Revista .txt - Edição 9

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Guarnição Sobremesas BARULHO NO CARDÁPIO SOM ALTO EM FRENTE AO RU E CARREATAS EM TORNO DOS PRÉDIOS CENTRAIS GERAM POLÊMICA BOM APETITE! INFRAESTRUTURA DO CAMPUS À NOITE PÁGINA 12 CONSEQUÊNCIAS DO BOICO- TE AO ENADE NO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PÁGINA 8 27 HORAS DE TEA- TRO EM VALE DO SOL PÁGINA 20 Prato Principal .txt Cardápio do Dia Ano III - Número 9 Maio de 2010

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Revista .txt, produzida por acadêmicos de jornalismo da UFSM. Número 9

Transcript of Revista .txt - Edição 9

Guarnição

Sobremesas

Barulho no Cardápio

Som alto em Frente ao ru e CarreataS em torno doS prédioS

CentraiS geram polêmiCa

Bom apetite!

inFraeStrutura do CampuS À noite

página 12

ConSeQuênCiaS do BoiCo-te ao enade no CurSo de CiênCiaS SoCiaiS

página 8

27 horaS de tea-tro em Vale do Sol

página 20

Prato Principal

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Revista Laboratório do 5º semestre de Jornalismo UFSMEdição: Marília Denardin BudóDiagramação: Bibiano Girard, Guilherme Gehres, José Luiz Zasso, Luciana Minuzzi, Mariana Soares e Tiago Miotto. Revisão: Ananda Müller, Gianlluca Simi, Jaqueline Araujo, Lara Niederauer e Nathália Costa Professora Responsável: Marília Denardin Budó DRT/RS 12238Arte de Capa: Mariana SoaresEndereço: Campus UFSM, prédio 21, sala 5234Telefone: (55) 3220 8811Impressão: Imprensa UniversitáriaData de fechamento: 13 de maio de 2010Tiragem: 500 exemplares

[email protected]

sumário

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expediente

Entrevista com o professor Janio Santurio sobre pesquisa acadêmica e Pitiose.

RU: NOVIDADES E CONTRATEMPOS

Acessibilidade a passos lentos.

Som alto em frente ao RU do campus provo-ca discussões e controvérsias entre a comuni-dade acadêmica.

Rede de telemedicina promete uma revolu-ção no ensino e na prática médica no Brasil.

O “noite-a-noite” do campus da UFSM e o desenvolvimento de cursos noturnos.

Grupos da UFSM viajam para festival de teatro em Vale do Sol.

Acadêmicos convivem com famílias de pequenos agricultores e aprendem novas formas de ver a velha teoria.

20 cultura

22 cultura

Local em frente ao HUSM reúne diariamente histórias de vida.

24 perfil

7 de dentro para fora

6 de fora para dentro

17 paralelo

14 capa

18 categorias

8 geral

4 entrevista

LICA: há mais de duas décadas brincando de fazer arte.

12 geral

10 geral

O funcionamento da nova unidade do Restaurante

Universitário (RU) era a esperança de que o serviço fos-se melhorado e a espera nas longas filas fosse abreviada. No entanto, a Diretoria do RU teve que contornar ou-tros problemas. Mesmo com a diminuição das filas, o número de almoços servidos aumentou em 1.400.

Devido à grande demanda, os cozinheiros têm que trabalhar dobrado e a infraestrutura do restaurante não é a ideal para tanto serviço. A previsão de reformas na cozinha é para o mês de dezembro, época em que inicia o período de férias da Universidade. Segundo a equipe de nutrição, também faltam panelas para fazer a diversi-dade de pratos que os alunos estão acostumados.

Nas palavras do diretor Odone Romeu Denardin “tudo é imprevisível no RU”. Para melhorar o atendi-mento, ele sugere que as refeições passem a ser agen-dadas obrigatoriamente. Assim, haveria uma previsão da quantidade de almoços, e redução do desperdício de alimentos. Um avanço no RU da UFSM neste pri-meiro semestre de 2010 foi a substituição dos 5.400 copos descartáveis diários por copos e cremeiras reu-tilizáveis.

Para mais informações sobre os copos do RU, acesse:

www.coposdoru.wordpress.com

No dia 12 de abril, a Comissão Permanente do Vestibular (COPER-VES) realizou uma assembleia na Câmara de Vereadores de Santa Maria para apresentar a proposta da reitoria para o novo sistema de ingresso à UFSM. De acordo com a proposta, passaria a haver duas modalidades con-comitantes de prova: seriada e única. Seriam, no total, três dias de prova e um de redação. A longo prazo, aumentaria o peso da redação e se incluiriam provas de Artes, Educação Física e Sociologia.

No dia 7 de abril, entidades como o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM) e a Asso-ciação dos Servidores da UFSM (ASSUFSM) realizaram uma plenária para discutir alternativas de ingresso, pois, segundo elas, não lhes foi ofere-cida voz ativa na formulação da proposta que seria apresentada cinco dias depois. Pediram por mais tempo antes de uma decisão definitiva e também por maior participação da comunidade acadêmica nas discussões, as quais, segundo as entidades, concentaram-se na reitoria. A única certeza, nesse momento, é a da mudança.

O boicote do curso de Ciências Sociais ao Enade, suas motivações e consequências.

Fotos históricas mostram curiosidades à respeito da UFSM.

Saiba a origem dos alimentos ser-vidos no RU.

19 o arco da velha

Estrutura de assistência estudantil em Frede-rico Westphalen e Palmeira das Missões.

NOVO INGRESSO, NEM TÃO NOVO

Marília Denardin Budó

A produção de uma revista-labora-tório traz aos alunos lições que ultra-passam a mera técnica: o exercício da liberdade de imprensa em uma socieda-de democrática traz responsabilidades éticas e jurídicas. Ao tratar de questões polêmicas, a responsabilidade social da imprensa deve ser simultânea ao res-peito às liberdades e à pluralidade de pontos de vista.

Nesta edição da .txt, assuntos com essa característica são tratados: os ruí-dos em frente ao Restaurante Universi-tário e as consequências do boicote ao Enade. Na editoria Geral, constam ain-da uma matéria que confronta as novas vagas noturnas e a estrutura do campus à noite, e outra sobre a contradição en-tre a adoção de cotas para deficientes e o insuficiente investimento em acessi-bilidade.

A revista traz ainda variados assun-tos: a pesquisa e a produção de vaci-na na universidade, a participação de grupos da UFSM em um festival de teatro que durou 27 horas ininterrup-tas, o programa de estágio de vivência, a assistência estudantil no campus de Frederico Westphalen, entre outros tantos.

A novidade é a editoria O arco da velha, criada com o intuito de apre-sentar algumas imagens peculiares da UFSM ao longo de seus cinquenta anos de história, completados neste ano de 2010.

Desejamos a todos uma ótima lei-tura!

.txt Maio de 2010

carta ao leitor

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txtNo dia 12 de abril, a Comissão Permanente do Vestibular (COPER-

VES) realizou uma assembleia na Câmara de Vereadores de Santa Maria para apresentar a proposta da reitoria para o novo sistema de ingresso à UFSM. De acordo com a proposta, passaria a haver duas modalidades con-comitantes de prova: seriada e única. Seriam, no total, três dias de prova e um de redação. A longo prazo, aumentaria o peso da redação e se incluiriam provas de Artes, Educação Física e Sociologia.

No dia 7 de abril, entidades como o Diretório Central dos Estudantes (DCE), a Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM) e a Asso-ciação dos Servidores da UFSM (ASSUFSM) realizaram uma plenária para discutir alternativas de ingresso, pois, segundo elas, não lhes foi ofere-cida voz ativa na formulação da proposta que seria apresentada cinco dias depois. Pediram por mais tempo antes de uma decisão definitiva e também por maior participação da comunidade acadêmica nas discussões, as quais, segundo as entidades, concentaram-se na reitoria. A única certeza, nesse momento, é a da mudança.

Lucy dançou em meio a diamantes sinfônicos muito bem lapidados no céu de Santa Maria na noite do último dia 29 de abril. O Largo do Planetário, no campus da UFSM, transfor-mou-se num grande campo de morangos, talvez não para sem-pre, mas pelo menos durante os aproximadamente 120 minutos nos quais a banda santa-mariense cover de Beatles Band On The Run e a Orquestra Sinfônica de Santa Maria, sob regência do maestro Ênio Guerra, subiram no palco estruturado em fren-te ao Planetário Amarelo da Universidade.

A UFSM recebeu este presente, como o primeiro de uma série de regalos, pela comemoração de seu jubileu de ouro. O show iniciou aproximadamente às 19h e contagiou o público de quase três mil pessoas. O ápice da apresentação foi justamente o momento do bis, quando as canções “All You Need Is Love” e “Hey Jude”, dos Beatles, levaram a platéia a cantar em unísso-no por vários minutos. Imaginando todo mundo apenas com o céu sobre si? Exatamente! O show foi ao ar livre, e, obviamente, num dia tão especial, não houve inferno abaixo de nós!

Foto: Ronei Rocha

UM PLANETÁRIO DE SONS

NOVO INGRESSO, NEM TÃO NOVO

.txt: Algum motivo em especial para, dentre todas as doenças relacionadas a fungos, escolher a Pitiose?Professor Janio Santurio: Eu já trabalhava com Mico-logia há cinco anos, e aparece um desafio. Tinha um pônei doente no Hospital Veterinário, com uma lesão, um tumor muito grande na barriga e foi mandado ma-terial dele para nós, porque o clínico suspeitou que fos-se Pitiose. Analisei, confirmei o diagnóstico e mandei o resultado. Dois dias depois, aparece o dono do animal e pergunta: “tenho um menino de seis e um de qua-tro que estão aprendendo a andar no cavalinho e esse animal é como se fosse um cãozinho pra eles, não tem um remédio pra isso?”. Não tinha tratamento. O cavali-nho foi sacrificado. Isso me abalou profundamente e eu resolvi pesquisar. Cerca de 10 anos depois eu consigo montar algo que combate essa resposta errada que o animal tem diante à infecção.

.txt: Como são os anos de intervalo entre o início da pesquisa e os resultados positivos mais efetivos?J.S.: Foi uma luta que exigiu persistência. Quem traba-lha com pesquisa não pode desistir no primeiro revés que acontecer. Quem me ajudou muito foi a Embrapa, com a sede no Pantanal porque lá a doença é comum. Encontrei no Pantanal animais infectados para traba-lhar e foi aí que tudo andou. Acabei fazendo o controle microbiológico da vacina e agora estamos numa fase mais adiantada. Estamos trabalhando intensamente

para, talvez no futuro, conseguirmos uma va-cina preventiva.

.txt: Não existe maneira de prevenir a Pitiose?J.S.: Não, a não ser que, no caso dos cavalos, não deixe que o animal entre em contato com a água, o que é uma coisa complicada no Pan-tanal, por exemplo. Até mesmo no Nordeste, tivemos casos em que cavalos entravam em pe-quenos açudes e adquiriam a doença. O Pythium é um organismo que está em toda água, não há como domar a natureza nesse aspecto. Existe alguma coisa pela qual o animal ou a pessoa é mais suscetível a atrair o fungo. Ainda estamos tentando desatar esses nós, para isso temos pu-blicado muito no exterior, para trocar informa-ções. Posso afirmar que o Lapemi é fonte de referência a nível mundial em Pitiose.

.txt: O senhor citou que o Lapemi é referência

A história dos animais infectados com Pitiose não tinha um final feliz. O primeiro que o professor e pesquisador Janio Santurio viu

doente, morreu, deixando os donos e os filhos dos donos desolados. 101.555 é o número do primeiro fungo da Pitiose isolado por Santurio e pelos pesqui-sadores do laboratório em que trabalha: o Laborató-rio de Pesquisas Micológicas (Lapemi), no departa-mento de Microbiologia e Parasitologia do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da UFSM. Esse fungo saiu de uma lesão de um cavalinho que tinha a morte como destino certo. A vacina Pitium-Vac, patenteada pelo Lapemi em parceria com a Embrapa Pantanal, ajudou o cavalinho abandonado pelo dono e hoje ele coleciona títulos de concursos por todo o Brasil. Fi-nal feliz para o cavalo. Mas ainda há muito a se fazer. A vida de pesquisador é feita de experiências com resultados positivos e negativos. Os cavalos já estão se recuperando, mas muitos humanos sofrem com a doença. Como o pesquisador fica no meio dessa his-tória? Leia na entrevista a seguir com Santurio.

Luciana Minuzzi

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Quando a pesquisadá certo

Entenda a PitioseA Pitiose (Ferida-da-Moda) é uma

doença tumoral, ataca o tecido sub-cutâneo, podendo atingir órgãos inter-nos. É transmissível pelo contato com a água contaminada com o fungo, o Pythium insidiosum. Equinos são os que mais sofrem com a Pitiose, mas há muitos casos em bovinos, felinos e humanos. Não existe droga antifúngica para tratar a doença, a Pitium-vac tem se mostrado como a melhor alternativa para o tratamento da Pitiose em equi-nos. Mais informações no livro Pitiose: uma abordagem micológica e terapêu-tica, escrito pelos professores Janio Santurio e Laerte Ferreiro, ou no site: www.pitiose.com.br

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internacional no campo da Pitiose. Como os outros cientistas veem o trabalho do Laboratório?J.S.: O nosso trabalho está tendo aceitação. Tan-to que as revistas internacionais aceitam. Esse é o maior aval do nosso trabalho: a publicação. A acei-tação de um trabalho científico realmente tem valor quando publicado em uma revista científica, com aval da comunidade científica. Agora se mandar e ninguém aceitar, algo errado há.

.txt: O que o senhor sente quando vê um artigo so-bre a Pitiose publicado?J.S.: A satisfação de um trabalho desenvolvido, é poder divulgar conhecimento. Essa é a nossa ver-dadeira função aqui na universidade, não é ficar fe-chado em quatro muros. Para isso as pessoas pagam impostos e nos pagam o nosso salário. Tem que dar um retorno.

.txt: Quais os maiores desafios para um pesquisa-dor da sua área?J.S.: Manter-se atualizado é um grande desafio. A avalanche de novos conhecimentos é tão grande que se o pesquisador não se mantiver atento e não souber fazer uma seleção do que foi publicado, acaba tendo uma confusão mental de tanto disponível para ler. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesso-al de Nível Superior) tomou uma atitude revolucio-nária, passou a assinar revistas científicas a nível in-ternacional e colocou em um portal na Internet para as universidades e centros de pesquisa. Quer dizer, acesso a milhares de artigos online, na hora que qui-ser. Esse pra mim foi o principal motivo para elevar a qualidade da ciência no Brasil. O segundo gatilho foi a maior aplicação de recursos para pesquisa nas universidades através do Conselho Nacional de De-senvolvimento científico e Tecnológico (CNPq). Outro desafio é a deficiência de equipamentos e não só isso, mas os equipamentos se sucateiam e se tem pouco ou nenhum recurso para a manutenção deles. O outro grande fator que está limitando a pesquisa, é que hoje para você ter um estudante estagiário ou estudante com bolsa é complicado, porque tem uma série de imposições e de legislação sobre isso que faz com que fique mais caro ter um bolsista. E o outro é o pequeno número de bolsas na pós-graduação, porque muitos estudantes não têm condição de se manterem aqui. O aluno acaba tendo que trabalhar

para ter recursos, sem poder se dedicar totalmente ao doutorado. O outro problema é a importação de mate-riais. Há muita burocracia. Apesar de que aqui na UFSM nós temos o setor de patrimônio que é bem ágil nisso. Para fazer ciência no Brasil é muito mais caro do que no exterior. Força de vontade não falta. O brasileiro é mui-to capaz na área de pesquisa, desde que tenha apoio. Os recursos para pesquisa distribuídos deveriam ser mais bem fiscalizados também. Então nós temos esses vários problemas, mas não temos mais problemas de informa-ção. Na década de 80, a biblioteca recebia revistas com seis meses de atraso. Hoje é possível ler um trabalho no dia em que foi publicado.

.txt: O que o senhor diria a um pesquisador iniciante que almeja atingir um resultado positivo como no caso da Pitiose? J.S.: Se não tiver curiosidade científica, iniciativa, dis-ponibilidade, conhecimento teórico e prático e apoio técnico, você não consegue fazer nada. Terminou, ge-rou dados, escreve e publica. Tem que escrever, apre-sentar o que faz para ajudar aos outros e ao país. O de-senvolvimento da pesquisa não acontece da noite para o dia. É lutado, com paciência, se dá errado, começa de novo. Erramos muito mais do que acertamos até en-contrar o certo.

.txt: Como o senhor vê o futuro da Pithium-vac?J.S.: A cada mês, o número de doses vendidas da va-cina é dobrado. Nós vamos aperfeiçoá-la. Eu tenho a impressão de que em breve vamos passar as fronteiras do Brasil em termos de vendas. Estamos em negocia-ção para firmar convênio com a Mahidol University, na Tailândia, e possivelmente, desenvolver a vacina para os humanos, mas é incipiente, ainda não sabemos o que vai acontecer.

.txt: Como o senhor sente-se sabendo que sua pesquisa está dando certo?J.S.: É gratificante. Saber que a gente conseguiu recupe-rar um animal condenado à morte é uma recompensa enorme, porque conseguimos controlar isso de uma maneira, ainda não suficiente, mas já melhorou muito o problema que temos com Pitiose. Pesquisador, cien-tista, não pensa nunca em ficar milionário, é difícil isso acontecer. Essa é a maior recompensa que se pode ter: a certeza de que o seu trabalho ajuda os outros e escla-rece alguns problemas. .txt

“Essa é a maior recompensa que

se pode ter: a cer-teza de que o seu trabalho ajuda os

outros e esclarece alguns

problemas”

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Há mais de 30 anos, o professor Janio Santurio trabalha com pesquisa e ensino.

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Entrega de doces para o almoxarifado do RU

de fora para dentro

Guilherme Gehres e Mariana Soares

Milhares de pessoas comem todos os dias no Restaurante Universitário da UFSM. No entanto, a maioria delas não sabe de onde

vêm os alimentos que consomem no RU.

De onde vem a comida do RU?

O Restaurante Universitário da UFSM, o RU, serve diariamente cerca de 6.500 refeições entre café-

da-manhã, almoço e jantar. Para atender à de-manda, o RU firma contratos com empresas de diversos setores alimentícios. As compras são realizadas através de licitações anuais de produtos cadastrados no Portal de Compras do Governo Federal, o COMPRASNET (www.comprasnet.gov.br).

Esse portal registra a oferta de qualquer empresa privada apta a vender seus produtos para instituições públicas. Segundo a Chefa Administrativa do RU, Dione Siqueira, o RU recebe fornecimentos de várias regiões do país: “Qualquer empresa dentro do Brasil pode nos fornecer produ-tos. Se ela estiver regularizada no SICAF (Sistema de Cadastramen-to de Fornecedo-res), pode entrar no pregão”. Dessa forma, o RU tem a oportunidade de receber produtos de vários estados do Brasil e não apenas do Rio Grande do Sul.

No entanto, em relação ao setor alimen-tício, o que acontece é realmente o contrário: todas as empresas que fornecerão alimentos em 2010 são daqui do Estado. Segundo a equi-pe do RU, o principal motivo para que isso aconteça é a proximidade geográfica dos for-necedores. A aproximação faz com que os cus-tos com frete sejam mais acessíveis, inclusive quando for necessário trocar algum produto que venha com problemas de qualidade.

Outro motivo é que no Rio Grande do Sul há empresas conhecidas do restaurante, as quais já fornecem produtos há bastante tempo. Quatro delas são da região central do Estado, três de Santa Maria e uma de São João do Polêsine. Em Santa Maria, encontramos o Frigorífico Silva, o Stangherlin e o Panifício Mallet. O Frigorífico fornece os cortes de car-ne bovina, e o Stangherlin entrega os cortes de frango. Já o Panifício Mallet produz todos os pães fornecidos ao RU.

Em São João do Polêsine, encontra-se um dos fornecedores mais antigos em contrato com o RU, a Foletto Alimentos. Segundo Marco Antônio Foletto, dono da companhia,

a empresa fornece mandolates, paçocas e torrones há oito anos para o restaurante uni-versitário. Durante esse tempo, a empresa sofreu adaptações, como o investimento em máquinas e equipamentos para aumentar a produção. O RU é um de seus maiores com-pradores, sendo de dez mil unidades a média de entrega mensal.

Ainda na região central, encontram-se mais três fornecedores: a Saborespecial e a

Corrieri Alimentos de Santa Maria, e a Co-operativa Agrícola Mista de Nova Palma (CAMNPAL). A Saborespecial entrega os temperos, como orégano, alecrim, sálvia e manjerona. A CAMNPAL fornece alguns dos grãos, como, por exemplo, o arroz tipo 1, o feijão preto e o feijão de cor. Já a Corrieri Alimentos fornece massas e biscoitos.

Apesar de o RU ter vários tipos de for-necedores na região central, um gênero de produtos que ainda não se consegue aqui são os hortifrutigranjeiros. Eles são, geralmente, fornecidos por empresas da região metropo-litana do Estado, pois não há produtores da região central que produzam a quantidade suficiente para atender às demandas diárias do restaurante. É o caso da licitação de 2010, na qual legumes, frutas e verduras são forne-cidos pela Central de Abastecimento (CEA-SA) do Rio Grande do Sul, situada em Porto Alegre. No entanto, quem faz o intermédio dessa compra é a empresa santa-mariense Oliare Comércio de Produtos Alimentícios, que busca os produtos na capital para reven-der aqui no município.

Há também empresas de outras regiões do estado em contrato com o RU, como, por exemplo, a Sucsul de Bento Gonçalves (fornecedora de sucos concentrados), a dis-tribuidora Biesdorf de Rio Grande (fornece-dora dos filés de peixe) e Cooperativa Piá de Nova Petrópolis (fornecedora de produtos lácteos). Apesar da preferência por produtos alimentícios regionais, o Restaurante está sempre aberto a boas ofertas que surjam nos demais locais do país.

O RU da UFSM já é adepto do sistema COMPRASNET há sete anos, o qual otimi-zou o processo de encomenda e entrega de produtos. A partir do mês de junho já come-çam a ser abertas novas licitações no site, e o RU estará atento às novas ofertas do mer-cado. .txt

Para participarQuem pode? Estudantes de qualquer área.Quando? As edições dos EIVs não tem peridiocidade definida. Fique atento à divulgação pelos centros.Como se inscrever? Os interessados passam por uma série de seminários sobre agricultura, realidade sócio-ecôno-mica do Brasil e temas afins.Contato: membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e Departamento de Extensão Rural

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Em 1972, estudantes de todo o país organizaram a Federação dos Es-tudantes de Agronomia do Brasil,

a FEAB. Em plena ascensão da Revolução Verde, quando a agricultura se tornou uma atividade extensiva e altamente tecnológi-ca, começou-se a discutir que tipo de de-senvolvimento se almejava com a formação voltada ao mercado que as universidades brasileiras tinham importado das estadu-nidenses. Num país como o Brasil, em que 1% dos proprietários detêm metade das terras, os membros da FEAB queriam se distanciar dos laboratórios, das técnicas de plantio e das grandes colheitas para se aproximar da realidade da maioria dos agri-cultores brasileiros.

Desse contexto, em 1989, surgiram os Estágios de Vivência (EVs). A frase que os resume vem na conclusão do libreto que a FEAB fez em 2005 para explicar o proje-to, pelo qual é responsável: “como tornar a universidade um instrumento de cons-trução de conhecimento que beneficie o conjunto da sociedade?”. O mote é analisar para quê, ou melhor, para quem serve o co-nhecimento adquirido no decorrer de anos na universidade.

Os EVs eram períodos de tempo que estudantes das ciências rurais passavam com famílias de agricultores vinculados aos

Movimentos Sociais Populares a apreender dessa convivência a realidade social, eco-nômica e cultural de produtores que, em grande parte, trabalhavam para sobreviver, contrapondo-se aos grandes latifúndios que ainda dominam o Brasil. O primeiro EV oficial aconteceu em 1989, em Doura-dos, no Mato Grosso do Sul. Antes desse, várias experiências aleatórias já tinham sido feitas, mas sem alinhamento nacional, como passou a existir no final da década de oitenta.

Logo nos próximos anos, estudantes de outras áreas começaram a se interessar pe-los EVs, que passaram a, então, chamar-se Estágios Interdisciplinares de Vivência, os EIVs. Até hoje, estudantes de todas as ci-ências podem participar. “Sempre há algo a aprender”, conta Diego Pitirini, estudante de Agronomia, ligado à coordenação dos EIVs na UFSM. Diego participou do pro-jeto em 2008, quando passou dez dias com uma família de fumicultores em Santa Ca-tarina.

O primeiro EIV da UFSM se deu ofi-cialmente em 1998, mas já nos anos oitenta havia atividades que se assemelhavam à “fi-losofia eiviana” de hoje. Pedro Neumann, professor do Centro de Ciências Rurais, participou de um deles em 1985, um ano antes de se formar em Agronomia. Quan-

Gianlluca Simi

Universos de vivênciaOportunidades para

estudantes que desejam

ver mais do queensinam os livros

de dentro para foraIlu

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ção:

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albu

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do perguntado sobre como um estágio de vivência muda a visão sobre a área, ele res-ponde que “muda a abordagem da forma-ção profissional”.

Esse é justamente o objetivo, confirma Diego. “Tu não interferes nas atividades, como nos estágios profissionais. Tu estás lá para ver como aquela família faz. E isso serve para se refletir sobre a formação que temos na universidade”.

Grandes fazendas, organismos geneti-camente modificados, colheita exportada. A globalização não é o único caminho para quem participa dos EIVs. Como o que se aprende na universidade pode ser aplicado num contexto real e holístico? Como não ser formado para trabalhar exclusivamen-te em multinacionais e grandes fazendas? Como usar o conhecimento para trabalhar pela sociedade e não só tirar dela o sucesso [sic], medido pelo salário, pelo cargo e pe-las aparições nas colunas sociais?

Os EIVs são o complemento à formação tecnicista da universidade atual. Através de-les, os estudantes têm as chances de se apro-ximar de outras realidades e de re-arranjar o que aprendem para servir a toda a popula-ção e não somente a quem paga melhor. No fim, de complemento, os EIVs se tornam um canal com o propósito original das universi-dades: ser, enfim, universal. .txt

.txt Maio de 20108

geral

O boicote quase unânime causou uma inversão no conceito do cur-so, que na avaliação anterior, em

2005, havia obtido nota máxima na avalia-ção. As duas razões alegadas pelos alunos são: uma crítica à situação do curso na época, e ao sistema de avaliação das insti-tuições de ensino superior. Em entrevista a .txt, Ciro Oliveira, membro do Diretório Acadêmico das Ciências Sociais (DACS), explicou que durante os anos anteriores o curso passava por alguns problemas, con-dição agravada pela inexistência de diálogo com a coordenação.

Entre as dificuldades deflagradas, Ciro destaca a falta de docentes efetivos, de modo que os poucos professores em ativi-dade – boa parte, substitutos – tinham car-ga horária excessiva, chegando ao extremo de um professor ser responsável por dez disciplinas simultaneamente. Além disso, em 2008 foi criado o Mestrado em Ciên-cias Sociais, o qual polarizou a pesquisa docente. Outro fato relevante foi a falta de apoio, por parte da coordenação, à realiza-ção de uma Semana Acadêmica, que pôde ser concretizada somente por conta do fi-nanciamento concedido pelo Centro de Educação (CE). “A coordenação do curso

não estava habituada com estudante rei-vindicando, com a presença do aluno em reunião do colegiado”, salienta Ciro. Ele ex-põe também que, na época, os alunos não tinham voz nas reuniões do colegiado.

O ENADE

Embora o ENADE seja comumente tratado como uma avaliação isolada, ele surgiu como parte do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SI-NAES), instituído pela Lei 10861, de 14 de abril de 2004, e cuja finalidade, confor-me o Artigo 1º, é “assegurar [o] processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de gradua-ção e do desempenho acadêmico de seus estudantes”.

A partir de 2008, o ENADE passou a servir também como um dos três critérios utilizados como base para o cálculo do Conceito Preliminar de Curso (CPC). O CPC é um indicador prévio da situação dos cursos de graduação no país, criado “para agregar ao processo de avaliação da educação superior critérios objetivos de qualidade e excelência dos cursos”, se-gundo explicação no site do Ministério da

Educação (MEC).Além da pontuação final do ENADE,

o CPC leva em consideração duas outras compilações de dados: o Indicador de Di-ferença entre o Desempenho Esperado e Observado (IDD) – estimativa que busca verificar quanto o curso de graduação con-tribuiu aos alunos para o desenvolvimento das habilidades acadêmicas – e os insumos, que ponderam a respeito da infra-estrutura e instalações físicas, dos recursos didático-pedagógicos, do percentual de professores no mínimo doutores e do percentual de professores que cumprem regime parcial ou integral no curso.

À exceção dos dados acerca do corpo docente, todos os indicadores do Conceito Preliminar de Curso levam em consideração basicamente o resultado da prova e o ques-tionário respondido pelos alunos. Na visita do MEC, em caso de resultado insatisfató-rio, é firmado um protocolo de compromis-so com encaminhamentos e prazos para a solução dos problemas detectados, assim como punições previstas. Em virtude disso, os alunos criticam que a “avaliação prioriza a regulação e o controle do ensino superior, e não o seu financiamento (no caso da uni-versidade pública) e, assim, não garante a

Bibiano Girard e Tiago Miotto

Ainda há, no meio acadêmico, dúvidas sobre qual é o destino que o governo federal confere às notas do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, o ENADE. Em 2010, sur-giram boatos sobre a possível suspensão de novas matrículas no curso de Ciências Sociais da UFSM. O motivo seria o péssimo desempenho na prova decorrente do boicote realizado pelos alunos ao exame, dois anos atrás. Para verificar a procedência desses rumores, a equipe da revista .txt procurou esclarecer as motivações e consequências do boicote do curso de Ciên-cias Sociais ao ENADE.

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melhoria das condições do ensino“.

As críticas

A avaliação do ENADE, instituída pela portaria 2.051, de 9 de julho de 2004, clas-sifica o curso em categorias cuja pontuação varia entre a máxima de 5 e a mínima de 1, sendo que os cursos com conceito 1 e 2 recebem uma visita extraordinária de uma equipe aprovada pelo MEC, para avaliar a situação real e os problemas encontrados. Deste modo, um dos objetivos do boicote foi atrair a atenção do Ministério para as dificuldades diárias alegadas pelo corpo discente. Nessa oportunidade, os alunos pretendem entregar um documento intitu-lado Nota Zero para o Enade, salientando os motivos do descontentamento.

O documento destaca pontos consi-derados negativos acerca da metodologia do ENADE. O Exame é baseado na Lei de Diretrizes e Bases, que orienta os cur-sos de graduação. No entanto, os alunos consideram que o fato de a prova ser única acaba desconsiderando as particularidades regionais do país e a “complexidade do sis-tema de ensino superior do Brasil”, devido à não-diferenciação da prova entre os di-versos tipos de instituições. É considerada problemática também a falta de participa-ção da sociedade civil na construção do sistema de avaliação.

O texto ainda critica a disseminação de boatos acerca do boicote, ponto reforçado por Ciro Oliveira: “havia uma certa políti-ca de boatos, como o de que a nota seria di-vulgada, sendo que é garantido por lei que a apresentação da nota é individual. [Dizia-se também] que o pessoal não ia conseguir entrar no mestrado por causa da nota bai-xa. Foram boatos que se espalharam pelos corredores e que a gente foi procurar no

estatuto, no projeto de lei e comprovamos que isso não era verdade.”

Além disso, os alunos consideram inco-erente o fato de a avaliação não diferenciar instituições públicas e privadas. A razão disso é a utilização do ranqueamento por instituições particulares como uma forma de publicidade. Em virtude disso, há de-núncias de universidades que oferecem cursos de preparação aos alunos seleciona-dos para a prova, premiações aos melhores colocados e até contratam professores pós-doutores durante o período em que a visita in loco do MEC pode se realizar.

O ENADE e o repasse de verbas

Uma das principais dúvidas acerca do ENADE é a relação de seus resultados com o repasse de verbas, maior ou menor, às ins-tituições públicas de ensino superior e aos cursos de graduação. No documento Nota zero para o ENADE, os alunos afirmam entender que “o SINAES não é, de forma alguma, um avanço rumo a uma avaliação realmente comprometida com a qualidade do ensino, e que esse processo estrangula o ensino público por meio de corte de ver-bas, exonerando o Governo de seu papel de promotor de políticas públicas para a educação.”

Quando perguntado acerca da relevân-cia legal que o resultado da avaliação dos cursos tem no cálculo do repasse das ver-bas, o economista da Pró-Reitoria de Pla-nejamento (PROPLAN) da UFSM, Frank Leonardo Casado, afirma: “o Ministério da Educação atua de forma legislatória para aplicar a prova, e o estudante que não fizer não ganha diploma. Essa é a única legisla-ção do MEC sobre o ENADE. O ENADE e o SINAES não têm nenhum peso na distri-buição de recursos do MEC. Para qualifica-

ção, ranking nacional, sim”.No Governo Federal, o que norteia a

distribuição de recursos entre os ministé-rios é a base de planejamento e execução orçamentária, votada no final de cada ano, tendo em vista o ano seguinte. Por lei, 75% das verbas encaminhadas ao Ministério da Educação são destinadas ao ensino supe-rior. Os recursos, então, são distribuídos para cada instituição federal considerando o número de diplomados, vagas oferecidas e número de ingressantes. Por meio deste cálculo, o MEC pode visualizar o tamanho relativo das instituições e enviar as verbas de forma proporcional.

Cada instituição estabelece seus pró-prios parâmetros para a utilização de re-cursos. Dentro da UFSM, acontece a distri-buição direta aos Centros Administrativos com base no Índice de Distribuição de Re-cursos.

Deste modo, o cálculo que determina o montante das verbas destinadas à UFSM pelo MEC é diferente daquele que distribui as verbas dentro da Universidade. “Deveria ser o mesmo critério para distribuição de verbas. A nossa distribuição tem critérios diferentes do Ministério. É um acordo feito entre os diretores de centro, não é uma de-terminação da Reitoria. O MEC não anali-sa pesquisa. O critério deles é quantitativo, o nosso é qualitativo. Não há solicitação por demanda, por algo novo. Para o MEC, é pelo tamanho do curso, e para a UFSM, pela produção. Não é por necessidade”, diz Frank Casado.

Desse modo, os resultados do ENADE, propriamente ditos, não interferem direta-mente no repasse de verbas destinadas aos cursos. No entanto, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 7200/2006, re-ferente à implantação efetiva da Reforma Universitária. O artigo 44 do Projeto trata da distribuição de recursos entre as insti-tuições de ensino superior federais. No seu segundo parágrafo, fica estabelecido que o repasse dos recursos deverá observar, no mínimo, certos indicadores de desempe-nho e qualidade, entre eles, os resultados da avaliação pelo SINAES.

A situação no curso de Ciências Sociais melhorou expressivamente depois do boi-cote. A resolução perceptível dos proble-mas não foi uma consequência exclusiva da ação, mas esta última foi significativa para as mudanças. Foi estabelecido o diálogo entre coordenação e alunos, e professores foram contratados para cobrir as discipli-nas desfalcadas. Tão importante quanto re-solver os problemas do curso, contudo, é o interesse em suscitar uma discussão social ampla sobre a constituição, a implementa-ção e a finalidade de um sistema de avalia-ção do ensino superior. .txt

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Guilherme e Ciro, estudantes de Ciências Sociais, no Diretório Acadêmico

Foto: Tiago Miotto

O longo caminho em direção à acessibilidade

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geral

Reformas e adaptações a passos lentos devido à falta de recursos

Janayna Barros

A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) se adiantou e reformou banheiros no térreo da Casa do Estudante Universitário II (CEU II) para que fossem de fácil acesso a pessoas em cadeiras de roda. O prédio 26 do CCS, que já contava com elevador, passa por reformas: rampas de acesso, vagas de estacionamento exclusivas para deficientes e banheiros adaptados em todos os andares. Da mesma forma, ações foram realizadas no prédio anexo do Centro de Tecnologia (CT), no Centro de Educação (CE), no prédio 74 do CCSH: todos foram equipados com elevador durante a sua construção. Ainda pode-se mencionar a reforma na entrada do prédio da Reitoria, onde foram instaladas lajotas tácteis e foram implantadas duas vagas de estacionamento para deficientes, uma delas é no vão de entrada (para tan-to foi instalado piso antiderrapante e foi realizado o nivelamento do local). Atualmente, outro local que passa por reformas é a piscina do CEFD, toda a estrutura dos banheiros está sendo modificada: nivelamento, colocação de piso anti-derrapante e de barras.

Desde o vestibular de 2008, a UFSM aderiu ao sistema de cotas e nelas se incluem as pessoas com algum

tipo de deficiência, seja ela visual, auditiva, física, motora ou mental. A inclusão é pre-vista em lei e foi sancionada pelos decretos 5.296 de 2 de dezembro de 2004 e 5.626 de 22 de dezembro de 2005. No entanto, a adaptação de uma instituição esbarra na burocracia e, em alguns casos, na falta de boa vontade de alguns.

Ao contrário do que se pode supor, o fato de a UFSM ter aderido ao sistema de ingresso por cotas não garante um aumen-to na verba repassada pelo governo federal. De acordo com a Pró-Reitoria de Infraes-trutura, a própria universidade deve rema-nejar recursos para as reformas necessárias. Segundo a chefa do Setor de Planejamento Urbano Maria de Lourdes Afonso dos San-tos, foi feito um levantamento das modifi-cações necessárias nos prédios e o valor es-timado para realizar essas adaptações - que incluem construção de rampas e colocação de elevadores - deve ser de dois milhões de reais. Vale ressaltar que nesse valor não es-tão incluídos gastos para melhoria de calça-mento e asfaltamento das ruas internas da UFSM.

A instalação de rampas de concreto em substituição às de madeira e a colocação de lajotas tácteis (as quais indicam as direções através do tato dos pés) são algumas das muitas mudanças que são almejadas. Mas

Maria de Lourdes afirma que as reformas são feitas de acordo com a demanda: “a gente não pode começar a reforma de um prédio onde não há um aluno com defici-ência e, logo em seguida, surgir um aluno com deficiência em outro, pois o recurso é escasso e faltaria para a reforma do outro. Infelizmente, é preciso trabalhar sob de-manda. Nós estamos reformando primeiro os prédios onde há necessidade imediata. Se houvesse recurso só para a adaptação, a história seria muito mais fácil”.

Outro fato interessante é que qualquer novo prédio construído é feito dentro das normas de acessibilidade (banheiros adap-tados e elevador). Porém, a estrutura ex-terna (calçadas com rampas de acesso ou lajotas tácteis) não se inclui na verba de construção. Os recursos dessas e outras ne-cessidades saem do orçamento da UFSM.

Enquanto as reformas vão a passos len-tos, outras ações ajudam na melhor adap-tação daqueles com deficiência. O Centro

Reformas em andamento

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de Educação Física e Desportos (CEFD), o Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH) e o Centro de Ciências da Saúde (CCS) mantêm projetos que auxiliam não só alunos e funcionários com deficiências, mas pessoas da comunidade em geral. Na-tação, handebol e mesmo sessões com fo-noaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas melhoram o desempenho e a adaptação dos deficientes.

Uma ação importante foi a adesão ao Projeto Incluir do governo federal, o qual destina verbas para projetos que visem à acessibilidade na educação superior. Do Projeto Incluir nasceu o UFSM Sem Bar-reiras – Incluir com qualidade, um dos 36 projetos cadastrados até o ano de 2009.Desse nasceu o Núcleo de Acessibilidade da UFSM. O Núcleo tem por principal ob-jetivo promover ações para a garantia do acesso aos alunos e aos funcionários, bem como para a eliminação de barreiras pe-dagógicas, arquitetônicas, comportamen-tais e comunicativas. A disponibilização de intérpretes de libras, material didático com fonte ampliada ou mesmo em braile,

computador com programas adaptados e confecção de materiais específicos a serem utilizados em aula são algumas das muitas ações desenvolvidas.

Segundo dados do Núcleo, há atual-mente cerca de 73 alunos e 30 funcionários (entre docentes e técnicos administrati-vos) com algum tipo de deficiência dentro da instituição e que estão cadastrados no Núcleo. Esses dados não são precisos, uma vez que muitos dos alunos entram pelo sis-tema de cotas para deficientes e não fazem o cadastro pedido pelo Núcleo ou mesmo não entram pelo sistema de cotas e ficam fora das estatísticas. O fato de existirem diversas incapacidades torna o cadastro essencial não só para o banco de dados da universidade, mas para o caso de o aluno ou o funcionário necessitar de algum tipo de auxílio, o Núcleo estar preparado para atender as necessidades específicas dessa pessoa.

A coordenadora do Núcleo de Acessibi-lidade, Professora Soraia Napoleão Freitas diz que, sem o conhecimento das dificulda-des dos alunos e funcionários, é muito difí-

Ruas do campus impossibilitam a acessibilidade.

Como é para quem vive com uma deficiência?

O acadêmico do Jornalismo Guilherme Silveira é surdo e conta a sua experiência dentro da UFSM: “fui bem recebido pelos colegas e professores, mas o início foi complicado; os professores se viram preocupados em como dar aula e demoraram 22 dias para conseguir intérpretes de libras. Era difícil fazer leitura labial, pois os professores falavam muito rápido. A única alter-nativa que me restava era ir às aulas e depois pegar as anotações dos meus colegas. A UFSM ainda está se adaptando, acho que para quem está numa cadeira de rodas a situação é pior, pois muitos prédios sequer têm rampas”.

cil oferecer o atendimento que elas neces-sitam. Outro fator que também prejudica o trabalho do Núcleo é a falta de interesse por parte de alguns professores em se preparar para a chegada de possíveis alunos, princi-palmente, aqueles com deficiência auditiva e/ou visual. “São necessárias novas formas de se passar o conhecimento, diferentes das convencionais. O Núcleo pode auxiliar até mesmo na confecção de materiais para es-tes alunos, mas os professores precisam nos ajudar e é neste momento que encontramos dificuldades.” ressalta a Professora Soraia. O pró-reitor de Graduação Prof. Orlando Fonseca frisa a importância do cadastro do aluno e do trabalho sob demanda: “neste último vestibular, seis alunos com defici-ência auditiva entraram na universidade, somente três deles requisitaram intérpretes de libras. Imagine se nós tivéssemos con-tratado intérpretes para todos? Nesse mo-mento teríamos profissionais ociosos e um dinheiro mal investido”.

Embora muitas ações já tenham sido realizadas, sobretudo nos últimos dois anos, a UFSM ainda está longe de oferecer a estrutura necessária para a total inclusão de pessoas com deficiência. A comunidade universitária (alunos, técnicos e professo-res) deve se engajar nessa causa e não ficar esperando apenas pela ação das instâncias superiores. A médio e a longo prazo, obras estão sendo realizadas, mas a curto prazo é possível para os professores buscar treina-mento para lidar com pessoas deficientes e para os alunos, alternativas para envolver esses colegas na vida acadêmica, tratando-os como iguais. .txt

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A noite no campusA vida noturna da Universidade é cada vez mais intensa. Com a quantidade de alunos e cursos à noite,

a UFSM se prepara para atender às demandas específicas do turno.

Bianca Villanova e Michelle Falcão

geral

Das sete às dezenove horas o campus é incessantemente percorrido por pessoas com as

mais diversas funções. Conforme a noi-te chega à cidade universitária, nota-se a diminuição desse fluxo. Boa parte da UFSM fecha suas portas, esperando o amanhecer do próximo dia para retomar o trabalho. No entanto, a Universidade não encerra totalmente suas atividades quando o sol se põe.

Há nove cursos noturnos no Cam-pus, sem contar o Colégio Politécnico e o Colégio Industrial. Segundo dados do Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DERCA), são cerca de mil alunos que frequentam as aulas entre sete e dez e meia da noite. Para o pró-reitor de Infraestrutura, Valmir Bronda-ni, o ensino noturno deveria ser amplia-do. “É uma bruta estrutura que fica aqui à noite e tem pouco uso.” Porém, o ca-minho para o aumento das vagas notur-nas é lento. O investimento em setores básicos como segurança, iluminação e transporte tem de ser pensado com cui-dado. A boa notícia é que a UFSM vem recebendo, desde 2008, recursos para o aumento do número de vagas noturnas.

Novas vagas, mesmos problemas

O principal objetivo do Programa de Reestruturação e Expansão das Universi-dades Federais (REUNI), projeto apre-sentado pelo Governo Federal, é o aumen-to das vagas de ingresso, especialmente no período noturno, como mostra a proposta aprovada pelo Conselho Universitário da UFSM (Consun). A meta é chegar a 1.365 vagas, ultrapassando as escassas 380 exis-tentes em 2007. O vice-reitor Dalvan José Reinert afirma que essa era uma exigência da comunidade. Muitos dos alunos ingres-sam em um curso noturno por trabalha-rem durante o dia. “A tendência é que as pessoas que fazem curso noturno tenham jornada dupla”, diz o professor do Curso de Ciências Sociais, Francis Moraes de Almeida.

Quanto à solidificação do ensino no-turno na UFSM, Reinert fala que “foi estimulado, mas a Universidade não tem como impor que 100% da estrutura do campus seja ocupada à noite, pois isso de-manda contratação de funcionários, pro-fessores e melhorias na estrutura”. Apesar do avanço em alguns setores, as condições

que se encontram ainda não são totalmen-te satisfatórias.

Além dos horários restritos de bares, bibliotecas, serviços de xérox e Secreta-rias, os problemas com o transporte públi-co são o principal motivo de reclamações dos acadêmicos. À noite, a frequência dos ônibus cai drasticamente. A linha Bom-beiros, por exemplo, tem um ônibus às 19 horas e 37 minutos, e o próximo com destino ao centro sai somente às 22 ho-ras e 20 minutos, sempre lotado. Segun-do o pró-reitor de Infraestrutura, cabe à UFSM apenas repassar à Associação dos Transportadores Urbanos de Passageiros de Santa Maria (ATU) quais os horários de maior movimento. O vice-presidente da ATU, Élcio Maffini, quando indagado sobre alguma reivindicação quanto ao ônibus das 22 horas e 20 minutos, falou que nunca foi informado da necessidade de aumentar os carros nesse período.

Com os horários de 2010 ainda em fase de reestruturação, Maffini informa que irá propor a adoção de um ônibus ex-tra no horário mencionado.

O problema com horários estende-se mais ainda, indo dos ônibus ao estômago. O horário de atendimento do Restauran-

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te Universitário (RU) sempre foi tema de protesto dos alunos. Para jantar no restau-rante, é preciso chegar antes do começo das aulas, pois a refeição é oferecida das 18 às 19 horas e 45 minutos. O pró-reitor de Assuntos Estudantis, José Francisco Silva Dias, o Juca, ressalta que, para aumentar o horário de funcionamento do RU à noi-te, é necessário repensar todo o efetivo de funcionários. Faltam também alternativas ao RU. Os bares privados da UFSM ficam abertos até cerca de 21 horas, mas os alu-nos ainda se sentem prejudicados. “À noi-te não tem nada aberto, se quiser comer tem uma banquinha de cachorro-quente que aparece de vez em quando”, conta uma moradora da Casa do Estudante Uni-versitário II (CEU II).

Intensificação da segurança

Dos cursos noturnos ainda em ativi-dade, o de Matemática foi o pioneiro no campus, em 1996. Daquela época, o vi-gilante Haroldo Dala Costa lembra bem. Funcionário da UFSM há 31 anos, há 17 é vigilante na Biblioteca Central (BC), sendo que 50% de seu expediente é notur-no. Segundo ele, o movimento no campus aumentou de três anos para cá. Com a de-manda crescente de pessoas, os serviços de segurança e iluminação, considerados ineficientes há 10 anos, tiveram melho-rias consideráveis: “já vi aluno tendo que

comprar lâmpada para colocar na frente dos prédios aqui no campus”. Mesmo as-sim, alguns pontos ainda são considerados problemáticos, tanto pelo vigilante da BC quanto pelo pró-reitor de Infraestrutura: “esse trecho entre a CEU e o CEFD [Cen-tro de Educação Física e Desporto] ainda é muito escuro e perigoso”.

Quanto à segurança, o campus tem a grande maioria dos vigilantes terceiri-zados. Há cerca de 48 seguranças, sendo apenas oito deles funcionários públicos, número ainda considerado insatisfatório: “se eu disser que é suficiente não é verda-de. Claro, não estamos com carência ago-ra, mas ainda não é o ideal”, diz o Chefe do Setor de Vigilância, Romeu Osório.

Apesar desses contratempos, Osório considera que “já se pode andar tranquilo dentro do campus”, situação diferente da encontrada por ele há três anos, quando assumiu o atual cargo. Com treinamen-to para atuarem como defensores patri-moniais, ele ressalta que os guardas “não podem se eximir da responsabilidade de proteger a comunidade acadêmica”.

Apesar da falta de iluminação em al-guns trechos, o campus é visto como um local seguro pelos alunos entrevistados. “Acredito que não tenha lugar mais segu-ro”, diz Antonio Belamar Oliveira, que es-tuda à noite e mora há três anos na CEU II. Mesmo assim, crimes recentes alertam que alunos e funcionários devem tomar certos cuidados. No ano passado, um alu-no sofreu um assalto à mão armada entre

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Matriculados em cursos noturnos (campus Santa Maria)

2007 2º Semestre 694

2008 1º Semestre 696

2008 2º Semestre 772

2009 1º Semestre 730

2009 2º Semestre 729

2010 1º Semestre 915

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o prédio da Biblioteca Central e o prédio da União Universitária. Desde então, a Se-gurança aumentou a fiscalização de carros e pedestres que entram no campus a partir das 20 horas. Conforme Osório, a Direto-ria da CEU II pediu que a segurança fosse intensificada. Porém, a rigidez das regras tem incomodado os moradores da casa.

Uma moradora relata que alunos são repreendidos pelo simples fato de estarem jogando truco em frente à União Universi-tária. Outra diz que, desde o ano passado, os estudantes sofrem restrições por parte dos vigilantes, que os abordam de forma “truculenta”. “É a política nova da Reito-ria”, diz ela, “agora não se pode fazer nada, e já vão perguntar o que estamos fazendo”. Já Romeu diz que a vigilância em frente à CEU II foi intensificada “não como re-pressão a estudantes, mas como proteção”. Juca, da PRAE, diz que os vigilantes de-vem aprender a lidar com os alunos sem usar de violência.

Apesar das carências, a UFSM me-lhora visivelmente as condições para o ensino noturno. Se antes os alunos sequer podiam andar livremente pelas ruas da Universidade, hoje a segurança já não é o ponto central das queixas. Com o devido planejamento, a UFSM tem capacidade de estender seus horários e ampliar o ensino superior para uma camada da sociedade que só dispõe do período noturno para o aprendizado. Como o pró-reitor Juca diz, “a Universidade vai ser viva das 8 da ma-nhã às 10 da noite”. .txt

Fonte: DERCA

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14 .txt Maio de 2010

RUídos Som alto em frente ao RU e carreatas pelo campus

João Victor Moura e Nathália Costa

causam controvérsias dentro da UFSM

O Barulho

A responsabilidade sobre as áreas exter-nas do campus da UFSM é da Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFRA). Para o pró-reitor Valmir Brondani, a situação

É meio-dia, horário de pico em frente ao Restaurante Universitário (RU), ao lado da Casa do Estudante II,

no campus da UFSM. Alunos, professores e servidores dos Centros espalhados por todo o campus saem de aulas, estágios e outras atividades e se misturam em frente ao prédio 31. O restaurante oferece almo-ço entre onze da manhã e uma e meia da tarde, mas é ao meio-dia que a maior con-centração de pessoas faz fila em frente ao local para almoçar e comprar créditos. É durante essa movimentação que diversos grupos de universitários aproveitam o es-paço para promover eventos, como festas, assembleias e shows de música.

Do outro lado da rua, próximo ao via-duto que corta o campus, são recorrentes as promoções de festas e eventos de diver-sos cursos. As divulgações já são conheci-das pelos frequentadores do Restaurante Universitário central. Os banners, os carta-zes, os folhetos, as camisetas, o churrasco e os carros com som alto já fazem parte do cotidiano daqueles que almoçam no RU. Visto o número de estudantes que passa por ali, pode-se dizer que essa é uma das formas de promoção de maior visibilidade para os alunos.

Além da promoção de festas, o espaço na frente do RU também é usado para ou-tras atividades. Em algumas ocasiões, é o Diretório Central dos Estudantes (DCE) que utiliza o local para divulgar suas as-sembleias ou promover agendas culturais, com shows de música e apresentações. O DCE também sabe que uma das melhores formas de chegar aos estudantes é aprovei-tando o tempo do almoço.

Essas atividades provocam controvér-sias por serem quase sempre em alto som. O barulho pode incomodar estudantes e

servidores da Universidade, deixando de ser um momento apenas de interação, para se tornar também de desgaste.

A partir de reclamações que chegaram à redação, a equipe da .txt foi averiguar as posições da Universidade, dos alunos e dos funcionários sobre essa situação.

dessas promoções é ilegal, mas difícil de controlar. “Não é permitido [som alto em frente ao RU], só que eles me escapam, eu não consigo acabar [com a prática]. O cara vai lá com o carrinho dele ali, abre o capô e levanta o volume. Quando chega a Vigilân-cia, ele baixa tudo”.

Não existe uma regulamentação especí-fica da Universidade, segundo o pró-reitor. O que vigora é a legislação federal, já que se trata de casos dentro do campus. Essa prática pode ser enquadrada como contra-venção penal de perturbação ao sossego público, prevista no artigo 42, inciso III do decreto-lei 3.688 de 1941, e pune com pri-são simples ou multa aquele que “pertur-bar alguém, o trabalho ou o sossego alheios abusando de instrumentos sonoros ou si-nais acústicos”. No entanto, a norma não identifica a intensidade do barulho que é necessária para caracterizar a “contraven-ção penal”. Regulamentações municipais, estaduais e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no entanto, já incluem a emissão de ruídos, em decibéis, considerada prejudicial. Tal emissão é de no máximo 50 decibéis em restaurantes, e de 55 decibéis em áreas residenciais e de circulação escolar.

Carreatas

Som em frente ao RU

Debate das chapas do DCE em frente ao RU, 2009. Atualmente, o Diretório não realiza mais suas assembleias em frente ao Restaurante.

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O que os alunos pensam sobre os ruídos no campus?

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Do outro lado da rua, próximo ao viaduto, a atividade é intensa. Diversas festas são promovidas simultaneamente.

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Para averiguar a intensidade dos ruídos em frente ao RU, a equipe da .txt realizou, no dia 13 de abril, uma medição de nível de pressão sonora. Foi constatado que o nível de ruídos sonoros em frente ao Restaurante Universitário chegava à quase o dobro do recomendado, superior a 85 decibéis. Para o professor do curso de Engenharia Acús-tica Felipe Vergara, que auxiliou na coleta de dados, tal nível de emissão sonora não chega a ser prejudicial para a audição, mas pode causar estresse, principalmente se considerarmos que ali se fazem refeições, momento que deve ser mais tranquilo para ser saudável ao organismo.

As Carreatas

Após o almoço são comuns carreatas promovidas por estudantes que realizam as festas e os churrascos em frente ao RU. Os carros seguem o percurso dos prédios cen-trais, agora acompanhados de cornetas, de buzinas e, às vezes, de foguetes. É um des-file já tradicional, que convida os alunos da Universidade para as festas.

Realizado entre uma e meia e duas da tarde, a carreata chama atenção de todos que passam e pode ser ouvida de longe. No Centro de Artes e Letras, prédio 40, o baru-lho chega a atrapalhar recitais e apresenta-ções artísticas, como afirma Darwin Pillar Correa, aluno do 5º semestre de Música. “As carreatas interferem em toda uma per-formance de teatro ou de um recital, pois tais atividades exigem silêncio. E como é um som com uma audibilidade bastante considerável, não tem como evitar”. Da-rwin pondera sobre o barulho feito pelos próprios recitais de música: “Aí eu não vou ser injusto. É a mesma coisa. A diferença é que não é com alto falante, que não coloca-

mos uma fanfarra de instrumentos, nem sa-ímos de carro fazendo isso. Já aconteceu de organizarem recitais de música no hall da União, mas é algo articulado. Geralmente tem uma entidade que organiza. Em todo o caso, tem que ter cuidado”.

Para o pró-reitor Valmir Brondani, as carreatas também são consideradas ile-gais, já que são feitas sem a autorização da PROINFRA. Porém, o controle não é efeti-vo. O barulho é coibido apenas quando há reclamações no Setor de Vigilância, vincu-lado à PROINFRA. Por ser vigilância pa-trimonial, e não ter poder policial, o órgão apenas pode solicitar que o volume do som dos carros seja baixado.

A Pró-Reitoria considera válida apenas a utilização de carros de som para ativida-des relacionadas ao DCE, à Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM) e à Associação dos Servidores da UFSM (AS-SUFSM), como, por exemplo, para con-vocar servidores para eleições internas ou convidar para uma assembleia estudantil. E mesmo assim, em qualquer desses casos, é necessário o envio de um ofício que será avaliado pela Pró-Reitoria de Infraestrutu-ra.

Há alguns anos, como lembra o pró-rei-tor, foi proibida a entrada de carros de som externos, que faziam propagandas de festas durante todo o dia pelo campus. Atual-mente, a propaganda, exceto para os casos já citados, tem que ser silenciosa dentro da Universidade, com panfletos e abordagem pessoal. Ainda assim, a empresa interessada tem que enviar um ofício e ser autorizada.

Agrada ou Desagrada?

Além de ferir a legislação federal e ser proibido pela PROINFRA, o som alto em

frente ao RU desagrada outros setores da Universidade. A estudante de Geografia Renata Weber Bortolotto defende a posi-ção dos moradores da Casa do Estudante do campus. De acordo com ela, as reclama-ções são constantes por parte do pessoal da Casa, que necessita de um pouco mais de sossego durante o meio-dia. Como os apar-tamentos estão situados ao lado do RU e na frente das atividades que acontecem por lá, ficam expostos ao barulho. Os alunos se sentem incomodados, sem tempo para des-cansarem após o almoço, estudarem ou se prepararem para as aulas da tarde. Renata diz que o Conselho de Moradores já entrou em contato diversas vezes com a vigilância, mas vista a falta de ação por parte do ór-gão, será encaminhado, em breve, um ofí-cio à PROINFRA, pedindo a proibição de foguetes, de carros com som muito alto ou de carreatas. Os moradores propõem que o lugar para a promoção de eventos seja trocado, de preferência para a região loca-lizada atrás do Restaurante. Os moradores da CEU pedem que a propaganda seja mais silenciosa, com mais faixas ou banners e me-nos mistura de músicas.

A vigilância se defende. Romeu Osório, chefe do setor, pede que os estudantes co-laborem, tanto na moderação do som em seus carros, quanto nas ligações de alerta: “Não tem como a vigilância estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Por isso, pe-dimos ajuda para os estudantes. Quando se sentirem incomodados, pedimos que liguem e nos avisem, que daí podemos to-mar alguma providência”.

Para o pessoal que convive com o ba-rulho durante todo o período do almoço, o som também não agrada. Na Secretaria do Restaurante Universitário há muito des-contentamento. Diversos funcionários são

Foto: João Victor Moura

16 .txt Maio de 2010

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Carreatas para promoção de festas realizadas por estudantes.

Dias antes do fechamento des-ta edição, em reunião realizada entre os pró-reitores de Infraestru-tura e Assuntos Estudantis, Valmir Brondani e José Francisco Silva Dias, em conjunto com o chefe da Vigilância Romeu Osório, foi deci-dido que o trânsito de automóveis na área em frente ao Restaurante Universitário seria fechado provi-soriamente. A medida foi efetiva-da no dia 22 de abril e valeu por pouco mais de uma semana, como apurou a equipe da .txt.

Causa e Efeito

taxativos quanto à insatisfação com os eventos promovidos em frente ao prédio. Já para a caixa do Restaurante, Geane Bar-reto de Lima, o som, em termos gerais, não lhe desagrada tanto, mas a comunicação com os alunos, na compra dos créditos, fica mais complicada.

E para o público-alvo de tais eventos e promoções? Os estudantes, servidores e professores realmente se agradam com o som que está ali para convidá-los? No dia 15 de abril, a equipe da .txt realizou uma enquete com 100 pessoas em frente ao RU. A enquete era composta por duas questões: “Qual a sua opinião em relação à promoção com som na frente do RU?” e “Qual a sua opinião com relação as carreatas promovi-das dentro do campus da UFSM?”. Os con-ceitos de classificação usados foram: total-mente favorável, parcialmente favorável, indiferente, parcialmente desfavorável ou totalmente desfavorável. A enquete abria espaço também para sugestões dos entre-vistados.

Foi analisado (como pode ser visto no gráfico, p.14) que as carreatas promovidas pelos estudantes, logo após o horário do almoço, é o tópico mais rejeitado pelos es-tudantes e profissionais abordados no dia: 50% deles são totalmente desfavoráveis às carreatas. Já com relação às atividades reali-zadas em frente ao RU, as opiniões são mais divergentes: 36% são totalmente desfavorá-veis ao barulho e o restante se divide em parcialmente desfavorável, indiferente ou favorável ao movimento. Nas duas questões o número de entrevistados desfavoráveis, parcial ou totalmente, foi bem superior aos favoráveis. Na primeira pergunta, referente ao som na frente do RU, a diferença foi de

para os conflitos. O som dos carros é alto, mas a mensagem não atinge a todos da mesma forma.

A comunicação está atrapalhada, não existe uma relação bem resolvida entre a comunidade acadêmica, o lazer e a promo-ção de festas, a vigilância e a PROINFRA.

O primeiro passo seria o diálogo e, principalmente, o respeito. Muitos falam e poucos se entendem. O pró-reitor, Valmir Brondani, sugere que o barulho em excesso seja substituído por faixas, banners, folhetos e churrascos com música baixa.

A PROINFRA autoriza que se façam propagandas, desde que elas não atrapa-lhem o descanso da maioria. Público para esses eventos existe, eles não são simples-mente dispensáveis. Entre estes dois pon-tos está o sossego, merecido para tantos, e a festa, importante para tantos outros. A moderação parece ser a melhor medida em situações como estas. .txt

22%; já na questão das carreatas a diferença chegou a 41%.

Diversos entrevistados apresentaram sugestões para o impasse. Entre as ideias mais mencionadas, estiveram: diminuir o som em frente ao RU e maior cuidado com o barulho em frente a locais como a Biblio-teca Central, o Hospital Universitário e o Hospital Veterinário. Outras sugestões in-cluíram diferentes formas de divulgação, mudança no horário dos eventos (princi-palmente quanto às carreatas ocorridas du-rante o horário de aula), a mudança do local das carreatas, restringindo-as aos Centros das turmas promotoras e a diminuição de divulgações para apenas uma por vez.

Como os próprios estudantes aponta-ram, tanto para os que se posicionaram à favor quanto contra, existem alternativas

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Na área foram dispostos cavaletes para impedir a passagem.

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paralelo .txtConsultas médicas por videoconferência começam a virar

realidade no Brasil

.txt Maio de 2010

A carência de especialistas é um problema histórico nos hospi-tais universitários em todo o

Brasil, fato que provoca uma série de di-ficuldades na realização de diagnósticos e tratamentos. Na tentativa de amenizar esse problema, foi criada a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia.

O projeto coordenado pela Rede Na-cional de Ensino e Pesquisa prevê, em um primeiro momento, o incentivo à expansão e à consolidação das redes brasileiras de Telemedicina, promovendo conectividade entre grupos de pesquisa nacionais e inter-nacionais nos hospitais universitários e de ensino. Posteriormente, em uma segunda fase, a intenção é levar o trabalho desen-volvido nos hospitais universitários para as comunidades distantes, por meio de com-partilhamento de arquivos de prontuários, consultas, exames e, até mesmo, de uma se-gunda opinião médica.

Consolidadas essas redes regionais, torna-se possível uma revolução em termos de atendimento médico e análise de exa-mes. Com as análises via Rede, será poupa-da boa parte das viagens de pacientes entre suas cidades até hospitais de referência. A ideia futurista de consultas médicas por vídeo está cada vez mais próxima da nos-sa realidade, mas ainda é coisa recente por aqui.

Passou-se pouco mais de um ano des-de a iniciativa da doutora Lissandra Dal Lago até a conclusão das ações sistemáticas de implantação e homologação da RUTE no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), no último mês de abril. Da pe-

quena sala de 25 lugares, que fica no térreo do HUSM, é possível acompanhar as tele-conferências a partir de Grupos de Interes-se Especiais (SIG, do inglês Special Interest Group) e, inclusive, já são realizadas confe-rências nas áreas de cardiologia e radiolo-gia daqui para todo o país.

O Hospital Universitário Professor Al-berto Antunes (HUPAA), na Universida-de Federal de Alagoas, penou mais de três anos até conseguir pôr a RUTE em funcio-namento. Conforme a médica integrante do Núcleo de Telemedicina e Telessaúde do HUPAA, Márcia Rebelo de Lima, as ati-vidades ainda estão restritas à participação em 11 SIGs e em ações ligadas às campa-nhas institucionais, como as contra a den-gue e a gripe H1N1.

Todo esse processo burocrático e de adaptação é fundamental para que a segun-da parte da iniciativa funcione. A enfermei-ra do Núcleo de Educação Permanente em Enfermagem (NEPE) e coordenadora da RUTE no HUSM, Cláudia Rosane Lavi-ch, explica que a integração dos principais hospitais da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde com o Universitário é uma das pró-ximas ações locais de expansão da Rede em Santa Maria. Está em estudo uma parceria com o Centro de Processamento de Dados (CPD) da UFSM para viabilizar tecnica-mente a ação e colocar em prática a segun-da fase do projeto.

Em Maceió, a difusão do Núcleo de Telemedicina e Telessaúde do HUPAA participa da elaboração do projeto de Te-lessaúde do estado de Alagoas e também busca soluções para o problema da falta de infra-estrutura.

Alto investimento e pouco reconhecimento

Já são 31 SIGs em nível nacional, dos quais qualquer profissional ligado à áreada saúde pode acompanhar as atividades. Ape-sar da diversidade de áreas abrangidas e das facilidades proporcionadas por este tipo de tecnologia, os dois hospitais compartilham o mesmo problema: a falta de sensibiliza-ção para o uso dessa ferramenta.“Infelizmente ainda não é como a gente quer”, lamenta Cláudia Lavich. “Não há a mentalidade da importância do Projeto. É uma tecnologia que facilita muito porque não há gastos com viagens e palestrantes. Está tudo online”.

Os recursos para a aquisição da apare-lhagem necessária para as teleconferências provêm da própria Rede, que recebe apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-nep) e da Associação Brasileira de Hospi-tais Universitários (Abrahue). No entanto, as adequações de salas e ambientes são por conta da instituição conveniada.

Posteriormente à homologação, cada instituição passa a receber uma verba do projeto para manter as atividades. No re-cém homologado HUSM, o NEPE preten-de utilizar essa verba para ampliar o seu quadro de colaboradores que trabalharão exclusivamente no projeto. Somente então poderá se pensar na ampliação da estrutura, junto ao CPD, para além do campus. .txt

Um sistema de análise de imagens médicas com diagnósticos à distância que ameniza a carência de especia-listas nos hospitais universitários e proporciona treinamento e capacitação para profissionais da área. Assim

funciona a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE).

Cristiano Magrini

Foto: Cristiano Magrini

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.txt Maio de 201018

O sonho da Casa e do RU próprios

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Alunos do CESNORS esperam para 2010 um programa de Assistência Estudantil igual ao de Santa Maria

A assistência estudantil da UFSM é tida como uma das melhores do país. Porém, a realidade vivencia-

da pelos alunos que estudam no Centro de Educação Superior Norte (CESNORS) não é a mesma que a dos de Santa Maria. Apenas agora, três anos após a implantação do CESNORS em Palmeira das Missões, é que o Restaurante Universitário (RU) deve ser inaugurado. Em Frederico Wes-tphalen, os alunos podem almoçar no RU do Colégio Agrícola, mantido pela UFSM desde 1964. Para minimizar as diferenças, a UFSM está também construindo Casas do Estudante em Frederico Westphalen e em Palmeira das Missões.

A equiparação às condições oferecidas pela UFSM aos alunos de Santa Maria é uma reivindicação antiga dos estudantes do CESNORS. Para Andressa Flores, aca-dêmica de Enfermagem da UFSM em Pal-meira das Missões e coordenadora-geral do DCE, o importante é que o RU e a Casa es-tejam logo em funcionamento, pois muitos acadêmicos não conseguem ter condições financeiras de estudar, não sendo suficien-te apenas o auxílio-transporte, único dos benefícios socioeconômicos disponível para os alunos de Palmeira das Missões.

Estruturas

O RU de Palmeira das Missões come-çou a ser construído no começo de 2009 e, segundo a Pró-Reitoria de Assuntos

Estudantis (PRAE), ficou pronto no dia 12 de maio. O RU deverá servir em média 253 refeições diárias, sendo que o contrato com a Blanco Restaurantes LTDA, empre-sa terceirizada que irá operar o restaurante, prevê 58 mil refeições até o final do ano, permitindo uma variação de 25%. O cus-to de cada refeição é de R$ 4,46, com os alunos pagando R$ 2,50 e o restante sendo subsidiado. A diferença é que, em Palmeira das Missões, os estudantes terão que agen-dar, pelo Portal do Aluno, as suas refeições até as 17h do dia útil anterior.

A UFSM também está construindo Casas do Estudante nas cidades do CES-NORS. Os primeiros dois blocos, com previsão para o segundo semestre de 2010, terão 18 apartamentos cada, com capacida-de para dois moradores em quarto único com banheiro, atendendo a 72 alunos. Na

avaliação do acadêmico Mairo Trentin Pio-vesan, aluno de Agronomia em Frederico Westphalen e membro do DCE, a obra ain-da não atenderá a toda a necessidade dos alunos.

Critérios Socioeconômicos e Secre-taria de Assuntos Estudantis

Segundo o pró-reitor de Assuntos Estu-dantis, José Francisco Silva Dias, o Juca, os critérios para a assistência socioeconômico dos alunos do CESNORS serão os mesmos de Santa Maria. Na cidade sede da UFSM, para se ter o benefício, os alunos devem comprovar renda per capita familiar inferior a R$ 500. No cálculo, a PRAE leva em con-ta também a vulnerabilidade familiar. Para o pró-reitor, é também intenção da PRAE discutir neste semestre o teto da carência em toda a UFSM.

Sobre a necessidade de uma Secretaria ligada à PRAE, Mairo considera ser um ponto crucial para a efetivação das políti-cas de assistência e de permanência dos es-tudantes. No mesmo sentido, Juca acredita ser necessária a criação de uma Secretaria no CESNORS, para facilitar e qualificar o atendimento aos alunos e não sobrecarre-gar o serviço em Santa Maria, mas pondera que isso dependerá também da Reitoria e do CESNORS. Independente de questões políticas ou burocráticas, a UFSM, a PRAE e o CESNORS devem se preocupar em ofe-recer as melhores condições para a perma-nência dos alunos de Frederico Westphalen e de Palmeira das Missões. .txt

José Luís Zasso

Obras de construção da Casa do Estudante em Frederico Westphalen.

Restaurante Universitário em Palmeira das Missões

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.txt Maio de 2010 19

o arco da velha

A insignificante casinha da Vigilância (destacada na primeira foto), que fica em diagonal ao HUSM, já serviu também de cor-reio. O que é estranho é compará-la à Reitoria, mas foi mais ou menos esse o primeiro papel dela. Ali, Mariano da Rocha reunia-se com políticos e arquitetos para acompanhar e discutir o andamento das obras na Universidade.

Felipe SeveroCaren Rhoden

Devido ao alto preço do transporte de material de construção, existiu dentro da Universidade uma olaria (na parte inferior da foto), situada onde hoje encontra-se o Centro de Vivência da Turma do Ique. Assim que se reduziu a demanda, os lagos foram aterrados e a estrutura foi demolida e reconstruída próxima ao Parque de Exposições.

Maio de 1970 Junho de 1966

Outubro de 1967

Fotos: Arquivo da U

FSM

Inauguramos uma nova seção: O arco da velha. Nela trataremos dos 50 anos da Universidade Federal de Santa Maria, dando às fotografias da época de sua construção um tom histórico

e não apenas ilustrativo.

.txt Maio de 201020

cultura

- e o abajur?- tá lá em cima, acharam melhor levar lá.- ah, tá. E a cadeira, foi pega?- sim. Ela e a maquiag... ah, a maquia-gem. - eu pego.

As janelas abertas e o interior do ônibus refrescando, aquecendo os ânimos para al-gumas vinte e poucas horas de olhos sob a luz. A chegada em Vale do Sol, cidade à duas horas de Santa Maria, para o festi-val das “27 horas ininterruptas de teatro” acontece em torno das seis horas da tarde de 26 de março, com a cidade escondendo-se no anoitecer.

DEPOIS DAS DOZE BADALADAS

[meia-noite do dia 26 para 27]

Sob a luz vermelha do vinho tinto, um tributo a Baco na virada de 26 para 27 de março, dia internacional

do teatro. Cada um lentamente se aproxi-me do centro do círculo, passos lentos, não evitem o choque. Ao tocarem-se sintam o corpo do outro, a respiração, o cheiro. Não evitem, sintam. Sintam. Peguem um copo e degustem o vinho e as uvas.

As sensações individuais em coletivo seguiram com duas danças medievais em um e dois círculos fechados por mãos da-das projetando a sombra do movimento e ecoando o ritmo da música e pés batendo. A peça “D-kréptA”, recém havia sido ence-nada em trajes rotos, olheiras profundas e vozes distorcidas em um cenário criado

pela movimentação dos personagens, uma delas tão incisiva que fez a atriz principal, Isis Peres distender-se logo no início, em-bora ela não tenha deixado transparecer ao público.

Contrastando com “D-KréptA”, a peça “B612”, do grupo GANJU, de Blumenau, foi apresentada em uma sala de aula. Para que todos entrassem no espaço bastante pe-queno e quente, foram necessários alguns contorcionismos, já que o cenário incluía telão com projetor e espaço em quase todo o centro do ambiente para a movimentação dos personagens. A contemporaneidade e os aspectos sinestési-cos regiam a peça. Um homem com viseiras e terno calculava em

uma mesa com uma lâmpada, no telão uma menina dava piruetas e de repente a meni-na saltava dando piruetas em nossa frente. A menina é alegre, delicada com trejeitos de Amélie Poulain. Quando se torna uma moça, uma rosa se desfolha no telão e ela vive um pequeno e estranho romance com aquele homem. Mas, como o mundo está mais para a frieza, ela acaba triste e sozinha e nós, espectadores, cobertos de pétalas vermelhas.

Eram aproximadamente 4 horas da madrugada e só de even-to umas

Caren Rhoden e Felipe Severo

27 horas ininterruptas de teatro

Na Antiguidade, o Teatro Grego surgiu no culto

ao deus Dionísio, equivalente ao romano Baco.

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Os atores Rafaela Costa eFelipe Martinez na peça “Fim de partida”

doze horas. Um dos atores iria para a sua terceira apresentação, outra se desenrola-va de seu cobertor gripado para viver uma prostituta desequilibrada e outra ainda procurava a sua voz. Com o cená-rio montado e os personagens prontos iniciava-se o aque-cimento em um palco nivelado às cadeiras dos espectadores, que dali acompanha-ram todo o pular e se soltar e incorporar dos atores da última peça da madrugada: “O Abajur Lilás”. As prostitutas, o cafetão, o carrasco transitavam e re-almente cansados faziam seus personagens exaustos da vida me-díocre e suja que levavam.

Enquanto alguns roncavam esticados em colchonetes na pista de boliche, os clowns faziam a recepção de aproxima-damente dez ônibus de crianças. O clima do amanhecer era de algodão doce e carri-nho de pipoca. Duas peças infantis foram apresentadas, entre elas uma de bonecos, “O Velho Lobo do Mar”, apresentado por Willian Sieverdt, do grupo Trip Teatro de Animação, de Rio do Sul (SC). O riso, os gritos e as canções animadas davam espaço para a libertação das crianças e os montes de pipoca arremessados nos simpáticos clowns.

Durante a tarde aconteciam as oficinas. Os interessados em “clownices” seguiram para tal oficina (de clowns) e através de sons e movimentos gelatinosos do corpo e da face mergulharam em música francesa para encontrar o seu “eu” esquisito que o clown põe a mostra. No campo, com equi-líbrio e concentração acontecia a oficina de artes circenses, então bolinhas saltitavam e corpos tentavam se manter na corda bam-ba. Lá naquela escola onde aconteceu a peça “B612”, outra oficina ministrada pelo elenco dessa apresentação trabalhou com sinestesia e tecnologia, deixando-se levar pela música e mordidas em cebola.

Mais tarde, com o palco na mesma si-tuação que na peça “O Abajur Lilás”, ou seja, nivelado aos espectadores, assistia-se ao monólogo “Os Malefícios do Tabaco”, onde um velhinho muito simpático e con-traditório (Gustavo Scherer) falava de toda a sua vida particular e de tudo que o levava a estar ali, só não falava do malefício do ta-baco. Vinte minutos de comicidade passa-dos, fomos levados a outros risos.

A peça com bonecos “O Incrível Ladrão de Calcinhas” traz o clima de um filme noir. Um detetive, junto com sua doce e simpá-tica secretária e dois policiais atrapalhados,

quer encontrar quem rouba a calcinha da Srta. Velda, uma femme fatale que canta em um bar, e chega a dois suspeitos: um sici-liano (que assiste à cantora) e um latino

(que trabalha no local). Willian Sieverdt, o mesmo da peça

infantil da manhã, minis-tra todos esses perso-

nagens e a admiração se torna obrigatória. As vozes mudando, a sonoplastia, os cenários incrivel-mente adaptados e

variados. Um fim de espe-

táculos genial.Ah, e para colocar a

cereja no bolo, uma esquete do mesmo moço que protagoni-

zou a “B612”, fazendo um missionário de sotaque que passa dos limites religiosos com uma freira. Graças a Deus!

[fim do dia 27]

O NATAL, O FIM DA PARTIDA E AS LACUNAS

[anoitecer do dia 26]

Se bem que lá o Natal veio primeiro, bem antes do aspecto religioso da esque-te final. Depois de aproximadamente duas horas em Vale do Sol, a primeira peça de Santa Maria foi apresentada: “Então é Na-tal”. Sendo uma comédia de curta duração, a família matriarcal sustentou bons risos.

O palco trêmulo era estruturado por mesas e coberto com lona preta dentro de um ginásio; com a arquibancada em forma de meia-lua, quase se tinha a impressão de estar no circo, ainda mais quando a diretora de “D-KréptA”, Sara Abrahão, optou em apresentá-la no meio da quadra, dispensando o palco, tal como a posterior “O Abajur Lilás”.

Fora do ginásio estava um campo verde cer-cado e cheio de quero-que-ros, al-g u m a s árvo-

res e bancos, o local das refeições, os ôni-bus estacionados e mais longe a escola da peça “B612”. Por esse ambiente as pessoas transitavam, conversavam. O morro surgiu de verdade ao amanhecer, com a neblina se desfazendo e mostrando que a geografia se assemelhava à de Santa Maria.

Um grupo de Candelária não apresen-tou sua peça por incompatibilidade de ho-rário, já que no momento alguns critérios do cronograma eram modificados, fato lamentado. Porém, esse mesmo grupo de Candelária foi o que apresentara uma das peças infantis na manhã de sábado.

O festival foi acompanhado por alguns dos moradores da cidade que o sediava, no entanto, os alunos de escola foram o maior público. Logo depois de “Então é Natal”, assistiram à “Fim de Partida”, uma peça densa e séria, recebida com estranheza e às pressas. Minutos antes do encerramento, o som das cadeiras esvaziando deixou os ar-tistas e os outros espectadores tensos.

Por mais que “Fim de Partida” fosse puro niilismo e desgostos em seus perso-nagens deprimidos e aleijados, ela não era propriamente o fim de partida, era justa-mente o contrário daquilo que ela lamen-tava. Era o fim de partida e o início das jo-gadas cênicas.

[meia-noite do dia 26 para 27]

A escuridão do retorno foi esmorecendo os corpos, um por um e uma por uma as vozes da cantoria promovida pelas comemorações a la

Baco silenciaram. E o bojo do aba-jur? Estava na cabeça de algum

ébrio... de sono.

[madrugada do dia 28] .txt

“O Abajur Lilás” é uma peça do dramaturgo brasi-

leiro Plínio Marcos e foi uma das montagens do grupo “Teatro, Por que não?”, da UFSM, formado por Aline Ribeiro, André Galarça, Cauã Kubaski, Deivid Machado Gomes, Felipe Martinez, Juliet Castaldello, Luiza de Rossi e

Rafaela Costa.

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.txt Maio de 2010 21

Personagem da peça de bonecos “o incrível ladrão de calcinhas”

cultura

Brincandode fazerarte

exploração de materiais e visitas aos mais diversos órgãos e setores da UFSM.

Desde sua criação, a nomenclatura da Escolinha, bem como as atividades por ela desenvolvidas sofreram constantes mudan-ças. O que nunca mudou, no entanto, é a determinação de quem busca o êxito desta. No ano de 1978, a Escolinha de Artes foi reconhecida como órgão suplementar do CAL e em 1998, passou a Órgão de Apoio do Departamento de Artes Visuais da Uni-versidade. Há mais de 30 anos é conheci-da formalmente como LICA, Laboratório de Iniciação e Criatividade em Artes. A Escolinha de Santa Maria é embasada nos princípios filosóficos do Movimento Esco-linhas de Arte (MEA), no qual cada enti-dade se desenvolveu sobre uma identidade própria, com autonomia em sua estrutura-ção e administração.

Ainda que essa autonomia sempre te-nha sido prezada, paralelamente desenvol-veu-se também uma forte ligação com a UFSM, que vem desde a criação do LICA, no ano de 1965. O vínculo entre a Escoli-

A arte instiga as complexidades que constroem a alma dos homens e, não raro esses homens e essas al-

mas são pequeninos na contagem crono-lógica do tempo. E é em meio à explosão energética desses artistas em miniatura que a Escolinha de Artes do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM colore uma histó-ria que já pincelou a vida de centenas de santa-marienses, de nascimento ou de co-ração.

A Escolinha de Artes que tem como ob-jetivo principal estimular a criatividade das crianças, proporciona aos pequenos artis-tas um espaço de atividades dentro das áre-as de plástica e do teatro. No seu modelo inicial, havia também um espaço destinado à música, todavia esta atividade não mais é desenvolvida (vale ressaltar, no entan-to, que outros projetos do mesmo Centro atendem a essa vertente artístico-cultural). Além das atividades desenvolvidas dentro da sala 1123, no andar térreo do CAL, onde se encontra o espaço físico da Escolinha, também são proporcionadas atividades de

nha e a Universidade proporcionou a estrei-ta aliança com as tendências vanguardistas da arte e da educação, além de oportunizar estágios aos acadêmicos dos cursos de li-cenciatura do CAL (posteriormente essas oportunidades de estágio se estenderam a outros cursos, de áreas outras que não só as ligadas ao CAL). O apoio dado pela insti-tuição também é um dos fortes pilares que mantiveram a Escolinha em pé quando tan-tas outras criadas com o mesmo propósito feneceram. Segundo Reinilda Minuzzi, co-ordenadora do LICA, a Escolinha também está preocupada em dinamizar o conceito de arte: “A localização da Escolinha, aqui no CAL, é estratégica. Ela permite uma ampliação do conceito do que é arte, que especialmente nas escolas é apenas o dese-nho prontinho, pegar um pincel e pintar o papel - e pronto: aquilo ali é arte.” Além da crítica aos modos pouco complexos pelos quais a arte é tratada em grande parte das escolas primárias, Minuzzi complementa sua fala: “ Aqui nós temos o compromisso e a responsabilidade de ampliar essa visão,

Ananda Müller e Jaqueline Araujo

22 .txt Maio de 2010

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o CAL

Presente na vida dos santa-marienses desde o ano de 1965, a Escolinha de Artes do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM vem trazendo às crianças oportunidades singulares de conhecer e fazer arte.

no sentido de mostrar várias possibilidades do que a arte, sobre tudo a contemporânea, oferece em termos de expressão.”

A forma delicada com a qual a Escoli-nha trabalha as diferentes conceituações de arte é um dos aspectos que diferenciam as atividades do LICA de outras que seguem linhas semelhantes. Ainda nas palavras da professora Minuzzi, “as crianças têm que realizar trabalhos conjuntos com todo o grupo, um trabalho sério, que não é leva-do como uma brincadeira, não é como a aula de educação artística da escola regu-lar.” Com isso, a escolinha quer combater a imagem de que a arte é apenas expressão livre. “A arte não é só isso, não é apenas a exteriorização irrefletida. A escolinha ser-ve como um lugar no qual se adquire o co-nhecimento, a arte é mais uma linguagem pela qual a gente aprende a se expressar”, diz Reinilda.

Os responsáveis pelas crianças que frequentam a escolinha endossam os re-sultados buscados e obtidos pelas ações desenvolvidas no LICA. São recorrentes os pedidos pela permanência das ativida-des durante o período de férias. Rreflexos da inserção da arte na infância permeiam

não apenas o universo particular dos pe-quenos, mas também irradiam para o con-vívio familiar e dentro da sociedade como um todo. Vale ressaltar, ainda, que são re-cebidas em pé de igualdade crianças por-tadoras de necessidades especiais, dentro de um processo de integração que estimula tanto a percepção social quanto as noções de cidadania do grupo. O número médio é de 20 integrantes em cada uma das três tur-mas atendidas.

Os pequenos que participam do grupo têm idade entre seis e 12 anos, podendo variar para mais ou para menos, dependen-do do interesse e das possibilidades parti-culares de cada uma. A premissa básica é que elas já estejam aptas a assimilar a ideia de construção de conhecimento, a fim de compreender os processos da linguagem da arte. Ao final de cada ano, salvando-se algumas exceções, é realizada uma expo-sição com os trabalhos produzidos pelas turmas.

Reinilda Minuzzi retrata a gratificação alcançada através da escolinha: “Apesar do pouco tempo a gente vê no rosto de cada um as expressões, as descobertas e a beleza dos resultados dos trabalhos, a espontanei-

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dade de cada atividade.” Mariana, cinco ou seis anos duvidosa-

mente contados nos dedos das mãos, talvez não saiba das atividades coordenadas pela Professora Reinilda, todavia sabe muito bem o que dizer quando questionada sobre a escolinha: “É bem legal, eu adoro!” .txt

23.txt Maio de 2010

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.txt Maio de 201024

perfilFragmentos de

histórias, lições não acadêmicas

Terça-feira, 30 de março, início da tarde. Logo na entrada do campus da UFSM, o Hospital Universitá-

rio, HUSM. Na frente dele, bancos devida-mente dispostos. Ora concorridos, ora va-gos; em um lado da Avenida Roraima e do outro. São algumas dezenas deles e outras dezenas diárias de pessoas repousando his-tórias, doenças, necessidades e carências.

Mochila nas costas, estudantes saem apressados do almoço no Restaurante Uni-versitário, correm para o ponto de ônibus ou para suas aulas. Alheios à vida acadêmi-ca, mas também com bagagem - de vida, a principal - Elaine e Sérgio esperam para um exame. Vindos da cidade de Cacequi, filha e pai saboreiam o elogiado pastel da Jan-dira. Cena comum em frente ao hospital, afinal Jandira está neste local há dez anos e conhece bem a freguesia. É a mais anti-ga vendedora ali. “Eles preferem comprar aqui. Encomendam e para muitos eu até anoto na caderneta”. Por um acidente é que essa senhora de 61 anos chegou aos bancos da calçada em frente ao HUSM. Cicatrizes lembram o dia. “Eu tava saindo e veio aqui-lo tudo pra cima de mim”. Desde então, por ter quebrado a bacia, não pôde mais subir escadas repetidamente. Foi quando come-çou com o negócio de lanches.

Outra senhora que nutre uma relação de anos com a UFSM é a Dona Iracema. Natural de Quaraí, frequenta o campus há 13 anos - sete deles como acompanhante particular de pacientes e seis como vende-dora de lanches ali na frente. Para chegar ao local, toma carona com uma companheira de vendas. “Aqui não tem problema de con-corrência, todo mundo se ajuda. Se falta al-guma coisa em uma banca, na outra tem”. Viúva há dez meses, comenta com orgulho que “foi meu marido quem fez toda a parte elétrica ali da Casa do Estudante, do RU e de outros prédios”. Quando o esposo fale-ceu deu-se conta de que precisaria ‘se virar’ mais. Às 3 horas já está preparando as co-midas. Por volta das cinco horas e quarenta minutos sai para o trabalho.

Olhando para os bancos mais próximos

da porta do hospital, nota-se um homem um pouco encolhido. Sob a aba de um boné, José Eni espia para os lados e para a entrada do HUSM. Mãos bem agarradas em uma mala, espera a hora da visita. Ele, como acompanhante, veio com o irmão de Caçapava do Sul. O irmão foi internado e espera o dia da cirurgia. José não sabe se poderá dormir com ele no quarto. Se pu-der, ficará acompanhando-o até a hora da operação.

Elaine e Sérgio, depois do lanche, acen-dem seus cigarros e ficam à espera de que as horas passem. Assim como todos que vêm de outras cidades, anseiam o fim da tarde. Neste momento, o micro-ônibus da Prefeitura dos municípios estaciona e reco-lhe os viajantes devidamente consultados, medicados ou operados.

Em frente ao HUSM, é raro não repa-rar na quantidade de fumantes. Ansieda-de pela espera Lires também tem. Porém, encontra-se no outro lado da avenida, fora da nuvem de fumaça. Ali, sombra e vento um pouco mais, digamos, inodoro. Com 55 anos, sofre de falta de ar. Encontrou no HUSM um melhor tratamento do que em Jaguari, cidade onde mora. “Lá as pes-soa são muito reparadeiras, sabe?! E aqui... aqui os médicos olham pra gente e conver-sam”. Lires, que antes se perdia no interior do hospital, hoje poderia ser guia dentro dele. Em meio a sacolas enormes, divide o banco com os conterrâneos Joceli, Maurí-cio, de um mês e 15 dias, e Marisa, de seis anos. Joceli traz Marisa, que tem pro-blemas de convulsões, para consultas. Deixa os outros dois filhos em Jaguari, e só não poupa Maurício da viagem por-que não tem alguém para cuidar dele. A menina não gosta muito de viajar, mas ela e a mãe bem sabem que só aqui acer-taram a medicação correta. Essa família não é cliente fixa dos lanches daqueles seis vendedores dos bancos ali da frente. “Só ti-nha dez reais pra passar essa semana. Trouxe comida de casa mesmo...”.

Vindo de Santiago, no banco ao lado, um casal também aguardava a chegada de um micro-ônibus. O Hos-pital Universitário de Santa Maria é o centro de referência em saúde da região. Dezenas de cidades buscam nele serviços dos quais não dispõem. Darcila e Paulino, há meses, viajam para o HUSM. Ela, de-pois de sentir dores no pulso, passou por cirurgia e agora retorna para consultas. Na-quele dia, havia sido liberada dos anti-in-flamatórios, ou seja, “agora não preciso vir mais tão seguidamente”. O marido sempre a acompanha no ciclo trajeto-espera. Bem humorados, os senhores sorriem elogiando o atendimento.

No céu, o sol começa a descer. Os ban-cos esvaziam. O local em frente ao HUSM muda de aparência. O tempo em que fica vazio, no entanto, é um momento de latên-cia. Na manhã seguinte, mais micro-ônibus no estacionamento. Vendedores nos seus bancos, pacientes em consultas. Cada um por um fim, todos contribuem para o mosaico de histórias desse local. .txt

Lara Niederauer e Liana Coll

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: Lia

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