Ritual e Performance 4 Estudos Classicos-9788542102673

16
Ritual e performance maria laura cavalcanti [org.] 4 estudos clássicos coleção SOCIOLOGIA & ANTROPOLOGIA ritual e performance_miolo_v28.indd 3 24/09/14 17:21

description

introdução.

Transcript of Ritual e Performance 4 Estudos Classicos-9788542102673

Ritual e performancemaria laura cavalcanti [org.]4 estudos clssicoscoleoSOCIOLOGIA & ANTROPOLOGIAritual e performance_miolo_v28.indd 3 24/09/14 17:21SumrioIntroduo9Maria Laura Viveiros de Castro CavalcantiA dana21Edward Evan Evans-PritchardFestivais rituais e coeso social no interior da Costa do Ouro 39Meyer Fortes Um Ritual de Realeza entre os suazi59Hilda KuperRitual e simbolismo entre os nyakyusa103Monica Wilsonritual e performance_miolo_v28.indd 7 24/09/14 17:219IntroduoMaria Laura Viveiros de Castro CavalcantiNatradioantropolgica,anooderitualarticulavaliososestudos etnogrfcosaumaexpressivaproduoconceitual.Todateoriado ritual busca elucidar a natureza simblica da ao humana e, nesse sen-tido, converge para uma viso geral da cultura e da vida social. A genea-logia da noo de ritual confunde-se com a histria da disciplina, ini-ciada no ltimo quartel do sculo XIX com as obras seminais de James Frazer(1981),EdwardBurnettTylor(1970)eRobertsonSmith(2005). Em especial, o fecundo livro de mile Durkheim, As formas elementares da vida religiosa (1996), publicado em 1912 no contexto do empreendi-mentocoletivodaEscolaSociolgicaFrancesa,renovouaabordagem da vida social ao atribuir ao ritual um lugar criativo central na produo simblica de um grupo humano. Abriu-se ento um enfoque conceitual abrangente e inovador cujos desdobramentos se ramifcam nas obras de autorescomoBronislawMalinowski(1976),AlfredReginaldRadclife Brown(1965),MaxGluckman(1962),EdmundLeach(1995),Gregory Bateson(2008),MaryDouglas(1976),VictorTurner(1996),Stanley Tambiah (1985), Cliford Geertz (1973), Roberto DaMatta (1979), Mariza Peirano (2001), Valrio Valeri (1985), entre tantos outros.O tema ritual insiste, assim, em atravessar fronteiras internas dis-ciplinapercorreaantropologiapoltica,econmica,dareligio,da arte, urbana, a etnologia indgena, os estudos da cultura popular, os estu-dos de gnero, a etnomusicologia, para no falar dos campos da dana, da performance, do teatro. E reaviva entre ns, muito saudavelmente, a ritual e performance_miolo_v27.indd 9 23/09/14 14:1510ritual e performance: 4 estudos clssicosinspirao maussiana em sua busca da apreenso do fato social total e, sobretudo, do homem total (MAUSS, 2003). Com o ritual, atravessamos tambm fronteiras disciplinares externas em proveitosos dilogos com ahistria,asociologia,apsicanlise,aarteeosestudosdaculturade modo geral. Noplanoetnogrfco,ossignifcadosassumidospeladistino entreritualenoritualvariamamplamente(VALERI,1994).No h,entretanto,comojassinalouTambiah(1985),sociedadehumana quenofaaessadistinodealgummodo,assimdemarcandotem-poseespaosextraordinriosemcontrapontoadimensesordinrias ou cotidianas da vida coletiva (DAMATTA, 1979). Em um sentido mais estrito,portanto,designamoscomorituaisessesagregadosdecondu-tas e aes simblicas que, sempre feitos e refeitos no curso do tempo, permeiamaexperinciasocial,conferindo-lhesgraa,intensidadee ritmo prprios. Sua principal caracterstica, ou seu principal apelo, o fato de nos trazerem sempre para o solo vital e concreto da experincia humana feita de cores, sabores, cheiros, visualidades, danas, gestos, vocabulrios,pensamentos,melodias,interaeserelaes,processos, confitos e tenses, sentimentos, emoes e afeies. Por essa razo, os rituais confguram portas de entrada privilegiadas para a compreenso deprocessosdeelaboraodasidentidadessociais,daconstruode subjetividadesedanaturezadinmicaesempretensadaexperincia social (CAVALCANTI; GONALVES, 2010).Comopartedeminhaspesquisassobrerituaisfestivosdacultura popularcontempornea(CAVALCANTI,2006a,2006b,2002,2000, 1999), ofereci inmeras vezes, tanto na graduao como na ps-gradua-o, disciplinas que buscavam explorar o potencial analtico e refexivo articuladopelanooderitual.Emespecial,noscursosoferecidosna graduao, ressenti-me muitas vezes da falta da traduo de textos cls-sicos, para mostrar aos alunos o interesse contemporneo desses estu-dos. As tradues dos artigos aqui reunidos foram realizadas de 2009 a 2010 com o intuito de suprir essa lacuna e foram revistas mais uma vez para integrarem o presente volume.11Registro os agradecimentos a Igor Mello Diniz, na poca meu aluno de Iniciao Cientfca no curso de Cincias Sociais do IFCS/UFRJ, que trabalhou comigo na traduo de trs dos artigos.ritual e performance_miolo_v27.indd 10 23/09/14 14:1511introduoOs textos selecionados podem ser situados na chamada antropolo-gia social inglesa, de fundo estrutural-funcionalista e essa demarcao merecealgumasconsideraes.Apotnciaconceitualdaperspectiva estruturalista (LVI-STRAUSS, 1964, 1967, 1971, 1975, 1976 a e b), e as cr-ticasps-modernasaospadresnarrativoseetnogrfcosdaschama-das monografas clssicas (CLIFFORD, 1998; GONALVES, 1998) tiveram como inadvertido efeito um certo ocaso, nos debates contemporneos, justamentedasproduesabarcadassobarubricaestrutural-funcio-nalista.Trata-sedeumindevidoesquecimento,poisessaproduo, degrandeimpactonaantropologiamundialentreosanos1930-1970, abriga uma rica tradio etnogrfca na qual se destaca uma ntida preo-cupao com as dimenses rituais da vida social e um fecundo interesse na conceituao da ao simblica. Dispomosemportugusdealgumasboastraduesdeobrasde alguns desses autores entre eles Edmund Leach (1978, 1995, 2001), Mary Douglas (1976, 2004), Victor Turner (1969, 2005, 2008), Evans-Pritchard (1978,1993,2005),GregoryBateson(2008).DeMaxGluckman(1974, 2009) e Meyer Fortes (1996), dispomos de tradues de artigos isolados, e de outros como Audrey Richards (1992), James Peacock (1974), Monica Wilson (1967, 1970), Hilda Kuper (1947a, 1947b), de nada dispomos, ao que eu saiba.NocursodeumaanlisemaisdetidadaobradeVictorTurner (CAVALCANTI, 2007, 2012, 2013), ao buscar seus interlocutores mais pr-ximos, seu contexto de poca e suas fontes de inspirao, deparei-me com os quatro textos aqui reunidos e com o desejo de traduzi-los, tornando-os maisacessveisespecialmenteaosalunosdegraduao,dequemno exigimosaleituraemingls.Sotodosescritosdeafricanistas2ebem sintetizamadensidadeetnogrfca,narrativaeconceitualdaspesqui-sas realizadas por seus autores. Com eles podemos transcender a leitura maismecnicadasconceituaescannicasdoestrutural-funciona-lismo,que,despojando-asdecontedoetnogrfcoedasformulaes mais criativas e heterodoxas, tendem a ver no ritual apenas um reforo dasnormaseaexpressodeconfitosquesempre,afnal,rumamem direo restaurao do equilbrio e da coeso social.2Ver a respeito Shumaker, 2001.ritual e performance_miolo_v27.indd 11 23/09/14 14:1512ritual e performance: 4 estudos clssicosSoquatroestudosclssicos,quemantmvivoofrescordesua escritaedesuasdescobertasetnogrfcas,interessadosnoproblema perenedaproduoereproduodovnculosocial.Seuslimitesno ofuscam suas qualidades e a leitura contempornea renova seu interesse, poislanamnovaluzsobrequestessempreatuais:comoexpressaro que est aqum ou alm das palavras? Por que e como, afnal, danamos, cantamos, e celebramos as mais diversas ocasies e situaes sociais?A dana, de Evans-Pritchard [1902-1973], publicado originalmente em1928,abreacoletnea.Escritocomaluminosaelegnciadeestilo do autor, a etnografa da dana da cerveja entre os azande, no norte da fricaCentral,desdobrasuasmuitasfunespolticas,econmicas, afetivas, estticas, expressivas e religiosas. Desvenda tambm o confito eadisputacomodimensesrelevantesdadanazande,quedeveser sempre situada no conjunto do cerimonial religioso zande. Ao fnal da inquirio, o problema da signifcao parece recobrir a noo de fun-o,poisoautorcorrelacionaaalegriadamultidoquechegaparaa dana pblica s tarefas fnebres do crculo mais ntimo de parentes que realizamascerimniasdedicadasaosespritosdosmortos,deixando entrever a ideia de um sistema cultural em ao. Como sabido, a estreia deEvans-Pritchardnaantropologiamundialocorreriacomapubli-caodeBruxaria,orculosemagiaentreosAzande,em1937.Como observouGaley(1991),esselivrosuscitounosanos1960/1970debates apaixonadossobreossistemasderacionalidadenoocidentais.Vale lembrar que, no esforo de compreenso da racionalidade intrnseca ao sistema de crenas zande, a dana loquaz: Um adivinho no adivinha apenas com a boca, mas com o corpo inteiro. Ele dana as questes que lhe so colocadas(EVANS-PRITCHARD: 2005, p. 108).3 A obra de Evans-Pritchard vasta e, alm de seu estudo sobre os azande, a trilogia sobre os nuer (1993, 1956, 1951) bem difundida na antropologia brasileira.OsegundotextodacoleoFestivaisecoesosocialnointe-riordaCostadoOuro,deMeyerFortes(1906-1983),quefoipubli-cado originalmente em 1936 como resultado de suas pesquisas entre os tallensi,habitantesdaregionortedaatualGananafricaOcidental 3Dispomos em portugus apenas da tima verso resumida por Eva Gillies (EVANS-PRITCHARD, 2005) desse trabalho de grande flego.ritual e performance_miolo_v27.indd 12 23/09/14 14:1513introduo(FORTES, 1945, 1949, 1987). Ao desnaturalizar a ideia cannica de coe-sosocialpormeiodoperspicazexamedosfestivaisrituais,oautor desvenda o intrincado processo de construo de vnculos entre os tallis e os namoos, as duas comunidades identitrias tale. Meyer Fortes est certamente preocupado com a construo do equilbrio em um sistema relacionalrelativamenteestvel.EdmundLeach(1995),emsuaanlise sobre os kachins da Alta Birmnia que confguram, por sua vez, um sistema relacional bastante instvel criticou duramente a perspectiva geral de Fortes. Entretanto, para alm das divergncias, o texto sobre fes-tivais rituais permite evidenciar as conexes entre as duas abordagens. Ao desvendar a tensa dinmica da produo do relativo equilbrio entre os tallis e os namoos, Fortes apreende a natureza socialmente produzida, contrastiva e dinmica das identidades sociais, retomada mais tarde de modo original e provocativo por Edmund Leach (0p. cit.).Semorganizaopolticacentralizada,jnosanos1930tallise namooscompartilhavampormuitasgeraesummesmoterritrio, um mesmo idioma lingustico e cultural, e muitas trocas matrimoniais. Acadaano,entretanto,comseusrespectivosfestivaisrituais,asduas comunidadesmarcavamsuasdiferenasqueconformavamumsis-tema articulado de semelhanas, oposies, complementaridades e ten-ses. Esses festivais refundavam, assim, anualmente, a delicada aliana que,nahistriaimersaemmito,confguravaatodoscomotallensi. Malgradosuarelevncia,emespecialsuagrandesensibilidadeparaa dimenso psicolgica da experincia social, Meyer Fortes autor ainda poucoconhecidoparamuitosestudantes.Porissovalerecomendara leitura do belo texto dipo e J na frica Central, traduzido em 1996 na revista Cadernos de Campo, n. 5-6. Evans-Pritchard e Meyer Fortes, porsinal,soosorganizadoresdafamosacoletneaAfricanPolitical Systems (1940), um marco na antropologia poltica e na antropologia de modo geral, pois, nesses estudos precursores das anlises dos sistemas de poder em sociedades sem Estado, os rituais e as aes simblicas vie-ram a ocupar lugar notvel.Umritualderealezaentreossuazi,deHildaKuper[1911-1992], publicadooriginalmenteem1944,lanamodemodoinovadorda metforadoteatroedodramaparadescreveremdetalhesaIncwala, a celebrao anual da realeza sintetizada na pessoa concreta do rei dos ritual e performance_miolo_v27.indd 13 23/09/14 14:1514ritual e performance: 4 estudos clssicossuazi,naSuazilndia,entoumProtetoradobritnico,encravadono interior da frica Austral. uma etnografa detalhada em que diferentes atores e grupos sociais emergem num cenrio dramtico como persona-gens caractersticos da complexa sequncia ritual Incwala, cujo desen-rolarelaboraaideiasupremaderealeza.Adramaturgiaritualaqui, como formularia mais tarde Cliford Geertz (1991), parte intrnseca da construo de um poder que desafa o entendimento do poltico como um domnio autnomo da vida social. Atravs de poderosas inverses, ambivalnciaseliminaridades,construindo,desconstruindoerecons-truindo anualmente a pessoa do rei, o ritual produz a identifcao dos sditos com seu rei, associado fecundidade da terra e potencia vital, e forja desse modo o sentimento de unidade entre os suazi. Reconhecendo a hierarquia baseada no nascimento em cls aristocrticos ou no aris-tocrticos como um valor central para os suazi, Kuper associou a forma daorganizaosocialconstruodapessoadorei,estabelecendoa ao ritual como um operador central do sentido de continuidade social eambientaldossuazi.ValeobservarqueemseuconhecidoRituais derebelio,traduzidoentrensnosanos1970peloDepartamento deAntropologiadaUniversidadedeBraslia,MaxGluckman(1974) recorreu de modo decisivo a aspectos parciais desta etnografa. Tomas Beidelman (1966) reanalisou o simbolismo ritual dos suazi enfocado por Hilda Kuper, em debate crtico com a anlise de Gluckman. Hilda Kuper (1984),porsuavez,publicouumbeloensaiosobreaantropologiana fricadoSulnaprimeirametadedosculoXX,nosegundovolume daColeoHistriadaantropologiaorganizadaporGeorgeStocking. Em sua obra destaca-se a trilogia sobre a histria e vida dos suazi An African Aristocracy (1947a); Te Uniform of Colour (1947b); Sobhuza II Ngwenyama and King of Swaziland (1978). Este ltimo uma biografa autorizada de Sobhuza, o rei dos suazi, seu anftrio, amigo e importante interlocutor, de recepo controversa no meio antropolgico.4Finalmente,Ritualesimbolismonyakyusa,deMonicaHunter Wilson[1908-1982]trazaanlisederituaisdosnyakyusa,integrantes da famlia lingustica bantu e habitantes das montanhas ao sul da atual 4Hilda Kuper escreveu tambm o romance Bite of hunger (1965) e a pea de teatro A witch in my heart (1970).ritual e performance_miolo_v27.indd 14 23/09/14 14:1515introduoTanznia, na frica Oriental. Monica Wilson era flha de missionrios presbiterianos escoceses estabelecidos na regio em fns do sculo XIX, obteve seu doutoramento em Cambridge / Inglaterra, em 1934, e a pes-quisa entre os nyakyusa foi realizada entre 1934 e 1938 juntamente com Godfrey Wilson, com quem se casou em 1935.5 Em 1938, Godfrey Wilson tornou-se o primeiro diretor do Instituto Rhodes Livingstone, que mar-couapocacomooprimeirocentrodepesquisasantropolgicasna frica. Ele morreu em 1944, em atividade na Segunda Guerra Mundial, e Monica Wilson publicou nos anos 1950 quatro livros, entre eles o reno-mado Good Company: A Study of Nyakyusa Age-Villages (1967), a partir da densa pesquisa de campo que haviam realizado juntos. Monica des-tacou-se tambm por seu combate ao regime do apartheid na frica do Sul, tendo organizado, em 1981, a autobiografa de Zacariah K. Mathews, ldersul-africanoanti-apartheid.Emseuartigo,trabalhandocoma noo de ritos de passagem elaborada por Arnold Van Gennep (1977), a autora examina os smbolos em ao no contexto social e nas sequncias rituais,asqualidadesdasuamaterialidade,suaefcciaeseumanejo. Monica Wilson, assim como seu esposo, era fuente na lngua nativa e, em especial, a ateno dada exegese dos smbolos pelos prprios nya-kyusa torna o texto particularmente denso e mesmo em alguns momen-tos perturbador. Monica pesquisou tambm entre os ndembu, povo que foi o foco da pesquisa de doutoramento de Victor Turner (1996). A lei-tura de seu texto sobre os nyakyusa nos faz compreender por que Victor Turner dedicou Floresta dos smbolos (TURNER, 2005) autora.Os artigos aqui reunidos trazem a anlise de temas de grande inte-resse para a antropologia contempornea. Neles, as coisas e experincias sociais so elaboradas e vividas atravs de smbolos e formas expressi-vas, por meio da dana, da msica, das canes, da festividade, da cor-poralidade, dos afetos e do uso dos sentidos humanos. So abordagens fundadorasdosestudosdasfestas,rituais,dramaseperformances.Se pudermos manter livre o horizonte mental, teorias novas e novos voca-bulriosconceituaispodembemconvivercomobrilhodedadospor vezesdesconcertantes,comestilosnarrativosmuitopessoais,ecomo 5Elesescreveramjuntosumlivrosobremudanasocialnafrica(WILSON,G.&WILSON, M., 1945). Leach (op. cit.) refere-se tambm a esse trabalho, discordando da viso da mudana social como necessariamente desagregadora.ritual e performance_miolo_v27.indd 15 23/09/14 14:1516ritual e performance: 4 estudos clssicosvigordeideiasqueinstigamopensamento.Esperoqueestacoletnea motive o leitor a aventurar-se na contemporaneidade e diversidade do passado disciplinar e a prosseguir conhecendo outros trabalhos desses e de outros autores sobre rituais e simbolismo.referncias bibliogrficasBATESON, Gregory. Naven. So Paulo: Edusp, 2008 [1958].BEIDELMAN.THOMAS.Swaziroyalritual.Africa:JournaloftheInternational African Institute. v. 36, n. 4., out. 1966, p. 373-405.CAVALCANTI,MariaLauraViveirosdeCastro.Drama,ritualeperformance emVictorTurner.Sociologia&Antropologia.v.3,n.6.jul.-nov.2013,p. 411-439.______.Luzesesombrasnodiasocial.OsmboloritualemVictorTurner. Horizontes Antropolgicos, v. 18, n. 37, jan./jun. 2012, p. 103-131.______.Dramasocial,notassobreumtemadeVictorTurner.Cadernosde campo. v. 16, n. 16, dez. 2007, p. 127-138.______. Carnaval carioca: dos bastidores ao desfle. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ, 2006a. ______. Tema e variantes do mito: sobre a morte e ressurreio do boi. Mana, 2006b. v. 12, n. 1, p. 69-104.______. Os sentidos no espetculo. Revista de Antropologia. 2002. v. 45, n. 1, p. 37-89. ______. O Boi-Bumb de Parintins: breve histria e etnografa da festa. Histria, Cincia e Sade: Vises da Amaznia. v. VI, nov 2000. p. 1019-1046. ______. O rito e o tempo: ensaios sobre o carnaval. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1999.CAVALCANTI,MariaLauraViveirosdeCastro;GONALVES,JosReginaldo Santos.InDUARTE,LuizFernando(Org.).Antropologia.Horizontesdas cincias sociais. So Paulo: Anpocs, Barcarolla, 2010, p. 259-292.CLIFFORD, James. A experincia etnogrfca. Antropologia e literatura no sculo XX. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1998.DAMATTA,Roberto.Carnavais,malandroseheris.Paraumasociologiado dilema brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.DOUGLAS, Mary. O mundo dos bens. Antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Ed UFRJ, 2004.______. Pureza e perigo. So Paulo: Ed Perspectiva, 1976.ritual e performance_miolo_v27.indd 16 23/09/14 14:1517introduoDUKHEIM, mile. As formas elementares da vida religiosa. So Paulo: Martins Fontes, 1996 [1912].EVANS-PRITCHARD,EdwardEvaneFORTES,Meyer(Org.).AfricanPolitical Systems. London: Oxford University Press, 1940.EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. Bruxaria, orculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.______. Os Nuer. So Paulo: Editora Perspectiva, 1993 [1940]. ______. Antropologia social da religio. Rio de Janeiro: Campus, 1978.______. Nuer Religion. Oxford: Claredon Press, 1956. ______. Kinship and marriage among the Nuer. Oxford: Claredon Press, 1951.FORTES, Meyer. Te dynamics of clanship among the Tallensi. London: Oxford University Press, 1945.______.TewebofkinshipamongtheTallensi.London:OxfordUniversity Press, 1949.______.Religion,Moralityandtheperson.Cambridge:CambridgeUniversity Press, 1987.______.dipoeJnafricaOcidental.CadernosdeCampo,n.5-6,1996,p. 217-250.FRAZER, James. Te golden bough. New York: Gramercy Books, 1981 [1890].GALEY,J.C.Evans-Pritchard,EdwardEvan.p.267-269.In:BONTE,Pierre; IZARD,Michel(Ed.).DictionnairedelEthnologieedelAnthropologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1991.GEERTZ, Cliford. Te interpretation of cultures. New York: Basic Books, 1973.________. Negara. O estado teatro no sculo XIX. Lisboa: DIFEL, 1991. GLUCKMAN,Max.Essaysontheritualofsocialrelations.Manchester: Manchester University Press, 1962.______. Ritos de rebelio. Cadernos de Antropologia 4. Braslia: Ed Unb, 1974.______. Anlise de uma situao social na Zululndia moderna. In: FELDMAN-BIANCO, Bela (Org.). Antropologia das sociedades contemporneas: mto-dos. So Paulo: Editora Unesp, 2009.GONALVES, Jos Reginaldo. Apresentao. In: CLIFFORD, James. A experincia etnogrfca. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1998, p. 7-16.KUPER,Hilda.Function,History,Biography:Refectionsonffyyearsin theBritishAnthropologicalTradition.In:STOCKING,George(Ed.). FunctionalismHistoricized.EssaysonBritishSocialAnthropology. Wisconsin: Te University of Wisconsin Press, 1984.______. An African Aristocracy. London: Oxford University Press, 1947a.ritual e performance_miolo_v27.indd 17 23/09/14 14:1518ritual e performance: 4 estudos clssicos______.Teuniformofcolour.Johanesburg:WitwatersandUniversityPress, 1947b.______. Sobhuza II, Ngwenyana and King of Swaziland. London: Duckworth, 1978.______.Awitchinmyheart.AplaysetinSwazilandinthe1930s.London: International African Institute, Oxford University Press, 1970. ______. A bite of hunger. A novel of Africa. New York: Brace&World, 1965.LEACH, Edmund. Cultura e comunicao: a lgica pela qual os smbolos esto ligados. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.______. Repensando a antropologia. So Paulo: Perspectiva, 2001.______. Sistemas Polticos da Alta Birmnia. So Paulo: Edusp, 1995.LVI-STRAUSS,Claude.AntropologiaestruturalDois.RiodeJaneiro:Tempo Brasileiro (Biblioteca Tempo Universitrio 45), 1976a.______. O pensamento selvagem. So Paulo: Ed. Nacional, 1976b.______. Totemismo hoje. Petrpolis: Ed. Vozes, 1975.______. Lhomme nu. Mythologiques IV. Paris: Librairie Plon, 1971.______. Antropologia estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.______. Le cru et le cuit. Mythologiques I. Paris: Plon, 1964.MALINOWSKI,Bronislaw.ArgonautasdoPacfcoocidental.SoPaulo:Abril Cultural. Coleo Os Pensadores. Vol. XLIII, 1976 [1922].MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. So Paulo: Cosac&Naify, 2003.PEACOCK,James.Ritesofmodernization:symbolsandsocialaspectsof Indonesianproletariandrama.Chicago/London:TeUniversityof Chicago Press, 1974.PEIRANO, Mariza (Org.). O dito e o feito. Ensaios de antropologia dos rituais. Rio de Janeiro: Relum Dumar, 2001.RADCLIFFE-BROWN,A.R.TeAndamamIslanders.Chicago:Universityof Chicago, Te Free Press, 1965 [1922].RICHARDS, Audrey. Chisungo: a girls initiation ceremony among the Bemba of Zmbia. New York: Routledge, 1992 [1956].SHUMAKER,Lyn.AfricanizingAnthropology.Durham&London:Duke University Press, 2001.SMITH,WilliamRobertson.Lecturesonthereligionofthesemites.Elibron Classics.[BurnettLectures1888-1889].Boston:AdamantMedia Corporation, 2005.TAMBIAH, Stanley. Culture thought and social action: an anthropological pers-pective. Cambridge: Harvard University Press, 1985.ritual e performance_miolo_v27.indd 18 23/09/14 14:1519introduoTURNER, Victor. Drama, campos e metforas. Niteri: Eduf, 2008.______. Floresta de smbolos. Niteri: Eduf, 2005.______. Schism and Continuity in an African Society. Manchester: Manchester University Press, 1996 [1957]. ______. O processo ritual. Petrpolis: Ed. Vozes, 1969.TYLOR, Edward Burnett. Primitive Culture. Cambridge: Cambridge University Press, 1970 [1871].VALERI,Valeri.Rito.In:EnciclopdiaEinaudi.ImprensaNacional.Casada Moeda. Lisboa: Ed. Portuguesa. v. 30, 1994, p. 325-359.______.Kinshipandsacrifce.RitualandsocietyinancientHawaii.Chicago/London: Te Chicago University Press, 1985.VAN GENNEP, Arnold. Os ritos de passagem. Petrpolis: Ed. Vozes, 1977 [1909].WILSON,Mnica.Goodcompany.AstudyofNyakyusaAge-villages.Boston: Beacon Press, 1967.______.RitualsofkinshipamongtheNyakyusa.Oxford:OxfordUniversity Press, 1970.______. Freedom for my people: the autobiography of Z.K. Matthews. Southern Africa, 1901 to 1968. London: Rex Collings; Cape Town: David Philip, 1981.WILSON,Godfrey;WILSON,Monica.Teanalysisofsocialchange,basedon observations in Central Africa. Cambridge: Te University Press, 1945.ritual e performance_miolo_v27.indd 19 23/09/14 14:15ritual e performance_miolo_v27.indd 20 23/09/14 14:1521A dana1Edward Evan Evans-PritchardNosrelatosetnolgicos,confere-segeralmentedanaumlugarque no faz jus a sua importncia social. Ela quase sempre percebida como uma atividade independente, descrita sem referncia a seu contexto de existncia na vida nativa. Essa abordagem desconsidera muitos proble-mas,comoacomposioeorganizaodadana,eocultasuafuno sociolgica.A breve anlise de uma dana africana mostrar que sua estrutura bem diferente da dana europeia moderna. Mesmo quando a dana pequena, e de modo ainda mais notvel quando centenas de pessoas dela participam, a dana requer uma forma estereotipada, um modo prescrito deperformance,atividadesconcertadas,lideranareconhecida,regula-o e organizao elaboradas. Se esses problemas no estiverem presen-tes na mente do observador, ele talvez nos d uma descrio interessante, mas no um relato detalhado de grande valia para o trabalho terico.A dana possui tambm funes psicolgicas e fsiolgicas revela-das apenas por uma descrio acurada e plena. Trata-se essencialmente de uma atividade coletiva, e no individual, e devemos explic-la, por-tanto,emtermosdefunosocial,oqueequivaleadizerquedeve-mosdeterminaroseuvalorsocial.Aqui,novamente,mesmosemum olhar distorcido e pejorativo acerca de uma dana nativa, o observador 1 EVANS-PRITCHARD, Edward Evan. Te Dance. Africa: Journal of the International African Institute,v.1,n.4,p.446-462,oct.1928.TeInternationalAfricanInstitute,publishedby Cambridge University Press, translated with permission.ritual e performance_miolo_v27.indd 21 23/09/14 14:1522a danadestreinado est to pouco acostumado a considerar as instituies luz de seu valor funcional, que seu relato comumente deixa de oferecer ao pensador terico o nico fator capaz de capacit-lo a estimar sua signi-fcao: a ocasio da dana. Nesteartigo,apresentareiumaanlisecondensadadeumadana dosazandeseguindoopercursosugeridoacima.Osazande2encon-tram-se sob trs administraes europeias. A maioria vive nos distritos nortistas do Congo Belga, mas eles tambm podem ser encontrados nas provncias de Bahr-el-Ghazal e Mongalla, no Sudo Anglo-Egpcio, e na provncia de Ubangi-Shari da frica Franco-Equinocial. Este artigo fala dos azande que vivem no Sudo Anglo-Egpcio.3H um grande nmero de danas azande. Algumas delas so regio-nais, outras j no so mais realizadas, mas so ainda lembradas pelos homensmaisvelhosepodemserreconstitudasselhespedirmos.H danas acompanhadas por tambores, danas acompanhadas pelo xilo-fone, danas acompanhadas por um instrumento de corda, e danas no acompanhadasporinstrumentosmusicais.Existemdanasespeciais paracerimniasdecircunciso,outrasespeciaisparaasvriassocie-dadessecretas,outrasespeciaisparaosflhosdechefes,outrasrestri-tas s mulheres ou, por exemplo, aquelas para cerimnias funerrias e outrasquesorealizadasapenascomoacompanhamentodotrabalho econmico. No tenho espao em um artigo to curto para traar uma classifcao das muitas formas diferentes de dana encontradas entre os azande; restringir-me-ei, portanto, a uma anlise dos principais aspec-tos de um tipo de dana, aquela que acompanhada por tambores e conhecida como gbere buda (a dana da cerveja).msicaOs elementos que compem a gbere buda so a msica, o canto e o movi-mentomuscular.Quaisquerdesteselementossemosdemaisseriam 2Para relatos gerais sobre os azande, ver: Lagae, Les Azande ou Niam-Niam, 1926, e Larken, An account of the Zande, in Sudan Notes and Records, Julho de 1926.3Minha expedio ao Sudo foi possibilitada pela generosidade do governo do Sudo Anglo-Egpcio e por uma verba governamental concedida pela Royal Society. Agradeo a confana do Laura Spelman Rockefeller Memorial Fund pela assistncia adicional.ritual e performance_miolo_v27.indd 22 23/09/14 14:15