Rocha Paula Importancia Da Formacao Do Jornalista

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  • A importncia da formao do profissional jornalistae sua relao com o meio ambiente social no sculo

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    Paula Melani Rocha

    ndice1 Introduo 22 A evoluo da comunicao e sua re-

    lao com o receptor 33 Profisso X Ocupao 44 O processo de profissionalizao do

    jornalismo brasileiro 55 Concluso 96 Referncias Bibliogrficas 10

    ResumoEste artigo analisa a importncia da forma-o do profissional que trabalha na mdia,mais especificamente com o contedo dainformao, o jornalismo, neste sculo. Eletem como objetivo discutir o meio ambientepara o qual esse novo profissional dirigea informao focando a questo global eregional. Entende-se como meio ambienteo pblico receptor, no caso o brasileiro. Ametodologia adotada a pesquisa biblio-grfica. O referencial terico divide-se em

    Professora e coordenadora do curso de Jorna-lismo da UniCOC. Mestre e Doutora em Sociolo-gia das Profisses pela UFSCAR. Ps-graduao emJornalismo Harvard/EUA. Formada em Jornalismopela Casper Lbero e em Cincias Sociais pela USP.Endereo eletrnico: [email protected].

    dois campos: teorias do jornalismo comos autores Jos Marques de Melo, AdelmoGenro Filho e Nelson Traquina, e em soci-ologia, focando Dominique Wolton e EliotFreidson. O estudo no aponta respostas esim uma reflexo sobre a necessidade deformar um profissional consciente com essanova realidade.

    Palavras-chave: mdia, jornalismo, meioambiente, Brasil.

    AbstractThis article analyses the importance ofthe media worker, more specifically withinformation content, in this century. Theobjective is to discuss the environmentwhere this new professional directs theinformation focusing global and regionalquestions. It is understood as environmentthe public, in this case the Brazilians. Themethod adopted is bibliographic research.The theory referential was divided in twofields: in journalism theory with the authorsJos Marques de Melo, Adelmo Genro Filhoand Nelson Traquina, and in sociology withDominique Wolton and Eliot Freidson. Thestudy does not bring answers but reflections

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    about the need to prepare workers for thisnew reality.

    Key-words: media, journalism, social en-vironment, Brazil.

    1 IntroduoDentro da temtica Tecnologia e transforma-o, em especial a formao e responsabili-dade do comunicador na construo de no-vos ambientes digitais, este artigo procuracontribuir com a reflexo referente atua-o do profissional jornalista brasileiro nestecontexto e sua relao com o meio ambiente.Entende-se por meio ambiente uma definiomais ampla que se enquadra no conceito m-dia ecologia descrito no prprio site MediaEcology Association1, a qual inclui o pblicoreceptor e os efeitos da mdia na percepohumana, nos seus valores e sentimentos e,diz respeito, tambm como a interao coma mdia, facilita ou impede a sobrevivnciada sociedade.

    A mdia exerce um importante papel so-cial, principalmente em um pas com as ca-ractersticas scio-econmicas do Brasil, asquais refletem no seu povo. um pas comaproximadamente 186 milhes de habitan-tes2, uma extenso territorial de 8.511.965km2, abrigando uma diversidade cultural euma populao marcada pela baixa quali-dade de escolaridade. Segundo dados daUNESO (Organizao das Naes Unidaspara a Educao, a Cincia e a Cultura), re-ferentes aos anos de 2001 e 2002, o Brasil

    1http://www.media-ecology.org/, acessado em 22de dezembro de 2006.

    2 Estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Ge-ografia e estatstica), referente ao ano de 2006.

    ocupa a 72a posio no ranking de 127 pa-ses do ndice de Desenvolvimento de Edu-cao e Qualidade e se considerar a taxa depermanncia de estudantes at a 5a srie doensino fundamental, ele cai para a 87a posi-o. No ndice geral, o Brasil est atrs de vi-zinhos latino-americanos, como a Argentina(23o), Cuba (30o) e Chile (38o). No aspectodesigualdade social, o cenrio tambm no otimista, como mostra a pesquisa feita porHuman Development Report (HDR) Orga-nizao das Naes Unidas (ONU), de 2004.Nela o Brasil apresenta ndice de Gini pr-ximo a 0,6 que indica uma desigualdade bru-tal e rara, pois poucos pases apresentam n-dice de Gini superior a 0,5. Dos 127 pasespresentes no relatrio, o Brasil apresenta o 8o

    pior ndice de desigualdade do mundo, supe-rando todos os pases da Amrica do Sul eficando apenas frente de sete pases africa-nos. (MAIA, 2006) Alm disso, o Brasil um pas heterogneo, a regio sul difere danorte, nordeste e sudeste. H diferenas cul-turais, econmicas e sociais. No se podediscutir comunicao sem considerar as pe-culiaridades dos comunicadores e de seu p-blico receptor. As questes so: como secomunicar de forma global com um pblicodiversificado? E como se deve trabalhar ocontedo jornalstico nas novas mdias digi-tais? Para Wolton (2006) a globalizao dacomunicao permitiu o fim da distncia f-sica, porm revelou a extenso das distnciasculturais. Ambas as questes apontadas pos-suem um ponto de congruncia, o comunica-dor e sua atuao.

    O poder de influncia da mdia aumen-tou com a globalizao da informao e con-seqentemente a expanso de novos vecu-los de comunicao e suas convergncias.No perodo entre o final do sculo passado

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    e incio deste sculo, o domnio da tecnolo-gia possibilitou, mesmo aos pases em desen-volvimento, romperem-se os limites de dis-tncia e tempo, deixando no seu rastro be-nefcios, mas tambm constrangimentos nastransformaes sociais. Hoje a informaoest mais democratizada graas internetque nos possibilita ler, ouvir ou mesmo assis-tir um noticirio produzido no outro lado domundo. O monoplio da informao perdeparte do seu poder. O ambiente digital fas-cina os usurios, mas ele no apenas ummeio de entretenimento e, sim, mais um ins-trumento de informao e transmisso de co-nhecimento.

    Em 2006 o Governo brasileiro determinouo programa de instalao da TV digital nopas. A preocupao da academia, em es-pecial dos tericos da comunicao, maiscom o contedo que ser veiculado e comatuao dos profissionais do que com a tec-nologia empregada, mesmo porque, essa jfoi determinada pelo Governo. Para enten-der melhor a importncia do profissional jor-nalista no ambiente digital e sua relao como meio ambiente vivel repassar o conceitode comunicao e o papel do jornalista nasociedade.

    2 A evoluo da comunicao esua relao com o receptor

    A comunicao existe desde que os homensvivem em sociedade. No entanto, sua con-cepo mudou aps a revoluo industrial,com o crescimento urbano, o xodo rural ea fragmentao das estruturas sociais tradici-onais. Outro grande marco de sua mudanafoi aps as duas Grandes Guerras Mundiais,pois o seu desenvolvimento est intrinseca-

    mente relacionado sociedade democrticacom sua mobilidade social, liberdade de opi-nio, igualdade dos sujeitos, direito de ex-presso e pluralismo poltico. Assim, pode-se afirmar que a comunicao fruto de ummovimento social, cultural e poltico. Comu-nicar deixou de ser apenas informar e passoua significar tambm troca. Enquanto infor-mar produzir e transmitir mensagens, a co-municao implica um processo de apropri-ao, de relao entre emissor, mensagem ereceptor. Comunicar no um processo sim-ples, ele envolve a complexidade do receptor. estar atento ao receptor, s condies queele recebe, aceita ou recusa a mensagem. Nacomunicao o receptor ativo e livre.

    Da imprensa internet, foram aproxima-damente cinco sculos de histria, envol-vendo transformaes polticas, econmicas,sociais e culturais. Romperam-se limites es-paciais e temporais. O receptor sofreu trans-formaes bem como a comunicao. A al-deia global tornou-se realidade. Com a glo-balizao aumentou o nmero de receptorese de mensagens. No entanto, expandiu-se deforma desordenada. Atualmente h quase 75milhes de pginas disponveis no universovirtual, o difcil saber separar o que in-formao e o que entretenimento. Tornou-se difcil identificar se o receptor absorve amensagem que realmente foi emitida peloemissor, seja atravs de som, texto ou ima-gem. A mesma mensagem endereada a mi-lhares de pessoas no recebida da mesmamaneira por todas elas. No h um recep-tor universal. Quanto mais as mensagensse globalizam, mais as diferenas culturaisda comunicao se afirmam. (Wolton, D.2006, p. 17)

    A comunicao no um processo fcil,pelo contrrio, Wolton (2006) afirma que ela

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    complexa por natureza e que com o pro-gresso tcnico, ela complicou-se mais nos l-timos 30 anos. Hoje em dia todo mundov tudo ou quase tudo, mas percebe-se aomesmo tempo, que no compreende melhoro que acontece. A visibilidade do mundono basta para torn-lo mais compreens-vel. Mesmo onipresente, a informao nopode explicar um mundo percebido comomais complexo, mais perigoso, menos con-trolvel e em que as diferenas culturais e re-ligiosas se exacerbam. (Wolton, D., 2006,p. 19)

    A complexidade do receptor, para o au-tor, est relacionada, sobretudo s diferen-as culturais. Embora a informao possa sermundial, os receptores no o so. ... a glo-balizao um acelerador da contradio.(Wolton, D., 2006, p.19)

    Todo processo de recepo envolve umanegociao das trs dimenses da comunica-o: tcnica, econmica e cultural. Os indi-vduos negociam as mensagens, como nego-ciam com a realidade. Os pases em desen-volvimento esto participando da revoluoda comunicao, com acesso s redes, In-ternet e satlites. interessante economica-mente aumentar o nmero de receptores. Noentanto, o pblico receptor brasileiro est emcondies econmicas, sociais e culturais di-ferentes do pblico dos pases desenvolvidose essa diferena percebida. Se a diversi-dade no for respeitada, no futuro, ela podegerar conflitos.

    Nos bastidores da mdia, mais precisa-mente nas entranhas do processo de comu-nicao atuam vrios profissionais com dife-rentes formaes. E eles, por sua vez, tmque acompanhar estas transformaes ocor-ridas na comunicao e na prpria sociedade,cabe a eles adequar os novos veculos aos

    princpios de sua profisso e papel social. Amdia digital tambm um veculo de trans-misso de conhecimento e pela diversidadedo receptor, importante se preocupar nos com o contedo universal, mas tambm oregional que deve ser divulgado. Essas pecu-liaridades devem ser vistas por esses profis-sionais.

    O jornalista um destes profissionais quetrabalham na mdia. Ele faz a comunicao.O ato de informao na imprensa acompa-nhado por uma estratgia de comunicao.Muitas vezes, ele tem que ir contramo dasidias do pblico alvo. Por isso, a necessi-dade de ter profissionais preparados, cientesda sua relevncia social e do contexto hist-rico, atuando na transmisso dessas informa-es. Entretanto, as cincias da comunicao recente comparada s cincias tradicionaiscomo medicina e direito, e tambm desva-lorizada. Ainda no h um consenso sobre aimportncia da interdisciplinaridade dos sa-beres, na prpria academia. Uma das alter-nativas para capacitar o jornalismo, trataressa atividade no como uma ocupao e simcomo uma profisso, com a mesma legitimi-dade das profisses tradicionais.

    3 Profisso X OcupaoA discusso sobre os conceitos de profisso eocupao ampara-se na sociologia. A profis-sionalizao e sua especializao esto inter-ligadas ao processo histrico, s mudanaspolticas, sociais e econmicas. A histriadas profisses tem seu marco no industria-lismo capitalista do sculo XIX, quando au-mentou a competitividade no campo de tra-balho. As ocupaes comearam a buscarum lugar seguro na economia e a disputa le-vou criao de associaes e instituies

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    prprias. Surgiram as associaes, os cre-denciamentos, a licena, o registro e os cur-sos superiores. So esses fatores que eleva-ram o status de algumas ocupaes para a es-fera da profisso. (FREIDSON, 1996)

    Os conceitos apontados por Freidson(1996) para especificar as caractersticas dasprofisses dentro da estrutura das ocupaesso:

    1. profisso um tipo de trabalho pago,feito em tempo integral, que inclui omercado informal;

    2. profisso de carter especializado, debase terica, com competncia discrici-onria de julgamento sobre uma rea dosaber;

    3. profisses so aquelas ocupaes quecontrolam a diviso do trabalho, que determinada pelas suas relaes, quenegociaram as delimitaes e frontei-ras jurisdicionais de cada uma, diferentedo mtodo baseado no livre mercadoou controlado por uma administraoracional-legal externa profisso;

    4. na profisso, o controle do mercado detrabalho ocupacional, feito atravs docredenciamento dos membros da profis-so;

    5. a profisso envolve a pessoa com co-nhecimento abstrato e autoridade sobreum campo do saber profissional, obtidofora do mercado de trabalho, nas insti-tuies de ensino superior.

    4 O processo deprofissionalizao dojornalismo brasileiro

    No Brasil, a carreira de jornalismo iniciouseu processo de profissionalizao no sculopassado, mais especificamente a partir do fi-nal da dcada de 30, com a criao das as-sociaes e sindicatos, passando pelo surgi-mento dos cursos de credenciamento, exi-gncia do diploma para o exerccio da pro-fisso, diviso por editorias nas redaes atas inovaes tecnolgicas. O Sindicato dosJornalistas Profissionais do Estado de SoPaulo foi criado em 1937. O primeiro cursosuperior de jornalismo de 1947. Em 17de outubro de 1969, em plena ditadura mi-litar, foi aprovado o Decreto-Lei 972, comalteraes posteriores (Decreto 65.923 e De-creto 83.284) regulamentando a profisso econsagrando a exigncia de curso superiorde jornalismo para o exerccio da profis-so. Em seguida, aumentou a remunera-o salarial e foram criadas editorias, acar-retando maior especializao do profissionalpor reas, acrescido da exigncia de um pro-fissional com maior conhecimento de todoo conjunto de uma redao. Houve, tam-bm, mudanas tecnolgicas, como a intro-duo dos computadores nas redaes, o sur-gimento do jornalismo on-line e da televisona internet. No entanto, o processo de profis-sionalizao no est sedimentado, quandose compara com carreiras como medicina edireito.

    Um dos aspectos que afeta o status do jor-nalismo enquanto profisso, comparado commedicina e advocacia, segundo a definiode Freidson, refere-se expertise. Como aobrigatoriedade do diploma para o exerccio

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    da profisso em jornalismo recente com-parada s profisses tradicionais e ainda noest consolidada, muitos administradores deempresas de comunicao no pas no pos-suem formao acadmica em jornalismo.Eles obtiveram titulao em outras reas,como, por exemplo, administrao de em-presas e cincias sociais, ou so considera-dos jornalistas pelo tempo de exerccio. Soprofissionais que esto atuando no mercadonum perodo anterior a 1979 e conseguiram alicena junto aos Sindicatos e Federao Na-cional dos Jornalistas - FENAJ - por tempode servio. Na opinio dos jornalistas e degrande parte das empresas de comunicao,o curso de graduao em jornalismo no tema mesma importncia que cursos consagra-dos como direito e medicina. Na valoriza-o do profissional pesa mais sua experinciaprofissional, especializaes e outros com-plementos do que sua formao acadmicaem jornalismo.

    A obrigatoriedade do diploma para o exer-ccio do jornalismo ficou suspensa, sob dis-puta legal no mbito da justia, durante operodo de 2001 a 2005. Segundo dadosdo Sindicato dos Jornalistas do Estado deSo Paulo, 13 mil estudantes de jornalismoe pessoas que atuavam na rea em todo pasobtiveram o registro provisrio para exercera atividade. Esses registros so conhecidoscomo precrios e esto sendo cassados pelaFENAJ - Federao Nacional dos Jornalistas- e pelo Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais do Estado de So Paulo.

    No Brasil, a profisso de jornalismo tam-bm no possuiu uma fronteira jurisdicio-nal, um conselho regulamentado que estejaacima dos profissionais, como a OAB e oConselho Federal de Medicina. Nos ltimosdois anos houve uma grande discusso so-

    bre a criao do Conselho Federal dos Jor-nalistas, mas frente polmica e divergnciados profissionais da rea de comunicao etambm dos donos dos veculos de comuni-cao, o respectivo conselho no foi criado.

    Estes fatos ilustram que no Brasil, aindah divergncia entre os pragmticos e os te-ricos sobre a necessidade de uma formaoterica em jornalismo para o exerccio daprofisso. Mesmo entre os estudiosos noh consenso se o jornalismo deve ou no serconsiderado cincia. Grande parte das gra-des dos cursos de jornalismo no pas cons-tituda de cincias humanas e disciplinas tc-nicas. Poucas tratam o jornalismo como ci-ncia. Tambm no h uma diferena claranas prprias universidades entre cincias dainformao e cincias da comunicao.

    Na literatura internacional a discusso dojornalismo como conhecimento apareceu jem 1690, na tese Os relatos jornalsticosdo alemo Tobias Peucer, defendida na Uni-versidade de Leipzig. Ele comparou o relatojornalstico com o relato histrico, a partirdas categorias filosficas do singular, parti-cular e universal. Peucer tambm discutiuaspectos atuais como o conceito de noticia-bilidade, a tica profissional, a mercantiliza-o da informao e a relao com as fontes.Outra grande contribuio da sua tese foi ainveno do gnero informativo. (PEUCER,2004)

    Na primeira metade do sculo XX, outroterico alemo Otto Groth defendeu o reco-nhecimento da cincia jornalstica, quandorevelou que o exerccio dirio do jornalismoexige uma metodologia cientfica no desen-volvimento de uma reportagem, passos quese repetem independente da sociedade e dasua cultura especfica. O jornalismo utilizaveculos que materializam idias, com vida

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    e destinos prprios, usufruindo de uma es-trutura e recursos humanos. O que muda o conhecimento produzido pelo jornalismo eno as caractersticas dessa atividade: peri-odicidade, atualidade, universalidade e difu-so.

    Em Portugal, na dcada de 90, o jornalistaNelson Traquina se destacou no mbito dadiscusso do jornalismo no se limitar a umensino tecnicista. Na busca de entender oque o jornalismo e por acreditar que a Uni-versidade deve oferecer um estudo tericosobre a prtica da profisso, Traquina criou adisciplina Teoria da Notcia. E ele foi maisalm, juntamente com outros pesquisadoresde diferentes instituies, Traquina criou oCentro de Investigao Media e Jornalismona cidade de Cascais, em Portugal. O obje-tivo estudar o jornalismo como uma cin-cia prpria menos atrelada s cincias huma-nas. Em duas de suas obras Traquina (2005a,2005b) analisa a relao entre jornalismo edemocracia. Atravs de uma pesquisa bibli-ogrfica sobre jornalismo na literatura norte-americana e francesa, Traquina v as notciascomo uma construo social. O autor abordaalgumas teorias do jornalismo como a teoriado espelho, do gatekeeper e do jornalismoenquanto profisso.

    Adelmo Genro Filho foi um dos primei-ros jornalistas brasileiro a defender uma teo-ria para o jornalismo, fundamentada em umacincia prpria e a implantar a disciplina naUniversidade Federal de Santa Catarina. Nasua dissertao de mestrado, o autor fez umareviso das abordagens tericas (funciona-lismo, indstria cultural, marxismo) e pr-ticas do jornalismo, focando os limites dasteorias propostas, as quais ilustravam apenasas tcnicas dessa atividade, e a falta de umareflexo por parte dos profissionais sobre o

    exerccio dirio da profisso. Nesta duali-dade, o maior prejudicado era o prprio jor-nalismo. Para Genro Filho (1987), as teoriasacadmicas, em sua maioria, eram fracas, re-produziam as tcnicas descritas nos manuaisou dissertavam sobre crticas ideolgicas dojornalismo como instrumento de dominao.

    Genro Filho (1987, p.3) props ao jor-nalismo um papel revolucionrio: o deser uma forma de conhecimento que, em-bora historicamente condicionada pelo ca-pitalismo, apresenta potencialidades que ul-trapassam esse modo de produo. Comisso, ele procurou mostrar que o jornalismo uma forma de conhecimento com base naindstria moderna, mas tambm faz parte darelao entre indivduo e gnero humano eassim pode estar presente em qualquer soci-edade futura, independente do seu modo deproduo. O compromisso do jornalismo com o pblico, por isso, esse ltimo toimportante no processo de comunicao rea-lizado pelo jornalista.

    O jornalista e terico Jos Marques deMelo defende o estudo do jornalismo comocincia. Melo (1998) mostra que paracaracteriz-lo cientificamente necessriaa coexistncia de atualidade, oportunidade,universalidade e difuso coletiva. Assim, ojornalismo pode ser definido como cinciaque estuda o processo de transmisso opor-tuna de informaes da atualidade, atra-vs dos veculos de difuso coletiva (Melo,J.M., 1998, p.74).

    Por um outro vis, mas destro do mesmocontexto de discusso, Garda (1997) abordao jornalismo como atividade humana, inte-ragindo a arte e a cincia. Analisa a cin-cia como mtodo no exerccio da profisso,atravs de tcnicas de apurao, investigaoe busca de objetividade. A autora critica o

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    jornalismo atual por no praticar essa inte-rao entre a arte e a cincia, se afastandocada vez mais, com o advento da tecnologia,do contato com o pblico. O profissional re-trata um mundo diferente daquele visto pelamaioria das pessoas. Outra crtica apontadapor Garda que no mundo atual as pessoasvivem em comunidades diferentes, emboraprximas geograficamente, elas esto isola-das para se protegerem do excesso de infor-mao e o jornalista, por sua vez, tambmse fechou em uma comunidade. Uma das al-ternativas apontadas pela autora a do jor-nalista trabalhar a capacidade de comunicar sociedade os universos distintos do dele.Neste aspecto, Garda se aproxima da anlisede Wolton, sobre as diferenas culturais dopblico on-line, atribuindo ao jornalista o pa-pel de dialogar com este pblico respeitandoas diversidades.

    Para Chaparro (2006) o jornalismo no praticado como cincia e muito menos comosimples tcnica, o que ele v como uma cr-tica. Com os avanos da tecnologia e arapidez da informao, o autor mostra queo jornalista hoje no deveria apenas narraro que acontece, mas tambm ser capaz decompreender e atribuir significados aos fa-tos. A dificuldade no est nas ferramentase sim na capacidade intelectual para apreen-der e compreender os acontecimentos. Cha-parro (2006) mostra que se o jornalista in-corporasse alguns procedimentos cientficos,mais especificamente um mtodo de pes-quisa, com recorte do objeto, investigao,verificao, aferio, contextualizao e pro-fundidade, o seu trabalho seria mais confi-vel, menos superficial e menos pobre. Eleproduziria mais habitualmente grandes re-portagens e reportagens especiais. O autor

    aponta uma discusso com o contedo pro-duzido pelos jornalistas na sociedade atual.

    Meditsch (2002) discute se o jornalismo uma forma de conhecimento, apontando trsabordagens diferentes. Na primeira, o autordistancia o jornalismo de cincia por ele nose utilizar de um mtodo cientfico, no seusentido positivista, ao realizar a elaboraode uma reportagem. Essa posio, tambmutilizada pela Escola de Frankfurt, situa ojornalismo como uma cincia mal feita e svezes perversa e degradante por falar de to-dos os assuntos de forma superficial. Na se-gunda abordagem, o autor cita Robert Park(1940) ao mostrar que o jornalismo possuiuma forma de conhecimento da observaodo cotidiano e da vida humana, o qual eledenomina de conhecimento da realidade,com uma sistemtica semelhante produzidapelas cincias. A terceira abordagem apon-tada por Meditsch enfatiza o que o jorna-lismo tem de nico, justamente a sua formadiferente de revelar a realidade, ilustrandoaspectos que os outros modos de conheci-mento so incapazes de mostrar. Enquantoa cincia procura estabelecer as leis que re-gem um fato e suas relaes, o jornalismotem a sua fora na singularidade do prpriofato. O autor ressalta ainda que o jornalismono apenas reproduz o conhecimento que eleprprio produz para a sociedade e seus indi-vduos, mas tambm o conhecimento produ-zido por outras instituies sociais. Para Me-ditsch, o jornalismo no uma cincia, poisele incapaz de explicar a realidade que seprope revelar. Mas, por outro lado, o jorna-lismo como forma de conhecimento capazde revelar aspectos da realidade que escapam metodologia das cincias. O jornalismotem uma forma de conhecimento de direitoprprio. No apenas um instrumento para

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    transmitir conhecimentos produzidos por ou-trem e nem to somente um meio de comu-nicao, mas tambm um meio de conheci-mento com relevncia e responsabilidade doseu papel social.

    O interessante entre as contribuies dosautores citados perceber que h catego-rias fixas no jornalismo, as quais se repe-tem no exerccio da profisso desde o s-culo XVII e que esta atividade pautada emuma metodologia, independente do veculoe da rea de atuao. Outro aspecto rele-vante a necessidade do profissional enten-der o contexto social no qual ele atua, consi-derando as caractersticas scio-econmicas,culturais e de mentalidade da sociedade e doseu pblico receptor. A falta desta percepoe deste conhecimento por parte do profissio-nal prejudica o contedo veiculado na mdiae a prpria relao entre emissor e receptorno processo de comunicao.

    5 ConclusoA evoluo do processo de comunicao inquestionvel e irreversvel, assim como asociedade informatizada e globalizada. Em-bora com o advento da tecnologia tenha di-minudo a distncia fsica entre pases e pes-soas, os locais e os povos no so idnticose muitos aspectos sociais e culturais no souniversais. H diversidades e elas devem serrespeitadas em especial no processo de co-municao, em respeito ao receptor. Este ar-tigo procurou salientar a necessidade de pen-sar sobre o papel do jornalismo brasileironeste contexto, considerando o meio ambi-ente social do Brasil e o cenrio mundial.Como mostrou-se na introduo, o Brasil um pas rico em contrastes. O jornalismobrasileiro deve deixar de ser tratado como

    uma ocupao e passar a ser uma profisso.Para isso, tem que haver uma preocupaoacadmica no processo de formao do pro-fissional na graduao, envolvendo teoriasdo jornalismo, metodologia da atividade, co-nhecimento sobre a histria do jornalismo,sua relao com a histria da sociedade, como modo de produo, com a democracia e arepercusso dos avanos tecnolgicos no fa-zer jornalismo e na posio do pblico. Notem como praticar jornalismo sem conside-rar o contexto social e seus agentes. Estasespecificidades, entre outras, tornam o jorna-lismo uma cincia, com domnio de conheci-mento prprio para o exerccio da profisso.

    O fazer jornalismo no se restringe a umdom pessoal, ele envolve uma metodologiana prtica profissional. O exerccio diriodo profissional, desde apurao da pauta ata ida a campo, exige um procedimento me-todolgico, que ser mais valorizado se forfruto de uma reflexo lgica. Esse conheci-mento tambm deveria ser mais explorado naformao do profissional.

    O jornalista tambm deve conhecer as ca-ractersticas do seu pas e do contexto glo-bal, para poder reportar um fato e isso temque ser ministrado na Universidade por pro-fissionais competentes. Como mostrou-seacima, os avanos tecnolgicos aliados de-mocracia tornaram o processo comunicacio-nal mais complexo. O jornalista deve ter ci-ncia desta complexidade para saber sobre oque est falando e quem o seu pblico alvo,principalmente no mundo online. A mdiadigital mais um veculo para transmitir co-nhecimento e o profissional no pode esque-cer sua responsabilidade social. A formaodos jornalistas de interesse da sociedade.Uma sociedade democrtica possui uma im-prensa crtica e responsvel.

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