Riscos associados ao transporte de cargas

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Riscos associados ao transporte de cargas Engº Antonio Fernando Navarro 1 Introdução O transporte de uma carga é representado pelo deslocamento da mesma seguindo um roteiro e uma rota com um objetivo específico. O transporte pode servir para se posicionar em um mesmo local os vários componentes do produto, para preparar o produto para ser conectado a outros ou aplicar o produto em um local de destino. As formas de transporte são ditadas não só pelo tamanho ou dimensões das cargas, como também seus pesos, urgências no deslocamento das mesmas ou necessidades outras como a de conexão entre seus vários componentes. Em atividades industriais há uma natural tendência de que as partes a serem movimentadas sejam produzidas e aplicadas em paralelo, reduzindo assim os cronogramas finais de produção, ou seja, o produto final é fabricado em partes, simultaneamente, em uma mesma fábrica ou fábricas distintas. Os riscos associados ao transporte de cargas podem significar perdas às próprias cargas transportadas, a pessoas ou a bens patrimoniais. Quando se menciona transporte de cargas, quase sempre se associa a atividade a ambientes industriais, onde as cargas passam a ser enormes equipamentos, que precisam ser movidos por várias razões e meios. Más uma das cargas mais importantes ou preciosas, que muitas vezes são transportadas são os seres humanos, seja em transporte público, ou em cestos, quando realizando serviços em linhas aéreas, ou se deslocando de embarcações de apoio para os conveses dos navios ou de plataformas. Há muitos incidentes nesse tipo de deslocamento, quase sempre provocados por ventos fortes que balançam os cestos ou gaiolas. Quando os cestos chegam a se chocar contra o costado das embarcações os operários ali embarcados podem se soltar e cair no mar, de alturas que podem chegar a 20 ou 30 metros. Seguidamente ouvimos ou assistimos cenas envolvendo o transporte, de modo geral, e os acidentes. São rotuladas como causas: imperícias, imprudências, negligências. Parece até 1 Antonio Fernando Navarro é físico, engenheiro civil, engenheiro de segurança do trabalho, mestre em saúde e meio ambiente, doutorando em engenharia civil, especialista em gerenciamento de riscos, engenheiro e professor da Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ – e-mail: [email protected]; [email protected].

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Riscos associados ao transporte de cargas

Engº Antonio Fernando Navarro1

Introdução

O transporte de uma carga é representado pelo deslocamento da mesma seguindo

um roteiro e uma rota com um objetivo específico.

O transporte pode servir para se posicionar em um mesmo local os vários

componentes do produto, para preparar o produto para ser conectado a outros ou aplicar o produto

em um local de destino.

As formas de transporte são ditadas não só pelo tamanho ou dimensões das

cargas, como também seus pesos, urgências no deslocamento das mesmas ou necessidades outras

como a de conexão entre seus vários componentes. Em atividades industriais há uma natural

tendência de que as partes a serem movimentadas sejam produzidas e aplicadas em paralelo,

reduzindo assim os cronogramas finais de produção, ou seja, o produto final é fabricado em partes,

simultaneamente, em uma mesma fábrica ou fábricas distintas.

Os riscos associados ao transporte de cargas podem significar perdas às próprias

cargas transportadas, a pessoas ou a bens patrimoniais.

Quando se menciona transporte de cargas, quase sempre se associa a atividade a

ambientes industriais, onde as cargas passam a ser enormes equipamentos, que precisam ser

movidos por várias razões e meios. Más uma das cargas mais importantes ou preciosas, que muitas

vezes são transportadas são os seres humanos, seja em transporte público, ou em cestos, quando

realizando serviços em linhas aéreas, ou se deslocando de embarcações de apoio para os conveses

dos navios ou de plataformas. Há muitos incidentes nesse tipo de deslocamento, quase sempre

provocados por ventos fortes que balançam os cestos ou gaiolas. Quando os cestos chegam a se

chocar contra o costado das embarcações os operários ali embarcados podem se soltar e cair no mar,

de alturas que podem chegar a 20 ou 30 metros.

Seguidamente ouvimos ou assistimos cenas envolvendo o transporte, de modo

geral, e os acidentes. São rotuladas como causas: imperícias, imprudências, negligências. Parece até

1 Antonio Fernando Navarro é físico, engenheiro civil, engenheiro de segurança do trabalho, mestre em saúde e meio ambiente, doutorando em engenharia civil, especialista em gerenciamento de riscos, engenheiro e professor da Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ – e-mail: [email protected]; [email protected].

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que essas palavras encontram-se inscritas no vocabulário gravado na mente das pessoas. Apesar de

apresentarem significados distintos quase sempre se encontram associadas às tragédias.

Neste paper iremos tratar de forma prática as questões que envolvem os riscos

associados a transportes de cargas, baseados em nossos estudos, pesquisas e avaliações de

atividades, onde imperícia, imprudência ou negligência foram fatores preponderantes.

Imperícia, Imprudência, Negligência

Excetuando-se os casos de incidentes ou acidentes provocados por falhas dos

equipamentos de guindar ou movimentar as cargas, quase sempre se os associa a falhas provocadas

pelos operadores. Nesse momento de análise dos acidentes, surgem as palavras: Imperícia,

Imprudência e Negligência. Nessa primeira discussão serão apresentados cada um desses temas.

Primeiramente sob a forma de definição da expressão e complementando a idéia com a associação

desses às falhas detectadas no transporte de cargas.

a) Imperícia

As definições para a palavra “imperícia” são: falta de habilidade, experiência ou

destreza; incompetência. A palavra possui como sinônimos: inabilidade (estado de uma pessoa

legalmente incapaz), inaptidão (falta de aptidão, incapacidade total: inaptidão para um trabalho),

incapacidade (falta de aptidão legal para gozar de um direito ou exercê-lo sem assistência ou

autorização: a incapacidade dos menores ou dos interditos foi estabelecida com o fim de os

proteger), incompetência (ausência de conhecimentos suficientes, inabilidade, ignorância) e

inexperiência (falta de experiência: a inexperiência da juventude).

A imperícia, apesar de apresentar vários sinônimos, significa um adjetivo

desqualificador para um trabalhador. Essa desqualificação, em grande parte, pode ser devido à

própria empresa que contrata o trabalhador, pois cabe a essa contratar pessoas hábeis para a

execução dos serviços, ou optar por dar a oportunidade para os trabalhadores mais empenhados,

capacitando-os.

Na atividade de transporte existem situações onde os serviços são simples, como o

de carregar um saco de cimento sobre um carrinho de mão, ou uma carga um pouco maior sobre

uma plataforma sobre rodas. Para tanto, não há a necessidade de maiores conhecimentos, basta

apenas a vontade do trabalhador para que a tarefa seja cumprida com êxito. Todavia, um simples ato

de imperícia do trabalhador, ao se desviar de objetos móveis ou fixos, no trajeto, pode causar a

queda da carga ou acidentes envolvendo a carga, o veículo transportador e objetos ou pessoas.

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Quanto maior for a carga, seja quanto ao peso e quanto ao volume maiores

deverão ser os cuidados necessários no transporte. Nesse caso, a imperícia do operador pode ser um

fator relevante para a ocorrência de acidentes.

Voltando às cargas menores, tomemos como exemplo o transporte de um feixe de

vergalhões através de uma plataforma de transporte, apresentada na imagem a seguir.

Se o trabalhador não tiver a perícia para executar a tarefa e nem a percepção dos

riscos, poderá empilhar os vergalhões uns sobre os outros. Assim que a carga estiver completa ele

puxará a plataforma e conduzirá a carga ao seu destino final. Um feixe de varas de aço – vergalhões

– empregados para a preparação das ferragens de uma estrutura de concreto armado (armado por

possuir armadura, ou ferragens) não é uma carga estável, porque as varas tem a secção circular e

também porque podem ter comprimento de até 12 metros, assim, a carga não fica contida no meio

de transporte, ultrapassando as extremidades. Se durante o transporte o trabalhador tiver que fazer

uma mudança súbita do traçado as varas podem se deslocar e até cair do carrinho. Também, por

terem grande comprimento, podem atingir pessoas que se encontrem próximas.

Um trabalhador hábil irá perceber que precisará prender o feixe de varas por meio

de cintas ou arames, e que deverá sinalizar as extremidades expostas com um tecido vermelho, ou

outra cor que chame a atenção das pessoas. Já o trabalhador inábil pode não ter essa mesma

percepção e conduzir o carrinho com os vergalhões soltos. Com o deslocamento do mesmo sobre

um piso irregular os vergalhões irão se soltar uns dos outros, podendo até cair do carrinho. Nesse

caso bem simples, que poderia ter sido substituído por caixas de madeira ou de papelão sobrepostas,

a carga sem uma correta fixação pode cair do carrinho e atingir pessoas.

Do conjunto de acidentes relatados, atribui-se à Imperícia mais de 40% de todos

os acidentes ocorridos. Nesses casos há falhas não só dos trabalhadores como também dos

supervisores, que permitiram que o transporte se desse sem as proteções requeridas.

No segundo exemplo temos a perícia. No transporte apresentado a seguir, de

cargas de grande dimensão –equipamentos para uma refinaria – percebe-se que a carga é muito

maior do que o veículo transportador. O centro de gravidade do conjunto carga + veículo fica bem

acima da carreta, podendo provocar o tombamento da carga e do veículo. Para que isso não ocorra a

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carga deve ser bem estaiada (presa por cabos de aço ou cintas) e o veículo transita em baixa

velocidade. Assim, tem-se menor probabilidade de tombamento da mesma.

Em outro exemplo, a seguir, a perícia é o elemento primordial para o sucesso do

transporte, pois os dois veículos transportadores devem estar perfeitamente alinhados, e na mesma

velocidade. Pela foto verifica-se também que os pneumáticos do caminhão estão perfeitamente

encaixados nas plataformas das carretas.

Há uma relação direta entre as dimensões da carga e o tamanho do veículo de

transporte. Na imagem a seguir pode ser avaliada uma plataforma de carga com 200 pneus, todos

com capacidade de mudar de direção sincronizadamente. Assim, fica mais fácil deslocar-se a carga

em todas as direções.

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Outro exemplo desses veículos especiais é o apresentado a seguir, utilizado para o

transporte de uma grande embarcação. Aqui também pode ser avaliada a perícia no posicionamento

e amarração da carga.

b) Imprudência

Ato contrário à prudência: o doente cometeu imprudências. Inconveniência,

inadvertência, indiscrição, temeridade. Possui como sinônimos: açodamento (ato ou efeito de

açodar ou de açodar-se; pressa, precipitação), atrapalhação (confusão, desordem; acanhamento),

azáfama (pressa; atrapalhação; grande afã), precipitação (ato ou resultado de precipitar ou

precipitar-se. Extrema velocidade; grande pressa; afobação. Rapidez em tomar uma resolução;

irreflexão) e pressa (urgência, presteza, afã. Impaciência, precipitação).

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A imprudência é resultado de vários fatores. Uma pessoa pode ser imprudente por

ser extremamente proativa, porém sem o conhecimento técnico necessário; pode ser imprudente por

realizar algo perigoso e sem uma proteção adequada – uma das frases mais comuns ditas pelo

imprudente é – faço isso há mais de 20 anos – confiando que por já haver feito o trabalho várias

vezes sem que não tenha ocorrido nada, isso continuará ocorrendo. De modo geral o imprudente

não mede consequências, ou seja, não se dá conta dos prováveis resultados de seu ato.

Um operário imprudente transportava esta caixa, sem os cuidados necessários,

quando um dos cabos de içamento rompeu-se e a carga caiu sobre uma tubovia.

Neste outro exemplo, acima, uma carga de pedras, em uma caçamba sem a tampa

traseira, desloca-se pelas irregularidades do piso, vindo a cair e provocando o quase tombamento do

caminhão. Podem até existir inúmeras explicações para o fato de a carga estar sendo transportada

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sem a tampa traseira do veículo, que, porém, não justificam o acidente. Algumas dessas explicações

podem estar associadas a um deslocamento curto, ou à facilidade de descarga das pedras, com uma

pequena elevação da caçamba do caminhão. A irregularidade da carga fez com que o caminhão se

inclinasse perigosamente.

c) Negligência

A negligência pode estar associada à falta de cuidado, de aplicação, de exatidão;

descuido, incúria, displicência, desatenção. Muitos podem ser os fatores causadores de um ato

negligente, que responde por quase cinquenta por cento dos acidentes. O toque de um celular, o fato

do operário passar a prestar a atenção à conversa dos outros, a momentânea desatenção causada pela

entrada de pessoas estranhas ao ambiente do trabalho ou o deslocamento de veículos pode ser

motivo para a ocorrência de acidentes.

Na fotografia a seguir tem-se a elevação e transporte de um submarino através de

duas cábreas. A falta de cuidado no nivelamento da carga ou no controle da velocidade das balsas

pode causar o tombamento ou queda da carga.

Submarino sendo içado por um conjunto de dois guindastes flutuantes.

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Içamento, para posicionamento de módulo de plataforma fixa;

A operação ilustrada na foto anterior é a do posicionamento de um módulo de

plataforma fixa sobre a jaqueta (base). Para que a operação seja um sucesso ficam próximos aos

pontos de apoio operários, repassando para o supervisor da operação as informações para o correto

encaixe do módulo na jaqueta. A menos desatenção pode significar danos no suporte da jaqueta e

semanas de retrabalho.

Neste exemplo a carga é acondicionada em containers e esses são transportados por navios

especiais.

Apesar do transporte de containers em navios parecer uma atividade simples e

rotineira, a carga, como um todo, deve ser bem posicionada, para que a embarcação não fique

desequilibrada e venha a tombar sob a ação de uma onda mais forte.

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Exemplos de cargas transportadas por embarcação especial. Esse tipo de

embarcação é submergida para que a carga, que se encontra flutuando, seja posicionada na

embarcação. Depois de deslastreada a embarcação sobe a seu nível normal de flutuabilidade.

Transporte de carga por empilhadeira móvel.

Muitas vezes, no transporte por empilhadeira móvel, a carga obstrui a visão do

operador de um desnível do piso, podendo causar a queda da mesma. Por ser um transporte

silencioso, as pessoas nas proximidades devem ser alertadas dos riscos.

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Transporte de equipamento especial com cavalo mecânico especial e carreta

dupla. São atividades extremamente complexas e em baixa velocidade. Nesse tipo de transporte não

só deve existir um planejamento rigoroso da atividade como também o controle e supervisão da

atividade, representada pelo conjunto veículo transportador + carga transportada.

Deslocamento de embarcação com o emprego de quatro trolleys, cujas rodas são

acionadas individualmente, por meio de controles centralizados. Os cuidados comentados

anteriormente devem ser redobrados quando os meios de transporte são múltiplos.

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Transporte de cargas superpostas, para racionalização dos meios de transporte.

Transporte de carga pesada com dois cavalos mecânicos, um à frente e outro à ré.

Veículo para transportes especiais, com o centro de gravidade mais baixo do que o normal,

oferecendo maior segurança durante o transporte.

Os riscos derivados da imprudência, imperícia ou negligência podem potencializar

a quantidade de ocorrências de incidentes e acidentes, principalmente em função fatos outros como:

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• Prazo para a entrega;

• Características do produto se frágil ou não;

• Cargas especiais quanto ao peso e ou dimensões;

• Capacidade de suportação do peso da mercadoria transportada, associado ao peso do veículo

transportador;

• Locais de embarque e de desembarque;

• Locais de difícil acesso para o carregamento ou descarregamento;

• Necessidade de equipamentos especiais para a descarga dos materiais;

• Meios para a proteção mesmo que temporária das cargas;

• Custos associados ao transporte;

• Meios de transporte disponíveis;

• Necessidade de embalagens especiais;

• Possibilidade de transporte a granel ou fracionado, entre outras questões.

Não se pode ignorar que quanto maior é a quantidade de manuseios da mercadoria

maiores são as possibilidades de existência de danos aos bens. Isso se dá, em grande parte, devido

às atividades de estiva.

Tipos de cargas transportadas

As cargas transportadas podem ser ter as seguintes características físicas:

• Cargas sólidas;

• Cargas líquidas;

• Cargas gasosas;

As formas de como as cargas podem ser acondicionadas são:

• Tambores metálicos;

• Caixas de madeira, plásticas ou de papelão;

• Containers para sólidos, líquidos ou gases;

• Containers pressurizados ou climatizados;

• Pallets metálicos;

• Carga a granel disposta no meio de transporte;

• Cargas acondicionadas em bags ou outros meios de contenção para cargas à granel;

• Cargas sem embalagem, etc..

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Em função das características físicas das cargas e das formas de como são

acondicionadas, são definidas as estratégias de transporte. Em uma obra civil, para a montagem da

estrutura da construção, por exemplo, em concreto armado, são necessários materiais, que

aglomerados, misturados e posicionados possibilitam que a estrutura seja erigida. Assim, em vista

dos volumes de materiais empregados, para acelerar-se o processo de construção, são preparadas no

canteiro de obras as fôrmas de madeira ou metálicas, onde serão acondicionadas as ferragens e o

concreto. As ferragens podem chegar em carretas e cortadas e preparadas no canteiro de obras, ou já

virem prontas do fornecedor. O concreto pode chegar em betoneiras e seu lançado por bombas,

sendo bombeados diretamente nas formas. Para cada tipo de carga e forma de transporte há riscos

associados, potencializados por falhas decorrentes de imprudência, imperícia ou negligência.

Avaliação Global – ferramentas de análise

Vários são os aspectos a serem observados nas atividades de transporte de cargas,

alguns dos quais podem ser redundantes, ou seja, mais de um fator pode ter contribuído para a

ocorrência de acidentes ou incidentes, como por exemplo, o rompimento de uma eslinga, sem que a

carga tenha ido ao solo, em uma atividade de içamento conjugada com a movimentação. As causas

básicas podem ser definidas através de pesquisas e análises dos acidentes. Neste paper utilizou-se

como base para a análise uma listagem de 221 acidentes de transporte de cargas, sem se distinguir,

nessa fase, as características das cargas. A relação das causas básicas é a apresentada a seguir:

Causas básicas % acidentes

Rompimento de lingadas 55% Mau dimensionamento dos pesos e dispositivos de içamento 30% Tombamento do veículo transportador 15% Irregularidades no piso 25% Movimentação em função do vento 10% Balanço excessivo em função dos desníveis de terreno 15% Quebra da lança de içamento do equipamento de guindar 5% Falhas operacionais 40% Falhas no planejamento das atividades 35% Quebra dos acessórios de içamento da carga 20% Defeito de materiais 65% Quebra dos pontos de amarração 10% Quebra dos pontos de pega 10% Rompimento das embalagens 45% Queda do material transportado por má estiva 20% Dimensionamento inadequado do centro de gravidade 15% Impacto contra objetos fixos ao longo do caminho 25% Impacto contra objetos móveis 20%

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(Navarro, 2012)

Acidente provocado pelo choque da carreta contra um poste, posicionado em um trecho com curva.

Transporte especial com duas carretas.

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Nesta foto, de movimentação de carga para montagem da extremidade de uma

torre, os operários ficam posicionados de modo a fixar a extremidade por meio de pontos de solda

ou parafusos. Qualquer desatenção do operador do guindaste, ou a incidência de ventos mais fortes

pode causar acidentes fatais.

Evitando os riscos

Em atividades de transporte não se consegue eliminar riscos, mas sim mitiga-los.

A razão é devida ao fato de estarem presentes inúmeros fatores que passam a contribuir para as

ocorrências. O desnivelamento súbito do piso por uma tábua deixada no caminho, a falta de

conferência da tensão dos cabos de amarração, o rompimento de cabos ou cintas, o surgimento de

ventos mais fortes balançando a carga, um mal súbito do encarregado ou do operário responsável

pela operação do equipamento, enfim, inúmeros outros fatores podem ocorrer em conjunto ou

isoladamente e, o que é pior, muitas vezes sem terem sido previstos nos planejamentos da atividade.

Por essa razão é que se torna quase impossível eliminar-se o risco. Trata-se, de modo análogo, à

tentativa de solucionar-se uma equação matemática com várias incógnitas, sem que se tenha meios

de encontra-las para a solução.

Os principais riscos que devem ser avaliados para a realização devem ser

extraídos da planilha apresentada anteriormente. Mas, pode-se simplificar essa análise em alguns

tópicos, como a saber:

1. Toda a atividade, por mais simples que seja, deve ser planejada. O planejamento deve

contemplar não só a própria atividade do transporte, como também o ambiente onde essa

atividade se desenvolverá. Para movimentações com cargas de grandes dimensões e peso

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deve-se utilizar modelos de simulação em 3D, que possibilitam obter-se alternativas mais

seguras;

2. A carga transportada deve ser observada como um todo, avaliando-se, no estudo:

• Dimensões;

• Peso;

• Centro de gravidade do conjunto;

• Centro de gravidade do componente de maior peso;

• Possibilidade de modularizar-se o transporte;

• Existência de protuberâncias, extremidades e ressaltos, que podem ser pontos de

contato com objetos durante o transporte;

• Utilização de lingadas com coeficiente de segurança maior ou igual a 5;

• Existência de pontos de pega ou de amarração das lingadas;

• Inspeção de todos os pontos, suas conexões e soldas;

• Inspeção de todo o material empregado na atividade, cabos e todos seus acessórios;

• Definição do meio de transporte, assegurando-se que haja uma folga mínima entre a

capacidade do mesmo e o peso da carga superior a 3;

• Verificação se todos os componentes do meio de transporte;

• Avaliação do percurso, verificando:

� Possíveis pontos de contato,

� Irregularidades do piso,

� Restrição quanto à largura,

� Possibilidade de a carga ser deixada sobre calços caso haja ventos com

velocidade superior a 15km/h,

� Possibilidade do equipamento de transporte ficar parado por razões técnicas,

sem que haja o estorvo na circulação dos demais veículos,

� Proximidade de linhas elétricas,

� Proximidade da movimentação de outras cargas,

� Movimentação de pessoal sob a carga,

� Obstruções a serem ultrapassadas,

� Existência de aclives ou declives.

• Local onde a carga será depositada;

• Existência de guias ou de pontos de conexão com outros elementos;

3. Toda a atividade de movimentação de cargas de grandes dimensões ou pesos deve ter

APENAS UM RESPONSÁVEL, a quem todos devem se reportar;

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4. TODOS os envolvidos na operação são importantes e necessários. Assim, deve existir um

meio seguro de comunicação com as pessoas. O operador do equipamento ou operadores, já

que há transportes com vários equipamentos envolvidos, como apresentado em algumas

fotografias anteriores, devem ter sistema de comunicação segura, já que as sinalizações

habituais por gestos podem ser mal interpretadas ou entendidas, podendo ser a causa de um

acidente;

5. Especial atenção deve ser dado a trechos do percurso com curvas ou com mudança do

alinhamento da estrada, principalmente se a carreta for longa, com mais de 30 metros.

Conclusão

Por fim, uma atividade de transporte de carga é perigosa e pode apresentar

complexidades que aumentam o grau de risco. Em muitas dessas operações os trabalhadores devem

se aproximar tanto quanto possível para o posicionamento de spinas (pinos) ou parafusos de

fixação. Nesses momentos, qualquer balanço da carga pode significar pessoas mortas ou com

graves lesões.

Os acidentes somente podem ser considerados como algo normal quando um ou

vários procedimentos de segurança são descumpridos. Basta que o planejamento seja mal executado

para que a probabilidade de ocorrência de acidentes cresça exponencialmente. Isso costuma ocorrer

quando a empresa não possui a adequada cultura de segurança, quando as atividades são realizadas

“para ontem” e quando há improvisos. Somente estes três itens citados neste parágrafo já seriam

responsáveis por mais de 60% das ocorrências de acidentes.