Revistas do sec xx

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Aline Marques e Samuelly Ribeiro

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Apresentação

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Aline Marques e Samuelly Ribeiro

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A vinda da corte portuguesa para o Brasil, no início do século XIX, tornou possível as primeiras publicações de

livros, jornais e revistas em território nacional.

A primeira revista não oficial do país, lançada na Bahia, em 1812 pelo jornal Idade d’Ouro do Brasil, tinha como título As Variedades ou Ensaios de Literatura

e sequer foi apresentada como revista.

Apenas em 1828, no Rio, a primeira publicação rotulada como “revista” foi lançada: a Revista Semanária dos Trabalhadores Legislativos da

Câmara dos Senhores Deputados.

Estes primeiros periódicos não tinham uma preocupação formal com o design editorial, tinham em comum o formato conservador e o uso

mínimo de ilustrações.

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Dentre as primeiras revistas brasileiras destacam-se a Semana Illustrada (1861-1876) de Henrique Fleuiss e a Revista Illustrada (1876-1898) de Angelo Agostini.

Ambas exploravam bastante o uso de ilustrações, e tinham a política como tema principal de suas charges.

Porém, foi no século XX que houve uma explosão de publicações, e assim, um aprimoramento na produção e no design das revistas brasileiras.

O Malho, Para Todos... , A Maçã, Senhor e Realidade, são os destaques neste século.

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José Carlos de Brito e Cunha, mais conhecido por J. Carlos, foi um dos principais nomes da área gráfica na década de 1920 por trabalhar na colaboração, criação

e diagramação de diversos periódicos semanais ilustrados.

Ele também produzia anúncios e ilustrava charges políticas das revistas com as quais trabalhou.

Iniciou seu trabalho em O Tagarela, até ser convidado para ilustrar Careta onde adquiriu maior conhecimento gráfico e de novas tecnologias.

Posteriormente atuou como diretor de arte no grupo O Malho S.A, onde trabalhou com as revistas O Malho, Para Todos... e Illustração Brasileira, entre outras.

J. Carlos é qualificado como designer gráfico uma vez que no período de atuação no grupo de O Malho, aprimorou o projeto gráfico de cada revista de acordo com seus assuntos e público alvo, inovando e mantendo a identificação com o público.

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O Malho

Voltada para o público masculino, O Malho teve início em 1902.

Charges, reportagens fotográficas, caricaturas, críticas culturais, charadas e afins compunham a revista que contava com o prestígio de

grandes nomes como colaboradores.

J. Carlos, Raul Pederneiras, K.lixto e Luiz Peixoto nas ilustrações, Olavo Bilac, Emílio de Menezes e Bastos Tigre nas redações.

Com formato de 23x32cm, 64 páginas, dois terços da revista era impressa em papel jornal (uma ou duas cores) e um terço em papel couché (uma a três cores).

As charges tinham conotações políticas, e os ‘calungas’ representavam caricaturas de políticos da época, agrupamentos sociais ou figuras alegóricas.

As figuras femininas estavam restritas ao último grupo.

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As capas de O Malho geralmente eram impressas em duas cores, por vezes, três. O vermelho utilizado nas capas era marcante, tinha função de

destaque nos pontos de venda, e também remete à oposição política.

No ano em que assumiu, J. Carlos adotou nas capas uma moldura nas charges que separavam o cabeçalho (título da revista, ano e número da publicação) da

ilustração, e do texto no rodapé. Em 1927, decide retirar a moldura e sangra as imagens de maneira que texto e imagens se integrem.

Uma das principais preocupações de J.Carlos era com o nível de instrução do leitor, e por isso as ilustrações eram muito utilizadas tanto como linguagem, representando ou dando pistas sobre o texto, quanto

fazendo quebras para dar leveza ao volume denso de texto.

A fotografia em O Malho tinha autoridade documental, e seu processo de impressão ainda era recente no Brasil, porém J. Carlos consegue manter um

dinamismo na diagramação da revista.

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Para Todos...

Em seu primeiro momento (1918-1926), era voltada exclusivamente para o cinema, e posteriormente às várias expressões artísticas e culturais. Para Todos...

tinha como público principal jovens do sexo feminino de classe média alta.

Com tema mais leve suas capas se tornaram “um verdadeiro tesouro do design gráfico art déco” (SOBRAL, 2005, p. 144).

Elas não tinham o compromisso de estar vinculadas com acontecimentos muito recentes, o que permitiu criar um conjunto de

capas que contavam histórias, como no caso do carnaval de 1927.

O projeto gráfico de Para Todos... era parecido com o de O Malho. O formato também era de 23x32cm, e também utilizava folhas de papel jornal e couché, porém, apenas

as oito primeiras páginas eram impressas no primeiro tipo de papel.

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Em Para Todos... , J. Carlos também teve preocupação de deixar a leitura mais leve, aumentando a entrelinha e arejando a mancha tipográfica.

A fotografia é o recurso gráfico principal da revista, e mesmo não sendo a principal expertise de J. Carlos, o ilustrador começa a experimentar recortes de

fotografias que se integravam com elementos decorativos ilustrados.

O conteúdo da revista era um retrato da alta sociedade brasileira da época, e isso pode ser percebido devido ao

requinte do trabalho feito por J. Carlos.

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A Maçã

Lançada em 1922, no Rio de Janeiro, A Maçã tinha literatura provocante, voltada para o público masculino.

O principal nome da revista era Humberto de Campos que assinava os contos com o pseudônimo de Conselheiro xx.

Desde o início, A Maçã pautava assuntos considerados tabus da época como traição, emancipação feminina e desejos sexuais, por isso, a sociedade via com maus olhos a revista, e muitas vezes seus colaboradores preferiam utilizar pseudônimos para não

perderem trabalhos em outros periódicos mais tradicionais.

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O projeto gráfico de Ivan

O primeiro desenhista a frente do projeto gráfico foi Manlius Mello que usava o pseudônimo de Ivan. Foi ele quem desenhou o primeiro logotipo da revista que perdurou nos primeiros dois anos da revista. Calixto Cordeiro, ou simplesmente

K.lixto também foi um grande colaborador em vários momentos da revista.

Alguns personagens ficaram marcados pela revista como o “almofadinha” - desenhado com trajes elegantes -, e a cocotte - representação da mulher independente,

provocativa, sensual, e que era considerada como uma prostituta de luxo.

O formato era de 17,8x26,8cm e era impressa em duas cores na primeira e na quarta capa.

A capa era formada por um cabeçalho com o logotipo, acompanhado pelo nome do editor, a data da publicação à direita e o número junto ao ano à esquerda; abaixo

vinha a ilustração acompanhada por um título e uma legenda.

A cor vermelha nas capas e a influência art nouveau nas ilustrações eram evidentes.

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O projeto gráfico de andres guevara

Enquanto o anterior tinha forte influência art nouveau, o novo traz o art déco para as páginas da revista.

Em 8 dezembro de 1923, a quarta capa anuncia a reforma da revista já na próxima edição. O novo logotipo torna-se mais geometrizado, e flutua à

esquerda no topo da capa. Os traços, as formas e os ornamentos também ficam mais geometrizados e simplificados.

A página editorial é reformulada, o desenho do topo da página é eliminado, a fim de comportar integralmente os contos na página que se destina. Aumenta a valorização do

espaço brancos e dos tipos, e a relação entre desenho e fotografia é estreitada.

A ilustração fica mais valorizada na capa, e a diagramação do miolo mais organizada. É notória a participação do designer no planejamento da integração entre imagem e

texto em algumas páginas duplas utilizando ilustrações de K.lixto em 1925.

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SENHORRevista carioca cujo assunto abordado era a cultura e que se destacou pela

ilustração como linguagem gráfica, Senhor foi criada em 1959 e circulou até 1964.

Era publicada mensalmente com tiragem de aproximadamente 40 mil exemplares, e seu “período áureo” foi durante os primeiros três anos.

Seu projeto gráfico baseado em referências de revistas internacionais foi montado pelo artista plástico Carlos Scliar, que ao lado de Glauco Rodrigues - outro

reconhecido artista plástico brasileiro - foi responsável pelo design de Senhor.

Nas capas da revista, durante os três primeiros anos, a ilustração marcou presença em quase todas as produzidas. De acordo com Melo (2005, p. 108), isso se deve ao fato de os

autores serem artistas vinculados à pintura, ao desenho e à gravura.

Foram exploradas diversas técnicas e cada capa constituía uma peça visual autônoma que não necessariamente estava vinculada ao conteúdo da edição. Contudo, havia uma temática que predominava nas ilustrações e girava em torno do universo do leitor da

revista, que fazia parte de um público de bom poder aquisitivo.

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Na capa, temos a identificação da revista através do logotipo que foge às regras convecionais por mudar de lugar e de tamanho a cada edição.

No miolo de Senhor, concilia-se variedade com unidade visual de maneira que se mantenha uma identidade do conjunto. Não há adoção de um grid rígido, mas existem padrões que eram seguidos em diversas seções e havia preocupação com

as peculiaridades de cada matéria - que eram projetadas uma a uma.

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As ilustrações do miolo estão sempre bem relacionadas ao desenho das páginas.

“O que vemos não são imagens autônomas transplantadas para o interior de uma revista, mas sim desenhos que estruturam as páginas.”

A maioria das ilustrações cabem à Glauco Rodrigues, no entanto Scliar faz algumas colaborações com suas naturezas-mortas.

Os cartuns de Jaguar são responsáveis pelo humor e leveza na revista, com abordagens relacionadas aos costumes da época. Em cada edição estão presentes três ou quatro cartuns de página inteira, apesar de não haver uma seção específica para eles.

Nas páginas do miolo a tipografia nos títulos das matérias é tão explorada quanto as ilustrações. Utilizam-se as mais “variadas possibilidades expressivas” de acordo com o contexto.

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Apesar de em Senhor predominar a ilustração, a fotografia não é totalmente ausente. Ela aparece como resultado de manipulações em laboratório, que a

transforma numa informação pictórica.

Outro diferencial expressivo de Senhor podia ser notado em sua produção gráfica. O papel utilizado na capa e no miolo é “fosco, áspero e encorpado”; a qualidade da

impressão era supervisionada de perto por Scliar.

Em algumas edições havia a inserção de um libreto em formato menor com uma breve obra literária.

Sua impressão era quase inteiramente numa só cor - a quadricromia aparecia por vezes em algum encarte impresso, inseria-se lâminas de papel colorido, ou havia o

acréscimo de uma segunda cor em algumas páginas

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A propaganda esteve presente na revista de maneira peculiar, pois conseguiu-se delimitar que o espaço destinado a elas seria no início ou no fim da publicação.

A maioria dos anúncios eram feitos pela própria equipe de arte - o que garantia unidade visual em relação às outras páginas.

Outro ponto pelo qual Senhor se diferencia nesse quesito, é na veiculação de anúncios que rompiam os padrões da linguagem publicitária convencional. Como exemplo

desse experimentalismo pode-se citar uma sequência de 24 páginas com personagens interagindo com eletrodomésticos, que se baseia na linguagem da telenovela.

Como é possível perceber, em Senhor “ocorreu uma simbiose entre as linguagens das artes plásticas e o design”.

A revista foi capaz de combinar imagem, texto e diagrama de forma que esses estivessem totalmente relacionados entre si. A ilustração ganhou valor no contexto da página, além

de se manter como uma obra plástica.

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REALIDADERealidade foi uma revista dirigida ao grande público que começou a ser publicada em 1966, e desde então mostrou a que veio. Desde sua primeira edição apresentou o perfil de apresentar na capa um retrato que já traz embutida uma narrativa, e a

incorporação da ficção na prática jornalística - influência do new jornalism.

Outra característica de Realidade era o jornalismo em primeira pessoa, na qual o jornalista descreve a reportagem de acordo com sua vivência

do fato. O tom pessoal nesse caso não se restringe ao texto, pois este vem sempre acompanhado de imagens.

A fotografia em Realidade tem forte presença de fotógrafos estrangeiros que captam através de seu olhar aspectos que os nativos não são capazes, por enxergarem como

hábito o que para eles é novo.

As capas de Realidade em sua quase totalidade apresentam figuras humanas, a fim de se dirigir ao grande público. No entanto elas não se ancoram diretamente no registro

de fatos, mas buscam expressar uma análise, um ponto de vista.

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No miolo o grid é sóbrio, e se destaca pela relação do texto com a fotografia. O texto recebe tratamento diferente nos destaques - títulos e fragmentos textuais que complementam as imagens, e no texto corrido das matérias.

Nos textos de destaque é possível perceber sua flexibilidade para permitir que a imagem alcance o significado pretendido. Já os textos das matérias são tratados como blocos

autônomos que independem da fotografia, e ocupam uma massa compacta na página

Apesar da fotografia ser o centro do discurso visual em Realidade, a ilustração está presente e se apresenta de duas formas distintas: como

desenhos informativos que compõem diagramas para explicar questões de natureza científica, e relacionadas a textos literários como em Senhor.

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Nas aberturas de matérias foram exploradas sequências que constituíram ensaios verbo-visuais. Estes eram caracterizados por

combinar imagens de caráter autoral com textos curtos, seguidos de blocos compactos de textos corridos.

A partir da influência das aberturas compostas por ensaios visuais, foram feitas também matérias exclusivamente visuais, onde o texto era

praticamente ausente.

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Nas fotografias das aberturas é possível perceber a influência da linguagem cinematográfica sobre a linguagem gráfica. As cenas retratadas ganham

movimento através de cortes, aproximações, afastamentos e mudanças de ângulo, que são produzidos na mesa do arte-finalista

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Em Realidade também vemos a ruptura da fotografia com a verossimilhança, com a utilização de imagens menos comprometidas com a representação realista.

Em algumas aberturas é possível verificar o uso das imagens em baixa definição, com borrões produzidos pela captação em velocidade baixa e em ângulos inesperados.

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A tipografia utilizada na revista acompanha o tom seco do diagrama, variando muito pouco para não rivalizar com a fotografia. São

utilizadas fontes grotescas, serifadas e condensadas no logotipo e nos títulos das aberturas.

Realidade foi lançada pela Editora Abril em 1966, depois de uma longa gestação. Seus três primeiros anos foram os mais efervescentes e seu

declínio começou após o AI-5 quando todo o comando do corpo editorial foi demitido, vindo a ter seu fim em 1976.