Rochas Ornamentais, Pedras Naturais ou Pedras...

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157 Boletim de Minas, 42 (2) - 2007 Rochas Ornamentais, Pedras Naturais ou Pedras Dimensionais? Na indœstria extractiva das rochas utilizadas como material de construªo Ø comum considerarem-se dois grandes sectores, nomeadamente o dos agregados, que inclui as rochas britadas e as areias, saibros e cascalheiras e o sector das rochas utilizadas com uma funªo estruturante e decorativa das edificaıes sem que para tal tenham sido sujeitas a processos de transformaªo conducentes ao desarranjo da sua estrutura interna. Nªo se incluem aqui as rochas como as argilas e pegmatitos de quartzo e feldspato, utilizadas sobretudo na indœstria cermica e que normalmente sªo includas nos chamados Minerais Industriais. Ora, no que respeita s rochas utilizadas com uma funªo decorativa e estruturante dos edifcios, estamos perante um sector que pela tipologia das empresas que nele funcionam, apresenta um vnculo muito directo com a actividade comercial dessas mesmas empresas. Assim se compreende que a denominaªo deste sector nªo seja consensual, sendo comuns as designaıes de Rochas Ornamentais, Pedras Naturais ou Pedras Dimensionais. Esta questªo da terminologia tem sido alvo de debate desde hÆ uns anos a esta parte, em particular, de modo formal, no mbito da Comissªo C10 Pedras de Construªo e Rochas Ornamentais (Building Stones and Ornamental Rocks ) da Associaªo Internacional da Engenharia Geolgica e Ambiente (IAEG International Association for Engineering Geology and the Environment). Uma nota recente acerca deste assunto foi recentemente publicada por A. SHADMON [1], presidente dessa Comissªo, onde se apresenta uma retrospectiva da terminologia que tem vindo a ser utilizada para o sector em causa. Embora efectivamente nada mais seja que uma questªo de terminologia Ø um assunto que merece alguma atenªo, pois tem alguma relevncia no que respeita ao modo como o sector Ø encarado por interlocutores internos e externos. Estªo no primeiro caso os Jorge Carvalho INETI Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovaªo Apartado 7586 2720-866 ALFRAGIDE

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Rochas Ornamentais, Pedras Naturais ou Pedras Dimensionais?

Na indústria extractiva das rochas utilizadas comomaterial de construção é comum considerarem-se doisgrandes sectores, nomeadamente o dos agregados, queinclui as rochas britadas e as areias, saibros e cascalheirase o sector das rochas utilizadas com uma funçãoestruturante e decorativa das edificações sem que paratal tenham sido sujeitas a processos de transformaçãoconducentes ao desarranjo da sua estrutura interna. Nãose incluem aqui as rochas como as argilas e pegmatitosde quartzo e feldspato, utilizadas sobretudo na indústriacerâmica e que normalmente são incluídas nos chamadosMinerais Industriais.

Ora, no que respeita às rochas utilizadas com uma funçãodecorativa e estruturante dos edifícios, estamos peranteum sector que pela tipologia das empresas que nelefuncionam, apresenta um vínculo muito directo com aactividade comercial dessas mesmas empresas. Assim secompreende que a denominação deste sector não seja

consensual, sendo comuns as designações de RochasOrnamentais, Pedras Naturais ou Pedras Dimensionais.Esta questão da terminologia tem sido alvo de debatedesde há uns anos a esta parte, em particular, de modoformal, no âmbito da Comissão C10 � Pedras deConstrução e Rochas Ornamentais (Building Stones andOrnamental Rocks) da Associação Internacional daEngenharia Geológica e Ambiente (IAEG � InternationalAssociation for Engineering Geology and the Environment).Uma nota recente acerca deste assunto foi recentementepublicada por A. SHADMON [1], presidente dessa Comissão,onde se apresenta uma retrospectiva da terminologia quetem vindo a ser utilizada para o sector em causa.

Embora efectivamente nada mais seja que uma questãode terminologia é um assunto que merece algumaatenção, pois tem alguma relevância no que respeita aomodo como o sector é encarado por interlocutoresinternos e externos. Estão no primeiro caso os

Jorge CarvalhoINETI � Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e InovaçãoApartado 75862720-866 ALFRAGIDE

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interlocutores de âmbito económico e comercial, comoa banca, os prescritores (arquitectos, engenheiros civis,entre outros) e o público em geral enquanto na qualidadede aquisidor. Importa, para este tipo de interlocutores,que não subsistam dúvidas quanto à identificação dosector em causa e portanto, quanto à identificação danatureza do material a utilizar, eventualmentedecorrendo daí mais-valias económicas. Quanto aosinterlocutores externos ao sector, há que contarfundamentalmente com a sociedade em geral e no modocomo é encarada a indústria extractiva pela opiniãopública e contar, ainda, com as entidades comresponsabilidade ao nível da gestão dos recursosgeológicos, do ordenamento do território, defesaambiental, etc. Perante estes importa que este sector daindústria extractiva se mostre bem consolidado e uno nomodo de encarar o objecto que constitui o suporte à suaactividade comercial. Identificada a natureza e funçãodo material e havendo a sua procura no mercado, temde ser do conhecimento geral que ele se obtém pelaactividade extractiva e unicamente nos locais onde ocorre,o que é função de um processo natural não controlávelpelo Homem.

O sector beneficiaria, portanto, de uma harmonizaçãoquanto à terminologia. Nesse sentido importa umaabordagem breve às designações principais que têm sidoatribuídas a este sector e às rochas (ou pedras) em simesmas.

A designação Pedras Dimensionais corresponde a umaadaptação de dimension stones. É de utilização muitocomum nos países anglo-saxónicos e foi, talvez, aprimeira designação a ser atribuída a este sector, tendosido utilizado pela primeira vez por BOWLES em 1933 [2]a fim de o distinguir do sector das rochas utilizadas comoagregados para a construção civil. A distinção feita poreste autor e posteriormente desenvolvida por CURRIER

em 1960 [3] e BARTON em 1968 [4], está na origem danorma ASTM C 119 � Standard Terminology Relating toDimension Stone. Esta mostra-se muito vinculada àsespecificidades de forma e tamanho do produto final,sendo as rochas essencialmente consideradas comomateriais com uma função estrutural na construção deedifícios.

A designação Pedras Naturais surgiu recentemente noseio dos países produtores de origem latina, sendoeminentemente uma designação em contraponto aosprodutos cerâmicos e em particular, aos aglomerados

resinosos de pedra. Pretende valorizar comercialmenteo facto de se tratar duma matéria-prima �tal e qual�,natural, em que a intervenção de processos detransformação é mínima, ao contrário do que se passano sector cerâmico. Pondo de lado a questão semânticada designação, já que sendo pedra é forçosamentenatural, não parece que este sector possa ou deva entrarem competição com o cerâmico no mercado em que esteactua, pois trata-se de um sector evoluído e extremamenteagressivo do ponto de vista comercial e de marketing.Há que diferenciá-lo nesses e noutros termos de forma adirigi-lo a um outro tipo de mercado.

Neste contexto a designação Rochas Ornamentais parecemais adequada. Tanto serve os objectivos de naturezacomercial como do fim a que se destinam. Com efeito,ao termo Ornamental está implícita uma mais valiaeconómica em termos comerciais mas, simultaneamente,este termo explicita o fim a que se destina amatéria-prima, em contraponto a todos os restantesmateriais de construção e não apenas em competiçãocom um sector particular.

Assim, de um modo simples, as rochas ornamentaispodem ser definidas como a matéria-prima de origemmineral utilizada como material de construção comfunções essencialmente decorativas. Cabem nesteâmbito todos os tipos rochosos extraídos e processadossegundo as mais variadas dimensões e formas, desde ospequenos cubos utilizados no calcetamento de ruas, atéàs finas placas de rochas xistentas usadas emrevestimentos e como telha, passando, como é óbvio,pelos grandes blocos destinados à obtenção de chapaspara pavimentos e revestimentos diversos, estatuária,pedras tumulares, etc.

A função decorativa atribuída às Rochas Ornamentaisconstitui o cerne desta definição. Se no passado autilização das rochas teve essencialmente uma função deestruturação das edificações, desde as primeirashabitações e fortificações feitas em pedra pelo Homematé palácios e outros monumentos bem mais recentes, arealidade mostra-nos que nos dias de hoje a pedra perdeuessa função para o ferro, para o tijolo, para as argamassasem revestimentos e para outros produtos de substituição.Actualmente usam-se as pedras unicamente em funçãodas suas potencialidades decorativas, ornamentais. Ascapacidades estruturantes que lhes estão associadas sãoaproveitadas apenas pontualmente ou de modosecundário.

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Importa, portanto, dar a este sector e matéria-prima umnome condigno e ajustado à sua função actual e daí tentarretirar mais valias económicas: trata-se de um produtonobre por excelência, que se pode associar a luxo eportanto, tem de ser dirigido a um mercado restritocaracterizado por um elevado poder de compra queprocura a diferenciação. Não entra, assim, em competiçãocom produtos de substituição, como é o caso dos produtoscerâmicos, bem menos dispendiosos mas com melhorescapacidades técnicas. A esta diferenciação estará aindaassociada uma outra vertente que não será de desprezar,nomeadamente a preservação dos recursos emmatéria-prima disponíveis por diminuição da produção.Esta decorrerá de um menor volume de vendas, o qualserá economicamente compensado por diminuição decustos ao nível da produção e pelo aumento de preçoassociado à nobreza do material.

A necessidade de se acordar uma terminologia própriae única para este sector e que ao mesmo tempo possaservir para a sua diferenciação como material nobrecontinua na ordem do dia. Senão vejam-se os critériosestabelecidos no Manual da Pedra Natural para aArquitectura recentemente publicado em Portugal emNovembro de 2006. Nele apresenta-se como definiçãode Pedra Natural �toda a rocha que se possa obter emblocos ou peças de determinado tamanho que permita asua utilização ou comercialização, mantendo as suaspropriedades constituintes�. Ora, trata-se de umadefinição que se enquadra no conceito que o termoDimension Stone pretende traduzir, contradizendo opróprio título da obra e da definição em si mesma. Porém,esta acaba ainda por apurar melhor esta definiçãodividindo a Pedra Natural em dois tipos: RochasOrnamentais, quando utilizadas para fins decorativos eRochas de Construção, quando utilizadas para funçõesestruturais nas edificações.

Urge realmente dignificar esta matéria-prima pelanobreza que a caracteriza na sua função decorativa e nãopor atributos secundários. O assumir da designaçãoRochas Ornamentais como única não será problemáticopois já é corrente nos meios académicos, mineiros ecomerciais. É também já corrente ao nível daterminologia europeia e para isso veja-se o caso da redede conhecimento OSNET (Ornamental Stones Network) ouda recentemente implementada Plataforma TecnológicaETP-SMR (European Technology Platform on SustainableMineral Resources).

BIBLIOGRAFIA

A. Shadmon, 2005. Stone Absolute (By any other name). LITOS,78(May/June).

Bowles O, Coons AT. Dimension Stone. In: Minerals Yearbook1932-33, O. E. Kiessling (Ed.), U. S. Bureau of Mines, United StatesGovernment Printing Office, Washington, 1933, pp. 577-593

L.W. Currier, 1960. Geologic appraisal of dimension-stone deposits.U.S. Geological Survey Bulletin 1109, 78 pp..

W.R. Barton, 1968. Dimension stone. United States Bureau of Mines

Information Circular 8391, 147 pp..