ROCKER, Rudolf. Porque Sou Anarquista

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"Recolhem-se na presente brochura quatro artigos do mais destacado teórico anarquista alemão. Porque sou anarquista é uma declaração da ideologia e atitude vital do autor que introduz com perfeição o resto dos artigos. Em Marx e as ideias libertárias faz uma crítica à falta de honestidade intelectual do comunista alemão, ao tempo que assinala a grande dívida de Marx com os socialistas utópicos, e nomeadamente Proudhon, a quem logo desprezaria com virulência. O sistema dos sovietes e a ditadura do proletariado descobre o caráter intrinsecamente burguês da ditadura do proletariado e da revolução russa. Finalmente, em O papel dos sindicatos na construção do socialismo destaca o papel fundamental do anarco-sindicalismo como resposta imediata ao capital e sua importância na articulação duma sociedade livre."

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    RudolfRocker

    Porquesou

    Anarquista

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    Esta brochuraPorque sou anarquista

    escrita porRudolfRocker

    a segunda edioem verso galegae publica-sepelaCNT de CompostelaemJulho de 2009

    a primeira ediofoi editada peloAteneu Libertriode Compostelaem!n"erno de #99$

    Esta brochura para ler, reler, em vozalta ou baixa,num mitin a gritos ou numa reunio comum caf,para grit-la nas portas dosParlamentos, partidos polticos,sindicatos anti-operris,para fotocopiar sem lhe pedir licena aningum,para dar como presente!

    Primeira edi%&o doAteneu Libertrio

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    [[Rudolf Rocker

    OTA

    PRELIMI AR

    Rudolf Rocker, um dos maisfecundos pensadores libert-rios contemporneos, nasceuem Magncia (Alemanha), a

    25 de Maro de !"#$% &s paiseram pobres e Rocker perdeu-os com apenas !' anos de idade% oi internado num orfanatodo ue saiu * anos mais tarde para trabalhar como aprendi+ deencadernador% Aos !5 anos tomaa parte no moimentosocial alem.o e aproeitou o per/odo de aperfeioamento usualna 0poca para percorrer Alemanha e outros pa/ses europeus%

    1nfluenciado pelas ideias de ohan Most, ent.o e3iladonos 4A, tornou-se libertrio e participou no 6ongresso Anar-uista de 7ru3elas, onde se tornou amigo de 8omela 9ieu-:enhuis% oi e3pulso da Alemanha em !";2 por ar/s, onde conheceu 4lis0e Reclus eoutros libertrios% Ap?s o atentado de 6asiero foi e3pulso, co-mo muitos outros militantes, e instalou-se em @ondres, onde

    colaborou actiamente no reie Arbeiter time (Bo+ do Craba-lhador @ire) e outros ornais% >articipou no 6ongresso de Ams-terd.o de !;'# e, pela sua oposi.o D guerra de !;!*-!;!" foiinternado num campo de concentra.o britEnico e eniado em!;!" para a Alemanha, ue o obrigou a e3ilar-se para aFolanda% ? depois da reolu.o alem. oltou a 7erlim, para

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    ser noamente internado num campo de concentra.o durantea ditadura de 9oske% @ibertado, foi um dos fundadores da noa

    Associa.o 1nternacional dos Crabalhadores em !;22% 4migroupara os 4A, a/ residindo longos anos numa comunidade fun-dada em 6rompond por anarco-indiidualistas%

    Al0m de numerosas conferGncias, artigos e folhetos, pu-blicou, entre outros liros, e3celentes biografias de Ma3 9ettlaue de ohan Most e a sua obra mais notel, Nacionalismo eCultura%

    aleceu em etembro de !;5"%

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    PORQUE SOU A ARQUISTA

    Sou anarquista no porque acredite que num futuro milnio ascondies sociais sero absolutamente perfeitas e no neces-sitaro de mais nenhum melhoramento. Isto no possvel atporque o homem no perfeito e no pode criar nada absolu-tamente perfeito. Mas acredito, em troca, num processo cons-tante de aperfeioamento que nunca finda e que s pode pros-

    perar da melhor maneira sob as condies sociais de vida maislivres possveis. ! luta contra toda a tutela e todo o do"ma,mesmo que se trate duma tutela institucional ou de ideias, para mim o conte#do essencial do socialismo libert$rio. ! ideiamais livre corre o peri"o de se converter em do"ma, tornando-se assim inacessvel a qualquer desenvolvimento interior. %o"oque uma concepo se petrifica em do"ma morto, comea o

    domnio da teolo"ia. &oda a teolo"ia se apoia na crena ce"ado imut$vel e do irredutvel que o fundamento do despotismo.!t onde isso che"a, mostra-o ho'e a (#ssia que inclusiva-mente pretende orientar o homem de ci)ncia, o poeta, o m#si-co e os filsofos que devem pensar e criar, e tudo isso em no-me de uma teolo"ia de *stado omnipotente, que e+clui todo opensamento individual e intenta introduir, por todos os meios

    despticos, a era do homem mecnico, do homem formado ediri"ido ao sabor duma ideia sacrosanta.

    as nossas fileiras tambm h$ quem tenha sido ata-cado por essa peste deletria. / facto de quererem ditar a ca-da um o que deve pensar, no decerto alentador, mas to-pouco deve assustar-nos. / melhor que se deve faer no li-

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    "ar importncia a tais pretenses e prosse"uir tranquilamente oprprio caminho. enhum de ns, nem sequer o melhor, pode

    oferecer verdades absolutas, pois no e+istem. !s polmicass so #teis quando inspiradas pelo esprito de tolerncia e decompreenso humana e no pretendem nenhuma infalibilidade.Se no for assim, todas as discusses so infecundas e comelas perdese um tempo precioso que pode ser empre"ado emqualquer trabalho #til ou fecundo.

    unca na minha vida estive to firmemento persuadido

    como o estou ho'e, da e+actido das nossas concepcies. 0us-tamente por isso, quando um novo absolutismo brutal do pen-samento ameaa envenenar todos os ramos da vida social, preciso defender com todas as foras o "rande tesouro idealdos nossos precursores1 mas isso no se fa elevando cadafrase dos nossos e"r"ios pensadores de h$ cem anos, de h$cinquenta, com obsesso unilateral, 2 cate"oria de uma verda-

    de inapel$vel e absoluta, mas sim aplicando a todos os novosproblemas -da era novssima- a filosofia da liberdade e procu-rando para ela uma actuao pr$tica. / anarquismo no umsistema fechado de ideias, e sim uma interpretao do pensa-mento que se encontra em constante pro"resso, que no sepode encerrar em qualquer crculo, a no ser que se queira re-nunciar a ele. Isto o que sempre sustentou Ma+ ettlau e quenunca deviamos esquecer. 3ada um de ns no mais do queum ser humano e como tal e+posto a error. &odos apren-demos, atravs de constantes e+peri)ncias, do estudo e da ob-servao, uns mais, outros menos. Mas os pequenos ou "ran-des papas que nos querem prescrever o que devemos pensarno tem nenhum valor no movimento libert$rio. ! linha 4pura5adapta-se aos homens do 6remlim e a seus adeptos, mas noa ns. 7or esta rao h$ que e+aminar toda a opinio e res-

    peit$-la, quando sur'a duma convico honrada. 8uem se esti-ma a si mesmo, estima tambm aos outros. *ste o funda-mento natural de todas as relaes humanas, o #nico que tambm obri"atrio para ns.

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    MARX E AS IDEIAS LIBERTRIAS

    I

    9$ al"#ns anos, pouco depois de morte de :rederi; *n"els, oSr. *d

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    mais importantes da economia metafsica de 6arl Mar+, e no de estranhar o alvoroo provocado entre os respetaveis repre-

    sentantes do mar+ismo ortodo+o.Isto no teria sido to "rave se no interviesse outro in-

    conveniente ainda pior. 9$ mais de meio sculo que os mar+is-tas no cessam de pre"ar que Mar+ e *n"els foram os descu-bridores do chamado 4socialismo cientfico5. Inventou-se umadistino artificial entre os socialistas chamados 4utpicos5 e o4socialismo cientfico5 dos mar+istas, diferena que e+iste so-

    mente na ima"inao destes #ltimos. os pases "erm$nicos aliteratura socialista foi monopoliada pelas teorias mar+istas, etodos os sociais-democratas as consideram como produtos pu-ros e absolutamente ori"inais das descobertas cientificas deMar+ e *n"els.

    !t este sonho se desvaneceu. !s modernas investi"a-es histricas estabeleceram, de maneira indestrutvel, que o

    4socialismo cientfico5 no seno uma consequ)ncia das lu-cubraes dos anti"os socialistas in"leses e franceses, e queMar+ e *n"els se revestiram com ideias alheias. ?epois da re-voluo de @ABA iniciou-se na *uropa uma reaco terrvel. !Santa !liana voltou a estender os seus tent$culos em todosos pases, no propsito de sufocar o pensamento socialista queto riqussima literatura produira na :rana, =l"ica, In"late-

    rra, *spanha e It$lia. *ssa literatura foi quase totalmente entre-"ue ao esquecimento, durante a poca do obscurantismo quecomeou depois de @ABA. Muitas das obras mais importantesforam destrudas, ficando o seu n#mero reduido a poucose+emplares que encontraram abri"o nal"um canto de "randesbibliotecas p#blicas ou de al"uns estudiosos. S nos #ltimosvinte e cinco ou trinta anos essa literatura foi novamente desco-

    berta, e ho'e causam admirao as ideias fecundas que se en-contram nos velhos escritos das escolas posteriores a :ourier eSaint-Simon, nas obras de 3onsidrant, ?emas>, Me> e muitosoutros. essa literatura foi encontrada a ori"em do chamado4socialismo cientfico5. / nosso ami"o C. &cher;esoff foi o pri-

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    meiro a oferecer um con'unto sistem$tico de todos esses fei-tos@, demonstrando que Mar+ e *n"els no so inventores des-

    sas doutrinas que durante tanto tempo foram consideradas par-te inte"rante do seu patrimnio intelectual, -provando que al-"uns dos mais famosos trabalhos mar+istas, como por e+emploo Manifesto Comunista, no so mais do que tradues livresdo francs, feitas por Mar+ e *n"els. &cher;esoff viu serem re-conhecidas como verdadeiras peloAantiH, r"o central da So-cial-?emocracia italianaDas suas afirmaes relativa-mente ao

    Manifesto Comunista, depois de o autor haver comparado oManifesto Comunista com o Manifesto da Democracia, deCictor 3onsidrant, publicado cinco anos antes do op#sculo deMar+ e *n"els.

    / Manifesto Comunista considerado como uma dasprimeiras obras do 4socialismo cientfico5 e o conte#do dessetrabalho foi tirado dos escritos dun 4utopista5, pois o mar+ismo

    inclui 3onsidrant entre os socialistas utpicos. *sta uma dasironias mais crueis que se podem ima"inar e no constitui, cer-tamente, uma recomendao favor$vel ao valor cientfico domar+ismo. Cictor 3onsidrant foi um dos primeiros escritoressocialistas que mar+ conheceu. 0$ se lhe havia referido quandoainda no era socialista. *m @ABD, aAllgemeine Ieitung, ata-cou a Rheinische Ieitungda qual Mar+ era chefe da redaco,afirmando que ele simpatiava com o comunismo. Mar+ con-testou num editorialEno qual diia o se"uinteF

    roudhon n.o podem ser criticadas comalgumas obseraJes superficiais, sendo preciso estud-lasdetidamente antes de as criticar%=

    / socialismo franc)s e+erceu a maior influ)ncia para o

    desenvolvimento intelectual de Mar+, mas de todos os escrito-1 V. Tcherkesoff: Pages d'Histoire Socialiste: Les prcurseurs de l'Interna

    tionale!." #ste artigo intitulado Il $anifesto della de$ocra%ia!& foi pulicado no

    Avanti!(ano )& n* 1+,1& no ano de 1+,"-. /heinische 0eitung!& n* "+& de 1) de 2uturo de 13".

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    res socialistas de :rana, foi 7.0. 7roudhon o que mais podero-samente influiu no seu esprito. G mesmo evidente que foi o li-

    vro de 7roudhon, Que a propriedade?o que levou a Mar+ aabraar o socialimo. !s observaes crticas de 7roudhon so-bre a economia poltica e as diversas tend)ncias socialistasdesdobraram ante Mar+ um mundo novo, e foi principalmente ateoria da mais-valia, tal como a desenvolveu o "enial socialistafranc)s, que causou maior impresso no esprito de Mar+. !ori"em da doutrina da mais-valia, essa "randiosa 4descoberta

    cientfica5 de que tanto se or"ulham os mar+istas, encontramo-la nos escritos de 7roudhon. Hraas a ele, che"ou Mar+ a con-hecer essa teoria, que modificou maia tarde, depois de haverestudado os socialistas in"leses =ra> e &hompson.

    Mar+ che"ou a reconhecer publicamente o "rande si"ni-ficado cientfico de 7roudhon, e num livro ho'e desaparecido,chamou 2 obra de 7roudhon Que a propriedade?4o primei-

    ro manifesto cientfico do proletariado franc)s5. *ssa obra deMar+ no foi re-editada pelos mar+istas, nem traduida paraqualquer outra ln"ua, apesar dos representantes oficiais domar+ismo terem feito os maiores esforos para difundir em to-das as ln"uas os escritos do mestre. *sse livro foi esquecidono se sabe por-qu). ! sua reimpresso descobriria ao mundoo colossal contrasenso e a insi"nificncia de todos os escritosposteriores de Mar+ contra o eminente terico do anarquismo.

    Mar+ no somente havia sido influenciado pelas ideiaseconmicas de 7roudhon, como tambm se sentia influenciadopelas teorias anarquistas do "rande socialistas franc)s, tantoassim que num dos seus trabalhos da mesma poca combateuo *stado com ar"umentos de 7roudhon.

    II

    &odos os que tenhan estudado atentamente a evoluo socia-lista de Mar+ reconhecero que a obra de 7roudhon Que apropriedade?foi a que o converteu ao socialismo. /s que noconhecem de perto os pormenores dessa evoluo e os queno tiveram a oportunidade de ler os primeiros trabalhos socia-

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    listas de Mar+ e *n"els 'ul"aro estranha e inverosmel estaafirmativa, porque em trabalhos posteriores Mar+ fala de

    7roudhon em ar de troa e de despreo, e foram precisamenteesses escritos que a social-democracia tem publicado e reim-presso constantemente.

    ?este modo tomou corpo, pouco a pouco, a opinio deter sido Mar+, desde o incio das suas campanhas, um adver-s$rio terico de 7roudhon e que 'amais e+istiu entre eles qual-quer contacto de ideias. (ealmente, quando se l) o que Mar+

    escreveu a respeito de 7roudhon no seu livro Misria da Filo-sofia, no Manisfesto Comunistae no arti"o necrol"ico quepublicou no o+ialdemokrat, de =erlim, quando morreu 7roud-hon, no possvel formar outra opinio. a Misria da Filo-sofiaataca 7roudhon rudemente, valendo-se de todos os re-cursos para demonstrar que as ideias deste no t)m valor nemimport$ncia al"uma como obra socialista e como crtica da eco-

    nomia poltica. roudhon, disse, tem a desgraa deser compreendido dum modo estranho% 4m rana ele tem odireito de ser um mau economista, porue 0 ali considerado umbom fil?sofo alem.o% 9a Alemanha, pode ser um mau fil?sofo,pois 0 considerado o melhor economista francGs% 9a minhaualidade de alem.o e de economista, eo-me obrigado a pro-testar contra este duplo erro=*. Mar+ foi mais lon"eF acusou7roudhon, sem oferecer nenhuma prova, de haver pla"iado oeconomista in"l)s =ra>. *screveuF roudhon=%

    G interesante observar como Mar+, que tantas vees seserviu de trabalhos alheios e cu'o Manifesto Comunistano na realidade mais do que uma cpia do Manifesto da Demo-

    craciade Cictor 3onsidrant, denunciava os outros como pla-"iadores.

    o Manifesto Comunista Mar+ apresentou 7roudhon

    3 4ar5 4isre de la Philosophie!. Introdu67o.8 9ra ; Laour's

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    como bur"u)s e conservador.* no arti"o necrol"ico que es-creveu no o+ialdemokrat J@AKL l)-seF

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    que evoluiu para o socialismo. *sta evoluo ve-se claramentenas suas cartas ao escritor !rnold (u"e e, melhor ainda, na

    sua obra A Sagrada Famlia, que publicou em coloboraocom :riedrich *n"els. / livro aparecia em @ABK e visava esta-belecer polmica com a nova tend)ncia do pensador alemo=runo =auerA. !lem de questes filosficas, a obra ocupa-setambm de economa poltica e de socialismo, e so precisa-mente essas partes que nos interessam.

    ?e todos os trabalhos publicados por Mar+ e *n"elsA

    Sagrada Famliafoi o #nico no traduido para outros idiomase do qual os socialistas alemes no fieram nova edio. Gverdade que :ran Mehrin", herdeiro liter$rio de Mar+ e *n-"els, publicou, por encar"o do 7artido Socialista !lemo,A Sa-grada Famlia, 'untamente com outros te+tos correspondentesao primeiro perodo de aco socialista dos autores, mas issofoi feito sessenta anos mais tarde, a reedio destinava-se aos

    especialistas e, pelo seu elevado custo, no estava ao alcanceda bolsa dos trabalhadores. !ssim continuou 7roudhon a serpouco conhecido na !lemanha, raros sendo os que che"arama verificar a enorme diver")ncia dos 'uos de Mar+ sobre o"rande socialista franc)s.

    *, no entanto,A Sagrada Famliademonstra claramen-te o processo evolutivo de Mar+ para o socialismo e a podero-

    sa influ)ncia que sobre ele e+erceu 7roudhon. &udo o que os

    9. 9auer era u$ dos $ais assAduos ao cArculo erlinense 2s LiBres!&onde se podia$ Ber figuras destacadas do liBrepensa$ento ale$7o (pri$eira $etade do sculo passado-& co$o Ceuerach& o autor de A Essn-cia do Cristianismo& ora profunda$ente ateia (editada por Claridade-ou 4a5 Stirner& o autor de o nica e a sua propriedade.2 pensa$ento

    autoritDrio de >arl 4ar5 tinha for6osa$ente Eue se chocar co$ as ideiasliBres de 9. 9auer e seus co$panheiros& entre os Euais n7o deBe$osesEuecer #. 9auer& cuFa ora Der Kriti mit Kirche und taat (G crAtica daIgreFa e do #stado- foi co$pleta$ente seEuestrada pelos do$inistas e incendiada (pri$eira edi67o de 13-. G segunda edi67o (9erna& 133- teBe$elhor sorte. 4as o $es$o n7o aconteceu ao seu autor& Eue foi condenado e encarcerado pelas suas ideias contrDrias IgreFa e ao #stado.

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    mar+istas atribuem ao mestre reconhecia Mar+, emA SagradaFamlia, como mrito de 7roudhon. Ce'amos na p$"ina EF

    roudhon propLs-se analisar de modo cr/tico abase da economia nacional, a propriedade priada, e a sua foia primeira inestiga.o en0rgi-ca e, simultaneamente, conside-

    rel e cient/fica% 9isto consiste o notel progresso cient/ficoue ele reali+ou e ue reolucionou a economia nacional,criando a possibilidade de fa+er dela uma erdadeira ciGncia%Que a propriedade?, de >roudhon, tem para a economia amesma importEncia ue a obra de aK Que o Terceiro Esta-do?tee para a pol/tica moderna=%

    G interessante comparar estas palavras de Mar+ com as

    que depois escreveu sobre o "rande terico da anarquia. *mASagrada Famlia disse que Que a propriedade? foi a pri-meira an$lise cientfica da propriedade privada e que deu apossibilidade de se faer da economia uma verdeira ci)ncia, e,no seu conhecido arti"o necrol"ico publicado no o+ialdemo-krat, afirmou que numa histria ri"orosamente cientfica da eco-nomia a obra de 7roudhon apenas mereceria ser mencionada.8ual a causa de semelhante contradioN ! esta per"unta osrepresentantes do chamado 4socialismo cientfico5 ainda noderam resposta. (ealmente s pode haver uma e+plicaoFMar+ queria ocultar a fonte em que havia bebido. &odos os quetenham estudado a questo e no se sintam arrastrados pelofanatismo partid$rio tero que reconhecer que esta e+plicaono infundada.

    3ontinuemos ouvindo as manifestaes de Mar+ sobrea importncia histrica de 7roudhon. a p$"ina KD do mesmolivro l)-seF roudhon n.o somente escreeu em faor dos pro-letrios, como tamb0m ele pr?prio 0 um proletrio, um trabalha-dor a sua obra 0 um manifesto cient/fico do proletariado fran-cGs%=

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    !qu, como se v), Mar+ e+pressa-se em termos preci-sos, apontando 7roudhon como um e+poente do socialismo

    prolet$rio e afirmando que a sua obra constitui um manifestocientfico do proletariado franc)s. *m contrapartida, no Mani-festo Comunista,asse"ura que 7roudhon encarna o socialis-mo bur")s e conservador. 0$ viram maior contradioN *mquem devemos acreditar, no Mar+ da Sagrada Famlia, ou noMar+ do Manifesto ComunistaN * porqu) essa diver")nciaN*is a per"unta que faemos novamente e, como natural, a

    resposta tambm a mesmaF Mar+ queria ocultar a todos oque devia a 7roudhon, e para tal qualquer meio era lcito. opode haver outra e+plicao para esse fenmeno. /s meiosque Mar+ utiliou mais tarde na sua luta contra =a;unine evi-denciam que ele no se constran"ia na escolha.

    III

    8uo "rande foi em Mar+ a influ)ncia de 7roudhon, atmesmo pela concepco anarquista, demonstramno 2 sacieda-de os seus escritos polticos da poca em que escrevia no Bor-:aerts, de 7aris. / Bor:aertsera um peridico que se publica-va na capital francesa em @ABB e @ABK, sob a direco de 9en-ri =ernstein. ! sua tend)ncia era liberal a princpio, mas depoisdo desaparecimento dosAnais Nermano-ranceses, =ernsteintravou relaes com os anti"os colaboradores desta publica-

    o, e estes conquistaram-no para a causa socialista. ?esdeento o Bor:aertsconverteu-se em r"o oficial do socialismo,e numerosos colaboradores da e+tinta publicao de !. (u"e,entre eles =a;unine, Mar+, *n"els, 9enri 9eine, Heor"e 9er-

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    respeito por 7roudhon, =a;unine e outros tericos do anarquis-mo. 7elo e+tracto se"uinte desse trabalho os leitores podero

    'ul"arFor isso na 1n-glaterra a mis0ria 0 considerada como conseuGncia duma leinatural, segundo a ual os seres humanos aumentam mais de-pressa ue os meios de subsistGncia% &utros afirmam ue apreguia dos pobres 0 a causa da sua pobre+a% & rei edericoNuilherme da >rssia achaa ue a causa estaa nos cora-Jes pouco crist.os dos ricos e a 6onen.o e o >arlamentoReolucionrio franceses sustentaram ue os males sociaiss.o a conseuGncia do Enimo contra-reolucionrio demonstra-do pelos proprietrios% >or conseguiente na 1nglaterra casti-gam-se os pobres, o rei da >rssia lembra aos ricos os seusdeeres de crist.os e a 6onen.o rancesa corta-a as cabe-

    as dos proprietrios%Codos os 4stados procuram a causa da mis0ria nos de-

    feitos fortuitos ou intencionais da administra.o e, conseuen-temente, ulgam poss/el redu+ir o mal mediante reformas ad-ministratias% Mas o 4stado n.o tem poder para suprimir a con-

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    tradi.o e3istente entre a boa ontade da administra.o e asua incapacidade real porue, se assim fosse, teria de se anu-

    lar a si mesmo ue se baseia na contradi.o entre a ida p-blica e a priada, entre os interesses gerais e os particulares%>or isso a administra.o se acha limitada a uma fun.o essen-cialmente formal e negatia dado ue onde comea a ida ciiltermina o poder da administra.o% & 4stado n.o pode impedirnunca as conseuGncias ue resultam logicamente do carcteranti-social da ida ciil, da propriedade priada, do com0rcio,

    da indstria e da e3plora.o mtua entre os diersos grupossociais% A bai3e+a e a escraid.o da sociedade burguesa cons-tituem o fundamento natural do 4stado moderno% A e3istGnciado 4stado e a escrai+a.o do homem s.o insepareis% 8omesmo modo ue o antigo 4stado e a escraid.o antiga (con-tradiJes clssicas e francas) estaam intimamente inculadasentre si, tamb0m o 4stado moderno e o actual mundo dos ne-gociantes (contradi.o crist. e hip?crita) est.o fortemente liga-dos um ao outro%=

    *sta interpretao essencialmente anarquista da natu-rea do *stado, que parece to estranha em face das doutrinasposteriores de Mar+, uma prova evidente da ori"em anar-quista da sua primeira evoluo socialista. o mencionado arti-"o reflectem-se os conceitos da crtica de 7roudhon ao *stado,crtica que teve a sua primeira e+presso no famoso livro Que a propriedade?*sta obra imortal e+erceu influ)ncia decisivana evoluo do comunista alemo, apesar dele se haver esfor-ado por todos os meios Jnem sempre nobresL, em ne"ar asprimeiras fases da sua actuao como socialista. aturalmenteos mar+istas apoiaram o mestre e assim se desenvolveu poucoa pouco o falso conceito histrico sobre as relaes entre Mar+e 7roudhon.

    7rincipalmente na !lemanha, onde 7roudhon quasedesconhecido, puderam circular as mais estranhas afirmaes.Mas 2 medida que vo sendo conhecidas as obras importantesda velha literatura socialista, v)-se que tudo quanto denomi-nado 4socialismo cientfico5 se deve aos 4utopistas5, durante

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    lon"o tempo esquecidos em virtude do "i"antesco reclame feito2 escola mar+ista e a outros factores que rele"aram para o es-

    quecimento a literatura socialista do primeiro perodo. o en-tanto um dos mestres mais importantes de Mar+ foi precisa-mente 7roudhon, o anarquismo caluniado e mal compreendidopelos socialistas le"alit$rios.

    IV

    ! D de 0ulho de @AO, Mar+ escrevia a *n"elsF rssia consegue sair i-toriosa, o poder estatal chegar a estar mais centrali+ado e omesmo ocorrer com todo o moimento operrio da Alemanha%& poder da Alemanha trasladar o centro do moimento oper-rio da rana para a Alemanha% 7asta comparar o moimentonestes dois pa/ses, desde !"PP aos nossos dias, para se com-preender a superioridade da classe operria alem. sobre a

    francesa, tanto em teoria como na organi+a.o e sua maior po-tGncia nos acontecimentos internacionais significa um triunfopara a nossa doutrina sobre a de >rouhdhon%%% =

    Mar+ tinha raoF o triunfo da !lemanha so-bre a :ranasi"nificou uma nova rota na histria do movimento oper$rio eu-ropeu.

    / socialismo revolucion$rio e liberal dos pases latinos

    foi posto de lado, dei+ado o campo 2s teorias estatais e anti-anarquistas do mar+ismo. ! evoluo daquele socialismo vivifi-cante e criador viu-se travada pelo novo do"matismo frreoque pretendia possuir um pleno conhecimento da realidade so-cial, quando era apenas um con'unto de fraseolo"ias teol"icase de sofismas fatalistas, e resultou ser lo"o o sepulcro de todoo verdadeiro pensamento socialista.

    3om as ideias, mudaram tambm os mtodos de lutado movimento socialista. *m ve dos "rupos revolucion$riospara a propa"anda e para a or"aniao das lutas econmicas,nos quais os internacionalistas tinham visto a semente da so-ciedade futura e os r"os aptos para a socialiao dos meiosde produo e intercmbio, conheceu ento a era dos partidos

    [[Porque sou anarquista-16

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    [[Rudolf Rocker

    socialistas e da representao parlamentar do proletariado.7ouco a pouco esqueceu-se a anti"a educao socialista que

    levava aos oper$rios 2 conquista da terra e das f$bricas, pondono seu lu"ar a nova disciplina de partido que considerava aconquista do poder poltico como o seu supremo ideal.

    =a;unine, o "rande opositor de Mar+, observou comclarivid)ncia a mudana de situao e com o corao amar-"urado previu que, com o triunfo de !lemanha e a queda da3omuna de 7aris, comeara um novo captulo na histria da

    *uropa. :isicamente es"otado e encarando a morte escrevu, a@@ de ovembro de@AOB, estas importantes palavras a /"arefF

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    [[Rudolf Rocker

    conhecido livro O #stado e a "e$olu%o, que reputado pelosseus discpulos como a verdadeira e pura interpretao do

    mar+ismo. 7or meio de uma coleio de citaes perfeitamenteordenadas pretende demonstrar %enine que 4os fundadores dosocialismo cientfico5 foram sempre inimi"os declarados da de-mocracia e do parlamentarismo e que todas as suas aspira-es eram encaminhadas para o desaparecimento do *stado.

    3onvm no esquecer que %enine fe esta descobertaquando o seu partido, contra todas as suas esperanas, se viu,

    em minoria, depois das eleies para a !ssembleia 3onstituin-te. !t ento os bolcheviques tinham participado com outrospartidos nas eleies e trataram de no se pQr em conflito comos princpios da democracia. as #ltimas eleies para a !s-sembleia 3onstiuinte de @P@A, tomaram parte com um pro-"rama "randioso, esperando obter uma maioria importante.Mas ao ver que, apesar de tudo, estavam em minoria, declara-

    ram "uerra 2 democracia e dissolveram a !ssembleia 3onsti-tuinte, publicando ento %enine a sua obra

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    !t o prprio :ran Mehrin" -a quem no se pode ne"ara simpatia que tinha pelos socialistas maiorit$rios- reconheceu

    essa contradio no seu #ltimo livro 'arl Mar(, onde disseF

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    haram em empurrar as diferentes :ederaes nacionais para aaco parlamentar. Isto aconteceu pela primeira ve na des"ra-

    ada 3onfer)ncia de %ondres em @AO@, onde lo"raram faeraprovar uma resoluo que terminava com as se"uintes pala-vrasF

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    O SISTEMA DOS SOVIETES OU A

    DITADURA DO PROLETARIADO

    7ode pensar-se que h$ um lapso neste ttulo e que o sistemados sovietes e a ditadura so uma e a mesma coisa. a reali-dade so duas noes muito diferentes que, lon"e de se com-pletarem, se e+cluem mutuamente. S uma l"ica viciada, de

    partido, pode admitir tal fuso onde, na realidade, e+iste umaoposio muito ntida.

    ! idia dos Sovietes uma e+presso correcta do queentendemos por revoluo social1 corresponde 2 parte inteira-mente construtiva do socialismo. ! ideia de ditadura de ori-"em puramente bur"uesa e nada tem em comum com o socia-lismo. 7odem reunir-se artificialmente estas duas noes mas

    o resultado s poder$ ser uma caricatura da ideia ori"inal dosSovietes, em pre'uo da ideia fundamental do socialismo.

    ! ideia dos Sovietes no uma ideia nova, nascida da(evoluo russa, como muitas vees se 'ul"a. asceu no seioda ala mais avanada do movimento oper$rio europeu, no mo-mento em que a classe oper$ria saa da cris$lida do radicalis-mo bur"u)s para voar com as suas prprias asas. :oi o mo-

    mento em que a !ssociao Internacional dos &rabalhadoresfe a "rande tentativa para a"rupar numa #nica vasta unio osoper$rios dos diferentes pases e de abrir-lhes assim o camin-ho da emancipao. *mbora a Internacional tivesse sobretudoo car$cter duma vasta or"aniao de unies profissionais, osseus estatutos foram redi"idos de modo a permitir a todas as

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    tend)ncias socialistas da poca tomarem lu"ar nas suas filei-ras, desde que estivessem de acordo quanto ao fin #ltimo.

    !s ideias da "rande !ssociao estavam lon"e de ter,no incio, a clarea e a e+presso definida que adquiriram natu-ralmente nos 3on"ressos de Henebra, em @A, e de %ausana,em @AO. Mas quanto mais a Internacional amadurecia interior-mente, e mais se estendia como or"aniao de combate, maisntidas se tornavam as ideias dos seus adeptos. ! aco pr$ti-ca na luta quotidiana entre o capital e o trabalho conduia, por

    si mesma, a uma compreenso mais profunda dos princpiosfundamentais.

    ?epois que o 3on"resso de =ru+elas J@AAL, ao pro-nunciar-se a favor da propriedade colectiva do solo, do subsoloe dos instrumentos de trabalho, criou uma base para o desen-volvimento ulterior da Internacional.

    o 3on"resso de =asileia, em @AP, a evoluo interiorda "rande !ssociao oper$ria tinha atin"ido o seu ponto cul-minante. ! par da questo do solo e do subsolo, de que o 3on-"resso se voltou ocupar, foi a questo das unies oper$riasque passou a primeiro plano.

    Rm relatrio sobre essa questo, apresentado pelo bel-"a 9ins e pelos seus ami"os, provocou um vivo interesse1 as

    tarefas que incumbiam 2s unies oper$rias e 2 importncia queestas apresentavam, foram pela primeira ve a e+postas, sobum ponto de vista inteiramente novo, assemelhando-se at cer-to ponto 2s ideias de (obert /

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    deradas como clulas da futura sociedade socialista e que a ta-refa da Internacional educar estas or"aniaes para as tor-

    nar capaes de realiar a sua misso histrica. / 3on"ressoadoptou este ponto de vista1 mas sabemos ho'e que muitos de-le"ados, principalmente os representantes das or"aniaesoper$rias alems, nunca quiseram e+ecutar o que essa reso-luo implicava.

    !ps o 3on"resso de =asileia e, sobretudo, depois da"uerra de @AO, que desviou o movimento social europeu para

    uma via absolutamente diferente, sur"iram nitidamente duastend)ncias no seio da Internacional, tend)ncias que entraramem conflito aberto e vieram a provocar uma ciso no seio da!ssociao. &emse querido reduir estas lutas interiores a que-relas puramente pessoais e, principalmente 2 4rivalidade5 entreMi"uel =a;unine e 6arl Mar+ e o 3onselho Heral de %ondres.ada mais falso e infundado que esta ideia, que resulta duma

    i"norncia completa dos factos. 3onsideraes de ordem pes-soal desempenham, certamente, al"um papel nestas lutas co-mo quase sempre acontece em cosos semelhantes.

    :oram sobretudo Mar+ e *n"els que, nos seus ataquesa =a;unine, fi+eram tudo quanto era humanamente possvel1facto que o prprio bi"rafo de Mar+, :ran Mehrin", no pQdeocultar. Mas seria um erro ver, nestas aborrecidas querelas, a

    verdadeira causa da oposio entre estes homens. &ratava-se,na realidade, de duas concepes diferentes do socialismo e,principalmente dos caminhos que a ele conduem. Mar+ e =a-;unine foram apenas os mais elementos mais destacados nes-ta luta pelos princpios fundamentais1 mas o conflito ter-se-iai"ualmente produido sem eles. 7orque no se tratava dumaoposio entre personalidades, mas duma oposio entre co-

    rrentes de pensamento que tinham e mant)m, at ao presente,toda a sua importncia.

    /s oper$rios dos pases latinos, onde a Internacionalencontrou o seu principal apoio, desenvolveram o seu movi-mento partindo das or"aniaes de luta econQmica. / *stado,aos seus olhos, era apenas o a"ente poltico e o defensor das

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    classes possidentes1 por isso eles visavam no a conquista dopoder poltico, mas a supresso do *stado e de todo o poder

    poltico, sob que forma fosse, porque eles viam nele um prel#-dio 2 tirania e 2 e+plorao. !ssim no queriam imitar a bur-"uesia fundando um novo partido poltico, ori"em duma novaclasse de polticos profissionais. / seu fim era apoderar-se dasm$quinas, da ind#stria, do solo e do subsolo1 previam muitobem que essa finalidade os separava completamente dos pol-ticos radicais bur"ueses, prontos a tudoo sacrificar 2 conquista

    do poder poltico. 3ompreenderam que com o monoplio daposse devia tambm cair o monoplio do poder1 que a vida in-teira da sociedade futura se devia fundar em bases completa-mente novas. 7artindo da ideia que a 4dominao do homempelo homem5 estava ultrapassada, compenetraram-se da ideiada administrao das coisas. Susbstiruram a poltica dospartidos no seio do *stado por uma poltica econQmica do tra-balho. 3ompreenderam que a reor"aniao da sociedadenum sentido socialista deve ser realiada na prpria ind#stria, e desta noo que nasceu a ideia dos 3onselhos JSovietesL.

    *stas idias da ala antiautorit$ria da Internacional foramaprofundadas e desenvolvidas, duma maneira particularmenteclara e precisa, nos 3on"ressos da ederacion del Crabaoes-panhola. :oi l$ que introduiram os termos de 7untos e de6onseos del trabaoJ43omunas oper$rias5 e 43onselhos ope-r$rios5L.

    /s socialistas libert$rios da Internacional compreende-ram muito bem que o socialismo no pode ser ditado por um"overno, mas que deve desenvolver-se duma maneira or"nicade bai+o para cima1 compreenderam que so os prprios ope-r$rios que devem tomar em mos a or"aniao da produo e

    do consumo. * opuseram esta ideia, ao socialismo de *stadodos polticos parlamentares.

    os anos se"uintes houve feroes perse"uies ao mo-vimento oper$rio nos pases latinos1 o ponto de partida foi o es-ma"amento da 3omuna de 7aris e a represso estendeu-seem se"uida 2 *spanha e 2 It$lia. ! ideia dos 43onselhos5 pas-

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    sou a se"undo plano, porque toda a propa"anda aberta eraperse"uida e as or"aniaes secretas que os oper$rios for-

    mavam eram obri"adas a empre"ar todas as suas foras nocombate 2 reaco e na defesa das suas vtimas.

    O sindicalismo revolcion!rio e a ideia dos

    consel"os

    / desenvolvimento do sindicalismo revolucion$rio fe ressur"iresta ideia, deu-lhe uma vida nova. ?urante a poca mais activa

    do sindicalismo revolucion$rio franc)s, de @P a @PO, a ideiados 3onselhos foi desenvolvida de forma clara e definida.

    =asta relancear os olhos pelos escritos de 7ou"et, Hrif-fuelhes, Monatte, Tvetot e tantos outros, para nos convencer-mos que nem na (#ssia nem em qualquer outro stio, a idiados 3onselhos foi enriquecida de qualquer elemento novo queos propa"andistas do sindicalismo revolucion$rio no houves-sem '$ formulado quine ou vinte anos antes.

    /s partidos oper$rios socialistas repudiavam ento emabsoluto a ideia dos 3onselhos e a "rande maioria dos quea"ora a defendem, sobretudo na !lemanha, consideravam-nanessa poca uma nova e desprevel utopia. / prprio %enindeclarava, em @PK, ao presidente do 3onselho de dele"adosoper$rios de 7etro"rado que o sistema dos 3onselhos era umainstituio obsoleta com a qual o seu partido nada podia ter emcomum.

    /ra esta concepo dos 3onselhos, cu'a honra cabeaos socialistas revolucion$rios, marca o ponto mais importantee constitui a pedra an"ular de todo o movimento oper$rio inter-nacional. ?evemos acrescentar que o sistema dos 3onselhos

    a #nica instituio suscetvel de conduir 2 realiao do so-cialismo, porque qualquer outra via seria errnea. ! 4utopia5mostrou-se mais forte que a 4ci)ncia5.

    G tambm incontest$vel que a idia dos 3onselhos de-corre lo"icamente da concepo dum socialismo libert$rio, quese desenvolveu lentamente no seio do movimento oper$rio, em

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    oposio ao socialismo de *stado e a todas as tradies daideolo"ia bur"uesa.

    A #Di$adra do %role$ariado#& "eran'a da

    (r)esia

    o pode dier-se o mesmo da ideia de ditadura. *sta no de-riva do mundo das concepes socialistas. o um produtodo movimento oper$rio, mas uma lament$vel herana da bur-"uesia, oferecida em dote ao proletariado para o faer feli. *s-

    t$ intimamente li"ada 2s aspiraes do poder poltico que i"ualmente de ori"em bur"uesa.

    ! ditadura uma das formas que o poder estatal podeassumir. G o *stado submetido ao estado de stio. 3omo todosos outros adeptos da ideia estatil, os partid$rios da ditadurapretendem -como medida provisria- impor ao povo a sua von-tade. *sta concepo , por si mesma, um obst$culo 2 revolu-o social, cu'o elemento vivo prprio precisamente a partici-pao construtiva e a iniciativa directa das massas.

    ! ditadura a ne"ao, a destruio do ser or"nico,do modo de or"aniao natural, de bai+o para cima. !le"a-sea menoridade do povo, a sua incapacidade para se tornar sen-hor dos seus destinos. G dominao sobre as massas, que fi-cam sob a tutela duma minoria. /s seus partid$rios podem teras melhores intenes, mas a l"ica do poder fora-los-$ sem-pre a entrar no caminho do despotismo mais e+tremo.

    ! ideia da ditadura foi tomada pelos nossos socialistas-estatistas ao partido pequeno-bur"u)s que foi o partido dos 0a-cobinos. *ste partido qualificava de crime toda "reve e proibia,sob pena de morte, as associaes oper$rias. Saint-0ust e

    3outhon foram os seus portavoes mais enr"icos, e (obes-pierre actuaba sob a sua influ)ncia.

    ! representao falsa e unilateral da "rande revoluodada pelos historiadores bur"ueses e que influenciou fortemen-te a maioria dos socialistas, contribuiu muito para dar 2 dita-dura dos 0acobinos um relevo que no merecia e que o mart-

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    rio de seus principais chefes aumentou ainda mais. ! maioria,sempre inclinada ao culto dos m$rtires, torna-se incapa dum

    'uo crtico sobre es ideias e os actos.3onhecemos a obra criadora da (evoluoF a abolio

    do feudalismo e da monarquia1 os historiadores "lorificaram-nocomo a obra dos 0acobinos e dos revolucion$rios da 3onven-o e daqui resultou, com o decorrer do tempo, uma concep-o completamente falsa da histria da (evoluo.

    Sabemos ho'e que esta concepo se baseou numa i"-norncia volunt$ria dos factos histricos, principalmente da ver-dade que a obra criadora da "rande (evoluo foi realiadapelos camponeses e pelos prolet$rios das cidades, contra avontade da !ssembleia acional e da 3onveno. /s 0acobi-nos e a 3onveno sempre combateram vivamente as inova-es radicais, at que se econtrassem em fase dos factos con-sumados, e no lhes fosse possvel resistir mais. !ssim a aboli-

    o do sistema feudal devida unicamente 2s incessantes re-voltas camponesas, feromente perse"uidas pelos partidos po-lticos.

    !inda em @OPD, a !ssembleia acional mantinha o sis-tema feudal e somente em @OPE, quando os camponeses selanam ener"icamente 2 conquista dos seus direitos, que a3onveno 4revolucion$ria5 sanciona a abolio dos direitosfeudais. / mesmo aconteceu no que respeita 2 abolio damonarquia.

    As $radi'*es +aco(inas e o socialismo

    /s primeiros fundadores dum movimento socialista popular na:rana vieram do campo dos 0acobinos, e era perfeitamentenatural que a herana do passado pesasse sobre eles.

    8uando =abeuf e ?arthe> or"aniaram a conspiraodos I"uais, queriam faer da :rana, por meio da ditadura,um *stado a"rcola comunista. 3omo comunistas compreen-diam que para atin"ir o ideal da "rande (evoluo era neces$-rio resolver a questo econQmica1 mas como 0acobinos 'ul"a-

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    vam que este fim podia ser atin"ido pelo poder do *stado, mu-nido de poderes mais vastos. ! crena na omnipot)ncia do *s-

    tado atin"iu o seu mais alto "rau entre os 0acobinos1 penetrou-os to profundamente que no conse"uiam ima"inar nenhumaoutra via a se"uir.

    =abeuf e ?arthe> foram arrastrados moribundos 2 "uil-hotina mas as suas ideias sobreviveram no povo e acharam re-f#"io nas Sociedades secretas dos babouvistas, sob o reino de%ouis-7hilipe. 9omens como =arbUs e =lanqui actuaram no

    mesmo sentido, lutando pela ditadura do proletariado destinadaa realiar os fins comunistas.

    G destes homens que Mar+ e *n"els herdaram a ideiada ditadura do proletariado, e+pressa no Manifesto comunis-ta.*ntendiam-na como a instaurao dum poder central po-deroso cu'a tarefa seria quebrar, por leis coercitivas radicais, opoder da bur"uesia, e or"aniar a sociedade no esprito do so-

    cialismo de *stado.*stes homens vieram para o socialismo do campo da

    democracia bur"uesa1 estavam profundamente penetrados pe-las tradies 'acobinas. Mais, o movimento socialista da pocano estava ainda suficientemente desenvolvido para abrir o seuprprio caminho e vivia mais ou menos das tradies bur-"uesas.

    Tdo %elos ,onsel"os-

    :oi somente com o desenvolvimento do movimento oper$rio,na poca da Internacional, que o socialismo se achou em esta-do de sacudir os #ltimos vest"ios das tradies bur"uesas evoar inteiramente com as suas prprias asas. ! concepo dos3onselhos abandonava a noo do *stado e da poltica do po-der, sob qualquer forma que se apresentasse1 achava-se assimem oposio directa com qualquer ideia de ditadura1 esta, comefeito, quer no somente arrancar o instrumento do poder 2sforas possidentes e ao *stado, mas tambm a desenvolver omais possvel o seu prprio poder.

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    /s pioneiros do sistema dos 3onselhos viram muitobem que com a e+plorao do homem pelo homem deve desa-

    parecer tambm a dominao do homem pelo homem. 3om-preenderam que o *stado, o poder or"aniado das classes do-minantes, no pode ser transformado em instrumento de eman-cipao para o trabalho. 7ensavam portanto que a destruiodo anti"o aparelho do poder deve ser a tarefa mais importanteda revoluo social, a fim de tornar impossvel toda nova formade e+plorao.

    8ue nos no ob'etem que a 4ditadura do proletariado5se no pode comparar a qualquer outra ditadura, pois se tratada ditadura de uma classe. ! ditadura duma classe no podee+istir como tal, porque se trata sempre, no fim de contas, daditadura dun certo partido que se arro"a o direito de falar emnome duma classe. :oi assim que a bur"uesia, em luta contrao despotismo, falava em nome do 4povo51 a aspirao ao poder

    torna-se e+tremamente peri"osa nos partidos que nuncaasscenderam no poder

    /s humildes que ascendem ao poder so ainda maisrepu"nantes e mais peri"osos que os novos ricos. ! !lemanhamostra-nos, a este propsito, um e+emplo instrutivoF vivemos aa"ora sob a ditadura poderosa dos polticos profissionais dasocial-democracia e dos funcion$rios centralistas dos sindica-

    tos. enhum meio lhes parece demasiado brutal ou demasiadobai+o contra os membros de sua prpria 4classe5 que ousamestar em desacordo com eles.

    *stes homens desembaraaram-se de todas as con-quistas da revoluo bur"uesa que "arantem a liberdade e ainviolabilidade da pessoa1 desenvolveram o mais terrvel siste-ma policial a ponto de poderem deter qualquer pessoa que lhes

    desa"rade e torn$-la inofensiva por um tempo determinado. !sclebres 4cartas de pre"o5 dos dspotas franceses e a deporta-o administrativa do carismo russo foram ressuscitadas porestes sin"ulares partid$rios da 4democracia5.

    *stes homens ale"am, certamente, e em todos os mo-mentos, a sua 3onstituio, que "arante aos bons alemes to-

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    dos os direitos possveis1 mas esta 3onstituio s e+iste nopapel1 o mesmo acontece com a clebre 3onstituio republi-

    cana de @OPE que nunca foi aplicada pois (obespierre e osseus adeptos declararam no a poder pQr em pr$tica por estara p$tria em peri"o. Mantiveram pois a ditadura e esta conduiuao P &hermidor, 2 dominao ver"onhosa do ?irectrio e porfim, 2 ditadura militar napoleQnica. a !lemanha che"ou-se '$ao ?iretrio1 falta apenas o homem que desempenhar$ o papelde apoleoP.

    ?ecerto sabemos que a revoluo se no pode faercom $"ua de rosas1 sabemos tambm que as classes possi-dentes no abandonaro voluntariamente os seus privil"ios.o dia da revoluo vitoriosa os trabalhadores tero de impor asua vontade aos detentadores actuais do solo, do subsolo edos meios de produo. Mas isto no poder$ produir-se, se-"undo ns, se os trabalhadores no tomatem eles mesmos em

    mos o capital social e, antes do mais, se no demolirem oaparelho de fora poltica que foi sempre at ao presente, econtinuar$ a ser, a fortalea que permite en"anar as massas.*ste acto , para ns, um acto de libertao, uma proclamaode 'ustia social1 a ess)ncia mesma da revoluo social, quenada tem em comum com a idia puramente bur"uesa da dita-dura.

    / facto de um "rande n#mero de partidos socialistas teraderido 2 ideia dos 3onselhos, que a dos socialistas libert$-rios e dos sindicatos, uma confisso de culpa1 reconhecemque a t$ctica se"uida at o presente foi errada e que o movi-mento oper$rio deve criar para si, nestes 3onselhos, um r"oque, s ele, permitir$ construir o socialismo. 7or outro lado nose deve esquecer que esta s#bita adeso arrisca a introduir

    muitos elementos estranhos na concepo dos 3onselhos, quenada tendo de comum com as suas finalidades ori"inais, ne-cessitam ser eliminadas como peri"osas para o seu desen-volvimento ulterior. *ntre estes elementos estranhos fi"ira em

    + Te5to escrito e$ 1+",. Gs suas preBises Biria$ a ser confir$adas co$ oadBento de Hitler.

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    primeiro lu"ar a ideia da ditadura. ! nossa tarefa evitar esteperi"o e precaver os nossos camaradas de classe contra e+pe-

    ri)ncias que no podem acelerar mas, pelo contr$rio, retardar aemancipao social.

    7or conse"uinte a nossa palavra de ordem continuaF4&udo pelos 3onselhosV enhum poder acima delesV5 e estapalavra de ordem ser$ ao mesmo tempo a da revoluo social.

    [[Porque sou anarquista-31

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    O PAPEL DOS SI DI,ATOS A

    ,O STRU.AO DO SO,IALISMO

    / termo sindicato operario si"nificava primitivamente uma or-"aniao de produtores para a melhoria das suas condieseconmicas e sociais. Mas o impulso do sindicalismo revolucio-n$rio deu a esse sentido primitivo um si"nificado mais amplo e

    mais profundo. ?a mesmo forma que o partido , por assim di-er, uma or"aniao identificada a um esforo definido no seiodo *stado constitucional moderno, que procura manter dumaforma ou doutra, a presente ordem da sociedade, assim se"un-do o ponto de vista sindicalista os sindicatos so a or"aniaounificada do trabalho e t)m como finalidade a defesa dostrabalhadores no seio da sociedade actual e a preparao pr$-

    tica da reconstruo da vida social a caminho do socialismo.!ntes do mais t)m uma cupla missoF

    @W- (eforar as reivindicaes dos produtores para asalva"uarda e melhoria do seu nvel de vida.

    DW X Informar os trabalhadores do ordenamento tcnicoda produo e da vida econmica em "eral e prepar$-los paratomarem em suas mos o aparelho socio-econmico e diri"i-lo

    se"undo os princpios socialistas./s anarcosindicalistas pensam que os partidos polticos

    no esto aptos a cumprir essas suas tarefas. Se"undo a suaconcepo, o sindicalismo dever ser a ponta-de-lana do movi-mento oper$rio, endurecido pelos compates quotidianos e pe-netrado pelo esprito socialista. So trabalhadores podem mos-

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    trar a sua plena fora sobretudo no domnio econmico, pois a sua actividade como produtores que mantm toda a estrutura

    social e "arante a e+ist)ncia da sociedade. S como produtor ecriador da riquea social o trabalhador se torna consciente dasua fora. *m unio solid$ria com os seus companheiros, criaessa "rande falan"e do trabalho militante, animada de um esp-rito de liberdade e de um ideal de 'ustia social.

    7ara o anarco-sindicalista os sindicatos oper$rios soos "ermes mais frutuosos duma sociedade futura, a escola ele-

    mentar do socialismo. &oda a nova estrutura social cria por siprpria r"aos no corpo da velha or"aniao1 sem essa nece-ssidade, toda a evoluo social impens$vel. 7ara eles, a edu-cao socialismo no si"nifica a participao no poder polticodo *stado, e sim o esforo de esclarecer os trabalhadores so-bre as cone+es intrnsecas dos problemas sociais, a instruotcnica e o desenvolvimento das suas capacidades administra-

    tivas, preparando-os para o seu papel de reconstrutores davida econmica e dando-lhes a se"urana moral requerida pelocumprimento da sua tarefa. enhum or"anismo social est$ me-lhor apetrechado para esse fim do que a or"aniao econmi-ca de combate dos trabalhadores -esta d$ uma direco clara2s suas actividades sociais e tempera a sua resist)ncia nocombate imediato pelas necessidades da vida e na defesa dosdireitos humanos. !o mesmo tempo desenvolve as suasconcepes ticas sem as quais nenhuma transformao so-cial possvelF a solidariedade essencial com os seus camara-das e a responsabilidade moral das suas aces.

    *ssencialmente porque o trabalho educativo dos anar-co-sindicalistas diri"ido no sentido do desenvolvimento dumpensamento e duma aco independentes, eles so os adver-

    s$rios declarados de todas as tend)ncias centralistas que sobem caractersticas da maior parte dos partidos oper$rios ac-tuais.

    / centralismo, esquema artificial que opera do cimo pa-ra a base e entre"a os assuntos da administrao a uma pe-quena minoria, sempre acompanhado de uma estril rotina

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    oficial1 isso destri a convico individual, substitui a iniciativapessoal por uma disciplina sem vida e uma ossificao buro-

    cr$tica. 7ara o *stado, o centralismo a forma apropriada deor"aniao, pois tende para a maior uniformidade possvel davida social de forma a manter o equilbrio poltico e social.

    Mas para um movimento cu'a e+ist)ncia depende da ac-o r$pida em no importa que momento favor$vel e do pensa-mento independente dos seus membros, o centralismo umfla"elo que enfraquece o seu poder de deciso e reprime siste-

    maticamente toda a iniciativa espontnea.! or"aniao do anarco-sindicalismo baseada nos

    princpios do federalismo, numa combinao livre de bai+o paracima, pondo o direito de autodeterminao de cada sindicatoacima de tudo e reconhecendo somente o elemento or"nicode todos na base de interesses semelhantes e duma convicocomum. ! sua or"aniao por consequ)ncia construda nas

    se"uintes basesF/s trabalhadores de cada localidade filiam-se nos sindi-

    catos das suas profisses respectivas. /s sindicatos duma ci-dade ou de um distrito rural constituem-se em unies que for-man os centros de propa"anda local, de educao e unem ostrabalhadores como produtores para impederem o nascimentodo esprito corporativo. *m caso de perturbaes sociais, es-ses or"anismos asse"uram a cooperao solid$ria de todo ocon'unto local dos trabalhadores or"aniados. &odas as unieslocais so a"rupadas se"undo os seus distritos e re"ies paraformar a federao nacional que mantm o contacto permanen-te entre os corpos locais, or"ania a livre repartio do trabalhoprodutivo das diferentes or"aniaes por via cooperativa e as-se"ura a necess$ria coordenao no trabalho de educao dos

    "rupos locais.3ada sindicato est$ ainda unido com todas as or"ania-

    es da mesma ind#stria, e i"ualmente com todos os sindica-tos similares, para que tudo se'a combinado em alianas "eraisda ind#stria e da a"ricultura.

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    G sua misso intervir nos conflitos di$rios entre o capitale o trabalho e coordenar todas as foras do movimento para

    uma aco comum quando for necess$rio. !ssim as unies lo-cais e as federaes de ind#stria constituem os dois polos en-tre os quais se desenvovle a vida inteira dos sindicatos oper$-rios.

    Rma tal forma de or"aniao no d$ somente aos tra-balhadores todas as oportunidades de aco directa na luta pe-lo po quotudiano, mas d$-lhes tambm, com os preliminares

    necess$rios da reor"aniao da sociedade, a sua prpria for-a, sem intervenes alienantes em caso de crise revolucion$-ria. /s anarco-sindicalistas esto convencidos de que uma or-dem econmica socialista no pode ser criada por decreto dum"overno qualquer, mas somente pela colaborao sem restri-es dos trabalhadores, tcnicos e camponese chamando a sia "esto da produo e da distribuio, no interesse da comu-

    nidade e na base das convenes m#tuas. uma tal situaoas unies locais tomariam conta da administrao do capitalsocial e+istente em cada comunidade, determinariam as neces-sidades dos habitantes nas suas re"ies e or"aniariam o con-sumo local.

    7or intermdio das unies locais seria possvel calcularo total das necessidades do pas inteiro e harmoniar com es-

    sas necessidades o trabalho produtivo. 7or outro lado, caberia2s federaes de ind#stria e da a"rucultura controlar todos osinstrumentos de porduo, transportes, etc., e fornecer aos di-ferentes "rupos de produo o que estes necessitam.

    uma palavraF

    @W- /r"aniao da produo total do pas pelas federa-

    es de ind#stria e direco do trabalho por comisses eleitaspelos prprios trabalhadores.

    DW- /r"aniao do contributo social pela federao deunies locais.

    esta ordem de ideias a e+peri)ncia pr$tica deu o me-lhor e+emplo. Mostrou que os n#merosos problemas duma re-

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    construo socialista da sociedade no podem ser resolvidospor um "overno, mesmo quando se'a a famosa ditadura do pro-

    letariado. a R(SS a ditadura bolchevique encontrou-se de-samparada durante quase dois anos em face dos problemaseconmicos e tentou superar a sua incapacidade com uma on-da de ordens e decretos, a maior parte dos quais ficaram ente-rrados nas diferentes reparties. Se o mundo pudesse ser li-bertado por decretos no teria havido nenhum problema naR(SS. 7elo seu fanatismo do poder, o bolchevismo destruiu

    violentamente oe r"os mais v$lidos da construo do socia-lismo, suprimindo as sociedades cooperativas, submetendo ossindicatos ao controlo do *stado e privando, desde o primeirodia, os sovietes da sua independ)ncia. !ssim, a ditadura doproletariado preparava o caminho no para uma sociedade so-cialista, mas para o tipo mais primitivo de capitalismo de *sta-do burocr$tico e para o re"resso do absolutismo poltico, aboli-do na maior parte dos pases pelas revolues bur"uesas.

    a sua

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    Edgar Rodrigues Histria do Movimentoanarquista no Brasil Histria do Movi-mento anarquista em Portugal. Uma vissosinttica da evoluo do anarquismo em Por-tugal e no Brasil, desde os tempos das primei-ras Federaes operrias aderidas Internacio-nal at a dcada de ! do sculo "", da mode um clssico da #istoriogra$ia anarquista%

    Carme Blanco Casas anarquistas de Mulle-res libertarias. &ecol#e-se a palestra de 'ar-me Blanco cele(rada na ')* de 'ompostela

    com motivo do + de aro so( o su(-ttulo Aresistencia anarquista das mulleres depois dolevantamento fascista de 1936. .mocionanterelato da presena massiva das mul#eres na re-sist/ncia anti-$ascista que tenciona resgatar doesquecemento o seu compromisso $irme com

    as ideias e lutas li(ertrias%

    Matre Simon ia!e "umor#stica a trav$sdas reli!ins e os dogmas. a0tre 1imon o$e-rece-nos, em clave de #umor, mas sem perder ocontacto com as re$er/ncias #ist2ricas, culturaise teol23icas do 3udaismo e o resto de religiesmonoteistas, uma revisso dos disparates da re-

    ligio cat2lica, desde a B(lia lit4rgia, detendo-se em qualquer aspecto da mesma%

    oltairine de Cla%re &esobedi'ncia civil()undamentos da a*+o direta.5 destacada mi-litante americana, sindicalista e $eminista, dostempos das revoltas de 6a7mar8et, $a9 umaapai3oada de$esa do uso da ao direta atravesda #ist2ria e no seu pr2prio tempo, um tempo,$ins de "I", de duras revoltas operrias e $emi-nistas%

    Todas venda em edio impressa, alis de disponveis para

    descarga livre no web www.cntgaliza.org, junto com as edies

    do Ateneu ibertrio !icardo "ella.

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    Recolhem-se na presente brochura quatro artigos do mais destacado terico anarquista alemo. Porque sou anarquista uma de- clarao da ideologia e atitude vital do autor que introduz com perfeio o restodos artigos. EmMarx e as ideias libert-

    riasfaz uma crtica falta de honestidadeinteletual do comunista alemo, ao tempo queassinala a grande dvida de Marx com os socia-listas utpicos, e nomeadamente Proudhon, aquem logo desprezaria com virulncia. O siste-ma dos sovietes e a ditadura do proletariadodescobre o carter intrinsecamente burgus

    da ditadura do proletariado e da revoluo russa.Finalmente, em O papel dos sindicatos naconstruo do socialismodestaca o papel fun-damental do anarco-sindicalismo como respostaimediata ao capital e sua importncia na articulaoduma sociedade livre.