RevistaArqueoPublica 2006

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Editores

Comissão Editorial

Conselho Editorial

Projeto gráfico

Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)

Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador, Havana, Cuba)

Andrés Zarankin (UFMG)

Gilson Rambelli (NEE/UNICAMP)

Nanci Vieira Oliveira (UERJ)

Ana Pinon (Universidad Complutense de Madrid, Espanha)

Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)

Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)

Charles Orser (Illinois State University, EUA)

Gilson Martins (UFMS)

José Luiz de Morais (MAE/USP)

Peter Ucko (Institute of Archaeology, UCL)

Laurent Olivier (Université de Paris)

Sian Jones (University of Manchester)

Martin Hall (Cape Town University, South Africa)

Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México)

José Luiz de Magalhães Castro Neto

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

EDITORIAL

Arqueologia Pública é um conceito de recente desenvolvimento, resultado das transforma-ções no âmbito das sociedades e das ciências, nas últimas décadas. Desde o fim da SegundaGuerra Mundial (1939-1945), as diversas sociedades passaram por transformações profundas,em particular com a emergência social de grupos como as minorias étnicas e as mulheres. Osmovimentos pelos direitos civis e pela emancipação feminina intensificaram essas tendências eforam seguidos por múltiplos outros, tais como a luta contra o belicismo, pela liberdade deopção sexual, pela liberdade política e social, em diferentes países. A década de 1980 viria aconsolidar essas novas realidades, com o questionamento da homogeneidade social e com aluta pelo respeito e valorização da diversidade ambiental e cultural.

As ciências não deixaram de ser afetadas. A neutralidade da ciência foi questionada, assimcomo a objetividade, herdada do positivismo, da pesquisa científica. Os modelos normativos deinterpretação da sociedade foram postos em cheque e a distância da ciência em relação àsociedade foi criticada. Como resultado, as ciências passaram a interagir, de forma programáticae consciente, com os grupos sociais, visando a políticas públicas. No campo da Arqueologia,estas mudanças levaram à constituição do Congresso Mundial de Arqueologia, em 1986, e àinteração entre arqueólogos e indígenas e membros das comunidades em geral.

No Brasil, a expressão Arqueologia Pública, surgida em âmbito anglo-saxão, ainda é nova epode levar a confusão. De fato, público, em sua origem inglesa, significa “voltada para o público,para o povo” e nada tem a ver, stricto sensu, com o sentido vernáculo de público como sinônimode “estatal”. Ao contrário, o aspecto público da Arqueologia refere-se à atuação com as pessoas,sejam membros de comunidades indígenas, quilombolas ou locais, sejam estudantes ou profes-sores do ensino fundamental ou médio. A ação do Estado dá-se, de maneira necessária, pormeio da legislação de proteção ambiental e cultural que leva empreendedores – empresas priva-das ou públicas – a custearem estudos de impacto ambiental e cultural. Nem sempre tais estudosvisam à ação pública, no sentido mencionado acima, de interação com as pessoas. Do nossoponto de vista – e esta revista serve a este propósito – a ciência não deve alhear-se da sociedade,sob o manto diáfano do empirismo. A Arqueologia Pública, entendida como ação com o povo,para usarmos uma expressão de Paulo Freire, permite que tenhamos uma ciência aplicada embenefício das comunidades e segmentos sociais. A nova publicação está aberta a todos.

Pedro Paulo A. FunariErika M. Robrahn-González

A publicação deste volume foi possívelgraças ao apoio da Companhia de CimentoRibeirão Grande (CCRG) que vem realizandoum programa de pesquisa em arqueologiapublica do Programa de Ampliação da MinaLimeira, município de Ribeirão Grande / SP.Ficam aqui nossos agradecimentos especiaisao engenheiro Luiz Carlos Busato, que pron-tamente acatou a idéia de tornar público osresultados alcançados pelo trabalho.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Sumário

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha):o desafio dos espaços divulgativos

Ana Maria Mansilla Castaño

Arqueologia, publico e comodificação da herança cultural: o casoda cultura Marajoara

Denise Pahl Schaan

Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...

Marília Xavier Cury

O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem?Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO

Leilane P. LimaGilberto da Silva Francisco

Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul deSão Paulo: ações em arqueologia pública ligadas ao Projeto deAmpliação da Mina Calcária Limeira.

Erika Marion Robrahn-González

Artigos

Resenhas

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Envisioning the past. Archaeology and the image.

Ana Maria Mansilla Castaño

Appropiated pasts. Indigenous peoples and the colonial culture ofArchaeology.

Ana Maria Mansilla Castaño

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Justificativa e contextualização dapesquisa

Sob o ponto de vista disciplinar e socialé cada vez mais evidente o crescenteprotagonismo da divulgação arqueológica(Ballart 1997, Ballart e Juan 2001), o que sevem concretizando no maior número de arti-gos dedicados ao tema nas revistasespecializadas, na presença em congressose cursos de todo tipo, e claro, no significati-vo número de projetos de pesquisa arqueo-lógica que incluem, de uma forma ou outra,um apartado específico sobre este tema,embora não tenha atingido ainda esseprotagonismo na formação universitária. Maseste contexto não tem vindo acompanhadode uma pesquisa no mesmo nível. Isto é, naEspanha em geral a divulgação se tem man-

tido como um campo marcado pela ação maisdo que pela reflexão crítica.

Esta proposta centra-se numa Comuni-dade Autónoma, Castilla y León, especial-mente atrativa por diversas razões: em pri-meiro lugar, por o significativo número desítios arqueológicos visitáveis, de carátermarcante, alguns deles Patrimônio da Huma-nidade como Atapuerca (Burgos) ou LasMédulas (León); em segundo lugar, pela ati-va política de divulgação arqueológica quese vem realizando nela e, em terceiro lugar,por não ser nenhuma das comunidades his-tóricas, como são Cataluña ou Galicia, cujadinâmica neste âmbito tem sido bastante di-ferente, com uma maior projeção e tradi-ção, em alguns casos.

A Comunidade de Castilla y León podeser considerada paradigmática do papel quetem o patrimônio na sociedade atual, poissão coincidentes nela muitos dos problemase potencialidades que afetam o patrimônioem sua relação como o turismo, a econo-

A DIVULGAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM CASTILLAY LEÓN (ESPANHA):O DESAFIO DOS ESPAÇOS DIVULGATIVOS

Ana Maria Mansilla Castaño*

Resumo: O interesse pelo patrimônio e particularmente pela sua divulga-ção é um fenômeno global. Na Espanha isto acontece nas últimas déca-das. Neste artigo se analisa o caso de uma Comunidade Autônoma, Castillay Leon, caracterizada pela riqueza e diversidade do seu patrimônio. Oprincipal objetivo deste texto é a dimensão discursiva dos diferentes es-paços divulgativos, museus, sítios arqueológicos e centros de interpreta-ção, visando a avaliação de suas características e inter-relações. Enfatizaos pontos fracos e as alternativas teóricas e práticas.

Palavras chave: patrimônio arqueológico – divulgação – Espanha –Castilla y León

(*) Escola Oficina de Restauro de [email protected]

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mia, as políticas, o mercado de trabalho, apesquisa e os pesquisadores. Apenas recen-temente o patrimônio arqueológico começaa mergulhar nesta densa rede de relações econflitos de interesses. Em resumo, é agoraque começa a adquirir uma maior visibilidade.

A Comunidade Autónoma de Castilla y Leónestá formada por nove províncias, Ávila, Burgos,León, Palencia, Salamanca, Segovia, Soria,Valladolid e Zamora, desde a aprovação doEstatuto de Autonomia, em 1981 (Figura 1).

turismo cultural, tem um papel protagonistadesde meados da década dos 90. A incorpo-ração de Espanha à Comunidade Européiatem tido uma grande influência na economiacastellano-leonesa, especialmente no âmbi-to do patrimônio, através de programas definanciamento europeu, entre cujos objeti-vos encontra-se o desenvolvimento de zo-nas rurais oferecendo ajudas a iniciativas quecontribuam ao aprimoramento social e eco-nômico de zonas desfavorecidas, criandoemprego e promovendo a fixação da popu-lação nas ditas áreas.

Levando em consideração a riqueza evariedade de sítios de Castilla y León, erapossível ter realizado um estudo mais deta-lhado de algum exemplo significativo. Noentanto, o objetivo era poder oferecer tantouma visão de conjunto, quanto a posibilidadede comparação com outros casos, mais queincidir na singularidade, no caráter de unicumde algum destes sítios. Neste sentido, a pro-posta de análise dos discuros não é um aná-lise de conteúdo stricto sensu, entendidocomo o estudo detalhado quantitativo e qua-litativo das mensagens a partir do discursodivulgativo concreto de todos e cada um dosespaços divulgativos que integram a amos-tra, ou de algum deles, também não é uma“receita pronta” de projeto de divulgação dopatrimônio arqueológico.

O objetivo não era esse, não se preten-dia conhecer como se divulga um determi-nado tema, às vezes recorrente, masaprofundar o conhecimento sobre aspráticas divulgativas aqui e agora, aten-dendo ao que se diz, o que se faz e oque deveria ser feito. Toma-se para issoos discursos como objeto de estudo, trata-dos no seu sentido mais amplo, como con-cepção sobre um campo concreto, neste casoa divulgação, que articula tanto textos quan-to espaços e ações. Dado que a disciplinaarqueológica amplia suas áreas de atuaçãoe neste sentido a divulgação é uma partefundamental, também precisa ser objeto depesquisa como os outros temas até agoraprioritários, o que justifica uma pesquisadeste tipo.

Uma das principais características deCastilla y León é sua grande extensão geo-gráfica, quase 95.000 Km2 sendo uma dasregiões mais grandes não somente daEspanha, mas da Europa. Isto em claro con-traste com sua escasa população, apenas2.500.000 habitantes (Valdeón 1996: 36-38).A isto se acrescenta um forte envelhecimen-to da população. Embora, haja uma tendên-cia ao equilíbrio frente a décadas anterio-res, pois a população não tem descendidode forma marcante, por causa dos baixosíndices de mortalidade e a menor incidênciada emigração. A isto se acrescentam os efei-tos da imigração que acontecem nesta co-munidade, como também no resto do país.

Sob o ponto de vista econômico, a rele-vância da agricultura tradicional está dimi-nuindo frente às pequenas empresas e aosetor serviços. O turismo, principalmente o

Fig. 1 - Mapa de Castilla y León e seu referenteEuropeu.

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativosAna Maria Mansilla Castaño

Ante a falta de um quadro de referênciaúnico se recorreu a elementos procedentesde diferentes disciplinas. Com efeito, é pro-blemático definir como museológica, arque-ológica, turística, sociológica ou antropoló-gica esta pesquisa, mesmo que pela temática,pelos aspetos que são tratados, pelas experi-ências prévias inspiradoras e pela metodologia,responda, de alguma maneira, a todas elas,embora não seja de forma pura. Optou-sepela permeabilidade disciplinar que se con-siderou mais operativa que o bloqueio antea falta de uma etiquete adequada. Mesmoarriscando não reunir stricto sensu as carac-terísticas mais ortodoxas dos estudos-tipo detais disciplinas. Era esta a alternativa parapoder realizar uma pesquisa que desse res-posta às perguntas feitas: Como se divul-ga na prática? Houve uma transforma-ção nos discursos, ou são apenas mu-danças formais conforme a uma políti-ca favorável à divulgação?

Esta pesquisa procurava contribuir aoavanço do conhecimento na disciplina arque-ológica tomando como objeto de reflexão umâmbito, o da divulgação, o qual no momentoatual não tem atingido o patamar de debatee o grau de amadurecimento alcançado jáem outros âmbitos. Finalmente, colocar osdiscursos como centro de atenção deslocan-do ao patrimônio arqueológico propriamen-te, supunha a introdução de um novo olhar,no qual a comunicação tem uma grande re-levância. Entra aqui em jogo a dimensãopessoal, subjetiva e qualitativa.

Algumas considerações teórico-metodológicas prévias

Sob o ponto de vista teórico, emboraseja difícil uma adscripção definitiva, estapesquisa não pode se desligar das teoriaspos-processuais, inclusive do que autorescomo Hodder (1999: 5) chamam de pos-pos-processuais. Não se pretendia um seguimen-to estrito de suas idéias. Também não sepretendia realizar uma pesquisa de profun-

da carga teórica, nem atacar os alicerces daprática arqueológica processual. Embora, éclaro, que o tipo de temas dos quais se tra-ta, os discursos e a ênfase em determinadosaspectos, como a dimensão social da disci-plina enquadram-se nesta linha de pensa-mento das ciências sociais, não apenas ar-queológica. Nela a subjetividade, a relevân-cia da eleição pessoal e o pluralismo têm umclaro protagonismo. Neste sentido, as expe-riências tanto do âmbito anglo-saxão (Colley2000, McManamom e Hatton 2000) quantoda América do Sul (Funari, Neves e Podgorny1999) têm sido influências marcantes. Umtema como este e tratado sob este olhar so-mente era possível neste quadro teórico dereferência.

No que diz respeito à metodologia, aopção pela etnografia tem sido uma decisãode caráter operativo. Embora possa se con-siderar uma aplicação heterodoxa, assumiu-se o olhar antropológico (Jociles 1999a: 8) eas técnicas de pesquisa próprias da etnografia.No entanto a aplicação destas técnicas, aanálise do discurso (Jociles 2000), as entre-vistas (Sanmartín 2000) e a observação par-ticipante (Jociles 1999b) são uma versão maisleve a respeito ao ideal proposto. No casoconcreto dos espaços divulgativos, a coletade informação in situ foi completada com aaplicação das outras técnicas de pesquisa naabordagem de alguns aspectos da pesquisaque não são o objeto deste artigo. Como sãoos discursos dos agentes da divulgação, en-tre eles os diretores de museus, empresasde arqueologia, servidores públicos da áreade arqueologia e pesquisadores, assim comoa analise dos discursos de diferentes tiposde materiais divulgativos, guias arqueológi-cos, folders e outros (Mansilla 2005) e dosdiscursos do público que visita esses espa-ços divulgativos. É, pois, uma metodologiaimperfeita, suscetível de aprimoramento quepoderá ser concretizada em próximas pes-quisas. Embora não seja a metodologia óti-ma, tem sido operativa, partindo de experi-ências diversas, de clara orientação antro-pológica, que permitiram realizar a análise

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dos conjuntos discursivos e atingir conclu-sões válidas.

ANALISE

Segue-se a análise dos discursos dos es-paços divulgativos, museus, sítios arqueoló-gicos e aulas arqueológicas. É este o tipo dediscurso que têm uma maior incidência nopúblico ou uma maior visibilidade. O que sedenominou discurso dos lugares é um con-junto amplo e complexo, formado por umaamostra que se considerou suficientementerepresentativa. Tanto sob o ponto de vistaquantitativo (10 museus, entre os quais estãoinclusos aqueles que têm seções de arqueo-logia e os estritamente arqueológicos, 36 síti-os arqueológicos e 23 aulas arqueológicas),quanto qualtitativo, ao incluir na amostra osexemplos mais significativos das diferentesprovíncias. No entanto, levando em conside-ração o caráter dinâmico da divulgação, nomomento de fechar a pesquisa abriram-se e,com efeito, continuam a ser abertos ao públi-co novos espaços divulgativos que não foram

possíveis incluir na análise. No momento atu-al há mais de trinta aulas abertas (Val eEscribano 2004). São estes os espaçosdivulgativos mais novos, ubicadas perto dossítios arqueológicos, em prédios de arquite-tura rural ou prédios da comunidade atual-mente fora de uso, sendo seus principais ob-jetivos: 1) complementar, embora não subs-tituir, os museus, 2) servir de explicação, pre-parar e provocar a visita aos sítios e 3) obterrentabilidade social e cultural nos lugares ondea Administração já tinha investido previamen-te. As aulas arqueológicas se caracterizam porseu pequeno tamanho, o protagonismo doselementos visuais, auditivos e tácteis e a au-sência de um acervo próprio, de serviços as-sociados de conservação, documentação epesquisa de materiais originais.

Optou-se pela limitação do número dasvariáveis, mesmo que o potencial de análisefosse muito maior, de forma que fosse pos-sível a comparação entre os diferentes es-paços. Assim mesmo, isto obrigava a inclu-são de algumas variáveis quantitativas. Cadaespaço introduz algumas nuances, mas asvariáveis analisadas foram oito. (Figura 2).

Fig. 2 -Variáveis analisadas nos discursos dos lugares.

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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativosAna Maria Mansilla Castaño

A relação de alguma destas variáveiscom o discurso divulgativo pode resultar pou-co evidente, como é no caso da acessibilida-de (Espinosa 2002a, 2002b) ou das infra-es-truturas, que podem nos fazer pensar maisnuma simples descrição de que elementosapresentam os diferentes espaços e quaisfaltam. No entanto, entendendo o términodiscurso no sensu lato, não estritamentelinguístico, tais variáveis são significativaspois estão mostrando uma forma de enten-der a divulgação, da qual desprende-se umadeterminada valorização da experiência e darelação com o público, neste contexto con-creto, ambas pouco valorizadas.

Da análise dos discursos dos museus,desprendem-se quatro conclusões:

1. As instalações museográficamenterecentes, como as dos Museus de Zamora ePalencia, supuseram uma mudança formal

com um maior protagonismo do discurso vi-sual, mas sem que tenha acontecido umaverdadeira transformação do discurso clás-sico. Este se articula basicamente no entor-no de cartazes, vitrines e objetos individuali-zados. (Figura 3).

2. Sob o ponto de vista das atividadesdivulgativas, os museus são mais dinâmi-cos do que erroneamente se pensa. Comefeito, é no Museu de Ávila onde se têm re-alizado algumas das mais interessantes ex-periências. Ao mesmo tempo, têm um gran-de potencial neste sentido pelas suas infra-estruturas e acessibilidade, apesar das limi-tações de pessoal.

3. A falta de estudos de público éuma das grandes carências ainda hoje, tan-to nas exposições temporais quanto nas per-manentes, indo além dos comentáriosemotivos e das referências numéricas que

Fig. 3 - Tipos de discursos expositivos.

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são tomados como marcadores do sucessodas exposições (Asensio 1996, Asensio y Pol2002a, 2002b, 2003, Asensio, Pol, Calderia yAlteria 1999). Neste sentido, o público temum papel secundário.

4. Faltam, assim mesmo, estudos so-bre as relações entre as exposições tem-porais e a exposição permanente, e seuefeito no público (Kelly 2000), que incidamnas influências que podem ter sobre elas osfatores externos. Principalmente naquelas demaior sucesso como foi o caso de Celtas yVettones em Ávila (VV.AA. 2001) ou Atapuercaun millón de años em Burgos (Bermúdez deCastro, Arsuaga, Carbonell e Rodríguez1999).

Em relação ao discurso dos sítios ar-queológicos, até agora se tem atuado nonível macro, atendendo ao acondiciona-mento dos sítios, sua conservação e sinali-zação, no entanto, falta ainda o desenvol-vimento do nível micro, isto é, dos deta-lhes e da articulação entre os diferenteselementos para atingir uma divulgaçao efe-tiva, integrando a sinalização, a informa-ção in situ e os materiais complementares.Tem-se incidido principalmente nos carta-zes. No entanto, isto não é suficiente, daíque uma boa divulgação nestes espaçospasse por:

1. Uma boa informação em todos osâmbitos, frente a situações como a vila ro-mana de Navatejera em León, desconhecidapara a maioria dos turistas, apesar de suaproximidade à cidade.

2. Uma oferta adequada aos tipos depúblico reais, cientes e explicitando que nemtodo o público pode ter acesso a determina-dos sítios. Isto acontece com Ulaca em Ávila,onde as própias condições físicas do sítionuma altura elevada e de difícil acesso res-tringem as visitas.

3. Uma boa comunicação com o públi-co, através de recursos acessíveis física einteletualmente.

Levando em consideração que a visitain situ em geral atende a diferentes as-pectos como o conhecimento, as experi-ências e as atitudes, bem como favorece

uma melhor aproximação ao patrimônioarqueologico, são quatro os elementoschave que necessitariam ser repensadase melhor articuladas visando o acondicio-namento dos sítios:

1) A paisagem2) Os restos arqueológicos3) A própria experiência da visita4) Os materiais complementares

As aulas arqueológicas, o espaçodivulgativo mais novo, embora sua diferentedenominação responde de fato à mesma pro-blemática comum aos centros de interpreta-ção. Seu crescimento como instrumento degeração de renda e emprego, bem como dedinamização turística, são objetivos nemsempre atingidos (Mansilla 2004 e e.p.,Mateos 2003).

1. Observa-se uma certa uniformidade noque diz respeito ao tipo de discurso tex-tual, embora com algumas diferenças naextensão das unidades textuais, no estilo, notom e no léxico. Nos diferentes elementosdivulgativos das aulas, acontecem as mes-mas fraquezas, inclusive na aula soriana deAntiqua Osma, a única que oferece uma visi-ta audio-guiada. De maneira que algumasdas características que se observam nos dis-cursos textuais dos cartezes e painéis, en-contram-se também nos vídeos. Há unani-midade quanto à importância de reduzir aextensão dos textos e evitar o excesso determos muito específicos. No entanto, nãose pode falar propriamente de um estilo típi-co da interpretação do patrimônio, mais di-reto, que chegue aos diferentes tipos de pú-blico, que apele aos conhecimentos ou ex-periências prévios dos visitantes, que provo-que o interesse, que suscite câmbios de ati-tude principalmente nas questões relativas àvalorização e proteção do patrimônio arque-ológico. Não há mensagens diretas deste tipo.

2. No que diz respeito aos conteúdos,as aulas parecem procurar um equilíbrio en-tre a introdução de novidades formais própri-as de um discurso expositivo contemporâneo(Figura 4) e a autoproclamada objetividadebaseada nos dados, na pesquisa etc. Não são

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apresentadas narrativas que resultem signifi-cativas para os diferentes públicos. Isto im-plica um discurso que é muito historicista emalguns casos, no seu sentido mais tradicionale distante, muitas datas e dados, governantese um mundo masculino de batalhas, detalhearquitetónico, tático e técnico, que se conectapouco com a experiência quotidiana do visi-tante, como se aprecia principalmente nasaulas da rota das fortificações de fronteira emSalamanca, as quais se afastam das atuaislinhas de pesquisa da arqueologia históricade autores como Lydon (1999) ou Funari(1998, 1999) nos seus diferentes contextos.No que diz respeito às expectativas, namaioria dos casos nos quais o visitante nãotem uma idéia muito precisa do que vai ver, ograu de satisfação é elevado. Pelo contrário,se aprecia uma certa decepção quando asexpectativas são maiores, como acontecia naaula dedicada a Atapuerca.

3. A Imagem das aulas nao é homogê-nea, nem sequer nas que formam parte dasrotas arqueológicas como a dos Valles deZamora, e sua articulação com outros espa-ços divulgativos do patrimônio arqueológiconão está muito definida.

4. Falta uma adequada avaliação doselementos expositivos, fundamentalmentedas aportações reais dos elementos maisnovedosos frente aos mais tradidionais. Aquientrar ia o tão d iscut ido tema dainteratividade.(Ramos 2003).

Levando em consideração as caracterís-ticas gerais dos discursos nos diferentes es-paços, aprecia-se que são mais os elemen-tos partilhados do que as divergências: (Fi-gura 5).

1. Observa-se uma semelhança estrutu-ral entre os diferentes espaços.

2. Existe uma desconexão entre o dis-curso sobre o patrimônio e o papel do pró-

Fig. 4 - Recreação de ambiente romano. Aula Arqueológica Aguilafuente (Segovia)

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prio patrimônio, o significado do passado nasociedade contemporânea.

3. Não tem havido uma transformaçãodo discurso divulgativo, que continua sendodemorado no seu estilo e no seu ritmo, ca-rente de hierarquização, com um léxico pou-co adequado aos contextos e suportes.Tem-se produzido mudanças formais, coma diversificação dos espaços divulgativos ea introdução de elementos expositivos con-temporâneos.

4. Nao se incide no significado nem nosentido dos discursos para os diferentes ti-pos de público.

5. Transmite-se uma imagem da arque-ologia como provedora de restos materiais,no entanto, seus praticantes estão ausen-tes. Nao há uma mensagem patrimonial ex-plícita.

6. O passado se identifica com os restosmateriais, colocando num segundo plano associedades.

7. A falta de avaliação e o desconheci-mento do público são as duas carências maisdestacadas.

CONCLUSÕES E PERSPETIVAS

Chegados a este ponto, são mais asquestões que tem ficado pouco definidas, etambém as linhas de pesquisa que ficamabertas com este trabalho, do que as res-postas definitivas. Assim, em primeiro lugar,não se estabeleceu uma tipologia clara dediscursos divulgativos, o que tem sido maisuma reflexão voltada para os aspectos práti-cos. Em segundo lugar, não se estabelece-ram as representações sociais (Ibáñez 1988)nem relativas ao patrimônio arqueológico,nem à sua divulgação. De fato, não se defi-niram quais são as imagens do patrimônioque estão sendo transmitidas ao público.Talvez por serem estas duas questões dife-rentes, uma o que é o patrimônio e como étrasmitido, e uma outra, como é visto e en-tendido pelo público. No entanto, uma pri-meira aproximação a este aspecto foi feitaatravés do estudo piloto sobre o público.

As linhas de pesquisa abertas sãomultiplas, tanto aprofundando na dimen-são horizontal que permita a comparação

Fig. 5 - Discurso dos lugares.

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entre diferentes âmbitos geográficos,como na vertical, aprofundando em diver-sos aspectos quase não tratados. Funda-mentalmente na ênfase dos aspectos quemais incidem no fortalecimento das ima-gens populares sobre o patrimônio arque-ológico, as atividades e materiais comple-mentares, os produtos à venda etc. e osmecanismos que intervêm no dito proces-so. Em definitivo, trata-se de colocar opúblico em primeiro lugar, assumindo queo processo divulgativo não finaliza natransmissão de determinados conheci-mentos. Pelo contrário, estes são re-ela-borados ou rejeitados pelo imaginário po-pular que, ao mesmo tempo, está incidindona valorização social do patrimônio numsentido ou noutro.

Com respeito à pergunta chave feita ini-cialmente, até que ponto se tem produzidouma transformação dos discursos divulgativos,ou apenas uma maquialhem formal dos mes-mos, as respostas são múltiplas:

1) As mudanças além dos aspetos for-mais não são tão radicais.

2) Ainda não houve o passo para um dis-curso propriamente divulgativo.

3) A divulgação do patrimônio arqueoló-gico ainda é um âmbito da arqueologia umpouco difuso.

4) Não se conhecem os diferentes tiposde público.

No entanto, são também numerosas asvias de atuação que se abrem para aprimo-rar a divulgação, tanto sob o ponto de vistateórico quanto prático. Entre o que se podeconsiderarcomo propostas teóricas, destaca-se:

1. A análise dos discursos divulgativosem outros soportes, Internet, CDs, o quepermitiria contrastar até que ponto, em al-guns casos, se mantêm algumas dascaraterísticas que se encontram em supor-tes mais tradicionais como são os cartazes,os folders ou as guias.

2. A autocrítica entre os especialis-tas em divulgação: a responsabilidadeneste âmbito não corresponde apenas aquem fica fora da disciplina.

3. A aproximação ao olhar de outroscoletivos, principalmente profissionais daeducação, da mídia e do turismo.

4. A análise das imagens patrimoniaispopulares, para poder estabelecer umamelhor comunicação com o público visandoa modificação de idéias erradas e a introdu-ção de outras novas.

Entre as propostas práticas podem ser des-tacadas:

1. A reorientação da formação, tan-to no âmbito formal, universitário, onde comefeito se estão incorporando cursos princi-palmente de pós-graduação, quanto no cam-po não formal, através de uma formaçãocontinuada com oficinas de tipo prático des-tinadas às pessoas que estão em contato di-reto com o público. Isto como uma forma,ao mesmo tempo, de compartilhar experi-ências e melhorar a qualidade do serviço queoferecem aos visitantes.1

2. A potenciação da dimensão pes-soal. Sucesso ou fracaso nas experiênciasdependem muito mais das pessoas do queda dotação de infra-estruturas, como se podeapreciar no caso dos sítios arqueológicos deNumancia (Soria) (Jimeno, Sanz, Benito eTorre 2004) ou Pintia (Valladolid) (Sanz etalii 2003) nos quais, graças ao entusiasmo eperseverância das equipes, conseguem-seresultados muito bons. Neste sentido, é pre-ciso, de uma parte, considerar a divulgaçãonum âmbito no qual os estudantes precisamse formar, e de outro lado, é preciso ampliaro contexto local na incorporação de novosprofissionais da divulgação, pois nem sem-pre é fácil poder contar com esses perfis naspopulações pequenas.

3. A imagem que tenho apresentado dasituação atual da divulgação do patrimônioarqueológico em Castilla y León, partindo da

(1) É importante destacar o papel da Asociación parala Interpretación del Patrimonio no sentido de apri-morar a qualidade, a formação e a prática da inter-pretação do Patrimônio.

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analise dos discursos divulgativos, não é umaimagem definitiva. Com certeza nos diferen-tes aspectos críticos aos que se fez referên-cia, se atenuarão e irão se corrigindo comoresultado da própria prática divulgativa. Al-guns dos casos analisados se renovarão ouserão completamente substituídos com a in-trodução de novidades que não foramindicadas.

Também não é a imagem de uma situa-ção única, se considera que tanto as fraque-

zas quanto as alternativas propostas nãosurgem da singularidade das próprias carac-terísticas e da história particular de cada umdos espaços divulgativos. Trata-se mais doresultado da aplicação de uma metodologiade análise que poderia ser extrapolada aoutros contextos, com rumos bastante dife-rentes. Isto permitiria, assim mesmo, me-lhorar a definição e o ajuste da mesma parasuperar as carências que se têm apresenta-do neste caso concreto.

Abstract: The interest in archaeological heritage and particularly in itspopularisation is a global phenomenon. In Spain it is in the last decadeswhen this occurs. This paper analyses the case of one AutonomousCommunity, Castilla y León, which is characterized by the richness anddiversity of its heritage. The main focus of this paper is the discursivedimension of the different popularisation places, museums, archaeologicalsites and interpretation centres, in order to evaluate their characteristicsand their inter-relations. Emphasizing the week points and theoretical andpractical alternatives.

Key words: archaeological heritage –popularization – Spain – Castilla y León

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 31-48.

“O termo ‘herança’ [cultural] é peri-goso: é um daqueles que a maioria daspessoas pensam que entendem, masraramente se dão ao trabalho de defi-nir” (Carman 2005: 96).

INTRODUÇÃO

“Cultura Marajoara” é um termo quevêm sendo utilizado para denominar indis-tintamente três tipos de fenômenos: 1) umacultura pré-colonial descoberta e estudadapor arqueólogos; 2) um estilo estético deinspiração arqueológica, representado emprodutos artesanais, principalmente cerâ-

ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇACULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA

Denise Pahl Schaan*

Resumo: Este artigo centra-se na análise da apropriação pública daherança cultural arqueológica marajoara, cuja reavivação, em um con-texto capitalista, assume novos significados. O texto chama a atençãopara as expectativas do público sobre o passado e os entendimentosincorretos causados pela difusão do jargão arqueológico. Propõe-seque é necessário refletir sobre o papel do arqueólogo, historiador eeducador na criação de tradições culturais, assim como de nossas pró-prias construções epistemológicas sobre o “outro” (o passado), enten-dendo os contextos sociais, políticos e econômicos nos quais essa ati-vidade acontece.

Palavras-chave: Arqueologia pública – cultura Marajoara – tradiçõesculturais – divulgação científica

(*) Museu Paraense Emílio [email protected]

mica, e na arquitetura paraense; 3) a cul-tura do caboclo e vaqueiro habitantes daIlha de Marajó. Em um sentido mais am-plo, “marajoara” refere-se simplesmenteàquilo que vem da Ilha de Marajó e a seusmoradores.

Os três níveis de entendimento sobre oque vem a ser a cultura marajoara sobre-põem-se e confundem-se de diversas ma-neiras. O discurso científico produzido so-bre a cultura arqueológica evoluiu e trans-formou-se no decorrer de mais de cem anosde pesquisas, atingindo o público de manei-ras diversas conforme a época e o tipo deinformação veiculada. Ao mesmo tempo, aaudiência filtrou e selecionou informaçõesque julgou serem verdadeiras e/ou apropri-adas; muitas destas informações eram sim-plesmente hipóteses que foram mais tardedescartadas e desprovadas pelos cientistas,sem terem, no entanto, tido igual repercus-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

são popular. As “histórias” resultantes, en-tão, sobre a ocupação pré-colonial são re-criações realizadas com base na traduçãopopular de argumentos científicos, na trans-figuração de hipóteses em fatos objetivos ena imaginação popular.

Os entendimentos populares sobre oque vem a ser a cultura marajoara são vei-culados oralmente, principalmente nos con-textos de produção, venda e circulação demercadorias artesanais cujos estilos esté-ticos, bastante diversos entre si, são reco-nhecidos como “marajoara”. Nos últimosanos, a produção, venda e circulação cres-cente desses produtos, impulsionada porórgãos governamentais, não-governamen-tais, associações de classe e a mídia temestado associada a uma valorização do exó-tico, do antigo e do regional, o que se po-deria chamar de uma busca das “raízes”ou da “origem” da cultura. Essa identida-de remota conferida ao produto contem-porâneo vem dessa maneira “agregar va-lor” ao objeto comercial, dentro da lógicacapitalista.

Dado o lapso de tempo decorrido des-de o desaparecimento da cultura arqueo-lógica relacionada a uma sociedade pré-estatal baseada em relações sociais deparentesco e sua apropriação por uma so-ciedade capitalista que a reinvindica como“passado”, pode-se dizer que se trata da“invenção de uma tradição”, nos termos doque vem sendo proposto por Hobsbawm(1983) e outros.

Esse artigo pretende discutir essa tra-dição inventada, procurando dissecá-la emsuas motivações, manifestações práticas,construções simbólicas e nas relações soci-ais que a partir dela são estabelecidas. Dadaa participação do poder público e da comu-nidade de intelectuais na recriação da cul-tura marajoara, pretende-se também ques-tionar as motivações políticas e econômi-cas que possam estar em sua base, assimcomo discutir o papel do arqueólogo, an-tropólogo e educador na produção eveiculação do conhecimento produzido pelapesquisa arqueológica.

AS PESQUISAS CIENTÍFICAS E SUA RE-PERCUSSÃO JUNTO AO PÚBLICO

A história da pesquisa científica na Ilhade Marajó surge com as primeiras expedi-ções de cientistas na região amazônica du-rante o século XIX e confunde-se com a pró-pria história do desenvolvimento da arqueo-logia, da antropologia e da museologia noBrasil (Barreto & Machado 2001, Barreto1992). Ao final do século XIX, cientistas iden-tificados com as teorias antropológicasevolucionistas e difusionistas (Derby 1879,Ferreira Penna 1877, 1885, Marajó 1895,Netto 1885) identificaram e escavaram al-guns sítios arqueológicos na Ilha de Marajó– os chamados “tesos” ou aterros (mounds,em inglês), preocupados em recolher evidên-cias da existência de uma antiga civilizaçãoavançada nas terras baixas tropicais.

Vem desta época a denominação de “cul-tura marajoara” para um conjunto de traçosculturais considerados “avançados” por seucontraste com as sociedades indígenas ama-zônicas então conhecidas e descritasetnograficamente. Estes traços culturais fo-ram descritos como: a) a construção de enor-mes colinas de terra (1 a 3 hectares em áreae 10 a 12 metros de altura) sobre a área decampos alagáveis da ilha; b) a produção euso de objetos de cerâmica de formas e de-coração complexas, tais como urnas funerá-rias, estatuetas, tangas, bancos, cachimbos,e diversos tipos de pratos, vasos e tigelas;c) o enterro secundário diferenciado em ur-nas, indicando culto aos antepassados e su-gerindo estratificação social; d) a presençade objetos líticos que indicavam contato etrocas com regiões distantes; e) o uso desímbolos gráficos na cerâmica que pareciamindicar, segundo alguns autores, o uso de umaescrita rudimentar (Netto 1885); f) a abun-dância de representações femininas na ce-râmica, que foi por vezes interpretada comoprova de descendência matrilinear ou da exis-tência de um matriarcado. A maior parte daliteratura científica deste período foipublicada em periódicos no Brasil em portu-guês, disponíveis em bibliotecas durante o

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ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARADenise Pahl Schaan

século XX, sendo, portanto, material acessí-vel para pesquisa e divulgação.

Durante a primeira metade do século XX,a arqueologia da Ilha de Marajó atraiu a aten-ção de estrangeiros: antropólogos, jornalis-tas e museólogos americanos e europeusvieram conferir de perto as notícias sobre acivilização marajoara e obter objetos exóti-cos para seus museus. A literatura produzi-da neste período (Farabee 1921, Lage 1944,Lange 1914, Mordini 1936, 1947, Nordenskiöld1930, Palmatary 1950, Torres 1940) – quasetoda ela em língua estrangeira - limitou-se aconfirmar o que já havia sido escrito a res-peito da cultura marajoara e consistiu prin-cipalmente na descrição das escavações eda cerâmica. Aumentou o número de sítiosconhecidos e a gama de objetos encontra-dos nos mesmos.

Este afluxo de estrangeiros despertou ointeresse local sobre a riqueza arqueológi-ca. Até então, os fazendeiros criadores degado ainda não tinham dado importância àsdescobertas e permitiam a entrada em suaspropriedades assim como as escavações porparte de curiosos e estudiosos, fossem elasfeitas por arqueólogos ou não. A partir dametade do século XX, então, estabeleceu-sede forma informal e esporádica um comér-cio de peças arqueológicas que acabou le-vando, ironicamente, tanto à destruição devários dos sítios assim como à projeção in-ternacional da cerâmica e cultura marajoaras.

Ao final da década de 1940, dois antro-pólogos americanos, Betty Meggers e CliffordEvans, identificados com o nascente neo-evolucionismo de James Steward realizaramuma extensa pesquisa no arquipélago deMarajó (Ilhas de Marajó, Caviana e Mexiana),assim como no então território do Amapá,identificando diversas “culturas cerâmicas” eestabelecendo uma cronologia do desenvol-vimento cultural na foz do rio Amazonas(Meggers & Evans 1957). A escola históri-co-cultural ou da ecologia-cultural como fi-cou conhecida, trouxe consigo toda umametologia destinada a mapear o passadoarqueológico brasileiro, formando ao longode 20 anos profissionais com ela identifica-

dos em vários Estados brasileiros (Meggers1985, Simões 1977).

A pesquisa de Meggers e Evans baseava-se no pressuposto teórico de que havia umaestreita relação de dependência entre desen-volvimento cultural e ecologia. De acordo coma tipologia construída por Steward com basena etnografia e dados históricos do continen-te, o grau máximo de evolução cultural possí-vel no ambiente tropical era o de “tribo”(Steward 1948b). As tribos da floresta tropi-cal, descritas por Lowie na introdução do vo-lume 3, bulletin 143 do Handobook of SouthAmerican Indians foram consideradas comoo protótipo da sociedade tropical. Uma vezque o ambiente tropical limitava o desenvolvi-mento cultural, restava à arqueologia a tare-fa de mapear e identificar as culturas e pro-por hipóteses sobre movimentos populacionaisdestas sociedades semi-sedentárias.

Diversas destas culturas de floresta tro-pical foram identificadas na Amazônia porMeggers, Evans e seus sucessores. Essasculturas eram descritas principalmente emtermos de sua produção cerâmica. A cadaconjunto de traços cerâmicos distintos foidado o nome de “fase arqueológica”. As fa-ses que apresentavam traços semelhantesforam agrupadas dentro de categorias mai-ores chamadas de “tradições arqueológicas”.

Uma destas fases, no entanto, chamadade “fase Marajoara” (a mesma culturamarajoara que vinha sendo pesquisada des-de o século XIX) não se encaixava dentro dadescrição de “tribo da floresta tropical”. De-vido às suas características complexas, as-semelhava-se mais àquelas chefaturasCircum-Caribenhas também descritas noHandbook (Steward 1948a). Uma vez quenão havia espaço no modelo para o desen-volvimento autóctone de complexidade nostrópicos, sugeriu-se que esta sociedade te-ria vindo das terras altas da América do Sul.Ao estabelecer-se no pobre ambiente tropi-cal teria degenerado até o nível de tribo. Essa“degeneração” era supostamente sustenta-da pela evidência empírica da existência decerâmicas menos complexas nos níveis su-periores dos aterros, assim como por mu-

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

danças nas práticas funerárias, que teriampassado de enterro secundário à cremação,com o uso de urnas menores.

A reconstrução da ocupação pré-coloni-al da Ilha de Marajó oferecida por Meggerse Evans teve boa aceitação dentro da comu-nidade acadêmica e junto ao público, o quese pode perceber pela popularização de al-guns termos e classificações tipológicas quese tornaram correntes, sendo utilizados nadescrição de objetos arqueológicos em mu-seus, catálogos e literatura menos especi-alizada em geral. A enorme monografia dedoutorado produzida por Meggers e publicadapelo Instituto Smithsonian em inglês teve al-gumas partes digeridas em português emuma publicação do então Instituto de Antro-pologia e Etnologia do Pará (Meggers & Evans1954) além de ser constantemente citada empublicações de outros arqueólogos brasilei-ros e em catálogos, maneira pela qual al-cançou o público. O jargão arqueológico –fases Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Aruã,Tradição Policrômica, tipos cerâmicos, JoanesPintado, Pacoval Inciso, etc – foi absorvidosem critério e com novos significados. O usodo termo “fase” para identificar um conjuntode traços cerâmicos passou a ser usado comosinônimo para “etnia” ou “tribo”. Os tiposconstruídos para a classificação de fragmen-tos cerâmicos, com vistas à construção decronologias relativas, adquiriram vida própria,passando a serem usados também para de-nominar as peças completas em acervos e,o que é pior, em exposições museológicas.Neste processo, a prática de utilizar arbitra-riamente um topônimo para designar um tipocerâmico foi entendida de maneira equivo-cada pelo público, que passou a entender adenominação do tipo cerâmico como indican-do a origem da peça. Por exemplo, os tipos“Joanes Pintado” e “Pacoval Inciso”, usadospara designar respectivamente a cerâmicapolicrômica e a cerâmica decorada com inci-sões sobre engobo branco foram tomadoscomo indicando a procedência da peça –Joanes pintado seria a peça achada na vilade Joanes e Pacoval inciso a peça achada noaterro do Pacoval, junto ao lago Arari.

A escola histór ico-cultural e seudeterminismo geográfico passaram a serquestionados quase que imediatamente nosEstados Unidos por Robert Carneiro, DonaldLathrap e posteriormente por seus alunos(Carneiro 1961, Lathrap 1970). No entanto,o domínio teórico-metodológico exercido porMeggers, Evans e seus colegas brasileirosimpediu a produção de dados empíricos pormeio de pesquisas de campo que os pudes-sem contestar (Roosevelt 1995). Além dis-so, as monografias e artigos que questiona-vam o modelo ecológico eram herméticas epublicadas em inglês, passando desapercebi-das pelo público brasileiro não-especializado.

A situação principiou a mudar somente nofinal da década de 1980, com as pesquisas deAnna Roosevelt - aluna de Lathrap - no rioOrinoco, no baixo Amazonas e na Ilha de Marajó(Roosevelt 1980, 1987, 1991; Roosevelt, et al.1991). A partir daí a escola processual ameri-cana e a ecologia histórica adentram o cená-rio. Esta última, principalmente através do tra-balho de geógrafos, etnógrafos e etnoecólogosveio a oferecer um novo paradigma para a in-terpretação do desenvolvimento cultural naAmazônia, que levaria em conta o papel ativodos seres humanos na interação com o ambi-ente tropical, modificando a paisagem e crian-do uma ecologia antropogênica (Balée 1993,Posey 1985, Smith 1980).

Pode-se dizer que o trabalho deRoosevelt teve uma maior repercussão nomeio acadêmico e na mídia nacional e inter-nacional especializada, mas teve pouca pe-netração junto ao público leigo. Isso porquea maior parte de sua produção bibliográficaestá em inglês. Além disso, houve poucainteração entre sua equipe de pesquisa e ascomunidades nas quais as investigações ar-queológicas se realizaram. Roosevelt pro-pôs que a cultura marajoara esteve relacio-nada a uma sociedade complexa cuja ori-gem poderia ser buscada no próprio baixoAmazonas. Estabeleceu a duração da cultu-ra marajoara em 900 anos – de 400 a 1300depois de Cristo – e afirmou que o “cacicado”marajoara estaria entre as mais importan-tes civilizações pré-históricas das Américas.

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ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARADenise Pahl Schaan

As pesquisas realizadas por nós desde1994, inicialmente investigando a iconografiada cerâmica (Schaan 1996, 1997, 1999) edepois aspectos da organização social atra-vés de pesquisas de campo em diversos síti-os da Ilha (Schaan 2004, 2005) têm tido umarepercussão e aceitação pública maior do queas anteriores. Isso se deve tanto pela dispo-nibilidade de textos em português (em revis-tas especializadas, livros e na internet, nosite www.marajoara.com), como pelo con-tato com o público através de palestras, cur-sos, curadoria de exposições museológicase entrevistas dadas aos meios de comunica-ção. Nossa abordagem (que poderia ser clas-sificada processual-cognitiva e em certamedida pós-estruturalista) diferiu das pes-quisas anteriores em vários aspectos: a) Pro-pôs uma leitura iconográfica estruturalista dosgrafismos na cerâmica, identificando-a comouma linguagem iconográfica com objetivosmnemônicos; b) Propôs um modelo diferen-te do de Roosevelt para explicar a emergên-cia de complexidade social. EnquantoRoosevelt preconizava o desenvolvimento deuma agricultura intensiva, oferecemos ummodelo baseado na intensificação da produ-ção de recursos aquáticos, com modificaçõesda paisagem como meio para incrementar aprodução de alimentos e possibilitar cresci-mento demográfico e especialização; c) Iden-tificou a existência de várias chefaturas ousociedades regionais ao invés de apenas umacomo sugerido por Roosevelt; d) Apresen-tou uma periodização do desenvolvimentocultural dentro da fase marajoara; e) Pro-pôs hipótese sobre a continuidade da culturamarajoara durante o período histórico combase em pesquisa realizada em sítios con-temporâneos ao contato.

Todas estas idéias foram veiculadas emartigos científicos e de divulgação de alcan-ce público. Temos percebido, no entanto,que, ao mesmo tempo em que o público re-conhece a legitimidade da pesquisa e a au-toridade científica dos pesquisadores, os con-teúdos são decodificados dentro de uma ló-gica particular. Ou seja, inconscientementeou não, o público absorve e veicula a infor-

mação científica de acordo com suas neces-sidades e expectativas. Na medida em quea cultura descrita pelos cientistas é conside-rada como o passado regional, o público apo-dera-se da reconstituição deste passadoagregando sua própria interpretação. Nodecorrer deste artigo, vamos ver como issose dá em situações concretas.

A REINVENÇÃO DA TRADIÇÃO

Na década de 1970, o distr ito deIcoaraci, localizado a 20 km de Belém, ca-pital do Estado do Pará, abrigava diversasolarias, que retiravam sua matéria-primajunto ao rio Guamá e seus afluentes. A pro-dução era predominantemente de tijolos etelhas, mas produziam-se também panelase gamelas de barro. Morador de Icoaraci,Raimundo Saraiva Cardoso, então com cer-ca de 40 anos, esteve nesta época visitan-do uma exposição de arqueologia no MuseuParaense Emílio Goeldi, em Belém – malsabia ele que aquela visita iria mudar suavida e de toda uma comunidade - e contaque ficou fascinado com os vasos, urnasfunerárias, estatuetas, enfim, a cerâmicaarqueológica da Amazônia, que não conhe-cia.1 De imediato associou aquela com acerâmica que sua mãe fazia de maneiraartesanal, à moda indígena, quando ele ain-da era criança. Um pensamento cruzou suamente: se os índios puderam produzir algotão exuberante apenas com o barro e asmatérias-primas existentes na mata, eletambém poderia! Começou aí sua históriade mais de 30 anos de pesquisas sobre acerâmica arqueológica marajoara e tapajônica,tempo durante o qual leu todos os livros,artigos e matérias de revistas que pudesseobter. Mesmo sem o curso primário com-pleto, garimpou bibliotecas e entrevistou ar-queólogos, buscando aprender sobre os pro-

(1) As informações constantes deste texto foramobtidas em entrevista com Mestre Cardoso em suacasa em Icoaraci em dezembro de 2005.

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cessos indígenas de produção da cerâmica,entender seus contextos de uso e, de modogeral, conhecer a história dos povos que aproduziram. Valendo-se de um parente quetrabalhava no Museu Goeldi, conseguiu umaentrevista com o arqueólogo Mário Simõese lhe falou sobre sua idéia de reproduzirréplicas da cerâmica arqueológica. Com aoportunidade que se abriu de examinar aspeças originais e produzir as réplicas den-tro do próprio museu, Raimundo Cardosoconseguiu as condições necessárias paradesenvolver sua arte e depois disseminá-laem sua comunidade.

De lá para cá, Mestre Cardoso, como échamado, tornou-se um ícone da produçãocerâmica no Estado do Pará, com trabalhosseus vendidos inclusive para museus no ex-terior. Juntamente com sua mulher e filho,produzem ainda réplicas perfeitas de peçasarqueológicas e é capaz de falar sobre a ar-queologia da Ilha de Marajó com a proprie-dade de um pesquisador. Discute os dadosarqueológicos e hipóteses com o cuidado deum estudioso e tornou-se uma referênciapara o artesanato regional.

A partir da produção de Mestre Cardosoe dezenas de ceramistas que o seguiram,estabeleceu-se um pólo de produção cerâ-mica no Distrito de Icoaraci, que hoje expor-ta todo o tipo de peças cerâmicas para o Bra-sil e o exterior. Surgiram outros pólos deprodução também em Santarém, no Amapáe na Ilha de Marajó. A produção e venda decerâmica “arqueológica” torna possível hojeo sustento de centenas de pessoas, sendoessa economia estimulada por órgãos públi-cos, privados, associações de classe e amídia. Isso permitiu a divulgação da “cultu-ra marajoara” principalmente (objetos deoutras culturas arqueológicas são tambémreproduzidos, mas em menor escala), aindaque a maior parte das peças produzidas –mais de 90% - não sejam réplicas das peçasarqueológicas, mas obras de livre inspiraçãonos grafismos, formas e decoração arqueo-lógicos. Mesmo as técnicas de fabricação,que Mestre Cardoso teve o cuidado de re-produzir da maneira indigena, são hoje mo-

dernizadas tendo em vista o caráter quaseindustrial da produção: os ceramistas usamtornos e tintas industrializadas, vernizes einstrumentos que eram desconhecidos aosíndígenas.

Poucos são os que têm consciência, noentanto – produtores e consumidores – so-bre as diferenças entre a cerâmica arqueo-lógica e a contemporânea, especialmenteporque ambas se chamam “marajoara”.Tenho ouvido as pessoas se referirem à ce-râmica tapajônica (a arqueológica é encon-trada na cidade de Santarém), por exemplo,como “Tapajoara”, e ainda não é claro paramim se se trata de um estilo híbrido ou se ésomente um nome novo que estão dandopara a cerâmica inspirada nos objetos da faseSantarém.

A maior parte dos ceramistas não tevea oportunidade - diferentemente de Mes-tre Cardoso e outros - de produzir réplicasdentro do Museu Goeldi a partir de peçasoriginais; por esse motivo buscam inspira-ção em fotos e desenhos encontrados emlivros e catálogos. Se, por um lado, a pro-dução artesanal veio a divulgar e chamara atenção para a cultura arqueológica, poroutro o faz de maneira equivocada. A ce-râmica produzida em Icoaraci possui hojediversos estilos, incorporando inclusivegrafismos da arte rupestre, especialmenteapós a publicação do livro “Arte da Terra”,pelo SEBRAE em 1999, que contém textosdirecionados ao público leigo, produzidospor três arqueólogas e uma antropóloga.Ao produzir artesanato de inspiração ar-queológica, o produtor/vendedor se vale darelação com o bem cultural resgatado dopassado para agregar um valor cultural,simbólico ao seu objeto, o que vem a ele-var seu valor como mercadoria. Dentro dadinâmica do mercado, é visível que a pro-dução vem tendendo a se moldar às exi-gências e demandas do consumidor. Nes-se sentido, as inovações passam pelo cri-vo do mercado e passam a ser incorpora-das ou não ao estilo dependendo da possi-bilidade de aumento de vendas. Quanto aovalor simbólico, ao ser indagado pelo com-

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prador sobre os significados dos grafismose a relação com a cultura arqueológica,grande parte dos artesãos, com raras ex-ceções, não se dá ao trabalho de ir às fon-tes, como fez Mestre Cardoso. Eles sim-plesmente inventam. Ao fazer reviver acerâmica arqueológica, Mestre Cardosoacabou inventando uma tradição.

AS REPRESENTAÇÕES POPULARES

Através de minha convivência com o pú-blico e artesãos através de cursos, entrevis-tas, conversas, internet e observação da re-lação vendedor - cliente em lojas de vendade artesanato, entre outros, tenho observa-do que existe uma grande curiosidade sobrea cultura marajoara, que se manifesta parti-cularmente com relação aos seguintes te-mas:

1) A antigüidade da cultura marajoara.O público demonstra um interesse muitogrande pelo antigo, particularmente pelo“mais” antigo. Quando são informados quea maior parte dos artefatos de cerâmica pro-duzidos pelas sociedades marajoara temapenas mil anos de idade, ficam claramentedecepcionados. Recentemente, em umfórum de debates, mencionei em minha pa-lestra que, enquanto a ocupação da ilha deMarajó remontava há 3.500 anos, a socie-dade marajoara emergiu enquanto tal há1.500 anos atrás. Os dois profissionais queme seguiram nas apresentações fizerammenção à cultura marajoara afirmando res-pectivamente que “urnas marajoara tem mi-lhões de anos” e “aprendemos hoje que acultura marajoara tem 3.500 anos”. Esseexemplo, vindo de profissionais de nível su-perior, que têm dificuldade de reproduzir cor-retamente o que acabaram de ouvir e deaceitar a pouca antigüidade da culturamarajoara, é bastante ilustrativo do compor-tamento do público leigo em geral.

2) A origem da sociedade marajoara.Uma pergunta que sempre me fazem ementrevistas e conversas informais diz respei-to à origem das populações marajoaras. As

pessoas ficam bastante decepcionadas quan-do informo que as evidências apontam paraum desenvolvimento local da culturamarajoara, o que é plenamente aceito hojepela maioria dos especialistas trabalhandona Amazônia. No entanto, as hipóteseslançadas pelos evolucionistas do século XIXe aqueles profissionais ligados à ecologiacultural da metade do século XX, de que asociedade marajoara havia se originado emalgum local fora da floresta tropical são maisbem aceitas e continuam sendo reproduzidastanto na mídia quanto em trabalhos univer-sitários.

3) O significado das representações nacerâmica. As pessoas têm necessidade dereceberam respostas completas e imedia-tas sobre o significado das representaçõesna cerâmica e não questionam a fonte dainformação. É comum que vendedores decerâmica contem estórias fantasiosas e cla-ramente produzidas no calor do momento aclientes ávidos por significados para aque-les objetos exóticos. Por exemplo, um tu-rista americano esteve recentemente emuma loja de artesanato em Soure, na Ilhado Marajó, e comprou uma caneca de cerâ-mica onde havia a representação de umsapo. O turista havia comentado com o ven-dedor que seu irmão iria-se casar. O ven-dedor então contou uma lenda sobre a ori-gem daquela vasilha, que teria sido utiliza-da em cerimônias de casamento. Os noivosdeveriam beber juntos ritualmente da mes-ma vasilha para demonstrar seu amor e fi-delidade. O turista se encantou pela estóriae levou a vasilha. Depois resolveu procurarsaber mais sobre aquele ritual amazônicoantigo, pesquisando na internet. Foi quan-do entrou em contato comigo, relatando oacontecido. Informei então que a tal vasilhanão era uma réplica de um objeto arqueo-lógico e que a lenda como tal também nãoera conhecida. Apesar de decepcionado, oturista achou a estória engraçada. No en-tanto, não sabia agora se contaria a verda-de aos noivos ou se manteria a estória dovendedor que, segundo ele, era mais inte-ressante.

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TRADIÇÕES INVENTADAS

Recentemente, antropólogos e historia-dores têm-se tornado cientes de que diver-sas práticas que são consideradas tradicio-nais são na verdade invenções recentes,freqüentemente utilizadas para servir a finsideológicos específicos. Estas construçõesse dão na forma de tradições simbólicas oucerimônias de grande alcance popular, cujasorigens são tidas como distantes no tempo,apesar de poderem ter sido inventadas emum curto espaço de tempo ou mesmo emum só evento. Antropólogos e arqueólogostêm alertado para o fato de que as preocu-pações com o antigo, a busca do passado, ésempre feita dentro das expectativas e compropósitos políticos desenhados no presente(Carman 1995; Moore 1995). Desta forma,a recuperação de uma memória pretéritapode vir a servir a fins ideológicos, políticosou econômicos.

Eric Hobsbawm define as “tradições in-ventadas” como um conjunto de práticas,normalmente governadas por regras aceitasaberta ou tacitamente, de natureza simbóli-ca ou ritual, que buscam inculcar certos va-lores e normas de comportamento pela re-petição, que automaticamente implica conti-nuidade com o passado. De fato, onde épossível, normalmente tenta-se estabeleceruma continuidade com um passado históricoadequado... Entretanto, ainda que exista talreferência ao passado histórico, a peculiari-dade das tradições ‘inventadas’ é que a con-tinuidade com ele é largamente fictícia. Emresumo, existem respostas a novas situaçõesque tomam a forma de referência a velhassituações ou que estabelecem seu própriopassado por uma repetição quase obrigató-ria” (Hobsbawm 1983: 1).

Hobsbawm (op.cit.: 4) considera queexistem tradições inventadas em diversaspartes do mundo e que conjunturas de rápi-da transformação social são mais propíciaspara a criação de novas tradições, uma vezquie as velhas podem estar desaparecendo.Mas não somente novas práticas podem serentendidas como tradições inventadas, mas

também fenômenos mais sutis podem serconsiderados. Segundo a mesma perspecti-va, como por exemplo, o uso de tradiçõesantigas para novos propósitos ou também ore-uso de elementos antigos em novos con-textos. Especialmente tradições “extintaspodem tornar-se tradições reinventadas” (op.cit. :5-8) quando aparecem.

Neste sentido, Hobsbawm (op. cit.: 9)distingue entre três tipos de tradições inven-tadas, cada uma com uma função distinta:a) aquelas estabelecendo ou simbolizandocoesão social e identidades coletivas; b)aquelas estabelecendo ou legitimando insti-tuições e hierarquias sociais; e c) aquelassocializando pessoas em contextos sociaisparticulares. O primeiro tipo freqüentementese refere ou implica as duas seguintes tam-bém.

As tradições inventadas, ainda segundoHobsbawm (op. cit. 12), usam as referênci-as ao passado não apenas para trabalharcoesão social, mas também para legitimarsuas ações. Logo, historiadores e antropó-logos devem estar cientes do uso político quesuas reconstruções do passado podem terna esfera pública. Depreende-se daí queespecialmente o trabalho de arqueólogos,que se dedicam ao estudo do passado dis-tante, tornar-se crucial em contextos políti-cos modernos em que se pretende negociaridentidades nacionais e étnicas.

“Inventar” tradições com objetivos polí-ticos não é tema novo na história e pode serdemonstrado em sociedades arqueológicas dapré-história recente. O uso de enterramentosecundário e construção de estruturasmegalíticas é interpretado por arqueólogoscomo maneiras de reverenciar os antepas-sados ou o próprio passado heróico de umpovo, sendo usado para legitimar o poder esistemas de valor, assim como reforçar es-truturas hierárquicas na sociedade, perpe-tuando uma determinada ordem social(Holtorf 1998).

A representação do “outro” no passado(Carman 1995) é prática cotidiana dos ar-queólogos, que nem sempre se questionamsobre a legitimidade de sua construção, ao

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não se preocupar com os contextos sociais epolíticos nos quais seu texto é produzido. Arepresentação do “outro” no passado deve-ria então ser um ponto de reflexão dentro deprojetos que colocam frente a frente cientis-tas sociais e comunidade.

CONCLUSÕES

A cultura marajoara vem sendo traba-lhada na mídia e nas representações popu-lares como um estilo estético antigo que re-monta às origens das populações que habi-tam o Estado do Pará. Nesse processo derecuperação de uma estética antiga, novossignificados lhe são atribuídos, mediadospelo discurso arqueológico, pela história orale pela imaginação popular. Esse processo,sempre em construção, parece seguir umalógica capitalista onde a produção e vendade objetos decorativos se potencializa gra-ças ao acoplamento de um valor cultural. Namedida em que os significados são negocia-dos com base em interesses econômicos,entretanto, a lógica do lucro impõe os limi-tes e possibilidades da reconstrução históri-ca, chegando-se a um resultado bastantediferente daquele mediado pelo conhecimen-to científico.

A cultura marajoara enquanto “tradi-ção inventada” possui muito pouco da re-ferência original ao passado e há uma ten-dência crescente de diferenciação das duascoisas (passado e presente) sem que essadiferenciação seja explícita. Isso se dá deduas maneiras: a) através da modificaçãocrescente de estilos e formas dentro doprocesso de produção de objetos cerâmicoscontemporâneos atendendo às expectati-vas do mercado; e, b) através da trans-missão oral do conhecimento produzido porarqueólogos. A representação do passa-do, mediada pela arqueologia, possui umadinâmica própria que foge do controle doscientistas e cuja lógica pode ser encontra-da nas expectativas dos indivíduos sobre aconstrução de um “outro” que está no pas-sado distante.

A produção de conhecimento científiconão se esgota com a pesquisa e a publica-ção de um trabalho, pois o pesquisador nãopode se furtar à responsabilidade pelas con-seqüências e desdobramentos – na maioriadas vezes inevitáveis, é claro –da difusão doconhecimento, que dizem respeito à relaçãoque se estabelece entre cientistas sociais epúblico. No exemplo que mostramos sobreo uso popular do jargão científico da escolahistórico-cultural fica claro que, se o pesqui-sador se furta em traduzir para o público ahistória do passado de uma maneira inteligí-vel, esse mesmo público irá buscá-la dentrodos museus e bibliotecas. Seguidamente meperguntam sobre os Ananatuba (faseAnanatuba, a mais antiga do Marajó segun-do Meggers & Evans 1957), sobre como elesviviam e como desapareceram. Como expli-car que Ananatuba é simplesmente uma fasecerâmica sem um necessário corresponden-te étnico? Que aqueles povos somente desa-pareceram no imaginário dos arqueólogosque os criaram? Em uma outra ocasião, umrepórter que estava fazendo uma matériasobre uma cópia de dois metros de altura deuma urna feita por um ceramista em Icoaracime procurou para que eu falasse sobre aimportância da urna que, segundo ele, haviasido encontrada em Joanes, na Ilha deMarajó. Ora, eu sabia que dificilmente a urnateria sido encontrada em Joanes e suspeiteique a urna que estava sendo reproduzida erauma urna do tipo “Joanes Pintado”, que deJoanes só tinha o nome infeliz, dado por ar-queólogos na década de 1950 e reproduzidoà exaustão em catálogos e exposiçõesmuseológicas.

A cultura marajoara que é reivindicadano Estado do Pará como parte da histórialocal não é, parafraseando Hobsbawm (2002:13), aquela que “foi preservada na memóriapopular, mas a que foi selecionada, escrita,retratada, popularizada e institucionalizadapor aqueles que tem a função de fazê-lo”. Ointeresse do público pelo passado é o quenos mantém trabalhando, que justifica nos-sos salários, bolsas de pesquisa e financia-mentos, portanto não é de se estranhar que

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Abstract: This article analyses the public appropriation of Marajoaracultural heritage, which revival, in a capitalist context, produces newmeanings. The text call attention to the expectations of the audience ontothe past, as well as the mistaken understandings caused by the diffusionof archaeological jargon. It is proposed that it is necessary to reflect onthe role played by the archaeologist, historian, and educator in the creationof cultural traditions, as well as to question our own epistemologicalreconstructions of the “other” (the past), being aware of the social,economic, and political contexts in which this activity takes place.

Key words: Public archaeology –Marajoara culture – cultural traditions –scientific diffusion

queiram acesso à história que produzimos.Mas assim como os arqueólogos desejamalguma segurança em suas reconstruções opúblico leigo busca a história completa, oquadro acabado. Isso porque existe um apeloem prover esta história com um fio de conti-nuidade (fictício) que a liga ao presente, le-gitimando as produções contemporâneas.Talvez, como Hobsbawm (2002: 2) coloca,sejam as incertezas e as constantes mudan-ças de nossa era que fazem com que os se-res humanos tentem “estruturar pelo menosalgumas partes da vida social como imutá-veis e invariantes”.

Não pretendemos com este trabalho es-gotar uma discussão, mas chamar a atençãopara a existência de contextos sociais, políti-cos e econômicos nos quais se dá a utilizaçãodo conhecimento produzido sobre o passado,uma vez que estes tendem a passarem des-percebidos. Os programas de educaçãopatrimonial muitas vezes colaboram na inven-ção de tradições, especialmente na Amazô-nia, onde têm estimulado a produção de ce-

râmica inspirada em artefatos arqueológicos,direcionando a participação das comunidadesnesse sentido, em um processo não comple-tamente consciente por parte dos educado-res. O uso do passado para promover coe-são grupal e identidade social não é uma es-tratégia nova dos programas de educaçãopatrimonial, mas foi usada por toda a históriada humanidade com os objetivos mais diver-sos, dos mais nobres aos mais espúrios. Porisso a necessidade de que a re-significaçãode objetos e práticas antigas dentro de con-textos novos venha acompanhada pela cons-ciência dos processos históricos nos quais seinsere e aos quais contribui, maneira pela qualesta práxis pode vir a somar verdadeiramen-te para a construção de cidadania e identida-de. O passado é sempre construído a partirdo presente e em função do presente. Comodisse Moore (1995: 51): “nossas representa-ções criativas do passado são moldadas nãopelo que sabemos ser verdadeiro sobre opassado, mas o que acreditamos ser verda-deiro sobre o presente”.

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Introdução – A descoberta arqueológica

No ano de 1997, às margens do rioGrande e junto à Usina Hidrelétrica ÁguaVermelha – município de Ouroeste, Estadode São Paulo – foram achados vários se-pultamentos humanos, posteriormenteidentificados como pré-coloniais2 A desco-berta gerou duas campanhas arqueológi-cas entre 1997 e 19983 e a pesquisa de-

senvolvida por uma equipe interdisciplinar– antropólogos físicos, zooarqueólogos,geoarqueólogos, arqueólogos especialistasem grupos ceramistas e caçadores-coleto-res4 – revelou uma situação arqueológicacomplexa e inédita, o que deveria ser de-vidamente explorado.

Em 2002, sob a mediação do MinistérioPúblico Federal, foi firmado o TAC-Termo deAjustamento de Conduta pelo prefeito muni-cipal de Ouroeste e por representantes doIPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-

PARA SABER O QUE O PÚBLICO PENSA SOBRE ARQUEOLOGIA...

Marília Xavier Cury*

Resumo: O presente estudo se desenvolveu entre 2003 e 2005 no MuseuÁgua Vermelha de arqueologia regional, em Ouroeste, estado de São Pau-lo, Brasil. Consistiu na tese de doutorado intitulada Comunicação Museológica– Uma Perspectiva Teórica e Metodológica de Recepção, defendida na Es-cola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.1

Neste texto, apresentamos para discussão alguns aportes da pesquisa demaneira sintética e parcial.A pesquisa se sustentou teórica e metodológicamente nas áreas demuseologia, comunicação e recepção. Quanto à museologia, foram focadasessencialmente a expologia, expografia e educação patrimonial.

Palavras-chave: Comunicação da arqueologia – Comunicaçãomuseológica – Exposição arqueológica. Educação patrimonial – Avaliaçãomuseológica.

(*) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universida-de de São Paulo - [email protected](1) Sob a orientação da Profa. Dra. Maria ImmacolataVassallo de Lopes.(2) A identificação foi feita pela arqueóloga MariaLucia Pardi.(3)O início dos trabalhos deu-se a partir do contratofirmado entre a CESP e o MAE/USP (Contrato MMA/CESP – MAE/USP – 001/97) e da autorização do IPHANconcedida na Portaria 43, publicada no Diário Oficialda União em 24/9/1997.

(4) São eles: Profs. Drs.: Erika Marion Robrahn-González, coordenadora e especialista em gruposceramistas; Marisa Coutinho Afonso, geoarqueóloga;Paulo Antonio Dantas De Blasis, especialista emgrupos caçadores-co le tores; Levy F igut i ,zooarqueólogo; Eduardo Goes Neves, especialis-ta em grupos ceramistas; e Sabine Eggers, antro-póloga física.

Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006. pgs. 31-48.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

tístico Nacional, Ministério da Cultura,5 e daA. E. S. Tietê S. A.6

De acordo com o TAC, várias ações de-veriam ser tomadas quanto à preservação ecomunicação do acervo arqueológico. Em sín-tese, promover o salvamento e monitoramentoarqueológico, criar um museu de arqueolo-gia regional, criar projeto de lei para umaPolít ica Municipal de Preservação doPatrimônio Arqueológico.

O Museu de Arqueologia e Etnologia daUSP foi, então, convidado para o desen-volvimento do salvamento arqueológico7 epara a concepção e implantação daqueleque passou a ser chamado de Museu ÁguaVermelha.8

Após a assinatura do TAC foi realizadamais uma etapa de escavação e a análisearqueológica em laboratório. Em paralelo,deu-se início aos trabalhos museológicospara a plena instalação do museu.

No dia 2 de setembro de 2003 foi inau-gurado o Museu Água Vermelha e a exposi-ção de longa duração Ouroeste: 9 Mil Anosde História.

Apresentação – Da arqueologia àmuseologia

A pesquisa arqueológica nos sítios ÁguaVermelha transcorreu em alguns anos – en-tre as etapas de escavação, a análiselaboratorial e a redação de relatórios cientí-

ficos. Esses anos de trabalho, sem dúvida,resultaram em uma base científica consis-tente para a aplicação museológica e, emdecorrência disto, a criação de um museucomprometido com a população regional.Como conseqüência – e porque não poderiaser de outra forma – buscamos apoio às basesconcernentes ao nível de profissionalizaçãoque uma instituição museológica contempo-rânea exige.

Independentemente do porte físico doMuseu Água Vermelha – 250 m2 – a equipede museologia9 buscou o aporte museológicocondizente com a relevância arqueológica ecom a responsabilidade social que o museupassaria a ter na região.

As ações museológicas foram estruturadasa partir da operação do processo curatorial– (a) aquisição do acervo; (b) pesquisa, con-servação, documentação museológica; (c)comunicação (exposição e educação)10 – ecompreenderam diversos aspectos e umcronograma: (1) elaboração da estimativaorçamentária – novembro de 2000; (2) rea-l i zação e d iscussão do programaarquitetônico11 – março de 2001; (3) conclu-são do projeto museológico-institucional12 –abril de 2001; (4) elaboração dos sub-proje-tos para reserva técnica e para documenta-ção museológica e da história institucional –maio de 2002 a março de 2003; (5) avalia-ção técnica do edifício em construção – se-tembro de 2002; (6) instalação da reservatécnica e implantação do sistema de docu-mentação – março de 2003; (7) treinamento

(5) A arqueóloga Maria Lucia Pardi.(6) The AES Corporation adquiriu o controle acionárioda CESP em 27/10/1999 em função do Programa Es-tadual de Desestatização. A Usina Hidrelétrica ÁguaVermelha é uma das 10 que compõem a AES Tietê S.A., uma das empresas geradoras do grupo AESCorporation.(7) Os arqueólogos responsáveis foram os Profs. Drs.:Paulo Antônio Dantas De Blasis e Erika MarionRobrahn-González. O primeiro é pesquisador do MAE/USP e a segunda é colaboradora da empresa Docu-mento Antropologia e Arqueologia.(8) O projeto museológico foi coordenado pela Profa.Dra. Marilia Xavier Cury, museóloga do MAE/USP.

(9) Formamos a Equipe de Gestão Museológica com-posta por Ana Carla Alonso, Aureli Alves de Alcântarae Joana Montero Ortiz.(10) A aquisição/coleta do acervo e a pesquisa fica-ram a cargo da equipe de arqueologia, ao passo queas ações de conservação preventiva, documenta-ção, exposição e educação ficaram sob a responsa-bilidade da equipe de museologia.(11) A autora do projeto arquitetônico é CássiaMagaldi.(12) As responsabilidades pelo projeto museológicoe programa arquitetônico foram divididas com a Profa.Dra. Erika Robrahn-González, arqueóloga.

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Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...Marília Xavier Cury

de conservação preventiva e documentação13

– março de 2003; (8) elaboração dos sub-projetos expositivo e educativo – maio a se-tembro de 2003; (9) avaliação conceitual oupré-avaliação – março de 2003; (10) monta-gem da exposição e implantação do projetoeducativo – maio a setembro de 2003; (11)treinamento sobre expografia e educação –junho e setembro de 2003;14 (12)inaugura-ção da exposição Ouroeste – 9 Mil Anos deHistória – 2 de setembro de 2003; (13) iníciodo atendimento escolar – 3 de setembro de2003; (14) avaliação da exposição – setem-bro a novembro de 2003; (15) conclusão dapesquisa de recepção da exposição15 – maiode 2005.

A comunicação museológica no MuseuÁgua Vermelha

A exposição para um museu é a sua partemais visível. É, também, o que torna umainstituição preservacionista um museu, istoporque um museu preserva e comunica. Nãoé possível, para um museu, prescindir de umacervo, mas o acervo não o torna museu, oque somente é possível com a comunicaçãoe, especialmente, com a exposição. Não épossível, para uma exposição, prescindir doacervo, pois corre o risco de perder o seustatus privilegiado de linguagem museológica.Nenhuma outra linguagem alcança ser aqui-lo que a exposição museológica é.

A dinâmica de um museu opera a partirdo processo museológico e este não é linear.Ao contrário, é cíclico e, além disto, uma açãointervém na outra. Sendo um sistema, vale-ria a pena pensar este processo em sua di-

mensão sinérgica, quando cada uma de suasações age simultaneamente sobre as outras.O processo curatorial é a cadeia operatóriacíclica que compreende a formação do acer-vo, pesquisa, salvaguarda (conservação edocumentação) e comunicação (exposição eeducação). O ciclo se fecha, sem nunca secompletar, com a comunicação, sendo queesta não é a última etapa do processo, ouseja, na sinergia a comunicação atua igual-mente e simultaneamente e não como etapaposterior que se desdobra das outras.

Comunicação museológica – na contra-mão dos ideais que a hegemonia faz ques-tão de manter – não consiste na absorçãopelo público de um conhecimento transmiti-do a ele pelo museu, como um indivíduo sub-misso ao impacto da mensagem museológica,ora passivo, ora reativo. Entretanto, a co-municação museológica não se encerra nomuseu – o meio – e sim no cotidiano daspessoas. A moderna teoria da comunicaçãofez deslocar as discussões dos “meios paraas mediações” culturais que ocorrem no co-tidiano das pessoas (Martín-Barbero 1997).Com isto, entende-se que o cotidiano do pú-blico é o mediador da sua participaçãointerpretativa, ou seja, o público em museusinterpreta a partir da sua experiênciavivencial. Indo além, entende-se que o pú-blico é participante do processo museológicoporque ele traz para o museu a sua inter-pretação. Interpretar, para os esclarecimen-tos devidos, é uma ação associada de formaindissociável à “leitura” e a “(re)significação”:não há leitura sem interpretação, do contrá-rio não houve leitura de fato, pois ninguémlê exatamente igual ao outro. Ler não é sim-ples decodificação de “palavras”. Por outrolado, não há interpretação sem leitura (queé o que permite a interpretação) e a inter-pretação é, em si, recriação de significados,ou ressignificação. Neste sentido, a comuni-cação museológica é comunicação dos sen-tidos patrimoniais e as mensagens implícitase explicitas em uma exposição são proposiçõesde significados que serão (des)construídos,reelaborados, negociados, trocados, pelo vi-sitante em atitude dialógica com o museu.

(13) A partir de 2003 a Prefeitura de Ouroeste indi-cou três funcionários para cuidar do museu. Eles fo-ram treinados pela equipe de museologia do MAE.(14) Todas as ações foram desenvolvidas pela Equi-pe Gestão Museológica.(15) A pesquisa de recepção faz parte de CURY, MaríliaX. Comunicação museológica – Uma perspectiva teó-rica e metodológica de recepção, tese defendida emmaio de 2005.

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O projeto de comunicação do MuseuÁgua Vermelha – que engloba a exposição ea ação educação vinculada a ela – partiudestes pressupostos.

Inicialmente, e entendendo que a recep-ção é um processo que antecede e sucede avisita a um museu e a uma exposição, foirealizado um estudo com um dos públicosprioritários do museu: estudantes dos ensi-nos fundamental e médio.16

Para a museologia, esta é uma das for-mas de avaliação museológica,17 que se en-quadra nos chamados estudos de público, oque denominaremos de pesquisa de recep-ção. Assim, dentro da perspectiva da pes-quisa de recepção, foi desenvolvida uma ava-liação conceitual, preliminarmente à elabo-ração da exposição, com estudantes.

Partimos da constatação que a comuni-cação institucionalizada da arqueologia estána mão da escola e do museu. Sabemos, noentanto, que há um descompasso entre a(pouca) quantidade de museus arqueológi-cos e a amplitude e complexidade dos co-nhecimentos sobre arqueologia brasileira.Sabemos, também, que, na escola o profes-sor, sem suportes outros, apóia-se no livrodidático como instrumento para ministrar osconteúdos arqueológicos. Recente estudoanalisou “A abordagem do período pré-colo-nial brasileiro nos livros didáticos do ensinofundamental” (Vasconcellos et al. 2000) e nosapontou algumas vertentes a partir de umconjunto de 12 livros de 10 autores, selecio-nados ou por critérios mercadológicos (osmais vendidos) ou pelo oficial (aqueles indi-cados para a escolha pelos professores daRede Pública de Ensino para posterior distri-buição gratuita aos alunos). Os autores, naanálise que fizeram, apresentaram diversas

questões: a postura evolucionista de alguns,periodização européia como referência emoutros, e – quando há um enfoque brasileiro –o texto é de autoria de historiador desvinculadoda produção em arqueologia. Os autores con-cluíram o estudo com a triste constatação deque é do professor a incumbência dedesconstruir e reconstruir com seus alunos oconhecimento sobre esse passado, recorren-do, para tanto, ao museu de arqueologia comoespaço de produção e comunicação arqueoló-gica (Vasconcellos et al. 2000: 237).

Voltamos ao ponto de partida: são pou-cos os museus; o professor recorre ao livrodidático, cuja mensagem precisa ser(des)construída por ele com base nas infor-mações comunicadas pelos museus de ar-queologia!

Em síntese, não sabemos o que os bra-sileiros pensam sobre arqueologia. O quesabemos (ou temos como hipóteses) é queos brasileiros recebem informações superfi-ciais e desconexas ou descontextualizadas;às vezes preconceituosas, importadas e, ou-tras vezes, fantasiosas.

Em Ouroeste, os estudantes que partici-param da pesquisa conviveram nas ruas comarqueólogos, receberam alguma informaçãosobre o que estava acontecendo e estavambastante curiosos com o “cemitério de índio”em um dos sítios arqueológicos junto à Usi-na Água Vermelha.

Pesquisa de recepção: aavaliação conceitual

A pesquisa foi realizada em março de2003, e antes de iniciar a concepção da ex-posição Ouroeste: 9 Mil Anos de História,por meio da aplicação de um questionárioem estudantes da 7a e 8ª séries do ensinofundamental e de 1º, 2º e 3º anos do ensinomédio da E. E. Sansara Singh Filho. O obje-tivo foi aferir o conhecimento que essesestudantes tinham sobre arqueologia e so-bre o passado pré-colonial brasileiro. 298estudantes participaram dessa etapa dapesquisa de recepção.

(16) A pesquisa de recepção desenvolvida no MuseuÁgua Vermelha compreendeu duas etapas: a prelimi-nar à exposição e a pós montagem. Este texto apre-senta a etapa preliminar e como esta se vinculou àconcepção da exposição.(17) Quanto às formas de comunicação museológica,vide Cury 2006.

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Considerando que esta etapa da pes-quisa tem interesse central na relação dosestudantes com a questão indígena, e nosconhecimentos que eles possuem sobrearqueologia, organizamos as perguntas doquestionário para averiguação dessasquestões. No entanto, não fizemos distin-ção entre etnologia e arqueologia e índiodos períodos pré-colonial e contemporâ-neo, até porque não há a presença indí-gena na região atualmente ou num pas-sado próximo. A presença indígena existenos nomes de algumas cidades, na refe-rência do rio Grande e no imaginário so-bre a cachoeira dos Índios (destruída paraa construção da usina). Essa “mistura” deentendimento por parte do público e osdiscursos que ela gera são construções,enunciações elaboradas e assimiladas.Não pretendemos levantar e analisar es-ses discursos - adentrar em suas cama-das e buscar suas raízes e estrutura defuncionamento -, o que seria muito frutí-fero para a comunicação da arqueologia,mas seria um estudo de profundidade – ede extrema necessidade – que a pesquisaem questão não comportou.

Por outro lado, não consideramos, napesquisa, que a arqueologia seja um campovasto que envolve a construção de conheci-mento por meio de vestígios da cultura ma-terial, do passado pré-colonial ou colonial, emesmo do presente. Consideramos, sementrar no mérito com os estudantes, a ar-queologia pré-histórica.

O questionário contou com questões commúltiplas escolhas, com espaços para justi-ficativas ou esclarecimentos por meio de res-postas abertas.

Os dados sofreram uma análise quanti-tativa e tornaram-se fundamentais para aconcepção da exposição.

A primeira fala dos receptores

Esta etapa do estudo revelou aspectosimportantes sobre a população jovem da ci-dade. Ouroeste é uma cidade jovem, pois

tem apenas 52 anos de existência e 818 deemancipação de Guarani D‘Oeste, da qual eradistrito. De acordo com o censo de 2002, omunicípio possui 6290 habitantes – sendo3159 homens e 3131 mulheres – e 5387 elei-tores (87% da população). Em 2004 ocorre-ram 1073 matrículas no ensino fundamentale 419 no ensino médio. O município possuitrês escolas de ensino fundamental, duas deensino médio e duas de educação infantil.Destas apenas uma é particular.

Os dados coletados com os estudantesrevelaram que apenas 13 (4,4%) nasceramem Ouroeste e nenhum em cidades limítrofes(Fernandópolis, Indiaporã, Guarani D’Oestee Paranapuã). 10,1% deles nasceram na re-gião (aproximadamente 150 km ao redor deOuroeste), ou seja, apenas estes doispercentuais (na soma, 14,5%) têm vínculoscom a história regional e com a memória doterritório, e os demais (81,1%) precisamconstruir vínculos territoriais. 24,8% dos es-tudantes vivem há até 5 anos na cidade,14,4% vivem entre 6 e 10 e 49,3% vivem 11anos ou mais.

Desses 298 estudantes, 144 (48,3%) sãodo ensino fundamental e 154 (51,7%) doensino médio.

A idade desses estudantes varia entre 12e 18 anos. No ensino fundamental temos umgrande número de adolescentes entre 13(47,9%) e 14 anos (25,7%). No ensino médiotemos uma concentração maior entre 15(40,9%) e 16 anos (37%). Os dados de idadenão surpreendem, principalmente porque sãoestudantes dos períodos da manhã e da tarde.

A relação dos estudantes coma arqueologia

Diversas questões foram feitas para le-vantar o nível de conhecimento dos estudan-tes sobre arqueologia. Uma delas foi se elesjá estudaram, e quando, a pré-história bra-

(18) Dados referentes ao ano de 2005, quando apesquisa, quando a pesquisa foi concluída.

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sileira. Dos que responderam sim (32,9%),a maioria aprendeu na escola em várias sé-ries entre a 4a. do ensino fundamental e o3o. ano do ensino médio, e alguns (1,3%)aprenderam pela TV ou com o pai. 6,4%deles não se lembram em que séries apren-deram. 18,1% dos estudantes responderamque não estudaram, 47,3% não se lembrame 1,7% não respondeu à questão. Nestaquestão usamos o termo pré-história por sero mais familiar nos livros didáticos.

Procuramos, então, levantar o que elessabem sobre pré-história por meio de umaquestão direta. Pedimos a eles respostas di-retas também, deixando-os à vontade paraser sinceros, pois não estavam sendo testa-dos. As respostas foram diretas: 52,3% dos298 estudantes responderam “não sei nada”ou “não me lembro de nada”, sendo que63,9% dos 144 alunos do ensino médio tive-ram esta resposta, bem como 41,6% dos 154dos alunos do ensino fundamental. Apenas19,1% relacionaram a pré-história à existên-cia de índios no passado (13,8%), a homensque viviam em cavernas (1,3%), ou com ummodo de vida diferente do nosso, precisandofazer fogo (1%), e que a pré-história foi an-tes da nossa colonização ou na Grécia (3%).Alguns consideram que sabem pouco(13,4%), e outros (2,3%) afirmaram que sa-bem muito ou tudo. Nos dois casos osrespondentes não discriminam o “pouco” ouo “muito” que conhecem. 9,1% deles não res-ponderam. As respostas relacionando pré-his-tória a dinossauros não foram muitas, comose poderia supor: apenas 6,4% da amostra.

Quanto à questão: “O que é arqueologiapara você?”, uma parcela grande da amos-tra (34,6%) não sabe e 6% dela não respon-deu. Para os demais, (1) a arqueologia estu-da civilizações, ou povos antigos, ou serespré-históricos, ou os índios brasileiros(23,1%); (2) a arqueologia estuda coisas,objetos antigos/do passado, estuda ossos(19,4%); (3) a arqueologia estuda ossos deanimais, como os dinossauros ou fósseis(9,1%); (4) a arqueologia faz descobrimen-tos em vários países e é um trabalho bonito,uma coisa incrível (7,8%).

E “Você acha arqueologia importante?”64,8% acham que sim, 25,2% não sabem,7,7% acham que tem uma importância rela-tiva e 2% não acham a arqueologia impor-tante. Dos comentários que fizeram, para27,8 % da amostra de 298 que responderamsim, da justificativa é que: a arqueologia éimportante para que possamos descobrir/saber como viviam os antepassados (24,8%),ou para desvendar a nossa evolução e asorigens da humanidade (3%). 7,4% achama arqueologia importante porque ela desco-bre coisas antigas. Para 13,1% da amostra,a arqueologia é uma forma de aprender fa-tos novos e diferentes, e para 4,7%, todaprofissão é importante. Apenas 2% dosrespondentes acham a arqueologia impor-tante para se saber mais sobre a história daregião e do País. Apesar de considerarem aarqueologia importante, 9,7% dos estudan-tes não se justif icaram. Aqueles querelativizaram a importância da arqueologiaou não a consideram importante, não mani-festaram interesse especial, acham-na cha-ta ou desconhecem o suficiente para mani-festar opinião.

Com relação ao interesse dos estudan-tes com a disciplina arqueologia, 61,4% seconsideram interessados, 31,5% não se con-sideram, 5,7% não sabem e 1,4%, mais oumenos ou não respondeu.

Indagados sobre os motivos do interes-se pela arqueologia, um terço aproximada-mente da amostra manifestou ser uma pes-soa curiosa por descobertas arqueológicas(5,4%), gostar de ampliar seus conhecimen-tos (16,8%), sobretudo com estudos interes-santes e importantes (12,8%). Muitos vêemna arqueologia uma possibilidade para sa-ber sobre povos antigos (17,1%) e sobre osantepassados (5,7%). 2,7% da amostragemacha a arqueologia legal e quer serarqueólogo(a). 3,7% acham a arqueologiainteressante, mas não justificaram por quê.

Os motivos pelo desinteresse ou poucointeresse pela arqueologia, diríamos, estárelacionado à desinformação. Podemos su-por que eles (31,5% da amostra) não têminteresse porque não conhecem ou não sa-

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bem do que se trata (12,4%), não têm von-tade (6,4%), não gostam de procurar ossosou coisas antigas (1%), não gostam de terra(0,3%), não sabem o porquê do desinteres-se (3%), ou não responderam (8,1%). Aque-les que têm um interesse relativo (0,6%)relacionam o não-interesse à falta de opor-tunidade ou à forma sem atratividade comoa arqueologia é apresentada.

Como já mencionamos, em 1997 houvea descoberta do sítio-cemitério, e entre 1997e 1998, e depois em 2002 foram realizadasescavações arqueológicas. Isso teve algumarepercussão na cidade, pois a presença dasequipes de arqueologia foi notada e comen-tada. Além disso, a descoberta do cemitérioindígena foi amplamente noticiada e os ar-queólogos fizeram um trabalho de extensãouniversitária com a escola estadual entre1997 e 1998.19 Com base nisso, procuramosaveriguar se os estudantes correlacionavamesses fatos a uma descoberta arqueológica.A pergunta feita foi: “Recentemente vocêsoube de alguma descoberta arqueológica?”

74,5% da amostra respondeu não, 22,8%respondeu sim, e 2,7% não respondeu. Dosque responderam sim, apenas 12,4%, con-siderando a amostra total, relacionaram osossos dos índios e a machadinha achados narepresa (Usina Água Vermelha) com umadescoberta arqueológica. 4,7% se lembra-ram de descobertas em caverna no Cearáou de outras no Oriente Médio, e 2,7% selembraram de descobertas paleontológicasde dinossauros. 1% não se lembra e 2,7%não responderam.

Dando continuidade ao levantamento doque sabiam sobre a disciplina, perguntamosse para eles a arqueologia brasileira era tãoavançada quanto em outros lugares. 54,3%da amostra não soube responder, 18,8%acha que é relativamente avançada com re-lação a outras localidades, 18,1% acha quenão, e 8,7% acha que sim.

Quanto aos comentários daqueles queacham que é relativamente avançada, 8,7%da amostra não comentou, 4,7% relacionou-a com a situação econômica do Brasil, e/ouà falta de recursos ou apoio governamental,3,7% acha que há desinteresse interno e queas maiores descobertas são em outros paí-ses, 1,7% acha que a arqueologia no Brasilestá avançando da mesma forma que emoutros países.

Daqueles que responderam que a arque-ologia brasileira não é tão avançada quantooutras, 5,4% da amostra não justificou a suaopinião. Vários estudantes procuraram jus-tificativas externas ao Brasil: a tecnologiaexterna é mais avançada (5,4%), a maioriadas descobertas é de fora (1,7%), os outrostêm mais condições financeiras (0,7%), osarqueólogos internacionais são mais compe-tentes (0,7%). 5,4% procuraram justificati-vas internas: a arqueologia no Brasil está seiniciando agora (1,7%), mal se houve falarnela e poucos a conhecem (1,7%), falta in-teresse em geral (1,3%), e incentivo do go-verno (0,7%).

Dos que responderam sim, 3,4% nãojustificaram, 2,3% acham que aqui já ocor-reram descobertas e ainda há muito materi-al a ser encontrado, 1,7% equipara o desen-volvimento da arqueologia no Brasil a outrasprofissões, 1,4% entende que a arqueologiaé uma coisa só no mundo e que o Brasil temcapacidade de descobrir.

56% da amostra não teria interesse emfazer algum tipo de pergunta a um arqueó-logo, 19,5% gostaria de fazer alguma per-gunta, mas não soube elabora-la no momen-to do preenchimento do questionário. As per-guntas que gostariam de fazer foramcategorizadas. A primeira categoria versasobre a arqueologia e tivemos 8,6% de dúvi-das. As perguntas eram sobre: O que a ar-queologia estuda? Como e quando surgiu aarqueologia? Há quanto tempo há arqueolo-gia no Brasil? Como se descobre alguma coi-sa? Como se sabe a idade de alguma coisa?Como se descobre como eram os seres apartir dos restos mortais? Na segunda cate-goria temos perguntas mais relacionadas à

(19) Tendo ocorrido há 5 ou 6 anos, os estudantes dapesquisa não foram, muito provavelmente, especta-dores desse trabalho de extensão arqueológica.

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profissão ou ao desempenho do arqueó-logo (4,6%) como: Por que você se inte-ressa por arqueologia? Como eu poderiame tornar um arqueólogo? Posso partici-par de uma escavação com você? O quevocê mais gosta de pesquisar? É difícilexercer essa profissão? Numa terceiracategoria temos curiosidades (4,1%)como: Qual a sua descoberta mais inte-ressante? Qual foi o objeto mais antigoque você descobriu? Você já achou algumosso estranho de alguma coisa desconhe-cida? Perguntaria sobre o peixe na caver-na, se existiu múmia no Brasil e quando equantas ossadas já descobriu, qual foi asurpresa quando soube do cemitério [juntoà Usina Água Vermelha]. Na quarta cate-goria as questões são sobre as culturasdescobertas pela arqueologia (2,3%): Háquantos anos os índios vivem no Brasil?Gostaria de saber mais sobre os povos deantigamente? Quais foram os primeirospovos que habitaram a região? Como eraa vida dos índios? A quinta categoria agru-pa questões sobre dinossauros e sobrefósseis (3,4%): Já foram encontrados ou-tras espécies sem ser de dinossauros? Jáachou algum dinossauro? Você assiste ao“Mundo do dinossauro”? Na região teve algu-ma espécie de dinossauro? Como descobri-ram os ossos de dinossauros? Qual foi o pri-meiro fóssil descoberto? Uma pessoa queriasaber qual seria o nome do museu.

De outras experiências de atendimentoa público escolar, sabemos que é (ou era)comum os estudantes relacionarem o pro-fissional arqueólogo ao personagem fictício docinema Indiana Jones. Também correlacionama arqueologia à busca de tesouros, contri-buição negativa do cinema à ciência e à le-gislação e preservação patrimoniais. Assim,elaboramos algumas perguntas para constataçãodisso. Indagados se eram verdadeiras oufalsas as afirmações de que:

- “Os arqueólogos procuram tesouros deoutros povos” 59,7% a consideraram falsa,33,9% verdadeira, e 6,4% não responderam;

- “Os arqueólogos procuram conhecer omodo de vida de povos antigos por meio de

objetos deixados por eles e que foram so-terrados”, 90,6% consideraram a afirmativaverdadeira, 4,7% a consideraram falsa, e4,7% não responderaram;

- para a afirmação de que “os arqueólo-gos são grandes aventureiros”, 77,9% acha-ram que sim, 15,4% acharam que não, e6,7% não responderam.

- para 44% da amostra, “um dos arque-ólogos mais conhecidos é Indiana Jones”,para 42,3% ele não é um dos mais conheci-dos, e 13,8% não responderam.

Por outro lado, muitas pessoas levadaspela falta de conhecimento sobre o passadopré-colonial do Brasil compararam o nossopassado ao de outros locais depreciando oíndio brasileiro. Assim, declararam que:

- “No Brasil não viveram civilizações im-portantes como maia, asteca e inca”, para56,4% essas idéias eram falsas; para 36,6%,eram verdadeiras, e 7% não responderam.

Todas essas questões de “verdade oumentira”, “acredito ou não acredito”, “con-cordo ou não concordo”, nos dão uma pri-meira informação que mereceria seraprofundada. Ao indagar sobre esses pon-tos, apenas tiramos uma primeira camadade muitas outras que constituem o modeloque o brasileiro tem sobre o passado pré-colonial, e em certa medida, sobre o própriobrasileiro.

A relação dos estudantes com o índio brasileiro

Essa abordagem - o índio brasileiro - émuito ampla e complexa e não tivemos a in-tenção nesta pesquisa de conhecê-la a fun-do, ou de esgotá-la. Interessou-nos, no en-tanto, sentir um pouco do que os estudantespensam e sabem para levantar pontos deaproximação e/ou de distanciamento, consi-derando que a história da região cruza comas ocupações indígenas pré-coloniais.

Como já afirmado anteriormente, nãolevamos em consideração a distinção entrearqueologia e etnologia porque o público tam-bém não a faz.

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Para começar, foi feita a afirmação: “An-tes da chegada de Pedro Álvares Cabral em1500, o Brasil já era todo ocupado por índi-os”, e pedimos aos adolescentes que disses-sem se para eles era verdadeira ou falsa.Para 51,7% a afirmação é verdadeira, para32,2% é relativa, e para 12,4% é falsa.

Solicitei que comentassem a resposta.Dos que consideram a afirmativa verdadei-ra, 31,9% não comentaram e os outros(19,8%) consideram que os índios eram osprimeiros habitantes e donos do Brasil, quehavia muitos deles, que travavam guerrasentre si e foram assassinados ou foram su-mindo após o descobrimento. Os estudantestêm provas disso: o cemitério junto à usinaé uma evidência; a história e os professorescomprovam também.

Dos que acham que é uma verdade rela-tiva, 17,8% não comentaram e 14,4% achamque só uma parte do Brasil era ocupada ouquase todo e não tudo, só no litoral, as ma-tas e florestas.

Dos que acharam a afirmativa falsa, 6%não comentaram e 6,4% acham que é falsaporque só uma parte era ocupada e não ha-via só índios aqui.

Outra afirmativa, agora para eles dize-rem se acreditam ou não: “Viviam no Brasilmais de 5 milhões de índios na época dodescobrimento.” Da amostra, 37,9 % acredi-tam, 44% dizem que acreditam mais oumenos, 13,1% não acreditam e 5% não res-ponderam. Vejamos o que eles comentaram.

Para aqueles de respostas afirmativas,21% não comentaram a sua concordância, epara os outros 16,9%, havia muitos índiosem todo o extenso território, eles se repro-duziam e as gerações aumentavam, os li-vros falam sobre isso.

Para aqueles que concordam com ressal-vas, 32,9% não comentaram. Os comentári-os que temos (11,1%) são que não sabem onúmero exato e pode ser isso, mas deve serum pouco menos, pois o território é grande.

Daqueles que não concordam, 10,4% nãocomentaram e os demais 2,7% acham o nú-mero muito grande e nunca ouviram falar naquantidade.

Quando indagados sobre: “O que vocêsabe sobre os índios que moraram na regiãode Ouroeste?” 80,9% responderam que nãosabem ou não se lembram de nada. Quantoaos demais da amostra, 8,4% disseram quea região foi habitada por índios há muitosanos; para 2,3% eles moravam na cachoei-ra dos Índios; na opinião de 1,7%, eram ín-dios comuns que caçavam e pescavam, eramtrabalhadores; e no entender de 0,3%, osíndios moravam em cabanas ou em (0,3%)casas simples de pau-a-pique e palha, emgrandes aldeias; para 0,3%, dominavam ofogo; para 0,3%, faziam sepultamentos. Eramos tupi-guaranis (0,7%). Alguns estudantesconhecem evidências de índios na região,como os ossos achados recentemente(3,4%), o avô que falava que eles escreviamem pedras (0,3), e porque algumas cidadestêm nomes indígenas (1,3%). Um aluno achaque eles foram embora quando explodirama cachoeira dos Índios, um outro viu um ín-dio e ele parecia ser bom e um terceiro achaque o fato da região ter sido habitada poríndios é bom, para a história da cidade.

Perguntamos, então, o que eles gostari-am de saber sobre os índios que moraramna região. 4,3% não sabiam o que pergun-tar ou não responderam; 9,1% não gostari-am de saber nada; 1,3% quer saber só onecessário; 39,6% querem saber tudo, omáximo possível; 34,9% dos estudantes que-rem saber sobre o modo de vida, hábitos esobre a cultura em geral; 6,4% sobre comi-da e obtenção de alimentos; 3,4% queremsaber sobre a origem dos índios, como e poronde vieram para a região; 3%, a época emque chegaram; 1%, como era a região naépoca; 2,3%, onde viviam; 2%, qual era onome da tribo; 2%, como era a convivênciaentre eles; 1,7%, qual era a religião deles ese acreditavam em vários deuses ou em umsó; 1,3%, como se vestiam e se se vestiam;1%, como eram as casas; 1%, quantos índi-os eram; 0,7%, porque enterravam os mor-tos naquele lugar; 0,3%, se eram alegres;0,3%, se viviam bem; 0,3%, como faziamremédios; 0,3%, como se pintavam; 0,3%,como eram as armas de guerra; 0,7%, por

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que eles foram embora; 0,7% gostaria devê-los, e 0,3% gostaria de saber se há apossibilidade de os índios se juntarem a eles;0,3% gostaria de ver peças dos índios nomuseu.

Apoiados em um comentário corriqueirode que “o índio brasileiro é preguiçoso”, soli-citamos aos estudantes que dissessem seessa idéia era falsa ou verdadeira, mesmonos arriscando a reforçar uma idéia negati-va sobre o índio. Bem, 83,9% acharam quea afirmação é falsa; 12,1%, verdadeira, e4% não responderam.

Gostaríamos também de verificar o co-nhecimento dos estudantes quanto à diver-sidade cultural entre os índios brasileiros.Pedimos para comentarem se falsa ou ver-dadeira a afirmativa de que “os índios eramtodos iguais”. Para 71,1% da amostra, erafalsa; para 25,2%, era verdadeira, e 3,7%deles não responderam.

A última questão que queremos comen-tar é: “O que você sabe sobre o cemitérioencontrado perto da represa?” Quase doisterços dos alunos (63,8%) responderam quenão sabem nada ou não se lembram. As res-postas não elucidam muita coisa. 20,8% dis-seram que era um cemitério de índios; 7%sabem onde fica e já foram lá; 3% sabemque junto aos ossos foram achados objetose uma machadinha, 2,7% sabem quem sãoos pescadores que encontraram o cemité-rio; 1,7% sabe que eles acharam muitos os-sos e fósseis de índios; para 0,7%, o fatoocorreu após a “caída” de uma árvore; para1%, o local está fechado para estudo; para0,7%, encontra-se com um portão com ca-deado; para 1,7% o local é sagrado,patrimônio da humanidade e, assim, resol-veram fazer um museu para guardar o quefoi achado.

A exposição e a ação educativaOuroeste: 9 Mil Anos de História

A exposição e a ação educativa são ma-nifestações da política de um museu e, parao público, é o que define a instituição. Há uma

verdade nisto, pois são os usos que o públicofaz dos museus que lhes dão forma social.

Neste sentido, e a partir da pesquisaconceitual realizada com os estudantes, umaequipe interdisciplinar20 conceituou a expo-sição de longa duração do Museu Água Ver-melha, Ouroeste: 9 Mil Anos de História.Coube a essa equipe a construção do méto-do e estratégias de trabalho e, sobretudo, aestruturação da linguagem expositiva.

Quanto à linguagem, inicialmente busca-mos a interação entre “saberes” – arqueoló-gico, museológico e do público. A preocupa-ção foi criar uma exposição inteligível, comfundamentação arqueológica e sustentaçãomuseológico-comunicacional. Sendo assim, osconteúdos inerentes a estes saberes, dialo-gando entre si de forma interdiscursiva, pro-piciaram a construção de um mapa cognitivo,conforme tabela 1. Para que fique clara a nossaopção, a lógica da exposição respeitou os cam-pos envolvidos, tendo como referencial o pú-blico interprete, o que não significa que a ar-queologia – a área a ser comunicada – nãotenha sido respeitada e valorizada, da mes-ma forma que os arqueólogos21

(20) Ficha técnica da exposição Ouroeste - 9 Mil Anos deHistória: Projeto Museológico e Coordenação: MaríliaXavier Cury. Projeto Expográfico: Marília Xavier Cury,Mauro de Vasconcelos Coelho, Ana Carla Alonso, AureliAlves de Alcântara, Joana Montero Ortiz. CoordenaçãoCientífica: Erika Robrahn-González, Paulo A. D. De Blasis.Consultoria Científica: Levy S. Figuti , Sabine Eggers.Apoio Administrativo: Emília Paula Vieira. ProgramaçãoVisual: Cristiane Y. Sato, Raquel M. Yoshizawa, MarianaA. Iwanaga. Adereçagem: Gil Verx. Cerâmica: ShoichiYamada. Fotografia: Erika Robrahn-González, JoséRoberto Pellini, Wagner Souza e Silva. Ilustração: ChicoBela. Maquetes: Kenji Maquetes. Apoio Técnico: CintiaBendazolli Simões, Daria Elânia Fernandes Barreto, JoséPaulo Jacob, Fernando Victor Aguiar Ribeiro, Juliana deSouza Batista. Agradecimento: Adelino Francisco do Nas-cimento, Osterno Machado, Danilo Chagas Assunção,Daniela Magri Amaral, Gerson Levy da Silva Mendes,Manoel Mateus Bueno Gonzalez, Paulo Zanettini, SilvanaViana Cruz de Macedo. Projeto Executivo, Produção eMontagem: Cinestand Serralheria e Cia.(21) Quanto à metodologia adotada e à participaçãodos arqueólogos e demais membros da equipe, videCury 2005.

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Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...Marília Xavier Cury

Assumindo este compromisso conosco ecom o público, fugimos dos modelos“estetizantes” de exposição, aqueles que nãoquerendo recair num didatismo à semelhan-ça do livro escolar, limitam-se a apresentarobjetos com poucas informações – basica-mente em etiquetas e textos – em situaçõestécnicas (iluminação, vitrinas, etc.) favorá-veis ao objeto. Esta é uma forma de

fetichizar os objetos museológicos e distan-ciar o público deles.

Entendemos que o enfrentamento da lingua-gem expositiva seria o caminho para transpor ofalso dilema didatismo X valorização do objeto.Assim, a partir do mapa cognitivo definimos osobjetivos da experiência do público (tabela 2),considerando que esta se daria com asobreposição entre exposição e ação educativa.

Conhecimento metodológico,científico e técnico.Conhecimento das especiali-dades dentro da arqueologia.Conhecer as áreas auxiliaresà arqueologia

Quadras, trincheiras,estratigrafia, vestígios,registro, técnicas, equipa-mentos e materiais.Organização do laboratório.Registro de dados.Análise e interpretação

Raciocínio lógico e abstrato.Inferência.Presente

Tabela 1Mapa Cognitivo da exposição e ação educativa

DiscursoEducativo

DiscursoExpositivo

DiscursoArqueológico

AntiguidadeAntepassadoDieta alimentar como culturaGosto alimentarMemória territorialHistória territorialVidaEstilo de vidaInstrumentosUtensíliosCasa e larFamíliaMorte e perdaEnte queridoCerimôniaReligião”Medicina tropical”IgualitarismoSolidariedadeCooperaçãoTolerânciaÊxito culturalTradiçãoContinuidadePresente

OcupaçãoOrigemDataçãoDensidade demográficaDiversidadeObtenção de alimentoTerritórioAldeiaOrganização socialSepultamentoCemitérioRitualTecnologiaPassado

Origem e expansão dosgrupos que se assentaramna região.Períodos de ocupação.Formas de ocupação.Reconhecimento das tradi-ções arqueológicas.Tecnologia.Intercâmbio entre grupos.Sistema arqueológicoregional.Modelos de expansão.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Partimos, então, para a construção do“jogo de equilíbrio” entre temática, objetos,espaço e tempo – os elementos estruturadoresde uma exposição – e recursos de apoio.Construímos, então, uma ambiênciaexposit iva (espaço s igni f icado) paraoportunizar que o público pudesse interagircom a arqueologia e com o patrimônio ar-queológico.

Em um espaço de 90 m2, com pé-direitoduplo, estruturamos uma retórica narrativaem dois eixos principais:

- Histórico das descobertas arqueológicas- Eixo 1- A construção do conhecimento

na arqueologia- A etapa de escavação- A análise e interpretação em laboratório- A exploração e prospecção regional- O método Carbono 14 e a antigüidade

do homem na região

- Eixo 2- As descobertas – As quatroocupações no tempo

- Os primeiros povoadores de 9 milanos atrás

- Os caçadores especializados de 5 milanos atrás

- A era das grandes aldeias de 1500anos atrás

- As sociedades complexas de 500anos atrás.

- Encerramento: Arqueologia de OuroesteA narrativa foi organizada no espaço em

forma de U, pois a sala possui duas entra-das. Apesar da estrutura narrativa, o públi-co foi estimulado a explorar a exposiçãoepisodicamente, ou seja, ele mesmo fazero seu circuito e, assim, a suas reelaborações.Para tanto, há uma ligação entre as pernasdo U e a altura dupla da sala foi apropriadapara a construção de possibilidades de apre-

Fazer conhecer a pesquisa arqueológica e asáreas científicas parceiras.Apresentar a lógica do espaço.Conhecer o método.Estabelecer relação entre espaço horizontale vertical, espaço de ocupação e antiguidade.Conhecer a lógica de um laboratório.Entender as formas de análise de vestígios.Distinguir entre material lítico, cerâmico,faunístico e humano.Conhecer a lógica da análise e interpretação.Conhecer o método de datação Carbono 14.

Tabela 2Objetivos

Ação educativaExposição

Exercitar a tolerância.Trabalhar para uma consciência de alteridade.Discutir (re)tradicionalização.Discutir (des)(re)territorialização.Estabelecer vínculos entre culturas.Refletir sobre a história do território.Desenvolver uma memória territorial.Desenvolver “gourmets” culturais - cidadãoshabilitados para criar pontos de compreensãoentre culturas diferentes.

Conhecer os grupos que ocuparam a região.Refletir sobre a diversidade cultural no pas-sado pré-colonial da região.Apresentar as formas de interação entre ogrupo e o território.Conhecer as soluções sociais e culturais.

Refletir sobre o espaço.Ler estratigrafia.Pensar arqueologicamente.Imaginar.Criar hipóteses.

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Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...Marília Xavier Cury

ciação por uma vista superior (por meio deum mezanino). De fato, são, ao menos,duas exposições com múltiplas possibilida-des de recortes.

A definição dos dois eixos ocorreu para aargumentação e persuasão de que o conhe-cimento arqueológico construído em Ouroesteteve bases científicas, isto porque, como vi-mos, os estudantes (e provavelmente seus

pais e irmãos) pouco sabem sobre arqueolo-gia. Para não apresentar os resultados arque-ológicos sem que os mesmos fossem funda-mentados, apresentamos as armações dereferência – a pesquisa em arqueologia –como armações interpretativas. A própriaexposição é um conjunto de armaçõesinterpretativas, fruto das intenções dos seusidealizadores, com as quais o público interage.

Foto 1 – Montagem da cenografia para A Etapa da Escavação

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Seguindo este princípio, e recorrendosempre aos dados coletados com a avalia-ção conceitual, o Eixo 2 –”As descobertas”,foi detalhado de forma padrão nos quatrosubmódulo: “Primeiros Povoadores”, “Caça-dores-Coletores Especializados”, “A Era dasGrandes Aldeias” e “Sociedades Complexas”.A padronização foi: origem, datação, den-sidade demográfica, obtenção de alimentopor caça, pesca, coleta e/ou agricultura; apreparação dos alimentos; o território deocupação e de circulação; aldeia; organi-zação do espaço; organização social, asformas de sepultamento, a tecnologia, usodos artefatos.

Neste eixo, a narrativa foi estruturada apartir de questões do cotidiano dos grupospré-coloniais em paralelo ao cotidiano dopúblico-visitante. Assim, dentre as informa-

ções arqueológicas destacaram-se aquelasque poderiam estabelecer formas de reco-nhecimento e de vínculos entre passado epresente, como: constituição da família edo grupo, alimentação, relação com o terri-tório, a casa na aldeia, a morte e os rituaisde sepultamento, cooperação social – o queposteriormente demonstrou eficácia devidoà forma como estes aspectos foram apro-priados pelo público.

A ação educativa, o subtexto invisívelporque atua essencialmente no planosubliminar, não foi pensada como reforçoou apoio à exposição (minimizando os pro-blemas de linguagem da mesma). Ela vaialém dela sem contradizê-la. Com a açãoeducativa conceitos como êxito cultural,alteridade e identidade, diferença e diver-sidade cultural, cooperação e organização

Foto 2 – Os Primeiros Povoadores

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Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...Marília Xavier Cury

social, (des)(re)territorialização podem serdiscutido com o público, ao mesmo tempoem que se exercita a tolerância e adialógica. Com esse arsenal conceitual oeducador pode trabalhar-se e trabalhar como público na perspectiva de tornarem-se“gourmets” culturais (García Canclini 1999:2), pessoas habilitadas a transitar entreculturas distintas, viajando pelos repertó-rios simbólicos alheios, saboreando as di-ferenças e criando pontos de compreen-são entre culturas. E por quê não?

O partido expográfico22 escolhido paraa exposição foi um “tradicional-moderni-zado”. Tradicional porque apresenta o con-

teúdo l inearmente e as co leçõescontextualizadamente, utilizando-se de vi-trinas e linguagem de apoio convencionais.Há uma relação hierárquica entre artefa-tos arqueológicos e recursos expográficos.Modernizada porque usa materiais moder-nos e contrastantes entre si (metal dasvitrinas com a mangueira das divisórias)e porque recorre à cenografia como solu-ção expográfica para a escavação (até nasquadras delimitadas pela escavação há vi-trinas) e elementos de cenografia paracontextual izar, como reconst i tu içõestridimensionais de cerâmicas, em argila eem escala real, e alimentos como milho,mandioca, angus, beiju, coquinhos; ou ou-tros elementos como pele de animal, pe-ças de madeira, algodão, etc.

O partido também orientou para umaexposição ao mesmo tempo sintética e cheia

(22) Quanto à descrição da expografia, vide Cury2005 e Cury 2005b.

Foto 3 – A Era das Grandes Aldeias

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de detalhes. À primeira vista ela é sintética,com poucos tópicos conceituais, sem acúmulode objetos, textos, etiquetas. Em um segun-do momento os detalhes aparecem, e o queera sintético torna-se detalhado.

Após a inauguração do museu, os mes-mos estudantes que participaram da avalia-ção conceitual foram convidados para visitara exposição e, em seguida, para avaliá-la.Nesta etapa de pesquisa de recepção os da-dos foram coletados por observação, técni-cas de discussão em grupo e por meio deregistros escritos. Os resultados são signifi-cativos para nós profissionais de museus,seja para os museólogos, seja para os ar-queólogos, pois nos permitem rever todo oprocesso a partir de um ângulo diferente: opúblico. Certamente que este ponto privile-giado elucida algo mais sobre a nossa práxis,pois nos faz avaliar as nossas posições e

reformulá-las. Mas o essencial é que essesresultados nos fazem entender que nos fa-zemos sujeitos com outros sujeitos.

Considerações finais

A pesquisa conceitual desenvolvida no con-texto do Museu Água Vermelha foi aqui apre-sentada visando à ampliação da consciênciados profissionais do campo museológico quantoà importância das pesquisas empíricas com opúblico. O estudo em questão trouxe à luz as-pectos que precisariam ser aprofundados pormeio de pesquisas mais amplas e com plane-jamento interdisciplinar para que os interes-ses – arqueológicos e museológicos – sejamcontemplados a contento para a definição depolíticas de ação. Apesar disto, os resultadosobtidos foram relevantes para a concepção da

Foto 4 – Maquete da Grande Aldeia Circular de 1500 anos atrás

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Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...Marília Xavier Cury

Foto 6 – Maquete das Sociedades Complexas de 500 anos atrás

Foto 5 – As Sociedades Complexas

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Abstract: The study presented herein was carried out in 2003 and 2005at the Água Vermelha Museum of Regional Archeology in Ouroeste, amunicipality located in the State of São Paulo, Brazil. The study was thefoundation for a doctoral dissertatin entitled Museological Communication– A Theoretic and Methodological View of Reception defended at the Schoolof Communication and Arts of the University of São Paulo.23

In this paper we will present certain research findings for discussion. Theseare partial findings presented in a succinct manner.The research was theoretically and methodologically based on the areasof museology, communication, and reception. Museology focused mainlyexpology, expography, and education.

Keywords: Archaeological communication. Museological communication.Archaeological exhibition. Heritage education. Museological evaluation.

exposição Ouroeste: 9 Mil Anos de História epara o exercício de linguagem, o que é funda-mental para os museus.

Cabe salientar que a avaliação conceitualé uma face de uma realidade empírica eque associada à avaliação posterior nos per-mitem conhecer a experiência integral dovisitante e a ter uma visão sinérgica doselementos que compõem a exposição e sua

eficácia comunicacional. Ainda, revelam opúbl ico como suje i to dos processosmuseológicos.

Antes de tudo, a pesquisa conceitual nosrevelou que há um universo fora dos mu-seus e de nós mesmos que precisa ser ex-plorado, e que este universo é constitutivoda responsabilidade social reservada aosmuseus e a seus profissionais.

(23) Supervised by Counselor Dr. Maria ImmacolataVassallo de Lopes

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O QUE É ISSO? PARA QUE SERVE?QUEM SÃO VOCÊS? O QUE FAZEM?

UMA EXPERIÊNCIA DE ARQUEOLOGIA PÚBLICA EM PARANÃ – TO*

Leilane P. Lima**Gilberto da Silva Francisco***

Resumo: O objetivo deste artigo é comentar a noção de parceria nodebate sobre a Arqueologia Pública, especificamente na dinâmica escolar.A compreensão do papel da Arqueologia nesse contexto terá como pontode partida a experiência dos autores como professores-arqueólogos naSemana de Arqueologia, realizada no município de Paranã – estado doTocantins, evento relacionado a atividade de pesquisas arqueológicas numaregião de impacto ambiental, dada a construção de um empreendimentohidrelétrico no médio vale do rio Tocantins.

Palavras-chave: Identidade, Arqueologia Pública, Educação Patrimonial,Patrimônio, Parceria.

“(...) Fiquei pensando, e comecei a descreverTudo, tudo de valor que o Brasil me deuO céu azul, um Pão-de-açúcar sem fareloUm pano verde e amarelo, tudo isso é meu!Tem feriado que pra mim vale fortuna,A Retirada de Laguna, vale um cabedalTem Pernambuco, tem São Paulo, tem BahiaUm conjunto de harmonia que não tem rival.”

(Trecho da música Recenseamento, deAssis Valente)

Por conta do recenseamento de 1940,conta Carmem Miranda (a intérprete da mú-sica de Assis Valente), que um censor bas-tante autoritário bate à porta de um lar hu-milde e começa a esmiuçar a vida de umabrasileira, que, em desconforto, prefere lem-brar das coisas “de valor que o [seu] Brasil[lhe] deu”. Assim, frente à pergunta: - quemé você? (bastante peculiar dos objetivos deum censo), além de falar de si mesma, comoindivíduo, também responde a partir de suainserção num grupo, numa generalidade, nasua nação. O cadinho de referências é varia-

(*) Este trabalho foi desenvolvido como parte inte-grante do “Programa de Pesquisa e Resgate doPatrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do AHEPeixe-Angical, estado do Tocantins”, desenvolvidodesde 1998 pela empresa DOCUMENTO Antropolo-gia e Arqueologia. A coordenação do Programa é dosProfs. Drs. Erika M. Robrahn-González e Paulo DeBlasis, contando com o apoio institucional do Núcleo

de Estudos Estratégicos/ UNICAMP e da FundaçãoCultural de Jacarey. A obra é de responsabilidade daempresa ENERPEIXE S/A.(**) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universida-de de São Paulo [email protected](***) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universi-dade de São Paulo [email protected]

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

do: riquezas naturais, símbolos nacionais,feriados (a memória de alguns eventos his-tóricos selecionados), e a própria idéia deharmonia interestadual (clara idealização: é sólembrarmos que pouco antes de 1940, a pre-sença do pernambucano João Alberto comointerventor de São Paulo (1930-1931), nome-ado por Getúlio Vargas, causou imenso des-conforto na elite paulista, havendo inclusiveum surto preconceituoso contra nordestinos).

Apesar de ser uma música datada (porexemplo, o IBGE [Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística] procura não empreen-der um censo tão autoritário), algumas dasreferências peculiares desse “sambaexaltação” poderiam vir à mente de qualquerum, quando perguntado “- o que o definecomo brasileiro?”. Assim, quais são as coi-sas que consideramos realmente importan-tes, aquelas que caracterizam parte do quesomos, e nossa inserção em certo grupo? Écerto que essas referências são inúmeras, eque a constituição desse grupo de coisas “queconsideramos nossas” não tem uma consti-tuição natural; ou seja, existem processos(por vezes de longa duração, retomando ter-mos braudelianos (Braudel, 1986), ou entãode recentíssima criação, “tradições inventa-das”, conforme Eric Hobsbawn, 1997) cons-tituídos a partir de interesses múltiplos (de-terminados anseios de grupos sociais,autoconsciência grupal, extensão do projetode um grupo a outro, através de práticas dedominação etc.). Ainda, essa sensibilidadequase “natural” das pessoas frente a um sím-bolo, ação etc. com que se identifica, forja-se, geralmente, num processo longo de edu-cação, que está também ligado à ação esco-lar (ensino público ou privado), mas não so-mente a ele: a educação é um processo bas-tante amplo, sendo agregado em situaçõesfamiliares, acesso às informações através demídias diversas, dentre outros. Nesse qua-dro, qual o papel da Arqueologia?

É importante saber, de início, que a idéiaque se tem sobre a Arqueologia, no sensocomum, caminha entre um desconhecimentoquase absoluto da disciplina (do que trata aArqueologia? Nunca ouvi falar!...) e uma vi-

são idealizada do arqueólogo (Indiana Jones,Tomb Raider etc.), bem como do objeto ar-queológico (algo como uma relíquia, valiosomaterialmente e por suas características his-tóricas). Tratar de Arqueologia fora de algunscentros especializados geralmente parte deuma situação de amplo desconhecimento dopúblico leigo, entretanto, há um certo inte-resse. Por ocasião da comemoração dos 500anos do Brasil, a grande exposição noIbirapuera (Mostra do Redescobrimento. Bra-sil+500) apresentava, no conjunto das inúme-ras peças, a famosa carta de Pero Vaz deCaminha, e a procura por tal documento eraespecialmente grande. O acesso ao seu con-teúdo é simples (qualquer busca na Internet,por exemplo, satisfaria tal necessidade);1 masera imperativo para muitos ver com os pró-prios olhos, mesmo que a grafia de tal cartanão fosse legível para a maioria (ver figura1), sendo necessário competência para leitu-ra paleográfica, o que a maioria dos visitan-tes não possuía. O que mais interessava eraver a carta em si, a carta-objeto; e, para sa-nar o problema de conteúdo, a organizaçãoda exposição criou uma cabine com recitaçãoda carta feita pelo ator Paulo Autran. Essepequeno exemplo indica a importância do feti-che que pode incidir sobre o objeto material.

Os materiais arqueológicos apresentamuma certa eloqüência, que contribui grande-mente para um interesse inicial. Ou seja,parece, ao olho leigo, que o objeto materialé auto-explicativo; assim, se os problemasde interpretação no seio da Arqueologia sãocomplexos e variados, a dimensão física doobjeto convida o leigo, e esse interesse podetornar-se uma posterior reflexão maisaprofundada (as múltiplas ações relaciona-

(1) Em uma rápida busca na Internet, no sitewww.google.com.br (em fevereiro de 2006), a en-trada “Carta” e “Caminha” proporcionou a indicaçãode 342.000 páginas disponíveis na Web, 321.000 emportuguês e 198.000 páginas brasileiras. Levando-se em conta que nem todas apresentam o texto par-cial ou integralmente, o número, mesmo com isso, ébastante expressivo. Quanto à busca de imagensvisuais, no mesmo site, disponibilizavam-se 175 páginas

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O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco

das à Arqueologia Pública são essenciais nes-se sentido, pois podem contribuir para umabandono da fetichização...).

Como visto, contra um desconhecimen-to grande sobre a Arqueologia (a disciplinae a prática), há uma atenção preliminar dopúblico leigo, interesse de que o arqueólo-go voltado às práticas públicas deve lançarmão. Porém, esse é apenas um primeiropasso, e não se deve converter esse inte-resse em toda idéia de Arqueologia Públi-ca; já que muitas vezes esse cenário estru-tura-se em torno de uma Arqueologia fan-tástica, o que destoa freqüentemente daspropostas e materiais apresentados: quan-do as expectativas residem em materiais demetais preciosos, monumentais, e se apre-sentam apenas poucos fragmentos de ce-râmica, ou líticos pouco trabalhados.

1. Arqueologia Pública e patrimônio: al-guns pressupostos teóricos

Entre as inúmeras transformações queocorreram relacionadas à Arqueologia prati-cada no Brasil, especialmente nas últimasdécadas, podemos citar um maior engajamentopolítico por parte dos arqueólogos. Nas pa-lavras de Funari (2005: 5)

(...) os aspectos públicos, de interaçãoe ação conjunta com as comunidades,tanto locais, como regionais, nacionais etransnacionais, passaram a representarparcela crescente e cada vez mais signi-ficativa da prática e teoria arqueológica.

Somado a esse engajamento político, aaprovação das leis brasileiras de proteção dopatrimônio arqueológico,2 no âmbito federal,estadual e municipal,3 contribuiu para a mul-tiplicação dos trabalhos de campo ligados alicenciamentos ambientais (Funari, 2005: 6);sendo seguidas essas atividades, em algunscasos, por ações de cunho público. A Arqueo-

Fig. 1. Detalhe da Carta de Pero Vaz de Cami-nha, 1500. Torre do Tombo, Portugal.

(2) As publicações sobre o tema Arqueologia Pública e

relacionadas utilizam o termo patrimônio com conotaçõesvariadas, o que deve ser brevemente esclarecido. Há,então, a utilização de termos como “patrimônio público”,“patrimônio cultural” e “patrimônio arqueológico”, ou mes-mo o termo patrimônio isolado. Os complementos públicoe cultural, por vezes guardam certa equivalência, mas oprimeiro é mais abrangente; ou seja, o patrimônio públi-co não se restringe ao patrimônio cultural, é mais amplo.O mais específico deles é o termo “patrimônio arqueológi-co”, que se insere nos outros. Assim, o patrimônio arque-ológico é também patrimônio cultural e público.(3) Destacam-se, nesse sentido: 1) A Lei nº 3.924, de26/07/1961, que proíbe a destruição ou mutilação paraqualquer fim, da totalidade ou parte das jazidas arqueo-lógicas, o que é considerado crime contra o patrimônionacional; 2) A Constituição Federal de 1988 (artigo 225,parágrafo IV), que considera os sítios arqueológicos comopatrimônio cultural brasileiro, garantindo sua guarda eproteção, de acordo com o que estabelce o artigo 216;3) A Portaria SPHAN/MinC 07, de 01/12/1988,quenormatiza e legaliza as ações de intervenção junto aopatrimônio arqueológico nacional; 4) Portaria IPHAN/MinCnº 230, de 17/12/2002, que define o escopo dos estu-dos arqueológicos a serem desenvolvidos nas diferentesfases de licenceamento ambiental (Fonte: Material ofe-recido por Documento Antropologia e Arqueologia).

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

logia Pública, segundo Ascherson (1999, ApudFunari, Oliveira & Tamanini, 2005: 106),

é compreendida (...) como todos osaspectos públicos da Arqueologia, inclu-indo tópicos como políticas arqueológicas,educação, política, religião, etnicidade,envolvimento público em Arqueologia.

A Arqueologia Pública tende, geralmen-te, a estabelecer diálogos com áreas pa-ralelas como a Museologia, de onde sur-gem questões estritamente ligadas aopatrimônio e conscientização do leigo. Po-demos definir patrimônio como o conjuntodos bens identificados pelo homem, a par-tir de suas relações com outros homens ecom o meio ambiente e a própria interpre-tação que ele faz dessas relações (Bruno,2002: 89, Apud Bessegato, 2004: 33). Alémdisso, conforme Oosterbeek (2005: 97), oconceito de patrimônio cultural nos reme-te ao de propriedade, algo a que atribuí-mos um valor e estabelecemos uma rela-ção de apropriação.

Os bens culturais, num sentido amplo,são os testemunhos da cultura humana e domeio no qual construímos nossa identidadeindividual e (ou) coletiva através da memó-ria. Caldeira (2006: s. p.) revela que desdeos tempos mais remotos existe a preocupa-ção em preservar os bens culturais. Especi-almente no período pós 2ª Guerra Mundial,vários setores das sociedades ocidentais pas-saram a enfatizar a importância dos bensculturais e a sua proteção tornou-se um di-reito e um dever de todos (Idem). Assim,várias associações foram criadas visando dis-cutir políticas de defesa e conservação pre-ventiva de bens culturais. Elas promoverama criação regulamentar de diversas estraté-gias de restauro, conservação e proteção dopatrimônio cultural.4

Essa correspondência entre a idéia depatrimônio (seleção) e conservação (perma-nência) é presente inclusive na acepção dedicionário: segundo o Dicionário Houaiss dalíngua portuguesa, patrimônio define-se, tam-bém, como

bem ou conjunto de bens naturaisou culturais de importância reconheci-da num determinado lugar, região, paísou mesmo para a humanidade, quepassa(m) por um processo de tomba-mento para que seja(m) protegido(s) epreservado(s).

O ato de identificar e selecionar o que érelevante para a memória de uma comuni-dade local, de um estado ou de um país geraproblemas. Por exemplo, a instituição mu-seu, enquanto lugar de preservação e ges-tão de vários desses bens culturais, muitasvezes está exposto ao jogo de interessespolíticos. Assim,

Devemos considerar a existência deuma intenção inicial que se traduz em“razão para preservar”, a qual muitasvezes se configura na criação de um es-paço-museu. (...) Quando o Museu é ide-alizado de acordo com interesses ideo-lógicos pela classe que ocupa o poder enele procura manter-se, a instituição fa-talmente funcionará como símbolo de for-ça. (Almeida, 2005: 91)

E é nesse contexto que a ArqueologiaPública pode exercer um papel importantenos processos de resgate da memória, re-conhecimento e valorização do patrimônio,pois a cultura material, ou seja, o que pode-rá tornar-se patrimônio arqueológico de umadeterminada comunidade, pode ser tomadacomo elemento de memória que permite acontribuição na construção de uma identida-de local/regional. Nas palavras de Bruno(1996, Apud Almeida 2005: 67), “os indica-dores/vestígios das sociedades quecorrespondem ao interesse de estudo da Cul-tura Material são, também, elementos daherança patrimonial, tratados e comunica-dos pela Museologia”.

(4) Destacam-se, dessa forma, esforços como a Cartade Atenas (1931), Carta de Veneza (1964) e CartaItaliana (1987), que visavam um debate e organizaçãointernacional de um corpus regulamentar para a áreade conservação e restauro (ver Caldeira, op. cit.).

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A Arqueologia busca compreender associedades humanas através da culturamaterial, e é a partir do resgate dessesobjetos pretéritos para o presente que oMuseu recebe a atribuição de preservá-losdando-lhes um novo significado (Almeida,2005: 95). Em outras palavras, cabe à Ar-queologia e à Museologia a transmissão dovalor público do patrimônio arqueológico.Entretanto, vale dizer, uma Arqueologia eMuseologia como vocações públicas; ouseja, buscando intensos diálogos (numaacepção ampla do termo) com as comuni-dades envolvidas nos processos lideradospor essas áreas. Neste ponto, reforça-se aimportância da educação patrimonial, porexemplo, no seio escolar. Isso, dado o pa-pel agregador, socialmente falando, que asescolas têm: são espaços de ampla e vari-ada circulação (alunos, professores e ou-tros funcionários, pais, palestrantes etc.),havendo também a organização e experi-ência de alguns grupos como grêmios es-tudantis, associação de pais e mestres,entre outros.

As atividades relacionadas à ação deArqueologia Pública no espaço escolar sãogeralmente resultado de projetos de im-plantação de grandes construções, e, dadoo grande impacto ambiental, é, nessas re-giões que ocorrem eventos educativos li-gados à consc ient ização quanto aopatrimônio arqueológico. Segundo Bessegato(2004: 34)

(...) cabe à Educação Patrimonial seruma atividade paralela, mas, ao mesmotempo autônoma e interligada aos Pro-jetos de Salvamento Arqueológico,efetuados na região atingida pelo em-preendimento destas Empresas ou Com-panhia de energia hidrelétrica.

Mas, especialmente quando tratamos darelação entre Arqueologia e educação,deparamo-nos com algumas questões pecu-liares: por ser um tema que não é tratadodiretamente em sala de aula (quando muito,um livro didático apresenta a pré-história doBrasil, ou monumentos gregos e romanos,

de forma ilustrativa e sem reflexões propos-tas a partir deles).5

Nesse contexto, torna-se bastante impor-tante a interação entre Arqueologia, educa-ção patrimonial e musealização. SegundoBessegato e Milder (2005: 85), “a temáticado patrimônio é hoje uma das mais prolíferase profícuas da nossa contemporaneidade, epor isso mesmo, essencial para levarmos opatrimônio para as salas de aula”. Na mes-ma medida, a Museologia ganha força, sen-do o museu deixado de ser tratado apenascomo guardião móvel, para ser visto comomeio de transmissão do patrimônio. Nas pa-lavras de Almeida (2005: 40)

Se a comunidade que vive num es-paço/território tem oportunidade de re-conhecer seu passado enquanto heran-ça e vislumbrar sua vivência social e his-tórica nas transformações infringidas aomeio ambiente, seja ele rural ou urba-no, a questão da eleição sobre o que seriasignificativo ou não, em termos de pre-servação da memória e patrimônio, ouseja, a escolha daquilo que se pretendedeixar para as novas gerações, penetraautomaticamente no campo das ciênci-as dos museus. Não se pode falar deidentidade sem tratar dos processos demusealização.

Essas ações educativas não devem ape-nas oferecer um discurso pronto aos alu-

(5) As escolas brasileiras têm como obrigação criarplanos pedagógicos que seguem orientações gerais,mas também respondem às realidades locais do pú-blico aprendizando, conforme algumas tendênciasmais ou menos recentes sobre pedagogia. A questãoé que as matérias clássicas como História, Matemáti-ca, Geografia, Português, entre outras, são discuti-das nos vários níveis (municipal, estadual e federal),e existe já uma experiência grande (teórica e práti-ca) na execução das ações curriculares com relaçãoa elas. No caso da Arqueologia na escola, a situaçãoé bastante diferente. Como visto, a ampliação de uminteresse de comunicação entre especialistas e públi-co leigo é relativamente recente, e as práticas peda-gógicas com relação ao ensino sobre Arqueologia ain-da estão sendo discutidas, em estágio inicial.

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nos, faz-se necessário que os professores-arqueólogos, na senda de uma “pedagogiaarqueológica”,6 tenham em vista tambéma experiência do aprendizando. Assim, opapel do professor-arqueólogo é o defacilitador. Nas palavras de Bessegatto(2004: 30), “o professor tem a função deajudar o aluno a se organizar, sensibilizan-do-o de forma que seus sentimentos pos-sam ser expressos”. Ass im, aconscientização sobre o patrimônio arque-ológico é, muitas vezes, tarefa de grandedificuldade; mas não apenas por causadesse conhecimento frágil e fragmentário,7

mas também, em vário casos, por umdescompasso de linguagem entre o profes-sor-arqueólogo e o público leigo. Para sa-nar tal problema não é necessário tornar-se simplista nas explicações e propostas,mas trazer o outro, inseri-lo nas questõesarqueológicas, às vezes abrindo mão de ter-mos complicados: a saída pode ser lidarcom conteúdos com os quais eles já têmalguma experiência.

2. Uma Semana de Arqueologia emParanã – Tocantins

As pesquisas arqueológicas na regiãode Paranã8 inserem-se num quadro regio-nal mais amplo (AHE [Aproveitamento Hi-drelétrico] Peixe Angical), relacionadas àsatividades de salvamento arqueológico, pre-cedente à obra de construção de um gran-

de reservatório hidráulico, em parte docurso do Rio Tocantins e do Rio Paranã (verfig. 2). Além de Paranã, os municípios dePeixe, São Salvador e Palmeirópolis estãoinseridos na zona de intervenção (e, por-tanto, de pesquisas arqueológicas prece-dentes). Nestes municípios haviam sidoigualmente ministradas “Semanas de Ar-queologia”, sendo em Paraná, tratada nopresente artigo, a última delas.

Essa Semana de Arqueologia ocorreude 07 a 12 de novembro de 2005, e a mai-or parte dos eventos (palestras e ativida-des relacionadas) circunscreveu-se àsquatro escolas públicas existentes na ci-dade: E. M. Floracy Bonfim Pereira de Ara-újo; E. E. Euclides Bezerra Gerais; C. E.Des. V i rg í l io de Melo Franco; E. M.Soldadinho de Jesus. As atividades envol-veram mais de 5.000 alunos inscritos nasescolas.

O público era bastante variado, com-posto por alunos desde o ensino funda-mental até adultos em situação de alfa-betização; e de diferentes grupos sociais.Dessa forma, não poderia haver, por par-te do palestrante, uma entonação única,mecânica, dada a var iedade dosinterlocutores.

O conteúdo das aulas era bastante am-plo: uma introdução à Arqueologia, suasdivisões (Arqueologia histórica e pré-his-tórica), suas fontes etc.; temas apresen-tados tanto de forma generalista, como es-pecífica (retomando as pesquisas arque-

(6) O termo “pedagogia arqueológica” pode pare-cer estranho e mesmo equivocado. Entretanto,existem esforços, ainda bastante iniciais, que indi-cam para uma proposta com fins educativos, base-ando-se, inclusive, em literatura peculiar da dis-cussão pedagógica. Não se trata, assim, de umcorpus sistemático ou organizado de procedimen-tos, mas de algo que é perceptível, projeta-se emdiscussões recentes (Ver Bessegato, 2004 eBessegato & Milder, 2005).(7) Um dos autores deste artigo, por exemplo, aocomentar com pessoas de níveis de escolaridade di-

ferentes (ensino básico e pós-graduação) que estu-da Arqueologia, foi questionado da seguinte forma:“- você estuda para cavar chão?”, e também, “-vocÊganha para fazer isso?”.(8) Alguns dados sobre a população de Paraná, se-gundo o IBGE, a partir do site www.ibge.gov.br etambém a seção IBGE – Cidade@: A população esti-mada é de 10.071 pessoas (número de 01.07.2005).As matrículas executadas no ano de 2004 foram asseguintes: Ensino fundamental, 2.595 pessoas e En-sino médio, 224 pessoas.

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Arqueologia da morte; Arqueologia his-tórica.

- Segundo dia – O trabalho do ar-queólogo: As escavações; Estudos de la-boratório; Quando foi? (as datações);Arqueologia Pública.

- Terceiro dia – O patrimônio arque-ológico do AHE Peixe Angical. Objetivosdo projeto e dados gerais: Como se dá apesquisa arqueológica na região; Umpouco da pré-história do Tocantins; A Erada diversificação: grupos caçadores-co-letores mais recentes (9000 a 3000anos); Sociedades cultivadoras (3000 a1500 anos); Agricultores de grandes al-deias (1300 anos até a época atual).

- Quarto dia – História: Patrimôniohistórico e cultural. Como se dá a pes-quisa; A história do Tocantins... NossaHistória (séc. XVIII-XX).

- Quinto dia – Patrimônio históricoedificado: Técnicas construtivas; Cons-truções rurais; Construções urbanas;Conjuntos arquitetônicos.

Freqüentemente, o reconhecimento ime-diato acontecia quando tratadas as referên-cias de Arqueologia histórica, sobretudo notocante à arquitetura da cidade. Ao comen-tarmos aspectos da arquitetura local, mos-

trando a imagem da Igreja da Matriz (verfig. 3), tal situação era amplamente obser-vada. Ainda, não era difícil encontrar quemreconhecesse a própria casa, de parentes ouvizinhos dentre as imagens apresentadas.Nesse sentido, havia intensas trocas de in-formações, por exemplo, muitos dosaprendizandos conheciam bem algumas dastécnicas construtivas tratadas, como as ca-sas de palha de Buriti, de adobe etc. Numadessas aulas, um aluno chegou a explicar comdetalhes, a todos, como se construía umacasa de pau a pique.

Entretanto, essa identificação não serestringiu apenas às referências de Arqueo-logia histórica. Por exemplo, comentar algu-mas técnicas da produção ceramista de po-pulações indígenas antigas também ensejavalapsos de comunicação entre tempos bas-tante remotos (técnicas bastante antigas eainda utilizadas recentemente).

Tal conteúdo, previamente estipulado,não era extremamente fixo, e o retorno dopúblico aprendizando poderia propor diferen-tes encaminhamentos. Por exemplo, a algu-mas questões muito específicas da Arqueo-logia, como a estratigrafia, abriu-se um diá-logo sobre o passar do tempo, as intempéri-es, a ação do homem e sua interferênciasobre o solo. Ainda, contra um juízo simplistasobre a indústria lítica, a própria variedadede formas e usos do talhes que qualquer um

Fig. 3. Vista panorâmica da Igreja da Matriz, Paranã.

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tinha em casa, serviu como parâmetro com-parativo.

A duração das aulas introdutórias erade aproximadamente quarenta e cinco mi-nutos, dependendo da interação entre osprofessores-arqueólogos e público escolar(incluindo professores e outros funcionári-os da escola, que também participavam);e, após isso, eram empreendidas outrasatividades que visavam compreender qualo impacto do que foi discutido antes. Clara-mente, dadas as variações etárias, as ativi-dades eram pensadas levando em contaesses recortes: os mais jovens poderiamcriar desenhos baseados na sua experiên-cia (ver fig. 4), e, aos maiores, era propos-ta a criação de redações, poesias, repentesetc. Nesse caso específico, interessante foio fato do distanciamento na questão datemporalidade, pois, numa dessas ativida-des, quando deveriam preencher a frase“para mim, a Arqueologia é...”, as lacunasforam completadas repetitivamente comtermos como passado, velho, antigo/anti-guidade, antepassado, pré-história/história(numa acepção passadista), ruínas, mortos/morte. Entretanto, a interação passado-pre-sente (que está no cerne da questãopatrimonial) e que buscávamos em váriosmomentos resgatar, também foi notada; écerto, por uma parte menos expressiva dosaprendizandos. Uma das atividades recebeuatenção especial das crianças, jovens e, ao

contrário das nossas expectativas, de adul-tos: era uma simulação de escavação (pre-viamente montada pela equipe de profes-sores arqueólogos) – ver fig. 5.

A Semana de Arqueologia não se res-tringiu ao espaço das escolas, havendo, nosúltimos dias, algumas apresentações de gru-pos de seresta, mostra de trabalho dos alu-nos, a outras apresentações da comunidadecomo as danças tradicionais da Pastorinha,Suscia, oração do Imperador e Folia. Taiseventos paralelos no seio da Semana de Ar-queologia, se parecem destoar do conteúdoarqueologicamente orientado, no que tangeà idéia de conscientização patrimonial, fo-

Fig. 5. “Tivemos nosso dia de arqueólogos!” (Lamyara Macedo – 6ª A, Escola Virgílio de MeloFranco). A experiência da escavação: uma das atividades mais apreciadas pelos alunos.

Fig. 4. Alunos da 1ª a 3ª série do Ensino Fun-damental da escola Floracy Bonfim Pereira deAraújo; em pintura mural, uma das atividadesposteriores às aulas de arqueologia.

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ram bastante positivo. Destaca-se, nessesentido, o grande evento que findava a Se-mana de Arqueologia na cidade, sediado numlocal de grande agregação social: trata-seda Feira Coberta de Paranã, local onde ocor-rem vários eventos da cidade, e há, ao seulado, um pequeno comércio bastante fre-qüentado. Ali, foram expostas as atividadesproduzidas durante a semana pelos alunos,num evento que conclamava toda a cidade.Foi nesse local, de reconhecimento fácil egrande circulação, entre as manifestaçõesculturais que todos bem conheciam, insta-lou-se a reflexão produzida sobre a cidadeno tocante à arqueologia e ao patrimônio.Foi, no seio de manifestações tradicionaismescladas àquele conhecimento recente-mente adquirido, que se encerrou a Semanade Arqueologia de Paranã.

3. A idéia de parceria na ArqueologiaPública

Há dois atores que devemos caracteri-zar nessa idéia de parceria, atores bem di-ferentes, cabe dizer, mas cuja união podeser bastante fecunda, se efetivamentedialética, quando inseridos no quadro da Ar-queologia Pública, sobretudo na dinâmica deuma pedagogia arqueológica. Os atores sãoos seguintes: de um lado o profissional (oarqueólogo) e do outro o que se denominageralmente como “leigo”. Há que se saberque, diferente de qualquer acepção pejora-tiva do termo, o leigo pode estar no plano dointerlocutor altamente intelectualizado, inclu-sive na tradição acadêmica, ou aquele com-pletamente distante dela: o leigo é apenasaquele que não conhece bem a Arqueologia,seus processos científicos, jargões específi-cos etc.

A aparente apresentação opositiva nãoé casual. Acreditamos que haja mesmo umdistanciamento que deve ser sanado, atra-vés de uma aproximação que não seja base-ada em práticas unidirecionais (o que só con-firmaria tal oposição). Nesse sentido, a Ar-queologia, apresentada no seio escolar, ou

seja, em contornos pedagógicos, é bastanteviável, e é neste ponto que a experiência emParanã, como professores-arqueólogos,deve ser retomada.

É importante lembrar que os dois atoresencontraram novidades: um, pois lhe seráapresentado algo novo, que conhece poucoou desconhece completamente; e ao outro,pois a escola elementar é um espaço dife-rente, com dinâmicas novas, a que o pesqui-sador tem que se adaptar em parte. O públi-co é diverso daquele com que ele está acos-tumado a dialogar, e os objetivos de tal co-municação também são diversos. O dito pro-fessor-arqueólogo não é aquele que se rela-ciona cotidianamente com essa dinâmicaesco lar, e le aparece em s i tuaçõesfreqüentemente de exceção, ao contrário dosprofessores de História, Português, Matemá-tica etc., matérias cujos docentes não sãonecessariamente pesquisadores, e mesmoque sejam, eles devem seguir, pelo menosem parte, um projeto, um plano de ensino(pedagógico), discutido no seio da escola,conselho tutelar, comunidade etc. O profes-sor-arqueólogo chega no contexto escolarcom algo definido por ele e (ou) por umaequipe que integra, o conteúdo não é discu-tido no seio escolar e comunitário.

Em Paranã, o caráter de exceção carac-terístico dessa inserção do arqueólogo noseio escolar foi amplamente observado. Emprimeiro lugar, a chegada de um grupo deestranhos provocou certa ansiedade na ci-dade, e questões como as do título desteartigo surgiam. Iniciadas as atividades, asaulas apresentadas contavam com aparelha-gem de reprojeção digital e microfones - verfig. 6; o que era bastante diferente dos re-cursos que as escolas possuíam. Ainda, houvecerta reestruturação das salas, e em algunscasos até a remoção para outro espaço (aFeira Coberta de Paranã), que acolhia me-lhor a aparelhagem e as grandes turmas dealunos.

Toda essa reorganização promovia a in-serção de um pessoal (os professores-arque-ólogos) e conteúdos novos nas escolas. Mas,dadas as condições climáticas (a cidade é

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bastante quente em novembro), episodicamentea aparelhagem falhou, e uma comunicaçãomais próxima da dinâmica cotidiana da es-cola restabeleceu-se (na falta de aparelhos,restavam as lousas e gizes).

Tal esforço servia, claramente, a umaconscientização (em alguns casos até pri-mária) sobre o patrimônio arqueológico. En-tretanto, como romper as barreiras daconscientização primária (essa passo fun-damental, mas inicial) e alcançar a partici-pação no processo seletivo, muitas vezesrestrito aos profissionais relacionados à Ar-queologia e ao museu?

As decisões do arqueólogo, a partir depressupostos científicos, freqüentemente pro-põem seleções de artefatos, construçõesarquiteturais etc., cuja conservação será fei-ta.9 Há, dessa forma, uma intervenção gran-de no quadro das referências das coisas aserem guardadas, conservadas e lembradas.São comuns as permanências de objetosarqueológicos dentro de instituições acadê-micas como museus universitários, ou mes-mo em outros casos, em museus históricose de arte.

O estatuto do objeto no museu é diversodaquele no contexto que foi criado e utiliza-do de forma primária, e mesmo do “abando-no”, sanado pela ação arqueológica. Distan-te da dinâmica do museu universitário, a pró-pria discussão artística do século XX indica-va para um debate do papel de determina-dos objetos num museu, e da variação deseu estatuto em contextos diferentes. Lem-bremos aqui da pilha de caixas de suco detomate Campbell, criada por Andy Warhol(1969), e do miquitório (intitulado LaFontaine) assinado por Mutt (1917), heterônimode Marcel Duchamp (ver figs. 7 e 8). Ora,seriam os mesmos se estivessem no seu lo-cal de origem (a prateleira de um supermer-cado ou num banheiro público qualquer?). Aresposta passa, efetivamente, pela compre-ensão do estatuto, da constituição de uma“aura” do que está encerrado nas dependên-cias de qualquer museu.

Escolher esses objetos “auráticos”,passa, em parte, pela ação arqueológicadesde seus primórdios, ou seja, já na suaentonação antiquarista, que se caracteriza-va, em muitos casos, por uma forte aproxi-

Fig. 6. Paulinho e Leilane ensinando arqueologia.

(9) A noção de preservação, numa discussão sobre aArqueologia Pública que se pretenda realmente ampla,é variada. Vai desde a preservação material, até tudo oque ela implica ideologicamente. Preservar, nesse sen-tido, significa dar destaque a alguns elementos, visan-do sua continuidade (talvez perenidade); uma sobrevi-vência física, mas também no campo da memória. Fig. 7. A Fonte, Marcel Duchamp, 1917.

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mação com o Estado, quando, desde a épo-ca moderna, este toma a empresa de pre-servação patrimonial para si. Tal situaçãodeu-se freqüentemente contígua a um usono campo da propaganda institucional esta-tal, como no caso da Escandinávia, Suécia,Dinamarca, desde o século XVI. Clark (1985:57) conta algo sobre a criação de um MuseuNacional dinamarquês, que

Incorporando coleções provenientesda Kunstkammer real, e a nomeação deuma comissão régia para salvaguardarmonumentos nacionais estabeleceramum firme vínculo entre o sentimento deidentidade nacional e as relíquias do pas-sado dinamarquês.

Assim, foi no seio da ação acadêmi-ca, freqüentemente endossada pela estatal,que se escolheram e preservaram as coisasque devem ser rememoradas. A idéia deparceria, numa acepção mais ampla; ouseja, desobjetivando o outro (no caso, o pú-blico leigo) parece propor uma mudança nes-sa situação. Uma pedagogia arqueológicaserviria para algo muito além de ensinar oque é importante arqueologicamente falando(o passo inicial), mas de munir o leigo parauma participação efetiva nessas escolhas.

A ação conscientizadora não se devepautar numa situação iluminista de fluxo

Fig. 8. Suco de tomate Campbell, Andy Warhol,1969.

unidirecional de conhecimento; mas ela podeser bastante importante quando se pensa emintegrar o público leigo nas escolhas finaisdo processo de preservação patrimonial.Nesse sentido, as práticas de ArqueologiaPública, sobretudo as de entonação pedagó-gica, têm papel essencial na formação (e nãocondicionamento) do público leigo. O reco-nhecimento dos materiais, da função do ar-queólogo, e do estatuto que esses devemocupar no seio de sua comunidade devemser escolhidos, discutidos e construídos noseio de um diálogo. Diálogo, no sentido maisamplo da palavra, ou seja, uma relaçãodialética, onde há certas interdependências.Os papéis são claramente diferentes, masrelativos.

A prática arqueológica propõe diálo-gos com populações locais, antes mesmo dequalquer proposta de Arqueologia Pública.Destaca-se, nesse quadro, uma linha que vêno outro, no leigo, um parceiro relativamen-te importante na pesquisa arqueológica. Al-guns manuais de Arqueologia indicam a im-portância do diálogo com populações locais,que geralmente guardam na memória histó-rias, e mesmo objetos materiais encontra-dos ao longo de sua existência. Conversarcom eles, então, mostra-se em alguns casosindispensável.10 Entretanto, essa prática estálonge de uma ação arqueológica pública,dado que o relato do outro é usado de formaquase puramente instrumental, e não é pre-visto algum retorno posterior.

Por fim, é devido dizer que uma Arqueo-logia que proponha um verdadeiro diálogocom o outro lado dos muros da academia,quando inserida nos processos educativos,mesmo em caráter de exceção, deve estaratenta às questões feitas pelo outro, se visa

(10) “A informação oral torna-se muito útil, em geral,nos casos em que o arqueólogo está estudando umsítio que foi ocupado em tempos ainda presentes namemória de testemunhas, ou nos casos em que oarqueólogo deseja conhecer a história do sítio apósseu uso pelo povo que originalmente o construiu”.(Orser Jr, 1992: 45)

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tê-lo como parceiro. As perguntas do títuloaparentemente apresentam respostas sim-ples, as quais o arqueólogo tem bastantedesenvoltura para responder. Porém, visan-do reconhecer o outro como parceiro, essasquestões devem sempre ser pensadas deforma relativa, e não com uma objetividadepeculiar do discurso cientificamente basea-do. O arqueólogo, suas interpretações, osmateriais com que trabalha, tudo isso estáinserido num universo amplo de significados,por mais que durante muito tempo tenha-seoptado por ações restritivas.

A Arqueologia é uma área que lidafreqüentemente com questões sobre o pas-sado, e o debate patrimonial insere açõessobre o presente.11 É necessário deixar claroque não é apenas a discussão patrimonialque aproxima a Arqueologia das questões donosso presente. A reflexão teórica sobre adisciplina e sobre sua própria história indicaque a reflexão arqueológica sobre a culturamaterial produzida no passado são interpre-tadas a partir de abordagens teóricas e pro-blemas freqüentemente relacionados aouniverso do pesquisador.

(11) É necessário deixar claro que não é apenas adiscussão patrimonial que aproxima a Arqueologia dasquestões do nosso presente. A reflexão teórica so-bre a disciplina e sobre sua própria história indica quea reflexão arqueológica sobre a cultura material pro-duzida no passado são interpretadas a partir de abor-dagens teóricas e problemas freqüentemente relaci-onados ao universo do pesquisador.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao professor doutor PedroP. A. Funari, pelo interesse, gentil convite parapublicação e sugestões bastante apropria-das; bem como à professora doutora ErikaM. Robrahn-González, pela disposição e in-teresse sobre nossas atividades, desde aSemana de Arqueologia em Paranã, até adisponibilização de informações importantespara a confecção deste artigo. Agradecemostambém as empresas e instituições envolvi-das na organização e execução da Semanade Arqueologia em Paranã (Documento An-tropologia e Arqueologia Ltda., Enerpeixe,Núcleo de Estudos Estratégicos – Arqueolo-gia Pública/Unicamp e Fundação Cultural deJacarehy); e todos os integrantes da equipede professores-arqueólogos (Wagner,Paulinho, Vinícius, Kelly, Silvana e Patrícia).Por fim, cabem agradecimentos ao CNPq, cujoincentivo financeiro é responsável pela per-manência das atividades acadêmicas de umdos autores deste artigo. As idéias aqui ex-postas são de inteira responsabilidade dosautores.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Abstract: The aim of this article is to comment about the partnershipnotion into the Public Archaeology debate, specifically in the classroomdynamic. The comprehension about the archaeology role in this contextwill be based on the authors’ experience as archaeology teachers duringthe Semana de Arqueologia de Paranã - TO (Paranã Archaeology Week -TO), a hands-on related to archaeological research activities in anenvironmental impact zone, where a dam is about to be built.

Keywords: Identity, Public Archaeology, Heritage Education, Heritage,Partnership

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ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE NO MUNICÍPIO DERIBEIRÃO GRANDE, SUL DE SÃO PAULO: AÇÕES EMARQUEOLOGIA PÚBLICA LIGADAS AO PROJETO DE

AMPLIAÇÃO DA MINA CALCÁRIA LIMEIRA.

Erika Marion Robrahn-González*

Resumo: O presente artigo visa analisar o desenvolvimento da Arqueolo-gia Pública enquanto prática e conceituação científica, e apresentar umainiciativa de aplicação que vem sendo desenvolvida junto à comunidadedo município de Ribeirão Grande, localizado na região sul do Estado deSão Paulo, com apoio da Companhia de Cimento Ribeirão Grande.

Palavras-chave: Arqueologia Pública, Ribeirão Grande, Arqueologia de São Paulo

(*) Núcleo de Estudos Estratégicos / [email protected]

Introdução

Todo ser humano é, em algum ponto desua essência, um arqueólogo. Isto significadizer que a Arqueologia existe, em primeirolugar, da necessidade do ser humano emregistrar sua própria história, seja atravésdos documentos escritos, das narrativas oraisou dos diferentes marcos deixados no mun-do que o rodeia, como a construção de tem-plos, o registro de cenas pintadas em pare-des rochosas, a implantação de sinais quedelimitem os territórios ocupados, e assimpor diante. Esses marcos, em especial, sãoproduzidos pelas sociedades humanas paraque sejam reconhecidos tanto pelos própri-os membros de sua sociedade, como tam-bém por outras sociedades, definindo seuuniverso político, econômico, social e cultu-

ral. Nos dias de hoje, não mais nos limita-mos a deixar registros em nosso próprio pla-neta, mas lançamos artefatos ao espaço(como a placa metálica enviada pelos EUAcontendo a figura humana desenhada porLeonardo da Vinci e fórmulas matemáticas).Estamos preparando, portanto, vestígios ar-queológicos para que nossa história possaser lida por cientistas de muito mais além.

Por outro lado, todo ser humano temnecessidade de conhecer sua história,construindo, a partir dela, suas referênci-as de vida. A experiência acumulada pelohomem fornece a sustentação necessáriapara olhar o futuro: seja perpetuando an-tigas formas de vida, seja negando estasformas e construindo novas alternativas dedesenvolvimento.

O ser humano necessita, por fim, com-preender formas de vida muito diferentes dassuas, como foram, por exemplo, as socieda-des da América para os colonizadores euro-peus quando alcançaram nosso continente,no século XV.

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A Arqueologia é, em essência, a buscadesta história de experiências humanas. Mi-lênios antes da Arqueologia se firmar comodisciplina no ocidente membros de diferen-tes sociedades procuravam explicar o pas-sado das mais variadas formas, onde se in-cluem desde os mitos de criação do universoapresentados por grupos indígenas, até es-critos gregos datados em 800 anos a.C. quefazem referência à primeira divisão do pas-sado humano em eras culturais (Idade doOuro, Idade da Prata, Idade do Bronze, Ida-de Heróica e Idade do Ferro).

Estes foram, sem dúvida, os arqueó-logos de seu tempo. De fato, a História daArqueologia é, antes de mais nada, umahistória de idéias e de descobertas, de for-mas de olhar o passado. E cada olhar cons-titui um reflexo ou produto de seu própriotempo. Se no início podemos chamar, comcerta liberdade poética, de “arqueólogo”aquele que registrava cenas de sua cultu-ra em paredes de pedra, hoje chamamosde arqueólogo aquele que se vale de mo-dernos conceitos teóricos, técnicas sofis-ticadas e grandes organizações de traba-lho para explicar, segundo os atuais pre-ceitos da Ciência, o mesmo velho tema: ahistória humana.

Enquanto arqueólogos deste início doséculo XXI, trazemos no currículo pelo me-nos cinco séculos de experiência, contadosdesde os primórdios da disciplina no conti-nente europeu, ainda durante o século XV.Se fôssemos capazes de contabilizar o in-vestimento intelectual e o volume de estu-dos realizados, certamente nos surpreende-ríamos com o resultado: milhares (ou mi-lhões) de trabalhos de campo, de acervospesquisados, de datações adquiridas, de pu-blicações, apresentações em reuniões e con-gressos, debates científicos, exposições emuitos itens mais.

Dos colecionadores de peças exóticas daAntiguidade aos dias atuais, a Arqueologianão foi apenas capaz de acumular um co-nhecimento respeitável sobre o passado hu-mano; discutiu incansavelmente, também,sua responsabilidade ética sobre este pas-

sado, à medida em que apontava novas emais abrangentes perspectivas de abordar odesenvolvimento das sociedades ao longo dotempo.

Como conseqüência e continuidade des-ta dinâmica, mais uma vez a Arqueologia seencontra no divã. Todavia, enquanto ao lon-go de sua história os agentes motivadoresde mudança foram, principalmente, mem-bros de dentro de sua própria comunidadecientífica, desta vez eles vêm de fora e po-dem ser sintetizados em uma única palavra:sociedade.

Este movimento vem sendo internacio-nalmente denominado “Arqueologia Pública”,voltada ao relacionamento entre a pesquisae o manejo de bens culturais com os grupossociais interessados, de forma a promover aparticipação da sociedade na gestão de seupatrimônio arqueológico e histórico.

Essa abordagem prescinde, todavia, deuma profunda mudança de postura com res-peito ao nosso “objeto de estudo” e procedi-mentos de trabalho. Hoje entendemos nãoser mais possível que a Arqueologia conti-nue voltada ao desenvolvimento de um serabstrato chamado “Ciência”, colecionadorinsaciável de novas teorias, novas descober-tas, novas abordagens, novas discussões.Valendo-me de uma imagem da nossa velhaconhecida Teoria de Sistemas, o turning pointda Arqueologia pode ser sintetizado em umaúnica palavra: sociedade.

Temos, assim, uma mudança essencialde foco, onde a Arqueologia deixa de ser umaciência com olhar voltado ao passado paraassumir sua responsabilidade na compreen-são do presente e na promoção do futuro.

O presente trabalho visa apresentar umareflexão sobre o tema, apoiado em uma dis-cussão teórica e conceitual e apresentandouma síntese dos resultados até o momentoabtidos pela pesquisa que vem sendo desen-volvida em parceria com a empresa Compa-nhia de Cimento Ribeirão Grande (CCRG) porconta do licenciamento ambiental do Projetode Ampliação da Mina Limeira, localizada naregião sul de São Paulo, município de Ribei-rão Grande.

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Conceituação

A busca em compreender o passado hu-mano se deu, inicialmente, através de mani-festações oriundas da própria sociedade,como nos exemplificam os mitos de criaçãodo mundo, ou mesmo a atividade quase ins-tintiva de colecionar objetos que remetes-sem e materializassem a própria existênciadeste passado. À medida que a Arqueologiafoi se firmando enquanto disciplina (especi-almente a partir do século XIX), o estudo einterpretação da história humana constituidomínio e atribuição de profissionais cientis-tas, em busca de um “passado objetivo real”.A própria terminologia cada vez mais técni-ca da Arqueologia, em boa parte adquiridaatravés da New Archaeology, já no séculoXX, perpetua a mistificação da disciplina, esua prática pressupõe uma crescente alie-nação junto ao público, fazendo crer quepouco há para ser aprendido com a partici-pação da sociedade nas pesquisas.

Esse distanciamento do arqueólogo jun-to ao público pode ser bem ilustrado por umasituação apresentada em artigo de Shackel(2002:13), em que relata escavações reali-zadas no Parque Nacional Harpers Ferry/EUA,na década de 1970. Na chegada ao local detrabalho possíveis visitantes eram recepcionadospor uma placa contendo os seguintes dizeres:

Yes – we are archaeologists.

Yes – we are doing archaeology.

Please do not disturb us.

Os primeiros arqueólogos a atravessara fronteira entre a audiência científica e aaudiência pública foram duramente critica-dos, incluindo um certo questionamento so-bre a própria sustentação científica de seustrabalhos.

Essa iniciativa se deveu à ArqueologiaPós-processualista que, a partir do início dadécada de 1980, alertava sobre os cuidados

e responsabilidades referentes ao conteúdodas mensagens transmitidas sobre o passa-do, considerando as dimensões sociais epolíticas envolvidas. Isto se aplicava tanto àdivulgação científica quanto à divulgação vol-tada ao público em geral (para uma revisãodo tema vide Moser 2001).

Observou-se assim uma crescente pre-ocupação, no cenário internacional, com osaspectos públicos da Arqueologia, entendi-dos como as questões de planejamento eco-nômico, ações sociais e políticas envolvidasna prática da disciplina. Com a fundação daWAC (World Archaeological Congress) em1986, a Arqueologia tem tratado de formamais sistemática o relacionamento entre apesquisa e manejo de bens culturais e osgrupos sociais interessados. O surgimento daprimeira publicação periódica sobre o tema,Public Archaeology (Londres, James &James), em 2000, assinala o amadurecimen-to das discussões estratégicas sobre o cará-ter público da disciplina e sua importânciasocial.

Em vários outros países do mundo, in-cluindo o Brasil, a Arqueologia deixou pormuito tempo para uma equipe de não-arque-ólogos (incluindo caçadores de tesouros,amadores, saqueadores e romancistas) amissão de propagar suas descobertas e in-terpretações, não raro de modo distorcido.Nos últimos anos, todavia, os arqueólogoscomeçaram a introduzir em sua rotina de tra-balho diferentes ações referentes à agendaem Arqueologia Pública, como educação,integração com a comunidade e proteção/preservação de sítios arqueológicos.

Inicialmente as ações em ArqueologiaPública estiveram mais voltadas à proteçãoe preservação do patrimônio arqueológico,haja visto que os profissionais se depararamcom um ritmo cada vez mais acelerado dedegradação e destruição deste patrimônio.A perda de patrimônio cultural é comparávelà extinção de espécies vegetais ou animais:é para sempre. A manutenção dos vestígiosdo passado (sejam eles artefatos, sítios ar-queológicos, paisagens ou qualquer tipo deestrutura) constitui elemento fundamental

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para continuar havendo uma ligação tangí-vel com o passado, elemento crítico de todavida social. Assim sendo, independente decomo o passado é estruturado, compreendê-lo e proteger seus símbolos constitui parteintegrante da experiência coletiva humana –e da classe arqueológica em particular (Smith& Ehrenhard 2002:121).

Mas rapidamente os arqueólogos perce-beram que necessitavam reconhecer nãosomente sua responsabilidade sobre os ves-tígios arqueológicos, mas igualmente sobreas pessoas cuja herança histórica e culturalse relacionava a estes vestígios (Little2002:10). Um dos benefícios públicos da Ar-queologia está justamente em contribuir parao fortalecimento dos vínculos existentes en-tre a comunidade e seu passado, ampliandoo interesse da sociedade sobre o patrimônioe criando, assim, a sustentação necessáriaàs medidas de preservação.

Nessa empreitada devemos explorar ogrande interesse e fascínio que a Arqueolo-gia desperta nas pessoas, por conta de seuperfil de descobertas e da busca pelo passa-do. De fato, a Arqueologia parece constituira segunda profissão de mais da metade dapopulação. Freqüentemente nos deparamoscom frases como “se eu não fosse engenhei-ro (ou médico, ou professor, ou qualqueroutra profissão), seria arqueólogo”.

A relação que a Arqueologia estabelececom as diferentes áreas de conhecimento -uma vez que é uma ciência verdadeiramen-te interdisciplinar, fruto da somatória de cadadisciplina científica e humanista – é mais umdos fatores que faz com que muitas pessoasse sintam próximas a ela. Isto se aplica, porexemplo, ao caso da estabilidade e mudan-ça ambiental: através do conhecimento dasucessão de experiências humanas ocorri-das sobre um ecossistema, é possível refle-tir sobre alternativas de gestão e manejo,trazendo uma visão mais global e tangívelao tema (Little 2002: 9; De Vries 2003).

Podemos citar ainda como fator de apro-ximação entre a Arqueologia e o público emgeral o crescente interesse e uso detecnologia no mundo moderno. A Arqueolo-

gia não só utiliza uma série de tecnologiasnas pesquisas, onde se incluem as dataçõesradiocarbônicas, sensoriamento remoto, aná-lises químicas, entre outros (McManamon2000:13), assuntos que despertam grandeinteresse do público em geral, e do estudan-til em particular – como por intermédio deseus estudos é possível conhecer o desen-volvimento tecnológico desde a pré-históriaaté os dias atuais e outros aspectos do de-senvolvimento humano, como a agriculturae a metalurgia.

Fatores como os acima mencionados le-vam muitas pessoas a considerar a Arqueo-logia importante, estando, na maior parte dasvezes, interessadas em aprender sobre ela.Acreditam que seu estudo traz ferramentasimportantes também para entender o mun-do moderno, ressaltando seu valor educativo,artístico, estético e até espiritual. A Arqueo-logia pode, assim, desenvolver elos entrepresente e passado, fortalecendo-os mutua-mente e trazendo ensinamentos sobre a ex-periência humana como um todo (Little2002:16).

Se expandirmos nossa visão para reco-nhecer os sucessos e insucessos das socie-dades ao longo dos tempos, nossa tolerân-cia social deverá ser expandida. Hoje osestudantes necessitam compreender a his-tória do mundo e de pessoas de diferentesculturas e contextos que desenvolveram idéi-as, instituições e formas de vida diferentesda sua. Nesse sentido, o conhecimento dediferentes formas de vida, experiências eperspectivas da humanidade no passado po-dem contribuir em criar cidadãos mais paci-entes e respeitosos, especialmente com gru-pos excluídos ou minorias étnicas, em nossasociedade crescentemente pluralista (Shiva2003; National Center for History in theSchools 1996:1, citado por Little 2002:12).

Hoje temos necessidade de sermos com-petentes num mundo multicultural, e a Ar-queologia pode proporcionar ferramentasque auxil iem a viver nesta sociedadecrescentemente complexa, ensinando as pes-soas sobre outras culturas e tempos, forne-cendo-lhes ferramentas para melhor com-

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preender a diversidade humana, ao expan-dir suas visões de mundo (Little 2002:13).

Essa compreensão da diversidade leva àtolerância, que permite a inserção de diver-sos segmentos da sociedade, tornando to-dos os indivíduos sujeitos plenos de direitose deveres: cidadãos. Assim, um dos benefí-cios públicos da Arqueologia é o mesmo queoferece a história e a ciência: a educação dac idadania. Do mesmo modo que omulticulturalismo pode ser representado tan-to pela existência de uma multiplicidade deculturas do mundo, como pela co-existênciade culturas diversas no espaço de um mes-mo Estado-nação e as interinfluências queocorrem tanto dentro como além do Estado-nação (Santos 2003), o conceito de cidada-nia não presume limites estritos: pode-se,ao mesmo tempo, ser cidadão de um muni-cípio, de um país, ou cidadão do mundo (Ri-beiro 2000), e a Arqueologia transita entreestes diferentes níveis o tempo todo.

Assim, como bem coloca McManamon(1991, 1994, citado por Smith & Ehrenhard123), não temos apenas um público a consi-derar, mas vários. Devemos refletir sobre amaneirar como nossa sociedade se posicionacom relação ao seu passado: Qual o passa-do que merece ser resgatado? Quais os me-canismos que a sociedade utiliza para regis-trar e perpetuar sua própria história?

Em oposição às ciências naturais, a ci-ência social necessita ser, particularmentenestes tempos pós-modernos, pluralista emessência. A admissão de diferenças não põeem cheque a autoridade da disciplina. Aocontrário: o reconhecimento de que as idéi-as e interpretações são produto de condi-ções históricas específicas amplia o debatee sua contribuição. Segundo define Molyneaux(1994:6), se desejamos obter uma compre-ensão do passado que abranja a complexi-dade e diversidade de suas mensagens pos-síveis, então precisamos reconhecer a exis-tência de um público igualmente diverso, eaprender a lidar com ele. Para assim proce-der mostra-se necessário reconhecer e res-peitar todos os valores atribuídos à herançaarqueológica, incluindo a científica.

É preciso, assim, reconhecer a pluralidadede interesses e graus de percepção do pas-sado, bem como as necessidades políticasdo presente. Para tanto, os programas depesquisa devem envolver aspectos culturaise identitários da comunidade envolvida, ele-mentos que exigem novas posturas e abor-dagens, trazendo alterações essenciais aosestudos arqueológicos (Gosden 2001; Fagan2002).

A Arqueologia pode construir elos entrea comunidade no presente, assim como nopassado, no momento em que sua herançacultural é valorizada, preservando históriase tradições. Por essa razão o conteúdo damensagem a ser transmitida ao público deveestar, antes de mais nada, atrelado à histó-ria local, de forma a construir um elo de per-cepção junto ao público, partindo daí paracontextos mais gerais. Isso pode incluir ob-jetos identificados no local, sítios ou vestígi-os mais conhecidos, dados sobre como osgrupos humanos do passado viveram naquelemesmo espaço geográfico, entre tantos ou-tros (McManamon 2000:13; Lerner 1991, ci-tado por McManamon 2000:14). Por outrolado a mensagem deve também conter da-dos sobre a importância deste patrimônio, ofato dele ser único e não renovável, e tam-bém o esforço e detalhamento da pesquisacientífica necessária para construir o conhe-cimento, visando sensibilizar o público sobresua valorização e necessidade de preservação.

No caso brasileiro, onde a sociedadenacional foi formada através de uma rupturaentre as ocupações indígenas que aqui seencontravam e o elemento europeu, maistarde acrescido pela cultura africana, é fre-qüente a comunidade atual não reconhecervínculos com o contexto arqueológico, em-bora tenha interesse pelo seu sentido exóti-co. Isso se agrava pelo fato de que até mes-mo a construção da História do Brasil tenhasido tradicionalmente feita a partir de suaclasse intelectual dominante, resultando emum baixo ou nulo reconhecimento da popu-lação em geral como sendo esta a “sua his-tória”. O próprio currículo escolar não incluiuma efetiva história das minorias, apesar de

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sua participação fundamental na formação edesenvolvimento da sociedade nacional.

Contexto muito próximo ocorre em pes-quisas no sul da África, onde os vestígiosarqueológicos e a herança patrimonial foram,durante todo o longo período colonial, trata-dos a partir dos interesses da aristocracia enão a partir das aspirações das comunida-des locais. Assim, como parte do processopolítico e da própria perspectiva da pesquisaarqueológica realizada, parte do legado co-lonial foi justamente causar a alienação dascomunidades locais com sua herança cultu-ral (Ndoro & Pwiti 2001:21).

Nesse sentido os vestígios arqueológicos,enquanto elementos materiais tangíveis, pro-porcionam uma experiência que auxilia noreconhecimento de que existe um passado,constituindo uma ponte concreta entre o an-tes e o agora e proporcionando, como defi-ne Lowenthal (1985:XXIII, citado porMcManamon 2002:32), uma metáfora queilumina o processo da história e da memória.

No caminho ressurge uma das questõesfundamentais da Arqueologia: quem controlae a quem pertence o passado (ou, nos ter-mos acadêmicos, a quem concerne sua pro-priedade intelectual?). Certamente os arque-ólogos não são os únicos a poder contarhistórias, nem tampouco exercem o poderabsoluto sobre o passado das comunidadesvivas, como ocorre com aquelas que nãotêm mais voz. Não podemos impor nossaversão do passado ao mundo, ignorandohistórias tradicionais e outras perspectivasque a comunidade nos traz. A ciência não éonipotente ou exclusiva: todos nós contro-lamos e a todos nós pertence o passado,incluindo povos dos quatro cantos da terra.Temos apenas perspectivas diferentes so-bre ele, valores culturais específicos e ex-pectativas diversas sobre as lições que podenos ensinar. Assim, um dos instrumentosmais valiosos da Arqueologia Pública é tra-zer tolerância e compreensão das diversi-dades culturais e das diversidades sobre opassado (para uma discussão sobre o tema,vide Thomas 2000, citado por Little 2002:6;Kuwanwisiwma 2002).

De modo análogo os arqueólogos ne-cessitam considerar as diferenças funda-mentais entre os grupos humanos no quese refere à própria compreensão da dimen-são do tempo. A noção ocidental sobre apassagem do tempo é geralmente adotadacomo real e natural, mas existem váriosexemplos antropológicos e etnográficos con-trários. Os grupos Inuit do noroeste do Ca-nadá concebem sua realidade vivendo ape-nas no presente, sem reconhecersequenciamentos cronológicos onde orga-nizem seus eventos: o passado é compre-endido como parte do presente (Smith &Ehrenhard 2002:122-3; Crist 2002).

Considerando esse conjunto de aspec-tos, mostra-se essencial que a pesquisa ar-queológica seja realizada em conjunto comos descendentes vivos da sociedade que criouou herdou os vestígios estudados. Assim serápossível conduzir os trabalhos a partir deuma perspectiva de “arqueologia democráti-ca”, como define Faulkner (2000), que com-preende a realização de trabalhos com basena comunidade, de forma não excludente enão hierárquica, e dedicados a um desenhode pesquisa que pressuponha interação en-tre os vestígios materiais, a metodologia detrabalho e a interpretação. Dentre outrosexemplos frutíferos de pesquisas arqueoló-gicas realizadas contando com a participa-ção de membros da comunidade podemoscitar o realizado por Field (Field et al 2000)entre os aborígines Australianos e o deFaulkner (2000) com a sociedade inglesacontemporânea.

Contudo, segundo Fabian (1983), o re-conhecimento da mudança não nega aspec-tos de continuidade mas aponta a necessi-dade de tratar tanto a mudança como a con-tinuidade como questões empíricas. As cul-turas não correspondem a entidades estáti-cas que existem à margem da História (Wolf1984) e a Arqueologia deve analisar as soci-edades contemporâneas a partir desta pers-pectiva. Nesse contexto a Arqueologia é ca-paz de trazer o poder do passado para alegitimação das comunidades e seu fortale-cimento no presente.

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Nas últimas décadas muitos estudos têmse dedicado, por exemplo, a definir de formamais clara e precisa a natureza e resultadodas mudanças geradas pelo processo de co-lonização, especialmente em sociedades daAmérica e da África (Atkinson 1989; Campbell1988; Lamphear 1988; Handler 1968; Huffman1982, 1986; Schmidt 1990; Stahl 1994;Upham 1987; Whitehead 1990, entre outros).

Os benefícios públicos que a Arqueolo-gia poderá trazer, junto a comunidades indí-genas ou a comunidades de qualquer natu-reza, porém, dependem fortemente da soli-dez e credibilidade científica das pesquisas.Sem isso, o interesse da comunidade serádiminuído e sua atenção deverá recair, fatal-mente, ao aspecto exótico e fantasioso dadisciplina (Lipe 2000:20 in Little).

O desafio do arqueólogo está, entre ou-tros, em estabelecer um significado científi-co e histórico às “coisas do passado”, ou seja,aos objetos retirados das escavações, quedevem ser utilizados como ponte entre a ex-periência do público e um mundo passadoreconstruído a partir de inúmeras outras evi-dências (onde se incluem a história oral, osmitos e os conhecimentos tradicionais). Nes-sa tarefa o arqueólogo necessita, mais doque nunca, de uma equipe interdisciplinar quepossa transitar em todos os campos de co-nhecimento e esferas sociais de atuação.Cabe a ele não apenas fornecer os dados depesquisa que possui, necessários à evoluçãodo trabalho, mas principalmente fornecer seuolhar sobre o passado, para que profissio-nais nas áreas de antropologia, sociologia,história, educação, publicidade, marketing,turismo e tantas outras, possam trabalharde forma séria e criativa.

A tudo isto podemos denominar “CiênciaAplicada”, correspondendo ao amplo lequede contribuições que a Arqueologia pode ofe-recer no fortalecimento e valorização dascomunidades atuais.

No Brasil este momento apresenta umacor especial. Isto se dá especialmente porconta da conjuntura social e política que atra-vessa, na qualidade de país em desenvolvi-mento rumo à era da globalização. À Ar-

queologia abrem-se preciosas oportunidadesde ocupar espaços ainda vazios, voltados auma abordagem mais abrangente e pluralistade nossa herança cultural.

E é dentro desta abordagem e conceituaçãoque o texto que se segue visa demonstraruma experiência de trabalho desenvolvido emArqueologia Pública em uma area da regiãosul do estado de São Paulo, abrangendo oscampos da educação, divulgação, valoriza-ção cultural e preservação, com o objetivode expandir as reflexões aqui apresentadas.

O Programa Arqueológico Mina Limeira

O Projeto de Ampliação da Mina Limei-ra, de responsabilidade da empresa Compa-nhia de Cimento Ribeirão Grande (CCRG),vem sendo desenvolvido desde 2002 englo-bando as diferentes fases de licenciamentoambiental da obra. Abrange terras dos mu-nicípios de Capão Bonito e Ribeirão Grande,localizados na região sudeste do estado deSão Paulo.

A área integra o que se define como “re-gião do alto Paranapanema”, mais precisa-mente em seu limite meridional, próximo àcrista dos divisores de águas com a bacia dorio Ribeira de Iguape. A área-foco da pes-quisa é banhada por pequenos córregos quedeságuam no rio das Almas que, por suavez, é um dos formadores do rio Paranapanema,em seu alto curso (Figura 1).

O vale do alto Paranapanema ofereceinteressantes questões científicas à Arqueo-logia. Em primeiro lugar, corresponde a umazona de transição ambiental entre a regiãoflorestada da serra da Paranapiacaba (fisi-camente integrada à porção do médio/altovale da bacia do Ribeira de Iguape), e o pla-nalto paulista. Esta condição geográfica te-ria, ao menos em parte, influenciado no as-sentamento dos grupos indígenas pré-colo-niais que ali se desenvolveram, fazendo comque aparentem características específicas, edistintas de suas áreas de origem, o planaltocentral brasileiro (De Blasis 1996, Robrahn-González & De Blasis 1998).

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(ADA), e que foram objeto de estudos sis-temáticos intensivos. Todavia, visando ob-ter um contexto científico de referência aosvestígios identificados no interior da ADA,os trabalhos de campo e os levantamentosdocumentais se estenderam pelo que sedefiniu como área de influência indireta doempreendimento (AII), aqui consideradocomo abrangendo todo o vale do rio dasAlmas e os municípios afetados. Por outrolado, muitas das discussões científicas apre-sentadas pelo texto exigiram a abrangênciade um espaço geográfico maior, podendoalcançar todo o planalto meridional brasi-leiro no que se refere a questões como mi-grações, territórios de ocupação, contatosextra-culturais, entre outros.

Os trabalhos de campo tiveram inícioatravés de prospecções na ADA, buscandoreconhecer o patrimônio arqueológico en-volvido. De início foram realizados levanta-mentos extensivos, consistindo em uma pri-meira abordagem de reconhecimento daárea e de seus vestígios (procedimento es-pecialmente empregado durante os estudosde diagnóstico da área). Em seguida deu-se início às prospecções sistemáticas (tipovarredura), implicando na observação dosterrenos tanto em superfície como em pro-fundidade.

Durante estas prospecções sistemáticasas equipes percorreram cada uma das áreasque compõem a ADA caminhando em alinha-mentos paralelos distantes entre si de 20 em20 metros, com realização de poços-teste acada 20 m percorridos. Os poços-teste apre-sentaram dimensões de 0,4m de diâmetro e1,0m de profundidade (podendo variar a pro-fundidade de acordo com a espessura de solopresente, podendo alcançar até 2,5m).

Este tática de cobertura por alinha-mentos paralelos com distribuição de po-ços-testes de forma regular permitiu ob-ter dados necessários ao estudo dos pa-drões de distribuição dos sítios arqueo-lógicos na paisagem. A pesquisa foi res-ponsável pela identificação de 50 sítiosarqueológicos, dos quais 17 foram, pos-teriormente, escavados sistematicamen-

te (Figura 2). Dos 50 sítios, 34 são dotipo lítico (ou 68%), 4 cerâmicos (ou 8%),9 sítios ligados ao período histórico (ou18%) e 2 sítios multicomponenciais (ouseja, sítios que apresentam vestígios re-lacionados a mais de uma ocupação hu-mana – 4%) (vide Tabela 1).

O presente artigo não objetiva detalharaspectos referentes a estes sítios arqueoló-gicos, às suas indústrias e às filiações ar-queológicas regionais, uma vez que estesassuntos estão sendo tratados e serão apre-sentados na dissertação de Mestrado de Ger-son Levi da Silva Mendes (MAE-USP). A utili-zação dos dados da pesquisa para trabalhosacadêmicos constitui, aliás, outra iniciativaincentivada pelo Programa, proporcionandoo detalhamento de análises científicas sobreos temas tratados e resultando em contri-buições científicas adicionais e de maior de-talhe em focos específicos.

Desta forma apresenta-se, abaixo, umasíntese dos principais horizontes de ocupa-ção humana identificados pelas pesquisas.Estes horizontes partem do contexto maisantigo (paleo-índio), até alcançar a ocupa-ção atual de Ribeirão Grande, buscando in-corporar seus diversos passados, por assimdizer: o passado pré-colonial, formado pordiferentes grupos indígenas que se desen-volveram na região há pelo menos 5.500 anosatrás, e o passado histórico, que embora namemória da atual comunidade que ali viverecue apenas até a época da mineração (apartir do século XVII), incorpora traçosmarcantes de tradição indígena em diversaspráticas do cotidiano.

Neste contexto, o objetivo maior do pre-sente artigo é incorporar a comunidade atu-al na história regional, através das diferen-tes nuances materiais e materiais que cons-tituem a continuidade e herança deste pas-sado milenar. Assim, na apresentação doschamados “horizontes de ocupação huma-na”, será dada maior ênfase e detalhamentoem seus aspectos uma vez que, conforme jámencionado acima, os contextos de ocupa-ção pré-colonial estarão sendo apresentadosem trabalho acadêmico.

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Tabela 1 (cont.)Sítios arqueológicos identificados pelo programa

Sitio Leiteria 8Sitio Leiteria 9Sitio Leiteria 10Sitio Leiteria 11Sitio Anacleto 2Sitio Anacleto 3Sitio Cristal 1Sitio Cristal 2Sitio Cristal 3Sitio Cristal 4Sitio Cristal 5Sítio Velho 1Sítio Velho 2Sítio Velho 3Sitio Limeira 1Sítio Limeira 2Sítio Limeira 3Sitio Barro Branco 1Sitio Barro Branco 2Sítio Barro Branco 3Sitio Barro Branco 4Sítio Barro Branco 5Sítio Barro Branco 6Sítio Barro Branco 7Sitio Barro Branco 8Sitio Barro Branco 9Sitio Barro Branco 10Sitio Barro Branco 11Sitio Barro Branco 12Sítio Barro Branco 13Sitio Barro Branco 14Sítio Barro Branco 15Sítio Barro Branco 16Sítio Barro Branco 17Sítio Barro Branco 18Sítio Barro Branco 19Sítio Barro Branco 20Sítio Barro Branco 21Sítio Barro Branco 22Sítio Barro Branco 23Sítio Cachoeira 1Sítio Cachoeira 3Sítio Cachoeira 4Sítio Ribeirão Velho

LíticoLíticoLíticoLíticoLítico

CerâmicoLíticoLítico

CerâmicoLítico

HistóricoMulticomponencial

CerâmicoLíticoLíticoLítico

HistóricoLíticoLítico

Lítico aLítico

HistóricoHistóricoHistórico

LíticoLíticoLíticoLíticoLítico

HistóricoLíticoLíticoLíticoLíticoLíticoLíticoLíticoLíticoLíticoLítico

HistóricoHistóricoHistóricoHistórico

Área de Influência IndiretaÁrea de Influência IndiretaÁrea de Influência IndiretaÁrea de Influência IndiretaÁrea de Influência IndiretaÁrea de Influência Indireta

D.E. LeiteriaD.E. Leiteria

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Mina LimeiraMina LimeiraMina Limeira

D.E. Barro BrancoD.E. Barro BrancoD.E. Barro BrancoD.E. Barro Branco

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D.E. Barro BrancoD.E. Barro BrancoD.E. Barro Branco

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22 J 764969/732611222 J 764676/732626022 J 764882/732603222 J 765287/732645922 J 765041/732589822 J 765251/732588522 J 765786/732704522 J 765909/73269522 J 765931/732668022 J 766085/732677722 J 765940/732654122 J 764666/732403022 J 765254/732463522 J 764730/732404522 J 772711/732433022 J 772504/732441222 J 771445/732453022 J 768420/732268422 J 768281/732281422 J 768421/732247922 J 768628/732281822 J 767659/732318222 J 767549/732329422 J 769211/ 732198722 J 768731/732319522 J 768587/732327822 J 768406/732236922 J 768129/732267522 J 768476/73232322 J 767696/732229222 J 768299/732266122 J 768526/732250222 J 768558/732272322 J 768562/732278422 J 768562/732303322 J 768590/732237022 J 768600/732225622 J 768551/732219722 J 768368/732298222 J 768108/732223522 J 769247/732467922 J 768461/732401722 J 768549/732396522 J 767636/7323221

Coordenada UTMÁreaTipoNome do sítio

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• Horizonte paleoíndio, com poucos arte-fatos e lascas encontrados de transienctsettlers, com presença de pontas projé-teis rabo de peixe planas lascadas porpressão, e pontas de lança com até 20cmde comprimento, encontradas em profun-didade superior a 150cm, sempre associ-ados ao entorno de antigas lagunas, hojebanhados de fundos de vale altos. Essessítios têm uma área potencial entre osbairros dos Caetanos, Caetanos Velhos edos Cândidos, onde uma ponta de lançafoi encontrada a 2,5m de profundidadepor habitante local. Estes sítios devem sermais raros e profundos e estudos ulterio-res de reconstrução ambiental para aspaleolagoas da área apontarão para zo-nas potenciais de ocorrência. Em outrosmunicípios pontas de lança também fo-ram encontradas, sobretudo em Iporanga

e em Guapiara, conforme informações dearqueólogos e colecionistas. Foi denomi-nado “horizonte 1”.

• Horizonte caçador-coletor antigo, ca-racterizado pela presença de pontas-pro-jéteis e lascas de acabamento, predo-minantemente de sílex de boa qualida-de, além da presença de artefatos dequartzo hialino, em profundidades supe-riores a 50cm chegando aos 80cm, situ-ados sempre em topos de colinas e ali-nhados com outros sítios em situaçõesde implantação muito similares, apontan-do para uma provável integração em ummesmo período (Foto). Foi denominado“horizonte 2”. As indústrias destes hori-zontes (2 e 3) não apresentam mudan-ças significativas se estudadas tecno-tipologicamente ou mesmo em sua va-

Horizonte 2: vestígios líticos do sítio Barro Branco 21, (Foto: Gérson Levi Méndes).

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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riabilidade isocréstica (como apontado porSchmidt Dias 2003 para as indústriasUmbu do extremo nordeste do Rio Grandedo Sul, que indica uma continuidade daorganização social tecnológica irreal entreos conjuntos artefatuais). Contudo, asmudanças são percebidas quando estuda-das num contexto regional amplo de siste-ma de povoamento e percebidas articu-ladamente em vales e microbaciashidrográficas (Moraes 2000), pois apon-tam para as diversas respostas que ummesmo sistema de eventos e povoamentoutilizou-se para responder às necessida-des econômicas e sociais locais, criando-se um diálogo permanente com seu terri-tório móvel (Politis & Cárdenas 2000). De-lineiam-se, assim, as escolhas de implan-tação dos assentamentos para paisagenscom fisionomias geomorfoclimáticas diver-sas e que tendem a se particularizar de

vale para vale, cada qual, atualmente, commicroclimas e ocorrências de espéciesendêmicas próprias, apontando para ummosaico vegetacional complexo e alterna-do, como indicam as manchas de cerradoem áreas próximas, a presença dearaucárias em fundo de vale onde o lençolfreático está mais alto e a recente forma-ção da floresta tropical úmida, a Mata Atlân-tica. Para este horizonte tem-se a data de5.030 +- 50 BP (calibradas em 5.920 a5.660 BP, Laboratório Beta Analytic Inc,amostra 207853).

• Horizonte caçador-coletor recente, ca-racterizado pela presença de pontas pro-jéteis e lascas de acabamento, predo-minantemente de quartzo e calcáriosilicificado (Foto). A maior parte dos sí-tios arqueológicos desse projeto estáassociada a esse horizonte. Em todos os

Horizonte 3: Vestígios do Barro Branco 14, camada 1, (Foto: Gérson Levi Méndes).

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

seus sítios as pontas projéteis apresen-tam sinais de reavivamento intenso dematérias-primas como o sílex, apontandopara a provável escassez ou esgotamentodessa matéria-prima. Os sítios estão dis-tribuídos por toda a área entre o bairrorural do Assentamento, quase nos divisoresde água entre as bacias do Paranapanemae do Ribeira de Iguape, e se estende atéas proximidades dos bairros Lagoa deCima, Cristal, Pêssego e Capoeira Alta, bemcomo nas imediações de Ribeirão Grande,podendo constar no planalto de CapãoBonito. Formam um território nucleiformecaçador-coletor diferente daquele encon-trado no vale do Ribeira de Iguape. Estãosituados entre 15 a 40cm de profundida-de, de acordo com as diversas condiçõesgeomorfológicas locais. Foi denominado“horizonte 3”. Para este horizonte tem-sea data de 1.010 +- 50 BP (calibradas em950 a 750 BP, Laboratório Beta Analytic Inc,amostra 207852).

• Horizonte de grupos ceramistascultivadores, caracterizado pela presen-ça de sítios arqueológicos implantados nasporções mais abertas dos vales, concen-trando-se, sobretudo, entre os bairrosrurais Barreiro Cabral e Pereira em dire-ção aos terrenos suaves próximos à atualcidade de Ribeirão Grande e nos bairrosAlto Rodrigues e Mata-a-Dentro, Nunes eFerreiras, em direção ao limite com omunicípio de Capão Bonito, a oeste. Apresença destes grupos nos vales do Bar-ro Branco e Ouro Fino é mais tardia eocorre após o abandono dos sítios pelosantigos habitantes caçadores-coletores,como indicam os estudos de todos os per-fis estratigráficos de sítios escavados. Foidenominado “horizonte 4”. Os vestígioscerâmicos encontrados no vale do BarroBranco, de longe o mais conservado e comcondições ideais para escavação, apre-sentam um intervalo de 10 a 20cm com ohorizonte caçador-coletor. Assim, antes dehaver uma continuidade entre esses ho-rizontes 3 e 4, há um silencio de 15 a

20cm de solo que sugere a existência deum período de abandono da região, sejaporque os grupos caçadores-coletoresentraram em contato com populaçõesagricultoras e, assim, mantiveram rela-ções com os mesmos de tal forma que sesedentarizaram no planalto ou no vale doRibeira de Iguape, seja porque deveriamestar em confronto com esses grupos agri-cultores que já habitavam o vale do Ri-beira de Iguape e o planalto paulista nascercanias de Capão Bonito e Alto dosRodrigues em Ribeirão Grande, e que serestringiam cada vez mais para um recuode seu território nuclear. Os sítios maisrecentes dos grupos caçadores-coletoresdevem corresponder àqueles mais próxi-mos aos divisores d’água da Serra dosAgudos e entre os Parques Carlos Botelhoe Intervales. De qualquer forma, entre es-ses dois períodos estamos tratando do fi-nal da presença de caçadores-coletoresnesta região em data posterior àqueladetectada pelo projeto Gasbol (De Blasis2000), ou seja, uma possibilidade muitogrande da presença de sítios mais recen-tes de 800 anos AP. De fato, para estehorizonte tem-se a data de 150 +- 40 BP(calibradas em 280 a 0 BP, ou ainda, de1670 a 1950 A.D., Laboratório BetaAnalytic Inc, amostra 207850).

• Horizonte histórico, correspondente aociclo da mineração do ouro de aluviãoque deslocou habitantes dos arraiais dosmédio e alto curso dos afluentes do Ri-beira de Iguape em direção às nascen-tes e à bacia do alto Paranapanema.Ocorreu a partir da segunda metade doséculo XVII e se prolongou até o terceiroquartel do século XIX. Foi denominado“horizonte 5”. No que se refere aos re-gistros arqueológicos, os sítios Cristal 3,5 e Anacletos 3 e 4 apontam para umaprovável relação entre a antiga popula-ção ceramista indígena e estes primei-ros colonos que aí se estabeleceram porvolta do século XVII (uma pederneira deprodução local foi encontrada associada

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(2) Estrutura histórica relacionada à exploraçãoaurífera em cursos fluviais.

(1) Capítulo de relatório originalmente redigido porCintia Bendazzoli.

a fragmentos de cerâmica arqueológica).Trata-se, nesse caso, de colonos associ-ados aos prováveis arraiais dos Camposde Guapiara ou de Apiaí-mirim, frutos deuma situação colonial de mescla entreportugueses e índios Kaingang do valedo Ribeira de Iguape, pressupondo a re-lação etnográfica com estes grupos(Robrahn 1989). Contudo, com a origemda Freguesia-Velha pouco dessa ocupa-ção mais esparsa foi aglutinada nos pe-quenos povoados intermontanos e umareconstrução documental que os relaci-one ao período de construção das estru-turas minerarárias conhecidas como“’encanados” e às diversas cavas deprospecção mineral presentes na area,ainda depende de estudo histórico maisdetalhado e é discutido mais adiante.

• Horizonte contemporâneo, correspon-dente à ocupação rural dos vales do BarroBranco, Cristal e Limeira. No primeiro valea ocupação cabocla é relativamente recen-te, resultante da migração de tradicionaishabitantes da Freguesia-Velha ainda nadécada de 1970, provenientes, em boaparte, do bairro rural dos Caetanos Velhose outros bairros mais interiorizados. Opovoado da Freguesia Velha é o berço dopovoamento das áreas entre Ribeirão Gran-de e Capão Bonito, e seus antepassadoseram provenientes do vale do Ribeira deIguape, sobretudo dos arraiais encontra-dos no terceiro campo de Guapiara, doApiaí-mirim e dos arraiais nas proximida-des da Serra da Samambaia, Guapiara.Foi denominado “horizonte 6”.

Hoje e antes: a herança cultural dacomunidade de Barro Branco1

A participação da comunidade do BarroBranco, bairro rural localizado no município

de Ribeirão Grande, nas pesquisas de le-vantamento arqueológico criou um vínculoque, inicialmente tímido frente à reclusão dasfamílias em suas casas e atividades agríco-las e pastoris, foram dando lugar, devido aolongo período de campo, assim como estra-tégias selecionadas para acessar essa ‘cul-tura reclusa’, a uma relação de curiosidadee descobertas tanto da parte dos pesquisa-dores quanto dos moradores: o que estáva-mos fazendo atrás de ‘lugares dos antigos’(da parte deles) e como podiam manter umasérie de tradições frente à expansão da cul-tura introduzida recentemente pela mídia nascasas de pau-a-pique do Barro Branco? (denossa parte).

As lendas, as histórias das famílias, ossegredos do sertão, das árvores e plantas,dos diversos animais, os ‘causos’ e o regis-tro material da presença dos antigos, índiose jesuítas e os “encanados”2 foram passan-do de geração em geração.

O estudo da paisagem e das relações queos antigos habitantes mantinham com seuespaço podem ser acessadas de uma ma-neira extraordinariamente rica através doestudo dos diversos níveis de relações queas comunidades tradicionais locais mantêmcom o espaço atual. Herdeiras de um espa-ço, com o qual interagem constantemente, apopulação do Barro Branco mantém as rela-ções que seus antepassados mantinham coma Freguesia-Velha (uma das mais antigascomunidades do Alto Paranapanema) e comos vales intermontanos entre a Serra dosMaciéis e a Serra do Ouro Fino.

Para perceber quais são as diversas in-tensidades das continuidades indígenas oucoloniais nas relações atuais com o meio ecom o simbólico em que vivem os tradicio-nais moradores do Barro Branco, pesquisasde etnobotânica, cultura imaterial, do univer-so feminino, infantil e das técnicas construti-vas foram postas em prática, tendo, como

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objetivo último, o resgate cultural, a valori-zação das identidades e a preservação deseus marcos ancestrais.

As pesquisas revelam elementos de con-tinuidade da cultura indígena (técnicas detrançado na produção de cestos, áreas decaptação de argila e espécies vegetais, téc-nicas construtivas, técnica de preparo docampo para o roçado) que encontram ana-logias em modelos indígenas antigos e atu-ais de apropriação do espaço, assim comoelementos de ruptura e de conformidade comos costumes coloniais (festas religiosas, brin-cadeiras entre as crianças, etc.).

Este conjunto de fatores acabou por defi-nir a própria missão do Programa Arqueoló-gico Mina Limeira: reconstituir o passado atra-vés de sua articulação com o presente, per-mitindo contribuir para a educação, coesãoda comunidade, lazer e desenvolvimento eco-nômico regional, de acordo com o modernoconceito de sustentabilidade social.

E isto ocorreu de diferentes maneiras:no reconhecimento e inclusão de suas for-mas de viver no que se define como“patrimônio arquitetônico” da região; na in-clusão de seus depoimentos e opiniões so-bre o que considerar patrimônio, o que pre-servar, o que é significativo; e na busca devestígios do elemento africano em uma ati-vidade tradicionalmente relacionada ao co-lonizador branco europeu: a mineração.

Assim, não se buscou registrar apenasos vestígios físicos da história regional co-memorados e consagrados pela história ofi-cial, mas trazer a representação dos cida-dãos comuns na formação e transformaçãodesta história. Desta maneira, buscou-semapear os bens tangíveis e intangíveis, ma-teriais e imateriais, que constituíssem elosde ligação da comunidade com o passado,reconhecidos enquanto partes de sua heran-ça histórica e cultural.

O texto que se segue traz alguns exem-plos deste trabalho, onde a comunidade de-senvolveu papel central no “resgate” de seuselementos identitários, de seus registros his-tóricos e tradicionais que, somados àqueles tão

mais antigos (as “vestígios de bugre”), com-pletam o ciclo de experiências humanas de-senvolvidas em um mesmo espaço geográficocompartilhado, resultando na atual paisagemcultural do Barro Branco. Buscando forneceruma visão da abordagem do presente Progra-ma, selecionou-se um item de pesquisa paracada tipo de patrimônio: técnicas contrutivaspara o patrimônio material, e histórias do bair-ro Barro Branco, contadas pela própria comu-nidade, no que se refere ao patrimônioimaterial, conforme texto que se segue.

Técnicas construtivas

Fazem parte do patrimônio histórico cul-tural da comunidade do Barro Branco as uni-dades típicas de moradia e os padrões deconstrução das mesmas. Não são poucas asedificações existentes que ainda seguem osmodos e padrões utilizados há muitos anos.As casas de barro, ou de pau-a-pique, aindasão maioria no bairro. Entretanto, já é pos-sível encontrar alguns outros tipos de cons-truções em alvenaria ou madeira.

As residências são simples, com poucos epequenos cômodos, a rede elétrica não é pre-sente em boa parte das residências. Sem exce-ção pode-se afirmar que quando há a constru-ção de banheiros, estes são feitos fora da casa,e não foi encontrado em nenhuma delas a pre-sença de chuveiros, pois os banhos são feitosnos rios, córregos ou açudes. Algumas aindaapresentam uma separação entre os cômodosde estar e a cozinha com forno à lenha. Nasmaiores e mais tradicionais propriedades sãoerguidos paióis para o armazenamento da pro-dução e/ou de bens e utensílios para a práticaagrícola. É praticamente comum em todas asmoradias a construção de galinheiros, que emgeral se assemelham a poleiros erguidos a apro-ximadamente 1 metro do solo onde grandescestos são colocados de forma tombada, com aabertura voltada para frente, de modo que asaves possam entrar e sair.

Em algumas propriedades, mas em me-nor número, é presente também a constru-ção de currais para porcos, denominados

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localmente de “mangueiras”. Nos últimos 15anos as propriedades começaram a abrir ummaior número de açudes, objetivando a cri-ação de peixes para consumo próprio. Estaprática se deu principalmente com o auxíliode tratores da Prefeitura de Ribeirão Gran-de. São quatro os monjolos existentes, sen-do um deles de uso comum, localizado napropriedade do senhor Braz Batista Mendes.Dos outros três, um está sem uso, perten-cente ao senhor Caetano Mendes de Olivei-ra, e os outros dois pertencem a proprietári-os que não residem na comunidade e fazempouquíssimo ou quase nenhum uso deles.

Nas propriedades onde a atividade agríco-la de subsistência ainda é preponderante, jun-to às casas existem os terreiros, áreas aber-tas onde o feijão colhido passa pelo períodode secagem e é batido. A localização das ca-sas é sempre próxima às bicas ou a algum doscórregos ou riachos que cortam o bairro. Geo-graficamente, o bairro do Barro Branco mere-ce destaque por ser um grande manancial deágua, e há uma grande facilidade de obtençãoda mesma por parte dos moradores. Junto àscasas é comum ver-se pequenos canteiros ondedesenvolvem plantios de ervas medicinais.

Nas maiores e mais tradicionais proprie-dades, precisamente na da senhora MariaFrancisca do Nascimento e do senhor Caeta-no Mendes de Oliveira, a disposição das ca-sas segue modelos antigos, formando ver-dadeiros “arraiais de famílias” dentro do bair-ro. Nos dois casos, os mais velhos têm ascasas como centros gravitacionais, onde pe-rifericamente os filhos ergueram suas mo-radias. Em ambos os casos, o da matriarcaMaria Francisca do Nascimento e do patriar-ca Caetano Mendes de Oliveira, os filhos seestabeleceram no entorno, sendo que algu-mas edificações de uso comum ficam juntasà casa destes centros gravitacionais. O mai-or terreiro, o maior paiol e plantações deervas medicinais ficam juntos à casa dos maisvelhos. Este exemplo está presente na famí-lia da senhora Maria Francisca e do senhorCaetano Mendes, sendo que este ainda pos-sui o monjolo usado por todos os membrosda família.

Consideram-se aqui como propriedadestradicionais aquelas formadas pelas famíliasmais antigas nos bairros que, como pode-seconstatar nos diferentes resultados e relatóri-os obtidos nos trabalhos de campo, ainda as-seguram alguns elementos culturais ainda nãoeliminados ou reinterpretados. Essas unidadesmais tradicionais são as formadas pelos pio-neiros na formação do bairro ou seus descen-dentes diretos. O conceito de maiores proprie-dades foi adotado a partir das áreas em hec-tares das propriedades, e não por acaso, asunidades mais tradicionais também constitu-em algumas das maiores propriedades.

No que se refere aos tipos de constru-ção, o Barro Branco é um bairro que aindahoje preserva alguns traços culturais anti-gos, entretanto, a comunidade adquiriu in-formações e elementos externos que lhe pro-piciaram uma reinterpretação cultural emdiversos elementos, dentre eles os métodosconstrutivos e os tipos de edificações pre-sentes. Em linhas gerais, temos três tipos deconstruções no bairro. São eles:

• Casas de barro: é o modelo mais anti-go de construção. Praticamente todos osmoradores já habitaram neste tipo deresidência. Ainda hoje estas casas sãomaioria no bairro. Comparadas com ca-sas de barro de outros bairros, são asúnicas que apresentam reboco feito combarro branco (o mesmo barro que deunome ao bairro, Barro Branco).

• Casas de madeira: em geral o uso ex-clusivo de madeira é para paióis, currais eabrigos para monjolo, sendo que algumaspoucas casas são feitas deste material.

• Casas de alvenaria: são casas recen-tes que se diferenciam apenas pelo ma-terial construtivo, pois quanto à formaseguem ainda os padrões de edificaçãodas casas de barro.

• Outros tipos de construções: há algumaspouquíssimas casas feitas com os mais di-ferentes materiais que não se encaixam aum padrão único de edificação. São cons-truções precárias que empregam o uso de

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menos três cômodos, o quarto dos pais, oquarto dos filhos e uma sala/cozinha, vari-ando de caso para caso.

Em geral os cômodos são pequenos, comum espaço para deslocamento restrito e pou-cos móveis. As paredes de divisão chegam auma altura média 1,90m , no máximo 2m enunca alcançam o forro ou telhado. Não háportas internas e cortinas são utilizadas comoforma de separação dos cômodos. As portasde entrada não possuem trincos e são fecha-das por fora com o uso de correntes e cade-ados e, por dentro, com tramelas. São casaspouco iluminadas em virtude das pequenasjanelas que recebem, sempre de formatoquadrado com no máximo 50 centímetros delado, sendo que, em alguns casos, os quartosnão têm janelas. Os telhados podem ser detelhas de amianto, zinco ou de cerâmica. Foiencontrada apenas uma casa com coberturade palha. Há indícios de que esta técnica ti-nha maior freqüência antigamente.

O piso é de terra batida, sem nenhumacobertura. A cozinha pode ou não ser juntoà casa. Algumas casas têm cozinhas comfogões à lenha no interior, outras com fo-gões a gás. As cozinhas externas são sem-pre as de fogões à lenha. Ali, sobre os fo-gões à lenha são colocadas carnes para de-fumarem, conservando assim o alimento.Nestes casos também, podemos atribuir abaixa luminosidade ou o escurecimento dascasas devido à ação da fumaça dos fogões,que pretejam telhados e paredes.

As casas de barro são também feitas emdois tipos, as de barro branco para reboco eas sem barro branco para reboco. O uso dobarro branco, na verdade uma composiçãode solo de granulometria grosseira mais pró-xima do silte e de cor esbranquiçada pre-sente na área, serve apenas para o rebocodas casas, interna e externamente (Fotos).Pode-se atribuir que estas são casas típicasda comunidade, não encontradas até o mo-mento em outros lugares. O tal barro bran-co, por sua granulometria mais grosseira, nãose desfaz com facilidade ao longo do tempoatravés das intempéries climáticas como chu-va, sol ou vento. Atribui-se a isso o fato de

que, quando seco, esse mater ia l degranulometria grosseira fica como poros, an-tes ocupados pela água, maiores que os debarro marrom, dando espaços para as dila-tações e contrações resultantes de variaçõestermais com maior facilidade, não ocorren-do, assim, fissuras nas paredes.

O barro marrom, por ter uma granulometriamais fina, principalmente de argilas, não apre-senta estes espaços porosos internos, sendomais compactos e desta forma não permitindoos movimentos de dilatação e contração, e quequando exposto aos fatores climáticos criamrachaduras com maior facilidade.

Foi diagnosticado que anteriormenteeram feitas vasilhas cerâmicas com o barrobranco, entretanto não se pode afirmar omotivo da escolha desse material para a con-fecção das mesmas, o que se sabe é queesta já foi uma prática comum e que há tem-pos está em desuso.

De forma geral, a construção de umacasa de barro branco típica se dá da seguin-te forma: escolhido o local a ser construídaa casa, aplaina-se o terreno de acordo comas dimensões desejadas. Nas fundações,onde são erguidas as paredes, troncos demadeira, chamados de cernes, são cortadosem forma retangular cúbica e colocados nabase, praticamente enterrados entre 20 a 25centímetros no solo com apenas a face su-perior exposta. Estes são os esteios, quepodem ser feitos com trocos de nataleiros,canelas, guatambus ou, se forem encontra-das, outras madeiras grossas e que resis-tam ao tempo tanto quanto as citadas. Sãoos “cernes direitos”, assim chamados porpossuírem um tronco comprido, reto, grossoe resistente ao tempo.

Junto aos esteios, nas quinas e extremida-des de paredes, são fixadas no solo de formaperpendicular às colunas ou travas de cerne di-reito. As travas ou colunas também são gros-sas, podendo ser cortados de forma retangularou colocados como troncos brutos, sem trata-mento. O diâmetro destas peças varia de 30 a50 centímetros e podem ser de árvores como acajarana, o sassafrás, o guatambu, nataleiroou canela. A altura das colunas ou travas varia

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Técnicas construtivas:A casa de barro branco: este famoso barro, que dá nome ao bairro, é uma argila finacaptada localmente nas barrancas, próxima de grotas e córregos. O barro é aplicado naestrutura quadriculada de madeiras e preenchem-nas dando formas às casas, assim comoaos fornos tradicionais do alto Paranapanema.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

para seus filhos, muito semelhante a umapalafita, sem paredes, próximo ao açude.

Estas casas de madeira possuem facha-das uniformes, com portas e janelas do mes-mo material. Suas divisões internas seguemos mesmos padrões existentes em outros ti-pos de construções habitacionais do bairro.O emprego delas é restrito por não permiti-

rem a construção de fogões à lenha no inte-rior da casa, devido ao riso de incêndio.

As Tabelas 2 e 3, abaixo, mostram asedificação cadastrados no bairro do BarroBranco (unidades, tipos, sub-tipos e carac-terísticas marcantes), trazendo o conheci-mento construtivo e os padrões de ocupaçãodas comunidades atuais ali residentes.

Figura 4 - Croqui do Monjolo Coletivo da Comunidade Barro Branco. 1 - Esteios de sustenção,ripas e varetas da parede da estrutura coberta do monjolo; 2 - Entrada/ porta do interior daestrutura coberta do monjolo; 3 - Telhas, tijolos, fragmentos de blocos rochosos, terra e outrosmateriais utilizados na sustenção da parede da estrutura coberta; 4 - Resto de suporte danificadode monjolo; 5 - Prato de ágata sobre o suporte danificado de monjolo; 6 - Forno/assador defarinha de milho; 7 - Assador de ferro encostado na parede da estrutura coberta do monjolo; 8 -Madeira usada para manter aberta a porta da estrutura coberta do monjolo; 9 - Pilão tampadocom um assador de ferro, uma tábua e um socador de monjolo, com a concavidade do pilão e osuporte do monjolo representado pelos tracejados; 10 - Suporte do monjolo; 11 - Chão de terrabatida; 12 - Bica d´água que movimenta o monjolo; 13 - Galão branco de plástico; 14 - Trilhas(caminhos) em torno do monjolo; 15 - Limites da poça e canal de drenagem artificial cujas águasmovimentam o monjolo; 16 - Barrancos nos limites da área escavada e terraplanada na encostaem que construiu-se o monjolo; 17 - Vegetação de pequeno porte (gramíneas, samambaias, etc)em torno do monjolo; 18 - Cerca de arame farpado.

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Tabela 3Proprietários e construções no bairro do Barro Branco

Adão Clarindo Vaz

Alsendino Louzada Melo

Ana Maria de Oliveira Ferreira

Antônio Favaro

Antônio Jacinto Vaz

Antônio Mendes de Oliveira

Antônio Souto de Assunção

Braz Batista Mendes

Braz Franco da Silva

Caetano Mendes de Oliveira

Celina Mendes de Oliveira Cruz

Eduardo Clarindo Vaz

Eliseu Ursulino de Moura

[posterior a 1995]

[ sem data certa pois oproprietário não reside

no local, provavelmenteerguida após 1992]

[1998]

[sem data certa,provavelmente erguida

após 1992]

(1998)

(1999)

[sem data certa pois oproprietário não reside

no local, provavelmenteerguida após 1992]

(1986) (2003)

[sem data certa pois oproprietário não reside

no local]

(1997)

(1998)

——

sem data certa pois oproprietário não reside

no local]

Casa de alvenaria, tida como a primeira aobter rede elétrica e antena parabólica.

Casa feita com restos de materiais cons-trutivos, que não objetivava residência fixa.

Casa de alvenaria.

Casa de barro marrom.

Dois cômodos, um deles quarto e cozi-nha e outro como bar.

É a única de barro branco dos mem-bros da família do senhor Caetano Men-des de Oliveira.

Casa de alvenaria.

São duas residências, a casa de barrobranco, mais antiga, e a casa de alve-naria, mais recente.

Casa de barro marrom, supõe-se quetida como abandonada.

Foi a primeira casa de alvenaria feita poralguém da família de Caetano Mendes deOliveira, está situada onde hoje se sabeda existência de um sítio arqueológico.

Casa de alvenaria

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada.

Casa de barro marrom

Característicase/ou

observações

Ano de contrução[estimado]

(confirmado)Proprietário

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

Erika Marion Robrahn-González

Tabela 3 (cont.)Proprietários e construções no bairro do Barro Branco

Característicase/ou

observações

Ano de contrução[estimado]

(confirmado)Proprietário

Gilmar Favaro

Gumercindo Gonçalves Ribeiro

Jaci Raimundo da Silva

Jacinto Martiniano da Costa

Jaime Olívio de Macedo

João Francisco Mendes

João Rodrigues do Nascimento

Luiz Mendes de Oliveira

Maria Aparecida Vaz de Oliveira

Maria Assunção

Maria dos Santos Ferreira

Maria Francisca do Nascimento

Maximiliano Wilson de Godói

——

(2003)

(2003)

[sem data certa pois oproprietário não reside

no local]

[sem data certa pois oproprietário não reside

no local, provavelmenteerguida após 1992]

——

[sem data certa]

(1999)

(1999)

——

——

[1990]

[sem data certa,provavelmente erguida

após 1995]

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada.

Obra de alvenaria inacabada, com mui-to a se fazer, porém, abandonada.

Casa de barro marrom, com algumaspartes cobertas por lonas.

Casa de barro marrom.

Casas de madeira ou de restos de ma-térias construtivos.

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada. Sabe-seque ele possui algumas poucas tarefasno bairro e uma propriedade maior, comcasa, no bairro de Ouro Fino.

Casa de barro com banheiro revestidocom material de cestarias.

Casa de alvenaria

Casa de alvenaria

Não foi possível obter nenhuma infor-mação a respeito.

Não foi possível obter nenhuma infor-mação a respeito.

É uma das casas de barro mais anti-gas do bairro, porém as datas diver-gem sobre a construção, e as infor-mações são mais próximas do ano de1990.

Casa de madeira que também funcio-na como estabelecimento comercial.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Tabela 3 (cont.)Proprietários e construções no bairro do Barro Branco

Característicase/ou

observações

Ano de contrução[estimado]

(confirmado)Proprietário

Miguel Vaz de Andrade

Milton César Vaz

Milton Souto da Silva

Moisés Messias da Silva

Octacílio dos Santos

Orlando Fávero

Tereza Clarinda Vaz

Vírgilio Marcos da Cruz

Waldomiro José dos Santos

[1992]

——

——

[1992]

——

(2003)

[sem data certa pois oproprietário não reside

no local]

(2000)

Casa de barro marrom, uma das primei-ras a ser erguida pelos novos morado-res do bairro.

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada.

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada.

Casa de barro marrom

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada.

Segundo o relatório sócio-econômicohá a existência de tal residência, po-rém ela não foi encontrada.

Casa de barro marrom, a última a sererguida no bairro, no primeiro bimestrede 2003.

Casa de barro marrom.

É a única de barro marrom que aindautiliza cobertura de palhas sobre a casa,uma das paredes caiu durante as for-tes chuvas que ocorreram no início dejaneiro de 2004

OBS: A tabela acima foi elaborada com dados obtidos nas pesquisas de campo, na consultado relatório sócio-econômico e dos mapas elaborados e fornecidos pela Companhia de Cimen-to Ribeirão Grande. Das 44 famílias registradas pelos relatórios sócio-econômicos, 9 deles nãopossuem casas, das 35 restantes, 24 delas foram identificadas de forma preliminar durante asetapas de campo, sendo que destas, 18 tiveram uma abordagem mais aprofundada. Há umtotal de 11 unidades familiares que pelos relatórios sócio-econômicos possuem residências,entretanto, as informações obtidas em campo, confrontadas com os dados dos relatórios,são insuficientes para afirmar a existência ou não das residências, exceto por dois únicoscasos identificados através dos mapas.

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

Erika Marion Robrahn-González

É latente a percepção de que os indiví-duos que possuem propriedades no bairroe não o habitam tendem a construir resi-dências que fogem aos padrões culturaislocais. As casas feitas com restos de obrase materiais diversos sinalizam mais parauma ocupação descompromissada com olocal e seus hábitos culturais do que unica-mente um fator de pobreza. São casas quenão representam o patrimônio local e quedescaracterizam o bairro.

História de Barro Branco

A comunidade do Barro Branco é com-posta por cinco núcleos de uma mesma raizfamiliar, havendo, no entanto, dois núcleosprincipais, cujos membros tem uma rela-ção de parentesco muito próxima e convi-vem numa mesma área, com pouca dis-tância entre uma residência e outra. Mascomo teve inicio esse arraial? Soubemosque os primeiros a se instalarem naquelaregião foram os pais das duas senhorasmais velhas da comunidade. Não foi preci-sada a data, mas provavelmente por voltada década de 1930 havia uma fazenda exa-tamente naquelas terras que empregavamão de obra para trabalhar nas lavouras.Os moradores mais antigos costumam sereferir à fazenda de “um japonês” que erao proprietário. Foi então que vieram Anto-nio Rodrigo do Nascimento, nascido emBairro Maciel, e Pedra Paulina do Nascimen-to, nascida em Ouro Fino.3

Eles se casaram e os filhos começarama nascer. Moravam em Sumidouro e ape-nas trabalhavam na fazenda nessa época,segundo informação de uma das filhas ain-da viva. Com o tempo, a fazenda foidesativada e o casal foi convidado a tomarconta das terras tendo permissão para plan-tar e morar na propriedade. Segundo infor-mação de Dna Lourdes, uma das filhas do

casal, eles ganharam a terra como doaçãodos proprietários da fazenda e passaram aviver de subsistência. Plantavam para co-mer e o que sobrava era vendido nas co-munidades vizinhas. Possuíam também cri-ação de galinhas, porcos e algum gado paraabastecer a casa de leite e eventualmentede carne. Os filhos desse casal nasceramem parte no Sumidouro e em parte no Bar-ro Branco, sendo ao todo cinco: Celestino,Maria, Lourdes, Ana e Ervelina, e é partedeles e de seus descendentes que hoje noscontam a sua história.

Dos cinco filhos de Antonio e PedraPaulina duas filhas estão vivas e cada umaé a matriz de um núcleo de organização fa-miliar, ou seja, em torno delas criou-se umarelação estreita de laços de parentesco, for-mando dois núcleos principais dentro do Bar-ro Branco. Aquela comunidade se organi-zou em família, porém não há um núcleosó, como talvez tenha havido quando o pa-triarca ou a matriarca da família estavamvivos. Hoje em dia a comunidade se dividetênuamente entre dois núcleos familiares,um deles centralizado na figura de DonaMaria e outro na de Dona Lourdes. Para fa-cilitar a compreensão da teia de relaçõesque abrange esta comunidade, trataremosde um núcleo de cada vez, mas deve serressaltado que essa separação é exclusiva-mente metodológica e não um reflexo darealidade dessas pessoas.

Núcleo Dona Lourdes

A Dona Lourdes é uma senhora de 63anos de idade casada com Seu Caetano emãe de sete filhos Antonio, Senhorinha, Ro-que, Luis, Ana, Celina e Dirceu. Como algunsdos filhos e seus descendentes não morammais em Barro Branco, concentramos o tra-balho no perfil feminino e infantil dos mora-dores que ainda residem lá.

Dos filhos de Dona Lourdes, Senhori-nha, Roque e Luis se mudaram e hoje vi-vem com as famílias em outros bairrospróximos. Dirceu morreu com um ano de

(3) Informação oral obtida através de entrevista comDna Lourdes e Dona Maria.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

idade de tosse comprida. Portanto, o tra-balho se concentrou nas famílias de Anto-nio, Ana e Celina. Mas primeiramente tra-taremos da figura ao redor da qual todasas demais pessoas vivem, que é a DonaLourdes.

Dona Lourdes acha que nasceu no Su-midouro, não sabe ao certo (Foto). Des-de pequena, por volta dos 10 anos de ida-de, começou a ajudar o pai na lavoura,assim como todos os outros irmãos, equando tinha 13 anos mudou-se com afamília para o Barro Branco. Aos 15 anosse casou e teve seis filhos, hoje tem 24netos e 4 bisnetos. Mesmo depois de ca-sada Dona Lourdes continuou a trabalharna roça, e possuía criação de animais. Hojeem dia ela não trabalha mais, se diz do-ente e sem condições, por isso o netoRoque mora com ela e cuida de criaçãode galinhas e suínos, além de ajudar o avô,Seu Caetano, na lavoura. A nora de DonaLourdes, Zilda, é quem lava a roupa e fazo serviço de casa mais pesado. Ela não

soube dizer ao certo que doença tem, mas“sofre dos pulmões” e já foi desenganadapelos médicos, que receitam apenas re-médio para dor. Frente à perspectiva demorte dona Lourdes se mostra conforma-da e justifica que é a vontade de Deus.Mesmo assim não larga o cigarro de pa-lha que fuma desde menina, pois apren-deu com o pai fumando um pouquinho comele todos os dias.

Dona Lourdes é o centro deste núcleofamiliar e é chamada de Madrinha por to-dos os netos, noras e genros. Todos se diri-gem pela manhã à casa dela e, unindo aspalmas das mãos em frente ao peito, pe-dem a benção. Ela mora em uma casa dealvenaria construída recentemente comosubstituta da antiga casa de pau a pique,da qual só restou a antiga cozinha e o fo-gão à lenha. Ela se diz religiosa e as pare-des da sua sala são cobertas de imagem desantos com São Jorge, Cosme e Damião eNossa Senhora do Bom Parto, que dividemo espaço em meio a brinquedos ganhos nas

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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(4) Os brinquedos ganhos nas quermesses podem

ser encontrados em várias casas do Barro Branco,pendurados nas paredes como se fora um enfeite ouum objeto de ostentação. Mesmo as crianças man-têm os brinquedos dentro das caixas, porque, se-gundo Josieli “a gente tem dó de usar”.

festas e quermesses da região.4 Diz que rezatodos os dias em um pequenino altar nocanto da sala e que quando tem missa elavai, em média uma vez por mês.

Dona Lourdes foi durante muitos anos aparteira da comunidade e responsável pelamaior parte dos nascimentos dos parentes.Dizem que ela e a irmã Ervelina aprenderamsozinhas o ofício, e que Dona Lourdes fezseus próprios partos, sozinha e sem ajuda.A irmã Ervelina já faleceu e Dona Lourdesencerrou as suas atividades há treze anosatrás, quando fez o último parto do nasci-mento de sua neta Jimerilda. Ela afirma quesó o fez porque não deu tempo da mãe che-gar ao hospital, porque naquela época já era

proibido. Ao ser indagado o porque da proi-bição, Dona Lourdes afirma que começarama dizer que não podia ser feito sem licença,e que ela não tinha formação para realizaraquilo. Então ela deixou de ser parteira,mesmo tendo realizado vários partos, todosbem suscedidos. Hoje em dia, todas as mãesdo Barro Branco vão para a cidade e têm osseus filhos no hospital de Ribeirão Grande.

Dona Lourdes mostra os trabalhos ma-nuais que aprendeu a fazer com a mãe eque representam uma das poucas ativida-des que ela ainda realiza. São bordados,colchas de retalhos e forros de estofados queela coloca nas poltronas e cadeiras da sala(Foto). Os bordados são simples e ela osfaz com o aviamento que tiver em casa, fa-zendo bordas e desenhos em retalhos depanos que se transformam em toalhinhas desala e cozinha. As colchas de retalhos sãofeitas com partes de roupas que se estraga-ram ou que não se usam mais, costuradosos retalhos um a um na mão até formaremuma colcha. Já os estofados são feitos com

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

muitos pequenos retalhinhos de panos colo-ridos que são costurados um a um numabase de pano maior, ou entrelaçados na baseformando um trançado no avesso de modo aficarem presos à base sem que se preciseusar linha para costurá-lo. Aparentementeesse é o único tipo de atividade artesanalque ela produz, enquanto que o marido, SeuCaetano, faz pilões entalhados na madeira ecestaria em taquara. Ele e um sobrinho, Adão,são os únicos homens que produzem cestariano Barro Branco. Essa atividade local é mas-culina e, ao que parece, eles foram os úni-cos que aprenderam com Seu Jacinto, fale-cido esposo de Dona Maria e cunhado de SeuCaetano. Nenhum outro homem ou jovem dacomunidade sabe como fazer os balaios.Tendo a taquara em mãos, seu Caetanomanufatura um cesto em 25 minutos e per-mitiu filmar e fotografar todas as etapas deseu trabalho (Foto).

Os cestos são usados para transportaras frutas e legumes da lavoura, para arma-zenar alimentos em casa, para guardar coi-sas pessoais, para abrigo das galinhas nogalinheiro. Vai produzir muitos mais quandose mudar para a nova casa que está em fasede construção.

Dona Lourdes é uma das maiores conhe-cedoras das plantas da região e das ervas,raízes e outras plantas que podem ser utili-zadas como medicamento. Ela foi responsá-vel pelo ditado de parte da lista de plantasmedicinais, suas funções e modo de preparoque consta em anexo. Ela diz que aprendeusobre as ervas com a mãe e passou osensinamentos para as filhas e netas, masressalta que alguns homens também sãoconhecedores das plantas. Ao que pareceesse conhecimento é mais difundido dentrode um universo feminino, no entanto estesaber é de certa forma mais geral, depen-dendo da inclinação e interesse de cada umno conhecimento desta prática medicinal.

Em entrevista, Dona Lourdes conta queantigamente não havia médico na região, en-tão eles costumavam levar os doentes nacurandeira, e usavam os remédios caseiros.Ela própria diz que já foi muito na curandeiraquando era nova, mas não se lembra quaisos procedimentos médicos e nem que tipo deproblema a levou a procurar essa ajuda. Elaconta que antigamente, quando alguém dacomunidade morria, era levado na rede peloantigo peabirú (trilha) para um cemitério. DonaLourdes conta que hoje em dia os mortos sãoenterrados no cemitério da cidade.

Antigamente os velórios aconteciam nascasas e muita gente ia e passava a noiteinteira velando o morto até que amanhe-cesse. Os parentes ofereciam almoço e jantapara todos. Quando ia se comprar o tecidopara fazer a roupa para vestir o defunto, jáse comprava pano para vestir o resto dafamília que estaria em luto. Caso a mortefosse de pai ou mãe, o luto deveria durarum ano, caso fosse marido ou esposa, seismeses, e se não fosse um membro da fa-mília a falecer não era obrigado vestir pre-to. Dona Lourdes conta que se lembra que

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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(5) Dia de Finados

os pais sempre visitavam os mortos, leva-vam flor e cantavam orações. Hoje em diano Dia das Almas,5 todos levam flor para osmortos, mas estes estão enterrados emRibeirão Grande.

Núcleo Dona Maria

O núcleo de Dona Maria é composto porela, seus filhos e netos. Ela tem 65 anos, éirmã de Dona Lourdes e mora no arraial emcasa de pau a pique com a filha solteira cha-mada Pedra. Dona Maria é cega dos doisolhos e não sabe o que resultou nesta ce-gueira (Foto). Ela explica dizendo que amenininha dos olhos está tampada. Quandoindagada a respeito dessa menininha ela dizque um dia sentiu muita dor num olho e de-pois no outro, e que depois da dor a menini-nha dos olhos dela ficou tampada e que ago-ra ela está com problema.

Dona Maria nasceu em Ouro Fino, mo-rou no Sumidouro e viveu quase a vida todano Barro Branco. Nunca foi para a escolaporque não tinha nenhuma no bairro, “a úni-ca escola que tinha era a roça” afirma ela,que ajudava diariamente o pai na lavoura.Não lembra quantos anos tinha quando co-meçou a trabalhar, mas sabe que o pai leva-va todos os filhos bem pequenos, pois eleera muito pobre e trabalhava com os filhoscarpindo o terreno dos outros. A mãe ficavaem casa cuidando das coisas e dos irmãosmenores. Dona Maria ajudava o pai a plan-tar milho, feijão, arroz, tudo para comer emcasa e o que sobrava era vendido na cidade,e diz que foi do mesmo modo que os filhosdela se criaram. No entanto, os filhos maisnovos de Dona Maria puderam estudar umpouquinho no Mobral.

Dona Maria não se lembra com queidade casou, mas sabe que era nova. Omarido, Seu Jacinto, era de Ouro Fino eeles se conheceram quando ela ainda mo-rava com a família no Sumidouro. Os fi-

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lhos todos nasceram e se criaram no Bar-ro Branco, ajudando Seu Jacinto no roça-do. Dona Maria, depois de casada, ia me-nos à roça, mas o marido continuava tra-balhando na plantação, além de lidar comcouro e fazer cestaria. Pelo que foi infor-mado, Seu Jacinto foi o pioneiro naquelelugar a trabalhar com cestaria e foi res-ponsável por passar seus conhecimentosao cunhado Seu Caetano e ao filho Adão,os únicos que preservaram essa atividade.Seu Jacinto faleceu há seis anos, ninguémsoube explicar a causa.

Os filhos de Dona Maria nasceram to-dos em casa e foi a irmã Dona Lourdes quemfez os partos. Mas os netos foram e vãoquase todos para o hospital na hora do nas-cimento. Segundo Dona Maria, o parto emcasa era sem remédio nem curativo nessahora “só Deus que iluminava e os Santos”.O único remédio que se usava era salmou-ra para evitar infecção e bebia-se pinga comarruda para recaída.

Dona Maria se diz religiosa e conta quesempre foi com os pais para a igreja no Bar-ro Branco, Ouro Fino e Ribeirão. Foi batiza-da e crismada “graças a Deus”. Ela fez umaltarzinho para Nossa Senhora dentro decasa, com São José e outros santinhos pe-quenos e fala que quando ela mudar osantinho vai junto.

Conta que quando era nova era comuma igreja fazer festas em Ribeirão Grande eem Ouro Fino, como festas de Nossa Se-nhora, do Bom Jesus, e um monte de ou-tros santos, e que ela e sua família iam atodas. Diz que nestas festas tinha uma pro-cissão para o santo, vinha um padre rezara missa. Depois era feito um leilão para ar-recadar dinheiro para a igreja e que nor-malmente a comida servida era café compão, mas que isso já não existe há muitosanos porque os mais velhos se foram e tudoficou abandonado. Contou também que afesta de Santo Antonio e de São João eramuito bonita em Barro Branco, com procis-são e missa, e que faziam bolo para vendere assavam carne, mas que tudo isso tam-bém foi largado. Segundo ela, antigamente

havia batizado e casamento na igreja dacomunidade com dança e música de tocadorde viola e cantor. Dona Maria diz que hojeem dia não vai mais em festas, e que nin-guém mais vai.

Aprendeu a cozinhar com a mãe tudoo que sabe, aprendeu também com a mãea costurar e fazia colchas de retalho quan-do ainda tinha visão. Não sabe fazer tricônem crochê. Ela também ajudou a barreara casa com a ajuda de toda a família, con-ta ela. A casa foi feita há 16 anos, antesera outra casa de pau a pique no mesmolugar, estragava uma, colocava outra. Porfora ela é revestida de barro branco paradar um melhor acabamento. O fogão foi aCandinha que fez, mas Dona Maria tam-bém sabe fazer e sempre fazia, foi a mãeque ensinou.

Na cozinha de Dona Maria há sobre ofogão um tacho de cobre que era muito uti-lizado para torrar a farinha de milho domonjolo e para fazer biju. Ela conta queaté há pouco tempo atrás a filha Pedra ain-da fazia porque ela prefere a farinha domonjolo que a comprada. Tem também umtacho de melado de cana que utilizarammuito para fazer rapadura. Dona Maria con-ta que foi ela quem ensinou as filhas a co-zinharem de tudo. Diz que quando o mari-do era vivo e tinha muita criação, eles sal-gavam a carne de porco e penduravampara secar num gancho sobre o fogão alenha. Até hoje é possível ver o ganchopendurado lá.

Dona Maria tem também em casa umantigo plantador de grãos que o marido eos filhos utilizavam na roça para semearprincipalmente o feijão. Na parede presaao lado do semeador há ferragens e estri-bos de cavalos confeccionados pelo faleci-do marido, e atrás da porta sua filha Tere-za mostra antigas esteiras de palha nasquais, até não muito tempo atrás, todosdormiam, porque não se usava cama emBarro Branco.

Hoje em dia dona Maria passa a maiorparte de seu tempo dentro da cozinha nacompanhia das filhas. Apesar de ser uma

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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pessoa idosa e cega, recebeu muito bem aequipe e, lúcida, assim como a irmã donaLourdes, rememorou muitos fatos e aconte-cimentos de seu passado e da história deBarro Branco.

Arqueologia Pública e turismo:os encanados de Ribeirão Grande

Os sítios arqueológicos / históricos co-nhecidos localmente como “encanados”correspondem a estruturas construtivas as-sociadas ao ciclo da mineração que se de-senvolveu, na região do alto Paranapanemae vale do Ribeira de Iguape, entre os séculosXVI e XVIII. Atribuídos em parte aos jesuítasespanhóis que chegaram ao vale doParanapanema utilizando-se de itinerários in-dígenas, em parte aos bandeirantes em cons-tante incursão nas áreas de aldeamento jáestabelecidas, os “encanados” serviam nalavra do ouro de aluvião, livre das taxaçõesmetropolitanas até 1702, quando o Regimentodas Minas estabelecia lei que obrigava a co-municação da descoberta e da exploraçãoda lavra às autoridades portuguesas.

Partindo de vários pontos do litoralpaulista, exploradores portugueses busca-vam ouro subindo o curso do Ribeira. Datade 1576 expedição de Garcia Rodrigues Paesque fundou o Garimpo Santo Antônio nasproximidades da atual Iporanga, estabele-cendo um dos núcleos que serviriam de basepara a partida de explorações do alto cursodo Ribeira e, posteriormente, do altoParanapanema. Acredita-se, no entanto, queembora inexistam documentos escritos so-bre a exploração do ouro de aluvião do altoRibeira e do Paranapanema antes da primei-ra metade do século XVI, ela já tivesse ocor-rido antes em pequenas incursões e que te-nham se consolidado na segunda metade doséculo XVI, quando as populações autócto-nes já haviam se integrado aos aldeamentosou eram transformados em mão-de-obraescrava dos bandeirantes.

Neste cenário em processo de conquistae de expansão territorial colonial, as cons-

truções de balos de mineração que arrima-vam as barrancas de rios e córregos commuros de pedras sotopostas sem argamas-sa, assim como no leito dos mesmos,agilizavam a vazão da água, aumentando avelocidade de captação de ouro nas bateias.Estas estruturas de pedra, semelhantes amuros edificados que canalizam considerá-veis extensões dos rios e córregos da região,correspondem aos “encanados”.

O ouro do Ribeira e do alto Paranapanemafoi sendo substituído pelo ouro das MinasGerais, Goiás e Mato Grosso, fazendo com aatividade mineradora na área ficasse porconta de alguns sertanistas, como FranciscoXavier da Rocha que, transferindo-se comtodos seus escravos das Minas Gerais para oParanapanema, fundou em 1728 a Fregue-sia de Santo Antonio das Minas e, mais tar-de, o arraial da Rocinha, hoje cidade de Apiaí.

Com a decadência do ciclo do ouro novale do Ribeira e do alto Paranapanema, otropeirismo tornou-se predominante e cons-tituiu-se como novo ciclo econômico e socialnesta área, que se passagem das rotas dostropeiros para as Minas Gerais e para ra-mais para o interior paulista. Neste períodoos encanados já não são mais construídos ea mineração se torna menos sistemática.Permanece então apenas a exploração dasbarrancas dos rios de maior porte, como oAlmas, que apresenta poços globulares deonde se retirou ouro acumulado em seussedimentos aluviais. Testemunho desta ati-vidade são os sítios encanados Barro BrancoV e Barro Branco VI, identificados e cadas-trados pela presente pesquisa,.

No município de Ribeirão Grande, situadojunto ao divisor de águas das bacias do Ribei-ra de Iguape e do Paranapanema, tais cons-truções são encontradas em bom estado deconservação e indicam um rico legado histó-rico nacional. Prospecções realizadas dentrodo escopo do presente Programa Arqueológi-co Mina Limeira resultaram no cadastro de 5novos sítios “encanados”, contando-se aindacom outros 2 anteriormente conhecidos. ATabela 4, abaixo, traz o nome, coordenadase fonte de pesquisa destes sítios:

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Tabela 4Sítios encanados de Ribeirão Grande

Encanado I

Encanado II

Barro Branco VII

Barro Branco XIII

Cachoeira III

Ribeirão Velho

Limeira III

Rio das Almas

Rio das Conchas

22J 769211/7321987

Rio das Almas

22J 768461/7324017

22J 767636/7323221

Mina Limeira

Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos / IPHAN

Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos / IPHAN

Programa Arqueológico Mina Limeira

Programa Arqueológico Mina Limeira

Programa Arqueológico Mina Limeira

Programa Arqueológico Mina Limeira

Programa Arqueológico Mina Limeira

FonteCoordenadasNome do Sítio

Destes “encanados”, 3 se encontramna área de implantação direta do ProjetoMina Limeira (sítios Limeira III, Barro Bran-co VII e XIII). Neles foram realizadas açõesde registro e resgate, e estão sendo foco,ainda, de análises alternativas de trata-mento e valoração, considerando seu po-tenc ia l de v is ib i l idade em açõesmuseológicas e de turismo patrimonial.Por outro lado, certamente existem aindavários outros “encanados” na região, con-siderando a abrangência das atividades demineração desenvolvidas ao longo dosséculos.

A partir dos dados acima coletados, econsiderando o atrativo destes sítios integra-rem programas turísticos municipais (algunsinclusive já em curso, mas compreendendoiniciativas isoladas e sem enfoque de pre-servação), foi realizada uma primeira análi-se sobre o potencial turístico dos sítios“encanados”, com base nos seguintes crité-rios de avaliação:

• Significado histórico-cultural

• Visibilidade para o público

• Estado de conservação

• Condições de acesso e segurança aovisitante

• Alternativas regionais de lazer no en-torno do sítio

• Propriedade do bem (pública / particular)

Fazem parte desta avaliação os 5“encanados” identificados através da presen-te pesquisa, para os quais contou-se com osdados necessários de análise.

A partir desta avaliação preliminar é pos-sível destacar que, dos 3 sítios localizadosna área de intervenção direta do ProjetoMina Limeira, 2 correspondem a estruturassimples ou de baixa preservação/visibilidade(Mina Limeira III e Barro Branco VII). O ou-tro sítio (Barro Branco XIII) apresenta gran-des dimensões e bom estado de conserva-ção, devendo receber medidas de aprovei-tamento museológico.

Considerações finais

O Brasil é um país formado não ape-nas por uma enorme diversidade de histó-rias locais e contextos culturais, mas tam-bém por uma estrutura social estratificadaonde grande parte da população não temacesso a recursos críticos, incluindo edu-cação. Por conta disso, a recente práticada Arqueologia Pública no país constituidesafio estimulante, uma vez que ofereceoportunidade de criar uma outra visão dopassado humano, mais diversificada e to-lerante, menos rígida e, principalmente,mais próxima dos legítimos herdeiros des-ta história. Aproximamo-nos cada vezmais, afinal, à essência de uma ciênciasocial.

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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Tabela 5Avaliação turistia preliminar – Sítios “Encanados”

Barro Branco VII

Barro Branco XIII

Cachoeira III

Ribeirão Velho

Limeira III

Estrutura de baixa visibilidade, fácilacesso, seguro. Poderia ser integra-do à visita da Capela do Ouro Fino eda Caverna do Cherol.

Significado histórico-cultural: médio

Estrutura composta de grandes di-mensões no rio das Almas, boa vi-sibilidade, em excelente estado depreservação.

Conjunto paisagístico preservadocom presença de queda d’água for-mando tanque e mata ciliar. Pode-ria ser integrado em trilhas que se-guem o rio das Almas curso aci-ma, com pontos bons em miran-tes próximos e/ou roteiros mistosno Ouro Fino.

Significado histórico-cultural: alto

Estrutura simples em ilha fluvial ge-rada pela atividade de mineração norio das Almas; bem preservada, ex-celente visibilidade e fácil acesso.Poderia ser integrado aos roteirosde turismo ao Ouro fino

Significado histórico-cultural: médio

Estrutura complexa de grande di-mensão (150 metros) no RibeirãoVelho; excelente estado de preser-vação.

Significado histórico-cultural: alto

Estrutura simples de pequena dimen-são fronteiriça à Mina Limeira; esta-do de preservação comprometido.

Significado histórico-cultural: médio

Atualmente assoreadoPequenasdimensõesPropriedade particular

Difícil acessoTurismo pode prejudi-car mata ciliar e qualidade da água,além das próprias estruturas demineraçãoBem público

Propriedade Particular

Difícil acessoPróximo à EE Xitué.Turismo pode prejudicar mata atlân-tica desenvolvida.

Baixa visibilidadeDifícil acessoBaixa integração aos roteiros turís-ticos potenciais da região

Pontos de atençãoPontos fortesSítio

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O desenvolvimento econômico que o Bra-sil atravessa, nesta virada de século, trazgrande impacto ao seu patrimônio arqueoló-gico, considerando os usos e desusos quesão feitos de seu território. Pela primeira vezna história da disciplina, creio eu, nos depa-ramos com uma ameaça que há poucos anosatrás não nos afligia: a de que nossodatabase é finito.

Assim hoje a Arqueologia necessita in-corporar um outro perfil, lado a lado com acomunidade que cria, destrói e preserva seusrecursos. Não lhe basta ser multidisciplinar:necessita ser também multicultural, na me-dida em que incorpora os muitos passadospossíveis.

Quais as mudanças necessárias à Arque-ologia tradicional, acadêmica e enquanto pro-fissão emergente, para este século XXI?Quem estará à frente desta mudança, de-senvolvendo novos programas de treinamen-to e currículos acadêmicos necessários parao futuro?

O desenvolvimento sistemático de açõesem Arqueologia Pública está em grande par-te ligado a pesquisas junto a processos delicenciamento ambiental, onde cada vez maisos estudos têm como objetivo definir proce-dimentos e estratégias de sustentabilidadesócio-ambiental em um contexto capitalista.

Apesar da questão “O que deve ser sus-tentado?” nunca terá um paradigma unifica-do, há consenso sobre a efetiva participaçãoda comunidade na pesquisa arqueológica,com base em uma estrutura não hierárquicaem que métodos de trabalho e interpretaçãonecessitam interagir.

Desde a Conferência das Nações Unidassobre Ambiente e Desenvolvimento ocorridono Rio de Janeiro, em 1992, “desenvolvimen-to sustentável” se tornou palavra-chave deum discurso político internacional voltado àqualidade de vida, conservação dos recur-sos naturais e responsabilidade para gera-ções futuras. Apesar das discussões teremsido inicialmente voltadas às ciências natu-rais e análises de crescimento populacional,relaciona-se a uma discussão baseada nadefinição social, histórica e cultural do pro-

blema: a viabilidade de serem mantidas re-lações socialmente definidas entre a nature-za e a comunidade durante longos períodosde tempo. Desta forma, o discurso sobresustentabilidade é basicamente público eestreitamente vinculado a problemas comojustiça social e regulamentação política.

Sustentabilidade ou não sustentabilidadecorresponde a uma qualidade de condiçõese processos dentro de um continuum de con-dições e processos possíveis. Neste sentido,não se pode considerar a sustentabilidadeambiental e a sustentabilidade social de for-ma isolada. Ao contrário, o foco deve recairna interação entre elas, buscando a viabili-dade de suas relações durante longos perío-dos de tempo. Por outro lado, considerandoa rápida transformação por que as socieda-des passam atualmente, a sustentabilidadenecessita ser concebida dentro de uma pers-pectiva dinâmica, e não baseada em estru-turas estáticas.

Nós, arqueólogos, precisamos nos per-guntar: Qual a conexão entre nosso campode conhecimento e sustentabilidade social?Como podemos contribuir dentro desta pers-pectiva? Quais novos tópicos devemos incor-porar à nossa área de atuação?

Dentre as respostas possíveis, destaca-se o estímulo à coesão social através do es-tabelecimento de pontes entre o presente eo passado, preservando histórias e tradiçõese valorizando a herança cultural. Observa-se assim, portanto, uma grande mudança deperspectiva na prática da profissão: hoje aArqueologia parte de um profundo conheci-mento do presente para dar significado aopassado e perspectivas de futuro, especial-mente em países em desenvolvimento comoo Brasil. O processo pós-colonial e as infor-mações tecnológicas disponíveis criaram umnovo contexto no qual a Arqueologia deveatuar.

Como conseqüência deste conjunto deações, esperamos, virá a tolerância e a pos-sibilidade de cooperação voltada à constru-ção de uma sociedade mais democrática.Nossa perspectiva é que o trabalho desen-volvido (e ainda em andamento) na pequena

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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia públicaligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.

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comunidade de Barro Branco possa tercontribuido neste caminho.

O trabalho de cadastramento de sítioshistóricos do tipo “encanados” na área seinsere, portanto, dentro de uma iniciativa devalorização e preservação patrimonial, cons-tituindo uma segunda alternativa de aplica-ção da Arqueologia Pública no Programa Ar-queológico que vem sendo desenvolvido.

Agradecimentos

Venho inicialmente agradecer a comuni-dade de Barro Branco pela sua paciência,generosidade e compromisso com a presen-te pesquisa. Sem eles nosso esforço seriaem vão. Agradeço ainda à Companhia deCimento Ribeirão Grande (CCRG) e, em es-pecial, a Luiz Carlos Busato, Antonio MauroMendonça Barbosa e Paulo Ricardo SilvaGobbo, incansáveis estimuladores e defen-sores dos programas socio-ambientais que

a empresa desenvolve; devo a eles, em gran-de parte, a oportunidade de desenvolver osestudos e contribuições que o presente arti-go busca trazer. Agradeço às instituições queapoiaram as pesquisas, a saber, o Núcleo deEstudos Estratégicos/ Arqueologia Pública daUNICAMP e a Fundação Cultural de Jacarey,no centro das quais ocorreu grande parte dasdiscussões conceituais trazidas por este ar-tigo. Agradeço igualmente aos inúmeros ar-queólogos, historiadores, geógrafos e cien-tistas sociais que, comigo, partilharam des-tas pesquisas, onde destaco os amigos Dr.Paulo De Blasis, Dr. Andrés Zarankin e Ms.Wagner Gomes Bornal. Agradeço especial-mente o enorme empenho e compromissode Gerson Levi da Silva Mendes em todas asetapas da pesquisa, bem como de CintiaBendazolli pelo belíssimo trabalho junto aouniverso feminino e infantil da comunidadede Barro Branco. A todos eles e aqueles que,por falta de espaço, não pude citar, meussinceros agradecimentos.

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Resenhas

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Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Este livro, co-editado por uma das pio-neiras dos estudos das imagens na arqueo-logia, oferece uma interessante coletânea detrabalhos sobre a análise do discurso visualem arqueologia. Envisioning the Past foi tam-bém a primeira Conferência Internacionalsobre o tema na Southampton University(2000). Não foram publicadas as atas daque-la conferência, o que atualiza e valoriza ain-da mais a temática com esta nova publica-ção. A articulação do livro em doze brevescapítulos permite ter uma boa panorâmicados principais objetos de estudo neste novocampo de pesquisa arqueológica. Analisa-seo papel das imagens na construção do co-nhecimento arqueológico: as imagens sobreas origens da humanidade, o papel do ima-ginário pré-histórico na construção das iden-

tidades, as diferentes fontes do repertórioiconográfico arqueológico, o destaque dasimagens na arqueologia contemporânea tan-to no trabalho de campo quanto na divulga-ção popular ou formal, sem esquecer asnuances que a introdução das novastecnologias implica. No entanto, visando umamelhor aproximação a este tipo de estudos,a ordenação temática dos diferentes capítu-los teria sido uma opção adequada. Assimmesmo, a própria brevidade dificulta o pas-so entre a proposta teórica e a amostra ana-lisada. Mesmo sendo as imagens o fio con-dutor do livro, os diferentes capítulos suge-rem outras interessantes linhas de pesquisano âmbito da antropologia do patrimônio, dadivulgação arqueológica e da construção dacomunidade e a cultura arqueológica.

Sam Smiles y Stephanie Moser (eds.): Envisioning the past. Archaeology and the image.Blackwell Publishing. Malden. Oxford y Carthon. 246 páginas.ISBN. 1-4051-1150-X

Ana Maria Mansilla Castaño*

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(*) Escola Oficina de Restauro de [email protected]

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Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Os títulos dos capítulos identificam jáas differentes teorias que, sob o ponto devista teórico, têm apoiado o colonialismono discurso arqueológico. Sincronicamentesão analisados os discursos desde as pri-meiras teorias que configuraram a própriadisciplina até hoje. O segundo objetivo dolivro, depois da análise de como o discur-so arqueológico, juntamente com outros,tem contribuido e contribui ao colonialismo,que é oferecer alternativas para uma prá-tica arqueológica descolonizada, se resol-ve rapido demais, uma vez que têm sidoapresentadas questões terminológicas econceituais de grande interesse, como aproposta de desconstrução do termo “Pré-História”. Isto porque, o sentido de tempo

anterior à história resulta ofensivo paraas populações indígenas que entendemque nenhum povo é povo sem história.Perante os termos de “community archaeology”e “shared history”, que enfatizam as rela-ções entre os arqueólogos e as comuni-dades locais, os autores sugerem suasustituição pelo termo de “partnershipresearch”. Aborda-se o caso australiano,mas nas frequentes referências a outrascolonias de povoamento sente-se a faltade algumas experiências no contexto daAmerica Latina e não apenas o olharanglo-saxâo. O que não retira valor à su-gestiva e exaustiva análise crítica dasconflitivas relações entre a arqueologia ea sociedade contemporânea.

Ian J. Mcniven e Lynette Russell (2005): Appropiated pasts. Indigenous peoples and thecolonial culture of Archaeology. Walnut Creek. Altamira Press. 317 Páginas. 8 Ilustrações.ISBN 0-7591-0906-9

Ana Maria Mansilla Castaño*

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(*) Escola Oficina de Restauro de [email protected]

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

REVISTA “ARQUEOLOGIA PÚBLICA”

A revista “Arqueologia Pública” é uma iniciativa do Núcleo de EstudosEstratégicos em Arqueologia Pública/UNICAMP. Com periodicidade anual,objetiva constituir um fórum de debate sobre o caráter público da dis-ciplina e sua importância social na atuação e manejo do patrimôniocultural. Tem como prioridade a publicação de trabalhos inéditos eoriginais, embora poderão ser aceitos, excepcionalmente, trabalhospara republicação em português. Os autores da revista têm o prazerde convidá-lo(a) a participar desta empreitada, encaminhando traba-lhos e fornecendo comentários/ sugestões que permitam aprimorar apublicação.

Instruções aos colaboradores

1. Forma de apresentação

Os autores devem encaminhar à reda-ção uma cópia impressa do trabalho com-pleto, acompanhada por disquete ou CD. Odisquete ou CD deve estar identificado como nome do autor principal e com o nomedo programa processador de texto, quedeve ser compatível com softwares tipo MS-Word, sistema IBM PC. Deverá trazer indi-cação do tipo de contribuição a que se re-fere (artigo, nota, resumo de tese etc.).Depois de recebido o aceite do ConselhoEditorial e do(s) parecerista(s), o autor serásolicitado a enviar à redação os originaisdas ilustrações, em meio digital. Os auto-res devem manter em seu poder cópias dostrabalhos e ilustrações, pois o material nãoserá devolvido. Todos os trabalhos serãoapreciados por pelo menos um membro doConselho Editorial. Antes de serem aceitospara publicação passarão ainda pela aná-lise de pelo menos um parecerista. Os no-

mes dos pareceristas serão mantidos emsigilo, assim como dos autores dos traba-lhos que estiverem sendo avaliados.

2. Idioma

Os trabalhos devem ser escritos em por-tuguês, espanhol ou inglês. No caso de con-tribuições em português ou espanhol, a se-gunda língua utilizada no título, palavras-cha-ve e resumo deverá ser o inglês. No caso decontribuições em inglês, a segunda línguautilizada no título, palavras-chave e resumodeverá ser o português.

3. Tipos de contribuição

Artigos: Resultados de Programas emArqueologia Pública, reflexões teórico-metodológicas, análises científicas, revisõescríticas (máximo total 30 páginas com ilus-trações, bibliografia, notas de rodapé e ou-tros). Deverá conter 5 palavras-chave e re-sumo de no máximo 100 palavras.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

Notas: Resultados parciais ou prelimi-nares de pesquisas em andamento (máximototal 10 páginas com ilustrações, bibliogra-fia, notas de rodapé e outros). Deverá con-ter 5 palavras-chave e resumo de no máxi-mo 100 palavras.

Resumos de teses: Resumos de tesese dissertações com abordagem em Arqueo-logia Pública, defendidas nos últimos doisanos (máximo total 5 páginas com ilustra-ções, bibliografia, notas de rodapé e outros).Deverá conter 5 palavras-chave e resumo deno máximo 100 palavras.

Resenhas: Resumo crítico de livros quepermitam atualização na área de Arqueolo-gia Pública (máximo total 1 página).

4. Preparação dos originais

Configuração:Os trabalhos deverão ter o número má-

ximo de páginas especificado para cada tipode contribuição, de tamanho A4, fonte Arial,corpo 12, espaço duplo. A margem inferior ea superior devem ser de 2,5 cm, esquerda edireita de 3,0 cm, não justificada.

Paginação: as páginas devem ser nu-meradas consecutivamente e não deve ha-ver anexo.

Primeira página: deve conter o títulodo trabalho, o(s) nome(s) do(s) autor(es)sem qualificações ou títulos, mas comafiliação e, se houver interesse, endereçoeletrônico, sendo necessário escrever clara-mente se deseja que seu endereço eletrôni-co seja publicado. Deve ainda ser incluídoum endereço postal completo, número detelefone (e/ou fax) e endereço eletrônico doautor para quem a correspondência deva serenviada.

Segunda página: deve conter 5 pa-lavras-chave e um resumo de no máximo100 palavras, onde devem estar claramen-

te indicadas as linhas gerais e conclusõesdo trabalho. O resumo deverá estar emduas línguas, de acordo com as normasespecificadas no item 2 (Idioma).

Tabelas e gráficos: devem ser apre-sentados em folha separada no final do tra-balho, com identificação e nome do autorprincipal.

Notas de rodapé: devem ser numera-das automaticamente em algarismos arábi-cos e aparecer ao final do texto.

Ilustrações: devem ser apresentadasem folha separada no final do trabalho eidentificadas como Fig. 1, Fig. 2 etc.,seqüencialmente de acordo com a ordem emque aparecem no texto, e devem estar pron-tas para reprodução. Se precisar, deve-se dei-xar clara a orientação da ilustração. Certifi-que-se de que as ilustrações ainda serão le-gíveis após uma redução de 50%. Se tive-rem sido feitas em computador, deve-se tam-bém enviá-las em disquete ou CD, devida-mente identificados com o nome do autorprincipal e o programa utilizado. As fotogra-fias devem ser em preto e branco.

Referências bibliográficas:

a) no texto: (Baldus 1944), (Prous 2003:44), (Baldus 1944, Prous 2003), (Kneip et al.1995) e (Neves & Blum 1998).

b) na lista de referências: só deve serlistada a bibliografia citada. Ela deve estarem ordem alfabética pelo sobrenome do au-tor citado em primeiro lugar.

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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.

5. Exemplares do autor

Será enviado ao autor principal 5 exem-plares do número em que sua contribuiçãoestiver publicada.

6. Direitos de propriedade

A simples remessa de originais à revistaimplica a autorização para sua publicação.Não serão pagos direitos autorais. É de in-teira responsabilidade do(s) autor(es) decada trabalho coletar as permissões e agra-decimentos necessários para sua publicação.Os conceitos emitidos nos textos publicadosserão de responsabilidade exclusiva dos au-

tores, não refletindo obrigatoriamente a opi-nião da Comissão Editorial.

7. Endereço

Os trabalhos devem ser enviados para:[email protected]

8. Cronograma

A publicação do primeiro número da Re-vista Arqueologia Pública está prevista parajulho/06. Para tanto, os trabalhos devem serencaminhados até no máximo 31.01.06.Aqueles que chegarem depois disto deverãoser reservados para o próximo número.

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