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7/18/2019 Revista - Virus http://slidepdf.com/reader/full/revista-virus 1/7 18 Cultivar HF • Dezembro 2003 / Janeiro 2004 Vírus T odos os produtores já tiveram quedas quali- tativas ou quantitati-  vas em suas safras de-  vido, entre outros fatores, a viroses. A editoria de Cultivar nos solicitou que preparássemos um texto para oferecer, àqueles que participam da crescente produção agrícola do país, informações que contribuíssem para melhor conhecer este seu inimigo e desenvolver estratégias apropriadas para seu controle. Julgamos que uma maneira adequada seria a de formu- lar questões que comumente nos são dirigidas e suas respostas. A maioria dos leigos tem noções sobre vírus, em especial aqueles que afetam a saúde humana como o da gripe, AIDS, sarampo, poliomielite, herpes, catapora, raiva, varíola, etc. e a recente e apavorante síndrome respiratória aguda e grave (SARS) bem como de animais domésticos como cinomose do cão, peste suína, estomatite vesicular, aftosa, bouba aviária, etc. Contudo poucos conhe- cem o fato de que existem vírus lite- ralmente para todos os seres vivos: bactérias, invertebrados e vertebra- dos, bem como fungos, algas e plan- tas superiores. Curiosamente, a exa- ta natureza dos vírus, como sendo distinta de organismos celulares, foi determinada com um vírus de plan- ta, o do mosaico do fumo, em fins do século XIX, ao verificar-se que o agente infeccioso era capaz de pas- sar por filtros que retinham bactéri- as, portanto significativamente me- nores que estas. O QUE SÃO VÍRUS? Vírus são macromoléculas para- sitas cuja constituição química é re- lativamente simples, isto é, ácido nu- cléico e proteína. O ácido nucléico, que pode ser ácido ribonucléico (RNA) ou  deoxiribonucléico (DNA), de fita simples ou dupla, inteira ou segmentada, possui as informações para a replicação (“reprodução”) do Os vír Os vír Os vír Os vír Os vír us, esses us, esses us, esses us, esses us, esses terríveis inimigos terríveis inimigos terríveis inimigos terríveis inimigos terríveis inimigos Especialista oferece radiografia minuciosa do comportamento das viroses e apresenta alternativas de controle    F   o    t   o   s    U   n    i   v   e   r   s    i    d   a    d   e    d   e    S    ã   o    P   a   u    l   o

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Vírus 

Todos os produtores játiveram quedas quali-tativas ou quantitati- vas em suas safras de-

 vido, entre outros fatores, a viroses.A editoria de Cultivar nos solicitouque preparássemos um texto paraoferecer, àqueles que participam dacrescente produção agrícola do país,informações que contribuíssem paramelhor conhecer este seu inimigo edesenvolver estratégias apropriadaspara seu controle. Julgamos que umamaneira adequada seria a de formu-lar questões que comumente nos sãodirigidas e suas respostas.

A maioria dos leigos tem noçõessobre vírus, em especial aqueles queafetam a saúde humana como o dagripe, AIDS, sarampo, poliomielite,herpes, catapora, raiva, varíola, etc.e a recente e apavorante síndromerespiratória aguda e grave (SARS)bem como de animais domésticoscomo cinomose do cão, peste suína,estomatite vesicular, aftosa, boubaaviária, etc. Contudo poucos conhe-cem o fato de que existem vírus lite-ralmente para todos os seres vivos:bactérias, invertebrados e vertebra-dos, bem como fungos, algas e plan-tas superiores. Curiosamente, a exa-ta natureza dos vírus, como sendodistinta de organismos celulares, foideterminada com um vírus de plan-ta, o do mosaico do fumo, em fins doséculo XIX, ao verificar-se que oagente infeccioso era capaz de pas-

sar por filtros que retinham bactéri-as, portanto significativamente me-nores que estas.

O QUE SÃO VÍRUS?

Vírus são macromoléculas para-sitas cuja constituição química é re-lativamente simples, isto é, ácido nu-cléico e proteína. O ácido nucléico,que pode ser ácido ribonucléico(RNA) ou deoxiribonucléico (DNA),de fita simples ou dupla, inteira ousegmentada, possui as informações

para a replicação (“reprodução”) do

Os vírOs vírOs vírOs vírOs vírus, essesus, essesus, essesus, essesus, essesterríveis inimigosterríveis inimigosterríveis inimigosterríveis inimigosterríveis inimigos

Especialista oferece radiografia minuciosa do comportamento

das viroses e apresenta alternativas de controle

   F  o   t  o  s   U  n   i  v  e  r  s   i   d  a   d  e

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vírus, para definir a espécie de plan-ta a ser atacada, o tipo de vetor, etc.Esse ácido nucléico é protegido poruma capa formada por proteínas. Al-guns vírus ainda possuem membra-na envoltória (envelope), “surrupia-

da” da célula da planta hospedeira.Sendo constituídos de componentespresentes em seres vivos (ácido nu-cléico, proteínas, açúcares, lipídeos)e podendo, como fazem os seres vi-vos, sofrer mutações, há uma tendên-cia de se incorporar os vírus comoparte dos seres vivos. Embora sendousualmente prejudicial à humanida-de, graças aos conhecimentos adqui-ridos, temos utilizado vírus a nossofavor, como, por exemplo, ferramen-tas em engenharia genética (uso desuas enzimas, armazenamento etransferência de informações gené-ticas), no controle biológico de pra-gas e na produção de vacinas. É pro-vável que os vírus também tenhamdesempenhado papel importante naevolução dos seres vivos, constituin-do-se como um dos fatores de sele-ção e também responsável pelo fluxode genes entre diferentes organismos.

COMO SE MULTIPLICAM

Sendo macromoléculas, com li-mitadas informações em seu geno-

ma, os vírus usam estratégias com-pletamente distintas daquelas de or-ganismos celulares, para sua multi-plicação (“reprodução”), que é me-lhor referida como replicação. Os ví-rus não possuem sistema gerador deenergia, e carecendo da maioria dasinformações para os processos meta-bólicos, depende inteiramente damaquinaria da célula das plantas hos-pedeiras para se replicarem. Podemosdividir o processo de replicação dosvírus em algumas etapas: penetração- vírus sendo macromoléculas, nãopossuem movimento próprio, depen-

dendo do acaso para atingir o interi-or da hospedeira. No caso da plantaa situação é mais complexa, pois ascélulas são protegidas por uma pare-de celulósica espessa. Contudo, nanatureza esse problema é resolvidode maneira simples, por meio dos ve-tores (insetos sugadores ou mastiga-dores, ácaros, nematóides, fungos)que rompem a parede celular e noato da alimentação introduzem osvírus no citoplasma da célula. Ins-trumentos de corte (canivetes, tesou-ras de poda, etc) contaminados cons-tituem a forma de introdução na cé-

lula hospedeira dos vírus que não

possuem vetores. Estando no interi-or da célula, a capa protéica é remo- vida e o ácido nucléico inicia o pro-cesso de replicação quando se pro-duzem cópias do ácido nucléico vi-ral. Diferentes vírus apresentam va-

riadas estratégias de replicação, masem essência, as informações nelescontidas são convertidas em proteí-nas (da capa, enzimas para replica-ção, de movimento célula-a-célula,para transmissão por insetos, etc.).Quando suficiente quantidade deácido nucléico e proteínas da capa seformam, estes componentes espon-taneamente se agregam, num proces-so conhecido como montagem, re-sultando em grande quantidade departículas que se acumulam na célu-la. Para espalharem a infecção den-tro da planta infetada, partículas dos vírus ou seus preocursores são trans-portados através dos plasmodesma-ta (pequenos canais na parede celu-lar que comunicam uma célula à ou-tra) para células vizinhas até atingi-rem os vasos do floema, de onde sãodispersos para o resto da planta (raí-zes, folhas novas, flores e frutos).Eventualmente certo número de par-tículas virais podem ser adquiridospelos vetores e transmitidos paraoutras plantas sadias. Aliás, a melhoranalogia que podemos fazer dos ví-rus biológicos é com os vírus de com-putador. São macromoléculas comum “programa” (genoma) que uma vez introduzidas em um “computa-dor” adequado (célula hospedeira),executa seu programa, às custas dos“softwares” já existentes, fazendomilhões de cópias de si (e no proces-so causando doença, por prejudicar

o metabolismo das células e do orga-nismo) e eventualmente se disper-sando para novas hospedeiras, assimpepetuando-se.

COMO SE DISPERSAM?

Usualmente os vírus de plantassão disseminados na natureza por di-ferentes organismos vetores, dosquais os insetos (Fig. 2 a-d) são osmais importantes, mas ácaros (Fig.2 e), nematóides (Fig. 2 f) e fungostambém contribuem para dispersá-los. Dentre os insetos, os vetores emgeral são sugadores como cigarrinhas(Fig. 2 a), pulgões (Fig. 2 b), tripes, emoscas brancas (Fig. 2 d), mas hámastigadores como besouros (Fig. 2

SECÇÃO DE LESÃO de leprose em folha de laranjeira, transmitida pelo ácaro

c) que transmitem vírus.A idéia mais simples que ocorre

é de que o vetor ao se alimentar naplanta infetada, contamina suas par-tes bucais com o vírus que será trans-mitido à planta sadia na alimenta-ção subseqüente. Em verdade, o pro-cesso de transmissão é mais comple-xo e distinguimos dois tipos básicos:estiletar , em que o vírus se adere aoestilete (aparelho bucal) do insetosugador, através do qual pode sertransmitido numa só picada de pou-

cos segundos, para uma planta sa-dia. Nesse caso o vetor perde o vírusapós picar duas ou três plantas con-secutivas, necessitando se alimentarem outra planta doente para read-quirir o vírus. A relação estiletar ocor-re apenas quando os vetores são osafídeos (pulgões). Outra modalida-de é a chamada circulativa, na qualo vírus deve ser ingerido pelo vetor,circular em seu organismo, multipli-cando ou não em seus tecidos, atin-gir as glândulas salivares, e daí serinjetado na planta sadia no ato daalimentação. Quando o vírus apenascircula pelo corpo do inseto, semmultiplicar-se, a transmissão ocorrepor vários dias ou semanas após o vetor se tornar portador do vírus (vi-rulífero). Nos casos em que o vírusse multiplica no vetor, este mantém-se virulífero pelo resto da vida. Hácasos (raro) em que o vírus é trans-mitido para a progênie. Nesse tipode transmissão fica claro que o vetortransmite o vírus para um grandenumero de plantas sadias. Percebe-se logo que o conhecimento de comoo vetor age é essencial para as estra-

tégias de controle que são distintos

Os vírus, em geral, infetam apenas o organismo ou grupode organismos onde são encontrados. Assim, os vírus da polio-

mielite, gripe, raiva, AIDS, SARS, etc. são restritos aos sereshumanos e mamíferos. O vírus da poliedrose nuclear, como ousado no controle biológico da lagarta da soja, é restrito a umaou poucas espécies de insetos. Bacteriófagos são vírus que in-fectam apenas bactérias. Assim sucede também com a maioriados vírus de plantas como os do mosaico da cana-de-açúcar, domosaico da alface, da tristeza dos citros, etc. Mas há casos de vírus de plantas que são capazes de replicar no seu vetor, comoo do nanismo do arroz e o do mal de Rio Cuarto do milho quese multiplicam na cigarrinha vetora, ou o do amarelo necróticoda alface, no pulgão vetor, o de vira-cabeça do tomateiro nostripes vetores e o da leprose dos citros, no ácaro vetor. Não háregistros, contudo, de vírus de humanos e outros mamíferosque infetam plantas, e vice-versa.

VÍRUS DE PLANTAS PODEM INFETAROUTROS ORGANISMOS E VICE-VERSA?

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no caso de transmissão estiletar oucirculativo.

Alguns vírus como os do mosai-co da alface, do mosaico comum dofeijoeiro e do mosaico da soja podemser transmitidos pelas sementes.Transmissão pelo pólen é rara, con-tudo.

Propagação vegetativa de partesde plantas infetadas quase sempre re-sulta em clones infetados. A uniãode tecidos (enxertia), é uma práticahortícola altamente eficiente natransmissão do vírus da gema para ocavalo ou vice-versa.

Deve-se mencionar que o ho-mem desempenha papel importantena disseminação dos vírus, transpor-tando material contaminado (semen-tes, mudas, partes vegetativas), ob- jetos contaminados, vetores virulífe-ros, etc. de locais infetados aos inde-nes.

Em condições de campo, casosde transmissão mecânica natural sãoraros. Há casos de transmissão me-cânica com instrumentos de corte(canivetes, tesouras de poda) utili-zados em operações de desbrota, po-das, etc. Alguns vírus também po-dem ser transmitidos pela contami-nação das mãos, durante operações

de transplante, desbrota, amarraçãode plantas, etc. A transmissão mecâ-

nica é um método corriqueiramenteusado em experimentos no labora-tório. Extratos de plantas doentes sãoesfregados no limbo foliar e em com-binações favoráveis, os vírus pene-tram pelos ferimentos e infetam aplanta.

PREJUÍZOS CAUSADOS

A gama de atuação dos vírus nasplantas cultivadas é bastante variá- vel, dependendo da combinação ví-rus/planta/ambiente.

Temos que compreender antesque, ao se replicar, o vírus utiliza boaparte da maquinaria celular, compro-metendo o metabolismo normal dacélula e por conseguinte do ornganis-mo. Numa célula vegetal pode haverredução de fotossíntese e respiração,desbalanço hormonal, alterações nofluxo das seivas, etc. Mas, como regrageral, raramente viroses causam mor-te imediata da planta, produzindo in-fecções crônicas que debilitam a plan-ta fazendo com que a produção (fru-tos, folhas, flores, tubérculos) seja re-

duzida e de menor valor comercial.

Estima-se, conservadoramente, que as viroses possam causar regularmentedanos da ordem de 10-15% em quan-tidade/qualidade na maioria das cul-turas. No Brasil, talvez o caso mais cé-lebre tenha sido o da tristeza das la-ranjeiras, que dizimou cerca de 10 mi-

lhões de laranjeiras doces enxertadassobre laranja azeda, na década dos 40.Mas outras viroses causam constantese consistentes danos em culturas comoa da batata (enrolamento das folhas,mosaico Y e X, etc.), do tomateiro epimentão (vira-cabeça, mosaico Y, ama-relo de topo e baixeiro, etc.), da alface(mosaico, vira-cabeça), da batata-doce(mosaico), do maracujazeiro (endure-cimento dos frutos, pinta verde), domamoeiro (mosaico, amarelo letal, me-leira), da bananeira (mosaico do pepi-no, risca), das cucurbitáceas (mosaicoamarelo, mosaico comum, clorose le-

tal), do milho (complexo do enfeza-mento), dos citros (leprose), da videira(enrolamento das folhas), do feijão(mosaico comum, mosaico dourado),da soja (mosaico, queima-dos-brotos),da pimenta-do-reino (mosaico do pe-pino, mosqueado amarelo), do alho(complexo de vários vírus), do crisân-temo (necrose da haste), do cafeeiro(mancha anular), do trigo (mosaico,nanismo amarelo), etc.

IDENTIFICANDO VIROSES

No geral, a maioria das viroses deplantas produz sintomas característi-

cos que permitem sua identificaçãoinicial por um produtor ou técnico ex-periente, mas há certamente casos emque eles podem se confundir com aque-les causados por outros patógenos (fun-gos, bactérias, nematóides, etc.), toxi-nas de insetos sugadores e agentes abi-

óticos (deficiência nutricional, fitoto-xidez de defensivos, clima, etc.), e as-sim uma identificação definitiva requerensaios posteriores de laboratório. Ossintomas mais evidentes são os folia-res como mosaico (alternância de áre-as verde-escuras e claras ou amarela-das) (Fig. 3 b), necrose sistêmica (Fig.3 a), amarelecimento (clorose), clarea-mento das nervuras, manchas anula-res (Fig. 3 c), linhas necróticas, redu-ção/encarquilhamento/enrolamento dolimbo foliar. Nos frutos podem surgirmanchas, anéis (Fig. 3 f), endureci-mento da polpa, redução do tamanho

e queda dos frutos. Manchas e lesõespodem surgir nos ramos (Fig. 3 d) eem casos severos, induzem a sua mor-te pelo anelamento causada pela fusãode lesões. Na planta como um todopode ocorrer nanismo, declínio e mes-mo morte. Em vários casos, a infecçãocom vírus resulta em alterações do sis-tema vascular, que prejudica o sistemaradicular, advindo sintomas secundá-rios como clorose generalizada, redu-ção de porte, sintomas de deficiência,etc. Não são raros os casos de vírus quecausam infecções sem sintomas (laten-tes) cuja identificação é mais proble-

mática. Outro fator que complica a di-agnose meramente visual é o fato de

Embora à primeira vista tenha uma grande variedade deformas, todos os vírus conhecidos caem essencialmente em 3tipos morfológicos:

• de simetria helicoidal (vírus alongados);• icosaedral (vírus arredondados);• complexos (quando não tem forma helicoidal ou icosa-

edral), podendo ou não ter envelope (quando tem, geralmen-te adquirem forma esferoidal).

Suas dimensões são sub-microscópicas e para sua visuali-zação requer-se o microscópio eletrônico. O tamanho do ví-rus varia de cerca de 17 nm a 300 nm (1 nm = 1/1.000.000mm) para vírus isométricos e complexos e 3-25 nm em diâ-metro e 200-2000 nm em comprimento, para os vírus heli-coidais. Nas células infetadas, em muitos casos podem-se veragregados de enormes quantidades de partículas virais no ci-toplasma, núcleo e vacúolo.

Vírus de plantas são helicoidais (Fig.1 a, d) e icosaedrais(Fig. 1, b). Alguns vírus helicoidais são envoltos por membra-nas como os tospovírus (Fig.1, c) e rhabdovirus (Fig. 1, e). Aestrutura helicoidal, referido como núcleocapsídeo (ácido nu-cléico + capa protéica) destes vírus é verificada quando a mem-brana se rompe e libera o conteúdo (Fig. 1, f).

SECÇÃO DE FOLHA de tomateiro com sintoma de vira-cabeça, virose transmitida por tripes

QUAL É O “JEITÃO” (FORMA E DIMENSÕES) DOS VÍRUS?

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comumente ocorrerem infecções mis-tas por dois ou mais vírus e que resul-tam em efeitos sinergísticos, acentu-ando ou criando novos sintomas.

QUAL É O VÍRUS?

As observações de sintomas nocampo oferecem a primeira indica-ção na etiologia viral de uma enfer-midade de planta. Técnicos experi-entes podem diagnosticar a causa deuma virose com razoável precisão,mas normalmente recorrem a ensai-os de laboratório para confirmar aidentidade do vírus. Deve-se semprelembrar que sintomatologias pareci-das podem ser causadas por vírus dis-tintos ou outros agentes e por outrolado, variantes do mesmo vírus po-dem causar sintomas diferentes. A

situação é ainda complicada pela in-teração entre diferentes vírus e pató-genos ou agentes abióticos na gera-ção dos sintomas.

Os ensaios biológicos como os detransmissão com vetores, enxertia oumeios mecânicos em uma bateria deplantas indicadoras são um dos maisempregados. Conforme ocorra atransmissão e pelos sintomas produ-zidos nessas plantas, pode-se ter idéiada identidade do vírus. Estes testes,contudo, são demorados, requeren-do semanas ou mesmo meses parase ter os resultados e exigem espaçosem estufas. Assim, desenvolveram-se testes que permitem analisar gran-de número de amostras e ter resulta-dos em pouco tempo (horas). Inici-almente surgiram os testes imuno-lógicos baseado na reação específicaentre o antígeno (vírus). Neste caso,o vírus purificado é injetado em coe-lho, p.ex., que produz anticorpos es-pecíficos contra o vírus injetado, eque quando colocados juntos produzuma reação que pode ser visualiza-do, como por exemplo em teste ELI-SA. Opções mais recentes baseiam-se em técnicas moleculares que pro-curam identificar o vírus com basena seqüência integral ou parcial doácido nucléico. Produz-se seqüênci-as de ácido nucléico complementa-res ao do vírus, que tendem a se pa-rear especificamente, e este parea-mente pode ser visualizado. Examesem microscópio eletrônico, visuali-zando-se as partículas virais ou osefeitos que o vírus causa nas célulasinfetadas, também podem auxiliar adiagnose. Muitas instituições de en-sino superior e pesquisa, comoESALQ, Instituto Agronômico, Ins-

tituto Biológico, etc. mantém servi-

ços de clínica para auxiliar os produ-tores na identificação de viroses, pas-so inicial para se estabelecer as estra-tégias de controle.

COMO CONTROLAR AS VIROSES

Ao contrário de doenças causa-das por fungos, bactérias e nematói-des, não há maneira economicamen-te viável de eliminar os vírus de umaplanta infetada. Assim, no geral, asmedidas de controle de viroses sãoessencialmente preventivas, impe-dindo ou dificultando a chegada dos vírus a uma dada cultura e sua dis-seminação ou tornar a planta resis-tente ao vírus.

OPÇÃO 1Evitar a todo custo que o vírus che-

 gue à cultura.

Quarentenagem – geralmente éum serviço prestado por órgãos oficiaise que tem por finalidade principal evi-tar a introdução no país de pragas emgeral, entre as quais os vírus, que ain-da não ocorrem no território nacional.Um serviço eficiente de quarentenaexige laboratórios bem equipados, pes-soal qualificado, capaz de detectar ví-rus em diferentes situações.

É possível pensar também nessetipo de serviço para evitar ou retar-dar a entrada de um vírus em umaregião ou estado do país onde ele ain-da não foi detectado. Nesse caso, to-davia o procedimento pode ter efeitonegligível quando o vírus possui ve-tor eficiente, capaz de disseminá-locom rapidez para áreas distantes.

Uso de sementes livres de vírus– Os vírus que são transmitidos porsementes podem estar contidos in-ternamente nas sementes ou aderi-dos à casca, como contaminantes. Assementes portadoras de vírus cons-tituem a fonte de inoculo primáriana cultura. A introdução precoce do vírus na cultura permite a sua disse-minação para plantas nos estádiosiniciais de desenvolvimento, o queacarreta danos maiores, pois quantomais jovem a planta é infectada,maiores são os prejuízos. Portanto,para as culturas propagadas por se-mentes verdadeiras e que possuem vírus que são transmitidos atravésdestas, é prática indispensável a uti-lização de sementes livres de vírus ouaté com certificado de sanidade. Osagricultores que adquirem suas mu-das de viveiristas devem certificar-se

de que foram produzidas com semen-

tes de alta sanidade, sob condiçõesadequadas e que, portanto encon-tram-se livres de vírus por ocasião dotransplante em campo.

Uso de material vegetativo livrede vírus  – Conforme apontado an-

teriormente, a propagação vegetati- va de partes de plantas infectadas nogeral resulta em clones também do-entes. Portanto, as plantas propaga-das por meio de tubérculos, bulbos,estacas, gemas, etc., devem provirde plantas sabidamente sadias. Asmudas obtidas de plantas sadias de- vem constituir a matriz para propa-gações futuras. Assim sendo, devemser cultivadas em local protegido, iso-ladas das áreas de produção de mu-das comerciais, para evitar eventualcontaminação. Nos casos de uma variedade de alto valor comercial es-

tar 100% infectada, há necessidadede se promover a limpeza clonal paraposterior produção de mudas. A lim-peza clonal pode ser feita por meioda termoterapia, quimioterapia, cul-tura de meristemas, ou a combina-ção desses métodos.

Eliminar plantas hospedeiras do vírus – Em teoria é possível afirmar quea eliminação de todas as fontes de ví-rus de uma área, antes do início da novaplantação, tenha um efeito benéficosignificativo no controle da doença. Naprática, todavia, essa tarefa é difícil,

senão impossível de ser executada, es-pecialmente em países de clima tropi-cal e subtropical com uma ampla gamade espécies vegetais presentes durantequase o ano inteiro. A eficácia dessamedida está diretamente ligada a gamade hospedeiras do vírus, podendo termaior chance de êxito quando o vírustem círculo de hospedeiros restrito. Éaconselhável, portanto, antes de inici-ar um novo plantio, através da semea-dura direta ou do transplante de mu-das, eliminar culturas velhas e/ouabandonadas e restos de cultura quepossam hospedar vírus que afetam anova cultura. Nas proximidades da áreade plantio, sempre que possível, deve-se eliminar plantas daninhas que po-dem alojar vírus e/ou vetores do vírus.O cultivo escalonado deve ser evitado,pois os plantios mais velhos sempreservirão de fonte de inoculo para asplantas mais novas.

Erradicação sistemática de plan-tas doentes (“roguing”) – Essa prá-tica é geralmente recomendada paraos vírus que possuem um círculo dehospedeiros restrito, como por exem-plo, o vírus do mosaico do mamoei-

Figura 3: Diferentes tipos de sintomas induzidos porvírus em plantas

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também podem resultar em reduçãona incidência de vírus, especialmen-te no estádio de maior jovialidade dasplantas, onde as infecções geralmenteresultam em maiores danos. Mudan-ças na data de plantio são feitas combase na flutuação populacional dos vetores, procurando evitar as ocasi-ões de picos. Para isso há necessida-de do estabelecimento de um progra-ma contínuo de monitoramento dos vetores na região da cultura.

Aumento na densidade popula-cional de plantas na plantação podeproporcionar redução nos danos cau-sados por doenças de vírus. O au-mento do número de plantas na áreadeve ser bem analisado para evitarredução na produção devido a com-petição entre plantas.

O plantio em áreas protegidas

por barreiras físicas naturais (espé-cies vegetais de porte alto) ou artifi-ciais (telas) tem sido objeto de inves-tigações e algumas aplicações práti-cas, porém os resultados nem sem-pre são satisfatórios. Em vários ca-sos essas barreiras, que tem comoobjetivo principal evitar ou retardara entrada de vetores portadores do vírus dentro da plantação têm efeitomuito reduzido ou nulo.

No caso dos telados, adequada-mente construídos com telas de ma-lha fina (anti-afídeos), os resultadosno geral são positivos na proteção

contra a entrada de vetores virulífe-ros.

A aplicação de qualquer umadessas alternativas para minimizar osdanos causados for fitoviroses develevar em consideração aspectos eco-nômicos da cultura.

OPÇÃO 2Controlar ou evitar a chegada dos

 vetores dentro da cultura.

Os vírus, conforme já foi discuti-do, possuem vetores dentro das clas-ses dos insetos (pulgões, cigarrinhas,moscas brancas, tripes e cochonilhas),ácaros, fungos e nematóides. Os in-setos e os ácaros são vetores aéreos,enquanto fungos e nematóides vivemno solo, portanto as estratégias de con-trole são diferentes.

O controle dos vetores aéreos de vírus de plantas pode ser feito atravésde procedimentos culturais, biológi-cos e químicos, sendo este último omais utilizado pelos agricultores. Atécnica cultural mais comum é a uti-lização de cobertura viva ou morta dosolo entre as linhas de plantio, com oobjetivo de promover a repelência dos vetores e conseqüentemente retardara entrada e a disseminação do vírusna plantação. Um exemplo prático, ge-nuinamente brasileiro, é a coberturacom casca de arroz que reduz a inci-dência de vírus transmitidos por afí-

deos. Embora seja de difícil aplicaçãoem áreas extensas, por causa da baixadisponibilidade de casca de arroz, éuma alternativa interessante para pe-quenos plantios. Algumas espécies vegetais, quando plantadas nas entre-linhas da cultura podem reduzir ouretardar a incidência de viroses. É ocaso do amendoim forrageiro ( Arachis

 pintoi) que, quando plantado nas en-trelinhas da cultura do tomateiro, re-duziu população da mosca branca econseqüentemente a incidência de vírus por ela transmitido. O uso deplásticos coloridos ou prateados tam-

bém tem se mostrado experimental-mente eficiente em alguns casos, po-rém têm o inconveniente do custo ele- vado e os danos ecológicos, por seremde difícil descarte.

O controle biológico através deinimigos naturais (parasitas e pre-dadores) dos vetores não tem sidouma prática comum para o contro-le de doenças de vírus de plantas,principalmente por falta de estudosnesse sentido.

O controle químico dos vetores éo mais utilizado, pois há vários inseti-cidas, óleos minerais e acaricidas dis-

poníveis no mercado, porém nem sem-

ro, que praticamente só infecta essafrutífera. Para que a erradicação te-nha efeito benéfico ela deve ser ini-ciada assim que as plantas emergi-rem e prosseguir até o final da vidaútil econômica da cultura. Deve serfeita através de inspeções periódicas(10 a 15 dias) em toda a área do plan-tio. Caso os vizinhos também culti- vem a mesma espécie, todos devemadotar o mesmo procedimento, paraevitar que os que não praticam o “ro-guing” funcionem como fonte deinoculo para os mais cuidadosos. NoEstado de Espírito Santo, p.ex., a le-gislação exige o “roguing” para o con-trole do mosaico do mamoeiro o quetem permitido a convivência dos pro-dutores com a virose. Culturas ve-lhas e abandonadas nas proximida-des devem ser sempre eliminadas

para maximizar a eficiência da erra-dicação.Modificações no plantio – O es-

tabelecimento de um período de re-pouso de dois a três meses, totalmen-te livre da espécie cultivada pode re-dundar em uma redução significati- va das fontes de inóculo do vírus econseqüentemente favorecer a cul-tura seguinte. Também poderá terefeito na população do vetor, caso estese colonize nessas plantas. Essa me-dida é mais eficaz nos casos de víruscom círculo de hospedeiros restrito.

Alterações na época de plantio

Existe uma Comissão Interna-cional (International Committeefor Vírus Taxonomy) que cuida dosproblemas de classificação e no-menclatura dos vírus em geral, in-cluindo os de plantas. Quanto aosnomes, para os vírus de plantas háum consenso para que tenhamnomes comuns, vernaculares, in-dicando os sintomas e a hospedei-

ra onde foram pela primeira vezdescritos. Internacionalmente adesignação e feita em inglês, indi-cando-se uma sigla/acrônimo nocaso de citações repetidas.

Na literatura em português,costuma-se traduzir, quando pos-sível, este nome em inglês, mas in-dicando-o na primeira citação, emitálico, como se fora nome cienti-fico em latim. Ex. mosaico da alfa-ce (Lettuce mosaic vírus - LMV),mosaico dourado do feijoeiro (Bean

 golden mosaic vírus - BGMV), tris-teza dos citros (Citrus tristeza ví-

rus - CTV), mosaico do mamoeiro

(Papaya ringspot víru-isolate P -PRSV-P), etc.

Quanto à classificação, nosprimórdios da virologia, foi ela fei-ta baseada principalmente na sin-tomatologia e hospedeiras, mas apartir da década dos 50, quandoinformações básicas sobre a natu-reza dos vírus se tornaram dispo-níveis, houve uma mudança radi-

cal, classificando-os pelo tipo deseu genoma (DNA ou RNA, fitasimples ou dupla, segmentado ounão), morfologia das partículas(forma icosaedral ou helicoidal, ounenhuma delas), presença ou au-sência de membrana envoltória,tipo de vetor e modo de transmis-são, relacionamento sorológico,etc. Mais recentemente, com osavanços na área de genomas, o se-quênciamento parcial ou integraldo ácido nucléico dos vírus tam-bém tem sido utilizado como cri-tério para sua identificação e clas-

sificação.

COMO SE DÃO NOMES AOS VÍRUSE COMO SÃO ELES CLASSIFICADOS?

Figura 2: Principais vetores de vírus: a. Cigarrinhac. Besouro crisomelídeo Diabrotica sp. d. Mosca brf. Nematóides do gênero Xiphinema  .

   F  o   t  o  s   U  n   i  v  e  r  s   i   d  a   d  e

   d  e

   S   ã  o

   P  a  u   l  o

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pre traz o resultado desejado. Eles sãousados principalmente porque os agri-cultores já estão familiarizados com asua aplicação para o controle de pragase, por isso acreditam que também con-trolam viroses. Além disso, o custo demuitos defensivos é relativamente bai-xo em relação ao custo do produto aser comercializado. A baixa eficiênciado controle químico se deve principal-mente ao tipo de relação entre o víruse o vetor. Nos casos em que a relação éapenas estiletar e o vetor (pulgão) nãocoloniza a espécie cultivada, a eficiên-cia do controle químico do vetor paraminimizar os danos da virose é prati-camente nula. Isto porque a maioriados inseticidas não é rápida o suficien-te para matar os pulgões antes que es-tes efetuem a picada de prova e inocu-lem o vírus na planta. Em alguns ca-

sos pode até acelerar a disseminaçãodo vírus, pois a presença do inseticidapode causar excitação nos pulgões, quepoderão provar mais plantas do que ofariam na ausência do produto. Entre-tanto, quando a espécie de pulgão co-loniza a planta, esta deve ser controla-da como praga. Portanto, ao aplicar ocontrole químico do vetor com o in-tuito de controlar uma virose o agri-cultor na maioria das vezes estará au-mentando o custo da produção sem ternecessariamente o retorno desejado naminimização dos danos. Além disso, ouso indiscriminado de defensivo pro-

piciará o desenvolvimento de insetosresistentes aos princípios ativos utili-zados, danos na natureza, e na cadeiaalimentar do homem e de outros ani-mais. Certos óleos minerais têm mos-trado experimentalmente alguma efi-ciência no controle de doenças de ví-rus de transmissão estiletar. Em cam-po, entretanto, os resultados não têmsido tão satisfatórios e por isso o usocomercial desse tipo de produto não écomum.

Quando a relação vírus-vetor é dotipo circulativa (pulgões, cigarrinhas,mosca branca e tripes), portanto re-

quer maior tempo de alimentação do vetor para a aquisição e a transmissãodo vírus, o controle químico poderáminimizar a disseminação do vírus naplantação. Ao se alimentar por maistempo em uma planta protegida cominseticida sistêmico o vetor terá mai-or probabilidade de morrer antes demover-se para outra planta e efetuarnova transmissão. Nesses casos devemser utilizados os produtos registradospara a cultura, nas dosagens recomen-dadas pelo fabricante e adotando oscritérios de segurança pessoal do apli-cador e de proteção ambiental.

Para os vírus que são transmiti-

dos por nematóides e fungos, que sãohabitantes do solo, a primeira medi-da recomendada é de exclusão, ou seja,evitar o plantio em áreas com históri-co da presença do vetor. Na impossi-bilidade de adoção dessa medida, o

controle geralmente é feito por meiode nematicidas e fungicidas. Para vo-lumes pequenos de solo, para planti-os em vasos, por exemplo, pode-se re-comendar a esterilização química oupelo calor.

OPÇÃO 3Tornar as plantas resistentes ao ví-

rus e/ou vetor.

A resistência genética é conside-rada a melhor e mais eficiente formade controle de viroses em geral e deveser utilizada sempre que disponível. Di-

 versas variedades de várias espécies cul-tivadas, possuidoras de genes de resis-tência para um ou mais vírus, foramdesenvolvidas nos últimos anos porinstituições de pesquisa e empresas desementes no país e do exterior e estãodisponíveis no mercado. Na verdadetrata-se de um trabalho permanente,pois a resistência incorporada em umanova variedade nem sempre é duradou-ra. Os vírus, no seu processo evoluti- vo, podem desenvolver estratégias quepermitem o aparecimento de mutan-tes ou recombinantes capazes de que-brarem a resistência recentemente in-

corporada na variedade.

Variedades tolerantes, isto é, quemesmo infectadas com o vírus não so-frem danos significativos na produ-ção, também são outra opção desejá- vel para o controle de viroses, apesardas restrições apontadas por alguns in-

 vestigadores.Além da resistência ao vírus,pode-se pensar também no desenvol- vimento de cultivares resistentes aos vetores, especialmente para aquelesque colonizam as plantas nas quaisinoculam o vírus. Os principais tiposde resistência aos vetores que podemser de utilidade no controle de fitovi-roses são a não preferência e a antibi-ose. Entretanto, raros são os exemplosde trabalhos desenvolvidos nessa li-nha de abordagem do problema de viroses em plantas.

Premunização – A premunização

ou “vacinação” é a proteção das plan-tas com uma estirpe fraca do vírus,que não afeta o desenvolvimento e aprodução, tanto quantitativa comoqualitativamente. Para isso, as plan-tas devem ser inoculadas com uma es-tirpe fraca do vírus, ainda no estádiode mudas. Após alguns dias estas es-tarão protegidas contra a infecção comas formas severas do vírus que ocor-rem em campo. O exemplo clássicode aplicação eficiente dessa tecnolo-gia é o do controle da tristeza dos ci-tros, que vem sendo utilizado no Bra-sil a mais de 30 anos. Por muitos anos

acreditou-se que essa alternativa de

Não. Viróides são parasitos moleculares, menores que vírus.São pequenos fragmentos de RNA com 250-350 nucleotídeos (um vírus tem no mínimo uns 6.000 nucleotídeos), circulares e que se

replicam nas plantas da mesma maneira que os vírus, utilizandodo sua maquinaria metabólica. Até o momento só foram identifi-cados em plantas e normalmente se disseminam por multiplica-ção clonal ou por instrumentos de corte. Tem sido identificado em várias culturas usualmente causando doenças menos importan-tes, mas há casos devastadores como o “cadang-cadang” que ma-tou milhões de coqueiro no sudeste asiático. Entre nós conhece-mos a exocorte e a xiloporose do citros e o nanismo do crisântemo.

Espiroplasma e fitoplasma são procariotos (como as bactérias)desprovidos de parede celular e disseminados por cigarrinhas. Oespiroplasma é assim chamado porque a célula tem forma espira-lada e entre nós causa uma enfermidade importante em milho, oenfezamento pálido. Fitoplasmas não tem forma definida e vários

deles ocorrem entre nós e causam geralmente sintomas de amare-lecimento generalizado, nanismo, folhas miúdas e proliferação dasgemas (que em conjunto gera um sintoma conhecido como en- vassouramento).

 No Brasil há doenças importantes como o irizado do chuchu-zeiro, superbrotamento do maracujazeiro (Fig. 3 e) e enfezamento vermelho do milho.

VIRÓIDES E FITOPLASMA/SPIROPLASMA.SÃO ELES TAMBÉM VÍRUS?

ceps  . b. Pulgão preto de citros, Toxoptera 

aci . e. Ácaro tenuipalpídeo Brevipalpus phoenicis .

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controle só era viável para culturas pe-renes ou semi-perenes e aquelas pro-pagadas vegetativamente, pois paraculturas anuais, propagadas por se-mentes, haveria a necessidade de seinocular um grande número de plan-tas a cada ciclo da cultura. Atualmen-te, com os avanços na produção demudas de diversas espécies, essa tec-nologia passou a ser viável tambémpara culturas anuais, como é o casodo controle dos mosaicos comum eamarelo em abobrinha-de-moita. Tra-ta-se de uma alternativa de controleecologicamente correta, pois não trazdanos ao aplicador, ao consumidor eao meio ambiente. Além disso, podeser incorporada em qualquer manejointegrado de pragas e doenças da cul-tura.

Plantas transgênica – Nos últimosanos a agricultura mundial tem expe-rimentado avanços tecnológicos signi-ficativos na área de transformação ge-nética de plantas. Atualmente é possí- vel introduzir seqüência de nucleotí-deos de qualquer organismo dentro dogenoma de uma planta e obter a suaexpressão. Em teoria é possível pensarque genes de imunidade ou de resis-tência a vírus podem ser transferidosentre as diferentes espécies vegetais,mesmo entre aquelas sem qualquer pa-rentesco. No caso dos vírus de plantasdiversas estratégias estão sendo inves-tigadas com o propósito de se obter

plantas trangênicas resistentes a vírus.A maioria delas utiliza seqüências dogenoma do próprio vírus. A seqüência(gene) mais comumente utilizada é ada proteína da capa protéica, que podeou não ser produzida nas células daplanta transformada para conferir pro-teção contra a infecção em campo.Outros genes de vírus que têm sido ava-liados são os que codificam proteínasde movimento na célula, da replicase,envolvido na replicação do vírus, etc.Diversas empresas e instituições estran-geiras, bem como brasileiras, já desen- volveram cultivares transgênicos de di-

ferentes espécies vegetais para resistên-cia a vírus, porém ainda não estão dis-poníveis no mercado brasileiro. Em al-guns países, onde a legislação permiteo cultivo de transgênicos, o seu uso játem mostrado bons resultados, comopor exemplo, os cultivares de mamoei-ro transgênicos (variedade SunUp ehíbrido Rainbow) plantados no Havaídesde 1998 e que são resistentes aomosaico. As plantas transgênicas resis-tentes a vírus estão sujeitas ao mesmoproblema de quebra da resistênciaapontado anteriormente para as plan-tas resistentes obtidas através do me-

lhoramento genético clássico.

A utilização comercial de plantastransgênicas em geral tem sido motivode intensa discussão nos últimos anos.Para as plantas transgêncicas resisten-tes a vírus, essencialmente três aspec-tos de riscos tem sido considerados: ris-cos para o homem e outros animais,riscos para o ambiente e riscos comer-ciais. No primeiro caso questionam-sequais os riscos que o gene do vírus pre-sente na planta ou nos seus derivados,poderá ter para a saúde do homem. Porexemplo, qual seria o risco potencial dafreqüente ingestão da proteína da capaprotéica de um vírus que está sendoconstantemente produzida em umaplanta transgênica? Deve-se lembrarque o homem, há milhares de anos,diariamente consome algum produtoproveniente de uma planta que estava

infectada com um vírus em campo (ex:alface com o vírus do mosaico, suco delaranja com o vírus da tristeza, frutosde mamoeiro com mosaico, etc) e, porconseguinte está ingerindo partículasinteiras desses vírus (ácido nucléicomais capa protéica). Se até hoje não hánotícias de vírus de plantas que sejamcapazes de infectar o homem ou cau-sar problemas a sua saúde, é poucoprovável que isso venha ocorrer com oconsumo de produtos de plantas trans-gênicas expressando genes virais.

Os riscos comerciais estão rela-cionados com as características agro-nômicas da planta transgênica, a du-rabilidade da resistência e a possi-bilidade da dispersão do gene paraoutras espécies vegetais. É bom lem-brar que essas considerações não es-

tão limitadas às plantas transgêni-cas resistentes a vírus, mas se apli-cam a qualquer planta transgênica.A área que tem atraído mais inte-resse no caso das plantas transgêni-cas resistentes a vírus é sobre o ris-co da interação entre a seqüência dogenoma vírus que foi inserido naplanta com o genoma da própriaplanta ou com o genoma de outro vírus que infecta a mesma espécie vegetal. Avaliações sobre esses ris-cos, que podem ser de três natureza(heteroencapsidação, recombinaçãoe sinergismo), estão em andamentoem diversos laboratórios.

E.W. Kitajima e J.A.M. Rezende,Univ. de São Paulo

CC

Figura 1: Micrografias eletrônicas mostrando diferentes formas de partículas dos vírus de plantas. a. Vírus do anel do pimentão. b. Vírus da necrose do fumo.

c. Tospovirus, com partículas de forma esferoidal. d. Vírus do mosaico do nabo, e e. f. Vírus da faixa clorótica das nervuras do milho.

   U  n   i  v  e  r  s   i   d  a   d  e

   d  e

   S   ã  o

   P  a  u   l  o