhor.

e-mail de Lutero — A Reforma daRev. Élvio Nei Figurlutero - luteranisMo

Uma das atividades mais exercidas por Martinho Lutero foi escrever correspondências. Por meio delas, Lutero procurava esclarecer as diversas dúvidas levantadas por cristãos de diversas partes da Europa. Abaixo um pequeno exercício que simula uma suposta correspondência eletrônica de Lutero enviada às igrejas.

Em 2008, quando a elaborei, dividi em duas partes para dois cultos sempre esclarecendo os pontos com in-formações adicionais. Julgo importante esclarecer a congregação de que pessoas falecidas não podem escrever ou se comunicar com os vivos. Portanto, esta é apenas uma maneira de ilustrar e fazer referência ao pensamento do Reformador Martinho Lutero.

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 63

‘Eles sempre quiseram meu bem estar; suas intenções a meu respeito foram sempre boas; vinham do fundo de seus corações’. Cursei boas escolas, apesar de a disciplina nelas ser muito rígida e agressiva, como daquela na qual fui espancado, me lembro muito bem, quinze vezes numa mesma manhã... Não gosto nem de lembrar...

Mas isso me fez recordar a disciplina e a exigência feita pela Igreja Romana, a qual eu e meus pais freqüentávamos por ser a única existente. Os Padres e o Papa ensinavam que precisávamos nos bater muito e sofrer castigos por causa de nossos pecados para que Deus nos perdoasse. Sempre achei isso um absurdo e um abuso.

‘Terrível. Implacável. Assim eu via o Senhor. Ele nos punia em vida e nos enviava ao purgatório após a morte ou nos enviava para as chamas do in-ferno antes do descanso eterno. Mas estava errado. Quem vê um Deus enfurecido... não o vê com clare-za... mas o vê através de um véu... como se uma tempestade escura escondesse a Sua face...’.

Meu pai sempre quis que eu estudasse direito e fosse um grande homem público. Foi o que fiz, estu-dei artes e me tornei mestre na área e comecei a dar aulas de Filosofia. Podia, assim, iniciar meus estudos em Direito. Nessa época, quando tinha vinte anos de idade, vi, pela primeira vez, uma Bíblia, só que estava em Latim e poucos a podiam ler.

Em todos estes anos de estudo, uma coisa me in-quietava sempre: O que devo fazer para que eu seja salvo?

Eu não conseguia encontrar paz para minha alma. Constantemente ficava com medo quando me lembrava da ira de Deus e dos exemplos de castigo divino. Esses temores se tornaram mais fortes quando, de tão doente, caí por cima do suporte onde coloca-va os livros para lecionar em sala de aula. Depois perdi um colega de estudos, vítima de acidente. O Medo da morte me assombrava, pois nunca sabia se tinha feito o suficiente e se estava preparado para ser salvo. E em 2 de julho de 1505, quando eu vol-tava da casa de meus pais, uma tremenda tempestade sobreveio e um raio caiu numa árvore bem perto de

e-mail de Lutero — A Reforma dalutero - luteranisMo

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onde eu estava. Pensei que morreria naquele dia, por isso fiz uma promessa para Santa Ana de que, ‘se eu saísse com vida dali, eu ingressaria num con-vento dos monges agostinianos’ na cidade de Erfurt.

Quinze dias depois cumpri minha promessa. Eu esperava sinceramente en-contrar ali a resposta pra a minha questão sobre o que devo fazer para ser salvo? E esperava também ali, finalmente encontrar ‘um Deus misericordioso’, pois eu estava ‘enfeitiçado’ pela idéia de que fazendo boas obras e me cas-tigando eu ganharia o perdão de Deus. Por isso, dia e noite eu me afligia com jejuns, orações e vigílias. Esperava que assim conquistaria o céu ‘à força’. Bem mais tarde percebi que estava errado. ‘Se alguma vez um monge

ganhou o céu através da vida mo-nástica, então eu também entraria nele...’.

Depois de muito estudar e buscar na Escritura a resposta para as minhas angústias, finalmente encon-trei a verdade e o consolo, que tanto procurara. Quando lia o Novo Testamento, me deparei com um tre-cho da carta do apóstolo Paulo aos Romanos (3.28) onde diz: ‘o ho-mem é justificado pela fé, indepen-dentemente das obras da lei’, ou seja, a pessoas é aceita por Deus pela fé, e não pelo fato de fazer o que a lei manda.

A partir desse dia mergulhei com tudo na Bíblia, e pude perce-ber que o que estava sendo ensina-do e praticado pela Igreja Romana não estava de acordo com o que a Palavra de Deus diz. E o irôni-co é que, justamente os Romanos para quem Paulo escreveu esta car-ta, não estavam levando a sério o que Deus disse a eles por meio do Apóstolo Paulo.

Percebi que a minha pergunta sobre o que fazer para ser sal-

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vo estava sendo respondida aos poucos. Percebi também que na época de Jesus Cristo o povo também fazia a mesma pergunta e acredito que entre vocês aí em São Luís, no Brasil, e em todo o mundo, muitos fazem essa mesma pergunta.

Alguns acham que precisam fazer penitências, ou fazer e pagar promessas como eu fazia no tempo em que era frade virtuoso. Eu estava tão empregado em preces, jejuns, vigílias, frio, auto-flagelação e trabalho que, se tivesse continuado por muito tempo, provavelmente morreria.

Outras pessoas achavam e ainda acham que, para serem salvas, precisam cumprir toda a lei. Mas não sabem que isso é impossível ao ser humano, pois o apóstolo Paulo escreve com muita clareza em Gálatas (5.4): ‘Os que querem que Deus os aceite porque obedecem à Lei estão separados de Cristo e não tem a graça de Deus’.

Outros ainda, acham que devem pertencer a uma determinada Igreja para se-rem salvos e existem outros que pensam que não podem vestir algum tipo de roupa, ou que devem deixar de comer algum tipo de alimento para se salvarem. Mas tudo isso de nada contribui para a salvação.

Enquanto eu me aprofundava nos ensinos da Bíblia, percebi que, na verda-de a pergunta não deveria ser: O que devo fazer para ser salvo? Mas deve-ria ser: QUEM é a salvação? Ou: QUEM poderá me salvar? Pois a Bíblia é cla-ra neste ponto onde afirma que, a salvação acontece somente pela fé em JESUS CRISTO.

Aos poucos pude compreender o que meu grande amigo e conselheiro João Staupitz me dizia: ‘Habitue-se ao fato de que Cristo é o Salvador verdadei-ro e você, pecador real. Deus não brincou ao entregar seu Filho por nós’. Ou seja, meu amigo já me dizia a grande verdade do Evangelho de que o ser huma-no, como eu e como vocês, é pecador e precisa da salvação que vem de Cristo, pois, como diz Paulo (Gl 2.21); “... se é por meio da lei que as pessoas são aceitas por Deus, então a morte de Cristo não adiantou nada!”, e nós ainda estaríamos perdidos para sempre.

Encontrei muitas outras passagens que me ajudaram a confirmar essa minha constatação: Rm 1.17; ‘O justo viverá por fé’. Rm 4.28; ‘Assim vemos que a pessoa é aceita por Deus pela fé e não por fazer o que a Lei manda’. O mes-mo apóstolo Paulo citando Davi: Rm.4.6b-8 (Sl.32) diz: ‘...bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem aventu-rados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado’...

Como assim? Eu havia aprendido que Cristo era um juiz rigoroso e só apre-ciava as boas obras?

Graças a Deus, pude ver, pela Bíblia, que a justiça de Deus e a salvação

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dos homens se faz SOMENTE PELA FÉ no Cristo Salvador. Que grande amor de Deus para conosco, miseráveis seres humanos!! (Sola fide)

Finalmente compreendi e desejo que todos vocês também compreendam a ver-dade do EVANGELHO e as suas conseqüências para a vida do cristão. Jesus diz em João 8. 32: ‘e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Eu co-nheci esta verdade e por isso não desisti de levar adiante essa verdade para que vocês e tantas pessoas que ainda virão depois de vocês, conheçam a verdade que Liberta.

Em 1511, recebi a ordem de ir para Roma. Este era m antigo sonho meu. Só que ali me decepcionei completamente. Chamavam Roma de ‘Cidade Eterna’... ‘Se existe inferno, Roma foi construída sobre ele’ pois lá vi tanta rouba-lheira pois a Igreja Romana vendia indulgências. Estas eram cartas trocadas por dinheiro para que a pessoa que comprasse tal ‘passe’, tivesse lugar ga-rantido no céu. Sempre achei que isso não era correto.

Também em Roma, vi prostitutas que faziam ‘promoções’ para os padres.A igreja já não era mais Igreja, havia se transformado em um go-

verno de homens sem interesse com o Evangelho. Ela estava cada vez mais se afastando da verdade escriturística de que Jesus é o sal-vador de todo homem que nele crer. E tudo isso debaixo do nariz do Papa, e ele não fazia nada.

Com a intenção de debater sobre o valor das Indulgências e o distanciamento cada vez maior da verdade de Deus, escrevi 95 te-ses ou pontos do ensino da Igreja Romana que estavam sendo dis-torcidos da palavra Bíblica e, no dia 31 de outubro de 1517, as prendi na porta da Igreja de Wittemberg. Elas logo foram tra-duzidas para várias línguas e logo chegaram aos ouvidos do papa Leão X.

Eu, Martinho Lutero, não sabia que aquelas afirmações teriam essa repercussão. Eu havia escrito apenas para que os professores e alunos da Universidade de Wittemberg lessem e pensassem nelas. Mas, eu tinha a certeza que tudo que escrevi estava correto, pois escrevi baseado na Es-critura Sagrada. Também sabia que Deus está sempre do lado da verdade e que Deus estava agindo ali naquele momento através daquelas palavras. Deus que-ria e quer mostrar a verdade a todas as pessoas de todas as épocas, a mim e a vocês, pois ‘a verdade nos libertará’.

Jesus também diz: ‘se vocês permanecerem na minha palavra, vocês serão verdadeiramente meus discípulos’ (Jo. 8. 31) Mas, se a verdadeira Palavra de Deus não estava sendo proclamada e ensinada, como as pessoas iriam co-nhecer a verdade?

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Para que existam verdadeiros cristãos e discípulos de Jesus, é preciso que haja a PALAVRA sendo ensinada de maneira clara! E SOMENTE A ESCRITURA SAGRADA É A PALAVRA DE DEUS DADA AOS HOMENS! Nada mais!

Nem a tradição da igreja, nem a palavra de homens, nem mesmo a pala-vra do Papa podem ter prioridade sobre a Palavra de Deus. Lembrem-se sempre das palavras do Cristo “Se vocês permanecerem na MINHA PALAVRA, vocês serão verdadeiramente meus discípulos”... (Sola Scriptura).

Somente permanecendo na PALAVRA DE DEUS (Jo. 8.32) ‘vocês conhecerão a Verdade e essa verdade vos Libertará’.

A Verdade é Cristo! Somente Cristo. O Verbo que se fez carne. Jesus não só é o anúncio do da Verdade do Evangelho Salvador, mas Ele mesmo É o EVANGELHO em pessoa, ele é a própria Verdade; ‘eu sou o caminho, e a verda-de, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim’ (Jo 14.6).

Jesus veio ao mundo para libertar os seres humanos. E pagou um preço alto por isso, ‘não com ouro ou prata, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte’. E, SOMENTE PELA GRAÇA conquistada por Jesus por meio de sua morte em nosso favor, passamos da condição de escravos (do pe-cado) para a condição de libertos e Filhos de Deus. (Sola Gratia).

Desta forma somos agora verdadeiramente livres. Isso não quer dizer que temos agora o direito de fazer com nossas vidas o que bem en-

tendemos. A nossa liberdade está totalmente compromissada com aquele que nos libertou — Cristo!

Jesus nos libertou da escravidão do pecado e da morte para sermos instrumentos úteis em seu Reino. Foi com este espí-rito e com esse objetivo que eu, Martinho Lutero, levei em frente o movimento da Reforma, para que outros pu-dessem ter acesso a esse mesmo Evangelho. Pois so-mente esse Evangelho da Justificação pela Fé, que é a verdade, pode trazer a liberdade para a vida de vocês

e a vida da Igreja.Deus nos mostrou a Liberdade em Cristo. E o movimento

da Reforma nos libertou da opressão de um regime de lei e nos mostrou o único caminho por meio da ESCRITURA, para a salva-

ção das almas atribuladas; Pela GRAÇA, mediante a FÉ em Cristo. Estamos livres da lei, pois Jesus, o Filho de Deus nos libertou e

somos verdadeiramente Livres como Filhos amados do querido Pai.Um Grande abraço. Dr. Martinho Lutero”.

Élvio Nei Figur é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em São Luís-MA

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Introdução

O livro de Jonas é um incomum membro dos “Doze”. Enquanto a maior parte dos livros pro-

féticos são oráculos (tipo “A”), Jonas é do tipo “B”, isto é, apresenta narrativa sobre Jonas (HUMMEL, 1979, p. 322). Assim, podemos concluir que a ‘história das experiências e reações de Jonas é a mensagem’ do livro (LASOR, 1999, p. 413).

O adjetivo ‘gadol’ (grande) aparece catorze vezes no livro e indica o caráter hiberpólico do livro. Há o ‘grande’ peixe, a ‘grande’ Nínive e outros elementos fantásticos. Diante de tantos eventos maravilhosos e

inexplicáveis, muitos estudiosos con-temporâneos estão mais inclinados a tratar Jonas como uma narrativa fic-cional, parabólica ou alegórica.

Lasor escreve que “o valor didático e profético de uma narrativa não de-pende necessariamente de sua histo-ricidade. [...] a história de Jonas pode ter sido contada apenas para ilustrar uma lição (LASOR, ibid, p. 416)”. Concordamos com isso.

No entanto, julgamos ser neces-sário analisar a historicidade do livro de Jonas, não para tomar partido na guerra inútil entre ‘conservadores’ e ‘liberais’, mas por que a onipotência de Deus e a universalidade da graça recebem realce dinâmico-profético especial em uma visão historicizante da vida do profeta Jonas. Em outras palavras, na perspectiva historicista

do livro de Jonas, o poder de Deus e sua graça universal ganham contornos mais vivos e palpáveis. Dessa forma, a mensagem sobre um Jonas histórico amplia as pers-pectivas pastorais e missionárias acerca do poder e gra-ça de Deus.

Em nosso trabalho, realizamos a análise da histo-ricidade (ou ficcionalidade) do livro de Jonas a partir do estudo comparado de referências bibliográficas que tratam do assunto. Dividimos nosso estudo em três seções. Na primeira, explanamos criticamente os argu-mentos literários e científicos de estudiosos contempo-râneos que colocam em xeque a historicidade de Jonas.

A Onipotência de Deus e a Universalidade da Graça no Rev. Mário Rafael Yudi Fukueestudo: antigo testaMento

Um Estudo sobre Historicidade Profética

Pretende-se comparar as abordagens que estudiosos de diferentes vertentes isagógicas fazem do livro profético de Jonas. Ao analisar os argumentos de teólogos contemporâneos, nota-se que não há razões para negar a historicidade do profeta Jonas. Além disso, conclui-se que a historicidade de Jonas e sua missão dinamizam importantes aspectos pastorais e missionários deste importante livro bíblico, tais como a onipotência de Deus e a universalidade da graça. Nesse senti-do, no livro de Jonas não temos mera estória sobre o poder e o amor de Deus pelo mundo, mas uma história que revela a onipotência de Deus em atos milagrosos e a graça de Deus por ‘todos os povos da terra’. Assim, o sinal de Jonas na paixão de Cristo revela a compaixão ‘encarnada’ de Deus pelo profeta desobediente, pelos povos gentios e pelo mundo todo.

Palavras-chave:Jonas. Historicidade. Onipotência. Universalidade da graça.“Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha

terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clementes, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignida-de, e que te arrependes do mal.” Profeta Jonas (4.2)

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Na segunda, apresentamos os argumentos que parecem afirmar a historicidade do livro de Jonas. Na terceira seção delimitamos algumas perspectivas pastorais e missionárias pautadas pela mensagem sobre um Jonas histórico.

1. Jonas: personagem ou profeta?

1.1. A história de Jonas Jonas bem Amitai foi um profeta que predisse a

expansão do reino do norte no reinado de Jeroboão II (780 a. C.), conforme 2 Reis 14.25. O livro de Jonas nada fala sobre o ministério nacional do profeta, mas relata a ordem de Javé para Jonas profetizar em Nínine. Entretanto, Jonas embarca para direção oposta, para longe da presença do Senhor (v.3). O profeta vai para Társis, o destino mais ocidental que se podia imaginar na época.

Durante a viagem, Yahweh provoca grande tem-pestade. Todos os navegadores oram a seus deuses. O capitão desperta Jonas e pede que ore a seu Deus. Jo-nas confessa sua fuga de Deus e pede para ser jogado ao mar. Após tentarem retornar à terra, os marinheiros concordam em jogar o profeta ao mar. A tempestade cessa e a tripulação oferece sacrifícios ao Deus de Jo-nas. Yahweh envia um grande peixe para tragar Jonas e. Após três dias e três noites de orações e louvor, o profe-ta é vomitado na praia.

Dessa vez, Jonas atende o chamado de Yahweh e anuncia o juízo de Deus aos ninivitas. Inesperadamen-te, os ninivitas creram em Deus (v.5) e foram perdoa-dos graciosamente. Deus, então, muda de idéia e não destrói a cidade.

Jonas revolta-se com a bondade de Deus. Como um

israelita nacionalista, o profeta desejava a destruição da cidade. Então Jonas abriga-se fora da cidade, sentando--se ali por quarenta dias. Deus faz uma planta crescer a fim de proteger Jonas do sol. No dia seguinte, entretan-to, Deus envia um verme para exterminar a planta e faz soprar um vento quente que faz Jonas desejar a morte. Yahweh, então, mostra ao profeta a inconsistência de sua revolta ao contrastar o lamento egoísta do profeta pela planta com a misericórdia divina pelos filhos de Nínive, “mais de cento e vinte mil que não sabem dis-cernir entre a mão direita e a mão esquerda...” (v.11).

O livro do profeta Jonas é atípico. Ele possui um en-redo com início, meio e fim. Nesta belíssima história ocorreram milagres espetaculares como a sobrevivência de Jonas no ventre do grande peixe e a conversão de Nínive. São tanto milagres que o livro parece uma no-vela. Para muitos estudiosos contemporâneos, o livro de Jonas deve ser lido como uma alegoria ou parábola. Durante este capítulo, serão explanados e analisados os argumentos que parecem comprovar essa posição.

De forma sintética, todos os argumentos que impe-

A Onipotência de Deus e a Universalidade da Graça no estudo: antigo testaMento

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dem a aceitação da historicidade de Jonas se resumem em um preceito: Há muitos acontecimentos supranatu-rais no livro que não poderiam ter acontecido realmente. Vejamos quais são esses argumentos:

(1) O grande peixe e a sobrevivência de Jonas:

É biologicamente impossível a sobrevivência de uma pessoa no ventre de um “grande peixe” por três dias. São várias as dificuldades para tal sobrevivência:

a. No sistema digestivo não existe oxigênio. b. O suco gástrico corroeria a pele e outros tecidos.c. Não há água potável.

Alguns estudiosos classificam o episódio do grande peixe como uma lenda ou elemento que teve origem em fábulas de outros povos (YOUNG, 1964, p. 274). Isso confirmaria, segundo eles, que o autor do livro usou fontes mitológicas de povos da antigüidade na compo-sição da parábola (WATTS, 1975, p. 82).

Entretanto, não parece haver motivos para negar ou duvidar do poder de Deus agindo no episódio do gran-de peixe. Além do mais, Spaude aponta:

They point out that the sperm whale is big enough to swallow a man or even a horse. The largest in the shark family is the whale shark, ranging up to fifty feet in length and fifteen tons. In weight; it could easily swallow a man (SPAUDE, 1987, p. 53).

Mesmo assim, discussão acerca de tamanho de baleias ou tubarões e a possibilidade de engolir um homem cabem ao campo científico. Se existe ou existiu tal animal, isso não altera o fato de Deus poder agir milagrosa-mente. Milagres são, por definição, impossíveis, ou pelo menos, imprová-veis no que se refere à ciência.

Quanto ao tempo de três dias e três noites, é improvável que tenha sido formulada com sentido figurado. Além do fato de que a historicidade de Jonas exclui essa possibilidade, de-vemos lembrar que não há exemplos no Antigo Testamento do uso do nú-mero três em uma representação figu-rada (WATTS, 1975, p. 30).

(2) Conversão de Nínive: Existem dúvidas quanto à conversão de Nínive.

Estudiosos dizem não existir nenhum registro ou do-cumento que relate uma possível conversão de Nínive. O nome de Yahweh nunca é mencionado em registros ninivitas (LAETSCH, 1956, p. 216). Spaude lembra--nos de que muitos teólogos defendem a idéia de que Jonas só pregou condenação, por isso, o arrependimen-to dos Ninivitas teria sido forjado (SPAUDE, 1987). Na percepção de uma pregação integralmente legalista de Jonas, o arrependimento de Nínive era fingido. Não havia verdadeira contrição e pesar de pecados. Em vista da impossibilidade de conversão em massa, deduz-se que o conteúdo do livro de Jonas não passa de mera alegoria ou parábola.

O evangelho de Mateus (12.41) escreve: “Ninivitas se levantarão, no juízo, com esta geração e a condenarão”. Neste versículo, Jesus considera a conversão dos nini-vitas como histórica e verdadeira, sem lugar para um arrependimento forjado (Lc 11:29-30).

Podemos também ressaltar que nenhum traço de arrependimento mostrado em Jonas aparente ser mera-mente fictício ou figurativo. Ao contrário, os ninivitas se arrependem de seus erros e não buscam seus antigos deuses. Eles buscam a Yahweh. A confiança dos ninivi-tas é mostrada na atitude do rei em produzir um decreto exortando o povo a fazer jejum. Além disso, é surpreen-dente o fato de ver os animais convocados para o jejum!

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(3) Inexatidão histórica: Nínive como cidade importante e de três dias para percorrê-la (Jn 3.3).

Conforme alguns teólogos, Nínive nunca foi gran-de o suficiente para ser mencionada como cidade de três dias de percurso. Nínive parece ser tomada como cidade fantástica no livro de Jonas. E, isso ressaltaria um provável caráter alegórico do livro.

Há autores que apontam para mais longe e afirmam que a descrição do tamanho de Nínive tal como está em Jonas remete a data de composição do livro para um pe-ríodo posterior à destruição da cidade em 612 a.C. Se-gundo Baker, o autor de Jonas utilizou descrições len-dárias da “antiga Nínive” que figuravam no imaginário popular após 612 a.C. Portanto, a descrição de Nínive como cidade de “três dias” para percorrê-la é fruto da tradição popular e não um fato histórico. Se calcular-mos a caminhada de um dia como 30 km, Nínive teria, conforme Jonas, um diâmetro ou circunferência de 90 km!1 Um documento da época afirma que Senaqueri-be alargou a cidade para 21815 côvados (cerca de 12 km). Esse fato é confirmado pelas escavações (BAKER, 2001, p. 64).

A expressão “caminho de três dias” pode se referir à circunferência da cidade; pode ser uma “expressão de

1 Baker lembra que em documentos antigos não há indicação alguma sobre o costume de medir uma cidade pela extensão de seus muros. Ver BAKER, 2001. P.65.

linguagem” do tipo hipérbole (exagero) ou pode se re-lacionar com o complexo de vilas que se amontoavam ao redor de Nínive (Assur, Kalah e Dur-Sharruken) (YOUNG, 1964, p. 274). Essa última hipótese é com-patível com o termo “grande Nínive” que aparece em 1.2, 3.2 e 4.11. Escreve Baker: “De fato, a expressão pode ser entendida em sentido semi-técnico com o sig-nificado de “Grande Nínive” (BAKER, 2001, p. 67)”.

(4) Expressão “rei de Nínive” seria falsa (Jn 3.6).

Seria historicamente incorreta uma referência a um suposto “rei de Nínive”. O correto seria citar “Rei da Assíria”, visto que Nínive era a capital da Assíria.

Entretanto, o termo “Rei de Nínive” se referia ao governante de toda a Assíria que residia em Nínive. Esta expressão encontra paralelos tais como “rei da Sa-maria” ao referir-se ao rei de Israel (1Rs 21.1); “Rei de Damasco” ao se referir ao rei da Síria (2Cr 24.29). Por-tanto, “rei de Nínive” equivale a Rei da Assíria.2

Conforme explanado por Lemansky, o ministério de Jonas em Nínive aconteceu durante o reinado de Jeroboão II (786-746 a.C.). Nessa época, Nínive não era a capital do Império assírio. Por isso, a nomenclatu-ra “rei de Nínive” é exata e refere-se ao governador ou chefe da cidade e não ao rei da Assíria (LEMANSKY, 1992, p.40).

2 Ideia compartilhada pela maioria dos autores conservadores como Young.

estudo: antigo testaMento

Hipérbole é uma figura de linguagem caracterizada pelo exagero. Afinal, ninguém tem tanta fome que comeria um camelo.

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(5) Hipérbole. Outro aspecto do livro de Jonas que parece indicar

seu caráter não histórico é a hipérbole. O adjetivo ‘ga-dol’ (grande) ocorre 14 vezes no livro. Tudo em Jonas é exagerado: o grande peixe, a grande Nínive, a popula-ção de Nínive, a tempestade. Por esses fatores, conclui que Jonas não é um registro sensato da realidade, mas, sim uma alegoria. Entretanto, o caráter hiperbólico do texto pode também indicar eventos históricos magnífi-cos ou incomuns.

(6) Estrutura Simétrica. Para alguns, o fato do livro de Jonas possuir uma

estrutura estritamente simétrica impossibilita o caráter histórico do livro. Baker traz uma citação de Fretheim:

[...] as estruturas cuidadosamente elaboradas do livro [...] fazem supor um objetivo não-histórico por parte do autor. Tal interesse por estrutura e si-metria não é tão característico de escritos históricos objetivos, indicando mais um produto da imagi-nação (LEMANSKY, 1992, p 85).

Não há razão alguma para sustentar a tese de que possuir estrutura simétrica mostra a inexatidão histó-

rica de um relato. O que impossibilitaria um autor es-tritamente simétrico e sistemático relatar um episódio histórico?

Após essa análise dos argumentos de estudiosos que negam a historicidade do livro de Jonas, convém res-ponder a questão: O que seria, então, o livro de/sobre Jonas?

Lasor delimita algumas possibilidades (LASOR, 1999, p 414-419):

a. Interpretação Mística: Segundo os defensores desta vertente, o livro de Jonas é um mito que pro-cura explicar verdades terrenas com história que provocam ou representam tal verdade. b. Alegoria: Na alegoria, a história é contada para transmitir uma mensagem. Nela, a maior parte dos detalhes possui um significado. No caso específico de Jonas, teólogos modernos apresentam o seguinte esquema:Jonas (pomba) representa Israel que se negou a pre-gar aos povos gentios ( fuga para Társis). Por isso, Javé envia o grande peixe para engolir Jonas (exílio de Israel e Judá). O período de três dias e três noites significaria um grande período de tempo (duração do exílio).3 Depois, Jonas se arrepende e o grande peixe o vomita no mar (volta do exílio).O problema para esta interpretação é que ela en-xerga o fator grande peixe como algo negativo. Na verdade, o grande peixe salvou Jonas da morte no mar! Além disso, o episódio é o único da vida de um profeta que Jesus aplica a si mesmo. c. Parábola: Na parábola, o conto representa a vida real e incorpora uma verdade espiritual. Não possui significado para cada parte como na alego-ria. Nesta visão, a história de Jonas mostraria que o fato do povo de Israel ter sido eleito por Deus fora interpretada de forma egoísta pelos hebreus. Eles se

3 WATTS, 1975, p. 82. O autor lembra também que há alguns mitos que reconheciam “três dias e três noites” como o perío-do de tempo da fase escura da lua.

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esqueceram da promessa de Deus a Abraão de que “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 13.3).A semelhança entre a interpretação alegórica e pa-rabólica é evidente. Entretanto, a segunda é prefe-rível por não ser obrigada a encontrar um signifi-cado para cada detalhe da história.

2. Jonas como livro histórico

O profeta do livro em estudo é o Jonas, filho de Amitai, mencionado em 2 Reis 14.23-25. Presume-se, assim, que o ministério de Jonas aconteceu por volta de 775-750 a.C. Estudiosos mais antigos apresentam al-gumas provas cabais que comprovariam a historicidade do livro de Jonas:

(1) Testemunho de Cristo.Cristo cria e atesta a historicidade do milagre regis-

trado no livro de Jonas e na historicidade da missão do profeta aos ninivitas. Como visto anteriormente, em Mateus 12.39-40, Jesus se refere ao sinal de Jonas como algo real.

Em Mateus 12.41 lemos: “Ninivitas se levantarão, no juízo, com esta geração e a condenarão”. Neste ver-sículo, Jesus considera a conversão dos ninivitas como histórica e verdadeira, sem lugar para um arrependi-mento forjado (Lc 11.29-30).

(2) Testemunho da tradição judaico-cristã.

Unger traz: “Ancient Jews regarded the account as historical ( Josephus Antiquities IX, 10,2). Jewish and Christian traditions have followed the same view (UNGER, 1951, p. 244).” Josefo justifica a inclusão de Jonas em sua obra com o seguinte comentário: “Mas, uma vez que prometi dar um relato exato de nossa his-tória, achei necessário registrar o que encontrei escri-to nos livros hebraicos acerca desse profeta (BAKER, 2001, p. 86).”

Os Pais da Igreja tomam o relato do grande peixe como verídico. “O sinal mais claro e patente entre os sinais proféticos” (Gregório de Nissa, PG 46, 604). Te-odósio da Mopsuéstia denomina o episódio de “tipo” e estende o seu valor à ressurreição do Cristão como o mesmo corpo (SHÖKEL, 1991, p.1053).

(3) Testemunho das Escrituras. 2 Reis 14.25 menciona Jonas como personagem his-

tórico: Restabeleceu ele os limites de Israel, desde a entra-da de Hamate até ao mar da Planície, segundo a palavra do Senhor, Deus de Israel, a qual falara por intermédio do seu servo Jonas, filho de Amitai, o profeta, o qual era de Gate-Hefer.

O próprio livro de Jonas traz indicações que reve-lam sua natureza histórica:

a. cita Jonas, filho de Amitai (personagem histó-rico); b. traz a introdução de um livro profético: E veio a Palavra do Senhor a Jonas [...]. Quanto a isso, o próprio teólogo liberal Shöekel escreve: “A primeira frase é inconfundivelmente profética (SCHÖKEL, 1991, p.1045)”;c. A presença do “vaw” consecutivo no início do li-vro parece indicar que o conteúdo do livro possui ligação a algo anterior (não especificamente ao li-vro de Obadias).

(4) Prova histórica:Keil aponta vários motivos históricos para provar a

historicidade do livro de Jonas (KEIL, 1986, p. 398):

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a. A missão de Jonas corresponde historicamente com a situação de Nínive na época;b. Corrupção moral da cidade pode ser vista em Naum 3.1.; ec. A descrição da grandeza de Nínive está em har-monia com os apontamentos feitos pelos escritores clássicos.

Concordamos que os eventos milagrosos relatos em Jonas são extraordinários. Tão extraordinários que Lutero chegou a dizer que “também não teria crido na veracidade da história, se não fosse parte das Escrituras Sagradas (KUNSTMANN, 1983, p.83)”.

Em 2Reis, Jonas é visto como personagem históri-co. Caso o livro de Jonas fosse uma parábola, o autor não intentaria fazê-la parecer real utilizando formas literárias profético-narrativas e usando a figura de um profeta histórico como personagem da parábola. Usar--se-ia profetas fictícios e formar literárias próprias ás parábolas. Decididamente, o fator que pesa e autentica a historicidade de Jonas é o testemunho de Cristo acer-ca do sinal de Jonas e do arrependimento dos ninivitas. Além disso, devemos acrescentar que Jesus se compara diretamente a Jonas. Nenhum outro profeta recebe tal tratamento.

Em vista dos argumentos analisados, o livro de Jo-nas parece retratar a história real do filho de Amitai en-viado por Deus para anunciar os desígnios de Deus aos habitantes da cidade de Nínive, em alguma época do VIII século antes de Cristo.

3. Perspectivas Pastorais e Missionárias

Lasor escreve que “caso se decida pela interpretação parabólica ou simbólica porque o elemento miraculoso é problemático, a decisão será baseada numa conclusão moderna preconcebida que, contrária à posição bíblica, rejeita a intervenção sobrenatural de Deus na história

(LASOR, 1999, p. 419).” Por outro lado, o autor tam-bém lembra que “um firme princípio no estudo bíblico é que, mesmo numa passagem claramente histórica, a mensagem teológica é mais importante que os detalhes históricos (id. ibid, p.419).”

Entretanto, em nossa opinião, se tomássemos o li-vro do profeta Jonas como parábola, o máximo que conseguiríamos extrair de sua mensagem seria a uni-versalidade da graça de Deus revelada no ministério do personagem Jonas entre os gentios de Nínive.

A universalidade da graça de Deus é atestada no trabalho de Jonas entre os ninivitas. Yahweh não é um Deus tribal que deseja somente a salvação de Israel. Yahweh é Aquele que quer “abençoar todas as famí-lias da terra”. Ele trabalha para isso desde o princípio, quando criou o mundo ex nihilo por meio do Verbo. Ele prometeu enviar seu amor encarnado à Eva, mãe de todos os seres humanos (Gn 3.15). E consolida a promessa no envio de Cristo ao mundo. Tudo isso não para ‘julgar o mundo, mas para salvá-lo’.

Não queremos desprezar a universalidade da graça, mas a mensagem do livro de Jonas é maior. Há de se sublinhar a onipotência de Deus, a partir de uma inter-pretação histórica do livro.

A onipotência de Deus em Jonas só se ‘encarna’ quando tomamos o livro como relato histórico. Assim, numa interpretação histórica do livro, vemos Yahweh agindo na história, provocando acontecimentos4 em favor de Seu povo. Ele faz maravilhas e proezas inexpli-cáveis a fim de levar sua mensagem aos ninivitas. Epi-sódios como o grande peixe sublinham a onipotência de Deus. E, isso é crucial para a pregação cristã. Anun-ciamos um Deus que age milagrosamente em favor de todos. Dessa forma, há uma relação intrínseca entre o poder de Deus e o anúncio de salvação e libertação a todos. Deus age na história. Deus salva a todos. Deus liberta os excluídos.

De igual modo, nosso discurso não pode ficar so-mente no campo das palavras. Precisamos agir histo-ricamente. Necessitamos encarnar o evangelho através de nossa ação em amor a Deus e ao próximo. Nesse sen-tido, o anúncio profético da Igreja será revestido pelo poder e graça de Deus. Declaramos o ‘não’ de Deus, denunciado os sistemas de exclusão que deixam à mar-

4 Abordamos aqui o termo ‘acontecimento’ numa perspectiva foucaultiana. Assim sendo, um acontecimento caracteriza-se por ‘mudanças’ na história, pela descontinuidade. Para maiores detalhes, ver a obra “Arqueologia do saber”.

estudo: antigo testaMento

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 75

gem milhões de pessoas oprimidas que, a exemplo do egoísmo de Jonas, se compadecem egoisticamente da morte ‘das plantas que trazem sombra’. Ao mesmo tem-po, declaramos o ‘sim’ de Deus para a vida humana. O mesmo Deus que, no VIII século a.C., se compadeceu dos cento e vinte mil ninivitas, se compadece dos ex-plorados de nosso tempo.

O aspecto mestre do livro de Jonas e sua historici-dade é a “profecia dramatizada” de Jonas. O profeta é único a quem Cristo se compara pessoalmente. O sinal de Jonas atrela o historicismo do profeta com a própria história do Salvador Jesus. Da mesma forma que Jonas permaneceu no ventre do grande peixe e foi vomitado na praia, Cristo permaneceu no coração da terra e res-suscitou da morte. Tal comparação faz de Jonas uma prefiguração ou “tipo” do Messias.

Yahweh enviou Cristo para que Seu poder se mos-

trasse amistoso a todos os seres humanos. Em nossa era, o Deus Tri-úno sustenta e envia a Igreja a divulgar o evan-gelho. Intercala-se aqui o conceito de missio dei. Enviar Cristo parar salvar o mundo, enviar o Espírito Santo para auxiliar a Igreja compõe a missio dei. Entretan-to, a tarefa de pregar o evangelho a todas as nações é o desafio da Igreja. Nesse desafio, o Espírito Santo alimenta a Igreja e preserva sua mensagem pura até os nossos dias. São dois mil anos permeados de ‘milagres’ tais como apóstolos, mártires, pais da Igreja, os refor-madores e cada cristão individualmente. Esse é o Deus apresentado em Jonas: o Deus dos mila-gres e maravilhas.

Nosso desafio, como igreja, é dar continui-dade a esses ‘milagres’.

Nossa ação profética de anúncio do evangelho e ações libertárias e emancipadoras são ‘profecias dramatiza-das’ no palco dos acontecimentos históricos. E, nesse desafio, muitos ‘milagres’ acontecem. Quando nossa pregação/ação traz salvação, provocam mudanças e trazem libertação, por menor que sejam, vemos o po-der de Deus se historicizar. Devemos trabalhar para ampliar a magnitude desses pequenos ‘milagres’ locais. Nesse sentido, a proposta de uma práxis pautada pelo fazer/pensar teológico com a dimensão prática da ação diaconal procura ‘globalizar’ a ética cristã fundamen-tada nos princípios de cooperação, responsabilidade e reconhecimento (SCHAPER, 2009, p. 9).

A onipotência de Deus se revela historicamente em Sua graça universal.

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Conclusão

Chegamos ao final desse estudo na esperança de ter-mos conseguido realizar uma análise da historicidade/ficcionalidade de Jonas pautada pelo método científi-co-teológico comparativo na apresentação dos argu-mentos isagógicos e hermenêuticos que fundamentam uma interpretação histórica do livro de Jonas.

BibliografiaBAKER, D. W. ALEXANDER, T. D. STURZ, R. J. Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias. Série Cultural Bíblica.

São Paulo: Vida Nova, 2001.

HUMMEL, H. The Word becoming Flesh: an introduction to the Origin, Purpose and Meaning of the Old Testament. Saint Louis, EUA: Concordia, 1979

KEIL, C.F. Introduction to the Old Testament. v. 1 Peabody: Hendrickson, 1986.

KUNSTMANN, W. G. Os profetas Menores. Porto Alegre: Concórdia, 1983.

LAETSCH, T. The Minor Prophets. (Bible Commentary). Saint Lois: Concordia, 1956.

LASOR, W. S. HUBBARD, D. V. BUSH, F. W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999.

LEMANSKY, J. The Jonah’s Nineveh. Concordia Journal. v. 18 nº1 p. 40-48. Jan. 1992.

SCHAPER, V. G. A tolerância entre solidariedade e reconhecimento. São Leopoldo: EST-EAD, 2009.

SHÖKEL, L. A. DIAZ, J. L. Profetas II: Ezequiel, Profetas menores, Daniel, Baruque, Carta de Jeremias. (Grande Comentário Bíblico). São Paulo: Paulinas, 1991.

SPAUDE, C. W. Obadiah, Jonah, Micah (The people’s bible). Milwaukee: North Wester, 1987.

UNGER, M. F. Introductory Guide to the Old Testament. Grand Rapids: Zondervan, 1951.

WALTON, J. Jonah (Bible study commentary). Grand Rapids: Zondervan, 1982.

WATTS, J. D. W. The books of Joel, Obadiah, Jonah, Nahum, Habakuk and Zechariah. London, New York, Melbourne: Cambridge, 1975

YOUNG, J. E. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1964.

Demais Referências

ALLEN, L. C. The books of Joel, Obadiah, Jonah and Micah. s.l. W. B. Eerdmans, 1976.

HAAN, M. R. Jonah. Grand Rapids: Zondervan, 1957.

LUTERO, Martinho. The Minor Prophets. Saint Louis: Concordia, s.d .

ROOS, Deomar. Apostila de Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: ICSP-EST, 2000.

ROOS, Deomar. Apostila de Isagoge do Antigo Testamento. São Paulo: ICSP-EST, s. d.

Conclui-se, com base naquilo que foi posto neste artigo, que uma interpretação histórica de Jonas enal-tece a onipotência de Deus e torna a universalidade da graça de Deus um ‘acontecimento histórico’ também na Nínine do século VIII a.C.Rev. Mário Rafael Yudi Fukue, trabalho apresentado à Escola Superior de Teologia

— São Leopoldo, é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Passo Fundo-RS.

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A EstrelaAs Estrelas eram símbolos

bastante comuns na vida dos antigos. Os astrólogos desenvol-veram uma pseudociência, combi-nada com crenças religiosas, a qual acreditava na influência das estrelas sobre os sentimentos humanos e que sua posição no céu indicava algo sobre eventos na terra. Até hoje as estrelas são usadas como símbolos. Policiais as usam como escudos que simbolizam sua autoridade. Pessoas de qualidades brilhantes para as ar-tes cênicas ou esportes são chama-das de estrelas (astros).

Estrelas aparecem evidenciadas em nossas igrejas e casas — Estre-las de cinco pontas — durante o período de Advento e Epifania. O significado que nós encontramos para isto vem da Bíblia. No Antigo Testamento a vinda do Salvador é mostrada sob a figura de uma estre-la. Apontando, é claro, para a crian-ça de Israel, Balaão a abençoou com a seguinte profecia: “Olho para o futuro e vejo o povo de Israel. Um rei, como uma estrela brilhante, vai aparecer naquela nação; como um cometa ele virá de Israel. Ele derro-tará os chefes dos moabitas e acaba-rá com esse povo orgulhoso.” (Nm 24.17).

A Festa de Epifania marca o Natal dos Gentios. No Novo Tes-tamento está registrada a história dos sábios que vieram adorer Jesus Cristo e que a estrela apontava o lu-gar onde o menino deveria nascer. A estrela é parte importante desta história, pois ela guiou os Magos até Belém.

Estrelas — as reais no céu e suas representações que nós podemos fa-zer — são muito significativas para os cristãos. Elas nos lembram do Criador e sua maravilhosa criação. O Salmista chama lua e estrelas de trabalho das mãos de Deus. Ainda mais, a es-trela no período de Epifania apon-ta para a salvação que nos trouxe nosso abençoado Salvador, que por meio de João nos diz: “ Eu, Jesus, enviei o meu

Rev. Jarbas Hoffimann Pesquisa e Adaptação

anjo para anunciar essas coisas a vo-cês nas igrejas. Eu sou o famoso des-cendente do rei Davi. Sou a brilhan-te estrela da manhã.” (Ap 22.16)

Soprano

Baixo

Violão

7 7 7

16 16

16

25

25 25

Três Reis magos do Oriente a sósL. e M. : John Henry Hopkins Jr, 1857

Trad.: Ruth See, 1938/Antônio de Campos Gonçalves, 1947Arr. 2 vozes.: Jarbas Hoffimann, 2008

[email protected]; www.pastorjarbas.blogspot.com

Música

35 35 35

45 45

45

55 55

55

65

65 65

2 Três reis magos

75 75

75

84 84

84

94

94 94

104

104 104

3Três reis magos

114 114

114

125

125 125

135

135 135

145 145

145

4 Três reis magos

155

155 155

165 165 165

5Três reis magos

Os Reis MagosOs Magos são figuras que representam bem a Epifania.Eles não foram personagens criados pela tradição. Estão muito bem testemunhados no Evangelho.Eles seguiram uma estrela e chegaram até onde Jesus estava. Era o Filho de Deus, o Messias, dos judeus, que não

ficaria apenas para os judeus. Jesus foi enviado para todo o povo. Até mesmo os gentios, como os Reis Magos, são objeto de Salvação, pois Deus quer salvar a todos.

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 83

Comissão de Culto da IELB litúrgica: culto de natal

Sugestão Litúrgica para o Culto de NatalVeja uma sugestão de liturgia para o culto de Na-

tal. Aqui aparece sem a formatação adequada para uso prático no culto. Caso queira formatar à vonta-de, este texto pode ser usado. Caso queira o material finalizado, verifique no blog da Comissão de Culto da IELB (www.liturgialuterana.blogspot.com).

Lá você vai encontrar o material para imprimir, bem como para ser projetado e as partituras das me-lodias sugeridas nesta liturgia.

Legenda:

P Pastor de pé

C Congregação sentados

T Todos ajoelhados

|: Repetir o canto. cantar

1. Prelúdio ou Hino Processional

2. Saudação e InvocaçãoP.: Deus Pai nos envia Jesus, o Rei benditoC.: que vem a nós como Salvador.P.: Ele é Rei-menino, homem Deus, Redentor.C.: que com o Espírito Santo, é o Deus triúnoP.: Criador, Salvador, Santificador. A quem rende-

mos culto, honra e glóriaT.: Em nome do PAI, do FILHO e do ESPÍRITO

SANTO. Amém.

Oração Pessoal

Natal é vida!Jesus iniciou sua vida aqui entre nós...Para mais tarde entregar sua vida...E voltar novamente à vida três dias depois...Dando novo sentido às nossas vidas!Nos proporcionando esperança de vida — eterna!Natal é vida completa em Jesus!Que este seja um Natal vido em alegria e esperança

dentro de nossos corações,motivando-nos para mais um ano de nossas vidasrepleto de bênçãos do Doador da verdadeira vida.Amém.

3. Canto congregacional responsivo (HL 15)

P.: Felicíssimo, contentíssimo, tempo santo de Natal!C.: Amor profundo salvou o mundo. Alegrai-vos, alegrai-vos, ó Cristãos.P.: Felicíssimo, contentíssimo, tempo santo de Natal!C.: O rei da glória trouxe a vitória! Alegrai-vos, alegrai-vos, ó Cristãos.C.: Felicíssimo, contentíssimo, tempo santo de Natal! Coros divinos cantam seus hinos. Alegrai-vos, alegrai-vos, ó Cristãos.

4. Leitura Responsiva — Is 9.2-3, 6-7P.: O povo que andava na escuridão viu uma forte

luz;C.: A luz brilhou sobre os que viviam nas trevas.P.: Tu, ó Deus, aumentaste esse povo e lhe deste

muita felicidade.C.: Eles se alegram pelo que tens feito, como se ale-

gram os que fazem as colheitas.P.: Ou como os que repartem as riquezas tomadas

na guerra.C.: Pois já nasceu uma criança, Deus nos mandou

um menino que será o nosso rei.P.: Ele será chamado de “Conselheiro Maravilho-

so”, “Deus Poderoso”, “Pai Eterno”, “Príncipe da Paz”.

C.: Ele será descendente do rei Davi;P.: O seu poder como rei crescerá, e haverá paz em

todo o seu reino.C.: As bases do seu governo serão a justiça e o direi-

to,P.: Desde o começo e para sempre.T.: No seu grande amor, o senhor todo-poderoso

fará com que tudo isso aconteça.

5. Confissão dos pecados e Absolvição

P.: Querido Pai, reconheço que pequei e que me-reço a tua condenação.

C.: Com muitos de meus erros, causo divisões e dis-córdias.

P.: Com muitas de minhas atitudes, desobedeço tua santa vontade.

C.: Em meu ser, tenho a inclinação para o erro, que somente tua palavra pode perdoar.

P.: Por isso, peço que me perdoes, restaures, que me tires toda culpa e dor.

C.: E ajuda-me, por teu Espírito Santo, a viver uma vida conforme o teu caminho.

84 | Teologia | Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011

litúrgica: culto de natal

P.: Peço em nome e por amor de Jesus,T.: Nosso único e suficiente Salvador, Amém.P.: O Deus de toda graça teve compaixão de nós, e

a todos os arrependidos que confiam nesta gra-ça salvadora, ele perdoa, restaura a esperança e dá poder para se tornarem seus filhos. Vai em paz! Perdoados estão os teus pecados em nome do PAI e do FILHO e do ESPÍRITO SAN-TO. Amém.

6. Salmo

7. Glória T.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito.

Como era no princípio, agora é e por todo o sempre há de ser! Amém.

8. Oração P.: Pai Celestial, que nos deste o teu Filho, Rei

nascido em Belém, para que nos fosse sacrifício pelo pecado, bem como exemplo de vida san-ta, dá-nos a tua graça para que recebamos com agradecimento este enorme benefício, e dá-nos a capacidade de seguir os passos de sua vida santa. Pelo mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, nascido em humildade em Belém. Aleluia. Amém.

9. Canto Congregacional (HL 549) Ó tempo santo de Natal, Tu tens mensagens lindas! O mundo não tem luz nem paz, Mas isto meu Jesus me traz. Ó tempo santo de Natal, Tu tens mensagens lindas!

Ó tempo santo de Natal, Alegras toda a gente! Jesus a cada coração Traz vida, paz, consolação. Ó tempo santo de Natal, Alegras toda a gente!

10. Leituras

Tito 3.4-7P.: Porém, quando Deus, o nosso Salvador, mos-

trou a sua bondade e o seu amor por todos, ele nos salvou porque teve compaixão de nós, e não porque nós tivéssemos feito alguma coisa boa. Ele nos salvou por meio do Espírito Santo, que nos lavou, fazendo com que nascêssemos de novo e dando-nos uma nova vida.

Deus derramou com generosidade o seu Espíri-to Santo sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o nosso Salvador.

E fez isso para que, pela sua graça, nós sejamos

aceitos por Deus e recebamos a vida eterna que esperamos.

Evangelho de Lucas 2.1-20P.: Naquele tempo o imperador Augusto mandou

uma ordem para todos os povos do Império. Todas as pessoas deviam se registrar a fim de ser feita uma contagem da população.

Quando foi feito esse primeiro recenseamento, Cirênio era governador da Síria.

Então todos foram se registrar, cada um na sua própria cidade.

Por isso José foi de Nazaré, na Galiléia, para a região da Judéia, a uma cidade chamada Belém, onde tinha nascido o rei Davi. José foi registrar--se lá porque era descendente de Davi.

Levou consigo Maria, com quem tinha casa-mento contratado. Ela estava grávida, e aconte-ceu que, enquanto se achavam em Belém, che-gou o tempo de a criança nascer. Então Maria deu à luz o seu primeiro filho. Enrolou o meni-no em panos e o deitou numa manjedoura, pois não havia lugar para eles na pensão.

Naquela região havia pastores que estavam pas-sando a noite nos campos, tomando conta dos rebanhos de ovelhas.

Então um anjo do Senhor apareceu, e a luz glo-riosa do Senhor brilhou por cima dos pastores. Eles ficaram com muito medo, mas o anjo dis-se:

MULHERES.: Não tenham medo! Estou aqui a fim de trazer uma boa notícia para vocês, e ela será motivo de grande alegria também para todo o povo! Hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês - o Messias, o Se-nhor! Esta será a prova: vocês encontrarão uma criancinha enrolada em panos e deitada numa manjedoura.

P.: No mesmo instante apareceu junto com o anjo uma multidão de outros anjos, como se fosse um exército celestial. Eles cantavam hinos de louvor a Deus, dizendo:

T.: Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!

P.: Quando os anjos voltaram para o céu, os pasto-res disseram uns aos outros:

HOMENS.: Vamos até Belém para ver o que aconteceu; vamos ver aquilo que o Senhor nos contou.

P.: Eles foram depressa, e encontraram Maria e José, e viram o menino deitado na manjedoura. Então con-taram o que os anjos tinham dito a respeito dele.

Todos os que ouviram o que os pastores disse-ram ficaram muito admirados.

Maria guardava todas essas coisas no seu cora-ção e pensava muito nelas.

Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011 | Teologia | 85

Então os pastores voltaram para os campos, cantando hinos de louvor a Deus pelo que ti-nham ouvido e visto. E tudo tinha acontecido como o anjo havia falado.

T.: Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!

11. Confissão da féP.: Creio em Deus Pai todo poderoso, criador do

céu e da terra.C.: Creio que este mundo não surgiu por acaso,

ou por uma simples explosão, mas creio que foi Deus quem o criou.

P.: Creio em Jesus Cristo, filho único de Deus, nascido da virgem Maria pela ação do Espírito Santo.

C.: Creio que Jesus morreu na cruz para perdoar todos os meus pecados, que ele ressuscitou no domingo de Páscoa e que 40 dias após, subiu ao céus para preparar um lugar para todos os que nele creem. Creio também que ele voltará, visivelmente e em glória, para julgar os vivos e os mortos.

P.: Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Cristã - a comunhão dos santos, na remissão dos peca-dos, na ressurreição da carne e na vida eterna.

C.: Eu creio que jamais poderia ser filho de Deus, se não fosse o Espírito Santo. Ele entrou em meu coração e me deu a fé. Creio também que existe vida após a morte. Creio em Ressurrei-ção, e não em Reencarnação, porque a Bíblia diz: “Aos homens está ordenado morrer uma só vez e depois disto, o juízo”. Amém. (Hb 9.27).

12. Canto Congregacional (HL 549) Ó tempo santo de Natal, Tu tens mensagens lindas! O mundo não tem luz nem paz, Mas isto meu Jesus me traz. Ó tempo santo de Natal, Tu tens mensagens lindas!

Ó tempo santo de Natal, Eternamente lindo! Reina alegria em terra e céu: O amor do Pai, Jesus nos deu. Ó tempo santo de Natal, Eternamente lindo!

13. Mensagem

14. Ofertório e Recolhimento das ofertas de gratidão

“Que cada um dê conforme resolveu no coração, não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria”. (2Co 9.7).

15. Oração Geral + Oração NatalinaP.: (Concluindo) — Ó Senhor Deus, nosso Pai,

nossos corações estão cheios de alegria porque iluminaste a primeira noite de Natal com o res-plendor do teu Filho, o pequeno Jesus, a Luz do mundo. Concede, ó Pai, que assim como esta luz nos conduziu aqui à tua casa, ela tam-bém ilumine e conduza os nossos corações sem-pre no caminha da luz divina.

Concede que a mensagem do Natal nasça, re-nasça e viva nos corações de todas as pessoas na face da terra.

Por Jesus, o menino de Belém, o nosso Salva-dor. Amém.

16. Canto Congregacional (HL 555)1. Oh! Vinde, meninos, Não falte ninguém! Correi ao presépio da gruta em Belém, E vede o presente sublime que Deus Na noite feliz nos envia dos céus.

2. Oh! Vede deitado do mundo áurea luz, Criança divina, que é Cristo Jesus; Em faixas envolto, eis o Filho de Deus, Mais meigo e formoso que os anjos dos céus.

3. Maria e José enlevados estão, Pastores humildes, em grata oração; E os anjos alegres entoam louvor Com voz jubilosa a Jesus Salvador.

4. De joelhos, meninos, de joelhos orai, As mãos para prece sincera elevai; Uni vossas vozes com santo fervor Ao coro dos anjos, louvando ao Senhor!

17. Pai NossoT.: Pai nosso, que estás nos céus. Santificado seja

o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também per-doamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação. Mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, o poder, e a glória, para sempre. Amém.

18. Palavras da InstituiçãoP.: Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi

traído, tomou o pão C.: e, tendo dado graças, o partiu e o deu a seus dis-

cípulos dizendo: P.: “Tomai, comei, isto é o meu corpo, que é dado

por vós. Fazei isto, em memória minha”. C.: E, semelhantemente também, depois da ceia,

tomou o cálice e, tendo dado graças, o entre-gou, dizendo:

litúrgica: culto de natal

86 | Teologia | Dezembro, 2010 e Janeiro, 2011

litúrgica: culto de natal

Liturgia completa e em diversos formatos no blogue Liturgia Luterana. Inclusive as melodias para as partes cantadas, sugeridas nesta liturgia. www.liturgialuterana.blogspot.com

P.: “Bebei todos deste. Este cálice é o Novo Testa-mento no meu sangue, que é derramado por vós para a remissão dos pecados. Fazei isto quantas vezes o beberdes, em memória minha”.

P.: A paz do Senhor seja convosco para sempreC.: Amém.

19. Agnus Dei|: Cordeiro Divino, morto pelo pecador, sê compassivo! :| Cordeiro Divino, morto pelo pecador, a paz concede! Amém!

20. Distribuição (Hinos Natalinos)

21. Ação de GraçasT.: Te agradecemos, o Pai, por este presente que

salva. Pedimos que esta Santa Ceia nos fortale-ça a fé em ti e nos dê mais motivação para servir o nosso semelhante em amor. Mediante Jesus, nosso Salvador e Senhor. Amém.

22. Bênção

e Avisos

23. Canto Final - HL 5601. Noite Feliz! Noite Feliz! Ó Senhor, Deus de amor, Pobrezinho nasceu em Belém. Eis na lapa Jesus, nosso Bem! Dorme em paz, ó Jesus! Dorme em paz, ó Jesus!

2. Noite Feliz! Noite Feliz! Eis que no ar vêm cantar. Aos pastores os anjos dos céus, Anunciando a chegada de Deus, De Jesus Salvador! De Jesus Salvador!

3. Noite Feliz! Noite Feliz! Oh! Jesus, Deus da luz, Quão afável é teu coração Que quiseste nascer nosso irmão Para a todos salvar! Para a todos salvar!

24. Poslúdio e Recessional

Se a nossa maior necessidade fosse educação, Deus teriamandado um pedagogo; se fosse tecnologia, teria mandadoum cientista; se fosse dinheiro, um economista;mas como nossa maior necessidade era perdão, amor e vida,Deus nos mandou o Salvador — Jesus.

A mãe — ficou grávida sendo virgem.O Pai — abraçou o compromisso.O Rei — nasce em um estábulo.A notícia — é anunciada por um anjo.O sinal — uma estrela no céu.Os divulgadores — simples pastores de ovelhas.A história — ganhou o mundo.Meio incrível, não? De fato. É por isso que o Natal é festa da FÉ!Neste Natal, tudo bem que o Papai Noel entre pela chaminé ou pela porta. Mas o quarto — o lugar em seu coração — reserve para o Menino Jesus!

Um feliz Natal e abençoado ano novo a todos.Pastoral da ULBRA.

Toque de Natal!

O assunto é Wikileaks — um site na inter-net que publica documentos, fotos e in-

formações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. No último dia 28 de novembro, esta organização divulgou mais de 250 mil documentos secretos enviados de embaixadas americanas ao redor do mun-do a Washington. A maior parte dos dados trata de assuntos diplo-máticos — que provocou reação negativa de diversos países e deixou o governo dos Estados Unidos muito envergonha-do.

O logotipo do Wikileaks — o planeta Terra vazando — mostra bem que nestes tempos da Inter-net, nada fica em segredo por muito tempo. Tudo vaza. Bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque a gente fica sabendo de coisas que nunca deveriam ficar em segre-do. Ruim porque, cedo ou tarde, os nossos próprios segredos e confidências estarão às vistas de todos. Quem sabe um cumprimento profético daqui-lo que disse Jesus sobre a falsidade: “Tudo o que está coberto vai ser descoberto, e o que está escondido será conhecido. Assim tudo o que vocês disserem na escuridão será ouvido na luz do dia. E tudo o que disserem em segredo, dentro de um quarto

O “wikileaks” de cada umfechado, será anunciado abertamente” (Lucas 12.2-3).

O teólogo Dietrich Bonhoeffer, que morreu torturado nos campos nazistas, escreveu que nos acostumamos a viver com um duplo enga-no que permite até viver despreocupadamente. Acreditamos que os nossos erros ficarão para

sempre no abismo do esquecimento, e que o oculto nunca será revelado. “Vivemos duas vidas, uma pública e uma escondida”, disse o mártir alemão. No tempo dele não tinha Internet, mas se referia ao enga-no humano diante do wikileaks

divino.Conta-se que uma viúva teve

problemas com o testamento, e foi procurada por um advogado ami-

go que se ofereceu para cuidar da questão. No entanto, a viúva demo-

rou em buscar auxílio jurídico. Percebendo a gravidade, foi ao encontro do advogado, mas este a recebeu com as seguintes palavras: — Sinto muito, mas agora fui escolhido para ser o

juiz desta questão.Escreve a Bíblia:

“Se alguém pecar, temos Jesus Cris-to...; ele nos defende

diante do Pai” (1º João 2.1). É Advento, tempo para

fugir dos nossos enganos e crer na reveladora história do Natal.

Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS

Direto ao Ponto