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AGRADECIMENTOS: A Deus através de Seu Filho e Meu Senhor Jesus Cristo, Meu Grande e Maravilhoso Amigo; Meu Pai, Conselheiro, Abrigo que me capacita dia após dia e sustenta minh’alma em todos os aspectos do meu viver. Um Pai Bondoso Que cuida de mim como Sua Raridade e Menina dos olhos. Ao meu querido e muito amado esposo sempre presente com sua ternura, carinho, desprendimento, amor e atenção. ... “Não imagino minha vida sem você viu?” Quero também externar minha gratidão a algumas pessoas que

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AGRADECIMENTOS:

A Deus através de Seu Filho e Meu Senhor

Jesus Cristo, Meu Grande e Maravilhoso

Amigo; Meu Pai, Conselheiro, Abrigo que me

capacita dia após dia e sustenta minh’alma

em todos os aspectos do meu viver. Um Pai

Bondoso Que cuida de mim como Sua

Raridade e Menina dos olhos.

Ao meu querido e muito amado esposo sempre presente com sua ternura, carinho,

desprendimento, amor e atenção. ... “Não imagino minha vida sem você viu?”

Quero também externar minha gratidão a

algumas pessoas que deram um significado

todo especial a esta obra porque sempre

acreditaram nos meus ideais.

Sabe aquela conversa de anjos disfarçados

em pessoas? Digo daqueles anjos que

existem em nossas vidas e enchem nosso

espaço com pequenas, mas marcantes

alegrias e grandes atitudes? Pois, eu fui

agraciada por Deus com esta dádiva, ganhei

amigas que souberam cativar o meu coração

e interpretar a essência da minha alma... São

elas: Otília Luzia Gonçalves, Cecília Louzada (in memórian), Silvana Caetano Dias, Sandra Paixão, Janete Maroli, Patrícia Alena, Márcia Hildilene Freitas, Maria Goreth de Andrade, Aparecida do Vale e Magda Santiago... E, não importa se só uma

delas conheceu Therezinha enquanto em

vida, importa sim, que enxugaram cada

lágrima brotada nos olhos pela saudade...

Importa que souberam respeitar meu silêncio

de dor... Importa as vezes que emprestaram

seus ouvidos e corações para escutar-me

falar da mulher mais importante da minha

vida... Importa sim, o quanto me fizeram

crescer, importa o modo como seguraram

minhas mãos nos momentos em que eu mais

precisei e me fizeram acreditar de novo na

vida.

Importa Sandra, a atenção, o carinho, o

incentivo fazendo-me seguir em frente quando

eu pensava em desistir da jornada... Importa

Patrícia, aquela frase curta, mas que me

disse tanto...

Importa Janete, a lágrima derramada na

emoção de ler meus versos, meus textos, uma

linha, uma palavra...

Importa Silvana, a fé que fez renascer em

mim nas horas em que a descrença tentava

invadir meu coração...

Importa Márcia, o seu olhar terno, o seu

sorriso, a sua emoção...

Importa Otília, o puxão de orelha na hora

certa, o abraço amigo, o ombro que secou

meus olhos nos momentos de confidências...

Importa Cecília, o colinho gostoso onde

descansei meu cansaço e dor...

Importa Aparecida do Vale, nossos silêncios

que diziam tudo e nossas trocas de olhares

que afagavam a alma.

Importa Magda, nossas trocas de ternuras,

abraços, confidências, risos, lágrimas,

amizades, carinhos e até silêncios... O que

importa é você e o tesouro da nossa amizade,

pois, comparando-a com o ouro, ele não vale

nada, já dizia um grande poeta.

... Só mais uma coisa importante e que jamais

poderia deixar de registrar:

Vocês me imensam!

Dedicatória:

Aos meus filhos: Fellipe, Gustavo, Guilherme

e Pedro Henrique... Netos que deixariam o

sorriso de Thereza ainda mais belo e

encantador!

Aos familiares e aos sobreviventes do

acidente automobilístico do ônibus 10.706 -

Viação Sudeste – Grupo Itapemirim, Em

15/11/1998.

A Agda Sousa, amiga sempre presente em

minha vida, na Alegria e na Tristeza.

A Tatiana Silva e Simone Souza, amigas que

tiveram o privilégio de estar com Therezinha

Lobato, e serem cuidadas por ela, em seus

últimos dias de vida.

A Íris Barroso Bitencourt, mulher que

precedeu a promessa de Deus em minha vida,

pois se tornou a minha mãe, literalmente,

muito antes do acidente.

A professora Graça Vieira... Grande

incentivadora... Amiga e mãe do coração!

Aos Meus irmãos que, assim como eu,

sofrem até hoje a perda tão precoce dessa

mãezona.

É impossível as lágrimas não surgirem cada

vez que lembrar a mulher que passou pela

vida como um Sorriso...

Que entrou e saiu quietinho de nosso lar...

Mas não de nossas vidas!

Ah! Os anos trarão consigo outros momentos

de tristezas e sei que de muitas alegrias. Ao

decorrer desse tempo, com toda certeza,

sobrevirá um esquecimento leve de sua

figura... Sua forte, bela e meiga figura.

Porém, não importa o que o futuro me

reserva, sempre me recordarei com carinho e

de forma muito intensa de que foi Therezinha,

quem me ensinou a ser filha, mulher virtuosa,

boa esposa, mãe, testemunha real, cristã

sincera, amiga fiel e, acima de tudo, Serva.

Obrigada,

Muito obrigada mamãe!!!

14 de Novembro de 1998 – Sábado

Hoje acordei um tanto apreensiva, aliás, esta

semana toda meu coração sentia-se aflito;

uma profunda angústia tomava conta do meu

ser; meus pensamentos estavam confusos e

uma taquicardia “balançava” meu coração.

Mas, hoje eu não deveria estar assim, tive

uma noite tranqüila, Sérgio e Fellipe estão

aqui comigo... Tudo está bem!

...Eram 13 horas, Sérgio e eu conversávamos

alegres quando, de repente, senti-me irritada,

tensa, era como se algo estivesse

acontecendo. Mudei o tom de minha voz e

acho que até o magoei com minhas palavras;

lembro-me que falei como se reclamando que,

se tivesse dinheiro o suficiente naquele

momento, iria para Vitória E.S, prá casa de

minha avó paterna.

... No decorrer da tarde tratava de distrair-

me,mas, percebi que meu coração contava

cada minuto que o relógio marcava até que

chegasse a noite e pudesse dormir, porém,

aquela nódoa de insuportável angústia não

queria abandonar-me.

...

15 de Novembro de 1998 – Domingo

Aquela estranha sensação continuava a

perturbar-me a mente e passei toda a manhã

de domingo apreensiva... Sérgio e eu

ouvíamos o programa de rádio Musical Boas

Novas com o Pr.Delandi Macedo, quando um

ouvinte pediu para ser tocado o hino dos

cantores Daniel e Samuel “Mais que o

Diamante”. Ao ouvir aquele hino senti uma

forte pressão no peito e um arrepio no corpo,

porém, não era medo, era algo mais forte,

parecia um pressentimento.

No término do programa Musical “Boas

Novas” o Pr. Delandi anunciou que o nosso

Pastor Presidente Umberto Batista da Silva

( Ministério das Ass. De Deus em Cachoeiro-

ES) havia sido submetido a uma intervenção

cirúrgica devido a um problema cardíaco, e a

mesma foi realizada com sucesso...

“Tudo estava bem”... Mas, se tudo estava

bem, porquê meu coração sentia contínua

inquietude?

...

...Bem à tardinha resolvemos levar nosso

bebê pra um passeio na beira rio e, no

caminho, encontramos um amigo que

acabava de chegar de viagem. Ele estava

eufórico, transbordando de alegria pelo fato de

ter estado no “Encontro” realizado em Aribiri -

ES e, para surpresa nossa ele disse que

almoçou junto com mamãe e que eles

brincaram muito enquanto esperavam na fila

onde seria servido o almoço.

Foi por meio dele que soubemos que mamãe

havia ido à caravana.

...Eram 19h00min, o culto estava uma

maravilha, mas eu não estava nada bem. Algo

dentro de mim perturbava-me e afligia a

minh’alma. Um inexplicável temor se

apoderou de mim e eu tive vontade de gritar,

de pedir que acabassem logo com aquele

culto “enfadonho”... Uma dor inenarrável

oprimia meu coração.

Quando o culto terminou mamãe ainda não

havia chegado e então, Sérgio e eu

resolvemos ficar em sua casa e esperar seu

regresso. Depois de lancharmos conversamos

um pouco com o Sr José e em seguida fomos

para o quarto a fim de descansarmos um

pouco. Sérgio logo adormeceu e nosso bebê

também não demorou muito a pegar no sono.

Eu estava ainda muito tensa e, inerte, fiquei

observando os meus dois amores. Sentia-me

fragilizada, não conseguia dormir, minha

amargura interna não dava tréguas aos meus

pensamentos, comecei então a pedir a Deus

que ficasse bem pertinho de mim e que me

protegesse daquilo que eu não sabia o que

era, mas que tanto me angustiava.

Olhei para o relógio, eram 22h30min,

“lembrarei dessa noite por toda a minha vida”,

pressenti. Mas por quê? A resposta que tive

foi um palpitar de coração, senti como se

estivessem arrancando com muita violência

algo de mim, era como se parte de mim

deixasse de existir.

Uma dor aguda atravessou meu coração e

penetrou em minhas juntas e medulas.

Abracei-me ao travesseiro, dei um leve beijo

em meu bebê Fellipe e pensei:“daqui a pouco

mamãe chegará e tudo estará bem”. Na

singeleza desse pensamento sorri docemente

na escuridão e, vencida pelo cansaço e sono,

adormeci...

Eram quase três horas da manhã. Alguém

chamava no meio da madrugada...

Chamavam e chamavam. –Este terror que

muitas famílias receiam, para muitos nunca

aconteceu, mas, aprouve a Deus que

chegasse a nossa vez.

- Seu Zé? Seu Zé?- Era a voz de Tatiana.

Uma voz trêmula e embargada!

Num só pulo sai da cama e exclamei: - É algo

sobre mamãe!

Corremos até a porta e Tatiana com voz aflita

e cansada relatou-nos:

Mamãe e sua mãe ficaram em Aribiri para

voltar na caravana das 21h, Vaguinho foi até a

Sede e o ônibus ainda não havia chegado,

então, preocupada resolvi ligar para a

Itapemirim para saber o motivo do atraso do

ônibus e, a informação que obtive foi que o

veículo que conduzia os irmãos sofrera um

acidente - Nesta hora Tatiana se descontrolou

e começou a chorar.

Eles então, concluiu ela, mandou-nos procurar

maiores informações nos hospitais de

Cachoeiro e Iconha...

Uma nuvem cinzenta cobriu o ambiente. O

transtorno estava estampado em nossas

faces. De repente eu “sabia o porquê me

sentia daquela forma durante toda aquela

semana... Eu estava preparada para este

pesado momento.

Uma hora depois dessa primeira notícia,

soubemos que irmã Maria José fora

encontrada; estava gravemente machucada,

porém fora de risco e já hospitalizada. Um

suspiro de alívio envolveu meu coração por

alguns instantes, mas, mamãe não foi

encontrada! “algo estava errado”, pois, se

ambas estavam juntas, o lógico seria as duas

serem encontradas: Juntas!

...

Meu irmão Marcos estava visivelmente

abatido, porém confiante e, decidiu ir ao

Hospital Evangélico a procura de maiores

informações. Enquanto esperávamos sua

volta, a vizinhança toda se despertava para o

ocorrido e cada um, a seu modo, tentava

ajudar de alguma maneira.

Marcos demorava uma eternidade. Não dava

mais para esperar passivamente então Sérgio

e Seu Zé resolveram sair também e, para tal,

levaram-me para a casa de Maria Marinho,

vizinha, amiga e irmã em Cristo de mamãe e,

saíram cada um para um lado.

Ficamos ali as duas, sufocadas, embargadas,

sofridas. Fellipe um anjinho, dormia tranqüilo.

Irmã Maria e eu não conversamos muito, algo

calava-nos, mas, em espírito certamente em

comum orávamos.

...Não demorou muito e o dia clareou. A nossa

rua estava repleta de gente, todos queriam e

precisavam saber onde estava mamãe. De

repente Seu Zé chega com a informação de

que mamãe poderia estar no hospital de

Iconha. Uma alegria momentânea pairou no

ar... Ainda havia uma esperança.

Rapidamente alguns se prontificaram em

levar-nos até Iconha, outros estariam ligando

para lá para obterem informações mais

precisas. Todos estavam otimistas menos eu,

aquela inquietude não me dava paz. E, onde

estaria meu irmão Marcos até agora?

...

Ainda estávamos na rua mobilizando os

recursos para ida até Iconha quando olhei

para o início da escadaria e avistei o meu

esposo Sérgio. Era como se ele estivesse

carregando um enorme peso, estava pálido,

cabisbaixo, transtornado como nunca vi antes

e isto me causou novamente aquele palpitar

de coração.

Ao aproximar-se irmã Maria indagou-lhe:

-diga irmão Sérgio, você achou a minha

amiga? O que aconteceu? Diga por favor!-

insistiu em lágrimas.

Antes que ele respondesse eu já sabia... Eu

sabia desde que Tatiana chegou la em casa

com a notícia do acidente. Eu já sabia por que

o Meu Senhor falou comigo como nunca tinha

falado antes: “Não se turbe o vosso coração,

mas credes em Mim... Eu não te deixarei

órfã.”

Sérgio com voz muito dolorida falou-nos: eu a

encontrei gente, mas infelizmente, ela faleceu.

O chão abriu e novamente aquela nuvem

cinzenta invadiu o lugar e abateu-nos:

lágrimas, gemidos, gritos sufocados, dores e

tristezas, uma mistura de sentimentos seria

apenas a primeira tela que ficaria pintada para

sempre na moldura dos nossos corações.

Enxuguei as lágrimas que teimavam em rolar

dos meus olhos e imediatamente meus

pensamentos se transportaram para o Rio de

Janeiro e Vitória, onde moram minhas irmãs

Lucimar e Sônia.

Seu Zé e Sérgio foram tomar as devidas

providências já que, não há ...

“Mais nada a fazer”.

15 de Outubro de 1942 – Arraial do Café – Alegre –ES

Era manhã daquele dia chuvoso e frio.

Dorcelina já sente as dores das primeiras

contrações e sabe que seu bebê vai nascer.

Benedito corre até o vilarejo e busca

d.Cypriana, a melhor parteira da região, e mãe

de Dorcelina...

Providencie mais lenha para o fogão Bené. -

diz Cypriana ao genro!

Vamos precisar de muita água morna, muito

pano e muita oração porque a criança é

grande, dizia enquanto “examinava” Dorcelina.

Benedito tremia igual vara verde enquanto

forrava a humilde cama com a colcha de

retalhos que ele mesmo escolheu para

presentear sua amada quando completaram

dois anos de “matrimônio” (na verdade eles

nunca se casaram)...

Tudo estava preparado e agora era hora de

Benedito sair de casa com sua filha Ana Elisa

e deixar apenas as mulheres para àquela hora

tão sagrada. Antes de sair, porém, olhou bem

no fundo dos olhos de Dorcelina e deixou a

certeza de que estaria ali do lado de fora, bem

pertinho... Seus olhos estavam rasos de

lágrimas!

...

Duas horas se passaram, a casa está repleta

de panos molhados espalhados pelo chão, as

ajudantes de Cypriana colocam mais água no

fogo, Dorcelina se contorce e nada desse

bebê nascer.

D. Cypriana, uma mulata forte, de pele

aveludada e olhos cor de mel, esvaía-se em

suor, afinal, era sua filha que estava ali... Ela

não podia esmorecer.

A chuva já havia cessado e apenas uma leve

garoa caía do céu. Uma forcinha ali e outra

dali e, de repente um choro forte e d.Cypriana

pega nos braços sua mais nova neta. Ao ouvir

o choro vindo de dentro da simples casa de

sapê, Benedito que estava rezando pra todos

os santos que ele conhece e para os que não

conhece também, entrou porta adentro e só

sabia dizer para sua amada:

- Obrigado, obrigado!

Dois dias depois do parto, Dorcelina escolheu

o nome para o seu bebê:

- Ela será chamada de Therezinha.

...

Os primeiros anos de vida de Therezinha não

foram tão fáceis, porém, foram felizes na

medida do possível, o que ela não sabia, no

entanto, era que o pior ainda estava por vir.

Aos dez anos de idade ela experimenta a dor

da separação: seus pais outrora tão

apaixonados e unidos decidem romper o

relacionamento de quase15 anos.

A família se desestrutura e agora Dorcelina se

vê obrigada a mandar Therezinha trabalhar na

casa de d.Firmina, uma gentil senhora que

sempre solicitava os serviços de Dorcelina

para lavagem de roupas e costura. Thereza

torna-se dama de companhia de d.Firmina

que já entrava em seus 60 anos de idade.

Uma infância tolhida pela necessidade... Algo

não muito diferente do que acontecia com as

meninas pobres de sua época.

...

Dezessete anos se passaram, Therezinha que

é chamada de Thereza por todos os que a

conhecem, começa a trabalhar na casa de

d.Carmem Miranda, um casarão situado na

rua Dr. Wanderley. Thereza é muito querida

pela família Miranda e é tratada com muito

respeito; foi contratada para tomar conta da

pequena Christianne e também ajudar com

pequenas tarefas.

Vivendo na casa de D. Carmem, Thereza

passa a freqüentar as missas de Domingo na

igreja Matriz e foi lá, que conheceu Eunice e

Dorinha, aquelas que se tornariam suas

melhores amigas e, futuramente, comadres.

Thereza tinha uma história de vida muito

parecida com a de suas amigas: nem

bonecas, nem estudos, porém, uma alegria no

coração que poucos entendiam.

As três amigas passaram a se encontrar todo

final de missa na pracinha da cidade, ali elas

conversavam, brincavam e eram paqueradas

pelos rapazes daquela região. Thereza era

uma notável dançarina e, nas festas de

quermesses, era tirada a noite toda para

dançar.

...

E, foi em uma quermesse, que Thereza

conheceu o amor. Mario Lucio era o seu

nome,um jovem um pouco mais velho que ela,

atraente, educado e de boa lábia.

- Olá senhoritas! – disse Mário com um sorriso

encantador ao aproximar-se das moças

naquela praça.

-Oi! – respondeu timidamente Dorinha.

Eunice mais esperta, logo percebeu que o

rapaz se dirigia exclusivamente a Thereza,

então puxou Dorinha para o canto e os deixou

sozinhos.

Suas amigas gostam mesmo de você não é

mesmo? –Disse Mário.

-Acho que sim. – Respondeu Thereza com os

olhos fitos no chão.

- Desculpe-me: Meu nome é Mário Lúcio,

mas, pode me chamar de Lúcio e você? Qual

a sua graça?! - Perguntou Mário estendendo a

mão para Thereza.

- Meu nome é Therezinha!

- Lindo nome. - Falou o rapaz beijando

suavemente sua mão.

Neste momento Thereza sentiu algo que

nunca havia sentido antes. Um arrepio subia-

lhe pela espinha e acelerava-lhe o coração.

Parecia que estava embriagada, não sentia os

pés no chão... Momento este que foi

interrompido pela voz de Eunice chamando-a

para irem embora.

Mário despediu-se das moças e prometeu a

Thereza que estaria ali naquela praça a sua

espera na terça-feira, dia de novena.

No caminho para casa Thereza não abriu a

boca, estava flutuando e, naquela noite,

dormiu suspirando...

...

Mário e Thereza começaram a namorar.

Foram meses maravilhosos e de muita

intensidade, cada dia um amor crescente,

cada encontro uma explosão de prazer e

paixão. Até que, Mário diz para Thereza que

terá que ir para o Rio de Janeiro com a

empresa em que o pai dele trabalha,

conseguiu um estágio e não poderia perder

aquela oportunidade, que era uma raridade

para negros.

Novamente Thereza experimenta a dor da

separação e sente-se dilacerada pelo amor...

D.Carmem percebe que Thereza está mais

calada, quieta e apática, então decide chamá-

la para uma conversa e daí descobrem que o

que acontece nada mais é do que: Gravidez.

E agora, o que fazer?

Negra, analfabeta, pobre, solteira e grávida.

Que futuro restaria para uma menina tão

jovem nessas condições? No auge de seu

desespero e dor, d.Carmem abraça-lhe com

carinho e lhe dá o apoio necessário.

Mário Lúcio? Daquele dia até hoje nunca mais

se teve notícias daquele rapaz tão lindo e

apaixonante.

...

Na casa de d.Carmem, Thereza ficou até o

nascimento de seu bebê e ali foi uma grande

escola, pois ela aprendeu a ser mãe, boa

dona de casa, administradora e muito

organizada.

Seu bebê, uma garotinha, tornou-se afilhada

de d.Carmem e virou o xodó da família o que

estreitou ainda mais o laço de amizade entre

elas. Thereza deu-lhe o nome de Lucimar em

homenagem ao homem que lhe iludiu, mas

que também lhe proporcionou momentos

inesquecíveis de felicidade...

Lucimar completa dois anos de vida e agora

Thereza precisa mudar-se de emprego. D.

Carmem já havia providenciado tudo, ela iria

ganhar um pouquinho a mais e teria mais

tempo livre para cuidar da filha.

A despedida foi triste demais, pois, Thereza

acreditava que passaria a vida servindo

àquela que tanto lhe ajudou, porém, uma

certeza d.Carmem deixou no coração da

jovem Thereza ao dizer-lhe: “você não está

saindo daqui de casa como uma empregada,

mas como uma filha”. Aquela casa estaria

sempre aberta para ela e sua filha.

...

Thereza agora é empregada de d.Cirene, uma

bondosa religiosa que teve um de seus partos

feitos por d.Cypriana, que era avó de Thereza.

Quando soube da situação que a jovem se

encontrava, não hesitou nem um pouquinho

em prestar-lhe ajuda. Levou-a para sua casa

na rua 13 de Maio e lhe deu o emprego de

cozinheira. O tempo foi passando e uma

cativou o coração da outra e tornaram-se

grandes amigas. Mais tarde d.Cirene passaria

a ser chamada de vó Cirene pelos filhos de

Thereza – era assim a relação das duas: mãe

e filha!

...Aos vinte e um anos, seu coração ainda

suspirava por seu 1º amor, havia uma leve

esperança de que ele chegaria de uma hora

para outra em um daqueles vagões do trem,

não era nada incomum pegá-la suspirando e

olhando sem direção próxima a Estação.

Numa manhã de sábado, enquanto fazia a

feira na praça do comércio, Thereza se vê

cortejada por um homem bem mais velho que

ela. Não dá muita importância e vai embora.

No domingo, porém, quando entra na igreja,

dá de frente com o mesmo homem que lhe

oferece o lugar para sentar-se visto que a

igreja já estava lotada e ela estava com sua

filhinha nos braços. Daquele momento em

diante ficou difícil fugir de tantos galanteios, o

mineiro era persistente.

- Talvez você esteja pensando que quero

brincar com seus sentimentos, dizia o

mineirinho Zé.

- Já passei por isso moço, e não “tô” aqui pra

sofrer de novo não. - respondeu Thereza.

- Como posso provar que tenho boas

intenções com a senhorita? Leve-me até os

seus pais, quero casar-me com você!

- De boas intenções o inferno está cheio meu

senhor!!!

Falou assim e saiu sem olhar para trás.

...

Não foi fácil seduzir aquela negra fascinante,

mas, Zé não desistiu.

D.Cirene viajou para a capital do Estado e

deu alguns dias de folga para Thereza então

ela aproveitou esses dias para estar junto de

sua mãe que mora em Celina. Duas horas

depois e chegar a casa de sua mãe, uma

surpresa: Zé apareceu levando uma apetitosa

peça de queijo mineiro junto com uma barra

de rapadura.

Dorcelina se encantou com o rapaz,

acreditando primeiro, que este era o pai de

sua neta Lucimar; conversa vai, conversa vem

e ela logo entendeu que se tratava de outra

pessoa.

...Três meses, foi o tempo necessário para

José Dias conquistar o coração de Thereza e,

uma vez conquistado lá estava a jovem mais

uma vez envolta nos laços da paixão, só que

dessa vez será diferente, ela iria casar-se,

construir uma família, ter uma casa só dela.

De fato, o mineiro não estava brincando com

os sentimentos de Thereza, assumiu-a junto

com sua filha e deu um lar, simples, mas um

lar para as duas.

...

... Não demorou muito e Thereza já estava

grávida de seu segundo bebê. José estava

trabalhando na Fazenda Fortaleza e vinha em

casa de dois em dois dias, ele era um homem

amável e dedicado. Thereza trabalhava na

casa de d. Cirene pela manhã e no finalzinho

da tarde ia para a casa de d.Petrolina ,na rua

Antônio Marins, engomar roupas.

Foi assim até os sete meses de gestação,

Thereza estava enorme e já não agüentava

tanto esforço, passou o serviço de d.Petrolina

para a sua amiga Eunice e, Dorinha, começou

a ajudá-la na casa de d. Cirene.

No dia 18 de março de 1965 nascia sua

segunda filha, Sônia Maria, fruto do amor de

Zé.

Thereza apesar da vida simples e trabalhosa

que vivia, sentia-se no céu. Tudo corria bem,

as meninas cresciam saudáveis, seu pai

Benedito veio passar uns dias em sua casa e

ajudava a olhar as meninas enquanto ela

trabalhava, d. Cirene mudou para uma casa

maior na rua 23 de maio e contratou Dorinha

para arrumar a casa enquanto Thereza

cozinhava e passava. Tudo ia as mil

maravilhas até que Zé é dispensado da

Fazenda Fortaleza, começa então a trabalhar

na construção de uma mercearia na rua

Antônio Marins, só que agora,trabalhando

perto, passa a chegar só de madrugada em

casa . A desconfiança não deixa Thereza em

paz e ela começa a cheirar as roupas de Zé e

a observar os passos de uma vizinha que há

muito está lhe “incomodando”.

Suas suspeitas estavam certas, Zé e

Conceição estavam “de caso”.

- Olha Zé, vou te avisar só mais uma vez: se

vocês continuarem com essa pouca vergonha

eu vou dar uma surra na Conceição e jogar

suas roupas no quintal.

- Deixa de besteiras Thereza, nem converso

com essa mulher!

-Não me provoca homem que você me

conhece!

- Thereza, eu jamais vou trocar você por outra

mulher.

Essas foram as palavras mais duras que

Thereza ouviu em toda a sua vida!!

... Conceição já sabe que Thereza descobriu a

traição de Zé e para desdenhar começa a

cantarolar algumas músicas provocativas na

intenção de irritá-la.

Certo dia na beira do rio, enquanto lavavam

roupas, Conceição passou e esbarrou em

Thereza jogando-a em cima de uma pedra

onde estavam algumas roupas quarando.

Enfurecida Thereza partiu para cima dela,

mas, no primeiro golpe, sentiu uma forte dor

na barriga, começou a sangrar e não viu mais

nada.

Dorinha segurava na mão de Thereza quando

esta despertou, estava pálida, gélida e sem

viço.

- O que aconteceu? Cadê aquela ordinária?

-Calma Thereza!

- Mãe? O que faz aqui?

- Eu estava acabando de chegar em sua casa

quando te trouxeram carregada nos braços

pra cá minha filha!

- Não me lembro do que aconteceu só sei que

ia dar uma surra naquela...

Calma filha! O que você tem que fazer agora

é se alimentar bem e fazer repouso para

segurar essa criança que está aí na sua

barriga!

- O quê?

Thereza estava novamente grávida!

...

O tempo passa e José parece mais calmo,

deve ter tomado jeito. Conceição foi para a

casa de uma tia em Rive e deixou o casal em

paz. Thereza resolve ir para a casa da mãe

em Celina enquanto José viaja para Minas

Gerais a serviço...Thereza já tem com 24 anos

e está com uma gestação de oito meses.

... Na manhã do dia 14 de fevereiro de 1967,

Thereza sofre mais uma dura desilusão: o

mineiro que acabava de chegar de viagem a

abandona com uma “barriga de oito meses e

meio”.

- Thereza tô indo embora!

- deixa de besteira homem, venha ver como

nosso filho está mexendo!

- Tô indo agora mesmo, vá arrumar minhas

coisas!

- Olha Zé! Será que dessa vez vai ser um

menino? Tá mexendo tanto!

- Você nunca me levou a sério mesmo! Você

não sabe que eu não te amo mais?Vou ir pra

Cachoeiro encontrar a Conceição.

- Por que você tem que falar nessa mulher?

Quer estragar o meu dia?

- Olha, eu tentei mais com você não dá pra

conversar, vou pegar o trem pra Cachoeiro

agora!

- Zé! José! Você tá brincando comigo não tá?

Nosso filho vai nascer por esses dias,você

não vai fazer isso comigo vai?

José pegou sua sacola com as poucas roupas

que tinha, virou as costas e sumiu rua afora.

Thereza se desesperou e começou a gritar.

... Quanto sofrimento e dor!

Agora sim ela saberia o que é padecer!

Após o nascimento de seu terceiro filho, agora

um menino, Thereza vai trabalhar na casa da

família Albuquerque, Sr. Enock e d. Dulcinéia,

moradores da Praça da Bandeira e muito

amigos de d. Firmina. O casal recebeu a

Thereza como membro da família uma vez

que as referências que tinham dela eram

muito boas. Não demorou muito e Thereza era

a babá mais querida dos três filhos do casal.

Por certo, Thereza foi uma luz na vida dessa

família e serviu como arrimo num dos

momentos mais tristes e cruciais que eles

passaram... Era festa na cidade, as ruas

enfeitadas, os altos falantes anunciavam a

todo instante a programação festiva. Ia ter

desfile escolar e, todos estavam orgulhosos

da pequenina Ana que iria desfilar pela

primeira vez.

Thereza já havia engomado a blusa branca, a

saia plissada e a gravata da pequena

menininha, Sr. Enock fez questão de pagar ao

melhor engraxate da cidade pelo brilho no

sapato preto de sua amada filha e, para esta

ocasião, d. Dulce ( assim era chamada pelos

amigos) não abriu mão de um par de meias

três quartos novas para Aninha.

Estava tudo pronto quando, de repente, ouve-

se um alvoroço na rua. Todos saem correndo

para o portão e se deparam com a seguinte

cena:

“Uma criança linda estirada no chão enquanto

alguns tentam anotar a placa daquele Belina

que saia em disparada.”

- Oh meu Deus! É minha filha! – gritava d.

Dulce.

- Não pode ser! Diga que não é verdade! –

clamava sr.Enock.

Não demorou muito e a ambulância chegou e

ao prestar os primeiros socorros constatou o

que ninguém queria saber: Aninha estava

morta!

Um pavor inundou aquela cidade; ruas

enfeitadas, banda de música, holofotes,

desfile escolar... Tudo se silenciou!

...

Por um único instante e deu-se esta tragédia.

Aninha ouviu o anúncio de que o desfile em

menos de uma hora iria começar, então, com

medo de chegar atrasada foi até o portão a

fim de chamar seu pai que fora atender a um

caixeiro viajante que chegou a porta. Não

obstante, seu pai já havia entrado pela porta

da cozinha, Ana percebeu que o portão estava

aberto e, vendo outras crianças indo em

direção a praça, resolveu sair também. Dois

passos somente além do portão foram o

suficiente para que um motorista imprudente e

irresponsável ceifasse-lhe a vida.

Que ano difícil e doloroso para aquela

família... Só mesmo uma amizade tão forte e

sincera seria capaz de amenizar um pouco de

tanta dor.

Essa amizade estava ali e seu nome era

Thereza.

...Durante alguns anos Thereza trabalhou com

“tia Dulce” cuidando de Denise e Renato. No

período que ficou com eles, permaneceu

sozinha; demorou muito cicatrizar as feridas

causadas pelas desilusões que sofrera. Seu

maior objetivo agora era trabalhar e criar os

filhos que a vida lhe deu...

Denise e Renato cresciam e já não

necessitavam de uma babá, dessa forma

então, Thereza resolveu tentar uma vaga que

havia como cozinheira no Bar e Restaurante

Pico da Bandeira. Por sempre ter trabalhado

para famílias tradicionais e ilustres da cidade

não foi difícil conseguir um teste para o cargo.

...

Dois meses como ajudante de cozinha e,

numa manhã de quinta- feira chega até o

balcão onde Thereza fazia a limpeza de copos

e de garrafas de vinhos, um atraente viajante

que lhe pergunta o preço de um prato feito.

Thereza fica atônita com aquela voz tão

aveludada e não consegue responder, como

uma adolescente sai correndo e entra

esbaforida na cozinha.

Ás 20:00h daquele mesmo dia Thereza foi até

a pracinha como de costume com suas

amigas e enquanto batiam o maior papo,

sentia-se atraída por um olhar vindo da

barraquinha de algodão doce. Tentou até

fingir que não percebia aquele olhar,mas, a

força da atração era tão forte que parecia

chamar-lhe pelo nome.

Chamou Ritinha e foram até o carrinho de

pipoca para tentar sondar quem era aquele

homem misterioso. Quando estendeu a mão

cheia de moedas para pagar o saquinho de

pipoca, ouviu uma voz que lhe arrepiou a

alma:

-Deixe que eu pago senhorita!!

Thereza virou-se e quase caiu para trás: era

aquele viajante do restaurante.

...Cláudio era o seu nome e, por maravilhosos

cinco meses, Thereza conheceu o amor

novamente.

Tudo era perfeito? Não dava para acreditar

nisso.

Cláudio viajou e, assim como Mário Lúcio,

nunca mais se ouviu falar nele.

...

O cerco aperta. Cláudio abandonou Thereza

deixando-a grávida de três meses.

Assim que souberam de sua gravidez, lá no

restaurante, dispensaram-na e, Thereza se viu

desempregada, com três crianças pequenas,

grávida e sozinha. O jeito agora seria voltar

para a casa da mãe em Celina e ir trabalhar

na lavoura colhendo café.

... Uma semana após ter voltado para Alegre,

no dia 23 de março de 1971, aos vinte e oito

anos, Thereza ganha seu bebê Sebastião

Cláudio, parto feito por sua própria mãe

Dorcelina.

Thereza agora manda sua filha Lucimar para

trabalhar em Minas Gerais na casa de

Christianne, filha de d.Carmen, que agora era

madrinha de Sônia, José Márcio e Cláudio.

Quatro anos após o nascimento de José

Márcio o pai de Thereza passa a morar com

ela, pois ficou viúvo da segunda mulher e, por

coincidência, sua irmã Ana Elisa junto com as

filhas, também se muda para Celina e vai

morar com a mãe porque o marido a

abandonou.

Thereza consegue serviço na Praça do

comércio, trabalhando fazendo a escolha do

café. O único problema era que lá também

trabalhavam umas mulheres que a noite

“faziam vida”. Quando soube que Thereza

estava trabalhando lá, vó Cirene logo deu um

jeito de chamá-la para uma conversa.

Thereza prometeu para vó Cirene que jamais

iria andar com tais mulheres, mas, que não

tinha como abandonar aquele serviço.

...

Benedito adoece e quando menos se espera

vem a óbito. Uma tristeza muito grande sufoca

o peito de Thereza e ela promete enterrar seu

pai com dignidade. Juntou suas reservas e

comprou o melhor caixão que seus réis

podiam pagar.

... A vida continua e Thereza tinha que

sozinha sustentar seus filhos. Certa ocasião,

com a dispensa vazia, um fato comovente

aconteceu:

- Mamãe tô com fome!

- Eu sei minha filha, você e seus irmãos estão

desde ontem a tarde sem comer nada,mas eu

vou dar um jeito nisso.

- Mãe, traz broa pra gente.

-Trago sim Claudinho!

- Se a senhora quiser eu vou vender banana

na praça igual ao vovô – disse o filho José

Márcio.

- Sônia, cuide de seus irmãos que eu já estou

voltando.

Thereza saiu com um nó atravessado na

garganta. Sem rumo ela pensou até mesmo

em conversar com a Cidinha, a amiga que

conseguiu o serviço para ela na Praça do

comércio.

Antes porém, resolveu passar na casa de vó

Cirene para ver se tinha roupa para lavar e

engomar. Chegando lá ,vó Cirene disse que

as roupas já estavam até guardadas, mas que

se Thereza quisesse poderia preparar o

almoço, pois ela iria receber visitas.

Thereza nunca cozinhou com tanta rapidez

assim na vida. Cada pitada de sal, cada

verdura picada, cada fritura fazia com que ela

pensasse nos seus filhos em casa sem ter o

que comer.

Ao terminar o almoço despediu se de vó

Cirene na intenção de receber e ir direto fazer

umas comprinhas, mas, para surpresa sua,

ela mandou-a almoçar e também arrumar

comida e levar para as crianças, além de

pagar-lhe pela manhã de trabalho. A comida

descia como sopa em sua garganta tamanha

a felicidade. Thereza não via a hora de chegar

a casa e abraçar seus filhos e dar-lhes de

comer. No caminho de volta outra surpresa,

encontra-se com madrinha Carmem que já ia

a sua casa então lhe entrega um envelope

lacrado e diz para abri-lo só em casa.

Se até então Thereza duvidasse da existência

de Deus, neste dia ela passaria a acreditar

piamente n’Ele, ao abrir o envelope ficou

admirada:em notas de réis tinha o equivalente

a dois meses de compras com direito a broa

de fubá todos os dias. Naquela noite o céu

desceu naquela simples casinha de sapê e

Thereza dormiu com o coração leve como

uma pluma.

Agosto de 1972 - Thereza recebe a notícia

de que sua mãe está doente e sozinha, sua

irmã foi morar no Arraial do café com o novo

namorado.

Chegando a Celina Thereza fica apavorada

em ver sua mãe. Ela estava em um quarto

escuro gemendo de dor e dizia que não podia

olhar pra claridade, pois, seu olho direito doía

muito. Thereza tentou levá-la ao posto médico

em Alegre ou até em Guaçuí, mas, “vó Doce”

(como era chamada pelos netos) resistiu

preferindo que a filha cuidasse dela ali mesmo

em casa e com “remédio de mato”.

Quinze dias nessa agonia e de repente vó

Doce melhorou, mas, sua vista tapou e nunca

mais ela enxergou com o olho direito.

...

Um ano se passou e Ana Elisa voltou a morar

com a mãe o que deixou Thereza menos

preocupada.

Sua filha Lucimar retorna para Alegre e junto

com sua irmã Sônia começam a trabalhar na

casa de vó Cirene e também voltam a estudar.

Thereza agora trabalha na mercearia dos

Meneguetis e é lá que conhece Tião. Um

mulato forte, bonito, um pouco mais jovem

que ela e “atraentemente” mal humorado.

-Você está sempre por aqui?

- Eu trabalho aqui!- respondeu Thereza sem

dar muita atenção a quem lhe perguntava.

- Meu nome é Tião e você como se chama?

- Desculpe-me senhor, mas eu estou

trabalhando, se quiser conversar comigo

precisa ao menos consumir algo.

- Então me sirva uma dose da sua melhor

cachaça.

Thereza desapontada serve ao homem que

lhe perturbava os sentidos...

...

Não demorou muito e Thereza já estava nos

braços de Tião. Desta vez, porém parecia que

o negócio iria mais além e, em poucos meses

eles foram morar juntos, agora, em um morro

periférico da cidade: “morro do querosene”.

Tudo eram flores no início deste

relacionamento, Thereza levava consigo

quatro filhos e Tião três. A família era bem

grande, mas o amor era bem maior... Ela

finalmente encontrara a completitude.

Sebastião era um homem de negócios e

pensava alto, não demorou e conseguiu

ampliar o terreno da casinha onde moravam e

também conseguiu comprar outras casinhas

das quais ele alugava por um preço acessível

aos inquilinos.

Sete meses se passaram e tudo corria bem

até que a mãe de Sebastião fica adoentada e

vai morar com a família, tudo tranqüilo, uma

vez que ela é uma senhora bem prestativa e

amável. Nesta mesma ocasião Thereza

descobre que está mais uma vez grávida.

...Em 27 de Setembro de 1973 nascia Marcos

Elias, filho de Tião e Thereza e, foi só passar

o resguardo que Tião começou a aprontar e

as coisas começarem a mudar na vida

daquela família.

Dois anos de muita luta: bebida, brigas,

ciúmes, machismo, mulheres... Alegre fica

pequena demais para as armações e

encrencas de Tião, a mais grave delas

causou-lhe a perda da visão no olho esquerdo

e também dezessetes cicatrizes de facadas

nas costas.

Vender tudo e tentar a vida em Cachoeiro foi a

decisão tomada e enquanto isso se

processava Thereza descobre que está

novamente grávida.

...

Muitas agruras e decepções acontecem na

vida de Thereza e para piorar a situação sua

saúde fica debilitada... No dia 24 de abril, aos

34 anos, nasce na Maternidade São José, de

uma cesariana complicada seu último bebê,

uma menina, que precisa ficar internada

alguns dias devido a suspeita de um problema

no coração.

... Final de 1977, a família muda-se para

Cachoeiro e alugam uma casa no bairro

Baiminas onde residem por um ano e meio.

Nesta mudança eles trouxeram muitas

“bagagens”,mas também deixaram outras. A

“vida” obrigou Thereza a renunciar e abdicar

mesmo de muitos valores, renúncias essas

que certamente deixaram marcas de remorso

e dor por uma vida inteira, mas... A vida

continua e tem coisas que não voltam mais.

Tião e Thereza se estabilizam

profissionalmente, logo ele começa a trabalhar

na Prefeitura da cidade e ela como doméstica

na casa de d. Terezinha. Daí eles compram

um terreno no bairro Parque das Laranjeiras

km90 e, não demora muito, mudam-se para lá

na intenção de deixar o aluguel. Na rua

projetada em que construíram um pequeno

barraco de madeira havia poucos moradores e

ainda não possuía rede elétrica nem de água

e esgoto. Foi um período difícil, mas que

durou menos de um ano, depois, com muita

garra e coragem, juntos, construíram uma

casa com seis cômodos muito confortáveis.

Os anos foram passando e as coisas

pareciam estar melhorando para a vida dessa

família até que um dia, numa tarde de sábado,

após Thereza chegar cansada do serviço,

Tião chega quebrando tudo dentro de casa.

Ele estava irreconhecível devido à ingestão

desenfreada de bebida alcoólica, isto, não era

novidade para Thereza, o que a assustou foi a

bagunça que ele fez em casa, isto sim foi algo

inédito...

...

... Thereza agora é cozinheira do Restaurante

de d. Lourdes que mais tarde pertencerá a d.

Jucy, esta se tornará uma das melhores

amigas e companheiras de Thereza.

Nesta trajetória de batalhas, Thereza conhece

d. Geralda e d. Aureny que se tornam um

porto seguro para sua alma, anjos mesmos

que Deus envia para cuidarem de seu carente

coração. É nessas amigas que ela encontra

forças para não desistir de tudo uma vez que

a cada dia parece que Tião piora: farras,

bebidas, cheiro de “perfume barato”, fumo,

brigas,ciúmes... É essa a rotina diária naquela

casa.

As crianças já crescidinhas começam a ver e

entender o que se passa naquele lar...

Quando menos espera, Thereza descobre que

a vizinha está grávida de Tião, com quem

tinha um caso desde que mudaram para o

bairro.

- Por que você fez isso comigo Tião, tenho

sido sua companheira e cuidado de você e

dos seus filhos com tanto zelo, eu não

merecia isso!

- Thereza, esse filho pode até não ser meu.

Ela é casada, pode ser do marido dela.

- Claro que não Tião, ela mesma falou que

este filho é seu!

- Você está ficando doida, só está arrumando

um pretexto pra me abandonar.

- Você está bêbado Tião! Quando essa bebida

sair de sua cabeça então conversaremos.

...

Julho de 1981, Thereza é chamada as

pressas na Santa Casa de Misericórdia pois

seu filho Marcos Elias havia acabado de ser

atropelado por um carro, na av. Jones dos

Santos Neves, enquanto ia para a escola. O

menino teve que ser operado com urgência e

corria risco de vida.

Após o grande susto, veio a notícia de que a

cirurgia foi bem sucedida e, dois dias após o

menino iria para o Hospital Infantil onde

permaneceria por quase um mês internado.

Não bastasse isso, a filha caçula também

adoece e fica internada em estado grave no

Hospital Infantil.

...

... Aos quarenta anos, Thereza conhece os

sócios Onézio e Toninho, donos do

Restaurante Honda e começa a trabalhar

como cozinheira para eles. Tião continua na

Prefeitura, mas não dá pra contar muito com

sua ajuda financeira porque continua com

aquela vida promíscua. Ele até é um homem

bom, acreditava ela, porém a “maldita”

cachaça tirava-lhe a sensatez.

... Tião não tomava jeito mesmo, cada dia era

uma história nova para as suas chegadas de

madrugada em casa, nem mesmo o fato de

sua filha estar internada e Thereza operada

de varizes e cravos faziam com que o homem

dormisse em casa. O que será que ele fazia

até tarde fora de casa?

Quem ainda tiver dúvidas que tente

adivinhar!!!!

Apesar de uma vida marcada por tantas

decepções, dores e sofrimentos, Thereza era

uma mulher que trazia sempre um sorriso nos

lábios. Era forte, guerreira, corajosa e contava

agora com a fé que ardia em seu peito e a

fazia crer que o seu Redentor está Vivo e que

em breve lhe traria a “salvação.” Thereza

tornou-se evangélica servindo ao Senhor na

Igreja Assembléia de Deus como congregada.

Assim aconteceu a sua conversão.

Chovia muito e Tião chega em casa todo

molhado:

- Tião, onde você estava até agora! Você está

todo “ensopado”, vai pegar um resfriado!

- Não estava aonde você tá pensando não!

- Como não?! Você está bêbado, fedendo,

onde mais poderia estar?

- Eu estava na igreja daquele pastorzinho!

Aquele que trabalha lá na prefeitura também

lembra, que sempre te falo sobre ele?

-Ah Tião, você nunca foi numa igreja, nem no

batismo de seus filhos, ainda mais numa

igreja desses crentes. Como posso acreditar

em você? Vá tirar essa roupa molhada!!

- Estou falando sério mulher e tem mais, falei

com o pastor que quarta-feira você e as

crianças irão também.

- Eu aceitei a Jesus e agora Ele ta morando

aqui no meu...

Tião mal conseguia parar em pé porque

depois que participou do culto parou no

boteco do seu João e tomou três doses de

cachaça como de costume...

Quarta -feira, 1978- Igreja Evangélica Ass.de

Deus do Bairro Baiminas.

Thereza entra timidamente na congregação e

logo é recepcionada por um grupo de

mulheres muito simpáticas, as crianças são

colocadas sentadas perto de outras crianças e

assim participam do culto.

Os louvores da harpa cristã soam como

melodias do céu para o coração de Thereza,

sua alma fica leve, ela pedi para que esse

momento dure uma eternidade e, na hora da

mensagem não há mais dúvidas: ela precisa

desse Deus Bondoso em sua vida.

Quando o pastor faz o apelo imediatamente

ela se coloca de pé e vai até a frente, dobra

os joelhos e começa a chorar. Sua alma anela

por Deus e ali sela uma aliança que não terá

fim.

Se durante todo o tempo em que estiveram

juntos, Tião não tivesse feito como homem,

nada louvável para Thereza, de uma coisa ela

não poderia jamais se esquecer: foi através de

uma atitude dele que ela conheceu a “Pessoa

Bendita de Jesus Cristo”.

...

... Thereza era muito cativante e isto a tornava

amiga e conhecida de muita gente e, foi

através dessas amizades que ela descobriu

que Tião estava com outra mulher e que o

caso era mais sério do que se podia imaginar.

Ele comprou um terreno no bairro Village da

Luz e estava construindo para esta mulher.

Daí não parou mais e Tião tornou-se um

marido e pai ausente por diversas vezes: as

crianças se machucavam – ele ausente;

quebravam braços e pernas – cadê Tião?

Um dia o filho Marcos ficou soterrado por um

barranco que caiu, os vizinhos ajudaram e

tiraram-no com vida, mas, Tião só soube no

dia seguinte. Sua filha caçula foi internada em

estado grave novamente e ele de tão ausente

nem ficou sabendo, quando retornou pra casa

a filha já estava melhor.

Thereza estava cansada de tanto sofrimento,

ainda não entendia que o fato de servir Ao

Senhor não lhe impediria de passar por

provações e lutas constantes...

Tião resolveu assumir a amante de forma tão

descarada que levava os próprios filhos para

ajudar na construção da casa para a mesma

e, se não bastasse isso, ainda levava para ela

da comida que a própria Thereza fazia.

Thereza no desespero em ver seu

“casamento” desfeito resolve junto com a

amiga e comadre Eunice, entrar por uma porta

“estranha” a fim de separar o novo casal. Algo

interessante porém acontece: para surpresa

de Eunice e “benção” para Thereza, a tal

cartomante e feiticeira havia sido regenerada

pelo poder transformador de Jesus Cristo e de

feiticeira foi transformada em irmã do Círculo

de Oração e profeta na Casa de Deus.

Thereza descobre onde é a casa da mulher de

Tião e vai até lá. Chegando se depara com

uma situação deplorável: a casa está sem

energia, não tem água e a mulher está

passando necessidades. Thereza conversa

com ela e pede para que desista de continuar

com o romance com Tião, mas, para tristeza

ainda maior, ela revela que está grávida.

... Thereza está decidida a separar-se de Tião,

pois, não demorou muito passar o resguardo e

novamente a amante estava grávida. Como

aceitar passivamente uma situação como

esta? Coitada, mas, era apenas o início de

muitas decepções que ainda aconteceriam em

sua vida.

O tempo passa e, numa bela manhã de

segunda-feira, aparece e, passa a freqüentar

diariamente o restaurante, o mineiro José, um

dos pais dos filhos de Thereza, aquele

mesmo, que a abandonou grávida de oito

meses.

... José começa a “cercar” Thereza com a

promessa de que tudo seria diferente dessa

vez, dizia nunca tê-la esquecido e que ela era

o grande amor de sua vida. Falou ainda que já

sabia de tudo quanto ela estava passando e

até mesmo sobre a amante de Tião ele já

tinha relatório.

Rever aquele mineirinho mexeu muito com

suas emoções...

...

Sebastião e Thereza já não vivem bem, eles

brigam muito e a cada dia que passa o

respeito parece que diminui entre os dois.

Thereza continua na igreja, mas não tem

liberdade para estar presente no culto porque

apesar da vida promíscua de Tião, ele tem um

ciúme doentio por ela. Diz ele que ao invés

de ir para a igreja ela vai se encontrar com o

“Zé boi”, um homem que mora na rua abaixo

da igreja onde congrega e que vive fazendo

serenata que, “dizem as más e boas línguas”,

são para ela.

Na verdade, mais tarde descobriu-se que Zé

boi era realmente apaixonado Por esta “nega”

cativante.

Um ano se passou e Thereza decide separar-

se de Tião e dar uma nova chance a José, no

entanto, ela agora tem consciência de que sua

vida não é mais a mesma e que não pode

viver nesta situação porque já estava

separada de corpos mais ainda morava na

mesma casa com Tião. Foi uma decisão

difícil, mas ela tomou coragem e disse para

Tião que iria sair de casa já que ele não abria

mão das duas mulheres que tinha.

...Alguns meses de namoro e Thereza

desafiam a José dizendo que só continuaria

com ele se ele assumisse o compromisso de

casar-se com ela. Ele prontamente diz sim!!!

...

... Noite chuvosa e Tião reclama de dores no

peito. Amanhece e chega a notícia de que o

tio de Tião, vindo de São Paulo, sofre uma

parada cardíaca e não resiste. Tião vai até o

IML e assiste a autopsia...

No velório, um pouco antes do enterro, Tião

reclama de dores e dormências nas mãos e

pernas.

Tio Tatão é enterrado no Cemitério Municipal

do Coronel Borges. Tião vai embora sem dizer

uma só palavra. Não janta e fica “moribundo”

pela casa.

Dia seguinte... Tião é levado às pressas para

a Santa Casa de Misericórdia e lá fica

internado no CTI com o diagnóstico de

Acidente Vascular Cerebral. Começa aí uma

rígida, dolorosa e longa jornada; para Thereza

era hora de esquecer-se das decepções e

mágoas e amparar e cuidar do pai de seus

filhos, os planos feitos foram desfeitos sem

nenhuma sombra de dúvidas de que era o

melhor a se fazer.

Thereza vai todos os dias ao hospital,

acompanhava cada progresso e cada recaída

e assim seguiu sua vida nesta labuta diária.

Devido ao serviço no restaurante, o hospital

abriu uma exceção para que ela visitasse seu

esposo fora do horário de visitação, isto

ocorreu depois de muito diálogo e

intermediação de Onézio, dono do restaurante

junto ao médico diretor do hospital.

... Se é certo que algumas pessoas nasceram

marcadas para sofrer, Thereza, em muitos

momentos deve ter pensado ser uma delas...

Faltavam dois dias apenas para Tião receber

alta e Thereza já estava disposta a abandonar

a possibilidade de uma vida melhor ao lado de

José para permanecer com Tião, até que,

banhada em suor e quase sem fôlego, chegou

à portaria da Santa Casa e foi barrada pelo

porteiro:

- Aonde a senhora vai? É em alguma seção

particular?

- Não, eu vou visitar meu esposo que está

internado aqui, mas, não é particular não!

- Minha senhora o horário de visitas já expiou

há duas horas, agora a senhora não pode

entrar mais.

- Como não meu rapaz? Eu estou autorizada

a visitar meu marido sim!

- Quem é a senhora? Talvez eu possa fazer

alguma coisa - disse o porteiro com muita

gentileza.

Thereza então explicou toda a situação e falou

o nome do seu esposo para aquele atencioso

porteiro, o mesmo, olhando na ficha e sem

entender nada do que estava acontecendo,

lamentavelmente lhe falou:

- d. Thereza, eu sinto muito, mas, a esposa e

a filhinha do Sr. Sebastião Athaides já estão lá

dentro e ninguém mais pode entrar. Sinto

muito, mas, eu sigo ordens.

... Thereza esvaiu-se em lágrimas, lágrimas

de raiva, de pavor, de decepção, de fúria e de

dor.

Tião voltou para casa e uma semana

após,Thereza saiu, levando consigo os únicos

frutos bons desse relacionamento: “um casal

de filhos.”

... Na semana seguinte a saída de Thereza,

Tião manda buscar a nova companheira para

morar em casa com ele.

Para os parentes de Tião Thereza ficou sendo

vista como uma mulher sem coração, sem

escrúpulos, foram meses ouvindo afrontas e

até calúnias. Os únicos que a apoiaram foram

tio Antônio e tia Terezinha, tios de Tião, mas,

que acompanharam de perto os anos de

dedicação e luta de Thereza.

...

28 de Junho de 1984 – Data escolhida para

realização do casamento entre José e

Thereza por ser também aniversário de

Dorcelina, nada mais singular e carinhoso, a

mãe poder não só abençoar, mas também

participar desse momento lindo e único na

vida da filha. Tudo era festa e muita alegria,

uma cerimônia simples realizada no cartório

de Celina tendo como testemunhas: comadre

Eunice, Tia Dulcinéia e tio Enock, vó Cirene e

madrinha Carmem.

Thereza era só felicidade, agora era uma

mulher casada, possuía um lar de verdade e

poderia concretizar um grande sonho: batizar-

se em águas e tornar-se membro da igreja em

que freqüentava.

Ansiava por nascer de novo e deixar de fato

as velhas coisas para trás.

Sua mãe Dorcelina estava extremamente

emocionada neste dia e confessou para a

filha:

- Você sempre foi a filha querida do meu

coração. Uma filha sempre presente, minha

companheira, minha ajudadora e hoje, você

está me dando o maior presente de

aniversário que eu poderia ganhar. Você está

casando minha filha e isso é um presente de

Deus, o que eu posso de dar é a minha

benção e pedir que Ele te proteja sempre e

sempre. Eu amo você!

Sem palavras, Thereza abraçou fortemente a

sua mãe e chorou... Chorou de muita

felicidade!

06 de Agosto de 1984 – Thereza é batizada

em águas na Igreja Evangélica Pentecostal

em Avivamento, igreja esta que mais tarde

teria sua nomenclatura mudada para

Assembléia de Deus “ministério Vida”.

...

... Três anos se passaram, o relacionamento

do casal ia às mil maravilhas, Thereza

continuava trabalhando com Onézio e Toninho

no restaurante Honda e agora atua como a 1ª

dirigente do Círculo de Oração na

congregação da Ass. de Deus no bairro

Amarelo, onde reside.

No dia 31 de Outubro de 1987, porém,

acontece o maior drama em sua vida:

Dorcelina, seu porto seguro, sua metade, vem

a óbito. Diante de todos os sofrimentos e lutas

passados, nunca se viu Thereza tão abatida e

sofrida. Neste dia de tamanha dor Tião estava

lá dando o seu apoio porque uma coisa não

se podia negar, ele e Dorcelina se davam

muito bem, eram como mãe e filho e,

certamente ele estava sofrendo com a sua

perda. Neste tempo também, vale lembrar,

Tião e Thereza já estavam em paz um com o

outro, o perdão já havia entrado no coração

de ambos e cada um a sua maneira tentava

ser feliz...

... Não demorou muito essa dor ser

amenizada pelo tempo, outra perda

esmagadora: Madrinha Carmem também

“resolve” deixar a filha tão amada.

...

Passaram-se esses anos e as coisas

começaram a mudar drasticamente na vida de

Thereza, aquele mineiro pacato, carinhoso e

gentil deus lugar a um homem arrogante e

avarento. José não mais ajuda nas despesas

da casa e implica com os filhos de Thereza

por mínimas coisas. Aparentemente ele até é

um homem bom,mas,por causa dos filhos que

Thereza trazia de outro relacionamento, ele a

maltratava e, cada vez que deixava de ajudá-

la era como se dissesse: “se fosse somente

você Thereza, eu te daria de tudo e você nem

precisaria trabalhar fora de casa.”

Thereza não abriu mão de seus filhos e, essa

decisão tirou-lhe momentos maravilhosos e

privou-lhe de muitas regalias e coisas boas,

porém, nada neste mundo a faria mudar de

decisão.

“Só a morte será capaz de afastar-me de

meus preciosos filhos”- pensava ela.

Sua vida de batalhas perdurou por muitos

anos só que agora era diferente, ela via o

resultado de tantos esforços e, não só os via

como também usufruía dele.

Aquela moça vaidosa aflorou novamente e ela

voltou a cuidar mais de si: sempre no salão de

beleza da Maria; sempre comprando roupas e

sapatos novos; sempre viajando para o Rio de

Janeiro onde mora a família; sempre

participando de festas, caravanas e

congressos da igreja; sempre preparando

deliciosos banquetes em casa aos domingos

para receber os filhos e amigos.

Muitas provas e dissabores marcaram a vida

de Thereza, mas, nesta escalada Deus

também lhe deu alguns refrigérios: seus filhos

começam a crescer, conquistam carreiras,

tornam-se homens de bem, se casam, dão-lhe

netos e netas. Deus dá-lhe a amizade de Ana,

Maria Marinho e Maria José, amigas essas,

que darão um novo sentido a sua vida.

Reencontra os “filhos do coração” Renato e

Denise e volta a cuidar deles,reencontra “tia”

Jucy, vê seu filho Marcos servindo ao

Exército, seu filho Sebastião Cláudio

trabalhando na Empresa Viação Itapemirim e

“forma” a sua filha caçula em Magistério.

O seu maior e grande sonho, porém, se

realizou no dia 11 de Maio de 1996:

Thereza leva ao altar do Senhor, sua filha

caçula para casar-se com o homem que é

muito mais que genro, é um filho, é um amigo.

Além do casamento da filha, Thereza recebe

outro grande presente: sua filha Lucimar vem

do Rio de Janeiro para o casamento e passa o

dia das Mães com ela.

...

Agosto de 1997:

Mês de bençãos espirituais para Thereza:

começa a trabalhar na cozinha da Sede. Em

todos os eventos realizados pela igreja lá

estava ela, feliz em contribuir com o seu divino

talento, para o bem da obra do Senhor.

Setembro de 1997:

Thereza amanhece com as pernas inchadas e

doloridas. No decorrer dos dias só vai

piorando até chegar ao ponto de ficar

impossibilitada de andar.

- Você precisa dar um jeito de ir ao médico. -

disse José sem prestar-lhe um “pingo” de

assistência.

- Posso ir sim, mas, como? Não consigo

sequer ficar em pé direito!

- Dá um jeito! Cadê seus filhos que vivem aí

comendo nas suas costas?

- Se você não quer me ajudar tudo bem!

Somente me deixe em paz então!

José todos os dias perturbava Thereza

falando de seus filhos, ele, porém, não movia

um dedo para ampará-la e socorrê-la.

17 de Setembro de 1997:

- Mãe! Como que sua perna chegou a esse

estado? A senhora já foi ao médico?

Perguntou a filha caçula que acabava de

chegar a sua casa.

- Ainda não minha filha! Estou sentindo tanta

dor! – Thereza começa a chorar.

- Então vamos pro hospital agora, a senhora

não pode ficar desse jeito.

Chegando a Santa Casa Thereza logo é

atendida e medicada, devido ao estado de sua

perna e também da febre, teve que ficar em

observação e passou aquela noite

hospitalizada.

Thereza estava passando por um processo

muito penoso e até sua recuperação seria

uma maratona muito exaustiva, mas, valeu e

valeria a pena sempre...

Não se pode entender por qual razão ou

motivo isto aconteceu, mas, a filha de Thereza

Sônia e seu pai José, não trataram-na como

deveria uma filha e um esposo: deixavam-na

sozinha por um período longo, sem água e as

vezes com fome e, talvez na intenção de

ajudar, amarravam sua perna que estava

ferida para o alto com uma corda.

Thereza não questionava o porquê de tantas

provações. Foram muitas noites em claro e de

lágrimas pela dor física e emocional, contudo,

ela não perdia a convicção de que, passasse

o que fosse o Senhor estaria com ela e não a

deixaria jamais.

Dezembro de 1997:

Após a difícil recuperação da erisipela em sua

perna esquerda Thereza é bombardeada com

a triste notícia de que seu filho Marcos é preso

em flagrante e acusado de tráfico de drogas.

- Meu filho Marcos? O meu “Marquinhos”?

Vocês só podem estar brincando! Pai de

Misericórdia! – Exclamou Thereza olhando

para o céu.

- É sim d. Thereza, a polícia acabou de levar

ele e o Lúcio. – disse Ana abraçando e

consolando Thereza que estava em lágrimas.

- Não pode ser verdade, o que será do meu

filho!...

Que mês terrível para esta mulher, mais uma

vez: dores, lágrimas, decepções e

humilhações... O que o Senhor lhe tinha

reservado?!

Incalculável o seu sofrimento, mas também, a

sua perseverança e confiança no milagre do

Senhor. A luta estava travada, porém não o

suficiente para fazê-la parar. Continuou

fazendo a obra de Deus dando assistência a

Sede e a congregação, participando

ativamente dos cultos e encontros realizados.

Era uma maratona de afazeres domésticos,

encomendas de salgados, visitas ao filho

preso, e, cultos na casa do Senhor...

18 de Janeiro de 1998:

Em meio a tanto sofrimento Deus agracia a

vida de Thereza com o nascimento de seu

netinho Fellipe, que ficou aos seus cuidados

por 45 dias. Foram dias de bênçãos, muitas

bênçãos.

2º Domingo do mês de Maio de 1998 – Dia das Mães

Thereza está no Rio de Janeiro, foi passar uns

dias lá para descansar um pouco de tantas

amarguras. Seu genro Sérgio lhe deu a

passagem como presente e pediu para que

ela tentasse “esquecer” um pouco dos

problemas daqui e aproveitar o tempo com os

familiares ali. Como se cumprindo uma

promessa, Thereza voltou a gargalhar como

há muito não fazia.

Ao regressar da viagem, que alegre notícia ela

recebe: seu filho Marcos sairia da prisão por

aqueles dias. A felicidade não pôde conter as

lágrimas que rolavam de seus olhos... Já não

eram lágrimas que aprisionam, mas, que

libertam.

- Obrigada Meu Pai! – sussurrou!

... Assim prosseguiu a longa trajetória de

Thereza. Uma vida marcada pelo sofrimento e

também pela fé, não uma fé natural dada aos

homens para se crer em algo, mas a fé

sobrenatural de crer no impossível.

Foi através desta fé que Thereza conseguiu

em meio a tantas intempéries, permanecer de

pé até o final.

...

Junho de 1998 – Semana do Dia dos namorados:

Thereza prepara o almoço para os

participantes do “Encontro de Casais” que

está sendo realizado na congregação do

Amarelo. Pastor Carlos Azevedo ministra aos

casais e brinca dizendo que o cheiro da

comida está tão bom que está fazendo com

que ele não pense em outra coisa.

Ele não poderia ficar para o almoço, mas, não

resiste e resolve “beliscar” alguma coisinha.

De repente uma “nuvem de glória” invade

aquela casa e Pr. Carlos Azevedo é tomado

pelo Espírito Santo em profecias e revelações

da parte de Deus. Em determinado momento

ele impõe as mãos sobre a cabeça de

Thereza e com notória unção entrega-lhe

promessas de Deus para sua vida, entre elas,

a promessa de “um breve descanso”.

O céu desceu naquela tarde dentro daquele

lar, só se ouviam barulho de “glórias e

aleluias”. Todos estavam extasiados de poder,

mergulhados e envolvidos na unção que

desceu ali.

... Não demorou muito e as promessas de

Deus começaram a se cumprir na vida de

Thereza, de forma paulatina, porém, muito

clara. Enquanto isso, ela e suas fiéis amigas,

aguardavam com paciência a promessa do

“descanso”, pois acreditavam tratar-se de sua

aposentadoria que estava preste a sair.

Nesta época Thereza estava “encostada” pelo

INSS e sua aposentadoria estava em

processo.

...

15 de Outubro de 1998:

19 horas: Casa cheia.

É realizado um culto em Ação de Graças pelo

aniversário de Thereza e também por sua

recuperação física total. Seu genro dirige o

culto, suas amigas prestam-lhe homenagens,

as jovens, pelas quais ela vivia cercada,

estavam todas lá; seus filhos, noras e netos

estavam presentes também.

Um momento de muita emoção foi quando

todos, para homenageá-la, cantaram o hino

“Experiência” e, na última parte do coro ela

mesma fez questão de declarar cantando:

”Eu já tenho a experiência, pois não

me esqueço daquela benção,

Que no choro conquistei, o povo do

mundo chora com razão,

Mas o meu choro não é em vão,

pois, tenho um Consolador.”

Esta canção resume toda a vida de Thereza,

todos os seus 56 anos de vida...

Quando ela pensava que terminava as

homenagens, recebe uma surpresa preparada

por sua nora Veralucy: um bolo feito por sua

amiga Aureny. Foi a coisa mais linda de ver

aquela mulher tão grande ficar pequenininha

no abraço de sua nora e banhando-se em

lágrimas. Foi impossível não se emocionar e

não chorar também.

Para Thereza aquele dia foi como olhar para

trás e descobrir que valeu cada dor, cada

espinho da caminhada, cada amargura

sofrida, cada tempestade enfrentada, cada

noite mal dormida,cada queda, cada

humilhação...

Valeu a pena; valeu muito a pena!

...

1º de Novembro de 1998

Thereza resolve ir à casa de sua amiga

Geralda, no bairro Parque das Laranjeiras,

fazia alguns meses que elas não se viam e

agora a saudade apertava. Conversaram

muito neste dia, também oraram juntas e

louvaram ao Senhor com aqueles hinos de

“sua época”.

No dia seguinte Thereza retorna ao bairro,

mas, dessa vez para ir buscar sua roupa que

foi costurada por sua amiga Aureny,

aproveitou também para almoçar com sua

filha e conversar com Tião seu antigo

companheiro.

- Tudo bom com você Tião?

- Vou aqui levando a vida!

- Você parece estar muito bem, engordou e

está com a aparência saudável.

- Você também Thereza, continua muito

bonita!

- Quero te dizer Tião que não guardo mais

mágoas do que nos aconteceu. Hoje eu sou

uma nova criatura, as coisas velhas se

passaram e estou vivendo em novidade de

vida, já não tenho motivos para olhar para o

passado e sofrer. Precisamos, no entanto,

resolver a situação dos nossos filhos e

também da sua mulher porque tem filhos com

você e eles precisam estar amparados caso

eu ou você “falte”um dia.

- Ah Thereza! Tudo podia ser diferente,

porque fui tão cabeça dura.

- Não vamos nos lamentar Tião, aconteceu o

que tinha que acontecer. Só desejo que hoje

você esteja feliz, respeite sua mulher e que

ela te respeite também, outra coisa, vocês

precisam procurar uma igreja, buscar ao

Senhor, pois, Ele é o único que pode dar tudo

o que nós precisamos para sermos felizes.

- Sei disso Thereza, sei que preciso de Deus

na minha vida...

...

09 de Novembro de 1998:

- D. Thereza, Tatiana e eu viemos aqui saber

se a senhora vai com a gente em Vitória! –

disse Simone.

- Ainda não decidi, quero ir mas estou com

pouco dinheiro.

- Se este for o problema a gente paga pra

senhora! – falou Tatiana.

- Vamos sim dona Thereza! A senhora sabe

que papai só vai me deixar ir se a senhora for

também. – disse Simone.

- Então vamos fazer assim: vou esperar a

Scheilla vir aqui aí eu decido se vou ou não!

À tarde, Conversando com Maria Marinho,

Thereza ficou mais animada a ir à caravana,

Tatiana também lhe avisa que sua mãe vai

também e, Scheilla liga e diz que se for

possível irá junto.

No decorrer da semana Thereza começa a

colocar a casa em ordem: faz compras, lava e

passa roupa, escala as irmãs para o culto de

sábado à noite e para a consagração do

domingo... Arruma a igreja para a Santa Ceia.

...

14 de Novembro de 1998

7:00h – Thereza acorda cedo, prepara o café,

faz um bolo e também um delicioso doce de

mamão.

11:15h – Hora de ir ao Hortifrut para fazer

umas comprinhas de frutas verduras e

legumes.

13:10h – Tudo pronto e Thereza antes de sair

escreve um bilhete para a filha:

“Querida Scheilla, resolvi ir na caravana com

as meninas. Dá uma olhadinha na casa para

mim e tire essas roupas que estão no varal.

Olha, tem doce de mamão no pote em cima

do armário e no forno também tem bolo.Na

geladeira tem banana prata e danoninho para

o Fellipe. Fica com Deus e que Ele te

abençoe!”

14:00h – Sai da Sede a caravana para Aribiri

em dois ônibus. Thereza vai no ônibus que

levavam os irmãos da congregação do Zumbí

porque não havia lugar para as meninas no

ônibus da Sede, então, para irem juntas,

Thereza também foi neste que possuía vários

lugares vagos.

...

Aribiri – ES, 14 de Novembro de 1998

Quando a caravana de Cachoeiro chegou a

Aribiri havia uma singela recepção para

recebê-los e, na hora do culto uma explosão

de poder, particularmente, visitava os

mesmos irmãos.

No alojamento foi uma farra, ninguém dormia,

estavam todos muito eufóricos e jubilavam de

uma alegria incontida, era como se Deus

fosse impactá-los com algo que os marcaria

para sempre...

No domingo pela manhã, o grupo foi passear

pela cidade e, nesse passeio Thereza

comentou com Maria José que só Deus sabia

o tamanho de sua alegria por estar ali.

As 10:00h foi realizado o primeiro culto

daquele dia. Em alguns minutos após, o Pr.

Reginaldo Almeida, anuncia e levanta um

clamor pela vida de Pr. Umberto que acabava

de passar por uma cirurgia cardíaca.

Confiante na ação poderosa de Deus,

Thereza chora e ora fervorosamente pelo seu

amado pastor.

12:00h – Fila para o almoço:

- Olhe aqui, eu acabei de chegar, mas, vocês

precisam dar a vez para mim porque eu sou a

mais velha da turma – falou Thereza

estampando um belo e peculiar sorrisão.

- Pode ficar aqui na minha frente irmã

Thereza! – disse Fabinho gentilmente.

- Tão vendo só, isso é que é menino de ouro!

– exclamou Thereza agora com uma

gargalhada que não deixou ninguém sério

naquele momento.

Depois do almoço enquanto as “meninas”

conversavam com os jovens que acabaram de

conhecer, Thereza e Maria José sentaram-se

na arquibancada e conversaram sobre coisas

comuns e também sobre o culto matinal.

14:00h – Um dos ônibus regressa para

Cachoeiro e as “meninas” decidem voltar nele,

para Thereza tudo bem,mas, ela e Maria José

ficariam para o culto da noite.

- Irmã Thereza, a senhora tem certeza que

não quer ir com a gente? – perguntou Tatiana.

- Não minha filha! Vamos ficar para o próximo

culto.

- Mas a senhora não vai ficar chateada? Se

quiser, a gente fica?

- Tatiana não se preocupe conosco, sua mãe

e eu vamos nos cuidar direitinho! – falou rindo.

- Porque a senhora não quer ir agora? Tem

lugar sobrando no ônibus! – disse Simone.

- Meu lugar já está reservado no ônibus em

que viemos, não posso deixar o lugar vago.

Ao se despedirem, Thereza como sempre,

brincou com elas dizendo para terem juízo,

mas, para Simone, essa brincadeira soou com

um tom de voz diferente quando Thereza

disse:

- “Vão com Deus e se cuidem...”

Havia algo diferente, seu sorriso até era o

mesmo, porém, uma seriedade transparecia

em seu olhar...

Seu “tchau” expressava um adeus!!!

...

Já eram 21:00h e hora de voltar para casa.

Thereza e Maria José conversavam alegres

sobre filhos, família e sobre a alegria de servir

ao Senhor enquanto os outros irmãos

cantavam. Irmã Luciana Scarpin interrompeu-

as pedindo que Thereza “tirasse” o hino da

harpa cristã de nº122 ; foi um momento

sublime tamanha a afinação vocal daqueles

que a acompanhavam.

Fogo divino, clamamos por ti;Vem lá do alto, vem, desce aqui;

Ó vem despertar-nos com teu fulgor;Vem inflamar-nos com teu calor.

Por um instante Thereza silenciou-se e, em

seguida voltou a cantar... Com os lábios sei

que cantava o mesmo hino, sua alma, porém,

já entoava o hino 36 da mesma harpa cristã.

Da linda pátria estou bem longe;Cansado estou;

Eu tenho de Jesus saudade,Oh, quando é que eu vou?Passarinhos, belas flores,

Querem m'encantar;São vãos terrestres esplendores,

Mas contemplo o meu lar.

22:30h – Um barulho ensurdecedor invade

aquele ônibus e, de repente, vê-se toda a

lateral esquerda sendo arrancada

bruscamente por uma carreta que vinha na

contramão e em alta velocidade...

Em poucas horas noticia-se a maior tragédia

automobilística ocorrida com uma caravana

evangélica, da Ass. de Deus, nos últimos

tempos...

Entre mortos e feridos foi grande o massacre

e, enquanto voluntários ajudavam a resgatar

das ferragens aqueles que ainda respiravam

com vida, o Espírito Santo conduzia para o lar

as almas daqueles que, aprouve a Deus, dar o

tão necessário “Descanso”.

16 de Novembro de 1998

Tudo estava pronto para o velório e culto

fúnebre dos corpos dos “amados” irmãos. A

Sede, na Samuel Levi, estava abarrotada de

gente. Todos estavam enlutados; aquele

ambiente de tanta alegria agora estava

envolto por uma névoa de tristeza; a “vida”

silenciava-se para a morte ao mesmo tempo

em que assoprava uma doce paz nos

corações...

Quantas lágrimas, quantas vozes

embargadas, quantos suspiros, quantos

amigos...

Aquele foi o culto fúnebre mais lindo que

presenciei... E, eu ali parada, senti-me só e

desamparada, tive vontade de gritar, fugir e

esvair-me dentro de mim, porém, uma voz

suave e mansa falou-me novamente ao

coração: “Não Te deixarei órfã”. Uma calma

inundou-me e comecei a consolar os que se

achegavam a mim.

Olhei para a galeria e vi prantos; olhei para a

minha direita e vi lamentos; olhei para a

esquerda e vi tristeza; olhando para os lados

via corações dilacerados pela dor e, voltando-

me para frente daquele altar via seis caixões

lacrados.

Eram seis vidas que haviam acabado a

carreira e guardado a fé; eram seis vidas que

não mais sofreriam; não mais chorariam; não

mais padeceriam fome, frio, calor e nenhum

outro tipo de privação... Nunca, para sempre,

nunca mais...

A frente daquele altar se cumpria a promessa

para a vida de Thereza: “Eu te darei descanso

em breve”.

...

Therezinha Lobato morreu no auge de seus

56 anos com “esmagamento dos ossos do

crânio e da face”.

Seu corpo foi sepultado em Celina – E.S, junto

ao corpo de sua mãe Dorcelina de Jesus

Lobato, as 21:00h.

23:00h – Casa vazia... Maior é o vazio que

está em meu coração e que nem o tempo será

capaz de preencher...

Uma saudade invade a minh’alma e a faz

chorar... Chorar intensamente. Há um grito

preso em minha garganta; uma dor apertando

o meu peito; um suspiro sufocando o meu

coração.

Sei que que os que creem em Jesus não

morrem e que a morte física para ele é

ganho... Hoje mamãe está ganhando,

ganhando o direito de entrar na “Cidade” pelas

portas.

Hoje... Suas vestes estão “mais alvas do que

a neve...”

Saudades é certo que sempre sentirei e, dos

meus olhos sempre rolará uma lágrima, mas,

em meio à dor meu coração exultará sempre

ao lembrar-se de que se eu for fiel e

permanecer no “Caminho”, um dia eu irei

revê-la e,

Viveremos para todo o sempre ao lado do

Senhor Jesus!

...

Saudade...

15 de Dezembro de 1998

1º mês de ausência física:

Hoje amanheci com uma lágrima no olhar... É

difícil demais pensar que ela não está mais

aqui entre a gente;

Dói muito saber que não vou mais ouvir

aquela gargalhada gostosa, aquela voz

vibrante; sentir aquele olhar terno... Ai que

saudade!!!!

Hoje também “briguei” com uma das filhas do

meu pai; ela falou horrores a respeito de

mamãe e nem respeitou a minha dor. Disse

com despeito que ela não passava de uma

“prostituta” arrependida, achando que isso iria

desestruturar-me,mas, pelo contrário, só me

deu a certeza de que quando Deus transforma

o “homem”, transforma de verdade e por

completo e, Thereza foi transformada pelo

Poder do Senhor Jesus.

Para mim o que importa não é o que Thereza

fez no passado de sua existência, mas sim, o

que ela preparou para o futuro...

Eu tenho o maior orgulho de ser o “espelho

refletido” de tudo aquilo que ela queria fazer e

não pode... Queria ser e não foi...

... Quantos amores Thereza teve?

Paixões e aventuras ela até pode ter tido em

número considerável,

Mas, amores? Ah...!!!

Amores ela só teve 6: Lucimar Lobato, Sônia Mª Lobato,José Márcio, Sebastião Cláudio, Marcos Elias e...

... Depois da discussão com minha irmã fiquei

muito chateada, primeiro que não gosto nem

um pouco dessa situação e também, porque

eu não tinha nada a ver com a briga familiar

que estava acontecendo, mas, já que eu fui

envolvida dei o meu parecer buscando não

defender ninguém, unicamente sendo justa no

que argumentava. Ela,porém, para desarmar-

me começou a difamar a memória de minha

mãe...

Quando entrei em casa estava com a alma em

paz, pois, consegui desfazer a discussão; os

ânimos se acalmaram e cada um foi cuidar de

sua vida; senti-me orgulhosa também por

defender e honrar mamãe, no entanto, aquilo

me machucou profundamente... Afinal, hoje

está fazendo só um mês que ela nos deixou...

Quando meu coração parecia esmorecer,

Deus falou-me profundamente:

“E ouvi uma voz do céu que me dizia:

escreve: Bem aventurados os mortos que

desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o

Espírito, para que descansem dos seus

trabalhos e as suas obras os sigam.” (Apoc.

14.13)

Diante desta mensagem celestial e

consoladora, eu só tenho a agradecer a Deus

por estar me sustentando e pedir que Ele

continue firmando os meus passos,

aumentando a minha fé, guardando a

lembrança viva da mulher mais amorosa, com

o sorriso mais lindo e mais temente a Deus

que eu já conheci.

Therezinha Lobato,

Minha Mãe

...

Thereza passou aqui na terra como um sorriso;

Um belo e encantador sorriso...

E é assim sorrindo...

Que eu sempre me lembrarei dela!

... Com muita saudade...

Imensurável Saudade!!!

Therezinha Lobato

15/10/1942 *15/11/1998

Sua sempre caçula: Scheilla Regina Lobato de Ataide e Silveira.

Fotos:

Encontro da União feminina Assembléia de Deus

Ministério Cachoeiro - ES

Quantos amores Thereza teve? Paixões e

aventuras ela até pode ter tido em número

considerável, Mas, amores? Ah...!!!

Amores ela só teve 6: Lucimar Lobato, Sônia Mª Lobato, José Márcio ( In memorian), Sebastião Cláudio, Marcos Elias e Scheilla Lobato.

Os filhos da esquerda para direita na parte superior:

Lucimar, Sônia, José Marcio, Therezinha (no centro),

embaixo: Sebastião Claúdio, Marcos Elias e Scheilla

.

“... Havia algo diferente... Seu sorriso até era o mesmo, porém, uma seriedade transparecia em seu olhar”...

Seu “tchau” expressava um Adeus!!!

Foi assim que tudo começou...

Alegre – Espírito Santo

“ Se tivesse que morar em outro lugar que não fosse no Espírito Santo, que ao menos tivesse a beleza e o encanto que um dia eu vi no meu Alegrinho.” Therezinha Lobato

Sobre a autora:

Meu nome é Scheilla Regina Lobato de Ataide

e Silveira, tenho 40 anos e sou a filha caçula

de Therezinha Lobato. Sou casada com

Sérgio Silveira, meu anjo protetor, meu amigo,

companheiro e amor. Temos quatro filhos:

Fellipe, Gustavo, Guilherme e Pedro

Henrique, razões de nossas vidas. Sou

professora formada em Pedagogia pela

UNIUBE e trabalho com a turma do maternal II

há 13 anos pela Rede Municipal da minha

cidade.

Do que gosto?

Gosto do que é simples;

Gosto do que é amor;

Gosto do que é viver...

A inspiração para escrever este “resumo

biográfico” da vida de minha mãe começou na

noite em que ela foi sepultada. Na verdade,

sempre aspirei por escrever alguma “coisa”

sobre ela e, aos 16 anos de idade, comecei a

rascunhar sobre a história de uma mulher que

aos 25 anos fora abandonada pelo marido

estando grávida de oito meses e sem possuir

renda financeira alguma... Após 17 anos,

marido e mulher se reencontram e, desse

encontro, desperta uma paixão que estava

adormecida pelo tempo...

Rascunhei algumas páginas e parei... Faltou-

me inspiração para prosseguir ou a certeza de

que era sobre esta fase de sua vida mesmo

que queria descrever...

Em meu aniversário de 18 anos ganhei de

presente um livro que impactou minha vida.

Era a história de uma jovem, contada por sua

mãe, que perdera a vida em um acidente

automobilístico após regressar de um “Retiro

Espiritual”. Um livro fascinante, um “diário”

completo. Enquanto lia a narrativa parecia

estar vivendo minha própria história, mas,

será que eu iria morrer tão jovem assim

também?... O livro, emprestei-o e nunca mais

o vi, sua mensagem porém, ficou gravada em

meu coração...E, Só agora entendo o porquê

ele causou tanto impacto em mim desde as

primeiras páginas folheadas.

... Ao chegarmos a nossa casa depois dessa

hora tão crucial, senti-me vazia, sozinha e tive

vontade de gritar para o mundo inteiro ouvir

minha voz de amargura... Meu coração estava

dilacerado. Sufocada, porém, pela missão de

ser a “coluna forte” entre meus familiares,

calei-me na solidão de meus pensamentos. O

que fazer então com tamanha dor?

Como se entrando em um túnel do tempo,

peguei uma velha agenda que estava na

cabeceira da cama e um toco de lápis que

estava perdido por ali também e comecei a

escrever a cena que se passava em minha

frente:

“... Era manhã daquele dia chuvoso e frio. Dorcelina já sente as dores das primeiras contrações e sabe que o seu bebê vai nascer...”