RITO Escoces - Historia Da Fundacao Do G33

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História da Fundação do Grau 33° e do Primeiro Supremo Conselho do Mundo A Maçonaria Operativa tinha somente dois Graus: Aprendiz e Companheiro. Mestre não era Grau e sim uma função que competia ao responsável pela construção. Não tinha quaisquer influências da Alquimia, Cabala, Astrologia, Rosacrucianismo, Ocultismo, enfim, de qualquer segmento esotérico como tal hoje, muitos Maçons pretendem que assim seja. Não tinha Templos, as reuniões, como todos sabem, eram realizadas em tabernas. Durante a reunião de Maçons não se abria qualquer Livro da Lei. Não existia o simbolismo das ferramentas. Os Símbolos eram desenhados no chão com giz ou carvão. Dois Símbolos que já existiam e constam dos Old Charges eram as Colunas que hoje conhecemos como J e B, mas que, naquela época, não portavam no meio de seu corpo as referidas e polêmicas letras que têm e que geram tanta discussão e que também apresentam outros significados simbólicos um tanto diferentes dos que hoje conhecemos. O Escocesismo ou Escocismo é caracterizado por uma série de Ritos que nasceram na França a partir do ano 1649 e que tiveram um desenvolvimento bastante peculiar e sincrético, recebendo as mais variadas denominações e influências, quer filosóficas, morais, bíblico-judaicas, herméticas, rosacrucianas, templárias, políticas, religiosas e sociais, além dos modismos das épocas dos cavalheiros e gentis-homens das monarquias e reinados e também da História da Humanidade, tudo isto acontecendo num período bastante transformador de costumes.

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A história da fundação do Rito Escocês Antigo e Aceito com seus 33 graus.

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História da Fundação do  

Grau 33°   e do

Primeiro Supremo Conselho do Mundo  A Maçonaria Operativa tinha somente dois Graus: Aprendiz e Companheiro.

Mestre não era Grau e sim uma função que competia ao responsável pela

construção. Não tinha quaisquer influências da Alquimia, Cabala, Astrologia,

Rosacrucianismo, Ocultismo, enfim, de qualquer segmento esotérico como

tal hoje, muitos Maçons pretendem que assim seja. Não tinha Templos, as

reuniões, como todos sabem, eram realizadas em tabernas. Durante a

reunião de Maçons não se abria qualquer Livro da Lei. Não existia o

simbolismo das ferramentas. Os Símbolos eram desenhados no chão com

giz ou carvão. Dois Símbolos que já existiam e constam dos Old Charges

eram as Colunas que hoje conhecemos como J e B, mas que, naquela época,

não portavam no meio de seu corpo as referidas e polêmicas letras que têm

e que geram tanta discussão e que também apresentam outros significados

simbólicos um tanto diferentes dos que hoje conhecemos.

O Escocesismo ou Escocismo é caracterizado por uma série de Ritos que

nasceram na França a partir do ano 1649 e que tiveram um desenvolvimento

bastante peculiar e sincrético, recebendo as mais variadas denominações e

influências, quer filosóficas, morais, bíblico-judaicas, herméticas, rosacrucianas,

templárias, políticas, religiosas e sociais, além dos modismos das épocas dos

cavalheiros e gentis-homens das monarquias e reinados e também da História da

Humanidade, tudo isto acontecendo num período bastante transformador de

costumes.

Em 1725 foi criado o Grau de Mestre e em 1738 ele foi acrescentado oficialmente

aos dois primeiros Graus e incorporado definitivamente à Ordem. Criaram a lenda

de Hiram, a qual sabemos de sobejo não ter compromisso com a realidade

histórica ou religiosa e que por sinal ninguém sabe quem foram em realidade seus

inventores, mas sabemos que ela levou mais ou menos uns sessenta anos para

tomar a redação que hoje conhecemos, bem como suas mensagens ficarem

definitivamente consagradas.

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Se o Grau de Mestre já foi um acréscimo dentro da própria Maçonaria simbólica,

achar que os Maçons ficariam satisfeitos com ele sendo o último seria muita

inocência nossa.

Enquanto a Maçonaria Inglesa através do seu relacionamento direto com a Igreja

Anglicana e com o Estado, permaneceu tradicionalmente ligada à Bíblia, a

Maçonaria Francesa numa liberalidade a toda prova, aceitou e adotou uma

amálgama de doutrinas de concepções heterogêneas, o que acabou sendo o

substrato para o aparecimento dos Altos Graus do Escocesismo ou Escocismo e

por continuidade ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Se nos ativermos à história do

Rito, no início os franceses acompanharam os Modernos das Lojas inglesas, mas

começaram a acrescentar progressivamente os Altos Graus. Há quem atribua aos

franceses a criação do Terceiro Grau, ou seja o Grau de Mestre.

Alguns autores atribuem um desenvolvimento cronológico na criação dos Altos

Graus que seria assim: seis Graus até 1737, sete Graus até 1747, nove Graus

até 1754, dez Graus até 1758, vinte e cinco Graus até 1801 e daí para frente

trinta e três Graus. Entretanto esta cronologia é rejeitada por outros. Entretanto a

história está aí para nos comprovar, pois como todos os franceses foram

acrescentando Graus e mais Graus na Maçonaria no decorrer do século XVIII.

A causa da criação dos Graus acima dos três primeiros é ainda um tanto obscura

e divergente entre os autores. Poderia ser de fundo político, ou por interesses

pessoais ou a colação de títulos cavalheirescos e pomposos, os quais

alimentariam a vaidade dos nobres, ou ainda razões espirituais ou até jesuíticas, já

que o jesuitismo era ligado aos Stuarts, caracterizando assim uma causa política.

Porém com relação às origens aparecem três possibilidades a saber:

a) O famoso discurso do Cavaleiro Ramsay;

b) O Capítulo de Clermont;

c) O Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente.

Conforme alguns autores, ainda considerando as origens do Rito, referem-se a

sete categorias a saber: 1º) Graus Simbólicos primitivos e universais;

2º) Graus de desenvolvimento dos Graus Simbólicos e universais;

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3º) Graus baseados no Iluminismo do Tribunal da Santa Vingança ou

Santa Vehme;

4º) Graus judaicos e bíblicos;

5º) Graus Templários;

6º) Graus Alquímicos e Rosacrucianos;

7º) Graus Administrativos e Superiores.

 

Entre as lendas do início das origens dos Altos Graus aparece o Cavaleiro de

Ramsay (André Michél – 1686-1743), homem erudito, nascido na Escócia,

partidário dos Stuarts, protegido do Bispo de Fenelon com ligações em todas as

cortes da Europa, ao qual atribui-se ter sido o inspirador da criação dos Graus

Superiores e ter ajudado a elaboração dos Graus Simbólicos.

O seu famoso discurso que foi escrito em 1737, mas que talvez nunca tenha sido

lido em qualquer Loja, ou apresentado em qualquer assembléia de Maçons,

podendo até ser apócrifo segundo alguns autores, pois acredita-se que haja pelo

menos quatro versões do mesmo, foi distribuído fartamente em todas as Lojas da

França e países vizinhos. Neste documento Ramsay faz apologia que a Maçonaria

seria originária dos Templários, o que não é verdade, tece comentários pela

primeira vez enfatizando hierarquia na Ordem, proclama o ideal maçônico na

Fraternidade e num mundo sem fronteiras, tentando impingir uma falsa

antigüidade e nobreza à Maçonaria.

Fez uma proposta às Lojas inglesas para acrescentarem mais três Graus aos já

existentes (Mestre Escocês, Noviço e Cavaleiro do Templo). A Maçonaria inglesa

rejeitou. Estes três Graus teriam sido, segundo Ragon, criados por Ramsay.

Fez uma proposta às Lojas francesas para que se acrescentassem mais sete

Graus Suplementares. Também não foi aceito. Mas de qualquer forma a partir daí

começaram as introduções templárias e rosacrucianas e os Altos Graus

começaram a aparecer. Muitos autores não aceitam este fato, rejeitam a

participação de Ramsay. Entretanto, outros, como Ragon, a apóiam.

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Segundo Paul Naudon, o fato mais importante acontecido após o polêmico

discurso de Ramsay, foi a criação do Capítulo de Clermont pelo Cavaleiro de

Bonneville em 1754. Os Irmãos que criaram este Corpo pretendiam continuar os

mesmos princípios da Loja de Saint-Germian-en-Laye, fundada muito tempo

antes, ou seja, praticar os Altos Graus, criando sete Graus e opondo-se à política

da Grande Loja da França, a qual seria posteriormente dissolvida em 24.12.1772.

O Capitulo de Clermont teve uma duração efêmera, sua existência foi muito curta,

mas valeu pelas conseqüências, pois uma das suas ramificações foi a fundadora

do Conselho dos Imperadores do Oriente do Ocidente, Grande e Soberana

Loja de Jerusalém, que organizou um Rito de vinte e cinco Graus chamado

Rito de Perfeição ou de Heredom. Seus membros, conhecedores de várias

tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo Maçônico as

influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se dizerem herdeiros dos

Ritos de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning e Heredom. Estava

assim decretada a influência esotérica na Ordem. Em 1762, sob os auspícios

deste Conselho, foram publicados os Regulamentos e Constituição da

Maçonaria de Perfeição, elaborados por nove comissários (Constituição de

Bordeaux em 21.9.1762).

A fundação destas potências mencionadas não nos dão conta nem idéia do

processo político-maçônico dos bastidores, das desavenças internas, das histórias

e estórias relatadas, das perseguições entre os Irmãos, chegando-se até a

agressões, dos interesses pessoais, das vaidades de tal forma que quando

analisamos os fatos chegamos à conclusão que muita coisa que acontece no

presente já aconteceu no passado. Os homens continuam os mesmos. A

Maçonaria mudou mas os homens não mudaram...

Em 1761 o Conselho de Imperadores teria fornecido através do Irmão Chaillon

de Joinville, substituto Geral da Ordem e mais oito Irmãos da alta hierarquia que

também teriam assinado o documento, uma patente constitucional de Grande

Inspetor do Rito de Perfeição ao Irmão Etienne ou Stephen Morin,

autorizando-o a estabelecer e perpetuar a Sublime Maçonaria em todas as partes

do mundo e investindo-o de poderes de sagrar novos Inspetores. Chegando à

Colônia francesa de São Domingos (hoje Haiti), no mesmo ano pôs-se a

trabalhar. Há fortes suspeitas de que este documento seja fraudado. Também

segundo muitos autores, Etienne teria comercializado estes Altos Graus. Na

realidade, o Rito de Perfeição ficou muito mal trabalhado durante mais ou menos

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trinta anos. Foi esquecido o seu conteúdo esotérico e sua ritualística muito mal

usada. Mas de qualquer forma os americanos aceitaram muito bem o Rito, e ainda

acharam que os vinte e cinco Graus eram insuficientes para abranger toda a

iniciática maçônica.

Morin teria entregue certificados ou carta patente a outros Irmãos e um deles foi

um Irmão de nome Henry A. Francken, também de origem judaica, que teria

estabelecido o Rito em Nova York. Outro grupo introduziu o Rito em

Charleston em 1783.

Na mesma colônia francesa São Domingos (Haiti) alguns anos mais tarde

apareceram os Maçons, o Conde Alexandre François Auguste de Grasse Tilly

e o seu sogro Jean Baptiste Delahogue, os quais posteriormente em 1793

mudaram-se para Charleston. Grasse Tilly já tinha pensado em fundar um

Supremo Conselho nesta cidade. Lá encontraram mais dois Maçons: Frederik

Dalcho e John Mitchel. Existem autores que afirmam que foi Dalcho quem teve a

idéia de criar mais oito Graus, e existem autores que sustentam que o último Grau

foi Grasse Tilly quem criou.

Assim começou um trabalho de poucos Irmãos sem serem conhecidos nos

Estados Unidos e especialmente no mundo maçônico da Europa, e que culminou

com a criação de um Rito, calcado em cima do Rito de Heredom ou de Perfeição.

Estes quatro Irmãos e mais seis fundaram o primeiro Supremo Conselho do

Mundo em 31.5.1801 na cidade de Charleston. Só que a partir daí surgiu uma

das maiores balelas do Rito nascente que só se tornaria conhecida a partir de 4 de

dezembro de 1802, quando foi expedida uma circular comunicando o que havia

acontecido e divulgando o sistema de 33 Graus e atribuindo que a sua

organização teria sido feita em 1786 por Frederico II da Prússia.

A versão dada pelo Supremo Conselho da França refere que Carlos Stuart, filho

de Jaime III, o qual sendo considerado como chefe de toda a Maçonaria, conferiu

o título de Grão-Mestre a Frederico II, o Grande, rei da Prússia (1712-1786)

nomeando-o seu sucessor e como tal também chefe dos Altos Graus. Em 1782 ele

confirmava as Constituições e Regulamentos de Bordeaux. E daí a quatro anos ele

transferia seus poderes a um Conselho de Inspetores Gerais e, ao mesmo tempo,

acrescentava mais oito Graus, e em 1786 publicava sua famosa Constituição.

Entretanto esta versão não tem o menor reconhecimento entre os bons autores

maçônicos e entre eles Findel, Ragon, Lindsay Rebold, Thory Clavel e tantos

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outros. Um deles, Rebold, afirma que Frederico foi Iniciado em 15.8.1738 em

Brunswich e que em 1744 a Loja "Três Globos" de Berlim, fundada por

artistas franceses, foi por ele elevada à categoria de Grande Loja, da qual foi

aclamado como Grão-Mestre, exercendo mandato até 1747. Desta época para

frente ele afastou-se da Ordem, e quando apareceram os Altos Graus ele não

só não os aprovou, como os combateu. Eles foram introduzidos na

Alemanha pelo Marques de Bernez.

Então como aconteceu e por que esta grande mentira?

Simplesmente, porque o grupo de dez Maçons que fundou um novo Rito, não tinha

o respaldo histórico e credibilidade, para se impor perante o mundo maçônico da

época, então foi mais estratégico e cômodo atribuir a fundação, em 1786, do Rito

Escocês Antigo e Aceito a Frederico da Prússia, imputando, inclusive, ao Rito uma

origem anterior: Frederico gozava de boa reputação política, simpático à causa da

separação dos Estados Unidos da Inglaterra, inclusive enviando soldados à

América para combater as forças inglesas. Só que em 1801, Frederico já tinha

falecido. O interessante é que até a presente data, muitos Rituais dos Graus

Superiores mencionam esta balela.

Estava assim fundado no dia 31.5.1801 nos Estados Unidos, o Rito Escocês

Antigo e Aceito, calcado numa mentira histórica, aceita ainda hoje em dia como se

fora uma verdade intocável.

DOCUMENTOS BÁSICOS DO ESCOCESISMO OU ESCOCISMO

a) O Discurso de Ramsay em 1738;

b) Constituição de 1762, organizada pelo Conselho de Imperadores do

Oriente e do Ocidente;

c) A Patente de Stefhen ou Etienne Morin emitida em 27.8.1761,

assinada pelo Irmão Chailon de Joinville e demais autoridades

mandatárias dos Graus Eminentes;

d) Os novos Institutos Secretos e Fundamentais que foram atribuídos

de forma inverídica a Frederico II e que, apesar de datarem de 1786,

foram elaborados, posteriormente;

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e) Constituições, Estatutos e Regulamentos para o Governo do

Supremo Conselho dos Inspetores Gerais também levando autoria de

Frederico II indevidamente;

f) As resoluções do Congresso de Lausane em 1875.

BIBLIOGRAFIA

1. CASTELLANI, José. Rito Escocês Antigo e Aceito – História, Doutrina e

Prática.

2. PROBER, Kurt. Fredericus II, o Grande e a Maçonaria.