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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO ROBSON DANTAS BENTO TERCEIRIZAÇÃO DE PAINÉIS PARA TELEVISORES: CASO PHILIPS ELETROELETRÔNICOS DE CONSUMO DO BRASIL SÃO PAULO 2009

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

ROBSON DANTAS BENTO

TERCEIRIZAÇÃO DE PAINÉIS PARA TELEVISORES: CASO PHILIPS

ELETROELETRÔNICOS DE CONSUMO DO BRASIL

SÃO PAULO 2009

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ROBSON DANTAS BENTO

TERCEIRIZAÇÃO DE PAINÉIS PARA TELEVISORES: CASO PHILIPS

ELETROELETRÔNICOS DE CONSUMO DO BRASIL

Dissertação apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Campo de conhecimento: Gestão de Operações Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Di Serio

SÃO PAULO 2009

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Bento, Robson Dantas. Terceirização de painéis para televisores: Caso Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil / Robson Dantas Bento. - 2009. 127 f. Orientador: Luiz Carlos Di Serio. Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. 1. Televisão – Inovações tecnológicas – Brasil. 2. Competitividade. 3. Terceirização. 4. Vantagem competitiva. I. Di Serio, Luiz Carlos. II. Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título.

CDU 621.397.13

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ROBSON DANTAS BENTO

TERCEIRIZAÇÃO DE PAINÉIS PARA TELEVISORES: CASO PHILIPS

ELETROELETRÔNICOS DE CONSUMO DO BRASIL

Dissertação apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração de Empresas. Campo de conhecimento: Gestão de Operações Data de aprovação: __/__/__ Banca Examinadora: ___________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Di Serio (Orientador) FGV-EAESP Prof. Dr. Manoel Reis FGV-EAESP Prof. Dr. Antonio Rafael Namur Muscat USP

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AGRADECIMENTOS

Ao professor doutor Luiz Carlos Di Serio, pela orientação valiosa e precisa no

desenvolvimento da dissertação.

Aos professores doutores Luiz Brito e Manoel Reis, pelas importantes contribuições

na qualificação do projeto.

Aos professores do MPA, pelo conhecimento transmitido e pelo incentivo à

aprendizagem contínua.

Aos colegas de trabalho, por partilharem comigo suas experiências, refletidas nos

resultados da dissertação.

Aos amigos antigos e à família, por compreenderem meu afastamento de várias

atividades sociais neste período e por me motivarem a realizar o trabalho.

Aos novos amigos que fiz ao longo do curso, em especial ao Ricardo, Filipe, Rafael,

Marcio, Yassuki e à Juliana, pelo companheirismo e por enriquecerem meus

conhecimentos.

Agradecimento muito especial à minha esposa, Daniela, cujo amor por mim me

incentivou nesta e em todas as conquistas da minha vida. À minha filha Catarina,

que trouxe mais equilíbrio à minha existência e que sempre me espera com um

sorriso. Ao meu filho Bernardo, que vive em meu pensamento e me acompanha em

tudo que faço.

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RESUMO

O mercado de eletroeletrônicos de consumo (EC) é um importante segmento da

indústria mundial, marcado por acirrada competição entre grandes empresas, que buscam

inovação contínua. Nesse universo, destaca-se o televisor, que vem se desenvolvendo cada

vez mais, principalmente com o advento das novas tecnologias. Atualmente, os aparelhos

com tela LCD (Liquid Cristal Display) estão entre os mais procurados por consumidores.

O rápido ganho de mercado de algumas companhias, a queda de participação de

outras e o significativo aumento da demanda caracterizam o mercado de televisores LCD.

Por conseguinte, a aplicação dessa tecnologia gera incertezas para as organizações

atuantes nessa indústria e, assim, muitas delas optam por diferentes níveis de verticalização

em sua produção, ou por não acreditarem em um ciclo de vida longo do produto, ou por

apresentarem limitações no orçamento, ou, ainda, por não possuírem conhecimento para

desempenhar todos os processos da cadeia produtiva.

A Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil é uma das empresas que

apresentam queda expressiva de participação nesse mercado, não conseguindo responder

ao crescimento da demanda com a mesma eficiência de seus concorrentes. Considerando-

se tal observação, o objetivo neste trabalho é investigar se a perda de competitividade da

companhia está relacionada ao intenso processo de terceirização de sua manufatura,

especificamente do painel para televisor LCD.

O trabalho de investigação embasa-se na teoria dos Custos Econômicos de

Transação (Transaction Costs Economics - TCE) e na teoria da Visão Baseada em

Recursos da Empresa (Resource-based View of the Firm - RBV), as quais, quando

aplicadas em conjunto, podem oferecer uma ampla compreensão dos impactos das

decisões que envolvem as fronteiras das organizações. A pesquisa também se fundamenta

em entrevistas com executivos da Philips, atuantes nas áreas de gestão de operações e

gerência de negócios, cujas considerações permitem verificar como a empresa compreende

a terceirização de ativos e os possíveis riscos inerentes a esse processo.

Os resultados revelam que existem fortes indicativos de que o modelo de

terceirização de painéis LCD adotado pela Philips gera impacto negativo na competitividade

da companhia, afetando, além de sua produção, o controle de parte de sua cadeia de valor.

Palavras-chave : terceirização, competitividade, custos econômicos de transação, visão

baseada em recursos.

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ABSTRACT

The market for consumer electronics (CE) is an important segment of the worldwide

industry, marked by fierce (aggressive) competition among big companies, seeking

continuous innovation. In this universe, we highlight the TV business which is continuously

growing, especially with the introduction of new technologies. Currently, devices with LCD

(Liquid Crystal Display) are among the consumers most wanted products.

The growth in market share of some companies, the drop of others, and the

exponential demand increase describe the LCD TVs market environment . Therefore, the

application of such technology creates uncertainty for organizations working in this industry.

Many of them decide on different levels of vertical integration for their production process, or

for not believing in a long life cycle of the products, or because of budget constraints, or even

for lacking knowledge on playing with the entire production chain.

Philips consumer electronics in Brazil is one of the companies that has been

impacted by significant fall in its market share, failing to meet the growing demand with the

same efficiency of its competitors. Considering this observation, the objective of this study is

to investigate whether the loss of competitiveness of Philips is related to the intense

outsourcing in its manufacturing process, specifically the panel for LCD TVs.

The research rests on the theory of Transaction Costs Economics (TCE) and the

theory of the Resource Based View of the Firm (RBV), which, when applied together, can

provide a broad understanding of the impacts of decisions involving the boundaries of

organizations. The research is also based on interviews with Philips executives, working in

the areas of operations and business management, in which the considerations of

ascertaining how the company considers outsourcing assets and the possible risks in this

process.

The results show strong indications that the outsourcing model of LCD panels

adopted by Philips generates negative impact on the company competitiveness, affecting,

not only its production but also, the control of supply value chain.

Keywords : outsourcing, competitiveness, transaction costs economics, resourced-based

view.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema representativo da dissertação .................................................. 15

Figura 2 – Esquema representativo do capítulo 1 – Fundamentação teórica ........... 16

Figura 3 – Fatores determinantes da competitividade da indústria ........................... 26

Figura 4 – Ambiente decisório – decisões de terceirização ...................................... 39

Figura 5 – Cenários contraditórios e complementares da TCE e RBV. ..................... 57

Figura 6 – Ambiente decisório – fatores relativos à TCE e RBV ............................... 58

Figura 7 – Esquema representativo do capítulo 2 – Metodologia de pesquisa ......... 59

Figura 8 – Esquema representativo do capítulo 3 – Descrição do caso .................... 68

Figura 9 – Segmentos do mercado mundial de EC ................................................... 70

Figura 10 – Principais componentes utilizados na produção de telas LCD ............... 88

Figura 11 – Integração vertical Samsung + Sony ...................................................... 92

Figura 12 – Integração vertical LG + Philips .............................................................. 93

Figura 13 – Estrutura de negócios da Philips no Brasil ............................................. 98

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Razões para terceirização ....................................................................... 19

Tabela 2 – Estrutura VRIO ........................................................................................ 51

Tabela 3 – Estrutura VRIO e forças e fraquezas organizacionais ............................. 51

Tabela 4 – Características da pesquisa .................................................................... 63

Tabela 5 – Resultados por região em bilhões de dólares ......................................... 71

Tabela 6 – Base histórica do PIB Brasil .................................................................... 76

Tabela 7 – Setor brasileiro de EC em volume (Base milhares de produtos) ............. 77

Tabela 8 – Setor brasileiro de EC em valor (Base milhões de dólares) .................... 79

Tabela 9 – Ticket médio do setor brasileiro de EC em dólares ................................. 79

Tabela 10 – Resultado da pesquisa ........................................................................ 101

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Mercado mundial de EC em quantidade ................................................. 69

Gráfico 2 – Mercado mundial de EC em bilhões de dólares...................................... 70

Gráfico 3 – Participação por segmento no mercado mundial .................................... 71

Gráficos 4, 5, 6 e 7 – Dez maiores marcas em volume por segmento EC em 2008 . 73

Gráfico 8 – Participação percentual histórica por regiões mundiais .......................... 74

Gráfico 9 – Participação por segmento na América Latina ....................................... 75

Gráfico 10 – Participação dos países na América Latina .......................................... 75

Gráfico 11 – Taxa de investimento público como percentual do PIB Brasil .............. 77

Gráfico 12 – Participação por segmento do mercado de EC no Brasil em volume ... 78

Gráfico 13 – Participação por segmento do mercado de EC no Brasil em valor ....... 79

Gráfico 14 – Vendas totais de CRT e tela fina no varejo brasileiro em volume ......... 82

Gráfico 15 – Vendas totais de CRT e tela fina no varejo brasileiro em valor ............ 82

Gráfico 16 – Vendas de televisores tela fina no varejo brasileiro em volume ........... 83

Gráfico 17 – Vendas de televisores tela fina no varejo brasileiro em valor ............... 84

Gráfico 18 – Vendas de televisores LCD no varejo brasileiro em volume/empresa .. 85

Gráfico 19 – Vendas de televisores LCD no varejo brasileiro em valor/empresa. ..... 86

Gráfico 20 – Evolução do preço médio de televisor LCD por empresa ..................... 87

Gráfico 21 – Participação acionária na LG Displays ................................................. 94

Gráfico 22 – Modelo de custos Philips LCD Mundial ............................................... 100

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CD Compact Disc

CEO Chief Executive Office

CRT Cathode Ray Tube

DVD Digital Video Disc

EBITA Earnings before Interest, Taxes, and Amortization

EC Eletroeletrônicos de Consumo

EDI Eletronic Data Interchange

GFK Growth from Knowledge

LCD Liquid Cristal Display

LGD LG Philips Displays

PIB Produto Interno Bruto

RBV Resource-based View of the Firm

SCP Structure-Conduct-Performance

SWOT Strengths, Weakness, Opportunities and Threats

TCE Transaction Costs Economics

VRIO Valor-Raridade-Imitabilidade-Organização

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SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................. 11

1. Fundamentação teórica ......................................................................................... 16

1.1. Terceirização................................................................................................... 17

1.2. Competitividade .............................................................................................. 21

1.3. Custos Econômicos de Transação (Transaction Costs Economics - TCE) ..... 29

1.4. Visão Baseada em Recursos (Resource-based View of the Firm – RBV) ...... 40

1.5. Relação entre TCE e RBV em decisões de terceirização ............................... 53

2. Metodologia de pesquisa....................................................................................... 59

2.1. Definições metodológicas ............................................................................... 59

2.2. Estudo de caso ............................................................................................... 61

2.3. Coleta de informações .................................................................................... 63

2.4. Análise e interpretação dos dados .................................................................. 65

2.5. Limitações de pesquisa ................................................................................... 67

3. Descrição do caso ................................................................................................. 68

3.1. Indústria eletroeletrônica de consumo ............................................................ 69

3.1.1. Mercado mundial ...................................................................................... 69

3.1.2. Mercado América Latina ........................................................................... 73

3.1.3. Mercado Brasil .......................................................................................... 76

3.1.3.1. Mercado de televisores LCD no Brasil ............................................... 80

3.2. Indústria de TV LCD ........................................................................................ 87

3.2.1. Caracterização do produto ........................................................................ 87

3.2.2. Fornecedores ............................................................................................ 89

3.3. Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil .............................................. 95

3.3.1. Histórico .................................................................................................... 95

3.3.2. Estrutura de negócios ............................................................................... 98

3.4. Entrevista e questionário ............................................................................... 100

3.4.1. Resultados dos fatores relativos à teoria RBV ........................................ 102

3.4.2. Resultados dos fatores relativos à teoria TCE ........................................ 105

Conclusão ............................................................................................................... 110

Referências bibliográficas ....................................................................................... 117

Anexos .................................................................................................................... 121

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Introdução

Na sociedade globalizada, os grandes avanços tecnológicos têm gerado mudanças

significativas, que afetam profundamente os meios de produção e, por conseguinte,

o panorama econômico, social e político mundial. Nesse contexto, surgem grandes

empresas ou tecnologias capazes de dominar totalmente um segmento de mercado.

Em contrapartida, organizações já consagradas e dominantes enfrentam a falência,

por não conseguirem acompanhar a velocidade das mudanças.

Em alguns setores como o de eletroeletrônicos de consumo (EC), em que a busca

por inovações é constante, cria-se uma acirrada competição, na qual as disputas se

embasam no desenvolvimento de novas tecnologias capazes de gerar forte barreira

de entrada e um diferencial competitivo.

Para enfrentar os desafios provenientes desse cenário, as companhias seguem

diferentes modelos de verticalização, dependendo de sua estratégia de longo prazo,

em que processos produtivos altamente verticalizados geram vantagens como

menores custos de transação, menor exposição à variabilidade de suprimentos,

resposta mais rápida a variabilidade da demanda, maior autonomia sobre tecnologia

própria, entre outras. Em contrapartida, modelos menos verticalizados possibilitam

maior foco no produto, menores níveis de investimento em ativos, menores custos

de produção. Dessa forma, as decisões do que manter dentro das fronteiras da

empresa e do que comprar de fornecedores desempenham uma função estratégica

de extrema relevância.

Nos últimos anos, tais atividades passam a apresentar uma nova dinâmica, em

decorrência da atuação da China no cenário produtivo: visando a ampliar sua

competitividade no mercado mundial, o país possibilita a substituição de produtos

caros por outros muito mais baratos, garantindo produção em larga escala e

penetração em novos mercados.

No entanto, eles passam a apresentar maior índice de defeitos ou até ciclo de troca

mais curto. Nesse prisma, se o ciclo de troca não é necessariamente um problema –

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já que não parece vantajoso um produto que dure muitos anos em um mundo

marcado por constantes inovações tecnológicas – o maior índice de defeitos

certamente traz impactos negativos à imagem da marca e à rentabilidade do bem de

consumo.

O setor de EC consolida-se, então, em um ambiente mercadológico norteado por

produtos de baixo custo, em que o fator qualidade se relaciona mais à experiência

do consumidor na utilização de um bem do que à sua durabilidade. Nessa

perspectiva, as empresas procuram estabelecer cadeias produtivas vinculadas ao

centro produtivo chinês ou em similares, como o taiwanês e o coreano. Tal

movimento pode acontecer principalmente de duas formas: na primeira, as

organizações instalam-se nos países e fazem uso de sua legislação, de seus custos

e de seu modelo produtivo verticalizado; na segunda, terceirizam parte de sua

operação, buscando reduzir custos e riscos, adotando, assim, um modelo não-

verticalizado, com a terceirização de produção e alianças estratégicas.

Como se sabe, decisões empresariais que envolvem questões como o que se deve

produzir internamente e o que se deve comprar fora da companhia afetam

diretamente a sua competitividade. Com a terceirização, é possível, por exemplo,

obter maior eficiência da cadeia produtiva e menores custos de produção.

Nesse sentido, Barney (1999) explica que as decisões de selecionar quais

atividades devem ser mantidas dentro da empresa e quais devem ser realizadas fora

de suas fronteiras podem ser sustentadas pela teoria dos Custos Econômicos de

Transação (Transaction Costs Economics - TCE). Na mesma direção, Holcomb e

Hitt (2007) afirmam que a TCE tem sido o meio dominante para explicar decisões de

terceirização com base em um modelo puramente econômico, que busca eficiência

em custos e verifica as transações entre os diferentes mecanismos de governança.

Mas Barney sugere que as decisões sobre o que se produzir ou comprar não devem

ser analisadas somente sob a ótica da TCE e ressalta que as capacidades da

empresa, juntamente com os recursos que ela detém, devem ser levadas em

consideração. Assim, propõe também a aplicação da teoria da Visão Baseada em

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Recursos da Empresa (Resource-based View of the Firm – RBV), para fortalecer a

análise dessas decisões.

Corroborando tais observações, McIvor (2008) defende que nem a TCE e nem a

RBV isoladamente podem explicar por completo a complexidade das decisões de

terceirização. Todavia, há ainda poucas pesquisas que consideram a aplicação

conjunta das teorias (HOLCOMB; HITT, 2007), o que justifica o desenvolvimento de

trabalhos voltados para esse aspecto.

Questão de pesquisa e objetivos

Tendo-se em vista propiciar uma melhor compreensão dos impactos gerados por

processos de terceirização na competitividade empresarial, a presente dissertação

tem como universo de pesquisa o setor de eletroeletrônicos e como tema de estudo

os impactos da competitividade decorrentes do nível de terceirização exercido por

uma companhia. Mais especificamente, trata-se aqui da terceirização da produção

do painel LCD (Liquid Cristal Display) pela Philips Eletroeletrônicos de Consumo do

Brasil, que constitui um componente principal do televisor LCD, observando-se o

valor do painel na produção do televisor e o peso do televisor no faturamento

empresarial, bem como a diversidade estratégica das empresas atuantes no

segmento.

O estudo norteia-se pela seguinte pergunta de pesquisa:

A terceirização de painéis LCD da Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil

pode ser responsável pela baixa competitividade da marca no mercado brasileiro de

televisores LCD?

O objetivo principal do trabalho consiste, então, em investigar se a perda de

competitividade da Philips está relacionada ao intenso processo de terceirização do

painel para televisor LCD, buscando-se compreender os impactos desse processo

na organização. Como objetivo secundário, pretende-se explicitar como se dá a

aplicabilidade conjunta das teorias TCE e RBV em decisões de terceirização.

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A investigação configura-se em um estudo de caso único e embasa-se nas teorias

TCE e RBV, as quais, conforme já mencionado, podem oferecer uma ampla

compreensão dos impactos das decisões de terceirização nas empresas. A pesquisa

também se fundamenta em entrevistas com executivos da Philips, atuantes nas

áreas de gestão de operações e gerência de negócios, cujas considerações

permitem verificar como a empresa compreende a terceirização de ativos e os

possíveis riscos inerentes a esse processo.

Estrutura do trabalho

No intuito de alcançar os objetivos estabelecidos, este estudo está estruturado em

três capítulos, além da introdução e das considerações finais.

No capítulo 1, apresenta-se a fundamentação teórica que embasa o trabalho de

investigação, buscando-se definir os conceitos de terceirização e competitividade e,

ainda, explicitar a relação entre TCE e RBV em decisões de terceirização. No

capítulo 2, apresenta-se a metodologia de pesquisa, destacando-se os

procedimentos adotados na coleta de informações e a análise e interpretação dos

dados coletados, bem como as limitações de pesquisa. No capítulo 3, apresenta-se

a descrição do caso Philips, apontando-se para os resultados obtidos nas

entrevistas realizadas.

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A figura 1, a seguir, ilustra a estrutura da dissertação:

Figura 1 – Esquema representativo da dissertação

Introdução

Fundamentação Teórica

RBVTCETerceirização

Porque, O que e

para Quem

Terceirizar

Vantagens e

Desvantagens

Globalizada

Na Indústria

Fatores

determinantes

Medição

Fundamentos

Análises

Aplicação

Síntese dos conceitos

Competitividade

Fundamentos

Análises

Aplicação

Descrição do Caso

Caracterizaçãoda Philips

Indústria de TV LCD

IndústriaEletroeletrônica

Análise da Pesquisa

Metodologia de Pesquisa

PesquisaExploratóriaQualitativa

AplicadaLongitudinalEx-post facto

Estudo de Caso

Estudo de Caso Único

Coleta de Dados

Análise dos Dados

Dados secundários

Entrevistas com profissionais da empresa

Questionário

Conclusão

CasoPhilips LCD

Limitações do trabalho e sugestões para futuras pesquisas

Referências Bibliográficas e Anexos

RBVTCE

Terceirização

Competitividade

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1. Fundamentação teórica

Neste capítulo, apresentam-se os estudos que embasam a análise do caso de

terceirização de painéis LCD da Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil e

seus possíveis impactos na competitividade da empresa. Em um primeiro momento,

definem-se os conceitos de terceirização e competitividade que norteiam este

trabalho. Na sequência, explicitam-se as teorias TCE e RBV, bem como as relações

que se estabelecem entre elas. Por fim, justifica-se por que tais teorias foram

selecionadas para a análise do caso.

Na figura 2, representa-se a estrutura do capítulo:

Figura 2 – Esquema representativo do capítulo 1 – Fundamentação teórica

Fundamentação Teórica

RBVTCETerceirização

Porque, O que e

para Quem

Terceirizar

Vantagens e

Desvantagens

Globalizada

Na Indústria

Fatores

determinantes

Medição

Fundamentos

Análises

Aplicação

Síntese dos conceitos

Competitividade

Fundamentos

Análises

Aplicação

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1.1. Terceirização

No contexto mercadológico contemporâneo, a terceirização é uma prática bastante

utilizada pelas organizações que têm como objetivo reduzir custos e aumentar a

qualidade de seus produtos. De acordo com Prahalad e Hamel (1990), ao transferir

suas atividades-meio para empresas contratadas, uma companhia pode concentrar

esforços em sua atividade-fim e, dessa forma, tornar-se mais competitiva. Uma vez

que nesta dissertação o objetivo é investigar os impactos da terceirização na

competitividade empresarial, faz-se necessário compreender esse processo,

definindo-se o seu significado, suas vantagens e desvantagens. A seguir,

apresentam-se as considerações de alguns estudiosos sobre o tema.

Chase, Aquilano e Jacobs (2006) definem terceirização como a transferência de

algumas atividades internas e responsabilidades de decisão de uma empresa para

provedores externos, com as condições do acordo firmadas em contrato. Contudo,

explicam que o ato de terceirizar ultrapassa o âmbito contratual e de consultoria,

pois no processo não se transferem somente as atividades, mas também os

recursos que levam à sua realização, incluindo-se as pessoas, as instalações, os

equipamentos, as tecnologias e outros ativos.

Pearce e Robinson (2009) também compreendem terceirização como a execução de

trabalho por fontes externas à companhia. Eles destacam que, cada vez mais, as

organizações se convencem de que a melhor forma de implementar suas estratégias

é buscar fora de suas fronteiras profissionais ou empresas capazes de executar

atividades não-essenciais com eficiência e menor custo, preocupando-se apenas

com suas atividades essenciais.

Os autores descrevem um estágio mais avançado de terceirização, classificando-o

como terceirização dos processos de negócio. Nesse contexto, terceirizam-se, por

exemplo, a gestão de recursos humanos, de compra de suprimentos, de finanças e

controladoria, de cuidado com os clientes, de cadeia de suprimentos e logística, de

engenharia, de pesquisa e desenvolvimento, de vendas e marketing, de ativos de

desenvolvimento de produtos e serviços. Em outros termos, as companhias

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transferem grande parte de suas atividades e, de forma geral, concentram-se muito

mais na gestão da marca e no gerenciamento dos diversos elos da cadeia de valor

criados nas relações entre as empresas.

Holcomb e Hitt (2007), por sua vez, concebem a terceirização de um ponto de vista

estratégico, como um acordo organizacional que se materializa quando

organizações transacionam em mercados intermediários para fornecer capacidades

específicas que superem as capacidades existentes. Nesse prisma, a ação

estratégica de terceirizar passa a ser importante para empresas envolvidas, não

somente pelo valor criado por meio de reduções de custo, mas também pelo valor

adicional obtido para a cadeia quando as empresas aumentam seu nível de

relacionamento.

Com base nesses estudiosos, considera-se, no presente trabalho, que a

terceirização consiste na subcontratação de um processo com o objetivo principal de

adicionar valor às empresas relacionadas. Já que se trata de uma ação estratégica,

torna-se importante compreender os motivos que levam as companhias a terceirizar.

Chase, Aquilano e Jacobs destacam as seguintes razões:

Razões Organizacionais • Aumentar a eficácia focando o que a empresa faz mel hor; • Aumentar a flexibilidade para atender a mudanças de condições no negócio, à demanda

por produtos e serviços e tecnologia; • Transformar a organização; • Aumentar o valor do produto e serviço, satisfação d o cliente e o valor para o acionista. Razões Relativas a Melhoria • Melhorar o desempenho operacional; • Obter expertise , competências e tecnologias que de outra forma não estão disponíveis; • Melhorar a administração e controle; • Melhorar a gestão de risco; • Adquirir idéias inovadoras; • Melhorar a qualidade e a imagem associando-se com p rovedores superiores. Razões Finan ceiras • Reduzir o investimento em ativos e liberar esses re cursos para outras finalidades; • Gerar caixa transferindo o ativo para o provedor. Razões Relativas a Receita • Ganhar acesso ao mercado e oportunidades de negócio através da rede do provedor; • Acelerar a expansão utilizando a capacidade, proces sos e sistemas desenvolvidos pelo

provedor; • Expandir as vendas e a capacidade de produção duran te períodos em que essa

capacidade de produção não pode ser financiada; • Explorar comercialmente competências existentes.

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Razões Relativas a Custo • Reduzir custos através do desempenho de um provedor superior e da estrutura de

menor custo do provedor; • Transformar custos fixos em custos variáveis. Razões Relativas a Funcionários • Oferecer aos funcionários um plano de carreira melh or; • Aumentar o compromisso e a energia em áreas não-cen trais.

Tabela 1 – Razões para terceirização

Fonte: Chase, Aquilano e Jacobs (2006, p. 258)

Na mesma direção dos estudos de Pearce e Robinson (2009), McIvor (2008)

acrescenta que os processos de terceirização frequentemente são motivados por

fatores econômicos, como melhoria da eficiência e reduções de custo. Isso explica o

fato de muitas empresas terem se especializado em setores de atividades como

design, manufatura, marketing, recursos humanos, logística, em vez de se limitarem

apenas a atividades periféricas, como limpeza e segurança. O teórico observa que,

embora o termo esteja em destaque nos últimos anos, as companhias sempre

tomaram decisões envolvendo as fronteiras de suas operações.

Não se pode negar que a atividade de terceirizar é um processo irreversível no

mundo globalizado. Desse modo, reforça-se a necessidade de compreensão de

seus impactos na competitividade empresarial. Em seus estudos, Pearce e Robinson

(2009) explicitam as vantagens e desvantagens decorrentes da terceirização. De

modo geral, as vantagens estão diretamente relacionadas com as razões para se

terceirizar, citadas anteriormente por Chase, Aquilano e Jacobs (2006). As

desvantagens, por sua vez, nem sempre são abordadas pelas empresas e serão

retomadas neste trabalho quando da aplicação das teorias de TCE e RBV no

universo da pesquisa.

Segundo os autores, as vantagens da terceirização consistem:

• na redução de custos, quando comparada com a atividade feita internamente;

• na redução do montante de capital de investimento e aumento de capacidade

de produção;

• na manutenção do foco e de recursos em atividades críticas do negócio;

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• na permissão para a empresa controlar e ampliar as fontes essenciais de

vantagem competitiva, devido ao maior foco nessas atividades;

• na transferência de conhecimento, gerada pelo aumento de expertise e pelo

escopo de trabalho executado pelos parceiros e terceiros.

Quanto às desvantagens, estas podem ser assim especificadas:

• perda de controle e experiência no gerenciamento de fornecedores;

• criação de futuros competidores;

• provável perda de conhecimentos importantes sobre produtos e serviços;

• possibilidade de reações negativas de clientes e investidores;

• dificuldade para se criar e gerenciar contratos legais, especialmente para

serviços;

• empresas usualmente ficam presas a contratos de longo prazo, que deixam

de ser competitivos;

• muitas empresas enfrentam dificuldade por parte das companhias para

manter com qualidade o serviço proposto;

• algumas organizações ganham concorrência e depois não conseguem manter

com qualidade o serviço proposto. Há grande dificuldade em se reconhecer

essa situação;

• aumento da fragmentação de culturas, resultando em trabalhadores pouco

remunerados, com pouca iniciativa e pouco entusiasmo.

Observa-se que as vantagens podem conduzir a empresa a aumentar sua eficiência,

entretanto elas nem sempre são suficientes para que se garanta um maior grau de

competitividade: as desvantagens devem ser estudadas com atenção pelas

organizações que pretendem se valer desse processo como medida estratégica para

agregar valor e aprimorar os negócios.

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1.2. Competitividade

Conforme mencionado, a terceirização pode ser considerada uma medida

estratégica, que propicia a redução de custos e atribui mais qualidade a ações

gerenciais e operacionais da empresa, tornando-a mais competitiva. Entretanto, o

termo competitividade é muito amplo e seu significado relaciona-se a fatores

contextuais diversos, tais como os ambientes político, econômico e social em que se

insere uma companhia, bem como à sua efetiva capacidade de gerir seus negócios

e de se relacionar com o cliente. Segundo Silva (2001, p. 1),

o fato de uma empresa ser hoje líder de mercado não significa, necessariamente,

que ela continuará sendo competitiva no futuro. Da mesma forma, a empresa que

não possui, hoje, um bom posicionamento no mercado, poderá situar-se melhor no

futuro se fizer uma leitura adequada do ambiente, corrigir rumos e tomar decisões

acertadas.

Porter (1985) relaciona competitividade ao posicionamento da organização no

contexto industrial: ela precisa encontrar uma posição em que possa se defender

das forças ou influências que ameaçam os seus resultados. Assim, é o

posicionamento da companhia que determina a sua rentabilidade: se ela está bem

posicionada, é capaz de obter altas taxas de retorno, mesmo que a estrutura

industrial seja desfavorável e a rentabilidade média da indústria seja, portanto,

modesta. O autor observa que a competitividade pode ser considerada como a

capacidade de a organização ser bem sucedida em mercados que tenham

concorrentes.

Ele explica ainda que empresas alcançam vantagem competitiva sustentável quando

apresentam desempenho acima da média por um longo período de tempo e, embora

possam apresentar inúmeros pontos fortes e fracos em comparação com seus

concorrentes, essa vantagem é obtida basicamente de duas formas: por baixo custo

ou por diferenciação. A vantagem por meio do baixo custo será alcançada com o

controle de gastos; já a vantagem por meio da diferenciação será alcançada se a

companhia criar um produto ou serviço que não tenha concorrente no mercado em

que atua.

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Barney (2007), por sua vez, considera que a competitividade é decorrente do

desempenho da organização, da sua capacidade de aproveitar as oportunidades e

neutralizar ameaças externas e fraquezas internas. Desse modo, a vantagem

competitiva relaciona-se ao controle que a companhia exerce sobre recursos raros,

valiosos, imitáveis, insubstituíveis etc.

O teórico coloca que a definição de competitividade parte do entendimento do

desempenho, onde este define desempenho como a diferença entre o valor que os

clientes de uma empresa estão dispostos a pagar por seus produtos e o custo de

desenvolvimento e de venda desses produtos. Essa diferença é denominada valor

econômico: as organizações que conseguem criar maior valor econômico em

relação aos seus concorrentes obtêm vantagem competitiva sobre eles. Aquelas que

ganham o mesmo valor econômico de seus clientes alcançam um status de

paridade.

Para melhor se compreender o conceito de competitividade, deve-se relacioná-lo ao

contexto da globalização em que se insere a sociedade contemporânea. Diversos

autores como Di Serio e Vasconcellos (2009), Hitt, Ireland e Hoskisson (2002),

Porter (1999) e Pearce e Robinson (2009) citam a relevância da competição global

e, por conseguinte, da necessidade de as empresas criarem vantagem competitiva

sustentável, por meio da implementação de estratégias que gerem valor único.

Hitt, Ireland e Hoskisson (2002) enfatizam que, atualmente, todas as empresas

enfrentam concorrência globalizada e não mais operam em mercados regionais

relativamente seguros. Assim, o êxito nesse panorama competitivo requer das

companhias capacidades específicas e habilidades para utilizar sabiamente recursos

escassos; antecipar-se constantemente às frequentes alterações nas preferências

dos clientes; adaptar-se a mudanças tecnológicas rápidas; identificar, enfatizar e

gerenciar eficazmente tudo aquilo que possa fazer melhor que os seus concorrentes;

estruturar continuamente suas operações para que os objetivos possam ser

alcançados com maior eficiência; administrar para a obtenção de melhor empenho

de uma força de trabalho culturalmente diversificada.

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A globalização pode ser definida como a integração mais estreita dos países e dos

povos do mundo, que tem sido ocasionada pela enorme redução de custos de

transporte e de comunicações e pela queda de barreiras artificiais aos fluxos de

produtos, serviços, capital, conhecimento e, em menor escala, de pessoas por

intermédio das fronteiras nacionais.

No cenário empresarial, esse fenômeno permitiu um relacionamento mais intenso

entre empresas e clientes, rompendo as barreiras geográficas. Os consumidores

ficam, então, cada vez mais expostos ao assédio de produtos de organizações

localizadas em várias partes do mundo e, desse modo, intensifica-se a concorrência

e, consequentemente, a competitividade (DI SERIO; VASCONCELLOS, 2009).

Para Porter (1999), a globalização permite que as organizações conquistem

vantagem competitiva independentemente de sua localização, por meio da

coordenação das atividades em muitos países. Isso não quer dizer, no entanto, que

esse fenômeno eliminou a importância da localização na competição, pois as

empresas líderes mundiais estão sediadas em poucos países e, às vezes, em um

único país.

Dentro do contexto de competitividade, Pearce e Robinson (2009) exploram o tema

indústrias globais e dizem que essas apresentam uma configuração na qual o seu

sucesso está associado a fontes confiáveis de vantagem competitiva. Eles definem

indústrias globais como aquelas que englobam empresas cujas posições

competitivas em mercados geográficos ou nacionais são fundamentalmente afetadas

pelo seu posicionamento competitivo global. Dessa forma, para evitar desvantagens

estratégicas, empresas em indústrias globais são virtualmente solicitadas a

competirem em base mundial ampla. São exemplos de indústrias globais as

indústrias de petróleo, aço, automóveis, televisores, computadores etc.

De acordo com os autores, esse tipo de indústria possui, basicamente, quatro

características:

• diferenças em preço e custo de país a país devido a flutuações de moeda;

• diferenças em salários, taxas de inflação e outros fatores econômicos;

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• diferenças de necessidade dos compradores de país para país;

• diferenças em competidores e modos de concorrência de país para país;

• diferenças em regras de negócio e regulamentação governamental entre

diferentes países.

A concorrência de indústrias globais requer que dois componentes fundamentais

sejam considerados na estratégia de negócios das empresas: o método utilizado

para se obter cobertura global e a estratégia genérica competitiva. No que se refere

à cobertura global, três métodos podem ou devem ser empregados:

• o licenciamento de empresas de outros países para produzirem e distribuírem

produtos da marca;

• a manutenção da produção doméstica e exportação de produtos para outros

países;

• o estabelecimento de fábricas em outros países para que a indústria venha a

competir diretamente nesses mercados.

Quanto à estratégia genérica global, as empresas devem considerar:

• competição com ampla linha de produtos da indústria global;

• foco estratégico global, posicionando-se em um segmento particular da

indústria global;

• foco estratégico nacional, utilizando vantagens resultantes de diferenças de

mercados nacionais, que lhes permite um posicionamento diferenciado e

global diante de seus concorrentes;

• estratégia de nicho protegido, tendo em vista os países onde podem obter

concessões que inibem ou restringem competidores globais.

Di Serio e Vasconcellos (2009) explicam que a noção de competitividade não deve

ser atrelada à metáfora equivocada da intervenção governamental (figura do

Estado), por exemplo, quando o Estado é o principal agente gerador de

competitividade em custos ao garantir subsídios a indústrias, e relacionam tal

conceito às fontes de prosperidade de cada país. A prosperidade, para eles,

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consiste na capacidade de produção relativa a uma indústria, e a competitividade,

por sua vez, relaciona-se diretamente à produtividade.

A produtividade pode ser entendida como a eficácia com que são utilizados os

recursos. A tradicional definição desse termo consiste na avaliação dos resultados

gerados a partir da entrada de um dado conjunto de insumos. Nessa ótica, quanto

maior e melhor for o nível de resultados obtidos com o mesmo conjunto de insumos,

maior será a produtividade. Os autores afirmam que, para a economia, a

produtividade é a chave subjacente à noção de competitividade e reforçam que as

duas noções estão intimamente ligadas.

Além da produtividade, outros fatores podem ser relacionados diretamente à

competitividade da indústria e um dos mais citados, conforme já mencionado, é a

estratégia da companhia. Nesse sentido, a competitividade pode ser descrita como a

capacidade da empresa para formular e implementar estratégias concorrenciais que

lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no

mercado.

Di Serio e Vasconcellos (2009) expõem os fatores determinantes da competitividade,

chamando a atenção para o fato de que esses enriquecem ainda mais a

complexidade de decisões, configurações e escolhas empresariais:

• fatores internos – são aqueles que estão sob o controle da empresa, que

pode modificá-los de acordo com suas necessidades. Decisões sobre as

estratégias a serem adotadas, sistemas de gestão, políticas de capacitação e

treinamento e investimentos em novas plantas e tecnologia são exemplos

desses fatores;

• fatores estruturais – são representados pelas condições reinantes na indústria

ou no setor em que atua a companhia. As condições da concorrência e do

mercado consumidor, o grau de verticalização, as escalas de operação, a

propriedade dos meios de produção e o sistema fiscal e tributário são fatores

estruturais inerentes à indústria e afetam-na sem que ela tenha controle direto

sobre eles, podendo apenas posicionar-se de forma estratégica diante deles;

• fatores sistêmicos – são aqueles com influência além do setor ou da indústria,

como, por exemplo, as condições macroeconômicas, a taxa de câmbio, a taxa

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de juros, as políticas tributárias, regulatórias, ambientais e de incentivo ao

desenvolvimento de novas tecnologias etc.

A figura 3 abaixo ilustra tais fatores:

Figura 3 – Fatores determinantes da competitividade da indústria

Fonte: Di Serio e Vasconcellos (2009, p.159)

Conforme dito anteriormente, uma empresa tem vantagem competitiva sobre outra

quando cria mais valor econômico que sua rival. Mas, ainda que o valor econômico

seja compreendido como a diferença entre o valor percebido pelo cliente quanto aos

benefícios de um determinado produto ou serviço e os custos de produção e venda

desse produto ou serviço, não é sempre fácil mensurar a competitividade, pois não é

uma tarefa simples compreender e medir as percepções dos clientes.

De um modo geral a competitividade deve ser avaliada de duas formas:

• potencial – quando é apresentada como eficiência econômica, traduzindo-se

mediante a relação insumo-produto, ou seja, pela capacidade da empresa de

converter insumos em produtos com o máximo de rendimento e ao menor

custo. Dessa forma, o domínio das técnicas mais produtivas determinaria se

uma empresa poderia concorrer com maior ou menor competitividade;

Mercado Configuração da Industria

Concorrência

Seto

res

Estratégia e Gestão

Capacidade para

Inovação

Capacidade Produtiva

Recursos Humanos

Macro-economicos

Internacionais Sociais

Tecnológicos

Infra-estruturais

Fiscais e Financeiros

Político-Institucionais

Fatores

internos à

empresa

Fatores

sistêmicos

Fatores estruturais (setoriais)

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• relativa – quando é apresentada como desempenho e expressa na forma de

participação alcançada de uma firma em um mercado e em um dado

momento no tempo. Sintetiza fatores como preço, não-preço, qualidade de

produtos, habilidade de servir ao mercado e capacidade de diferenciação de

produtos.

Para melhor compreensão do posicionamento competitivo da empresa, faz-se

necessário primeiro entender qual sua competitividade potencial por meio de

indicadores de desempenho e, assim, completar a análise, compreendendo-se seu

posicionamento de mercado diante de seus concorrentes. Em outras palavras, ao se

tratar a competitividade potencial, dois principais métodos têm sido usados como

fatores de medição: o primeiro estima a competitividade da empresa por meio de

indicadores simples de desempenho financeiro e o segundo vale-se da análise dos

indicadores ajustados de desempenho (BARNEY, 2007).

Os indicadores simples de desempenho referem-se a medidas financeiras comuns

que trazem um grande número de informações sobre as operações empresariais.

Eles são o resultado de relação matemática entre dois ou mais fatores e refletem o

desempenho da empresa em um determinado momento. Alguns exemplos desses

indicadores são: retorno sobre o ativo; margem bruta; ganho por ação; fluxo de caixa

por ação; ganhos antes do desconto de juros e taxas (Earnings before Interest,

Taxes, and Amortization – EBITA).

A utilização de indicadores simples implica vantagens e desvantagens. Como

vantagens pode-se considerar a facilidade de obtenção desses dados nas

organizações – ainda mais se elas forem de capital listado em bolsas de valores – e

o fato de esses cálculos serem altamente conhecidos e aplicados pelas companhias,

garantindo-lhes base comparativa. Como desvantagem observa-se que tais

indicadores não deixam claro se o ganho gerado é suficiente para cobrir o custo de

capital da organização. Por exemplo, se uma organização é capaz de gerar margem

bruta positiva de 15% e o custo de captação de novos investimentos for de 20% e se

uma segunda organização for capaz de gerar margem bruta positiva de 10%, mas

seu custo de captação for de apenas 5%, uma análise simples indicaria que a

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primeira empresa tem uma margem maior e, portanto, seu produto seria mais

competitivo, o que nesse caso, não é verdade.

Quanto aos indicadores ajustados de desempenho, estes buscam medir o

desempenho empresarial por meio da comparação entre sua receita e seu custo de

capital.

O custo de capital consiste no retorno necessário esperado sobre o capital

empregado para se realizar um projeto e inclui os custos do ativo e do passivo.

Assim, uma companhia que gera um retorno menor que seu custo de capital não

está apta para continuar a atrair capital. Entretanto, se ela gera um retorno maior

que esse custo, torna-se apta a captar mais recursos. Como se pode observar, o

custo de capital da empresa é um importante componente para que se

compreendam os seus custos.

Basicamente os indicadores ajustados de desempenho classificam-se em retorno do

capital investido, lucro econômico, valor econômico de mercado e Q de Tobini. A

grande vantagem desses métodos de medição refere-se ao fato de que eles cobrem

as principais desvantagens dos indicadores simples de desempenho financeiro.

Como desvantagem, eles requerem um total entendimento por parte da companhia

de suas práticas financeiras e da implicação de tais práticas nos relatórios de

lucratividade. Isso cria uma grande complexidade e se não houver compreensão

plena de todas as considerações feitas para o cálculo do indicador, pode-se perder a

base comparativa.

Por fim, quando obtidos os indicadores financeiros, sejam eles simples ou ajustados,

esses devem ser comparados aos mesmos de outras companhias. Esse método

visa a determinar o fator relativo de competitividade.

Todavia, destaca-se que os indicadores de desempenho financeiro, simples ou

ajustados, apesar de poderem ser empregados em qualquer empresa, apresentam

emprego limitado quando se tenta medir a competitividade de um determinado

produto. Isso se deve ao fato de que as companhias divulgam dados consolidados

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de suas operações aos seus acionistas e dificilmente divulgam dados por categoria

de produtos.

Tomando-se como exemplo o caso Philips, em que se busca compreender se o

televisor LCD produzido por essa empresa é competitivo diante dos televisores

produzidos por seus concorrentes, observa-se que esse é o tipo de informação não

divulgado abertamente ao mercado.

1.3. Custos Econômicos de Transação (Transaction Costs Economics - TCE)

De acordo com Milgron e Roberts (1992), o conceito de custo de transação tem suas

origens em Ronald Coase, em seu prestigiado trabalho The nature of the firm, de

1937, em que se levanta a seguinte pergunta: à luz dos mecanismos de eficiência

dos mercados competitivos enfatizados na teoria econômica, por que tantas

atividades econômicas ocorrem fora dos sistemas de preço, ou seja, entre empresas

nas quais as transações de mercado são substituídas por direções centralizadas?

Coase conclui que alguns custos para se transacionar no mercado podem ser

eliminados pelas companhias e apresenta a seguinte proposição:

Se partes negociam para chegar a um acordo eficiente e se suas intenções ou

preferências não apresentam nenhum efeito de ganho futuro, então o valor criado da

atividade (y) (onde y = lista de todos os fatores influenciadores de decisão, como

aceitação social, aplicação de proposta de emprego, localização, políticos etc.) que

será acordado entre as partes não dependerá do poder de negociação de nenhuma

delas ou nem mesmo dos ativos que cada uma possui no início da negociação. Ao

contrário, será somente a eficiência que determinará a atividade escolhida. Outros

fatores podem afetar somente decisões sobre como os custos e benefícios serão

divididos (x) (onde x = riqueza do tomador de decisão) (Coase, apud MILGRON;

ROBERTS, 1992, p. 38).

Milgron e Roberts (1992, p. 38) explicam desta forma o teorema de Coase:

Em situações práticas de negócio, a forma como os benefícios de um acordo são

divididos entre as partes irá depender de quais ativos cada uma traz para a mesa de

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negociação, do grau de paciência que cada uma apresenta, das oportunidades

externas disponíveis etc. Todavia, se as partes entram em uma negociação eficiente,

ou seja, se conseguem um acordo no qual não existe a possibilidade de ganhos

futuros mútuos e se o princípio de maximização de valor se aplicar, então,

independentemente de quanto dinheiro será trocado de mãos no momento do

acordo, (Y) escolhido será para maximizar o valor total das partes do acordo. Desse

modo, somente os custos de distribuição e benefícios serão afetados pela força de

negociação de cada uma das partes e essa distribuição será demonstrada nos (Xs).

Coase é, então, o primeiro a introduzir o conceito de custos de transação para

explicar a natureza e os limites das empresas. Ressalta-se que a teoria econômica

tradicional da época sugeria que, porque o mercado é eficiente, deve sempre ser

mais barato terceirizar que desempenhar internamente (isto é, aqueles que eram os

melhores na prestação de cada bem ou serviço mais barato já estavam fazendo

isso).

O autor observa, contudo, que há uma série de custos de transação associados ao

uso do mercado e assim, o custo de obtenção de um bem ou serviço no mercado, é

efetivamente mais alto do que o valor efetivo do bem. Dessa forma, custos como os

de pesquisa e informação, de negociação, de proteção de segredos comerciais e de

aplicação da lei, potencialmente podem incrementar ao custo de aquisição de algum

produto ou serviço. Coase como isso sugere que as empresas irão se formar quando

puderem se organizar para produzir o que necessitam internamente e, de alguma

forma, passarem a evitar esses custos.

Um dos principais autores a avançar na teoria de Coase é Williamson (1985), que

define custos de transação como os custos de negociar, redigir e garantir o

cumprimento de contratos. Trata-se, fundamentalmente, de custos originados pelas

relações entre as companhias, que podem ser maiores ou menores, dependendo de

fatores como assimetria de informação e potencial de oportunismo.

O autor assinala que tais custos surgem quando uma ou mais partes de uma

transação tem a chance de agir de forma oportunista, buscando ganhos particulares,

onerando a outra parte. Nesse sentido, eles não somente incluem o comportamento

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oportunista, mas também a tentativa de evitá-lo. Um componente desses custos são

certamente os custos de desenvolvimento dos contratos (com os advogados para

redigirem e garantirem a adesão às leis), cujo principal propósito é garantir proteção

para cada uma das partes envolvidas na transação (BESANKO; DRANOVE;

SHANLEY, 1996).

A definição de custos de transação é importante para explicar o que leva uma

empresa a integrar-se verticalmente, utilizando transações internas em vez de

transações externas, agregando fases ao seu processo produtivo, ao aumentar o

número de processos intermediários que antes tinha de buscar no mercado. Eles

podem ser divididos em ex-ante e ex-post. No primeiro caso, trata-se basicamente

dos custos de preparação, negociação e estipulação de salva-guardas contratuais.

No segundo, trata-se das diversas formas de custo associadas à execução do

contrato propriamente dita, desde o custo de estruturas de governança para sua

coordenação até os custos para corrigir eventuais desajustes (WILLIAMSON, 1985).

A TCE embasa-se, então, em um teorema que envolve negociação e criação de

acordos entre partes. Nesse prisma, propicia análises que visam a encontrar fatores

com potencial de aumentar os custos da transação entre os agentes em

determinada atividade econômica. A teoria ganha muita importância, inclusive em

trabalhos empíricos (BARNEY, 1999), como método aplicado à análise de decisões

que envolvem as fronteiras das organizações. Em outras palavras, sua relevância

justifica-se pelo fato de oferecer um método analítico mais robusto, aplicado às

decisões sobre o que se produzir internamente e o que se comprar fora da

companhia. O método consiste na avaliação do ambiente relacional e de fatores

ligados às partes da transação que seriam capazes de criar ou aumentar os custos

de transação relativos à decisão de se comprar algo pronto de fornecedores

(decisões de terceirização).

Para aplicação da TCE à decisão sobre o que terceirizar, é necessário compreender

alguns fatores relacionados a custo de transação, tais como os tipos de custos de

transação, as dimensões de transação, os fatores que interferem na transação e a

estrutura de governança da transação, explicitados a seguir.

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1. Tipos de custos de transação

Diferentes formas organizacionais e arranjos institucionais e contratuais representam

diferentes problemas de coordenação e motivação, que dão origem aos custos de

transação. Tais custos, associados a problemas de coordenação, surgem da

necessidade de determinar preços e outros detalhes da transação, para fazer com

que compradores e vendedores conheçam a existência e/ou a localização um do

outro, levando-os a atividades de transação.

Em alguns contextos mercadológicos, os custos associados com coordenação

relacionam-se aos recursos de pesquisas que os vendedores aplicam no mercado

para entender a experiência do comprador: em propaganda e marketing, para fazer

com que o produto fique conhecido, ou ainda em decisões gerenciais, para

determinar que preço atribuir aos produtos. Em relação ao comprador, esse tipo de

custo pode ser resultado, por exemplo, do tempo que ele leva para encontrar o

produto que procura no preço que deseja. Custos de coordenação podem

representar ainda o benefício perdido com a não-realização da transação.

Quanto aos custos associados com problemas de motivação, esses são

essencialmente de dois tipos. O primeiro tipo está associado com uma situação na

qual as partes da potencial transação não possuem todas as informações relevantes

e necessárias para determinarem se o acordo é mutuamente aceitável e se seus

termos serão alcançados. Milgron e Roberts (1992) relacionam esse primeiro tipo a

informação incompleta e a assimetria de informação. Nesse caso, as circunstâncias

provavelmente não irão resultar em um acordo, pois uma das partes poderá sentir-se

prejudicada. Entretanto, se houver acordo, ele será caro, a fim de evitar um potencial

comportamento oportunista.

O segundo tipo está associado a problemas de motivação devido a acordos

imperfeitos, originados pela inabilidade das partes de vincularem promessas a

ameaças. Considere-se como exemplo um fornecedor que, ao efetivar um contrato,

necessita de um alto investimento em máquinas para poder atender à demanda do

cliente. Nessa situação, o cliente pode iniciar uma busca por redução de custos e

ameaçar cancelar o contrato, deixando o fornecedor sem escolha, por conta da alta

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especificidade do ativo. Nessa situação, também poderão ocorrer perdas de

oportunidades ou ainda proteção contra comportamentos oportunistas e isso tanto

pode evitar que contratos sejam firmados quanto pode gerar contratos muito

custosos.

2. Dimensões de transação

De acordo com a TCE, há diversas formas de organizar as transações, que se

diferem basicamente por meio de seus atributos ou suas dimensões. Segundo

Milgrom e Roberts (1992), cinco os atributos desempenham um papel importante na

análise dos custos de transação:

• especificidade – do investimento requerido para conduzir a transação;

• frequência – com que transações similares acontecem e duração – em que

período de tempo elas se repetem ;

• complexidade – da transação e incerteza – sobre qual é o desempenho

requerido;

• dificuldade de medir desempenho – da transação;

• conectividade – da transação com outras transações, envolvendo outras

pessoas.

A especificidade diz respeito ao nível de customização associada com a transação.

Níveis altos de especificidade do ativo, por exemplo, significam que este tem baixo

ou nenhum valor fora da transação. Os custos, nesse caso, podem configurar-se na

forma de ativo específico físico (nível de produto ou serviço específico); ativo

específico humano (nível de conhecimento especializado envolvendo a transação);

lugar específico (localização). A especificidade do ativo pode ser não-específica

(altamente padronizada), idiossincrática (altamente customizada para a organização)

ou mista (incorporando elementos customizados e padronizados na transação).

Para os autores, a especificidade do ativo é o mais importante atributo a ser

analisado nas transações, pois, dependendo do nível de especificidade,

fornecedores somente aceitam a transação mediante pedido firme. Além disso,

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transações que requerem investimentos específicos normalmente também requerem

um contrato que proteja o investidor contra o seu cancelamento antecipado ou

contra renegociações oportunistas para os seus termos.

O tema frequência e duração remete aos tipos de contratos necessários para se

efetivar a transação e, basicamente, podem ser de dois tipos, conforme explicam

Milgron e Roberts (1992):

• tratando-se de relação única, como, por exemplo, a venda de um imóvel, as

partes do contrato buscarão todos os mecanismos disponíveis para controlar

a transação e provavelmente irão em busca de contratos padronizados cujas

disputas serão resolvidas em juízo;

• tratando-se de relação frequente, espera-se uma variedade diferente de

mecanismos que controlem a relação. Nesse caso, as disputas normalmente

são resolvidas em juízo e é possível determinar os procedimentos e

processos em contrato para a solução das diferenças. Geralmente, quando

transações similares ocorrem frequentemente durante um longo período de

tempo e envolvendo sempre uma das partes, torna-se valioso nesse processo

desenvolver e introduzir rotinas para gerenciar a transação.

Os autores enfatizam o benefício das relações de longo prazo, com frequentes

interações e relacionamentos próximos e confiáveis. Eles afirmam que, nesse

contexto, há grandes possibilidades de as partes se relacionarem, favorecendo

umas às outras pela habilidade de recompensarem as boas parcerias e castigarem

as más e pela possibilidade de trabalharem juntas para desenvolverem e melhor

compreenderem as rotinas, reduzindo, assim, custos de coordenação.

No que se refere a complexidade e incertezas, os referidos teóricos assinalam que a

forma padrão de duas partes se organizarem em uma transação de mercado é por

meio de um contrato que especifique o que se espera de cada uma delas. Para

determinados produtos ou serviços, a elaboração contratual torna-se fácil, mas para

outros há tantas incertezas que essa tarefa se torna extremamente complexa.

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A complexidade do ambiente e as incertezas que podem se associar a ele criam

situações que dificilmente podem ser previstas e, como resultado, aumentam os

custos da transação, que se materializam na criação de cláusulas que protejam as

partes contra situações de oportunismo, variações de demanda ou fornecimento de

difícil previsão. Os contratos elaborados nesse contexto convergem mais para a

especificação de direitos, obrigações e procedimentos do que para padrões de

desempenho esperados.

Quanto à dificuldade de medir desempenho, deve-se considerar que, mesmo em

casos nos quais o desempenho esperado de uma das partes seja perfeitamente

previsto, às vezes sua medição pode tornar-se um processo difícil e caro. Como

ilustração, cita-se o índice de falhas de uma máquina operada por diversos

funcionários. Nesse caso, pode ser difícil determinar qual funcionário não está

operando corretamente a máquina ou não está realizando manutenção preventiva.

Observa-se aí a dificuldade de incentivar adequadamente, a menos que uma

medição correta e acurada possa ser feita. Nos casos em que a medição se torna

um processo complicado, as partes normalmente tentam torná-lo mais simples ou

reduzem a importância da medição. Ambas as soluções resultariam em um contrato

mal especificado e mais custoso.

Por fim, em relação à conectividade com outras transações, esse fator diz respeito à

intensidade com que certas transações estão conectadas a outras. No caso da

Philips, por exemplo, a transação relativa ao fornecedor de painéis LCD está

completamente ligada à transação relativa ao molde plástico utilizado na montagem

do televisor. Uma vez definido o painel que será utilizado, todos os outros

componentes passam a ser desenvolvidos em uma estrutura que suporte o seu uso.

Nesse caso, existe a dependência de uma rede de fornecimento, que cria um

potencial ambiente de oportunismo, complexidade e incertezas.

3. Fatores que interferem na transação

Além dos fatores mencionados por Milgron e Roberts (1992), McIvor (2008) cita mais

quatro elementos que podem produzir dificuldades transacionais especificamente

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ligadas a processos de terceirização. Tais fatores relacionam-se ao tipo de custo de

transação, sendo que os três primeiros podem ser atribuídos a custos de motivação

e o quarto, a custo de coordenação:

• racionalidade limitada – relaciona-se com a limitação cognitiva que a mente

humana apresenta, que aumenta a dificuldade de entendimento total das

complexidades em todas as possíveis decisões;

• oportunismo – refere-se à decisão de se agir obtendo-se vantagem de uma

debilidade ou situação da outra pessoa ou organização;

• informação impactada – acontece quando há assimetria de informação entre

as partes de um contrato, ou mais especificamente entre o comprador e o

fornecedor, significando que uma das partes tem mais informação ou, ainda,

informações mais relevantes que a outra;

• número reduzido de negociações – relacionado com a quantidade de fontes

de transação, ou seja, as opções de fornecedores que o comprador teria para

efetivar a transação.

4. Estrutura de governança

Barney (1999) enfatiza a importância da TCE em decisões de o que terceirizar e

reforça três conceitos importantes para a compreensão nesse contexto: governança,

oportunismo e especificidades. Uma vez que os fatores oportunismo e

especificidades já foram descritos acima, explicita-se a seguir o conceito de

governança.

A governança é o mecanismo pelo qual as empresas gerenciam as trocas

econômicas. Em outras palavras, trata-se da forma como as organizações decidem

se relacionar entre si. Tais formas, segundo Barney (1999), podem ser agrupadas

em três categorias:

• governança de mercado – usada por empresas para gerenciar trocas

financeiras quando interagem de forma pontual com outras organizações do

mercado. Esse tipo de relação acontece, por exemplo, quando uma refinaria

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usa governança de mercado para ganhar acesso a óleo cru comprado em

spot market; quando uma empresa do ramo da eletrônica compra

componentes elétricos padronizados de um distribuidor de componentes ou,

ainda, quando um processador de alimentos compra alimentos de fazendas

produtoras. Tais procedimentos usualmente apresentam custos mais baixos

de transação;

• governança intermediária – empregada quando as companhias desenvolvem

complexos contratos e outras formas de alianças estratégicas, incluindo joint-

ventures, para realizar trocas financeiras. Por exemplo, empresas varejistas

usam governança intermediária para obter produtos por meio de negociações

de contratos de fornecimento de longo prazo. Muitas vezes, essas

negociações estabelecem formas mais avançadas de relacionamento, e

cliente e fornecedor entram em processos mais colaborativos, estabelecendo

sistemas conjuntos de troca de informação, como Eletronic Data Interchange

(EDI), ou ainda transferem operações críticas para perto da alta gestão do

cliente;

• governança hierárquica – utilizada quando as empresas trazem as trocas para

dentro de suas fronteiras e operam de forma verticalizada. Por exemplo, uma

empresa de manufatura usa governança hierárquica quando detém e opera

uma fábrica fornecedora de produtos que ela mesma vende. Um varejista usa

governança hierárquica quando opera uma cadeia composta de vendas e

distribuição dos produtos que vende. Nesses dois casos, as partes envolvidas

nas trocas não operam de forma independente. Ao contrário, o terceiro

envolvido nessa operação é o próprio gestor, que tem o direito de determinar

as ações e as decisões nos elos da cadeia.

Conforme sugerido por McIvor (2008) e Holcomb e Hitt (2007), a análise dos fatores

que interferem na transação, quando relacionados às categorias de governança,

auxilia na tomada de decisões envolvendo processos de terceirização. Observe-se

que tais decisões estão fundamentadas essencialmente em uma análise econômica

e buscam reduzir custo de produção e maximizar o lucro nas operações.

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Observe-se ainda que, quando as organizações decidem utilizar unicamente a TCE

para analisar decisões envolvendo suas fronteiras, faz-se necessário analisar todo o

ambiente em que irão desempenhar sua atividade econômica e associá-la aos

fatores da TCE. Essa análise sugere, então, o nível de governança pelo qual a

companhia deverá optar para que tenha os menores custos para sua operação

(GROVER; MALHOTRA, 2003).

Partindo-se do princípio de que uma organização pode escolher entre produzir tudo

o que consome ou comprar tudo o que necessita, ou seja, considerando-se que uma

empresa pode escolher ser totalmente verticalizada ou totalmente não-verticalizada

para obter matéria-prima e componentes necessários a sua produção, as estruturas

não-verticalizadas terão dois tipos de governança disponíveis: governança de

mercado e governança intermediária. Para estruturas verticalizadas, o nível de

governança será a hierárquica.

Importante destacar os custos de motivação e coordenação nas diversas categorias

de governança, que tendem a ser menores quando as transações ocorrem em

governança de mercado. Por outro lado, em governança intermediária, uma vez que

a relação estabelecida é de longo prazo, com relativa especificidade de ativos, alta

complexidade, potenciais de oportunismo etc., esses custos usualmente tendem a

ser maiores.

Deve-se notar também que a análise dos fatores e as relações que estabelecem

entre si podem resultar em diferentes repostas para questões do tipo “essa operação

deve ser ou não terceirizada?” ou “essa terceirização teria impacto negativo na

competitividade do produto?”. Nesse sentido, McIvor (2008) cita diversos trabalhos,

muitas vezes não conclusivos a esse respeito, como, por exemplo, o trabalho de

Rindfleisch e Heide, de 1997, que indica que a influência do fator frequência em

decisões de manter governança hierárquica não apresenta uma correlação positiva,

pois quanto maior a frequência, menor a necessidade de se buscar governança

hierárquica. Harrigan (1986), por sua vez, confirma que incertezas devem reduzir o

nível de verticalização, ou seja, quanto maior for o número de incertezas na

transação, maior será a chance de existir nesse ambiente um nível de governança

de mercado. Walker e Weber (1987) sugerem um aumento no nível de terceirização,

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por considerarem que lidar com incertezas é mais fácil para fornecedores que

possuem altos volumes de produção.

Por outro lado, Williamson (1981) afirma que nem incertezas nem frequência

isoladamente podem explicar as decisões por governança hierárquica e que fatores

como especificidade do ativo têm um poder muito maior nesse tipo de decisão, já

que os grandes investimentos em ativos específicos geram forte potencial de

oportunismo.

Barney (1999) também enfatiza o peso que a alta especificidade do ativo tem em

decisões envolvendo as fronteiras das empresas. Assim, quando se opta por

terceirizar um ativo altamente específico, a empresa tende a apresentar um

comportamento oportunista; para mitigar essa situação, a outra parte tende a criar

barreiras defensivas, o que aumenta o custo de transação. Como resultado, o ativo

altamente específico tende a ser mantido dentro da fronteira da empresa, em um

modelo típico de governança hierárquica.

A figura 4 representa o ambiente decisório e os diferentes fatores que impõem

pressões às decisões estratégicas de terceirização:

Figura 4 – Ambiente decisório – decisões de terceirização

Fonte: figura elaborada pelo pesquisador

Hierárquica

Intermediária

Mercado-N

ivel

de

Ver

tica

liza

ção

+

Atributos de Transação

Fatores Impactantes

Atritutos de Transação

Fatores Impactantes

Go

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1.4. Visão Baseada em Recursos (Resource-based View of the Firm – RBV)

Pesquisas quanto à habilidade dos gestores, líderes institucionais, economic rents e

crescimento das empresas têm sido recentemente empregadas no desenvolvimento

de um rigoroso modelo teórico para analisar as forças e fraquezas das empresas.

Essa estrutura teórica denomina-se Resouce-based View of the Firm, ou visão

baseada em recursos (RBV), e foca sua análise em recursos classificados como

idiossincráticos e caros de se copiar, que são controlados pelas organizações e que

são fontes de vantagem competitiva.

Pearce e Robinson (2009) descrevem a RBV como um método de analisar e

identificar a vantagem estratégica de uma companhia por meio do entendimento da

combinação de seus ativos, conhecimentos, capacidades e intangíveis como uma

organização. Barney (1991), por sua vez, corrobora a ideia de que esse conjunto de

recursos e capacidades, se empregados de forma diferenciada, podem, de fato, criar

vantagem competitiva para a empresa.

A RBV, assim como outras teorias, evoluiu a partir dos fundamentos de outras

teorias. Entre elas, destacam-se o estudo tradicional das competências distintas, de

Hitt e Ireland (2002); a análise dos rents obtidos em terras mais produtivas versus

terras menos produtivas, de David Ricardo, em 1817 (apud BARNEY; CLARK,

2007); os estudos de Penrose, de 1959 (apud BARNEY; CLARK, 2007), sobre o

crescimento das empresas e, por fim, o estudo das implicações econômicas do

antitruste, de Barney e Clark (2007). Abaixo, apresenta-se um breve resumo desses

estudos.

1. Estudo tradicional das competências distintas

De acordo com Hitt e Ireland (2002), competências distintas são atributos

apresentados por certas empresas que as tornam mais eficientes e efetivas que

outras na busca por vantagens competitivas. Entre tais competências, destaca-se a

competência da gerência geral, cuja qualidade e cujo desempenho geram impacto

nos resultados obtidos pelas companhias.

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Entretanto, ainda que se reconheça a importância do papel da gerência geral no

desempenho empresarial, ela não pode ser considerada a única fonte de

competência distinta. Estudos demonstram que há limitações nesse método quando

se tenta explicar os motivos que levam organizações a apresentarem desempenho

superior a outras (BARNEY; CLARK, 2007). Assim, considerar a gerência geral

como explicação única para desempenho superior, implica ignorar uma ampla

variedade de atributos das empresas que podem ser importantes para a

compreensão global de seu desempenho.

O estudo tradicional das competências distintas contribui para o desenvolvimento da

RBV, ao destacar a importância dos fatores internos da empresa, como o recurso

materializado na figura da gerência geral como fonte de geração de vantagem

competitiva.

2. Análise dos rents obtidos em terras mais produtivas versus terras menos

produtivas, de David Ricardo, em 1817

Ricardo (apud BARNEY; CLARK, 2007) analisa os rents de terras mais produtivas

versus terras menos produtivas e, nesse caso, não enfoca a gestão das terras, pois

está interessado nas consequências econômicas geradas pelas características

únicas das terras cultivadas, ou seja, a qualidade do solo. Sua análise revela que,

diferentemente dos muitos fatores relativos à produtividade, o suprimento total não

pode ser aumentado significativamente para responder a aumentos repentinos de

demanda e preços. Os fatores de produção, nesse caso, seriam então perfeitamente

inelásticos. Sua conclusão é a de que, sob tais condições, é possível que aqueles

que possuam ativos (terras) com alta qualidade produtiva possam maximizar seus

rents.

Tradicionalmente, a maioria dos economistas tem implicitamente assumido que

poucos fatores de produção possuem produtividade inelástica. Nessa direção,

muitos modelos econômicos presumem que, se os preços desses fatores subirem,

mais fatores serão produzidos, aumentando-se a produção e assegurando-se que os

fornecedores apresentem rents normais.

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A análise dos rents obtidos em terras mais produtivas colabora com a RBV ao expor

que certas capacidades únicas são capazes de gerar vantagem competitiva, aqui

representada pela maximização dos rents.

3. Estudo sobre o crescimento das empresas, de Penrose, em 1959

Um dos principais estudos que originaram a teoria RBV é o trabalho The theory of

growth of the firm, de Edith Penrose (apud BARNEY; CLARK, 2007). Nele, a autora

descreve a empresa como um conjunto de quatro recursos produtivos, cujas

competências distintivas se baseiam em seus recursos e suas capacidades, que

podem ser representados por seus ativos tangíveis e intangíveis. O objetivo do

referido trabalho é entender o processo pelo qual as empresas crescem, bem como

os limites desse crescimento.

Segundo Penrose, os modelos econômicos tradicionais têm analisado o crescimento

das companhias com base em hipóteses e ferramentas da microeconomia

neoclássica. Uma dessas hipóteses é a de que o crescimento pode ser

apropriadamente modelado como se fosse simples função de produção. Em outras

palavras, modelos econômicos tradicionais assumem que empresas simplesmente

observam condições de oferta e demanda do mercado e traduzem tais condições

para os níveis de produção que maximizem seu lucro (Nelson; Winter, apud

BARNEY; CLARK, 2007).

Para a autora, essa é uma noção abstrata do que a empresa é, apesar de esse

modelo continuar a ser empregado em algumas circunstâncias. Na tentativa de

entender as limitações do crescimento das empresas, a pesquisadora conclui que

essa abstração não é suficiente para ajudá-la em seu trabalho e busca outra forma

de compreender as organizações, considerando, para tanto, sua estrutura

administrativa, que liga e coordena atividades de inúmeros indivíduos e grupos, e,

ainda, seus recursos produtivos.

Nesse contexto, o papel da gestão empresarial é entender e empregar os recursos

produtivos controlados pela companhia por meio de sua estrutura administrativa. Em

outros termos, o crescimento de uma empresa é limitado por dois fatores: (a) pelas

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oportunidades produtivas que existem como função do pacote produtivo de recursos

controlados pela empresa e (b) pela estrutura administrativa estabelecida para

coordenar o uso desses recursos.

Os estudos de Penrose (1959) contribuem sobremaneira para a teoria RBV. A autora

observa que os pacotes de recursos produtivos controlados pela empresa podem

variar significativamente e destaca que as organizações são fundamentalmente

heterogêneas, mesmo que estejam na mesma indústria. Além disso, ela estipula

diversas definições para recurso; ao contrário de economistas tradicionais, como

Ricardo, que concentram sua atenção em apenas alguns recursos que deveriam ser

inelásticos em ofertas (como as terras), Penrose estuda as implicações competitivas

de recursos produtivos inelásticos, tais como equipes gerenciais, grupos de alta

gestão e características empreendedoras.

4. Estudo das implicações econômicas do antitruste

De acordo com Barney e Clark (2007) truste consiste no uso do poder de mercado

pela empresa para restringir a produção e aumentar preços, de modo a não atrair

novos competidores ou eliminar a concorrência. Para os autores, existem muitas

maneiras de realizar práticas anticompetitivas: uma prefeitura, por exemplo, pode

dar para uma determinada companhia exclusividade de certo recurso existente na

cidade, o que fará com que esta possa produzir com menos custos, ou então

prenderá a nova organização em entraves legais.

As companhias dominantes também podem exercer práticas anticompetitivas, como

o estabelecimento de preços predatórios e a formação de cartéis. Na prática de

preços predatórios, a empresa estabelece o preço de seu produto abaixo de seus

custos, visando a eliminar a concorrência, valendo-se do seu "poder de mercado"

para impedir a entrada de novos competidores e assim manter a sua posição e

usufruir de lucros econômicos excessivos. Na prática de cartéis ou "acordos entre

empresas do mesmo ramo", as organizações sobem seus preços na mesma

margem para não perder consumidores ou, ainda, baixam esses preços para

eliminar um novo concorrente.

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Os economistas sempre estiveram interessados nas implicações políticas e sociais

das teorias de uma forma geral. Nesse sentido, com base na conclusão de que o

bem-estar social é maximizado quando os mercados são perfeitamente competitivos,

esses estudiosos têm desenvolvido várias técnicas para descrever quando uma

indústria não é perfeitamente competitiva. Em uma de suas observações, eles

afirmam que a não-competitividade da indústria ocorre quando ela é dominada por

somente uma empresa (monopólio) ou por um pequeno número de empresas

cooperando entre si (oligopólio). Nesse tipo de configuração, de acordo com as

teorias econômicas tradicionais, os preços serão altos, o que não ocorreria se

existissem empresas competindo entre si e, dessa forma, o bem-estar social seria

menor que o bem-estar em mercados perfeitamente competitivos (BARNEY;

CLARK, 2007).

Nesse contexto, surge o método SCP (structure-conduct-performance) – estrutura-

comportamento-desempenho –, que sugere que a estrutura empresarial na indústria

define a amplitude de atividades em que a empresa pode se engajar

(comportamento) e, por sua vez, o desempenho dessa empresa na indústria.

Barney e Clark (2007) explicam que as bases da teoria sobre as implicações do

antitruste estão no trabalho de Harold Demsetz, que, em 1973, publicou um artigo no

Journal of Law and Economics, argumentando que a estrutura da indústria não é a

única determinante do desempenho das empresas. Demsetz reforça ainda que não

se pode afirmar que o desempenho superior de uma organização pode ser

associado apenas ao fato de ela estar engajada em práticas anticompetitivas. Ele

conclui que algumas companhias frequentemente apresentam desempenho superior

ou porque têm sorte, ou porque são mais competentes em endereçar as

necessidades dos clientes.

Embora se reconheça a importância dos estudos mencionados, é Barney (1991)

quem desenvolve a teoria RBV, por meio de pesquisas sobre gerenciamento

estratégico. Tal pesquisa pode ser entendida como uma tentativa de “preencher os

espaços” criados pela estrutura SWOT (Strengths, Weakness, Opportunities and

Threats) (PORTER, 1980), ou seja, uma tentativa de ir além da ideia de sugestões

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de que forças, fraquezas, oportunidades e ameaças são importantes na

compreensão da vantagem competitiva.

O autor ressalta que Porter (1980, 1985) e seus associados desenvolveram diversos

modelos e estruturas para analisar oportunidades e ameaças ambientais. Para

Barney (1991), o trabalho de Porter sobre o “modelo das cinco forças”, a relação

entre a estrutura do setor, as oportunidades estratégicas e os grupos estratégicos

podem ser entendidos como um esforço de explicitar os conceitos de oportunidades

e ameaças ambientais como ameaças teoricamente rigorosas, embora altamente

aplicáveis.

Porém, a estrutura SWOT revela que a análise ambiental – não importa o quão

rigorosa ela seja – é apenas um dos componentes que levam à compreensão das

fontes de vantagem competitiva em uma organização. Para se alcançar um

entendimento mais profundo, é necessária a análise das forças e fraquezas internas

da companhia.

Para Barney (1991), a análise ambiental é mais relevante quando se estudam

ambientes não atraentes, com altas ameaças e baixas oportunidades, nos quais

empresas com persistente desempenho superior operam. Mesmo a análise mais

cuidadosa e completa do ambiente competitivo dessas entidades não pode, por si

só, explicar seu sucesso. Tais explicações devem incluir os atributos internos das

empresas – suas forças e fraquezas – como fontes de vantagem competitiva.

Seguindo práticas mais recentes, os atributos internos consistem nos recursos e nas

capacidades empresariais.

Os recursos de uma companhia incluem todos os ativos financeiros, físicos,

humanos e organizacionais usados por ela para desenvolver, fabricar e entregar

produtos ou serviços para seus clientes. As capacidades, por sua vez, incluem

somente os atributos internos que habilitam a empresa a coordenar e explorar os

seus recursos. Segundo Barney (2007), os recursos podem ser divididos em quatro

categorias:

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• capital financeiro – inclui todos os diferentes tipos de recursos monetários que

a empresa usa para criar e implementar estratégias, como, por exemplo,

débito, patrimônio, lucros retidos etc.;

• capital físico – inclui a tecnologia física da organização, tais como fábricas,

equipamentos, localização geográfica e acesso a matéria-prima;

• capital humano – inclui treinamento, experiência, julgamento, inteligência,

relacionamento, ideias dos trabalhadores e dos gestores da empresa. Pode

ser entendido como a matéria pensante e os meios usados para se atingir o

conhecimento;

• capital organizacional – inclui a história, as relações, a confiança e a cultura

organizacional, que são atributos dos grupos de pessoas associadas à

companhia, junto com sua estrutura hierárquica e formal, seu sistema de

controle gerencial explícito e suas políticas de remuneração.

Na RBV, o modelo de análise para avaliação da força competitiva de um recurso

engloba seu valor, seu grau de raridade, seu grau de imitabilidade e sua

organização e por isso é denominado modelo VRIO. Por meio dele, propõem-se

questões que buscam determinar se um recurso ou capacidade de uma empresa é

uma força ou uma fraqueza. Na sequência, trata-se de cada um desses fatores, com

base nos estudos de Barney (2007).

A questão de valor

No processo de avaliação das implicações competitivas dos recursos e das

capacidades de uma empresa, os executivos devem primeiro responder à seguinte

pergunta sobre valor:

Os recursos e as capacidades da empresa agregam valor, permitindo que ela

explore oportunidades e/ou neutralize ameaças?

De modo geral, as empresas respondem sim para essa questão. A Sony, por

exemplo, tem muita experiência em projeto, fabricação e venda de tecnologia

eletrônica miniaturizada e vem usando esse recurso para explorar diversas

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oportunidades de mercado, incluindo CD players, televisões e câmeras de vídeo

portáteis.

Entretanto, há empresas que respondem não para a pergunta proposta. Uma delas

é a Sears, que não reconheceu as mudanças no mercado de varejo criadas pela

WalMart e por lojas de varejo especializadas. De certa forma, o sucesso histórico da

Sears, junto com o seu comprometimento de manter-se fiel à forma tradicional de

operar no mercado, fez com que ela perdesse oportunidades mercadológicas

importantes e, por conseguinte, perdesse valor. Observe-se que, embora os

recursos e as capacidades de uma companhia possam ter agregado valor a um

recurso no passado, mudanças no gosto dos clientes, na estrutura do setor ou na

tecnologia podem torná-lo menos valioso no futuro.

Um outro fator que pode alterar o valor de um recurso são as mudanças ambientais,

que podem reduzir um valor em um determinado contexto e em outros deixá-lo

inalterado. Diversas empresas enfrentam essas mudanças, encontrando novas

formas de aplicar suas forças tradicionais. Entre elas, a AT&T desenvolveu

reputação como fornecedora de serviços telefônicos de longa distância

comercializando agressivamente seus serviços concorrentes com os da MCI, Sprint

e outras operadoras.

Em suma, ao responderem à pergunta sobre valor, os executivos associam a análise

de recursos e capacidades internas com a análise ambiental de oportunidades e

ameaças. Os recursos das empresas não têm valor em um vácuo; ao contrário, têm

valor apenas quando exploram oportunidades e/ou neutralizam ameaças. Os

modelos desenvolvidos por Porter (1980, 1985) e seus associados podem ser

usados para isolar potenciais oportunidades e ameaças que os recursos controlados

por uma empresa podem explorar ou neutralizar.

Questão de raridade

O conhecimento de que os recursos e as capacidades de uma organização são

valiosos é uma consideração inicial importante para se compreenderem as fontes

internas de vantagem competitiva. Porém, se um determinado recurso é controlado

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por diversas companhias concorrentes, então ele tem poucas chances de ser fonte

de vantagem competitiva para qualquer uma delas. Ao contrário, recursos valiosos

mais comuns (ou seja, não raros) são fontes de paridade competitiva. Para

executivos que buscam avaliar as implicações competitivas de seus recursos e

aptidões, essas observações levam à segunda questão crítica:

Quantas empresas concorrentes já possuem esses recursos e aptidões valiosos?

Contudo, embora os recursos e as capacidades devam ser raros entre organizações

concorrentes para que sejam fonte de vantagem competitiva, isso não significa que

recursos comuns, mas valiosos, não sejam importantes. Na verdade, eles podem ser

essenciais para a sobrevivência da empresa. Por outro lado, se os recursos são

valiosos e raros, podem permitir que a empresa obtenha vantagem competitiva pelo

menos temporária. As aptidões da WalMart no desenvolvimento e uso da coleta de

dados no ponto de vendas para controlar estoque deu a ela uma vantagem

competitiva sobre a K-Mart, que até recentemente não tinha acesso a essas

informações precisas.

Questão de imitabilidade

Uma companhia que possui recursos e capacidades valiosos e raros pode conseguir

pelo menos uma vantagem competitiva temporária. Se, além disso, as empresas

concorrentes enfrentam uma desvantagem de custo para imitar esses recursos e

capacidades, aquelas que as possuem podem conseguir vantagem competitiva

sustentada. Tais observações remetem à questão da imitabilidade:

As empresas sem recursos ou capacidades enfrentam uma desvantagem de custo

para obtê-los se comparadas com as empresas que já os possuem?

Obviamente, a imitação é crítica para se compreender a capacidade dos recursos e

a capacidade de gerar vantagens competitivas sustentáveis. Esse fator pode ocorrer

pelo menos de duas formas: duplicidade e substituição, sendo que a imitação por

duplicidade ocorre quando uma organização imitadora constrói o mesmo tipo de

recursos ou capacidades da empresa que está imitando. Por exemplo, se uma

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companhia tem vantagem competitiva devido às suas habilidades em pesquisa e

desenvolvimento, então uma empresa duplicadora vai tentar copiar esses recursos

desenvolvendo suas próprias habilidades de pesquisa e desenvolvimento. Já a

imitação por substituição ocorre quando uma empresa substitui alguns recursos por

outros. Se esses recursos substitutos tiverem as mesmas implicações estratégicas e

não custarem mais caro para serem desenvolvidos, então a imitação por meio de

substituição levará à paridade competitiva no longo prazo.

Tanto a duplicação quanto a substituição podem oferecer algumas barreiras às

empresas que optam por imitar o recurso ou a capacidade de uma organização com

vantagem competitiva. Essas barreiras são fontes de desvantagem em custo e entre

elas estão as condições históricas únicas e a complexidade social. Ao explicar a

primeira delas, Barney (2007) assinala que, à medida que as empresas se

desenvolvem, elas criam habilidades, capacidades e recursos únicos, refletindo sua

trajetória particular por meio de sua história. Esses recursos e aptidões refletem as

personalidades, experiências e relações únicas que existem na organização.

O autor ressalta que condições únicas relacionadas à história da empresa são

barreiras à imitação, ao se considerar que um recurso ou capacidade em particular

depende de certas condições históricas únicas que propiciam à companhia a

capacidade de adquirir e explorar recursos e que dependem, ainda, de seu lugar no

tempo e no espaço.

Existem duas situações nas quais circunstâncias históricas únicas podem

proporcionar à empresa substancial vantagem competitiva. A primeira é aquela em

que uma determinada entidade empresarial é a primeira da indústria a explorar ou

reconhecer uma oportunidade: o fato de ser a primeira proporciona-lhe vantagens

como liderança tecnológica, direito de compra de um ativo valioso e estratégico e

criação de custos de mudança da opção do cliente (esses custos estão relacionados

à ação de fazer com que clientes troquem produtos já conhecidos e aceitos no

mercado por novos produtos similares, conhecidos, mas não preferidos).

A segunda situação é aquela em que um evento ocorrido previamente na evolução

de um processo tem significante efeito sobre outros eventos – essa é a teoria do

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caminho dependente. Na evolução da vantagem competitiva, o caminho dependente

sugere que a empresa detém dada vantagem no período atual por ações, decisões

ou aquisições que teve em períodos anteriores, quando não era claro que um

recurso ou capacidade seria valioso, raro e caro de imitar.

Outra barreira que funciona como fonte de desvantagem em custo mencionada por

Barney diz respeito à complexidade social: os recursos e capacidades imitados por

uma companhia podem ser socialmente complexos, como, por exemplo,

computadores, robôs e outras máquinas. Porém, as empresas que desejam imitar

esses recursos físicos só precisam comprá-los, separá-los e duplicar a tecnologia

em questão. Com algumas poucas exceções (incluindo-se os setores farmacêuticos

e de especialidades químicas), as patentes oferecem pouca proteção contra

imitação dos recursos de uma empresa. Por outro lado, recursos e aptidões

socialmente complexos – fenômenos organizacionais como reputação, confiança,

amizade, trabalho em equipe e cultura – são muito fáceis de imitar.

Questão de organização

Conforme mencionado, a potencial vantagem competitiva de uma empresa depende

do valor, da raridade e da imitabilidade de seus recursos e capacidades. Porém,

para perceber totalmente esse potencial, a companhia também deve ser organizada

para explorar seus recursos e capacidades. Tais observações levam à questão da

organização:

A empresa está organizada para explorar seus recursos e capacidades?

Diversos componentes da organização empresarial são relevantes para que se

responda à pergunta apresentada, incluindo-se sua estrutura hierárquica formal,

seus sistemas de controle gerencial explícito e suas políticas de remuneração.

Esses componentes são chamados de recursos complementares porque têm

capacidade limitada de gerar vantagem competitiva isoladamente. Entretanto,

quando combinados com outros recursos e capacidades, podem permitir que uma

empresa conheça toda a sua vantagem competitiva.

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Conforme explicitado, as questões de valor, raridade, imitabilidade e organização

compõem um modelo de análise que busca compreender o retorno potencial de uma

companhia associado com a exploração e o uso de qualquer recurso ou capacidade

que ela possua (Barney 2007). A seguir, a tabela 2 demonstra como se utilizar das

quatro questões simultaneamente e a tabela 3 demonstra a relação da VRIO com a

estrutura de forças e fraquezas:

Tabela 2 – Estrutura VRIO

Fonte: Barney (2007, p.150)

Tabela 3 – Estrutura VRIO e forças e fraquezas organizacionais

Fonte: Barney (2007, p. 151)

Sobre essas tabelas, Barney (2007) explica que se o recurso ou capacidade

controlado pela companhia é valioso, então ele não será capaz de ajudá-la a gerar

ou implementar estratégias que possam explorar as oportunidades e anular as

ameaças do ambiente. Ao se valer de sua organização para explorar esse recurso

ou capacidade, a empresa aumentará custos e, assim, reduzirá a intenção de

compra do produto pelos clientes. Nesse cenário, as companhias terão que

solucionar essas fraquezas ou evitar o uso de tais recursos ou capacidades na

implementação de suas estratégias. Por outro lado, se elas escolhem empregá-los

sem antes solucionar suas fraquezas, estarão colocando a si mesmas em uma

posição de desvantagem competitiva diante de outras empresas que não possuem

esses recursos ou capacidades.

Valioso? Raro? Caro de imitar?Explorado pela organização?

Implicaçõescompetitivas

Não ---- ---- ---- Desvantagem competitiva

Sim Não ---- ---- Paridade competitiva

Sim Sim Não ---- Vantagem competitiva temporária

Sim Sim Sim Sim Vantagem competitiva sustentável

Valioso? Raro? Caro de imitar?Explorado pela organização?

Força oufraqueza

Não ---- ---- ---- Fraqueza

Sim Não ---- ---- Força

Sim Sim Não ---- Força e competência distinta

Sim Sim Sim SimForça e competênciadistinta sustentável

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Além disso, o autor afirma que se o recurso é valioso, mas não é raro, explorá-lo

para criar e implementar estratégias dará à empresa uma condição de paridade

competitiva. Entretanto, não explorá-lo dará a ela uma desvantagem competitiva

diante de seu concorrente, que também detém o recurso e está fazendo uso dele.

Nesse sentido, um recurso valioso, mas não raro, pode ser imaginado como uma

força da empresa.

Nas referidas tabelas, Barney também explora a questão do recurso valioso, raro,

mas não caro de se imitar, explicando que a empresa irá gerar uma vantagem

competitiva temporária. Nesse ambiente, a percepção de que tal recurso pode ser

imitado ocorrerá pela compra do recurso no mercado ou pelo seu desenvolvimento

para uso. Durante o período em que a empresa fez uso do recurso até o momento

em que ele passou a ser utilizado por outras companhias, a primeira que fez uso

dele gerou, então, vantagem competitiva, tornando-o uma força e uma competência

distinta da organização.

O autor demonstra, ainda, por que um recurso quando valioso, raro, custoso de se

imitar e explorado pela organização é fonte geradora de vantagem competitiva

sustentável. Ele expõe que as empresas competidoras sofrem um alto custo para

imitar o recurso valioso e raro, apresentando uma desvantagem competitiva diante

da companhia detentora do recurso ou capacidade e, assim, não podem imitar a

estratégia geradora de vantagem competitiva.

Finalmente, ele reforça que a questão da organização opera como um fator de

ajuste na estrutura VRIO. Por exemplo, se uma empresa possui um recurso ou

capacidade rara, valiosa e custosa de se imitar, mas falha em se organizar de uma

forma que possa tirar total vantagem desse recurso ou capacidade, alguma parte de

sua potencial vantagem competitiva se perderá.

Nesse prisma, a RBV é importante para o estudo de processos de terceirização, pois

o desempenho superior alcançado por uma empresa em atividades organizacionais

relativas à concorrência explicaria por que certas atividades são desenvolvidas

internamente. Langlois e Robertson (apud MCIVOR, 2008) explicam que, pelos

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métodos dessa teoria, as fronteiras da organização podem ser determinadas,

comparando-se as suas capacidades internas com as capacidades dos seus

concorrentes.

Desse modo, decisões de terceirização são influenciadas pela habilidade de uma

companhia para investir no desenvolvimento de uma determinada capacidade que

sustente um posicionamento de desempenho superior diante de seu competidor.

Retome-se que nos contextos em que a organização não tenha os recursos e

capacidades necessários para desempenhar internamente uma atividade essencial

ao seu posicionamento, essa atividade é então candidata a ser desempenhada fora

das fronteiras da empresa, ou seja, terceirizada.

As decisões que procuram estabelecer se as atividades desempenhadas

internamente na organização deveriam ser levadas para fora de suas fronteiras

podem ser tomadas à luz da RBV, cujos métodos envolvem quatro perguntas já

mencionadas da estrutura VRIO. Neste trabalho, será analisado, à luz dessa

estrutura, o caso Philips, no intuito de se investigar se a perda de competitividade da

companhia se relaciona ao processo de terceirização de seu painel para televisor

LCD.

1.5. Relação entre TCE e RBV em decisões de terceirização

No que se refere a decisões que envolvem as fronteiras da empresa, as teorias TCE

e RBV são divergentes em diversos pontos. Alguns autores argumentam que esta

última é mais apropriada para explicar decisões de terceirização do que a primeira.

Conner (1991), por exemplo, ao criticar a TCE, defende que ela enfatiza a existência

de empresas como uma forma de minimizar o potencial oportunismo negativo, que

surge quando são realizados investimentos em ativos altamente específicos. Por sua

vez, a RBV compreende as empresas como um pacote de recursos e capacidades

valiosos e estratégicos que, quando utilizados, são capazes de gerar vantagem

competitiva. Nesse sentido, reter uma atividade dentro da empresa pode ser o

procedimento mais apropriado, mesmo que não exista potencial oportunismo

(CONNER; PRAHALAD, 1996).

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Para McIvor (2008), as recomendações dessas teorias também se diferem, em

relação à colaboração inter-organizacional para obtenção de vantagem competitiva.

Na ótica da RBV, tal colaboração permite que uma empresa acesse recursos e

capacidades complementares, principalmente em situações nas quais eles são

limitados. No prisma da TCE, o processo de colaboração concentra-se na estrutura

de governança, visando à redução de custos e a gerência de atividades.

Combs e Ketchen (1999) reconhecem a importância das relações inter-

organizacionais de colaboração, reforçando que, em situações de limitação de

recursos e capacidades, as entidades empresariais são direcionadas a processos de

colaboração, inclusive em situações nas quais esses processos não seriam a

resposta mais eficiente para determinadas relações de trocas.

Como exemplo, considerem-se duas empresas concorrentes que decidem colaborar,

sendo que a contribuição de uma seria o acesso a um recurso altamente específico

e a contribuição de outra seria uma solução tecnológica capaz de gerar vantagem

competitiva. Enquanto essas empresas colaboram entre si, fica evidente que juntas

terão vantagem competitiva sobre outros concorrentes, entretanto, ao fim da relação

inter-organizacional, claramente a companhia que transferiu conhecimento

tecnológico enfrentará problemas de competitividade.

Contudo, embora haja divergências significativas entre a TCE e a RBV, há uma

grande quantidade de trabalhos que apontam para a possibilidade de essas teorias

se complementarem, principalmente no que diz respeito às decisões envolvendo as

fronteiras da empresa (MCIVOR, 2008). Nesse âmbito, destaque-se que nenhuma

delas é capaz de explicar completamente as decisões de quais atividades devem ser

desempenhadas no interior das organizações e quais devem ser terceirizadas.

Para reforçar a tese de que as duas teorias podem ser complementares, considere-

se como exemplo uma empresa que possui um recurso necessário para desenvolver

uma capacidade difícil e cara de ser imitada. Nesse caso, o potencial de

oportunismo é alto e a atividade deve ser internalizada. Peteraf (1993) conclui que a

complementaridade das duas teorias nesse exemplo parte do ponto de vista teórico

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de que especificidade do ativo e capacidades distintas dividem uma característica

similar, sendo ambos difíceis de se negociar ou imitar.

Nessa ótica, ainda que a TCE e a RBV enfoquem, respectivamente, dois problemas

diferentes – (1) por que as empresas existem e (2) por que se diferenciam em

desempenho – pode-se dizer que elas são extremamente relevantes no campo da

gestão de operações e decisões de terceirização (MCIVOR, 2008). A base dessa

afirmação é que muitos dos exemplos de companhias que apresentam capacidades

superiores relatadas nas literaturas da RBV estão diretamente relacionados a fatores

operacionais, como excelência em serviços, inovação e rápido e preciso ciclo de

tempo de mercado. Desse modo, o desenvolvimento de capacidades é fortemente

influenciado por prioridades competitivas (custos, qualidade, flexibilidade e entrega),

que consistem no coração da estratégia de operações das organizações.

Enfocar o desenvolvimento de certos recursos e capacidades é essencial na ótica da

teoria RBV e tal procedimento traz implicações para a atividade de decidir o que

deve ser desempenhado internamente e o que deve ser desempenhado fora da

empresa. Tais implicações oferecerem subsídios para análise das capacidades

organizacionais que ligam processos de terceirização a desempenho da organização

e suas prioridades competitivas (MCIVOR, 2008).

Claramente as organizações podem optar por terceirização como meio de atingir

melhorias de desempenho em áreas de custo, serviço e qualidade. Entretanto,

McIvor (2008) ressalta que o potencial das melhorias de desempenho deve ser

balanceado contra as condições prevalecentes das ofertas do mercado. Desse

modo, a TCE fornece embasamento teórico que suporta essa análise, possibilitando

ainda monitorar o desempenho dos fornecedores. Ao relacionar TCE e RBV, Barney

(1991) ratifica que a TCE fornece mesmo uma poderosa base teórica para analisar

mercado versus mecanismos hierárquicos de mercado em decisões de terceirização.

Apesar da relevância da TCE e RBV no campo da gestão de operações e,

principalmente, em decisões quanto às atividades que devem ser desempenhadas

interna ou externamente, McIvor (2008) reforça a importância de novas pesquisas

que examinem as recomendações, ora contraditórias, ora complementares, das

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duas teorias em decisões de terceirização. Ao considerar os limites de cada uma

dessas teorias – o potencial de oportunismo (TCE) e o posicionamento do recurso

(RBV) –, o autor propõe uma série de situações em que algumas vezes elas se

contradizem e outras vezes são complementares para as decisões de terceirização:

S1. Situação na qual a empresa apresenta posicionamento superior de um

recurso e na qual exista baixo potencial de oportunismo.

S1a. Aderindo à lógica da RBV, há grande possibilidade de essa

atividade ser desempenhada internamente.

S1b. Aderindo à lógica da TCE, há grande possibilidade de essa

atividade ser terceirizada.

S2. Situação na qual a empresa apresenta fraco posicionamento de um

recurso e na qual exista alto potencial de oportunismo.

S2a. Aderindo à lógica da RBV, há grande possibilidade de essa

atividade ser terceirizada;

S2b. Aderindo à lógica da TCE, há grande possibilidade de essa

atividade ser desempenhada internamente.

S3. Situação na qual a empresa apresenta posicionamento superior de um

recurso e na qual exista alto potencial de oportunismo.

S3. Aderindo à lógica da TCE ou da RBV, há grande possibilidade de

essa atividade ser desempenhada internamente.

S4. Situação na qual a empresa apresenta fraco posicionamento de um

recurso e na qual exista baixo potencial de oportunismo.

S4. Aderindo à lógica da TCE ou da RBV, há grande possibilidade de

essa atividade ser terceirizada.

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A figura 5 representa as situações contraditórias e complementares da RBV e da

TCE em decisões de terceirização:

Figura 5 – Cenários contraditórios e complementares da TCE e RBV.

Fonte: Mclvor (2008, p. 61)

Por fim, na figura 6, apresentam-se, sistematizadas, as considerações das teorias mencionadas, que convergem para a geração de vantagem competitiva em decisões de terceirização:

Contraditório

RBV – desempenhada internamente (S1a)

TCE – terceirizada (S1b)

Complementar

RBV & TCE desempenhada internamente (S3)

Contraditório

RBV – terceirizada (S2a)TCE - desempenhada internamente (S1a)

Complementar

RBV & TCE desempenhada internamente (S4)

Posicionamentodo Recurso

Potencial para OportunismoBaixo Alto

Superior

Inferior

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Figura 6 – Ambiente decisório – fatores relativos à TCE e RBV

Fonte: figura elaborada pelo pesquisador

Terceirizar

Valioso

Raro

Organização

Especificidade do Ativo

Frequência

Incertezas

TCE RBV

Internalizar

RacionalidadeLimitada

Oportunismo

InformaçãoImpactada

Númeroreduzido de Negociações

Caro de Imitar

Forças Fraquezas

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2. Metodologia de pesquisa

Neste capítulo, apresenta-se a metodologia de pesquisa, destacando-se os

procedimentos adotados na coleta de informações e a análise e interpretação dos

dados, bem como as limitações da investigação. A figura 7 demonstra de forma

simplificada as partes que o constituem:

Figura 7 – Esquema representativo do capítulo 2 – Metodologia de pesquisa

2.1. Definições metodológicas

Segundo Gil (1999), pesquisa é o processo formal e sistemático de desenvolvimento

do método científico, cujo objetivo fundamental é descobrir respostas para

problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. De acordo com a

natureza de seus métodos, uma pesquisa pode ser:

• exploratória – desenvolve, esclarece e modifica conceitos e ideias, tendo em

vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis

para estudos posteriores. Habitualmente, adota como procedimentos o

levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não-padronizadas e

estudos de casos. Sua finalidade é proporcionar uma visão geral, de tipo

aproximativo, acerca de um determinado fato. Esse tipo de pesquisa é

normalmente escolhido quando o tema da investigação é pouco explorado e

por isso se torna difícil formular hipóteses precisas sobre ele. Yin (2005)

Metodologia de Pesquisa

Pesquisaexploratóriaqualitativa

aplicadalongitudinalEx-post facto

Estudo de Caso

Estudo de Caso Único

Coleta de Dados

Análise dos Dados

Dados secundários

Entrevistas com profissionais da empresa

Questionário

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explica que a pesquisa exploratória é normalmente empregada para

responder questões do tipo “o quê?”;

• descritiva – descreve os fenômenos como realmente são, assumindo, muitas

vezes, a forma de um levantamento de suas características ou das

características de uma determinada população envolvida com um fenômeno,

procurando estabelecer relações entre as suas variáveis. Assim, são

exemplos desse tipo de pesquisa as que têm por objetivo estudar as

características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência,

nível de escolaridade, nível de atendimento de órgãos públicos de uma

comunidade, condições de habitação, levantamento de opiniões, atitudes,

crenças etc. Além dessas, são também descritivas as pesquisas eleitorais,

que indicam a relação entre preferência político-partidária e nível de

rendimentos e escolaridade. Destaque-se que tais investigações vão além da

simples identificação da existência de relações entre as variáveis, pois

pretendem determinar a natureza dessa relação;

• explanatória ou explicativa – identifica fatores que determinam a ocorrência

de fenômenos ou contribuem para essa ocorrência. Esse é o tipo de pesquisa

que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica as causas

dos fatos ocorridos. Para Yin (2005), a pesquisa explanatória ou explicativa

está relacionada a problemas do tipo “como” e “por quê”.

O método em pesquisa significa a escolha de procedimentos sistemáticos para a

descrição e explicação dos fenômenos (RICHARDSON, 1999), tais como a

delimitação de um problema, a observação e interpretação de dados com base nas

relações estabelecidas entre eles e a realidade que os circunda, bem como, quando

possível, com base em teorias já existentes sobre o fenômeno estudado. Richardson

(1999) estipula dois tipos de métodos de pesquisa:

• método quantitativo – caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto na

coleta de informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas

estatísticas. É frequentemente aplicado nos estudos descritivos, naqueles em

que se procura descobrir e classificar a relação entre as variáveis, bem como

naqueles em que se investiga a relação de causalidade entre os fenômenos;

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• método qualitativo – difere-se, em princípio, do quantitativo à medida que não

se vale de instrumental estatístico como base do processo de análise de um

problema e não enumera ou mensura unidades ou categorias homogêneas.

Essa abordagem justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para se

entender a natureza de um fenômeno social, por auxiliar na descrição da

complexidade de determinado problema, na análise da interação de certas

variáveis, na classificação e compreensão de processos dinâmicos vividos por

grupos sociais, na compreensão do processo de mudança de um determinado

grupo.

A investigação realizada nesta dissertação é exploratória e de natureza qualitativa.

Trata-se, especificamente, de uma pesquisa aplicada, “dirigida para a solução de

problemas práticos especificados em áreas delineadas e da qual se espera melhoria

ou progresso de algum processo em atividade” (KERLINGER, 2003, p. 321). Quanto

à sua temporalidade, esta é uma pesquisa longitudinal, já que se realiza com uma

determinada empresa e/ou entrevistado(s) ao longo do tempo (COOPER;

SCHINDLER, 2003). O trabalho investigatório caracteriza-se como não-experimental

ou ex-post facto, por isso o investigador não tem controle direto sobre as variáveis

do fenômeno estudado, pois suas manifestações não são passíveis de manipulação

(MARTINS, 2002).

2.2. Estudo de caso

Para Yin (2005), um estudo de caso não se vale meramente do método qualitativo,

uma vez que prevê também a adoção do método quantitativo. Trata-se de uma

investigação que busca compreender um aspecto de um fenômeno e não um

fenômeno como um todo. Em outras palavras, essa metodologia promove a

investigação de um fenômeno contemporâneo em seu contexto real, especialmente

quando fenômeno e contexto não estão claramente definidos. Nesse universo, o

investigador:

• enfrenta uma situação tecnicamente única, em que haverá muito mais

variáveis de interesse do que pontos de dados;

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• baseia-se em várias fontes de evidências;

• beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir

a coleta e a análise dos dados.

A presente pesquisa consiste em um estudo de caso, já que seu objetivo é

compreender o impacto das decisões de terceirização na competitividade da Philips.

Nesse universo, destaca-se que:

• os fatores de competitividade apresentados pela Philips, as decisões no

âmbito de gestão de operações – como as decisões de terceirização – e o

nível e número de concorrentes envolvidos representam claramente um

fenômeno contemporâneo;

• a quantidade de variáveis envolvidas no estudo é significativamente maior do

que o número de casos estudados;

• o estudo baseia-se em várias fontes, tais como literatura sobre teorias

econômicas, estratégia empresarial, competitividade e operações; entrevistas

com profissionais da área e estudo de dados secundários;

• o referencial teórico apresentado no capítulo 1, abordando os conceitos de

competitividade, terceirização, RBV e TCE, orientou a condução e análise do

estudo de caso.

Mais especificamente, a investigação neste trabalho caracteriza-se por ser um

estudo de caso único que, segundo Yin (2005), é apropriado para as seguintes

circunstâncias:

• quando o estudo de caso é decisivo para se testar uma teoria, ou conjunto de

teorias bem-formuladas;

• quando o caso representa um caso raro ou extremo e por si só merece ser

analisado e documentado;

• quando o caso é revelador, passível de análise pelo pesquisador, que tem

uma oportunidade especial para observar e investigar um fenômeno

praticamente inacessível aos demais membros da comunidade científica.

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No caso Philips, busca-se testar a aplicação conjunta das teorias RBV e TCE em

decisões de terceirização com foco na competitividade. A tabela a seguir sistematiza

as características desta pesquisa:

Características da pesquisa Definição Tipo Exploratória Natureza Qualitativa Finalidade Aplicada Temporalidade Longitudinal Influência do Pesquisador Ex-post facto Método Empregado Estudo de Caso Único

Tabela 4 – Características da pesquisa

Fonte: tabela elaborada pelo pesquisador

2.3. Coleta de informações

Boyd e Westfall (1984) observam que existem basicamente as seguintes formas de

busca de informações:

• coleta de dados primários – consiste no levantamento de informações por

meio de pessoas bem-informadas sobre um determinado assunto, tais como

altos executivos de uma empresa, empresários, consumidores, fornecedores,

empregados;

• coleta de dados secundários – consiste na forma mais rápida e econômica de

obter dados e informações: por meio de livros, jornais, documentos

governamentais, relatórios de empresa etc.;

• investigação de casos selecionados – consiste no estudo intensivo de casos

com ênfase na compreensão do assunto investigado como um todo, ou seja,

no método de pesquisa do caso.

Para Yin (2005), os resultados de um estudo de caso serão provavelmente mais

convincentes e acurados quando baseados em várias fontes de informação distintas.

Assim, no intuito de garantir a validade e a confiabilidade desta pesquisa, optou-se

pela coleta de dados primários e secundários.

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Os dados primários foram coletados por meio de entrevista e questionário

direcionados para executivos da Philips, onde, foram selecionados executivos que

possuíam ou possuem alto grau de envolvimento na gestão do negócio de

televisores ou do processo de terceirização. Para tanto foram entrevistados:

a) Diretor industrial da fábrica de televisores da Philips de Manaus;

b) Gerente de produção da fábrica de televisores da Philips de Manaus;

c) Gerente de compras da fábrica de televisores da Philips de Manaus;

d) Gerente de marketing e produto da linha de televisores da Philips do Brasil;

e) Diretor global de planejamento e compras para televisores da Philips em

Amsterdam;

f) Planejador global de painéis LCD da Philips junto a fornecedora LGD;

g) Vice Presidente da Philips Telecom Brasil responsável pelo negócio de

televisores no momento da terceirização da produção de painéis LCD;

h) Gerente de projetos de televisores no momento da terceirização da produção

de painéis LCD;

i) Gerente geral para introdução de novos produtos na América Latina;

j) Gerente financeiro para o negócio de televisores no Brasil.

De acordo com Martins (2002, p. 37), a entrevista é “um processo de interação social

entre duas pessoas no qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção

de informações por parte do outro, o entrevistado”. Neste caso, foi realizada uma

pesquisa semi-estruturada, em que o pesquisador buscou cobrir uma lista específica

de assuntos ou subáreas (AKER; KUMAR; DAY, 2001).

Os objetivos da entrevista consistiram em: a) entender a estrutura da empresa e a

forma como foi configurada; b) entender qual o posicionamento de mercado que a

empresa esperava alcançar ao terceirizar sua a produção de painéis LCD; c) criar

base para elaboração do questionário, a ser aplicado após as entrevistas

(EISENHARDT, 1989).

Preliminarmente a aplicação do questionário, o entrevistador, por meio de

teleconferência, explicou aos entrevistados os conceitos que seriam abordados no

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65

questionário, transmitindo assim conhecimento necessário para o pleno

entendimento das perguntas abordadas nessa etapa do processo.

No questionário, buscou-se verificar o entendimento dos executivos da empresa

sobre o ativo terceirizado e os possíveis riscos inerentes ao processo de

terceirização. Esse instrumento continha um total de 21 perguntas fechadas de

múltipla escolha e foi aplicado para os mesmos executivos entrevistados.

Quanto aos dados secundários, na fase inicial da pesquisa selecionaram-se diversas

fontes para a constituição da referência teórica, bem como informações relevantes

sobre a empresa em estudo e a indústria na qual está inserida. Os dados foram

coletados em livros, artigos de jornais e revistas científicos, relatórios setoriais e

anuais da empresa e sites na Internet.

2.4. Análise e interpretação dos dados

De forma genérica, a análise dos dados qualitativos seguiu o método hermenêutico

na fenomenologia, ou seja, a interpretação do sentido dos fenômenos detectados ao

longo da pesquisa. Martins (2002, p. 35) traduz o termo hermenêutico como “busca

do conhecimento através do círculo compreensão-interpretação-compreensão”.

Segundo Ferreira (apud APPOLINARIO, 2006, p. 70), uma interpretação “é sempre

um mover-se entre círculos, em que se vai do todo, isto é, a globalização do texto

que se quer compreender, e o constante retorno deste todo às partes, onde se tem

uma apreensão analítica e vice-versa”.

Inicialmente, os dados secundários foram estudados com base nas sugestões da

reflexão fenomenológica. O estudo gerou uma compilação dos dados de mercado e

da empresa no segmento de televisores LCD, bem como permitiu a sintetização dos

principais critérios das teorias TCE e RBV. Os dados primários, por sua vez, foram

analisados com base nas entrevistas realizadas em diferentes momentos,

complementadas pelo questionário, que abordou características do produto e da

transação entre a Philips e seu fornecedor, seguindo aspectos teóricos da TCE e

RBV.

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66

A combinação desses dados permitiu a interpretação das consequências de se

transacionar o ativo painel LCD segundo os princípios das teorias TCE e RBV. Essa

interpretação é, na verdade, resultado da compilação do modo como os executivos

da empresa enxergam a transação e o ativo transacionado, gerando assim subsídios

para a classificação das características do ativo e da transação com base nas

teorias selecionadas.

Os critérios utilizados para análise do questionário tiveram por base o grau de

convergência e/ou divergência em cada uma das respostas obtidas. A existência de

convergência configurou-se quando o desvio-padrão das respostas obtidas foi

menor ou igual a um; enquanto a divergência configurou-se quando o desvio-padrão

foi maior que um. Para respostas com desvio-padrão maior que um, analisou-se

qualitativamente a relação do entrevistado com o tipo de resposta, para diminuir a

possibilidade de que alguma fosse dada sem que houvesse conhecimento

específico de pontos da questão.

Os procedimentos a seguir foram adotados para garantir a confiabilidade dos dados

coletados, bem como a redução de possível distorção aleatória:

• utilização de diferentes entrevistados, em diferentes momentos, falando a

respeito do mesmo tema. Para tanto, ao longo da coleta de dados, houve

duas fases distintas: uma para configuração do caso (dados secundários),

outra para a verificação do entendimento da empresa quanto ao ativo

transacionado (dados primários);

• cruzamento de informações obtidas nas fontes primárias, por meio de

entrevistas e questionários. A separação temporal dos dois procedimentos

permitiu o alinhamento dos dados. As informações pertinentes foram

complementadas com uma série de telefonemas;

• cruzamento de informações coletadas em fontes primárias com informações

coletadas em fontes secundárias, no intuito de validar a sua inserção no

contexto desta pesquisa.

Adicionalmente, todas as conversas foram gravadas e/ou devidamente anotadas no

exato do momento da entrevista, sendo a transcrição das informações feita dentro

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67

de um prazo de até 48 horas após o evento, assegurando-se, assim, o máximo de

fidelidade aos relatos.

2.5. Limitações de pesquisa

A principal limitação desta pesquisa reside no fato de que, como pesquisa

exploratória com base em uma amostra não-probabilística, ela não pode ser

considerada representativa para o universo em questão, por ser um caso único. Os

resultados obtidos provavelmente seriam mais ricos se houvesse um maior número

de casos pesquisados, com um resultado diferente daqueles encontrados no caso

apresentado nesta pesquisa.

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68

3. Descrição do caso

Neste capítulo, apresenta-se a descrição do caso Philips, delineando-se um

panorama da indústria eletroeletrônica de consumo e da indústria de TV LCD,

universo desta pesquisa, bem como o perfil da empresa Philips Eletroeletrônicos de

Consumo. Na sequência, explicitam-se os resultados obtidos com a entrevista e o

questionário aplicados a executivos da companhia, atuantes nas áreas de gestão de

operações e gerência de negócios. A figura 8, a seguir, apresenta a estrutura do

capítulo:

Figura 8 – Esquema representativo do capítulo 3 – Descrição do caso

Cenário para estudo do caso terceirização de painéis LCD

IndústriaEletroeletrônica

Indústria de TV LCD

Caracterizaçãoda Philips

• CE no Mundo• CE na Am. Latina• CE Brasil

• Negócio• Histórico• Dados Financeiros• Análise da Empresa• Análise do negócio de TV LCD• EstruturaProdutiva

• Caracterização do Produto• Cadeia de Valor• Fornecedores• Concorrentes• Estrutura Concorrentes

Análise dos Dados

MercadoDados secundáriosDados da empresa

Resumo QuestionárioQuestionárioAnálise das Entrevistas

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3.1. Indústria eletroeletrônica de consumo

3.1.1. Mercado mundial

A indústria de EC é considerada um dos principais mercados do mundo, que

movimentou, em 2008, cerca de US$ 739 bilhões e mais de 2,7 bilhões de unidades,

representando, respectivamente, um crescimento médio anual de 14% e 11,3%

sobre o ano de 2003. Atualmente, apresenta um crescimento em todos os seus

segmentos, em decorrência de processos de miniaturização e dos baixos custos

alcançados com os ganhos de escala, que garantem atratividade e estimulam a

demanda (EUROMONITOR1).

Os gráficos 1 e 2, abaixo, demonstram o crescimento constante desse mercado, que

a cada ano é estimulado por novos produtos:

Gráfico 1 – Mercado mundial de EC em quantidade

Fonte: Euromonitor, 2009

1 EUROMONITOR é um instituto de pesquisa para diversos segmentos do mercado e com alcance mundial. A empresa disponibiliza em seu site um software para extração de dados. Esses dados são comprados pelas empresas e a Philips mantém uma assinatura constante desses serviços. Para acesso ao site, é necessário possuir senha.

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

18%

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Mil

es

de

Un

ida

de

s

Mercado Mundial CE (2003-2008)

Valor Crescimento

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Gráfico 2 – Mercado mundial de EC em bilhões de dólares

Fonte: Euromonitor, 2009

O mercado de eletroeletrônicos é dividido em quatro categorias principais, conforme

demonstrado a seguir:

Figura 9 – Segmentos do mercado mundial de EC

Fonte: Euromonitor, 2009

0%

5%

10%

15%

20%

25%

-

100

200

300

400

500

600

700

800

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Bil

es

de

Do

lare

s

Mercado Mundial CE (2003-2008)

Valor Crescimento

Mercado Mundial de Eletroeletrônicos 2008 739 bilhões de dólares

Para Casa269 bilhões de dólares

Televisores e Projetores

Tocadores VCRs e DVDs

TV e VCR/DVD Combinados

Home Audio e Cinema

ComputadoresPessoais

Portáteis254 bilhões de dólares

Cameras

Filmadoras

Tocadores portáteis

Telefonia Móvel

ComputadoresPortáteis

Para o Carro34 bilhões de dólares

Tocadores

Auto-falantes

Sistemas de Navegação

Outros

Computadores183 bilhões de dólares

Desktops

Laptops

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A indústria eletroeletrônica mundial, como já informado, cresce a uma taxa anual de

14% em valor, entretanto algumas regiões vêm apresentando crescimento

significativamente superior nos últimos dois anos. Esse crescimento é demonstrado

na tabela 5, que representa as regiões no mundo e seus resultados em dólares

americanos:

Tabela 5 – Resultados por região em bilhões de dólares

Fonte: Euromonitor, 2009

No que se refere à participação por segmentos do mercado mundial de EC, nota-se

certa estabilidade nos últimos cinco anos, com exceção do segmento Para Casa,

que perdeu quatro pontos percentuais no período. O gráfico 3 retrata essa

participação, com base no valor da venda em dólares:

Gráfico 3 – Participação por segmento no mercado mundial

Fonte: Euromonitor, 2009

2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 2.008 2008/2006 2008/2007 2008/2003

Mundo 388.763 474.463 527.526 583.433 651.488 738.973 127% 113% 190%

Asia Pacífico 115.864 141.850 158.456 177.388 196.799 232.234 131% 118% 200%

Australia 6.843 9.151 9.950 10.575 12.170 14.067 133% 116% 206%

Leste Europeu 15.207 21.731 26.427 30.650 37.444 46.226 151% 123% 304%

América Latina 23.589 28.285 35.803 42.336 50.242 64.514 152% 128% 273%

Meio Oeste e África 18.268 26.283 28.249 29.202 31.500 34.424 118% 109% 188%

América do Norte 99.278 110.101 122.175 137.013 146.613 147.255 107% 100% 148%

Oeste Europeu 109.714 137.063 146.467 156.269 176.721 200.252 128% 113% 183%

40% 38% 38% 38% 37% 36%

31% 34% 35% 35% 35% 34%

4% 4% 4% 4% 4% 5%

26% 24% 24% 23% 24% 25%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Participação por Segmento no mercado

mundial

Para Casa Portáteis Para o Carro Computadores

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Quanto ao centro produtivo da indústria de eletroeletrônicos, a China consolida-se

como o principal pólo produtivo, demonstrando forte dominância no setor. O país

tornou-se um grande mercado em que se pode comprar diversos produtos. De modo

geral, as grandes companhias do setor terceirizaram parte de suas operações para

empresas chinesas.

A China emergiu como grande fornecedor global há cerca de dez anos, com

estratégia clara de imitar grandes marcas e entregar produtos de baixo custo e

qualidade abaixo do aceitável no mercado. Atualmente, está se especializando em

fornecer mais que produtos comodities, como tocadores de DVD, e busca

estabelecer grandes centros de pesquisa e desenvolvimento, avançando na

produção de eletroeletrônicos mais sofisticados, como televisores LCD, câmeras

digitais de alta capacidade, entre outros.

A mudança de postura adotada pela China é influenciada pelo seu governo, que

tenta mudar a imagem do país e de seus produtos. Esse esforço parece estar dando

resultados e as grandes empresas globais, quando não transferem suas operações

totalmente para lá, mantêm grande parte delas em solo chinês. Esse é o caso da

Philips, que será apresentado mais adiante.

Em relação aos concorrentes, o setor apresenta dezenas de empresas competindo

nos quatro setores da indústria, sendo a maioria delas marcas globais com

operações espalhadas por todo o planeta. Os dados abaixo, adaptados de

Euromonitor, apresentam as maiores empresas do setor, com base nos volumes de

vendas do ano de 2008:

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Gráficos 4, 5, 6 e 7 – Dez maiores marcas em volume por segmento EC em 2008

Fonte: Euromonitor, 2009

3.1.2. Mercado América Latina

Uma região que se destaca no mercado de eletroeletrônicos é a América Latina,

que, de 2003 a 2008, apresentou uma taxa de crescimento de 273% em valor, com

crescimento médio anual de 22,2% no período, sendo precedida apenas pelo Leste

Europeu, que apresentou significante aumento do poder de compra com a entrada

de muitos países na zona do Euro, resultando em um crescimento de 304% em valor

e 24,9% de crescimento médio anual.

Apesar de se manter como o quarto maior mercado de EC, a América Latina vem se

destacando no mercado mundial e aumentando sua participação, firmando-se como

uma região bastante próspera. Destaque-se, nesse contexto, o Brasil, que será

apresentado mais adiante.

Gráfico 5Gráfico 4

Gráfico 6 Gráfico 7

12%11%

7%

5%

5%

5%

3%3%2%2%

45%

Segmento EC Para Casa - Top 10 Maiores

Marcas 2008 em Volume de VendasHP

Sony

Samsung

Logitech

Panasonic

LG

Microsoft

Dell

JVC

Epson

Outros

14%

11%

9%

6%

5%

4%

3%3%2%2%

41%

Segmento EC Portáteis - Top 10 Maiores

Marcas 2008 em Volume de Vendas

Nokia

Motorola

Samsung

Sony

LG

Apple

Panasonic

HP

Canon

Sony Ericsson

Outros

15%

14%

6%

5%4%

4%3%

3%3%2%

41%

Segmento EC Para Carro - Top 10 Maiores

Marcas 2008 em Volume de VendasPionner

Sony

Alpine

Panasonic

Kenwood

JVC

Garmin

Clarion

TomTom

Navigon

Outros

9%9%

3%2%2%2%2%

1%2%

1%

67%

Segmento EC Para Computadores - Top 10

Maiores Marcas 2008 em Volume de

Vendas HP

Dell

Lenovo

Toshiba

Apple

Sony

Fujitsu

Compaq

Samsung

ASUSTeK

Outros

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74

O gráfico 8 mostra a participação anual de regiões mundiais no mercado de

eletroeletrônicos, de 2003 a 2008, evidenciando o crescimento da América Latina no

setor.

Gráfico 8 – Participação percentual histórica por regiões mundiais

Fonte: Euromonitor, 2009

Destacam-se, no cenário apresentado, dois fatores relevantes: o primeiro diz

respeito ao modo como o segmento de EC está dividido, que deixa claro quais são

as categorias de produtos que mais crescem e ganham importância. O segundo

refere-se ao produto, que se relaciona com a região. O gráfico abaixo e retrata a

participação por segmento no mercado da América Latina:

29,8% 29,9% 30,0% 30,4% 30,2% 31,4%

1,8% 1,9% 1,9% 1,8% 1,9% 1,9%3,9% 4,6% 5,0% 5,3% 5,7% 6,3%6,1% 6,0% 6,8% 7,3% 7,7% 8,7%4,7% 5,5% 5,4% 5,0% 4,8%4,7%

25,5% 23,2% 23,2% 23,5% 22,5% 19,9%

28,2% 28,9% 27,8% 26,8% 27,1% 27,1%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 2.008

Oeste Europeu

América do Norte

Meio Oeste e África

América Latina

Leste Europeu

Austrália

Asia Pacífico

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Gráfico 9 – Participação por segmento na América Latina

Fonte: Euromonitor, 2009

Como se pode observar, o segmento Para Casa corresponde a cerca de um terço de

todo o mercado de EC, o que equivale a pouco mais de US$ 20,8 bilhões somente

em 2008.

A seguir, apresenta-se a participação dos países latino-americanos de 2003 a 2008:

Gráfico 10 – Participação dos países na América Latina

Fonte: Euromonitor, 2009

35% 35% 36% 36% 33% 32%

30% 32% 31% 32% 33% 34%

2% 2% 2% 2% 2% 2%

33% 32% 31% 30% 31% 32%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Participação por Segmento na América Latina

Para Casa Portáteis Para o Carro Computadores

2% 4% 5% 7% 8% 8%

57% 56% 56% 55% 55% 55%

6% 5% 5% 5% 4% 4%

17% 17% 17% 17% 18% 20%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Participação dos Países na América Latina

Argentina Brazil Chile Mexico Outros Países

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Observa-se aí a evidente importância do Brasil no contexto da América Latina, que

representa mais da metade do mercado latino-americano e quase 5% do mercado

mundial.

3.1.3. Mercado Brasil

O Brasil vem se destacando no mercado mundial como um dos países com melhor

situação econômica e por isso tem conseguido obter bons índices de crescimento

em diversos setores. Esse crescimento teve origem na sólida política econômica

iniciada com a entrada do plano Real e consolidou-se durante os governos dos

presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. O País

caracteriza-se principalmente pelos seus desenvolvidos setores agropecuário, de

mineração, de manufatura e serviços. Sua economia é a maior na América Latina e,

apesar de não apresentar grandes índices de crescimento como os da China, seu

cenário é favorável.

Para 2009, as projeções indicam um aumento de 1,26% do Produto Interno Bruto

(PIB), delineando um cenário caracterizado principalmente pela recuperação pós-

crise mundial que afetou o mercado em 2008, sendo que o Brasil foi uma das

primeiras economias a demonstrar forte recuperação. Outro dado relevante que

demonstra o bom momento econômico do País é o nível de investimentos do setor

público, em que se nota um claro aumento desde 2003, com base no PIB. A tabela 6

e o gráfico 11, a seguir, demonstram, respectivamente, dados do PIB e os

investimentos públicos como percentual do PIB:

Tabela 6 – Base histórica do PIB Brasil

Fonte: IBGE (2009).

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Gráfico 11 – Taxa de investimento público como percentual do PIB Brasil

Fonte: IBGE, 2009

O ambiente favorável ajudou no crescimento de diversos setores produtivos, entre

eles a indústria de eletroeletrônicos. Os dados abaixo ressaltam esse crescimento e

firmam o Brasil como o principal País da América Latina nesse setor:

Tabela 7 – Setor brasileiro de EC em volume (Base milhares de produtos)

* CMA – Crescimento Médio Anual

Fonte: Euromonitor, 2009

Conforme demonstrado, o setor de EC apresentou um crescimento médio anual de

14% de 2003 a 2008 e isso representa um aumento de 90% em volume. Um dos

segmentos que mais se destaca é o de Portáteis, que, seguindo a tendência mundial

de consumo, vem acumulando frequentes altas.

Outro segmento que se destaca significativamente é o de Computadores, que,

devido a dificuldades de acesso por grande parte da população e aos altos custos,

em 2003 passou a receber incentivos governamentais, contando, atualmente, com

grandes marcas produzidas no País, o que trouxe redução de custos e aumento do

Categorias 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2008/072008/03

CMA*2008/03

Eletr. de Consumo 49.436 60.651 74.740 80.318 86.890 94.083 8% 14% 90%

Para Casa 29.222 34.965 42.325 43.851 43.745 46.135 5% 10% 58%

Portáteis 13.730 18.002 23.332 26.264 30.919 33.021 7% 19% 141%

Para Carro 959 1.373 1.861 2.322 2.798 3.159 13% 27% 230%

Computadores 5.525 6.312 7.221 7.882 9.428 11.768 25% 16% 113%

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volume. O resultado foi um crescimento médio anual de mais de 20% nos últimos

dois anos.

Apesar de apresentar o menor crescimento, com resultados de crescimento médio

dos últimos cinco anos em 10% e acumulado de 58% no mesmo período, o

segmento Para Casa ainda demonstra grande participação no mercado e

acompanha o crescimento mundial. O gráfico 12 destaca a participação dos

segmentos do mercado de eletroeletrônico em 2008, com base na quantidade de

produtos:

Gráfico 12 – Participação por segmento do mercado de EC no Brasil em volume

Fonte: Euromonitor, 2009

Quando analisadas em valor, as participações nesse setor alteram-se e mostram

mais claramente o crescimento do setor de Computadores. Entretanto, quando

analisado o segmento Para Casa, nota-se um crescimento maior em valor que em

volume, que se deve principalmente ao aumento do ticket médio do produto. Tal

aumento é resultado da mudança do padrão tecnológico vivenciada pelos

brasileiros.

A tabela 8 aponta para o mercado em valor, destacando o crescimento médio anual

e o crescimento acumulado do setor de EC no período de 2007/2008. O gráfico 13

59% 58% 57% 55% 50% 49%

28% 30% 31% 33% 36% 35%

2% 2% 2% 3% 3% 3%

11% 10% 10% 10% 11% 13%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Categorias Brasil - Eletroeletrônicos de Consumo

Para Casa Portáteis Para Carro Computadores

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79

demonstra a participação das categorias nesse mercado e a tabela 9 demonstra a

variação de ticket médio por categoria:

Tabela 8 – Setor brasileiro de EC em valor (Base milhões de dólares)

Fonte: Euromonitor, 2009

Gráfico 13 – Participação por segmento do mercado de EC no Brasil em valor

Fonte: Euromonitor, 2009.

Tabela 9 – Ticket médio do setor brasileiro de EC em dólares

Fonte: Euromonitor, 2009

Categorias 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2008/072008/03

CMA*2008/03

Eletr. de Consumo 18.969 21.791 24.604 26.568 30.012 35.461 18% 13% 87%

Para Casa 6.940 7.788 9.618 10.479 10.306 12.118 18% 12% 75%

Portáteis 3.142 3.932 3.868 4.321 5.734 6.336 11% 15% 102%

Para Carro 241 339 469 581 711 811 14% 19% 237%

Computadores 8.646 9.732 10.648 11.188 13.260 16.196 22% 13% 87%

37% 36% 39% 39% 34% 34%

17% 18% 16% 16%19% 18%

1% 2% 2% 2% 2% 2%

46% 45% 43% 42% 44% 46%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Categorias Brasil - Eletroeletrônicos de Consumo

Para Casa Portáteis Para Carro Computadores

Categorias 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2008/03

Eletr. de Consumo 384 359 329 331 345 377 -2%

Para Casa 237 223 227 239 236 263 11%

Portáteis 229 218 166 165 185 192 -16%

Para Carro 251 247 252 250 254 257 2%

Computadores 1.565 1.542 1.475 1.419 1.407 1.376 -12%

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80

3.1.3.1. Mercado de televisores LCD no Brasil

Tendo-se em vista o objetivo deste trabalho, apresentam-se nesta seção os dados

do mercado de televisores no Brasil, mais especificamente os que demonstram a

importância do produto no mercado de EC.

O mercado de televisores está dividido principalmente em produtos analógicos e

digitais, sendo que os televisores analógicos compreendem os Cathode Ray Tube –

Tubo de Raios Catódicos (CRT) e os Digitais compreendem os televisores LCD e

Plasma. Basicamente, tais produtos diferenciam-se por suas dimensões e pela

qualidade da imagem que transmitem.

Quanto às dimensões, os televisores CRT são maiores, principalmente em

profundidade, devido à necessidade de espaço para o tubo de raios catódicos. Os

televisores LCD e Plasma, por sua vez, são mais finos e apresentam, de modo geral,

formato de tela no padrão 16:9 (widescreen), que se aproxima da tela de cinema.

Quanto à qualidade de imagem, esses televisores diferenciam-se pela resolução de

tela, que consiste no número de linhas na vertical e que determina a capacidade dos

aparelhos de receber e exibir imagens com maior qualidade. Um televisor CRT exibe

até 480 linhas de resolução máxima na vertical, enquanto os televisores LCD e

Plasma exibem de 720 linhas até 1080 linhas. As denominações desses televisores

no mercado atual são HD Ready, significando pronto para a alta definição, os HD

Ready apresentam resolução máxima de 720 linhas e os Full HD apresentam até

1080 linhas.

O mercado de televisores vem passando por mudanças desde que os preços dos

aparelhos LCD e Plasma começaram a diminuir no final do ano de 2006, devido ao

ganho de escala global e à implementação de novas fábricas de componentes e

painéis. A mudança de custo dos produtos que favoreceu a redução dos preços

incentivou o aumento da demanda pelo produto, permitindo que muitos

consumidores substituíssem seus televisores CRT por televisores LCD e Plasma. O

apelo desse novo produto é evidente pela alta tecnologia embarcada, pela qualidade

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81

de imagem, pela compatibilidade com novas tecnologias de transmissão de imagem

e pelo design sofisticado e bonito.

A substituição tecnológica iniciou-se na Europa, nos Estados Unidos e no Japão por

volta de 2003 e no Brasil, como já dito, cerca de três anos depois. O CRT passou

então a ser substituído pelas telas finas – principalmente pelo LCD, que apresenta

vantagens sobre o Plasma, tais como menor consumo de energia, menor peso,

menor custo, maior vida útil e a rápida evolução tecnológica. Esse fato fez com que

a maioria dos fabricantes optasse por focar seus esforços tanto no desenvolvimento

tecnológico quanto em ações de marketing para aumentar volumes e reduzir custos.

Os gráficos 14 e 15, a seguir, representam dados de vendas no varejo brasileiro e

têm como fonte a Growth from Knowledge2 (GFK), empresa privada de pesquisa,

com origem alemã e presente em mais de 60 países. Os dados indicam vendas aos

consumidores finais.

Com os gráficos, pretende-se demonstrar o posicionamento de mercado das quatro

principais empresas atuantes no Brasil, as quais apresentam níveis diferentes de

verticalização de sua operação. Neles, revela-se a evolução em volumes e valor de

vendas no varejo brasileiro para televisores de tubo e para telas finas.

2 Os dados obtidos na GFK fazem parte de um contrato de compra de informações de mercado entre essa empresa e a Philips. As informações são fornecidas por meio de transmissão eletrônica, em sistema próprio para a elaboração de relatórios.

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Gráfico 14 – Vendas totais de CRT e tela fina no varejo brasileiro em volume

Fonte: GFK, 2009

Gráfico 15 – Vendas totais de CRT e tela fina no varejo brasileiro em valor

Fonte: GFK, 2009

-

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

Qu

an

tid

ad

eVendas televisores de Tubo x Tela Fina no Brasil

Tubo Tela Fina Tendência Linear (Tubo) Tendência Line (Tela Fina)

-

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1.000

Mil

es

de

Re

ais

Vendas televisores de Tubo x Tela Fina no Brasil

CRT FLAT TV Tendência Linear (Tubo) Tendência Line (Tela Fina)

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83

A seguir, o gráfico 16 apresenta dados da evolução de vendas em quantidade de

televisores telas finas (LCD e Plasma separadamente) vendidos no Brasil no período

de abril de 2006 a agosto de 2009:

Gráfico 16 – Vendas de televisores tela fina no varejo brasileiro em volume

Fonte: GFK, 2009

Observa-se aí a curva de crescimento de telas finas que, nos últimos doze meses,

(agosto de 2009 a agosto de 2008) apresentou 15% ou 1,2% de crescimento médio

mensal. Esse crescimento foi altamente impactado pela crise econômica global que

se iniciou nos Estados Unidos, em 2008.

Entretanto, quando analisado o crescimento dos últimos vinte e quatro meses,

verifica-se que o crescimento nominal foi de 187%, ou seja, houve crescimento

médio mensal de 4,5%. Outra informação relevante no gráfico 16 está relacionada

ao domínio do LCD sobre o Plasma, o que denota a importância do primeiro para o

mercado.

Na sequência, o gráfico 17 apresenta dados de evolução de vendas em valor para

os televisores telas finas (LCD e Plasma separadamente) no varejo brasileiro,

reforçando as informações do gráfico anterior:

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

Qu

an

tid

ad

e d

e t

ele

vis

ore

s

Evolução de Vendas no Varejo Brasileiro de Telas Finas

LCD-TV

PLASMA TV

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84

Gráfico 17 – Vendas de televisores tela fina no varejo brasileiro em valor

Fonte: GFK, 2009

O gráfico 18, por sua vez, apresenta o posicionamento das empresas no mercado

LCD, enfatizando que, até o mês de julho de 2007, a empresa Philips liderava o

mercado de telas finas, seguida de perto pelas coreanas LG e Samsung. Mas o

cenário inverte-se e já em agosto do mesmo ano, quando a Philips passa a ocupar o

terceiro lugar no mercado, com aumento substancial da concorrência. Nesse

período, iniciam-se as fortes pressões por resultado, uma vez que os preços dos

televisores, com o aumento da oferta, começam a cair e a estimular o aumento da

demanda.

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

Mil

ha

res

de

Re

ais

Evolução de Vendas no Varejo Brasileiro de Telas Finas

LCD-TV

PLASMA TV

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85

Gráfico 18 – Vendas de televisores LCD no varejo brasileiro em volume/empresa

Fonte: GFK, 2009

No gráfico, pode-se verificar o forte aumento das vendas no varejo, que foram

estimuladas principalmente pelo aumento da oferta de produtos, fruto de

investimentos das multinacionais em infra-estrutura, e da forte concorrência global.

O gráfico 19, abaixo, mostra os dados da evolução de vendas em milhões de reais

para televisores LCD no varejo para as principais marcas. Esse é um dado

semelhante ao anterior e, quando associados, projetam uma idéia de portfólio de

produto das empresas. O setor de televisores LCD contempla uma série de

tamanhos de telas, sendo que quanto maior a tela, maior o valor do aparelho. As

empresas Samsung e LG ganharam mercado da Philips, principalmente por

apresentarem televisores de telas maiores, que normalmente entregam às

organizações margem bruta maior que os televisores de menor tela e acabam por se

tornar a principal fonte de lucro para a linha.

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

Qu

an

tid

ad

e d

e t

ele

vis

ore

sEvolução de Vendas de Televisores LCD no Varejo Brasileiro

LG

SAMSUNG

SONY

PHILIPS

Outros

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Gráfico 19 – Vendas de televisores LCD no varejo brasileiro em valor/empresa.

Fonte: GFK, 2009

O gráfico 20 é a combinação dos gráficos 18 e 19, no qual se aplica a divisão do

valor por mês e por empresa pela quantidade por mês e por empresa. Pode-se

observar uma rápida queda dos preços médios dos televisores por empresa,

resultado da redução de custos alcançados, que, por sua vez, foi estimulada pela

forte concorrência e por investimentos no setor.

Esse gráfico sugere também uma importante informação que pode ser extraída do

preço médio praticado pelas empresas e que diz respeito ao mix de produtos

comercializado por cada uma delas. O mix de produto é resultado da combinação

dos tamanhos de tela dos televisores comercializados pela empresa onde, quanto

maior a proporção de produtos com maior preço maior será o preço médio

apresentado por produto. Esse maior preço é obtido ao se vender telas de maiores

dimensões, como as telas de 42 polegadas frente a telas de 32 polegadas. Tomando

como exemplo a LG, que desde o inicio das vendas em abril de 2006, possui preço

médio superior aos demais concorrentes, pode-se concluir que essa empresa possui

maior proporção em suas vendas de telas de maior tamanho que seus concorrentes

diretos, tendo assim como resultado, um preço médio superior.

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

Mil

ha

res

de

Re

ais

Evolução de Vendas de Televisores LCD no Varejo Brasileiro

LG

SAMSUNG

SONY

PHILIPS

Outros

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87

Gráfico 20 – Evolução do preço médio de televisor LCD por empresa

Fonte: GFK, 2009

3.2. Indústria de TV LCD

3.2.1. Caracterização do produto

O painel LCD caracteriza-se por ser fino e plano e é usado para, eletronicamente,

transmitir textos, imagens e imagens em movimento, podendo ser empregado em

monitores para computador, câmeras digitais, telefones celulares, relógios,

calculadoras, painéis de instrumentos, aviões, carros etc. Entre as suas principais

características estão o pouco peso, a portabilidade, a resistência, o tamanho grande,

a facilidade de utilização.

A substituição tecnológica do CRT para o LCD justifica-se porque os painéis de telas

finas consistem em tecnologia barata, principalmente porque as fábricas são

depreciadas. Outro fator importante para essa substituição é a geração de conteúdo:

os aparelhos de tubos têm padrão 4:3, ao passo que os de LCD têm padrão 16:9,

por isso a qualidade do brilho, do contraste, da cor, da uniformidade da imagem é

melhor neste último.

-

1.000,0

2.000,0

3.000,0

4.000,0

5.000,0

6.000,0

7.000,0

8.000,0

Re

ais

po

r Te

lev

iso

r LC

DEvolução de preços médios por empresa

LG

SAMSUNG

PHILIPS

SONY

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88

Os principais componentes utilizados na produção de telas LCD são demonstrados

na figura 10 a seguir:

Figura 10 – Principais componentes utilizados na produção de telas LCD

Fonte: WitsView (2009a) – tradução do pesquisador

Ao produto final (o televisor LCD) serão associados novos componentes, que foram

especialmente projetados para interagirem com um painel LCD específico. Esse é

um fator importante para este trabalho, pois apesar de o mercado oferecer diversos

fornecedores, associações de longo prazo com fornecedores são importantes para

que se possa obter o painel específico para o projeto. Em termos práticos, o painel é

conhecido como um hardware (equipamento físico) que, associado a outros

hardwares, formará o televisor LCD. Este, por sua vez, apresenta certas

características capazes de receber um determinado software (programa) que fará

uso dos componentes físicos para gerar imagens. Esse fato torna o painel LCD um

componente com certo grau de especificidade, assim o comprador, para comprar um

painel LCD para seu projeto de televisão, precisará ter a geração correta para seu

propósito.

LED CCFLDiffuser

FilmPrism Film TAC Film PVA Film

Vidro FiltroBack Light

UnitDriver IC Polirizer

Liquid Crystal

Controlador de Circuito

Integrado

Gerenciadorde Energia Fabricante do Panel

Linha Célula Módulo

TV Monitor Notebook

Fabricantes de Notebook

Integrator

Co

mp

on

en

tes

Prod

uto

Fina

l

Up

stream

Do

wn

stream

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89

Dadas as características do produto e do mercado, pode-se afirmar que as

transações entre as empresas na indústria de LCD dificilmente serão de governança

de mercado, por isso as companhias precisam buscar governanças intermediárias

ou hierárquicas.

São três as razões que levam a governança de mercado a se tornar um processo

praticamente inexistente para transações envolvendo painéis LCD: a primeira diz

respeito ao fato de esse painel apresentar uma série de características que fazem

parte de um projeto, o televisor LCD. A segunda reside no fato de que, como o

painel é um produto com qualidades quase únicas, os produtores não produzem

quantidades excedentes a ponto de existir sobra na produção que possa ser

oferecida ao mercado aberto. A terceira refere-se ao fato de que o painel LCD é um

elemento de custo relativamente alto e esse fator garante que os fornecedores não

queiram colocar excedentes no mercado.

Considerando-se a importância do custo do painel na produção do televisor LCD, é

necessário conhecer o seu valor. Conforme dados obtidos no departamento de

custos da Philips, esse produto atualmente representa cerca de 70% do custo do

produto final. A alta participação do componente retrata a importância de se

gerenciar bem esse recurso como forma de manter a competitividade em custos e,

assim, garantir um bom posicionamento no mercado.

Vale reforçar que o valor apresentado corresponde a uma média entre diversos

modelos de televisores LCD, com diversos tamanhos de telas e para um dado

período de tempo. Essa referência de custo serve tão somente para demonstrar a

relevância do recurso ou ativo painel de LCD.

3.2.2. Fornecedores

Segundo o site Witsview (2009a, 2009b), especializado no setor de LCD, os

fabricantes de painel LCD estão localizados na China, no Japão, na Coréia e em

Taiwan. Esses se especializaram principalmente no tipo de utilização do produto,

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90

associando diretamente essa característica ao tamanho da tela e aos recursos que

ela apresenta 3.

Uma vez que o objetivo neste trabalho é verificar se a perda de competitividade que

a Philips apresenta está associada ao nível de verticalização de sua manufatura,

especialmente do painel para televisor LCD, nesta seção demonstra-se como estão

organizadas verticalmente as principais marcas atuantes no mercado de EC.

Conforme explicado anteriormente, as três principais marcas atuantes no mercado

brasileiro juntamente com a Philips são a LG, a Samsung e a Sony. Desse modo,

procura-se entender como estão estruturadas, tendo-se em vista que quanto maior

for o nível de verticalização, menor será a quantidade de processos de terceirização

encontrados para essa cadeia de valor.

Segundo material publicado no site Display Search (2008), um fato interessante e

comum a essas quatro empresas é a forma como se organizaram para atuar no

mercado. Como será demonstrado nas ilustrações a seguir, a LG e a Samsung

buscaram formas de governança hierárquica, verticalizando-se para controlar toda a

cadeia de valor. Por outro lado, a Philips e a Sony buscaram formas de governança

intermediária ao se associarem às duas primeiras empresas pela formação de joint-

ventures.

De acordo com Chang (2008), a Sony justificou sua opção por esse modelo por não

acreditar na longevidade tecnológica do LCD como solução para televisores. Ela

acreditava que o LCD era uma commodity que deveria ser fornecido por um terceiro

e decidiu investir na evolução da tecnologia que iria substituir esse padrão.

Entretanto, apesar de não realizar investimentos para se verticalizar, ela juntou-se

com a Samsung e, atualmente, possui uma grande participação em sua fábrica de

LCD, que, por um lado, assegura volume necessário para permanecer no mercado e

manter a marca forte e, por outro lado, garante controle do fluxo de materiais.

3 Cf. anexos 1 e 2.

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91

A Philips buscou uma solução semelhante e associou-se à sua concorrente LG,

formando a LG Philips Displays (LGD). Essa empresa também lhe garantiu volume e

controle necessários para atuar no mercado. Entretanto, reduziu sua participação na

LGD, o que, teoricamente, impacta a garantia de volumes e reduz o controle da

empresa sobre o fluxo de materiais.

A figura 11, a seguir, mostra o nível de verticalização completo da Samsung e

principalmente como essa companhia e a Sony estão transacionando quanto à

obtenção de painéis LCD. Como se pode observar, a Sony detém 50% dos

investimentos de produção de painéis, com razoável controle dos custos e

prioridades quanto a suprimentos. Não se pode confirmar que nesse acordo a Sony

esteja obtendo o produto ao mesmo custo que a Samsung, parceira e concorrente.

Entretanto, pode-se criar a proposição (P1) de que a Sony, que participa em 50% da

produção de painéis, estaria recebendo painéis ao mesmo valor que a Samsung e

com a mesma prioridade em relação a volumes. Esse é um dado importante para

determinar competitividade em um setor caracterizado por estratégias agressivas de

preço. Outro fato de extrema relevância é que todos os componentes necessários

para a produção do painel LCD vêm da própria Samsung. Para esse fato, cria-se a

segunda proposição (P2) e assume-se potencial oportunismo quando da

transferência de componentes na estrutura vertical. Esse custo desconhecido de

transferência pode ser fonte de geração de lucro e vantagem competitiva para a

Samsung.

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92

Figura 11 – Integração vertical Samsung + Sony

Fonte: Display Search (2008)

A Figura 12, da mesma forma que a anterior, mostra o nível de verticalização da LG,

fornecedora de painéis para a Philips. Para essa transação, a Philips não detém

igualdade na alocação de suprimentos, pois o controle que exerce aqui é limitado à

sua participação na estrutura. Uma terceira proposição pode ser criada para essa

transação (P3), assumindo-se que existe um contrato que garanta transferência do

componente LCD ao mesmo custo para as duas empresas, entretanto não se pode

assumir que a Philips tenha prioridade de alocação de volumes semelhante à LG.

Uma segunda proposição a ser adotada com relação à LG e à Philips é a mesma

utilizada anteriormente para a Samsung e a Sony, a proposição (P2). Como pode ser

visto a seguir, a LG é a fornecedora de praticamente todos os componentes

necessários à produção do painel LCD, resultando em grande potencial de

oportunismo:

Integração Vertical Samsung + Sony

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93

Figura 12 – Integração vertical LG + Philips

Fonte: Display Search (2008)

O zero de participação da Philips na produção de painéis LCD veio em 11 de março

de 2009, quando a empresa vendeu sua participação a bancos de investimento. O

gráfico 21 abaixo foi extraído diretamente do site oficial da LG Display e retrata a

participação anterior da empresa antes da venda de ações feita pela Philips.

Integração Vertical LG + Philips

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94

Gráfico 21 – Participação acionária na LG Displays

Fonte: LG Display (2008)

Segundo informação publicada no site iSuppli (2007), especializado em cadeia de

valor para produtos eletroeletrônicos, o mapeamento da produção mundial e dos

envios feitos das fábricas de painéis para as linhas de montagem das empresas

demonstrou a debilidade da Philips no mercado mundial de LCD. Além disso,

esclareceu que, em 2007, devido à falta de controle direto no suprimento de painéis

LCD por meio de sua subsidiária LGD, a Philips obteve o pior desempenho entre os

maiores fornecedores de LCD para TV no primeiro trimestre de 2007. Esse

resultado, acompanhado de condições sazonais fracas na venda de TV LCD, levou

a empresa a uma redução de 26% no despacho de painéis por meio de sua

subsidiária em Taiwan para suas fábricas de montagem de TV LCD no mundo.

Como consequência, apresentou queda de posição no mercado mundial, atingindo o

terceiro lugar, logo atrás da Sony.

O iSuppli explicita ainda que o relacionamento próximo existente entre a Philips e a

LGD fica claro para o mercado, mas fica claro também que a Philips não possui o

controle total das operações de produção e envio, e essa posição dificulta para a

empresa a obtenção das mesmas condições que os concorrentes.

ADR (NYSE); 3,4

LG Electronics;

37,9

Investidores

Koreanos; 28,4

*Philips; 13,2

Investidores

Externos; 17,1

Participação Acionária LG Displays

*Em 11 de Março de 2009 a Philips vende sua participação na LG Displays

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Finalmente, vale ressaltar o posicionamento estratégico da Philips quanto a

desverticalizar sua produção de televisores LCD. Segundo relatório publicado pela

SNS Securities Research (2009), o Chief Executive Office (CEO) da empresa vem

há oito anos implementando um processo de redução da exposição ao risco de uma

forma geral e mais particularmente na linha de televisores. Essa decisão levou a

empresa a uma grande escala de terceirização de sua produção.

3.3. Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil

3.3.1. Histórico4

A origem da organização que mais tarde se tornaria uma das maiores companhias

de cuidados com a saúde, estilo de vida e tecnologia aconteceu em 1881, na cidade

de Eindhoven, Holanda. Foram Frederik Philips e seu filho Gerard Philips que

fundaram a Philips & Co para atender à demanda de lâmpadas originada com início

da comercialização da eletricidade.

Assim, a empresa iniciou sua produção de filamentos de carbono para lâmpadas e,

na virada do século XIX para o século XX, era uma das maiores produtoras da

Europa. Como, nessa época, o desenvolvimento de tecnologias de iluminação

passou por significativa expansão, em 1914 a empresa já estabelecia seu primeiro

laboratório de estudos de fenômenos físicos e químicos e estímulo à inovação. Em

1918, a companhia introduziu seu primeiro equipamento médico, um tubo de raio-x,

marcando o início da diversificação de sua linha de produtos e também o momento

em que começou a proteger suas inovações por meio de patentes.

Em 1925, a Philips envolveu-se em seus primeiros experimentos com televisores,

iniciando também sua produção de rádios, e em 1932 já havia vendidos milhões

deles, atingindo a marca de 100 milhões de produtos um ano depois. Em 1933,

iniciou a produção de equipamentos de raios-x nos Estados Unidos da América e em

4 Dados obtidos na Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil.

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1939 lançou seu primeiro barbeador elétrico, empregando mais de 45.000

funcionários ao redor do mundo.

Nas décadas de 1940 e 1950, ciência e tecnologia apresentaram grande evolução e

a área de pesquisas da Philips inventou as cabeças rotativas de um de seus

produtos mais conhecidos até hoje, o barbeador elétrico Philishave. Foi nessa

mesma época que a empresa iniciou o desenvolvimento de transistores e circuitos

integrados e fez grandes contribuições para o desenvolvimento das gravações,

transmissões e reproduções das imagens de televisão. Outra grande invenção foi a

introdução da fita cassete de áudio. Em 1965, já iniciava sua produção de circuitos

integrados.

O fluxo excitante de novos produtos e ideias continuaram na década de 1970 e

pesquisas em iluminação contribuíram para o desenvolvimento de lâmpadas que

economizavam energia. Grandes avanços no processamento, armazenagem e

transmissão de imagens, som e dados também marcaram essa época e deram

origem aos sistemas de disco de laser óptico, o Compact Disc (CD), e aos sistemas

de telecomunicação.

Em 1972, a Philips fundou com a Siemens a PolyGram (sendo Philips com 60% de

participação e Siemens com 40%) e tornou-se um selo de enorme sucesso. Em

1974, iniciou uma série de aquisições, sendo a primeira a marca Magnavox e a

segunda, em 1975, a Signetic, ambas nos Estados Unidos da América. Na década

de 1980, adquiriu a Sylvania no segmento de televisores e a Westinghouse no

segmento de lâmpadas. Em 1983, lançou uma de suas mais famosas invenções, o

CD. Outros importantes dados da empresa nos anos de 1980 foram as marcas de

100 milhões de televisores produzidos e a de 300 milhões de barbeadores elétricos.

A década de 1990 foi marcada por grandes mudanças. A empresa conduziu seu

maior programa de reestruturação para se tornar mais saudável, simplificar sua

estrutura e reduzir o número de áreas de negócio. Em 1997, em cooperação com

muitas outras organizações e aproveitando o sucesso da tecnologia de CD

(inventado pela Philips e introduzido no mercado em conjunto com a Sony), a

companhia lançou o que veio a ser o produto de maior e mais rápido crescimento da

história de produtos eletroeletrônicos para casa, o Digital Video Disc (DVD).

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Caminhando para o século XXI, a Philips seguiu seu curso de mudanças e

crescimento, dedicando-se a projetar uma imagem de si própria que refletisse os

produtos que oferece nas áreas de cuidados com a saúde, estilo de vida e

tecnologia. Seguiu esse processo até 2004, com uma massiva campanha

publicitária, expondo sua nova promessa de marca, sense and simplicity. A empresa

então confirmou sua dedicação em oferecer produtos avançados, fáceis de usar e

projetados para as necessidades de seus consumidores.

Quando a promessa de marca sense and simplicity foi lançada, seu valor total era

estimado em U$ 4.4 bilhões. Em cinco anos, a Philips superou em perfomance suas

concorrentes e cresceu 85% em valor de marca segundo o site Interbrand (2009),

aparecendo como a 42ª marca mais valiosa do mundo, subindo da 43ª posição de

2008.

Outro marco importante da Philips foi a venda de 80,1% de sua empresa de

semicondutores para um consórcio de investimentos privados, que originou uma

forte e independente empresa de semicondutores, chamada NXP Semicondutores,

que recebeu como herança 50 anos de experiência em inovação da Philips. Essa

venda foi um marco porque foi parte de seu programa de reestruturação para formar

uma empresa mais focada na proposta de cuidados com saúde, estilo de vida e

tecnologia, centrada na proposta de sense and simplicity.

Finalmente, em setembro de 2007, a Philips comunicou sua visão estratégica para

2010, plano que levou a empresa a aumentar sua lucratividade. Como parte dessa

visão, a estrutura organizacional tem sido simplificada desde janeiro de 2008,

constituindo-se por três setores: Cuidados com Saúde (Healthcare), Iluminação

(Lighting) e Estilo de Vida (Consumer Lifestyle). Esse passo criou o posicionamento

de uma empresa direcionada pelo mercado e centrada em pessoas, com uma

estratégia e estrutura que refletem totalmente as necessidades de sua base de

clientes. Com essa visão, a Philips espera dobrar seu EBITA (Earnings before

interest, taxes, depreciation and amortization) (Lucros antes de juros, impostos,

depreciação e amortização) por ação ate 2010, tendo como base o resultado de

2007.

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Ressalte-se que a empresa construiu uma das maiores e mais diversificadas

companhias do mundo, com vendas em 2008 de 26.385 bilhões de euros,

empregando uma força de trabalho formada por 118.000 colaboradores, com

fábricas em 28 países e presença de vendas em 150 países. A companhia mantém

até hoje sua matriz na Holanda.

3.3.2. Estrutura de negócios5

A Philips Global é uma empresa que adota um modelo matricial para sua estrutura

organizacional e, assim, replica esse modelo nos diversos países em que atua. A

ilustração abaixo retrata a estrutura aplicada no Brasil. A ilustração serve, entretanto,

para demonstrar onde está localizada a unidade de negócio responsável pela linha

de televisores LCD e de onde se originam as decisões estratégicas:

Figura 13 – Estrutura de negócios da Philips no Brasil

Fonte: Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil

5 Dados obtidos na Philips Eletroeletrônicos de Consumo do Brasil.

Philips do Brasil

Estilo de Vida do Consumidor

(Eletroeletrônicos de Consumo)

AplicaçõesDomésticas

Beleza

Cuidados Pessoais

Acessórios e Periféricos

Audio e Vídeo

Televisão

Cuidadoscom a Saúde

Cardiácos e CuidadosCríticos

Sistemas de Imagens

Cuidados no Lar

Informática

Iluminação

Lâmpadas

Reatores

Luminárias

Automotivas

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Baseando-se em dados reais do ano de 2008, a unidade Estilo de Vida do

Consumidor, também chamada de Philips Eletroeletrônicos de Consumo, foi

responsável por 65% do faturamento de todas as unidades no Brasil. Nessa

unidade, os aparelhos televisores representaram cerca de 55% de todo o seu

faturamento, sendo que 70% desse valor foi representado por televisores LCD.

De acordo com a representatividade dessa linha no faturamento da Philips, chega-se

a 25% do total das vendas em 2008. Para 2009, o orçamento, apesar de contar com

crescimento da unidade Cuidados com a Saúde, indica que o LCD passará a

representar 28% das vendas do Brasil e, de acordo com o planejamento estratégico

de 2010, com a parada de produção da linha de televisores de tubos, os televisores

LCD representarão cerca de 30% do faturamento total, que será motivado

principalmente por se tratar de ano de copa do mundo de futebol.

Essa importância do LCD em valor de vendas reflete também a necessidade de se

ter um negócio rentável para a companhia. Entretanto, essa linha de produtos não

vem apresentando margens brutas suficientes para cobrir as despesas, incorrendo

em um EBITA negativo, ou seja, não suficiente para assegurar a rentabilidade nesse

segmento.

Uma vez que a empresa entende como procedimento estratégico não divulgar dados

detalhados por país, para esse dado, no presente trabalho, será realizada somente

uma análise qualitativa, já que a maior relevância reside na informação de que a

empresa não apresenta EBITA suficiente. Para ilustrar essa situação, apresenta-se

abaixo dado obtido na empresa SNS Securities, responsável por realizar avaliações

de empresas holandesas. O gráfico demonstra a evolução do EBITA mundial da

Philips para seu negócio de televisores LCD:

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Gráfico 22 – Modelo de custos Philips LCD Mundial

Fonte: SNS Securities Research (2009)

Importante ressaltar que fatores como a força de moeda local diante do dólar

americano seguramente interferem em uma margem maior ou menor no país, mas,

segundo entrevistados, na Philips as margens atuais ainda estão abaixo do

esperado.

O último plano estratégico da companhia anunciado ao mercado em 2007

estabelece qual é a margem esperada para o segmento de televisores LCD, bem

como apresenta reestruturações e novas metas para cada unidade de negócio, que

definiram para o segmento de LCD EBITA de 5% ao final de 2010.

3.4. Entrevista e questionário

Conforme explicado anteriormente, as entrevistas e pesquisa neste trabalho

seguiram os padrões recomendados por renomados autores da área. Os

entrevistados eram profissionais conhecedores do tema de pesquisa e participaram

de alguma forma do momento decisório que levou ao processo de terceirização dos

painéis LCD pela Philips.

-200

-100

0

100

200

300

400

500

2007T1 2007T2 2007T3 2007T4 2008T1 2008T2 2008T3 2008T4 2009T1 2009T2 2009T3E 2009T4E

EU

R (

MM

)Modelo de Custo Philips LCD Mundial - Magens e Custos Fixos

EBITA Custos Fixos Margem (Vendas - Custos Variáveis)

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As perguntas foram elaboradas de modo que as respostas fossem dadas em escala,

variando de um a cinco, podendo algumas vezes significar menos ou mais, menor ou

maior. A intenção foi capturar a intensidade em que os entrevistados entendiam o

fator objeto da pergunta. É importante reforçar que na análise dos dados buscou-se

a média simples das respostas e a convergência dessas respostas por meio da

análise do desvio-padrão apresentado.

As perguntas do questionário foram realizadas com o intuito de capturar dados

relevantes das teorias TCE e RBV, pelos quais se pretende explicar se o processo

de terceirização de painéis vivenciado pela Philips impactou negativamente a sua

competitividade.

A seguir, apresentam-se os resultados quantitativos para as perguntas realizadas,

bem como se estão relacionados à teoria TCE ou RBV:

Tabela 10 – Resultado da pesquisa

Espera-se que esses resultados possam servir para enriquecer a empregabilidade

conjunta das duas teorias e sua aplicação na área de gestão de operações e assim

Teoria Atributo Pergunta MédiaDesvio-Padrão

RBV Raro 1 3,4 1,22RBV Valioso 2 4,5 0,71RBV Imitável 3 2,1 1,27RBV Capacidade 4 4,1 0,93TCE Especificidade do ativo 5 2,5 1,32TCE Especificidade do ativo 6 2,0 1,00TCE Oportunismo 7 4,1 0,60TCE Assimetria de Informação 8 2,8 1,20RBV Raro 9 3,1 1,17TCE Incertezas 10 3,6 0,86TCE Assimetria de Informação, Racionalidade Limitada 11 3,0 0,87TCE Assimetria de Informação, Informação Impactada 12 3,5 0,96TCE Capacidade de Medir Desempenho 13 3,9 0,99TCE Complexidade 14 4,0 0,76RBV Raro 15 3,4 0,99TCE Direcionamento Estratégico 16 4,4 0,48RBV Desempenho Superior 17 4,4 1,05RBV Desempenho Superior 18 4,1 0,60RBV Capacidade, Imitável 19 4,6 0,48RBV Capacidade, Imitável 20 4,4 1,32TCE Nível de relacionamento 21 3,4 1,11

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trazer mais uma evidência do enriquecimento da tomada de decisão quando

aplicadas ambas teorias.

3.4.1. Resultados dos fatores relativos à teoria RBV

Os resultados apresentados a seguir foram agrupados obedecendo à sequência

lógica de análise por atributo.

Valioso

Verificou-se a compreensão dos entrevistados para o atributo valioso, um dos pilares

da teoria RBV. Explicou-se que valioso era o que permitia à empresa explorar

oportunidades e conter ameaças no ambiente de negócio. As respostas convergiram

para o mesmo entendimento, com média de 4,5 e desvio-padrão de 0,71. Portanto,

há fortes indícios de que o painel LCD seja um recurso valioso para a Philips.

Raro

Em seguida, verificou-se a compreensão para o atributo raro, definido como o critério

que avalia o número de competidores que possuem um valioso recurso. Nesse

momento, também foram aplicadas mais duas questões de validação do

entendimento. As questões 1, 9 e 15, de uma forma geral, convergiram para o

entendimento de que o painel LCD seria um recurso raro, entretanto a convergência

das respostas, que é medida pelo desvio-padrão das respostas, não foi tão elevada.

O primeiro teste apresentou média de 3,4 e desvio-padrão de 1,22, mostrando que

os entrevistados entendiam a raridade do recurso, mas deixando claro que

divergiram quanto às fontes de obtenção de painel no mercado. Esse fato é

demonstrado no anexo 1.

O segundo teste aplicado para o atributo raridade verificou o atributo no momento da

tomada de decisão. Para essa avaliação, observa-se que a média baixa indica maior

raridade, sendo explicada por um número reduzido de fornecedores. Essa questão

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apresentou média de 3,1 e desvio-padrão de 1,17. O entendimento aqui é que havia

relativa raridade no momento da decisão de terceirização.

O terceiro teste fez menção à facilidade de se obter o recurso valioso e buscou

verificar se o nível de governança era necessário para a obtenção de painéis LCD.

Para esse fator, médias altas significam a necessidade de níveis intermediários de

governança, que de alguma forma indicam dificuldade de se obter o recurso. O

resultado obtido trouxe média de 3,4 e desvio-padrão de 0,99, indicando que não é

possível a compra de painel LCD em níveis de governança de mercado, mas

também não se tem a obrigatoriedade, por exemplo, de se estabelecer uma aliança

estratégica do tipo joint-venture. O entendimento final quanto à raridade do recurso é

o de que este é um recurso com relativa raridade.

Imitável

Quanto ao atributo imitável, explicado pela facilidade com que a concorrência tem de

copiar o valioso e caro recurso, esse foi testado por meio das questões 3, 19 e 20. A

questão de número 3 apresentou média de 2,1, indicando que o recurso é difícil de

ser imitado, entretanto a convergência das respostas apresentou desvio-padrão de

1,27, ou seja, houve alguma divergência nas respostas.

A questão 19 verificou se a empresa entende até que ponto seria difícil para ela

replicar a capacidade superior de outra organização. O resultado apresentou média

de 4,6 e desvio-padrão de 0,48, ou seja, há forte evidência de que, para a

companhia, é muito difícil imitar um recurso valioso e caro. Houve grande

convergência desse entendimento, o que reforça ainda mais o resultado obtido.

A questão 20, por sua vez, apresentou o último teste para o atributo imitável,

verificando o tempo necessário para se replicar o desempenho superior de um

concorrente. Com média de 4,4 e desvio-padrão de 1,32 entende-se que o feito

levaria mais de dois anos, tempo que exprime a dificuldade de se imitar dado

recurso, mas novamente houve relativa divergência no resultado.

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Capacidade

Um quarto atributo da RBV foi testado na questão número 4, o atributo capacidade,

que consiste em verificar se a empresa estaria organizada para explorar a série de

elementos que a habilitariam a produzir de forma eficiente o recurso raro, valioso e

difícil de imitar. Essa questão apresentou média de 4,1 e desvio-padrão de 0,93 e

procurou verificar se a empresa possuía estrutura na forma de conhecimento e não

na forma de ativos. Entendeu-se que a empresa apresentaria conhecimento

necessário caso optasse por produzir internamente o painel LCD.

A questão 19 também foi usada para testar o entendimento para o atributo

capacidade, buscando capturar a dificuldade em se imitar a capacidade superior do

concorrente. Nas respostas, ficou claro que, apesar de a empresa entender que tem

conhecimento para executar dada atividade (questão 4), copiar a capacidade

superior seria muito difícil. Destaque-se que todas as respostas convergiram para

esse entendimento.

Assim como na questão 19, a questão 20 também testou o atributo capacidade e a

conclusão fica alinhada com a anterior: a empresa entende ser longo o período para

atingir a capacidade superior do concorrente. Em suma, os entrevistados entendem

que a companhia possui capacidade, mas por outro lado entendem que esta seria

difícil de ser copiada e a empresa precisaria de um tempo razoável para atingir o

desempenho superior.

Desempenho superior no recurso

Outro ponto testado da RBV é o entendimento dos entrevistados quanto à

necessidade de se atingir desempenho superior para o recurso painel e quão

importante é esse fator.

Em primeiro lugar, foi confirmada, por meio da questão 17, a relevância em termos

de custo do recurso painel LCD. Com média de 4,4 e desvio-padrão de 1,05, as

respostas demonstraram ser alta a importância do recurso, havendo convergência

de opiniões. Esse ponto corrobora para a importância deste trabalho.

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Em segundo lugar, tentou-se verificar a relação entre atingir desempenho superior

na obtenção do painel LCD com a criação de vantagem competitiva sustentável. O

resultado é apresentado nas respostas para a questão 18, que indicam, com média

de 4,1 e desvio-padrão de 0,60, que atingir performance superior no suprimento de

painéis LCD habilita a empresa a atingir vantagem competitiva sustentável.

Em suma, o que se encontrou na avaliação dos fatores relacionados à teoria RBV foi

que os entrevistados entendem o recurso painel LCD como valioso, relativamente

raro e difícil de ser imitado. Além disso, compreendem que, mesmo que a empresa

acredite ter conhecimento para tanto, ela precisaria de um prazo de médio para

longo para conseguir atingir paridade competitiva. Observe-se que desempenho

superior significa vantagem competitiva sustentável.

3.4.2. Resultados dos fatores relativos à teoria TCE

A seguir, apresentam-se os resultados do questionário quanto aos atributos da teoria

TCE. Devido à forte relação entre os fatores, eles foram testados separadamente e

também em conjunto em diversas questões.

Especificidade

Para esse atributo, foram elaboradas perguntas no intuito de se compreender a

intensidade da especificidade do ativo e do investimento em questão. Com média de

2,5 e desvio-padrão de 1,32, as respostas para a questão 5 demonstraram que o

produto tende a ser entendido mais como padronizado que como customizado. Isso

leva ao entendimento de que o ativo não é altamente específico.

Quanto à especificidade do investimento feito pelo fornecedor, as respostas para a

questão 6 apresentaram média de 2 a desvio-padrão de 1: os entrevistados

entenderam que o investimento é quase padronizado, principalmente porque o

fornecedor de painéis é também um consumidor do próprio produto, uma vez que

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produz televisores LCD. Essa situação é bem compreendida pelos entrevistados,

indicando boa convergência das respostas.

Em suma, as respostas conseguiram capturar a especificidade do produto e do

investimento feito para a sua produção. Dado que existem duas empresas dividindo

os custos da mesma plataforma de produto, essa especificidade tende a ser

entendida como reduzida. Vale retomar uma característica técnica do produto

televisor LCD, que diz que todo projeto é feito para se acoplar à tela LCD e esse é

um fato que impede as empresas de buscarem governança de mercado para

adquirirem o produto. Esse cenário contrapõe-se às respostas quando analisado em

um contexto global, indicando que, se houver escassez de suprimentos, o cliente

não consegue painéis para atender à sua demanda.

Assimetria de informação

A assimetria de informação é um fator de extrema importância na teoria TCE, visto

que possibilita que uma das partes atue de forma oportunista contra a outra e

aumente os custos de transação. Esse atributo foi medido em diversas questões e

será discutido por meio das questões 8, 11 e 12.

A questão 8 buscou verificar se os entrevistados acreditavam que informações

importantes eram divididas entre as partes da transação. Observou-se uma média

baixa, indicando que poucas informações relevantes são divididas. O resultado

médio encontrado foi de 2,8 com desvio-padrão de 1,2. Esse dado deve ser

analisado com cuidado, uma vez que não são todos os entrevistados que possuem

contato direto com o fornecedor. Dessa forma, a baixa convergência das respostas é

explicada.

A questão 11 foi a segunda forma de se medir assimetria de informação. Ela buscou

identificar se o fornecedor de painéis LCD oferecia toda a segurança exigida pela

Philips no processo de terceirização. As respostas apontaram para um “meio termo”,

com média exata de 3 e desvio-padrão de 0,87, indicando alta convergência.

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Importante ressaltar que na questão 11 os entrevistados entendem que nem todos

os fatores capazes de gerar fortes salva-guardas para a Philips foram abordados no

contrato, mas isso se deve em partes ao fator racionalidade limitada, explicado pela

limitação cognitiva da mente humana de considerar todos os fatores preponderantes

para elaboração de um contrato.

A questão 12 também abordou fatores de assimetria de informação quanto à

possibilidade de se ter regras claras de desempenho esperado. O resultado obtido

trouxe a média de 3,5 e desvio-padrão de 0,96, indicando que é possível estabelecer

regras claras para o desempenho esperado e também que essa é a percepção da

maioria dos entrevistados.

Ressalte-se que a questão 12 não está diretamente ligada à questão 11: a questão

12 indica que existem as regras e a questão 11 trata de garantias para o comprador,

ou seja, caso esses parâmetros não sejam atingidos, existem salva-guardas para

serem executadas e proteger o comprador.

Complexidade

A questão 14 trata da complexidade de se estabelecer um contrato que claramente

especifique os padrões de desempenho requeridos e as regras necessárias para se

efetivar a transação. O resultado indicou, com média de 4 e desvio-padrão de 0,76,

que os entrevistados entendem ser ou ter sido altamente possível especificar

padrões e as regras de jogo para a transação.

Incertezas

Outro atributo importante da TCE é o fator de incerteza encontrado no ambiente em

que a transação ocorre. Nesse sentido, a questão 10 buscou identificar a dificuldade

compreendida para se prever a demanda pelo recurso painel LCD. Esse fator é

importante porque ambientes de forte incerteza podem sugerir que uma das partes

atue de forma oportunista e, como já dito, aumente os custos da transação. Essa

questão apresentou média de 3,6 e desvio-padrão de 0,86, indicando o

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entendimento de que incertezas existem em um nível de razoável para alto e que

houve convergência das respostas.

Oportunismo

No intuito de se comprovar a tendência de todas as respostas anteriores a respeito

dos atributos da TCE, elaborou-se uma questão direta para se verificar o quanto os

entrevistados entendem que o ambiente e a forma de transação para obtenção de

painéis LCD possibilitariam ao fornecedor atuar de forma oportunista. A questão 7

apresentou média de 4 e desvio-padrão de 0,6, indicando que o ambiente e as

bases são altamente favoráveis.

Direcionamento Estratégico

A questão 16 buscou compreender se a redução de custo ou a redução da

exposição (redução de risco) levaram a empresa a terceirizar a produção do painel

LCD. A resposta obtida para essa pergunta apresentou a segunda maior média com

4,4 e a maior convergência, com desvio-padrão de 0,48, deixando clara a estratégia

da empresa em reduzir seu risco ao dispor dos ativos necessários para a produção

do LCD. Nas respostas para essa questão, também se observa que a empresa não

esperava reduzir seus custos variáveis, mas sim seu custo fixo, ao se desfazer de

ativos de produção de LCD.

Capacidade de se medir desempenho

A questão 13 buscou entender o quanto é possível medir o desempenho do

fornecedor de painel LCD. O resultado apresentou média de 3,9 e desvio-padrão de

0,99, indicando a forte compreensão de que se pode medir desempenho. Houve boa

convergência nas respostas.

Relacionamento

Por fim, mediu-se o nível de relacionamento entre as partes, em uma tentativa de

entender, caso houvesse clareza do ambiente desfavorável, se as empresas estão

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buscando atuar de forma colaborativa, procurando diminuir os custos da transação.

A questão 21 apresentou média de 3,4 e desvio-padrão de 1,1, destacando-se que a

média 5 resultaria em um ambiente perfeitamente colaborativo. O resultado indica

que existe certo nível de colaboração na busca de solução de problemas, entretanto

não houve convergência nas respostas, o que demonstra que esse entendimento

depende da proximidade entre entrevistado e fornecedor.

Em resumo, os resultados indicam que existe considerável assimetria de informação,

incertezas, racionalidade limitada, informação impactada e forte potencial de

oportunismo onde, por mais que os entrevistados entendam que não seja complexo

especificar em contrato padrões de fornecimento requeridos, sem dúvida nenhuma

alguns fatores essenciais ao fornecimento podem por não ser devidamente

especificados.

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Conclusão

A conclusão deste trabalho estrutura-se da seguinte forma: em primeiro lugar,

demonstra-se como a empresa Philips está posicionada no mercado e qual o seu

grau de competitividade. Em segundo lugar, busca-se estabelecer as razões pelas

quais a companhia optou pela terceirização como parte de sua estrutura. Em terceiro

lugar, considerando-se o ativo/recurso painel LCD, procura-se estabelecer, à luz das

teorias TCE e RBV, qual o melhor posicionamento estratégico para definir uma

estrutura produtiva que assegure maior competitividade para a Philips.

Competitividade

Conclui-se que a Philips Eletroeletrônicos de Consumo perdeu competitividade

relativa diante dos seus três principais concorrentes, já que saiu da primeira posição

do mercado brasileiro em 2006 para a quarta posição em 2009, tanto no que se

refere ao volume quanto ao valor de vendas. Quanto à competitividade potencial,

como a empresa entende ser importante não divulgar dado detalhado por produto e

por país, a conclusão aqui se limita à análise qualitativa e aos dados obtidos pela

SNS Securities Research (2009), em que, dado o valor de EBITA e a margem bruta

obtida nos últimos anos pela companhia, observa-se que ela não é capaz de

apresentar competitividade potencial. Vale mencionar que esse cenário tampouco

entrega algum valor ao acionista. Em outras palavras, a Philips vem apresentando

déficit de competitividade, resultando em perda de mercado e EBITA negativo.

Terceirização

Com a ajuda do questionário aplicado, especificamente da questão 16, e da

evidência obtida por meio da SNS Securities Research (2009), confirma-se que a

Philips buscou uma estratégia de proteção a riscos ao terceirizar sua operação de

produção de LCD. Esse fato é confirmado também na estratégia de reduzir a zero

sua participação na associada LGD.

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Ao tratarem das razões para se terceirizar, Chase, Aquilano e Jacobs (2006)

identificam aquelas diretamente ligadas ao posicionamento estratégico da empresa.

Entre as razões financeiras, destacam-se duas: a de reduzir o investimento em

ativos e liberar esses recursos para outras finalidades e a de gerar caixa

transferindo-se o ativo para o provedor. Tais razões não explicam os impactos

positivos ou negativos para a empresa, os quais só serão explicados à luz das

teorias TCE e RBV.

Segundo os autores Pearce e Robinson (2009) algumas das desvantagens de se

terceirizar podem ser encontradas no modelo de adotado pela Philips, sendo essas:

provável perda de conhecimentos importantes sobre produtos e serviços e

dificuldade para se criar e gerenciar contratos legais. Ao se analisar e comparar as

figuras 11 e 12, concluí-se que a Philips não fez uso de um modelo de negócio que

lhe garantisse minimizar as desvantagens expostas pelos dois autores. Entretanto, a

Sony buscou construir um modelo com a Samsung que lhe permitiu maior

participação e controle dos processos produtivos, isso se verifica pela participação

de 50% da fabricação de LCDs.

Desse modo, o modelo de terceirização da Sony sugere também maior controle

sobre fatores ligados a gestão de contratos uma vez que, existindo alta participação

da empresa no processo produtivo de seu fornecedor, será possível obter maior

transparência de fatores essenciais ao fornecimento. Nesse cenário é possível se

obter maior efetividade para transações de nível de governança intermediário, como

visto entre a Sony e a Samsung.

A teoria TCE

A teoria TCE assinala que o nível potencial de oportunismo é o principal fator

gerador de custo na transação. Fatores como especificidade do ativo, incertezas e

frequência são capazes de aumentar o potencial de oportunismo e gerar um

ambiente desfavorável para um dos lados da transação. Racionalidade limitada,

número reduzido de negociações e informação impactada também são fatores que

impactam a transação e aumentam custos.

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Nesse contexto, o questionário aplicado buscou avaliar o ambiente no qual a Philips

atua e, com base na análise realizada, observar se tais fatores, que são capazes de

aumentar os custos de transação, estão presentes na relação da Philips com o seu

fornecedor de painéis LCD, aumentando os custos finais e impactando a

rentabilidade.

O resultado final indicou que há considerável assimetria de informação, incertezas,

racionalidade limitada, informação impactada e potencial de oportunismo na

transação estudada. Diante desse quadro, conclui-se que o ambiente transacional

em que a Philips está inserida para obtenção do ativo de alta representatividade no

produto final leva a um aumento de custo da transação e é potencial fonte de

impacto para a sua competitividade relativa ou potencial.

Para esse tipo de situação, provavelmente a empresa estaria obtendo menores

custos se buscasse outro nível de governança, tendo como exemplos a LG e a

Samsung, que, por meio de governança hierárquica, disputam a primeira posição do

mercado. Vale destacar também a posição da Sony, que, para garantir controle

sobre a exploração de painéis, mantém 50% de participação na produção junto com

a concorrente Samsung.

A RBV

No questionário aplicado aos entrevistados, buscou-se aplicar a estrutura VRIO,

exposta pela teoria RBV. Os resultados obtidos indicam que o recurso painel LCD é

valioso, relativamente caro e difícil de ser imitado e que, mesmo que a Philips

apresente conhecimento para tanto, é necessário um prazo médio para longo para o

alcance da paridade competitiva.

No intuito de explicar melhor a posição da Philips, as tabelas 2 e 3, retomadas a

seguir, demonstram quais seriam as implicações competitivas para a empresa se ela

detivesse o controle da produção. De acordo com os resultados obtidos no

questionário aplicado, a posição da empresa é a última da tabela (vantagem

competitiva sustentável):

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Tabela 2 – Estrutura VRIO

Fonte: Barney (2007, p.150)

Tabela 3 – Estrutura VRIO e forças e fraquezas organizacionais

Fonte: Barney (2007, p.151)

A Philips não consegue explorar todas as vantagens do recurso e, por isso, não está

nem em situação de paridade competitiva. Em outras palavras, ela não apresenta

vantagem competitiva, situando-se em uma posição inferior a de seus concorrentes

diretos.

Desse modo, dadas as características do recurso e as diferentes capacidades das

empresas envolvidas no contexto, existem fortes indicativos de que a Philips tenha

sua competitividade impactada pela forma como sua cadeia de valor está

estruturada. A baixa verticalização oferece impacto não somente na produção, mas

também no controle de parte da sua cadeia de valor, conforme citado pelo site

iSuppli (2007).

Em síntese, com base em McIvor (2008), que defende a possibilidade de relacionar

as teorias TCE e RBV, pode-se afirmar que:

• o recurso painel LCD apresenta um posicionamento superior, dada a raridade,

o valor e o grau de imitação entendido pelos entrevistados;

• como ativo, o recurso apresenta alto potencial de oportunismo;

Valioso? Raro? Caro de imitar?Explorado pela organização?

Implicaçõescompetitivas

Não ---- ---- ---- Desvantagem competitiva

Sim Não ---- ---- Paridade competitiva

Sim Sim Não ---- Vantagem competitiva temporária

Sim Sim Sim Sim Vantagem competitiva sustentável

Valioso? Raro? Caro de imitar?Explorado pela organização?

Força oufraqueza

Não ---- ---- ---- Fraqueza

Sim Não ---- ---- Força

Sim Sim Não ---- Força e competência distinta

Sim Sim Sim SimForça e competênciadistinta sustentável

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• associando-se as duas teorias, tem-se a situação a seguir, que sugere que a

atividade seja desempenhada pela empresa:

Figura 5 – Cenários contraditórios e complementares da TCE e RBV.

Fonte: Mclvor (2008, p. 61)

Neste trabalho, buscou-se verificar a relação entre processo de terceirização e

competitividade, considerando-se o caso Philips. Na pesquisa, procurou-se analisar

uma dada situação e compreender os fatores que levaram a companhia a

apresentar baixa competitividade diante de seus concorrentes diretos no processo

de terceirização do recurso painel LCD.

Ao se estudar a composição das cadeias produtivas da empresa, bem como da

cadeia produtiva de seu fornecedor, observou-se que, mesmo se houvesse um

acordo que obrigasse este último a prover painéis ao mesmo custo obtido pela

produtora, dado o nível de verticalização, o fornecedor ainda assim poderia gerar

riqueza, ou lucro, em outros elos da cadeia de valor. Por exemplo, por mais que o

contrato deixasse claro que o fornecedor teria de transferir painéis LCD ao mesmo

custo que o recurso chega para si próprio, o potencial de oportunismo, associado ao

fornecimento dos outros componentes da cadeia de valor, possibilitaria que ele

auferisse lucro no fornecimento de outros componentes.

Contraditório

RBV – desempenhadainternamente (S1a)

TCE – terceirizada (S1b)

Complementar

RBV & TCE desempenhadainternamente (S3)

Contraditório

RBV – terceirizada (S2a)TCE - desempenhadainternamente (S1a)

Complementar

RBV & TCE desempenhadainternamente (S4)

Posicionamentodo Recurso

Potencial para OportunismoBaixo Alto

Superior

Inferior

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Nesse contexto, nada impede que a Philips audite e se certifique de que os custos

dos outros componentes são compatíveis a custos de mercado. Mas, segundo a

teoria dos custos de transação, todos esses cuidados levariam a um custo mais alto

de transação.

Por fim, dados os resultados alcançados com a aplicação das teorias TCE e RBV,

concluí-se que esses se complementam e fortalecem a conclusão de que o recurso

deve ser mantido dentro das fronteiras da empresa. Essa complementaridade teórica

pode ser observada quando detalhadas no capítulo referencial teórico, onde pode-se

notar também o tipo de abordagem de cada uma das teorias para se analisar o

mesmo recurso. A abordagem TCE tem como base um viés econômico e sugere em

processos de terceirização análises de curto e médio prazo, enquanto que, a

abordagem da RBV, ao possuir um viés estratégico, acaba por sugerir análises mais

de longo prazo, preocupando-se então, com seu posicionamento competitivo futuro.

Esse aspecto temporal, se aplicado ao modelo de análise de McIvor de cenários

contraditórios e complementares da TCE e RBV poderá resultar num cenário

contraditório e assim, exigir que a empresa opte por um dos diferentes caminhos

propostos por cada uma das teorias.

Sugestão para trabalhos futuros.

A elaboração deste trabalho possibilitou entender que a terceirização de atividades

deve ser explorada além do foco em custos. Foi possível também entender que

fatores como racionalidade limitada levam a leituras equivocadas das decisões

estratégicas de o que se deve terceirizar. Nesse sentido, a teoria TCE fornece fortes

argumentos, eficazes para direcionar a tomada de decisão. Entretanto, em cadeias

de valor altamente verticalizadas, o potencial de oportunismo aumenta nos elos não

controlados da cadeia e o custo de transação aumenta ainda mais se houver a

necessidade de controle. Dessa forma, torna-se relevante em trabalhos futuros

aplicar a teoria para a cadeia toda, associando o resultado à competitividade relativa

do fornecedor.

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Ao analisar de forma integral a cadeia de valor nos processos de terceirização,

sugere-se também que em estudos futuros sejam verificadas como diferentes

oportunidades de parceria e seus efeitos podem mitigar potencial de oportunismo na

transferência de recursos raros, bem como os demais fatores ligados a teoria TCE e

a RBV. Diferentes oportunidades de parceria, no caso da Philips, poderiam significar

maior participação em outros elos da cadeia produtiva, resultando em maior

transparência dos custos de transferência de insumos produtivos.

Além disso, torna-se importante investigar se a perda de competitividade tem

correlação com o fato de uma companhia ter como fornecedor uma empresa que

também é seu concorrente.

Por fim, como forma de aumentar a aplicabilidade conjunta das teorias TCE e RBV

para a área de gestão de operações, é imprescindível o estudo de mais casos,

correlacionando as duas teorias, principalmente para se entender qual o caminho a

ser seguido quando há divergência entre elas.

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Anexos

Anexo 1. Fornecedores de tela LCD para televisores

Fonte: WitsView (2009a)

Tamanho Formato Resolução Hitachi BOE Hydis LG Philips Samsung AUO CMO CPT HannStar Sharp

14" VGA 640X480 - - - - - - - - -

15" VGA 640 x 480 - - - - - - - - -

15" XGA 1024X768 - - - - - - - -

17" WXGA 1280X768 - - - - - - - -

17" WXGA 1366x768 - - - - - - - -

17" 1440X900 - - - - - - - -

19" 1440X900 - - - - - - -

19" 1280x1024 - - - - - - - -

20" WXGA 1366x768 - - - - - - - - -

20.1" VGA 640X480 - - - - - - - - -

20.1" XGA 1024X768 - - - - - - - - -

20.1" WXGA 1366 x 768 - - - - - - - - -

22" 1680X1050 - - - - - - - -

22" 1366 x 768 - - - - - - - -

23" WXGA 1280X720 - - - - - - - - -

23" WXGA 1280X768 - - - - - - - - -

23" WXGA 1366X768 - - - - - - - - -

26" WXGA 1280X768 - - - - - - - - -

26" WXGA 1366X768 - - - -

32" WXGA 1366X768 - - -

32" FHD 1920X1080 - - - - - - - -

37" FHD 1920X1080 - - - - -

37" WXGA 1366X768 - - - - -

40" WXGA 1366X768 - - - - - - - -

40" FHD 1920x1080 - - - - - - -

42" WXGA 1366X768 - - - - - - - -

42" FHD 1920X1080 - - - - - - -

46" WXGA 1366X768 - - - - - - - -

46" FHD 1920X1080 - - - - - - -

47" WXGA 1366X768 - - - - - - - -

47" FHD 1920X1080 - - - - - - -

47" 2560x1440 - - - - - - - -

52" FHD 1920X1080 - - - - -

54.6'' FHD 1920X1080 - - - - - - - -

55" FHD 1920X1080 - - - - - - - - -

56" QFHD 3840x2160 - - - - - - - -

57" FHD 1920X1080 - - - - - - - - -

65" FHD 1920X1080 - - - - - - -

70" FHD - - - - - - - -

LCD TV Fornecedores

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Anexo 2. Localização dos Fabricantes de LCD

País Empresa

China Shanghai SVA-NEC Liquid Crystal Display Co. LTD

China InfoVision Optoelectronics

China BOE Technology Group Co., Ltd

Japan IPS Alpha Technology, Ltd.

Japan Hitachi Display Ltd.

Japan NEC LCD Technologies Ltd.

Japan SHARP Corporation.

Japan Toshiba Matsushita Display Technology Co., Ltd.

Japan Epson Imaging Device Co., Ltd.

Korea LG Display

Korea Samsung Electronics

Korea BOE Hydis Technology Co., Ltd.

Taiwan AU Optronics Corp.

Taiwan Chi Mei Optoelectronics.

Taiwan Chunghwa Picture Tubes LTD.

Taiwan HannStar Display Corporation.

Taiwan InnoLux Display Corporation.

Fonte: Fonte: WitsView (2009b)

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Anexo 3. Questionário

As questões abaixo estão relacionadas à terceirização da produção de painéis LCD

da Philips Eletroeletrônicos, fornecidos pela LG Displays. Entenda recurso como

painel LCD e fornecedor como LG Displays.

1. Quão raro é o recurso? O critério raridade está relacionado com o número de concorrentes que

possuem o mesmo valioso recurso.

Pouco Muito

1 2 3 4 5

2. Quão valioso é o recurso? O critério valioso está relacionado com a capacidade de o recurso

permitir à organização explorar oportunidades e evitar ameaças no ambiente de negócio.

Pouco Muito

1 2 3 4 5

3. Quão imitável é o recurso? O critério imitável está relacionado a facilidade com que um concorrente

tem de reproduzir o recurso raro e valioso da organização.

Pouco Muito

1 2 3 4 5

4. Se o recurso fosse produzido internamente, quão organizada estaria a Philips para explorá-lo? O

critério organizado inclui a série de elementos que habilitam a empresa a desempenhar a atividade

melhor que seu concorrente. Alguns elementos são o conhecimento, as pessoas, a estrutura de

coordenação, os sistemas de controle e gerenciamento etc.

Pouco Muito

1 2 3 4 5

5. Quão específico é o produto? O critério específico relaciona-se com o quanto o recurso é

padronizado e quanto é customizado.

Altamente padronizado Altamente customizado

1 2 3 4 5

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6. Com o propósito de executar a atividade de produção de LCDs, quão necessário foi para o

fornecedor investir em equipamentos altamente específicos para atender às necessidades da Philips?

Altamente padronizado Altamente customizado

1 2 3 4 5

7. Com relação à transação entre a Philips e o fornecedor, quão oportuna é para o fornecedor a

capacidade de atuar em seu próprio favor?

Pouco Muito

1 2 3 4 5

8. Com relação à assimetria de informação na transação, em que medida a Philips divide informação

relevante com o fornecedor, evitando que este possa agir de modo oportunista?

Pouco Muito

1 2 3 4 5

9. Antes de a Philips considerar a terceirização, quantos eram os fornecedores que reuniam

condições de fornecer os recursos?

1 2 3 4 mais de 5

10. Qual a possibilidade de se prever a demanda atual e futura do recurso?

Realmente impossível Realmente possível

1 2 3 4 5

11. Você entende que o atual acordo entre a Philips e seu fornecedor foi perfeitamente redigido, de

forma a apresentar as salva-guardas necessárias ao comprador em situações de alta variação da

demanda?

Não contempla tudo Perfeitamente redigido

1 2 3 4 5

12. Até que ponto você entende ser possível estabelecer regras claras e procedimentos que habilitam

o fornecedor a gerenciar e entregar o recurso para atender às necessidades do cliente/comprador?

Pouco Muito

1 2 3 4 5

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13. Até que ponto você entende ser possível estabelecer claros níveis de desempenho exigido do

fornecedor? Por exemplo, em termos de quantidade, qualidade e tempos de resposta?

Pouco Muito

1 2 3 4 5

14. Até que ponto você entende ser possível negociar um contrato que claramente especifica padrões

de desempenho necessários e meios de avaliação?

Pouco Muito

1 2 3 4 5

15. No que se refere ao nível de governança da transação, quão fácil é obter esse recurso no

mercado?

Governança de mercado = Fácil de comprar

Governança intermediária = Aliança estratégica (joint-venture)

Fácil de comprar Aliança estratégica

1 2 3 4 5

16. Com relação à decisão da Philips de terceirizar a produção de painéis, qual a razão da empresa

para buscar essa solução?

Redução de custo Redução de risco

1 2 3 4 5

17. Quão significativo é o custo do painel LCD sobre os custos totais e sobre as vendas do televisor

LCD?

Pouco Muito

1 2 3 4 5

18. Até que ponto atingir superioridade no suprimento de painéis habilitaria a Philips a atingir

vantagem competitiva na indústria?

Não habilita (Paridade competitiva) Habilita (Vantagem competitiva)

1 2 3 4 5

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19. Com relação à produção de painéis, até que ponto seria difícil para a Philips reproduzir a

capacidade superior de outra organização produtora de painéis LCD?

Fácil Difícil

1 2 3 4 5

20. Quanto tempo levaria para se copiar o nível de desempenho superior do líder da indústria de

painel LCD?

Menos de dois anos Mais que dois anos

1 2 3 4 5

21. Até que ponto o relacionamento entre a Philips e o seu fornecedor de painel LCD apresenta

mecanismos de colaboração, tais como solução conjunta de problemas, confiança, divisão de

informações relevantes, comunicação frequente etc.?

Não colaborativo Colaborativo

1 2 3 4 5

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