REY - Parasitologia - 18

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PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA 18. ANCILOSTOMÍASE 18. ANCILOSTOMÍASE Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro

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PARASITOLOGIA MÉDICA

PARASITOLOGIA MÉDICA

18. ANCILOSTOMÍASE18. ANCILOSTOMÍASEComplemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia

Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos deMedicina e Saúde”, de

Luís ReyFundação Oswaldo CruzInstituto Oswaldo Cruz

Departamento de Medicina TropicalRio de Janeiro

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AncilostomíaseAncilostomíase

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Os ancilostomídeosOs ancilostomídeosSão pequenos vermes da

família Ancylostomatidae (clas-se Nematoda) e parasitos obri-gatórios de mamíferos.

Duas espécies parasitamfreqüentemente o homem e sãoresponsáveis por uma doençatipicamente anemiante: é aancilostomíase ou ancilosto-mose. São elas:

Ancylostoma duodenale eNecator americanus,que produzem praticamente

o mesmo quadro clínico.Os vermes adultos vivem na

luz do intestino delgado fixadosà mucosa, da qual sugamsangue.

Põem ovos que embrionamno solo, onde as larvas eclodeme vivem durante alguns dias, nu-trindo-se de matéria orgânica.

Depois de 2 mudas, passam aser larvas infectantes (embai-nhadas pela cutícula da últimamuda que não se desprende).

As L3 não se alimentam.Mas, podem penetrar através

da pele das pessoas que andamdescalças por terrenos poluídoscom fezes humanas. No caso deA. duodenale a infecção podedar-se por via oral.

As espécies que parasitamcães e gatos (A. braziliensis, A.caninum etc.) que não conse-guem completar sua evoluçãona espécie humana, podeminvadir a pele e nela perma-necerem algum tempo.

Aí abrem túneis na epidermee produzem uma dermatiteconhecida como larva migranscutânea ou “bicho geográfico”.

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Os ancilostomídeosancilostomídeosEstes helmintos medem cerca de 1 cm de

comprimento, os machos (A) sendo poucomenores que as fêmeas (B). Eles apresentamduas estruturas muito características: acápsula bucal (a) e a bolsa copuladora dosmachos (g).

Em ambos os sexos, a cápsula bucal é umamodificação da extremidade anterior, formadapela cutícula, que permite ao verme aderir, porsucção, à parede do intestino. Tem formaglobular, com ampla abertura para o exterior,em cujas margens encontram-se papilassensoriais.

A cápsula é provida de estruturas quedilaceram a mucosa intestinal, como dentes,lâminas cortantes ou saliência pungitivas.

O sistema digestório continua-se com umesôfago muscular claviforme e um intestinosimples, que nas fêmeas termina no ânus e,nos machos, abre-se na bolsa copuladora.

Ancylostoma duodenale.A, macho; B, fêmea; a)cápsula bucal; b) glândulacefálica; c) o testículo;d) vesícula seminal; e) canalejaculador; f) espículos; g) abolsa copuladora do macho;h) faringe; i) útero; j) ovário;k) intestino; l) reto e ânus. C,ovos.

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As espécies parasitasAs espécies parasitasOs ancilostomídeos que

parasitam o homem habitual ouocasionalmente podem serdistinguidos pela morfologia dacápsula bucal e pela da bolsacopuladora.

As figuras ao lado mostram asdiferenças entre as principaisespécies, pela cápsula bucal (A):

Ancylostoma duodenale (B),com dois pares de dentes nacápsula bucal;

Necator americanus (C), comlâminas cortantes na cápsula;

A. braziliensis (D), com um parde dentes grandes e um pequeno;

A. Caninum (E), com 3 pares dedentes.

A, Corte sagital da cápsula bucal:a) boca; b) dente; c) parede dacápsula; d) lanceta; e) canal do dentedorsal; f) lado dorsal; g) lado ventral;h) esôfago.

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Na ancilostomíase, as relaçõesparasito-hospedeiro têm lugaratravés da fixação do helminto àmucosa intestinal que é aspiradae dilacerada, seja com as placascortantes (VCP, DCP) de Necator,seja com os dentes e lancetasdos Ancylostoma.

A cápsula bucal

A. caninum

A. duodenaleNecator

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Bolsa copuladoraA bolsa copuladora é uma expansão cuticular da extremidade

posterior dos machos, sustentada por raios carnosos agrupados demodo diferente para cada espécie e permitindo, portanto, identificá-las.

A, Bolsa copuladora de Necator; B, Bolsa de Ancylostomaduodenale, vistas de lado, distendida e de frente. Os raios são: a)ventrais; b) externo-lateral; c) mediano; d) látero-dorsal; e) externo-dorsal; f) dorsal.

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Reprodução e ciclo vitalO sistema reprodutor destes

helmintos é de tipo tubular ebastante simples, havendo doisovários e um só testículo.

Os machos têm como anexos,dois espículos finos e longos e abolsa copuladora com que sefixam às fêmeas durante acópula

Estas depois de fecundadas,põem ovos de casca fina quelogo iniciam a segmentação.

Necator põe 6 a 11 mil ovos pordia, medindo entre 64 e 76 µm, aopasso que Ancylostoma duodenalepõe 20 a 30 mil com dimensõesentre 56 e 60 µm.

O embrionamento larvário com-pleta-se no meio exterior emcerca de 18 horas e a eclosão dá-se em um ou dois dias, saindouma larva rabditóide, isto é, com oesôfago formado por corpo, istmoe bulbo.

Ovos de ancilostomídeos em duas fase de embrionamento (A e B) e com uma larva já formada no seu

interior (C).A B C

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Reprodução e ciclo vital

A larva rabditóide de 1ºestádio (ou L1) mede cercade 250 µm de comprimento,o esôfago correspondendoa 1/3 disso.

Ela se alimenta ativa-mente de bactérias ematéria orgânica do solo ecresce de modo que aostrês dias tem lugar a 1ªmuda.

A larva rabditóide de 2º estádio (L2)cresce mais até atingir 500 a 700 µm.Seu esôfago alonga-se, passando a serde tipo filarióide.

Ocorre então a 2ª muda. Mas, agora, avelha cutícula permanece envolvendo alarva como uma bainha e isolando-a domeio ambiente: é a larva filarióideembainhada ou encistada (L3). Umasemana depois torna-se infectante.

Nesse 3º estádio, ela já não sealimenta, mas passa a consumir suaspróprias reservas energéticas, que lhepermitem crescer e mover-se ativa-mente com um geotropismo negativo,mas hidro, termo e tigmotropismo (oude contato) positivos.

Em vista desses tropismos, as larvastendem a elevar-se sobre as partículasdo solo ou a vegetação, até onde lhespermitir a película de água que asreveste. Em contato com a pele huma-na, são estimuladas a penetrar nela.

Larva rabditóide de Necator

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Reprodução e ciclo vitalAs larvas infectantes dos ancilostomídeos

(L3), que entram pela pele, vão pelacirculação venosa ou linfática aocoração e aos pulmões (trajeto azul, nafig.), onde tem lugar a 3ª ecdise.

As L4 penetram nos alvéolos e bronquío-los, sendo arrastadas pela corrente demuco da árvore respiratória até a faringe(trajeto vermelho contínuo), que é o fimdo ciclo pulmonar.

São então deglutidas (trajeto vermelhodescontínuo), indo parar nos intestinos,(trajeto vermelho contínuo); onde sofrema 4ª e última ecdise, passando a vermesadultos.

Localizam-se de preferência no duodeno eno jejuno, fixando-se à mucosa com suacápsula bucal.

Larvas que casualmente penetrem pelaboca, com água ou alimentos, não fazemo ciclo pulmonar.

Migração das larvas de Necator ede Ancylostoma, a partir da pelee fazendo o ciclo pulmonar antesde chegar aos intestinos.

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Reprodução e ciclo vitalUma das características

dos Ancylostoma duodenale,mesmo quando penetrempela pele, é que algunspassam rapidamente pelospulmões, sem fazer a 4ªmuda.

As larvas filarióides (L3),que não passaram pelaárvore brônquica, invademoutros tecidos e entram emestado de dormência, quepode durar até 8 meses.

Ao fim desse período,migram para o tubo digestivoe completam seu desenvolvi-mento, tornando-se vermesadultos.

O ciclo completo normal deA. duodenale dura 4 a 5semanas, aparecendo osovos nas fezes na 5ª ou 6ªsemanas depois da infecção.

Os ovos de Necator, sóaparecem depois de 7 a 8semanas.

Em geral, a carga parasi-tária aumenta até os 15 ou20 anos de idade para esta-bilizar-se ou diminuir emseguida.

Mas não se sabe se devidoao desenvolvimento da imu-nidade ou às mudançascomportamentais, como ouso de calçado mais freqüen-te entre adultos.

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Patologia da ancilostomíasePatologia da ancilostomíaseVaria segundo a espécie

de ancilostomídeo, o perí-odo da infecção, a cargaparasitária, a localização eo estádio em que seencontrem os parasitos.

No período de invasãocutânea, as lesões sãomínimas, exceto em casosraros de ataque maciço pormilhares de larvas, assimcomo nos casos de hiper-sensibilidade, que ocorreem alguns indivíduos porocasião das reinfecções.

Há então erupção pápulo-eritematosa, edema ou umadermatite alérgica.

Nas infecções pesadas, du-rante o ciclo pulmonar podeocorrer uma pneumonitedisseminada, que constitui asíndrome de Loeffler (comose observa também naestrongiloidíase e na ascarí-ase).

Mas, em geral, essa fase ésilenciosa e não diagnostica-da.

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Patologia da ancilostomíasePatologia da ancilostomíaseÉ no período de parasitismo

intestinal quando se observamquase todas as manifestações daancilostomíase-doença.

As lesões que os helmintosproduzem na parede intestinalresultam da aplicação de suacápsula bucal contra a mucosa,dilaceração e sucção do sangue edo tecido lisado, que lhes servemde alimento.

Para isso utilizam seus dentes ouplacas cortantes, as lancetas e asecreção de suas glândulas cefá-licas.

Um fluxo de sangue atravessa otubo digestivo dos vermes adultos,de onde poucos nutrientes sãoabsorvidos, e o resto goteja peloânus dos helmintos.

Doc. do Dr. A.C.R. Leite, ICB, UFMG

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Patologia da ancilostomíasePatologia da ancilostomíaseO organismo perde sangue na

medida em que os vermes sugama mucosa e pelas pequenashemorragias residuais que ficamquando os parasitos mudam seuponto de fixação.

A presença de anticoagulantesnas secreções orais dos parasitostende a facilitar a perda desangue.

Essas perdas variam com aespécie presente, sendo o volumemédio perdido para cada Necatorda ordem de 0,03 a 0,06 ml/dia.Com A. duodenale a perda é de0,15 a 0,30 ml/dia.

Elas aumentam com a cargaparasitária, como nos mostra ográfico ao lado (de Roche eLayrisse, 1966).

Quando a carga parasitária forde 100 a 1.000 Necator, a perdaestará entre 10 e 30 ml/dia, ouseja 5 a 15 mg de Fe perdidos.

Mas poderá chegar a 100 ou250 ml/dia se os vermes foremem número de 1.000 a 3.500.

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Patologia da ancilostomíasePatologia da ancilostomíaseDo sangue evacuado pelos

helmintos, 30 a 40% do Fe sãoreabsorvidos pelos intestinos.

O resto deve provir da dieta dopaciente. Senão, as reservashepáticas de Fe (900 mg) vãodiminuindo até se esgotarem; e aprodução de hemoglobina cai.

Por exemplo, se em função daingestão de Fe e da espoliaçãofeita por 700 Necator, houver umdéficit diário de 4 mg de Fe,serão necessários 900/4 = 225dias para que a anemia comecea manifestar-se (seta).

Razão pela qual os indivíduosparasitados podem apresentaruma taxa normal de hemoglobi-na durante um longo período.

Mas a medida que a anemia pro-gredir haverá hemodiluição e perdamenor de Fe, se a espoliação per-manecer de volume constante.

Até que a quantidade de Fe per-dido iguale a ingerida, estabilizandoo grau de anemia do paciente.

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Patologia da ancilostomíasePatologia da ancilostomíaseO nível em que se mantém a

anemia ancilostomótica dependeda espécie de ancilostomídeo eda carga parasitária, bem comoda ingestão e absorção do Fealimentar.

Se for administrado Fe aospacientes, a anemia melhorarámais rápido do que se foremtratados só com anti-helmínticos.

A hipoproteinemia é outro sinalclínico da doença, que seacompanha de atrofia da mucosaintestinal, redução ou achata-mento das vilosidades ediminuição da absorção intesti-nal.

Ela parece resultar tanto dasperdas sanguíneas como daingestão insuficiente de proteí-nas (a anorexia podendo contri-buir para isso).

Mas também da atividadedeficiente do fígado (por atrofiacentrolobular e degeneraçãogordurosa) devida à anóxia queresulta da anemia.

Este mesmo efeito da anemiapode ser sentido por outrosórgãos e tecidos.

Lesões renais podem causaralbuminúria e hematúria.

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Sintomatologia da fase agudaO coração apresenta hiper-

trofia e dilatação. A insufi-ciência cardíaca acompanha-seda produção de edemas e dederrames cavitários.

Na medula óssea há hiper-plasia eritrocítica do tiponormocítico e, no sangue, alémda redução das hemácias, háleucocitose com eosinofilia.

Minutos depois da penetraçãodas larvas na pele, surgemprurido, eritema edematoso ouerupção pápulo-vesiculosa, queduram alguns dias.

Dias depois aparecem asmanifestações pulmonares, emgeral discretas, com tosse secaou expectoração.

Estertores pulmonares esinais radiológicos da síndromede Loeffler podem aparecer,sobretudo nas infecções por A.duodenale.

Mais constante é uma eosino-filia sanguínea alta que podechegar a 30 ou 60% no primeiromês da doença.

Mas nas infestações intensasaparecem entre a 3ª e a 5ªsemanas, mal-estar abdominalna região epigástrica, anorexia,náuseas e vômitos.

Pode haver também cólicas,diarréia, febre ligeira, cansaço eemagrecimento.

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Sintomatologia da fase crônicaSintomatologia da fase crônicaEm crianças e pessoas subnu-

tridas o quadro chega a simular ode um abdome agudo ou umaapendicite.

Também, pode produzir-se insu-ficiência cárdio-circulatória que,nos casos mais graves, é capaz delevar o paciente ao óbito.

É como doença crônica que, emgeral, se apresenta a ancilos-tomíase, por serem os parasitosadquiridos pouco a pouco, emreinfecções sucessivas ao longodos anos.

Os indivíduos bem nutridossuportam as cargas pequenas oumédias desses helmintos, semsintomas ou com leves manifes-tações dispépticas.

Na maioria das vezes oparasitismo só se manifestacomo doença nas precáriascondições de vida em que seencontram as populações deáreas endêmicas.

Condições essas que sãocaracterizadas por pobreza,subnutrição, ignorância, faltade higiene e de saneamento.

Aí a subnutrição é o pano defundo para o drama médico,pois a carência de ferro nadieta é fator decisivo para oaparecimento da anemia naancilostomíase.

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Sintomatologia da fase crônicaSintomatologia da fase crônicaEla é agravada pela deficien-

cia de proteínas e vitaminas,que caracterizam a desnutriçãocalórico-protéica, freqüente emtais populações.

Os pacientes apresentam, porisso, uma sintomatologia varia-da e complexa que no passadofoi atribuída só à atividade dosancilostomídeos, mas que comoa própria helmintíase, decorrede estruturas sócio-econômicasque criam as condições de vidamiseráveis.

Em vista disso tudo, o quadroclínico mais característico daancilostomíase é a anemia esuas conseqüências.

Quando ela foi de instalaçãolenta e progressiva, os pacientespodem ter-se adaptado a essascondições fisiológicas, ajustandosuas atividades ao que aindapodiam fazer.

Mas, para muitos, isso osimpede de trabalhar.

As crianças mostram retardono desenvolvimento físico emental, apatia, falta de apetite,atenção difícil e um baixorendimento escolar.

Os sinais e sintomas predomi-nantes são: palidez, conjuntivase mucosas descoradas, cansaçofácil, desânimo e fraqueza.

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Sintomatologia da fase crônicaCostuma haver hipotensão,

com aumento da diferençaentre a pressão máxima e amínima.

Ocorrem, tonturas, verti-gens, zumbidos nos ouvidos emanchas no campo visual.

Também, dores musculares,sobretudo nas pernas, aocaminhar, cefaléia e doresprecordiais.

Na esfera genital: amenor-réia, redução da libido eimpotência.

Mesmo nos adultos, aanemia traz mudanças napersonalidade, como foidescrito por Monteiro Lobatona figura de “Jeca Tatu”.

Por fim, aparecempalpitações, sopros cardía-cos, falta de ar aosesforços e insuficiênciacardíaca congestiva.

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Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da ancilostomíasenão oferece dificuldades, pois osovos são típicos e em geral abun-dantes nas fezes dos pacientes.

O exame coproscópico de umsimples esfregaço feito com fezese solução fisiológica, em lâmina demicroscopia, é suficiente.

Se forem escassos, usar umatécnica de enriquecimento, como acentrífugo-flutuação no sulfato dezinco. A técnica de Kato e contra-indicada, para ancilostomídeos.

Para estimar-se a carga para-sitária, fazer uma contagem deovos pelo método de Stoll.

Cada 35-40 ovos por grama defezes correspondem a umafêmea, sendo que as fêmeasrepresentam 50% da populaçãohelmíntica.

Uma infecção com menos de50 vermes é considerada leve;entre 50 e 200 já tem signi-ficação clínica, podendo causaranemia; entre 200 e 1.000 éintensa e, acima de 1.000vermes, muito intensa.

O tratamento é feito commebendazol ou albendazol.

Mas a anemia requer trata-mento prolongado com sulfatoferroso e uma dieta rica emproteínas e vitaminas.

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Ecologia e epidemiologiaA distribuição geográ-

fica de Necator america-nus abrange sobretudo aÁfrica, ao sul do Saara, eas Américas.

A. duodenale ocupa aRegião do Mediterrâneo eparte da Ásia.

A. ceylanicum ocorreem áreas limitadas noSudeste Asiático.

Entretanto, os grandes movimentos migratórios dos temposmodernos, que se produzem em todos os continentes, têm levado aenormes alterações na distribuição mundial dessas espécies.

Em escala mundial, a ancilostomíase é devida a Necatoramericanus em ¾ dos casos, a A. duodenale em menos de ¼ , sendopequena a de A. ceylanicum.

No Brasil, ainda que predomine a infecção por Necator, encon-tram-se A. duodenale em zonas de colonização européia ou asiáticae, mesmo, a de A. ceylanicum, em certos lugares.

Áreas de ancilostomíase no mundo.

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Ancilostomíase no Brasil

Inquéritos feitos no Brasil em 1916-1921 mostraram haver 77,4% depositivos na população examinada.

Outros inquéritos feitos em 1947-1952, acusaram 42,5% de positivos e,um terceiro que reuniu dados doDENERU (1966), 28,8%.

Por último, os exames feitos pelaSUCAM (1974-1976) registraram apenas20% de positivos. Tudo bem ?

Os autores desses inquéritos calcularam o número provável decasos existentes e sempre acharam entre 22 e 24 milhões deinfectados (barras, na figura), pois a população rural brasileirapermaneceu quase constante até agora (curva B) e as condiçõessanitárias seguem quase as mesmas.

O que aumentou muito foi a população urbana dos Municípios (A)que funcionou como fator de diluição (denominador) nos cálculosestatísticos (A+B), pois incluia gente sem risco de infecção.

O que está errado.

A - crescimento da população urbana brasileira;B - crescimento da população rural;Barras: número de

casos estimados de ancilostomíase.

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O ecossistema na ancilostomíaseO ecossistema na ancilostomíaseApesar de sua distribuição ser

mundial, a existência da infec-ção depende de condiçõesecológicas estritamente locais ebem circunscritas.

São fatores essenciais:─ Indivíduos parasitados que

contaminem o solo com suasfezes. São eles as únicas fontesde infecção.─ Indivíduos que se expõem ao

risco de infecção ou de reinfec-ção, por andarem descalços emterrenos poluídos. Essa é apopulação de risco.

─ Um solo favorável ao desen-volvimento dos ovos e larvasrabditóides, assim como àsobrevivência prolongada daslarvas filarióides. Por exemplo,um solo arenoso, poroso, úmido,rico em matéria orgânica esombreado.─ Clima (ou microclima) com

umidade e temperaturas favorá-veis à vida das larvas; entre23ºC e 30ºC para Ancylostoma e30º a 35ºC para Necator.─ Chuvas bem distribuídas ao

longo do ano também favorecema transmissão.

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O ecossistema na ancilostomíaseUm foco ancilostomótico pode

ser extenso, como em planta-ções adubadas com fezeshumanas; ou limitado à área deum fundo de quintal onde osmoradores costumam defecar.

Lugares arborizados podemjuntar às condições já referidasum ambiente discreto, preferidopelos moradores.

Eles evitam os pontos onde seencontrem fezes frescas.

Mas escolhem os recantosaparentemente limpos onde asfezes já foram desfeitas eincorporadas ao solo. Justamen-te onde (eles não sabem) aslarvas infectantes fervilham.

Pois, onde há condições favorá-veis, o solo se torna infectante 5a 8 dias depois de poluído.

Por volta do 10º dia, a morta-lidade das larvas já é grande. Amaioria desaparece dentro de 3semanas.

Entretanto, com a poluiçãodiária dos locais, há sempre umrodízio de pontos do terreno,aparentemente limpos, que setornaram infectantes.

Se o terreno está sujeito à des-secação ou ao frio intenso, noinverno, as larvas desaparecem.

Mas a transmissão recome-çará, mais tarde, a partir dosindivíduos cuja infecção é normal-mente de longa duração.

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Prevenção e contrôleConta-se para isso com vários recursos.A utilização de cada um deles, em um plano de

controle da endemia, vai depender das condiçõesepidemiológicas, dos objetivos em vista, dos recursosfinanceiros e técnicos disponíveis, bem como dosserviços de saúde e laboratórios existentes, do pessoalcapacitado, medicamentos, transportes etc.

Calçado - O uso generalizado e constante de calçado,de qualquer tipo, inclusive sandálias, é o meio maiseficiente e permanente de prevenção, e independentedos serviços de saúde.

Fator limitante é o custo que isso representa para todauma família das populações de risco.

Um problema econômico, portanto.

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Prevenção e contrôleAnti-helmínticos - Recomen-

dam-se os de largo espectrocomo mebendazol, albendazol,pirantel ou levamizol, o quepermite integrar o controle daancilostomíase no de outrasgeo-helmintíases.

Mebendazol, é um compostopouco solúvel e mais eficientequando micronizado. Com 500mg em dose única (ou 100 mg,2 vezes ao dia, 3 dias) curacerca de 100% dos casos.

Praticamente sem efeitoscolaterais, mas contra-indicadona epilepsia.

Albendazol (400 mg) assimcomo levamisol (50-150 mg)são anti-helmínticos de largoespectro, do grupo do meben-dazol.

Pamoato de pirantel é umproduto sintético, insolúvelna água e pouco absorvível,que cura 80% dos casos com10 mg/kg de peso, durante 3dias.

Ferroterapia - A adminis-tração de sulfato ferroso aospacientes com anemia éimportante para uma recupe-ração rápida.

O tratamento deve serprolongado para refazer asreservas de Fe do organismo.

É importante, também, acorreção dos hábitos alimen-tares para a inclusão deboas fontes de Fe na dieta.

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Prevenção e contrôleInstalações sanitárias.São importantes, quando

utilizadas pelos moradores dacasa. Mas sua efetividadedepende do tipo de construção.

As latrinas mais econômicasnem sempre são aceitas pelosmoradores, mesmo quandosejam construídas gratuitamen-te pelos serviços de saúde.

As razões podem ser o maucheiro, a criação de mosquitose de baratas, a atração deroedores etc.

Sua conservação em condi-ções higiênicas e sua duraçãoem uso devem ser avaliadas,pois podem exigir substituição.

Controle anti-larvárioÉ possível com produtos

vegetais efetivos no solo,decorrentes do plantio deespécies como: Cymbopogoncitratus (capim cidreira), C.martinii, Vetivéria zizanoides,Ruta graveolens, Menta spicatae Crysanthemum sp.

Educação sanitáriaA população de risco deve

compreender as razões pelasquais se requer mudança dehábitos tradicionais, como andardescalço, defecar no chão e sóprocurar serviços médicosquando estão doentes.

A educação e o exameperiódico das crianças éessencial.

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Larva migrans cutâneaHá nematóides que

penetram na pele humanamas permanecem vagandoentre a epiderme e a derme,sem poder completar seudesenvolvimento.

O quadro clínico resul-tante é dito “larva migranscutânea” ou “dermatite linearserpiginosa”. Popularmente,é o “bicho geográfico” ou“bicho das praias”.

Geralmente, ela é devidaàs larvas de terceiro estádiode Ancylostoma braziliense,parasito intestinal de cães egatos.

Mas outros helmintos jáforam encontrados produzin-do esse quadro. Entre eles:

- Ancylostoma ceylanicum,- A. caninum,- A. stenocephala,- Gnathostoma spinigerum

e outros.Mesmo algumas larvas de

Ancylostoma duodenale, deNecator e de Strongyloidespodem, eventualmente, ficarabrindo túneis microscópicosna pele sem poder continuarsuas migrações normais.

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Larva migrans cutâneaA penetração pode passar despercebida ou, nas

pessoas sensibilizadas, acompanhar-se de prurido,eritema ou pápulas.

Depois, partem desses pontos os túneis que desenhamum percurso irregular, avançando 2 a 5 cm por dia etendo uma larva no extremo que cresce.

O túnel corresponde à destruição da camada deMalpighi, tendo o derma por assoalho e envolvido porinflamação com eosinófilos e mononucleares.

Enquanto as larvas avançam, aslesões, para trás, vão ficando como umcordão irregular, saliente, eritematoso,pruriginoso e por vezes recoberto devesículas.

Dias depois, o trajeto mais antigotende a desinflamar-se e deixa umafaixa hiperpigmentada, que também irádesaparecer dentro de algum tempo.

Larva migrans na região glútea de uma criança.

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Larva migrans cutâneaO número de larvas varia

de uma única a dezenas oucentenas.

Elas se localizam onde apele esteve em contato como solo: pés, pernas, coxas,nádegas, mãos etc.

O sintoma mais molesto é oprurido, que aumenta à noitee pode perturbar o sono,sobretudo das crianças.

O diagnóstico é clínico enão oferece dificuldades, tãotípico é o quadro dermatoló-gico.

Antecedentes de contatocom o solo, principalmenteem praias freqüentadas porcães, ou em tanques de areiados parques infantis, onde osgatos costumam ir defecar,confirmam a origem daslesões.

A cura é espontânea ao fimde alguns dias ou semanas;raramente meses.

Se necessário, tratar comivermectina, albendazol outiabendazol, por via oral.Este pode ser usado local-mente.

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Larva migrans cutânea

O controle da transmissão é difícil.Os animais domésticos deveriam ser tratados periodicamente,

com anti-helmínticos, e impedido seu acesso a praias e tanques deareia onde brincam as crianças. Esses tanques devem sercercados com tela, para que os gatos não possam aí defecar.

Nas praias procurar os lugares molhados pela água do mar,onde as larvas não sobrevivem.

Os gatos e os cães domésticos são as principais fontes de infecção para a poluição ambiental com as “larvas migrans”.

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Leituras complementaresACHA, P.N. & SZYFRES, B. – Zoonosis y enfermedades transmisibles

comunes al hombre y a los animales. 2ª edição. Washington, Organización Panamericana de la Salud, 1997.

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REY, L. – Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2ªedição, ilustrada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2003 [950 páginas].

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SCHAD, G.A. & WARREN, K.S – Hookworm disease; current status and new directions (438 pp). London, Taylor & Francis, 1990.

THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. – Diagnosing helminthiasis by coprological examination. Beerse, Belgium, Janssen Research Fondation, 1986.