RINDAT (Rede Integrada de Detecção de Descargas Atmosféricas)
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1. INTRODUÇÃO
Cerca de 100 descargas atmosféricas ocorrem no mundo a cada segundo, o que
equivale a nove milhões por dia, ou três bilhões por ano. Descargas ocorrem
predominantemente no verão, devido ao maior aquecimento solar, e em sua maioria sobre os
continentes e em regiões tropicais, dentre as quais se destacam a África central, o sul da Ásia
e a região sul do México, no hemisfério Norte, e o Brasil, o sul da África, a ilha de
Madagascar, a Indonésia e o norte da Austrália, no hemisfério Sul.
O Brasil, devido a sua proximidade do equador geográfico e por sua grande extensão
territorial, segundo estimativas, é o país que recebe o maior número de descargas elétricas,
totalizando cerca de 50 a 70 milhões de raios/ano que causam a morte de 100 pessoas e um
prejuízo em torno dos R$ 500 milhões. Os estados mais atingidos são Rio de Janeiro, São
Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. A região Nordeste é a que menos sofre a ação dessas
descargas. A maior parte desses raios, originados em nuvens denominadas cumulo nimbus,
incide sobre o Vale do Paraíba.
Em grande parte do Brasil, informações sobre descargas atmosféricas eram até pouco
tempo restritas a mapas isoceráunicos, mapas estes largamente utilizados pelas companhias do
setor elétrico. Estudos realizados na região sudeste do país têm mostrado que estes mapas
podem apresentar erros, que em alguns casos, ultrapassam 500%.
Níveis ceráunicos (dias de trovoadas ouvidas por ano), no período 1971 a 1995, com
580 postos de observação em Minas Gerais e alguns estados vizinhos, geraram o mapa da
figura 1. Com dados obtidos do sistema de detecção de descargas atmosféricas, é possível
traçar a densidade de descargas atmosféricas, a figura 2 é o mapa de descargas por quilômetro
quadrado e por ano em Minas Gerais. Analisando a figura 1 e 2 é possível observar grandes
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diferenças principalmente na região sudeste de Minas Gerais, onde é sabido atualmente que
possui grande densidade de descargas.
Figura 1. Mapa isoceráunico de Minas Gerais e alguns estados vizinhos.
Figura 2. Mapa da densidade de descargas atmosféricas de Minas Gerais
É internacionalmente reconhecido que as descargas atmosféricas são a principal causa
dos desligamentos não programados nos sistemas de transmissão e distribuição de energia,
representando entre 40% a 60% desses desligamentos, com valores ainda maiores quando há
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alta incidência de descargas em terrenos de alta resistividade. Além disso, curtos-circuitos
causados pelas descargas atmosféricas, ainda que eliminados pelas proteções, causam quedas
de tensão que são um dos tipos de defeitos, na qualidade de energia fornecida, que causam
mais problemas aos consumidores industriais com processos controlados eletronicamente.
O sistema de detecção e localização de descargas atmosféricas gera dados que foram
comprovados serem confiáveis e que, a partir destes dados, está sendo possível, além de gerar
mapas de densidades de descargas mais realistas, obter parâmetros típicos associados às
descargas elétricas, tais como, sua amplitude, sua intensidade média e dados acerca de sua
ocorrência geográfica e cronológica (densidade de descargas, períodos críticos de ocorrência).
Com isto é possível definição e dimensionamento da proteção, de diversos tipos de sistemas,
contra os efeitos do fenômeno.
A RINDAT (Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas) é um
convênio de cooperação técnico-científica entre algumas empresas privadas e do governo, que
supre a necessidade de informações sobre descargas atmosféricas nos estados Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás e parte do Mato Grosso do Sul.
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2. FUNDAÇÃO DA RINDAT
O uso de sistemas de detecção de descargas atmosféricas no Brasil teve início em
novembro de 1988, no estado de Minas Gerais, quando o então Centro de Tecnologia e
Normalização (TN) da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) através de seu
Departamento de Planejamento Hidroenergético (GT/PH), implantou um sistema de detecção
de descargas atmosféricas, denominado Sistema de Localização de Tempestades (SLT), foi o
primeiro sistema dessa natureza a entrar em operação na América do Sul, iniciou-se com
quatro sensores do tipo LPATS-III. Os sensores estavam nas cidades de Três Marias, Volta
Grande, Ipatinga e Lavras, distantes cerca de 350 km um do outro, e sincronizados por um
sinal via satélite. O sistema havia sido adquirido da empresa americana Atmospheric Research
Inc. (ARSI), sediada na Flórida, e utilizava exclusivamente a técnica do tempo de chegada.
Em 1995, após a compra da ARSI pela empresa Lightning Location and Protection
(LLP), que comercializava sensores utilizando a técnica de direção magnética, a CEMIG
comprou mais dois sensores, desta vez do tipo IMPACT-141T, expandindo sua área de
cobertura, principalmente no norte do estado. Os novos sensores foram instalados em Três
Marias e Volta Grande, e os sensores LPATS-II, já existentes, foram realocados para
Emborcação e Capitão Enéas. O sistema também passou a ter uma nova central de
processamento, do tipo APA-2000, alterando a sincronização dos sensores para o sistema
GPS. A figura 3 mostra a localização dos sensores.
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Figura 3. Situação do sistema de detecção de descargas no Brasil em 1995
Em 1996, o Instituto Tecnológico SIMEPAR instalou um sistema composto por seis
sensores LPATS-III no estado do Paraná, também neste ano, sob a coordenação da Assessoria
de Planejamento da Informação (API.T), deu-se início ao projeto de aquisição e implantação
do SISDAT (Sistema de Detecção de Descargas Atmosféricas) de FURNAS, que entrou em
operação em agosto de 1998 tendo sido instalados seis sensores LPATS-IV e dois sensores
IMPACT-141T nos estados de Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná,
onde um dos sensores IMPACT foi instalado praticamente no mesmo local de um sensor
LPATS-III pertencente ao SIMEPAR. O objetivo era minimizar a contaminação dos dados
por relâmpagos intra-nuvem, visto que nesse estado só havia sensores LPATS-III pertencente
ao SIMEPAR. Ao mesmo tempo, em 1997, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) instalou um sensor IMPACT-141T no estado de São Paulo, interligando-o ao
sistema STL da CEMIG por meio de um convênio de cooperação. Em 2001, a CEMIG
instalou outro sensor tipo LPATS-III em Belo Horizonte e o INPE instalou outro sensor do
tipo IMPACT-ES no estado de São Paulo, interligando-o também ao STL. Ainda em 2001, a
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CEMIG, FURNAS e o SIMEPAR estabeleceram um convênio de cooperação criando a Rede
Integrada de Detecção de Descargas Atmosféricas (RIDAT).
Em 2002 e 2003, um estudo foi realizado de modo a verificar que tipo e em que locais
sensores de descargas precisariam ser instalados de modo que o sistema de detecção de
descargas já existente e operando de forma conjunta pela CEMIG, FURNAS, INPE e
SIMEPAR passassem a apresentar na área de concessão da Elektro eficiência de detecção de
ao menos 80 % e precisão de localização do ponto de impacto da descarga no solo inferior a 1
km. Como resultado deste estudo, realizado pelo INPE com o apoio da CEMIG, foi
estabelecido que ao menos dois novos sensores precisariam ser instalados nas regiões de
Pirassununga, no estado de São Paulo, e Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul.
As informações obtidas por estes sensores, somadas as informações obtidas pelos sensores já
existentes, em especial os sensores instalados pelo INPE em Cachoeira Paulista e São José
dos Campos e por FURNAS em Ibiúna e em Jupiá, todos no estado de São Paulo, permitiriam
obter-se a confiabilidade desejada. Os sensores foram definidos como sendo do tipo
IMPACT-ESP e a instalação ficou sob a responsabilidade do INPE.
Posteriormente, em 2004, o INPE passou a fazer parte do convênio firmado entre
CEMIG, FURNAS e SIMEPAR, criando então a Rede Integrada Nacional de Detecção de
Descargas Atmosféricas (RINDAT). Apesar do nome, a RINDAT tem como objetivo detectar
apenas raios, e não todos os tipos de descargas atmosféricas. Com a integração, os dados dos
sensores são compartilhados entre as três centrais de processamento da RINDAT
(Curitiba/PR, Rio de Janeiro/RJ e Belo Horizonte/MG), estendendo a área de monitoramento
e, por conseqüência, melhorando a eficiência na detecção e a confiabilidade da informação de
localização das descargas atmosféricas. A figura 4 mostra a evolução do número de sensores
instalados do sistema de detecção do Brasil de 1988 até 2004.
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Figura 4. Evolução do sistema de detecção de descargas atmosféricas no Brasil de 1988 até
2004
Somente Furnas investiu no sistema US$ 2 milhões, em sua avaliação, até agora
devem ter sido gastos em torno de US$ 10 milhões, se forem considerados aspectos de
desenvolvimento, planejamento e pesquisa de locais para instalação de sensores.
Em média, os sensores distam 300 Km. No Vale do Paraíba, no estado de São Paulo,
estão instalados os sensores mais próximos entre si (100 km). Ao ser criada, a RINDAT
passou a ser a maior rede de detecção de descargas atmosféricas na região tropical e a terceira
rede nacional do mundo, atrás da rede americana (NLDN) e canadense (CLDN), como é
mostrado na tabela 1.
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PaísNúmero de sensores
IMPACT LPATS Total
Estados Unidos 105 - 105
Canadá 26 55 81
Brasil 8 17 25
Japão 7 17 24
França 17 - 17
China ? ? ?
Tabela 1. Número de sensores por país
A figura 5 mostra o número de sensores, sob a responsabilidade de cada instituição. A
tabela 2 mostra a localização dos sensores.
Figura 5. Mapa da localização dos sensores da RINDAT em 2004, com indicação das
instituições envolvidas
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Cidade UF Empresa Sensor
Belo Horizonte MG CEMIG LPATS III
Brasília DF FURNAS IMPACT
Cachoeira Paulista SP INPE IMPACT
Campo Grande MS INPE IMPACT
Capitão Enéas MG CEMIG LPATS III
Chavantes PR SIMEPAR LPATS III
Curitiba PR SIMEPAR LPATS III
Emborcação MG CEMIG LPATS III
Foz do Areia PR SIMEPAR LPATS III
Foz do Iguaçu PR SIMEPAR LPATS III
Ibiúna SP FURNAS LPATS IV
Ipatinga MG CEMIG LPATS III
Jupiá SP FURNAS LPATS IV
Lavras MG CEMIG LPATS III
Manoel Ribas PR FURNAS IMPACT
Paranaguá PR SIMEPAR LPATS III
Paranavaí PR SIMEPAR LPATS III
Pirassununga SP INPE IMPACT
Rio de Janeiro RJ FURNAS LPATS IV
Rio Verde GO FURNAS LPATS IV
São José dos Campos SP INPE IMPACT
Serra da Mesa GO FURNAS LPATS IV
Três Marias MG CEMIG IMPACT
Vitória ES FURNAS LPATS IV
Volta Grande MG CEMIG IMPACT
Tabela 2. Lista da localização dos sensores da RINDAT em 2004.
3. SENSORES
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Descargas de raios abrangem de baixa corrente intra-nuvem, em VHF (Very High
Frequency), eventos que podem alcançar um quilometro, à descargas nuvem-terra, em LF
(Low Frequency), com algumas centenas de KA e comprimentos maiores que 10 Km. Como
estes eventos não podem ser detectados utilizando apenas uma única técnica, existem
atualmente diversos sistemas de detecção de raios (LDS – Lightning Detection System) em
operação ao redor do mundo.
3.1 MDF (Method of Direction Finding)
O método de localização da direção magnética, utilizando VLF (Very Low Frequency)
e LF, determina a posição do raio através de uma triangulação utilizando pelo menos 2
sensores, a corrente de pico pode ser estimada através da medição do pico do campo. O
método tem uma boa estimativa para raios nuvem-terra, existem algumas condições onde as
relações geométricas entre os sensores e as descargas produzem resultados ruins.
3.2 TOA (Time Of Arrival)
O método de tempo de chegada usa VLF e é baseado nas medições do tempo de
chegada de pulso de rádio de diversas estações que são precisamente sincronizadas. Esta
técnica pode falhar na detecção da posição correta do raio se menos de 4 sensores forem
utilizados. Contudo, se as antenas são instaladas adequadamente, ele pode fornecer
localizações precisas à grandes distâncias e os erros sistemáticos são mínimos.
3.3 LPATS (Lightning Positioning And Tracking System)
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Este sensor é um receptor TOA de banda larga que é apropriado para localização de
raios à media distâncias através do método hiperbólico.
3.4 IMPACT (IMProved Accuracy from Combined Technology)
Pode coletar informação da combinação de MDF, TOA e LPATS. A metodologia
pode fornecer informação sobre descargas intra-nuvem e nuvem-terra utilizando a mesma
instrumentação e com propagação confiável através de terrenos montanhosos.
3.5 SENSORES UTIZADOS PELA RINDAT
Dois tipos básicos de sensores são utilizados: LPATS serie III e IV e IMPACT, a
figura 6 mostra os tipos de sensores da RINDAT em 2004.
O sensor mais moderno atualmente é o IMPACT-ESP (Enhanced Sensivity and
Performance) do qual a RINDAT possui três instalados, este sensor detecta presença de
eventos de descargas nuvem-terra e intra-nuvem, pico de corrente de descarga nuvem-terra,
polaridade e tempo de subida. Possui precisão média de 500 metros necessitando de 2
sensores. Discrimina a forma de onda pra distinção entre descarga intra-nuvem e nuvem-terra
(resultando em mais de 98% de caracterização correta). Tipicamente detecta 80-85% de todos
os flashes nuvem-terra e aproximadamente 30-50% de flashes intra-nuvem, em rede de
detecção possui eficiência maior que 90% para flashes nuvem-terra e maior que 10-30% para
flashes intra-nuvem. Alcance de 90 a 500 Km. A figura 7 mostra o sensor instalado em
Pirassununga.
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Figura 6. Mapa da localização dos sensores da RINDAT em 2004, com indicação dos tipos
dos tipos de sensores.
Figura 7. Sensor de raios do tipo IMPACT-ESP.
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4. SISTEMA DE DETECÇÃO DE DESCARGAS ATMOSFÉRICA
O sistema de detecção de descargas atmosféricas da RINDAT é composto de diversos
equipamentos, além dos sensores, que se comunicam entre si formando uma rede de detecção.
4.1 LP2000 (Lightning location Processor)
O processador de localização de descarga computa a localização e os parâmetros das
descargas obtidas de dados de sensores em uma plataforma Unix. As funções de um LP2000
são:
Converter os complexos dados de descargas de um sensor em informação usada por
softwares aplicativos;
Monitorar e relatar o desempenho de cada sensor;
Monitorar e relatar o status de comunicação de cada sensor;
Prover saída em tempo real para banco de dados;
Processa até 100 descargas por segundo.
Após o processamento dos sinais, são fornecidos os seguintes parâmetros:
Data e horário, com resolução de nanossegundos (utilizando GPS);
Latitude, longitude ou azimute do local da descarga;
Força do sinal, pico de corrente (KA) estimado, polaridade e número de descargas
sucessivas;
Posição na elipse e número de sensores utilizados para a solução;
Classificação em descarga nuvem-terra ou intra-nuvem com mais de 98% de certeza.
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4.2 DA2000 (Distribution and Archive module)
O módulo de distribuição e armazenamento é um software de gerenciamento de dados
que recebe e armazena dados de descargas em tempo real da rede de detecção de descargas do
processador de localização (LP). DA2000 é utilizado para arquivar dados de descargas em um
banco de dados Sybase. Provê acesso aos dados arquivados e em tempo real. Distribui dados
para softwares de visualização (LTraX, SisRaios).
4.3 NM2000 (Network Management Module)
O módulo de gerenciamento de redes é um software que dá suporte ao controle de
qualidade da rede para o processador de localização (LP), verifica continuamente a
performance da rede utilizando parâmetros de qualidade que podem ser visualizados, ainda
possibilita configuração dinâmica da rede e análise compreensiva do desempenho dos
sensores.
4.4 LTraX
Este software monitora, em tempo real, a incidência de descargas podendo ser
visualizadas em mapas com camadas. Possibilita alarme configurado por região, detalhamento
dos raios com polaridade, amplitude, densidade, horário e localização, indicadores de taxas
para avaliações de ciclos de tempestades, hora estimada de chegada de uma tempestade,
arquivamento de dados e contagem de flashes. A figura 8 mostra o software indicando 15
flashes.
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Figura 8. Tela do software LTraX mostrando mapa com possibilidade de layers indicando
localização de flashes.
4.5 SisRaios
SisRaios é um software, de uso via internet, para monitoramento, análise e previsão de
tempestades atmosféricas desenvolvida pelo Instituto Tecnológico do Sistema Meteorológico
do Paraná (SIMEPAR). Esta ferramenta computacional propõe-se a oferecer um vasto
conjunto de recursos sendo possível exibir descargas atmosféricas em tempo real, dados
históricos com correlações e produtos de análise. A figura 9 ilustra o SisRaios em execução.
4.6 MAPER e ESTAR
Estes softwares, um deles voltado para a área de operação, e o outro para a área de
projeto, permitem determinar a densidade de descargas elétricas numa dada região, a
probabilidade que uma dada descarga tenha atingido uma dada linha, a probabilidade de
15
desligamentos por km de uma dada linha, entre outros. Eles foram desenvolvidos pelo Grupo
de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do INPE;
Figura 9. SisRaios exibindo mapa político de municípios, rede de distribuição e descargas
atmosféricas
4.7 FUNCIONAMENTO DA REDE DE DETECÇÃO
O sistema opera através do Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning
System - GPS). Os sensores enviam todos os dados coletados, através de canal de
comunicação dedicado, para o processador de localização de descargas (LP2000) que, após
processamento, envia as informações sobre as descargas para os softwares de monitoramento
em tempo real e para o módulo de distribuição e armazenamento (DA2000), e este armazena
as informações no banco de dados gerenciado por um SGDB (Sistema de Gerência de Banco
de Dados) Sybase e distribui e gerencia o acesso a dados por outros softwares. Também existe
um módulo de gerenciamento de rede (NM2000) que está constantemente trocando
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informações com o processador de localização de descargas para manter a qualidade da rede e
operacionalidade de todos os sensores. A figura 10 mostra todo o sistema da RINDAT.
Figura 10. Sistema de detecção de descargas atmosféricas da RINDAT.
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4.8 OUTROS SISTEMAS NO BRASIL
Existem outros sistemas de detecção de descargas atmosférica instalados no Brasil,
são eles:
BLDN, cobre o estado Rondônia, e opera em LF/VLF. É operado pela NASA, INMET e
INPE, utiliza tecnologias LPATS e IMPACT;
WWLL (Word Wide Lightning Location Network), opera em VLF e é o consorcio entre
INPE e a universidade de Washington. Cobre todo o Brasil, mas possui baixa eficiência
(abaixo de 2% para descarga nuvem-terra) e precisão (aproximadamente 20 KM), utiliza
tecnologia TOA;
SIDDEM, cobre o sul do Brasil e opera em VHF, com alcance de 100 KM, utiliza
tecnologia SAFIR.
5. EFICIÊNCIA
A figura 11 ostra a esperada eficiência de detecção para a RINDAT em 2004, com
base no modelo fornecido pela empresa Vaisala, atual fabricante desse tipo de sistema de
detecção de descargas atmosféricas. Valores máximos de eficiência, acima de 90%, são
encontrados na região do Vale do Paraíba e suas vizinhanças.
A tabela 3 resume as características de desempenho da RINDAT em 2004, levando em
conta as variações regionais por causa da diferença entre sensores. Os melhores valores, isto
é, a máxima eficiência de detecção, a máxima rejeição de relâmpagos intra-nuvem e os
mínimos erros de localização e do valor de pico de corrente, correspondem à região do Vale
do Paraíba, no estado de São Paulo.
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Figura 11. Mapa de eficiência de detecção da RINDAT em 2004
Característica RINDAT
Eficiência de detecção 70 a 90 %
Erro de localização 0,5 a 5 km
Rejeição de relâmpagos intra-nuvem 70 a 95 %
Erro no valor de pico da corrente 20 a 100 %
Tabela 3. Características da RINDAT em 2004.
Essas características resultaram da comparação de valores obtidos pelos métodos
fornecidos pela Vaisala e por modelos e observações feitas pelo INPE, utilizando outras
técnicas de medidas de descargas atmosféricas: câmeras de alta resolução, descargas
artificiais induzidas pela técnica de foguetes e fios condutores e sensores óticos a bordo de
satélites.
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A precisão das informações de localização de raios do sistema é, em média, de 500
metros dentro do perímetro definido pela posição das estações remotas de recepção.
6. APLICAÇÃO
Através das informações de descargas atmosféricas obtidas pela RIDAT, são gerados
produtos destinados a aplicações na previsão de tempo, na análise e manutenção de sistemas
elétricos, em projetos de proteção de redes de transmissão e distribuição de energia e de
telecomunicações, na emissão de laudos de análise de eventos severos para seguradoras e
empresas de engenharia em geral, entre outros produtos.
O acervo acumulado de informações sobre as descargas atmosféricas ocorridas permite
estabelecer critérios de projeto mais adequados ao desempenho necessário das instalações
elétricas e de telecomunicações quanto da proteção destas descargas e a escolha de rotas mais
apropriadas, contribuindo, da mesma forma, para estudos e pesquisas de longo prazo.
Além de pesquisas de longo prazo, visando melhor adequação à realidade ambiental no
que se refere à proteção contra descargas atmosféricas, os sistemas de detecção de descargas
atmosféricas têm permitido definir estratégias mais adaptadas à tomada de decisões
operativas, reduzindo a possibilidade de ocorrência de colapsos no fornecimento de energia,
como também têm contribuído de forma significativa para o aumento da segurança e redução
de custos operacionais.
As informações da RINDAT para os órgãos de operação e manutenção têm sido
bastante úteis para, dentre outras aplicações: realizar manobras operativas no sentido de evitar
desligamentos locais ou mesmo regionais; alertar antecipadamente as equipes de manutenção
reduzindo assim os tempos de restabelecimento dos sistemas elétricos; auxiliar na localização
de defeitos em linhas de transmissão e distribuição com também avaliar o desempenho das
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linhas de transmissão e distribuição existentes; e ainda avaliar se as melhorias realizadas estão
sendo suficientes.
A partir dos dados armazenados pela rede de detecção de descargas é possível
correlacionar às descargas em mapas, possibilitando diversas análises para a manutenção e
projeto de linhas de distribuição e transmissão de energia elétrica. Alguns mapas utilizados
são:
Mapa de incidência em uma dada linha: Este tipo de mapa ira permitir avaliar pontos
críticos de uma dada linha, permitindo avaliar seu desempenho bem como a performance
de vários métodos de proteção com pesquisas continuadas considerando-se os prováveis
diferentes comportamentos das descargas e suas influências no número de desligamentos
das redes nas concessionárias de energia elétrica;
Mapa de densidade e intensidade de descargas: Este tipo de mapa permitirá ações de
planejamento por parte das concessionárias de energia elétrica, tanto no que se refere ao
desenvolvimento de sua rede como na adequação de programas de proteção contra
descargas elétricas. Estes mapas irão substituir os mapas de índice ceráunico;
Mapa da localização das descargas para um dado evento: Este tipo de mapa permitirá
correlacionar um dado desligamento de uma linha ou de uma rede de distribuição com
dados de descargas, identificando a descarga responsável pela interrupção. Em
conseqüência, será possível classificar as interrupções e quantificar o impacto das
descargas elétricas sobre o sistema.
7. PERSPECTIVAS
Para 2005, está prevista uma grande expansão da RINDAT, com a instalação de novos
sensores (em andamento) e com a inclusão de novos sensores, graças a convênios de
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colaboração firmados com diversas instituições. A figura 12 mostra um mapa da localização
dos atuais sensores da RINDAT e dos novos sensores previstos para 2005. Serão mais 33
sensores, haverá a integração das redes das regiões Sul e Norte do país, ou seja, SIDDEM –
Sistema Integrado de Detecção de Descargas Atmosféricas e Eventos Críticos, com uma rede
de cinco sensores, resultado de um consórcio entre empresas do setor elétrico do Sul do
Brasil; LDN (Lightning Detection Network), do SIVAM – Sistema de Vigilância da
Amazônia, com uma rede 14 de sensores; Nasa (National Aeronautics and Space
Administration), através do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), com uma rede de
quatro sensores em Rondônia; instalação de sete sensores do INPE nas regiões Sul e Centro-
Oeste; e mais dois sensores que FURNAS está adquirindo. Somados aos 25 já existentes, o
número subirá para 58 sensores, ao custo de, aproximadamente, US$ 60 mil cada.
Figura 12. Mapa da localização dos sensores da RINDAT para 2005
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A figura 13 mostra o mapa de eficiência de detecção de descargas atmosféricas da
RINDAT para 2005. Após a integração de todos os sensores mostrados na figura 10, mais de
dois terços do país estarão cobertos, restando partes das regiões Norte e Nordeste. Estima-se
que serão necessários noventa sensores para cobrir integralmente o país, com uma distribuição
de sensores equivalente ao sistema NLDN dos EUA.
Figura 13. Mapa de eficiência de detecção d RINDAT para 2005
23
8. CONCLUSÃO
Somente na última década informações precisas sobre descargas elétricas no Brasil
têm sido coletadas e a principal responsável é a RINDAT. A integração das redes com o
surgimento da RINDAT possibilitou o intercâmbio de informações técnico científicas, o
intercâmbio dos sinais obtidos pelos sensores das redes de detecção e a integração dos
procedimentos de análise, manutenção e operação.
A RINDAT se tornou uma das maiores redes mundiais e possui planos, a curto prazo,
de expansão. Possibilitou a aquisição de dados mais confiáveis e precisos e se tornou uma
importante ferramenta para diversos setores, principalmente na transmissão de energia
elétrica.
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25
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