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GUIA DE EPISÓDIOS: ‘THE GENTLEMEN’S ALLIANCE’ Miguel Carqueija Análise dos 11 volumes em mangá de Arina Tanemura

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GUIA DE EPISÓDIOS:‘THE GENTLEMEN’S ALLIANCE’

Miguel Carqueija

Análise dos 11 volumes em mangá de Arina Tanemura

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GUIA DE EPISÓDIOS: THE GENTLEMEN’S ALLIANCE

"The Gentlemen's Alliance": a gentil e corajosa heroína Haine Otomiya

(resenha publicada originalmente no "Portal Entretextos" em 9 de novembro de 2010)

Um novo e envolvente mangá, com as sutilezas de uma adolescente enamorada

Miguel Carqueija

A Editora Panini lançou em agosto de 2010, nas bancas brasileiras, o interessantíssimo mangá “The Gentlemen’s Alliance – Cross”, de Arina Tanemura (a mesma criadora de “Full Moon”), publicado originalmente pela Shueisha (Tóquio) em 2004. “A Aliança dos Cavalheiros – Cruz” já em seu primeiro volume (Traduzido por Karen Kagumi Hayashida) revela-se uma envolvente novela gráfica.Acompanhamos a trajetória de Haine Otomiya, de 15 anos, uma alegre colegial de cabelos compridos soltos, profundamente sentimental, mas que guarda, em seu pequeno passado, tristes acontecimentos. A história fala do amor de Haine por Shizumasa Touguu, que com ela estuda na Academia Imperial. É uma história de amor adolescente, com pureza e idealismo.Haine é uma rejeitada. Pertencia à família Kamiya, mas o pai, necessitado de um empréstimo, vendeu-a, literalmente, à família Otomiya, por 50 milhões de yenes.

“Meu pai foi criado com costumes antigos. Por isso, não queria que uma mulher fosse sucessora dos seus negócios. Soube que ele ficou muito desapontado quando eu nasci. Ele

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não gostava de mim... porque não nasci homem.”

O Senhor Itsuki Otomiya adota então Haine, na ocasião com dez anos. Era viúvo e sem filhos, mas em seguida casou com Ryokka, viúva já com um filho. O irmão adotivo de Haine torna-se então (por ser homem) o sucessor dos negócios da família. Mais uma decepção para a jovem Haine:

"Novamente eu perdi o meu lugar. Deus... dizem por aí que todo mundo é capaz de ser feliz um dia. Mas vale a pena passar por tudo isso para tentar ser feliz?"

Traumatizada, revoltada, Haine torna-se, durante algum tempo, uma delinqüente juvenil, de vida noturna. Foi então que surgiu Shizumasa em seu horizonte: um rapaz de família muito rica, de caráter gentil e amável. Encontrando-a deprimida na sarjeta, dirige-lhe palavras de encorajamento:

“O que faz aqui em uma noite como esta? Não fique aqui chorando sozinha. Orgulhe-se de quem é, e viva de cabeça erguida.”

Assim começa o romance de amor de Haine Otomiya, que abandona a vida de delinqüência e tenta superar os traumas do passado. Entretanto, ela só reencontra Shizumasa tempos depois, em circunstâncias bem diferentes. O rapaz agora é o Presidente do Conselho Estudantil da Academia Imperial e tornou-se estranho, fechado, arredio, mal admitindo que conhece Haine. A garota sente que existe algum mistério em Shizumasa, agora conhecido como “o Imperador” (título usado pelos presidentes do conselho da referida academia). Percebe que há perigo no ar, pois um grupo auto-intitulado “os Gedou” (“herejes”) se opõe ao Conselho Estudantil e promove distúrbios.Estranhas circunstâncias colocam Haine como guarda-costas de Shizumasa. Tendo declarado estar disposta a dar a vida pelo seu amado, por quem nutre sentimentos puros e profundos (aceitando até não ser correspondida, guardando o

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próprio sentimento como um tesouro), Haine terá a chance de provar o que diz quando o Gedou, recusando a ordem de dissolução que recebe de Shizumasa, parte para a rebelião aberta. Armados de faca, os membros da gangue colegial saem à caça do Presidente do Conselho Estudantil, mas antes que possam penetrar no aposento onde ele se encontra surge-lhes pela frente Haine Otomiya, armada com uma espada de madeira que outrora usara como delinqüente. As palavras da garota são sinistras:

“Como guarda-costas do Imperador e encarregada das tarefas gerais (sic), vou eliminar aqueles que perturbam a paz na escola. Podem vir... Gedou.”

Haine é bela, singela, doce, romântica e amorosa; mas é também uma ex-delinquente juvenil, acostumada a brigas feias de rua. Os Gedou a atacam selvagemente, mas Haine é veloz como uma ninja e reduz os quatro assaltantes a petição de miséria.Como resultado da desmoralização do Gedou, o grupo infrator se desfaz, seus membros aceitam a ordem legal e a Academia Imperial é pacificada.Aos poucos Haine consegue uma aproximação maior com o “Imperador”. O amor da garota é puro e intenso, entusiasmante; mas as barreiras de Shizumasa não são fáceis de derrubar.Estes são apenas alguns detalhes do primeiro volume, que é muito prometedor em relação ao que vem por aí. Essa é uma história que eu pretendo acompanhar.

"The Gentlemen's Alliance": o trágico passado de Haine Otomiya

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texto originalmente publicado no Portal Entretextos de 31/12/2010

Está nas bancas o segundo volume de The Gentlemen's Alliance, mangá da consagrada Arina Tanemura, em edição da Panini. Prossegue a envolvente saga da menina Haine Otomiya, que estuda na misteriosa Academia Imperial, onde só existem estudantes ricos e há separação por castas, conforme a riqueza de cada família. Haine, estudante bronze (famiília apenas rica), torna-se guarda-costas de Shizumasa, da riquíssima família Touguu, e que é o Presidente do Conselho Estudantil (com o título de "Imperador") e único estudante "ouro" (acima da categoria bronze existe a "prata"). A Academia Imperial (e por que "imperial"?) parece um mundo à parte, com leis próprias.Neste segundo volume, alguns mistérios são revelados e outros aparecem. A narrativa volta ao passado e desvenda em mais detalhes os trágicos acontecimentos do passado de Haine.Em criança ela conheceu Shizumasa Touguu que, menino prodígio, aos dez anos ilustrou um famoso livro infantil, que contava a história de uma bruxa. Entretanto o pai de Haine, o capitalista Kazuhito Kamiya, machista em extremo, detestava ter apenas uma filha, que seria herdeira de sua empresa. Quando a mãe de Haine, Maika, dá à luz um menino, Kazuhito enxerga a chance de se livrar da pequena. Procura Itzuki Otomiya, outro industrial, homem que não podia gerar filhos, e, alegando as dificuldades da empresa, pede um empréstimo e oferece a filha em troca. Haine é "vendida" por 50 milhões de yenes, fato que a revoltará sobremaneira, ainda mais quando ela percebe que a quantia foi irrisória, pois Kazuhito necessitou de 12 bilhões de yenes para restaurar seus negócios.Levada à força de casa, sem chance sequer de se despedir da mãe (que ainda estava na maternidade), Haine tem como único consolo ser tratada com amor e respeito por Itzuki.

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Este, porém, logo se casa com Ryokuka, que já trouxe um filho pronto, Kusame. Assim, por causa de costumes antiquados, Haine é novamente "passada para escanteio", perdendo também a condição de herdeira da família Otomiya (a empresa passa só para um filho, e de preferência homem).Recebe apenas uma carta da mãe, que, dominada pelo marido, não a procura mais. O tempo passa, a tristeza da garota vai aumentando. Assim ela chega à adolescência, sentindo a dor de ter sido rejeitada pelo pai, esquecida pela mãe e sentir-se uma estranha na nova família. Uma noite, quando a revolta e a angústia chegam ao ápice, Haine escapole do seu quarto, pulando a janela e ganhando a rua. Vaga sem destino pela escuridão, e acaba se envolvendo numa briga com três garotas de rua. Elas a provocam, sem imaginar que Haine é capaz de bater nas três juntas.Assim tem início a fase mais sombria da existência da adolescente Haine Otomiya. “Resolvi me sujar”, dirá mais tarde. Tendo arranjado uma espada de madeira, ela passa a perambular pelas ruas nas altas horas da noite, procurando brigas. Desta forma, a sua aptidão natural para o combate corpo-a-corpo é altamente desenvolvida. Essa forma louca de viver chega a um fim abrupto quando Haine reencontra Shizumasa e este a convence a mudar de vida.Por amor a Shizumasa, Haine se regenera; mas levará algum tempo para revê-lo. Ela o reencontra ao ingressar na Academia Imperial, mas algo misterioso aconteceu com o rapaz. A sua personalidade apresenta uma guinada de 180 graus: se antes ele era sorridente, alegre e conversador, além de amável, agora é fechado, sisudo, carrancudo, mal-humorado, jamais sorri, e trata Haine com frieza e indiferença. Mesmo assim, por suas aptidões Haine é nomeada guarda-costas de Shizumasa, que se tornou o todo-poderoso presidente do Conselho Estudantil. Mas, as tentativas de aproximação afetiva da garota chocam-se com uma barreira de gélido desprezo.Pelo jeito, a pobre Haine Otomiya ainda tem muito que sofrer neste mangá.

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The Gentlemen's Alliance: o calvário de Haine Otomiya

(texto publicado originalmente no Portal Entretextos em 28 de fevereiro de 2011)

Já está nas bancas o terceiro volume do mangá "The Gentlemen's Alliance", escrito e desenhado pela genial

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Arina Tanemura.

É uma história especialmente gótica onde se configura um denso mistério familiar, envolvendo as famílias Tougu e Kamiya, ambas poderosas. Um mistério de conspiração familiar que se sobrepõe aos poucos à trama estudantil mais simples.Tudo gira em torno de Haine Otomiya e seu calvário, simbolizado pela cruz que aparece no logotipo do mangá. Vendida pelo próprio pai, expulsa da família Kamiya e separada do convívio da mãe e dos irmãos, Haine, levada pela revolta, torna-se uma perigosa delinquente juvenil até o dia em que é resgatada das ruas por Shizumasa Tougu, que em criança escrevera e ilustrara um livro infantil, e que a garota já amava desde aquela época. Por amor a Shizumasa, Haine deixa a vida de delinquencia e ingressa na Academia Imperial, onde seu amado ocupa o cargo de Presidente do Conselho Estudantil. Entretanto, modificado por causas secretas, Shizumasa já não é gentil com Haine e despreza os sentimentos da adolescente.O volume 3 (edição da Panini) faz algumas revelações, trazendo a público pela primeira vez a irmã mais nova e o irmão caçula de Haine, que permaneceram na família Kamiya; mas o mistério em torno dessa família e da família Tougu se adensa. Já se percebe que o enredo entra fundo no tema da falsa identidade e da usurpação da personalidade, fazendo lembrar clássicos como "William Wilson", de Edgar Allan Poe, "O máscara de ferro", de Alexandre Dumas, e "O príncipe e o mendigo", de Mark Twain. Sem ter idéia clara do drama pessoal de Shizumasa, e das conspirações maquiavélicas que envolvem o patriarca Kamiya (pai de Haine) e as forças ocultas da família Tougu, sem entender a conspiração que seu próprio pai move

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contra ela, Haine, movida pelos sentimentos puros de seu coração, invade a mansão Tougu e o quarto de Shizumasa, confronta o rapaz e lhe declara todo o seu amor e todos os seus motivos, numa cena patética e antológica. "Vim para confessar meu amor", "Você disse que não se lembrava, mas aquela noite ainda é um tesouro para mim". "Não importa o quanto ele tenha mudado; vou ao encontro dele, mesmo que ele me rejeite, porque posso acreditar que seu coração é o mesmo de quando escreveu aquele livro ilustrado." "Sinto que, se eu abandonar este amor, o Shizumasa que eu amo vai desaparecer."A singeleza e veracidade de Haine (não esqueçamos que é uma garota de 15 anos que fala dessa forma) contrastam com a crueldade familiar que a envolve e ameaça tragá-la em suas maquinações. Assim, a cada volume a carga emocional de "The Gentlemen's Alliance" vai aumentando assim como o suspense em torno do destino de Haine Otomiya.

The Gentlemen's Alliance 4: segredos de família

(resenha publicada originalmente em 19/04/2011 no Portal Entretextos)

Os segredos de família são uma grande causa de sofrimento.

A literatura mundial apresenta muitos e notáveis exemplos de "segredos de família", uma coisa terrível que oprime, escraviza, corrompe e amargura as pessoas. Claro que muitas dessas histórias são dramalhões xaroposos, mas em outras encontra-se o toque de gênio, a examinar as grandezas e misérias humanas que com frequência se misturam.

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Mesmo textos policiais, como em Maurice Leblanc, falam nesses segredos. "O mistério do quarto amarelo", de Gaston Leroux, é um notável exemplo: a jovem que, mesmo apunhalada, não pode revelar o que está se passando.

Os mangás também falam nessas coisas. É a espinha dorsal de "The Gentlemen's Alliance", de Arina Tanemura, cujo quarto volume (edição brasileira da Panini) já está nas bancas.

Hayne Otomiya, de 15 anos, mesmo sendo uma ex-delinquente juvenil, é apresentada como pura e inocente. A nobreza dos seus sentimentos por Shizumasa Tougu, Presidente do Conselho Estudantil da Academia Imperial, esbarra com o terrivel segredo da família Tougu, que ela ignora por completo. "Ele não é ele". O verdadeiro Shizumasa é um rapaz doente que não pode frequentar o colégio. E, sendo a família rica, promove uma fraude, colocando a sua "sombra" (um gêmeo? um sosia?) em seu lugar. Mas, uma espada de Dâmocles paira sobre a "sombra": logo ele terá de ceder seu lugar para o verdadeiro Shizumasa. Inclusive, no amor de Hayne...

E agora os leitores do mangá navegam em plena dúvida: afinal por qual Shizumasa é que Hayne se enamorou? Pelo verdadeiro ou pelo falso? Qual deles a tirou da sarjeta, da vida de delinquente, tempos atrás? Esta a questão que agora se apresenta, ao mesmo tempo em que a pobre Hayne, totalmente ignorante da verdade dos fatos, enfrenta a provação de amar uma pessoa de dupla personalidade, que ora a aceita, ora a rejeita, justamente por se tratar de duas pessoas...

Arina Tanemura construiu uma "tour de force" neste mangá de grande sucesso entre os otakus.

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O tema do duplo na literatura, cinema e quadrinhos

(originalmente postado no Portal Entretextos em 27/06/2011)

Um tema clássico, de Edgar Allan Poe até Arina Tanemura

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O TEMA DO DUPLO NA LITERATURA, CINEMA E QUADRINHOS

resenha de The Gentlemen's Alliance, volume 5

O “duplo”, ou “outro eu”, é um assunto clássico da ficção, tendo sido abordado por grandes autores como o norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849). O duplo é um personagem semelhante ao protagonista — gêmeo, sósia ou mesmo um desdobramento da personalidade original, não raro penetrando no viés sobrenatural.Poe escreveu, a esse respeito, um conto terrificante intitulado “William Wilson”. O protagonista é um sujeito “de maus bofes”, desde os tempos de estudante, quando gostava de tiranizar os colegas. Um deles, porém, lhe fazia frente: um estudante que ostentava o mesmo nome e que, em razão de alguma doença, trazia o rosto oculto por máscara. Sua voz era rouca, abafada.Saindo do colégio, William Wilson não queria nada com a vida séria, mas apenas se dar bem. Entretanto, no primeiro golpe que tentou, o outro apareceu e sabotou os seus esforços. E isso continuou a acontecer, através de vários países. A narrativa, opressa e tétrica, vai num crescendo de suspense e horror até o confronto final entre William Wilson e o seu duplo.Algo parecido ocorre naquele filme “O homem que perseguia a si mesmo” (1970), com Roger Moore, cujo personagem persegue um duplo que o antecede nos locais onde freqüenta, usurpando a sua personalidade.O autor britânico Robert Louis Stevenson (1850-1894), em “The strange case of Dr. Jekyll and Mr Hyde” (ou seja, “O medico e o monstro”), fala da transformação

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do próprio corpo. O cientista do romance inventa uma droga que desdobra a sua personalidade, alternando a normal com a psicótica; quando esta surge, a aparência física se modifica. Dizem que Stan Lee buscou inspiração nessa novela clássica para criar o Dr. Banner e seu alter-ego, o “Incrível Hulk”.Claro está que o tema pode também ser utilizado dentro do plano natural. Existe um delicioso filme de Walt Disney, “The parent trap” (“Armadilha para pais”, 1960) onde duas gêmeas de 13 anos (interpretadas pela maravilhosa Hayley Mills) que nem se conheciam descobrem-se mutuamente num acampamento de férias e vêm a saber que os seus pais são divorciados e simplesmente uma delas foi criada pela mãe, a outra pelo pai. Resolvidas a reconciliar os pais, elas trocam uma com a outra.Está nas bancas o quinto volume de “The gentlemen’s Alliance” (Ed. Panini), mangá da genial Arina Tanemura, cujo cerne é o tema do duplo. A gentil, simples, espontânea e amorosa Haine Otomiya enamora-se pelo Presidente do Conselho Estudantil da Academia Imperial, Shizumasa Touguu, sem saber que há dois Shizumasas. O verdadeiro na maior parte do tempo não freqüenta o colégio por ter a saúde frágil; em seu lugar vai um sósia, tratado como uma espécie de escravo ou prisioneiro. Daí a diferença de humor entre os dois, fenômeno que, por não lhe conhecer a causa, desconcerta Haine.Neste quinto volume, a garota por fim se aproxima da verdade sobre o seu amado. Apesar do drama e do mistério que perpassam pela trama, há momentos de delicioso humor refinado. Por exemplo, quando Haine e o Shizumasa falso vão a uma lanchonete e ele, acostumado ao luxo e aos fricotes da riqueza, espanta-se ao ver a menina lidar com um sanduíche: “Isto se

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come com a mão?” Outro quadro impagável é quando Haine, procurada pelos quatro membros do Conselho Estudantil, todos diferentes entre si, reflete: “Não sei como quatro pessoas tão sem foco conseguiram chegar aqui juntas.” É preciso ver a cena para sentir a sua graça.Acredito que Arina Tanemura, neste mangá originalmente editado no Japão entre 2004 e 2008, trouxe um significativo acréscimo ao tema do duplo, o outro eu ou alter-ego.

THE GENTLEMEN'S ALLIANCE 6: O dilema de Haine

Resenha do volume 6 do mangá “The gentlemen’s alliance - Cross”, de Arina Tanemura (A aliança de cavalheiros) – Editora Panini, São Paulo, 2011. Edição original: Sueisha, Tóquio, Japão, 2004.

O sexto volume da complexa trama elaborada por Arina

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Tanemura é de difícil análise — como quase todo o mangá — pelo excesso de informações e de implicações e interações nos diversos personagens, no cenário da Academia Imperial e das famílias envolvidas. Observamos que, nesta fase da história, a mangaká aparentemente resolveu “encher linguiça” para esticar o enredo e atingir o número esperado de 12 volumes.O volume abre na exata sequência do final do anterior, isto é, quando Haine Otomiya flagra finalmente os dois irmãos gêmeos juntos. Finalmente ela descobre que o Imperador (Presidente do Conselho Estudantil), que ela vê como Shizumasa Touguu, é na verdade seu irmão Takanari, que lhe faz de duplo. E que o verdadeiro Shizumasa permanece os mais das vezes na sombra, em casa, por razões de saúde frágil.Takanari é o verdadeiro autor do livro infantil que encantara Haine; Shizumasa, porém, é aquele que de fato a afastara das ruas, da delinquência. E assim a carinhosa menina se vê dividida em seus sentimentos, numa situação assaz difícil. Ela de fato lidava mais com o falso Shizumasa, pois o outro raramente ia à escola assumir o seu papel.“Ele... só estava fingindo? Tudo que ele fez, inclusive hoje, foi mentira?”Haine ainda não conhece a verdade inteira, o verdadeiro significado do drama familiar que ela começa a entrever. Shizumasa, disposto a afastar o irmão, procura se aproveitar da situação:“Você vai me esperar, não é, Haine? Até que eu possa voltar à escola.”Infelizmente a meu ver, a autora trouxe uma trama paralela que desviou Haine do foco da história, envolvendo-a num caso amoroso de homossexuais do colégio, inclusive um travesti, um assunto que em nada acrescenta ao enredo e poderia ser dispensado. Maora,

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o travesti, resolve (aparentemente por não ser correspondido por Maguri, também homossexual) assumir o seu lado masculino e apresenta um voto de desconfiança contra Shizumasa (o falso, pois ele não sabe da substituição), no cargo de Imperador (Presidente do Conselho Estudantil). Pelas regras nesse estranho educandário, uma moção de desconfiança pode derrubar o presidente, por votação. E quem faz a moção, se ela for vitoriosa, assume o cargo. Maora ameaça “requisitar” Haine se de fato obtiver a deposição do atual imperador e ocupar o seu lugar. O assédio de Maora para conquistar Haine revolta a garota, principalmente quando ela descobre uma fraude no computador que irá computar os votos.Sendo uma pessoa de ação, Haine embosca Maora e o desafia para um duelo de bastão: “Se eu vencer, quero que me passe a senha! E se eu perder, aceito me tornar a sua “platina”!Referia-se à senha com a qual Maora viciara o computador e platina, como já dito em resenhas de volumes anteriores, designava a auxiliar direta do Imperador.Mas ao longo de todo o mangá não há um personagem capaz de enfrentar Haine, e a menina baixa, bonita e com 15 anos derrota Maora facilmente, forçando-o a recuar de seu intento. Contudo, fica evidente que ainda há amizade entre os dois, Haine é muito sincera ao declarar: “Eu gosto de você, Mao-chan. Sou sua amiga. Por isso, vou te impedir a qualquer custo!”Vale dizer que a própria autora considera Haine uma “filantropa” o que significa que ela procura fazer o bem sem olhar a quem e não julga as idiossincrasias dos outros. Ela mesma é sexualmente muito pura.O verdadeiro tema do mangá — o terrível segredo da família Touguu e o envolvimento de Haine, presa num

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triângulo amoroso com os dois irmãos — retornará após a “encheção de linguiça”. Pois é evidente que os dois irmãos amam Haine.

The Gentlemen's Alliance 7: Haine cercada por tortuosidades

Resenha do volume 7 do mangá “The gentlemen’s alliance: Cross” (Aliança dos cavalheiros: Cruz”) de Arina Tanemura. Editora Sueisha, Tóquio, Japão, 2004. Editora Panini, Barueri (SP), 2011. Tradução: Karen Kazumi Hayashida. Capítulos 28 a 32.

O sétimo volume do denso mangá “The Gentlemen’s Alliance” ainda traz distrações em relação ao drama principal, ou seja o encontro de Haine Otomiya com o mistério de família que envolve os gêmeos Shizumasa e Takanari Touguu. Haine sente-se em dúvida no seu

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coração, pois não sabe ao certo a qual amar. Ela já sabe que o rapaz que na maior parte das vezes se apresenta como o Presidente do Conselho Estudantil não é Shizumasa como ela pensava mas o seu duplo, Takanari; isso por causa da débil saúde do primeiro. Mas há um ponto que Haine em sua inocência não parece ter percebido: o gêmeo tinha o direito à própria vida e à própria escolaridade. No fim, só o outro irá se diplomar. Entretanto, coisas mais tenebrosas envolvem a tirania familiar sobre Takanari. Haine ainda não descobriu, mas trata-se de um paralelo com a história do “Máscara de ferro” de Alexandre Dumas.Porém, parece que Arina Tanemura buscou por em relevo as qualidades altruístas de Haine, e seu espírito de sacrifício pelos outros. O sétimo volume trata de uma situação embaraçosa para a menina, relacionada com sua amiga Ushio Amamiya , que aparece desdo o primeiro volume. Haine tem por Ushio uma amizade muito carinhosa e até exagerada, mas sexualmente a protagonista é obviamente hetero. Mas não é esse o pensamento de Ushio, e de repente Haine fica preocupada, pois sua melhor amiga resolveu andar de amassos com diversos garotos. As duas têm uma conversa pessoal e isolada bastante tensa, quando Ushio, com o coração repleto de rancor e frustração, desabafa tudo o que lhe vai na mente. Declara simplesmente “odiar” todos os homens, e também não gosta das outras mulheres (assim seu comportamento com os rapazes seria puro desespero). Só se interessa por Haine. Uma tal declaração raivosa desconcerta a menina inocente. E Ushio radicaliza tudo de maneira insana: “Se você não pensa da mesma forma, se eu não sou a pessoa de quem você mais gosta, não quero vê-la nunca mais.” A pureza dos sentimentos de Haine, sem uma sombra de desejo sexual, esbarra com tal dureza.

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Antes, ao saber que Ushio estava com problemas, a menina lembrou-se dos seus tempos de delinquente juvenil, quando, afora a gang feminina, só tinha a amizade de Ushio: “Você me conheceu quando eu estava mergulhada em um mundo sombrio. E olhava por mim enquanto eu buscava a luz. Se há alguma sombra em seu coração eu gostaria de saber, Ushio.”Para uma pessoa tão grata como Haine, a situação é dolorosa.Depois de descobrir o diário de Ushio, onde é metaforicamente chamada de “canário” Haine toma uma decisão que parece abrigar algum truque psicológico. Primeiro, entrega a Takanari o seu cargo de “Platina do Imperador”, em seguida procura Ushio e a abraça, como aceitando o seu amor. A cena é desconcertante, pois de antemão se adivinha que não é essa a intenção de Haine, já que a mesma é hetero e já apaixonada confusamente por dois rapazes (ou indecisa entre os dois). O que pretende Haine em sua generosidade? Tirar Ushio da depressão, mas e depois? Ela vê Ushio somente como uma grande amiga, qualquer outra coisa vai contra a sua natureza. Mas o sétimo volume se encerra (não contando os quadros extras e recadinhos que a autora tem mania de espalhar do princípio ao fim) deixando esta situação em suspenso.

Rio de Janeiro, 2 de outubro de 2015.

(nota: apesar da abordagem de temas adultos o mangá é muito pudico, sem nenhuma cena de sexo ou nudez e sem linguagem chula; aliás os personagens estão sempre bastante vestidos)

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THE GENTLEMEN’S ALLIANCE CROSS 8:

O PASSADO PERSEGUE HAINE

Resenha do volume 8 do mangá “The Gentlemen’s Alliance – Cross” (A Aliança dos Cavaleiros – Cruz) de Arina Tanemura. Panini Brasil Ltda., São Paulo – SP, março de 2012. Edição original: Shueisha, Tóquio, 2004.

Para a menina Haine Otomiya, o drama da existência é contínuo mas ela ainda encontra tempo para ajudar psicologicamente seus amigos como a desorientada Ushio, a quem finalmente consegue arrancar da depressão. Os acontecimentos porém não dão trégua a Haine. Ela recebe no próprio colégio a inesperada visita de três garotas e um rapaz que no passado formavam com ela uma gangue de rua. A sinistra “Black Mermaid” (Sereia Negra) quer simplesmente arrastar Haine de volta à vida de delinquente juvenil e nossa heroína é obrigada simplesmente a sustentar uma briga dentro da própria academia para não se levada à força. Depois

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de por todo mundo em fuga (afinal ela é ótima na luta corpo-a-corpo) Haine terá de passar por outra provação: a descoberta da verdade sobre a sua origem.A situação parece até um dramalhão de novela de rádio, não fosse o humor entremeado e que aparece inesperadamente, além da simpatia da personagem. Haine simplesmente descobre que sua mãe foi infiel ao marido por ter casado por conveniência e deixado seu verdadeiro amor – por isso, aos completar Haine 10 anos o seu suposto pai, tendo descoberto a verdade, entregou-a ao verdadeiro pai, que passou a ser seu pai adotivo sendo embora o biológico. Um tal angu de caroço perturba de tal modo a menina que ela resolve deixar tudo para trás e retornar ao convívio da gang...Chega a ser pungente o monólogo de Haine: “Eu finalmente percebi que, para mim, é impossível viver num mundo de luz”.Assim termina o volume 8, fora umas historinhas extras.Rio de Janeiro, 29/30 de janeiro de 2016.

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The Gentlemen's Alliance 9: o incêndio

Resenha do volume 9 do mangá “The gentlemen’s alliance – Cross” (Aliança dos cavalheiros – Cruz) de Arina Tanemura. Editora Panini, São Paulo-SP, 2012. Edição original: Shueisha, Tokyo, Japão, 2004. Tradução: Karen kazume Ayashida.

“Se ao menos eu não existisse... tudo estaria bem.”(Haine Otomiya)

“Ela é mais forte do que qualquer um aqui; mas é também a mais solitária.”(Maora)

“Quero mudar meu mundo com minhas próprias mãos!”(Haine Otomiya)

“Assim como a tinta mancha o papel branco quando respinga nele... a minha existência tinge de trevas tudo à minha volta.”(Haine Otomiya)

Neste nono volume do mangá “The Gentlemen’s Alliance – Cross” (A Aliança de Cavalheiros – Cruz) Arina Tanemura finalmente deixa para trás os problemas de

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vários personagens esquisitos e se concentra no profundo drama familiar que envolve não só a família da protagonista (aliás duas famílias) mas a família dos irmãos Touguu (Shizumasa e Takanari). Um mistério a mais é revelado: o pai biológico de Haine, Kazuhito, e o pai adotivo, Itsuki... (como revelado no primeiro volume, Kazuhito rejeitou a filha quando ela tinha dez anos, entregando-a a Itsuki) na verdade são, respectivamente, o pai adotivo e o pai biológico... por conta de um triângulo amoroso envolvendo a mãe de Haine. Este angu de caroço coloca em parafuso a mente sensível da adolescente Haine, que chega a se julgar culpada por tudo, somente pelo simples fato de existir. Em crise de auto-estima, Haine procura pela antiga gangue de garotas à qual pertencia, liderada pela “Black Mermaid” (Sereia Negra) buscando voltar à vida de delinquente juvenil. Mas um fato inesperado a coloca numa grande encruzilhada: a casa de seu pai “oficial” pega fogo e Haine, que sentia odiar seu pai postiço e culpa-se por isso, resolve arriscar tudo para salvar a mãe, Maika, e Kasuhito... é a oportunidade para se reconciliar com o pai adotivo que ela julgava ser o pai biológico.O interessante neste mangá é a maneira como aprofunda de maneira envolvente os sentimentos e a personalidade de uma garota de quinze anos, que já possui um raciocínio adulto e questiona toda a sua vida e as pessoas ao seu redor. Haine é bondosa e corajosa por natureza, e busca uma solução para a sua atormentada vida. Neste volume, em meio ao sofrimento, algumas coisa irão se esclarecer.Como a frisar a tendência melancólica da protagonista, seu nome quer dizer “o som das cinzas”.

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"The Gentlemen's Alliance" 10: a chocante verdade

“Quero ser uma esposa feliz.”(Haine Otomiya)

“Por que a família Touguu tem essa coisa de criar substitutos? Ouvi dizer que, antigamente, o nascimento de gêmeos era visto como um mau presságio... mas isso é pura superstição!”(Haine Otomiya)

Resenha do volume 10 do mangá “The Gentlemen’s Alliance: Cross” (A Aliança dos Cavalheiros: Cruz) de Arina Tanemura. Editora Panini, São Paulo-SP, 2012. Edição original: Editora Shueisha, Tokyo, Japão, 2004. Tradução: Karen Kazumi Hayashida.

O penúltimo volume de “The Gentlemen’s Alliance” é de todos o mais dramático e angustiante, quando Hayne Otomiya é confrontada com toda a verdade da família Shouguu e a tirania nela exercida pelo chefe do clã, o avô de Shizumasa e Takanari. E a verdade é chocante e aterrorizante, configurando uma grande ofensa aos direitos humanos.O próprio Takanari explica a Haine, sintetizando a crua verdade: “Na família Touguu, faziam parentes se casarem para proteger a linhagem. Por isso, o sangue se tornou fraco. Mesmo hoje, ainda tenho parentes com a saúde debilitada. Então, quando nascem gêmeos na família, um deles é criado como substituto... para

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manter as aparências caso o outro adoeça.”A mãe de Takanari e Shizumasa, Shouka, era uma substituta de sua irmã e mantida em confinamento mas fugiu com Senri, que servia a família, pois haviam se apaixonado, e acabou morrendo na neve. Senri foi trazido de volta e prometeu servir a família Touguu pelo resto da vida, para se “redimir”.O destino de Takanari, iludido pelo irmão quando, em crianças, tiveram de buscar pedras com seus nomes perto de um lago, para decidir quem seria o escolhido e quem seria o substituto (a sombra, cuja existência oficial seria apagada dos registros) estava traçado: ser confinado sempre que não necessário, pois apenas substituía Shizumasa na escola, por causa da frágil saúde deste.E embora Haine tenha se decidido por Takanari, não consegue evitar que ele seja sequestrado pelo próprio irmão e confinado na casa do avô. Curiosamente ninguém cogita recorrer à polícia: Haine resolve salvar o seu amado com seus próprios meios.Ela terá de enfrentar o “poderoso chefão” dos Touguu, o “vovô” Schuuichirou...A trama então assume uma intensa dramaticidade e com nuances notáveis no enredo, uma obra realmente habilidosa da mangaká Arina Tanemura. Afinal Shizumasa não é ruim como parece: finalmente se revela que na verdade ele não quer desgraçar o irmão nem tomar-lhe o amor de Haine: ele quer simplesmente morrer e fazer com que o irmão o odeie... e com sua morte liberar Takanari.Resta chegar ao desfecho no volume seguinte do mangá.

Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2016.

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The Gentlemen's Alliance 11: Haine dá a solução final

Resenha do volume 11 (final) do mangá “The Gentlemen’s Alliance — Cross” (A Aliança de Cavalheiros — Cruz), de Arina Tanemura. Editora Panini, São Paulo-SP, dezembro de 2012. Copyright 2004 by Arina Tanemura. Editora Shueisha, Tokyo, Japão, 2004. Tradução: Karen Hayashida.

“Eu... não sabia de nada. Nem que a doença do Shizumasa-Sama era assim tão grave... nem do sofrimento do Takanari-Sama. Não sabia de absolutamente nada.”(Haine Otomiya)

“Quero que acabe com o sistema de substitutos e que aceite oficialmente os dois como herdeiros. Agora mesmo.”(Haine Otomiya)

“Não vou aceitar isso! Os dois são pessoas diferentes! Eu vou acabar com a tristeza e o sofrimento dos dois! A vida existe igualmente para todos neste mundo! Ninguém pode substituir outra pessoa!”(Haine Otomiya)

“Quando o sol brilha as profundezas da floresta, onde luzes artificiais não alcançam, se iluminam. Gostaria de me tornar uma luz assim, que venceria qualquer solidão sombria e iluminaria a tudo.”(Haine Otomiya)

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“Foi muito bom ter me apaixonado por você.”(Haine Otomiya)

“Dei tantas voltas até chegar aqui. Passei tanto tempo è deriva... este anel será a prova da nossa promessa. Mesmo que o fio vermelho que nos liga arrebente ele é a prova da nossa promessa de amor. A promessa de que viveremos juntos para sempre.”(Haine Otomiya)

O final apoteótico de “The Gentlemen’s Alliance” dá um fecho ao imenso drama que envolve três famílias e especialmente três pessoas (Haine Otomiya e os gêmeos Touguu, Shizumasa e Takanari) graças à inciativa, à generosidade e à coragem de Haine. Todavia, há algumas ressalvas prévias para estabelecer.Uma delas é a maneira como a mangaká enche a revista de excessividades, como retículas e outros artifícios de desenho, além da inserção de inúmeros recadinhos em colunas de texto com pequenas caricaturas, lembretes esses sem grande importância e o conjunto de tudo isso acaba causando poluição visual e prejudicando a seriedade da novela gráfica. É preciso ignorar um pouco esses floreios e concentrar na trama em si, que é rica e saborosa.Outra questão que se apresenta, essa especialmente para os cristãos, é a presença na trama de um caso de amor entre dois homossexuais do Colégio Imperial, Maguri Tsujimiya e o travesti Yoshitaka Ichinomiya, apelidado Maora, ambos amigos de Haine e seus companheiros no Conselho Estudantil. Embora, à luz da doutrina cristã, o homossexualismo (prática) seja

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considerado pecaminoso, há duas coisas a considerar: 1) existindo no mundo real, não há porque achar que não possa ser focalizado na ficção; 2) católicos (minha confissão) e demais cristãos não julgam nem condenam ninguém à luz do ensinamento de Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12); deixam o julgamento para Deus, que enxerga o interior da mente humana.O que pode incomodar no mangá é no trecho em que Haine (sendo ela a heroína) encoraja o romance dos dois homossexuais, o que dá a entender uma postura complacente da parte da autora Arina Tanemura. Mas esta é uma posição dela, que o leitor cristão pode isolar para se concentrar nas riquezas psicológicas e sociais da trama. Porque, de fato, “The Gentlemen’s Alliance – Cross” é uma novela densa e que apresenta certa mensagem moral muito forte a favor do amor e da lealdade e coragem, e contra a opressão mesmo no plano familiar, que pode ser tão cruel quanto a opressão política.Este volume 11, que encerra o drama, apresenta algumas cenas antológicas e a melhor delas provavelmente é quando Haine invade os aposentos do chefe da família Touguu, o velho Schuuichirou, avô dos dois rapazes, e exige que o sufocante sistema de “substitutos” (pelo qual um em cada dois gêmeos seria mantido sempre como uma sombra do irmão) acabe. E quando o avô-chefão diz “não” Haine, demonstrando a sua incrível força física para uma menina de 15 ou 16 anos, e sua disposição taxativa de não recuar, agarra uma poltrona e com as próprias mãos rasga o estofamento e espalha as plumas ao redor, ao mesmo tempo em que passa uma descompostura no velho (vide citações acima), deixando claro que não veio para brincadeiras.

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O velho acaba negociando, admitindo que Haine escolha com quem irá casar, se resgatar a pedra que contém o nome de Takanari, no campo da família.A sequência apresenta detalhes que frisam as qualidades morais de Haine Otomiya, uma garota que tem dúvidas mas que vai se firmando em suas resoluções até um ponto em que nada a deterá, nem mesmo quando Touya, enciumado e por ter posto na cabeça que a menina provocava dissenção entre os dois irmãos, joga a pedra no fundo do lago e ameaça Haine com uma arma de fogo. Nem isso detém Haine, que se atraca com ele, leva um tiro no ombro e perdoa Touya, que horrorizado com o que fez deixa de hostilizá-la; e na cena máxima Haine se atira no lago e mergulha, mesmo ferida e não sabendo nadar. O quadrinho não mostra como ela retornou à superfície, trazendo a pedra de Takanari; provavelmente caminhou pelo fundo prendendo a respiração, até chegar à margem.Com uma impressionante dose de altruísmo e generosidade (Arina comenta que alguém a classificou como uma “filantropa”, na verdade Haine possui a caridade em alto grau) Haine liberta a família Touguu da opressão que atravessara gerações, restitui a dignidade aos dois irmãos e se casa com Shizumasa, realizando o seu sonho. O próprio avô dos gêmeos muda o seu coração e aceita que a mudança venha por uma pessoa de fora da família. A mensagem final é mostrar como uma pessoa que tem paz e amor no coração consegue espalhar a felicidade em seu redor, apesar de todos os obstáculos.“The Gentlemen’s Alliance” constrói em Haine Otomiya - cujos bons sentimentos afloram a todo instante - uma das mais interessantes personagens de mangá, com uma personalidade elaborada e complexa,

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profundamente trabalhada.

Rio de Janeiro, 6 de setembro de 2016.