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Rio de Janeiro, de 6 a 12 de dezembro de 2019 - Nº 23.449 Rei Roberto Carlos recebe súditos na estreia de seu novo filme em 3D ANNA RAMALHO - Página 3 Ira Etz e Uziel, juntos pela primeira vez, em exposição na Gávea Festival gastronômico revela iguarias feitas com o exótico pirarucu Página 12 Principais projetos de música de concerto dedicam seus programas de 2020 a homenagear o genial compositor alemão em seus 250 anos de nascimento Por Affonso Nunes E m 2020, o mundo inteiro presta- rá reverência a Ludwig Van Bee- thoven (1770-1827), sem exa- geros um dos maiores gênios da humanidade. A maior referência do ro- mantismo na música chega aos 250 anos de nascimento com a devida atualidade, como costuma ocorrer com os fora de série. Dois dos projetos mais relevantes de música de concerto na cidade inclui- rão peças do compositor alemão em seus programas ao longo do ano. A Sala Cecília Meireles, um dos tem- plos da música de concerto na cidade, organizou o Festival Beethoven 250 que apresentará em nove datas de maio a integral das 32 sonatas, com interpre- tações dos brasileiros Vera Astrachan, Eduardo Monteiro, Sérgio Monteiro, Juliana Steinbach, Aleyson Scopel, Leo- nardo Hisldorf e Jean Louis Steuerman. - Ao contrário da temporada 2019, decidimos promover um mer- gulho na música de Beethoven atra- vés de concertos realizados em datas seguidas e próximas um das outras (de quinta a sábado a cada semana). Esta maratona de apresentações re- monta as experiências da plateia nos principais festivais europeus com a audição da obra de um compositor num contexto mais amplo - destaca João Guilherme Ripper, diretor da Cecília Meireles. E a imersão no universo beethove- niano segue em setembro com a exe- cução de todas as sonatas para violino e piano, pelos trios Aquarius e Porto Alegre, e a interpretação dos seis últi- mos quartetos de cordas pelo Quarte- to Carlos Gomes. - Os últimos quartetos foram com- postos numa fase em que Beethoven es- tava completamente surdo, vivendo um mundo à parte com sua música. Reprodução Aos 250 anos de seu nascimento, Ludwig van Beethoven segue com uma das obras mais inovadoras na história da música ESTÁ ENTRE NÓS Ainda em setembro, o Festival Beetho- ven 250 promoverá um encontro da obra do gênio alemão com o mais inventivo compositor brasileiro. Beethoven Visita Villa-Lobos é um exercício musical sobre o território de interseção das duas obras, com a participação dos músicos da Or- questra Petrobras Sinfônica. A programação alusiva a Beethoven do festival fecha em outubro com os recitais do duo formado pela pianista brasileira Cristina Margotto e o cellista americano Jed Barahal, que executarão a obra completa para os dois instrumentos do compositor alemão. Já o projeto Música no Museu abre sua temporada em celebração aos 250 anos de Beethoven no dia 15 de janeiro com uma coleção de 15 valsas para pia- no solo com interpretação das instru- mentistas Adriana Kel lner, Fernanda Cruz e Maria Helena de Andrade. - São belíssimas peças, com me- lodias muito inspiradas, pequenos embrulhos de suas grandes obras, que também expressam suas angústias e seu mundo de contrastes, utilizando recur- sos pianísticos característicos de sua produção – destaca Sergio da Costa e Silva, idealizador do projeto, que che- ga a 22 anos de atividades ininterrup- tas apesar do cenário pouco inspirador para incentivos e fomentos à atividade cultural no país. Além das Valsas, no mesmo concer- to serão apresentadas duas Marchas Mi- litares para piano a quatro mãos, obras brilhantes e de grande impacto no vasto conjunto de produção de Beethoven, que entre 1794 e 1826, nos deixou pe- ças para música orquestral, música de câmara, obras para piano, uma ópera (“Fidélio”), músicas de cena, balés e cantatas religiosas. O Música no Museu retomará as homenagens ao composi- tor em abril. Continua na página 2 Página 9

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Rio de Janeiro, de 6 a 12 de dezembro de 2019 - Nº 23.449

Rei Roberto Carlos recebe súditos na estreia de seu

novo filme em 3D

ANNA RAMALHO - Página 3

Ira Etz e Uziel, juntos pela primeira vez, em

exposição na Gávea

Festival gastronômico revela iguarias feitas

com o exótico pirarucu

Página 12

Principais projetos de música de concerto dedicam

seus programas de 2020 a homenagear o genial

compositor alemão em seus 250 anos de nascimento

Por Affonso Nunes

Em 2020, o mundo inteiro presta-rá reverência a Ludwig Van Bee-thoven (1770-1827), sem exa-geros um dos maiores gênios da

humanidade. A maior referência do ro-mantismo na música chega aos 250 anos de nascimento com a devida atualidade, como costuma ocorrer com os fora de série. Dois dos projetos mais relevantes de música de concerto na cidade inclui-rão peças do compositor alemão em seus programas ao longo do ano.

A Sala Cecília Meireles, um dos tem-plos da música de concerto na cidade, organizou o Festival Beethoven 250 que apresentará em nove datas de maio a integral das 32 sonatas, com interpre-tações dos brasileiros Vera Astrachan, Eduardo Monteiro, Sérgio Monteiro, Juliana Steinbach, Aleyson Scopel, Leo-nardo Hisldorf e Jean Louis Steuerman.

- Ao contrário da temporada 2019, decidimos promover um mer-gulho na música de Beethoven atra-vés de concertos realizados em datas seguidas e próximas um das outras (de quinta a sábado a cada semana). Esta maratona de apresentações re-monta as experiências da plateia nos principais festivais europeus com a audição da obra de um compositor num contexto mais amplo - destaca João Guilherme Ripper, diretor da Cecília Meireles.

E a imersão no universo beethove-niano segue em setembro com a exe-cução de todas as sonatas para violino e piano, pelos trios Aquarius e Porto Alegre, e a interpretação dos seis últi-mos quartetos de cordas pelo Quarte-to Carlos Gomes.

- Os últimos quartetos foram com-postos numa fase em que Beethoven es-tava completamente surdo, vivendo um mundo à parte com sua música.

Reprodução

Aos 250 anos de seu nascimento, Ludwig van Beethoven segue com uma das obras mais inovadoras na história da música

ESTÁ ENTRE NÓS

Ainda em setembro, o Festival Beetho-ven 250 promoverá um encontro da obra do gênio alemão com o mais inventivo compositor brasileiro. Beethoven Visita Villa-Lobos é um exercício musical sobre o território de interseção das duas obras, com a participação dos músicos da Or-questra Petrobras Sinfônica.

A programação alusiva a Beethoven do festival fecha em outubro com os recitais do duo formado pela pianista brasileira Cristina Margotto e o cellista americano Jed Barahal, que executarão a obra completa para os dois instrumentos do compositor alemão.

Já o projeto Música no Museu abre sua temporada em celebração aos 250 anos de Beethoven no dia 15 de janeiro com uma coleção de 15 valsas para pia-no solo com interpretação das instru-mentistas  Adriana Kel lner, Fernanda Cruz e Maria Helena de Andrade.

- São belíssimas peças, com me-lodias muito inspiradas, pequenos embrulhos de suas grandes obras, que também expressam suas angústias e seu mundo de contrastes, utilizando recur-sos pianísticos característicos de sua produção – destaca Sergio da Costa e Silva, idealizador do projeto, que che-ga a 22 anos de atividades ininterrup-tas apesar do cenário pouco inspirador para incentivos e fomentos à atividade cultural no país.

Além das Valsas, no mesmo concer-to serão apresentadas duas Marchas Mi-litares para piano a quatro mãos, obras brilhantes e de grande impacto no vasto conjunto de produção de Beethoven, que entre 1794 e 1826, nos deixou pe-ças para música orquestral, música de câmara, obras para piano, uma ópera (“Fidélio”), músicas de cena, balés e cantatas religiosas. O Música no Museu retomará as homenagens ao composi-tor em abril.

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2 De 6 a 12 de dezembro de 20192.º CADERNO

O Trio Aquarius, formado por Ricardo Amado (violino), Ricardo Santoro (violoncelo) e Flávio Augusto (piano)

O cellista americano Jed Barahal e a pianista brasileira Christina Margotto A pianista Juliana Steinbach Eduardo Monteiro, entre outras sonatas, executará a ‘Patética’, de 1798

CONTINUAÇÃO DA CAPA

Ludwig van Beethoven nasceu em dezembro de 1770, em Bonn (Alemanha). Seu pai era um músico sem grandes talentos, mas teve o mérito de investir no pequeno Ludwig, que, aos  14 anos, foi nomeado organista na corte do príncipe--eleitor de Colônia. Em 1787, foi enviado a Viena – o maior centro musical da época - para estudar com Mozart, mas este convívio foi interrompido por uma doença da mãe que o fez retornar à Alemanha.

Em 1792, voltou à capital austríaca para fixar residência. Teve como professores Haydn e Salieri e rapidamente conquis-tou reputação na exigente corte musical vienense. Os primeiros sintomas da surdez foram cons-tatados quando tinha 26 anos. A enfermidade só fez aumentar com o passar dos anos, fazen-do que o compositor passasse a fechar-se em si mesmo e em sua  música, o que um dia levou Richard Wagner a declarar eu “Beethoven não é um músico, ele é a própria música”.

Perfeccionista, Beethoven passava anos amadurecendo uma ideia musical até dar-se por satisfeito, ele anotava os acor-des que lhe vinham à mente num caderno que tinha sempre à mão. A evolução de muitas de suas obras pode ser conferida in loco nas correções de suas cadernetas, em que às vezes aparecem até dez tiras de papel coladas sobre uma passagem.

Influenciado desde jovem pelo ideário da Revolução Francesa, considerava-se re-publicano e democrata, dedi-

‘Beethoven é a própria música’Nem a surdez manifestada aos 26 anos impediu o compositor de criar em sua plenitude; pelo contrário, forjou o gênio

Vitor Jorge/Divulgação

P R O G R A M A Ç Ã O

cando sua terceira sinfonia (a Heroica) a Napoleão Bonapar-te. Anos mais tarde, rasgaria a dedicatória. Os críticos lhe atribuem a virada de chave do classicismo (reinante no fim do século XVIII) para a expressão e o pensamento românticos.

Sua obra inaugurou a mú-sica do século XIX, rompendo

com o formalismo do período anterior impondo um tipo de expressão mais livre. Contri-buiu para levar música a todo o povo, não apenas a auditórios restritos da corte.

Sua produção se deu em anos de grandes transformações esti-lísticas na música de concerto, sendo ele mesmo um dos pro-

tagonistas dessas mudanças. Na fase final do classicismo, com-punha claramente inspirado em Haydn e Mozart, como se vê nas duas primeiras sinfonias, nos seis primeiros quartetos para música de câmara e nas dez primeiras sonatas para piano, com destaque a “Patética” (1798), talvez a mais carregada de dramaticidade.

Sua transição para o roman-tismo ocorre entre 1800 e 1815. São dessa época não só a “He-roica”, mas sua obra mais co-nhecida do grande público até hoje: a “Quinta Sinfonia” cujos impactantes acordes de intro-dução do primeiro movimento tornaram-se do conhecimento até de quem não aprecia mú-

sica de concerto. Mas sua obra prima é, sabidamente, a “Nona Sinfonia” em cujo quarto movi-mento um coro canta os versos da “Ode à alegria”, de Schiller, um dos momentos mais subli-mes da história da música, um canto de amor à humanidade, que nos faz transbordar em ale-gria e esperança.

MÚSICA NO MUSEU*

Valsas para piano solo e mar-chas militares

15/1/20 - Adriana Kel lner (piano), Fer-nanda Cruz (piano) e Maria Helena de Andrade (piano)CCBB (Rua 1º de Março, 66 - 4º andar, sala 26), às 12h30 (en-trada franca)

Sala Cecília Meireles**

Integral das Sonatas para piano

14/5/2020Solista: Vera AstrachanPrograma: Sonata nº 1 em fá menor, op. 2 nº 1; Sonata nº 2 em lá maior, op. 2 nº 2; Sonata nº 3 em dó maior, op. 2, nº 3

15/5/2020Solista: Eduardo MonteiroPrograma: Sonata nº 4 em mi bemol maior, op. 7; Sonata nº 9 em mi maior, op. 14 nº 1; So-nata nº 10 em sol maior, op. 14, nº 2; Sonata nº 8 em dó menor, op. 13, “Patética”

16/5/2020Solista: Sérgio MonteiroPrograma: Sonata nº 11 em si bemol maior, op. 22; Sonata nº 12 em lá bemol maior, op. 26 “Marcha Fúnebre”; Sonata nº 13 em mi bemol maior, op. 27, nº 1 “Quasi una fantasia”; Sonata nº 14 em dó sustenido menor, op. 27, nº 2, “Clair de Lune”

21/5/2020Solista: Juliana SteinbachPrograma: Sonata nº 5 em dó menor, op. 10, nº 1; Sonata nº 6 em fá maior, op. 10 nº 2; Sonata nº 7 em ré maior, op. 10, nº 3

22/5/2020Solista: Juliana SteinbachPrograma: Sonata nº 16 em sol maior, op. 31, nº1; Sonata nº 17 em ré menor, op. 31, nº 2 “Tempête”; Sonata nº 18 em mi bemol maior, opus 31, nº 3 “La Chasse”

23/5/2020Solista: Aleyson ScopelPrograma: Sonata nº 15 em ré maior, opus 31, “Pastorale”; Sonata nº 19 em sol menor, opus 49, nº 1; Sonata nº 20 em sol maior, opus 49, nº 2; Sona-ta nº 21 em dó maior, opus 53, “Waldstein”

28/5/2020Solista: Leonardo HilsdorfPrograma: Sonata nº 22 em fá maior, op. 54”; Sonata nº 24 em em fá sustenido maior, op. 78, “À Thérèse”; Sonata nº 26 em mi bemol maior, op. 81a, “Les adieux; Sonata nº 25 em sol maior, op. 79, “Alla tedes-ca”; Sonata nº 23 em fá menor, op.57, “Appassionata”

29/5/2020Solista: Sergio MonteiroPrograma: Sonata nº 27 em mi menor, op. 90; Sonata nº 28 em lá maior, op. 101; Sonata nº 29 em si bemol maior, op. 106, “hammerklavier”

30/5/2020 Solista: Jean Louis Steuerman Programa: Sonata nº 30 em mi maior, op. 109; Sonata nº 31 em lá bemol maior, op. 110; Sonata nº 32 em dó menor, op. 111

Últimos quartetos

6/8/2020Quarteto Carlos Gomes - Clau-dio Cruz (violino), Adonhiran

Programa: Trio com piano em mi bemol maior, op.1, nº1; Trio com piano em sol maior, op.1, nº2

21/8/2020Trio Porto Alegre - Carmelo de los Santos (violino), Hugo Pil-ger (violoncelo) e Ney Fialkiow (piano)Programa: Trio com piano em mi bemol maior, op.70, nº 2; Trio com piano em si bemol maior, op.97, “Arquiduque”

22/8/2020Trio Porto AlegrePrograma: Trio com piano em dó menor, op.1, nº3; Trio com piano em ré maior, op.70, nº 1, “Fantasma”

Integral das sonatas para vio-lino e piano

24/8/2020Emmanuele Baldini (violino) e Lilian Barretto (piano) Programa: Sonata para violi-

Reis (violino), Gabriel Marin (viola) e Alceu Reis (violon-celo)Programa: Quarteto de Cor-das em mi bemol maior, op. 127; Quarteto de Cordas em dó sustenido menor, op. 131

7/8/2020Quarteto Carlos GomesPrograma: Quarteto de Cordas em si bemol maior, op. 130- Grande Fuga em si bemol maior, op. 133

8/8/2020Quarteto Carlos GomesPrograma: Quarteto de cordas em lá menor, op. 132; Quarte-to de cordas em fá maior, op. 135

Integral dos trios com piano

20/8/2020Trio Aquarius - Ricardo Ama-do (violino), Ricardo Santoro (violoncelo) e Flávio Augusto (piano)

no e piano em ré maior, op. 12, nº 1; Sonata para violino e piano em lá maior, op. 12, nº 2; Sonata para violino e piano em mi bemol maior, op. 12, nº 3; Sonata para violino e piano em lá maior, op. 47, “Kreutzer”

25/8/2020Priscila Rato (violino) e Erika Ribeiro (piano) Programa: Sonata para vio-lino e piano em lá maior, op. 30, nº 1; Sonata para violino e piano em dó menor, op. 30, nº 2; Sonata para violino e piano em sol maior, op. 30, nº 3

26/8/2020Gabriela Queiroz (violino) e Aleyson Scopel (piano) Programa: Sonata para vio-lino e piano em lá menor, op. 23; Sonata para violi-no e piano em fá maior, op. 24, “Primaver”; Sonata para violino e piano em sol maior, op. 96

Integral das obras para vio-loncelo e piano

16/10/2020Jed Barahal (violoncelo) e Christina Margotto (piano)Programa: 12 variações, WoO 45 sobre um tema do oratório “Judas Macabeus”, de Händel- Sonata para violoncelo e pia-no em fá maior, op. 5, “Prima-ver” nº 1; 12 variações , op. 66 sobre um tema “Ein Mädchen oder Weibchen”, da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart- Sonata para violoncelo e pia-no em lá maior, op. 69

17/10/2020Jed Barahal (violoncelo) e Christina Margotto (piano)programa - 7 variações , WoO 46 sobre um tema do dueto “Bei Män-nern welche Liebe  fühlen”J, da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart; Sonata para violoncelo e piano em sol maior, op. 5, nº 2; Sonata para violoncelo e pia-no em sol maior, op. 102, nº 1; Sonata para violoncelo e piano em lá maior, op. 102, nº 2

*A programação em celebração a Beethoven terá sequência de abril a dezembro com concertos men-sais em vários pontos da cidade, sempre com entrada franca, a te-rem suas datas e locais confirma-dos posteriormente

**Todos os concertos terão iní-cio às 19h na Sala Cecília Mei-relles (Rua da Lapa, 47). Os primeiros ingressos serão dis-ponibilizados aos integrantes da Associação dos Amigos da Sala Cecília Meireles e depois serão colocados à venda nor-malmente. Informações: (21) 2332-9223

Acima, o Quarteto Carlos Gomes, escalado para executar os últimos quartetos de Beethoven,

e, ao lado, o jovem pianista Leonardo Hilsdorf

Julio Acevedo/Divulgação

Martina Barahal/Divulgação Balázs Böröcz/Divulgação

DivulgaçãoDivulgação

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Aos 70 anos, quem diria, virei uma esquerdopata, aos olhos da nova ordem. Logo eu, que sempre andei pelo centro, que fui tucana de primeira hora quando o PSDB ainda era um partido que reunia figuras aci-ma de qualquer suspeita. Cen-tro-esquerda, mas centro. Nem extrema-esquerda, muito me-nos extrema-direita, posição da qual sempre respeitosamente discordei. Taí meu amigo Aris-tóteles Drummond – extrema--direita desde as fraldas e meu amigo desde a adolescência – que não me deixa mentir.

No momento, sou esquer-dopata. Devo dizer que com muita honra. Considero um atestado de inteligência e sani-dade mental. O noticiário dos últimos dias não tem apenas me irritado como me leva a crer que estamos de volta à Idade Média, com direito a Inquisi-ção, bruxas, poções, e, sobretu-do, trevas, muitas trevas.

Pode ser que eu me engane, mas, do jeito que a coisa vai, nem todas preces evangélicas do imenso rebanho bolsonazi salvarão este governo da dana-ção final.

***

By the way: sei bem que Sua Excelência tem mais o que fazer, mas ele bem poderia de-corar um outro versículo além daquele de João, 8, 32: “Vós

73 livros que compõem a Bí-blia: 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo. É coisa demais para quem não cultiva o hábito da leitura e só ouve a Palavra de Deus através dos bispos da vida naqueles barulhentos cultos.

Com todo o respeito, sugiro ao nosso presidente a leitura de João, no mesmo capítulo 8, versí-culo 47: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. Vós não as ouvis porque não sois de Deus.”

Não dá pra ser fake com Deus, Excelência. Evangélico de raiz não decora só um versículo. Fosse Jesus vivo, tenho certeza, que diria sobre a bancada evan-gélica: “Cambada de fariseus.” O reino aqui na terra interessa muito mais a eles do que o Rei-no dos Céus, podem crer.

***

E como não só de pão vive o homem, meus mais sinceros

Noves fora o côté cômico – como não rir do bestialógico do novo presidente da Funar-te? – continuamos a presenciar um governo que não engrena, que entrega meias soluções para problemas gravíssimos, que passa os dias a idolatrar o Olavão e nomear cretinos fun-damentais (obrigada, Nelson Rodrigues) para postos de re-levo na Cultura, e, mais grave, aos 11 meses do seu primeiro ano, já escolhe o nome do vice--presidente para as eleições que só acontecerão daqui a mais três anos. É uma gente otimis-ta, né, não? Nenhum de nós pode saber sequer se estará vivo amanhã, o que dirá daqui a três anos um governo que marcha para o abismo. E aí não estou falando da deselegância de com tanta antecedência escolher o Moro e vestir o pijama em seu vice, o General Mourão, que não me dá a impressão de estar a fim de se aposentar. Muito pelo contrário.

conhecereis a verdade e ela vos libertará”. Será que o evangélico de ocasião sabe que a Bíblia tem o Antigo Testamento e o Novo Testamento? O Antigo Testa-mento é dividido em Livros da Lei, Livros Históricos, Livros Didáticos, Livros Proféticos. Por sua vez, o Novo Testamen-to subdivide-se nos Livros do Evangelho (de onde ele pinçou sua frase de campanha), o Livro Histórico, as Epístolas e o Livro Profético. Nas subdivisões, são

aplausos a Manuela Dias, auto-ra de Amor de Mãe. Um sopro de inteligência e de belas repre-sentações na recém-estreada novela das 9 na Globo, sempre impecável em suas produções.

A “Dona do Pedaço” me irritou de uma tal maneira que nem tão cedo como bolo. Wa-lcyr Carrasco me deixou enjo-ada com aquela xaropada de quinta categoria. Se me ofere-cerem uma fatia de bolo mági-co, surto.

***

Esquerdopata que sou, bato palmas estrepitosas para o novo livro de Chico Buarque, esquer-dopata como eu. “Essa Gente” é genial em sua sutil ironia, no olhar afiado do autor sobre seu bairro, sua cidade, seu país. E sua gente, por supuesto. Mui-to orgulho de viver no mesmo tempo de Chico. É sempre um consolo numa hora dessas.

Roberto Carlos lançou o filme 3D do seu show realizado em Jerusalém. Além do show, o filme ainda conta com cenas da viagem de Roberto Carlos à Terra Santa, incluindo passa-gens por locais históricos como a Basílica do Santo Sepulcro, o Jardim das Oliveiras, o Muro das Lamentações e o Monas-tério de São Jorge. Diversos

famosos foram prestigiar o Rei na estreia realizada no Cine Odeon, onde o cantor esteve presente. Entre eles, Glória Ma-ria, que foi narradora do filme e mestre de cerimônia em 2011, Jayme Monjardim (diretor do espetáculo), Boni, Ana Furta-do, Boninho, Glória Perez, Cid Moreira e Ana Botafogo, entre outros.

Paulo Sérgio Niemeyer, bis-neto de Oscar Niemeyer, reuniu desenhos, filmes, bilhetes - mui-tos inéditos -, e fotos da época em que trabalhou e morou com o bi-savô e prepara um livro que será lançado no próximo ano. Entre as muitas histórias da intimidade

do arquiteto, tem por exemplo, fotos dele em uma de suas viagens de carro - ele não gostava de avião -, ouvindo rock pesado ao lado de familiares. No livro aparece tam-bém o carinhoso apelido de Din-dinho, como era chamado Oscar Niemeyer pelos netos.

Lula disse a amigos do Instituto Lula que pretende passar o Natal com a noiva, Janja, filhos e netos no apar-tamento da família em São

Bernardo do Campo. O Ré-veillon ainda está em aber-to. Mas Lula não descarta a possibilidade de ir para uma praia no Nordeste.

Aniversariante da semana, Anita Prestes comemorou com alunos e amigos pesquisado-res seus 83 anos. Filha de Olga Benário e Luís Carlos Prestes, a historiadora - que lançou no início do mês sua biografia, ”Viver é tomar partido”, pela

editora Boitempo - afirmou que sua maior preocupação, no momento, é com “os rumos da política econômica brasileira”.

“Enquanto o Bolsonaro fica falando por aí, o Paulo Guedes cuida de prejudicar o trabalhador”.

Anita Prestes diz que gostou de ver o Lula solto.

“Mas o Lula sozinho não vai resolver os problemas do Bra-sil”, dispara.

No livro de memórias, a

pesquisadora lembra que ape-sar de ser filha de Olga, as-sassinada pelos nazistas, e de Prestes, perseguido por ser co-munista, não foi uma criança triste ou infeliz.

Stepan Nercessian tem seu primeiro samba grava-do. "Garota da Barra", uma parceria com o sambista Leo Russo, é uma ode às mulheres do bairro onde os dois autores residem. O single estará nas plata-formas digitais a partir de

hoje, com direito a video-clipe com as participações de Bruna Salvatori, do elenco do “Caldeirão do Huck”, e dos atores Eduar-do Galvão e Pedro Nerces-sian. Quem assina o arran-jo da canção é o maestro Rildo Hora.

3De 6 a 12 de dezembro de 2019 2.º CADERNO

Esquerdopata com muita honraCRÔNICA DA SEMANA

Roberto Carlos recebe famosos na estreiade seu filme 3D

Oscar Niemeyer na intimidade

Festas natalinas

Filha de Olga Benário faz criticas a Paulo Guedes

E mais...

O samba do Stepan

Fotos Cristina Granato

Roberto Carlos

Glória Maria e Jayme Monjardim

Dody Sirena e Roberto Carlos

Roberto Carlos, Renata Salgadoe Carlos Henrique Schroder

Fatima Sampaio e Cid Moreira

Glória Maria e Roberto Carlos

Roberto Carlos e Glória Perez

Bebel e Paulo Niemeyer

Roberto Carlos e Gloria Severiano Ribeiro

Roberto Carlos, Boni e Lou

Chico Buarque Manuela Dias

[email protected]

[email protected] com Luiz Claudio de Almeida

ANNA RAMALHO

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4 De 6 a 12 de dezembro de 20192.º CADERNO

CORREIO CULTURALIVE RIBEIRO

Scarlett Johansson é a dona da telona

Conto de Natal

Canção da cabra

Teatro do Oprimido

Curtas

Grife masculina lança coleção

Sinhara Garcia

Rio Music Market

Luis Villarino

A Marvel divulgou o primeiro trailer de “Viúva Negra”, o primeiro filme protagonizado pela agen-te russa Natasha Roma-noff (vivida pela musa Scarlett Johansson), mas dessa vez sem a compa-nhia dos Vingadores.

O longa, previsto para estrear em abril de 2020, contará um pouco sobre a infância da misteriosa per-

A grife Hermes Inocên-cio realiza, dia 15, a partir das 17h, a festa de lança-mento com o desfile da nova coleção Alto Verão 2019/20.

A festa, que terá a pre-sença de artistas que ves-tem a marca, acontecerá

n Lívia Andrade é a nova rainha de bateria da Paraíso do Tuiuti. É a primeira vez que a mo-delo paulista assume o posto à frente de uma escola de samba do Rio.

n A jornalista Vera Ma-galhães será a nova apresentadora do Roda Viva, programa sema-nal de entrevistas da TV Cultura. Ela deve estrear em janeiro, se-

O Teatro Riachuelo, na Rua do Passeio, no Centro do Rio, recebe o espetá-culo de ballet entre os dias 5 e 22 de dezembro. Com direção de Dalal Achcar, serão 238 figurinos, uma árvore de Natal de cinco metros de altura e 70 bai-larinos em cena, sendo 32 mulheres,12 homens e 26 crianças.

Sylvio Fraga Quinteto e Letieres Leite voltam à Audio Rebel (Rua Viscon-de Silva, 55 - Botafogo) nos próximos dias 11 e 12, às 20h, para mostrar as faixas do novíssimo ál-bum “Canção da cabra”, inéditas e clássicos que gostam de tocar juntos. Ingressos a R$ 20.

O Festival Teatro do Oprimido será realizado entre os dias 8 e 12 com encenações na Lapa, Av. Pres. Vargas, Manguinhos e Rocinha. Criado pelo dramaturgo Augusto Boal (1931 - 2009), o evento leva ao público arte e literatura brasileira que reflitam so-bre questões contemporâ-neas, como desigualdade social e preconceito.

A escritora cearense lança o livro “O Universo de Sinharinha - Caste-los na areia, para saber ganhar na ausência” na Livraria Bambolê, em Co-pacabana, sábado (7), a partir das 9h. A obra é composta por seis contos que falam sobre a tempo-ralidade da vida, os filhos e a perda dos pais.

A Praça Tiradentes recebe o evento entre os dias 9 e 12 de dezem-bro, atraindo mais de 60 profissionais originários de Europa, Estados Uni-dos, Chile e Brasil, para participar de cerca de 30 painéis sobre as oportu-nidades da indústria da música do mundo.

Integrante da família que fundou a tradicional Casa Vilarinho, em funcio-namento desde 1953, o agitador cultural irá lançar em 2020 um espumante e um livro contando sobre suas viagens pela Europa e sobre os primórdios da bossa nova no Rio de Ja-neiro. Outras informações no portal do Luis: revista-dovilla.com.br.

sonagem. Desde sua vida como bailarina, até se tor-nar a assassina profissio-nal do MCU.

O elenco conta ainda com Florence Pugh como Yelena Belova, Rachel Weisz como Melina Vostokoff e David Harbour (“Stranger Things”). Alexei Shostakov é o Guardião Vermelho - uma espécie de Capitão América soviético.

no coração de Ipanema, na Rua Prudente de Mo-rais, 237. A inspiração dos novos modelos vem do Oriente, com a nova cole-ção Dragon Age, que traz referências da China com estampas revelando íco-nes da cultura do país.

gundo comunicado da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Ma-galhães substitui Danie-la Lima, que irá para a CNN Brasil.

n MC Theus, revelação do funk carioca, conhe-cido pelos hits “Vem Jogando” e “Medley Dançante”, é uma das apostas para ser a voz do “funk chiclete” da vez no Carnaval 2020.

Divulgação

Será a primeira vez da atriz em um filme solo no universo Marvel

M Ú S I C A

Gravadora investe nas rimas do rapNovata Cane Records nasce com estrutura acanhada, mas sonha alto

ND/Divulgação

MC Lope diz que selo surge para dar visibilidade a talentos sem espaço

Atriz pede respeito aos bombeiros

Depois de sofrer um ataque racista ao terminar de gravar cenas de seu próximo filme, “Juntos e Enrolados”, em um quar-tel dos bombeiros no dia 23 de novembro, no Rio, a atriz Carol Protásio gra-vou um vídeo agradecen-

do o apoio que recebeu do público e pedindo que ninguém generalize ou desrespeite o trabalho da corporação. O Corpo de Bombeiros se solidarizou com a atriz e abriu proce-dimento interno para iden-tificar os militares.

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Por Gabriel Moses

Em tempos de intensa pro-dução musical nas plataformas digitais, a cada dia surge uma quantidade incalculável de no-vos artistas buscando seu es-paço. Em busca não apenas do sucesso, mas da consolidação de carreiras, nove jovens da Ilha do Governador acabam de criar a Cane Records, uma gravadora disposta a revelar novos talen-tos. O selo tem foco em três gê-neros musicais: o rap, o funk e o reggaeton.

- A Cane surgiu como uma resposta a um cenário escasso de gravadoras que apostem em jovens talentos. Queremos que essa turma possa mostrar seu va-

lor. Nossas portas estão abertas ao novo – avisa o MC Lope, um dos idealizadores do projeto.

- Nossa estrutura é simples e enxuta. Produzimos nossas canções em um home studio. Temos um produtor executivo, que cuida da parte financeira e estratégica (Milhouse); um produtor visual que gerencia a parte de audiovisual e de co-municação (ND); um produtor musical e beatmaker (Saizu); o DJ GDL e cinco MCs: Alê Garcia, Emi-G, Godie, Yan Ser-ra e eu – enumera Lope.

Mesmo sonhando alto, o grupo rima otimismo com pragmatismo:

- O meio musical tem suas particularidades. É muito com-

plicado se entrar nele, mas bem fácil de sair dele, ser esquecido. Por isso, sempre buscamos for-mas inteligentes e criativas de planejamento, para que à me-dida que a gente cresça e tenha algum nome, possamos conso-lidar as carreiras.

O novo selo trabalha com três gêneros musicais, mas o destaque fica com o rap nacio-

nal. Para Lope, o rap representa a liberdade. É o gênero musical mais livre de preconceito ou de padronização.

- O Brasil é o país da diver-sidade. Podemos passar uma mensagem mais direta e sem muita censura. A linguagem do rap é ótima para mostrar os nossos problemas e apontar so-luções – teoriza o MC.

Por César Ferreira

Moyseis Marques, um dos principais talentos da geração de sambistas que surgiu com a reto-mada da Lapa no final dos anos 1990, é a atração do próximo dia 12 no “Baile de Quintal - MPB Pra Dançar”, às 21h30, no Du-mont Arte Bar, na Gávea.

Moyseis mistura suas influ-ências em arranjos que trazem vitalidade para suas músicas e

MPB pra dançar no Baixo GáveaMoyseis Marques comanda o ‘Baile do Quintal’ no Dumont Arte Bar

novas texturas para clássicos que fazem parte da nossa memória musical afetiva. O resultado é um baile bem brasileiro, um re-trato musical do Rio de Janeiro.

No repertório, canções dele com alguns de seus parceiros - Moacyr Luz, Zé Paulo Becker, Edu Krieger, Vidal Assis, Al-fredo Del-Penho, Zé Renato, Mauro Aguiar, Aldir Blanc, Nei Lopes, João Martins e Fernan-do Temporão -, além de suas

referências, como Paulo César Pinheiro, Luiz Carlos da Vila, João Bosco, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Jackson do Pan-deiro, Jorge Ben, Pixinguinha, Gil, João do Vale e Edu Lobo.

Depois de Moyseis Marques, o Dumont Arte Bar vai receber nas quintas seguintes de dezem-bro outros artistas representa-tivos do bairro mais boêmio do Rio de Janeiro: Samba de Fato (19/12) e Galocantô (26/12).

Elena Moccagatta/Divulgação

O cantor Moyseis Marques

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5De 6 a 12 de dezembro de 2019 2.º CADERNO

Divulgação

Norah e o novo EP, gravado em clima de improviso no verão passado

SERVIÇO

RITA BENNEDITTO - TECNOMACUMBA

Teatro Rival Petrobras (Rua Álvaro Alvim, 33 - Cinelândia – Tel: 21 2240-9796 13/1, às 20h Ingressos: Pista - R$ 80 e R$ 40 - Mezanino A/B - R$ 100 e R$ 50

M Ú S I C A

Por Affonso Nunes

 Aos 40 anos e com nove

Grammys nas prateleiras, Norah Jones é uma artista que se permite a longos períodos sem lançar tra-balhos novos se esta for sua von-tade. Dois anos depois de lançar o celebrado álbum “Day Break”, a cantora e instrumentista voltou ao estúdio para gravar algumas canções. O repertório do EP “Begin Again”, já disponível nas plataformas digitais, é parte do repertório que Norah apresen-tará no próximo dia 13, no Vivo Rio, com ingressos já esgotados.

“Begin Again” é uma com-pilação de singles que reúne co-laboradores como Jeff Tweedy e Thomas Bartlett. O álbum aposta na sonoridade original de Norah em seu álbum de estreia, o avassalador “Come away with me” (2003) cuja faixa-título transformou a fi-lha do sitarista indiano Ravi Sankar em sucesso mundial.

Gravados em 2018, os sin-gles variavam de experiências eletrônicas a baladas folk ou mesmo melodias com pegada

Norah Jones volta às raízes com ‘Begin again’

soul inundadas por naipes de metal, com direito a harmo-nias  a músicas de soul enchar-cadas de órgão e trompa. A artista define o resultado deste processo como “instantâneos de criatividade”.

- Voltei ao estúdio com o simples objetivo de seguir ca-minhos criativos sem limites. Me reuni com os músicos com o propósito de experimentar, improvisar. Um processo rápi-do com não mais do que três no estúdio - recorda Norah.

Aberta a possibilidades, Norah revela ter o hábito de gravar ao telefone pequenos trechos de uma ideia musical para trabalhar mais tarde, ten-do um ponto de partida:

- Em cada sessão, passava essas pequenas ideias aos mú-sicos, mas a esperança em pro-cessos como esse é sempre criar naquele momento. Músicas surgindo do nada. Tudo muito livre, sem uma direção definida e superou as expectativas que eu pudesse ter - disse em seu site oficial.

P L AY L I S T

Sob as bençãos de dois grandes compositores do samba, Nego Álvaro lança “Nego Álvaro canta Sereno & Moa” (Biscoito Fino), seu segundo álbum e que lhe rendeu o Grammy La-tino deste ano na categoria Samba. “O Moacyr (Luz) me ligou dizendo que precisava conversar comi-go. Disse que iria fazer 60 anos e queria fazer alguns discos, entre eles um com

Formado pelos vio-lonistas Marcos Alves, Paulo Aragão, Maurício Marques e Carlos Cha-ves, o Quarteto Maogani foi apadrinhado por Sér-gio Mendes que assina a produção executiva do “Álbum da Califórnia” (Biscoito Fino), segundo trabalho do grupo. No repertório, arranjos in-ventivos para canções dos irmãos Gershwin, Milton

O bandolinista Ha-milton de Holanda che-ga à incrível marca de 38 álbuns autorais lançados com “Harmonize” (inde-pendente). Acompanha-do por Daniel Santiago (violão), Thiago do Espi-rito Santo (baixo) e Edu Ribeiro (bateria), o vir-tuose constrói uma linha harmônica que aproxima o choro do jazz. São duas regravações e oito canções

suas parcerias com Sereno, do Fundo de Quintal , que também é um dos meus ídolos”, orgulha-se Álvaro.

Nascimento, Chico Bu-arque, Gilberto Gil, Tom Jobim, João Donato, Cole Porter e Ary Barroso.

inéditas. A direção artísti-ca é assinada pelo próprio Hamilton e por Marcos Portinari.

Com as bençãos de Moa

Violões mágicos

Choro + jazz

A força irresistível da tecnomacumbaRita Bennedito apresenta no Rival versão renovada do espetáculo que une candomblé e dance music

Por Affonso Nunes

A cantora maranhense Rita Benneditto tem uma sólida car-reira de intérprete na cena musical brasileira. Unindo a força ancestral dos ritmos africanos com batida eletrônica, dez do álbum “tecno-macumba” um projeto que pratica-mente tem vida própria. Por mais que explore outras possibilidades e caminhos musicais, sempre se vê na iminência de mostrar ao públi-co esses pontos de candomblé que ganharam as pistas de dança no Brasil e no mundo. No próximo dia 13, a artista sobre ao palco no Teatro Rival Petrobras para mais esta autêntica sessão de descarrego musical, com a benção dos orixás.

Com o show, Rita mostra a força do tambor em nossa forma-ção musical. O espetáculo já tem 15 anos, mas amadureceu, assim como a artista.

A transformação mais nítida, avisa Rita, se dá no repertório que foi abrindo espaço para no-vos temas e canções como “De mina” ( Josias Sobrinho), “Ma-

mãe Oxum (Domínio Público) e, a mais recente delas, “7Marias”, composição da própria Rita em parceria com Felipe Pinaud. A canção tem agora clipe próprio, no ar há um ano e com mais de 500 mil visualizações.

- “7Marias” é uma música fei-ta em homenagem às pombagiras, entidades cultuadas nos terreiros de candomblé e de umbanda. É uma reverência ao sagrado femi-ni-no, à força natural e divina das mulheres em sua máxima expres-são de afirmação e igualdade - de-fine a cantora.

A permanência do interesse dos fãs no projeto levou a artista a disponibilizar nas plataformas

digitais os álbuns “Tecnomacum-ba” e “Tecnomacumba a tempo e ao vivo”, que lhe rendeu o Prêmio da Música Brasileira.

Outra mudança é em relação à sonoridade. A Cavaleiros de Aruanda, sua banda de apoio, conta agora com os músicos Fred Ferreira (guitarras e vocais), Fa-binho Ferreira (baixo e vocais) e Ronaldo Silva (bateria, progra-mações e vocais).

A originalidade do Tecno-macumba seduziu não apenas o público, mas os colegas de ofício. No texto escrito para o DVD do show, Caetano Veloso foi visio-nário: “Este disco tem um futuro intrigante e pode vir a dizer mais

do que parece agora”. O poeta es-tava coberto de razão, sobretudo no Brasil de hoje em que a heran-ça cultural e religiosa dos povos de origem africana são alvos de ódio e preconceito.

Carol Mendonça/Divulgação

O DVD ao vivo de “Tecnomacumba” rendeu a Rita Benneditto o Prêmio da Música Brasileira como cantora

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6 De 6 a 12 de dezembro de 20192.º CADERNO

Instantâneos do futuro que já foiMultiartista chinês Yonfan desafia convenções do cinema com a animação ‘Nº7 Cherry Lane’Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

Raramente, uma animação alcança prêmios de roteiro nos maiores festivais de cinema do mundo (locais, aliás, onde o for-mato narrativo dificilmente tem espaço), o que faz do Leão de Prata dado, em Veneza, à expe-riência ensaística entre pintura e desenho chamada “Nº 7 Cherry Lane”, da China, um OVNI no histórico das láureas de maior prestígio estético do audiovisual. Mas como o vencedor também não parece muito adequado às formalidades deste mundo – o es-critor, cineasta e fotógrafo de 72 anos Yonfan dá zero importân-cia para especulações industriais acerca de seu novo longa-metra-gem nos papos que vem travando com a imprensa mundial no 18º Festival de Marrakech.

Multiartista famoso ao lon-go de décadas como um mestre do retratismo ao fotografar cele-bridades, desde 1973, Yonfan é visto como um titã também no universo das artes plásticas e da literatura. Agora, os animadores também passaram a vê-lo assim.

De portas abertas ao povo do Marrocos e a jornalistas e produtores de todo o planeta, o Festival de Marrakesch – aberto no último dia 29 de novembro,

tendo o realizador pernambuca-no Kleber Mendonça Filho no júri e o longa brasileiro “A Febre”, da carioca Maya Da-Rin, em luta por troféus – termina neste sába-do (7), tendo Yonfan entre seu rol de celebridades, mas uma ce-lebridade arredia aos aos salama-leques em torn de seu nome.

- Lamento, mas eu não vou ao cinema ver animações. O que eu vejo são exposições de pintu-ra e de fotos. Quando o cinema começou, não se falava em filme, falavam-se de motion pictures, ou seja, imagens em movimento.

Tirar fotos foi uma atividade que garantiu a mim uma vida confor-tável. Confortável o suficiente para não querer mais fotografar, por perceber que essa atividade ficou fácil demais para mim, sem muitos desafios. Eu quero ser desafiado, constantemente. Daí encarar um campo, o do cinema animado, atrás dessa ideia antiga, mas nunca superada das motion pictures, do pleno movimento - explicou Yonfan ao CORREIO DA MANHÃ em Marrakech.

- A animação tem seu contex-to industrial que não se interessa

pelo que eu fiz na contemplação de “Nº7 Cherry Lane”. Os espec-tadores do cinema de arte tam-bém torcem o nariz para quem anima histórias. Mas eu precisava revisitar a China assim - justifica. TEMÁTICAS ESPINHOSAS

Aclamado como um cam-peão de bilheteria em 1985, após o sucesso asiático de “Lost romance”, no qual dirigiu os atores Maggie Cheung e Chow Yun-Fat, Yonfan deixou as ci-fras de lado e passou a investir em temáticas espinhosas, falan-do das especiarias sensoriais de Macau e da Revolução Cultural de Mao Tse-Tung, sobre uma perspectiva humanistas, ou sob uma ótica LGBTQ+.

Em “Nº7 Cherry Lane”, ele recria os turbilhões geopolíticos e comportamentais da Hong Kong dos anos 1960, a partir da saga de um homem, Ziming, que cai de amores por uma mu-lher mais velha, apaixonada por obras literárias clássicas e cults, e pela filha dela, encantada por narrativas cinematográficas da década da Nouvelle Vague.

- Não é um filme sobre os anos 1960, porque eu não que-ria cair no erro de reproduzir o passado, apenas para repetir o que já se viveu. É um estudo sobre os signos do futuro, que

Fotos Divulgação

Divulgação

‘Nº 7 Cherry Lane’ recria os turbilhões políticos da Hong Kong dos anos 1960, mas sem fixar-se no tempo

Yonfan: desejo pelos desafios

Rodrigo De La Serna vem lotando as sessões de ‘El Farmer’ no Teatro de La Comédia, de Buenos Aires

a gente expressa na forma de escolhas. Não temos ainda a certeza de que o futuro é algo que só dura 24 horas. Depois disso, ele vira passado, instanta-neamente. E o hoje é aquilo que será o ontem, nada mais. O que nos separar dessa ciranda do Tempo é o movimento, a dilata-ção que a arte permite. Por isso eu fui para a animação, porque disseram que eu não seria ca-paz de expressar a dilatação do Tempo com desenhos - diz, aos sorrisos, o plural cineasta, aves-so a cartilhas.

- Usei um livro meu de con-tos. Escrevi 59 histórias curtas e usei umas três, mescladas aqui, sem me limitar às palavras dessas narrativas. Tenho cerca de 800 falas em duas horas de filme, o que não é nada palavroso, pela média dos roteiros. Meu objeti-vo aqui, e sempre, é ser livre.

Seu “Nº 7 Cherry Lane” ar-rebatou elogios em Marrakech, mas passou fora da briga pela Es-trela de Ouro, a Palma local. En-tre os títulos favoritos a vencer neste sábado estão o australiano “Dente de leite”, de Shannon Murphy, sobre uma adolescente com câncer terminal que desco-bre o amor; e o italiano “Sole”, de Carlo Sironi, no qual uma jovem grávida quer vender seu bebê para um casal.

C I N E M A

T E A T R O

Recém-saído de festivais na China e na Estônia com o thriller “El Acecho”, inédito por aqui, o argentino Rodrigo De La Serna, 43 anos, um dos mais elogiados atores de seu país em sua geração, conhecido por seu desempenho como Al-berto Granado em “Diários de motocicleta” (2004), subiu na garupa de uma peça do teatro que não consegue mais tirá-lo dos palcos.

O papel de Palermo no badalado seriado “La Casa de Papel” renovou sua populari-dade em territórios hispânicos e ampliou sua fama em todo o perímetro do streaming na web (no caso, Netflix). Mas, em sua pátria, hoje em tempos de reno-vação política, com a eleição de Alberto Ángel Fernández, é o espetáculo “El Farmer”, nos pal-cos de Buenos Aires, que vem reciclando seus dotes dramáti-cos e suas inquietações éticas.

A lotação no Teatro de La Comédia, graças a ele e à força poética do texto, baseado em romance de Andrés Rivera, tem

Rosas e o sonho de uma Argentina livre... nos palcosPeça com astro de ‘La Casa de Papel’ desconstrói mito

se esgotado a cada fim de sema-na, com temporadas renovadas.

A adaptação da prosa de Rivera é assinada por seus dois atores, Pompeyo Audivert e De La Serna, sob a direção de An-drés Mangone, escrevendo os diálogos em parceria com eles. EXUMAÇÃO SIMBÓLICA

O foco é a exumação sim-bólica do mito Juan Manuel José Domingo Ortiz de Rosas (1793-1877), apelidado de “O Restaurador das Leis”: um po-lítico e oficial militar argentino, de instinto guerreiro, que go-vernou a província de Buenos Aires e brevemente a Confede-ração Argentina.

- Tenho visões controversas sobre a importância de Rosas e sobre as atitudes dos aristo-cratas que o traíram, mas ele ainda simboliza, entre nós, ar-gentinos, um passado inaudito, escondido sob censura velada dos que governaram e cons-truíram este país, ainda que de maneira escusa e alheia a quem faz cultura - disse Mangone em

entrevista por e-mail ao COR-REIO DA MANHÃ.

Ao confrontar dois tempos da vida de Rosas, sua juventu-de na América do Sul, regada a sangue, e sua velhice em uma instância na Inglaterra, Man-gone põe toda a história do poder em sua pátria em uma revisão crítica. O foco: a peleja de alguém que acreditou num sonho de pátria voltada para o bem de seu povo para manter a democracia em pé.

- No palco, nós temos Ro-sas no último dia de sua vida, revistado pelo fantasma daqui-lo que foi em seu apogeu, num eco de decadência e do reinado de glória - explica o encenador - O que me inquieta aqui é como encontrar uma identidade uni-versal, mais humana do que mí-tica, para ele.

De acordo com o diretor, a iluminação foi projetada por Leandra Rodriguez “de modo a rastrear um território interior de um homem que envelhece iso-lado, mas cercado pelo sonho”. (Rodrigo Fonseca)

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7De 6 a 12 de dezembro de 2019 2.º CADERNO

O Rio que acontecen Rio das surpresas... Mesmo chuvosa, a semana na cidade foi

quente. Ou melhor, aquecida por eventos bem bacanas.

Em uma demonstração “comovente de união”, o Theatro Municipal do Rio ganhou uma noi-te beneficente, organizada pela ONG Bees of Love, projeto filantrópico, fundado em 2018 por Georgia Buffara.

O Gala Solidária “VAMOS ABRIR AS COR-TINAS DA EMOÇÃO” foi organizado em dois meses para arrecadar fundos para a Corti-na de Cena, orçada em R$ 790 mil. E captou, pelos primeiros cálculos, cerca de R$ 160 mil.

Os participantes deram um show. Logo na abertura, os mestres de cerimônia Tony Ra-mos e Ana Botafogo muito à vontade encan-taram a plateia. Muitas surpresas aconteceram.

LILIANA RODRIGUEZCom Jacyra Lucas e Eduarda Lima

[email protected]

Fotos Véra Donato

n Referência no teatro contemporâneo, Ana Kfouri lançou seu primeiro livro, “Forças de um corpo vazado”. Foi na livraria Brooks, em Botafogo.

Também na Brooks, David Massena mostrou sua nova obra infanto-juvenil. O colunis-ta conta, através de uma fábula, a história de Zuzu Angel, uma das mais importantes esti-listas da história da moda no país... “além de incansável oponente da violência do governo militar, mãe de Stuart Edgar Angel Jones, tor-turado e assassinado pela ditadura, Zuzu pas-sou anos denunciando as arbitrariedades da repressão até morrer em um acidente de carro suspeito em 1976”, relata o autor.

Carlinhos de Jesus e Nelson Freitas Ana Botafogo, Tony Ramos e Georgia Buffara

Manoela Ferrari, Gloria Severiano Ribeiro e Regina Ximenez

Nicole Buffara e Renata

Cristine Ferraciu e Denise Brenha

Deborah Colker

Katia Spolavore e Renata Fraga

Bruno Cabrerizo e Ana Albert

Hildegard Angel, David Massena, Francis Bogossian e Rodrigo Macedo

Ana Kfouri, Júlia Lemertz e Vitória Strada

Daniela Sarahyba

Neguinho da Beija Flor

n A coluna deixa aqui um registro de fã.... Roberto Carlos, recebido, literalmente, com “tapete azul”, no Odeon, na estreia de seu longa “Roberto Carlos em Jeru-salém 3D”.

Cristina Granato

Fotos Cristina Granato

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8 De 6 a 12 de dezembro de 20192.º CADERNO

A polonesa Olga Tokarczuk: reflexões intrigantes sobre a vida numa trama delirante e muito bem-humorada, ao gosto do leitor brasileiro

L I V R O S

Por Marcio Corrêa

Não é todo ano que te-mos uma mulher ganhando o Prêmio Nobel de Literatura. Neste momento de mudanças sociais importantes, em plena “Primavera feminista”, trata--se de uma deferência notá-vel e um recado: o mundo é delas. Estava mais do que na hora, aliás.

Por essas e por outras, vale muito a pena conferir “Sobre os ossos dos mortos”, da po-lonesa Olga Tokarczuk, que mês passado recebeu o Nobel relativo a 2018. Nascida em 1962, ela já publicou dezenas de livros, ganhou outros tan-tos prêmios. Por aqui, “Sobre os ossos...” é sua única obra disponível nas livrarias, lan-çada agora pela Editora To-davia (R$ 59,90).

E o melhor é o seguinte: como se não bastassem os prêmios e suas referências lá fora, “Sobre os ossos...” tem tudo para cair sob medida no gosto do brasileiro. Antes de mais nada porque é extrema-mente bem-humorado.

Impossível não acom-panhar com um sorriso as aventuras da solitária Janina Dusheiko, mulher já entrada nos cinquentinha que vive num vilarejo tão pequeno da Polônia que nem nome ofi-cial tem.

Sem amigos e com poucos vizinhos, Janina se sustenta fazendo mapa astral de algum incauto que lhe passa pelo ca-minho, além de dar aulas de inglês. Nada de muito sério.

É particularmente preocupa-da com os animais da flores-ta e tem especial implicância com o caçador conhecido como Pé Grande, que vive nas redondezas e sobre quem ela até já havia feito queixa na polícia.

“Sobre os ossos...” come-ça quando Janina é chamada por um vizinho para ajudar a procurar justamente o tal caçador, que anda desapa-recido. De fato, o homem é encontrado em casa, morto, muito provavelmente engas-gado com um osso.

Para desconforto - e nojo - Janina se vê num ambiente nada agradável e ainda tem

que ajudar o vizinho a vestir o cadáver com um terno apre-sentável antes de sua despedi-da final.

Em meio a essa faina in-grata, ela vai largando seus pensamentos e o jeitão pecu-liar de lidar com a vida - pre-ferindo os bichos às pessoas. Não por acaso, tem certeza de que Pé Grande foi morto graças a uma espécie de com-plô organizado por animais silvestres. Vingança, sim. E por que não?

Assim como Olga, essa mulher solitária brinca com as palavras - no bom sentido - e o leitor fica entregue em dois tempos.

Janina diz, por exemplo, que temos o direito de cha-mar os outros da maneira mais conveniente, pois cada um de nós os vemos de um modo específico. Por que, en-tão, temos que usar o mesmo nome que todos usam? Não deixa de ser uma ideia deve-ras intrigante.

Intrigante é um bom ad-jetivo para “Sobre os ossos...”. Como quem não quer nada, a polonesa repete aquela máxi-ma: para tratar do que é glo-bal, um grande escritor deve olhar profundamente para sua própria vila.

É bem esta a marca de uma boa literatura: a proximidade

com o leitor, por mais que sua origem esteja geograficamen-te tão distante.

Só que Olga Tokarzuk en-cara essa tarefa com humor e, vá lá, uma certa filosofia nada desprezível. Ela vai fundo na cabeça da personagem, e é lá dentro que vamos encontran-do cada um de nós - pelo bem ou pelo mal. Seus persona-gens coadjuvantes também deixam seu recado.

À medida que a história se desenrola, temos os assas-sinatos de alguns sujeitos e o sumiço de cachorros.

É uma narrativa delirante, com referências a questões tão nossas que chega a ser sur-

preende que sua autora seja da Polônia – um país aparen-temente muito distante.

No fim das contas, não temos como ficar revelando aqui os pormenores. O bom é sempre a descoberta. É um livro que vai ecoar na sua ca-beça durante muito tempo. Olga Tokarczuk é genial nas suas surpresas, construindo mais do que um thriller en-graçado. Mesmo sabendo o final, a gente vai ficar com vontade de recomeçar o li-vros desde o início.

Por isso, é o caso de ler (e reler) para crer. E comparti-lhar, porque livros precisam mais é circular.

A Guerra Civil Espanho-la é o ponto de partida do novo romance da incansável Isabel Allende. “Longa péta-la de mar” (Bertrand Brasil/R$ 49,90) descreve a saga de uma família de chilenos em seu retorno para o país-natal, graças ao diplomata e poeta Pablo Neruda, que fretou um navio para levar dois mil refu-giados para o Chile.

Para ler numa noiteN A E S T A N T E

T R E C H ODivulgação

Um novo Nobel nas prateleirasPolonesa surpreende com ‘Sobre os ossos dos mortos’ e prova que prêmio foi merecido

Claro que “O Alienista” não é um livro novo. Trata--se de um clássico do mestre Machado de Assis. Publicado em 1882, narra a tentativa do Dr. Simão Bacamarte de tirar os loucos de circulação. Mas é tanta gente que, no fim das contas... Leia. Tem tudo a ver com a nossa vida atual. E essa nova edição, da Antofágica (R$ 49,90), é uma graça.

Louco é quem me diz

A Eliane Brum é uma das jornalistas mais premiadas do país. Ela merece, porque seu olhar atento não deixa esca-par nada que deve ser ressal-tado. Em “Brasil, construtor de ruínas” (Arquipélago, R$ 49,90), Eliane registra te-mas importantes destas duas primeiras décadas do século XXI. Que começou bem, mas está indo para o buraco...

Dureza, sabe?

“A partir de certa idade, muitos homens desenvolvem autismo

de testosterona, que se manifesta lentamente como uma deficiência

de inteligência social e da habilidade de comunicação interpessoal que

compromete a formulação de ideias. Um ser humano atacado por essa

moléstia torna-se taciturno e parece imerso em seus pensamentos.

Mostra-se mais interessado pelas diferentes ferramentas e maquinarias.

Sente-se atraído pela Segunda Guerra Mundial e por biografias de pessoas famosas, geralmente de

políticos e malfeitores”

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9De 6 a 12 de dezembro de 2019 2.º CADERNO

A R T E S P L Á S T I C A S

Por Affonso Nunes

Dois artistas plásticos de origem judaica - uma carioca e um potiguar que nunca tinham se encontrado até há pouco tempo - apresentam agora suas obras em conjunto na Galeria Evan-dro Carneiro Arte, na Gávea. A mostra conjun-ta reúne 15 telas e 43 objetos dos dois artistas. A ideia de apresentar as obras ao público foi de Evandro Carneiro, que assina a curadoria.

- Ira e Uziel não se conheciam até esta ex-posição, mas começaram a trocar experiên-cias desde que os apresentamos e resolvemos

expor seus trabalhos conjuntamente. São dois artistas talento-sos na sua expressão, cada qual com as suas características. As-sim os apresentamos, como unidades hete-rogêneas, mantendo as suas diferenças, mas evidenciando aproxi-mações pensando uma composição harmôni-ca no todo porque, de alguma maneira, há um diálogo entre eles – destaca Laura Oli-vieri Carneiro, sócia da galeria.

Ira Etz nasceu em 1937, no coração de Ipanema. Filha e neta de alemães, sua famí-lia inteira era ligada às artes, destacando-se o avô materno Arthur Kaufmann, pintor im-portante do  expressio-

nismo alemão e professor da Academia de Belas Artes de Düsseldorf até 1933. Judeu, Kaufmann migrou com o filho e a esposa para os Estados Unidos durante a ascensão nazista na Europa, ali refazendo sua vida e desenvolvendo uma exi-tosa carreira artística. E sua filha, mãe de Ira, já casada, escolheu o Brasil para viver, juntamente com o marido. No bucólico Arpoador dos anos 40, Ira cresceu com a brisa da praia sempre a lhe inspirar e a liberdade da criação afetuosa e van-guardista de uma família alemã, boêmia e amiga de intelectuais e artistas frequentadores de Ipa-nema - marca libertária expressa na sua identida-de e em seu trabalho artístico.

Ira iniciou-se pela fotografia. Com o mari-do, montou um estúdio com o marido. O en-contro com a pintura tem início após a perda do filho querido, em 1988.

- A dor dilacerante que sentiu fez o tempo parar e ela precisou reinventar-se. Sua catarse foi a tinta jogada e trabalhada na tela, as cores fortes e expressivas, carregadas de emoção – co-menta Laura.

Foi assim que surgiu essa artista corajosa e livre que foi organizando a sua linha de traba-lho e procurando, então, aperfeiçoar sua técni-ca, primeiramente com Caterina Baratelli, de-pois com Luciano Maurício e finalmente com Roberto Magalhães, Maria do Carmo Secco e Chico Cunha, já em cursos da Escola de Artes Visuais, nos anos 1990. Foi quando a artista aflorou, realizando exposições coletivas desde esta data e depois individuais nos anos 2000 (Centro Cultural Candido Mendes, entre ou-tros espaços públicos).

- Hoje, com 82 anos, Ira é pura potência e está no auge de sua carreira, em plena produção e em fase de expansão, como ela mesma diz.

 Paralelamente a esta história, igualmente nos anos 1930, uma outra família europeia chegou ao Brasil fugindo do Nazismo. Os ju-deus poloneses Rozenwajn instalaram-se pri-meiramente em Natal (RN), onde chegaram com uma carta de recomendação para traba-lhar com os Palatnik, em empreendimento comercial. Ali Uziel nasceu, em 1945. Porém, mudaram-se para Belo Horizonte cinco anos depois. Lá ele se criou e estudou arquitetura na UFMG. Ainda na faculdade iniciou seus desenhos com guache e nanquim e, ao final do curso, já tendo participado de alguns sa-lões universitários, foi fazer uma residência em Haifa, Israel.

Nesse tempo, produziu bastante e realizou a sua primeira exposição individual (Dany Art Gallery, 1972). No retorno ao Brasil, um ano depois, Uziel passou a se dedicar à arquitetura em escritórios e no serviço público. Contudo, jamais deixou de desenhar e aos poucos foi substituindo o nanquim pelo lápis de cor e in-cluindo o pastel oleoso no seu repertório.

  O artista mudou-se para Ouro Preto e começou a pin-tar suas telas com tinta acrílica, sempre tendo a linha e o traça-do arquitetônico como referên-cias, fosse no cálculo, fosse na estruturação das composições ou mesmo na técnica que usa-va a “régua T” e espátulas para raspar texturas, numa determi-nada ocasião. Na cidade histó-rica, conheceu vários artistas e quadros da cultura que o en-corajaram a pintar mais e mais: Carlos Bracher, Scliar, Angelo Oswaldo, Murilo Marcondes. Foi se afirmando artisticamente e desenvolven-do seu estilo, chegando a expor individualmen-te na Galeria Bonino (1992), dentre outras mostras individuais e coletivas.

Mas o salto de sua carreira deu-se em 2015, quando aposentou-se e deixou a arquitetura para, enfim, viver de arte.

Curiosamente ficou dois anos sem pintar, mas nesse período sabático surgiram novas criações: objetos feitos em metal e madeira que aproveitavam miçangas, ripas e materiais afins para criar espécies de bonecos que batizou como “feiticeiros”.

Embora as referências por trás dos objetos sejam intuitivas, percebe-se uma ancestralidade africana, indígena e oriental nessas montagens.

- Quanto às suas seis telas expostas me pare-ce que por trás das composições harmônicas há sempre o traço do arquiteto, alinhavando com cores e cálculos as suas construções de equilí-brio espontâneo - diz Laura.

Diálogos dialéticos entre dois ‘estranhos’

Ira Etz e Uziel expõem trabalhos pela primeira vez no mesmo espaço

Fotos Laura Olivieri Carneiro/Divulgação

Feiticeiro em madeira, metal e miçanga, de Uziel (50 x 14 cm)

Quadro em acrílica sobre tela sem título, de Uziel (2014), com 70 x 10 cm (2014)

Feiticeiro em madeira, metal e miçanga, de Uziel (39,5 x 19,5cm)

Tinta acrílica sobre tela de Ira Etz sem título (150 x 40 cm)

Feiticeiro em madeira, metal e miçanga, de Uziel, com 131x 31cm (2017)

Tinta acrílica sobre tela de Ira Etz sem título medindo 105 x 100 cm

Quadro em tinta acrílica sobre tela sem título, criado por Uziel em 2016, medindo 40 x 110 cm

SERVIÇO

EXPOSIÇÃO IRA ETZ E UZIELGaleria Evandro Carneiro Arte (Rua Marquês de São Vicente, 124 – salas 108 e 19 - Shopping Gávea Trade Center) De segunda a sábado, das 10h às 19hAté 4/1

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10 De 6 a 12 de dezembro de 20192.º CADERNO

Por Cláudia Chaves

De médico e louco todos nós temos um pouco. Mas quanto à maldade, sempre evitamos esse tema. Mesmo as piores pessoas, as que cometeram atrocidades morais, físicas, quando morrem passa-se uma borracha, como se o mundo só tivesse anjos. A maldade, a ruindade, a perversi-dade dificilmente são aparentes em  personagens. A coragem de João Ubaldo Ribeiro é encarar o tema de frente, sem piedade, em “Diário do farol”, uma peça sobre a maldade.

 Com idealização e inspira-ção de Domingos Oliveira, di-reção de  Fernando Philbert, a peça com Thelmo Fernandes é um monólogo. Mas não é uma divagação, um fluxo de consci-ência. É uma contação de histó-ria. Fatos enfileirados, com cro-nologia, lembranças, diálogos reproduzidos.

O personagem central é o  narrador, autor, ao mesmo tem-po protagonista e antagonista, pois seus conflitos crescem nele mesmo. Na forma como vê a vida,  o que lhe acontece.

O palco se torna repleto com a interpretação de Thelmo Fernandes. Ator premiado, ca-paz de fazer um Vinícius, com a sua malandragem, mas também de dar voz e vida a um persona-gem hediondo, um homem sem nome, que vai expelindo todos os seus relacionamentos, tudo o que lhe afeta até aparecer uma paixão, alguém nomeado, Ma-ria Helena que funciona como uma possibilidade de contra-ponto ao que se vê e ouve.

A interpretação do premia-díssimo Thelmo é de uma con-

‘Um casamento feliz’ e cheio de possibilidades (de riso)Adaptação de texto francês trata da união gay com humor fino Por Guilherme Cosenza

O que você faria por uma rechonchuda herança? Quan-do Henrique vê a possibilidade de embolsar R$ 6 milhões após a morte de uma tia, ele, no auge de seus 50 anos, topa a única exigência deixada por ela, o de se casar e manter uma relação sólida e duradoura.

Solteirão convicto e mullhe-rengo, Henrique decide fingir um casamento. E, para consu-mar o golpe, recorre a ao amigo Dodo, ator e desempregado, louco para sair da casa dos pais.

Na pele de Dodo, Renato Rabelo é um dos grandes res-ponsáveis por tirar a grande maioria das risadas do público ao longo da apresentação. Jun-no Andrade dá vida ao advoga-do amigo do “casal”.

Única mulher do elenco, Regiane Cesnique encarna Elza, apaixonada por Henrique e à margem do golpe.

O elenco é uma verdadeira junção de amigos, como con-ta Fabio Villa Verde, que faz o protagonista.

- Somos amigos há muito tempo, mas não havíamos ainda trabalho juntos. Estamos sem-pre na cochia assistindo uma ao outro. Viramos uma grande família que trabalha junto.

Rabelo explica a reação do público, no desenrolar da apresentação:

do de fazer tudo com muito carinho, o trabalho do Flávio Marinho, que adaptou o texto traz com requinte - comenta Fabio, referindo-se ao original dos franceses Gérard Bitton e Michel Munz.

O texto adaptado, aliás, está tão redondo que dispensa improvisos.

- Quase não usamos cacos na peça. Esse texto é tão perfei-to e certo que a gente não preci-sa mudar nada - diz Rabelo.

Após passar por várias ca-sas de espetáculo, a montagem chega ao Teatro dos Grandes Atores, no Barra Square.

A cada apresentação, a pro-dução da peça separa assentos

- É uma história de equí-vocos formados a partir da primeira decisão deles. O pú-blico acaba ficando cúmplice disso, pois eles sabem tudo que está acontecendo enquan-to os personagens não. Então eles vão vendo as coisas com-plicando e vão reagindo com isso, esse é o divertido, pois o público reage a cada situação.

A peça toca em um assunto sensível, a luta LGBTQIA+, com sensibilidade, e brinca com os per-sonagens heterossexuais que pre-cisam se passar por um casal gay:

- Não tivemos receio de to-car nesse tipo de assunto, pois temos uma abordagem muito respeitosa, tivemos um cuida-

especiais para portadores de ne-cessidades especiais (espectado-res surdos dispõem de intérpre-tese em libras e os deficientes visuais recebem fones de ouvi-do). Pessoas de baixa renda, que muitas vezes nunca entraram em um teatro, também são con-vidadas pela produção.

- Queremos trazer as pes-soas que querem assistir e co-nhecer o teatro. Tivemos uma semana que vieram pessoas que nunca haviam vindo ao teatro e saíram encantadas com a apre-sentação. Teve uma senhora de 70 anos que nunca havia assisti-do a uma peça e saiu encantada. Não há preço que pague - emo-ciona-se Fábio.

Rafael Blasi/Divulgação

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Ator premiado, Thelmo Fernandes dá voz e vida a um personagem hediondo sem qualquer perspectiva de futuro

Rosana Jatobá vive hoje numa casa com princípios de sustentabilidade

Renato Rabelo, Fabio Villa Verde e Junno Duarte em cena na montagem da divertida “Um casamento feliz”

SERVIÇO

Espaço Abu (Av. N. Sra. de Copacabana, 249/Loja E, Copacabana. Tel: 2137-4184 De sexta a segunda, às 20h Ingresso: R$ 40 e R$ 20

T E L E V I S Ã O

T E A T R O

Contação de histórias do malC R Í T I C A T E AT R O / D I Á R I O D O F A R O L

Com texto do jornalista Rodrigo Fonseca e direção de Cavi Borges, a peça-filme “François Truffaut - O cine-ma é minha vida” é uma cele-bração ao legado deixado pelo cineasta francês. Em cena, a atriz e bailarina Patricia Nie-dermeier encarna o icônico

realizador francês. O espe-táculo, que mistura dança, música, projeção de vídeos e recitação de declarações do próprio cineasta, fica em car-taz aos sábados e domingos, às 20h, até 26 de janeiro no Esta-ção Botafogo (R. Voluntários da Pátria, 88). Preço: R$ 50.

Truffaut por Truffaut

N A R I B A LT A

“Embarque imediato” nar-ra o encontro entre um jovem negro doutorando brasilei-ro e um senhor africano em uma sala de aeroporto onde ambos encontram-se retidos por problemas de passaporte. Em cena, o veterano Antônio Pitanga e seu filho Rocco.

Participações especiais de Ca-mila Pitanga (voz e vídeo) e de Aderbal Freire Filho (voz). O texto é de Aldri Anunciação e a direção de Márcio Meirelles. Teatro Poeira (R. São João Ba-tista, 104), de quinta a sábado, às 21h, e domingos, às 19h. Até 22/12.

Diáspora com doutorado

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Por Fabiana Schiavon (Folhapress)

Rosana Jatobá, aos 48 anos, está cheia de novidades. Após passar por telejornais nas emis-soras Globo, Band e RedeTV!, e de se tornar mestre em susten-tabilidade pela Universidade de São Paulo, a jornalista retoma o contato com o rádio e com o no-ticiário diário no Jornal da CBN.

Baiana, Jatobá morou até seus 28 anos em Salvador, até o convite para trabalhar como re-pórter em São Paulo. Recente-mente, lançou o livro “Atitudes sustentáveis para leigos” (Ed. Alta Books) e realizou o sonho de ter uma casa projetada den-tro de conceitos ecológicos.

Garota do tempo, repórter, apresentadora e escritora, dedi-cou-se ao talk show Conversa com a Jatobá, na Rádio Globo, sobre engajamento ambiental e social, além de eventos ligados ao tema, como consumo cons-ciente e aquecimento global. O programa, porém, acabou em junho. Poucos depois, foi con-vidada para apresentar a segun-da edição do Jornal da CBN.

Rosana Jatobá celebra nova fase na carreira

Trabalhar com o noticiário em rádio é uma novidade para ela.

- Minha escola é a TV, e o rádio tem suas peculiaridades. Como o público já me conhece da TV, há uma ótima interação pelas redes sociais - conta.

O interesse pelo meio am-biente surgiu quando cobriu uma palestra do ex-vice-presidente Al Gore. Em 2006, o americano veio ao Brasil lançar o livro e o longa “Uma verdade inconveniente”, Oscar de melhor documentário no ano seguinte.

- Depois de tantos anos co-brindo variados assuntos, me senti totalmente impactada com a palestra dele. Saí de lá ex-tasiada e fiz um mestrado sobre o tema - lembra Rosana, que diz ter sentido um chamado grande para o assunto “talvez pelo so-brenome Jatobá”.

O despertar fez com que ela se aventurasse no universo da li-teratura. Em 2009, a jornalista escreveu “Questão de pele - A Terra como organismo vivo” (Ed. Novo Século), com crôni-cas sobre a relação do brasileiro com a natureza.

sistência  perfeita com o texto. Não há caricaturas, não há exa-gero, não há ódio e muito me-nos qualquer tipo de sentimen-to. Dialogando com a plateia, Thelmo constrói uma história brutal de um homem que olha a vida em flash-back, sem qual-quer futuro, mas que ao relatar os fatos e suas razões pode-se entender a gênese que só per-tence às escolhas de cada um.

O trabalho de  Fernando Philbert,  também diretor de montagens elogiadas como a premiadíssima “O escândalo Philippe Dussaert”, com Mar-cos Caruso, e “De todas as coi-sas maravilhosas”, com Kiko Mascarenhas, reverbera, ao utilizar os elementos cênicos de forma intensa - luz, cenografia, tempo -, na plateia que acompa-nha com curiosidade o trajeto do personagem.

 O ator vestido de preto que

manipula um casaco de couro como se fosse um manto, uma máscara que  se coloca e se tira, mas que de forma sombria é al-guém pesado,  ele mesmo um fardo, algo que se suporta, mas que não se aguenta. A luz faz coro ao figurino. Sombria, escu-ra,  forte,  foca  em Thelmo para lhe dar presença. Um toque de Goya como o pintor iluminava e destacava seus monstros.

  Assim, como luz que nos aponta e coloca os demônios para fora, o espetáculo nos per-mite pensar e repensar sobre diversos temas: o filho abando-nado, o marido infiel, o religioso tarado,  o negro período da di-tadura no Brasil. O diálogo com a situação  política com o Brasil vai  além de se ter posições de-mocráticas. E para  expor mais um demônio:  mostrar como em nome da salvação se cometem as piores barbaridades.

É uma reflexão sobre a re-tidão de caminho que o sujeito escolhe, mesmo que  seja encon-trar a absoluta solidão. “Eu sou o pior dos seres humanos. Encar-nei em mim tudo o que me con-veio. Matar, mentir, enganar, envenenar, esganar, estuprar, se-viciar, ferir, seduzir são os verbos que norteiam a trajetória”.

Apesar de o farol ser nomea-do como Lúcifer, um nome pou-co  usado na Bíblia, o que o texto e a voz  contam, é que a maldade mora não numa ilha distante, mas em cada um de nós.

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11De 6 a 12 de dezembro de 2019 2.º CADERNO

Abriu dia 28 de novembro, no Paço Imperial, a individual “Os 7 Mares”, do paulistano Tinho. Um dos precursores do grafi-te no Brasil (ao lado da dupla OsGemeos) e um dos princi-pais nomes da arte urbana na América Latina, Tinho rompeu com a fronteira da street art, recorrendo também à pintura formal. A mostra, com curado-ria de Saulo di Tarso, reúne 16 trabalhos de duas séries com-plementares do artista, que tem obras espalhadas por muros e paredes de diversas capitais do mundo.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) reuniu médicos, artistas e formadores de opinião para lançar o Dezembro Laranja 2019, Campanha do Câncer de Pele, o de maior incidência no ser humano. O evento aconteceu na noite de sexta-feira, 29 de novembro, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Em sua sexta edição, além de conscientizar a população sobre a prevenção desde a infância, “a iniciativa tem como objetivo principal alertar sobre os #SINAISDOCANCERDEPELE para diagnóstico e tratamento precoces com um médico dermatologista, aumentando as chances de cura na grande maioria dos casos”, diz Sergio Palma, Presidente da SBD.

Paço Imperial recebe a individual ‘Os 7 Mares’, do paulistano Tinho

Dezembro Laranja, liderado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia,reúne famosos e alerta para o Câncer de Pele

NINA [email protected]

Fotos Bruno Ryfer

Fotos Paulo de Deus

Tinho, Paulo Bertazzi e Vanda Klabin

Cooper Mosar e Vinicius Ribeiro

Beth Jobim

Leonel Kaz

Rosamaria Murtinhoe Maria Luiza MendonçaAline Pacheco

Nívea Maria e Roney Villela Aline Pacheco, Glenda Kozlowski e Priscila Verdini

Claudia Mais e Priscilla VerdiniCarlinhos de Jesus e Sérgio Palma

Sérgio Palma, Rosa Maria Murtinho e Elimar Gomes Sérgio Palma e Aline Albuquerque

Antonio Mendel e Andres Neumann

Carlos Vergara

Fabio Szwarcwald

Claudia Saldanha

Ayala Garcia Lucas Beuque

Jane Hallisey e Tom Streiff

Saulo di TarsoVera Schueler

Camila Felix, Ana Portes e Alan Moraes

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R E C E I T A

12 De 6 a 12 de dezembro de 20192.º CADERNO

Festival de sabores vindos da AmazôniaO exótico pirarucu será a especialidade do mês de dezembro no Mercado de Produtores

Por Ive Ribeiro

Entre os dias 6 e 22 de de-zembro, quem visitar o Mer-cado de Produtores, empre-endimento a céu aberto no shopping Uptown, na Barra da Tijuca, terá a oportunidade de conhecer um dos alimen-tos mais tradicionais da bacia amazônica.

O pirarucu selvagem, considerado o maior peixe de escamas de água doce do mundo, podendo chegar a até três metros de comprimento e 200kg, será servido de diver-sas maneiras por 25 diferentes restaurantes, bares e quios-ques do local.

A parte alta do festival Gos-to da Amazônia, será a varie-dade nos preparos do exótico peixe da Região Norte. Opções como o pirarucu na brasa, as-sado, defumado, moqueca, bo-linho, hambúrguer, harumaki, pastel, bobó, feijoada, ceviche, risoto e pão de queijo recheado estão entre as variadas e criati-vas receitas que preparadas es-pecialmente para o evento.

Fotos Divulgação

SERVIÇO

FESTIVAL GOSTO DA AMAZÔNIA

Mercado dos Produtores (Av. Ayrton Senna, 5.500 – Barra da Tijuca)

De 6 a 22/12 Os bares e restaurantes funcionam todos dias, das 11h às 23h ou até o último cliente. Informações e reservas através do telefone (21) 3030-5500

G A S T R O N O M I A

Por Juliana Ventura (Folhapress)

Uma das dúvidas que mais vejo diz respeito a uma prepa-ração muito comum: o molho branco ou bechamel. Ele se tor-nou clássico com o código pu-blicado no começo do século XX pelo francês Auguste Esco-ffier, um papa da gastronomia internacional, conhecido por ter renovado métodos e orga-nizado a produção na cozinha.

De acordo com a classi-ficação proposta pelo chef, o bechamel entrou no rol de molhos espessados com fari-nha de trigo. À base de leite, o molho branco é usado em uma série de receitas clássicas e mo-dernas e tem uma legião de fãs que gostam de saboreá-lo de modo simples, na companhia frugal de um espaguete.

Porém, diferentemente de um molho ao sugo, o be-chamel pode ficar espesso demais, líquido demais ou empelotado, e há quem diga que “nunca acerta”.

A boa notícia é que não há motivo para pânico e, uma vez que se entende o processo

de feitura do molho, é possí-vel inclusive utilizá-lo como base, inovando e incorporan-do outros sabores. Cítricos, como limão e laranja, além de queijos, são itens que podem transformar o bechamel com facilidade.

A preparação do molho branco é feita em três partes. Primeiro, aromatiza-se o leite com alho ou ervas, que devem ser descartados depois. Depois é preparado o “roux” (pronun-cia-se “rú”), com manteiga e farinha, que serve para dar cre-mosidade ao molho. Por fim, ambos são misturados.

O grande truque é usar um batedor de arame para que a preparação não empe-lote. Caso ache que o molho está muito líquido, o melhor a fazer é mantê-lo cozinhan-do em fogo baixo. Se estiver muito espesso, adicione mais leite, mexendo sempre.

O toque especial, a meu ver, é o uso de noz-moscada, de pre-ferência inteira e ralada na hora (é possível encontrar minirrala-dores específicos). O sabor fica inigualável. Cuidado apenas para não exagerar, pois a noz pode conferir sabor metálico quando usada em demasia.

INGREDIENTES500 g de espaguete seco;

350 ml de leite integral; 1 den-te de alho; 2 colheres (sopa) de manteiga sem sal; 3 colheres (sopa) de farinha; sal a gosto; raspas de noz-moscada

Rendimento: 6 porções

MODO DE FAZER1 - Ferva o leite e deixe em

fogo baixo por dez minutos com o dente de alho descas-cado

2 - Reserve, descarte o alho e deixe esfriar

3 - Em uma panela, aqueça a manteiga. Quando derreter, adicione a farinha. Cozinhe em fogo baixo por dois minu-tos, mexendo sempre

4 - Adicione o leite aroma-tizado, mexendo sempre com um batedor de arame

5 - Tempere com sal e ras-pas de noz-moscada

6 - Cozinhe o macarrão em abundante água fervente com sal, de acordo com as ins-truções na embalagem

7 - Sirva juntos, com quei-jo parmesão e pimenta-do--reino se desejar

Aprenda a preparar o clássico molho bechamelJuliana Ventura/Folhapress

A noz moscada faz a diferença no molho, mas cuidado na dose

T Á N A M E S A

Originário da Ladeira Ary Bar-roso, às portas do Chapéu Manguei-ra, o Bar do David abriu filial em Co-pacabana com os mesmos deliciosos petiscos e pratos que deram ao estabelecimen-to dois títulos do Comida di Buteco. Nossa dica é o Saudo-sa Maloca, bolinhos de milho com queijo recheados de car-

Apreciadores de cervejas espe-ciais têm encontro mrcado na Rio Tap House, a mais nova casa de cervejas do Flamengo. Além de uma seleção de chopes e cervejas especiais nacionais e impor-tadas, o bar oferece entradas, sanduíches e petiscos como o trio de pastéis nos sabores cre-am cheese com ricota e ervas,

Petiscos consagrados

Para acompanhar a cerveja

ne-seca e servidos com molho de azeitona. Endereço: Rua Barata Ribeiro, 7 (21 3298-5975). Funcionamento: terça a domingo, das 12h às 3h.

finas, linguiça defumada com queijo e cogumelo Porto Bello e cebola caramelizada a R$ 18. A casa fica na Travessa dos Ta-moios, 32 Loja C (Flamengo).

Fotos Divulgação

Moqueca Nordestina, do Armazém Nordestino; R$ 149,90 (duas pessoas) Harumaki de Pirarucu, na Chefe dos Sabores; R$ 50 (seis unidades) Pirarucu à San Pietro, do Empório San Pietro; R$ 169,90 (duas pessoas)

Pirarucu de Cabo a Rabo, do Armazém Casa Brasileira; R$ 39 (individual) Pirarucu à Moda dos Reis, do Empório dos Reis; R$ 40 (individual)

Pirarucu Pai D´égua, do Cantinho do Pará; R$ 59 (prato individual)

Artesanato, farinhas espe-ciais, palmito orgânico, guara-ná, geleias e compotas da região amazônica também farão parte da relação de produtos susten-táveis que serão vendidos pelos estabelecimentos do espaço.

Uma das novidades mais curiosas do festival é o harumaki de pirarucu, petisco servido pelo restaurante Chefe dos Sabores. à massa base do harumaki somam--se o exótico pescado amazônico combinado com um rechio que leva alho poró e cream chease e maionese de jambu.

A feijoada também não po-deria ficar de fora. No Boteco da Feijoada, o peixe é servido com feijão branco, farofa de caranguejo, crispy de couve, maxixe e jiló fritos, calabresa e bacon de pele de pirarucu.

Para os fãs da culinária nor-destina, a dica é a moqueca feita com lombo de pirarucu, palmi-to, cebola, pimentões, leite de coco, azeite de dendê, extrato de tomate e iogurte natural acom-panhada de arroz branco e farofa de banana da terra. A criação é do Armazém Nordestino. Já para os veganos e vegetarianos, a opção será a casa Só Verde.

Além da gastronomia, os organizadores do festival orga-nizado pela SindiRio, ressaltam o viés sustentável do evento. Isso porque, os peixes amazôni-cos que serão consumidos pelos clientes foram pescados em áreas protegidas e /ou com acordos de pesca autorizados pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-veis (Ibama). Esta prática garan-te a sobrevivência da espécie do gigante das águas amazônicas.