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hiv Transparência: um compromisso assumido Pág. 6 CRF-RJ cria Comissão Parlamentar Pág. 35 CARIMBAR: UM ATENTADO À VIDA Nº 119 Mai Jun 2015 REVISTA ÓRGÃO OFICIAL DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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hiv

transparência: um compromisso assumidoPág. 6

crf-rJ cria comissão ParlamentarPág. 35

carimbar: um atEntado À Vida

Nº 119 Mai Jun 2015R E V I S T A

ÓRGÃO OFICIAL DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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índice

Pág. 4 EditorialTransparência para seguir em frente

Pág. 12 Âmbito ProfissionalEstética: um mercado promissor

Pág. 24 mEmória da farmáciaInformação atravessando gerações

Pág. 32 saúdE PúblicaCasos de malária assustam Rio de Janeiro

Pág. 39 toXicoloGia

Saiba mais sobre os HPA

Pág. 6 transParência

Um compromisso

Pág. 17 caPaCarimbadores: grupo infecta parceiros com HIV propositalmente

Pág. 14 ÉticaSer ético depende do coletivo

Pág. 22 EnsinoDiretrizes curriculares em pauta no CRF-RJ

2 l Revista RioPharma l mai . jun 2015

Pág. 29 EmPrEEndEdorismoFarmacêutico também pode crescer on-line

Pág. 35 dEstaquEComissão Parlamentar chega para acompanhar processos políticos

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EXPEdiEntE

Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro Rua Afonso Pena, 115 - Tijuca - Rio de Janeiro - RJ CEP: 20270-244 Telefone: (21) 3872-9200 - Fax: (21) 2254-0331

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Periodicidade: BimestralTiragem: 16.500 exemplares

Diretoria Dr. Marcus Vinicius Romano Athila - Presidente Dra. Maely Peçanha Fávero Retto - Vice-presidente Dr. Robson Roney Bernardo - Tesoureiro

Conselheiros Efetivos Dra. Carla Patrícia de Morais e Coura, Dra. Denise Costa Ribeiro, Dra. Fabiana Sousa Pugliese, Dr. Francisco Claudio de Souza Melo, Dr. Luiz Fernando Secioso Chiavegatto, Dr. José Roberto Lannes Abib, Dra. Maely Peçanha Fávero Retto, Dr. Marcus Vinicius Romano Athila, Dra. Melissa Manna Marques, Dr. Paulo Oracy da Rocha Azeredo, Dr. Robson Roney Bernardo, Dra. Tania Maria Lemos Mouço

Conselheiros Suplentes Dra. Nilza Bachinski Pinhal, Dra. Rejane Maria F. de Oliveira Carvalho, Dra. Silvania Maria Carlos França

Conselheiro Federal Dra. Ana Paula de Almeida Queiroz

Conselheiro Federal Suplente Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense

Editora e Jornalista Responsável Adriane Lopes (MTB – 17195)

Editora ChefeSônia Lara (MTB – 16690)

RepórterDeborah Cardoso (MTB – 70320)

Estagiária de JornalismoMaria Karolina Rodrigues da Silva

Diagramação e Projeto Gráfi co Grupo Letra Comunicação - Cíntia Fernandes e Jaque Medeiros

Comissão Editorial Dr. Marcus Vinicius Romano Athila Dr. Robson Roney Bernardo Dr. Carlos Alberto Santarem Santos Dra. Aline Coppola Napp Dr. Bruno Silva Freire Dra. Elizabeth Zagni Schmied Gonzaga Dr. Fábio Lima Reis Dr. Luiz Fernando Secioso Chiavegatto Dr. Marcos Antonio dos Santos Alves Dr. Alex Sandro Rodrigues Baiense

42º conGrEsso brasilEiro dE análisEs clÍnicas

XViii conGrEsso da fEdEración farmacÉutica sudamEricana (fEfas)

8º conGrEsso rioPHarma dE ciências farmacêuticas

21 a 24 de junho de 2015 - RiocentroRio de Janeiro - RJ

conGrEsso brasilEiro dE EducaÇÃo farmacêutica (cobEf)

10 a 12 de junho de 2015 – Salvador – Bahia

Para conferir mais informações sobre estes e outros eventos, acesse: http://crf-rj.org.br/eventos.html

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agenda

X conGrEsso brasilEiro dE farmácia HomEoPática24 a 25 de agosto de 2015 - Centro de Ciências da Saúde da Cidade Universitária - Rio de Janeiro - RJ

15 a 17 de outubro de 2015 - Centro de Convenções SulAmérica - Rio de Janeiro - RJ

X conGrEsso brasilEiro dE farmácia HosPitalar

12 a 14 de novembro de 2015 - Expo UnimedCuritiba - PR

iX conGrEsso brasilEiro dE biossEGuranÇa

29 de setembro a 01 de outubro de 2015Hotel Plaza São Rafael – Porto Alegre – RS

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“Em time que está ganhando não se mexe”? A má-xima do futebol nem de longe representa o trabalho que estamos realizando no CRF-RJ. Desde o início de nossa gestão, vários passos largos foram dados bus-cando sempre a capacitação, priorizando o respeito e o reconhecimento da profi ssão e, principalmente, a transparência das ações do Conselho junto à categoria e à sociedade.

Por tudo isso, optamos por “mexer” incessantemen-te em nossas estratégias, entre elas, uma das priorida-des, é a capacitação profi ssional que se dá através dos cursos do QUALIPHARMA, programa cuidadosamente planejado e desenvolvido pelo professor e diretor do CRF-RJ, Robson Roney Bernardo. A grade recebe novos temas a todo momento e, assim, chegamos mais perto do farmacêutico, contribuindo para seu crescimento. Prova disso é o número de certifi cações realizadas ao longo de 2014 até março de 2015: 1.923. Mas, paramos por aí? Claro que não! É sempre preciso ir além das ex-pectativas e criamos o QUALIPHARMA ESPECIALIZA-ÇÃO, que já demonstra que será um grande sucesso, baseado no número de inscrições.

Outro passo que aponta para nossa atitude fi rme frente à profi ssão é a criação da Comissão Parlamen-tar. Afi nal, obtivemos uma grande vitória com a Lei 13.021/14, mas não é o sufi ciente. É imprescindível que busquemos mais e acompanhemos de perto todo o desenrolar político que envolva a categoria, nosso tra-balho e imagem junto à sociedade. A mobilização que tivemos em Brasília foi prova de nossa força, mas não podemos, de forma alguma, fi car à mercê dos trâmites das Casas Legislativas.

E não fi car à mercê passa também por estar infor-

PodEmos muito, PodEmos mais

Editorial

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mado, sempre. Pela primeira vez os farmacêuticos rece-beram informações transparentes sobre a gestão, suas atribuições, projetos e ações, através de publicações específi cas em edições anteriores desta revista, das redes sociais e também através de plenárias abertas e fi lmadas. Porém, queremos mais e estamos investindo no Portal Transparência.

Mas tudo isso só funciona com a participação de todos. O CRF-RJ é a casa do farmacêutico, existe por ele, por você. Compareça às plenárias, interaja conos-co através dos canais de comunicação. Com sua ajuda construiremos um Conselho Regional de Farmácia ain-da melhor.

Dr. Marcus AthilaPresidente do CRF-RJ

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transparência: um compromisso

transParência

Um lugar comum, onde todos tenham acesso à infor-mação, dados, valores, decisões e resultados. Esse lugar é o Portal Transparência, criado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado do Rio de Janeiro – CRF-RJ, com o objetivo de dar aos profi ssionais farmacêuticos clareza a todos os assuntos relacionados à autarquia. Ao tomar posse, a Diretoria se deparou com uma situação caótica. Na ocasião, foram constatados o uso indevido de verbas, a ausência de notas de empenho e comprovantes, entre outras irregularidades, o que resultou na reprovação das contas do exercício de 2013, com défi cit fi nanceiro de R$ 722.781,75, situação levada ao Ministério Público.

“Percebemos então a intensa necessidade de cor-tes em todas as áreas, incluindo mudanças no quadro de pessoal e redução de despesas. Em 2014, os gastos da Diretoria com verba de representação, diárias e je-tons foi de apenas R$ 86.321,68, uma economia de R$ 455.108,47 (84%) nas despesas, quando comparada às de 2013, que foram de R$ 541.430,15”, esclareceu o presidente do Conselho, Marcus Athila. “Diante desse quadro, nos empenhamos em cumprir a Lei 12.527/11, compromisso da atual Diretoria, em respeito aos farma-

cêuticos e à sociedade, onde é apresentado um raio-X das contas do CRF-RJ, com relatórios fi nanceiros, ba-lanços orçamentários, auditorias do CFF, deliberações, despesas com diárias, verbas de representação, toma-das de contas, plenárias, vídeos, jetons, licitações, ca-lendários e notícias, entre outras ações de transparên-cia”, acrescentou o presidente.

Marcus Athila disse ainda, que o CRF-RJ é a “Casa do Farmacêutico”, no Estado do Rio, e por isso, esse profi s-sional tem direito às informações que estão disponíveis, pela primeira vez na Internet, no site do CRF-RJ. “Esse passo é um compromisso de campanha da Diretoria atual que enxerga, nesse caminho, o melhor para se-guir”, reafi rma o presidente.

Para o diretor-tesoureiro, Robson Roney Bernar-do, a importância do portal “está na questão de todo o segmento farmacêutico acompanhar o balanço e os investimentos para o benefício da classe. Paralelamen-te, a transparência mostra a situação contábil da gestão e seus desdobramentos para o passado e o futuro. É possível uma análise da gestão fi nanceira de cada seg-mento político da classe.”

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Em passo decisivo para solução dos problemas administrativos encontrados pela atual gestão, o CRF-RJ conduz procedimentos investigatórios e processuais com respeito ao direito da ampla defesa e contradi-tório, materializando os princípios que regem administração pública. A busca da atual Diretoria é, não só identificar as condutas praticadas pelos gestores da administração passada, mas principalmente reaver o prejuízo financeiro ocasionado pela gestão (2012/2013). Destacamos alguns tópicos:

O laudo realizado pela auditoria do CFF foi contundente e observou diversas irregularida-des acarretadas pela gestão (2012/2013): de-sequilíbrio financeiro, procedimentos de su-primento de fundo irregulares, irregularidade no inventário dos bens móveis e imóveis e no pagamento de diárias, empenhos sem com-provação, verbas de representação sem jus-tificativas, locação de imóvel sem motivação pública, aplicação financeira indevida de ver-ba pública gerando relevante prejuízo finan-ceiro para o CRF-RJ e, por fim, contratação de escritório de advocacia sem licitação, com uso de verba pública e com interesses particulares dos antigos gestores.

Se não bastassem as múltiplas irregularidades, a gestão (2012/2013) optou por celebrar investimen-tos financeiros com a verba pública em desconformidade com a norma vigente (Resolução 531/2010). Foram aplicados investimentos em títulos de capitalização no Banco do Brasil S/A e apesar da ilegalida-de, os investimentos não reservaram qualquer vantagem. Ao contrário, causaram prejuízo financeiro ao CRF/RJ, até o momento, no montante de R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais).

Dentre as irregularidades apontadas, o fato en-volvendo a contratação de escritório de advocacia, sem licitação e para uso de interesses particulares dos ex-diretores, desencadeou ação civil pública nº 0119149-3 0.2014.4.02.5101, onde o Ministério Público Federal declara a verossimilhança dos fa-tos e afirma a prática de improbidade administra-tiva pugnando pela punição dos antigos gestores e devolução da verba pública, que na época atingia o importe de R$ 32.186,97 (trinta e dois mil, cento e oitenta e seis reais e noventa e sete centavos). O Ministério Público Federal também está averiguan-do os demais fatos apontados pela auditoria do CFF.

transparência: a informação ao seu alcance

auditoria do cff

investimentos indevidos de verba pública

Parecer do ministério Público federal

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transparência em númerosDiretoria 2014 economiza 84% com despesas de Verba de Representação, Diárias e Jetons em relação à Diretoria 2013.

dEsPEsa da dirEtoria(JEtons / diárias / VErba dE rEPrEsEntaÇÃo)

despesas dos diretores com diárias

total do ano

Gestão 2013r$ 541.430,15

Gestão 2014r$ 86.321,68

Gestão 2014r$ 35.451,00

Gestão 2013r$ 162.663,50

despesas dos diretores com Jetons

despesas dos diretores com Verba de representação

Gestão 2014r$ 25.600,00

Gestão 2014r$ 7.270,68

Gestão 2013r$ 147.200,00

Gestão 2013r$ 28.366,65

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rEsultados financEiros

dEsPEsas com JEtons da PlEnária

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Gestão 2014superávit

r$ 686.971,69

Gestão 2012superávit

r$ 486.383,52

Gestão 2014superávit

r$ 686.971,69

Gestão 2012superávit

r$ 486.383,52

Gestão 2012superávit

r$ 486.383,520

Gestão 2013déficit

r$ -722.781,75

* Veja o fl uxo completo no site.

dEsPEsas com JEtons da PlEnária

Gestão 2014r$ 43.600,00

Gestão 2013r$ 350.400,00

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conselho reduz custos com a infraest rutura das seccionais

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conselho reduz custos com a infraest rutura das seccionais

As salas das seccionais de Campo Grande e Cabo Frio passaram a funcionar em instituições de ensino, em sistema de comodato.

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Estética:

Quase cinco milhões de oportunidades de empre-go. Essa é a marca de geração de postos de trabalho no setor de beleza no Brasil. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC, o mercado de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) está em franca expan-são, tendo avançado na representação do setor na eco-nomia brasileira de 1,8% do PIB, para uma projeção de 2% para o ano de 2016. Os homens, por exemplo, são responsáveis por elevar o Brasil ao patamar de segundo lugar no ranking de maiores consumidores de HPPC do mundo, totalizando uma fatia de mercado de mais de três bilhões de dólares.

Os números mostram que, cada vez mais, as pesso-as estão preocupadas e dando atenção à estética ou, como disse Vinícius de Morais, “ beleza é fundamental”. E é com esse discurso que a cultura do bem-estar e da saúde estética está sendo colocada em foco também no ramo farmacêutico. Tal justifi cativa se dá depois da publicação, em Diário Ofi cial, da Resolução 573/2013, do Conselho Federal de Farmácia – CFF, que permite que o farmacêutico atue no ramo da saúde estética de forma legal. De acordo com o texto, “o farmacêutico pode ser o responsável técnico por estabelecimentos nos quais se utilizam técnicas de natureza estética e re-cursos terapêuticos para fi ns estéticos, desde que não haja a prática de intervenções de cirurgia plástica, de-vendo estar regularmente inscrito no Conselho Regio-nal de Farmácia de sua jurisdição”. Esses profi ssionais poderão fazer avaliação, defi nição dos procedimentos e estratégias, acompanhamento e evolução estética;

Âmbito Profissional

um mercado promissor, inclusive para o farmacêutico

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cosmetoterapia; eletroterapia; iontoforese; lasertera-pia; luz intensa pulsada; peelings químicos e mecâni-cos; radiofrequência estética; e sonoforese (ultrassom estético).

Segundo a farmacêutica Dra. Glaucia Pinheiro,

mestre em Ciências Farmacêuticas pela

Faculdade de Far-mácia da UFRJ e especialista em Estética e Cos-metologia pela

Universidade Veiga de Almeida (UVA), o

profissional farmacêu-tico tem todas as condi-

ções de atuar na área da saú-de estética, tanto na fabricação quanto na pesquisa de produtos para essa área. “O farmacêutico é o profissio-nal do medicamento. Ele também atua na pesquisa e desenvolvimento de novas formulações e na fabrica-ção de cosméticos e cosmecêuticos. Estudar a indica-ção e aplicação desses produtos pode ser considerado uma das primeiras etapas desse processo”, esclarece.

A especialização é fundamental para atender me-lhor os clientes e ser referência quando se fala de cos-mética. A farmacêutica diz que já existem no Brasil cursos de especialização nessa área, mas que eles estão abertos a diversos outros profissionais da área de saú-de, como enfermeiros, fisioterapeutas, biomédicos e esteticistas, esses últimos, desde que comprovem pelo menos dois anos de atuação na área. Especialização de estética para farmacêuticos, especificamente, existe apenas um. Ela explica: “O tempo de formação como especialista em estética é, normalmente, de 18 meses. É composto por aulas teóricas, teórico-práticas, provas, apresentação de trabalhos, estágio em clínicas creden-ciadas e apresentação de monografia”.

Quando perguntada sobre o maior desafio des-ses farmacêuticos em atenderem esse tipo de cliente, muito exigente, Dra. Glaucia deixa claro que o pro-fissional tem que estar capacitado a fazer uma boa anamnese do paciente, identificar suas necessidades e desejos, e indicar um tratamento estético com se-

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gurança e eficácia. “É necessário conhecer o paciente, gostar do ser humano, compreendê-lo e, nesse mo-mento, o farmacêutico, melhor do que qualquer ou-tro profissional, tem a oportunidade de aplicar seus conhecimentos: ele conhece as substâncias ativas, seu modo de ação, as bases galênicas, a capacidade de penetração e permeação das diferentes formulações e, ao colocar a “mão na massa”, isto é, ao executar os procedimentos, manipular a pele do paciente, pode proporcionar um atendimento diferenciado, seguro, eficaz e personalizado”, esclarece a profissional.

Com relação ao mercado masculino, que está em vertiginoso crescimento, Dra. Glaucia aposta que o ideal é conhecer as características do gênero mas-culino e de cada indivíduo em especial para melhor atender às suas necessidades. “Hoje, os homens, aos poucos, também estão cedendo aos cuidados com sua aparência e preocupados com a estética. Eles fa-zem as sobrancelhas, fazem higienização profunda da pele, depilam o corpo e fazem as unhas. A indústria de cosméticos para homens está em expansão, a espe-cialização em estética e cosmetologia fornece o know--how para os dois gêneros e o mercado está aberto para todas as tendências”, alega.

Em seu discurso, a farmacêutica não deixa de fora também os produtos e tratamentos destinados a indi-víduos de características raciais diferentes. “Cada tipo de pele, cada organismo, reage de uma maneira e o resultado dos tratamentos estéticos é muito melhor quando se utiliza produtos específicos e/ou de modo específico”.

Com o aumento da expectativa de vida do brasi-leiro, o lançamento de produtos para retardar o en-velhecimento também faz com que a procura seja grande por pessoas em busca da “fonte da juventude” no túnel da estética. “As pessoas estão procurando qualidade de vida. O descobrimento de novos fárma-cos, o desenvolvimento da tecnologia farmacêutica e o avanço da medicina e dos cuidados médicos pro-piciam ao ser humano um envelhecer sustentável. E cuidar da saúde estética é um complemento porque melhora a aparência, a autoestima e, com isso, a sen-sação de bem-estar. Mesmo com as crises econômi-cas, esse é um mercado que não para de crescer”, fi-naliza a Dra. Glaucia.

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Ética

a ética é sempre coletiva, diz filósofo mário sérgio cortella

O fi lósofo e escritor Mário Sérgio Cortella, autor de livros como “Não nascemos prontos”, “Não espere pelo epitáfi o” e “ Ética e Vergonha na Cara”, afi rma que “ética é o conjunto de princípios e valores que utilizamos para decidir a nossa conduta individual e social, isto é, são as diretrizes que nos levam a acatar ou renegar determinadas ideias e práticas”.

O paranaense, que já pensou em ser monge e hoje ensina teologia na PUC-SP, também é pales-trante. Para ele não existe uma ética individual, pois os valores e princípios são sempre de um grupo, uma comunidade, uma sociedade. Mas, acrescenta Cor-tella, também não existe uma ética universal, que

tenha validade para qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer tempo. “Isso signifi ca que a ética é sempre circunstanciada para a épica e cultura na qual me localizo e, desse modo, orienta a escolha das minhas trilhas pessoais e, dentro destas, das ações da profi ssão que exerço”, arremata.

Perguntado se o profi ssional de saúde deve estar mais atento à ética que os demais, já que trata di-retamente com o indivíduo, o fi lósofo responde de pronto que, qualquer profi ssional, por ser uma pes-soa, precisa proteger a ética saudável e decente, e não se espera que alguém da área da saúde não o faça.

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Temos por premissa que todo passo mal dado gera ônus e, em alguns casos, punição. Infelizmente, no Brasil, assistimos de cadeira uma avalanche do que poderíamos conside-rar falta de ética em todos os níveis da ad-ministração pública. E a punição? Se arrasta e/ou se perde no labirinto da Justiça.

Para Mário Sérgio Cortella, o Brasil tem valores éticos benéficos e outros maléficos, assim como qualquer nação; contudo, entre nós, há um cinismo grande de muitas pessoas, que fazem o mesmo que alguns governantes, por meio da evasão fiscal, a aquisição de pro-dutos sem tributação, a tentativa de subornar alguma autoridade menor para liberar trami-tações. “Não há diferença ética entre furtar o dinheiro público depois que ele já está no cai-xa e furtar esse mesmo dinheiro impedindo que ele chegue ao caixa”, é taxativo.

O professor explica ainda que não existe “falta de ética”, e sim, a aceitação por parte de alguns de uma conduta ética que recu-samos por ser degradante e ofensiva; todas as vezes que, diante de uma conduta assim, silenciamos ou facilitamos a impunidade, afirma ele, somos também cúmplices e coni-ventes. “A punição, quando justa nas razões, evita o apodrecimento dos valores”, conclui.

Empresas que têm uma visão estratégica de futuro estabelecem fortes conexões entre ética e negócios

Você para no posto de gasolina para abastecer o carro da empresa. Na hora que você vai pedir a nota, o caixa diz:

– De quanto você vai querer a nota? – Eu quero a nota do que gastei – você respon-

de. E o caixa, com um sorriso maroto, devolve a pergunta:

– Ah é, e quanto você gastou? É obvio que ali você tem um sistema de apo-

drecimento da relação. Por que eu tenho de res-ponder ao “Quero? Devo? Posso?” O ponto central aqui é o dever, porque o querer e o poder estão na relação direta, se você imaginar a ética, com o dever. No entanto, o dever estará sempre rela-cionado aos princípios. Há empresas que têm de-terminados princípios dos quais ela não abre mão. Por exemplo, ela não admite que haja qualquer trabalhador, seja por parceria ou por contratação própria, que não esteja vinculado a um registro ou cooperativado. Algumas empresas usam o traba-lho infantil. Outras, não. Há empresas que têm o princípio de que lugar de criança é na escola. E que não se confunda comunidade rural familiar – em que a criança tem de ajudar para a família sobreviver como um todo – com exploração do trabalho infantil, que é colocar menino de 12, 13 anos em carvoaria ou em outros lugares, fora da escola, sendo submetido a uma jornada cruel, e assim por diante.

Cuidado, quando se fala em ética e no “Quero? Devo? Posso?”, muita gente pensa só nos políti-cos. Todo o ano, 29 de abril é o “Dia Nacional dos Dilemas Éticos”. É o último dia do pagamento do Imposto de Renda da Pessoa Física. Paga ou não? Há alguns anos, existia uma coisa “ótima”: com-

falta de ética ou conivência?

opção pela perenidade

“ Todas as vezes que... silenciamos ou facilitamos a impunidade... somos também cúmplices e coniventes.”

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prar recibo. Chegava alguém e propunha: “Eu te-nho um parente dentista e ela vende recibo. Ela está lá com talonário, ela paga e você paga 10%.”

E tem gente que, ao assistir TV, diz indigna-do: “Mas que governo? Que coisa suja.” Mas é ele que alimenta, que financia essa lógica. É o pró-prio cidadão. Aliás, não tem ninguém sentado no Congresso Nacional que tenha comprado aquele lugar. O parlamentar foi conduzido para lá por pessoas como nós, que votaram nele. Ele não to-mou o lugar.

Você e eu vivemos os dilemas: “Pago ou não pago o imposto? Compro o recibo? Declaro todas as fontes?” Tem dias que eu quero produzir evasão fiscal. Devo? Não devo. Posso? Cada dia menos. Porque agora há todo um controle informatizado, que vai cercando os teus princípios éticos. Aí você começa a ter um novo principio ético de conduta, que é paura, ou seja, o medo de ser pego. Quan-to maior a impunidade, mais os princípios ficam frouxos. Quanto maior o controle, o cuidado com o cuidado, o compliance, mais você tem princípios que são sólidos.

Por que temas como transparência na gestão, responsabilidade social, ética empresarial e gover-nança corporativa passaram a ser mais frequen-tes no mundo das organizações? Sobretudo, por conta de dois fatores. Primeiro, uma parcela sig-nificativa de empresas lançou ações em Bolsas de Valores. Ao abrir seu capital, tiveram de se sub-meter a controles públicos em relação à sua lisura, transparência e honestidade. O segundo motivo é que em sociedades abertas e democráticas, como a brasileira, cresce a rejeição a empresas que têm como lema: “fazemos qualquer negócio”.

Há empresas que têm uma visão estratégica de futuro, em que há uma conexão muito forte en-tre ética e negócios. Há outras, no entanto, que encaram a ética como cosmética e transformam

a responsabilidade social em mero mecanismo de fachada. Essas correm um risco muito grande. Inclusive perante seus funcionários. Mais do que qualquer outro público, os funcionários podem di-zer se o compromisso da empresa é real ou apenas de fachada.

Ao proclamar uma coisa e praticar outra, a em-presa expõe-se ao risco de que seus funcionários enxerguem incoerência em sua conduta. A empre-sa séria pratica o que divulga e não admite que a ética seja mero instrumento de propaganda. Só assim se conquista respeito e credibilidade.

Aquelas corporações que se envolvem em aci-dentes ambientais, que não fazem a manutenção adequada de seus equipamentos, que entregam produtos fora da especificação ou que submetem seus empregados a condições indignas de traba-lho têm vida curta na sociedade atual.

Excerto de CORTELLA, Mario Sergio. Qual é a tua obra? (Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética), 24ª. Ed, Petrópolis, Vozes, 2015.

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carimbado

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caPa

carimbadores:um crime contra a vida alheia

CARIMBAR! Esse é o termo utilizado por porta-dores do vírus HIV que estão, supostamente, trans-mitindo a doença propositalmente, sem o consen-timento do parceiro. Em matérias recentes exibidas na mídia, integrantes do chamado “Clube do Carim-bo” marcam encontros através de redes sociais para transmitir a doença, utilizando técnicas de propaga-ção, como furar o preservativo ou até mesmo con-vencer o parceiro a não utilizá-lo com o intuito de “distribuir” o mal.

Esse comportamento sexual está sendo investiga-do pelo Departamento de Inteligência da Polícia Ci-vil de São Paulo, que instaurou inquérito através de sua área especializada em Internet para identifi car os perfi s que estão compartilhando informações sobre esses encontros.

Segundo o Código Penal, a pena para quem transmite o vírus da AIDS sem o consentimento do parceiro é de dois a oito anos de prisão. Porém, esse crime é de difícil investigação. Segundo o advogado do CRF-RJ, Dr. Igor Gadaleta, a fi gura de um agente infi ltrado - nos EUA chamados de “undercover” - nes-ses grupos de carimbadores seria a melhor forma de identifi car todos os envolvidos. “No Brasil, há previ-são para esse tipo de investigação (Lei 10.217/2010), valendo toda apuração como meio de prova desen-

volvida com gravações ambientais, testemunhas e depoimentos. Se as provas forem sólidas e irrefutá-veis, não há dúvida que poderá sobrevir condenação criminal e pena de reclusão para os envolvidos”.

Como já temos ciência, na Internet, existem gru-pos de pessoas não contaminadas que participam de festas sigilosas organizadas por esses carimba-dores e sentem prazer em brincar de roleta-russa e ter a possibilidade de contrair o vírus. Dr. Igor tam-bém destaca que esses indivíduos atentam contra a própria vida e precisam de ajuda. “A contaminação voluntária, ao meu sentir, não confi gura ilícito penal. Conduta criminosa é daquele que, de forma livre e consciente, infecta terceiros. É preciso estabelecer li-mites e impor medidas de recuperação ao indivíduo que se pôs à margem da Lei”, esclarece o advogado.

Existe ainda o PL 198/2015, que está tramitando na Câmara dos De-putados, em Brasília, de au-toria do deputado Pompeo Mattos, que torna crime hediondo a transmissão deliberada do vírus da Aids.

Mais conhecido como Eduardo da Amazônia, Eduardo dos Santos Soares,

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se descobriu com o vírus HIV e é totalmente con-tra todo e qualquer tipo de infecção proposital ou voluntária, porém ressalta também que é contra a criminalização das pessoas que vivem com o HIV. “Neste sentido é preciso analisar duas questões: há medidas preventivas que precisam ser de responsa-bilidade de ambos parceiros e é preciso entender a realidade desta pessoa soropositiva que, suposta-mente, transmitiu o vírus a outra pessoa”, ressalta Eduardo, que é facilitador estadual da Rede Na-cional de Adolescentes e Jovens vivendo com HIV/AIDS, o “Jovens + Pará”. Eduardo ainda deixa claro que acredita ser, esta, uma questão mais de saúde pública que de segurança, ou seja, não dá pra tra-tar o assunto como faz o Estado, com as pessoas usuárias de drogas, em cárceres. “Além disso, soa mais como sensacionalismo as matérias vinculadas ao “Clube do Carimbo”, do que ação organizada. Desconheço grupos que atuam neste fi m, apesar de conhecer pessoas que foram infectadas por quem era ciente de sua condição sorológica (estupro e não uso do preservativo), mas ainda assim eram ações individuais e não coletivas”, explica ele sobre essa questão.

A infectologista Marília Abreu, diretora e res-ponsável pela Câmara Técnica de AIDS do Con-selho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, já tinha conhecimento sobre o caso desse tipo de transmissão do vírus e vê essa prática como inconsequente e irresponsável. Ela ressalta que es-sas pessoas possuem uma alteração de comporta-mento, que em tese, pode ser justifi cada por ques-tões psiquiátricas adquiridas pela própria doença ou, até mesmo, por falta de caráter. “Não temos como saber se essas histórias são verídicas ou não, antes de uma investigação. Porém, isso é bem sério e essas pessoas precisam ser identifi cadas e enca-minhadas para um aconselhamento psiquiátrico”. A infectologista ressalta que, depois do advento da terapia retroviral, os pacientes vivem relativamente bem com o vírus. Então, a letalidade da doença não é levada em consideração quando há uma relação sexual entre homens e mulheres mais jovens, com idade menor que 30 anos. “Os mais jovens não vive-ram a era de Cazuza, na qual o vírus HIV realmente

matava. O aumento do número de jovens infecta-dos se dá ao fato de não haver uma prevenção, pois eles não acham que vão adquirir a doença”, lembra.

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, há mais de 700 mil infectados pelo vírus HIV. Além do Ministério, entidades médicas, farmácias e droga-rias, e postos ajudam na divulgação do combate à doença com campanhas, como o Dia Mundial da AIDS ou em eventos pontuais, como o Carnaval, por exemplo. Camisinhas e panfl etos são distribuí-dos gratuitamente. Dra. Marília é enfática no senti-do de deixar bem claro que o correto é se prevenir em qualquer circunstância. “As pessoas precisam saber que a AIDS ainda não tem cura. Está havendo um aumento também de outras doenças, como a sífi lis, por exemplo. As escolas, as empresas, todos nós precisamos, o tempo todo, orientar o outro”, alerta.

O farmacêutico José Liporage, que re-aliza assistência farmacêutica multipro-fissional, integral e humanizada desde 1986, trabalhou como funcionário público e como voluntário pelo atendimento de qualidade aos pacientes portadores do vírus da AIDS e declarou: “Durante toda minha vida profissional conheci vários pa-cientes que se contaminaram por diversas maneiras, como por medo, no caso de pessoas que têm tanto medo de se con-taminar que preferem pegar a doença logo e acabar com a preocupação, como, por exemplo, integrantes do grupo de ca-rimbo (pessoas que desejam contaminar outras para todas virarem soropositivas e se tornarem ‘iguais’ no mundo).” Temos pessoas boas e más em toda a sociedade e é claro que quem tem o vírus HIV ou a doença AIDS não é diferente por isso”, concluiu Liporage.

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Deve-se observar uma diferença entre o vírus do HIV e AIDS, ou seja, as doenças decorrentes do vírus. Nem todas as pessoas com o vírus HIV vão desenvol-ver a AIDS. A Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida (AIDS) é uma doença que afeta o sistema imunológico humano deixando-o vulnerável a doenças oportunis-tas, como pneumonia e tuberculose. Como toda do-ença, as pessoas se sentem vulneráveis por falta de acesso à informação, medicamentos, assistência mé-

dica e psicológica. Para o psicólogo Alexandre Nabor França, conselheiro suplente do Conselho Regional de Psicologia (CRPRJ) e voluntário no Grupo Pela Vidda, no Rio de Janeiro, a AIDS, como qualquer doença não compreendida pela pessoa, pode ocasionar ansieda-de, pânico, insegurança, baixa autoestima, medo da morte, entre outros sintomas psíquicos. “Como psicó-logo, trabalho com pessoas que vivem com HIV/AIDS, procurando sempre aconselhar para fazê-las entender

Deve-se observar uma diferença entre o vírus do HIV e AIDS, ou seja, as doenças decorrentes do vírus.

dica e psicológica. Para o psicólogo Alexandre Nabor França, conselheiro suplente do Conselho Regional de

a doença psicológica

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A Organização das Nações Unidas (ONU), através da UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS), divul-gou nota de repúdio às matérias veiculadas na imprensa sobre esses possíveis casos de transmissão intencional do vírus HIV. Eles se mostraram preocupados com um impacto na estigmatização e preconceito relacionados à doença e às pessoas que possuem o vírus. A nota diz que “além de ter caráter sensacio-nalista e alarmante, as denúncias veiculadas nos meios de comunicação têm se baseado em informações contidas em fontes de credi-bilidade questionável na Internet, como sites desconhecidos, blogs e perfis anônimos. De forma extremamente equivocada, as repor-tagens têm tratado, sem distinção, as práti-cas sexuais consentidas entre adultos sem o uso de preservativos e os possíveis casos de transmissão intencional do HIV”.

De acordo com o UNAIDS não há indícios de que o uso de processos legais e crimina-lizantes em relação à transmissão não-con-sentida do vírus se torne uma ferramenta efi-caz à prevenção e aos impedimentos desses indivíduos que praticam tal ato. Além disso, há fortes indicativos de que o medo de uma possível investigação ou processo possa im-pedir que pessoas façam o teste e comecem ou continuem o tratamento. “O UNAIDS de-fende os princípios de Zero Discriminação, o respeito às pessoas vivendo com HIV e a defesa de seus direitos. O UNAIDS também defende o respeito à diversidade. Todos os brasileiros e brasileiras devem ter garantidos seus direitos a uma sexualidade saudável e ao acesso a insumos de prevenção, testagem, tratamento, cuidado e apoio em relação ao HIV”, esclarece a nota no site da entidade.

repúdio da onu

melhor suas condições de convívio com o problema. Acompanho o drama dessas pessoas, para fazê-las entender como contraíram o vírus e, paralelamente, o medo de lidar com essa questão. Muito foi feito em relação ao controle fisiológico da doença com o surgi-mento dos antirretrovirais (AVRs), mas não em relação aos danos psíquicos causados pela insegurança em lidar diariamente com o vírus e seus desdobramentos sociais”, lamenta.

Os conflitos psicológicos sofridos no cotidiano são enormes, devido ao preconceito e à discrimina-ção ocasionados pela não compreensão da família, das redes de amizades e do ambiente de trabalho. A própria condição de estar com o vírus, pode oca-sionar uma autoculpabilização construída sociocul-turalmente. É como se a pessoa que está com HIV fosse culpada por isso. O psicólogo diz que, no Brasil, a maioria da população não aderiu à cultura da tes-tagem, de modo a fazer controle do vírus HIV, entre outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). “É imprescindível que, sob qualquer comportamen-to de risco, as pessoas possam ter acesso ao teste do HIV nos postos de saúde ou ONGs responsáveis pelos programas de prevenção contra o HIV/AIDS. Quando essas pessoas se descobrem soropositivas, torna-se imprescindível o cuidado da saúde em tem-po hábil, antes da manifestação de outras doenças. Infelizmente, a maior parte das pessoas só vêm a sa-ber do diagnóstico quando a AIDS já começou a se desenvolver no seu organismo e vão parar nos hos-pitais”, completa.

Alexandre diz não saber o real motivo dessas pes-soas transmitirem o vírus por conta própria, sem o consentimento do parceiro, mas ele acredita que há a necessidade de pensar melhor sobre a responsa-bilidade social dessas pessoas para que elas possam utilizar os métodos profiláticos. E recomenda: “Para isso, temos que saber quais são os métodos e quais estão disponíveis. Não acredito na culpabilização como forma de controle social, pois formas de con-taminação existem várias, e para isso, cito dois mé-todos de controle eficaz que são: estudo/pesquisa e informação. Portanto, é preciso estudar melhor este fenômeno, como algo inerente da sociedade, para poder criar suporte de entendimento”.

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A Síndrome da Imunodefi ciência Adquirida (AIDS) é uma doença causada pelo vírus HIV. Quan-do o vírus ataca as células de defesa do corpo huma-no, o portador do vírus fi ca com sua imunidade bai-xa, deixando seu organismo mais suscetível a outras doenças, como a gripe, tuberculose e até o desen-volvimento de um câncer. O vírus atinge células do sistema imunológico, como os linfócitos, altera seu DNA e se reproduz. Após essa multiplicação, o vírus rompe esses linfócitos e ataca outras células conti-nuando assim o processo de infecção.

Ser portador do vírus HIV não signifi ca que a pessoa vá desenvolver a doença. Porém, o paciente pode transmitir o vírus através de relações sexuais sem o uso de preservativos, pelo compartilhamento de seringas infectadas ou na gestação e na amamen-tação - de mãe para fi lho.

Febre e mal-estar, diarreia e suores noturnos, além de emagrecimento, são os primeiros sintomas da AIDS, muito parecidos com várias outras doenças já conhecidas, como gripe e pneumonia. Por isso, a maioria dos casos não é diagnosticada tão precoce-mente.

O Ministério da Saúde divulgou dados otimis-tas depois de uma recente análise da Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas da População Brasileira (PCAP). Foi constatado que 94% dos bra-sileiros sabem que a melhor forma de se prevenir contra doenças sexualmente transmissíveis é usando camisinha, porém 45% dos entrevistados revelaram que não usaram preservativos nas relações sexuais casuais que tiveram no último ano. Para diminuir es-ses casos, foi criada a campanha, no último mês de dezembro, chamada #partiu,teste. A campanha tra-balha com a distribuição de camisinhas para jovens e adolescentes e para grupos com maior incidência do HIV, como LGBT, usuários de drogas e profi ssionais do sexo. A infectologista Marília Abreu lembrou tam-bém que, apesar de estabilizados os dados, a parcela da população mais idosa também precisa se preo-cupar com DSTs. “Aumentou sim a quantidade de idosos com doenças sexualmente transmissíveis. Até

Entenda a doençaporque, eles estão mais ativos, estão vivendo mais e têm subterfúgios para ter uma vida sexual ativa”. Além da distribuição de preservativos, a campanha #partiu,teste serve para esclarecer da necessidade de pessoas que podem ter tido contato com a doença, fazer o teste e evitar, assim, novas contaminações. O teste é feito na rede pública de saúde de todo o país. A amostra é retirada através de um teste oral, com fl uidos presentes entre a gengiva e a mucosa da bochecha. O diagnóstico é dado em 30 minutos e tem a vantagem de dispensar a coleta sanguínea. No caso do resultado ser positivo, a pessoa é encami-nhada para um posto de referência de seu município onde terá acesso ao tratamento medicamentoso. Ter conhecimento precocemente da doença é importan-tíssimo para uma sobrevida maior.

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Ensino

União, anseio de mudança, aprimoramento de alto nível, adequação ao mercado e mobilização para melhorar a educação farmacêutica deram o tom do 1º Fórum Estadual do Rio de Janeiro sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), reali-zado pelo CRF-RJ, no dia 11 de março, na sede da

união e desejo de aprimoramento marcam1º fórum Estadual do rio de Janeiro sobre diretrizes curriculares

Associação Brasileira de Farmácia – ABF, no Cen-tro do Rio.

O encontro reuniu coordenadores, professores de cursos de Farmácia, estudantes de universi-dades e faculdades do Estado (UFF, UFRJ, UFRRJ, UNISUAM, Unigranrio, Estácio de Sá, IFRJ, USS,

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UNIFESO, UNIG, Universidade Rural) e en-tidades.

O encontro foi aberto pelo Professor Luiz Fernando Chiavegatto, presidente da Co-missão de Ensino do CRF-RJ. Ele entende que esse é um momento único para reali-zar a revisão das diretrizes, após 12 anos da Resolução CNE/CES, com o intuito de con-tribuir com sugestões enquanto entidades, representantes de cursos e CRF-RJ. Logo de-pois, a Dra. Débora Futuro, da Associação Brasileira de Educação Farmacêutica – ABEF, apresentou a contextualização do evento, com seus objetivos e estratégias para elabo-ração da proposta do Rio de Janeiro, que foi encaminhada ao Conselho Federal de Far-mácia – CFF. Também serão enviados rela-tórios de todos os CRFs para compilação de um documento final, contendo propostas de todo o país, que será debatido em fórum nacional do Congresso Brasileiro de Educa-ção Farmacêutica -COBEF e, posteriormen-te, apresentado pelo CFF ao Ministério da Educação – MEC. Dra. Débora acrescentou que o evento foi rico na troca de experiên-cias, o que deu condições de aprender com as diversidades e realidades dos cursos. “Existe uma busca, um empenho e o desejo de renovação e o primeiro passo é integrar o melhor dos cursos de Farmácia do Rio, para ajudar na formação do farmacêutico”, com-pletou.

Também esteve no evento o presidente Marcus Athila, do CRF-RJ, que assegurou ser possível ouvir a opinião de profissionais na formação, necessidades, adequação e apri-moramento, afim de colocar no mercado os melhores farmacêuticos.

Os participantes do fórum foram separa-dos em dois grupos, onde foram discutidos: políticas educacionais, perfil do egresso, competências, cenários de prática e me-

todologia de ensino. O conselheiro e membro da comissão de ensino do CRF-RJ, José Roberto Lannes, ficou encantado com a coesão e sin-tonia do grupo, o que fez com que o trabalho fluísse na exposição das ideias, sem melindres e disse: “O momento foi acima das expectativas e acredito que, com união, é possível mudar o atual quadro”. Também conselheira do CRF-RJ, Melissa Manna, ressaltou a boa representação dos coordenadores de instituições e a grande vontade de melhorar o ensino farmacêutico. Para a conselheira Fabiana Pugliese, o encontro foi rico, no sentido de troca de informação, o que é importante para renovação dos profissio-nais envolvidos.

Para Carla Coura, também conselheira, “é a primeira oportunidade, no Rio de Janeiro, de in-teragir com integrantes das comissões de ensi-no e coordenadores de cursos na construção de um documento que permita a evolução das dis-cussões das diretrizes curriculares nacionais.”

“Existe uma busca, um empenho e o desejo

de renovação e o primeiro passo é integrar

o melhor dos cursos de Farmácia do Rio ,

para ajudar na formação do farmacêutico”.

Dra. Débora Futuro, da Associação Brasileira

de Educação Farmacêutica – ABEF

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24 l Revista RioPharma l mai . jun 2015 Gazeta da Pharmacia nº 1, maio 193224 l Revista RioPharma l mai jun 2015 Gazeta da Pharmacia nº 1, maio 1932

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Você já leu a Gazeta da Pharmacia?

Da época em que o “PH” substituía o “F” em várias palavras da língua portuguesa, a Gazeta da Pharma-cia foi publicada pela primeira vez no dia 1º de maio de 1932, contendo oito páginas cheias de expectati-vas e notícias do interesse do público farmacêutico, com informações técnicas, científi cas, econômicas, sociais e históricas.

Nesse mesmo mês, começava uma série de mani-festações contra o então presidente, Getúlio Vargas, pois parte da população estava politicamente insa-tisfeita e reivindicava por novas eleições, uma refor-ma na Constituição e maior participação na política. Tratava-se da Revolução Constitucional de 1932.

Mas esse foi apenas o primeiro dos momentos históricos pelos quais a Gazeta passou: o jornal du-rou quase cinco décadas, sem interrupções, acom-panhando do nascimento até o fi m da ditadura no Brasil. “A Gazeta da Pharmacia é um inestimável ins-trumento de pesquisa histórica. Devido ao seu longo período de publicação, pôde registrar a evolução da profi ssão, do ensino e da pesquisa no âmbito farma-cêutico, bem como as mudanças nos cenários polí-ticos e sociais brasileiros”, relata Rosângela Rocha, bibliotecária, há 21 anos, na Biblioteca Rodolfo Albi-no Dias, que fi ca na sede da Associação Brasileira de Farmacêuticos.

De fato, analisando as páginas do jornal, é possí-vel observar comportamentos e momentos históricos, desde as propagandas - com longos textos de um português um tanto rebuscado junto às imagens sim-ples, desenhadas à mão - até o teor das matérias que

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mEmória da farmácia

Antônio Lago, fundador do jornal

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registraram fatos, como a obrigatoriedade do diplo-ma para o farmacêutico, a união do extinto Sindicato dos Proprietários de Farmácias e Laboratórios com o Centro de Droguistas, a descoberta de que fumar faz mal à saúde e a busca pelo primeiro farmacêutico do Brasil. Além disso, homenageou grandes nomes da Farmácia e afi ns, entre eles Marie Curie e Leva Gomes Ferreira, além de seu pai, Marino Gomes Ferreira.

Possivelmente, a Gazeta da Pharmacia foi o pri-meiro jornal brasileiro direcionado para farmacêuti-cos. Antes havia publicações para esses profi ssionais, mas tratavam-se de periódicos científi cos.

O jornal foi uma iniciativa de Antônio Lago, pro-prietário de uma farmácia de manipulação - a Phar-macia Lago - e membro do Sindicato dos Proprietá-rios de Farmácias, Drogarias e Laboratórios. Ele era

um homem muito dedicado à Campanha da Casa da Farmácia e à coletividade farmacêutica, tanto que o Museu da Associação Brasileira de Farmacêuticos carrega seu nome como homenagem ao seu traba-lho. Lago faleceu em 1955, aos 70 anos. Seu fi lho, o farmacêutico Antônio Nunes Lago, tornou-se diretor da Gazeta, que durou mais quase 30 anos, rendendo 571 edições, até janeiro de 1981.

Segundo a bibliotecária Rosângela, ainda é pos-sível encontrar todos os exemplares do jornal: “A Gazeta da Pharmacia foi um jornal muito difundido entre as instituições comerciais, de ensino e cultu-rais. No Rio de Janeiro, sei que a Associação Brasilei-ra de Farmacêuticos e a Biblioteca Nacional possuem a coleção. Na ABF estão disponíveis, por questões de preservação, apenas para consulta local”, conta.

Edição nº 3, julho de 1932

curiosidade Nas primeiras edições da Gazeta da Pharmacia, é

possível encontrar alguns textos de cunho político, co-

mentando a preocupação sobre o país em relação aos

rumos da economia e afi ns. Entretanto, logo após a di-

tadura, o jornal passou a agregar mais assuntos científi -

cos e nenhum sobre política. Possivelmente ele foi mais

um dos que passaram pelo DIP, o Departamento de

Imprensa e Propaganda, instaurado pelo Governo de

Vargas e que censurava o conteúdo de todos os meios

de comunicação.

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Já imaginou fazer ideias virarem grandes negócios, como o Easy Taxi, Buscapé ou o Peixe Urbano? Esse é o sonho de muitos. Mas não só programadores e web designers lidam com isso: farmacêuticos também podem fazer parte de um projeto assim. A palavra “startup” vem do idioma inglês e signifi ca “começar algo”. Trata-se de uma forma de negócio relativamen-te recente e que, de forma geral, lida com tecnologias, e tem chances de crescimento rápido a baixos custos.

O exemplo de Mateus Reis é uma prova de que profi ssionais da área da saúde também podem crescer nesse setor. Aos 24 anos, ele poderia se limitar a ser o farmacêutico responsável técnico em uma farmácia de manipulação. Mas, fora da botica, também é um dos fundadores da promissora plataforma digital “Cadê Doutor”, que ele e sua equipe desenvolveram para ce-lulares e para a web, e que visa estimular a relação entre pacientes, profi ssionais e empresas de saúde, além de facilitar o trabalho e a busca entre esses personagens. “Todos saem ganhando com o nosso aplicativo: o pa-ciente tem acesso aos melhores profi ssionais e ao seu histórico clínico para o resto de sua vida. Os profi ssio-nais poderão divulgar suas carreiras através de estra-tégias de marketing específi cas para eles. As empresas de saúde, como farmácias e laboratórios, serão aproxi-madas dos pacientes, com estratégias de pós-venda”, explica Mateus. “Além disso, poderemos gerar estatís-ticas de indicadores de saúde extremamente precisos e relevantes para a saúde pública”,completa.

Para começar, bastou uma ideia que surgiu em uma aula, ainda nos tempos da faculdade: “A profes-

startups : uma opção promissora

EmPrEEndEdorismo

sora Priscilla Santana apresentou uma estatística do SINITOX (2012) que responsabilizava os medicamen-tos por 25% das intoxicações no País. Logo depois, conheci o relatório da OMS que lista que até 86% das mortes seriam causadas por doenças crônicas não transmissíveis, ou seja, mortes evitáveis”, conta o farmacêutico, que fi cou inconformado com os dados. “Passei meses procurando uma solução. Partindo do princípio que adesão correta ao tratamento e intera-ções farmacológicas são de responsabilidade do far-macêutico, busquei ferramentas que pudessem nos dar a possibilidade de conhecer melhor o paciente e

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incentivar o autocuidado”, diz.O jovem empreendedor levou sua ideia para a

Startup Weekend, uma das maiores competições de empreendedorismo do mundo, desenvolvida pela UP Global em parceria com a Google for Entrepreneurs. No evento, conheceu seus dois sócios, André Barros e Victor Mendes. Juntos, eles formataram o produto e conquistaram o prêmio de primeiro lugar. “É preciso comprovar que a sua ideia é a solução para um pro-blema real e que o mercado está disposto a comprar isto”, explica.

Para aqueles que desejam ingressar no ramo, far-macêuticos ou não, o empreendedor dá o conselho de que é preciso “pensar fora da caixa” e desenvol-ver o pensamento crítico com o objetivo de encontrar problemas e propor soluções. Ele recomenda: “Estu-

Em relação aos lucros, as formas de rentabilizar um aplicativo são diversas, como cobrar pelo down-load, embutir uma taxa pelo uso do serviço, incluir publicidade ou apresentar funcionalidades exclusivas que podem ser compradas dentro do programa, como perfis premium.

Mas, para todos os projetos, é preciso um investimento inicial e, na ausência de um patrocinador, é importante pensar também em como atraí-lo. “As startups atuam em um ambiente de extrema incerteza, o que torna muito arriscado qualquer investimento. Acredito que há uma relação entre o mínimo de risco aceitável associado ao potencial de crescimento da empresa”, orienta o farmacêutico e mais: “Existem também os investimentos públicos que priorizam inovação científica e desenvolvimento social.” De qual-quer modo, Mateus diz que o mercado oferece uma série de competições por prêmios e investimentos - uma boa opção para os iniciantes.

como um aplicativo pode ser lucrativo?

dar tudo sobre o conceito de startup e participar de eventos sobre empreendedorismo, como o Startup Weekend ou os cursos específicos para o setor.”

Segundo Mateus, existem três formas principais de se inserir no mercado das startups: investindo, empre-endendo ou sendo especialista. O Investidor vai ser aquele que procura projetos com alta possibilidade de crescimento e investe recursos. O Empreendedor será o que tem ideias que possam ser transformadas em negócios rentáveis. O Especialista é o que detém conhecimentos técnicos para concretizar as ideias. “Muitas áreas são importantes neste setor, como marketing, administração, programação em geral e gerenciamento de projetos. Quaisquer cursos e pós--graduações nestas áreas aproximam o farmacêutico do setor”, ensina o empreendedor.

Momento da premiação da equipe

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saúdE Pública

malária:

Até o dia 18 do mês de março deste ano, haviam sido registrados 19 casos de malária no Estado do Rio de Janeiro. Segundo dados da Secretaria de Saú-de, houve contaminação, principalmente, nas Re-giões Norte, Serrana e Centro Sul, em municípios, como Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo, Miguel Pereira, Magé e Guapimirim. O fato gerou um aler-ta direcionado às pessoas que pretendem visitar as regiões próximas à Mata Atlântica, devido ao forte

casos confirmados no rio de Janeiro preocupam população

calor, que favorece o desenvolvimento do mosquito transmissor da doença.

A Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde acres-centa que ainda não há evidências que apontem a ocorrência de epidemia de malária no Estado, mas é importante conhecer a doença, seus sintomas e como ocorre o tratamento em caso de contamina-ção.

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A malária é uma doença infecciosa pro-vocada por quatro protozoários do gênero Plasmodium: P. vivax, P. falciparum, P. ma-lariae e P. ovale. No Brasil, as espécies mais encontradas são os dois primeiros. Normal-mente, a doença se desenvolve depois da picada do mosquito chamado Anopheles já infectado. Após a transmissão, o parasita se aloja no fígado, onde se multiplica e passa para a corrente sanguínea. É nesse momen-to, que os primeiros sintomas são observa-dos.

De acordo com o superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde, Alexandre Chieppe, “o quadro clínico típico de malária é caracterizado por febre alta acompanhada de calafrios, sudorese abundante e cefaleia, que ocorrem em padrões cíclicos, depen-dendo da espécie de protozoário infectan-te. Antes de apresentarem os sinais típicos da doença, algumas pessoas exibem outros, como náuseas, vômitos, fadiga e anorexia”.

Apesar dos sintomas da malária serem facilmente confundidos com os da dengue ou da febre Chikungunya, Alexandre explica que a maioria das doenças infectocontagio-sas, em sua fase inicial, ocorre com sinais e sintomas inespecíficos. Os exames labora-toriais, neste início, também tendem a ser inconclusivos. Por isso, algumas peculiari-dades devem ser observadas: “É importante que, além da história clínica, sejam avalia-dos históricos de viagens dos pacientes, tal como a situação epidemiológica dos locais onde residem. Somente assim é possível au-mentar a chance de diagnósticos corretos, particularmente daquelas doenças infecto-contagiosas transmitidas por vetores, como é o caso da malária”.

Ao ser questionado se os profissionais em postos de saúde, unidades de pronto atendi-mento e clínicas da família têm condições de avaliar se o paciente apresenta sinais de ma-lária, o superintendente diz que médicos, en-fermeiros ou farmacêuticos não devem, neces-sariamente, realizar o diagnóstico da doença, mas suspeitar de malária em função das carac-terísticas do quadro clínico dos pacientes e do histórico de permanência em locais com trans-missão do mal. “Desta forma o paciente pode-rá ser devidamente encaminhado para centros de saúde de maior complexidade para que seja feito o diagnóstico laboratorial e o trata-mento específico”, orienta. Alexandre também enfatiza que é importante que os profissionais de saúde estejam informados sobre os locais com maior incidência de transmissão de malá-ria, no Brasil e no mundo.

Após o paciente ser diagnosticado com a doença, os cuidados dependerão da intensi-dade do quadro clínico e do tipo apresentado. O tratamento pode ser feito por qualquer pro-fissional médico habilitado. Porém, em casos com alto grau de complexidade e gravidade, é importante o acompanhamento por um servi-ço de infectologia.

malária: as características

malária: o diagnóstico

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serviço do malária-fone:O horário de funcionamento é de segun-

da a sexta-feira, das 8h às 18h, no telefone

(21) 99988-0113. Porém, em casos de emergên-

cia com pacientes febris, o contato pode ser

acionado 24h por dia.

Alexandre Chieppe dá algumas dicas para evitar a proliferação da doença: “Como forma de prevenção, para evitar a picada pelo vetor, recomenda-se o uso de repelentes, mosquiteiros impregnados com inse-ticidas, roupas protetoras, telas em portas e janelas”.

A Superintendência de Vigilância Epidemioló-gica e Ambiental informa que mantém equipes de

malária: a prevenção

O Instituto Oswaldo Cruz (Fio-cruz) criou o Malária-Fone, uma linha exclusiva para que a popula-ção possa obter informações sobre a doença, os sintomas mais latentes e os locais com suspeita de infesta-ção pelo mosquito. Além disso, o Malária-Fone informa os locais para diagnóstico e tratamento.

malária: mais informação para a população

campo nos locais de possível contaminação para le-vantamento dos vetores da doença, além de acom-panhar e aferir os casos já notifi cados. Vale lembrar que, anualmente, são registrados casos de malária com contaminação ocorrida no Rio de Janeiro, ou seja, não é possível afi rmar que a doença estivesse erradicada no Estado.

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dEstaquE

crf-rJ instaura comissão Parlamentar

Mais uma novidade bate à porta do CRF-RJ: foi criada, no mês de março, a 1ª Comissão Par-lamentar de um Conselho Regional de Farmácia, com a presença de mais de 80 profissionais, en-tre estudantes e farmacêuticos, no auditório da Associação Brasileira de Farmacêuticos - ABF. A nomeação da comissão, composta por Dr. Francis-

co Trindade, Dr. José Liporage, Dr. José Roberto Lannes Abib e Dr. Leonardo Légora de Abreu, tem como principal objetivo promover o crescimento profissional da categoria.

O presidente do CRF-RJ, Marcus Athila, acha que é muito importante trabalhar junto aos re-presentantes da classe para ampliar e manter os

Comissão Parlamentar do CRF-RJ e Dra. Gilcilene

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feitos já conquistados. “Vamos trabalhar para aprovar a redução da carga horária do farmacêutico, garantir a presença des-se profissional no SUS, além de lutar pelo piso nacional do farmacêutico”, disse. Athi-la também colocou em pauta a necessidade de ampliar as possibilidades da prescrição de outros medicamentos pelo farmacêu-tico, como os de uso contínuo e também antibióticos.

A comissão acompanhará de perto como os parlamentares e secretários de saúde de nosso Estado estão trabalhando para o crescimento profissional da categoria, colo-cando em pauta assuntos de interesse dos farmacêuticos, interagindo com parlamen-tares da região, não somente nas Câmaras Legislativas, mas também em entidades, como Ministério Público, Defensoria, Pro-con, Federação dos Municípios e outros conselhos.

Dr. José Liporage, membro da Comis-são, mostrou-se empenhado para a nova empreitada. “É muito importante a união de todos. Estamos tendo a chance de nos organizar para termos mais contato com os parlamentares”. Já Dr. Francisco Trindade foi enfático para demonstrar a ajuda à ca-tegoria. “Estou aqui como soldado do CRF--RJ, soldado da classe. Essa responsabilida-de é de todos”.

Na ocasião, estava presente também a Dra. Gilcilene Maria dos Santos El Chaer, que é farmacêutica formada pela Univer-sidade Federal de Goiás, Diretora da Fe-deração Pan Americana de Farmacêuticos, conselheira do CRF-DF e coordenadora da Comissão Parlamentar do CFF, que parabe-nizou o CRF-RJ pela iniciativa e se colocou à disposição para ajudar no que for preciso na luta da classe fluminense. “A Comissão Parlamentar do CRF-RJ tem a função de retroalimentar a Comissão Parlamentar do CFF, apresentando as demandas locais e estaduais e traçar estratégias”.

“Unidos seremos mais fortes”. Com esse espírito, foi aberta a palestra intitulada “Os desafios e aplica-bilidade da Lei Federal 13.021/14”, promovida pelo CRF-RJ na sede da ABF. A palestrante, Dra. Gilcilene Maria dos Santos El Chaer, apresentou para profis-sionais de farmácias e drogarias a luta da classe até a aprovação da Lei, que transformou as farmácias em estabelecimentos de saúde e reafirmou a obriga-toriedade da presença do farmacêutico em horário integral nas farmácias.

Segundo dados informados pela palestrante, a categoria conta com mais de 180 mil farmacêuticos em todo o Brasil. Sobre os desafios da legislação, Dra. Gilcilene acredita ser de suma importância que esses farmacêuticos assumam seu papel dentro das farmácias. “O farmacêutico é essencial à promoção, prevenção e recuperação da saúde da população, por isso precisa ocupar os seus espaços com proprie-dade nos estabelecimentos de saúde. É o profissional que mais está em contato direto com o paciente e promove diretamente o uso racional dos medica-mentos, auxilia nas interações medicamentosas e, consequentemente, minimiza os riscos de reações adversas causadas pelo mau uso do medicamento.”

A luta foi árdua e contou com muita conversa nos gabinetes de senadores e deputados, além de mobilizações dos próprios farmacêuticos, através de reuniões com representantes da classe no governo. Tudo isso fez parte de todo o processo para a con-quista da categoria. A palestrante ainda explicou como acontece a aprovação de uma lei. “Os projetos de lei podem vir tanto da Câmara Federal, quanto do Senado. Normalmente, vêm da Câmara. E depois de aprovados na Câmara, passam para o Senado, são aprovados e depois vão para sanção presidencial”, detalhou Dra. Gilcilene, lembrando que, no ano de

Palestra debate desafios e aplicabilidade da lei 13.021/14

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1993, houve uma passeata e várias faculdades do Brasil se mobilizaram e foram para Brasília. Até a conquista efetiva da Lei 13.021/14, muitos debates, congressos, conferências nacionais de saúde e reali-zação de atos em Brasília aconteceram a fim de es-clarecer a importância da aprovação da lei.

A palestrante mostrou que a real conquista com a aprovação da Lei nº 13.021/14, foi a obrigação de termos, nos estabelecimentos de saúde, a assistência farmacêutica plena, com alguns pontos primordiais, listados abaixo, para o funcionamento correto das farmácias e drogarias:

n Toda farmácia é obrigada a manter farmacêuti-co em período integral, gerando assim, mais postos de trabalho.

n Com a conquista das farmácias e drogarias se-rem agora estabelecimentos de saúde, pode-se pro-

ver qualidade de vida à população, com atendimen-tos para aplicação de vacinas, aferição de pressão e medição de glicose.

n O proprietário da farmácia fica impedido de de-sautorizar o profissional ali presente, sendo assim, o farmacêutico, figura soberana para indicar o melhor medicamento para determinado usuário. Para isso, o cadastro dos clientes com dados de saúde irá aju-dar no acompanhamento da enfermidade.

Como principais desafios para a categoria, a farmacêutica apontou algumas questões a serem melhoradas, tais como a necessidade desses profis-sionais terem uma visão mais aberta de seu papel so-cial, melhorar a formação clínica de cada um, traba-lhar junto às universidades para evitar a divergência curricular e, principalmente, incentivar a valorização profissional de toda a categoria.

Palestra sobre a Lei nº 13.021/14

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Os HPAs podem ser emitidos, principalmente, na forma ga-sosa, como também na forma de partículas fi nas carbonadas. A formação desses compostos é favorecida pela queima da ma-téria orgânica em temperaturas altas, como nos processos de fabricação de embutidos, como presunto e derivados; fabrica-ção de alimentos em caixas tetrapak, como leite; alimentos lio-fi lizados; e poluentes obtidos de veículos automotores. A vida moderna, bem como o aumento da população e consumo, fi ze-ram com que estes compostos fi cassem cada vez mais presentes na nossa sociedade. Os HPAs têm recebido muita atenção nos últimos anos devido ao fato de que muitos compostos desse grupo são potentes carcinógenos. Os HPAs são moléculas que possuem dois ou mais anéis benzênicos fundidos, considerados imunotóxicos e carcinógenos e os mais pesquisados são: antra-ceno, dimetilbenzeno, pireno e outros. A ligação dos HPAs ao DNA humano, formando um complexo HPA-DNA, pode estar re-lacionada a um aumento na incidência do câncer de pulmão. De maneira geral, tanto os HPAs quanto os seus derivados estão as-sociados ao aumento de diversos tipos de cânceres no homem. A penetração dos HPAs no organismo pode estar relacionada a sua lipofi licidade e a sua grande persistência no meio ambiente.Como são moléculas apolares, elas podem acumular no organis-mo humano, fi cando inseridas no tecido adiposo devido a sua lipofi licidade e juntam a medida que consumimos alimentos que contêm HPAs ou ainda a absorção destes através de veículos au-tomotores pela sua fumaça. A agência americana Environmen-tal Protection Agency (EPA), fundada em 1970, listou os 16 HPAs considerados prioritários para o monitoramento ambiental em função de sua carcinogenicidade e ocorrência(tabela 1).

Hidrocarbonetos Policíclicos aromáticos (HPa)

Com o crescimento po-pulacional, a exploração in-dustrial cresceu muito em intensidade e, como conse-quência, a poluição atmos-férica aumentou dramati-camente em todo globo, provocando uma alteração entre a relação humana e a natureza. A poluição atmos-férica atingiu níveis elevados trazendo danos para o meio ambiente e para as espécies que co-habitam. Uma das consequências é a presença de Hidrocarbonetos Policícli-cos Aromáticos (HPAs, fi gura 1) que são formados duran-te a combustão incompleta de material orgânico, como a queima de óleo ou madei-ra, podendo derivar também do petróleo, do carvão e de alguns poluentes presentes no ar e ainda de processos industriais na fabricação de alimentos.

toXicoloGia

Robson Roney Bernardo, Diretor-tesoureiro do CRF-RJ

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Figura 1. Tipos de HPAs

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41 l Revista RioPharma l mai . jun 201541 l Revista RioPharma l mai . jun 2015

HPA IARC EPA ABNT

Fluoreno 3 P NM

Fenantreno 3 P NM

Antraceno 3 P NM

Metilfenantrenos+Metilantracenos 3 P NM

Pireno 3 P NM

Fluoranteno 3 P CP

Benzo[a]antraceno 2A P CP

Criseno 3 P CP

Benzo[b]fl uoranteno 2B P CP

Benzo[k]fl uoranteno 2B P CP

Benzo[e]pireno 3 P NM

Benzo[a]pireno 2A P CP

Indeno[1,2,3-c,d]pireno 2B P CP

Dibenzo[a,h]antraceno 2A P CP

Benzo[g,h,i]perileno 3 P NM

Coroneno 3 P NM

tabela 1. lista de HPa segundo a EPa

IARC – International Agency for Research on Câncer; EPA – Environmental Protection Agency; ABNT – Asso-ciação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 10.004).2A = Provável carcinogênico para humanos – limitada evidência em humanos e sufi ciente em animais (IARC); 2B = Possível carcinogênico para humanos – limitada evidência em humanos e insufi ciente em animais (IARC); 3 = Não é classifi cado como carcinogênico para humanos (IARC); P = Prioritário (EPA); CP = Confere periculosidade (ABNT); NM = Não mencionado no anexo C, listagem nº 4 (ABNT)

(IARC, 2002).

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Na pesquisa de HPAs em geral, utilizamos um bio-indicador ou biomonitor que pode ser defi nido como um organismo ou parte de um organismo que pode fornecer informações de qualidade sobre o meio am-biente. Este biomonitor, por exemplo, acumula os HPAs sem sofrer nenhum tipo de metabolização es-tando presente dentro do seu organismo, acumulan-do a quantidade de substância a ser analisada. Algu-mas bromélias são utilizadas como biomonitores de metais, pois acumulam estes oriundos do ar atmos-férico. Os biomonitores podem ser úteis devido à alta tolerância e à elevada sensibilidade a um amplo es-pectro de substâncias poluentes do meio ambiente. A espécie bromeliácea Tillandsia usneoides já vem sen-do utilizada, principalmente devido a sua adaptação morfológica para a retirada de nutrientes da atmosfe-ra por meio de suas escamas. Muitas vezes podemos introduzir esta espécie em um ambiente e monitorar a presença dos HPAs por semanas ou ainda por meses, verifi cando o seu impacto ambiental e possíveis con-sequências para o homem.

Referências1. BERNARDO, R. R. ; Luciano Lauria ; Jadson de nascimento; MOURA, Regina Braga de ; Meire, R.O. ; Gianna Camargo ; TORRES, João Paulo . Determination of PHAs on the Barra da Tijuca in the city of Rio de Janeiro with the biomonitor (Schinius terebinthifolis) by hplc. In: 7 CIFARP, 2009, Riberão Preto. Biodeversity in the tecnological and helath development, 2009.2. BESSA, T. Z. ; Meire, R.O. ; TORRES, João Paulo; BERNARDO, R. R. . Determinação de hidrocarbonetos policíclicos poliaromáticos em amostras de leite comercial por CLAE. In: II SIMCRO, 2006, São Pedro - São Paulo. SIMCRO 2006. São Paulo: Universidade São Paulo, 2006.3. Alexandre Santos Soares. Determinação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos em amostras de Tillandsia usneoides. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Farmácia) - Universidade Estácio de Sá. Orientador: Robson Roney Bernardo.4. Bruno Raphael de Almeida Gomes. Pesquisas de Hidrocarbonetos Policíclicos aromáticos em amostras de Tillandsia usneoides. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Farmácia) - Universidade Estácio de Sá. Orientador: Robson Roney Bernardo.

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